Finalizada em: 04/06/2018

[Capítulo Único]

Sentado na minha cama, toda bagunçada, observando a sujeira na qual a casa estava, bebendo desde a noite passada e com a mesma roupa surrada de sempre: calça jeans, camisa branca (que de branca não tem nada) e vermelha, as meias podres de sujas e fedidas e minha jaqueta jeans (que eu nunca tirava do meu corpo), além do all star encardido de sempre.
Eu estava em um estado deplorável, talvez por isso tem me evitado tanto. Ah, , aquela mulher… A única que consegue realmente fazer com que eu fique tonto. Nem as bebidas que eu ingiro são tão fortes quanto o beijo molhado de . Seria isso algum tipo de amarração para me deixar cego de amor por ela ou seria apenas o seu veneno corroendo o meu coração aos poucos?

Não aguentei mais esperar por ela, era a segunda noite seguida que me dissera que viria, mas apenas me deixou esperando. Mais uma vez, ela me enganou. E, qual é o prazer que ela sente em me enganar e ainda me ter em suas mãos? O quão idiota eu posso ser?
Saí de casa, cambaleando pela rua, eu não conseguia firmar muito bem os meus pés, o efeito de beber em dois dias seguidos estava mesmo me afetando, mas quem disse que eu desistiria fácil? Aliás, eu não desisto.

Avistei , saindo de uma casa desconhecida por mim, um cara mal-encarado saiu, logo em seguida, indo para a direção oposta a ela. A mesma usava um conjunto de cropped e shorts larguinho branco com estampa colorida, além do sapato preto de salto alto e grosso. Tentei correr até ela, mas a minha cabeça estava explodindo, além da tontura forte que senti ao tentar fazer tal coisa. Mesmo com a minha voz embargada, talvez (ou com certeza) pelo tanto de bebida que botei para dentro, gritei por seu nome.

? — Ela se virou para mim, incrédula — O que está fazendo aqui?
— Eu fiquei te esperando, mas você não apareceu.
, olha o seu estado — ela apontou para mim, me olhando impaciente. — Acha mesmo que eu vou ficar saindo com um cara que nem banho toma?
— O quê?
— Consigo sentir o seu mau cheiro daqui.

Eu tentei me aproximar dela, mas acabei caindo. Ainda no chão, a olhei com uma expressão de coitado, como uma forma de pedir por ajuda e a mesma rolou os olhos, enquanto ajeitava a sua bolsa de lado. Ela veio em minha direção me ajudou a levantar.
Em um impulso, eu segurei em sua cintura e tentei beijá-la, porém, me empurrou, fazendo-me cair, novamente. A olhei, incrédulo, observando-a passar as mãos por seus cabelos, me observando com total frieza.

— Por que está fazendo isso comigo? — ergueu uma sobrancelha — Por que você entra na minha mente, me deixa enfeitiçado e confuso, e depois simplesmente se desapega?
, eu nunca me apeguei a você. — Ela soltou uma risadinha, sem humor algum.
— Ah, não? — Com muita dificuldade, eu me reergui, mesmo sentindo uma tontura forte — E por que você ainda está aqui, hein? — Ela tentou responder, mas não tinha argumento. Eu me aproximei dela e mesmo com o bafo de bebida a incomodando, eu disse ao pé do seu ouvido: — Por que ainda não foi embora?
— Porque eu não quero ficar com peso na consciência — reparei que a mesma estava arrepiada com a minha proximidade — Vamos logo para casa! — Ela disse, meio raivosa, mas me ajudou a chegar ao meu cafofo.

Em momento algum, me encarou ou dirigiu palavras a mim, ela realmente estava irritada e eu não queria despertar a fúria do dragão. Aliás, por que estou me lembrando do Bruce Lee agora? Gosh, preciso parar de beber!

— Pronto, está entregue. — Ela disse, ao me ajudar a deitar na minha cama — Essa casa está um lixo!
— Eu sei…
— Você precisa tomar um jeito nessa sua droga de vida, , está vivendo por qual razão?
— Eu nem sei mais — ela me olhou um tanto preocupada e jogou uma das garrafinhas vazias de cerveja no chão, para se sentar na cama, à minha frente. — Você sabe?
— Como eu poderia saber? — A olhei com uma ponta de tristeza, não por sua resposta, mas por realmente me sentir um lixo. Talvez, pelo efeito da bebida… Ou não. — .
— Há quanto tempo não me chama de ?
— Desde que você começou a colocar a bebida como sua prioridade na vida. — Ela disse com certa amargura — Acho que perdi o carinho por você, .
— Eu acho que não — me olhou, surpresa — Você nunca perdeu o carinho por mim, . Você até quer e tenta, mas não consegue.
— Por que acha isso?
— Porque eu sei que você me ama tanto quanto eu te amo.
— Vou para casa. — Ela se levantou, ajeitando o seu cabelo e a sua bolsa no ombro. — Tenho alguns assuntos para resolver.
— Por favor, pare. Eu estou cansado dessas mentiras! — Eu me sentei na cama, vendo tudo girar ao meu redor — Essa foi a mesma desculpa de ontem quando falei com você pelo telefone. E, depois que você finalizou a chamada, fiquei pensando comigo mesmo sobre o que não está dando certo em nosso relacionamento.
— Nós temos um relacionamento?
— Você pode se mostrar a mais fria entre as mulheres, mas, eu sei que é tudo fachada. — Eu a puxei para mais perto de mim, a fazendo cair sobre o meu colo — Estamos deixando muitas coisas se tornarem a nossa prioridade, menos o nosso relacionamento. Tudo que estamos causando é confusão na mente um do outro, quando tudo que eu quero te mostrar é o meu amor por você — ela abaixou a cabeça e respirou fundo, eu sabia que a mesma estava prestes a chorar. — Então, eu digo, pare com todas as mentiras.
— Eu paro. É, eu paro. — Ela disse com a voz embargada e ainda sem me encarar — Se você parar de viver desta forma.
— Qual forma?
— Não se faça de desentendido, , você é esperto o suficiente para saber sobre o que eu estou falando.
— Tudo bem, eu largo a bebida e essa vida miserável que estou levando, mas saiba que é por você.
— Não faça isso pelo motivo errado, !
— E, qual seria o motivo certo? — , finalmente, conseguiu me encarar. Seus olhos vermelhos de tanto expelir lágrimas conseguiam me dizer bem mais do que ela realmente gostaria através das palavras. — Não é que eu tenha perdido a fé na vida, eu ainda quero vivê-la, mas sem você ao meu lado, é quase como uma tortura constante.
— Você só tirou essa conclusão agora?
— Não, eu já vinha pensando nisso, mas só agora tive coragem de dizer a verdade a você. — Ela assentiu, se ajeitando em meu colo. — Mas, eu tenho medo.
— Medo?
— Sim, medo. O tempo inteiro você pensa em me deixar, eu não sei se…
— Eu nunca realmente quis te deixar — eu a olhei no fundo de seus olhos, conseguindo sentir a profundidade e sinceridade de suas palavras, pelo seu olhar — Eu só estava cansada da maneira que nós estávamos acostumados a ser. Mas, agora, você me disse todas essas coisas e eu sei que estaria mentindo, se fosse antes, mas sinto que está sendo verdadeiro comigo.
— Então?
— Acho que nós podemos dar uma nova chance a esse nosso amor.
— Você tem certeza disso?
— Como nunca tive antes, . — Senti tanta firmeza em suas palavras, que o meu medo de antes foi simplesmente desfeito.

Ela sorriu para mim como há tempos não fazia. Sorriu de forma doce e sincera, sem receio de aquele sorriso se transformar em lágrimas amarguradas. Estava sendo a mesma de quando a conheci, sem a preocupação de demonstrar os seus sentimentos, por mais intensos que fossem, ela simplesmente os sentia e demonstrava, sem reservas.

, ainda tem uma coisa que precisamos resolver — eu franzi a testa, confuso e ela me lançou um olhar significativo.
— O que seria?
— Você tomar um banho imediatamente e arrumar esta casa, que está um nojo! — Disse de uma forma tão engraçada, que eu não consegui conter a minha risada alta e ela me acompanhou, se levantando — É sério, , se levante e vá para o banho.
— Você me acompanha?
— Não mesmo. Enquanto você tira essas moscas que estão voando sobre o seu corpo, eu tento tirar as que estão voando sobre a casa. — Eu a olhei, boquiaberto, e a mesma sorriu fraco — Desculpa, , mas isto aqui está uma zona.
— Eu sei, você tem razão.

Tomei um banho bem demorado, precisava tirar o cheiro forte de bebida que tinha dominado todo o meu corpo. A tontura forte não passava. Eu tenho mesmo que ficar tão grogue? "Aguente firme, , daqui a algumas horas isso passa… Ou não. Mas, aguente firme.", eu disse a mim mesmo.
Vesti uma camisa branca e uma calça bege, com um par de meias qualquer. Saí do banho, sentindo o cheirinho de café invadindo as minhas narinas e percebendo que metade da casa já estava com outra aparência: limpa e arejada. Depois que a minha abriu as janelas e o ar começou a circular, o cheiro mau foi se dissipando.

— Agora sim, limpo e cheiroso — ela brincou, me dando um selinho e entregando a minha caneca do That ‘70s Show, quase transbordando de café — Para você ficar mais sóbrio.
— O que seria da minha vida sem você?
— Um chiqueiro. — Ela brincou, novamente, e eu ri alto. — Agora é sério, beba todo esse café, vai te fazer bem.
— É para já! — Eu mandei todo o líquido para dentro, de uma só vez — Ai! Queimei a língua e, talvez, todos os meus outros órgãos também, droga!
— O que foi isso, ? — me olhou, espantada — Ficou maluco?!
— Eu só queria beber logo o café, para te ajudar na arrumação da casa. — Ela continuou me olhando, com os olhos prestes a saltar do rosto — Aliás, estava bem forte.
— Mas, não com essa rapidez, . Que horror! — Eu franzi a testa, confuso com todo o seu espanto — E, sim, eu fiz o café bem forte mesmo, foi intencional.
— Eu estou bem, ok?! — Eu disse, erguendo as mãos.
— Então, vamos terminar de limpar esta casa. — Ela se virou, para ir ao meu quarto e eu a acompanhei.

Confesso que o tanto de álcool que eu ingeri me deixou moidinho, ainda mais com o esforço que fizemos para faxinar toda a casa. Não que eu seja um homem que gosta de viver na sujeira, na verdade eu estava odiando aquilo tudo, mas, nunca vi minha casa tão suja. Me senti envergonhado diante à , com tudo que encontramos de desnecessário na minha residência, porém, ela é uma mulher incrível e faz eu me sentir bem, mesmo quando eu não deveria.

— ela me chamou, depois de deitarmos na cama, rendidos ao cansaço devido à arrumação.
— Diga.
— Nunca mais deixe esta casa daquela forma! — Pediu, rindo fraco e eu a acompanhei — Estou tão cansada.
— Está mesmo? — Ela arqueou uma sobrancelha e eu dei um sorrisinho malicioso — Eu pensei que nós…
— Não pense em mais nada hoje, sua mente e corpo estão exaustos. Nós iremos apenas dormir. — se virou para o lado oposto e eu a envolvi em meus braços. — Senti falta de estar assim com você, .
— Eu também — ela girou o pescoço em minha direção e me olhou de sobrancelhas erguidas. Fiquei boquiaberto — Por que está me olhando assim? Você sabe que é verdade.
— Sim, eu sei — ela riu um pouco e começou um beijo lento, que eu tentei aprofundar logo em seguida, mas fui interrompido pela mesma. — Pode parando por aí.
— Tudo bem, ainda teremos o resto da vida para aproveitarmos a companhia um do outro.
— O que quer dizer? — Ela ergueu a sua cabeça e se virou para mim, eu apenas sorri ao vê-la curiosa. — ?
— Não quero mais ficar longe de você, . — Eu molhei os meus lábios, passando a língua sobre.
— Isso é um pedido de casamento? — Eu fiquei um tanto perdido em respondê-la, já que ainda não planejava nada do tipo — É melhor que não seja!
— Não, não é.
— Ah, então você não quer se casar comigo?
— Não. — Ela pôs a mão sobre o peito — Sim. Digo... Ah, , você está me deixando confuso! — Ela riu alto, jogando seu cabelo para o lado.
— Devia ter visto a sua expressão, , parecia tão perdido. — Ela continuou rindo de mim.
— Você adora rir de mim.
— Não, eu adoro rir com você. — Eu a roubei um beijo — Aliás, eu adoro você.
— Também te adoro, minha .

Ela sorriu largo, se ajeitando na cama, fechando os seus olhos logo em seguida. Fiquei a observando, enquanto acariciava os seus cabelos, como há tempos eu não fazia. Sua respiração era tão tranquila, que me passava calma.

— Vai ficar aí me observando até que horas? — Ela perguntou ainda de olhos fechados, me assustando, já que eu não esperava que a mesma ainda estivesse acordada. deu um breve sorriso e passou seu braço sobre o meu peito — Vá descansar, .

Confesso que tê-la ao meu lado é tão bom, que eu poderia passar horas e horas a observando... Mas, como o meu corpo não estava cem por cento e eu ainda sentia o efeito do álcool nele, como a tontura forte, me dei a oportunidade de relaxar um pouco. Afinal, desta vez, não seria como as outras noites em que me deixou sozinho e voltou para sua casa, usando as mesmas mentiras de sempre. Não, desta vez, ela ficaria, para não mais escapar.


[Fim]



Nota da autora: Estou muito feliz por mais esta criação e, desta vez, do *NSYNC, um dos grupos que eu mais amo nesta vida. Tenho um amor imenso por este grupo, que vem desde a minha infância, então, estou feliz por essa história baseada em Giddy Up. Ainda mais por começar escrevendo apenas a ideia para ela e acabar saindo a história toda, mesmo que seja bem curtinha (a mais curta que eu já escrevi).
Enfim, espero mesmo que vocês tenham gostado, de coração! 💚
Até a próxima, BJoo 😽





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