Capítulo Único
estava sentado há tanto tempo que já nem se lembrava de como tinha ido parar ali. A televisão ainda estava ligada, e a reportagem ainda continuava a ser dada. As imagens passavam diante dos seus olhos, mas ele não prestava realmente atenção no que estava sendo dito.
Como ele havia deixado sua vida chegar a esse ponto, ele não tinha ideia. Como pôde ser tão fraco nos últimos meses, ainda era um mistério. A vergonha e o arrependimento eram tão fortes, que nem mesmo se reconhecia quando olhava seu reflexo no espelho.
Olhou novamente para a televisão, sem saber como fazer o que ele sabia que tinha que ser feito há muito tempo.
Os músculos pesavam, e as pernas não obedeciam seus comandos. Estava estagnado, imerso em uma reflexão que durava meses, mas que havia chego no ápice naquele momento, após aquela notícia. As coisas não podiam continuar como estavam. Naquele momento, tudo o que ele mais desejava era poder voltar no tempo e fazer o certo em vez de pactuar com o errado.
FLASHBACK – UM ANO ATRÁS
se apresentou para o seu primeiro dia na Polícia de Seul. Após assinar os papéis de admissão, vestir seu uniforme, admirar seu mais novo distintivo, e guardar a arma no coldre, o policial recebeu sua primeira tarefa.
O que ele ainda não sabia, é que a “tarefa” nada mais era que uma pegadinha feita com policiais novatos, pelo simples fato de se tratar de um serviço impossível. Há anos policiais novos, cheios de energia e sede de justiça, entravam para o departamento de polícia de Seul, recebiam a mesma pasta amarela, contendo as mesmas informações sobre a máfia que tomava as ruas de Seul, tentavam completar a tarefa, e a pasta era novamente arquivada.
Mas não .
não iria simplesmente se dar por vencido após ler as diversas informações – ainda que totalmente inconclusivas - sobre essa máfia. Nem mesmo após ver a lista de policiais que já tentaram encontrar a sede da máfia, seus integrantes e descobrir seu modus operandi, e falharam.
Sua maior surpresa foi, após dois meses de investigação assídua, se ver diante de um clube de dança noturno, com entrada em uma viela escura e mal iluminada. Perguntou-se se a casa noturna realmente funcionava, ou servia apenas de fachada para os negócios ilícitos, mas quando viu um grupo de mulheres bem vestidas na entrada do prédio, duvidou que estivesse no local correto.
Mas então uma movimentação estranha lhe chamou atenção, e antes que pensasse em voltar para sua casa e tentar juntar novamente todas as pistas em um quebra cabeças interminável, aproveitou uma brecha deixada pela porta, e se esgueirou para dentro.
Apenas seguiu o som das vozes. Podia jurar conhecer ao menos uma delas. Pensou na promoção que a solução desse trabalho lhe renderia: , o policial mais jovem a ser promovido por solucionar um caso dado como impossível.
Antes de chegar ao final do corredor, se surpreendeu ao perceber porque havia reconhecido uma das vozes. Mark Lee, um dos policiais que trabalhava junto com ele na operação – o mesmo que lhe oferece ajuda ainda em seu primeiro dia de trabalho, uma vez que afirmava que duas cabeças pensavam melhor que uma, e não queria ver outro policial falhar na operação como ele mesmo tinha falhado anos atrás – estava ali conversando com um homem de terno. Mas não estava fardado, nem mesmo carregava uma arma nas mãos. Não parecia preocupado, nem mesmo tentando esconder sua presença das outras pessoas. Em vez disso ele recebia um pacote e o guardava dentro do casaco de usava. E ao final, cumprimentava quem quer que estivesse na sua frente com um aperto de mãos.
- A gente se vê mês que vem. – pôde ler em seus lábios. Toda sua espinha gelou, sua garganta fechou. Sabia que era novo no ramo das investigações, mas não precisava ser muito esperto para entender o que acontecia diante dos seus olhos. A corrupção dentro do departamento de polícia, vindo de seu parceiro, era o que impedia a polícia de Seul de solucionar os crimes que a máfia vinha cometendo.
Imediatamente tornou a virar o corpo, dessas vez na intenção de correr o mais rápido que suas pernas permitirem, diretamente para a delegacia. Entretanto foi parado por mãos fortes que não viu de onde vieram. E quando se deu conta, era arrastado para o final do corredor, onde o mesmo homem de terno ainda o esperava, dessa vez sozinho, sem seu parceiro.
- Vejo que o departamento de polícia de Seul encarregou um novo policial de nos encontrar. Bom trabalho.
O homem, ele percebeu, não passava de um garoto. Velho demais para ser considerado um adolescente, e novo demais para ser parte da máfia que tomava Seul e tirava o sono da polícia.
- Me diga, qual o seu nome? – o homem lhe perguntou.
pensou em não responder, mas após uma análise de por onde poderia fugir, constatou que não havia possibilidades de fuga. Ele estava preso em um corredor sem janelas, sem saber onde o final daria. Além disso, voltar por ondeveio não era uma opção, já que um segurança – três vezes maior que ele próprio – ainda tinha as mãos em seus ombros, o impedindo de dar passos em falso.
- . – ele respondeu.
Continuou sua análise, só para ter certeza de que não havia forma de ir embora dali, pelo menos não sem uma luta. Analisou a altura e peso do rapaz de terno à sua frente, considerando lutar contra ele. Talvez não fosse uma luta fácil, mas poderia se garantir. Mas então olhando sobre os ombros, teve certeza de que morreria se tentasse lutar contra o brutamonte atrás dele.
- , muito prazer. – o rapaz respondeu. – Meu nome é Park Jong, e estou à frente das atuações que a nossa... Organização realiza.
Park Jong tinha um sorriso divertido nos lábios, como se realmente estivesse se divertindo com o fato de ter um policial bem na sua frente, após ter descoberto sua identidade e ter recebido a confirmação de que sim, ele era o líder daquela máfia.
- Por organização você quer dizer máfia, imagino eu. – respondeu. Na sua voz não havia humor, mas acidez. Sua sede por justiça falando mais alto a cada momento, não admitindo aquela situação.
- Meu caro... A palavra “máfia” tem uma conotação muito pejorativa. – Park Jong continuou falando com tom leve, descontraído, despreocupado. – Vamos nos ater ao termo “organização”, pode ser? – fez aspas com os dedos, sempre mantendo o sorriso relaxado nos lábios.
- Como quiser. – tinha os dentes cerrados.
- Peço desculpas pela forma como nos encontramos. – disse abrindo os braços, fazendo menção ao lugar inóspito em que conversavam. – Não posso nem mesmo lhe oferecer uma bebida, ou uma cadeira para se sentar.
Apesar de a expressão relaxada dominar seu rosto, Park Jong parecia realmente insatisfeito com o fato de seu convidado poder estar se sentindo desconfortável.
- Não planejo ficar muito tempo, então não se preocupe com formalidades como essas.
O sorriso relaxado de Park Jong deu lugar a um sorriso satisfeito, como se tivesse ouvido exatamente o que esperava desde o momento em que percebeu o observando entregar o pagamento mensal a Mark Lee.
A partir daquele momento, teve certeza de que, provavelmente, não sairia vivo dali. Sua curta carreira no departamento de polícia de Seul havia chego ao fim. Mas então Park Jong continuou a falar de forma despreocupada, como se ele e fossem amigos de longa data.
E então não sabia como ou quando aconteceu, nem mesmo como se deixou levar, mas quando finalmente saiu de lá, voltando para as ruas escuras e pouco movimentadas, tinha dez mil dólares guardados em baixo do seu casaco.
Ficar de olhos fechados não foi difícil como imaginou que seria. Fingir que ainda juntava pistas, as quais não o levavam a lugar nenhum, também foi uma tarefa fácil. A culpa que pesava em sua mente só durou alguns dias, e depois disso não passou de um sentimento guardado no fundo da mente.
Menos de um mês do ocorrido, o departamento de polícia de Seul recebeu uma nova recruta. tinha entrado ainda muito jovem para a academia militar, e mesmo com pouca idade já se tornara uma boa policial.
se apaixonou logo de cara. Ela era durona, não tinha medo do perigo e não tinha preguiça de trabalhar. Foi difícil convencê-la a sair com ele pela primeira vez. A química entre os dois era de outro mundo, e nunca pensou que fosse encontrar uma garota como ela, que ficasse do lado dele para o que desse e para o que viesse.
- Tenho tanto orgulho de você, . – ela dizia sempre que o via trabalhar em casos importantes, que lhe tiravam o sono. – Mais do que isso, eu tenho orgulho das suas decisões.
E quando ele cancelava seus encontros porque tinha que trabalhar em alguma pista nova sobre o caso da máfia – ou, em seu caso em especial, tinha que fingir trabalhar para, ao final, sumir com a nova pista sem levantar suspeitas – sua garota era só elogios:
- Não estou brava com você, muito pelo contrário. Você sabe que está agindo certo, não sabe? – sua voz era doce, e os olhos tinham um brilho único. Suas palavras tinham mais significado do que ele poderia imaginar. – Não quero me decepcionar, então continue trabalhando assim, está bem?
E a culpa, que até então estava enterrada no fundo de sua mente, começou a dar as caras novamente.
FIM DO FLASHBACK
Ainda que a culpa pesasse, especialmente por estar fazendo todo o departamento de polícia acreditar que estava mesmo empenhado em colocar um fim nas atividades daquela máfia, ela não foi o bastante para impedi-lo de voltar, mês após mês, na mesma rua escura e sem movimentação, apenas para receber sua “recompensa” por ser “parte” do esquema.
Ele sabia que não merecia o orgulho que sua garota sentia por ele. Também sabia que nunca poderia lhe contar a verdade, pois isso a destruiria e colocaria o fim no relacionamento dos dois. Mais do que isso, seria o fim da sua carreira como policial, e não era isso que queria.
era uma boa pessoa. Ele queria fazer o certo e trazer justiça para sua cidade. Sua moral e seu caráter ainda eram os mesmos. Ignorar um pequeno detalhe, um desvio de seu caminho correto, não mudava quem ele era. E era exatamente por isso que sempre que a culpa dava as caras, ele a empurrava para o fundo de sua mente novamente.
Até aquele dia.
Seus olhos ainda estavam presos na televisão, na matéria dada em tom sério. A jornalista questionava onde estava a polícia quando aquelas mortes todas aconteceram, uma verdade chacina.
pôde reconhecer o local das mortes. Ele sabia muito bem para onde aquela rua mal iluminada levava. Apesar de ter uma casa noturna no final da rua, poucas pessoas passavam por ali, especialmente na ruela que dava para a entrada dos fundos da casa noturna. Os negócios feitos ali dentro iam muito além de simples venda de bebida para menores de idade e a apresentação de DJs com músicas eletrônicas. sabia muito bem disso.
Não era a primeira vez que mortes assim apareciam na televisão, e ele sabia o que cada uma delas significava. As brigas entre as máfias sempre eram muito discretas. Mas os desentendimentos entre os próprios membros da máfia de Seul não costumavam ser silenciosos. O recado que precisava ser passado era bem claro: ou está conosco, ou contra nós, e caso escolha a segunda opção, você será usado como exemplo para que outros não tentem se rebelar da mesma forma.
Mas o que fez seu sangue ferver foi o reconhecimento da pessoa que prestava “informações” à jornalista. Vestindo o mesmo terno preto de sempre, Park Jong mantinha uma expressão de pesar e preocupação com “o aumento dos crimes nas redondezas”.
- Acredito se tratar de briga entre gangues. Os jovens de hoje já não se dedicam aos estudos como antigamente, e muitos acabam se entregando para o crime das ruas. – sua voz tinha um pesar que parecia a mais verdadeira das preocupações, mas que sabia não passar de um texto muito bem elaborado.
- Não muito tempo atrás houve crimes nesta mesma área, apenas algumas ruas mais adiante. – a jornalista falava. – O que pode falar sobre isso?
Park Jong suspirou novamente, mantendo os olhos sem foco e os lábios curvados para baixo. A expressão era de pura pena.
- Eu só lamento por isso. Mas é claro que sabemos que da última vez as mortes foram causadas por conta de um assalto mal sucedido, como a própria polícia afirmou.
Por “polícia”, sabia que Park Jong se referia a ele. Ele, , tinha feito essa afirmação, após ter participado das “investigações”. Sua “conclusão” foi que os assaltos tinham aumentando muito nos últimos tempos, e que a morte de um casal, há poucos meses, não tinha passado de uma tentativa de assalto que deu errado. O assassino, entretanto, nunca foi encontrado. E nunca seria.
- ...não podemos continuar assim, não é mesmo? A polícia precisa tomar uma atitude. Os criminosos não podem ficar sem punição, caso contrário, o que será das pessoas de bem? – a jornalista finalizou sua matéria.
Sim, a polícia tinha que tomar uma atitude. tinha que tomar uma atitude. Ver Park Jong na televisão o fez se lembrar de que ele era o culpado por suas noites mal dormidas, por seus pesadelos. Ele também era o culpado pelo novo carro de e a nova mobília da casa.
Então ele decidiu. Isso acabaria hoje.
Sem pensar muito pegou as chaves do carro e o primeiro sapato que encontrou no caminho. A pressa era tanta que esbarrou nos móveis, o que chamou a atenção da sua garota que estava no quarto.
tinha começado a ver a matéria com ele, porém não gostava de ver os jornalistas falando mal da polícia. Apesar de ser durona no trabalho, era uma garota sensível com relação a seus sentimentos. Preferiu, então, ir para a cama, uma vez que já estava tarde e teriam que acordar cedo no dia seguinte.
- , o que está acontecendo? – ela apareceu na sala os cabelos bagunçados, já vestindo o pijama.
- Nada. – ele disse, mentindo para ela. Mentindo por ela. – Apenas preciso ir a um lugar.
- Mas agora? – ela pareceu surpresa.
olhou as horas no celular e constatou já ser quase meia noite.
- É um pouco urgente, não posso deixar para amanhã. – ele explicou, suplicando para que não fizesse mais perguntas. Estava cansado de mentir, não podia continuar vivendo assim. Tudo o que ele queria era resolver o problema que ele mesmo se meteu e já devia ter dado um basta há muito tempo.
- . – o chamou quando ele já estava com a porta aberta. – Não vá. Fique e converse comigo.
Ele queria conversar. Queria poder contar o que estava acontecendo, mas não podia. Pelo menos não ainda.
- Pelo menos coma alguma coisa antes de ir. – ela tentou de novo.
- Vou comer algo no caminho. – ele disse.
- Promete?
- Prometo. – disse. E antes de fechar a porta, continua. – Me desculpe, . Prometo que tudo vai ficar bem depois que resolver isso. Tudo vai ficar bem.
E de fato parou no caminho, mas não para comer algo. Estava tão nervoso, ansioso, com tantos pensamentos embaralhados, que acreditava que se comesse alguma coisa, iria colocar para fora. Parou o carro perto de um posto de gasolina apenas para pensar como prosseguir.
Provavelmente estaria jogando sua carreira no lixo, e as chances de ser preso eram grandes. Ele sabia que ir para a delegacia àquela hora não resolveria muita coisa, até porque o delegado não estaria por lá, e já não sabia mais em quem podia confiar dentro da polícia. Em ninguém, ele pensou. Nem mesmo nele próprio. Ele também era parte daquilo.
Por um segundo pensou em desistir, voltar para casa e fingir que estava tudo bem, que nada estava errado. Continuar vivendo sua vida de olhos fechados, e fazendo vista grossa para os crimes da máfia. Mas então pensou em sua garota o esperando em casa. Ele não podia desapontá-la.
Girou o volante, indo para o outro lado da cidade. Parou o carro em uma ruela escura, onde poucas pessoas passavam. A casa noturna, no final da rua, tocava música eletrônica e algumas pessoas ocupavam a fila, esperando seu momento para entrar.
O coração batia rápido, muito rápido. Seu estômago estava frio como gelo, e a garganta parecia fechar mais a cada segundo.
Conferiu se a arma estava carregada e a guardou na cintura. Respirou fundo algumas vezes tentando acalmar o coração e pensar em como faria aquilo. Não havia uma forma certa de invadir um prédio, nem um jeito correto de desmanchar os esquemas de uma máfia. Provavelmente seria morto assim que entrasse pela porta dos fundos. Ou poderia ser esperto e tentar chegar até o líder, Park Jong, e usá-lo como refém.
Talvez estivesse louco e não conseguia pensar direito, pois suas ideias se misturavam. Junto com a sede de justiça, de fazer o certo pela primeira vez em muito tempo, ele queria se vingar. Se vingar da pessoa que o fez se tornar um policial corrupto, uma pessoa não confiável. Por pactuar com o crime na sua cidade, quando ele deveria ser a pessoa a erradicar com ele.
E sem saber muito bem como faria aquilo, simplesmente desceu do carro.
Sua entrada não foi barrada, pelo contrário. Os seguranças até mesmo o cumprimentaram ao passar, e isso só fez com que se sentisse ainda mais sujo.
Foi direto para a sala no final do corredor. Alguns poucos seguranças encontravam-se espalhados, sem parecer realmente preocupados em cercar seu líder, seu chefe. Park Jong estava sentado em uma cadeira grande, vestindo seu famoso terno preto. Na posição em que estava, parecia emanar poder enquanto relaxava em seu trono particular.
A iluminação da sala concentrava-se no centro desta, deixando as extremidades escuras, mas há tempos já não se perguntava o porquê disto. Também nunca mais questionou para onde as diversas portas – todas dispostas discretamente nas extremidades mal iluminadas da sala – levavam. Aquilo não era de seu interesse, realmente. Apenas aparecia quando precisava receber sua recompensa mensal pelos serviços prestados à máfia. Novamente sentiu o estômago embrulhar.
- Olá, . Estava à sua espera. – Park Jong disse, sorrindo relaxado como sempre.
- Bem, aqui estou. – ele respondeu, mesmo que não tenha entendido o motivo de Park Jong estar o esperando.
- A que devo a honra da sua presença?
olhou em volta antes de responder. Sabia que Park Jong nunca andava armado – ele não gostava de armas – mas seus seguranças sim. Ainda que todos estivessem distraídos, sabia que o movimento de sacar uma arma, mirar e atirar só precisava de segundos para se concretizar.
- Precisamos conversar. Eu e você.
- Mas é claro! – Park Jong jogou as mãos para cima, e se ajeitou melhor na cadeira, deixando claro que estava mais do que confortável na posição em que estava. – Quem sou eu para negar uma conversa com um amigo como você?
- Não somos amigos. – respondeu imediatamente, mantendo os dentes cerrados.
- Não vou mentir, fiquei ofendido. – Park Jong colocou a mão no peito, em sinal de uma tristeza falsa. – Mas como quiser, vamos conversar. O que acha de irmos lá para fora? – seus olhos sempre divertidos passavam a mensagem de que Park Jong tinha uma ideia diferente de conversa. Suas conversas nunca terminavam apenas em palavras. E bem, se era briga que ele queria, seria briga que lhe daria.
Novamente olhou em volta. Os seguranças ainda se mostravam imersos em qualquer coisa que não fosse Park Jong. Ou o chefe da máfia era muito bom em se proteger sozinho, ou ele teria que contratar uma nova equipe de segurança particular.
, entretanto, não respondeu à pergunta, apenas abriu espaço para que Park Jong fosse na frente. Este, por sua vez, não seguiu por onde tinha vindo, mas foi em direção a uma das diversas portas misteriosas que não fazia ideia de para onde davam.
Ao chegarem do lado de fora, reconheceu a viela escura da rua de trás da casa de shows. As paredes eram sujas, e o bolor tomava conta de cada uma delas. Ao final da ruela, uma grade fechava a saída, deixando claro que só havia um caminho para entrada e saída dali. O chão não tinha asfalto, mas pedras de paralelepípedo, e as latas de lixo encostadas em uma das paredes deixava o odor do ar insuportável.
- Agora... Vamos conversar.
virou surpreso, não se dando conta que Park Jong havia ido para trás de si. Mal teve tempo de se posicionar defensivamente e sacar sua arma, quando mais uma voz lhe surpreendeu.
- , espere.
Vindo de algum lugar que fugia da vista de , uma mulher vestindo um sobretudo prateado se aproximou. Seu rosto estava coberto pelo capuz, e não pôde deixar de estreitar os olhos para a pessoa à sua frente.
parou poucos passos dele, levantando a cabeça devagar, e jogando o capuz para trás. Seus olhos analisavam de maneira minuciosa, enquanto este só tinha um pensamento em mente:
- ? Como... Como chegou aqui?
Como ela havia descoberto aquele lugar? Mais do que isso, como ela sabia que ele estaria ali?
- Fiquei preocupada e vim atrás de você. – ela respondeu e, apesar de ainda achar sua voz doce, percebeu o cuidado usado em suas palavras. Estaria sua namorada preocupada que ele pudesse fazer alguma besteira e por isso havia o seguido até ali?
apertou os olhos, não acreditando naquilo. Ela era tudo o que ele não queria no momento, não ali, não naquele meio. Ela acabaria sendo mais uma vítima do sistema das máfias, assim como ele, e isso ele não poderia permitir, não com a sua garota.
- Vamos conversar. – ela disse se aproximando cautelosamente. E foi quando ele lembrou que não estavam sozinhos, mas que Park Jong e seus capangas também estavam ali. Virou-se depressa, a arma em punho, pronto para se defender e proteger , mas Park Jong mantinha-se afastado juntamente com seus seguranças de merda. O sorriso relaxado, entretanto, tinha dado lugar a um sorriso satisfeito.
- , você não faz ideia do que está acontecendo aqui. – ele disse depressa sem tirar os olhos de Park Jong. – Não imagina onde estamos.
- Eu sei muito bem onde estamos. – ela respondeu firme sem dar tempo para continuar seu discurso que, ela sabia, seria chato e longo.
respirava com dificuldades devido à tensão e à surpresa. Não sabia para onde desviava sua atenção, se para – ele tinha que protege-la, disso tinha certeza – ou se para Park Jong à sua frente que ainda não havia movido um músculo sequer.
- Não, você não entende... , essas pessoas...
- Estou decepcionada com você.
E foi nesse momento, em que um raio iluminou o céu, e o som o trovão retumbou nas paredes do lado de fora, que olhou para com atenção.
- Não entendo... O que o fez mudar de ideia?
Confuso e totalmente perdido, se arriscou a dar as costas para Park Jong que parecia se divertir com o diálogo entre o casal.
- O que, exatamente, pretendia conseguir vindo aqui hoje? – ela perguntou curvando o pescoço, como se conversasse com uma criança.
- O que eu... Eu... – ele não sabia o que falar, nem mesmo como falar. Tampouco entendia o que estava acontecendo e como havia se metido naquela situação inusitada. – Vim conversar com Park Jong, chefe da máfia de...
- Chefe da máfia?! – perguntou sem deixar que terminasse sua fala.
E quando pensou que sua namorada policial fosse sacar sua arma e se juntar a ele contra Park Jong e seus capangas, se surpreendeu quando ela apenas mudou sua atenção para Park Jong, ignorando completamente .
- Ele só pode estar brincando. – falou, mas não para .
Park Jong, por sua vez, apenas deu de ombros, sempre mantendo o sorriso debochado nos lábios.
- Ele chegou a essa conclusão sozinho, eu apenas não desmenti. – ele disse em tom relaxado. Park Jong e estavam conversando ali, com bem no meio deles, e tudo isso parecia normal demais para ambos.
- Que porra está acontecendo?! – gritou perdendo a paciência.
voltou os olhos, agora entediados, para .
- Apenas não gosto que usurpem a minha posição. – ela respondeu com os dentes cerrados e a expressão séria.
- Como?! – perguntou novamente. Que porra estava acontecendo ali?
- Eu jamais faria isso! – Park Jong respondeu. Tinha a mão no peito e em seu rosto uma expressão de surpresa e ofensa. – Você sabe que sou a pessoa que mais apoia a sua liderança, maninha.
E então foi como se o barulho do trovão tivesse ocorrido dentro da cabeça de . Seu estômago embrulhou com as várias lembranças de chegando ao departamento de polícia, sendo apresentada a ele, trabalhando com ele nas investigações sobre a máfia... E então das frases que insistia em repetir para ele.
Não me decepcione.
Estou orgulhosa de você.
Você sabe que está agindo certo, não sabe?
- Você... – ele começou, mas lhe faltaram palavras.
- Quer dizer, eu sabia que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde. As pessoas sempre desistem de fazer o certo e acabam me decepcionando. – ela disse, suspirando ao final.
começou a andar em volta de a passos lentos, indo parar atrás dele. O policial, entretanto, estava estático, paralisado na mesma posição desde que começara a falar.
- A culpa é minha. – ela continuou. – Eu nunca deveria ter deixado as coisas chegarem a este ponto. Principalmente, não deveria ter deixado as coisas nas mãos de Park Jong.
- Outch! Assim você me ofende, maninha.
finalmente conseguiu virar seu corpo em direção à e Park Jong. Seu cérebro parecia travado, parado no tempo. As coisas que ouvia não faziam sentido, não se encaixavam. A pessoa que via em sua frente, sua namorada, não condizia com a que ele acreditava conhecer.
- Você... Você não pode estar falando sério. – disse, lutando contra seu instinto de gritar, berrar, por uma explicação para o que estava acontecendo. – Isso só pode ser uma brincadeira. –e num ato de fúria acabou apontando a arma para os irmãos à sua frente.
E foi neste momento que a confusão do policial duplicou, triplicou.
Um grupo de mulheres, todas vestidas com a mesma capa prateada de , apareceu de lugar nenhum. Em questão de segundos, estava cercada, imersa em uma barreira de corpos. Entretanto, elas não o atacaram, apenas mantiveram suas posições, deixando e Park Jong protegidos dele.
- Sabe, não é a primeira vez que isso acontece. – disse, abrindo espaço entre as mulheres à sua volta. Ela não parecia assustada com a fúria de , nem mesmo com a arma sendo apontada diretamente para ela. – No ano passado tivemos um incidente como este. O mesmo arrependimento por conta da “moral” que vocês insistem em defender. – ela disse fazendo aspas com os dedos. – Bem, vou lhe dizer uma coisa: vocês, da polícia, deveriam estar mais preocupados em defender as ruas dessa cidade, em garantir uma vida segura para as pessoas de Seul.
- Mas é exatamente isso que eu tento fazer! – ele gritou desesperado. Desesperado para colocar para fora toda a confusão de sentimentos que estava sentindo no momento.
rolou os olhos antes de responder.
- Ora, me poupe, . Você e eu sabemos que a polícia não está interessada em cuidar de “pequenos” crimes, nem de ir atrás de “pequenos” infratores. – novamente fez aspas com os dedos, não economizando no tom de deboche enquanto falava – Vocês, policiais, só pensam nas promoções e reconhecimentos que poderão receber se destruírem a máfia, ou se pegarem o líder de alguma organização criminosa.
não podia acreditar no que estava ouvindo. Sua mente ainda se recusava a aceitar que aquelas palavras vinham da boca de , sua parceira, colega de trabalho, sua namorada, a mulher durona em serviço, porém sensível dentro do relacionamento. E como se os céus estivessem mandando uma mensagem para ele, uma chuva torrencial começou a cair, tudo para deixar aquele momento ainda mais angustiante.
- Nós não somos os bandidos, sabe? Talvez algumas de nossas práticas não sejam consideradas legais, mas nos preocupamos em ajudar a tirar crianças das ruas. Mais do que isso, damos ensino e nos preocupamos com sua educação, além de garantirmos um lugar dentro da nossa organização quando elas se formarem. Por nossa causa a economia gira, entra e sai dinheiro dos bancos todos os dias. Damos empregos para vocês, policiais, e ainda ajudamos alguns de vocês e conseguir uma renda extra no final do mês como recompensa pelo serviço prestado.
Ele respirava com dificuldade. As palavras de encaixando-se uma por uma em sua mente. Quando foi responder, precisou gritar por conta da chuva:
- Então você admite ser parte disso tudo? – ele perguntou mantendo os dentes cerrados. – Além de ser uma policial corrupta é também integrante da máfia de Seul?
riu da pergunta de , mas foi a risada de Park Jong que lhe chamou a atenção. Park Jong mantinha uma expressão de divertimento e deboche do rosto, como se a situação ali instalada realmente o divertisse.
- Integrante? – Park Jong perguntou. – Ah, meu caro, você não faz ideia de com quem está lidando, não é mesmo? Parabéns, você tem a chefe da máfia de Seul na mira da sua arma. Bem, na verdade agora você está apontado para o irmão dela, mas... – deixou a frase no ar.
E tudo isso não poderia deixar mais transtornado, sem conseguir definir qual sentimento o dominava no momento.
- Estou verdadeiramente decepcionada com você, . – disse com pesar.
- Talvez devêssemos dar outra chance a ele. – Park Jong falou para , virando-se para ela e ignorando completamente um louco de raiva com uma arma em punho.
, entretanto, revirou os olhos.
- Você nunca aprende nada mesmo, não é? – ela perguntou, também ignorando a presença de bem à sua frente a ponto de ter um colapso nervoso. – Quantas vezes eu preciso lhe dizer? Nós não damos segundas chances.
E sem esperar por algo parecido, o primeiro tiro foi disparado. Este não partiu da arma que tinha em punho, mas da de , que foi sacada em um piscar de olhos. Mesmo à distância e com a chuva forte, ela mirou e atirou. caiu. Sua própria arma, ainda que estivesse caída ao seu lado, parecia pesada demais para ser levantada. Sim, ele ainda estava vivo, mas a dor que sentia era excruciante e a chuva apenas dificultava sua visão e respiração.
- Garantam que ele não abrirá a boca. – ele pôde ouvir falar para alguém.
Com a pouca visão que lhe ainda tinha, contou ao menos seis mulheres se aproximarem dele, todas vestindo o mesmo casaco prateado e usando botas de couro.
- Vocês nunca vão se safar. – ele prometeu. E foi a última promessa que fez, antes de ouvir o segundo disparo.
Park Jong estava boquiaberto ao lado de .
- Jura? – perguntou para uma das seguranças de , a mesma que atirara novamente em .
- Garanti que ele ficasse quieto para sempre. – ela disse. – Cumpri minha ordem, senhora. – voltou-se para .
- Você fez bem. Bom trabalho. – respondeu sem se atrever a olhar o corpo jogado no chão. Apesar de ter tido um relacionamento falso com durante todos aqueles meses, não podia negar que ele tinha potencial. Seria de grande ajuda para a máfia, se não fosse tão moralista. Ela apenas lamentava. – Façam parecer que foi um assalto e vamos embora.
E sem esperar que suas mulheres terminassem o trabalho, virou-se de costas e foi embora, deixando para trás o que poderia ter se tornado uma história menos trágica se não fosse tão covarde.
4 MESES DEPOIS
O departamento de polícia de Seul estava recebendo seu mais novo recruta, naquela manhã. O delegado sabia que substituir não era uma tarefa fácil, afinal, ele tinha sido um bom policial. Morrer nas mãos daqueles que ele jurara proteger a cidade tinha sido uma fatalidade que a polícia nunca esqueceria,
- Hey, novato. Vamos para a sua mesa, temos um novo caso para você para te dar as boas vindas. Será que você conseguirá solucioná-lo?
O novo recruta estava mais do que animado com seu novo emprego, especialmente e poder trabalhar com um caso famoso dentro do departamento de polícia de Seul. Tinha ouvido falar que se tratava de um caso impossível, mas ele não acreditava realmente nisso. Afinal, ele daria o seu melhor para solucionar aquilo.
- E antes que eu me esqueça, deixe-me lhe apresentar sua nova parceira. – o delegado continuou. – Novato, esta é . Ela se encarregará de lhe explicar como as coisas funcionam por aqui.
E tudo o que pôde fazer foi concordar com o delegado. De fato, ela se encarregaria de deixar bem claro como as coisas funcionavam por ali.
Fim.
Nota da autora: OE OE OE! E então, menines, turubom? Não sei se todo mundo que leu a fanfic já conhecia o MV da HyunA (rainha suprema), mas quando assisti pela primeira vez, logo me veio a ideia de uma máfia comandada por uma mulher, hahahaha Não sei se a fanfic fez jus ao MV, mas foi de coração. Além disso, quando sentei pra escrever foi tudo muito fácil, nem vi a contagem de palavras aumentando, haha Então espero de verdade que vocês tenham gostado <3 Deixem um comentário pra fazer a autora feliz, e se tiverem tempo e curiosidade, deem uma olhadinha em outra fanfic que fiz também baseada em MV, Run & Run (também da rainha suprema HyunA).
Beijooos e até a próxima!
Angel
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Beijooos e até a próxima!
Angel
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