Finalizada em: 07/03/2018

Capítulo Único

Diferente do que pensavam, não era fácil ser uma burguesa como em plenos anos 60. Era como ter nascido na época errada, porém com requintes de crueldade quando o destino lhe deu uma missão inusitada em mãos, tornando-a investigadora após seu pai mexer alguns pauzinhos com seu dinheiro e influências. Ela odiava isso, odiava ter conseguido seu cargo porque seu pai o dera na mão, mas a sociedade ainda tinha a mente fechada quanto a mulheres no poder. Como conseguiria o trabalho que sempre sonhara se não fosse assim?
Era por isso que há seis anos fazia o seu melhor naquela delegacia, para ser merecedora do cargo que tinha, constantemente estudando e se atualizando nas novas tecnologias. Estava em um local onde ninguém confiava em si além de si mesma, então precisava sempre ser a melhor e estar a frente de seu tempo, tanto em questão de trabalho tanto em sua mentalidade. Era uma mulher determinada de vinte e oito anos, uma mulher independente.
Foi aí que ele apareceu em sua vida. podia ser descrito como um cretino, suspeito de fraude e estelionato, as acusações vinham que ele tinha tentado aplicar um golpe na empresa de máquinas de seu próprio pai, vendendo peças falsificadas durante anos e fora do padrão de qualidade. Ele era da pior das espécies, e deveria encontrar provas para incriminá-lo, porém era mais difícil do que parecia ser.
Nunca encontrara alguém tão esperto quanto ele. E era por isso que para aquela investigação declinou a toda ajuda de sua própria divisão que poderia ter, todos os policiais que lhe ofereceram formas de pegá-lo apenas para ganhar o prestígio de seu pai. Daquela vez seria diferente e o pegaria com suas próprias mãos, usando todo o conhecimento que adquirira naqueles anos de estudo e também faria qualquer coisa que precisasse fazer no caminho.
Estava terminando de ajeitar algumas caixas no seu escritório temporário, montara uma base especial para aquele caso, uma base na mesma rua da casa do suspeito onde podia monitorá-lo de perto e aprender toda sua rotina. Suas persianas estavam abertas durante todo o dia, dava o ângulo perfeito para a casa duas a frente da qual estava em principal a janela de seu escritório, a qual passava o dia todo em frente ao mesmo tempo que analisava os papéis de acusação.
Mas amanhã o dia seria diferente. Conforme escurecia, ela guardava a câmera fotográfica dentro da primeira gaveta da escrivaninha e pegava seu binóculo para observar a rua. Como acontecia há dois dias, ele chegava pontualmente as sete e meia, com o terno cinza de risca de giz completamente alinhado e o rosto coberto por um chapéu cinza combinando com todo o resto de sua imagem. Suspirou frustrada em ter de deixá-lo ir tão facilmente, assistindo-o entrar em sua casa calmamente e ainda olhar para direção de sua janela antes de entrar, fazendo-a se abaixar rapidamente para esconder-se.
o decorara completamente, com exceção de seu rosto. nunca aparecia sem os chapéus, e isso dificultava completamente o reconhecimento principalmente de alguém que nunca havia tido contato direto com ele, como ela. Podia reconhecê-lo facilmente pelas pernas longas e os ombros largos, a forma de andar e até mesmo de girar a maçaneta da porta, porém se visse seus cabelos ou olhos não poderia confirmar sua identidade.
Em seus sonhos, há uma semana ele sempre aparecia como um homem sem rosto, virando lentamente em sua direção, porém acordava antes que ele virasse completamente e pudesse ver seu rosto. Mas a garota queria mudar isso, e queria mudar logo.
― Me espere, .

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Além de cretino, era um homem peculiar.
Pelo menos era assim que ela estava tentando pensar para não acabar baixando demais o nível do palavreado. Acordara às sete em ponto, uma hora antes da hora que ele costumava sair e então se arrumara, indo para seu carro estacionado na frente da casa para esperá-lo. Ele andava de transporte público apenas para dificultar seu trabalho, já que era difícil ser furtiva parada próximo a um ponto de ônibus e tentando descobrir qual ele pegaria.
Tudo isso para ele chegar no shopping do centro da cidade e entrar em uma relojoaria. Ela o seguiu por tanto tempo para vê-lo comprar um relógio novo e depois ir até uma lavanderia, pegando pelo menos três ternos parecidos com o que vestia no momento. Tirava fotos sempre que o via, mas não tinha nada que interessasse a investigação em mais, além de continuar difícil enxergar seu rosto uma vez que ele continuava andando de chapéus.
O pior de tudo era a sensação que tinha de que ele sabia que estava sendo seguido. Entre um passo e outro, sempre olhava para trás onde estava e mesmo que em sua mente ele não tivesse um rosto, podia imaginar que ele estava sorrindo de canto orgulhoso. Tinha vontade de socá-lo sempre que pensava assim, mas mantinha a compostura dentro do carro, observando-o de longe.
Porém, por um segundo desviou o olhar para anotar o endereço da onde ele entrara, viu de soslaio alguém com a mesma roupa que o homem correndo e virando a esquina. Arregalou os olhos ao perceber o que ele havia feito, jogando a caderneta e o mapa no banco de trás rapidamente e ligando o motor para segui-lo. Mas assim que virou a esquina, já havia sumido sem deixar nenhum rastro.
― Droga! Esse desgraçado…
Bateu no volante, frustrada. Como aquele infeliz conseguia ser tão rápido e esperto…? Mal imaginava que ele estava no beco, praticamente ao lado de seu carro, lhe esperando passar para poder sair na rua como se nada estivesse acontecendo.
Não teve opção alguma se não voltar para casa e esperá-lo fazer o mesmo, sentada em sua janela com o binóculo em mãos. O relógio bateu sete e meia quando ele apareceu ao longe no horizonte, se aproximando com passos calmos e o chapéu levemente mais levantado do que de costume. Arregalou os olhos com isso, podendo analisar bem seu queixo bem acentuado e o sorriso… O sorriso de canto vitorioso de quem sabia que havia ganho daquela vez.
Bateu com raiva em sua parede no mesmo momento que ele parou de andar, virando levemente o corpo em sua direção. Ele queria mostrar que sabia, esfregar em sua cara e dizer que não iria vacilar. Mas não estava disposta a deixar aquilo lhe assustar, por isso apenas continuou na mesma posição que estava, camuflada pela escuridão da noite e pela persiana, o observando entrar na casa de um andar.

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podia saber que estava sendo seguido, mas ambos tinham a mesma arma em mãos: não podiam se reconhecer pelos rostos. Mesmo que parecesse pouca coisa, seria engraçado ele simplesmente sair da loja sem chapéu e então vê-la ficar confusa por não saber como era exatamente. A tentação de fazer isso era grande, mas ele se controlou e só se escondeu. Sabia que devia tomar cuidado, mas era aquelas: quem não deve não teme, a despistou apenas porque não queria uma desconhecida bisbilhotando sua vida.
Claro que estava completamente equivocado em pensar que aquilo seria o suficiente para que ela parasse, pois as coisas estavam aparentemente ficando mais sérias. Estava simplesmente tomando seu café da manhã no restaurante que costumava o fazer sempre e sabia que ela estava perto. A sensação de ser seguido não era uma que você pode confundir facilmente.
A garçonete se aproximou com a xícara de café em mãos, a deixando em cima da sua mesa e saindo logo depois. ergueu a mão coberta pela luva de couro preta, tomando seu café normalmente, porém não demorou muito para que acontecesse alguma coisa: a garçonete tropeçou com um copo d’água que caiu por inteiro em cima de suas mãos.
― O-Oh, me desculpa!
A garota parecia genuinamente desesperada, se curvando em desculpas e então tentando pensar no que fazer enquanto olhava para si e para os lados de forma nervosa, pegando a toalha que guardava em seu avental, já a esfregando na madeira repetidamente. não fez muito mais que suspirar, retirando as luvas das mãos e as deixando em um canto da mesa que a funcionária tentava secar sem muito sucesso, apenas a fazendo ficar mais angustiada.
― Você pode ir, não foi nada demais. ― sinalizou para o lado com a mão, já voltando a pegar a xícara de café que saiu intacta por estar mais ao centro da mesa.
Ela pareceu ficar surpresa com aquilo, porém a atenção da garota foi para suas mãos descobertas segurando a xícara e ela simplesmente a tomou de sua mão, saindo correndo para o beco que ficava ao lado do estabelecimento, o fazendo levantar e quase por reflexo correr atrás dela. Porém, se obrigou a parar por saber que não podia. Provavelmente estava sendo observado de longe seria parado e então sua situação pioraria.
Soltou o ar frustrado, enquanto no carro estacionado no começo da rua a garota comemorava consigo mesmo o sucesso da primeira missão do dia.
Assim que pegou a xícara e a levou para análise científica para comprovar se as digitais do garoto eram as mesmas daquele que havia analisado a última peça falsa que mostraram a seu pai, ela voltou para sua casa com outra missão em mãos: entrar na casa dele.
Sabia que isso podia ser considerado um nível de doença e que não tinha exatamente um mandado, mas seu chefe dissera que teria de ter provas concretas para poder ter um mandado em mãos e não tinha muito mais que depoimentos de acusação, então resolveu pegar alguns grampos de cabelo e tentar a sorte.
Se certificou de que não tinha ninguém passando por ali quando começou a chacoalhar o acessório na fechadura e para sua sorte a porta não resistiu muito a abrir. entrou rapidamente na casa, fechando a porta atrás de si logo após e então sentindo o cheiro característico de casas que ficavam muito tempo trancadas.
A decoração era sóbria em tons de bege e marrom, sem nenhuma marca pessoal, o que a levou a questionar se ele não fizera o mesmo que si e aquele lugar não apenas um refúgio temporário enquanto ele tratava de coisas que precisava por perto… Rapidamente foi até o primeiro armário que encontrou, abrindo a gaveta e começando a revistá-lo.
Queria encontrar algum documento assinado em relação a empresa ou a lotes de peças aprovados, mas outra coisa lhe chamou a atenção enquanto vasculhava o monte de papéis, porém não teve tempo de lê-lo. O barulho de chave sendo encaixada na maçaneta fora completamente desesperador, a fazendo bater a gaveta e procurar qualquer buraco onde coubesse, mas não havia local nenhum ali ao qual podia se esconder, por isso seu instinto foi correr para atrás da porta que a camuflou assim que foi aberta.
O quão sortuda fora pelo garoto deixá-la aberta, apenas abrir a gaveta que estava fuçando há poucos segundos e então dar as costas e sair, puxando a maçaneta consigo? Não soube dizer, porém o destino devia estar ao seu lado naquele dia. Esperou alguns minutos para ter certeza de que estava em segurança e então andou calmamente até o armário, porém havia levado o documento que queria analisar, lhe deixando apenas com a memória que tinha do título em letras grandes e bem marcadas com o nome do hospital e os números de preço de tratamento sendo listados embaixo.

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Não conseguira dormir a noite pensando no que aquele hospital e aqueles números queriam dizer. E foi por isso que em plenas duas da manhã, pegou seu carro e dirigiu até o Hospital de Urgências da cidade, com um casaco fechado por cima do pijama e os cabelos despenteados. Bom, ao menos era um hospital e podia apostar que as pessoas apareciam lá de formas bem piores.
A recepção estava praticamente vazia e agradeceu mentalmente por isso, andando diretamente até a atendente que estava distraída lendo algumas fichas. Já colocou uma das mãos no bolso, segurando o distintivo caso fosse necessário.
― Boa noite, eu queria saber se está nesse hospital. ― jogou o verde apenas para iniciar a conversa com a mulher que se assustou ao ser chamada, piscando algumas vezes antes de recobrar a atenção.
― A senhorita é parente dele? Não posso passar informações se não for. ― a recepcionista fazia o procedimento comum, fazendo a investigadora suspirar em ter que fazer aquilo.
― Eu sou… ― entrou em um dilema ao se preoarar para falar aquilo. Podia mostrar o distintivo e então ser questionada em ter ou não um mandato, algo que novamente estava fora de seu alcance, ou simplesmente fazer um drama básico e conseguir informações de outra forma. Soltou o distintivo dentro do bolso, suspirando. ― Namorada dele. De muitos anos, desde o Ensino Médio.
― É mesmo…? ― ela pareceu meio frustrada ao ouvir isso, provavelmente olhava para com outros olhos.
― Sim! Você precisa me ajudar, eu trabalho em outra cidade e recebi uma ligação de um amigo dizendo que era urgente e eu precisava vir pra cá, mas o sinal estava tão ruim que eu não pude ouvir muito bem, mas sei que é algo com o , porque passei na casa dele e ele não estava. ― o tom de voz choroso e cheio de nervosismo que usava era perfeito para o papel de namorada que estava tentando se controlar porém não conseguia que queria se encaixar. ― Eu já fui em três hospitais, você pode só me dizer se ele está aqui?
A recepcionista piscou algumas vezes, atônita com aquela história e então pareceu pensar por alguns minutos, olhando bem para o estado de . Ela realmente parecia alguém que saíra às pressas de casa por uma emergência e sabia que estava se arriscando em dar informações sem confirmação do relacionamento dos dois, mas a história a comoveu.
― Na verdade ele está aqui, sim. ― aquilo fez um arrepio ruim subir pela espinha de . Quando ele saíra, por onde, por que não o vira…? ― Mas não é ele quem está internado. É a mãe dele.
― A… A mãe…? ― aquilo fora um soco no estômago da policial que nem mesmo precisou atuar sua surpresa.
― Sim, ela infartou… O-Olha, ele está ali!
aparecia no corredor e assim que a funcionária apontou para atrás de onde estava, desviando o olhar dela por alguns segundos, ela correu tão rápido que sumiu em um piscar de olhos, antes que ele a visse, e deu partida no carro antes que ele pudesse sair e a ver, ainda anestesiada pela descoberta que fizera.
O arqueou uma das sobrancelhas ao ver a recepcionista apontando para si, se aproximando do balcão para saber o que estava acontecendo e vendo-a tremer assim que percebeu que a figura de casaco longo e cinza sumira ao se distrair por dois segundos. O a vira também, porém fora tão rápido que ele mal conseguiu relacionar os acontecimentos.
― Algum problema? ― questionou assim que se aproximou do balcão, as mãos nos bolsos da calça social tentando se livrar um pouco do frio que fazia.
― S-Senhor, a sua namorada, ela acabou de… ― estava novamente de frente para uma funcionária desesperada em menos de dois dias, tentando encontrar explicações para a besteira que provavelmente havia feito.
― Minha namorada? ― ele franziu o cenho, estreitando o olhar na direção da mulher.
― S-Sim, uma senhorita acabou de aparecer aqui dizendo que era sua namorada, falando que um amigo de vocês ligou avisando que era urgente, mas ela…
― O que você disse pra ela? ― começava a ficar frustrado com todo o universo conspirando contra si naqueles momentos. Aquela garota era esperta e sabia jogar o jogo, começou a temer perdê-lo. Como ela sabia sobre o hospital?
― Contei sobre sua mãe. ― agora que a mulher parecia mais em choque ainda, esperando a retaliação vir como um raio.
― Ah, não se preocupe. Nosso amigo deve ter tido que eu não queria que ela soubesse, então ela ficou nervosa quando achou que eu a vi. ― forçou um sorriso simpático que pareceu tranquilizar a desconhecida e tirar um chumbo dos ombros dela. ― Tenha uma boa noite.
Então ele se maneou a cabeça levemente, saindo do hospital e dando a volta para o jardim, socando a primeira coisa sólida que apareceu em sua frente. Se ela queria que as coisas fossem daquele jeito, então assim seria.

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Há três dias criara um padrão novo em sua rotina. Todos os dias, exatamente as oito e dez da manhã e as sete e vinte da tarde ele ia até o telefone público da esquina da rua onde morava e falava no telefone por exatos dois minutos, saindo logo após. Exatamente depois de sair de casa de manhã e chegar em casa a noite, arrumara um equipamento em seu escritório que funcionava como uma escuta se instalasse ele direito no telefone.
E foi isso que tentou fazer na manhã daquela quinta-feira, saindo meia hora antes do horário que saia de casa para ir até a cabine e ter algum tempo para programar o aparelho. Estava tão concentrada nisso, que apenas percebeu o tanto de tempo que havia passado quando ouviu duas batidas suaves no vidro. Olhou para trás e então o encontrou lá, parado com o chapéu lhe cobrindo o rosto ligeiramente abaixado.
Olhou o relógio por não acreditar que já haviam passado meia hora e realmente estava certa. Só passaram quinze minutos, ele estava adiantado. Colocou o telefone de volta no gancho apenas para efeitos dramáticos e então abriu a porta, vendo-o dar um passo para trás para abrir o caminho para si.
― Desculpe interromper. ― ouviu a voz grave tão próxima de si que lhe fez ter arrepios por todo o corpo, a fazendo se amaldiçoar por aquelas reações exageradas.
― Tudo bem, eu já tinha acabado. Tenha um bom dia. ― se curvou levemente na direção do homem, saindo rapidamente logo após.
sorriu para si mesmo com a cena, entrando na cabine e dando um tempo para ter certeza de que ela havia se afastado o suficiente. Então, enquanto estava escondida atrás de um carro com os fones no ouvido e o aparelho de escuta na mão, ele somente tirou o telefone do gancho e não digitou número nenhum.
― Estação de trem principal, às seis da tarde.

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Se perguntava porque estava suando tanto se apenas ouvira a voz do maldito daquela forma tão escassa. O tom rouco que ele usou para falar sobre a estação lhe fez perder o ar completamente, principalmente pensando que o desgraçado sabia sobre a escuta, por isso não ligara para ninguém. Ele queria se encontrar consigo? Se ele já sabia de tudo, por que não falar logo assim que se encontraram no telefone?
Aquele homem a deixava louca.
não lhe dava um tempo de descanso e ela já estava confusa em pensando em como se sentia em relação a ele. No começo era um profundo ódio e asco, mas agora não conseguia parar o sentimento de curiosidade e compaixão. Por que tinham que meter a mãe no meio? nunca teve estruturas pra lidar quando botavam a mãe no assunto.
Terminava de se arrumar exatamente às cinco e quarenta da tarde, e apenas daquela vez se deixou voltar atrás de sua palavra e explicou a situação a seu superior, pedindo para enviarem uma patrulha discreta para o local de encontro caso precisasse de reforços. Também escondeu a arma dentro do bolso interno do casaco e então saiu de casa, chegando na estação exatamente às seis em ponto.
Sabia que ele estaria lhe esperando, e não estava errada. Assim que deu o primeiro passo para dentro da plataforma viu-o de frente para o vagão, o chapéu preto em conjunto com o terno de tom de madeira envelhecida a chamaram a atenção e a fizeram correr assim que ele entrou no trem que já anunciava a partida.
Por um minuto achou que o tinha perdido, mas sabia que ele estava perto porque queria que estivesse ali. Por isso apenas sentou calmamente, pegando um jornal que alguém deixou em cima do banco e começando a lê-lo. O caos estava instalado na empresa de seu pai estampando a primeira página como compradores e incentivadores de mercadorias de segunda mão.
Suspirou, tinha que pegar e tinha que pegar rápido, mas para sua sorte ele mesmo passou em sua frente assim que terminou de ler a página, chamando sua atenção ao continuar andando até o próximo vagão. Assim que ele abriu a porta e o atravessou, se levantou e fez o mesmo, seguindo-o de perto e vendo que a cada segundo ele aumentava o ritmo dos passos, a obrigando a fazer o mesmo.
Quando percebeu, os dois corriam entre as pessoas e vagões, atravessando todos em uma velocidade considerável e chamando a atenção de todos os que os viam, até que chegaram na oitava porta ao qual atravessaram e ele parou de andar. Aquele estava mais vazio do que os outros que passaram anteriormente, mas quando o suposto criminoso deixou-se ser alcançado por , a última coisa que ela prestou atenção foi em quantas pessoas estavam os olhando, colocando a mão no ombro de delicadamente para que ele virasse.
― Com licença, . ― pediu e então ele realmente virou o corpo para si, revelando o homem a frente dele que segurava uma arma, apontando-a para o seu suspeito principal. Pelo menos ele era até o momento.
O reflexo de fez com que o empurrasse rapidamente, fazendo o homem cair em um dos assentos vazios e então sacar a arma escondida dentro de seu casaco. Estava em desvantagem de tempo, já que o desconhecido atirou ainda quando ela destravava o gatilho, porém a chutou não muito delicadamente nos pés, a fazendo perder o equilíbrio e acabar caindo para o lado, fazendo o tiro passar exatamente onde sua cabeça estaria caso não estivesse caindo.
conseguiu atirar duas vezes antes de cair de vez no chão, acertando a mão e o peito do criminoso que caiu em um grito, e o rapidamente correu até ele para tirar a arma de seu alcance. Com o barulho dos tiros, o vagão foi invadido pelos policiais a qual havia pedido como reforço que pegaram tanto o baleado quanto .

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As coisas demoraram algumas horas até se acalmarem. O trem parou na estação mais próxima, que era aproximadamente mais meia hora de distância da onde estavam. O homem foi socorrido após os primeiros socorros, enquanto e voltaram para o quartel general da divisão a qual a garota pertencia. Ela finalmente conseguira colocá-lo em uma sala de interrogatório, mesmo que não fosse da forma que queria.
Passou em sua casa rapidamente para pegar todos os documentos que havia juntado em um dossiê durante aqueles dias, vendo que mais um havia chego: o resultado das digitais que diriam se ele havia tido contato com as últimas peças falsas vendidas a seu pai no lote de um mês atrás. Fora praticamente um balde de água fria ao ver que as duas digitais não eram nada compatíveis, mas sua última esperança caia sobre o interrogatório.
Abriu a porta da sala fechada e quadrada, onde só havia um segurança em um dos cantos, uma mesa e duas cadeiras, sendo uma já ocupada pelo . Ele ainda usava aquele chapéu maldito que nem por um minuto caíra de sua cabeça, pelo menos ela não vira isso, impedindo-a de olhar em seus olhos.
. ― ela chamou com a expressão enfezada de quem estava confusa em relação aos últimos acontecimentos. ― O que você tem a dizer sobre o que aconteceu?
Folgadamente o homem se recostou na cadeira como se ela fosse a poltrona mais confortável que já se sentara um dia, levando uma das mãos até o acessório que cobria seu rosto e então o tirando, colocando-o em cima da mesa. A beleza desconhecida que se revelara na frente da mulher tão abruptamente foi capaz de deixá-la paralisada por alguns segundos, principalmente porque os olhos escuros e penetrantes encararam os seus com uma intensidade ímpar.
― Eu sou a vítima, o que eu posso te explicar? ― o canto dos lábios do homem foi repuxado de forma arrogante e ele parecia um pouco ofendido com aquela pergunta dela. ― Eu estava sendo ameaçado e precisava de uma forma de defesa, você foi minha forma de defesa, devo te agradecer.
Aquilo praticamente a deixou pessoalmente ofendida, mas preferiu não entrar nesse mérito.
― E como pretende refutar as acusações de falsificação? ― se sentou na ponta da mesa, o olhando de cima e por cima de seu próprio ombro.
― Bom, é fácil. Eu estava sendo ameaçado e quase fui assassinado em um trem. Existe uma empresa de peças rival a minha a qual ultrapassei os lucros e popularidade. Você não sabe como essas pessoas são, quando eles querem te incriminar, eles conseguem. ― respondeu tranquilamente, cruzando os braços a frente do peitoral.
― E por que você não procurou a polícia ou me disse antes? Sabia que eu estava na sua cola. ― aquela história parecia fazer sentido, mas ainda havia algo mal contado para a mente da detetive.
― Bom, que tal começarmos pelas informações que minha namorada descobriu? ― questionou provocativo, em um tom divertido que fez a mulher congelar ao lembrar do que havia aprontado algumas noites atrás. ― Como você sabe minha mãe está no hospital, eles disseram que a matariam se eu entrasse em contato com a polícia. Então eu tinha que resolver tudo sozinho, porque tenho mais do que a mim mesmo para proteger.
suspirou frustrada, jogando os papeis em cima da mesa, admitindo silenciosamente que havia sido derrotada por aquela versão da história que fazia muito mais sentido após tudo o que havia acontecido e então encarando a expressão orgulhosa do homem que a encarava de volta de forma confiante.
― Eu ganhei, detetive. Mas nós ainda podemos tomar um café qualquer dia desses.


Fim.



Nota da autora: Sério, esse pp é um cretino, mas eu sou apaixonada por ele, aff HAUHAUHA A fic é ambientada nos anos 60, porém com algumas ressalvas que vocês vão me perdoar pra poder caber dentro do MV. Eu espero que vocês tenham gostado e se sim, me deixem saber! Obrigada por ter lido até aqui!

Se quiser falar comigo, é só me procurar no Twitter e, caso tenha gostado e queira ler alguma outra coisa minha, eu estou com uma long fic em andamento sobre romance e distopia, originalmente escrita com o Monsta X!





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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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