Capítulo Único
Beverly Hills - Califórnia, Estados Unidos, atualmente
Encontrar fãs no aeroporto de Beverly Hills, nos Estados Unidos, não era exatamente o que estava esperando. Quer dizer, eu sabia que minha fanbase norte-americana era relativamente grande – os tweets eram a prova viva disso –, mas encontrar filas de fãs, alguns gritando, outros chorando e quase todos pedindo por um foto, foi tudo o que eu nunca poderia imaginar.
Sorrir para a câmera não era difícil, afinal, era o meu trabalho. Posar ao lado de pessoas que me acompanham a tanto tempo, que dedicam tanto para mim e por mim, não era um fardo, mas uma honra. Devolver um pouco do amor que me davam era o mínimo que eu poderia fazer, ainda que isso significasse atrasar o cronograma do dia.
- Você sabe que irá se atrasar para a sessão de fotos, não sabe, ? – , minha manager e melhor amiga, me perguntou. Eu sabia que ela não esperava exatamente uma resposta, a pergunta tinha sido retórica, é claro. – Ainda temos que passar no hotel, deixar as malas, você precisa retocar a maquiagem e trocar de roupa...
- , amiga, relaxa. – eu disse. Minha atenção estava na janela do carro, de onde ainda podia ver alguns fãs na entrada do aeroporto, abanando a mão para mim. – Está tudo sob controle.
- Até parece...
- E se não estiver, quem melhor para organizar meus compromissos do que você? – perguntei, sorrindo, dessa vez voltando minha atenção para ela.
fez uma careta, e eu tinha certeza de que ela soltaria algum palavrão, seguido de uma ironia, mas não estávamos sozinhas no carro e precisávamos manter – ou pelo menos tentar – o profissionalismo diante da equipe.
Ao chegarmos ao hotel, precisamos entrar pelos fundos, pois a porta da frente também tinha fãs, ainda que em menor número que no aeroporto. Segundo minha amiga, e também manager, se entrássemos pela frente, a notícia logo se espalharia, e então seria impossível conseguirmos sair mais tarde, pois o hotel ficaria lotado de gente. Eu, particularmente, não me importava com isso. Gostava de receber o carinho dos fãs e, principalmente, poder dar-lhes um retorno. Mas já estava ficando vermelha, e seu cabelo sempre bem alinhado já estava começando a ficar fora de lugar, o que significava que ela estava ansiosa e nervosa com o fato de minha agenda estar um pouquinho atrasada.
- As pessoas não gostam de artistas que não cumprem horário, . – ela sempre me dizia. – Apesar de isso ser comum, não é visto com bons olhos. Artistas que não comparecem a seus compromissos no horário marcado são vistos como irresponsáveis. Você não quer isso, quer?
Não, eu não queria isso, definitivamente. E por este motivo não me importei em irmos de carro até o estúdio de fotografia que ficava a poucos quarteirões dali, mesmo que isso implicasse em perder a oportunidade de tirar fotos nas ruas, comer a comida de carrinhos de rua e poder fingir que estava de férias, em vez de estar em uma viagem a trabalho.
Meu acordo com foi simples: vamos de carro até o estúdio, tiramos as fotos e voltamos para o hotel a pé. Respirar ar fresco era tudo o que eu precisava depois de tantas horas dentro de um avião, e, então, dentro de um carro, e de um quarto de hotel, e, então, dentro de um carro de novo.
- Você acha que tudo na vida pode ser negociado, não é mesmo? – minha amiga perguntou com aquela cara de você-pode-tentar-mas-eu-não-vou-ceder.
- , por favor. Por mim! Você sabe como essa viagem está sendo difícil para mim e o que ela significa na minha vida. – por mais que estivesse apelando para o lado emocional de , eu não estava mentindo. Aquela viagem, por mais importante que fosse para minha carreira, tinha me custado muito. E também sabia disso, e foi por este motivo que, assim que terminei de limpar a maquiagem e colocar minhas roupas de volta, mal pude esperar para analisar as fotos tiradas para poder, finalmente, conhecer as ruas de Beverly Hills.
Coloquei óculos escuros e deixei os cabelos soltos. Agradeci por ter escolhido usar roupas curtas e frescas, porque o calor das ruas estava de matar. Me preocupei em tirar fotos dos grafites nas paredes e em experimentar o cachorro quente norte-americano. Pensei que fosse reclamar de eu estar comendo carboidratos quando estava prestes a filmar um novo clipe, mas ela apenas pediu um cachorro quente para si, me acompanhando.
Peguei o celular para tirar uma foto nossa. A verdade é que o aparelho estava desligado, pois desde que saímos da Coreia eu não mexia nele. Assim que as luzes se acenderam, procurei o aplicativo da câmera.
- Tem alguma ligação dele? – ela me perguntou.
E antes que eu verificasse se havia alguma ligação não atendida, já sabia a resposta. Mas isso não significava que não senti a dorzinha no peito triplicar ao constatar que não, não havia ligação não atendida, nem mensagens não lidas.
- Sinto muito. – respondeu ao meu olhar. Não precisei lhe dizer a resposta, ela já sabia.
- Não sinta. – eu respondi, sorrindo fraco. – Ele fez a escolha dele.
E sem dar trégua para que começássemos mais uma conversa que, provavelmente, me levaria às lágrimas – como vinha acontecendo nas últimas semanas –, a puxei para um abraço, fazendo careta para o celular.
- Vamos tirar muitas fotos e aproveitar a oportunidade de estarmos em uma viagem a trabalho, porém com pouco trabalho.
- Pouco trabalho? – perguntou. – Só se for pra você!
- Sim, e eu agradeço imensamente a minha agenda cheia, porém não lotada de compromissos. – disse, ironicamente.
rolou os olhos, mas no final começamos a rir juntas. Para quem estava acostumada a uma agenda sem espaços para folgas, ter horários livres, ainda que poucos, ao longo dos dias era um privilégio.
Seul, Coréia do Sul, 9 meses atrás
- , se concentre nos seus pés! Já é a quarta vez que você erra esse passo hoje! – Jiwoo, minha coreógrafa, disse.
Pedi desculpa a ela e também desculpa às dançarinas que estiveram ensaiando os mesmos passos o dia todo, há quase oito horas seguidas.
Jiwoo colocou a música novamente, do começo, e recomeçamos os ensaios. Minhas pernas doíam, meus braços já estavam fracos, e eu sabia que teria que colocar gelo nos meus pés antes de dormir. Mas o que mais me preocupava no momento era o me esperando em nosso restaurante favorito, com os olhos na porta, esperando que eu chegasse logo.
Nossas últimas duas tentativas de encontros foram canceladas por conta dos meus ensaios que sempre terminavam tarde demais, mas eu não poderia fazer isso hoje de novo. Hoje estávamos completando três meses de namoro, e a reserva no restaurante estava feita há mais de um mês.
- , você está se desconcentrando de novo! – Jiwoo falou, brava. A este ponto até mesmo as dançarinas da minha equipe estavam sem paciência para meus erros. – O que está acontecendo com você esta noite?
- Desculpe, Jiwoo, estou muito aérea hoje. – disse, mordendo o lábio, fazendo mais um pedido de desculpas. – Será que poderíamos encerrar por hoje e começar o ensaio amanhã, bem cedinho? – atrás das costas eu tinha os dedos bem cruzados, torcendo para que meu pedido fosse aceito.
- Não. Nós só vamos sair daqui hoje quando você acertar todos os passos e vamos começar os ensaios amanhã bem cedinho. – ela disse, dura. – Vou colocar a música do início novamente.
- Espere, posso apenas fazer uma ligação antes? – eu não precisava dizer à Jiwoo para quem estaria ligando, ela já sabia. E eu podia ver em seus olhos, sem precisar de palavras, que ela desaprovava meu relacionamento com , simplesmente por situações como estas, como quando não me dedicava de corpo e alma aos ensaios porque estava preocupada demais com meu namorado.
- Seja rápida.
As dançarinas rolaram os olhos, ansiosas para irem embora, mas não disseram nada. Eu mesma não falei nada também. Em dias comuns, quando minha mente estava inteiramente focada nos ensaios, eu era a que as incentivava a não desistirem, a continuarem, e não se deixarem abalar por seus erros. Esta noite, entretanto, nossos papeis estavam trocados, e eu não me deixaria abalar por suas caras insatisfeitas.
Peguei o celular pensando que encontraria alguma ligação perdida de , mas não havia nada. Já passava das vinte horas, e provavelmente estava saindo da faculdade naquele momento. Disquei seu número, torcendo para que ele não atendesse, pois isso significaria que não seria apenas eu a me atrasar para nosso encontro.
- Oi, amor. – ele atendeu no segundo toque. – Estou procurando uma vaga perto restaurante, já chegou? – ele perguntou.
- Oi, amor... Não, ainda não cheguei, e foi por isso que liguei...
Ele ficou em silêncio do outro lado da linha, e por um momento pensei que a ligação tinha caído.
- ?
- Você não está cancelando o nosso jantar, não é?
- Não, é claro que não! – eu disse de pressa, já ouvindo Jiwoo chamar por meu nome, ao lado da caixa de som, informando que colocaria a música novamente. – Apenas que irei me atrasar alguns minutos. Juro que não vou demorar muito.
Ouvi suspirar do outro lado da linha e também pude ouvi-lo puxar o freio de mão. Acredito que já tenha encontrado uma vaga, e, a partir daquele momento ele estaria me esperando pelos próximos minutos ou próximas horas.
- Eu vou me dedicar para que o ensaio terminei rápido, eu prometo. E logo mais estarei junto a você para comemorarmos o nosso mêsversário. – eu disse. – Apenas não vale reclamar pelo fato de eu estar suada e com o cabelo bagunçado. – brinquei para quebrar o clima ruim que havia se instalado. Com o atraso, eu não teria tempo de ir para casa tomar banho e colocar a roupa que havia comprado especialmente para aquela noite.
- Não me importo com a sua aparência, , apenas quero que você esteja aqui.
- Eu vou estar, logo. Eu prometo.
Beverly Hills – Califórnia, Estados Unidos, atualmente
- Espero que tenha descansado esta noite, pois o dia será longo. – disse assim que me viu entrando no refeitório do hotel.
- Bom dia pra você também. – brinquei. – E sim, dormi feito um bebê. Se fosse possível, acho que dormiria o dia de hoje inteiro também.
- Você nem sonhe com isso! – disse, aumentando o tom de voz, o que apenas fez com que eu risse. – Você está brincando, não é?
- Sim, estou brincando. – eu ri. – Estou bem, estou descansada e mal vejo a hora de começarmos as gravações.
- Muito bem, muito bem. Esse é o espírito!
Ri novamente da animação da minha amiga, me servindo das frutas e queijos que estavam em cima da mesa.
- Ele... Entrou em contato? – ela perguntou, baixinho.
Parei a mão no ar onde estava, pensando no que ela havia dito. E, então, voltei a escolher o que teria para o café da manhã, me servindo de suco. Por alguma razão meus lábios haviam ficado secos de uma hora para outra.
- Não, , ele não entrou. – eu respondi. Instantaneamente senti toda a animação de minutos antes ir se dissolvendo. – Não é como se eu estivesse esperando uma ligação ou um pedido de desculpas, de qualquer forma. Quer dizer, eu entendo o lado dele.
- Mas ele...
- Ele apenas fez o que achava ser certo. – a interrompi. – não teve culpa, assim como eu também não tive. Apenas... Apenas não estávamos mais na mesma sintonia. – disse, colocando um ponto final naquilo.
Eu já não queria mais conversar sobre e os recentes acontecimentos entre nós dois. Se pensasse novamente em tudo o que aconteceu, provavelmente começaria a chorar de novo, e toda a conversa de autocontrole e superação que havia tido com a minha psicóloga iria por água abaixo. Além disso, estava em uma viagem mais do que importante para a minha carreira.
A ideia de gravarmos um vídeo clipe nos Estados Unidos, onde minha base de fãs crescia a cada dia, tinha repercutido nos meios de comunicação norte-americanos. Agora, além de uma sessão de fotos e um vídeo clipe, na minha agenda – que parecia não desgrudar nem mesmo para tomar banho – havia horários marcados para entrevistas nos maiores programas de talk show, além de pequenas apresentações em programas matinais.
Além disso, por meio de uma ideia vinda diretamente dos fãs, iríamos gravar cenas juntos em um meeting que aconteceria ainda esta semana, formando um compilado de gravações e fotos tiradas pelos próprios fãs, que seria apresentado como uma nova versão de um clipe de uma música – esta também escolhida pelos fãs.
Eu não poderia me dar ao luxo de sofrer por algo que já acabou, nem de desviar minha concentração para alguém que não estava ali. Aquela era a minha vida e a minha carreira, e isso deveria ocupar cem por cento das minhas preocupações.
- Tudo bem, você quer olhar a sua agenda de hoje? – perguntou assim que terminamos nosso café da manhã.
- Tem necessidade disso? Digo, tem tanta coisa assim pra fazer?
Estávamos do lado de fora do hotel, esperando o carro nos buscar. O sol estava tão intenso que, mesmo usando óculos escuros, precisei colocar a mão na frente dos olhos.
- Na verdade não. – ela disse, também se escondendo do sol. – Além do início da gravação do vídeo clipe, também precisamos conhecer o local onde será o encontro com fãs.
- Só isso? – perguntei, ironicamente.
- Sim, só isso. A correria será na semana que vem, quando as entrevistas começarem. Espero que tenha mudado suas preferências sobre dormir mais de seis horas por noite. – ela brincou.
Nós rimos, mas eu sabia que ela falava sério. Quando as entrevistas começassem, dormir seria um privilégio que eu não teria.
Quando chegamos na rua em que as primeiras cenas do clipe seriam filmadas, me surpreendi novamente por encontrar fãs ali. Eu não esperava por toda essa recepção calorosa, não quando minha carreira no exterior estava apenas começando. E foi exatamente por isso que – contrariando a todos os pedidos de – atrasei as gravações (só alguns minutinhos) para dar a atenção que aquelas pessoas mereciam.
- Muito bem, miss simpatia, agora estamos atrasadas, e você nem mesmo lavou o cabelo antes de vir pra cá! – falou baixo para que só eu ouvisse. Ri da sua escolha de palavras.
- Tive que tomar um banho rápido, você ficou me apressando. – falei no mesmo tom. – Além disso, preciso ser simpática e educada com as pessoas que me ajudaram a chegar onde estou.
- Certo, certo. Não vamos mais discutir sobre isso. Você não gosta de relógios, eu os amo e o meu trabalho é fazer você respeitá-los, então vamos.
E isso apenas fez com que eu risse ainda mais da minha amiga virginiana e perfeccionista. Definitivamente, eu não poderia ter escolhido pessoa melhor para trabalhar comigo.
- ! – Mark, o diretor, me cumprimentou. – Como está? Pensei que só viria mais tarde.
- E por que eu faria isso? – perguntei.
- Porque ainda estamos organizando as disposições das coisas e decidindo qual a sequência das cenas.
- Mas é exatamente por isso que vim mais cedo. Eu gosto de trabalhar junto com o diretor, gosto de saber o que faremos e como iremos gravar.
Mark, ao contrário da maioria dos outros diretores de vídeo clipes, não gostava quando artistas se mantinham inertes quanto à gravação e produção dos vídeos. Mark gostava de trabalhar em equipe, gostava de discutir ideias, de testar coisas novas, e era por isso que eu o havia escolhido.
- É mesmo? Bom saber. – ele disse, sorrindo. – Estamos testando alguns ângulos para a câmera, gostaria de participar?
- É claro!
E então seguimos até um grupo de três homens, todos testando o melhor enquadramento para uma cena, discutindo como bloquear o sol que, àquela hora da manhã, batia diretamente na parede em que iríamos gravar.
Li mais uma vez o roteiro e as diferentes tomadas que teríamos que fazer, os figurinos que teria que usar e as maquiagens que teria que fazer para cada roupa diferente. O dia seria longo, e eu sabia que os próximos seriam tão longos quanto.
Seoul, Coréia do Sul, 7 meses atrás
- Eu só não entendo porque você não pode tirar um dia de folga para ficarmos juntos. – disse. – Que tipo de empresária você é que não pode se dar um dia de folga? Você trabalha demais... – tinha os dois braços em volta de mim, a cabeça apoiada no meu ombro, enquanto eu respondia alguns e-mails.
Por um segundo esqueci o que estava fazendo quando senti seus lábios brincando com a minha pele, e quando sua língua tomou a frente da brincadeira, eu já nem mesmo sabia por que estava com os olhos voltados para uma tela de computador e não para o meu namorado.
- Sou o tipo de empresária que precisa trabalhar para ter sucesso. – eu respondi, com a voz fraca. Meus olhos estavam fechados, a cabeça tombada para o lado, dando livre acesso à sua boca atrevida.
Ele riu fraco contra meu pescoço, e isso fez com que me arrepiasse ainda mais.
- Então acho que está conseguindo atingir seu objetivo, pois todas as rádios estão tocando a sua nova música, inclusive a rádio da faculdade.
- É mesmo? – perguntei, cortando nosso contato, apenas para olhá-lo nos olhos e ter certeza do que ele falava. tinha um sorriso orgulhoso nos lábios. Por mais que reclamasse das minhas intermináveis horas trabalhando e da falta de atenção que despendia a ele, era uma das pessoas que mais me apoiavam.
- É claro que sim! Eu não esperava nada menos da melhor cantora do ano de 2017.
Bati palmas e, então, o abracei novamente, circulando meus braços em volta de seu pescoço, o apertando com força.
- Todo mundo está comentando sobre a nova música. Os garotos, particularmente, adoraram o novo vídeo clipe. – ele disse, torcendo os lábios. Ri da sua reação. – Precisei dar uma fã de maluco e mandar que eles prestassem atenção na letra da música e na mensagem que ela passava, e não nas suas pernas.
Joguei a cabeça para trás, rindo do que ele falou.
- Mas como um bom fã número um, não posso deixar de concordar com eles.
- Eu também concordo. Passei horas na academia para fazer aquele clipe, o mínimo era que minhas pernas ficassem bonitas mesmo.
rolou os olhos, dizendo que qualquer parte do meu corpo sempre era linda, com ou sem academia, e eu não poderia achá-lo mais fofo.
Voltei minha atenção para os e-mails, tendo que terminar de respondê-los o quanto antes, caso contrário me atrasaria para a gravação do comercial a que fui convidada a participar.
- Por favor, ... Por favor, pergunte a eles se a gravação não pode acontecer sem você.
Eu ri da sua fala.
- , é um comercial de um resort, e eu serei a famosa garota propaganda. Eu tenho que ir.
bufou, mas não perdi tempo em me incomodar com isso. Por mais que vivesse mostrando o meu lado a ele, sobre como minha vida era corrida, cheia de compromissos que não podiam ser adiados e muito menos cancelados, também entendia o seu lado.
Namorar com uma pessoa que tem pouco tempo disponível para dedicar a ele devia ser difícil. As ligações perdidas e as mensagens que, muitas vezes, eu só conseguia ler horas depois de tê-las recebido, eram provas de que namorar uma pessoa que não tinha controle nem mesmo sobre sua agenda, não era tarefa fácil.
Minha atenção e dedicação quase sempre eram voltadas para os fãs, e eu sei que isso o incomodava. Novamente eu entendia seu sentimento. Querendo ou não, eu o deixava de lado – ainda que não propositalmente ou por opção – para me dedicar a pessoas que nem mesmo conhecia. Tínhamos que nos restringir a tirar fotos juntos, mas toda semana era o meu rosto que estava estampado em centenas de revistas.
Sim, eu entendia sua frustração. E não podia ser hipócrita, pois não sei como agiria caso estivesse em seu lugar.
- Por que você não vem comigo? – perguntei, sem ter tempo de pensar direito na ideia.
- Ir aonde? – ele perguntou com a testa enrugada, sem entender do que eu falava.
- Para a gravação do comercial. – e antes que recebesse uma negativa sua, porque eu sabia que estava a caminho, continuei – Não vai ser demorado, apenas algumas horas. Você pode ir comigo, ficar lá enquanto gravamos e, no final, podemos sair para comer.
- , não sei... Não gosto dessas coisas...
- Você não gosta de exposição, eu sei. Não gosta de aparecer diante das câmeras, mas dessa vez eu serei a única a ser gravada. Você apenas ficará sentadinho, ao lado de , assistindo eu trabalhar o meu lado atriz. – falei, brincando, pois sempre disse a ele que não servia para ser atriz, já que decorar falas era a tarefa mais difícil que já tive que executar. – Vamos, por favor...
Ele pareceu pensar um pouco, ainda que não disse nada.
- Por favor... – pisquei meus cílios de um jeito que eu sabia que o convenceria a até mesmo participar da gravação do comercial, caso eu quisesse.
rolou os olhos, pois sabia que aquela seria uma discussão perdida.
- Tudo bem, mas vou ficar bem escondido atrás das câmeras.
- Feito! – disse, o abraçando novamente, colocando meus braços em volta do seu pescoço e inclinando minha cabeça em direção à sua. A próxima coisa que senti foram seus lábios se moldando aos meus e suas mãos se dividindo entre apertar minha cintura e agarrar meus cabelos.
Beverly Hills – Califórnia, Estados Unidos, atualmente
O dia tinha passado em meio a fotos junto aos fãs – uma vez que o novo vídeo feito com um compilado de imagens e vídeos de fãs foi realizado hoje – e análises dos últimos detalhes do novo vídeo clipe. Mark e eu passamos a manhã conversando sobre edições, o que poderia ser incluído e as gravações que deveriam ficar de fora.
Na parte da tarde, entretanto, não saiu do meu lado, e Mark, como um bom diretor e agora amigo, orientou os fotógrafos a respeitos das diferentes fotos e ângulos que poderiam conter no vídeo.
No final da tarde, com toda a equipe cansada, resolvemos sair para beber e comemorar a quase conclusão dos dois vídeos – dois projetos que haviam me tirado o sono nas últimas semanas, de tão ansiosa que estava para realizá-los.
- Não podemos ir embora sem conhecer as mansões dos famosos. – Taewoo, um dos técnicos da equipe, falou já meio bêbado.
Alguns na mesa concordaram, outros estavam bêbados demais para isso. O que todos ali tinham em comum era a satisfação de ter trabalhos bem feitos já na reta final para a conclusão. Bem, todos, menos eu.
Por mais que estivesse fazendo piadas a todo mundo – tudo efeito do álcool, eu tinha certeza –, e Taewoo ficasse falando frases em inglês sem sentido nenhum – já que ele mal conhecia o idioma –, e todo o resto da equipe estivesse imerso em um sentimento de companheirismo e satisfação, meus olhos não paravam de olhar para a tela do celular.
Não, eu não esperava encontrar uma ligação perdida ou uma mensagem não lida. Mas, ao mesmo tempo, sentia o peito apertar toda vez que não encontrava ligações perdidas ou mensagens não lidas. Eu estava presa em um paradigma, em uma confusão de sentimentos, que já não entendia mais o que sentia ou o que deveria sentir.
O nome de me veio à mente quando uma fã me deu de presente duas pulseiras, uma para mim e a outra "para o seu namorado usar", conforme suas palavras. Era o sorriso de que vi em cada rosto de cada pessoa que falou comigo hoje. E não ver seu nome na lista de chamadas do celular doía muito. Doía tanto, que em determinado momento da noite resolvi sair do bar, respirar o ar fresco da rua e tentar pensar com clareza.
- Helloooooo... – eu disse para alguns nativos que passaram, mas tinha certeza, pelo tom da minha voz, que já estava bêbada. Há muito tempo não bebia, então acredito que meu corpo deva ter se desacostumado.
Não me importei. Continuei cumprimentando as pessoas que passavam por mim, dando boa noite e perguntando como estavam, mesmo que a maioria não tenha me respondido. Porque era isso que nós, seres humanos, deveríamos fazer sempre: falar, conversar. Compreender. Sermos pacientes. Lutar pelo nosso amor. Não terminar com nossas namoradas e namorados famosos só porque eles têm mais compromissos do que podem lidar e talvez passem dias sem conseguir te ligar.
- Por que você não teve mais paciência, ? – perguntei para ninguém, mesmo que algumas pessoas na rua tenham ouvido. – Talvez eu não merecesse sua paciência, não mais do que você teve, mas ainda assim... Você deveria ter tido mais, ...
As coisas não faziam sentido nem para mim mesma. Sim, eu culpava meu ex-namorado pelo término. Ele deveria ter me apoiado, deveria ter me esperado, ter tido paciência. Por outro lado, no fundo, sempre soube que , ou qualquer outro homem com quem eu namorasse, acabaria terminando comigo após tantos encontros desmarcados, viagens canceladas e ligações não atendidas.
Mas não, a culpa não era minha. Quer dizer, eu estava no auge, não estava? Minha carreira, meu sonho, estava se realizando, e isso não aconteceu da noite para o dia. Foram preciso muitas noites em claro, muitos ensaios terminados com bolhas nos pés, muitos choros de frustração. Eu estava a caminho do topo, mas todo o caminho que já havia percorrido tinha sido dolorido, e eu não podia jogar isso fora. Nem mesmo pelo amor da minha vida, pelo único homem que já me completou, que foi meu parceiro, meu companheiro e melhor amigo.
não pedia muito, até porque ele sempre teve pouco de mim. Tudo o que ele queria era um pouquinho mais, mas ainda assim, eu fui incapaz de dar isso a ele.
Como pude deixar as coisas chegarem a esse ponto? O que aconteceu comigo? Minha carreira era importante, e eu sabia que sacrifícios tinham que ser feitos, mas sacrificar a minha felicidade seria o mesmo que sacrificar os meus sonhos.
Eu entendia . E se fosse ele, também teria terminado comigo. Eu, por outro lado, não tinha coragem suficiente para ir atrás dele e pedir para que me desse uma segunda chance, mesmo sabendo que o relacionamento voltaria a ser o mesmo de antes. E a falta de iniciativa dele de vir falar comigo... Ah, isso machucava tanto...
- Por que você não me liga, ? – minha voz estava mole, confusa, embaralhada.
- ?
Ouvi meu nome ser chamado. Virei o pescoço com tanta pressa, que o senti estralar, e na hora eu soube que ele ficaria dolorido no dia seguinte.
- O que está fazendo aqui? – perguntou. – Está falando sozinha?
- Acho que sim. – dei de ombros, com uma das mãos no pescoço. – Não é como se meu ex-namorado estivesse aqui para me ouvir lamentar pelo fim do namoro, não é?
enrugou a testa, suspirando. Como minha melhor amiga, ela presenciou a maioria das nossas brigas e discussões, e foi uma das responsáveis por ter ajudado nosso namoro ter durado tanto tempo. Sendo muito paciente, sempre ajudou a enxergar a razão, e me obrigou, várias e várias vezes, a deixar de ser cabeça dura e orgulhosa.
- Vocês deveriam conversar. Quer dizer, já faz semanas... E no final do mês...
- Eu sei. – disse, suspirando. – Eu também acho que deveríamos conversar, mas não sei se ele atenderia.
- E é por isso que você está ligando para ele?
- Como?
Segui para onde estava olhando, dando de cara com o meu celular em minhas mãos. Na tela do aparelho, uma ligação sendo feita para . Uma ligação que eu fiz para . Uma ligação que tinha sido atendida por , no instante em que trouxe o aparelho para perto do rosto para confirmar o que estava vendo.
Ouvir a voz de , ainda que dizendo apenas uma palavra, foi um susto. Eu não esperava por aquilo, e foi por este motivo que desliguei a chamada, sem nem mesmo respondê-lo.
- Por que fez isso? – perguntou, alarmada. – Pensei que quisesse falar com ele. - Eu quero. – eu disse. E quero mesmo. E foi por isso que esperei longos minutos por uma ligação de volta de , mas esta nunca aconteceu. – Vamos embora, estou começando a ficar com frio.
- ...
- E acho que machuquei o pescoço. Você trouxe remédio para torção, não trouxe?
Minha amiga não reclamou pela mudança de assunto, nem insistiu em uma conversa que eu, claramente, não queria ter. Bem, pelo menos não com ela. Infelizmente, eu estava muito bêbada e ainda era muito cabeça dura para admitir isso para mim mesma.
Busan, Coréia do Sul, 5 meses atrás
- Ei, o que pensa que está fazendo? – perguntei, com a voz rouca de sono.
- Registrando esse momento. – respondeu, e eu não pude evitar um sorriso, ainda que não conseguisse manter os olhos abertos.
A noite passada tinha sido uma das melhores da minha vida. Além de termos ido ao cinema e depois termos tido um jantar romântico – momentos que todos os casais normais compartilham –, tivemos uma noite quente e, aparentemente, interminável. Não que eu estivesse reclamando, muito pelo contrário. Após um mês sem nos vermos, precisávamos correr atrás do tempo perdido. E, bem, nós corremos.
- Pensei que não gostasse de ser filmado. – eu disse, ainda de olhos fechados.
- E não gosto mesmo. Mas no momento estou filmando você, a coisa mais linda que meus olhos já tiveram o prazer de ver.
E isso foi o bastante para fazer com que eu abrisse os olhos e olhasse para ele. Precisei me segurar para não soltar um palavrão com a imagem que tive. estava sem camisa, vestindo apenas uma cueca e tinha os cabelos extremamente bagunçados. Pela pele do seu abdômen eu podia ver um ou dois arranhões – resquícios da noite passada. Seus olhos, sempre tão brilhantes, estavam pequenos, mostrando que ele também ainda estava com sono, mas o resto do seu corpo demonstrava que ele já estava pronto para continuar o que havíamos feito a noite toda.
- Pedi o café da manhã pra gente. – ele disse, abaixando o celular. – Não queria ter que sair do quarto para uma coisa tão insignificante como comer.
Eu ri do comentário dele. E claro que concordava cem por cento com ele.
- Achei uma ideia excelente, se quer saber. – eu disse. Imitei sua posição, também me sentando.
trouxe o café da manhã até a cama, com direito a frutas, torradas e sucos.
- Que delícia. – comentei. – Vou precisar de um café da manhã reforçado mesmo. O dia vai ser longo.
parou a torrada que tinha nas mãos, a caminho da sua boca, me olhando profundamente.
- Que horas você tem que ir embora? – ele perguntou, devolvendo a torrada que havia pego, sentando-se mais afastado da mesa.
- Logo depois do almoço. Ainda teremos a manhã toda juntos. – eu disse, tentando amenizar o fato de que o nosso reencontro após um mês separados, chegaria ao fim ainda hoje.
Ele não disse nada, e eu sabia que estava fazendo um grande esforço para isso. Havíamos conversado várias vezes sobre como os compromissos da minha agenda não podiam ser cancelados, e que insistir neste fato apenas desgastaria a nossa relação. Tirar um final de semana para ficar com ele tinha sido difícil, e precisou mexer muitos pauzinhos para conseguir um dia inteiro de folga para mim – no caso, o dia anterior. A manhã de hoje, que ainda poderíamos passar juntos, tinha sido um bônus pelo qual eu não esperava.
- O contrato que fechei com a John John exige que eu pose periodicamente, de acordo com os lançamentos das novas coleções... – comecei a explicar, mas não queria explicações.
- Claro, eu entendo. Mas só porque entendo, não significa que eu goste disso.
E novamente eu entendia sua posição. A saudade que ele sentiu foi a mesma que eu senti. As longas semanas separados, conseguindo nos ver ocasionalmente apenas por Skype, não eram o bastante para sustentar um namoro. E um dia e uma noite juntos apenas não seria o bastante para acabar com a falta que ele que fizera para mim, assim como eu sabia que não seria o suficiente para ele também.
Aquele deveria ser o nosso final de semana, afinal, viajou até Busan apenas para poder nos vermos e aproveitar as poucas horas livres que consegui. Mas eu sabia que não seria suficiente.
Beverly Hills – Califórnia, Estados Unidos, atualmente
A dor de cabeça foi a primeira coisa que senti ao abrir os olhos.
Apesar de as cortinas ainda estarem fechadas, a luz do sol ainda passava por elas, o que só piorou as pontadas na cabeça. Apertei os olhos com força, colocando a mão em frente os olhos, e virei para o outro lado. Em cima da mesinha, perto da cama, havia dois copos, um com água e outro com suco. Em frente aos copos, dois comprimidos com um bilhete escrito por , "Isso vai ajudar na ressaca. Não demore par descer, temos compromissos hoje".
Ressaca, é claro que eu estaria de ressaca. Lembrei-me das cervejas que bebi na noite passada e das que não recusei, mesmo depois de perceber que começava a ver as coisas girando. Lembrei-me de precisar sair do ambiente sufocante, das conversas altas e das risadas que não faziam sentido para mim. Lembrei-me de ir para o lado de fora respirar fundo, clarear a mente.
Lembrei-me de conversar com , ainda que ele não estivesse presente, e de ouvir sua voz ao final. Apesar de ter sido apenas uma palavra, meu nome, eu sabia que a voz era dele. Não sabia de onde vinha, mas ele havia chamado o meu nome, disso tinha certeza.
Suspirei, lamentando, pela primeira vez desde que cheguei a Beverly Hills, o fato de estar aqui e não do outro lado do mundo, junto das pessoas que amava. Junto dele. Lamentar não era uma opção para mim, eu não tinha tempo para isso e nem mesmo podia me dar ao luxo de perder tempo gastando energia com coisas que não fossem sobre minha carreira. A produtora com quem tinha contrato e a agência que cuidava da minha carreira, sempre me lembravam disso. , por mais que tentasse ser discreta e não tão radical, também me lembrava disso.
Peguei os comprimidos em cima da mesinha, tomando junto com o suco. Depois virei o copo de água, pois sabia que precisava hidratar meu corpo. E então peguei o celular para conferir se havia mensagem da minha mãe e amigos, talvez alguma de lembrando-me de descer logo, pensei com humor. E o que encontrei fez meu coração primeiro parar e, então, disparar em batidas descompassadas.
Três ligações perdidas de . Todas da noite passada.
Pensei que poderia estar vendo coisas, e por isso abri a lista de chamadas, verificando que eu havia ligado para ele na noite passada. A ligação tinha durado dez segundos, o que significava que ele havia atendido. E provavelmente atendeu chamando pelo meu nome, pensei.
Não tive tempo de pensar no que aquilo poderia significar. entrou no meu quarto, carregando sua fiel agenda eletrônica e uma caneca grande junto com uma colher.
- Trouxe algo para você comer, pois imaginei que não desceria tão cedo para o café da manhã.
Agradeci com a voz rouca, não tendo percebido até aquele momento em como estava sem voz.
- Acho que minha garganta está doendo. – comentei, mesmo sabendo que provavelmente receberia uma bronca por ter tomado friagem na noite anterior.
- Imaginei que fosse dizer isso, e é por este motivo que lhe trouxe um analgésico para a dor. – ela disse, tirando da bolsa mais um comprimido. – Trouxe cereal, eu sei que você gosta.
Agradeci novamente, aceitando a xícara e a colher. Comer cereal no café da manhã tinha sido um hábito que aprendi junto a . E pensar nele me fez lembrar das ligações perdidas no meu celular.
- ... Você lembra o que aconteceu ontem à noite depois que saí do bar? – perguntei, mantendo minha expressão inocente.
- Você quer dizer depois que saiu para tomar um ar fresco, começou a falar com estranhos na rua, ligou para e desligou na cara dele?
A colher cheia de cereal ficou parada no ar, a caminho da minha boca, tamanha surpresa que tive.
- Como? – perguntei, apenas para ter certeza de que tinha ouvido o que pensei ter ouvido.
rolou os olhos antes de responder, entretanto.
- Vai me dizer que estava bêbada a ponto de não se lembrar disso?
- Não, eu me lembro, mas... Não sei, apenas não consegui diferenciar o que realmente aconteceu e o que foi apenas um sonho.
- Bem, tudo foi muito real, e eu posso lhe garantir isso.
Balancei a cabeça concordando com ela. Então meus sonhos não eram sonhos, e meus delírios não passavam de lembranças reais. Eu havia ligado para o meu ex-namorado e, por conta do medo e do orgulho, não respondi quando ele chamou meu nome, mas desliguei em sua cara. Então as ligações perdidas...
- me ligou depois disso. – falei, depressa.
- É mesmo? – tinha os olhos arregalados, surpresos. – Isso é ótimo, não é? É o que você queria, afinal de contas.
- Bem, eu não falei com ele, na verdade. Vi agora de manhã as ligações perdidas.
- Ligações, hm? No plural? – ela perguntou, fazendo sua expressão de esperta. – Isso é bom.
- Pois é... – respondi, dessa vez olhando para a cama.
- E você não vai ligar de volta para ele?
Olhei novamente para o celular, pensando se deveria ou não ligar novamente para ele e não desligar no momento em que ele atender, dessa vez. E, então, pensei no que eu poderia falar, e em como ele receberia minhas palavras, se as receberia bem ou de forma hostil. Talvez estivesse ocupado, ou dormindo, e nem mesmo atenderia minha ligação, e, então, entraríamos naquele jogo de ligações não atendidas, que apenas nos desgastaria ainda mais.
Hong Kong, China, 3 meses atrás
Desci do palco já recebendo uma garrafinha de água e uma toalha para enxugar o suor. A turnê do novo álbum estava chegando ao fim, pelo menos pela Ásia, e na próxima semana eu já embarcaria para a Europa. Sorrir era a única coisa que conseguia fazer no momento, especialmente quando recebia os parabéns de toda a equipe e lia as boas notas dadas pelas revistas de música.
me esperava do lado de fora do palco com um sorriso no rosto maior que o meu, se isso era possível.
- Olha só ela, a rainha do k-pop do momento. – ela brincou, com a voz cantada.
Fiz algumas poses, como se estivesse posando para fotos imaginárias, rindo em seguida.
- Eu preciso de um banho! – disse, seguindo pelo corredor. – Acho que também preciso dormir por, sei lá, uns três dias para me recuperar.
- Então aproveite para descansar mesmo, porque em menos de uma semana estaremos indo para a Europa. – ela disse, novamente com a voz cantada, comemorando nosso sucesso. Digo nosso, pois eu não seria ninguém sem ela ao meu lado. Assim como não seria ninguém sem , que sempre estava lá para comemorar minhas vitórias e chorar minhas perdas.
Sabendo que teria quase uma semana de "folga" até a minha próxima turnê, liguei para , pensando em passar esses dias com ele em Seul, enquanto organizava minhas malas para a próxima viagem.
Ao pegar o celular, vi havia que várias ligações perdidas de , e quando digo várias, quero dizer várias mesmo. Doze, para ser mais exata. nunca me ligava tantas vezes seguidas, o que me fez pensar que algo poderia ter acontecido.
Por sorte, fui atendida no segundo toque, mas não foi sua voz que ouvi do outro lado da linha. Sehun, seu amigo da faculdade, foi quem respondeu à minha chamada.
- , hey! Como vai?
- Bem, Sehun, e você? – perguntei, impaciente. Sehun era uma gracinha e um ótimo amigo, mas não era exatamente como ele estava que eu queria saber no momento.
- Bem, muito bem. E a turnê, como anda? Tenho lido boas notícias sobre...
- Sim, sim, está tudo indo muito bem, obrigada. está aí? – tentei não ser mal educada e parecer que estava cortando sua fala, mas não pude evitar. Apenas o fato de não ter atendido seu celular já era o bastante para me deixar preocupada.
- Está, mas ele está dirigindo, por isso não atendeu. – e isso foi o bastante para aliviar meu peito. E antes que pudesse pedir para que ele colocasse no viva-voz, Sehun continuou. – Não posso colocar no viva-voz, pois tem outras pessoas no carro. Ei, pessoal, digam oi para !
Do outro lado da linha pude ouvir um "Hey, !", não reconhecendo as vozes, mas percebendo haver vozes femininas também. Me esforcei para não me incomodar com isso. tinha amigas também, eu sabia disso, e este fato não deveria me incomodar.
- Para onde vocês estão indo? – perguntei a Sehun.
- Estamos indo para Busan, aproveitar a praia de lá durante o fim de semana para comemorar o novo estágio de .
Aquilo me pegou de surpresa. Precisei de alguns segundos para entender o que ele havia falado e para processar o fato de que , meu namorado, estava viajando com os amigos para comemorar algo que eu nem mesmo sabia que ele tinha conseguido.
- Uau... Ele conseguiu o estágio no escritório de advocacia que ele tanto queria? – perguntei, sem conseguir esconder o desapontamento por ter recebido a notícia de Sehun e não de . – Dê os parabéns pra ele...
- Não, não, espera aí. Vou colocar o celular no ouvido dele.
Esperei por um segundo, ouvindo as conversas dentro do carro e a voz de ao fundo. No instante seguinte, ele falava comigo.
- ? Já acabou o show? – ele perguntou. - Sim, acabei de descer do palco. – eu respondi. – Parabéns por ter conseguido o estágio que você queria, eu sei como foi difícil. – respondi, dessa vez com a voz mais animada e com um sorriso nos lábios. – Você mais do que ninguém merece isso.
- Obrigado, . Sabe, eu tentei te ligar para te contar as novidades, mas você não atendeu de novo.
E aquilo fez meu peito apertar novamente, porque eu sabia o que aquilo significava. "De novo", ele havia dito. Porque nas últimas semanas eu mal havia retornado suas ligações, quem dirá atender quando ele me ligava. E aquilo doía porque eu não estava lá quando ele quis compartilhar uma vitória comigo. Eu não estive para ele, diferente dele, que sempre esteve por mim. Não pude retribuir o carinho que recebi dele durante os nossos meses de namoro, e aquilo doía porque eu sabia que era exatamente o que ele estava pensando, ainda que fosse educado demais para dizer em voz alta.
- Eu sei, desculpe. Não foi minha intenção. – respondi, com a voz rouca e os olhos ardendo. Precisei ser forte para não chorar em meio a um corredor no fundo do estádio onde tinha sido o show, com pessoas em volta prestando atenção no que a famosa falava ao telefone. – Eu apenas liguei para saber se você estaria em Seul pelos próximos dias. Meio que vou ter uma semana de folga, então pensei que poderíamos passar juntos... – mordi o lábio.
- Eu... Eu não sei se vai dar. Quer dizer, estamos indo para Busan agora passar o final de semana na casa da avó de Sehun, mas na semana que vem nós vamos...
- Nós vamos para Jeju! – ouvi uma garota gritar ao fundo. E então as vozes no carro exclamaram em comemoração antes de voltar a falar comigo.
- O pai de Krystal abriu uma pousada na Ilha de Jeju, e nos convidou para ir para lá sem pagarmos nada, demais não é? – ele perguntou, animado. – Você pode nos encontrar lá, já que vai estar de folga.
Pensei na possibilidade por um instante. Visitar a Ilha de Jeju, um dos lugares mais românticos da Coréia do Sul, o qual a maioria dos casais recém casados escolhiam para passar a lua de mel, parecia ser uma boa, especialmente tendo ao meu lado.
Mas então me lembrei de que não poderia aceitar a proposta porque, ainda que estivesse de "folga" durante a semana, isso não significa que não teria ensaios e planejamentos para a próxima turnê.
- Acho que vamos ter que deixar para outra oportunidade. – eu disse, triste. Além de não estar junto a quando ele conquistou o que vinha buscando há tempos, eu não estaria lá para comemorar junto a ele, e isso fazia com que me sentisse a pior pessoa do mundo ou, pelo menos, a pior namorada do mundo. – Talvez possamos ir um dia sozinhos, só nós dois. O que você acha?
- Claro, seria ótimo, . Ei, eu vou ter que desligar, ok? O trânsito está bem intenso.
- Claro...
Mas ele não ouviu minha resposta, pois no instante seguinte eu estava me despedindo de Sehun que estava tão ou mais animado que , especialmente pela viagem em grupo que estariam fazendo. Viagem esta que eu não poderia estar presente, exatamente como em tantos outros momentos em que não pude compartilhar junto a .
Beverly Hills – Califórnia, Estados Unidos, atualmente
me esperava nos bastidores do talk show com uma blusa de frio.
- Por que esses palcos são sempre tão gelados? – perguntei, aceitando a ajuda para vestir a roupa.
Tinha acabado de dar a terceira entrevista do dia, e finalmente poderíamos estar saindo para o almoço. À tarde estaria em uma rádio local respondendo a perguntas de alguns fãs e no final da tarde me apresentaria para a última entrevista do dia.
Apesar de ficar nervosa com o teor das perguntas e com o idioma, estava me saindo melhor do que imaginei no inglês.
Meu foco naquele dia, entretanto, não estava sendo as entrevistas, brincadeiras, perguntas ou fotos, mas meu celular que poderia, a qualquer momento, tocar tendo o nome de na tela. Após minha ligação-não-tão-acidental-assim para , algumas noites atrás, e das suas ligações não atendidas, resolvi tentar contato com ele novamente. Não consegui de imediato e, por um momento, senti alívio por isso. Não saberia o que falar, de qualquer forma.
Mas então este jogo de liga-e-não-atende chegou ao fim quando, saindo do banho hoje mais cedo, vi seu nome na tela do celular. E, bem, eu atendi.
O mais estranho foi o teor da conversa. Nada de pisar em ovos, palavras controladas e silêncios desconfortáveis, apenas... Apenas duas pessoas conversando como se há tempos não o fizessem.
- Os dias estão ficando mais quentes. – ele disse. – E está chovendo quase todas as noites. Sehun disse que se continuar desse jeito não conseguiremos ir para a praia no final de semana. Ele está muito chateado com isso. – riu.
Sim, estávamos conversando sobre o clima de Seoul. E sobre os coqueiros de Beverly Hills. E sobre o novo estagiário de seu estágio, e de como ele tinha dificuldades com a máquina de xerox (o que nos fez rir deste fato), e de como ainda não tive a oportunidade de visitar Hollywood (o que fez com que nós dois suspirássemos pesarosos).
- Está conseguindo se sair bem com o inglês? – ele perguntou, emendando um assunto no outro, não deixando a ligação cair no silêncio.
- Você acredita que sim? Quem diria que assistir Friends, mais vezes do que posso contar, me ajudaria tanto um dia? – perguntei, brincando.
- Não precisa agradecer. – ele disse, orgulhoso por ter insistido tanto para que eu me rendesse às dez temporadas da série.
- E como está o restaurante novo da sua mãe? Está tendo movimento? – e, então, foi minha vez de emendar um novo assunto totalmente aleatório e nada relacionado a nós dois.
Os motivos pela conversa não linear eram muito claros: um, não queríamos cair no famoso silêncio constrangedor, no qual ninguém sabe o que falar e a única saída é desligar a ligação, colocando fim à conversa; e dois, tínhamos realmente muita coisa para conversar, como bons e velhos amigos que há muito não se vêm. A vontade de saber mais e mais sobre sua rotina, sobre como estava indo, se estava comendo bem, dormindo direito, se dando bem no estágio, era recíproca. E por isso fazia perguntas sobre o clima, sobre as entrevistas, sobre a gravação do vídeo clipe e sobre minha alimentação.
- Ouvi dizer que as comidas aí não são muito saudáveis. – ele comentou em determinado momento. – Você precisa cuidar da sua saúde.
E, então, continuamos a conversar como dois amigos e não dois amantes. Continuamos a conversar como se nada de ruim tivesse acontecido entre nós, como se nada tivesse se rompido entre nós. Mas havia. Algo estava quebrado, e mesmo que nos tratássemos com naturalidade, eu sentia que algo estava faltando e eu sabia que ele se sentia da mesma forma.
Foi quando o silêncio constrangedor começou. Os assuntos pareciam ter acabado, e tudo o que podia ouvir era sua respiração no fundo. Minha salvação, entretanto, foi entrando no quarto e brigando comigo por ainda não estar pronta.
riu do outro lado da linha, depois de ter ouvido os gritos da minha amiga, já acostumado com os surtos de quando o assunto era horário.
- Acho que você deve ir. Desculpe fazê-la se atrasar.
- Não se desculpe! Eu gostei de falar com você. – admiti em voz baixa, pois andava pelo meu quarto reclamando que nem mesmo havia separado a roupa que iria vestir e de como isso iria nos atrasar.
- Eu também gostei. – pude ouvi-lo suspirar do outro lado da linha. E então o silêncio constrangedor novamente, e eu sabia que dessa vez teríamos que colocar fim nele desligando o celular.
- Então...
- Eu te ligo mais tarde. – ele disse, depressa. – Quer dizer, se você não estiver ocupada...
- Não vou estar. – minha vez de falar depressa. – Quer dizer, vou estar, mas também vou ter intervalos entre os compromissos. Você pode me ligar, se não estiver dormindo, afinal, são dezessete horas de diferença.
- Não se preocupe, vamos encontrar um horário para conversarmos. – ele disse, e eu tive certeza de que sim, nós realmente encontraríamos o nosso horário.
E era exatamente por isso que não conseguia me concentrar nos meus compromissos de hoje. Por mais animada que estivesse e por mais que a ansiedade houvesse me consumido nos últimos dias, tudo o que queria, no momento, era ouvir a voz de novamente, conversar com ele, saber de sua vida e poder lhe contar da minha.
Mas foi apenas quando já estávamos chegando no estúdio da rádio onde daria a próxima entrevista que ligou. E mesmo sabendo que teríamos poucos minutos para conversar, eu atendi.
Seoul, Coréia do Sul, 1 mês atrás
- Inacreditável, , inacreditável.
- A culpa não é minha, eu já disse!
Não era a primeira vez que discutíamos sobre esse assunto. Para ser bem sincera, nossas últimas semanas tinham se resumido a discussões sobre minha viagem aos Estados Unidos.
Eu não podia culpar por estar nervoso afinal, eu também estava. Depois de passarmos por tantos obstáculos para ficarmos juntos, termos tido tantos compromissos desmarcados e tantas discussões que não nos levaram a lugar nenhum, essa viagem à Beverly Hills não poderia ter vindo em hora pior.
Claro que queria estar junto a ele no nosso aniversário de um ano. É claro que faria tudo para que pudéssemos ficar juntos, mas minha agenda de compromissos, infelizmente, não dependia apenas de mim. Minha base de fãs nos Estados Unidos estava crescendo, e assim que foi anunciada a gravação de meu novo vídeo clipe na Califórnia, os convites para entrevistas e apresentações começaram. E eu não podia deixar essa oportunidade passar.
Minha carreira é minha vida, quem eu sou. E quando os compromissos começaram a surgir, a viagem que deveria durar não mais que cinco dias, foi estendida para duas semanas. E não, eu não poderia estar em Seul para o nosso aniversário de namoro.
- Eu também não estou feliz com isso, mas você precisa entender que...
- ... é da sua carreira que estamos falando. – ele completou minha fala. – Sim, eu sei. Eu sei, . E você, mais do que ninguém, sabe que eu te apoio.
Estávamos voltando da praia. Quando finalmente havia conseguido um fim de semana de descanso, decidimos ir para Busan. Infelizmente os céus não estavam de bom humor esses dias – ou talvez estivessem apenas refletindo o nosso humor dentro do carro.
As nuvens cinzas que tomaram o céu todo o final de semana, ficavam mais densas a cada quilômetro percorrido. Estávamos voltando para Seul, e tudo o que conseguia pensar era em como tínhamos desperdiçado um final de semana inteiro juntos.
- Eu sei. Você sempre me apoiou, mas essas reclamações não vão nos levar a lugar nenhum. – eu disse.
- Não são apenas reclamações, , mas constatação de fatos. Mesmo precisando engolir sapos a todo momento e tendo que abrir mão de atividades que todo casal normal faz, eu sempre te apoiei.
estava certo. Ele sempre me apoiou. Sempre esteve lá por mim, mesmo que, muitas vezes, não tenha escondido seu descontentamento com as minhas prioridades.
- Então por que está brigando comigo quando sabe que essa viagem não depende de uma escolha minha?
- Porque eu estou cansado, . – disse, mantendo os olhos para frente. – Estou cansado de namorar a secretária eletrônica, estou cansado de namorar uma mulher que passa mais tempo com seus fãs, do que comigo. Estou cansado de sempre ser o segundo da sua lista de prioridades e estou cansado de ouvir de você que eu só reclamo.
- Isso não é justo, . Eu não digo que você só reclama, pois tenho plena consciência dos sacrifícios que você faz para namorar comigo. – eu disse, sem me esforçar em esconder o tom amargo. – Também não é justo, porque você fala como se fosse o único a sofrer com o fato de que não podemos estar sempre juntos.
- Talvez não seja justo, mas o que eu sinto no momento é que nem mesmo tenho uma namorada.
E aquilo doeu mais do que se tivesse tido mais de cem facas enfiadas no meu peito.
Por mais que eu estivesse pronta para brigar, pronta para falar que quem se sentia sozinha no momento era eu, especialmente por ter um namorado tão pouco compreensivo como , não o fiz. Não o fiz simplesmente por estar cansada de brigar sempre pela mesma coisa.
- Acho que você deveria parar o carro e me deixar descer. – foi o que eu disse.
me olhou, surpreso. Apesar de estarmos chegando em Seul, minha casa ainda estava bem longe.
- Você não pode estar falando sério.
- Pois eu estou. – disse firme, segurando as lágrimas que já ardiam nos olhos. – Pare o carro agora, pois eu quero descer.
- , não vou deixar você no meio da pista...
- É exatamente o que você vai fazer, porque isso é o que eu quero no momento, e você deveria respeitar a minha vontade.
não discutiu mais, e eu sabia que ele estava se esforçando para se manter calado e não prolongar aquela discussão. Talvez eu estivesse agindo feito criança, talvez essa não fosse a melhor maneira de resolver os nossos problemas, mas a verdade é que não conseguia ficar mais um minuto naquele carro junto dele.
, então, contrariando sua vontade, parou o carro junto à calçada, do lado de um ponto de ônibus. Coloquei os óculos escuros e procurei pela máscara dentro da bolsa para que não pudesse ser reconhecida na rua.
- Deixe minhas malas na casa de , por favor.
- , não faça isso...
Mas eu não ouvi o que mais ele tinha a dizer, pois fechei a porta do carro, dando por encerrada aquela conversa.
E quando dei as costas para o carro, eu sabia que não tinha dado fim apenas àquela conversa, mas provavelmente a todos os meses que passei junto a .
Com a visão embaçada por conta das lágrimas escorrendo, mandei uma mensagem para .
"Não se preocupe em comprar uma passagem para . Ele não irá com a gente para os Estados Unidos."
Beverly Hills – Califórnia, Estados Unidos, atualmente
Aquele seria meu último dia em Beverly Hills, mas não seria o último nos Estados Unidos. Apesar de nossos planos serem voltar no dia seguinte para Seul, e eu, e mais algumas pessoas da equipe, decidimos que seria um grande desperdício voltar para a Coréia sem visitarmos pelo menos Hollywood.
Era dia 30 de junho, e eu estava no palco agradecendo pelos fãs que se esforçavam em cantar minhas músicas, mesmo não sendo no seu idioma.
Meu último dia de compromissos nos Estados Unidos.
Dia 30 de junho, meu aniversário de namoro com . Ou, melhor dizendo, seria meu aniversário de namoro se não tivéssemos terminado da pior maneira possível: em meio a brigas e palavras ditas no calor do momento.
Quando me informou que estaríamos viajando nesta data, logo pensei em chamar para viajar conosco. Talvez eu não pudesse me dedicar inteiramente a ele e ao que tínhamos, mas pelo menos estaríamos juntos. Bem, meu plano não deu certo.
me esperava do lado de fora do palco como sempre, carregando uma toalha e uma garrafinha com água, a agenda em baixo do braço e o celular nas mãos.
- Você precisa de uma folga, mulher. – eu disse para ela, me referindo a tudo o que ela carregava para cima e para baixo.
Minha amiga riu antes de responder.
- Concordo, e estaria mentindo se dissesse que não merecemos férias.
Balancei a cabeça, concordando com ela. Férias era tudo o que eu poderia pedir no momento.
- Pelo menos, teremos uma semana para descansarmos. – disse, me referindo ao fato de que teríamos uma longa semana para explorar os pontos turísticos da Califórnia.
- Amém!
Eu sabia que poderia tomar um banho ali mesmo e retardar minha volta para o hotel, ou poderia simplesmente colocar um sobretudo – mesmo que o verão não estivesse economizando no calor – e ir embora agora mesmo, e voltar para o conforto do meu quarto. Não foi difícil escolher a segunda opção.
E já do lado de fora, onde o carro me esperava, pensei que talvez o calor estivesse afetando minha visão. Ou meu cérebro. Ou os dois em conjunto. Porque o que estava diante dos meus olhos não podia ser verdade. Quem estava ali, ao lado de uma mala, com as mãos nos bolsos da bermuda, não poderia estar, de fato, ali.
Quer dizer, deveria estar em Seul, na Coreia. Deveria estar estudando para suas provas finais, se matando de trabalhar no estágio e combinando de passar o final de semana junto a seus amigos. não poderia estar nos Estados Unidos, em Beverly Hills, me esperando do lado de fora do estádio com o sorriso mais lindo que eu já tinha visto na vida.
- Acho que fazia tempo que não a ouvia cantar. – ele disse. – Grande show o que você fez, parabéns.
E mesmo ainda à distância, podia jurar que seu perfume acompanhou cada uma de suas palavras. Palavras estas que, eu sabia, não eram apenas fruto da minha imaginação saudosa.
- Eu não sabia exatamente como seria quando nos víssemos de novo, mas confesso que estou meio decepcionado. – ele disse, passando a mão nos cabelos.
- Por quê?
- Acho que estava esperando que pudéssemos conversar sem essa distância toda. – ele sinalizou os metros que ainda nos separavam. – Ficamos longe por tempo demais, e não quero que essa distância dure mais nenhum segundo.
Eu estava sem palavras, era verdade. Também tentava entender o que estava acontecendo ali. E, mais do que isso, brigava internamente comigo mesma quando um lado insistia em sair correndo para abraçar , e o outro teimava em manter meu orgulho intacto.
- Olha, eu sei que isso pode ser coisa demais... Quer dizer, você não esperava que eu estivesse aqui, e, então, eu apareci do nada. Eu entendo se você quiser um tempo para pensar...
- Eu já pensei. – tinha pensado até demais nas últimas semanas. - Só que...
- ... Talvez as coisas voltem a ser como eram antes. – ele completou minha fala. E continuou falando, dando um passo de cada vez em minha direção. – E provavelmente voltaremos a brigar, – mais um passo – porque você não poderá estar comigo a todo momento, – mais perto – e eu também não vou poder te acompanhar em todos os seus compromissos.
E quando estava próximo o bastante para que eu pudesse tocá-lo apenas esticando a mão, ele continuou.
- Mas se quer saber, eu não me importo. Não me importo, porque mesmo que eu tenha apenas alguns momentos ao seu lado ou que eu tenha apenas alguns minutos ouvindo a sua voz pelo celular, ainda é infinitamente melhor do que não tê-la. E isso eu não posso suportar, não mais.
Eu não tinha percebido que meus olhos ardiam. Também não percebi em que momento joguei meus braços em volta dele, escondi meu rosto em seu pescoço e o apertei com tanta força que poderia jurar que nossos corpos virariam um só.
- Eu senti tanto a sua falta. – admiti, com a voz rouca. – Tanta, tanta... Não quero que fiquemos separados de novo. Nunca mais.
- Eu prometo que nos momentos de conflito vou me esforçar para ser compreensivo. Prometo te apoiar, prometo ser uma pessoa melhor, prometo tentar não te decepcionar.
- E eu prometo não te deixar em segundo lugar na minha lista de prioridades. A minha carreira é a minha vida, mas a minha vida não tem sentido se eu não tiver você do meu lado. Então eu só te peço paciência e compreensão e eu prometo que vou me esforçar para não cometer os mesmos erros.
- A única coisa que quero que me prometa, , é que vai continuar me amando, mesmo quando as coisas ficarem difíceis, e que não vai pular para fora do carro na nossa primeira ou vigésima discussão.
E mesmo estando em um momento como aquele e ainda tendo dificuldades para enxergar por conta das lágrimas, eu ri.
- E eu preciso que você prometa continuar me amando, mesmo quando minha agenda estiver cheia de compromissos que fogem do meu controle.
- ... Eu continuaria te amando mesmo que eu nunca tivesse espaço na sua agenda. – ele disse, com um sorriso doce nos lábios.
- Até porque você sabe que no meu coração só existe lugar para você, não é?
Foi a vez de rir, e eu não pude deixar de acompanha-lo.
E mesmo estando suada e com os cabelos bagunçados por conta do show, a maquiagem borrada por conta do suor – e das lágrimas –, me olhava como se estivesse diante da pessoa mais linda que ele já havia visto. E eu sabia que quando ele me tocava e acariciava meu rosto, e quando me beijava de forma carinhosa e saudosa, ele apenas desejava poder continuar tendo esses momentos por muito e muito tempo mais, exatamente como eu desejava.
E dessa vez eu sabia que nós faríamos dar certo.
Encontrar fãs no aeroporto de Beverly Hills, nos Estados Unidos, não era exatamente o que estava esperando. Quer dizer, eu sabia que minha fanbase norte-americana era relativamente grande – os tweets eram a prova viva disso –, mas encontrar filas de fãs, alguns gritando, outros chorando e quase todos pedindo por um foto, foi tudo o que eu nunca poderia imaginar.
Sorrir para a câmera não era difícil, afinal, era o meu trabalho. Posar ao lado de pessoas que me acompanham a tanto tempo, que dedicam tanto para mim e por mim, não era um fardo, mas uma honra. Devolver um pouco do amor que me davam era o mínimo que eu poderia fazer, ainda que isso significasse atrasar o cronograma do dia.
- Você sabe que irá se atrasar para a sessão de fotos, não sabe, ? – , minha manager e melhor amiga, me perguntou. Eu sabia que ela não esperava exatamente uma resposta, a pergunta tinha sido retórica, é claro. – Ainda temos que passar no hotel, deixar as malas, você precisa retocar a maquiagem e trocar de roupa...
- , amiga, relaxa. – eu disse. Minha atenção estava na janela do carro, de onde ainda podia ver alguns fãs na entrada do aeroporto, abanando a mão para mim. – Está tudo sob controle.
- Até parece...
- E se não estiver, quem melhor para organizar meus compromissos do que você? – perguntei, sorrindo, dessa vez voltando minha atenção para ela.
fez uma careta, e eu tinha certeza de que ela soltaria algum palavrão, seguido de uma ironia, mas não estávamos sozinhas no carro e precisávamos manter – ou pelo menos tentar – o profissionalismo diante da equipe.
Ao chegarmos ao hotel, precisamos entrar pelos fundos, pois a porta da frente também tinha fãs, ainda que em menor número que no aeroporto. Segundo minha amiga, e também manager, se entrássemos pela frente, a notícia logo se espalharia, e então seria impossível conseguirmos sair mais tarde, pois o hotel ficaria lotado de gente. Eu, particularmente, não me importava com isso. Gostava de receber o carinho dos fãs e, principalmente, poder dar-lhes um retorno. Mas já estava ficando vermelha, e seu cabelo sempre bem alinhado já estava começando a ficar fora de lugar, o que significava que ela estava ansiosa e nervosa com o fato de minha agenda estar um pouquinho atrasada.
- As pessoas não gostam de artistas que não cumprem horário, . – ela sempre me dizia. – Apesar de isso ser comum, não é visto com bons olhos. Artistas que não comparecem a seus compromissos no horário marcado são vistos como irresponsáveis. Você não quer isso, quer?
Não, eu não queria isso, definitivamente. E por este motivo não me importei em irmos de carro até o estúdio de fotografia que ficava a poucos quarteirões dali, mesmo que isso implicasse em perder a oportunidade de tirar fotos nas ruas, comer a comida de carrinhos de rua e poder fingir que estava de férias, em vez de estar em uma viagem a trabalho.
Meu acordo com foi simples: vamos de carro até o estúdio, tiramos as fotos e voltamos para o hotel a pé. Respirar ar fresco era tudo o que eu precisava depois de tantas horas dentro de um avião, e, então, dentro de um carro, e de um quarto de hotel, e, então, dentro de um carro de novo.
- Você acha que tudo na vida pode ser negociado, não é mesmo? – minha amiga perguntou com aquela cara de você-pode-tentar-mas-eu-não-vou-ceder.
- , por favor. Por mim! Você sabe como essa viagem está sendo difícil para mim e o que ela significa na minha vida. – por mais que estivesse apelando para o lado emocional de , eu não estava mentindo. Aquela viagem, por mais importante que fosse para minha carreira, tinha me custado muito. E também sabia disso, e foi por este motivo que, assim que terminei de limpar a maquiagem e colocar minhas roupas de volta, mal pude esperar para analisar as fotos tiradas para poder, finalmente, conhecer as ruas de Beverly Hills.
Coloquei óculos escuros e deixei os cabelos soltos. Agradeci por ter escolhido usar roupas curtas e frescas, porque o calor das ruas estava de matar. Me preocupei em tirar fotos dos grafites nas paredes e em experimentar o cachorro quente norte-americano. Pensei que fosse reclamar de eu estar comendo carboidratos quando estava prestes a filmar um novo clipe, mas ela apenas pediu um cachorro quente para si, me acompanhando.
Peguei o celular para tirar uma foto nossa. A verdade é que o aparelho estava desligado, pois desde que saímos da Coreia eu não mexia nele. Assim que as luzes se acenderam, procurei o aplicativo da câmera.
- Tem alguma ligação dele? – ela me perguntou.
E antes que eu verificasse se havia alguma ligação não atendida, já sabia a resposta. Mas isso não significava que não senti a dorzinha no peito triplicar ao constatar que não, não havia ligação não atendida, nem mensagens não lidas.
- Sinto muito. – respondeu ao meu olhar. Não precisei lhe dizer a resposta, ela já sabia.
- Não sinta. – eu respondi, sorrindo fraco. – Ele fez a escolha dele.
E sem dar trégua para que começássemos mais uma conversa que, provavelmente, me levaria às lágrimas – como vinha acontecendo nas últimas semanas –, a puxei para um abraço, fazendo careta para o celular.
- Vamos tirar muitas fotos e aproveitar a oportunidade de estarmos em uma viagem a trabalho, porém com pouco trabalho.
- Pouco trabalho? – perguntou. – Só se for pra você!
- Sim, e eu agradeço imensamente a minha agenda cheia, porém não lotada de compromissos. – disse, ironicamente.
rolou os olhos, mas no final começamos a rir juntas. Para quem estava acostumada a uma agenda sem espaços para folgas, ter horários livres, ainda que poucos, ao longo dos dias era um privilégio.
Seul, Coréia do Sul, 9 meses atrás
- , se concentre nos seus pés! Já é a quarta vez que você erra esse passo hoje! – Jiwoo, minha coreógrafa, disse.
Pedi desculpa a ela e também desculpa às dançarinas que estiveram ensaiando os mesmos passos o dia todo, há quase oito horas seguidas.
Jiwoo colocou a música novamente, do começo, e recomeçamos os ensaios. Minhas pernas doíam, meus braços já estavam fracos, e eu sabia que teria que colocar gelo nos meus pés antes de dormir. Mas o que mais me preocupava no momento era o me esperando em nosso restaurante favorito, com os olhos na porta, esperando que eu chegasse logo.
Nossas últimas duas tentativas de encontros foram canceladas por conta dos meus ensaios que sempre terminavam tarde demais, mas eu não poderia fazer isso hoje de novo. Hoje estávamos completando três meses de namoro, e a reserva no restaurante estava feita há mais de um mês.
- , você está se desconcentrando de novo! – Jiwoo falou, brava. A este ponto até mesmo as dançarinas da minha equipe estavam sem paciência para meus erros. – O que está acontecendo com você esta noite?
- Desculpe, Jiwoo, estou muito aérea hoje. – disse, mordendo o lábio, fazendo mais um pedido de desculpas. – Será que poderíamos encerrar por hoje e começar o ensaio amanhã, bem cedinho? – atrás das costas eu tinha os dedos bem cruzados, torcendo para que meu pedido fosse aceito.
- Não. Nós só vamos sair daqui hoje quando você acertar todos os passos e vamos começar os ensaios amanhã bem cedinho. – ela disse, dura. – Vou colocar a música do início novamente.
- Espere, posso apenas fazer uma ligação antes? – eu não precisava dizer à Jiwoo para quem estaria ligando, ela já sabia. E eu podia ver em seus olhos, sem precisar de palavras, que ela desaprovava meu relacionamento com , simplesmente por situações como estas, como quando não me dedicava de corpo e alma aos ensaios porque estava preocupada demais com meu namorado.
- Seja rápida.
As dançarinas rolaram os olhos, ansiosas para irem embora, mas não disseram nada. Eu mesma não falei nada também. Em dias comuns, quando minha mente estava inteiramente focada nos ensaios, eu era a que as incentivava a não desistirem, a continuarem, e não se deixarem abalar por seus erros. Esta noite, entretanto, nossos papeis estavam trocados, e eu não me deixaria abalar por suas caras insatisfeitas.
Peguei o celular pensando que encontraria alguma ligação perdida de , mas não havia nada. Já passava das vinte horas, e provavelmente estava saindo da faculdade naquele momento. Disquei seu número, torcendo para que ele não atendesse, pois isso significaria que não seria apenas eu a me atrasar para nosso encontro.
- Oi, amor. – ele atendeu no segundo toque. – Estou procurando uma vaga perto restaurante, já chegou? – ele perguntou.
- Oi, amor... Não, ainda não cheguei, e foi por isso que liguei...
Ele ficou em silêncio do outro lado da linha, e por um momento pensei que a ligação tinha caído.
- ?
- Você não está cancelando o nosso jantar, não é?
- Não, é claro que não! – eu disse de pressa, já ouvindo Jiwoo chamar por meu nome, ao lado da caixa de som, informando que colocaria a música novamente. – Apenas que irei me atrasar alguns minutos. Juro que não vou demorar muito.
Ouvi suspirar do outro lado da linha e também pude ouvi-lo puxar o freio de mão. Acredito que já tenha encontrado uma vaga, e, a partir daquele momento ele estaria me esperando pelos próximos minutos ou próximas horas.
- Eu vou me dedicar para que o ensaio terminei rápido, eu prometo. E logo mais estarei junto a você para comemorarmos o nosso mêsversário. – eu disse. – Apenas não vale reclamar pelo fato de eu estar suada e com o cabelo bagunçado. – brinquei para quebrar o clima ruim que havia se instalado. Com o atraso, eu não teria tempo de ir para casa tomar banho e colocar a roupa que havia comprado especialmente para aquela noite.
- Não me importo com a sua aparência, , apenas quero que você esteja aqui.
- Eu vou estar, logo. Eu prometo.
Beverly Hills – Califórnia, Estados Unidos, atualmente
- Espero que tenha descansado esta noite, pois o dia será longo. – disse assim que me viu entrando no refeitório do hotel.
- Bom dia pra você também. – brinquei. – E sim, dormi feito um bebê. Se fosse possível, acho que dormiria o dia de hoje inteiro também.
- Você nem sonhe com isso! – disse, aumentando o tom de voz, o que apenas fez com que eu risse. – Você está brincando, não é?
- Sim, estou brincando. – eu ri. – Estou bem, estou descansada e mal vejo a hora de começarmos as gravações.
- Muito bem, muito bem. Esse é o espírito!
Ri novamente da animação da minha amiga, me servindo das frutas e queijos que estavam em cima da mesa.
- Ele... Entrou em contato? – ela perguntou, baixinho.
Parei a mão no ar onde estava, pensando no que ela havia dito. E, então, voltei a escolher o que teria para o café da manhã, me servindo de suco. Por alguma razão meus lábios haviam ficado secos de uma hora para outra.
- Não, , ele não entrou. – eu respondi. Instantaneamente senti toda a animação de minutos antes ir se dissolvendo. – Não é como se eu estivesse esperando uma ligação ou um pedido de desculpas, de qualquer forma. Quer dizer, eu entendo o lado dele.
- Mas ele...
- Ele apenas fez o que achava ser certo. – a interrompi. – não teve culpa, assim como eu também não tive. Apenas... Apenas não estávamos mais na mesma sintonia. – disse, colocando um ponto final naquilo.
Eu já não queria mais conversar sobre e os recentes acontecimentos entre nós dois. Se pensasse novamente em tudo o que aconteceu, provavelmente começaria a chorar de novo, e toda a conversa de autocontrole e superação que havia tido com a minha psicóloga iria por água abaixo. Além disso, estava em uma viagem mais do que importante para a minha carreira.
A ideia de gravarmos um vídeo clipe nos Estados Unidos, onde minha base de fãs crescia a cada dia, tinha repercutido nos meios de comunicação norte-americanos. Agora, além de uma sessão de fotos e um vídeo clipe, na minha agenda – que parecia não desgrudar nem mesmo para tomar banho – havia horários marcados para entrevistas nos maiores programas de talk show, além de pequenas apresentações em programas matinais.
Além disso, por meio de uma ideia vinda diretamente dos fãs, iríamos gravar cenas juntos em um meeting que aconteceria ainda esta semana, formando um compilado de gravações e fotos tiradas pelos próprios fãs, que seria apresentado como uma nova versão de um clipe de uma música – esta também escolhida pelos fãs.
Eu não poderia me dar ao luxo de sofrer por algo que já acabou, nem de desviar minha concentração para alguém que não estava ali. Aquela era a minha vida e a minha carreira, e isso deveria ocupar cem por cento das minhas preocupações.
- Tudo bem, você quer olhar a sua agenda de hoje? – perguntou assim que terminamos nosso café da manhã.
- Tem necessidade disso? Digo, tem tanta coisa assim pra fazer?
Estávamos do lado de fora do hotel, esperando o carro nos buscar. O sol estava tão intenso que, mesmo usando óculos escuros, precisei colocar a mão na frente dos olhos.
- Na verdade não. – ela disse, também se escondendo do sol. – Além do início da gravação do vídeo clipe, também precisamos conhecer o local onde será o encontro com fãs.
- Só isso? – perguntei, ironicamente.
- Sim, só isso. A correria será na semana que vem, quando as entrevistas começarem. Espero que tenha mudado suas preferências sobre dormir mais de seis horas por noite. – ela brincou.
Nós rimos, mas eu sabia que ela falava sério. Quando as entrevistas começassem, dormir seria um privilégio que eu não teria.
Quando chegamos na rua em que as primeiras cenas do clipe seriam filmadas, me surpreendi novamente por encontrar fãs ali. Eu não esperava por toda essa recepção calorosa, não quando minha carreira no exterior estava apenas começando. E foi exatamente por isso que – contrariando a todos os pedidos de – atrasei as gravações (só alguns minutinhos) para dar a atenção que aquelas pessoas mereciam.
- Muito bem, miss simpatia, agora estamos atrasadas, e você nem mesmo lavou o cabelo antes de vir pra cá! – falou baixo para que só eu ouvisse. Ri da sua escolha de palavras.
- Tive que tomar um banho rápido, você ficou me apressando. – falei no mesmo tom. – Além disso, preciso ser simpática e educada com as pessoas que me ajudaram a chegar onde estou.
- Certo, certo. Não vamos mais discutir sobre isso. Você não gosta de relógios, eu os amo e o meu trabalho é fazer você respeitá-los, então vamos.
E isso apenas fez com que eu risse ainda mais da minha amiga virginiana e perfeccionista. Definitivamente, eu não poderia ter escolhido pessoa melhor para trabalhar comigo.
- ! – Mark, o diretor, me cumprimentou. – Como está? Pensei que só viria mais tarde.
- E por que eu faria isso? – perguntei.
- Porque ainda estamos organizando as disposições das coisas e decidindo qual a sequência das cenas.
- Mas é exatamente por isso que vim mais cedo. Eu gosto de trabalhar junto com o diretor, gosto de saber o que faremos e como iremos gravar.
Mark, ao contrário da maioria dos outros diretores de vídeo clipes, não gostava quando artistas se mantinham inertes quanto à gravação e produção dos vídeos. Mark gostava de trabalhar em equipe, gostava de discutir ideias, de testar coisas novas, e era por isso que eu o havia escolhido.
- É mesmo? Bom saber. – ele disse, sorrindo. – Estamos testando alguns ângulos para a câmera, gostaria de participar?
- É claro!
E então seguimos até um grupo de três homens, todos testando o melhor enquadramento para uma cena, discutindo como bloquear o sol que, àquela hora da manhã, batia diretamente na parede em que iríamos gravar.
Li mais uma vez o roteiro e as diferentes tomadas que teríamos que fazer, os figurinos que teria que usar e as maquiagens que teria que fazer para cada roupa diferente. O dia seria longo, e eu sabia que os próximos seriam tão longos quanto.
Seoul, Coréia do Sul, 7 meses atrás
- Eu só não entendo porque você não pode tirar um dia de folga para ficarmos juntos. – disse. – Que tipo de empresária você é que não pode se dar um dia de folga? Você trabalha demais... – tinha os dois braços em volta de mim, a cabeça apoiada no meu ombro, enquanto eu respondia alguns e-mails.
Por um segundo esqueci o que estava fazendo quando senti seus lábios brincando com a minha pele, e quando sua língua tomou a frente da brincadeira, eu já nem mesmo sabia por que estava com os olhos voltados para uma tela de computador e não para o meu namorado.
- Sou o tipo de empresária que precisa trabalhar para ter sucesso. – eu respondi, com a voz fraca. Meus olhos estavam fechados, a cabeça tombada para o lado, dando livre acesso à sua boca atrevida.
Ele riu fraco contra meu pescoço, e isso fez com que me arrepiasse ainda mais.
- Então acho que está conseguindo atingir seu objetivo, pois todas as rádios estão tocando a sua nova música, inclusive a rádio da faculdade.
- É mesmo? – perguntei, cortando nosso contato, apenas para olhá-lo nos olhos e ter certeza do que ele falava. tinha um sorriso orgulhoso nos lábios. Por mais que reclamasse das minhas intermináveis horas trabalhando e da falta de atenção que despendia a ele, era uma das pessoas que mais me apoiavam.
- É claro que sim! Eu não esperava nada menos da melhor cantora do ano de 2017.
Bati palmas e, então, o abracei novamente, circulando meus braços em volta de seu pescoço, o apertando com força.
- Todo mundo está comentando sobre a nova música. Os garotos, particularmente, adoraram o novo vídeo clipe. – ele disse, torcendo os lábios. Ri da sua reação. – Precisei dar uma fã de maluco e mandar que eles prestassem atenção na letra da música e na mensagem que ela passava, e não nas suas pernas.
Joguei a cabeça para trás, rindo do que ele falou.
- Mas como um bom fã número um, não posso deixar de concordar com eles.
- Eu também concordo. Passei horas na academia para fazer aquele clipe, o mínimo era que minhas pernas ficassem bonitas mesmo.
rolou os olhos, dizendo que qualquer parte do meu corpo sempre era linda, com ou sem academia, e eu não poderia achá-lo mais fofo.
Voltei minha atenção para os e-mails, tendo que terminar de respondê-los o quanto antes, caso contrário me atrasaria para a gravação do comercial a que fui convidada a participar.
- Por favor, ... Por favor, pergunte a eles se a gravação não pode acontecer sem você.
Eu ri da sua fala.
- , é um comercial de um resort, e eu serei a famosa garota propaganda. Eu tenho que ir.
bufou, mas não perdi tempo em me incomodar com isso. Por mais que vivesse mostrando o meu lado a ele, sobre como minha vida era corrida, cheia de compromissos que não podiam ser adiados e muito menos cancelados, também entendia o seu lado.
Namorar com uma pessoa que tem pouco tempo disponível para dedicar a ele devia ser difícil. As ligações perdidas e as mensagens que, muitas vezes, eu só conseguia ler horas depois de tê-las recebido, eram provas de que namorar uma pessoa que não tinha controle nem mesmo sobre sua agenda, não era tarefa fácil.
Minha atenção e dedicação quase sempre eram voltadas para os fãs, e eu sei que isso o incomodava. Novamente eu entendia seu sentimento. Querendo ou não, eu o deixava de lado – ainda que não propositalmente ou por opção – para me dedicar a pessoas que nem mesmo conhecia. Tínhamos que nos restringir a tirar fotos juntos, mas toda semana era o meu rosto que estava estampado em centenas de revistas.
Sim, eu entendia sua frustração. E não podia ser hipócrita, pois não sei como agiria caso estivesse em seu lugar.
- Por que você não vem comigo? – perguntei, sem ter tempo de pensar direito na ideia.
- Ir aonde? – ele perguntou com a testa enrugada, sem entender do que eu falava.
- Para a gravação do comercial. – e antes que recebesse uma negativa sua, porque eu sabia que estava a caminho, continuei – Não vai ser demorado, apenas algumas horas. Você pode ir comigo, ficar lá enquanto gravamos e, no final, podemos sair para comer.
- , não sei... Não gosto dessas coisas...
- Você não gosta de exposição, eu sei. Não gosta de aparecer diante das câmeras, mas dessa vez eu serei a única a ser gravada. Você apenas ficará sentadinho, ao lado de , assistindo eu trabalhar o meu lado atriz. – falei, brincando, pois sempre disse a ele que não servia para ser atriz, já que decorar falas era a tarefa mais difícil que já tive que executar. – Vamos, por favor...
Ele pareceu pensar um pouco, ainda que não disse nada.
- Por favor... – pisquei meus cílios de um jeito que eu sabia que o convenceria a até mesmo participar da gravação do comercial, caso eu quisesse.
rolou os olhos, pois sabia que aquela seria uma discussão perdida.
- Tudo bem, mas vou ficar bem escondido atrás das câmeras.
- Feito! – disse, o abraçando novamente, colocando meus braços em volta do seu pescoço e inclinando minha cabeça em direção à sua. A próxima coisa que senti foram seus lábios se moldando aos meus e suas mãos se dividindo entre apertar minha cintura e agarrar meus cabelos.
Beverly Hills – Califórnia, Estados Unidos, atualmente
O dia tinha passado em meio a fotos junto aos fãs – uma vez que o novo vídeo feito com um compilado de imagens e vídeos de fãs foi realizado hoje – e análises dos últimos detalhes do novo vídeo clipe. Mark e eu passamos a manhã conversando sobre edições, o que poderia ser incluído e as gravações que deveriam ficar de fora.
Na parte da tarde, entretanto, não saiu do meu lado, e Mark, como um bom diretor e agora amigo, orientou os fotógrafos a respeitos das diferentes fotos e ângulos que poderiam conter no vídeo.
No final da tarde, com toda a equipe cansada, resolvemos sair para beber e comemorar a quase conclusão dos dois vídeos – dois projetos que haviam me tirado o sono nas últimas semanas, de tão ansiosa que estava para realizá-los.
- Não podemos ir embora sem conhecer as mansões dos famosos. – Taewoo, um dos técnicos da equipe, falou já meio bêbado.
Alguns na mesa concordaram, outros estavam bêbados demais para isso. O que todos ali tinham em comum era a satisfação de ter trabalhos bem feitos já na reta final para a conclusão. Bem, todos, menos eu.
Por mais que estivesse fazendo piadas a todo mundo – tudo efeito do álcool, eu tinha certeza –, e Taewoo ficasse falando frases em inglês sem sentido nenhum – já que ele mal conhecia o idioma –, e todo o resto da equipe estivesse imerso em um sentimento de companheirismo e satisfação, meus olhos não paravam de olhar para a tela do celular.
Não, eu não esperava encontrar uma ligação perdida ou uma mensagem não lida. Mas, ao mesmo tempo, sentia o peito apertar toda vez que não encontrava ligações perdidas ou mensagens não lidas. Eu estava presa em um paradigma, em uma confusão de sentimentos, que já não entendia mais o que sentia ou o que deveria sentir.
O nome de me veio à mente quando uma fã me deu de presente duas pulseiras, uma para mim e a outra "para o seu namorado usar", conforme suas palavras. Era o sorriso de que vi em cada rosto de cada pessoa que falou comigo hoje. E não ver seu nome na lista de chamadas do celular doía muito. Doía tanto, que em determinado momento da noite resolvi sair do bar, respirar o ar fresco da rua e tentar pensar com clareza.
- Helloooooo... – eu disse para alguns nativos que passaram, mas tinha certeza, pelo tom da minha voz, que já estava bêbada. Há muito tempo não bebia, então acredito que meu corpo deva ter se desacostumado.
Não me importei. Continuei cumprimentando as pessoas que passavam por mim, dando boa noite e perguntando como estavam, mesmo que a maioria não tenha me respondido. Porque era isso que nós, seres humanos, deveríamos fazer sempre: falar, conversar. Compreender. Sermos pacientes. Lutar pelo nosso amor. Não terminar com nossas namoradas e namorados famosos só porque eles têm mais compromissos do que podem lidar e talvez passem dias sem conseguir te ligar.
- Por que você não teve mais paciência, ? – perguntei para ninguém, mesmo que algumas pessoas na rua tenham ouvido. – Talvez eu não merecesse sua paciência, não mais do que você teve, mas ainda assim... Você deveria ter tido mais, ...
As coisas não faziam sentido nem para mim mesma. Sim, eu culpava meu ex-namorado pelo término. Ele deveria ter me apoiado, deveria ter me esperado, ter tido paciência. Por outro lado, no fundo, sempre soube que , ou qualquer outro homem com quem eu namorasse, acabaria terminando comigo após tantos encontros desmarcados, viagens canceladas e ligações não atendidas.
Mas não, a culpa não era minha. Quer dizer, eu estava no auge, não estava? Minha carreira, meu sonho, estava se realizando, e isso não aconteceu da noite para o dia. Foram preciso muitas noites em claro, muitos ensaios terminados com bolhas nos pés, muitos choros de frustração. Eu estava a caminho do topo, mas todo o caminho que já havia percorrido tinha sido dolorido, e eu não podia jogar isso fora. Nem mesmo pelo amor da minha vida, pelo único homem que já me completou, que foi meu parceiro, meu companheiro e melhor amigo.
não pedia muito, até porque ele sempre teve pouco de mim. Tudo o que ele queria era um pouquinho mais, mas ainda assim, eu fui incapaz de dar isso a ele.
Como pude deixar as coisas chegarem a esse ponto? O que aconteceu comigo? Minha carreira era importante, e eu sabia que sacrifícios tinham que ser feitos, mas sacrificar a minha felicidade seria o mesmo que sacrificar os meus sonhos.
Eu entendia . E se fosse ele, também teria terminado comigo. Eu, por outro lado, não tinha coragem suficiente para ir atrás dele e pedir para que me desse uma segunda chance, mesmo sabendo que o relacionamento voltaria a ser o mesmo de antes. E a falta de iniciativa dele de vir falar comigo... Ah, isso machucava tanto...
- Por que você não me liga, ? – minha voz estava mole, confusa, embaralhada.
- ?
Ouvi meu nome ser chamado. Virei o pescoço com tanta pressa, que o senti estralar, e na hora eu soube que ele ficaria dolorido no dia seguinte.
- O que está fazendo aqui? – perguntou. – Está falando sozinha?
- Acho que sim. – dei de ombros, com uma das mãos no pescoço. – Não é como se meu ex-namorado estivesse aqui para me ouvir lamentar pelo fim do namoro, não é?
enrugou a testa, suspirando. Como minha melhor amiga, ela presenciou a maioria das nossas brigas e discussões, e foi uma das responsáveis por ter ajudado nosso namoro ter durado tanto tempo. Sendo muito paciente, sempre ajudou a enxergar a razão, e me obrigou, várias e várias vezes, a deixar de ser cabeça dura e orgulhosa.
- Vocês deveriam conversar. Quer dizer, já faz semanas... E no final do mês...
- Eu sei. – disse, suspirando. – Eu também acho que deveríamos conversar, mas não sei se ele atenderia.
- E é por isso que você está ligando para ele?
- Como?
Segui para onde estava olhando, dando de cara com o meu celular em minhas mãos. Na tela do aparelho, uma ligação sendo feita para . Uma ligação que eu fiz para . Uma ligação que tinha sido atendida por , no instante em que trouxe o aparelho para perto do rosto para confirmar o que estava vendo.
Ouvir a voz de , ainda que dizendo apenas uma palavra, foi um susto. Eu não esperava por aquilo, e foi por este motivo que desliguei a chamada, sem nem mesmo respondê-lo.
- Por que fez isso? – perguntou, alarmada. – Pensei que quisesse falar com ele. - Eu quero. – eu disse. E quero mesmo. E foi por isso que esperei longos minutos por uma ligação de volta de , mas esta nunca aconteceu. – Vamos embora, estou começando a ficar com frio.
- ...
- E acho que machuquei o pescoço. Você trouxe remédio para torção, não trouxe?
Minha amiga não reclamou pela mudança de assunto, nem insistiu em uma conversa que eu, claramente, não queria ter. Bem, pelo menos não com ela. Infelizmente, eu estava muito bêbada e ainda era muito cabeça dura para admitir isso para mim mesma.
Busan, Coréia do Sul, 5 meses atrás
- Ei, o que pensa que está fazendo? – perguntei, com a voz rouca de sono.
- Registrando esse momento. – respondeu, e eu não pude evitar um sorriso, ainda que não conseguisse manter os olhos abertos.
A noite passada tinha sido uma das melhores da minha vida. Além de termos ido ao cinema e depois termos tido um jantar romântico – momentos que todos os casais normais compartilham –, tivemos uma noite quente e, aparentemente, interminável. Não que eu estivesse reclamando, muito pelo contrário. Após um mês sem nos vermos, precisávamos correr atrás do tempo perdido. E, bem, nós corremos.
- Pensei que não gostasse de ser filmado. – eu disse, ainda de olhos fechados.
- E não gosto mesmo. Mas no momento estou filmando você, a coisa mais linda que meus olhos já tiveram o prazer de ver.
E isso foi o bastante para fazer com que eu abrisse os olhos e olhasse para ele. Precisei me segurar para não soltar um palavrão com a imagem que tive. estava sem camisa, vestindo apenas uma cueca e tinha os cabelos extremamente bagunçados. Pela pele do seu abdômen eu podia ver um ou dois arranhões – resquícios da noite passada. Seus olhos, sempre tão brilhantes, estavam pequenos, mostrando que ele também ainda estava com sono, mas o resto do seu corpo demonstrava que ele já estava pronto para continuar o que havíamos feito a noite toda.
- Pedi o café da manhã pra gente. – ele disse, abaixando o celular. – Não queria ter que sair do quarto para uma coisa tão insignificante como comer.
Eu ri do comentário dele. E claro que concordava cem por cento com ele.
- Achei uma ideia excelente, se quer saber. – eu disse. Imitei sua posição, também me sentando.
trouxe o café da manhã até a cama, com direito a frutas, torradas e sucos.
- Que delícia. – comentei. – Vou precisar de um café da manhã reforçado mesmo. O dia vai ser longo.
parou a torrada que tinha nas mãos, a caminho da sua boca, me olhando profundamente.
- Que horas você tem que ir embora? – ele perguntou, devolvendo a torrada que havia pego, sentando-se mais afastado da mesa.
- Logo depois do almoço. Ainda teremos a manhã toda juntos. – eu disse, tentando amenizar o fato de que o nosso reencontro após um mês separados, chegaria ao fim ainda hoje.
Ele não disse nada, e eu sabia que estava fazendo um grande esforço para isso. Havíamos conversado várias vezes sobre como os compromissos da minha agenda não podiam ser cancelados, e que insistir neste fato apenas desgastaria a nossa relação. Tirar um final de semana para ficar com ele tinha sido difícil, e precisou mexer muitos pauzinhos para conseguir um dia inteiro de folga para mim – no caso, o dia anterior. A manhã de hoje, que ainda poderíamos passar juntos, tinha sido um bônus pelo qual eu não esperava.
- O contrato que fechei com a John John exige que eu pose periodicamente, de acordo com os lançamentos das novas coleções... – comecei a explicar, mas não queria explicações.
- Claro, eu entendo. Mas só porque entendo, não significa que eu goste disso.
E novamente eu entendia sua posição. A saudade que ele sentiu foi a mesma que eu senti. As longas semanas separados, conseguindo nos ver ocasionalmente apenas por Skype, não eram o bastante para sustentar um namoro. E um dia e uma noite juntos apenas não seria o bastante para acabar com a falta que ele que fizera para mim, assim como eu sabia que não seria o suficiente para ele também.
Aquele deveria ser o nosso final de semana, afinal, viajou até Busan apenas para poder nos vermos e aproveitar as poucas horas livres que consegui. Mas eu sabia que não seria suficiente.
Beverly Hills – Califórnia, Estados Unidos, atualmente
A dor de cabeça foi a primeira coisa que senti ao abrir os olhos.
Apesar de as cortinas ainda estarem fechadas, a luz do sol ainda passava por elas, o que só piorou as pontadas na cabeça. Apertei os olhos com força, colocando a mão em frente os olhos, e virei para o outro lado. Em cima da mesinha, perto da cama, havia dois copos, um com água e outro com suco. Em frente aos copos, dois comprimidos com um bilhete escrito por , "Isso vai ajudar na ressaca. Não demore par descer, temos compromissos hoje".
Ressaca, é claro que eu estaria de ressaca. Lembrei-me das cervejas que bebi na noite passada e das que não recusei, mesmo depois de perceber que começava a ver as coisas girando. Lembrei-me de precisar sair do ambiente sufocante, das conversas altas e das risadas que não faziam sentido para mim. Lembrei-me de ir para o lado de fora respirar fundo, clarear a mente.
Lembrei-me de conversar com , ainda que ele não estivesse presente, e de ouvir sua voz ao final. Apesar de ter sido apenas uma palavra, meu nome, eu sabia que a voz era dele. Não sabia de onde vinha, mas ele havia chamado o meu nome, disso tinha certeza.
Suspirei, lamentando, pela primeira vez desde que cheguei a Beverly Hills, o fato de estar aqui e não do outro lado do mundo, junto das pessoas que amava. Junto dele. Lamentar não era uma opção para mim, eu não tinha tempo para isso e nem mesmo podia me dar ao luxo de perder tempo gastando energia com coisas que não fossem sobre minha carreira. A produtora com quem tinha contrato e a agência que cuidava da minha carreira, sempre me lembravam disso. , por mais que tentasse ser discreta e não tão radical, também me lembrava disso.
Peguei os comprimidos em cima da mesinha, tomando junto com o suco. Depois virei o copo de água, pois sabia que precisava hidratar meu corpo. E então peguei o celular para conferir se havia mensagem da minha mãe e amigos, talvez alguma de lembrando-me de descer logo, pensei com humor. E o que encontrei fez meu coração primeiro parar e, então, disparar em batidas descompassadas.
Três ligações perdidas de . Todas da noite passada.
Pensei que poderia estar vendo coisas, e por isso abri a lista de chamadas, verificando que eu havia ligado para ele na noite passada. A ligação tinha durado dez segundos, o que significava que ele havia atendido. E provavelmente atendeu chamando pelo meu nome, pensei.
Não tive tempo de pensar no que aquilo poderia significar. entrou no meu quarto, carregando sua fiel agenda eletrônica e uma caneca grande junto com uma colher.
- Trouxe algo para você comer, pois imaginei que não desceria tão cedo para o café da manhã.
Agradeci com a voz rouca, não tendo percebido até aquele momento em como estava sem voz.
- Acho que minha garganta está doendo. – comentei, mesmo sabendo que provavelmente receberia uma bronca por ter tomado friagem na noite anterior.
- Imaginei que fosse dizer isso, e é por este motivo que lhe trouxe um analgésico para a dor. – ela disse, tirando da bolsa mais um comprimido. – Trouxe cereal, eu sei que você gosta.
Agradeci novamente, aceitando a xícara e a colher. Comer cereal no café da manhã tinha sido um hábito que aprendi junto a . E pensar nele me fez lembrar das ligações perdidas no meu celular.
- ... Você lembra o que aconteceu ontem à noite depois que saí do bar? – perguntei, mantendo minha expressão inocente.
- Você quer dizer depois que saiu para tomar um ar fresco, começou a falar com estranhos na rua, ligou para e desligou na cara dele?
A colher cheia de cereal ficou parada no ar, a caminho da minha boca, tamanha surpresa que tive.
- Como? – perguntei, apenas para ter certeza de que tinha ouvido o que pensei ter ouvido.
rolou os olhos antes de responder, entretanto.
- Vai me dizer que estava bêbada a ponto de não se lembrar disso?
- Não, eu me lembro, mas... Não sei, apenas não consegui diferenciar o que realmente aconteceu e o que foi apenas um sonho.
- Bem, tudo foi muito real, e eu posso lhe garantir isso.
Balancei a cabeça concordando com ela. Então meus sonhos não eram sonhos, e meus delírios não passavam de lembranças reais. Eu havia ligado para o meu ex-namorado e, por conta do medo e do orgulho, não respondi quando ele chamou meu nome, mas desliguei em sua cara. Então as ligações perdidas...
- me ligou depois disso. – falei, depressa.
- É mesmo? – tinha os olhos arregalados, surpresos. – Isso é ótimo, não é? É o que você queria, afinal de contas.
- Bem, eu não falei com ele, na verdade. Vi agora de manhã as ligações perdidas.
- Ligações, hm? No plural? – ela perguntou, fazendo sua expressão de esperta. – Isso é bom.
- Pois é... – respondi, dessa vez olhando para a cama.
- E você não vai ligar de volta para ele?
Olhei novamente para o celular, pensando se deveria ou não ligar novamente para ele e não desligar no momento em que ele atender, dessa vez. E, então, pensei no que eu poderia falar, e em como ele receberia minhas palavras, se as receberia bem ou de forma hostil. Talvez estivesse ocupado, ou dormindo, e nem mesmo atenderia minha ligação, e, então, entraríamos naquele jogo de ligações não atendidas, que apenas nos desgastaria ainda mais.
Hong Kong, China, 3 meses atrás
Desci do palco já recebendo uma garrafinha de água e uma toalha para enxugar o suor. A turnê do novo álbum estava chegando ao fim, pelo menos pela Ásia, e na próxima semana eu já embarcaria para a Europa. Sorrir era a única coisa que conseguia fazer no momento, especialmente quando recebia os parabéns de toda a equipe e lia as boas notas dadas pelas revistas de música.
me esperava do lado de fora do palco com um sorriso no rosto maior que o meu, se isso era possível.
- Olha só ela, a rainha do k-pop do momento. – ela brincou, com a voz cantada.
Fiz algumas poses, como se estivesse posando para fotos imaginárias, rindo em seguida.
- Eu preciso de um banho! – disse, seguindo pelo corredor. – Acho que também preciso dormir por, sei lá, uns três dias para me recuperar.
- Então aproveite para descansar mesmo, porque em menos de uma semana estaremos indo para a Europa. – ela disse, novamente com a voz cantada, comemorando nosso sucesso. Digo nosso, pois eu não seria ninguém sem ela ao meu lado. Assim como não seria ninguém sem , que sempre estava lá para comemorar minhas vitórias e chorar minhas perdas.
Sabendo que teria quase uma semana de "folga" até a minha próxima turnê, liguei para , pensando em passar esses dias com ele em Seul, enquanto organizava minhas malas para a próxima viagem.
Ao pegar o celular, vi havia que várias ligações perdidas de , e quando digo várias, quero dizer várias mesmo. Doze, para ser mais exata. nunca me ligava tantas vezes seguidas, o que me fez pensar que algo poderia ter acontecido.
Por sorte, fui atendida no segundo toque, mas não foi sua voz que ouvi do outro lado da linha. Sehun, seu amigo da faculdade, foi quem respondeu à minha chamada.
- , hey! Como vai?
- Bem, Sehun, e você? – perguntei, impaciente. Sehun era uma gracinha e um ótimo amigo, mas não era exatamente como ele estava que eu queria saber no momento.
- Bem, muito bem. E a turnê, como anda? Tenho lido boas notícias sobre...
- Sim, sim, está tudo indo muito bem, obrigada. está aí? – tentei não ser mal educada e parecer que estava cortando sua fala, mas não pude evitar. Apenas o fato de não ter atendido seu celular já era o bastante para me deixar preocupada.
- Está, mas ele está dirigindo, por isso não atendeu. – e isso foi o bastante para aliviar meu peito. E antes que pudesse pedir para que ele colocasse no viva-voz, Sehun continuou. – Não posso colocar no viva-voz, pois tem outras pessoas no carro. Ei, pessoal, digam oi para !
Do outro lado da linha pude ouvir um "Hey, !", não reconhecendo as vozes, mas percebendo haver vozes femininas também. Me esforcei para não me incomodar com isso. tinha amigas também, eu sabia disso, e este fato não deveria me incomodar.
- Para onde vocês estão indo? – perguntei a Sehun.
- Estamos indo para Busan, aproveitar a praia de lá durante o fim de semana para comemorar o novo estágio de .
Aquilo me pegou de surpresa. Precisei de alguns segundos para entender o que ele havia falado e para processar o fato de que , meu namorado, estava viajando com os amigos para comemorar algo que eu nem mesmo sabia que ele tinha conseguido.
- Uau... Ele conseguiu o estágio no escritório de advocacia que ele tanto queria? – perguntei, sem conseguir esconder o desapontamento por ter recebido a notícia de Sehun e não de . – Dê os parabéns pra ele...
- Não, não, espera aí. Vou colocar o celular no ouvido dele.
Esperei por um segundo, ouvindo as conversas dentro do carro e a voz de ao fundo. No instante seguinte, ele falava comigo.
- ? Já acabou o show? – ele perguntou. - Sim, acabei de descer do palco. – eu respondi. – Parabéns por ter conseguido o estágio que você queria, eu sei como foi difícil. – respondi, dessa vez com a voz mais animada e com um sorriso nos lábios. – Você mais do que ninguém merece isso.
- Obrigado, . Sabe, eu tentei te ligar para te contar as novidades, mas você não atendeu de novo.
E aquilo fez meu peito apertar novamente, porque eu sabia o que aquilo significava. "De novo", ele havia dito. Porque nas últimas semanas eu mal havia retornado suas ligações, quem dirá atender quando ele me ligava. E aquilo doía porque eu não estava lá quando ele quis compartilhar uma vitória comigo. Eu não estive para ele, diferente dele, que sempre esteve por mim. Não pude retribuir o carinho que recebi dele durante os nossos meses de namoro, e aquilo doía porque eu sabia que era exatamente o que ele estava pensando, ainda que fosse educado demais para dizer em voz alta.
- Eu sei, desculpe. Não foi minha intenção. – respondi, com a voz rouca e os olhos ardendo. Precisei ser forte para não chorar em meio a um corredor no fundo do estádio onde tinha sido o show, com pessoas em volta prestando atenção no que a famosa falava ao telefone. – Eu apenas liguei para saber se você estaria em Seul pelos próximos dias. Meio que vou ter uma semana de folga, então pensei que poderíamos passar juntos... – mordi o lábio.
- Eu... Eu não sei se vai dar. Quer dizer, estamos indo para Busan agora passar o final de semana na casa da avó de Sehun, mas na semana que vem nós vamos...
- Nós vamos para Jeju! – ouvi uma garota gritar ao fundo. E então as vozes no carro exclamaram em comemoração antes de voltar a falar comigo.
- O pai de Krystal abriu uma pousada na Ilha de Jeju, e nos convidou para ir para lá sem pagarmos nada, demais não é? – ele perguntou, animado. – Você pode nos encontrar lá, já que vai estar de folga.
Pensei na possibilidade por um instante. Visitar a Ilha de Jeju, um dos lugares mais românticos da Coréia do Sul, o qual a maioria dos casais recém casados escolhiam para passar a lua de mel, parecia ser uma boa, especialmente tendo ao meu lado.
Mas então me lembrei de que não poderia aceitar a proposta porque, ainda que estivesse de "folga" durante a semana, isso não significa que não teria ensaios e planejamentos para a próxima turnê.
- Acho que vamos ter que deixar para outra oportunidade. – eu disse, triste. Além de não estar junto a quando ele conquistou o que vinha buscando há tempos, eu não estaria lá para comemorar junto a ele, e isso fazia com que me sentisse a pior pessoa do mundo ou, pelo menos, a pior namorada do mundo. – Talvez possamos ir um dia sozinhos, só nós dois. O que você acha?
- Claro, seria ótimo, . Ei, eu vou ter que desligar, ok? O trânsito está bem intenso.
- Claro...
Mas ele não ouviu minha resposta, pois no instante seguinte eu estava me despedindo de Sehun que estava tão ou mais animado que , especialmente pela viagem em grupo que estariam fazendo. Viagem esta que eu não poderia estar presente, exatamente como em tantos outros momentos em que não pude compartilhar junto a .
Beverly Hills – Califórnia, Estados Unidos, atualmente
me esperava nos bastidores do talk show com uma blusa de frio.
- Por que esses palcos são sempre tão gelados? – perguntei, aceitando a ajuda para vestir a roupa.
Tinha acabado de dar a terceira entrevista do dia, e finalmente poderíamos estar saindo para o almoço. À tarde estaria em uma rádio local respondendo a perguntas de alguns fãs e no final da tarde me apresentaria para a última entrevista do dia.
Apesar de ficar nervosa com o teor das perguntas e com o idioma, estava me saindo melhor do que imaginei no inglês.
Meu foco naquele dia, entretanto, não estava sendo as entrevistas, brincadeiras, perguntas ou fotos, mas meu celular que poderia, a qualquer momento, tocar tendo o nome de na tela. Após minha ligação-não-tão-acidental-assim para , algumas noites atrás, e das suas ligações não atendidas, resolvi tentar contato com ele novamente. Não consegui de imediato e, por um momento, senti alívio por isso. Não saberia o que falar, de qualquer forma.
Mas então este jogo de liga-e-não-atende chegou ao fim quando, saindo do banho hoje mais cedo, vi seu nome na tela do celular. E, bem, eu atendi.
O mais estranho foi o teor da conversa. Nada de pisar em ovos, palavras controladas e silêncios desconfortáveis, apenas... Apenas duas pessoas conversando como se há tempos não o fizessem.
- Os dias estão ficando mais quentes. – ele disse. – E está chovendo quase todas as noites. Sehun disse que se continuar desse jeito não conseguiremos ir para a praia no final de semana. Ele está muito chateado com isso. – riu.
Sim, estávamos conversando sobre o clima de Seoul. E sobre os coqueiros de Beverly Hills. E sobre o novo estagiário de seu estágio, e de como ele tinha dificuldades com a máquina de xerox (o que nos fez rir deste fato), e de como ainda não tive a oportunidade de visitar Hollywood (o que fez com que nós dois suspirássemos pesarosos).
- Está conseguindo se sair bem com o inglês? – ele perguntou, emendando um assunto no outro, não deixando a ligação cair no silêncio.
- Você acredita que sim? Quem diria que assistir Friends, mais vezes do que posso contar, me ajudaria tanto um dia? – perguntei, brincando.
- Não precisa agradecer. – ele disse, orgulhoso por ter insistido tanto para que eu me rendesse às dez temporadas da série.
- E como está o restaurante novo da sua mãe? Está tendo movimento? – e, então, foi minha vez de emendar um novo assunto totalmente aleatório e nada relacionado a nós dois.
Os motivos pela conversa não linear eram muito claros: um, não queríamos cair no famoso silêncio constrangedor, no qual ninguém sabe o que falar e a única saída é desligar a ligação, colocando fim à conversa; e dois, tínhamos realmente muita coisa para conversar, como bons e velhos amigos que há muito não se vêm. A vontade de saber mais e mais sobre sua rotina, sobre como estava indo, se estava comendo bem, dormindo direito, se dando bem no estágio, era recíproca. E por isso fazia perguntas sobre o clima, sobre as entrevistas, sobre a gravação do vídeo clipe e sobre minha alimentação.
- Ouvi dizer que as comidas aí não são muito saudáveis. – ele comentou em determinado momento. – Você precisa cuidar da sua saúde.
E, então, continuamos a conversar como dois amigos e não dois amantes. Continuamos a conversar como se nada de ruim tivesse acontecido entre nós, como se nada tivesse se rompido entre nós. Mas havia. Algo estava quebrado, e mesmo que nos tratássemos com naturalidade, eu sentia que algo estava faltando e eu sabia que ele se sentia da mesma forma.
Foi quando o silêncio constrangedor começou. Os assuntos pareciam ter acabado, e tudo o que podia ouvir era sua respiração no fundo. Minha salvação, entretanto, foi entrando no quarto e brigando comigo por ainda não estar pronta.
riu do outro lado da linha, depois de ter ouvido os gritos da minha amiga, já acostumado com os surtos de quando o assunto era horário.
- Acho que você deve ir. Desculpe fazê-la se atrasar.
- Não se desculpe! Eu gostei de falar com você. – admiti em voz baixa, pois andava pelo meu quarto reclamando que nem mesmo havia separado a roupa que iria vestir e de como isso iria nos atrasar.
- Eu também gostei. – pude ouvi-lo suspirar do outro lado da linha. E então o silêncio constrangedor novamente, e eu sabia que dessa vez teríamos que colocar fim nele desligando o celular.
- Então...
- Eu te ligo mais tarde. – ele disse, depressa. – Quer dizer, se você não estiver ocupada...
- Não vou estar. – minha vez de falar depressa. – Quer dizer, vou estar, mas também vou ter intervalos entre os compromissos. Você pode me ligar, se não estiver dormindo, afinal, são dezessete horas de diferença.
- Não se preocupe, vamos encontrar um horário para conversarmos. – ele disse, e eu tive certeza de que sim, nós realmente encontraríamos o nosso horário.
E era exatamente por isso que não conseguia me concentrar nos meus compromissos de hoje. Por mais animada que estivesse e por mais que a ansiedade houvesse me consumido nos últimos dias, tudo o que queria, no momento, era ouvir a voz de novamente, conversar com ele, saber de sua vida e poder lhe contar da minha.
Mas foi apenas quando já estávamos chegando no estúdio da rádio onde daria a próxima entrevista que ligou. E mesmo sabendo que teríamos poucos minutos para conversar, eu atendi.
Seoul, Coréia do Sul, 1 mês atrás
- Inacreditável, , inacreditável.
- A culpa não é minha, eu já disse!
Não era a primeira vez que discutíamos sobre esse assunto. Para ser bem sincera, nossas últimas semanas tinham se resumido a discussões sobre minha viagem aos Estados Unidos.
Eu não podia culpar por estar nervoso afinal, eu também estava. Depois de passarmos por tantos obstáculos para ficarmos juntos, termos tido tantos compromissos desmarcados e tantas discussões que não nos levaram a lugar nenhum, essa viagem à Beverly Hills não poderia ter vindo em hora pior.
Claro que queria estar junto a ele no nosso aniversário de um ano. É claro que faria tudo para que pudéssemos ficar juntos, mas minha agenda de compromissos, infelizmente, não dependia apenas de mim. Minha base de fãs nos Estados Unidos estava crescendo, e assim que foi anunciada a gravação de meu novo vídeo clipe na Califórnia, os convites para entrevistas e apresentações começaram. E eu não podia deixar essa oportunidade passar.
Minha carreira é minha vida, quem eu sou. E quando os compromissos começaram a surgir, a viagem que deveria durar não mais que cinco dias, foi estendida para duas semanas. E não, eu não poderia estar em Seul para o nosso aniversário de namoro.
- Eu também não estou feliz com isso, mas você precisa entender que...
- ... é da sua carreira que estamos falando. – ele completou minha fala. – Sim, eu sei. Eu sei, . E você, mais do que ninguém, sabe que eu te apoio.
Estávamos voltando da praia. Quando finalmente havia conseguido um fim de semana de descanso, decidimos ir para Busan. Infelizmente os céus não estavam de bom humor esses dias – ou talvez estivessem apenas refletindo o nosso humor dentro do carro.
As nuvens cinzas que tomaram o céu todo o final de semana, ficavam mais densas a cada quilômetro percorrido. Estávamos voltando para Seul, e tudo o que conseguia pensar era em como tínhamos desperdiçado um final de semana inteiro juntos.
- Eu sei. Você sempre me apoiou, mas essas reclamações não vão nos levar a lugar nenhum. – eu disse.
- Não são apenas reclamações, , mas constatação de fatos. Mesmo precisando engolir sapos a todo momento e tendo que abrir mão de atividades que todo casal normal faz, eu sempre te apoiei.
estava certo. Ele sempre me apoiou. Sempre esteve lá por mim, mesmo que, muitas vezes, não tenha escondido seu descontentamento com as minhas prioridades.
- Então por que está brigando comigo quando sabe que essa viagem não depende de uma escolha minha?
- Porque eu estou cansado, . – disse, mantendo os olhos para frente. – Estou cansado de namorar a secretária eletrônica, estou cansado de namorar uma mulher que passa mais tempo com seus fãs, do que comigo. Estou cansado de sempre ser o segundo da sua lista de prioridades e estou cansado de ouvir de você que eu só reclamo.
- Isso não é justo, . Eu não digo que você só reclama, pois tenho plena consciência dos sacrifícios que você faz para namorar comigo. – eu disse, sem me esforçar em esconder o tom amargo. – Também não é justo, porque você fala como se fosse o único a sofrer com o fato de que não podemos estar sempre juntos.
- Talvez não seja justo, mas o que eu sinto no momento é que nem mesmo tenho uma namorada.
E aquilo doeu mais do que se tivesse tido mais de cem facas enfiadas no meu peito.
Por mais que eu estivesse pronta para brigar, pronta para falar que quem se sentia sozinha no momento era eu, especialmente por ter um namorado tão pouco compreensivo como , não o fiz. Não o fiz simplesmente por estar cansada de brigar sempre pela mesma coisa.
- Acho que você deveria parar o carro e me deixar descer. – foi o que eu disse.
me olhou, surpreso. Apesar de estarmos chegando em Seul, minha casa ainda estava bem longe.
- Você não pode estar falando sério.
- Pois eu estou. – disse firme, segurando as lágrimas que já ardiam nos olhos. – Pare o carro agora, pois eu quero descer.
- , não vou deixar você no meio da pista...
- É exatamente o que você vai fazer, porque isso é o que eu quero no momento, e você deveria respeitar a minha vontade.
não discutiu mais, e eu sabia que ele estava se esforçando para se manter calado e não prolongar aquela discussão. Talvez eu estivesse agindo feito criança, talvez essa não fosse a melhor maneira de resolver os nossos problemas, mas a verdade é que não conseguia ficar mais um minuto naquele carro junto dele.
, então, contrariando sua vontade, parou o carro junto à calçada, do lado de um ponto de ônibus. Coloquei os óculos escuros e procurei pela máscara dentro da bolsa para que não pudesse ser reconhecida na rua.
- Deixe minhas malas na casa de , por favor.
- , não faça isso...
Mas eu não ouvi o que mais ele tinha a dizer, pois fechei a porta do carro, dando por encerrada aquela conversa.
E quando dei as costas para o carro, eu sabia que não tinha dado fim apenas àquela conversa, mas provavelmente a todos os meses que passei junto a .
Com a visão embaçada por conta das lágrimas escorrendo, mandei uma mensagem para .
"Não se preocupe em comprar uma passagem para . Ele não irá com a gente para os Estados Unidos."
Beverly Hills – Califórnia, Estados Unidos, atualmente
Aquele seria meu último dia em Beverly Hills, mas não seria o último nos Estados Unidos. Apesar de nossos planos serem voltar no dia seguinte para Seul, e eu, e mais algumas pessoas da equipe, decidimos que seria um grande desperdício voltar para a Coréia sem visitarmos pelo menos Hollywood.
Era dia 30 de junho, e eu estava no palco agradecendo pelos fãs que se esforçavam em cantar minhas músicas, mesmo não sendo no seu idioma.
Meu último dia de compromissos nos Estados Unidos.
Dia 30 de junho, meu aniversário de namoro com . Ou, melhor dizendo, seria meu aniversário de namoro se não tivéssemos terminado da pior maneira possível: em meio a brigas e palavras ditas no calor do momento.
Quando me informou que estaríamos viajando nesta data, logo pensei em chamar para viajar conosco. Talvez eu não pudesse me dedicar inteiramente a ele e ao que tínhamos, mas pelo menos estaríamos juntos. Bem, meu plano não deu certo.
me esperava do lado de fora do palco como sempre, carregando uma toalha e uma garrafinha com água, a agenda em baixo do braço e o celular nas mãos.
- Você precisa de uma folga, mulher. – eu disse para ela, me referindo a tudo o que ela carregava para cima e para baixo.
Minha amiga riu antes de responder.
- Concordo, e estaria mentindo se dissesse que não merecemos férias.
Balancei a cabeça, concordando com ela. Férias era tudo o que eu poderia pedir no momento.
- Pelo menos, teremos uma semana para descansarmos. – disse, me referindo ao fato de que teríamos uma longa semana para explorar os pontos turísticos da Califórnia.
- Amém!
Eu sabia que poderia tomar um banho ali mesmo e retardar minha volta para o hotel, ou poderia simplesmente colocar um sobretudo – mesmo que o verão não estivesse economizando no calor – e ir embora agora mesmo, e voltar para o conforto do meu quarto. Não foi difícil escolher a segunda opção.
E já do lado de fora, onde o carro me esperava, pensei que talvez o calor estivesse afetando minha visão. Ou meu cérebro. Ou os dois em conjunto. Porque o que estava diante dos meus olhos não podia ser verdade. Quem estava ali, ao lado de uma mala, com as mãos nos bolsos da bermuda, não poderia estar, de fato, ali.
Quer dizer, deveria estar em Seul, na Coreia. Deveria estar estudando para suas provas finais, se matando de trabalhar no estágio e combinando de passar o final de semana junto a seus amigos. não poderia estar nos Estados Unidos, em Beverly Hills, me esperando do lado de fora do estádio com o sorriso mais lindo que eu já tinha visto na vida.
- Acho que fazia tempo que não a ouvia cantar. – ele disse. – Grande show o que você fez, parabéns.
E mesmo ainda à distância, podia jurar que seu perfume acompanhou cada uma de suas palavras. Palavras estas que, eu sabia, não eram apenas fruto da minha imaginação saudosa.
- Eu não sabia exatamente como seria quando nos víssemos de novo, mas confesso que estou meio decepcionado. – ele disse, passando a mão nos cabelos.
- Por quê?
- Acho que estava esperando que pudéssemos conversar sem essa distância toda. – ele sinalizou os metros que ainda nos separavam. – Ficamos longe por tempo demais, e não quero que essa distância dure mais nenhum segundo.
Eu estava sem palavras, era verdade. Também tentava entender o que estava acontecendo ali. E, mais do que isso, brigava internamente comigo mesma quando um lado insistia em sair correndo para abraçar , e o outro teimava em manter meu orgulho intacto.
- Olha, eu sei que isso pode ser coisa demais... Quer dizer, você não esperava que eu estivesse aqui, e, então, eu apareci do nada. Eu entendo se você quiser um tempo para pensar...
- Eu já pensei. – tinha pensado até demais nas últimas semanas. - Só que...
- ... Talvez as coisas voltem a ser como eram antes. – ele completou minha fala. E continuou falando, dando um passo de cada vez em minha direção. – E provavelmente voltaremos a brigar, – mais um passo – porque você não poderá estar comigo a todo momento, – mais perto – e eu também não vou poder te acompanhar em todos os seus compromissos.
E quando estava próximo o bastante para que eu pudesse tocá-lo apenas esticando a mão, ele continuou.
- Mas se quer saber, eu não me importo. Não me importo, porque mesmo que eu tenha apenas alguns momentos ao seu lado ou que eu tenha apenas alguns minutos ouvindo a sua voz pelo celular, ainda é infinitamente melhor do que não tê-la. E isso eu não posso suportar, não mais.
Eu não tinha percebido que meus olhos ardiam. Também não percebi em que momento joguei meus braços em volta dele, escondi meu rosto em seu pescoço e o apertei com tanta força que poderia jurar que nossos corpos virariam um só.
- Eu senti tanto a sua falta. – admiti, com a voz rouca. – Tanta, tanta... Não quero que fiquemos separados de novo. Nunca mais.
- Eu prometo que nos momentos de conflito vou me esforçar para ser compreensivo. Prometo te apoiar, prometo ser uma pessoa melhor, prometo tentar não te decepcionar.
- E eu prometo não te deixar em segundo lugar na minha lista de prioridades. A minha carreira é a minha vida, mas a minha vida não tem sentido se eu não tiver você do meu lado. Então eu só te peço paciência e compreensão e eu prometo que vou me esforçar para não cometer os mesmos erros.
- A única coisa que quero que me prometa, , é que vai continuar me amando, mesmo quando as coisas ficarem difíceis, e que não vai pular para fora do carro na nossa primeira ou vigésima discussão.
E mesmo estando em um momento como aquele e ainda tendo dificuldades para enxergar por conta das lágrimas, eu ri.
- E eu preciso que você prometa continuar me amando, mesmo quando minha agenda estiver cheia de compromissos que fogem do meu controle.
- ... Eu continuaria te amando mesmo que eu nunca tivesse espaço na sua agenda. – ele disse, com um sorriso doce nos lábios.
- Até porque você sabe que no meu coração só existe lugar para você, não é?
Foi a vez de rir, e eu não pude deixar de acompanha-lo.
E mesmo estando suada e com os cabelos bagunçados por conta do show, a maquiagem borrada por conta do suor – e das lágrimas –, me olhava como se estivesse diante da pessoa mais linda que ele já havia visto. E eu sabia que quando ele me tocava e acariciava meu rosto, e quando me beijava de forma carinhosa e saudosa, ele apenas desejava poder continuar tendo esses momentos por muito e muito tempo mais, exatamente como eu desejava.
E dessa vez eu sabia que nós faríamos dar certo.
FIM
Nota da autora: Oi, oi, gente! Mais uma fanfic com a rainha HyunA <3 Não sei se vocês já conheciam ela, mas se não conheciam, por favor, ouçam suas músicas e se apaixonem pelos MVs dessa mulher maravilhosa!
Espero que tenham gostado da história, que a ordem cronológica não tenha ficado confusa, e que tenham se apaixonado por esses personagens como eu me apaixonei. E se gostaram, deixem um comentário lindo pra fazer essa autora feliz! Hahaha
Só lembrando que fiz outra fanfic pra esse especial, chamada Change, também da rainha HyunA. Então se tiverem interesse, deem uma corridinha pra ler, até porque Change ficou bem menor que Run & Run, haha
Beijos de luz
Angel
Outras Fanfics:
Tempo Certo (Outros – Em Andamento)
Babá Temporária (Outros – Finalizadas)
Welcome to a new world (Mclfy – Shortfics)
Elemental (The Originals – Shortfics)
10. What If I (Ficstape #036 – Meghan Trainor: Title)
06. Every Road (Ficstape #58 – The Maine – Black & White)
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Espero que tenham gostado da história, que a ordem cronológica não tenha ficado confusa, e que tenham se apaixonado por esses personagens como eu me apaixonei. E se gostaram, deixem um comentário lindo pra fazer essa autora feliz! Hahaha
Só lembrando que fiz outra fanfic pra esse especial, chamada Change, também da rainha HyunA. Então se tiverem interesse, deem uma corridinha pra ler, até porque Change ficou bem menor que Run & Run, haha
Beijos de luz
Angel
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Welcome to a new world (Mclfy – Shortfics)
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06. Every Road (Ficstape #58 – The Maine – Black & White)