Finalizada em: 19/11/2017

Capítulo Único

Eu sempre preferi os garotos.
Garotos eram mais simples. Com eles, não há meios termos ou emoções complicadas, eles são oito ou oitenta. Garotos são fáceis de lidar. Basicamente são todos iguais, como um computador que, logo que você descobre como funciona, pode fazer qualquer outro funcionar igual. Garotos são mais engraçados. Eles não têm nojinhos imbecis, regras idiotas, não se importam com a sua roupa ou com o seu cabelo ou com o jeito que você fala ou com as coisas que você gosta ou não gosta. Com eles, você pode ser quem você é, e eles não te julgam. De fato, o quanto mais simples você for, mais legal será aos olhos deles. Não precisa de esforço nenhum.
Garotos também são mais leais, julgando pelas minhas experiências próprias. Todas as garotas que já conheci, sem exceção, sempre competiam umas com as outras por motivos idiotas. Para serem mais bonitas umas que as outras, para terem as roupas mais legais, pela atenção de outras garotas e – o pior – pela atenção dos garotos. Por mais amigas que fossem, elas sempre, sempre estavam julgando dentro das suas cabeças enquanto te ouviam falar com um sorriso no rosto.
Ser como eu sou e ter os amigos que tenho não foi uma escolha; simplesmente é assim desde sempre. Desde as primeiras lembranças que consigo me lembrar de ter, meu melhor amigo sempre esteve lá, do meu lado. Se eu conseguisse lembrar de quando era um bebê, eu olharia para o lado e veria ele deitado comigo no berço (literalmente, porque temos uma foto).
E Harry era, basicamente, um palerma desde sempre. Ele sempre foi idiota, a ponto de rir das próprias piadas sem graça. Sempre foi mimado pela própria família e também pela minha. Sempre foi lerdo, lerdo de verdade, a ponto de seu raciocínio lógico ser honestamente triste de ver e de seus reflexos serem piores que de um bicho preguiça. Ele sempre foi assim, naturalmente capaz de pensar em só uma coisa de cada vez, e essa coisa geralmente era ele próprio. Enquanto eu, bem, era exatamente o contrário de tudo isso e também sempre tive meus defeitos, que ele conhecia tão bem quanto eu conheço os dele.
Nos conhecemos como nem os nossos pais nos conhecem. Se pudéssemos contabilizar todas as horas da nossa vida e quanto tempo passamos com cada pessoa, sei que definitivamente mais de 40% do meu tempo eu passei com ele. Resultado de termos nascido em casas vizinhas, termos mães que eram melhores amigas desde antes de Cristo, e termos sido colegas e vivermos um na casa do outro todos os dias desde o nosso nascimento. Ele literalmente até morou na minha casa por um tempo. Então, sim, era correto dizer que nós dois éramos praticamente irmãos.

Foi quando tentamos fugir de casa e acabamos, por castigo, sendo mandados para um dos internatos mais famosos do país para cursarmos o ensino médio que os outros três palermas vieram. Bem, tecnicamente nós é que chegamos, já que eles já estavam lá há muito mais tempo.
Josh era um cara simplesmente estranho. Ele fazia os comentários mais escrotos e inoportunos, mas sempre sabia de tudo sobre a vida de todo mundo, e nós nunca conhecemos a família dele. O Josh era, tipo, o mascote do grupo. Ele era o bode expiatório e a chacota, mas aceitava o seu papel numa boa, todos nós sabíamos.
Louis era um cara gente boa que estava sempre tranquilão. Na verdade, “tranquilão” era seu estado de espírito. Você podia acordar no meio da noite com a escola sendo atacada por uma invasão alienígena e ainda assim, se olhasse para Louis, ele estaria lá, tranquilão. Provavelmente calçando os chinelos e pegando um pacote de doce antes de sair do quarto. Era difícil imaginar alguma coisa capaz de tirar Louis do sério.
Liam era exatamente o oposto do que você poderia imaginar olhando para ele. Em uma primeira olhada, você diria que ele é um atleta esnobe e burro, mas ele não é nada disso. Quer dizer, atleta talvez ele fosse um pouco, mas todo o resto era o oposto. Liam era, por fora, o estereótipo perfeito de um daqueles caras dos filmes americanos que se passam em colégios, mas por dentro ele era um amor. Ele se preocupava com seus amigos, era leal feito um cachorrinho e era inteligente, apesar de perder tempo com coisas inúteis – como a Cassie Walker.
E juntos, eu, Harry, Josh, Louis e Liam nos dávamos muito bem desde o primeiro dia em que nos conhecemos. Foi instantâneo.

- Eu honestamente não acredito que você tá namorando ela. – Comentei, atirada para trás na cadeira do refeitório, observando a mesa daquelas patricinhas enquanto brincava com uma maçã nas mãos que eu não estava afim de comer. Lá fora caia uma chuva tão torrencial que o barulho da água batendo no telhado nos fazia ter que quase gritar. – Eu estou tão decepcionada.
- Pela trigésima quinta vez, , a Cassie é legal. – Liam revirou os olhos, sentado do outro lado da mesa, e desviou os olhos da revista de carros que olhava com Josh para me olhar.
- Blasfêmia. – Murmurei, fazendo uma careta. – Eu me sinto traída.
- Você é tão idiota. E se não vai comer essa maçã, passa pra cá. – Levantou as mãos no ar e revirando os olhos eu joguei a fruta para ele.
- Eu sabia que a gente devia ter criado aquele contrato de amizade no início do ano passado. – Disse mais para mim mesma e Louis riu fazendo um barulho engraçado do meu lado.
- O Harry queria colocar uma clausula dizendo que ele tinha direito a dois votos durante uma tomada de decisões.
- Como se a gente fosse a ONU e ele fosse os Estados Unidos – Josh olhou para Harry por cima da revista.
- Alguém tem que ter o poder de desempatar, e eu sou obviamente a pessoa mais inteligente aqui. – Harry abriu um sorriso prepotente.
- Harry, nós somos em cinco. – Louis disse. – É impossível empatar.
Harry passou os olhos pela mesa por um momento.
- A pessoa mais inteligente aqui, ele disse. – Liam riu.
- De qualquer modo – Louis continuou, ignorando o comentário. – Aquela ideia de fazer um contrato era uma boa piada. Se alguém descobrisse, a gente seria tachado como os perdedores da escola pra sempre. É tipo dar um nome pro seu grupo de amigos. – Riu.
- Ei, a gente devia ter um nome! Nomes são legais. – Harry comentou.
- Seríamos Harry e os cinco. – Liam comentou. – Não, espera... – então começou a fingir contar quantos de nós tínhamos na mesa e eu gargalhei.
- Cala a boca – Harry chutou-o por baixo da mesa mas riu fraco. – A gente devia ser... Os Marotos. – Olhou para mim e arregalou os olhos, e eu ri levantando a mão no ar para ele, que me deu um high five.
- Sem chance. Saiam da mesa com esse papo de nerd. – Josh comentou.
- Além disso os Marotos não são quatro? – Liam comentou.
- Chega de números! – Harry xingou, mas eu olhei para Liam.
- Ih, Harry, olha quem tenta fingir que é legal mas conhece termos de Harry Potter! – Comentei e Liam fez uma caretinha para mim.
- Todo mundo conhece Harry Potter, estamos na Inglaterra!
- Ah, enfim, enfim! – Balancei uma mão no ar. – Tanto faz. Não tente fugir do assunto, eu ainda não acredito que você está namorando a Cassidy Walker! Mesmo que ela não fosse essa... Essa... – Olhei novamente para a mesa em que as princesinhas do colégio sempre sentavam, ela e Charlotte Wilson, juntamente com algumas outras meninas sortudas que eram convidadas a almoçar com elas para falar sobre qualquer coisa idiota que elas deviam falar. – Barbie de brechó... Você devia ter um pouco mais de respeito comigo, sua melhor amiga, e não resolver namorar com a pessoa que eu mais odeio!
- Na boa, , quem é que gasta energia odiando alguém tanto assim? Ok, vocês não têm nada a ver uma com a outra, mas não é mais algo tipo uma rivalidade saudável? – Louis me olhou, e encarei-o estreitando os olhos.
- Saudável? Ela colou a foto de uma vaca no meu armário mês passado.
- Eu ouvi dizer que aquilo foi uma aposta. – Josh comentou.
- E você colou a bunda dela na cadeira. – Harry lembrou, levantando um dedo no ar.
Josh soltou uma risada engraçada.
- Aquele dia foi o máximo. Se ela por acaso estivesse usando uma calça, a bunda dela teria ficado de fora!
Liam o empurrou e olhou-o feio por um segundo, e grunhi cruzando os braços e voltando minha atenção a ele, chutando sua canela por baixo da mesa.
- Você não devia namorar alguém que eu odeio sem me consultar antes! Ninguém aqui devia namorar ninguém sem consultar a gente antes! Se presume que vá ser alguém que vai dividir você com a gente, nós devíamos pelo menos ter a chance de dar uma opinião.
- Você está muito ditadora e sanguinária hoje. – Liam comentou. – Eu não preciso pedir opinião sobre a minha vida amorosa para ninguém aqui.
- O Liam é uma moça livre, respeita! – Louis me empurrou fraco, de brincadeira.
- Ok – respirei fundo e olhei em volta no refeitório, procurando por alguém. – Então se eu começasse a namorar, sei lá... O Lance Hemmings! – Apontei para o cara, junto com os outros garotos do futebol, fazendo palhaçadas perto de uma das janelas feito os primatas que eram. – Você não ia se importar se eu não pedisse a opinião de nenhum de vocês?
- Isso não tem nada a ver! A Cassie é uma garota legal e decente, e você só não gosta dela por birra. Eu tenho certeza que ela te daria uma chance se você se abrisse um pouquinho.
- Oh! Jura! – Levei uma mão à testa. – Ah meu deus, eu não sabia! Cassie, ei, Vossa Majestade! Por favor, me dê uma chance! – Comecei a fazer cena, mas o barulho da chuva abafou e ninguém além da nossa própria mesa ouviu. Revirei os olhos voltando a olhar para Liam.
- É sério, ! O Lance é um babaca, todo mundo sabe! E além disso, só você não gosta da Cassie aqui. Em compensação, nenhum de nós gosta do Hemmings. Por regra, a gente votaria contra. E o voto do Harry vale por dois. – Apontou e Harry concordou com a cabeça.
Olhei brevemente para todos, que apesar de não falarem nada, pareciam concordar com Liam. Por fim bufei e me atirei de novo contra a cadeira.
- Não que você esteja em condições de escolher, também. – Josh comentou depois de um segundo e lancei-lhe o dedo do meio.
- Como se eu fosse querer um troglodita feito aquele cara. Mas se quisesse vocês não teriam direito nenhum a voto, que isso fique claro. Principalmente depois dessa traição! – Apontei para Liam.
- Dramática.
- , você não pode namorar ninguém sem a nossa bênção. – Josh comentou, como se fosse óbvio. – Você é uma garota.
- Jura? Droga, vou ter que atualizar os dados da minha carteirinha da biblioteca. – Revirei os olhos para ele. – Por que eu deveria pedir permissão de quatro idiotas para namorar com qualquer pessoa?
- Porque você é tipo nossa irmã! – Liam abriu os braços. – Existe um código, tá entendendo? Você precisa da nossa bênção.
Ri fraco. É, vai nessa. Duas coisas estavam muito distantes da realidade naquela conversa: eu pedir permissão para fazer alguma coisa e eu namorando qualquer garoto no geral. Olhei no relógio do celular, e o horário de almoço estava quase acabando. Levantei e peguei minha bandeja.
- Permissão para me retirar, capitão? – Zombei, antes de vê-los começarem a se levantar para fazer o mesmo.
*
- Maçã.
- Amendoim.
- Carro.
- Bicicleta.
- Esporte.
- Futebol.
- Aranha.
- B-bêbado.
Ri.
- Inseto.
- Ar... Ar... Ah, merda. – Harry xingou e ri, levantando a mão e o acertando um tapa estalado no rosto. O pessoal em volta, que acompanhava nossa brincadeira, vibrou e riu também. A bochecha de Harry ficou vermelha e ele passou a mão pelos cabelos, os jogando para trás e rindo fraco.
- Você me manipulou a dizer aranha de novo.
- Você não consegue nem pensar em palavras aleatórias sem repetir!
- É mais difícil do que parece, ok? – Harry comentou, olhando para as pessoas ao redor, todas em volta da nossa mesa no fundo do laboratório de química, muito mais interessados em acompanhar um jogo idiota de palavras aleatórias do que exercícios de balanceamento.
De repente a porta se abriu e o professor Stevens entrou, olhando para as pessoas amontoadas no fundo da sala enquanto ia sentar em sua mesa.
- Eu pensei que tinha deixado exercícios para vocês enquanto me ausentava. Será que estou errado? Ou talvez essas mentes brilhantes já tenham terminado tudo?
Rapidamente todos voltaram aos seus lugares e a conversa na sala se resumiu a murmúrios entre as duplas nas classes.
- Foi o que pensei. – Professor Stevens comentou, antes de voltar às suas anotações.
- Pronta para o jogo no final de semana? – Harry perguntou e balancei a cabeça, enquanto folheava as páginas do livro de química para chegar à que o professor havia indicado na lousa.
- Não sei se estamos prontas. Ninguém sabe o que esperar do novo time dos Royals, as meninas são todas novas e a treinadora não conhece quem treina elas.
- Hum, vai ser uma boa aventura.
Dei de ombros e comecei a copiar a equação de cada exercício quando encontrei a página certa.
- O time não está colaborando. O seu novo brinquedinho só sabe falar em você. No outro dia eu acertei a bola na cara dela, e ela levantou e continuou falando de você! – Balancei a cabeça. – Eu devia mesmo criar aquele contrato e adicionar uma clausula que impede qualquer um de vocês de se envolverem com as meninas do meu time durante a temporada de jogos.
Harry apenas riu.
- Foi mal.
- Diga isso a ela antecipadamente. – Comentei, mais baixo. Sabia que ele ouviu, mas não quis responder.
- Quem deveria encontrar um namorado é você. – Comentou, também focado em copiar os exercícios para o seu caderno. – Quem sabe assim relaxa um pouco.
- Eu não preciso namorar ninguém pra relaxar, posso muito bem quebrar a sua cara. Seria um prazer e tanto.
- Geez. - Comentou, encolhendo os ombros. – Tem certeza que a sua mãe não engravidou do Hitler?!
Bati em Harry com força com meu caderno e ele riu e reclamou ao mesmo tempo, se esquivando.
- Senhorita , modos, por favor! – O professor Stevens pediu, e olhei feio para meu amigo antes de voltar a escrever.
Ficamos em silêncio por um tempo, enquanto fazíamos os exercícios de química. Não demorou muito até que Harry começasse a agir como um palhaço como forma de pedir desculpa. Ele pegou a pena do chaveiro do meu estojo e começou a passar no meu rosto, enquanto eu tentava afastar sua mão de mim.
- Para com isso! – Reclamei.
- Então para de ficar brava. Você sabe que não quis dizer aquilo da sua mãe.
- Mas você disse.
- , sério, isso só importa pra você! Nem seu pai não se importa. Foi ele que te criou, e você é absolutamente o amor da vida dele. Pai é quem cria! Agora para de bobeira e dá um sorrisinho!
- Argh, Harry, para! – Empurrei sua mão que passava a pena no meu rosto para longe e o olhei. Quando olhei para sua cara eu ri.
- Isso! – Sorriu, vitorioso.
- Não estou rindo pra você, idiota. Estou rindo de você. Tem componentes químicos escritos na sua bochecha. – Apontei.
- Ah. – Ele olhou para a palma da mão, onde havia anotado algumas coisas do livro e depois apoiado o rosto na mão. – Droga. – Começou a passar a mão pela bochecha, mas a tinta só borrou mais.
- Para. – Ri, levantando as mãos. – Deixa que eu limpo.
- Não pre-
Antes que ele terminasse lambi a ponta do meu polegar e esfreguei no seu rosto, e ele fez uma careta e se esquivou, mas deixou que eu limpasse. Por fim passou a manga do casaco no rosto para limpar.
- Pronto.
- É bom saber que posso contar com você para babar na minha cara, .
- Não que seja uma novidade pra você. – Comentei. – Tendo beijado a escola inteira, já está acostumado com o DNA das outras pessoas no seu corpo.
- Ninguém mais passa cuspe na minha cara! – Abriu os braços e depois me abraçou de lado, batendo em meu ombro. – Você é a única.
- Tenho minhas dúvidas. – Comentei, e Harry riu baixinho.
- e Styles, pela última vez, eu quero silêncio nessa sala. – O professor pediu e viramos para ele. Lancei-lhe uma continência e Harry me soltou, e enquanto voltávamos a tentar fazer os exercícios, um fraco sorriso involuntário passou pelo meu rosto, mas que logo foi apagado por uma careta, que sempre aparecia quando eu me pegava gostando demasiadamente de algo que ouvi de Harry.
*

Quando foi que descobri que sentia por Harry coisas diferentes do que uma irmã deve sentir por um irmão, você me pergunta. Bem, essa coisa toda não foi fácil de entender de início. Eu devia ter uns doze anos. O mundo estava começando a mudar aos meus olhos, com a ajuda dos novos hormônios e da adolescência se aproximando. Não é novidade que meninas sempre amadurecem primeiro, e nesse caso não foi diferente. Eu via todas as meninas da minha idade parando de brincar de bonecas e de pular corda e começando a gostar de meninos, mas estando sempre entre esses meninos, as coisas para mim eram diferentes. Ao invés de começar a gostar deles, como elas gostavam, eu comecei a ter ciúme daqueles que se interessavam por elas também. Eles eram meus, afinal, e até pouco tempo atrás nós adorávamos zombar da cara das menininhas e rir das coisas que elas diziam e faziam, e agora eles queriam namorar e beijar elas? Por quê?!
Foi quando Harry começou a entrar nessa onda também que senti pela primeira vez aquela coisa estranha dentro de mim, como se alguém literalmente tivesse aberto meu peito e apertado meu coração com a mão, e ele estivesse pedindo socorro, sem conseguir espaço para bater no meu peito. Era um sentimento que misturava ciúme e raiva e frustração, algo que ninguém mais me fazia sentir, algo que me fazia querer explodir e bater tanto nele quanto na garota que estivesse com ele.
Esse sentimento era familiar para mim desde então, apesar de que com o tempo fui acostumando a senti-lo e aprendendo a lidar com ele. Na verdade, o motivo dos meus sentimentos por Harry continuavam sendo um mistério até para mim. A explicação mais coerente que passava pela minha mente era que aquilo só podia ser um castigo. Sentir essa coisa horrível e que destroça o seu peito pelo seu melhor amigo que obviamente sempre te viu e sempre vai te ver apenas como uma irmã era um castigo cruel e sem fundamento. Então, e por isso, foi que desde que isso se tornou claro na minha cabeça, decidi ignorar esses sentimentos absurdos cada vez que eles davam as caras. E fazer isso se tornou tão comum que eu nem me espantava mais com as coisas que Harry às vezes me fazia sentir, e eu sabia disfarçar tão bem que na maioria do tempo nem eu acreditava que aqueles sentimentos podiam ser reais. Quer dizer, era só olhar para Harry e tentar entender porque, em sã consciência, alguém gostaria dele assim, que eu já não sabia explicar. Mas, bem, eu era a prova viva de que essas coisas a gente simplesmente não escolhe.
Então, basicamente, viver sentindo aquilo por ele era tão comum que na maior parte das vezes não me incomodava. Eu sempre aceitei o fato de que nossa amizade nunca seria nada mais do que sempre foi: uma amizade, pura, forte, verdadeira e que duraria desde o berço até provavelmente um de nós morrermos, visto que absolutamente tudo que nós ou nossas famílias planejavam para nossas vidas envolvia que estivéssemos juntos, sempre. Era até incabível imaginar minha vida sem Harry do lado, roubando todas as atenções e sendo o palhaço que era.

Era o último treino geral antes do jogo do final de semana, e tudo precisava correr bem. Mas aparentemente nem todo mundo estava com a cabeça no jogo.
- Sinclair! – Gritei, parando no meio do campo e levando as mãos à cintura depois de observar as jogadoras do time por um momento, enquanto corria para acompanhar o jogo. – É a terceira vez que você perde essa bola em menos de cinco segundos. Quer me explicar porquê?
A garota tirou a mecha de cabelo que escapava do elástico do rosto e suspirou pesadamente, demonstrando falta de paciência.
- Talvez seja porque treinamos todos os dias essa semana, e estamos exaustas.
Olhei para as outras meninas que também pararam com a pausa do jogo, enquanto me aproximava dela devagar.
- Você está cansada? Quem sabe precisa de uma massagem nos pés? – Arqueei as sobrancelhas. - Temos um jogo no domingo, e é bom que todas estejam preparadas. Se você não aguenta correr por meia hora uma vez por dia, por que decidiu entrar no time? – Dei de ombros, parando de caminhar quando cheguei mais perto. – Alguém mais aqui está cansada, ou é só a Jessica?
Ninguém se manifestou.
- Ótimo. Vamos continuar, então? Se você não quiser, pode sair. E não se esqueça de entregar o seu colete para a Maggie e já ficar no lugar dela no banco. – Pedi, apontando para trás.
Me abaixei e peguei a bola, a levando para o centro do campo para voltarmos a jogar. Dei o ok e começamos de novo, o time titular e o reserva misturados para equilibrar forças, umas contra as outras, como estávamos treinando a semana toda. Com a ausência da treinadora em treinos como aqueles, era papel da capitã do time ser a vilã. As garotas já estavam acostumadas com isso, e para mim não era nenhuma dificuldade fazê-lo, mas algumas delas às vezes haviam acordado com a macaca e não aceitavam muito bem que as dessem ordens. O problema não era meu, de verdade. Eu tiraria Jessica Sinclair do time com todo o prazer do mundo, se ela quisesse.
Treinamos por mais uns minutos, o sol já se punha e os campos da escola começavam a ficar gelados e escorregadios com o orvalho que caía com a noite. Foi só quando ouvi Harry me chamar e ele e Louis se aproximarem das arquibancadas que me dei conta de que já devíamos ter terminado aquele treino há um bom tempo. Vi Louis subir o primeiro degrau das arquibancadas e levantar os braços no ar, como se me perguntasse porque eu ainda estava ali.
- !
Uma das meninas passou a bola para mim e a peguei, dando uma olhada no espaço até o gol antes de começar a levar a bola naquela direção, procurando alguém para quem passar a bola. Parei por um segundo apenas, mudando a bola de um pé para outro para ter tempo de decidir para quem passar já que estava sendo marcada por três das garotas do time adversário, mas antes que eu tivesse a chance de fazer o passe para qualquer uma das meninas que estavam livres, senti a bola ser arrancada debaixo do meu pé com um chute que empurrou minha perna também e me fez resvalar na grama e cair para trás no chão. Olhei para cima a tempo de ver Jessica correr com a bola até perto do outro gol e passar para outra garota, que marcou o gol contra nós.
- Foi mal, ! – Jessica gritou, do outro lado do campo, acenando com a mão. – Você disse para eu não perder mais a bola!
Inspirei profundamente, decidida a ignorar a falta dela já que o jogo estava acabando ali. Peguei a mão que Claire me ofereceu e me coloquei de pé, limpando as mãos nos calções e vendo Jess correr para perto de Harry nas arquibancadas e agarrá-lo, como eu sabia que ela estava louca para fazer desde que ele havia chegado.
Dispensei as garotas depois de comentar brevemente sobre o jogo do domingo e pedir que elas não esquecessem de se alongar bem – eu mataria quem aparecesse com qualquer tipo de contusão. Quando terminei de fazer isso e me direcionei para as arquibancadas, Harry e Jessica já haviam sumido e Louis estava me esperando com as mãos nos bolsos e o queixo escondido dentro da gola do casaco.
- A gente veio ver se você não tinha congelado em algum lugar e sido esquecida por todo mundo, mas aparentemente quem vai congelar sou eu. – Comentou, tremendo de frio, e sorri.
- Vamos para dentro logo, ou a gente vai se gripar. E eu não posso ficar gripada. – Comentei, o empurrando na direção dos prédios.
- Ah, e eu posso, é?
- Sim, ninguém se importa com você. – Brinquei e ele arquejou dramaticamente. – E o Harry?
- Não tá no meu bolso. Ainda bem, porque eu não ia querer duas pessoas transando no meu bolso.
- Louis! – Reclamei, fazendo uma careta.
- Sério, acho que hoje ele chega nos finalmentes com a Sinclair.
- Ainda bem, eu não aguento mais ela. – Disse e nós dois rimos, concordando.
- Ela mandou uma cartinha dobrada em forma de coração pra ele no outro dia. O Harry rasgou tentando abrir. – Louis comentou e balançou a cabeça, rindo, e eu o acompanhei forçando uma risada divertida.
Subimos a ladeira do ginásio até os dormitórios e disse que eu ia entrar para tomar um banho e que logo o encontrava para a gente comer alguma coisa e jogar um pouco. Foi exatamente o que fiz, e uns minutos depois eu já estava de volta com Louis – e agora também Josh – no quarto deles no dormitório masculino. Viva as sextas-feiras à noite, e viva às saídas de emergência.
- Quer jogar? – Josh ofereceu um dos controles mas neguei, bocejando, deitada na cama de Harry comendo um pacote de Doritos.
- Eu tô tão cansada que podia hibernar igual um urso até o ano que vem!
A porta foi aberta e Liam entrou de súbito, espiando para dentro.
- Ah, estão aí. – Disse, entrando e fechando a porta. – Eu procurei no quarto do Josh.
Liam entrou e foi até a cama de Louis, deitando-se como eu e colocando os braços debaixo da cabeça, encarando o teto por um tempo. Eu imaginava que ele estava voltando de alguma coisa com a nova namoradinha, e não queria nem um pouco saber dos detalhes, por isso me ative a continuar a comer meu Doritos.
- E o Harry? – Ele perguntou depois de um tempo em silêncio, em que o videogame era o único som no quarto. Apenas dei de ombros, com preguiça de falar sobre aquilo.
- O que você acha? Fazendo o mesmo que você estava fazendo. – Josh comentou.
- O Harry tá estudando física com a Cassie? – Ele levantou a cabeça levemente e olhou para o chão, onde os outros dois estavam.
- “Estudando física”, é. Tá mais pra anatomia. E é com a Jessica Sinclair.
- Ahhh! – Liam sentou na cama e olhou para os dois no chão. – Será que é hoje, finalmente?
- Não sei. – Louis disse, focado no jogo. – Essa tá difícil, até está demorando.
- Já fazem duas semanas! – Josh comentou.
- Com certeza é hoje, então.
Gemi baixinho e me virei na cama, encarando a cômoda de Louis e Harry enquanto desejava não participar da conversa dos garotos naquele dia.
- O que significa que logo o Harry vai estar na pista pra negócio de novo! – Josh exclamou, e Liam riu.
- Cara, nem meu avô fala assim mais.
- Você entendeu. – Josh estalou a língua.
- Cara... – Louis foi o próximo a falar. – Será que essas garotas são todas tão burras assim? Todo mundo conhece a fama do Harry! Elas só podem querer que isso aconteça, não?
- Por que elas continuam ficando com ele se sabem que é só até elas liberarem?
Pulei sentada na cama, soltando o saco de Doritos.
- Elas “liberarem”?! Essa é nova! – Encarei Josh, e ele pausou o jogo me olhando por cima do ombro.
- Ah, você sabe... liberarem a...
- Cala a boca, Josh Devine. – Apontei o dedo para ele. – Calem a boca, todos vocês.
Liam me olhou.
- O quê, você está defendendo as garotas burras do fã clube do Harry?
- Não! Elas são burras, todas burras, mais burras que vocês. – Reclamei. – Eu só não quero falar da vida sexual do Harry, e vocês também não deviam estar tão ansiosos para fofocar sobre isso, seu bando de velhas!
- Mas, , é verdade! – Louis virou para trás também e me olhou. – Como elas ainda caem na dele se sabem que ele só quer sexo? Tipo, elas sabem. Todo mundo sabe. E depois elas ainda reclamam? O que será que elas esperavam?
Suspirei pesadamente e voltei a puxar o saco de Doritos, comendo um.
- Elas sempre acham que vão ser a exceção à regra. – Expliquei. – Todas elas. Sempre acham que vão ser diferentes. Que vão ser o amor da vida dele entre todas as outras que só... fizeram ele perder tempo atoa – balancei a mão no ar, tentando explicar. – É o que todas elas pensam. É o que todas elas esperam, e se esforçam para fazer acontecer. Mas nunca acontece. - Ainda bem, uma voz dentro da minha cabeça disse baixinho. Mas e se um dia acontecer?. Balancei a cabeça, afastando aquele pensamento. – Tem razão, são todas burras e estúpidas. – Resmunguei, enchendo a boca de salgadinho.
Vi os três trocarem olhares e revirei os olhos. Não, nem eu sabia como sabia daquilo. Mas eu sabia que era verdade, que no fundo era isso que todas elas tinham esperança que acontecesse.
- Bem, se elas querem ser o amor da vida dele deveriam começar imaginando que não é transando com ele na primeira oportunidade que vão conseguir. O que tem de diferente de todas as outras nisso? – Josh comentou.
Me atirei para trás e afundei a cabeça no travesseiro de Harry. E quem conseguiria resistir às investidas insistentes de Harry? Não devia ser uma tarefa fácil, eu imaginava. Mas só imaginava, mesmo, porque nunca saberia como era de verdade. O mais próximo que já chegamos disso foi quando ele me convenceu a pular de uma cachoeira usando palavras bonitinhas e seus olhos verdes que ganhavam qualquer coisa de qualquer pessoa. Quase morri afogada, mas quem liga? Harry estava feliz. Era assim que funcionava com ele.
Ainda era cedo, mas com o quarto mergulhado em escuro não fosse pela luz da TV e com a conversa empolgada dos garotos sobre marcas de carros, acabei pegando no sono. Acordei um tempo depois – não fazia ideia de quanto tempo – sentindo alguém sentar perto dos meus pés na cama de Harry, e apesar de manter os olhos fechados, eu senti que a luz do quarto estava acesa.
- ... que fosse especial, e toda aquela conversa de sempre. Ela também perguntou se eu só queria sexo com ela, como as outras garotas comentavam sobre mim. Dá pra acreditar?
- É, meu amigo, garotas falam. Você esperava o quê, que elas aplaudissem e desejassem felicidades ao casal?
- Mas ela foi a primeira a perguntar isso na minha cara! – Ouvi Harry bufar.
- E o que você respondeu para ela? – A voz de Louis veio num tom curioso e risonho.
- Que não, é claro. Como se eu tivesse escolha. – Harry riu fraco. – Ah, é, e ela também ficou reclamando sobre a ! – Harry comentou, lembrando naquela hora. – Ela chegou a dizer que ela era “muito grudenta”, seja lá o que isso significa, e que eu nunca ia ter um relacionamento sério se continuasse “desse jeito” com a . Eu não entendi o que ela quis dizer, só sei que não gostei.
- Então fechou, você não quer relacionamento sério mesmo. – Josh gargalhou. – É só manter a por perto.
- Isso aí é ciúme. – Liam comentou. – Cassidy não tem ciúme da , apesar de elas não se gostarem. Acho que ela é mais madura que a Jessica. Não?
- A única coisa que eu sei é que acho que não vai dar, eu vou ter que desistir dessa. Quer dizer, eu olhei nos olhos dela e disse que não queria só sexo. No final tudo seria no mínimo constrangedor, e eu não pretendo ficar com ela por muito tempo depois disso. Então...
- É melhor você parar antes que apanhe de um grupo de meninas furiosas. Sabe, ela é do time de futebol. – Disse Josh. – Ela pode trazer a gangue toda. E pelo humor da , ela não se importaria nem um pouco em liderar um ataque contra você.
- Ainda? Será que é TPM?
Controlei a vontade de revirar os olhos e de chutar o jumento do Harry. Ah, como eu odiava que ele culpasse o meu útero pelo humor terrível que ele me fazia sentir!
- Sei lá. Ih, ó lá, eu bati o recorde do Pac Men! – Louis quase berrou, e em seguida o ouvi gemer de dor por alguma coisa.
- Quer acordar ela ainda por cima?! Ela vai te matar e servir a tuas bolas pra gente comer. – Liam xingou. Precisei me esforçar ainda mais para não rir, e por isso comecei a me mexer e fingi estar acordando. – Ah, pronto. Foi o Louis, pode matar ele. Ele tem o botão de volume estragado!
Me virei e olhei para Liam, franzindo o cenho.
- Do que infernos você tá falando? – Murmurei, sentando na cama. – Eu vou para o meu quarto dormir.
- Quer que eu te leve?
Olhei para baixo e cutuquei minhas pernas.
- Não, acho que elas ainda funcionam, sabe.
- Com essa atitude eu também não ajudaria ninguém, Payne. – Harry comentou e o lancei um olhar para ele antes de botar os calçados e me dirigir para a porta.
- Hasta la vista, morons.
*
Em uma das primeiras vezes que eu me machuquei feio com o skate foi Harry quem me ajudou. Estávamos no parque, ainda em Holmes Chapel, tínhamos uns dez ou onze anos, e eu estava começando a pegar o jeito sobre como descer da rampa, mas em uma das tentativas meu pé de trás escapou e fez o skate virar. Como consequência eu literalmente rolei até lá embaixo, batendo tudo que tinha o direito de bater no chão e nas pedrinhas que estavam espalhadas na parte do meio da pista.
Harry veio correndo, e eu não senti a dor até ter tempo de me sentar e olhar para o estrago que havia feito. Quando ele se abaixou do meu lado e eu vi o sangue escorrendo do meu joelho, comecei a gritar. Não a chorar – a gritar. Olhei para Harry e quando ele me viu gritando começou a gritar também. E por um momento a gente só gritou olhando um pro outro.
- , , , , , ! – Ele repetia. – Calma, calma, calma, calma! Vamos... Ai meu deus EU ESTOU VENDO A PELE DE DENTRO DA SUA PELE!
- FAZ ALGUMA COISA!
- EU NÃO SEI O QUE FAZER!
- CHAMA ALGUÉM!
- QUEM É QUE EU CHAMO?!
A dor começou a aparecer, e comecei a choramingar e a abanar as mãos perto do joelho como se pudesse fazer a dor parar desse jeito. Logo meu joelho começou a latejar, ainda escorrendo sangue pela minha perna.
- Ok! Ok! O que o Han Solo faria?
- O HAN SOLO NÃO SE PERGUNTARIA ISSO! – Berrei.
Quase tremendo de nervosismo, Harry se decidiu por tirar a blusa de flanela que usava por cima de uma camiseta e fez uma bola com ela, hesitando antes de pressionar contra o meu joelho com força. Gemi com a dor e me encolhi, mas ele pegou minha mão e me fez segurar o pano lá fazendo pressão.
- Segura aí, eu vou chamar alguém! – Disse antes de levantar e sair correndo.
Tudo que lembro depois disso foi que Harry chamou uma mulher que estava passeando com seu cachorro lá perto e pediu para ela chamar uma ambulância. Foi um machucado feio, mas superficial, que pela quantidade de sangue me fez pensar que eu estava prestes a morrer ou a ter a perna amputada. Mas Harry voltou e enquanto a ambulância não chegava ele ficou sentado do meu lado, segurando a minha mão com muita força, ajudando a segurar a camiseta e gemendo como se a dor fosse mais nele que em mim. No final das contas, levei nove pontos e fiquei toda ralada por um mês.

Na metade do primeiro ano que passamos no St. Bees School, eu e Harry já éramos muito próximos dos outros garotos. Como disse, eles estudavam lá desde que eram bem novos, e já se conheciam há anos, mas nos demos tão bem logo de cara que foi como se sempre tivéssemos feito parte do grupo deles.
Houve um episódio em especial, durante um fim de semana em que eu acordei com a pior cólica que já senti na vida e pensei que ia morrer, e os meninos ficaram tão preocupados que tentaram até me levar para o hospital. Eu nunca havia sentido aquilo antes, até aquele momento minhas cólicas haviam sido apenas dorezinhas incômodas que passavam em duas horas, mas daquela vez foi horrível. Eles trouxeram comida, chás, uma variedade tão grande de remédios que parecia que haviam assaltado um traficante, e ficaram horas lendo diagnósticos na internet até chegarem à conclusão de que eu estava tendo uma hemorragia interna. Liam quase pirou, Josh estava quase chorando de desespero e o Louis ligou até para a mãe dele para perguntar o que fazer. Mas o Harry só ficou sentado ou deitado perto de mim durante muito tempo. Foi estranho, mas foi bom, porque foi como quando você fica doente e o seu cachorro não quer sair do seu lado, ele quer ficar pertinho para mostrar que se importa. Ele não sabia o que fazer, como quase nunca sabia, mas ficou perto de mim o tempo todo parecendo preocupado e vez ou outra cutucando meu braço e me fazendo olhá-lo para então abrir um sorrisinho.
Foi só quando Minerva pegou os três dentro do meu quarto e quase teve um AVC de tanto gritar que as coisas se resolveram. Eles explicaram o que estava acontecendo e ela mandou “que todos nós parássemos de drama” e que eu fosse para a ala hospitalar pedir uma bolsa de água quente que era tudo que eu precisaria para fazer aquilo passar.

Meus amigos eram idiotas incríveis e insuperáveis, que me faziam rir até ficar sem fôlego e melhoravam qualquer situação apenas por estarem perto. Enquanto o primeiro e o segundo ano passavam, eu só conseguia pensar toda vez que estava com eles que definitivamente sentiria falta de tudo aquilo no futuro, e de que não queria que nada mudasse.
Aconteceu uma vez de Josh começar a gostar de uma garota, porque ela o havia ajudado em um teste de álgebra e ele automaticamente começou a achar ela a coisa mais incrível do universo por ela ter se interessado nele. Ele passou duas semanas obcecado por ela até que criou coragem suficiente para convidá-la para sair. Ela o deu um fora na frente de toda a turma e disse que só havia o ajudado porque teve pena, e que ele era patético. Josh ficou arrasado.
- Ei – passei a mão nas costas de Josh, sentada ao lado dele em uma das mesas de pedra no pátio da escola, logo após aquele episódio traumático na vida dele. – Não fica assim. Ela é uma idiota.
- Você não é patético, cara. – Liam assegurou.
- Bem... – Louis pensou por um momento, mas lancei um olhar reprovativo para ele.
- Ei, mesmo se fosse, você é o nosso patético! – Harry comentou, tentando ajudar, mas pela cara com que Josh o olhou, ele só estava piorando.
- Espera, o Harry está certo. – Comentei, abraçando Josh de lado. – Só a gente pode te chamar de patético. E aquela garota é uma escrota. Você quer que eu bata nela?
Josh me olhou, ainda mais incrédulo.
- O quê? Garotos não batem em garotas, mas garotas podem bater. – Dei de ombros, e ele riu fraquinho. Sorri. – Aí! Viu só, você já está melhor. Mais um dia e vai estar novinho em folha.
- E pronto para levar outro fora, porque a vida é feita disso para nós meros mortais, camarada. – Louis apontou para ele e piscou, sorrindo. Levantou uma mão no ar e mesmo relutante Josh sorriu e deu um high five nele.
- Tá legal. – Josh disse. – Mas eu só aceito ser patético se for com vocês.
*
Algo aconteceu durante o jogo de domingo.
Antes do jogo, nos reunimos no vestiário para ouvir o discurso motivacional da treinadora e, como sempre acontecia, saímos de lá com as energias renovadas e prontas para detonar contra as Royals no campo. Enquanto o resto das meninas saíam na frente fiquei para trás para amarrar minhas chuteiras, e só vi que não estava sozinha quando ouvi o barulho da porta de um armário se abrindo. Olhei para o lado e Jessica Sinclair estava lá, guardando um colar e seus brincos. Ela me olhou e abriu um sorriso fraquinho antes de fechar a porta do armário, mas não sem que antes eu visse de relance uma foto grudada no lado de dentro da porta dele. Meu queixo caiu.
- Você tem uma foto do Harry no seu armário? - Perguntei sem conseguir evitar. Não era nem uma foto dos dois juntos, era uma foto dele sozinho, que eu não me lembrava de algum dia ter visto. Onde ela havia conseguido aquilo, para começo de conversa?!
- Sim. – Respondeu, e arqueei as sobrancelhas soltando uma risadinha abafada. Elas conseguiam ir mais longe do que eu imaginava. – Algum problema, ?
- Não comigo - murmurei, terminando de ajeitar minhas meias e me pondo de pé. Me afastei um passo quando ela surgiu em minha frente, quase colada em mim.
- Tem certeza? Quer dizer, o Harry sempre fala em como vocês são tipo irmãos... Então não seria considerado quase um incesto que você gostasse tanto dele assim?
- Hum, primeiro, esse boato sobre mim e Harry é tão ano passado. E segundo, eu acho que a minha vida não é da sua conta. – Respondi, mantendo a calma. Eu estava prestes a entrar em campo, e nada podia estragar meu humor naquele momento.
- Boato? Ah, não, eu não estou falando sobre o boato de que vocês estavam transando. Afinal, para isso acontecer ele teria que gostar de você também, e é óbvio que entre vocês dois você é a única obcecada por ele. – Ela abriu um sorriso tão meigo que nem parecia estar destilando veneno para cima de mim. Ah, típico.
Those damn bitches.
- Acredite no que quiser acreditar, Jess. Qualquer coisa que sirva para explicar a sua insegurança. Ah, e se gosta mesmo do Harry, é melhor não abrir as pernas para ele tão em breve. Porque a reciprocidade dele geralmente tem prazo, sabe. – Sorri fraco também. – Agora, se não se importa, é melhor calar a boca e entrar naquele campo logo, porque você é melhor no futebol do que em tentar me intimidar. – Toquei seu ombro em um reflexo, mas ela empurrou meu braço com brutalidade, parecendo puta da cara agora.
- É melhor você ficar fora do meu caminho, e eu não estou falando do jogo. – Murmurou, se aproximando tanto do meu rosto que senti seu hálito na minha pele. Depois ela me empurrou para o lado e passou, saindo para o campo. Suspirei, contente em não estar nem um pouco incomodada com aquilo, afinal era hora de entrar no campo.
Aquele pequeno momento insignificante no vestiário não passou mais pela minha cabeça durante a hora que se passou. O jogo estava bastante parelho e as meninas do Royals estavam dando mais trabalho do que imaginamos, mas estávamos jogando muito bem. Os quinze minutos de intervalo chegaram e passaram, e eu só conseguia pensar em nossa tática no campo e em como o time adversário estava se posicionando. Faltavam dez minutos para o final da partida e o jogo estava empatado em dois a dois. Precisávamos fazer aquele gol!
Em um momento houve uma brecha na defesa delas, e Emeline pegou a bola e passou do meio do campo com ela, se aproximando alguns metros da grande área do outro time. Ela foi marcada e rapidamente olhou em volta e localizou a mim e a Jessica, que éramos as únicas mais perto da pequena área, onde apesar das duas jogadoras nos marcando havia uma pequena chance de marcar o ponto.
Jess estava mais próxima das adversárias, por isso Emeline decidiu jogar para mim e chutou alto, fazendo a bola passar por cima do bloqueio das Royals. Pulei com o intuito de interceptar a bola, que vinha na altura do meu ombro, porém antes que ela pudesse chegar até mim só senti uma pancada na cabeça que fez tudo ficar escuro e me empurrou para trás, e como se não bastasse a dor do meu corpo despencando no chão em cima do meu braço, logo em seguida senti o peso das agarradeiras das chuteiras de alguém pisando em minhas costelas. A última coisa que senti antes de apagar foi o ar saindo dos meus pulmões.

Quando acordei na cama da ala hospitalar da escola já era noite lá fora e havia gente por perto conversando baixinho. A primeira coisa que senti foi uma ferroada na cabeça, e logo em seguida pude distinguir perfeitamente a dor de pelo menos seis agarradeiras do lado direito do meu corpo, em cima das costelas. Doía para respirar, e com certeza estava roxo.
- Quem foi? – Foi a primeira coisa que pensei em dizer, logo que retomei o controle da minha língua. Pisquei algumas vezes com a dor que a luz provocou em minha cabeça quando abri os olhos. – Foi a Sinclair, não foi?
De algum modo, me pareceu óbvio. Aquela ameaçazinha idiota antes do jogo começar. Eu não acreditava que ela seria burra a ponto de botar tudo a perder no jogo por causa de algo tão estúpido, mas mais uma vez subestimei a capacidade do fã clube do Harry.
Virei o rosto na direção das vozes e vi os quatro garotos sentados em algumas cadeiras ou na cama ao lado.
- Ah oi, oi! – Harry pulou da cama e veio sentar em minha cama ao meu lado. – Que bom que você acordou. A gente estava discutindo sobre a possibilidade de você acordar com amnésia ou com algum retardo.
O empurrei da cama e ele riu e voltou a sentar. Só quando me mexi foi que percebi que meu outro braço estava preso por alguma coisa, e levantei o cobertor para ver o que era. Havia uma tipoia prendendo meu braço e o mantendo pressionado contra o meu corpo.
- Ah, não. – Choraminguei fazendo uma caretinha. – Eu quebrei o braço de novo?
- Só torceu. Mas acharam melhor manter ele bem preso por uns dias pra você não fazer mais estragos. – Liam explicou.
- Ah. E o jogo? Como foi que terminou? – Perguntei, lembrando daquele detalhe muito importante.
- Vocês acabaram perdendo por três a dois.
- Foi mal, . – Louis se aproximou da cama também. – Mas se serve de consolo, a treinadora ficou puta. Ela disse que ia expulsar a Sinclair do time se ela fizesse mais qualquer coisa.
- Então foi a Jessica. Eu sabia. – Bufei e balancei a cabeça, o que só fez ela doer mais. – Ela pelo menos saiu do jogo?
- Ah, pode ter certeza. – Josh se manifestou. – A treinadora substituiu ela na hora. Foi cruel o que ela fez, e ela nem soube disfarçar. Com certeza foi de propósito!
- O que foi que...? – Levei a mão livre até minha cabeça e toquei o lugar de onde a dor se emanava, acima da minha testa. – Que me acertou?
- Foi o cotovelo dela. Te jogou para trás e você caiu em cima do seu braço. – Louis disse.
- E depois ela pisou em você para pegar a bola, mas nem chegou a conseguir sair do lugar. Todo mundo parou quando você caiu.
- É, foi cruel.
- Foi bem pior que uma falta. – Harry concordou com a cabeça.
- Doeu só de ver!
- Parecia uma luta livre de garotas. – Josh riu.
- E se te consola, todo mundo ficou puto com ela por te tirar do jogo. – Louis contou e balançou a cabeça.
Me ajeitei na cama, fazendo com que todos os lugares machucados latejassem. Gemi baixinho.
- A enfermeira disse que é bom que você fique aqui durante o dia amanhã, só para ter certeza de que está bem. Sabe, por causa da cabeça e tudo mais. Mas de resto, tá tudo bem. A gente só tomou baita um susto!
Suspirei pesadamente.
- Caramba, eu fui carregada do campo?
- Com maca e tudo. – Liam riu.
Grunhi.
- Eu devia era ter dado uma lição naquela vaca antes do jogo, mas não pensei que ela estivesse falando sério. Argh, Harry, é tudo culpa sua, como sempre! – O empurrei de novo, fraco dessa vez.
- Do que você tá falando? – Ele franziu o cenho.
- A Jessica, é claro. Porque mais você acha que ela fez isso? Ela tem ciúme de mim porque eu sou sua amiga. Sabe, porque você trata seus amigos melhor do que trata suas namoradas.
- Ela não é minha namorada. – Ele retrucou, mas revirei os olhos e bufei.
- Você entendeu o que eu quis dizer.
- Não, sério. – Respondeu. – Eu terminei tudo com ela logo depois do jogo. – Encolheu os ombros.
O olhei sem entender por um momento, mas o próximo que se manifestou foi Liam. Ele se desencostou da cama e respirou fundo.
- Eu acho que está na hora da gente ir. A enfermeira disse que não era para ficarmos até tarde, e que só podia ficar uma pessoa aqui depois do horário. O Harry vai ficar pra te explicar tudo, e a gente volta amanhã de manhã, ok?
Assenti e ele se curvou e beijou minha testa.
- Que bom que você não morreu, , seria um péssimo momento, logo no final do semestre!
- Ah, fico feliz que eu não tenha causado um problema no seu currículo acadêmico. – Brinquei e o vi rir fraco e se afastar, com os outros dois o seguindo para a porta.
Quando ficamos sozinhos, olhei para Harry de novo com expressão de questionamento.
- Você terminou com ela?
- Sim, . Ela tinha ciúme de você e até me pediu para parar de passar tanto tempo com você e os caras. Sério, ela pensava que era importante assim? – Ele bufou e riu fraco. – Vai precisar de mais que uma bunda legal pra me fazer largar vocês.
Sorri fraco e balancei fraquinho a cabeça.
- Ela me ameaçou antes do jogo – ri. – Foi engraçado, na verdade. Mas ela aproveitou a oportunidade no jogo para me acertar. Agora estou pensando qual seria a melhor vingança. Você acha que passar cola no cabelo dela é demais? Como acha que ela ficaria careca? – O olhei sorrindo e Harry riu, revirando os olhos.
- Esquece ela, Sunshine. Só, da próxima vez, me avisa se algo assim acontecer. Nenhuma garota que não gostar de você serve pra mim, ok? – Arqueei as sobrancelhas em surpresa, e ele pareceu perceber o que disse também. – Quer dizer, você e os garotos. Fala sério, quem não gosta de vocês? Ela só podia ser louca mesmo.
Eu ainda estava sorrindo, e aquele logo se tornou um daqueles momentos em que o que ele disse me deixava idiota e boba. Argh!
- Eu não vou gostar de nenhuma garota que você namore, de qualquer jeito. – Disse e, dessa vez, fui eu que percebi ter dito algo estúpido. – Ao não ser que você namore o Louis – brinquei e ele bateu a mão na testa.
- Ele não faz o meu tipo. – Respondeu me fazendo rir, e por consequência minhas costelas doeram de novo e reclamei.
- Tá doendo?
- Não, eu estou gemendo de felicidade.
- Sempre delicada. – Comentou e mostrei a língua para ele. – Quer que eu chame alguém? Talvez possam te dar um remédio.
- Não, eu acho que já me deram algo. Meus olhos estão pesados.
- Quer que eu saia pra você dormir, então?
Abri a boca para responder, mas percebi que eu não queria que ele fosse. Passar a noite ali sozinha não devia ser legal, mas não sabendo como pedir que ele ficasse, só fiz que não com a cabeça.
- Hum... Ok. – Harry olhou em volta. – Acho que eu posso ficar até você dormir. Se alguém me pegar, eu corro.
- Corre sem olhar para trás. – Respondi.
- Certo. – Sorriu, aparentemente procurando algum lugar para se acomodar. Desceu da cama e puxou uma cadeira até o meu lado, sentando ali e escorando os braços, encostando o queixo neles. Virei de lado e o encarei, seu rosto há centímetros do meu, seus olhos verdes brilhando como sempre. – Bom descanso, Sunshine. – Ele estendeu uma mão e afastou uns fios de cabelo dos meus olhos.
- Valeu, Harry. – Murmurei e me ajeitei no colchão com cuidado, ficando confortável e fechando os olhos.
- Ei, ?
- Hum?
- É verdade o que você disse sobre as outras garotas, sabe. Não existe ninguém como você.
Senti uma sensação estranha, como um choque gelado, percorrer meu corpo de repente e desejei não estar corando. Droga, Harry. Eu odiava sentir aquilo, principalmente porque por um momento era tão bom. Sorri fraquinho, mas não respondi nada. Gostei da sensação de deixar aquilo no ar, como a última coisa a ser dita entre nós dois.
Fiquei sentindo seus olhos em meu rosto até que peguei no sono de novo.
*
No dia seguinte os garotos ficaram um tempo comigo na ala hospitalar, mas depois precisaram sair para suas aulas. Eles me levaram meus cadernos e livros e, depois que almocei uma sopa ruim e sem gosto, só me restou botar os deveres das aulas em dia e descansar mais um pouco para o dia seguinte. Quando me deixaram ir para o quarto já estava escurecendo, e eu só tomei um banho e voltei para a cama. Meu braço e as costelas já doíam menos, e minha cabeça estava curada. Eu decidira que não valia a pena me preocupar com Jessica, afinal ela já era passado para Harry também, ao não ser que ela decidisse mexer comigo nos treinos mais uma vez. Aí, sim, eu não deixaria barato de novo.
Quando acordei ainda era bem cedo na manhã de terça-feira. Me arrumei sem pressa e depois fui tomar café, e só encontrei duas meninas do time que estavam acordadas àquela hora no refeitório. Enquanto comíamos juntas elas me contaram tudo sobre o jogo, sobre Jessica e a treinadora, e conversamos sobre como ficaria o torneio de futebol agora.
Com nada mais para fazer até o começo da primeira aula, fui para a sala de literatura e fiquei lá até a aula começar. As três aulas até o almoço passaram rápido, mas minha cabeça ficava voltando de novo e de novo para minha conversa com Harry na noite passada, me fazendo questionar o que ele quis dizer, ou se talvez tenha parecido um momento tão especial apenas porque eu estava sob o efeito de remédios e de uma pancada na cabeça. Só podia ser isso. E ainda assim, eu me pegava pensando constantemente naquilo.
Ao mesmo tempo em que era um fardo carregar o que eu sentia por ele às vezes, no resto do tempo era tão bom tê-lo perto de mim, simplesmente porque era familiar e confortável. Era porque ter Harry perto de mim fazia parecer que eu estava em casa, seja lá onde eu estivesse.

Encontrei Louis no pátio matando tempo depois do almoço, mexendo em algo no celular tão concentrado que nem me viu chegar. Sentei do seu lado em uma das mesas de pedra e espiei a tela do seu celular.
- Falando com as menininhas?!
- Sim. Minhas irmãs, no caso. – Ele me olhou e ri. – Minha mãe mandou melhoras.
- Agradeça a ela por mim.
- Ela disse para a gente ir passar a páscoa com ela esse ano. Acho que está com saudade de ter a casa cheia.
- Ela mora com cinco filhas.
Louis estalou a língua e deu de ombros, e ri de novo.
- Onde estão os outros?
- Provavelmente com alguma garota. Menos o Josh, ele foi implorar nota para a senhorita Rodriguez.
- Eu disse a ele para não fazer espanhol!
- O Josh só aprende errando.
Concordei. Parei e franzi o cenho depois de um momento.
- Com alguma garota? O Harry terminou com a Jessica.
- E o que tem isso? É do Harry que estamos falando.
Me mexi desconfortavelmente no banco e olhei para Louis.
- Ele já achou outra pessoa?
- Mais precisamente alguém achou ele. Ah! – Louis olhou para algum lugar e abriu um sorrisinho que mais parecia uma careta. – Você vai adorar isso.
Segui seu olhar e vi, mais ao longe, perto das outras pessoas que estavam espalhadas pelo pátio ensolarado, Harry escorado em uma mesa com uma garota em sua frente. Eu a conhecia bem, mesmo estando de costas para mim. Ela era minha colega de quarto.
Uma risadinha incrédula escapou de minha boca, e não consegui evitar encarar aquela cena por um tempo, tentando conceber a ideia do inferno que seria ter minha colega de quarto falando sobre como era ficar com Harry o tempo todo, durante o resto do segundo ano.
“Nenhuma garota que não gostar de você serve para mim”, lembrei. Cara, aquela garota só me suportava porque era obrigada, e ele sabia.
No final das contas, o “não existe ninguém como você” não significava nada do que eu gostaria que fosse. Mas isso não era surpresa nenhuma.
Será que algum dia isso ia mudar?



Fim...?


Nota da autora: Olá, olá!
A história desse ficstape pode ter ficado meio vago para quem não lê minha outra fic, The A Team, pois é só um episódio do que acontece antes da história da TAT começar. Se você se interessou e quer saber se algum dia o Harry deixa de ser um idiota; Se o Louis, gente boa do jeito que é, encontra alguém legal; se o Liam e a Cassie funcionam e se a Amy aprende a gostar da Cassie algum dia; e se o Josh deixa de ser patético; e também conhecer os novos personagens que entram na escola e as loucuras em que todos se metem no último ano do ensino médio, então leia a >>The A Team<<

Outras histórias:
I'll Be Here By Your Side
One Direciton/Finalizada
05. Sober - Revival [Selena Gomez]
04. Close Your Eyes - Title [Megan Trainor]
Mixtape anos 80/90 - Creep [Radiohead]
Mixtape anos 80/90 - Tempo Perdido [Legião Urbana]
Mixtape divas do pop - Take A Bow [Rihanna]
Mixtape Girlpower - We Know [Fifth Harmony]
Mixtape classic rock - Missunderstood [Bon Jovi]
Especial de música brasileira - Pais e filhos [Legião Urbana]


Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus