Última atualização: 23/09/2016
Capítulo 22
Lay me down on a bed of roses
Sink me in the river at dawn
Send me away with the words of a love song
Zayn’s POV
Aumentei o volume do rádio quando uma música do Drake começou a tocar. O silêncio no carro era confortável, e o trânsito estava terrivelmente congestionado, então a única coisa que nos restava fazer era ter paciência. Suspirei e encostei a cabeça no banco, meio cansado pela mudança de quatro horas no fuso horário que sofremos de repente pela viagem Los Angeles/Londres.
- Um dia essa cidade vai parar, eu te juro. – Louis respirou fundo e parou pela décima vez na mesma quadra, se encostando no banco e pendurando o braço na janela do carro.
- Eu avisei para não pegar a Oxford. Estamos em horário de pico, você espera o quê? Só vamos chegar nas meninas amanhã, é bom que saibam. Alguém aí tem comida? – Liam se esparramou no banco do passageiro e cruzou os braços.
- Eu pensei em vir por aqui para ver se a gente se encontrava no caminho! – Louis se defendeu. – Mas foi uma ideia meio burra.
Ri fraco.
- Ei, eu não posso me atrasar muito, caras... – Niall olhou para Louis, ansioso.
- Sinto muito, loirinho, agora só podemos esperar. Se eu conseguir chegar vivo lá na frente, pego a Kingsway e entro em algum atalho pelo bairro para chegar até lá. Mas julgando por esse tráfego elas também vão demorar.
- Por que você não pega a A400? A Kingsway é completamente parada a essa hora na frente da Universidade de Arte. – Harry opinou.
- Tudo bem, quando conseguirmos sair dessa quadra nós decidimos.
- Deve ter acontecido alguma coisa lá na frente, porque esse engarrafamento todo não é normal.
- Aí, acho que liberou um pouco, eles estão andando. Aleluia!
Bem devagar, eu digo, quase parando, Louis conseguiu fazer com que o carro passasse do semáforo e fosse andando devagarzinho pela Oxford atrás da fila de carros até chegar à quadra em que a avenida se encontrava com a Kingsway. Porém, paramos outra vez na metade da quadra.
Continuei cantarolando baixinho com a música de Drake.
- O problema deve ter sido ali na Kings, tá vendo? – Liam se levantou um pouco e tentou olhar colocando a cabeça pra fora da janela. – Tem uns policiais e uma ambulância. Ninguém pode dobrar.
- Então vamos fazer o quê?
- Desce até a Gray’s e pega a Clerkenwell que a gente chega bem mais rápido. – Harry falou, começando a batucar no banco com as mãos. Aquele já era um caminho um tanto conhecido, já que era um dos caminhos para ir da nossa casa à das meninas.
- Tudo bem, vamos lá... vamos lá, cara... – Lou começou a falar baixinho, andando minimamente com o carro para frente junto com o carro da frente. – Anda...
Ao que parece, a fila andava por um tempo e aí os policiais trancavam outra vez para que os que subiam da Kingsway pudessem pegar a Oxford e descer, e assim não trancar demais as duas ruas. Mais dois carros desceram e só o da nossa frente e nós ficamos parados na esquina esperando que nos liberassem outra vez.
Foi quando percebemos. Eu e Liam vimos quase na mesma hora. No momento em que ele levantou melhor do banco para enxergar, e logo depois levou a mão ao cinto para tirá-lo, eu me joguei por cima de Harry e abri a porta, empurrando-o para descer do carro para que eu descesse também.
Ele me olhou com cara confusa.
- Ei!
- Desce do carro, Harry!
- O que é, maluco?!
- É o carro das garotas. – Liam disse apenas, abrindo a porta e saltando do carro sem nem se importar em fechá-la.
Harry e Niall ainda precisaram de um tempo para entender do que estávamos falando, mas eu, Louis e Liam corremos para a esquina, deixando o carro sozinho na rua e um coro de buzinas furiosas gritando para nosso ato.
Ao chegar mais perto do acidente correndo junto com Liam e Louis, alguns policiais fizeram uma barreira na nossa frente e nos impediram de passar da esquina.
- Ei, ei, ei! Não podem se aproximar, rapazes. Está interditado. Estão vendo essa faixa aqui? – Ele apontou para a faixa amarela cercando a esquina.
Interditado.
Meu cérebro começou a processar informações demais, me fazendo viajar por um segundo, enquanto Liam discutia com o policial.
- Você não entende, elas são... – Liam tentou explicar, espiando por cima do ombro do policial. – Eu acho que são... argh!
- O que aconteceu?! – Louis gritava com o policial. – O que aconteceu aqui? Quem está lá?!
O policial levantou as mãos, pedindo que ele se acalmasse. Olhei em volta, para o carro parado a alguns metros de nós com as portas abertas e uma fileira de outros automóveis buzinando ferozmente para o nosso. Ninguém ali em volta parecia ter percebido quem éramos, apesar de olharem para nós.
- O carro atravessou o sinal vermelho da Oxford e o caminhão estava descendo, e bateram.
- Tem alguém lá? – Harry perguntou ofegante, quando ele e Niall chegaram correndo atrás de nós.
Olhei bem para a cena atrás deles. Vidros para todos os lados espalhados no chão e um Onix branco em cacos, capotado no chão. O caminhão de porte pequeno estava virado de lado, mais afastado do carro. Uma fina faixa amarela rodeava toda a esquina, e apenas os dois cantos por onde os carros passavam estavam livres, com alguns guardas de trânsito sinalizando. Uma ambulância estava parada lá dentro e vários paramédicos da equipe trabalhavam em volta principalmente do carro. Mas o pior, vinha a seguir.
Bem lá no meio da Kingsway Street, um saco preto encobria o corpo de alguém.
O ar fugiu de meus pulmões e no mesmo segundo imaginei o pior. Passei as mãos nos cabelos, e desci-as até meu rosto, fechando os olhos. Imagens assustadoras invadiram minha mente. Eu não podia acreditar que estava mesmo acontecendo. Só podia ser um tipo cruel de coincidência. Certo?
- O cara do caminhão estava debaixo das ferragens, e ele...
- No carro! Queremos saber do carro! – Liam gritou.
- No carro... bem – o policial olhou para trás e chamou um colega de trabalho, olhando em uma prancheta por um momento. Voltou até nós: - Havia cinco meninas no carro, duas delas já estão sendo levadas para o hospital e as outras três estão à espera da ambulância.
A realidade atingiu a todos nós como um choque. Todos nos olhamos por um segundo, e então Liam levou as mãos à cabeça e Louis olhou para cima. Não pude perceber mais nada, porque fechei meus olhos com força desejando acordar daquele pesadelo.
- Você não... você... tem algum registro... alguma coisa, qualquer coisa, tem que ter algo sobre elas, nós... – Harry gaguejava e tremia, e sua voz era instável. – Nós precisamos saber se são nossas amigas, precisamos... por favor, cara... nos dê alguma coisa. Qualquer coisa. – a voz dele era de súplica para o policial, e por um momento o homem pareceu ter pena de Harry.
- Não sabemos de muita coisa, ainda... – ele balançou a cabeça. – Eu não sei se posso informar.
- Por favor. Por favor, cara, minha namorada está lá dentro, eu... nossas amigas estão lá, elas podem... podem estar... – a voz dele falhou na última palavra e Harry não conseguiu terminar. O policial hesitou por uns instantes.
- Tudo bem, esperem aqui e eu vou procurar por alguma coisa. Não passem dessa faixa. – ele ordenou e voltou até alguns policiais a alguns metros dali.
Nós nos olhamos por um tempo. Eu só desejava com todas as minhas forças que ele trouxesse informações sobre pessoas que não conhecíamos, e que aquilo tivesse sido só um susto, que em alguns minutos contaríamos para elas já em casa. Todos estavam apavorados, exceto por Niall. Niall parecia ter entrado em choque. Ele mal piscava, e tudo que fazia era olhar para o acidente ao longe.
Esperamos por uns dois minutos, em meio ao pior silêncio que já vivi na minha vida. Durante isso, outra ambulância se aproximava e tentava chegar até lá em meio ao tráfego. A espera foi agonizante, e eu não conseguia evitar todas as imagens horríveis na minha cabeça. Até que, enfim, ele voltou.
- Tudo bem, rapazes, aqui está tudo que sabemos até agora. Uma das garotas se chama , e achamos um crachá de uma editora dentro do porta luvas.
Foi quase palpável a visão de nossas esperanças de que aquilo fosse só um mal entendido indo embora.
- Isso tudo aconteceu há uns sete ou oito minutos no máximo, e logo que chegaram aqui uma das ambulâncias acabara de sair levando-as para o St. George. Aqueles paramédicos estão trabalhando para tirar uma das meninas, que está presa nas ferragens, uma menina do banco de trás, e a do banco do carona. Temos o registro de uma morte, mas meu chefe ali não permitiu que eu revelasse nenhuma identidade. Apenas duas delas estavam acordadas quando nós chegamos, e as outras três não. Não sabemos dizer mais nada, mas... – ele levantou os olhos da prancheta que pegou de seu colega, e olhou diretamente para mim por um tempo. – Mas isso estava um caos quando cheguei aqui.
Balancei a cabeça seguidamente em negação, olhando para o chão. Não sei o que exatamente eu estava negando. Não queria acreditar que fosse verdade.
- É isso, garotos. Sinto muito mesmo. – ele olhou por cima do ombro, para outra ambulância que acabara de chegar ali. – Eu devo ir ajudar os paramédicos, agora. O St. George fica a apenas dez minutos daqui. – Ele avisou, antes de se afastar.
Já sabíamos onde o St. George ficava. Ironicamente, fora onde todos nós nos conhecemos.
- O que fazemos agora? – Louis olhou para Liam e Harry. Harry, pelo que vi, já tinha os olhos vermelhos. Ele era sempre o primeiro a chorar.
- Nós temos que ir para o St. George. E rápido.
- Mas três delas vão ser levadas agora, pelo menos um de nós precisa acompanhar. – Harry falou, a voz falhando um pouco.
- Tudo bem, eu... eu vou... pegar o carro, e dar um jeito de sair daqui logo, e ir para lá. – Louis falou, abalado demais para qualquer outra coisa.
- Vou junto. – Liam disse, balançando a cabeça.
Eu estava ocupado demais com minha atenção presa a Niall. Ele estava em choque de verdade. Enquanto estávamos conversando, ele se aproximara a passos pequenos e lentos da faixa, como uma criança que queria ver mais de perto, que não conseguia acreditar no que estava acontecendo, assustado demais até mesmo para se afastar. Acho que ele ainda não havia entendido realmente a gravidade da situação.
Segui-o com os olhos, parado do lado de fora da faixa amarela, com os olhos presos à equipe trabalhando no carro. Havia muita gente em volta da faixa, se amontoando atrás da faixa amarela com telefones gravando o acidente, enquanto policiais tentavam afastá-los. Segui o olhar de Niall, quando sua expressão começou a mudar para algo mais assustado, doloroso, e então vi dois paramédicos deitarem uma desacordada tirada do banco do carona em uma maca e a levantarem suspensa no ar.
No mesmo momento, vendo a expressão de Niall, corri até lá e segurei seus braços no segundo em que ele deu um passo à frente tentando correr até lá.
- Niall, não! Niall! Não! – eu o segurava, e Harry logo veio ajudar, enquanto tentava de todos os jeitos se livrar das minhas mãos para ir até lá, enquanto ela era carregada até uma das ambulâncias.
Aquilo doía em mim. Tive vontade de chorar. Eu sentia a dor dele.
Niall gritou o nome dela algumas vezes, recusando-se a acreditar naquilo. Até que, enfim, conseguimos afastá-lo o suficiente. Precisávamos sair de lá e rápido, já recebíamos alguns olhares e não demoraria quase nada até alguém nos reconhecer e o caos se instalar. E aquilo era a última coisa que precisávamos agora.
- Niall! Niall me escuta! – gritei e virei-o para mim pelos ombros. – Me escuta, cara! – gritei mais e ele enfim parou. – Vai ficar tudo bem. Eu prometo. – falei, devagar para que ele entendesse. – Entendeu? Vai ficar tudo bem com ela. Com todas elas. É uma promessa. Está entendendo, Niall? – Falei, balançando seus ombros.
Ele demorou alguns segundos, mas assentiu.
- Agora, temos que sair daqui. Vamos para o hospital, para vê-las. Tudo bem?
- Mas ela precisa...
- Niall, precisamos manter a calma por elas. Nós precisamos apoiá-las, estamos aqui para isso, precisamos manter a calma. Vamos de carro, e ao chegar lá vamos descobrir o que aconteceu.
Ele assentiu de novo depois de uns segundos e eu o larguei, e então Liam e eu o acompanhamos até o carro.
- Harry, você pode ir com a ambulância? – perguntei, e Harry assentiu, limpando o rosto e suspirando.
- Forte, cara. – dei um tapinha em seu ombro, e ele assentiu para mim de novo. Eu não fazia ideia de onde estava conseguindo tirar toda aquela calma de dentro de mim, mas meus amigos precisavam de alguém que os dissesse o que fazer naquele momento. E, assustadoramente, aquele era eu.
Voltei para o carro com os garotos, tentando ser forte assim como estava pedindo que eles fossem.
Liam’s POV
A viagem até o hospital foi a viagem mais longa que já fiz. Eu não conseguia acreditar que isso estava acontecendo mesmo. Eu podia me imaginar chegando na casa das meninas, beijando e dando oi à todas elas e passando uma noite inteira assistindo filmes e falando besteiras e rindo e comendo pizza. Era isso que planejávamos ao entrar naquele carro há pouco mais de duas horas.
Mas então, de repente, tudo mudou. Tudo virou de cabeça para baixo em segundos, em um piscar de olhos, e estávamos todos aterrorizados. Eu não conseguia suportar a ideia de perder uma delas. Nada nunca mais seria o mesmo. Eu não conseguia suportar a ideia de perder , ou , ou , ou até mesmo a . Eu não suportava nem sequer o pensamento de perder a minha garota, a minha . A garota que, sem dúvidas, eu mais amei em toda a minha vida, aquela com a qual eu, mesmo que inconscientemente, planejava uma vida pela frente. Não. O mundo não me tiraria ela. Eu não podia perdê-la.
Nunca me senti tão cansado em toda minha vida. Eu e os meninos estávamos no hospital há uma hora, sem absolutamente nenhuma notícia. Por algum motivo, eu tinha a sensação de que algo estava acontecendo dentro daqueles quartos de hospital. Algo importante, que estava movimentando tudo. Talvez uma cirurgia. Talvez uma operação. Quem sabe? Podia ser qualquer coisa. E qualquer uma delas.
Uma espera nunca me torturou tanto antes em minha vida, e eu podia dizer pela expressão dos outros garotos que eles sentiam o mesmo. Niall, coitado, estava com os olhos inchados. Eu não conseguia pensar no que ele estaria sentindo sem ficar com os olhos marejados também. Isso pegou a todos nós com muita força. Niall estava tão feliz, tão decidido a recomeçar tudo com . Por que justo agora e por que justo com elas?
Eu havia ligado para os pais de e , que eram os únicos com quem eu tinha contato, e eles, que estavam fora da cidade, decidiram voltar no mesmo segundo. Eles ainda demorariam algumas horas.
Depois do que pareceram ser horas de tortura psicológica e espera sem fim, finalmente vimos um médico se aproximar com a finalidade de nos dar alguma notícia.
Todos nós nos levantamos assim que o vimos se aproximar. O médico era magro, um pouco alto e aparentava seus quarenta e cinco anos. Era careca e usava um óculos nem grande nem pequeno demais. Tinha uma prancheta debaixo do braço, onde possivelmente continha as respostas para todas as nossas perguntas.
- Meninos... – ele suspirou, parando em nossa frente. – Trago notícias das suas amigas.
Só por esse tom de voz, eu tive a certeza de que não eram boas notícias. Meu corpo todo tremeu, e eu me senti não desabar por detalhe.
- Por favor, doutor – Louis olhou-o, nervoso. – Direto ao ponto.
O homem assentiu e olhou para sua prancheta por uns segundos.
- Pois bem, direto ao ponto. Tenho aqui o nome de todas elas. Acredito que nenhuma das famílias tenha chegado ainda, certo?
Assenti, afobado, e ele pareceu entender, voltando a olhar para a prancheta.
- foi a que teve mais sorte.
Todos nós nos olhamos, e eu pude sentir o alivio de Louis no ar. Isso não melhorava em nada o nervosismo que sentíamos pelas outras quatro, mas era ótimo saber que estava bem. Pelo menos uma delas.
- Ela teve apenas ferimentos leves e externos e nada muito sério, além de ter torcido o tornozelo.
Ele falava devagar e pausadamente, para ter certeza de que íamos entender. Assentimos rápido, querendo logo ouvir o resto.
- A... , ela foi um pouco pior. Bateu muito forte a cabeça e só o que a manteve acordada foi a adrenalina. Ela quebrou duas costelas, teve uma fratura no braço direito e quebrou a perna esquerda. Além da cabeça, que devido à batida pode deixar ela em um estado mais delicado por alguns dias, então a deixamos em observação. Tirando isso, nenhum dano permanente ou risco foi detectado até agora, mas minha equipe continua trabalhando muito detalhadamente com todas elas.
Fechei os olhos e suspirei. Viva. Ela estava viva, e bem. Muito bem, contando todas as coisas horríveis que poderiam tê-la acontecido. Graças a Deus, ela poderia sair em alguns dias e eu poderia cuidar de minha namorada com as próprias mãos, tendo certeza de que ela seria bem cuidada e bem tratada. Era um alivio extraordinário ouvir isso.
- Quando ela vai ser liberada? – foi a primeira coisa que saiu de minha boca, e senti minha voz mais forte só em saber que ela estava bem. Mas me arrependi, me sentindo egoísta. Precisávamos saber de nossas outras amigas.
- Ela ficará em observação por alguns dias, mas será liberada assim que estiver em um estado melhor de saúde. Assim como a .
- Continua! – Harry pediu, impaciente.
O médico assentiu e olhou de novo em sua prancheta.
- A tá em um estado mais complicado, porque bateu a espinha muito forte, e ela teve uma lesão interna. Ela não consegue sentir as pernas, mas isso é temporário, porque não houveram danos irreversíveis internamente. Tirando isso, o mais preocupante são só os arranhões e hematomas externos. Ela machucou muito feio o braço direito e ficará com cicatrizes. Nós precisaremos fazer mais alguns exames, mas temos quase certeza de que ficará bem.
O alívio dessa vez foi entre todos nós. Tanto por três delas estarem bem, quanto porque agora só faltavam duas, e a esperança de que as notícias continuassem boas era muito forte. Mas estar ali, impotente, ainda era a pior sensação do mundo.
- Já e , eu temo que não tiveram a mesma sorte. – ele falou e, com essa única frase, a esperança se foi. - estava do lado de onde veio a pancada, que a atingiu em cheio, e por esse motivo ela teve traumatismo craniano. – Ele balançou a cabeça, parecendo pensar sobre sua paciente, com quem tenho certeza que teve contato há poucos minutos.
Abaixei a cabeça outra vez, e só nesse momento percebi que nós cinco já estávamos tão perto uns dos outros que só faltava que nos abraçássemos para parecermos com a banda de 2010 esperando pelo resultado do The X Factor outra vez. Abracei Zayn ao meu lado pelos ombros e apertei seu ombro.
- E apesar dos nossos esforços, não temos previsões de quando ela vai ficar bem, mas há quinze minutos nós conseguimos com que ela ficasse fora de risco de morte. Mas ela ainda está na UTI.
Eu não conseguia processar muito bem tudo aquilo. Não conseguia imaginar em uma maca na UTI.
- E a ? Como ela está? – Niall perguntou, afoito.
- ... Bem, ela não estava usando cinto, e além disso o air-bag do seu lado não abriu. Então, ela bateu muito forte no painel, e... – Ele suspirou. - Bem, resumindo, precisamos induzi-la em estado de coma para podermos salvá-la, e agora ela está na UTI. Nós conseguimos salvá-la por pouco. Ela ainda corre risco, os ferimentos externos foram muito graves, ela perdeu muito sangue... E... Há uma possibilidade de que, caso acorde, ela não consiga mais andar. Nós estamos tentando de todos os modos possíveis mantê-la conosco, mas ainda assim, é um quadro muito grave, e mal conseguimos mantê-la estabilizada.
Niall fungou, e depois grunhiu como quem está extremamente esgotado de notícias ruins. Abaixou a cabeça e levou as mãos ao rosto outra vez, e Harry abraçou-o pelos ombros como eu fiz com Zayn. Por algum motivo, nós esperamos que o médico falasse algo a mais. Um “porém” que fosse, que nos desse mais esperanças. Mas depois que percebemos que não havia porém, eu voltei a falar:
- Nos disseram... nos disseram que havia uma morte, lá no local do acidente...
- Sim, hum... Infelizmente o homem que dirigia o caminhão não sobreviveu.
Assenti, me sentindo terrível por ter sido algo tão grande e trágico. E mais terrível ainda por estar feliz porque não foram minhas amigas.
- Nós vamos arcar com todos os custos. Chamamos as famílias delas, e vamos conversar sobre tudo isso depois, mas por favor, não se preocupe com dinheiro. Faça tudo, tudo o que estiver em suas mãos para salvar e dar todo o conforto possível à e as outras. Por favor.
Ele assentiu, e voltou a colocar a prancheta embaixo do braço.
- Nós iremos. Estou cuidando pessoalmente de e , e farei todo o possível para que elas continuem conosco.
- Obrigado. – Murmurei.
O médico assentiu mais uma vez, e então, depois de dar uma última olhada em todos nós, se afastou. Olhei para os garotos, e todos eles estavam tão transtornados quanto eu provavelmente parecia também. Em seus rostos era possível ver o cansaço, a tristeza, o alívio, a culpa, saudade, pesar e nervosismo. Zayn deu algumas voltas, olhou para os lados, parecia desolado. Porém, não soltou uma palavra, e depois tudo o que fez foi ir para o corredor e seguir até o banheiro do hospital, provavelmente para poder ficar sozinho por uns minutos. Harry tentava ajudar Niall, que estava completamente desesperado, ainda não conseguindo parar de chorar. Eu o entendia, afinal, maldita hora em que tudo resolveu acontecer. Principalmente para ele. Eu mal conseguia respirar, tamanho o nó em minha garganta, também.
Louis estava afoito, e andava para lá e para cá, olhando no relógio e mexendo nos cabelos e colocando e tirando as mãos dos bolsos. Eu apenas sentei, e fiquei olhando para o teto branco sem conseguir evitar que os pensamentos vagassem por todas as questões físicas e emocionais que aquele acidente abrangia. Por alguns segundos, me sentia sem esperanças para , mas então eu logo voltava a me corrigir, porque eu precisava acreditar que ela ficaria, sim, bem! Não existia um mundo completo em que todas elas não estivessem conosco.
Depois de longas horas que pareceram se estender por dias, os primeiros pais a chegarem foram os de e , e a mãe de , que chegaram juntos. Nós nos reunimos em uma mesa grande na lanchonete do hospital em plenas duas horas da manhã de uma segunda-feira para conversarmos. Os pais de chegaram logo depois, e os pais de não puderam estar lá porque estavam na América a trabalho. Ligamos para eles, e deixei que Louis contasse tudo, inclusive que estava fora de risco e fora a menos atingida pela batida.
A mãe de era a mais abalada. Ela mal conseguia falar por estar chorando tanto, e comecei a desconfiar de que não era apenas a questão do acidente que estava provocando isso quando ela comentou que ia ligar para a filha para contar que estava se divorciando do marido. E agora, tinha a chance de perder uma filha também. Senti muita pena da mulher.
O pai de fez muitas perguntas, e tentamos responder todas as que podíamos. Nós conseguimos entrar em um acordo, e pagaríamos o hospital para todas, mas os pais de , e decidiram que, sendo assim, qualquer coisa que as garotas chegassem a precisar depois seria por conta deles. Nós aceitamos, afinal, era justo. Mas a sensação de impotência era tão grande, que eu nunca me sentira tão inútil. Era terrível ter a conta bancária transbordando dinheiro e não poder fazer absolutamente nada por minhas amigas. Naquele momento, mais do que em qualquer outro momento de minha vida, eu entendi que dinheiro não podia comprar tudo, de verdade.
Harry’s POV
Niall finalmente dera lugar ao cansaço depois das cinco da manhã, então Lou indicou que o levassem para casa. Eu achei que quando acordasse em casa, ele poderia entrar em pânico por ter sido levado para longe de , mas achei melhor ficar quieto.
Eu não conseguiria dormir de qualquer jeito, então deixei para Liam a função de levá-lo para casa e ficar por lá por um tempo. Zayn dissera que não levantaria daquele banco enquanto não pudesse vê-las, e eu o acompanhei. Nós estávamos perto da praça de alimentação, porque éramos uma turma bem grande e não podíamos lotar a recepção. Era duro e desconfortável ali, mas eu pouco me importava.
Depois de uma longa noite de espera, foi só às sete da manhã que voltamos a ter alguma notícia.
- e já podem ser visitadas. – um enfermeiro nos disse.
Como Liam ainda não havia chegado, foram Mary e Peter que foram visitar , enquanto eu ligava para Liam para avisar. Ele disse que já estava no carro a caminho do hospital. Eu entrei no quarto para ver , que estava em algum lugar entre dormindo e acordada, dopada demais de vários tipos de remédios para sequer conseguir falar. Eu duvidava que ela fosse dizer qualquer coisa mesmo, mas mesmo assim segurei sua mão e fiquei lá por um tempo, me sentindo a coisa mais inútil da face da Terra, não podendo fazer nada além de ver o sofrimento de minhas amigas. Louis foi ver assim que chegou, e eu e Zayn esperamos. Ao vermos o mesmo enfermeiro passar por nós de novo, eu o chamei.
- E quanto às outras?
- Hum – ele olhou em uma prancheta pequena que carregava consigo. – Estou sendo chamado para o quarto de agora, ela acaba de acordar.
- Eu sou o namorado dela, posso vê-la?
- Ainda não, eu sinto muito. – ele balançou a cabeça – Ela está muito agitada.
- E ? está bem?
O rapaz negou com a cabeça.
- Não sei dizer, eu não estou trabalhando com ela. A UTI está cheia demais.
Zayn se desanimou e voltou a sentar no banco, enquanto o enfermeiro se afastava corredor adentro. Segui seus passos com os olhos, mas virei para olhar para Zayn quando ele resmungou algo.
- O quê?
- Vai logo atrás dele que é o que você tá pensando!
Sorri e bati em seu ombro, levantando e indo atrás do enfermeiro. Segui-o por alguns metros corredor adentro, virando em alguns lugares, até chegar ao tal quarto. Algumas pessoas me olhavam torto, provavelmente porque eu não devia estar ali. Fiquei em frente à janela de vidro quando ele entrou no quarto e fechou a porta, e de lá eu tinha uma boa visão dela.
estava ligada ao soro em seu pulso, e estava um pouco pálida com vários hematomas no rosto. Seus cabelos estavam bagunçados e sem vida, e ela parecia doente. Quando o enfermeiro foi até ela na cama e checou seu soro, ela pareceu retomar um pouco mais a consciência e olhou-o, assustada. E eu reconheci aquela expressão. Ah, droga.
sentou na cama abruptamente, e apesar de não conseguir ouvir, ela parecia confusa enquanto falava alguma coisa, e ele levantava as mãos pedindo que ela se acalmasse. desistiu de tentar falar e levou as duas mãos ao rosto, mas ele abaixou seu braço com o soro outra vez para que não escapasse. Ela começou a negar com a cabeça, e a chorar, e ele tentava acalmá-la, mas não estava funcionando, e os fios ligados ao corpo dela estavam só causando mais pânico. Eu sabia muito bem que sem que você tivesse pelo menos seis meses de treinamento de como lidar com , você não conseguiria acalmá-la de maneira alguma. Aquilo ali só ia piorar tudo.
queria saber das meninas, provavelmente. Ela também estava meio grogue por estar sob efeito de remédios, e provavelmente devia estar com a mente bagunçada, confusa. Ela sempre acordava exaltada daquele modo durante as férias ou antes disso quando tinha pesadelos.
Dei algumas batidinhas no vidro, e o enfermeiro me olhou. De primeira, ele fez cara feia para mim, mas depois que entendeu que eu estava fazendo gestos que significavam “me deixe entrar”, ele veio até a porta e a abriu.
Passei reto pelo cara sem ao menos me preocupar em não poder entrar, ignorando seus protestos, e fui até a cama. Eu fiquei um pouco preocupado em abraçá-la e poder machucá-la, já que não sabia onde ela sentia dor. Mas o fiz mesmo assim, com cuidado, e assim que me reconheceu ela pareceu ficar aliviada.
- Harry... – a voz dela, entre o choro, saiu como um sussurro quebrado e fraquinho.
- Eu estou aqui, amor. Vai ficar tudo bem. Tudo bem. – falei, também baixinho para ela.
- Eu estava... com tanto... com tanto medo... que ninguém soubesse da... da gente! – Ela chorou baixinho, a voz tremula e rouca.
- Shhh, tudo bem. Nós encontramos vocês... Nós estamos aqui, todos nós.
- As g-garotas? – ela perguntou, sua voz falhava tanto que eu me perguntei se ela estava com dificuldade em falar.
- Elas... estão todas vivas, . Todas vivas, e aqui no hospital.
- V-vivas, Styles? – Ela protestou.
Sorri com o sobrenome e me afastei para olhar em seu rosto. Deus, eu estava tão grato em ela estar bem! Eu não podia estar mais aliviado. Sabia que amava , a amava muito, mas nunca dei tanto valor àquele amor até aquele momento, quando tive tanto medo de perdê-la. Sentei na ponta da cama, e ela franziu o cenho para mim. Fiz o mesmo gesto para ela, mas com um ar mais brincalhão.
- Teve um sonho ruim, amor? – passei o polegar em sua bochecha, em cima de um curativo pequeno. Seu rosto estava cheio deles.
Por um momento, desviei sua atenção e ela pareceu pensar nisso por um tempo.
- Sim. – disse, em um sussurro. – Um pesadelo. Eu não conseguia acordar dele nunca. Acho que me deram muitos remédios.
- Agora eu estou aqui, e nada vai te assustar. – sorri. – Eu prometo.
Ela assentiu devagar com a cabeça e me olhou outra vez.
- As garotas?
- Estão bem. e estão acordadas também. Mas todas vocês precisam ficar em observação por um tempo. e ... elas... estão mais machucadas. Elas ainda não acordaram, mas estão fora de risco. – Contei. Eu havia diminuído muito as coisas, é claro, mas a última coisa que ela precisava era ficar assustada, como nós estávamos.
Ela pareceu tentar fazer uma objeção, mas o som não saiu. Então, deu uma tossidinha que pareceu exigir mais esforço do que era necessário e eu fiquei preocupado. gemeu, e olhei para o enfermeiro, que observava a cena e se aproximou um passo, mas não interferiu em nada.
- Como está se sentindo? – perguntei.
pensou nisso também por um tempo, parecendo avaliar sua situação, lembrar que também estava machucada. Um segundo, e todo o resquício de tranquilidade que surgira em seu rosto sumiu. Ela franziu as sobrancelhas e olhou para a cama.
- Eu... eu não... – ela levantou a cabeça e olhou para o enfermeiro. – Por que eu n-não estou sentindo minhas pernas?!
Levantei da cama e cheguei perto dela outra vez.
- Tudo bem, .
- Não, Harry. Eu não estou sentindo... as minhas... p-pernas. Não consigo... mexer.
- Tudo bem – o enfermeiro disse, se aproximando. – É temporário. Nós já fizemos todos os exames. Nenhuma lesão irreversível, você vai sentir suas pernas progressivamente outra vez ao longo das próximas horas. Bateu muito forte a espinha, mas teve sorte. – Ele assentiu. – É certeza absoluta. Fique tranquila.
Ela pareceu ficar um pouco mais relaxada nessa hora, mas ainda estava nervosa. Passei a mão em seu cabelo bagunçado, descendo o carinho levemente pelo seu rosto pálido, passando o dedo sobre os arranhões e curativos. Suspirei. Vê-la ali, poder tocá-la, era tão bom.
- Eu estava tão preocupado – sussurrei, me aproximando de novo e tocando os lábios em sua testa. segurou meu braço, agarrando-se à minha camiseta com a mão. – Sinto muito que tudo isso tenha acontecido com vocês, .
- Obrigada por estar aqui – ela disse baixinho, e a beijei novamente me afastando dela.
- Odeio interromper, de verdade. – O enfermeiro falou. - Mas agora você precisa descansar. Mais tarde pode receber visitas outra vez, e já se sentirá um pouco mais sóbria. Mas agora, realmente precisa dormir, isso é essencial para a sua recuperação. – Ele avisou, e ela apertou mais minha camiseta.
- Ele está certo, . – falei, me abaixando do lado da cama e ficando perto de seu rosto, segurando a sua mão que antes agarrava minha blusa. – Eu vou estar aqui quando você acordar, eu prometo. Pode ficar tranquila, tudo está bem.
suspirou, e então assentiu meio de mal gosto.
- Tudo bem.
Assenti também, e passei as mãos em seu cabelo. Dei outro beijo em sua testa, e sentei em uma pequena poltrona ao lado da cama.
- Posso ficar aqui por um tempo? – perguntei ao enfermeiro, e ele suspirou fazendo careta. Se aproximou um pouco de mim depois de olhar para a janela do quarto.
- Só se você me der um autógrafo mais tarde. – Ele falou, baixinho, e riu fraco na cama. Ri também, e ele olhou para ela. – E descanse! Eu falo sério. Sem mais conversa!
Assenti.
- Vou garantir que ela se comporte.
Ele suspirou, sabendo que provavelmente era melhor que eu estivesse ali para acalmá-la mesmo. Foi até a janela e fechou a persiana.
- Preciso atender a outra paciente, volto aqui mais tarde. – ele disse, indo para a porta. Antes de sair, apontou para . – Descanse!
Ela assentiu e ele saiu.
tentou se ajeitar e trocar de posição na cama, mas parecia estar dolorida.
- Precisa de ajuda?
- Eu consigo – falou, e continuou se virando.
Mais alguns segundos e, com o que pareceu ser um monte de lugares do copo doendo, ela conseguiu virar quase que de lado para mim. Respirava com dificuldade.
- O que dói, ?
- Quase tudo. – ela gemeu. – Parece que meus pulmões se comprimiram em um saco plástico amassado e não conseguem arranjar mais lugar para ficar.
- Eu sinto muito. – olhei-a. – A última coisa que eu queria era chegar em Londres e te ver nessa cama.
Ela pensou por um tempo, enquanto me olhava nos olhos.
- Queria me ver na sua cama? – sorriu de canto.
Eu ri.
- Está bem até para fazer piadinhas? Já me sinto mais aliviado.
Ela riu, mas fez careta no final pela dor. Ficou mais um longo tempo quieta, apenas olhando para mim e eu para ela. Seu olhar se perdeu, saiu de foco por um tempo, e eu conseguia quase imaginar o que se passava naquela cabecinha. Depois, ela decidiu fechar os olhos e tentar dormir. Ficou assim por alguns segundos, e quando ficou silencioso demais ela estendeu um braço para mim.
- Pega minha mão, Harry.
Peguei sua mão e sentei na ponta da poltrona. Segurei-a com as duas mãos e beijei seus dedos.
- Descansa, .
Ela sorriu minimamente ao ouvir minha voz, e depois disso caiu no sono em instantes.
Louis’ POV
Assim que entrei no quarto de , seus olhos caíram sobre mim. Voltei o mais rápido possível para o hospital assim que Harry avisou que ela estava recebendo visitas, mas mesmo assim eu ainda demorei tempo demais. Ela pareceu quase feliz em me ver, aliviada. Lancei um olhar para a enfermeira que estava na porta, e ela saiu fechando a mesma atrás de si.
Andei a passos largos até a cama, e ela suspirou e virou o rosto para o outro lado, quase bufando.
- Deus, com você pode ser tão maravilhoso?
- O quê? – sorri.
- Você é maravilhoso. Em todas as ocasiões. Isso me irrita.
Eu cheguei até ela e virei seu rosto para mim. Ela estava séria.
- Eu estou feliz em te ver também, obrigado.
- Ah, Louis! – ela suspirou pesadamente. – Você se parece exatamente com o cara que vi pela primeira vez nesse hospital há tempos atrás. Você não vê? E ainda faz meu coração disparar desde aquele dia.
- A diferença é que agora eu sou só seu, princesa . – falei, sentando ao seu lado na cama e me abaixando para beijar a ponta do seu nariz.
- Até que enfim, porque eu quase desisti de você.
- Ainda bem que abri meus olhos na hora certa – sorri, e dessa vez consegui arrancar um sorrisinho mínimo dela também.
Porém o sorriso sumiu logo depois.
- A culpa foi minha. – sua voz saiu vazia.
- Como?
- O acidente. Foi culpa minha.
- , não precisamos falar sobre isso agora. O que passou...
- Eu comecei a discussão e fiz todas as meninas começarem a brigar, e então se distraiu da estrada por um momento. Um segundo só, e aí... – ela fechou os olhos com força e virou o rosto.
- , não adianta ficar se culpando. Não foi de propósito, também errou, mas nada disso foi culpa de vocês. Mas com o tempo, tudo vai ficar bem. Ok?
Ela assentiu.
- Eu espero que sim.
- Eu sei que sim. E logo você vai sair daqui, e vai melhorar totalmente. E nós vamos poder voltar à nossa antiga vida.
Ela sorriu abertamente dessa vez.
- Parece bom.
- É. – passei a mão em seus cabelos. – É muito bom. – Disse, sorrindo para ela. Ela não tinha ideia que o que sabia sobre suas amigas era só a ponta do iceberg. Ela não tinha ideia de como e estavam. Mas não seria agora que descobriria, ela precisava primeiramente se recuperar.
- Quando vou ser liberada?
- Amanhã, eu acho. – falei, passando o dedo de leve em um corte em sua testa, e então lembrei de algo. Abaixei o olhar até seu pulso, e peguei sua mão. Levantei um pouco a manga da sua blusa e a pulseira ainda estava ali, intacta.
- You’re my sunshine, baby. – beijei seu rosto.
- Eu estou feliz por ter você, Lou.
Sorri.
- Isso é muito bom, não é?
- Eu acho que sim.
Assenti.
- , amanhã vou estar aqui para te levar para casa. Você não precisa se preocupar com nada. Eu vou cuidar de tudo para você.
- Obrigada. Eu... não tenho meus pais e também está aqui. Então acho que só tenho você.
- Tudo bem. É isso que não-namorados fazem – pisquei para ela, e ela sorriu.
- E as meninas, quando elas têm alta?
- vai ficar por mais um ou dois dias, e um pouco mais. e , nós ainda não sabemos. – suspirei e balancei a cabeça.
Ela pareceu ficar triste outra vez, e assentiu.
- Eu acho que botaram mais remédios no meu soro. Estou com sono. – ela disse, fechando os olhos.
- Dorme. Eu só queria vir e ter certeza de que você estava bem. Amanhã nós vamos para casa, e vou cuidar de você.
Ela assentiu, ainda sem abrir os olhos.
- Amanhã.
- Amanhã. – beijei seus lábios com cuidado e levantei. – Dorme bem, .
- Eu te amo, Lou...
A frase saiu sussurrada, e ela apagou em seguida. Mesmo assim, não consegui parar de sorrir. Suas palavras ficaram ecoando pela minha cabeça por um bom tempo.
Niall’s POV
Eu estava esgotado. Não conseguia lembrar da última vez que comi, ou até mesmo que senti fome. Dormir, nem pensar nos últimos dois dias. Eu não conseguia descansar ou relaxar com aquela agonia crescente dentro de mim. e agora estavam fora da UTI. estava no estado que os médicos chamavam de “estável” enquanto estava mais para “vegetativo”. Isso doía tanto, tanto em mim que às vezes era como se meus músculos se retesassem até quase me esmagar por dentro.
Não fomos permitidos a ver as duas até hoje de manhã, quando recebi a boa notícia de que e podiam receber visita uma vez por dia a partir de agora. Antes disso, o médico nos explicou que estava, mesmo que muito lentamente, dando sinais de progresso. Sua atividade cerebral estava, aos poucos, começando a dar sinal de melhoras, o que podia vir a ser uma ótima notícia, dependendo dos resultados das próximas semanas.
Mas apesar disso, não dava sinal algum de possível melhora ou mesmo atividade cerebral. Eles a induziram àquele coma para poder salvá-la dos outros danos internos e externos. Nos primeiros dias tudo fora uma grande correria, e a cada momento mais algum problema estourava. Quando eles conseguiram recuperá-la da perda de sangue, ela teve hemorragia interna e precisou passar por uma cirurgia. Depois seu corpo começou a rejeitar o sangue, e a transfusão precisou ser interrompida imediatamente. Levou tempo até que eles conseguissem estabilizá-la, mas agora que haviam conseguido, eles não conseguiam mais tirá-la do coma. E isso não era nem de longe uma notícia boa.
- Vamos lá, grandão. – Zayn bateu em minhas costas quando nós dois estávamos prestes a entrar nos quartos das meninas. Ele entrou no de , ao lado do de , mas eu ainda hesitei por algum tempo antes de girar a maçaneta. Não sei se estaria pronto para ver tudo o que eu mais queria na vida preso a uma cama de hospital.
Ao entrar, tomei bastante fôlego e fui até a cama, sentando em uma cadeira ao seu lado. Seus cabelos estavam em um tom de ruivo vívido que eu não havia visto antes do acidente, mas apesar disso eles não brilhavam tanto quanto costumavam. Sua pele, horrivelmente pálida e sua respiração quase invisível aos meus olhos. Além, é claro, dos hematomas em seu rosto, cortes profundos e arranhões, provavelmente da pancada no painel do carro.
Pelas poucas vezes em que tive a chance, eu pude perceber que ver dormir era minha atividade preferida no mundo. Mas isso era bem diferente, era perturbador, triste. Me matava. Saber que ela estava ali, mas ao mesmo tempo podia estar tão longe de mim.
Então imaginei se teria algo ao meu alcance que pudesse ajudar a fazê-la melhorar. Decidi que talvez ajudasse conversar como se ela estivesse comigo, afinal as pessoas diziam que energias positivas eram boas nesse tipo de situação.
Apesar de não saber como exatamente, peguei sua mão e comecei a falar:
- Ei ... – passei meu polegar no dorso de sua mão, sem ter ideia de como dizer tudo aquilo que eu sentia. A verdade é que eu só queria conversar com ela. Mesmo que fosse como nos velhos tempos, em que ela era minha melhor amiga no mundo, e não passava disso. Cara, o que eu não daria para ter aquilo de volta. – Sabe de uma coisa? Eu te vi pela primeira vez em um lugar como esse... – fechei os olhos, lembrando de absolutamente tudo que nos trouxe até aqui, e tendo certeza que eu soube dentro de mim que estava olhando para a garota da minha vida quando a vi pela primeira vez. E meus olhos umedeceram outra vez. Abri-os e voltei a olhar para ela, tentando sorrir. – e não quero te ver pela última.
Funguei, me sentindo esgotado outra vez. Pesando o mundo em minhas costas.
- Eu não quero te perder, não justo agora que percebi que não posso viver sem você. Não agora que decidi voltar para você e fazer tudo entre nós dar certo. Não quando eu percebi que, se não for você... não vai ser mais ninguém.
Mesmo se estivesse acordada agora, não entenderia o que eu falava. Minha voz estava muito embargada e o choro não facilitava em nada. Para que fingir ser forte, se todo mundo sabia que eu era tudo menos isso? Quando se tratava dela, eu era a pessoa mais fraca do mundo. Sempre foi assim.
Sequei meu rosto com as mãos e respirei fundo, tentando me recompor. O bipe insistente do monitor cardíaco insistia em me informar que seu coração ainda batia da mesma forma de antes, como se ela nem estivesse ali, como se não estivesse ouvindo, como se eu fosse um palhaço por achar que tenho chance. Mesmo assim, decidi ignorar.
- Ah, claro. Eu trouxe algo para você. Algo que precisava te entregar há algum tempo. Ou melhor, algo que nunca devia ter pegado de volta.
Peguei o pequeno objeto do meu bolso com cuidado. Olhei-o por um tempo, estava tão bem cuidado que parecia de verdade. O pequeno anel improvisado tinha um pequeno galhinho agora seco e amarelado enrolado a um finíssimo arame, trançado com cuidado para que não a machucasse. Peguei sua mão e recoloquei o anel em seu dedo, deixando um beijinho em cima dele.
- Agora você me tem por perto o tempo todo – falei a ela. – Eu vou estar sempre aqui. Esperando por você. Tudo bem?
Por um segundo, fiquei quieto, mas então balancei a cabeça e ri. Ela não tinha como responder, babaca.
A porta se abriu atrás de mim e uma enfermeira entrou no quarto.
- O horário de visita acabou por hoje.
Assenti e me levantei, colocando sua mão em seu peito outra vez.
- Em alguns dias, ela poderá ser visitada com mais frequência e por mais tempo.
- Obrigado – assenti e saí do quarto. Apesar de tudo, agora eu me sentia mais relaxado pelo menos para me permitir ir para casa e descansar por algumas horas. E foi o que fiz.
Zayn’s POV
Um baque de algo caindo atrás de mim me assustou e me virei para ver. suspirou pesadamente e colocou uma mão na cintura, olhando para sua bolsa no chão.
- Eu pego, . – fui até ela e peguei a bolsa do chão, e me levantei oferecendo o braço para que ela se apoiasse. – Dói muito?
Acompanhei-a devagar enquanto ela dava passos cuidadosos até a porta de casa.
- Eu não posso respirar muito forte. – ela sorriu e balançou a cabeça. – Minhas costas me matam e essa costela trincada parece uma faca afiada aqui dentro.
- Sinto muito – ajudei-a a subir os dois degraus e fui com ela até o sofá.
- Eu até que tive sorte. – ela disse, depois de fazer um tremendo esforço e sentar no sofá. – Ah, Zayn, me sinto cansada o tempo todo.
- Ainda são os resultados dos remédios. passa o dia dormindo pelos remédios que toma para a cabeça.
- As duas estão mesmo bem? Por que eu fui a última a voltar para casa? – ela perguntou, procurando por algo na bolsa.
- está quase curada, mas a precisou ficar em observação por uns dias, porque, você sabe, como ela bateu a cabeça corria o risco de sofrer um traumatismo craniano também. Mas agora ela já está fora de qualquer risco, e tirando a dor está ótima, assim como você.
Ela concordou com a cabeça e abriu um espelhinho, olhando seu reflexo e fazendo uma careta.
- Eu fiquei com tanto medo quando não consegui mexer as pernas. Eu pensei logo no pior... Ainda bem isso tudo já passou. – ela passou as mãos em cima de um dos cortes em sua testa. Fechou o espelho e me olhou. – Como você está?
- Eu? Bem, estou melhor que vocês.
- Não assim, Za. Você sabe. Aqui – ela apontou para meu peito.
Sorri fraquinho.
- Não é fácil... – balancei a cabeça. – Ver todas vocês assim, e pensar que eu não pude fazer nada. E que talvez as meninas... que talvez elas... você sabe. – suspirei e abaixei a cabeça. – não está dando sinal, e o Niall... e todos nós... Isso é difícil, .
Ela concordou com a cabeça.
- Ela é minha melhor amiga. – ela disse, baixinho.
Ficamos em silêncio por um tempo, mas decidi que aquele clima não faria bem a ela.
- Mais alguns remédios para a nossa farmácia pessoal, e... espero que tenha trazido minha namorada viva para casa, Zayn Malik. – Harry finalmente voltou da farmácia e fechou a porta com o pé, provocando um baque.
- Sã e salva. – falei, assentindo para ela.
- Muito bem – ele soltou a sacola com os remédios que o médico receitou na estante junto com a chave do carro e parou para pensar por um segundo. Harry e Liam eram os que mais estavam trabalhando para que nada saísse do controle, ou... ninguém enlouquecesse.
Louis se trancou em sua bolha com e de lá nenhum dos dois saíram. Eu e Niall, bem, eu não servia para nada e Niall não queria tirar os pés do hospital nem para ir tomar banho em casa. Pensando bem, a única coisa útil que fiz em dias foi trazer para casa.
Depois que finalmente pudemos ver as meninas no hospital, o tempo começou a passar muito mais rápido. O silêncio ainda era estranho, mas agora, com mais três vozes femininas, por mais que meio ausentes na maior parte do tempo, era muito mais fácil aguentar aquilo tudo.
Por mais que nenhuma das vozes fosse a que eu mais necessitava ouvir.
- Onde estão os outros? – perguntou, tossindo fraquinho.
- Liam está ajudando em algo no quarto, o Louis foi para casa tomar um banho e pegar algumas roupas para nós todos, e está dormindo. E eu... – Harry olhou no relógio do celular. – preciso fazer comida agora.
- Alguém está pagando vocês por tudo que estão fazendo pela gente? – sorriu ao me perguntar.
- Você sabe que não temos problema nenhum. Eu enlouqueceria se estivesse longe daqui sem poder fazer nada. – Balancei a cabeça.
- E quanto ao trabalho? Vocês são mundialmente famosos, não é possível que possam simplesmente largar mão de tudo para nos ajudar por tanto tempo. Além disso, a gente tem família, sabe.
- Nós tínhamos esse mês de férias, antes da turnê começar de novo na Austrália, . Só o que precisamos desmarcar foram algumas entrevistas e shows e nossas viagens para visitar nossa família. E de livre e espontânea vontade, antes que você ache que são as culpadas.
Ela riu.
- As nossas fãs também se preocupam com vocês. Mais até do que eu imaginava.
- E quanto à serie de ?
- Eles pararam de gravar. Entraram em um tipo de hiatus e vão esperar para ver o que acontece agora. Está todo mundo com medo de que... a serie acabe como Glee. – suspirei.
- Não vai. Porque vai ficar bem, ela não está melhorando cada dia mais?
- Está, sim. Ela está dando fortes indícios de atividade cerebral.
- Ela está lá, Zayn. Só se recuperando o suficiente para voltar para nós, e, a partir daí, tudo vai ser diferente para vocês dois. Eu tenho certeza.
Sorri para , desejando profundamente que ela estivesse certa.
- Tomara.
Harry’s POV
[N\A]: Esse POV é escrito pela Maria Vitule, que ganhou a “promoção” feita no grupo fechado da IBHBYS no Facebook.
A lua tardara a aparecer, mas já brilhava no céu num holofote sobre nós dois.
Ao sairmos do carro, resmungava pela terceira vez em cinco minutos.
- Mas por que tivemos que vir à noite? - perguntou, arrastando-se pela calçada – Não é como se fosse um jantar romântico. É só você entrar lá e me ensinar algumas coisas, simples assim.
- Eu quis reservar a academia para nós dois – dei um sorriso. – Então quando você dominasse o esporte totalmente e ganhasse de mim, eu não me sentiria tão humilhado quanto estaria na frente do meu treinador.
- Boa tentativa.
Já passavam das oito horas, e tudo estava mais silencioso por ali. A maioria das pessoas estaria em alguma festa ou, no máximo, em casa num sábado à noite como aquele. Ninguém jamais imaginaria que Harry Styles e sua namorada estariam na porta de uma academia de boxe, prontos para passarem a noite socando sacos de areia. O programa perfeito para a namorada perfeita.
estava se sentindo mais segura depois de seus hematomas do acidente começarem a curar, e como seu médico indicou que ela fizesse alguma atividade física que não forçasse demais para que a dor melhorasse, eu achei uma boa ideia ser seu personal trainer.
Peguei o molho de chaves que o treinador me confiara e fiquei procurando a chave com a descrição que ele fizera: pequena, com o cabo preto. Tudo bem, ali havia pelo menos três pequenas de cabo preto. Tentei a primeira: sem sucesso. A segunda: sem sucesso. A terceira entrou, mas ficou emperrada ali e não ia nem para frente, nem para trás. Que ótimo. Ouvi rir atrás de mim.
- Precisa de ajuda?
Pigarreei e me movi para frente da fechadura, esperando que ela não visse o que eu havia feito. Merda.
- Harry.
Olhei para trás, e ela ainda estava rindo. Olhou para minhas mãos, que ainda estavam na tentativa de puxar a chave. Ela se aproximou e as empurrou dali, assumindo o controle. Com um simples movimento, a chave saiu.
- Como... – olhei para ela – O que...
- É jeito. Deixe eu ver esse molho.
- Hum – resmunguei e o passei para ela – Ele disse chave pequena com o cabo preto. Nenhuma dessas três aí funcionou.
- Essas aqui não são pretas, são azuis. – ela analisou o molho e pegou uma chave maior, inteiramente preta e a colocou na fechadura. Entrou facilmente. Meu queixo caiu. – Pronto.
- Essas aí são pretas. – tudo o que consegui dizer. Com certeza, não eram azuis.
- São azuis. Azul marinho, não preto. Tá vendo?
Eu não estava vendo, mas não importava. Eu não começaria uma discussão por causa da cor de uma chave. Embora eu só descobrira naquele instante a habilidade com chaves que ela tinha.
Na academia, já estava tudo pronto. Os equipamentos, os sacos e algumas garrafinhas d’água alinhavam-se na prateleira em frente ao colchão em que e eu iríamos treinar. Peguei um colete, duas luvas e um rolo de atadura. Olhei para ela, que observava tudo com apreensão. Eu tinha de convencê-la de que boxe era algo legal, porque ela parecia a ponto de sair dali. Pedi que ela se aproximasse, e quando ela o fez, ofereci a ela o colete.
- Cadê o seu? – perguntou, torcendo o nariz para o colete.
- Não preciso de colete. – ela olhou feio para mim, e percebi que aquilo não estava dando certo. – Vamos, você só vai aprender algumas noções básicas de boxe.
- Se eu só vou aprender algumas noções básicas, também não preciso de colete. – rejeitou o colete, e virou-se para as ataduras – Pra que servem essas?
- ...
- Chega de colete! – interrompeu, colocando as mãos para cima, como em rendição – Se for para eu usar um colete, você também usa.
- Não.
Sim. É claro que sim. Alguns minutos depois, ambos estávamos de colete, radiante, eu já querendo bater num daqueles sacos. A noite seria longa.
- Tudo bem, me dá sua mão – ela estendeu a mão, e peguei a atadura. – Tanto a atadura quanto as luvas servem para amortecer os impactos. E esse colete aí – apontei – também serve para aliviar os golpes. Por isso é importante usar.
- Harry, eu não sou uma criança. Além disso, ninguém usa colete.
- Nós usamos. – ela ficou quieta, então continuei - Meu treinador me ensinou a enrolar a atadura começando com o polegar, lembrando de enrolar sempre no punho e nas costas da mão entre os dedos. – enquanto eu explicava, fazia exatamente o que dizia. Em alguns segundos, a mão dela estava enfaixada – Está firme?
- Acho que sim – ela mexeu os dedos – Isso é esquisito.
- Eu sei. Vamos colocar as luvas agora.
Depois de colocar luvas, tirar, escolher outra cor, colocar de novo, discutirmos sobre a utilidade das ataduras sob as luvas, finalmente estávamos prontos para eu ensinar a ela alguns golpes básicos. ainda tinha dor no corpo, então nós íamos pegar leve. Ficamos sobre o colchão, e pude notar como ela estava linda como jogadora de boxe. Com os cabelos presos num rabo de cavalo, o moletom meio caído, as luvas vermelhas em frente ao rosto. Sem perceber, passei a fita-la com um sorriso.
- O quê?
- Hã?
- Que foi?
- Nada.
Fiquei a encarando mais um tempo, que me olhava com o cenho franzido. Só depois de alguns segundos percebi o que estava acontecendo. Eu era um idiota.
- Ah! Desculpe. Coloque as mãos no queixo. – ela aproximou as mãos do queixo – Isso. Você está agora em guarda alta. Você deve golpear sempre em guarda. Não se esqueça. – assentiu, sem falar nada – Tudo bem, vamos ver algum golpe. Eles devem ser rápidos, fortes e objetivos, então nunca abra demais a guarda, entendeu? –balançou a cabeça – Então, o braço não abre, nem o ombro. Fica tudo retraído. Você desfere o golpe e volta para a posição de guarda o mais rápido que puder. Acha que consegue?
- Não.
- Vamos tentar um golpe só.
- Harry, eu não entendi um terço do que você disse até agora. Parei de acompanhar na guarda alta e sei lá o quê. Não acho que vai dar certo.
- Vamos usar um golpe para preparo, tudo bem? Se chama Jab, e ele não precisa de muita abertura da sua guarda, porque é um golpe rápido. Dependendo se for destro ou canhoto, a mão é contrária a que você escreve. Quer tentar?
- Harry... – choramingou.
- Vamos, vai. Você vai pegar o jeito rapidinho.
Mas não pegou. esquecia de voltar à guarda, ou era lenta demais no golpes. Tentei fazê-la desferir outros golpes, como um golpe direto ou cruzado, que eram mais complexos, mas eu tinha a esperança de que ela desse sorte. Não deu.
- Olhe, você tem que se movimentar nas ponta dos pés, lembra? Flexione os joelhos – pedi. – Para frente e para trás. Vamos, não é difícil.
Acho que não deveria mais usar essas palavras, porque o que se seguiu após elas não era o esperado.
- QUE DROGA, HARRY! – gritou, saindo de sua posição e tentando tirar as luvas – Eu não consigo fazer essa merda, eu vou pra casa, isso é perda de tempo, e estou com dor! Como você consegue? Não quero... ARGH, ME AJUDA A TIRAR ESSA COISA – ela estava numa luta voraz com as luvas – Não preciso aprender boxe. O boxe que vá se ferrar. Harry, tira esse negócio das minhas mãos.
- , vamos conversar, olha, eu acho que você tem um talento e tanto, só precisa de mais algum tempo de treino, eu também não era ótimo quando comecei, e agora estou até ensinando, olha só!
- Eu tenho cara de idiota? – ela parou de lutar com as luvas e me encarou – Eu vi o jeito como você olhou para mim, você está decepcionado, eu sei, mas não há nada que eu possa fazer, então esquece. Tira isso das minhas mãos.
Com um suspiro, sentei no colchão e bati no lugar ao meu lado, num convite silencioso a ela para se sentar. Surpreendentemente, ela sentou e apoiou a cabeça no meu ombro.
Peguei suas mãos e tirei as luvas cuidadosamente. Assim como eu era um desastre com chaves, ela era com luvas. Estávamos quites, pelo menos por uma noite. Tirei as ataduras e logo após fiz o mesmo com minhas luvas e ataduras.
- Desculpa.
Olhei para ela, meio surpreso.
- Pelo quê?
Ela desencostou a cabeça de meu ombro e olhou para mim, parecendo cansada.
- Por ser um desastre em boxe. Eu tentei, juro que tentei.
- Sei que tentou, e isso que importa. Eu não estou nem aí se você é boa em boxe ou não. Você continuará sendo a melhor namorada.
- Eu sei.
Soltei um riso abafado e ela voltou a colocar sua cabeça em meu ombro. Ali, com ela tão perto de mim, nós dois em meio à atmosfera instável da academia, eu soube. Soube, mas já sabia. Nunca poderia pedir algo melhor.
’s POV
Em nenhum momento consegui acordar completamente, e tudo que via ou ouvia era vago. Os remédios estavam me deixando quase que completamente dopada o tempo todo, e eu me sentia exausta mesmo depois de dormir por horas incontáveis. A última memória sadia em minha mente era a de um grito ecoando no carro e um sinal vermelho em um semáforo. E então, depois disso eu apaguei e tudo que lembro é de uma dor insuportável na cabeça, não conseguir desprender minhas pernas e sirenes ao longe. E só. Eu fazia ideia do que estava acontecendo ao meu redor, mas não conseguia me livrar da tontura e da névoa em minha cabeça. A próxima vez que acordei, ainda nas mesmas condições, foi no hospital e só consegui distinguir isso pelo barulho do monitor cardíaco e o cheiro. Eu fiquei desesperada, mas, apesar de minha mente estar agitada, meu corpo não dava nenhum sinal de querer me obedecer. Então, me lembro de mais algumas repetições dessa mesma cena e então Liam. Liam foi a primeira imagem que consegui distinguir de verdade depois de tudo isso. Minha cabeça ainda doía, mesmo agora, e eu tinha alguns hematomas e cortes e pontos por todo o corpo. Não conseguia mexer a perna esquerda, e agora descobri que quebrei-a, aquela mesma que ficou presa debaixo do painel do carro. Quando fui liberada, Liam e Louis me levaram até o carro e fiquei em um estado entre dormindo e acordada até chegar em casa, comi algo que não lembro o que era e depois apaguei de novo.
Agora, depois de acordar em meu quarto e com meu namorado ao meu lado, eu fiquei absurdamente mais aliviada. Me sentia acordada de verdade pela primeira vez, e sentia muita sede e fome.
- Ei, você está online. – Liam sentou em uma cadeira posicionada ao lado da minha cama e me deu um beijo leve na testa. – É tão bom ver os seus olhos.
- Liam... – suspirei e estreitei os olhos para a luz do quarto.
- Ah, desculpe. – ele ligou o abajur e foi até o interruptor. – Desculpe, eu estava arrumando umas coisas, e não sabia que você ia acordar agora. – desligou a luz e voltou para a cadeira. – Como está se sentindo?
- Com fome. – minha voz saiu rouca.
- Eu imagino – ele sorriu e pegou um prato fundo e pequeno com uma colher em cima do meu bidê. – Harry fez um mingau ótimo. está com um pouco de dor de garganta, e a disse que não queria nada que precisasse mastigar, então...
- As meninas. - as palavras saíram automaticamente de minha boca quando ouvi seus nomes, e tentei sentar rápido demais na cama.
Uma dor lancinante atravessou meu cérebro como um choque elétrico, e fechei os olhos e me encolhi toda, gemendo de dor.
- , calma aí. – ele colocou a mão em meu ombro. – Fica calma, não se mexe tanto assim. Eu te ajudo a sentar, olha – senti suas mãos puxarem com cuidado o travesseiro, arrumando-o para que eu pudesse sentar. Me escorei com muito cuidado e abri os olhos outra vez.
- Como elas estão? – perguntei rápido, lembrando do grito assustado de antes de tudo ficar escuro.
- Poxa vida, seus remédios são fortes. – ele me olhou preocupado e passou a mão em minha testa, tirando alguns fios de cabelo desarrumados dali.
- Por quê?
- Já conversamos sobre isso duas vezes. – ele suspirou, e passou o polegar em minha bochecha. – , e estão bem e já estão aqui em casa. e estão no hospital. A , ela sofreu traumatismo craniano, mas está progredindo lentamente e os médicos acreditam que ela possa se curar quase que completamente em alguns meses.
Meu corpo todo congelou.
- Meses? – olhei-o assustada. – Quase que completamente?! Meu Deus, Liam...
- Eu sei, eu sei... – ele balançou a cabeça e remexeu no mingau. – Eu sinto muito, .
Fiquei quieta por um tempo. Como eu não lembrava de ter ouvido isso antes? Era algo que eu devia lembrar! Junto com a consciência completa vieram todos os problemas e todas as perguntas em minha cabeça, e quase preferi voltar a dormir.
- E quanto à ?
- Ela... a está em coma. – Liam falou, sustentando meu olhar com o seu, e suas palavras me atingiram com uma sequencia de pontadas em meu cérebro. Em coma. está em coma. – Não existem previsões... para que ela acorde.
A realidade caiu sobre mim como uma rocha. Dois quartos das minhas amigas estavam desacordadas no hospital, uma delas podia morrer a qualquer momento e a outra podia nunca mais voltar ao normal. E a culpa era exclusivamente minha.
Ao fechar os olhos, eu tentei imaginar uma vida em que fossemos só eu, e em uma casa silenciosa e cheia de saudade por todos os cantos. Eu podia sentir a culpa em cima de mim por todos os dias da minha vida caso alguma delas morresse.
Nós éramos um grupo. Um grupo inseparável de garotas que eram mais do que irmãs. Aquele mesmo grupo que faz jogos e come pizza nas sextas-feiras à noite, que divide sonhos, experiências, tristezas e aventuras, que passou o melhor verão de suas vidas na Grécia há alguns meses atrás, e que agora... podia deixar de existir. Por um erro meu.
As lágrimas foram uma reação involuntária a tudo isso, e depois que comecei a chorar duvidei que conseguisse parar. Ignorei a dor aguda na cabeça, o silêncio ou as tentativas falhas de Liam de me consolar. Não iam adiantar, eu não conseguia acreditar que esse filme de tragédia estava acontecendo em minha vida e a culpa era toda minha. Se eu não tivesse olhado para trás por dois segundos, todas nós estaríamos bem. Isso nunca poderia ser mudado.
- , – Liam levantou meu queixo e limpou minhas lágrimas que só faziam cair mais a todo segundo. – , ei – ele me chamou. – Chega. Para de chorar, isso vai piorar sua situação. Tudo vai ficar bem, ok? Relaxa. Não há nada que possamos fazer por enquanto. Chorar não vai te ajudar. Por favor.
Assenti. Ele estava certo. Ficar chorando e dar ainda mais trabalho só pioraria as coisas. Eu precisava pelo menos tentar ser forte, se é que para isso eu servia.
- E quanto aos... aos meus pais? – funguei e limpei o rosto.
- Eles vieram aqui algumas vezes desde que você chegou. Mary ficou aqui a tarde toda ontem, e Peter veio ver você e a hoje mais cedo quando ela chegou.
Assenti, acompanhando-o.
- O que as meninas têm?
- Nada muito sério. quebrou duas costelas e tem alguns arranhões, e sofreu uma... como é mesmo o nome? - ele pensou por um segundo. – Lesão temporária na espinha, mas já passou, e agora ela está só com uma costela trincada também. Só isso.
- E eu? – Olhei para minha perna engessada na cama.
- Você bateu a cabeça bem forte, e por isso está meio confusa e com essa dor. Também quebrou a perna... mas graças a Deus foi só isso. E você vai ficar bem rapidinho. Mas tem que comer o mingau do Harry.
Liam me fez sorrir pela primeira vez na noite, e concordei com ele abrindo a boca. Ele colocou a colher em minha boca e provei o caldo, achando muito bom para quem estava morrendo de sede e fome.
Mas nem por um momento deixei de pensar na coisa horrível que aconteceu.
’s POV
- Filho da...
- Jay! Filho da Jay. – Louis riu para mim e me impediu de terminar meu xingamento.
- Porra, Louis, isso arde pra cacete.
- Você fala muito nome assim quando sente dor ou é um novo costume?
- É pela dor mesmo. – falei, me afastando da gaze que ele encostava nos cortes em meu braço. – Por quê? Você gosta? – Arqueei as sobrancelhas para ele, sorrindo.
Ele levantou os olhos para mim e riu.
- É bem excitante, sim. Pena que você tá toda quebrada e não pode fazer nada.
- Eu ainda posso te dar um soco. – falei. – Aliás, é o que vou fazer se você continuar tão insensível.
- Você quer que eu seja sensível? Olha que eu posso ser hein, mas você pode se arrepender de ter pedido, e...
Lou levou um tapa na cabeça e eu uma pontada de dor nas costelas.
- ! – ele abaixou meu braço outra vez e parou de brincadeiras. – Eu já disse para parar com esse braço, pelo amor de Deus, quer que uma das suas costelas perfure o seu pulmão?!
- Você é tão exagerado.
- Você gosta – ele se aproximou e me beijou rápido, antes de voltar aos meus machucados.
Fiz bico quando Louis se afastou. Droga de vontade de fazer mais do que um simples beijo, mas não poder porque está toda quebrada por uma droga de acidente.
Lou continuou cuidando de meus cortes e arranhões como o médico mandou fazer duas vezes por dia e ele seguia as prescrições muito fielmente. Eu não reclamava, porque uma parte meio idiota da minha cabeça gostava de ser cuidada.
Fiquei batendo os dedos no joelho e cantarolando algo enquanto ele fazia aquilo, no quarto silencioso. Na sala, , Harry e Zayn jogavam pôquer. Eles estavam tentando, pelo jeito, porque não conseguia alcançar o baralho muito bem. voltara a dormir depois de algum tempo acordada comigo e , em que ficamos conversando sobre coisas banais em seu quarto para evitar pensar nas coisas ruins, e eu e aproveitamos quando ela apagou para decorar seu gesso. adoraria fazer isso se estivesse aqui.
O silêncio em que a casa se encontrava me lembrava de , sempre quieta e reservada em seu espaço, e cada vez que eu pensava nela uma culpa quase me matava por ter dito todas aquelas coisas momentos antes de quase morrermos. Então, eu preferia não pensar, que era justamente para evitar esse tipo de coisas.
Fui segurar um frasco de soro fisiológico que ia cair de cima da mesinha e estendi o braço, e minhas costelas reclamaram outra vez.
- , eu juro por Deus! – Louis me olhou, bravo, e colocou meu braço no lugar de novo.
- Desculpa! O negócio ia cair ali.
- Não interessa, para quieta que se cair eu pego!
- Tá bom, pai. – reclamei e revirei os olhos, indo com minha mão boa até meu colar e acariciando-o como tinha o costume de fazer. – Falando em pai, você disse que meus pais não puderam vir, não é?
- Não, mas falei com eles no telefone. – ele disse, a voz baixa por ele estar olhando para baixo enquanto recolocava o curativo em meu joelho. Depois, levantou o olhar para mim. – Eles estavam preocupados de verdade, . Não puderam vir porque estão muito longe.
- É claro. – bufei. – É claro que não.
Ele suspirou, e soltou todas as coisas na mesa.
- Pronto, já está nova em folha. Agora quer assistir um filme lá na sala?
- Yay, eu posso? – Olhei-o, incrédula. – Posso sair do quarto? Estou fora do castigo? É um milagre?
- Só por hoje, porque se comportou razoavelmente bem.
- Ótimo! – bati as duas mãos com cuidado.
- Vem, idiota – ele riu e me ajudou a levantar e fui mancando até a sala. Eu estava usando uma bota imobilizadora para meu tornozelo torcido, só para eu não terminar de ferrar com ele também.
Sentei em um canto do sofá ao lado de Harry e , e Lou sentou em um colchão no chão onde era o único espaço disponível. No outro sofá estava Zayn esparramado dormindo, então Lou ficou sentado perto das minhas pernas, segurando minha mão em meu joelho.
- Não estavam jogando pôquer?
- A gente desistiu há alguns minutos, quando vimos que não ia mesmo dar certo – disse e o Harry concordou e sorriu.
Liam apareceu na sala e se jogou ao lado de Lou no colchão, enterrando o rosto nos travesseiros e se esparramando ali. Ficou assim por algum tempo enquanto o resto de nós olhava um filme de suspense que passava na TV. Depois, ele sentou na ponta do colchão e ficou parado por um tempo.
- Preciso ir ver o Niall, pra ter certeza de que ele continua vivo.
- Talvez você devesse tentar convencer ele a vir para casa um pouco. – falei. – Ele está lá desde o acidente, quase.
- Eu sei, já tentei, mas não há o que o tire de lá. Eu vou ver se ele precisa de algo e tentar fazer ele ir para casa e pelo menos dormir um pouco lá.
- É uma boa ideia.
- Então até mais, gente. Eu vou pegar uma chave e volto mais tarde, a dormiu, mas se ela precisar de algo alguém ajuda, lá.
- Sim senhor. – Louis falou, antes que ele saísse da casa e fechasse a porta sem fazer barulho.
- Liam sempre vai ser o mais cuidadoso, não é?
- Ele sempre foi, afinal. – Harry deu de ombros.
- Você ainda vai viajar, Harry? – Lou perguntou, depois de um tempo.
- Eu estava pensando em ir para Holmes Chapel com assim que ela melhorar um pouco mais, se ela quiser, é claro. – ele olhou-a, e ela olhou-o também e depois de um tempo em que pareceram conversar com os olhos, ela concordou. Harry olhou para Lou. – E você?
- Bom, eu também queria ver se queria ir comigo. Não me sinto bem para simplesmente viajar e deixar as meninas sozinhas justo agora. – ele me olhou.
- Eu também não acho bom sair e deixar minhas amigas sozinhas quando elas mais precisam. – fiz uma careta.
- Mas se eu vou ir com o Hazza, só a e o Liam vão ficar, e tenho certeza que ele vai cuidar bem dela. Além disso, acho que Zayn também vai ir para Bradford por uns dias.
- Nós temos um show no Today Show em uma semana e meia, então só ficaremos poucos dias, na verdade. – Harry falou, amassando um pacote pequeno de batatinhas que terminara de comer.
- E se alguém tem que ficar por causa de Niall, esse alguém com certeza será o Liam. Afinal, ele também não deixaria a .
- Acho até que a mãe e as irmãs dele estão vindo para cá no fim de semana.
- Bom, então acho que tudo bem – dei de ombros. – Por mim tudo bem ir com você.
- Mesmo? – Louis me olhou, e concordei. – Tudo bem – ele sorriu.
- Vocês acham que o Liam contou à sobre o pai dela? – perguntou, e nos olhou.
Neguei com a cabeça.
- Eu acho que não. Ele nem pareceu gostar muito do cara, acho que não deve ter esquentado a cabeça dela com essas coisas agora.
- Afinal, por que o cara resolveu do nada voltar para a vida dela agora? Uma pessoa que passou dezenove anos sabendo que tem uma filha e nunca teve a boa vontade de procurá-la, não ia mais fazer isso agora. – Lou comentou.
- Eu também acho, e acho que é isso que mais intriga o Liam e a todos nós. Até mesmo ela. Afinal, eles são totalmente estranhos um para o outro. E do nada, o cara vem visitar a filha porque ela sofreu um acidente? Eles nunca nem sequer conversaram!
- Ele me pareceu estranho... – Harry comentou.
- Seja o que for, eu acho que Liam fez bem em não ter contado agora, que ela recém está retomando a consciência.
Concordei, e roubei algumas batatas do outro saco que Harry abrira, voltando minha atenção ao filme na TV.
’ POV
- Eu estou ficando enjoada – reclamei, fechando os olhos e sentindo o balanço do carro com mais intensidade.
- Você não pode vomitar no meu carro, docinho.
- Vai se ferrar, Harry – sorri.
- Nós já estamos chegando.
- Pode me dizer outra vez o que foi que você falou com os meus professores?
- Eu disse – ele parou por um momento para olhar pelo espelho e parou em um semáforo – o primeiro pelo qual passamos ao entrar na cidade -, já que Harry não sabia fazer duas coisas ao mesmo tempo quase nunca. – que você vai receber todos os trabalhos e matérias em casa durante essa semana, porque não pode estar se deslocando ou se movimentando muito por enquanto. E eles disseram que tudo bem.
- Até o Jonathan?
- Eu não sei quem é Jonathan, .
- O professor de arquitetura histórica. – me virei melhor no banco do carro. – ele é muito rigoroso, e tal. – olhei para cima para tentar espantar a vertigem, e comecei a passar os dedos nos botões que haviam ali no teto do carro, perto da porta do carona.
- Eu acho que tudo bem para ele também. – ele me olhou de canto e voltou a olhar para frente.
- Hum. – ficamos em silêncio por um tempo, e comecei a prestar atenção à pequena cidade que corria do lado de fora da janela. – Então, como foi a turnê na América?
- Foi bem legal. – ele disse.
- Muitas garotas bonitas?
Harry não respondeu por uns segundos.
- Algumas.
- Algumas – concordei. – E com quantas delas você ficou?
- ...
- Não, sério. – olhei para ele. – Sério, você tem que me contar. Eu sei que rolou. Eu vi fotos, eu li artigos. Sério. Precisamos ter um relacionamento aberto. Não é mesmo? Não foi você quem disse? Eu só quero conversar.
Ele me olhou com os olhos estreitos. Qual é, eu deveria simplesmente ignorar toda aquela história da modelo no camarim depois que ele praticamente admitiu que havia ficado com ela? Só porque, no meio disso, eu sofri um acidente e quase morri? Ah, não. Não mesmo.
- Você nunca vai deixar uma coisa dessas passar barato. Você está tentando me encurralar com esse papinho de amiga. Eu te conheço, .
- Uh – revirei os olhos e olhei para frente. – Tudo bem, espertinho. – fiquei quieta por um segundo. – Tem um cara que eu acho interessante na faculdade. – logo que falei, olhei-o de canto esperando sua reação. Ele apertou um pouco as mãos no volante, mas não se pronunciou, então continuei. – O nome dele é Jason. – falei o primeiro nome que me veio à mente. – Ele é do curso de biologia, e quer ser biólogo marinho. Até se ofereceu para me mostrar o aquário...
- Tá legal, você venceu. – ele falou, me interrompendo. – O nome dela é Paige.
Bati as mãos no banco.
- Eu sabia!
Harry revirou os olhos.
- E? – olhei-o. – Continua!
Ele pareceu desconfortável por um tempo, se mexeu no banco e olhou pela janela. Depois, voltou a cuidar a rua, com as duas mãos segurando o volante.
- Ela é uma modelo. Ia fazer um ensaio fotográfico comigo e os garotos para uma revista americana, junto com outras colegas. No dia da foto, eu estava descansando no meu camarim e ela entrou lá.
Eu já pude imaginar mil e uma cenas na minha cabeça, mas controlei minha raiva e deixei-a bem guardadinha dentro de um pote bem lacrado dentro de mim e não falei nada.
- Paige veio para cima de mim antes que eu pudesse sequer ver que ela estava lá dentro, eu juro.
Revirei os olhos, calma demais para a situação.
- Eu só vi que ela estava lá, quando ela já estava em cima de mim! – ele fez uma careta. – Então ela começou a...
- Eu preciso mesmo ouvir esse tipo de detalhes? – fiz uma careta e levantei as mãos.
- Então – ele continuou, olhando-me com uma cara de quem diz “quer ouvir ou não?” – ela começou a me beijar. E aí está a foto que você viu. Não era dessa que você estava falando? Paige Reifler e eu nos beijando no chão de um camarim? Bom, foi só um beijo. Eu confesso que não empurrei ela e nem nada, mas eu não agarrei-a também, e certamente não foi ideia minha. Assim que ela se afastou, eu disse que tinha namorada e não ia fazer aquilo.
- Ok. Paige Reifler. O que mais?
- O quê? – ele me olhou. – Nada! Mais nada!
- Qual é! – olhei-o, incrédula. – Fala!
- Argh! – ele empurrou fraquinho o volante. – Eu não lembro! Tinha essa tal de Cassey, Carly, eu não lembro o nome dela. Ela era uma fã que me agarrou na porta do hotel. Eu nem vi ela lá! Ela literalmente me agarrou, , essas coisas acontecem o tempo todo. As garotas literalmente pulam em cima da gente. Eu tenho mil papéis com números de telefone na minha carteira e em meus bolsos, e eu nem sei como é que eles vão parar lá! Isso sempre acontece, mas não significa absolutamente nada, só que algumas vezes acabam saindo fotos. Eu não sei se é tudo armado, ou o quê. Talvez seja só gente louca tentando separar a gente. Tentando fazer você ficar brava comigo por coisas absurdas. Eu não gosto disso, mas simplesmente não posso fazer nada. A gente nunca sabe quando alguém vai nos agarrar e nos beijar a força. – Ele me olhou e fechou os olhos por um momento, suspirando e voltando a olhar para a estrada. – Eu sei que eu pareço um cretino, mas eu juro por tudo que é mais sagrado que estou falando a verdade.
A voz dele já estava duas oitavas acima do normal, e era um pouco engraçado.
Fato é que eu até entendia Harry. Eu acreditava nele. Ele já me provara que gostava de mim, caso contrário não perderia tempo com presentes, e ligações, e anéis, e jantares, e declarações como ele gostava de fazer vez ou outra. Eu realmente via verdade em seus olhos, eu não tinha como desacreditar nas suas palavras e gestos. Eu só ficava me perguntando se era normal que uma garota simplesmente se acostumasse em ter um namorado que beijava dezenas de garotas e ficava meses longe. Isso não me fazia bem, porque eu tinha essa sensação de ser a burra e estúpida da história. A enganada. Mesmo que metade das coisas que acontecessem não fossem mesmo culpa dele, Harry era um cara, e caras nunca negam outras garotas. Não importa se têm uma namorada ou se a amam. E estamos falando de Harry Styles aqui! Isso por si só já torna as coisas um punhado de vezes pior.
Eu só tinha medo de estar fazendo papel de boba ao me “acostumar” com esse tipo de situação em que eu era a traída. Qualquer garota se sentiria assim.
- Chegamos. – ele disse, depois de meu breve silêncio. Olhei para fora e vi que Harry estacionara o carro na frente de uma casa feita de pedra, como um chalé, mas maior. Era bonita, razoavelmente grande e parecia aconchegante. Era também cercada por uma pequena cerca de madeira branca, que a dava um ar delicado. Tinha a cara de Anne e Robin.
Meu estomago voltou a revirar assim que me mexi para levantar, e fechei os olhos respirando fundo. Eu odiava enjoos. Odiava a sensação de mal estar. E as breves confissões de Harry não ajudaram em nada minha atual situação.
Ele desceu do carro e enquanto dava a volta, abri minha porta e saí com cuidado, tanto pela dor em minhas costas quanto pelo enjoo. Minha cabeça girava como se eu tivesse rodado várias vezes em volta de mim mesma de propósito. Estreitei meus olhos pela luz fraca do sol e levantei, indo para a frente do carro.
- O que é, agora vai ficar me ignorando? – ele disse, e virei-me para olhá-lo. Harry havia oferecido a mão para me ajudar, mas eu não vi por fechar os olhos.
- Eu não... – fechei a boca. Eu estava enjoada demais até para falar. Ia vomitar a qualquer momento.
- , escuta. – ele veio até mim meio impaciente e parou na minha frente. – Eu já te disse um milhão de vezes que é você quem eu amo e mais ninguém. Quantas vezes mais eu vou precisar falar?
Olhei-o, tendo certeza que minha cara era a pior possível. Mas eu simplesmente não conseguia falar. Harry era um idiota, estava entendendo tudo errado.
Ele levantou a sobrancelha para mim, com ar de “e aí, vai responder ou não?”. Mas tudo que consegui, foi me curvar no gramado em frente à sua casa bem a tempo de pôr tudo para fora. E olha que beleza: em cima de seus sapatos. Era uma ótima vingança.
Alguns minutos depois, eu estava sentada no sofá de Anne, tomando um chá quente com aroma de laranja.
- Chegada triunfal. – Harry repetiu pela milésima vez. – Tem sorte que sua sogra é a minha mãe. Caso contrário, isso seria trágico.
- Se você continuar falando, ela vai continuar se sentindo mal, Harry. – Anne repreendeu-o e me olhou, preocupada. – Está bom o chá?
- Muito bom, obrigada Anne. – sorri, sincera. – E eu sinto muito pelo...
- Ah, que nada, foi fora do nosso pátio – ela riu. – Essas coisas acontecem. Mas então – ela bateu as mãos nos joelhos e olhou para Harry e para mim, com um olhar de expectativa.
Me senti meio perdida. Eu estava perdendo algo? Olhei para Harry também, e ele nos olhou curioso do mesmo jeito, e deu de ombros para mim.
- O que, mãe?
- Vocês tem algo para me contar?
- Hm... – olhei-o, pensando.
- Eu acho que não... a gente deveria? – Harry olhou-a com o cenho franzido.
- Ah... não – ela sorriu e balançou a cabeça. – Nada, que cabeça a minha. Eu só estava imaginando que... vocês sabem – ela riu e pareceu ruborizar. – A viagem de última hora, e o enjoo, eu... esqueçam. – riu outra vez, nervosa.
- O que... ah! – olhei para Harry, assustada. – Não, nós não... eu não... não estamos...
- Grávida? – meu namorado super discreto falou aquela palavra, alto demais – Não, a não está grávida. Nós não nos víamos há muito tempo, e desde que cheguei em Londres tudo que fiz foi trocar curativos – ele sorriu e passou a mão no band-aid cor de pele em minha testa. – Se ela está, então não é meu.
- Harry! – fiz cara feia para ele. – Não estou grávida. Eu só fiquei enjoada com o carro.
- Sim, é claro. Desculpem, eu só pensei errado. – ela disse, se levantando. – Bom, vou terminar de preparar o almoço, a Gemma já deve estar chegando.
Quando Anne sumiu cozinha adentro, olhei para Harry.
- Você acha que ela ficou desapontada?
- Eu diria um pouco aliviada e envergonhada. – ele chegou mais perto de mim no sofá e me abraçou. – Ela quer muito um neto, mas não agora. Quer dizer, ela ia amar, é claro que sim, mas é cedo.
Concordei com a cabeça. Era estranho falar nisso porque, se tudo tivesse corrido bem, há uma hora dessas nós teríamos um bebê. Um bebê com poucos dias de vida. O nosso bebê. Mas aparentemente isso não ia acontecer tão cedo, e nem era porque não queríamos, mas porque desde que o aborto aconteceu, eu possivelmente teria dificuldade para engravidar no futuro. Palavras de meu ginecologista.
- Para – falei, me esquivando quando Harry mordiscou minha orelha.
- O que você está pensando?
- Que você é chato.
- Fora isso. – ele sorriu para mim, seu melhor sorriso sedutor. Odeio Harry Styles, lembrei a mim mesma.
- Por que você está fazendo isso comigo aqui, no sofá da sua mãe? – reclamei, sussurrando para ele.
- Eu não sei – ele deu de ombros. – Gostei da ideia de termos outro filho. Ou tentarmos – sussurrou.
- Você tem que parar! – fechei os olhos ao sentir meu corpo se arrepiar. – Estamos no sofá da sua mãe!
- Tem quartos aqui...
- Maninho! – a porta foi escancarada e uma Gemma loira e esbelta entrou por ela, indo direto para perto de Harry.
Eu dei um pulo no sofá, e Harry não foi diferente. Ele a abraçou, e Gemma me abraçou brevemente também e sorriu, com um “bom te ver”. Um garoto, que estava com ela e entrou na sala nessa hora, deu um oi com a mão e se atirou no sofá.
- E aí, Styles, pegando mais uma? – ele apontou para mim com o queixo, e olhei-o, incrédula.
- Como é?
- Cala a boca, Mike – Harry disse, com tom mais sério do que o do amigo, ficando com o rosto vermelho. – Essa aqui é minha namorada.
- Até quando? – Ele riu, e Gemma se levantou e saiu falando com a mãe na cozinha. Eu só conseguia olhar sem acreditar para aquele garoto sentado no sofá à nossa frente. – Porque vou te contar hein, tem muita garota nessa cidade que daria tudo, e eu disse tudo, por uma noite com você. Aí, você se lembra da Allicia...
- Mike, é minha namorada há mais de um ano.
O garoto me olhou por um tempo e franziu o nariz. Revirei os olhos.
- Escuta, você não tem mais o que fazer? – perguntei à ele, perdendo a paciência com o garoto.
Gemma voltou para a sala nessa hora e pigarreou, sentindo o clima tenso no ar. Sentou ao lado do garoto outra vez, e ligou a TV.
- Preciso tomar um remédio – falei baixinho, a Harry. Minhas costas me matavam.
Levantei devagar e ele me conduziu até o quarto em que ficaríamos. Tomei um comprimido para dor, e depois fui para a cozinha com ajudar Anne com o almoço.
Zayn’s POV
No começo o bipe do monitor cardíaco me incomodava. Me fazia lembrar da atual situação. Mas agora que eu o ouvia presente até em meus sonhos, comecei a vê-lo como um ótimo companheiro. Era ótimo ouvi-lo soar porque ele estava lá para indicar que ainda estava viva, e perto de mim.
A sensação em mim era um vazio tão grande, que me atingia fisicamente como os efeitos da abstinência. Como um longo período sem nicotina. Como uma longa noite sem conseguir dormir. A ansiedade de estar perto dela, de saber como ela estava a cada segundo, de me certificar de que ela continuava bem, mas me decepcionar ao vê-la ainda dormindo sem data para acordar, tudo isso me matava.
Hoje, por exemplo, era uma noite excepcionalmente calma. Eu estava quase deitado na poltrona grande e confortável ao lado da cama com meus óculos de leitura e um livro de Dan Brown nas mãos. Foi só o que consegui me interessar em ler. Um pouco de romance policial para esquecer por uns minutos do mundo ao meu redor.
Eu estava muito dentro da história. Ignorava completamente os sons vindos do trânsito lá embaixo, mesmo já sendo tarde da noite. Niall estava no quarto ao lado, provavelmente assistindo TV ou quase dormindo na poltrona também. Eu não sabia como ele conseguiu convencer o pessoal a deixá-lo ficar ali o tempo todo. Niall quase morava naquele quarto de hospital. Ele levava flores quase todos os dias, tocava violão por horas durante a tarde, olhava um pouco de TV à noite, comia quase sempre nos restaurantes da praça de alimentação e dava uma volta pelo prédio e pela ala das crianças. Já fizera amizade com muitos pacientes e médicos, e eu achava engraçado que ele agia mesmo como se ali fosse sua casa. Não sei como, mas todos pareciam achar normal tê-lo ali, sem problema algum. Mas eu me preocupava com meu amigo, porque hora ou outra ele teria que enfrentar a verdade de que nossa vida continuaria.
Em noites calmas, eu gostava de vir e passar a noite com . Ou lendo para ela, ou lendo sozinho, ou colocando uma música e desligando a luz para que caíssemos no sono gradativamente...
Os dias estavam passando rápido e cheios de absolutamente nada. Em três dias, tínhamos o Today Show ao vivo para milhares de pessoas em uma avenida movimentada de Londres. Eu não sabia bem se estava pronto para voltar à rotina de celebridade, não queria deixar de visitar todos os dias.
Liam e estavam se ocupando bem com exercícios para , para que ela não cansasse de ficar o tempo todo deitada por causa da perna quebrada. Ela também estava tentando se equilibrar em uma muleta, porque parece que os dois achavam aquilo divertido de algum modo. e Louis foram para Yorkshire no fim de semana, e estavam mais juntos do que nunca. e Harry passaram quase a semana toda em Holmes Chapel, eles também pareciam estar se divertindo, ou tentando esquecer e voltar à rotina normal.
Então sim, as coisas estavam bem paradas. Mais calmas, digamos assim. As fãs se preocupavam com as garotas, e nós tentávamos dar o máximo de notícias possíveis. Todos os dias, alguém mandava flores para o quarto delas. O hospital também recebia muitas cartas, que tinham o intuito de chegar à um de nós ou serem guardadas para elas lerem quando acordassem.
Quanto a mim, tudo que eu queria era que acordasse logo para que eu pudesse me desculpar um milhão de vezes por todas as burradas que cometi em relação a nós. E, quem sabe, se ela quisesse... eu podia ajudá-la a recomeçar tudo.
Jeremy veio visitá-la várias vezes, e trouxe muitas flores em todas elas, por toda a equipe da série. Ellie, sua assessora, também. Eles até gravaram um vídeo curto com Jeremy falando sobre seu “namoro” e como ele estava triste. É claro que nesse vídeo nem sequer foi comentado que eu, o suposto ex que não tenho mais laço algum com , era quem posava quase todas as noites com ela.
Na verdade, a mídia não caíra muito em cima de mim e dos garotos para falar das meninas, graças a Deus, diga-se de passagem. Era péssimo ter que falar sobre isso para o mundo todo.
Depois de terminar mais um capítulo do livro, levantei e fui dar uma olhada na janela. Ela era grande, da metade da parede até o teto, e era feita apenas de vidro. Proporcionava uma vista maravilhosa da cidade iluminada, a avenida lá embaixo, do céu... Fechei os olhos e me concentrei no monitor cardíaco, bipando, bipando, bipando. Pedi que ela acordasse agora. Pedi que ao menos seu coração acelerasse, e assim eu poderia saber que recebi algum tipo de sinal. Pedi por qualquer coisa, qualquer mínimo som. E nada.
Então, abri os olhos, soltei meu livro e tirei os óculos, pronto para ir até meu vizinho de quarto para conversar por um tempo.
Niall’s POV
Meus olhos já estavam se fechando, mas meus dedos continuavam a dedilhar o violão com uma melodia mansa, calma e um tanto alegre. Sempre alegre, porque eu não podia permitir que nenhum tipo de tristeza entrasse porta adentro naquele quarto de hospital. Nenhum.
As músicas iam chegando agora com mais rapidez, todas as que eu conhecia, e eu tocava-as baixinho sem nem perceber, e cantava quase que em um sussurro. Todas as músicas que gostava, todas aquelas que tinham uma letra que expressassem o que eu sentia por ela ou aquelas cuja melodia me parecia boa o bastante. Eu simplesmente cantava, sem nem me dar conta do que estava fazendo. O sono já me dominava por completo.
Meu dedilhado ao final de uma musica do The Who se transformou em uma melodia conhecida, principalmente por mim. Era a versão acústica de alguma música nossa, mas eu não consegui reconhecê-la de imediato, então só continuei tocando e fechei os olhos. E as palavras surgiram em meus lábios automaticamente, sem que eu precisasse fazer força alguma para lembrar que música era:
- I’ll be here... – abri os olhos e olhei para as cordas. Minha voz estava falhando. – by your side... no more tears, no more crying... – subi meu olhar para o rosto de , ainda exatamente igual a sempre, desde que ela chegara naquele hospital. – but if you walk away, I know I’ll fade... – e o nó se fez presente na minha garganta outra vez, e precisei pigarrear para continuar a música, mas ela saiu como se eu estivesse falando, e não cantando. – cause there is nobody else.
As batidas na porta me fizeram voltar à realidade, e tão subitamente quanto apareceu, a umidade em meus olhos sumiu. Olhei para a porta.
- Entra.
Zayn entrou e veio até nós perto da cama.
- E aí, dude – ele me deu um soquinho de leve no braço e larguei o violão perto da parede.
- E aí.
- Como ela está? – perguntou, indo para perto de e pegando sua mão na cama.
- Ah, hum... – olhei para ela também. – É, bem.
Não havia mais o que falar. Quem sabia afinal como ela estava? Ou onde ela estava, ou se ela voltaria logo ou não. Eram coisas que ninguém podia responder. Por um lado, ela estava bem por estar viva, mas por outro... estar em coma estava longe de ser considerado estar bem.
Zayn também estava passando por uma barra. Eu sabia que era a mesma coisa que eu. Todas as lembranças boas que ele e tiveram juntos. Arrependimento por não ter tido a chance de dizer o quanto a amava, por ter demorado demais para perceber que era ela quem ele precisava. Medo de que nunca mais tenha a chance de fazê-lo. Era basicamente nisso que nossa vida se baseava. A diferença era que eu não tinha medo de falar em voz alta. Ele tentava esconder, como se isso deixasse um pouco menos óbvio.
Zayn passou o polegar no dorso da mão de e se inclinou para beijar sua testa. Depois, virou-se para mim.
- Está pronto para o Today Show?
- Não. – falei, apenas. Era isso. Eu não estava pronto para sair daquele hospital e retomar a minha vida como se não estivesse faltando um pedaço de mim. Eu não estava pronto para fingir que estava bem na frente do mundo todo. Eu não estava pronto para viver sem ela. E eu não acho que algum dia estaria.
Zayn balançou a cabeça, concordando comigo.
- Simon ligou, cara. Ele disse que não pode esperar mais. As pessoas estão falando, querem respostas. Querem saber o que está acontecendo com a gente. As fãs, elas... elas se importam. Simon disse que não pode mais adiar, nós precisamos voltar. Ou pelo menos tentar voltar, certo?
Ele pousou a mão em meu ombro, parando atrás da minha poltrona. Eu olhei por cima do ombro. Queria dizer que nada estava certo e que eu não queria mais essa vida. Eu não queria mais vida alguma se fosse para continuar lembrando do que poderia ter acontecido caso eu tivesse sido diferente. Mas disso ele já sabia, Zayn era meu melhor ouvinte ultimamente, e não adiantaria discutir contra as ordens de Simon. Era difícil, mas era o correto a se fazer. Então, mesmo com uma tonelada de palavras na garganta, eu apenas fechei a boca e concordei, guardando-as para mim. Zayn deu algumas batidinhas em meu ombro e apertou ali com força, transmitindo a mensagem de que estava nessa comigo, e eu não estaria sozinho. Não estaria sozinho diante das câmeras, em cima dos palcos e em frente aos holofotes. Porque ele sentia a mesma dor que eu.
Então, ele se virou e deixou o quarto.
Liam’s POV
Na sexta de manhã acordou com a maior cara de sono da história. Ela parecia tão deslocada no tempo que eu tive que rir da sua cara. Ela coçou o cabelo desgrenhado e olhou em volta ao chegar na sala onde eu assistia TV.
- É sexta. De manhã. – apontei para a TV ligada no canal de desenhos, e sei que a partir dali ela se orientaria melhor na hora e no dia.
veio em passos lentos até o sofá, com a ajuda daquela muleta toda tingida de rosa e com brilhos por toda parte, que fizemos há uns dois dias atrás. Sua perna ainda estava engessada, é claro, e ficaria assim por um bom tempo. Ao sentar ao meu lado, ela deitou a cabeça no meu ombro e bocejou.
- Por quanto tempo eu dormi?
- Umas dezessete horas.
- Estou cansada desses remédios que me apagam. Eu mal sei quanto tempo passou desde o acidente.
- Duas semanas, amor. – acariciei sua mão. Eu precisava falar à ela todas as vezes que ela acordava que dia era e quanto tempo fazia desde o acidente. Nos últimos dias, estava perdida no tempo. Quando ela estava comigo estava lá, mas quando tomava os remédios para dor para poder dormir as coisas simplesmente viravam borrões em sua cabeça. A notícia boa era que a cartela já ia acabar e em dois dias ela já estaria melhor em relação a isso. Mas as dores na cabeça a faziam sofrer quando ela não tomava, e eu ficava preocupado em pensar que ela não tomaria mais.
Pensando nisso e em como ela estava confusa nos últimos dias, hesitei em falar o que precisava ser dito.
- Hum, .
- Sim?
- Tem alguém aqui... que quer te ver.
Ela levantou a cabeça e me olhou, confusa.
- Quem?
Olhei para a porta da cozinha de onde Victor viera com seu copo de água. arqueou as sobrancelhas e se virou no sofá.
- Victor?
- Oi... . – ele chegou mais perto do sofá, também meio hesitante.
Eu e Victor conversamos muito nos últimos dias, ele vinha vê-la quase sempre. Eu ainda não entendia o interesse dele em se reaproximar da filha depois de anos, e ele parecia querer fazer mistério sobre isso, mas o cara era mesmo decente, e ele só queria estar perto de . Eu não podia culpá-lo.
- Eu... eu sinto muito pelo acidente, e por suas amigas. Eu vim logo que fiquei sabendo. – ele sorriu um pouco e sentou na guarda do sofá ao seu lado. Como ela não disse nada, ele continuou. – Eu venho aqui quase todos os dias. Nós nos falamos logo depois que você chegou, por alguns minutos. Você não se lembra, filha?
Ela me olhou, ainda completamente confusa, e assenti para ela de um jeito que dizia “está tudo bem, e ele está falando a verdade”.
- Eu... não. – ela disse, para ele.
Victor me olhou outra vez, sem saber exatamente o que fazer.
- Você... está se sentindo bem?
Levantei do sofá e aleguei ir pegar algo para tomar, mas mesmo deixando-os sozinhos eu podia ouvir a conversa, pois a casa estava silenciosa.
- O que está fazendo aqui, Victor? De verdade. Você... isso não faz sentido. Ainda não sei o que te fez me procurar. Você não deve estar se sentindo culpado, depois de dezenove anos.
- Pois eu me sinto. Conhecer você foi a melhor escolha que eu poderia ter feito, e agora que descobri que minha filha é uma garota já crescida e tão fantástica, eu... eu senti orgulho, . Eu quis que você soubesse disso. Sei que não posso exigir de você simplesmente me aceitar de volta na sua vida, e muito menos da sua mãe ou seus amigos. Eu só quero uma chance para conhecer você melhor, e... e talvez nós possamos... ser amigos. O que você acha?
A resposta não veio, então imaginei que ela tivesse feito algum gesto e voltei para a sala.
- Coloquei um macarrão no microondas para você. – sentei ao seu lado outra vez e puxei-a para os meus braços.
- Liam é um bom garoto – Victor levantou do sofá e pegou seu celular. – Ele é um ótimo garoto, fico feliz que minha menina tenha alguém que tome conta dela. – ele passou as mãos no cabelo dela e, rapidamente, as tirou dali, dando um passo para trás. não se afastou, mas também não demonstrou ter gostado ou desgostado. Então ele olhou no celular e guardou-o no bolso. – Eu preciso ir. Tenham um bom dia, e... até mais, filha.
Ele esperou, mas de novo, não houve resposta, então apenas saiu da casa.
- Isso é outra alucinação, Liam? – ela choramingou, deitando a cabeça em minhas pernas. – O que ele acha que está fazendo? Eu estava muito bem sem ele. Nos falamos algumas vezes por mensagens antes do acidente, mas ele nunca me procurou de verdade.
- Victor é seu pai, . Mal ou bem, mas é. E é o único que você tem, então talvez seja melhor pensar bem nisso. Tá legal?
Ela murmurou algo que não entendi e ouvi o microondas apitar. levantou a cabeça e fui buscar sua comida.
- Até que enfim algo consistente depois de tanto tempo!
- Você merece, foi uma boa garota. – entreguei o prato à ela e comecei a trocar os canais da TV. Eu estava evitando canais de celebridades, porque quase todos eles falavam diariamente sobre o acidente, dando todos os tipos de detalhes possíveis, até os mais dolorosos. A Modest conseguiu fazer com que a mídia não nos procurasse muito, mas no hospital eles conseguiam praticamente todo o tipo de informação que queriam, o que era um saco. Então, passei direto para outros canais de desenho e ficamos conversando por um tempo sobre coisas banais, para que se sentisse parte do mundo real outra vez, antes de ter que tomar outra dose do remédio.
Harry’s POV
Foram três ótimos e calmos dias em Holmes Chapel. Eu estava apreciando de minha visita e da comida da minha mãe, enquanto nós cuidávamos da minha namorada acidentada e saíamos para ver meus velhos amigos. Era sempre assim quando eu ia lá, relaxante e renovador. Não havia porque dessa vez ser diferente, só porque fora a primeira vez que levei .
Até que, adivinhem. É claro, aconteceu um imprevisto. Mike, o namorado de Gemma e meu amigo há alguns anos, simplesmente não foi com a cara de . Ele achava que o tempo havia congelado e eu ainda era o babaca que não podia ver um par de peitos que era há dois anos. E aí, em uma bela noite, em um belo jantar entre casais, em um belo restaurante da cidade, ele resolveu começar a contar para quem quisesse ouvir (ou seja, para ) sobre minha lista de garotas do passado. Ah, que divertido. Ótimo. Muito bom.
Começou a ficar um pouco pior do que já estava quando começou a discutir com o garoto e Gemma, como a boa namorada que era, entrou na briga para defender seu namorado. E o que eu ia fazer? Era defender minha garota ou minha irmã? Eu simplesmente fiquei quieto, decidindo quem tinha mais razão. Até abrir a boca e falar uma coisa realmente desnecessária.
- Eu esperava mais de você, Gemma. Pensei que fosse uma pessoa mais legal, sinceramente, por tudo de bom que Harry diz ao seu respeito. Mas o que esperar de alguém que namora um idiota desses? – ela apontou para Mike.
- Ah, qual é . – minha irmã fez careta. – Bem que Harry comentou que você é uma mimadinha neurótica.
E aí tudo desandou. No momento seguinte, na cabeça de , eu era o culpado da história e minha irmã era uma vadia estragadora de viagens. Quando, para mim, foi Mike quem começou tudo aquilo.
O que eu podia fazer? Mike era mesmo um pé no saco e era mesmo uma mimadinha neurótica. E olha que eu nem usei os piores apelidos que tinha para ela guardados em meu vocabulário. Mas ela era a , então não importava o quão ruim ela fosse, meu cérebro continuaria achando maneiras de amá-la.
Só que a briga foi longe demais quando elas começaram a discutir de verdade, com direito a apelidos nada carinhosos e tudo mais. Tive que controlar minha namorada e levá-la para casa em um carro separado, e eu já não estava mais tão entusiasmado em estar ali com ela.
- Você estragou toda a viagem. – falei um pouco alto dentro do carro. – Está feliz agora, ? Você é sempre assim, não é? Não descansa enquanto não estraga por completo algo que eu realmente gosto. Você sempre estraga. Qual é o seu problema afinal?!
não disse nada, apenas encarou a estrada sem dar indicio algum de que ia responder.
- Não, é sério, agora eu quero mesmo que você me responda! Estamos voltando para a casa da minha família completamente ferrados! Com que cara você espera que eu explique para a minha mãe que você encheu a Gemma de palavrões porque ela defendeu o namorado?
- É só você dizer a ela que eu sou mimada e neurótica. Afinal, o mundo todo já sabe mesmo!
- Mas você é mimada e neurótica! Você sufoca todo mundo! Você afasta todo mundo com esse seu jeito estourado e irritante de pensar que o mundo gira em torno de você! Depois de todo esse tempo você ainda não percebeu que as coisas não são sempre como você quer que elas sejam? Pelo amor de Deus, ! – bufei. – Quando alguém fala algo que você não gosta às vezes é mais fácil ficar quieta e aceitar! Só isso! Você sempre estraga tudo!
Eu sabia que em alguma parte disso tudo devia ter simplesmente parado de falar, mas eu não conseguia. Estava muito frustrado e irritado, eu queria que ela soubesse o quão mal eu estava por ter minha viagem arruinada por causa das suas besteiras.
- Olha, quer saber? Eu quero ir para casa. – ela disse, depois de um tempo.
- Ah, é lógico que você quer ir para casa. Não é você que vai ter que tentar concertar as coisas com a sua família. Eu nem sei como tentar te defender, sinceramente. Porque Gemma estava certa em tudo que falou de você.
Parei o carro na frente de casa e ela saltou dele no mesmo segundo. Fiz o mesmo, e acompanhei-a até o portão.
- Escuta, Harry, a culpa não é minha se você tem uma família de loucos! – ela se virou e gritou para mim, vermelha de raiva. – Eu não quero mais ficar aqui!
- E como sempre a rainha dá sua ordem e todos têm que seguir! – revirei os olhos e passei por ela empurrando-a um pouco para o lado e entrando na casa, sem paciência nem para olhar em seus olhos.
Naquela noite eu esperei todos irem dormir e fui para o sofá. O clima estava horrível, e eu estava irritado demais com para ficar no mesmo ambiente que ela. No dia seguinte expliquei para minha mãe que as duas se desentenderam e que era melhor que nós voltássemos para casa antes que as coisas piorassem. Ela não ficou brava, minha mãe tinha uma paciência de ouro, e queria ter herdado isso dela. Aliás, eu acho que já tinha, ou já não estaria mais com há meses.
Então voltamos para Londres em um silêncio sepulcral, e dessa vez era eu quem não fazia nenhuma questão em falar uma palavra. Ela passou dos limites ao estragar as coisas com a minha família. e minha família eram as coisas que mais importavam para mim na vida, e tudo que eu queria era que elas se dessem bem, só isso. Mas como sempre, ela estragou. Eu estava cansado de ser sempre a pessoa a tomar as dores da briga e ter de pedir desculpa.
Talvez aquele relacionamento não fosse para frente nunca, mesmo.
Louis’ POV
- E essa é a catedral de Doncaster.
- É bem... grande. – franziu o cenho.
- Igrejas não são muito seu forte – abracei-a pela cintura e voltamos ao carro devagar.
- É, pra falar a verdade não são mesmo. Mas eu gosto de estar em um lugar novo assim, conhecer lugares novos... com você.
Sorri para ela ao ajudá-la a entrar no carro.
- Eu gosto de ser guia de garotas bonitas. – pisquei e fechei a porta, ouvindo sua risada. Dei a volta no carro e entrei também, ligando-o e dando partida.
- Qual nossa próxima parada?
- Você pode escolher entre meu primeiro e único serviço na Toys R Us ou o estádio de futebol.
- Eu acho que ainda prefiro a loja infantil. – ela disse, ajeitando a bota imobilizadora no tornozelo. Apesar de ter melhorado setenta por cento, eu ainda estava fazendo-a usar até que ela se curasse por completo.
O susto que levei com esse acidente não pode ser descrito em palavras. Eu tive tanto medo de perder minhas amigas, minha . Era horrível pensar em e no hospital, com a possibilidade de nunca haver melhoras. Era simplesmente horrível, por todos nós. O choque seria enorme se perdêssemos alguma delas. Os médicos estavam tentando ser realistas, mas é difícil destruir toda aquela esperança que Niall tem nos olhos, então eu não os julgava por acabar passando falsas esperanças às vezes. Eu mesmo estava tentando ser realista, mas era difícil. Sempre havia um “não, Louis, elas vão ficar bem, isso vai passar, tudo vai melhorar” soando em minha cabeça.
Dirigi até a loja onde ficava meu antigo emprego e desci com ela. Era um sábado de tarde, estava pouco movimentado, então pouca gente me reconheceu. Entramos lá e conversei por um tempo com o gerente que ainda trabalhava lá e ainda se lembrava de mim. Depois, olhei em volta para procurar entre as prateleiras de brinquedos. Entrei no corredor dos meninos, e caminhei em meio às prateleiras, acompanhando com os olhos entre os vãos das prateleiras, no corredor ao lado, que era o dos ursos de pelúcia. Ela não havia percebido que eu a observava, e passava as mãos nos bichos enquanto andava e cantarolava uma música que eu conhecia bem. Quando ela parou por um segundo de cantar, eu continuei, também baixinho:
- I will be your guardian when all is crumbling, I’ll steady your hand.
Ela levantou a cabeça e olhou para onde o som da minha voz vinha, e ao me ver sorriu.
- you can never say never, while we don’t know when, time, time and time again, younger now then we were before. – ela cantou comigo, a voz aumentando de volume um pouco mais a cada palavra. Na parte mais alta do refrão, , louca como é, já estava quase gritando junto comigo na loja: - don’t let me go, don’t let me go, don’t let me go!
Assim que chegamos no fim dos dois corredores eu a puxei pela cintura e coloquei a mão na sua boca, impedindo-a de cantar tão alto, e nós dois rimos.
- Você não pode me impedir de cantar The Fray! Você não pode! – ela dizia alto e se debatendo, e eu ria mais ainda.
- Tá certo. – tirei a mão da sua boca e a soltei. – Mas só porque é The Fray.
Eu e nos divertíamos muito juntos. Ela me fazia rir tanto quanto eu fazia à ela, então acho que nos acertávamos muito bem. Além disso, tinha esse tipo de desejo insaciável que me matava de prazer, e ela se mostrava simplesmente melhor e melhor a cada dia. Eu estava ainda mais apaixonado.
Foi uma pena quando tivemos que nos despedir de minha mãe e minhas irmãs, que inclusive adoraram ela, e voltar para Londres no domingo de noite, mas eu e os meninos tínhamos um show no meio da Oxford no outro dia. Justo lá, naquele lugar.
Então eu deixei-a em casa, passei para ver que estava se recuperando rápido e ela e Liam assistiam à um filme comendo pipoca, e depois fui para casa. Harry ligou para perguntar se eu já estava na cidade, e quando disse que sim ele me convidou para tomar uma cerveja, mas eu já estava pronto para dormir, então deixei para outro dia. Ele disse que estava estressado, então nem quis saber o porquê. Era óbvio, um fim de semana inteiro com e ele planejava não ficar estressado? Nada contra ela, mas eles não conseguiam ficar juntos sem brigar. Sem chance.
No outro dia, acordamos cedo para nos prepararmos para o show. Não seria um show completo, apenas algumas músicas, as mais conhecidas. Niall chegou em um carro separado vindo do hospital pouco depois do resto de nós, e ele parecia um caco. Botaram muito mais maquiagem do que ele geralmente precisava, e suas olheiras ainda estavam grandes e marcadas, seus olhos azuis quase cor de água, mas um tanto vermelhos ao redor. Ele não pareceria feliz nem em outro mundo.
Ninguém ousou fazer piadinhas como seria em uma ocasião normal. Apenas conversamos o máximo possível, mas mesmo assim um grande silêncio existia na maior parte do tempo, e depois disso fomos direto para o palco. Os solos de Niall estavam fracos, eu acredito mesmo que ele estivesse dando o melhor de si, mas não conseguia cantar bem de jeito nenhum. Como ajuda, nossas fãs gritavam o mais alto possível cada vez que ele cantava, mas não adiantou muito.
Nenhum de nós estava indo tão bem quanto o esperado naquele dia, mas o público foi compreensível porque sabia pelo que estávamos passando. Mas ninguém esperava o que aconteceu durante Moments. Nem eu, nem os meninos, porque isso nunca acontecera antes, e nem as fãs, porque era como se seus corações se quebrassem vendo a cena e isso fosse perceptível na atmosfera.
Ao terminar o primeiro refrão, Niall começou seu solo. Ele quase não tinha fôlego, mas como parte da nossa coreografia demos um passo para trás e deixamos que ele ficasse na frente, como dono do palco. Foi um erro. Niall olhou para o meu lado durante seu solo, quase como se pedisse ajuda, mas eu não sabia o que fazer. Me senti inútil e muito mal, e olhei para Harry que cantava a segunda voz um pouco mais baixo do que ele. Só que na parte do “don’t wanna be seen” sua voz quase sumiu.
- don’t wanna be without you... – ele cantou com a voz trêmula, fechando os olhos com força, depois de parar por um segundo e perder o ritmo da música. Depois, Niall simplesmente parou. Eu e os meninos nos olhamos, sem saber o que fazer. Harry, que fazia o resto do solo ainda baixinho, parou logo depois que ele terminou e que seria minha vez, mas eu também estava congelado.
Niall estava chorando. Bem ali, em cima do palco, na frente de todas aquelas pessoas.
A música continuou de fundo, mas tanto nós quanto a plateia estavam chocados demais para fazer qualquer coisa.
- Me desculpa – ele falou, depois de um segundo, em seu microfone. – Eu não consigo. – balançou a cabeça, levantou o braço e escondeu o rosto, tentando limpar as lágrimas, tentando parar de chorar, mas chorando mais ainda.
As fãs gritaram. Aquilo foi como um imã me puxando e aos outros três para perto de Niall, em um abraço reconfortante. Todos nós em cima do palco, ao som instrumental de Moments. Niall chorando. O resto de nós compartilhando de sua dor. E as fãs gritaram mais, e continuaram cantando. Mais alto e mais alto até que só a voz delas restasse, enquanto todos nós compartilhávamos daquelas lágrimas, daquele sofrimento, daquela saudade. Ali, bem no meio da Oxford. Em frente a milhares de pessoas, sendo gravados para o mundo todo. Sem pudores, apenas a verdade: estávamos com medo. E nossas garotas cantavam para nós.
’ POV
Acordei com um pulo no meio da noite, sentando em minha cama, assustada. Minhas mãos tremiam e meu corpo estava completamente coberto de suor, tanto que meus cabelos grudavam em minhas costas. A primeira coisa que fiz foi procurar por na cama ao lado, em um sinal claro de procurar por proteção, mas então lembrei que ela não estava ali. E que, infelizmente, meu pesadelo não acabava quando eu acordava.
Joguei os cobertores para o lado e levantei, indo até a janela e abrindo uma folha da mesma para tomar um ar. Não estava quente, mas sempre que eu tinha pesadelos acordava assim. Coloquei meu rosto para fora da janela e inspirei o máximo de ar fresco possível, e então soltei. Escorei os cotovelos no parapeito e segurei minha cabeça nas mãos.
Ultimamente nada estava bem. Eu sentia falta de o tempo todo, em todos os cantos daquela casa. Ela sempre fora a minha melhor amiga! Era a pessoa a quem eu recorria para contar todos os meus problemas, porque não tinha uma mãe que me ouvisse. E , então? Apesar de nos últimos tempos ser a mais quieta e reservada, ela sempre estava lá, a sua presença me tranquilizava, porque eu sabia que estava segura tendo perto de mim.
E então tinha Harry. O cretino imprestável do Harry. Eu queria poder dizer que não nos falávamos desde nossa briga em Holmes Chapel, porque assim não seria tão ruim. Mas não. Nós nos falamos depois daquilo, e foi isso que piorou as coisas.
Harry, assim como todos nós, estava estressado e de cabeça quente. Foi por telefone. Eu tentei pedir desculpas, porque sei que fui eu quem errei ao começar aquela briga idiota com a Gemma, mas ele nem quis ouvir. Ele gritou comigo e disse que a culpa era sempre minha, e que era ele o único a correr atrás de uma solução para o nosso relacionamento. Como se nosso relacionamento fosse sempre um problema que nunca se solucionava e eu fosse a causadora disso. Então, eu me senti magoada e, como meu escudo natural, respondi ele. Nós gritamos, eu chorei, ele disse que não queria que eu me fizesse de vítima como sempre fazia e que achava que nosso relacionamento estava perdido.
E aí eu chorei mais, oras. Harry era tudo de ruim, mas era tudo que eu tinha.
- , não... para com essa porra, a gente tá conversando, será que você pode enfrentar isso como uma mulher de verdade pelo menos uma vez?! , qual é, para com esse escândalo!
Mas eu não conseguia, eu não conseguia parar. Eu estava com um grande nó na garganta formado por tristeza, por medo do que podia acontecer com nós, com saudade de e , com saudade de minha mãe, com a lembrança da sensação de ter perdido um bebê que nem cheguei a conhecer. Eu sei que parecia drama, mas eu não conseguia controlar. E as suas palavras foram machucando mais, e quanto mais ele falava, mais eu chorava, até que Harry desligou, dizendo por fim que “você nunca vai aprender a enfrentar os seus problemas de verdade sem bancar a menininha machucada”.
Eu parei de chorar algumas horas depois. Eu comecei a pensar que talvez Harry estivesse certo, e desistir talvez fosse o melhor a se fazer. Que eu nunca deixaria que ele fosse feliz com alguém menos complicada se não abrisse mão dele. Tentei esquecer disso e esperar que as coisas se resolvessem sozinhas como elas geralmente aconteciam, mas dessa vez foi diferente. Ele não fazia questão de falar comigo e eu não fazia questão de ligar para ser recusada outra vez.
Depois de um tempo respirando ar puro na janela, fechei-a outra vez e voltei para a cama. Naquela noite, não consegui dormir. No dia seguinte, eu saí cedo. Era um sábado de manhã, e meu pai geralmente gostava de ficar sentado na frente da lareira lendo seu jornal e tomando chá.
Eu senti tanta falta de casa, de quando eu era criança e brincava até tarde subindo em árvores com as crianças da rua e depois voltava correndo para casa para tomar banho em tempo de ver minha mãe terminando o jantar. Ela sempre me contava uma história antes de servir a comida. Sempre contava histórias sobre duendes, uns bem pequenininhos, que andavam pela casa durante a noite, limpando todas as sujeiras de lugares que não conseguíamos ver ou alcançar, e que no dia seguinte tudo que eles queriam em troca era ouvir uma melodia. Tão banal, e eu ficava encantada ouvindo-a cantarolar qualquer coisa que viesse à mente enquanto terminava a janta. Ela me fazia acompanhá-la em sua melodia inventada e criar uma música improvisada junto à ela. Nós ríamos muito, e depois nos juntávamos para jantar. E era a lembrança mais firme que tinha da minha família antes de tudo mudar.
Naquela manhã cheguei de surpresa na casa de meu pai e lá estava ele, bem onde eu imaginara. Tomei o chá de laranjeira, que era meu preferido, ouvindo a música calma que vinha do rádio enquanto ele terminava seu jornal, e depois conversamos por um tempo. Mas não por muito tempo, porque meu pai me conhecia e soube que havia algo errado.
- É o garoto, o... o Harry?
Balancei a cabeça.
- É tudo, pai. É tudo de uma vez só. – olhei-o. – É o trauma do acidente, da gravidez, da mamãe... são as minhas amigas presas à uma cama de hospital, e o meu relacionamento que eu não consigo resolver... é simplesmente tudo. – disse, fungando.
Meu pai tinha seus quarenta e nove anos bem distribuídos em um corpo muito bem cuidado para a idade. Seus cabelos outrora escuros, agora já estavam um tanto grisalhos em algumas partes, misturando os fios brancos dos pretos e formando um belo cinza. Sua barba rala por fazer e seus óculos de leitura o deixavam com um aspecto quase que mais inteligente.
Peter se virou na poltrona em que estava sentado e abriu um espaço ao seu lado, batendo ali como em um convite mudo para que eu me sentasse. Fui até lá como uma criança que pede colo, e sentei ao seu lado, sentindo seu abraço reconfortante e escondendo o meu rosto em seu peito.
- Pai, eu não sei como lidar com tudo. Às vezes eu não sei, eu simplesmente fico cheia... Eu sinto que vou entrar em pane. Eu sinto tanta falta dela – falei para ele, em meio a lágrimas e soluços.
- Eu sei que sim, princesa. – ele passava as mãos em meus cabelos ternamente. – Eu sei que sente. Eu também sinto. E está tudo bem não estar bem o tempo todo. Você merece uns minutos para extravasar e pedir ajuda, para pedir um carinho, para voltar para o abraço do pai. Tudo bem? Você vai ser sempre a minha garotinha, e sempre vai ter um espaço aqui para você. Não precisa crescer assim, tão rápido, tão de repente. Porque o seu velho está aqui para te ajudar com isso.
Levantei meu rosto e olhei-o, e ele me encarava de cima com um sorrisinho pequeno nos lábios. Eu reconhecia aquele sorriso, porque era o mesmo que via no espelho. Eu tinha o sorriso do meu pai.
- Obrigada, pai... – agradeci, voltando a deitar a cabeça em seu peito. – Obrigada por tudo.
’s POV
Três semanas depois do acidente eu já estava praticamente curada de tudo, menos minha perna quebrada. e pareciam novas em folha, e já voltaram inclusive a trabalhar e estudar outra vez.
Os meninos se ausentaram por alguns dias logo que nós ficamos aptas a cuidar de nós mesmas, e depois disso logo chegou o dia de se despedir para que eles fossem terminar a turnê na Austrália.
Eu não estava triste por ter que me despedir de Liam outra vez, não, eu acho que já me acostumara com aquilo. O problema era Niall. Niall não estava bem para ir em turnê outra vez e todo mundo estava consciente disso, mas a turnê não podia ser cancelada por causa disso. Eram exatamente 39 dias longe de casa. Para quem ficou de fevereiro à agosto longe de casa, isso seria fácil, pouco mais de um mês. Mas eu continuava me preocupando com ele.
- Nós voltamos logo. Dessa vez é sério. – Liam disse, abraçando-me e beijando minha testa antes de abraçar e .
- E quando voltarmos, por favor, estejam vivas e saudáveis – Louis disse também, sentado no banco da vã com as pernas para fora do carro.
Os garotos decidiram passar ali cedo da manhã para nos dar tchau, e dali iriam direto para o aeroporto. Eles pareciam cansados, mas determinados em fazer seu máximo para que aquilo passasse mais rápido. Harry estava dentro da vã em um canto tão afastado que eu mal o via, Niall estava quase dormindo com a cabeça no banco e os outros três estavam ali na nossa frente. Abracei e beijei o rosto de todos que estavam ao meu alcance, e mandei um tchau para Niall e Harry pela janela.
Depois das devidas despedidas, eu e as meninas entramos em casa outra vez. Eu estava usando a muleta toda rosa e cheia de brilho que eu e Liam customizamos há alguns dias, porque não era fácil andar com uma perna quebrada. Eu estava com um atestado de dois meses de afastamento do trabalho, e Milena, como ainda era muito influente, conseguiu de lá da Irlanda fazer com que eu ficasse tranquila para pedir o tempo que fosse necessário até me recuperar completamente.
Só que com a ida de Liam e os meninos, eu voltara a ser a responsável, e acontece que eu não sabia como lidar com algo como isso. É claro que as meninas me ajudavam muito, mas era uma barra para todas nós, e o silêncio na casa era uma lembrança constante disso.
Dos trinta e nove dias que se seguiram, pelo menos em metade deles eu fiquei em casa descansando. Ia pelo menos três vezes por semana ver e , e nos dias que eu não ia, ou iam. Nós arrumávamos os cabelos delas, gostava de fazer tranças em seus cabelos. Durante dois fins de semana seguidos nós ficamos juntas lá no domingo de tarde. Era o único jeito de nos sentirmos um pouco mais felizes, mais aliviadas, mais leves. Mas logo que voltávamos para casa isso passava.
Os meninos ligavam todos os dias, Niall principalmente se tornou um dos meus melhores amigos, porque eu ficava sozinha muito tempo. ia para a universidade e ia para a editora, e eu ficava em casa o dia todo. A parte boa, era que eu estava me recuperando muito rápido.
Uma semana e meia depois, foi quando recebemos a primeira notícia boa de verdade. chegou correndo do hospital, dizendo que estava com deu sinal quando ouviu a voz dela.
- Ela apertou a minha mão, eu senti! Foi bem rápido, mas eu senti de verdade! Eu chamei a enfermeira, ela disse que era possível, já que havia recuperado o dobro da atividade cerebral durante o dia, e que estava melhorando bem mais rápido. Ela tá melhorando, gente, ela vai ficar bem logo!
Nós nos abraçamos e rimos e choramos ao mesmo tempo, e naquela noite eu chorei antes de dormir, mas pela primeira vez foi por ter esperança de que as coisas realmente fossem ficar bem.
Liam’s POV
- Simon quer falar comigo? – olhei para Paul, pausando o jogo no videogame com Louis.
- Quer, e ele disse que precisa ser rápido.
Olhei para Louis e ele deu de ombros, então levantei e peguei o celular da mão de Paul, indo para fora do quarto, que era preenchido principalmente pelo barulho ensurdecedor do videogame.
Ao me encostar do lado de fora da porta no corredor, coloquei o celular no ouvido e respirei fundo.
- Simon?
- Olá, Liam. Eu preciso ser breve, tenho uma reunião em dois minutos.
- Sim? Algum problema?
- Não, mas eu tenho uma dúvida: O filho de Danielle pode ser seu?
A pergunta foi tão direta que senti como um tapa na cara. Pigarreei. Quando Simon diz que vai ser direto, é isso que você deve esperar.
- Hum...
- Liam, por favor, o tempo.
- Tudo bem, hã... – cocei a cabeça e engoli em seco. – Eu não sei, Simon. Por que a pergunta?
- Um empresário da Modest me informou que viu uma entrevista em que ela é perguntada sobre o filho, sobre a possibilidade de ser seu, e ao invés de negar, ela apenas disse que não queria falar sobre o assunto. Perez Hilton postou em seu site falando sobre isso, e desde então as coisas estouraram.
A coisa tá mais feia do que eu pensava, se até Perez Hilton já sabia. Eu precisava parar de evitar esse assunto e procurar me informar melhor, mas com toda a loucura do acidente, até havia esquecido.
- Eu não falo com Danielle desde que terminamos, mas... Eu vou descobrir, Simon, e assim que fizer, eu conto a você.
- Muito bem. Tenha uma boa noite.
E a chamada foi desligada.
Pensei por um segundo e ordenei a mim mesmo que fosse resolver isso já. Entreguei o celular à Paul, avisei à Louis que não ia mais jogar e fui para o meu quarto, no final do mesmo corredor.
Liguei as luzes, peguei meu celular e sentei na cama, encarando-o por um segundo. Eu pensei em ligar, mas já era tarde, então só mandei uma mensagem, esperando que o número ainda fosse o mesmo.
“Precisamos conversar. Liam.”
Eu larguei o celular e fui trocar de roupa e escovar os dentes para dormir, e quando voltei havia uma resposta.
“Liam, eu só quero paz. Nunca planejei nada disso. Esqueça que nós existimos, e vamos esquecer de você.”
Obviamente, isso me dava uma resposta. Uma bem curta e reta. E não era coisa boa.
’s POV
Ao ouvir o “entra” abafado de de dentro do quarto, entrei e fechei a porta atrás de mim. Sentei em sua cama, ao lado da mesinha onde ela fazia alguma tarefa da aula.
- Nós estávamos pensando em ir para a chácara no fim de semana. Você vai poder?
- Hum, eu acho que sim. – disse, sem tirar os olhos do caderno. – Estou adiantando todos os trabalhos da semana.
- Ah, que bom. A gente pensou em comemorar a melhora de , ela parece estar se recuperando muito mais rápido, e segundo a o médico falou que se continuar assim, em dois meses ela estará recuperada.
- A adoraria ir junto... – ela suspirou e largou a caneta, coçando os olhos e tirando o óculos de leitura.
- Você está cansada, não está? Qual é o problema, ? Ultimamente anda tão quieta.
- Duas das nossas melhores amigas estão desacordadas há mais de um mês, . Uma delas sem prazo para voltar.
Olhei-a por um segundo.
- Mas não é só isso. – concluí. – Tem mais. Anda, me conta! Você pode contar comigo. Eu sei que não sou a , e muito menos a , e também não sou tão paciente como a ... mas eu vou tentar ajudar.
Ela suspirou e levantou, vindo para a cama e sentando ao meu lado.
- Eu não quero encher você com os meus problemas, quando tem os seus próprios. Mas já que insiste... Você já deve imaginar o que é.
- Harry – concordei com a cabeça, e ela concordou junto.
- Mas não é só isso. Estou pensando em terminar.
Arregalei os olhos para .
- Por quê?
Ela encolheu os ombros.
- Não está mais funcionando. Por meses nós conseguimos levar na marra, fazer funcionar abaixo de brigas e desentendimentos, mas não seria assim para sempre. Se as brigas não terminassem, o relacionamento ia. E é o que vai acabar acontecendo uma hora ou outra, mas Harry é tão importante para mim, eu só não quero... perdê-lo totalmente, não a sua presença, entende? Então talvez agora seja a hora de fazer isso, antes que as coisas fiquem ainda piores.
- Mas eu não entendo, no começo do ano vocês estavam tão bem! Pareciam ter mudado. O que aconteceu?
- Ah, , entre mim e Harry isso nunca vai mudar. Eu acho que paramos por um tempo porque nós percebemos o quanto gostávamos um do outro, e que não valia a pena acabar com aquilo, e... E o fato de que eu estava grávida e nós nem sabíamos era muito sério. Mas com o tempo o efeito daquele choque passou, e voltamos ao que sempre fomos. Nós sempre vamos ser assim. – balançou a cabeça. – Mas eu não queria ter que perdê-lo.
- Ah, – puxei-a para um abraço reconfortante, porque não sabia mais o que falar. fungou algumas vezes e choramingou algo que eu não entendi, e depois se afastou, limpando algumas lágrimas.
- Isso é tão difícil, . Eu não espero que você e Louis terminem nunca, nunca! Eu gosto tanto dele, eu... – ela olhou para as próprias mãos e girou um anel em seu dedo. – não é como se eu pudesse simplesmente acabar e apagar todas as lembranças! E o pior de tudo é que sei que a culpa é de nós dois, e não só dele. Isso não me deixa odiá-lo! E simplesmente culpá-lo por tudo e odiá-lo para sempre tornaria as coisas tão mais fáceis para mim!
Ri dela, e apertei sua mão transmitindo compreensão.
- E... e, sabe, eu sei que venho sendo cada vez mais egoísta e mimada e insuportável, e não quero que ele me odeie, e esse é mais um dos motivos pelos quais sou eu quem preciso terminar, e logo! Eu não quero que Harry me odeie, , e... Eu preciso ser uma mulher e deixar de pensar um pouco em mim pela primeira vez. Eu estou fazendo isso principalmente pelo bem dele, entende? Porque eu... me importo muito com ele, eu sei quem ele é. Eu... eu o amo muito, .
- Eu acredito nisso, baixinha. E eu sei que vai fazer a coisa certa, eu sei que Harry também te ama demais e que aquela cabeça de vento dele vai saber o que fazer. Se for para ser, se for para vocês terminarem, então você vai ter que superar isso, e eu vou estar aqui. Mas se não for para ser agora, então... então as coisas vão seguir o rumo certo.
Ela concordou com a cabeça e fungou mais uma vez, limpando o rímel de baixo dos olhos.
- Obrigada. Eu estava precisando conversar com alguém.
- Você pode me chamar. É provável que eu sempre use o mesmo consolo, mas para ouvir eu sirvo!
Ela riu e me abraçou.
- Eu te amo, princesa !
Afaguei suas costas, sorrindo.
- Eu também te amo, .
Isso me fez pensar. Seja o que for que tenho com Louis, não quero que acabe. E não quero nunca ter que ser eu a fazê-lo.
’s POV
Na maioria das vezes, ser uma boa garota me deixava orgulhosa de mim mesma, porém em momentos como esse – em momentos em que eu aceitava sair com Victor simplesmente por não saber dizer não – era algo que eu decididamente mudaria em mim. Gostaria de poder ser mais como , às vezes. Ser curta e reta. Dizer não sem me sentir horrível dois minutos depois.
Talvez existisse uma pequena parte de mim que estava curiosa por saber o que exatamente Victor planejava ao se aproximar outra vez. Esse negócio de pai arrependido era tão inacreditável, mas outra parte bem idiota de mim talvez quisesse que ele estivesse falando sério. Não que nós fôssemos virar uma grande família feliz, mas ter um pai seria algo interessante.
Fato é que aceitei o convite de almoçar com Victor, e agora me encontrava em uma atmosfera um pouco silenciosa demais dentro do restaurante.
Eu girava o garfo em meio aos fios de espaguete, sem fome alguma, com os cotovelos escorados na mesa e ignorando qualquer sinal de boas maneiras.
- Você não gosta? Liam me falou que era sua comida preferida.
- Você e Liam viraram grandes amigos, ao que parece.
Ele me olhou por um segundo. - Sim, . Liam se mostrou um garoto muito legal, acho que você não poderia ter escolhido alguém melhor. Então, hum... vocês se conhecem há quanto tempo?
- Um ano e meio. – disse, sem manter contato visual, e soltei o garfo.
- Ah, sim. É pouco tempo, ainda. Mas vocês já pensaram em dar um passo mais sério? Ou...
Levantei os olhos para ele.
- Você sabe, casamento, noivado...
Respirei fundo e me encostei no encosto da cadeira.
- Não, ainda não. Ainda é cedo.
Ele concordou.
- E o seu trabalho, filha?
- Victor... – fechei os olhos por um momento, mas os abri outra vez. – Por que... – deixei as palavras no ar e olhei-o.
- ... eu sinto muito por... – ele também fechou os olhos como eu, e abriu-os em seguida. Um gesto que fazíamos em comum. Era impossível negar que tivéssemos um grau de parentesco. – por ter ido embora. Mas eu voltei, e... eu quero muito outra chance. Agora não importa mais porque, eu só... Eu sei que errei, mas tudo que mais quero agora, filha, é o seu perdão. É importante demais para mim, eu... Eu quero que possamos ser amigos.
Concordei com a cabeça, demonstrando entendimento. Havia algo ali, que ele não queria contar. Mas que mal fazia perdoar? Eu estava sendo patética e boazinha demais, sim. E daí? Era meu pai. Pelo menos amizade ele talvez merecesse, se continuasse assim. Ele não parecia uma ameaça.
- Meu trabalho, hum – pigarreei e passei as mãos nos cabelos. – Eu estou afastada por um tempo até me recuperar por completo. está cuidando de tudo para mim.
- , certo. A sua amiga, aquela.
Concordei.
- E quanto às que estão no hospital, como elas estão?
- Uma delas, a , ela está melhorando bastante. A ... – balancei a cabeça. – não deu nenhum sinal. Ainda.
- Sabe, – ele se mexeu na cadeira e sentou para trás também. – quando eu tinha trinta e... quatro anos, eu acho. – pensou por um tempo. – isso, trinta e quatro. Quando eu tinha trinta e quatro anos, conheci um casal de amigos que se tornaram muito próximos à mim. Eles eram novos, se casaram cedo, eram muito felizes, eram o retrato da felicidade. Eu os adorava. Um dia eles sofreram um acidente de carro, Clarie estava grávida.
Olhei-o e prestei mais atenção em suas palavras.
- Ela perdeu o filho e logo depois entrou em coma.
- E? – perguntei, ansiosa pelo fim da história.
- Ela ficou em coma por quatro ou cinco meses, eu não lembro. No segundo ou terceiro mês os médicos começaram a pedir que Jim assinasse a permissão para os aparelhos serem desligados, porque ela não dava sinal nenhum de melhoras e não adiantaria mantê-la viva naquele hospital com a ajuda de aparelhos pelo resto da vida. Mas ele se recusou, disse que não podia acreditar que Deus fosse tirar seu filho e sua esposa de uma vez só. Então ele esperou, e no quinto mês ela acordou. Ninguém conseguiu explicar, porque ela já não dava mais nenhum sinal. Mas ele acreditou, e aconteceu. Então, eu não estou dizendo para pedir por um milagre , mas... se quer muito algo, acredite. Eu já sou velho o suficiente para te dar esse tipo de dicas sobre a vida.
Pensei por um tempo e concordei.
- Obrigada, Victor.
Ele sorriu para mim, e me permiti sorrir de volta.
Conversamos por mais alguns minutos, e então Victor me levou para casa. Assim que cheguei, fui checar meu celular que deixara em casa. Nada. Nenhuma ligação ou uma mensagem sequer.
Liam parecia estar me evitando há alguns dias, e isso me dava uma pontinha de medo. Eu dizia a mim mesma que era bobagem, que ele estava ocupado demais para ligar ou falar, e que esse era o problema. Mas uma parte boba e meio insegura de mim ainda falava em meu inconsciente.
Todavia, tentei esquecer disso e me concentrar em organizar todas as roupas de que voltaram da lavanderia, que estavam empilhadas ao lado de sua cama ou desarrumadas nas gavetas e no armário. Era estranho não tê-la presente, porque quando ela estava por ali, nunca deixava nada fora do lugar.
Outra coisa estranha era ter de ouvir seu celular tocando às vezes, quando algumas poucas pessoas que não sabiam do acidente a ligavam para conversar. Isso acontecia muito pouco agora, na verdade, mas ainda acontecia. Um dia precisei contar a história à um antigo professor de biologia que ligara para convidá-la para um jantar com seus antigos melhores alunos.
O celular dela fora o único que conseguiu ser salvo no acidente, todo o resto foi triturado. Ninguém conseguira achar minha identidade, então tive que pedir uma segunda via. Minha bolsa preferida foi totalmente perdida com tudo que havia dentro. E o carro, então? Ficou irreconhecível. Foi perda total.
Victor se ofereceu para tentar conseguir algum direito na justiça, mas eu neguei na mesma hora. Fora eu quem ultrapassara aquele sinal vermelho, graças a mim o homem naquele caminhão estava morto agora, e minhas duas amigas com danos muito graves. Eu não merecia nenhum tipo de ajuda da justiça ou de ninguém. Se alguém merecia, esse alguém era a família daquele homem, e se precisasse partir de mim essa ajuda, que assim fosse.
Pelo resto da tarde, eu pintei as unhas e assisti dois filmes. Estava entediada, mas ainda não me sentia bem para voltar ao trabalho.
A melhor parte do dia era quando minhas amigas chegavam e eu não me sentia mais tão sozinha. Todos os minutos que passava sozinha, sem algum filme para me distrair, apenas me faziam sentir culpa. Talvez se eu não fosse tão boa garota, me sentiria menos pesada com todo aquele fardo em cima de mim.
Capítulo 23
Only miss the sun when it starts to snow
Only know you love her when you let her go
Only know you've been high when you're feeling low
Only hate the road when you're missin' home
Only know you love her when you let her go
And you let her go
Lou fazia meu cabelo e eu estava com os olhos quase fechados, encarando a luz forte no teto. Via as sombras de algumas pessoas passarem na minha frente, mas não sabia quem eram.
Os garotos estavam barulhentos, e eu podia ouvir os sons vindos do palco alguns metros acima de nós. Estávamos no backstage do The X Factor Austrália, a meia hora de uma apresentação.
- A Lux melhorou daquele resfriado?
- Sim, ela estava toda feliz brincando com aquele urso colorido que você deu para ela. Ela gosta de morder o nariz dele, por algum motivo.
Ri.
- Faz um barulhinho bacana.
Ela puxou um pouco meu cabelo e pegou um spray, começando a chacoalhar a lata.
- Louis, eu juro por Deus! – Liam berrou para Lou, e virei para ver o que era. – Solta essa coisa ou eu vou fazer você engolir isso!
- Mas é tão legal, amigo Payno!
Zayn ria de Louis tirando com a cara de Liam, e balancei a cabeça rindo também.
- Você sabe ser insuportável quando quer.
- Temos que fazer uma reunião de emergência para tratar sobre os tipos de comida que botam nos nossos camarins – Niall falou, cheirando um tipo de doce verde que parecia gelatina, porém mais sólido.
- E já podemos discutir sobre Louis e esse boneco de ventríloquo bizarro que ele arranjou.
- Eu ganhei de uma fã – ele disse, imitando a voz do boneco em forma de macaco que tinha na mão, e mexendo a boca dele.
Na verdade, aquilo estava começando a ficar chato mesmo. Mas Liam estava tão estressado ultimamente que nem se permitia rir.
- Onde estão as fãs normais que geralmente dão ursos de pelúcia segurando corações que cantam “I Love you”? – Liam perguntou, se levantando do sofá e saindo de perto de Louis.
- Elas saíram de moda.
- Foram para o fandom do The Wanted.
- The Wanted não tem fandom – Niall riu, mas depois balançou a cabeça e suspirou. – Pelo menos é o que dizem.
- Estão nervosos, meninos? – Louise perguntou, colocando uns últimos fios do meu cabelo no lugar. – Voltar para um dos lugares onde tudo começou?
- Na verdade, tecnicamente a sensação de voltar para onde tudo começou só acontece quando Simon está nos jurados. – Louis falou, com seu ventríloquo estranho.
- E além do mais, não ficamos mais nervosos.
- É mais como uma sensação de “os papais chegaram, crianças”. – Zayn completou, fazendo todo mundo cair na risada.
Na verdade, era daquele jeito mesmo que nos sentíamos. Éramos a maior boyband do mundo. O maior fruto que aquele programa jamais iria colher. Fizemos história no The X Factor, não havia como negar, então se apresentar nos palcos do programa era como voltar para casa.
- Tudo bem, papais. – ela riu. – Hora de ir dar uma volta e se aquecer, vocês entram em quinze minutos.
- Já?
- Já. – Louise deu alguns tapinhas em minhas costas e levantei da cadeira. – Anda, vai dar uma volta por aí.
Dei de ombros e fui fazer exatamente isso. Caminhei pelo enorme espaço daquele backstage, dei de cara com alguns participantes, alguns empregados, com lugares apertados e silenciosos.
Quando vi, eu estava longe dos meninos e da minha equipe de produção. O lugar era enorme, e fui parar em um corredor apertadinho com algumas portas pequenas que, na sua maioria, davam para despensas de vassouras ou produtos de limpeza.
Abri uma das portas, e a sala era diferente das outras. Parecia mais com um pequeno compartimento de um guarda, com telinhas que mostravam cenas ao vivo da garagem, de um corredor vazio, de uma espécie de sala de espera e de um tipo de hangar. Havia uma cadeira giratória e, em frente a ela, um painel com alguns botões que eu não fazia ideia do que faziam.
Era um lugar bem quieto, a sala parecia ser à prova de som, ou simplesmente era longe demais de tudo. Fechei a porta, sentei na cadeira e encarei o silêncio por um bom tempo. Momentos assim eram raros em minha vida. Ou eu estava rodeado de fãs, câmeras e papparazzi onde quer que eu fosse, ou estava com aqueles quatro caras barulhentos, ou em casa, quase sempre com minha namorada neurótica por perto.
A qual realmente me atordoava às vezes, e às vezes eu desejava que não fizesse tanta falta.
Eu ainda estava bravo com . Bravo, magoado, chateado, triste, ou como quiser chamar. Eu estava cansado das brigas, da mesma história toda vez, do ciúme e do jeito como ela só trazia problemas. Não atendia seus telefonemas há alguns dias, mas desde o dia anterior meu celular não chamara mais nenhuma vez. Era como um grande silêncio, uma linha muda, onde ela cansara de tentar fazer contato e desistiu de esperar retorno. Talvez fosse um bom exemplo do que era nosso relacionamento. Porque, pensando bem, eu desistira de esperar meu retorno há tempos.
Encarei a tela de meu celular por um tempo, e depois de decidir que já estava na hora de voltar, levantei da cadeira e fui até a porta.
Mas ela estava trancada.
Pensei por um momento em como aquilo era patético. Eu estava a cinco minutos de fazer uma apresentação no The X Factor, e estava preso em uma sala que nem sabia onde ficava.
Liguei para Niall, e ele disse para todo mundo manter a calma. Paul pegou o telefone e pediu que eu explicasse como chegar àquela sala. Mas como eu ia saber?
’ POV
- Oi, filha.
- Alô, pai?
- Sim, meu amor?
- Pai, por acaso você... diminuiu o limite do meu cartão?
- Não, , por quê?
- Ah, é que eu estava aqui na Forever 21, e... – olhei outra vez para as roupas em cima do balcão e puxei melhor a etiqueta de uma saia para ver. Os números saltaram aos meus olhos e mordi o lábio. – Ah, nada, nada pai, foi um mal entendido! Eu me enganei nas contas. Desculpa.
- Tudo bem, princesa. Até mais.
- Tchau, pai.
Guardei o celular. Caramba! Como eu não percebi antes que aquela saia de renda custava mais de trezentas libras?
Suspirei e tirei aquela peça das roupas que eu levaria, entregando o resto à atendente. Passei as mãos no rosto e respirei fundo. Eu juro que nunca fui do tipo que vai fazer compras para esquecer dos problemas. Mas estava mesmo precisando de umas roupas novas para o inverno e eu estava tão alheia a tudo ao meu redor, que nem percebi quando ultrapassei o limite do cartão de crédito.
Saí da loja um tanto afobada, eu estava atrasada para minha primeira aula do dia. Comprei um expresso antes de entrar na faculdade, para ver se eu acordava um pouco e parava de andar com a cabeça nas nuvens. E lá estava eu, tão entretida em minha uma hora de arquitetura histórica que nem percebi quando o sinal soou e as pessoas saíram da sala.
- ? - Levantei a cabeça e vi professor Jonathan me encarando com um sorriso divertido. – Você já pode ir, se quiser.
- Ah! – levantei-me ao olhar em volta e não ver mais ninguém. Peguei minha bolsa, os livros na mesa e as duas sacolas da Forever 21 ao lado da minha classe. – Desculpe, eu... eu não vi...
- Está tudo bem. Dedicada, como sempre digo. – ele riu. Ri também, balançando a cabeça. Exceto que daquela vez eu estava simplesmente meio desligada.
- Sinto muito, Jonathan... hum, desculpe, professor Jonathan. – minhas bochechas coraram. E isso lá era jeito de chamar o cara que tinha idade para ser meu pai e me dava aulas semanalmente? Mais respeito, .
- Tudo bem, pode me chamar de Jonathan se quiser. Professor fica muito formal. Além disso – ele ajeitou um pequeno artefato decorativo em sua mesa e se sentou em sua cadeira. – você pensou melhor em minha proposta?
Pensei por um segundo, olhando-o. Acho que meu segundo demorou demais, pois ele arqueou as sobrancelhas para mim quando não ouviu resposta.
- Ah, ahn... sim, é... eu... – puxei a cadeira em frente à sua mesa mesmo sem permissão e sentei-me nela, e só depois me perguntei se era falta de respeito. Eu estava mais lesada do que o normal. – eu acho que sim.
- Você acha? – ele sorriu. – E então?
Olhei para o pequeno pêndulo balançando em sua mesa e respirei fundo. Pensei em Harry, como sempre, e depois em uma vida longe de Londres, longe de , das meninas, dos meus pais, de tudo que sempre fui acostumada. Pensei em como eu apreciava aquele frio na barriga que a ideia de uma mudança abrupta me provocava, em como eu gostava de mudar, em como alguém uma vez falou que eu combinava com vida de ciganos, pois curtia tanto as mudanças. Pensei em um futuro borrado, daqueles que você só consegue descobrir se encarar de frente, e pensei em minha promessa para mim mesma de mudar, de fazer o bem à Harry e à mim mesma, de me tornar uma mulher, alguém mais madura, de crescer, de andar com minhas próprias pernas. Então olhei para as sacolas da Forever 21 no chão ao meu lado. Eu não queria ser essa garota. Eu precisava aprender a andar com minhas próprias pernas, sem a ajuda do papai para qualquer coisa. Eu sabia qual era a decisão correta a tomar. Eu sabia o que queria. E mesmo assim, fazer as palavras saírem, fazê-las serem ouvidas era tão difícil para mim.
E então, pensando naquela mulher que eu queria ser, alguém decidida e autônoma, alguém forte e segura de si, engoli o medo e fiz com que minha voz dissesse o que precisava ser dito, com toda a coerência e o tom decisivo que eu tinha:
- Eu vou aceitar sua proposta, professor. – meus olhos subiram para o rosto dele, e ele abriu um sorriso de satisfação.
- Ah, ótimo! Ótimo, , você não se arrependerá! – ele se levantou, sem tentar conter a felicidade. – Isso será muito, muito bom para o seu futuro, eu garanto a você.
Por um momento, fui acometida pela mesma alegria de ter tomado uma ótima decisão, e me levantei junto com ele, apertando firmemente a mão que ele me estendia. Nós trocamos um aperto de mãos firme, e então, como se a alegria dentro de mim fosse uma luzinha piscante prestes a explodir, eu não pude conter a mim mesma e abracei meu professor de arquitetura histórica, dando um gritinho de felicidade. Não era exatamente algo que uma mulher forte e decidida faria, mas eu ainda era , a “neurótica e controladora”. Apesar de estar em uma fase de mudança. Para melhor, é claro.
Jonathan riu, e logo me afastei dele.
- Me desculpa! Eu só estou contente. Muito obrigada por essa chance.
- Tudo bem! – ele riu. – Então é o seguinte, você tem um mês para arrumar suas coisas e fazer tudo o que precisa. Sua matrícula será enviada hoje mesmo depois que eu falar com a secretaria.
Meu sorriso sumiu assim que a realidade me fez voltar à Terra.
- Um mês?
- Isso. É pouco tempo para você? – ele olhou-me, um tanto confuso.
- Não, não. – minha voz falhou. – Tudo bem, um mês... Um mês está ótimo. Muito obrigada.
- Obrigado , e parabéns pela chance.
Sorri para ele, agora um pouco mais fraco, e peguei minhas sacolas de novo.
- Até mais, Jonathan.
Saí da sala meio sufocada. Era literalmente como se eu tivesse uma pedra presa na garganta. Nem sabia se era vontade de gritar e pular ou chorar. Eu precisava conversar com alguém, mas não conseguia esperar até chegar em casa. Levei a mão à cabeça, me sentindo atordoada, com excesso de informação. Deus, o que eu havia acabado de fazer?
De qualquer jeito, tentei me acalmar e chamei um táxi, que era muito mais rápido do que o metrô.
Roí todas as minhas unhas em tempo recorde naquele momento.
Liam’s POV
Minha mente se resumia em um inferno nos últimos dias.
Eu não sabia o que pensar, o que fazer, o que falar, nem mesmo como agir. Eu falara com Danielle. Marcara um encontro com ela em Londres assim que a turnê acabasse. Eu estava simplesmente aterrorizado. Ela não negara que aquele filho era meu, apesar de eu insistir na resposta, mas também não me deu nada concreto. Porém, era óbvio, isso só podia significar uma coisa.
Eu não estava com medo apenas por . É claro que não. Havia algo muito maior em jogo. A banda. A fama. Aquela criança. Eu era novo demais. Tinha medo de falar com meus pais sobre isso, com os meninos, com Simon, com , com todos. Eu tinha medo, e guardava para mim, o que estava me sufocando. Já fazia uma semana desde aquela mensagem de texto, e desde então eu mal dormia pensando nisso. Eu sabia que não poderia continuar com se aquilo tudo fosse verdade. Eu precisava fazer as coisas como elas tinham que ser.
Eu evitava falar sobre isso porque, se os meninos soubessem que era praticamente certo que aquele filho era meu, eles podiam me culpar por estragar a banda. E como eu iria lidar com isso? Com a culpa de ter estragado o meu sonho e de mais quatro dos meus melhores amigos?
E ao mesmo tempo, ser pai? Como eu seria pai? Como, se nem segurar uma criança eu sei?
E Danielle? Ela não estava com outro homem? Por que ela não me contara antes? Como ela pensou que eu reagiria assim que ela simplesmente chegasse e jogasse aquela bomba em cima de mim assim, do nada. “Liam, eu tenho um filho, e ele é seu. Termine com sua namorada. Largue sua banda. Aceite essa criança. Ela é sua.”
- On my stone. – Louis me trouxe de volta à Terra. – This words will be written on my stone, Liam. Qual a dificuldade em cantar isso?
- Desculpe – pedi, voltando ao começo de meu solo.
- She told me in the morning she don’t feel the same about us in her bones...
Continuei cantando, enquanto minha mente ignorava até mesmo minha própria voz e voltava à Terra das incertezas e medos.
Depois de nosso ensaio rápido, fugi do estúdio e deixei os garotos para trás provavelmente cochichando sobre como o Liam andava estranho ultimamente.
Peguei meu celular e disquei o número de , não aguentando mais continuar ignorando-a e fingindo que estava tudo bem. Como era meio da tarde, ela atendeu no segundo toque.
- Liam?
- Oi, .
- Ah, Liam, que bom que ligou! Você não atendia as minhas ligações, eu estava preocupada...
- Amor, precisamos conversar.
- O que aconteceu? – sua voz pareceu nervosa. – Eu andei lendo umas coisas na internet, mas... Liam, o que está havendo?
- Escuta , eu não tenho muito tempo. Mas eu quero te pedir que não dê ouvidos a nada do que dizem antes de conversarmos, tudo bem? Você confia em mim?
- É claro que sim.
- Obrigado. Então quando eu chegar nós conversamos melhor, ok? Eu vou te explicar tudo, eu juro.
- Tudo bem, mas... Como você está?
- Eu estou bem, amor. Só ando... ocupado ultimamente. Como você está?
- Estou com saudade.
Sorri, um pouco triste, um pouco cansado. Mesmo nas atuais situações, aquilo me alegrava.
- Tudo bem, você está ocupado, nos falamos depois. É melhor você desligar.
- Certo. Eu amo você.
- Eu também amo você.
Desliguei a ligação, sentindo pelo menos um peso a menos nas costas. Tudo bem, o que eu fizera ali foi só retardar um dos problemas, mas já era de grande ajuda.
Louis’ POV
- Vocês conseguem acreditar nisso? É tão surreal. – Harry coçou a cabeça e olhou-nos, de boca aberta. – Nosso último show acabou de acontecer! Acabou! A turnê acabou, e... E mais um ano se passou, rapazes.
- Obrigado por tornarem o melhor ano da minha vida um fato real, seus viadinhos. – Zayn falou e riu, antes de darmos nosso último abraço em grupo no final do show, no backstage.
Estava tão agitado lá embaixo, toda a equipe correndo de um lado para outro, todo mundo se abraçando, conversando alto, rindo, comemorando o fim de mais nove meses de trabalho árduo, mas que valeu a pena. Tanta coisa havia acontecido só naquele ano... Foram prêmios, notícias incríveis da nova turnê, o filme... E tudo parecia um borrão. Se quase todos os nossos passos não tivessem sido registrados por uma câmera, eu não acreditaria que aquilo tudo foi real mesmo.
Depois de alguns minutos, nós convocamos toda a equipe em volta de uma mesa improvisada com salgadinhos e refrigerantes e comemoramos. Tínhamos pouco mais de uma hora para arrumarmos as coisas e partirmos do Japão para Londres, onde ainda devia ser meio dia. Então, sem enrolar demais, nós fomos levados de volta ao hotel, nos despedimos das fãs japonesas, jogamos tudo dentro das malas e fomos levados para o aeroporto.
Assim que entramos no avião, me atirei em minha poltrona, coloquei um fone de ouvido, fechei os olhos e apaguei. Aquele negócio de fuso horário me deixava exausto.
Quando fui acordado por Liam, cinco horas haviam se passado. Em Tóquio seriam duas horas da manhã, mas meu relógio indicava cinco horas da tarde em Londres, UK.
Ao me dar conta de que estava finalmente desembarcando em casa para algum tempo de descanso, pulei da poltrona e fui um dos primeiros passageiros a desembarcar. Apesar de ter dormido apenas cinco horas, eu me sentia renovado.
Um carro nos esperava, e um segurança grandalhão e estranho estava no banco do motorista. Devia ser um dos caras novos de Paul.
O tráfego naquele início de noite estava intenso, e demoramos quase uma hora para chegar em casa. Minha casa parecia abandonada, apesar de muito bem cuidada e limpinha pela faxineira que ia semanalmente limpá-la.
Liguei a TV, para que o som que vinha dela preenchesse o silêncio e peguei uma toalha e uma muda de roupas limpas e confortáveis, e fui direto para o banho. Tomei um banho de quase meia hora, sentindo-me ainda mais descansado ao final dele. Então saí, preparei alguma coisa rápida e instantânea que pudesse ser preparado no micro ondas, e comi enquanto assistia televisão. Eu sentia saudade da normalidade, do silêncio, da paz. Todos nós sentíamos. Aquilo era como terapia.
Só depois de ficar deitado olhando um jogo que passava por um bom tempo, foi que olhei no relógio e percebi ser oito e meia da noite. Levantei, escolhi uma roupa mais descente e mais aquecida, já que o tempo em Londres estava congelante naquele mês que antecedia o natal, e peguei as chaves de meu carro.
O motor já devia estar com teias de aranha de tanto tempo que não era esquentado, de modo que deixei que ele funcionasse por um tempo antes de sair do lugar. Não porque precisasse, mas porque de algum modo a sensação de que eu precisava deixar o carro respirar era presente.
Há essa hora, o trafego estava mais calmo. Peguei algumas ruas pouco movimentadas, e dirigi calmamente até a casa das garotas, me dando ao luxo de passar devagar pelo meio dos bairros e apreciar a paisagem deserta. Uma garoa fina que provavelmente mais tarde viria a se tornar pequenos flocos de neve caía, tornando tudo úmido, como Londres sempre dava um jeito de fazer.
Ao chegar à casa das garotas, percebi que nenhum carro estava estacionado ali fora, o que significava que, estranhamente, eu fora o primeiro a visitá-las. Bem, não tão estranhamente assim. Eu sabia muito bem que Liam estava tentando pensar em um jeito de ter aquela conversa sobre o filho de Danielle com , e não queria ter que enfrentar isso tão cedo, sabia também que vir aqui era um tanto doloroso para Niall e que Harry e não se falavam há semanas. Além disso, Zayn provavelmente estava dormindo em casa. Então era bem provável que eu fosse um dos primeiros.
Desci do carro, acionei o alarme e caminhei até a casa rodeada por muros pequenos de pedra e grades marrons. Eu amava como até a entrada daquela casa emanava um ar de “esse é o nosso lar”. E nem era minha.
A marca das rodas do pequeno carro de ainda não haviam sido apagadas do chão da entrada, o que significava que ela chegara há pouco. Assim que abri o portão que liberou um rangido fraco, caminhei até a porta branca de madeira e bati algumas vezes, encolhendo um pouco os braços pelo vento frio que soprava. Uma fumaça branca saiu da minha boca, e subitamente senti falta do verão.
A porta foi aberta, e sorriu para mim.
- É tão bom te ver – ela me abraçou quando entrei, e fechou a porta atrás de mim. – Como você está?
- Muito bem, e você?
- Estou ótima.
Tirei o casaco e pendurei-o atrás da porta junto com outros casacos. Passei as mãos umas nas outras para me esquentar e olhei em volta.
- E as outras?
- Ah, está na cozinha e no quarto.
Olhei-a, esperando mais por um segundo. Só depois me lembrei que agora eram só elas. Isso era tão estranho.
- Ah, tudo bem, eu vou lá, ok?
- Vai, vai lá, eu sei que você está morrendo de vontade mesmo – ela riu e me empurrou para o corredor dos quartos.
Assim que entrei na visão da porta da cozinha, olhou para trás e me deu um tchauzinho com a mão, com a boca cheia e um saco de pipocas de micro ondas na outra. Dei tchau de volta e fui para o quarto de , mais no final do corredor.
O quarto dela tinha duas paredes roxas e duas brancas, com todos os detalhes em preto e branco. Tinha algumas prateleiras com CDs, DVDs, livros, revistas, fotos e souvenires em todas as paredes, uma mesinha de canto e outra para seu Mac, uns papéis e cadernos, mais alguns livros, um porta lápis cheio de canetas e lápis coloridos, e umas caixinhas de som pretas de onde uma música calma e baixinha saía. Como o quarto era ao lado do banheiro social, assim como o de , as duas tinham portas de entrada para lá. O barulho do chuveiro e um pouco de vapor saíam por debaixo dessa porta, o que indicava que ela estava no banho. Sentei na cama e esperei que ela saísse, e quando o fez, apenas enrolada na toalha, levou um susto a me ver e pulou no lugar.
- Meu Deus, Louis!
- Oi!
Ela veio até mim e sorriu, beijando-me.
- Você não avisou que vinha, achamos que só chegavam amanhã.
- Nós já chegamos há algumas horas, mas os meninos provavelmente estão descansando.
- E você, não está descansando por quê? – perguntou, virando de costas para mim e abrindo a toalha para secar as costas, mas bloqueando minha visão.
- Hum... eu já descansei. Aí, você quer sair?
Ela fechou a toalha outra vez e olhou para mim.
- Uma festa?
- Sim.
- Sim! Eu quero! Ah, muito obrigada, é do que eu estou precisando!
Ri.
- Tá legal, então se arruma e a gente sai. Tenho uma festa de uns amigos, e quero que conheça eles, são gente boa.
- Ok, mas você tem que sair para eu poder trocar de roupa.
Semicerrei os olhos e deitei na cama, com os dois braços debaixo da cabeça.
- Não.
- É sério – ela disse, soltando os cabelos que estavam presos em um coque. – Sai logo, Louis, que aí talvez mais tarde você ganhe um... prêmio. – piscou para mim, e me levantei na mesma hora.
- Eu te espero na sala, não demore! – gritei, já do lado de fora do quarto ouvindo ela rir.
Fiquei conversando com e até sair do quarto, e por um milagre ela não demorou muito para se arrumar. Usava um vestido preto justo e um sapato alto de camurça azul, tinha os cabelos soltos e uma maquiagem escura com a boca opaca, e era só. E estava linda.
A festa era uma open house party na casa de um amigo do tempo de Eleanor, e ele geralmente fazia uma festa enorme todo ano antes do natal. Suas festas eram incríveis, havia sempre bebida e comida suficiente para todo mundo e a piscina era um dos melhores lugares, porque mesmo com o clima frio a água era aquecida e sempre havia um louco o suficiente ou bêbado o suficiente para ser o primeiro a se jogar na água.
estava realmente louca por uma festa, e isso era visível. Beber, festejar, estar no meio da loucura era sua marca registrada, era quem ela era, não tinha como controlar. E vê-la daquele jeito, incontrolável e feliz, era meu hobbie preferido. Eu não estava cem por cento descansado para uma festa, mas contanto que ficássemos lá só por tempo suficiente para eu ver meus amigos e ela se divertir, logo podíamos ir embora para que eu ganhasse o meu “prêmio”.
Em algum momento, quando eu e fomos pegar o que devia ser sua quinta dose de whisky da noite, ela se bateu com alguém e as duas pararam. Reconheci a garota como sendo Eleanor, a minha ex namorada. Ela também demorou alguns segundos, mas reconheceu . Não sei se por vê-la nos sites da internet ou por já tê-la visto uma vez antes. Logo depois de reconhecê-la, ela olhou para mim, e então sorriu.
- Louis!
- Olá, Els.
Ela me abraçou e deu um beijinho no rosto.
Encontrar Eleanor ali não era bem uma surpresa, ir na festa de fim de ano de Toby era como uma tradição para nós dois, mas achava que ela ainda estava morando na Itália e, por isso, nem passava pela minha cabeça encontrá-la ali aquela noite.
- Vocês fiquem aí e eu vou pegar um drink – disse, dando um tapinha em meu ombro e indo para o bar, já meio bêbada.
- Vocês estão juntos agora, não é? – Els perguntou.
- Estamos sim. – respondi e, por um momento, me perguntei como pude ir até o fundo do poço por essa garota. Hoje em dia, eu olhava para ela e não conseguia sentir mais absolutamente nada. Nem mesmo raiva, o que era de se esperar de alguém que te fez sofrer. Ela se tornou tão passado para mim, que sua existência não mudava em nada em minha vida.
- Estou feliz por você, Lou – ela disse, com um ar de compaixão, e tocou meu ombro. Como se ela soubesse o quanto sofri e que era óbvio que eu recém estava me recuperando da falta que ela fazia. Patético. – Quer ir lá para fora? Está mais tranquilo do que aqui, podemos conversar. Quero saber como andam os meninos, a sua vida. Eu estava com saudade!
- Claro – respondi apenas, e a segui até lá fora da casa.
Eu devo ter ficado pouco mais de meia hora conversando com Eleanor, e aí ela foi chamada por umas amigas e voltei para dentro para procurar , que devia estar se divertindo como nunca. Eu a encontrei em uma rodinha de gente, entre eles muitos garotos dos quais os olhos não conseguiam desgrudar dela. Toby estava lá também, com sua namorada Rebecca e mais umas pessoas, dançando.
Abracei-a por trás e ela me olhou por cima do ombro.
- Está ficando tarde, você quer ir?
Ela assentiu, e então se despediu de toda aquela gente com beijo no rosto como se fossem amigos há anos. Fomos quietos até o carro, e andava alguns passos à minha frente. Ela parecia cansada.
Assim que entramos no carro, ela tirou os calçados e ergueu os pés no painel, levantando os cabelos um tanto suados. Dei partida, e as ruas que peguei estavam desertas por ser quatro da manhã. O silêncio começou a ficar suspeito em algum momento, quando percebi que ela só olhava para a janela, e não para mim ou qualquer outro lugar.
- ... Está tudo bem? – minha voz quebrou o silêncio depois de um tempo.
- Tudo ótimo. – murmurou, ainda olhando para o lado contrário.
Tudo bem, algo ali não estava certo. Me ajeitei no banco e segurei o volante com as duas mãos.
- Eu fiz algo errado essa noite?
- Me diz você.
Mas eu não sabia o que dizer. Me comportara tão bem, que até peguei bebida para ela todas as vezes que ela pediu. Não fui grudento, nem conversei demais, nem agi muito como namorados como ela pedia para eu evitar fazer geralmente. Eu fizera tudo exatamente nos termos que ela impõe.
- Me diz, por favor, o que foi?
Parei o carro em um sinal vermelho e olhei-a.
- Você está se fazendo de inocente!
- Inocente? – Arqueei as sobrancelhas.
- Eleanor estava se atirando para cima de você, Louis! E você super gostou, porque não desgrudou dela desde que a encontrou. Ela deve ter te dado outro chute na bunda para você ter se afastado, porque se dependesse de você, ainda estaria lá puxando o saco dela! Até o Tony percebeu!
Franzi o cenho, digerindo tudo de uma vez. O sinal ficou verde, e dei partida.
- Você não vai falar nada? – perguntou, dessa vez olhando-me séria.
- Mas falar o quê? – perguntei, realmente confuso.
- Ah, por favor. – bufou. – Você podia pelo menos tentar se explicar.
- , você está com ciúme? – Perguntei, quando a ficha caiu. É que era simplesmente incabível que ela estivesse com ciúme de mim enquanto eu pensava que o problema era que eu estava sendo grudento demais! Ri fraco, por algum motivo gostando um pouco daquilo.
E aí foi como se eu tivesse apertado exatamente aquele botão que tem uma etiqueta escrito “NÃO APERTE”. ficou furiosa.
- Eu não estou com ciúme daquela vassoura com cara de taxo!
- Tudo bem, tudo bem! Desculpa. Mas então o que é?
- Eu sei o quanto aquela vadia te fez sofrer, e aí você simplesmente finge que tudo aquilo não aconteceu e vai comer não mão dela outra vez quando ela chama!
Ela ficou quieta e olhou pela janela outra vez, e era como se estivesse saindo fumaça das suas orelhas. Eu apreciei o gesto de preocupação, mas sabia que na verdade aquilo era sim ciúmes.
- , eu não me importo mais com a Eleanor. Ela não significa mais nada para mim. Eu estou com você agora, por que eu ligaria para ela? Aquilo tudo já passou. Você não precisa ter ciúme.
- Eu não estou com ciúme, Louis!
- Então por que esse drama todo? – olhei-a, tentando entender.
- Eu só queria saber por que ficou tão felizinho quando estava com ela, se não sente mais nada.
- Você acha que não fico feliz quando estou com você?
- Isso é tão nada a ver com o assunto! Não foge!
- Eu não estou fugindo! – Dei de ombros.
- Eu vi ela passando a mão na sua bochecha e você rindo feito uma hiena.
- Ela só estava limpando.
- Limpando o quê?
- Limpando... batom. – minha voz saiu mais baixa.
- Ah, então ela não foi a única amiguinha que você encontrou por lá.
- Mas e quem garante que o batom não fosse seu?
- Porque eu nem toquei em você naquela festa.
Bufei e parei em outro sinal vermelho.
- Você está louca. – Avisei.
- Ah, é mesmo? Eu sinto muito. Vai sozinho para casa então!
Ela tirou o cinto, pegou os calçados e desceu do carro, batendo a porta com uma força desnecessária. Tirei meu cinto também e levantei, abrindo a porta e olhando-a.
- Você não vai ser tão exagerada a ponto de querer ir a pé.
- E quem disse que eu vou a pé? – olhou-me, com o telefone na orelha.
- E vai pagar como, senhorita eu-não-vou-ir-com-meu-namorado-pois-sou-teimosa? Sua carteira está no carro. - Ela praguejou e desligou a chamada. – Anda , volta pro carro. - Suspirei.
- Eu vou a pé. – disse, decidida, e começou a andar no meio da rua, meio cambaleante.
Respirei fundo e olhei para o céu, levantando as mãos.
- Por que ela sempre bebe demais, Deus?
Entrei no carro e comecei a dirigir devagar, seguindo-a ao seu lado com o carro.
- , por favor, entra no carro. – Disse, olhando pelo vidro abaixado do lado do carona. Ela não respondeu.
- São quase cinco horas da manhã, . Não complica. Por favor.
- Se você continuar falando, vou te jogar meu sapato.
- Estou tremendo de medo.
Ela parou e me encarou, com o olhar mortal.
- Eu não estou brincando.
Continuei dirigindo e olhando-a pelo retrovisor. Quando eu já estava a uma distância razoável, parei o carro em uma vaga qualquer e desci, indo até ela.
- Vem, vamos voltar para o carro. – caminhei decidido até ela e me abaixei na sua frente, e peguei suas pernas, jogando-a no meu ombro.
- Eu não... Louis! – gritou. – Me solta. Me solta. Me solta. Me solta. Me solta! – começou a repetir, e eu fechei os olhos enquanto andava até o carro.
- , dá pra parar? Olha o vexame que você está fazendo! – Disse, mesmo que não houvesse ninguém por perto.
- Isso é abuso! Você está se aproveitando de uma dama indef... meu sapato caiu.
- Azar.
- Louis, é meu preferido. Volta, por favor.
Suspirei e dei dois passos para trás. Me abaixei um pouco e ela pegou, levantei e voltei a andar.
Coloquei-a dentro do carro e fechei sua porta, entrei na porta do motorista e dirigi até a minha casa. Ficamos em silêncio durante toda a viagem, e só quando coloquei o carro em minha garagem foi que percebi que ela estava dormindo. Estava toda torta, deitada no banco.
Dei a volta no carro e peguei-a no colo, e ela se abraçou no meu pescoço. Fechei a porta do carro e entrei pela porta da garagem, que estava aberta e dava para a minha cozinha. Deitei-a em minha cama, tirei seu vestido apertado, e deixei-a usando apenas o conjunto debaixo, enrolada em meu lençol. Antes de ir tomar banho, porém, passei as mãos em seus cabelos e beijei seu rosto. Apesar do pequeno fiasco, eu estava feliz demais por saber que ela gostava de mim mais até do que queria admitir.
- Eu também amo você, coisinha teimosa.
Niall’s POV
Ao acordar de manhã, eu me sentia um pouco menos confuso e cansado com o horário. Depois de tomar um banho e colocar uma roupa decente e comer alguma coisa na casa de Zayn, mesmo que ele ainda estivesse dormindo, eu o acordei para que se arrumasse e nós fôssemos ao hospital.
Isso levou um tempo. Quer dizer, até que Zayn acordasse e até que ele voltasse para a Terra, até que decidisse levantar e se arrumar, e até que finalmente ficasse pronto.
Ele dirigiu, e devido ao trânsito ficamos empacados por um bom tempo em uma avenida até conseguirmos chegar ao hospital. Antes de entrar, ele iria comer algo na lanchonete, então desci e entrei lá sozinho.
Cumprimentei aqueles que eu conhecia, e pedi a uma das enfermeiras que me levasse ao quarto.
- Estranho, pensei que você já estivesse aqui. – ela disse, enquanto me conduzia.
- Por quê?
- Minha colega atendeu um garoto que veio ver há alguns minutos atrás. Ela descreveu ele como loiro, baixinho e com cara de bebê. Eu pensei que fosse você. – Riu.
Franzi o cenho. Quem poderia ser? Segui pelo corredor em silêncio até o quarto, e assim que chegamos a enfermeira saiu e abri minimamente a porta. Mas ouvi uma voz vinda lá de dentro, então parei para escutar.
- ... E então ela disse “ah, mas você parece tão novinho, como pode já estar dirigindo?”. – o garoto que falava riu. – Por que sempre falam isso, ? Eu já disse, sabe, eu tenho dezessete, qual é o problema nisso? Já posso dirigir, sim!
Abri um pouco a porta e olhei para dentro do quarto. O garoto estava sentado onde eu sempre sentava, ao lado da cama, conversando com ela como se ela estivesse mesmo escutando, com uma naturalidade impressionante.
- Se você estivesse acordada eu te levaria para dar uma volta agora. Talvez eu te levasse no museu ou na biblioteca para nós perturbarmos a paz de algumas pessoas. – riu. – Ou talvez ao cinema. Eu gosto de observar você quando está concentrada em algo, prestando bastante atenção, você faz uma cara engraçada, é muito legal. É um grande charme.
Ele fez silêncio outra vez, e achei isso tudo muito interessante. Encostei-me na parede e fiquei ouvindo.
- Eu sinto muito por não ter vindo antes. Eu fui viajar com meu pai naquele fim de semana, e voltei antes de ontem. Nós fomos para a Irlanda, sabe? É um lugar incrível, lá. É lindo de verdade, eu acho que você gostaria de conhecer. Eu queria ter te levado, eu ia convidar você. Ah, meu Deus, eu ia! E se eu tivesse, se eu... Se eu tivesse te convidado talvez você não estivesse aqui. Como eu sou estúpido, . Eu sinto muito.
Silêncio.
- De qualquer jeito, o lugar era incrível, conhecemos tudo, meu pai foi conhecer algumas bebidas e comidas típicas, fomos em vários restaurantes, meu pai fez amizade com vários chefes de cozinha, foi tudo ótimo. Eu gostaria de ter você lá. Mas então, eu percebi que você não respondia mais as minhas mensagens. De primeiro eu pensei que você estava brava, você sabe, pelo que eu falei a respeito do... daquele garoto. Mas depois eu achei estranho e tentei ligar algumas vezes, e dava sempre fora de área. Aí eu liguei para aquela sua amiga, a de cabelo estranho, sabe? E ela me contou o que havia acontecido. Eu vim aqui ontem de noite, mas já era tarde e não pude te ver muito bem. Foi só para me certificar de que você estava bem, e tudo mais. Bom, isso não é exatamente estar bem, mas... você sabe, seu cabelo tá maneiro. – fez uma pausa. – Ah, e você tá branca demais, parece um fantasma! – riu. – Desculpa. Não tem graça tirar sarro de você sem ouvir a sua resposta.
Eu estava prestando tanta atenção na “conversa”, que não estava percebendo nada do que acontecia ao redor. Era lógico, pelo modo como ele falava, que sentia algo por ela. E me peguei pensando que eu não era o único cara que caíra nas graças de . Um segundo depois que pensei isso, eu revirei os olhos. Claro que não era, Niall. Ela é maravilhosa, qualquer garoto que chegasse a conhecê-la como eu a conheci não conseguiria evitar se apaixonar por ela.
- Sabe, , tem muita gente aqui que te ama. Tem muita gente que sente falta de você, que gosta muito de você, que precisa de você aqui. Suas amigas, elas te amam muito. A menina do cabelo estranho, ela é super querida, ela me encontrou ontem, foi gentil comigo, me contou sobre vocês. Disse que moram juntas há mais de um ano, e que você é a melhor amiga dela. Disse que está passando por tanta coisa nova e estranha e queria você aqui, porque você torna tudo melhor quando está presente. E eu tive que concordar. Nós não nos conhecemos há tanto tempo assim, mas você é tão especial, você é como minha melhor amiga. Então, escute só, vê se volta. E logo, porque é torturante ter que esperar. Nós todos estamos com saudade. Se está me ouvindo, volta. Por favor.
Dessa vez, o silêncio foi mais pesado. Eu reconheci aquele tom, eu reconheci como um tom de tristeza, pesar, de quase perda. Medo. De ser as últimas palavras que podia falar. E de dizer adeus, então o “volta logo” era a melhor opção. Sempre sendo otimista. Era exatamente como eu fazia.
Entrei no quarto nessa hora, e o garoto olhou para trás. Eu o olhei, brevemente compartilhando um momento com ele, e então isso sumiu.
- Você é Charlie, não é?
- Você deve ser o Niall. – ele se levantou. Era do mesmo tamanho que eu. Por um momento, nós nos olhamos de cima abaixo, e aí levei minhas mãos para mexer nos meus cabelos no mesmo tempo em que ele o fez. O gesto exatamente igual, ao mesmo tempo. Nós éramos tão parecidos que assustava. E mesmo assim, não consegui gostar do garoto, exatamente porque ele era como o personagem fictício de que me manteve afastado dela por tanto tempo. E, ironicamente, ele era igual a mim.
- Sim, eu sou.
- Eu imaginei. – ele soltou uma risadinha, e então deu alguns passos para perto da porta. Eu o acompanhei com o olhar, e então ele parou de costas para mim por um tempo e depois se virou para me olhar. – Você... você não faz ideia do quanto ela te amou.
- Ama. – corrigi, na mesma hora. – Ainda ama.
- Tem que começar a aceitar que talvez a sua vida não seja um conto de fadas, cara. Talvez ela não acorde agora. Talvez ela não acorde mais. E aí você vai ter que conviver com a culpa de não ter feito nada quando teve a chance.
- Qual é a sua? – dei um passo à frente e perguntei.
Ele levantou os braços e deu de ombros.
- Estou só falando o que você já sabe, mas recusa a acreditar. Sabe, Niall, se queixar de que a vida não foi justa com você é fácil. Sentar naquela poltrona – ele apontou onde estava sentado até agora. – e dizer que sente muito, isso qualquer um faz. Mas isso não é sobre você. É ela quem está presa à uma cama de hospital com a vida prestes a acabar sem ter ouvido o que sempre quis ouvir. De você. – ele deu um passo para trás e segurou a maçaneta. – Tenha um bom dia.
E então Charlie saiu, e me deixou sozinho com suas palavras ainda soltas ao ar.
’s POV
- Você está dizendo que eu saí de pés descalços e comecei a andar no meio da rua? Sem chance, Louis!
Ele riu.
- Eu disse que você não ia acreditar em mim.
- Porque não é verdade! Eu não acredito que fiz isso.
- Você fez. E ainda chamou Eleanor de... vassoura alguma coisa.
Ri. Bom, isso ela era.
- Tudo bem, eu vou fingir que acredito e agora nós vamos esquecer esse assunto.
Louis concordou e riu, olhando para frente enquanto dirigia. Ele estava me levando na casa dos meus pais para pegar algumas roupas de inverno que eu ainda tinha no meu antigo quarto, e depois se não chovesse nós íamos a um parque que estava na cidade.
Ao chegarmos na frente da minha casa, Lou estacionou e puxou o freio de mão.
- Você não vai comigo?
- Vou esperar aqui, tudo bem pra você?
- Tudo, eu não demoro. – beijei-o e saí do carro.
Era um espaço enorme até que eu ultrapassasse o gramado inteiro e chegasse na porta de casa. Quando eu falei meu nome fui autorizada a entrar e os grandes portões de ferro se abriram. Até chegar lá, eu fui cantarolando alguma coisa, e sem brincadeira demorei uns quatro ou cinco minutos.
Quando a porta foi aberta, corri para o andar de cima e entrei no quarto. Peguei uma mala de viagem grande de dentro do closet e abri as portas das roupas de inverno. Caramba, quanta roupa. Joguei minhas preferidas dentro da mala, arrumei-as brevemente e fechei. Mas ainda havia roupas que eu queria. Então peguei outra mala, também grande, e enchi a mesma até a borda de roupas. Provavelmente eu não usaria a metade.
- Maria! – Chamei a mulher de idade que tirava o pó de uma estante no final do corredor. – Pode chamar algum empregado que tenha força e vir aqui um pouquinho?
Ela concordou com a cabeça e sumiu escada abaixo. Continuei arrumando algumas roupas, e depois ela voltou com um garoto de uns vinte e tantos anos que devia ser motorista ou algo do tipo.
- Você me ajuda a levar essas malas para baixo? – pedi a ele, que prontamente assentiu e pegou duas malas e saiu do quarto. Ainda restava uma, que eu sofri até empurrar até a porta. – Maria, você pode fazer um favor? Pegue todas as minhas roupas que ainda estão no closet e doe para alguma instituição que estiver precisando, tudo bem? Eu não uso mais nenhuma delas. Aliás... – olhei em volta, para todos os móveis e objetos decorativos e maquiagens e brinquedos velhos que eu tanto guardei até sair de casa. – Doe tudo. Tudo que você puder achar alguém que precise. Ok?
- Sim senhora.
- Obrigada. – agradeci e ela começou seu trabalho dentro do quarto, enquanto eu empurrava a mala até a ponta da escada.
Quando passei pela porta do escritório do meu pai, porém, ouvi sua voz chamar-me lá de dentro e ele logo apareceu na porta.
Praguejei baixinho.
- , filha. Tudo bem? Eu nem vi que estava aqui.
- Você nunca vê. – falei baixinho e virei-me para ele, mas acho que ele não escutou.
- Como você está? Sua mãe não está em casa, mas ela adoraria te ver.
- Ah, jura?
- Sim, sua mãe e eu ficamos muito preocupados com você.
- Eu imagino. – me escorei na mala que estava de pé ao meu lado, chegando à altura do meu joelho. Não era nem surpresa que eles estivessem na cidade. Mais de um mês depois do acidente em que quase morri, e eu mal havia ouvido falar deles, se não por um telefonema de dois minutos.
- Você quer ficar aqui essa noite? Pode dormir no seu quarto, como nos velhos tempos. Nós podemos jantar, e...
- Não, obrigada. Eu já tenho planos para hoje.
- Ah, é mesmo? – ele deu um passo para frente, como se não quisesse que eu saísse. – Com as suas amigas?
Revirei os olhos.
- Com o meu... namorado. – falei, porque era complicado explicar para meu pai que ele não era namorado, e chamar só de amigo já era exagero.
- Ah, o seu... E por que não jantam aqui? Os dois? Eu podia conhecer o garoto e...
- Pai, olha só, eu aprecio sua vontade de bancar o bom pai agora, mas não vai rolar. – disse, cortando a conversa ali antes que fosse longe demais. Virei de costas para descer as escadas, mas ele me chamou outra vez:
- , por favor! Não fale assim com seu pai! Você vai se arrepender quando não me tiver mais por perto para mimar você. Sabe que eu já não sou mais tão novo quanto era antes, e nem a sua mãe.
- O quê? – virei para ele e ri fraco. – Você está brincando, certo? Você está mesmo tentando botar a culpa em mim por não te dar atenção? Por favor, pai, seja menos hipócrita!
- , não levante o tom de voz comigo. – ele fez cara dura.
- Ou o quê? Vai mandar as empregadas me deixarem de castigo? Eu não sou mais a garotinha que era no tempo em que você ainda tinha um tempo mínimo para ficar comigo. Eu cresci, pai, eu sou adulta agora, sou responsável pelos meus próprios atos, eu ganho meu próprio dinheiro, me sustento sozinha, não moro mais nessa casa, você não pode mais me dizer o que fazer. Aliás, nunca pôde. Nunca teve autoridade o suficiente, sabe por quê? Porque nem conhece a própria filha!
- , chega de jogar a culpa no meu serviço! Eu e sua mãe batalhamos a vida toda para dar a você e ao seu irmão a vida boa que você tem hoje, que sempre teve! Eu queria saber como é que você sobreviveria sem todas as mordomias que ganhava quando era menor...
- Você não me conhece mesmo. – balancei a cabeça e olhei-o cheia de raiva. – Eu nunca liguei para essas coisas fúteis que vocês ligavam. Jonah era assim, não eu. Pergunta para as babás que me criaram desde que eu nasci, pai, e você vai descobrir um pouco mais sobre mim. Além disso, eu me sustento sozinha há anos. Só você que nunca percebeu.
- Ah meu Deus, filha! Olha só para nós dois! Você não consegue mais me ver sem botar a culpa de tudo em cima de mim!
Ri, cheia de escárnio, tentando não surtar ali mesmo. Ele só podia estar fora de si.
- ISSO NÃO É SOBRE VOCÊ, PAI! Eu quase morri! Eu! Onde vocês estavam quando isso aconteceu? Onde estavam a minha vida toda?! – Gritei, pouco me importando com qualquer coisa. – Não venha me dizer que eu tenho que ter medo de perder meus pais, porque nunca tive pais! E vocês... Há muito tempo vocês não têm mais filhos. – Disse.
Ele ficou quieto, e meu desgosto e frustração já eram tão grandes que eu estava prestes a chorar. Não queria mais olhar para a cara de meu pai, de minha mãe ou qualquer pessoa que tentasse demonstrar algum falso carinho por mim. Eu queria sumir e ficar sozinha.
- Filha, eu...
- Esquece – disse, e desci as escadas puxando a mala comigo e quase quebrando-a ao bater nos degraus.
Eu fui até a porta e saí, e encontrei com o garoto e as duas outras malas. Deixei a terceira com ele, e ele me olhou, um tanto assustado.
- A senhora está bem?
Olhei-o, e só nesse momento senti uma gota quente escorrer pela minha bochecha. Limpei-a rápido e funguei, me recompondo.
- Mande essas malas para a minha casa. Maria vai te dar o endereço. – disse, e segui meu caminho pelas pedras que faziam uma estradinha por todo o gramado até o final do pátio.
Depois da caminhada, limpando umas lágrimas que caíam de vez em quando e ordenando a mim mesma que não chorasse, eu finalmente cheguei aos portões de ferro. Até que eles fossem abertos, respirei fundo algumas vezes e me recompus. Eu estava com tanta raiva que podia dar um soco na primeira pessoa que aparecesse na minha frente.
E bem ali na minha frente, quando os portões se abriram, estava Louis. Ele sorriu para mim, seu sorriso habitual, previsível, calculado, idiota. Mas eu não sorri de volta. Porque eu não queria sorrir naquele momento. Eu queria gritar.
- Ei, o que aconteceu?
- Eu vou embora.
- ? – ele parou de sorrir e veio para perto de mim quando comecei a andar na calçada. – O que aconteceu? Entra no carro, se quiser eu te levo para casa.
- Eu não quero entrar no carro, Louis.
- ... O que foi? Eu fiz algo? , por favor? – ele pegou meu pulso e eu o puxei na mesma hora, olhando-o.
- Me deixa em paz, Louis. Não somos nada, lembra? Você não precisa bancar meu motorista particular. Ou meu consolo. Eu não quero. Agora vai embora.
Ele me olhou por um tempo, e deu um passo para trás.
- Me deixa pelo menos te levar para casa.
- Eu pego o metrô. – disse a primeira coisa que passou pela minha cabeça e virei as costas, me afastando pela calçada.
Eu me arrependi no momento em que falei aquilo, mas estava com tanta raiva que naquela hora nem consegui me importar. Não era isso que as pessoas faziam? Mentiam e manipulavam, e sempre se importavam mais com elas mesmas? Meus pais eram assim. Louis provavelmente também era assim, no fundo. Então eu estava sendo assim também.
Zayn’s POV
- É isso. – falei, e minha voz soou alta demais para um lugar que ficou em silêncio por muito tempo. – É isso, . Eu acabei. – olhei para a cama e tirei a ponta do lápis da boca. – Você quer ouvir?
Voltei a olhar para o papel. Algumas partes estavam sublinhadas.
“I’d do anything to save it, why is it too hard to say it?”
“Pages between us written with no end, so many words we’re not saying, don’t wanna wait till its gone. You make me strong.”
“Im sorry if I say I need you, but I don’t care I’m not scared of love. Cause when I’m not with you I’m weaker, is that so wrong? Is it so wrong? That you make me strong.”
“think of how much love that’s been wasted. People always trying to scape it. Move on to stop their heart breaking. But there’s nothing I’m running from, you make me strong.”
“So baby hold on to my heart, need you to keep me from falling apart. I’ll always hold on, cause you make me strong.”
Era tudo para ela.Cada palavra.Era exatamente como eu me sentia sobre tudo que envolvia nós dois, e agora eu conseguira transformar meus sentimentos em música. Pela primeira vez, eu conseguira! O quão bom era isso?
A música se denominava Strong. Eu ainda precisava mudar algumas coisas, acrescentar algumas coisas, com a ajuda dos meninos, é claro. Principalmente Louis e Liam, eles eram os melhores nisso. Mas o principal, a melodia e parte da letra eu mesmo que inventara.
Cantei para ela, do jeito que imaginei que devia ser cantada, enquanto segurava uma das suas mãos. Eu cheguei mais perto para que ela ouvisse melhor, como se estivesse ouvindo. Passei minhas mãos em seu cabelo no final, e beijei sua testa.
E aí aconteceu algo que me assustou. Eu senti uma pressão, não uma pressão fraquinha e imaginária, mas uma bem forte, um aperto em minha mão. Ela apertou a minha mão. E quando olhei para nossas mãos, assustado, ela fez de novo. E eu vi sua mão se mexer. Olhei para seu rosto, ainda igual, e senti vontade de gritar. estava ouvindo. Ela estava sentindo. Estava me dando um sinal!
- ? – sussurrei, e por um bom tempo esperei alguma resposta que não veio. – ? Está ouvindo?
E aí ela apertou de novo, e dessa vez permaneceu segurando minha mão por uns dois segundos.
O choque foi tanto, que afastei a poltrona da cama e pulei de pé no mesmo segundo. Fiquei petrificado por um tempo, olhando-a, e então eu passei as mãos no cabelo e fui até o corredor, chamando a primeira pessoa que passou por ali. A enfermeira entrou, meio afobada, provavelmente sem entender nada do que eu estava falando, e então foi até na cama. Checou os aparelhos, sua pulsação e tudo mais, e então pegou a sua mão. Olhou para mim.
- Pode tentar fazer de novo?
Assenti, e fui para o seu outro lado. Abaixei-me até perto do seu ouvido, e sussurrei:
- , pode me ouvir?
Olhei para sua mão, e ela estava apertando a mão da enfermeira. A mulher, talvez da mesma idade que eu, olhou para mim e sorriu.
- Ela vai acordar? Quanto tempo mais? Ela está melhor, não é? Vai ficar bem?
- Eu precisarei conversar com o médico dela, ele vai fazer mais alguns exames, mas posso te prometer que ela vai acordar. está em um processo bem rápido de progresso.
Sorri.
- Graças a Deus – suspirei, e então me afastei um pouco da cama.
Eu não conseguia tirar o sorriso do rosto. Precisava contar isso a alguém, qualquer pessoa. Peguei meu celular, as chaves e a carteira e fui para a porta. Antes de sair, meio afobado, voltei.
- Você pode ligar quando tiver os resultados desses exames aí? Liga para qualquer um que tenha na lista dela. Por favor.
Ela assentiu, rindo, e saí correndo corredor afora, louco para contar as novidades a alguém que entendesse o quão feliz eu estava.
’s POV
- Então essa é a sua casa?
- Eu passei por muita barra depois que me separei de sua mãe – Victor se explicou. Depois que deixou ela, você quer dizer, pensei. – até que finalmente achei um emprego que pagasse bem o suficiente. Tudo que tenho hoje é fruto de muito trabalho duro.
- Bem, ela é linda. – comentei, olhando em volta. – Mas você não me trouxe aqui para ver sua mobília, não é?
- Eu queria conversar, filha. Siga-me.
Segui Victor até um corredor pequeno que ia para a cozinha, mas parei para ver algumas fotos em uma estante pequena. Tinham duas deles com uma mulher, uma mulher bonita e mais ou menos da idade dele. Uma dele sozinho, uma com uma turma de homens que pareciam ser do seu trabalho, e uma dele, uns quinze ou vinte anos mais novo, segurando um bebezinho em frente a uma casa. Foquei minha atenção a essa última.
- Essa... essa sou...
- É você. – ele disse, parando ao meu lado. – Eu e você quando você tinha duas semanas de vida. Essa aqui – aponta para a casa atrás da foto. – era a casa de sua avó, a minha mãe. Ela morreu algumas semanas depois que a foto foi tirada.
Olhei-o de canto.
- Eu sinto muito. Perder um dos pais deve ser horrível. - Disse isso pensando em e em como eu a vi sofrer durante a adolescência. Em como, às vezes, foi difícil não ter um pai, por mais que Peter exercesse muito bem essa função.
- Perder os dois, você pode acreditar, é muito pior. - Olhei-o e ele sorriu de canto, um sorriso meio triste. – Meu pai morreu quando eu tinha doze anos.
- Eu sinto muito... de novo. – fiz uma careta.
- Tudo bem. É uma falta que acaba acostumando.
- Você... você tinha essa foto o tempo todo?
- Desde que saí da casa da sua mãe, sim. Sempre tive ela. Eu sempre tive você presente, em cada lugar que morei, em cada viajem que fiz ou mudanças que sofri. Você pode não acreditar, , mas essa foto me fez lembrar em todos os momentos da minha vida que em algum lugar do mundo eu tinha você.
Por algum motivo, eu me sentia mal por todo o julgamento errado que fiz de Victor antes. É claro, isso não justificava ele ter sumido sem nunca dar notícias, mas saber que minha memória sempre esteve presente em sua vida já era metade do que eu sempre desejei para meu pai biológico.
Dei um passo para o lado, tentando quebrar um pouco da barreira que ainda tínhamos entre nós dois.
- Isso... é legal. Eu nunca imaginei.
Ele ficou quieto por um tempo, e então virou um dos porta-retratos com a foto de uma mulher para mim.
- Essa era Marilyn, minha esposa. Sim, eu fui casado, – ele disse, prevendo minha surpresa. – por três anos, e fui muito feliz. Isso depois que eu consegui encontrar um emprego e ajeitar a minha vida longe da sua mãe, o que pode ter certeza, demorou um bom tempo.
- E ela... mora aqui com você? – olhei em volta.
- Marilyn faleceu há dois anos.
Olhei-o, não conseguindo conter minha surpresa. Mordi o lábio.
- Ah meu Deus, Victor, eu...
- Foi um acidente de carro. – ele balançou a cabeça. – Ela estava voltando para casa. – pensou por um segundo enquanto observava a foto, e eu não consegui desgrudar meu olhar do seu rosto, porque pude ver que sua mente estava sendo inundada de memórias e ele a amava de verdade. – É uma dor que não desejo a ninguém.
Eu já falara “sinto muito” duas vezes em menos de dois minutos. Mas não sabia o que mais podia falar além disso, então tudo que fiz foi abraçá-lo. Tão subitamente, que ele se surpreendeu com o ato. Eu já esperava, mas mesmo assim ele correspondeu, me abraçando e passando a mão nas minhas costas como um carinho.
Depois que me afastei, ele voltou a andar até a cozinha.
- Siga-me, sim?
Assenti e segui-o até a pequena mesinha no meio da cozinha, onde me sentei e ele rapidamente preparou um chá enquanto conversávamos sobre coisas mais leves. Eu nunca imaginara que Victor houvesse passado por coisas tão difíceis na vida. Ele se mostrava alguém tão inteligente e que tinha tanto a oferecer, com tanta experiência, e de repente me senti interessada em conhecê-lo cada vez mais.
Quando ele enfim terminou de preparar o chá, sentou-se na minha frente e serviu nossas xícaras. Eu não era grande fã de chá. Eu sei, “que grande britânica”, mas realmente não gostava muito do gosto. e eram as que mais gostavam desse negócio do chá das cinco, não eu.
Nós ficamos em silêncio por um breve momento em que pude ouvir o líquido batendo no fundo da xícara, e a colher mexendo o açúcar. E então, ele suspirou e passou as mãos nos olhos, como se estivesse cansado.
- Eu não venho sendo muito honesto com você. Preciso te contar algumas coisas.
Ele parecia meio tenso.
- O que aconteceu?
- Você queria saber por que foi que eu resolvi te procurar agora, não é? Dezoito anos depois de ter sumido.
- Sim.
Esse era o grande mistério por trás de Victor. E eu esperava não me arrepender ao ouvir.
- Bem, eu... eu andei passando por coisas difíceis. Desde a morte de Marilyn, minha vida tem sido uma bagunça, e só agora, há alguns meses, eu consegui decidir o que realmente precisava fazer e botar tudo em ordem. Eu descobri algumas coisas sobre mim mesmo, descobri que não tenho tanto tempo quanto desejava, e precisei fazer uma lista de prioridades.
Franzi o cenho.
- Eu não estou entendendo...
- Eu já vou chegar lá – ele assentiu, e tomou um gole de seu chá. Continuou uns segundos depois. – Eu precisei de dezoito anos, , para perceber que sumir da sua vida, por mais que tenha sido uma escolha muito bem pensada, não foi a melhor decisão a tomar.
Seu olhar era intenso, e eu percebi que ele estava falando seríssimo. Existia aquela coisa dentro de mim, que foi religada de repente, como o respeito que temos pela nossa figura paterna. Quando seu pai fala sério, você precisa agir como uma pessoa séria também. Então apenas ouvi com atenção.
- Eu decidi te procurar, porque... – ele engoliu em seco uma vez. – se eu não fizesse isso agora, não teria mais uma chance. Eu tenho... – Victor soltou a sua xícara com cuidado na mesa. - alguns meses após a morte de Marilyn, eu fui diagnosticado com câncer de próstata.
- Câncer?
Minha mente falou tão alto assim que ouvi isso, que a palavra escapou sem querer da minha boca. Eu não entendi, naquele momento, do que se tratava de verdade. Uma doença. Era apenas isso que passava na minha cabeça.
- Sim, filha, câncer. Eu fiz o tratamento, durante meses eu me dediquei somente a ficar bem o suficiente para conseguir me curar, ou pelo menos ter tempo de fazer tudo o que eu precisava fazer. E eu consegui, por um tempo eu fiquei bem, mas agora, há alguns dias atrás, logo depois do seu acidente, eu comecei a me sentir mal outra vez e fiz um exame. O câncer voltou, e dessa vez está crescendo de forma muito mais rápida. Já se espalhou para outros órgãos. – ele balançou a cabeça, com os olhos fixos na mesa.
Precisei de um bom tempo em silêncio para processar aquilo.
- Você me procurou porque...
- Porque precisava te conhecer antes de...
Levantei em um pulo, chegando a assustar a mim mesma. A cadeira em que eu estava sentada resvalou para trás com um arranhão no chão, e ele me olhou. Passei as mãos no cabelo e desci-as até meu rosto.
Victor estava me dizendo que ia... morrer?! Que ficou dezoito anos esperando para procurar a filha que abandonou e então decide procurá-la quando descobre que está com os dias contados? Que queria que eu me apegasse a ele e aí depois simplesmente tivesse que vê-lo morrer? Qual era o problema desse cara?!
Minha mente estava dividida entre ficar com raiva por essa razão, ou arrependida por ter negado conhecê-lo no começo. Como sempre, minha parte boa se fazendo presente em meu consciente. Mas eu estava com vontade de expulsar aquela parte boa naquele momento. Gritar umas verdades para Victor e depois sair de lá correndo, como faria sem problemas.
- Você... você não... meu Deus, meu Deus. – passei as mãos no rosto. Eu juro que não sabia se falava “sinto muito” ou “você não pode fazer isso”. – Victor, você... por que você... argh!
- Me desculpe. – ele disse, apenas.
Tirei as mãos no rosto e olhei-o. Ele não devia pedir desculpas a mim por ter câncer! Mas eu não conseguia simplesmente falar que tudo bem e abraçá-lo. Não agora. Eu devia mesmo correr dali enquanto sei que ainda não me apeguei o suficiente para chorar sua morte. Mas quem eu quero enganar? Choraria a morte de um cachorro que vi na rua uma vez na vida.
- Eu preciso ir agora – foi a coisa mais fácil a fazer.
Tomei o caminho da sala de entrada, e ouvi Victor se levantar e me seguir até a sala.
- , por favor espere. Por favor, escuta, você não precisa...
Peguei minha bolsa no sofá sem de fato parar de caminhar em nenhum segundo. Abri a porta e sai de lá praticamente correndo, como se estivesse com medo de que ele se aproximasse demais. Medo de passar mais um segundo perto daquele estranho que estava ganhando minha confiança e simpatia tão rápido, e agora descobri que logo mais podia morrer.
Puxei as chaves do carro da bolsa e entrei nele. Me segurei no volante com as duas mãos, paralisando por um momento. Depois, olhei para Victor, parado na porta de casa, olhando para o Smart de no qual eu estava dentro. Ele passou as mãos no cabelo, e voltou para dentro. Precisei de mais alguns segundos olhando para o nada, e só quando a neve começou a cair decidi ligar o carro e voltar para casa.
Ao chegar lá, abri a porta e a primeira coisa que vi foi Liam sentado no meu sofá. Pela primeira vez não gostei de ver isso, depois de 39 dias de turnê em que fiquei longe dele. Simplesmente porque eu já esperava coisa ruim a caminho. Com aquele papo de “não acredite em nada que ouve sem que isso venha de mim” e todos os boatos cada vez maiores de Danielle e seu filho que aparentemente caiu do céu? É lógico que Liam estava ferrado. E havia uma boa probabilidade de eu estar também. Quem sabe o que os caras da Modest podem querer fazer para abafar um boato? Um ótimo exemplo era .
Liam estava sentado na ponta do sofá, com os cotovelos escorados nos joelhos e mexendo nas mãos, com a cabeça baixa. Quando me viu, ele pareceu aflito. Mais do que já estava. Entrei sem dizer uma palavra e soltei a bolsa em um pufe. Sentei no outro sofá, olhando-o.
- Tem algo que eu preciso te contar – ele disse, a voz falhando no final da sentença.
“Entre na fila”, pensei. Suspirei e olhei para o chão, e em seguida para ele de novo.
- Não é coisa boa, é?
Ele fez que não com a cabeça, fechando os olhos. De repente, um medo intenso me invadiu. Eu amava Liam. Não podia pensar em perdê-lo.
Ele se levantou e sentou ao meu lado, pegando a minha mão.
- ...
Esperei, mas o silêncio que se seguiu pareceu querer me sufocar. Talvez fosse isso, eles quisessem que nós terminássemos por algum motivo. Eu não conseguia ver sentido nisso, mas pela seriedade de Liam, só podia ser. E eu não queria perdê-lo. Porque eu o amava tanto, porque estar com ele desde o começo pareceu um erro e o mundo todo foi contra, mas mesmo assim era a única coisa que me fazia sentir extremamente viva. Sempre foi Liam.
- , eu... ah, eu sinto muito, muito. – suspirou e fechou os olhos com força. – eu...
- Fala logo, por favor. – pedi.
- O filho de Danielle é meu.
E foi isso. Com essa frase curta, tudo ao meu redor parou por um segundo, só para voltar a girar com mais força um segundo depois. Eu fiquei atordoada. Não sabia o que falar. Exatamente como na casa de Victor. O que se deve fazer em situações como essa? Quando seu namorado vem e te fala que tem um filho (um filho!!) com a ex namorada.
Aquilo era muito maior do que eu poderia imaginar. Era muito pior! Meu cérebro começou a pulsar no mesmo momento, fazendo minha visão escurecer por um momento, e precisei respirar fundo e segurar a cabeça com as mãos. Câncer. Filho. Câncer. Filho. Meu pai. Liam. Morte. Término.
Choraminguei algumas vezes comigo mesma, pensando que eu ficaria louca. Era muita coisa para mim. Desde o acidente tinha vezes que eu duvidava da minha sanidade, mas agora isso, soltado assim, como uma bomba em meu colo, eu simplesmente não sabia o que fazer.
- ? Eu sinto tanto, eu...
- Por que você não contou antes?! Por que fez isso?! – de repente peguei a mim mesma gritando o mais alto que podia, enquanto lutava contra as lágrimas. -Você, Liam Payne, você é um idiota!
E então eu me levantei e comecei a andar de um lado para o outro na sua frente. Extravasando tudo aquilo que eu sempre tive vontade de gritar para todo mundo, mas não conseguia por falta de coragem. Tudo aquilo que estava na minha garganta há tempos, mas engoli a força, guardando só para mim. Explodi ali, em frente a ele, soltando palavras para todos os lados. Era muita coisa acontecendo. Meu pai. O acidente. As meninas. E agora... isso.
- Você vem aqui e solta essa bomba em cima de mim de repente, e espera que eu... que eu... que eu faça o quê? Você espera que eu diga que está tudo bem, que eu aceito, que nós vamos dar um jeito?! Você... você estragou a gente, e mais do que isso, não só a gente, você estragou a banda, estragou tudo, você...
Liam se levantou e segurou meus ombros.
- , não.
- Você não pode... nós vamos... nós vamos...
E aí minha garganta se fechou, e tudo que saiu a partir daí foi choro. Chorei alto, como não fazia há muito tempo. E ele me puxou e me segurou enquanto passava as mãos nos meus cabelos, e tudo que eu conseguia fazer era soluçar.
- O que nós vamos fazer agora, ? – Liam perguntou, a sua voz em um tom que dizia “eu não sei o que fazer, me dê uma solução, eu estou assustado, por favor, me ajude.” Mas eu estava na mesma. Não fazia ideia do que fazer agora.
Eu precisei de alguns minutos para me controlar. Me afastei dele e limpei minhas lágrimas sozinha, respirando fundo para não explodir outra vez.
- Eu não sei o que...
- Você sabe sim – olhei-o, séria. Se Liam não conseguia fazê-lo, então eu teria que conseguir.
- O quê? – me olhou.
- Você sabe o que temos que fazer. O que o mundo inteiro quer e espera que façamos, e provavelmente o que vão te mandar fazer.
- , a gente não...
- Nós vamos terminar, Liam.
Ele me olhou, e engoliu em seco. Porém, não fez nenhuma objeção porque, veja bem, Liam sabia que essa era a única saída.
- Eu te amo. – ele falou, por fim.
- Eu não... – pensei em usar a palavra “posso”, mas eu devia ser mais firme. Não podia amolecer justo agora. Eu precisava fazer isso. – eu não quero mais namorar com você se é com ela que você tem a obrigação de ficar.
Ele olhou para cima, e pude ver seus olhos umedecendo. Liam balançou a cabeça, e o silêncio tomou conta outra vez. Mas ele sabia que não podia negar. Virou de costas para mim e passou as mãos na cabeça, e depois no rosto. Tudo que eu fiz, foi ficar parada no mesmo lugar, sem conseguir me mexer. Não acreditava que aquilo estivesse acontecendo mesmo com nós dois.
Por fim, Liam virou outra vez para mim, e foi como se literalmente cortasse meu peito em dois quando o vi chorando. Ele assentiu, deu dois passos até chegar a centímetros do meu rosto, ficou ali por uns segundos, e então foi para a porta. E eu fiquei parada, bem quietinha, sem ousar me mexer até ter certeza de que Liam já estava a quilômetros dali. E foi então que desabei.
Harry’s POV
Eu não sabia bem o que estava esperando quando resolvi ficar em casa do dia todo olhando para o nada. Claro, além de esperar o entregador da comida. Era meu primeiro dia de folga depois de uma turnê cansativa, eu merecia esse descanso.
Mas uma parte de mim ficou esperando que uma garota baixinha e briguenta batesse na porta, e quando eu fosse atender ela entrasse porta adentro gritando e dizendo que aquilo estava errado, que eu estava errado, como sempre estava. E então, para parar de ouvir aquilo, eu concordaria e diria que ela ficava muito melhor gritando em cima da minha cama, e depois de alguma discussão sem sentido nós...
É claro que eu estava pensando com meus hormônios. Não queria ver antes que ela se desculpasse, nem mesmo queria saber se ela estava disposta a se desculpar, dessa vez precisava ser diferente.
Abri os olhos com a campainha soando por todo o apartamento. O entardecer já chegara, e por conta disso e de todas as janelas estarem abertas e as luzes apagadas, todo o apartamento entrava em um tipo de breu, onde era bem difícil enxergar.
Esperei o som soar mais uma vez para levantar do sofá. Passei as mãos no cabelo para botá-los no lugar, e ao passar pelo interruptor da sala eu liguei a luz. Abri a porta, e não me surpreendi ao ver exatamente a pessoa que esperava. Mas sua expressão não era de fúria. Ela estava normal. Estava segurando uma bolsa. O que significava que não planejava ficar.
Não falei nada, e apenas virei as costas e voltei para o sofá, esperando que ela entrasse e fechasse a porta. E foi o que ela fez.
Cocei a cabeça e procurei o controle, ao me atirar no sofá de novo, ignorando-a enquanto ela parava no meio da sala e olhava para mim. Achei o controle e apontei para a TV, mas ela arrancou-o de minhas mãos e desligou o aparelho, jogando o controle no outro sofá.
- Precisamos conversar – disse.
Senti um tom diferente em sua voz. Não era aquele tom irritado, que anunciava praticamente “eu quero brigar e depois fazer sexo”, ou um tom realmente bravo que anunciava futuro choro e pedido de desculpa de ambos os lados. Era diferente. Era meio... decisivo demais, não era do feitio da que eu conhecia. Então mesmo que inconscientemente, a partir daquela frase, toda a minha atenção era dela.
- O que é?
Ela balançou a cabeça algumas vezes, devagar, e depois me olhou. Suspirou.
- Não está mais dando certo.
Franzi o cenho, sendo pego de surpresa.
- O quê?
- O nosso relacionamento.
- Olha, , se quiser discutir a relação porque não começamos dizendo que...
- Cala a boca e me escuta, – ela bateu um pé. – por favor.– disse no final, mais educada.
Dei de ombros, levantando um pouco os braços e dando-lhe espaço para falar.
- Eu preciso fazer isso, então... Então não torna mais difícil. Vai dar certo, vai dar – ela falou, querendo convencer a si mesma de algo. – Você só tem que entender.
- ? – olhei-a, realmente confuso agora.
- Nós não estamos mais funcionando, não é? Essas brigas, os desentendimentos. Eu não aguento mais não ser perfeita para você. Ser sempre a culpada. Eu não aguento mais a culpa de estragar tudo, mas sei que vou fazer de novo.
- Do que está falando? – perguntei, mantendo a calma, e me levantei para chegar mais perto dela.
- Você concorda que nosso relacionamento está se arruinando, não é?
- Sim, mas...
- E que talvez nós nunca iremos funcionar, e que estamos ambos exaustos dessa droga de relação que nunca vai evoluir. Estamos acabados, detonados, estragando nós mesmos e todas as chances que temos de encontrar uma saída. Não é isso, Harry?
Pensei por um segundo, e aquela definição caia tão bem para o que nós dois éramos, que concordei com a cabeça. Um silêncio se instalou por um momento, e então eu a olhei nos olhos e ela falou:
- Eu... estou indo embora. Me mudando. Amanhã.
- Se mudando? Como assim se mudando, ? – Balancei a cabeça, perdido.
- Eu recebi uma proposta, Harry. Na faculdade. E eu aceitei, três semanas atrás.
Aí eu entendi do que ela estava falando. O papo de “faculdades de turismo geralmente abrem vagas para os alunos fazerem intercâmbio”. Ainda com a expressão confusa, eu olhei-a. Aquilo não fazia o menor sentido. Como assim, estava indo embora?
- Para onde?
- Paris. Vou morar lá por um tempo. Alguns meses.
Alguns meses.
- Mas e nós? Do que você está falando, ? E nós dois? Isso não faz o menor sentido... Você... você está ouvindo o que está falando? Não faz sentido! – Levantei as mãos.
- Você sabe do que eu estou falando. – ela falou, com a voz alta e clara, tendo que fechar os olhos para isso. – Você concordou que nosso relacionamento não está mais dando certo. Você mesmo disse que talvez não vá mudar. Eu estou...
- Não. – apontei um dedo para ela, quando entendi do que aquilo se tratava. – Não vamos terminar. , você não... não vai terminar, não vai fugir quando as coisas começaram a ficar complicadas e me deixar sozinho nessa.
- Não se trata disso! Eu estou pensando no melhor para você, para nós dois. Por favor, Harry, eu só peço um pouco de compreensão da sua parte. – ela suspirou. - Eu estou deixando de ser egoísta. Você devia estar feliz. – sua voz começou a ficar mais fraca.
- , não precisa ser assim, tá bom? – Balancei a cabeça, esquecendo de qualquer desentendimento ou briga, de qualquer coisa que viesse a nos separar naquele momento. Eu precisava dela. Não podia deixá-la ir, não era uma opção. Ficar sem não era uma opção. - A gente se acerta, a gente se perdoa, não importa o que aconteça, a gente pode sempre dar um jeito, já provamos isso naquela vez que... naquela vez... – tentei pensar em uma briga em especial, em qualquer uma que seja, mas nada me veio à cabeça, e então eu nem sabia mais o que estava dizendo. Juntei as mãos e olhei-a. – Por favor. Não vamos fazer isso.
- Eu... – ela deu um passo na minha direção, mas hesitou em me tocar com a mão, e então passou os dedos pelos cabelos, colocando-os atrás da orelha e segurando a alça da bolsa com força. – Existe muita gente melhor lá fora, Harry. Para nós dois. Existe alguém lá fora que vai te completar, que vai ser o que você realmente precisa em uma garota, o que sempre quis encontrar, que vai te fazer feliz. E eu vou... eu vou estar feliz, seguindo o meu sonho, começando a minha carreira, eu vou... fazer o que sempre quis.
Eu estava inconformado. Balançava a cabeça negativamente, não querendo ouvir aquilo, não querendo que ela continuasse, eu queria apenas que ela dissesse que era uma grande brincadeira. Não podia acreditar que estava terminando. Nunca foi meu objetivo, e se eu soubesse, não teria hesitado nenhuma vez em pedir desculpas à ela de novo. Talvez aquilo tivesse passando mil vezes pela minha cabeça nos últimos meses, mas eu nunca pensei realmente nas consequências. E agora que estava acontecendo, me dei conta de que não queria isso. Eu me dei conta do que tinha, e não podia deixar escapar. Mas... também não podia prendê-la.
- Harry, existe um mundo de possibilidades para nós. Talvez daqui a algum tempo, alguns meses, anos talvez, quando estivermos mais maduros a gente se encontre de novo, e aí... a gente vê. Mas agora eu realmente preciso disso. E você também. Sabe que precisa. Precisamos conhecer gente nova, sair desse nosso mundo de brigas e de culpa, viver algo mais saudável. A gente vai se dar bem! Eu sei que vamos!
Era um final. Era mesmo um final, dessa vez sem gritos ou xingamentos. Sem nenhuma briga sequer. Ela estava realmente falando sério como nunca a vi falar antes. E era pior do que qualquer coisa que ela poderia falar para me magoar. Eu preferia viver brigando do que ouvir aquilo, porque simplesmente não estava pronto. Eu não queria acabar, eu não queria perdê-la, não queria recomeçar com mais ninguém, porque mesmo que eu superasse aquilo, nunca encontraria alguém como ela e nunca esqueceria do que tivemos. Eu nunca fui tão ligado a alguém antes. Mas não podia amarrá-la em minha vida e ordenar que ela ficasse lá para sempre. era um pássaro. Precisava ser livre, seguir seu rumo, seus sonhos. E eu não era mais sua prioridade.
Não consegui pensar em nada para dizer. Eu estava com um nó em minha garganta, e se tentasse falar com a voz embargada, eu choraria. E não queria isso, de verdade. Não queria dificultar mais seu trabalho. Ela já parecia estar prestes a chorar também.
Então encarei-a, e depois que percebi que nenhum de nós falaria nada, eu apenas encolhi os ombros, mordendo o lábio inferior para ele não tremer. Ela hesitou, mas passou a mão em meu braço, se aproximou e depositou um beijinho em meus lábios. Com gosto de último beijo. E depois, ainda hesitando em cada passo, ela caminhou até a porta.
Mas não hesitou em sair.
Louis’ POV
Agora que finalmente saímos de férias outra vez, eu podia passar alguns dias com minha família. Minha mãe estava louca para me ver, e eu estava com saudade de minhas irmãs e minha avó também.
Comecei a arrumar minha mala logo depois de meio dia, mas depois de várias pausas para prestar atenção na TV, ir ao banheiro ou comer alguma coisa, só terminei quando já começava a escurecer. Meu voo era às oito e meia, então eu estava em tempo.
Quando alguém tocou a campainha da minha casa logo depois que terminei, eu achei que fosse Harry, mas enquanto ia atender percebi que Harry não tocaria a campainha, ele simplesmente entraria e se jogaria no meu sofá, como fazia quando ainda morava comigo.
Ao abrir a porta, eu encontrei .
- Ei! E aí, tudo bem? Eu não te vi ontem – disse, quando ela entrou e me abraçou.
- Eu estava na casa do meu pai. Passei muito tempo lá ultimamente.
- Ah, sim. – fechei a porta atrás de mim, pois lá fora estava começando a congelar. – Quer um chá? Eu já ia preparar, já passam das cinco – ri.
- Não, obrigada Lou. Eu estou de saída, na verdade.
- Ah, é? Você está indo no Harry ou voltando de lá?
- Eu estou voltando. – ela parou no meio da sala, ainda segurando sua bolsa. Eu ia convidá-la para sentar, mas ela parecia mesmo estar de saída, então fiquei de pé em sua frente. – Eu passei para me despedir.
- Como assim? – franzi o cenho. – Aonde você vai?
- Vou me mudar para Paris. Oferta de estágio da faculdade. Irrecusável.
- Ei, ei! Você está falando sério? – olhei-a, meio incrédulo. Eu podia acreditar em qualquer uma das meninas indo embora, mas não . Ela era a mais nova, acima de tudo. – Vai mesmo embora, ?
Ela fez que sim.
- Amanhã. Já está tudo pronto.
- Uau... – pensei por um segundo. Dessa vez nós estávamos mesmo nos separando. Duas das meninas desacordadas e uma delas indo embora. – Mas... mas e Harry?
- A gente terminou. – ela disse. Foi tão de repente, que isso me pegou ainda mais de surpresa.
- Uau! – repeti, dessa vez mais intrigado. – Como? Quer dizer... É muita informação, eu... Você não avisou nada antes.
- Eu sei. As meninas já sabem há algum tempo, mas eu pedi que mantivessem em segredo. Eu precisava contar a ele, e... você sabe – ela deu de ombros e suspirou. – A gente já não estava mais dando certo.
Ela não parecia estar bem. Talvez conformada, mas não bem. Eu imaginei o lixo que meu melhor amigo estava à uma hora dessas no apartamento do outro lado da rua e quase desejei ir até lá no mesmo momento.
- Eu... eu não sei o que dizer. Sinto muito? Parabéns? Eu... Ah, vem cá – puxei-a pelos ombros e a abracei, e ela riu baixinho me abraçando de volta. – Eu sempre dei o maior apoio a vocês dois, sabe disso, não sabe, baixinha? Sempre te adorei, desde que eu quase te matei envenenada.
Ela riu de novo.
- Eu também sempre te adorei, Lou. Eu estou feliz por ir, mas... É tão difícil deixar tudo para trás. Às vezes acho que não estou pronta, é um desconhecido tão grande para uma pessoa tão... pequena como eu.
Balancei a cabeça.
- Mas você vai se dar bem. Eu sinto muito que vocês tenham se separado. Eu juro... pensei que se casariam um dia.
- Talvez um dia... – ela sussurrou.
- Talvez, não é? Espero que tudo corra bem. Eu vou cuidar daquele cabeça de vento, e fazer o meu possível para ficar de olho nas suas amigas também. Mas você tem que me prometer que vai se cuidar – afastei-a pelos ombros e a olhei nos olhos. – Certo?
- Certo, Lou. E você também. Eu vou ligar todos os dias para saber de vocês. E cuida da , porque sabe como ela é. – ela sorriu para mim e se afastou, colocando a bolsa no ombro outra vez. – Você foi o único que chegou tão longe com ela. Sei que ela te ama.
Sorri com aquilo e beijei sua testa.
- Eu também sei disso.
Rimos. E aí deu um último tchau com a mão e foi para a porta, desaparecendo da minha casa tão rápido quanto apareceu.
Enquanto eu escolhia alguma roupa decente para sair de casa, pensei em tudo aquilo. Caramba, eu nunca senti tanta nostalgia dos velhos tempos como naquele momento. De quando tudo era mil vezes mais complicado, mas pelo menos éramos unidos para tudo. Das pizzas e filmes no fim de semana, a chácara, as brigas de Harry e , minha desilusão amorosa com Eleanor, Niall e sendo os tapados que eram e e Zayn se pegando às escondidas. Agora todos nós estávamos crescendo, ausentando-se, se separando, indo embora... E só o que restava eram as lembranças.
Me sentia muito mal por imaginar e Harry se separando. Mal ou bem, eu sempre tive a certeza de que se um dos casais fosse ser para sempre, esses seriam eles. Mais até do que Liam e , talvez. Era estranho imaginá-los separados. Harry devia estar arrasado. Mas essa é a vida.
E a vida parecia estar tomando um rumo um tanto infeliz para a maioria de nós.
’s POV
Eu já tivera tempo suficiente para me arrepender de ter sido uma total vaca com Louis no outro dia. Me sentia uma bruxa não só com ele, mas comigo mesma. Eu sempre fazia esse tipo de merda, mas dessa vez era diferente. Eu não tive a certeza de que ele entenderia, como as pessoas sempre entendem.
Todo mundo sabia, quando eu dava uma de Malvada Cruela era só ignorar porque no dia seguinte já passava, esse era o meu jeito de ser. Mas dessa vez tive medo que Louis se cansasse de sempre receber o pior de mim em troca. O garoto não fizera absolutamente nada e eu simplesmente joguei uma bomba e saí correndo.
E para ajudar mais, uma das minhas melhores amigas estava sumindo daquela casa. Aquele fora o mês mais rápido da minha vida, em um dia entrava porta adentro dizendo que ia se mudar, e no outro já estava arrumando as coisas para pegar seu avião. E a partir daí seríamos apenas eu e .
Eu juro por Deus que se resolvesse sumir também eu a trancaria na dispensa e a manteria em cativeiro. Não dei a ninguém o direito de me deixar. Eu era incompetente, grossa e má, mas isso não era desculpa para alguém me abandonar. Muito menos Louis.
Louis.
Louis.
Louis não saía da minha cabeça. Era em um canto se preparando para acabar tudo com Harry e em outro remoendo a informação de ter terminado com Liam. E eu lá no meio delas morrendo de medo de perder aquela coisa de criança que tenho com Louis. Fiquei o dia todo olhando para o celular, com medo de ligar para ele e rezando para que ele ligasse.
Foi tudo meio silencioso demais enquanto preparávamos para a viagem. Ela tinha várias malas, mas a metade de suas coisas já havia sido enviada para seu apartamento na semana passada. Depois que ela saiu para ver o Harry, se trancou em seu quarto para fazer umas coisas do trabalho que eu trazia para casa, pois não conseguia dar conta sozinha, e eu fui para o meu quarto entrar no Twitter e ver o que estava rolando no mundo.
Quando você é amiga da One Direction, seu Twitter automaticamente vira uma Times Square virtual. Sempre tem movimento e nunca dorme. Minhas mentions eram lotadas de tweets em diversas línguas estranhas, fotos de diversas pessoas estranhas, fotos minhas com Louis, ou minha sozinha, ou xingamentos, ou mensagens fofas. Mas sempre havia algo.
Havia gente dizendo que havia boatos de que Liam e terminaram, mas ainda nada confirmado, o que as estava deixando loucas, por causa daquela história mal resolvida da Danielle. Muita gente também se questionava o que acontecera com Harry e , já que eles não eram vistos juntos há um tempão, e todo mundo queria saber onde Niall e Zayn se meteram. E aí havia gente falando que Louis ia para Doncaster por um tempo.
Nessa hora, eu não sei exatamente o que me deu. Acho que pode ser descrito como medo. Medo de que ele também quisesse terminar e me mandar ir pastar já que sou essa insuportável que não sabe ser gentil nunca. Fiquei com medo de perdê-lo, e isso me fez agir, porque eu não queria perder Louis.
Levantei, coloquei qualquer roupa, disse à que estava saindo e logo voltava, e aí peguei o carro e saí correndo para a casa dele.
Eu não estava realmente pensando, só agindo, porque se parasse para refletir eu ficaria mais calma. Mas realmente não conseguia pensar em perder Louis, principalmente com essa onda de azar no qual nós todos estávamos, então apenas deixei que minha mente agisse no desespero.
Eu demorei uns vinte minutos no trânsito, batendo as mãos no volante e mandando uns e outros para o inferno quando gritavam algo para mim. Quando cheguei lá, eu não vi o carro de Louis. Deixei meu carro na frente da sua casa e saí, esperando impaciente até que o porteiro abrisse o portão e espiando para dentro, tentando encontrar qualquer sinal de que ele ainda estava em casa. Mas talvez ele já tivesse saído, e eu tinha medo era de que ele fosse viajar pensando que as coisas não estavam bem entre nós e voltasse decidido a me dar um pé na bunda.
Quando entrei, o carro não estava lá e as luzes estavam apagadas. Corri até a porta, meio sem esperanças, e quando levantei a mão em punho para bater, a porta foi aberta antes de eu fazer isso.
Louis me olhou, surpreso e assustado, e eu olhei-o da mesma maneira.
- Oi? – ele disse, franzindo o cenho.
No momento seguinte, pulei em seu pescoço e ele cambaleou alguns passos para trás, tendo que se apoiar no sofá para não cair comigo.
- O que foi isso? – ele me olhou, assustado. – O que foi? Você tá bem? – afastou meu cabelo e segurou meu rosto. – O que aconteceu?
Ignorei suas perguntas e o dei alguns selinhos e beijos no rosto.
- Eu pensei que... eu... Eu não vi seu carro, pensei que você já tinha ido e... Ah, Louis, eu sinto muito. Desculpa por ser grossa. Desculpa por só brigar e gritar e ser uma idiota, eu não quero te afastar, eu não quero te perder. Eu sou assim, mas sei que às vezes exagero, e...
- Ei, . Calma aí. Quem disse que você vai me perder? Você não vai, amor. Não vai. Eu não vou te deixar porque você é grossa e meio louca. – ele sorriu. – Não vou. Fica tranquila.
Pela primeira vez, depois de ver que tudo estava bem, eu respirei fundo e ri, me acalmando.
- Você veio correndo, por acaso? – me olhou, passando as mãos em meu braço.
- Eu vim... de carro, mas... eu não vi seu carro, pensei que já tinha ido. Para Doncaster. Pensei que fosse terminar comigo.
Ele me abraçou, segurando minha cabeça em seu peito e sentou na guarda do sofá atrás de si. Me escorei em sua perna e fiquei ali, parada, sentindo a respiração e o carinho dele pela primeira vez sem sentir que aquilo era algo errado para nós dois. Sentindo-me aliviada. Por não perdê-lo.
- Você pensou na possibilidade de o meu carro estar na garagem?
Fechei os olhos com minha burrice. Não precisei responder para ele perceber que a resposta era não e rir de mim.
- Eu vou só às oito horas. Mas se quer tanto ficar comigo... Por que não vem junto? Eu adoraria ter você comigo.
Levantei a cabeça e olhei em seu rosto, de baixo.
- É sério?
- É claro. Nós podemos passar um tempo em família. Eu, você e a minha família. Vai ser ótimo. Minhas irmãs te adoraram.
- Eu quero. Quero sim, Lou. – Balancei a cabeça. – Quero ficar com você.
Deitei minha cabeça de novo e ele beijou o topo, me abraçando mais forte. E ali fiquei por uns minutos, até ter certeza de que Louis não iria mesmo a lugar nenhum sem mim.
’ POV
Mesmo tendo certeza de estar fazendo o certo, mesmo estando certa de que era isso que eu queria e devia fazer, minhas mãos ainda tremiam e minha respiração não se normalizava. Eu tinha direito de estar com medo, de sentir um frio na barriga imenso, como o que senti o dia todo, a semana toda.
Entrei em casa outra vez para pegar a última mala e dar tchau às meninas outra vez, depois de falar com Harry e passar no hospital para me despedir de e . Eu pensei que vê-las me ajudaria a esquecer do que eu fizera antes, mas só me deixou mais angustiada. Eu estava guardando tantas lágrimas para quando estivesse sozinha, que assim que entrasse no avião duvidava conseguir parar de chorar até aterrissar em Paris.
Entrei em casa e fui logo dando um abraço em , que segurava minha mala na frente do sofá. Seus olhos estavam marejados, e os meus ficaram também. Mas eu literalmente engoli o choro e respirei fundo três vezes enquanto a abraçava, decidida a não chorar enquanto não tirasse meus pés do solo britânico.
Essa era uma nova fase. Uma nova eu.
- Você vai ter que me ligar duas vezes por dia, e se não responder às minhas mensagens em até cinco minutos eu ligo pro seu pai e mando ele te buscar no mesmo minuto e te prender no quarto até que você tenha trinta anos. – ela disse, segurando meu rosto.
- Tá legal, mãe – ri, a voz embargada. – Você tem que me atualizar sobre qualquer mudança, qualquer uma que seja, com as meninas. Tem que deixar um buquê toda semana para cada uma com o meu nome no cartão, e tem que... cuidar muito bem da para ela não se meter em encrenca com alguma madame em festa por aí. Promete?
- Prometo, tampinha. – ela sorriu. Me encarou por um tempo e então suspirou e baixou o rosto para a echarpe rosa em meu pescoço, passando as mãos nela. – Você vai deixar saudades, ... de verdade. Não vai ser a mesma coisa sem você. Mas eu espero mesmo, mesmo, que você encontre tudo que procura... e que volte. Logo.
Eu não podia prometer nada. Estava em uma fase de descobertas, descobrir coisas novas, lugares novos, me descobrir. Não podia prometer que voltaria, porque talvez eu não quisesse voltar, o que eu duvidava, já que aquelas garotas eram tudo na minha vida, mas talvez eu não quisesse mais morar ali por um bom tempo. Pelo menos até esquecer as lembranças que deixei para trás.
Então, como não podia prometer, eu apenas concordei com a cabeça.
- Tudo bem. E mais uma coisa... você pode... – suspirei e sorri para ela um sorriso amarelo. – pode...
- Ficar de olho nele? – ela levantou uma sobrancelha e sorriu. Eu não precisei de palavras para que ela soubesse que era isso.
- Ele é meio imaturo às vezes. Pode se meter em coisa errada, só... Só se certifique de que ele tá bem, e que tá... tá tudo certo, e...
- Pode deixar, . Você pode ir tranquila. Alguma vez eu já deixei de botar tudo em ordem?
- Não – ri.
Me afastei de , olhei a hora no celular e respirei fundo mais uma vez.
- , vem dar tchau! – gritou para o corredor, e alguns segundos depois apareceu lá na porta, com seus cabelos rebeldes.
Ela veio até mim, fazendo um bico triste e uma careta de choro e com os braços abertos em um abraço. Eu ri e fui até ela, abraçando-a bem forte e recebendo o mesmo em troca. Ela afagou meus cabelos, mas logo se afastou e me segurou pelos ombros.
- Se cuida. Me liga. Come bastante queijo e toma vinho. Conheça um francês bem gato. E acima de tudo, se diverte muito, . Ok? Pode fazer isso pra mim, não pode?
- Posso, . – sorri. – E você toma conta da Cruela – apontei com o dedão para , e ela riu.
- Eu vou tentar.
Assenti para . assentiu para mim. E aí ela me empurrou para trás.
- Anda, vai logo. Vai, senão eu vou ficar toda emocional e vou acabar... vomitando, ou sei lá.
Ri alto de e seu coração de pedra.
- Tudo bem. Boa viagem para Doncaster mais tarde, usa camisinha e manda um beijão pros garotos. - Fui para a porta, puxando minha mala gigante pelo caminho. – O táxi já está me esperando.
- Tudo bem.
veio até mim e arrumou a echarpe em meu pescoço.
- Fica bem.
Sorri para ela.
- Avisem os meninos que eu não me despedi porque... eu só queria... vocês sabem, evitar transtornos. – sorri fraco. – Digam que eu sinto muito. Digam que eu os amo, e que vou sentir saudade, e digam para ficarem bem. – fui dizendo, enquanto me afastava. – Até mais, garotas...
Ao virar de costas, com o tchau de minhas amigas ainda soando atrás de mim, murmurei baixinho que as amava e tratei de sair da fina garoa que caía, entrando logo no táxi.
Daí até o aeroporto e até entrar no avião e até a decolagem foi tudo um grande borrão. Minha mente estava tão longe que eu não conseguia ver ou ouvir nada ao meu redor, eu estava vivendo em meu extremo interior, sem conseguir olhar para fora.
Apenas quando já estávamos sobrevoando algum ponto próximo ao Canal da Mancha foi que me permiti respirar novamente, e foi aí que deixei todas as lágrimas saírem em uma quantidade impressionante. Algumas pessoas, inclusive o cara ao meu lado, me encararam e ele até perguntou se eu estava me sentindo bem.
Eu não estava me sentido bem por diversos motivos. Mas havia um motivo que me fazia sentir algo parecido com alegria naquele momento, e era o orgulho de mim mesma. E eu sabia que tudo ia ficar bem.
Liam’s POV
Louis já estava batendo na porta há quase cinco minutos.
- Qual é! Eu tenho um voo para pegar em quarenta minutos, será que dá pra abrir essa porta?!
- Caras... – Niall nos olhou, com um olhar repreensivo e Zayn suspirou e se levantou para abrir a porta de sua casa para Louis.
Ele foi até a porta e a destrancou, deixando que ele entrasse.
- Qual é a de ignorar o Louis? – ele disse ao entrar. – O que foi que eu fiz?
- Escolhas certas. – Harry disse, sem tirar os olhos da TV.
- Está sendo feliz. – bufei.
- Tá legal... – ele franziu o cenho. – Então eu sou culpado por estar de bem com a vida ou...?
- Foi só uma brincadeira, Louis. Você está namorando, está feliz, está com sorte. Enquanto todos nós... – ele deu de ombros e bufou.
- Mas a culpa não é...
- Nós já sabemos. – falei. – Pega uma pizza aí – apontei para a caixa onde apenas duas últimas fatias ainda restavam. – e vai logo pegar seu voo com a sua namorada, aqui não é lugar para vencedores.
Louis riu e balançou a cabeça, e pegou uma fatia se afastando para a direção da porta outra vez.
- Boa sorte para o clube dos perdedores aí – ele riu. – Eu só queria avisar que vou voltar em uma semana, se virem a ... aí, foi mal – ele se desculpou comigo, e, não sei se pelo alto nível de álcool em meu sangue ou por estar completamente exausto de pensar em toda aquela desgraça, eu apenas assenti para que ele continuasse sem revirar os olhos ou algo do tipo. – se a virem digam a ela que a volta logo, e que ela não precisa se desesperar.
- Seu tempo está se esgotando – Zayn disse, ainda segurando a porta.
- Tá, tá, então... boa sorte aí com os... – ele acenou e parou na soleira da porta. – corações partidos ou sei lá.
- Vaza – Zayn disse, e empurrou a porta.
Louis deu um passo para fora bem a tempo de a porta se chocar contra a soleira, e Zayn passou a chave na fechadura de novo. Nos olhou, e todos trocamos uma risada meio sem vontade e voltamos ao que estávamos fazendo a tarde toda, que consistia em: não falar sobre nossos problemas enquanto olhávamos para dois homens enormes socando um ao outro no Premiere FC e tomávamos cerveja e comíamos muita pizza, etc.
Eu estava tentando esquecer o fato de que no dia seguinte iria encontrar Danielle e o bebê. Não estava pronto para aquilo. Para ver aquela criança, sendo que eu nem sabia como começar a pensar nele como meu filho. E depois de uma tarde inteira tomando cerveja, eu já estava começando a esquecer disso de verdade.
Depois que começou a escurecer e a nevar lá fora, como geralmente acontecia de noite no começo de dezembro, eu decidi ir para casa e dar jus ao que eu virara nos últimos dias: uma celebridade que está de férias e vive bêbada para esquecer os problemas que o assolam dia e noite.
Eu achava até engraçado. Por causa de uma ruptura de namoro (que eu tinha plena consciência de ser apenas consequência dos meus atos irresponsáveis) eu virara uma criatura desolada que tinha pena de si mesmo quando parava para pensar em sua vida. E isso tudo aconteceu em uma semana. Desde que aquela história de Danielle começara a me assustar até agora, mais precisamente. Agora eu estava no ápice do ódio pela minha vida, me sentindo alguém patético que ficava bêbado e ia para casa dormir em plenas oito horas da noite para ver se minha mente se desligava por um tempo.
De qualquer maneira, entrei em minha casa que permanecia fechada dia e noite desde que eu chegara, me joguei em minha cama e fiquei ouvindo algumas gotas caírem do lado de fora na calha da casa e respingarem no chão perto da janela. Comecei a pensar no natal, que era dali a alguns dias. Nosso último fim de ano em Creta parecia há anos luz dali, eras atrás. Tudo era mais fácil.
E agora, inevitavelmente, eu devia parar e pensar em qual seria meu próximo passo. Mas eu não tinha ideia de qual ele seria. Provavelmente eu me sentaria em uma mesa de reunião com empresários da Modest e deixaria que meu futuro fosse escrito por eles, e que durante todos os dias do resto da minha vida eu fosse acordar ao lado de uma mulher pela qual eu já nem sabia mais se podia sentir alguma coisa, sabendo que ela é a mãe de meu filho e que esse era o correto a se fazer. Isso é claro, se meu encontro com essa mulher corresse bem no dia seguinte e eu conseguisse fazer com que ela colaborasse.
Quando tudo que eu queria estava provavelmente sozinha à uma hora dessas, em uma casa a pouco mais de quinze minutos dali, querendo que tudo isso fosse mentira tanto quanto eu desejava que ela fosse a mãe de meu filho.
Adormeci com perguntas sem respostas sobre como tratar uma criança que apareceu do nada e que um dia me veria como pai.
Niall’s POV
Hoje era uma segunda-feira como todas as outras. De manhã, levantei e tomei um café tentando prestar atenção a um filme sobre aliens enquanto um de meus colegas de banda estava apagado, esparramado em meu sofá, depois de uma noite de tequila pura (já que a cerveja não fez o efeito desejado por ele, que no caso era: “me apagar completamente e me fazer parar de pensar naquela cretina”).
Aí, depois de um bom tempo terminando de mastigar meu café e esperando para ver o final do filme imprestável sobre os aliens que teve um fim ainda pior do que eu imaginava, eu decidi sair e ir até o hospital ver minha sei-lá-o-quê que estava dormindo há alguns meses desde que sofreu um acidente mais imprestável que o filme dos aliens.
Fui a viagem toda tentando lembrar com certeza quando tempo realmente fazia desde o acidente, mas não consegui ter certeza. Tudo passou rápido demais para mim, e me confundi até mesmo com os diferentes lugares que visitamos durante a última turnê, tipo: onde foi que estávamos antes do acidente e onde foi que estávamos depois, ou para onde viajamos logo depois que voltamos de Creta. Mas eu já não lembrava de mais nada desse ano que passara.
Ao chegar ao hospital, eu fui direcionado ao quarto pela enfermeira, como se já não soubesse de cor onde ficava. Fiquei por lá algum tempo, um tanto frustrado como sempre ficava ao entrar no quarto e não ver nada diferente do que estava da última vez. Aliás, a última vez foi um fracasso total, era até vergonhoso.
Então, pensei em trocar as flores já murchas do vaso de flores da janela, e saí do quarto para comprar umas flores novas. Ao caminhar até o final do corredor, vi ao longe alguém conhecida saindo daquela ala e a chamei:
- ?
Ela virou para trás, passando um dedo debaixo do olho e a me ver parou e virou-se para mim. Esperou que eu chegasse até lá.
- Ei Niall. – me abraçou.
- Tudo bem com você? Eu passei aqui para ver a , e depois vou deixar umas flores pra ela e a . As outras já estavam velhas.
- Ah, claro. Claro, eu até esqueci de trocar essa semana. Sinto muito.
Aí eu percebi algo de errado na sua voz. Ela estava meio fanha e engasgada... como se estivesse chorando.
- O que aconteceu? ?
- Eu... – ela passou a mão em uma lágrima. – eu fui... eu estava visitando... – apontou para o outro lado do corredor de onde vim. – meu pai.
- Seu... pai? O que ele está fazendo aqui?
Ela respirou fundo, meio como um suspiro.
- Você tem um tempo? Eu estava pensando em tomar um café.
- Claro – disse, puxando-a pelo ombro para perto de mim, preocupado.
Ver garotas chorarem. Não era bem minha especialidade saber o que fazer.
Bem, mas cinco minutos depois estávamos sentados em uma pequena mesa redonda da grande cafeteria do hospital, que estava cheia. pediu um cappuccino de chocolate com chantilly e eu não pedi nada, pois não estava com fome.
- Percebi que a sua perna melhorou bastante, né? Muito bom.
Ela concordou com a cabeça.
- Eu ainda estou mancando um pouco, mas melhorou muito mesmo. Vou voltar a trabalhar hoje no horário da tarde, depois da pausa para o almoço.
Balancei a cabeça e olhei o movimento em volta enquanto ela tomava um pouco do seu café.
- O que seu pai está fazendo aqui no hospital, ?
Ela soltou a xícara, e peguei um guardanapo de papel para limpar um pouco do chocolate no seu rosto. Eu passei ali e ela sorriu, agradecendo. Deus me livre se Liam visse aquela cena, já ia até pensar coisa errada.
- Ele tem câncer.
Meus olhos se arregalaram em surpresa.
- Eu sei – ela concordou com a cabeça. – também me surpreendi com isso. Ele me contou há poucos dias. E logo depois que contou, ele foi internado. Passou mal em uma noite e veio para o hospital só para descobrir que o tumor voltou a crescer e agora está se espalhando por outros órgãos.
Fiquei um tempo sem saber o que falar.
- Sinto muito. – parecia a coisa mais idiota a se falar. Era inútil, mas, na verdade, não tinha nada melhor a ser dito.
Ela concordou outra vez e tomou mais do cappuccino.
- Eu também.
Ela tomou todo o café em dois goles e fez uma careta ao soltar a xícara, provavelmente porque o líquido estava quente.
- Você está... com fome, ?
Ela me olhou.
- Não. Só acho que preciso tomar algo mais forte.
- Ah, certo. Ainda é cedo, né? Mas talvez eu possa te levar para tomar algo mais forte hoje à noite? Também estou precisando.
Ela jogou os cabelos para trás.
- Eu adoraria, Niall. Mas será que... – ela cortou a própria frase e pegou a bolsa, revirando-a e pegando sua carteira. – bom, tudo bem.
- Se você ia falar do Liam... bem, eu acho que ele não se importaria. Somos amigos, não é? Só isso.
- Certo, isso. – ela concordou.
Observei enquanto ela mexia na colher do café por um tempo.
- Não é só isso que está te incomodando, né? Quer dizer, além do término com o Liam e tal. Eu sei que está tudo muito complicado para vocês. Aliás, acho que você deve estar realmente em maus lençóis nessa situação em que ele te meteu. Eu sinto muito por isso também, ok? – peguei a sua mão em cima da mesa. – Eu estou aqui se você precisar.
- Obrigada... – ela disse, baixo, e abaixou o rosto, suspirando de novo, como se quisesse segurar as lágrimas. Mordeu o lábio e colocou a mão que não segurava a minha no rosto, quando seu cabelo caiu como uma cortina e cobriu minha visão dos seus olhos. Ela ficou assim por um tempo, e aí soltou minha mão e colocou-a no rosto também quando começou a soluçar.
Eu fiquei ali, só parado como um idiota, sem saber o que falar ou o que fazer, péssimo em qualquer ideia de consolo que me ocorria. Mas depois de um tempo, em que vi que era mais sério do que eu imaginava, levantei de minha cadeira e fiquei parado, de pé perto da mesa, olhando-a e me sentindo cada vez pior. Daí, eu puxei minha cadeira e coloquei-a do lado da dela. Puxei-a para perto de mim e a abracei forte, deixando que ela deitasse a cabeça no meu ombro e molhasse minha camiseta com as lágrimas. Eu fiquei afagando suas costas, e me ocorreu que talvez eu não fosse tão ruim com garotas como pensei. Talvez eu ainda levasse jeito como um “apenas amigo”, como aprendi depois de meu cursão intensivo com .
- Eu preciso te contar uma coisa... – disse perto do meu pescoço, ainda chorando, mas agora não tanto. – uma coisa... horrível, horrível.
- O que foi, ? Tudo bem, você pode me contar, tá legal? Pode me contar qualquer coisa. – eu a afastei e passei o dedo nas suas bochechas, enxugando as lágrimas. – Pode me contar. O que aconteceu?
- Não é comigo. É com... – ela fungou. – é com ela... com a . Você não pode contar para ninguém. Não ainda. Ninguém sabe além de mim e da família dela.
De repente, eu fiquei apreensivo. Pensei que fosse algo com ela. Algo que ela havia feito ou deixado de fazer. Mas o nome de mudava tudo.
- O que aconteceu? – perguntei, nervoso. – O que é, ?
- Os médicos... vão chamar a família dela para... desligar...
Sua voz sumiu em meio ao choro, mas ela não precisou responder. Eu entendi o que era. Entendi muito bem. Eles iam pedir permissão à família para desligar os aparelhos, já que ela não dava nenhum sinal. Iam deixar de tentar salvá-la. Iam deixá-la morrer.
Dessa vez, nem tentei pensar em nada para dizer, pois minha garganta se fechou com um nó tão denso que mal consegui engolir. Nem respirar consegui direito. Fechei os olhos com força e puxei-a para perto de mim de novo. Tanto para ampará-la quanto para ser amparado por sua proximidade. Desolado. Sem encontrar nenhuma saída.
Aí, eu só fiquei ali com , sem me importar com todos olhando para nós quando passavam. Nós dois estávamos em meio a uma crise naquele momento, e o mundo em nossa volta deixou de fazer sentido.
Liam’s POV
Na segunda-feira em que me reencontrei com Dani, depois de um ano e quatro meses, decidi que eu devia estar pronto para o que quer que fosse acontecer. Acordei com uma ressaca terrível, mas tomei um banho gelado e não deixei que a dor de cabeça fosse um impasse.
Eu me arrumei e fui para o apartamento de Danielle, o qual ela me enviara o endereço por mensagem de texto no dia anterior. Ao chegar lá, quem abriu a porta foi um cara alto, cheio de músculos nos ombros e mais conhecido como Thur. Eu e ele já havíamos nos encontrado uma ou duas vezes, sendo que ele era muito próximo à Danielle desde a época em que namorávamos, e geralmente provocava brigas por ciúme da minha parte.
Ele não foi muito gentil. Apenas disse que eu entrasse, me direcionou até a sala de estar e sumiu no corredor. Quando cheguei na sala, a primeira coisa que vi foi um pequeno garotinho sentado em um andador colorido, mordendo um pato em suas mãos. Em sua frente, sentada no sofá cinza brincando com ele, pude ver os cabelos cacheados inconfundíveis de Dani. Ela se levantou assim que me viu.
Andou até mim.
E nos encaramos por um tempo.
Um tempo que me pareceu não passar nunca.
Até que ela pegou minha mão e lentamente me puxou até o sofá.
- Liam, tem alguém que quero que você conheça. – foi o que ela disse.
Eu sentei no lugar onde ela estava há uns momentos atrás. Encarei o garotinho, que me olhou de volta com seus grandes e curiosos olhos castanho-claros, quase cor de mel.
- Esse é Pietro, – ela disse. Demorou segundos incontáveis para falar com todas as letras o que eu estava esperando ouvir: - seu filho.
A mescla de emoções foi algo estranho. Não era nada parecido com o que eu imaginara quando estava sozinho em casa. Eu simplesmente não consegui culpar aquela pequena criaturinha por alguma coisa dar errado em minha vida. No momento em que vi a criança – o meu filho – as coisas automaticamente entraram nos eixos. Eu soube que não importava se eu tivesse arruinado o resto da minha vida, porque aquele era o fruto do meu erro, e simplesmente não podia ser chamado de erro, porque... ele era tão perfeito... que nada nem ninguém conseguiu com que eu me arrependesse das escolhas que fiz.
A partir daquele momento, eu me apaixonei pela criança. Pietro tinha quatro meses. Era extremamente esperto para sua idade, era uma criança feliz e adorável, conseguia fazer com que tudo parecesse perder a importância ao meu redor. Naquele dia, conversei com Danielle sobre tudo que deixamos pendentes durante esses dezesseis meses em que não nos vimos. Ela me contou que já sabia que estava grávida quando descobriu sobre mim e , e foi por isso que decidiu ir embora tão de repente. Ela disse que nunca quis que eu soubesse, e que se não fosse pelas notícias que saíram sem querer na internet, ela conseguiria criá-lo pelo menos até que ele fosse velho o bastante para poder se passar por seu sobrinho, que era o que ela planejava fazer dali a dois anos quando voltaria a dançar. Mas com todo o imprevisto, ela não conseguiu seguir os planos.
Fiquei chateado com o fato de Danielle planejar esconder meu próprio filho – e isso ainda era muito estranho de se dizer, eu digo, filho! – de mim, mas sei que ela só estava pensando no melhor para ele e até mesmo para mim. Admiti que eu pensava que ela guardava rancor de mim, e ela disse que nos primeiros meses até era assim, mas com o passar do tempo ela só conseguiu focar na gravidez e na criança.
Contou também que Thur sempre esteve do seu lado, ele a ajudou em todos os momentos e cuidava de Pietro como se fosse seu próprio filho. Contou que eles estavam juntos desde mais ou menos três meses depois que ela foi embora, e que aquele apartamento era dele. Ela disse que ele não gostava nada do fato de eu ter aparecido de repente, mesmo sabendo que quem fez com que eu me reaproximasse foi Simon.
Conversamos por horas enquanto eu brincava com meu garotinho, e a única pergunta para a qual nenhum de nós teve resposta foi “o que acontece agora?” Passou pela minha cabeça mais de uma vez que talvez as coisas fossem ficar bem. Ele era apenas um garotinho que porventura tinha o meu sangue, e não havia razão nenhuma pela qual a banda devia acabar por causa disso. As fãs podiam se acostumar. E talvez pudesse entender. Afinal, Thur teria que entender, então também podia tentar.
Mas era um tanto egoísta da minha parte exigir isso dela. Eu então decidi que apresentaria a ela essa opção, e deixaria a seu critério decidir se ainda queria ficar comigo. E eu desejava muito que ela quisesse.
Depois daquele dia, por alguns dias que se seguiram as coisas foram tranquilas. Eu estava até mesmo mais feliz, mais relaxado. Sentia muita falta da , e eu não falara com ela desde que nós terminamos porque queria dar um tempo para ela respirar. E, além disso, eu ia visitar o garoto quase todos os dias, e no quinto dia finalmente consegui que Dani me deixasse levá-lo para passear sozinho. Saíram fotos e na hora que se seguiu todas as fãs foram à loucura. Tudo ficou um caos, e por causa disso, a Modest marcou uma reunião comigo, Dani e Simon para discutir sobre como a mídia saberia do assunto.
E foi aí que as coisas desandaram.
Durante uma semana eu fiquei feliz. Na outra, foi como se a vida arrancasse das minhas mãos a felicidade que eu senti como se tira doce de uma criança.
A primeira bomba foi dada por Niall. Eu não via nem ele nem os outros garotos da banda desde o dia em que tomamos um porre e Louis foi viajar, e a primeira pessoa que vi depois disso foi o Niall, uma semana depois. Eu fui até a casa dele para contar todas as novidades incríveis, afinal seria mais fácil começar contando a Niall, uma pessoa que ama a vida e principalmente crianças.
E então, ele me contou que: A) O hospital queria desligar os aparelhos de . B) estava passando por maus lençóis com seu pai estando em estado terminal de câncer. E C) havia ido embora já fazia alguns dias e decidiu simplesmente não contar a nenhum de nós.
Eu já sabia que Harry e ela tinham terminado, mas não que ela havia ido embora, porque ele estava bravo demais e bêbado demais para contar esse detalhe no outro dia.
Como se não bastasse tudo isso, nesse mesmo dia tentei ligar para . Ela não atendeu. Então deixei uma mensagem, dizendo que eu precisava falar com ela e mandando-a forças por causa de seu pai. Tudo que recebi em troca foi:
“Eu não ligo para você ou o seu filho. Não ligo nem para sua banda idiota. Estou ocupada vivendo meus próprios problemas e não quero os seus para somar na minha vida. A partir de agora, a única coisa que temos em comum são alguns amigos.”
E foi só isso. Só um ponto final.
Isso me deixou derrotado. Me senti patético por pensar que as coisas dariam certo. E me senti mais ainda quando Niall contou que Louis estava puto comigo por algum motivo, porque achava que a banda podia acabar e a culpa era toda minha, e por isso ele decidira ficar mais tempo em Doncaster do que em Londres: para evitar olhar na minha cara.
Para fechar com chave de ouro, fui à reunião no outro dia, já com os pés de volta na Terra e esperando apenas notícias ruins.
E o recado que recebemos foi:
Vocês têm duas opções. Ou Danielle volta a sumir do mapa com essa criança e nunca mais aparece perto de Liam, ou Danielle e Liam terão que virar o casal mais feliz que a mídia já viu. A Modest estava preparada para passar uma borracha em , Thur e todo o tempo que eu e Danielle passamos separados e inventar alguma enrolação que explicasse que eu sabia de Pietro o tempo todo e que era mais do que óbvio que sempre planejei ter um filho com Danielle e ficar com ela daqui em diante. Como se tivesse sido apenas um brinquedo. Apenas uma peça a descartar.
E eu tive que fazer minha escolha.
Não me orgulho da escolha que fiz.
Harry’s POV
Estávamos nos aproximando da última semana do ano e eu ainda não havia saído de casa para nada além de comprar comida. Percebi isso quando abri a geladeira e não havia nada além de um pedaço velho de queijo, leite e cerveja.
Minha justificativa era que na verdade eu passava o dia todo dormindo para me recuperar da turnê cansativa. Depois de duas semanas todo mundo já esperava que Harry Styles saísse de casa. Alguma boate, algum clube, pub, bar, festa... qualquer coisa. Os papparazzi estavam quase montando acampamento fora do prédio. Mas eu mal olhava pela janela.
Não era como se eu estivesse na fossa. Eu apenas não queria falar com uma câmera a respeito de ter terminado meu namoro de quase dois anos e, ah, sim, tudo me irritava. Menos dormir.
Eu ia sair dali a três dias para passar o natal com a minha família em Holmes Chappel e sabia que depois disso precisava voltar a agir normalmente para o resto do mundo, então queria curtir meus últimos dias de vadiagem.
Deus, como eu sentia falta de para reclamar dos problemas da vida. Éramos tão bons nisso juntos.
Peguei a última lata de refrigerante, bati a porta da geladeira com o pé e me afastei, abrindo o armário e pegando um pacote de cookies de baunilha. Depois voltei para a sala a tempo de ver o começo de uma luta de Anderson Silva.
Depois de umas duas horas, Niall me ligou e conversamos por um tempão sobre Liam e toda aquela situação com Danielle. A gente ainda não havia conhecido o pirralho, mas queríamos. Eu sentia como se eu e os caras estivéssemos mais distantes do que nunca, não nos víamos fazia um tempo, e era incomum até para as férias. A gente geralmente sempre arranjava um jeito de nos reunirmos, principalmente antes do natal.
E meus dias se resumiam a isso. Falar com Niall no telefone, assistir televisão, comer e dormir. No final daquele dia, depois de ir comprar mais comida antes de escurecer, eu voltei, assisti mais TV e depois tomei banho e fui para o quarto. Desliguei a televisão depois que não consegui encontrar nada interessante passando, e resolvi ligar a rádio do meu rádio despertador para ouvir alguma coisa antes de dormir.
Má ideia.
Primeiro tocou alguma coisa do Eminem, tá legal. Mas aí começou a tocar Yellow, e minha mão acidentalmente acertou o aparelho e ele caiu no chão com um ruído, e aí parou de funcionar. Daí fechei os olhos e virei para o lado.
Não consegui apagar na hora como sempre acontecia, porque a música ficou na minha cabeça por um tempão e eu ficava cantarolando e pensando em algum apartamento que, na minha imaginação, tinha vista para a torre Eiffel na sala de estar e para uma parede de tijolos de um prédio vizinho na pequena cozinha. O quarto provavelmente vivia com a cama bagunçada, no lixo da cozinha havia sempre uma caixa de comida instantânea e um prato para lavar na pia. Havia livros espalhados pelas mesas ao redor da casa, abajures no pequeno corredor, no quarto e perto da porta de entrada, e fotos das amigas por todos os cantos para tornar o vazio de uma casa silenciosa mais confortável. Sempre uma música ou um filme de comédia romântica de fundo, e às vezes alguma vela aromatizada na mesinha de centro. No chão do quarto, algumas roupas espalhadas e no banheiro a toalha devidamente posicionada entre a porta do boxe e o espelho da pia.
Virei para a esquerda, mas o travesseiro não estava confortável. Virei para a direita, mas eu não conseguia respirar direito. Virei de frente para o teto, e então respirei fundo e puxei a gola da minha camiseta, sentindo um pouco de falta de ar. Depois de um tempo precisei sentar na cama, arrancar a camiseta pela cabeça e jogá-la longe. Me atirei contra o travesseiro de novo, e então percebi que não passou, porque não era falta de ar. Era um aperto no peito. Que não passava por nada, não importava o quanto eu me virasse.
Mas depois de umas horas eu dormi.
No dia seguinte, acordei com meu telefone tocando debaixo de mim. Revirei a cama procurando-o até achá-lo no meio do lençol e atendi.
- Oi – falei, a voz quase não saindo.
- Ei Harry. É a . Tudo bem?
- Oi . Tudo. E você?
- Estou bem. Eu queria saber se você não quer vir aqui hoje à noite. Convidei Niall e Zayn também, e Lou e vão estar aqui. Vamos fazer uma ceia adiantada, você sabe, só para passarmos juntos, e a gente também quer ajuda com a decoração.
- A decoração? – franzi o cenho. – Mas já é dia vinte.
- Eu sei – ela riu baixinho. – mas a gente sempre costuma deixar para bem tarde na minha família.
- Tá. Tudo bem, eu apareço aí pelas oito.
- Tudo bem.
- Precisa que eu leve algo?
- Se você quiser trazer um champanhe dos bons. Eu esqueci de comprar. E não entendo nada de bebida.
- Tudo bem – ri. – Eu levo. Então até mais tarde.
- Até mais, Harry.
A ligação foi finalizada e eu levantei da cama. Me senti bem em saber que alguns de nós nos reuniríamos outra vez.
’ POV
Pendurei o último globo vermelho e... estava pronto. Meu humilde pinheirinho. Montado três dias antes do natal, apenas para fingir que eu estava pronta para passar esse dia sozinha pela primeira vez em meu novo apartamento.
O lugar era bem pequeno. Tinha um quarto só, cozinha e sala juntos, um banheiro e uma pequena área de serviço. Ficava em um prédio em um bairro pouco movimentado, não muito perto do centro, mas não muito longe. Havia uma pracinha do outro lado da rua, e da janela da cozinha eu podia enxergar meus dois vizinhos, que eram um casal de mais ou menos vinte anos que viviam se pegando em cima do sofá. O garoto era uma gracinha, e a menina era uma garota pequena, magrinha, cabelo curto e toda fofinha. Eu ficava olhando às vezes quando estava tentando cozinhar ou lavando a louça, e podia sentir até um pouco de inveja por ver o quanto o garoto gostava dela. Podia perceber até quando era com ela que ele falava ao telefone, porque ele sorria diferente.
Para chegar ao meu trabalho eu precisava pegar o ônibus e atravessar o rio Sena, onde ficava o Louvre. Quando havia chegado ali, o diretor da faculdade para onde fui transferida quis que eu trabalhasse em uma praça perto da torre Eiffel. O lugar era bonitinho à primeira vista, mas logo cansava e tinha um fluxo mínimo de turistas. Eu então contatei a Jonathan e ele falou com o diretor, disse que eu tinha muito mais potencial do que aquilo, e contou que eu sabia de memória quase todas as informações do salão de Leonardo da Vinci do Louvre mesmo antes de começar a faculdade. O diretor me convocou para um pequeno teste de qualificação. Me disse que novatos que eram mandados para lá quase nunca começavam de cara no Louvre, e que ele não permitiria aquilo se não fosse por indicação de Jonathan. Ele pediu que eu contasse a ele um pouco sobre o museu todo em geral, coisas que um turista gostaria de saber.
- O Louvre é um dos maiores e mais famosos museus do mundo. É aqui que se encontra a Mona Lisa, a Vênus de Milo, a Vitória de Samotrácia e muitos artefatos do mundo antigo. Também se encontra várias obras originais de artistas como Michelangelo. Ao todo, o museu abrange mais de oito mil anos da história mundial, tanto do ocidente quanto do oriente.
O diretor apenas assentiu, mas continuou escrevendo em seus papéis em cima de sua mesa como se não estivesse nem escutando, então pigarreei e continuei a falar.
- O palácio do Louvre virou um museu em 10 de Agosto de 1793, e no período imperial conquistou muitas das obras valiosas que tem hoje com as conquistas que Napoleão ganhou nas guerras. Hum... – sabia que ele não estava prestando atenção. As pessoas não queriam saber dessas coisas. Elas queriam ouvir coisas novas. Intrigantes. Então resolvi apostar. Eu não tinha muito a perder, afinal. – A pirâmide de vidro que se encontra bem no meio do pátio, em meio a prédios clássicos e rústicos, foi construída ali para representar a união do mundo moderno com o antigo.
Ele levantou a cabeça nessa hora, e assentiu para mim. Continuei.
- Algumas lendas dizem que ela foi construída com 666 painéis de vidro, pois esse é o número da besta. – ri. – e se isso for verdade, deu certo, porque a mudança foi vista com bons olhos e, a partir daí, começou a receber mais turistas, chegando a vinte e três mil pessoas por dia em 2011.
O diretor largou sua caneta para prestar atenção em mim, então me ajeitei na cadeira.
- Quando foi construído, o castelo tinha a função de proteger Paris dos Vickings. Uma pesquisa mostrou que se cada um de nós gastasse trinta segundos apreciando cada obra no museu, levaríamos três meses para ver tudo. No livro de O Código da Vinci, a trama principal gira em volta de um assassinato que ocorreu no museu, e uma mensagem secreta deixada no quadro da Mona Lisa. Nesse livro nós podemos conhecer também uma teoria interessante sobre um dos quadros mais famosos de Da Vinci, a Santa Ceia, que...
- Como é mesmo o nome do livro? – o diretor perguntou, debruçando-se sobre a sua mesa.
No fim eu consegui o trabalho. Podia ver as obras do maior museu do mundo todos os dias. Se eu estava feliz? Feliz é pouco. Eu estava mais do que realizada comigo mesma, estava radiante. Mas a parte ruim de se estar em Paris sozinha era essa. Era uma quinta-feira de noite, eu estava sozinha com meu pinheirinho minúsculo e sentindo falta de minha família. De meus amigos. De meu ex namorado.
No outro dia eu pegara o metrô para voltar para casa. Nas caixinhas de som em cima da minha cabeça pude ouvir o radialista anunciar, em seu francês perfeito, uma música do novo álbum do One Direction. O seu nome era You and I. Comecei a chorar, e a garota ao meu lado perguntou se eu estava passando mal e me ofereceu um pouco de maconha.
Chorar acontecia muito ultimamente. Eu não ficava me culpando. Era normal, quer dizer, uma garota que vivera a vida toda perto de amigos e familiares que tomavam conta dela, e de repente largou tudo para ir embora para uma cidade estranha, em um país estranho, que falava uma língua estranha (não tão estranha assim, meu francês era quase perfeito). O que não era normal era saber que as lágrimas não eram em prol de minha família. Bem, quase nunca, pelo menos. Eu chorava mais era por saudade dele.
Quando via o casal pela janela, ou quando ouvia suas músicas na rádio, quando via suas fotos naqueles outdoors enormes pela janela do ônibus. Eu dava sempre um jeito de me lembrar de algo dele. Seu cabelo, seus olhos, sua boca. Suas mãos, seu sorriso, sua pele. Suas roupas, sua voz, seu cheiro. Suas manias, o som da sua risada, as nossas brigas. Tudo voltava, geralmente de noite. Às vezes eu me pegava imaginando que era uma questão de tempo até que Harry entrasse pela porta de meu humilde apartamento, deitasse na cama ao meu lado e dissesse “você demorou, então vim te buscar eu mesmo”.
Mas eu ficava dizendo a mim mesma que isso ia passar. Eu quem decidira vir embora, e fizera isso pelo bem de nós dois, e era absolutamente normal que sentisse a falta dele no começo, mas ele estaria melhor sem mim.
A mídia também não colaborava. Fotos minhas continuavam saindo no Twitter, geralmente tiradas por fãs francesas, se perguntando quando é que eu voltaria ou quando é que Harry viria me buscar. E eu me perguntava por que até elas achavam que ele viria.
Levantei do sofá, fui até o interruptor e desliguei as luzes. A luz natural estava indo embora, e o apartamento ficou um breu. Voltei até o pinheiro e liguei-o na tomada, e as luzinhas piscantes iluminaram o local.
O pinheiro ficava na mesa de centro, para iluminar toda a sala. Lá fora recomeçara a nevar, então levantei para pegar um suéter. Vesti uma roupa mais quente e peguei meu celular para ligar para . Ela atendeu no terceiro toque, e ouvi uma música de fundo tocando meio alto.
- Fez festa e nem me chamou?
- Ei, ! – ela riu. – A gente se juntou para uma pré ceia aqui em casa. Como estão as coisas aí?
- Frias. – ri. Decidi não comentar “solitárias, vazias, escuras, entediantes, tristes” ou pensaria que eu estava querendo voltar. Tudo isso era verdade, mas eu só me sentia triste em casa sozinha. Quando estava trabalhando ou estudando com meus novos amigos franceses, eu quase nunca me lembrava de qualquer ponto ruim em estar ali.
- É, aqui também. Hoje fez menos dois graus e está nevando.
- Ótimo início de inverno.
- E não é? – riu. – Ei, vou colocar no viva voz, tem gente querendo te dar oi aqui.
- Ok.
Dois segundos se passaram, e ouvi um coro de vozes, em sua maioria masculina, me dar oi.
- Oi! Quem é que está aí?
- Zayn. – ouvi a voz de Malik anunciar.
- Niall, o mais bonito. – o loiro disse, e algumas pessoas riram junto comigo.
- Depois de mim, é lógico – Zayn voltou a dizer.
- Louis também, mas ele está com a língua na garganta da e não pode falar. – Niall disse e fiz careta rindo, deitada no sofá.
- É mentira! – falou.
- Eu nem estava beijando ela – Louis disse, mais ao longe.
- Não nesse exato momento. – Zayn zoou.
- E também tem eu. – a quarta voz masculina falou.
- Identifique-se. – Niall disse, e ouvi um tom de vidro batendo em vidro.
- Ela conhece minha voz – Harry respondeu, mais baixo, mas ainda alto o suficiente para que eu escutasse.
- Olá, Harry.
- Olá, .
Silêncio se fez por alguns segundos.
- E... Cadê o Liam? – perguntei, fechando os olhos e imaginando cada um deles atirados em um canto dos sofás lá de casa.
- Ele não foi convidado – falou, tão direta que chegou a assustar.
- Você ouviu a madame – Louis brincou. – Ele não foi convidado.
- Está cuidando do garotinho.
- Ah! Sim, sim! Pietro, não é isso? – perguntei, sorrindo. – Eu vi fotos na internet. Os dois são uma graça.
- É. Agora ele é papai. Não pode se misturar com os adolescentes inconsequentes e irresponsáveis.
- Ele está assim então? – fiz bico.
- Na verdade, não está, não. – Niall o defendeu. – É completamente compreensível. Estamos de férias. Ele tem um filho agora. É normal que se afaste um pouco enquanto ainda tem tempo para passar mais tempo com o moleque. E, além disso, a gente não o convidou porque a festa é da , e não queremos nenhum clima ruim aqui hoje. Estamos nos reencontrando depois de muito tempo.
- Vocês fazem bem, loirinho. – assenti, mesmo que eles não pudessem me ver. – Faz bem que os poucos que restaram de nós fiquem juntos. Nossa amizade não pode acabar assim, tão depressa como começou, como se nunca tivesse existido.
Fiz careta outra vez e percebi o quão ruim o “os poucos que restam de nós” soou.
- Hum... E como está ?
Ninguém respondeu de início. Quase pude ver o olhar mútuo que todos devem ter trocado nessa hora, tentando se livrar de falarem do assunto. Por fim, foi quem respondeu:
- Ela continua na mesma. Os médicos, eles... – pigarreou. – eles querem pedir a permissão da família para... para desligarem os aparelhos. Ela não dá nenhum sinal desde o acidente, então... é.
- O quê? – arregalei os olhos e sentei em um pulo no sofá. – Querem matá-la?
- Tecnicamente, ... – Zayn começou, mas por algum motivo não terminou a frase e ouvi um burburinho baixinho enquanto o telefone no outro lado da linha provavelmente era coberto por uma mão. Depois de um segundo, outra voz voltou.
- A gente não vai deixar que nada aconteça com ela, . Vai ficar tudo bem. Vamos dar um jeito.
Eu poderia ter pirado com aquela informação. Podia ter tido um treco, começado a chorar ou a gritar com todo mundo do outro lado da linha. era minha melhor amiga, afinal. Mas por algum motivo, acreditei naquelas palavras e me acalmei. Porque eram as palavras de Harry.
- Tudo bem. – disse, depois de respirar fundo algumas vezes. – Só... não deixem fazerem isso.
- A gente conversou muito sobre isso. A decisão é dos pais dela, você sabe. Mas conversamos, e... Eles vão pedir mais um tempo. Mas não podem enrolar para sempre, , porque.... Porque se ela não acordar em um mês, é quase impossível que acorde de novo. – foi que disse isso.
Descansei minha testa na palma da mão e fechei os olhos, respirando fundo. Era verdade, e eu precisava pelo menos tentar me acostumar com essa ideia.
- Eu odeio não estar aí em momentos como esse. – disse, baixinho.
Todos ficamos em silêncio por um tempo.
- Você está feliz aí, é o que importa. – Lou falou.
Balancei a cabeça. Voltei a deitar no sofá, um tanto incomodada agora.
- E quanto à ?
- A está melhor do que nunca. Se recuperando rápido. Ela está dando cada vez mais sinais. Os médicos dizem que a boa notícia é que é cem por cento certo que ela vai acordar uma hora ou outra. E a má, é que...
- Ela pode ter sequelas permanentes. Mas não sabemos quais. Elas variam. – Zayn explicou.
- Vai dar tudo certo, pessoal. Precisamos focar nossas energias positivas em , na sua melhora. Ela vai ficar bem, vai acordar completamente normal, exatamente como era antes. Pelo menos uma das nossas garotas tem de voltar. E eu não aceito qualquer outra possibilidade. Então vocês que estão aí, deem um jeito. Tá legal?
- Sempre mandona.
Sorri.
- Isso mesmo.
Silêncio.
- Por que você não vai vir para o feriado de ano novo? Paris é logo aqui do lado.
- Você tem noção de quantos turistas visitam Paris na última semana do ano? Ver os fogos daqui, passar a noite de ano novo em um lugar como esse é o sonho de qualquer pessoa. Eu garanto que há caras fazendo filas para pedirem as namoradas em casamento na frente da torre Eiffel à meia noite. E o Louvre é o segundo ponto turístico mais visitado da cidade, eu não posso simplesmente sair. Eu queria muito ir, pessoal. Estou morrendo de saudade. Mas infelizmente não dá.
- Vamos sentir sua falta, tá legal, pequena?!
Ri, sentindo meus olhos voltarem a transbordar.
- Eu também, Za. Amo vocês. Todos vocês.
Olhei para o relógio digital do aparelho da televisão e funguei.
- Bem, já é tarde. Eu preciso dormir, amanhã é dia de trabalho. Espero que estejam todos bem. Não bebam demais, e se cuidem. Até outro dia, gente.
Ouvi as seis vozes se despedirem de mim, e logo desliguei o celular, não querendo mais ouvir aquilo. Eu já estava cansada de chorar. Me sentia feliz ali, por que é que minha cabeça simplesmente não aceitava?! Eu queria estar em Paris! Apenas sentia falta de todas aquelas pessoas.
Levantei, chorando que nem uma criança, e fui para meu quarto, deixando o pinheiro ligado e tudo. Me joguei em minha cama, desliguei o interruptor ao lado na parede e abracei meu travesseiro. No dia seguinte, meu rosto estaria um horror.
Capítulo 24 - The Flashback
Which then grew into a hope
Which then turned into a quiet thought
Which then turned into a quiet word
And then that word grew louder and louder
'Til it was a battle cry
I'll come back
When you call me
No need to say goodbye
’s POV
Meu natal fora uma porcaria. Eu aprendera desde muito cedo a não esperar demais dessas datas comemorativas, uma vez que meus pais eram apenas dois cretinos que não conseguiam lembrar que tinham uma filha.
Passei a ceia de natal com os dois por pura educação. E, é claro, porque Louis aceitou passar comigo, já que já havíamos ido duas vezes para Doncaster nos últimos tempos e ele ainda nem conhecia meus pais.
Em apenas uma noite, os dois conseguiram errar minha idade e perguntar como se escrevia meu nome. É sério. Minha mãe perguntou se meu nome tinha alguma letra dupla, e deu uma risadinha sem graça no final para disfarçar.
Depois que fomos embora, eu implorei que Louis me deixasse passar o ano novo com sua família outra vez, só assim eu teria uma desculpa para escapar daqueles dois. Eu gostava de Doncaster. Era um tanto tediosa e meio feia, sempre nublada, pequena e chata. Mas era aconchegante, era... Era familiar e me fazia sentir em casa.
No dia seguinte, a folga havia acabado. Nós iríamos trabalhar meio período na editora do dia vinte e seis ao dia trinta. Éramos praticamente as únicas, porque fora eu e e uma galera da edição, todo o resto fora dispensado e só voltaria no dia dois.
Eu não reclamei porque gostava do meu serviço, porque era um meio de me manter entretida, e porque me fazia bem trabalhar por umas horas. E mesmo assim, eu ainda tinha a manhã inteira vazia.
No dia vinte e seis tudo foi meio parado. Éramos apenas eu, , Carolina da edição da capa, Larry do recorte e Hans da edição de matérias. Nós tínhamos que acabar de editar toda aquela edição até o último dia do ano, e deixar tudo pronto para que todas as revistas estivessem na primeira banca no dia primeiro de Janeiro. A edição final era nossa. Existiam muitos pés no saco lá dentro que faziam tudo errado, e eu era chata o suficiente para mandá-los refazer tudo. era mais boazinha, mesmo tendo que dar conta de boa parte do marketing ela resolvia muitos dos problemas sozinha em vez de pedir que refizessem, e assim o papel de vilã era só meu. Melhor para mim.
No dia vinte e sete, as coisas foram mais estressantes. Éramos muito poucos para fazer todo o serviço, e todo o avanço que parecemos ter no dia anterior foi por água abaixo. Tudo deu errado, a máquina de xerox não queria funcionar e não havia ninguém que soubesse o lugar mais perto que fazia cópias. Para ajudar, no meio da tarde houve uma queda de energia de alguns segundos, e metade do pessoal perdeu o trabalho no qual estavam trabalhando.
Felizmente, o dia vinte e oito já havia começado mil vezes melhor. Ao colocar os pés na editora na segunda de manhã, a primeira coisa que recebi nas mãos foi um café expresso exatamente do jeito que eu gostava.
- Pensei que gostaria de começar seu dia com um café bem forte e amargo assim como você, senhorita .
Sorri e levantei o olhar para nosso officeboy.
- Você é o cara mais prestativo desse prédio todo, Matt.
- Disponha – ele fez uma reverencia e sorriu para mim, dando lugar a duas covinhas profundas, uma em cada bochecha, antes de empurrar seus óculos quadrados para cima do nariz. Matt tinha um charme natural. Ele não se vestia muito bem, não usava o melhor penteado no cabelo e podia se livrar daqueles óculos. Mas seu sorriso era charmoso, seus olhos eram claros e ele tinha um senso de humor maravilhoso. Eu adorava o simples fato de saber que ele estava por perto.
Vi que seus olhos procuraram inquietamente por algo ao redor de mim.
- Ela foi estacionar o carro – sussurrei para ele e sorri. Ele sorriu de volta. – Agora me diga, o que quis dizer com esse negócio do café? Por acaso você insinuou que sou forte e amarga?
- Sem querer desrespeitar, senhorita, mas ouvi dizer que você é chamada de Miranda por muita gente desse escritório.
- Miranda? – franzi o cenho.
- Uhum. Aquela de O Diabo Veste Prada.
Arregalei os olhos e ri.
- Ah, meu Deus. Eu não sabia que chegava a tanto! Te dou muito trabalho, Matt?
- Na verdade, não. Seu café é o que fica pronto mais rápido, e quando eu chego lá no Starbucks e falo “faz o da chefe” eles já sabem exatamente como devem preparar o expresso. Então, você me dá muito pouco trabalho.
Ri. Agora eu era tratada como chefe?
- Eu imagino que esse café com leite desnatado e chantilly com canela não seja o mais simples de se fazer. – me referi ao outro copo em sua mão, e ele seguiu meu olhar sorrindo.
- As melhores pessoas merecem os melhores cafés.
Nós dois rimos.
- Qual é a piada? – chegou nessa hora, parou ao meu lado e olhou para Matt. – Matthew. – fez uma reverencia a ele, e Matt sorriu e empurrou os óculos outra vez.
- – ele imitou o gesto e entregou-lhe o café. – estávamos falando exatamente de você.
- De mim?
- É. De como seu café é mais delicadinho do que o meu. – eu disse a ela, e livrei Matt do assunto.
- Não sei como você consegue tomar esse veneno.
Revirei os olhos para ela.
- O que faz aqui, Matt? Você não ganhou férias de fim de ano?
- Sim, eu ganhei. Mas eu estava entediado e cansado de ficar em casa, e recebi uma mensagem da Carol ontem contando como tudo estava um caos, então resolvi passar e ver se alguém precisava dos meus serviços por aqui. Não se preocupem, eu não vou cobrar esses dias na minha folha de pagamento, vim por livre e espontânea vontade. – ele sorriu.
- Nunca vi alguém se oferecendo para trabalhar de graça na minha vida.
- Principalmente um office-boy. – riu.
- Você está desmerecendo minha profissão? – ele estreitou os olhos para ela, e ela levantou as mãos e riu.
- Tudo bem, Matt. Você chegou em ótima hora, não tem ideia do quanto precisamos de você ontem, e não tinha ninguém que fizesse seu serviço. Obrigada por vir.
- Mais uma vez, disponha, . – ele deu um passo para trás. – Bem, agora preciso levar esse contrato até os caras do Carolina Herrera, porque se não for assinado até amanhã de manhã os caras podem meter um processo na gente por publicar uma propaganda sem as devidas permissões. Com licença.
Assenti com a cabeça, e assim que ele sumiu atrás de nós, eu e voltamos a andar até nossa sala.
- Você acredita mesmo nessa história de “eu estava entediado em casa”? – perguntei.
- Por que razão ele mentiria?
Revirei os olhos. era mesmo muito ingênua.
’s POV
Quando olhei no relógio me espantei ao ver que já eram três e quarenta da tarde. Parecia que fazia minutos que eu havia chegado na editora, e já faltava apenas duas horas e vinte para o final do expediente.
Eu e tínhamos muita coisa para fazer nos últimos dias. Mas final de mês era sempre assim, e já estávamos acostumadas, principalmente quando éramos tão poucos na editora para tanto serviço em tão pouco tempo.
Quando enfim consegui uma pequena pausa, fui até a porta e a abri, pedindo a Carolina que pedisse ao Matt para nos trazer mais café. Geralmente era assim, eu e recebíamos um copo de café no começo do expediente e outro na metade da tarde que era para não precisarmos fazer pausa nenhuma para fazer um lanche e perdermos tempo.
Matt geralmente era muito eficiente, mas dessa vez o café chegara tão rápido que eu me espantei quando Carolina abriu a porta e entrou com a bandejinha e os dois copos.
- Não faz nem cinco minutos que eu te pedi!
- Matt já havia ido buscar quando você pediu. – ela sorriu – Ele chegou agora mesmo com os seus cafés.
me lançou um sorrisinho malicioso e revirei os olhos.
- Obrigada, Carol.
Ela soltou a bandeja na mesa de , que era mais perto da porta, e saiu.
Eu me levantei e peguei o copo que não havia pegado. Voltei para minha mesa, e olhei para quando ela levantou do seu lugar para vir até mim, com a atenção presa ao copo.
- Hum, eu acho que trocamos nosso café – ela disse, sorrindo, e recolocou a tampa de seu copo.
Eu abri a tampa do copo que segurava e vi que de fato o que eu pegara era o expresso praticamente sem açúcar de .
- Ah, foi mal. – entreguei o copo a ela e peguei o meu. Ela voltou rindo para seu lugar.
Franzi o cenho e tirei a tampa do meu copo para poder tomá-lo, mas antes de soltá-la no lixo ao lado dos meus pés debaixo da mesa eu notei um pequeno papelzinho colado nele. Olhei a tampa com mais atenção e li o papel branco.
“Os melhores cafés para as melhores pessoas.
Topa sair comigo?
Matt.”
Sorri e olhei para , e ela riu.
- Ainda acredita na história do “eu estava cansado de ficar em casa”?
- Ah, cala a sua boca. – ri e fiz careta para ela.
Durante os próximos minutos eu fiquei pensando nisso. Eu já havia saído com Matt uma vez para tomar alguma coisa e tudo mais, mas ele nunca havia convidado assim. Eu acreditava que Matthew talvez tivesse uma quedinha por mim, e sabia que ele provavelmente já estava sabendo que eu acabara meu namoro. Ele era uma pessoa legal, me fazia rir e eu fiquei pensando: Por que não? Afinal, era só uma saída. Não necessariamente um encontro.
Eu juro que nunca quis que isso acontecesse, . Sei e entendo que você não queira mais falar comigo, e você deve estar pensando o mesmo que eu agora: isso foi total burrice e nunca deveria ter acontecido. Eu concordo, mas eu continuo revivendo todos os momentos em que te toquei e em que senti sua pele em contato com a minha, e não consigo achar motivos para aquilo ser errado de alguma maneira. Tudo bem, eu traí Dani, e acabei te expondo de um jeito que nunca quis que acontecesse, e você tem o direito de me odiar por ter te feito fazer isso.
E agora, , agora eu acabei perdendo as duas pessoas que mais importavam para mim no mundo. Me desculpa, eu sei que sou um completo imbecil por estar escrevendo isso nesse exato momento, eu deveria falar tudo para você, mas você está dormindo aqui na sua cama enquanto te olho e não consigo tomar coragem para te acordar. Eu sinto muito, de novo. Por tudo. Por ter te exposto e por ser covarde. Eu não consigo te tirar da cabeça... e quando vi aquela foto, você foi a primeira pessoa em que pensei. Isso só pode significar uma coisa.
Por favor, fica bem e não chora. Amanhã é um novo dia, e quero que esteja bem. Vou cuidar de tudo, vou fazer o possível para não te prejudicar. Cuide-se. Liam.
- Terra para ! – berrou da mesa dela, e dei um pulo balançando a cabeça.
- Oi?
- Seu celular. – apontou para o aparelho vibrando embaixo de alguns papéis na minha mesa e eu o peguei, meio estabanada, confusa pela lembrança que me ocorreu de repente. Tentei esquecer disso por um tempo e atendi ao telefonema.
- Olá , aqui é o Enzo.
- Oi Enzo, tudo bem? O que aconteceu?
Enzo era o enfermeiro de meu pai. Era um garoto carismático e prestativo, e eu deixara meu número com ele para que ele sempre ligasse quando tivesse algum problema.
- Victor está em estado crítico, . Ele pediu para eu chamar você. Acha que não passa desta noite. Eu sinto muito. Você pode vir agora?
Senti a mão que segurava o celular em minha orelha tremer um pouco e vacilar em segurar o aparelho. Arfei e soltei o ar dos pulmões, comprimindo os lábios e apertando os olhos. Eles haviam me avisado que eu devia estar pronta para receber uma ligação assim há qualquer momento, mas o problema é que eu nunca esperava que o momento fosse naquela hora.
- Tudo... tudo bem. – avisei, a voz saindo fraca. – Eu estou a caminho, Enzo, avise o Victor, por favor.
- Pode deixar. Até já, .
Desliguei a chamada e levantei rápido. me olhou, preocupada.
- O que aconteceu?
- Victor está em estado crítico. Eles acham que não passa dessa noite. – disse a ela, sentindo minha voz ficar mais fraca à medida que se misturava com o choro que estava por vir.
- Ah meu Deus, . – ela se levantou e veio até mim, me abraçando. – Você vai até lá? Tem que ir até lá agora.
- Você toma conta por aqui?
- É claro que sim, querida. Pode ir – ela se afastou e me deu um beijo no rosto, afagando meu cabelo. – Anda, vai logo, eu cuido de tudo aqui.
Assenti, limpando umas lágrimas que caíram sem querer. Caminhei até a porta, mas depois parei.
- Eu vou direto para casa, não posso ir de carro. Vou deixar o carro aqui para você e pego um táxi.
- É melhor que você não dirija nervosa. Mas vai demorar muito para chegar lá de táxi.
Pensei por um segundo.
- Eu já sei o que fazer. Até mais, .
- Boa sorte, . – ela me disse, e saí da sala meio atordoada.
Bati tão forte com alguém logo que pus os pés no corredor, que cheguei a tropeçar.
- ! – Matt me segurou pelos ombros. – Pelo amor de Deus, tenha cuidado. Um dia desses eu vou acabar te fazendo cair.
- Matt. – segurei seus braços. – Era justamente de você que eu precisava.
- Qual é o problema? – ele perguntou quando olhou melhor para mim. – Você está bem? Está chorando?
- Preciso que me dê uma carona. Está com a sua moto aí? Tem que ser agora. É urgente. Você pode?
- Ahn... Claro. – ele olhou em volta. – Claro, claro. Vamos lá, eu te levo. Para onde quer ir? – perguntou, abraçando-me pelos ombros e me levando até o elevador.
O percurso até o hospital passou num borrão. Eu estava apavorada, só percebera naquele momento. Expliquei a Matt o que estava acontecendo e ele disse que me esperaria na recepção caso eu precisasse de uma carona, apesar de eu dizer que iria demorar e que ele provavelmente deveria ir para casa.
- Por que é que sempre que você tá perto eu me machuco? – perguntei, perdendo o olhar no rosto dele por uma fração de segundo que logo passou.
- Vai ver eu te passo azar – ele deu de ombros.- Como isso aconteceu?
- Eu sei lá... O copo simplesmente estourou na minha... - Dei um passo para trás e senti uma dor lancinante furar meu calcanhar, e dei um grito agudo.
- Ai meu deus, ! – ele me puxou para frente e, sem esforço algum, simplesmente segurou minha cintura e me levantou, fazendo-me sentar no balcão. Pegou meu pé e olhou no calcanhar, onde doía. – Você tem que ter mais cuidado!
- Tá muito feio? – Choraminguei.
- Tem um aqui, eu vou ter que tirar, espera...
Fiz um escândalo para que ele não puxasse a droga do vidro porque ia doer demais. De repente, Liam me olhou com uma mão levantada e disse que enquanto eu estava implorando que ele não tirasse ele já havia tirado sem eu nem perceber. Aí eu comecei a rir, e ele me tirou de lá de cima e me levou até a mesa grande de madeira no centro da cozinha. Sentei em cima dela e ele voltou uns segundos depois com a caixa de primeiros socorros.
Percebi o quanto Liam era bom em ajudar os outros enquanto ele preparava um curativo muito bem feito para por no meu pé.
- Eu estou ficando bom em te socorrer... – disse, depois de um tempo em silêncio, quando foi colocar o curativo no meu tornozelo, e levantou o rosto sorrindo para mim, os olhos brilhando. Sempre brilhando.
Entrei correndo no hospital, confusa e perdida, e fui direto para o quarto. Encontrei com Enzo pelo caminho e ele me seguiu até lá. Depois, ele me deixou sozinha no quarto por um tempo. Era obviamente uma despedida.
Ao entrar no quarto, ouvi o som do monitor cardíaco fazendo-se presente, como sempre. Victor estava na cama. Parecia muito fraco, quase sem forças. Estava pálido, algumas de suas veias do pescoço e da cabeça viraram linhas roxas que riscavam sua pele, e sua cabeça estava completamente nua, sem nenhum fio de cabelo. Os cabelos começaram a cair uma semana depois que ele me contou do câncer, e logo depois ele foi internado e não teve mais chance de sair de lá. Vê-lo sendo dominado pela doença a cada dia, ver suas mudanças, sua força se esvaindo, ver o quanto ele piorava cada dia mais, tudo isso foi horrível para mim. Havia dias que eu sentia medo de entrar lá pelo que poderia ver, mas não podia ser egoísta a ponto de deixá-lo sozinho ali. Eu era a única pessoa que ele tinha.
Sentei na cadeira ao seu lado e peguei a sua mão. Quando toquei na sua pele, ele pareceu retomar um pouco da consciência e virou o rosto para mim. Tentou esboçar um sorriso.
- Victor, eu estou aqui. – disse. – Você mandou me chamar, não foi?
Ele concordou devagar com a cabeça. Levantou uma mão com dificuldade e tocou na máscara de oxigênio em seu rosto. Ele a ergueu, e com mais dificuldade ainda, tentou tirá-la.
- Não, não faz isso, você precisa dela. – tentei impedir que ele tirasse, mas ele tirou-a mesmo assim.
Cheguei mais perto, esperando o que ele queria dizer.
Victor umedeceu os lábios. Mexeu-os, mas de primeiro nada saiu. Depois, alguns sons desordenados saíram de sua boca, e por fim consegui entender uma parte.
- Obrigado... por... vir. Obrigado... por...
- Vir – assenti. – Obrigado por vir. Eu entendi.
Ele assentiu. Falou algo a mais.
- Você... filha... incrível. Você... foi...
Meus olhos se encheram de lágrimas, e em uma fração de segundos estavam transbordando. Segurei sua mão com mais firmeza.
- Obrigada, papai. – disse. – Obrigada. Obrigada por voltar. Por me ensinar tanta coisa em tão pouco tempo. Eu não vou esquecer de você.
Ele sorriu.
- Você... me chamou... de pai.
Eu sorri e limpei uma lágrima.
- Sim, pai. Meu pai.
Ele assentiu também, com dificuldade. Tentou se virar, mas não conseguiu, e começou a se agitar.
- Diga... que... – ele tentava falar, mas eu não conseguia entender. – diga... que... diga... que... que... me perdoa.
- Eu não tenho pelo que te perdoar. – balancei a cabeça. – Você foi incrível, pai.
- Diga que... me perdoa... por eu ter... sido... ausente, filha.
Eu solucei algumas vezes. Fechei os olhos, e mais lágrimas caíram. Concordei com a cabeça.
- Eu perdoo você, pai. Está tudo bem. Eu te perdoo.
Ele relaxou depois que ouviu isso. Parou de apertar minha mão.
- Sinto muito... por ter sido ausente. Não houve... – ele fez uma pausa para respirar. – não houve um dia... em que eu não... pensasse em você. Eu te amo, .
Continuei balançando a cabeça para mostrar que entendia.
- Eu também te amo, pai.
Deitei minha cabeça na ponta do colchão, junto com nossas mãos que estavam juntas, e solucei ali por um tempo. Ele passou uma mão em meus cabelos, e logo depois a recolheu. Fiquei com a cabeça escorada em seu braço por uns minutos, passando o polegar levemente em seu dorso, e então de repente, o monitor cardíaco trouxe a má notícia. Com apenas uma linha ininterrupta de som, ele informou que meu pai estava morto.
Não houve nada de muito importante depois disso. Eu acho que estava conformada, no final das coisas. Fora avisada com antecedência. Pude me despedir. Pude ouvir suas últimas palavras. Não havia nada que eu pudesse fazer quanto a sua morte, além de chorar por ele.
Enzo e o médico de meu pai pediram que me tirassem do quarto logo que chegaram lá, e assim o fiz. Eu voltei para a recepção, calada, e então Matt me viu. Ele veio correndo ao meu encontro. Não precisei falar para que ele entendesse meu olhar. E aí ele me abraçou, e eu voltei a chorar.
Cerca de vinte minutos depois, ele conseguiu me levar até uma mesinha da lanchonete e me fazer tomar pelo menos um pouco de água. Eu tomei alguns goles, e parei de chorar. Matt pediu que eu contasse a ele sobre minha infância, sobre minha irmã, sobre como conheci . Pediu que eu contasse sobre os melhores momentos da minha vida, e fez com que eu tirasse meu foco da morte de Victor por um tempo. Ele até conseguiu arrancar alguns sorrisos modestos.
- Sinto muito. – disse, no final do assunto.
Ele levantou o olhar para mim.
- Pelo quê?
- Esse não era exatamente o encontro que eu imaginei que seria quando me convidou para sair com aquele bilhete.
Matt sorriu.
- Tudo bem, eu realmente não me importo. Estou feliz em estar com você.
Ficamos em silêncio por um tempo, e eu encarei minhas mãos. Então, para quebrar o clima estranho, ele me cutucou.
- Pelo menos não estamos tomando café.
Eu ri, e ele riu também. Depois recebi uma carona para casa. Eu sabia que no dia seguinte precisaria pensar em um funeral, mas naquele momento, tudo que eu queria era chegar em casa e deitar em minha cama. E foi isso que fiz.
Louis’ POV
Depois que desliguei o celular, ao responder algumas perguntas para Grimmy em seu horário no The Hits Radio, eu me joguei em uma poltrona no consultório onde estava e disquei o número de . Ela atendeu no segundo toque.
- Bom dia, gatinho.
- Alguém está de bom humor?
- O máximo possível em uma véspera de ano novo em que tenho que trabalhar. – ela disse e riu. – Eu estou me sentindo exausta, morreria por uma massagem... e talvez algum método mais prazeroso de relaxamento.
- Hum... – murmurei e sorri. – o banco de trás do meu carro é enorme e confortável...
riu.
- Onde você está?
- Em um consultório médico aqui perto da sua editora, talvez eu possa passar aí no almoço e te levar para comer alguma coisa?
- Claro, e depois a gente pode testar essa teoria do banco. – ela riu. – Você está bem?
- Sim. Por quê?
- Está no médico.
- Ah, não é nada. Eles sempre pedem um checkup geral no final do ano para se certificar de que não tenho absolutamente nada fora do normal.
- Entendo... nossa viagem está de pé, não é?
- Hum... – fiz careta. – Era disso que eu precisava falar, meu amor...
- Ah, Louissss!
- Eu sinto muito mesmo! – suspirei. – Eis o que aconteceu, : eu e os meninos precisamos ir em um evento beneficente amanhã e fazer um pocket show para as crianças, nós não tivemos como negar, e não vamos chegar a tempo na minha casa em Doncaster. Eu sinto muito, todos nós estávamos contando que poderíamos passar o dia com a família e acabou dando errado. Eu sinto muitíssimo.
Ela fez um muxoxo de tristeza.
- Tudo bem... se é pelas crianças eu entendo.
- Entende mesmo?
- É claro que não! Essas crianças podem esperar por mais um dia.
Ri.
- Você é tão babaca. Fica reclamando por falta de amor, mas não sabe que a garota que mais quer te dar amor está bem na sua frente.
- O... quê? – Ri fraco, confuso. Nunca pensei que tudo fosse tão mais sério para ela.
As buzinas continuavam, agora misturadas com gritos nos xingando e falando para sairmos do meio da rua.
- Eu sempre fui apaixonada por você, Tomlinson. – Quando piscou, uma lagrimazinha de nada escorreu na sua bochecha. – Mas sabe... – ela riu com amargura e limpou-a, rápido. – Isso não importa. Essa não sou eu. Não sou de mendigar amor. Não quero mais sentir isso.
- Você é má. – falei, sorrindo ao lembrar de mim e há alguns meses atrás. Eu me sentia bem só em ouvir sua voz. Estava tão apaixonado por ela.
- Eu sei o que vem em seguida... você vai insistir para passarmos a ceia com meus pais.
- É exatamente o que vem em seguida.
- Não, Louis. A gente pode fazer uma janta só para nós dois. Eu posso preparar sozinha, se esse for o caso, e você chega em casa com a comida pronta.
- ...
- É sério. Eu posso aprender a cozinhar alguma coisa, e aí a gente pode ficar sozinhos, só eu e você. A gente pode fazer o que você quiser, mas...
- , não. Escuta, eu sinto muito. Por mais que eu queira passar a virada com você, não vou deixar que passe apenas comigo. É algo que devemos fazer com a família, ok? Não vou te deixar fazer isso. Mas eu te acompanho na janta e depois podemos ir para onde você quiser.
Ela bufou alto.
- Argh! – ficou quieta por um tempo. – Tudo bem! Droga, Louis Tomlinson!
Ri.
- Tudo bem?
- Tudo. Eu preciso ir.
- Tá legal. Vê se me perdoa até de noite.
- Eu vou pensar.
desligou o celular sem dizer nada além disso e eu balancei a cabeça, rindo.
Meu nome foi chamado, fiz os exames e fui para casa. Mais tarde, eu e os meninos nos encontramos no estúdio de uma revista para a qual assinaríamos alguns objetos e faríamos algumas fotos, e Lou trabalhou em nosso cabelo e rosto por um tempo. O dia trinta de dezembro foi algo normal para mim, que acabara de completar meus vinte e dois anos de idade.
No outro dia, eu acordei tarde. Percebi que dormira conversando com por mensagem e acho que ela também havia pegado no sono, pois não respondeu mais. Eu comi alguma porcaria e escolhi a roupa que usaria no evento beneficente. Conversei com minha mãe de novo e disse que sentia muitíssimo por não passar o ano novo com elas, mas que no outro dia estaria lá.
Então eu saí, e encontrei com Harry na frente do seu prédio. Nós fomos juntos para o orfanato onde seria o evento e encontramos com os outros. Louise trabalhou em todos nós outra vez, e começamos nosso trabalho que levaria o dia todo e boa parte da noite.
Foi cansativo, não tenho como negar, mas foi muito bom. As pessoas ficavam repetindo que estavam muito gratas em nos ter ali e que aquele dia era geralmente meio parado para as crianças, porque eles não tinham como dar uma festa para todos. Aí, Zayn e eu demos a ideia de bancarmos um jantar para todo o hospital, com fogos de artifício e tudo o que aquelas crianças mereciam ver. Nós demos o dinheiro para o diretor do orfanato e ele correu para mandar comprarem a comida e os fogos e tudo o mais que era preciso, e todos pareceram ficar ainda mais felizes por nós estarmos ali. Fizemos brincadeiras, cantamos, fizemos atividades artísticas, mais brincadeiras, contamos histórias e Harry se apegou mais do que devia a uma garotinha do berçário, andava com ela no colo para todos os lugares. Em um momento, ele chegou em mim e falou “o que você acha de adotarmos ela?”. Eu o olhei com uma careta e disse para ele não falar muito alto, pois alguém ia ouvir e sair por aí dizendo que Larry Stylinson estava pensando em ter um bebê.
A tarde passou, a noite chegou, e os preparativos para a grande festa deles ia deixando todos empolgados, e as crianças pareciam estar elétricas. Nós terminamos a sessão “contar histórias” e ajudamos as mulheres que trabalhavam lá a vestir todas as crianças com as roupas que eles usariam na festa. Depois, nós fomos liberados.
Ainda demoramos para sair de lá, porque queríamos nos despedir de cada um. Quando saímos, eu me espantei ao ver que já eram quase dez horas da noite. Peguei meu carro e liguei para no caminho avisando que estava chegando, e ela disse que me esperaria para entrar na casa dos pais dela.
Harry pegou carona com Zayn, então não precisei levá-lo para casa e cheguei na mansão dos pais de mais rápido. Quando ela viu meu carro estacionar na frente da casa, saiu do dela e veio até mim.
- Você parece cansado. – disse, ajeitando meu casaco e beijando minha boca.
- Você parece uma miss universo.
- Que mentira – ela riu.
- Para mim, é verdade.
- Tudo bem, popstar, vamos entrar. Você está mais cansado do que eu imaginava.
Ri e peguei sua mão, e nós dois fomos até a porta, entrando na grande casa. Fomos recebidos por um empregado e ele nos direcionou à sala de jantar e depois sumiu de vista. Assim que entramos na grande sala, apertou minha mão e eu a olhei.
- Droga.
- O que foi?
- Meu irmão. Aquele merda tá aqui.
Olhei para a mesa outra vez e pude ver duas pessoas a mais do que geralmente eram. Um deles era um garoto alto, grande e musculoso, com a pele bronzeada e os cabelos bem negros e meio rebeldes. Tinha os mesmos traços de , mas mais brutos. Ao seu lado, uma garota miudinha, com a pele também bronzeada e o cabelo meio vermelho, na altura dos ombros.
- , filha. – o pai dela levantou-se ao nos ver. – Entrem. Entrem, sentem-se.
Nós nos aproximamos e largou minha mão, sentando em frente ao seu irmão do outro lado da mesa, e eu a segui e puxei a cadeira ao seu lado.
- É sempre bom te ver, Louis. – sua mãe me saudou, sorrindo, mas eu duvidei das suas palavras. Sorri mesmo assim e me sentei.
- Igualmente, senhora .
- Por favor, apenas Karen.
Assenti.
A janta foi servida. Sr. contava-me tudo sobre o vinho que estava tomando, o qual eu não fazia a mínima questão de saber, mas tentei me interessar por causa de , que permanecia em silêncio ao meu lado apenas mastigando. Do outro lado da mesa, Sra. só sabia falar de Harvard com o garoto, que parecia se deliciar com o puxa-saquismo da mãe. A garota ao seu lado permanecia calada, como se fosse apenas um troféu que o garoto trouxera para exibir aos pais.
Em determinado momento, quando o terceiro prato da noite foi servido em um breve momento de silêncio, o garoto me olhou.
- Você não é de uma bandinha aí? – ele perguntou, fingindo curiosidade.
Ele era do tipo de caras que fazia de tudo para humilhar e zoar caras de bandas como eu e suas fãs.
- Boyband – concordei com a cabeça, tomando um gole de minha bebida. – Sou de uma boyband. – Sorri para ele.
- Certo, – ele disse e deixou uma risadinha escapar. – foi mal.
não havia se pronunciado durante toda a janta.
- Tyler é de Harvard, nos Estados Unidos, Louis. Ele está em seu terceiro trimestre na faculdade de direito.
- Eu percebi, Sra. . A senhora gosta de falar sobre isso, se me permite dizer.
- É o orgulho da família – ela sorriu para mim e alisou o ombro do filho.
Ficamos todos em silêncio por um longo tempo, onde os talheres batendo na porcelana eram o único som no ambiente.
- Então , como andam as coisas naquele lugar onde você trabalha? Onde é mesmo? Ainda é naquele bar?
ergueu a cabeça.
- Bar? – Karen levantou os olhos.
- Bar? – eu perguntei também, franzindo o cenho.
- Eu trabalho em uma editora de revista. – disse, antes de tomar um gole de sua bebida também, controladamente.
- Ah, é sério? Então você trocou?
- Do que está falando, Tyler? sempre trabalhou na editora, não é mesmo, filha? – Sr. disse e todos olharam para ela.
- Espera... – Tyler franziu o cenho. – mas e aquele bar no final da London Road? Você estava lá quando eu saí daqui, tenho certeza.
- Do que ele está falando, ? – Karen olhou-a.
soltou o copo e afastou o prato de perto dela.
- Você é um completo babaca, e isso nunca vai mudar. Não é mesmo, Tyler?
Ele sorriu.
- Você não contou, mana?
pulou da cadeira e ficou de pé, se afastando da mesa. Eu fiz o mesmo, acompanhando seu movimento.
- Eu estou fora. Divirtam-se puxando o saco desse cretino.
- ! Por favor, você...
- Eu pensei que você tivesse contado. Pensei que não planejava manter o segredo. Deixa eu adivinhar, seu namoradinho não sabe, não é? – Tyler riu, parecendo realmente se divertir. – Ninguém sabe! Você é esperta, .
- Sabe de que, ? O que está escondendo de nós? – Karen disse, olhando-a de baixo.
me olhou de canto. Olhou para seu irmão.
- Você não precisava fazer isso. Já é o espetáculo da noite, Tyler. – Ela vociferou.
- ? – O pai de chamou, querendo saber do que se tratava, assim como todo mundo ali. olhou para o pai, depois para o irmão novamente e por fim para mim. Engoliu em seco antes de falar.
- Eu fui bartender. Naquela época do começo da minha faculdade. Eu...
- Ah, ela está sendo modesta! – Tyler disse, batendo a mão na mesa. – também trabalhou como stripper naquela boate, eu sei disso. Eu te vi, . Você não pode negar.
- Ótimo. Eu fui stripper. Não tenho vergonha disso. O que vai fazer agora, estrela de Harvard? Você quer ver o show? Porque vai ter que pagar. – Ela olhou-o. Jogou o guardanapo na mesa. – Tenham um bom jantar.
E com isso, ela saiu pisando duro. Ninguém na mesa falou. Eu estava paralisado, de boca aberta e sem saber o que fazer. Depois de um segundo, eu a segui a passos largos, tentando alcançá-la. Mas já estava na porta da frente há uma hora dessas.
- ! Espera!
Eu ouvi a porta bater e corri, passando pelo empregado e abrindo a porta novamente, sem me importar em fechar. Eu a vi caminhar até seu carro e depois parar com uma mão na maçaneta. Ela tinha tempo para sair dali sem me lançar uma palavra, como sempre fazia, mas parou. Apoiou uma mão no carro e com a outra passou no rosto, e eu continuei correndo até lá.
Quando cheguei, eu a virei para mim e a vi chorando. Antes de qualquer coisa, segui ao impulso de abraçá-la e segurei sua cabeça no meu peito por um tempo. Nunca havia visto chorar antes.
- Me tira daqui.
Assenti e abri a porta do carona do meu carro que estava atrás da gente. Ela entrou ali e dei a volta, entrando na porta do motorista e dando partida no carro. não estava mais chorando, ela apenas secava as lágrimas e encarava a estrada com os pés no banco e abraçando seus joelhos.
- Quer conversar?
Ela não respondeu de início, então esperei.
- Por que você parou? Você nunca para.
- Eu te devia explicações.
Concordei, olhando para frente.
- Quer explicar agora?
suspirou.
- Foi antes de eu começar a faculdade. Ninguém sabe, nem as meninas, eu nunca contei. Tyler descobriu por um descuido meu, mas ele era o único. Eu o fiz jurar que nunca contaria, mas ele fingiu que não lembrava disso essa noite para poder me dedurar. Ele não pode suportar a ideia de que eu estou mais feliz ou que estou tendo mais sucesso.
Assenti, e continuei ouvindo.
- Eu... eu não queria o dinheiro dos meus pais na época. Nunca havia trabalhado antes, e eu precisava de um salário que pelo menos cobrisse a mensalidade da faculdade. Aquele cobria direitinho. Eu dizia que era de um grupo dos meus ex colegas da escola que ajudavam na decoração de festas infantis e meus pais acreditavam. Eu era apenas bartender no começo. Quer dizer, essa sempre fora minha função. Eu fazia os drinks no balcão. Era um bar meio clandestino, eu não tinha dezoito ainda, mas eles não se importavam. – Ela mexeu no cabelo e balançou a cabeça. – É claro que eles pediam que eu usasse roupas curtas, como as outras garotas de lá. Mas eram apenas roupas curtas, nada mais. Eles olhavam, mas em momento nenhum eu deixava que faltassem com respeito comigo. Eu servia os drinks e era só. Eu até gostava do serviço, era divertido.
Concordei outra vez, demonstrando que estava ouvindo.
Ela suspirou.
- E aí a mensalidade aumentou.
Fiz careta.
- Com isso, meu salário se tornou pouco. O dono da boate disse que eles estavam precisando de uma dançarina para substituir uma garota que havia quebrado o tornozelo em uma viajem. O salário era melhor, e eram só duas noites por semana. Eu não aceitei de início, mas depois de ir lá umas vezes durante a noite eu resolvi me informar. Ele garantiu que tudo que eu precisava fazer era dançar. Eu não estava entre as atrações da noite, é claro que não. Eu só dançava com outras dez garotas que faziam a mesma coreografia a noite toda na sacada interna do segundo andar, lá em cima onde os clientes apenas podiam olhar, mas não tocar. Era uma coreografia vulgar, eu usava roupas bem menores, sim. Mas eu preferi me submeter àquilo do que dar o braço a torcer para os meus pais. E eu ainda faria isso, se precisasse. Eu não preciso deles, nunca quero ter de dizer o contrário. Nunca nada sério aconteceu, e foi só um trabalho. Só um trabalho incomum, mas que merece o mesmo respeito que qualquer outro.
- O que te fez sair de lá? Você ainda não trabalhava na editora quando nos conhecemos, eu me lembro.
- Eu saía de lá tarde, depois das três da manhã. Meus pais pensavam que era nos dias das minhas aulas, mas não era. Eu dizia que ia dormir na depois da aula, porque era mais perto e eu achava perigoso sair sozinha, mas na verdade eu dormia na casa de uma das garotas que também dançava. Tinham umas noites em que uns dos clientes, geralmente os mais bêbados, esperava a gente sair para seguir a gente e tudo mais. Às vezes isso realmente me assustava. Ele tentavam... fazer coisas e ofereciam dinheiro, mas a gente não era desse tipo, a gente não fazia isso. Então eu desisti do emprego. Eu não servia para aquilo. Precisei pedir dinheiro emprestado para por um mês e no outro a gente entrou na editora.
- Ah... – foi tudo que eu consegui dizer.
- Desculpa por não te contar. Ninguém sabia. Eu não... não tenho vergonha exatamente, quer dizer, eu não fiz nada de errado. Mas não é um cargo respeitável, e como sou amiga de vocês, se ficassem sabendo logo a mídia saberia e todo mundo com quem eu convivo também.
- Eu entendo. – coloquei a mão em seu joelho. – Entendo mesmo, . Você não fez nada errado, e ter omitido é justificável. Você não mentiu para mim. Só escondeu. E, além do mais, não tenho vergonha por você também. Qual é o sentido de julgar cargos assim, se eles só existem pra satisfazer aos homens? – Dei de ombros. – Se eu nunca houvesse visto uma stripper na vida, eu até poderia te julgar.
Ela sorriu e me olhou.
- Eu te amo, sabia disso?
- Eu sabia inclusive que já faz tempo. – disse e ri, e ela me deu um tapa. Aquele era o modo de de dizer que estava feliz em me ter.
- Eu acho que botaram remédios no meu soro. Estou com sono. – ela disse, fechando os olhos.
- Dorme. Eu só queria vir e ter certeza de que você estava bem. Amanhã nós vamos para casa, e vou cuidar de você.
Ela assentiu, ainda sem abrir os olhos.
- Amanhã.
- Amanhã. – beijei seus lábios com cuidado e levantei. – Dorme bem, .
- Eu te amo, Lou...
A frase saiu sussurrada, e ela apagou em seguida. Mesmo assim, não consegui parar de sorrir. Suas palavras ficaram ecoando pela minha cabeça por um bom tempo.
Quase todas as vezes em que eu ouvira um eu te amo ou qualquer coisa parecida de , ela estava bêbada ou quase dormindo, e não era capaz de se lembrar de nenhuma delas. Mas eu lembrava. Eu lembrava de todas, e isso me fazia sorrir.
aumentou o volume da música no rádio depois que nossa conversa acabou, e começou a cantar com o vocalista do Neon Trees.
- Canta comigo, Louis!
- Eu não conheço a música!
- É assim: it started with a whisper, and that was when I kissed her. And then she made my lips hurt, I could hear the chit chat.
No refrão percebi que eu conhecia aquela música. Eu já ouvira antes em alguma propaganda ou algo assim.
- Take me to your love shack, mamas always gotta back track, when everybody talks back!
riu tão alto quanto eu, e abriu a janela colocando a mão para fora.
- Onde você está indo?
- Para a ponte. É o lugar mais lindo do mundo para passar a meia noite.
Ela sorriu para mim. Olhou para fora, e eu a observei. De repente, ela me olhou.
- Quero me sentir infinito também.
- O quê? – franzi o cenho.
- Tem teto solar? – ela olhou para cima.
- Sim – apertei o botão e o pequeno teto solar do meu carro se abriu. tirou o cinto e se jogou para o banco de trás. Eu olhei para aquilo rindo. – Cuidado, Wallflower. Toma cuidado – toquei na canela dela, quando ela ficou de pé no banco. – Tá?
- Tá. – ela disse, e colocou a cabeça e os braços para fora. Eu olhei-a rindo e acelerei um pouco, e começou a gritar. Gritar de empolgação, não de susto. Aumentei mais o volume da música e ela começou a cantar lá fora. – Isso é irado! Você tem que fazer, é demais! É muito legal! – gritou para mim e continuou cantando a música com todo o fôlego que tinha.
Depois ela voltou para dentro e sentou. Se aproximou do meu ouvido, e cantou a parte lenta da música.
- Hey sugar show me all your love all you’re giving me is friction. Hey sugar what you gotta say?
Meio segundo depois nós dois cantamos extremamente alto junto com a música, que estourou em um refrão que era impossível não cantar junto.
Quando Everybody Talks acabou, eu abaixei o volume e voltou ao banco da frente e voltou a colocar o cinto. Ainda ríamos muito, e eu tentava me concentrar na estrada para não causar um acidente. Nós chegamos com muita dificuldade até a ponte do Tâmisa, que estava lotada de pessoas que nunca vimos antes. Eu desci com ela e olhei no relógio. Faltavam dois minutos. Paramos em meio ao pessoal, perto da borda da ponte, olhando para longe onde podia se ver a silhueta da London Eye e esperamos. em minha frente, encostada em mim, e minhas mãos em sua cintura, meu queixo apoiado na sua cabeça. Quando a contagem começou, eu contei baixinho em seu ouvido, e ao final do décimo segundo ela me beijou.
O céu estourou em centenas de cores diferentes e todos gritaram feliz ano novo. Eu apertei mais meus braços ao redor da sua cintura, e sentia que meu coração havia dobrado de tamanho.
- Eu amo você, Louis Tomlinson. – ela disse em meu ouvido, e só consegui sorrir.
Era tudo que eu precisava.
Zayn’s POV
Eu e os meninos passamos todo o primeiro mês do novo ano na Nova Zelândia trabalhando em divulgações e propagandas de novas marcas de produtos com os nossos rostos na embalagem.
Depois, a gente pensou que voltaríamos para Londres e terminaríamos de curtir nossas férias, que acabaram antes de acabar de fato. Mas de um dia para outro fomos acordados por Paul, nos dizendo que estávamos sendo mandados naquele mesmo dia para a Austrália para divulgarmos nosso novo álbum. Aí, a gente meio que desistiu de termos nossa última semana de férias, e aceitamos que aquilo não acabaria tão cedo. Voltamos ao trabalho com toda a energia que podíamos.
Foi fácil se esquecer um pouco de tudo que acontecera no ano anterior por alguns dias. Nós passamos dias realmente divertidos e outros realmente cansativos. Voltamos a visitar o Japão e fomos para a China, para outros países nos quais não havíamos ido ainda. As coisas quase pareciam normais outra vez.
Depois de mais ou menos um mês de pura correria, eu voltei para Londres por um final de semana. Era aniversário de Safaa e eu queria passar aquele dia com minha irmãzinha. Os meninos entenderam minha causa, e foram mandados para o próximo destino, e eu os encontraria lá na segunda bem cedo.
Quando cheguei em minha casa, minha mãe e Safaa já estavam lá. Só as duas, esperando que eu chegasse, e como sempre minha mãe cozinhava.
- É tão bom te ver, meu amor.
Tive as bochechas esmagadas pelas mãos de minha mãe e fui enchido de beijos pelo rosto. Abracei-a e Safaa apareceu também, e eu me abaixei para abraçá-la também.
- Whaly não veio?
- A Whaly foi passar o final de semana na casa do namorado.
Levantei-me.
- Como é que é?!
Safaa e Trisha riram, e depois fizeram um high five.
- A gente sabia que você ia cair. – a baixinha disse. – É claro que ela não foi, a mamãe não ia deixar.
- Nunca – minha mãe disse, voltando para a cozinha.
- Então por que ela não veio? – perguntei a Safaa.
- Ela só não estava com vontade – me seguiu até a cozinha.
- Às vezes sinto que a Whaly não gosta mais de mim. Ela costumava ser mais próxima quando era mais nova.
- É sempre assim, meu amor. – minha mãe disse. – Bem vindo ao mundo dos pais e irmãos mais velhos. Mas não se preocupe, isso se chama adolescência, e vai passar. Mas depois ainda tem a Safaa. – ela riu. – Tenho certeza que Donyia se sentia do mesmo jeito com você quando eram mais novos.
- Ela nem pôde me aproveitar em minha adolescência.
- Nenhum de nós pôde.
Fiquei parado por um tempo, assistindo minha mãe cozinhar enquanto conversávamos. Depois, eu convidei Safaa para dar uma volta e escolher alguns presentes de aniversário enquanto Trisha terminava de preparar a comida, e voltaríamos a tempo de comer.
Passei por algumas lojas de brinquedos, mas ela estava começando a cansar disso também. Com muita briga, nós fomos a lojas de roupas. Mas maquiagem não. Eu disse que só no ano que vem ela começaria ganhar algum produto de beleza de mim. Era muito nova. Ela reclamou, mas acabou aceitando. Depois de umas duas horas nós voltamos, e era meio dia em ponto. Pedi para Safaa não contar que tomamos sorvete, e esse foi nosso segredo.
Ao chegar, soltei minha carteira e o celular no balcão, e fui lavar as mãos. Quando servi meu prato e sentei no balcão para comer com Safaa, meu celular tocou. Minha mãe me olhou com cara feia, mas ela sabia que eu precisava atender.
Peguei o celular e vi o nome de no visor.
- ? – chamei, ao atender a ligação.
- Zayn, é a ! Você já está em Londres?
- Sim, eu cheguei hoje mais cedo. Por quê? O que está acontecendo?
- Nós estamos no hospital, Zayn. Algo aconteceu com a . Ela está... eu não sei, eu não sei o que é, ela...
Levantei-me em um pulo do lugar onde estava sentado.
- O que aconteceu? , por favor, o que... ela está bem? Ela acordou?
- Eu não sei! Não disseram nada concreto até agora, mas algo está acontecendo! Eu e estamos aqui na frente do quarto há alguns minutos, eles a levaram com urgência para a UTI, eu... Eu não sei, Zayn. – choramingou. – Por favor, vem até aqui. Eu não sei para quem mais ligar.
- Eu tenho medo. Eu sei que a gente não pode ficar junto se as pessoas não souberem da verdade, e a verdade não pode ser contada porque é a sua carreira que está em jogo, e uma carreira é muito mais importante do que um caso, um namoro ou sei lá o que tínhamos e que não tem garantia nenhuma de que vai durar. Você me entende? Se ficarmos juntos vai haver consequências, Zayn, e essas consequências podem acabar com nossas carreiras. Não podemos nos permitir. Não podemos.
- Eu aceitaria arriscar por você. – fui sincero.
Ela me olhou por um tempo. Depois, olhou para frente quando a fila começou a andar e avancei um pouco com o carro. Tudo parou de novo.
- Eu não consigo imaginar qu...
- Eu te amo.
Olhei rápido para < script>document.write(Clara), espantado com minhas próprias palavras. Não era para ter dito, mas foi tão natural. Foi automático. Eu entendia que ela estivesse assustada, porque eu também estava.
Apertei os olhos com força e passei a mão no rosto, tendo flashes de imagens de em minha cabeça. Saudável. Sorrindo. Minha garganta se fechou.
- Eu... – levei as mãos à cabeça e fechei os olhos. – Eu estou indo. Chego aí em alguns minutos.
- Tudo bem, eu vou te esperar na recepção.
Desliguei a chamada e peguei a carteira do balcão.
- Mãe, eu sinto muito. Eu preciso ir até o hospital agora, algo está acontecendo com a , eu... Me desculpem, eu volto para a janta, prometo!
Dei um beijo em minha mãe e em Safaa e saí correndo porta afora, deixando as duas com cara confusa na cozinha. Antes de alcançar o carro na garagem, Safaa correu até a porta e me chamou. Eu abri a porta do carro e olhei para trás.
- Ela é o amor da sua vida, não é? – gritou para mim.
Encarei minha irmã mais nova por um segundo, sem saber ao certo o que falar.
- É. Ela é, Safaa. É o amor da minha vida. – sorri minimamente para ela, que sorriu para mim também, e assentiu. Eu entrei no carro e saí de lá o mais rápido possível.
Durante o caminho até o hospital eu lembrei de várias coisas, pensei em diversas possibilidades. UTI não significava coisa boa. Se ela tivesse acordado, não estaria na UTI, e as meninas teriam acesso às informações. Só me restou rezar para que tudo corresse bem, e dirigir o mais rápido possível.
Ao chegar lá, eu não conseguia achar vaga no estacionamento, então deixei em uma vaga para cadeirantes e entrei correndo no prédio. Eles podiam multar, podiam até guinchar meu carro, mas eu precisava entrar naquele hospital e saber o que estava acontecendo.
me viu chegando. Ela correu até mim e me abraçou, e eu a abracei também. Nunca havia compartilhado de um momento desses com , ela não era desse tipo e nem eu.
- Eu estou com medo – ela sussurrou.
- Eu também, .
Ela se afastou depois de uns segundos, pegou minha mão e me puxou pelo corredor a passos rápidos. Não trocamos outras palavras, e chegamos no corredor da UTI logo de cara. Estava movimentado, vários médicos e enfermeiros corriam por lá, alguns gritavam que não era lugar para nós e que não devíamos estar ali, mas estavam tão ocupados que não se davam ao trabalho de parar. Encontramos com encostada na parede oposta à da porta do quarto, e quando nos viu, ela veio até mim e me abraçou também. Nós logo nos afastamos, e ela olhou para a porta.
Segui seu olhar, e pude notar movimento por trás da pequena janelinha de vidro da porta. Eu fui até lá, meus pés me guiando sem que eu nem pensasse, mas fui empurrado antes mesmo de chegar à porta por um médico que passara correndo e entrara porta adentro. Ele entrou tão rápido e tão afobado, que a porta se abriu demais e não voltou a se fechar, ficando presa em um objeto no chão. Eu me aproximei mais, e pude ver no fundo do quarto várias pessoas uniformizadas em volta de uma cama hospitalar móvel. Eu não podia ver seu rosto, mas podia ver uma mecha de seus cabelos loiros inconfundíveis caindo para fora da cama.
Agora que a porta estava aberta, dava para se ouvir tudo. O médico chegou à cama, as pessoas em volta dela abriram espaço para que ele chegasse até a paciente, e vi suas mãos pressionando algo no pescoço dela.
Ele disse alguma coisa, e algumas pessoas se afastaram.
Meu coração estava acelerado. Eu sabia que algo estava acontecendo, porque todo mundo estava falando muito rápido e ao mesmo tempo em volta dela, tentando fazer alguma coisa, tentando salvá-la. Minhas pernas agiram sozinhas, e eu entrei no quarto, mesmo ouvindo e me chamarem atrás de mim. Meus passos eram lentos. Eu queria me aproximar, queria vê-la, mas não queria atrapalhar e ser tirado de lá.
E então, de repente, meus ouvidos captaram um som. Era o monitor cardíaco, mas não era o mesmo som de antes. Seus bipes estavam muito mais rápidos, e em uma fração de segundos aumentaram mais ainda, e mais, e mais, até que, de repente, os bipes viraram uma linhagem contínua. Um único som, que indicava que seu coração havia parado.
- Eu te amo. – disse, devagar, baixinho, e com uma intensidade que me arrepiou dos pés à cabeça.
Apenas consegui sorrir, o sorriso mais sincero que dei em dias.
- Te amo porque é fácil te amar. É natural. É o que acontece aqui dentro. – tocou de leve em seu peito. – quando eu estou com você, eu sou mais feliz do que sempre imaginei que seria. Só em ter você por perto. Tudo fica bem, tranquilo, como se tudo estivesse em seu devido lugar no mundo.
Subi a minha mão que estava em suas costas até a sua nuca e a deitei de leve na cama, deitando ao seu lado. Distribui beijinhos suaves pelo seu colo, pescoço e linha do maxilar. Ela fechou os olhos e suspirou. Subi beijando bem devagar e levemente até encostar na sua boca, e ali fiquei por alguns segundos. Eu podia sentir seu hálito fresco em contato com a minha pele, com os meus lábios, me fazendo querê-la mais, como se fosse possível.
- Eu te amo tudo isso de volta. – sussurrei, enquanto seus lábios roçavam nos meus. – Mais do que cabe em meu peito.
- Carregue o desfibrilador!
Nesse momento, várias pessoas saíram de perto da mesa e foram até uma mesa às pressas para pegar um equipamento. Uma das enfermeiras, que foi até uma prateleira ao meu lado, olhou-me e parou o que estava fazendo.
- Você não pode ficar aqui! Você tem que sair! – ela veio até mim. – Senhor, você tem que sair daqui!
- Evelyn! – o médico gritou, e ela olhou para trás. Voltou a olhar para mim e me empurrou gentilmente alguns passos para trás. – Saia do quarto, senhor, por favor. – e voltou até a maca.
Mas eu não saí dali. Não consegui sair. Vi os enfermeiros voltarem à cama com o equipamento e o médico o pegar.
- Desfibrilador carregado em duzentos joules. – uma mulher disse. Dei um passo à frente. - Preparando para a ressuscitação.
O médico segurou as duas placas de metal nas mãos e se aproximou de .
- Afasta. – Disse e pressionou as placas no peito dela com força, um barulho horroroso foi ouvido e seu corpo se arqueou e voltou ao normal.
Todos olharam para o monitor.
- Sem resposta, senhor.
- Carregue outra vez.
- Desfibrilador carregado em trezentos e sessenta joules. – a mulher voltou a dizer. - Afasta. – e ele fez mais uma vez. Nenhuma resposta.
Dei mais um passo à frente, meu peito prestes a explodir. Eu queria gritar para que eles salvassem sua vida.
- Afasta! – o homem pressionou o metal contra o peito de mais uma vez, e durante dois segundos tudo ficou silencioso. Como se a cidade tivesse congelado. Ninguém respirou. Ninguém se mexeu. Nenhum carro fez barulho no transito.
E então pode-se ouvir, baixinho, o bipe constante do monitor cardíaco, em um ritmo calmo.
Minhas pernas quase cederam, e meu alívio não pode ser descrito em palavras. A equipe vibrou em volta da maca.
- Batimentos voltando ao normal. – a voz da mulher voltou a soar.
O médico deu meia volta e, ao me ver a alguns passos dele, seu sorriso sumiu.
- Por Deus, o que esse garoto faz aqui?!
Dei alguns passos para trás e virei de costas, saindo do quarto rapidamente e me aproximando das garotas outra vez, arregalando os olhos.
- Vamos. Vamos, andem, vamos logo. – coloquei as mãos em suas costas e as empurrei pelo corredor até sairmos da UTI.
- O que aconteceu? – me olhou.
- Eu não sei. Tudo que sei é que... por alguns minutos, ela estava morta. Ela estava morta, bem ali na minha frente. – passei a mão no queixo e olhei-as, ainda incrédulo. – E então eles usaram o desfibrilador três vezes. Eles a deram três choques, e... E de repente ela voltou. Foi... foi... – balancei a cabeça, ainda sem conseguir falar.
- ?
, eu e nos viramos com a voz que a chamou e demos de cara com o médico que eu vira há momentos atrás.
- Sim?
- Onde está a família da paciente?
- Eles estão a caminho, já devem estar chegando. Estavam fora da cidade.
- Bem, seu nome está na lista de contatos, então eu acho que posso conversar com você.
- Eu tenho certeza que o meu nome está aí também – deu um passo à frente.
- Qual é o seu nome?
- . .
O homem olhou em sua prancheta e voltou a olhá-la.
- Não. Nenhuma , sinto muito.
- Olhe de novo. Eu sei que está aí. Eu sou irmã dela.
- Mas o sobrenome de não é o mesmo que o seu. – ele disse, olhando-a impaciente.
- Nós... somos diferentes. Uma da outra. – ela franziu o cenho.
- Sinto muito, senhorita . Não sou autorizado a falar com alguém que não esteja na ficha.
- Ah, esse hospital é uma porcaria. Anda, Zayn, vamos para lá – ela bateu em meu braço e deu meia volta.
assentiu para mim e segui até um banco da recepção. Esperamos que voltasse de onde eles estavam para nos dar as notícias.
- Da próxima vez você vê se bota o nome de todo mundo nesse troço! – disse, levantando.
- Calma, , que escândalo. – bufou. – Só dá para botar três nomes.
Eu ri, nervoso.
- Tá. O que aconteceu?
respirou fundo e então mordeu o lábio.
- Ele disse que ela estava dando sinais estranhos durante toda a madrugada de hoje. Parecia querer acordar, mas seus batimentos estavam muito acelerados e sua atividade cerebral não parava de oscilar. Apesar disso, ela não mexia nenhuma parte do corpo, estava rígida, o que era muito estranho. Ele disse que depois de examiná-la, quando chegou hoje mais cedo, ele diagnosticou sinais de epilepsia.
- De quê? – fez careta.
- Tipo uma convulsão, entendeu? – respondeu, impaciente. – Aí eles tentaram acordá-la, mas não conseguiram, e ela meio que entrou em convulsão, e... – ela fez careta. – Eu não lembro direito o que ele disse, usou umas palavras estranhas. Mas o que eu entendi foi que eles a colocaram em coma induzido, para que o sistema nervoso dela não parasse. Daí mais tarde eles tentaram reverter o coma e ela voltou a ter a convulsão, e... E a pulsação dela aumentou demais, causando sobrecarga do coração e ele parou. Daí ele fez o que você viu. – me olhou. – E ele disse que agora ela está bem de novo, e que... E que há uma grande chance de acordar.
- Isso é o que eles sempre dizem! – bufei. – Eu estou cansado dessa história!
- Zayn, fica calmo. Ela podia ter morrido.
- Eu sei, , eu vi! Mas não é isso que parece nos últimos tempos? Não parece que ela está morta? Eu não sei você, mas não aguento mais essa tortura que é poder vê-la, tocá-la, sem que ela esteja presente de verdade. É horrível. Eu não quero mais ter que voltar a esse hospital. Eu quero a de volta! – bufei e passei as mãos no rosto.
- Olha, eu sei que é difícil, mas...
- ?- Ela olhou para trás, e segui seu olhar. Era um enfermeiro.
- Sim?
- O médico de está chamando os responsáveis por ela no seu quarto.
- O quarto que ela estava antes?
- Sim, o mesmo de antes. – ele assentiu.
agradeceu e foi em direção ao corredor, sumindo de vista. Quando eu e fomos segui-la, o garoto interrompeu.
- Apenas os responsáveis estão sendo ch...
- Fo.da.se! – gritou para ele. – Ninguém liga para as regras desse hospital!
Ele ficou parado, boquiaberto no mesmo lugar.
- Ah, e aliás: o seu uniforme é uma merda. – disse, e seguiu para o mesmo lugar que .
Eu a segui também, deixando para trás o garoto paralisado. Ri.
- Boa, garota!
Ela riu também.
- Obrigada.
Chegamos no quarto pouco depois de , e entramos indo até a cama. falava com alguém, com a voz baixa e suave. Mas eu não consegui distinguir quem era até chegar bem perto.
Eu acho até que tropecei. Porque, de fato, era com que ela estava falando. E, de fato, ela estava acordada.
Eu não sei se paralisei ao vê-la acordada. Eu sei que prendi a respiração, e fiquei algum tempo olhando para os seus olhos e cada movimento que ela fazia com as mãos. Ela tinha um pequeno sorriso no rosto, apesar de parecer confusa. Estava pálida e fraca, apesar de parecer muito, muito melhor do que desacordada.
Então eu acordei. Foi preciso que me desse um tapa nas costas, quase como um empurrão, que foi o que me fez vacilar para frente e fez tirar os olhos de e olhar para mim. Eu cheguei perto da cama, e sorriu para mim.
Voltei meus olhos para e ela me olhava, meio curiosa. Eu procurei a sua mão, e quando a segurei, ela olhou para nossas mãos também. Só que não foi o reencontro que eu imaginava. Ela me olhou outra vez e puxou sua mão para longe da minha gentilmente.
- ? – chamei, sentindo meu coração vacilar.
Ela franziu o cenho para mim. Olhou para e depois para mim de novo.
- A gente se conhece?
’s POV
As últimas horas de minha vida desde que eu havia aberto os olhos foram uma mistura de sonolência, rostos estranhos e sorrisos. Aparentemente todo mundo que passava pelo meu quarto estava feliz em me ver acordada.
Eu estava grogue pelos remédios, mas era boa a sensação de estar acordada. Meu corpo todo estava tão rígido que toda vez que eu mexia algum osso sentia as juntas rangerem, por tanto tempo sem movimento.
A enfermeira que estava checando todos os fios e agulhas aplicadas em mim sorria toda vez que eu a olhava.
- A gente se conhece? – ela foi a terceira pessoa a quem eu fiz a mesma pergunta.
- Não. Eu fui sua enfermeira durante o tempo que esteve aqui, mas nunca nos vimos antes. – e sorriu de novo. Ela era fofa, tinha traços orientais e um leve sotaque. – Meu nome é Yakomi.
- Obrigada. Que horas são, Yakomi? E que dia é hoje?
- É por volta de uma da tarde do dia quatorze de janeiro.
Subitamente, eu tive medo. Já era janeiro, e isso parecia tão distante de...
- Quando eu vim parar aqui?
- Eu preciso ver em sua ficha. Já fazem alguns meses, mas fique calma, todos os que vinham te visitar ainda vêm, incluindo sua família. Acredito que nada tenha mudado. – sorriu.
- Obrigada. – falei de novo depois de pensar por um tempo. Além de minha família e de , quem mais seriam os outros de quem ela falou?
- Não por isso, senhorita . É sempre maravilhoso quando conseguimos trazer de volta alguém que passou tanto tempo conosco.
Yakomi saiu do quarto logo depois de dizer isso e checar tudo, e os próximos a entrarem foram meus pais. Ficamos por uns bons quinze minutos juntos, dando as mãos, falando coisas leves, minha mãe até quis que eu rezasse com ela. Eu fiz uma careta estranha para papai, e nós sorrimos e esperamos que ela terminasse sua oração sozinha. Depois, eles disseram que me deixariam descansar e que estariam ali quando eu acordasse, mas eu não queria descansar, então pedi que deixassem a TV ligada no canal de notícias. Era estranha a sensação de não se situar no tempo, mas era muito gratificante ter todos os meus sentidos funcionando novamente depois de tanto tempo de paralisação.
Eu podia ouvir vozes e sentir a agitação lá fora, e sabia que apesar de não ver a maioria, tinha muita gente esperando para me ver. Depois de algum tempo em que trouxeram-me um lanche e eu finalmente senti meus dentes tendo alguma utilidade outra vez, o momento visita continuou e quem entrou dessa fez foi e uma garota. Eu sabia que a conhecia, mas era como se eu estivesse fora de ar e não conseguisse lembrar quem era.
- Ei, , tudo bem? Eu trouxe a para te ver. Você lembra dela, né?
- ? – olhei-a. O nome combinava com o rosto. – Eu não... desculpa. – franzi o cenho. – De onde a gente se conhece?
- Para com isso, sua vadia. Você precisa lembrar de mim!
olhou para ela assustada, mas não foi preciso. Ao ouvir aquelas palavras, sua voz, seu jeito de falar, foi como se um estalo tivesse ligado uma luz em minha cabeça e eu automaticamente reconheci.
- ! – quase gritei.
- Eu não disse?! – ela sorriu para e se aproximou de mim, me abraçando. – Ai meu Deus, que maravilhoso poder te abraçar, criatura.
- Eu não acredito que esqueci de você. Me desculpa. Minha cabeça está estranha. – sorri.
- Era de se esperar, com a pancada que você levou, ela pareceu uma bola de basquete.
- Eu vou mandar te expulsarem desse hospital e te levarem direto pro hospício – vociferou e eu ri. Era tão bom vê-las assim, era como família. Aquecia meu corpo por dentro.
- O que aconteceu, garotas? Por favor, eu não aguento mais esse suspense.
suspirou e sentou na poltrona, sendo seguida de que também sentou.
- Eu também fiquei assim quando acordei. – balançou a cabeça. – ... todas nós sofremos um acidente de carro. Foi gravíssimo. Estávamos voltando da chácara dos tios da e nós colidimos bem no meio da Oxford. Foi há quase quatro meses atrás.
Fechei meus olhos e tentei lembrar de algo. Qualquer coisa, mas nada veio.
- Quem mais estava com a gente?
- A e a . – disse.
- Quem são elas?
As duas se olharam, e suspirou.
- Desculpem. Eu não lembro. Não consigo. Eu... eu acho que só lembro vendo, eu acho que lembrei de porque foi a primeira pessoa que vi e de você porque você é bem inconfundível.
sorriu fraco.
- Elas são nossas amigas. Tanto quanto eu e você. Moramos todas juntas, nós cinco. Sempre estamos juntas.
Concordei com a cabeça. Isso também soava familiar.
- E o que aconteceu com elas?
- viajou. Vai ficar uns tempos fora para estudar. A está aqui ainda.
- E por que ela não veio me visitar?
- , ela está aqui no hospital. – explicou. – Está em coma. Desde o acidente, como você.
Eu olhei-as por um segundo. Era horrível que eu não lembrasse de nada quando obviamente deveria estar muito abalada com a notícia. Mas eu não conseguia lembrar de quem era .
- Eu... eu... ah. – foi o que consegui dizer, e depois me calei. Ninguém falou nada por um tempo. – Eu sinto muito. Eu sinto muito por não lembrar.
- Não precisa ficar pedindo desculpa, não é culpa sua. Você vai lembrar. É só questão de tempo.
- O médico falou alguma coisa?
- Seu médico está em uma cirurgia, mas ele vai falar com a gente assim que terminar. – balançou a cabeça. – Mas está tudo bem. Você está indo muito bem, .
Concordei e olhei para a TV por um tempo.
- O que eu fazia? Quer dizer... O que eu estava fazendo antes do acidente?
- Do que você lembra? – perguntou, curiosa.
- Eu lembro da minha vida. Quer dizer, a minha vida antiga, até onde eu sei. Eu lembro de ir ao colégio, de morar com meus pais, de passar os fins de semana com... – franzi o cenho. – vocês, eu acho. Não lembro exatamente quem. Mas de algum modo eu sei que aquilo já passou. – franzi o cenho de novo, agora preocupada. – Quantos anos eu tenho?
- Você tem dezenove. Já saiu do colégio, e...
- , vamos esperar. Cada coisa em seu tempo, tudo bem ?
Suspirei, decepcionada, mas concordei. Devia ser melhor assim. Eu sabia que estava tudo ali, em minha cabeça, afinal. Algumas coisas muito claras, prestes a serem lembradas, outras talvez nem tanto. Mas estava tudo em minha cabeça, eu podia sentir.
- Ok. Se vocês não se importarem, eu queria descansar um pouco. Minha cabeça está doendo.
- Claro, tudo bem. Tudo bem, até mais tarde. – levantou e levantou junto.
As duas beijaram meu rosto, e saíram do quarto em seguida. Eu fiquei por uns minutos forçando minha cabeça a lembrar, mas isso provocou mais dor, e fui forçada a fechar os olhos e descansar. Acabei apagando.
’ POV
- Tá de brincadeira?! – gritei com meu celular, atraindo olhares de quem passava por mim. – Ah meu Deus! Ah meu Deus! Meu Deus! Ela acordou, eu sabia que ia acordar! Eu quero falar com ela! Eu quero falar com ela agora!
Peguei o copo plástico com 500ml de suco natural de morango e tomei alguns goles da bebida, tentando engolir meu sanduiche natural que estava preso na garganta com aquela notícia. Não que eu fosse sempre a pessoa mais saudável do mundo, mas tentava manter minha dieta nos dias de semana. Era parte da minha nova fase de adulta.
- Calma, , calma! É que... é que ela não lembra de você.
- Como assim? – gritei outra vez, fazendo o casal de argentinos da mesa ao lado me olharem com curiosidade. – Como assim não se lembra de mim? – abaixei o tom.
- Ela meio que perdeu a memória. É passageiro, tá legal? Não surta. – explicou. – Ela vai lembrar, só está se acostumando outra vez a estar acordada. Poxa, imagina só o seu cérebro ficar hibernando por meses. Ele precisa de um tempo para voltar a funcionar direito, não é? É como quando você desliga o celular e depois tem que esperar um tempo para ele carregar todos os seus contatos...
- Tá, eu entendi. – suspirei, frustrada. – Não acredito que não se lembra de mim! Isso é tão horrível!
- Eu sei... mas ela vai lembrar!
- Tudo bem.
- E aí... está fazendo o quê?
- Estou no meu horário de almoço, aqui na frente do museu.
- E você ainda não cansou de ver coisas velhas?
Ri.
- Não, . Eu gosto disso, é interessante, ao contrário do que você acha. E os turistas sempre têm perguntas. Além disso, eu estou quase aprendendo a falar espanhol, o quão legal é isso?
- Já dá pra pegar uns espanhóis!
Nós duas rimos.
- Então, me conta... Já encontrou algum francês que valha à pena? Talvez Pierre, ou algum Enzo, ou Pietro...
- Não, nenhum.
- Tem que ter alguém! Qual é, , você está aí há... o quê, três meses agora?
- É.
- E então? Ninguém? Nem um casinho de elevador que você só viu uma vez na vida?
Sorri.
- Não, . Eu não estou procurando por isso. Quer dizer, aqui na França até os vendedores de sorvete são bonitinhos, mas... eu não sei. Apenas não estou procurando. Eu quero focar nos meus estudos.
- Ou ainda está ligada demais à sua ultima experiência?
Suspirei e soltei meu copo, sentando para trás na cadeira.
- Talvez. Mas isso pouco importa. Eu não quero um namorado agora. Nem nada que envolva o sexo oposto. Eu só quero me dedicar à...
- Sua carreira, certo.
- É, à minha carreira. Mas e quanto a você? Como vai com o Lou?
- Estamos ótimos. Eu nunca pensei que fosse ficar tão feliz com alguém, . Na verdade, tenho medo de perdê-lo. Isso é tão aterrorizante, é louco... estranho.
- É amor. – sorri.
- É... eu acho que sim. – ela riu meio nervosa.
- E o trabalho?
- Está indo bem. Acho que a está gostando do Matt.
- O Andrew Garfield com roupa de carteiro?
- É.
Rimos outra vez.
- Poxa... Saudade dos tempos em que eram ela e Liam contra o mundo... agora ele tem um pirralhinho. – olhei para as minhas unhas, pensando que, se tudo tivesse dado certo, eu também teria um. Balancei a cabeça.
- Ele parece feliz. E a está se conformando. Ela só sente falta dele, dá para ver.
- Eu também sentiria...
- E, sabe, ela tá passando por tanta coisa. Eu me preocupo demais com ela, . Perdeu o pai há poucos dias... Ela diz que está bem, mas tenho medo que uma hora ela exploda. é forte, mas é muito sensível.
- Eu sei – suspirei, fechando os olhos. – Queria estar aí para dar força a ela. Mas, hum, os meninos já ouviram a novidade?
- Eu acho que Zayn já contou. Zayn está meio em choque, a não lembrou dele quando o viu, e ele ainda não pode vê-la. Ele está com medo, mas tá levando numa boa, como sempre.
Sorri.
- Diz para ele que eu estou mandando muitos beijos e abraços, e energia positiva.
- Tá legal.
- E a ?
- A está na mesma... Mas os pais dela estão lutando por mais um tempo com os aparelhos ligados. Estão pagando mais caro.
- Entendi... – comprimi os lábios, sentindo uma dor no peito. Angústia.
- Eu preciso ir, . Estão chamando para mais uma sessão de visita, e a precisa de alguém conhecido no quarto.
- Tudo bem. Se cuidem, manda beijos para todos. Eu amo vocês.
- A gente também te ama. Beijos.
Desliguei o celular e soltei-o dentro de minha bolsa. A breve conversa sobre me fez perder completamente o apetite, e só em olhar para o sanduiche natural meio comido à minha frente o meu estomago se embrulhava. Soltei alguns euros em cima da mesa e peguei o suco. Olhei em meu relógio de pulso, mas ainda tinha meia hora antes de voltar ao trabalho, e nada para fazer. Suspirei. Eu sentia falta de Londres, sentia falta dos meus amigos, eu queria voltar. Agora, enquanto estava sozinha e depois de já passados três meses, eu podia admitir isso com mais facilidade. Conseguira provar a mim mesma que eu era capaz de me cuidar sozinha, eu não duvidava mais da minha capacidade de ser altruísta, mas esse não era mais o problema. Comecei a perceber que ser adulta não era sobre me isolar em uma cidade diferente, longe de todos que amo, e sobreviver por lá mesmo sem estar feliz. Isso era tolice.
Mas eu lembrava de meus motivos para ter deixado Londres, e eles ainda estavam bem nítidos na minha memória. Só que começavam a se fragmentar aos poucos, como se perdessem o sentido.
Eu não sabia o que aconteceria caso eu voltasse. Parte de mim gostava de ter uma vida de gente grande, mas já não valia mais à pena sem ter as pessoas certas por perto. Eu estava sempre sozinha ali, e apesar de me sentir carente e solitária, não sentia vontade e recusava sempre que os colegas da faculdade lançavam um convite para alguma festa.
Era tão complicado, e eu estava em meio a um dilema e tanto. Apesar de tentar negar de todas as formas, eu sabia que Harry ainda fazia parte de mim, e isso me deixava confusa. Eu já não tinha mais esperanças de voltar ao que éramos, mas pensar nele e em um possível reencontro ainda me dava frio na barriga.
- !
Virei-me de costas, seguindo o som de meu nome e sorri para Sun, a garota coreana que estudava nas mesmas classes que eu na faculdade. Seu sotaque ainda era terrivelmente forte, a ponto de eu ter que pedir que ela repetisse muitas palavras. E ela não sabia francês, então me ofereci, por pura educação, para ensiná-la algumas coisas básicas. Ela me levou mais a sério do que eu imaginava, mas acabei gostando dela.
- Oi, Sun. Vem, senta aqui. O que você está fazendo aqui?
- Pensei que fosse te encontrar aqui.
- Eu trabalho no museu.
- Eu tive uma tarde de folga, e decidi conhecer o museu. Ele é muito famoso.
- É, é sim.
Ofereci meu suco para ela, que negou. Soltei-o, agora sem sede nenhuma também.
- Vou apresentar a ala do Egito a um grupo de adolescentes de um colégio interno hoje em francês. Você quer se juntar a eles? Pode treinar seu idioma.
- Eu adoraria. – ela sorriu, e seus olhos ficaram ainda mais estreitos, como um risquinho. Sorri também. – Posso te fazer uma pergunta?
- Claro.
- Você era namorada do Harry Styles?
A pergunta foi tão curta e direta que cheguei a me assustar. Mas ao mesmo tempo, o jeito como ela falou seu nome me fez querer rir, e quase imaginei ele ao meu lado, rindo comigo. Eu já estava um pouco acostumada com isso, apesar de agora ser menos frequente.
- Sim.
- É que... – Sun abriu o fecho de seu fichário e tirou de lá um panfleto colorido. Colocou sobre a mesa e deslizou-o até mim. Eu o peguei.
“One Direction – spectacle de l’année!”estava escrito em letras grandes e grossas em cima de uma foto velha demais da banda. A data estava marcada para dali a duas semanas. Olhei para Sun.
- Eu só pensei que você fosse gostar de saber. Se ainda não sabia...
- Obrigada. Eu não sabia.
- Você vai?
Dei de ombros, ainda com os olhos colados ao anúncio.
- Eu não sei. Por quê?
- Porque se você for, eu vou.
Olhei-a de um jeito estranho.
- Por quê?
- Você é a minha única amiga aqui. E talvez vá precisar de uma companhia.
Era provavelmente uma verdade. Eu gostaria que eles me vissem com pelo menos uma amiga. Qualquer coisa, menos sozinha, porque aí eles perceberiam mais facilmente o quão desesperava para voltar eu estava.
- Obrigada, Sun. Se eu for nesse show, eu aviso você.
Ela sorriu e assentiu. Voltei a olhar para o panfleto, sem conseguir desgrudar os olhos da foto. Eu não via seus rostos há tanto tempo... Sentia muita falta.
- Você pode ficar com esse. – ela disse.
Dobrei o panfleto duas vezes e coloquei no bolso da calça ao me levantar.
- Vamos lá? Eu preciso colocar o uniforme e pegar o script antes de voltar ao trabalho.
Ela assentiu e me seguiu, enquanto eu ia em direção à enorme construção do outro lado da rua. Sun ficou boquiaberta ao passar pela enorme pirâmide de vidro, como qualquer um fica em sua primeira visita. Apenas sorri, lembrando vagamente de alguma coisa.
- Isso é um pedido, Styles? – Estreitei os olhos para Harry. – Porque está me parecendo...
- Não faz isso... – Ele levou os dedos às têmporas. – Eu estou me esforçando...
- Um pedido... – Continuei, meio rindo, meio caçoando.
- ...
- De na...
- Ok! – Harry tirou as mãos das têmporas e dei um passo para trás. – Você quer que eu te peça em namoro? Eu vou te pedir em namoro!
Olhei em volta rindo. Estávamos parados na esquina do parque, não havia quase ninguém na rua, uma neblina fraca cobria a praça em que estávamos e um vento gelado soprava.
- Harry, não faça escândalo! – Apontei-lhe um dedo, sorrindo.
Ele puxou o fôlego, e então só começou a cantar:
- And I can’texplain…
- Ai, não. Ele tá cantando Lessions.
- But there’s something about the way you look tonight...
- Harry... – pedi, rindo fraco. Meu rosto estava vermelho.
- Takes my breath away! – Ele cantou mais alto, passando a mão pelo poste de luz e dando uma volta ao redor dele, fechando os olhos.
- Harry, para! – Dei-lhe um tapa no braço. Havia algumas pessoas em volta, olhando estranho.
- It’s that feeling I get about you deep inside. And I can’t describe, but there’s something about the way you look tonight!
- Styles, cala a boca! – Pulei nele e tapei sua boca com a mão, mas meu sorriso divertido me entregava: Eu estava adorando. Eu comecei a ver algumas luzes de prédios serem acesas para ver o que era, e algumas pessoas nas janelas olhando a cena.
Harry arqueou uma sobrancelha e puxou o ar. Sabia que aquele ia ser o Grand finale.
- Nã...
- GIRL YOU TAKE MY BREATH AW...
- Eu aceito! – Gritei, fazendo-o parar.
- Quê? – Ele riu e soltou o poste em que estava praticamente pendurado. – Jura?
- Eu aceito namorar com você, seu imbecil, idiota e insuportável. Eu. Aceito. – falei, pausadamente, e depois sorri. – Mas saiba que, argh, você me forçou a isso. Que maneira mais infantil de pedir alguém em namoro!
Esbarrei em alguém e me desculpei baixinho sem olhar para quem era. Parisenses eram, em geral, muito grossos e mal educados. Eu vinha da Inglaterra, era do povo que se alto denomina “povo civilizado”, mas para os parisenses, era considerada uma careta.
- Você está pensando no seu namorado? – Sun perguntou, andando a passos rápidos e curtos para me acompanhar ao meu lado.
Minha garganta se apertou quando respondi:
- Ex.
Aquele dia estava na lista dos melhores momentos da minha vida, sem dúvida. Foi a primeira vez que conheci a parte gentil, cavalheira, engraçada, boa de Harry. Foi a primeira vez que me senti completamente apaixonada por ele.
- Você é linda. – ele disse, depois de um breve momento. Já tínhamos acabado de comer, e agora só conversávamos sobre alguma coisa enquanto bebíamos o resto do vinho escorados no sofá olhando o show na TV. Talvez já tivéssemos bebido demais, afinal a ponta dos meus dedos formigava. Mas eu não me sentia embriagada, apenas levemente desinibida e à vontade.
- O que mais, Harry?- olhei-o e sorri.
- O que mais o quê?
- Quais seus outros truques para ganhar a garota?
- Hum... – ele olhou para os lados fingindo pensar. – Bom, tem esse aqui também: - ele sentou de frente para mim e passou as duas mãos nos cabelos, bagunçando-os e então virando-os para o lado. Olhou para mim com um sorriso inocente e forçado, mas lindo. – Eu adoro a cor dos seus olhos. – disse, em uma voz doce.
Ri e empurrei-o de leve pelo ombro. Nós parecíamos um casal de conhecidos saindo juntos pela primeira vez e flertando um com o outro.
- As garotas nunca resistem.
- Hum, e o que mais?
- Ah, tem várias coisas. Mas acho que a melhor delas, com certeza é... – ele se mexeu um pouco e pegou algo do bolso da calça. Era pequeno, então não pude ver até que Harry pegou minha mão direita e colocou algo no meu dedo.
Meu sorriso sumiu e arregalei os olhos. Ele sorriu de canto, porra de sorriso, e beijou minha mão, bem em cima de onde havia posto o anel. Então virou-a e colocou outro anel igual na palma da minha mão e me ofereceu sua mão direita.
- O que...
- Eu amo você. E quero que lembre disso onde quer que nós estejamos, perto ou longe, juntos ou separados, brigados ou de bem. Eu quero que se lembre toda vez que olhe para esse anel, que não importa nossas diferenças, brigas, desencontros ou problemas, eu sempre vou te amar. E mesmo ainda sendo cedo para ter você como a minha mulher oficialmente, você já é minha, assim como eu sou seu de corpo e alma.
Girei o anel em meu dedo, entrando pela porta dos funcionários do museu. Eu não entendia por que essas memórias estavam voltando agora, e fazendo meu peito se comprimir em uma mistura de dor e saudade. É claro que eu nunca realmente esquecera dos nossos momentos, mas especialmente hoje, e especialmente nesse momento, tudo que eu desejava era poder voltar para os braços de Harry.
Niall’s POV
Eu fui o primeiro dos quatro de nós a pular para fora da van assim que ela nos deixou em casa no fim de semana.
acordou. estava acordada nesse exato momento. Eu me sentia feliz, quase como se pudesse sair pulando e cantarolando por aí. Se ela acordou, também tinha chances.
- Nós vamos todos para o hospital, né? Em meia hora. Só tomem banho e comam alguma coisa. Qualquer coisa. A gente se encontra aqui. Podemos ir no meu carro. – eu estava falando tão rápido que quase comia algumas palavras. – Certo? Pessoal? Harry?
Harry jogou sua bolsa enorme em cima do ombro e fez careta para mim.
- Você está interrompendo o meu raciocínio.
- Para de viadagem, você nem sabe pensar. E aí garotos? Meia hora, certo?
- Niall, pelo amor de Deus. – Louis me olhou feio, puxando sua mala de dentro da van. – Quer parar de falar por um segundo? Eu realmente preciso de uma folga da sua voz.
- Niall, você viu o que Zayn disse. A não lembra de nós, ok? Ela não vai te reconhecer. – Liam falou, mais paciente do que os outros.
- Não agora, mas o quanto antes ela me ver, mais cedo vai começar a lembrar de mim. Qual é, o que vocês têm hoje?
- Cansaço.
Bufei.
- Tá legal. Grandes amigos vocês são. Eu vou para o hospital em meia hora, e se não quiserem ir também, beleza.
Puxei minha mala e arrastei-a até o portão do edifício, louco para entrar em minha casa e tomar um banho. Ouvi murmúrios entre eles, e sabia que eu havia deixado um clima de remorso no ar. Azar o deles, eu vou ser um bom amigo.
Em vinte e sete minutos eu estava saindo de casa com meu carro. Enquanto esperava o portão se abrir, eu tuitava umas carinhas felizes. Antes de acelerar quando o portão se abriu por completo vi uma figura parada em frente ao carro, e se aproximando rápido.
- Louis?
- Abre a porta, idiota.
Destravei as portas e Louis abriu a do carona, entrando e sentando ao meu lado.
- Vamos ser bons amigos.
- Como se você não estivesse indo só para ver sua namoradinha.
- E você também. – ele revirou os olhos.
Ri.
- Eu estou com saudade da . Ela merece ficar bem.
- Você tem razão. Eu e os garotos fomos idiotas mais cedo, mas todo mundo se importa com ela. O Zayn não sai de lá desde ontem.
- Filho da mãe sortudo – suspirei.
- Você acha que a ainda tem chance?
Louis me olhou por um tempo, depois voltou a olhar para o painel.
- Eu não sei. Quatro meses é muito tempo.
A verdade é que ninguém mais tinha esperanças. Até as minhas estavam começando a falhar. Mas a falta dela ainda era gigantesca, e era algo com o qual eu nunca me acostumaria por completo.
- – chamei, acariciando a sua cintura embaixo do lençol, enquanto meu outro braço estava debaixo da minha cabeça e eu olhava para cima. – Eu quero casar com você.
Olhei para baixo, para avaliar sua expressão ao mesmo tempo em que ela olhou para cima, surpresa e curiosa ao mesmo tempo.
- O quê?
- Eu quero casar com você. Eu digo, um dia. Um dia eu quero casar com você. Pra ter certeza absoluta de que você é só minha, porque – balancei a cabeça. – não parece real até agora.
Ela concordou com a cabeça, sorrindo.
Ao chegarmos no hospital, nós descemos no estacionamento e entramos no prédio, pedindo informações de qual quarto era. Ainda era o mesmo, ao lado do de . Algumas pessoas estavam sentadas em um banco na frente do quarto, no corredor, seus pais, , , algumas pessoas da série, inclusive Jeremy, Charlie... Mas o clima estava tranquilo por lá, e todos pareciam se dar bem.
Dei oi para as garotas e perguntei no ouvido de o que diabos Charlie estava fazendo lá. Ela riu.
- Ele veio ver a e ficou aqui por um tempo. A gente não o conhece, mas ele é fofo, Niall.
Revirei os olhos.
- É claro que sim.
- Não mais do que você todo vermelho assim.
Ri e balancei a cabeça.
- Eu posso entrar?
- Daqui a pouco, ela está dormindo.
Assenti.
- Vou ver a .
- Vai lá – apertou meu ombro e eu fui até o quarto do lado.
A atmosfera absolutamente igual à das outras vezes que eu vim me deprimiu. A vida de todos estava andando, e a dela continuava parada. Às vezes achava que, se ela pudesse falar, pediria que acabássemos com isso logo. Com toda essa espera. não teria paciência para esperar todo esse tempo. Ela gostaria que a deixássemos em paz.
Suspirei. Era horrível admitir, mas eu começava a aceitar melhor a ideia de não vê-la mais. A culpa por ter brigado com ela da última vez que nos falamos já era insignificante para mim. A angústia por tê-la perdido minutos antes de convidá-la para tentar outra vez já quase sumira. Eu só queria que ela voltasse. Só queria poder vê-la uma última vez.
Sentei ao lado da cama e segurei sua mão por um tempo, fazendo círculos na sua pele com o polegar. não parecia mais ter vida alguma. Ela certamente merecia algo melhor do que ficar presa àquela cama para sempre. Merecia um pouco de liberdade.
Fiquei lá por minutos incontáveis, até os últimos raios de sol sumirem do céu e o quarto ficar escuro. De repente, a porta se abriu e a luz foi acesa, e a mãe de sorriu para mim ao entrar no cômodo também. Sorri de volta. Ela veio até a poltrona ao lado da cama e sentou lá depois de beijar a testa da filha.
Ficamos em silêncio por um tempo.
- Ela não tem mais o mesmo brilho, não é?
Não fui capaz de responder, mas meu silêncio soou como um sim.
- Deve ser horrível para você. – falei, depois de um tempo.
- Isso está me destruindo. – ela balançou a cabeça. – Ela era tão nova... Merecia ver vivido mais. Ter visto mais.
Encarei minha mão que segurava a de no meu colo e concordei.
- Eu acho que está na hora de seguir em frente, Niall.
Aos poucos meus olhos foram acumulando lágrimas, e eu suspirei para tentar afastá-las, olhando para baixo.
- Você está pronta para isso?
- Eu sou uma mãe. Nunca vou estar.
Funguei e as lágrimas sumiram, mas o nó em minha garganta apenas apertava mais.
- Eu também não estou. Mas acho que ela está. Acho que ela merece isso.
- Descanso.
Concordei.
- Meu marido pensa como você. Ele acha que ela merece mais do que ficar presa a isso, sendo fruto de remorso e lágrimas, de saudade e culpa. Ela merece ser lembrada por coisas boas.
- Ele tem razão. – falei, mas então, por um segundo, meu lado racional gritou mais alto. – Mas... mas e se faltar pouco para ela...
- Niall. – Rose balançou a cabeça, secando brevemente uma lágrima. – Ela não dá sinal desde o acidente. Desde que foi tirada daquele carro, a única coisa que continua funcionando em seu corpo é o coração. Não há sinal de atividade cerebral. Não há nada. Os médicos disseram que não há esperança.
Balancei a cabeça, olhando-a.
- É tão injusto.
- Eu sei. Nós queríamos falar com você antes de tomar qualquer decisão, antes de falarmos com qualquer outra pessoa. Não chegamos a nos conhecer quando ela estava acordada, mas eu posso ver o quanto você a amava. Minha filha merecia esse amor. Eu fico grata.
- Se eu pudesse continuar lutando para sempre, Rose... Eu continuaria. Mas acho que alguma hora temos que aceitar que já é tarde demais.
- Boa noite, duende.
- Boa noite, Biazinha. – sorri. – Foi uma ótima noite com você.
- Foi mesmo... obrigada por me fazer companhia.
- Me chame sempre que precisar.
Ela assentiu, e continuamos os dois olhando um para o outro.
- Niall – ela disse, depois de um tempo.
- Sim?
- Não seria errado, hm, se dormíssemos abraçados? Assim, como amigos? – perguntou, um pouco receosa.
- Não. – respondi, rápido demais e tentando agir como se não fosse grande coisa. Mas o jeito como minha voz saiu denunciou a mim mesmo, eu estava pirando. Se eu queria abraçá-la, e dormir com a garota pela qual possivelmente estava apaixonado nos braços?! – Hum, na verdade não é errado. – falei, agora mais normal.
parecia um pouco envergonhada. Envergonhado deveria estar eu, por ser um idiota e ter que esperar a garota tomar uma iniciativa dessas para se aproximar. Levantei meu braço, indicando que havia um espaço guardado ali para ela, pertinho de mim, e se aproximou devagar, deitando a cabeça em meu braço. Com o braço desocupado, abracei-a e ela suspirou, antes de fechar os olhos.
- Eu te amo, Niall. – falou, logo depois do suspiro, o que fez parecer que aquelas palavras apenas escaparam, mas ela continuou de olhos fechados. calma como um anjo. – Você é muito especial para mim.
Era horrível pensar que eu a perderia, porque se acontecesse, tudo o que restaria em que eu me apoiar eram essas lembranças. E elas não eram suficientes e nem nunca seriam.
Harry’s POV
Acordei de sobressalto quando algumas buzinas soaram altas demais lá embaixo, na avenida. Olhei em volta, com os olhos meio apertados, e percebi que já era escuro lá fora.
- Droga. – levantei cambaleante e fui em direção ao interruptor, depois em direção à janela sem conseguir decidir para onde ir ao certo. – Droga! – praguejei de novo.
Fechei os vidros e as cortinas e fui até o interruptor. A luz me cegou. Voltei para a cama e me atirei lá enquanto procurava o celular no meio dos cobertores. Achei-o e disquei o número de Niall.
- Oi.
- Você já está no hospital?
- Harry, eu já estou em casa.
- Ah, merda! Eu sinto muito, eu caí no sono, Niall. Eu ia com vocês, mas eu deitei na cama depois do banho, e apaguei.
- Nós não pudemos ver a de qualquer jeito, então tudo bem. A e o Zayn ainda estão lá se você quiser ir, mas realmente não vai fazer diferença, porque ela está meio confusa e não lembra da gente.
- Nem dele?
- Bem, eles só nos disseram que é complicado. Seja lá o que isso significa.
- Hum. – cocei os olhos e suspirei. – Então tudo bem se eu for amanhã, né?
- Sim.
- Ok. Eu vou amanhã. Levo uma flor ou sei lá. Um cartão talvez. Parabéns por ter acordado.
- Você era mais engraçado quando namorava. E mais delicado também.
- Mulheres mudam a vida da gente, cara.
- Você já devia ter se conformado.
- Até parece – revirei os olhos.
- Eu vou dormir.
A linha ficou muda e joguei o celular ao meu lado na cama. Cama desgraçada. Era grande demais para mim. Era desconfortável.
Fiquei com o braço em cima dos olhos por um tempo e cochilei por uns minutos de novo. Depois acordei e passei as mãos no rosto. Peguei o celular por algum motivo desconhecido e fiquei encarando-o até descobrir o que de fato eu estava planejando fazer com ele. Entrei na discagem e encarei os números.
- Não acredito que vai fazer isso. – ela revirou os olhos.
- Pode acreditar – ri e peguei impulso, me soltando quando estava logo acima do meio do rio, e afundando na água gelada na mesma hora. Me senti melhor ao me livrar um pouco da lama, que já estava secando e me impedindo de me mexer direito. Logo que voltei à superfície para tomar ar, ainda estava do mesmo jeito parada no mesmo lugar.
- Vem!
- Pode esperar sentado, Hannah Montana. – Revirou os olhos.
- Tá com medo de se apaixonar, né? – ri. – Tudo bem, eu prometo que me comporto. – Levantei os braços.
- A última coisa que eu faria na vida é me apaixonar por você.
- Então prova. Entra aqui e tenta não me amar – pisquei para ela.
travou o maxilar e apontou para mim.
- Você tem que parar de dizer isso. – Falou e, por fim, com uma expressão derrotada ela foi até a corda e pegou impulso. - Tá muito gelada?
- Entra e descobre!
Balancei a cabeça. Às vezes só imaginar o que ela estava fazendo não era o suficiente. Às vezes eu tinha impulsos incontroláveis de pegar o telefone e discar seu número, parte de mim desejando que caísse na caixa de mensagem para eu não precisar dar uma explicação, e só ouvir sua voz; parte de mim desejando que ela atendesse e me forçasse a falar. Mas no final eu acabava não ligando. Faltava coragem. Faltava um motivo razoável.
- O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?! – gritou. – QUEM VOCÊ PENSA QUE É?! – empurrou-me mais até eu me chocar com a parede, e a partir daí, como ela não podia empurrar-me mais, começou a me estapear. – EU NÃO SOU SUA VADIA COMO AS OUTRAS, HARRY STYLES! EU NÃO SOU MAIS UMA IDIOTA QUE CAI NA SUA LAIA SÓ PORQUE VOCÊ TEM ESSE SORRISINHO ENCANTADOR!
- Esqueceu dos cachinhos que você simplesmente ama ver – sorri mais, adorando provocá-la.
- IMBECIL! – continuou me batendo da maneira que conseguia. – Você acha o quê? Que eu vou me interessar por um tipinho como você? Você é um idiota! Você não é ninguém! Eu já conheci caras muito melhores que você, você é só uma criança que não sabe dar valor a uma pessoa! Você não tem nenhum poder sobre mim Harry, nem agora e nem nunca, entendeu?
- Então por que eu te deixo tão nervosa assim? Hein? – eu continuava sorrindo.
- Eu... eu não... – ela gaguejou. Não tinha mais argumentos, mas obviamente estava fervendo de raiva de mim.
- Viu só? Não venha me dizer que você não sente nada por mim. Eu já tinha minhas duvidas e agora tirei a prova. Você não é totalmente imune. Você fica nervosa e gagueja quando está perto de mim, e gostou de me beijar. Correspondeu com vontade. – Ergui uma sobrancelha. – Aposto até que quer me beijar mais.
- Você... – Ela não sabia o que falar, então levantou as mãos para me bater mais, mas segurei seus pulsos no ar e cheguei bem perto do seu rosto.
- Você quer mais? – sorri, me aproximando e ela se esquivou. Arisca como sempre.
- Eu não quero te beijar de novo nem que você seja a última pessoa na Terra! – gritou para mim, se livrando das minhas mãos.
- Vou fingir que acredito... – Dei de ombros, desdenhando.
Às vezes eu desejava poder trazer todas as brigas e as coisas ruins de volta, só para poder ter as boas também.
Todas as notícias que eu tive desde que ela se foi, era que ela estava bem, estava feliz, estava realizada, etc..., etc..., etc... Eu queria ouvir algo diferente disso para variar, pelo menos um pequeno indício de que ela não estava completamente feliz, de que uma parte dela, por menor que fosse, ainda quisesse voltar. E não me importava com o quão egoísta isso me tornava, porque assim como sua presença, sua falta também trazia o pior de mim.
Mas então eu pensava em motivos para não ligar, para desistir daquilo de uma vez por todas.
- Que merda, por que isso tem que continuar acontecendo? – gritava, enquanto eu tentava me acalmar e pensar em um modo de sair daquela sala, onde estávamos trancados, e eu tinha dois minutos para estar no palco novamente. – Por que justo com você? Podia pelo menos ser com o Louis, ou o Zayn, mas... Jesus Cristo, não acredito que isso tá acontecendo, Styles...
- Cala a boca. – pedi, baixo, mas ela ignorou e continuou tagarelando sem parar. Eu precisava de silêncio para pensar em algo.
- Isso tem que acontecer logo comigo? Por quê? Eu quero sair daqui, acho que vou sufocar! Não tem ar!
- CALA A BOCA, DROGA! – Praticamente berrei para ela, parando de andar de um lado para outro e olhando-a com raiva. Ela estacou onde estava com meu grito que a fez pular e me olhar de olhos arregalados.
Bastou um segundo para que o susto virasse raiva.
- Vai à merda! – Jogou os braços no ar, berrando para mim.
Ela só podia estar brincando. Aquela mimadinha, egoísta e egocêntrica, só podia estar tirando com a minha cara, e aquele definitivamente não era um bom momento, pois levei suas palavras a sério e meu maxilar trancou à medida em que apertei os punhos, caminhado em direção a ela. Seu corpo se moveu rapidamente, dando um passo para trás para se afastar de mim e ela se encostou à parede atrás dela. Meu corpo fervia, e quando cheguei até ela fechou os olhos com força, virando um pouco o rosto para o lado. Tudo aconteceu em três segundos, mas foi o suficiente para paralisá-la, e me fazer perder o controle. Soquei a parede ao lado da sua cabeça com tanta força que tive certeza que aquilo causaria um hematoma. Eu nem estava pensando direito. Foi só quando encarei seu rosto a centímetros do meu, os olhos fechados com força, foi que notei como eu estava agindo. Deus.
Respirei fundo, tentando me acalmar, minha respiração e meu punho tremendo.
- Cala a boca, por favor. – pedi, baixinho.
Ela engoliu em seco abriu a boca por um momento, mas nada saiu. Depois falou, tão baixo que nem sei como eu ouvi:
- Assim ficou melhor.
A pior parte de isso tudo, era que eu realmente a amava. Porque se não a amasse, eu podia colocar a culpa nela e dizer que ela estava errada e que por causa dela eu estava tão fodido agora. Mas eu a amava. E sabia que ela tinha razão, e sabia que ela tinha direito em querer seguir seus sonhos, e sabia que eu não podia ficar na sua frente. Eu a amava, e não podia impedi-la de ser feliz. E nesses momentos, a influência de me tornava alguém um pouco melhor.
Soltei o celular outra vez. Eu não ligaria, nem naquela noite nem nas outras. Eu não era capaz de estragar a sua felicidade.
Liam’s POV
- Dani...
- Agora levanta. Pelos pés. Liam, levanta ele pelos pés...
- Eu não sei fazer isso. – dei um passo para trás e levantei os braços. – Não dá. Faz você.
Danielle suspirou e tomou meu lugar na frente da cama, terminando de trocar a fralda de Pietro com uma facilidade desconhecida por mim.
- Você é bom em tantas coisas. É delicado, e cuidadoso, e carinhoso, Liam. E você cuida os menores detalhes. Trocar uma fralda devia ser simples para você.
Balancei a cabeça, frustrado.
- Eu não sei se algum dia vou pegar o jeito.
- Você vai, vai sim. Ou vai só se esquivar disso até que ele não precise mais de fraldas.
- Mas isso vai demorar. – me apressei em dizer. – Quer dizer, ele não vai crescer rápido assim.
- Quando você menos esperar ele já vai estar fazendo um ano. – Dani levantou Pietro da cama e o pegou no colo, balançando-o em um ritmo leve enquanto eu sentava em uma poltrona ao lado da janela e olhando para fora.
- Você acha que um dia eu vou me acostumar com isso, Dani? – perguntei, depois de um tempo. – A ser um adulto responsável. A ser o exemplo de alguém. Um... pai.
- Eu acostumei.
- Você é a mãe, é bem mais fácil para você.
- Não fala o que você não sabe, Liam. – Danielle suspirou pesadamente. – Eu pensei que teria que criar esse garoto sozinha. Eu me preparei para isso. Ser a mãe dele só torna as coisas mais complicadas para mim. Eu pensei que não conseguiria, até ver que tinha pessoas me apoiando.
- Eu teria te apoiado desde o começo caso tivesse me contado. – suspirei e olhei-a. – Eu teria... você sabe. Eu não teria te deixado.
- Você quer dizer que não teria me traído.
Comprimi os lábios, desviando o olhar.
- Está tudo bem, mesmo. É bom ter você agora, Liam, e eu não te culpo. Você a amava, eu posso ver. Simplesmente aconteceu. Essas coisas acontecem.
- And it’s dark and a cold December, but I’ve got you to keep me warm. If you’re broken I Will mendya, and I keep you sheltered from the strom that’s raging on, now. – cantei baixinho em seu ouvido, acompanhando Ed na parte mais calma da música.
Quando o refrão recomeçou, eu peguei sua mão outra vez e a separei de mim, dando dois passos para trás e a girando em volta de si mesma uma vez antes de a puxar com cuidado para perto de mim outra vez e a segurar firme contra o meu corpo com minha mão em suas costas. Colei os nossos corpos e abaixei minha cabeça, parando de dançar por um segundo e aproximando a boca de seu ouvido para que ela ouvisse minhas palavras:
- Eu amo você. – sussurrei.
Por um momento, eu pude jurar que o mundo parou. Tudo, tudo mesmo. Até meu coração. E então ele continuou. E levantou o rosto para me olhar nos olhos, sem nenhuma expressão além de calma, e procurou algo em meus olhos antes de puxar o meu rosto para baixo com uma mão em minha nuca e sussurrar em meu ouvido:
- Eu te amo também.
E foi isso. Eu me senti mil vezes mais leve, meu coração começou a bater normalmente outra vez, como se ele estivesse satisfeito com o que ouviu.
afastou o rosto para olhar em meu rosto de novo e me puxou para perto, para beijá-la. E assim o fiz, e nunca me senti tão feliz. O que eu sentia não pode ser descrito em palavras.
Passei as mãos no rosto, respirando fundo e fechando os olhos com força por um segundo. Depois eu os reabri, ignorando a lembrança.
- Você ama o Thur. Não é? Aprendeu a amar outra pessoa, assim como eu. Você já gostava dele quando estávamos juntos.
- Nós éramos amigos, como sempre te falei. Mas com o tempo eu aprendi a amá-lo, sim. Eu tive que amadurecer anos em meses. Mas eu consegui, e se eu consegui, você também vai conseguir. Não é tão difícil assim. O nosso filho tem os dois pais, tem saúde e vai crescer sendo muito mimado. O resto não importa.
Pietro dormiu alguns minutos depois. Eu me despedi de Dani com um beijo no rosto e dele com um beijo na testa, prometendo que voltaria ainda nesse final de semana. Eu só não queria que meu filho crescesse com a presença constante de seu padrasto, e a minha não.
Peguei uma pizza no caminho para casa, já passava de meio dia. Niall me mandou uma mensagem dizendo que todos estavam na casa dele comendo e eu fui até lá quando cheguei.
- Eu trouxe outra pizza. – falei, provocando um silêncio repentino em que o único som era o da televisão. Eu provocava muito isso ultimamente.
Soltei a pizza em cima da mesinha, sobre uma caixa vazia de outra pizza e entre as cervejas. Peguei um pedaço e me atirei em uma poltrona vazia ao lado do sofá onde Harry estava atirado.
- Já voltamos, meninas. – Louis disse saindo da casa das meninas e fechando a porta atrás de nós. Nós o olhávamos confusos, estranhando porque saímos. Ele nos chamou para perto e fizemos uma roda, nos abraçando como se isso fosse um treinamento de futebol – Eu acho que todos já entendemos o que tá rolando aqui, certo?
- Não. – Harry disse.
- TPM... coletiva? – Zayn fez uma careta.
- Exato. Eu compro os chocolates, Niall ache sorvete por aí. Zayn, você fica encarregado dos filmes. Romance, muito romance. Harry, compre... flores, meninas amam flores, principalmente acompanhadas de chocolate. E Liam, vá àquele bazar que eu te mostrei que a Eleanor simplesmente ama, lá tem de tudo para uma garota. Compre coisas que você acha que elas vão gostar.
- Mas eu não... – Harry começou a falar, mas foi interrompido por todos concordando com Louis.
- Eu não sei nada sobr...
- Onde fica o bazar, mesmo?
- Procura o nome na internet. Vai de carro, o resto de nós vamos a pé, tudo que precisamos tem aqui perto.
- Espera! Estamos fazendo tudo isso por que mesmo? – Harry perguntou. – Só para tirar a dúvida. É nosso último dia de folga e eu queria estar dormindo...
- Corta essa, Styles – revirei os olhos para ele.
- Quê?!
- Você está aqui porque gosta de estar aqui. Ninguém te obrigou a entrar no carro, né?
Ele ficou em silêncio com uma carranca.
- Harry – Lou suspirou e colocou a mão no seu ombro. – Nossas melhores amigas são garotas, e por azar ficam de TPM na mesma época. Você quer entrar lá de mãos vazias e enfrentar a terceira guerra mundial, ou entrar lá armado, e ser amado por todas elas?
- Não existe a opção ir para casa e dormir? – Ele fez uma careta.
- Não – Zayn disse.
- Engole esse ego. Só porque uma delas te deu um fora, não significa que não gostem de ti – Toquei a mão no ombro dele e ri.
- Eu sei que no fundo você as adora tanto quanto nós. – Lou disse e se afastou, indo para um canto enquanto nós também nos espalhávamos.
Era até estranho pensar que um dia isso já foi diferente. Que nem todos nós éramos apaixonados ou passamos por experiências horríveis, ou fomos obrigados a crescer e amadurecer mais rápido do que deveríamos. Mas já fora assim, e parte de mim desejava poder voltar.
- Vocês me odeiam?
Por um momento, pareceu que até a televisão ficou quieta e olhou para mim. Encarei todos de volta, desgrudando os olhos da minha pizza.
- O quê? – Louis perguntou.
- Eu sinto como... como se estivesse estragando a banda. A culpa não foi minha. Bem, foi... Mas eu não me arrependo mais. Eu tenho um filho agora – dei de ombros. – não tem nada que eu possa fazer para mudar isso. Eu sinto muito se isso atinge vocês.
- O problema não é esse, Liam. – Niall falou, se mexendo no sofá.
- Qual é, então? Porque eu não aguento mais esse clima toda vez que me aproximo. Eu não gosto de ser excluído. Eu quero ajeitar isso.
- Não existe problema nenhum. – Harry disse, entre um suspiro cansado.
- O quê? – perguntei.
- Não existe problema nenhum. – me olhou, entediado. – Sós só estamos chateados. Estávamos, pelo menos. Porque isso não caiu bem para nenhum de nós, a banda toda ficou com uma imagem estranha. Mas a gente não pode mais te culpar, e isso é coisa de criança. – deu de ombros. – Sem trocadilho.
Zayn riu.
- É verdade. Eu não tenho problema nenhum em você ter um pirralho. Você é o único que devia se preocupar com isso. – deu de ombros.
Olhei para Niall, e ele deu de ombros para mim também.
- Eu nunca tive nada contra isso, você sabe.
- Louis? – chamei-o e ele balançou a cabeça.
- Tá tudo bem, cara. Nós fomos uns babacas com você. Babacas fazem essas babaquices.
Ri.
- Bom.
- Bom. – Niall levantou o volume do jogo na TV e o clima ficou cem por cento mais leve.
- Louis, eu juro por Deus! – berrei para Louis – solta essa coisa ou eu vou fazer você engolir isso!
- Mas é tão legal, amigo Payno!
Zayn ria de Louis tirando com a minha cara, e Harry balançava a cabeça rindo também.
- Você sabe ser insuportável quando quer.
- Temos que fazer uma reunião de emergência para tratar sobre os tipos de comida que botam nos nossos camarins – Niall falou, cheirando um tipo de doce verde que parecia gelatina, porém mais sólido.
- E já podemos discutir sobre Louis e esse boneco de ventríloquo bizarro que ele arranjou.
- Eu ganhei de uma fã – ele disse, imitando a voz do boneco em forma de macaco que tinha na mão, e mexendo a boca dele em direção a mim.
- Onde estão as fãs normais que geralmente dão ursos de pelúcia segurando corações que cantam “I Love you”? – perguntei, levantando do sofá e saindo de perto de Louis o ventríloquo.
- Elas saíram de moda.
- Foram para o fandom do The Wanted.
- The Wanted não tem fandom – Niall riu, mas depois balançou a cabeça e suspirou. – pelo menos é o que dizem.
Eu não estava em clima para rir, mas aquele comentário acabou arrancando uma risada de mim mesmo assim. Harry me seguiu, e depois de dois segundos de silêncio todos nós caímos na gargalhada.
Eu ainda era o único que não olhava para a televisão naquela sala. Ao invés disso, encarava meus amigos, cada um atirado em um dos sofás ou poltronas, e Zayn no chão, equilibrando uma lata de cerveja entre o queixo e o peito e quase deitado com a cabeça escorada no sofá. Podiam ter me julgado e chamado meu filho de erro, dito que eu estraguei o grupo. Mas ainda eram meus melhores amigos. Ainda eram meus irmãos, os meus babacas. A minha família.
- Pelo tempo que o Liam já está nos encarando, eu prevejo que ele vai começar a se declarar para nós todos em três segundos.
Comecei a rir, porque eu realmente planejava falar alguma coisa. Coisa pouca, apenas para lembrá-los de que nós éramos uma família.
Todos me olharam e viram minha expressão de culpado, e Harry pegou a almofada de baixo de sua cabeça e a chutou no meu rosto.
- Pelo amor de deus, seu viadinho!
Niall balançou a cabeça e todos nós começamos a rir.
’s POV
Fazia dois dias que eu estava acordada oficialmente. Eu me sentia extremamente cansada e com vontade de dormir o tempo todo, apesar de estar apenas deitada naquela cama de hospital há meses. Eu acho que esse era o motivo do cansaço, meu corpo doía e eu queria implorar para levantar e caminhar um pouco. Mas ainda estava fraca demais para isso.
Agora era final de tarde, o que eu podia ver pela janela. Eu acordara há alguns minutos e não recebi nenhuma visita desde então, e o único som que ouvia eram as vozes do noticiário na televisão.
Eu sentia falta de alguém. Mas ao parar para pensar, não era de minha família ou de e , as únicas pessoas de quem eu lembrava. Também não era de Jeremy e qualquer uma das outras pessoas do meu antigo emprego (imagina o choque quando descobri que de fato eu era famosa!). Eu sentia falta de algo ou alguém que não conseguia lembrar, e sabia que isso só podia significar que nem todas as pessoas que me conheciam haviam me visitado até agora.
Me virei na cama, tentando aliviar as dores nas costas por ficar na mesma posição. Respirei fundo, sentindo dor nas costelas. Meu corpo todo estava dolorido por ficar deitada.
Fechei os olhos com a intenção de ficar assim por apenas alguns segundos, mas acabei quase cochilando. Abri os olhos, pisquei para tentar me livrar do sono, mas eles se fecharam sozinhos outra vez.
- Vocês não vão acreditar! – jogou um pacote de bolachas de chocolate no colo de quando sentou na guarda da poltrona em que ela estava meio atirada.
- A gente está esperando o que você tem a falar desde que chegamos aqui. – falei, impaciente, sentada no sofá maior ao lado de .
- O que é?
- passou a perna em todas nós.
- Como assim? – sorriu fraco.
- O médico ligou hoje. Disse que o colégio ligou confirmando o atestado da , mas não havia atestado nenhum. Eu fiquei uma hora no telefone com diretor tentando convencê-lo a não ligar para o seu pai – ela apontou para . – porque foi só um mal entendido.
- Mas... eu fiquei dias na cama para nada?! – se exaltou. – Que droga! Por que ela mentiu? Isso não faz o menor sentido, eu vou matar...
- Calma, espera aí. – levantei a mão. – mentiu que o diagnóstico da era mais sério do que parecia?
- O médico disse que ela estava bem, nem precisaria ficar de repouso.
bufou.
- Então por que ela fez isso? – deu de ombros.
- É meio lógico, não é? – suspirei. Mas para o resto de nós não era lógico. Elas olharam para mim, esperando que continuasse. Eu olhei-as e revirei os olhos. – Ela está afim de um dos garotos da banda.
Eu troquei um olhar com e .
- Faz total sentido. – concordou.
- Por que outro motivo ela faria isso se não soubesse que isso ia fazê-los se aproximar? Ela pensou que uma semana fosse tempo suficiente para se aproximar, ou...
- Ou para aproximá-los ao todo.
Ficamos em silêncio e então elas riram baixinho. balançou a cabeça. .
- E então? Quem vocês acham que é?
- Só pode ser o Zayn. – disse, e olhamos para ela. – O quê? Aquele garoto... – suspirou. – ele é um deus.
- Pois eu acho que-
- Oi meninas! Eu tenho uma notícia incrível, que... – irrompeu sala adentro, deixando a porta do apartamento aberta atrás de si. Quando levantou a cabeça e deu de cara com nossos olhares reprovativos, ela congelou. – Ai meu Deus.
Abri os olhos, acordando de meu quase sono. Eu não saberia dizer se fiquei desacordada por dois segundos ou duas horas, mas não me importava. No momento, eu só conseguia pensar em uma coisa: minhas amigas.
Eu não lembrava exatamente de tudo. Eu lembrava de seus rostos e daquele momento. Aquele momento... algo me dizia que acontecera há muito tempo atrás. . . Eu lembrava agora. Lembrava delas fisicamente, e lembrava de suas vozes e suas expressões. Eu só não lembrava de mais nada, e isso era extremamente frustrante.
Isso acontecera o dia todo, esses flashes perdidos de lembranças.
Balancei a cabeça e apertei o botão ao lado da cama que chamava minha enfermeira até o quarto.
Yakomi chegou dois minutos depois, sorrindo como sempre, sempre sorrindo.
- Algum problema, senhorita ?
- Sim. Eu quero levantar. Caminhar. Estou com dores.
- Eu não sei se seu médico permite, senhorita.
- Por favor,Yakomi. Eu não conto para ninguém. Eu juro.
Ela pensou por um segundo. Depois, suspirou.
- Ok. – e começou a desconectar os fios de mim aos poucos, com cuidado, e um por um. Pegou minha mão e me ajudou a ficar de pé. Minhas pernas estavam fracas, mas eu consegui me apoiar nelas e caminhar devagar até a janela.
- Se você quiser, pode sair. Quando eu voltar para a cama te chamo, você me reconecta e nada aconteceu. Tudo bem?
Ela assentiu. Pegou sua prancheta e saiu do quarto.
Eu abri o vidro da janela e uma brisa gelada entrou, mas apesar de me arrepiar, eu sorri. Sentia falta de me sentir viva. Respirei fundo e fechei os olhos, e fiquei assim por um bom tempo. Agradeci mentalmente por estar viva, por ter sobrevivido. Não importava quais eram minhas crenças, eu apenas agradeci. Pela primeira vez desde que acordara, eu chorei. Mas era um choro de alegria, de emoção, de felicidade. Eu estava viva.
Limpei o rosto depois de alguns minutos, eu começara a cansar outra vez. Estiquei os braços, as pernas, mexi o pescoço e depois deitei de novo e chamei a enfermeira.
Eu peguei no sono antes que ela chegasse.
Capítulo 25 - The Finale pt. 1
And loosen up
Gonna do what I'm told go where I'm told
And loosen up
Take a shot in the rain one for the pain
And loosen up
I tried all the way
Wait for me, wait for me
Oh, It's all better now, It's all better now
Wait for me, wait for me
’s POV
morou por uma semana na casa de seus pais, onde eles alegaram ser melhor para ela assim que saiu do hospital. Mas depois dos sete dias, ela começou a perceber que não estava no lugar certo. Me ligou num sábado à noite perguntando se eu fazia ideia de porque ela se sentia tão deslocada junto com os próprios pais, e eu a disse o que pensava. Era fato que mesmo se sua memória estivesse intacta ela não se acostumaria a morar com sua família outra vez. Aquele já não era o seu lugar há anos, desde antes de vir morar comigo e as garotas. Era justificável que ela se sentisse perdida por lá.
Então no domingo de manhã fui até a casa deles para conversar com seus pais. não estava presente, e expliquei à eles a situação e pedi que ponderassem deixa-la voltar para a casa em que ela realmente pertencia morar, e se ela não se sentisse melhor mesmo assim, ela voltaria. Eles não concordaram de início, mas desceu as escadas dizendo que concordava e que achava a melhor coisa a fazer. Ela pediu com jeito que eles a deixassem ir para casa, e seus pais não tiveram como dizer não.
- Obrigada por emprestar a van. – olhei de soslaio para Liam, sem tirar a atenção do volante.
- Você podia ter deixado que eu dirigisse.
- Não nos vemos há algum tempo, mas eu não desaprendi a dirigir.
Ele não voltou a responder, só olhou para a rua enquanto a conversa não parava lá atrás.
Nos bancos de trás, alheios a qualquer coisa, e o resto dos garotos falavam sem parar com , e ela parecia se divertir porque sorria o tempo todo e ria sem parar do que falavam. Pelos pequenos fragmentos da conversa que eu captava, pude perceber que pareciam ser antigas histórias de todos nós. Sorri minimamente e voltei a atenção à Oxford Avenue.
As duas razões pelas quais eu contatei Liam, e exatamente Liam, foram essas: a primeira, é claro, para que pudéssemos reunir aos que restaram de nós e trazer um pouco de familiaridade a ela, tanto porque ela gostaria de passar mais tempo com os velhos amigos quanto porque aquela van era muito familiar para todos nós por causa da viagem do ano passado.
E a segunda era que já estava na hora de eu agir como adulta e aceitar que eu e Liam não podíamos nos evitar para sempre se quiséssemos voltar a agir como o grupo que éramos antes, e eu não queria ser a responsável por criar climas ruins entre todos nós. Mas, diferente do que imaginei, eu não estava pronta para estar junto com ele, não mesmo. Então o jeito que encontrava de tornar isso possível era ser fria com ele.
Entrei em uma rua paralela com a Oxford e segui até o final, dobrando duas vezes à direita e estacionando em frente ao antigo prédio. Ele não era velho, só... antigo, meio rústico, com uma fachada rosa horrorosa que aprendi a amar.
- Chegamos.
Todos olharam pela janela por um momento, e alguns fizeram cara de confusão enquanto outros foram mais rápidos e entenderam o que estávamos fazendo lá. pulou para fora e os outros a seguiram, sendo a última. Liam virou o rosto da janela para mim.
- Como você conseguiu o apartamento?
- Um amigo de um amigo de um amigo mora aqui – tirei o cinto e desliguei o carro. – Depois que expliquei as circunstâncias e o porteiro disse que nos conhecia há anos, ele emprestou a chave.
Ele concordou com a cabeça e tirou o cinto também, pulando para fora do carro. Eu fui a última a descer e liguei o alarme da van de trabalho dos garotos.
- É aqui que vocês moram? Eu lembro desse lugar.
- Por que você não tenta descobrir por você mesma? – sorri e enganchei meu braço no seu e fez o mesmo, puxando-nos para a portaria. Os garotos nos seguiram, e o porteiro nos olhou um tanto animado. Ele se demorou mais com os olhos em , sabendo que era ela a garota que havia perdido a memória. Depois pareceu procurar por e em meio aos garotos, mas não disse nada enquanto abria o portão de ferro para que entrássemos.
Eu agradeci e fomos até o elevador. Alguns dos garotos subiram pelas escadas enquanto conversávamos, mas eu, , , Zayn e Liam fomos pelo elevador.
- Sabe me dizer em qual andar queremos chegar?
mordeu o lábio e levou a mão até o painel, se prolongando um pouco em cima do três, mas por fim apertou no cinco. Sorri e ela sorriu também. O elevador subiu e logo estávamos no corredor de nosso antigo apartamento.
Peguei a chave prateada perdida em meu bolso de trás e abri a porta, ouvindo a conversa dos garotos se aproximando de nós das escadas. Eu abri a porta e a empurrei um pouco. Os móveis eram diferentes, é claro, mas ainda tinha cheiro de lavanda e de amendoim por causa da lojinha de doces do outro lado da rua que podia ser vista da janela. Ainda tinha cheiro de casa, e estando lá dentro era como se voltássemos três anos no passado. Todos ficaram quietos por um momento, até Harry entrar no apartamento, ofegando pelas escadas.
- Eu lembro daqui!
- Se você não lembrasse apanharia. – olhou-o e riu.
- Cara... um dia eu dormi assistindo um filme de terror nesse carpete – Louis apontou para o chão no meio da sala.
- Eu lembro de ter cochilado bem aqui – Harry parou em cima de uma manchinha roxa quase imperceptível perto do sofá, onde uma vez derramou duas gotas de remédio que me fizeram enlouquecer por horas. – Eu estava sentado no chão... com a cabeça aqui no sofá. – ele balançou a cabeça e pensou por um segundo.
- Eu já vomitei naquele banheiro três vezes. – apontou por cima do ombro e suspirou.
- Nós cantamos para vocês aqui na sala pela primeira vez. – Niall passou as mãos pelo cabelo, erguendo-o.
- Moments – Zayn concordou com a cabeça, passando a mão no queixo. – E depois a gente começou a dançar, não foi? – franziu o cenho.
- I should’ve kissed you – Liam concordou com a cabeça, rindo. – Cara... parece que foi há uma eternidade.
- Eu beijei a pela primeira vez nesse sofá.
- Eu pensei que tinha sido no dia da mudança, na outra casa... – olhou-o, confusa. – Vocês lembram? – olhou para os outros. – Nós chegamos em casa e eles...
- Eu estava com uma pizza na mão. – Niall apontou. – Ah, é, cara... uma pizza.
- Eu lembro. – Louis disse. – Dava pra ouvir os gritos da esquina.
- Sim, mas na primeira vez que viemos aqui a gente foi se cumprimentar e a idiota virou o rosto na hora errada.
Ri, observando a delicadeza de Harry ao falar da garota que – obviamente – ele ainda amava. Depois percebi que eu não ouvira a voz de e procurei-a em volta. Ela não estava mais na sala. Eu deixei os outros conversando e fui até o corredor procurando-a. O apartamento era bem pequeno, só tinham dois quartos e o maior deles costumava ser o meu.
Mas eu ouvi movimento vindo do antigo quarto de e a segui até lá. Agora, havia uma cama infantil no lugar da dela. caminhou ao lado da cama e passou a ponta dos dedos por ali.
- Eu me lembro daqui, .
- A gente morou aqui. Bem, você morou por pouco tempo antes de nos mudarmos.
- Eu... eu me lembro do que eles estão falando. Eu me lembro de tudo, só que... só que é como se eu não estivesse presente. Como se eu tivesse assistido tudo em um filme.
Assenti concordando, mesmo que eu não entendesse exatamente como isso funcionava. Eu apenas queria me mostrar presente.
- Tudo bem, você vai lembrar.
- Eu... – ela se virou para mim, e seus olhos pareciam levemente marejados. Fungou. – Eu lembro de algo que eles não citaram. Eu lembro de... – balançou a cabeça.
- De quê? – dei um passo em sua direção.
Ela ficou quieta por um momento, e depois franziu o cenho e me olhou.
- Dominó.
- Dominó?!
- Isso faz algum sentido? A gente jogava? Eu lembro de peças de dominós. E... E Sandra Bullock.
- Sandra Bullock, ? – ri e franzi o cenho. – Não, eu não sei o que isso significa. Mas só pode ser algo bom, não é? – cheguei mais perto e peguei as suas mãos. Ela riu e concordou.
- Eu acho que sim. Ela faz filmes ótimos.
Ri junto e a gente balançou a cabeça por um momento, antes que aparecesse relembrando de outros episódios passados de quando essa era nossa casa.
- Vem cá – ela puxou pela mão até a sala outra vez. – Os móveis não eram esses, eram muito mais legais porque a tem muito bom gosto. Nós não morávamos aqui, mas passávamos todos os finais de semana. Então... no lugar dessa mesa ridícula imagine... imagine os sofás afastados para lá – parou no meio do carpete e apontou para a janela. – Imagine uma mesinha aqui – apontou para a frente da televisão. – cheia de doces e todos os tipos de porcarias. E aqui no chão dois colchões de casal bem apertados, e... E eu, você, a , e em um círculo, sentadas, aqui... Comendo porcarias e fazendo um jogo... um...
- Confissões? – sorriu largamente.
- Isso! – demos um pulo e eu bati as mãos. Eu ri. – Confissões.
- Eu lembro de um dia... – ela olhou para o rosto dos garotos, procurando alguém. Parou em Louis. – Você namorava outra pessoa antes, não é?
- Eleanor era o nome dela. – ele concordou.
- Isso, Eleanor. Eu lembro da reclamando dela bem aqui – apontou para o sofá maior.
Nós todos rimos, e concordou com a cabeça.
- Ah, eu fazia muito isso!
olhou para todos outra vez, percebendo que todo mundo estava na expectativa para ouvir alguma outra lembrança dela, inclusive eu. Qualquer coisa seria bom. Porque era ótimo vê-la progredindo, e porque era ótimo relembrar de todas essas coisas.
- Hum... – pensou por um momento. – Eu lembro de... de uma noite dormindo nos colchões aqui no chão... com todos vocês?
- Sim, isso aconteceu mesmo – Niall concordou. – Eu só não lembro porquê.
- Eu lembro de... – parou e arregalou os olhos de repente, rindo um segundo depois. – eu lembro de quando a mentiu para todas nós... as garotas... sobre alguma coisa a ver com o Louis. Não foi?
- Foi. – fui a primeira a dizer, e fez uma careta, sentando na ponta do sofá que não era nosso.
- O que tem eu? – Louis olhou para mim e depois para .
- Bem, tecnicamente foi a a responsável por juntar todos nós. Ela mentiu quando disse que o médico mandou a ficar de repouso, quando na verdade ela já estava livre para voltar ao colégio.
- E o que isso tem a ver comigo?
- Eu menti porque eu era afim de você, seu imbecil.
- Bem, nunca foi realmente um segredo, foi? – Liam disse e alguns de nós riram. Concordei com a cabeça.
- O que mais, ? – Niall voltou a atenção a ela.
suspirou e olhou para o lugar onde ficava o sofá grande.
- A gente jogava dominó? – ela perguntou, outra vez com a expressão confusa.
Todos nos olhamos, também confusos, e resmungamos alguns “não”.
- Nós jogamos. – Zayn disse, de repente. – Eu e você jogamos uma noite. Quando... – ele me olhou, como se perguntasse se tinha sinal verde. Voltou a olhar para ela. – quando a gente decidiu namorar.
arqueou as sobrancelhas.
- Nós...?
Ele fez que sim, e por um segundo todo mundo ficou em silêncio.
- Eu acho que me lembro. Talvez – deu de ombros. – Um pouco. Alguns flashes.
- Bem... – respirei fundo. – Eu acho que já fizemos um grande progresso hoje. Que tal irmos para casa?
- Eu dirijo, dessa vez – Liam falou, sendo o primeiro a sair do apartamento.
’s POV
- O que está acontecendo com ela? – ouvi sussurrar para da porta do banheiro enquanto eu tentava desajeitadamente segurar meus próprios cabelos enquanto vomitava até meu pulmão ajoelhada no banheiro.
- Ela deve ter pegado uma virose. Todo mundo está pegando.
- Eu posso evitar isso?
Ouvi pedir licença e entrar no banheiro carregando umas toalhas e uma xícara de chá fumegante.
- Eu nã... – não consegui terminar a frase, porque outra onda de náusea me dominou e comecei a tossir de novo, sem conseguir respirar.
Foi assim que meu sábado super empolgante havia começado, e pelo jeito seria assim que terminaria. Depois de finalmente vomitar até o que eu não tinha em meu estômago, eu consegui levantar com a ajuda das meninas e escovar os dentes. Minhas pernas tremiam muito, todo o meu corpo tremia, e eu estava pálida como um fantasma e meio amarelada também. Meus olhos, vermelhos de tanto fazer força.
Fui levada para o quarto e obrigada a tomar aquele chá com gosto de remédio, mas depois de alguns minutos a tremedeira passou. foi fazer uma sopa ou algo parecido com isso, e ficou comigo no quarto por um tempo. Depois, ligou para o telefone de casa e ela atendeu, e as duas conversaram por um tempo. insistia em falar com a apesar de não lembrar muito bem dela, pelo menos não como deveria lembrar. As duas conversavam como se fossem amigas virtuais que nunca se viram ao vivo, mas já sabiam mais do que o suficiente uma sobre a outra.
Aí, ela saiu do quarto e deitei a cabeça no travesseiro por um momento, pegando no sono. Acordei uns minutos – ou horas, sei lá – depois disso, e já havia escurecido lá fora. Peguei o celular e liguei para Louis.
- Oi, você melhorou, amor? – ele gritou assim que atendeu, me provocando uma careta. Um barulho alto podia ser ouvido ao fundo.
- Oi, Lou. Mais ou menos. Não vomito há algum tempo, mas também, nem tenho mais o que vomitar – ri sem humor.
Ele fez um muxoxo do outro lado da linha e pareceu fechar alguma porta, pois o som ao fundo foi isolado.
- Eu queria cuidar de você...
- Se você me visse vomitando, vomitaria junto. Eu sei bem como você é.
- Tá. Mas eu sei fazer chá e carinho.
Sorri.
- Já é um começo.
- As meninas estão cuidando de você?
- É claro que sim. A , pelo menos. sempre foi inútil nessas horas.
- Você já sabe o que é?
- Deve ser uma virose, todo mundo pegou isso lá na editora.
- Se piorar, promete pra mim que vai no médico?
- Eu não prometo, mas promete por mim.
Silêncio por um segundo.
- Você está fazendo o quê?
- Já estamos no estádio. Acabamos a passagem de som há alguns minutos. Preciso me arrumar e tudo mais.
- Ah, sim. Faça um bom show e quebre a perna.
Ele riu.
- Tudo bem. Eu vou te ligar no meio do show e pedir para todo mundo mandar melhoras para você, o que acha?
- Eu simplesmente te mataria.
- Então eu acho que vou fazer isso, mesmo.
- Hum, minha sopa chegou – falei, quando entrou no quarto com uma bandeja.
- Eu vou tomar banho e ficar pronto, então. Te ligo antes de entrar no palco.
- Eu vou esperar. Mas não vou atender se estiver dormindo.
- Tudo bem, eu já acostumei.
Ri e segurei a bandeja, agradecendo à .
- Lou?
- Sim?
- Amo você, ok?
- Eu também, princesa . Espero que fique bem logo. Se cuida.
Sorri e desliguei o celular, percebendo que estava faminta logo que senti o cheiro da sopa.
Harry’s POV
Eu já respirara fundo tantas vezes que meu pulmão estava começando a doer.
- Aqui, seu ponto. – um dos caras da produção soltou os fones pretos, com uma borboleta azul em cada, em minhas mãos.
Encaixei cada um em uma orelha e arrumei o fio, passando por dentro da blusa e prendendo atrás da calça. Respirei fundo mais uma vez. Olhei meu reflexo no espelho enorme da parede à nossa frente, e puxei a camiseta dos Ramones mais para baixo. Aquela camiseta parecia ter encurtado da última vez que eu a usei. Louis saiu de perto de Niall na poltrona giratória e parou ao meu lado, olhando seu reflexo também.
- Você está nervoso.
- Eu? Não. – disse, mas a frase saiu meio ensaiada. Pigarreei.
- Não foi uma pergunta, curly haired. – ele sorriu. – Estamos na cidade do amor. Talvez alguma coisa mágica aconteça aqui essa noite – piscou para mim, e eu revirei os olhos.
- Deixa de ser teatral, mano.
- Por dentro você tá chorando – ele riu.
Revirei os olhos de novo, mas talvez fosse verdade.
Respirei fundo.
- Dez minutos, garotos! – John gritou de trás dos camarins improvisados.
Caminhei de um lado para outro por um tempo, estralando os dedos e tentando lembrar de cabeça a setlist do show. Eu sempre fazia esse exercício de memória antes de entrar no palco, mas diferente de hoje, geralmente conseguia lembrar de todas. Ou quase todas. Sentei ao lado de Zayn, me sentindo desconfortável mesmo sentado.
- Mano, qual é a primeira música?
Ele me olhou torto.
- Você fumou?
Olhei-o, cínico. Ele riu.
- Ah, eu sou o fumante da banda. – bateu na própria testa. Depois me olhou. Ficou sério.
- Sério, Zayn.
- Up All Night, cara.
Me senti estúpido. Era uma resposta óbvia.
- Eu estava te testando. – disse, depois de um momento. Zayn não pareceu dar importância para mim.
Pelos próximos cinco minutos ficaria sentado tentando acalmar meus batimentos, sentindo como se fosse fazer o primeiro show da minha vida – ou o último. Assistiria a Niall girar na poltrona giratória até levantar e começar a caminhar pendendo para a direita de tão tonto, rindo de si mesmo. Depois, quando John gritasse “cinco minutos”, eu levantaria e cantaria uma palhinha de uma música de Elton John para esquentar a voz – seu eu conseguisse lembrar da letra.
Logo John avisaria que está na hora e correríamos para nossos lugares embaixo do palco, esperando para sermos lançados para cima e aparecermos no meio do palco cantando o começo de Up All Night.
E então, em meio ao meu solo, eu procuraria por ela no meio da multidão.
’s POV
Quando ouvi batidas na porta do meu apartamento, eu estava no sofá, mais precisamente com a cabeça na poltrona e os pés na guarda, deixando o sangue descer dos meus pés para as minhas coxas, porque vi em um site que isso fazia bem para o corpo.
Fiquei um pouco assustada, porque ninguém me visitava. Pausei o CD do Queen que tocava no aparelho de som ao lado da TV e levantei devagar para que o sangue descesse da cabeça e eu não me sentisse tonta. Fui até a porta e espiei pelo olho mágico. Era Sun. O que ela estava fazendo aqui? Como ela sabia onde eu morava?
Abri a fechadura e a corrente que permitia abrir apenas um pedaço da porta, e abri a porta.
- Sun?
- Você não está pronta? – ela disse, dando um passo e eu a deixei entrar.
- Para quê?
- Hoje é o dia do show. Você disse que ia.
Suspirei e fechei a porta atrás de mim.
- Eu não disse que ia. Disse que ia pensar.
- Mas o que há para pensar? Vocês são amigos, não é?
- Sim, mas isso não significa que eu queira ver um show deles. – pensei em dizer que eu já havia ido em muitos, mas isso seria mentira. Franzi o cenho e olhei-a, recebendo um olhar que acho que me julgava. Eu não poderia dizer com certeza... Ela tinha olhos de coreana.
- Qual é o verdadeiro motivo pelo qual você não quer ir?
O verdadeiro motivo era que eu não tinha ingressos, e morria de medo de não poder entrar e acabar aparecendo em todos os sites como “ex namorada desesperada tenta entrar de penetra em show de Harry Styles”, porque não queria que ele me visse assim. E também tinha medo de poder entrar naquele show, de vê-lo lá em cima, feliz como nunca, lindo como nunca, e ter certeza de que já havia superado o que tivemos. Eu não queria ver isso. Não podia.
- Eu esqueci que ia ter esse show.
- Conta outra, ok? Olha, eu sei que você sente falta dele. Todo mundo vê que você sente falta de algo, dá pra ver nos seus olhos mesmo que não dê para ver o que ou quem é.
Passei as mãos no cabelo e suspirei olhando para cima. Ela estava certa.
- Eu estou nervosa, Sun...
- Mas essa é a sua única chance. Você prefere se arrepender de algo que fez ou que não teve coragem de fazer?
Ela estava certa. A virtude que mais admirava e que mais queria ter, desde que me conhecia por gente, era a coragem. Respirando fundo pela última vez, decidi de uma vez por todas. Corri para o quarto e coloquei a roupa mais simples que encontrei. Uma calça jeans qualquer. Uma blusa azul qualquer. Um all star qualquer.
Peguei o celular, passei pelo cabide atrás da porta do quarto e puxei um cachecol branco e preto e uma jaqueta de couro marrom dali, jogando a jaqueta no antebraço enquanto enrolava o cachecol no pescoço e procurava a chave de casa.
Ao descer do apartamento, o mesmo táxi que trouxera Sun ainda a esperava e nós entramos nele correndo, dando o endereço da arena de Paris. Olhei no celular, faltavam trinta minutos. Com aquele trânsito, chegaríamos lá só amanhã.
Comecei a roer as unhas e bater os joelhos, e isso começou a me deixar ainda mais pilhada, e tive que colocar os fones de ouvido e ouvir uma música para ver se me acalmava. Coloquei Queen para tocar de onde eu havia parado no CD, e fechei os olhos. Eu só estava indo ver os meus amigos. Não era nada demais. Eles também sentiam minha falta, eu tinha certeza.
Só quando o táxi estacionou na frente do local onde seria o show foi que me deparei com o maior problema: como eu entraria lá?
Os portões ainda estavam abertos, mas para entrar na arena de verdade eu precisava apresentar o ticket. Eu não tinha ticket, porque eu não comprara. E não trouxe a carteira ou a bolsa ou qualquer tipo de possível pagamento.
Nós duas descemos sem de fato falar sobre isso, mesmo que o problema estivesse nos rondando no ar. Passamos dos portões e fomos até o outro portão menor, onde entrávamos na arena. Os seguranças nos barraram.
Sun foi até a barraca ao lado do portão e eu a vi perguntar se ainda haviam ingressos. A mulher que estava lá dentro negou. Ela voltou até mim e encarei os seguranças. Olhei em seus crachás, procurando algum símbolo da produção, mas nada. Olhei para as pessoas atrás deles, alguns tinham o logo da banda no crachá, mas eu não lembrava de conhecer nenhum deles. E se algum dia fui apresentada a algum, eu certamente não prestei atenção. Dei um passo à frente e o segurança abriu os braços, eu o olhei com uma careta e fiquei na ponta dos pés para olhar por cima do seu ombro.
- Moça...
Ao longe, eu observei uma forma grande se aproximar. Quando se aproximou o suficiente, eu vi quem era. Meu coração pulou e meus olhos se arregalaram, e quase deixei um grito escapar para chamar a atenção.
- Paul... – sussurrei e fiz careta outra vez, acenando com um braço no ar para tentar chamar sua atenção. Mas o barulho estava muito alto, a plateia já estava enlouquecida apesar de o palco ainda estar vazio. – Paul. Paul! PAUL! – gritei, frustrada quando ele começou a andar outra vez para o lado oposto.
- Moça, se você não tem ingresso eu vou ter que pedir que se retire.
- Eu conheço a banda – disse, olhando-o. Me senti ridícula quando ele me olhou com uma cara de quem ouve a mesma frase mil vezes por dia. – Você não está entendendo – cruzei os braços. – eu sou namorada de um deles. – balancei a cabeça. – Ex.
Ele me olhou, mais cético ainda, e bufei.
- Ah, qual é! É só pesquisar no Google, você quer o meu celular emprestado? – puxei o celular do bolso e digitei a senha rapidamente, mostrando a foto de Harry beijando meu rosto como proteção de tela. Eu sabia que manter aquela foto ali ia servir para algo algum dia!
- Moça, se não tem ingresso...
- Chama alguém da produção! – apontei para trás dele. – Qualquer um. Eles vão te dizer. Eu sou amiga dos garotos.
Ele revirou os olhos e respirou pesadamente, indo até a primeira pessoa de crachá que passou por ali. Chamou o cara que segurava uma prancheta e usava fones de ouvido grandes, parecendo se comunicar com o resto da produção por eles.
- Essa garota diz que é amiga da banda. Que é ex namorada de um deles.
O homem – um garoto, na verdade – me olhou por um segundo.
- Quem é você?
- . Eu sou... – suspirei. Quantas vezes eu ainda ia ter que repetir isso. – Eu sou ex namorada do Harry. Sou amiga deles. Eu e minhas outras amigas...? Que sofreram o acidente? – tentei. Ele parecia não estar ciente dessa história. A frustração dentro de mim começou a crescer.
- Meu nome é – repeti. – Chame o Paul, ele me conhece. Ou a Carol, ou o John, ou a Lou. Qualquer um deles. Por favor. – pedi, dessa vez choramingando.
- Eu sinto muito, moça. Se você pudesse entrar, seu nome estaria aqui – ele apontou para a prancheta em sua mão. – É a banda mesmo que dá os nomes das pessoas que podem entrar sem ingressos. Se eles a conhecessem, colocariam seu nome aqui.
Senti um tipo de tapa na cara. Recuei um passo e coloquei o cabelo atrás da orelha. Bem, eles sabiam que eu morava aqui. Eles sabiam que eu talvez aparecesse, sabiam que iam fazer um show na cidade em que eu morava agora. Se quisessem que eu aparecesse ou se isso parecesse remotamente importante, eles teriam ligado ou pelo menos meu nome estaria ali. Eu não era importante. Harry não lembrou de mim. Nem mesmo Liam lembrou de mim.
- Certo. Desculpem – balancei a cabeça. – Desculpem pelo incômodo.
Os dois se olharam com um olhar que dizia “eu sabia que era mentira” e o garoto da produção voltou para dentro. Recuei alguns passos do portão e Sun me seguiu.
- Por que o seu nome não estava lá?
Dei de ombros, caminhando até uns degraus que desciam até o portão externo, e me sentei no primeiro degrau, passando as mãos nos braços.
- Eu não sei, Sun.
Ela sentou ao meu lado.
- Talvez eles só não tenham se lembrado. Talvez pensassem que você é tão conhecida que não precisaria disso.
Concordei com a cabeça, sem acreditar em uma palavra daquelas possibilidades remotas. Eu estava me sentindo traída... de novo.
Ouvi gritos mais altos de dentro da arena, e alguns jatos de gelo seco sendo liberados, e fechei os olhos ao primeiro trecho de Up All Night. Abracei meus joelhos e descansei a testa ali, me sentindo perdida de repente. Eles eram meus amigos. Como não se lembraram de mim?
Algumas músicas se passaram, e Sun ficou sentada ao meu lado fielmente em silêncio. O céu começou a rugir e alguns minutos depois uma chuva grossa começou a cair. Sun correu até a parte coberta perto dos seguranças outra vez, e gritou para que eu a seguisse, mas eu não queria sair dali. Queria voltar para Londres. Queria voltar para a minha casa. Queria deitar na cama e fechar os olhos. Apagar a existência daqueles garotos da nossa vida, e ver como ela estaria sem eles. Provavelmente melhor para todas nós. Uma vida sem Harry Styles. Tão mais fácil.
Tão mais... sem propósito.
A chuva me lavou por completo. Só fiz menção em levantar e ir embora dali ao começar a tocar Last First Kiss. Eu não queria ouvir, sabendo que cheguei tão perto. Naquele momento, voltei a odiar Harry Styles com todas as minhas forças de um jeito que não fazia há anos.
Louis’ POV
- Você viu ela? – Harry perguntou quando se atirou ao meu lado do banco da van, com uma cara muito desanimada e um cubo mágico na mão.
- Não, dude. Sinto muito. – bati em seu ombro. Eu me senti meio mal por não ter realmente procurado por no meio da plateia, mas não seria uma tarefa muito fácil. O show estava lotado.
- Os outros também não viram. Eu acho que ela não veio.
- Você já tentou o perfil do Twitter? Talvez tenha alguma coisa.
- Já. A última publicação é a de uma foto de um quadro horrível daquela galeria cheia de coisa feia e velha.
Ri.
- Bem, eu sinto muito, Hazza. Mas você sabe, ela nem ligou para falar com nós. Com nenhum de nós. Eu acho que ela não planejava aparecer de qualquer jeito.
Ele ficou parado por um momento, e então jogou o cubo mágico no chão como uma criança e passou as mãos no rosto, gemendo.
- Eu odeio a minha vida.
- Cala a boca, Harry – Niall disse, entrando no banco da nossa frente e pegando a conversa pela metade.
- Eu vou socar a tua cara, loiro viado.
- Antes ou depois de tomar o seu leitinho pra dormir?
Zayn gargalhou na porta da van enquanto terminava de fumar seu cigarro. Ele jogou-o fora e pisou na ponta. Entrou e sentou ao lado de Niall, e Liam entrou atrás e fechou a porta. Os três começaram a chutar o banco de Paul até ele começar a gritar com todo mundo e os três começarem a rir como animais. Eu joguei o meu casaco no encosto do banco e deitei, encostando a cabeça nele como em um travesseiro e fechando os olhos. Era impossível dormir no meio do barulho desses caras, mas eu precisava acalmar a cabeça depois do barulho incessante da plateia durante todo o show.
Pensei em enquanto estava quase pegando no sono, mas logo despertei de novo quando a van deu um solavanco. Fiquei encarando as sombras que passavam pelo banco à minha frente, e pensando na cama macia do hotel em que ficaríamos hospedados. A França tem os melhores hotéis.
- Aí Harry – olhei-o, e ele olhou de canto para mim, com a cabeça baixa e ainda emburrado como antes. – Nós partimos ao meio dia. Você pode tentar procura-la amanhã de manhã.
- Ela não quer ser procurada. – ele vociferou, e eu dei de ombros e voltei a deitar a cabeça.
Sentia muito por Harry e por também, mas eu não podia e nem queria me colocar no seu lugar. Eu estava feliz com minha .
Ao pensar nela, eu peguei o celular do bolso e a liguei outra vez. O telefone mal chamou uma vez e alguém atendeu.
- Oi, Lou. É a .
- Oi, . Tudo bem aí?
- Sim. A tá dormindo, por isso eu atendi.
- Ah, certo, certo. – soltei o celular em cima do ouvido e continuei deitado, sem segurá-lo. – E ela melhorou?
- Ela parou de vomitar, mas ficou com febre. Depois tomou remédio e aí dormiu.
- O que você acha que é?
- Uma virose, só. Se ela não melhorar, a gente vai ir no médico.
- Cuida bem da minha namorada.
Ela riu.
- Eu sempre cuido bem de tudo – bufou. – Como foi o show?
- Foi legal. Como os outros.
- Vocês encontraram a ?
- Ela estava lá?
- Não sei. Eu liguei para ela um monte de vezes e ela não atendeu nenhuma. Pensei que estivesse lá, talvez.
- A gente não viu ela – falei e suspirei quando Harry me olhou por um segundo. – A gente pensou que ela ia.
- Ela não me disse nada. Mas eu vou ligar depois, e qualquer coisa eu conto pra você.
- Tudo bem. Nós estamos chegando no hotel. Até outra hora, .
- Até, Lou. Se cuida, viu.
- Você também – desliguei o celular e sentei. Quando o carro parou, abri a porta e fui o primeiro a descer, puxando uma bagagem de mão daquelas que fazemos quando só precisamos de um ou dois pares de roupas. A viagem era rápida e amanhã de tarde já estaríamos em Londres outra vez.
Eu esperei os outros descerem perto da porta do hotel. Era raro quando não havia fãs na porta, mas isso acontecia geralmente quando elas recebiam a informação errada do hotel onde estávamos hospedados.
Como os outros estavam demorando para virem, eu comecei a ver os relógios de pulso na vitrine ao lado. Alguns custavam o valor de uma casa. Era louco. Fui dando passos para a esquerda enquanto acompanhava os relógios, e depois que eles terminaram eu comecei a ver as outras joias da vitrine. Havia pulseiras, e anéis e correntes. Mas um em especial me chamou a atenção. Era um anel pequeno, de aparência bem delicada. Era de prata, e ele brilhava mais que os outros porque estava bem em cima do pequeno refletor da parte superior da vitrine. Ele estava metade enterrado dentro de uma caixinha de veludo preta, e em cima, uma pedra média de algo que devia ser uma safira. Era de um azul intenso, brilhante, da cor do oceano. Eu quase a visualizei no dedo de .
Senti vontade de pedir que quem quer que fosse dono daquela loja a abrisse agora mesmo, e vendesse-o para mim. Mesmo que eu e não estivéssemos prontos para dar mais um passo – o que eu já não tinha mais tanta certeza – eu precisava que ela tivesse-o. Foi uma necessidade momentânea, mas eu soube que era verdadeira.
Zayn’s POV
- Eu acordei cedo hoje. Eu não conseguia mais ficar deitado sabendo que tinha coisas mais importantes para fazer, você entende?
- Está falando com a pessoa certa – riu. – Toma o chá, Zayn. Ele vai esfriar.
Lembrei que segurava uma xícara na mão e tomei mais um gole do líquido, sem de fato sentir seu gosto antes de engoli-lo. Forcei meus pés a pararem de bater contra o chão, pois era um gesto de nervosismo, e eu não estava nervoso. Não havia motivo para estar.
- Bem, então eu levantei, e aí eu fui comprar umas coisas para encher a minha geladeira mesmo que eu quase nunca coma em casa, só para... sentir como se fosse uma casa, entende?
assentiu.
- E aí eu fui até o hospital. Para falar a verdade, eu acho que virou um hábito. Deixei flores para a e troquei as que estavam velhas.
- Ah – passou uma mão no rosto. – É vergonhoso, eu sei. Eu não tive tempo de ir lá essa semana, porque não passou um dia sem vomitar e passar mal, e eu tinha coisas em dobro para fazer da editora.
- Ela não vai ao médico? Eu posso levar ela lá. – disse, rápido demais.
- Não é preciso, a gente vai essa tarde, já marquei. – ela suspirou. – Tive que fazer um milagre para convencê-la. A morre de medo de agulhas, e ela provavelmente vai ter que ficar no soro por um tempo.
Fiz uma careta e tomei mais um gole do chá. Eu sabia que a ansiedade era parte por causa do cigarro. Eu tentava não fumar desde que acordou. Não tinha certeza se era realmente por ela, ou se eu simplesmente não encontrava mais motivos e nem tempo para isso. O meu tempo livre era preenchido por momentos em que eu sentava, encarava o nada, e pensava nela. E mal ou bem, eu acabava esquecendo de fumar. Mas a abstinência já fazia efeito, é claro.
- Quem você quer enganar, Zayn. – disse, voltando da cozinha com uma cara horrível e praticamente se arrastando até o corredor ao lado do sofá onde eu estava sentado. – Você não está aqui para tomar chá e conversar sobre a vida. Pergunta logo o que quer saber.
Ela sumiu no corredor em direção ao seu quarto e eu encarei rindo.
- É verdade – ela riu e concordou com a cabeça.
- Onde ela está? – perguntei logo, soltando a xícara na mesinha e passando as mãos nas pernas.
- Ela saiu. Uns amigos do cast a chamaram para dar uma volta no Hide Park, acho. Ela deve estar por lá. Você vai saber como encontrá-la.
Concordei com a cabeça, levantando.
- Obrigado. Eu vou lá. Obrigado. – ri e apontei para ela, piscando. – Me liga se você precisar de alguma coisa. – foi a última coisa que disse antes de sair porta afora.
Fui até o carro girando a chave na mão. Dei partida para o Hide Park, e quinze minutos depois, eu estava lá. Era sábado, e as ruas de Londres eram sempre mais cheias de turistas do que o normal nos finais de semana, por isso o parque estava cheio. Eu dei uma volta por lá até achar um estacionamento, e saltei do carro em direção ao parque. Não sabia onde encontra-la, mas de algum jeito eu encontrei.
Só que ela não estava sozinha.
Minha cara se fechou no segundo em que vi Jeremy ao lado dela rindo de algo que ela disse. Ótimo. Ele chegou primeiro. De novo.
Ver aquele cara me deixava inquieto e irritado, e dei alguns passos para trás, querendo ir embora no mesmo segundo. Eu virei as costas e andei para longe, pensando no que faria em seguida: eu compraria uma carteira de cigarro, iria para casa, e ficaria por lá assistindo algo no Premiere até que anoitecesse, e então eu procuraria alguém que estivesse interessado em sair e comer uma pizza.
Mas algo me ocorreu, e momentaneamente, eu parei de caminhar.
Era claro que eu queria fazer isso. Era isso que eu sempre fazia. Comprava cigarro e me escondia em casa, longe de todos os riscos de fazer o que eu devia fazer: de lutar por ela. Era sempre isso que eu fazia. Foi o que eu fiz muitas vezes antes. E foi por isso que sempre perdi. Mas agora era diferente, porque era uma nova chance de fazer as coisas funcionarem, e se eu continuasse fugindo, perderia outra vez.
Olhei por cima do ombro e ela continuava lá, com ele. Rindo. Apertei os punhos e dei meia volta.
Aquele posto era meu por direito.
POV
- ?
Eu e Jeremy viramos para onde a voz soou no mesmo tempo. Abri a boca quando vi Zayn.
Eu já sabia seu nome, porque ouvi falando uma vez em casa. Mas eu não teria lembrado se precisasse ter pensado nisso. Seu nome simplesmente pulou em minha cabeça no momento em que eu o vi.
- Zayn.
- disse que você estaria aqui.
Olhei para Jeremy, que não parecia feliz. Olhei para trás, onde Ellie, Suzan, Max e Josh estavam sentados rindo, conversando e dividindo uma garrafinha de refrigerante na beira do pequeno lago do parque.
Por algum motivo, eles me lembravam família, me faziam sentir confortável e bem, como se eu pertencesse com eles. Mas em alguns momentos eu me sentia confusa, como se eles fossem as pessoas erradas. Como se outras pessoas me fizessem sentir assim. O sentimento prevalecia, mas era como se não fossem eles. Como se... eles não fossem as pessoas certas.
E eu me sentia louca. Outra vez.
Voltei a olhar para Zayn. Ele era meio que um mistério. Eu não sabia o que sentir ao olhar para ele.
- Sim. Eu estou com os meus amigos.
- Eu vou te esperar ali – Jer disse, apontando para trás e passando a mão em meu ombro antes de se afastar.
Isso deu liberdade a Zayn, que se aproximou alguns passos.
- Eu queria um tempo com você. Para, você sabe... conversarmos, você sabe.
Arqueei as sobrancelhas. Ele parecia um pouco nervoso, desconfortável. Fiquei tempo demais sem dizer nada, porque nada me ocorreu.
- Eu só senti saudade de conversar com você. A gente não conversa...
- Há meses – concordei. – Vamos dar uma volta – bati em seu ombro e virei para o pessoal atrás de nós. – Ellie?
A garota me olhou.
- Eu vou dar uma volta com o Zayn.
Ela assentiu e eu virei para ele. Comecei a andar na direção da pista de caminhada, e ele andou ao meu lado. Nós caminhamos por um momento em silêncio.
- Como você está? Como estão as lembranças?
- Confusas, mas tudo está voltando. Só que algumas delas se misturam.
- Deve ser difícil.
Concordei. Ouvir sua voz me fazia lembrar de outros momentos em que eu já a ouvira no passado. Eu não lembrava das palavras, só dos tons. Eu lembrava de ouvi-lo rir. Eu lembrava de ouvi-lo cantar. Eu lembrava de ouvi-lo discutir, e de ouvir a sua voz cansada demais para continuar brigando. Isso me provocava sentimentos. Eu sentia tudo, só não lembrava o porquê.
- Eu acho que vou precisar de ajuda. – disse, depois de um tempo, e ele me olhou. – Eu pensei que não fosse precisar pedir. Eu pensei que seria melhor lembrar sozinha, sem a ajuda de ninguém, porque assim ia conseguir saber exatamente o que eu sinto sobre tudo, sem a influência de ninguém. Mas agora existem dois garotos que me disseram que eram meus namorados, e um deles é você, e eu não sei que tipo de garota eu era. Eu não me conheço.
Ele concordou, demonstrando que entendera.
- É tão estranho, sabe? Acordar um dia e descobrir que você é famosa. Que o mundo todo sabe mais sobre você do que você mesma sabe. Eu não quero que ninguém me diga como eu devo me sentir em relação a nada. Eu devia saber! – balancei a cabeça, frustrada. – Isso é tão decepcionante.
Zayn levantou uma mão e quase me tocou, mas recolheu-a antes que o fizesse.
- Você quer a minha ajuda?
Suspirei. Fiz que sim com a cabeça, e seus olhos estavam vidrados em mim.
- O que te faz pensar que eu te conheço bem assim?
- Eu simplesmente sei.
Ele sorriu.
- E como você sabe que não vou te influenciar?
- Eu confio em você. Preciso saber a verdade sobre mim. Sobre nós. – dei de ombros.
Zayn pegou a minha mão com delicadeza e me puxou até um banco azul onde nós sentamos, mas ele não soltou minha mão. Parecia natural segurar a mão dele.
- O que eu vou te contar, ninguém além de nós e nossos amigos sabem. E algumas partes, são segredos só nossos. – apontou para nós dois, e concordei com a cabeça, ansiosa.
Zayn me olhou por mais ou menos dois minutos inteiros, e eu comecei a me sentir realmente ansiosa. Seu olhar era tão estranho. Tinha uma mistura de nostalgia e de animação.
- A gente se conheceu há uns três anos, todos nós. Você e as garotas, eu e a banda. Todo mundo era só amigo no começo. Nossa gestão, a Modest, precisava que eu arrumasse uma namorada. Você sabe, para a mídia e tudo mais. Eles queriam me juntar com Perrie Edwards, uma das vocalistas de outra banda que eles administram. Mas eu não queria fingir um namoro com ninguém, sabe. Isso é ridículo. Além de mentir para todos os fãs, eu sou um péssimo mentiroso, e eu não sabia como fazer isso. Então eu e você estávamos conversando, e você tinha um ex... um cara idiota que te machucou e não te deixava em paz. E aí um de nós propôs que a gente fingisse começar a namorar porque ia ajudar a ambos. – ele balançou a cabeça. – Eu era totalmente contra isso, mas no momento em que você disse, parecia a ideia mais genial do mundo. Eu acho que desde aquela época você é dona de uma parte de mim.
Encarei seu rosto, mas ele parecia sereno. Agora parecia mais calmo, enquanto contava tudo. Eu garanto que ele nunca pudera conversar sobre isso com ninguém.
- Tudo ia bem no começo, . A gente criou uma amizade. Eu te conheci de verdade, a verdadeira você, divertida, solta, engraçada... Inteligente, sexy. Você é tudo isso e muito mais, só que não permite que ninguém veja isso. Ninguém... além de mim.
Isso fazia sentido. Em algum lugar dentro de mim, reconheci aquilo como sendo verdade. Concordei com a cabeça.
- Só que depois de um tempo as coisas começaram a se misturar. Nossos beijos falsos já não eram tão falsos. A gente não sabia mais como separar o que era verdadeiro do que não era. E... em algum ponto disso tudo eu me apaixonei. Eu não sei dizer quando foi, mas quando... quando você terminou comigo... com a gente... eu fiquei devastado, e eu percebi que não sabia mais por onde começar a viver. Você havia me mudado, e eu já não sabia mais quem eu era. Eu só tinha uma certeza, eu ainda tenho: eu era melhor quando tinha você.
Minha cabeça começava a dar um nó outra vez. Era tão estranho ouvir tudo aquilo e não saber como eu me sentia a respeito. Ele podia me contar a verdade, mas não podia me dizer o que eu sentia, pois ele não tinha realmente como saber.
- Aí você passou no teste para ser a protagonista da série, e as filmagens começaram. O Peter Pan apareceu algum tempo depois – ele fez um gesto com a cabeça e entendi que falava de Jeremy. – E pelo jeito era o mesmo que a gente... um namoro falso, porque muita gente meio que queria que vocês namorassem de verdade... por causa dos personagens ou sei lá. Eu nunca assisti, porque era doloroso ver você por uma tela de televisão. Então você começou a ficar conhecida de uma maneira assustadora. Eu tentava criar coragem de todas as maneiras que conhecia para falar tudo isso para você, de te dizer que a verdade é que eu nunca superei o que a gente teve e não existe essa possibilidade. Que eu ainda te amo, e que eu acho que sempre vou amar, e lá dentro de mim ainda tem algo que acredita que você sentia o mesmo. Mas eu tinha medo, porque você pedia que eu fizesse uma escolha... E eu teria que abrir mão de outras coisas para ficar com você. E eu só percebi que já devia ter feito isso há muito tempo quando você quase morreu e eu pensei que te perderia pra sempre. Então... há três semanas atrás você abriu os seus olhos e olhou para mim, e eu me senti vivo de novo. – balançou a cabeça. – E naquele momento eu jurei para mim mesmo que eu nunca mais ia cometer o mesmo erro. Que eu ia lutar por você dessa vez. Não importa o que eu tenha que perder para ter você. Porque eu sei que um amor como esse, a gente não encontra duas vezes na vida. Você é única, .
Eu já não conseguia mais encará-lo. Eu não podia dizer o mesmo. Não podia fazer uma declaração à altura, porque apesar de parte de mim estar gritando que conhecia esse homem como a palma de minha mão, existia também outra parte, uma que não podia ignorar que sentia como se acabara de conhece-lo e não sabia nada sobre ele. Eu não sei o que já senti por ele e nem o que sentia agora.
Eu acabara de ouvir uma declaração de amor e não podia responde-la.
- Eu... – comprimi os lábios. Puxei minha mão que ainda segurava a sua. – Eu não sei o que eu sinto. Eu não sei o que sentia. – coloquei as mãos na cabeça, me sentindo atordoada. – Eu não sei mais o que é real, Zayn. Se o que eu tive com você não era real... se o que eu tive com Jeremy também não era então... então eu não sei mais se um dia cheguei a gostar de vocês de verdade. Eu não tenho como saber. – olhei-o. – Eu não... não sei o que dizer. Eu sinto muito.
Ele abaixou a cabeça e concordou.
- Eu sei.
Levantei.
- Eu preciso ir.
Ele levantou também e me olhou.
- Você quer uma carona?
- Não. Eu vou... eu vou ficar sozinha por um tempo – levantei a mão. – Preciso ficar sozinha.
- Entendi. – Zayn suspirou. – Me procura. Me liga, ou sei lá. Se você precisar de alguma coisa, eu digo.
Assenti.
- Certo – disse, enquanto me afastava. Eu não podia ficar mais nenhum segundo perto dele ou de ninguém. Nem minha própria companhia me agradava.
Liam’s POV
- Liam? Eu não sabia que você estava na cidade!
- Nós vamos ficar por aqui até a metade da semana. Escuta, eu estava querendo... Será que eu posso ficar com o Pietro pelo fim de semana? Te devolvo amanhã.
Dani riu.
- O quê?
- Parece que você está me pedindo um DVD emprestado.
Mordi o canto do lábio.
- Eu e Thur vamos sair em meia hora. Você consegue chegar antes?
Olhei no relógio afastando o celular do ouvido por um segundo.
- Sim, eu chego em quinze minutos – disse, levantando.
- Vou deixar as coisas dele prontas.
Desliguei o celular e coloquei-o no bolso, pegando as chaves do carro. Até o final da tarde do dia seguinte eu já teria entregado Pietro para a Dani, mas a expectativa de um dia inteiro sozinho com ele me assustava e empolgava ao mesmo tempo.
Mas eu não planejava apenas passar a tarde com Pietro. Eu também tinha outros planos em mente. Coisas que eu já não fazia há tanto tempo que me tiravam de minha zona de conforto, que há meses era apenas: trabalhar, trabalhar, voltar para casa, visitar meu filho. Parece que agora que eu finalmente começava a me acostumar com a ideia de ter Pietro e de continuar amigo de Danielle, a minha vida finalmente começou a voltar para o lugar e eu voltei a pensar em coisas que não tinha mais tempo para pensar há meses.
Cheguei em exatos quinze minutos no apartamento de Dani e peguei o garoto, levando-o sentado em um dos meus braços enquanto Danielle enroscava as alças das três bolsas infantis no meu outro braço e eu ria com a cena.
Senti meu ombro molhado e virei a cabeça para ver Pietro tentando mordê-lo sem nenhum dente.
- Ah, é. Acho que os dentes dele estão começando a incomodar. Ele vai morder qualquer coisa que ver pela frente, então certifique-se de deixa-lo rodeado por brinquedos macios, eles estão nessa bolsa – ela apontou. – Ah, e antes de dar a mamadeira...
- Testar o leite na mão, ok. – assenti. – Onde está a cadeirinha do carro?
- Aqui, eu levo – Thur veio afobado do corredor e se abaixou levantando a cadeira minúscula de pôr no banco de trás do carro.
Demos tchau à Dani e eu desci logo atrás de Thur até o carro. Enquanto ele colocava a cadeirinha no banco eu soltava todas as mochilas no banco do carona. Thur “instalou” bem a cadeira e me deu dois tapas no ombro antes de voltar correndo ao apartamento, pelo jeito ele e Danielle estavam de saída.
Aí eu coloquei Pietro lá dentro e fechei seu cinto de segurança enquanto ele roía a manga do meu moletom. Dei a volta no carro e entrei no banco do motorista, dirigindo na direção contrária à da minha casa e sempre com um olho no retrovisor para cuidar a criança.
- A gente vai visitar uma pessoa antes. Ok?
Eu me sentia estúpido conversando com um bebê no começo, mas agora parecia normal. Era como falar sozinho, só que alguém estava ouvindo, apesar de não entender.
Dirigi até a casa das meninas. Quem atendeu foi uma um tanto ansiosa, como se estivesse esperando outra pessoa ou tivesse acabado de chegar. Mas assim que viu o menino no meu colo seu olhar mudou.
- Oi!
- Oi, . A gente pode entrar?
- Claro! Sim! – ela abriu mais a porta e entrei, olhando em volta.
- Você está sozinha?
- Não. A está no quarto planejando fazer uma fogueira e queimar todas as suas roupas.
- Ela não estava doente? – ri.
- Ela está, mas o Louis fez a besteira de contar a ela que tinha ingressos na primeira fila para o basquete e ela decidiu ir mesmo que fosse de cadeira de rodas.
Sentei no sofá e ri, sentando Pietro nos meus joelhos e balançando-o. Quase abri a boca para falar que Louis tinha uma surpresa, mas isso acabaria com a surpresa. Só eu sabia e ele confiou a mim para guardar o segredo.
- E a ?
- Ela foi chamada para não sei o quê na editora, mas a disse que já deve estar chegando. E essa coisinha linda? – ela se aproximou e fez aquela cara boba que todo mundo faz para bebês. – Posso pegar?
- Claro – eu o levantei e ela pegou, demonstrando ter mais jeito do que eu, como era típico de todo mundo do sexo feminino. Segurou Pietro sentado em seu antebraço e se balançou pela sala enquanto falava coisas bobas que eu nem sabia se eram palavras.
- Eu não sei se era boa com crianças antes, mas... eu gosto delas agora.
Sorri.
- Você era do tipo de pessoa que é boa com qualquer coisa. Ainda é, .
Ela sorriu. Mas seu olhar se perdeu enquanto ela continuava balançando Pietro, e seu sorriso sumiu.
- Eu conversei com Zayn. – balançou a cabeça. – No parque. Voltei de lá agora pouco. – suspirou pesadamente e me olhou. – Eu não sei como me sentir em relação às pessoas que conhecia antes do acidente. Eu não sei, porque... sabe, Liam, parece que todos querem me dizer como eu devo me sentir, mas eu não consigo lembrar de como me sentia.
- Como assim, ? Vem cá, senta. – fui um pouco para o lado e ela sentou ao meu lado no sofá.
- Eu namorava Jeremy, pelo que todo mundo diz. E aí as pessoas também dizem que eu namorava Zayn. Mas eu não consigo lembrar como me sentia em relação a eles. Então eu pedi ajuda à ele, ao Zayn. – ela me olhou, e assenti. – E ele disse que a razão pela qual comecei a namorar com os dois foi por marketing. E eu não lembro de como me sentia em relação a isso, com nenhum deles. Zayn diz que eu amava a ele, e não ao Jer, e talvez fosse verdade, mas... Como eu posso entender esse sentimento se não consigo lembrar? Além disso todo mundo age como se meu namoro com Jeremy fosse real... E eu não sei mais em quem acreditar.
- Eu vou te dizer a minha opinião como alguém de fora dessa tempestade toda, ok? Como alguém que gosta de você e só quer o seu bem.
Ela assentiu e coloquei uma mão em cima da sua.
- , talvez no começo do seu namoro com Zayn fosse tudo apenas uma brincadeira, mas eu sei que você realmente o amava. Vocês tiveram tempos difíceis, brigas, e... apesar de eu não entender direito tudo isso, eu via o quanto isso acabava com ele sempre que vocês brigavam. Zayn te amava e ainda te ama do mesmo jeito. Você o mudou para melhor, mas quando se afastava era como se levasse essa mudança com você e o deixasse com apenas um buraco no peito... e eu sei que só via esses efeitos colaterais de longe, mas eu não sou a única testemunha de que vocês dois se amavam muito, mesmo que nunca tenham de fato namorado de verdade assumidamente para todos nós. Todos os outros meninos sabem. E as meninas também. O amor de vocês cresceu com o tempo, foi perceptível para todos... vocês eram talvez o único casal de todos nós que conseguiam continuar com aquele brilho no olhar quando viam um ao outro mesmo que não estivessem mais juntos. Nada faz melhor ao Zayn do que você... – dei de ombros – Vocês são como peças de um quebra-cabeça único. Pertencem um ao outro.
Eu já não sabia se ela ouvia mais as minhas palavras, mas seu olhar estava cravado no chão enquanto Pietro mordia o seu ombro.
- Eu sei... – sua voz saiu sussurrada e ela pigarreou. – Eu sei que o sentimento ainda está aqui em algum lugar. Eu só preciso encontra-lo. – olhou-me.
Eu assenti, entendendo mais ou menos o que ela queria dizer. Mas antes de poder falar qualquer outra coisa, gritou no quarto.
- Que saco! Que saco, ! Me trás o isqueiro! Eu vou queimar todas essas roupas ridículas!
pareceu voltar à Terra e riu, se levantando. Me entregou Pietro.
- Eu já volto.
Assenti e encarei Pietro, segurando-o de pé em cima das minhas pernas. Ele me olhava de olhos arregalados com o grito de e eu fiz o mesmo para ele, e depois ri, recebendo um sorriso também em troca, dele que agora mastigava o próprio dedão e tinha o queixo molhado de baba.
Peguei a fralda que segurava na mão esquerda e limpei seu rosto.
- Você sabe a sorte que tem? Só precisa se preocupar em babar enquanto todo mundo aqui fora está passando por uma crise. Sabe com tem sorte, filho? – balancei-o levemente e ele riu, fazendo aquele som adorável de bebê. Ri também.
Eu ouvia de longe e no quarto, e elas pareciam discutir, mas eu sabia que só estavam tentando escolher uma roupa para . Enquanto isso eu continuei fazendo o pirralhinho rir para rir também com aquele som maravilhoso.
Aí eu ouvi o barulho de rodas na entrada molhada da calçada e, como um bom curioso que sou, fui até a janela para espiar.
desceu de uma moto e tirou o capacete, entregando-o ao cara que reconheci como sendo Matt, aquele que trabalhava com elas. Ele tirou o capacete também e apoiou-o na perna.
- Manda melhoras pra .
- Pode deixar.
- E... ?
- Hum?
- Pensa bem no...
Pietro começou a resmungar e eu fiz shhh para tentar ouvir a conversa, mas não consegui entender o resto da frase. Só vi concordar com a cabeça e dar um beijo no rosto de Matthew antes de virar para a casa.
Saí da janela e voltei para o sofá a tempo de vê-la entrando pela porta da frente. pareceu surpresa em ver a mim e – principalmente – a Pietro ali.
- Ah... ahn...
- Oi. – sorri. – Eu trouxe uma visita. Além de mim.
Ela fechou a porta atrás de si e colocou o cabelo atrás da orelha com as duas mãos. Veio até perto de nós e se abaixou um pouco, parando na frente dele e se ajoelhando no chão para ficar do seu tamanho.
- Eu estava me perguntando quando a gente ia se conhecer – disse a ele, oferecendo a mão que Pietro agarrou e puxou em direção à boca. Eu o puxei para trás e segurei a mão dela para afastá-la da boca dele.
- Pietro, assim não... – disse, pegando a mão dele quando puxou a mão da minha tão forte que parecia querer se esquivar de uma doença viral. Eu fingi não me importar, mas dentro de mim, algo parecido com orgulho se feriu. – Desculpa, ele anda meio descontrolado.
- Tudo bem – ela sorriu. – Ele é lindo... mesmo. Tem os seus olhos.
Assenti, sem saber mais o que falar. Talvez eu e nunca mais fossemos ser os mesmos, nem como amigos. Algumas coisas simplesmente estragam relações, e no nosso caso, infelizmente este fora o meu filho.
- Eu vou checar a e a convencer a ficar em casa essa noite... o idiota do Louis falou sobre aquele jogo de propósito, porque sabia que ela ia enlouquecer.
já ia levantando quando eu a parei:
- ... – ela me olhou e fiz careta. – Eu não podia contar, mas... acho que tudo bem se só você souber. A precisa ir nesse jogo. Quer dizer, se ela realmente não estiver em condições de sair, tudo bem, mas... Louis tem uma surpresa para ela. Uma das boas, mas ela tem que ir ao jogo.
- Que surpresa?
Sorri. Eu me aproximei e ela se curvou no sofá, aproximando o ouvido da minha boca. Pelo menos uma aproximação.
Sussurrei o segredo e me olhou com os olhos arregalados e levou as mãos à boca.
- O quê?!
Por um segundo senti uma amizade entre nós voltar a aparecer, e sorri com isso.
- Pode acreditar. – ri.
- Ah, meu Deus! Como ele...?
Dei de ombros ainda rindo. Pietro teve um momento de emoção e quase se jogou do meu colo, me fazendo segurá-lo com mais força. Ele abriu os braços e se jogou sem medo em direção a sabendo que eu o segurava. Nós dois olhamos para ele.
- Eu acho que ele quer ir com você.
Ela me olhou por um segundo.
- Ah... será? Eu... posso? – ela levantou as mãos para segurá-lo, meio incerta. Fiz que sim e o entreguei a ela.
segurou o pequeno garoto em pé em suas pernas e fez aquelas caretas bobas que fez há minutos atrás. Só que vindo dela era ainda mais adorável. Ri.
- Liam... – Ela suspirou, me olhando de repente. – Eu fui injusta com você. Sinto muito. Era muita coisa acontecendo, e eu não estava conseguindo lidar, e então...
- Eu sei.
- Mas eu não posso colocar a culpa nele. É só... um bebezinho. – Ela disse, olhando para Pietro. – Um bebezinho lindo. Eu... me desculpa.
- Não precisa pedir desculpa – falei, sincero. – Eu sei o quão difícil isso foi. Para nós dois.
Ela assentiu.
- Com quantos meses ele está, mesmo?
Abri a boca para responder, mas seu celular vibrando em seu bolso a fez perder o foco em mim. Eu peguei-o de seu colo e ela puxou o celular do bolso e franziu o cenho, parecendo preocupada, ao olhar no visor. Atendeu, como sempre colocando o cabelo atrás da orelha.
- Alô?
Pietro de repente teve um acesso de raiva e me deu um tapa na cara, dando um gritinho de agitação.
- Ai! – reclamei. – Shh! A tá no telefone.
Ele pegou meus cabelos e os puxou com muita força, fazendo com que eu tivesse que tirar sua mão de lá, rindo.
- Pietro, não é educado fazer isso. Não. Nem um pouco.
Ele fez bico e começou a bater com as duas mãos nas minhas bochechas, mas agora com menos força apenas para ouvir o barulho.
- ... Ah meu Deus... Rose... eu... – arfou e chamou minha atenção. Eu a olhei, e ela me lançou um olhar angustiado antes de levar uma mão ao rosto. – Eu não acredito. Você tem certeza? Tudo bem... eu... eu entendo... sim. Eu também. Obrigada. Pra você também, Rose. Beijo.
Ela desligou o celular devagar e o soltou no sofá ao seu lado.
- ?
Balançou a cabeça, parecendo perdida. Parecendo atônita.
- ? – me aproximei. – O que foi, ?
- A . – ela me olhou. – Os aparelhos. Os aparelhos serão desligados na sexta.
Por um segundo, eu não consegui processar o que ouvi. Mas assim que entendi, que digeri aquelas palavras e tudo que elas significavam, eu não soube o que falar. Nem piscar consegui por um tempo. Fui acordado com outro tapa de Pietro, e levei uma mão à boca também.
- Nós... nós temos que... que contar aos outros. – disse, forçando minha voz a sair. Eu sei que já parecia horrível agora, em primeiro momento, mas o quanto mais o tempo passasse mais horrível pareceria. nunca mais acordaria, e apesar de todos nós termos uma parte que nos dizia que tínhamos que nos preparar para esse momento, ninguém estava pronto para isso. E ser os primeiros que receberam a notícia ainda nos deixava com mais um fardo: contar aos outros.
Louis’s POV
- Você vai querer alguma coisa? – eu perguntei à enquanto entrava na fila da lanchonete do lado de fora da quadra de basquete.
- Sim. Nachos com queijo. – ela falou, procurando algo na bolsa.
- Mas você disse agora mesmo que não consegue comer nada há dias.
- Mas eu preciso sentir que tenho algo para comer, Lou. É um jogo de basquete, eu preciso de uma cesta de nachos nas mãos.
- Ok. – ri. – Nachos com queijo e Pepsi?
- Uhum – ela fechou a bolsa e levantou a cabeça, sorrindo para mim ao meu lado na fila. Demos dois passos para frente quando outra pessoa terminava de ser atendida.
Tirei uma mecha do seu cabelo rebelde que caía em seu rosto e passei o polegar na sua bochecha. Ela estava meio pálida e com olheiras, e mais magra que o normal, mas ainda assim estava linda.
- Você está pálida mesmo. Não foi uma boa ideia vir nesse jogo.
- Eu adoro basquete, mas se tem algo que eu adoro mais do que isso é você. Não podia perder a chance de ter as duas coisas juntas... e ainda arriscar passar mal e você ter que cuidar de mim a noite toda, limpando vômito e tudo mais.
Fiz careta.
- Argh, !
- Viu só? – ela riu fraco. – É um ótimo programa para um domingo à noite. Não é? – se encostou em mim e escorou a cabeça em meu ombro fechando os olhos, mas logo teve que se afastar para andarmos mais dois passos.
- Ah, é. É um ótimo programa. – ironizei um pouco, mas logo lancei-lhe um olhar de canto. – Seria legal passar o resto da minha vida cuidando de você todos os domingos à noite.
- Só que no domingo tem How not to live your life na BBC, e não podemos perder, então é melhor que eu pare de vomitar logo. – ela disse, fazendo pouco caso do meu comentário. Bem, há alguns meses atrás correria de mim por dizer algo desse tipo, então essa era uma ótima reação.
- É, você tem razão – falei apenas, dando mais dois passos à frente quando era nossa vez de pedir a comida. Eu pedi duas cestinhas de nachos com queijo e dois copos de Pepsi, e ela pegou as dela e se afastou enquanto eu pagava.
Guardei a carteira no bolso outra vez e peguei minhas coisas, me afastando do balcão.
- Algum sinal de vômito à vista? – perguntei enquanto íamos até dentro do ginásio. – Porque estamos bem na primeira fila e seria meio nojento se a câmera pegasse isso ao vivo.
- Eu ficaria famosa no ESPN.
Eu ri, e ela me acompanhou. Abracei-a pelos ombros e fomos até os nossos lugares.
- Ali, Lou. Aquele barril ali não é onde eles fazem xixi? Eu posso vomitar ali caso tiver vontade.
- Seria muito menos nojento. – assenti, fazendo careta. – Xixi com vômito. Nham.
Dessa vez foi ela quem fez careta, e riu.
- Tudo bem, essa conversa está me enjoando. É melhor parar.
- Ok. Eu quero assistir How not to live your life quando chegarmos em casa.
Sentamos em nossos lugares e o jogo estava prestes a começar.
- É legal quando você fala da sua casa como se fosse nossa. É bem caseiro.
Concordei com a cabeça, comendo um nacho. Por dentro, eu sorria. Esse comentário ajudou minha coragem a não fugir de mim.
Coloquei a mão dentro do bolso do moletom, sentindo a caixinha de veludo. O primeiro passo era o mais fácil: esperar o intervalo do jogo chegar, a Kiss Cam mostrar a nossa imagem ao vivo nos telões não só do jogo como ao vivo em vários canais de esportes pelo mundo, ficar de joelhos, e propor. O difícil seria convencê-la de que era uma boa ideia.
Eu não sei de onde eu, Louis Tomlinson, tirei coragem para fazer um negócio desses. Mas quando botei os olhos naquele anel em Paris eu tive certeza de que precisava comprá-lo, precisava colocá-lo no dedo anelar de , ela precisava tê-lo. Foi uma necessidade imediata. Não havia mal entendido, e eu não mudaria de ideia. Assim que o vi, eu visualizei o anel no dedo de , e logo no dedo de nossos filhos, e netos, e em muitos, muitos anos, um cara sortudo com o meu sobrenome se ajoelharia e poporia para a garota que ama, dizendo que o anel estava em sua família há gerações.
Esse era o tamanho da minha necessidade de tê-lo.
E por que não, afinal? De todos os casais que se formaram com a amizade entre nós e as garotas, nós fomos os únicos que, de uma percepção tercerizada, ninguém imaginaria que fossem os primeiros a terem algo sério assim – ou que algum dia chegassem a ficar juntos de verdade. Eu queria provar ao mundo o contrário. Demoramos para encontrar um no outro o que realmente queríamos, mas assim que isso aconteceu, eu tive a certeza de que seria para sempre. Ou pelo menos por um tempo longo o suficiente.
Eu simplesmente não me via com ninguém além dela.
E foi por isso que, cinco minutos antes de a partida chegar em seu intervalo, minhas mãos suavam, meu coração palpitava, mas eu não havia nem sequer pensado em desistir. Eu queria fazer isso.
Assim que o apito soou e os jogadores sairam da quadra eu respirei fundo pela trigésima quinta vez. Olhei-a, para ter certeza de que ela estava bem; que não aparentava querer vomitar há qualquer segundo. Ela parecia ótima.
A Kiss Cam começou a procurar pessoas na outra arquibancada. Momentos embaraçosos e românticos foram transmitidos pelo telão, e risos e gritos de apoio vinham de todos os lados, até que a câmera chegou ao nosso lado da arquibancada.
Mas antes que ela chegasse a nós, se abaixou e pegou o celular da bolsa. Colocou-o no ouvido e tapou o outro ouvido com a mão para ouvir melhor. Eu olhei para o telão, nervoso, enquanto a câmera se aproximava mais de nós. Não conseguia ouvir o que ela dizia, mas parecia ser algo mais importante do que devia ser. Até que ela desligou o celular e me olhou com os olhos grandes e meio marejados. Eu me aproximei dela, esquecendo momentaneamente da câmera, e ela falou em meu ouvido.
Assenti com a cabeça e peguei sua mão. Ela pegou a bolsa e levantamos, saindo de lá em passos largos e rápidos, e com uma olhada rápida vi nossa imagem no telão, como se fugíssemos da câmera, de tão rápido que fomos para a saída.
Meu plano se foi por agua abaixo, mas já não parecia mais tão importante diante da gravidade do que ela acabara de me dizer.
.
’s POV
Eu andava bem no meio da Oxford em um crepúsculo chuvoso e escuro. As ruas estavam molhadas, estavam completamente abandonadas. Nenhum som além dos meus passos ecoava em volta, como se eu estivesse em um completo vácuo. Nem pássaros. Nem pingos de chuva. Nem conversas nos estabelecimentos.
Os prédios estavam abertos, as luzes estavam acesas, as janelas escancaradas. O vento soprava sem som, mas nenhuma folha deslizava pelo chão. As casas estavam abertas, inabitadas, sem sinal nenhum de que algum dia foram moradia de alguém. Tudo parecia abandonado... parecia um cenário pós apocalíptico. Completamente abandonado.
Parei no meio da rua, no frio, sentindo o vento arrepiar todo o meu corpo, mas não vendo sinal nenhum de que ele realmente estava soprando. Olhei em volta. Gritei, só para sentir a familiaridade de ouvir algum som, mas nada saiu de minha boca. Abracei meus braços, sem sentir calor algum. Voltei a virar para frente. Nada. Nada. Absolutamente nada.
Onde estão meus amigos?
Comecei a correr.
Será que eles me deixaram para trás?
À medida que eu corria, sentia meus pés doerem e meu corpo se arrepiar, mas o cenário não mudava. As casas continuavam vazias. A rua continuava molhada. O vento continuava gelado.
Onde está todo mundo que amo? Onde é que eles estão? Por que ninguém vem me buscar? Por que ninguém me escuta?!
Meus pés começaram a doer e minha respiração a falhar. Eu estava exausta, mas não podia parar de correr. Tentei gritar de novo, mas não consegui. Apenas meus passos faziam barulho no eco. Nem mesmo minha respiração fazia barulho.
Tentei gritar o nome deles, das pessoas que amo. Mas não lembrei do nome de nenhum.
É por isso que me deixaram. Me deixaram porque não lembro deles. Me deixaram porque eu os deixei primeiro.
O cenário muda.
Estrou dentro de um carro em movimento, sei disso porque sinto o balanço do carro, apesar de ter os olhos fechados. De repente alguém grita, então abro os olhos para encontrar quatro garotas gritando umas com as outras. Não consigo distinguir vozes ou palavras, apenas sei que estão discutindo.
- ! – Alguém gritou. Olhei para a dona da voz, a garota no banco da frente, de cabelos cacheados, com os olhos implorando para que eu parasse, seja o que fosse que eu estava fazendo. – , por favor!
Balancei a cabeça, confusa.
- ! Peça desculpas!
- Eu não sou covarde! – A garota da outra janela no banco de trás gritou para mim, e a reconheci como . – Sua vida é uma mentira! Não diga que eu sou a covarde! É você quem não tem controle de sua própria vida!
- Você é uma marionete. – A garota ao meu lado falou, calmamente. Só podia ser . Olhei para o banco do motorista, e me olhou de volta pelo retrovisor e deu de ombros. Ela era a pessoa em quem eu mais me sentia acolhida ali.
- Você realmente é, . – Ela disse, e sorriu fraco. Não me pareceu um comentário acolhedor.
- Peça desculpas! – A garota de cabelos cacheados gritou, dessa vez, chamando minha atenção. – Peça desculpas!
- É tudo sua culpa! – voltou dizer, e eu estava atônita.
- Você esqueceu. – A garota dos cabelos enrolados me disse, parecendo magoada, machucada. Seus olhos marejaram. – Você esqueceu de mim.
Então a garota ao meu lado simplesmente começou a chorar. Ela começou a chorar, e eu não sabia o que fazer, enquanto as outras três gritavam coisas para mim, dizendo que era minha culpa, que não dava para mudar agora, que já estava feito. Mas eu não entendia o que estava feito.
- Ei... Por favor... – Toquei o ombro de ao meu lado. Ela me olhou e balançou a cabeça.
- Eu fui embora. A culpa é sua. Já está feito.
- O que já está feito? – Perugntei, desesperada, a segurando pelos ombros.
- Isso. – Ela disse em um sussurro quase inaudível e fechou os olhos com força. Ouvi uma buzina alta, e no momento em que virei para frente, o carro se chocou contra algo e todas as vozes cessaram.
O cenário muda novamente.
Estou em frente à nossa casa. Ainda está escuro. Ainda está frio. Ainda está molhado.
A porta se abre, e uma luz amarelada emana lá de dentro. Não há carros na rua, nem movimento em qualquer outro lugar. Só existe a casa e o céu.
aparece na porta, seguida de e . Ao lado delas, estão parados Harry, Niall, Liam e Louis. Eu reconheço seus rostos mas ainda não consigo proferir seus nomes. Meu coração pula tanto que dói.
Eu não me sinto melhor em vê-los, porque suas expressões me assustam. Eles parecem angustiados, parecem sentir dor.
Eu sigo até a porta, passando por todos eles e procurando alguma coisa dentro da casa. A única luz são as velas na mesa da cozinha, tremeluzindo no escuro. Viro-me para . Ela me olha, seus olhos parecem gritar. Faz um gesto com a cabeça e segue até o corredor. Eu a sigo, como se fosse isso que precisasse fazer desde o começo. Entro em um cômodo que deveria ser meu quarto, mas não reconheço nada lá.
Ela sai do quarto e fecha a porta atrás de mim, e mesmo que eu não tenha checado, sinto que estou presa lá dentro. Olho para a cama, há alguém ali.
Vou até lá.
Zayn. Zayn está deitado lá. A pele pálida, o corpo imóvel. As mãos sobre o peito, os olhos abertos, gelados, fitando a parede sem piscar em momento algum. Ao vê-lo daquela maneira, algo dentro de mim literalmente se quebra. Sinto uma dor tão terrível que curvo-me sobre ele, encostando meu rosto em seu peito, e grito com toda a força que sobra em meu corpo. Pela primeira vez, eu escuto minha própria voz. O grito soa horripilante até mesmo vindo de mim. Meus dedos agarram-se ao seu colarinho e eu o puxo, repetindo coisas sem sentido que não consigo entender, como se fossem em outra lingua.
Não me deixe, eu pensava. Não vá. Não vá. Não me deixe aqui agora. Eu me lembro de você. Eu lembro. Eu nunca te esqueceria. Não me deixe agora.
Eu me levanto devagar, depois de um tempo inesgotavel, depois de me acostumar com a dor sem fim. Sou obrigada a soltá-lo e ele continua lá, deitado, imóvel, sem desgrudar os olhos do teto.
Um cheiro fortissimo de cigarro misturado com perfume me atinge, e de repente, minha audição começa a funcionar bem até demais. Ouço sussurros enquanto me recupero da vertigem que o cheiro provocou, e ao olhar para o outro lado do quarto, eu vejo o mar de gente. Câmeras. Câmeras para todo lado. Os sussurros começam a se transformar em gritos, gritos histéricos, gritos que questionam, gritos que julgam, gritos que ofendem.
Meu primeiro instinto é defendê-lo. Ele não gostaria daquilo. Eu precisava defendê-lo. Mas ao chegar mais perto da multidão para afastá-los e às suas câmeras, percebi que eles estavam lá por mim. Não era por ele, mas por mim.
Eles me cercaram e não havia ninguém para me tirar de lá. Gritei junto, mas pedi por socorro, enquanto eu era sufocada com o mar incontrolável de pessoas e de câmeras e de flashes. Em algum momento, tudo virou um clarão, e logo depois disso...
Abri os olhos sem mover um músculo do resto do meu corpo. Eu parecia em choque. Dois segundos depois de acordar, eu joguei todos os cobertores para o lado e sentei na cama, sentindo um alívio indescritível por perceber que foi tudo um sonho.
Meu corpo tremia, meu coração estava acelerado a ponto de pular para fora e minhas mãos agarravam o lençol. Eu suava frio, tanto que meus cabelos estavam grudados nos ombros e na nuca. Coloquei a mão no peito, e então um soluço escapou. Levei a mão à boca, e mais um soluço veio.
Eu estava chorando. Não apenas chorando, eu estava chorando feito uma criança. Lágrimas escorriam pelo meu rosto sem sinal de que parariam tão cedo.
Só uma coisa seria capaz de me ajudar.
Eu pulei da cama, vestindo as pantufas e o sobretudo enquanto ia para o banheiro. Escovei os dentes e lavei o rosto com a água aquecida, e nem sequer passou pela minha cabeça tais coisas como pentear o cabelo ou pegar alguma coisa antes de correr para fora do quarto e passar por todo mundo, saindo de casa quase fugindo de algo.
O dia ainda nem havia começado, estava escuro lá fora, e o sol estava longe de amanhecer. Eu caminhei a passos largos em direção ao parque que ligava o bairro com a Oxford, e só quando já estava lá que olhei para o chão e percebi que estava de pantufa. Balancei a cabeça, mas não pensei em voltar para casa. Eu estava fazendo papel de idiota.
Parei um táxi no meio da rua e entrei nele sem me preocupar em checar se já havia mais alguém lá dentro. Por sorte não havia ninguem. Eu dei o endereço que lembro de ter lido uma ou duas vezes no pedaço de papel que recebi, mas sabia que o endereço veio de uma parte do meu cérebro que ainda se lembrava daquilo de muito tempo atrás.
Fui deixada lá em quinze minutos e pedi que o taxista esperasse enquanto corria para fora do carro. Ao ver o porteiro, eu praguejei. Fui até lá sem motivo nenhum e para nada. Mas ao chegar mais perto, eu notei que ele sorria para mim. Sorri de volta, meio incerta, e ele apenas abriu o portão e desejou um bom dia.
Ótimo.
O céu já estava mais claro, mas todo mundo ainda dormia. Eu corri até a primeira das sete casas do condomínio e bati na porta incessantemente até que ela fosse aberta, o que demorou um pouco, porque, bem, ele devia estar dormindo. Meu coração ainda pulava. Quando ele abriu, minha primeira reação foi pular em seu pescoço.
- ? O que aconteceu, você está bem?! – Perguntou, com a voz rouca, meio sonolenta.
Inalei seu cheiro. Era tão familiar. Senti uma onda de choro tomar conta de mim, e precisei lutar contra ela enquanto eu ainda o abraçava para que ele não visse meu rosto. E eu nem sabia o porquê. Só sabia que precisava vê-lo.
- ? – Zayn afagou minhas costas e meu cabelo, e me afastou gentilmente para olhar em meu rosto. – O que aconteeceu?
Balancei a cabeça.
Nada. Não aconteceu nada. Eu sonhei em perder você e a dor foi tanta que eu precisava vê-lo e comprovar a mim mesma que estava tudo bem. Que tudo estava certo no mundo.
- Eu... ahn... você tem um táxi para pagar. – apontei para trás.
E dez minutos depois eu estava sentada em seu sofá, enrolada em uma manta de retalhos com cheiro de hortelã e segurando uma xícara de café preto fumegante que ajudava a esquentar meu corpo.
Zayn estava sentado no sofá em frente à este. Ele parecia curioso, me fitando há uns bons cinco minutos sem falar nada.
- Desculpa... de novo. Por aparecer aqui há essa hora e tão... enlouquecida.
- É bom receber você aqui – ele balançou a cabeça. – mesmo tão cedo. E mesmo tão enlouquecida – sorriu. – Vai me contar o que aconteceu agora?
- Sim – disse, mesmo sem saber ao certo o que dizer. – Sim, hum... eu tive um sonho horrivel com você. E eu precisava saber se estava bem porque, você sabe... – dei de ombros. – Eu... eu fiquei muito assustada. Eu precisava vir. Não pensei claramente.
Ele assentiu. Ficou em silêncio por um tempo.
- Entendi...
- Zayn... Eu sei que fui uma estúpida vindo aqui depois da conversa que tivemos, e principalmente depois da minha reação. Eu fui uma estúpida naquele dia também. Mas ainda estou tão confusa... eu preciso muito de um tempo para clarear as coisas.
- Não precisa se explicar, . Eu só te disse a verdade, não esperava nada em troca. Só quero que você saiba de toda a história.
Assenti.
Silêncio.
- Então... – tentei pensar em algo para dizer. – E a banda, hein?
Ele sorriu de um jeito um pouco estranho.
- A banda... é, a banda vai bem. Muito bem, na verdade. Vamos gravar mais um videoclipe em algumas semanas aqui em Londres. Você pode ver as gravações se quiser.
- Claro... – disse, por costume, assim como ele e seu convite.
- Como você está com essa coisa toda da ? Eu ainda não consigo acreditar.
- Eu me sinto culpada por não lembrar dela. Acho que lembro dela, mais ou menos... –franzi o cenho. – Eu não lembro dos nossos momentos, nem... de nada além de... – balancei a cabeça e olhei-o. – eu não lembro de muita coisa.
Ele sorriu.
- Mas eu sinto que lembro de um pouco mais a cada dia, se isso ajuda. – sorri. – A cada dia que passa eu me sinto mais confortável com as coisas e as pessoas à minha volta. Isso é muito bom.
- Ah, com certeza é.
- É. – suspirei e tomei um gole do café. – Posso te fazer uma pergunta?
- Claro.
- Quando disse que eu te pedia para fazer uma escolha, no outro dia lá no parque... eu te pedia para escolher entre mim e quem?
Ele sorriu, como se algo que eu disse fosse hilário. Comprimiu os lábios e se ajeitou no sofá, me olhando.
- Entre você e minha carreira.
De repente, um estalo percorreu minha cabeça. Eu passei tanto tempo me perguntando sobre quem seria a pessoa por trás de tudo, aquela pessoa que impedia que eu e Zayn ficássemos juntos. Eu ponderei absolutamente tudo. Uma ex namorada ciumenta, uma mãe muito exigente, uma irmã antipática, uma amiga fura olho, um amigo interesseiro... tudo, tudo, tudo. Menos a coisa mais óbvia de todas: sua carreira.
De repente, tudo fez sentido. Eu continuei encarando Zayn, mas dessa vez eu o enxergava com outros olhos. Uma raiva foi tomando conta de mim, uma frustração, uma decepção sem limites, e eu nem tive tempo de saber porquê ou de onde ela veio. Tive que me concentrar em lembrar de algo que estava passando despercebido. Pense, , pense, pense, pense!
E aí, eu lembrei.
Todas as brigas passaram na minha cabeça como flashes. Aqueles pedaços de memória em que eu lembrava de ouvi-lo discutir comigo, elas de repente faziam sentido. Agora eu sabia o que ele quis dizer com não ter tido coragem e não cometer o mesmo erro outra vez.
- E você escolheu a ela.
Ele abaixou a cabeça, e tomei isso como um sim. Me livrei da coberta retalhada, soltei a xícara na mesinha e levantei.
- Eu me lembro, Zayn. Me lembro agora. – ouvi seu nome sair da minha boca com um tom diferente do que eu me lembro de já tê-lo usado, e mesmo assim soou natural. – Lembro de ter que escolher entre ter você e ficar me escondendo para o resto do mundo... inclusive nossos amigos. Lembro de te pedir que, se me amasse, por favor, enfrentasse quem ousava dizer o que você devia ou não fazer com sua vida amorosa. E lembro de chorar incansáveis vezes ao pensar que você nunca me amou o suficiente. Era fácil, Zayn. Era tão fácil... e você nunca fez.
Ele assentiu e levantou a cabeça para mim.
- Eu sei. Eu fui um idiota, , mas... Eu estou disposto a fazer diferente dessa vez.
Revirei os olhos, sentindo a frustração crescer. Ele abriu a boca para falar, mas eu o interrompi.
- Sabe o que mais eu me lembro? Lembro de já ter ouvido essa frase antes.
Zayn se levantou no momento em que eu fui para a porta, e não sei se eu estava atônita demais ou se simplesmente não queria ouvir, mas eu ignorei sua voz pedindo que eu ficasse enquanto saía da casa outra vez.
Levei uma mão à boca enquanto saía do complexo, porque de repente foi como se eu tivesse levado uma pedrada na cabeça e tudo tivesse voltado como uma enxurrada de lembranças e de sentimentos e de sensações... coisas que eu não lembrava de ter sentido, mas senti. Como se eu de repente estivesse assistindo minha própria vida passar em frente aos meus olhos enquanto lembrava de coisas que eu nem sequer imaginava que já tinha vivido.
Quando percebi, eu estava soluçando outra vez. Porque eu havia chegado à maior e pior conclusão de todas, e não tinha ninguem a quem contar.
Percebi que já havia andado duas quadras desde que saíra do complexo quando o barulho da Oxford novamente se fez presente em meus ouvidos, e olhei em volta. Eu desci até um metrô e catei duas moedas dentro do meu bolso para pagar uma passagem. Desci outra vez na estação do hospital.
Minha cabeça estava tão atordoada, que eu mal via as pessoas me olhando estranho por eu estar de pantufa. Sabia que elas pensavam que eu era louca e sabia também que nunca mais nos veríamos na vida.
Entrei na grande construção com a recepção totalmente feita de vidro e pedi o número do quarto de .
- O número é 717. É no segundo andar, no final do corredor B.
- Obrigada. – disse, baixinho, antes de seguir para as escadas.
Eu segui até lá sem saber ao certo o que fazia. Era difícil acreditar que passei tanto tempo naquele lugar sem lembrar de nada... aquelas paredes não me eram nem um pouco familiares.
Ao entrar no quarto 717, mesmo ao ver de longe seu rosto, seus cabelos, algo na minha cabeça se acendeu. Eu liguei o nome à imagem que via no mesmo instante, e mais imagens me vieram à mente. Só consegui andar ate lá, como se estivesse hipnotizada.
Sentei na poltrona ao lado da cama e ouvi os monitores bipando incessantemente por um segundo. Minha cabeça estava longe. Fechei os olhos, sentindo meu coração pulando. Fiquei assim por um tempo, de olhos fechados, sem forçar nada, sem me preocupar com nada. E então, de repente, as lembranças vieram.
Foram apenas uns flashes. A risada de ecoando pelo antigo apartamento, ela falando meu nome. A figura de , ainda criança, construindo um castelo de areia. A imagem era diferente, eu lembrava dela na praia, era uma imagem borrada como em um sonho, mas ela nunca me pareceu mais feliz em toda a minha vida, e sei que aquela imagem devia ser a mais marcante que tinha da sua alegria em minha cabeça. E aí, a risada em minha cabeça lentamente se transformou em gritos. Não eram gritos histéricos, era mais como uma discussão. Não éramos só nós duas, as outras meninas estavam juntas. Lembrei de meu sonho.
E aí... uma buzina, uma freada, e... escuro.
Levei a mão à boca, soltando um soluço com o que parecia um grito estrangulado. Mas minha voz não saiu forte o suficiente para fazer muito barulho. Meus olhos se abriram e começaram a encher de lágrimas em uma quantidade inacreditável. Os soluços vieram em mais quantidade, de um lugar dentro de mim que eu não sabia que poderia guardar tanto choro acumulado.
Eu a olhei outra vez, sem conseguir dizer nada.
- ... – balancei a cabeça. – e-eu me l-embro. – sussurrei inaudivelmente para mim mesma. Meu coração pareceu se contrair até sumir, tamanha a dor em meu peito. – Eu me lembro de você.
Minha melhor amiga estava morrendo. E eu nem lembrava dela o suficiente para sentir luto. Até agora.
Eu chorei como nunca antes, como nem sabia que um ser humano podia chorar. Enquanto mais olhava para , mais lembranças vinham à minha cabeça. Eram memórias soltas. cantando, dançando, gritando, rindo, se atirando em cima de mim enquanto fazia alguma piadinha. Me braçando forte. Me xingando. Dormindo junto comigo em dia de tempestade. Eu ainda não lembrava o suficiente para saber explicar como nos tornamos amigas ou há quanto tempo nos conhecíamos, mas eu lembrava de tê-la conhecido no colégio e de contar tudo à ela, e de dividir meus melhores momentos ao seu lado. Lembrava, com toda certeza do mundo, que ela era a pessoa mais alegre que já conheci, e que boa parte da cor que minha vida tinha, eu devia à ela. Meu subconsciente deixava claro que, apesar de não ser possivel lembrar de tudo ao mesmo tempo, eu precisava saber do mais importante: eu a amava, muito, muito, muito mais do que uma amiga ama outra. Eu a amava como a uma irmã.
Eu fiquei sentada lá por o que pareceram horas. Eu acho até que devia ter saído há muito tempo, mas não conseguia deixá-la. Agora que me lembrava, eu tinha muito pouco tempo para ficar com ela antes que a perdesse. E eu não podia deixá-la. Eu precisava me redmir.
- Eu queria poder lembrar do último momento que tivemos juntas. – falava, a voz ainda fraca por todo o choro, sussurrada, rouca, mas audível. – Eu queria saber qual foi a última coisa que te disse. Espero que seja algo bom. Espero que você possa ouvir isso, , porque seja o que for que você pensou sobre mim pela última vez, quero que tenha certeza que eu sempre vou amar você. – passei as mãos no seu cabelo sem vida, sentindo o choro na garganta outra vez. Prendi a respiração por um tempo. – Eu te amo tanto, . Vou sentir tanta saudade. Eu não sei para quem vou contar tudo que sinto agora... – fechei os olhos com força. – eu acabei de descobrir que ainda amo Zayn... que ainda o amo, e ainda mais do que amava da ultima vez, como se isso fosse possível. E eu não sei como continuar agora, que nem sei mais como ser eu mesma. Não sei como continuar tendo perdido uma parte de mim com você. Nada nunca vai ser o mesmo sem você com a gente. Eu não estou pronta para viver em um mundo sem você, ... – solucei. – E... eu não acho que algum dia vou estar.
Respirei fundo, acalmando o choro outra vez para conseguir falar.
- Sinto muito. Sinto muito. – passei a mão no seu cabelo outra vez, e então levantei, beijando sua testa. – Sua morte é uma piada. Você devia estar aqui. Eu devia estar no seu lugar. Você vale muito mais do que eu.
Afaguei sua mão com meu polegar por um tempo, sem receber uma resposta, é claro. Depois, balancei a cabeça e decidi ir embora, cansada de chorar, exausta por um dia cheio de descobertas.
- Eu te amo, . Fique bem. – apertei sua mão uma ultima vez antes de sair do quarto.
Capítulo 25 - The Finale pt. 2
Always
And I'll be there, forever and a day
Always
I'll be there till the stars don't shine
Till the heavens burst and the words don't rhyme
I know when I die, you'll be on my mind
And I love you, always
Harry’s POV – Pt. 1
A semana que todos nós esperavamos que nunca mais passasse, foi a que passou mais rápido. Ninguém nunca estará pronto para enterrar um amigo. Quando alguém que você ama morre, é como se levasse uma parte sua junto. A morte é como uma ferida, o lugar onde a pessoa que você ama costumava ficar vai ser sempre um buraco que nunca poderá ser preenchido. E quando se tratava de alguém como , alguém tão adorável, alguém que não podia causar outra coisa senão compaixão nas pessoas, esse sentimento de perda triplicava.
Nós não nos conhecíamos pela vida toda, embora eu sentisse que sim algumas vezes. era a pessoa mais extrovertida e carismatica que eu já tive a sorte de conhecer, e sua morte era simplesmente incabível. Eu não conseguia acreditar, era tanta maldade que uma vida como a dela fosse perdida no mundo. O mundo era um lugar que precisava mais de pessoas como ela, e acabava de perder mais uma.
Não existem muitas s pelo mundo, e todos nós tinhamos a certeza de que ter a honra de conhecê-la foi sorte nossa. Era como uma em um milhão. Ela nos fazia sentir tão bem, e cada momento que compartilhamos com ela seria sempre lembrado.
Essa perda era quase como um tapa na cara da realidade em todos nós. Era um choque. Quebrava a fantasia que tinhamos de um mundo perfeito, de uma história de romance fictícia que era nossa vida e que, apesar de todos os desencontros, acabaria bem no final. Ela nos mostrava que a vida não era desse jeito. Nos dava uma lição que eu nunca esqueceria: ao contrário do que diziam, a vida não imita a arte. Ela é mais cruel.
Mas durante toda a semana o que nós fizemos foi ignorar tudo isso. Fingir que não era real, como todo mundo faria nessa situação.
E aí, sexta-feira chegou.
É claro que não deixamos Londres desde que recebemos a notícia de que os aparelhos seriam desligados. Os shows daquela semana e da semana seguinte foram cancelados, e a maioria das pessoas se mostrou compreensiva. Na sexta de manhã eu acordei cedo. Por algum motivo, coloquei uma roupa preta logo de manhã, por mais que o enterro fosse no dia seguinte. Eu não consegui ouvir música, nem sequer ligar a TV. Não consegui fazer nada além de encarar a tela do celular e esperar boas notícias. A esperança é sempre a última que se vai.
Mas a manhã passou sem boas notícias. No meio da tarde fui até o complexo do outro lado da rua. Encontrei Zayn fazendo uma ligação para sei lá quem, enquanto Liam procurava algo na estante da TV dele. Ninguém falava muito.
Depois, Louis apareceu, e tentou puxar algum assunto qualquer, mas simplesmente não havia assunto. Aí a gente decidiu ir todo mundo junto para buscar Niall ou pelo menos ver se ele estava vivo. Precisávamos dar uma força naquele momento.
Só que eu não conseguia suportar ver a dor em seus olhos. Era tanta, que eu chegava a sentir de longe, como se emanasse dele.
O dia estava nublado e frio. Nenhum resquício de sol riscava o céu, como se também prestasse suas condolências ao dia infeliz. Enquanto Liam dirigia até o hospital eu olhava pela janela e me perguntava porque nada parecia mais certo no mundo.
Quando chegamos, ele foi estacionar enquanto o resto de nós entrávamos pela recepção. Haviam pelo menos quinze paparazzi com câmeras apontadas para nós quando descemos, e aquilo me irritou tão profundamente que senti vontade de empurrar todos eles até que estivessem bem longe dali. Era um dia de luto, estávamos perdendo uma amiga, e aqueles abutres tiravam fotos de tudo, apenas se importando em vender as fotos, como se privacidade fosse um conceito inexistente.
Engoli todos os xingamentos que eu queria soltar enquanto passávamos pelo meio daquelas pessoas que não demonstravam respeito nenhum ao gritarem perguntas para nós. Depois de passar pelo meio do furacão, nós encontramos , e perto da mesa da recepção conversando sobre algo. usava um óculos escuro e sua pele estava mais pálida que o normal, mas as outras duas não se importavam em esconder as marcas do choro.
Todos nós nos abraçamos, alguns dos abraços durando mais do que outros. Era reconfortante, nos permitia transmitir e receber força, uma força compartilhada entre todos, e da qual todos nós precisaríamos durante os dias que se seguissem.
Logo ouviu-se a agitação novamente aumentar na porta do hospital, e Liam surgiu de lá segundos depois. Ele veio até nós e tocou no ombro das garotas, murmurando algumas coisas.
- Os pais dela estão lá... – disse, depois de um tempo. – Estão assinando os papéis e... e se despedindo. – sua voz falhou na última palavra e ela abaixou o rosto, fungando.
Desviei o olhar, sentindo vontade de chorar também. Havia um nó em minha garganta, não apenas pela minha dor, mas principalmente por ver a dos outros. Respirei fundo, e momentâneamente a sensação passou.
- Eu vou... ver com tudo anda por lá. – disse, soltando a mão de Louis.
- Eu vou com você.
- Não. Fica aqui. – ela disse, e ele voltou para trás. sumiu no corredor.
Todos sabiam que ela não ia “ver como tudo anda”, mas esse era o jeito de , e ninguém contestou.
- , você quer sentar? – Liam perguntou, sua mão no ombro dela. Ela fez que não. – Eu acho melhor você sentar. Tomar uma água, e se acalmar um pouco.
- Eu não quero...
Ela foi cortada por uma voz que chamou seu nome. Minha cabeça se virou ao mesmo tempo que a de , ao ouvir seu nome. Mas eu virei porque conhecia aquela voz.
Ela estava parada como uma escultura em frente ao elevador. Paralisada, um tanto afoita... E assustada. Segurava uma mala estampada com rodas na mão direita, e seus cabelos bagunçados davam a indicar que ela acabara de descer de um avião, e não teve tempo para pensar em olhar o próprio reflexo. Parecia cansada como se não dormisse há dois dias, e seus olhos indicavam o choro. Ela parecia mais alta, mas era só a distância entre nós e a bota com saltos altos que ela dizia que a fazia parecer mais elegante. Parecia mais magra, mas sem nunca perder as formas que esculpiam seu corpo em curvas delineadas, perfeitas. O jeans colado, a camiseta preta folgada até o meio das coxas. Os cabelos pretos como eu nunca vira antes, mas parecendo mais naturais do que nunca, estavam compridos até a metade do braço, e uma parte deles suspensa acima da cabeça por um óculos escuro que segurava sua franja, que agora, já nem existia mais. Talvez eles fossem assim ao natural,pretos, mas eu nunca vira antes, porque... nunca tive a chance. Porque eu a deixei ir cedo demais, e não cheguei a conhecer tudo ao seu respeito.
Ela parecia outra pessoa, mas ao olhar com cuidado, ainda parecia a mesma garota que me deixou há quatro meses. E ainda guardava uma parte de mim, porque ao vê-la, essa parte, já perdida dentro de mim, voltou à vida, e eu pude sentir tudo o que isso provocou em apenas dois segundos. Como um furacão.
soltou a alça da mala fazendo-a provocar um baque ao se chocar com o chão. Correu até e a abraçou, ficando um tanto mais alta do que ela. As duas choraram. Elas disseram algumas coisas umas para as outras, mas quem não estava incluido no abraço não podia escutar ou entender o que era.
Se afastaram então, e pode olhar para o resto de nós. Passou os olhos por mim por uma fração de segundo, e depois foi até . Segurou o rosto da garota.
- ... – ela sorriu entre o choro, e nesse momento percebi que a olhava de um jeito diverente. Seu olhar estava inquieto, os olhos arregalados, e ela a olhava como se reconhecesse uma velha amiga depois de muitos anos. Tinha a boca aberta, mas não falava nada.
Por fim, ela proferiu um “” abafado entre o abraço e riu um pouco enquanto chorava assim como .
Ela abraçou todos os outros também, mas mais rapidamente. Deu um beijo no rosto de cada, e ao chegar na minha vez, ela hesitou e apenas me abraçou por um momento.
- Você não disse nada... – falou, limpando o rosto com o dorço da mão.
- Eu não planejei. Acordei essa manhã e apenas peguei uma mala e fui até o aeroporto, eu... eu não podia ignorar isso. Eu não podia deixá-la de novo... deixar vocês... – ela balançava a cabeça. – Eu peguei o primeiro voo.
- Você fez bem. A gente precisa ficar junto agora, passar por isso junto, porque... ainda não parece real. – Zayn olhava para o chão, os braços cruzados, os lábios contraídos e a expressão abalada. – Eu ainda não consegui acreditar.
- Eu pensei que poderia ignorar, que seria mais fácil passar por isso se estivesse longe. Mas aí eu acordei, e eu olhei o meu reflexo... e eu pensei “que tipo de pessoa faz isso?”. Eu não podia simplesmente fugir.
Eu não conseguia desgrudar os olhos. Por um momento, me perguntei quem era aquela mulher em minha frente, que falava como uma adulta, que agia como uma adulta. Não era minha ex namorada mimada e infantil. Era a mulher que eu deixei ir embora.
Ela estava certa. Termos terminado foi o melhor. Pelo menos para um de nós. Quem diria que não era eu.
- Eles disseram que... ? – berrou quando chegou perto o suficiente para ver a amiga. – EU JURAVA QUE VOCÊ NÃO VINHA, SUA VADIA!
riu fraco e abraçou pelos ombros, apertando-a em seu abraço.
- Eu não ia deixar de ver a nossa garotinha pela última vez.
- Da última vez a nossa garotinha era você, o que aconteceu? – se afastou dela e a olhou de cima abaixo. – Você tá elegante, e fina, e tão gente grande!
- Grande, grande assim não né, amor. – Louis disse, e pela primeira vez na semana toda conseguiu arrancar uma risada de todos nós sem que nos sentíssemos culpados ou forçados a isso.
Mas o clima logo decaiu quando avisou que os pais de já haviam liberado o quarto para os amigos.
Niall’s POV – [N/A: COLOQUE ESSA MÚSICA PRA TOCAR.]
Não tem como alguém algum dia estar preparado para dar adeus à pessoa que ama. Eu estava completamente ciente disso quando entrei naquele quarto, mas não foi suficiente, porque no momento em que a vi e soube que era pela última vez, eu desejei correr dali.
Eu já não tinha mais lágrimas para chorar depois da semana que enfrentei, ou pelo menos era o que pensava. Fui até o lado da cama e apenas a encarei, segurando sua mão, por um bom tempo. Aquela visão que eu já estava acostumado a ver, mas que doía igual da primeira vez, mesmo depois de meses. Eu não sabia como começar a falar, sabendo que tudo que disesse ali seria as últimas palavras que eu poderia dizer a ela para sempre.
- Não... Não sei se te falei. – Sussurrei, forçando a voz a sair, tentando imaginar que ela estava ali comigo, me ouvindo. – Não sei se te falei o quanto você ficou bonita com o cabelo dessa cor. Não sei... se algum dia eu cheguei a te falar o quanto você é bonita, ou se guardei esse pensamento pra mim todas as vezes que te vi. Na verdade... foi a primeira coisa que pensei quando te vi, de volta àquela lanchonete há tantos anos. – Fechei os olhos, tentando lembrar da sensação de vê-la pela primeira vez. – Eu nem sabia de nada, mas eu pensei “como ela é bonita”, quando vi seus cabelos meio rebeldes e aquela blusa do Lilo e Stitch azul.
Apertei sua mão, e Deus, o que eu não daria para sentir aquele aperto de volta, nem que fosse só dessa vez.
- , eu... eu te devo desculpas, e sei que já falei um milhão de vezes... mas eu sinto muito, eu sinto muito por não ter... – Apertei os olhos. – Por não ter te amado mais, te demonstrado mais o quanto te amei. De todas as dores que eu sinto em estar me despedindo agora, a pior delas é pensar que você não sabe o quanto eu te amei. Porque, cara, eu te amei tanto, tanto, que se você soubesse... – ri fraco, sem nem saber que palavras usar. Mordi o lábio, balançando a cabeça. – E fomos tão burros, , porque eu gostava de você e você gostava de mim, e tudo que tínhamos que fazer era ficar juntos! E... eu falhei com você. Eu sinto muito.
Parei de falar por um momento, deixando o quarto cair em silêncio, e encarei seu rosto pálido, a respiração fraca. Passei a mão por uma mecha de seu cabelo.
- Sabe o que mais, você não merece isso. Se está me ouvindo, ou mesmo se não estiver mais aqui... eu sei que você estaria pensando que merece mais do que essa tristeza toda. Você foi a pessoa mais incrível que eu conheci, e eu agradeço por isso. Então... obrigado. Obrigado por ter sido a melhor amiga que eu já tive. Por favor, não me chute se estiver me vendo de algum lugar, eu sei que essas palavras são um pesadelo. Melhores amigos. - Ri fraco. - Mas você sabe, eu sei que sabe, que fomos os amigos mais incríveis que esse mundo teve o prazer de conhecer. E também fomos o casal mais excêntrico, casando em praias desertas às cinco e meia da manhã, usando um anel de grama. – Passei o polegar pelo anel em seu dedo. As lágrimas vieram de novo, e dessa vez nem tentei lutar contra elas. Eu tinha direito. – Eu só quero que saiba que eu nunca vou esquecer você. Nunca tenha medo de ser esquecida, porque você vai estar sempre viva dentro de mim. Eu juro. Eu juro por tudo nesse mundo. E eu vou ser sempre grato e feliz por ter te conhecido. É uma promessa.
Fiquei em silêncio por mais um momento, e então percebi que era isso. Eu havia acabado. Me aproximei de seu rosto e beijei sua testa, inspirando o cheiro da sua pele mais uma vez, e sussurrei baixinho, tentando cantar:
- Your lion's heart will protect you under stormy skies. And I will always be listening for your laughter and your tears, and as soon as I can hold you once again... I won't let go of you, I swear.
Beijei seus lábios de leve e rapidamente, e afaguei seu cabelo uma última vez, soltando sua mão. Me afastei da cama, e virar as costas foi a coisa mais difícil que já tive que fazer. Mas depois que o fiz, sair do quarto foi como puxar um band-aid.
Harry’s POV – Pt. 2
Nós fomos para o corredor do quarto 717 e enquanto entravamos de dois em dois, os outros esperavam no corredor, sentados no banco que havia na parede oposta à da porta ou de pé, tentando conversar, mas sem obter sucesso algum.
Niall foi o primeiro, ele entrou sozinho e depois saiu de lá e foi para a recepção, esperar que saíssemos de lá.
O tempo parecia ter congelado quando e Liam entraram no quarto, saindo de lá vários minutos depois com sinais visiveis de choro e parecendo acabados, exatamente como eu me sentiria no momento em que olhasse para ela uma última vez sabendo que ainda estava viva.
Depois foi a vez de , e depois pediu para Louis entrar com ela. Zayn entrou sozinho logo depois, e só quem ainda restava no corredor éramos eu, , Louis e . Zayn foi o mais rápido, e mesmo assim parecia ter saído de lá como se nunca mais pudesse ser feliz. Eu tentei imaginar uma de nossas reuniões noturnas com pizzas e filmes de comédia deitados nos colchões no meio da sala, mas não conseguia mais visualizar a felicidade entre nós. Só restava desejar que isso um dia passasse.
Zayn saiu, e eu esperei que desse algum sinal de que iria entrar, mas ela nem se mexeu, então eu mesmo entrei.
Fechei a porta atrás de mim. O quarto estava aquecido artificialmente e o silêncio lá dentro fazia parecer que eu entrara em outra dimensão. Caminhei até a cama com medo de quebrar o silêncio. Ver deitada sem vida exatamente como em todas as outras vezes apenas fez com que a sua imagem acordada, alegre, viva ficasse ainda mais marcada em minha cabeça. Eu quase podia ouvir sua gargalhada.
Era muito doloroso dar adeus. E eu queria poder dizer algo bonito à ela, como se fosse a última vez que tivesse a chance de fazer com que ela escutasse, mas eu não conseguia pensar em nada. Eu só queria sair dali e procurar um jeito de fazê-la voltar para nós.
Não sentei, porque sabia que eu não ia me prolongar. Eu apenas me escorei ao seu lado na cama e passei a mão na sua bochecha para ver como era a sensação.
- Obrigado por ser a coisinha pequena e alegre que nos mateve juntos durante tanto tempo. Nós não poderíamos ser mais gratos a você. – eu sussurrei, com a voz muito embargada para falar em voz alta. Lembrei de todas as nossas conversas, piadinhas, palhaçadas, de todas as vezes que ela foi a única disposta a me ouvir. Eu tinha certeza que nunca tive uma afinidade assim com uma garota, nunca senti que eu pudesse contar tudo a alguém como a ela, nem mesmo com . – E obrigado também por ter acreditado em mim. Eu sei que parece mentira, mas acho que você foi em grande parte responsável por eu ter acreditado que podia mudar. Você foi responsável por eu ter me tornado uma pessoa melhor, . Eu não vou te esquecer. Eu prometo. Você foi uma amiga de ouro. – sorri, com a visão embaçada. Procurei sua mão e a levei até os meus lábios, beijando o dorço. – Adeus, . Onde quer que você esteja, torça por nós. Por todos nós.
Eu queria ficar mais tempo, mas não tinha mais nada a dizer. Respirei fundo e apaguei os indícios de lágrimas, e saí do quarto voltando para o mesmo lugar onde estava sentado no banco.
- quer ficar sozinha. – disse assim que entrou no quarto. – Eu e Lou vamos para a minha casa, se você quiser passar lá mais tarde, vou fazer a janta, já que ninguém mais está apto a fazer isso e nós ainda precisamos comer. – ela disse. Voltara a usar o óculos escuro. Eu admirava a força de , a sua capacidade de erguer barreiras em seu lado emocional para não transparecer fraqueza quando ninguém mais precisava se sentir fraco. Nem mesmo eu conseguia isso.
Assenti para ela, mas continuei sentado.
- Eu vou esperá-la. Vocês podem ir. Eu levo ela para casa.
Ela assentiu, e Louis puxou-a em um abraço para o final do corredor.
Observei falar e falar pela janela de vidro em minha frente no corredor, sem ouvir suas palavras. Ela chorava, e tentava conter as lágrimas ao mesmo tempo em que conversava com como quem contava histórias, hora sorrindo, hora fazendo careta, hora fazendo gestos com a mão. Em determinado momento, pude perceber que suas palavras iam se terminando. Ela foi a que mais demorou de todos nós, porque não via a amiga há meses. Quando suas palavras finalmente morreram, ela ficou em um silêncio sem fim de cabeça baixa, segurando a mão da amiga entre suas próprias mãos. Eu queria entrar lá e dizer que infelizmente era hora de ir, e abraçá-la e dizer que estava tudo bem, porque eu estava ali, e tudo ia dar certo, e que ela podia chorar se quisesse, e que podia me xingar, ou me bater, ou simplesmente desabar, porque eu estaria ali para segurá-la quantas vezes fosse preciso, e que passaríamos por isso juntos. Eu quase o fiz. Mas não consegui encontrar motivos, ou coragem, e quando eu menos esperava, levantou da poltrona mais viva do que nunca, forte como uma rocha. E foi lindo, porque aquele momento mudou completamente a visão que eu tinha dela como alguém indefeso, e me mostrou o quanto ela havia mudado, e o quão bela era aquela mudança.
E aí ela virou as costas, e me encontrou ao fechar a porta atrás de si, pronta para enfrentar a dor de cabeça erguida.
E naquele momento eu me vi amando-a ainda mais, como se isso ainda fosse possível.
’s POV
Depois de me despedir de , eu saí daquele corredor o mais rápido possível, tentando sem sucesso segurar as lágrimas pelo menos até chegar ao banheiro. Foi tão terrível estar naquele quarto. Foi como abrir meu próprio peito sozinha e arrancar um pedaço do meu coração. Me senti impotente, como se eu houvesse falhado com ela, com todos nós. Eu, que sempre quis protegê-las, a todas elas, como se fossem minhas. Meu maior medo foi que elas se machucassem, e agora ela estava partindo, tudo porque eu não cuidei da estrada naquele dia. E todo mundo poderia dizer o que quisesse, eu sempre, sempre me culparia por isso.
Depois de ficar vinte minutos no banheiro tentando parar de chorar e molhando o rosto enquanto soluçava, eu finalmente saí de lá e fui para a recepção, encontrando Niall sentado sozinho em um banco afastado, encarando o chão. Fui até lá e sentei ao seu lado, passando a mão em suas costas, e quando ele me olhou, eu novamente falhei em segurar as lágrimas.
Ele me abraçou com força e deixou que eu chorasse em seu ombro por mais uns minutos, enquanto só afagava minhas costas. Ele, porém, não chorava naquele momento.
- Eu daria tudo nesse mundo para poder voltar àquele momento... Ter mais cuidado, evitar o acidente. Um segundo, Niall. Um segundo apenas, faria toda a diferença. Ou se eu tivesse pelo menos a feito colocar o cinto...
- Mas você não pode, . Você não pode voltar. Não vai acontecer. – Ele se afastou, limpando meu rosto. – Já aconteceu, e nada vai mudar isso. A gente tem que encontrar um jeito de seguir em frente. E eu sei que você se culpa, mas quero que saiba, que apesar disso, ninguém mais culpa você. A com certeza não te culparia. – Ele balançou a cabeça. – Mas não podemos fazer nada por ela, e nunca vamos saber como teria sido, e essa é a pior parte, porque temos que encontrar um jeito de viver com isso.
Niall falou tão naturalmente, olhando bem no fundo dos meus olhos com seus olhos azuis quase cor de água, que acabou transmitindo um pouco daquele conformismo para mim. E a dor não passou, mas ele pelo menos ajudou a me acalmar. Parei de chorar aos poucos.
- Como... como foram os últimos minutos dela? – Ele perguntou depois de um tempo. – O que vocês estavam fazendo no carro?
Olhei-o e ele me olhou e sorriu fraco.
- Eu tento imaginar o que ela estava fazendo. Se estava cantando, ou dormindo, ou conversando besteiras, contando uma piada... O que ela estava fazendo antes de...
Balancei a cabeça, engolindo o nó que se formou em minha garganta ao lembrar daquilo.
- Nós todas estávamos discutindo. Eu nem lembro mais o motivo, foi uma briga ridícula, começou do nada, sem sentido... Mas estávamos todas gritando uma com a outra, e então eu virei para trás para mandá-las calar a boca, e...
- Ah. – Ele disse, e me senti terrível por sentir que era a última coisa que ele esperava ouvir. Ficamos em silêncio por um momento.
- Espera. – Falei, depois de um tempo, levantando a cabeça. – Não, não foi isso. A não estava brigando.
Ele me olhou.
- Não?
- Não, ela... Ah... Eu lembro agora! Ela estava discutindo com todas elas, e aí uma mensagem apitou no seu celular e ela o pegou para ouvir. Foi isso. Todo mundo estava gritando, e quando olhei para ela, ela parecia estática ouvindo a mensagem! – Olhei para ele. – E eu nunca pude saber o que foi que ela ouviu.
Por um momento eu pude jurar que todo o sangue do rosto de Niall fugiu. Então ele me olhou e riu, pela primeira vez em meses, ele riu de verdade e seus olhos brilharam.
- Eu sei o que ela ouviu.
’s POV
Vez ou outra ouvia uma voz vinda da sala que não era da TV. A conversa por lá estava escassa, e foi exatamente por esse motivo que preferi ir cozinhar, apesar de ser a pior pessoa do mundo para fazer isso. E além de tudo meu estômago ainda estava revoltado, por isso queria vomitar em cima da comida, mas eu estava tentando o máximo que podia para segurar a náusea. Só queria ficar bem logo daquela merda de virose para poder voltar a trabalhar e esquecer de tudo por um tempo.
Comecei a picar um tempero para colocar na comida, e enquanto revirava os últimos acontecimentos em minha cabeça, logo eu não enxergava mais o que estava cortando, e ameaçava molhar a comida com minhas lágrimas, que estavam quase transbordando.
Ouvi passos na porta da cozinha e funguei, puxando de volta qualquer lágrima que ameaçasse cair, terminando de picar aquilo.
- Você está bem? – perguntou. Assenti.
- É esse negócio – disse, largando o que havia picado na panela.
- , alho não faz chorar. – Ela riu baixinho.
- Esse faz – retruquei, a olhando. – E quem é você para falar, parece um sapo.
- Acontece que eu não tenho vergonha de admitir que tenho sentimentos – ela cruzou os braços e deu de ombros. – Hum, quer ajuda?
- Não precisa, eu estou indo bem – falei, mexendo o molho da comida. – E então... como estavam as coisas em Paris?
- Bem agitadas, como sempre. A cidade nunca para, acho que tem muito mais gente no mundo do que dizem, porque com o tanto de turista que eu vejo todo dia...
Ri fraco.
- E você está se divertindo com as coisas velhas?
- Na verdade, sim. – Ela falou. – É, eu adoro as coisas velhas. São o máximo. Ainda nem conheci todo o museu... e estamos planejando uma viagem para a Itália na faculdade.
- Ah, que ótimo. Vai poder ver o seu vulcão mais uma vez – comentei e ela sorriu.
- É, eu não vejo a hora.
Assenti, e então a conversa morreu de novo. O que todos sabíamos, mas ninguém falava – porque não ia adiantar falar – era que enquanto estávamos tentando fingir que estava tudo bem, nossa amiga estava morta.
- Eu quero conhecer a Times Square.
Olhei para trás, para quando ela falou isso, e franzi o cenho.
- Você já não...
- Foi a última coisa que ela me disse. Eu quero conhecer a Times Square. – Ela desgrudou os olhos do chão e me olhou. – Por favor, me leve junto quando for da próxima vez.
Engoli em seco, suprimindo a vontade de chorar. Voltei a picar umas cenouras e mordi o lábio, e então voltei àquela tarde de domingo na beira da piscina na chácara.
- A última coisa sobre a qual conversamos foi um filme de suspense qualquer que ela assistiu. E ela disse “imagina se um dia a gente acordar e tudo isso tiver sido um sonho, tipo, não existe One Direction e os últimos três anos foram uma mentira”. E eu disse “bem, acho que muitos dos nossos problemas não existiriam, não é?” e então dei um tapa na sua cabeça e falei que ela viajava demais.
riu fraco, e eu senti um pouco de choro em sua voz. Eu não conseguia olhar para trás para confirmar que ela estava chorando, porque não queria me juntar a ela. Mas foi meio inevitável quando aquela lágrima escapou dos meus olhos.
- Sabe o que eu disse para ela essa noite? Qual foi a última coisa que falei para ela?
- O quê? – perguntou, a voz falhando.
- “Vou guardar aquele seu batom da Chanel”. Foi isso que eu disse, . E depois fiquei quieta, pensando em algo pra falar, mas não consegui dizer nada, porque eu nunca sei o que dizer sem estragar tudo... Sem... parecer a pessoa mais detestável do mundo. – Falei, soltando a faca, porque eu não estava mais em condições de cortar nada, e me apoiei na pia, tentando segurar as lágrimas dentro de mim sem sucesso. Comecei a soluçar, e no mesmo momento estava do meu lado, passando a mão em minhas costas.
- Ei...
- Eu fui uma amiga terrível. Eu sou uma vaca com todas vocês, eu sempre sou, não consigo evitar! A última coisa que disse a ela foi que calasse a merda da boca! – Falei, alto, e ouvi a conversa cessar na sala. Ah, ótimo. – E eu nem consegui pedir desculpa! Eu afasto todo mundo, quase perdi o Louis umas mil e quinhentas vezes, eu nem sei como ele ainda está comigo... e agora ela está morta! está morta, e eu nem consegui pedir desculpa!
- ... tudo bem. Tudo bem! – me virou para ela, enquanto eu chorava compulsivamente como nunca pensei que choraria. Estava tudo dentro de mim esperando para explodir. – Tudo bem. Todos nós te amamos, e conhecemos você. A também conhecia, ela sabia. Não se preocupa. – Ela segurou meu rosto e levantou meu queixo. – Ei! Para, olha aqui. A gente não vai te deixar. A gente te ama. Você não vai nos afastar. Nunca! E a te amava da mesma maneira. E ela nunca teve dúvidas de que você a amava também. Nem por um segundo. – Ela disse, limpando minhas lágrimas com os polegares. – Eu juro por tudo que é mais sagrado. Eu juro!
A abracei com força, e correspondeu ao abraço da mesma forma. Depois de um momento eu parei de chorar, e apesar de ainda estar terrivelmente ferida, eu me sentia mais leve.
- Eu te amo – disse baixinho para ela.
Niall’s POV
O despertador tocou na manhã de sábado, e suspirei ao acordar passando as mãos nos olhos antes de abrí-los. Bocejei, acostumando os olhos à luz da janela. Encarei o papel meio amassado sobre o qual eu adormeci de madrugada.
As palavras rabiscadas no verso de uma tentativa de composição de uma música eram um depoimento falho para o velório. Eu sabia que não conseguiria ler aquilo até o final, então não sei exatamente porque comecei a escrevê-lo.
Aquele sábado fora o dia mais longo da minha vida. Minha cabeça martelava de tanto doer pelo choro incessante, e eu me sentia exausto, mesmo que tentasse me manter ocupado com algo, porque sabia que eu não conseguiria pensar em outra coisa senão a falta dela quando parasse para descansar.
Todos choraram. Foi o pior dia de minha vida, e por mais que eu amasse meus amigos, não queria estar muito perto deles e nem de ninguém por enquanto. Eu só queria me ocupar o bastante até desmaiar de tanto cançasso e, desse jeito, esquecer um pouco da realidade.
Sabia que eu não era o único a me sentir assim, mas era o único egoista o suficiente para de fato me isolar. Mas eu me isolei apenas por algumas horas, por tempo suficiente para perceber que era muito idiota da minha parte. As meninas também estavam passando por uma barra. Os pais de , então... nem se fala. Então, eu decidi deixar de ser egoísta e me juntar a eles. Talvez fosse verdade que juntos poderíamos passar por isso apoiando uns aos outros.
Nós mandamos pagar um bufê e todo um grupo de pessoas especialistas nesse tipo de evento. Ninguém queria se envolver, mas eu e acabamos ajudando todos eles no final do velório, porque era simplesmente impossível parar por um segundo sequer. O quanto mais ficavamos parados, com mais força a dor nos atingia, e era impossível aguentar.
Todos os outros convidados estavam em seus devidos lugares ouvindo os depoimentos dos amigos e do padre, ou adicionando suas lembranças ao memorial, mas eu não consegui sentar e assistir àquilo. Continuava pensando que devíamos ter organizado uma festa em homenagem a ela ou algo do tipo, porque ela odiaria estar em um velório daqueles.
Liam foi o único da banda que de fato conseguiu dizer alguma coisa, e agradeci mentalmente por aquilo.
- Que foi a pessoa mais incrível que todos nós presentes hoje aqui tiveram a honra de conhecer, nós já sabemos. Mas eu e meus colegas tivemos o privilégio de conhece-la, há alguns anos, de modo que talvez nem todos aqui tenham a conhecido. E eu posso dizer com todas as letras que hoje o mundo perde a pessoa mais alegre que já existiu. E vou lembrar com carinho de todas as noites de pizza e filmes, e todas as piadinhas, e até mesmo todos os momentos em que nós conseguimos fazê-la se sentir especial. Foi por um caso do destino que nossas vidas se cruzaram, mas apesar de doer mais do que qualquer coisa estar se despedindo dela agora, essa dor vale a pena por cada segundo que passamos ao seu lado. Então obrigado, . Obrigado por ter nos dado a honra de chamá-la de amiga.
O texto era todo meio decorado, mas fez todo mundo chorar. Eu agradeci pelo simples fato de ele falar por nós, que não conseguíamos, que não tínhamos força. Liam sempre seria o melhor em salvar nossas peles.
Já das garotas, a única representante foi , e eu não esperava que fosse diferente.
- Quando eu conheci a na escola, a primeira coisa que ela falou foi “vou dizer que adorei a sua roupa para ter uma desculpa e falar com você”. – Ela relatou, me fazendo sorrir um pouco. – E então disse que havia adorado a minha roupa e me convidou para almoçar. No mesmo dia, no final daquele período de aula, enquanto ia para casa, eu sabia que havia feito uma amiga de verdade. era, sempre foi, uma pessoa cativante. Criativa, engraçada, empolgada com tudo. Ela adorava absolutamente tudo, e fazia até as piores ideias parecerem geniais. Uma vez ela nos convenceu de que brincar de girar até ficar tonta e depois tentar correr em linha reta ia ser divertido. Nós, é claro, aceitamos, e acabamos com um joelho ralado e vômito no banheiro, mas, é claro, estava rindo feito louca. – Ela falou lá em cima, e ri fraquinho, tentando imaginar aquilo. – E eu não quero fazer ninguém aqui passar vergonha, mas isso foi há relativamente pouco tempo atrás. – Ela riu fraco, balançando a cabeça. – O que quero dizer, é que não há palavras para descrever a falta que ela vai fazer. sempre foi minha melhor amiga. Ela foi a pessoa em quem mais confiei nesse mundo. Ela... – fechou os olhos, tentando controlar as lágrimas e a voz, e voltou a falar. – Ela era minha confidente, minha parceira, minha irmã. Eu me sentia especial em saber que era sua amiga, que tinha a sua companhia, que estava andando junto a ela. Ela fazia a gente se sentir uma pessoa especial, querer ser alguém melhor só por conhecê-la. Ela sempre me apoiou, e no final do dia, não importava o quão triste, decepcionada, frustrada eu estivesse, era um alívio chegar em casa e saber que eu a tinha, que podia deitar ao lado dela e a apertar como se fosse um ursinho de pelúcia e chorar em seu ombro, e ela estaria lá para mim. E nesse momento, agora, tudo que eu desejo é que eu tenha sido uma amiga tão boa para ela como ela foi para mim. Eu sei que nunca vou encontrar alguém como ela novamente. Mas agradeço por simplesmente tê-la conhecido. Eu sempre, sempre, sempre vou amá-la. – Ela fungou, agora já chorando. – Ela sempre vai ser dona de um pedacinho de mim.
Quando foi a minha vez, tirei o papel amassado do bolso e passei os olhos por cima dele rapidamente. As palavras amontoaram-se em minha garganta, como se eu pudesse vomitá-las. Não conseguiria fazer aquilo.
Respirei fundo e olhei para o lado, para o corredor onde deixara o meu fiel companheiro escorado na parede em cima de sua capa. Para despedir-me de , eu faria aquela única coisa na qual sou bom de verdade, eu cantaria. Foi a primeira coisa que fiz assim que descobri que a amava, e seria a última.
Eu não falei nada ao descer do pequeno palco detrás do palanque. Fui até o corredor, peguei o violão, tirei-o de dentro da capa e voltei em silêncio, com todos os olhos em mim. Até mesmo parara para ver, dessa vez, e estava de pé perto da porta que dava para os fundos do local.
Eu não havia pensado em uma música mais cedo, mas ao tocar nas cordas do violão eu soube o que deveria ser cantado. Soube que palavras ela merecia ouvir.
But you can't see his blood
It's nothing but some feelings
That this old dog kicked up
It's been raining since you left me
Now I'm drowning in the flood
You see I've always been a fighter
But without you I give up
Now I can't sing a love song
Like the way it's meant to be
Well I guess I'm not that good anymore
But baby that's just me
And I will love you baby always
And I'll be there forever and a day always
I'll be there till the stars don't shine
Till the heavens burst and the words don't rhyme
And I know when I die you'll be on my mind
And I'll love you always
Eu não sei e nem me importei com o que aquelas palavras significaram para as pessoas que me assistiam. Pela primeira vez em minha vida, não ligava para a platéia ou para suas opiniões. Mas cada palavra daquela música descrevia exatamente tudo que eu sentia e já senti por , e ela não poderia ter feito mais sentido para mim.
Depois disso, eu me senti no direito de sair e ficar sozinho por um tempo, até que o velório acabasse. Uma chuva fraca caía incessantemente desde que abri os olhos, e o dia tinha uma coloração acinzentada e sem vida que parecia nunca mais ir embora. Era propício para o dia e para meu estado de espírito.
Respirei fundo por um tempo, tentando acalmar os sentimentos dentro de mim. Era o que restava fazer.
O resto do dia passou como um borrão e no final da tarde, quando o enterro estava quase no final, eu já não suportava mais nem a ideia de ter que ficar acordado e conversar com qualquer pessoa pelo resto da noite. Eu queria ficar sozinho, queria me isolar. Mas, de novo, isso era egoísmo.
Eu vi seu pai jogar a rosa branca em cima do caixão. Virei o rosto para a imagem da primeira pá de terra sendo jogada em cima da madeira, e dei as costas a todos. Tentei de tudo para não pensar que eu nunca mais a veria além de em fotos, mas tudo que me ocorria era que agora havia sido resumida há um pedaço de pedra, enquanto eu andava para qualquer lugar em meio ao cemitério. Uma lápide, era isso que ela era agora. Uma pedra gravada com seu nome e as palavras “amiga, filha e irmã”. Ela era tão mais do que isso. Ela não podia ser resumida a isso.
Quando fomos embora no final da tarde, eu me vi fraco demais para discutir sobre ir para casa e ficar sozinho. Eu apenas entrei na van quando Paul me empurrou até lá e fiquei de olhos fechados ouvindo os murmúrios do resto dos meus amigos até o carro estacionar em frente à casa de pedra das garotas. Eram seis e meia da tarde, e a luz do dia já era praticamente inexistente. A chuva estava torrencial e incessante, sem dar trégua alguma em momento algum.
Desci do carro como todos os outros fizeram.
“Só mais algumas horas, Niall. Você pode ir embora quando ficar tarde, e então ficar sozinho. Poderá fazer o que quiser, e pensar no que quiser. Mas no momento, precisa passar por isso.”
Nós entramos e as portas foram fechadas. Todas as luzes foram acesas, e ligou o aquecedor. Sentei no sofá e observei o movimento em volta. Agora as vozes eram mais altas, sempre pensando em algo para entreterem a si mesmos e não falarem sobre o inevitável. “a gente pode pedir uma pizza, vamos pedir uma pizza”, “nenhum de nós comeu, é melhor que a gente peça alguma coisa para entregar”, “temos pizzas congeladas no congelador, pega. Coloca no forno. Não, assim não, tira o plástico”, “eu vou fazer um chá, alguém quer um chá? Vou fazer um chá”, “, preciso daquele remédio, é sério, eu estou enjoada”.
Eu ouvia as vozes e via o movimento ao redor de mim, mas tudo que conseguia sentir era o ambiente se aquecendo aos poucos enquanto os raios hora ou outra iluminavam tudo lá fora.
Alguém ligou a televisão. Em todos os canais de notícia a frase “forte tempestade de raios causa transtorno...” podia ser ouvida. Ninguém além de mim estava sentado, todos procuravam o que fazer.
Até que parou de trocar os canais incessantemente como estava fazendo há cinco minutos seguidos na porta da cozinha, e a mudança repentina me fez olhar para onde ela estava. O controle caiu no chão e, meio segundo depois, ela caiu também.
Minha primeira reação foi pular de pé e correr até ela, mas percebi que eu agi muito devagar quando, ao chegar lá, Liam e Louis já estavam ajoelhados ao seu lado e o resto do pessoal de pé em volta.
abriu os olhos e ergueu a cabeça parecendo confusa, e falou alguma coisa que não consegui escutar.
- É isso, . Vamos ao hospital agora. – disse, procurando alguma coisa em volta.
- Mas tem uma tempestade rolando lá fora – Harry disse, apontando para a janela.
- Não importa, eu vou levar ela ao hospital agora, ela já está com esse virus por mais de uma semana.
Harry deu um passo para trás ao ouvir a palavra virus.
- Eu vou junto – Liam se levantou.
- O quê? Não, Liam. Eu vou junto. Eu sou o namorado dela.
- Esse título vai ajudar em alguma coisa, Louis?
- Você não tem porque levar a minha namorada ao hospital! Eu vou. – Lou levantou, apoiando com um braço dela ao redor dos ombros dele.
e foram para a cozinha tirar as pizzas do forno, e Zayn foi procurar um tal remédio que pediu que ele pegasse no quarto de . Harry observou um pouco a discussão sem nexo dos dois, assim como eu.
- Liam...
- Não discute, ok?
- Eu sou mais velho que você.
- Zayn? – gritou para o quarto.
- Eu não tô vendo remédio nenhum aqui. – ele disse de longe, e bufou e foi até lá para ajudá-lo.
- Ok, agora que ela não está mais aqui, vamos falar do que isso realmente se trata. – Harry se meteu no meio de Liam e Louis. – É óbvio que você quer ir para ficar sozinho com a , e isso não vai acontecer se você for. – olhou para Louis. – e não custa nada você ficar aqui dando um apoio moral para... o Niall. – ele apontou com a mão para mim sem me olhar, me usando como uma desculpa barata e sem importância. Não reclamei. – então deixa que ele vá e fica aqui com a gente, você pode ir ver a mais tarde, e caso um raio caia bem em cima do carro, não queremos que mais gente morra nessa casa.
Um silêncio se instalou no cômodo e vi e interromperem sua conversa na metade ao ouvir essa frase. olhou por cima do ombro com os olhos arregalados para Harry.
- Muito cedo para isso, né? – ele disse, depois de um segundo.
Louis balançou a cabeça e olhou para , que parecia começar a se situar outra vez.
- Amor...
- Senta a bunda no sofá, Louis. – resmungou. – Eu vou com os dois pombinhos.
Louis bufou e deu de ombros, desistindo e indo para o sofá enquanto se segurava nos ombros de Liam.
- Vocês são inacreditáveis.
- Vamos. – disse, voltando do quarto com Zayn em seu encalço e um comprimido na mão.
veio da pia com um copo de água e engoliu o comprimido, saindo pela porta da garagem com Liam e .
- Louis, desfaz essa cara feia – Harry disse, sentando ao lado de Lou. – Não é como se ela fosse... – ele cortou a própria frase. – sumir.
Sentei na poltrona de frente para a TV e encostei a cabeça para trás, fechando os olhos e respirando fundo.
Harry era inacreditável.
- Alguém vem abrir a lata de ervilha? – uma das garotas pediu da cozinha, e ouvi Harry levantar enquanto Louis continuava trocando os canais. Momentâneamente, todos se esqueceram do dia terrível que passamos. Mas quando o silêncio voltava, com ele voltava todo o resto.
Meu estômago se revirou de fome com o cheiro da pizza mesmo que eu não tivesse percebido que precisava comer. e Harry trouxeram as duas pizzas para a mesinha de centro com seis copos, e Zayn voltou de sei lá onde no corredor dos quartos e se atirou no sofá pegando uma fatia.
- Eu acho que a gente precisa comer uma dessas pizzas em homenagem à , porque se ela estivesse aqui ela comeria uma inteira sozinha. – ele disse, de boca cheia.
Gostei do jeito como ele fez soar a ausência dela algo menos doloroso do que era. Fazia as coisas parecerem quase boas outra vez. Mas era apenas por meio segundo.
- Então tá – Louis pegou uma fatia, e Harry fez o mesmo, enquanto soltava um litro de refrigerante na mesinha e sentava no carpete. – À . – ele levantou a fatia no ar. – , onde quer que você esteja... esse quatro queijos é para você.
Harry levantou a sua fatia também e riu um pouco, e os dois deram uma mordida ao mesmo tempo.
riu, mesmo que seus olhos estivessem um pouco marejados. Pegou um pedaço.
- Era seu sabor preferido – ela levantou a fatia também, e depois deu uma mordida.
pegou um pedaço, e suspirou.
- Eu espero que tenha bastante pizza no paraíso, .
- Ah, no dela com certeza tem. – Zayn falou, de boca cheia. – E muito chocolate.
- E Coca-cola.
- Todos os tipos de alimentos que engordam, porque ela está no paraíso, e não precisa mais se preocupar em ganhar peso.
- E eu garanto que ela está sentada lá em alguma... nuvem... – Harry riu. – Olhando para baixo e rindo da gente.
- Porque é isso que ela faz. – concordou com a cabeça, e sorriu com o olhar meio perdido.
O silêncio voltou, mas dessa vez ele parecia mais leve. Todos nós estávamos pensando nela de um jeito bom... com saudade, mas bom. Então, eu sentei na ponta da poltrona e me curvei para pegar um pedaço da pizza e saudá-la, só que ao tocar no alimento, um pequeno zumbido foi ouvido e em um segundo tudo ficou preto.
’ POV – Pt. 1
- O que foi isso? – perguntei, me sentindo burra dois segundos depois.
- Acabou a luz. – Louis respondeu o óbvio, com um barulho que indicava que ele estava mastigando. Soltei a pizza na mesinha à minha frente sem enxergar absolutamente nada e fechei os olhos para tentar lembrar em que lugar guardava as velas.
Era naquela gaveta pequenininha no armário aéreo, eu tinha certeza. E a não ser que ela tivesse trocado do lugar, o que era extremamente improvável, eu não conseguiria alcançar aquela gaveta sozinha no escuro.
Levei a mão até o sofá atrás de mim, tateando no escuro até encontrar a perna de Zayn. Ele tocou na minha mão e eu levantei, apoiando-me nele.
- Vem comigo – puxei a sua mão, e Zayn se levantou meio desajeitado. Segui para a cozinha batendo o pé nos móveis para me certificar de que eu não ia bater de frente em nada, e tateando no escuro só com uma mão enquanto a outra segurava a de Zayn e o puxava comigo.
- Onde a gente tá indo, mesmo?
- Eu preciso que você pegue as velas.
- Por quê?
- Porque eu não alcanço lá. – toquei na mesa da cozinha e dei dois passos para a frente, passando a mão no armário de madeira. Levantei o braço e toquei o puxador da gavetinha. Eu a abri e levantei a outra mão puxando o braço de Zayn até lá, na ponta dos pés.
- Tá aqui dentro, no fundo. Você consegue pegar?
Ele me empurrou um pouco para o lado e ouvi suas mãos mexendo dentro da gaveta.
- Você me chamou porque queria evitar o Harry? – a voz dele denunciava um sorriso.
- O quê? – sussurrei, revirando os olhos no escuro.
- Ele estava mais perto de você, .
- Só pega as velas, Zayn.
- Estão aqui – ele riu e entregou-as nas minhas mãos.
- Obrigada.
Procurei o isqueiro na caixinha de cima do armário e o acendi, agradecendo ao ver o feiche de luz. Acendi as três velas e peguei uma bandeja de alumínio voltando para a sala na frente de Zayn.
Soltei as velas na mesa ao lado da pizza e grudei-as com a parafina em cima da bandeja. Olhei em volta.
- Cadê os dois?
- A foi procurar velas – Louis riu. – E eu acho que o Niall foi no banheiro.
- Mas tá escuro.
- É um dia complicado para ele, ok?!
Fiz careta para Louis, porque aquilo não tinha sentido algum, mas não discuti.
- Gente... – Zayn chamou, da janela. – Não tem luz em lugar nenhum por aqui. – olhou para a gente. – Eu vou ligar para o Liam. Pode ser o apocalipse.
Harry murmurou alguma coisa que não escutei.
Louis pegou o celular e levantou, indo até a janela com Zayn.
- Deixa eu te ajudar com isso – Harry sentou no chão ao meu lado e pegou uma das velas da minha mão.
Eu não queria que ele ajudasse. Quase pude ouvir minha voz dizendo para ele sair de perto.
Virei a vela para baixo esperando uma gota de parafina cair na bandeija e coloquei-a em cima, mas ao soltá-la ela caiu. Harry colocou as mãos para levantá-la, mas eu bati em sua mão e peguei a vela eu mesma, fazendo a mesma operação de novo. Um momento de silêncio. E aí ele riu. Olhei-a de canto, e ele me olhava rindo. Eu fiquei com raiva por um segundo... mas depois ri também.
Respirei fundo. Cheiro de parafina e de perfume masculino. O cheiro de Harry, perto de mim. As mãos de Harry, quase tocando nas minhas. E agora aquele sorriso cúmplice, como se fôssemos amigos há anos. Mas eu não queria ser sua amiga, e admiti aquilo naquele momento, envolta em escuridão perto dele. Eu queria voltar no tempo e tê-lo de volta para mim. Era algo que a nova deveria ter coragem de dizer em voz alta, mas quando se tratava dele, eu sempre voltaria a ser fraca.
Olhei-o uma vez, e ele me olhou de volta, e depois voltou a atenção à vela. Grudou a última na bandeja e eu olhei para Zayn quando ele fez um som com a boca.
- Liam disse que é em boa parte da cidade. Um blackout ou algo assim.
- O quê? – olhei-o, incrédula. – Eles conseguiram chegar ao hospital?
- Ele disse que sim, que estavam a uma quadra de lá. As ruas viraram um caos, mas eles entraram na garagem antes que tudo piorasse.
- Ah, meu Deus – franzi o cenho. – Um blackout em Londres. Isso não acontece desde... – franzi o cenho, mas eu não lembrava de nenhum registro de apagões que tomassem boa parte da cidade. Era muito grande. – A energia deve voltar logo.
- , eu não lembro onde tem velas... – gritou do quarto, e logo depois eu ouvi sua risada. – É claro que eu não lembro. Eu perdi a memória.
Balancei a cabeça e levantei, indo até o quarto com a luz do meu celular para auxiliar minha amiga confusa.
- ?
- Eu não sei porque vim procurar aqui no quarto. Achei que estivesse na minha cômoda. Ninguém guarda velas na cômoda. – ela riu, e passou a mão no rosto. – Eu não tinha como lembrar, minha cabeça virou bola de basquete naquele acidente, não foi? – continuou rindo. – Eu devia ter... eu devia ter morrido no lugar da , porque eu não tenho mais função alguma. Eu não lembro onde estão as velas, ou os fósforos, ou os cadarços dos calçados, e não sei o que eu guardo na minha própria gaveta da cômoda. Eu não sei o que sinto pelo meu suposto namorado, ou ex, ou sei lá... e eu...
- , para com isso. – fui até ela. – Não diz essas coisas. Eu perdi uma melhor amiga. Não vou perder outra. Você é muito importante para mim, ok? Vai se lembrar de tudo na hora certa, você já está lembrando, não é? Você teve a chance de recomeçar a sua vida. – toquei seu ombro. – A não.
Ela balançou a cabeça em negativa, a risada se transformando em choro.
- Eu amo um cara que nem sei se conheço, e apesar de que tudo que nós tivemos até hoje ter sido mentira e eu não ter prova alguma de que ele também me amou... eu não consigo deixar de amá-lo. Eu perdi uma amiga que não lembrava de ter conhecido, e não sei se ela tinha a noção do quanto eu a amava da última vez que nos falamos, porque eu não lembro se disse isso a ela... – sua voz foi afinando com o choro até ficar inaudível, e ela me abraçou, encostando a cabeça no meu ombro.
não se mostrou muito emotiva durante todo o dia que tivemos. Agora, ela estava explodindo. Eu não podia dizer que a entendia, porque seria mentira. Não tinha muito o que falar, porque meu choro mesmo estava preso na garganta prestes a sair, mas nesse momento eu precisava ser forte por minhas amigas. E pelo jeito eu estava fazendo muito isso ultimamente. Afaguei suas costas por um tempo, engolindo em seco até que parasse de chorar.
- Desculpa.
- Tudo bem.
- Eu perdi o controle. Não vai mais acontecer.
- Tudo bem – balancei a cabeça. – Tudo bem, . Ninguém precisa ser forte o tempo todo, não é?
- Exceto a . – ela sorriu, e sorri também.
- É. Exceto a . Vem, vamos voltar para a sala e comer pizza em memória à . – ofereci minha mão e ela e ela a pegou, e voltamos para a sala. Sentei ao lado de Harry no sofá.
Ao contrário do que eu havia dito, o apagão seguiu por horas. E eu não sei se todos estavam completamente exaustos pelo dia duro que tivemos ou se o fato de estar sem energia em casa acabava não deixando muitas alternativas além de dormir, mas depois de comermos todo mundo pegou no sono sem conversarmos muito.
Eu estava falando com pelo celular, já que era a única que ainda tinha carga, mas ela estava acabando. Decidi poupar a bateria do celular para o caso de uma emergência e deixei-o de lado, planejando levantar sem acordar ninguém para levar as coisas até a cozinha, mas aí eu percebi que já faziam alguns minutos que Harry estava escorado em meu ombro, ressonando como uma criança.
Não consegui sair do lugar. Eu não queria acordá-lo. Meu pescoço doía um pouco por estar em uma posição desconfortável, mas a sensação de tê-lo perto era boa demais para desperdiçar. Eu encostei as costas no sofá outra vez e suspirei, relaxando os músculos e fechando os olhos. Talvez eu dormisse também, e tudo ficasse mais fácil depois disso.
Ao fechar os olhos, lembrei de um final de tarde em que eu e as meninas voltávamos da chácara há uns três anos. Nós passamos o final de semana lá, o dia todo na piscina, esgotamos todas as nossas energias e estávamos exaustas. dormiu encostada na janela, e , no meio de nós duas, encostou a cabeça em meu ombro e fechou os olhos, caindo no sono também pouco tempo depois. Eu estava com dor no pescoço, a posição não era favorável a mim, mas é que me senti tão bem por ser a proteção, o apoio e o refúgio de alguém, mesmo em momentos bons como naquele fim de tarde, que não me importei com a dor. Eu gostava da sensação de minha melhor amiga dormindo perto de mim, porque passava uma cumplicidade que só nós duas podíamos ter.
Meus olhos arderam. O fim de tarde e o por do sol desapareceu. desapareceu. Em vez disso, era meia noite e eu estava no escuro, sentada no sofá de uma casa que eu sentia não ser mais minha, encostada a um amor que eu sentia não ser mais meu. Nada parecia se encaixar. Talvez voltar para Paris e ficar sozinha por mais alguns meses tornasse tudo mais fácil, mesmo. Talvez eu estivesse certa quando pensei em me isolar. A ideia de voltar a ficar sozinha não me parecia agradável, mas era ao menos a mais aceitável. Eu não conseguiria ficar em Londres nessa situação, lembrando de e dos nossos momentos em cada coisa que visse e sem ninguém em quem me apoiar. Eu também precisava de um suporte.
Uma lágrima escorreu pela minha bochecha, formando uma trilha gelada por ela assim que caiu. Olhei para minhas mãos em meu colo, tremeluzindo na luz da vela. Olhei para as mãos de Harry no colo dele, abertas em palma em cima de sua coxa.
Eu levei a minha até lá, sem conseguir conter o ato. Entrelacei os meus dedos pequenos aos dele, sentindo o calor da sua pele. Eu amava Harry como não conseguira amar mais ninguém, e apesar de a decisão de ir embora ter sido uma decisão nobre, não correu exatamente como eu planejava. Se tivesse corrido, há uma hora dessas eu não estaria tão necessitada de seu amor, de sua atenção de volta para mim. E aí eu decidi que, dentre e Harry ele era o único que eu ainda podia ter, e se não fosse para tê-lo de volta, então nada mais restava para mim em Londres. E eu iria embora dessa vez, só que dessa vez apenas por mim, e pelo meu bem maior, porque não conseguiria ficar ali daquele jeito.
O dia seguinte chegou, e de algum modo eu estava de volta em minha cama. Acordei me sentindo culpada por ter dormido tanto, mas a casa estava silenciosa e deserta, além de que ainda dormia na cama dela. A luz havia voltado, a bagunça da sala estava agora empilhada organizadamente em cima da pia e a casa estava vazia.
Eu fiz minha higiene e logo acordou e fez o mesmo. Tomamos café juntas e ligou, avisando que voltava logo e que estava tudo bem, sem dar mais detalhes. Depois, sem cabeça ou ânimo para assistir televisão ou fazer qualquer outra coisa em casa, eu dei a ideia de começarmos a empacotar as coisas de para mandar para a casa de seus pais como eles pediram, dando a desculpa de que era melhor que começassemos do que ter que tomar a iniciativa, pois ela já fazia demais. Mas na verdade, eu queria sentir que ajudei em algo antes de ir embora novamente.
Por fim, enquanto colocávamos suas roupas devidamente guardadas em caixas de papelão com bastante cuidado, eu me permiti contar a tudo que sentia em relação a Harry, a , a Londres, a tudo, e que planejava ir embora outra vez. Sua reação foi melhor do que eu imaginava. Eu pensava que as garotas iam ficar bravas por eu decidir deixá-las de novo em uma hora difícil assim. Mas se aceitou bem, também aceitaria, e o problema residia em .
Como nem eu tinha certeza do que planejava fazer no futuro, eu deixei esclarecido apenas que planejava terminar os meus seis meses de intercâmbio e depois eu voltaria, para aí sim ver o que fazer. E esse era o meu plano, realmente.
Mas fez com que eu prometesse que dessa vez voltaria de duas em duas semanas para um fim de semana em casa, porque era um absurdo que eu ficasse tanto tempo sem visitar sendo que Paris e Londres eram a apenas duas horas de distância e haviam voos e, além de tudo, um canal com um trem bala que ligava as duas cidades, me deixando sem nenhuma outra alternativa a não ser prometer que eu visitaria.
Não era como se eu fosse encontrar Harry toda vez que viesse. Quer dizer... ele é famoso. Tem uma vida.
Ou assim eu esperava.
’s POV
Eu acordei no domingo com meu celular vibrando em minha mão. Meu pescoço e minhas costas me matavam de dor, por eu ter pegado no sono na cadeira dura da recepção. Eu estava extremamente exausta de estar naquele hospital, e juro por Deus que assim que melhorasse, nunca mais colocaria os pés ali dentro.
Olhei em volta, procurando Liam, mas ele não estava mais na cadeira ao meu lado. Eu lembro de ter ficado horas acordada conversando com ele até que a luz voltasse, perto das quatro da manhã. Depois disso, eu devo ter pegado no sono. foi encaminhada para um quarto onde tomaria soro na veia e faria alguns exames, e o resultado sairía em algumas horas.
Levantei o celular e desbloqueei-o para ver a mensagem que havia chegado. Era perto das onze da manhã.
“Hey, there! Já pensou na minha proposta? Estou ansioso para ouvir a sua resposta. Por favor, me ligue, eu quero te ver. Gosto muito de você. Love, Matt.”
Respirei fundo e massageei as têmporas. Ainda tinha isso...
Disquei o número de casa e atendeu no terceiro toque.
- Oi , ainda estou no hospital. Eu volto daqui a pouco, vou esperar os resultados dos exames da .
- Ela está bem?
- Eu ainda não a vi, mas acho que sim. Talvez eu almoce por aqui, vocês fazem alguma coisa aí?
- Sim, pode deixar. Estamos empacotando as coisas.
Fechei os olhos.
- Tudo bem. Eu ajudo quando chegar.
- Pode ficar tranquila, . Nos mantenha informadas.
- Tudo bem. Beijo.
- Beijo.
Desliguei o celular e fui até a recepção para pedir alguma informação. A recepcionista disse que se informaria e me avisaria. Eu agradeci e fui até o banheiro. Quando voltei, Liam estava vindo do corredor da lanchonete com um café. Nos encontramos no meio do caminho.
- Eu peguei para você. – me entregou. – Eu... hm, , preciso ir. – ele coçou a cabeça e fez uma careta. - Dani me ligou. Parece que Pietro se machucou ou algo assim, eu preciso vê-lo, ela precisa de mim.
- Ah, certo. Certo, tudo bem. – balancei a cabeça. – Dani precisa de você.
Ele me olhou por um tempo, e desviei o olhar, desconfortável.
- Você tem carona?
- Pedi um táxi.
- Ok. Obrigada por vir. Até mais. – balancei a mão como se estivesse me despedindo, mas Liam não se afastou.
- , eu... – ele hesitou. Abriu e fechou a boca algumas vezes, mas não disse nada. – Eu... bem, ok, até mais tarde. – tocou meu ombro e eu assenti, e então ele se afastou.
Respirei fundo outra vez. Dani e Liam... de algum modo era como se eles pertencessem um ao outro. Eu fui apenas a coadjuvante. E agora... um filho. Era o ponto final da história, que marcava com quem ele definitivamente acabaria. Não que eu ainda pensasse ter alguma chance, porque estava acostumada com o fato de que não voltaríamos mais. Já não sentia mais nada entre nós, como se nunca tivessemos sido namorados, porque a vida dele agora pertencia à Danielle e àquela criança, e assim devia ser. Mas se algum dia nós decidíssemos tentar mais uma vez, teriamos que começar do zero. E esse era o fato que mais me fazia perder a esperança em nós.
Tomei o café que ele me trouxera e a recepcionista voltou com um pequeno papel em mãos.
- ?
- Sim – levantei.
- O médico disse que estará dando alta em mais ou menos meia hora. Ela está melhor. Ele escreveu aqui algumas prescrições do que a dar para comer até que ela melhore, e os resultados sairão apenas hoje de noite devido a um contratempo com os instrumentos.
- Ah, obrigada. – peguei o papel de sua mão e o observei. – Tudo bem. Então eu preciso voltar aqui hoje de noite e buscar os exames?
- Sim, mas você pode vir amanhã se quiser, também. Ou pode deixar um telefone para contato, e te ligamos para avisar quando eles ficarem prontos – ela sorriu.
Quase bati o pé no chão de frustração.
- Certo. Não precisa, eu venho essa noite. – sorri de volta, e ela se afastou.
Vinte minutos depois, foi liberada e voltamos para casa a tempo de almoçarmos o macarrão que tentou fazer. Não ficou tão mal, na verdade.
- Eu preciso conversar... falar com vocês. – disse, sentada à mesa com o resto de nós, enrolando o macarrão no garfo.
- Hum?
Ela e se entreolharam.
- Eu vou voltar para Paris.
Levantei os olhos do prato. Encarei-a por um segundo.
- Quando?
- Por quê? – fez uma careta.
- É... eu estava vendo os horários dos voos... para hoje de noite.
Eu encarei-a por um segundo, boquiaberta. largou o garfo fazendo um barulho alto e levantou da mesa, sumindo para o quarto. comprimiu os lábios.
- ? Por quê? – perguntei.
- Eu... – ela respirou fundo. – Não pertenço mais aqui, .
- Todas nós estamos sentindo isso com a perda da , não é como se...
- Não, não é só isso. Não é só a , é que... – ela balançou a cabeça. – Eu ainda preciso desse tempo longe. Eu... eu sinto que ficar aqui só vai me prender.
Abaixei os olhos. Isso se tratava de Harry, eu sabia. Mas quem era eu para julgar? Eu ainda era presa a Liam mesmo sabendo que não tinha mais chance. Só que ao contrário dela, não tinha para onde escapar, eu precisava ficar aqui e cuidar das coisas. Ela tinha uma escolha.
Concordei com a cabeça.
- Tudo bem. Eu entendo.
- Mas eu não entendo – disse, voltando da sala e parando na porta da cozinha. – não era só sua amiga. Ela era amiga de todas nós. A dor que você sente, o luto, isso não é uma exclusividade sua, . Todas nós sentimos. – ela abriu os braços, falando mais alto do que era necessário. – Não foi só você que a perdeu, e se você acha que fugir para longe e fingir que nada aconteceu vai ajudar, então isso só faz de você uma covarde. É isso que eu acho.
Nós três a encaramos por um segundo. estava com os olhos marejados, mas seu orgulho ainda era maior. Ela se virou e voltou para o quarto assim que terminou de falar.
balançou a cabeça de novo e apoiou a cabeça na mão, encarando o prato.
- , tudo bem. Ela só está assim porque sente tanto quanto a gente, só que não quer... não consegue por para fora. – disse.
- ainda está aprendendo. – concordei. – Está tudo bem. A gente vive aqui, não nos encaixamos em outro lugar. Mas você tem uma escolha, e pode ir embora. Eu entendo. E a vai entender também. Não se preocupa.
Ela assentiu.
- Tudo bem. Obrigada, meninas. Eu vou agendar a passagem. – suspirou e se levantou, levando o prato dela e o de para a pia.
- Ahn... talvez eu vá para Madrid nas férias da editora. – disse, para tentar mudar o clima.
- O quê?! – me olhou, confusa.
- Eu ainda não sei. Matt vai tirar férias no mesmo período que eu, e ele tem parentes lá. – expliquei. Eu não estava muito empolgada com aquilo, apenas disse para mudar de assunto, o que foi bem sucedido. Mas mesmo assim, não deixava de ser uma alternativa.
Depois que nós três arrumamos a cozinha em conjunto, e voltaram ao quarto de enquanto eu continuei limpando armários sem necessidade, para fugir daquela missão. Eu não queria ter que entrar lá e tirar todas as suas coisas, como se a tirasse da nossa casa.
- Eu vou comprar uns materiais naquela livraria lá de perto do parque... a gente vai fazer um mural – falou, sorrindo, antes de sair de casa e eu assenti.
Uns minutos depois, perdida em pensamentos, ouvi uma conversa baixa vinda do quarto e sorri. Era bom que se redimisse antes que outra de nós fosse embora.
A campainha tocou, e fui até lá atender logo que finalizei o último dos armários. Ao abrir a porta, porém, eu tive uma surpresa muito inesperada.
- Danielle?
- Oi, . – ela passou a mão nos cabelos. – Eu posso... entrar?
Concordei com a cabeça, confusa demais para qualquer outra coisa. Abri espaço e ela entrou, ficando de pé no meio da sala.
- Sim? – perguntei, ao voltar para a sala depois de fechar a porta, meio boquiaberta. – Quer... sentar?
- Não. Eu não vou demorar. – ela sorriu fraco. – Preciso comprar remédios para o Pietro.
- Ah. – foi tudo o que eu disse.
- Eu vim para falar com você. Te dizer uma coisa.
- Sim?
- Ahn, . Eu e Liam, nós estamos bem próximos ultimamente, acho que você sabe. – assenti, e ela continuou. – Nós nos reaproximamos e passamos um bom tempo juntos desde que... ele descobriu sobre o nosso filho.
- Sim.
- Bem... Eu posso dizer que conheço Liam há tempo o suficiente, e bem o suficiente para dizer quando ele tem um problema. Sabe... – ela passou a mão nos cachos outra vez, e transferiu o peso do corpo para outra perna. – Eu fiquei muito magoada com Liam quando descobri... de vocês dois.
Assenti, me sentindo envergonhada.
- Mas eu sempre soube que ele é uma pessoa boa. Liam não trairia se não te amasse de verdade. E ele te amava. – ela fez que sim com a cabeça. – E eu demorei a perceber isso, mas essas coisas acontecem. A gente se apaixona por outras pessoas, não há como fugir disso. Eu também encontrei outra pessoa. Thur é meu namorado há algum tempo agora, e eu estou bem com ele, e não quero perde-lo. Bem, eu sei que você foi a intrusa uma vez entre mim e Liam, e sei o quanto eu sofri... Mas ele não merece isso, e você não merece isso, porque sei que é uma pessoa boa. Eu não quero ser a intrusa dessa vez.
- Eu... – neguei com a cabeça. – Não entendo.
- Pietro é nosso filho, e isso nunca vai mudar. Mas o que tive com Liam já passou há muito tempo. Só que o que vocês tiveram... ainda não morreu. Ele te ama, . Eu o conheço muito bem. Pietro foi um presente na minha vida e sei que na dele também, mas não quero que ele seja o motivo pelo qual Liam perdeu a pessoa que mais ama. Meu filho não é um fardo. O que quero dizer, é... Liam te ama, e ele está agoniado, ele te quer de volta. Eu pensei que você precisava saber disso, por isso vim aqui. Para que você ouvisse de mim mesma que entre eu e ele nada mais vai acontecer... porque para ele só existe você. Vocês se amam. Quero ver o Liam feliz como eu sou.
Meu queixo estava no chão. Eu não sabia nem por onde começar a digerir aquilo. E ela percebeu, pelo tempo em que fiquei em silêncio.
- Ah, que indelicadeza – ela levantou uma mão. – Eu soube sobre a amiga de vocês. Sinto muito, . – ela comprimiu os lábios e juntou as sobrancelhas. – Sinto muito.
Assenti, em agradecimento.
- Obrigada.
- Vocês dois estão passando por uma grande barra. Liam já estava antes... entenda, ele... ele ama o Pietro, eu sei que sim, só que foi uma mudança drástica muito repentina para ele, ter que mudar de jovem superstar à um pai. Você entende? Liam precisa de alguém que o ajude, que o dê suporte, e com quem possa desabafar. Alguém que o entenda. Eu só... queria que vocês dois esclarecessem tudo, mesmo que nada mais vá acontecer entre os dois.
Assenti de novo.
- Sim. – falei, mas depois percebi que eu estava respondendo com apenas monossílabos e me corrigi. – Obrigada. Eu... obrigada, Dani. Eu... eu não esperava – admiti.
- Nem eu – ela sorriu. – Bem, eu preciso ir. – foi até a porta, e eu a segui.
- Obrigada outra vez. – abri a porta para ela, e ela assentiu.
- Até algum dia.
Ao fechar a porta, eu encarei a madeira me perguntando se aquilo fora real.
’s POV (pt 2)
No final da tarde, depois de terminar de encaixotar todas as roupas de , eu me senti melhor ao saber que pelo menos metade do serviço eu havia feito, e deixado bem menos a fazer para ao partir.
Tomei um banho demorado e depois comi uma torrada com café preto, olhando no relógio e percebendo que faltavam duas horas para o voo. Fui até o quarto e coloquei os poucos pares de roupas que eu tirara de minha mala dentro dela outra vez, deixando tudo pronto. Depois, eu sentei na cama e suspirei.
Mais uma vez me encontrava naquela situação, só que dessa vez eu sabia que apesar de tudo era o melhor para mim. A parte difícil era deixar as pessoas que amo outra vez.
Por um momento, eu pensei em minha mãe. Será que em algum momento de sua vida ela também tivera que tomar decisões difíceis? Será que ela estaria orgulhosa de mim? Eu queria poder perguntar a ela o que fazer. Ou ao menos ganhar um carinho, um colo materno. Ajudaria muito.
Liguei para meu pai e conversei com ele por alguns minutos. Prometi ir visita-lo em duas semanas quando voltasse para Londres, e depois de desligar, me perguntei se eu deveria ligar para os meninos. Eu fora embora sem me despedir uma vez e eles não se importaram.
Ao olhar no relógio mais uma vez eu vi ainda ser muito cedo para ir para o aeroporto. Eu estava ansiosa, mesmo que não fosse exatamente para algo bom.
Levantei da cama e dei uma volta observando o quarto. Olhei para as caixas empacotadas. Peguei uma vazia e coloquei em cima da cama ao lado da cômoda e abri as gavetas que pertenciam a . Haviam alguns produtos, maquiagens, cartas, estojos, canetas, CDs, pen drives, DVDs... Seu notebook, seu celular antigo, seu mp4, seu Ipod, uns cartões de memória, sua agenda, seus antigos cadernos. Enquanto colocava tudo aquilo dentro da caixa cuidadosamente, eu percebia o que era a morte. A morte era uma piada. Fazia a gente abandonar tudo no meio da vida, do nada, sem aviso prévio, sem esperar. não sabia que nunca voltaria para casa depois daquele fim de semana na chácara, nem nenhuma de nós sabia. Ela ainda tinha esperanças em seu relacionamento com Niall, ainda tinha planos para o seu futuro. Planejava fazer mais tatuagens, talvez mudar a cor do cabelo de novo. Planejava conhecer músicas novas, ir a um show no mês que vem, viajar, fazer a faculdade, procurar um emprego... E tudo isso foi interrompido de uma hora para outra, por um infeliz acidente do acaso. Era tudo tão injusto.
Haviam três agendas, dos três anos anteriores. Abri o do ando passado, que fora o último ano dela, para ver suas anotações. Mas ela não usava a agenda como uma agenda, e sim como um diário.
Eu abri em uma página em que ela falava sobre nossa viagem à Grécia. Sentei no chão ao lado da caixa de papelão e li toda a página. No final, eu chorava com a mão na boca, para abafar os sons e também porque era tão inacreditável. Tudo o que ela sentia em relação a qualquer coisa estava ali. Por um momento foi como se eu ouvisse a sua voz lendo aquelas palavras, como se ela as lesse para mim, ali, presente. E foi por isso que eu chorei, porque ela sempre estaria viva em uma parte dentro de mim.
Ao olhar no relógio, já estava na hora de sair. Chamei um táxi e enquanto ele vinha, me recompus e limpei o rosto. Peguei a mala, me despedi das garotas e entrei no carro. Eu dei o endereço de Niall.
Harry’s POV
- Tá todo mundo louco nessa casa?! – gritei ao ouvir o que Louis dissera. – Você não pode pedir a em casamento, Louis! É casamento! Vocês namoram há o quê? Dois dias?!
- Falou o cara que está na fossa desde que a ex namorada foi embora. – Liam riu.
- Você traiu a sua namorada e depois teve um filho com ela – fiz careta para ele. – Quem é você para falar?
- Não é bem assim... a história é diferente.
- Tanto faz. – bufei, voltando a Louis. – Qual é o seu problema?!
- Harry, não é casamento. Pessoas podem ficar noivas por anos, se quiserem. Considere como um gesto para deixar o relacionamento mais sério... para ela saber o quanto eu gosto dela.
- Dá flores pra ela, porra! – Disse, exasperado, e Louis revirou os olhos.
- Alguém sabe o que o Zayn está fazendo que não está aqui? – Liam disse, mas eu o ignorei.
- Tá. Então tudo bem, digamos que isso tenha sentido... em que mundo você acha que vai aceitar casar com você?
Louis levantou os braços em sinal de rendição, com uma expressão incrédula para mim.
- Eu não vou me casar com ela! E, bem... vou descobrir isso quando eu pedir.
- E quando vai ser isso?
- Assim que eu pensar em outra situação tão legal quanto a da Kiss Cam.
- Por que é que pedido de noivado tem que ser assim? Ter grandes gestos de amor como se fosse uma porra de um filme da Disney. – Niall falou pela primeira vez desde que chegamos à sua casa.
- Essa é a influência da Disney nas nossas cabeças, cara. – Liam comentou.
- O que você está fazendo aí? – perguntei, olhando por cima da escora do sofá para Liam que estava na cozinha.
- Mexendo na geladeira. É bom mantermos as bebidas longe dessa casa – Liam disse, tirando as latas de cerveja do freazer de Niall. – Pelo menos por um tempo, certo?
Eu que o diga. Fazia poucos dias que saíra da fase “beber o dia todo quando tiver a chance” de quando se perde uma garota.
- Uma pergunta: se a disser não, você vai ter gastado trinta e sete mil libras por nada?
Louis deu de ombros, e nesse momento alguém bateu na porta.
- Zayn, para de frescura e entra – Lou gritou para a porta.
A porta se abriu, mas quem entrou foi . Eu me senti estúpido dois segundos depois que tirei os pés da mesa de centro e me endireitei no sofá. Porque eu ainda mudava quando ela aparecia e isso fazia eu querer socar a minha própria cara.
- ? – Liam pareceu surpreso. – Tudo bem aí?
- Sim, eu estou de saída. – ela parecia afoita. Segurava uma agenda na mão. Olhou para cada um de nós, parecendo procurar um em especial, mas meu coração pulou atoa quando ela foi em direção a Niall. – Eu encontrei isso nas coisas da . Por favor, por favor leia. – ela suplicou. – É importante.
Niall olhou-a e hesitou, pensando em pegar ou não a agenda.
- Niall, por favor. Não precisa ser agora. Leia quando estiver pronto. Você precisa sentir o que eu senti.
Isso pareceu convencê-lo, e ele pegou a agenda meio a contragosto.
- Obrigado. – disse.
- Tudo bem. Eu... – ela olhou para todos nós, se prolongando um pouco mais em mim. Eu voltara a colocar os pés no centro, e estava com os braços cruzados. Eu estava ciente de que parecia uma criança emburrada. Seu idiota. – Eu estou voltando para Paris, estou atrasada. – ela olhou a hora no celular. – Só passei para entregar o diário. E dar um tchau. – olhou para todos de novo.
- A gente pensou que você ia ficar... dessa vez.
- Eu sei – ela fez uma careta, respondendo Louis. – Eu não tenho tempo... mas as meninas podem te explicar. – deu outra olhada no celular. – Preciso ir. Eu vou visitar de duas em duas semanas. Ahn... até mais, meninos. – com um aceno geral, ela voltou para a porta.
- Até mais... – Lou disse, enquanto o resto deles acenava, e ela saiu.
A porta se fechou, e depois disso todos olharam para mim.
- O quê?! – eu olhei-os de volta.
- Quanto tempo você vai esperar para ir atrás dela? – Louis me olhou, dessa vez mais cético ainda. Daquele jeito que eles me olham quando digo algo estúpido. Eu com certeza sou o Tribianni dessa banda.
Abri a boca para responde-los de igual, mas então, por um segundo apenas, eu ponderei essa possibilidade.
- Harry, pelo amor de Deus, você é tão estúpido. – Louis começou seu sermão. – Você anda como um babacão há meses por causa dessa garota. Ela voltou pela primeira vez em meses, vocês não pararam de se encarar por um segundo sequer, e agora ela vem aqui para “se despedir” usando como desculpa uma agenda idiota sendo que da última vez ela não se importou nem em ligar... você acha que ela veio para quê?
Abri a boca outra vez, mas não pude falar, porque Liam me deu um tapa na nuca.
- Você é lerdo – ele disse, quando o olhei.
- Levanta essa bunda daí. – Niall disse, mal humorado.
- Você vai perder ela de novo, e eu juro por Deus, vou dar muita risada da sua cara.
Um silêncio se instalou na casa por um tempo.
Naquele momento, sem um motivo aparente, eu me sentia furioso com . Ela não precisava ter vindo até aqui só para me atiçar. Ela podia só ter ido embora, deixado tudo sem avisar, desse jeito eu me sentiria furioso quando já não podia mais fazer nada. E aquele sentimento era tão intenso, e tão familiar... era quase como se voltássemos no tempo para a primeira vez que ela abriu a boca para me dizer algo e eu jurei que nunca gostaria de alguém tão metida.
Mas quem eu queria enganar... o ódio era o maior e mais forte sinal de que eu a amava, mesmo desde aqueles tempos. E se eu não fosse agora, mesmo que isso significasse levar outro fora, eu me arrependeria até o último fio de cabelo por ter tido outra chance de ir atrás dela e ter desperdiçado.
Como alguém disse uma vez: eu preferia me arrepender de algo que fiz do que de algo que não tive coragem de fazer.
Pulei em pé assim que cheguei a essa conclusão, o que pareceu demorar um pouco. Olhei para Louis e ele assentiu, me encorajando. Assenti de volta e corri para a porta, quase pulando em cima de Zayn quando ele se projetou em minha frente de repente.
- Harry, eu preciso...
- Agora não, tchau. – gritei, correndo para o meu apartamento.
Que os deuses me ajudem.
Eu subi até meu apartamento e peguei a chave de meu Audi, descendo até o subsolo. Não tinha ideia de por onde aquele táxi havia ido, mas eu precisava chegar lá antes dele. Ela parecia estar atrasada, o que significava que o voo já ia sair. Então, eu estava ciente de que se conseguisse chegar lá a tempo eu era um homem de muita sorte.
O aeroporto mais próximo ficava há quinze minutos de distância, e peguei todos os atalhos imagináveis para chegar até ele. Eu deixei o carro estacionado na esquina, já que era o único lugar disponível, e corri até lá. Olhei em volta tentando reconhecer o taxi que a trouxera, mas todos os automóveis ali eram táxis e isso tornava as coisas mil vezes mais difíceis.
Corri pelo estacionamento até o salão principal, e fui até as portas de vidro, e depois subi a escada rolante e passei por dois guardas com detector de metal. Eu corria como se estivesse em uma maratona. Olhava em volta a cada momento, até que enfim cheguei ao último lugar onde eu ainda podia alcança-la: o salão de desembarque.
Ao pisar naquele lugar, eu já pedia a ajuda de todos os deuses possíveis.
Só que as coisas não aconteceram como nos filmes.
Zayn’s POV
- Alguém tem o número do Grimshaw? – entrei na casa perguntando a todos, afoito.
- O quê? Você não suporta ele.
- Alguém tem?! – perguntei de novo.
- Eu não sei se tenho... – Liam tirou o celular do bolso, e nessa hora, o meu celular começou a vibrar em minha mão com um número desconhecido na tela.
- Deixem pra lá. – falei, atendendo a ligação e indo para a porta outra vez. – Sintonizem no Channel 4 – falei, fechando a porta atrás de mim e voltando para minha casa.
- E aí, Malik – Grimshaw falou ao telefone.
- Onde você está?
- Eu estou chegando, acalme o seu coração.
Fiz careta.
- Nick, é sério.
- Malik, você me liga essa tarde falando ser urgente e pedindo um espaço ao vivo no meio do meu programa dominical, sem dizer exatamente porque, e ainda acha que está em posição e dar ordens?
- Você vai ganhar a maior audiência que seu programa já teve. Eu estou esperando. – desliguei o celular, impaciente, depois disso, e entrei em minha casa.
“Assista o programa do Grimmy no Channel 4” Escrevi e enviei para , sem mais detalhes.
Eu fiquei literalmente andando de um lado para o outro até que Grimshaw chegasse com sua equipe e todos se instalassem em minha sala de estar, me fazendo sentar no sofá contrário ao da câmera e escolhendo o lugar onde a luz mais favorecia meu rosto.
- Certo pessoal. – Nick bateu as mãos chamando a atenção de todos. – O programa já está no ar, entramos ao vivo em cinco minutos. – e aí ele foi até o sofá e sentou ao meu lado. – Vai me dizer agora do que isso tudo se trata, Zayn?
- É um comunicado. – disse.
- Eu já imaginava – ele falou, irônico. – quero saber do que se trata.
- Você já vai ver. – olhei-o.
Nick pareceu se irritar nessa hora.
- Zayn, será que você não está entendendo?! Eu abri um espaço ao vivo no meu programa para você, tirei uma matéria incrível sobre o Magcon que todas as meninas estavam arrancando os cabelos para assistir, só para colocar você falando sobre algo que eu nem sei se vale a pena ouvir!
- Pode ter certeza que vale, Nick. – sorri. – Eu vou contar toda a verdade.
- Que verdade?!
- Nick? Dois minutos. – uma garota com uma prancheta chamou.
Ele bufou e se levantou, saindo dali.
- Eu espero que valha à pena mesmo.
Sessenta segundos depois, eu estava repassando em minha cabeça o que falaria quando a luz vermelha da câmera se ligasse. Mas, quando ela se ligou, minha cabeça ficou em branco. Nick fez uma chamada com a câmera que estava perto da porta, e logo a que estava em minha frente no sofá se ligou. Por um momento, eu encarei a luz sem saber o que dizer.
Abri a boca, hesitei em falar, mas enfim comecei.
- Há três anos eu conheci umas garotas. Eram cinco. , , , e . – eu falava pausadamente, pensando antes de cada palavra proferida. Imaginei sentada na frente da TV. – De início, eu não fiquei muito entusiasmado com a ideia de virarmos amiguinhos do tipo que vão para todos os lados, mas logo eu caí nas graças das cinco assim como meus outros quatro amigos de banda.
Olhei de canto para Nick, que estava sentado na ponta do sofá ao lado da câmera, observando sem expressão alguma.
- Eu devo ressaltar que posso me meter em encrenca pelo que estou fazendo. O pessoal da gestão da banda não sabe que eu planejava dar esse depoimento ao vivo desse jeito. Mas eu preciso. É o amor da minha vida que está em jogo.
Nick se mexeu, mais curioso agora.
- Bem, algumas semanas depois que eu as conheci, a Modest reuniu a banda para informar que, devido ao comportamento enlouquecido das fãs, eles queriam que eu entrasse em um relacionamento em breve, sendo ele real ou falso. Eles me entregaram um contrato que pedia que eu fingisse namorar com uma das garotas da girlband que também é administrada por eles, mas eu achei um absurdo. Eu disse que, se era obrigado a namorar alguém contra a minha vontade, que eu pelo menos pudesse escolher essa pessoa. Na mesma época, uma das nossas amigas, , estava com problemas com um ex namorado que não saía do seu pé. Vocês podem imaginar o que aconteceu.
Pigarreei, desviando os olhos para Nick, que agora estava vidrado, ao perceber que eu não só estava dando-o conteúdo exclusivo quanto aquilo nunca havia passado pela cabeça de ninguém antes.
- Eu e fizemos um acordo amigável, sem que nenhuma das partes ganhasse nenhuma recompensa em dinheiro por isso. Nós apenas nos ajudamos, como os amigos que éramos. Tudo corria bem... até que as coisas começaram a ficar confusas. Eu e começamos a confundir o fingimento com a amizade, e isso corria bem e funcionava de uma maneira que beneficiava a ambos no começo, mas depois... as coisas mudaram. Elas mudaram, porque... nós nos apaixonamos. E o que há de errado, você me pergunta. Não havia nada de errado, era até melhor que virássemos um casal de verdade. Só que quando nós descobrimos o que sentíamos... a nossa gestão quis que nos separássemos.
Nick estava empolgado, e falava algo com as pessoas ao seu redor.
- E então eu tive duas opções. Eu contava tudo para a mídia como estou fazendo agora e arriscava arruinar a One Direction, ou nós terminávamos mesmo. – fiquei em silêncio por um momento. – Nós optamos pela terceira: começamos a nos encontrar às escondidas. Não era difícil, já que nossos amigos estavam ficando cada vez mais próximos. Só que... nenhum relacionamento sobrevive a isso. Eu queria poder segurar a mão dela para todo mundo ver que era minha. E eu não estava mais só apaixonado, eu a amava. Eu a amo. – parei por um tempo e balancei a cabeça. – Então... nós discutimos, e brigamos, e nos afastamos, e tudo que restava de bom entre nós foi se esvaindo até que não sobrasse mais nada. Nesse meio tempo, ela virou protagonista de uma série. Estava magoada comigo, porque achava que eu não a amava o suficiente para dizer a verdade ao mundo, mas ela estava enganada, eu era só um covarde.
Olhei em volta, e todos prestavam atenção. Voltei a encarar a câmera. Eu precisava terminar isso.
- Então nós nos afastamos. Depois das nossas férias coletivas em Creta, ela voltou para Londres e acabou de algum modo se relacionando com seu companheiro de trabalho, Jeremy Sumpter. A relação era principalmente por causa da mídia, porque nunca realmente me esqueceu. Sabe... era uma menininha tímida e quieta que quase nunca falava quando nos conhecemos. Mas algum tempo depois, quando estávamos no que eu gosto de chamar de nossa melhor fase juntos... ela mudou. Foi como se ela revivesse, começasse a brilhar de repente, acordasse para o mundo, percebesse o quanto ela valia. E então, depois que terminamos, ela se apagou novamente. Não estou dizendo que provoco o melhor dela. é a mulher mais incrível do mundo, com ou sem a minha presença. Eu gosto de pensar que nós nos completamos como peças de um quebra cabeça, porque somos melhores juntos. Quando estamos juntos, nós crescemos, nós nos tornamos tudo aquilo que temos o potencial de ser. Ela é o que me dá força para ser melhor. Mas então... tudo havia acabado, e eu não tinha esperanças de que as coisas fossem melhorar. E realmente não melhoraram. Ela e suas amigas sofreram um acidente terrível, passou quatro meses desacordada no hospital, e quando acordou, há algumas semanas atrás, ela não se lembrava de mim.
Isso também era inédito para a mídia, então todos ficaram espantados com a notícia.
- Mas eu não consigo parar de pensar nisso como sendo uma segunda chance de fazer tudo se acertar entre nós. Mesmo que seja horrível, mesmo que eu prefira que nunca houvesse acontecido um acidente, porque perdemos uma de nossas amigas por causa dessa tragédia... eu acredito que tenha pelo menos uma vantagem. esqueceu do que sentia por mim, mas também esqueceu de quando eu a fiz sofrer e de como fui covarde. E agora eu tive essa segunda chance de fazer a coisa certa, porque mesmo que ela não queira... – levantei os olhos de minhas mãos e encarei a câmera. – Mesmo que você não me queira mais, ... – falei, como se olhasse para ela. – eu não vou deixar de lutar para ter você dessa vez.
Um silêncio ensurdecedor se passou.
- Então, essa é toda a verdade. Eu não aguentava mais guardar para mim mesmo. Estamos passando por um verdadeiro caos, mas sei que aconteça o que acontecer, e sei que com ou sem gestão nossas fãs continuarão nos amando, mesmo que não sejamos mais os garotinhos de três anos atrás e mesmo que agora elas saibam de toda a verdade. Nós perdemos uma amiga. Liam tem um filho. Eu menti para todos durante meses. Essa é a verdade. Há meses eu vejo meus amigos passarem por barras terríveis, e os vejo crescerem e tomarem coragem e fazer escolhas muito difíceis, e os vejo sofrer e sobreviver a isso e dar a volta por cima. Agora, com a perda de ... – voltei a encarar minhas mãos. – a morte dela me fez perceber que a vida pode acabar hoje de noite, amanhã de manhã... a qualquer momento. E eu não me perdoaria se morresse sem que soubesse o quanto eu a amo. E de todas, essa é a maior verdade que já disse.
Parei de falar, assenti para Nick, e ele fez um gesto de “corta” com a mão para alguém. Logo depois, a luz vermelha se apagou.
Assim que me situei, voltando para a Terra eu sabia o que precisava fazer. Eu iria até lá, e se preciso fosse diria tudo isso outra vez olhando em seus olhos. Eu não tinha mais tempo a perder.
E foi o que fiz.
Liam’s POV
Eu acho que cinco minutos se passaram desde que a entrevista de Zayn acabara, e ninguém falou absolutamente uma palavra dentro da casa de Niall.
- Isso realmente aconteceu? – fui o primeiro a falar, depois daquele tempo todo.
- Cara... – Louis balançou a cabeça. – O que está acontecendo com essa banda hoje?
- São os ventos da mudança... todo mundo de repente ficou corajoso.
O silêncio se instalou por mais um momento.
- A Modest vai matar todos nós e pendurar nossos órgãos na fachada do prédio deles. E aí todo mundo vai fazer fila para tirar foto com as nossas cabeças.
Ri, pegando o telefone de casa de Niall. Disquei o número da casa das garotas, e quem atendeu foi ela mesma.
- A...lô? – sua voz era instável.
- ... é o Liam. Por favor, me diga que você viu isso.
- Eu vi... eu vi. Eu... vi. – ela repetiu três vezes.
- E aí?
- E aí?
- O que você achou?
- Eu... eu lembro, agora. De tudo isso, que aconteceu. Só que... ah, Liam. – ela choramingou.
- O quê? – mordi minha unha do polegar. Eu sabia que parecia uma garota fofocando ao telefone, mas não conseguia conter.
- Eu vou para o Havaí.
- Oi? – arqueei as sobrancelhas.
- Não conta para ninguém. Vai ser só por um mês. Mas... é segredo, você tem que prometer que não vai contar.
- Certo. Mas, ... por um mês, eu acho que as pessoas vão notar.
Ela riu fraco.
- Eu vou contar. Mas preciso esperar. acabou de ir embora, e tá todo mundo de luto, e... eu sou uma vadia por viajar agora, e além de tudo agora tem isso... Zayn... eu não acredito que ele teve coragem. Eu preciso vê-lo. Eu preciso... encontra-lo.
- Bem, ele está em casa, mas eu não acho que você deva vir hoje. A Modest deve estar comendo o fígado dele.
- Ah, meu Deus! – ela bufou. – E ainda tem isso! Por que você está falando comigo?! Eu posso ser a culpada por estragar a sua banda!
- Relaxa, , nada vai acabar. A banda está bem. Não se preocupa, quem faz a One Direction são as fãs, e não aquela gestão idiota.
Ela gemeu.
- Tá certo.
- Escuta... – disse, querendo mudar de assunto. – Harry foi atrás da .
- Jura?
- Aham. E o Louis vai atrás da .
- Mas a não vai viajar. Ela está ali no quarto.
- Mas... bom, é surpresa, mas você vai descobrir logo, eu acho.
- Certo. Então... e você?
- Eu? O que tem eu?
- Quando você vai vir atrás da também?
- Eu? – minha voz subiu duas oitavas. – Eu não tenho porque fazer isso. Quer dizer, não está acontecendo uma reviravolta do terceiro ato entre nós. Ela não está indo embora, e além disso... não tem mais chance, .
- Ah, Liam. – riu. – A ainda é louca por você, quem ela acha que engana? Só você, mesmo. E, bem, se te ajuda... Ela recebeu uma proposta de passar as férias em Madrid com o Matthew. E ele é louquinho por ela, se depender dele eles voltam de lá casados.
Eu fiquei quieto. ? Matthew? Madrid? Ela ainda é louca por mim? Casados?
- Eu...
- Bem, agora você não pode reclamar de ter um motivo. E, ah, aliás... sua ex, a... Danni, acho que é o nome dela. Ela esteve aqui hoje pelo que sei e falou sobre você. Não sei o que foi. Mas...
- é louca por mim? – perguntei, sem ter certeza se ouvi o resto do que ela falou depois disso. riu um pouco.
- Sim, ela é. Acho que sempre foi. Eu não tenho certeza, porque, você sabe... eu não lembro. Mas eu posso dizer com certeza absoluta que agora, no presente... ela te ama, e todo mundo vê.
- ... você é meu anjo.
- De nada. Agora, vê se encontra um anjo para mim.
Ri. Mas não por causa de , eu ri porque não podia acreditar. Há dois minutos eu tinha a certeza de que tudo estava morto entre mim e . Mas agora... que as coisas pareciam estranhamente começar a encontrar seus lugares, a ideia de que eu podia tê-la de volta parecia certa. E eu sei que precisaria mover um oceano para que algo começasse a fazer sentido entre nós novamente, porque além de tudo eu tinha Pietro, e ela... não tinha mais a . Nós precisaríamos começar do zero, reconstruir tijolo por tijolo do que um dia fora uma relação e, talvez, com sorte, a gente se reencontrasse em meio aos escombros. Só que quando se tratava da possibilidade de tê-la... eu podia fazer qualquer coisa.
E faria.
Niall’s POV
- Pois é... – Louis passou as mãos nas pernas, sentado no meu sofá. – Parece que só sobrou a gente.
- Você pode ir embora, se quiser. – falei, trocando os canais. – Não é como se eu fosse me matar.
Ele balançou a cabeça.
- Tudo bem, eu fico.
- É sério. – olhei-o. – Eu estava educadamente te convidando para se retirar.
Ele me olhou e riu.
- Você quer ficar sozinho?
- Sim, por favor.
- Tudo bem. Mas eu só vou embora porque estou pensando em buscar a minha namorada para a gente ter uma quente e agitada noite de... – ele fez um gesto com os braços e o quadril que me fizeram rir.
- Sai do meu sofá, Louis.
- Você está com inveja – ele cantarolou.
- Agora. Sai do meu sofá agora – eu o empurrei, rindo um pouco e ele ficou de pé. Eu apreciava as tentativas de Louis de me fazer rir. Ele era o único que conseguia.
- Tudo bem. Mas quando for dormir, vê se não fica pensando em mim e a ... – e ele fez o gesto de novo, me fazendo jogar uma almofada nele.
- Vai embora.
- Tá. Vou lá. Até mais, hein. – falou, indo para a porta.
- Vê se pede ela em noivado antes.
- Pode deixar, cara. Estou inspirado pelo discurso do Zayn. Eu vou casar com essa mulher.
- Vai, vai lá. – apontei para ele sair logo, e assim Louis o fez.
Era a primeira vez que eu apreciava da paz do silêncio naquele dia. Eu queria poder ficar de luto sozinho, pelo menos. Admirava que meus amigos quisessem me dar uma força, mas eles não precisavam acampar na minha casa. Eu ainda estava no primeiro estágio, aquele em que você só quer ficar sozinho. Quando passasse para o segundo e estivesse pronto para voltar a ter uma vida social, eu mesmo os procuraria. Mas como dizer isso sem magoar ninguém?
Aquela era uma noite especial para todos eles, eu sabia. Zayn finalmente tomara a iniciativa, Harry estava indo trás da garota que ama, Liam decidiu que não ia desistir de e Louis planejava pedir a namorada em noivado. E Niall, bem, Niall estava de luto pela morte da garota que amava.
Parecia um ótimo domingo à noite.
Mas mesmo assim eu me sentia dez vezes melhor por estar sozinho. Jantei uma comida instantânea e tomei um banho quente e relaxante antes de ir para a cama. Eu não estava com paciência para televisão.
Ao deitar, eu encarei minha escrivaninha com a agenda que trouxera. Relembrei do que ela disse, sobre sentir o que ela sentiu ao ler, e meu coração palpitou. Levei a mão até a cômoda e puxei a agenda para perto de mim. Eu abri a capa, e reconheci sua letra na primeira folha. Eram apenas informações de identificação, mas haviam também perguntas como “música preferida, programa de TV preferido, artista preferido”, coisas que pertenciam a ela, ao seu gosto e à sua personalidade, e eu não consegui mais ler a partir de um momento. A falta de ainda era uma ferida aberta que eu hesitava em tocar. O melhor por enquanto era deixar que cicatrizasse ao longe, sem encostar, sem nem olhar por muito tempo. Então, fechei a agenda e soltei-a de novo onde estava.
Eu não estava pronto. E não sei se um dia estaria.
’s POV
O que estava acontecendo com o mundo, era o que eu me perguntava. Mas depois daquela entrevista de Zayn, eu sinceramente não sabia de mais nada.
Depois que aquela entrevista acabou, eu estava tão atônita que tudo o que fiz foi pegar as chaves do carro e sair. Tanto para deixar sozinha quanto para poder ficar sozinha e esclarecer as coisas em minha cabeça.
Eu dirigi calmamente até o hospital, pegando o trânsito sem me preocupar com isso. Demorei mais do que era necessário, é claro, mas entre ficar em silêncio dentro do carro ou estar em casa com todas aquelas questões malucas rondando nossa cabeça o tempo todo... eu acho que preferia o primeiro.
Ao chegar lá, eu falei com a recepcionista, que já não era mais a mesma do que a de manhã, e pedi os resultados dos testes de . Ela disse que chamaria o médico que a atendeu, e eu sentei – mais uma vez – para esperar.
Depois de um tempo, recebi uma mensagem de Liam que dizia apenas “onde você está?”. Achei estranho, mas eu respondi mesmo assim. Ele mandou outra em seguida, com as palavras “estou indo te encontrar”. Meu coração pulou, e eu juro que pela minha cabeça a frase que passou foi “eu não vou aguentar mais uma emoção essa noite”.
A recepcionista voltou dez minutos mais tarde avisando que o médico estava ocupado, mas chegaria em alguns minutos. É claro, afinal havia algo que me prendia àquele hospital. Eu agradeci e, como sempre, esperei.
Liam acabou chegando antes do médico.
- Ei – falei quando ele veio até mim. – Estou esperando o... – parei de falar quando percebi que ele estava estranho. – O que você tem?
- ... eu preciso te falar uma coisa.
- Ai, meu Deus. – coloquei a mão no peito. – Espera, deixa eu me preparar para essa, pelo menos.
- O quê? – ele pareceu confuso.
- Tudo bem – revirei os olhos. – O que é?
- Eu... eu queria te falar... na verdade, te pedir...
- ? – o homem alto e careca de jaleco branco nos chamou, e eu o olhei com uma cara de “sério?!”. O cara demorava uma eternidade só para aparecer agora?
- Oi?
- É sobre os exames de , certo?
- Isso.
- Bem... não tem nada de naturalmente errado com ela – ele sorriu. – Tudo o que precisa saber está aqui. – me entregou os exames e olhou em seu relógio de pulso. – Eu sinto muito, preciso ir. Mas você não terá duvida nenhuma depois de ler. Tenha uma boa noite – e, com um aceno de cabeça, ele foi embora.
Olhei de cenho franzido para Liam, e ele me olhou do mesmo jeito e deu de ombros, se aproximando para ver o exame. Eu abri o envelope e tirei o papel de dentro. Passei os olhos pelo cabeçalho de identificação e toda aquela baboseira até chegar ao local desejado. Mas Liam chegou primeiro.
- Puta merda.
Meu coração acabava de receber outra super carga.
Por essa ninguém esperava.
Louis’ POV
Eu não me senti mal ao deixar Niall sozinho, porque era óbvio que era o que ele queria. Peguei o carro em minha garagem e fui até a casa das meninas. Fim de domingo era sempre chato e um pouco depressivo, principalmente logo depois que você perde um amigo, e era por isso que eu estava indo ver , não só para me sentir melhor, mas para roubar sua atenção por algum tempo.
Eu fui ouvindo uma música tranquila no rádio em um clima confortável, mas um tanto vazio. Me pegava pensando em e em o quão estranho era sem ela por perto e sem a esperança de que ela voltaria.
Estacionei na frente da casa e abri o porta luvas, segurando a caixinha de veludo na mão e me perguntado se era a hora certa. Eu não queria admitir, mas o que os garotos disseram me preocupou um pouco. Eu não conseguia ver aceitando aquele pedido. Pelo menos não em meio a um flashmob na Oxford Avenue ou em uma Kiss Cam em rede nacional. Ela não era esse tipo de garota. Por isso, eu guardei a caixinha no bolso e desci do carro, planejando propor aquilo de uma maneira mais natural, mais calma, de um jeito que a deixasse tranquila, sem muita atenção e, ao mesmo tempo, feliz.
abriu a porta. Eu a encarei com um sorriso que insinuava algo em relação à entrevista de Zayn, e ela revirou os olhos para mim.
- Nem pergunta.
- Ok – ri e fui para o corredor, indo procurar sem mais rodeios.
Eu abri a porta do quarto e entrei, mas ela não percebeu por estar na cama com fones de ouvidos altos o suficiente para que eu também escutasse. Estava com o antebraço em cima dos olhos, por isso, também não me via. Me abaixei do lado da cama e deixei um beijinho nos seus lábios, a fazendo despertar.
Ela puxou os fones e sorriu.
- Ah oi, oi.
- Oi, oi. – sorri de volta. – Como você está se sentindo?
Ela fez uma careta.
- Ok, essa pergunta foi bem idiota. – fiz careta também. – Como está se sentindo fisicamente?
- Melhor. Depois do soro de ontem eu pude comer uma comida mais sustentável hoje... E me sinto mais firme.
- Que bom – levantei o edredom e sentei ao seu lado. – Chega pra lá.
Ela deu espaço e eu fiquei sentado, com ela escorada em meu braço.
- O que está escutando?
- Eu estava ouvindo Arctic Monkeys... Mas me deu dor de cabeça.
- Aw – beijei o topo de sua cabeça e ela riu. – Eu quero falar com você sobre uma coisa.
- O que foi? – ela olhou para cima.
- É sobre nós dois.
- O quê? Você quer me chutar?
- Cala a boca, . – revirei os olhos. – Não é nada disso. É meio que o contrário.
Ela franziu o cenho.
- Você quer... ok eu não sei o que é. Fala.
- O que você acharia se nós... déssemos um passo adiante?
- Tipo adotar um cachorro?
Abri a boca, e logo fechei.
- Não...
- Morar junto?
- Ahn... – por que eu não pensei nisso, mesmo? – Não...
- Então o quê?
- E se a gente...
- . – a porta se abriu e entrou. – Por favor, vem aqui. É urgente. É questão de vida ou morte.
- Meu Deus – jogou o edredom de lado e saiu da cama. – Já estou indo, louca.
As duas saíram do quarto e eu suspirei pesadamente. Tinha que ser agora?
A conversa deve ter durado mais de cinco minutos. E para mim, que estava ali dentro esperando para pedir alguém em noivado, isso era muito tempo. O quanto mais eu pensava em como falaria, menos certo parecia. Eu sempre encontrava alguma falha, algum sinal de que eu a estava pressionando ao qual ela talvez não fosse reagir bem, então sempre tentava repensar de um jeito diferente em como fazer aquilo.
E aí, quando ela entrou no quarto de novo, meu coração já estava saindo pela boca e eu estava nervoso como não planejava ter ficado.
Eu me pus de pé quando ela caminhou até mim, com uma mão segurando a caixinha no bolso. E aí, em um segundo insano de coragem, puxei-a para fora e a abri em frente a . Pronto. Estava feito. Não fora em frente a uma grande multidão e eu não falara nada que a fizesse se sentir pressionada. Um gesto falava mais que mil palavras, não é? Agora já estava feito, e eu só precisava ver o resul...
Mas sua expressão era de choque, e não por causa do anel. Ela segurava um papel nas mãos que tremiam um pouco, e eu fiquei confuso. Ela estava tremendo por causa do anel? O que eu devia fazer agora? Droga, eu devia ter esperado para fazer aquilo no momento certo, eu sabia que ia fazer errado.
Não sabia o que aquele olhar assustado significava, então eu tentei a sorte.
Só que, no mesmo momento em que eu disse “, quer ser minha noiva?”, ela disse:
- Eu estou grávida.
Nota da autora: Vocês não acharam que acabaria assim, acharam? Ok, eu não sou tão sadomasoquista assim. Então abram logo o epílogo dessa história, e, o mais importante, preparem-se para o inevitável adeus. E não se esqueçam de comentar no final!
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