Aviso
Antes de iniciar a leitura, gostaria de avisar e até mesmo ressaltar que essa fanfic contém diversas cenas que podem ser vistas como gatilho para quem estiver lendo, então peço encarecidamente que, se for sensível a algum dos temas a seguir, não a leia. Ela apresenta: morte de familiares, uso de drogas, acidente de carro, internação, reabilitação, síndrome de Borderline, tentativa de suicídio e citação à overdose. Se sentir que mesmo assim consegue seguir adiante, peço que leia com carinho e não se esqueça de deixar um comentário para a autora dizendo sua opinião. Obrigada desde já e boa leitura!
Prefácio*
O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é caracterizado por seu padrão de impulsividade e instabilidade nos níveis emocional, relacionamentos interpessoais, autoimagem e afetiva.
Geralmente é originada em decorrência de um problema durante o desenvolvimento emocional que faz com que o indivíduo se torne mais propenso a traumas ou déficits emocionais ao longo de sua vida, em especial durante a adolescência, que é uma fase onde há maior número de pacientes diagnosticados com esse transtorno.
A apresentação dos sintomas é frequentemente iniciada por outro problema psiquiátrico como abuso de substâncias ou alterações de humor; comportamentos problemáticos como alimentação anormal ou automutilação; ou problemas de relacionamento (Gicquel et al., 2020).
De acordo com a CID-10 (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, ou apenas Classificação Internacional de Doenças) publicada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), esse transtorno é subdividido em duas variantes, sendo elas: tipo impulsivo e tipo limítrofe (Borderline).
No tipo impulsivo as características predominantes são instabilidade emocional e falta de controle dos impulsos, marcado por episódio de explosões de violência ou comportamento ameaçador, especialmente em resposta às críticas.
Já no tipo limítrofe (Borderline), várias das características de instabilidade emocional estão presentes. Além disso, a autoimagem, objetivos e preferências internas são, muitas vezes, pouco claras ou perturbadoras, havendo geralmente sentimentos crônicos de vazio. A responsabilidade de se envolver em relações intensas e instáveis pode causar repetidas crises emocionais e pode estar associada a esforços excessivos para evitar o abandono e uma série de ameaças de suicídio ou atos de automutilação.
Nessa fanfic a personagem principal é portadora de TPB do tipo predominantemente limítrofe ou Borderline. A obra é baseada em algumas pesquisas e aprofundamentos de minha autoria. Desta forma, qualquer absurdo ou erro que for avistado, por gentileza, me comuniquem para que ele possa ser rapidamente corrigido da melhor forma possível e sem causar desentendimentos.
*O texto inserido é uma compilação de parágrafos de artigos e possui também algumas descrições do próprio autor.
Geralmente é originada em decorrência de um problema durante o desenvolvimento emocional que faz com que o indivíduo se torne mais propenso a traumas ou déficits emocionais ao longo de sua vida, em especial durante a adolescência, que é uma fase onde há maior número de pacientes diagnosticados com esse transtorno.
A apresentação dos sintomas é frequentemente iniciada por outro problema psiquiátrico como abuso de substâncias ou alterações de humor; comportamentos problemáticos como alimentação anormal ou automutilação; ou problemas de relacionamento (Gicquel et al., 2020).
De acordo com a CID-10 (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, ou apenas Classificação Internacional de Doenças) publicada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), esse transtorno é subdividido em duas variantes, sendo elas: tipo impulsivo e tipo limítrofe (Borderline).
No tipo impulsivo as características predominantes são instabilidade emocional e falta de controle dos impulsos, marcado por episódio de explosões de violência ou comportamento ameaçador, especialmente em resposta às críticas.
Já no tipo limítrofe (Borderline), várias das características de instabilidade emocional estão presentes. Além disso, a autoimagem, objetivos e preferências internas são, muitas vezes, pouco claras ou perturbadoras, havendo geralmente sentimentos crônicos de vazio. A responsabilidade de se envolver em relações intensas e instáveis pode causar repetidas crises emocionais e pode estar associada a esforços excessivos para evitar o abandono e uma série de ameaças de suicídio ou atos de automutilação.
Nessa fanfic a personagem principal é portadora de TPB do tipo predominantemente limítrofe ou Borderline. A obra é baseada em algumas pesquisas e aprofundamentos de minha autoria. Desta forma, qualquer absurdo ou erro que for avistado, por gentileza, me comuniquem para que ele possa ser rapidamente corrigido da melhor forma possível e sem causar desentendimentos.
*O texto inserido é uma compilação de parágrafos de artigos e possui também algumas descrições do próprio autor.
Prólogo
Virei o que achava ser o décimo copo de cerveja daquela noite, buscando por uma maneira de me livrar de toda aquela sensação de letargia à qual eu me sentia presa desde aquele dia. Mais uma noite e eu não conseguia dormir, a insônia consumindo meu corpo de tal forma que chegava quase a ser física, como se eu pudesse senti-la percorrendo minhas veias.
Verdadeiramente falando, eram raras as vezes em que, de fato, conseguia ter uma boa noite de sono, repor as energias que há muito perdera. Contudo, assim como das outras vezes em que saí à noite por conta da insônia, não senti a bebida exercer nenhum efeito, o enorme e avassalar vazio que sentia ainda se fazia tão presente.
Um flashback¹ momentâneo me atingiu de maneira inesperada e fez com que uma tontura me atingisse, de forma que precisei encostar-me a uma parede próxima a fim de evitar uma queda ou algo pior. Apoiei os dedos nas têmporas, tentando controlar as imagens de meus pais que insistiam em me assombrar, e fechei os olhos com força para expulsá-las.
Não tinha como afirmar se aquele efeito havia sido causado pelo próprio álcool ou pelas memórias, mas eu simplesmente sentia como se não conseguisse mais ficar ali, precisava ir embora o quanto antes. Cambaleando e à tropeços saí daquela festa, seguindo até o lado de fora, onde meu carro estava estacionado. Puxei a maçaneta apenas para ter certeza de que havia trancado o carro quando cheguei e, mesmo sabendo que aquilo era o certo, me amaldiçoei mentalmente.
– Cassie, sua estúpida! – Coloquei as mãos na cabeça, pressionando-a levemente como uma forma de me castigar, mas o ato não demorou muito.
Soltei minhas mãos, me conformando de que a única chance de conseguir ir embora daquele local era entrando naquele maldito carro e abri a bolsa, buscando pelas chaves do veículo. Novamente fui vítima da embriaguez quando perdi a coordenação das mãos e segurei o acessório de qualquer jeito, fazendo com que seu conteúdo fosse todo ao chão. Uma nova série de palavrões foi proferida antes que eu me ajoelhasse na rua, tateando o chão em busca do metal característico. Com certeza eu devia estar parecendo uma louca surtada ou algo do tipo para quem estivesse passando por ali, mas eu não me importava com nada além das malditas chaves naquele momento.
Abaixei-me e estiquei o braço para debaixo do carro, até que senti meus dedos se fecharem em volta de algo com formato levemente alongado e serrilhado. Finalmente! Peguei-a e aproveitei para pegar de qualquer jeito meus pertences que haviam caído também, jogando todas as coisas em cima do banco do passageiro. Apoiando-me na estrutura metálica do carro, entrei nele e sentei-me no banco do motorista, fechando a porta logo em seguida.
Não via a hora de chegar em casa, a mente já dava voltas e sentia como se minha audição fosse se perdendo gradativamente por conta do som alto da música que ecoava do local. Eu já não estava mais lá, porém, a música ainda era completamente audível. Coloquei a chave na ignição e logo que fiquei pronta, dei a partida em uma velocidade mais alta do que deveria e gostaria, mas no momento eu não tinha ciência daquilo e continuei assim por alguns minutos.
A luz vermelha do semáforo brilhava em meio à rua deserta e à noite escura e silenciosa, mas não consegui vê-la. Como poderia? Tudo não passava de borrões sem sentido e cujas cores não era possível identificar, então não fiz a coisa certa e continuei com o pé no acelerador. Um segundo se passou da maneira mais lenta possível e com a calmaria de um oceano, mas não durou por muito tempo.
Senti uma luz me cegando, de forma que precisei virar a cabeça em sua direção, com os braços na frente dos olhos, protegendo-os da luz que insistia em brilhar cada vez mais. No instante seguinte, senti meu carro ser atingido na parte traseira, o que fez com que ele se movimentasse para a esquerda. Subitamente assustada e com a tontura voltando a me atingir, virei o volante na direção contrária, mas só serviu para desestabilizar novamente o veículo, que estava em tamanha velocidade que seguiu reto em direção à um poste de luz, acertando-o em cheio com a dianteira.
A última coisa da qual consegui me lembrar foi da sensação de uma dor aguda tomando conta do supercílio direito e irradiando por toda minha face. Então minha visão embaçou e foi como se todas as luzes começassem a ser apagadas e tudo se tornou escuro. Meu corpo estava mole, eu não tinha consciência sobre meus membros e olhos, então apenas me deixei levar por aquela sensação única e deliciosa de paz que há muito não sentia.
Finalmente a paz.
Glossário
¹Flashback – é um fato acontecido no passado e inserido em um momento atual através da lembrança das pessoas, ou em um livro ou filme. É uma palavra inglesa que significa retrospecto, narração de fatos precedentes.
Capítulo 1
– Tem certeza que não quer ficar? – Ela lançou-me um olhar pidão, com os braços enlaçados em volta da minha cintura e um sorriso no rosto. – Sabe que tem bastante espaço para nós dois aqui.
– Eu sei, Amélie. – Sorri e depositei um beijo casto em sua testa ao mesmo tempo em que depositava um carinho na base de sua coluna. – Mas você também sabe que eu preciso ir. Aguardam-me logo cedo na empresa e sua casa é do outro lado da cidade, então iria demorar mais para chegar lá.
– E passar uma noite comigo não vale a pena? – comentou em tom de brincadeira, erguendo a cabeça para me olhar.
– Vale mais do que eu mereço, definitivamente. – Senti quando ela abaixou a cabeça, encostando a bochecha em meu peitoral, sem separar o abraço. Não demorou muito e ouvi sua risada ressoar por todo meu corpo, causando uma sensação de felicidade indescritível. Eu não poderia querer nada melhor.
Coloquei a mão em seu queixo, lhe obrigando a erguer a cabeça e me olhar. Aproveitei de alguns segundos de distração de sua parte para me abaixar levemente, selando meus lábios aos seus em um beijo calmo e delicado, demonstrando o quanto gostaria de ficar ao seu lado mesmo que não pudesse.
– Te vejo amanhã? – O sorriso em seu rosto era visível.
– Claro que sim!
Despedi-me dela e segui até meu carro, entrando no mesmo. Já era bem tarde da noite, então eu devia ser um dos únicos acordados e dirigindo pela cidade. O silêncio reinava dentro do carro e eu já podia sentir indícios de ansiedade tomando conta de mim aos poucos, o que me fez ter a ideia de colocar alguma música para distrair a mente.
Virei a cabeça rapidamente para o lado, apertando o botão que ligaria o rádio, e logo escolhi uma das rádios, a minha favorita. Sorri de lado, satisfeito com a música que tocava, e voltei a atenção para o trânsito, parando no semáforo vermelho tal como as leis de trânsito dizem. Não demorou nem cinco segundos e logo a luz vermelha foi trocada pela verde, então dei partida no carro e atravessei a rua.
Mal tive tempo de pensar porque poucos segundos depois de sair do local uma luz ofuscante surgiu em meu campo de visão, incialmente fraca como um reflexo, mas logo se transformou em algo maior e mais forte. Antes mesmo de pensar em reagir, visualizei o carro vindo em alta velocidade na minha direção e pisei no freio, mas já era tarde demais e tudo que senti em seguida foi o choque da dianteira de meu carro com a traseira do outro, fazendo com que ambos se descontrolassem.
O outro motorista perdeu o controle e o veículo seguiu em linha reta até um poste de energia, onde acabou se chocando. Tentei recobrar o controle do meu, mas o choque havia sido grande e eu segui em diagonal, passando por uma placa de trânsito que acabou sendo arrancada de forma não intencional e fui de encontro a um hidrante. Senti quando houve um novo baque do veículo com o metal, que foi tão grande que ativou os airbags¹, amortecendo meu rosto que voou rumo ao volante.
Pisquei os olhos algumas vezes para espantar a tontura que insistia em me atingir e soltei um urro de dor. Ainda segurando no aro do volante, levantei minha cabeça apenas para constatar que o estrago havia sido feio, uma vez que água jorrava dele sem parar.
Merda.
Abri a porta meio desnorteado e saí do carro, olhando o estrago que havia sido feito. Provavelmente algum idiota tinha cochilado ao volante e causou toda aquela confusão ou então havia bebido demais e não viu o que fazia. Segui rumo ao outro carro a fim de ver se estava muito bem por lá. Só não esperava encontrar uma garota, uma que deveria ter seus 16 anos ou algo do tipo. E o filete de sangue que escorria de sua testa.
Glossário
¹Airbag – importante componente de segurança para veículos e um dos principais sistemas de proteção para condutores e passageiros. É acionado quando o veículo sofre um impacto.
Capítulo 2
Uma dor se apossava por todo o meu corpo e uma claridade que eu não sabia de onde surgia praticamente me obrigava a abrir os olhos, mas doía. Ainda que contrariada, abri meus olhos, sentindo aquela mínima dor de antes se alastrar para todos os cantos de meu corpo. O local onde eu estava era completamente branco ao ponto de exercer um efeito ofuscante e eu precisei fechar os olhos com força e reabri-los até me acostumar com a luz do ambiente.
Ergui uma mão para tocar na minha testa, que latejava, e senti meus dedos tocando em algo que se parecia com um curativo. Memórias dos últimos acontecimentos rondaram minha cabeça, me fazendo relembrar de tudo que havia acontecido e eu não pude deixar de me martirizar por ter sido tão irresponsável, mas ao mesmo tempo eu não me sentia culpada. Eu não sentia nada além de um vazio enorme que parecia não ser preenchido por nada.
Um som de movimentação ao meu lado e virei a cabeça levemente, dando de cara com um desconhecido do meu lado. Perguntei-me por qual motivo um estranho estaria ali ao meu lado, mas não precisei esperar muito por uma resposta porque logo sua voz soou pela sala, preenchendo-a.
– Oi. – Um sorriso brincou em seu rosto, deixando-me intrigada.
– Quem é você? – Arqueei uma sobrancelha para ele.
– Sebastian.
– E eu deveria te conhecer?
Sua risada ecoou e o som era estranhamente agradável e gostoso de ouvir, mas senti uma raiva crescer dentro de mim pelo simples fato dele estar tão feliz e aquilo era tão injusto que me dava vontade de gritar. Era tão injusto!
– Não sei se você se lembra do que aconteceu há algumas horas, mas você atravessou um sinal vermelho e nossos carros acabaram colidindo em um acidente de carro. – Ele continuou logo que sua risada cessou.
Fiz uma careta, indignada com toda aquela situação no mínimo constrangedora.
– Mas você não é meu pai e não vejo machucados. Imagino que estejamos em um hospital – abri os braços, me referindo àquela sala em que estávamos –, então não vejo motivos para continuar aqui.
– Você estava errada e bateu no meu carro. Provocou o acidente, então estou esperando que pague o concerto.
Mal pude controlar a risada que saiu de mim em um tom muito próximo ao de deboche. Será que ele não estava vendo meu estado ou a minha idade? Eu já teria muita sorte se tivesse dinheiro suficiente para arrumar o meu. Pela sua aparência, ele tinha dinheiro mais que suficiente para aquilo, não precisava que eu o fizesse.
– Vai sonhando. – Revirei os olhos.
– Está na lei e você precisa cumpri-la.
– Ah, claro. Como se uma adolescente que ainda nem terminou a escola tivesse dinheiro para isso.
Eu já me encontrava alterada, o que definitivamente havia chamado atenção dos funcionários, que se aproximavam de onde eu estava. Não que estivesse achando aquilo ruim, mas definitivamente era muito melhor sair dali do que continuar a ouvi-lo.
– Se tem maturidade para dirigir um carro, deveria ter para arcar com suas consequências. – Cruzou os braços na frente do corpo. Intrigava-me o fato de que, mesmo que estivesse bravo ele não transpassava isso em seu tom de voz que permanecia calmo e, ao mesmo tempo, firme.
Observei uma enfermeira parando ao lado da minha cama e dizendo algo para outra mulher, ao qual não consegui compreender. Aquilo não importava, só precisava sair dali o quanto antes. Àquela altura do campeonato eu já havia entendido que ao contrário do que pensava quando acordei, eu não estava em um hospital propriamente dito, mas sim em uma clínica de reabilitação. Frequentava-as com frequência o bastante para reconhecer uma de longe. Não conseguia achar aquilo ruim, apenas estava acostumada com o local e conhecia todos os procedimentos, era apenas mais uma dentre as tantas recaídas e logo eu seria solta novamente.
As enfermeiras pararam uma de cada lado da minha cama e rapidamente começaram a arrastá-la para fora daquele local. Eu sabia para onde estavam me levando e foi como se minha garganta imediatamente se fechasse em resposta. O procedimento de desintoxicação era o pior de todos eles e eu nunca estava preparada para enfrentá-lo. Quis gritar, berrar por ajuda ou que alguém tivesse piedade e me tirasse daquele lugar, mas o que sair de minha boca foi completamente diferente e direcionado para o estranho Sebastian, que continuava no mesmo local, olhando a cena com um grande ponto de interrogação estampado na testa.
– Vai sonhando.
Capítulo 3
Seis meses depois do acidente.
Cheguei à Clínica de Reabilitação St. Mary¹ no horário que criara o costume de ir e segui até a recepção, encontrando Esther atrás do balcão. Sorri para ela e logo fui retribuído assim que parei perto da mulher que devia ter seus 37 anos. Nos últimos meses ela passara a vê-lo quase sempre e, de certa forma, tornaram-se bons amigos.
– Olá, Esther!
– Bom dia, Sr. Cole. Como você está hoje?
– Estou bem, obrigada! – Lhe sorri em resposta e apoiei um dos braços no balcão, aproximando-me dela. – Mas hoje estou à base de café. Não conta para o pessoal. – Ri e fingi olhar em volta, procurando por alguém. Era uma pequena brincadeira nossa pelo fato de cafeína ser uma droga, mesmo que ilícita, e eu estar em uma clínica justamente para dependentes químicos. – E a Cassie?
– Está melhor hoje, mas é complicado ter certeza. Infelizmente pacientes com Borderline são muito instáveis, podem apresentar melhora em um dia e pensar em suicídio no outro. Juntando seu diagnóstico com o apelo ao alcoolismo, como é o caso dela, é algo muito perigoso e deixa seu caso ainda mais instável, se é que isso seja possível. Por isso é importante monitorá-la.
– E eu posso vê-la?
– Claro. Se ela quiser vê-lo, pode ir. – Ela sorriu e me deu uma piscadela.
– Mesmo quarto de sempre?
– Sim. Se ela não estiver lá, deve estar no jardim ou no refeitório.
– Tudo bem. Obrigado, Esther! – Devolvi o sorriso e me desencostei do balcão da recepção, indo até o quarto em que ela deveria estar.
No caminho não pude deixar de reparar no quão as pessoas que estavam ali pareciam, de certa forma, perturbadas em um nível muito acima do que Cassie estava. Eu tinha a sensação de que ela não merecia estar ali, que sua condição era muito boa comparada à dos outros.
Não levou muito tempo para que eu visse o número tão familiar de seu quarto surgir diante de meus olhos e parei diante da porta, dando suaves batidas na madeira. Quase que automaticamente ouvi um "pode entrar" ecoando do lado de dentro e então girei a maçaneta, tendo sua visão.
– Ah não. Quem deixou esse cara entrar? – Ela comentou em tom de brincadeira com sua enfermeira, que colhia uma amostra de sangue sua.
– Um agiota deve fazer bem seu trabalho, então vim cobrar o conserto do meu carro, madame. – Cruzei os braços na frente do corpo, incapaz de segurar o sorriso que se formava em meu rosto.
– Já disse que vai ficar esperando eternamente. – Sua risada ecoou e logo foi acompanhada de uma careta de dor, provavelmente porque a mulher havia perfurado seu braço com a agulha.
Aproveitei para me aproximar dela e apoiar delicadamente minha mão em seu braço, conferindo a ela uma espécie de conforto e em busca de desviar sua atenção do que acontecia bem ali ao lado. Sua cabeça virou para o lado, em minha direção, como se me analisasse com os olhos assustados. Lancei-lhe um sorriso confortador e imaginei que seria melhor iniciar um diálogo.
– E então? Como têm sido desde a última vez?
– Ainda estou sóbria e limpa, se é o que quer saber. – Seu tom de voz de repente me pareceu mais raivoso do que o normal e do que eu gostaria.
– Sabe que não foi isso que eu quis dizer.
– Acontece que está implícito em sua fala.
– Acho que a senhorita toma muitas conclusões precipitadas. Eu nem cogitei essa possibilidade.
– Sei lá! Vai ver eu sou um gênio. – Era possível notar que o divertimento e ironia voltavam a soar em sua voz, o que foi o suficiente para me alegrar.
– Com certeza é sim, palhaça. – Sorri e soltei seu braço quando percebi que a enfermeira já havia coletado o tubo com seu sangue. – Mas agora falando sério: já se inscreveu para aquela faculdade que queria fazer?
– Sabe que não vou passar, Seb...
– E você sabe que isso não importa. Precisa tentar antes para depois poder dizer que não passou. Não vou embora até enviar essa inscrição, mocinha. – Estreitei os olhos em sua direção, percebendo que sua boca se abria para dizer algo que provavelmente iria me contrariar, mas não permiti que ela conseguisse. – E não adianta usar a desculpa de que não tem computador ou acesso a internet porque eu providenciei tudo. – Ergui a pasta que carregava, onde estava o notebook² pessoal que eu usava quando não estava no trabalho e a internet seria provida pela própria clínica.
Um suspiro de derrota saiu de seu corpo praticamente ao mesmo tempo em que uma bolinha de algodão era posicionada em seu braço, onde a agulha havia perfurado, até que o sangue fosse contido, mesmo que não houvesse sangramento de fato. Aproveitei para me sentar na poltrona ao seu lado e abri a pasta, retirando o computador portátil de dentro dela e posicionando-o já aberto e ligado em seu colo. Ela encarava o aparelho como se nunca tivesse visto um antes, o que eu não podia acreditar que fosse verdade. Coloquei a senha para desbloqueá-lo e logo os ícones de aplicativos, arquivos e pastas começaram a preencher a tela da área de trabalho.
– Sabe como usar um notebook², né? – A olhei, em busca de uma resposta.
– Se eu disser que não você irá me julgar?
Não controlei a risada que me atingiu, fazendo com que uma careta de irritação se formasse em seu rosto. Ela tentou abaixar a tela do notebook², mas fui mais rápido e coloquei minha mão entre a tela e o teclado, impedindo que ela o fizesse. Rapidamente o recolhi de seu colo e apoiei no meu, olhando-a.
– Isso não será um problema. Eu faço as perguntas e você as responde. Tudo bem? – A olhava com atenção, evitando maiores transtornos.
A verdade era que eu tinha muito medo de falar algo errado que pudesse soar como um gatilho ou algo do tipo que ativasse a vontade de se afundar nas drogas ou bebidas novamente, mesmo que não houvesse acesso àquilo dentro da clínica. Sempre que ia conversar com ela precisava me policiar muito a fim de evitar mancadas desse tipo. Eu não sabia explicar muito bem o motivo, mas sentia que devia cuidar de Cassie como um amigo que ela nunca teve.
– Tudo bem. Qual era o curso mesmo? – Me fingi de desentendido para ela.
– É sério! De que adianta isso? Eu nem vou passar.
– Cassie... – Deixei a frase inacabada de maneira proposital.
Um suspiro seu ecoou pelo quarto e me fez dar uma rápida vistoria pelo quarto. Eu nem havia percebido quando aconteceu, mas em algum momento em que havíamos nos distraído a enfermeira nos deixou a sós sorrateiramente. Voltei a atenção para Cassie, não podia deixá-la dispersar ou desistir daquela ideia.
– História da arte, mas nem tem emprego para esse curso. Eu vou praticamente morrer de fome, Seb!
– Calada! – Estiquei o dedo em sua direção. – Só responde as perguntas e vai dar tudo certo. Tudo bem?
Ela pareceu pensar por alguns instantes, mas logo assentiu com a cabeça, um sinal indireto para que eu continuasse com o que estava fazendo.
– Tudo certo então. Universidade de Glasgow³, prepare-se para receber a Cassie!
Glossário
¹Clínica de Reabilitação St. Mary – nome fictício de uma clínica de reabilitação. Instituição preparada para acolher um dependente químico e disponibilizar tratamento individualizado da dependência química, além de disponibilizar um local seguro e com todo o suporte necessário para uma recuperação saudável. Possibilita que o paciente volte a viver com mais saúde e longe das drogas.
²Notebook – laptop, no Brasil, também denominado de notebook ou a expressão pouco usada: computador compacto. É um computador portátil, leve, projetado para ser transportado e utilizado em diferentes lugares com facilidade.
³Universidade de Glasgow – instituição de ensino superior da Escócia sediada na cidade de Glasgow, no Reino Unido.
Capítulo 4
Dez meses depois do acidente.
Ainda estava receosa sobre aquela inscrição para a universidade que praticamente havia sido obrigada a fazer embora no fundo quisesse realmente arriscar. As respostas já deveriam ter chego e eu me encontrava completamente em surto, sentindo que a qualquer momento fosse explodir de ansiedade. Quase um ano se passou desde o acidente com Sebastian e desde então nos víamos quase sempre com suas visitas à mim.
De alguma forma estranha eu havia me apegado a ele e não conseguia mais ficar muito tempo sem sua companhia, o que era algo terrível. Muitas vezes me peguei imaginando se a namorada dele sabia dessas visitas e se ela as aprovava, visto que ele visitava uma "estranha" praticamente todos os dias, o que poderia ser considerado algo estranho. Não que eu achasse ruim, muito pelo contrário, mas de fato era estranho para um homem comprometido. Eu também constantemente me pegava imaginando como seria ser ela, estar em seu lugar, se ele beijava bem e outras coisas que não poderiam ser ditas.
Ouvi batidas na porta e imediatamente parei no local em que estava, olhando ansiosa para a porta imaginando que pudesse ser o Sebastian que havia chego, mas nunca poderia estar mais errada. Uma das enfermeiras colocou a cabeça para dentro do quarto, me analisando e também o quarto, e entrou no mesmo com um envelope lacrado em mãos e um sorriso no rosto. Foi impossível não congelar automaticamente com aquela visão.
Não era possível que o momento havia chego...
– É o que estou pensando? – Murmurei incerta, esticando as mãos na direção do envelope para pegá-lo.
A enfermeira sorriu em minha direção e me entregou o pedaço de papel, mas antes que pudesse abrir ouvi sua voz já tão conhecida soar pelo ambiente.
– Antes da senhorita abrir a carta, tem uma ligação do Sr. Sebastian para você. – Ela sorriu fofa, me entregando um aparelho celular ao qual raramente tínhamos acesso. Não me surpreendia que ele houvesse feito amizade com todos da clínica de reabilitação ao ponto de que eu tivesse aquele privilégio.
Mais que depressa peguei o aparelho de sua mão e cliquei no botão de discagem, que automaticamente realizou a ligação para ele. Não demorou muito para que ele atendesse e logo pude ouvir sua voz grave soando do outro lado da linha, me deixando com aquela estranha sensação de borboletas no estômago.
– Sebastian? Oi! – Me virei de costas para a enfermeira e de frente para a janela, observando a paisagem do lado de fora, e aproveitei para morder o lábio inferior.
– Cassie! – Ele parecia extremamente feliz, o que me fazia elaborar diversas teorias automaticamente. – Fico feliz que tenham liberado o telefone para que a gente possa se falar. Eu gostaria de ter esperado até mais tarde para que pudesse te contar pessoalmente, mas estou feliz demais para guardar isso por tanto tempo. – Sua animação era quase física, saindo do telefone para tomar conta de mim.
– Então não enrole e fale de uma vez, Seb.
– Eu pedi a Amélie em casamento, estamos noivos.
Apenas pelo tom de sua voz eu conseguia sentir que ele estava radiante de tamanha felicidade, mas infelizmente aquilo não se projetava em mim. Sentia-me acabada por dentro, como se tivesse o perdido também assim como meus pais. Meu mundo desabou novamente e foi como se tudo pelo qual passei voltasse até mim com tudo, acertando-me em cheio.
– O quê? Como assim? – Minha voz saiu em um sussurro arrastado. – Mas você... – Eu me encontrava incapaz de terminar frase, tamanha era a surpresa.
– Eu acabei de fazer o pedido e ela aceitou. Quando eu chegar aí a gente conversa direitinho e mais sobre isso, tudo bem? – Era claro o quanto ele estava feliz e não seria eu a destruir tudo isso.
– Claro. Te espero aqui! – falei baixo e arrastado, mas de alguma forma alto o bastante para que ele pudesse me ouvir. Tampouco esperei que ele me respondesse antes de encerrar a chamada, apenas apertei o botão que a desligaria.
Capítulo 5
Nem mesmo esperei que ele falasse algo de volta e rapidamente encerrei a ligação, olhando para o aparelho imóvel em minha mão como se esperasse que algo acontecesse ou que tudo entrasse nos eixos, da forma que eu queria e como estava antes. Em minha cabeça eu formulava diversos xingamentos e enumerava uma serie de palavras de baixo calão que poderia associar à Amélie por estar indiretamente me tirando Sebastian aos poucos, por possuir seu coração e tudo mais que eu sonhava.
Ainda assim tentei me manter forte e nos eixos, não apenas por mim, mas por tudo que havia passado naquela clínica tentando me limpar e vencer o vício. Claro que não acontece da noite para o dia, então eu ainda tinha a vontade crescente de dar o fora daquele local o mais rápido possível e ir beber ou usar algo, mas conseguia a controlar o bastante para não sucumbir.
Mesmo sem a olhar, era possível sentir presença da enfermeira, o que me obrigou a olhá-la nos olhos. Em suas mãos ainda estava o envelope com a carta mais importante que eu já havia recebido em minha vida. Sem pensar duas vezes corri em sua direção com o telefone em mãos, o que a fez se assustar e dar alguns passos para trás, mas mesmo assim a alcancei e lhe devolvi o aparelho, pegando rapidamente o pedaço de papel.
Assustada, a mulher saiu tão rapidamente do quarto, que até mesmo chegou a deixar a porta aberta, mas aquilo não me importava no momento. Abri o envelope com pressa e já conseguia sentir as batidas do coração em meu ouvido, ensurdecendo-me conforme mais tempo se passava. Logo que consegui visualizar a folha branca arranquei-a de dentro do invólucro, jogando-o no chão de qualquer jeito para que pudesse a ler de uma vez.
– Prezada senhorita Jones, nós da Universidade de Glasgow temos o prazer de anunciar que a sua inscrição para nosso curso de História da Arte foi recusada.
Silêncio.
Tudo que eu podia ouvir naquele momento não era nada além daquilo. Minha audição há muito fora abandonada e eu sentia que até mesmo meu coração errava as batidas, permanecendo em um ritmo mais lento do que deveria se manter. Eu sentia tudo, mas ao mesmo tempo não sentia nada, voltara a me sentir tão vazia quanto antes, se não mais. Eu sabia que não deveria ter feito aquela inscrição idiota no momento em que Sebastian havia me proposto, mas mesmo assim cedi à ele e sua ideia estúpida e acabei pior do que antes.
Sebastian. Tudo começou a dar errado depois que ele entrou na minha vida, literalmente. Se ele não estivesse naquele maldito cruzamento nós não teríamos nos envolvido no acidente, eu não seria internada, não desenvolveria sentimentos por ele e não teria que lidar com mais uma recusa, dessa vez tão clara e direta. Então uma raiva que jamais pensei em sentir se apossou de mim, me cegando de qualquer coisa que não fosse meu objetivo.
Saí do quarto disposta a pôr um fim em tudo, acabar com todos os meus problemas e frustrações. Eu já não passava de uma casca vazia de mim mesma, alguém que não faria falta a ninguém caso algum dia sumisse. Que mal havia, não é mesmo?
Observei o pátio onde socializávamos com outras pessoas, que estaria vazio a não ser pela presença de Rupert, praticamente a única pessoa que mantinha contatos do lado de fora da clínica. Por algum motivo, ninguém descobria seus negócios e muito menos alguns medicamentos e drogas que mantinha em seu quarto. Como era possível, isso eu não sabia, mas de fato não questionava e muito menos questionava.
Aproximei-me dele sem fazer barulho, não queria chamar atenção desnecessária, e assim que fiquei perto o suficiente estendi a mão para tocar em seu ombro. Pude ver quando ele se assustou com o toque repentino e deu um leve pulo no banco que estava sentado, rapidamente se virando para trás e me vendo. Eu riria da cena se conseguisse, mas ainda me encontrava anestesiada devido aos acontecimentos.
– Quer me matar do coração, Cassie? Porra, cara!
– Claro que não. Preciso de um favor seu.
– Que tipo de favor? – Ele colocou uma perna por cima da outra, olhando-me com uma expressão de interesse no rosto.
– Preciso de um medicamento. Uma dose alta.
O interesse rapidamente deu lugar à confusão por não entender o que eu estava sendo sugerido.
– Achei que estivesse limpa há mais de seis meses.
– E eu estou, mas não te devo satisfações. Tudo que precisa fazer e arrumar as coisas para a gente sem fazer perguntas. Se estou limpa ou não o problema é inteiramente meu, mas me diz de uma vez: vai arrumar pra mim ou não? – Me curvei em sua direção, apoiando as mãos na mesa em uma forma de intimidar.
– Que se foda! – Colocou a mão no bolso e tirou de lá um frasco na cor laranja com várias pílulas, jogando-o em minha direção. – Pegue e não me perturbe mais. Não se esqueça de conferir o que diz no frasco antes de tomar.
Nem esperei que ele terminasse sua fala, apenas saí andando novamente para o meu quarto com o frasco escondido em minha mão em punho. Tão logo entrei já segui na direção do banheiro, olhando-me no espelho e vendo aquela figura triste e cansada, com olheiras e cujos olhos se encontravam inexpressivos. Olhei o frasco do medicamento em minhas mãos, mas ao contrário do que Rupert indicou, nem me importei de olhar para o que dizia o frasco, apenas girei a tampa e virei o frasco em minha mão, deixando que umas pílulas caíssem na palma. Rapidamente os virei de uma vez para dentro da boca e me abaixei, ingerindo um pouco de água da torneira mesmo para ajudar a descê-los.
Olhei minha imagem no espelho novamente, imaginando se por acaso iria demorar muito a fazer efeito e se eu teria ingerido a dose certa. Mordi o lábio inferior e, antes que alguém pudesse entrar no quarto e me pegar naquela situação, virei mais alguns comprimidos na mão, mandando para dentro do organismo de uma vez, sem pensar duas vezes.
Passei a mão pelo rosto, tentando dar uma leve acalmada e então senti minha visão ficar turva, seguida de uma tontura estranha. A última coisa da qual me lembro foi de ter dado um passo para trás, cambaleante, tropeçando e caindo no chão gelado, e o frasco de remédios virou e caiu, derrubando-os no chão. Antes eu não sentia nada, completamente vazia, e então foi como se tudo aquilo que eu sentia fosse amplificado.
E então veio a escuridão.
Capítulo 6
Desci do carro no estacionamento da Clínica e peguei o buquê de flores que havia comprado para Cassie como presente. Respirei o perfume delas e não consegui evitar um sorriso que se formou em meu rosto ao pensar no que ela pensaria ao vê-las. Apertei o botão do alarme e segui para dentro do local que eu já conhecia bem até mais do que gostaria.
Logo que pisei no local já pude avisar a figura de Esther na recepção, que automaticamente sorriu ao me ver. Eu definitivamente gostava dela, que era super gentil e amável, além de sempre me fazer rir.
– Boa tarde, Esther, tudo bem?
– Sebastian! – Seu sorriso brincava no rosto. – Veio mais tarde hoje e também parece mais feliz. O que aconteceu? – Sorriu e apoiou os cotovelos no balcão, com as mãos no queixo.
– Digamos que é verdade. – Não impedi o sorriso que se formou. – Eu pedi Amélie em casamento hoje pela manhã e digamos que vai acontecer um casamento no futuro.
– Mas isso é ótimo, Sebastian! – Seu sorriso era genuíno e ela saiu de trás do balcão, vindo me abraçar. Não pude evitar abraçá-la de volta. – Vai me convidar, não é? – Ouvi sua risada próxima à meu ouvido.
– Considere-se a primeira convidada, Esther. – Parecia que a qualquer momento ela fosse explodir tamanha felicidade, ela estava sendo completamente genuína.
– Eba! – Sorriu, voltando a ocupar seu lugar antes que alguém a visse. – Mas aposto que não veio aqui apenas para me dar essa notícia, não é mesmo? Essas flores são para ela?
– São, sim. Acha que ela vai gostar?
– A Cassie não é muito de expressar sentimentos e ela parece não gostar muito de presentes desse tipo, mas acho que depois de conviver tanto com você, ela irá gostar sim.
– Então posso ir vê-la?
– Claro. Sinta-se em casa. – Ela indicou o local onde os quartos ficavam, mesmo que eu já soubesse. Agradeci-a e segui na direção deles.
Continuei andando até conseguir ver a porta com o número já tão conhecido por mim. No caminho, comecei a pensar na conversa que havia tido com ela mais cedo. Poderia ser apenas impressão minha, mas ela parecia genuinamente triste ao me ouvir falar sobre o noivado. Eu não entendia o que aquilo significava, afinal, amigos ficavam felizes pelas conquistas um do outro, certo?
Dei algumas batidas suaves na porta esperando até que ela me respondesse, mas não ouvi nada de volta. Achei muito estranho, uma vez que Esther havia dito que ela estava no quarto e ela sempre respondia. Tentei mais uma vez, sem sucesso. Comecei a estranhar aquilo e girei a maçaneta. Ela abriu facilmente, me dando a visão de seu quarto, que parecia mais escuro do que deveria.
Olhei em volta novamente, buscando pela sua imagem, até que uma figura no banheiro me chamou a atenção. Caminhei até lá e meu corpo automaticamente entrou em choque, paralisado. Ali no chão estava o corpo de Cassie, estirado e com um frasco de medicamentos espalhados pelo chão. Um frio percorreu minha espinha, saindo da coluna até os fios de meu cabelo e os dedos dos pés e das mãos. Instantaneamente perdi toda a minha força e o buquê escorregou de minha mão, caindo diretamente no chão aos meus pés.
Corri até o local em que ela estava e ergui seu corpo, colocando sua cabeça em meu colo. Ela estava estranhamente gelada, mas eu não tinha certeza se era por conta do chão, da ventilação ou... nem conseguia pensar na última opção.
– Cassie, sua estúpida. Por que fez isso? Estava quase saindo daqui.
Minha voz era um misto de nervosismo, medo, raiva e tristeza. Simplesmente não conseguia entender o motivo dela ter feito aquilo porque não percebia justificativa alguma. Rapidamente peguei o celular em meu bolso e liguei para a emergência, pedindo por uma ambulância o mais rápido possível, rezando para que desse tempo de a ajudarem.
Assim que desliguei a chamada, avistei um pedaço de papel perto da porta do banheiro que chamou minha atenção e eu a coloquei cuidadosamente de volta ao chão, deitada. Estiquei-me na direção daquele papel e o peguei, buscando ler sobre o que se tratava aquilo. Imediatamente o brasão da Universidade de Glasgow saltou do papel, me deixando em sinal de alerta. Poderia ser aquilo? A carta resposta? Rapidamente me coloquei a ler o conteúdo da carta até que meus olhos pousaram um uma palavra e eu congelei no local mais uma vez: recusada.
A sensação de culpa me atingiu em cheio ao lembrar de suas palavras de alguns meses atrás:
– Mas agora falando sério: já se inscreveu para aquela faculdade que queria fazer?
– Sabe que não vou passar, Seb...
– E você sabe que isso não importa. Precisa tentar antes para depois poder dizer que não passou. Não vou embora até enviar essa inscrição, mocinha.
Eu tinha certeza que ela estava naquele estado por culpa minha, eu quem havia a pressionado para que se inscrevesse mesmo sabendo que ela tinha medo de ser recusada e do quanto aquilo poderia afetá-la. Que tipo de filho da puta eu era para ter feito isso, sido egoísta nesse nível? Jamais me perdoaria se ela não acordasse. Tudo bem que eu não sabia se a razão era aquela, mas estava pressupondo que sim e só ela poderia dizer o contrário ou confirmar.
Lágrimas se formaram diante de meus olhos e eu não as impedi, preocupado demais para me importar se alguém me veria daquele jeito ou não. Ao longe eu conseguia ouvir passos se aproximando, mas eles pareciam distantes de alguma forma. Nada mais me importava além de Cassie naquele momento e eu só conseguia pensar em uma coisa ao me inclinar por cima de seu corpo, o abraçando:
– Cassie, por favor, não tenha uma overdose.
FIM
Nota da autora: Ok... sendo completamente sincera, essa música caiu de paraquedas para mim hahahaha. Quando soltaram o ficstape no grupo do Facebook eu confesso que estava interessada em outra, mas então surgiu a oportunidade INCRÍVEL de pegar essa faixa tão sensacional. Gostaria de agradecer então à Lorh maravilhosa que me cedeu essa faixa e que me ajudou na montagem do plot, garanto que não teria saído essa incrível história se não fosse por você, mulher! Obrigada por tudo, desde os pitacos e formação do plot até sugestão e no momento de ler e dar a opinião.
Em segundo lugar, eu gostaria de deixar claro o quanto eu terminei ela apaixonada por tudo isso e por esses personagens. Eu queria muito dar um abraço na Cassie e dizer que vai ficar tudo bem, que eu vou cuidar dela, assim como queria muito confortar o Sebastian e dizer o quanto ele é maravilhoso. Eu tinha uma ideia para o problema inicial da Cassie, mas ela acabou criando personalidade própria e eu me vi afundada nesse mundo, pesquisando sobre TPB para poder não somente aplicar na fanfic, como também para explicar para vocês, leitores.
Espero ter conseguido fazer jus à essa música e banda incríveis e que tenham gostado do que eu fiz com ela. Deixei aqui embaixo links de duas publicações que eu consultei para formar o quadro da "doença" da Cassie, caso tenham interesse em ler sobre. Não se esqueçam de comentar para eu saber o que acharam e amo vocês! ❤
Link 1 | Link 2
Outras Fanfics:
Série: Amor ao acaso
05. Buttons (Parte 1) | 13. Hold It Against Me (Parte 2) | 09. Lights On (Parte 3 - Restrita)
Série: Um Amor Impossível
Um Amor Impossível (Parte 1) | Depois Daquele Beijo (Parte 2 - Restrita)
Em Andamento
Between Magic and Secrets [Originais] | Correr e Poder [Restritas - Originais] | Duplo Acordo [Restritas - Originais] | She Better Run [Restritas - Originais] | Nothing Left To Say [Originais]
Ficstapes
09. Sad [Ficstape #176: Maroon 5 - Overexposed] | 07. Tears Won't Cry (ShinjŪ) [Ficstape #180: The Maine - Are You Ok] | 13. Live To Party [Ficstapes Perdidos #1: Jonas Brothers - A Little Bit Longer] | 02. Diamonds [Ficstapes Perdidos #2: Rihanna - Unapologetic] | 05. Nina [Ficstapes Perdidos #3: Ed Sheeran - Multiply (x)]
Em segundo lugar, eu gostaria de deixar claro o quanto eu terminei ela apaixonada por tudo isso e por esses personagens. Eu queria muito dar um abraço na Cassie e dizer que vai ficar tudo bem, que eu vou cuidar dela, assim como queria muito confortar o Sebastian e dizer o quanto ele é maravilhoso. Eu tinha uma ideia para o problema inicial da Cassie, mas ela acabou criando personalidade própria e eu me vi afundada nesse mundo, pesquisando sobre TPB para poder não somente aplicar na fanfic, como também para explicar para vocês, leitores.
Espero ter conseguido fazer jus à essa música e banda incríveis e que tenham gostado do que eu fiz com ela. Deixei aqui embaixo links de duas publicações que eu consultei para formar o quadro da "doença" da Cassie, caso tenham interesse em ler sobre. Não se esqueçam de comentar para eu saber o que acharam e amo vocês! ❤
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