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Finalizada em: 29/08/2021

Prólogo

- , meu amor, não acho que isso seja uma boa ideia. – a rainha falou, preocupada.
- Mãe, por favor, você acha que não sou capaz de me virar sozinha por um mês em outro país? Você me criou para quê? – reclamou, bufando.
- Para esse país, . É simples, você foi criada aqui para estar aqui, não para ir sozinha para assuntos internos em outro país, você deve estar sempre acompanhada.
- Eu preciso fazer algo por mim mesma ou eu vou enlouquecer. É tão difícil assim vocês confiarem em mim? -apelou para o pai, que até o momento ficara quieto sobre o assunto.
- Nós confiamos em você, nós não temos confiança nos outros, no mundo. – a rainha respondeu.
- Eu não posso assumir um país se eu nunca pude assumir nem minha própria vida para fazer algo por nós, mãe. Você teve sua vida, você viajou, você cursou faculdade, e só depois você se casou com o papai. – a garota reclamou, triste.
- Mas eu não nasci na realeza, .
- Eu, infelizmente, sim. Eu amo minha vida, amo tudo que tenho que abraçar e fazer, mas é completamente injusto que eu não possa ter uma recompensa, uma única vez.
- Você vai. – o rei falou, sem mais delongas. – Eu confio em você e sei que você é a pessoa certa para estudar mais sobre a história e nos ajudar nessa tomada de decisão.

Capítulo Único

Sai da entrada dos fundos do castelo xingando meu irmão de todos os nomes possíveis. Não era possível que ele tivesse atrasado a entrega dos chocolates da Rainha e não tivera a coragem de vir entregar.
Sai de cabeça baixa, envergonhado de ter atrasado uma entrega. Se tivéssemos atrasado os planos da Rainha, nossa mãe nos mataria, afinal, aquela era uma longa relação entre a Doc’s e a realeza.
- Meu Deus, me perdoa! – ouvi a garota dizer após cairmos os dois no chão. Ela vinha tão distraída quanto eu e acabamos em um choque digno de jogadores de futebol dividindo a bola.
- Eu que te peço perdão, eu estava distraído, desculpe, senhorita. – me levantei rapidamente, levando uma mão ao ombro, onde o choque tinha ocorrido, e em seguida estiquei meu outro braço para que ela pegasse minha mão e se levantasse. Ela pegou a bolsa do chão e o fez.
- Imagina, eu estava tão preocupada que não me preocupei com um simples olhar para frente. – sorriu de lado, com vergonha. – Eu estou bem? Minha roupa está amassada? – falou, preocupada, olhando cada detalhe de suas roupas, passando a mão nos cabelos e ajeitando a bolsa no braço direito.
- Se me permite dizer, está linda, não se preocupe. – brinquei, sorrindo para ela, que corou.
- Mas linda o suficiente para a rainha? É importante. – ela suspirou e eu me lembrei que estava no castelo, então havia acabado de derrubar alguém muito importante, sem dúvida alguma. Corrigi minha postura rapidamente e suspirei.
- Peço desculpas novamente, se eu puder ajudar em algo, me avise. Mas está tudo certo, sim, senhorita. – evitei encarar seus olhos, mas vi suas sobrancelhas arquearem e um sorriso aparecer em seus lábios.
- Não tomarei mais seu tempo. Muito obrigada pela ajuda... – notei que ela esperava meu nome em resposta.
- . .
- Muito obrigada, senhor . – ela sorriu, simpática, e voltou a correr sem qualquer preocupação pela entrada dos fundos do castelo, lugar onde ela provavelmente não deveria estar se estava vindo pela rainha. Dei risada sozinho de toda situação e continuei meu caminho.

🏰


- Está abandonado hoje, meu bem? – vi a sra. Keller perguntar ao terminar sua xícara de chá, esticando a mão para que eu me aproximasse. Juntei minha mão à dela e me sentei na cadeira livre em sua frente.
- Kenny está gripado, o que aposto ser preguiça, e Leslie está começando a organizar algumas coisas de seu casamento, vou ter que aguentar o dia. – sorri, recebendo o carinho da senhora em minha mão.
- Espero que Kenny melhore logo, da preguiça, claro. Tenho certeza que uma gripe ele pode aguentar.
- Preciso de férias, sra. Keller. – ri. – E o sr. Keller, como está?
- Precisando de férias também, disse que está enlouquecendo. Você tem um daqueles cookies de frutas vermelhas para que eu leve para ele? – dei uma olhada no balcão e assenti.
- Com certeza, e é por conta da casa! Mande ele passar aqui quando der, saudades de nossas conversas. – falei, me levantando para andar até o balcão.
- Você o ajuda a falar mal de mim, não é? Não tem nem vergonha, 2.
- Tenho motivos para ser o preferido, não? – ri, me aproximando para um meio abraço na senhora antes de realmente caminhar até o balcão para pegar o cookie.
Depois de pegar o doce e embalar, andei até a mesa da sra. Keller e a entreguei, recebendo o dinheiro em retorno. Ela se despediu, deixando um carinho gentil em meu braço e acenando em seguida. Acenei de volta e vi que uma mulher jovem segurava a porta para que ela saísse e passava para o lado de dentro, andando até o balcão.
Entrei novamente ali para atendê-la e sorri quando ela tirou o chapéu que usava, encarando o letreiro no alto que indicava nosso cardápio.
Tentei me manter sério, mas não contive o sorriso em sua direção quando ela riu ao me reconhecer.
- Olá, senhor , não esperava encontrá-lo novamente.
- Ao menos dessa vez não estamos no chão. – dei de ombros e ela concordou, assentindo.
- Eu pedi desculpas. – ela fez bico e eu abanei o ar em um aceno, pedindo para que ela esquecesse aquilo. – Você trabalha nesse lugar adorável? – ela olhou em volta, parecendo reparar em cada detalhe. – Essa foi uma pergunta idiota. – riu de si mesma, apontando para meu uniforme.
- Fico feliz que tenha achado o lugar adorável, é da minha família, na verdade. Eu e meus irmãos somos donos. É de nossos pais, mas eles já preferiram se aposentar.
- Se eles tem jovens para trabalhar para eles, estão mais do que certos. – ela piscou, me fazendo rir em concordância.
- Posso lhe servir algo? – perguntei enquanto ela ainda olhava o letreiro e algumas vezes desviava os olhos para a estufa.
- Acho que quero um chocolate quente e dois scones.
- Se quiser se sentar, já levo até sua mesa. – ela assentiu e caminhou a passos lentos até a mesa próxima da janela, sentando-se e ainda olhando para o café e o movimento do lado de fora.
Enquanto eu preparava seu pedido, várias pessoas passavam do lado de fora e acenavam, os clientes de sempre. Ficávamos em um lugar movimentado e sempre tínhamos a casa cheia, porém, nos horários específicos.
- Vocês são um tanto quanto populares por aqui, não? – ouvi a voz dela ecoar no ambiente vazio.
- É um lugar tradicional e com história. – dei de ombros, pegando seu chocolate quente e o carregando até a mesa com os scones.
- E eu posso ouvir essa história? Afinal, não é todo ou qualquer café que atende o castelo de Windsor. Que eu saiba, a realeza raramente tem um lugar com toda essa preferência, além de terem de tudo dentro do castelo, claro. – sorri para ela e olhei em volta, vendo que ainda não tínhamos quaisquer outros clientes. A garota apontou para cadeira em sua frente e eu me sentei.
- Você já ouviu a história de que um dos cachorros da Rainha fugiu uma vez? Isso foi em 1993.
- Eu não tinha nascido ainda, creio que não foi notícia por muito tempo. – ela riu.
- Não mesmo, e eu também não havia nascido, mas aqui em volta, todos sabem. É algo tipo... Obrigatório. Porque ele sumiu, ninguém tinha ideia do que estava acontecendo, e eles colocaram todos os guardas possíveis para encontrarem, tudo ficou uma loucura. Naquele dia, minha mãe estava andando pelo bairro para vender alguns pães e cafés, esse lugar estava apenas começando e ela queria divulgar. Quando ela retornou para cá e foi fechar a porta, ela viu o pequeno Corgi querendo entrar também. – a garota sorriu, balançando a cabeça em negação.
- Eu não acredito, ele a estava seguindo? – eu assenti.
- Ele provavelmente a encontrou depois de fugir e a seguiu por conta do cheiro da cesta que ela carregava. Quando ela percebeu que aquele era o cachorro da Rainha Elizabeth, ela entrou em pânico, ficou com medo de que achassem que ela o tinha roubado. Ela contando essa história é muito melhor, acredite, você ainda vê o desespero nos olhos dela.
- Eu imagino, quem não entraria em desespero de pensar em fazer algo contra a Rainha? – ela riu. – E como ela o devolveu?
- Ela disse que rezou para tudo que fosse possível, para as próprias crenças e quaisquer outras, chamou meu pai e eles andaram de volta até Windsor. Eles levaram até mesmo a cesta para se explicar.
- Foram gentis com eles? – ela bebeu um pouco de seu chocolate quente.
- Sim. Minha mãe disse que não era o que esperavam, mas foram muito gentis. Claro, os levaram para dentro para que explicassem o acontecido, mas assim que começaram um belo interrogatório com eles, a Rainha apareceu. Minha mãe disse que nunca ficou tão nervosa em toda sua vida. Ela perguntou à minha mãe onde ela o encontrou, o que aconteceu, como, onde... Tudo que fosse possível. Minha mãe explicou o que provavelmente tinha acontecido e disse que assim que o notou, voltara até ali. Ela mostrou a cesta de pães para Rainha, e, como ela estava com o fugitivo ao lado, ele se aproximou rapidamente, cheirando o conteúdo. No final, a Rainha os agradeceu muito e ficou curiosa pelos pães. Ela gostou muito e assim nasceu essa parceria, em agradecimento. – dei de ombros.
- Tenho que dizer que agradeço muito por tudo isso ter acontecido, estava tudo maravilhoso quando a encontrei, quase perdi meus modos. Não imaginei que ia encontrar exatamente esse lugar para parar hoje.
- Ah, não foi proposital? – ela negou com a cabeça. – Destino, então. – cocei a cabeça quando notei que aquilo parecera uma cantada e ela apenas deu um pequeno sorriso, me deixando sem graça. – É... Então, e você? Se você tem um encontro com a Rainha, alguém importante você é.
- Hm... Na verdade, não, ninguém importante por aqui. – ela sorriu novamente, mas, dessa vez, parecendo nervosa. – Acabei me envolvendo em um projeto externo que precisará de algumas consultas com ela. – ela falava pausadamente, parecendo pensar bem a cada palavra.
- Isso já parece importante para mim.
- Vocês servem a Rainha, acho que são muito importantes também, não?
- Touché. – sorri, concordando. – E eu posso ao menos saber o nome da senhorita que ainda não me falou? Você sabe o meu, nada mais justo.
- Desculpe-me, sou ... Pode me chamar de .
- E você, , está aqui apenas para esse projeto? – ela assentiu. – Inclusive, tenho outra reunião em algumas horas, preciso me arrumar ainda. – falou, olhando a hora em seu celular. – Isso aqui é uma delícia. – ela apontou para os scones e se levantou. A acompanhei até o caixa para que ela pudesse pagar.
- Isso significa que você voltará? – perguntei, tentando parecer casual. – Pelos scones. – adicionei.
- Claro, pelos scones. – ela riu. – Ganho mais algumas histórias se eu voltar? – perguntou, séria.
- Posso considerar. – dei de ombros e ela sorriu, colocando seu chapéu novamente.
- Nos vemos, senhor . – ela acenou.
- . – falei rapidamente antes que ela saísse. Ela assentiu.
- Nos vemos, . – ela falou, saindo pela porta.

🏰


- Meu Deus, eu tenho certeza que hoje eu vou surtar. – falei quando passei por Leslie, correndo até uma mesa para levar um cappuccino enquanto ela passava ao meu lado para atender outra com algumas tortas.
- Parece que todo mundo decidiu aparecer aqui hoje. Ninguém tem mais nada para fazer em um sábado de tarde? – Kenny sussurrou, passando por nós também.
- Aparentemente não. – Leslie bufou. – Só espero que isso acalme, não temos mais mesas, então não temos como ter mais clientes que isso.
- Leslie, temos a fila dos que estão pedindo para levar. – eu ri, apontando para o balcão.
- Droga. – ela reclamou, rindo.

- , tem uma garota incrivelmente bonita procurando por você. – Leslie apareceu na porta do refeitório onde eu tomava um rápido café para descansar da loucura dos últimos minutos. Ainda estávamos lotados, porém, estávamos revezando um descanso.
- Hm, tem certeza que é por mim? – perguntei, rindo, e ela assentiu.
- Ela parece legal. – deu de ombros. – Você não me contou que tinha conhecido alguém. – me olhou, brava. Leslie e eu éramos confidentes desde pequenos.
- Ah! Eu nem me lembrava, não é nada demais. – desconversei, fingindo desinteresse e começando a passar a mão nos cabelos para ajeitá-los ao me levantar.
- É, estou vendo. – ela riu, dando um tapa em minha cabeça antes de eu sair andando rapidamente em direção ao salão do café.
As mesas ainda seguiam lotadas, mas a fila não existia mais, o que me tranquilizou. estava próxima à porta, observadora como sempre, encarando cada pessoa ali como se fosse novidade. Ela usava um vestido rosa e meia-calça, pois o tempo estava bom, mas o vento gelado; nos pés, um salto não tão alto de cor preta, combinando com a bolsa em seu ombro. Suspirei inconscientemente, a mulher era realmente linda, o que me fez sorrir sozinho antes de andar em direção à ela.
- Ei, ouvi dizer que você estava procurando por um , não conheço outro por aqui. – ela sorriu ao me ver, puxando-me para um rápido abraço e depois dividindo uma risada comigo, envergonhada.
- Desculpe, sou um pouco receptiva. – brincou.
- Receptiva é bom. – dei de ombros e ela sorriu, agradecida. – Achei que não te veria mais, já faz quase um mês. Mas... Claro, quem estava contando, não é? – tossi, provavelmente corando. Era impossível esconder que não havia adorado a conversa com no outro dia, ela era encantadora e eu não podia ignorar tê-la conhecido.
- Eu tive alguns problemas pessoais e precisei viajar rapidamente. – ela abanou a mão no ar, como se quisesse demonstrar que não importava.
- Agora está de volta para continuar seu projeto? – ela assentiu.
- Mas estou cansada de só ficar em cima desse projeto, eu queria sair um pouco.
- Não sei qual sua definição de sair, mas esse café não é o melhor entretenimento. – ri, vendo-a rolar os olhos.
- Não o café, mas a companhia talvez. – ela deu de ombros e eu sorri.
- É, essa pode ser um bom entretenimento. As coisas estão bem cheias aqui, não sei se...
- As coisas estão ótimas, . Nunca te vi com uma garota tão bonita, vai dar uma volta. – Leslie apareceu para me envergonhar, fazendo rir, tímida.
- Leslie. – rosnei, vendo-a dar de ombros. – Essa é minha irmã, . Leslie, essa é a .
- Minha única condição é saber de tudo depois. – ela mostrou a língua e me estendeu a mão para que eu lhe entregasse o avental. – Tchau, , faça como te ensinei. – ela acenou em minha frente, apenas para seguir no costume de me envergonhar. Mostrei a língua para ela e abri a porta, saindo com ao meu lado.
- Desculpe por isso, ter irmãos é uma constante vergonha para vida. – brinquei.
- Agradeça, eu queria ter irmãos. – ela riu, parecendo divagar em seguida.
- Infância solitária?
- Talvez um pouco, mas tinha bastante gente para suprir essa falta, família grande. – deu de ombros.
- E o que a senhorita quer fazer e conhecer por aqui? – perguntei, mudando de assunto.
- Eu, na verdade, não acho que tenha nada de importante que eu queira conhecer, eu só queria companhia mesmo. Estou com fome. – confessou.
- Tenho o lugar perfeito. Ande comigo, senhorita. – posicionei meu braço para que ela entrelaçasse o seu ao meu.
- Obrigada por aceitar sair comigo.
- É um prazer. – sorri. – Agora me conte mais de você.
- Ah, não tem nada de interessante, na realidade. Podemos pular essa parte?
- Estou começando a ficar com medo de estar indo ao meu lugar preferido com uma assassina em série que está sendo procurada pelo mundo inteiro. – brinquei.
- Hm, eu acho que eu não estaria visitando a Rainha, não?
- E se você... Aí, meu Deus! Você está planejando algo contra a Rainha? Poxa, ela é tão fofa.
- Nem eu teria escrúpulos para isso. Como fazer mal àquela mulher. – riu.
- Chegamos. – falei, indicando o restaurante sofisticado que tanto amava.
- Você me trouxe para um Mc Donald’s? Esse é o seu lugar favorito? – ela gargalhou, saltitando até a porta. – Você acaba de se tornar uma das minhas pessoas preferidas, e eu mal te conheço.
- Ia rever esse começo de amizade se você reclamasse da escolha, Mc Donald’s é um assunto muito sério para mim, principalmente os nuggets.
- Esse é um bom começo, . – ela falou, sorridente, entrando no restaurante.

- Uma vez, eu estava no meu quarto e minha mãe, por isso ser incomum, colocou várias pessoas da família atrás de mim, porque não me encontrava. Isso demonstra o quão grande é minha casa. – falou, colocando uma batata na boca.
- Eu sempre morei numa casa que tinha apenas espaço suficiente para três irmãos, até sair e me mudar para um apartamento extremamente pequeno.
- E você quis morar sozinho e continua sozinho? – perguntou, parecendo interessada em cada detalhe que eu pudesse contar.
- Não sou completamente sozinho, tenho um cachorro, o Percy. – respondi, sorrindo ao me lembrar do pequeno vira-lata preto.
- Você tem um cachorro? Meu Deus, eu sou apaixonada por cachorros. Animais, no geral. Se eu pudesse, teria um milhão deles e trabalharia com isso. – falou, sonhadora.
- E você trabalha com o quê? Já pensou em fazer medicina veterinária? – perguntei, curioso.
- Trabalho com área administrativa, projetos... Parte burocrática, sabe? Tive que seguir o negócio da família. Não que eu não goste, eu amo, mas queria trabalhar com algo assim também.
- Bom, não fujo do padrão de seguir o negócio da família, não é? Mas também já pensei em estudar outras coisas. Considerei estudar direito, comércio internacional... Algo assim.
- Nunca tentou?
- Acho que sempre é tempo, ainda posso considerar. – dei de ombros.
- Comércio Internacional é uma boa área, quem sabe você não pode ser o próximo falando com a Rainha.
- Quantos anos preciso estudar e quantas pessoas preciso conhecer para chegar nisso? Hm... Acho que não. – dei risada, vendo-a concordar.
- Posso te ajudar nisso, com certeza.
- Quem sabe um dia? – ela assentiu, concordando. – Por enquanto mantenho Percy como minha única relação.

- Você vai ficar por muito tempo aqui? – perguntei enquanto saíamos do restaurante.
- Estou tentando adiar o meu retorno, fazer tudo com calma. Como um ano sabático, sabe? Um tempo longe dos negócios da família. Meus pais não gostaram muito e eu nunca poderia ficar por um ano mesmo, mas quero estar aqui pelo menos por mais uns dois meses.
- E eu poderia te acompanhar em mais passeios nesse tempo? – sorri, tentando deixar qualquer vergonha para trás. Estendi a mão para ela, que colocou a sua junto à minha e assentiu.
- Se você não se oferecesse, eu teria que pedir. Então, obrigada, senhor. – ela riu, fazendo uma reverência.
- Já posso começar a planejar o próximo?
- Com toda certeza, e, por favor, que não demore muito. – brincou.
- Ao seu dispor, senhorita.
- Obrigada, , agradeço muito por ter me derrubado naquele dia.
- Foi você quem me derrubou! – reclamei, fazendo-a gargalhar.
- Eu sou uma donzela, nunca faria isso. – falou, afetada.
- De donzela você não tem nada, sinto muito.
- Tenho mais do que pensa. – ela mostrou a língua.
- Quer que eu te acompanhe até sua casa? – perguntei, esperando não encerrar aquele momento ali.
- Eu agradeceria, com certeza. Não fico longe daqui. – virou na direção contrária que íamos a caminho do café.
- Que pena. – sorri, vendo-a fazer o mesmo e me puxando pela mão.

🏰


- Você pode dizer o que quiser, eu realmente não me importo. – vi bater a porta da casa com força enquanto um homem engravatado gritava um “mas, senhorita...” desesperado. Ela caminhava em minha direção, tentando mudar sua expressão de estresse para um sorriso. Assim que trocamos um olhar, seu rosto mudou completamente, me fazendo suspirar.
- Está tudo bem, ? – ela assentiu, jogando seus braços ao redor de meu corpo em um abraço como tantos que vínhamos trocando naquele último mês e me deixavam cada vez mais próximo de surtar com meus sentimentos.
- Agora está, você está aqui. – falou, sincera.
- Me sinto lisonjeado. – ri, entregando-a um capacete e a bicicleta que havia trazido junto à minha.
- , você não me disse que íamos fazer esportes radicais. – ela havia voltado a ter uma expressão mais dura, mas, dessa vez, algo como se fosse desespero.
- Bicicleta não é um esporte radical se for para dar um passeio na cidade, acredito eu. – a encarei com as sobrancelhas arqueadas.
- Eu não sei andar de bicicleta. – ela sussurrou, quase não me deixando ouvir.
- Você o quê? – eu gargalhei, recebendo um olhar mortal dela em retorno.
- ! Não ria de mim! – fez bico e por um momento quase acreditei que ia chorar. – Eu já te disse que meus negócios de família são intensos e eu trabalho para aprendê-los desde pequena. Eu não tive tempo para me dedicar às duas rodas.
- Ah, os negócios de família misteriosos que nunca te deixaram fazer nada. Comer hambúrguer com as mãos, gritar uma música no meio da rua, usar uma calça jeans... Nem mesmo andar de bicicleta, ? Que infância você teve?
- ...
- Eu já sei, é um assunto delicado e você não quer falar disso. Eu respeito. – falei, sincero. Ela sempre fugia de quaisquer perguntas pessoais sobre a família ou sua infância e eu realmente a respeitava. Eu a conhecia, era o suficiente. Ela me contava tudo sobre si própria sem ter que fazer uma única pergunta, mas o assunto familiar era sempre o proibido.
- Obrigada por sempre respeitar. Você é tão incrível. – ela suspirou, jogando seus braços ao meu redor novamente para um abraço rápido.
- E o senhor incrível pode ter a honra de te ensinar a andar de bicicleta? – perguntei, encostando a minha no muro da casa em que vivia e apontando para a que havia trazido para ela. A garota pareceu pensar por alguns segundos e olhou novamente para porta fechada.
- Pode ter toda a honra, mas pode não ser aqui? – perguntou, incerta.
- Tenho o lugar perfeito. – falei, apertando sua mão rapidamente como em um carinho.
- Você sempre tem. E sempre tem um jeito de me ensinar algo também, nunca vou poder te agradecer o suficiente. – ela segurou sua bicicleta e, assim como eu, saiu arrastando-a e seguindo na direção que eu indicava.
- Você já agradece com cada sorriso desse que dá. – apontei para seu rosto animado e a vi ficar vermelha. – Eu juro que tento não te elogiar, mas é impossível. – ri.
- Você sabe que esse não é o problema. – falou, triste.
- Eu sei qual o problema. – suspirei, sabendo que era mais um assunto encerrado.

Andamos todo o caminho até o parque próximo de minha casa em silêncio. parecia completamente distante, seus pensamentos estavam em outro lugar, sem dúvida alguma. Ela parecia se esforçar para estar na terra, mas sua cabeça voava.
- Desculpe por antes. – falei, sincero. Ela balançou a cabeça, como se concordasse.
- Desculpe também.
- Se quiser, podemos marcar novamente quando se sentir melhor. Estou vendo que está preocupada. – ela negou rapidamente, colocando o capacete de forma desajeitada.
- Estou pronta para ralar o joelho e esquecer os problemas. – dei risada de sua determinação e ela subiu na bicicleta, buscando meus olhos como apoio.
- Eu não sei como ensinar alguém a andar de bicicleta, porque é literalmente só andar.
- Não é literalmente só andar, . – ela fez bico.
- Tem que ter equilíbrio, girar o pedal e pronto, você tá andando. Uma pena que não temos rodinhas para você, porque é bem mais fácil quando se é criança. – reclamei.
- Você será minhas rodinhas, vamos, vai! - animou-se. Me aproximei dela e segurei no banco em que ela estava se sentando, enquanto posicionava os braços dela corretamente no guidão.
- É bem simples, juro. Eu vou segurar aqui no banco para dar firmeza, e no seu ombro, tudo bem? Você vai segurar aqui onde posicionei suas mãos, e quando eu começar a andar com você, o que você tem que fazer é colocar os pés nos pedais e fazer força, girando. Eles vão girar sozinhos juntos com a roda, então você começa a controlar o ritmo aí. Você vai ver que o equilíbrio vem naturalmente quando você começa. – ela assentiu, parecendo tentar assimilar todos os passos. – Podemos ir? – sua cabeça balançou novamente, concordando.
- Não me deixa cair, por favor. – resmungou, com medo.
- Vou tentar, prometo. – brinquei, deixando-a mais nervosa. – Está sentindo que comecei a te empurrar? Coloca o pé no pedal e começa a girar, e vai direcionando o guidão para onde você quer ir. Eu não vou soltar, pode parar de tremer. – ela assentiu e fez conforme eu expliquei. – Agora vamos dar algumas voltas assim, até você entender como funciona. Vou só te soltar rapidinho para você ver como você mantém o equilíbrio sozinha. – era uma boa aluna. Apesar do nervosismo, quando soltei rapidamente o banco, ela não entrou em pânico, apenas ficou encarando o próprio corpo, vendo que não cairia. Foi apenas por 5 segundos, logo eu já estava a segurando novamente e começando a primeira volta em torno do parque enquanto falávamos sobre nada, como sempre.

- Está segura agora? – perguntei depois de darmos ao menos quatro voltas ao redor do parque.
- Acho que sim, parece fácil, na verdade.
- E é. É só manter esse ritmo até que você pegue confiança para aumentar as pedaladas. – aos poucos, comecei a soltá-la, sem que ela percebesse, ainda a acompanhando como se a segurasse.
- Eu gostei muito disso, sabia? Me dá vontade de correr e sentir o vento no rosto, parece ser algo que dá muita liberdade.
- É. Quando eu estou estressado, amo sair para andar de bicicleta. O exercício faz bem, e o vento no rosto faz mais ainda, esfria a cabeça.
- Queria poder fazer o mesmo. – ela sorriu, pensativa, mas ainda focada no que estava fazendo como se estivesse se agarrando em um cipó para não cair no meio da selva.
- Vou ir buscar a minha bicicleta, tá? – falei, tentando não rir quando ela me encarou. – Qualquer coisa é só apertar o freio, mas o de trás, viu? O da frente pode dar ruim. – apontei para o correto e comecei a perceber que ela tremia novamente.
- Você me soltou! Você me deixou sozinha! – ela gritou e eu dei risada, vendo que ela tremia no caminho, mas mantinha o equilíbrio, ainda andando devagar. – Eu não confio mais em você. – reclamou.
- , você está andando, para de reclamar. – eu gargalhei e ela tentou virar para trás para me ver. Percebi o problema logo ali. – ! A curva! – dei alguns passos rápidos até onde ela estava, mas, no desespero, ela acabou acelerando as pedaladas e apertando o freio da frente, sendo jogada próxima à uma cerca.
- Aí! – a ouvi reclamar enquanto me aproximava, me jogando no chão ao seu lado. Ela me procurou com os olhos e tentou se sentar, encostando-se de lado em meu corpo.
- Você disse que estava preparada para ralar o joelho. – brinquei, puxando-a para perto e olhando seus braços. O braço direito havia sido apoiado no chão, então tinha um ralado sangrando do cotovelo até um pouco antes de seu pulso.
- Mas não estava para ralar o braço, está ardendo. – ela fez bico e vi seus olhos lacrimejarem. – Nunca me machuquei assim. E meu joelho também deve estar assim ou pior. – ela apontou para calça que, na região, tomava uma coloração vermelha por ser de uma lavagem clara.
- Acha que consegue levantar? Precisamos ir lavar isso e cuidar. – expliquei, vendo-a negar com a cabeça.
- Vai doer muito. – parecia uma criança naquele momento, morrendo de medo de um simples machucado.
- Você não vai perder a perna e o braço, . – ri. – Vou te ajudar, vamos. Minha casa é logo ali. – ela assentiu e eu me levantei, estendendo a mão para levantá-la. Vi seus olhos marejarem novamente ao ter que dobrar o joelho.
- Eu te odeio e provavelmente vou repetir isso por muito tempo. – falou, parecendo triste.
- Você estava bem, só esqueceu de prestar atenção. Nervosismo não faz bem. – pisquei para ela enquanto andávamos com ela apoiada em meu ombro e eu arrastava a bicicleta comigo, andando até a minha.

Depois que consegui dar um jeito de carregar duas bicicletas, dois capacetes e escorar até a avenida lateral, onde minha casa ficava, chegamos, aos sons de dor da garota pelo caminho, que reclamava a cada passo.
- Alguém já te disse que você é insuportável? Meu Deus. – reclamei, rindo. Ela me encarou, indignada, mas logo em seguida pareceu pensar.
- Hm... Na verdade, não. – e sorriu, parecendo achar aquilo divertido.
- Adicione estranha à lista. – brinquei e ela deu de ombros enquanto eu abria a porta e colocava as bicicletas encostadas em um canto na entrada. Meu apartamento ficava no andar de cima, então eu me aproximei da reclamona. – Com licença, senhorita, não temos grande acessibilidade por aqui. – coloquei um de meus braços na base de suas costas e passei o outro por baixo de seus joelhos, com cuidado, pegando-a no colo para deixá-la no andar de cima.
- Eu poderia andar. – falou quando a coloquei novamente no chão.
- Para que eu tenha que ouvir mais resmungos? Não, obrigado. – sua face tomou uma expressão brava que mais parecia de uma garota mimada. Dei risada e a puxei pela mão até meu apartamento, abrindo a porta. – Bem-vinda à minha humilde casa. – sorri, indicando para que ela entrasse. – Cuidado para o Percy não te arranhar por cima do machucado.
- Aí! Vou conhecer o Percy, é verdade! – sem nem pensar, ela se sentou no chão, próxima ao sofá, e o meu preguiçoso cachorro correu até nós, já abanando o rabo para ela e fazendo festa.
- Você nem a conhece, seu cara de pau! – falei, fechando a porta.
- Todo mundo me ama, é inevitável, . – ela abraçava o cachorro e fazia carinho em sua orelha.
- Oi para você também, Percy! Sou seu dono, lembra? – reclamei quando vi o cachorro rodear meus pés. – Vem, , vamos lavar esse braço. – estendi a mão para levantá-la e ela aceitou, me seguindo até o quarto. – Está uma bagunça, perdão. – falei quando ela se sentou na cama revirada.
- Eu gostei da sua casa, é aconchegante, queria um lugar assim.
- Em algum momento você deixa de morar com seus pais, com certeza. – falei, tranquilizando-a enquanto pegava os curativos no banheiro e um pequeno pote com água e sabão.
- Hm, no meu caso, acho que não. – falou, direta.
- Por quê? – perguntei, me abaixando em sua altura, já que ela estava sentada, e molhando a gaze na água, puxando seu braço para mim.
- ... – encostei a gaze molhada em seu braço e ela gritou. – Meu Deus! Como isso dói! Caralho! – reclamou e depois arregalou os olhos, batendo na própria boca com a mão livre. – Não posso me acostumar a falar isso. – falou, séria.
- Um palavrão não mata ninguém, .
- Que você saiba. – piscou, tentando parecer menos nervosa, mas ainda fazia caretas de dor enquanto eu limpava seu braço de forma delicada.
- Agora o machucado tem que ficar aberto um pouco para melhorar. Você vai ter que fazer isso por uns dias, tá? – ela assentiu, encarando o vermelhão em seu corpo. - Vou te emprestar um shorts da Leslie que tem aqui, aí vamos no chuveiro para lavar o joelho, porque deve estar ruim. – me levantei e peguei um shorts da gaveta que Leslie deixava algumas coisas quando íamos para algum lugar ou voltávamos de algum lugar.
- Tudo bem. – ela pegou o shorts e foi até o banheiro em passos lentos.
- Me avisa quando terminar. – fui até a cozinha para ver o que tinha na geladeira, se podia fazer algo para comermos. Em realidade, não tinha nada lá, pois já tinha passado do dia de fazer compras.
- Pronto, . – ouvi chamar, abrindo a porta do banheiro.
- Você já precisa ir embora ou podemos fazer algo? – perguntei, esperando por uma resposta enquanto a colocava sentada na beirada da banheira e abria o chuveiro.
- Desde que você não queira me machucar de novo, posso ficar. – ela riu, mas logo sua expressão mudou para dor quando empurrei sua perna em direção à água corrente.
- Tenho uma péssima notícia. Além do arranhão, seu joelho vai ficar roxo e vai doer muito. Não está doendo agora porque você está distraída. – ela encarou meus olhos e eu ri. – Com uma bela distração, diga-se de passagem. – brinquei, me aproximando de seu rosto e beijando sua bochecha.
- Está mais para uma terrível distração que me causou isso. – ela reclamou, soltando um grito agudo quando passei a mão por cima do machucado em seu joelho.
- Eu pelo menos sou sincero do que você vai sentir, não é? Não falei para você que não iria doer em momento algum, agora arque com as consequências.
- Um amor, como sempre. – ironizou, encostando a cabeça em meu ombro. – Estou com fome.
- Eu também. Estava olhando se tinha algo na geladeira, mas não tenho.
- Como você me traz para sua casa, me oferece planos para o restante do dia e não tem nem comida? Você já foi melhor.
- Eu quero saber quando foi que eu te dei tanta intimidade para você virar essa matraca toda. – gargalhei. – Quer ir até o mercado comigo ou prefere ficar descansando esse joelho arrebentado?
- Eu amo o mercado, quero ir. – falou, animada.
- Gosto como as coisas mais simples te fascinam. – brinquei.
- Ou talvez seja a minha distração que o faça. – respondeu, logo chacoalhando a cabeça como se quisesse se livrar do que dissera. Ela se levantou rapidamente e utilizou a toalha que eu havia separado para que secasse as pernas. Apenas saí dali também, em silêncio, ignorando o momento mais uma vez.

- Eu não acredito que você vai me fazer ter o trabalho de fazer todos os processos para montar um hambúrguer, se poderíamos apenas parar em qualquer lanchonete e comer um. – reclamei enquanto saíamos do mercado com muitas sacolas nas mãos.
- Mas foi você quem disse que era muito bom fazer em casa, porque podíamos colocar o que quiséssemos. A ideia foi sua, ! – brigou, mas com um sorriso no rosto.
- Isso não quer dizer que precisávamos trazer o mercado inteiro para colocar em hambúrgueres.
- Você está reclamando, mas vai ver, vai ficar melhor até que o do Mc Donald’s.
- Eu quem vou fazer, é claro que vai ficar melhor que o do Mc Donald’s, . – falei com um tom prepotente, tirando risadas dela.
- Agora me explica por que viemos para o mercado mais longe da sua casa?
- Porque esse mercado é o único que tem aqueles brownies que eu amo. – dei de ombros. – Você vai gostar deles e então vai entender.
- Se eles chegarem bem em casa, assim como o restante das coisas. – ela riu, apontando para o céu, de onde começavam a cair gotas de uma chuva fina.
- Talvez a gente devesse acelerar um pouquinho o passo. – proferi o óbvio, vendo-a negar com a cabeça.
- Não foi você que se ralou inteiro, é fácil falar, não? – ela apontou para o joelho, que estava com sangue seco em sua maior parte, mas tinha alguns pontos ainda sangrando devido ao movimento daquela parte ao andar. – Mas eu não queria tomar chuva. – reclamou.
- Um banho de chuva é sempre bom, o que importa é não deixar molhar a comida. – ela assentiu, calada, apenas encarando as gotas de chuva que aumentavam enquanto caminhávamos. – Eu estou começando a achar que você foi uma princesa enclausurada em uma torre, . – ela me encarou de olhos arregalados, parecendo assustada. – Eu quem devia fazer essa expressão! Você nunca tomou um bom banho de chuva, não é?
- Sabe como é, eu te falei... – ela tentou formular uma frase, mas se perdia sempre ao iniciar.
- Não, não sei como é e não me importo. Vem cá. – peguei as sacolas que estavam em suas mãos e as coloquei em um dos pontos que passávamos na rua e nos escondíamos das gotas, em frente a uma loja de brinquedos. Ela me encarou, perdida, e eu segurei sua mão, a puxando para a área aberta, onde a chuva caía com delicadeza, mas já em gotas grossas.
- . – ela reclamou, parecendo contrariada.
- Só sente isso, . – falei, olhando para cima e deixando a água molhar meu rosto enquanto sentia as gotas frias escorrerem por seu cabelo molhado. – O que mais me encanta da chuva, é o cheiro. Eu estou acostumado com isso, afinal, chove o tempo todo, mas nunca deixa de ser uma das sensações que mais amo.
Ela levantou o rosto devagar, fechando os olhos com força para que a água não a irritasse. Vi seu rosto começar a se torcer em um pequeno sorriso, como se ela achasse graça na sensação. Minhas mãos estavam segurando as suas e ela as apertava de uma forma carinhosa.
- Isso é realmente algo muito bom. – ela riu, abrindo os olhos e encarando os meus. Seu olhar brilhava em minha direção e eu não podia me desviar dali, ignorando qualquer um em volta que achasse aquela cena, no mínimo, estranha ou absurda.
- Eu imaginei que você ia gostar. – dei de ombros, sincero.
- Tudo que você me mostrou durante esse tempo é que você, com certeza, sempre sabe do que vou gostar. Você é algum tipo de mágico, não vejo outra razão.
- Talvez eu seja. – brinquei, aproximando meu rosto do dela aos poucos. Eu não podia deixar de tentar, eu precisava estar mais perto dela. – Se for para fugir, agora é a hora. – sussurrei, vendo-a abrir um sorriso tímido.
- Não vou. – quase não foi possível ouvir sua resposta baixa devido ao barulho da chuva. Levei uma de minhas mãos até sua nuca e mantive a outra como estávamos.
Terminei de juntar nossos lábios lentamente, não podendo deixar de notar que nós dois sorríamos com aquele ato. Sua boca era macia e era impossível saber quem estava mais envergonhado entre nós dois, fazendo com que tudo fosse devagar. Ou talvez fosse apenas aquela sensação de tudo se encaixando, que nos deixava extasiados e perdidos no momento. Contornei seu lábio com a minha língua, pedindo passagem, e ela entreabriu a boca, me permitindo aprofundar o beijo por alguns segundos, puxando-a cada vez mais para perto e juntando nossos corpos molhados pela chuva.
- . – ouvi-a resmungar entre o beijo, nos separando. Encostei minha testa à dela e encarei seus olhos curiosos. – Ainda estamos no meio da rua.
- Eu sei. – eu ri, sussurrando em resposta. – Desculpa. – senti meu rosto corar e ela apenas riu, sem jeito.
- Acho que esse foi o melhor momento da minha vida. Shh. - falou, ainda sussurrando de frente para mim, como se fosse um segredo.
- Posso dizer o mesmo. – sorri, dando um beijo em sua bochecha e afastando nossos corpos, segurando apenas sua mão na minha. – Vamos? – ela assentiu e me ajudou a pegar novamente as sacolas para seguirmos até minha casa.

- Esse, com certeza, foi o melhor hambúrguer dessa vida. – falou, se jogando no sofá com um pote de sorvete após terminarmos de comer e arrumar toda a bagunça.
- Temos um dom natural para hambúrgueres, inegável. – me joguei ao lado dela com uma colher em mãos.
- Eu não vou dividir com você, pegue outro. – reclamou, escondendo o pote para o lado contrário.
- Meu Deus, que coração ruim. Não te dou o brownie então. – fiz bico e ela me encarou, sorrindo.
- É só brincadeira. – ela mostrou a língua, me entregando o sorvete.
- Nunca te ensinaram que não se brinca com comida? – peguei o brownie quente para acompanhar o sorvete.
- Nunca te ensinaram a não falar de boca cheia? – ela perguntou, apontando para mim. Eu rolei os olhos em resposta. – Tudo aqui está muito bom, mas eu tenho que ir, . – fez um bico extremamente fofo, parecendo realmente triste.
- Você não pode ficar? – perguntei, esperançoso.
- Ficar, ficar? – ela falou, de olhos arregalados.
- Ficar, ué. Nunca fez uma festa do pijama? Podíamos ver filmes, comer pipoca, comer mais doces...
- Não posso ficar, . – ela torceu a boca em um sorriso triste. – Você me acompanha?
- Sem dúvida alguma. – me aproximei de seu corpo e deixei um beijo em sua testa. Ela então se levantou e caminhou até o quarto para vestir sua calça novamente.

- E chegamos. – eu sorri, vendo-a parada de frente para mim.
- Obrigada por esse dia incrível, . Você é a melhor pessoa que já conheci. – ela pareceu suspirar e abraçou meu corpo, permanecendo encostada em meu peito. Coloquei minhas mãos em seus cabelos e deixei um carinho ali, entrelaçando meus dedos nos fios.
- Eu só posso dizer o mesmo, estou muito feliz de ter te derrubado naquele dia. – ri, vendo-a fazer o mesmo. Ela me encarou com seus olhos brilhantes e eu aproximei nossos rostos pela segunda vez naquele dia, vendo sua expressão se iluminar. – Eu... – ela apenas assentiu e eu a beijei delicadamente, um selinho que diria muitas coisas que não conseguíamos.
- ? Digo... Sua Alteza? – me separei de abruptamente e encarei seus olhos desesperados, buscando pelo dono daquela voz.
O garoto parecia ter por volta dos 25 anos e estava vestido em uma farda, algo bem estilo da realeza, mas, pelas condecorações, eu podia ver que não era britânica. Também podia ver que ele não era um príncipe William, aquela estava mais para uma farda da guarda ou algo assim.
- James? O que você está fazendo aqui? – falou, assustada. Vi que a porta da casa estava aberta e diversas pessoas nos encaravam de dentro.
- Seus pais me pediram para vir, pois aparentemente você estava estendendo muito sua estadia. – ele me encarou, estendendo a mão em minha direção. – James Demetriou.
- . – apertei sua mão, incerto. encarava o chão enquanto eu a olhava, sem entender nada. – , você poderia me explicar o que está acontecendo?
- James, você pode nos dar um minuto? – antes que James pudesse responder, um senhor vestido em terno e gravata se aproximou, o mesmo que havia falado com ela antes de sairmos daqui mais cedo.
- Alteza, o Rei está te ligando desesperadamente, por favor, poderia entrar o quanto antes? – endireitou sua postura e respirou fundo.
- ? – já sentia meu corpo tremer, perdido naquela situação. Rei? Alteza?
- Por gentileza, todos para dentro, eu me resolvo com meus pais depois. – ela falou, autoritária.
- Mas... – o homem começou a falar e ela apenas o encarou, nervosa, como se suplicasse que ele lhe atendesse. Os dois fizeram uma rápida reverência e saíram, nos deixando a sós.
- , eu... – senti que suas mãos tremiam, e ela nem ao menos conseguia encarar meus olhos.
- Alteza? Rei? Pais? Realmente, , agora vejo muito sentido em tudo que você não queria conversar e esconder. Meu Deus, é surreal. – falei com a voz embargada.
- ... – ela parecia nervosa demais para conseguir dizer algo.
- Fala alguma coisa! Me explica, me fala que você não mentiu esse tempo todo que estivemos nos conhecendo. Eu não estou acreditando, eu estava aqui, preparado para dizer como eu simplesmente me apaixonei por você nesse tempo. – seus olhos se arregalaram novamente em surpresa e eu pude ver que eles estavam marejados. – Mas eu não estava apaixonado por você, não é? Afinal, eu não te conhecia realmente pelo jeito.
- Eu sei que eu errei, . Eu realmente sei. Eu pensei diversas vezes em te falar, em explicar, mas era tudo tão incrível. Cada momento que eu vivi com você foi o mais real que já pude ter. Eu não te culpo por pensar que não me conheceu de verdade, mas você é o único que realmente me conheceu. Você é o único que me fez sentir como eu mesma, que me entendeu e que sabe como me fazer sentir bem...
- E mesmo com tudo isso, eu não merecia saber a verdade, ? – meu coração doía de uma forma que eu não podia colocar em palavras. Aquela era uma mentira muito grande para se esconder, eu me sentia traído.
- Eu estava te protegendo de tudo isso. Aqui eu estava livre, , você tem que entender isso. Aqui eu não tinha ninguém atrás de mim, não tinha o Rei e a Rainha, não tinha um trono para assumir ou um casamento para acontecer... – sua voz ia sumindo a cada palavra.
- Um casamento a acontecer? Meu Deus, ! – me desesperei, levando minhas mãos ao cabelo e os puxando, nervoso.
- Eu vou cancelar a ideia de casamento, não tínhamos nada certo e eu tenho esse direito, só não sei bem o que James está fazendo aqui. – falou, pensativa.
- James? Aquele é seu noivo? ! Ele viu...
- Eu sei o que ele viu, , mas...
- Eu... Eu preciso ir embora. – falei, virando-me de costas e sentindo-a juntar sua mão à minha.
- , não vai, por favor. Se acalma, eu posso te contar tudo, te explicar, a gente pode...
- Nada que você me explique agora vai deixar para trás o fato de que me apaixonei por alguém que conheci pela metade. Estou me sentindo um nada, é assim que me sinto agora, e conversar dessa forma não vai nos ajudar. Eu nem sei se realmente temos o que conversar, . Eu preciso ir. – me virei para ela e beijei sua bochecha rapidamente, sentindo a lágrima salgada que escorria ali.
- Me dá uma chance de conversar com você, pelo que sentimos, , por favor. – ela chorava livremente agora, mas ainda mantendo sua postura. Eu encarei seus olhos e apenas assenti com a cabeça, correndo para casa logo em seguida.

🏰


- , já se passaram duas semanas, por favor, conversa comigo, não podemos terminar tudo assim.

Olhei a mensagem de e suspirei.
Ela me mandava mensagem todos os dias nessas duas semanas. Ela me ligava. Ela chegou até mesmo a aparecer e interfonar no dia seguinte, depois disso, imagino que ela tenha voltado para qualquer lugar de onde ela era.
Eu não tinha ideia do que pensar, não me atrevera nem ao menos a procurar algo no Google como “Princesa , pois eu não sabia o que poderia encontrar.
Nos conhecemos por poucos meses, mas foi aquela amizade que parecia de anos e anos com a naturalidade que tudo acontecia. se tornou tudo para mim com uma facilidade incrível, e eu acreditava ter me tornado o mesmo para ela. Mas era possível? Considerando que se ela sentisse o mesmo, ela não mentiria, não? Era difícil entender. Não era um segredo bobo, era algo como “tenho um país e um noivo”.
Senti meu celular vibrar e encarei a tela dele, vendo o nome dela brilhando ali. Eu suspirei e saí da sala, caminhando pela casa até o banheiro para tomar um banho e relaxar. Eu estava com dificuldades até mesmo de trabalhar, há duas semanas eu me sentia perdido e não conseguia pensar em outra coisa. Leslie e Kenny estavam me dando todo o apoio possível, mesmo que fosse depois de rirem muito e dizerem que minha vida só podia ser uma piada.

Saí do banheiro e peguei meu celular novamente, vendo uma nova mensagem de .

- , eu não sei mais o que fazer, estou perdida. Eu só quero me explicar, quero falar com você, te contar as coisas.
- Droga, , eu sinto sua falta.

Assim que li as mensagens, o telefone tocou novamente e eu respirei fundo, deixando-o tocar. Quando parecia que ia parar, em um surto do meu cérebro, eu atendi a ligação.
- ? - ouvi sua voz e meu coração pareceu derreter, eu realmente sentia falta dela.
- Oi, . – suspirei.
- Meu Deus, como é bom ouvir sua voz. Eu... Eu nem sei o que tenho que falar agora, me desculpa. - ela riu quase que inconscientemente, e eu tentei esconder que também queria fazer o mesmo. - Você está bem?
- Depende do que é considerado bem, mas acho que não. E você, como está? – fui sincero.
- Nem um pouco. - ela respirou fundo, ficando em silêncio por alguns segundos.
- Pode me falar o que gostaria de falar, estou te ouvindo.
- Não. Eu não quero que seja assim, . Eu quero te ver, eu quero conversar, eu quero que você me escute e olhe nos meus olhos. Eu errei, mas eu não sou covarde.
- , eu não sei... – suspirei, pensando o quão estranho seria encontrá-la.
- Eu sei que eu te decepcionei, mas eu não vou cometer esse erro novamente, você tem que me dar o benefício da dúvida, por favor. - implorou.
- Tudo bem. – concordei, depois de algum tempo pensando, e ouvi ela se agitar do outro lado.
- Quantos dias você consegue com seus irmãos?
- Como assim?
- Eu não estou mais na Inglaterra, , e eu quero que você conheça tudo que tentei esconder, se você estiver disposto.
- , você realmente acha que isso é uma boa ideia? Se você escondeu, você provavelmente tem grande certeza de que não me encaixo nisso, não?
- Eu nunca disse isso, . Eu nunca nem mesmo pensei isso, e é o que estou querendo te explicar. - ela bufou, parecendo cansada.
- Tudo bem.
- Vou pedir para organizarem tudo e te passarem, tudo bem?
- , não sei como as coisas funcionam, se são iguais em filmes, mas sem exageros, por favor. Se puder ser tudo o mais normal possível, eu agradeço.
- Pode deixar, . - ela riu. - Obrigada, tá? Te vejo em alguns dias.
- Tchau, .

Desliguei a ligação e me joguei no sofá, tentando pensar se meu coração estava certo em me mandar seguir com essa loucura.

🏰


Desci as escadas rolantes do aeroporto e logo vi um homem, que não devia ter muito mais que minha idade, segurando uma placa com meu nome em letras garrafais. Me aproximei dele e apertei sua mão em um rápido cumprimento.
Ele me guiou pelo aeroporto com grande facilidade e logo chegamos ao carro, onde me sentei no banco de trás com minha mala. Eu não sabia bem o que vestir, para ser sincero. Quando eu e saíamos juntos, nós íamos a lugares simples e tínhamos que nos vestir confortavelmente.
Agora, por outro lado, eu estava indo a encontrar em um castelo. Ela havia me enviado algumas informações, como essa, para que eu não me assustasse. Não que eu não imaginasse que ela morava em um castelo, mas ela achou relevante reforçar. Vesti um jeans escuro, uma camisa polo e um suéter por cima, de forma que ficasse meio casual, meio formal, sem exageros.
Me perdi em pensamentos enquanto encarava a paisagem pela janela, tentando gravar cada pedaço daquele caminho e conhecer seus detalhes. Era ali que vivia, tudo ali era parte de seu reino. Eu ainda não conseguia entender a magnitude dessas palavras, mas era incrível saber o quão importante ela era. era extremamente simpática, generosa, educada, tinha uma energia sem igual; e isso tudo fazia sentido, considerando sua etiqueta, a forma como ela vivera a vida toda.
- Senhor , bem-vindo ao castelo Nomikos. – senhor Megalos, como li em sua identificação, falou, entrando pelo portão do castelo. Encarei os montes de pedras, embasbacado. Era lindo, e era gigante. Haviam apenas duas torres altas, o restante fazia parecer apenas uma mansão, se não fosse pela imposição e grandiosidade do lugar. Um jardim bem cuidado, janelas com beirais floridos, detalhes de brasões familiares. Era tudo impecável. – Estarei com o senhor durante sua estadia, o acompanharei para onde precisar.
- Muito obrigado, Megalos. Senhor Megalos, desculpe. – me corrigi automaticamente.
- Apenas Megalos está ótimo, senhor . – ele riu, saindo do carro e pegando minha mala antes que eu o pudesse fazer.
- Eu posso carregar, cara. – puxei a mala de volta. - E, por favor, me chame de , não sou ninguém da alta sociedade. – pisquei, brincando.
- Você é um convidado da Princesa, acredite, já é alguém muito importante para nós. E me dê aqui essa bolsa, estão te esperando. – ele puxou a mala de minha mão e apontou com a cabeça para a porta de entrada próxima de nós, logo se virando para essa e dobrando seu corpo em uma rápida reverência. Ela sorriu rapidamente para ele em resposta e vi Megalos sumir para dentro do ambiente enquanto me encarava com um grande sorriso no rosto.
Ela cobriu a distância entre nós com uma quase corrida vergonhosa, como se fosse se jogar em meus braços, me fazendo rir. Quando ela se aproximou, pareceu repensar o que estava fazendo, respirando fundo e se endireitando, parecendo receosa. Seus olhos encontraram os meus novamente e eu não pude evitar, abri meus braços e seu rosto se iluminou. Em um segundo ela já estava com os braços ao redor do meu corpo e eu a abraçava, me inebriando com seu cheiro, matando a saudade que sentira de nossos momentos juntos.
- Sim, eu estou muito decepcionado, , mas se eu estou aqui, é porque estou te dando uma chance, não precisa ter qualquer receio comigo. – falei, sussurrando próximo a ela enquanto ainda estávamos abraçados.
- Você não existe, . – ela afastou nossos corpos e segurou meu rosto em suas mãos, fixando seu olhar no meu e suspirando, o que me deixou extremamente envergonhado. – Eu estou quebrando tantos protocolos nesse momento, que você não faz nem ideia. – ela riu, me soltando e se afastando novamente.
- Eu acho que eu quebrei o maior de todos, não? – falei, me lembrando de fazer como Megalos e curvar meu corpo em sua frente.
- Eu nunca esperaria isso ou qualquer protocolo de você, . Me dá arrepios te ver fazendo isso. – ela torceu o rosto em uma careta e eu dei de ombros. – Mas Megalos vai te mostrar o básico, afinal, eu não espero isso de você, mas se você não fizer para os meus pais, as coisas são um pouco mais sérias. – riu e começou a andar em direção à parte interna do castelo, nos levando a um grande hall decorado, com escadarias e portas para todos os lados. – Bem-vindo à Alitheia, . Espero que você goste daqui e da estadia no castelo. E, agora, a coisa mais importante de todas. – ela parou em frente à escadaria e se virou de frente para mim. - Você pode me chamar hora que você quiser, tudo bem? Eu avisei todos nesse lugar que você é minha prioridade, então, tudo que você precisar, você pode pedir a qualquer um, que eles vão me encontrar. Você tem meu telefone também, claro, então se precisar de algo, pode me chamar nele, vou ficar de olho. – eu assenti, rindo.
- Não precisa de tudo isso, . Vou ficar bem.
- Eu sei que vai, vou me certificar disso. – brincou, puxando-me escadas acima. – Vou te levar até seu quarto, vamos.
- Me diz uma coisa, e essa calça jeans? – perguntei, prestando atenção em sua roupa simples: calça jeans de lavagem escura, uma camisa social rosa e uma sapatilha nos pés.
- Queria estar de tênis também, mas esse não me foi permitido. – riu. – Queria te receber no mais próximo do nosso normal. – ela deu de ombros. – E é bem melhor quebrar protocolos com esse protocolo já quebrado, do que quebrar protocolos no meu vestuário Barbie. Não que eu use vestidos armados da Idade Média, mas estou sempre de social. – chegamos em uma grande porta dupla e a empurrou, entrando em minha frente. – Esse é seu quarto. – ela andou até o outro lado, chegando à janela e abrindo as cortinas por inteiro para terminar de iluminar o ambiente.
- . – suspirei, encarando o ambiente claro, todo em tons pastéis. Consegui identificar ao menos cinco tons de branco, bege e marrom. – Isso é maior que a minha casa, você sabe, não? – ela assentiu, rindo. Eu saí correndo da porta até a cama e me joguei nessa, pulando em seu gigante tamanho. gargalhou e andou até mim, se jogando ao meu lado.
- Isso é mais uma coisa errada. – ela apontou para nós dois e eu me distanciei dela, brincando. – Mas nada pior do que eu ter te colocado nesse quarto. O meu é o primeiro no corredor do outro lado. Você está nos quartos mais próximos de nós, eles raramente são usados.
- Você sabe que não quero estar aqui para te dar problemas, não? – ela se aproximou novamente em um pulo.
- Você não me dá problemas, . De forma alguma. – ouvi um limpar de garganta na porta e rapidamente se levantou, arrumando a roupa.
- Alteza... – Megalos se colocou próximo à , sério, mas logo estava rindo.
- Theo! Você quer me matar? – ela o acertou com um tapa no braço.
- Ainda bem que era eu, não? , se alguém te pega, por mais que inocentemente, aqui, o garoto é mandado para casa em menos de dois minutos. Isso se não mandarem o prender. – ele riu.
- O salvador da pátria. Idiota. – ela mostrou a língua para ele e se virou para mim. – , você já conheceu Megalos, não? Theo, você disse que vai ficar com ele?
- Vou ser sua sombra. – ele piscou para mim e riu.
- Não o leve para o mal caminho, Theo. , Theo é o meu guarda pessoal, isso é um empréstimo, pois quero você com alguém de minha confiança. – eu assenti, concordando.
- Você quer alguém que vá passar pano para qualquer coisa que você queira fazer, princesa.
- Você está agindo como se eu fosse o tipo rebelde.
- Você não era, nunca foi, mas depois dessa viagem... – ele apontou para mim e eu ergui os dois braços em rendição, brincando.
- Eu não tenho qualquer relação com isso, a rebeldia não veio de mim.
- A ideia de liberdade veio. – ele respondeu, sincero.
- Theo! – ela reclamou, o encarando, séria.
- Só estou repetindo as palavras do seu pai, é bom ele estar preparado. – ele gargalhou, fazendo bufar. – Agora é a sua hora de ir encontrar o Duque de algum lugar esquisito, . Deixe o garoto descansar, depois apresento o lugar todo para ele.
- , vou cumprir algumas coisas da minha agenda. Mais tarde, vamos jantar com meus pais e, após isso, podemos fazer alguma coisa, estou te devendo uma conversa e não vou fugir dela. – eu assenti, ansioso.
- Boa sorte com o Duque de algum lugar esquisito. – ela acenou para Theo e eu e deixou o quarto em passos rápidos.
- Eu e somos amigos, então agora que você já sabe, posso fazer o que queria ter feito desde que te vi. – Theo se aproximou, sentando-se na beirada da cama e apontando o dedo para mim, sério. – Se você magoar ela de qualquer forma que seja, você é um cara morto. Não por ela ser princesa ou qualquer coisa do gênero, apenas por ela ser ela, não merece ser machucada. E eu falo por mim e, pelo menos, mais alguns cem funcionários desse lugar.
- Você sabe que o magoado da história fui eu, certo? – ele assentiu.
- Eu e James somos, provavelmente, os únicos que sabem o que aconteceu em detalhes.
- James? James como o noivo dela? – engoli em seco. Essa era uma parte de toda a mentira que mais vinha tirando meu sono.
- James não é noivo da , . Mas não vou entrar nesse assunto com você, ela está há dias ensaiando tudo que quer te falar. Eu mesmo já ouvi umas sete vezes o discurso. – eu ri de sua observação, mas estava ouvindo ainda ressoar na minha cabeça a parte de que eles não eram noivos. – Só te peço que pense em tudo que passou na cabeça dela. Ela nunca pôde gostar de alguém, e ela gosta de você, de verdade. Eu espero que você possa saber lidar com isso. Vou te deixar descansar. – antes que eu pudesse digerir ou pensar em responder, Megalos saiu e fechou a porta, me deixando sozinho.

🏰


- Ei, oi! – ouvi a voz de entrando em meu quarto. – Ficou ótimo. – ela sorriu, apontando para roupa que havia mandado para mim. – Desculpa ter que dar palpite na sua roupa.
- Está tudo bem. Eu gostei. – dei de ombros. – Você está linda. – me aproximei e ela deu um beijo rápido em minha bochecha.
- Prefiro meus jeans e tênis. – reclamou, indicando os saltos. – Vamos às instruções. Meus pais são muito legais, eu juro. Eles não te odeiam ou algo assim, eles só estão irritados com algumas mudanças minhas e estão te culpando por isso.
- É, isso me tranquiliza bastante, obrigado. – ironizei.
- Mas, te conhecendo, eles vão ver que não é assim. Estou feliz com isso. Desculpe não termos como conversar antes de você conhecê-los. Eu tentei adiar o jantar, mas não deu certo.
- Está tudo bem, mesmo.
- Não se esqueça da reverência, tá? Inclusive, infelizmente, em público você deve fazê-la para mim também. Público como próximo a eles, de resto, por favor, não o faça. E o tratamento correto com eles é Majestade. – ela fez uma careta e eu ri. – Agora vamos.
- Caminhando em direção ao perigo. – falei quando começamos a descer as escadas. - O que eu estou fazendo aqui mesmo?
- Vamos descobrir depois do jantar. – ela deu um sorriso tímido e eu fiz o mesmo em resposta, mordendo meu lábio inferior, nervoso. Eu passara semanas pensando sobre tudo, mas nunca sobre um depois.
Nos aproximamos das portas de um grande salão, talvez aquele fosse o pé direito mais alto que já vira em minha vida, e a porta foi aberta por alguns funcionários que se curvaram para . Eu agradeci e entrei no cômodo, respirando fundo. Era lindo. Era uma longa mesa de vidro com apenas quatro lugares colocados na ponta. As cadeiras eram de uma imagem completamente moderna, diferente do que eu havia pensado para um castelo. A iluminação era clara, um branco que chegava a ser gritante.
O Rei e a Rainha se levantaram conforme nos aproximamos, eles sorriam, simpáticos, e eu não pude deixar de notar como era uma mistura perfeita dos dois. Quando chegamos próximos a eles, eu e nos curvamos, e os vi fazer o mesmo na direção da garota.
- Pai, mãe, esse é , o amigo que lhes falei.
- É um grande prazer conhecê-los. – falei, incerto. Ambos se sentaram em seus lugares e eu e fizemos o mesmo.
- O prazer é todo nosso, querido. falou tanto de você que é quase como se já o conhecêssemos. – a Rainha falou.
- Espero que ela tenha falado bem. – brinquei, vendo-os rir, o que me deixou mais tranquilo.
- Ela falou tão bem que, no momento, achamos que é o Sr. Perfeito, sem qualquer defeitos. – o Rei completou.
- Tenho muitos, não é uma boa observadora, então.
- Sou uma ótima observadora, mas me atento mais às qualidades quando essas valem a pena. – comentou, me fazendo corar. Quando senti que estava corando, senti ainda mais vergonha, então se fosse possível ficar completamente vermelho, eu talvez tivesse ficado.

- , como foi o caminho até aqui? O que achou de Alitheia? – o Rei perguntou após conversarmos sobre diversas coisas enquanto comíamos. Eu havia contado um pouco sobre minha vida, ouvido um pouco sobre eles, e havia administrado completamente a conversa com diversos elogios que me deixavam perdido.
- É incrível, Majestade. Estou ansioso para conhecer mais, porque parece ser um lugar lindo.
- Alitheia tem uma história incrível e tenho certeza que você aprenderá tudo sobre ela. – a Rainha falou, parecendo orgulhosa.
- Agora vamos aos negócios, rapaz. – arqueei minhas sobrancelhas, sem entender. – Eu preciso fazer meu papel de pai aqui, além do de Rei. Quais são suas intenções com a minha filha, ?
- Pai! – o repreendeu, se desculpando comigo em silêncio.
- Está tudo bem, . – sorri para ela, acalmando-a. – Eu sabia minhas intenções com ela há um mês atrás, Majestade, mas, nesse momento, temos uma conversa pendente. Estou sendo inserido em um mundo que desconheço e preciso entender muitas coisas antes de respondê-lo.
- Político, não? Você realmente poderia se dar bem em uma carreira de relações internacionais, sabe fugir bem de uma pergunta. – a mãe de riu, lembrando-se da conversa anterior que havíamos tido sobre o que eu gostava, o que fazia.
- tem uma pessoa disposta a aceitá-la e aceitar Alitheia, alguém que a ama e está pronto para esse trabalho. Vou ser bem sincero, não achamos justo que você bagunce a ordem natural das coisas ensinando uma vida normal à , ela não é normal. – percebi que a garota estava nervosa com a forma que o pai falara, mas antes que ela intervisse, o respondi.
- Desculpe, mas vocês realmente acham que amar alguém faz parte de assumir um trabalho? Isso é um tanto quanto absurdo quando lembramos que vocês se conheceram sendo de mundos diferentes. Entendo as responsabilidades, apesar de ainda não entendê-las por completo e nem saber o quanto é necessário, como eu disse, ainda temos muito o que conversar.
- Não foi isso que meu marido quis dizer, , peço desculpas. – vi a Rainha encará-lo. – Ao menos, eu espero que não e que isso seja apenas um ataque de ciúmes, pois ele não costuma se comportar assim.
- Eu só gostaria de lembrar uma coisa para vocês. James é incrível e está preparado para isso, mas ele estaria fazendo um favor para o país e por respeito a vocês, mas eu e ele nunca fomos a favor disso. apenas me deu a coragem necessária para acabar com algo que não fazia sentido. E ele fez isso sem nem saber que o estava fazendo, afinal, ele não tinha ideia de quem eu era. – falou, irritada. – E não é como se fossemos atrapalhar qualquer ordem natural das coisas, pois em momento algum eu falei algo sobre deixar o trono, sei das minhas responsabilidades e as amo. Esse jantar acabou para mim, pois vocês sabiam que tudo que eu menos queria era esse assunto. – ela se levantou e saiu em passos rápidos do salão, passando pela porta em poucos segundos. Vi o Rei se levantar ao mesmo tempo em que o fiz, mas a Rainha segurou sua mão, negando com a cabeça e me dando permissão a sair com um olhar que parecia pedir desculpas.
- Com licença. – fiz uma reverência completamente atrapalhada e corri para fora do ambiente sem me preocupar com qualquer etiqueta. Quando passei para o hall, percebi que eu não tinha como ter ideia de para onde fora, eu ainda não conhecia nenhum lugar direito e aquilo era imenso.
Puxei meu celular do bolso para tentar falar com ela.

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Lari
visto por último hoje às 20:30

Ei, onde você está? Não posso correr atrás de você se não tenho ideia de para onde ir, 😕

Estou irritada, não sou uma boa companhia no momento, .

Mas eu sou, não? Podemos conversar e você pode dividir comigo.

Espere no hall, te encontro aí.

Ok.

- Ei, onde você está? Não posso correr atrás de você se não tenho ideia de para onde ir, 😕
- Estou irritada, não sou uma boa companhia no momento, .
- Mas eu sou, não? Podemos conversar e você pode dividir comigo.
- Espere no hall, te encontro aí.
- Ok.

- Oi. – apareceu em meu campo de visão de cabeça baixa. – Vem, vou te levar para o meu lugar.
- . – falei, triste, abraçando-a de lado enquanto caminhávamos.
- Está tudo bem, . Eu só prefiro sair de perto para que as coisas não piorem, sabe? Mas desculpe por te deixar sozinho, foi mais um erro meu. – ela aceitou meu abraço e passou um de seus braços por minha cintura.
- Eu te entendo, não tem problema. – dei um rápido beijo em sua cabeça e caminhamos em silêncio por uns três ou quatro minutos, descendo e subindo alguns caminhos e nos levando a alguns corredores mais escondidos entre as paredes. Começamos do lado de fora, mas depois pude perceber que já estávamos de volta para dentro do castelo. – Uau.
Não pude evitar minha reação quando abriu uma pequena porta à nossa esquerda e me deixou entrar antes de fechá-la. O cômodo tinha uma claraboia com a luz bem distante, considerando a altura do castelo, e isso o deixava com uma iluminação incrível da lua.
Aquela parte era realmente como um castelo, as paredes eram pedras grandes e grosseiras, como se só tivessem se preocupado com o resto do lugar, com exceção daquele cômodo. E fora o melhor a ser feito, pois o estilo combinava completamente com o jardim ali exposto. Acho que eu nunca vira tantos tipos de flores e plantas, tudo era coberto por elas, o chão, as paredes, e até mesmo o grande balanço que ficava no centro do lugar. Tínhamos apenas um pequeno caminho livre entre as plantas para chegar até ele.
- É, esse lugar é lindo. Vem. – ela pegou minha mão e me puxou em direção ao balanço, sentando-se e me puxando para sentar ao seu lado. – Podemos ficar quietos um pouquinho? Prometo que é só para eu me recuperar.
- Claro que podemos. – a puxei para meus braços e balancei apenas um pouco, mantendo um dos pés próximo ao chão. encostou em meu ombro e parecia pensar muito, suspirando algumas vezes, parecendo querer segurar o choro.
Depois de alguns minutos, ouvi-a rir e levantar a cabeça para me encarar.
- Você não consegue ficar quieto, não? – perguntou e então notei que eu fazia sons, resmungando uma música qualquer que estava em minha cabeça. Eu nem mesmo havia percebido, o que me fez rir também.
- Te peço perdão, senhorita princesa, não foi por mal, não quis atrapalhar seu momento de reflexão. Por favor, não me jogue nas masmorras. – brinquei.
- ! – ela ralhou em um misto de divertimento e repreensão. Eu apenas dei de ombros em resposta, fazendo-a rir.
- O que importa é que você riu. – pisquei para ela, que corou.
- Eu falei, estou bem, só me estressei. As coisas ficaram complicadas desde que voltei. Eu saí com a confiança do meu pai, mas quando voltei pedindo para cancelar o casamento e poder fazer algumas coisas diferentes, ele surtou. Eu falei que queria mais tempo para mim, mais tempo para aprender coisas novas. Você tinha que ver quando eles viram meus ralados. – ela sorriu. – Com exceção disso, você não tem culpa alguma, sabe? Eu só tive uma experiência que eu queria aderir na minha vida. Eu não quero largar nada aqui, eu gosto de quem eu sou, eu só quero somar algo. Além de que não quero, de forma alguma, me casar por conveniência, me prender e prender alguém que não o quer.
- Você vai me explicar melhor sobre isso agora? – perguntei, curioso, e ela assentiu, respirando fundo.
- James é o responsável pela guarda real. Ele não é exatamente um nobre ou qualquer coisa assim, mas ele é de confiança e é a pessoa mais próxima que eu tenho na vida. Theo é meu amigo, mas James é quem me acompanhou a vida inteira. Ele cresceu aqui no castelo, é filho de uma amiga da minha mãe que não era da realeza. Ela era madrinha dele e sua amiga faleceu, ele não tinha família, então minha mãe o adotou. Ele foi a única pessoa que fez com que minha infância fosse ao menos um pouco normal, quem brincava comigo pelo castelo, e é por isso que temos um relação incrível. Mas é só isso, sabe? Ele é meu melhor amigo, meu braço direito. Mas eu nunca pedi que ele fosse meu noivo, meus pais que tiveram essa ideia, sabendo que eu não teria exatamente chances de conhecer mais alguém. James já é família, nós aceitamos sob pressão, sabe? Mas nunca tivemos qualquer relacionamento e isso nem mesmo havia sido divulgado ainda, seria após a minha coroação e meus pais já estavam ansiosos. – respirei fundo, aliviado.
- Confesso que isso foi o que mais me tirou o sono pelas noites e mais me chocou.
- Eu sei, , eu me expressei mal, eu não me expliquei na hora, deixei tudo pior.
- Um pouco, de verdade. – eu ri e ela fez um bico, como se pedisse desculpas.
- Eu confesso que ensaiei um super discurso por dias para conversar com você, mas aqui, agora, não tenho ideia do que dizer. – ela bufou, buscando por meus olhos. – , a primeira coisa, é que eu quero realmente pedir desculpas, com todo o meu coração. Eu não tinha o direito de te esconder nada, isso foi algo completamente absurdo. Eu tentei não deixar que a gente se envolvesse por isso, sabe? Mas eu fui fraca, não tinha como não acontecer. Eu comecei a me sentir diferente, me senti realmente livre. Eu estava com alguém que gostava de mim por ser eu, apenas eu, que se divertia comigo, sabe? Eu fiquei deslumbrada com essa possibilidade e me deixei envolver, o que foi um erro.
- Outch, . – reclamei, colocando a mão no peito, e ela me encarou, brava
- Você entendeu, ! Foi um erro eu me deixar envolver e te deixar envolver com essa mentira no meio. Eu pensei em contar várias vezes, mas eu tinha medo de acontecer exatamente o que aconteceu. Eu não queria perder o que tínhamos, .
- Você não confiava em mim, ? – perguntei, direto. – Porque eu nunca te dei motivos para não confiar. Eu fui um livro aberto com você desde o começo.
- Eu confio, sempre confiei. Eu não confiava em mim. Eu me senti perdida, e é isso que eu queria que você tentasse entender. Você me ensinou muita coisa sobre mim mesma, e eu sei que te decepcionei, mas eu nunca faria isso novamente. Você significa muito para mim, mais do que imagina, e isso me assustou muito. Eu estava te conhecendo e eu estava mudando alguns pensamentos meus, sabe? E meus pensamentos mexem com um país que eu amo, eu tinha que tomar cuidado com meus próprios sentimentos e eles eram os que mais me assustavam nessa situação. Eu nunca gostei de alguém, . Eu nunca tive alguém comigo. Nosso beijo foi meu primeiro beijo, por isso eu lutei tanto contra os sentimentos. – ela suspirou, abaixando a cabeça. – As coisas poderiam ser simples, mas aqui elas não são, infelizmente. Não que elas sejam as mais complicadas do mundo, porque não vivemos no século XIX, mas eu ainda tenho que ter cuidado com tudo e zelar por muitas vidas, nunca podendo me priorizar como fiz nesses meses que tivemos juntos.
- Me desculpa por não te entender antes, . – peguei suas mãos entre as minhas, ficando de frente para ela. – Eu nunca conseguiria entender nada disso e eu não te permiti dizer antes, eu me senti traído, perdido, iludido, tudo de pior.
- Você não tem que se desculpar por nada, eu fui errada em não abrir o jogo com você. – seus olhos estavam marejados, mas ela guardava um sorriso. – Desculpe, eu estou sentindo como se tivesse tirado um peso dos meus ombros e isso me faz bem.
- Eu sinto o mesmo. – dei de ombros, me sentando mais perto dela.
- Isso quer dizer que estamos bem? – perguntou, incerta.
- Estamos bem, . Na verdade, eu aceitei vir até aqui, acho que isso já dizia que mal não estavam. E eu juro que não foi curiosidade ou qualquer coisa assim, eu só não podia evitar a vontade de te ver de novo. Eu queria estar errado, queria que você me mostrasse que você não mentiu. E eu... Eu queria saber se eu não era o único que sentia algo forte. – mordi o lábio, nervoso.
- Você definitivamente não é o único que sente algo forte. – ela riu e, meio incerta, depositou um beijo rápido em meus lábios, me fazendo sorrir automaticamente. – Desculpe, eu queria fazer isso desde que você chegou. – seu rosto corou no mesmo momento.
- Eu também. – repeti seu ato e ela o fez novamente, nos deixando presos neste momento por um tempo.
- Obrigada, . Por estar aqui.
- Obrigado por me convidar a estar aqui. – sorri, apertando suas mãos de forma carinhosa.
- Você vai me deixar mostrar um pouco de tudo para você nesse tempo? – ela perguntou, esperançosa.
- Isso significa ver os seus deveres de princesa? – ela assentiu, animada. – Eu não perderia por nada.
- Vai ser bom quebrar mais alguns protocolos. – ela juntou nossos lábios mais uma vez, mas agora sem qualquer pressa, me fazendo gravar aquele momento para sempre na memória.

🏰


- Ei, bom dia. – sorri para , vendo-a parada em minha porta. Ela se aproximou com um sorriso e me deu um selinho que tentei estender, mas ouvi um pigarrear e dei risada, me afastando. – Olá, Theo.
- Vou denunciar vocês dois. – mostrou a língua para ele e começamos a andar pelo corredor em direção às escadas.
- Vou denunciar que você nos ajudou a sair do castelo na última noite. – dei de ombros, brincando e vendo-o me encarar com indignação enquanto levantava a mão para um high-five.
- Eu falei que ele estava te deixando rebelde, . Quero desistir. – ele riu, agora andando em nossa frente, pois nos aproximávamos do hall.
- Onde vamos? – perguntei baixo, vendo sorrir.
- Com você eu descobri algumas coisas que gostava e quando cheguei aqui, eu decidi que podia tentar colocá-las na minha rotina, e quero fazer isso pela primeira vez junto com você. – ela respondeu enquanto entrávamos no carro.
- Você não está indo andar de bicicleta com essa roupa, não é? – perguntei, brincando sobre sua vestimenta social.
- Não, . – ela gargalhou.
- Apesar de que ela amou muito andar de bicicleta, tanto que não tenho certeza se ela chegou aqui em Nomikos chorando mais pelo joelho ou por você. – Theo falou, rindo. o mostrou um dedo do meio prontamente.
- Pare de me envergonhar, Theo. – ela fez bico e eu a abracei de lado, escondendo meu rosto em seu pescoço e deixando um beijo ali.
- Coitada da princesinha, Theo. – brinquei, fazendo-a me empurrar para longe.

- , isso é incrível! – falei quando entramos em um lar de adoção de cães. Lembrei de conversarmos sobre isso na primeira vez em que saímos e do quanto ela repetiu sobre sua paixão por animais, principalmente cachorros, durante os demais dias.
- Não temos tantos animais em Nomikos por algum motivo desconhecido, então fizemos pesquisas e criei um projeto para resgatar animais nos países aqui em volta em que haviam muitos em situações ruins nas ruas. Foi difícil de planejar e conseguir autorizações necessárias, não é um tipo de projeto comum, mas já conseguimos trazer alguns. Comecei enquanto ainda estava na Inglaterra, de longe mesmo, mas hoje é minha primeira visita.
- Alguém já te disse o quão maravilhosa você é? Quase não consigo acreditar que você conseguiu tudo isso! Se eu pudesse, te beijava nesse exato minuto. – ele sussurrou a última parte, tentando manter a distância necessária em público enquanto entrávamos no local.
- Vossa Alteza! – uma mulher que devia ter por volta dos 60 anos fazia uma reverência animada, suspirando. – Seja muito bem-vinda, querida. – ela se endireitou, colocando a mão na boca. – Desculpe, Alteza, estou animada com esse projeto e sua primeira visita.
- Não há problema algum em me chamar assim, Thereza. – sorriu, educada. – O prazer é todo meu em te conhecer e o agradecimento, principalmente, por ter entrado nesse projeto com tanto amor.
- Ah, esses bichinhos são incríveis, srta. .
- Estou ansiosa em conhecê-los. Quero lhe apresentar duas pessoas que estão tão felizes quanto eu com esse início de projeto. – ela apontou para Theo e eu. – Esses são Theo, meu guarda-costas e amigo, e , também um amigo. – ela sorriu, piscando para mim enquanto Theo pigarreava em brincadeira.
- Vocês são muito bem-vindos, queridos, todas as mãos para dar carinho a esses animais são. Venham, vamos conhecer. – ela abriu a porta para um primeiro corredor e a acompanhamos.
Thereza e falavam de questões burocráticas mais a frente, enquanto eu e Theo olhávamos todos os detalhes do lugar, ansiosos por chegar logo ao que queríamos.
Passamos por diversos funcionários que tratavam com amor nos olhos. Eu estava acostumado à ideia de realeza e como era admirar uma família que estava no topo, afinal, também era assim na Inglaterra. Porém, acredito que era algo ainda mais amplificado em um país menor, e que ainda tinha a monarquia como algo tradicional, e não o Parlamentarismo como pesquisava quando nos conhecemos.
O povo os tinha como responsáveis de tudo, todas as áreas e necessidades do país. Eram muitas pessoas responsáveis, claro, mas eles eram a imagem de tudo, o centro de tudo. Sabia que algumas pessoas os tratavam daquela forma por obrigação ou interesse, mas nos últimos dias, que pude ter o prazer de acompanhar alguns trabalhos com , pude ver que a maior parte parecia sincera, afinal, parecia que eles realmente faziam um bom trabalho ali.
Quando terminamos de passar pelos cômodos administrativos, chegamos aos cômodos em que os animais ficariam. Quartos, lavatórios, comedouros, tudo em grande quantidade para quantos animais fossem necessários. E, claro, pelo tempo em que fosse necessário, pois a intenção era que o povo aderisse à ideia de ter um bichinho consigo e participasse dos eventos de adoção.
- Ai, meu Deus! – ouvi gritar mais a frente, animada. – Me perdoem por isso.
Vi ela perder completamente sua postura e correr para dentro do pátio onde os cães tomavam sol. Todos pareciam limpinhos e tinham algum tipo de decorativo, fosse presilha nas orelhas ou gravatas. Uns brincavam, outros dormiam estirados no sol e alguns estavam aprontando com o que tivesse disponível.
Quando a porta foi aberta, todos se viraram para olhar, o que os deixou curiosos. Quando correu porta adentro, muitos a seguiram entre latidos e mais latidos. Eu, Theo e Thereza ficamos observando e rindo enquanto os animais a atacavam e ela tentava dar atenção a todos.
Busquei por seus olhos e ela parecia ser a pessoa mais feliz do mundo naquele momento, o que apenas me fez crer que eu também era. Era inevitável. Ela levantou a mão, me chamando, e eu sorri, indo até ela. Ou tentando, já que os animais também se viraram para mim ao me ver. Eram apenas alguns, por volta de 15, mas era o suficiente para que fossemos massacrados com muito amor.
- Ainda bem que eu neguei a ideia de fotógrafos nessa primeira visita. – ela brincou enquanto pegava um cão por vez no colo, trocando-os a cada segundo.
- Você está linda, seria incrível que te vissem no seu mais natural você. Mas vão ter outras oportunidades. – dei uma mão a ela enquanto a outra era praticamente mastigada por um pequenino preto de patas brancas.
- Incrível como você sempre sabe dizer o certo para me agradar. – ela riu, parecendo envergonhada.
- É o dom, você sabe. – mostrei a língua.
- Eu quero que as pessoas vejam como você vê. Acho que você vê em mim o que mais ninguém enxerga, e por isso você me tornou uma pessoa muito melhor. Obrigada, , sem você isso nunca teria sido uma ideia de verdade. – ela agradeceu, sincera.
- Estou aqui para tudo, , quero te ajudar em tudo que eu possa. – sorri para ela, mordendo o lábio logo em seguida, ansioso. Ela me encarou com a testa franzida e um sorriso nascendo em seus lábios, desacreditada. Provavelmente, ela se questionava se eu estava dando minha resposta para o que conversamos há dias atrás sobre como seria para nós dois, sobre eu estar disposto a encarar um país para ficar com ela. A conversa que eu esperava nunca chegar e tinha chegado muito cedo, me deixando ansioso. Afinal, eu sabia que gostava de , mas eu precisava de um tempo para ver se eu poderia me encaixar ali. E com a ajuda dela, eu tive essa resposta naquela semana, onde ela me apresentou em algumas reuniões importantes e me pediu opiniões que eu podia dar. Durante os dias, ela me apresentou a outros familiares, me levou para passear pela cidade, e eu até mesmo tive que passar pelo interrogatório de James, seu melhor amigo. Eu sabia que ela sempre tentaria me encaixar, e aquilo foi o suficiente para me fazer pensar que eu poderia ficar com ela independente das circunstâncias em volta. Eu nunca estaria sozinho, assim como nunca a deixaria sozinha.
- Isso realmente quer dizer que você pensou? – perguntou, tentando se aproximar mais de mim. Assenti, fazendo-a rir de alegria. – Você tem certeza, ?
- Eu tenho toda certeza do mundo. Ainda não sei como tudo vai funcionar, mas eu quero entrar nessa loucura toda com você, . Te dou todo o apoio de conversar com os seus pais e podemos ver como fazer dar certo. Quero mesmo tentar.
- Então, isso quer dizer que estamos namorando? – ela arqueou uma sobrancelha em minha direção e eu apenas ri.
- Não sei se funciona assim no seu mundo, mas, senhorita Não Vou Falar Seu Nome Inteiro, você me daria a honra de ser minha namorada? – dei um beijo em sua mão, tentando ser discreto em nossa brincadeira. Ela se jogou em meus braços e beijou meu rosto, gritando um “achei que nunca fosse perguntar”. – Vão achar que te pedi em casamento, seja mais discreta, .
- Se você analisar, é quase isso. – ela riu, e eu considerei, sabendo que era verdade, rindo também. – E eu não tenho porquê ser discreta, . Eu quero que o quanto antes o mundo veja o que você significa para mim. – ela juntou nossos lábios em um selinho enquanto ouvíamos os cachorros latirem, ainda animados com as visitas.

Epílogo

- Seu cachorro vai destruir nosso café, ! – Kenny gritava enquanto Percy corria de um lado para o outro, brincando entre e eu.
- Ele não vai destruir nada, olha a carinha dele. – peguei Percy e o abracei, vendo Kenny rolar os olhos enquanto o resto de minha família ria.
Eu e estávamos há uma semana na Inglaterra, terminando de resolver algumas pendências, como a venda de meu apartamento e, basicamente, a minha despedida dali. Eu veria minha família novamente em duas semanas, mas me despedir do lugar onde vivi a vida toda parecia importante.
- Tudo bem que ele quase destruiu nossa casa na Tailândia. Mas quem sou eu para dizer algo? – comentou, dando razão para Kenny. – Isso porque nem é um filhote. – brincou.
- Eu amo o apoio que você me dá, princesinha. – ironizei e ela me mostrou a língua, infantil.
Eu e havíamos conseguido conversar com seus pais há um ano e dez dias atrás, quando decidimos que iríamos estar juntos. Foi uma conversa difícil, seus pais aceitaram até que bem a ideia de ficarmos juntos, depois de algumas dúvidas, porém, queria um ano “sabático”. Ela queria viajar, conhecer mais lugares e aproveitar nosso relacionamento apenas entre nós dois, para ver se realmente poderíamos dar certo.
Ela nunca quis se afastar das responsabilidades, mas ela queria ver o mundo sozinha, ou melhor, comigo. Mesmo distantes, retornávamos para Nomikos algumas vezes para que ela participasse de decisões importantes. Principalmente nos últimos meses, com os ajustes e decisões necessários para o grande evento em duas semanas... Sua coroação, e o nosso casamento. Ainda era estranho pensar nisso, mas eu estava radiante. Esse tempo juntos só nos deu mais certeza de que estávamos caminhando para um “felizes para sempre”.
Tivemos brigas como todos os casais, discutimos e eu até mesmo dormi no sofá enquanto o meu cachorro me abandonava para dividir a cama com ela. Foi um ano intenso e divertido, que acabaria no dia seguinte, pois nos deram exatamente um ano, então estaríamos de volta à Nomikos pela tarde do dia seguinte para começar a assumir todas as responsabilidades e mudanças que viriam pela frente.
- Vocês ainda têm muito o que fazer? – minha mãe perguntou, se aproximando e colocando a mão em meu ombro em um meio abraço.
- Tenho algumas últimas coisas para empacotar apenas e amanhã pela manhã deixarei a chave com o novo proprietário. – dei de ombros, suspirando. Minha mãe parecia feliz, assim como meu pai e meus irmãos. Eles amavam e estavam absurdamente felizes por nós dois.
Encarei minha namorada, ou noiva, e vi seus olhos cansados. Ela me olhou no mesmo momento e, como já estávamos com a prática, eu soube que ela queria ir embora, o que me fez rir.
- Acho que é hora de irmos. – falei, me aproximando dela e lhe dando um beijo na bochecha.
- Obrigada. – ela sorriu, agradecida. – Ainda temos algumas coisas para organizar, preciso te mostrar uns últimos detalhes que tenho que mandar para Yves amanhã logo cedo. – assenti.
Olhei a decoração da loja feita pela minha família. Não éramos os mais amorosos o tempo todo um com o outro, mas éramos uma família unida. Eles haviam decorado e fechado pelo dia para comemorar apenas conosco essa ida para Nomikos, tínhamos minhas comidas e doces preferidos e até alguns clientes foram convidados a passar por aqui para se despedir de mim.
- É hora de irem, não? – meu pai falou, nos encarando. Eu assenti e todos nos olharam, felizes, um por um se aproximando para um abraço.
- Nos vemos em duas semanas, chatinho. – Leslie foi a última a me abraçar, deixando também um carinho em meu rosto.
- Estou ansiosa para recebê-los, nos avisem de qualquer coisa que precisarem, tudo bem? – todos assentiram e peguei a mão de , caminhando até a porta.
Fechei a porta atrás de mim delicadamente e logo vi minha família suspirar e começar a limpar a bagunça com um grande sorriso no rosto.
- É isso então, não? – perguntei, abraçando-a pelos ombros e vendo-a assentir. - Preparada para assumir um país?
- Ao seu lado? Sem dúvida alguma. – sorri e segurei suas mãos, parando em sua frente para beijá-la. O mais engraçado foi a chuva começar a cair exatamente naquele segundo, transformando minha vida mais uma vez em um filme da Disney.



Fim!



Nota da autora: Oi, leitorasssss! Olha, eu sou LOUCA por essa música, por esse filme, por todas as músicas, pelos personagens, sério! Obrigada, Joy, por ter feito isso acontecer! Ficar com a minha música preferida me fez a pessoa mais feliz do mundo e eu estou muuuuito feliz com o resultado, porque eu amei fugir um pouco da ideia de cantor para não sair igual ao filme, e eu espero que vocês tenham gostado também. Me deixem um comentário, por favorrrr hahaha 💙

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