Capítulo Único
- Mãe, pelo amor de Deus, eu não preciso mais de babá! - falei irritado enquanto minha mãe e meu pai discutiam quem eles chamariam para cuidar de mim.
- É claro que você precisa! Não pense que vamos sair e te deixar sozinho em casa, , você tem 13 anos, não é nenhum adulto.
- Ninguém mais precisa de babá na minha idade, pai – rolei os olhos e me joguei no sofá irritado.
- Tem aquela garota, que cuida do filho dos Michaels, vou pegar o telefone dela e ver se ela pode – minha mãe saiu da sala para ligar e meu pai se sentou ao meu lado.
- Filho, não podemos te deixar sozinho, você sabe disso.
- Então me levem – falei, bravo.
- Nós não podemos te levar, é algo para adultos, e outra, vamos voltar tarde, amanhã você tem futebol, está numa fase decisiva.
- Ela vem! Espero que você se comporte, . Jenny falou muito bem dela, não nos envergonhe – minha mãe beijou minha testa e saiu em direção ao carro. Meu pai também se despediu rapidamente e saiu atrás dela, o que me restava era esperar a babá.
- Só um minuto – falei para que a garota ouvisse, estava pausando o jogo que rodava no videogame - Olá - falei quando abri a porta.
- Oi! Você é o , né? Meu nome é – ela sorriu e eu dei espaço pra que ela entrasse.
- Você não parece ser muito mais velha que eu – arqueei as sobrancelhas e ela riu, se sentando no sofá.
- Não sou, mas com certeza sou mais responsável, tenho 16.
- Ouch!
- Me dá o outro controle – ela falou depois de um tempo me assistindo jogar.
- Você joga? - perguntei.
- Não posso?
- Você é chata hein, nossa – revirei os olhos e ela riu tomando o controle de minha mão.
- Sou chata, mas imagino o quanto você não é, pra sua mãe querer babá pra um menino de 13 anos. Com 13 eu já era babá - ela deu de ombros.
- Vai tirar uma comigo mesmo?
- Sem dúvida alguma – ela piscou para mim.
- Você deveria ir dormir, sua mãe deixou isso claro.
- Não acredito que uma pessoa 03 anos mais velha que eu, vai me mandar ir dormir, inacreditável.
- E a pessoa 03 anos mais velha que você, não gosta de enrolação, então colabora – ela se levantou e antes que eu pudesse reclamar mais uma vez, desligou a televisão.
- Ei! - reclamei.
- Vamos, vamos – ela me puxou do sofá e começou a me empurrar em direção às escadas que levavam aos quartos.
- É só o treino de futebol amanhã, eu não tenho que dormir cedo.
- Se não tivesse, sua mãe não tinha mandado, colabora comigo vai! Também vou acordar cedo amanhã, se você for dormir, também posso cochilar até seus pais chegarem – ela deu de ombros, tentando me convencer.
- Você está mentindo, não? - perguntei enquanto pegava minha roupa em meu quarto e ela negou com a cabeça.
- Pratico ginástica artística, também treino. Vai colaborar, agora?
Afirmei com a cabeça e segui direto para o banheiro para tomar banho. ficou sentada em minha cama mexendo no celular durante todo o tempo, pois quando voltei ela ainda estava na mesma posição de quando eu saíra.
- Será que vou te ver mais vezes? - perguntei.
- Se seus pais continuarem achando que você precisa de babá, é bem provável, é só falar que me odiou – ela deu uma gargalhada e se levantou da cama, indo em direção a porta.
- Vou contar pra eles, pode deixar.
- Boa noite, .
- Boa noite, – falei enquanto ela encostava a porta e apagava a luz.
***
- E aí, o que vamos assistir hoje? - me perguntou quando abri a porta para ela.
- Não sei, não aguento mais olhar pra sua cara – falei rolando os olhos e ela riu.
- Bebezão - ela me mostrou a língua e se jogou no sofá.
Era a terceira vez que meus pais chamavam para "cuidar de mim", terceira semana seguida em que eles tinham eventos chatos de gente rica e eu ficava em casa. Passara a agradecer por isso, já que a garota era incrível, ela era legal, bonita, inteligente, jogava videogame, bonita, assistia os filmes que eu gostava, era bonita... Já falei bonita? Nós nos víamos algumas vezes durante a semana, eu nunca havia reparado antes nela, mas ela estudava em uma escola próxima da minha. Algumas vezes nos encontrávamos no caminho da escola, ou eu a via no parquinho com Ian, o garoto de 04 anos que ela cuidava às quintas-feiras, enquanto voltava do treino de futebol. Ela sempre me cumprimentava animada, independente de com quem estivesse. Meus amigos achavam isso o máximo, afinal, ela era mais velha e me dava bola. Eu tinha certeza que ela me dava bola, ela até mesmo tinha me dado seu celular, e além de nos encontrarmos durante a semana, ela chegava sempre feliz em casa nos fins de semana, eu não poderia reclamar.
- Vamos jogar alguma coisa? Tem algum jogo aí? - ela perguntou - não quero ver filme, enjoei.
- Tem Banco Imobiliário, serve?
- Vamos passar mil anos jogando, mas claro, adoro! - subi as escadas rapidamente para buscar e quando voltei ela estava deitada no chão tentando tirar uma foto dela mesma.
- Precisa de ajuda? - perguntei apontando para o celular e ela sorriu envergonhada me entregando. Ela sorriu para a câmera e eu toquei na tela diversas vezes para criar uma sequência, quando ela percebeu, começou a rir, me fazendo ter diversas fotos espontâneas dela – me manda essa, por favor!
- Pra que vou te mandar uma foto minha, tá doido? - ela perguntou.
- Porque eu tirei e gostei muito dela – mostrei a língua e saí correndo segurando seu celular. Me tranquei no banheiro e rapidamente enviei a foto para mim enquanto ela gritava comigo batendo na porta em meio a gargalhadas.
- Peste! - ela deu um tapa em minha cabeça assim que abri a porta e dei o celular de volta na mão dela – Vamos jogar, vai! - ela colocou a mão em meus ombros e me direcionou escada abaixo até onde estávamos antes – Eu ainda vou apagar essa foto, você vai ver.
- Vamos pedir uma pizza? - perguntei enquanto ela pegava o dinheiro para comprar uma propriedade no jogo. Ela assentiu e eu fui até a cozinha pegar o cardápio de sabores da pizzaria que eu e meus pais sempre pedíamos – Ah não! Você não vai pedir daí! Tem uma muito melhor! Pera aí.
Ela começou a mexer no celular e então pegou o cardápio online de uma pizzaria chamada "", eu semicerrei os olhos e percebi que ela me encarava.
- Esse é o seu sobrenome, não?
- Meus pais são os donos, não acredito que você queria comprar da concorrência - ela rolou os olhos.
- Mas eu não sabia!
- Agora você sabe – ela mostrou a língua - A de pepperoni é uma delícia.
- Gosto de mussarela! Meio a meio então? - ela assentiu e pegou o telefone me entregando.
- Não vou ligar para o meu pai pedindo pizza – ela riu e eu então liguei fazendo o pedido.
- Meu Deus, essa realmente é a melhor pizza – falei com a boca cheia fazendo rir.
- Eu avisei! Concorrência nunca mais?
- Nunca mais!
- Agora termina de comer que o senhorzinho tem que ir dormir!
- Ah não, !
- Ah sim, ! Sem reclamações, já combinamos.
- Odeio quando você tenta agir como uma mãe, você tem quase a mesma idade que eu.
- Preferia uma velha que nem sobe as escadas? - rolei os olhos - Você é um menino maravilhoso que tem um ótimo futuro no futebol pelo que todo mundo fala, por que não se dedicar a isso com umas horinhas a mais de sono antes do treino? E não diga que eu também deveria fazer isso já que tenho treino, porque amanhã estou livre – ela me mostrou a língua.
- Por que não assiste meu treino amanhã? Seria legal.
- Isso seria demais, posso? - ela perguntou, animada.
- Claro! Vou até dormir mais cedo – mostrei a língua para ela e continuamos conversando enquanto terminávamos de comer a pizza.
***
- Vai ! - ouvi gritando quando me aproximei da zaga do outro time, tentando os deixar para trás para alcançar o gol. Acreditei que ela não viria, já que uma hora havia se passado, mas lá estava ela torcendo por mim numa arquibancada cheia de pais e mães dos outros garotos.
Um dos zagueiros acabou por conseguir roubar a bola de mim e a recuar para o goleiro, então não seria dessa vez que veria um gol meu, infelizmente. Mas eu continuaria tentando, tenho certeza que ela adoraria que eu fizesse um gol para ela.
Alguns minutos depois voltei ao ataque, me aproximando novamente da zaga adversária, mas ao tentar cruzar a bola para um colega de time, o mesmo zagueiro que havia roubado a bola em minha jogada anterior, chutou minha canela de má fé. O juiz apitou e marcou pênalti, fazendo a garota vibrar na arquibancada. O técnico escolheu para que eu batesse e me animei em saber que agora ela comemoraria um gol meu, afinal, eu nunca perdia um pênalti, era um dos meus treinamentos mais pesados.
Me posicionei de frente para o goleiro e vi meus colegas espalhados atrás aguardando a cobrança. Ouvi o apito e corri em direção a bola, chutando rasteiro no canto direito. O goleiro caiu para esquerda e eu vibrei com meus colegas correndo em minha direção para pular em cima de mim. Quando eles se afastaram, olhei para na arquibancada e mandei um beijo para ela, fazendo um coração no ar. A garota fingiu que pegou o beijo com as mãos e riu. Ela parecia feliz ali, e parecia se importar comigo. Nem mesmo meus pais vinham muito aos meus treinos para torcer, eles acreditavam mais no retorno que aquilo teria para eles.
***
- Cara, ela tá tão na sua – Dave falou para mim enquanto passávamos em frente da escola de e ela estava na porta. Ela acenou para mim e sorri para ela.
- Eu sei, ela tá mesmo! Acredita que ela foi ver meu treino no domingo?
- Mas cara, nem seu pai vai direito!
- Pois é, ela se preocupa mesmo comigo. E ela me dá uns olhares que você não tem ideia – pisquei para ele, que me deu um soco no ombro.
- Sortudo demais! Ela é gata mesmo.
- ! - ouvi ela me chamar e me virei, a encontrando ao meu lado – As meninas me abandonaram, posso ir com vocês?
- Na verdade também estou sozinho, o Dave vai por outro caminho hoje – o garoto olhou para mim tentando entender e eu apenas olhei-o fulminantemente e ele concordou, se despedindo. deu de ombros e começou a caminhar ao meu lado.
- Vou passar na Starbucks, tenho que estudar à tarde e preciso de um frappuccino bem grande como recompensa – ela apontou para a grande loja que ficava uma esquina à nossa frente.
- Tudo bem, acho que não me faria mal um também - falei rindo.
- Eu pago – bati em sua mão quando ela tirou o dinheiro do bolso.
- De forma alguma, gracinha – ela riu e bateu em minha mão.
- Por favor, ! - fiz bico e ela revirou os olhos pagando a própria bebida – Chata! Me chama de gracinha, mas não me deixa ao menos pagar sua bebida! É isso que cavalheiros fazem em encontros, sabia?
Ela gargalhou e apertou minhas bochechas, me deixando para trás, tentando entender o que ela queria. Aquela garota me deixava confuso, achei que seria normal que eu pagasse algo para ela, mesmo que ela que tivesse me chamado para ir ali.
- Gosto de passar um tempo com você, sabia? Você é divertido para alguém de 13 anos – ela brincou, como sempre fazia ao falar disso.
- Ainda bem que idade não determina nada, não? - pisquei para ela e beijei sua bochecha, a deixando em casa.
- Podíamos voltar juntos mais vezes – ela deu de ombros.
- Eu adoraria, tchau, !
- Tchau, – ela acenou enquanto eu me distanciava.
- Ei, ! Oi! - vi acenar para mim e andar em minha direção com um garoto ao seu lado.
- Oi, !
- Quer ir com a gente?
- Pode ser, estou sozinho hoje – sorri para ela e o rapaz apenas balançou a cabeça, me cumprimentando.
- Esse aqui é o Justin, meu namorado! - ela o apresentou enquanto entrelaçava suas mãos e caminhava ao meu lado, entre nós dois. Namorado?
- Namorado? - tossi um pouco alto. Só podia ser brincadeira, ela queria me fazer ciúmes? Qual a necessidade disso?
- Sim! - ela falou, animada.
- Legal.
Seguimos o caminho enquanto eu ouvia falar sobre Justin, e como eles tinham se conhecido. Acredito que em algum momento ela percebeu que eu não estava com muita vontade de falar e decidiu focar a conversa no garoto que parecia alheio a tudo.
- Sábado será que sua mãe vai sair, ? - ela perguntou antes que eu me despedisse quando chegamos na porta de sua casa.
- Bem provável, ela disse algo sobre ir na casa da Sra. Till...
- Será que ela se importaria de encontrar outra pessoa só pra esse sábado? Eu e o Justin queríamos muito sair...
- Ah, claro... Eu aviso e procuramos alguém, tudo certo – sorri amarelo e acenei antes que ela pudesse falar qualquer coisa.
Como é possível que tinha outro? Ela estava toda amiguinha comigo, e agora aparecia com um cara toda feliz?
- Dude, ela simplesmente apareceu com um namorado! - falei para Dave enquanto me jogava na cama irritado.
- Quem?
- A né! Encontrei ela hoje e ela veio toda toda me apresentar o cara!
- Não acredito! E você aceitou numa boa?
- Eu ia fazer o quê? Bater nele?
- Será que ela não tá querendo te fazer passar por ciúmes, pra ver se você também gosta dela? Falam que as meninas mais velhas têm disso, insegurança, essas coisas.
- E o que eu faço com isso?
- Dá algum presente pra ela, faz alguma coisa e rápido! Ela se preocupa com você, ela tá toda caidinha pro seu lado... Conversa mais com ela, fala que se preocupa com ela também, que ela pode sempre contar com você... Sei lá, faz alguma coisa pro cara não separar vocês! Se você perder essa garota eu te quebro.
- Sei lá, não quero acelerar ela, sempre falam que as garotas têm seu próprio tempo.
- Mas ela já não tem pelo jeito, já que ela tá com outro. Corre atrás!
Desliguei o telefone e o joguei de lado pensando no que faria. O que eu poderia comprar pra ela? Chocolate, flores, tudo tão comum... Um anel não era má ideia, mas talvez não de primeira assim, tinha que demonstrar rápido, mas aos poucos... Dave era um gênio. Ele entendia das coisas.
***
- E aí garoto, como vai? – passou a mão em meu cabelo quando passou por mim, entrando em casa.
- Desculpa por minha mãe não encontrar ninguém pra hoje, ... – falei, tentando não rir. Na verdade minha mãe nem havia procurado alguém, eu não havia contado para ela o que dissera para mim antes. Qual é, eu não ia entregar ela de bandeja pro cara! Eu ia lutar por ela, sim, e ninguém ficaria entre nós.
- Tá tudo bem – ela sorriu amarelo.
- Espera que eu vou pegar uma coisa que eu comprei pra você! – subi as escadas o mais rápido possível e a deixei com uma expressão confusa na sala. Mais ou menos a expressão que eu tinha em meu rosto desde que ela me apresentou o tal namorado, o de confusão, ela ia me deixar louco - Aqui – entreguei para ela o presente que estava embalado com um papel vermelho de bolinhas azuis, escolhido pela moça da loja.
- O que é? - ela perguntou curiosa.
- Abre!
Ela desembrulhou o papel e encontrou os bombons que eu comprara em uma grande loja de chocolate que tínhamos no centro da cidade. Era uma caixa média, com um fundo dourado e os chocolates estavam lado a lado, cada um confeitado diferente.
- Não precisava, - ela me abraçou demoradamente, ao menos, eu achara – Pra que me dar presente?
- Surpresas são sempre ótimas coisas – eu sorri – Queria mostrar que me importo com você, sei lá... Gosto da gente, acho que estou sentimental, não quero te perder...
- Ai pirralho, que gracinha – ela riu e me abraçou mais uma vez – Obrigada, mesmo! Você é maravilhoso – ela beijou minha bochecha e então se sentou no sofá, abrindo a caixa que eu lhe dera – Vem, vamos dividir.
- Mas é seu, eu não quero – revirei os olhos e ela me puxou para sentar ao seu lado.
- Vai comer sim, é nosso! - aquela garota era inacreditável, era impossível que alguém, um dia, chegasse aos pés dela.
- Você quer me engordar, né? - ela colocava o terceiro chocolate na boca – Tenho certeza.
- Eu não, até porque acho impossível isso acontecer com uma única caixa de bombons. Mas pode deixar, da próxima vez te dou um anel.
- Próxima vez? Tá querendo o quê, baby?
- Baby? - arqueei a sobrancelha.
- É, gostei de baby, vou te chamar assim agora – ela deu de ombros se servindo de mais um dos da caixa.
- Era só o que me faltava – rolei os olhos e ela riu.
***
03 meses depois...
Sabe quando você tem certeza que está em um dia bom? As coisas entre eu e estavam ótimas, nos víamos quase todos os fins de semana, e algumas vezes até durante a semana. Ela foi em uma grande parte dos meus treinos de futebol e eu também vi seu treino de ginástica, não posso negar, a garota levava todo jeito do mundo, ela merecia qualquer reconhecimento que pudesse ter. Ela ficava linda com o coque que usava, e a roupa toda brilhante também, já que não gostava de roupas neutras nem para treinar, sempre dizia que aquele não era o espírito da coisa.
Apertei a campainha de sua casa e esperei por um tempo na porta até que ela se abrisse, me mostrando a mãe de , Vivian. A cumprimentei e pedi para que chamasse a filha, e antes que ela pudesse o fazer, vi vir em direção a porta, com Justin em seu encalço. Justin, que não aparecia há semanas e eu acreditava muito bem, ter sido descartado. O que eu fizera de errado?
- Baby? O que está fazendo aqui? - ela perguntou, me cumprimentando. Sua mãe já havia entrado, mas Justin estava logo atrás dela, e isso estava me incomodando.
- Podemos conversar a sós? - olhei irritado para o garoto, que com um olhar de , andou para dentro da casa, fechando a porta.
- Aconteceu alguma coisa? Você tá bem? - perguntou, preocupada.
- Tô sim, eu vim te trazer isso – peguei a rosa que estava escondendo atrás de minhas costas e a entreguei – mas pelo jeito você está muito ocupada.
- Que linda – ela pegou a rosa, mas parecia estranhar meu comportamento. Como se não fosse normal ficar irritado com outro na casa de sua garota - Está tudo bem?
- Não, , não tá. O que esse cara tá fazendo aqui? - levantei minha voz e ela pareceu ainda mais confusa.
- Que cara, ? O Justin? Ele é meu namorado, o que ele estaria fazendo aqui?
- Por que vocês ainda estão juntos? Eu já fiz de tudo, , eu te dei presentes, eu fiquei do seu lado, eu mostrei que me importo, a gente saiu várias vezes, como você me fala que tem outro?
- , espera, o que tá acontecendo, o que você tá achando?
- O que eu tô achando?
- Você acha que tem alguma coisa entre nós, ? É isso? - olhei para ela, tentando entender – Olha, eu acho que você entendeu errado...
- Como eu entendi errado, me fala? Qualquer um perceberia que você tava comigo, !
- Eu tava, mas sou sua amiga! Não somos nada além disso! Você não precisava me dar presentes, ou qualquer coisa , nunca existiu nada além de amizade, ao menos não da minha parte.
- Como assim, ? - senti meus olhos arderam quando ela terminou de pronunciar suas palavras e ela tentou se aproximar para segurar meu ombro com sua mão livre, mas eu me afastei, dando passos para trás.
- , me desculpa...
- Isso só pode ser um pesadelo, eu não acredito – dei mais alguns passos para trás e levantei a mão para que ela parasse de tentar se aproximar de mim.
- Eu não ia te contar agora, porque as coisas ainda estão se acertando e eu queria que a gente pudesse comemorar junto, mas eu vou embora, . Eu consegui o que eu mais queria, eu vou treinar com a Seleção Olímpica de Ginástica Artística, e eu vou representar nosso país. Pra isso, eu preciso ir para outra cidade, eu só estou terminando esse ano para poder fazer isso...
- Você vai embora? - senti como se meu coração pudesse se partir em mil pedaços, eu não acreditava que havia sido duplamente despedaçado em uma única conversa – Me fala que isso é mentira, por favor, não faz isso comigo.
- Eu sinto muito , eu gosto muito de você, mesmo que como amigo, queria que fosse mentira, mas é a melhor coisa que eu poderia conseguir na minha vida, você sabe o quanto sonhei com isso.
- Eu sei, e eu estou muito feliz por você, mas ... Eu não vou mais te ver? - ela deu de ombros, parecia estar triste assim como eu – Me desculpa por tudo – saí correndo da porta de sua casa, sem dar a chance de ela me alcançar. Ela gritou algumas vezes o meu nome, e senti que meu celular vibrava com algumas mensagens que provavelmente eram suas, mas as ignorei. Quem sabe um dia eu abriria elas, mas aquele não era o momento. Ela havia partido meu coração, e aquela era a primeira vez. Esperava muito que fosse a única.
- , por favor?
- Sou eu.
- O senhor poderia comparecer ao local de treino hoje? Por volta das cinco da tarde?
- Claro, aconteceu alguma coisa?
- Está tudo bem, precisamos apenas conversar com o senhor.
Avisei minha mãe e meu pai que haviam me ligado para ir até lá e eles apenas concordaram com a cabeça voltando a conversar entre si. Meu treino era no domingo, e não no sábado, então confesso que estranhei e fiquei até um pouco preocupado.
***
- Mãe? Pai? O que estão fazendo aqui? – perguntei quando entrei na sala do coordenador do time onde eu treinava desde pequeno.
- Olá, – o senhor Walker cumprimentou com um aceno de cabeça - Sente-se – ele apontou a cadeira que estava ao lado de minha mãe, que sorriu pra mim.
- Eu fiz alguma coisa? – perguntei assustado, repassando todos aqueles dias na minha mente para procurar algo de muito errado.
- Você fez algo, mas algo muito bom, meu filho – meu pai falou, parecendo, não sei, emocionado.
- , você foi escolhido por alguém muito importante, para treinar com a nossa Seleção Olímpica. Não consigo ficar segurando uma notícia dessas por tanto tempo! – ele se levantou e caminhou em minha direção, esperando que eu me levantasse para abraçá-lo, mas eu não conseguiria fazer isso, não naquele minuto.
Soltei todo peso do meu corpo na cadeira e respirei o mais fundo que eu podia. Aquela frase parecia a mais impossível de já ser ouvida na vida, eu sempre sonhei com isso, claro, mas sabe quando mesmo dando o seu máximo, você nunca conseguiria ver acontecendo? Era assim que eu me sentia ali, com ele me olhando e esperando por qualquer movimento, com meu pai e minha mãe me encarando com a maior expressão de orgulho que eu já vira em 15 anos.
- Está tudo bem, querido? - minha mãe perguntou, colocando sua mão em meu ombro e dando um leve cutucão. Eu apenas afirmei com a cabeça e engoli seco, buscando a vontade de falar qualquer coisa. Parecia que qualquer palavra que saísse da minha boca, estragaria aquela notícia para sempre.
- Estou começando a achar que você não gostou muito, – vi ele falar, com um sorriso brincalhão no rosto. Não que meu cérebro tivesse tido tempo de captar aquilo antes de gritar um sonoro "não" em meio a eles - Não?
- Não, eu quero! Desculpem – falei atrapalhado, esperando que eles entendessem o quanto eu estava nervoso – Eu não tô acreditando – meus olhos se encheram de lágrimas e então senti que todos me abraçaram ao mesmo tempo e deixei que as lágrimas escorressem livremente.
Tudo que eu havia feito até ali não havia sido em vão, todos os treinos desde sempre, os machucados, as brigas... Eu sempre fui apaixonado por aquilo, mas talvez as pessoas achassem que fosse algo fácil e simples, e não algo que realmente demanda treino, tempo, dedicação. Futebol é uma paixão pra muitos, um grande amor, mas exige muito de você pra se dedicar inteiramente aquilo, e apesar de eu ter outras ideias para seguir em frente, saber que eu poderia realizar a primeira de todas, não poderia ser melhor.
A partir de agora as coisas mudariam de uma forma louca, sabia que não seria nada fácil, mas eu lutaria tanto por aquilo que me orgulharia mais do que já estava. Não era da boca pra fora, eu definitivamente seria outra pessoa dali em diante. Eu iria embora daquela cidade, eu me mudaria pra próximo dos lugares de treino, eu conheceria jogadores incríveis que já jogavam em algum time importante, eu faria meu caminho em direção ao mercado do futebol a partir da Seleção Olímpica, eu nem sabia se isso já tinha acontecido alguma vez.
Era hora de ir embora, e correr atrás do meu futuro.
Que vontade de vomitar, meu Deus!
Não que eu nunca tivesse viajado de avião antes, mas não era todo dia que você estava com seu time, viajando para o Japão, para jogar nas Olimpíadas. Eu ainda nem podia acreditar que estava fazendo isso, era algo impossível, provavelmente eu só acreditaria depois de pisar no gramado, ou qualquer coisa assim. Os caras estavam na mesma situação que eu, um parecia mais ansioso que o outro, porque ao invés de dormir, estávamos gritando feito loucos, comentando sobre o que faríamos quando chegássemos lá. Sabíamos que tínhamos que descansar, treinar, mas qual é, a ansiedade estava a mil.
***
Quando chegamos ao hotel que íriamos nos hospedar, o time foi dividido em duplas e eu e Rizzon fomos para o nosso quarto, nos jogando naquelas confortáveis camas antes de fuçar o quarto tecnológico que aquele lugar tinha, porque claramente, era o Japão, não seria qualquer coisa.
- Eu quero conhecer tudo que for possível por aqui, é um sonho – ele falou enquanto se levantava e andava em direção ao banheiro - até a privada daqui é chique – ele gritou, fechando a porta.
***
- Hoje começam as competições, vocês estão por si só, mas, por favor, tomem cuidado e não aprontem. Torçam por nosso país, conheçam a cidade, mas estejam de volta às oito, temos que nos preparar para o longo treino de amanhã.
Todos concordaram e então decidimos nos separar em grupos para quem iria para qual competição. Depois da noite anterior, onde ocorreu a cerimônia de abertura e todos choraram copiosamente de emoção sem a mínima vergonha disso, estávamos pensando em aproveitar o máximo que desse da sensação de torcer por nossas equipes.
Naquele primeiro dia diversas modalidades estavam disponíveis, em dois locais diferentes. Os locais eram próximos a Vila Olímpica, então eram de fácil acesso e ainda teríamos tempo de conhecer um pouco da capital.
Metade do time decidiu que veria as provas de Ciclismo e Canoagem, que ficavam um pouco mais afastadas da capital, decidiram que iriam para a cidade em outro dia. Fiquei com a metade que seguiu rumo ao principal estádio para acompanhar as provas de Ginástica. Talvez eu tivesse um motivo para isso, talvez eu precisasse constatar o que eu havia tentado tirar da cabeça desde o dia anterior. Eu não sabia como aquilo não me havia ocorrido antes. Já tinham se passado quase cinco anos, e eu havia guardado isso numa parte tão separada e isolada da minha mente.
- Cerimônia de abertura, flashback
Quando a Seleção da Itália foi convidada a entrar todo mundo se juntou em direção ao caminho que nos levava para nosso lugar ao lado das outras. Entramos animados com a música que soava por todo aquele estádio lotado. Identificamos pessoas vestidas com nossas tradicionais cores em um pequeno canto das arquibancadas e acenamos euforicamente. As equipes entravam em ordem alfabética das modalidades, então grudamos nas equipes que entravam conosco e eram bem menores que uma de futebol, para fazer amizades.
Estava para trás da minha equipe conversando com uma garota de 14 anos que fazia parte da equipe de ginástica rítmica e me contava animada sobre como era estar ali tão nova. Lágrimas escorriam por seu rosto enquanto ela falava e eu a abracei, quando mais algumas meninas chegaram em volta de nós para conversar. Na nossa longa caminhada dividimos diversas experiências, e enquanto a próxima Seleção era anunciada, eu ouvi alguém dizer "Adorei essa coisa de entrar logo atrás do time de futebol" e ouvi uma risada que parecia conhecida, mas não sabia dizer de onde. Olhei por cima de Luna e antes que pudesse encarar a dona da risada, fui puxado por um organizador junto a todos para nosso lugar. Olhei em volta algumas vezes, e procurei, mas já tínhamos sido tão misturados que nem encontrava mais meu time.
- É tão legal que a gente possa ver tudo de perto!
- É - respondi igualmente animado para Enrico, enquanto mostrava ao segurança nossos passes - Você conheceu a Luna? Ela tem 14 anos e amanhã já vai competir aqui! Quero muito voltar pra ver.
Quando entramos no estádio e escolhemos onde sentar, bem no meio entre todas as modalidades da Ginástica Artística, eu olhei para o telão e vi que já tinham começado as primeiras equipes. A Itália apareceria só entre as próximas, então apenas ficamos observando e como bons compatriotas, torcendo para os ginastas das outras equipes caírem. Sinto muito humanidade, medalha pro meu país acima de bem-estar! Um pouco feio isso, mas tudo bem, meu coração competitivo aceita.
- Verde, branco e vermelho parecem ser cores que não combinam em nada, até você ver o uniforme da equipe de ginástica né? - Adam falou ao meu lado quando vimos a equipe feminina se apresentar para competir.
Vi os nomes das ginastas aparecerem no telão e congelei ao ver um nome em especial e então entendi a risada que eu reconhecera no dia anterior, não associei a pessoa, e nem mesmo me lembrei de recordar que ela poderia estar ali. " " brilhava em meus olhos em grandes letras e senti um sorriso brotar em meus lábios quando a câmera focou nela, se preparando para o primeiro aparelho, o cavalo de alças, o que eu julgava o mais difícil entre todos ali e ela sempre reclamara mais do esforço.
subiu no aparelho com muito esforço, apesar de tentar não demonstrar isso. Ela se apoiou em uma mão primeiro, jogando todo seu peso ali, para ir para o lado jogando o peso em outra mão. Ela girava de uma mão para outra por entre todo o cavalo, algumas vezes balançando por encostar um mínimo pelo que fosse das suas pernas nas alças, o que eu sabia que descontaria pontos. Olhando por algumas outras apresentações que eu havia visto, ela não estava tentando algo de extrema dificuldade, e eu sabia que para ela estava tudo bem já que aquele aparelho nunca fora seu foco. Ela girou o corpo entre uma alça e outra algumas vezes e fez algumas vezes o movimento mais conhecido do aparelho, chamado de "tesoura". Na minha opinião aquele era um aparelho limitado, não existiam muitas coisas que você pudesse fazer com algo entre suas pernas. Ela cravou sua saída com o corpo pendendo apenas um pouco para o lado e então os aplausos puderam ser ouvidos.
A garota se sentou com o técnico ao seu lado para aguardar sua nota. Sua apresentação havia sido animadora, eu já havia visto-a treinar, mas nada saía daquela forma incrível como era ali, quando tudo era feito pra valer, sem qualquer erro. Bom, ao menos perceptível para um leigo naquele esporte, pois eu sabia que as notas naquele aparelho raramente passavam perto dos 15.
Uma voz anunciava a participação de uma canadense no solo, mas quando ela terminou, outra voz tomou o estádio anunciando 13.900 para . Gritei exageradamente e talvez Adam só não tivesse se importado porque também ficara feliz. A garota acenou tímida para a câmera, seu sorriso mostrava que ela estava extremamente feliz com aquela nota, e seu técnico parecia compartilhar desse fato. E eu sabia apenas uma coisa ali, eu precisava encontrá-la.
passou pelas barras assimétricas com 14.600, pela barra fixa com 14.900, pela trave com 13.600 por conta de ter caído no momento em que saiu do aparelho, pelo salto com 14.500 e pelas barras paralelas obtendo a maior nota até ali 15.200. Eu estava ali, gritando, mas ela parecia não notar meu grito entre todos os diversos na multidão. Não que eu quisesse que ela conseguisse, mas eu estava ansioso, não podia negar. Meu primeiro amor, a menina que partiu meu coração iludido pela primeira vez, estava ali. Ela era uma competidora olímpica, assim como eu, eu precisava falar pra ela que estava ali, que nós dois havíamos conseguido chegar onde queríamos.
Agora eu sabia que era o momento que ela mais esperava, e por sinal, achei engraçado que ela houvesse sido sorteada para aquele como seu último aparelho. Solo era seu preferido desde sempre, ela me dissera uma vez que foi como havia aprendido a gostar de ginástica. Como primeira opção, ela pensara na rítmica, mas por sempre apresentar muita disposição para exercícios e ser considerada “espuleta” pela mãe, começara a avaliar a artística. Além de que se achava desastrada e percebera que não conseguiria segurar nem mesmo um fitilho nas mãos enquanto se movia.
Apesar de ser algo muito rápido, conseguia executar os saltos e todos os movimentos com uma delicadeza anormal. Ela pulava de um lado para o outro pela diagonal do estrado, se dividindo entre saltos mais altos e acrobáticos e saltos que eu achava mais "bailarina" de tão graciosos. Quando ela parava nas laterais, executava passos normais de dança, mexendo o corpo no ritmo da música que soava, provavelmente alguma nacional que eu não reconhecia, mas talvez fosse de alguma banda que eu sabia que ela gostava. Durante toda sua apresentação eu apenas tentava acompanhar, tentando entender como era possível girar tantas vezes sem ficar tonta. Pelo pouco que conhecia, sabia que não viriam muitas penalizações em sua nota, já que ela não havia pisado fora da linha limite e eram poucas finalizações que ela não cravara em cem por cento.
saiu de sua apresentação tremendo da cabeça aos pés, era algo perceptível a qualquer distância, a cor sumira de seu rosto e eu passei a me preocupar, achando que havia algum erro ali que eu não vira. Para mim, a apresentação tinha sido incrível, pois eu assistira de outras garotas que pareciam não ter feito um mínimo do que fizera. Talvez eu estivesse puxando saco, mas ao mesmo tempo eu tinha certeza que apesar de não entender muito, ela era boa. Até porque se ela não fosse, não estaria ali.
A câmera estava focada nela agora, e o estádio esperava ansiosamente sua última nota que junto a última garota que faltava se apresentar nas barras laterais, poderia dar uma medalha de bronze para nossa equipe. Além, claro, das classificações. As melhores em cada aparelho seriam classificadas para as individuais que seriam no dia seguinte, e eu sabia que ia estar entre as melhores, não sei em quantos ou quais aparelhos, mas ela conseguiria. A concorrência era pesada, não posso dizer o contrário, talvez fosse quase impossível a vitória, mas ela não sairia daquele lugar de mãos abanando, ela era determinada demais para isso. Eu confiava nela, e queria poder lhe falar isso.
15.800! 15.800! desabara a chorar naquele minuto, aquela havia sido a maior nota de solo da competição, ela era a primeira classificada para os individuais! Adam pulou e me abraçou e eu senti meu corpo todo tremer assim como o dela, ela havia conseguido! Olhei para o telão e vi ela acenar para todos enquanto seu técnico a abraçava de lado e algumas meninas que já haviam finalizado suas apresentações chegavam nela a parabenizando. Porém, elas pararam assim que ouviram que a competição havia sido finalizada e mais quatro notas seriam divulgadas.
As equipes estavam juntas, cada uma em um lugar, apenas aguardando para saber se haveria comemoração como sonhado. Nossa equipe dependia agora da nota da seleção que estava em quarto, e da nossa, que estava em terceiro. Nossa briga era por aquele mesmo lugar, pela medalha de bronze. Meu coração parecia que sairia do peito, era engraçado como as coisas poderiam ser ainda mais loucas quando se estava ali pessoalmente. E o mais louco ainda, quando se conhecia alguém que estava competindo. Eu estava mais ansioso por ela, do que por meu primeiro jogo. Bom, até ali, sabia que na minha hora também me desesperaria.
14.400, o suficiente para que ficássemos 200 pontos à frente da quarta colocada, a medalha de bronze era nossa! A equipe feminina de Ginástica Artística saltitava de um lado para o outro, todos distribuindo abraços e compartilhando apertos de mãos com as seleções adversárias. Eu não sabia do nosso histórico naquela competição, mas sabia que qualquer medalha era bem-vinda para abrir nosso quadro naquela Olimpíada.
- Vai querer ficar pra assistir a masculina? – Adam perguntou quando parou de gritar.
- Acho que só quero ver elas subindo no pódio e depois podemos ir conhecer a cidade... O que acha?
- Pode ser – ele deu de ombros e sentamos para esperar que a organização colocasse tudo no lugar para vermos a bandeira italiana descendo do alto do estádio sobre o pódio, nos consagrando ganhadores da medalha de bronze naquela competição.
- , ! – gritei exaltado por entre os jornalistas que esperavam para falar com as campeãs. Ela parecia ser alguém com quem eles queriam muito falar, talvez a respeito de sua classificação para a prova de solo no dia seguinte, mas enquanto todos me olhavam estranho por estar gritando, ela me ouviu.
- Ei, você não é o meio-campo da Itália? O mais jovem do time? – um senhor que parecia ser italiano perguntou, de sobrancelhas semicerradas.
Eu assenti com um sorriso amarelo e olhei para , que estava estática olhando para mim. Eu acenei para os jornalistas e corri de volta para o lugar que Adam me esperava. ainda estava olhando para mim, então apenas apontei para a saída e ela assentiu, entendendo o que eu falara, pelo menos eu acredito.
Falei a Adam que precisava esperar uma pessoa e ele encheu minha paciência até não poder mais, mas falou que ficaria comigo, mesmo eu falando que se ele quisesse ir, tudo bem. Uma hora já havia se passado e eu estava plantado em um canto próximo ao estádio, pessoas entravam e saíam e eu ali, com a maior paciência do mundo.
Quando eu pensei em desistir, senti alguém cutucar minhas costas. Me levantei e encarei que parecia não querer tirar um sorriso do rosto assim como eu. Joguei meu braço por cima dos ombros dela e a puxei para mais perto, a apertando.
- Eu não acredito que você tá aqui, como assim? Jogador da seleção? Aquele cara tava falando sério? Você conseguiu? Ai meu Deus! – ela nem mesmo dava espaço para que eu falasse, e sua voz saía abafada pressionada contra meu peito, já que agora eu era alguns centímetros maior que a garota. Santa puberdade.
- Oi pra você também – falei rindo e ela se afastou, dando um tapinha em meu braço – Você é incrível, sabia? Você é muito boa! – vi seu rosto ruborizar e ela olhou para baixo, tentando disfarçar – Esse aqui é Adam, ele está no time também.
o cumprimentou e eu também a apresentei para ele, que curioso perguntou como nos conhecíamos.
- Meu primeiro amor – falei para ele, mas, olhando nos olhos da garota que deu uma gargalhada.
- Menos – ela disse e eu dei de ombros.
- O que vai fazer agora? – perguntei.
- Tenho umas duas, três horas livre, depois tenho que descansar pro treino de amanhã cedo. Preciso me preparar pra competição à tarde, você vai vir? – percebi que ela parecia animada com a ideia.
- Tenho treino o dia todo – falei triste –, mas vou ver o que posso fazer.
- Quero ver você fugir do Sr. A gente tem que ganhar essa porra – Adam riu como se tivesse feito a melhor piada do século, o que fez com que o acompanhasse, mais pela graça da situação.
- Enfim – rolei os olhos para ele – quer ir tomar alguma coisa? Vamos conhecer a cidade um pouco, logo temos que voltar pra Vila também.
- Pode ser – ela sorriu – Só preciso avisar as garotas e meu técnico, vou pegar minhas coisas e já volto.
O difícil de conhecer a cidade é que nenhum de nós sabia falar japonês. Claro, as pessoas na maior parte dos lugares falavam inglês, mas algumas vezes parecia ser chato não falar com eles na própria língua. Alguns cardápios dos lugares haviam sido adaptados, pois uma cidade sempre se prepara para receber todos aqueles turistas que se deslocam para assistir os Jogos.
Nós três pedimos a famosa Coca-Cola, pois assim sabíamos que não havia erro no pedido. Foi algo engraçado quando percebemos que era pelo mesmo motivo. Adam e conversavam animados sobre coisas gerais e notei que os dois se pareciam bastante, vendo um grande potencial de amizade ali.
- , como estão as coisas na sua casa? Sua mãe e seu pai vieram também? – ela perguntou, mudando de assunto.
- Tanta coisa mudou – sorri um pouco desanimado – quando nos mudamos para que começasse a treinar, eles se separaram. Desde que isso aconteceu, as coisas só ficaram piores. Eles nunca perderam a animação por onde eu cheguei, mas ao mesmo tempo, nenhum dos dois iam me ver treinar, por exemplo, por medo de terem que se encontrar – vi ela negar com a cabeça, inconformada. conhecia meus pais, sabia que não podíamos esperar menos que aquilo. Eu os amava, mas eles não eram grandes exemplos pra ninguém – mesmo com 15/16 anos, comecei a morar perto do campo, junto com alguns dos meninos mais velhos, e ia cada fim de semana visitar um dos dois. Esses últimos meses, quando chegamos perto de vir pra cá, nenhum dos dois se mexeu para me acompanhar, então paciência né? Estou tranquilo – dei de ombros e ela colocou sua mão sobre a minha, me apoiando.
- Chorei – Adam falou, fingindo tristeza, o que fez cuspir seu refrigerante para fora ao rir, molhando toda a mesa.
- Me desculpem – ela falou, com seu rosto ficando inteiramente vermelho, enquanto riamos incessantemente daquela cena. Até mesmo algumas pessoas ao redor riam da garota com o coque intacto e a jaqueta branca repleta do líquido marrom – mal te conheço e já te odeio, Adam – ela rolou os olhos e após um garçom limpar a mesa, ela deitou a cabeça ali, como se quisesse se esconder.
- Imagina a cara dessas pessoas quando você subir num pódio amanhã e elas reconhecerem que você babou refrigerante pela mesa toda? – falei.
- Subir num pódio? Pensamento distante, não me faça criar esperanças – ela falou com a voz abafada entre os braços que seguravam sua cabeça apoiada na mesa.
- , aquele solo foi incrível, e olha que eu nem te conhecia, então estou sendo sincero. Já o é de se duvidar, ele estava mais babando mesmo – mostrei o dedo do meio para ele e levantou a cabeça, sorrindo e agradecendo.
- Espero que amanhã seja tão bom quanto hoje, tô ansiosa. Mas e vocês? Quando são os jogos?
- Depois de amanhã temos o primeiro, mas acho que esse vai ser fácil – Adam respondeu.
- Nada nunca é fácil, não canta vitória antes da hora porque eu quero ganhar – falei para ele. Não gostava de falar que algo era certo quando tinha possibilidade de não acontecer. A não ser no caso de , que para que aquilo não fosse dela, algo de muito errado teria que acontecer.
- Não seria melhor voltarmos para Vila? Acho que já está na hora – falou e eu e Adam assentimos. Estávamos há uma hora andando pela cidade, dando voltas, comprando algumas coisas aleatórias de lembrança.
- Será que estamos perto? – perguntei.
- Bem provável – ela sorriu sincera.
Andamos até o ponto que utilizamos para chegar até ali e pegamos um ônibus que nos levaria direto para a Vila. Alguns haviam sido disponibilizados para atletas, para que pudéssemos fazer coisas além de nos prender em concentração. Me sentei ao lado de e Adam se sentou no banco da frente, focado na menina que estava ao seu lado e era também italiana, mas não consegui definir a que modalidade pertencia.
- Nós ficamos nesse – apontei para o prédio em que nossa equipe estava alojada e ela assentiu enquanto Adam já se despedia dela e sumia por entre a porta.
- O meu fica ali – ela apontou para um prédio alguns metros a frente, em diagonal ao nosso.
- Vou te acompanhar – falei e já me coloquei a seguir na direção que ela apontara anteriormente.
- Não precisa, – ela falou, apressando os passos atrás de mim.
- Não é por precisar, é por querer – pisquei para ela e ouvi sua risada.
- Você não muda – ela rolou os olhos e abraçou meu braço, andando ao meu lado.
- Senti sua falta durante um bom tempo – falei aleatoriamente – sei que eu fui uma criança muito idiota, mas eu nunca tinha gostado de alguém, então vamos ignorar essa parte, por favor – ri, com vergonha.
- Sinto muito, nunca vou te deixar esquecer aquilo, você pagou um belo mico – ouvi o deboche em sua voz e parei meu corpo abruptamente, fazendo ela me encarar.
- Sua sem graça – encarei seus olhos – sem coração! Quebrou o coração de um menininho e simplesmente sumiu no mundo.
- Como você é bobo – ela riu alto e estapeou meu ombro, logo se enrolando em meu braço de novo e me empurrando para voltar a andar.
- Nunca imaginei que te encontraria de novo – sorri para ela, que me respondeu da mesma forma.
- Você também foi um bom amigo para mim, mesmo sendo um baby. Estou muito feliz que nos encontramos.
- Quer sair amanhã à noite? – perguntei sem nem pensar – se der, claro, não sabemos como vai ser e tudo mais... Pode ser até mesmo alguma coisa no...
- Quero, o que vai ser não importa, a gente decide depois – ela me cortou, falando rápido.
- Você vai partir meu coração de novo? – perguntei quando paramos em frente a porta do alojamento dela.
- Ai meu Deus, eu te odeio ! – mostrei a língua para ela – não crie esperanças, assim não quebro seu coração. É apenas uma saída, okay? Sem se iludir – ela debochou e eu a abracei, apertando seu corpo contra o meu por alguns poucos segundos.
- Qualquer coisa serve, sou iludido mesmo – beijei sua testa e me distanciei, acenando para ela.
- Ei! - ouvi ela chamando e me virei novamente – Espera! - ela me alcançou - Me dá seu celular, vou colocar meu número!
Entreguei o aparelho para ela e em poucos segundos ela anotou o número e mandou uma mensagem para ela mesma, para salvar. Ela sorriu e beijou minha bochecha, antes de se virar e por fim andar prédio adentro.
Meu corpo estava no treino, eu havia feito o reconhecimento de campo, e eu estava preparado para o primeiro jogo. Mas eu não conseguia parar de pensar no que havia acontecido a quilômetros dali naquele mesmo horário, eu só queria saber se havia ganhado a medalha, se ela estava nesse momento comemorando loucamente.
Quando o técnico decidiu que por hoje era só, a primeira coisa que fiz foi voar até o vestiário e puxar meu celular o mais rápido possível de dentro do armário amarelo vibrante que tinha ali. Eu o liguei e pude senti-lo vibrar com diversas mensagens que chegavam, e entre diversas pessoas que as mandaram, vi o nome de aparecer na tela e até mesmo uma ligação perdida dela. Antes de ligar desesperado, vi uma mensagem que dizia "Infelizmente acredito que não poderemos ter nossa saída hoje... A não ser que ela possa ser junto com toda a minha equipe."
- Alô? – falei quando ouvi que ela atendera o telefone.
- ! Oi!
- Como assim com a equipe inteira?
- Temos que comemorar uma medalha de prata, não? Não é ouro, mas é uma medalha!
- Você conseguiu? – falei já sabendo a resposta. Minha voz soara animada e acredito que isso foi o que a fizera rir.
- Sim! Eu tô tão feliz! Queria que você tivesse lá.
- Desculpa, tá? Eu não tive mesmo como sair daqui, nosso primeiro jogo já é bem difícil, o técnico está preocupado.
- Tenho certeza que vocês vão ganhar!
- Saímos outro dia, então?
- Não quer ir com a gente? Seria legal...
- Ah, era sério? Pode ser, ! Vou adorar poder comemorar com vocês.
- Aparece lá onde eu tô ficando às sete e meia, okay?
- Tudo bem, beijo.
- Beijo.
Eu estava tão extasiado que a hora passou mais rápido do que o normal, e às sete e quinze eu já estava pronto, saindo do hotel para ir de encontro a ela. Eu passara em uma pequena floricultura na volta do treino e comprara uma simples rosa para lhe dar, era simples, mas sabia que ela adoraria.
Cheguei em frente ao hotel que ela estava e a vi saindo pela porta, exatamente 19h30. Outras pessoas saíam atrás dela, mas ela deixou uma das garotas, que reconheci ser a amiga que fiz durante a cerimônia de abertura, e correu em minha direção se jogando em meus braços. Apertei ela junto a mim e falei diversos “parabéns” e mais algumas coisas desconexas em meio a isso como alguns “você merece demais”, “você é incrível”.
- É tão legal ter alguém aqui. Alguém que me conheceu quando eu nem ao menos sonhava com isso, que sabe o quanto isso é maior do que eu planejava pra minha vida. – ela disse se afastando e eu sorri em sua direção, lhe entregando a rosa que segurava – Ai meu Deus – ela sorriu e me abraçou novamente – ainda bem que não é um buquê...
- Sabia que eu devia ter comprado alguma outra coisa – rolei os olhos e ela riu, se lembrando do último dia em que havíamos nos visto, quando eu descobri que era apenas um menino de 13 anos iludido. Não que eu fosse muito maior ou genial agora, mas eu havia crescido, e apesar de não querer sofrer mais uma vez, parecia que havia percebido isso desde o primeiro momento que me viu.
- Como assim o menino fofinho da cerimônia de abertura é seu encontro misterioso? – ouvi Luna falar atrás de .
- Encontro misterioso? – olhei de lado para e pude ver ela rolar os olhos, mas sua bochecha havia se pintado de uma cor mais rosa, o que achei engraçado.
- Ela falou tanto de você que pareceu até que você era legal, que decepção.
- Chega, Luna – a virou de costas, a empurrando em direção ao ônibus, pois ela não estava brincando, a equipe toda iria.
- Vou ser o desconhecido do ônibus mesmo? – perguntei antes de entrar atrás dela.
- Vai! Mas não é como se você fosse tímido – ela deu de ombros e eu balancei a cabeça, concordando – pessoal – ela usou os dedos pra assoviar – esse é o .
- Todo mundo sabe – uma garota gritou ao fundo, fazendo com que batesse em sua própria testa.
- Tô sendo tão falado assim? – perguntei baixo próximo ao seu ouvido e vi os pelos de sua nuca se eriçarem.
- Sem graça – ela riu e sem perder a postura de sempre, se jogou no banco vazio que tinha ali e me sentei ao lado dela.
- , não é por nada, mas já tô de saco cheio sem te conhecer – o garoto que estava ao meu lado falou, interrompendo minha conversa com .
- Desse jeito vocês vão iludir ele gente, vão deixar ele achando que realmente falei dele. Ele se ilude fácil, vocês não tem ideia – olhei torto para ela, que riu.
- , não adianta esconder as coisas do menino que você foi babá quando era mais nova e agora tá tão crescido – uma garota atrás de nós falou, fazendo aspas com os dedos – Palavras da própria – a garota piscou e escorregou o corpo no banco, tentando se esconder.
- Eu odeio vocês! - ela falou abafado e eu cutuquei a lateral de seu corpo, a fazendo rir.
- Tô crescido? - perguntei quando todos tinham retomado suas conversas e não éramos mais o centro das atenções.
- Ué, envelheceu, não? - ela falou, fugindo do assunto e olhando para fora pela janela escura do ônibus.
- Engraçadinha!
- Pensa bem, você tá mais alto que eu – ela deu de ombros – e agora você não é um menininho.
- Você é muito chata, algumas coisas nunca mudam – ela mostrou a língua e então encostou a cabeça em meu ombro.
- Eu não acredito sabia? Eu tô aqui rindo, brincando, mas tem uma voz na minha mente me contando que eu sou uma medalhista da nossa Seleção, e outra voz que ficava rindo como se fosse uma piada.
- Eu acredito, sem nenhum problema e por nós dois. No começo quando me chamaram a ficha demorou pra cair, e eu não queria acreditar, então depois que eu tô aqui é bem mais fácil. E assim, mais do que acreditar em mim, eu sempre acreditei em você, ver você ganhar essa medalha é algo que eu não podia imaginar quão bom seria.
- O bom é que a fofura não ficou pra trás, né? - ela levantou o corpo e apertou minhas bochechas, o que me fez revirar os olhos – Baby!
- Ah não, !
- Eu não ia esquecer, sinto muito! Você ainda é um bebezinho pra mim – ela riu e jogou seus braços em volta do meu corpo, se largando ali.
- Vou arrumar um apelido constrangedor pra você também, pode deixar – revirei os olhos e antes que pudesse pensar ou reclamar mais, senti o ônibus parar e todo mundo levantar para descer dele, rumo ao restaurante que havia sido reservado para comemoração.
- Um brinde à e à Melany, nossas medalhistas! - todos gritaram e juntaram seus copos no centro da mesa – E também, um brinde à todos nós, que subimos no pódio e conquistamos vitória para nosso país! Viva Itália!
- Viva! - todos responderam em uníssono, fazendo muito barulho e contagiando os japoneses que estavam ali no restaurante.
- Cadê o discurso? - perguntei, agora já entrosado com a equipe depois de muita conversa.
- Não! - e Melany falaram juntas.
- Sim! - todos responderam, fazendo com que os rostos das garotas ficassem corados. As duas olharam em minha direção e me mostraram o dedo do meio, apenas mostrei a língua e as encorajei.
- Eu não tenho o que falar gente, sério! Eu só nunca pensei que ia estar aqui um dia, comemorando minha medalha! Muito menos sei o que aconteceu pra eu ganhar a medalha nas barras assimétricas, sendo que meu forte sempre foi a trave, eu estou tão feliz que não é mesmo possível colocar em palavras.
Todos aplaudiram e deram gritos para Melany, fazendo mais uma vez uma grande bagunça no restaurante, motivando até mesmo os funcionários, que nos tratavam sempre com grande animação. Italianos podem ser um tanto quanto baderneiros.
- Vai ! - Luna falou, fazendo revirar os olhos e se levantar.
- Eu odeio vocês, você principalmente – ela apontou pra mim e eu dei de ombros - Só queria agradecer por todo mundo que me apoiou sempre nos treinos, por nosso técnico, que viu potencial em mim, mas acredito que esteja tão surpreso quanto eu com essa vitória - ele assentiu rindo - nós esperávamos isso talvez para a próxima edição, para essa de forma alguma. Eu estou radiante, como a Mel disse, não tem jeito de colocar em palavras – ela sorriu tímida e ouviu todos os aplausos direcionados a ela novamente.
se sentou novamente, ao meu lado, e enquanto todos gritavam felizes, ela encostou em meu ombro e puxou minha mão perto da sua por baixo da mesa. Fiquei um tanto quanto surpreso, mas sabia que ela estava extremamente feliz de me ter ali, e eu nunca poderia imaginar quão gratificante seria estar ali com ela, sendo seu refúgio. Havíamos acabado de nos encontrar, e era como se nunca tivéssemos deixado aquela amizade inocente, pelo menos pela parte dela, para trás.
- Você tá bem? - me perguntou quando cheguei no corredor onde ela me esperava. Eu apenas assenti e aproveitei que estava vazio e me sentei no chão, escorregando lentamente pela parede, ao lado de onde ela estava parada.
se sentou ao meu lado e se aproximou de meu corpo, segurando minha mão e encostando minha cabeça em seu ombro para acariciar meus cabelos. Eu não queria falar nada naquele momento, e acredito que ela entendia isso e então apenas ficara em silêncio, respeitando.
Já havia se passado uma semana, nós nos encontrávamos todos os dias e estava me acompanhando durante os jogos, treinos, tudo. Estávamos sempre próximos, o que era algo incrível, nos dávamos tão bem que chegava a ser engraçado, pelo menos para mim, já que eu já fui perdidamente apaixonado por aquela menina exatamente por isso. Ter torcendo por mim, e curtindo todos os momentos ali comigo foi muito importante, assim como sei que era pra ela.
Representar seu país em uma competição era algo que te mudava, você tinha um trabalho duro, mas também ganhava certas coisas que te faziam querer mais. Era algo complicado, e de muita dificuldade de se manter no chão, principalmente para pessoas como nós, que não tinham nenhuma família ali acompanhando. Encontramos nosso refúgio um no outro, vir da mesma cidade nos unia, e termos sido amigos antes, só melhorava essa sensação de porto seguro.
Porto seguro, tudo que eu precisava ali. Enquanto ela acariciava meu cabelo, eu fungava em seu ombro, deixando que todas as minhas lágrimas corressem livremente e até mesmo os soluços presos aparecessem. Eu não podia acreditar que estávamos fora, depois de derrotar seleções clássicas, que eram favoritas, havíamos sido derrotados. 1x0, um único gol nos mandara de volta para casa sem a medalha. Nas quartas de final.
- , vamos embora, eu vou ficar com você – ela falou.
- Eu não quero sair daqui – resmunguei.
- Vamos fazer alguma coisa, vamos! Você não pode se deprimir por isso, baby, você deu o seu melhor e todo mundo sabe disso...
- Mas por que meu melhor não podia ser o melhor, ? – me agarrei em seu braço e percebi o quão infantil aquilo poderia estar sendo, mas eu não estava me importando.
- , vão ter outras chances. Tá me partindo o coração te ver assim.
- Desculpa, eu não queria ficar assim perto de você, desculpa mesmo – falei tentando limpar as lágrimas do meu rosto e ela bateu em minha mão.
- Pode parar! Eu tô aqui pra você, okay? Sempre que precisar, não é só em momentos felizes. Você sabe que sempre tive um carinho enorme por você, e ver você assim só me lembra disso, porque me faz pensar no menino de 13 anos que se apaixonou por mim – ela sorriu, sempre gostava de lembrar disso, como se fosse algo muito legal pra ela. Acredito que era, só não era para mim. Pelo menos não a parte que eu fora largado para trás.
- Eu sei que eu tinha 13 anos, mas você não é tão mais velha assim, eu teria feito qualquer coisa por você – segurei sua mão e falei olhando em seus olhos, me distraindo do choro infinito que eu gostaria de continuar.
- Eu sei que teria – ela sorriu e acariciou meu rosto.
- ... Eu ainda sou muito novo – perguntei brincalhão, esperando que ela entendesse.
A garota balançou a cabeça negativamente, sorrindo. passou as pernas dobradas por cima das minhas que estavam cruzadas uma em cima da outra, e aproximou seu corpo do meu, colando-os. Ela olhou em meus olhos e pude vê-los brilhar timidamente. Posicionei uma mão em sua bochecha e usei a outra para segurar sua cintura e não deixar que nossos corpos se separassem, então olhei-a como se pedisse permissão e seus olhos desviaram para minha boca, o que me fez entender como um sim.
Juntei nossos lábios delicadamente, sem qualquer tipo de pressa, por mais que eu talvez esperasse isso há muito mais do que me lembrava. Deixei que o selinho se estendesse por alguns segundos, até que pareceu que não era o suficiente e então aprofundei o beijo fazendo com que nossas línguas se enroscassem lentamente por longos segundos.
Quando nos separamos, estava extremamente corada, e eu sentia meu rosto queimar, um pouco pelo choro anterior, e um pouco pela timidez que parecia me controlar agora. Sorri para a garota e ela abaixou a cabeça, coloquei a mão em seu queixo e levantei seu rosto para que seus olhos encarassem os meus e percebi que nós dois corávamos novamente. Eu não deixaria aquele momento nos fazer ficarmos calados.
- Tá se sentindo melhor? - ela perguntou antes que eu pudesse terminar de pensar em algo para falar.
- Tem como não? - sorri exageradamente, o que a fez rir – Obrigado – estalei um rápido beijo em seu nariz – foi tão bom quanto eu sonhava – pisquei para ela.
- Você não presta, não me conformo! Para de querer me deixar sem graça - ela escondeu sua cabeça em meu ombro, fazendo meu corpo se arrepiar com a sua aproximação de minha nuca.
- Não é querer, é você que fica!
- Você me irrita.
- E você gosta – a puxei novamente para mim, lhe dando um selinho e arrancando um sorriso dela.
- E agora? O que a gente vai fazer?
- , eu acho que a equipe de futebol vai voltar pra casa – falei triste, sabendo que não poderia aproveitar os últimos dias ali no Japão com ela – alguns meninos têm que voltar, e o técnico está com alguns problemas, sei lá, mas não vamos ficar. Na realidade acho que os problemas dele são vergonha de ter perdido, mas né - ri, maldoso.
- Ah, – ela fez bico e eu passei a mão em seus cabelos, enrolando as pontas com meus dedos.
- Sinto muito – dei de ombros – posso te fazer uma pergunta muito séria?
- Você não vai me pedir em casamento já né? Pra recuperar o tempo perdido – ela disse, debochada mais uma vez, e eu puxei uma mecha de seu cabelo, a irritando.
- Eu quero saber se posso te encontrar quando os dois estivermos de volta à Itália - ela sorriu, parecendo animada.
- Onde você está morando? Não acredito que ainda não conversamos sobre isso – ri.
- Fico em Florença - falei e ela bateu palmas.
- Fico em Siena, não é extremamente longe, podemos nos encontrar – ela deu de ombros – Por que não poderíamos?
- Não sei, talvez eu não consiga imaginar que posso ter chegado onde eu sempre quis, aqui – apontei para nós dois e dei mais um selinho em seus lábios.
- Vamos com calma, porque nem eu sei como isso aconteceu, ainda te acho um baby – ela me mostrou a língua e eu aproveitei o momento para beijá-la novamente.
- Esperando alguém? - ouvi a voz dela atrás de mim e me virei rapidamente, encarando-a próxima a mim.
- Uma garota muito linda, medalhista da Itália por sinal – falei, fazendo-a corar. Segurei sua cintura e a puxei para perto para um abraço apertado. Já se passara um mês desde que voltamos do Japão e ainda não havíamos tido tempo de nos encontrarmos. estava muito ocupada com a equipe, dando entrevistas em canais de esporte e tudo mais, enquanto eu estava bem tranquilo apenas a assistindo.
Nos falávamos todos os dias, trocando mensagens ou por ligações, e chegara até mesmo a corar em uma entrevista quando a perguntaram se tinha "alguém especial na vida da bela moça", palavras do repórter.
- Tão bom poder te abraçar - senti ela assentir com o rosto encostado em meu peito.
- É bem melhor do que por mensagem, sem dúvida nenhuma – ela se afastou, sorrindo.
- Você está linda – beijei sua testa e entrelacei meu braço ao seu, nos direcionando para a entrada do restaurante onde eu a esperara.
- Obrigada – ouvi-a responder enquanto passava meu nome para a senhorita da recepção que o procurava na lista para encontrar nossa reserva.
- Sejam bem-vindos – um garçom nos acompanhou até nossa mesa e nos indicou nossos lugares, puxando a cadeira para que se sentasse.
- Eu preciso muito te mostrar algo que achei – falei rindo quando o garçom saiu, nos deixando com o cardápio.
Peguei meu celular no bolso da calça que eu usava e acessei meu aplicativo do Drive, onde meu celular armazenava fotos que eu nem imaginava que ainda poderiam estar salvas, de anos atrás. Mostrei para ela a foto que havia deixado separada em uma pasta, uma foto dela, no chão da minha casa, completamente espontânea, rindo. Uma foto que eu sofri para conseguir passar para o meu celular, mas que eu havia conseguido e havia deixado de papel de parede do meu primeiro celular por meses.
- Eu não acredito que você ainda tem isso!
- Nem eu!
- Olha que horrível! Ai meu Deus!
- Não é horrível, não fale assim do papel de parede do de 13 anos!
- Papel de parede? Você só pode estar brincando – neguei com a cabeça e ela riu descontroladamente chamando atenção dos casais à nossa volta.
- Se você gosta de me zoar, vou dar mais motivo de uma vez – dei de ombros e ela concordou, gostando da ideia – Eu amo essa foto, fico triste de só saber agora que ainda a tenho.
- Por quê?
- Seria legal ter ela pra sempre me lembrar de você, foi meu primeiro amor, minha primeira ilusão - rolei os olhos, brincando.
- Ainda bem que você não precisa mais da foto, não?
- Isso quer dizer que tenho mesmo uma chance? - perguntei, juntando nossas mãos em cima da mesa, ansioso por sua resposta.
- Eu não consigo acreditar que você ainda tem dúvidas, baby – ela me mostrou a língua e eu nem mesmo me atrevi a brincar de volta, apenas sorri, encantado com seus olhos e com como ela ainda fazia meu coração bater da mesma maneira.
2024
“E mais uma vez pudemos observar nosso casal favorito em frente às câmeras. Enquanto se apresentava nos aparelhos, lá estava a observando e torcendo pela namorada, se formos ignorar os boatos que dizem a respeito do noivado do casal. se apresentou no solo, mais uma vez sendo classificada para a fase individual para buscar a chance de uma medalha para o país, além da classificação também para o Cavalo com Alças, modalidade que a garota diz ter se dedicado intensamente nos últimos anos de treino.
, atualmente jogando pelo Chelsea na Inglaterra, espera o início da fase de grupos para as Olimpíadas de 2024, sendo um dos +21 escolhidos para representar a Itália. Hoje, como um dos jogadores mais caros no mercado, o garoto vive entre seu time e a cidade de Siena, onde treina intensamente para os jogos e competições ao longo do ano.
Caso queiram saber mais a respeito do casal, e de como eles chegaram até aqui, é só acessar nossa página especial através do link.”
- Olha, baby, eu não sabia que tinham rumores a respeito de um noivado – falou deitada na cama, rindo da notícia.
Olhei para ela e sorri. Ela estava deitada sobre a cama branca, com uma camisola cheia de bichinhos de desenhos animados e o cabelo preso em um coque bagunçado, pronta para dormir. Era a hora ideal.
- Eu também não estava sabendo! Mas eu acho que eles deveriam ter razão – dei de ombros e puxei a caixinha que estava embaixo do travesseiro dela, me ajoelhando ao seu lado enquanto ela se levantava em um pulo, gritando.
- Não! Não! Não! – ela falava já com lágrimas escorrendo por seu rosto.
- Eu poderia fazer isso em qualquer momento em frente a mídia, algo bem lindo e cheio de câmeras e mimimis, porém, eu conheço a pessoa que está ao meu lado. , talvez seja cedo, talvez não, acredito que isso é você quem irá me dizer. Mas eu te amo, já há muito tempo, casa comigo?
Ela se jogou em cima de mim e rolamos no chão. A aliança voou para o outro lado do quarto e apenas senti ela depositar um milhão de beijos em meu rosto, gritando diversos “sim” que podem ter acordado todo o hotel.
Fim.
Nota da autora: Nunca imaginei que escreveria uma fic para essa música, quando veio o álbum eu olhei todas, antes de pensar que essa seria a escolhida. Fiquei muito feliz de desenvolver algo com essa letra e espero muito que vocês tenham gostado tanto quanto eu, porque estou apaixonada por esse casal e principalmente por nosso Baby hahaha Comentem, por favor! <3
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Something Blue (Longfic - Futebol - Finalizada)
07. Tenerte y Quererte (Ficstape - Rebelde - RBD)
17. A.M. (Ficstape - Made In The A.M. - One Direction)
04. Un Poco de Tu Amor (Ficstape - Rebelde - RBD)
09. Cornelia Street (Ficstape - Lover - Taylor Swift)
12. Hesitate (Ficstape - Happiness Begins - Jonas Brothers)
08. Two Worlds Collide (Ficstape - Don't Forget - Demi Lovato)
04. She Will Be Loved (Ficstape - Songs About Jane - Maroon 5)
14. Maneira Errada (Ficstape - Os Anjos Cantam - Jorge&Mateus) - Continuação de She Will Be Loved.
I Do (Especial Dia dos Namorados) - Continuação de 14. Maneira Errada.
Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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