Finalizada em: 29/06/2020

Capítulo Único


Verona, Itália.
Onde Romeo conheceu Julieta.
O cenário perfeito para um casamento.
E o pior lugar para se desistir de um casamento.
“Está vindo pra cá?”. O celular preso entre meus dedos trêmulos ascendeu mais uma vez e meu estômago revirou enquanto eu lutava para as minhas pernas não falharem.
Verona, Itália.
Para onde , há três anos, havia se mudado para ingressar na Universidade de Verona.
O cenário propício para eu desistir de um casamento.
Levei exatos vinte e sete minutos para conseguir um uber e descer no endereço que havia me passado por mensagem. E foram, sem dúvidas, os vinte e sete minutos mais longos da minha vida.
A culpa fora parcialmente dos olhares estreitos do motorista para a minha maquiagem borrada e para as camadas de tecido branco espalhadas pelo carro.
A outra parte da culpa fora toda dedicada à minha ansiedade em ver o garoto que um dia teve o meu coração há tanto tempo.
Não tive tempo de respirar fundo uma só vez quando saltei do Ford preto.
De braços cruzados e com os olhos tão brilhantes quanto eu lembrava, lá estava ele.
estreitou as sobrancelhas quando me viu. Quando passou os olhos pela enorme cauda perolada marcando minha cintura, um sorriso divertido ousou brincar em seus lábios.
Por um instante, me perguntei o que eu estava fazendo ali.
E então me vi correndo na direção do garoto e sendo recebida pelos seus braços, saudosos e aconchegantes — e me lembrei exatamente porque, mesmo sem sequer falar com ele há tempos, havia sido a primeira pessoa pra quem pensei em ligar quando decidi não subir no altar.
Porque a sensação de seu corpo no meu ainda podia se resumir em apenas uma palavra.
Casa.

-


, onde você está?
Dê ao menos um sinal de vida, por favor.
Eu te amo...
Tenho certeza que podemos consertar as coisas. Volte para o hotel.


Senti meu coração ser esmagado e depois partido em milhares de pedacinhos ao rolar os olhos pela sucessão de mensagens suplicantes.
Encarei meu reflexo no espelho, sem saber ao certo como me sentir. Com o rosto limpo e uma camiseta preta de aquecendo meu corpo, eu estava parecendo apenas… Destruida.
Imagine só como Owen está se sentindo.
Prendendo um grito desesperado no fundo da minha garganta, saí do banheiro em um rompante, apenas para encontrar sentado no sofá de sua sala, contemplando meu vestido estendido bem ao seu lado.
— Por favor, fica com isso — joguei o celular em seu colo ao afundar nas almofadas azul escuras do seu outro lado — Se Owen mandar mais uma mensagem, vou querer responder. E acho que não consigo lidar com isso agora.
Ele pegou o aparelho, um tanto hesitante.
— Tem certeza que quer deixar seu autocontrole em minhas mãos?
Eu tinha certeza que era uma piada. , o cara mais destituído de autocontrole que eu conhecia, com o meu autocontrole em suas mãos.
Em geral, eu soltaria uma gargalhada. Um riso baixinho. Uma pequena tremida nos ombros.
Mas tudo o que conseguir fazer fora murmurar com a voz mais apática que eu era capaz de ensaiar:
— Imagine como estou na merda.
soltou um suspiro ruidoso.
, não faça isso. Não se castigue porque decidiu fazer o que era melhor para você.
Endireitei a postura no sofá, apoiando meu rosto nas mãos e massageando as têmporas.
— Nao consigo ser prática como você, . Nunca consegui.
Ele piscou os intensos olhos por alguns instantes em minha direção.
— Posso perguntar por que fez isso? — ele se virou brevemente em minha direção, apoiando uma das mãos em minha perna.
Foi a minha vez de suspirar. Por onde eu podia começar?
— Eu… Eu me tornei o tipo de garota que não se incomoda se as brigas estão mais frequentes do que os bons momentos. Que apenas dá as costas quando uma discussão começa porque sabe que o jogo de palavras baixas do cara que diz te amar vai quebrar um pouco mais seu coração — um soluço baixinho escapou de minha garganta, acompanhado de uma lágrima que molhou minhas maçãs — O tipo de garota que perdoa uma traição. Até quando eu ia aguentar, ? Até primeiro aniversário de casamento? O primeiro filho?
Seu maxilar ficou repentinamente tenso e uma penumbra sinistra tomou conta momentaneamente de seu olhar.
— Ele traiu você? — cuspiu as palavras como se fossem palavrões e eu assenti com a cabeça, limpando os rastros molhados de meu rosto.
— Eu achei que tinha deixado isso pra trás. Droga, eu tinha certeza. E então me vi prestes a jurar amor eterno a um homem que eu não confiava plenamente. Que eu aparentemente amava, mas como eu poderia chamar de amor se ele não me fazia sentir metade das coisas que… — minha voz fora diminuindo gradualmente, até se tornar um leve suspiro.
Que eu fazia?
Um sorriso discreto se perdeu em meu rosto triste. Eu não precisava responder para ele saber que aquele era exatamente o fim da frase.
— E agora eu não sei o que fazer. Não quero voltar pro hotel e esperar ele dizer algumas palavras bonitas para me convencer a voltar pra ele. Não quero voltar pra Long Island. Não quero…
— Por que não fica aqui?
Pisquei algumas vezes, tentando assimilar o que havia acabado de dizer.
— Eu não posso.
Posso?
— Por que não? Justin acabou de se formar, então temos um quarto sobrando. E tenho certeza de que os caras não vão se incomodar.
Caras? Eu nem sabia que outros caras moravam aqui.
Olhei para o meu vestido de noiva que havia levado tanto tempo para escolher.
Eu e Owen já havíamos combinado que casaríamos em Verona e então seguiríamos a viagem por várias cidades na região de Vêneto. Só nós dois. Uma festa gigantesca para amigos e familiares nunca esteve nos planos — não era a minha cara, nem a dele. E eu estava realmente agradecendo isso nesse momento. Já era difícil o suficiente abandonar e decepcionar apenas Owen; imagina incluir duzentos convidados que vieram do outro lado do oceano na conta?
Mas o vestido… Eu fazia questão de usar um Vera Wang. Sem alças, branco perolado, um laço lilás na cintura e incontáveis camadas formando a saia mais estruturada que eu já havia visto na vida.
Eu era fraca. Uma pessoa horrível, talvez. Mas eu não conseguia ao menos começar a pensar no que aconteceria se eu tentasse conversar com Owen. Eu pontuaria todos os motivos para a minha decisão. Ele me atacaria das piores formas possíveis, explorado meus pontos fracos e levando meu emocional até o chão. E então, quando lágrimas estivesse encharcando meu rosto e o desamparo fosse o único sentimento preenchendo meu coração, sua voz se tornaria macia e ele saberia usar as palavras certas para fazer eu me sentir falsamente segura.
Meus olhos foram do tecido delicado para . Em algum momento, pouco mais de dois anos atrás, fomos… Namorados? Amantes? Amigos que transavam? Era mais complicado do que eu podia raciocinar.
Eu nem ao menos sabia se eu ainda conhecia . Três anos e uma faculdade em outro continente podem render mudanças extremas.
Mas, olhando em seus olhos , de alguma forma, eu encontrava a confiança que sempre me faltou no olhar de Owen. Somado à liberdade despreocupada que o garoto à minha frente exaltava, sendo absorvida por mim como uma imprudência necessária, a única resposta que podia saltar direto do meu peito para meus lábios era…
— Acho que é uma boa ideia.

-

Os caras atendiam pelos nomes Garrett e Aaron.
Ambos americanos.
Ambos simpáticos e tão lindos quanto .
Garrett era alto, bronzeado, com os cabelos meio dourados queimados pelo sol e tinha adoráveis covinhas que acompanhavam seu sorriso. Aaron tinha os cabelos mais escuros que eu já havia visto na vida, o corpo pálido coberto por tatuagens e usava óculos quadrados no maior estilo Johnny Depp.
Quando acordei na manhã seguinte ao dia que devia ter sido meu casamento, o peso da realidade caiu sobre meus ombros.
Eu podia mesmo jogar tudo pro ar e passar alguns dias na Itália?
Eu não devia ao menos ter uma conversa madura com Owen antes de ele voltar para Long Island?
Quando embarquei para Verona na última semana, senti meu peito apertar com um único pensamento — eu queria meus pais ao meu lado. Ao abrir os olhos hoje, tudo que senti foi o alívio de não tê-los mais comigo para testemunhar outra falha minha no quesito relacionamentos.
E então havia .
, que havia se oferecido para pegar as minhas malas no hotel. Pedi especificamente para que ele esperasse Owen sair do quarto para entrar com o meu cartão. E ele me disse especificamente que não via um cara com o olhar tão abatido desde que Summer partiu o coração de Tom em 500 Days Of Summer.
O filme que eu o fiz assistir tantas vezes quando estávamos… “juntos”.
, que estava apenas a duas portas de distância — no quarto bem ao frente do que, aparentemente, pelos próximos dias seria meu.
E o pior? Eu estava ligeiramente envergonhada de sair e encará-lo.
Mas de que adiantava adiar o inevitável?
O apartamento dos meninos era tudo o que se esperava de três caras cursando a faculdade e dividindo uma residência — grande e bagunçado. Um comprido corredor juntava quatro quartos e dois banheiros, acabando em uma ampla área comum que se resumia a uma sala de TV, uma sala de jantar e a cozinha.
Eu não fazia ideia de que horas eram — meu celular tinha passado a noite com . Mas, pelo completo silêncio ao lado de fora do quarto, presumi que os três ainda estavam dormindo. Por isso, ensaiei passos silêncios na ponta dos pés até a cozinha.
— Você está tentando não fazer barulho? — a familiar voz de reverberou em meu corpo e me causou um pequeno sobressalto assim que pisei na sala de TV e, da ilha de mármore que marcava o perímetro da cozinha, ele me lançou um sorriso sonolento.
— Achei que estivesse conseguindo.
Um brilho divertido envolveu seu olhar.
— Tenho um sexto sentido aguçado quando se trata de você, .
Meu estômago revirou.
Não pela lembrança visceral das palavras de — mas pelo fato de eu não ter encostado nada na boca desde a manhã anterior.
Ou era o que eu preferia acreditar.
Tentando ajeitar os cabelos displicentes, me aproximei da bancada branca e me debrucei sobre ela, bem em frente a .
Existia algum tipo de conexão intergaláctica entre os nossos olhares pois, eu juro por Deus, no instante em que os olhos caíram sobre os meus, pude ler seus pensamentos.
E eles não eram muito diferentes dos meus.
Senti sua falta.
Lembra do quanto éramos bons juntos?
Parece que o tempo não passou.

Me dei alguns instantes para observar cada detalhe do garoto à minha frente. Os cabelos escuros e despenteados emolduravam o rosto irretocável, adornado celestialmente o belo par de olhos insanamente intensos. As pintinhas em seu nariz, que eu tanto gostava, hoje estavam mais claras. Os ombros largos preenchiam uma camiseta branca e puída, me incitando a lembrança de como era deitar a cabeça em seu peito e ouvir as batidas do seu coração.
O único detalhe era que, com , nunca fora assim. O cara era blindado contra qualquer tipo de sentimento ou demonstração escancarada de afeto.
Com ele, eu também era.
Fazia sentido. A atração física havia nos unido e a atração física fora o que nos manteve juntos por quase um ano.
Ou, mais uma vez, era o que eu preferia acreditar.
— Está me ouvindo? — o tom divertido me despertou dos meus devaneios.
— Estou?
Ele soltou uma gargalhada.
Como ele ficava tão bem de moletom e camiseta velha?
— Acho que estava babando por mim, — o sorriso convencido que eu tão bem conhecia desenhou seus lábios. Por mais que eu o achasse irritante, vi-o refletir em meus lábios.
— Você ultrapassa os níveis recomendáveis de arrogância, — dei um leve apertão na ponta de seu nariz — Estou perdida no tempo. Que horas são?
— Oito da manhã.
— Céus, é quase de madrugada — fiz uma careta e ele riu.
— Quer seu celular de volta?
Eu não queria. Mas precisava.
— Quero um café. Com panquecas. Depois o celular.

-


Café, panquecas e celular.
Na ordem perfeita, tinha me dado as três coisas que eu havia pedido.
— Não podemos voltar para as panquecas? — estreitei os olhos para o aparelho que ele havia acabado de colocar em minha mão.
— Gata, você vai ter que fazer isso mais cedo ou mais tarde.
Gata? Voltamos no tempo ou algo assim?
— É o que parece.
— Eu odiava esse apelido — rosnei, rangendo os dentes.
— Eu sei.
— Ainda odeio.
Seus lábios desenharam um sorriso.
— Ótimo.
Suspirei, impedindo meus lábios de se curvarem para cima e encarei o celular entre meus dedos.
Não podia ser tão difícil. Certo?

-


Owen estava sentado em um dos típicos cafés italianos, com mesas de montar ao ar livre. Seus dedos apertavam uma xícara de café, embora eu desconfiasse que ele não havia dado um gole sequer — ele sempre dizia que não descia nada pela garganta dele quando estava nervoso ou angustiado.
Do outro lado da rua, sentada no banco do passageiro do carro de , eu me perguntava qual versão do meu ex-noivo estava me esperando; nervoso ou angustiado?
Quando tomei a coragem para entrar no café e parei na frente de Owen, o único sentimento que encontrei em seus olhos fez minhas pernas tremerem.
Era pura tristeza.
E, apesar de tudo, saber que eu era a responsável por marejar seus olhos daquela maneira brutal fazia meu estômago revirar.
— Oi.
Minha voz escapou entre os lábios em um fio. Sem dizer uma palavra, sua mão indicou a cadeira prateada ao seu lado.
Sem pensar duas vezes, ocupei o lugar.
Ficamos alguns longos minutos em silêncio. Eu, embora fosse difícil, encarava seu rosto, procurando, de alguma forma, descobrir o que estava pensando. Ele, com o maxilar travado e os dedos cerrados em um punho, mirava com firmeza a fumaça que exalava do líquido escuro e intocado.
— Por que fez isso, ? — o sussurro baixo arranhou sua garganta ainda sem que direcionasse o olhar pra mim.
Precisei respirar fundo para afastar as lágrimas.
— Não me arrependo do que fiz, Owen. E sim da maneira que fiz — me ajeitei da cadeira quando ele, finalmente, ergueu os olhos para mim — Não vim aqui para uma reconciliação dolorosa e nem para implorar desculpas. Só achei que seria injusto deixar você voltar sem ter notícias de mim.
Seus olhos acinzentados escureceram em instantes.
Eu voltar? Você… Não vai comigo?
Me limitei a menear a cabeça de um lado para o outro.
— Não, eu...
— Eu sabia que ia fazer isso comigo. Você sempre encontra uma maneira de foder com tudo. E eu sempre encontro uma maneira de ter perdoar. Veja só agora, você simplesmente sumiu no dia do nosso casamento e… — sua voz subia gradualmente.
— Owen…
— Ainda assim eu estava disposto a ser maduro e te aceitar de volta.
— Eu não quero que…
— Você é imunda, — agora ele estava praticamente gritando enquanto lágrimas brotavam em meus olhos e algumas pessoas em nossa volta começavam a direcionar o olhar para nossa mesa — Na verdade, que ótimo que me livrei de você.
As lágrimas que eu tanto havia segurado finalmente escorreram.
Era isso. Algumas de suas tão conhecidas palavras horríveis eram o suficiente para saber que eu havia tomado a decisão certa.
Limpei meu rosto antes de levantar da cadeira e, como eu esperava, os dedos de Owen envolveram meu pulso, e a expressão raivosa tornou-se lastimosa repentinamente.
— Me desculpe. Não vá embora, por favor.
Puxei meu pulso com força de sua mão, bloqueando qualquer palavra manipuladora que reverberasse de sua boca.
— Isso não vai funcionar dessa vez.

-


— Tem certeza que está bem?
Era a milésima vez que fazia a mesma pergunta.
E também a milésima vez que eu assentia silenciosamente.
— O que ele fez pra você chorar assim? Posso dar um jeito nele, se quiser — a voz agitada de Garrett me fez rir.
— Ela terminou um casamento, idiota. Estaria chorando mesmo que o cara tivesse mandado flores — Aaron ponderou e então se curvou brevemente em minha direção — Mas, se precisar, posso ajudar Garrett.
— Ninguém vai “dar um jeito” em ninguém — dei um sorriso fraco, limpando os rastros molhados de minhas maçãs — Tudo o que quero agora é que me levem para sala. Um pouco de álcool me parece uma ótima ideia.
Garrett e Aaron sorriram e fez uma careta.
Sei exatamente o que ele estava pensando. Algumas doses iam resolver o problema momentaneamente, mas amanhã eu ainda acordaria me sentindo péssima.
Mas era o melhor que eu podia fazer no momento, não era?
Quando eu e voltamos para casa eram quase sete horas da noite. Garrett e Aaron estavam na sala, com uma música alta saindo dos aparelhos de home theater e algumas pessoas espalhadas pelo ambiente, cada uma com um copo diferente na mão.
me arrastou para o quarto e ficou a hora seguinte se certificando se eu estava, de fato, bem. E então me disse o quanto as reuniões entre amigos, como a que estava acontecendo na sala, eram comuns por ali.
Quando chegamos na sala, o número de pessoas havia triplicado, assim como o volume da música. Dei uma risada quando uma morena estonteante se jogou nos braços de e sussurrou alguma coisa em seu ouvido com um sorriso atravessado no rosto.
Aparentemente, ele ainda causava o mesmo comportamento nas mulheres.
Me servi de um copo de gin na bancada da cozinha e suspirei aliviada quando o gosto amargo tomou conta de minha boca. Ah, eu amava gin. Podia tomar uma garrafa pura se me deixassem.
— Verona é o que estava esperando? — a voz de Garrett me despertou quando ele se debruçou na bancada ao meu lado.
— Tudo o que eu fiz até agora foi fugir de um casamento, então ainda não sei — dei um pequeno sorriso — Mas isso é exatamente o que eu esperava de uma casa com três universitários.
Ele deu uma risada ao passar os dedos pelos fios loiros.
— Bom saber que não te decepcionamos — ele deu um gole na garrafa de cerveja entre seus dedos — Qual é o lance entre você e ?
Dei uma rápida olhada para o outro lado da sala, onde a morena ainda não havia desgrudando de . Ela tinha o braço enroscado no pescoço dele; e ele parecia estar gostando, julgando pelo sorriso imenso enquanto conversava com um garoto alto vestido inteiramente de azul.
— Ficamos juntos por um tempo e terminamos quando ele soube que ia se mudar pra Itália.
— Não sabia que teve uma namorada. Ele não é do tipo que namora.
Ri ao dar o gole no meu delicioso gin.
— Não éramos namorados. Só gostávamos de ficar juntos.
Por um ano — a voz teimosa no meu peito resolveu lembrar.
— Diga o que quiser, mas ele ficou nervoso quando recebeu sua mensagem — ele levantou os ombros, desviando o olhar de seu amigo para mim — Eu só vejo ele ficar daquele jeito quando o Yankees joga.
Estreitei as sobrancelhas quando voltei a atenção para , que agora parecia realmente não ligar para minha presença ao afundar as mãos na cintura da garota e espremer os lábios contra os dela.
Ele, com certeza, não era o tipo de cara que ficava nervoso por alguém.
Senti uma pontada aguda inédita em meu peito. De repente, me vi com a estranha vontade de estar ali, no lugar da garota que segurava em seus braços.
E então me repreendi no mesmo instante.
Eu já tinha perdido um noivo. Não podia perder, também, o único amigo que tinha no momento.

-


Na sexta-feira, algumas horas após a aula de terminar, ele insistiu que eu precisava ver o anoitecer nas margens do rio Adige.
Eu desconfiava que aquilo era só mais uma etapa do plano “deixar a bem”.
Assim como, na noite anterior, ele havia feito um delicioso spaghetti à carbonara — que ele sabia ser meu prato preferido. E como, nas noites anteriores a essa, ele passava no meu quarto antes de dormir para certificar como eu estava me sentindo.
O que era ridículo. Eu estava bem. Perfeitamente bem. Quantas pessoas podiam se dar ao luxo de jogar tudo para o alto e ficar em Verona por tempo indeterminado?
O dia estava bonito; uma garoa fina havia acabado de molhar superficialmente o chão. Entre as nuvens espessas, alguns raios de sol ainda brilhavam, aguardando o cair da noite para descansar.
Mas não precisava de muito.
Verona, por si só, era linda. A cada novo pedaço que eu descobria daquela cidade, me sentia viver em uma pintura do mais rebuscado artista do realismo.
Meus olhos estavam mesmerizados pela beleza do lugar quando me guiou até a Ponte de Castelvecchio. E, no meio da linda construção antiga que passava por cima do Adige, a cidade parecia ainda mais bela.
Bem no meio dela, no ponto mais alto dos arcos, me debrucei na mureta e senti o frio ligeiramente gélido bater em meu rosto.
repetiu o gesto ao meu lado, o ombro encostando superficialmente em meus braços.
Eu estava, definitivamente, bem.
E tinha razão. Era quase etéreo ver o chegar da noite dali. O céu, aos poucos, se coloria das mais belas nuances de azul claro, amarelo e laranja para, então, virar azul escuro.
— Agora entendi porque você deixou Long Island — meu sussurro fez um sorriso surgir em seu rosto.
— Ainda não sei se é aqui que quero ficar — os olhos piscaram em minha direção.
— Sei o que quer dizer.
Eu sabia, de fato. A sensação de nunca pertencer a um lugar era uma constante em minha vida.
E, talvez, de nunca pertencer a ninguém.
? — a voz rouca soprou no vento enquanto ele levava o olhar ao horizonte, onde a noite caía absoluta pelo céu.
— Sim?
— Por que esperou chegar até aqui? Digo, por que terminou o casamentos só em Verona, e não em Long Island?
Um suspiro pesaroso escapou de meus lábios.
— Não sei dizer ao certo. Talvez tenha a ver com você. Mesmo longe, só de estar aqui, talvez eu tenha lembrado da sua praticidade quando o assunto é amor.
Um sorriso brincou em seus lábios.
— Achei que tinha lembrado que nunca mais poderia encostar em tudo isso aqui, gata — ele apontou com o indicador para o próprio corpo.
— É, isso também — rolei os olhos — E, bom… Quando pensei em você, cheguei à conclusão que você nunca teria me deixado seguir com aquele casamento. Isso deve ter contado alguma coisa.

-


— Não acredito que está vendo esse filme!
Mal pude processar a voz divertida de e ele já havia se jogado ao meu lado no sofá e tirado o balde de pipoca do meu colo, abocanhando um punhado lotado delas.
— Ei! Isso é meu — puxei-o de volta e algumas voaram pelo sofá — É 500 Days Of Summer. Não importa quantas vezes você tenha assistido, você assistiu pouco.
A risada rouca significava apenas uma coisa; ele sabia que era inútil discutir comigo quando o assunto era filmes.
— Já passou a cena que os dois vão à Ikea? É a minha preferida do filme inteiro.
Ri ao ver seus olhos vidrados na tela.
— Achei que você já tivesse decorado esse filme. Não, ainda está no começo.
Passei a próxima hora tentando me concentrar no longa que eu já sabia decor.
O obstáculo?
.
O cheiro de .
A maneira despreocupada que ele havia envolvido meus ombros em um abraço na última meia hora e, toda vez que ele ria ou suspirava, eu sentia o leve roçar dos nossos corpos me lembrando de como era senti-lo perto de mim.
E o jeito como seus olhos desviavam da televisão a cada minuto para conferir se eu estava concentrada no filme ou se eu estava consciente de sua presença.
Meus olhos estavam, de fato, grudados na tela. Mas, toda vez que o via se concentrar eu, de soslaio, o observava.
— Você é a Summer — a voz rouca me puxou de meus devaneios quando ele se virou pra mim, o rosto próximo demais para que eu conseguisse entender o que ele havia acabado de dizer.
— Oi?
— Você é a Summer. A maneira que destruiu o coração do pobre coitado e correu pros meus braços. Um comportamento clássico de Summer Finn.
Estreitei minhas sobrancelhas e cruzei os braços, virando-me de frente pra ele no sofá.
— Certo. Primeiro, não acho que pensar na minha felicidade seja um crime punível. Segundo… — inclinei meu corpo levemente para frente, olhando fixo em seus olhos — Eu não corri para os seus braços.
O irritante sorriso convencido curvou seus lábios.
— Admita, . Você sentiu minha falta.
Rolei os olhos.
Eu havia, de fato, sentindo a falta de .
Mas eu também conhecia bem o tipo de jogo de provocação que ele gostava de jogar. Era uma maneira de passar o tempo quando estava entediado. E eu tenho certeza que ele fazia isso com qualquer uma.
Portanto, eu nem sequer pensava em dar a ele o gostinho da vitória.
— A primeira vez que pensei em você nos últimos dois anos foi quando pisei nessa cidade, .
Não percebi que tinha pegado um pouco pesado quando fechei os lábios.
Apenas quando um brilho diferente tomou os olhos de , o sabor amargo da culpa subiu por minha garganta.
Ele abriu os lábios e eu quase vibrei quando achei que fosse dizer alguma coisa. E então os fechou novamente.
Droga.
Ele tinha razão.
Eu era mesmo Summer Finn.

-


Faziam duas semanas que eu estava no apartamento de .
Duas semanas que eu não mais havia recebido notícias de Owen.
Duas semanas que minha convivência com os meninos ficava cada vez melhor.
Duas semanas que eu mais conhecia e mais admirava a cidade mais romântica da Itália.
E duas semanas que, quase todos os dias, eu não apenas via chegar em casa com uma menina diferente, como também os ouvia.
E, assim como a noite que o vi beijando a morena deslumbrante na sala, eu não podia deixar de me imaginar… Com ele.
O que eu podia fazer?
O cara exalava sexualidade e um charme daqueles que você só presencia uma ou duas vezes na vida.
Naquela noite, deixei a porta do meu quarto encostada. Ao som da cama se chocando contra a parede, dos gemidos agudos da garota e dos uivos roucos de , fechei os olhos e decidi levar a imaginação à outro nível.
Me toquei pensando nos lábios de .
Na maneira deliciosa que seus cabelos caíam em seu rosto quando ele sorria.
No jeito que seus olhos apertavam quando ele insistia em soltar alguma frase provocante.
Na reminiscência do seu toque.
E então, enquanto meus dedos trabalhavam, quase pude sentir o peso do seu corpo em mim, as mãos puxando meu cabelo e os gemidos nos meus ouvidos.
Mergulhando na fantasia, me desliguei da realidade.
Não vi o tempo passar.
E, deitada na cama, os dedos dentro da calcinha e os olhos fechados, não percebi quando a fresta deixada na porta aumentou.
E então a voz tão conhecida invadiu meu quarto.
, você quer...
Meu corpo congelou.
Meus olhos, instintivamente, se arregalaram. Apenas para encontrar os de . Ele estava parado na porta, apenas de calça de moletom e me encarando com um brilho curioso nos olhos .
Primeiro, ele pareceu surpreso e levemente sem jeito.
Então um sorriso lascivo entortou seus lábios. Sua língua umedeceu-os ligeiramente.
E, enquanto ele fechava a porta, tudo o que eu conseguia pensar era… Puta merda.

-

Eu estava constrangida.
Mais do que isso. Mortificada.
Passei o resto do dia no quarto, e não sai nem quando o cheiro delicioso de pizza de pepperoni ultrapassou a porta.
veio me chamar. Fingi que estava dormindo.
No dia seguinte, todas as vezes que o encontrei, arrumei alguma desculpa para encurtar a conversa.
O relógio estava marcando uma da manhã. E eu estava na cozinha, devorando tranquila uma tigela de cereal pois sabia que já estava dormindo, pois ele tinha aula cedo no dia seguinte.
— Achei que tinha se mudado sem me avisar — me causando um sobressalto, a surpresa da voz de veio seguida da também surpreendente visão de seu peito nu e uma calça de moletom caindo de seus quadris.
Assim como na outra noite…
Respirei fundo e apoiei a tigela na bancada.
Encare os fatos, . Vocês estavam morando juntos. Cedo ou tarde, a vergonhosa cena precisaria ser deixada de lado.
— Sabe, você é um péssimo amigo — apoiei os cotovelos no mármore gélido e o rosto nas mãos — Você devia minimizar minha vergonha. Não se divertir com ela.
Quando um sorriso puxou seus lábios, debruçou do outro lado da bancada, bem à minha frente, com os braços cruzados. Lutei para que meus olhos não fossem atraídos para seus bíceps contraídos.
— Ah, admita — a voz saiu em um sussurro — É divertido.
Me inclinei um pouco mais em sua direção.
— E como fica minha vergonha?
Foi a vez dele de se aproximar um pouco mais.
— Por que está com vergonha? Você se sente atraída por mim. Eu me sinto atraído por você. O que há pra se envergonhar?
Um riso baixo escapou de minha garganta.
— Você poderia ser mais convencido?
— Estou mentindo? — com um pequeno movimento, seu nariz roçou o meu — Não se sente atraída por mim?
Eu não precisava responder. Meu corpo respondia por mim.
O mínimo contato e o arrepio desejoso subia por minha espinha, retesando meus músculos e me fazendo fechar os olhos instintivamente.
Não sei dizer por quanto tempo ficamos ali, apenas nos encarando, aproveitando as sensações que um causava ao outro.
A tensão era palpável.
O desejo, correspondido.
E talvez eu devesse ter jogado a sanidade pro alto e me entregado para seus braços, acabando de vez com a saudade que eu sabia estar me corroendo aos poucos por dentro.
Mas resolvi ouvir a minha consciência, alertando-me para ficar longe antes que as coisas ficassem complicadas.
E, tirando força de vontade de um lugar que eu nem sabia que existia, afastei meu rosto do seu, falando baixinho ao seguir o caminho para meu quarto.
— Boa noite, .

-

Terminar a noite no The Soda?

Sorri ao encarar a mensagem no celular.
estava tentando me convencer a ir no tal The Soda pelo menos pelos últimos dez dias.
Mas eu não estava no clima — me parecia um pouco cruel sair para me divertir e pensar que Owen podia estar se martirizando em casa. Por minha culpa.
No entanto, em uma conversa com Aaron na noite anterior, ele havia ressaltado algo que eu havia esquecido; eu não podia me culpar eternamente por ser sincera com meu coração.
Por isso, no sábado à noite, eu estava passando pelas portas do The Soda à procura dos três garotos com quem eu dividia um apartamento.
Me arrumando, eu havia escolhido um vestido preto curtíssimo com um recorte na cintura. Saltos prateados para os pés. E uma maquiagem também preta caprichada para o rosto.
Era inegável — eu queria chamar a atenção de .
— Não acredito que você veio! — um Garrett levemente alterado levantou da mesa em que ele, Aaron, e mais dois caras que eu ainda não conhecia.
Dei um sorriso sem graça para os cinco pares de olhos que se voltaram para mim.
— Guardei pra você — o tom divertido na voz de , ao dar três tapinhas na cadeira ao seu lado, me fez sorrir.
— Como sabia que eu viria? — indaguei ao tomar o lugar indicado.
Ele levantou os ombros.
— Apenas esperava que aparecesse — sua língua umedeceu os lábios quando seus olhos me mediram de cima a baixo — Você está linda.
Senti minhas maçãs esquentarem.
Ah, meu Deus. Era oficial — fazia eu me sentir como uma adolescente novamente.
— Tenho muitos italianos para impressionar — peguei o copo de cerveja em sua frente, apontando com ele para nosso redor e dei um longo gole em seguida.
— Hm… Eu diria que seu principal alvo é um americano bonitão — ele passou a mão no peitoral, do jeito convencido que apenas ele conseguia fazer ser sexy.
Entornei cerca de cinco copos de gin nas horas seguintes.
Eu havia perdido a conta de quantas cervejas tinha bebido.
Quando o relógio marcava três da manhã, Garrett e Aaron decidiram pegar um uber pra ir pra casa.
Eu queria ir a pé. Queria ver as ruas de Verona de madrugada.
E, como eu esperava, a cidade ficava ainda mais bonita com as ruas quase vazias e a escuridão caindo sob a arquitetura antiga.
, é claro, tinha se oferecido para me acompanhar.
— Ah, céus. Eu amo estar aqui! — dei um gritinho animado quando uma das ruas apertadas nos fez sair ao lado do rio Adige.
Ele soltou uma risada.
— O que te faz gostar tanto? A cidade ou eu?
Foi minha vez de rir.
— Um pouco dos dois — soltei um suspiro e dei mais uma olhada à minha volta. As luzes refletindo na água, caminhando ao meu lado e o sentimento de leveza. Eu me sentia em um filme — O que é amor, afinal?
Os nossos passos desaceleraram em conjunto e fez uma careta engraçada.
— Uma pergunta profunda demais para as três da manhã e muito álcool no sangue, não acha?
Soltei uma risada.
— Por isso é o momento perfeito. É meio que impossível sua resposta não ser verdadeira.
parou de andar. Fiz o mesmo, observando seus movimentos; o que me levou a debruçar ao seu lado na mureta de concreto do rio.
Seus olhos, por um instante, se perderam no céu estrelado. Os meus, se perderam em seu rosto.
— Não sei se já senti o amor algum dia — sua voz não era nada além de um murmúrio rouco — Mas sei que, se senti algo próximo, foi com você.
As borboletas em meu estômago, que há muito não davam sinal de vida, levantaram voo, fervorosas.
Todo o sangue do meu corpo se concentrou em minhas bochechas.
Meu coração se transformou em marteladas pesadas em meu peito.
Eu não estava esperando por aquilo.
E o que eu poderia dizer, além de…
— Eu também.

-


Senti as lágrimas rolarem livres pelo meu rosto.
Tentei pensar em , que, a cada dia mais, se tornava mais próximo de mim. Tentei lembrar da sensação boa de todas as manhãs da última semana, em que ele havia feito ovos mexidos de café da manhã pra mim.
As lágrimas apenas se tornaram mais grossas e mais insistentes.
Sentada no meio-fio em frente ao lugar que eu chamava de casa há exato um mês, reiterei o pensamento de que não era uma boa ideia entrar. Eu realmente não queria que os meninos me vissem assim.
Eu estava chegando no apartamento, meu celular vibrou e o nome de Owen apareceu na tela. Eu atendi sem hesitar, porque — não podia ser tão ruim, podia?
Bem, foi pior.
A sua tristeza, mais uma vez, se transformou em raiva.
Ele havia me chamado de todos os nomes possíveis e imagináveis. Além de reiterar os pensamentos sádicos que, a todo momento, passavam por minha mente: eu era fraca, imatura e uma péssima pessoa.
?
A voz de ecoou no vazio da noite.
Em vez de procurá-lo, apenas enterrei meu rosto nas mãos um pouco mais.
— Está tudo bem. Pode subir, você não precisa me ver assim.
Mal terminei a frase e senti os braços fortes de me envolvendo no abraço mais apertado e aconchegante que eu mal sabia que precisava.
— Ei, o que aconteceu? — a voz suave atingiu algum lugar em meu peito — Eu estou aqui.
Suas mãos tiraram delicadamente os fios de cabelo cobrindo meu rosto e se apressaram em limpar as minhas lágrimas.
— Eu sou uma péssima pessoa, ?
— Por Deus, não — ele me apertou mais uma vez contra seu peito e minhas lágrimas começaram a molhar o tecido branco de sua camiseta — Você é a melhor pessoa que eu já conheci. De onde veio isso?
— Owen me ligou e…
— Owen não faz mais parte da sua vida e não tem direito nenhum de opinar qualquer merda sobre você.
Quase me assustei com a frieza repentina em sua voz.
— Às vezes eu também penso isso sobre mim.
Um suspiro pesaroso escapou de sua garganta.
— seus dedos tocaram em meu queixo e levantaram meu rosto em sua direção — Você era a pessoa mais maravilhosa que eu já tinha visto há anos atrás. E, hoje, você ainda é. Por dentro e por fora. Você não pode ligar para o que um cara com ressentimentos tem a dizer pra você, ouviu bem? Quer dizer, eu também estaria com raiva se perdesse uma garota como você.
A calma começou a tomar meu corpo à medida que absorvi as palavras de . Me concentrando em nada além de seu olhar, me permiti a respirar fundo e senti as lágrimas, finalmente, parando de cair aos poucos.
— Obrigada — o fiz de voz em minha garganta o fez sorrir.
— Estou apenas dizendo a verdade.
— Não. Obrigada por todo o resto. Por me deixar ficar aqui, por ser um ótimo amigo e por sempre estar ao meu lado quando eu preciso.
O sorriso se intensificou um pouco mais enquanto a ponta dos seus dedos faziam um carinho gostoso em meu rosto.
— Não precisa agradecer. É sempre um prazer estar ao seu lado.
Foi a minha vez de sorrir.
E então fiquei subitamente consciente do pequeno momento que havíamos criado em meio à melancolia.
Nossos rostos estavam praticamente grudados. Nossas respirações se misturavam e o mínimo contato de seus dedos em meu rosto fazia minha pele formigar.
Senti a confusão se espalhar pelo meu corpo enquanto eu lutava, ao mesmo tempo, para me afastar e ficar perto dele. A saudade do seu toque gritou bem no fundo do meu peito, enquanto minha consciência dizia que aquilo não era uma boa ideia.
O que eu podia dizer? Eu… amava .
Há três anos, quando éramos “algo parecido com namorados”, eu o amava.
E o último mês ao seu lado me fez perceber que isso não havia mudado.
Mas não fazia isso. Ele não se envolvia. Não entrava em relacionamentos. Não acreditava no amor.
Não sei se já senti o amor algum dia. Mas sei que, se senti algo próximo, foi com você. Sua voz ecoou em minha mente quando seu polegar tocou meu lábios.
se aproximou um pouco mais de mim. Nossos narizes se encontraram primeiro. E então foram nossos lábios, em um roçar carinhoso.
A ânsia em sentir seu gosto preencheu meu corpo com força. Quando me entreguei aos seus lábios, todos os bons sentimentos bombardearam meu corpo.
Ele tinha gosto de morangos e saudade.
Seus lábios eram tão macios quanto eu me lembrava.
Suas mãos ainda me apertavam e deslizavam pela minha pele nos lugares certos, de alguma forma, fazendo meu coração bater mais lento e mais rápido ao mesmo tempo.
Eu queria fazer aquele momento perdurar pela eternidade.
Queria que os três últimos anos não tivessem existido — ou, ao menos, que eu tivesse passado-os ao lado de .
Quando nossos lábios, lentamente, se separaram, nossos olhares se encontraram.
E ficamos ali, nos encarando, com sorrisos ternos desenhando nossos rostos e os dedos brincando de se entrelaçarem.
Não sei por quanto tempo.
O suficiente para, ao ver o carinho genuíno brilhar em seus olhos , sentir meu coração bombardear as palavras para minha garganta.
— Eu…
— Eu sei. Eu também.
Sorri ao senti-lo roçar o nariz no meu.
Ele estava pensando o mesmo? Eu te amo?
Busquei algum vacilo em seu olhar, mas não encontrei nada além de sinceridade.
E então a ponta de medo dos últimos acontecimentos subiu por minhas veias, e a necessidade de ser cuidadosa me acertou em cheio.
— Mas eu não quero.
— Tudo bem. Eu também não.
O sorriso cúmplice tomou nossos lábios.
me tomou mais um vez em um abraço aconchegante. E eu soube, então, que tudo ficaria bem. Desde que dividíssemos os mesmos sentimentos e, juntos, descobríssemos como conciliá-los com o medo, tudo ficaria bem.
E talvez eu conseguisse, então, dizer as três palavras sem uma observação quase dolorosa alguns segundos depois.


Fim.



Nota da autora: Oi, meninas ♥
Acabei me apegando a esse casal um pouquinho mais do que eu imaginava e a hora de parar de desenvolvê-los acaba sendo sempre difícil. Então, espero que vocês tenham gostado da história que criei pra essa música maravilhosa da Billie tanto quanto eu gostei de escrever.
Nos vemos em outras histórias.
Um beijo!





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Nota da beta: Que coisa deliciosa de ler, Julia!! Estou com suas fanfics na minha lista, mas nunca tenho tempo pra lê-las. Que maravilha que tive a oportunidade de betar essa e me apaixonar por sua escrita! Agora vou TER que arrumar tempo pra ler as outras, hahahaha.
Eu literalmente me senti em Veneza enquanto lia, senti o vento gélido na ponte que você descreveu e, principalmente, senti todos os sentimentos que a transpareceu ao longo da história.
E, pra finalizar, "— Não sei se já senti o amor algum dia — sua voz não era nada além de um murmúrio rouco — Mas sei que, se senti algo próximo, foi com você." Morri aqui nessa parte. Lindíssimo de ler! Estou apaixonada pelos personagens.
Beijos, Ju! E não esqueçam de comentar! <3

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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