Capítulo Único
Sinto meu corpo aquecer quando bato o copo de shot no balcão do bar. Terceiro da noite. Ou é o quarto? Não sei, não importa.
Olho para o lado e encontro Lily passando a mão no rosto para secar a vodca.
- Mais uma? - ela me pergunta.
- Depois, agora é hora de dançar! - pulo do assento e a arrasto até a pequena pista de dança.
Nos aproximamos das outras madrinhas e quando percebo, já temos uma rodinha de dança com Lily no meio e o véu de noiva quase caindo da cabeça com seus movimentos desengonçados.
Quando Lily me avisou que tinha sido pedida em casamento e me convidou para ser madrinha, eu tive certeza de uma coisa: que ela seria a noiva mais linda do mundo. E que a despedida de solteira seria épica.
Já estávamos no terceiro bar aproveitando as bebidas grátis que ganhávamos quando percebiam que tinha uma noiva entre nós, e, de verdade, nunca fiquei tão feliz em estar alcoolizada.
- Você dança mal demais. - Lily ri quando entro na rodinha e basicamente incorporo os movimentos de um gato vomitando.
- Como se você fosse melhor do que eu.
- Pelo menos consigo ter coordenação. - ela faz a dança do robô e parece tão ridícula que nem me incomodo com a ofensa.
Lily volta para o centro da rodinha e finalmente o véu cai do seu cabelo. Não que eu esperasse muito do acessório que comprei em uma loja de fantasia, mas sabia bem que Lily ia gostar e que guardaria como lembrança.
Coloco o véu em minha cabeça e caminho até o balcão, pedindo uma rodada de água para todas. Não quero ninguém passando mal, ainda temos muito o que curtir essa noite.
- Você vem sempre aqui? - resolvo ignorar quando sinto uma presença ao meu lado. - Não vai me responder?
Continuo a olhar para a frente, fingindo que não reconheço a voz grave.
- Sabe, , você fica linda assim, com essa cara de brava. - ele suspira ao meu lado e enrola uma mecha de cabelo no indicador.
- Eu sou linda de qualquer jeito, . - me viro para encará-lo e me arrependo na mesma hora.
A primeira coisa que noto é o cabelo bagunçado, como se tivesse passado a noite toda enfiando os dedos entre os fios, a segunda é o sorriso de canto que brinca em seus lábios, e o último é o tom arroxeado em seu pescoço. Sinto meu rosto esquentar e desvio o olhar quando o sorriso de se alarga.
- Lembranças de ontem a noite. - ele diz e se aproxima mais. - Acho que você tem uma aqui também.
O dedo que enrolava meu cabelo afasta a mecha e ele toca minha nuca. Cada pelo do meu corpo se arrepia e luto para controlar o frio em minha barriga.
Ele solta uma risadinha quando não encontra o que procura. Passei mais de uma hora cobrindo o chupão, acho que gastei pelo menos meio tubo de base e corretivo para não ter que sair na rua igual uma adolescente com tesão.
Deus, cada coisa que acontece na minha vida.
- Não vivo de passado. - tomo um gole d’água de um dos copos que o barman coloca na minha frente. - Hoje é um novo dia.
- Se eu me lembro bem, você já viveu muito no passado.
- Meu Deus, eu te amo. - Lily enfia o braço no pequeno espaço entre e eu para pegar um dos copos de água. Ela me lança um sorriso e sorrio de volta, agradecendo mentamente pela ajuda.
- Achei que você quem fosse a noiva. - diz para Lily e ela passa a mão na cabeça, notando pela primeira vez que perdeu o véu. - Se bem que a fica bem fantasiada de noiva, não acha?
A única resposta que me vem à mente é um xingamento, mas, felizmente, Lily percebe o caminho que a conversa está tomando e muda de curso rapidamente.
- Alex também está aqui? - ela pergunta, já olhando ao redor à procura do noivo.
- No banheiro. - responde e volta a me olhar. - Por que planejou vir para cá? Sentiram nossa falta?
- Não planejei vir nesse bar exatamente, mas já que pergunta, eles oferecem bebidas grátis para despedidas de solteira. - resolvo ignorar a segunda pergunta.
- Os padrinhos não receberam nada de graça. - franze a sobrancelha e sorrio doce.
- É porque vocês não são mulheres gostosas que vão se tornar mulheres gostosas e casadas. - bato com o indicador no ombro de Lily. - Acho que devem ficar tristes com tanta mulher bonita se comprometendo assim.
Lily segura um riso e tem uma expressão entre o cômico e o enojado. Sinceramente? Foda-se. Sei que foi uma frase de merda, mas só queria dar alguma resposta para que ele calasse a boca. Pode até não ter tido o significado que eu queria, mas pelo menos ele ficou em silêncio.
- Ei, amor! - Alex surge entre as pessoas e dá um beijo na noiva. - Ainda estão aqui?
- Acho que vamos voltar para o hotel daqui a pouco, né, ?
- Anh, não! - ela achou mesmo que a noite estava acabando? - Ainda temos mais uma parada. E eu garanto que você vai gostar.
- Não! - Lily arregala os olhos. - Sério mesmo?
Confirmo com a cabeça e observo minha amiga pular animada igual a uma criança recebendo doces. Eu simplesmente sabia que ela ia amar.
- E a carona é ainda mais especial. - Lily me olha assustada.
- Você conseguiu mesmo? De verdade?
- De verdade. - ela me encara por uns segundos antes de pular em cima de mim e me abraçar apertado.
- Nossa, você é o amor da minha vida! - ela beija minha bochecha e volta a olhar para o futuro marido.
- Amor da sua vida? - ele arqueia a sobrancelha com humor e Lily dá de ombros.
- Você pode vir em segundo lugar. - ela dá mais um beijo nele e corre para a pista de dança para contar a novidade para as outras madrinhas.
Nós três ficamos no bar observando Lily sorrir para as outras meninas, que logo soltam gritinhos de felicidade ao saberem do último evento da noite.
- E posso saber para onde vai levar minha noiva, ? - Alex me pergunta com suspeita
- Magic Mike. - respondo simplesmente e ele arregalha os olhos. - Relaxa, a última fase do plano quem vai completar sou eu.
- É claro que vai ser você, duvido que a Lily faria algo assim. - concordo com a cabeça, realmente ela não faria nada do tipo.
- Se importam de explicar que plano é esse? - se intromete na pergunta e não consigo evitar minha cara de irritação.
- Quando ainda estávamos na faculdade, elas fizeram um plano ridículo.
- Eu diria impecável. - bebo mais um pouco da minha água e Alex revira os olhos antes de continuar a história.
- Na verdade elas fizeram isso antes de eu começar a namorar com a Lily, mas enfim. - faz sinal de que está acompanhando a história. - Fase um: viajar para Las Vegas; fase dois: ir em todos os bares possíveis; fase três: alugar uma limousine; fase quatro: show do Magic Mike. E aí vem a fase cinco.
Agora eu faço questão de olhar para . Quero absorver cada expressão que tomar seu rosto quando souber da última etapa.
- Qual é a fase cinco? - pergunta e leva a garrafa de cerveja até a boca.
- Dormir com o dançarino mais gostoso que encontrarmos no show. - respondo na lata e não escondo meu sorriso largo quando quase se engasga.
Alex solta uma risada, mas está tão sério e imóvel que parece até uma estátua de cera.
Um plano idiota? Sim, mas foi uma das primeiras coisas que planejei com Lily e prometi que ainda faríamos essa viagem. E finalmente está acontecendo, com a pequena diferença de que ela obviamente não vai dormir com ninguém.
- Você vai transar com um stripper? - a voz de é fria e controlada, como se ele lutasse para não deixar nenhuma emoção transparecer. Meu sorriso se alarga.
- O mais gostoso que eu achar.
Ele me olha com tanta intensidade que até Alex finge uma tosse, completamente desconfortável.
Nossa competição de encarar é interrompida quando Lily retorna ao balcão com todas as madrinhas.
- Okay, já chamei todas as meninas.
- O motorista já deve estar chegando. - quebro o contato visual com e confiro a hora no celular, mas derrubo algumas coisas da bolsa.
se abaixa rápido para reunir meu pertences e fica petrificado ao segurar uma camisinha entre os dedos. Quando me entrega tudo, ele guarda a camisinha no bolso de sua própria calça.
- Que pena, a fase cinco não vai ser concluída. - ele sorri com vontade.
- Você que pensa. - fazendo uma “pinça” com o indicador e o polegar, busco um pequeno pacote entre meus seios e sorrio maldosa quando vejo o olhar surpreso de . - Eu sou uma mulher precavida.
- Você vai completar o plano todo? - Lily pergunta ao meu lado.
- Ah se vou. - respondo confiante enquanto olho para .
O celular vibra em minha mão e quando atendo a chamada é o motorista informando que já me espera do lado de fora do bar.
Lily se despede do noivo e arrasta as madrinhas para a saída, me deixando por último, sabendo bem que eu ia querer gravar a cara de raiva de na minha memória para toda a eternidade.
- Acho que isso é uma despedida, rapazes. - beijo a bochecha de Alex e me viro para ir embora, mas segura minha mão.
- É sério isso? - sua voz é de indiferença, mas seus olhos brilham forte de uma forma que nunca tinha visto antes.
- Boa noite, . - me solto de seu aperto. Me viro para o barman no balcão e sorrio - A conta da despedida de solteira vai ser paga por ele, .
Aponto para e vou em direção a saída, agora sem nenhuma interrupção, mas antes de ir embora, cometo o erro de olhar para trás e ver parado no meio do bar, me encarando de forma indecifrável.
Não consigo pensar nisso por muito tempo, logo Lily já está me puxando para a beira da calçada, em direção à porta aberta da limousine.
As madrinhas já estouraram a champanhe e todas se servem de uma taça antes de abrirmos o teto solar e ficarmos de pé, gritando para a noite de Vegas.
Lily está tão feliz essa noite que é impossível pensar em algo além dela, mas me deixou… nem sei definir, mas ele me deixou de uma forma que eu não gostei.
A viagem pela Sunset Strip não é longa e quando descemos em frente ao show do Magic Mike, a fila está simplesmente gigante. Mas como eu sou uma madrinha super eficiente, requisitei entradas VIP para todas, então além de não pegarmos fila, ainda ficaremos sentadas bem em frente ao palco, nos melhores assentos da casa.
Assim que nos acomodamos, os garçons passam para nos servir e algumas garrafas de champanhe ficam em nossas mesas. Tomo pelo menos umas três taças de uma vez, na vaga esperança de tirar a imagem de me encarando no meio daquele bar.
- Ei, vai com calma. - Lily segura minha mão, me impedindo de beber mais. - Você está bem?
- Ótima.
- …
- Esse final de semana é sobre você, beleza? O drama da minha vida pode esperar.
Lily parece não concordar, mas não deixo o assunto se estender e logo a distraio falando sobre a apresentação e chamando as outras madrinhas para participarem da conversa.
Lily me olha como se soubesse exatamente o que estou fazendo mas que não vai me pressionar a falar nada. E eu a agradeço demais por isso. Sei que quando ela voltar da lua de mel, essa viagem vai ser o primeiro tópico de nossa conversa, mas, por quanto, isso não é importante. Lily importa agora, é o casamento que ela sempre sonhou, com o homem que sempre sonhou. E eu não poderia pedir mais nada para ficar feliz, simplesmente ver minha melhor amiga dar esse passo em sua vida é o suficiente para mim.
As luzes se apagam e os gritinhos animados ecoam por todo o salão, a música começa a tocar combinada com o jogo de luzes e o primeiro dançarino surge no palco. Para minha decepção, ele ainda está vestido, mas isso não dura muito tempo. Ele caminha pela beirada do palco, tirando cada peça de roupa e jogando para o público. A mulherada vai à loucura e eu não consigo parar de rir com Lily.
Os próximos dois stripers fazem performances parecidas, mas finalmente chega a hora que todas esperavam: a apresentação em grupo.
As luzes ficam mais baixas, a música desce o tom e o clima sexy envolve todos os meus sentidos. São tantos homens bonitos na minha frente que eu fico até sem saber para onde olhar. Eles começam a se mover com tanta fluidez e naturalidade que é até lindo de se ver. A coreografia é marcada perfeitamente e é impossível de encontrar algum erro.
Olho para Lily para ver se ela está curtindo o show e meu rosto volta para o palco quando uma mão grande segura meu queixo e encontro um cara tão gato em minha frente que quase tenho uma síncope.
- O show é aqui na frente. - ele diz com um sorriso e me sinto derreter.
Os dançarinos agora circulam pelo público, interagindo com as pessoas e dançando em algumas mesas.
Eles não demoram muito para voltar ao palco e o locutor anuncia que alguém da plateia terá a chance de participar dessa apresentação. São tantas mulheres ouriçadas que é quase impossível ouvir a voz do locutor, mas não julgo, estou na mesma.
Um canhão de luz bate em meu rosto e quase me deixa cega. Tento bloquear a claridade com a mão, mas sinto Lily me empurrando para ficar de pé. Ah, porra. Uma mão surge à minha frente e quando a seguro, sou puxada para cima do palco.
O dançarino que segurou meu queixo agora segura minha cintura, me mantendo colada ao seu corpo.
A música sensual começa a tocar e simplesmente vou seguindo as instruções implícitas que os stipers dão, os deixando me orientar por toda a apresentação. Me sento em uma cadeira e os dançarinos me circulam, fazendo uma coreografia perfeitamente sincronizada, trocando de posição quando algum deles me toca ou gira minha cadeira.
Tento olhar para minhas amigas e encontro Lily gritando e com um celular na mão. Meu Deus, eu quero muito ver essa gravação.
Mais cedo do que eu gostaria, a dança termina, mas antes que eu volte para minha mesa, o deus grego de mais cedo me segura no palco.
- Se quiser, me encontra depois do fim do show. Demoro 30 minutos para sair. Ele dá uma piscadinha e me ajuda a voltar para minhas amigas. As luzes acendem por completo e a performance acaba.
- O que ele falou? - Lily quase cola o nariz no meu e grita em alto e bom som para todo mundo ouvir.
- Fala baixo, mulher! - a seguro pelos ombros e ignoro o olhar das outras madrinhas. - Ele me pediu para encontrá-lo em 30 minutos.
Lily solta um grito de animação tão alto que meus ouvidos sangram .
- Você vai, né?
- É óbvio que sim!
- Fase cinco completa?
- Fase cinco completa.
Não completei a fase cinco.
Quando o show acabou, pedi para o motorista levar Lily e as madrinhas para o hotel e esperei por Jackson na saída de funcionários da casa de shows. Fomos juntos para um bar ali perto e pedimos algumas cervejas.
Não vou mentir, Jackson é um dos homens mais lindos que já vi na minha vida, mas além de beleza, o cara é inteligente pra cacete. E ainda é engraçado. O combo perfeito para uma noite inesquecível, mas eu só… não conseguia.
O beijo dele é bom, mas parecia não encaixar no meu, e não foi por falta de tentar. Só não era compatível.
Conversamos mais um pouco, mas acabamos finalizando a noite por ali. Ele esperou meu táxi chegar e pediu que eu avisasse quando chegasse bem no meu quarto.
Logo que pisei no lobby do hotel, mandei uma mensagem para Jackson avisando que estava bem e segura, e ele ainda me respondeu com um boa noite. Talvez seja meu preconceito e estereótipo de que ele seria um babaca, mas ele foi tudo menos isso. A porta do elevador se abre e já tiro a chave de dentro da bolsa, dessa vez sem jogar tudo no chão.
- Você já voltou? - quase caio dura no chão quando ouço a voz de atrás de mim.
- Puta que pariu, cara. - coloco a mão sobre o peito, sentindo meu coração bater acelerado. - Qual é o seu problema?
- Desculpa, não quis te assustar. - sua voz é sincera e um pouco desanimada. - Você voltou cedo.
- É, voltei. - encosto o cartão na maçaneta e abro minha porta. - Boa noite-
- Você ficou com ele? - impede a porta de fechar.
- Com quem?
- Com o dançarino malhado.
- Como você sabe que ele era malhado?
- Vi no Instagram da Lily. Você estava em cima do palco recebendo um lap dance.
- Ah. - nada mais sai de minha boca.
continua a me encarar de forma e eu não sei mais o que dizer.
- Você ficou com ele?
- Não. - ele não diz nada, eu não digo nada, e agora está ficando esquisito. - Okay, boa noite, .
- Por que não ficou com ele?
Suspiro pesado. Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Eu também não sei porque não fiquei com aquele deus grego, só sei que não estava no clima, minha cabeça estava em outro lugar… talvez um outro alguém.
- Porque eu não quis. - dá um passo em minha direção.
- Por que?
- Eu não… eu não sei. - mais um passo.
- Sabe sim. - outro passo. - Por que, ?
Nossos olhares se alinham e é só isso o que importa no momento. Estabelecemos nossa conexão, 100% sincera e sem julgamentos ou mentiras.
- Por que, ? - ele repete a pergunta e respondo na mesma hora.
- Porque ele não é você.
não desperdiça um segundo sequer antes de colar a boca na minha e me empurrar para dentro do quarto, fechando a porta atrás de si.
Sua boca se move com fome, como se quisesse me devorar e deixar sua marca ali. Não ofereço resistência alguma quando suas mãos me empurram para cima e me fazem entrelaçar as pernas ao redor de sua cintura. Um tapa estoura em minha bunda e arfo contra a boca de , que morde meu lábio inferior com agressividade, mas sem me machucar.
- A próxima vez que tentar fazer algo assim, o tapa vai ser bem mais forte.
Não tenho tempo de responder, ele volta a me beijar com mais vontade do que antes. me prensa contra a parede e puxa meu cabelo, deixando meu pescoço exposto. Sua boca não é suave sobre minha pele e eu sei que terei marcas no dia seguinte.
- Não é para cobrir essa. - ele avisa e eu concordo com a cabeça.
Agora, de forma mais suave, distribui beijos pelo meu pescoço, colo, ombros e arrasta a língua até o lóbulo da minha orelha direita.
- Eu vou te foder tão forte que o único nome que vai lembrar depois vai ser o meu.
Porra.
Puxo sua boca em direção à minha e agora ele me deixa comandar o beijo enquanto nos leva até a cama no meio do quarto.
Ao contrário de sua fala, me deixa com cuidado na cama, sem quebrar nosso contato enquanto ajeita seu corpo sobre o meu.
Suas mãos descansam ao lado de minha cabeça e quando parto o beijo, percebo que ele segura os lençóis com força, como se estivesse se contendo.
- Não reprime o que você quer fazer. - digo com a respiração pesada.
Os olhos de adquirem um brilho mais pesado e faminto, quase selvagem.
- Encosta na cabeceira. - cumpro o que ele ordena.
Não trocamos nenhuma palavra enquanto ele tira o cinto, nunca deixando nossos olhares se desviarem.
fica sobre mim de novo e prende minhas mãos na cabeceira de ferro, não muito apertado mas forte o suficiente para que eu não me solte sozinha.
- Você tem certeza? - ele pergunta antes de me tocar. Concordo em silêncio com a cabeça. - Eu preciso que me diga, meu amor. Você tem certeza, ?
- Sim. - minha voz parece sem ar, cansada, ansiosa.
senta no meu colo, reivindicando minha boca mais uma vez. Sua língua cria uma batalha sensual contra a minha, me fazendo sentir coisas que nenhuma outra pessoa foi capaz de me fazer sentir.
volta a descer os beijos pela minha orelha, pescoço, colo e quando chega no decote do meu vestido, ele me olha, esperando que eu confirme ou negue. Minha cabeça faz que sim veementemente e ele sorri de canto antes de abaixar a frente do vestido tomara que caia e segurar meus seios com as duas mãos.
O gemido que solto quando sua boca toca meu mamilo não é singelo, e isso parece incentivá-lo ainda mais.
os chupa com vontade, aumentando meu tesão de formas astronômicas e me fazendo quase gozar só com uma chupada nos peitos. Choramingo quando ele se afasta para retirar a camisa, calça e sapatos. Ele desliza o vestido por todo meu corpo até tirá-lo por completo e jogar em algum canto do quarto junto com minha calcinha. O olho ansiosa, esperando que tire meus saltos, mas ele faz que não com a cabeça.
- Não sabia desse seu fetiche.
- Você não sabe de muitas coisas, . - ele segura meus tornozelos e afasta minhas pernas lentamente, observando cada centímetro de pele revelada.
Devagar, distribui beijos no interior de minhas coxas, arrastando os lábios até próximo de onde o mais desejo, antes de voltar a se afastar. Parece tortura, e ele parece satisfeito em me ver a sua mercê.
- , por favor…
- Só porque você pediu. - meu corpo descola do colchão quando sua língua toca meu clitóris e um grito me escapa.
sorri contra minha pele, mas não interrompe o contato para fazer piadinhas, só continua a me lamber como se desfrutasse da melhor comida que já foi servido.
Quero puxar seu cabelo e esfregar sua cara contra mim, mas minhas mãos continuam presas.
Quem comanda o show hoje sou eu. - olho para entre minhas pernas, seu rosto vermelho, sua boca inchada e molhada, seus olhos completamente tomados pela luxúria.
Jogo meu quadril em direção a ele e volta a me chupar, agora colocando dois dedos dentro de mim, me tocando no ponto mais sensível e elevando minha excitação à lua.
não deixa de me olhar enquanto me leva ao orgasmo, aumentando a velocidade dos movimentos.
Explodo em um milhão de pedaços quando gozo em sua boca e ele engole até a última gota.
Meu corpo treme por completo, minhas pernas parecem não obedecer e minha respiração está descompassada.
Sinto meu gosto no beijo erótico que trocamos e logo o cansaço pós orgasmo desaparece. Tento esticar minhas mãos em sua direção, mas não consigo.
- Eu quero te tocar. - murmuro contra seus lábios, mas ele não me responde. - Por favor, .
Meu pedido é atendido e no mesmo instante em que minhas mãos são libertas, seguro o rosto de contra o meu. Meus lábios ainda estão desgovernados depois do orgasmo fantástico que tive, mas não nos importamos.
Seguro seu pau por cima da cueca e geme entre o beijo. Deslizo minha mão por dentro da última peça de roupa que nos separa e o aperto de leve. Começo a movimentar minha mão lentamente com movimentos de vai e vem, adorando a sensação de ter sob meu controle.
enfia a cabeça no espaço entre minha cabeça e meu ombro enquanto o masturbo devagar. Seu quadril começa a se movimentar em direção à minha mão, querendo aumentar a intensidade com o que toco. Paro assim que percebo o que ele está fazendo.
- …
- Não é bom quando é com a gente, não é? - não consigo evitar a ironia. grunhe e volta a se mexer sob meu toque.
- Por favor.
Minha mão o aperta com um pouco mais de força e entrego a velocidade que ele tanto deseja. geme em meu ouvido e não consigo evitar de gemer junto com ele, já me sentindo molhada de novo.
Deixo um beijo em seu ombro antes de parar o movimento de vez e colar nossas bocas de novo.
- Camisinha. - fica confuso, mas repito a palavra.
- Você não tinha no seu vestido?
Não me digno a responder, apenas o empurro para fora da cama para que alcance sua calça. retorna com a camisinha vestida e batendo uma punheta enquanto me observa deitada na cama.
- Puta que pariu, eu sou o cara mais sortudo do mundo.
me puxa pelo calcanhar até a beirada da cama e joga minhas pernas por cima dos ombros.
Quando finalmente me penetra, todos os pensamentos somem da minha mente, e a única coisa que consigo pensar é em como me preenche perfeitamente.
Ele começa me fodendo devagar, me deixando acostumar com seu tamanho antes que aumente o ritmo e faça a cama balançar.
O quarto é preenchido com o som de nossos corpos se encontrando com força, com nossos gemidos em sincronia e com o barulho que a cama faz com a nossa movimentação.
segura meu pescoço, apertando de leve do jeito que eu gosto, no mesmo instante em que estoca tão fundo que vejo estrelas surgirem à minha frente. Ele repete isso mais duas vezes antes de se debruçar sobre mim e segurar meu cabelo com força, mordendo meu queixo enquanto reassume a velocidade de antes.
Mudamos de posição quando peço para que ele se deite na cama. Apoio uma perna de cada lado do seu corpo antes de sentar em seu colo e ajustar seu pau na minha entrada. segura minha cintura, me ajudando com os movimentos, mas logo desiste e segura meus peitos, apertando meus mamilos. Fecho os olhos com a incrível sensação e continuo a subir e descer em cima dele, esfregando meu clitóris para aumentar ainda mais meu prazer.
levanta o corpo e chupa meus peitos. Paro por alguns segundos quando ele prende um dos mamilos entre os dentes e sinto o nó começar a se formar em meu estômago. Estou quase chegando ao meu ápice quando ele solta meu peito e deita no colchão de novo, me levando consigo.
- A gente goza junto.
Não tenho tempo de responder, volta a me foder com toda a força que tem. Ele segura minhas duas mãos atrás de minhas costas enquanto entra e sai de mim com rapidez.
Nossas respirações se aceleram de novo, e meu corpo está tão quente que parece que vou entrar em erupção a qualquer momento. não cessa os movimentos até que finalmente nos derramamos um por cima do outro.
Deito minha cabeça em seu peito e abraço seu corpo. Ele deixa um beijo na minha testa antes de se soltar de mim e ficar de pé. começa a pegar as roupas do chão e meu coração afunda.
Me enrolo no lençol quando ele vai ao banheiro se limpar e volta vestido com a cueca. Ele está desembolando sua blusa, mas ainda não tenho coragem de olhá-lo nos olhos.
- Não precisa ficar se não quiser. - minha voz é um sussurro.
Sinto vergonha de pedir para ele ficar, mesmo sendo o que eu mais quero no momento. Mas ele parece pronto para ir embora, e não sou eu que irei impedir isso. não me responde. Ele pega meu vestido e o dobra junto com sua calça jeans. Logo em seguida, pega minha calcinha e anda com sua camisa em direção a cama.
- Você não-
- Eu ouvi. - ele para do meu lado na cama e tira o lençol que cobre meu corpo. estende uma mão para que eu fique em pé e sobe a calcinha por minhas pernas antes de vestir sua camisa em mim. E aí que me lembro. Eu disse uma vez que odiava dormir nua quando estava acompanhada… e ele lembrou.
se deita e me puxa para deitar com ele. Nos ajeitamos na cama e me sinto segura quando ele envolve meu corpo com um braço.
- Você realmente não precisa ficar, . - digo baixo.
- Não adianta me empurrar para longe, , eu não vou sair do seu lado.
vira o rosto em minha direção e me beija com ternura, contrastando com tudo o que fizemos essa noite.
- É uma ameaça? - tento brincar, mas seu tom é sério quando me responde.
- É uma promessa.
Ele me beija mais uma vez e eu volto a deitar a cabeça sobre seu peito, dormindo tranquila com o carinho que ele faz em minhas costas.
A manhã seguinte é simplesmente caótica.
Acordo com meu celular despertando e com o braço de ao meu redor. Apesar do que ele disse na noite anterior, realmente achei que ele fosse embora depois que eu dormisse, mas ele ficou ali comigo. Tento ignorar a sensação que isso causa em meu peito e sigo pelo quarto para arrumar o que posso e correr para o quarto de Lily para começar a maratona de maquiagem e cabelo.
- Fugindo? - olho para a cama e encontro abraçando meu travesseiro.
- Deveres de madrinha.
- Ia sair sem se despedir?
- Você estava dormindo. - jogo a necessaire de joias dentro da bolsa. - E vamos nos ver em poucas horas.
- Mas já estou acordado. - reprimo um sorriso quando deixo a arrumação de lado e paro ao lado da cama.
- Um beijo de despedida? - pergunto, mas sou surpreendida quando ele me agarra e me joga na cama, ficando por cima de mim.
me beija devagar e sorrio contra sua boca.
- Eu realmente preciso ir. - ele resmunga e deita a cabeça no meu ombro. - , eu realmente preciso ir ou a Lily vai ficar uma fera.
- Ela vai entender porque você chegou atrasada.
- Você conhece a Lily? - rio e o empurro, ficando de pé. - Realmente preciso ir.
- Mais um beijo. - ele segura minha cintura e o beijo casto começa a se transformar em algo a mais.
- . - bato de leve no seu peito e me afasto de novo.
Ele se joga no colchão e solto um riso quando vejo sua ereção debaixo do lençol.
- Você acha engraçado? Vou ter que bater uma logo de manhã.
- Ajuda se você souber que eu vou usar calcinhade vovó por baixo do vestido? Bege e grande, cobrindo tudo.
- Não, agora estou pensando em você nua. - ele reclama e cobre o rosto com o travesseiro.
- A gente se encontra no casamento, . - coloco a bolsa sobre o ombro e abro a porta. - Talvez eu use o conjunto vermelho que você gosta.
- O quê? - ele levanta rápido mas eu já estou correndo para longe.
O quarto de Lily está alguns andares acima do meu, e assim que saio no corredor, já vejo a diferença que é entre uma suíte normal e uma mais cara. Às vezes eu esqueço que ela é rica, sei lá.
Nem chego a abrir a porta e já escuto a música em um volume alto com Lily gritando no telefone com alguém.
- É HOJE! EU PRECISO DAS FLORES PARA HOJE!
Encosto a porta e coloco minha bolsa sobre a cama dela. Lily está usando um roupão branco com “noiva” bordado em dourado nas costas.
- POR QUE EU VOU RECEBER AS FLORES TERÇA-FEIRA SE EU VOU CASAR HOJE? - ela grita de novo e percebo que agora é meu momento de madrinha.
Tiro o telefone da mão dela, que não mostra resistência alguma e assumo a conversa.
- Mas enhora-
- Que papo é esse de que as flores não serão entregues hoje? - minha voz é calma, o que tranquiliza um pouco a atendente do outro lado da linha.
- As flores ainda não foram colhidas, tivemos um problema com-
- Eu não me importo com o problema que vocês tiveram, o que me importa é que fiz um pedido para hoje e ele não será entregue hoje. Como vocês vão resolver?
- Eu estava tentando explicar isso para a senhorita antes. - olho de relance para Lily, que enfia um bombom inteiro dentro da boca. - Não iremos conseguir entregar as rosas brancas a tempo para a cerimônia, então vamos enviar as tulipas como um pedido de desculpas.
- Você me garante que essas flores vão chegar a tempo?
- Sim! E as rosas serão entregues no salão de festas para a recepção.
- Então o problema está resolvido? - digo ao telefone e continuo olhando para Lily.
- Sim, senhora.
Desligo a chamada quando me despeço da florista e cruzo os braços em direção à Lily, que balança a perna como se tivesse sido eletrocutada.
- Ficou maluca?
- Estou estressada. - ela morde o interior da bochecha. - Não quis gritar com ela.
Suspiro e sento ao lado dela na cama, puxando seu corpo para um abraço.
- Hoje vai ser sensacional, Lily, você sabe disso.
- Eu sei, eu só… e o Alex desistir?
- Alex desistir de você? Duvido! É mais fácil ele desistir da força aérea do que de você.
Ela concorda com a cabeça, mas ainda estala os dedos nervosamente.
- Você quer uma distração boa?
- Cacete, eu esqueci total que você saiu com aquele striper gostoso.
- Não saí com ele. - levanto da cama e começo a tirar meus pertences de dentro da bolsa. - Fiquei com o ontem. De novo.
- Eu sabia! - ela grita, agora bem mais feliz que antes. - Meu Deus, eu sou genial! - Como assim?
- Eu enviei o vídeo de você no palco pro para ver se ele tomava alguma atitude. Funcionou!
- Funcionou até bem demais. - murmuro.
Ainda não sei como me sinto em relação ao que temos. Sempre fomos muito livres, ficamos quando temos vontade e seguimos a vida normalmente depois. Mas de uns tempos para cá, eu comecei a sentir ciúmes quando via com outra pessoa, e isso passou a me incomodar demais. E como ele é um grande pé no saco, sempre aparecia com alguém nos lugares em que íamos com o grupo de amigos. Não que eu não revidasse, até porque eu sempre esfregava a foda da vez na cara dele. E depois transávamos loucamente. Mas isso passou a ser insuficiente pra mim, e eu sabia que ele não sentia o mesmo, então só resolvi ignorar meus sentimentos.
Não acredito que Lily tenha contado a o que sinto por ele, mas ela com certeza deu indícios sobre. Desde que Alex voltou para casa e apresentou para nós duas, ela começou a encher o saco dizendo que eu tinha que ficar com ele e que seríamos uma pequena família juntos: duas melhores amigas namorando dois melhores amigos. Obviamente uma fantasia sem fundamento, ou pelo menos era o que eu achava.
- Ele passou a noite no meu quarto.
- Okay, e daí? Isso aconteceu várias vezes.
- Mas agora foi diferente, foi como se… como se fosse um início, sabe?
- Ai, que romântico! Vocês vão começar a namorar no meu casamento! - ela pula animada mas logo para. - Eu juro que se vocês aprontarem alguma coisa durante a minha festa eu vou degolar os dois e deixar seus corpos à vista na sacada do hotel.
Quero muito acreditar que Lily está brincando, mas a conheço bem demais para saber que a ameaça é real.
- Seu casamento vai ser perfeito e eu vou me certificar disso.
- Acho bom. - ela sorri e aperta minha bochecha. - Quero muito que você e deem certo. Você merece, .
As outras madrinhas chegam no quarto para se arrumar e logo em seguida a equipe de beleza e filmagem entram no ambiente. Lily vai dar atenção aos outros e eu só consigo pensar em , na promessa que ele fez ontem e se ela é verdadeira.
Olho para as flores em minhas mãos e me pergunto por que resolvi entrar no meio da mulherada pra tentar pegar o buquê da noiva. Lily sorri tão largo que seu rosto pode rasgar a qualquer momento, Alex gargalha e simplesmente me encara.
Quando encontrei com já na entrada da igreja, quase perdi o fôlego. A farda cerimonial lhe caía tão bem, ressaltando todos os músculos de seus braços, pernas, costas… Meu coração batia tão alto que o som parecia encobrir a orquestra. Andamos de braços dados em direção ao altar, e quando assumimos nosso posto, não tirava os olhos de mim.
Fiz o possível para prestar atenção na cerimônia, mas sempre me desconcentrava quando tentava espiar por cima de Lily e Alex, e seu olhar se mantinha treinado em mim. Todo mundo percebeu, tanto que uma das madrinhas veio me perguntar se eu e estávamos juntos. Não soube o que responder, apenas ri e direcionei o assunto para outro tópico.
E agora estou aqui, no meio do salão de festas, segurando o buquê de Lily.
Deus, como eu sempre acabo em situações assim?
Resolvo entrar na onda e sorrio, solto um gritinho e levanto as flores como se fosse um troféu. Quando todos parecem satisfeitos com minha reação, fujo direto para o bar e peço logo a bebida mais forte.
Que porra foi essa?
- Acho que isso foi um sinal. - jogo a dose dupla de whisky na boca antes de me virar para .
- Que tipo de sinal? Que eu perdi a sanidade?
- Que o próximo casamento é o nosso. - ele sorri satisfeito quando me vê engasgar com a segunda dose que tomo. - E quero um buquê de rosas amarelas.
- Mas quem vai carregar o buquê sou eu, eu que decido as cores.
- Então realmente já está pensando no casório?
Reviro os olhos e tento esconder o sorriso que toma minha boca. Que ódio.
- Ok, você pode escolher as flores, mas eu escolho o sabor do bolo. - ele passa um dos braços ao redor da minha cintura e me puxa para perto. - E também escolho a cor da lingerie…
Minha pele arde com seu tom quente e sensual, sinto meu corpo pegar fogo e o ar ficar preso na garganta.
desce o olhar para meus lábios, mas direciona sua boca ao meu ouvido.
- Eu não falo brincando, … - ele passa a ponta do nariz sobre minha pele. - Nunca vou deixá-la sair do meu lado.
E eu acredito nele.
Cansei de brincar de rato e gato, cansei de correr de compromisso e cansei de me fazer de cega quanto aos meus sentimentos em relação à .
Eu quero tudo o que ele tem a oferecer.
Odeio supermercados. Estão sempre lotados, com filas imensas, pessoas gritando, barulho demais e eu odeio ficar em pé por muito tempo.
- OK, você prefere cheiro de ipê amarelo ou ipê azul? - pergunta enquanto quase enfia o nariz dentro de uma garrafa de amaciante de roupas.
- Não faz diferença, .
- Claro que faz. - ele estica a garrafa até meu rosto. - Esse é o ipê azul.
- Amor, os dois têm o mesmo cheiro. - inspiro o aroma artificial só para satisfazer . Ele fica parado sorrindo para mim. - O que foi?
- Você me chamou de “amor”. - ele sorri ainda mais largo e eu dou de ombros, escondendo o sorriso atrás da garrafa.
- Sempre te chamo assim. - nega com a cabeça e tira o amaciante da minha mão, colocando na prateleira ao nosso lado.
- Nunca em público assim. - ele segura minha cintura e beija minha bochecha. - Gosto quando me chama assim. Amor.
Ele enfatiza o apelido e me sinto derreter.
Deus, eu realmente estou apaixonadíssima por esse homem.
Quando começamos a namorar, minha mente tentava me dizer que uma hora tudo ia dar errado, mas já tem um pouco mais de um ano que estou com e tudo corre às mil maravilhas.
Nossa relação começou quase do zero. Saímos em encontros e esperamos até o terceiro para irmos para a cama. Nossa amizade se fortaleceu, nosso companheirismo também, e sei que esse foi o melhor caminho que tomamos. Depois de um pouco mais de oito meses juntos, perguntou se eu queria juntar as trouxinhas e até eu me surpreendi quando respondi na mesma hora que sim. Não que eu fosse negar, mas depois de pensar sobre o assunto, achei que eu colocaria mais resistência nesse grande passo. Fico feliz que tudo tenha corrido bem.
- Ipê azul ou amarelo, ? - pergunto quando saio de seus braços.
- Achei o amarelo mais suave. - ele coloca o amaciante dentro do carrinho e seguimos para o próximo corredor.
Duas mãozinhas seguram minhas bochechas e Nina deixa um beijo molhado na ponta do meu nariz. Ela gargalha com a minha falsa irritação e surpresa e acabo rindo junto. Quando Lily me entregou o teste positivo de gravidez junto com o convite de madrinha, nunca imaginei que fosse gostar tanto assim de uma criança. Não que eu não goste de crianças, mas só imaginei que na primeira fralda suja eu fosse desistir do posto de ‘dinda’.
Ah, como estava errada.
Passar meu tempo livre com Nina é uma das melhores coisas que poderia fazer; a risada sincera e os gritinhos de felicidade sempre me deixam contente pelo resto da semana.
- Quero saber quando vai ser a minha vez de ser ‘dinda’. - Lily diz sugestivamente enquanto pega Nina no colo.
- É, eu também quero saber… - confesso baixinho.
- Você quer ser mãe? - Lily parece surpresa e não disfarço a irritação em meu rosto. - Não falo isso como se duvidasse da sua capacidade, é só que nunca imaginei…
- Não posso mudar de ideia? - levanto, agora ainda mais puta da vida, e vou para a cozinha.
- . - Lily me segue com Nina no colo tomando mamadeira. - Você está grávida?
Não respondo.
Lily afaga minhas costas e solto um suspiro pesado, sentindo meus olhos marejarem. Não sei se estou grávida, na verdade. Minha menstruação está atrasada e tem tempo que não uso proteção com . Nunca discutimos sobre a questão “filhos e família”, e agora seria o momento perfeito para falar sobre se não fosse pelo simples fato de que ele foi convocado pela aeronáutica para uma reunião. Eu sei o que essa reunião quer dizer: ele terá que servir novamente. Só de pensar em longe de mim e exposto ao perigo meu coração se aperta de um jeito que nunca imaginei ser possível.
Quando desligou o telefone ontem e notei a expressão sombria que exibia, eu já sabia o que viria pela frente, e não havia nada que pudesse fazer para protegê-lo. Hoje de manhã viemos para a casa de Lily e Alex, e daqui os dois iriam juntos para a reunião.
Lily tenta demonstrar uma calma que não a pertence, porque sei muito bem que ela está completamente assustada com a possibilidade de seu marido ter que voltar a servir, ainda mais agora que eles tem uma criança de colo e mais uma em seu ventre. E somente agora percebo o quão egoísta sou quando nem ao menos perguntei a ela como se sente em relação a tudo, mesmo sabendo da resposta.
- Você já fez o teste de gravidez? - nego com a cabeça. - Eu tenho alguns no banheiro lá de cima. Quer fazer um agora?
Começo a responder que não, mas a voz de Alex me assusta e encontro os dois homens na porta da cozinha, nos olhando assustados.
Merda, será que eles ouviram?
- Princesa! - Alex abre os braços e Lily coloca Nina no chão para que ela corra até o pai.
mantém os olhos em mim, mas não retribuo o gesto, apenas observo Alex com Nina, imaginando com nosso futuro bebê.
- Notícias boas? - Lily para ao meu lado e me abraça de lado. e Alex trocam olhares.
- Vamos conversar na sala, meu amor. - Alex aponta com a cabeça na direção do outro ambiente e Lily aperta meu ombro antes de me deixar sozinha com .
encosta no balcão da cozinha e cruza os braços, desviando o olhar para o chão.
Ah.
Ele vai servir.
Sabia que essa era a opção mais provável, mas ainda assim queria me iludir.
- Quando?
- Próxima segunda. - ele sussurra.
Hoje é quinta-feira.
- Mas… já? - sinto o choro começar a se formar.
dá de ombros, como se isso não significasse nada demais. Para ele pode até ser comum, nem sei mais quantas vezes já passou por isso sozinho, mas agora estamos juntos, e eu não… eu não sei o que fazer.
- E como você está com isso? Está bem? - dou um passo em sua direção e seu corpo reseta.
- Eu sou piloto de aeronáutica, , claro que estou bem com isso, estou exercendo a minha profissão.
Sua resposta é tão fria que logo refaço meu passo para onde estava antes.
parece perceber o efeito que me causou e seus olhos suavizam.. Ele caminha em minha direção, mas ando para trás e crio um espaço maior entre nós dois; para na mesma hora, seu olhar repleto de mágoa e arrependimento.
- Desculpa. - ele suspira. - Não quis dizer assim.
- Quis sim. - minha voz é baixa mas firme. - A culpa não é minha se eu nunca tive um namorado que teve que servir e não sei como as coisas funcionam, .
Uma lágrima escorre pela minha bochecha, mas não a enxugo. a observa rolar sobre minha pele.
- Eu sei… me desculpa. - ele volta a se aproximar e dessa vez não recuo. - Eu também não esperava que isso fosse acontecer. Pelo menos não agora, e o Alex não vai, então-
- Você vai sozinho? - não que eu quisesse meu amigo na zona de perigo, mas saber que não terá ninguém que eu conheço e confio para cuidar de me deixa em estado de nervos.
- Eu vou estar com meus colegas de esquadra, . - passa o dedão sobre uma lágrima.
- E se você não for?
Fica, por favor. Fica comigo, .
Por favor.
- Você sabe que isso não é possível. - ele sorri triste e me puxa para um abraço apertado. - Eu te amo, vida, nunca esqueça disso.
E nos braços do homem que amo me permito chorar pela dor que sinto da sua futura ausência ao meu lado.
Choro. Dor. Despedidas. Malas. Partidas.
Não retornos.
Não, me recuso a pensar nisso. voltará são e salvo. É nisso que acredito.
Várias famílias estão distribuídas ao redor da entrada da base. A maioria chora e se despede com abraços longos. Aperto minha mão contra a de e o puxo para mais perto.
Lily, Alex e Nina estão atrás de nós, eles também vieram se despedir de . Nós quatro somos a única família dele depois que seus pais faleceram, e nesse momento viemos prestar o apoio que ele precisa.
Desde que voltamos da casa de Lily, minha relação com está esquisita. Ele ficou mais distante desde a notícia de que iria servir novamente, mas tentei dar espaço para que pudesse absorver a novidade por completo. E para que eu também entendesse o que estava acontecendo.
Também aceitei a proposta de Lily do teste de gravidez, e o resultado foi negativo nas três vezes. Ainda não sei como me sentir em relação a isso. Por um lado fico feliz porque não é o momento de ter um filho, mas por outro… me pego pensando no futuro que poderia ter.
Acabei contando para ele sobre o teste, e até agora acredito que ele tenha me ouvido conversando na cozinha com Lily, talvez esse seja o motivo pelo qual ficamos tão afastados nesses últimos dias.
deixa a bolsa no chão e se vira para nós. Sua expressão é indecifrável. Ele abraça Alex e os dois dão tapinhas nas costas um do outro; ele se ajoelha para beijar Nina e faz um carinho de leve na barriga de Lily antes de se levantar e abraçá-la, ele sussurra algo em seu ouvido e beija sua testa.
Não sei como me sentir, não sei mesmo. Tudo o que quero fazer agora é levar para casa e ficarmos trancados lá dentro para sempre.
. - mordo meu lábio na esperança de controlar o choro. - Não, meu amor, não chora.
segura meu rosto com as mãos e me obriga a olhá-lo nos olhos. Ainda não consigo decifrar seus sentimentos.
- Não estou chorando. - minto na cara dura enquanto ele limpa as lágrimas das minhas bochechas.
- Eu sei. - ele sorri de leve e se inclina para me beijar suavemente. - Vou sentir sua falta.
- E eu a sua. - sussurro de volta. Tenho medo de falar as palavras muito alto e concretizar esse pesadelo. - …
- Não, , não me pede para ficar, por favor. - sinto a dor em sua voz quando ele encosta a testa na minha e suspira pesado.
“Vamos aguentar esse período, são apenas seis meses, vai dar tudo certo, logo vamos nos ver.” É tudo o que ocupa minha mente, tentando convencer a mim mesma de que tudo irá correr bem.
Mas eu sempre menti bem.
- Eu te amo. - me beija mais uma vez, agora com vontade e desespero, mas com um toque de despedida, como se fosse a última vez que fosse fazer isso. Não, não pensa assim, .
- Também te amo.
Envolvo meus braços em seu corpo e o abraço tão apertado que acho que o deixo sem ar por alguns segundos, mas não me importo, quero aproveitar os últimos momentos com ele e gravar na memória cada milésimo ao seu lado. Alguém anuncia em um megafone que todos os oficiais devem entrar para se apresentar e que as famílias devem se ausentar do local. Meu coração para por um momento antes de voltar a bater em velocidade total.
Calma, vai dar tudo certo, .
inspira na curva do meu pescoço e me beija mais uma vez antes de me observar de uma forma tão atenciosa e detalhista que me deixaria com vergonha se estivéssemos em outra ocasião.
- Eu- - sua voz trava, ele lambe os lábios e limpa a garganta antes de continuar. - Eu te amo, . Nunca se esqueça disso.
- Não vou. - prometo e beijo sua mão.
dá mais um abraço em nossos amigos antes de pegar a bolsa do chão e se juntar aos outros na entrada do quartel. Lily me abraça de um lado, Alex do outro e Nina segura em uma de minhas pernas enquanto observamos juntos o amor da minha vida ir embora.
olha uma última vez para trás e tudo o que consigo espelhar em meu rosto é esperança.
Eu preciso ter esperança de que ele vai voltar.
voltou. Voltou são e salvo, só não voltou para os meus braços.
Só em pensar nisso, sinto meu coração se partir.
Planejei uma festa surpresa de boas-vindas para que se sentisse bem recebido na nossa casa. Pedi para que Alex fosse buscá-lo enquanto arrumava a festa junto com Lily, agora enorme de grávida.
Desde que foi embora, meu porto seguro foram meus amigos, somente com a ajuda deles consegui me manter firme, e ainda assim foi extremamente difícil. Pelo menos três vezes por semana um dos dois arrumava uma desculpa para vir me visitar ou me fazer ir até a casa deles, mas não me importava, eu precisava do apoio.
No início, conversava com quase todos os dias, sempre que ele tinha tempo disponível estávamos em ligação de áudio ou vídeo. Com o passar do tempo, comecei a reparar em como ele aparentava estar cada vez mais cansado e que nossas conversas também ficavam cada vez mais espaçadas e rasas. Ele sempre me respondia de forma monossilábica, mas não o forcei a falar mais nada, sabia que ele já estava sob muito estresse.
Quando ele me disse que voltaria mais cedo para casa, achei que ele ficaria feliz, mas parecia estar preocupado com alguma coisa, e mesmo que perguntasse se tinha algo de errado, ele sempre desviava do assunto.
Ouço os passos na varanda e meu coração acelera. abre a porta e o sorriso que tomava meu rosto desaparece na mesma hora. Ele está mais magro, cortou o cabelo desde a última vez que nos vimos, sua expressão é séria e parece incrédulo com o fato de que montei uma festa para ele.
- Surpresa! - todos gritam ao redor. Não são muitas pessoas, convidei apenas alguns poucos amigos.
- Bem-vindo de volta. - tento sorrir de novo e caminho até ele.
Fico na ponta dos pés para alcançar a boca de mas ele vira o rosto e acabo deixando um beijo em sua bochecha. Tento aplacar a pontada em meu peito com um abraço, e, pelo menos isso, não me nega, seus braços me envolvem e seu rosto deita sobre meu cabelo. Ele cheira meu pescoço e solta um suspiro como se sentisse saudade do meu perfume.
- Senti sua falta. - sussurro contra seu peito, ainda com medo dele ser apenas fruto da minha imaginação.
- Também senti sua falta. - sua voz é terna, mas tem algo diferente, algo que não consigo entender.
Me solto dele para que possa cumprimentar os outros convidados. O sorriso que ele abre quando vê Nina é avassalador. Me sinto ridícula por sentir ciúmes de uma criança, mas era aquele sorriso que eu esperava. Tudo bem, pelo menos ele está sorrindo, isso que importa.
A festa não dura muito tempo, e quando todos finalmente vão embora, abraço quando o encontro na cozinha.
- Realmente senti sua falta. - abraço suas costas e enterro o rosto nas dobras do seu casaco. se reseta, como se meu toque fosse venenoso. - Tudo bem?
- Só estou cansado, não esperava uma festa quando chegasse em casa. - ele solta meus braços da sua cintura e anda para longe, fingindo examinar algo na mesa de doces.
- Ah… só quis recebê-lo da melhor forma. Desculpa.
- Tudo bem.
O silêncio reina. É super desconfortável e parece que somos dois estranhos.
- … está tudo bem mesmo?
- Quero terminar.
Sua resposta é a jato. Sou pega tão de surpresa que quase me desequilibro. estica o braço para tentar me apoiar mas recuo. Ele parece magoado, mas por que estaria se foi ele quem acabou de me destruir com duas simples palavras?
- O que?
- Não acho- não acho que a gente deve continuar junto.
- Por que? - nem percebo que comecei a chorar.
- Somos incompatíveis, , não vai dar certo.
Respiro fundo antes de falar, mas de qualquer jeito minha voz é apenas um tom acima de um sussurro.
- Por que, ?
- Eu falei-
- Não, eu ouvi o que você falou, que quer terminar agora, depois de mais de um ano de relacionamento.
Ele não responde, apenas sustenta meu olhar.
- Por que quer terminar?
- Você merece mais-
- Não fale por mim. - interrompo de novo. - Por que?
De novo, ele não responde, e a única explicação que consigo pensar quase me faz cair.
- Você conheceu outra pessoa. - não é uma pergunta, é uma afirmação.
- O que? Não! - ele atravessa o pequeno espaço entre nós com dois curtos passos, mas não me movo. - Claro que não, .
- É a única coisa que consigo pensar que é um motivo bom o bastante para terminar isso aqui. - aponto para nós dois.
- Você acha mesmo que eu te trairia? - dor; é isso o que sinto agora. Não respondo sua pergunta e ele parece incrédulo. - Você acha?
- Nunca achei que você fosse partir meu coração, mas aqui estamos nós.
Limpo meu rosto e desvio o olhar para a janela. Já é noite lá fora e consigo ouvir os grilos sob a luz da lua, como se a vida seguisse seu curso normalmente.
- Eu só acho que você merece mais do que isso, .
- Mais do que o quê? Uma vida feliz ao lado do homem que amo?
- Uma vida em que o homem que ama sempre vai estar ao seu lado.
- Então é isso? - me viro de volta para ele e encontro o rosto de molhado, com algumas lágrimas nos olhos. - Você quer desistir da gente porque não vai estar ao meu lado o tempo todo? A gente pode enfrentar isso e você sabe.
- E se eu simplesmente não quiser?
Se antes eu achava que meu coração tinha sido destruído, então agora ele não existe mais.
- Entendi. - meu choro agora é livre e não tento me conter. - Você que não me quer mais e está inventando desculpas.
desvia do meu olhar duro e essa é a resposta.
Acabou mesmo.
- Tudo bem.
- Tudo bem?
- Tudo bem. - dou de ombros. Se ele não me quer, não tem nada para mim aqui. - Achei que você só queria me afastar até que eu desistisse de você, mas sabe que sou leal demais para isso.
vacila por um segundo e recua como se eu lhe tivesse dado um tapa no rosto.
- Não vou ficar correndo atrás de uma pessoa que não me quer por perto.
Respiro fundo para tentar me controlar um pouco e vou até a sala para buscar minha bolsa. Jogo algumas almofadas pelo sofá até encontrar o que procuro.
- , eu-
- Não me importo. - não viro em sua direção, não quero ver seu rosto. - Não quero ouvir desculpas, . Você falou o que quer e- e não sou eu.
Soluço no meio da última frase e me amaldiçoo por parecer ainda mais fraca e estúpida na frente dele. Tenho vontade de jogar na cara dele que quebrou a única promessa que me fez: que nunca deixaria meu lado, mas não tenho coragem de tratá-lo dessa forma, mesmo agora.
- Realmente espero que encontre a pessoa certa, , você merece. - traio a mim mesma quando me viro para olhá-lo pela última vez. - Espero que ame alguém tanto quanto eu te amo.
Não fico para ouvir uma resposta, não quero ouvir uma resposta; nem sei se ele ao menos tem uma.
E rápido assim, percebo que mais uma vez deixei-me iludir com , mas não tenho ninguém para culpar além de mim mesma. Talvez assim eu aprenda a não confiar meu coração em qualquer pessoa.
Nunca me recuperei do término com . E sendo sincera, acho que nunca irei me recuperar. foi meu verdadeiro amor, mesmo que eu não tenha sido o dele.
Depois que fui embora aquele dia, só pus os pés naquela casa uma vez, que foi para fazer minha mudança. não estava lá, e minhas esperanças masoquistas de vê-lo mais uma vez foram massacradas.
A última e única notícia que tive dele foi quando soube que voltou a servir. Alex acabou soltando a novidade em um jantar que tive na casa deles. Desde que terminamos, Alex e Lily sempre evitavam falar sobre . De certa forma, me sentia culpada por ver meus amigos se desdobrando para evitar falar o nome dele sempre que eu estava por perto, mas apreciava o carinho do gesto mesmo assim.
Não soube de nada dele desde então, e já se passaram 9 meses. Nina já é uma moça que agora me obriga a brincar de Barbie sempre que me vê, e Luke, o caçula de Lily e Alex, é tão lindo quanto a irmã e os pais. A vida seguiu em frente, mesmo que meu coração tenha ficado preso na cozinha de meses atrás.
Trabalhar de home office é uma benção, mas tem momentos em que odeio como não consigo fingir não estar em casa quando tocam a campainha. Resmungo durante o curto trajeto do escritório até a porta de entrada e quando espio pelo da porta, vejo uma farda da aeronáutica de relance.
Abro a porta com meu coração acelerado, esperando encontrar do outro lado.
Duas pessoas estão de pé em minha varanda, um homem e uma mulher, ambos usando a farda completo e cerimonial da aeronáutica.
- Boa tarde, senhorita . - o homem cumprimenta.
- Boa tarde. - respondo confusa e olho por cima dos ombros deles, procurando por . O que está acontecendo?
- Podemos entrar? - a mulher me oferece um sorriso curto e educado.
- Que? Por que? - minha confusão aumenta ainda mais. - Aconteceu alguma coisa?
- Podemos entrar para conversarmos, senhorita?
Concordo com a cabeça e abro mais a porta para que eles entrem. Não sei o que está acontecendo e não quero saber também, mas agora não tenho como fugir.
Ofereço água e café, mas ambos recusam. Quando nos sentamos no sofá, me sinto como uma criança esperando uma bronca dos pais. Minhas mãos se esfregam ansiosamente, sem saber o que fazer ou lidar com o que está acontecendo.
- A senhorita conhecia o oficial Anthony Francis ?
- Aconteceu alguma coisa com o ? - meu coração simplesmente para. - Como assim “conhecia”?
- sofreu um acidente na última missão. - Ai, meu Deus. - sinto que vou vomitar.
- Ele teve que fazer um pouso de emergência no caça que pilotava e-
- Não, não, não, não. - só percebo o quanto estou tremendo quando a mulher segura minha mão, mas desvio do toque. - Não gosto deste tipo de brincadeiras, por favor, não sejam cruéis assim.
- Senhorita… não é uma brincadeira.
- Eu..
- Infelizmente não sobreviveu.
- NÃO! - meu grito ecoa pela casa.
Não, o não! Ele não morreu, ele não morreu, ele não morreu!
- Ele…
- As questões de funeral serão organizadas pelo governo, não se preocupe.
O homem continua a falar, mas não escuto nada. morreu. O amor da minha vida morreu. A crise de soluços não demora a chegar e estou concentrada demais no fato de que está morto para me importar com a presença de outras pessoas.
- Por que- por que estão contando para mim?
- A senhorita era o contato de emergência dele. - a mulher responde.
- A gente não… - não consigo completar a frase.
- Sei que não estavam juntos, mas sempre dizia que iria voltar para casa. Para você. - a voz dela vacila e percebo que também devia tê-lo conhecido. - Ele tomou meu lugar na missão, eu que deveria estar no lugar dele.
A mulher respira fundo e tenta sorrir.
- Desculpa. sempre falava de você.
Não tenho forças para responder, pelo menos meu choro já não é tão forte, mas meu peito dói de uma forma que nunca senti antes.
- pediu para entregar essa carta caso acontecesse algo com ele. - o homem tira um envelope do paletó e me entrega.
- E também pediu que te desse isso. Abra quando terminar de ler a carta. - a mulher deixa um pequeno embrulho ao meu lado.
- Meus pêsames, senhorita. - o homem fica em pé e aperta meu ombro como forma de condolências.
- Sinto muito pela sua perda. - a oficial segura minha mão por alguns instantes antes dos dois irem embora juntos como se não tivessem acabado de dar a pior notícia da minha vida.
Encaro a carta na minha mão, sem ter coragem alguma de ler as últimas palavras de .
Quando me dou conta, percebo que o céu já escureceu; não passava das quatro da tarde quando recebi os oficiais.
Tomo coragem e abro o envelope. Com as mãos tremendo, seguro o fino papel com a caligrafia de . Meus olhos voltam a se encher de lágrimas no momento em que vejo meu nome escrito no início da carta.
“, não me odeie. Por favor.
Eu sei que fui um babaca de marca maior com você, e tenha certeza que me arrependo disso todos os dias.
Nunca fui bom com despedidas, e sim, eu sei que essa é uma desculpa de merda pelo o que fiz com você. Eu só… eu só não queria que você estivesse ao meu lado naquele momento, que não me visse partir sem saber se um dia me veria de novo, se o futuro que queríamos seria possível.
Acho que se a última visão que tivesse antes de ir embora fosse seu rosto cheio de esperança, cada parte de mim se estilhaçaria. E na verdade a visão foi bem pior, te ver chorando por minha culpa foi a pior sensação do mundo. Se você soubesse a repulsa que senti de mim mesmo ao entender o que fiz com a mulher que eu amo…
Porque é isso o que você é para mim, . Você é o amor da minha vida, a minha luz no fim do túnel, o meu sopro de fé, meu primeiro fôlego depois de um mergulho.
Eu sei que não me tornaria o homem que sou hoje sem ter te conhecido, e eu destruí tudo isso por um pensamento idiota. Em nenhum momento imaginei que você pudesse desistir de mim, e foi por isso que eu abri mão de você. Nunca desisti, sempre tive a intenção de fazer o possível e o impossível para tentar te reconquistar quando voltasse, mas fui egoísta em colocar meus sentimentos em cima dos seus, essa é a verdade. Eu não conseguiria seguir sabendo que você me esperava em casa, todos os dias rezando pela minha segurança e ansiando o nosso reencontro. Eu fui fraco.
Espero que nunca tenha que ler essa carta, porque quero te dizer isso tudo pessoalmente, tendo sua pele em contato com a minha, seu cheiro enevoando meus sentidos e seu corpo dentro do meu abraço, mas se ela chegou até você, é porque o pior aconteceu.
Eu te garanto que era apenas você que ocupava meus pensamentos; quanto tempo faltava para te ver, o que estaria vestindo quando eu te encontrasse de novo, se usaria o meu perfume favorito.
Você foi a minha paz nos meus últimos suspiros, , e eu te agradeço por todos os momentos que tivemos juntos.
Eu te amo para sempre.
Eternamente seu,
.”
Não respiro, não consigo respirar.
Aperto a carta contra meu peito, inspirando profundamente e tentando encher meus pulmões o máximo que conseguir antes de soltar o ar devagar. Se fechar bem os olhos, posso até ouvir me guiando no exercícios de respiração, o que me faz chorar ainda mais.
Quando me acalmo o suficiente, abro o pequeno embrulho de dentro tiro a tag de , a mesma que ele usava todos os dias. A coloco ao redor de meu pescoço e sorrio quando sinto o contato do metal na pele, sabendo que essa era a mesma sensação que tinha quando usava o colar. Olho o embrulho de novo e encontro uma foto em que e eu sorrimos um para o outro dentro de uma cabine fotográfica. Lembro que tiramos essa foto no casamento de Lily, e foi nesse exato momento em que me dei conta pela primeira vez, que queria ficar com para sempre.
Não consigo sentir raiva dele pelo o que fez, não mais. Só tristeza pelo curto tempo em que perdemos, pelo tempo em que poderíamos ter ficado juntos.
A única coisa que me resta é a saudade eterna do amor que nunca mais irei encontrar.
Fim!
Nota da autora: Oie!Sofreram com essa história? Espero que sim muahahahahaa! Minha intenção desde o início era que todo mundo saísse simplesmente destruído depois da leitura, espero que tenha alcançado meu objetivo! Ainda acho que foi pouco tempo acompanhando esses personagens, quem sabe eles não voltam algum dia...
Agora, brincadeiras à parte, queria muito agradecer à Becca Rezende por ter me ajudado com o plot inicial da história e à todos que me ajudaram na hora de entender para onde essa história caminharia. Muito obrigada, vocês foram minha luz!
Nota da Scripter: CLIQUE AQUI PARA DAR AMOR À AUTORA!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Agora, brincadeiras à parte, queria muito agradecer à Becca Rezende por ter me ajudado com o plot inicial da história e à todos que me ajudaram na hora de entender para onde essa história caminharia. Muito obrigada, vocês foram minha luz!
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