Fanfic Finalizada

Capítulo Único

Domingos com certeza são meus dias favoritos. É o tempo que temos para relaxar, curtir a família, apenas existir. E esse domingo é especial. Aniversário de casamento. Mais um ano para a conta.
- Vovó! - vejo cachinhos pretos balançando em minha direção. - Helena corre pelo quintal. - Thor vai me pegar! - o filhote late, perseguindo a pequena na grama, que ri alto.
Paz. Essa é a sensação que a imagem me traz.
Helena abraça minhas pernas e me abaixo para pegá-la no colo. Suas perninhas enlaçam minha cintura e suas mãos seguram em meus ombros. Thor pula e lambe os dedos dos pés de Helena, que ri e levanta mais as pernas.
- Faz cócegas. - ela encolhe os dedinhos e sorrio. - Me protege, vovó.
- Hummm. - finjo pensar um pouco e aperto sua barriguinha. - Acho que não. Ataque de cócegas!
Sua gargalhada me faz rir junto, e, depois de um tempo, quando ela se acalma da brincadeira, deixo um beijo em sua bochecha e a ponho no chão de novo.
- Sua mãe vem mais tarde, quer ajudar a vovó a fazer um bolo?
- De chocolate? - seus olhinhos brilham com ansiedade e contenho o riso.
- Com muita cobertura.
- Ebaaaaa! - Helena corre para a entrada da cozinha e vou atrás dela.
Minha neta se senta no banco alto da ilha enquanto eu pego todos os ingredientes e os reúno em cima da pia.
As visitas de Helena sempre alegram meu dia e enchem a casa de cores. Sinto saudades de ter uma criança, e estar perto da minha neta aplaca a nostalgia de quando minha filha ainda era pequena.
- Você pode pegar a vasilha naquele armário? - aponto para uma porta perto da geladeira e prontamente Helena pula da cadeira para ajudar. - Obrigada, meu anjo.
Dessa vez ela não senta, fica parada ao meu lado. Trabalhamos em equipe para começar a preparar a massa do bolo; Helena tentando a todo momento colocar o dedo para experimentar a mistura.
Quando abro o forno para assar o bolo, peço para que minha neta vá para a sala e espere lá enquanto termino de arrumar a cozinha. Ouço o barulho da TV transmitindo algum desenho infantil e sorrio com as lembranças de quando eu tinha que assistir esses programas o tempo todo com a mãe de Helena.
- O que você quer fazer agora, Helena?
- Me conta uma história?
- Qual? - pergunto, mesmo já sabendo a resposta.
- A da sua lua de mel com o vovô. - sorrio doce. É tradição contar essa história para Helena; ela já tem tudo memorizado, mas ainda me pede para ouvir.
Me sento ao seu lado e assim que me ajeito no sofá, Helena deita a cabeça em meu colo. Passo os dedos entre seus fios e me preparo para mergulhar, mais uma vez, em uma das melhores lembranças da minha vida.

*

Era uma vez
Um lugarzinho no meio do nada
Com sabor de chocolate
E cheiro de terra molhada

empurra a porta com força e não sei como a maldita porta da cabana não vai ao chão. Deus, não sei como toda a maldita cabana não vai ao chão.
Ficamos parados na entrada, olhando para o terror que vai ser nossa acomodação pelos próximos dias.
Quando disse que ficaria responsável por tudo na lua de mel, fiquei nervosa mas resolvi confiar no meu marido.
- Eu juro que não foi isso que eu reservei! - ele diz nervoso, mas para quando eu solto uma gargalhada. - Você está rindo, ?
- Não, meu amor. - seguro o riso e faço um carinho em sua mão. - Tudo bem, .
Ele solta um murmúrio reclamando e carrega nossas malas para dentro da cabana, se é que se pode chamar isso de cabana.
- Não! - grita quando dou um passo para segui-lo.
- Por favor não me diga que tem uma aranha em mim. - fecho os olhos com força, já me preparando para a morte.
- Que? - ouço o barulho das malas batendo no chão e abro os olhos para encontrar meu marido. - Não, não tem aranha nenhuma. Eu quero entrar com você no colo.
O sorriso que toma meu rosto é involuntário e concordo em silêncio para o pedido de . Ele segura minhas bochechas e deixa um beijo leve em meus lábios, me fazendo sorrir ainda mais.
Quando me pega no colo, envolvo um de meus braços ao redor de seu pescoço e deito a cabeça em seu peito.
- Te amo. - sussurro.
- Também te amo. - sussurra e caminha comigo para dentro da cabana.
Levanto minha cabeça para poder olhá-lo e percebo que foi a decisão errada no momento em que bato com a cabeça no batente da porta.
- Ai! - grito e a primeira reação de é me soltar. - AI! - grito mais alto quando minha bunda atinge o chão.
- Ai, cacete. - senta do meu lado e tira minha mão que cobre minha testa. - Desculpa, meu amor.
- Por que você me soltou? - pergunto, com um misto de raiva e comédia na voz.
- Não sei, você falou de aranha e isso ficou na minha cabeça. E se tivesse uma aranha em mim? - ele dá de ombros e eu não consigo não rir. - Você vai ficar com um falo na testa.
- E um roxo na bunda. - rio e uso sua mão estendida para ficar de pé.
- Me perdoa?
- Sempre. - sorrio e o puxo para um beijo.
- Isso não é o que eu esperava. - suspira, olhando para o quarto que vamos ficar.
A cama até que é grande, mas é tão velha que deve ser da época dos meus avós; o colchão parece um criadouro de mofo, quase mudando de cor. E o cheiro, meu Deus, que cheiro horrível.
Acho que se a gente limpar pode melhorar um pouco.
- Também não era isso que eu esperava da nossa lua de mel. - ele murmura e empurro seu ombro de leve, tentando melhorar o clima.
- Você realmente vai dispensar passar o resto da tarde limpando esse quarto fedido comigo?
- Limparia 100 quartos fedidos se fosse para ficar do seu lado. - me abraça de lado e beija minha testa. - Ai. - fecho os olhos quando ele toca meu machucado recente.
- Me desculpa, . - ele suspira mais uma vez.
- Só com um beijinho.
- Só um? - sorri com meu drama e espalha diversos beijos pelo meu rosto. - Te amo.
- Ok, cansei, a gente vai para outro lugar! - para no meio da sala, irritado com tudo.
Depois de limparmos cada cômodo da cabana, tomamos um banho juntos no pequeno box, e tivemos mais uma surpresa: sem água quente. Tudo bem, não é o fim do mundo, mas depois de casarmos de manhã e limparmos tudo durante a tarde, só queríamos relaxar e curtir a noite.
Quando finalmente conseguimos nos esquentar embaixo das cobertas que trouxe (e ainda bem que trouxe, porque as da cabana estavam se desfazendo), decidimos que era hora de jantarmos.
A cozinha era apertada e claustrofóbica, mas fizemos dar certo. Nossa refeição foi baseada em sopa e sanduíches? Sim, mas isso são apenas detalhes.
O problema começou quando a chuva chegou e uma goteira surgiu bem em cima da cabeça de . Talvez eu tenha rido, o que o deixou ainda mais irritado com a situação.
- Amor, calma. - tento puxá-lo para sentar ao meu lado de novo e ele resiste. - , senta, por favor.
Ainda relutante, ele volta a ficar ao meu lado. Beijo a aliança que coloquei em seu dedo nesta mesma manhã e sorrio com o futuro que sempre imaginei para nós dois.
- Por que você está sorrindo? Tudo está dando errado. - bufa e faço um carinho em seu rosto, o virando em minha direção.
- Porque você está do meu lado, e isso é o suficiente para tudo dar certo. - digo suave.
A feição de se suaviza de forma rápida e quase instantânea. Consigo ver o amor transbordar em seu olhar, o carinho e a lealdade estampados em seu rosto. Consigo ver a nossa bolha de amor iluminando tudo ao nosso redor, e para mim isso basta.
- Você é muito ruim nisso. - gargalho, observando tentar gravar nossas iniciais no tronco da árvore.
Depois de uma noite sofrível naquele sofá pequeno e apertado, acordamos bem cedo e decidirmos passear pelo descampado da propriedade. Comentei com que, apesar da cabana precisar de muita reforma, eu gostaria de morar em um lugar assim, mas ele logo respondeu que prefere a cidade, que muito mato assim o deixa ansioso, sem ter contato com outras pessoas. A cesta de piquenique nas mãos de foi uma surpresa. Ele disse que queria tentar algo romântico, então deixou tudo pronto e separado na mala do carro, e apenas buscou hoje de manhã enquanto eu ainda dormia.
- Quer tentar então? Isso aqui é difícil pra caramba. - deixa o canivete na minha mão com um sorriso sarcástico.
Talhar uma árvore realmente não é fácil, o coração ficou torto e as letras um pouco falhadas, mas ainda me saí melhor do que ele.
- Tem alguma coisa em que você não seja boa? - os braços de meu marido envolvem minha cintura e ele sussurra em meu ouvido.
- Não, eu sou boa em tudo. - agora é ele quem solta uma risada alta e eu o acompanho.
- Sim, você é a melhor em tudo, .
- Aquela nuvem tem formato de queijo. - aponto para o céu.
- Formato de queijo?
- É, olha ali. - seguro o dedo de e aponto na direção certa. - Ali tem a base do queijo, aqui a ponta e olha os furinhos no meio.
- . - vira o rosto na minha direção. - Eu só vejo diversas nuvens juntas.
- Você precisa de imaginação, Alexander.
- É, eu preciso. - ele sorri doce e espelho seu gesto. me beija antes de me aconchegar entre seus braços.
Ficamos assim o resto da tarde, um emaranhado de pele e amor. Nossa bolha é tão calma e relaxante que nem percebo quando pego no sono. Acordo o que parecem ser horas depois com alguma coisa molhando meu rosto.
Quando abro os olhos encontro o dia ensolarado substituído por um tempo cinza e fechado, com nuvens carregadas e prestes a chover.
- . - cutuco seu braço, mas ele apenas resmunga. - , acorda.
- Que foi? - ele abre um olho para me observar.
- Vai chover. - ele olha para o céu e sorri. - Quer tomar um banho de chuva?
E essa é a deixa perfeita para a água finalmente se derramar. As gotas caem rápidas e grossas do céu, nos encharcando completamente.
- Vem! - fica de pé e me ajuda a levantar também.
O sorriso de meu marido é tão lindo e alegre que é impossível não acompanhá-lo. Esse é com certeza o amor da minha vida, ninguém é capaz de ocupar o espaço dele. segura minha cintura e me puxa para mais perto ainda. Ele move nossos corpos devagar, nos embalando em uma melodia que só nós podemos ouvir.
- Eu te amo. - sussurro, minha testa colada na dele.
- Eu te amo. - ele sussurra de volta.
Talvez tomar um banho de chuva não tenha sido algo muito esperto quando não se tem a possibilidade de tomar um banho quente. Mas quem se importa? Ninguém é muito esperto quando está apaixonado.
- Atchim! - ouço mais um espirro de .
- Toma. - entro na sala e deixo uma caneca de chá em suas mãos.
- Não quero. - ele tenta me devolver mas empurro de volta na sua direção.
- Eu não perguntei se você quer, eu mandei você tomar. - ele faz uma careta mas toma um gole quando vê que falo sério.
Prendo um sorriso quando ele levanta a colcha e abre espaço para mim na nossa cama improvisada. Me aconchego nele e vejo se está com febre.
- Eu já disse que estou bem, .
- E eu disse que não acredito. - respondo de imediato e meu marido revira os olhos.
- Sabe o que eu queria agora e que vai me curar rapidinho? - cerro os olhos para seu tom sugestivo.
- O que?
- Um foundue de chocolate. - ele ri quando vê a surpresa em meu rosto. - Pensou que era o que, ? Que mente suja é essa?!
O resto da noite é envolto em carícias, amor, chocolate e chuva. E eu nunca me senti tão em casa.

*

- E depois, vovó?
- Me ajuda a tirar o bolo do forno que eu te conto mais. - mal terminou de falar e Helena pula do sofá e corre para a cozinha.
Rio com o desespero de minha neta para ouvir o resto da história como se eu nunca tivesse contado antes.
Quando a alcanço, ela já está com as luvas em mãos e parada perto do forno, me esperando. Retiro o bolo do forno e o deixo esfriando sobre a pia enquanto começo a fazer a cobertura.
- Você pode continuar a história agora? - rio com seu pedido e concordo com a cabeça, mergulhando de novo nas minhas melhores lembranças.

-
*

Uma história de amor
De aventura e de magia
Só tem a ver
Quem já foi criança um dia

- ! - grito de dentro do banheiro, ainda sem acreditar no que meus olhos veem.
Meu marido aparece segundos depois, com a respiração acelerada e segurando um abajur.
- O que foi? - ele grita, olhando ao redor. - Você está bem? Alguém te machucou? - não respondo, apenas viro o teste de gravidez positivo em sua direção.
Uma semana antes do meu casamento eu reparei que ainda não havia menstruado, e quando fiz as contas, percebi que estava atrasada há três meses. Meu pânico foi certeiro; sempre quis ter filhos e construir uma família com , mas agora? Ainda estamos no início do casamento, nos ajeitando e acostumando com toda a novidade.
Me recusei a fazer o teste e descobrir se estava ou não grávida. Se fosse positivo, com certeza ia surtar, mas também ia ficar feliz, se fosse negativo… eu não sei como reagiria.
Hoje de manhã, quando abri minha necesáire, encontrei um teste quase que escondido. Eu o coloquei ali só por precaução, caso tivesse coragem o suficiente para fazê-lo.
- Você está com febre? - ele se aproxima mais e arregala os olhos quando vê o que eu seguro, deixando o abajur cair no chão e lascar uma parte da porcelana. - Você está grávida?
Apenas concordo com a cabeça, sem conseguir fazer qualquer coisa que não fosse balbuciar seu nome. corre até mim e me abraça apertado, fundindo meu corpo ao seu e afundando o rosto em meu pescoço. Não demoro muito para sentir minha pele molhada com suas lágrimas e seu corpo balançar com a intensidade de seu choro.
segura meu rosto entre as mãos, me olhando de uma forma diferente, como se tudo o que mais importasse fosse eu, ele, e agora nosso bebê. Seus lábios beijam minha testa, minhas bochechas, meu nariz, os cantos de minha boca e sinto seu cuidado e carinho me acalmarem dessa nova notícia.
- Eu te amo tanto, . - ele sussurra antes de me beijar de verdade, calando minha resposta, mas já sabendo o que eu diria.
Achei que era impossível ver um lado de que não conhecesse, mas o que vejo diante de mim agora é uma versão diferente do meu marido, é a versão pai. E eu o amo ainda mais.
Uma das mãos de deixa meu rosto e a pousa sobre meu ventre, fazendo um carinho de leve.
- Você vai ser uma mãe incrível. - ele sorri.
- E você vai ser um pai maravilhoso. - também sorrio.

fecha a mala do carro e me abraça por trás enquanto eu observo o que foi nossa casa nos últimos dias.
- Eu prometo te dar uma lua de mel de verdade. - apoia o queixo no meu ombro e enlaça minha cintura, me puxando para mais perto.
- E quem disse que não foi de verdade?
Aconteceram imprevistos? Muitos, mas isso só deixou tudo ainda mais especial. Vai ser uma história que vou contar para nossos filhos, netos, bisnetos e que vai se tornar uma piada de família.
Sorrio com o pensamento, imaginando o que o futuro aguarda.
- Que foi?
- Nada, só pensando. - respondo suave. - Apesar de tudo, eu vou sentir saudade dessa cabana.
- Eu não. - ele ri e reviro os olhos com sua reação. - Mas, com umas reformas acho que talvez…
- Talvez o que? - tento me virar para olhá-lo, mas me mantém no lugar. - Do que está falando?
- Você gostou tanto do lugar e foi aqui que descobrimos o início da nossa família. - ele faz um carinho em minha barriga. - Que não consigo imaginar outro lugar para ser nosso.
- Alexander, o que você fez? - me solto de seus braços. - Eu não estou entendendo.
- Essa é nossa casa. - ele aponta sobre meu ombro. - Ou pelo menos vai ser depois que melhorarmos tudo, me recuso a ter uma cozinha menor do que o banheiro.
Continuo estática em sua frente, sem saber o que dizer, sem saber o que pensar. Ele… ele comprou a cabana? A cabana que eu disse que amei e que ele odiou? Ele fez isso por mim?
- Ah não, você vai chorar? - ele corre em minha direção com pânico na voz. - Você não quer morar aqui? Eu posso desfazer o negócio, eu só imaginei que você fosse gostar porque disse que-
- . - coloco minha mão sobre sua boca para o calar. - Eu amei. Eu não vou chorar, eu só… fiquei emocionada.
- Então você não está brava?
- Brava? Claro que não. - passo o polegar sobre sua bochecha e o puxo para perto. - Eu estou feliz que você fez algo por mim assim, mesmo quando detestou esse lugar.
- Eu nunca disse que detestei. - ele tenta negar e arqueio a sobrancelha em sua direção. - Ok, eu posso não ter gostado tanto assim, mas eu vou ser feliz em qualquer lugar, . Desde que você esteja comigo.
Tudo o que consigo pensar é no quanto eu amo esse homem, no quanto ele me faz feliz e no quanto sei que nossa família vai ser meu porto seguro.

*

- E essa casa é a que o vovô comprou? - Helena aponta para o quadro na frente das escadas para o segundo andar, onde eu e seguramos nossa filha nos braços em frente à cabana, agora conhecida como nosso lar.
- É sim, meu amor. - sorrio para a foto, e uma pontada surge em meu peito. - Agora come seu bolo que sua mãe já vem buscá-la.
Helena concorda com a cabeça e enfia uma garfada cheia na boca, sujando suas bochechas com calda de chocolate. Luto para segurar as lágrimas e limpo o rostinho de minha neta, a pontada em meu peito aumentando a cada segundo.
Quando a campainha toca, Helena corre para atender e se joga nos braços do pai.
- Papai, hoje a vovó me contou a história de novo! - ela segura no pescoço de meu genro.
- De novo? - ele vira em minha direção um pouco preocupado. - Desculpa, Dona , eu disse para ela não perguntar, ainda mais hoje.
O dispenso com a mão, como se não fosse nada. A verdade é que dói, dói demais, mas revisitar essas memórias aplaca um pouco a saudade, e eu vou me agarrar em toda possibilidade que tenho para estar junto dele de novo.
- Mãe! - minha filha surge na porta e deixa um beijo em Helena antes de vir me abraçar. - Desculpa o atraso.
Seus braços me apertam forte e é nesse momento que percebo o quanto precisava disso. Tento sorrir, mas sei que não parece verídico.
- Você quer que eu fique? - minha filha pergunta de forma suave enquanto movimenta a mão em círculos nas minhas costas.
- Não, meu amor. - me separo dela e coloco uma mecha atrás de sua orelha. - Vai passar um tempo com sua família, aproveite cada segundo.
Ela concorda com a cabeça, ainda relutante, e me despeço de todos.
Começo a lavar a louça e através da janela observo o jardim da minha propriedade. Uma das árvores se destaca, é a mais especial, é a que carrega minha inicial e a de .
Separo um pedaço de bolo em dois potinhos antes de calçar meus sapatos e sair pela porta da frente.
A caminhada não é longa e logo chego ao cemitério. Ando sem prestar atenção, deixando que minha memória guie meus passos.
Ontem também estive aqui e tirei o dia para limpar sua lápide, lustrar sua foto e trocar as flores. Toda semana eu faço a mesma coisa, sempre venho buscar a companhia do meu amor.
- Hoje Helena me pediu para contar a história da nossa lua de mel. - me sento na grama ao lado da foto de . - De novo.
Rio e tiro os potinhos da bolsa, abrindo a tampa e deixando um deles sobre seu túmulo.
- Fiz o seu favorito. - digo para onde descansa. - Não fiz fondue, mas é chocolate.
Sopro mais uma risada, mas dessa vez ela se transforma em choro. Não me repreendo, deixo as lágrimas rolarem soltas pelo meu rosto, deixo meus soluços encherem o espaço, deixo que minha dor transpareça para que todos possam ver.
- Eu sinto tanto a sua falta. - meu corpo treme com a intensidade que choro. - , eu sinto muito a sua falta.
Devagar, começo a me acalmar e deito ao lado de .
Quando meu marido se foi, eu nunca imaginei que pudesse sentir uma dor tão latente e destruidora. Não sei como consegui me manter forte, mas segui minha missão como mãe e abracei minha filha enquanto ela chorava a perda do pai. Em silêncio, escondida e sozinha, eu sofria por ter tido meu amor arrancado de mim, deixando um vazio em meu peito que nunca poderia ser preenchido.
Eu sei que odiaria me ver sofrendo desse jeito, então tentei a todo custo seguir a vida da melhor forma possível, mas era difícil. Ainda é.
- Às vezes eu queria ter ido antes de você. - digo para o nada. - Mas não suportaria partir e te deixar para trás sozinho com nossa filha.
Volto a me sentar e deixo um beijo na foto de , me despedindo do amor da minha vida até nosso próximo encontro.
- Eu te amo. - sussurro para seu nome gravado na pedra.
E eu sei que ele me escuta quando o vento balança em meu cabelo, como se dissesse “também te amo”.




Fim.





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Nota da autora: Oi, oi, oi! Como vocês estão depois dessa fic? Não me matem, mas eu queria muito um final agridoce. Espero de coração que tenham gostado. Dedico essa história aos meus avós paternos, seu João e dona Zaira, que se amavam tanto que deixaram esse plano no mesmo ano. Eu amo vocês.


Nota da Scripter: HELLO!! Clique AQUI para deixar uma mensagem de amor!

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