Última atualização: 09/04/2022

Capítulo Único

Muitas vezes, na vida, traçamos objetivos e ficamos tão focados neles que nos esquecemos de simplesmente viver. null era bailarina profissional e, por toda a sua vida, a única coisa que esteve em sua mente foi o ballet. Ela ralou muito desde criança, saiu de sua pequena cidade no interior da Inglaterra e foi para Londres ainda adolescente em busca do seu sonho. Hoje, ela era uma das principais bailarinas do Royal Ballet, a primeira e mais importante companhia de ballet do Reino Unido. Mas ela ainda queria chegar mais longe, ela queria ser a primeira bailarina do Bolshoi. Por isso, ela ensaiava dia e noite, sempre em busca da perfeição. null dividia um apartamento no centro de Londres com sua amiga, null, que era maquiadora. null trabalhava na BBC, maquiando a equipe da emissora e os famosos, além de fazer trabalhos por fora. Ela era a responsável pela maquiagem da null, aliás, nas apresentações de ballet. As duas eram dois opostos, null queria curtir e viver enquanto null só pensava na sua carreira.
null, você passa muito tempo com a cara enfiada no ballet. Existe vida além da dança, sabia?
— Eu preciso ser focada e disciplinada, se eu quiser entrar no Bolshoi um dia.
— Mas você exagera, menina! Você não tem vida social, há quanto tempo você não tem um namorado?
— O último foi o Kenny, eu acho.
— Sim, que era da companhia de ballet, já tem uns cinco anos que vocês terminaram!
— Eu não sinto falta de um namorado — disse null, dando de ombros.
— Mas devia, você devia arrumar um namorado, dar uma ia te fazer bem. Devia sair mais, beber, virar a noite.
— ‘Tá doida? Eu acordo super cedo para ensaiar todo dia.
null revirou os olhos para a amiga.
— Mudando de assunto, quem será que vai se mudar para o apartamento da frente? — null perguntou.
— Como assim? E a Sra. Jackson?
null do céu, eu te disse que a mulher morreu tem mais de uma semana!
— Morreu, é? Bom, ela estava bem idosa mesmo.
— ‘Tá vendo como você não pensa em nada além do ballet?
— Ai, que coisa, eu esqueci que você me contou sobre isso. Então, o filho dela vendeu o apartamento?
— Óbvio que sim, né.
— Seja lá quem for que vai vir morar aí, só espero que seja silencioso igual à Sra. Jackson.
Mais tarde, naquele mesmo dia, null estava voltando do trabalho, quando descobriu quem iria morar no apartamento da frente.
— Segura, por favor! — um rapaz gritou e null segurou a porta para ele. — Obrigado.
O rapaz era ruivo e tinha um par de olhos extremamente azuis. Ele estava com uma caixa na mão e um violão pendurado no ombro.
— Você é morador novo?
— Sim, vou morar no apartamento 402.
— Ah, então você é o novo dono do apartamento da Sra. Jackson. Prazer, eu sou null, moro no apartamento da frente, o 404. Mas pode me chamar de null — disse null, estendendo a mão.
— Prazer, sou Edward, mas pode me chamar de Ed.
— Você é músico? — null perguntou, apontando para o instrumento.
— Sim, canto em pubs, em eventos e também em festivais.
— Que legal. Você vai morar sozinho?
— Não, vou morar com um amigo meu que é DJ.
— Ah, sim, entendi. Bom, seja bem-vindo ao prédio, se precisar de qualquer coisa, só avisar.
— Tudo bem, muito obrigado.
Eles desceram no quarto andar e cada um seguiu para o seu apartamento.
null, você está aí?
— Estou, cheguei agora há pouco — disse null, aparecendo na sala.
— Acabei de cruzar com o vizinho novo, Ed, ele é bem bonito. Acho que ele faz o seu tipo, sabia? Transparente de tão branco que é, ruivo, olhos azuis, uma cara de quem não bebe, não fuma e não fode. E ele é músico, vai dividir o apartamento com um amigo DJ.
— Como é que é? Ah, não, essa gente trabalha à noite, nossa vida vai ser um inferno de tanto barulho!
— Oh, garota, você escutou o que eu falei sobre ele ser bonito?
— Não quero saber se ele é bonito, se atrapalhar meu sono, vou reclamar para o síndico!
— Senhor, você está virando uma velha ranzinza.
Depois do jantar, null desceu para levar o lixo e acabou cruzando com o novo morador, mas não o mesmo que null havia cruzado.
— Oi, boa noite — disse um rapaz, se aproximando de null, quando ela já retornava ao apartamento e ia abrir sua porta.
— Boa noite.
— Eu só queria me apresentar, sou o novo morador do 402.
null ficou confusa por um momento, ele não era como a amiga havia descrito. Mas, então, ela se lembrou que null disse que eram dois amigos que iam morar lá.
— Sou Harry — disse o simpático rapaz, estendendo a mão.
Ele era alto, cabelos castanhos e olhos verdes, no rosto duas covinhas profundas pontuavam seu sorriso.
— Prazer, sou null.
— Você mora no 404, não é?
— É o que parece.
— Eu vou dividir apartamento com meu amigo Ed. Você mora sozinha?
— Não, eu moro com uma amiga.
— Nossa, que coincidência, quem sabe possamos ser amigos.
— Quem sabe. Olha, minha amiga encontrou seu amigo mais cedo e ele disse que vocês trabalham com música.
— Sim, eu sou DJ e o Ed é músico.
— Eu imagino que vocês devam trabalhar muito à noite. Eu só queria pedir silêncio depois das dez horas da noite, por favor. Eu acordo muito cedo todo dia para ensaiar, não posso ter uma noite mal dormida.
— Ok, pode deixar. Você é artista também?
— Como assim?
— Você disse que ensaia todo dia.
— Sou bailarina, danço no Royal Ballet.
— Nossa, que bacana!
— Pois é, agora, se você me der licença, eu preciso entrar.
— Tudo bem, foi bom te conhecer, null. Boa noite.
— Boa noite.
null entrou no apartamento e encontrou null jogada no sofá, vendo TV.
— Perdeu o caminho da lixeira, foi?
— Não, mas encontrei o vizinho novo, estava conversando com ele.
— Você conversando com alguém além de mim? Que evolução, hein!
— Palhaça.
— Mas, então, ele não é o seu tipo?
— Não encontrei o ruivo que você falou, encontrei o amigo dele, Harry.
— E como ele é? Gato também?
— Bem bonito, moreno, olhos verdes, você certamente pegaria.
— Uh, interessante. Quem sabe não rola uma saída de casal, nós duas, eles dois.
— Não tenho tempo para saídas.
— Você vai morrer solteira desse jeito, sabia?
— Olha minha cara de quem está preocupada.
— Estou esperando pelo dia em que você vai ficar tão perdidamente apaixonada por alguém, que todas as suas defesas e planos vão cair por terra.
— Caramba, hein, com uma melhor amiga como você, quem precisa de inimigo?
null sabia que, no fundo, a amiga só queria vê-la feliz com alguém, mas o que ela não entendia era que null não ligava para essa coisa de amor. Na vida dela não tinha espaço para isso, porque quando a gente se apaixona loucamente, acaba deixando de lado o que realmente importa e null não queria ninguém para tirar seu foco do ballet.


No dia seguinte, null pulou da cama cedo, como de costume, e se preparou para ir ensaiar. Quando null levantou, null já estava de saída.
— Eu preciso de um café.
— Pois eu já tomei o meu e já estou indo.
— Vê se não ensaia muito, hein, sei lá, deve fazer mal esticar tanto os músculos do corpo — disse null, mordendo um pedaço de pão, e null revirou os olhos.
— Tenha um bom dia, null.
null pegou o elevador e desceu até a garagem, mas, quando chegou até sua vaga, teve uma desagradável surpresa. O carro de uma vaga próxima estava mal estacionado e bloqueando sua saída. null foi olhar a qual apartamento pertencia o carro e viu que era do 402.
— Tinha que ser!
A garota subiu, furiosa, de volta ao quarto andar. Quando o elevador parou, ela não esperou a porta terminar de abrir, saiu em direção ao apartamento 402 e começou a apertar a campainha sem parar.
— Já vai. — Uma voz respondeu do outro lado.
A porta se abriu logo depois, revelando um rapaz ruivo. Ele estava com o cabelo bagunçado, a cara amassada de sono e não vestia nada além de uma cueca boxer preta. Ele era todo tatuado, o tórax e os dois braços fechados, null imaginou que as costas também deviam ter várias tatuagens.
— Bom dia.
— Eu queria muito ter um bom dia, mas fica difícil com seu carro impedindo o meu de sair.
— Nossa, desculpa, nós chegamos tarde ontem, eu devo ter estacionado de qualquer jeito.
— Será que você pode, por favor, descer e tirar seu carro do meu caminho?
— Claro, me dá só um segundo para eu pegar a chave do carro.
— É melhor você vestir uma roupa também — disse null, apontando para o rapaz.
— Puxa, verdade. Eu já volto, só um momento.
Ele correu para dentro e voltou alguns minutos depois, já devidamente vestido e com a chave do carro na mão. Os dois seguiram para o elevador e entraram assim que o mesmo chegou, null mantinha a cara fechada.
— Então, você é a null, amiga da null.
— E você deve ser o Ed, amigo do Harry.
— Eu mesmo — disse Ed, sorridente, mas só teve como resposta um suspiro pesado de null. — Pelo visto, você não é tão sociável quanto a null.
— De nós duas, ela é a simpática, eu sou a chata.
— Ok.
Quando chegaram à garagem, null ficou esperando da forma mais impaciente possível até que Ed tirasse o carro do caminho.
— Pronto, você já pode sair com seu carro — disse Ed, assim que concluiu a tarefa.
— Obrigada — disse null, entrando em seu carro em seguida.
— Tenha um bom dia — disse Ed, acenando, mas null já estava arrancando com o carro.
Só quando já estava no seu ensaio é que null começou a processar o que havia acontecido. Ela havia visto o vizinho novo só de cueca e, apesar de parecer um muro pichado, ele era bem gostoso e bem bonito como null havia dito. Ele poderia até ser o tipo de cara por quem null se interessaria, se ela tivesse tempo para romance e se ele não tivesse conseguido tirá-la do sério. null deixou esses pensamentos de lado e se concentrou no seu ensaio, porque, afinal, era só isso que importava. Quando seu dia terminou, ela seguiu para casa e, ao abrir a porta do apartamento, se deparou com visitas.
— Eu errei de apartamento? — null perguntou ao ver Ed e Harry sentados no sofá da sala.
— Os meninos vieram nos fazer uma visita.
— Na verdade, está mais para um pedido de desculpas por hoje de manhã — disse Ed. — Foi mal por ter te atrapalhado na garagem. Eu trouxe uma pizza para que você me perdoe.
— Sua comida favorita, hein, null — disse null, claramente se divertindo com a situação.
— Pizza em plena quarta-feira?
— E tem dia para comer pizza, é? — Harry perguntou.
— Para mim, tem. Sou bailarina, não posso ficar comendo besteiras toda hora.
null, você pode comer um boi que não engorda.
— Não interessa, eu preciso me manter na linha.
— Bom, foi só uma tentativa de ser legal — disse Ed.
— Você foi muito legal, Ed, a null que é difícil mesmo.
— Ok, já chega, eu preciso descansar, então, se vocês puderem, por favor, seguir para o apartamento de vocês...
— Caramba, a gente traz pizza e você nos expulsa da sua casa? — Harry perguntou, se fazendo de ofendido.
— Não estou expulsando ninguém, estou pedindo educadamente que se retirem.
— Você é uma guerreira — disse Harry para null.
— Vamos logo, Harry — disse Ed, puxando o amigo. — Desculpe, de qualquer forma, por hoje de manhã, pelo carro e pelos trajes que te recebi.
Assim que os dois saíram, null foi até a cozinha e viu a pizza que Ed trouxe.
— Precisava ter os mandado embora? — null perguntou.
— Não os mandei embora, não diretamente. Poxa, eu estou exausta, só quero um banho, comida e cama.
— Você não quer pegar ninguém e fica empatando minha vida. O Harry é muito gato, estou bem a fim de estreitar relações com ele.
null, se você quiser ir com ele para cama, tenho certeza que eu não serei um empecilho.
— O que o Ed quis dizer com “desculpe pelos trajes”?
— Hoje de manhã, quando fui pedir para ele tirar o carro da frente do nosso, ele atendeu a porta de cueca.
— Como é? Gente, que mundo injusto, eu querendo ver o Harry de cueca e você que não ‘tá nem aí para nada se depara com o Ed seminu. Mas, me conta, ele é gostoso?
— Como você fala mesmo quando o homem tem um corpão? Um tesão, não é? Pois é, ele se encaixa nessa descrição.
null o homem é bonito, gostoso e você não sente sequer uma coceira aí embaixo?
— Me respeita garota, eu lá sou mulher de sentir coceira.
— Mas deveria. Você deveria, inclusive, testar se ele é bom de cama — disse null, pegando uma fatia de pizza.
— Não vou testar nada e chega desse assunto — disse null, vendo a amiga morder a pizza enquanto a olhava com cara de julgamento. — Quer saber, me dá um pedaço dessa pizza.
— Vai comer pizza em plena quarta?
— Vou, estou rebelde hoje.
— Gostaria que você fosse rebelde mais vezes — disse null e as duas gargalharam.


Na manhã seguinte, Harry bateu no apartamento das meninas.
— Oi, Harry, bom dia — disse null, ao abrir a porta.
— Bom dia. A null está aí?
— Não, acabou de sair.
— Que bom, eu tenho medo dela, sabe.
— Para de ser bobo. Vem, entra, toma café comigo.
Harry entrou e seguiu null até a mesa.
— Sério, eu tenho medo de ela morder ou coisa assim — disse Harry, se sentando, enquanto null servia café para ele. — Ela é sempre difícil daquele jeito?
— Ela é impossível. Mas, no fundo, ela tem bom coração.
— Aposto que ela é ainda mais difícil com os homens, não é?
— A null não namora muito, ela teve poucos namorados, todos eram do meio da dança e os relacionamentos sempre acabavam porque ela priorizava a carreira.
— Foi o que eu imaginei.
— Mas por que você está fazendo tantas perguntas sobre a null?
— Estou apenas fazendo um favor ao Ed. Ele a achou linda, acho que ficou interessado nela, aí eu resolvi ver onde meu amigo estava se metendo.
— Ah, entendi. Bom, ele está se metendo em um terreno perigoso, mas, se ele for um cara de coragem, dou o maior apoio para ele ir fundo. Eu adoraria ver a null apaixonada por alguém de verdade, queria muito vê-la vivendo realmente.
— O Ed gosta de um desafio, então, quem sabe.
— Agora, deixando a null e o Ed de lado, eu só queria dizer que eu não sou nada difícil igual a null — disse null, com um sorriso de lado.
— Que bom saber disso, porque eu não sou chegado a um desafio tipo o Ed.


Enquanto isso, null já seguia para o seu ensaio. Ela parou no Starbucks para pegar um frappuccino antes de seguir para a escola de dança.
— Então, você também gosta de frappuccino? — disse alguém na fila, logo atrás de null.
null olhou para trás e se deparou com Ed.
— Você está me seguindo?
— Juro que não! Foi total coincidência a gente se encontrar aqui mesmo.
— Sei.
null se virou para a frente e fez o pedido para a atendente.
— Moça, eu quero um igual e pode deixar que eu pago o dela.
— Não precisa.
— Eu faço questão.
— Ed pagou e os dois ficaram esperando os pedidos.
— Não precisava ter feito isso — disse null, assim que eles saíram da cafeteria.
— Ainda estou me desculpando.
— Não precisava mais se desculpar, eu já esqueci, está tudo certo.
— Sério mesmo? Porque você é tão brava, não dá para saber se você realmente esqueceu.
— Eu não sou brava — disse null, irritada, mas logo sua cara fechada se desfez ao ver o sorriso do outro. — Ok, eu sou bem difícil, eu sei, mas é porque minha vida é muito estressante. Eu vivo para o ballet, são horas e horas de ensaio, sempre tentando ser perfeita.
— Você devia se cobrar menos e viver mais.
— Ah, não, por favor, outra null na minha vida eu não vou aguentar. Ela vive falando sobre como eu não sei aproveitar a vida.
— Talvez, você devesse ouvi-la.
— Não tenho tempo para curtir a vida agora, primeiro preciso alcançar meu objetivo.
— Que seria?
— Ser a primeira bailarina do Bolshoi.
— Uau, você sonha alto mesmo.
— E você não?
— Eu sou feliz com o que eu tenho, eu trabalho com música, que é minha grande paixão, não quero ser famoso nem nada. Meu objetivo era só poder viver da minha música e isso eu já consegui.
— Que bom para você, pois eu ainda não alcancei o que eu quero. E, falando nisso, preciso ir, já estou em cima da hora para o ensaio.
— Tudo bem, vai lá voar, bailarina.
— Obrigada pelo frappuccino. A gente se vê.
— De nada. Bom ensaio.
Ed se inclinou e deu um beijo na bochecha de null, o que a fez corar. null seguiu até o seu carro, mas, antes de dar a partida, ela ficou por alguns segundos pensando no ruivo, na conversa com ele, no beijo. null tocou sua própria bochecha e algo dentro dela parecia querer ganhar força, mas, então, ela sacudiu a cabeça e voltou a si, ligando o carro em seguida e seguindo para o ensaio.


null passou o dia focada em seu ensaio, se concentrando ao máximo para que sua cabeça não pensasse em outras coisas. Ao final do dia, ela estava tão esgotada, que tinha certeza que ia chegar em casa e capotar assim que deitasse em sua cama.
null, cheguei, você já está em casa? — disse null, entrando em seu apartamento.
A casa estava silenciosa, as luzes da sala apagadas. null colocou sua bolsa em cima do sofá e foi até a cozinha.
— Ai, meu Deus! — null gritou, se assustando quando acendeu a luz da cozinha. — Mas o que é isso?
Harry estava na cozinha só de cueca, com a porta da geladeira aberta, pegando uma garrafa d’água.
— Primeiro, eu vi o Ed de cueca, agora você, Harry. Só que, dessa vez, eu estou na minha casa!
null, me desculpa! Eu posso explicar.
— Não precisa explicar nada, eu já entendi tudo. Eu vou para o meu quarto enquanto você, por favor, volta para o quarto da null e eu vou fingir que isso nunca aconteceu.
null se retirou para o seu quarto, tomou um banho, colocou seu pijama e só saiu para comer quando ela achou que era seguro. Depois de fazer um lanche rápido, null voltou para o quarto para se preparar para dormir.
null posso entrar? — null perguntou, batendo à porta.
— Entra, mas só se você estiver vestida.
null entrou no quarto com a maior cara de pau do mundo.
— O Harry me disse que cruzou com você na cozinha. Me desculpe por isso, não era para você ter o visto daquele jeito.
null, a casa também é sua, você tem o direito de fazer o que você quiser no seu quarto, mas seria bom se você pedisse para o seu gato da vez andar vestido quando estivesse nos outros cômodos da casa.
— Eu sei, falei isso para ele. É que a gente perdeu a noção da hora, esqueci que você já devia estar chegando.
— Mas como foi isso, afinal? Você e ele, eu digo.
— Ele veio aqui de manhã falar comigo, tomamos café juntos e conversa vai, conversa vem, acabamos nos pegando. Só que eu tinha que ir trabalhar, então eu falei para ele voltar à noite e aí, quando ele voltou, rolou, né.
— E vocês estão namorando? Só estou perguntando para saber se cenas como as de hoje vão se repetir.
— Eu espero que o que aconteceu hoje se repita muitas vezes, mas ainda está muito cedo para rotular nossa relação, estamos nos conhecendo.
— Você não tem jeito mesmo.
— O que foi? Se você não quer viver, amiga, eu quero. Mas nunca que eu ia deixar um homem daqueles, com um rosto que parece que foi esculpido por anjos, passar pela minha vida sem eu me aproveitar dele.
— Então ‘tá, né, fique à vontade para curtir o seu anjo.
— Você devia deixar de ser boba e fazer o mesmo, pegar o amigo dele. Harry andou me contando que o Ed te achou linda, acho que ele está interessado em você.
— Isso explica porque ele anda me seguindo.
— Como assim?
null contou à amiga sobre o encontro no Starbucks com o Ed.
— Mas, gente, ele está mesmo interessado em você. Você acha que ele estava te seguindo realmente?
— Não, acho que ele falou a verdade quando disse que era só coincidência.
— Ai, null, você não sabe mesmo aproveitar a vida.
— Você é a que aproveita por aqui. Aliás, o Harry passou no seu teste drive da cama?
— Nossa, e como! Ele tem pegada e é uma verdadeira delícia.
— Que bom para você, fico feliz, de verdade. Mas, agora, se você não se importar, eu preciso dormir.
— Tudo bem, eu também vou descansar, amanhã tenho que estar cedo na emissora.
null já ia saindo do quarto quando se lembrou de algo.
— Ah, eu quase me esqueci! O Harry e o Ed vão tocar e cantar em um festival no sábado e o Harry nos convidou para ir.
— Você pode ir, mas você sabe que eu não vou, né?
null, para de ser tão certinha, um dia de saída não vai atrapalhar em nada no seu ballet. O festival é à noite, domingo você não ensaia, pode descansar e vai estar boa na segunda.
null, eu nem gosto desse tipo de programa. Eu não bebo e nem sou de virar a noite.
— Você não precisa beber, vai só para curtir a música e ver os meninos se apresentarem. Por favor, faz isso por mim.
— Eu vou pensar, ok?
— Ok, pensa com carinho, então.
null seguiu para o seu quarto e null deitou em sua cama. Um festival de música, cheio de gente cantando e dançando, muita bebida... Aquilo não era mesmo a cara dela. Mas ela ia pensar com carinho como prometera à amiga, talvez sair da sua rotina um dia só não fosse matá-la.
null ficou os dois dias seguintes tentando convencer null de ir ao festival, ela falou tanto que, no fim, null acabou cedendo. No sábado à noite, elas se arrumaram para ir ao festival, haviam combinado de encontrar os meninos lá.
— Eu nem sei que roupa colocar.
— Também, a última vez que você saiu para um rolê foi no século passado, né.
— Se ficar de gracinha, eu desisto de ir.
— Ai, ok, já parei. Você pode ir vestida como quiser, null, como você se sentir melhor.
null acabou optando por colocar um vestido branco de alcinha que ela quase nunca usava, ele era colado na parte de cima e a saia do vestido era solta. Ela colocou uma jaqueta de couro preta para o caso de esfriar, afinal, o festival era em local aberto. Nos pés, calçou uma botinha preta de cano curto que tinha um salto bem baixo e era confortável para ficar horas em pé. Quando ela já estava pronta, encontrou null na sala e as duas seguiram para o festival.
— Não sei por que você quis pegar um uber, eu não bebo, poderia muito bem ter vindo dirigindo — disse null, quando chegaram ao local.
— O festival vai acabar muito tarde, é meio perigoso voltarmos sozinhas dirigindo.
— Como se você fosse voltar sozinha para casa, né.
— Eu não havia pensado nesse detalhe.
As duas entraram no festival e, à porta, um dos seguranças colocou aquelas pulseiras florescentes em seus punhos. Elas foram para perto do palco procurar os meninos, Harry havia dito para null que os camarins ficavam atrás do palco, então eles podiam se encontrar lá.
— Olha só, não é que elas vieram mesmo — disse Ed ao avistar as meninas.
— Saiu da toca, foi, null? — Harry perguntou, divertido.
— Já ‘tá cheio de intimidade, né, garoto do rosto esculpido por anjos?
— Como é?
— A null que te descreve assim.
null! — disse null, dando um tapinha no ombro da amiga.
— Eu fico feliz que a null tenha te convencido a vir — disse Ed.
— Estou uma pessoa muito legal hoje, vim prestigiar o trabalho de vocês.
— Bom, então fiquem à vontade, eu já vou subir ao palco daqui a pouco e o Ed entra logo depois de mim. Quando a gente terminar de se apresentar, nos encontraremos com vocês.
Ed e Harry voltaram para o camarim enquanto null e null escolhiam um lugar bem próximo do palco para assistir.
— Vou pegar uma bebida antes de o show começar, você quer alguma coisa, null?
— Não, obrigada.
Logo o festival começou e Harry subiu ao palco comandando suas picapes. null começou a dançar toda animada e puxou null, tentando fazer a amiga se soltar.
— Vamos lá, null, eu sei que você dança muito bem, não é à toa que é bailarina.
— Eu danço clássico, não essas músicas.
— Você disse que sua professora fala que quem dança ballet dança tudo, então pode soltar esse quadril aí.
As duas começaram a gargalhar, null estava se divertindo, afinal. Quando terminou a apresentação do Harry, Ed subiu ao palco.
— Ué, ele não tem banda? — null perguntou ao ver Ed sozinho no palco.
— Pelo visto, não.
Ed tocava e cantava sem precisar de uma banda, ele tocava violão e usava um pedal de looping para gravar as bases das músicas.
— Caramba, ele tem talento e uma voz muito bonita — disse null.
— Talento ele tem mesmo, mas essas músicas melosas dão sono.
— Ai, que horror, null.
— Eu sei que você gosta dessas músicas românticas, mas você sabe que não fazem meu tipo.
— Eu gosto mesmo, acho tão bonito.
— Sim, estou percebendo mesmo você começando a babar pelo ruivo.
— Ah, para de bobagem.
Assim que terminou o show do Ed, ele e Harry se juntaram às meninas. null já havia bebido um pouco e continuou a beber, agora acompanhada dos dois. Ela começou a encher o saco de null, que não queria beber de jeito nenhum.
— Vamos lá, null, só um drink que seja.
— Se eu beber alguma coisa, você me deixa em paz?
— Prometo que sim.
null suspirou, mas foi até ao bar e pediu um drink, um com menor teor alcoólico que ela encontrou. Depois, null, Harry e Ed resolveram fazer uma disputa de quem bebia mais shots de tequila.
— Eu me recuso a participar dessa disputa, se a null não participar também — disse null.
— Eu não vou participar, pode esquecer.
— Ah, null, vai ser divertido — disse Harry.
— Vocês chamam ficar bêbado de diversão?
— Você só vai ficar bêbada se não souber beber — disse Ed.
— E como eu vou saber se sei beber, se eu não tenho hábito de beber?
— Você vai ter que arriscar, minha cara null — disse null.
— Ok, mas se eu disser que quero sair da disputa, vocês vão me deixar sair sem me encher o saco, combinado? — null perguntou e todos assentiram.
Eles começaram a disputa com shots de tequila prata e depois passaram para a tequila ouro. null estava se sentindo bem nas primeiras doses, o problema era que ela não estava acostumada a beber, ela não tinha a menor noção de como identificar a hora de parar. Depois dos shots de tequila, eles ainda beberam uma garrafa de saquê e algumas cervejas. Ed e Harry eram fortes para beber, eles estavam bêbados, mas não a ponto de não saberem o que estavam fazendo. null estava rindo à toa, mas não passava disso. Já null era a pior de todas, ela estava completamente fora de si. Os meninos sugeriram que já era hora de ir embora, então eles foram pagar a conta enquanto null e null os aguardavam. null tentava segurar null quando uma garota passou esbarrando nas duas e derrubou vinho tinto no vestido branco de null.
— Ah, poxa, isso vai manchar — disse null, com a voz enrolada, e depois começou a gargalhar.
— Derrubam bebida em você e você está rindo?
— Eu acho que essa mancha não vai sair nunca mais.
— E isso é engraçado?
— Eu nem gostava tanto assim desse vestido. E, já que manchou, vou terminar de estragar.
— Aonde você vai, null?
null pegou uma garrafa de vinho que estava pela metade e alguém havia esquecido pelo caminho e virou em cima de si.
— O que ela está fazendo? — Harry perguntou, retornando com Ed.
— A null está muito louca — disse null, rindo sem parar.
— O pior de tudo é que eu estou achando isso extremamente sexy — disse Ed.
null, vamos embora, sua maluca! — null gritou.
Os quatro saíram cambaleantes do local do festival, Harry tentava pedir um uber.
null, segura minha jaqueta — null disse, arrancando a jaqueta e jogando em cima da amiga. — Esse vestido está todo molhado, não dá para ficar com ele.
null começou a levantar o vestido, fazendo menção de tirá-lo.
null, ela vai ficar pelada no meio da rua, você não vai fazer nada? — Ed perguntou.
— Eu não, está tão divertido ver a null fora da casinha assim. Eu nunca vou me esquecer dessa noite.
Ed foi até null para impedi-la de tirar a roupa.
null, não pode ficar pelada em público, é atentado ao pudor — disse Ed, segurando null pelo braço.
— E beijar em público é atentado ao pudor também?
Ed não teve tempo de responder, porque null o enlaçou pelo pescoço e o beijou.
— Só fica melhor — disse null, rindo.
— Ela nunca vai te perdoar por a ter deixado fazer tantas loucuras — disse Harry.
— Ela nem vai se lembrar de nada do que fez.
null ainda estava agarrada ao Ed dando um verdadeiro beijo de cinema nele.
— Mas o que foi isso? — disse Ed, quando null finalmente quebrou o beijo.
— O Harry andou falando que você estava a fim de mim, achei que ia gostar que eu te beijasse.
— O Harry fala demais.
— Não importa, você beija muito bem.
— Oh, bando de malucos, o uber chegou — disse Harry.
Os quatro entraram no carro, null foi o caminho todo rindo para o nada e null foi o caminho todo rindo de null. Quando chegaram ao prédio, os quatro subiram para o apartamento das meninas.
— Agora eu posso tirar esse vestido nojento? — disse null, arrancando seu vestido e ficando só de calcinha e sutiã.
Ela ligou o rádio e começou a dançar e rebolar no meio da sala.
— Minha amiga enfiou o pé na jaca total.
— Pobre null — disse Harry
— Não olha muito não, Harry, aliás, vamos nos retirar.
— Aonde vocês vão? — Ed perguntou.
— Eu e o Harry vamos para o meu quarto e você que se vire com a null.
Ed tinha que confessar que estava gostando de ver null dançando só de lingerie, mas, como ele era um cavalheiro, não ia deixá-la naquela situação vergonhosa por nem mais um minuto.
— Vem, null, você está precisando de um banho frio e cama.
— Ah, não, me deixa dançar em paz.
— Acredite em mim, você vai me agradecer amanhã.
— Ed fez com que null se apoiasse nele e a levou para o quarto. Ao entrarem no quarto, null se soltou de Ed e se jogou na cama, deitando de barriga para cima.
— Ed, fecha a porta e deita aqui do meu lado.
Ed obedeceu e se deitou ao lado da garota, que continuava rindo sem parar.
— Você não vai achar isso engraçado amanhã.
— Eu não estou nem aí para o amanhã. Agora vamos, Ed, tira a roupa.
— Como é que é?
— Tira a sua roupa, vamos aproveitar o resto da noite.
— Nem pensar, null, eu não vou me aproveitar de você no estado no qual você está.
— Mas sou eu quem está querendo me aproveitar de você.
null, você está bêbada, não sabe nem o que está dizendo.
— Eu sei que você é muito gostoso e eu quero dormir com você.
null se inclinou em cima de Ed e começou a beijar seu pescoço.
null, isso é golpe baixo! Para com isso, por favor.
— E se eu não parar?
— Vai ficar difícil resistir por muito tempo.
— Então, para de resistir de uma vez.
Ed, então, segurou null pelos braços, a colocando de volta na cama e ficando por cima dela. Ele a beijou com vontade e null correspondeu, entrelaçando seus dedos nos cabelos de Ed. Em pouco tempo, as roupas de Ed e a lingerie de null foram parar no chão. null podia estar bêbada, mas seu corpo reagia à cada toque de Ed em sua pele. null mordeu o lóbulo da orelha de Ed enquanto ele apertava com força sua coxa. Ela arranhou suas costas quando ele voltou a beija-lá e pressionou seu corpo contra o dela. Não demorou até que os dois chegassem ao clímax, o sangue nas veias de null parecia fogo correndo por todo seu corpo, que, aos poucos, foi amenizando até que ela se acalmasse e relaxasse ao lado de Ed. null apagou totalmente depois disso e só acordou no dia seguinte, quando o sol já estava forte lá fora.
— Ai, minha cabeça — disse null ao acordar e tentar se levantar. — Mas o quê?
null teve que colocar a mão à boca para conter o grito de surpresa. Ed estava deitado ao seu lado completamente nu, ela olhou para si e viu que também estava sem roupa. null levantou com cuidado da cama para não acordar Ed, vestiu uma roupa qualquer e saiu do quarto. Ela encontrou null na cozinha com uma bolsa de água fria na cabeça e uma xícara de café na mão.
— Eu não posso mais fazer isso, não tenho mais idade para essas coisas — reclamou null. — Olha só quem acordou, aposto que você precisa mais de café e aspirina do que eu.
— Eu preciso é saber tudo que aconteceu ontem, porque eu acordei e o Ed está pelado na minha cama.
— Não acredito! Ai, que orgulho de você, amiga.
null, desembucha logo, o que aconteceu?
— Tem certeza que você quer saber tudo?
— Eu preciso saber.
null contou à null tudo que ela havia aprontado depois de ficar bêbada.
— Que vergonha! — disse null, escondendo o rosto com as mãos. — E a culpa é todo sua!
— Você bebe e a culpa é minha?
— Claro que sim, por ter ficado no meu pé para ir ao festival e depois para participar daquela disputa ridícula de quem bebe mais.
null, um porre uma vez na vida não mata ninguém. Agora, vamos ao que interessa: sua noite com o Ed. Conta tudo.
— Tudo o quê?
— Tudo o que aconteceu entre vocês. Espera, não me diga que você esqueceu disso também? Porque as coisas boas a gente não pode esquecer não, null!
— Eu me lembro disso, sim, mas eu achei que tivesse sonhado. Só me dei conta de que foi real ao acordar e vê-lo ao meu lado.
— E foi bom, é?
null, você só pensa nisso?
— Óbvio que sim, temos que pensar no que é importante.
— Se tudo o que eu lembro for realmente real, deve ter sido muito bom.
— Ah, garota, mandou bem!
— O pior de tudo é que o filho da mãe é um puta de um gostoso.
— E isso é ruim, por acaso?
— Eu não sei o que fazer, null! Eu não sei como olhar para ele depois de ontem.
null, relaxa e aproveita, pelo menos, uma vez na sua vida. Você ficou bêbada e dormiu com um cara gato, isso não é o fim do mundo, pelo contrário, eu só vejo vantagens.
— Bom dia — disse Harry, entrando na cozinha. — Olha, null, estou vestido hoje.
— Que bom, né.
— A null ‘tá vivendo uma crise existencial porque o Ed ‘tá pelado na cama dela.
— Ah, não acredito que rolou!
— Calem a boca vocês dois, estou tentando raciocinar.
— Filha, não tem nada o que raciocinar, para de ser mulherzinha, volta para aquele quarto e vai enfrentar a parte boa da sua ressaca.
null bufou e se levantou, voltando para o quarto. Ela se sentou na cama ao lado de Ed, que ainda dormia. Ele começou a se mexer até finalmente despertar.
— Bom dia — disse Ed.
— Bom dia.
— Que cara é essa?
— Estou com uma puta de uma ressaca.
— Não é para menos, você passou de todos os limites ontem.
— Eu sei.
Ed se sentou na cama e ficou observando o rosto de null por um instante.
— Você não lembra do que aconteceu com a gente?
— Claro que eu lembro, Ed, quer dizer, eu achei que tinha sonhado com essa parte, mas, quando acordei e vi você, me dei conta que realmente aconteceu.
— E você está arrependida?
— Eu estou morrendo de vergonha! Eu não sou assim, eu não encho a cara e saio dormindo com os caras por aí, pelo contrário, eu sou certinha até demais.
— E você acha que eu estou pensando que você sai por aí fazendo isso sempre?
— E não está?
— Claro que não, null, eu te conheço há pouco tempo, mas já deu para perceber como você é. Eu fiquei a fim de você desde a primeira vez que te vi e, se você deixou isso acontecer entre a gente, é porque você sentiu alguma coisa também.
— Eu nunca tinha feito isso antes. Eu sempre fui do tipo que conhece o cara e só vai para cama depois que está oficialmente namorando.
— Fazer algo diferente do que você costuma fazer não faz de você uma garota fácil nem nada. Pelo menos, eu estou pensando isso de você.
— Você é um cara bem bacana, Ed.
— E você é linda.
Ed segurou a mão de null e encostou sua testa na dela.
— Eu gostei tanto do que aconteceu com a gente ontem.
— Se tudo que eu lembro foi real, acho que foi muito bom — disse null e Ed riu.
— Será que a gente pode fazer tudo de novo? Mas, dessa vez, com você bem consciente?
— Não sei se é uma boa ideia.
— Vai por mim, é uma excelente ideia.
Ed puxou null para junto de si e a beijou. Ela não tentou resistir, apenas fechou os olhos e se deixou levar pela sensação boa. Quando null percebeu, ela já estava deitada na cama com Ed sobre si, suas roupas sendo jogadas uma a uma no chão. Então, pela primeira vez na vida, null não pensou em nada, apenas agiu pelos seus instintos e vontades mais profundas.


null nem se deu conta do tempo passando enquanto estava com Ed. Mas, quando ele foi embora, algumas horas mais tarde, ela finalmente voltou à realidade.
— Pelo visto, estava bom o assunto lá no seu quarto, hein — disse null.
— Tão bom quanto deveria estar o seu assunto com o Harry no seu quarto.
— Não posso negar que estava ótimo mesmo — disse null e as duas riram. — Mas, agora, é minha vez de perguntar: e aí, vocês estão namorando?
— Não, não! Eu não tenho tempo para namorar.
null, todo mundo encontra tempo para namorar.
— Acontece que, quando a gente se apaixona por alguém, acaba priorizando o namoro e esquecendo das outras coisas e eu não posso fazer isso. Se for para priorizar algo, que seja minha carreira.
— Seus relacionamentos nunca deram certo justamente por isso, por você priorizar sua carreira.
— Eu não quero e não vou pensar nisso agora, ok? O que aconteceu entre mim e o Ed foi ótimo, mas vamos deixar rolar para ver no que dá.
Para o restante do domingo null só queria paz e descanso, mas, à noite, null chamou os meninos para jantar e eles ficaram conversando até tarde. Na manhã seguinte, null acordou mais cansada do que deveria e foi difícil pular da cama cedo para ensaiar.
null, você vai ficar com o carro hoje, né? — null perguntou quando estava tomando café da manhã com a amiga.
— Ah, eu esqueci de te falar, não vou precisar do carro. O Harry tem que resolver umas coisas próximo à BBC e ele vai me dar carona até a emissora.
— Olha, gente, isso está mesmo parecendo um namoro.
— Se você começar a falar da minha relação com o Harry, eu vou falar da sua com o Ed. Ou pensa que não vi a troca de sorrisos ontem no jantar?
— Ok, não está mais aqui quem falou. Aliás, não está mesmo, porque já estou de saída. Vou só escovar meus dentes e partir para o ensaio.
null terminou de se arrumar e saiu de casa logo depois. null também já estava quase pronta quando a campainha tocou.
— Bom dia, anjo — disse null ao abrir a porta.
— Bom dia. Tem uma gatinha aí precisando de carona para o trabalho?
— Me dá só um segundo e já podemos ir, ok?
Harry e null já estavam indo para o elevador quando ouviram Ed chamar.
— Bom dia, Ed — disse null.
— Bom dia, null. Você sabe me dizer que horas termina o ensaio da null?
— Lá pelas cinco da tarde. Mas por quê?
— Estou pensando em fazer uma surpresa para ela e ir até lá.
— Não sei se é uma boa ideia.
null, confia em mim, eu sei o que estou fazendo.
— Ok, boa sorte, então.
Enquanto isso, null passou o dia todo lutando contra o cansaço e um tanto quanto distraída.
null, você descansou esse final de semana? — Lucy, a professora de null, perguntou.
— Na verdade, não muito.
— Deu para perceber. Você está com cara de cansada, com olheiras... e está completamente distraída, errou passos simples que você não costuma errar.
— Me desculpe.
— Eu quero concentração, ok?
null tentou se concentrar ao máximo e, no final do dia, quando todos foram dispensados, ela ficou mais dez minutos repassando a coreografia. Ed chegou à Royal Ballet School e perguntou na recepção onde null ensaiava, indo até o local indicado logo em seguida. Quando Ed finalmente encontrou a sala, parou e ficou admirando null dançando. Era a coisa mais linda que ele já tinha visto, ela girava em cima da sapatilha de ponta como se fosse uma pluma. A música terminou e null se preparou para sair da sala.
— O que você está fazendo aqui? — null perguntou ao se deparar com Ed.
— Eu quis fazer uma surpresa.
— Você não devia ter vindo. Eu levei a maior bronca da minha professora hoje por estar cansada e distraída e a culpa é toda sua.
— Ah, null, você não precisa ser tão certinha o tempo todo e sua professora deve pegar assim no seu pé porque certamente ela deve ser uma solteirona solitária.
— Ed, isso é sério, ok? O ballet é minha vida, preciso render meu máximo, se quiser ter chances de entrar no Bolshoi. Além disso, estamos ensaiando para uma apresentação no Royal Opera House no final do mês, não posso ficar perdendo tempo...
null não conseguiu terminar o que estava falando, porque Ed a puxou pela cintura e a beijou.
— O que você estava dizendo mesmo? — Ed perguntou quando eles quebraram o beijo.
— Não sei, meu cérebro parou de funcionar. Que droga, Ed, por que você tem que ser assim?
— Assim como?
— Assim tão gostoso — disse null e Ed riu.
— Deixa eu te levar para dar uma volta e depois para casa?
— Tudo bem, espera só um pouco que eu vou me trocar.
Ed e null saíram da escola, foram dar uma volta em um parque próximo e depois pararam para tomar um sorvete. Quando chegaram em casa, já estava quase na hora do jantar.
— Ah, olha eles aí — disse null quando os dois chegaram.
— Pensamos que vocês tinham fugido.
— Não fugimos. O Ed foi me buscar no ensaio e saímos para dar uma volta.
— Ai, que bonitinho esses dois.
null, fica quietinha, fica.
— Eu vi a null ensaiando hoje, ela é realmente boa nesse negócio de ballet.
— Eu também quero ver você dançar, null — disse Harry.
— É só você ir à minha apresentação no final do mês.
— Isso é um convite oficial?
— Sim, quero você e o Ed na minha apresentação.
— Finalmente eu vou ter companhia para ver a null dançar.
— É só que, para que eu possa dançar e me apresentar, eu preciso de mais concentração e menos distração — disse null, olhando para Ed.
— Eu sei que, no fundo, eu já me tornei sua distração favorita.
Ed abraçou null por trás e encostou seu queixo no ombro dela, a garota corou.
— Ed, não sei o que você tem, mas, seja o que for, está deixando a null doidinha por você.
null, se você continuar com tanta gracinha, pode ser que eu te atire pela janela.
— Mas quanta violência, menina.
Ed ignorou completamente o que null havia dito sobre precisar se concentrar e passou a buscá-la no ensaio sempre que possível. O quarteto de amigos também passou a fazer programas juntos com frequência e a migrar de um apartamento para o outro o tempo todo.
— Lembrou que tem casa, amiga? — disse null, vendo null entrar em casa depois de passar a noite no apartamento dos meninos.
— Ué, gente, está reclamando do quê? Deixei o apartamento livre para você e o Ed e nem adianta negar, porque eu sei que ele dormiu aqui.
As amigas se olharam e caíram na gargalhada.
— Fala a verdade, amiga, você está tirando o atraso por uma vida toda, né?
null, você acha que a gente só faz isso?
— Claro que não, mas isso é uma parte essencial quando a gente se relaciona com alguém. E o ruivão manda bem, não manda?
— Não dá para negar que o sexo com ele é muito bom, ele tem pegada e é carinhoso ao mesmo tempo.
— O Harry também não fica atrás, nota mil para aquele anjo.
— É, mas tem outras coisas também sobre o Ed que são boas. Ele é um bom ouvinte, ele é romântico, ele é divertido, eu estou tentando encontrar algum defeito terrível nele, mas, até agora, nada.
— Ih, menina, eu não queria falar nada não, mas sinto cheiro de gente apaixonada no ar.
— Nada a ver, é só que eu gosto de estar com ele, mais do que deveria até.
null, para de bobagem e se joga de cabeça.
— Não, nada de me jogar de cabeça, não estou a fim de me esborrachar com a cara no chão.
— Quero ver até quando você vai conseguir impedir seu coração de se apaixonar. Ainda mais você, que é pura diabete.
null também não sabia até quando ia conseguir resistir ao sentimento que queria tomar conta dela cada vez mais. E Ed tornava essa missão cada vez mais difícil.
null, você está pronta? — null gritou da sala.
— Estou quase, null.
Elas estavam se arrumando para sair, era domingo e haviam combinado de ir com os meninos ao Alton Towers, um parque de diversões.
— Vamos, null, são quase três horas de viagem.
— Pronto, já podemos ir.
Eles seguiram em um carro só, cantando e conversando animadamente durante todo o caminho que nem sentiram a viagem passar. Ao chegar no parque, a lei era se divertir o máximo possível.
— Eu quero ir em todas as montanhas russas — disse Harry, animado.
— Eu vou com você, anjo.
— Pelo visto, nós vamos ficar só olhando, porque eu tenho pavor de altura e o Ed também.
— Vocês são dois medrosos — disse Harry.
— Para que tirar meus pés do chão, se posso mantê-los firmes e seguros no solo, hein? — disse Ed, irônico.
— Mas tem uma montanha russa no escuro aqui, essa vocês vão, não vão estar enxergando nada mesmo — disse null.
Ed e null toparam ir na montanha russa e se arrependeram. Foi tanta gritaria, tanto coração saindo pela boca, que o dois quase desmaiaram.
— O Ed está mais branco do que ele já é, se é que isso é possível — disse null, divertida.
— Eu nunca mais na minha vida entro em um troço desses, nunca mais! — disse null.
Depois de irem em duas atrações mais tranquilas e sem fortes emoções, Harry e null começaram sua saga pelas outras montanhas russas do parque, enquanto null e Ed foram passear pelas áreas verdes do local. Eles compraram refrigerantes e caminharam de mãos dadas até o grande castelo que havia no parque. Os dois acharam um local nos jardins do castelo para se sentar.
— Não sei como é que eles aguentam todas essas montanhas russas — disse null.
— Eles não têm medo de altura como nós — disse Ed, dando de ombros. — Eles combinam um com o outro, curtem as mesmas coisas, assim como nós combinamos perfeitamente.
Ed segurou a mão de null, depositando um beijo na palma de sua mão.
— Eu já disse hoje que você é a mulher mais linda desse mundo?
— Ed, você está tornando cada dia mais difícil para mim não gostar de você.
— De o que você tem medo?
— De me apaixonar e perder completamente o rumo da minha vida.
— É uma pena mesmo que você tenha tanto medo, porque eu já estou apaixonado por você.
— Não faz isso comigo, Ed.
Ed colocou seu refrigerante de lado e se aproximou de null, beijando cada pedaço do seu rosto. null fechou os olhos, se permitindo sentir aquela sensação tão boa.
— Eu quero você para mim, para sempre — disse Ed, beijando os lábios de null em seguida.
Os dois estavam tão envolvidos naquele beijo, que nem perceberam Harry e null se aproximarem. Eles chegaram bem perto do casal e, então, gritaram, fazendo a maior algazarra.
— Mais que inferno, hein, não se pode dar uns beijos em paz — disse null, divertida.
— Ué, vocês desistiram de ir em todas as montanhas russas? — Ed perguntou.
— Não, só paramos porque algo mais importante nos chama, a fome — disse null.
— Precisamos comer — Harry completou.
— Se tem uma coisa que nós quatro combinamos é na questão de comer, e muito — disse null.
— Então, vamos encher o bucho logo — disse null.
Os quatros seguiram para a área de alimentação do parque. Foi um dia muito divertido, null sabia que voltaria cansada para casa e que isso poderia refletir no seu ensaio do dia seguinte, mas, pela primeira vez, isso não a deixou irritada. Ela estava feliz, se divertindo com seus amigos e curtindo a companhia de um cara de quem seu coração já não conseguia mais fugir.
O mês passou voando, os ensaios de null ficavam cada vez mais puxados devido à apresentação. Uma semana antes do espetáculo, ela fez seu último ensaio no Royal Opera House para reconhecimento de palco.
— Ensaiou muito hoje? — Ed perguntou quando foi buscar null no ensaio de sábado.
— Sim, estou exausta.
— Então, vamos para casa, pedir uma pizza e aproveitar a noite.
Quando chegaram em casa, Harry e null já os aguardavam para jantar. null foi tomar um banho enquanto os outros pediam a pizza.
— Menina, você está com uma cara de cansada — disse null quando eles já estavam comendo.
— Esses últimos ensaios são sempre os mais puxados, arrancam o nosso couro.
— Mas aposto que você está prontíssima para se apresentar no próximo final de semana — disse Harry.
— Tenho que estar, né.
— Você ainda fica nervosa em subir ao palco? — Ed perguntou.
— Claro que sim, se não tiver aquele frio na barriga, não tem graça.
— A null fica nervosa à toa, ela sempre arrasa — disse null.
null, quando estiver em cima do palco, olhe para mim, vou estar fazendo caretas — disse Harry, divertido.
— Ah, sim, e aí eu começo a rir no meio da coreografia.
— Acho melhor você olhar para mim, null — disse Ed.
— Melhor não, senão o cérebro da null vai entrar em curto e ela vai parar de dançar para te admirar — disse null, divertida.
— Eu não vou olhar para ninguém, vou fingir que nem conheço vocês.
— Nossa, assim você fere nossos sentimentos — disse Harry.
— De qualquer forma, vamos estar na primeira fileira te aplaudindo — disse Ed.
— É muito puxa saco mesmo, viu, um bobo apaixonado — disse null e null mostrou a língua para a amiga.


null ainda teve mais uma semana de ensaios até o grande dia do espetáculo. Quando chegou sábado à noite, o Royal Opera House estava lotado e pronto para receber a companhia de ballet mais importante do Reino Unido. null fez a maquiagem de null como de costume e, depois de estar com cabelo e maquiagem prontos, null vestiu seu figurino e calçou suas sapatilhas de ponta. null ficou aguardando sua vez de subir ao palco e, quando anunciaram seu grupo, ela respirou fundo e se preparou para dançar. Seus amigos estavam na primeira fileira, orgulhosos, mas, sem dúvidas, Ed era o mais admirado.
— Harry, acho que o Ed vai precisar de um babador — disse null, cochichando para Harry, que riu.
Ed estava completamente absorto, com os olhos vidrados em null. Ele não tinha dúvidas de que vê-la dançando era completamente encantador, ela parecia uma rainha, dona do palco, executando cada passo com precisão. Ao final da coreografia, todos aplaudiram de pé.
— Vamos até o camarim falar com a null — disse null.
null estava sentada em frente ao espelho, descansando, quando seus amigos entraram no camarim.
— Olha ela aí, a grande dançarina! — disse null, indo abraçar a amiga.
— Você estava incrível, null — elogiou Harry.
— E para a estrela da noite, um pequeno presente — disse Ed, estendendo um buquê de rosas vermelhas para null.
— Ai, que coisa mais linda, obrigada.
null pegou o buquê e deu um selinho em Ed.
— O Ed estava babando por você — disse null, divertida.
— Claro que estava, não tem como não babar por essa mulher — disse Ed. — null, tem uma coisa que eu queria falar com você.
— Essa é a hora que a gente sai e espera lá fora — disse null.
— Ué, mas por quê? — Harry perguntou.
— Vem, meu anjo, eu vou te explicar.
null saiu do camarim, puxando Harry pela mão.
— O que você quer falar comigo?
— Eu só queria aproveitar essa noite especial para te falar algumas coisas.
— Pode falar.
— Esse tempo que estamos juntos tem sido muito bom para mim, cada dia eu gosto mais de você e cada dia eu quero estar mais com você. Eu já havia te dito que estou apaixonado por você, eu sei que você tem medo de se apaixonar e que isso interfira na sua carreira, mas eu realmente acho que podemos fazer isso dar certo.
— Onde você quer chegar, Ed?
— Eu só queria te pedir para ser oficialmente minha namorada.
null ficou alguns segundos olhando para Ed. Depois, ela colocou o buquê em cima da bancada e o beijou.
— Eu não entendi, isso foi um sim? — Ed perguntou quando eles quebraram o beijo.
— Sim, eu quero ser sua namorada. Eu quero me apaixonar, na verdade eu já estou perdidamente apaixonada por você.
— Até que enfim! — null entrou no camarim novamente, fazendo a maior festa.
— Você estava ouvindo atrás da porta? — null perguntou.
— Obviamente, eu não podia perder a chance de ouvir você falando que está apaixonada por alguém.
— Então agora vocês são oficialmente um casal, hein — disse Harry.
— Harry, você podia aproveitar e pedir a null em namoro também — disse Ed.
— Não precisa, eu não sou a null, não ligo para essas formalidades. A gente ‘tá se pegando há quase um mês, eu já me apeguei a esse corpinho sensual do Harry. Para mim, isso já é o suficiente para considerar que estamos namorando.
— Estamos, é? — Harry perguntou, divertido, e levou um tapa de null. — É brincadeira, já te considero minha namorada desde a primeira semana de pegação.
— Vocês são o casal mais doido que eu já vi — disse null.
— E você e o Ed são o casal mais diabético existente — disse null.
Depois da apresentação, os quatro saíram para jantar e, quando voltaram para casa, null foi dormir no apartamento dos meninos e Ed foi dormir com null no apartamento delas.
— Vem comigo — Ed disse, puxando null pela mão até o quarto.
Quando chegaram ao quarto, Ed começou a tirar o vestido de null, beijando delicadamente suas costas. null sentia um arrepio gostoso percorrer todo o seu corpo conforme as mãos de Ed passeavam pelas suas curvas e seus lábios tocavam em sua pele. Quando todas as peças de roupas ficaram para trás, tudo que eles queriam era ficar colados um ao outro. Ed encostou sua testa na de null, parando de beijá-la por um breve instante.
— Eu te amo tanto, null, com todo meu coração.
— Também te amo Ed, mais do que eu deveria, mais do que eu achava ser possível.
Ed roçou seu nariz no de null e depois voltou a beijá-la. null sentia que poderia ficar a noite toda nos braços de Ed que nunca se cansaria e, pela primeira vez, ela sentiu que havia algo que ela queria tanto quanto sua carreira de bailarina: ela queria estar com Ed e ser amada por ele para sempre.


null acordou plenamente feliz. Ela estava abraçada com Ed e teria ficado ali, se ele não tivesse acordado.
— Bom dia, minha linda.
— Bom dia, lindo.
— Acho que vou levantar e preparar um café da manhã para nós.
— Ah, não, fica aqui comigo — disse null, abraçando ainda mais Ed.
— Não está com fome não?
— Estou, mas a fome pode esperar um pouco.
Os dois ficaram na cama mais um pouco, namorando, até que seus estômagos começaram a roncar e eles tiveram que levantar para tomar café. Depois do café, eles tomaram um banho juntos e, algumas horas mais tarde, Ed foi para casa. null também voltou para casa, encontrando null deitada no sofá.
— Ai, null, sua cara está de tão apaixonada que eu já sinto que preciso da minha insulina.
— Agora não tenho mais como negar, né? Eu estou muito apaixonada pelo Ed, eu juro que tentei não ficar, mas é impossível não se apaixonar por ele.
— Não vejo problema nenhum em você estar amando alguém, pelo contrário, faz bem.
— Eu sei, eu só preciso não perder o rumo da minha vida por causa disso. Mas e você, está apaixonada pelo Harry?
— Ah, null, você sabe que eu não sou romântica igual a você. Mas eu gosto muito dele, cada dia mais, não dá para não ficar viciada em um homem lindo daqueles.
— Você está apaixonada sim, eu te conheço, esse é seu jeitinho meigo de dizer que ama alguém.
— Dá uma segurada, null, eu já disse que não sou você.
— Quem diria que a gente ia se apaixonar pelos garotos da porta ao lado ou da porta em frente, nesse caso.
— Nada mais brega do que isso — disse null e as duas riram.


A rotina de ensaios de null seguiu como de costume, mas, agora, ela tinha um namorado, então procurava dividir seu tempo. Ela não deixou de se dedicar ao ballet, mas a cobrança em cima dela parecia ter aumentado.
— Por hoje é isso, todos dispensados — disse Lucy. — null, você não, quero falar com você.
— Pode falar, professora.
null, você ainda tem a pretensão de fazer teste para o Bolshoi?
— Tenho, sim.
— Então, é melhor você voltar a se dedicar em tempo integral ao ballet, as vagas no Bolshoi são disputadíssimas e tem que estar em um nível muito alto para conseguir um lugar.
— Mas eu estou me dedicando.
— Tenho reparado nos últimos tempos, desde que você começou a namorar, que seu desempenho não é o mesmo. Você volta do final de semana muitas vezes cansada e durante a semana o vejo vindo te buscar quase sempre, sinto sua ansiedade para o final da aula para que possa vê-lo.
— Eu não acho que meu namoro esteja interferindo em nada. Eu tenho uma vida fora daqui, eu preciso conhecer pessoas além do meu círculo profissional.
— Às vezes, temos que abrir mão de algumas coisas na vida para alcançar nossos objetivos. Enfim, era só isso mesmo.
null saiu da sala chateada e, quando encontrou Ed, que foi buscá-la, ele percebeu que havia algo errado.
— O que aconteceu, amor?
— Levei mais uma chamada da minha professora hoje. Ela acha que não estou rendendo como antes e que, se continuar assim, não terei chances quando fizer o teste para o Bolshoi. Ela apontou nosso namoro como culpado por isso.
— Não acredito nisso, que mulher insuportável. Você também pensa como ela?
— Não, claro que não. Quer dizer, eu pensava antes de te conhecer, mas eu não quero abrir mão de você e nem do ballet.
— Deixe-a pensar o que quiser, então. Eu acredito no seu potencial, tenho certeza que você vai conseguir tudo que quiser.
null chegou em casa com a cabeça quente e, depois do jantar, contou para sua amiga o que havia acontecido.
— Minha nossa, hein, essa sua professora é muito chata.
— Pois é, mas, no fundo, está acontecendo o que eu sempre temi, uma coisa está interferindo na outra.
— E você vai fazer o que, terminar com o Ed?
— Nem pensar, eu amo o Ed, eu não conseguiria ficar sem ele nem se quisesse.
— Que mudança, hein, o que um ruivo da bunda branca não faz — disse null, arrancando risadas de null.
— Eu vou tentar me esforçar ao máximo nas aulas, vou dar o melhor de mim e, quando tiver teste, eu vou passar, agora é questão de honra.
— É assim que se fala, garota.
Mais do que nunca, null passou a se concentrar nas aulas e fazer tudo o mais perfeito possível. Ela era a primeira a chegar no ensaio e a última a sair. Tinha dias que ela ficava tão cansada que a única coisa que ela conseguia fazer era dormir, mas Ed não se importava de só deitar e ficar abraçado com a namorada.
— Amor? — Ed chamou.
Os dois estavam deitados no sofá da sala do apartamento dos meninos, assistindo a um filme, mas null havia pegado no sono.
— Quê? — null respondeu, sonolenta. — Ai, desculpe, amor, eu dormi de novo.
— Não tem problema, eu acho a coisa mais linda você dormindo em cima de mim.
— Bobo.
— Vamos para a cama, assim você pode dormir direito e mais confortável.
— Não quero, estou tão cansada que estou com preguiça até de levantar daqui.
— Não seja por isso.
Ed levantou do sofá, saindo debaixo de null com cuidado, e depois a pegou no colo.
— O que você está fazendo?
— Vou te levar para a cama, princesa.
— Você não existe mesmo, sabia?
Ed levou null até seu quarto e a colocou na cama.
— Pronto, agora você pode dormir tranquilamente.
— Vem aqui comigo.
Ed se deitou ao lado de null e ela o puxou para junto de si, o beijando.
— Você não estava com sono, mocinha?
— Eu estava, mas, já que você me acordou, a gente pode aproveitar um pouco antes de eu dormir de novo — disse null com um sorriso travesso.
— Nem precisa pedir duas vezes — Ed respondeu, beijando null em seguida.


No final de semana, os amigos de null organizaram um programa para tirar a garota de casa e descontrair um pouco. Eles decidiram colocar o pé na estrada domingo de manhã e ir para a praia de Brighton. Estava um dia bonito de sol, a água do mar estava boa, embora null tenha falado que preferia ficar só olhando o mar. Claro que Harry ignorou isso e correu com ela para dentro da água. Ao cair da tarde, eles caminharam pela orla próximo à roda gigante, os dois casais de mãos dadas, rindo e conversando. Depois, eles decidiram tomar sorvete antes de ir embora, as meninas ficaram sentadas, esperando, enquanto os meninos foram buscar.
— Que dia gostoso — disse null, olhando o sol descer no horizonte do mar.
— Está vendo como sair e se divertir também é necessário para a nossa vida?
— Você tinha toda a razão, amiga, eu precisava sair daquela bolha que eu vivia.
— Você está muito mais leve depois que o Ed entrou na sua vida. E, olha só, você vive sorrindo agora, até parece que abduziram você e trocaram por outra.
— Haha engraçadinha.
— Alguma notícia sobre os próximos testes do Bolshoi?
— Ainda não, mas acredito que devem acontecer em breve, pelos rumores que ando ouvindo na escola.
— Não importa quando vai acontecer, você estará pronta.
— Assim espero.
— Quem aí pediu sunday triplo cheio de calda de chocolate? — disse Harry, se aproximando com Ed.
— Mas esse meu anjo é muito prestativo mesmo — disse null, pegando o sorvete da mão de Harry e dando um selinho nele quando ele se sentou ao seu lado.
— Eu trouxe o seu cheio de confete por cima, como você pediu — disse Ed, também se sentando ao lado de null.
— Obrigada, amor, você é maravilhoso. E é por isso que eu te amo e não desisto de você.
— Realmente, um namorado que te alimente é importantíssimo — disse null, divertida.
Os quatros tomaram seus sorvetes e curtiram o final do dia antes de voltarem para casa. null estava com o coração em paz em relação ao rumo da sua vida e da sua carreira, a única coisa que ainda não havia passado pela sua cabeça era que, se ela passasse no teste, isso poderia significar mudanças drásticas.
Logo no início da semana, null já teve notícias sobre o teste para o Bolshoi, seria no próximo sábado. Ela se inscreveu para o teste e redobrou seus esforços durante toda a semana para que estivesse perfeita no dia. null esperava que Ed estivesse ao lado dela no dia do teste, mas surgiu um compromisso profissional e ele não poderia acompanhá-la.
— Não acredito que você não vai estar comigo no sábado.
— Sinto muito, amor, eu queria muito estar com você, mas o Harry e eu vamos tocar em um festival em Manchester esse final de semana.
— Tinha que ser justo nesse final de semana?
— A gente não escolhe trabalho, né.
— Eu sei, só estou lamentando a coincidência do destino.
Ed segurou as mãos de null, olhando nos olhos dela em seguida.
— Eu vou estar com você em pensamento o tempo todo. Tenho certeza que você vai se sair bem.
null tentou esboçar um sorriso em meio a um suspiro e depois abraçou Ed apertado. Ed e Harry seguiram para Manchester na sexta à noite e, no sábado de manhã, null pulou cedo da cama para ir ao teste.
null, você está uma pilha de nervos, desse jeito você vai ter um troço antes do teste — disse null enquanto as duas tomavam café.
— Não consigo evitar, eu tenho esperado tanto tempo por isso e, agora que vai acontecer, estou muito nervosa.
— Fica calma, menina. Olha, eu sei que eu não sou o teu ruivão, mas eu vou estar lá com você, te dando aquele apoio moral.
— Obrigada, amiga, sua presença é muito importante para mim.
Assim que ficou pronta, null seguiu para a escola junto com null. Quando chegaram, a escola já estava aquele alvoroço, uma fila de bailarinas e bailarinos esperando sua vez para fazer o teste. null se trocou e ficou pronta, aguardando sua vez também. null pegou seu celular e viu que tinha uma DM de Ed no Instagram. Ela abriu o aplicativo e leu a mensagem, que dizia: "Boa sorte hoje, vai dar tudo certo. Te amo." null sorriu e guardou o celular na bolsa em seguida. De tempos em tempos, uma moça da equipe do Bolshoi aparecia no corredor com uma prancheta na mão e chamava o nome de algum bailarino. A espera parecia interminável, até o momento que finalmente a moça chamou o nome de null.
— Vai lá, amiga, arrasa. Boa sorte — disse null, dando um abraço em null.
— Obrigada!
null seguiu para a sala junto com a moça, ela tentava manter sua confiança inabalada. Quando entrou na sala, havia uma bancada com alguns professores do Bolshoi, eles fizeram algumas perguntas à null e depois pediram que ela apresentasse a coreografia que havia preparado para o teste. null se posicionou, respirou fundo e, quando a música começou, ela esvaziou sua cabeça e simplesmente dançou com toda a sua alma. Ela conseguiu executar a coreografia com perfeição, sem nenhum erro técnico, ela deu o máximo de si.
— Muito obrigada, null, nós vamos avaliar o que vimos e, em breve, você terá um retorno — disse uma das professoras da bancada.
— Ok, eu que agradeço a oportunidade.
Só quando saiu da sala é que null percebeu que estava tremendo e suando.
— E aí? — null disse, indo até null.
— Bom, eu fiz tudo o que eu sei da melhor forma possível, agora preciso aguardar.
— Tenho certeza que essa vaga já é sua.
Depois do teste, null e null saíram para passear, null disse que a amiga precisava espairecer e pensar em qualquer coisa que não fosse o ballet. Como elas estavam sem os namorados durante todo o final de semana, elas tinham muito tempo livre, então foram às compras, depois ao cinema, pararam para comer e, à noite, fizeram uma sessão de filmes bregas do tipo que null adorava, regado a muita pipoca e chocolate. Os meninos voltaram para casa no domingo, um pouco depois do horário do almoço.
— Amor! — disse null, agarrando o pescoço de Ed e o enchendo de beijos, quando ele chegou.
— Eu também senti sua falta, amor.
— Eu não ganho uma recepção calorosa, não? — Harry perguntou.
— Que anjo manhoso, viu — disse null, indo até o namorado e o beijando.
— E aí, como foi seu teste? — Ed perguntou.
— Eu acho que fui bem, mas não tem como saber realmente. Só terei essa certeza quando sair o resultado.
— E quando sai o resultado? — Harry perguntou.
— Acredito que já na próxima semana.
— Eu não tenho dúvidas de que você foi aprovada — disse Ed.


null passou quase a semana toda na expectativa para saber o resultado do teste quando, finalmente, uma lista com os aprovados foi afixada no mural da escola.
— O que está acontecendo? — null perguntou, chegando à escola e vendo uma pequena multidão aglomerada em volta do mural.
— A lista de aprovados pelo Bolshoi acabou de sair — respondeu uma das bailarinas que estavam por perto.
O coração de null deu um salto gigante e quase saiu pela boca. Ela se enfiou no meio da multidão até conseguir alcançar o mural. A lista estava lá em ordem alfabética, null tomou coragem e percorreu o dedo pela lista em busca do seu nome. Quando ela finalmente encontrou, seus olhos se encheram de lágrimas ao ver que, sim, ela havia sido aprovada. Depois de tanto tempo em busca desse sonho, ele agora era realidade. null saiu do meio da multidão eufórica, pegou seu celular, mandando mensagem para os amigos e para o namorado, contando a grande novidade.
— Eu passei no teste do Bolshoi, eu passei! — null repetia sem parar.
Uma das diretoras da escola passou depois nas salas e informou que todos os aprovados do Bolshoi deveriam comparecer à diretoria para maiores informações no dia seguinte. null não conseguiu se concentrar o restante do dia, ela estava tão feliz que não cabia em si. Quando Ed foi buscá-la no final do ensaio, ela pulou nos braços dele.
— Eu sabia que você ia conseguir, meu amor!
— Eu estou tão feliz, não consigo acreditar que é verdade.
— Então, vamos logo para casa, o Harry e a null estão te esperando para comemorarmos.
Ao chegarem ao apartamento, null teve uma surpresa. null e Harry haviam enfeitado a sala com uma faixa escrita: "Parabéns, nova bailarina do Bolshoi" e, quando ela abriu a porta, eles gritaram e soltaram confetes em cima dela.
— Estou tão feliz por você, null — disse null, abraçando a amiga.
— Meus parabéns, null, você merece — completou Harry.
— Obrigada, gente, fico ainda mais feliz de ter vocês para dividir esse momento comigo.
— Tem salgadinhos e bolo na cozinha, vamos comer — disse null.
— Caramba, vocês armaram uma festa completa.
— É claro, né, você achou que íamos deixar passar em branco? — disse Ed.
— Vamos fazer um brinde — disse null, pegando taças e uma garrafa de champagne.
Harry abriu a garrafa e colocou champagne para todos.
— Um brinde à melhor bailarina de todas! — disse Ed.
— Viva a null! — null e Harry falaram em uníssono.
— Não sei o que seria de mim sem o apoio de vocês.
— E agora que você já foi aprovada, qual é o próximo passo? — null perguntou.
— Amanhã de manhã, todos os aprovados vão receber as orientações da diretora de como prosseguir. Mas, no momento, eu só quero relaxar, foram dias muito tensos, quero curtir minha vitória e aproveitar essa comemoração.
— Vamos encher o bucho, então — disse null, divertida.


null acordou animada no dia seguinte e seguiu para a escola com as melhores expectativas sobre sua ida para o Bolshoi. Ela foi uma das primeiras a chegar, então não precisou ficar esperando para ter sua reunião com a diretora.
— Bom dia, null.
— Bom dia.
— Primeiro, eu gostaria de te parabenizar pela conquista.
— Muito obrigada.
— Agora, precisamos cuidar da parte burocrática da sua transferência para o Bolshoi. Preciso saber se seu passaporte está em dia para marcarmos a passagem. A escola oferece alojamento também, então não precisa se preocupar com local para ficar quando chegar lá.
— Desculpe, acho que não entendi. Quando eu chegar onde?
— Em Moscou, é claro. O Bolshoi solicitou que os aprovados se mudem na próxima semana, então temos que agilizar tudo.
Só então que a ficha de null caiu, a sede do Ballet Bolshoi ficava na Rússia, a única filial que a companhia tinha era no Brasil, então claro que null teria que se mudar para Moscou para fazer parte da companhia. Na verdade, ela sempre soube disso, mas parecia que, nos últimos tempos, essa informação havia se apagado de sua mente, talvez porque, antes, ela não tinha nada que a prendesse à Inglaterra.
— Você sabia que teria que se mudar para Moscou quando se inscreveu, certo?
— Aham, sabia sim, eu só havia me esquecido.
— Ótimo, então veja a questão do passaporte e me informe, por favor. Aqui está a papelada que você precisa preencher para a matrícula na escola — disse a diretora, estendendo uma pasta com vários papéis para null.
— Ok, vou verificar tudo e te falo.
— Combinado. Por enquanto é só isso, null.
Ao sair da sala da diretoria, null sentiu seu peito afundar, toda a alegria por ter conseguido a vaga foi substituída pela agonia de ter que ir embora de Londres. Como ela ia deixar o Ed? Como ela ia viver sem ele? null se viu, pela primeira vez na sua vida, cheia de dúvidas, ela já não tinha mais certeza a respeito do seu maior sonho, porque se tornar uma bailarina do Bolshoi agora significava deixar para trás aquele que ela sentia ser o amor da sua vida. null estava em um beco sem saída e ela não tinha a menor noção do que deveria fazer.
null não participou da aula naquele dia, pela primeira vez ela faltou. Ela deu uma justificativa qualquer, dizendo que precisava providenciar algumas coisas para a transferência para o Bolshoi e foi embora da escola. Assim que saiu da escola, null se viu sem rumo e ficou horas rodando por Londres sem lugar certo para ir, apenas pensando no que ela faria. Ela, então, ligou para null e pediu que a amiga fosse se encontrar com ela na hora do almoço. As duas marcaram em um café no centro de Londres.
— Você não foi para a aula hoje? Não entendi nada quando recebi sua ligação.
— Eu fui até a escola, mas não entrei na aula. Vou te contar o que está acontecendo.
null explicou para null o motivo que a estava deixando desesperada.
null, quando foi que você esqueceu do pequeno detalhe que, para fazer parte do Bolshoi, você teria que se mudar para Moscou?
— Não sei, talvez quando eu me apaixonei pelo Ed.
— E o que você vai fazer agora?
— Não tenho a menor ideia. Parte de mim quer dançar no Bolshoi, mas tem outra parte que não quer ficar longe do Ed.
— Você precisa pesar o que vai te fazer mais falta.
— Acho que essa vai ser a decisão mais difícil de toda a minha vida.


À noite, Ed foi até o apartamento de null, ela disse que eles precisavam conversar.
— Por que você pediu para eu não te buscar na aula hoje? Pensei que você tivesse ensaio depois da reunião com a diretora.
— Eu matei aula.
— Nossa, que rebelde — disse Ed, divertido, mas ele parou ao ver a cara séria de null. — O que aconteceu?
— Ed, você sabe onde fica a sede do Ballet Bolshoi?
null, eu nunca me liguei muito nessa coisa de ballet até eu ter uma namorada bailarina. Mas eu já ouvi falar algo sobre ser um ballet russo.
— Exatamente, a sede fica em Moscou e existe apenas uma filial da companhia no mundo inteiro que fica no Brasil. Isso significa que para eu fazer parte da companhia eu preciso...
— Se mudar para Moscou.
— Isso mesmo.
Ed ficou um momento em silêncio, processando a informação.
— Olha, null, eu não quero de jeito nenhum ser alguém que vai empatar sua vida. Se você quer ir, se é seu grande sonho, então eu vou te apoiar.
— Mas e nós?
— A gente pode tentar fazer dar certo a distância.
— Namoros a distância são tão complicados.
— Se o que a gente sente um pelo outro for forte o suficiente, vai sobreviver à distância.
— Eu não sei se eu vou aguentar ficar longe de você.
— Se você quiser voltar, eu estarei te esperando.
— Você é tão incrível, tão compreensivo.
— Eu só quero que você seja feliz.
null abraçou Ed apertado, as lágrimas escorrendo por seu rosto.
— Eu te amo tanto, Ed, eu nunca pensei que encontraria alguém que se tornaria tão fundamental na minha vida como o ballet é.
— Eu também te amo, null, e é exatamente por isso que eu vou te apoiar, seja qual for sua decisão.
O coração de null estava totalmente dividido e, mesmo quando ela decidiu que iria para Moscou, o peso da dúvida continuava presente. Ela preencheu toda a papelada, checou seu passaporte, marcou a passagem e fez as malas. Na semana seguinte, quando chegou o dia de ir embora, null não conseguia sentir nem metade da alegria que ela pensou que sentiria quando esse dia chegasse. Seus amigos foram levá-la até o aeroporto para se despedir.
— Boa sorte, amiga, vou sentir muito a sua falta — disse null.
— Eu também vou sentir falta de você pegando no meu pé — disse null e as duas riram em meio às lágrimas. — Você vai me visitar?
— Claro que sim e vou te assistir quando você for fazer sua primeira apresentação como bailarina do Bolshoi.
null puxou a amiga para um abraço apertado.
— Se cuida, ok? — disse null.
— Boa viagem, null, e vê se não esquece da gente — disse Harry.
— Como se isso fosse possível. Cuida da null para mim, ‘tá?
Harry também deu um abraço em null e logo depois ele e null se afastaram para dar privacidade para que Ed se despedisse da namorada.
— Eu nem fui embora e já estou morrendo de saudades de você — disse null.
— Eu também, mas eu vou te visitar e você pode vir para Londres quando der.
null não conseguia mais conter as lágrimas que caíam sem parar.
— Eu tenho um presente para você.
Ed tirou de dentro do bolso um pen drive do bolso e colocou na mão de null.
— Aqui nesse pen drive tem uma música que eu fiz para você. Sempre que você sentir saudades pode escutar e se sentir mais próxima de mim.
— Você fez uma música para mim?
— Sim, bom, eu sou cantor e compositor, né, isso é o que eu faço de melhor.
— Como se chama a música?
— The Joker and The Queen.
— Que nome curioso.
— O nome é porque eu acho que todo homem se sente um pouco bobo diante da mulher que ama e vê a sua amada como uma rainha.
— Que coisa linda, Ed.
Os dois se abraçaram e null não queria soltá-lo, mas ela sabia que precisava ir.
— Eu te amo, Ed.
— Eu também te amo, null, nunca se esqueça disso.
— Ed puxou null para um último beijo apaixonado. Logo depois, a garota acenou para os amigos e entregou sua passagem para o funcionário que estava conferindo as passagens. null passou pelo detector de metais e pela imigração até chegar à sala de espera. Enquanto esperava liberarem o embarque, null pegou seu iPad e conectou o pen drive na entrada USB. O arquivo com a música era tudo que tinha no pen drive, ela colocou seus fones de ouvido e clicou no arquivo para ouvir. A música começou a tocar e logo a voz perfeita de Ed começou a cantar.

How was I to know?
It's a crazy thing
I showed you my hand
And you still let me win
And who was I to say
That this was meant to be?
The road that was broken
Brought us together

And I know you could fall for a thousand kings
And hearts that would give you a diamond ring
When I fold, you see the best in me
The joker and the queen

I was upside down
From the outside in
You came to the table
And you went all in
With a single word
And a gentle touch
You turned a moment
Into forever

And I know you could fall for a thousand kings
And hearts that could give you a diamond ring
When I fold, you see the best in me
The joker and the queen

And I know you could fall for a thousand kings
And hearts that would give you a diamond ring
When I folded, you saw the best in me
The joker and the queen
The joker and the queen

Algumas pessoas olhavam para null, porque ela estava em prantos, mas ela não se importou. Aquela música era a coisa mais linda que ela já ouvira, uma forma tão sublime de Ed dizer o quanto a amava. null olhou pela janela da sala de espera, a pista onde estava o enorme avião que a levaria embora. Ela viu diante de seus olhos tudo que ela poderia ser, se fosse para Moscou, e pensou se valeria a pena, se aquele sonho valia o sacrifício de ficar longe das pessoas que amava. Foi, então, que ela entendeu que passou a vida toda em busca de algo que ela já tinha, ela já havia chegado no topo, ela já tinha conquistado seu lugar e seu prestígio no mundo da dança. Mas o que ela não tinha era um amor verdadeiro e isso ela encontrou ao lado de Ed. Não, ela não podia ir embora, ela não queria. null pegou suas coisas e correu na direção oposta ao portal de embarque. A garota foi em busca de recuperar suas malas que seriam despachadas e, assim que conseguiu, pegou seu celular para pedir um uber. Ela até chegou a procurar os amigos no estacionamento do aeroporto, mas eles já tinham ido. Mas não demorou até algum motorista aceitar sua corrida e, em pouco tempo, ela estava parando em frente ao seu prédio. null pegou as malas e subiu, ansiosa, até o quarto andar. Ela pegou sua chave de casa, abriu a porta e jogou as malas lá dentro. Depois, ela foi até o apartamento dos meninos e tocou a campainha. Foi Ed quem abriu a porta.
null? — Ed perguntou, confuso.
null olhou por cima dos ombros de Ed e viu que null estava lá com Harry, a amiga sorriu ao vê-la.
— Vem, Harry, vamos para o meu apartamento.
null puxou Harry pela mão, que estava tão confuso quanto Ed, e saiu com ele em seguida.
— Eu posso entrar?
— Claro — disse Ed, dando passagem para a garota.
Ed fechou a porta atrás de si e foi até null.
null, eu não estou entendendo, nós acabamos de te deixar no aeroporto. Inclusive, era para você já estar dentro do avião.
— Eu não consegui embarcar. Eu escutei a música que você fez, é tão linda.
— Eu não fiz a música com a intenção de te fazer desistir de ir embora.
— Eu sei disso, você jamais tentaria me impedir de ir embora. Eu tomei essa decisão por mim mesma, de repente eu me dei conta de que não é isso que eu quero.
— Como assim?
— Eu passei a vida toda querendo ser uma grande bailarina do Bolshoi, mas a verdade é que eu já sou uma grande bailarina, eu já faço parte de uma das maiores companhias de ballet do mundo. Eu não preciso deixar tudo para trás para voar mais alto, mas eu preciso, sim, de você e dos meus amigos. Eu não vou ser feliz morando em um país estranho, longe das pessoas que eu amo. Eu ainda posso ser primeira bailarina um dia, mas aqui mesmo, no Royal Ballet.
null, eu não quero que você se arrependa dessa decisão, que um dia você acorde e veja que desperdiçou a chance da sua vida.
— Eu não vou me arrepender, eu posso viver sem o Bolshoi, mas eu não posso viver sem você. Eu tenho novos sonhos agora, sonhos que eu nunca imaginei que teria. Eu quero um dia construir uma família com você, ter filhos, como a gente diria na dança, eu encontrei meu parceiro perfeito.
Ed sorriu e segurou as mãos de null.
— E, então, o que você me diz?
— Vai ser um prazer dividir o palco da vida com você para sempre, null.
— Então nem mais uma palavra foi dita, Ed puxou null para junto de si e a beijou apaixonadamente. null tinha tudo o que ela mais queria ali em sua frente, Ed era tudo que ela desejava. O caminho até o quarto já era conhecido, com as roupas sendo deixadas pelo chão, os corpos que se entendiam e se completavam.
— Te amo, minha null, minha bailarina favorita.
— Te amo, meu Ed, meu cantor favorito.
Ed e null se amaram como sempre e null finalmente voltou a sentir uma alegria verdadeira dentro do seu coração.
No dia seguinte, null acordou com a sensação de que tudo estava em seu devido lugar. Depois de ficar mais um pouco com Ed, ela voltou para o seu apartamento.
— Olha quem voltou — disse null.
— Voltei, sim, e para ficar.
— Sério mesmo que você desistiu do seu sonho por causa do Ed? Ele deve ser mesmo muito bom de cama.
null, nem tudo na vida se resume ao sexo. Ele é bom de cama, sim, mas é muito mais que isso, eu amo o Ed como nunca amei ninguém na vida. E os sonhos mudam, eu pensava que ser a primeira bailarina do Bolshoi me faria feliz, mas não é mais isso o que eu quero para minha vida. Eu posso chegar mais alto, mas não preciso ir embora para isso.
— Bom, se você tem certeza de que é isso que você quer, então eu vou te apoiar. Além disso, fico feliz de continuar tendo minha melhor amiga por perto.
— É muito bom saber que não vou deixar meu lar para trás.
— Mas e em relação à parte burocrática de tudo? Você não embarcou ontem, vai ter que dar uma satisfação para as duas companhias de ballet, né?
— Sim, eu vou me arrumar e estou indo agora mesmo até a escola conversar com a diretora.
— Boa sorte, então.
null tomou um banho e, assim que ficou pronta, seguiu para a escola. Ao chegar, foi direto para sala da diretoria e parecia que a diretora já estava mesmo aguardando por ela.
— Bom dia, null.
— Bom dia.
— Então, você realmente não foi para Moscou.
— Não, eu desisti no último momento.
— E eu posso saber por quê?
— Eu não quero ir embora de Londres, eu não quero deixar para trás as pessoas que eu amo e eu percebi que posso fazer carreira bem aqui no Royal Ballet. Isso, é claro, se vocês ainda me aceitarem.
A diretora encarou null por um instante e depois sorriu.
— Eu admiro sua coragem em escolher o amor em primeiro lugar. E confesso que estou feliz de não perder uma grande bailarina como você, faria muito falta para a companhia. É claro que aceitamos você de volta, mas não mais na posição de Solista.
— Ah, claro, eu vou entender se você quiser rebaixar meu cargo dentro da companhia.
— Na verdade, eu quero subir seu cargo, quero te oferecer o cargo de Primeira Solista. Você aceita?
— Mas é claro que eu aceito!
— Ótimo, vou conversar com a equipe do Bolshoi, explicar que você ficará conosco e pedir que eles selecionem outra pessoa para o seu lugar.
— Muito obrigada.
Além de não perder seu lugar na companhia, null havia subido de posição, ela ficou exultante com a novidade, agora ela estava apenas um cargo abaixo de se tornar Primeira Bailarina. Ela seguiu para o ensaio e, ao entrar na sala, todos a olharam com olhar de surpresa, exceto Lucy, ela olhou com desdém mesmo. Ao final do ensaio, Lucy foi falar com null.
— Você desiste de uma vaga no Bolshoi e ainda sim é promovida dentro da companhia.
— Deve ser porque eu tenho feito um ótimo trabalho todos esses anos aqui no Royal Ballet.
null, você conseguiu uma vaga disputada por milhares de bailarinas no mundo todo e abriu mão de tudo isso por causa de um rapaz?
— Não é só um rapaz, é o amor da minha vida. Eu escolhi, sim, ficar com ele e ser feliz. Tudo o que eu poderia ser no Bolshoi eu posso ser aqui, com a vantagem de estar em casa e ter comigo as pessoas que são importantes para mim.
— Espero que você não se arrependa dessa decisão, afinal os romances terminam, mas nossa carreira vai ser para a vida toda.
— Não vou me arrepender e pretendo que a minha relação com o Ed seja para sempre. Mas não importa o amanhã, temos que ser felizes hoje e aproveitar cada segundo. Você deveria tentar ser feliz, faz bem, sabe — disse null, saindo da sala em seguida.
A garota saiu da escola e correu para casa para contar a novidade aos amigos.
— Quer dizer que você joga uma vaga no Bolshoi para o alto e ainda é promovida por isso? Mas, gente, que mundo estranho — disse null, divertida.
— É porque a null é a melhor no que ela faz — disse Ed.
— Eita, mas é um baba ovo mesmo, hein. Mas, brincadeiras à parte, estou feliz por você, null.
— Estamos orgulhosos de você — Harry completou.
— Valeu, gente, eu não poderia estar mais feliz.
null começou a ensaiar para uma nova apresentação, na qual ia estrear como Primeira Solista e, quando sua estreia aconteceu, seus amigos e namorado estavam lá, a aplaudindo como sempre. Ela seguia sua rotina dura de ensaios com ainda mais dedicação para que pudesse alcançar a posição que ela sempre almejou.
— Está cansada, né? — Ed perguntou.
Os dois estavam deitados na cama, assistindo TV e comendo pipoca.
— Estou, mas também estou feliz e realizada. E você e o Harry, hein? Com a agenda cheia de shows e eventos para fazer.
— Sim, ainda bem que está dando tudo certo.
— O que foi que você está me olhando desse jeito? — null perguntou ao ver Ed a encarando.
— Nada demais, só estava pensando como a vida é louca. Quando o Harry e eu compramos esse apartamento, nunca poderíamos imaginar que iríamos encontrar as mulheres das nossas vidas.
— E eu, então, que impliquei tanto com vocês no começo? Quando que eu ia pensar que ia me apaixonar por você?
— Eu sou um cara de muita sorte mesmo.
— É, acho que você é mesmo — disse null, divertida. — Mas eu também tirei a sorte grande.
Ed deitou de frente para null, encostando seu nariz no dela e a segurando pela cintura.
— Nunca me canso de te olhar, de te beijar, de te amar.
— Nem eu me canso de você — disse null, dando uma leve mordida na covinha que Ed tinha no queixo.
Ed a beijou em seguida. Eles não precisavam de muitas palavras, até porque descrever tudo o que eles sentiam um pelo outro ficava difícil, qualquer coisa que eles dissessem ainda não seria o suficiente para o tamanho do amor que eles tinham. null realmente não se arrependeu de sua decisão e as coisas foram acontecendo naturalmente. No ano seguinte, ela foi promovida a Primeira Bailarina do Royal Ballet e, ao comemorar um ano de namoro com Ed, ela ganhou de presente um pedido de casamento que foi prontamente aceito. null alcançou seu sonho de brilhar no cargo mais alto de uma companhia de ballet e fez isso sem precisar abrir mão de nada que era importante para ela. Todos os dias, quando ela olhava para o Ed, ela sabia que não ter entrado naquele avião foi, sem dúvidas, a decisão mais acertada de toda a sua vida.


FIM



Nota da autora: Sem nota.

Outras Fanfics:

➽ Love In Slow Motion (Shortfic - Finalizada)
➽ One Life (Shortfic - Finalizada)
➽ Perfect Harmony (Shortfic Finalizada)
➽ Lights, camera, action! (Shortfic - Finalizada)
➽ Don't Forget To Like It (Shortfic - Finalizada)
➽ Dance With Me? (Shortfic - Finalizada)
➽ Hungry Eyes (Shortfic - Finalizada)
➽ She's Like The Wind (Shortfic - Finalizada)
➽ Ready To Run (Shortfic - Finalizada)


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