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Capítulo Único

E mais um ano se repetia. Acreditei firmemente nas palavras dos meus pais quando afirmaram que eu sairia daquela escola e iria para uma melhor, de preferência em outro país, mas infelizmente isso não se realizou, tirando totalmente a ideia de que adquiriria a popularidade em outro local.
Andava sem rumo no longo corredor, segurando apenas uma bolsa em meu ombro direito. O barulho do meu All Star contra o chão chamava a atenção de todos, fazendo com que parassem o que estavam fazendo e focassem apenas em mim.
Eu amo ser popular.
Foi algo que conquistei assim que cheguei nesta escola. Nunca precisei usar algum salto, ou passar quilos de maquiagem. Minha beleza natural já falava por mim. Isso que me fez conquistar tudo o que tenho na Dilbey Hills School. Acho que esse era meu diferencial: popular, porém natural. A popularidade me trouxe algo que nunca tive: atenção e poder.
O quanto é gratificante ver aquelas meninas sonhando em ser você, fazendo de tudo só para conseguir “andar” ao seu lado, ou ter quase todo o time de futebol aos seus pés. O melhor de tudo são aqueles nerds que provavelmente em todas as noites tem alguns sonhos eróticos com sua imagem. O bom disso é que em um estalar de dedos, tinha todas as minhas atividades feitas e um 10 em meu boletim.
Parei em frente ao enorme espelho que se encontrava no banheiro feminino e dei uma checada em meu look: calça jeans, blusa branca básica, Cardigan, All Star e minha velha boina cinza diminuindo o volume dos meus cabelos pretos. Dei um sorriso vitorioso quando ouvi o sinal tocar, indicando o início das aulas. Enquanto me dirigia para a sala, puder ver aquele bando de novatas com saltos do tamanho da Torre Eiffel, saias quase mostrando o útero e suas caras cobertas por um pó extremamente mais escuro do que sua cor normal. Se quer pegar um bronze, praia existe para isso.
Nunca me imaginei usando saia para vir ao colégio, muito menos salto. É um gasto de roupa à toa, afinal isso aqui é uma escola!
Mas toda essa produção tem um significado. Conquistar o gato perfeito, ou melhor, sair pelo menos com algum jogador.
Patético o que o amor faz com você.
Se um dia eu me apaixonar, por favor, me levem ao hospital, porque eu acho que terei um ataque cardíaco.
- Que fofo, guardando meu lugar. – parei em frente a um nerd, na segunda cadeira da fila do meio. Ele me olhava com um semblante confuso. Logo percebi que se tratava de um novato. – Deixa eu te falar uma coisa, meu bem. Está vendo meu lindo rostinho? Pois guarde em sua memória e guarde essas minhas palavras. Aqui é o meu lugar e sempre foi, então não ouse nem chegar perto daqui, a não ser para guardá-lo para mim, capiche? – com uma feição totalmente assustadora, o garoto loiro assentiu com a cabeça, saindo dali rapidamente, levando consigo seus materiais.
Isso não é maldade, e sim os benefícios do poder.
- Nossa, começando o ano mais afinco. Está melhorando, hein? – ouvi a voz de ao meu lado. – Que bom que não me deixou, amiga. Entraria em desespero. - sim, ela era uma típica patricinha que só pensava em bolsas, sapatos e... Ah, o cabelo. Somos de mundos diferentes, mas ao mesmo tempo iguais.
A popularidade nos fez amigas.
- Impossível te deixar sozinha neste manicômio. – sorri, recebendo seu abraço forte. – ainda continua aqui?
- Sim. – assentiu, sentando na cadeira ao lado. – Mas acabamos ficando em salas diferentes, assim como resto das meninas. Acho que o diretor tem uma boa memória sobre nossos papos diários na sala. Mas graças ao bom Deus que ele me deixou com você.
- Você implorou ou seu pai pagou?
- Segunda opção. – cantarolou. Além de ser popular, é rica. Por isso que pode sempre comprar tudo o que quer. Não tenho a mesma condição que ela, moro em um pequeno, porém aconchegante, apartamento com meus pais e meu irmão mais velho, Tony. Mas é claro que para manter um certo status, você precisa de uma mentirinha básica como morar em um dos melhores condomínios da cidade, ter piscina em casa, viajar toda hora, sendo que a única viagem que fiz foi ano passado para a fazenda de minha avó. A única que sabia dessa história toda era , que me ajudava sempre me dando carona da escola para casa e vice-versa.
A aula se passou como se cada segundo fosse um minuto. Álgebra, para que serve isso mesmo? Começando muito bem o ano. Acompanhei até seu armário para pegar o material da próxima aula, história.
- Está sabendo que tem aluno novo?
- Claro, é o que mais estou vendo aqui. – encostei minha cabeça no armário ao lado. Por um minuto, havia parado de organizar suas coisas e me olhou com suas sobrancelhas enrugadas e uma feição nada agradável. – O que foi?
- O que foi? Até parece que você não me conhece né, . Eu perder meu tempo falando desses seres aí? Quando eu digo aluno novo quer dizer super-gato-gostoso-novo-jogador-aluno-novo.
- Os meninos permitiram que ele entrasse no time? – perguntei surpresa. O time de futebol era comandado por , que era namorado da minha amiga. O vice-capitão era vulgo o garoto que eu estava saindo alguns meses, mas só por sair mesmo. Ele era a fim de mim e eu o achava bonitinho, então por que não?
Mas nada de amor nisso.
Eles eram super rigorosos com quem entrava na equipe, só pegavam os melhores, afinal o time tinha reputação fora da escola.
- Olha, até me surpreendi, mas sim. Ele deve ser bom mesmo! Na aula de educação física podemos ir lá. Aposto que ele adoraria ver uns uniformes de líderes de torcidas. – disse em um tom malicioso.
- ... Se aquieta que você nem solteira é. – a repreendi. Pode ter passado um ano desde que ela namorava , mas seu espírito de solteira nunca a largava.
- Ih, mãe. Tenho que avaliar e, também, não quero deixar aquelas santinhas pegarem o novato. Lembra do Rony? – ah, Rony. Foi meu primeiro amor, ali, sim, era meu amor que se tornou meu pior pesadelo quando Mia Rolsvick, a nerd da turma que até tinha um estilo legalzinho, fez algum feitiço e puf, conseguiu tirá-lo de mim. É claro que não ficou barato e tive que me vingar, mas, no final, eles acabaram ficando juntos e meu coração despedaçado. – Bem, se uma delas tocar nele, irão sofrer até o último dia do ano. Você deveria entrar para a equipe de líderes de torcida.
- Nossa, que má. – dei um sorriso de lado, recebendo seu sorriso maléfico. – Eu não, muito frufru para mim.
- Homens amam líderes.
- Eu sou uma líder, só que não de torcida. – novamente o sinal bateu e fomos até nossas celas, opa, salas.

(...)

- Cadê meu dengo?! – correu em direção ao gramado com aquela roupa extremamente curta, um laço vermelho enorme na cabeça, segurando seu rabo de cavalo, e exalando seu amor pelo namorado, o que me fez enrugar o nariz e quase vomitar ali mesmo.
- Princesa! – ele respondeu na mesma animação. Era hoje que eu passava mal. Me aproximei recebendo belas olhadas dos jogadores. – , que bom que você ficou.
- Pois é, né. Ainda estou tentando achar o bom nisso. – sua risada nasalada me fez rir um pouco. – Ah, deixa eu apresentar uma pessoa para vocês. , essas aqui são , minha namorada, e , melhor amiga dela. – e foi ai que minhas pernas paralisaram por um tempo que nem pude contar. A respiração ficou mais rápida e o coração mais intenso. Senti a ponta dos meus dedos ficarem frias e meu olhar fixado naquele sorriso matador.
- Prazer, meninas! – disse simpaticamente. Balancei negativamente minha cabeça. Não, o que você está fazendo, ? Ele é só um garoto, que por sinal bem gato... Pensa no , .
- Amiga, você está bem? – sussurrou em meu ouvido, chamando minha atenção.
- Ãn? Estou, sim, é que estou ainda com sono... – inventei qualquer desculpa, rezando para que ela não começasse o interrogatório ali. Quando voltei em mim, percebi que ele não estava mais ali, e sim perto do treinador, que já havia os chamado.
- Ele é gato, não é? Pena que já temos os nossos. – arqueei minha sobrancelha a encarando e novamente o encarei. Não, . Não é nada de mais, você só se impressionou com o sorriso, afinal, o que é lindo é para ser admirado.

(...)

tentava pela décima vez fazer um traçado em seu olho com o delineador. Era uma sexta, estávamos nos arrumando para irmos à festa da Kim, como sempre. Aquela garota vivia de festas quando seus pais não estavam em casa, não sei como eles ainda não descobriram.
Dei um laço no cadarço do meu sapado Oxford e levantei, encarando-me no espelho. Um look simples e elegante. Jardineira, Oxford, cabelo solto e um leve gloss. Olhei para que terminava de calçar seu scarpin rosa.
Pergunto-me se estou simples demais ou se ela está arrumada demais.
- Graças a Deus o final de semana chegou. – ela disse, olhando-se novamente no espelho.
- Nem me diga. Preciso de tempo para pensar. – falei no automático.
- Pensar? No quê? – perguntou rapidamente, arqueando uma de suas sobrancelhas.
- Na vida, ué. – o fato é que desde que aquele garoto chegou lá na escola, meu corpo tem reagido de uma forma um pouco quanto estranha. Tremedeiras, coração acelerado, pés paralisados... Se eu contasse a sobre isso, provavelmente ela viria como o papo de “estar apaixonada”, mas eu não estava, não me apaixono.
- Bem. – ela deu de ombros. – Soube que o talvez te peça em namoro hoje. – arregalei os olhos, a encarando enquanto ela finalizava novamente seu gloss, pressionando ambos os lábios e me olhando com uma cara preocupada. – Você para com essa cara, até parece que não sabia disso.
- E eu não sabia! Por que ele vai fazer isso? Tá louco?
- Ele gosta de você, . Aceite.
- Aceitar algo que eu não sinto? Para acabar como das últimas vezes?
- Você só disse sim aos garotos errados. Ele é o garoto certo e merece o seu sim.
- Não! – aumentei meu tom de voz, abrindo meus braços.
- E o que você vai fazer? O garoto vai te pedir em namoro e receber um “não” como resposta?
- Sim!
- Olha, podemos até ser consideradas más naquele colégio, mas acho que ele não merece isso.
- Eu que não mereço isso! Eu preciso pensar, ok? – cocei minha nuca, andando de um lado para o outro. Meu Deus, ele não podia fazer isso, não, não. Não quero acabar como os outros. Só me ferrei, e muito. Ele não seria o próximo a brincar com meus sentimentos. Apenas saímos, ficamos, somente isso. Agora namorar já está avançado demais.

O som estava tão alto que o copo em cima da mesa andava a cada batida. A mistura das cores de luzes formava alguns desenhos abstratos no chão, enquanto algumas pessoas se acabavam dançando. Outros preferiam ficar em frente ao bar improvisado perto da cozinha.
Estava completamente entediada naquele local.
, assim que encontrou com , fez o favor de sumir. Por sorte, ou não, acabei esbarrando, literalmente, em , o que fez meu coração acelerar por alguns minutos, não por amor, e sim por medo e nervosismo. Até agora nada de mais havia acontecido. Mandava a cada cinco minutos, ou menos, ele ir até a cozinha pegar algo para mim na tentativa de evitar aquele assunto que se instalou em minha mente depois que minha melhor amiga fez o favor de falar.
Batia meus pés no chão de acordo com o ritmo da música, meu olhar permanecia vagando por toda a casa, como se procurasse alguém. Ok, eu não estava o procurando, só queria saber se ele tinha vindo, só isso.
Aquela sensação toda voltou quando o encontrei.
Puta merda, como esse garoto consegue ficar tão gostoso a cada momento?
O cabelo perfeitamente penteado, a camisa polo branca estava apertada em seus braços, revelando belos músculos e dando um charme masculino. O jeans escuro estava sendo segurado por um cinto grosso, enquanto nos pés, apenas um sapatênis. Era a imagem do paraíso.
- Não estou apaixonada por ele, é apenas uma atração. – dizia para mim mesma. chegou com o quinto prato de salgados e tive que desviar minha atenção para o mesmo.
- Você tem um buraco negro em seu estômago. – ele disse, fazendo carícias em minha nuca, o que completamente me fez arrepiar. Maldito, sabia do meu ponto fraco. Dei uma leve risada e voltei minha atenção para a pista de dança. – Eu queria falar uma coisa com...
- Posso ir ao banheiro? – interrompi, vendo-o assenti com a cabeça. Peguei minha bolsa, depositei um selinho em seus lábios, já que não queria que ele me achasse estranha naquela noite, e fui ao meu destino em passos longos. No meio do caminho encontrei conversando animadamente com uma das garotas do time de xadrez. Como assim deixam entrar nerds neste local? Kim estava perdendo muitos pontos comigo. A aproximação de ambos começou a me causar um certo desconforto. Olhei para trás, vendo se estava me vigiando, mas por sorte um de seus amigos havia acabado de sentar ao seu lado. Acabei indo em direção ao jardim, encontrando uma praticamente sendo comida por seu namorado. Que ela não esteja bêbada.
- Preciso falar com você. – falei, cara de pau, interrompendo o momento love sexy deles.
- É importante? – ela me perguntou com uma voz arrastada. Pronto, minha amiga estava bêbada. – Sim, super importante! – a puxei pelo braço. – Trago ela em um minuto. – falei para , que me olhou com um semblante totalmente confuso. A puxei para o mais longe dali e só paramos quando percebi que o som estava mais baixo.
- O que foi dessa vez? – ela disse, cruzando os braços.
- Primeiro, me diz quantas bebidas você tomou.
- Duas, por quê?
- Está sóbria. – senti meu corpo relaxar. – Olha, é o seguinte, sei que agora não é um bom momento para falar disso, mas eu não consigo.
- Não consegue o quê?
- Não consigo ficar mais um minuto ao lado do sem pensar naquele assunto. Tenho o mandado ir pegar coisas para mim a cada cinco minutos para fugir desse pedido. Você tem certeza que ele vai me pedir?
- Tenho, ele mesmo me contou. – passei minhas mãos sobre meu rosto, mostrando o puro nervosismo. Como eu iria contar isso a ela? – Você está gostando de outra pessoa, não está? – me perguntou com um tom de desconfiança.
- Não, já disse para você que não me apaixono por ninguém.
- Mas eu não disse apaix...
- Não me estressa! – aumentei minha voz, enquanto batia freneticamente meu pé sobre a grama.
- E por que você está nesse estresse todo?
- OK, EU ADMITO! DESDE QUE O VI FOI INEVITÁVEL! SEI LÁ, FOI TUDO MUITO RÁPIDO E QUANDO ME VI, JÁ ESTAVA O ANALISANDO POR COMPLETO. NAS AULAS, NO CAMPO, EM TUDO! MAS DEPOIS QUE O VI COM AQUELA GAROTA, SENTI UM GRANDE INCÔMODO E NÃO SEI PORQUÊ! – minha respiração já se encontrava ofegante e continuava me olhando desconfiada, porém assustada.
- De quem você está falando?
- Do ! – sua boca logo se abriu em consequência a grande surpresa.
- Do ? O , ?
- Sim, o ! Mas não é nada disso que você está pensando, é apenas uma mera atração. – senti suas mãos em meus braços e com um impulso a mesma me puxava para dentro da sala. Seu olhar vagava por todo lado, até parar na pilastra. Tentei ver o que era, porém ela acabou virando-se para mim e ficando em minha frente.
- Ok, me diz o que você sente ao vê-lo. – ela gritou um pouco por conta da música que continuava alta.
- Sei lá. Meu coração acelera, minhas pernas ficam rígidas e trêmulas.
- Entendi... Agora me diz o que você sente ao ver isso. – saiu da minha frente e logo uma cena de e aquela garota se beijando se formou. Um punho havia se formado em minhas mãos e pude sentir as pontas das unhas sobre minha palma. – Ok, já deu. Esquece isso, ok? – ela novamente me puxou para fora.
- Eu acabo de falar que tenho uma atração por ele e você me leva para ver aquela cena? Que tipo de amiga você é?
- O tipo que é verdadeira, e vai te fazer cair na real. Você não sente atração nenhuma por ele. – olhei desconfiada. – Você realmente está apaixonada por ele.

“Você realmente está apaixonada por ele”. E depois daí não ouvi mais nada. Tudo o que fiz foi correr feito uma garotinha até meu carro, dando partida e voltando para casa. provavelmente ficou puta da vida comigo, mas não pude fazer nada. Fui fraca, idiota por sair de uma festa por causa de um garoto que mal conheço.
Céus, odiava aquela sensação. Não queria ter uma recaída novamente para o amor, na verdade, eu não sentia amor, era só atração.
Encontrei um bilhete dos meus pais avisando que voltariam para o almoço. Ótimo, como sempre, acordando sem eles em casa. Meu irmão ainda se encontrava dormindo. Olhei para o relógio e vi que mal havia dado oito da manhã. O que eu faço acordada a esta hora? Estava com preguiça de preparar algo para comer. Vesti uma calça, uma blusa e um casaco, juntamente com uma sapatilha qualquer. O dia estava frio. Amo o frio de Nova York.
Deixei um bilhete para meu irmão, explicando onde eu iria e saí. A Starbucks não ficava muito longe do meu apartamento. Apenas duas quadras. Aproveitei aquele tempo de caminhada para pensar seriamente o que estava ocorrendo comigo. Jamais havia fraquejado daquela maneira. A popular da escola, a menina que consegue tudo, que nunca mediu esforços para conseguir algo, fraquejou só porque a amiga supôs algo. Patético!
Adentrei ao local, percebendo uma pequena fila que começava a se formar. Ótimo, era só o que me faltava. Havia mais ou menos umas cinco pessoas na minha frente. Enquanto esperava a mulher se decidir sobre o tipo de café que ela iria pedir, outra pessoa havia entrado no local. É claro que seria um qualquer, porém, para mim, era o qualquer, que vinha acompanhado por outra garota, beirando seus 17, com uma calça extremamente colada, uma blusa de manga longa que permitia mesmo assim ver um pouco de sua barriga, um casaco rosa por cima e uma bota de salto. Essa sim eu posso informar que era patricinha.
Conversavam animadamente, parecendo que se conheciam há anos. Durante minha distração, vi seu olhar se cruzar com o meu, porém ao contrário do que pensei, ele permaneceu me olhando e dando um sorriso no canto da boca.
Filho da puta, vai me fazer ter aqueles sintomas bem aqui?
Tornei minha atenção para a fila, que graças ao bom Deus havia andado e logo a próxima era eu. Fiz meu pedido e aproveitei para pegar algo para meu irmão. Enquanto esperava meu pedido no balcão, o vi se aproximar. Merda, merda, cadê meu pedido? A mulher logo voltou com uma sacola em mãos e me entregou, agradeci rapidamente e saí dali o mais rápido possível. Senti meu celular vibrar e parei do lado de fora para ver quem era o ser que acabava de tomar meu tempo da fuga. Mensagem de . Ela podia esperar. Quando me preparava para tomar meu caminho de volta, uma voz um tanto grave, mas conhecida, chamou meu nome.
- , não é? – me virei lentamente, rezando para não ser quem eu pensava, mas meus pedidos foram negados. Ah, , não mostre que sente atração por ele, aja naturalmente.
- , não é? – falei no mesmo tom que o dele, recebendo um sorriso como resposta. Afê, por que você faz isso?
- Prazer. – ele estendeu a mão e a apertei em forma de comprimento. – Você é a namorada do , certo? – quase me engasguei com minha própria saliva ao ter ouvido aquilo.
- Não... Somos só...
- Ficantes? – ele riu.
- Acho que sim. – ri. – Bem, vou indo... Foi bom te... ver... aqui.
- Você mora no mesmo prédio que eu. – ele disse em seguida. O quê? Como assim? Eu conhecia aquela vizinhança toda e jamais havia o visto ali. E o pior, ele poderia contar para o colégio inteiro onde eu morava e assim estragar toda minha reputação. – Estou morando um tempo com minha avó e a vi saindo ontem à noite para a festa.
- Ah, sim. E-eu estava saindo da casa do meu irmão. Às vezes morar sozinho requer uma ajuda feminina, então costumo passar um tempinho lá.
- Bem legal da sua parte. Gostaria de passar um tempo com a minha irmã, porém ela mora em Seattle e não é sempre que posso visitá-la. – não sabia mais o que falar, as palavras sumiram feito pó. Queria chegar em casa logo e acabar com esse momento tão constrangedor. Eu sempre tinha assunto com os garotos, sempre! Nunca tive dificuldade em achar um papo legal, o silêncio nunca reinava, mas com ele é diferente, é como se todas as palavras no mundo sumissem e ficasse apenas um vazio, como se eu não conhecesse o alfabeto. Esquecia como se pensava ou falava, apenas admirava a sua feição e o sorriso lateral que ele sempre dava quando terminava uma fala.

(...)

- Como assim o papo foi idiota? – andava em meu encalço enquanto nos dirigíamos para o auditório. Estávamos organizando o baile de boas-vindas que ocorria todo ano. De acordo com a professora, era algo que poderíamos aproveitar para conhecer novas pessoas e blá, blá, blá... Para mim, só vejo mais uma oportunidade de mostrar a esses delinquentes quem manda aqui, organizando uma das melhores festas que eles nunca foram.
- Sei lá, eu não consigo ser eu mesma ao lado dele. Simplesmente começo a gaguejar, as palavras somem da minha mente, deixando somente um espaço vazio que se ele perguntar quanto é dois mais dois eu responderia cinco!
- Sabe o que estou percebendo? – ela pôs uma mão na cintura e parou em minha frente. – Você está apaixonada.
- Pela última vez, . Eu. Não. Estou. Apaixonada. – disse entre pausas. – Isso é ridículo e não vou cair nessa outra vez.
- Pensei que ele fosse legal...
- E é, só que eu somente quero ficar com ele. Qual a parte que você não entendeu?
- A parte onde você está com o ! Acha mesmo que ele vai aceitar ter uma traição?
- E desde quando eu tenho algo sério com ele? Aquele garoto está mais para meu boneco, aquele Ken da vida. É só eu estalar os dedos que puf, ele está aos meus pés. E é só eu estalar novamente que puf, ele salta para bem longe, como uma bola de basquete. – prolonguei o “bem” para deixar claro a ela a real distância que seria.
- E eu pensando que a maldade extrema vinha de mim. – tornamos a andar.
- Temos que conversar mais com ele, nos enturmar mais...
- Repetindo, você nem consegue falar um oi com o menino e, além do mais, está andando com o – merda. Eu precisava saber mais dele, precisava ter mais tempo ao seu lado sem parecer uma idiota.
- A gente se vira, ok? Mas eu vou ficar com ele.
- Eu tive uma ideia. – disse sem ânimo.

- Olhar o Instagram dele? Sério que essa era a sua brilhante ideia? – cruzei os braços, parando atrás de enquanto a mesma se encontrava sentada em sua mesa de estudos, com o computador aberto e na página de fotos de .
- Era isso ou você teria que ir na cara de pau tentar gaguejar um “q-quer f-ficar comi-migo?”. – quando se trata de irritar, é a rainha. – E olhe pelo lado bom, o Instagram dele é desbloqueado.
- Nossa, que lindo o nosso destino. – debochei. Sentei na ponta de sua cama enquanto a via fuçar as fotos. Ainda me sentia uma completa retardada por agir tão idiota. Céus, o que eu estava fazendo?
- Olha, não tenho uma boa notícia para você.
- Por quê? – levantei bruscamente, me desequilibrando e quase caindo de cara no chão. – Ele tem namorada? É pobre? Usa maquiagem para ser bonito?
- O quê? – franziu a testa. – Claro que não!
- Então conta!
- Se você deixar! – bufei. – O que eu quero dizer é que a maioria das amigas, pessoas íntimas que vi aqui nas fotos, são meio que... femininas demais. – a olhei de um modo confuso. Como assim feminina demais? Fiz alguns movimentos com as mãos, transparecendo que não havia entendido sua frase. – Argh, se você quer conquistar o para ficar, terá que usar saias, vestidos, maquiagens e salto. – finalizou sua frase com um sorriso no rosto. Eu usar essas coisas? Para ir à escola? Mal uso para festas, imagine para ir à escola. – É pegar ou largar.

(...)

- Olha como essa cor ficou perfeita em você! – exclamou enquanto eu me equilibrava na bota de salto. – Deveria usar mais rosa choque.
- Menos, por favor. Se eu perder meu posto de popular por causa disso, você me paga!
- Desculpa, baby, mas não sou eu que não quero admitir que estou apaixonada por um garoto e que estou fazendo transformações em mim mesma para só ficar com ele. – revirei os olhos.
- Isso, fala mais alto para todo mundo ouvir!
- Cala a boca, ok? – a olhei, incrédula. – É o seguinte, fiz algumas pesquisas a respeito dele. A última namorada que ele teve foi há dois anos, o nome dela era Jess, só ia de vestido para a escola, era um amor de pessoa com todos... Na verdade, todas as namoradas dele, digamos, eram “santas”.
- Pera, pera. – a interrompi. – Onde arrumou tanta informação assim?
- Tenho meus contatos! Agora vamos, pois não quero ver mais a cara da senhora Brings na detenção. – me puxou, fazendo com que quase me desequilibrasse do salto.
Nunca odiei tanto na vida ser o centro das atenções. As pessoas me olhavam como se eu fosse algo de outro mundo, na verdade, estava sendo. Queria mandar todo mundo se foder.
Quando o horário do intervalo bateu, pela primeira vez na vida, desejei ficar na sala de aula. Estava me sentindo uma puta ridícula e não tinha respostas para dar caso me perguntassem algo. se encontrava ao meu lado, me encorajando a sair.
Já estava cansada de explicar o motivo de não mover minha bunda da cadeira, porém a fome foi mais forte e, infelizmente, me vi na obrigação de ir a cantina, já que a madame havia pegado meu celular, impedindo-me de pedir a algum lanche. Contei até dez mentalmente e saí da sala. É claro que aquele bando de gente começou a me encarar, outros a me comer com os olhos.
Querem algum molho para melhorar o paladar?
Entramos na cantina e logo dei de cara com sentado na mesa dos jogadores, rindo de alguma coisa. Quando os olhares do time caíram sobre mim, o seu veio acompanhado, fazendo com que os sintomas voltassem à tona.
- Vamos. – me puxou, entretanto, acabei ficando no mesmo lugar. – , eu disse vamos. – disse com sua voz autoritária.
- Não, eu não vou. – me soltei de suas mãos.
- Por quê?
- Porque estou me sentindo uma zebra ridícula com essa saia listrada e esse salto do tamanho de um jegue.
- Você está linda e ele já te viu.
- Mas não precisa me ver mais, não quero que ele tenha pesadelos noturnos comigo.
- Ele não terá sonhos caso você não se aproxime. – e novamente ela me puxou.
- Eu não estou apaixonada, eu não estou apaixonada... – dizia para mim mesma.
- Nossa, , quem é sua nova amiga gata? – Jack, um dos jogadores do time, falou. Minha vontade era de mandar ele ir tomar em um lugar lindo e maravilhoso, porém travei novamente quando vi que estava ali. Mas eu não poderia agir de outra maneira, eles iam me encher de perguntas e o que eu menos queria era isso.
- Tomar naquele lugar ninguém quer, não é, Jack? – falei, sentando-me ao lado de e .
- Nossa, e eu achei que você havia mesmo mudado. Para que tudo isso se você já tem o ? – alguém pelo amor de Deus passa uma cola na boca desse garoto.
- Não é garoto nenhum não, seu idiota. – me defendeu. Suspirei aliviada. – Ela não é de trair namorados. – e novamente quase me entalei ao ouvir aquilo. De que lado ela estava? – está me ajudando em um projeto que me inscrevi de moda.
- Não vejo nenhuma moda disso. – ele disse, recebendo logo em seguida um tapa de , na cabeça.
- Então, , está gostando da escola? – perguntou, simpaticamente. Coisa que ela nunca foi.
- Até agora está tudo bem.
- Claro, né. Afinal, na primeira festa já pega garotas, é claro que está tudo bem. – ela tinha que falar isso? – Em breve a popularidade chega.
- Na verdade, não desejo que ela chegue nunca. Abomino a popularidade e odeio quem segue esse tipo de pensamento. – fodeu. Foi a única coisa que pensei antes de olhar estática para mim. Ele vai me odiar.

(...)

- Ser boazinha? Está maluca? – estava no vestiário esperando minha linda amiga terminar de se arrumar para o treino das líderes de torcidas.
- É pegar ou largar.
- Para de falar isso! Eu preciso fazer algo, o garoto já me odeia!
- Ele ainda nem sabe que você é popular, rude, ilude os nerds, ri das desgraças alheiras, ordena com que pessoas façam suas atividades...
- , chega! Como eu vou ser boazinha com esse povo? Vou abrir alas para se aproximarem de mim, e eu não quero!
- Então não fale com ninguém.
- Aí vão achar que eu entrei para o time das excluídas! Ser popular requer que você fale com todo mundo, na verdade, o povo tem que vir falar com você para ter aquela ignorada básica.
- Tá, eu não sei mais o que fazer e tenho treino agora. Quando voltar a gente vê outra coisa, pode ser?
- Fazer o que, né. – peguei minha bolsa e caminhei em direção à saída. Não havia ninguém no corredor, conseguia ouvir o eco dos meus saltos em contato com o chão áspero. Já era de tardezinha e o tempo dava indicio de chuva. Minhas roupas não estavam apropriadas para esse tipo de situação. Sentia frio nas pernas e nos braços. Minha cabeça começou a latejar. Só queria ir para casa, tomar um banho, tirar essas roupas e dormir.
Fui fazendo um roteiro em minha mente quando me deparo com uma figura perdida em meio ao enorme jardim da escola. Era ele. Suspirei fundo e comecei a caminhar para o outro lado na tentativa de não ser vista, mas tudo foi em vão novamente quando o vi se aproximar em largos passos.
- ! – ele me gritou. Parei meu caminho e o esperei chegar mais perto.
- Oi, . – disse, tentando parecer o mais normal possível, ajeitando minha bolsa que insistia em cair sobre meus ombros.
- Você está responsável pelos convites do baile? – então ele iria ao baile? Sozinho ou acompanhado? Será que ele ainda estava com aquela garota ou já arranjou outra? – ?
- Oi. – falei desnorteada. – E-estou sim, porém não os tenho agora. – não comece a gaguejar!
- Sem problemas, não teria local para guardá-los neste momento. Será que você poderia deixá-los mais tarde lá em casa? – deixá-los? No plural? Então ele já tinha companhia, o que fez meu coração se despedaçar a mil.
- Uhum. – tentei parecer normal, porém minha cara provavelmente dizia o contrário.
- Muito obrigada então, você é um amor de pessoa. – ah, como eu queria ser...
- E você é um sonho... – falei baixo, porém o mesmo acabou ouvindo alguma coisa, o que me fez ficar sem reação no momento. Socorro! – Nada, é uma frase que estou lembrando para o baile... Tchau. – saí correndo para o portão central da escola. O que foi isso que eu fiz?

(...)

- Peter, pela milésima vez, eu não vou ao baile com você! – batia meus pés com força no chão, esperando aquele garoto insignificante sair da minha frente.
- Por favor, . Eu só queria um par. – ele insistia.
- Ah, sério? Que pena, queria me ver livre de você, mas não posso. Nem sempre podemos ter tudo o que queremos, querido. Passar bem. – voltei a caminhar em direção ao meu armário. Sentia que aquele idiota estava me seguindo, argh.
- , me dê...
- Peter! – elevei a voz. – Pela última e sagrada vez, eu não vou a... – parei por um minuto percebendo que se aproximava. Ai, meu Deus, agir naturalmente ou bondosamente? Eu já estava com aquelas roupas mesmo... – Festa do baile com você, amorzinho. – falei com a voz mais calma que eu tinha. Como aquilo era horrível! – Desculpa, honey. Se você quiser, posso ver alguém para te acompanhar.
- , você está bem? – o nerd me perguntou com uma feição confusa.
- Claro que estou, anjo. Agora tenho que ir, tudo bem? – estava do outro lado do corredor, encostado na porta, conversando com o treinador. Que ele tenha visto esta minha bondade de forma normal e não forçada, amém.

O barulho daquele salto já estava me deixando agoniada, por sorte nossa próxima aula seria teatro, ou seja, tínhamos a opção de ficar descalços ou calçados. Encontrei com na porta da sala de aula. A mesma não estava com uma boa feição, já que havia pegado recuperação em Biologia.
- Aquele professor é maluco, só pode! – ela falava com raiva. – Onde já se viu me dá um F só porque eu troquei recessivo com alelo dominante? Idiota. – tadinha, acho que só na próxima reencarnação para ela ter mais um pouco de intelectualidade.
- E por que você não estudou?
- Eu e acabamos saindo e, digamos que...
- Ok, não quero saber de detalhes. – guardei minha bolsa no armário que tinha no teatro e sentamo-nos na segunda fileira, esperando os outros alunos chegarem. - Olha só o look dessa mulher. – me mostrou, por meio do celular, uma foto da Kim Kardashian visivelmente bem vestida. – Ela é o modelo certo de pessoa que devemos seguir.
- Ou não... – cantarolei. – Guarda esse celular antes que você pegue uma detenção. – ela devolveu com um dedo em minha cara e tornou sua atenção para o iPhone. Aproveitei o momento para descansar um pouco. Fechei os olhos e joguei minha cabeça um pouco para trás. Não demorou muito tempo até eu abri-los rapidamente depois de ter ouvido uma voz muito familiar. Olhei para trás e o vi caminhando em direção ao palco. Puta merda, esse garoto iria fazer teatro?
- , . – sacudi minha amiga, que ainda estava vidrada no aparelho.
- O que é? – perguntou impaciente. Retirei o aparelho telefônico de suas mãos, recebendo alguns xingamentos da mesma e girei sua cabeça para a porta, onde o mesmo havia parado para conversar com a professora.
- Ele vai fazer teatro? – perguntei com um certo desespero perceptível em minha voz.
- Acho que não, seria muita coisa para o menino. – meu coração aliviou por alguns segundos. Sim, foram apenas segundos, pois ele agora estava vindo em nossa direção. Olhei para o lado e vi que as poltronas estavam vazias. E se ele sentasse do meu lado? Não, não...
- Troca de lugar comigo. – pedi para que mantinha sua cara emburrada por conta do celular.
- Para quê?
- Só troca.
- Não. Vou ficar aqui e faz o favor de me devolver meu filho? – a entreguei. – Obrigada! – disse friamente. – E calma, ele não estava vindo para cá. – estava em cima do palco, conversando com um grupo de pessoas que mal sabia quem eram.
- Alunos. Hoje nossa dinâmica será bem simples. – a senhora Rivels começou a falar. – , , façam o favor de subir aqui no palco, não somos seus atores. – revirei os olhos e ouvi o bufo de minha amiga. Quando subimos, fiz o máximo que pude para manter uma certa distância dele. – Vocês irão se juntar em duplas e fazer aquela velha brincadeira do espelho. Lembram? – aquilo me fazia rir. Nunca consegui ficar séria quando olhava diretamente nos olhos de alguém. Dei um pequeno toque em , informando que iríamos fazer juntas. – Senhorita , poderia fazer com o senhor , já que é uma das mais antigas aqui? – não, não, não! Me peça qualquer coisa, menos isso. Olhei meio sem jeito para , dando um rápido sorriso. Com as duplas formadas, ficamos frente a frente. A professora ia dando as ordens e nós obedecendo. - Quero que, para começo de atividade, todos deem as mãos aos seus parceiros, para começar a ter aquela pequena intimidade. – Ótimo, a cada hora isso só piorava, não que estivesse sendo horrível ter aqueles lindos pares de olhos fitando os meus, ou o fato sentir sua pele contra minha, aquilo era maravilhoso, porém ainda não havia me decidido como iria agir diante dele. Me sentia uma pateta quando estava ao seu lado.
- Suas mãos são macias. – ele sussurrou, causando um leve surto interno em mim.
- Obrigada, as suas também e seu sorriso é maravilhoso. – me repreendi assim que terminei a frase. Não deveria ter falado isso, estou agindo feito uma boba apaixonada. E se ele achar que estou apaixonada por ele? Não, de jeito nenhum! Nossas mãos ainda continuavam entrelaçadas, com tudo aquilo, o nervosismo começou a tomar conta de mim. Cadê a senhora Rivels para dizer que já poderíamos nos separar? Porque se demorasse mais alguns minutos, não seria responsável pelos meus atos.
- Está tudo bem? – ele perguntou, ainda fitando meus olhos com aquele olhar hipnotizador. Menino, você pare de fazer isso, a carne pode ser forte, mas você tem algum amaciante que a faz ficar fraca.
- Uhum. – quebrei nosso contato visual, focando em algo ao nosso lado.
- Agora comecem a fazer os mesmos movimentos com as mãos. – a professora pediu. As levantamos e começamos a girá-las no mesmo sentido.
- Faz aula de teatro há muito tempo? – ele me perguntou.
- Desde os oito, e você?
- Primeira vez. – ele riu, me contagiando a rir também.
- Nem parece...
- Acha que sou bom?
- Ainda não vi sua atuação.
- Estou fazendo isso agora, nos sincronizando. – nos sincronizando, homem, não faz isso não.
- Até meu irmão, que não tem um por cento de inteligência, faria isso.
- Está falando que eu não sou um bom ator? – ele se fez de ofendido, o que me fez rir mais um pouco.
- Jamais!
- Havia esquecido de te perguntar onde mora. – meu coração gelou por um momento, me fazendo perder o foco da atividade por alguns segundos. - Eu moro perto de Manhattan. – disse no átimo.
- Wow, devo então te chamar de vossa realeza?
- O quê? Não, jamais! – ri nervosa.
- Você esqueceu de passar lá em casa para entregar os convites. – agradeci aos Céus por ele ter mudado de assunto.
- Ah, foi mesmo! Eu e minha cabeça esquecida. Se quiser posso te entregar depois daqui.
- Perfeito. – assim que acabou aqueles cinquenta minutos de aula, me acompanhou até meu armário e lhe entreguei dois convites. A curiosidade de perguntar para quem seria o segundo era enorme, porém a coragem era o que faltava. Eu tinha que saber!
- , eu... – o toque do seu celular me interrompeu.
- Um minutinho. – ele pegou o aparelho no bolso e atendeu com um enorme sorriso. – Oi! Sim, peguei, sim. Estão aqui comigo. Não, sem problemas. A noite promete. Ok, tudo bem, até, baby. – baby? É, solteiro ele não estava. – Desculpa, é que... – antes mesmo dele terminar, o sinal tocou, fazendo com que uma multidão de pessoas saíssem correndo das salas por ser o último horário. – Nos vemos depois! – ele disse entre gritos, por conta do enorme barulho.

(...)

- , eu não sei que roupa usar. – estava sentava na ponta de sua cama, somente com minhas roupas íntimas em meu corpo e dois vestidos sobre a cama. Um, totalmente tubinho e curto, e ou outro mais solto. – Sério, tenho medo do que ele pensa de mim, acho que vou até desistir...
- Disso tudo? – ela virou-se rapidamente para mim, tirando o foco do seu rímel. – Está louca? A essa hora do campeonato você vai desistir?
- Estou cansada, nunca fiz isso por ninguém, normalmente tinha todos os garotos aos meus pés e era só falar “quero um beijo” que meu desejo se tornava realidade, mas com ele é totalmente diferente. Eu não sou eu com ele.
- Foda-se, você só quer beijar ele e pronto, não é? Agora quem vai ficar puto da vida é o . Ainda não entendi porque você aceitou ir ao baile com ele.
- Para não piorar mais a situação. está percebendo algo, ele age friamente comigo.
- Porque ele percebeu o quão besta está sendo. O garoto está a fim de você, faz tudo por ti e de uma hora para outra você fica fugindo dele para correr atrás de outro?
- Eu já disse que entre nós não rola nenhum sentimento. É ficar por conta da nossa popularidade. Temos que ter uma reputação.
- Mas para ele está sendo outra coisa.
- Porque ele simplesmente ignora minhas palavras. Não é de hoje que digo a ele que não temos nada. – peguei o vestido mais solto e fui em direção ao banheiro. Não queria ter algo totalmente grudado em meu corpo durante esta noite. Estava precisando do máximo de conforto possível. Quando saí, – por um milagre – já estava pronta. Só fiz soltar meu cabelo, colocar uma presilha na lateral e pronto.
- Epa, aonde vai com essa cara lavada e esse cheiro de banho? – ela me acuou.
- Nem vem, no máximo um rímel e pronto.
- Senta aí e fica quieta. – fechei os olhos temendo pelo que ela iria fazer em meu rosto. Mais ou menos quinze minutos depois, minha cara estava parecendo daquelas barbies que tem mais maquiagem do que pele. Uma forte sombra destacava fortemente meus olhos, enquanto na boca um leve batom rosa dava um pouco de charme. – Me agradeça dando um belo beijo naquele menino. – disse, pegando sua bolsa. – E toma. – ela me entregou um frasco verde. – Isso veio de Paris, use com moderação. – cheirei o frasco e um forte frescor meio adocicado invadiu minhas narinas, fazendo com que quase espirrasse. – Oh, Deus, dai-me paciência com essas pessoas que mal sabem usar um perfume de verdade. – em um simples movimento, ela retirou o perfume de minhas mãos, espirrando diversas vezes o líquido sobre mim.
- Para, . Não quero me auto asfixiar e principalmente asfixiar alguém.
- Esse é o valor de querer conquistar alguém. E para de frescura. – ela disse, saindo do quarto.

Chegamos à escola às onze. A maioria dos alunos já estavam no meio do pátio, dançando com seus respectivos pares, ou não.
Pelo menos tudo saiu como planejamos.
se encontrava ao lado de , abraçando-a pela cintura, enquanto eu e apenas estávamos de mãos dadas.
- Vamos nos sentar. – sugeriu. Avistamos uma mesa vazia a poucos metros de onde estávamos. Comecei a vagar com meu olhar sobre todo o local a procura dele, porém o máximo que encontrei foi a menina que ele havia pegado na última festa, acompanhada de um cara que visivelmente não era ele.
- Procurando alguém? – me chamou a atenção.
- Não que eu saiba. – comecei a encará-lo. – Não posso olhar um trabalho feito por mim?
- Poder, pode. Agora focar toda sua atenção na porta de entrada, aí já é ter amor a portas. – ele riu. Afê, não sei como suportava aquelas piadinhas sem graças. Tudo o que eu fazia era forçar um sorriso. Uma música lenta começou a tocar e histericamente puxou para dançar.
- Vai querer dançar ou posso pegar uma bebida?
- Traz uma bebida para mim. – ele assentiu e saiu. Abaixei minha cabeça e a apoiei em meus braços, que permaneciam sobre a mesa. Meus pensamentos só se resumiam a . Será que ele não viria? Mas caso viesse teria companhia, afinal, não pegaria dois convites para nada. Levantei vagarosamente minha cabeça, me deparando com um par de olhos, ao longe, em mim. Seu sorriso se estampou quando me viu olhando para ele. Imediatamente sorri, porém logo desfiz quando vi uma menina, que jurava que a conhecia, o entregando um copo e colando seu corpo contra o dele, colocando seus braços finos em volta de seu pescoço e a cabeça apoiada em seu ombro. a abraçava pela cintura e ambos dançavam de acordo com o ritmo da música. Não sei o motivo, mas aquilo me deu uma angústia. Tinha que admitir para mim mesma que realmente estava gostando muito dele, não tinha mais ninguém para culpar, realmente ele fez com que me apaixonasse, o que momentaneamente eu sentia era raiva.
Vasculhei todo o local a procura de e a achei perto da mesa de bebidas. Não hesitei de ir lá e saí a puxando para um pouco mais longe da cabine de música.
- Eu não aguento mais. – disse no átimo.
- Não aguenta o quê? – ela perguntou com sua boca cheia de salgados.
- Ele. – apontei para onde e aquela garota, que acompanhou ele no Starbucks, dançavam. É, havia lembrado dela. – Eu não sei o que esse garoto fez, mas eu estou maluca por ele.
- ... – tentava falar, mas a interrompi.
- Sério, . Ele é o tipo de garoto que faz Rony nunca ter existido na minha vida, pra falar a verdade, acho que estou sentindo a mesma coisa que sentia pelo maldito do Rony.
- ...
- Amiga, me ajuda! Estou começando a me sentir mal por ter brincado esse tempo todo com o , tudo bem que eu disse que poderia dispensar ele quando eu quisesse e estou fugindo dele por conta do pedido, mas eu acho que... – fechei os olhos, suspirando.
- Gostando do ? – uma voz soou perto de mim. Ok, desde quando havia engrossado a voz? Abrir rapidamente meus olhos, me surpreendendo com ao meu lado, segurando dois copos.
- Não, é que...
- Eu ouvi direito isso? Você está gostando do , fazendo planos para ficar com ele e ainda por cima me usando? – maldita hora em que ele tinha uma voz extremamente alta. Olhei para os lados e vi uma rodinha se formando. Ótimo, amava atenção, mas não esse tipo.
- , por favor, aqui não. – tentei segurá-lo, mas ele se esquivou bruscamente.
- Foda-se, não é isso que você gosta? Atenção? Então vamos chamar mais! – ele gritava. – DJ, para a música. – não, não... Não faz isso. Graças a Deus o DJ não ouviu, porém uma grande quantidade de pessoas continuava a se formar perto de nós.
- , eu não estou brincando. – tentava me manter o mais forte possível, mas já começava a sentir meus olhos marejarem.
- Quem não está brincando sou eu aqui nessa porra de relacionamento! Você acha que é quem? Só porque tem fama, tem tudo aos seus pés, dinheiro... Opa, acho que a última coisa falta em sua listinha de como ser popular. – arregalei meus olhos. Como ele sabia? Olhei para , que levantou as mãos avisando que não era a culpada. – Não culpe sua amiga, acha mesmo que eu ia cair nessa história de passar mais tempo com o irmãozinho em um apartamento apertado? Tenho meus contatos. E realmente eu te amei, e como amei!
- Eu te disse que nada daquilo era sério. Era como um marketing.
- Opa, se revelando? Continue assim para o saber a pessoa fria, calculista e que só pensa no próprio nariz que você é!
- Você também não é flor que se cheire, .
- E daí? Não sou eu que estou tentando ser algo que não sou por conta de um garoto. Faça-me o favor, . Tenha personalidade! – ele se virou bruscamente, seguido por sua tropa de jogadores, enquanto eu não sabia o que fazer.
Ele simplesmente cuspiu todo o meu jogo, tudo o que eu era na frente de todos, e o pior, na frente da pessoa que mais detestava aquilo. !
Ele se encontrava parado, alguns metros em minha frente, segurando ainda seu copo e com aquela menina ao seu lado. Senti as lagrimas caírem sobre meu rosto e um pingo preto parar em cima de minha mão. A maquiagem. Ótimo, além de ser uma vadia, seria uma vadia de cosplay de panda.
- ... – ouvi me chamar e se aproximar.
- Você poderia ter me avisado que ele estava ali! – gritei.
- Eu tentei! – ela disse no mesmo tom. Balancei minha cabeça e corri em direção à saída. Vasculhei em minha bolsa a procura do meu celular, sentindo as lágrimas escorrerem fortemente sobre meu rosto. Quando consegui achá-lo, uma mão quente e extremamente macia apertou levemente meus pulsos, fazendo com que eu parasse o ato no momento.
- , eu...
- Não estou a fim de ser chamado de menina. – levantei meu olhar, me deparando com ele em minha frente. - , me deixa em paz, por favor.
- Nossa, cadê aquela menina calma que eu conheci? – ele perguntou, soltando uma risada baixa.
- Ela não existe, nunca existiu. Agora pode ir ficar com sua namorada.
- Namo... o quê? , eu só quero saber o que foi tudo aquilo.
- Desculpa, mas não posso.
- Você pode e vai me contar. Eu estou no meio disso e preciso saber a verdade.
- Não, você não precisa. – estava pedindo aos céus para que alguém o tirasse daqui. Só queria esquecer essa noite.
- Preciso. , me conte.
- Não.
- Sim.
- Tá bom! O fato é que sempre que eu te via, começava a ficar trêmula, meu coração batia rápido, tinha a vontade enorme de te beijar, sei lá. Aí a resolveu te stalkear e acabamos descobrindo que você prefere as santinhas, simpáticas, que são uns amores com todos e que odeia a popularidade, mas eu não sou assim. Eu sou popular, ordeno que os nerds façam meus deveres de casa, os iludo, na verdade, eu mando neles, não falo com todos, ignoro aqueles que quero, toco o terror nesse povo que só fala comigo por medo! Mas aí você chegou e eu precisava fazer algo para você me notar. Comecei a usar maquiagem todos os dias para a escola, usar roupas desnecessárias, matar meus pés com os saltos enormes diários e até ser um amor com as pessoas. Eu tentei, te juro, mas aí você tem namorada e...
- E que você está errada em achar isso de mim. – enruguei minha testa. – Olha, primeiro que ela não é minha namorada, e sim minha prima. – arregalei os olhos. – É, bela surpresa, não? E não, não namoro minha prima. É que não havia nenhuma outra garota que eu quisesse chamar a não ser você. Tentei me aproximar, até mesmo entrei na aula de teatro e inventei algo para a professora só para ela me colocar ao seu lado. Eu adorei seu jeito, o modo que você se vestia, simples, porém arrumada, mas estranhei quando passou a usar essas roupas desapropriadas para uma escola. Você tem atitude, tem carisma quando quer e um sorriso encantador. E não menti em relação às mãos macias. – soltei um riso abafado. – Só que não eu sabia que você era assim, do jeito que falou. – e meu sorriso se desmoronou. Tudo que é bom dura pouco, agora ele vai passar a me odiar. – Porém, alguns erros tem conserto, certo? – assenti. Ele começou a se aproximar aos poucos. – E estou disposto a te ajudar nessa reparação, se você quiser... Começando pelos seus lábios. – disse com um sorriso um tanto malicioso. Suas mãos se envolveram em minha cintura enquanto as minhas se posicionavam em sua nuca. Seu hálito cheirava a menta e canela, substâncias perfeitas e viciantes. O seu toque era delicado, porém seguro. Um beijo calmo, porém com vontade, foi iniciado. Era como se sentir a princesa do conto de fadas pela primeira vez. Era como sair da fase malvada de um filme de colegial e passar para a personagem principal, aquela que no final da história conseguia o que todos, ou pelo menos ela, desejava.

Fim.




Nota da autora: Olá, amores! Fiquei tão feliz quando consegui pegar umas das minhas músicas favoritas da Demi! Mas aí sempre tem aquele momento onde cai a ficha e me pergunto “o que irei escrever?”. Ouvi mais de mil vezes – olha o exagero – essa música e então me veio uma ideia de inverter os papeis de um típico colegial. Quer dizer, eu super tentei hahaha.
Espero que tenham gostado, pois essa foi uma das minhas primeiras ficstapes, então não sei se me dou bem com isso ou não :p
Espero os comentários de vocês para saber se fui bem ou não!

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