Finalizada em: 08/05/2021

Capítulo 01

A idade entre os vinte e trinta anos é a mais confusa. É nela em que você encontra os amigos se formando, outros começando um novo curso, alguns em uma jornada de autodescobrimento, uma parcela com um fogo inacabável no rabo e a parte oposta que está construindo uma família. A melhor amiga de estava casando.
— Você tem certeza que quer me deixar encarregada de fazer a tiara que irá usar no dia que vai dizer “sim”, ? — Indagou à noiva pela centésima vez naquela semana. — É muita responsabilidade, sabe? Eu sei que trabalho com artes manuais, mas você não precisa se sentir na obrigação de me escolher, porque somos amigas...
— Cala a boca, ! — a interrompeu, rolando os olhos. — Sabe que meu casamento é tudo para mim. Jamais tomaria uma decisão para fazer a linha de amigas. Você produz peças incríveis e sei que vou ficar ainda mais maravilhosa com o que você criar.
— Você é decidida, mas não muda o fato de que é muito gentil também. Pode estar fazendo isso só por...
— Para, boba! — As mãos pequenas de se moveram para pegar as da amiga. — Seu trabalho é maravilhoso, deve ser valorizado. Você precisa reconhecer o seu talento, se quer que as pessoas também o vejam.
— Tudo bem. — sentiu os olhos arderem com tanta consideração. — Saiba que me sinto muito honrada! Afinal, só se casa uma vez...
— Assim esperamos, né? — Ambas riram e finalmente sentiu o aperto nos dedos ser retribuído, mas o riso da outra foi murchando.
— Sendo assim, não poderei ir com vocês à casa na praia uma semana antes.
— Por quê? — soltou as mãos delas para se jogar na própria cama de casal.
— Para fazer a maior e a melhor tiara para a princesa com quem eu falo, preciso do meu ateliê.
— Leva as coisas para a casa, ué. — A mulher comprometida deu os ombros, como se fosse a coisa mais simples.
— A casa não é a menor, mas também não podemos considerá-la uma mansão... Seria inevitável nos esbarrarmos. Assim como o vestido, não dá sorte para a noiva se ver o acessório de cabelo antes do grande dia.
— Quem disse?
— Eu estou dizendo agora. Não quero que você veja antes da hora, .
— Mas e se ficar ruim e eu não gostar no dia? Poderia te dar um toque antes, não?
A constatação muito válida fez um frio surgir na barriga de . A mulher simplesmente paralisou.
lutou bravamente para manter o semblante sério, mas o horror no olhar da figura diante de si tornou a tarefa impossível. Era cruel brincar com a desgraça alheia, mas ficou hilária apavorada. Foi apenas com as gargalhadas estrondosas da futura senhora , que viu os sentidos voltarem para si.
— Nossa, você foi muito cruel comigo! — Fingiu estar afetada. — Vai tomar no cu.
teve outra crise de risos.
— Deixasse de ser trouxa, amada! Não te disse há instantes que confio no seu trabalho? Se prefere fazer um suspense, está tudo bem por mim.
— Depois dessa, deveria fazer um trabalho porco só para me vingar.
A noiva fez um bico e deu os ombros de maneira infantil.
— Tanto faz. — Implicou de brincadeira. — está se casando comigo, não com a tiara. Mas nós duas sabemos que é quase impossível você criar algo feio. Sinto que fui uma péssima anfitriã até agora. Desculpe a minha amizade tóxica, amiga.
Dessa vez, foi quem precisou rir.
— Você é meio otária, . — Enganchou a outra pelo pescoço para um abraço de lado. — Mas eu gosto de você.
— Como quer fazer com as coisas, então? Quero muito você nos dias anteriores à cerimônia na praia. Sabe? Você me prometeu! Meus últimos dias de solteira, amiga! — Suplicou com os olhos, que torcia para estarem brilhando o suficiente para convencer. — Por outro lado, tenho que respeitar o processo do seu trabalho também... — deixou no ar.
Os olhares de ambas se fixaram em pontos vagos, com a cabeça maquinando. Todavia, sentiu que não precisavam ir muito longe. A solução foi dada.
— Farei o que sugeriu. Levarei tudo que é necessário para a casa na praia e lá trabalharei quando estiverem todos dormindo para não correr o risco de ser flagrada com a sua peça.
— Não!
— Por que não?
— Já te falei que estou tentando ser uma anfitriã melhor. Não vamos te levar para a casa na praia para que fique trabalhando. É nossa convidada. Fala sério, quando diz que pretende virar as noites no meio daquele paraíso?
— Se for necessário, sim! Você merece todo o amor do mundo e eu não me importo. Funciono bem de noite, você sabe disso depois de tantos anos dormindo na sua casa. Corrigindo: te atormentando de madrugada.
— Uma gatinha noturna. Miau. fez garras com as mãos e a outra não hesitou em bater com os dedos para que parassem de piadas.
— Vai dar certo, .
— Sendo assim, só tenho a agradecer! Muito obrigada, de verdade, amor da minha vida. Se eu fosse bi nessa vida, teria me apaixonado por você sem sombra de dúvidas.
— A sua cara não queima de vergonha com essas mentiras? Nós sabemos que eu não teria chances contra o chá de rola que você tomou do . — Prendeu o riso, segurando a barriga que doía pelo ar que segurava. — Saiba que eu aceito bem a colocação de segunda pessoa mais amada na sua vida. — Bateu o cabelo para fazer cena.
— Boba! Obrigada por tudo!
— Eu não agradeceria tão cedo se fosse você! — continuou sustentando a personagem, fingindo avaliar as próprias unhas com interesse. — Não pode ter certeza ainda se eu desisti do meu plano de fazer um trabalho porco para você. — Zombou.
— Sei que não vai ter coragem.
— Não mesmo. — Cruzou os braços sobre o peito.
As duas trocaram olhares cúmplices e se abraçaram, sustentando sorrisos largos em meio ao tipo de momento que apelidavam entre si de “momentos emocionados”.



Capítulo 02

Tomados por uma vontade indescritível de beber água de coco na chegada à casa de praia tão mencionada nos últimos dias, , e se apressaram para organizar as coisas e se estabelecerem rapidamente nos quartos. Quanto antes a arrumação das malas fosse desfeita, antes teriam o néctar do coco.
Na casa de dois andares alugada pelos noivos, haviam quatro quartos, sendo uma suíte reservada ao casal, um cômodo para o irmão do noivo, que ainda não havia dado notícias sobre o convite feito, o terceiro para e ainda um vazio para eventuais imprevistos.
O processo de abrir malas, tirar roupa, dobrar roupa e depois guardar se prolongou até o anoitecer, visto que a chegada do trio foi cravada quase no fim da tarde do dia. Enquanto ficou encarregado de sair com o carro para buscar três cocos no quiosque mais próximo, a noiva foi tomar um banho, restando para não fazer nada na cozinha. Ela poderia estar na sala, assistindo algo na televisão, mas a área onde preparavam e realizavam as refeições era tão mais acolhedora, que ela preferia ficar moscando, fitando as unhas sem esmalte.
De súbito, um barulho na sala atraiu a atenção dela.
O chuveiro no andar de cima ainda estava ligado, excluindo a possibilidade de ter sido . não poderia estar de volta já, considerando que o comércio mais próximo ficava um pouco longe e ainda assim ela o veria chegar de carro na garagem, precisando obrigatoriamente entrar pela porta da cozinha, onde estava no momento. Contudo, o ruído partiu da sala.
O alerta de perigo apitou.
Silenciosa e na ponta dos pés, buscou por algo que pudesse usar em defesa própria. Maldita hora que decidiram deixar todas as luzes dos cômodos inutilizados apagadas. O coração quase pulava para fora do peito de apreensão.
— Quem está aí? — Questionou, sentindo o xixi quase vazar de medo.
ergueu a frigideira grande na altura da cabeça com as duas mãos, à medida que se aproximava da entrada que dava passagem para o cômodo principal. A resposta pareceu vir em provocação, por meio de um arrastar de móvel. Naquele instante, as pernas dela bambearam, como se os ossos tivessem sido substituídos por gelatina. Sozinha, fez uma cara de choro, pedindo para que a tirassem apenas mais dessa furada da vida.
Preparada para dar o passo final, que a faria ficar de frente com a causa dos ruídos, os pés resolveram trair a mente na última fração do segundo. Embora o cérebro enviasse o comando “VAI”, os membros não o obedeciam, entorpecidos de pavor. Para dar uma força, o destino fez com que o vulto na sala atravessasse a passagem antes, cruzando a cozinha.
A aparição inesperada e muito repentina levou os sentidos de às alturas. Com a frigideira em riste, ela deixou escapar o grito mais honesto de horror, que não tardou em ser mesclado com outro mais grosso, porém, não menos chocado.

Pelas mensagens de retorno que obteve do irmão antes de descer do táxi, as expectativas dele de fazer uma entrada surpresa triunfal aos amigos falhou. nem ao menos estava em casa.
Ajustando o boné na cabeça e conferindo todas as direções para se certificar de que não era seguido ou observado por nenhuma câmera, atravessou a pequena estrada para chegar à frente da casa de praia alugada pelo mais velho.
O celular apitou no bolso do moletom. Desconfiado, olhou para os lados mais uma vez, antes de ler a mensagem.
“Tem gente em casa, é só bater”, dizia o aviso de . Com uma breve espiada pela fresta da porta, o mais novo duvidou.
“As luzes estão apagadas, cara”, devolveu, sentando na escada de três degraus antes da porta.
Do quiosque, que precisou voltar outra vez para comprar mais um coco, após descobrir que o irmão estava chegando, estranhou a constatação do caçula. Luzes apagadas? Será que as mulheres haviam decidido subir para dar uma soneca? Ele não demoraria tanto assim para decidirem fazer isso. Afinal, os três salivavam por uma água bem fresquinha desde que pisaram no paraíso. De qualquer forma, resolveu oferecer outra solução para .
“Tem uma cópia da chave escondida embaixo de um vaso vermelho vazio, só pegar ela e entrar”.
levantou, constatando que todos os vasos que cercavam a casa eram avermelhados. Leu mais uma vez a mensagem. Apenas um não tinha nada dentro. Moveu o objeto, deparando-se com a chave que reluzia um pouco no piso.
Uma vez dentro, o vento leve acabou arrastando a porta, fazendo com que ela se fechasse sozinha, antes que pudesse fazê-lo. As luzes estavam apagadas, como constatou anteriormente. Em meio ao breu e das silhuetas dos móveis, avistou claridade no cômodo mais adiante. Quando deu um passo adiante, mandava outra mensagem.
— Quem está aí?
“Deu tudo certo? Já estou chegando com o carro.”
O foco que estava na tela do celular, acabou fazendo com que deixasse passar a vozinha que escutou ao fundo, ficando a indagação sem respostas. A ideia de responder o irmão, enquanto passeava por uma casa desconhecida, em um completo escuro ainda, resultou em um esbarrão contra uma poltrona.
podia jurar que aquilo não estava lá antes.
Atravessando as trevas para chega à luz, ao mesmo tempo em que levantava o olhar do celular para a frente, o homem foi surpreendido por um grito ensurdecedor, que pelo desespero, levou-o a gritar junto, depois mais ainda ao ver que tinham uma frigideira levantada contra si.
Quando achou que a barulheira teria fim, a mulher começou a berrar outra vez. Ele, por instinto, respondeu na mesma intensidade.
— Por que você está gritando ainda? — perguntou aos berros, chacoalhando a panela pelo cabo com violência.
— Porque você começou! — Devolveu em tom similar.
Ambos se calaram.
— Porra, que susto horrível. — Ela se escorou na pequena ilha da cozinha, largando a melhor amiga de batalha sobre o tampo de granito.
— Oi para você também, !
Então, a ficha caiu. estava de volta.
não sabia o que era mais chocante: estar diante do celebridade ou estar na presença de um dos melhores amigos outra vez. Do grupo, ele foi o único de fato que quis e seguiu à risca as vontades de ser um astro da música. O que começou com pequenas apresentações em restaurantes e bares, acabou se convertendo em uma legião de fãs, atraindo a atenção de canais de televisão e gravadoras. definitivamente tinha carisma e sucesso, mas precisou abrir mão de todo o convívio com a família e amigos próximos como moeda de troca. Apesar dos convites, era rara a presença do homem nas datas comemorativas. Sempre havia alguma escala de apresentação ou show que ele poderia completar no natal, um evento beneficente para a páscoa.
— Meu Deus, ! — cobriu a boca escancarada pela visão surreal. — Você veio mesmo! — Apressou-se a se aproximar para um abraço.
O contato quente, carinho e saudosista fez as borboletas adormecidas em seu interior acordarem para um voo. Com o queixo apoiado no ombro dele, ela aproveitou para estender o momento ao máximo.
— Faz muito tempo. — Soprou emotiva.
— Faz mesmo. — confirmou, passando a mão na cabeça dela.
— O que aconteceu? O que aconteceu?
Uma terceira voz, acompanhada de uma entrada desajeitada, fez os dois virarem os rostos para uma mesma direção, ainda sem remover as mãos um do outro. Mesmo com a porta fechada e o som do chuveiro, pôde ouvir gritos do andar debaixo, enquanto ainda se deleitava da água morna. Temendo que algo estivesse pegando fogo, não perdeu tempo buscando uma toalha para se secar. Vestiu as roupas ainda molhada. Pelada não sairia, e se tivessem bombeiros? Ou câmeras da imprensa? Ela não seria a doida da vizinha pelada das redondezas!
O plano de ser rápida falhou pela umidade. As gotas de água pelo corpo impediam que os tecidos das vestes deslizassem com facilidade, criando uma ansiedade desnecessária.
Assim, desceu desengonçada pelas escadas para chegar à cozinha e não encontrar fogo nenhum.
— O que aconteceu? O que aconteceu? — Os questionamentos sumiram ao permitir que os olhos recaíssem no homem de traços muito familiares. — Elliot? Eu não acredito que está aqui! — Os orbes queriam saltar da órbita, enquanto a boca quase rasgava em um sorriso.
— Viu? — tomou a palavra. — Ninguém acredita que você está aqui.
— Eu acredito. — retornou na surdina com os tão almejados cocos.
, tira essa expressão estranha do rosto. Está parecendo uma maníaca com esses “zoiões” e boca de Coringa. — Repreendeu a amiga, falando por cima das duas gerações dos , que se cumprimentavam ao lado.
O grupo estava completo e o caos instalado.
— Mas onde é que vocês estavam quando eu estava aqui, ouvindo barulhos estranhos? — Repreendeu o casal e rolou os olhos.
— Não se tocou que era eu?
— Agora eu sei, bobão!
— Deveriam ter visto! — O astro se direcionou ao irmão e a noiva. — Ela estava com uma frigideira no alto, pronta para me nocautear. — Acusou. — Mas ainda bem que o serviço de segurança é péssimo. — Contou com um sorriso dançando nos lábios — Porque estava tão ocupada gritando, que nem se lembrava de que tinha uma panela para usar.
— Pode deixar que na próxima não terá tanta sorte! — Retrucou, iniciando uma discussão infantil.
A fim de implicar com a , também achou uma causa para enchê-la.
— E quem é que tem cara de Coringa aqui, hein, ?
— Eu não perdoava, não, cunhadinha!
acompanhava tudo com a cabeça balançando. Todos eram tão tontos quando se juntavam. Era como os velhos tempos.
Distribuiu as sacolas sobre o balcão. Eles teriam muitas notícias para colocar em dia.



Capítulo 03

Os dias que prosseguiam dentro da casa de praia emanavam sossego. O casal de noivos acreditava que relaxar era essencial antes do dia que oficializaria a vida ao lado do outro que escolheram construir.
Apesar de ninguém ter uma rotina, por ser uma espécie de férias mais curtas, cada um do grupo acabava repetindo as atividades todos os dias, a diferença é que não existia hora certa para nada. e sempre reservavam um momento a sós, causando náuseas em , que afastava a todo custo os pensamentos sobre o que eles deveriam estar fazendo no andar de cima.
Naquele dia, todos acordaram tarde, resultando no primeiro café do dia em uma hora que deveriam estar finalizando o almoço. Separados em duplas, narrava a briga com as próprias roupas do armário para .
— Depois que voltarmos para a cidade, terei que comprar roupas novas. Nada mais está me servindo! — Choramingou. — Acredita que todas as calças estão com algum tipo de furo na parte interna das coxas?
Uma parcela da culpa cabia ao antigo relacionamento. A montanha-russa de emoções a fez refém da ansiedade, encontrando na comida uma solução de alívio rápido. Desde lá, sentia que só caminhou ladeira abaixo. As raízes da insegurança que plantaram dentro de si ainda criança, continuavam sendo cultivadas.
— Isso não é nada! Quer dizer que sua numeração mudou. Mas o que são esses dígitos para a indústria da moda que não tem um padrão? Corpos diferentes precisam ser naturalizados. O rótulo das roupas é uma mentira. Dizem que vestimos um número, mas em outra loja dizem que somos grandes demais para tal faixa. Por favor, não se prenda a isso.
— Se você quer saber, ... — esperou engolir o pedaço de pão que mastigava para se intrometer. — e eu engordamos bastante depois que começamos a namorar. Não é nada que vai atrapalhar sua vida. Digo isso com tranquilidade.
Falar era sempre mais fácil. era bonito. era uma rainha. Juntos, formavam um casalzão. nem se falava, como figura pública, estava sempre impecável. Era difícil ser a, no máximo, ajeitadinha do grupo. Ela queria se sentir bonita como eles eram, independentemente do corpo, mas não conseguia. Era por essas e outras que a cabeça insistia que talvez ela fosse mais feliz e satisfeita com uns quilos a menos.
— Confia, . — lhe sorriu para oferecer conforto.
— Vou começar a comer menos. Vou comer tanta folha, que me tornarei a própria árvore.
— A solução não é essa, . — se pronunciou pela primeira vez, duro, finalmente deixando o celular de lado. — Não vai se matar por pouca coisa. Fechar a boca pode te tornar infeliz.
— A vida é uma só e a única coisa que carregamos conosco quando morremos é o nosso corpo. Nosso templo! Coma tudo que pode! — incentivou.
— A solução é óbvia. — O irmão mais novo tornou a falar, olhando bem no fundo de suas írises. — Se a peça não serve, compra outra em numeração maior. — Deu os ombros. — Eu faço isso. Você não tem que se adaptar para vestir as roupas que fazem. Você é bonita, . Linda! Aceite isso.
Ainda não haviam inventado palavras que pudessem descrever os diferentes níveis de choques microscópicos que a dominaram da cabeça aos pés com aquela afirmação. Os elogios tinham um teor de significância diferente quando partiam dele. Não mais importante. Só diferente.
A fama não o mudou. era um dos poucos que era a mesma pessoa em frente e por trás das câmeras. Um príncipe. Quando eles eram mais novos, ele vivia soltando esse tipo de fala que aquecia até o mais gelado dos corações. era perigoso para qualquer coração mole, justamente porque não tinha muita consciência dos próprios encantos. Ele era gentil e respeitoso, foi bem educado, o tipo perfeito de conto de fadas que não se importaria de viver. Por isso, gostava de se deixar enganar às vezes.
A ilusão era reconfortante.
Quando eram crianças recém-chegadas do ensino fundamental, alguém da turma inventou de fazer uma lista dos colegas que consideravam mais feios. nunca segurou tanto o choro, quando o papel chegou em sua mesa, tendo o próprio nome eleito pelos demais como a menos agradável de se olhar. Aquilo marcou e atormentou tanto a cabeça de uma criança influenciável, que mudou o jeito dela de agir. , que era da sala vizinha, foi o primeiro a notar a falta de brilho.

— O que está acontecendo, ? Me conta!
Tristonha, a menina de bochechas rosadas negou, olhando para os lados de vergonha. Machucava. Era humilhante deixar descobrir que ele tinha uma amiga que era considerava a mais feia da turma.
Crianças sabiam ser cruéis.
— Fala, ! — O garoto de quase oito anos insistiu, puxando-a pela manga do uniforme. — Está com medo? Te trouxe aqui para que ninguém possa nos escutar.
Aquele era o último lance de escadas da escola. Ele dava para uma parede sem saída, por isso os alunos mais novos raramente chegavam.
— Fizeram uma lista na nossa sala... — começou a contar, mirando as sapatilhas rosa.
— E o que tem?
A de oito anos não conseguia descrever o incômodo na garganta, mas era um nó. Toda vez que se lembrava da caligrafia tremida enumerando os colegas e o próprio nome no topo, ela sentia o choro vir.
Sensível pelos acontecimentos, tocada pelo amigo observador que tinha, as lágrimas finas e doídas chegaram pela primeira vez. Depois que contasse, poderia decidir nunca mais falar com ela.
— Não posso contar! — Temeu aos prantos, deixando o garotinho nervoso.
— Não chora, ! Me conta quem te fez mal, que eu vou bater. — Fechou a mão em um punho para socar a palma da outra.
— Vai ter que bater em todo mundo, então. — Crispou os lábios, sentindo o salgado das gotículas chegar à língua. — Promete que não vai deixar de falar comigo quando eu contar.
— Prometo para sempre!
— Promessa de dedinho? — ergueu os olhos brilhantes para , estendendo o mindinho.
— Promessa. — Enganchou, selando o pacto, com um sorriso que revelava o dente canino torto. Um charme.
— Fizeram uma lista na nossa turma... — molhou os lábios, sem coragem para encará-lo. — Das pessoas que eles achavam mais feias e... — escorregava a sapatilha contra o degrau. — Eu fui a mais votada. Eu sou a mais feia da turma. — Finalmente revelou, frustrada, apertando o corrimão com força até sentir os dedos suarem.
achou aquilo tão pouco, tão idiota.
— Por que liga para isso?
— Você não liga?
— Não. Você também não deveria. É a menina mais bonita para mim, .
— De verdade? — A boca finalmente se moldava para um sorriso de contentamento.
— De verdade. — mostrou os dentes desalinhamos outra vez, levando a mão para cobrir a da amiga, olhando imediatamente para o lado oposto, envergonhado do contato que tomou iniciativa de criar.
Por um instante, a garotinha só conseguiu sentir as bochechas esquentarem, enquanto constatava que a mão de era quente e macia.

era o responsável por transformar um dos momentos mais traumáticos da infância em outro de aquecer o peito. Eram ingênuos e bobinhos, mas ela não pôde se sentir menos amada e protegida. Foi um dos primeiros momentos que a fizeram crer que podia fazer tudo. Era por momentos como aqueles que tinha a vontade de entregar e confiar a alma ao .

A atenção constante de com o celular, ligações misteriosas fora de hora para lá e para cá, acabaram despertando a atenção das duas mulheres que reparavam até nos mínimos detalhes ao redor. Outra vez unidos, até tentou arrancar algo, mas ele desviou das perguntas com respostas que não passavam nenhuma verdade ou certeza.
— Você não está metido com nada errado, não é? — Quis saber, cheia das desconfianças.
— Não, .
— Então, é trabalho! — Apoiou a cabeça com a mão pelo queixo, chateada. — Se veio até aqui, deveria concentrar suas energias em nós. Se fosse para ficar no telefone, que não viesse. — Estalou a boca, enfezada.
— Não é trabalho. Na hora certa vocês vão saber.

estava namorando.
e ela haviam pegado um pedaço de uma ligação aos sussurros dele com a mulher. A troca de palavras carinhosas foi como um empurrão de um penhasco. O estômago se afundava com um frio desgostoso.
Antes elas não tivessem pegado a informação, assim poderia continuar fingindo que estava flertando com o mais novo, se ele quisesse — ou nem tanto assim, se não quisesse.



Capítulo 04

Depois de muitas negociações e acordos demorados, conseguiu monopolizar a cozinha para si no período da madrugada. Se quisesse beliscar alguma coisa da cozinha ou beber água, deveria anunciar do próprio quarto, por mensagem, que estaria descendo, ou avisar em voz alta, de outro cômodo, que se aproximava. Tudo para não terem nenhum deslumbre das artes que estava aprontando.
As mesmas regras valiam para . Se a noiva não podia ter uma chance, não era de bom tom o noivo ter uma prévia. A surpresa deveria ser total, ainda que tivesse certeza de que o noivo da amiga não se importava muito com os acessórios que a mulher estaria usando. Afinal, a mulher da vida dele estaria deslumbrante diante dele. Não existia possibilidade de ele ter olhos para outras coisas, senão .
Tudo que estava sobre a mesa de madeira foi retirado para o balcão de granito da pequena ilha da cozinha. Com a fiel caneca de chá ao lado, começava a espalhar os estojos que tinha com as mais variadas pedras brilhantes que acumulou durante os anos de profissão, desenhando acessórios únicos para a cabeça.
Tubos de cola, rolos de fios prateado e dourado, tesoura, faca, alicate e, por fim, uma cabeça de manequim com a base onde a peça seria construída.
Antes de espalhar os pertences com cuidado, esticou um lenço comprido sobre o tampo. Se acontecesse algum inconveniente ou chegada surpresa do casal, ela só juntaria as pontas do tecido e levaria tudo, como se fosse uma trouxinha de roupa suja.
e não eram totalmente confiáveis.

Lá para a metade da madrugada, enquanto ainda traçava rascunhos e possibilidades de disposição das pedras que colaria na tiara, ouvindo podcasts de comédia em volume baixo, ouviu passos se aproximando. Quando a silhueta se fez visível, a mulher respirou um pouco aliviada.
Só um pouco.
Era apenas a quarta pessoa da casa: . Para ele, não tinha regras traçadas, apenas uma anotação mental para si de não se manter muito próxima. Poderia acabar soltando algo errado e criar um clima estranho.
— Não tem medo que eu veja seja lá o que está aprontando para os noivos? — puxou conversa com uma expressão de divertimento, ao se lembrar de como foi autoritária sobre os horários na cozinha mais cedo.
Com uma mão ocupada pela pinça, a mulher usou a livre para puxar os fones e ainda com o dedo mindinho da mesma mão, deu um toque na tela para pausar a transmissão do episódio.
— Não, você não é tão importante assim.
gostava de dar respostas atravessadas. Ainda mais para , quando eles formavam uma boa dupla. O mais novo não levava as coisas que ela dizia com grosseria a sério. Não deveria. Eram as alfinetadas que ditavam o tom das conversas. Todavia, apesar de ser um tipo de coisa que lançaria naturalmente, sentiu que um pouco de frustração escapou com a tirada.
Ela precisava segurar a onda.
— Deveria tomar cuidado com o que fala. Sou o irmão do noivo e, consequentemente, o cunhado da noiva. Posso te banir dessas areias, sereia.
O estômago dela revirou.
Aquele tipo de brincadeira não fazia bem para a sanidade dela, que passava por uma fase de baixas. Os dedos que estavam levantados da mão que segurava a pinça tremeram em tique nervoso, uma vez que ela não podia reagir com escândalos.
Será que era capaz de sentir o quão afetada estava?
— Ah, é? — Controlou-se da melhor forma que pôde para a voz não falhar. — Vai chamar quem, rei dos mares? As suas amigas águas-vivas? — Caçoou no mesmo tom de veneno, com os músculos do rosto se contorcendo para sorrir. — Ou será que vai ser o seu temido exército de camarões?
riu e o som que ele emitiu fez todas as células dela trepidarem. , discretamente, se remexeu da cadeira para conter os arrepios. Ela nunca foi tão testada quanto naquele momento.
— Exército de camarões? — puxou uma cadeira para si, admirado. — Nossa, você foi longe, . — O olhar dele alternava entre o rosto dela e o que fazia na cabeça de manequim.
A atenção constante não passou despercebida. estava quase se levantando bruscamente para virar a mesa em revolta. Então, seria aquela palhaçada sempre? Ela mal conseguia conter a tremedeira para posicionar as pedrinhas de brilhantes, ao saber que os olhos dele estavam fixos nela o tempo todo. O ar pareceu ficar mais denso.
Um pouco incomodada, soltou tudo para embolar os cabelos soltos em um coque bagunçado.
— Por que não está dormindo? — Perguntou curiosa, puxando um punhado de cabelos para prender o resto de qualquer jeito.
A força dos dedos contra as mechas certamente proporcionaria alguns fios quebrados, mas quem ligava?
— Não sei. — brincou com os dedos sobre a mesa. — Acho que energia acumulada. Fora desse conto de fadas criado para o casamento do casal do século, eu mal conseguia parar para decidir o que comeria no almoço por conta da agenda lotada de compromissos entre shows e entrevistas no país. Então, imagine... Um cara que mal dormia, estar jogado no meio do nada agora, sem ter que fugir de paparazzi malucos, fãs ensandecidas ou fazer shows de duas horas... Preciso de um pouco de distração.
— Faz sentido. — assentiu. — Só não acho que vai se distrair aqui, comigo, me assistindo colar pedrinhas para a tiara da noiva.
— É isso que está fazendo?
Novamente, ela assentiu, dessa vez voltando aos trabalhos sem olhar para ele.
— Quer ajuda?
— Não!
O desespero na voz o fez sorrir discretamente.
— Bem que os nossos professores da escola falaram. A nossa turma estava repleta de artistas. — Assobiou. — Quem diria... — jogou as costas contra o encosto da cadeira, de maneira relaxada, apoiando as mãos que estavam juntas sobre a barriga.
— Diz isso por você ser um grande astro das telas?
— Você também. Lembro que nada era um desafio para a grande . A festa de Haloween com a temática de fantasias podres do colegial... — a barriga dele pareceu sentir cócegas pela súbita vontade de rir com as recordações. — Cara, foi muito foda! Você fez todos os detalhes da nossa fantasia. As fitas de papel crepom grudadas no para simular os desenhos de riscos de velocidade da fantasia de Flash, a cesta de jornal para a Chapeuzinho ... Impecável do começo ao fim.
não conseguiu segurar o ímpeto de encolher os ombros, envergonhada com tantos elogios. Enxergar aquele brilho de admiração nas írises de e saber que ela era a motivação fazia bem. Reconhecer a importância do trabalho que fazia, do valor que tinha cada peça ainda era custoso e um caminho longo. Aceitar elogios. Ter pessoas que davam apoio sempre, como e , era fundamental para que pudesse crescer como profissional e pessoa.
— O que eu posso fazer? Às vezes, a estrela de alguns brilha mesmo. — Ela sempre mascarava as inseguranças com falsa modéstia, aquele tipo de personagem parecia funcionar bem para ela lidar com as situações.
— Brilha mesmo.
demorou o olhar em e ele fez o mesmo. Passaram incontáveis segundos daquele jeito, até ela sentir que logo confundiria os sentimentos.
Quebrou o contato, levantando-se de repente para buscar por refrigerante na geladeira. Ela já estava bebendo chá. Péssima alternativa que escolheu para fugir da situação estranha que foi a encarada profunda.
Deu os ombros.
Descartou o saquinho de chá no lixo e o gole restante da bebida na pia, para, em seguida, ver a caneca ser preenchida por gás e espuma.
Ao mesmo tempo em que a mulher andava de um lado para o outro no cômodo, meio elétrica, permanecia sentado em seu lugar, pensativo. teria notado isso, se não estivesse preocupada em manter a calma sem se encantar ainda mais pelo astro que sabia que era comprometido.
— Posso te perguntar uma coisa?
Encostada na pia, de costas para o homem, sentiu um pouco mais do nervosismo. Os dedos que seguravam a garrafa ficaram esbranquiçados devido a força que depositava contra o plástico.
— Claro, manda aí. — Dependendo do que fosse, ela não se viraria mais, então não teria as emoções lidas por .
— Eu fiz algo de errado?
— Como é que é?
Contrariando todos os planos, ela se virou com a caneca e garrafa ainda em mãos.
— Eu fiz algo ou disse algo errado para vocês nos últimos dias?
demorou a responder. A bolinha dos olhos foi de um lado para o outro, recapitulando os momentos vividos desde que ele atravessou a porta da cozinha e ela quase o acertou com a frigideira.
— Acho que não. Por quê? — franziu o cenho.
— Não sei direito. — a encarou. — Só senti que devia esclarecer isso. Alguma coisa parecia ter acontecido, o clima me pareceu meio estranho nos dias passados. Mal olhou para mim e nós sabemos o quanto você ama me importunar.
prendeu o lábio inferior com os dentes.
— Mas é muito cara de pau mesmo. — Sentindo que era seguro voltar para a mesa, ela o fez, oferecendo a bebida com o braço estendido, silenciosa. — Está insinuando que fico correndo atrás de você?
— Não, valeu. — Recusou o refrigerante. — Correr pode ser um exagero, , podemos dizer que você caminha atrás de mim.
Ela riu pela sacada ruim.
— Dá licença, homem! — Mostrou os dentes em desgosto. — Tenho mais o que fazer do que lamber o chão de ídolo adolescente com só duas músicas boas.
Outch, agora apelou para o particular. — Posicionou uma mão no peito esquerdo teatralmente. — Não gostei de como proferiu “ídolo adolescente”. Fecharia essa sua boca enorme, se visse a quantidade de senhoras da terceira idade que me apreciam.
— Oh, sim, sua bisa, as amigas dela e quem mais?
, você está passando dos limites hoje! — Esboçou uma falsa raiva. — Isso que nem chegamos na parte mais problemática: como assim eu só tenho duas músicas boas?
— Essa é a verdade e precisa lidar com isso. E nem para elas serem selecionadas como singles principais para promoção do álbum. — Balançou a cabeça negativamente. — Vacilo total.
— Quais são as duas músicas que você mais gosta? — Inquiriu como um bom vizinho fofoqueiro prestes a receber uma notícia imperdível do bairro.
— Não vou falar. — Crispou os lábios em birra infantil.
— Até o bendito dia do casamento, eu vou descobrir. — Sentiu-se atiçado.
— Fica aí o desafio. — Encarou-o com os olhos faiscando. — Só para deixar o assunto morrer de verdade: não fez nada de errado, . Tem dia que os ânimos podem não estar dos melhores, mas não é nenhum motivo específico. — Fingiu. — São dias ruins. Não esquenta. Já que estamos trocando curiosidades, posso perguntar por que sua namorada não veio junto?
— Porque esse não é o foco do momento. — Suspirou. — e meu irmão mais velho estão prestes a se casar. Não queria que as atenções fossem desviadas para a mulher com quem estou me relacionando. Te falei que tinha o momento certo e isso seria depois do casamento, se vocês não tivessem descoberto antes.
— Desculpa. — Sibilou envergonhada.
— Não tem nada demais. Era só isso. Maya demoraria um pouco para se adaptar à família, prefiro deixar esse acontecimento mais para frente e fazer com que os noivos fiquem relaxados, ao invés de se preocuparem e fazer ela se misturar e se sentir confortável.
— Você é sempre todo perfeitinho nas soluções, não é? — Semicerrou os orbes. — Como que pode.
— Besta!
— Obrigada por pensar e ser tão considerativo com nossos amigos, .
— Que nada! Estamos aqui para isso. Estou ansioso para ver o que vão acha dela.
Com um sorriso um pouco forçado, só conseguiu imaginar que, no mínimo, Maya era a cópia feminina dele. Só assim para levar o coração do menino de ouro.



Capítulo 05

, me fala a verdade. — As amigas se olharam nos olhos com profundidade. — Você ainda tem uma queda pelo ?
A hesitação de responder, os segundos de silêncio que se sucederam responderam pela melhor amiga da noiva.
sentiu um pedacinho de si rachar pela outra. Das duas, ela sempre foi a mais sentimental e não demonstrava medo de sentir. , por outro lado, era intensa. Demorava a ser derrubada, contudo se jogava de cabeça quando acontecia.
O problema disso é que ela sempre parecia escolher os caras errados. Seu último relacionamento havia sido tão traumático, que até hoje ela não fazia questão de encontrar alguém.
A aparição do cunhado, o reencontro do quarteto de escola, fez perceber uma luz em que há muito tempo não emanava. De início, imaginou que poderia ser apenas a felicidade de estarem todos unidos outra vez, pelo visto se enganou.
Sentida, as sobrancelhas se crisparam e quem quis chorar foi a noiva.
— Oh, ... Me desculpe, a gente não sabia! — Conectaram-se em um abraço apertado, com direito a carinho nas costas.
— Ninguém sabia, . Está tudo bem. — Afirmou com um amargor espalhado pela boca. — Ninguém me deve nenhuma satisfação aqui. — Ajeitou a cabeça nos ombros da outra, ignorando algumas mechas de cabelo que estavam no meio do caminho pinicando, por fim, aproveitando o pequeno momento de mimo.
não contou nada a . E se contou, meu maridinho não fofocou. Nós nem ao menos sabíamos se viria ao casamento.
riu contra os cabelos ondulados da amiga, achando graça nela se justificando quando não havia nenhum problema de verdade acontecendo.
— Como disse: está tudo bem. — Afastou a amiga pelos ombros para que essa pudesse ver a expressão calma dela. — Se soubessem sobre a namorada também, não haveria muito que fazer. é seu cunhado. Não tem como desconvidar o irmão do noivo para a cerimônia. — Rolou os orbes. — E se me desconvidassem para evitar esse encontro, ficaria muito chateada. Somos amigos acima de tudo. Eu já tive que lidar com coisa pior. — Deixou a insinuação sobre o ex-namorado nas entrelinhas. — Ter o coração quebrado por não é de todo ruim. Ele é um homem incrível. A burrice foi nossa de acreditar que um cara desses estava livre, leve e solto.
Um riso frouxo escapou por parte de . A amiga era sempre tão racional que continuava a causar surpresa nela, mesmo depois de anos de convivência. Era sempre assim: tinha um problema, compartilhava com , mas era a segunda que se emocionava muito mais. Então, vinha a versão heroína e garantia que tudo estava bem — ou que tudo ficaria bem.
Um exemplo foi a morte da avó dela. ficou tão triste e em choque com a notícia, que não conseguiu se expressar direito por uns dias. foi quem chorou quando ouviu sobre a perda da amiga, corroborando com a própria visão de que na amizade delas, ela era a emocionada.
— Então, você me garante que não precisamos ficar preocupados com a situação? — prontamente negou.
— Fica em paz, amiga. Você tem muitas outras coisas para pensar do que na amiga encalhada, como, por exemplo, quantos cachorros e gatos vão adotar, enquanto preparam o psicológico para cuidar de um bebê ranhentinho!
! — trombou na outra com os ombros em repreensão. — Sabe que falar no diminutivo não diminui a cuzisse que acabou de soltar.
— Eu não menti!
No meio do corredor da casa, começaram a travar uma briguinha de mentira com direito a tapas e empurrões. Definitivamente, elas eram muito sortudas por terem a outra.



Capítulo 06

Conforme o prometido, assim que cada um seguiu seu rumo depois do casamento de e , a notícia de que havia engatado em um namoro com a modelo Maya Thorne estampou todos os tabloides. Informantes próximos das figuras garantiram que a relação já existia há alguns meses, sem uma data exata. calculou que foi muito antes deles se reencontrarem. Preguiçosa, afundou-se um pouco mais contra o sofá do apartamento que dividia com outras três pessoas.
O assento ao lado de afundou, denunciando que alguém havia chegado para ocupá-lo.
— E aí, , tudo?
— Hey, quais as fofocas?
— Conta você. Voltou super estranha do casamento daquela sua amiga. O noivo disse “não”? A noiva fugiu com o cara da piscina para viver um amor ardente?
riu, estapeando a coxa do amigo.
— Não! Eles casaram mesmo. Eu que estou com a doença do amor.
Enquanto o colega de apartamento disparava a devanear com os próprios conselhos para o coração, deixava os olhos pousarem na televisão ligada que repetia mais uma vez as fotos de flagras dos encontros entre e Maya. Era tão engraçado que chegava a ser bizarro. Assistindo de um lado da tela, se imaginava no lugar daquela sortuda.
Ela queria ser a garota por quem adotava um disfarce para saírem sem maiores importunações. Ela queria ser o motivo que arrancava o maior dos sorrisos dele. Ela queria ser importante, mas no final ele não se lembrou nem de decifrar as duas músicas que ela mais gostava dele. Era engraçado ser uma espectadora de um teatro que jurou viver, para não dizer triste.
A questão é que foi sempre amizade.
nunca deu resquícios de sentir algo mais, apesar dos momentos a sós, com química e cumplicidade.
Foi sempre amizade, mesmo com os olhares profundos e elogios de flutuar.
se deixou levar pelo conto de fadas, acreditou que milagres poderiam acontecer. Era mais bonito assim. Ela havia se enganado. Pedidos às estrelas não funcionam, porque meninos de ouro como aquele não terminavam com meninas como ela, as mais feias da turma.
Ela estava em queda livre e não importava o quanto estendesse a mão, os dedos de já não estavam em seu alcance.



FIM!



Nota da autora: Meu Deus? Que final horrendo! KKKK O tamanho do surto que foi eu desesperada para terminar a fic, mas sentir que ela estava crescendo sozinha, tomando rumos sem me pedir autorização não pode ser medido. Foi muito divertido criar algumas situações. Apesar da música ser só lágrimas e o tema desse Perdidos #09 ser “Para Chorar Largado”, tivemos muitos momentos de alívio, porque eu precisava criar um vínculo! Apego entre os principais e personagem com leitor. Espero que tenha conseguido algo kkk
Obrigada a você que chegou até aqui e deu uma chance à fic <3 Não se esquece de deixar um comentário sobre o que achou, o que mais gostou, ou que precisa ser melhorado. É muito valioso e importante <3 Obrigada!

Beijos,
Ale



Outras Fanfics:

Universo de Harry Potter:
Felicitatem Momentaneum (principais interativos);
Finally Champion (Olívio Wood é o principal);
Finally the Refreshments (sequência de Finally Champion – restrita).

Ficstapes:
04. Bigger;
05. Mobile;
06. Let Me Love You (restrita);
09. I Don’t Have to Try;
10. Fuego (restrita).



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