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Finalizada em: 04/06/2021

Capítulo Único


— O que você está fazendo?
As mãos de pararam no meio do caminho, congelando no centro da mesa que ela estava limpando, e ela se virou para a voz de Scooter, seu gerente, que estava parado atrás dela a encarando com as sobrancelhas erguidas.
— Eu... estou limpando a mesa? – Ela respondeu, incerta sobre a pergunta, como se fosse algo óbvio.
Scooter revirou os olhos e arrancou o pano das mãos de de forma bruta, o jogando por cima do ombro esquerdo. respirou fundo, prevendo que os próximos minutos não seriam nada agradáveis. A porta da frente se abriu e o sino tocou, indicando que algum cliente havia acabado de entrar no café, mas Dylan, o outro atendente que estava limpando a mesa do lado, correu não somente para realizar o atendimento, mas também para sair de perto da bomba que estava prestes a explodir. Ele já tinha visto acontecer antes.
— Eu te avisei, . Era a sua última chance.
— Scooter, foram só quinze minutos e ainda nem temos clientes direito...
— Você já teve chances demais, é sempre a mesma coisa.
— Qual é, por favor, você sabe que eu preciso desse emprego. Eu dirigi quase três horas para chegar aqui, eu vim direto e estava tudo parado por causa da chuva e...
— Eu não quero saber, . Pega suas coisas e dá o fora daqui. Tá na hora de você crescer e aprender que essa sua brincadeirinha tem que ficar pra trás, você precisa acordar pra vida. Assumir suas responsabilidades, ser uma mulher de verdade. Eu cansei de sustentar suas maluquices e fazer vista grossa pra isso.
riu, sem um pingo de humor, enquanto arrancava o avental pela cabeça. Era ela quem estava cansada dessa merda toda.
— Mulher de verdade?! – Ela praticamente grunhiu. – Brincadeirinha?! – Ela atirou o avental com força contra o peito de Scooter, que o segurou de olhos arregalados, embora a reação de não fosse lá exatamente uma surpresa. – Porra, sério? Essa brincadeirinha que me paga em uma noite o dobro do que eu ganho trabalhando pra você em um mês feito uma otária?
Scooter estreitou os olhos, o sangue subindo por seu pescoço branco e gordo, o rosto ficando rapidamente avermelhado.
, você...
Ela gargalhou, agora achando tudo muito engraçado. Ali estava ela, a bomba explodindo.
é o cacete! Vai se foder, Scooter. Você me ouviu bem? – Ela se aproximou mais um passo dele, ficando tão próxima quanto a barriga pontuda dele entre os dois permitia. Mesmo sendo pelo menos uns quinze centímetros mais baixa do que o gerente, ela o encarou nos olhos, gesticulando expressivamente a cada palavra que saía de sua boca. – Vai. Se Foder. Seu escroto de merda! Você acha que tem alguma moral pra falar de mim? Pra me mandar crescer?! – Ela gargalhou outra vez, se afastando para poder se curvar enquanto ria. – Você tem quase cinquenta anos e mora com a porra da sua mãe, você reclama todo dia quando ela não faz seu almoço do jeito que você gosta. Puta que pariu, ela ainda lava suas cuecas! Você acha que um cara como você, que passa o dia inteiro com essa bunda nojenta pregada na cadeira do escritório comendo donuts escondido e fazendo seus funcionários de escravos, sabe o que é acordar pra vida? Porra, eu trabalhei os últimos três meses nesse inferno sem um único dia de folga, Scooter, e eu não abri a boca para reclamar de nada porque, oh, isso é o que um adulto faz, seu imbecil! – Ela levou o dedo indicador até o peito do homem, afundando-o ali de forma acusatória. – Você não aguentaria um dia fazendo essas merdas, seu bebezão.
Scooter parecia prestes a desmaiar ali mesmo, sendo esmagado pelo peso do olhar de . Não que ele esperasse uma reação tranquila por parte dela, mas aquilo... aquilo era demais para seu coração já não tão saudável.
— Para fora. Agora. – Ele se obrigou a dizer, quase um sussurro entredentes.
abriu um sorriso, os olhos afiados fazendo um arrepio descer pela espinha de Scooter.
— Com prazer, Scooter. – Ela arrancou o boné com o nome da cafeteria que usava e o jogou no chão. – Ah, e antes que eu me esqueça, a sua ex-namorada não te largou porque você esqueceu o aniversário dela, ela te largou porque você é um tremendo imbecil que não consegue ouvir uma palavra do que ela tá falando sem fazer alguma piadinha escrota e um puta de um frouxo que com certeza não deve nem conseguir achar o caminho entre as pernas dela antes de se envergonhar em segundos. E, é claro, também é um grande porco que não consegue ver uma bunda sem meter as mãos nas calças. Eu já te mandei ir se foder hoje, Scooter? Vai se foder. Foda-se essa merda toda. – Ela pisou em cima do boné e se virou, saindo com um sorriso insano no rosto sem olhar para trás, ignorando completamente Dylan e o cliente que estavam parados em um canto assistindo a cena, atônitos.
Que se fodam eles também.


🤘🏼🎤🤘🏼



respirou fundo o ar frio do lado de fora, andando irritada até seu carro estacionado no beco ao lado da cafeteria.
Merda. Merda, merda, merda. Ela estava completamente fodida.
Ela abriu a traseira de seu antigo Jeep militar e se sentou ali, puxando sua mochila e alcançando o maço de cigarros e o isqueiro no fundo dela, as pernas balançando para o lado de fora do carro.
Ela sabia que agora era pra valer. Scooter já a havia ameaçado de demissão pelo menos umas dez vezes nos dois anos em que ela trabalhava lá, mas ela sempre respirava fundo e engolia seu orgulho para implorar por mais uma chance. Em alguns momentos ela chegou até a deixar partes de suas explosões internas escaparem, já sendo ruim o suficiente, mas nada como hoje. Foi impossível dessa vez, com Scooter chamando o que ela fazia de brincadeirinha ou a mandando crescer. E ela sabia que isso aconteceria uma hora ou outra, só não queria que tivesse sido agora.
Logo agora, com o financiamento da sua faculdade faltando apenas alguns meses para ser quitado. Logo agora, que... Ela deu uma tragada longa, fechando os olhos e encostando a cabeça na lateral do carro.
— Sua vó teria te daria uma vassourada se ouvisse metade dos xingamentos que você acabou de berrar, .
abriu os olhos, assustada, e se engasgou com a fumaça quando reconheceu o homem parado em sua frente, tossindo compulsivamente.
Ele riu, indo até ela e dando tapinhas em suas costas.
— Ela também te deixaria de castigo por um ano por fumar e mais um ano extra por se engasgar dessa forma vergonhosa.
bateu nas mãos do homem, se afastando sem fôlego e sem acreditar que ele estava ali.
— Poynter? Dougie Poynter? Eu fumei um cigarro inocente ou haxixe? Estou alucinando? – Ela falou, a voz rouca de tanto tossir.
Dougie riu, dando um chutinho na canela dela.
— Eu imagino que você tenha sonhado muito comigo nos últimos anos, mas dessa vez é realidade. – Ele piscou, fazendo a garota gargalhar, balançando a cabeça.
— Você continua o mesmo panaca de sempre.
— E você a mesma mal-educada. Não vai me dar um abraço?
Dougie abriu os braços e, em segundos, jogou seu cigarro no chão e se atirou contra ele, sentindo o calor familiar a acolher quando ele fechou os braços ao redor dela, o cheiro amadeirado do perfume dele despertando sensações boas demais para se importar com qualquer outra coisa no mundo. Era sempre assim quando ela estava com Dougie. Ela sorriu contra a jaqueta de couro dele e se afastou, levantando o olhar para encará-lo.
Ela não achava que Dougie teria mudado muita coisa em três anos, quando ela o viu pela última vez, pelo menos pessoalmente, quando ele veio passar o Natal com a família e eles se esbarraram no mercado e acabaram conversando por horas sentados na calçada, mas ela sempre ficava aliviada em ver que ele ainda era inegavelmente o mesmo garoto esquisito de treze anos atrás, os mesmos olhos azuis profundos, o mesmo nariz ridiculamente perfeito, o mesmo cabelo loiro e o mesmo sorriso estupidamente lindo. O pacote completo que sempre a deixou sem fôlego, embora raramente admitisse isso para si mesma.
Eles ainda se falavam. Talvez não com a frequência que gostariam, mas da forma como dava. Duas semanas atrás, ele ligara para pelo FaceTime e ela levou um susto quando percebeu que ele estava em Paris, exatamente na rua onde os dois tinham uma foto abraçados aos 14 anos quando a avó de levou os dois em uma pequena viagem de trem até a capital francesa depois de ganhar um dinheiro em uma raspadinha. De qualquer forma, ela não fazia ideia de que Dougie viria e a maior diferença era que seu melhor amigo, que ela conhecia desde os quatro anos, quando se conheceram na pré-escola, agora estava consideravelmente muito mais... encorpado, bem diferente do garoto franzino que vivia na fazenda que ela costumava morar com sua avó. Dougie agora tinha cara de homem, o que era muito engraçado para encarar pessoalmente.
— O que diabos você está fazendo na roça, Poynter? Ou melhor, aqui?
Ele deu de ombros, se sentando no porta-malas do Jeep, e ela se sentou ao lado dele, o fitando com curiosidade. Os cabelos loiros dele estavam grandes, uma bandana preta os prendendo como uma faixa na testa, com brincos de pingente pendendo de suas orelhas, o que quase a fez rir. O Dougie da sua adolescência jamais usaria isso, mas o Dougie adulto provavelmente sabia que aquilo era perfeito para ele. E ela concordava.
— Vim visitar minha família e decidi sair para tomar um café.
riu, arqueando as sobrancelhas.
— E você veio parar justo no, segundo qualquer morador, turista ou ser-humano com bom senso, pior café de Corringham? Sério?
Ele riu, os dentes redondos tão fofos quanto se lembrava.
— Talvez minha mãe tenha dito alguma coisa quando eu perguntei por você e talvez eu tenha chegado bem a tempo de te ver quase fazer seu provável ex-chefe chorar.
sorriu, prendendo o lábio inferior entre os dentes por alguns momentos. É claro que Sam tinha alguma coisa a ver com isso.
— Sua mãe é a minha cliente mais fiel. Na verdade, a única. Vem aqui umas duas vezes por semana, pede a bebida mais cara no cardápio, me dá uma gorjeta maravilhosa e finge que bebe o que eu preparei enquanto conversamos um pouco. Depois, quando está indo embora, ela é educada o suficiente para esconder com o corpo o fato de que joga a bebida inteira no lixo perto da porta, e eu finjo que não dá para ver tudo pelo vidro espelhado.
Dougie riu, desacreditado.
— Ela faz isso?!
— Faz, mas tudo bem. A bebida é realmente nojenta e eu sou uma péssima barista. Ambas sabemos que o melhor para a saúde dela é se livrar daquele veneno.
Poynter gargalhou, jogando a cabeça pra trás, e sentiu seu peito queimar um pouquinho com o som familiar que ela tanto gostava e sentia falta.
— Então sua carreira já estava acabada de qualquer forma, independente do showzinho de agora pouco? – Ele falou, sugestivo, e concluiu que ele era o cliente que Dylan tinha ido atender.
— Ah, com toda certeza. Se formos analisar, durou até demais. – Ela deu de ombros, um pequeno sorriso tentando mascarar os pensamentos que ela estava tendo antes de Poynter aparecer.
Ele reparou, é claro. Ele sempre reparava.
— Eu suponho que você precisasse bastante desse emprego, para aguentar tudo aquilo que você falou pra ele.
— Por quê? Tenho tanta cara de pé rapada assim que isso ficou óbvio? – Ela tentou brincar, mas ele continuou a encarando, esperando. Ela suspirou, derrotada. – Sim, eu precisava. Eu devia ter me segurado só mais um pouquinho, sabe? Pelo menos mais alguns meses.
Dougie franziu levemente a testa, uma sensação de que algo não estava certo começando a dar sinais, mas, pela cara de , ainda não era a hora para aquela conversa. Ele assentiu, relembrando tudo o que a havia escutado gritar.
— Em algumas situações, as vezes o melhor que podemos fazer é ligar o foda-se, para o nosso próprio bem. Se aquele cara realmente é do jeito que você falou, tenho certeza de que você não perdeu nada e algo melhor vai aparecer depois. – Ela deu um sorrisinho murcho, agradecida, e ele continuou. – O que aconteceu para você ser demitida?
Ela soltou uma risada sem humor.
— Eu cheguei atrasada hoje. De novo. Caí no sono e perdi a hora.
Dougie riu, mas sua careta ficou confusa.
— Você perdendo a hora para alguma coisa? A pessoa mais responsável e focada que eu já conheci?
Ela riu, mordendo internamente as bochechas e fazendo um estranho bico antes de falar, um hábito antigo que fez um pequeno sorriso brincar nos lábios de Dougie. Ele sempre achou aquilo absurdamente fofo.
— Eu trabalhei ontem à noite em uma festa em Londres e passei a madrugada dirigindo de volta para Essex, estava uma puta chuva e acabei presa em um engarrafamento, acho que rolou um acidente ou alguma coisa assim. Eu meio que vim direto pra cá e decidi descansar alguns minutos antes de iniciar meu turno, mas a bateria do meu celular acabou e eu acordei com o Dylan batendo na minha janela quando ele saiu pra tirar o lixo. O resto é o que você viu lá dentro. – Ela deu de ombros, como se não importasse.
— Você estava trabalhando em Londres ontem? Com o que? – Ele franziu o cenho, confuso.
se endireitou, as pernas agora balançando nervosas, os braços cruzados de forma protetora na frente de seu corpo. Droga.
— Eu fui tocar em uma festa.
O rosto de Dougie se iluminou como uma noite de ano novo, os fogos clareando o céu escuro.
— Eu sabia que você ainda tocava. – Sua voz saiu de forma acusadora.
Ela riu, sem graça.
— Bom, eu tento. Quero dizer... – Ela respirou fundo, subitamente incomodada em abordar esse assunto com Dougie. Logo com ele. Era muito irônico. – Eu produzi algumas músicas, não é nada de mais, mas algumas pessoas curtiram e começaram a divulgar, então de vez em quando eu sou chamada para tocar em algumas festas. As vezes é alguma coisa acústica, mas ontem me chamaram para um set em Londres, para o aniversário de algum playboyzinho. – Ela respondeu, se odiando por menosprezar seu trabalho para Dougie, mas, bom, agora ela não estava mais falando com Scooter, o perdedor do seu chefe. Ela estava falando com Dougie Poynter, a porra do baixista do McFly. Era meio difícil não se sentir pequena com isso, mesmo que ela soubesse que ele era o mesmo Dougie de sua infância.
Dougie ficou surpreso.
— Você fazendo set? Eu pensei que você abominava esse tipo de coisa, sempre foi tão apaixonada pelo clássico, pelo bom e velho punk, rock... – Ele deixou a frase morrer no ar, provocativo, e ela riu.
— Você muda de opinião depois de quatro anos na faculdade de produção musical. Na verdade, eu descobri que gosto tanto de produzir, trabalhar com mixagem e toda a parte técnica, quanto eu gosto de tocar e cantar. Então eu aproveito o melhor dos dois mundos.
Dougie colocou sua mão na perna que ela balançava freneticamente, apertando gentilmente seu joelho.
— Você devia ter me ligado. Sabe que eu conseguiria alguma coisa pra você.
Ela riu, sem graça, ignorando a sensação estranha que a mão de Dougie causava em sua perna.
— Você nem sabe se eu sou boa.
— Só porque você nunca aceitou me mandar nada seu e sempre que eu perguntava se você andava tocando, desconversava.
Ela ficou quieta, sem conseguir retrucar aquela verdade, e ele sorriu, convencido.
— Eu ouço você desde que tínhamos dez anos, . Além disso, você me ensinou a tocar baixo. Não tem como você ser ruim.
E era verdade. Dougie sabia que era boa. Por Deus, ele sabia que ela era ótima. Sua amiga mais antiga tinha a voz de um anjo, como ele costumava encher o saco dela quando eram mais novos, e era definitivamente seu som favorito até hoje, ele sempre se lembrando das noites em que os dois ficavam se apresentando para Hebbie, a avó de , do lado de fora da varanda da fazenda. Hebbie havia sido uma hippie incurável. Do tipo que tinha ido para Woodstock e tudo mais. Ela fez questão de que fosse criada em um ambiente musical e Dougie tinha certeza de que já sabia tocar pelo menos seis instrumentos diferentes aos quinze anos de idade. Além disso, ela tinha um dom natural para o canto e Hebbie adorava fazer a garota cantar para ela enquanto ela dançava animada no quintal de casa. Como Dougie passava a maior parte do seu tempo na casa delas, ele acabava entrando na brincadeira, acompanhando na cantoria com sua voz nada afinada naquela época, arrancando muitas gargalhadas das duas. A memória fez o peito de Dougie se revirar de saudade. Aquela sempre seria sua época favorita.
deu um peteleco na mão de Dougie, tirando-a dali com um ar de brincadeira.
— Não podemos negar que você aprendeu com a melhor, mas você sabe que eu não te ligaria.
Ele sorriu. É claro que não iria pedir ajuda para ninguém além dela mesma.
— Quer almoçar comigo? – Ele questionou, sabendo que não iria adiantar insistir no assunto. – Acho que você ganhou o resto do dia livre.
riu e dessa vez foi ela que deu um chute na canela dele.
— Eu devia recusar só por você não ter me avisado que viria, mas parece que não há nada melhor na minha agenda para hoje, então é seu dia de sorte.
— Eu quis fazer uma surpresa. Minha mãe falou que hoje deveria ser sua tarde de folga e eu decidi vir te convidar pessoalmente. Mas, pelo que eu ouvi antes, você não tem folga tipo, há três meses ou o que?
— Muito cavalheiro da sua parte, senhor Poynter. – Ela brincou, rolando os olhos. – E não, eu não estava folgando ultimamente, eu apenas avisava sua mãe que não estaria aqui e sabia que ela não teria nenhum outro motivo para pisar nesse lugar. E se você abrir a boca pra ela, eu juro que te mato. – acusou.
Dougie levantou as duas mãos, se inocentando.
— Isso nem passou pela minha cabeça. Mas você sabe que ela se preocupa com você. Ela se sente responsável por você, , principalmente depois que a Hebbie se foi... – As palavras de Dougie morreram no ar, a sensação de estranheza e a tristeza ainda muito presentes ao falar da morte da avó de , mesmo alguns anos após seu falecimento em decorrência de um infarto.
forçou um sorriso.
— Eu sei, obrigada. Mas eu estou bem, sério. Aparentemente, vou ter bastante tempo nos próximos dias para descansar. – Ela recobrou sua ironia, sorrindo mais verdadeiramente.
Dougie revirou os olhos e se levantou do Jeep com um pulo, estendendo a mão para .
— Engraçadinha. Vamos, eu quero conhecer sua casa.
riu, aceitando a mão de Dougie e fechando a traseira do carro em seguida.
— Não me lembro de ter te convidado.
— E desde quando eu preciso de um convite?
bufou, dando a volta em seu carro e abrindo as portas, entrando no banco do motorista enquanto Dougie se acomodava no passageiro. Ele olhou ao seu redor, os olhos curiosos. No banco de trás, ele notou caixas e mais caixas de equipamentos de som, provavelmente do trabalho de na noite anterior. Foi só quando ele voltou os olhos para o painel do carro, com já saindo do estacionamento, que o detalhe do rádio chamou sua atenção.
— Espera aí! Esse era o carro da Hebbie? – Ele questionou, surpreso ao reconhecer o mesmo aparelho de rádio antigo que ficava no Jeep da avó de , embora esse em que ele estava se encontrava muito mais novo, reformado.
sorriu, virando a esquina.
— O próprio. Emmett reformou pra mim alguns anos atrás, está praticamente zerado, o meu bebê.
Dougie fechou a cara imediatamente.
— Emmett tipo Emmett Parks?
gargalhou, já sabendo onde Dougie queria chegar.
— É uma cidade pequena, Dougie. Não é como se eu tivesse muitas opções disponíveis de profissionais para uma reforma como essa.
Isso não mudou a cara dele.
— Eu não gosto dele.
— Eu sei.
— Ele foi um babaca com você.
— Eu sei.
— E você deixou que ele reformasse o Jeep da sua vó mesmo assim?!
— Poynter, eu namorei com ele há mais de dez anos atrás. Qual o sentido de eu ficar guardando rancor por algo tão bobo?
— Não parecia bobo quando você me pedia pra dormir toda noite na sua casa porque você não conseguia parar de chorar.
parou em um semáforo e se virou para ele, respirando fundo já sem paciência para o drama em pessoa que era Dougie Poynter.
— Eu chorei mais ainda quando você foi embora e nem por isso eu te dei um soco quando você apareceu na minha frente hoje.
Dougie abriu a boca, indignado.
— Isso foi extremamente cruel.
— Ótimo. Emmett é casado, tem duas filhas e sua esposa está grávida da terceira. Você me mandou presentes caros em todos meus aniversários e apareceu hoje para uma visita surpresa. Vamos combinar que está tudo certo e que o passado é passado?
Ele fez um bico, típico de quando estava sendo contrariado, e ela mordeu o interior de sua boca, se obrigando a não sorrir com a visão.
— Ok. – Ele bufou, contrariado como uma criança.
revirou os olhos e o semáforo ficou verde, ela partindo logo em seguida.


🤘🏼🎤🤘🏼



— Você não está mais morando na Eve Road? – Dougie perguntou, confuso quando tomou uma rota inesperada, seguindo o caminho oposto do local onde ele a havia deixado no dia em que lhe deu uma carona quando se encontraram no supermercado.
deu um sorriso fechado, mantendo os olhos na rua.
— Não me adaptei muito bem. A vizinhança não era tão boa.
Dougie quis rir da mentira absurda. Mesmo se ele não conseguisse ler tão facilmente, sempre sabendo quando ela falava a verdade ou não, Eve Road ficava em uma das vizinhanças mais tranquilas e bonitas de Corringham, apenas há alguns minutos da casa de sua mãe e bem diferente da vizinhança em que estavam agora. Não que o local fosse, bom, feio, mas não era exatamente o que Dougie estava esperando. Não vindo de , que sempre adorou morar na fazenda de Hebbie e, depois que saiu de lá, fez questão de procurar um local com, no mínimo, uma área verde decente para respirar. Ele olhou através do vidro e tentou localizar alguma árvore entre as fachadas industriais de tijolos e as casas acinzentadas. estacionou o carro em frente a um prédio de cinco andares e eles desceram. Dougie havia contado um total de zero árvores.
— Me dá uma ajudinha com os equipamentos? – Ela perguntou, abrindo a porta traseira e ignorando o olhar que o amigo dava para a rua. Ela o conhecia muito bem para saber o que ele estava pensando e não queria lidar aquilo no momento. Dougie sempre foi absurdamente transparente.
— Claro. – Dougie respondeu, abrindo a outra porta.
Dougie carregou a maioria dos equipamentos e eles conseguiram levar de uma só vez tudo o que levou três viagens para trazer para o carro. Quando os dois já estavam ofegantes, parou na porta do apartamento 13, no quinto andar. Ela colocou os equipamentos no chão para poder abrir a porta e fez uma careta quando gesticulou para Dougie entrar.
— Bem-vindo ao meu palácio. Sinta-se em casa, mas lembre-se de que não está. – Ela piscou, o fazendo rir enquanto ele entrava.
A primeira coisa que Dougie notou foi o pequeno hall com pantufas e chinelos dispostos em um canto, com um pequeno móvel onde alguns sapatos estavam em uma prateleira. Ele sorriu, automaticamente tirando seus tênis com os pés, se lembrando do costume da avó de de nunca, jamais, sob hipótese alguma, entrar em casa com os sapatos da rua. Nada de trazer energia e sujeira de fora, ela dizia. É claro que herdaria esse hábito. Ele chutou seus tênis para um canto e entrou descalço, só de meias, como costumava fazer na fazenda.
Ele olhou em volta enquanto arrastava o resto dos equipamentos para dentro e trancava a porta. Pelo bairro, ele podia dizer que o espaço era maior do que ele esperava. Um loft, um espaço aberto e com o pé direito alto, com paredes de tijolos, tubulações metálicas e grandes janelas de vidro industriais que se curvavam até uma parte do teto. Ele imaginou como deveria ser agradável dormir ali em uma noite de chuva, com as gotas pingando no vidro acima de sua cabeça.
A cozinha do lado direito era simples, apenas o essencial, assim como o resto do apartamento. Um grande sofá batido de couro marrom, que ele reconheceu como sendo herdado de Hebbie, com uma manta branca por cima, uma mesa de centro com um violão apoiado e uma TV em uma estante que, com toda certeza, era o destaque do lugar. A estante de madeira pegava praticamente toda a parede e estava abarrotada de livros, objetos e plantas. Muitas plantas. Aliás, pelo apartamento inteiro, em cada espaço livre. Em cima da bancada da cozinha, penduradas nas vigas das janelas e pela parede onde estava encostada a cabeceira de uma grande cama. Uma porta de madeira indicava o local onde ele chutou ser o banheiro.
arrancou os sapatos e calçou uma pantufa, indo direto até as janelas e abrindo os vidros.
— Pode deixar os equipamentos do lado do sofá, depois eu ajeito tudo.
Um latido alto chamou a atenção dos dois e abriu uma das janelas de vidro que, na verdade, era uma porta. Dougie se surpreendeu ao ver um grande cachorro preto pulando em cima de , vindo do que ele acabara de perceber ser o telhado do prédio. Ele se aproximou, curioso.
— Uau. – Ele deixou escapar, observando o espaço aberto.
O telhado do prédio, que era cercado por um muro de tijolos de altura mediana, estava tomado de – que surpresa – plantas e pequenas árvores em grandes vasos, o que Dougie concluiu rapidamente ser um pequeno pomar e uma horta, com uma variedade surpreendente de frutas, hortaliças e ervas. No fundo, havia uma construção de madeira escura, um abrigo baixo demais para um humano, mas confortável e espaçoso além do suficiente para um cachorro. As patinhas pintadas por toda a parede deixavam bem claro a quem aquela construção pertencia. Uma mesa de ferro com quatro cadeiras estava disposta rente ao muro e Dougie conseguia visualizar perfeitamente sentada ali, com o cão deitado aos seus pés. Ele sorriu com a visão em sua imaginação.
riu, o cachorro lambendo seu rosto, animado em rever a dona.
— Não é grande coisa, mas estava pior quando eu cheguei. Me ofereceram esse apartamento pela metade do preço se eu aceitasse dar um jeito no telhado e eu achei que seria um ótimo projeto. É claro que estaria melhor se o Hoppus parasse de comer meus tomates e morangos, mas pelo menos não são meus sapatos. – Ela olhou de forma acusatória para o cachorro, que agora cheirava Dougie, desconfiado.
— Hoppus? – Ele questionou, divertido.
Ela deu de ombros.
— Ela também atende por Mark quando eu estou brava.
Dougie riu, esperando que o cachorro desse o sinal verde para que ele o acariciasse nas orelhas, o que não levou muito tempo.
— Ele gostou de mim.
conteve um sorriso com a cena.
— Claro, você tem o mesmo cheiro que ele.
— Eu não sabia que você dava banho no seu cachorro com Dior. – Dougie respondeu, arqueando as sobrancelhas, e gargalhou.
— O Dougie das minhas lembranças tomava banho com mangueira e sabão em pó no meio do quintal da minha vó.
— O Dougie das suas lembranças não estava na lista dos caras mais sexys do Reino Unido. Não dá pra ser sexy cheirando a detergente.
se controlou para não responder que Dougie provavelmente continuaria sexy mesmo fedendo, sabendo que esse tipo de informação jamais deveria ser entregue assim, de mão beijada, para Poynter. Ele nunca mais a deixaria em paz.
— Eu imagino que a sua namorada deva preferir mil vezes o Dior do que o Tide.
— Ela provavelmente não preferia nem um, nem outro, se não, não teria terminado comigo uns seis meses atrás.
Aquilo pegou de surpresa e ela ajeitou a postura, se encostando no batente da porta de vidro enquanto observava Dougie, ainda abaixado e brincando com Hoppus.
— Como assim? Eu pensei que vocês fossem o casal perfeito. Um dos caras mais sexys do Reino Unido e a supermodelo supergostosa e superloira, essas coisas.
Dougie a repreendeu com o olhar, ouvindo perfeitamente o sarcasmo nas palavras da amiga, e se levantou, encostando no batente de frente para ela.
— Eu também pensei, por um tempo. Mas depois ficou óbvio que nós dois éramos bem diferentes e não nos encaixávamos no futuro um do outro, então... Foi isso.
franziu a testa.
— O que você quer pro seu futuro, Dougie?
Ele fez uma careta engraçada, como se não gostasse da pergunta. sabia que ele realmente não gostava.
— Com certeza não eram festas até o amanhecer todos os dias e um milhão de eventos sociais para sair na mídia. Acho que eu só quero um pouco de sossego agora, não sei explicar. Talvez eu esteja ficando velho e chato.
sorriu.
— Você só está crescendo, Dougie. É bem diferente.
A careta dele aumentou.
— E isso é bom?
— Você não poderia ficar congelado eternamente como aquele garoto adolescente irresponsável e com fogo nas calças, não é? Você entrou nisso tudo muito novo, Poynter. Nessa vida agitada, nessas coisas de festas, ser famoso e tudo mais. E viveu isso por muito tempo, também, e tenho certeza de que foi um período ótimo, com seus altos e baixos, mas bem aproveitado de alguma forma. É natural que isso não te atraia mais tanto assim e que você comece a querer mais. Sossego não significa velhice, Doug. Acho que, pra você, nada poderia significar. Você tem uma alma eterna de criança, a vovó sempre te falava isso.
Dougie refletiu um pouco sobre as palavras dela, o olhar se perdendo no céu acinzentado daquela manhã.
— Acho que ver os outros caras construindo as próprias famílias, casando e tendo filhos, me deixa um pouco ansioso para saber se algum dia vou ter isso tudo também.
assentiu, entendendo perfeitamente o que ele queria dizer.
— E é o que você quer?
— É muito estranho eu dizer que sim, mas que eu acho que não seria um bom pai ou um bom marido, então eu sinto que não deveria querer isso?
O coração de se apertou. Se Dougie pudesse se ver do jeito como ela o via...
— Doug, você seria um pai maravilhoso. Meu Deus, você seria o pai mais legal desse mundo inteiro. E qualquer mulher seria absurdamente sortuda de se casar com você, você é incrível. Não deixe que uma única visão que você tem sobre isso estrague o seu futuro. Você jamais seria como o seu pai.
Dougie abaixou o olhar, envergonhado, mas não surpreso, por ela ter encontrado imediatamente a fonte de suas preocupações.
— É só, sei lá, medo.
— Você sabe que eu sempre tive pavor da ideia de ser mãe. Só o pensamento de algum dia engravidar e precisar ser responsável por uma criança me fazia querer morrer. Eu não conseguia deixar de pensar “meu Deus, e se eu for igual à minha mãe? E se eu decidir abandonar minha filha no meio da noite e for embora?”. – Ela desviou o olhar, suspirando. – Só que toda vez que alguma mãe entrava na cafeteria com seu filho ou então alguma criança parava para brincar com o Hoppus no meio de algum passeio, eu sentia meu coração apertar de um jeito esquisito e descobri que era inveja. Inveja porque eu percebi que também queria aquilo, também queria poder ter uma família e toda essa coisa chata e sem graça e que a única coisa que me deixava insegura era a visão de mãe que eu tinha da minha própria. Mas não é a única visão, sabe. – Ela voltou a observar Dougie, que a escutava atentamente. – Eu lembrei da minha avó, do quanto ela foi uma mãe maravilhosa pra mim, da Sam, que é a melhor mãe do mundo pra você, e de todas as outras ótimas mães que eu conheço. Então, se algum dia eu decidir povoar este planeta com minhas miniaturas, eu sei muito bem quais são os exemplos que vão me guiar. Acho que você tem bons exemplos também do seu lado, com os caras da banda e tudo mais, eles parecem ser excelentes pais. Mas, principalmente, por você ser exatamente quem é, eu tenho certeza de que você saberia perfeitamente o que fazer e seria ótimo nisso.
Dougie fitava sem saber o que dizer depois do monólogo. Não que ele não tivesse sido tocado pela mensagem principal que ela queria passar sobre toda a história dele querer ser pai, porque ele tinha sido, e muito, mas aquilo o pegou completamente de surpresa, saber que queria ser mãe. Não era segredo nenhum que ela abominava a maternidade desde sempre e ele sabia muito bem o motivo. Era um motivo muito justo, tanto quanto o dele. Muito parecido, também. Saber que ela tinha abandonado esse pensamento e mudado sua opinião só provava o ponto de : que não só ele, mas também ela, estavam crescendo. Ele sorriu.
— Você seria uma mãe incrível, . Você não imagina o quanto me deixa feliz saber disso tudo, é sério.
riu, envergonhada, e sentiu as bochechas queimarem. Ela desviou o olhar novamente.
— Ok, vamos entrar que eu vou te mostrar onde ficam os ingredientes para você fazer um café para tomarmos relembrando os velhos tempos como duas velhas caquéticas. – Ela apontou um dedo para Hoppus e falou, firme: – Hoppus, fica.
O cachorro se deitou na soleira da porta, obediente, e se virou para entrar. Dougie riu.
— Por que eu tenho que fazer o café? A casa é sua.
— Péssima barista, se esqueceu? Você não vai querer tomar meu café, confia em mim.
Dougie revirou os olhos, observando a amiga bocejar e alongar o pescoço enquanto pegava as coisas nos armários da cozinha.
— Vai tomar um banho enquanto eu faço isso, . – Ele disse, pegando os ingredientes das mãos dela.
Ela arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços.
— Tá me chamando de suja?
Ele abriu um sorriso malicioso.
— Eu tentei ser delicado. – Ela mostrou o dedo do meio para ele e eles riram. – Não, é sério. Você está com uma cara péssima de cansada. Um banho vai ajudar depois de ter virado a noite dirigindo e tudo mais.
suspirou, sabendo que deveria ser verdade e percebendo o quanto ela realmente queria um bom banho quente agora.
— Vou ignorar que você disse que estou horrorosa, acabada, feia e fedida.
Dougie mordeu o lábio, escondendo um sorriso enquanto ela seguia em direção ao banheiro. poderia ser pisoteada por uma manada de elefantes e ainda seria a garota mais linda que Dougie conhecia.


🤘🏼🎤🤘🏼



A água estava começando a ferver e tinha acabado de abrir o chuveiro quando a curiosidade ganhou a competição interna que Dougie travava. Ele estava morrendo de vontade de dar uma olhada nas coisas de , tudo ali extremamente chamativo para ele, como sempre era quando o assunto era sua melhor amiga.
Ele desligou o fogo e foi até a estante, atento a cada um dos objetos ali. No meio das plantas e dos livros que ele já sabia que era fã, ele encontrou muitos porta-retratos, a maioria antigos. Ele não se surpreendeu ao ver inúmeras fotos de com sua avó, na fazenda ou em passeios. Uma das fotos chamou sua atenção e ele puxou o porta-retrato para olhar mais atentamente. e ele, em Paris, aos 14 anos, abraçados no meio da rua. Era sua foto favorita, ele mesmo a tinha em casa, em cima de sua lareira.
Ele estava sorrindo para a réplica de um crânio de pterodáctilo que ele enviara para ela de aniversário no ano anterior quando percebeu que ele estava em cima de alguns cadernos, que passavam facilmente despercebidos no meio de tanta coisa. Curioso, ele levantou o crânio com cuidado e puxou os três cadernos, indo se sentar no sofá.
O primeiro era um moleskine preto e ele o folheou rapidamente, encontrando vários desenhos de , a maioria de plantas, paisagens, pessoas que ele não reconhecia e, ele riu, personagens de livros, filmes e animes. E depois eu que sou o nerd escroto, ele pensou, passando para o próximo caderno que ele logo descobriu ser muito mais interessante. Eram anotações e ele soube na mesma hora que eram composições de .
A cada página que ele passava, ele sentia seu coração gritar. Porra, . Como que ela conseguia ser tão boa desse jeito? Dougie podia ver, podia sentir, naquelas frases, naquele caderno. Aquilo era ela, e era muito bom. Como não poderia ser?
Ele parou em uma página, as colunas rabiscadas de qualquer jeito chamando sua atenção, com um grande número de observações feitas por ela ao lado de muitas frases.

I can't get over shake this feeling that I'm paranoid
I can’t stop feeling that I'm in the void (wtf THIS IS SHIT but yep you are there)
I can't bring back friendships that I destroyed (LOL nothing but the expected)
And now all that I feel is annoyed (and lonely as hell don't forget that)

Think I'm gonna change to a better plan (WHAT’S THE FUCKING PLAN ?)
I was raised on music you don't understand (sHeS nOt LiKe ThE oThEr GiRlS)
Gonna live my life serving fucking pousonous coffees playing in a band (hmm grandma would be proud of this one)
Let's get in the van (note: buy a van)

I picked a fight that I couldn't win
I feel like I’ve played with original sin (WHO WROTE THIS? A 6 YEARS OLD LITTLE GIRL?!)
And she kicked me cold like heroin (ok this was ironic and cruel but we can deal with it. right? RIGHT?!)

There's not much we can do about growing old (botox, maybe?)
But plenty we can do about growing up (oh that hurted)
(how can i insert "hookup" and "fuckedup" here?)

When all our parachutes have been shot full of bullet holes (dramatic. good job!)


Dougie terminou de ler com um sorriso no rosto, tentando não rir. A letra era diferente das outras que ele tinha visto até agora, essa muito mais ácida e até mesmo brincalhona, mas ele percebeu que ela tinha um grau de profundidade diferente. Ela não era um desabafo tão óbvio, mas ele sentiu que aquela poderia ser a mais sincera e mais pessoal para . Não foi difícil ligar os pontos em alguns trechos, além dela se encaixar surpreendentemente bem com a conversa que eles tiveram minutos atrás e com o que ele vira de ao longo do dia.
Dougie estava se perguntando se ficaria extremamente puta, porque ele sabia que ela iria ficar no mínimo brava, se ele escrevesse ali algumas palavras que ele achava que combinariam com a letra quando o celular de que estava carregando em cima da mesa da cozinha começou a tocar.
Ele se levantou, indo até o aparelho. Número desconhecido.
Dougie parou na frente da porta do banheiro.
— Teu celular tá tocando! – Ele gritou.
— Então atende, ué! – Ela berrou de volta, como se fosse óbvio, e ele riu, deslizando o dedo para aceitar a chamada e voltando para o sofá.
— Alô?
— Oi! É do celular da ? – Uma voz masculina questionou do outro lado da linha.
— Isso, ela está ocupada e me pediu para atender. Quem está falando?
— Ah, sem problemas! Aqui é Miles Davies, vi o anúncio dela agora pouco na oficina do Emmett e fiquei interessado. Você sabe me dar algumas informações sobre o veículo ou acha melhor que eu retorne mais tarde?
Dougie franziu a testa, confuso.
— Sobre o veículo?
— Isso, sobre o Jeep que ela está vendendo. Eu tenho algumas terras em Dalchork e estou precisando de um carro maior e um pouco mais resistente para andar por lá, quando eu vi o anúncio quase caí para trás, achei perfeito. – O homem riu, feliz com a coincidência.
A boca de Dougie secou. estava vendendo o Jeep de Hebbie? Ele não conseguia racionar aquilo. Não, era impossível. amava aquele carro. Dougie amava aquele carro.
— Eu... – Ele limpou a garganta, a voz encontrando dificuldade para sair. – Acho melhor você ligar para ela mais tarde, mas aviso que você ligou.
— Maravilha, muito obrigado! Até mais!
Dougie demorou alguns segundos para tirar o celular da orelha, processando a novidade que acabara de receber. Ela já havia deixado implícito hoje que estava precisando de dinheiro, principalmente agora, sem o trabalho na cafeteria, mas ele não imaginava que a situação pudesse ser tão extrema assim para precisar vender o carro de sua avó. Ele sabia que aquele carro era especial para ela e sentiu o coração capotar mais cedo quando percebeu que conseguira ficar com ele, mas não conseguia imaginar o que poderia ser tão importante e urgente assim para que ela tomasse essa atitude. Ele precisava entender e não poderia mais escapar dessa conversa.
Ele estava colocando o celular no sofá ao seu lado quando a curiosidade levou a melhor sobre ele. Mais uma vez.
Ele precisava entender, ele repetia para si mesmo, tentando justificar seu crime, enquanto digitava a data de aniversário de Hebbie para desbloquear o aparelho, um chute um tanto quanto óbvio, mas certeiro. Ele precisava entender e havia uma chance muito grande de expulsá-lo aos chutes e paneladas sem dar explicação nenhuma quando ele a questionasse sobre o assunto. Talvez ele encontrasse alguma resposta ali.
O aparelho desbloqueou e Dougie passou a tela para o lado, procurando pelo aplicativo de mensagens. Ele precisava de alguma coisa, qualquer coisa, para entender .
Uma pasta chamou sua atenção: Mixtape. Será que aquilo era... Ele a abriu e encontrou quatro arquivos de áudio, não hesitando em clicar no primeiro, nomeado apenas como 01.
Assim que a voz de começou, batidas suaves e discretas ao fundo, Dougie sentiu um arrepio subindo pela coluna até sua nuca.

Make my way through the motions
I try to ignore it
But home's looking farther
The closer I get
Don't know why
I can't see the end
Is it over yet?
A short leash
And a short fuse don't match
They tell me it ain't that bad
Now don't you overreact
So I just hold my breath
Don't know why
I can't see the sun
When young should be fun

And I guess the bad
Can get better
Gotta be wrong
Before it's right
Every happy phrase
Engraved in my mind
And I've always been a go-getter
There's truth
In every word I write
But still the growing pains,
growing pains
They're keeping me up at night


Ele pausou a música, a respiração agora acelerada. Ele sabia o que tinha que fazer. Sabia que era o certo. poderia nunca o perdoar por isso, mas ele também não se perdoaria se não fizesse nada. Sem querer pensar duas vezes sobre o que estava fazendo, ele compartilhou o arquivo com ele mesmo, enviando a música para seu celular. Ele pegou seu próprio aparelho, entrou na conversa com seu empresário e compartilhou o áudio recém recebido com ele. “Ouça isso. Agora”. Estava feito.
Ele voltou sua atenção para o telefone de e apertou o play, sentindo novamente seu coração falhar quando a voz dela tornou a preencher o ambiente. Era como ser transportado para outro lugar, outra dimensão. Ao mesmo tempo que Dougie queria guardar essa sensação só para ele, ele também queria que todos soubessem o quão incrível era . Era uma injustiça algo assim ficar escondido do resto do mundo. Ele fechou os olhos, se encostando no sofá, sentindo a pele formigar. A voz de sempre foi capaz de fazer Dougie sentir muitas coisas, coisas demais para que ele sequer conseguisse entender todas, mas era sempre tão bom, tão intenso, tão...
— O que você está fazendo?
Dougie abriu os olhos, assustado. estava parada em sua frente, os cabelos molhados pingando e manchando a camiseta branca que ela vestia junto com uma calça jeans escura, o olhar, pela primeira vez na vida, indecifrável para Dougie. Era algo entre raiva, decepção e pavor, e ele não sabia qual era pior.
— Eu... Me desculpe, .
Ela riu, ácida, revirando os olhos.
— Desculpa? Como se você tivesse desbloqueado meu celular sem querer e mexido nas minhas coisas por acidente? – Ela apontou para seus cadernos abertos em cima da mesinha.
Dougie se levantou, tentando alcançá-la, mas ela deu um passo para trás.
...
— Porra, Dougie! Você não tinha esse direito! – Ela gritou, passando as mãos pelo cabelo.
Dougie a fitou, incrédulo.
, eu só ouvi uma música sua e li algumas coisas! Qual o problema disso?
— Talvez o fato de que eu não tenha autorizado? Talvez o fato de que eu não quisesse que você escutasse nada?!
— Eu sou o seu melhor amigo! Eu te ouço cantando e tocando desde antes dessa merda toda! Por que eu não posso escutar nada agora?
— Foda-se, Dougie! Eu não... Merda! – fechou os olhos, tentando controlar sua respiração.
— Qual o problema, ? – Ele insistiu mais uma vez, se aproximando. – Por que você não quer que eu ouça nada seu? Por que você nunca me deixa te ajudar? Caralho, você é ótima, a música é ótima, eu só...
— O problema é que eu não quero, Dougie! Essa é a porra do problema! O problema é que eu não preciso de você, nem da sua ajuda e muito menos da sua opinião!
Dougie piscou algumas vezes, as palavras presas em sua garganta.
...
Ela desviou o olhar, mordendo o lábio inferior com força para segurar as lágrimas que ela sabia que escapariam a qualquer momento.
— É melhor você ir embora, Dougie.
Ele bufou, irritado. Ela era impossível.
— Isso é sério?
Ela o fitou, inexpressiva.
— Eu não quero continuar essa conversa.
Ele riu, balançando a cabeça. Ele se aproximou mais um passo dela, a fazendo recuar mais uma vez e dar de costas contra a parede. Os olhos azuis dele faiscaram quando ele disse:
— Você não quer continuar essa conversa porque tem medo de engolir a porra do seu orgulho, . Você diz que não precisa de mim, que não precisa de ninguém, que está tudo bem, mas eu sei que é um monte de mentira e isso é foda porque você nunca foi mentirosa. Você não quer continuar essa conversa porque não quer me explicar o que tá acontecendo de verdade. Não quer precisar me explicar por que você tá vendendo a porra do Jeep da Hebbie. Não quer continuar essa conversa porque você tá morrendo de medo de alguma coisa e, caralho, eu nunca te vi com medo de nada nessa vida, nunca te vi querendo esconder nada de mim, e agora você vem com esse papo pra cima de mim, como se eu fosse um completo estranho, como se eu não fosse a pessoa que mais quer te ver feliz na porra desse mundo. Vai se foder, . Você não tem o direito de fazer isso comigo. – Ele repetiu o que ela havia dito instantes atrás.
deixou as lágrimas caírem enquanto sustentava o olhar de Dougie, sem saber como responder ou reagir. Ela sentia como se tivesse levado um soco no estômago.
Dougie esperou alguns segundos para ver se iria responder alguma coisa e, quando concluiu que receberia uma resposta melhor de uma parede do que da amiga, desistiu, se virando em direção à porta para ir embora, mesmo que a visão de chorando o fizesse querer fazer exatamente o contrário.
Quando sua mão girou a maçaneta, a voz cortou o silêncio.
— A Joanne voltou. – declarou de olhos fechados, toda a força e coragem reunidas para dizer aquilo antes que fosse tarde demais, antes que Dougie fosse embora. De novo.
Dougie congelou no lugar. De todas as coisas que ele esperava ouvir, aquela era a última delas. Ele virou a cabeça para fitá-la, a confusão escancarada em seu rosto. Ele só podia ter ouvido errado.
— O que? – Ele precisou perguntar.
respirou fundo, ainda de olhos fechados e a cabeça apoiada na parede atrás de si.
— A Joanne voltou para cá, Dougie. Ela reapareceu há uns cinco meses atrás.
Dougie voltou até ficar de frente para ela novamente, suas pernas se movendo automaticamente sem que ele percebesse.
— Por quê?
abriu os olhos e soltou um suspiro cansado, as lágrimas manchando suas bochechas.
— Dinheiro.
Ele sentiu o sangue ferver, a raiva começando a correr rapidamente por suas veias.
É claro que ele conhecia a história da mãe de . Ele estava presente na única vez, pelo menos até agora, em que a mulher reaparecera na vida de e Hebbie desde que a abandonara quando tinha dois anos. Quando o vício por heroína ficou incontrolável e Hebbie já não conseguia mais segurar e ajudar a filha. Então, em uma madrugada, Joanne simplesmente enfiou dentro de uma mochila tudo o que Hebbie tinha de valor em casa e desapareceu.
tinha acabado de fazer doze anos quando Joanne reapareceu. Ele estava sentado embaixo de uma árvore no quintal, com a cabeça de deitada em seu colo, lendo Harry Potter e a Pedra Filosofal em voz alta, precisando reler umas três vezes o mesmo trecho, já que eles não paravam de rir da cena em questão, quando ouviram os primeiros gritos vindos de dentro da casa. Segundos depois, uma mulher saiu correndo pela porta da frente, indo em direção a eles, com Hebbie correndo atrás dela.
Foi muito rápido. Dougie não conseguiu reagir antes que Joanne agarrasse pelos braços, a arrastando pela grama de qualquer jeito enquanto ela gritava, também sem entender o que estava acontecendo. Só quando Joanne gritou que levaria a garota caso Hebbie não lhe desse dinheiro foi que eles entenderam o que estava acontecendo. Joanne foi embora depois que Hebbie entregou para ela todo o dinheiro que tinha em casa e nunca mais reapareceu. Ele se lembrava de assistir Hebbie limpando os machucados de , os arranhões causados por ter sido arrastada no chão, enquanto ela permanecia em silêncio. Dougie passara a noite lá, deitado em um colchão no chão do quarto de . Quando ele escutou o choro baixinho da amiga, pulou para a cama e, sem falar nada, a abraçou até que ela se acalmasse e dormisse.
— É por isso que você tá vendendo o Jeep? – Ele tentou não soar tão indignado, mas era praticamente impossível. – , você tá dando dinheiro para ela?
passou a mão pelo rosto, limpando-o, e caminhou até o sofá, sentando-se. Dougie se sentou ao seu lado, esperando.
— Quando ela apareceu pela primeira vez, na cafeteria, ela me pediu dinheiro. Ela falou que era para comprar comida, que estava tentando recomeçar, mas não conseguia nenhum emprego por muito tempo. Eu neguei, mas aí ela começou a roubar e as coisas foram ficando mais complicadas. – apoiou as costas no encosto do sofá, tentando controlar a ansiedade em suas mãos, que subiam e desciam por suas coxas conforme ela ia falando. – Ela foi presa três vezes em um mês e, toda vez que saía, voltava a me procurar na cafeteria. Ela sempre voltava da cadeia toda machucada, chorando e dizendo que eles a agrediam lá e... Quando ela foi me procurar lá depois que foi solta pela última vez, ela me pediu outra coisa. Que eu a internasse. – deixou seu olhar se perder no ambiente por alguns instantes, enquanto prosseguia. – Eu continuei tentando ignorar, tentando fingir que aquilo não era problema meu, que ela não tinha direito nenhum de me pedir nada, mas na semana seguinte ela teve uma overdose e quase morreu.
Mesmo que ainda estivesse nervoso, Dougie segurou as mãos inquietas de e as apertou, a incentivando para que continuasse a falar.
— Eu não podia deixar que aquilo continuasse, Dougie. Eu sei que é patético, que eu sou uma idiota, mas eu simplesmente não podia deixar que ela voltasse pra cadeia ou pras ruas porque aquilo nunca ia parar. Nem pra ela, nem pra mim. E, daquele jeito, tudo só ia parar quando ela morresse e eu descobri que não queria isso.
Toda raiva e indignação que Dougie estava sentindo se dissolveram como pó. Agora, ele só sentia seu coração apertar, apertar e apertar. É claro que não iria ficar sem fazer nada, ele sabia disso. podia ser a pessoa mais durona, cabeça-dura e desafiadora que conhecia, peitando todo mundo que batesse de frente com ela, mas também era a mais sensível e amorosa. A pessoa mais complexa de todas. Ele levou uma das mãos até o rosto de , limpando as lágrimas que escorriam silenciosas por seu rosto.
— Você não é idiota, . Você é uma pessoa boa, com um coração gigante.
balançou a cabeça, tentando aceitar as palavras dele.
— Assim que ela saiu do hospital, eu encontrei uma clínica em Canvey Island e a levei pra lá. Os primeiros quinze dias foram infernais, ela tentou fugir duas vezes e eu odiava cada vez que eles me ligavam para reportar algum incidente. Eu simplesmente não queria saber, não queria acreditar que estava fazendo papel de idiota mais uma vez.
Dougie assentiu, compreendendo, e continuou fazendo carinho na mão de , mesmo sentindo uma vontade absurda de fazer mais do que isso. O que, exatamente, ele não sabia.
— Ela continua lá?
— Vai completar três meses em duas semanas. – afirmou. – Ela está indo bem agora, eu acho. O tratamento tem duração de 180 dias e ela está quase na metade dele. Da última vez que me mandaram um relatório sobre ela, ela tinha começado a pintar, ou a fazer artesanato, alguma coisa assim. Eu quero ajudar, mas não quero me envolver mais do que o necessário e acho que isso faz de mim uma pessoa horrível. – Ela deu uma risada sem humor, balançando a cabeça.
Dougie se ajeitou no sofá, ficando de frente para , chocado com a visão que ela tinha de si mesma. Se pudesse se ver do jeito como ele a via...
— A última coisa que você seria nessa situação toda é horrível, . Você... você está fazendo uma coisa gigante, eu não tenho nem palavras para dizer o quanto eu te admiro por isso. – Ele falou, a sinceridade tão gritante em seu rosto que os olhos azuis de Dougie fizeram quase se esquecer do que ele estava falando. Ela respirou fundo, limpando a mente e se lembrando do que Dougie dissera antes e que a levara a contar tudo isso, em primeiro lugar.
— Eu estou vendendo o carro porque preciso de dinheiro. – anunciou o óbvio. – Quando Joanne foi hospitalizada, eu precisei usar uma boa parte das minhas economias para pagar o hospital, exames e medicamentos. Foi quase tudo embora, na verdade. Então, ela foi internada e o valor da clínica é maior do que o meu salário. Bom, era, já que não tenho mais emprego agora. – Ela deu de ombros, frustrada. – Não é como se tivessem muitas opções de clínicas assim por aqui, sabe? Então foi a minha única opção. A fazenda da vovó continua alugada, mas o dinheiro não era suficiente para cobrir essas despesas, meu financiamento da faculdade e o aluguel. Eu até cogitei voltar pra fazenda, mas seria loucura cuidar de tudo aquilo sozinha. Eu teria que sair da cafeteria para me dedicar ao lugar, e eu não podia fazer isso. Pelo menos não antes.
— Então você veio pra cá. – Dougie chutou, finalmente entendendo a maior parte de tudo o que estava acontecendo, de tudo o que vinha passando e escondendo dele esse tempo todo.
— Sim. Eu precisei sair da minha antiga casa na Eve Road, vir pra cá, dobrar meus turnos, abrir mão das minhas folgas e tentar fazer o máximo de apresentações que eu conseguisse. Mesmo se a manhã de hoje não tivesse acontecido e eu ainda estivesse empregada, ainda assim eu só teria como garantir o pagamento do meu financiamento e da clínica por, no máximo, dois meses. Então eu decidi colocar o carro a venda e é isso. – concluiu, respirando fundo. Ela não queria admitir isso, mas se sentia um pouco – muito – mais leve agora que tinha compartilhado aquilo com alguém. Mesmo que ela não quisesse ouvir nenhum comentário piedoso sobre sua situação, havia uma parte dela que sabia que ela não aguentaria carregar aquilo tudo sozinha por muito tempo.
Dougie também respirou fundo, tentando absorver tudo o que acabara de falar. Seu peito queimava e ele sentia uma vontade incontrolável de segurar em um abraço, porque ele sabia que ela estava uma bagunça por dentro e ele odiava isso. Odiava qualquer coisa que fizesse mal à . Ele sabia que a situação era complicada, ele sentiu isso desde o começo do dia, com os sinais sutis de , mas ele não esperava que fosse tão difícil assim. Era coisa demais e ele sabia que não tinha esse direito, mas também estava bravo com por ela esconder tudo aquilo por tanto tempo. O que era necessário para entender que aceitar ajuda não significava fraqueza? Que era exatamente isso que as pessoas faziam por quem elas amavam? Será que ela não confiava nele?
Ele se segurou para não bombardeá-la com seus pensamentos.
— E o que você pretende fazer agora?
Ela deu um sorrisinho.
— Eu vou dar um jeito, não se preocupe.
Dougie bufou, exausto.
... Por favor.
Ela fechou os olhos, lutando contra seu instinto de reafirmar que encontraria uma solução sozinha. Sentindo a cabeça girar, ela ignorou essa vontade, sentindo a voz estremecer quando admitiu a verdade.
— Eu não sei. – sentiu as lágrimas tornarem a descer por seu rosto e não fez nenhum esforço para segurá-las. Era para ser verdadeira, certo? Pois então que fosse daquele jeito. – Eu não faço ideia do que vou fazer, Doug, e é disso que eu tenho tanto medo.
Dougie segurou o rosto dela com as mãos, a obrigando a olhar em seus olhos. Ele limpou algumas lágrimas com os dedos, um carinho que fez algo se aquecer brevemente dentro de .
— Me deixa te ajudar, , por favor.
Ela fungou.
— Dougie...
— Você não precisa provar que é forte, nem pra mim, nem pra ninguém. Você é forte, . Nada pode mudar isso. Aceitar ajuda não vai te fazer mais fraca ou incapaz, só vai te deixar mais forte ainda. Ninguém consegue nada sozinho, sua vó mesmo dizia isso, lembra? Que precisávamos uns dos outros, que nós dois precisávamos um do outro para sobrevivermos. Eu sei que você faria isso por mim e eu quero fazer isso por você. Droga, , eu preciso fazer isso por você. Você não faz ideia do que eu tô sentindo agora, te vendo desse jeito e sendo incapaz de te ajudar. – Ele segurou o rosto dela com mais firmeza quando mais lágrimas começaram a cair, para fazê-la entender e também para se controlar, as emoções tomando conta de Dougie cada vez mais. – Não me deixa de fora, , por favor.
— Eu não quero te preocupar com um problema que não é seu, eu...
— Quando é que você vai entender que você é problema meu? Que tudo que te afeta também me afeta? Que não existe a menor possibilidade de eu ficar bem se você não estiver bem? Você pode pensar nisso como uma forma de me ajudar, se te fizer se sentir melhor.
riu, baixinho, balançando a cabeça em negação, e levou uma mão trêmula até a mão de Dougie, ainda em seu rosto. Ela sentia seu corpo todo arder, gritar, girar, tudo isso por conta das palavras de Dougie e, principalmente da mão dele em seu rosto, queimando sua pele de um jeito estranho que... Merda, se Dougie soubesse o efeito que ele tinha sobre ela, um efeito que nem ela mesma saberia explicar. Foi por isso que, antes que perdesse toda a coragem de ser tão transparente assim, falou, a voz falhando e saindo um pouco mais alta do que um sussurro:
— Você me perguntou por que eu não te deixava ouvir minhas músicas, porque eu fiquei tão brava por você ter mexido nas minhas coisas e qual era o problema. – Ela mordeu o lábio inferior, precisando desviar do olhar dele por alguns segundos para tentar buscar um pouquinho mais de coragem. O olhar dele a estava deixando sem fôlego. – O problema sempre foi você. Você é a única pessoa que realmente importa pra mim, sempre foi assim. Eu sei que eu não estava exatamente sozinha nos últimos anos depois que a vovó morreu, sua mãe sempre fez questão de estar presente e tudo mais, mas... – voltou a olhar para ele, sentindo que aquilo precisa ser dito olhando em seus olhos, por mais desconcertante que fosse. – Você sempre foi a única pessoa que eu queria por perto, Dougie. A pessoa em quem eu mais confio, que melhor me conhece, que eu mais amo. Mesmo distantes, você sempre continuou sendo o meu melhor amigo e o meu maior medo sempre foi te decepcionar. Você se tornou esse cara foda, tão talentoso, tão... você, que eu não estava pronta para isso ainda, sabe? Se você odiasse, eu saberia imediatamente e provavelmente nunca mais iria querer produzir nada. Me desculpe por ter sido tão idiota com você.
Dougie precisou de toda sua força para fazer as palavras saírem de sua boca, o coração tão acelerado que ele tinha certeza de que ela poderia ouvir seus batimentos.
— Não existe a menor possibilidade de eu não gostar de alguma coisa feita por você, . Eu amei cada palavra que li, cada verso e nota que escutei. Você é perfeita.
conseguia ver claramente nos olhos de Dougie que ele estava falando a verdade. Tão fácil de ler, sempre tão aberto para ela. Ela sorriu, genuinamente feliz como há muito tempo não se sentia.
— Agora eu sei disso.
A mão de Dougie que ainda estava em seu rosto esse tempo todo se virou, a palma dele se encontrando com a de , e ele entrelaçou os dedos dos dois, levando-os até sua boca e beijando ternamente os nós dos dedos dela. Ela arfou, surpresa, e aquela reação fez tudo dentro de Dougie se revirar.
— Você sempre vai ser a minha cantora favorita, minha dançarina favorita, minha pessoa favorita. Você é a pessoa mais talentosa e incrível desse mundo, mas também a mais idiota por duvidar disso, da sua capacidade. – Ele balançou a cabeça, achando dificuldade para encontrar as palavras certas, tudo dentro dele agitado demais enquanto ela ria novamente, as bochechas absurdamente coradas. – E não pense nem por um segundo que eu não senti a sua falta do mesmo jeito ou até mais. Ficar sem você sempre foi a pior parte disso tudo, acredite em mim.
— Eu acredito. Obrigada por acreditar em mim, também.
— Eu sempre vou. Eu te amo. – Ele sustentou o olhar de , sentindo as mãos suarem frio pela primeira vez em mais de vinte anos ao dizer aquilo.
— Eu também te amo. – respondeu de volta, o sorriso trêmulo tentando mascarar o que quer que fosse que a estava fazendo se sentir tão... confusa.
O olhar de Dougie sustentava o seu de uma forma que ela se sentiu presa, impossível de escapar dali. Ele sempre havia sido intenso demais, emocional demais, mas aquilo... aquilo estava fazendo a cabeça de girar, perdida, e ela se sentia caindo em um buraco que ela nunca percebeu ter se formado. Desde quando ele estava ali, esperando apenas que ela tropeçasse?
Seria hipocrisia da parte de dizer que ela nunca tinha olhado para Dougie de alguma outra forma. Havia acontecido algumas vezes durante a adolescência, quando ela deu seu primeiro beijo com um colega da escola e depois se pegou imaginando como teria sido se tivesse beijado Dougie. Depois, com o primeiro namorado, ela imaginava como seria se fosse ele no lugar do garoto. Quando perdeu a virgindade e foi uma merda, ela não pode deixar de pensar que talvez teria sido um pouquinho mais legal se tivesse acontecido com o melhor amigo. Ela não gostava dele, ou achava que não, mas sempre pensava que tudo seria melhor com Dougie, não importa o que fosse.
Depois de adultos, já tinha uma noção bem melhor de como as coisas funcionavam e não podia negar para si mesma o quão bonito e atraente Dougie havia se tornado. Qualquer mulher em sã consciência se sentiria sexualmente atraída por ele. Mas ele era seu melhor amigo e ela jamais colocaria qualquer atração boba acima da amizade que eles tinham. Dougie era a pessoa mais importante de sua vida e ela, de verdade, não queria nada dele além do que eles já tinham. Aquilo sempre seria suficiente.
Mas talvez ela já não tivesse mais tanta certeza disso, enquanto caia cada vez mais fundo naquele buraco, percebendo o olhar de Dougie vacilar para sua boca, sentindo seu corpo todo ficar imóvel.
Dougie sentia como se o ar estivesse carregado de energia elétrica. Ele não saberia dizer quando foi que o clima em volta dos dois mudou, mas, vendo os pelos finos do pescoço de arrepiados, ele sabia que não era o único que conseguia sentir o que quer que fosse que estivesse acontecendo ali. Se o ar estava mesmo carregado, ele poderia dizer que sua mão voltou para o rosto de por mera atração magnética, atraído como um imã.
Mas ele sabia que a explicação daquilo não era simplesmente científica. Quando fechou os olhos com o toque, arfando novamente, o som finalmente despertando algo nele que estava louco para entrar em cena, ele soube que aquilo era algo muito mais complexo, profundo e quente. Muito quente.
Dougie não tinha a menor dúvida do que queria naquele momento, e, se fosse honesto consigo mesmo, admitiria que era algo que queria fazer há muito tempo. sempre fora o centro de tudo para ele. A pessoa mais importante, a garota e mulher mais linda, sua melhor amiga. Ele sempre achou que fosse algo natural se sentir atraído por ela. Afinal, quem não se sentiria? Mas ele nunca pensou que fosse se sentir tão atraído assim, como estava naquele momento.
Ele mordeu o próprio lábio, seu olhar sendo chamado para a boca de , que estava levemente aberta enquanto ela respirava com dificuldade, um sinal claro de que ela estava se sentindo da mesma maneira que ele. Dougie queria aquilo. Queria aquela boca na sua, aquela respiração contra sua pele, queria .
... – Ele começou, sua voz soando profunda como ele nunca tinha ouvido antes. Por mais que ele conseguisse ver no olhar de que ela estava claramente tão desesperada quanto ele, Dougie ainda precisava confirmar. Precisava ouvi-la falar. – Eu quero te beijar.
O coração de parou. Ela não precisou pensar duas vezes antes de levar sua própria mão até a nuca de Dougie, fazendo os olhos do rapaz faiscarem com o contato.
— Então me beija, Dougie.
Se fosse uma marionete, ela poderia comparar o que sentiu quando os lábios de Dougie encontraram os dela ao ter todas suas cordas cortadas, se sentindo abruptamente livre, sem qualquer tipo de amarra.
Os dois permaneceram imóveis por alguns segundos, apenas sentindo um ao outro, tentando digerir aquela nova sensação que era tão boa, tão certa. Dougie sentiu que poderia viver naquele instante para sempre, mas ele precisava de mais.
A mão de Dougie que estava no rosto de foi parar na nuca da mulher, um pouco mais firme, e ele abriu ligeiramente sua boca, sentindo, finalmente, a respiração da garota contra sua pele. Puta que pariu. Quando abriu sua boca em resposta, permitindo que Dougie avançasse, tudo explodiu.
choramingou contra ele quando sentiu a língua de Dougie na sua, mergulhando em sua boca. Automaticamente, ela o puxou pela nuca, o fazendo arfar de uma forma deliciosa, o trazendo mais perto e se encostando no sofá com o corpo dele colado ao seu, não aceitando que houvesse qualquer distância entre os dois, enquanto ele fazia uma bagunça nos cabelos de .
O gosto de era a melhor coisa que Dougie já havia provado nessa vida. Ele nunca beijou como se estivesse faminto por isso, mas lá estava ele, como se tivesse se tornado sua única forma de se sustentar. não se sentia muito diferente, as mãos firmes agarradas aos cabelos e à manga da jaqueta de Dougie, enlouquecendo com todas aquelas sensações recém-descobertas.
Quando Dougie puxou o lábio inferior de entre seus dentes, ela sentiu que aquela posição já não favorecia mais a nenhum dos dois e, como se ele tivesse pensado a mesma coisa, ele a puxou pela cintura, ela se apoiando nos ombros dele e se movendo para se encaixar no colo de Dougie. A nova posição fez os dois precisarem parar para respirar, as testas coladas enquanto as respirações saíam aceleradas e urgentes, sentindo o atrito delicioso de Dougie embaixo dela através das calças de ambos, ele dando sinais de que estava sendo afetado com todo aquele contato. E muito.
— Eu não fazia ideia. – Dougie falou, a voz carregada enquanto observava ainda de olhos fechados, o rosto vermelho e os cabelos bagunçados, tentando controlar a respiração.
— Do que? – Ela perguntou.
— De que eu precisava tanto assim de você. – Ela abriu os olhos, encontrando o olhar de Dougie em chamas, a visão mais linda que ela já vira em sua vida. – Exatamente desse jeito.
Ele movimentou o quadril, iniciando um incêndio no meio das pernas de bem onde ela já conseguia sentir Dougie tão presente, tão duro, abaixo dela. fechou os olhos involuntariamente e soltou um gemido sôfrego, incapaz de se controlar.
— Eu também preciso de você, Dougie. Exatamente assim.
Ela devolveu a rebolada no colo dele e isso foi o suficiente para que ele a puxasse novamente, colando suas bocas com urgência. Segurando-a firme, ele se levantou com ela ainda em seu colo, as pernas de fechadas em torno do quadril dele, e caminhou com ela até a cama, a jogando em cima do colchão de uma forma nada delicada, o que fez os dois rirem em cumplicidade enquanto ambos tiravam suas próprias blusas, extasiados.
Precisavam um do outro, daquele jeito e de todos os outros possíveis.


🤘🏼🎤🤘🏼


havia passado a última hora se sentindo uma bagunça, com muita coisa gritando dentro de si ao mesmo tempo, mas agora ela só sentia uma calmaria deliciosa, acolhedora, e ela sabia que essa calmaria tinha nome, sobrenome e estava fazendo carinho em seus cabelos naquele exato momento. Ela não conseguia tirar o sorriso de seu rosto, sentindo os dedos de Dougie traçarem agora um caminho por suas costas descobertas, ela deitada em seu peitoral nu e ambos parcialmente enrolados nos lençóis da cama dela.
Quando Dougie desceu um pouco mais a mão pela lateral de seu corpo, propositalmente em uma área em que ele sabia que ela tinha cócegas, ela deu um tapinha em suas costelas, se contorcendo um pouco para rir.
— Eu adoro a sua risada. – Ele disse, a fazendo se virar para olhar para ele, os cotovelos apoiados na cama. Ele tentou não se distrair com a visão privilegiada que estava tendo dos seios dela, mas foi mais rápida em puxar o lençol para cima e se cobrir, as sobrancelhas arqueadas, divertida.
— Eu sabia que você era do tipo meloso depois do sexo, Poynter. – Ela provocou, um sorriso maldoso nos lábios.
— Só quando ele é razoavelmente bom. – Ele devolveu, imitando seu sorriso após dizer uma clara mentira. Dougie não tinha nem palavras para descrever o que havia acabado de acontecer, que tinha sido, com toda certeza, muito, mas muito melhor do que apenas razoável ou bom.
riu.
— Razoavelmente bom? Uau, se todos aqueles barulhos escandalosos que você estava fazendo eram por causa de um sexo razoavelmente bom, imagine só o escândalo que você deve fazer quando tem um sexo ótimo.
Dougie abriu a boca, indignado.
— Eu não faço escândalo!
passou a língua pelo lábio inferior, provocativa.
— Como um bebê chorando de fome, Poynter. Mas com uma boca muito mais suja. – Ela piscou e ele jogou a cabeça para trás, rindo, e depois a puxou para cima pela cintura, a fazendo ficar com o rosto na altura do seu.
— Que você gostou muito. – Ele falou, roubando um beijo dela.
riu contra sua boca.
— Não consigo argumentar contra isso. – Ela devolveu o beijo calmo, passando uma mão pelo maxilar delineado do rapaz com carinho.
Dougie suspirou com o toque, a sensação de que tudo estava em seu devido lugar o deixando um pouco tonto. Ele não poderia dizer que tudo o que tinha acabado de acontecer entre e ele parecia inacreditável porque, na realidade, tudo parecia tão óbvio, tão certo, tão natural. Ele se perguntava, na verdade, como tinha demorado tanto para acontecer. Mas agora que ele sabia como era a sensação de ter verdadeiramente em seus braços, por completo e de todas as formas, ele não queria perder aquilo.
— Me deixa cuidar de você, .
Ela refletiu sobre aquilo. Sobre deixar alguém cuidar dela, a ajudar, ficar ao seu lado. Não um alguém qualquer, mas Dougie. era uma pessoa independente por natureza e ela sabia que continuaria assim pelo resto de sua vida, tentando resolver sozinha suas coisas enquanto pudesse, mas, de repente, a ideia de ter uma pessoa ao seu lado já não era mais tão ruim assim. Sendo Dougie, então, era verdadeiramente muito tentadora. Mesmo assim...
— Dougie... – Ela começou, não querendo soar tão pesarosa, mas deixando transparecer as preocupações que tinha em apenas uma palavra.
— Só me deixa, por favor. Eu não vou conseguir ficar longe de você depois disso, e sei que você também não. Eu quero te ajudar porque eu me importo em te ver feliz e eu espero de verdade que você não me mande embora e eu só vá te ver daqui uns dois anos novamente. – Dougie não se importou em parecer emocionado, não tendo vergonha nenhuma em deixar saber o quanto ele queria aquilo, o quanto ele a queria, porque ele podia ver nos olhos de a mesma vontade. Ela só precisava deixar aquela parede cair.
suspirou.
— E o que você quer dizer com isso?
Dougie se ajeitou na cama, se encostando na cabeceira e puxando para dentro de seu abraço, sem perder o contato visual.
— Quero dizer que eu quero ficar do seu lado, mas de verdade. Te ajudar a resolver seus problemas aqui e te arrastar pra Londres comigo. Você nasceu para ser gigante, tão maior que essa cidade, que os seus problemas, , e eu quero ficar do seu lado enquanto você conquista tudo o que merece, porque eu sei que isso vai acontecer. Você só precisa se permitir.
piscou os olhos, um pouco surpresa com uma parte em específico da fala de Dougie.
— Londres?
Ele levou a mão que não estava abraçando até o rosto dela, afastando alguns fios de cabelo de sua testa.
— Vem comigo. – Ele disse, simplesmente.
— Dougie, isso é... – Ela tentou falar, mas as palavras fugiam de sua boca. Ela não sabia o que pensar.
— Eu não estou falando sobre nós dois, . Quer dizer, também, mas isso aqui – Ele balançou a mão, demonstrando os corpos dos dois juntos. – nós podemos lidar com calma, sem pressa e sem pressão. Entender melhor o que é e resolvermos juntos, como sempre fizemos. – não pode deixar de sorrir com isso, aliviada em saber que estava no mesmo pé que Dougie em relação a eles, a sensação de pensar nela e Dougie como um “nós” diferente do que havia sido em todos aqueles anos fazendo as famosas borboletas darem as caras no estômago dela. – Mas eu falo principalmente sobre você. Você foi a pessoa que mais me incentivou, , que me obrigou a fazer aquele teste, que me ensinou a tocar, que esteve do meu lado desde o começo. Me deixa ser essa pessoa para você também.
sentia suas mãos formigarem. Estava ali, a oportunidade que ela tanto queria, uma chance de tentar, de se permitir ir atrás do que ela realmente queria, do que ela realmente sonhava. E ela não ia mais negar aquilo. Então, antes que pensasse duas vezes sobre a decisão que já estava formada em seu coração antes mesmo que Dougie explicasse tudo aquilo, ela falou:
— Tudo bem.
Dougie arregalou os olhos ligeiramente, completamente surpreso com a falta de objeção por parte dela.
— O que? – Ele questionou, não querendo ser enganado pela sua própria imaginação.
abriu um sorriso enorme, a reação adorável de Dougie deixando tudo ainda melhor.
— Eu vou com você, Dougie, e vou deixar você cuidar de mim. Se você me deixar cuidar de você também.
Dougie balançou a cabeça, ainda incrédulo, mas logo deu uma risada, a sensação de alívio por ter finalmente aceito não somente sua ajuda, mas também ele próprio, o fazendo se sentir embriagado. Ele queria gargalhar, alto e compulsivamente.
— Eu deixo, porra. – Ele puxou pela cintura, trazendo o corpo dela para cima do seu, a fazendo rir enquanto roubava beijos dela entre as palavras. – Caralho, , eu deixo você fazer o que quiser comigo.
gargalhou contra a boca dele, mas ele logo tratou de aprofundar o beijo, calando sua boca e ela finalmente percebeu como estavam encaixados um no outro naquela posição. Dougie se afastou um pouquinho, um sorriso travesso brincando em seus lábios.
— Ainda bem que você aceitou, senão eu sairia daqui direto para o necrotério.
franziu a testa, confusa.
— Como assim?
— Eu mandei aquela música sua que eu estava ouvindo pro meu empresário.
arregalou os olhos, chocada.
— Você fez o que?! – Ela praticamente gritou, indignada.
Dougie abriu um sorriso inocente e angelical, os olhinhos parecendo duas fendas com o tamanho de seu sorriso.
— Mas tá tudo bem, né? Você aceitou a minha ajuda, então eu ia mandar para ele uma hora ou outra, eu só adiantei o processo porque sabia que você não ia se importar e ia me agradecer com mais alguns beijinhos. – Ele se explicou, a expressão parecendo a de uma criança tentando se justificar para a mãe quando era flagrada fazendo alguma coisa errada.
deu um tapa no peitoral de Dougie, que soltou um “ouch”.
— Eu quero te matar, Poynter!
Ele a puxou para perto novamente, sem perder o sorriso.
— Tudo bem, não tem problema, mas me mata de... – Ele sussurrou o final da frase do ouvido de , a fazendo desferir outro tapa no peito dele, mas dessa vez em meio a risadas.
— Você é inacreditável. – concluiu, balançando a cabeça.
— Obrigado.
Ele juntou a boca dos dois novamente, descendo as mãos para o quadril nu de e apertando com vontade o local, deixando bem claro que qualquer discussão ficaria para outra hora. arranhou a barriga dele, já nem se lembrando mais do que havia acontecido cinco segundos atrás.


🤘🏼🎤🤘🏼



3 anos depois


Os gritos vindos da plateia estavam insanos aquela noite e os quatro rapazes estavam se alimentando daquela energia, correndo pelo palco – menos Harry, que infelizmente ainda não havia descoberto uma maneira de fazer isso enquanto tocava bateria – como crianças. O que, ninguém tinha a menor dúvida, era exatamente o que eles eram.
— Nós temos algo muito especial para vocês hoje! – Danny anunciou enquanto limpava o suor de sua testa com uma toalha, a jogando para os fãs logo em seguida.
Os fãs gritaram em resposta, animados.
— E essa é uma surpresa que nós estávamos querendo fazer há algum tempo, mas que precisou ser adiada por alguns motivos que vamos deixar para o Dougie explicar. – Tom falou, o sorriso maroto em seu rosto indicando que ele estava se divertindo muito com toda aquela situação.
Dougie gargalhou, a risada tão amada pelas fãs aumentando a gritaria, ajeitando seu baixo preso ao seu corpo pela correia e indo até o microfone.
— Bom, sabem o que dizem, shit happens. – Ele deu de ombros, como se pudesse se livrar de toda a culpa pelo tal imprevisto. O que não poderia ser mais mentira.
— Acho que todos nós aqui temos propriedade para dizer que acontecem. – Tom respondeu, rindo no microfone. – Mas acho que ninguém melhor do que você para chamar nossos dois convidados especiais de hoje.
Os gritos ficaram consideravelmente mais altos, a maioria dos fãs entendendo rapidamente o que estava prestes a acontecer. Era uma coisa que todos estavam esperando muito para ver no palco desde que aquela música foi lançada.
— Obrigado, senhor Fletcher. – Dougie pegou uma das garrafas de água no chão, bebendo tranquila e dramaticamente enquanto os fãs gritavam em expectativa. Ele jogou a garrafa para a plateia e finalmente voltou ao microfone. Drama queen. – O2, como vocês estão hoje?! – O público gritou e Dougie balançou os braços, pedindo por mais. – Eu não estou escutando! Vocês estão animados, O2?! – Ele gritou para o microfone, levando a mão até o ouvido em forma de concha para “ouvir melhor” enquanto o público gritava mais uma vez, agora com Harry fazendo barulho também em sua bateria. – Yeah! Sabem, eu sempre soube que de inteligente o Tom só tinha a cara. Eu espero que nenhum dos nossos convidados especiais de hoje se ofenda com seu erro, Fletcha, porque são três, e não dois. – Os outros três rapazes gargalharam e Tom soltou um rápido pedido de desculpas. A essa altura, as fãs já estavam querendo subir no palco e bater em Poynter, para que ele parasse tanto de enrolar. – O2, eu quero que vocês recebam com toda essa energia os nossos convidados de hoje e eu espero que vocês gostem da nossa surpresa a ponto de continuarem comprando nossos álbuns e ingressos pelos próximos trinta anos, porque eu definitivamente não posso ficar desempregado agora! O2, façam barulho para e Mark Hoppus!
A O2 Arena foi abaixo quando e Mark entraram no grande palco ao som dos primeiros acordes e batidas de Growing Up, música do McFly com e Mark, lançada no último álbum da banda. Mark correu pelo palco com seu baixo, dono de uma fonte de energia inesgotável, e andou um pouco mais tranquilamente, mas ainda assim com uma presença de palco absurda, seu conhecido microfone preto brilhante em uma mão enquanto agitava o público com a outra.
Quando finalmente entrou no foco do canhão de iluminação, a plateia gritou como se todos tivessem levado um choque. vestia um par de Vans clássicos, pretos, um shorts jeans rasgado em algumas partes e, o mais importante, a peça que estava fazendo todo mundo gritar – e alguns até chorar – uma camiseta básica, preta, onde estava escrito “MCFLY’S #100 BABY”. Quando ficou de lado para encarar Dougie, rindo animada com a reação do público, todos puderam ver a barriga proeminente que estava sob a camiseta.
— Façam barulho, O2! – Mark gritou para o microfone antes de Danny começar a cantar.
A primeira performance ao vivo de Growing Up com todos os envolvidos estava marcada para dois meses atrás e iria acontecer em Wembley, na abertura daquela turnê. Era a oportunidade perfeita, com a agenda de e Mark finalmente batendo com a do McFly. Um dia antes do show, estava dentro do estúdio, acertando alguns detalhes da produção de seu segundo álbum, quando simplesmente desmaiou. Dougie saiu correndo do meio do ensaio para o show e foi até o hospital onde o empresário de sua noiva a havia levado, sendo recebido pela notícia de que estavam grávidos de dez semanas. Dougie precisou ser ameaçado pela equipe médica para parar de gritar e pular pelo quarto, provavelmente sendo ouvido pelo andar inteiro.
Então, lá estava , aos quatro meses e duas semanas de uma gestação com alguns riscos e sob os cuidados rigorosos do médico que a liberou somente para este show, ela muito mais contida do que costumava se apresentar, mas ainda assim dominando o lugar como ela adorava fazer, em cima de um palco, cantando uma de suas próprias músicas que conseguiu terminar com a ajuda de Dougie e gravar não somente com ele, mas também com seu maior ídolo.
Ela esperava muito que o Scooter, seu antigo chefe da cafeteria, estivesse vendo as notícias amanhã para ver onde as brincadeirinhas de a haviam levado.
There's not much we can do about growing old. – Dougie cantou e sorriu, como sempre fazia quando ouvia a voz dele em qualquer música. Ela sempre seria sua maior fã. Ela saiu de perto da bateria e voltou para a frente do palco, levando o público à loucura quando ficou ao lado de Dougie e cantou apontando diretamente para ele.
But plenty we can do about growing up. Cantem, O2! – A voz melódica de preencheu a arena, contrastando com todas aquelas vozes masculinas.
When all our parachutes have been shot full of bullet holes, the best that you can do is not give a fuck! – Ela, Dougie e Mark cantaram juntos e os dois saíram pulando e girando freneticamente, ela se limitando a andar por todo o espaço principal do palco, usando mais os braços em vez de dar seus adorados pulos e corridas, não podendo performar com todo o entusiasmo que estava sentindo.
Ainda assim, aquele momento não poderia ser mais perfeito.
Quando a música acabou, os gritos voltaram a tomar conta do local. A plateia estava em êxtase. Eles estavam em êxtase.
— Obrigada, O2! – gritou, indo até a frente do palco ao lado de Danny, com Mark ao seu lado, para agradecer. – Obrigada por nos receberem nessa noite! Eu estava morrendo de vontade de cantar essa música para vocês!
Tom, do lado direito do palco, gargalhou.
— Eu tenho certeza de que, nesse exato momento, ninguém dá a mínima para a música. Acho que ninguém nem prestou atenção no que estávamos cantando.
Dougie caminhou até ficar ao lado de , analisando a mulher de cima abaixo. Como se os fãs já não estivessem gritando o suficiente.
— Eu também me distraio muito fácil com mamães gostosas.
Todos gargalharam e revirou os olhos. Por Deus, Dougie.
— Obrigada por fazerem parte da noite de hoje, O2! – tornou a agradecer porque, realmente, tudo o que ela sentia naquele momento era gratidão, recebendo todo aquele carinho e apoio. Dougie a abraçou de lado, compartilhando os mesmos sentimentos, e eles deram as mãos por um breve momento antes de se separar para se curvar em agradecimento junto com Mark. Ovacionados, eles se viraram para sair pela lateral que haviam entrado.
— Façam barulho para o amor da minha vida! – Dougie gritou, causando um verdadeiro pandemônio entre os fãs, e depois gritou novamente: – E também façam barulho para aquela outra mulher, acho que o nome dela é ou algo assim, e que apareceu ontem na porta da minha casa dizendo que estava grávida, mas nós ainda vamos fazer o DNA.
mostrou o dedo do meio para ele antes de desaparecer da visão do público, que não parou de gritar um instante sequer. O olhar de Dougie ainda a acompanhava quando ela disse um “eu te amo” silencioso, os lábios se mexendo sem sair nenhum som, mas o sorriso que ele deu indicava que ele não somente havia entendido perfeitamente como também a amava.
Os primeiros acordes de Lies tomaram conta do lugar e, acariciando a própria barriga, um ato que já se tornara um hábito, não conseguia tirar o sorriso enorme de seu rosto. Quando ela sentiu o primeiro chute, um movimento leve vindo de dentro de seu corpo, ela riu, emocionada.
Mais uma criança que seria criada na música.


Fim



Nota da autora: Essa ficstape saiu no meio de um milhão de coisas complicadas e, por um momento, eu achei que não iria rolar e eu teria que desistir. Ainda bem que cheguei até aqui, porque me tornei cadelinha demais do Dougie e da Lisa e da história dos dois.
Queria deixar um agradecimento especial à Ju, que deu uma luz para essa história no meio da madrugada quando eu entrei em um beco sem saída. Mais uma vez você salvou uma fic minha, amiga! Também quero agradecer à Isa, por ter lido e surtado e me deixado confiante de que ela não estava tão ruim assim. Obrigada, meninas!
Espero que vocês gostem dessa short delicinha. Escrever com o Poynter, vulgo o homem da minha vida, é sempre um puta desafio. Obrigada por terem lido e estou preparada para receber elogios e pauladas nos comentários. Vejo vocês nas minhas outras histórias!



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