Finalizada Em: 10/08/2015

Capítulo Único

Caminhou apressada pela rua, sentindo o frio cortante bater em seu rosto e seus olhos lacrimejarem. Suas mãos estavam firmemente escondidas no bolso do casaco, mas sem suas luvas de lã ela ainda não sentia que estavam realmente protegidas.
Entrou na loja já ouvindo o burburinho das pessoas que, como ela, buscavam abrigo e café. A fila estava grande, mas nada que a fizesse ter vontade de caminhar mais um quarteirão até a outra loja. Tirou as mãos do bolso e esfregou uma na outra, mais uma vez desejando não ter esquecido as luvas em casa. Maldita troca de bolsas, sempre acabava esquecendo algo importante.
Quando percebeu que era a próxima na fila resolveu pegar logo a carteira na bolsa. Não gostava de ser uma daquelas pessoas que demoram tanto para fazer o pedido e pagar que fazem as pessoas ainda na fila rolarem os olhos. Ao tirar a carteira viu a agenda cair no chão.
- Droga. – Reclamou.
Abaixou-se para pegar a agenda, mas o rapaz atrás dela na fila foi mais rápido.
- Obrigada.
Desde pequena ela sempre teve mania de nunca prestar realmente atenção nas pessoas. Só as olhava nos olhos quando estava conversando, algo nesse gesto a deixava um tanto intimidada. No entanto, ao olhar rapidamente o rapaz atrás de si e agradecer sua gentileza, teve a impressão de conhecer o rosto dele de algum lugar.
A moça do caixa chamou o próximo cliente, ela então não teve muito tempo para pensar de onde poderia conhecer o rapaz.
Pediu um café com leite - o maior que eles tivessem, claro - e foi para o balcão de espera, onde três pessoas já se amontoavam, esperando seus nomes serem chamados.
Olhou pelo vidro e viu que começara a nevar novamente. Ela gostava de neve, achava que as ruas ficavam mais bonitas e fazia o final de janeiro ainda parecer final de Dezembro, bem na época de Natal.
Ouviu seu nome ser chamado e pegou o copo de café, sorrindo para a atendente. Subiu as escadas que davam para uma área da loja menos movimentada. Sentou em uma das mesas vazias e pegou a agenda novamente, querendo saber o que tinha programado para aquele dia.
Enquanto lia as anotações que havia feito no dia anterior, viu que o rapaz que a devolvera sua agenda também fora para o andar de cima. Ao passar por sua mesa ele sorriu, cortês. Dando uma olhada melhor nele ela percebeu que realmente o conhecia, mas por mais que tentasse não se lembrava de onde. Desejou que ele tivesse sentado à mesa em frente a sua, seria mais fácil lembrar-se de onde o conhecia se pudesse observar seu rosto com mais cuidado.
Resolveu deixar de lado a questão do estranho conhecido, precisava se apressar se quisesse chegar a tempo no trabalho. Com uma reunião de departamento para comandar, tinha que seguir a risca a programação que fizera na noite anterior.
Releu as notas que fizera na agenda uma última vez, antes de se levantar e se preparar para enfrentar mais um pouco de frio até a estação de trem.
Ao entrar no terminal ouviu a voz já conhecida que anunciava que seu trem partiria em cinco minutos. Entrou no vagão ainda vazio e sentou-se próxima a janela. Não demorou até o vagão encher, por sorte deixando-a sozinha em um banco para duas pessoas. Quando ouviu o anuncio de que o trem estava partindo, alguém sentou ao seu lado. Pelo jeito que a pessoa ofegava, estava claro que havia corrido e quase perdido o trem.
Por curiosidade, olhou para o lado, surpreendendo-se ao encontrar o mesmo rapaz da loja que pegara sua agenda do chão. Ele também pareceu surpreso por vê-la ali. Sorriram ao mesmo tempo, aquele tipo de sorriso que mostra que eles já compartilharam um momento assim antes e achavam engraçado que tal momento tivesse se repetido.
Agora, podendo observá-lo mais de perto e com mais atenção, ela tinha certeza de que o conhecia. Enquanto o trem se movimentava com velocidade, ela observou as paisagens sem muita atenção. Em sua mente ela tentava repassar rostos conhecidos, pessoas que conheceu na adolescência, no começo da maioridade, rostos de colegas de trabalho antigos, mas ainda assim não conseguia achar uma categoria para o rosto do rapaz ao seu lado.
Pelo canto do olho viu que ele mexia em seu celular, alheio ao mundo ao seu redor. Julgando pela aparência dele ela diria que ele teria a sua idade, ou talvez fosse um pouco mais velho. Parte de seu rosto estava coberta por uma barba rala e o cabelo estava penteado para trás.
O trem parou de se movimentar e ela ficou surpresa ao perceber que haviam chegado a sua estação. Os dois se levantaram ao mesmo tempo e ela começou a considerar a opção de ele estar a seguindo, mas não conseguia ver um real motivo para isso, além do mais aquela era a estação principal e assim como eles grande parte do vagão estava de pé, esperando as portas se abrirem.
Caminhou pela plataforma apinhada de gente e se dirigiu a saída mais próxima. O frio a atingiu novamente e fez com que ela se encolhesse. Apenas mais oito minutos de caminhada e poderia se abrigar no conforto de seu escritório.
Olhou para trás, em direção à saída da estação de trem, uma parte de si ainda tentando se certificar de que não estava mesmo sendo seguida. Ao ver que apenas um casal de adolescente caminhava atrás de si, riu, achando graça da própria paranoia.
Avistou o enorme prédio em que trabalhava e suspirou. Em dez minutos comandaria uma reunião e em seis horas enfrentaria outra longa reunião, dessa vez comandada pelos chefes da empresa.
Aquele seria um longo dia.

Abriu a porta do apartamento e já foi tirando o sapato. Como previra mais cedo, aquele dia parecia que nunca iria acabar. Abriu o closet de casacos e pendurou o que estava usando, aproveitando para guardar o sapato que sabia que usaria no dia seguinte.
Já no banheiro começou a preparar um banho de banheira, só assim iria conseguir relaxar. Acendeu algumas velas e colocou um pouco de vinho tinto em uma taça. Ela merecia.
Despiu-se sem pressa e entrou na banheira, a água morna fez com que seu corpo relaxasse em questão de segundos. Encostou a cabeça em uma toalha fofinha e dobrada e pegou o celular para colocar uma música baixa no ambiente.
Enquanto relaxava e aproveitava a calmaria, lembrou-se que naquele mesmo dia, um ano atrás, ela deveria estar se casando. Como as coisas haviam mudado. Se a perguntassem, há dois anos, como sua vida estaria agora, ela teria respondido algo como casada e a espera do primeiro filho. Agora, depois que toda a dor e mágoa haviam ficado pra trás, ela era capaz de ri dessa resposta.
Christopher e ela haviam se conhecido durante a faculdade. Ele vinha de uma família rica, já tinha um futuro definido, sabia que iria assumir o cargo do pai como dono de uma das maiores empresas de fabricação de material hospitalar da Europa. Namoraram por sete anos e foram noivos por mais três. Ela tinha certeza que ele era seu príncipe encantado... Até achá-lo na cama com sua melhor amiga. Agora os dois eram apenas passado.
Mudou-se para outra cidade, conseguiu o emprego que sempre sonhou e estava amando estar sozinha pela primeira vez em dez anos. Nunca de fato morara sozinha antes. Saiu de casa direto para a faculdade onde dividia um quarto com uma amiga, depois se mudara para o luxuoso apartamento de Christopher. Agora ela se perguntava como havia pensado que poderia ser feliz daquela forma. Christopher vivia viajando, deixando-a sozinha por até semanas naquele enorme apartamento. Se analisasse bem, perceberia que chegou a morar sozinha muitas vezes enquanto seu noivo estava supostamente trabalhando pesado para fazer merecer o cargo de seu pai.
Quando seus dedos já estavam completamente enrugados e seu corpo parecia prestes a ceder ao sono, resolveu que era hora de sair da banheira.
Já no quarto, vestiu uma calça de moletom e uma camisa antiga. Verificou se o aquecedor estava na temperatura correta e, quando viu que sim, se conformou que estava apenas friorenta naquele dia, quer dizer, mais do que o normal.
Esquentou o resto da comida chinesa que havia pedido na noite anterior e sentou no sofá, ligando a televisão e checando quais programas estavam gravados no aparelho. Quando achou um seriado que gostava, voltou sua atenção para o prato de comida na bandeja em seu colo.

Terminou de escovar os dentes e guardou a escova e a pasta. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo frouxo e voltou para o quarto. Pegou a agenda na bolsa e fez algumas anotações para o dia seguinte, nada de reuniões às oito da manhã, ainda bem.
Quando finalmente apagou a luz e deitou na cama, lembrou-se do estranho conhecido que havia encontrado mais cedo. Seus olhos tentaram achar formas na escuridão do quarto, mas com as cortinas totalmente fechadas, era impossível enxergar qualquer coisa.
Fechou os olhos, sentindo o sono já próximo, mas um flash fez com que ela sentasse rapidamente na cama.
- Não, não, não. Não pode ser.
Procurou pelo celular no criado mudo e quando a tela se acendeu ela perceber que deveria ter ligado a luz antes de checar o celular. Já com a claridade do abajur ao lado da cama, digitou rapidamente algo no celular. Quando o resultado de sua busca apareceu na tela ela levou a mão até a boca. Seria mesmo possível?
- . . Claro! Como não lembrei?
As fotos no celular eram de um garoto em seus vinte e poucos anos junto com seus amigos de banda. Mesmo depois de tanto anos a semelhança era clara. Lembrou o rosto do rapaz no metrô, coberto por uma barba rala, o cabelo arrumado, bem diferente de como usava quando era jovem. Como não o reconheceu? havia sido sua paixão platônica por tantos anos.
Pesquisou mais um pouco e acabou encontrando algumas fotos mais recentes dele. A data indicava que a foto havia sido tirada quase um ano antes. Era mesmo ele, o mesmo cara que pegara sua agenda no chão e sentara ao seu lado no metrô. Por um segundo desejou poder ligar para uma de suas amigas da adolescência, aquelas que também eram apaixonadas pela banda e colecionavam as revistas em que eles apareciam na capa, mas já era tarde e ela não tinha mais contato com uma boa parte daquelas garotas.
Ficou mais um tempo pesquisando sobre e o , apenas para descobrir que eles haviam se separado há uns cinco anos e dois deles estavam casados e com filhos. Segundo um site de fofoca, havia sido casado por seis anos, mas a união acabara em divórcio. Ponderou pesquisar onde ele estava morando, já que achava estranho encontrá-lo em uma cidade tão pequena quanto a que morava, mas percebeu que já passava da meia noite e decidiu deixar a pesquisa para outro dia.
Com a mente agitada, voltou a se deitar na cama, mas o sono custou a chegar. Várias memórias passaram como flash diante de seus olhos. Conseguiu se lembrar de uma boa parte das amigas daquela época e até de algumas músicas do . Mas então seu corpo cedeu ao cansaço e a escuridão a alcançou, antes que pudesse desejar encontrar novamente.
Durante toda a manhã do dia seguinte ela desejou que tivesse encontrado no metrô novamente. Chegou a espiar dentro de alguns vagões, esperando que ele já estivesse sentado em algum deles, mas teve que se contentar com uma mulher que ouvia música alta demais ao seu lado.
Quando teve uma folga no trabalho resolveu entrar uma rede social que ela não usava há algum tempo e procurar por algumas das amigas que havia se lembrado na noite anterior. Assim como ela, muitas não usavam mais o site e algumas outras haviam deletado suas contas. Voltou para o site de buscas e digitou as frases de uma música do que havia ficado em sua cabeça. Achou o link do videoclipe da música e colocou os fones de ouvido, pronta para dar um mergulho no passado.
Julian, seu assistente, entrou em sua sala, interrompendo sua sessão nostalgia. Talvez fosse para melhor, já estava na sexta música seguida e não conseguia parar de sorrir como uma idiota.
- Preciso da sua assinatura nesses papéis e depois a Lauren gostaria que você fosse até o escritório dela. - Julian informou.
- Certo. Obrigada.
Quando Julian fechou a porta novamente ela resolveu que bastava de por aquele dia. Assinou os papéis que estavam em sua mesa e a caminho da sala de Lauren, sua colega de diretoria, os deixou na mesa de Julian.
O resto do dia passou mais rápido do que ela gostaria. Morar sozinha também tinha suas desvantagens. Por vezes gostava de estar na companhia de seus colegas de trabalho, ter sempre alguém para conversar. Ao longo dos anos Julian havia virado mais que um assistente, era um amigo que ela gostava muito, assim como Lauren e várias outras garotas de seu departamento.
Saiu do prédio, já bem agasalhada e se despediu de alguns colegas que iriam para o lado oposto da estação de trem. O sol já começava a sumir no horizonte, a lua e as estrelas visíveis no céu alaranjado e ela agradeceu pelo frio ainda não estar insuportável.
Entrou na estação de trem já ouvindo que seu trem estava prestes a partir, por isso se apressou. Por causa do horário, muitas pessoas estavam por ali, fazendo com que ela precisasse pedir licença e desculpa a todo o momento. Viu que as portas do trem ainda estavam abertas e correu ainda mais. Quando finalmente passou pela porta quase deu de frente com um rapaz que também entrou apressado no trem.
- Desculpa! – Falou, sem ar.
- Desculpa também. – Uma voz respondeu, fazendo-a virar rapidamente e encontrar o rosto já conhecido de a encarando surpreso.
Os dois riram novamente, sem acreditar na coincidência daquele terceiro encontro.
- Oi. – Ele disse. – Parece que ultimamente a gente vem se encontrando bastante.
- É, parece que sim. – Concordou.
Abriu a boca para falar mais alguma coisa, mas no último segundo perdeu a coragem. Observou seu rosto mais uma vez e imaginou o que ela mesma faria nessa situação se ainda fosse uma adolescente e ainda fosse o amor de sua vida.
Percebeu que apontava para algo atrás dela e olhou para trás. Quando não encontrou nada, o olhou novamente, em dúvida.
riu. – Quer sentar?
Virando-se para trás novamente ela percebeu que havia dois assentos vazios.
- Ah, sim. Obrigada.
Os dois sentaram lado a lado e ela começou a pensar em tudo que havia descoberto nas últimas vinte e quatro horas. Ela estava mesmo sentada ao lado do cara que fazia seu coração bater mais forte na adolescência? E ela devia mesmo estar tão nervosa? Ela tinha trinta e cinco anos, não era mais uma adolescente e nem muito menos nutria uma paixão por .
Olhou rapidamente para o rapaz ao seu lado e viu que ele brincava com um molho de chaves em sua mão. Juntando toda a coragem que podia, finalmente resolveu forçar as palavras para fora de sua boca.
- No outro dia – Começou a falar, atraindo a atenção de . – No café, eu tive a impressão de que te conhecia de algum lugar.
arqueou as sobrancelhas e sorriu. – Sério?
- Demorou um tempo até eu conseguir lembrar exatamente como e de onde eu te conhecia, mas aí finalmente fiz uma visita ao passado e lembrei.
Ela não sabia como ele iria reagir, não sabia se ser reconhecido na rua era algo que ele gostava, mas resolveu arriscar assim mesmo.
- , certo?
Ele assentiu e estendeu a mão para ela. – .
- . – Sorriu e apertou a mão dele.
- Faz um tempo que ninguém me reconhece assim na rua.
- Desculpe, não quis incomodar.
Droga, pensou, sabia que deveria ter ficado calada.
- Não precisa se desculpar. – a olhou e sorriu. Por alguns segundos ele pareceu querer falar alguma coisa, mas então voltou a brincar com as chaves.
voltou seu olhar para a janela mordeu o lábio inferior. Por alguns segundos chegou a se sentir como uma adolescente novamente, mas agora o momento havia passado e silêncio entre eles a incomodava.
- Se você não tivesse falado comigo, – A voz de ao seu lado chamou sua atenção de volta para o vagão. – Eu teria falado com você.
Pega de surpresa pela declaração, ficou sem palavras por alguns instantes. Foi então que, encarando os olhos de , reparou que era mesmo verdade. De alguma forma ele parecia tão curioso sobre ela quanto ela se sentia em relação a ele.
- É, parece que alguém estava mesmo querendo que nos conhecêssemos. – Concordou.
Enquanto conversavam sobre amenidades, quase como se tentassem evitar perguntas pessoais que pudessem mudar muito o rumo da conversa, pensava no que suas velhas amigas diriam se pudesse contar sobre aquele encontro para elas. Tentou imaginar como ela mesma, aos quinze anos de idade, se portaria naquela conversa, quais resposta daria e como reagiria se o adolescente a olhasse com tanto interesse há vinte anos.
A voz feminina anunciou a estação mais perto de sua casa e ela lembrou que fora a mesma que entrara naquele primeiro dia, logo depois do encontro na cafeteria.
- Essa é a minha parada. – Comentou, desejando poder continuar a conversa.
- A minha também.
Levantaram-se em silêncio e saíram do trem caminhando lado a lado. colocou as mãos no bolso e apertou o casaco contra si. Quando chegaram a saída da estação eles se olharam, nenhum dos dois sabendo o que fazer.
- Você aceita tomar um café? – finalmente perguntou. – Se você já não tiver planos, claro.
- Não, não. – começou a falar, mas pela expressão de percebeu que ele havia entendido errado. – Não, quero dizer, sim, eu aceito tomar um café e não, eu não tenho outros planos.
Certo, talvez fosse exatamente aquilo que ela mesma diria aos quinze anos. Não poderia ter dado uma resposta menos estúpida?
- Então você trabalha na Berg. – retomou a conversa que havia parado no trem.
- Sim. Sou diretora do departamento de Marketing.
Os dois caminharam até a mesma cafeteria que haviam se encontrado pela primeira vez e agradeceu quando segurou a porta para que ela entrasse.
- Você ainda trabalha com música?
concordou. – Tenho uma pequena gravadora com um amigo.
Os dois fizeram seus pedidos e foram sentar em uma mesa no andar de cima quando a atendente falou que uma garçonete levaria o pedido até eles.
- Um dos outros garotos da banda?
- Garotos? Há algum tempo ninguém nos chama assim.
riu do comentário e percebeu que era verdade. Todos já estavam beirando os quarenta anos, não eram mais garotos há um bom tempo.
- Certo. Com os outros caras da banda?
- Não, não, com um amigo de infância.
- Você ainda tem contato com eles?
A garçonete chegou trazendo o pedido deles e os dois agradeceram. Quando ela se afastou balançou a cabeça.
- Claro, ainda somos grandes amigos. A única diferença é que moramos em cidades diferentes agora.
- Sabe – começou a falar e ficou pensativa por alguns segundos. – Eu nunca soube por que a banda terminou.
a observou por alguns segundos, parecendo formular uma resposta.
- Todos nos casamos, tivemos filhos, a banda acabou ficando em segundo plano por alguns anos, então quando nos reunimos novamente percebemos que queríamos coisas diferentes.
balançou a cabeça, mostrando que entendia o que havia acontecido. Tantas bandas acabavam daquela mesma forma, não era nada fora do comum.
- E você, por que deixou de ser fã da banda?
riu da expressão curiosa que ele demonstrava. – Não sei direito. Foi na época da faculdade. Eu comecei a estagiar, me afastei de algumas amigas, conheci o amor da minha vida e então a vida realmente começou a acontecer pra mim. Não há nenhuma razão especifica.
- O amor de sua vida? – repetiu.
cobriu o rosto com as mãos, só então percebendo que havia se referido a Christopher como o amor de sua vida. Há um bom tempo ela não pensava nele dessa forma.
- É, bem, naquela época eu achava mesmo que ele era. Nós namoramos por sete anos, noivamos por três, então eu o peguei na cama com a minha melhor amiga.
- Clichê. – respondeu casualmente, então os dois caíram na gargalhada.
- É realmente um clichê patético, essa era a minha vida até alguns anos atrás, uma droga de um clichê.
Enquanto conversavam finalmente percebeu a forma como eles estavam sentados, com os braços apoiados na mesa, o corpo inclinado pra frente como se estivessem tão interessados na conversa que precisassem chegar mais perto para ouvir um ao outro.
Aos trinta e cinco anos, depois de ser traída pelo cara que amava e finalmente ter conseguido se realizar na profissão, nada a preparou para a forma como se sentiria conversando com naquele café. Conversar com ele era como conversar com um amigo de infância, aquele que você não vê há anos e de repente encontra por acaso e a faz lembrar tudo que viveram juntos.
Ela sabia mais sobre a vida do que acreditar em amor a primeira vista. Ali, sentada na frente de e rindo como não fazia há anos, ela lembrou por que nutrira uma paixão platônica por ele tantos anos atrás. Era mesmo possível que aquele ainda fosse o mesmo cara que a fazia suspirar? A mesma voz que ela escutara tantas vezes no rádio e até em shows? Era incrível como o tempo havia o tratado bem. Já vira tantos rockstars decadentes que chegavam aos quarenta aparentando ter sessenta, mas ainda tinha um riso infantil e seus olhos se iluminavam quando ele achava algo realmente engraçado. Quanto mais ela o observava, mais lembrava-se dos detalhes que ela gostava nele, dos motivos que a levaram a investir tanto de seu tempo em apenas uma banda.
A conversa foi interrompida quando a garçonete os avisou que a loja iria fechar. olhou o relógio e ficou surpresa ao perceber que tanto tempo havia se passado desde que eles sentaram para comer.
Novamente eles estavam na rua fria, sem saber direito como se despedir e dar um fim aquela noite.
- O meu apartamento fica pra lá. – apontou para a esquerda.
- Eu te acompanho.
Antes que pudesse negar e dizer que não queria incomodá-lo, começou a caminhar.
No meio do caminho para o apartamento um casal de idosos passou por eles, fazendo sorrir.
- Você me perguntou mais cedo por que eu me mudei. – Ele disse, referindo-se a uma parte da conversa que tiveram no café.
concordou.
- Foi por isso. – Ele apontou o casal que se afastava. – Estava cansado do barulho, de ser sempre reconhecido por paparazzi, mesmo depois de tanto tempo. Esse lugar é como um refúgio pra mim. Aqui eu posso ser eu mesmo, sabe?
- Perfeitamente.
Algo na forma como ele justificava sua mudança fez com que ela percebesse que por mais que negasse, também havia se mudado para poder ser ela mesma. Depois do término com Christopher ela percebeu que precisava se refugiar, precisava de um lugar seguro onde pudesse organizar sua vida, se livrar da dor e do buraco que ele havia aberto em seu peito.
- Hum... Eu fico por aqui. – falou, apontando para seu prédio.
observou a fachada e suspirou, fazendo com que uma pequena nuvem de vapor saísse por sua boca. Ele balançou a cabeça e a olhou por alguns instantes. sorriu, sem saber direito como se despedir, sem saber se aquele era o fim iminente de uma noite inesquecível.
sorriu, sincero. - Foi bom te conhecer, .
- Foi bom te ver de novo, .
Com um pequeno aceno ela se afastou, tirando as chaves da bolsa e lutando contra as vozes em sua mente que dizia que toda aquela despedida estava errada, que aquilo não precisava ser um fim se eles não quisessem. Antes de entrar no prédio arriscar olhar uma última vez pra trás.
- ! – Chamou, vendo-o se virar e sorrir para ela. – Você quer... Não sei, subir, nós podemos...
Antes que pudesse completar a frase a alcançou e riu, aquele mesmo riso que ela ouvira tantas outras vezes e a fazia sorrir sozinha.
- Achei que você nunca perguntaria. – respondeu.
Então era isso, tudo que ela achava que sabia, todas as lições que a vida havia lhe ensinado, tudo que sentira até aquele momento estava errado. Aquilo, apenas aquele momento, parecia certo.
Se alguém lhe perguntasse há vinte anos com quem ela queria estar aos trinta e cinco, a resposta seria e ela nunca poderia imaginar a resposta para aquela pergunta, vinto anos depois, seria a mesma.
Talvez aquele não fosse mesmo fim. Talvez ela tivesse encontrado naquele café por alguma razão, algo maior do que ela era capaz de compreender. Talvez o seu final feliz fosse apenas o começo.


Fim.



Nota da autora: Oi, pessoal! Tudo bom? Espero que tenham gostado dessa short. Eu escrevi essa fanfic no ano passado e lembro de no final ter odiado o diálogo dela e por isso acabei desistindo de postá-la, mesmo já estando pronta. Olhando meus arquivos acabei encontrando ela sem querer e depois de reler e arrumar algumas coisinhas, fiquei satisfeita com o resultado e resolvi postá-la. Por favor, não deixe de dar sua opinião nos comentários abaixo. Beijão!





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