Única atualização: 20/03/2020

Capítulo Único

Afastei uma mecha de cabelo da frente do rosto quando uma brisa mais forte o soprou, cobrindo meus olhos. Meu olhar estava atento à corrida, que chegava na última volta. Meu irmão gostava de coisas extravagantes, e é claro que ele iria querer comemorar o aniversário em um autódromo, com direto a corrida nas Ferraris vermelhas que ele tinha conseguido emprestadas de patrocínio.
– Quem vai ganhar? – perguntou, voltando com os drinks que havia saído para buscar havia meia hora.
– Acho que o Leon. – Respondi, incerta se o carro dele era o número dois ou seis. – Ou Trevor.
Peguei a minha tequila Sunrise e dei um gole curtinho. Eu iria competir dali a pouco, então deixaria a bebida para depois. Eu tendia a ficar competitiva e estava especialmente inspirada por conta de quem competiria comigo. Olhei de soslaio para o lado, na direção de , que estava com os amigos perto do bar. Ele parecia entretido demais na conversa com Jenna para notar meu olhar, e isso me deixou com uma pontada de ciúmes.
– Ah, não faz isso. – gemeu.
– O quê? – Fiquei confusa.
– Não se apaixona pelo .
Revirei os olhos, virando de costas para o bar e me concentrando na corrida que tinha chegado ao fim. O número dois ganhou e, como eu previa, Leon que saiu dele com um sorriso vitorioso.
– Não se apaixonar por ele não é tão fácil quanto parece. – Murmurei, tomando outro gole da minha bebida.
– O que eu tinha na cabeça quando apresentei vocês? – Suspirou, encostando o queixo no meu ombro.
Eu ri, um pouco pelas cócegas quando seu queixou roçou no meu pescoço e também pela lamentação. e eu erámos amigas pela vida inteira, e foi uma surpresa quando ela e meu irmão começaram a namorar. ascendeu na carreira de piloto de Fórmula 1 e conheceu todos os tipos de pessoas, inclusive , que acabou se tornando um dos seus melhores amigos.
– Você achou que ele seria mais um dos meus casinhos. – Sorri, apoiando a cabeça na dela. – Ou eu, um dos casinhos dele.
Ela assentiu, me fazendo rir mais pelas cócegas.
– Exatamente o que eu pensei. – Choramingou, se afastando. – Você, uma de muitas. Ele, um dos vários.
– Eu também pensei. – Admiti.
Apoiei o quadril no parapeito da varanda, me dando uma visão boa do bar, mas ainda focando meu olhar em . continuava a conversar com Jenna mas parecia mais entediado do que antes, e isso quase me fez sorrir.
– E o que aconteceu? – me olhou com curiosidade. – Como foi que fez se apaixonar?
Tomei outro gole do drink para me manter ocupada e tentei pensar em uma resposta para a pergunta dela, porque eu me perguntava a mesma coisa. Eu não era a pessoa mais fácil de cair de amores – e não por resistência, mas por ninguém conseguir fisgar minha atenção por muito tempo. Quando apareceu, deduzi que seria a mesma coisa, mas não foi e ainda era estranho.
– Eu te aviso quando descobrir. – Sorri.
!
Olhei para o lado ao ouvir meu nome e uma das mulheres encarregadas da corrida acenava para mim, com a bandeirinha vermelha na mão. Olhei para , que recebia um beijo de Jenna no rosto, mesmo que seus olhos estivessem em mim. O incômodo dentro de mim cresceu, mas apenas virei para novamente.
– Deseje-me boa sorte, . – Brinquei.
– Você não precisa, amor. – Ela riu, soltando um beijo estalado.
– Ah, não é pra mim. – Mordi o canto da boca ao olhar de canto para , que se aproximava. – É para o meu adversário.
Os lindos olhos azuis dele adquiriram um ar desafiador e sua boca ergueu em um sorriso de canto, que era sua marca registrada e tinha o poder incrível de me deixar sem fôlego.
– Eu gosto da sua confiança, .
– Eu estou inspirada hoje. – Respondi, voltando a olhar para frente.
– Alguma coisa em particular te deixou assim?
Eu me segurei para não revirar os olhos. Ainda não conseguia dizer se fazia de propósito ou era simplesmente cego para notar quando eu estava com ciúmes.
– Nadinha.
Desci as escadas na frente, deslizando a mão no corrimão para me dar melhor apoio, já que eu tivera a estúpida ideia de ir de salto. estava praticamente colado atrás de mim. Sua mão deslizando pelo corrimão encostava na minha num roçar leve que eu preferi ignorar.
– Você sabe que eu odeio quando você fica assim. – Resmungou, apressando um passo para ficar ao meu lado na escada.
– E como eu estou? – Semicerrei os olhos, me fazendo de sonsa.
– Distante.
– Como você geralmente é? – Abri um sorriso zombeteiro. – Relaxa, só estou concentrada em não perder o foco na corrida.
– Conversar comigo tira seu foco fácil assim? – Provocou, inclinando o rosto para perto do meu.
Meu coração imediatamente acelerou e, com sorte, eu olhei para frente no exato momento que a escada acabava ou eu teria levado uma queda bem feia. Umedeci os lábios, parando na frente de .
– Não, a conversa não. – Umedeci os lábios, atraindo o olhar dele para a região.
– Então o quê? – deu um passo para frente, diminuindo drasticamente a já pouca distância entre nós. – O que eu faço que te faz perder o foco?
Balancei a cabeça, recuando dois passos para trás. Eu não ia jogar o jogo dele pois sabia que era o que ele queria, e eu não estava afim de lhe dar esse gostinho.
– Você descobre da próxima. – Dito isso, segui na frente mais uma vez.
As mulheres com macacões vermelhos com o símbolo da Ferrari estavam nos esperando quando pisamos na pista do autódromo. Tinha pouca gente ali embaixo, apenas e alguns amigos que já tinham participado.
– Maninha, você vai ficar no time dois. – gritou, se aproximando de nós dois. – Me orgulhe.
– E quem tá ganhando? – Coloquei as mãos na cintura.
– O dois, é claro. – Sorriu malicioso e me abraçou pelos ombros. – , não me leve a mal, mas espero que você esteja com o ego preparado para perder.
arqueou uma sobrancelha, olhando de para mim e de mim para .
– Ah, é? – Retrucou, focando no meu irmão. – Ela é uma péssima motorista, pelo que eu lembro.
Mostrei a língua como a advogada madura que eu era.
– Você dirigiu comigo uma vez, ! – Reclamei. – E eu estava com raiva no dia.
– É justamente por ser uma péssima motorista que ela vai ganhar a corrida. – bebeu um gole do whisky que ele segurava. – não tem medo de morrer.
– Ai, meu Deus. – Soltei uma risada. – Eu sou uma ótima motorista e é por isso que eu vou ganhar! Calem a boca e assistam.
Bati na mão de e empurrei seu braço, me desvencilhando dele. Fui em direção a um dos carros e sorri ao ouvir os gritos de incentivo do pessoal que estava assistindo ali embaixo. veio correndo também.
– O carro da direita é o seu. – Uma das organizadoras informou, me entregando a chave. – Boa sorte.
Sorri em agradecimento e corri até o meu carro. A capota estava abaixada, então tirei do bolso a liga de cabelo e o prendi em um rabo de cavalo alto para não ser incomodada durante o percurso de três voltas. Coloquei o óculos escuros que estava enganchado na minha blusa, encaixei o cinto de segurança e acenei em positivo para uma das mulheres da organização.
– Os dois estão prontos? – Uma delas gritou, se postando no meio com a bandeira que daria a largada.
e eu nos encaramos com a pergunta, mas rapidamente me voltei para a mulher. Ele estava com o óculos aviador que caía bem demais nele e era extremamente desconcertante.
– Sim. – Respondemos ao mesmo tempo.
– Vocês darão três voltas na pista e vence quem voltar primeiro ao ponto de partida. – Ela explicou rapidamente. – No três, podem começar.
Ligamos os motores enquanto ela voltava para o lado da pista e o rádio ligou também. Provavelmente, alguém já tinha conectado antes. We’ll be coming back, do Calvin Harris, começou a tocar, e eu achei totalmente apropriada para a situação. Mantive as mãos firmes no volante, o pé pronto para pisar com tudo no acelerador.
– 1... 2... 3! – A mulher falou no megafone, balançando a bandeira que dava partida.
Não hesitei em afundar o pé no acelerador e a guinada do carro fez meu coração gelar com a adrenalina. O barulho do vento abafou um pouco a música, mas eu estava tão animada que conseguia ouvir nitidamente na minha cabeça. Olhei para o lado rapidamente, só para me certificar de que não havia me acompanhado, mas ele tinha e estávamos na mesma linha.
– Você não vai levar essa, . – Murmurei.
Eu ainda estava em 260km/h, então pisei com mais força ainda, aumentando o velocímetro para 300km/h. Dessa vez, ficou para trás e eu sorri com gosto. Ele era cauteloso demais para essas coisas, o que era uma vantagem para mim. Sorri para o retrovisor ao ver o carro dele ficar para trás, mesmo que pouco.
Os nós dos meus dedos estavam brancos com a força que eu apertava o volante e, na hora da curva, os pneus cantaram na pista com um assovio que me deixou trêmula, mas nem por isso eu diminuí. A sensação era tão boa que renovou até o humor que eu tinha perdido ao ver flertando com Jenna.
A buzina do carro de me alertou para a ultrapassagem dele e eu fiquei contrariada ao ver que ele tinha mesmo passado a minha velocidade, o que era inaceitável. 350km/h era o limite daquela belezinha e, mesmo com uma parte consciente na minha mente me alertando que eu podia facilmente perder o controle naquela velocidade, eu acelerei o máximo.
Buzinei de volta para quando o ultrapassei e não desacelerei dessa vez. A primeira volta completada me deixou em êxtase, e as duas seguintes foram um borrão. Eu sentia minhas pernas fracas com a adrenalina que havia tomado conta de mim, e isso me fez questionar se o se sentia daquela forma em toda competição. Era incrível, apesar de parte de mim ficar morrendo de medo a cada curva.
ficou definitivamente para trás. Ele conseguiu me alcançar duas vezes, mas não por muito tempo. Desacelerei quando finalmente o ponto de chegada apareceu no meu campo de visão e consegui ouvir os gritos empolgados da minha torcida. Mesmo com o motor desligado, minhas mãos ainda tremiam, fixas no volante.
A outra Ferrari parou ao lado da minha e eu olhei para o motorista com um sorrisinho vitorioso. Não consegui desvendar a expressão de quando ele saiu do carro e veio até mim, apenas acompanhei seu percurso com o olhar.
– Seu irmão tinha razão. – Comentou, apoiando os braços na porta.
– Sobre eu ganhar? – Provoquei.
– Sobre você não ter medo de morrer. – Sorriu torto, abrindo a porta do carro para mim.
estendeu a mão para mim e eu sorri, tirando o cinto antes de segurar a mão dele para sair. Quando meus pés tocaram o chão, me puxou contra si com força, mas recuou comigo até minha bunda encostar na lateral do carro. Meu corpo inteiro arrepiou quando seus dedos acariciaram as minhas costas, expostas pela blusa ser cavada atrás.
– Mas eu aprendi a nunca te subestimar. – Murmurou, os lábios roçando nos meus.
– Você seria estúpido se subestimasse. – Sussurrei, levando as mãos até seus ombros.
– Seria. – Concordou, me beijando de vez.
Minhas mãos agarraram as mechas escuras do cabelo dele quando sua língua enroscou na minha. O aperto de no meu quadril aumentou e ele se aninhou perfeitamente contra mim, me pressionando contra o carro. O gosto na boca dele era de gin e tão tentador que eu me senti mais bêbada com isso do que com os três drinks que tomei.
– Ei, acaba esse agarramento agora! – Ouvi gritar.
Gemi de desgostoso quando me deu um selinho demorado e uma piscadinha enigmática antes de se afastar com as mãos erguidas em redenção para o meu irmão. Fuzilei , mas ele sorria com a maior inocência do mundo.
– Mais um ponto para nós, irmãzinha. – Ele estendeu a mão para um high five. – Eu sabia que você não ia me fazer passar vergonha.
– Provei que dirijo muito bem. – Sorri vitoriosa e bati na mão dele ao passar do seu lado.
– Dirigir bem ainda me parece um exagero. – se meteu.
– Eu concordo. – riu. – Desculpa, .
Coloquei as mãos na cintura, olhando com indignação para os amigos, que partilhavam do mesmo brilho diabólico no olhar. Eles queriam me ver irritada, eu tinha certeza.
– Meus sinceros votos de “foda-se” para vocês dois. – Falei com uma meiguice que era estranha demais para mim. – Vou encontrar alguém para apreciar minha desenvoltura. Adeus.
Passei pelo meio dos dois, empurrando seus ombros enquanto ia novamente para cima. Procurei rapidamente até encontrar , que estava no mesmo lugar na varanda mas acompanhada por três pessoas que eu conhecia bem demais.
– Não acredito que vocês perderam o meu show. – Reclamei, cruzando os braços como uma garota birrenta.
Dylan riu, me puxando pela cintura e dando um beijo na minha bochecha.
– O massacre no ? Não perderíamos por nada. – Disse, mantendo a mão no alto das minhas costas. – Você foi ótima.
Dylan era meu ex-“quase alguma coisa” e não perdia a chance de me elogiar, o que era fofo, porque ele sempre foi um amor e eu sabia que ele não fazia isso só para me pegar novamente.
– Sugiro que entrem no time dois se forem participar. – Sugeri. – Estamos ganhando.
– Bom saber. – falou, me entregando a minha bebida.
– Pura sorte, . – Jenna destilou seu veneno. – O te deixou ganhar porque ele é um amor.
– Oh, Jenna... – Sorri com desdém. – E você deduziu que ele é um amor nos cinco minutos em que vocês conversaram?
Ela fechou a cara, com os olhos verdes faiscando de irritação, mas isso só me fez sorrir mais ainda.
– Bom, pode ser. – Ela provocou, abrindo um sorriso cínico. – Mas ele não perdeu nem cinco minutos do tempo dele com você aqui.
O clima pesou ao redor, mas nem isso me abalou porque eu sabia exatamente o que ela queria e não estava afim de dar o gostinho de me irritar. Eu não sabia o motivo de Jenna adorar destilar veneno comigo em especial mas, depois de ter batido muita boca com ela, eu evitava ao máximo me estressar com aquele rosto harmonizado e o cabelo perfeito.
Mas antes que eu abrisse a boca para responder, um braço envolveu minha cintura, me puxando para trás, e minhas costas bateram contra o peito firme que eu sabia que era de .
– Seu irmão mandou te chamar para estourar o champanhe com o bolo. – murmurou no meu ouvido, aproveitando para beijar a parte sensível embaixo da minha orelha onde eu sempre sentia cócegas. – E você também, .
– Já vou. – Sorri, me encolhendo levemente, o que o fez rir.
Olhei diretamente para Jenna, me deliciando com a expressão de pura inveja em seu rosto. Terminei meu drink e coloquei na mesinha alta à qual estávamos em volta, me inclinando levemente na direção de Jenna, que estava perto o suficiente para que eu conseguisse falar em seu ouvido.
– Você teve seus cinco minutinhos mas, quando ele chama, é por mim e não por você. – Sussurrei em se ouvido, colocando uma mecha escura do cabelo dela atrás da orelha antes de me afastar.
Seu rosto adquiriu um tom de vermelho tão forte quanto o meu batom.
– Vamos lá. – Eu me voltei para e . – Estou morrendo por aquele bolo.

Segurei firme o lenço ao redor da minha cabeça, resmungando inúmeros xingamentos para por ele ter aberto a capota do conversível. Era irritante o quanto ele gostava de me irritar abrindo o carro sempre que ele o usava na estrada, o que era constante. O modelo era um clássico de 1970 do Chevy Malibu azul, que era tão bem cuidado que parecia mais novo do que o meu Land Rover recém comprado. Eu sabia que havia, pelo menos, outros dois carros na garagem dele, mas o Chevy continuava sendo seu favorito.
Com um braço apoiado na janela do carro, o óculos escuro e dois botões abertos da camisa, ele parecia um galã perfeito de filmes dos anos 80. A expressão era de quem estava focado na estrada, mas tinha o canto da boca erguido em um pequeno sorriso de satisfação pelas minhas reclamações. Era frustrante como não dava para ficar irritada.
– Esgotou seu dicionário de xingamentos? – Questionou, me olhando rapidamente. – Ficou tão quieta.
– Comecei a pensar em formas de te matar. – Retruquei, desviando o olhar para a estrada à nossa frente.
As mansões na beira do mar de Malibu começavam a dar vida no lugar da Pacific Coast Highway que eu pouco conhecia. tinha uma casa ali e resolveu que seria legal passarmos o fim de semana nela, o que realmente me deixou satisfeita. Um tempo longe de tudo, só com ele, parecia perfeito.
– É?! E vai me contar alguma das formas? – Seu tom era despreocupado.
– Ah, não. – Inclinei a cabeça para o lado, na direção dele. – Estragaria o elemento surpresa.
– Você parece muito experiente no assunto, .
– Eu não te contei?! Sou uma profissional quando se trata de partir corações e cometer crimes passionais. – Arqueei as sobrancelhas, tentando parecer intimidadora.
E então riu, fazendo o som gostoso da sua rara gargalhada passar por mim com o mesmo efeito que a minha música favorita me causaria. Uma sensação calorosa invadiu meu peito e eu quis gemer por saber o que isso significava.
– Bem que me avisaram para tomar cuidado com você. – Ele virou o rosto para mim mais uma vez. – Eu devia ter escutado.
– Ah, devia sim. – Assenti, o que fez uma mecha de cabelo se desprender do meu lenço.
Mas apenas voltou a atenção para a estrada e eu fiquei calada no resto do percurso. Passamos por inúmeras casas luxuosas, mansões imponentes e impecáveis, até que ele estacionou na frente de uma no fim da rua. A casa devia ser a mais distante do condomínio, construída no que parecia um penhasco, e ficava a pelo menos dois quilômetros da casa mais próxima.
– De quem você tava querendo se esconder quando comprou essa casa? – Perguntei, um tanto admirada com a beleza do lugar.
– Do mundo inteiro. – Respondeu calmamente.
saiu para pegar as coisas no porta-malas e eu fiz o mesmo. Não tínhamos levado muita coisa, apenas o suficiente para o final de semana, mas ainda consegui fazer com que ele me deixasse pegar a minha própria bolsa de viagem.
– Aqui é lindo. – Comentei.
A casa era similar à de Los Angeles: moderna, enorme e, em grande parte, composta de vidro e madeira. Pelas paredes panorâmicas do segundo andar, dava para ver uma escada que seguia para um terceiro andar que não existia, o que me levava a crer que era um terraço.
– Você diz isso porque não viu o outro lado; – pareceu satisfeito. – Vem, você vai gostar bem mais.
Segui com a curiosidade martelando na minha cabeça enquanto ele abria a porta e praticamente o empurrei para poder passar primeiro. Ele não fez objeção, apenas disse que levaria as coisas lá para cima quando eu larguei minha bolsa no chão e corri para explorar.
A casa tinha um conceito aberto que dava uma visão perfeita da cozinha, sala de estar e sala de jantar. Tudo era em tons de azul escuro, cinza e branco, absolutamente tudo. Um piano de cauda preto era o único contraste no canto da sala. As paredes eram como as do primeiro andar – vidro para todo canto – mas estavam fechadas por cortinas brancas que eu saí abrindo.
Ao puxar mais uma das cortinas, descobri exatamente o que havia falado. Uma porta dava direto para um jardim verde impecável e, mais à frente, a areia e o mar azul como se fizessem parte do quintal. Havia uma piscina de borda infinita direto para o penhasco, mas nada me ganhou como o oceano a apenas alguns metros.
Eu era apaixonada pela natureza e sabia muito bem o quanto o mar conseguia mexer comigo. Não pensei duas vezes antes de sair pelo jardim, deixando os saltos no meio do caminho até a areia quentinha pela qual Malibu era conhecida. Uma escadaria de pedras separava o jardim da praia e, quando finalmente afundei meus pés na areia, sorri.
Los Angeles tinha praias, é claro, mas eu nunca conseguia ir e não eram as melhores para relaxar. Essa parecia deserta no momento, e apenas alguns poucos barcos sapecavam o mar mais na frente. Fora isso, não parecia haver qualquer outra pessoa ali.
– Achou o que eu estava falando?
Olhei para trás com um sorriso quando ouvi a voz de . Ele estava um pouco antes das escadas que traziam até ali mas, quando virei, começou a caminhar calmamente até mim.
– Aqui é perfeito. – Suspirei, voltando minha atenção para frente. – Faz tanto tempo que vim a Malibu que acabei esquecendo a sensação.
– É incomparável, né? – Ele parou ao meu lado. – Com Los Angeles.
– Los Angeles é sempre agitada e barulhenta, mas aqui não – Olhei para . – Pelo menos, não hoje.
– Essa parte geralmente nunca é. – Explicou, olhando ao redor. – É por isso que eu gosto daqui.
Girei o corpo para ficar de frente para , analisando seu rosto e sua afirmação.
– Porque aqui é solitário como você. – Murmurei, sorrindo em provocação.
não sorriu com a brincadeira, nem retrucou com algum dos comentários espertos que ele era ótimo em fazer. Ele apenas me fitou com os intensos olhos azuis, que ficavam ainda mais claros com o sol da tarde iluminando-os, deixando-os ainda mais intimidadores e intensos. Eu acreditava que os olhos eram o espelho da alma, mas os de nunca deixavam transparecer nada além de uma melancolia constante, até quando ele estava se divertindo.
– Exato. – Virou o corpo para ficar de frente para mim também. – Solitário como eu.
Ele estendeu a mão para mim e, quando a segurei, me puxou de encontro a si, juntando sua boca na minha em um beijo bem mais calmo do que eu esperava. Seus dedos soltaram o lenço que ainda prendia meu cabelo e, logo, senti o peso das mechas soltarem nas minhas costas. Segurei o rosto dele entre as mãos, acariciando sua bochecha áspera por conta da barba por fazer.
– Quando eu estou com você, é quando eu não me sinto solitário, – Sussurrou contra minha boca. – Só quando eu estou com você.
E, simples assim, meu coração disparou como o carro de corrida que dirigimos dias antes. Minhas mãos trêmulas desceram até seus ombros e eu o agarrei com força, voltando a beijá-lo na tentativa de calar os meus sentimentos confusos que faziam uma festa na minha cabeça após a declaração que acabara de fazer.
Eu não conhecia muito sobre amor romântico, não sabia dizer se já tinha me apaixonado de verdade e até mesmo se o que eu sentia por era de fato amor mas, ali, era a coisa mais concreta que eu já havia sentido. Enquanto suas mãos acariciavam minha cintura, eu senti que o amava.
Eu senti que ele me amava da forma distorcida que ele dizia amar.
– Você não pode me dizer essas coisas se não quer que eu me apaixone, . – Murmurei contra os lábios dele, mordiscando o inferior.
Ele afastou o rosto o suficiente para me olhar melhor, os olhos cristalinos faiscando. Erguendo a mão até meu rosto, traçou o contorno do meu rosto com o indicador, me fazendo fechar os olhos com os arrepios que o carinho me fez. Seus dedos roçaram nos meus lábios até alcançarem meu queixo, onde ele segurou.
– Se apaixonar por mim é um erro que você é inteligente demais para cometer, . – Sua voz soou rouca, o que me fez encará-lo. – Eu amo cocaína, amo o que meu corpo faz com o seu, mas não sou bom para amar alguém.
– Eu sei, . – Sorri, encostando a testa na dele. – Eu não cobro seu amor, assim como você não cobra o meu. Eu só quero você. É suficiente para mim.
E uma parte de mim acreditava que era suficiente. Quando ele me fodia do jeito que me fazia gritar ou quando nós dois estávamos eufóricos e vivos depois de uma carreira de cocaína, aí eu acreditava que era suficiente. Teria que ser suficiente porque eu sabia que nunca teria mais que isso.
– É por isso que nos damos tão bem. – Ele beijou meu pescoço, aproveitando para lamber a área sensível que me fazia estremecer. – Nós somos iguais.
Segurei os ombros dele com mais força quando sua boca sugou o meu pescoço, esquentando meu sangue com as primeiras centelhas de desejo.
– “Seja qual for a matéria de que nossas almas são feitas, a minha e a dele são iguais”, disse Catherine. – Ofeguei, minha respiração começando a acelerar enquanto citava a frase. – A minha e a sua são iguais, .
E me beijou novamente mas, dessa vez, com força e desejo. Sem rodeios, me ergueu no colo e eu envolvi as pernas ao redor dele quando ele começou a subir novamente para a casa. Assim que entramos na sala, ele sentou no sofá comigo em seu colo, voltando a me beijar na mesma intensidade de antes.
Arfei quando ele agarrou meu cabelo com força e puxou minha cabeça para trás, podendo lamber meu pescoço melhor. Eu me remexi em seu colo para provocar, apertando minha virilha contra a dele, mas isso me atiçou tanto quanto a ele quando o volume apertado contra a calça dele roçou em mim. soltou um suspiro pesado antes de afastar o rosto do meu pescoço, me dando a chance de tirar sua camisa e atirar bem longe dali. Umedeci os lábios, descendo o olhar por seu peito bronzeado e deliciosamente esculpido.
– Nunca me canso dessa visão. – Falei, me abaixando para beijar seu pescoço.
sorriu com malícia e deslizou as mãos para minha bunda logo que minha língua deslizou por seu pescoço com uma lentidão torturante. Suas mãos fecharam nas minhas nádegas com força e rebolei contra ele, descendo a boca até seus ombros, beijando a extensão de um ombro ao outro. Sua pele estava quente e o perfume que eu amava estava impregnando a área.
Suas mãos escorregaram por minhas pernas, subindo o meu vestido durante o percurso torturante que acabou quando o tecido longo se amontoou na minha cintura e seus dedos desceram até o interior das minhas coxas. dedilhou minha virilha por cima da calcinha úmida com a habilidade de quem já tinha feito aquilo comigo mil vezes antes.
– Tão molhada, ... – Sua voz estava rouca, carregada de desejo e, só de ouvir, meu corpo estremeceu.
Afastando minha calcinha para o lado, deslizou dois dedos dentro de mim. Grunhi, enfiando as unhas em seus braços, e isso só pareceu incentivá-lo, pois seus dedos brincaram comigo, me fazendo soltar gemidos famintos por mais do que aquilo. A boca de desceu pelo meu colo, adentrando o decote nada modesto do meu vestido, só que aquilo não era suficiente para mim. Empurrando-o com os ombros, afastei seu rosto da minha pele e seus olhos confusos buscaram os meus. Sorrindo, desci o zíper lateral do vestido e o puxei com facilidade por cima da cabeça, revelando que, por baixo, eu não usava mais nada além da calcinha.
– Você tem noção do quanto acaba comigo? – umedeceu os lábios, descendo o olhar para o meu colo.
– Não. – Eu me fiz de desentendida. – Nenhum pouco.
Seu olhar escureceu e seus dedos dentro de mim giraram em um movimento que me fez revirar os olhos de prazer enquanto um gemido escapou, satisfazendo , que sorriu com malícia pela minha reação.
– Vou te mostrar. – Garantiu.
E ele mostrou, como sempre, o quanto ele conseguia facilmente me arrancar gemidos e me fazer implorar. Os meus sentimentos confusos foram facilmente deixados de lado conforme cada pedaço meu era explorado novamente por . Eu não precisava do seu amor enquanto tivesse ele.
Isso era suficiente para mim, me lembrei.

– Dança comigo.
Ergui uma sobrancelha, olhando com divertimento para quando ele me estendeu a mão. Provavelmente, o vinho do jantar havia o deixado tão tonto quanto eu pois, em todos os meses durante os quais estávamos naquela relação louca, nunca havíamos dançado música calma.
– Se você bebeu o suficiente para me chamar pra dançar, eu aceito. – Ri, segurando sua mão.
me puxou com um solavanco forte, grudando meu corpo no seu e ficando cara a cara comigo. Suas mãos desceram para minha cintura e eu coloquei as minhas ao redor do seu pescoço, apoiando meu queixo em seu ombro. O cheiro dele era tão bom que eu inspirei profundamente só pra guardar.
– Eu gosto dessa música. – Comentou baixinho. – E eu sou um ótimo dançarino, tinha que te mostrar.
La vie em rose tocava no home theater do terraço em uma versão tão calma de jazz que até relaxou meu corpo cansado pelo dia longo – e perfeito. gostava de jazz, dos clássicos. Meu irmão costumava apontar que tinha uma alma muito velha para alguém tão novo.
– Eu gosto também. – Murmurei, aninhando a cabeça na curva do pescoço dele. – E sim, você dança muito bem.
Para comprovar minhas palavras, me afastou e, segurando uma das minhas mãos, me fez girar ao meu redor antes de voltar a me puxar para perto, continuando a dançar calmamente de um lado para outro. A brisa era gostosa ali em cima, apesar do calor que estava fazendo naquela noite. Meus pés descalços roçavam de leve nos de , e a combinação com o chão gelado era gostosa demais.
– Não espalha. – Ele pediu. – Tento evitar o máximo que posso.
– Por quê? – Ri sem entender.
– Porque eu não gosto que saibam detalhes sobre mim. – Admitiu, traçando círculos no meu ombro com a ponta dos dedos. – Eu sei que parece estúpido, mas eu não gosto.
– Tudo bem por mim. – Inclinei a cabeça para trás, o encarando melhor. – É mais um segredo que eu vou guardar por você.
– Mais um? – Arqueou uma sobrancelha, interessado. – E tem mais?
– Eu sei segredos que você não me conta, .
– E quais são?
Talvez fosse o vinho me deixando sem filtro ou talvez eu só estivesse cansada de pisar em ovos ao falar certas coisas com ele, não sei. Mas eu queria dizer que eu sabia de todas as máscaras que ele usava para ocultar o seu verdadeiro eu.
– Que você não é tão horrível quanto gosta de pensar que é. – Falei, recebendo um riso cético.
– Ou talvez você goste de pensar que eu não sou tão horrível assim. – Retrucou, deslizando a mão pela lateral do meu corpo no ritmo calmo da música.
– Talvez. – Dei de ombros. – Mas gosto de achar que eu estou certa.
– Por quê? – Questionou. – Por que espera que eu esteja errado?
Sorri melancólica, levando a mão até seu rosto. A barba recém-feita deixou seu rostinho macio e lisinho como geralmente era. não gostava de parecer desleixado e até mesmo descalço. Ainda parecia perfeitamente pronto para um encontro de negócios com sua camisa de botões e calça de tecido azul escuro. Ocupei-me em acariciar sua bochecha, evitando a resposta.
– Por quê, ? – Insistiu, cobrindo a minha mão com a dele.
– Porque eu ficaria mais tranquila sabendo que sua convivência consigo mesmo não é tão horrível também. – Soltei.
franziu o cenho, ficando subitamente mais sério, e eu mordi a língua, achando que realmente falei demais.
– Eu lido bem com os meus demônios, . – Esboçou um sorriso zombeteiro. – Quanto a isso, fique tranquila.
Eu quis sorrir, mas não consegui. Eu sabia que não podia ajudá-lo sem que ele me contasse o que tinha acontecido para torná-lo assim, embora quisesse. O vazio no fundo de olhos tão lindos era simplesmente triste. Os tons de azul se misturavam com a melancolia, endurecendo seu olhar. Tornavam-se perfeitos tons de frieza.
– Podia lidar melhor se falasse sobre eles. – Arrisquei, sabendo que não levaria a nada.
Não era a primeira vez que eu tentava entrar no mundinho dele e também não seria a primeira cortada, mas era frustrante. Eu sabia que nunca ia conseguir fazer ele ficar melhor ou curá-lo de o que quer que tivesse acontecido em seu passado, mas eu me sentia impelida a tentar. Não tinha como fazer nada com seu temperamento estranho.
– Não quero. – O seu tom de voz deixou bem claro que aquele era um ponto final. – Não quero lidar com nada, . Só quero lidar com a vontade louca que eu tenho de te beijar sempre.
E dito isso, ele me fez esquecer completamente o assunto ao me beijar. Suas mãos agarram minha cintura com força, seu quadril pressionou o meu e minhas mãos se embrenharam nas ondas escuras do seu cabelo. Seu beijo me deixou mais tonta que o vinho, mas a sensação inebriante durou pouco.
– Tá tarde, você tá quase caindo de sono. – Murmurou, finalizando com um selinho. – Vamos te botar na cama, linda.
Ele praticamente me arrastou até o quarto e eu rapidamente troquei minha roupa por uma das camisolas de seda que e eu compramos antes da viagem, me largando na cama em seguida. Naquilo, tinha total razão: eu estava caindo de sono. Quando encostei a cabeça no travesseiro, meus olhos já começaram a pesar enquanto eu lutava para esperar, acordada, deitar comigo.
Vi flashs dele tirando a roupa e caminhando lentamente até a cama para deitar ao meu lado. Ele ficou de frente para mim, me observando pegar no sono mas, em algum momento, eu parei de distinguir o que era real ou o que era parte do meu sonho. Mesmo no escuro, o quarto ainda recebia uma quantidade de luz suficiente para que eu visse o movimento dos seus olhos abrindo e fechando.
– Por que você não me deixa entrar na sua vida? – A pergunta saiu sonolenta como eu, tão baixinha e rouca que talvez ele nem tivesse entendido.
Seus dedos percorreram a lateral do meu rosto, acariciando minha bochecha, afastando fios de cabelo e me deixando ainda mais sonolenta do que já estava.
– Porque você não vai ficar nela, .
Eu quis perguntar o porquê, tentei me fazer despertar, mas não consegui. A frase me atormentou durante meus sonhos, especialmente por eu não saber se havia sido real ou não.

Eu tinha perdido a conta de quantos drinks tinha tomado, mas pedi outro mesmo assim. Eu adorava gin e a bebida tinha cranberry, me fazendo gostar mais ainda. Era tão docinha que eu tinha ficado flutuando depois da terceira.
– Amiga, mais duas e você não vai trabalhar amanhã. – me alertou mas bebeu o próprio drink. – E eu preciso de alguém para me cobrir no escritório amanhã.
Olhei com indignação para ela.
– Se vira! É meu aniversário, eu posso e devo. – Sorri, levando a taça aos lábios e bebendo um gole apenas para assinalar o que disse.
– Qual a sensação de chegar aos vinte e cinco? – Ela perguntou. – Porque eu me senti à beira da terceira idade.
– Que exagero. – Soltei uma risada. – Eu gosto de aniversários, cada ano me deixa mais sábia e experiente.
– Você? – caiu na risada. – Só mais velha, mas nem experiente e muito menos sábia.
– Vai se foder, maninho. – Abri um sorriso falso pra ele. – Às vezes, é pesado saber que a sua irmã mais nova é mais evoluída que você, né?
– Não sei, nunca senti esse peso. – se fez de tonto. – Mas e aí... O não vem? Ele tá bem atrasado.
Mordi o interior da bochecha, nem um pouco afim de responder aquela pergunta. A verdade é que havia me evitado a semana inteira e, apesar de responder minhas mensagens, estava mais vago do que o normal, e aquilo tinha me feito ficar um tanto paranoica. Ele não tinha nem falado nada quando o convidei para sair e comemorar o meu aniversário.
– Provavelmente não. – Peguei a taça de Cosmopolitan. – Muito trabalho.
franziu a testa, desconfiada. Minha melhor amiga tinha um faro perfeito para descobrir mentiras e era uma maldição quando eu estava mentindo para ela.
– Ele não podia dar uma pausa nem para o seu aniversário? – perguntou.
– Eu não insisti, . – Forcei um sorriso.
Ela arqueou uma sobrancelha, mas fiz questão de ignorar.
– Deixem ela, pessoal. – Dylan interviu. – O não veio, mas ela não está mal acompanhada e muito menos sozinha.
– Né? Estou muito bem acompanhada. – Sorri para Dylan. – Aliás, tá racionando sua bebida? Você não é um adversário muito bom na brincadeira de quem vai com mais ressaca para o trabalho amanhã.
Dylan olhou para o próprio copo, que estava quase vazio, e depois acenou para um garçom.
– Ah, não, não vou te deixar levar a melhor. – Voltou a olhar para mim com um sorrisinho. – Foi distração, não vai acontecer novamente.
– Ótimo. – Ergui minha taça na direção dele.
Meu celular vibrou em cima da mesa e meus olhos buscaram a barra de notificações com um desespero com o qual eu não era acostumada mas, outra vez, não era . Eu não sabia porque ainda estava esperando algum sinal, e isso só me levava a pensar em mil coisas que uma parte de mim preferia evitar.
– Você ficou tão séria. – estalou os dedos na frente do meu rosto. – Foi porque eu perguntei do ?
Pisquei os cílios, focando nos olhos escuros do meu irmão, e neguei com a cabeça.
– Não. – Revirei os olhos.
Mas ele não acreditou em mim, assim como não tinha acreditado. Era extremamente irritante o quanto os dois conheciam sobre mim.
– Ele começou a ficar distante, não é? – insistiu. – Não disse se vinha ou não. Eu conheço isso, já vi acontecer com outras quando ele estava cansando.
! – reclamou.
Bufei, já irritada. Engoli o resto do meu drink em um gole e deixei o copo na mesinha antes de levantar abruptamente do banco e lançar um olhar gélido para os dois.
– Eu já disse que não estou assim pelo . – Menti mais uma vez. – Então, por favor, parem.
Dylan nos observava em silêncio, mas seu olhar quase brilhava e eu sabia que ele só estava esperando a deixa para se aproveitar da situação e da ausência do . Olhei para ele, abri um sorriso e estendi a mão.
– Dança comigo, Dylan?
Ele sorriu, aquele sorriso cheio de segundas intenções que costumava fazer a maioria das mulheres se derreter e que já tinha mexido comigo antes que fizesse todos os outros homens perderem a graça.
– Não precisa pedir duas vezes, linda.
Com um puxão leve na minha mão, Dylan me trouxe para perto e grudou o corpo nas minhas costas, me guiando até a pista de dança. O perfume dele era gostoso, mas eu só conseguia pensar em quem eu gostaria que estivesse ali no lugar dele. Chegando no meio da pista de dança, ele me virou para si, mantendo uma mão na minha cintura.
Fechei os olhos, esperando que a energia da musica trouxesse de volta minha animação, que se perdeu em algum momento entre o primeiro drink e a percepção de que não iria. O que disse também não ajudou a me deixar mais relaxada, e eu estava me sentindo uma completa idiota por isso. Eu não ficava assim por homens. Nunca. Ainda mais que e eu não tínhamos mais que um rolo casual.
– Ei, esquece ele, . – Dylan falou. – Se ele não tá aqui, não te merece.
Abri os olhos, encarando o rosto lindo do meu acompanhante, e me forcei a sorrir. Ele era, com certeza, um fofo. Por que eu não tinha escolhido ele no lugar do ? Seria mais fácil.
– Não é algo que eu consiga controlar, Dylan.
não consegue controlar o que sente dessa vez? – Arqueou uma sobrancelha, zombeteiro. – O que o te fez?
– Eu me pergunto a mesma coisa. – Acabei rindo. – Não faço ideia.
– Eu adoraria saber a receita. – Sua expressão suavizou em um sorriso de moleque. – Talvez eu usasse quando você resolvesse ver que você merece mais do que ele pode te dar.
Fiquei sem saber o que dizer, mas não precisei. Um garçom se aproximou de nós dois, trazendo uma bandeja que continha uma caixa de veludo preta que parecia o tamanho perfeito para um colar.
– Boa noite. – Ele nos cumprimentou, focando em mim. – ?
– Eu. – Franzi o cenho. – O que é isso?
– Um cara pediu para te entregar. – Explicou, estendendo a caixa para mim. – Disse que o bilhete está aí dentro.
– Obrigada. – Murmurei, mas não estava olhando para o garçom.
Minha atenção estava na caixa em minhas mãos porque eu sabia exatamente quem tinha mandado. Abri sem muitas cerimônias e o colar quase me deixou sem ar. Trabalhada em diamantes, a gargantilha era uma das mais lindas que eu já tinha visto, mas o post-it vermelho colado no fundo da tampa que chamou minha atenção.

Feliz aniversário, baby. Sinto muito – R


Meu sangue ferveu em um misto de indignação, raiva e tristeza. Então era isso? Ele estava me dando um pé na bunda com um colar de diamantes e um ‘sinto muito’? Não, não estava. Fechei o presente com força, me afastei de Dylan e ignorei suas perguntas. Olhei ao redor da boate, buscando na multidão. Eu sabia que ele ainda estava ali, o conhecia bastante para saber que ele ia esperar pela minha reação.
E então o avistei. Do outro lado da festa, escondido atrás de um grupo e quase imperceptível se eu não estivesse realmente o procurando. Quando percebeu meu olhar, virou as costas e se esgueirou no meio da multidão. Ele não ia sair dali tão fácil, não tinha o direito.
!
O grito de Dylan ficou para trás quando acelerei o passo para não perder de vista e empurrei quem quer que se metesse no meu caminho. Perto da entrada, a multidão começou a se dissipar e eu fui mais rápida ainda quando vi ele passar pela porta.
– Ei! – Gritei, passando pelos seguranças. – !
A raiva queimou dentro de mim a cada grito ignorado, mas não parei. A rua estava vazia além de nós dois e eu consegui o alcançar antes que ele chegasse ao carro. Puxei seu pulso, o fazendo parar onde estava. Ele hesitou antes de virar para mim.
. – Suspirou, ainda evitando olhar nos meus olhos. – Eu...
Empurrei a caixinha do colar contra seu peito com força, o empurrando contra a porta do carro também.
– Sente muito? – Soltei uma risada sem um pingo de graça. – É, você disse isso no bilhete.
– Eu não queria que isso acontecesse assim, . – Segurou a caixa do colar, baixando o olhar para ela. – Mas eu não conseguiria olhar na sua cara para falar.
– E por quê não? – Exigi, apontando o dedo no peito dele. – Eu sou mais uma de várias, não é? E agora você cansou.
umedeceu os lábios, finalmente olhando nos meus olhos. Suas íris azuis estavam ainda mais escuras e a constante nuvem indescritível continuava lá. Eu não achava que algum dia ele ficaria vulnerável a ponto de deixar alguém lê-lo só pelo olhar.
– Quando a gente começou com isso, nós dois estávamos na mesma página, . – Murmurou. – Mas agora... As coisas mudaram, você sabe. Eu não podia deixar isso ficar mais complicado do que já estava ficando.
– Eu sei que a burra foi eu, mas eu realmente pensei que, de algum jeito, você ainda valia a pena a tentativa. – Balancei a cabeça, encarando o céu pouco estrelado. – Porque você fez meu coração acelerar de uma forma que ninguém mais conseguiu. Quando você disse que só comigo não se sentia solitário, eu fui idiota o suficiente para acreditar.
Deixando a caixa em cima do capô do carro, puxou minha mão e eu nem tentei desviar quando ele me puxou mais para perto.
– Eu não menti quando disse aquilo. – Falou, acariciando minha mão com o polegar. – E você não foi burra quando acreditou. Eu que fui idiota em achar que ficar só com você seria suficiente. Eu adoraria conseguir te retribuir do jeito que você merece, , mas não é de mim.
Mordi o interior da bochecha, engolindo as verdades que eu já sabia e que preferi ignorar durante as últimas semanas. Ele nunca ia mudar. Nunca seria o que eu queria. Era incurável. Nunca conseguiria amar alguém – ou, pelo menos, não apenas uma.
– Eu sinto muito por te magoar. – Emendou, mas a frieza na sua voz deixava difícil de acreditar.
– Você é inquebrável, . – Sussurrei, recuando alguns passos para longe dele. – Mas eu não.
Virei de costas para ele, ignorando o sentimento gritante que me pedia para voltar e aceitar continuar nos termos que queria, mas a parte sã de mim – a maior parte – me fez continuar caminhando de volta para a boate.
Aquilo não seria o suficiente.
Nunca havia sido.


Fim.



Nota da autora: "Oláaa! Amo esse álbum e amo essa música, então tentei fazer meu melhor. Espero que tenham gostado tanto como eu. Beijos!"



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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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