Único
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O som do barulho do chuveiro fez com que acordasse. Sorriu ao ter a certeza que seu marido estava bem, salvo. Toda manhã quando ele saía para trabalhar seu coração se apertava, nunca sabia se iria vê-lo no dia seguinte, ou se receberia uma ligação de seu batalhão dizendo que houve um acidente.
Não demorou para que ele desligasse o chuveiro e aparecesse no quarto apenas de toalha. Uma visão que ela nunca cansaria de ter. se virou para cama para ver se ela já tinha acordado ou ainda dormia, piscou para a mulher ao notar que ela o encarava.
De propósito, ele soltou a toalha, deixando que caísse no chão e gargalhou gostoso ao ver os olhos de sua mulher descerem lentamente por seu corpo, parando em sua bunda. Segundo ela, seu maior atributo.
- Você parece uma tarada me olhando assim. - disse sorrindo, indo em direção a cama e se deitou com parte do corpo por cima da mulher, lhe dando um beijo. - Bom dia, meu amor.
- Bom dia, meu amor. - ela repetiu sorrindo, passando os braços pelos ombros musculosos do marido. - Algum arranhão? Machucado?
- Ontem não tivemos nenhum chamado de fogo, só um vazamento a gás.
- Ainda bem. - ela sorriu doce, acariciando sua barba.
- Você nunca vai deixar de se preocupar? - perguntou, deitando a cabeça sob o peito da mulher e fechou os olhos ao sentir os dedos dela passearem por seus cabelos. Não tinha nada no mundo que ele gostava mais, do que os cafunés de sua mulher.
- Achei que depois de cinco anos juntos você já estivesse acostumado. Eu nunca não vou me preocupar com você. - admitiu suspirando alto.
- E você, como está? Melhorou de ontem? - levantou a cabeça preocupado.
tinha lhe enviado uma mensagem no fim do dia anterior, dizendo que tivera que sair do trabalho mais cedo por estar se sentindo mal e eram em dias como aquele que pensava em como seria se tivesse uma profissão normal, uma que o levasse para casa todos os dias para que pudesse cuidar da mulher que mais amava na vida sempre que ela precisasse. Mas ser bombeiro era um sonho desde menino, como muitos, mas para ele um sonho que nunca o deixou. Nunca esqueceria seu primeiro dia de treinamento, seu primeiro dia como bombeiro e menos ainda quando fora promovido a Tenente, dois anos atrás. Mesmo ano em que se casara com sua namorada de três anos.
e se conheceram dentro do batalhão, ela era irmã de um de seus colegas e tinha sido interesse à primeira vista. E como não ser, quando ela apareceu feito um furacão no meio da noite, pernas à mostra e usando o vestido mais sexy que ele já tinha visto em toda sua vida, gritando com o irmão por ter esquecido de deixar a chave do apartamento que dividiam para ela? Bastou apenas um olhar para que ele a quisesse, mas a mulher, três anos mais nova, preferia curtir a vida. Ficaram amigos, mas não demorou para que tivessem uma noite de amor, uma que demorou muito para que pudesse esquecer. contudo, nunca esqueceu.
Demorou tanto que ele acreditou que nunca mais a teria. O bombeiro até chegou a namorar uma outra mulher por quase um ano, quando se mudou para a Califórnia, mas assim que seus olhos caíram novamente sob ela, todos seus sentimentos voltaram e para sua sorte, ela finalmente o viu.
Mais maduro, forte e bonito do que já era, não foi difícil para se encantar por novamente. E revê-lo, depois de um ano que quase a quebrou, foi como ser salva de um afogamento, quando seu pulmão já não tinha mais ar para respirar. Nele encontrou um amor como nenhum outro, encontrou seu melhor amigo, seu maior amor. E desde o primeiro encontro, ela nunca mais quis outro alguém.
- Um pouco, eu acabei nem jantando com medo de passar mal. Mas eu não sei o que pode ter sido, talvez alguma coisa no meu almoço não estava bem feito. - deu de ombros, se sentando na cama. - Eu vou passar na farmácia e comprar algum remédio antes de ir pro escritório, você quer que eu faça seu café da manhã?
- Você sabe que não precisa, eu sou bem grandinho. - sorriu, pressionando seus lábios mais uma vez aos dela - Eu até que consegui dormir bem essa noite. Vou aproveitar e terminar a varanda do Sr. Duncan que ele já está ficando ansioso com o fim da primavera chegando. - comentou sobre seu segundo emprego, fazendo pequenas obras pela região já que com seus horários no batalhão, acabava tendo bastante dias de folga.
- Vê se não volta tarde, eu vou passar no Ed's e comprar nossa janta, o que acha? - perguntou se espreguiçando e ao levantar da cama se virou para o marido e sorriu ao pegá-lo também encarando sua bunda, perfeitamente delineada pelo shorts de seda preto que usava. - Você parece um tarado me olhando assim. - repetiu a fala dele lhe mostrando a língua e soltou um gritinho ao sentir as mãos de seu marido a puxando novamente para a cama.
- Onde você pensa que vai, me provocando desse jeito? - subiu suas mãos pelo corpo da mulher, repousando sua mão no rosto dela e com o polegar delineou os lábios de .
- Trabalhar?! - perguntou inocente, mordendo o dedo dele e sorriu ao notar em como seus olhos se fixaram imediatamente em sua boca.
- Eu acho que hoje você vai chegar atrasada…
Voy a inventarme un mundo para ti no más
(Eu simplesmente vou inventar uma mundo para você)
Porque este es muy pequeño y no encontrarás
(Porque este é muito pequeno e você não encontrará)
Quién cura un corazón tan grande, si está mal herido
(Alguém para curar um coração tão grande, se está machucado)
passeava pela farmácia em busca de seu remédio e aproveitou para estocar alguns outros itens para ela e . Ao passar pela seção feminina se lembrou de seus seios doloridos e pegou dois pacotes de absorventes, mas ao se encaminhar para o caixa recebeu um aviso em seu celular sobre a reunião mensal que faziam todo dia cinco que a intrigou. Sua menstruação estava atrasada.
Em choque, ela voltou para a mesma seção e encarou os testes de gravidez curiosa. Deveria?
Ela e sempre conversavam sobre filhos, ele trazia o assunto a tona muito mais vezes do que ela. Era afinal, o seu maior sonho. O homem tinha tido uma infância difícil e prometera a si mesmo que quando fosse pai, faria tudo completamente diferente do seu. tinha certeza que ele seria o pai mais presente e babão do mundo, mas ela ainda queria conquistar algumas coisas antes de finalmente começarem a tentar. , embora chateado, entendia o lado da mulher e a apoiava, mas ela podia ver em seus olhos toda vez que uma criança passava, o quanto ele estava pronto para aquilo.
No fim da tarde, chegou em casa exausto. Como bombeiro, trabalhava 24 horas e folgava 48 horas, lhe dando tempo o suficiente para que tivesse um segundo emprego que ajudasse com as contas de casa e os muitos sonhos que tinham como casal. Estava faminto e não via a hora de devorar algum dos hambúrgueres de sua lanchonete favorita, por isso estranhou quando entrou em casa e encontrou o silêncio. Confuso, checou o celular e confirmou que tinha lido sim a mensagem de dizendo que já estava em casa, por isso que sua preocupação aumentou exponencialmente ao não ouvir um barulho sequer de lugar algum.
E se ela estivesse passando mal em algum lugar?
Preocupado, apressou os passos até o quarto deles e sentiu seu coração sair pela boca ao não vê-la ali também, pegou seu celular prestes a usá-lo, quando notou uma única mensagem de sua esposa.
"No jardim"
Muito mais calmo e com um sorriso no rosto, saiu pela porta dos fundos e franziu o cenho ao encontrar sentada no meio do jardim, sob o tecido xadrez que usavam para piqueniques.
- Eu esqueci alguma data? - perguntou preocupado, checando seu relógio para ver o dia. Não se lembrava de nada.
- Não. - deu uma risadinha, vendo o alívio aparecer no rosto de seu marido e levantou a cabeça, para aceitar seu beijo. - Na verdade hoje nós vamos criar uma nova data. - ela lhe respondeu atraindo sua curiosidade.
- Como assim? - perguntou ansioso, se sentando a frente dela, tirando as pesadas botas de segurança que usava.
- Por que você não abre? - ela encarou a caixa que tinha entre os dois e logo tratou de levantar a tampa.
resolveu fazer algo simples, sem câmeras ou luxos, seus olhos gravariam para sempre aquela memória e era tudo que ela precisava. De início, a mulher viu confusão no rosto do marido ao se deparar com um pequeno caminhão de bombeiro de brinquedo. Ele a encarou ainda mais perdido e ela o incentivou a olhar melhor e foi então que ele viu. As lágrimas que preencheram os olhos dele foram tão instantâneas que se arrependeu de não ter aceitado o maior desejo de seu marido muito antes, era exatamente por uma reação como aquela que ela tinha se apaixonado por ele.
Preso a pequena escada de incêndio, um teste que dizia pouco, mas significava muito.
"Grávida"
- Você tem certeza? - perguntou sério, seu rosto ainda em choque e entendeu a ambiguidade da pergunta.
- Tenho. - respondeu confiante e foi o que bastou para que não se segurasse mais.
Num segundo ela estava sentada, vendo seu marido descobrir que seu maior sonho estava prestes a ser realizado e no outro sentiu seu corpo bater contra a grama, ao ser abraçada por ele, que ria, chorava e repetia infinitamente "eu te amo, eu te amo, eu te amo".
8 Semanas
- Amor, se acalma! - sorriu doce para o marido, colocando a mão em seu joelho, para que ele parasse de batucar com o pé.
- Eu não consigo, já tive que segurar a ansiedade por duas semanas. Não sei porque não pudemos vir fazer o ultrassom logo no dia seguinte. - falou baixinho para que só a esposa ouvisse.
- A moça no telefone explicou! - disse rindo do marido. - Com seis semanas nem sempre é possível ver o batimento cardíaco, com oito é garantido…Se estiver tudo bem com o embrião, lembre-se disso. - o avisou, pois ainda tinha muito medo de alguma coisa não estar certa. Tinha lido muito a respeito e em todos os sites e fóruns que pesquisou havia o aviso que antes das 12 semanas, nada era garantido.
Desde o dia que teve seu teste positivo, e tiveram sua vida revirada do avesso, ela aprendendo a lidar com as novas sensações de seu corpo, os seios mais doloridos do que nunca e uma "cólica" esquisita que nunca passava. , ainda sem conseguir acreditar, mas ao mesmo tempo extasiado, entrou em uma crise de responsabilidade, planejando tudo que gostaria de fazer e resolver antes que seu filho nascesse.
A pressa com que ele se levantou, quando foram chamados pela técnica em ultrassom, fez quase todas as pessoas na sala de espera rirem. Com as mãos dadas a , o casal seguiu o funcionário até a sala de exame.
- Ah! Ali está o seu bebê!! - Sara, a técnica, disse ao casal, apontando o pequeno x da máquina em cima de uma mancha branca, envolta por um círculo escuro. - Conseguem ver o pequeno coração batendo? - perguntou apontando mais uma vez o aparelho e foi então que viu pela primeira vez o que seu amor por era capaz de fazer.
- É tão pequenino. - a mulher sentiu seus olhos marejarem e ao olhar para o marido, acabou não aguentando, ao vê-lo com as lágrimas caindo por seu rosto. - Amor… - o chamou e foi como se visse uma nova pessoa à sua frente, um que estava finalmente se tornando pai.
- Eu te amo tanto!! - selou seus lábios ao da esposa, rindo de alegria, embora não conseguisse esconder sua emoção.
Com as três pequenas fotos impressas de seu bebê em mãos, observava cada canto daquela foto e ainda não conseguia acreditar que ali estava o seu filho… Ou filha, como sempre dissera preferir.
- É incrível como eu já consigo me sentir apegada a algo que praticamente ainda não existe. - ela se virou para o marido, que dirigia.
- Eu sei que você está grávida, mas até então eu não tinha nenhuma certeza, algo concreto que eu pudesse ver, mas agora… Parece que tudo ficou mais real.
- Eu bem sei, tanta informação nova. Tem coisas que eu não sei se sabia, a diferença de embrião, feto, saco gestacional, placenta…Tudo isso acontecendo aqui, dentro de mim.
- Por isso que você estava sempre cansada, dormindo em qualquer lugar.
- Pra ser sincera estou cansada de novo, quando chegarmos em casa vou dormir um pouco.
- Tudo bem. - deu uma risadinha nasalada, concordando. - Quando vamos contar para nossas famílias?
- Eu não sei… - disse um pouco insegura - É claro que eu quero que tudo fique bem, mas não vamos nos precipitar antes das 12 semanas. Não quero criar muita esperança e de repente alguma coisa acontecer.
- Eu tenho certeza que vai dar tudo certo. - disse confiante, encarando .
- … - a mulher pediu cautelosa. Seu maior medo era como superar uma perda e mais ainda, como ficaria se algo acontecesse ao filho deles.
- Você tem razão. - o homem concordou ao ver como a esposa o olhara - Vamos ser otimistas, mas com o pé no chão.
- Obrigada.
12 Semanas
No pasarán los años ni la gravedad
(Os anos não passarão, nem a gravidade)
Y hasta los mentirosos dirán la verdad
(E até os mentirosos dirão a verdade)
Tendremos una casa en Marte en tiempo compartido
(Teremos uma casa de férias em Marte em copropriedade)
- Bom dia, casal!
- Bom dia, Dra. Ava. - cumprimentou a médica que cuidaria de toda sua gravidez.
- Como vocês estão? Ansiosos para os resultados do exame e ultrassom?
- Você nem imagina o quanto. - respondeu por eles, sua ansiedade nunca tinha estado tão em evidência como nas últimas quatro semanas. Até seus colegas de trabalho notaram que tinha algo diferente com ele. Seu cunhado e melhor amigo, chegou até a ligar para a irmã e perguntar se estava tudo bem entre eles.
- Cansada. - respondeu, suspirando fundo, fazendo os outros dois rirem. - Mas bem melhor agora durante essa última semana que passou, posso até ver uma pequena barriga querendo aparecer.
- É normal depois que a placenta começa a cuidar de tudo aí dentro, que os sintomas melhorem. O seu útero ainda vai continuar a crescer, mas se sentir algo além do normal, sabe que pode me ligar a qualquer instante.
- Sei sim, Doutora, obrigada.
- E não esqueça de descansar também, seu corpo está trabalhando dobrado.
- Ah, pode ter certeza que ela está descansando. - respondeu por . - Já perdi a conta das vezes que encontrei ela dormindo em algum canto da casa, a qualquer hora do dia. - achou importante adicionar.
- Ei! - a mulher resmungou brincalhona, mas a verdade era que se sentia muito mais cansada do que o normal. Já era frequente as vezes em que passava a hora do almoço tirando um cochilo dentro do carro.
Assim que a consulta terminou, o casal seguiu com a Doutora para a sala de ultrassom. Com já deitada e segurando em sua mão ao seu lado, a médica e a técnica de ultrassom iniciaram o exame, o que foi bem vindo para a mulher, além da ansiedade, estava morrendo de vontade de ir ao banheiro, do tanto de água que tomou para fazer o exame.
Por alguns segundos, as duas profissionais ficaram em silêncio, preocupando o casal, mas bastou a Dra. Ava se levantar para ligar a TV para que ambos respirassem aliviados.
- Acho que teremos problemas em medir esse pequeno hoje, ele não para de se mexer. - a médica anunciou animada e e novamente não conseguiram conter a emoção ao ver ali na tela, um bebê formadinho, se mexendo como nunca.
- Meu Deus! Ele é...Perfeito! - encarava o monitor chocada - Pelos apps que baixamos sabíamos que ele…Ou ela, já estaria assim, mas ver o nosso bebê, é muito diferente.
- Olha, olha, ele levantou o bracinho. - comentou animado, se levantando, sem acreditar no que via.
- Só para confirmar, vocês realmente não querem saber o sexo do bebê hoje, correto? - Dra. Ava perguntou, enquanto a técnica fazia as medições.
- Ainda não, estamos pensando se vamos fazer uma festa revelação para nossas famílias ou se vamos esperar até o parto. - respondeu, vendo concordar.
- Perfeito, pelo ultrassom ainda é difícil de ver alguma coisa, mas eu tenho aqui os resultados do seu NACE Plus.
- E o que eles dizem? - o casal perguntou ansioso sobre o exame que ajudava a detectar qualquer problema com o feto.
- As notícias são duplamente boas. - ela anunciou os fazendo sorrir - A Translucência Nucal está abaixo de 25mm e o exame apontou risco mínimo para quaisquer alterações cromossômicas. - completou, entregando ao papai de primeira viagem, os resultados do exame.
- Por que você diz risco mínimo? - se aprontou em perguntar, abrindo o envelope. - Tem alguma chance do exame estar errado?
- Sempre tem, mas esse teste detecta 99,9% dos fetos, é uma chance muito mínima de vocês serem o 0,01%. É muito raro quando o resultado aponta chances mínimas, do bebê nascer com Síndrome de Down, por exemplo. É claro que não posso prometer nada, mas diria para ficarem tranquilos.
- Muito obrigado, Doutora. - se aprontou em agradecer, se aproximando de .
Após o fim da longa consulta, e seguiram para o estacionamento completamente extasiados, ainda sem conseguir acreditar na felicidade que os envolvia. Antes de entrarem no carro, puxou sua esposa para um abraço.
- Eu sempre soube que me apaixonei por você naquele dia que você entrou gritando com o Sebastian no batalhão, sem se importar com quem estivesse lá. Mas se eu te dissesse que estou me apaixonado de novo por você, você acreditaria em mim?
- Acredito. - a mulher respondeu sorrindo, olhando para cima, para poder olhar em seus olhos - Porque eu me sinto igual, eu acho que nunca te amei tanto quanto agora.
- Eu acho então que chegou a hora. - apertou o abraço na esposa, quando ela franziu o cenho confusa.
- Que hora?
- Que você finalmente confessa que se arrependeu de me dar o maior fora depois daquela noite que tivemos. - pediu já rindo, a beijando.
- Eu poderia, mas você sabe que aquela não estava pronta para você, eu teria te machucado e mesmo naquela época eu sabia que nunca conseguiria fazer isso com você. Você sabia que foi o Seb que pediu para eu me afastar?
- Não? - o homem franziu o cenho com a confissão tardia.
- Depois daquela noite, ele me deu a maior bronca e disse que eu podia brincar com os sentimentos de quem fosse, menos os seus. Por isso ignorei suas mensagens… Eu te falei, antes mesmo de eu me apaixonar por você, meu irmão já te amava. Não me surpreendi em nada quando ele disse que você tava mudando pro meu antigo quarto.
- Sua família sempre me tratou como se eu fosse parte dela.
- Lembra a felicidade que eles ficaram quando começamos a namorar? - o relembrou entrando no carro e fez o mesmo.
- Seu pai disse que se eu não desse jeito em você, ninguém mais dava. - gargalhou, nostálgico com a lembrança.
- Ei, eu vou matar meu pai. - a mulher respondeu também rindo e se virou para o marido, entrelaçando seus dedos - Era destino a gente ficar junto.
- Disso, eu tenho certeza.
Naquela tarde, mais tranquilos e relaxados do que semanas atrás, o casal caminhou junto para a casa de Sebastian, irmão de e melhor amigo de , para contar as boas notícias. Desde o início sabiam que ele seria a primeira a pessoa a saber, antes mesmo de seus pais. O fato de morarem na mesma rua, simplificou a decisão.
Elisa, esposa de Sebastian, abriu a porta surpresa e logo franziu o cenho.
- O que vocês estão fazendo aqui? - perguntou estranhando o horário, naquela hora ainda estava no escritório normalmente.
- Que forma de receber sua cunhada! - resmungou, dando um beijo no rosto da morena e entrou sem muitas explicações. imitou o ato e deu de ombros, como se fingisse não saber porque estavam ali. - Eu tirei o dia de folga hoje pra ficar com o , só que cansamos de olhar pra cara um do outro e viemos visitar vocês. - sorriu inocente e Elisa decidiu acreditar.
- Bom saber que sentiram nossa falta. - Elli rolou os olhos, dando risada. - Eu estou corrigindo lições, enquanto espero meu bolo ficar pronto. O Seb está lá atrás na oficina. - a mulher avisou , que foi atrás do cunhado.
- Como estão as coisas? - perguntou, vendo a mesa da sala de jantar lotada de cadernos.
- Cansativas! - Elisa suspirou fundo. - Essas crianças vão me fazer infartar antes dos 30.
- As mesmas crianças que te fazem chorar todo dia das professoras? - deu uma risadinha da mulher, sabia como ela apenas falava aquilo da boca pra fora. Amava sua profissão.
Sebastian conheceu Elisa em um dia que o seu batalhão foi convidado pela escola que ela trabalhava para dar uma mini palestra para as crianças de sua sala. Não demorou para a mulher se encantar pelo bombeiro, seu jeito natural com seus alunos logo chamou sua atenção. Ele as fez gargalhar do começo ao fim e no final ainda deixou que todos colocassem seu capacete. Mas, mesmo interessados um no outro, naquele dia, nenhum dos dois teve a coragem de tentar alguma coisa.
O segundo encontrou aconteceu apenas duas semanas depois, quando , cansado de ouvir Sebastian falar da mulher, aproveitou que o batalhão estava tranquilo, para aparecer na frente da escola no final do dia em seu caminhão. Aquilo fora tudo que os dois precisavam para marcar um encontro e após dois anos de namoro, estavam prestes a comemorar um ano de casados.
- Eiii! - Sebastian apareceu todo sujo na sala com , dando um beijo na irmã e outro em sua esposa - Que surpresa vocês aparecerem do nada, está tudo bem?
- Está sim e você, trabalhando no que agora?
- Minha moto. - deu de ombros, tirando um rolar de olhos de todos no ambiente - Falta pouco dessa vez, eu juro.
- Fala a verdade, você só conserta carros para ter dinheiro suficiente pra remontar essa sua moto. - zombou do irmão e recebeu um pano todo sujo de volta na cara, fazendo com que seu marido gargalhasse alto.
- É mais ou menos isso, alguém aqui ia me matar se eu continuasse a usar nossas economias toda vez que eu encontrasse mais uma peça para ela. - confessou, sorrindo para Elli.
Sebastian era apaixonado por motos antigas e toda sua família sabia disso, desde criança ele tinha o sonho de ter uma Ariel Cyclone 650, mas nenhuma esperança de um dia realizá-lo. Fora só quando atenderam um chamado de incêndio, na fazenda de um senhor acumulador que ele mal acreditou quando seus olhos encontraram no meio do ferro velho a carcaça praticamente toda enferrujada, de seu maior objeto de desejo. Agradecido por ter sido salvo, Sebastian ganhara os restos da moto e desde então passava horas na internet a procura de peças originais.
- Alguém vai querer um pedaço? - Elisa perguntou ao tirar o bolo do forno e deu risada ao se virar para três braços levantados - Não sei nem porque pergunto.
- Eu faço o café. - se aprontou em levantar, mas pediu que ela voltasse a se sentar e levantou em seu lugar, fazendo com que Sebastian a encarasse duvidoso.
- Por que você não foi trabalhar? - se virou pra irmã preocupado.
- Quando eu vi os horários de vocês no mês que vem, percebi que quase não teremos um final de semana juntos. - explicou dando de ombros e viu o homem parecer acreditar. observava a cena sorrindo.
- Nós estávamos em casa e acabamos tendo uma dúvida na verdade. Como não conseguimos chegar a uma conclusão, decidimos vir perguntar a vocês. - emendou entregando a bebida para todos e colocou a de Elisa onde ela se sentaria.
- Perguntar, o quê? - a mulher perguntou genuinamente curiosa, se sentando com eles.
- Bem… - olhou para que a incentivou a continuar. - A gente gostaria de saber como vocês se sentem em serem chamados de titio e titia.
- O… quê?! - Sebastian os encarou confuso e Elisa estava do mesmo jeito.
- Aqui. - chamou a atenção deles para ele, mostrando o ultrassom em sua mão.
- Nós vamos ter um bebê! - soltou as palavras, dando o último empurrão para que o casal a sua frente assimilasse os fatos.
- Eu não acredito!! - Elisa exclamou animada se levantando imediatamente para abraçar que estava mais próximo dela. Sebastian ainda continuava sentado, seus olhos cheios de lágrimas.
- Isso é verdade? - o homem perguntou a irmã, levando os olhos pra sua barriga.
- É sim! - respondeu se levantando e mesmo não tendo nada ali muito visível, levantou sua blusa.
Num segundo seu irmão a olhava, no outro se viu presa dentro do abraço dele e logo sentiu ser também envolta por seu marido, que também havia sido puxado por Sebastian.
- Eu não acredito nisso. - Sebastian encarava os dois chocado - Eu vou ser tio! - gritou animado, voltando a abraçar somente .
- Eu às vezes me pergunto se vocês tem um caso secreto. - disse divertida, abraçada de lado a sua cunhada, que olhava a foto com interesse.
- Você já me deu muita dor de cabeça, irmãzinha, mas pelo menos fez duas coisas decentes nessa vida, fez meu melhor amigo ser oficialmente parte da nossa família e está me dando um sobrinho! Ai! - resmungou ao levar um tapa da mais nova. - Grossa
A rápida visita virou comemoração e os quatro passaram o resto da noite conversando, fazendo planos e dividindo uma pizza e muita cerveja, menos para , é claro.
- Eu vou pedir pro Capitão horas extras e procurar mais trabalhos para o verão. Talvez eu consiga… - conversava com Sebastian no jardim, mas bem na hora as duas mulheres apareceram.
- Amoooor! - o abraçou de lado, recebendo um beijo no topo de sua cabeça em resposta. - Nós estamos bem financeiramente, pagamos nossas contas todo mês e ainda conseguimos guardar um pouquinho.
- Mas você sabe que eu sempre sonhei em ter uma casa de férias para passarmos o verão quando começássemos nossa família. Todos nós juntos… - acrescentou, apontando para seus cunhados.
- Nós não precisamos de uma casa de férias no lago. - a mulher riu do marido - Mal vamos sair de casa nos primeiros seis meses. Vai dar tudo certo, você não precisa trabalhar ainda mais do que já trabalha. E eu vou adorar ter você em casa comigo enquanto eu fico desse tamanho. - disse divertida, esticando os braços para que parecessem uma barriga enorme.
- Você já parou pra pensar que teremos um filho no Natal? - o homem mudou de assunto, para não irritar a esposa.
- Vocês já pararam pra pensar que eu vou ter um sobrinho no Natal?
16 Semanas
Tú eres la princesa
(Você é a princesa)
Que si un sapo besa
(Que se beijar um sapo)
Un príncipe se encontrará
(Vai se deparar com um príncipe)
Yo seré el soldado
(Eu serei o soldado)
Que siempre a tu lado
(Que estará sempre ao seu lado)
Su vida te entregará
(E te entregará sua vida)
- Calma, falta pouco agora. - Elli a acalmou, pedindo que ela se sentasse.
Estava toda a família Rivas e reunidas no 51º Batalhão do Corpo de Bombeiros para finalmente descobrirem se o casal teria um menino ou uma menina. Desde que todos ficaram sabendo do nascimento do primeiro neto da família de ambos os lados, o casal não teve mais paz. Recebiam ligações todas as semanas para saber como estava o bebê e a mãe de chorava sempre que a via. Apesar de tentados a descobrir o sexo apenas no dia do nascimento, os dois acabaram cedendo à curiosidade ao passearem por uma loja de produtos infantis. Eram tantas opções para roupinhas, decoração, berço que a vontade de saber o que teriam, ficou ainda maior do que a de esperar pela surpresa. Notícia essa que foi mais que bem vinda pelas famílias dos dois, mas principalmente Sebastian, que parecia mais ansioso que os próprios pais para saber se teria um sobrinho ou uma sobrinha.
Ao saberem da notícia, todo o batalhão, contente por seu Tenente, o convenceram a fazer o chá revelação no local e o Capitão ainda havia preparado uma surpresa extra.
- Eu acho que eu vou vomitar. - o mais velho apareceu ao lado das duas mulheres e Elisa sorriu para o marido.
- É você ou sua irmã que está grávida? - perguntou debochada.
- Ah, é minha irmãzinha e a gente ainda nem decidiu se vamos ou não ter filhos. Pelo menos posso estragar esse sem me preocupar. - disse divertido segurando a barriga da irmã com as duas mãos, que lhe puxou a orelha.
- Você não vai estragar meu filho, Sebastian!! - resmungou ainda nervosa.
- Querido, eu te amo, mas você está deixando sua irmã mais nervosa. - Elli disse doce para o marido que só então viu como estava pálida.
- Você está passando mal? Quer ir pro hospital?
- É claro que não, eu só estou ansiosa em saber o resultado. - disse desconfortável, estava calor demais naquele dia - Não sei porque temos que esperar mais uma hora.
- Mas nós não temos. - o mais velho ativou seu modo protetor, gritando para que se aproximasse.
- O que foi, meu amor? Você não está bem? - perguntou preocupado, se agachando de frente pra mulher e ela sorriu ao notar como seu marido estava lindo com aquela camisa xadrez vermelha.
- Estou, eu só…
- Nós vamos adiantar esse negócio, vamos descobrir isso agora. Eu vou reunir todo mundo. - Sebastian disse apressado e saiu para juntar a todos.
- Ele ama te atazanar, mas ele ama ainda mais fazer o que for por você. - Elisa morreu de rir ao ver o marido praticamente carregar sua avó de dentro do batalhão, já que ela estava andando devagar demais para seu gosto.
- Ele sempre foi assim, chato, mas protetor. Se bem que agora ele protege mais você… - apontou para - Do que eu.
- Mas pode ter certeza que se um dia eu te machucar, ele me mata. Literalmente.
- E eu ajudo. - piscou para o marido e ele se levantou a trazendo consigo e os dois caminharam para a área externa do batalhão, onde um caminhão estava estacionado de frente pra eles.
- Você está se sentindo bem? - deu a mão a , que assentiu.
- Só ansiosa. Você aponta essa mangueira pra bem longe do meu vestido, viu? - pediu fingindo desespero, vendo o marido concordar.
- Por que você acha que sou forte assim? - brincou mostrando o bíceps o que a fez rir mais ainda.
- Pra segurar seu filho toda vez que ele chorar? - retrucou, selando seus lábios aos de .
- Ou filha… - ele completou.
- Amor, eu sei bem qual é sua óbvia preferência. Só espero que esteja preparado, caso seja um menino.
Com todos os convidados de frente para o casal, mirou a mangueira de incêndio na direção oposta e deu o sinal para que Sebastian a ligasse. Em retrospecto, percebeu que deveria ter pedido a outra pessoa que segurasse a mangueira, pois quando a água saiu com toda sua potência na cor rosa, ele acabou por se deixar levar pela emoção, perdendo o controle da mangueira por um instante, molhando a si e quase por completo.
- Ops! - disse se desculpando com que o encarava ainda em choque, mas feliz demais com a revelação para se lembrar que seu vestido branco provavelmente estava arruinado.
- Uma menina. - tinha as mãos sob a boca e assim que seu irmão e um outro bombeiro tomou a mangueira de , ela sentiu seu corpo sair do chão e ser girada pelo marido, que estava tão emocionado como no dia da gravidez. - A nossa !
- Uma princesinha! - abraçou a mulher com força, se ajoelhando em seguida para falar com a barriga. - Você já é tão amada, . Eu vou estar sempre aqui, do seu lado, pra sempre. Do seu e da sua mãe… Minha vida são vocês.
- Eu também te amo, . Você claramente nasceu pra ser pai de menina.
- Já acabaram? - e se viraram e deram de cara com suas famílias e amigos doidos para cumprimentá-los. - Porque eu vou ser tio de uma meninaaaa!!! - Sebastian pulou no colo do melhor amigo, fazendo com que os dois fossem pro chão.
- Não tem jeito, nós sempre seremos a vela entre esses dois. - sorriu abraçada a Elli, antes de ser puxada pelo resto de sua família.
20 Semanas
Se fueron los villanos
(Os vilões foram embora)
Que ya por veteranos
(Pois já estavam muitos velhos)
Se tuvieron que jubilar
(Tiveram que se aposentar)
Después llegó un gitano
(Depois chegou um cigano)
Y leyéndote la mano
(E ao ler sua mão)
Me dijo que ibas a volar
(Me disse que você ia voar)
, notando há semanas como parecia ainda mais introspectiva e irritadiça aceitou de pronto a sugestão. Em seu trabalho, ele sempre sabia o que fazer para resgatar suas vítimas, identificar um vazamento ou apagar um incêndio, mas com as duas pessoas mais importantes de suas vidas ele parecia mais um novato, sem experiência alguma.
Sabia desde o início que nada seria como antes, mas a realidade da paternidade que ele estava ainda aprendendo a encarar, era que seu papel era mais de espectador do que participante. Não poder sentir o mesmo que ela o estava matando, gostaria de poder saber exatamente o que se passava pela sua cabeça, para ajudá-la ainda mais.
- Ainda bem que viemos, faz tanto tempo que não tomamos sol, entramos na água... - sorria para as fotos que tirava de sua barriga.
- Essa folga não poderia ter caído na melhor hora, vou pedir mais alguns sábados ou domingos agora pelo verão, assim podemos passear um pouco. Só preciso ainda dos dois, três dias na semana para reformar o conservatório da casa 73, eles não têm muita pressa, mas quero terminar ainda esse mês.
- Eu não me importo, amor. Minha família toda é de bombeiros, quando casei com você aceitei que essa seria minha vida pra sempre. - a mulher se aproximou dele, envolvendo sua cintura e sorriu para foto, morrendo de amores ao ver como o sorriso de aumentou ao ser abraçado por ela. - Mês que vem precisamos começar a pensar no quartinho da .
- Minha mãe já disse que a decoração é por conta dela, só a gente escolher que ela compra.
- Mas sem exageros, , não precisamos de uma explosão cor de rosa no quarto dela.
- Às vezes você faz parecer que eu sou a mãe… - seu marido resmungou divertido.
- Olha, as vezes eu mesma tenho essa dúvida, é claro que estou feliz com tudo isso, mas você… - beliscou a barriga de .
- Ei, não vem não. - pediu se afastando - O que posso fazer, sempre quis ter um filho, mas ter uma filha, ainda com você…
Já no final da tarde, o casal caminhava por Old Town em direção ao carro e reparou na quantidade de lojas que ofereciam mapa astral, leitura de tarot, venda de cristais entre outros serviços. Curioso, parou em uma e o encarou confusa.
- Vamos fazer? - perguntou ansioso e levantou uma sobrancelha divertida.
- E você lá acredita nessas coisas? - rebateu intrigada com a sugestão.
- Só por diversão - deu de ombros, já entrando no lugar.
- … - levantou as sobrancelhas novamente - E se ela disser algo doido? Ou ruim?
- Confia em mim… - disse seguro, mesmo sem ter ideia do que poderia acontecer.
A cartomante, Linda, os atendeu sorridente, o que de certa forma, acalmou . Ela explicou os serviços que oferecia e o casal escolheu o tarot, era algo que já tinham ouvido falar e não queriam ser pegos de surpresa.
Ao longo de toda a leitura, Linda lhes disse tantas coisas sobre eles, como se os conhecesse há tempos, que foi impossível não ficarem surpresos e um tanto quanto assustados. Acostumada com clientes céticos, a taróloga explicou como as cartas funcionavam e como ela também usava do que podia sentir da energia deles, para fazer uma leitura correta da vida dos dois.
- E sobre a filha de vocês, querem saber alguma coisa? - Linda perguntou solícita e deixou uma risada nasalada escapar ao vê-los se encararem assustados - É uma menina, certo?
- Sim. - concordou, sentindo a mão de se entrelaçar a sua. - Eu não sei, eu ando tão ansiosa com essa espera, a gente pensa que nove meses passam tão rápido, mas nunca as semanas passaram tão devagar.
- É perfeitamente normal se sentir assim, para os dois. Mas nós mulheres, que passamos por tudo isso, é ainda mais assustador, por mais presentes que os pais sejam. Me dá a sua mão… - pediu e apoiou o braço na mesa, com a palma da mão virada pra cima.
- Ah, minha querida, vocês já escolheram um nome para ela? - Linda perguntou curiosa, observando as linhas das mãos de .
- . - responderam juntos.
- Pois saiba que a sua vai voar, alto! - acrescentou e e sentiram seus olhos marejarem - Geralmente você encontra consolo em sua mãe, amigas e familiares que já tenham filhos, mas também nas aulas de gestante, não guarde tudo pra você. Saiba pedir ajuda e descanse, você tem uma vida inteira pela frente pra fazer as coisas que quer, sem estar carregando uma vida dentro de si.
- Obrigada, Linda! - colocou sua outra mão em cima da mulher - De verdade, eu nem acreditei quando o quis entrar aqui, mas eu realmente estava precisando ouvir tudo isso.
- Você encontrou um dos poucos, querida.
- Oh não fale isso. - respondeu desesperada, rindo - Ele não vai parar de se gabar tão cedo.
- Não vou mesmo - retrucou alegre, agradecendo a mulher.
24 Semanas
Te amaré
(Eu te amarei)
Me amarás
(E você me amará)
Si no hay un final perfecto para regalártelo
(Se não existe um final perfeito para te dar)
Lo voy a escribir solo para ti
(Eu vou escrever um só para você)
Tendré que inventármelo
(Terei que inventá-lo)
- Eu não sei o que eu tenho. - se ajeitou no sofá, secando as lágrimas.
- Eu tenho uma leve ideia. - brincou ao colocar uma das canecas ao lado da esposa e se sentou, a trazendo para seu abraço - Essa menininha aí dentro tem te deixado ainda mais emotiva que o normal.
- Nem me fala, além de me fazer querer fazer xixi de hora em hora. - resmungou sentindo sua bexiga já a incomodar.
- Você sabe que se eu pudesse eu dividiria um pouco desse "fardo" com você. - acariciou a barriga de , encantado com o tamanho que estava. - Menos o parto, esse eu deixo pra você. - brincou, tentando fazer a esposa rir.
- Eu bem sei disso. - esboçou um sorriso em meio a uma risada nasalada. - Você tem sido mais incrível que nunca. Você sabe como não me sentia pronta pra ter um filho agora, mas você sempre torna tudo mais fácil. Eu tenho certeza que se não tivéssemos terminado juntos eu provavelmente ainda estaria aproveitando minha vida de solteira.
- Ainda bem que nos encontramos, então. - abraçou ainda mais a esposa, emocionado com suas palavras.
Quando acordou na manhã após a única noite que tiveram, encontrou o vazio. Ele tinha tentado enganar a si mesmo e levantou em busca da mulher pelo seu apartamento, mas a única coisa que ela tinha deixado para trás fora o sutiã. Mesmo tentando manter sua dignidade, lhe enviou uma mensagem na mesma noite e outra alguns dias depois, mas nunca tivera uma resposta. O pior era continuar a vê-la e fingir que nada tinha acontecido.
Se antes já se sentia preso aos encantos de , depois que a teve por inteiro sabia que estava completamente apaixonado e ainda mais perdido. Não foi fácil tentar esquecê-la, tanto que ele nunca teve certeza se de fato o fez, por isso significava tanto para quando se declarava de forma espontânea, mesmo depois de cinco anos juntos. O fazia ter ainda mais a certeza que sempre foram destinados um para o outro, mesmo após tudo o que sofreu.
- Que filme horrível! - não conseguia segurar as lágrimas novamente - Por que não pesquisamos o final antes de ver? - disse entre soluços.
- É o que eu também estou me perguntando. - tinha lágrimas nos olhos e um pouco de culpa ao sugerir um filme, sem saber o quão triste ele era. - Desculpa, .
- Você não tinha obrigação de saber e se eu chorei vendo Modern Family, era impossível não chorar com esse.
- Eu vou buscar uma água pra você. - anunciou se levantando.
- Tá… Ai! - deu um pulinho no sofá e encarou a barriga assustada. se voltou pra ela confuso.
- O que foi?
- Eu acho que ela… Ai! - levantou a blusa animada. - Ela me chutou! - exclamou estendendo a mão para o marido.
- Mentira?! Onde? - em meio segundo estava ajoelhado em frente a mulher, acariciando sua barriga.
- Foi mais ou menos...aqui! - comentou guiando as mão do marido para o local. - Tá vendo, nem ela gostou desse final. - brincou, tentando se controlar para ver se a chutaria novamente.
- Não se preocupa, minha princesinha. - dizia próximo a barriga - Se não tiver um final feliz, eu vou escrever um só pra você.
Bastou falar no lado oposto que havia sentido o chute, para que o casal novamente sentisse a pequena se remexer.
- Eu não acredito. - beijou o local onde tinha sentido a bebê chutar. - Isso é incrível, . - disse encantado encarando sua mulher, que concordava.
- É sim, tão incrível, como incômodo. - resmungou por conta do susto que era cada vez que se mexia.
- Você me chama se ela mexer de novo? - pediu, vendo a esposa concordar.
Naquela noite, observou dormir, tendo a certeza que era o homem mais feliz do mundo inteiro.
28 Semanas
Te compré un dinosaurio que se llama Juan
(Comprei um dinossauro para você que se chama João)
Él tiene mil poderes como un Superman
(Ele tem mil poderes, como o Super-homem)
Para ir de vacaciones tiene que volar
(Para você ir de férias, precisará voar)
Porque es un poco grande y no cabe en la van
(Porque ele é um pouco grande e não cabe na van)
Chegou em casa depois de mais um turno de 24 horas no batalhão e após o último esforço de tirar aquele trambolho do carro, entrou em casa em silêncio e subiu as escadas ainda mais em silêncio.
O quartinho de estava aos poucos tomando vida. Se dependesse dele provavelmente o quarto estaria pronto meses antes, mas mudava de ideia a todo momento então prometeram decorar aos poucos para não se arrependerem. Com o fim das obras na casa 73 de sua rua, Sebastian e começaram a construir o gaveteiro e trocador que havia pedido. Os dois eram ótimos em projetos manuais e a verdade era que Sebastian estava tão empolgado com a chegada do bebê quanto e poder fazer parte de algo que ficaria no quarto dela o deixara extasiado.
- Você só pode estar brincando comigo. - levou um susto ao se deparar com na porta do quarto de , chocada demais com o que via. - Mas o que é isso?
- O João! - respondeu simplesmente, optando por manter seu bom humor para convencer a esposas de ficarem com o objeto.
- Ah, o João. - repetiu como se fosse normal encontrar um dinossauro azul quase do seu tamanho, no canto do quarto de sua filha. - Amor, o que você tinha na cabeça?! Estamos esperando uma menina.
- Ah , não vem você me dizer que dinossauro é coisa de menino, me deu o maior discurso feminista quando eu te disse que não queria que a se tornasse bombeira.
- Isso é verdade, me desculpe. Mas um dinossauro, amor? Azul ainda?
- É um brontossauro, meu dino favorito. - sorriu com os dentes fechados, abraçando o animal de pelúcia.
- Mas precisava ser desse tamanho? - se aproximou, ainda sonolenta e pegou a pelúcia em mãos. - É do meu tamanho!
- Talvez eu tenha me empolgado um pouco, mas já que você não quer o quarto rosa, achei que pudesse combinar… O que você acha? - perguntou esperançoso que tudo que tinha dito até ali, faria com que não pedisse para que ele fosse devolver o João.
- Bem, ele até que é fofinho… - admitiu abraçando o dinossauro e suspirou fundo ao sentir seu marido tão animado com aquela compra. - Tudo bem, o João pode ficar.
- Obrigado, amor! - pegou a esposa no colo a rodopiando e assim que a colocou no chão se ajoelhou para falar com a barriga. - Viu ? Eu sabia que a mamãe ia deixar, o João vai sempre te proteger de todos os monstros, como se ele fosse o Super Homem.
- Super Homem? E por que não o Capitão América?
- Juntos destruíremos o Thanos! - atuava pra barriga, fazendo gargalhar.
- Eu só espero que ela não se apegue muito ao João, imagina se for daqueles brinquedos que a criança não consegue viver sem?
- Ah, mas o que a mamãe não sabe, é que o João é mágico. Toda vez que você precisar dele, ele vai voando até você… - dizia animado, mas então fez uma cara de culpado e baixou a voz, conversando com quase que num sussurro - Mesmo porque, ele é um pouco grande, filha, e definitivamente, não cabe na minha caminhonete e menos ainda no carro da mamãe.
- Meu Deus amor, você está tão empolgado que parece que ela já está aqui. - se levantou abraçando a esposa e selou seus lábios aos dela, iniciando um beijo cheio de amor. - Eu nem quero ver como você vai mimar ela, já vai nascer achando que pode tudo.
- E pode mesmo. - falou, colocando João de volta no lugar e juntos caminharam de volta para o quarto do casal. - Quer dizer, se for pra arranjar namorado, casar, essas coisas, somente após os trinta, quarenta anos…
- Agora quem tá sendo machista aqui? - tinha as mãos na cintura, se divertindo como nunca.
- Tudo bem, tudo bem. - levantou as mãos para o alto, como se pedisse desculpas. - Eu vou sempre apoiar a nossa filha no que for, mas, por favor, só não engravida aos 16. - disse olhando desesperado para barriga e mais uma vez não se aguentou e chorou de rir.
- Vem amor, vai tomar um banho e ir pra cama que eu acho que essa sua hiperatividade toda é cansaço.
32 Semanas
Si todo nuestro amor lo escribo en un papel
(Se eu escrever todo o nosso amor num papel)
Y todos nuestros cuentos quedan sobre el mar
(E todas nossas histórias ficarem sobre o mar)
Cuando estés navegando los podrás leer
(Você poderá ler quando estiver navegando)
Para que un nuevo mundo puedas inventar
(Para que possa inventar um novo mundo)
- , você sabe que estou sempre com você. Mas te ver chegar assim, às sete da noite, não me deixa muito feliz. Você está grávida de oito meses amor, não três, quatro…
- Eu sei, eu sei. Hoje realmente fui além do meu limite… Mas falta tão pouco pra Lauren terminar o projeto, eu sinto que vamos conseguir antes de eu começar a minha licença.
- Vai sair com 38 semanas, mesmo?
- Não sei, a Lauren que me mandou pra casa hoje. - disse cansada, se sentando no sofá e a ajudou a tirar os sapatos - Ela disse que se eu precisar sair umas semanas mais cedo não tem problema. A estagiária que vai ajudar ela enquanto eu estiver fora é muito competente. Vou tentar passar mais atividades pra ela nessas próximas duas semanas, de repente consigo sair com 36 semanas?
- Eu vou conversar com o Capitão também, pedi minha licença e férias para quando você estivesse completando as 40 semanas, mas vou falar com o Seb pra ele cobrir minha última semana. Vai fazer bem para nós dois ficarmos uma semana sem fazer nada, nos preparando pra chegada dessa pequena aqui. - comentou, acariciando a barriga de .
- Vai ser bom mesmo, a Elli vem me ajudar a lavar as roupinhas e organizar as coisas dentro do gaveteiro e do armário no final de semana. - relembrou, já que vinha fazendo turnos extras para acumular horas e conseguir ficar com a esposa pelo menos um mês, antes de ter que retornar ao trabalho.
- Nós temos a família perfeita. Sorte a nossa quando encontramos essa casa na mesma rua que a do seu irmão.
- Eu não sei não. Tenho minhas dúvidas que vocês expulsaram o casal que morava aqui antes, só pra morarem há menos de cinco minutos de distância um do outro.
- Droga, não era para você descobrir antes dos dez anos de casamento.
- Você é um tonto, amor. - dava risada da forma de falar de - E essa comida, não está queimando no fogão não, né?
- Não. - resmungou, fazendo uma careta. - Tá no forno, deve ficar pronto em 20 minutos. Quer que eu traga algo antes pra você comer?
- Não, só um suco de laranja, quero te mostrar o que comprei… - comentou animada, mexendo na sacola que estava no chão.
Assim que voltou pra sala, já tinha em mãos um caderno quadrado bem grande em mãos. A capa era branca com um espaço no meio para uma foto e dentro as folhas eram todas coloridas.
- Eu comprei um scrapbook pra gente… - disse entregando o objeto para - Podemos colocar fotos do nosso casamento, da nossa vida antes da chegar e daqui em diante contamos a história da vida dela, o que você acha?
- Eu acho que isso é… perfeito! - folheava as páginas em branco encantado.
- Até comprei as iniciais dela para colocarmos na capa, olha! - disse animada tomando um gole de seu suco, antes de tirar da sacola as pequenas letras em tecido poá rosa.
- Finalmente alguma coisa cor de rosa. - pegou as letras das mãos de .
- Ela tem vários vestidos cor de rosa, só não vejo necessidade de tudo ser da mesma cor.
- E o que mais tem aí? - perguntou animado, vendo as pequenas decorações que a esposa tinha comprado.
- Eu também achei isso. - comentou empolgada, tirando o pequeno dinossauro em feltro. A reação de tinha feito aquela hora inteira na papelaria valer a pena.
- O João é a parte mais importante de tudo. - disse de brincadeira, encarando o animal - Eu sei que você ama falar como eu sempre quis uma menina, que vou estragá-la e tudo mais. Mas eu não me importaria se fosse um menino, contanto que venha com saúde é a única coisa que importa.
- Mas… - o encorajou a continuar, sabia qual era o medo do marido, só era difícil para ele dizer aquelas palavras em voz alta.
- Você sabe como meu pai foi ausente comigo, sempre me fez sentir como se eu fosse um fardo na vida dele e não sei, talvez lá no fundo eu pense que se eu tivesse um menino eu poderia acabar repetindo as coisas que ele me fez, mas com uma menina… Gosto de acreditar que vou ser pra ela o que meu pai nunca foi pra mim.
- Meu amor… - sentia seu coração se comprimir - Você nasceu pra ser pai, de menina ou menino. Os erros do seu pai não são seus. Desde que te conheço, nunca olhei para você e vi ele, não deixe que os traumas dele mudem quem você já é. Eu te conheço mais do que ninguém nesse mundo e posso te garantir que você vai ser o melhor pai que a poderia sonhar. E mais do que isso, vai ser um pai presente. Nós te amamos, muito.
- Obrigado, amor. - beijou a esposa, ainda pensativo. - Que nós possamos com esse caderno mostrar pra ela o nosso amor e o quanto a amamos.
- Com a nossa história ela vai aprender o que é amor de verdade e procurar algo igual pra ela. Criar um mundo todinho de novas histórias.
36 Semanas
Te amaré
(Eu te amarei)
Me amarás
(E você me amará)
Si no hay un final perfecto para regalártelo
(Se não existe um final perfeito para te dar)
Lo voy a escribir solo para ti
(Eu vou escrever um só para você)
Tendré que inventármelo
(Terei que inventá-lo)
Ria de si mesma ao rever suas fotos e como com 25 semanas já se achava enorme. Podia jurar que sua barriga aumentava a cada hora. mal a deixava dormir, durante o dia ficava quietinha em sua casinha, mas chegava a noite e parecia praticar bateria, de tanto que se mexia. Ainda lembrava com graça da primeira vez que acordou de madrugada com os soluços da filha, estava sozinha e na hora ligou para , sem acreditar no que acontecia.
Embora acostumada, não via a hora de não sentir vontade de ir ao banheiro a cada quinze muitos e muito menos as dores nas costas que se tornavam cada vez mais frequente, ainda mais quando a filha se encaixava próxima a sua costela e não tinha uma posição sequer que a ajudava a conseguir dormir.
- Por favor, me fala que você fez bolo de cenoura para hoje? - soltou assim que Elisa abriu a porta. - Estou morta de fome e desejando esse bolo, que só você sabe fazer.
- Fiz sim, as dez mensagens que você me mandou falando sobre o bolo foram dicas o suficiente. - a mulher a convidou a entrar, cumprimentando a cunhada.
- Estou exausta. - sentou no sofá sem cerimônias, chutando a sandália para longe - Tava na minha mãe. - comentou e Elli entendeu a cunhada.
- Passou o tempo todo te ensinando como cuidar da ?
- Como se eu fosse lembrar de tudo! Ela não parou de falar um segundo. Por Deus, como meu pai aguenta?! - perguntou divertida, observando a cunhada ir até a cozinha.
- Os dois avisaram que estão chegando. - Elli apareceu com o bolo e sentou ao lado de - Você está enorme!
- Como se eu não soubesse. Ainda tem quatro semanas com ela aqui dentro, isso se ela não nascer depois… Eu não sei se aguento tudo isso. Tem vinho aí? - perguntou séria, mas Elli acabou rindo do desespero da cunhada.
Sem perceber, dormiu nem vinte minutos depois de sentar no sofá. Elisa deixou ela descansar e foi para cozinha terminar de preparar os petiscos e drinks para a noite de jogos. e Sebastian chegaram fazendo o maior barulho, mas nem isso tinha feito a mulher acordar. sorriu sozinho e se aproximou da esposa, roçando a barba de leve em seu rosto e depositou um beijinho em seu nariz ao vê-la acordar.
- Só mais um pouquinho, amor. - sussurrou enquanto ela abria os olhos e sorriu terno para ela.
- Vocês chegaram faz tempo?
- Alguns minutos. - respondeu a ajudando a se levantar, algo que tinha se tornado frequente há algumas semanas. - Você quer ir pra casa?
- Eu acho que consegui descansar um pouco.
- Como foi na sua mãe?
- A causa do meu cansaço. - sorriu de olhos fechados e a abraçou apertado. - Mas eu preciso dessa nossa noite… Há dias que não me sinto eu mesma, preciso de um pouco de normalidade.
- Tudo bem, mas assim que você quiser, vamos embora.
- Ei, irmãzinha. - Sebastian deu um beijo no rosto da irmã e encarou sua barriga. - Uau, você tá en...encantadora - disse uma palavra completamente diferente da que pretendia, ao ver e Elisa fazerem um sinal, implorando para que ele não completasse o que iria dizer.
- Eu me sinto tudo menos isso, Seb. Acho que hoje vai ser o dia que você finalmente ganha de mim nesse jogo.
- Eu sempre ganho de você, está doida? - passou o braço pelo ombro da irmã, a guiando até a cozinha. - Acho que você já pode falar a verdade, . - Sebastian avisou e se virou para ele confusa.
- Não fica brava… Ok, não foi a forma certa de começar isso. - riu nervoso ao ver a esposa o encarar levemente irritada.
- Nós fomos pescar, mas só pela manhã. Passamos a tarde em outro lugar…
- O que vocês aprontaram? - perguntou encarando os dois e Elli, que parecia tão confusa quanto ela.
Com a ajuda de Sebastian, tirou a camisa e imediatamente os olhos de foram para o peito esquerdo do marido. Elisa murmurou um "meu deus" atrás dela, mas a mulher não conseguia processar mais nada, além da tatuagem enorme que seu marido agora tinha.
A mulher se aproximou para ver o desenho ainda protegido pelo plástico e seus olhos se arregalaram ao mesmo tempo em que sua boca se abriu em choque ao ver o enorme leão, leoa e o pequeno filhote abaixo deles, brincando com uma flor que agora estampava permanentemente uma, das muitas partes do corpo do marido que tanto amava.
- Eu sou um homem morto? - perguntou sem saber o que se passava na cabeça de .
- Você é louco! - exclamou ainda em choque - Deve ter doído horrores. - disse ao passar os dedos pelo contorno do desenho.
- É, doeu um pouco. - confessou sabendo que não tinha sido pouco coisa nenhuma. As últimas duas horas tinham sido agoniantes. - , você está brava? - perguntou novamente, sabendo que era um homem de 30 e poucos anos, com medo da própria esposa.
- Eu estou em muito choque pra sentir qualquer outra coisa. Você sabe que sou contra fazer tatuagem para namorado, marido… Mas preciso admitir que pelo que consigo ver, essa é uma das tatuagens mais lindas que já vi em toda minha vida. Eu sou a leoa?
- Aqui e na vida real. - brincou tocando de leve o peito e logo se arrependeu ao intensificar a dor que parecia queimar seu peito.
- Vocês dois juntos nunca dá certo, né? - se virou para o irmão que fazia cara de santo - E você, o que fez?
- Por que eu faria algo? - retrucou vendo Elli o encarar suspeita.
- Você fez a moto, não fez? - perguntou direta e e riram ao ver Sebastian murchar e levantar a manga da camiseta, mostrando uma cópia fiel de sua moto no interior de seu bíceps.
- Culpado?
- Vocês tem sorte que amamos vocês. - Elli soltou, beijando o marido.
- Mas que às vezes vocês nos fazem pensar em assassinato, ah, vocês fazem. - completou, fazendo todos rirem alto.
40 Semanas e 1 dia
Aunque aún no te conozco, te conozco bien
(Mesmo que eu ainda não te conheça, já te conheço bem)
Hay algo de mis ojos que siempre tendrás
(Há algo em meus olhos que você sempre terá)
Exausto, se levantou para fazer um chá, para ver se aquilo o ajudaria a dormir. Sabia que além da preocupação, sua ansiedade estava disparada, teria sua filha em seus braços em breve e quanto mais os dias se aproximavam, mais despreparado se sentia. Mesmo tendo todo seu treinamento como bombeiro e as diversas aulas que fizeram, aquilo parecia diferente, era afinal sua filha. A quem deveria amar e cuidar pelo resto de sua vida.
Com dentro de ao menos sabia que seu dever estava ali, protegido duplamente, por ele e por ela. Mas assim que ela nascesse sua preocupação triplicaria. Sempre que entrava em um local em chamas se preocupava pelas pessoas lá dentro, seus colegas, e a si mesmo por último. Agora adicionaria mais algo a se preocupar, uma motivação maior para dar o seu melhor para que no final de cada turno, pudesse ir para casa cuidar do que realmente importava para ele.
A voz de era baixa, mas ele logo ouviu ela o chamar e fazer barulho no andar de cima. Com calma, subiu com sua caneca em mãos, tomando cuidado para não se queimar e entrou no quarto, dando de cara com em pé, ao lado da cama.
- Eu acho que estou em trabalho de parto. - disse mais calma do que ele um dia imaginou.
- Você tem certeza? - perguntou sentindo seu coração acelerar e logo colocou a caneca na mesa de cabeceira pra não deixar cair tudo no chão.
- Eu acordei sentindo uma dor muito forte, eu acho que é uma contração. - comentou apontando pro local e se aproximou ainda desacreditado.
- Precisamos ir pro hospital, ligar pra médica, seu irmão… A bolsa, onde está…
- , , amor... - se aproximou do marido segurando em seu pulso e o trouxe para um abraço apertado. - Se acalma, minha bolsa ainda não estourou. Lembra do nosso plano?
- Avisar a Dra., encher a banheira e preparar um lanche pra você. - repetiu o que eles já sabiam de cor e se viu acalmar por um instante. - Ok, acho que estou mais nervoso do que você.
- Fica nervoso agora, porque mais tarde vou precisar de você. Vou preparar a banheira e tentar ficar lá um pouco, você me acompanha?
- Por toda minha vida. - colocou suas duas mãos no rosto de , a beijando apaixonadamente.
Com a água quente ajudando a aliviar as dores das contrações, que ainda não eram tão próximas quanto o necessário, conseguiu cair no sono. Já estava ainda mais acordado do que antes. A Dra. Ava já estava ciente que estava entrando em trabalho de parto e com a ajuda de um app eles anotavam todas as contrações e a duração. Sabiam que se a bolsa estourasse ou as contrações se tornassem mais frequentes, era hora de seguirem para o hospital.
Por sorte, eram seis da manhã quando decidiu que não aguentava mais. Já não sabia quantas contrações estava tendo, nem se sua bolsa tinha estourado na banheira, mas não conseguia e nem queria pensar em mais nada, além da próxima contração que nem tinha começado e ela chorava antecipando a dor.
A ida ao hospital foi um misto de calmaria e tensão, a playlist que eles tinham feito tocava e manteve sua mão na perna de por todo o trajeto, mas a cara e os grunhidos que ela soltava entre uma contração e outra, destruíam seu coração.
- Ah, não falta muito. - a doutora anunciou tranquila para o casal - Já estamos com oito centímetros, mais dois e essa pequena estará pronta pra conhecer vocês.
- Só oito?! - quase gritou, frustrada - Quanto tempo você acha que demora? Eu não sei se vou aguentar mais.
- Tenta dar uma volta com ela, . - a médica pediu de forma doce, encarando o futuro pai. - Pode ajudar. O peso da nenê vai pressionar o seu cervix, ajudando a dilatar um pouco mais rápido. Mas não ande o hospital todo, apenas uma voltinha e, se precisar, faça alguns exercícios na bola. Eu volto mais tarde pra ver vocês, mas qualquer coisa, é só chamar a enfermeira, que elas me encontram.
- Obrigado, doutora. - agradeceu pelos dois e ajudou a esposa a descer da cama. - Devemos ligar para seus pais?
- Nem pensar. - deu o braço ao marido e os dois saíram do quarto - Eu amo minha mãe, mas ela vai me estressar mais do que ajudar. Quando voltarmos você liga pro Sebastian, ele já deve ter mandado a mensagem de bom dia, perguntando se já é tio.
- Eu já falei com ele. - deu uma risadinha - Você demorou pra responder, ele acabou me mandando mensagem.
- Ai meu deus, o que ele disse?
- Ele quer saber se pode vir…Eu expliquei que pode demorar, mas ele quer vir mesmo assim. Eu falei que ia te perguntar.
- Tudo bem, eles podem vir, mas… - a conversa foi silenciada pelo grito que saía do quarto em que eles passavam. - Eu não sei se dar essa volta foi algo bom. - encarou a porta fechada.
- Quer voltar? - o marido perguntou, a vendo assentir.
- Se eu ainda vou gritar dessa forma, é melhor eu descansar e preparar meus pulmões.
- E eu os meus ouvidos. - disse já rindo e deu uma piscadinha para quando ela o encarou, também rindo. - Você está com medo?
- Petrificada! - admitiu, sentindo o aperto em sua mão ficar mais forte e sorriu carinhosa para o marido, sabia que se ele pudesse, trocava de lugar com ela num piscar de olhos.
- Eu vou estar aqui, com vocês. - assegurou abrindo a porta do quarto e ajudou a sentar na bola de ginástica.
Sentado em uma cadeira, tinha as pernas abertas e massageava a lombar da esposa, tentando ajudar a aliviar as dores em suas costas. Quando a contração finalmente acalmou, ele a abraçou por trás, a trazendo próxima a seu peito.
- Mais um pouco e ela vai estar em nossos braços, amor. - murmurou em seu ouvido e fechou os olhos, tentando focar apenas na voz de seu marido, que desceu as mãos para sua barriga. - E pra você meu amorzinho, venha na hora que você quiser, só venha com saúde. Nós estamos te esperando… Só tenta não machucar tanto a sua mãe, vê-la sofrer acaba comigo.
- Argh! Por que você tem que ser tão perfeito . - se virou com dificuldade e lágrimas nos olhos - Eu te amo tanto , .
- E eu amo vocês. - sorriu do jeito que tanto amava, com os olhinhos fechados, pequenininhos. - Nós vamos conseguir, . Juntos. Não posso tomar o seu lugar, mas eu não vou sair do seu lado até termos nossa filha em seus braços. Você confia em mim?
- Com a minha vida.
- Juntos. - repetiu determinado antes de pegar o telefone e ligar para seu cunhado.
Sebastian e Elisa conversavam e tentavam distrair , mas entre as últimas contrações, mais confortava Sebastian do que o contrário. Sempre fora próxima do mais velho, desde pequenos eram inseparáveis e o cuidado que ele tinha com ela era visível para qualquer um que os visse de fora.
Ver sua irmã passando por algo, que como bombeiro ele vira muitas vezes em primeira mão, sem poder fazer nada, o estava matando. Adorava ter uma irmã mais nova e via como seu dever cuidar dela. Quando entrou em cena, soube que podia relaxar um pouco e deixar que seu melhor amigo fizesse parte de seu papel, mas para sempre ela ainda seria a menininha que subia em sua cama chorando com medo do trovão.
- Ok, mamãe, é hora de puxar. - A enfermeira que ajudava a Dra. Ava anunciou e se colocou ao lado da mulher e Sebastian ficou do outro, apenas observando e pronto para ajudar se fosse necessário.
- Eu não quero. - anunciou sofrida, fazendo todo mundo rir. - Não tem graça. - disse soltando uma risada nasalada, antes de sentir a contração se iniciar.
- Empurra, amor. - sussurou em seu ouvido, enquanto a Dra. Ava e enfermeira diziam a mesma coisa, entre elogios para incentivar que não desistisse.
- Isso, muito bem. - a médica sabia que ainda ficariam ali por mais uma ou duas horas - Devagar e sempre. - disse de forma calma, olhando o monitor que media os batimentos cardíacos de .
Uma hora e quarenta minutos depois, viu toda sua vida passar diante de seus olhos. Nos braços de sua esposa sua filha emitia o som mais bonito que ele já ouvira em toda sua vida, tinha cortado seu cordão umbilical momentos antes e se colocou como espectador no que ele considerou a cena mais bonita de toda sua vida. Ver se tornar mãe era o que de mais especial eles tinham conquistado juntos e teve a certeza que nunca amara , como naquele momento. Ele mal conseguia conter as lágrimas que caíam desde o segundo que viu nascer o seu bem mais precioso. .
Mal a conhecera e sabia que daria sua vida por ela e para ela, sem nem pensar duas vezes.
- Amor. - o tirou de seus devaneios e ele a encarou orgulhoso, beijando sua testa em conforto. - Você quer segurar sua filha?
- Eu não… Não saberia o que fazer… - assumiu com medo, ela era tão pequena. Não queria machucá-la.
- Está tudo bem. - o encorajou e a enfermeira pegou a pequena a envolvendo no lençol. - Eu ainda preciso terminar aqui. - disse de forma calma, afinal ainda precisava expulsar a placenta de seu corpo.
- Senta nessa cadeira, papai. - a enfermeira pediu de forma a tentar acalmá-lo, estava acostumada com pais de primeira viagem. - Tira a camisa também, ela precisa desse contato pele na pele sempre que possível. - informou e imediatamente tirou a camisa e encarou incerto. Ela o incentivou a continuar.
Com cuidado a enfermeira colocou em seu colo e direcionou seus braços para que ele a segurasse da forma coberta e tirou o lençol para que pai e filha se conhecessem da forma mais pura e bonita.
- Ei, pequena. - disse baixinho, observando cada detalhe do rostinho, das mãos, cada dedo de sua filha - Eu sou o seu pai. - soltou as palavras, saboreando como elas soavam em sua boca e se virou para sua família que o encarava da mesma forma que ele parecia encarar .
Sebastian estava ao lado da irmã emocionado com o que presenciava em primeira mão e Elisa tirava fotos para marcar aquele momento único.
- Sei que a gente está só se conhecendo agora, mas parece que te conheço minha vida inteira. Quando você finalmente abrir esses olhinhos perfeitos, você vai ver nos meus olhos algo que você sempre terá… O meu amor, minha proteção e eu prometo, que de hoje até o fim da minha vida, você me terá por inteiro, sempre ao seu lado. - confessou sem se importar com as lágrimas que simplesmente não deixavam de sair de seus olhos. - Eu te amo. - disse em mímica para que também chorava com a cena.
- Er, eu tenho uma pergunta. Que horas eu posso segurar minha sobrinha? Porque quando nossos pais chegarem, não veremos ela pelas próximas dez horas.
Duas semanas pós parto
Y cada noche un cuento nuevo inventaré
(E todas as noites inventarei uma história nova)
Porque toda la vida serás mi Elena
(Porque você será minha Elena para sempre)
- Amor, eu acho que ela já dormiu. - estava sonolenta, já nem se lembrava o que era dormir quatro horas seguidas.
Os dias que sucederam após a ida para casa haviam sido os mais difíceis da vida do casal, se acostumar com um recém nascido e tudo que ele demandava era muito mais difícil do que qualquer livro os preparara. Porém, era ainda mais recompensador do que poderiam imaginar. Um amor único e tão poderoso que nunca poderia ser colocado em apenas palavras. Um amor que só podia ser sentido, vivenciado.
Se antes tinha certeza que seria um pai perfeito, aquelas duas semanas a mostraram que ela não fazia ideia do quanto. Compartilhavam aquele trabalho com maestria e agradecia todos os dias quando ele fazia questão de colocá-la para dormir após cada mamada da noite, lhe dando a chance de descansar antes de ter que acordar para a próxima.
- Quantas histórias você acha que consegue inventar durante os próximos anos? - perguntou num sussuro, quando voltou pra cama, após deixar no pequeno berço que tinham no quarto.
- Eu acho que vamos descobrir. - disse acariciando o rosto cansado de . - Você nunca esteve tão linda.
- Assim você até me ofende. - retrucou, pois nunca se sentira tão feia. Sua barriga ainda parecia estar grávida de pelo menos cinco meses, não lavava o cabelo há três dias e não sabia mais o que era usar outra coisa que não fosse pijama.
- Eu estou falando a verdade. Acredite, aquele momento, que te vi pela primeira vez é inesquecível, mas depois de tudo que construímos juntos, você assim, exausta depois de cuidar da pelos últimos dez meses, aí dentro e aqui fora, é sua melhor versão. Eu jamais trocaria a você de hoje, pela você do passado. Nunca achei que fosse possível, mas te amo infinitamente mais do que te amei a vida toda.
- Eu que te amo mais.
- Impossível, por toda minha vida amarei vocês. Minha e .
FIM
Nota da autora: Olá!
Espero que tenham gostado de acompanhar as quarentas semanas desse casal.
Confesso que peguei esse ficstape com outra ideia na cabeça, mas quanto mais eu lia a letra dessa música, mais vontade tive de retratar os "nove" meses de uma gravidez.
Fevereiro 2022: Ahhhhh não acredito que essa fic ganhou ficstape do mês e não vi um comentário sequer =/
Como o Disqus está instável, estou colocando aqui o link pra caixinha de comentários, amaria ver o seu. É só clicar AQUI.
Um beijo enorme,
Carol
Outras Fanfics:
7 da Sorte
Dele
Nobody Matters Like You
01. Mark My Words
10.Life is Worth Living
12.Truth
09. Hearts Don't Break Around Here (continuação de 12.Truth)
03. Beautiful to me
04. Losing My Mind
06. My Gospel (continuação de 04. Losing My Mind)
09.coconut tree
08. Walls
06. He Won't Go
Espero que tenham gostado de acompanhar as quarentas semanas desse casal.
Confesso que peguei esse ficstape com outra ideia na cabeça, mas quanto mais eu lia a letra dessa música, mais vontade tive de retratar os "nove" meses de uma gravidez.
Fevereiro 2022: Ahhhhh não acredito que essa fic ganhou ficstape do mês e não vi um comentário sequer =/
Como o Disqus está instável, estou colocando aqui o link pra caixinha de comentários, amaria ver o seu. É só clicar AQUI.
Um beijo enorme,
Carol
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