Capítulo Único
"Matilda, you talk of the pain like it’s all alright
But I know that you feel like a piecе of you is dead inside…"
But I know that you feel like a piecе of you is dead inside…"
– !! Anda logo, não tenho o tempo todo pra te esperar, coisa lerda! – Ouvi Lúcia, minha irmã, gritar do andar debaixo, paciência não era seu forte mas essa semana ela estava especialmente mais estressada que o normal.
– Pronto! Já cheguei – Desci correndo as escadas e assim que ela colocou os olhos sobre mim vi um sorriso de deboche se formar em seu rosto, já sabia que sua opinião não seria nenhum pouco boa.
– Diga que você está brincando e não vai ficar ridícula dessa maneira…. A mamãe vai morrer de vergonha – Olhei para minha roupa, meu vestido verde claro e sapato vermelho me deixavam feliz e combinavam, pelo menos na minha mente, não sabia porque isso podia ser um problema.
– Vai se trocar e colocar uma roupa de verdade, não uma fantasia, vovó já está ficando velha de te esperar, maluca!
– Que horror, Lúcia! Eu acho que tá bom assim…– Passei as mãos pelo meu vestido e a vi revirar os olhos.
– Você não sabe de porcaria nenhuma, vai logo! Se eu levar uma bronca por sua causa você vai ver, !
Para evitar mais uma briga voltei pro quarto e coloquei uma roupa toda preta com um laço no cabelo de bolinhas coloridas, Lúcia tentou protestar quando viu meu cabelo mas dei de ombros, alguma coisa tinha que ser colorida pra mim.
Os almoços que antes eram na casa da vovó agora passaram a ser na minha casa e continuavam uma chatice, todo mundo se exibindo e fingindo que se ama. Minha mãe amava exibir sua ideia de perfeição, não me deixava vestir minhas roupas favoritas em eventos familiares, nem mesmo contar que trabalhava num bar no centro da cidade, era como fracassar e isso ela não suportava.
– , já pensou no que vai fazer na faculdade? Sua mãe contou que você está pensando em engenharia, é verdade? – Uma das minhas tias perguntou parecendo surpresa e eu tive que engolir o riso, minha mãe estava mentindo demais dessa vez.
– Hmm… Talvez, mas também gosto de coisas difer…
– Nada, tia! É engenharia mesmo! – Lúcia se intrometeu e eu dei de ombros, afinal, ela nem queria saber a verdade de qualquer maneira – Na verdade, acho que dessa vez ela passa no vestibular, né maninha! – Lúcia sorriu para mim cheia de ironia e eu apenas acenei que sim com a cabeça, me afastando daquele canto da casa.
Eu queria que aqueles eventos passassem voando pra eu poder sair de casa sem ter que dar explicações e ter que aguentar os falsos sorrisos e abraços.
Ben, meu irmãozinho, era a melhor parte em todas essas festas, vê-lo se divertindo com os primos, sendo exibido pra todos e achando aquilo um máximo era meu alívio nestas situações.
– Esperamos vocês lá em casa, filha! Não esqueça de levar seus filhos da próxima vez, querida! – Ouvi minha vó se despedindo de mamãe que a abraçou fraco e apontou para nós que estávamos do outro lado da porta nos despedindo de outros convidados.
– Sabe que essas crianças não gostam de ficar no nosso meio, mal vejo essa aqui durante o dia – Ela disse olhando para mim, abri a boca para protestar mas a cara feia que ela fez me calou em segundos.
Assim que todos foram embora, me arrumei o mais rápido que pude, peguei minha bicicleta e fui em direção ao Johnny Bar, meu local de trabalho e tranquilidade.
Geralmente meu turno começava na parte da tarde e ia até o início da noite, atendia mais a galera que vinha em busca do nosso restaurante do que a galera que gostava de afogar as mágoas na bebida, mas hoje por ter começado mais tarde, ficaria pro turno da noite e enquanto esperava pra começar a trabalhar resolvi desenhar em um dos guardanapos as coisas que ficavam vagando pela minha mente. Quase como um diário estranho e bem peculiar eu me distrai completamente, mergulhada na minha imaginação.
– Ei, que desenho legal, você que fez? – Nem percebi o cara do outro lado do balcão, o bar ainda estava calmo e ele chegou de mansinho me pegando totalmente de surpresa. Olhei para aquele cara de mechas rosas no cabelo, olhos verdes brilhantes, sorriso radiante e encolhi os ombros, tinha acabado de ser pega no flagra e não sabia onde enfiar minha cara.
– Não é nada demais…– Estava sem graça e prestes a amassar o pedaço de papel quando aquele cara o puxou da minha mão, indo direto pra uma mesa cheia de pessoas conversando, não sei o que ele disse, só sei que depois de mostrar meu desenho a eles, deixou o guardanapo na mesa e voltou para perto de mim com dois reais na mão.
– Não podemos deixar uma artista sem receber! Quando você fizer mais é só chamar – Ele deu uma piscadinha me fazendo automaticamente recuar.
– Você sabe que eu nem te conheço, né?! – O encarei desconfiada e ele riu estendendo a mão.
– Pedro, Pedrinho, Pedroca, ou o que quiser chamar – Ele fez uma reverência exagerada como se fosse uma daquelas pessoas de época – E a sua graça, qual é? – Ele continuou naquela atuação e eu ri, achando ele maravilhosamente estranho.
– , ao seu dispor – Foi a vez dele rir e me deixar encabulada – Não querendo ser rude nem nada mas tô trabalhando.
– Poxa, pensei que estivesse tudo tranquilo agora.
– Tá, mas daqui a pouco meu intervalo acaba e já era.
– Enquanto não acaba, posso ficar aqui com você no balcão?!
Sem nem pensar sobre nada apenas concordei com um aceno de cabeça, Pedro sorriu e se ajeitou na banqueta do bar.
– Faz tempo que você trabalha aqui? – Ele parecia realmente interessado e eu tentei esconder minha estranheza em relação a isso.
– Faz uns meses, mas não me lembro de te ver por aqui.
– Ah, não, meu bem! Tô conhecendo a área, geralmente eu frequento o outro lado da cidade, mas minha melhor amiga vai morar por aqui então vamos começar a conhecer os arredores, os lugares e pessoas legais daqui.
– Hmm – Não pude deixar de rir, logo ele descobriria que eu não era uma dessas pessoas que ele procurava – E o que está achando?
– Até agora você é a desenhista mais talentosa que vi por essas bandas e tem umas pessoas legais também.
O olhei meio chocada e ele sorriu dando uma piscadinha, um cara vestido de moletom preto, calças largas e semblante fechado parou ao lado dele, me distraindo da grande bobagem que Pedro tinha dito.
– Você assusta as pessoas assim, sabia?! – Meu novo "amigo" disse pro cara que tirou os fones dos ouvidos e deu de ombros sentando ao lado dele.
– Sabe que não ligo, não é?! – Ele me olhou e logo em seguida sorriu amarelo – Pode me ver uma cerveja, por favor?
Fiquei parada e Pedro segurou minha mão quando fiz menção de atender ao pedido.
– Ela ainda está na folga dela, seu mal educado! – Pedro o olhou fechando a cara – Essa é a e adivinha? Ela desenha e você adoraria o desenho que vendi pra aquela mesa – Ele desandou a falar e senti minhas bochechas esquentarem, meus rabiscos nunca foram pautas de conversas e pelo que percebia Pedro não pararia de falar sobre isso tão cedo. O tal cara que tinha acabado de chegar me olhou intrigado e depois sorriu enquanto Pedro continuava a tagarelar.
– Sei que ele parece maluco às vezes, mas na maioria do tempo ele é legal. Prazer, ! – Ele estendeu a mão e eu a apertei, sentindo ele me encarar por tempo demais antes de soltar.
– Eu vou voltar a trabalhar agora e já trago sua cerveja, o.k.?! – Sorri me afastando daquela ponta do balcão, meu chefe estava me olhando e quando cheguei perto já sabia o que viria
– Então, finalmente, posso te dar uma bronca por papear no trabalho! Que rebelde, dona – Ele gargalhou quando entrei na cozinha para colocar meu avental e senti que ainda estava vermelha.
– Ah, não enche né! Nunca vi essas pessoas antes, provavelmente nunca mais verei também – Dei de ombros e ele apenas ergueu as mãos em sinal de inocência, Lucas era um cara legal de se trabalhar, quase nunca pegava no meu pé e me deixava ficar ali matando o tempo.
Meu turno realmente começou e aquele grupo de pessoas não parava de me chamar. Pedro era a pessoa mais comunicativa que já vi, quando uma garota se juntou a eles parecia que eles eram os donos do lugar, rindo e conversando alto, bebendo todas e chamando a atenção.
– ! Vem cá – Vi Pedro acenando para mim e antes de ir até lá senti Lucas me observando.
– Se quiser pode ficar um pouco lá com eles, o movimento hoje não está lá essas coisas e eles querem sua companhia.
– Não precisa, imag…
– Vai, ! – Ele riu me empurrando levemente pelos ombros – Não precisa se preocupar com nada.
Rolei os olhos para ele e fui até a mesa onde Pedro e seus amigos estavam.
– Ela voltou!! – Pedro sorriu e puxou a cadeira ao seu lado pra que eu me sentasse – Essa é a minha amiga Maria Clara, que vai morar pra cá agora!
Uma jovem de cabelos castanhos bem cheios e cacheados, sorriso largo e piercing no lábio como o tal sorriu pra mim.
– Oi, tudo bem? Fica um pouco aqui com a gente!
Olhei para o meu chefe e ele apenas assentiu com a cabeça.
– Fico! – Ri me sentando ao lado deles, senti o olhar de sobre mim e senti minhas bochechas esquentando.
– Pedro disse que você desenha, eu já achei um máximo, vou estudar artes na Federal, acredita?! – Maria Clara me ofereceu um copo de cerveja, aceitei e sorri meio sem graça.
– Na verdade, não desenho pra valer, são só rabiscos, seu amigo que ficou com essa ideia fixa.
– Eu vivo rodeado desses artistas aqui – Pedro apontou para e Maria Clara – Reconheço artistas com facilidade – Ele piscou e ergueu seu copo para mim.
– Artistas? Que legal! – Sorri pra eles e os dois riram ao mesmo tempo.
– Pedro é ótimo em inflar nosso ego! – Maria Clara disse e vi Pedro rolar os olhos – Posso falar por mim que só estou começando e amo fazer minhas esculturas e tal, mas não sou artista! Já meu irmão está mais do que comprovado que é foda de mil maneiras.
– Ih, podem parar com isso! – disse sério tomando o resto de sua cerveja e encarando os dois.
– Ele tem os grafites mais incríveis, um dia te mostro! – Pedro sussurrou em meu ouvido e eu assenti sorrindo.
– Você estuda por aqui? – Maria Clara perguntou e eu dei de ombros.
– Na verdade, tentei engenharia mas não passei, então esse ano estou fazendo cursinho de novo, e trabalhando aqui no resto do tempo.
– Poxa, sinto muito por você não ter passado – Ela sorriu solidária e eu não consegui evitar uma careta de desgosto.
– Na verdade foi um alívio gigante! – Olhei para eles e sorri – Eu odeio engenharia e adiar isso foi a glória!
– Aí, amiga! Que bom que não rolou então – Pedro riu e ergueu seu copo para brindarmos.
Maria Clara contou o quanto demorou para conseguir sua vaga na faculdade, o quanto os pais os apoiaram nessa decisão de estudar mais longe e do orgulho deles em ver os dois seguindo seus sonhos.
– Que esse seja só o começo pra vocês! Meus amores mais lindos – Pedro ergueu mais uma vez seu copo e eu ri, ele era a pessoa mais animada que já tinha conhecido e não se preocupava com os muitos olhares que recebia.
Ao voltar pra casa daquele dia completamente incomum, não conseguia parar de sorrir, Ben, meu irmãozinho, esperava no meu quarto pra ganhar o doce que eu sempre trazia do trabalho.
– Ei, não combinamos que eu deixaria o doce pra você na cabeceira da cama? Não precisava me esperar, tá tão tarde, mocinho – Fui até minha cama bagunçada por ele e sentei ao seu lado, ele pulou no meu colo e abraçou forte meu pescoço.
– Eu só… Não queria ficar ouvindo a Lúcia xingando a mamãe e a mamãe xingando de volta… Vim me esconder no seu quarto – Ele disse baixinho saindo do meu colo e voltando para debaixo das cobertas na cabana improvisada que tinha feito – Deixa eu dormir com você hoje? – Ele me olhou com a cara de gatinho do Shrek que era irresistível e irrecusável.
– Tudo bem! Mas só hoje hein! Amanhã cedo você pula de volta pra sua cama, combinado?!
– Combinadinho! – Ele cruzou os dedos sobre a boca e os beijou, jurando do seu jeitinho.
– Agora eu vou tomar banho e você fica quietinho aí! – Entreguei a ele o chocolate que tinha comprado e fui o mais rápido possível pra debaixo do chuveiro, minha mãe sempre brigava se fizesse muito barulho a noite e pelo visto os ânimos estavam superexaltados na casa, eu é que não queria despertar as feras.
Ben já dormia quando retornei ao quarto, arrumei um pouco da nossa bagunça e antes de deitar deixei meus dedos dançarem sobre o papel do caderno de rascunhos, costumava desenhar de tudo um pouco, mas os meus favoritos eram os croquis das roupas que moravam na minha mente, toda a cor que não conseguia usar na vida real eu colocava sobre o papel. Roupas cheias de vida como Pedro, Maria Clara e até começaram a surgir, como se fossem meus modelos, fiz uma roupa pra cada um deles e finalizei com as cores mais vivas que pude encontrar no meu estojo.
Eu jurava que aquele dia seria o primeiro e único dia que veria aqueles três na vida, mas Pedro não mentiu quando disse que eles começariam a frequentar mais a "minha área". Maria Clara já estava se instalando na república que ficava há uma quadra do meu trabalho, o que garantiu visitas diárias dela e Pedro no meu trabalho, fui convidada a conhecer o novo lar dela e confesso que estava achando tudo aquilo um máximo. Finalmente pessoas legais e que não me achavam estranha estavam ao meu redor.
– Bem-vinda amiga! Fica a vontade – Ela me recebeu com seu vestido florido e casaco laranja, como se estivesse prestes a sair e eu a olhei desconfiada.
– Vai sair Clara? Se quiser volto outro dia – Disse sem nem me sentar no sofá e ela riu, suspirando logo depois.
– Na verdade preciso entregar um trabalho pra um colega de turma, ele vem me encontrar aqui perto, mas eu não demoro! Não vai embora, …– Maria Clara colocou seu coturno e eu sorri sem graça pronta pra negar sua oferta.
– Pedro já está quase chegando! Não demoro, amiga! – Ela se aproximou, me deu um beijo no rosto e saiu apressada, quase esquecendo sua bolsa pelo caminho.
– Legal, hein – Disse pra mim mesma, rolando os olhos e pronta pra ir embora. Mas uma coisa colorida em cima da mesa de centro chamou minha atenção.
Puxei o que parecia ser um quadro grande, de moldura fina, mas o que me deixou impactada era o grafite lindo que estava no centro do quadro, o nome "Lala" desenhado em letras bem grandes e gordas, pintadas de rosa e preto, ao lado do desenho de uma garotinha brincando em uma mesa, um quadro lindo e genial, que eu não conseguia parar de olhar. A garota parecia uma bonequinha, o estilo do grafite daquele desenho era muito realista e incrível.
– Que saco, eu sempre esqu… – Olhei assustada para o corredor de onde ouvi aquela voz e vi com a toalha enrolada na cintura, todo molhado me encarando de volta. Instintivamente ergui o quadro para tapar meus olhos e ouvi ele rindo, antes que eu simplesmente fosse embora ele voltou pra sala apressado.
– Desculpe, não queria te assustar. Clara não disse nada sobre visitas – Ele já estava quase vestido, terminou de colocar uma camiseta e eu não pude deixar de reparar o quanto ele era ainda mais lindo sem aquele moletom que ele não tirava para nada.
– Acho que eu deveria ir embora, sua irmã definitivamente não vai chegar tão cedo, certo? – Olhei para e ele deu de ombros.
– Não faço ideia, mas não precisa ir, fica! – Ele me encarou mais sério e eu senti um arrepio passear pelo meu corpo, quando me dei conta estava concordando com um aceno de cabeça.
– Gostou do quadro? – se aproximou devagar e apontou para o meu escudo improvisado que ainda estava em minhas mãos, ri sem graça e o coloquei de volta na mesinha de centro.
– Eu achei ele incrível, de verdade! Foi você que fez? – Perguntei apenas para confirmar, de alguma forma eu sabia que era de aquela obra.
– Fiz de presente pra casa nova da Clara, ela ia ficar longe por muito tempo, mas acabou que vim junto, então pra próxima casa dela já tem um presente – Ele deu de ombros e eu ri o olhando, agora, sentado ao meu lado, ele parecia ainda mais bonito naquela luz do que em qualquer outra.
– Posso fazer uma pergunta? – Pedi sentindo o olhar dele sobre mim – Porque "Lala"?
Ele riu e coçou a cabeça ficando sem graça de repente.
– Não ri – Ele me encarou meio sério antes de continuar – Quando era pequeno não conseguia falar o nome "Clara", sempre saía errado, um dia comecei a chamar ela de "Lala" e ficou… – estava levemente constrangido e eu encantada, sorri e ele fez uma careta de desgosto
– Que bonitinho! O quadro ficou ainda mais bonito agora – Dei um empurrãozinho em seu ombro e ele riu, me olhando ainda mais de perto.
– Quando vou ver um dos seus desenhos? Tô curioso há um tempinho já – Foi a minha vez de ficar envergonhada, dei de ombros desviando meu olhar.
– Ah, vamos! Deixa eu ver, por favor – Ele sorriu de lado, mostrando uma covinha em seu rosto que nunca tinha visto, pegou em minha mão e como se um choque passasse por nós, tirei rápido minha mão da sua.
– Perdão, eu me assustei…– Disse baixo vendo o sorriso dele aumentar.
– Vamos lá, ! – Ele pegou novamente em minha mão, só que dessa vez com muita calma e eu fiquei o observando por um tempo.
– Só deixo se você prometer não rir! – Disse baixo e ele assentiu com a cabeça, peguei meu caderno de rascunhos da bolsa e entreguei para , não queria nem ver sua reação, por pouco não fechei os olhos e me escondi atrás da almofada.
– Uau! Você é muito talentosa, ! – passou a mão levemente por um dos meus croquis favoritos e eu sorri envergonhada.
– Não é pra tanto né – Tentei pegar meu caderno de volta mas desviou, continuando a ver cada desenho e seus detalhes
– É verdade, ! São muito bons e deveriam ser transformados em roupas de verdade – Ele pegou o desenho das roupas que fiz pensando neles e me mostrou.
– Já pensei nisso, em cursar moda pra poder criar de verdade as roupas, mas não sei se daria certo, sei que minha mãe me mataria por isso – Dei um meio sorriso triste e me abraçou de lado.
– Acho que você deveria pensar nisso…– Ele disse baixo, me deixando levemente inebriada por seu cheiro tão perto de mim.
– Vou pensar nesse caso, mas antes quero ver outros desenhos seus – Me afastei um pouco dele e o vi sorrindo torto novamente, pegou seu notebook e abriu uma página na internet cheia de fotos de vários grafites nas paredes
– Esses são alguns que fiz pouco tempo atrás…– Um desenho mais lindo do que o outro, as cores e expressões, tudo era lindo e muito forte, pra cada grafite eu tinha uma curiosidade e respondia tudo com calma, sem se incomodar com a minha tagarelice.
O tempo passou voando, quando nos demos conta já estávamos há horas ali, falando sobre desenhos, me convenceu a tentar desenhar como ele, e aquele foi o ponto alto do dia, fiz meu primeiro rascunho de grafite, mal podia esperar para colorir e colocar minha identidade ali como estava me ensinando.
Quando voltei pra casa, Lúcia e mamãe estavam rindo na sala e assim que me viram, mamãe ficou séria e me olhou de cima a baixo.
– Onde você estava? Por que esse sorrisinho no rosto? – Pisquei sem reação e fiquei séria, antes mesmo que pudesse pensar em uma resposta, Lúcia chegou mais perto e eu a encarei.
– Deve ter aprontado por aí, mamãe! Sabe como ela é né – Mais desconfiada do que nunca, minha mãe veio para mais perto também e começou a me cheirar procurando vestígios de alguma coisa, eu recuei o quanto pude, ela nunca havia feito algo assim e eu me sentia uma criminosa sendo tratada daquela maneira.
– Eu só fiquei até mais tarde no trabalho, nada demais – Menti saindo de perto das duas, minha mãe me olhava de uma maneira indecifrável e Lúcia com sua sobrancelha sempre erguida me analisava com certo desdém
– Vou fingir que acredito, dona Santinha! – Lúcia disse baixo quando passei por ela, subi correndo pro meu quarto e fiquei lá o resto do tempo, só deixei Ben entrar e se esconder comigo da grande maluquice que aquela casa estava se transformando.
Depois de alguns dias, uma das minhas aulas do cursinho foi cancelada e justo no meu dia de folga do bar, aproveitei pra escapar para república, combinei de encontrar com os meninos que estavam ali pelo centro para gente ir junto, Pedro mal me viu já começou a me atormentar pra ir com eles a uma festa naquela noite.
– Ei, ! Vamos com a gente? A festa logo começa….
– Ir para onde? – Olhei para e ele sorriu me incentivando a seguir com Pedro – Não posso demorar, meninos…
– Amiga, você não tinha que trabalhar agora?! – Acenei que sim e Pedro se enganchou no meu braço – Então, aproveita esse tempinho livre!
– Você ainda vai me ferrar assim…– Sorri ao ver a cara de indignado de Pedro que começou a tagarelar sobre como minha vida só ia melhorar por ter ele nela. logo atrás de nós só fazia rir, chegamos em tempo recorde na república, mal passamos da entrada e já dava pra ouvir a música que vinha do apartamento da minha amiga.
– Finalmente!!! Se não chegassem logo eu ia sem vocês! – Maria Clara abriu a porta pra nós, linda, ela já estava praticamente pronta com seu vestido amarelo mais vibrante do que nunca, seu coturno preto e a maquiagem impecável era apenas o começo pra ela. Pedro lhe deu um abraço rápido e foi direto pro guarda-roupa dela mal olhando ao redor.
– Amiga, preciso melhorar meu look! – Maria Clara só rolou os olhos e veio até nós.
– Oi, ! Maninho….– Depois de um abraço apertado, ela me puxou pra dentro de seu quarto, deixando sozinho na sala.
– Amiga! Vamos melhorar essa roupa, tá muito apagadinha…– Olhei para minha roupa e não podia negar que eles tinham razão, mas não fazia a mínima ideia de como melhorar aquele terninho preto e meu jeans que não pareciam nenhum pouco festivos.
Pedro começou a me mostrar várias roupas, shorts e regatas, vestidos, saias e eu comecei a olhar tudo aquilo com um misto de surpresa com receio. Não estava acostumada com as coisas coloridas, eu as amava mas tinha pouquíssimas chances de usar.
– Helloooo! Terra chamando …– Quando me dei conta ele chacoalhava um vestido vermelho na minha direção e eu o olhava sem nem piscar.
– Desculpa, me distrai…. Clara, tem certeza que posso pegar suas roupas? – Olhei para ela que fazia seu delineado perfeito nos olhos naquele momento e ela me olhou pelo espelho.
– Pode pegar, meu amor! O Pedro que nem serve direito minhas coisas nele vive pegando, imagina você…– Ela me deu uma piscadinha e eu sorri me lembrando da conversa que tive com .
"Se você quer, então deixa tudo do seu jeito ué"
Peguei uma saia toda colorida que estava no fundo do armário dela, escolhi uma blusa rosa cheia de pedrinhas brilhantes e meu tênis preto. Pedro fez questão de me maquiar e eu apenas me deixei levar pelo momento. Quando me olhei no espelho amei o resultado, se alguém da minha família me visse poderia dizer que não se parecia em nada comigo aquele visual, mas para mim aquele era o ideal.
– Vamos, galera… Tô quase…. – abriu a porta do quarto de leve e nos olhou, senti seu olhar sobre mim e fiquei corada, ele parecia reparar em cada detalhe, não de um jeito ruim, como se fosse me julgar por minhas escolhas, mas como se estivesse gostando do que via.
– Gostou, meu bem? – Pedro se colocou na minha frente e disfarçou olhando para o lado antes de voltar a olhar para o quarto.
– Tá lindo! Podemos ir? – Os dois se encararam e Pedro foi até tentar lhe dar um beijo no pescoço.
– Sem rabugice hoje, hein! – Pedro abraçou enquanto saímos do quarto de Maria Clara, os seguindo e pegando tudo que faltava para que pudéssemos finalmente sair.
– Verdade, hoje meu amigo vai tocar no final da noite, então já sabe que vamos demorar né!
A boate estava lotada, mas graças ao amigo de Maria Clara conseguimos entrar antes e ficar em um lugar um pouco mais confortável, Pedro logo nos puxou para o bar e depois da primeira dose de tequila fomos para a pista de dança começar a nossa festa. Maria Clara dominava o espaço ao seu redor, Pedro me girava e depois nós dois fazíamos os passos mais desajeitados possíveis sem realmente nos importar com quem estivesse ali, em um desses giros desajeitados fui amparada por que me segurou com firmeza pela cintura.
– Eita! Eu ia direto pro chão se não fosse por você – Disse um pouco sem graça, estávamos muito perto um do outro, virei meu rosto e não vi mais Pedro ali.
– Que bom que eu estava por perto então…– me olhava de uma forma tão intensa, assim como suas mãos que ainda permaneciam ao meu redor, sorri e comecei a me afastar mas ele me puxou para ainda mais perto.
– Fica! – A voz dele ficou mais grave e eu me arrepiei, olhei em seus olhos abriu um sorriso lindo para mim, sorri de volta para ele e para não ficar tão estranho nós dois ali parados no meio da pista de dança comecei a nos movimentar de leve fazendo rir – – A gente precisa mesmo dançar? – Ele perguntou fazendo uma careta em seguida. O girei e continuei a dançar, com ele tentando me imitar na dancinha mais ridícula do mundo.
– Precisamos sim! Afinal, viemos aqui pra quê? – Perguntei colocando as minhas mãos na cintura dele que parecia uma tábua de madeira, totalmente inflexível.
– Eu tenho uma ideia bem melhor do que podemos fazer – Ele disse baixo, talvez esperando que eu não ouvisse, mas assim que ergui meu olhar ele percebeu que o ouvi, senti aquele frio na barriga e o percebi encarando minha boca.
– Deixa eu te mostrar? – Ele disse no mesmo tom, tão baixo, mas, ao mesmo tempo, como se fosse dito em um alto-falante direto ao meu coração, apenas acenei que sim levemente com a cabeça, sem permitir que nenhum pensamento me parasse, senti me puxando pela cintura e unindo nossas bocas com calma, como se não estivéssemos em um local lotado, a música alta e todo aquela bagunça ao redor, ele conseguiu trazer a paz, eu só sentia a nós dois, suas mãos me abraçando cada vez mais, seus beijos se intensificando e mais nada importava.
– Eu queria tanto fazer isso – Ele beijou meu pescoço e eu me encolhi rindo ao sentir ele ali naquela região do meu corpo.
– Nem faço ideia porque demoramos tanto – Passei minhas mãos por seu pescoço e fiquei mexendo de leve em sua nuca sentindo ele se arrepiar com meu toque.
– Vamos lá pra perto do bar, é mais tranquilo….– Senti a mão dele se entrelaçar a minha, fomos desviando das pessoas e assim que chegamos ao bar me puxou para sentar ao seu lado, nos beijamos novamente e a cada beijo tudo parecia só melhorar.
– Hoje você está especialmente linda, não podia deixar de te dizer isso – Ele passou as mãos por meus cabelos e sorriu, o olhei de perto e ri desconfiada – Essas cores lhe caíram tão bem.
– Tem certeza de que não está exagerado? Pode dizer, se eu estiver muito over… Meio palhaça, como minha irmã diria…
me encarou sério, me fez levantar e dar uma voltinha na sua frente.
– Linda, mais do que nunca…. – Ele calou as vozes da minha cabeça me puxando para mais um beijo, sem dar chance pra nenhum protesto que eu faria.
Os dias que se seguiram foram maravilhosos, era um presente na minha vida, quase todos os dias antes de ir pro trabalho me encontrava com ele, ora pra namorar, ora pra treinar meus desenhos junto dele, ou vê-lo grafitando por aí. Nenhum dia perto daqueles três era chato, Maria Clara era cheia de luz e determinação e Pedro era a empolgação em pessoa, mesmo quando eu chegava triste por algo que acontecia na minha casa eles me levantavam, me deixavam mais leve e feliz por tê-los na minha vida.
Um dia enquanto rabiscava durante uma aula chata do cursinho, a professora veio até minha mesa e entregou um panfleto da faculdade de moda.
– Pensa nisso, ! – Olhei pra ela atônita, desde o início ela sabia que eu estava ali pra tentar passar em engenharia, engoli em seco e comecei a ler o panfleto. Tudo ali me chamava, como o curso ideal eu já estava apaixonada, só via dois problemas: precisaria tirar uma nota excelente pra conseguir bolsa em uma faculdade particular já que não encontraria esse curso na Federal da minha cidade e teria que enfrentar a fúria da minha família em fugir dos planos feitos pra mim.
Entrei de cabeça nas pesquisas sobre o curso, tudo que podia aprender e tudo ali só me dava mais certeza que aquele era o meu caminho.
– Amor, quero te contar uma decisão que eu tomei – estava me desenhando em seu caderno, levantou seu olhar e largou o lápis me dando toda sua atenção – Vou mudar minha área da faculdade, vou prestar vestibular para moda!
Disse rápido fechando os olhos, já imaginando as risadas que viriam, o silêncio me deixou curiosa, abri os olhos e estava me olhando com um sorriso gigante no rosto.
– Que maravilha, amor! Acho que você vai se dar muuuito bem, vai ser uma estilista e tanto – Ele levantou do seu lugar e veio até mim – Acho que o mundo vai ficar pequeno pro seu talento!
Ele me puxou para um abraço apertado e eu ri achando graça do que ele disse.
– Menos, amor! – Beijei seu rosto e ele me puxou pra um beijo "de verdade", me deixando sem ar e feliz por poder partilhar essa notícia com ele.
A partir desse dia eu me dediquei muito mais aos estudos e a treinar meus desenhos, principalmente os croquis que seriam parte muito importante do meu curso.
Cheguei exausta do trabalho e já ia direto pro banho quando encontrei Lúcia no meu quarto, aquilo nunca era um bom sinal.
– Que porcaria é essa, ? – Lúcia com um dos meus croquis na mão o chacoalhava com força, quase rasgando.
– Não te interessa, Lúcia! É coisa minha! – Tentei arrancar o papel de sua mão e ela pulou em cima da cama o tirando do meu alcance
– Mamãe vai adorar saber que você anda desperdiçando seu tempo e dinheiro com essas porcarias…– Lúcia gargalhou ao observar mais de perto meu desenho e senti meu sangue ferver
– Devolve! Isso é meu e você não pode mexer nas minhas coisas assim – Consegui tirar meu desenho de suas mãos e ela riu mais ainda.
– Porque você se importa tanto? Sabe que a mamãe já estava suspeitando que você estava aprontando, acabei de encontrar o que ela precisava! – Ela disse vitoriosa, cheia de certeza e rindo.
– Para de ser chata, Lúcia. Não posso me interessar por nada que você logo vai contar pra nossa mãe como se fosse algo criminoso ou errado, porque não vai viver sua vida e me deixa em paz – Peguei minha pasta de desenhos e guardei na mochila, junto com meus lápis e tudo mais que precisaria para os desenhos, peguei uma muda de roupa e senti Lúcia me observando durante todo o tempo.
– Ei! Que jeito de falar comigo é esse? E onde você pensa que vai? – Lúcia parou no batente da porta de braços cruzados e ficou me encarando – Não vai sair daqui até me falar…
– Você não é minha mãe e não te devo satisfação, vou sair e volto amanhã.
– Eu vou contar que você está fugindo e duvido que mamãe não vai ficar furiosa.
– Paciência! Amanhã me resolvo com ela – Tentei ser o mais firme possível, sentindo meu coração acelerar enquanto via a surpresa no olhar de Lúcia.
– Só espero que não me apareça grávida de um qualquer, seria decepção demais – Ela me olhou com desprezo enquanto eu passava por ela – Mas se bem que você já é uma decepção há muito tempo – Lúcia de nariz empinado e o tom de voz mais arrogante que já ouvi disse quase que ao pé do meu ouvido, me atingindo como se fosse um grande soco na cara.
Engoli em seco, sai daquela casa buscando o ar, tentando segurar as lágrimas, peguei minha bicicleta e saí em direção ao único lugar que me sentia minimamente confortável.
Maria Clara estava na república, quando entrei ali senti um alívio gigante, tentei esconder tudo que estava sentindo, mas estava muito difícil respirar sem deixar as lágrimas rolarem por meu rosto.
– , tava pensando aqui e achei esse…– Maria Clara que segurava um pedaço de pano o deixou cair e veio até onde eu estava, nem tinha me dado conta mas as lágrimas já rolavam pelo meu rosto – Amiga! O que aconteceu?
– Eu briguei feio com a minha irmã e de repente meu coração tá doendo tanto de perceber que nada nunca vai ser o suficiente, bom, eles nunca vão me ver, Clara….– As lágrimas já eram incontroláveis e o aperto em meu peito só crescia.
– Ai, … Eu sinto muito, nós estamos aqui pra você! Pra tudo que você precisar!
Senti o abraço dela e de , que estava ali e eu nem reparei, me amparando pelo que parecia ser uma eternidade, era tudo que eu precisava.
– Vou buscar uma água pra você – Maria Clara nos deixou a sós e o olhar de sobre mim deixava claro que ele via muito além do que eu estava mostrando.
– Se não quiser me contar o que houve, tudo bem, mas deixa só hoje a gente cuidar de você! Por favor! – Ele secou as lágrimas que voltaram a rolar e eu assenti me escondendo em seu abraço e deixando chorar por tudo que estava sentindo naquele momento.
Caí no sono e descansei como há muito não fazia, quando acordei vi Pedro sentado perto de mim, e Maria Claras sentadas na outra ponta da cama enquanto assistiam alguma coisa na TV.
– Bom dia, bela adormecida! – Pedro disse assim que me viu de olhos abertos – Tá melhor?
– Tô, o que vocês estão fazendo? – Sentei na cama e encarei os três que riram.
– Viemos encher seu saco assim que você acordasse – Maria Clara disse me jogando uma almofada – Bora levantar, minha fia!
– Nem dormindo tenho paz então?! – Devolvi a almofada ouvindo a risada da minha amiga.
– O me chamou pra uma pizza, não aceito menos do que isso…– Pedro que começou a mexer no cabelo exigiu fazendo rolar os olhos.
– Só pensa em comer né! Depois a gente cuida disso.
– Vamos fazer alguma coisa, não aguento mais esse filme chato – Pedro levantou e me puxou junto dele, assim que chegamos na sala ele já se jogou no sofá.
– Vamos jogar!! – Maria Clara pegou a caixa do jogo imagem e ação e a colocou no meio da mesa da sala.
– Você é minha dupla – Pedro pegou na mão da Clara e eu olhei para que me deu uma piscadinha como resposta.
Depois de explicar as regras, sentou ao meu lado e foi incrível poder usar nossos desenhos no jogo, conseguia adivinhar o que ele desenhava com facilidade e ele entendia os pequenos traços que eu fazia.
– Só queria protestar aqui que dois desenhistas contra nós meros mortais, não vale!!! – Pedro levantou do seu lugar e pegou a caneta pra desenhar.
– Foi você que quis a Clara como dupla…– riu enquanto eu esperava pra desenhar a próxima rodada – A melhor dupla é a minha, lide com isso!
– Chato!!! – Pedro jogou uma almofada em que riu olhando pra mim.
– Manda ver, ! – Ri da maneira como ele disse e fiz o melhor desenho que pude.
– Olha isso! Era só desenhar um sofá, um negocinho simples, não precisava essa humilhação.
– Sem drama, Migo – Joguei um beijinho pra ele que sentou inconformado em seu lugar.
– Já cansei de perder, tô com fome! – Clara cruzou os braços e apontou pra .
– Você vai buscar, seu sem graça – Ela pegou o celular e começou a fazer o pedido, já com a chave do carro em mãos olhou para mim.
– E a senhorita vai comigo – Ele estendeu a mão e eu entrelacei nossos dedos saindo com daquele apartamento.
A noite estava tranquila, como se a calma morasse em mim novamente, cantarolava uma música qualquer ao volante, aquele momento estava perfeito.
– Gostei de ver o quanto arrasamos como dupla, mais uma coisa pra nossa lista
– Nós temos uma lista?
– Claro que sim, mocinha! Que começa em a sintonia perfeita, o beijo mais incrível e agora a melhor dupla em imagem e ação, praticamente imbatíveis – Ele riu e olhou pra mim, o sinal fechou e eu retribui seu olhar, sentindo um arrepio passar pelo meu corpo.
– Eu sei que apesar de tantas coisas, você gosta de mim, eu nunca senti isso por ninguém…. E acho que nunca sentiram por mim também….– Disse sentindo meu coração se aquecer ao ver a maneira como ele continuava a me olhar.
– Como assim apesar de tantas coisas? – ficou sério e logo estacionou, chegamos a pizzaria e antes que eu pudesse pensar em sair do carro ele segurou minha mão.
– , eu sei que sua família nunca te viu como nós vemos e eu gostaria que você pudesse ver o quão incrível você é, mesmo com todas essas pedras no seu caminho!
Senti meus olhos enchendo de lágrimas ao ver o quanto a firmeza do seu olhar continuava ali.
– Não gosto de você apesar de nada, eu te admiro por aguentar tanto, e mesmo assim continuar doce e linda por dentro e por fora!
Pulei em seu colo e o abracei o mais forte que consegui, tentando segurar a emoção que sentia e parecia ser a coisa mais forte que já passou por mim.
– Obrigada… por cuidar de mim dessa maneira! – O beijei com todo carinho e amor que cabiam em mim, sentia ele corresponder da mesma maneira e meu coração se aquecia por dentro.
Voltamos à república e aquela noite que começou horrorosa pra mim, terminou incrível, rodeada de pessoas que realmente gostavam de mim.
No dia seguinte, antes de ir para o cursinho fiz questão de me inscrever no vestibular para moda, depois do trabalho sabia que enfrentaria minha mãe e Lúcia, e que não seria fácil.
– Onde você se meteu, garota? – Minha mãe disse assim que me viu, seu rosto estava impassível e Lúcia ao lado dela me encarava com sua sobrancelha erguida, apenas esperando.
– Estava na casa dos meus amigos, depois fui trabalhar.
– Que história é essa de que você anda aprontando por aí? Desenhando não sei o que… Você não está pensando em trocar o curso da faculdade, está? – Minha mãe se aproximou e eu recuei, sentindo o olhar mortal dela sobre mim, respirei fundo e a encarei.
– Já mudei…Vou cursar moda! – Ouvi o choque que Lúcia deixou escapar da boca, logo em seguida ela gargalhou.
– Se você passar, tem que ver isso aí né, querida?! – O jeito mesquinho dela falar me deixava irritada, sentia vontade de voar nela mas me segurei em respeito a minha mãe.
– Cala boca, Lúcia!
– Fica quieta, ! Você está proibida de fazer isso, senão nem sei o que fazer com você! – Minha mãe gritou e eu a olhei atônita, sentindo um frio gigante no estômago.
– Não vou mais cursar engenharia, não há muito que você possa fazer – Não sei como as palavras conseguiram sair, mas assim que eu as ouvi sabia que estava ferrada.
– Eu te dou dois dias para mudar essa palhaçada, caso não mude, saiba que não vai contar comigo pra mais nada! Ouviu, ?! – Minha mãe me olhava mais séria que o normal e eu continuei a encará-la sentindo meu coração acelerar.
– O que você quer que eu diga…– Respondi sentindo a fúria dela no ar.
– Quero que você suma da minha frente agora!!
Sai correndo para o meu quarto, Ben estava lá me esperando e aquilo era um alívio gigante.
A noite foi tensa e eu sabia que estava me arriscando, mas não conseguia desistir daquela ideia, precisava tentar por mim e somente por mim.
O clima em casa já era ruim, depois daquela conversa fatídica ficou ainda pior, só a convivência com Ben continuava a mesma. Quando se aproximou a época do vestibular tive todo apoio de , Pedro e Maria Clara, entrei pra prova com toda confiança e sabia que era agora ou nunca. Era o meu momento.
Minha mãe não quis saber de nada sobre o vestibular, quando chegou o dia de ver o resultado ela apenas me olhou e virou a cara. Fui com meus amigos até o local onde seriam divulgados os resultados.
– EU PASSEI!!! MEU DEUS – Não conseguiria descrever a sensação de felicidade que me dominava, meu coração estava prestes a sair pela boca junto com toda a energia que queria transbordar em mim.
– Parabéns, Amor!! – Senti o abraço do e logo em seguida ele me ergueu do chão – Eu sabia! Você é foda!!! – Ele gritou e eu gargalhei sentindo Pedro e Maria Clara se juntarem ao nosso abraço.
– Parabéns, amiga!!!
– Arrasou, !!
– Vamos comemorar no Johnny Bar, esse é o dia mais incrível da minha vida! – Peguei um dos jornais onde aparecia o nome dos aprovados no vestibular e o coloquei debaixo do braço, entrelacei minha mão a de e nós saímos em direção ao centro, no meio do caminho encontrei com outros calouros e deixei eles pintarem meu rosto com tinta e pó colorido.
A experiência completa, tudo que eu tinha direito e nada conseguia se igualar a isso, como se depois do inverno dos últimos meses eu pudesse contemplar as cores da minha primavera, sentir a leveza que aquele calor no meu coração me proporcionava.
– E aí dona da festa….– Pedro me cumprimentou assim que entrou em meu quarto – Animada pra hoje a noite?
– Tô!! Muito!!! – Ri e o abracei apertado – Eu nunca fiz isso, será que deveria chamar a Lúcia e minha mãe pra festa? Seria muito errado não chamar?
Pedro fez uma careta assim como Maria Clara que me ajudava a terminar algumas coisas da decoração da festa.
– Amiga, chama se você realmente quiser elas aqui, a festa é sua e só vem quem você quer – Pedro disse, busquei no olhar dos meus amigos um apoio e os vi se entreolhando.
– Sabe quando você sente que é sua obrigação? Afinal, eles são minha família, mas que já me machucaram muito – Disse olhando para e Maria Clara, que já eram praticamente minha nova família.
– Sua resposta tá aí, amiga! – Maria Clara olhou em meus olhos e ficou acariciando minha mão enquanto continuava a falar – Se eles sempre te machucaram e agora você está comemorando algo que eles nunca fizeram, não precisa se obrigar a nada, todo esse tempo te mostrou tudo que você precisava saber…
– Nem acredito que você vai se mudar, vai pro seu curso em Minas Gerais, cheio de gente talentosa como você! – Pedro se colocou no nosso meio, me fez cair na cama e eu ri, mal acreditando que aquele dia tinha finalmente chegado.
– Obrigada por cuidarem tão bem de mim por todo esse tempo, vocês entrarem na minha vida transformou tudo! – Olhei para meus amigos e fiz questão de abraçar cada um deles.
– Acho que vou sentir mais sua falta do que você pode imaginar… – sussurrou no meu ouvido, meu coração já estava pequenininho de pensar na nossa despedida, mas eu sabia que era o melhor pra mim e me deixava ainda mais segura sobre essa decisão.
– Eu sei o quanto você foi importante na minha vida e nunca vou te esquecer! – Sussurrei de volta sentindo as mãos dele envolta da minha cintura, como era nosso costume, nos perdemos no tempo daquele abraço.
– Pode parar o grude que logo, logo o povo começa a chegar aqui! – Pedro jogou uma almofada em nós e eu devolvi mostrando o dedo do meio.
– Você é chato, né?!
– Não, eu sou seu favorito, admita! Minha coisa mais fofa do mundo! – Pedro me puxou dos braços de e eu ri, chocando meu corpo contra o dele – Você tem a obrigação moral de desenhar minha roupa de formatura, senão vou até Minas atrás da senhorita!
– Pode deixar – Prometi estendendo meu dedo mindinho pra ele que selou essa promessa cruzando seu dedo ao meu.
Minha festa de despedida foi a mais legal que pude participar em toda vida, nunca fui tão feliz e me senti tão amada quanto naquele dia, quando me tirou da festa pra encontrar com Ben, meu irmãozinho, eu só sabia chorar e abraçar aquele garotinho que tinha todo meu coração.
– Eu te amo, Ben Ben
– Tenho saudade, ! Muita, muita – Ele se apertava ainda mais a mim.
– Eu morro de saudade de você, meu amor! Eu vou viajar por um tempo, mas posso te ligar sempre, mandar mensagem, o que der, o.k.?!
– A mamãe não gosta quando eu peço pra te ver – Ele disse no meu ouvido e eu senti meus olhos transbordarem de tristeza.
– Eu sei, meu amor! Mas eu sempre vou dar um jeito! Não esquece, tá?! – Sequei meu rosto, peguei o caderno cheio de desenhos que fiz para ele como meu presente de despedida e o entreguei.
– Sempre que ficar com saudade pode olhar esses desenhos, cada um foi feito pensando em você, meu Benzinho!
– Uaaau! Olha… – Ele mostrou o desenho que fiz do homem-aranha para que sorriu pra ele, minha prima que tinha o levado até mim já estava avisando que precisavam ir embora.
– Te amo, Ben Ben! Pra sempre! – O abracei o mais apertado que podia e ele riu.
– Te amo, maninha! – Ele apertou contra o peito o presente que lhe dei e foi até minha prima.
Depois de um tempo voltei com pra festa e aproveitei cada minuto que restava, sabia que se deixasse de esperar por aqueles que não se importam comigo, eles não conseguiriam mais me atingir.
– Um brinde a nossa estilista favorita! Que seu curso novo de moda te faça muito feliz amiga! Vou morrer de saudades…. – Pedro baixou o volume do som da festa e subiu em cima de um banco, olhei pra ele e sorri tentando não chorar.
– Viva a ! Que você continue a encantar a todos por onde você for! – Maria Clara se juntou a ele.
– Socorro, gente! Eu amo muito vocês…– Puxei os dois e os abracei, senti se juntar ao nosso abraço e as lágrimas desceram – Vou morrer de saudades…
– Estaremos aqui sempre….. – disse me abraçando ainda mais forte.
Agora eu já sabia como era ser amada e ter pessoas que torciam verdadeiramente por mim, eu não tinha mais medo de tentar nada, eu sabia que podia crescer sem culpa.
Quando sai daquele abraço e todos da festa ergueram seus copos pra mim, eu ri e ergui meu copo em resposta.
– Obrigada, gente! De coração! – Ergui novamente o som e antes de voltar pro meio da nossa pista de dança improvisada, puxei para um canto e grudei minha boca em sua orelha, sussurrando:
– Eu amo você! Tanto, tanto!
– Eu que te amo, tanto que talvez você nem consiga imaginar…. – Ele devolveu me abraçando apertado e fazendo com que eu me sentisse a garota mais amada de todas – Posso não estar lá ao seu lado mas você pode contar comigo! Pra tudo, o.k.?!
O puxei para um beijo sentindo ele me erguer do chão, eu não queria que aquele momento acabasse nunca, mas aos poucos nós paramos e a festa também chegou ao fim.
Quando me vi no aeroporto, com minhas malas e cadernos, cheia de sonhos e vontade, eu sabia que ali eu estava mudando minha história e que por sorte ou coisa melhor, eu encontrei pessoas incríveis que me ajudaram a enxergar quem eu poderia ser e tudo que eu podia transformar.
"You can start a family who will always show you love
You don’t have to be sorry, no"
You don’t have to be sorry, no"
Fim!!
Nota da autora: Oiie, meus amores! Como estão?!
Essa música é tão forte e importante pra mim, que não sei nem como explicar o quanto eu a amo! Obrigada por darem uma chance pra essa história, espero de verdade que vocês tenham gostado. Se puderem, comentem ;D Vou amar saber o que vocês acharam!!
Qualquer coisa, tô sempre por aqui:@just_aliine
Miiil Beijooos, até mais!
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Better With You – One Direction/Finalizada
Tudo Que Você Quiser – Luan Santana/Finalizada
Um Ser Só – Luan Santana/Finalizada
07. This – Ficstape Ed Sheeran/Finalizada
06. Risk It All – Ficstape The Vamps/Finalizada
21. Home To Mama – Ficstape Justin Bieber/Finalizada
07. Happier – Ficstape Ed Sheeran/Finalizada
12. Quisiera Ser – Ficstape RBD/Finalizada
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Love Me Again – Especial A Whole Lot Of History
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10. Singing Low – Ficstape The Fray/Finalizada
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05. Matter Of Time – Ficstape Ashton Irwin/Finalizada
For Your Eyes Only – Especial A Whole Lot Of History/Em Andamento
Better With You II – One Direction/Em Andamento
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