Finalizada em: 06/01/2019

Capítulo Único

(Essa história é inspirada na música Ex do James TW, para ouvi-la clique aqui).


O corredor vazio e silencioso do prédio está escuro exceto pela luz do elevador que indica que ele está parado no meu andar. Eu estou de costas para a porta do apartamento, meu coração e meu cérebro travando uma batalha, razão e emoção brigando como um anjo e um diabo em meus ombros. O barulho do meu celular quebra o silêncio do corredor e eu leio a mensagem de Dylan, meu melhor amigo, questionando se eu já sai de casa. Encaro a tela por alguns segundos, meus dedos suspensos no ar sobre o teclado, a resposta ainda incerta. Suspiro passando a mão pelo rosto e digito uma confirmação rápida antes de guardar o celular de volta no bolso e entrar no elevador de uma vez.

O caminho até o bar onde eu encontrarei meus amigos não é longe, mas se eu for honesto esse definitivamente não é o motivo de eu escolher ir a pé. A verdade é que se eu pegar um táxi eu terei menos tempo para considerar a minha decisão de sair de casa essa noite. Talvez a minha decisão tenha sido precipitada. Talvez eu esteja apenas querendo me livrar dos meus amigos que passaram as últimas três semanas perguntando onde eu estive esse tempo todo e se eu iria finalmente sair do apartamento onde estive enfurnado pelos últimos 23 dias, recluso de qualquer contato com qualquer conhecido. Os únicos visitantes que aparecem ocasionalmente são os entregadores de comida que eu já conheço pelo primeiro nome.

Enquanto eu caminho pelas ruas já apinhadas de pessoas falando alto, com garrafas de cerveja na mão e prontas para uma noite que promete recompensá-las após uma semana intensa de trabalho, eu não paro de repetir para mim mesmo que é só um ou dois drinks. Que mal pode fazer? Apenas umas horinhas rodeado de amigos que poderiam me ajudar a parar de pensar um pouco na única pessoa que vem ocupando minha mente ultimamente; você.

Eu sei que eles tentarão me apresentar a outras mulheres. Que arranjarão qualquer desculpa para me fazer conversar com outras que podem me fazer esquecer você. Mas, mais ainda, eu sei que eu vou apenas concordar e fazer a vontade deles somente para acabar logo com tudo e poder voltar ao conforto do meu apartamento e para o calor dos meus lençóis que já não tem mais o seu cheiro para me confortar.

Antes mesmo de chegar à rua onde vários bares se aglomeram já é possível sentir no ar a agitação. Mais uma vez eu me questiono se sair de casa foi uma boa ideia, mais uma vez me pergunto se essa não é mais uma tentativa frustrada de te tirar da minha mente, de arrancar você do meu coração a qualquer custo. Antes que eu possa mudar de ideia uma voz grossa chama meu nome, despertando-me dos meus devaneios e me fazendo olhar para o outro lado da rua e ver Theo, meu amigo desde os tempos da faculdade.
— Cara, quanto tempo! – apesar do seu tom divertido, sei que todos os meus amigos estão um pouco chateados comigo por causa do sumiço nas últimas semanas. – Tá charmoso com essa barba por fazer.

Ele me abraça com força e depois pega meu rosto e me dá um beijo na bochecha, coisa que ele costuma fazer com todos os amigos próximos e já nos rendeu boas gargalhadas.
— Gostou? – entro na brincadeira e toco a barba rala, resultado da mais pura preguiça já que eu estava sem barbeador em casa e nada seria capaz de me fazer ir até o mercadinho da esquina comprar um.

Caminhamos o resto do caminho conversando sobre amenidades e os últimos acontecimentos, especialmente os que eu havia perdido por decidir me trancar em meu apartamento e me isolar por completo. Um dos braços de Theo está em volta do meu pescoço e por ele ser mais alto e mais forte do que eu, sair daquele abraço é quase impossível.

Entramos em um dos bares – o que parece estar mais cheio e ser o mais barulhento – e rapidamente vejo a mesa já ocupada por Dylan e Zack, outro amigo da faculdade. Mais uma vez sou puxado para abraços calorosos e piadinhas infames e mais uma vez entro na brincadeira e tento me divertir com os caras que sempre me deram força e me apoiaram nas minhas decisões e que, por mais que adorem pegar no meu pé, são os irmãos que a vida me deu.

Dylan comunica que já pediu as cervejas geladas e coincidentemente na mesma hora o garçom chega com elas.
— Eu gostaria de propor um brinde. – Dylan anuncia. – Um brinde ao nosso companheiro que passou por muito sofrimento nas últimas semanas, mas que agora está de volta e pronto para seguir a vida e amar a próxima… já que a anterior não deu certo.

Rimos da sua piadinha e brindamos. Por alguns segundos sou capaz até de me enganar e fingir que será fácil te esquecer nessa noite, mas o diabinho em meu ombro rapidamente sussurra seu nome e me faz lembrar de como era estar em seus braços, sentir o perfume cítrico dos seus cabelos enquanto você deitava a cabeça em meu peito e caía no sono rapidamente.

Enquanto colocamos o papo em dia reparo na movimentação de pessoas ao nosso redor. No pequeno palco improvisado uma banda parece ajustar os últimos detalhes para a apresentação a julgar pelos instrumentos dispostos, o barulho que é já alto no lugar, em breve será quase ensurdecedor. Outra rodada de cerveja chega a nossa mesa e brincamos novamente, dessa vez sem anúncios ou discursos.

Zack conta de sua última experiência com uma mulher que conheceu no Tinder e nos faz rir do encontro desastroso que acabou com ele tendo que fugir de dois rottweilers e quase melando as calças de medo. Permito-me aproveitar o momento e sorrir verdadeiramente pela primeira vez em um bom tempo, só então percebendo o quão natural estar me divertindo com meus melhores amigos ainda é.

Já com mais litros de cerveja em mim do que eu gostaria, vejo Dylan se levantar e cumprimentar uma mulher com cabelos pretos com pontas coloridas. Ela sorri quando ele diz alguma coisa e ele rapidamente a apresenta à Zack e Theo, então se dirigindo até mim e apresentando sua amiga de forma diferente de como fez com os outros.

Ela se apresenta como Cora e eu rapidamente me levanto e dou dois beijos em suas bochechas, o sorriso no meu rosto já mecânico por causa do álcool.
— Ela é minha colega de trabalho. – Dylan esclarece, mesmo sem eu ter perguntado nada.

Balanço a cabeça afirmativamente para dizer que compreendo e volto a me sentar e rapidamente interagir com Zack e Theo. Não demora para que Dylan volte a se sentar e chute a minha canela por debaixo da mesa. Meu palavrão é abafado pela voz do cantor que apresenta a banda e começa a tocar um cover de uma música de rock dos anos 80.
— Compra uma bebida para ela! – ouço Dylan falar por cima da música.

Ele aponta discretamente para onde Cora está conversando com uma amiga e eu dou de ombros esperando que ele entenda e aceite o meu desinteresse, mas parece até que eu esqueci com quem eu estou lidando.
— Vai, cara. Só uma cerveja. A Cora é gente boa, tem um emprego legal e você precisa sair dessa fossa e conhecer gente nova. Toma aqui. – Ele deposita uma nota em cima da mesa e eu reviro os olhos.
— Guarda esse dinheiro, seu bosta. – brinco, jogando a nota de volta para ele. – Eu vim hoje aqui para beber umas cervejas com meus melhores amigos, só isso.
— Acho que você esqueceu de avisar pra eles. – Entre risadas ele aponta para onde Zack e Theo estão em um grupo de mulheres conversando e fazendo-as rir. - Só compra uma cerveja pra ela e bate um papo.

Olho mais uma vez para Cora que dessa vez me encara de volta e sorri. O sorriso dela quase me lembra o seu. Talvez pela cor do batom vermelho intenso como os que você sempre usava. Pego a cerveja da mesa e me levanto recebendo um sorriso encorajador de Dylan. Enquanto caminho até Cora a banda começa a tocar uma música da sua banda favorita, por sorte não é uma daquelas que costumávamos cantar a toda altura no carro.

Conversar com Cora é fácil. Ela é inteligente e se comunica bem, seus braços estão sempre se movimentando na mesma intensidade das suas palavras. Sua risada é melodiosa e controlada, diferente dos seus risos escandalosos que sempre terminavam com você soltando um ronco como um porquinho e consequentemente voltando a gargalhar e contagiando todos a sua volta.

Enquanto ela me conta sobre sua última viagem para fora do país eu sinto vontade de perguntar qual é a bebida favorita dela já que ela está sem um drink nas mãos, nem mesmo cerveja, mas e se ela amar Martini de limão e maçã como você? Eu seria capaz de comprar a sua bebida favorita para outra mulher? A resposta é não e ela me atinge como uma facada no estômago. Relembro que alguns dias depois que você se foi eu tentei fazer o Martini de limão e maçã do jeito que você fazia, mas bastou que a bebida encostasse em meus lábios para eu saber que não ficara nada parecida com a sua.

Quando eu sinto a mão de Cora tocar em meu braço enquanto ela ri de algo que eu disse – e que com certeza não foi engraçado - eu percebo que estar ali não é uma boa ideia. Com a mente já inebriada pelo álcool eu não consigo lembrar por que achei que sair de casa hoje seria uma boa ideia. Eu deveria ter imaginado que a noite terminaria assim, com uma garota que não é você tocando meu braço e rindo de algo apenas para me agradar. Eu quase posso sentir você sumindo da minha mente enquanto me esforço para prestar atenção no que Cora está dizendo. Você ainda está aí?

Uma movimentação estranha ao meu redor chama a minha atenção para a música romântica que a banda toca agora. Muitos casais se aproximam do palco e começam a dançar abraçados. Posso ver a expectativa nos olhos de Cora quando ela observa os casais e me olha, um pedido mudo para que façamos o mesmo. Sentindo-me tonto e um pouco enjoado eu me desculpo efusivamente e peço licença já olhando ao redor e constatando que Dylan se juntou à Zack e Theo na conversa com o grupo de mulheres perto da mesa onde estávamos sentados. Aproveito a distração deles e encontro Félix, o garçom da nossa mesa e coloco algumas notas em sua mão pedindo que ele abata da conta final e que diga aos meus amigos que precisei ir para casa por não estar me sentindo muito bem.

Enquanto faço o caminho até o meu apartamento agradeço por me afastar do barulho e do cheiro de fritura e cerveja do bar. Eu sabia que meus amigos não me perdoariam por ter fugido como um frouxo, mas como eu posso explicar para eles que eu podia sentir você escapar de mim a cada sorriso que eu trocava com outra mulher, cada vez que a minha pele reagia ao toque dela? O quão absurdo eles pensariam que é o meu medo de me interessar por outra pessoa, de querer outra mulher que não seja você?

A verdade é que me apaixonar por outra mulher significa deixar você ir de vez. Se eu me permitir amar outra pessoa terei que encarar o fato de que você é só mais uma ex e a única coisa que meu coração e meu cérebro parecem concordar ultimamente é que eu não estou pronto para superar você. Para superar nós dois, a nossa história. Deixar você partir foi a coisa mais difícil que já tive que fazer, mas como impedir você de viver seu sonho? Eu sempre soube que essa cidade era pequena demais para você, que um dia você voaria alto e para longe de mim, mas nada podia me preparar para a dor de te ver sair pela porta do meu apartamento sem olhar pra trás.

Quando fecho a porta de casa levo minhas mãos aos meus cabelos, puxando-os com força enquanto caminho pela sala silenciosa. O seu rastro ainda está por todo o lugar. Nos móveis que você me ajudou a escolher, nos porta-retratos com nossas fotos, nos post-its que você gostava de colar pela casa com seus quotes de livros favoritos.

Pego o celular em meu bolso e conecto à caixa de som, deixando que a sua música favorita preencha silêncio o apartamento e então eu danço sozinho. Danço sozinho por medo de te esquecer e fazer de você apenas mais uma ex. Eu não estou preparado para isso.

Não ainda.



Fim.



Nota da autora: Olá! Essa história é fruto de muitas horas ouvindo Ex e uma madrugada lendo histórias inspiradoras (Oi, Larys!). Não lembro de já ter escrito uma nessa formato e com o PP falando diretamente com o leitor, então a principio fiquei um pouco insegura, mas no final gostei do resultado. Se puderem tirar um tempinho para deixar um comentário logo aqui embaixo vocês farão uma autora MUITO feliz. Caso queira conhecer mais das minhas histórias, não deixe de entrar no grupo do Facebook (link logo ai embaixo) para encontrar playlists, atualizações de fanfics em andamento e discussões legais. Obrigada por darem uma chance a minha história. Beijo!





Outras Fanfics:
2030 (Outros - Finalizada)
Addicted (Mcfly - Finalizada)
All She Dreams (Mcfly - Finalizada)
A Much Closer Christmas (Spin-off natalino de Closer - Finalizada)
Closer (Outros - Finalizada)
Decoy (Restrita - Finalizada)
Don't Let This Memory Fade Away (Restrita - Finalizada)
Entre Livros e Sexo (Restrita - Finalizada)
The Not-Xmas Day (Conto de Natal)
Tudo em Você (Outros - Finalizada)
You're Still The One (Parte 2 de Addicted - Finalizada)


comments powered by Disqus