Finalizada em: 24/06/2020

[Capítulo Único]

— Calma, ! É só mais um ano naquela velha escola, eu sei que você consegue aguentar aquela gente que só faz você se sentir mal a cada dia... — eu disse a mim mesmo, ajeitando o casaco, enquanto encarava o meu reflexo no espelho. — Que droga! Mais um ano sendo otário...
— Ya, ! — invadiu o meu quarto e se jogou na cama. — Não está animado para o seu primeiro dia de aula?
— Não, nem um pouco. — respondi desanimado, me virando para olhá-la. — A mamãe te fez vestir essa roupa de princesa?
— Na verdade, eu que escolhi. — respondeu, orgulhosa. — E não é roupa de princesa, é só um vestido que ganhei de aniversário. — deu de ombros.
— Mas, como você é uma princesa, qualquer roupa que usar é de princesa.
— Bem, pensando assim… — ela pensou um pouco e eu ri, mexendo em seu nariz. — Agora preciso ir, mamãe só me pediu para te chamar.
saltou da minha cama e bateu a porta com força, saindo como um furacão. Minha irmãzinha é muito esperta para a sua idade, costuma me surpreender com os conselhos e broncas que me dá. Sim, conselhos e broncas.
— Pensei que não sairia do quarto, ! — minha mãe disse, ao me ver chegando à cozinha.
— Desculpe, eu estava tomando coragem para enfrentar mais um ano naquela escola. — me sentei à mesa.
— Coragem não te alimenta; café, sim. — ela pôs a minha caneca sobre a mesa — Filho, aguente firme, é só o último ano. Já conversamos sobre isso, lembra?
— É claro que eu lembro, isso foi ontem. — começou uma risadinha baixa e nós a acompanhamos. — Estamos atrasados?
— Graças a mim, não. Mas, você precisa começar a tomar tenência, , não vai me ter sempre aqui para te acordar no horário. — disse, pegando mais um pão de queijo e eu olhei em direção à minha mãe, impressionado.
— Pensei que a mãe fosse eu nessa família. — minha mãe brincou e deu de ombros. — Estou indo trabalhar. Terminem de comer rapidamente, não quero que se atrasem logo no primeiro dia de aula.
Minha mãe ajeitou o seu vestido justo de cor cinza e bagunçou seu cabelo, frente ao espelho, colocou suas sandálias pretas no pé e pegou a bolsa em cima da cadeira. Eu a achava a mulher mais linda do mundo! Não só pela beleza, mas, pela mãe e esposa incrível que ela é. Não deve ser fácil para ela cuidar da casa e de dois filhos praticamente sozinha, já que o meu pai vive viajando; ele é lutador profissional. Ele que me ensinou alguns golpes, mas eu queria ser tão bom quanto ele. Queria ter a força física do meu pai e a valentia da minha mãe, seria a mistura perfeita.
— Não se esqueçam de trancar a casa, ouviram? — nós assentimos e ela sorriu, nos dando um beijo estalado na bochecha. — Amo vocês, meus bebês. Se cuidem!
Ela saiu da casa e ficou me olhando, tediosa; fiquei incomodado.
— O que houve?
— Você não ouviu a mamãe? Quer que a gente se atrase no primeiro dia de aula? — ela revirou os olhos e pegou sua mochila. — Te espero lá na sala.
— Nada de ligar a TV, já terminei e vamos para o colégio agora.
Depois de pedalarmos por algumas quadras, chegamos à escola; depois de guardar a minha bicicleta e a de , The Party's Just Begun começou a tocar na rádio do colégio e minha irmãzinha logo me olhou.
, lembra dessa música? — perguntou, sorrindo ladina.
— A nossa música?! — ela assentiu, começando uma dancinha engraçada.
Por alguns segundos eu me esqueci onde estava e dancei com como se não houvesse aula em alguns minutos. Pouquíssimas pessoas nos olhavam, mas, pela primeira vez na vida, eu não me importei.
— Agora chega. Tenho que te levar para a sua sala e depois sigo para a minha aula. — assentiu, sorrindo abobalhada. — Vamos!

♬♪♫

No horário de intervalo, eu passava em frente ao portão da escola, quando escutei alguns gritos.
! — ouvi uma voz feminina me chamar e eu olhei ao meu redor, curioso. — Ya! Por que está me ignorando? — a menina com a camisa do Flash, calça jeans preta e tênis vermelho, perguntou.
— Está falando comigo? — ela revirou os olhos e eu a reconheci.
— Há outro nesta escola?
— Na verdade, sim, inclusive na nossa turma.
— Você tem algum apelido? — ela cruzou os braços e eu ergui as sobrancelhas.
— Pode me chamar de .
— Okay, . — ela soprou o chiclete, que fez um alto estalo.
— Por que me chamou? Nunca nos falamos antes. — eu a indaguei, desconfiado e ela deu um passo à frente.
— O meu grupo de dança está precisando de um novo integrante. — ela pigarreou — Gostaria de entrar?
— Desculpe, eu não danço. — eu estava prestes a me afastar.
— Mentira. — arqueei uma sobrancelha e ela me encarou — Eu vi você dançando com a sua irmã.
— Não, você me viu brincando com a minha irmãzinha. — me virei para olhá-la melhor.
— Então consegue fazer melhor que aquilo? — ela me lançou um olhar desafiador.
— Sem dúvidas! — respondi com firmeza na voz e ela riu, ladina.
— Ótimo! — ela sorriu ladina. — Me encontre depois da aula, lá na quadra de basquete.
— Espere, eu não disse que entraria no grupo.
— Também não disse o contrário. Até Mais. — franzi a testa — , até quando você vai ficar se escondendo por causa dos idiotas deste lugar?
— Os idiotas não estão só por aqui. — respirei fundo — E você não sabe nada sobre mim.
— Sei mais do que imagina! — ela ergueu uma sobrancelha e alongou seus braços — Quando você se liberta dessa corja toda, só quer que o resto do mundo vá se ferrar. Mas, eu quero te ajudar.
— Eu não preci…
— Não seja tão orgulhoso, , sei que você se sente um merda aqui. — mordi o lábio inferior, segurando a minha raiva. Como ela poderia saber disso? — Mas você não é e eu posso te provar isso.
— Como?
— Hoje, na quadra de basquete, depois da aula. — ela me encarou, novamente. — Te encontro lá.
A garota me deu as costas e saiu caminhando a passos largos para dentro da escola; sei que ela é da minha turma, mas ainda não tenho conhecimento sobre o seu nome.
O sinal bateu, indicando o fim do intervalo. Okay, aula de Física. Não sei se posso dizer que é a minha disciplina favorita, mas eu gosto bastante; modéstia à parte, sou o melhor da turma.

♬♪♫

— Então é você que está no Team B agora? — um cara mais alto e mais forte que eu se aproximou, meio alterado. — É sério que eles pensam que irão ganhar o concurso com você na equipe? Que piada!
O carinha revoltado se juntou à outros e cochichavam algo sobre mim, pois apontavam em minha direção e faziam caretas. Não deixei transparecer o meu medo, engoli o seco e me direcionei à minha sala, mas fui parado por ele.
— O-o que você quer comigo? — perguntei, tentando não transparecer o meu pavor.
— Tá com medinho? — o cara grandão soltou uma gargalhada alta e os outros o acompanharam. — Se liga, você acha que pode me substituir no grupo? O Team B não é nada sem mim!
— Cara, eu não sei do que você está falando, apenas....
— Deixe-o em paz, Jay! — a mesma garota da minha turma apareceu. — Ele não fez nada a você.
— Você acha que alguém pode me substituir? — Jay olhou para a menina — Pensa que eu não sei que o chamou para ficar em meu lugar?
— Você não tem mais lugar na nossa equipe, Jay. Agora o Team B está bem melhor.
— Bem melhor? — ele novamente riu — , você acha mesmo que o Team B ganhará o concurso só por que esse desnutrido entrou para a equipe?
Só por que não tenho tantos músculos quanto ele, sou desnutrido? É incrível como conseguem esticar tanto a musculatura, mas atrofiam do mesmo modo o cérebro.
A parte boa dessa "conversa" é que descobri algo importante, como a bela garota se chama. é o seu nome… Tão bonito quanto ela!
— Ele têm muitas habilidades na dança. — me defendeu.
— E uma delas é dançar com a irmãzinha também desnutrida? — agora os caras que o acompanhava riam sem parar.
— Não fale da minha irmã, ela é só uma criança! — me enfureci.
— Não me interessa. — disse, de forma agressiva. — Um franguinho como você não faria metade de tudo que faço.
— Não sei o que costuma fazer, mas eu danço. E posso até apostar que faço isso bem melhor que você.
sussurrou, segurando em meu braço. — Tome cuidado com o que diz, Jay é traiçoeiro e pode tentar armar algo contra você.
— Eu não ligo, ele falou da minha irmãzinha. — respondi, sem deixar de encará-lo.
— Por ela, , deixe esse babaca achar que é melhor que o mundo inteiro, mas não o provoque.
— Jay disse, cruzando os braços. — Então é esse o seu nome?!
— Deixe-o em paz!
— Estou curioso… — Jay arqueou uma sobrancelha — Qual é o seu interesse em defendê-lo, ?
— Na verdade, você só quer saber se estou ou não ficando com ele. — ela respondeu, o lançando um olhar desafiador.
— E está?
— Não é problema seu!
deu um leve chute na porta e a mesma se abriu, deixando os alunos incrédulos, afinal, quando imaginariam que eu estaria a acompanhando? Já o professor estava irado e eu não tirava a sua razão.
— Ele gosta de você, é nítido. — eu disse e ela deu de ombros.
— Mas eu não gosto dele. — me olhou de relance — Eu jamais teria interesse em um cara tão babaca quanto Jay.
— Então ele é sempre assim?
— Sim, cafajeste de nascença. — respondeu, me fazendo rir e ela soltou uma risadinha. — Diferente de você.
— Mas, você não sabe nada sobre mim. — eu novamente disse.
— Repito: sei mais do que imagina! — a olhei, intrigado. — Agora vamos para a aula.
deu um leve chute na porta e a mesma se abriu com certa violência, deixando os alunos incrédulos, afinal, quando imaginariam que eu estaria a acompanhando? Já o professor estava irado e eu não tirava a sua razão.
— É assim que se entra em uma sala, ainda mais com a aula em andamento? — professor Luke ajeitou seus óculos e apertou os olhos. — , desde quando você se atrasa para uma aula minha?
— E-eu…
— A culpa é minha. — me interrompeu, dando uma cotovelada em minha costela e eu perdi o fôlego por alguns segundos. — estava passando mal e eu o ajudei.
? — professor Luke ajeitou os óculos, novamente.
— É o apelido do . — respondeu, simples.
— E desde quando você ficou tão generosa, senhorita ? — ele rebateu, desconfiado.
— Ah, professor… Às vezes, é necessário fazer o bem.
— Ainda mais sem olhar a quem... — uma das garotas mais cobiçadas da turma disse, me olhando dos pés à cabeça; suas amigas fizeram o mesmo.
— O que quer dizer, Isa?
deu um passo à frente e a outra garota já se levantava de sua mesa, mas foram interrompidas por professor Luke.
— Na minha aula só se briga por apresentação de trabalho e, , você é a próxima. — ele disse, despreocupado.
— Já começou? Que droga! — correu até uma das mesas ao fundo e deixou sua mochila sobre a cadeira, retirando um papel de lá.
— Vale apresentar lendo a matéria em um papel, professor? — Isa provocou.
— A menos que você queira ajudá-la, vale, sim. — professor Luke respondeu, deixando-a irritada. — Sente-se logo, !
Obedeci o professor e me dirigi à primeira mesa que avistei. já estava se apresentando, juntamente com o seu grupo. Ela falava com tanta propriedade e ousadia, que eu me sentia ainda mais idiota a admirando. Mas, ainda estava intrigado com tudo o que tinha acontecido.

♬♪♫

Fim de aula. Fui buscar em sua sala, mas a mesma não estava lá; eu mal conseguia ouvir as explicações da professora ao dizer que não sabia quem havia levado a minha irmã. Uma das crianças disse que uma menina com a camisa do Flash segurou a mão de e a tirou de sala. Meu sangue ferveu como nunca antes, eu sabia exatamente quem teria a audácia de fazer isso.
Saí dali como se não houvesse um amanhã e fui para a quadra de basquete, passando pelas pessoas como um furacão. Avistei dançando com e a minha raiva subiu mais ainda; eu, preocupado com o que poderia estar acontecendo a ela, e as duas totalmente despreocupadas, dançando como se fosse a última coisa a se fazer na vida.
— Qual é o seu problema? — meu tom de voz estava alterado e eu não queria diminuí-lo.
— Calma aí, irmãozinho. — um garoto dentuço colocou a mão à minha frente, na tentativa de me parar.
— Calma o caramba! — eu bati em sua mão e encarei . — Eu perguntei: qual é o seu problema?
— Por que você acha que eu teria algum? — seu tom de voz era de deboche, o que me deixou mais irado.
— Porque se fizer isso de novo é o que terá!
— Ya! Não vou deixar que a ameace, ainda mais aqui em nosso território. — um menino bem mais baixo que os outros disse.
— Isso aqui é uma quadra de basquete e qualquer aluno pode ter acesso a ela, não é um espaço exclusivo de vocês. — eu disse a verdade — Outra coisa, fique quieto, você não sabe o que aconteceu. Minha irmã foi "sequestrada" por essa garota. — apontei na direção dela.
— Ah, por favor, deixe de drama! — rolou os olhos, impaciente. — E não fale dessa forma, eu tenho nome e você já sabe qual é ele.
— Que se dane!
, ficou louco?! Não se fala assim com uma garota! — disse, com as mãos na cintura e fazendo carinha de brava.
— Desculpa, eu estou nervoso! Fui te buscar na aula e a professora disse que não sabia com quem você tinha saído da sala, mas um coleguinha falou que a garotinha ali com a camisa do Flash tinha te tirado de lá.
— Foi só uma brincadeira, . — disse e meu olhar, que antes estava em , agora se voltou à ela. — Eu sabia que trazendo a sua irmã para cá, você viria atrás dela.
— Desculpe a grosseria, , mas com isso não se brinca. — eu disse, já com o tom de voz diminuído e ela assentiu.
— Tudo bem, eu exagerei mesmo. — ela pigarreou — Me desculpe também.
— Desde quando você pede desculpas a alguém, ? — o garoto dentuço perguntou.
— Desde que essa pessoa seja o . — ela respondeu simples, fazendo o garoto rir, impressionado. — Quero que conheçam o novo integrante do…
— Ya! Eu ainda não confirmei nada, vocês nem me viram dançando e...
— Na verdade, eu te gravei hoje cedo com a sua irmã e mostrei para a galera. — respondeu, rapidamente, e pôs a mão sobre a boca, prendendo a risada.
— Você o quê? — eu arregalei os olhos e a essa altura todos já acompanhavam , que gargalhava alto. — Era uma dança boba, eu faço melhor que aquilo.
Me defendi, enquanto coçava a cabeça, pareciam não acreditar muito. Minha irmãzinha se contorcia de tanto rir, mas nem sabe que só inventei aquela dancinha para ela.
— Vem, , mostre que você sabe dançar para valer! — uma menina de cabelo curto, tingido de rosa, disse.
— Zynmi, deixe ele se sentir confortável entre nós. — disse.
— Tudo bem — ela me olhou, surpresa — Eu vou dançar.
— Tem certeza? A gente pode te dar um tempo a mais e…
— Eu quero tentar. — respondi num tom baixo, interrompendo-a e ela assentiu.
— Tem o meu total apoio. — deu um sorriso contido e eu quase me desnorteei ao vê-lo.
! — ouvi me chamar e ao mesmo tempo puxar o meu casaco; a olhei, simples. — Vai dedicar sua dança a mim? — ela sorriu, abobalhada, e ficou se remexendo.
— O que eu não faria por você, irmãzinha?
Um sonoro coral se fez presente na quadra, cantando: "ohhh" e eu fiquei meio tímido. puxou ainda mais o meu casaco e eu abaixei para ficar com sua altura, ouvindo-a dizer:
— Pois então, trate de fazer uma boa apresentação. — eu arqueei as sobrancelhas — É o meu nome que está em jogo.
— O seu nome?
— Sim. Apostei com os meninos que você dançaria bem melhor do que fez hoje cedo, não me faça perder metade da minha mesada.
Ela me empurrou, fazendo-me cair para trás e foi quando eu dei impulso, levantando em um salto rápido; todos já me olhavam, curiosos.
I'm a Superstar começou a tocar e eu deslizei os meus pés, fazendo um círculo, logo fiz uma ondinha com os meus braços e, foi quando, de fato, o break dance me tomou e eu fiz movimentos mais precisos e muito bem executados; a minha leveza e habilidade impressionava a todos, eu conseguia perceber. Finalizei a dança, girando os joelhos no chão, para à direita e para à esquerda, logo me levantei, dei um salto rápido e mandei um beijo no ar para , que sorriu satisfeita.
Respirando fundo, tentando recuperar o meu fôlego, me aproximei do grupo. me olhava de forma diferente, mas continha o sorriso que estava quase estampando o seu rosto e, se não fosse loucura minha, diria até que admirava o meu físico – não tão robusto quanto o do meu pai, porém, definido de acordo com o meu corpo.
— E então? — perguntei, olhando a todos com curiosidade.
— Você gostou do que fez? — o garoto dentuço perguntou.
— Acho que sim, estou satisfeito. — Zynmi sorriu, colocando as mãos sobre a boca. — Não era para estar?
— Você precisa ser confiante, sempre. E não tem que pedir ou esperar pela aprovação dos outros. — o mais baixo disse, com firmeza. — Conseguiu nos deixar boquiabertos e isso não costuma acontecer com frequência.
— E o que isso quer dizer?
— Você está na equipe. Os ensaios acontecem todos os dias, depois da aula, aqui mesmo na quadra e…
— Mas, só precisou disso para eu estar na equipe? — perguntei, confusa, afinal não dancei tanto assim.
— Você nos mostrou o suficiente. — ele respondeu, simples.
— Na verdade, , eles estão desesperados porque o concurso é daqui a duas semanas e o melhor dançarino da equipe está fora. — Jay apareceu na quadra, deixando todos visivelmente irritados.
— O que você quer aqui, cara? — Zynmi perguntou, nervosa.
— Só dar um aviso: o prêmio daquele concurso é meu.
— Está enganado, Jay, o prêmio será do Team B. — disse e ele se abaixou, para ficar da altura dela. — Quer apostar?
— Com você, não — ele mexeu no nariz da minha irmã, que reclamou. — Mas com a equipe, sim.
— O que quer? — perguntou.
— Voltar para a equipe, mas como líder.
— Sem chance! — o garoto mais baixo disse.
— Isso me soa como medo de perder. — Jay riu fraco e Zynmi quase voou em seu pescoço, mas foi impedida por uma menina mais baixinha. — Mas, se vocês ganharem, saio da cidade e nunca mais vocês irão ouvir meu nome.
— Fechad…
— Espere um pouco. — disse, interrompendo o menino dentuço. — Por que você nos faria tamanho favor? Porque não ter sua presença pela cidade é melhor até do que ganhar o concurso.
— A dança é a única coisa que me prende aqui, mas agora…
— Foi você quem quis sair da equipe. — ela rebateu.
— Fui expulso, injustamente.
— Olha, eu adoraria ficar mais, mas preciso levar a minha irmãzinha para casa.
— Ah, , estou participando do Casos de Família ao vivo e você quer me impedir de ver isso? — disse, indignada, fazendo o clima ficar mais leve com as risadas que todos soltaram.
— Ya, menina esperta! Vamos para casa.
— Tudo bem, até mais, galera.
fez bico e saiu caminhando na frente, me despedi de todos e fui atrás dela.
! — corri atrás dela.
— Só quero saber como será a reação do papai quando souber que você irá participar de um concurso.

♬♪♫

2 semanas depois.
— Concurso de dança? — meu pai me olhou, incrédulo, e eu mais ainda por não ter contado nada.
— C-como sabe? — pigarreou, antes de bebericar o seu leite na caneca da Minnie. — Sua...
— Não fale da sua irmã, , ela é um anjo sem asas. — minha mãe a protegeu, enquanto também se sentava à mesa.
— Imagine se as tivesse…
— Eu já as teria cortado. — minha mãe disse, nos fazendo rir. — Fico muito feliz que esteja se enturmando no colégio, ainda mais para fazer algo que tanto gosta.
— Ele tá até namorando.
começou a rir e os meus pais me olharam no mesmo instante, como se eu tivesse cometido um crime.
— Não é verdade, estou focando apenas nos estudos e na dança.
— Sendo assim, fico mais tranquila. — minha mãe pegou a sua bolsa e levantou da mesa — Amo vocês, mas preciso ir agora. Juízo à todos!
— Enquanto você fica nessa lerdeza, eu vou assistir desenho. — ligou a TV e se jogou no sofá.
Meu pai me olhou de rabo de olho e eu jurava que receberia uma bronca enorme por estar dançando, ainda mais depois da minha irmã ter falado sobre . Não temos nada, só ficamos mais próximos nessas duas semanas. Nada demais.
— Não vou te dar uma bronca, se é esse o seu medo. — meu pai disse, de modo aleatório.
— Não estou com medo disso, só quero a sua aprovação para…
— Filho — ele colocou o tablet sobre a mesa — Eu te apoio em toda e qualquer decisão que precisar tomar.
— Gostaria que fosse me ver dançando.
— Se isso te fará feliz, tudo bem. — ele pegou o tablet de volta — Quando será?
— Hoje, por isso estou eufórico.
— Eu, sua mãe e sua irmã estaremos lá para te dar todo o nosso apoio.
— Obrigado, pai. — ele sorriu para mim e bagunçou o meu cabelo.
— Agora preciso ir ao treino, tranque toda a casa e leve sua irmã à escola.
— Mas hoje não temos aula.
— É verdade, eu havia me esquecido disso. — meu pai pensou um pouco — Mas eu preciso sair agora, então cuide de sua irmã.
— Não poderia levá-la contigo? — ele franziu a testa e tombou a cabeça — Eu queria me concentrar para o concurso, mas não vai deixar.
— Filho, hoje eu não posso, também estou treinando pesado para a luta da próxima semana. — eu bufei, vendo rir, debochada. — Ya! Não é para implicar com o seu irmão, estou de olho em você, mocinha!
— Como estaria de olho em mim se você vai sair agora? — perguntou, cruzando os braços e o meu pai se abaixou para ficar na altura dela.
— Não me faça deixá-la sem mesada... — ele disse com a voz mansa e minha irmã fez cara de choro, assentindo. — Hoje é um dia importante para . Seja uma boa irmãzinha e coopere com ele.
— Mas pai, eu… — tentou argumentar.
— É isso, ou fica de castigo. E eu sei que você não vai querer deixar de comprar brinquedos e sorvete de morango no Dumb Shopping, não é mesmo?! — ela suspirou fundo, concordando com a cabeça. — Tenha uma boa preparação, filho.
— Sim, senhor. — brinquei, batendo continência e ele me deu um soco de leve no braço.
Arrumei a mesa do café da manhã, rapidamente, e corri até o meu quarto, separando as minhas roupas de dança e as colocando dentro da mochila. De repente, me olhei no espelho e percebi o quão nervoso estava, mas o quão satisfeito com o meu progresso havia ficado.
— Tô orgulhoso de você, ! — eu disse para o meu próprio reflexo.
— Falando sozinho? — invadiu o meu quarto, me assustando. — Eu também tô orgulhosa de você! Finalmente seguiu os meus conselhos e agora tá junto com a .
, a não gos…
— Se disser que ela não gosta de você, darei dois tapas na sua cara. — minha irmã colocou as mãos sobre a cintura. — Deixe de ser lerdo e se dê a chance de amar. — ela saiu do quarto e bateu a porta com força.

♬♪♫

não sabe, mas aquelas palavras ficaram ecoando em minha mente até o momento em que estava prestes a entrar no palco. Coração acelerado, suor frio, mãos trêmulas… Alguns dos sintomas que eu sentia devido a ansiedade.
Sim, eu estou prestes a dar um grande passo em minha vida, se não o maior de todos: dançar em rede nacional. O concurso tão esperado pelo Team B está acontecendo e agora é o meu momento. Esse é o meu momento e ninguém pode tirá-lo de mim.
— olhei para trás e era , vestindo um moletom todo preto e tênis colorido de salto. — Vim te desejar boa sorte, estaremos juntos logo, logo.
— O que quer dizer? — indaguei, esperançoso.
— Que você entra no palco primeiro e depois todo o Team B estará lá contigo. — eu assenti, abaixando o olhar. — E que, se você quiser, podemos ficar juntos além do palco.
Ela me deu um beijo rápido e os outros membros da equipe gritavam, para a minha vergonha. Nos afastamos, sorrindo um para o outro em comemoração.
Ajeitei minha regata branca, escrita: "killing me", puxei a calça jeans preta, bati com os pés no chão para admirar o tênis e joguei o cabelo para trás. Respirei fundo ao olhar a multidão de pessoas que estava esperando o show começar.
, se acalme, você consegue! — eu disse a mim mesmo.
— É claro que consegue, bobão! — ouvi a voz de invadir o local e eu me virei para olhá-la, ela pulou em meu colo. — Estamos aqui para te apoiar.
— Todos nós. — minha mãe disse, se aproximando junto ao meu pai. — Estou muito feliz por você. Independente do que aconteça, você já é um vitorioso por ter chegado até aqui.
— Filho, me surpreende que a sua timidez não te impediu de fazer o que mais ama. Estou orgulhoso! — meu pai bagunçou o meu cabelo e eu sorri para ele.
— Falei com eles sobre a , se quiser namorar com ela, tem a aprovação da sua família! — minha irmãzinha falou, de forma animada.
! Eu disse que iria pensar, seu irmão é novo demais.
— Mamãe, não é mais criança, deixe que ele seja feliz. Ou não lembra que já teve a idade dele? — eu franzi a testa, colocando no chão.
Às vezes, a minha irmã me assusta muito com esse seu jeito tão adulto e sensato, além da sabedoria para falar com todos.
— Vamos para o outro lado, quero assistir e filmar a tudo. Boa sorte, filho! — meu pai disse, me esmagando num abraço e sendo acompanhado por minha mãe e .
Ouvi o Team B ser chamado e as luzes foram apagadas, Sinosijak começou a tocar e eu dei um salto até o palco, lançando movimentos que faziam um belo efeito junto com as luzes que agora piscavam. O sentimento de poder estar ali, mostrando o que eu sei fazer de melhor a todos é inexplicável. Indescritível, porém inigualável.
As luzes piscaram mais forte quando o refrão da música se aproximou e quando ouvi: "SI-NO-SI-JAK…", olhei para trás, Team B entrou no palco como uma explosão, exatamente quando junto a plateia pude ouvir gritarem: "SHOWTIME!".
Toda a coreografia sincronizada, com marcações precisas, riqueza de detalhes, movimentos com grau elevado de dificuldade e leveza, ao mesmo tempo que havia agressividade. Cada um dançando conforme a sua personalidade permitia, sem ficar descompassado. Em pouco tempo de ensaio, conseguimos colocar fogo em todo o palco. A platéia delirava com cada passo que dávamos, e os jurados pareciam ter olhos fixos em nós, mas demonstrando satisfação.
A apresentação havia terminado e tudo o que eu conseguia sentir se resumia em uma palavra: orgulho. Saímos do palco, eufóricos, e eu ainda estava sem acreditar que tinha conseguido vencer a minha crise de ansiedade e levantei a poeira daquele palco.
, você foi incrível! — pulou em meu colo e me abraçou forte, logo se envergonhando. — Desculpa, a sua família está bem ali nos olhando e…
Eu a puxei para um beijo mais aprofundado e pude ouvir os gritos histéricos de , o que nos fez rir. Meus pais me olhavam, orgulhosos, e minha mãe assentiu como um sinal de aprovação. Eu sorri em agradecimento.
Nossa apresentação havia sido a última, por isso, não demorou tanto para que o resultado fosse anunciado e quando aconteceu, pensei que estivesse alucinando.
, nós ganhamos! Dá para acreditar?! — me olhava, sorridente e eu só tentava processar aquilo tudo.
Todo o grupo pulava em cima de mim, dedicando a vitória ao meu contínuo esforço de duas semanas. E o esforço foi maior do que eu imaginaria que conseguia suportar, mas tudo valeu a pena!
— Tudo bem, eu tenho que dar os meus parabéns a vocês! — Jay se aproximou de nós, acompanhado de sua equipe e a nossa alegria foi contida. — Sério, fizeram um ótimo trabalho!
— Obrigada, Jay. — agradeceu, de forma seca e me abraçou.
— É uma pena que o não possa desfrutar do grande prêmio...
— Como assim? — o menino dentuço perguntou, confuso. — Você não disse que sairia da cidade se ganhássemos?
— Adios, Jay. — Zynmi disse, debochada, dando tchauzinho no ar.
— Não precisa me expulsar, galerinha, eu já estou de saída mesmo. — ele já ia saindo do palco. — Mas antes…
Ouvimos um barulho alto de tiro e nos entreolhamos, assustados. Eu olhei para a platéia, todos gritavam, corriam, se desesperava, mas nada se comparava ao olhar da minha família ao me ver. Corriam em minha direção como se eu fosse o diamante mais precioso deste mundo. Senti como se a qualquer momento eu fosse cair e teria acontecido, se não fosse pelo menino dentuço me segurar. É normal aquele desespero na face de todos a cada instante que me olhavam?
chorava como se suas lágrimas fossem criar um rio ali no local, mas eu não entendia. Então eu olhei na mesma direção em que os seus olhos estavam fixos; minha camisa de branca se tornou vermelha, o chão havia virado uma poça de sangue, a minha visão escurecia mais a cada segundo e a última coisa em que eu consegui manter foi no rosto da minha irmãzinha. Ela segurou a minha mão, mas eu já não tinha mais força para apertá-la.
Ouvi muitos gritos ao meu redor, mas nenhum se comparava ao da minha mãe. Eu quis muito tentar dizer algo a ela, mas tudo o que saía da minha boca era sangue. Uma dor forte como queimação me atingiu em cheio no abdômen e, nesse momento, o meu corpo ficou totalmente entregue a quem estava ali; a qualquer um que estava ali... Menos a mim mesmo.


[Fim]


Nota da autora: Galera, desde já peço desculpas por qualquer erro ou algo do tipo. Foi bem difícil vencer o bloqueio, ainda mais na correria, mas o iKON é um dos meus grupos favoritos no k-pop e eu não quis deixar passar a oportunidade de ter um pedacinho do meu amor por eles ema forma de história.
Espero que gostem, de verdade! ♥
Bjoo 😽






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