Finalizada em: 05/07/2018

Political Party

Segunda-feira - 6:30am

Senti uma enorme vontade de jogar aquele despertador na parede, porém não podia pois era ele que me lembrava que mais um dia de superação havia iniciado. Quem sou eu? Prazer, sou a mais requisitada e talentosa promotora de eventos de Manhattan, trabalho na Moonlight Party há um pouco mais de cinco anos e todos os eventos que organizei até hoje foram um sucesso.

Não sei dizer se isso é bom ou ruim, pois a cada trabalho que concluo sinto que a pressão para me superar só aumenta, principalmente se considerar as muitas pessoas ao meu redor que querem ver minha queda. Não é fácil ser competente, quanto mais nos destacarmos em nossa profissão, mas as pessoas nos veem como ameaças.

— Bom dia para a melhor profissional desta empresa. — disse meu chefe ao entrar na minha humilde e bagunçada sala.
— Se continuar dizendo isso, os outros irão tacar fogo em mim. — brinquei ao desviar minha atenção para ele — A que devo a honra da visita do presidente da Moonlight em minha sala? — Um pedido especial. — ele se aproximou e sentou na cadeira de frente para mim — Muito especial, daqueles que só a melhor pode fazer.
— Qual o problema da vez? O último foi um jantar beneficente de gala para os produtores do Oscar. — cruzei meus braços e o olhei séria, só espero de desta vez meu prazo seja mais extenso, não consigo fazer nada bem feito em tempo record.
— Deixe de reclamar, você sempre consegue e faz com perfeição. — ele riu baixo — Preciso pagar uma dívida a um amigo e você vai me ajudar.
— Sabe que não tenho dinheiro. — brinquei o fazendo rir mais.
— Só você para dizer essas coisas, o que estou querendo é que organize um grande evento. — explicou — A candidatura de um amigo ao senado.
— Que amigo? — perguntei não querendo que fosse quem eu pensava que fosse.
. — respondeu ele.
— Ele… é seu amigo?! — por essa eu não esperava, porém estava aliviada.
— Amigo, amigo não é… — ele tentou se esquivar um pouco, mas vendo minha cara séria — Mas no passado a família dele ajudou a minha, acho que está na hora de ficar quite.
— Entendi.
— Por que? Tem algo contra ele?
— Não, confesso que estou até aliviada por ser ele. — disse tranquilamente.
— Oh… Estava achando que era o John?! — imaginou ele — Jamais faria um pedido deste para você, sei o quanto aquele idiota foi no passado.
— Digamos que ele continua sendo um idiota. — afirmei — Devo imaginar que este pedido é emergencial?
— Com certeza. — assentiu se levantando — Hoje à tarde você terá um almoço com a assessora de imprensa dele, para se inteirar mais do assunto.
— Deixa eu ver se entendi, nós vamos participar de todos os processos da campanha dele?! — perguntei.
— Sim, você estará inteiramente disponível para organizar todas as conferências, encontros e eventos referentes a campanha dele ao senado. — ele me olhou sério — , você é a única pessoa que confio que vai fazer de forma impecável.
— Posso ser mercenária e pedir uma bonificação por isso?! — sorri maliciosamente.
— Pode me pedir a remuneração que quiser. — ele piscou de leve — Pegue o endereço com a Lilly.
— Sim, senhor. — bati continência brincando — Farei o meu melhor.
— Conto com isso. — ele se retirou da sala.

Respirei fundo passando a mão no cabelo, aquela seria minha primeira vez organizando eventos de campanhas políticas, não seria fácil e a diferença entre festas da elite nova iorquina era totalmente diferente do que eu iria fazer. Por um momento senti uma forte pressão sobre mim, como se minha carreira começasse a depender do meu desempenho naquele novo projeto profissional. Eu não estaria somente organizando a campanha de um candidato ao senado, mas indiretamente seria a rival de John.

John… A maior queda de sanidade mental da minha vida, havia me envolvido com ele quando estava na Escola de Artes da Universidade de Yale. Graças a ele, tive minha pior decepção amorosa, além de passar anos da minha vida somente pensando em trabalhar e trabalhar. Seria uma boa revanche indiscreta para mim, ajudar seu rival político a ganhar.

?! — perguntou uma mulher ao se aproximar de mim, após passar um longo tempo parada na frente do edifício comercial KM.
— Sim. — me virei para ela — E quem é você?
— Charlot, assessora de imprensa do senhor . — respondeu ela — Vamos entrar?

Assenti com um sorriso e a segui, passando pela entrada já haviam dois jornalistas no saguão que queriam falar com ela, já que alguns maus boatos sobre a vida amorosa do candidato foram espalhados propositalmente para manchar a imagem dele. Com toda paciência, que ela parecia reunir, Charlot sorriu para os jornalistas e discretamente me disse o número do andar que ficava o gabinete de campanha.

Mais discretamente ainda eu segui em direção ao elevador e apertei o número em questão, até o momento estava extremamente distraída olhando algumas mensagens no meu celular, até que o elevador se abriu e no impulso para sair, acabei trombando em alguém. Não seria nada de mais se a pessoa não tivesse com um copo de café quente na mão e este café não tivesse caído em minha roupa, porém a vida tem dessas coisas.

— AIII!!! — soltei um grito ao sentir o líquido cair em mim — Você é louco?!
— Eu sou louco? Você que estava distraída.
— O que?! — com a atenção ainda na minha blusa, levantei o olhar para ele, senti um breve gelo no corpo, era o tal candidato .
— Não vai dizer nada?! — ele me olhou sério — Você me fez derramar meu café.
— A culpa não foi minha, foi sua. — eu apontei para minha blusa — E olha o meu estado, acha mesmo que estou me preocupando com o seu café?!

Ele respirou fundo e engoliu seco voltando seu olhar para o lado, então adentrou rapidamente no elevador me puxando junto e apertando o botão para fechar a porta.

— O que está fazendo?! — perguntei o empurrando — Esse era meu andar!
— Acredite, você não poderia sair assim. — explicou ele num tom afobado.
— Você está fugindo de alguém?! — presumi me recordando dos jornalistas do saguão.
— Digamos que não quero ter encontros "casuais". — respondeu ele apertando o botão do último andar.
— Está fugindo. — conclui — Não me importo com sua vida pessoal, mas não posso ficar assim, já que a culpa é sua.
— A culpa não é minha se você estava distraída. — retrucou.
— Quem é que está fugindo aqui?! — cruzei os braços e o olhei com ar autoritário.
— Yahh… — ele me olhou contrariado — Vou resolver seu problema.

Eu dei de ombros voltando meu olhar para minha blusa nova, e agora, manchada de café. Ai daquele bastardo se não resolver o meu problema! Quando chegamos ele me levou até o que parecia escritório da presidência, ao passarmos pela secretário, o senhor logo ordenou para que trouxesse uma camisa feminina para que eu me trocasse. Fiquei um pouco desconfortável pelo olhar de reprovação dela para mim, como se estivesse imaginando que algo mal intencionado havia acontecido entre nós dois naquele elevador.

— Posso perguntar uma coisa?! — disse assim que entramos no escritório.
— Depende, se for sobre minha vida pessoal, nem ouse.
— Deixa pra lá. — me virei para a janela — Só resolva meu problema.
— O que foi nervosinha? Está curiosa se eu sou solteiro? — ele deu um riso baixo e debochado.
— Não. — me virei para ele — Só achei estranho o olhar da sua secretária, acho que ela pensou coisas erradas de mim.

Ele riu alto agora.

— Não é a primeira. — disse Charlot ao aparecer de repente na sala — Mas pelo menos você é confiável.
— Como chegou aqui?! — a olhei abismada.
— Minha assessora é ninja. — brincou ele tentando não rir mais da minha cara.

Cruzei os braços e o olhei séria, como se quisesse jogá-lo pela janela. Acho que o mesmo entendeu, já que desfez o sorriso rapidamente.

— Tenho um informante na segurança que são meus olhos através das câmeras. — explicou ela — Assim que me livrei dos jornalistas vim direto para cá.
— Então você já sabe da minha visita indesejada?! — ele olhou para ela com certo receio.
— Sim, e já mandei cuidarem disso. — ela voltou o olhar para mim — Bem, devo apresentá-los formalmente, senhor , esta é , a promotora de eventos que seu amigo Taewoon enviou.
— Ele não é meu amigo. — ele cruzou os braços um pouco emburrado — Mas bom que esteja ajudando, está cumprindo sua palavra.
— Pelo jeito você é bem exigente.
— Ele não é exigente. — Charlot me olhou — Eu sou. Ah, antes que me esqueça.

Ela esticou a camisa que provavelmente a secretária havia lhe entregado.

— Teremos que adiar esta reunião para amanhã. — ela olhou para ele — Seu pai chegará em vinte minutos, precisa estar apresentável para mostrar suas propostas de campanha.
— Não se preocupe, Charlot, eu já sei o que preciso fazer. — senhor sorriu confiante.
— Não jogando café nos eleitores. — sussurrei de forma irônica, porém parece que ele ouviu pela forma que me olhou.
— Não sabe não, por isso estou aqui, para te lembrar. — Charlot me olhou novamente — Amanhã pela manhã, te enviarei o endereço do lugar.
— Não vamos trabalhar aqui? — perguntei.
— Não, o prédio está a cada dia sendo mais cercado por esses jornalistas, melhor não saberem ainda sobre a equipe de campanha. — explicou ela — Para todos os efeitos será somente um café entre amigas.
— Sempre fico impressionado com você! — admitiu senhor com tranquilidade — Sempre pensa em cada detalhe.

Charlot o olhou em meio a um longo suspiro.

— Ok, te encontrarei amanhã pela manhã! — confirmei com a cabeça e já ia saindo da sala.
— Charlot chamou minha atenção — Seja discreta, não precisamos de escândalos agora. Seria péssimo para a campanha.
— Fique tranquila, não tenho nenhum interesse em me aproveitar da situação. — desviei o meu olhar dela para senhor , brevemente — Sei que estou aqui exclusivamente a trabalho, e sei também como ser profissional. — Charlot pigarreou, ajeitando a gola do seu blazer vermelho aveludado, sem me encarar — Por isso, repito: fique tranquila.

Reparei que senhor me olhava com certo espanto, ou talvez apenas admiração, ou talvez nada disso. A questão é que, ele nem mesmo se esforçou em tentar esconder a sua curiosidade através do olhar. Eu apenas ignorei sua expressão, assim como fiz com Charlot e me retirei da sala.

Quando saí, me deparei com a aglomeração de pessoas que vigiavam o local, na esperança de encontrar falhas internas da equipe e pessoais de senhor . Um dos jornalistas me olhou intrigado e eu respirei fundo, tentando passar por todos eles despercebido. Tentativa falha.

— Será que estamos diante da mais nova presa do caçador malicioso, digo, futuro senador? — o homem fez a pergunta em alto e bom som, chamando a atenção dos seus colegas de trabalho, que atrapalharam a minha passagem.
— Desta vez, pelo menos, é bonita e elegante. — uma repórter fez o comentário, enquanto me analisava da cabeça aos pés. — Por que não diz nada?
— Porque eu não tenho nada a dizer, só quero sair daqui. — eu disse firme — E vocês estão me atrapalhando.
— Por que não deixam a moça em paz? — ouvi a voz de senhor surgir por perto e suspirei aliviada. Passar pela pressão da imprensa, e ainda por cima, sozinha, não estava em meus planos para este dia. — Vocês não a ouviram? Ela não tem nada a dizer.
— Será? — uma outra mulher, em meio a aglomeração de repórteres, se pronunciou — Porque ela parece ter muito a dizer.
— Vocês realmente não tem nada melhor para fazer?
— É claro que temos. — foi a vez de outro repórter — Mas, precisamos que você continue afundando com as suas próprias mãos essa candidatura inadmissível para que os seus votos não cheguem nem perto do que seria um número considerável para você assumir o cargo.
— Escute aqui — senhor já ia se aproximando do homem, quando Charlot segurou seu braço.
— Não perca a cabeça agora, esse não é o melhor momento para você descontar sua raiva em alguém.
— Você nunca será como o seu pai! — o homem, mais uma vez, provocou senhor , que era acalmado por Charlot.
— Não, ele será pior que o senhor Nam, mais corrupto impossível! — a voz feminina, mais aguda que a minha, tomou todo o corredor ao se manifestar num tom bastante elevado.
— E o caçador malicioso ataca novamente. — disse uma voz grave, vinda do meio da multidão.

Tomei coragem de olhar para senhor e, no mesmo instante, ele fez o mesmo. Os burburinhos começaram e os flashes também, várias fotos foram tiradas do momento em que ele se aproximou de mim e sussurrou em meu ouvido.

— Finja que está precisando da minha ajuda.
— O que? Não farei isso.
— Então, prefere que todas estas pessoas pensem que você é a minha nova affair? — ele elevou um pouco mais o seu tom de voz, o que me deixou levemente arrepiada. Suspirei fraco, tentando não me afetar com aquilo e olhei à nossa volta. — Você decide.
— Tudo bem, o que eu preciso fazer?
— Confie em mim. — ele tornou a se afastar e deu uma piscadela para mim. Ele pigarreou um pouco, chamando a atenção dos demais — Como podem ver, esta mulher que está diante de vocês, sofre com problemas psiquiátricos severos, por isso ela está neste estado: nervosa e confusa. — eu precisei respirar muito fundo para não voar em seu pescoço e acabar com a farsa ali mesmo — Ela veio até o meu gabinete para pedir ajuda com as suas medicações, já que o custo das mesmas são altíssimos para uma pessoa como ela, de classe baixa e desempregada.
— E como o senhor pretende ajudá-la? — uma das repórteres, que se manteve calada até o momento, o indagou, aproximando o seu gravador de senhor .
— Estas são informações restritas, no momento. — ele veio em minha direção, segurando em meus braços — Agora, se me derem licença, preciso ajudá-la a voltar para casa.

Os flashes ficaram cada vez mais fortes, à medida que nós saímos do edifício. O mesmo me levou até um dos carros de luxo, estacionados próximo à entrada. Charlot, que nos acompanhava com a sua expressão mais falsa de mulher prestativa frente às câmeras, se transformou rapidamente quando eu me sentei no banco de trás.

— Você disse para eu ficar tranquila, mas, depois do que acabei de presenciar, não posso confiar em suas palavras. — eu franzi a testa, a encarando, enquanto ela entrava no banco ao lado do motorista — Ainda te falta muito profissionalismo.
— Olha, eu não… — tentei alterar minha voz sem me intimidar.
— O que você quer? Estragar a minha candidatura? — senhor me interrompeu se sentando ao meu lado no banco de trás — Aliás, quem é você? Alguma militante disfarçada de promotora de eventos?
— Por que está falando assim comigo? A culpa disso tudo é sua! Foi você quem derrubou café em mim. E, além disso, quem vem manchando a sua própria imagem com mentiras e escândalos é você mesmo. — ele ficou boquiaberto, parecia afetado. — Como todos os outros políticos, você é só mais um mentiroso, se aproveitando do dinheiro do povo.
— Na verdade, eu me aproveito do dinheiro do meu pai. — ele sorriu ladino.
— E você acha que o seu pai roubou de quem o dinheiro do qual você se beneficia? — eu ri fraco com a expressão de fúria que senhor e Charlot fizeram, desviando o meu olhar para o retrovisor, que me dava uma pequena visão do motorista.
— Saia, agora. — disse ele, num tom autoritário.

Talvez eu estivesse sendo muito fria, jogando a verdade na cara deles, sem nem sentir dó. Mas, a expressão final de cada um foi impagável. Além do mais, eu me sinto bem comigo mesma por ter me defendido de acusações falsas, afinal, que culpa eu tenho da corrupção que corre solta por esse mundo da política?

— Sairei com prazer, e amanhã meu advogado irá ligar para você. — abri a porta do passageiro — Vou processá-lo por calúnia e difamação, afinal agora eu é que estou sendo reconhecida como a louca dos remédios.

Assim que me impulsionei para sair do carro, ele me puxou e fechou a porta, vi de relance os seguranças cercando o carro.

— O que foi?! — o olhei de forma debochada — Não me mandou sair?!
— Vamos para outro lugar, Carl. — disse ele ao motorista, que logo arrancou com o carro e seguiu para o leste da cidade.

Estava revoltada por Charlot colocar meu profissionalismo a prova, com raiva pela mentira descabida que senhor havia feito sobre mim, e a um passo de pedir demissão ao meu chefe por ter me colocado nessa roubada. Passei todo o caminho demonstrando toda a minha fúria enquanto olhava fixamente para o retrovisor, desejava mesmo mandar todos ao espaço e seguir minha vida fora daquilo tudo.

— Chegamos, é aqui que mora não é?! — perguntou Charlot.
— Sim. — disse retirando o cinto de segurança.
— Amanhã às sete, estarei na cafeteria. — reconfirmou ela.
— Agora você quer minha ajuda profissional. — resmunguei baixo, saindo do carro sem nem olhar para o lado.

Respirei fundo várias vezes para tentar me acalmar quando entrei no meu apartamento, olhei para a tela do meu celular e lá estava centenas de mensagens de Taewoon, lógico que ele já havia visto o barraco do edifício. Por esse motivo eu odeio a internet! Depois de responder educadamente as suas mensagens e garantir que tudo iria se resolver no dia seguinte, percebi que ainda estava com a bolsa pendurada no ombro com a camisa que Charlot havia me dado repousada no meu braço.

— Ah, droga… Agora é que vão mesmo me achar a louca dos remédios. — bufei ao olhar para a minha camisa suja.

Joguei a bolsa no sofá e tirei a camisa de imediato, suspirando fraco, me enfiei no banheiro para tomar uma ducha quente e retirar todo aquele estresse do meu corpo, nunca imaginei que passaria por algo assim um dia, principalmente pela parte de não me acharem profissional ou competente. Agradeço a Deus por aquele banho, foi como se todo aquele peso estivesse escorrendo pelo ralo abaixo, me dando até a ideia de ficar todo o resto do dia em off, só para não ser perturbada, foi uma noite agradável.

Porém, nem tudo que é bom dura muito e minha paz terminou ao amanhecer, quando me deparei com a aglomeração de repórteres literalmente batendo na minha porta. Paralisei por um tempo e logo voltei para o elevador sem que percebessem minha presença, respirei fundo e milagrosamente meu celular tocou, era uma mensagem de Charlot mudando minha rota e falando que a bomba havia estourado de vez. Bem, ela não utilizou essas palavras, mas certamente era a realidade que vivíamos.

Não foi fácil bolar um disfarce convincente para sair do prédio, minha sorte foi encontrar um velho macacão de mecânico do meu irmão mais velho e sua caixa de ferramentas, era o que tinha para o momento ao meu favor e iria usar sem medo. Quando finalmente consegui chegar ao luxuoso prédio residencial InH Home, o porteiro já estava de sobreaviso sobre o meu disfarce, uma ajudinha da ninja Charlot.

— Ahhh, finalmente. — disse ao entrar na cobertura dele retirando o boné da cabeça e respirando fundo — Tinha mesmo que morar na cobertura?!
— Já chegou reclamando?! — ele estava despojado no sofá da sala de estar, me olhando com ironia.
— Não reclamaria se não tivesse que usar isso e ainda subir de escadas. — cruzei meus braços o olhando séria, enquanto a empregada fechava a porta.
— Existe elevador de funcionários. — disse ele tranquilamente.
— Está em manutenção, senhor. — disse a empregada espontaneamente como se estivesse tomando minha revolta para ela, certamente também havia subido pelas escadas.
— Viu. — eu apontei de leve para a empregada, que já se virou para o corredor que parecia da cozinha.

Ele riu baixo e voltou seu olhar para a janela. Céus, aquele sorrisinho debochado me irrita tanto!

— Mal educado, nem me convida para sentar. — resmunguei.
— Falou comigo?! — ele me olhou.
— Não. — resposta seca.
— Que bom que conseguiu chegar. — disse a ninja sempre aparecendo misteriosamente.
— Bom dia para você também, Charlot. — a olhei.
— Que seja. — ela respondeu simples, retirando o seu sobretudo preto. — Vamos logo ao que interessa.

Eu me sentei no sofá mesmo não sendo convidada, afinal foram muitos lances de escada.

— Pode começar. — disse no meu tom habitual de lidar com os clientes, retirando o tablet da caixa de ferramentas e abrindo o bloco de notas — O que planeja o meu cliente?
— Uwa! — senhor se ajeitou no sofá me olhando de uma forma estranha, sorrindo de canto — Então este é o seu lado profissional?!
— Bem. — Charlot deu uma tossida como se quisesse chamar a atenção dele — Para iniciar, mediante os acontecimentos de ontem, você precisará trabalhar aqui.
— O que?! — eu tentei manter minha pose, mas estava um pouco difícil.
— Este é o lugar mais seguro para você e menos óbvio para os repórteres. — explicou ela — Mas somente enquanto eu resolvo tudo e desfaço o mal entendido.
— Você me garante que vou poder sair na rua sem me chamarem de louca dos remédios?! — cruzei os braços.
— Ela é ninja, mas não é para tanto. — ele deu uma piscadela debochada para mim — Sabe como são as pessoas.

Lancei um olhar ameaçador para ele, que logo desmanchou a sua expressão de deboche, dando lugar a sua rara seriedade.

— Farei de tudo para que esqueçam essa história. — me garantiu ela — Você terá uma equipe que fará o trabalho de campo para você, basta apenas ordenar.
— E enquanto isso eu ficarei aqui trancada? — voltei meu olhar para ela — Foi isso que entendi?!
— Teoricamente aqui você terá mais recursos e privacidade. — respondeu.
— Tem certeza? Privacidade? — apontei discretamente para ele.
— Tenho. — garantiu novamente — No quarto de hóspedes, você encontrará roupas novas que poderá usar, tomei a liberdade de fazer isso, já presumia que as coisas ficariam como estão agora.
— Sempre pensando em tudo, minha ninja. — disse senhor , mantendo seu olhar em mim.
— E quanto ao meu trabalho? Vocês ainda não fizeram um planejamento de campanha? — perguntei desacreditada de tanta falta de responsabilidade.
— É por isso que está aqui, trabalho extra, bonificação extra. — ela ajeitou a bolsa no ombro — Terei que deixá-los para resolver alguns assuntos, tudo o que precisar peça ao Han.
— Quem é Han?!
— Meu assessor. — respondeu Charlot se dirigindo para a porta — Ele deve chegar em dez minutos.

Eu fiquei paralisada por um tempo até que assimilei o que ela tinha falado.

— Sua assessora tem um assessor? — me virei para ele boquiaberta.
— Esta é a Charlot. — ele riu, se levantando do sofá — Não ligue para títulos, ele é só um aprendiz que vai fazer tudo o que você mandar.
— Aonde pensa que vai?! — perguntei me levantando também.
— Onde mais iria? Vou tomar meu banho de sauna matinal. — respondeu com tranquilidade.
— Mas e o planejamento?! — perguntei indignada.
— Esse é o seu trabalho, se considere com carta branca para definir o que quiser. — respondeu se dirigindo para a porta — Você faz e eu executo, se me agradar, é claro.

Eu respirei fundo querendo jogar algo nele, mas achei melhor guardar minha vingança. Assim que ele saiu rindo pela porta, me sentei no sofá novamente já calculando como seria a minha revanche. Ele iria, sim, executar tudo que eu propusesse naquele planejamento, e a ninja iria me ajudar a fazer isso.

— Espere só, senhor , vou fazer você trabalhar tudo o que não trabalhou até hoje. — sorri de canto maliciosamente.

Revenge

Dois dias depois…

— Ahhh!!! — me espreguicei na cadeira, sentindo leves dores na coluna.

Depois de duas noites mal dormidas, xícaras de café e quebrar a cabeça tentando entender como funcionava uma campanha política e revisar todas as propostas de governo do senhor . A única pergunta que me fazia era se realmente aquele irresponsável compriria tudo o que estava naquele longo relatório de vinte páginas, internamente tinha certeza que não havia decorado nem a primeira frase.

— Bom dia… — disse Han ao bater na porta e entrar no meu quarto com animação e uma bandeja de café da manhã nas mãos.
— Bom dia, Han. — desviei meu olhar para ele e sorri levemente — Obrigado por trazer meu café!
— Fiquei te esperando na cozinha, mas percebi que não sairia do quarto, vim trazer o seu. — ele caminhou até a cama e colocou em cima — Se quiser posso te fazer companhia.
— Oh não, temos muita coisa a fazer, todos os outros candidatos já começaram sua campanha e o senhor ainda não, precisamos nos apressar. — disse me levantando da cadeira.
— Eu começo por onde então? — perguntou ele mostrando sua pró-atividade, estava explicado porque ele trabalhava para a ninja.
— Vamos iniciar com a equipe de campanha. — peguei um papel com endereços anotados — Quero que busque essas pessoas, não diga a elas o motivo só tragam para cá.
— Essa é a equipe? — ele fez uma careta estranha pegando o papel e lendo os nomes e endereços.
— Sim, eles me deram carta branca, então só irei trabalhar com quem eu conheço, essas pessoas são velhos conhecidos da universidade e do colégio, são de confiança minha. — expliquei a ele — É de suma importância que não diga a eles o motivo da vinda. — frisei.
— Tudo bem! — assentiu ele batendo continência de brincadeira.
— Pode ir então, te espero daqui algumas horas. — me voltei para a cama e me sentando comecei a degustar do meu café da manhã.

Tudo já estava um pouco encaminhado, com minha equipe presente poderia dar continuidade ao início da campanha, já estava planejando discutir um pouco mais com Charlot sobre as propostas de governo do senhor , além de entender quem iria financiar essa campanha. Duvidei um pouco que fosse seu pai, já que estava um tanto decepcionado com as últimas notícias do filho, e por falar naquele irresponsável… Onde andaria ele??

— Onde está o senhor ? — perguntou Charlot com aquele seu jeito de brotar da terra quando menos esperamos.
— O que? — eu a olhei após terminar de engolir o pedaço de bolo que comia — A babá dele não sou eu.
— Eu o deixei aqui ontem à noite, teríamos uma reunião com o pai dele agora pela manhã. — sua cara séria ficou ainda mais fechada, me fazia sentir dó do irresponsável.

Ela respirou fundo, sabia que a culpa desta vez jamais seria minha, foi quando ouvimos um barulho vindo da sala, não consegui me conter na curiosidade e a segui cautelosamente. Quando chegamos, lá estava ele sendo amparado por um amigo que o carregava, ambos bêbados e quase caindo ao chão.

— Senhor ?! — o tom de fúria deu lugar a decepção em Charlot, mesmo que ela quisesse colocar um freio naquele bon vivant, sua função era somente protegê-lo no final das contas.
— Oi, Char… — ele sorriu como se nada tivesse acontecido.
— Vamos, senhor , precisa se recuperar. — ela me olhou como um pedido de socorro — A nova proposta de campanha seria apresentada ao pai dele esta manhã, não vamos conseguir fazer isso.
— O que quer que eu faça?! — eu a olhei sem entender o que realmente queria.
— Dê um jeito nisso. — disse ela, ajudando o senhor a se apoiar nela — Faça o seu trabalho!

Eu fiquei alguns minutos paralisada com aquela frase na cabeça: "Faça o seu trabalho!". Meu trabalho agora seria limpar a bagunça dele? Nem estava sendo paga para isso! Bufei irritada e corri para o quarto, se eu estava ali mostraria do que sou capaz, faria além do meu trabalho e iria esfregar meu profissionalismo na cara da ninja. Peguei meu celular e enviei uma mensagem para Han, pedindo para que trouxesse minha equipe na hora do almoço para o apartamento do senhor .

Troquei minha roupa escolhendo um look formal, não poderia sair pela porta da frente, então liguei para o porteiro e pedi que me ajudasse com um táxi no estacionamento do prédio, peguei minha pasta executiva, joguei meu celular e o tablet dentro da bolsa e segui rumo a possível guilhotina.

- x -

— Confesso que estava esperando por meu filho e Charlot. — disse o senhor Nam.
— Me desculpe o imprevisto senhor Nam. — disse me aproximando da sua mesa.
— Imprevisto? Ou falta de responsabilidade do meu filho? — ele suspirou fraco — Ainda não sei porque insisto nele.
— Porque ele é seu filho. — respirei fundo — Mas não estou aqui para defendê-lo ou algo do tipo, estou aqui apenas para apresentar o novo plano de governo do seu filho e como será a campanha.
— Interessante, ele está deixando tudo na mão de uma promotora de eventos. — senhor Nam deu uma risada irônica.
— Esta promotora de eventos que está em sua frente organizou o maior evento promovido pelo Museu Metropolitano de Manhattan, assim como também outros eventos ligados à Casa Branca. — disse com ousadia e satisfação — Confesso que nunca organizei uma campanha política, mas minha competência profissional não deve ser colocada a prova.
— E, quanto a sua imagem pessoal? — ele pegou o jornal que estava ao lado e jogou na mesa para perto de mim; "A Louca dos Remédios!", a frase estava bem estampada na primeira página, com uma foto minha ao lado de senhor , sendo amparada pelo próprio.
— Garanto que isso não irá atrapalhar meu desempenho. — respirei fundo — Não vou gastar argumentos com o senhor, é seu filho que está em foco aqui.
— Tem razão, estou admirado por sua postura. — ele me olhou como se estivesse me analisando — Então diga sua proposta.
— Primeiro devemos mudar totalmente o conceito que as pessoas tem sobre seu filho. — eu abri minha pasta e peguei o novo plano de negócios — Além do mais, eu li atentamente este plano e percebi que muito do que está escrito aqui foi prometido pelo senhor em sua primeira vez como candidato, qualquer pessoa com mais paciência para pesquisar no Youtube poderia encontrar seus discursos passados em vídeo.
— Continue…
— Então vamos começar do zero. — joguei aquilo que mais parecia uma apostila de mentiras do que propostas de governo na lixeira ao lado, sem nenhum receio — Seu filho precisa fazer diferente de todos os outros candidatos, mostrar ao povo que são os eleitores dele que irão montar seu plano de governo, já que é sua primeira vez se candidatando, é um argumento e tanto.

Ele continuou em silêncio me observando.

— Quanto a imagem do senhor , pretendo melhorá-la de forma suave e gradativa, não é fácil transformar o negativo em positivo em poucos dias, por isso eu determinei um prazo de seis meses para que as pessoas possam admirá-lo ao invés de odiá-lo.
— E como fará isso? — agora seu olhar ficou ainda mais curioso.
— Seu filho ficará recluso de todas as atividades sociais e pessoais que não sejam ligadas a campanha, não irá aparecer em nenhum evento a menos que seja benéfico a sua imagem, vamos converter sua imagem libertina para um homem caseiro e responsável. — expliquei — Ou seja, ele ficará em casa de castigo por seis meses.

Ele soltou uma gargalhada forte e debochada.

— Acha mesmo que meu filho irá cumprir?! — ele bateu palmas — Está propondo mudar a imagem dele com cárcere privado? Porque não pensei nisso antes.

Eu não havia pensado por esse ângulo, mas agora estava gostando ainda mais da minha ideia.

— Interprete como quiser. — mantive minha postura — Seu filho irá cumprir tudo o que eu estou dizendo aqui.
— Sabe que está se arriscando demais promotora… Me daria a sua palavra?
— Com toda certeza, apesar da imagem ser do seu filho, sou eu que estou com minha vida profissional em risco. — respirei fundo, mantendo a calma — Lhe dou a minha palavra que daqui um ano a imagem do seu filho vai estar tão positiva que até o senhor vai votar nele.
— Muito bem, era isso que esperava ouvir. — ele sorriu de canto, parecia mais do que satisfeito — Se a senhorita conseguir, saiba que estará em débito comigo, tudo o que precisar financeiramente, pode conversar diretamente com minha assistente Margareth, eu também lhe dou carta branca.

Se aquilo significava que eu havia conseguido a confiança do senhor Nam, seria eu a dar as cartas agora. Saí da sala dele mais segura do que quando entrei e pegando o contato da assistente, mandei uma mensagem para Han dizendo que já estava liberado levar minha equipe naquele momento.

— Estou morta… — sussurrei ao entrar no apartamento pela entrada de funcionários.
— Sei que não era sua obrigação, mas agradeço por ter ido. — disse Charlot de braços cruzados como se já me esperasse.
— Sua gratidão só terá valor se me ajudar com meu plano de campanha. — me mantive firme — Não foi fácil livrar a cara daquela criança, menos ainda enfrentar seu pai, porém consegui o financiamento para a campanha. — retruquei.
— Não quero o dinheiro do meu pai. — disse ele aparecendo na porta e me olhando como se tivesse acabado de acordar, certamente estava de pé graças a alguma xícara de café.
— E, com que dinheiro acha que vai fazer sua campanha?! — o olhei segurando a raiva que já tinha dele.
— Faço o que você quiser, mas não peça nada ao meu pai. — ele era orgulhoso, mas aquilo poderia me beneficiar.
— Tudo bem então, não vamos depender do seu pai, porém irá realmente fazer o que eu quiser. — me impûs de imediato — Começando pelas suas saídas noturnas, ou melhor, a partir de hoje você não vai mais sair deste apartamento a menos que eu autorize.
— O que?! — ele me olhou assustado.
— Você disse tudo o que eu quisesse. — dei alguns passos até ele — Será do meu jeito, ou então, voltaremos para seu pai.

Nem dei a chance dele retrucar e passando pelo mesmo, segui em direção ao meu quarto. Troquei rapidamente a roupa e voltei para a sala, minha equipe estava chegando e precisava recebê-los formalmente para dar início ao trabalho impossível. Logos meu amigos chegaram e sem demora fui delegando a todos suas funções de acordo com as habilidades, para Sam ficou a parte financeira e jurídica da campanha, ele era um economista de causar inveja na bolsa de valores.

Jessy era carismática, então ficaria responsável por elaborar uma equipe de militantes que pudessem espelhar boas informações sobre o senhor , além de contar para os menos ligados em eleições que ele faria uma proposta aberta às ideias dos seus eleitores. Para o cabo eleitoral Simon era a pessoa perfeita para o papel, além de muito popular apesar de ser somente um músico de rua, ele fazia alguns trabalhos comunitários com os jovens de bairros carentes que poderia ser de grande ajuda no futuro.

Para a equipe de pesquisa chamei meu irmãozinho mais novo Dylan, seu status de estrela do basquete no colegial me ajudaria um pouco, principalmente por seu tempo livre, quando não estava treinando. Por último e não menos importante, estava minha melhor amiga Nalla, que ficaria coordenando a parte de marketing, tudo relacionado a imprensa e comunicação, ela estaria à frente. E eu? Iria coordenar tudo aquilo da melhor forma possível, pelo menos tentaria e daria o meu melhor.

— Tenho que admitir, você é realmente uma profissional. — disse senhor ao aparecer na porta do meu quarto, logo após a saída de todos do apartamento.
— Não diga. — mantive meu olhar na tela do notebook, continuando a digitar todas as ideias que anotei no rascunho — Só agora percebeu isso?!
— Hum… — ele murmurou algo e adentrou um pouco mais — Está fazendo o que?
— O meu trabalho. — respondi de forma áspera e sem muita paciência — O que você quer?
— Se eu não posso sair, preciso de algo para me distrair. — respondeu ele.
— Existe uma maravilhosa invenção humana chamada televisão e outra chamada Netflix. — eu o olhei de relance, vendo-o rir fraco, e logo voltando a minha atenção ao notebook.
— Você jura? — um tom de ironia surgiu de sua parte.
— Não percebe que eu preciso me concentrar no trabalho? — finalmente afastei o notebook e o encarei, de braços cruzados.
— Bem, eu estou me concentrando em você! Percebi que é divertido. — ele riu baixo.
— O que você...
— Pode continuar o que está fazendo. — ele piscou de leve para mim e caminhou até minha cama, se jogando nela — Te farei companhia essa noite.
— Oras, não se atreva a… — ele se ajeitou ao meu lado e puxou o notebook para o seu colo — Escute aqui…
— Não devia ficar tão nervosa, rugas são terríveis! — disse tranquilamente, enquanto fingia ler as minhas anotações.

Respirei fundo tentando manter minha sanidade mental e não jogar ele pela janela.

— Tudo bem, o apartamento é seu mesmo. — voltei meu olhar para o notebook, o puxando para o meu colo — Apenas fique em silêncio.

Mesmo revoltada assenti sua presença, melhor ali ao meu lado do que tentando aprontar algo sem que eu percebesse. Isso se repetiu por muitas e muitas noites ao longo dos três primeiros meses de campanha, como eu sempre preferia revisar todos os cronogramas de campanha e planejamentos à noite, pois estranhamente minha mente funcionava melhor nesse horário, ele insistia em me fazer companhia. Era um tanto incômodo tê-lo olhando para mim fixamente por longas horas…

— Que mulher mais fraca… — sussurrou ele, achando que eu estava dormindo — Nem chegamos à metade da noite e já apagou.

Permaneci imóvel, debruçada à escrivaninha, fingindo mesmo estar dormindo, estava curiosa para saber o que ele iria fazer.

— Vejamos se você é pesada — ele riu baixo, certamente não querendo me acordar e me pegando no colo com cuidado, me levando até a cama.

Assim que meu corpo encostou na cama, suas mãos percorreram um pouco minhas costas e pernas para me deixar lá, senti meu corpo congelar um pouco, nem na minha desilusão amorosa com John eu imaginava que um homem me carregaria no colo. Logo as cobertas encostaram em minha pele e sem mais demoras a luz se apagou, me virei para o canto e abri os olhos paralisada com aquilo.

Ao fundo, ouvi os passos dele pelo corredor. O que ele queria fazendo aquilo? Ridículo, se estava achando que eu cairia em seu charme, não cederia nem um pouco!

— Hum… — disse me espreguiçando ao acordar pela manhã, logo que abri os olhos senhor estava encostado na porta com uma bandeja na mão — O que é isso? Oferta de paz?
— Não. — ele riu — Hum… Vamos tomar café?!
— O que?! — o olhei, sem entender — Como assim? Vamos?
— Leve isso como um agradecimento por me ajudar. — explicou ele, colocando a bandeja que estava vazia no chão ao lado da porta e esticando a mão para mim — Confie em mim.
— Da última vez que disse isso, eu…
— Se tornou a louca dos remédios, eu sei. — ele segurou o riso, sem sucesso — Mas, tenha isso como um pedido de desculpas também.

O olhei desconfiada, porém após uma suspeita movimentação de meu estômago declarando fome, resolvi aceitar. Assenti com a face e logo ao me levantar da cama o enxotei do quarto para trocar de roupa. Inicialmente pensaria que fôssemos tomar café na cozinha, porém o senhor me guiou até o jardim que havia em sua cobertura, lá a nossa mesa de guloseimas matinais estava preparada, nos proporcionando uma linda vista panorâmica da cidade.

— Não devo mesmo desconfiar das suas intenções? — o olhei de forma séria.
— Bem, como você disse, é uma oferta de paz. — ele sorriu de canto, um sorriso novo para mim, não era debochado e nem pretensioso — Podemos começar do zero? Senhorita promotora de eventos.
— Vai depender do seu comportamento nos próximos três meses. — disse mantendo-me firme — Mas acho que posso pensar em suas novas atitudes, o que não significa que está livre para sair.
— Hum… Não se preocupe. — ele se aproximou de uma das cadeiras e arredou para que eu me sentasse — Ultimamente, sair é o que eu menos quero fazer, graças a você.

Desviei meu olhar para a mesa, me fazendo de desentendida e me sentei, ele deu dois passos e sentou na cadeira da frente, mantendo aquele olhar fixo, de todas as noites, em mim, como se fosse a coisa mais normal do mundo. O senhor realmente sabia como tratar uma mulher de forma especial, sem muito esforço, principalmente quando suas ações de um cavalheiro vinham seguidas de um singelo sorriso.

— Para comemorar a paz entre nós. — ele parou por um momento — Gostaria que a partir de hoje me chamasse de , não precisa ser tão formal assim comigo, afinal estamos morando juntos.

Meu coração não sabia se paralisava ou acelerava, mas agora que ele havia dito é que tinha reparado, eu estava a três meses morando com um homem em seu apartamento. Comecei a me perguntar: o que isso iria significar em minha triste vida sentimental?

Victory

— Então quer dizer que esse discurso, que está quase beirando a perfeição, foi você quem fez? — Charlot perguntou a , que deu de ombros, enquanto a mulher terminava de analisar o texto escrito a próprio punho — Por qual milagre?
— Digamos que eu tenho me inspirado bastante, ultimamente — me lançou um olhar significativo e eu apenas tentei manter a minha postura, já que Charlot demonstrava perceber os fixos e constantes olhares dele para mim.
— E eu posso saber de onde vem essa inspiração? — ela me encarou, arqueando uma sobrancelha e logo desviando o olhar para — Parece vir de não tão longe.
— Char…
— Não quero saber quem de vocês começou com esse romance, só não façam besteira! Sacrificamos muita coisa para que isso desse certo, não vou deixar que dois adultos, que estão achando ainda estar na adolescência, estraguem tudo. — Charlot disse, visivelmente nervosa e eu ajeitei o meu blazer azul marinho, sentia como se o suor estivesse prestes a brotar.
— Sobre o que está falando? Nós não estamos tendo um romance, e mesmo se estivéssemos, somos adultos, tomamos nossas próprias decisões. — senhor elevou o tom de voz, batendo a mão na mesa, frente à Charlot.
— Errado. Não importa a sua idade, sempre que fizer besteira, eu terei de arrumar tudo. Então, não, eu tomo as decisões por você! — ela devolveu a resposta, também com tom de voz elevado, o que me fez querer sair dali.
— Não se preocupe, Charlot. — me impûs de maneira firme, mantendo segurança em meu tom de voz — Em primeiro lugar: não está havendo nenhum relacionamento entre nós; em segundo lugar: acho que já provei o quão competente eu sou, sei muito bem separar minha vida pessoal da profissional.
— Por que os ânimos estão tão aflorados logo agora, pouco antes do discurso que fará meu filho se tornar o novo senador do estado de New York? — senhor Nam, invadiu a sala extremamente fechada, olhando de para Charlot — Eu não quero que haja falhas. Hoje o dia é mais do que importante, não estraguem tudo!

O homem se juntou a nós, sentando-se à mesa, parecia tão tranquilo ajeitando as mangas do terno cinza, que nem demonstrava ter quase perdido a paciência há poucos segundos. Charlot olhou em minha direção, respirando fundo, enquanto anotava algo em seu notebook.
pegou novamente a sua folha de discurso, parecia analisar algo mais em sua escrita. E eu, tentava não entrar em pânico, já que aparentemente estava tudo sobre controle.

— Diga isso ao seu filho, já que o mesmo anda se envolvendo com a produtora de eventos. — Charlot disse, simples, sem tirar o seu olhar da tela do notebook.

Senhor Nam desviou o olhar de seu terno para o seu filho, que parecia mais nervoso que de costume. Mesmo sem os meus óculos, pude perceber as gotículas de suor que brotaram em seu rosto.

— Pai, eu…
— Não quero saber de nada, só quero que você me convença. — senhor Nam disse ao filho, enquanto se ajeitava na cadeira, me lançando um olhar intrigante — Você se responsabilizou pela vida pública do meu filho, pela imagem dele, e agora então, está tendo um caso com ele?!
— Senhor Nam, eu jamais…
— Você jamais se envolveria com o caçador malicioso? — ele me interrompeu, soltando uma risada, debochada, e me deixando bastante irritada — Ah, por favor, meu filho é um dos herdeiros mais cobiçados deste século, acha mesmo que eu irei acreditar que você não está se envolvendo física e sentimentalmente com ele?
— Pai, por favor, respeite a
— Não precisa, senhor . — o interrompi, lhe chamando formalmente me voltando para o senhor Nam — Falarei pela última vez, para que fique claro tanto para o senhor quanto para Charlot, estou aqui inteiramente por motivos profissionais e já provei o que deveria, minha vida pessoal não lhes diz respeito, esteja acontecendo algo ou não entre eu e o vosso filho.

Agora eu estava revoltada e irritada pela afirmativa errônea da ninja, principalmente por colocar novamente meu profissionalismo a prova, como se desejasse me ver fracassando, o que me lembrava as pessoas com quem trabalho na Moonlight Party. Eles engoliram aquelas palavras e se mantiveram calados, até o instante em que Nalla entrou na sala, avisando que a conferência de imprensa estava pronta para ser iniciada.

Seguimos pelo corredor até o auditório, como minha equipe estava toda lá, deixei várias instruções com Han para que ajudassem eles na execução de tudo, eu ficaria nos bastidores monitorando tudo de longe. Confesso que tinha receio sobre voltar à tona a história da "louca dos remédios", bem agora que estava tudo tranquilo para seguirmos forte na campanha, então Nalla ficaria em meu lugar coordenando tudo, assim eu ficaria mais tranquila.

— Te desejo sorte e segurança no discurso. — disse a ele antes de entrar na sala, seu pai e Charlot passaram por nós em silêncio, mas pude ver o olhar atravessado dela.
— Vindo de você, tenho certeza que será impecável. — ele sorriu de canto, aquele era o sorriso do caçador malicioso.
— Se concentre então e faça direito. — tentei ignorar o máximo que pude aquele sorriso e abrindo a porta, o empurrei de leve para a sala.

Pedi para Dylan fazer uma transmissão simultânea para mim, assim eu poderia ver tudo que acontecesse lá dentro, me sentei em uma cadeira que havia lá no corredor e permaneci atenta à tela do tablet que carregava comigo. Estava um pouco nervosa, havia treinado algumas respostas de possíveis perguntas que pudessem fazer de forma maliciosa para ele, mas, ainda assim, uma certa apreensão queria tomar conta de mim. Infelizmente, não estava mais em minhas mãos o desempenho dele naquela conferência.

Após algum tempo, eu me senti um pouco entediada por ficar ali sentada vendo tudo aquilo, então me levantei para voltar a sala onde estávamos. De repente, senti uma mão segurar meu braço de forma brusca e grosseira, me fazendo virar para trás.

— Então é você! — aqueles olhos de fúria me atravessavam, como se pudessem me fulminar. — O que faz aqui, John?! — o olhei meio assustada, não imaginava vê-lo tão cedo, mesmo sendo o maior rival de nas pesquisas.
— Vim para ter certeza das minhas suposições. — ele apertou um pouco mais meus braços. — Me solta. — tentei me afastar dele, sem sucesso.
— Não, nós vamos conversar. — ele tentou me puxar para a porta de acesso da escadaria, que dava acesso para o estacionamento.
— Não, não tenho nada para falar com você. — eu me debati, o empurrando para longe de mim.
— Tem sim. — insistiu ele, me puxando com mais força.
— Solta ela! — apareceu de repente e puxando John pelo terno, o socou, sem pensar duas vezes, o derrubando no chão.
, não!!! — gritei, pensando apenas no quão negativo poderia ser para a imagem dele aquele soco.
— Ele mereceu. — se colocou ao meu lado e segurou em minha mão — Nunca mais se aproxime dela.
— Você vai me pagar muito caro por isso! — John limpou um pequeno fio de sangue que surgiu no canto da boca, parecia ter cortado os lábios.
— Veremos. — retrucou sem medo nenhum.
— O que está acontecendo aqui?! — Charlot se aproximou — Oh, candidato John, o que faz aqui?
— Nada. — respondi — Ele nem esteve aqui, pois se estivesse, iríamos agora à delegacia, pois eu iria dar queixa de agressão física.

Logo mostrei meu braço um pouco roxo por ele ter apertado forte.

— Eu seria testemunha e iria alegar legítima defesa. — concordou , dando um sorriso de canto debochado — O que acha disso, John?!
— Você não vai ganhar — John se levantou do chão e ajeitou seu terno — Mesmo que tenha ao seu lado, você é um inconsequente, jamais ganharia!
— Candidato John, acho que não pode falar pelo povo, a menos que seja vidente ou algo parecido. — Charlot se colocou na conversa — Acho realmente que o tempo do senhor aqui já se esgotou, não vai querer receber perguntas da imprensa sobre este corte nos lábios, vai?!

Ele lançou um olhar atravessado para mim e depois para , então se virou e saiu pela porta da escadaria. Respirei fundo e então reparei que minhas mãos estavam tremendo, só não sabia se era de raiva ou medo do que poderia ter acontecido se não tivesse chegado.

— Você está bem?! — perguntou num tom de preocupação.
— Sim. — assenti tentando me acalmar.
— Tinha mesmo que trazer mais preocupações promotora?! — comentou a ninja amargurada.
— Gostaria que guardasse seus comentários para si agora. — a olhou, sério — Mande preparar o carro, vamos para casa.
— Não, mas e o coquetel para a imprensa?! — perguntei sem entender sua decisão.
— Nalla cuidará do resto. — garantiu ele — Melhor irmos embora agora.

Senti lá no fundo que aquele desvio não era somente pelo que aconteceu comigo, parecia que ainda se mantinha inseguro quanto a se comportar em eventos mais sociais e menos formais. Não demoramos muito até chegar ao apartamento dele, em silêncio segui até o meu quarto, mesmo que a conferência tenha sido um sucesso o trabalho continuava, agora nossa meta seria liderar as pesquisas de intenção de votos até o final da campanha.

— Está mesmo bem?! — perguntou ele, ao aparecer na porta do meu quarto.
— Sim. — mantive meu olhar no notebook, já estava transferindo algumas anotações para os relatórios da campanha que toda semana eu apresentava ao senhor Nam.
— Posso fazer uma pergunta? — ele se manteve encostado na porta, de braços cruzados.
— De onde conheço John?! — já sabia que aquela era a sua pergunta, suspirei fraco imaginando como responderia.
— Exatamente. Sei que é pessoal, mas tenho que saber pelo que te defendi hoje.
— Agradeço por me defender. — parei de digitar e me voltei para ele — Confesso que não sei exatamente o que teria acontecido se você não tivesse chegado.
— E?! — insistiu ele, seu olhar estava sério.
— Tudo bem, eu te conto — ele cruzou seus braços, esperando atentamente pela resposta — John e eu namoramos há alguns anos, quando ainda estávamos na faculdade.
— O quê?! — observei sua reação espantosa e engoli o seco — Não consigo acreditar em algo assim… Quero dizer, John não parece ser o tipo de homem pelo qual você se interessaria.
— E por qual tipo de homem eu me interessaria? — ele pigarreou um pouco, me fazendo rir fraco — Você?
— Eu não quis dizer isso — ele coçou a cabeça, meio sem jeito, e eu ri ainda mais forte — Enfim, continue.
— Gostaria de não falar mais sobre isso, deixei John no passado e quero que fique por lá. — voltei meu olhar para o notebook, mostrando que realmente queria encerrar esse assunto.

Acho que ele aceitou, pois não fez mais nenhum questionamento, apenas continuou parado me olhando, algo que não era mais novidade para mim.

- x -

— Bom dia. — disse ao adentrar na cozinha — Animado para hoje?
— Quer a verdade?
— Já percebi que não. — ri baixo.
— Está rindo, porque não é você a enfrentar um debate com candidatos que querem te matar. — ele, que estava com uma xícara de café na mão, levou a mesma à boca.
— Vou estar lá para te dar apoio moral. — sorri suavemente.
— Ah, sim, vai ficar nos bastidores como se não existisse, o mesmo de sempre. — ele me olhou meio chateado.
— Melhor prevenir, não é?! — caminhei até a mesa de café e peguei um pedaço de bolo de cenoura que estava partido — Estamos indo bem.
— Morando juntos?! — ele sorriu de canto — Confesso que nunca imaginei que conseguiria morar com alguém do sexo oposto sem ter alguma aproximação casual.
— Não foi isso que eu quis dizer. — o olhei séria — Estou falando da campanha, já completamos nove meses.
— Passou rápido, estou chateado por isso. — ele fez cara de tristeza — Gostava mais de quando tinha que ficar o dia todo aqui com você, agora tenho que visitar os bairros dos eleitores, ONGs, conferências, entrevistas… É cansativo!!!
— Eu sei bem o quanto tudo isso é cansativo, mas, pense que é para um bem maior. — ele sorriu de repente, me olhando com ternura — Que foi?
— Nada — ele continuou sorrindo, tomando mais um gole de seu café.
— Então, por que você está sorrindo assim? — perguntei curiosa, mordendo outro pedaço do bolo.
— Você me faz realmente querer tudo isso que está acontecendo — eu franzi a testa e ele sorriu de canto — Antes, eu não queria saber de nada disso; saia muito, bebia demais, ficava com várias mulheres, entre outras traquinagens, estava pouco me lixando para a minha imagem. Mas então, eu te conheci e, no início, achei você atraente, porém muito mandona, ainda assim, era muito difícil tirar você da minha mente. Ainda mais depois de morarmos juntos.
— Você tem precisa mesmo sempre frisar que estamos morando juntos?
— E a senhorita precisa mesmo cortar o meu momento de declaração a você para me dar bronca? — ele colocou a xícara em cima da bancada e continuou me olhando como se estivesse ofendido.
— Deixe essa declaração para depois que vencer a campanha. — sorri de canto — Mantenha o foco, candidato.

Despejei um pouco de suco de laranja no copo e saí da cozinha rindo da sua cara, apesar dele enfrentar as feras, eu era a responsável pela sua preparação, então teria que revisar pela décima vez todo seu discurso e a tabela de possíveis perguntas e suas respostas mais lógicas. Tinha certeza que nenhum dos outros quatro candidatos, principalmente John, o deixariam se dar bem naquele debate. Porém, tudo dependia daquele dia, havia caído para segundo lugar graças a uma antiga affair que surgiu das cinzas para difamar sua reputação inventando uma falsa gravidez. Mesmo que tudo tivesse sido esclarecido, com o passado de , sempre teríamos uma certa dificuldade em manter a confiança dos eleitores.

— Eu poderia desejar boa sorte, mas você já está tão treinado que nem vai precisar. — disse assim que chegamos a sala reservada para nós.
— Você poderia trocar o desejo de boa sorte por um beijo, que tal?! — ele piscou de leve e sorriu com malícia.
— Candidato, mantenha o foco! — o repreendi segurando o riso, desviei meu olhar para a ninja por um momento, sua cara de desaprovação era nítida — Esta é uma das últimas oportunidades que terá para conquistar aqueles eleitores indecisos.
— Eu sei. — ele fez uma careta engraçada — Mas ainda irá me dever o beijo da vitória.
— Ganhe a eleição primeiro e depois eu penso se merece. — voltei minha atenção para minha bolsa e retirei a pasta com todo o relatório para o debate, então estiquei para ele — Se achar que deve improvisar como da última vez, faça, mas consciente do que vai falar.
— Não se preocupe, improviso é o meu sobrenome. — ele piscou novamente e se virou para Charlot — Vamos indo?!

Ela assentiu com a face e abriu a porta. Como sempre eu me manteria ali dentro monitorando tudo de longe, Nalla e Han também estavam presentes para ajudar em tudo. Mais uma vez, se saiu muito bem, não era de fato o primeiro debate que participava, porém era o mais importante para a campanha. Logo que saímos do estúdio da CW News, fomos para um jantar na casa dos seus pais, eu não queria aceitar de início, estava muito mais inclinada a ideia da equipe de se reunir em uma pizzaria italiana que Jessy havia descoberto dias atrás.

Com o coração pesado, deixei eles indo se divertir com Han e relutante, aceitei acompanhar . O que eu iria fazer na casa dos pais dele? Logo que chegamos na mansão do senhor Nam, não me admirei com a arquitetura do lugar, me lembro que já havia visto em alguma revista de decoração que meu chefe sempre comprava. Me impressionei, sim, com sua mãe, uma socialite da elite política super educada e simples, algo que me deixou boquiaberta.

— Confesso que estou surpresa. — comentei assim que nos afastamos dos outros convidados da família e ele me puxou para o jardim de inverno, na lateral direita da casa.
— Surpresa com o que? — ele me olhou intrigado.
— Com sua mãe, sempre a vi nas revistas e nunca imaginei que fosse uma mulher tão humilde. — desviei meu olhar para o espelho d’água. — Isso não é muito comum entre socialites.
— Imaginei que ficaria assim, esse é o lado que mais gosto na minha mãe. — ele deu mais alguns passos até mim — O poder jamais lhe subiu à cabeça, o que me faz querer uma mulher assim ao meu lado.
— Hum. — sorri discretamente, mantendo meu olhar onde estava — E você já encontrou?
— Sim, mas ela insiste em me esnobar. — ele riu baixo.
— Talvez ainda falte provar a ela que realmente está sendo honesto. — desviei meu olhar para ele — A mulher pela qual está apaixonado, aprendeu com o passado e não quer mais se machucar.
— Não deveria ter dito isso. — ele sorriu de canto.
— Por que?!
— Porque a partir de agora, meu foco não será mais a campanha, e sim, seu coração. — ele me olhou de forma profunda.
— Pare de dizer bobagens. — tentei ignorar aquelas palavras, mas era complicado.
— Não é bobagem. — ele segurou em minha mão e me puxando, me abraçou forte envolvendo seus braços em minha cintura — Não me importa se perder essa eleição, a única coisa que quero ganhar é seu coração, desejo isso há muito tempo.

Meu corpo gelou um pouco com a doçura em sua voz, porém meu coração se aqueceu de uma forma inesperada, me fazendo sentir uma pequena brisa passar pelo meu corpo. Não queria admitir, mas estava mesmo caindo nos encantos de , o pior de tudo é que estava gostando daquilo.

As semanas se passaram e estávamos trabalhando duro para conseguir manter a liderança que havia alcançado com aquele debate decisivo, Nalla se empenhava ainda mais para manter a boa imagem dele nas redes sociais, enquanto os outros mantinham também sua função. O ponto chave de nossa campanha foi o trabalho voluntário que fez em um abrigo para menores, vê-lo pegando no pesado e literalmente ajudando na reforma do abrigo fez com que toda a imprensa ficasse de queixo caído.

Os eleitores começaram a apelidar ele de "candidato do povo". Eu mesma não teria feito um slogan melhor para sua candidatura. Quanto mais conquistava o carinho dos eleitores e subia nas pesquisas, mais os outros candidatos tentavam denegrir sua imagem com acontecimentos passados, até que finalmente o dia D chegou.

— Estou aqui não só para agradecer a todos que confiaram seu voto em mim, tornando-me senador do estado de Nova York, como também meu pai quem me influenciou a entrar para a política, a quem eu provei que poderia votar em mim. — iniciou ele após alguns instantes em silêncio, certamente estava improvisando o discurso ao invés de ler o que eu tinha escrito — Quero agradecer especialmente a mulher por trás de todo o sucesso de minha campanha, quem realmente acreditou em mim e me fez mudar radicalmente, me transformando em um homem que o povo pode confiar.

Eu gelei naquele momento, pedindo em pensamento que ele não fizesse aquilo.

— E esta mulher, chamada , não é somente a melhor promotora de eventos do país, mas também a dona do meu coração. — ele estendeu a mão para mim, que estava encolhida atrás da porta dos fundos, que estava aberta — ?! Venha, por favor.

Eu não queria entrar lá, não conseguia deixar de me lembrar do incidente no primeiro dia que o conheci, me encolhi ainda mais recuando, até que Nalla e meu irmão me empurraram para frente, me fazendo aparecer diante de todos. Foi aí que os comentários e buchichos começaram a surgir no salão principal onde estava acontecendo a conferência de imprensa.

— Mas, esta não é a louca dos remédios?! — gritou um repórter ao fundo.
— Não. — disse num tom seguro — Devo me retratar sobre isso também, desde o início da minha campanha assegurei ao povo que seria um candidato transparente e sem mentiras, então devo me desculpar por mais essa. não é nenhuma louca e nunca precisou de remédios, ela sempre foi o cérebro por trás do sucesso de minha campanha política. — ele desviou o olhar para mim — Uma vez me perguntaram a razão de toda a minha mudança e aqui está ela, a mulher que mais me deu um fora e recusou meus elogios em toda a minha vida, mas a única que me fez um homem de verdade, sem precisar tocar em mim.

Meu coração acelerou de vez e senti minhas pernas bambas, mesmo com todos aqueles flashes em minha direção, eu só conseguia me concentrar no olhar dele para mim. Suas palavras era bem mais que uma simples declaração, foram a força que eu precisava para finalmente me libertar do passado e dar uma chance para ser feliz no amor novamente.

- x -

— Então, me deve o beijo da vitória. — disse ele, assim que chegamos ao terraço da sua cobertura.
— Disse que pensaria no seu caso. — ri da sua cara, me afastando um pouco — Agradeço por ter esclarecido tudo, agora posso voltar para casa.
— Quem disse que vou deixar?! — ele cruzou os braços.
— Hum… Sou moça de família tradicional, meus pais me matariam se soubessem que eu passei um ano morando na casa de um homem estranho. — brinquei.
— Não sou estranho, sou o homem que conquistou seu coração, além do mais, se seus pais são tão tradicionais assim, nada que o nosso casamento não resolva. — seu olhar tranquilo para mim, me deixou chocada.
— Nosso casamento?! — cruzei os braços — Isso é jeito de pedir uma mulher em casamento?!
— Se a mulher em questão é você, nada pode ser conforme os padrões da sociedade. — ele riu — Mas, o que eu disse é válido, não vou deixar você ir embora, preciso de alguém para me fazer cumprir tudo o que prometi, e esse alguém é você.
— Nossa, que responsabilidade, então você vai me obedecer? — ri dele.
— Somente a você. — ele piscou de leve.
— Então eu acho que merece o beijo da vitória. — sorri de canto.

Desta vez, tomei a liberdade de o puxar para mais perto de mim, assim prensando o seu corpo contra o meu e em um gesto de pura ousadia, o beijei, como se aquele fosse o meu primeiro beijo. De certa forma, depois de todas as decepções, sim, aquele era o meu primeiro beijo. Eu me sentia liberta para amar novamente, para abrir o meu coração a um novo amor, ao . O beijo que antes era intenso e carregado de sentimentos confusos, foi tomando um ritmo bem proveitoso.

Eu queria aproveitar cada segundo dele. Eu precisava me permitir a isso. Todas as sensações boas e simples, que uma mulher apaixonada sente, estavam de volta. me causa um turbilhão de sentimentos, e acredito que agora, posso finalmente me permitir a isso, me permitir ao amor. Eu mereço amar e ser amada. Eu mereço uma nova chance a mim mesma, e não pretendo desperdiçá-la.

"Buchiagero party
Faça um discurso ousado, festa
Here we done! Goodnight
Terminamos aqui! Boa noite."
Coming Over / EXO


The End!!


N/A - Nicki:
Hey, guys, estou bastante feliz por mais esta criação em conjunto com a Pâms, já que foi bastante divertido escrever com ela! ❤
Espero muito que vocês gostem dessa história, de coração. Aproveitem a leitura! 💛
É isso, galera, até a próxima. BJoo 😽




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N/A - Pâms:
Hello, espero que tenham gostado desta fic, mais uma que tenho a honra de escrever com minha mana carioca *-* Foi trabalhoso e complicado conciliarmos os horários, mas conseguimos terminar de escrever felizmente! Me diverti bastante!!!
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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*as outras fics vocês encontram na minha página da autora!!


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