Finalizada em: 24/09/2018

Stronger

5:30am…
Ainda estava escuro e eu não tinha conseguido dormir direito aquela noite, talvez a ansiedade ou preocupação por minha nova realidade. O lado bom de receber um convite para me juntar ao serviço secreto, foi o excelente salário que receberia e não ter mais que olhar para a cara do policial Stevens. Felizmente havia me livrado de suas piadas escrotas sobre mulher ser um sexo frágil, dentre outras coisas.
Já o lado ruim… Enfrentaria três longas semanas de treinamento pesado para me adaptar à nova realidade. Ser uma agente secreta era extremamente diferente que uma mera policial, que conseguiu se disfarçar de barista no improviso, e prender uma quadrilha de traficantes. Dentro de mim já sabia que enfrentaria coisas piores e criminosos mais perigosos, algo que despertava ainda mais empolgação e ao mesmo tempo receio dentro de mim. Pois, a partir daquele momento eu passaria a não existir mais para a sociedade, assim poderia proteger meus amigos e minha família.
— Mais uma vez, seja bem-vinda a agência Recall. — disse Jack assim que guardou a pasta com minha ficha e informações, na gaveta da sua mesa, a trancando rapidamente — Tenho certeza que será uma das melhores agentes que já trabalhou conosco.
— Espero corresponder a sua expectativa sobre mim. — respondi de forma tímida, certamente havia pessoas bem mais habilidosas do que eu ali.
Ele sorriu demonstrando satisfação em minha postura e me acompanhou até o carro que me levaria ao centro de treinamento da agência. Senti meu coração acelerar assim que o carro arrancou e percebi que não era um sonho, mas estava mesmo acontecendo. As horas se passaram com o carro seguindo pela rodovia principal, achei estranho inicialmente sairmos da cidade, porém como era minha primeira vez, comecei a formular algumas teorias da conspiração.
E se eu estivesse passando por um teste surpresa naquele momento?! Essa indagação não saia da minha mente nem por um minuto, o que fez meu corpo ficar em alerta e minha respiração um pouco descoordenada. Mais alguns minutos o carro virou para a direita, fazendo a curva de forma brusca, num piscar de olhos senti um forte impacto no carro como se tivesse se chocado com outro. Tudo ficou instável ao meu redor e o carro começou a capotar, não podia ser um teste, eles não colocariam minha vida em risco.
Fiquei alguns instantes ainda zonza, fechei meus olhos respirando fundo para raciocinar, mesmo que metade de mim quisesse entrar em pânico. Confesso que sempre fui uma pessoa mais racional que emotiva, isso me levou a sobreviver no departamento de polícia onde trabalhava. Elevei minha mão no alto da minha cabeça e senti um pequeno corte, acompanhado de sangue. Abri os olhos e retirei o cinto de segurança, meu corpo logo desabou no teto do carro, que estava de cabeça para baixo.
Chutei a porta, quebrando o vidro e saí, olhei em minha volta. Não era a rodovia central e aquela estrada estava completamente vazia, e aparentemente passava no meio de uma floresta. Dei alguns passos para frente e me agachei para checar as condições do motorista, felizmente seu pulso parecia normal, o que significava que estava desmaiado. Logo mais a frente havia outro carro tombado, pressupus que fosse a coisa que bateu na gente. Segui em sua direção e percebi que não havia ninguém dentro. Lá no fundo, algo dentro de mim me incomodava com aquela situação.
De repente ao longe duas motos apontaram no horizonte, respirei mais aliviada, certamente eram da agência, já que Jack assegurou que aquele carro seria monitorado a todo momento. Resolvi esperar que chegassem até mim. Assim que eles pararam, desceram da moto e permaneceram com os capacetes.
— Oi… — disse mexendo levemente para trás levantando as mãos, assim que o mais alto sacou sua arma — Está tudo bem? Não é?!
O outro também sacou a arma, mesmo com tudo acontecendo muito rápido, percebi que ele era canhoto, algo relativamente não importante, até eu me lembrar de um cara que eu prendi que era canhoto e havia me dado um enorme trabalho para desarmá-lo. Sim, só agora notei que não era um resgate e possivelmente poderiam estar nos seguindo. Não tinha tempo para esperar reforço, isso se realmente teria um, o que me levou a respirar fundo novamente e reunir coragem, para sair daquela situação sozinha.
Assim que o mais alto se aproximou, lancei minha perna direita na direção da arma a derrubando no chão, ele avançou para cima de mim e tentando me desviar, dei de cara com o canhoto já erguendo a mão para me bater com a arma. O mais alto me pegou por trás segurando minhas mãos, mesmo imobilizada, lancei meus pés no canhoto o derrubando e dei uma cabeçada no mais alto. Ele me soltou automaticamente após ser atingido, eu peguei sua arma que estava caída e saí correndo em direção a floresta.
Logo os tiros em minha direção começaram, acertando algumas árvores próximas. Minhas pernas já não se lembravam há quanto tempo não corriam com tanta precisão. Não sabia para onde estava indo, mas queria me ver livre daqueles dois homens logo, mudei meu percurso. Ao invés de subir a colina que seria mais cansativo, resolvi descer para o vale, assim que avistei um milharal.
Em meio a algumas quedas, derrapadas e deslizes graças a aflição em que me encontrava, além de algumas pedras indesejadas no meio do caminho. Finalmente adentrei o milharal e tentei me esconder, eu permaneci abaixada por um tempo para retomar o fôlego.
— Parabéns, você tomou uma sábia decisão, novata. — disse uma voz grossa vindo de trás de mim.
— Quem é você? — disse ao me levantar no impulso e mirar a arma para ele.
— Você deveria saber. — ele sorriu de canto, mantendo seu olhar sereno e suas mãos devidamente encaixadas nos bolsos da calça — Já que foi enviada pelo Jack.
Jack?! Não acreditava que era mesmo um teste ou coisa do tipo.
— Como? — sussurrei embasbacada — Aquilo… Na estrada?
— Uma simulação de treinamento. — explicou ele — Conseguiu se sair muito bem, me surpreendeu.
Seu olhar ficou um pouco superior, como se quisesse dizer que eu teria que fazer bem mais que aquilo para conquistar sua confiança. Eu nem o conhecia.
— Você ainda não disse quem é?! — insisti mantendo a arma em sua direção.
— Capitão . — respondeu ele — Seu oficial superior.
Eu engoli seco, já havia ouvido aquele nome antes com Jack. Sabia que era o melhor e mais habilidoso agente da Recall, só não me lembrava de ter visto alguma foto dele. Capitão havia encerrado uma missão recentemente e curiosamente, se voluntariado para ser meu treinador.
— Gostaria de abaixar a arma?! — sugeriu ele.
— Ainda não confio em suas palavras. — retruquei mantendo minha seriedade, não sabia se ainda estava sendo testada.
— Interessante. — ele estendeu a mão — Me entregue esta arma policial.
Protelei por um momento, então abaixei a arma e dando dois passos até ele fui para lhe entregar. Logo, o capitão , puxou a arma de mim bruscamente e puxando meu braço junto, rodou meu corpo, prendendo-me a ele.
— Primeira lição… — sussurrou em meu ouvido com certa intensidade, o que quase me fez vacilar um pouco — Não confie em ninguém, principalmente em mim.
Eu movi meu corpo tentando sair, sem sucesso, então pisei fortemente em seu pé e lancei minha cabeça para trás acertando o rosto dele. Aquilo o fez me soltar e eu cambaleei um pouco, ao sentir algo me picar no pescoço, jogando a mão para entender o que era, retirei um dardo da minha nuca. Logo minhas vistas embaraçaram, senti minhas pernas falharem ao se manter de pé.
— Segunda lição… — disse ele ao me segurar pela cintura — Esteja preparada para tudo.
Já não sentindo meus músculos, tudo se apagou de vez.


- x -


— Sério? Isso foi o melhor que Jack pode recrutar?! — ouvi uma voz feminina ao longe.
— Vai mesmo subestimá-la?! — aquela era a voz do capitão, mesmo zonza, eu reconheceria de longe — Está começando a ficar ainda mais interessante esse treinamento.
Me mantive com os olhos fechados, enquanto deixava meu corpo acordar por completo, poderia ouvir a conversa deles por horas… Não, eu estava errada.
— Abra os olhos. — ordenou o capitão, com firmeza na voz — Sei que está acordada.
— Como sabe? — perguntou a voz feminina.
— A respiração dela mudou, ficou mais intensa. — explicou ele totalmente certo do que dizia.
— Onde estou? — perguntei abrindo meus olhos, sem menor problema.
— Não disse. — ele sorriu de canto, estava de braços cruzados encostado em uma pilha de caixas perto da porta.
— Onde estou?! — perguntei novamente, erguendo uma sobrancelha.
— Olhe em sua volta e comece a deduzir. — sugeriu ele.
Voltei meu olhar para a mulher: ruiva de estatura mediana, cabelos curtos com a metade sendo presa formando um coque samurai; seu olhar para mim não era de muitas amizades, o que me fez deduzir que ela fosse um dos obstáculos em meu treinamento. Me concentrei e olhei em minha volta, parecia um velho galpão abandonado, se era um cenário, eles estavam de parabéns no quesito cenografia. Observei cada detalhe, desde as teias de aranha nos cantos das estruturas de madeiras esburacadas de cupim, até o ranger do assoalho enquanto a mulher caminhava até o capitão.
— Conseguiu se localizar? — perguntou ele.
— Suponho que estejamos perto do milharal, consigo sentir o cheiro daqui. — respondi — Pela brisa e claridade, ainda é tarde, o que significa que se eu tentar escapar, posso chegar a tempo na estrada.
— Interessante. — ele parecia gostar dessa palavra — Mas, o que faria ao chegar na estrada? Essa rota não é movimentada.
— Se eu chegar ao carro, posso encontrar algo que ajude na minha comunicação. — retruquei pensando no óbvio.
— Neste mundo, nada é tão fácil assim. — ele se afastou das caixas — Você está certa quanto a hora, então serei legal hoje.
Hoje? O olhei admirada. Ele não estava sendo legal desde o início.
— Te darei até o final da tarde para escapar daqui e encontrar um objeto perdido no meio da floresta. — descruzando os braços, desviou seu olhar para a mulher — Você terá que passar pela Jen, como também pelos seus amigos motoqueiros.
O que? Pensei comigo.
— Mais um teste?! — perguntei.
— Não. — ele soltou um suspiro satisfatório — Seu teste foi quando se disfarçou de barista há alguns meses… Agora… Você está em treinamento, desde que saiu da sala do Jack.
— Achou mesmo que seria como naquela ridícula academia de polícia? — Jen se aproximou de mim — Ao final do dia, você vai pedir para voltar para casa.
Engoli seco. Toda aquela sensação que eu estava tendo de algo errado se confirmou, eu já estava em treinamento e meu lado racional precisava ser despertado e intensificado ainda mais. Agora era eu quem queria provar a eles que conseguiria.
— Se eu não conseguir?! — perguntei.
— Não será devolvida, se é isso que pensa, mas não ficará impune. — respondeu capitão , lançando um olhar avaliativo para mim — Passará esta noite na floresta sem nenhum recurso.
— Posso pelo menos entender em que um treinamento desse vai me ajudar? — questionei. — Como eu disse, neste mundo temos que estar preparado para tudo. — relembrou — A Recall não é qualquer agência, e você não será qualquer espiã.
Senti uma ponta de "não me decepcione" na sua voz, o que me levou novamente a querer saber o motivo dele estar ali me treinando e não em outra gloriosa missão. A situação me deixou intrigada. Ele me deixou intrigada.
O capitão se ausentou do galpão entre alguns assobios aleatórios, enquanto isso, a tal Jen mantinha seu olhar fixo em mim. Como eu me livraria dela? Essa era a pergunta que continuava martelando em minha mente.
— Não adianta, não vai conseguir. — ela riu com certo deboche.
— Acha que pode ler a minha mente?! — a olhei tranquilamente.
— Eu já estive aí, nessa mesma cadeira. — respondeu — Por isso eu sei que não vai conseguir.
— Só porque não conseguiu, não quer dizer que outras pessoas vão falhar. — retruquei, firmando minha voz e olhar a ela.
— Os treinamentos do capitão são para nos levar ao limite. — ela deu alguns passos para frente em minha direção — Mas no final, o que ele quer é mostrar que não conseguimos sozinhos.
— Sempre achei que o melhor da Recall trabalhasse sozinho. — comentei surpresa.
— Engano seu, ele tem a melhor e mais preparada equipe da agência. — respondeu ela.
— O que me leva a acreditar que ele me quer nessa equipe. — mordi o lábio de leve gostando da ideia.
— No que depender de mim, você jamais fará parte dessa equipe. — ela se aproximou mais.
— É uma pena que isso não dependa de você.
Mantive um sorriso audacioso no rosto, a deixando ainda mais raivosa. Será que havia um amor platônico ali?! Seria aquilo uma tentativa falha de esconder ciúmes? Não importava, o que eu queria mesmo era conseguir sair dali a tempo e chegar na estrada. Assim que ela se aproximou ainda mais, lancei minha perna em sua canela direita, fazendo-a se ajoelhar com o impacto, então elevei um pouco meu corpo amarrado a cadeira e girando, bati nela a derrubando ao chão.
— Eu posso até não conseguir sair daqui, mas você não vai ficar de pé. — meu corpo tombou um pouco me fazendo cair ao chão também.
Me remexi ainda mais fazendo a corda afrouxar um pouco, assim finalmente soltei minhas mãos e retirei o restante da corda que estava em volta de mim. Assim que me levantei, senti o impacto de algo batendo em minhas costas, me derrubando no chão novamente.
— Achou que seria simples assim? — era Jen e sua fúria — Vai ter que fazer mais que isso para me vencer.
— Eu estou apenas começando… — disse com um pouco de dificuldade, sentindo as dores nas minhas costelas — Não me subestime.
Me levantei e parti pra cima dela, jogando-a no chão novamente. Jen era boa em luta corpo a corpo, mas aquele não era meu primeiro treinamento e na academia de polícia meus resultados eram os melhores. Eu consegui pegar o taco que ela usou para me bater e lancei sobre a sua cabeça, fazendo-a desmaiar. Respirei fundo jogando o taco no chão e olhei para os fundos, seria óbvio se eu saísse pelos fundos, já que eu pensaria que eles estivessem na frente.
— Vamos pelo não óbvio. — peguei o taco de madeira novamente e segui para frente.
Ao sair, me deparei com o capitão com um cronômetro na mão, me olhando serenamente. De uma forma inexplicável.
— Não acredito. — sussurrei — Você é meu novo obstáculo?
— Não, só estou aqui para te observar. — ele sorriu de canto.
— Me observar ou me atrapalhar? — segui em frente passando por ele.
Good luck. — sussurrou ele assim que passei.
Eu respirei fundo e tomando impulso, comecei a correr em direção ao que acreditava ser a estrada. O incrível do tempo, é que quanto mais precisamos dele, mais ele passa rápido. Logo o pôr-do-sol surgiu e com isso o vento frio da colina que eu subia, antes de chegar a estrada ainda tinha que encontrar não sei o que na floresta, tinha que ser rápida pois a luz da lua não seria minha amiga. Senti que estava andando em círculos, até que me deparei com o capitão parado no meio da clareira, de braços cruzados me olhando serenamente, aquele seu jeito já estava me deixando enfurecida.
— Encontrou o que procurava?! — perguntou ele.
— Sim. — respondi deliberadamente — Você.
Ele sorriu de forma maliciosa, parecia sentir prazer em me ver naquela situação.
— Não existe objeto nenhum aqui, desde o início você só queria que eu chegasse a esse ponto. — conclui me lembrando das palavras de Jen — O primeiro nível do seu treinamento é um teste de resistência onde ninguém está apto a passar.
Me sentei no chão e continuei o olhando.
— O que está fazendo? — perguntou ele com seu olhar avaliador.
— Esperando a madrugada chegar. — respondi.
— O que te faz pensar que não conseguiu?! — ele cruzou os braços.
— Seu método avaliativo. — desviei meu olhar para o lado, já não conseguia mais encará-lo.
— Levante-se e venha comigo. — ele descruzou os braços e se virou — Rápido, pois não vou te esperar.
Ele começou a correr, em direção ao norte, meu cérebro levou dois segundos para digerir aquilo, e então meu corpo tomou impulso no automático e comecei a seguí-lo. Estava curiosa para saber onde nossa corrida noturna me levaria, porém lá no fundo, um pouco receosa em pensar que poderia ser um nível ainda mais pesado do treinamento.
— Para onde estamos indo? — perguntei ao parar para retomar meu fôlego.
— Já está cansada?! — ele parou poucos passos a frente e me olhou.
— Posso ser sincera?! Estou a horas sem saber o que é água em meu organismo. — desabafei — E não me importo mais que isso seja parte do treinamento, só não consigo mais correr.
Minhas pernas estavam formigando e meus pés doendo. Eu retiro o que disse sobre ser fácil, não era nada fácil e só agora tinha isso em mente, o capitão era o melhor agente, é claro que seu treinamento não seria o menos complicado. Ele suspirou vindo em minha direção e retirando do bolso uma algema, colocou uma parte em seu braço e a outra no meu, me prendendo a ele.
— O que é isso? — perguntei.
— Agora somos um. — disse ele, sem desviar o olhar de seu alvo — Vamos, estamos quase chegando.
Ele me puxou seguindo em frente, agora teria inegavelmente que acompanhar seu ritmo até chegarmos aonde ele planejava. Bem ao topo da colina, estava nossa linha de chegada, uma velha cabana. Me lembrava um pouco aquelas cabanas de caça no meio das florestas dos filmes do Chuck Norris, comecei a rir assim que paramos na frente, ele me olhou sem entender.
— Espero que tenha decorado o caminho. — disse ele.
— Por que?! — o olhei intrigada — Está pensando em me deixar aqui?! Esse é o próximo obstáculo?
— Não. — ele voltou seu olhar tranquilo para mim — Você ainda não aprendeu, não é?!
— Aprendi o que?
— Estar sempre preparada para o pior. — ele se voltou para casa e entrou primeiro.
O que mais ele queria dizer com aquilo?! Não consigo deixar de pensar no quanto o capitão me intriga. Bufei um pouco e o segui. Assim que entrei, olhei ao meu redor, era uma confortável e aconchegante cabana para estar no topo de uma colina no meio da floresta.
Curiosamente os dias foram passando e continuávamos ali, o que me deixava ainda mais desconfiada. Nossa rotina diária, era uma corrida matinal longa e cansativa pelo perímetro do lugar, após o almoço treino corpo a corpo e no final da tarde tiro ao alvo.
Eu poderia até achar aquilo tranquilo se não fosse uma simples frase que agora martelava sempre na minha mente: "Não confie em ninguém, principalmente em mim.". Jamais me esqueceria da primeira lição.
Era final da tarde, e estávamos encerrando nosso treino de luta corpo a corpo, o capitão estava agindo de forma estranha há dois dias, como se não estivesse com disposição suficiente.
— O que ele está tramando dessa vez?! — me perguntei em um sussurrou ao entrar depois dele.
Fui em direção a cozinha, aquele era meu dia de preparar o jantar, enquanto ele se dirigiu para o banheiro. O tempo foi passando e reparei que ele não havia voltado ainda, foi quando desliguei a chama do fogão e me dirigi até o banheiro onde ele estava.
— Capitão ?! — o chamei dando dois toques na porta — Está tudo bem?!
Logo uma poça d’água encostou nos meus pés, me fazendo ficar ainda mais preocupada, corri até o quarto dele e revirei as gavetas procurando a chave mestra da cabana, assim que achei no fundo falso da última gaveta da escrivaninha, destranquei a porta do banheiro já entrando em desespero e me deparei com ele caído no box, enquanto a água fria do chuveiro derramava sobre ele.
— Capitão… — corri para socorrê-lo e percebi que seu corpo estava muito quente — Capitão o que está fazendo?
— Está atrasada. — sussurrou ele — Estou aqui há mais de vinte minutos, já deveria ter sentido minha ausência.
— Não me diga que isso é mais um de seus treinamentos?! — mesmo que fosse, eu teria que fazer algo para que ele melhorasse — Se colocar em risco?!
— Deve estar preparada para tudo. — eu fiquei boquiaberta, com uma ponta de raiva me corroendo.
— Yahh…. Estamos falando da sua vida! — gritei ficando chateada e revoltada.
Eu queria matá-lo por causa disso, mas antes, tinha que salvá-lo primeiro. Desliguei o chuveiro de imediato e coloquei seu braço em meu ombro, o ajudando a se levantar, meu corpo se arrepiou com o choque térmico, mesmo com as roupas molhadas, o corpo dele estava muito quente, não conseguia imaginar o que fazer para contornar essa situação. Com certa dificuldade, o levei até o quarto. Ainda não conseguindo me acalmar, tentei tirar suas roupas molhadas sem sucesso, estava nervosa demais para agir com frieza.
— Espera. — ele segurou em minha mão e me olhou — Se você não se acalmar, eu não vou sobreviver. — eu engoli o seco, desacreditada e decepcionada comigo mesma; era para eu realmente estar nervosa assim, e pior, deixando-o notar a minha o meu nervosismo, como uma adolescente frente ao seu crush.
Claro que eu o admirava por ser o melhor entre os melhores, ser treinada por ele era uma realização, mas isso não era o caso.
— Por que me colocou nessa situação?! — eu queria brigar com ele, mas naquele estado só conseguia pensar que a culpa era minha.
Por que não percebi que ele estava assim?!
— Respira fundo. — continuou ele não dando importância ao meu questionamento — No banheiro tem uma caixa de primeiro socorros, dentro tem alguns remédios e um manual de sobrevivência.
— Ok — repeti em palavras chaves para não esquecer nenhum detalhe. — Caixa, remédios, manual...
— Antes, me traga roupas limpas e confortáveis, não posso continuar assim. — ele voltou seu olhar para a janela — Ainda é tarde, vai ficar tudo bem.
— Você vai conseguir se trocar sozinho? — perguntei preocupada com seu estado.
— Você quer fazer isso por mim? — ele soltou um sorriso malicioso, me fazendo semicerrar os olhos e fechar os punhos com força.
Me levantei um tanto indignada com sua suposição, indo até seu armário e pegando algumas peças de roupa, joguei em sua cara revoltada. Voltei até o banheiro e procurei a tal caixa de primeiro socorros, que estava dentro de uma das gavetas da bancada, contei alguns minutos para retornar ao quarto. Assim o deixaria à vontade para se trocar, já que estava com tanta força em suas insinuações, então não estava morrendo fisicamente.
— Capitão… — soltei um grito ao vê-lo novamente jogado ao chão, o ajudei a se deitar na cama, afastando os lençóis molhados e o cobrindo, com um cobertor velho que encontrei — Por que tem que fazer isso?!
— Fazer o que?! — sussurrou ele.
— Ficar caindo assim. — reclamei — Ainda não me conformo que esteja me testando desta maneira.
— Imagine que estamos em uma missão e eu estou comprometido fisicamente, como você iria reagir?! — perguntou ele.
— Quando disse que eu deveria estar preparada para tudo… Não era mesmo uma brincadeira. Não é?!
— Não. — ele sorriu de canto — Estou em suas mãos agora.
Ele fechou os olhos.
Cada célula do meu corpo queria entrar em desespero quando ele desmaiou, mas eu tinha que ser forte e focada, como ele disse, sua vida estava em minhas mãos e eu não iria falhar. Peguei o manual e em poucos minutos o li por completo, então comecei a fazer passo a passo todos os procedimentos que estavam escritos, primeiro teria que baixar sua febre, para que seu corpo voltasse a temperatura estável. Então, seu organismo poderia ser fortalecido com os remédios e uma boa alimentação.
— Se sente melhor? — perguntei, vendo-o terminar de tomar o caldinho que eu havia preparado para ele.
— Com os seus cuidados, me sinto bem melhor. — ele me olhou rapidamente e eu tentei disfarçar o sorriso que eu dei. — Por que esconde tanto os seus sentimentos?
— Sentimentos? Do que está falando?
— Ora, , você não ficaria tão nervosa à toa. — engoli o seco — Não precisa esconder…
— O que eu esconderia, capitão ? — o olhei confusa — Confesso que é a primeira vez que passo por uma situação dessa, mas sabe que eu estou te ajudando por questões óbvias: além de estar passando por um treinamento, não deixaria o meu superior morrer.
— Até porque, seu superior é um dos homens que mais admira não é? — ele sorriu de canto.
— Do que está falando?!
— Eu vi o vídeo da sua entrevista, fiquei surpreso por todos aqueles elogios a meu respeito. — ele tossiu um pouco — Então quer dizer que sou o agente que te inspirou a entrar para Recall?
Eu abri a boca para respondê-lo, mas preferi dar as costas e sair para a cozinha. Não gosto de me sentir desta forma, como se estivesse sendo analisada por uma pessoa... Não gosto quando tentam me desvendar, como um enigma… Eu cumpro apenas o meu trabalho, e no que eu faço tento ser a melhor. Quando não atinjo o meu objetivo, me sinto frustrada, principalmente quando chego bem próximo de realizá-lo.
A questão é que, debaixo de todo esse colete a prova de balas que eu tanto visto, existe um coração que muitos pensam ser feito de gelo; mas sabemos que gelo derrete. E, eu não sei o porquê, mas sinto que estou fazendo bem além da minha obrigação e não sei por qual razão. Apesar de todas as provocações, os meus sentimentos estão levemente afetados.
Desde que descobri a Recall através do sargento Flinn, e tive acesso a lista dos melhores agentes da organização, foi como um novo mundo que eu ansiava a fazer parte. Dentro de mim surgiu uma grande e inesperada admiração pelo agente alpha , principalmente por sua coragem e por realizar tão bem suas missões, quando descobri que ele havia decidido me treinar para integrar sua equipe, meu coração acelerou ainda mais…
Porém, jamais confessaria isso ao capitão… Como se realmente fosse necessário, ele já sabia sobre o que eu pensava dele, tanto que brincava com a situação com naturalidade, certamente havia me estudado muito bem, antes de me levar para aquele treinamento. Mas eu me manterei firme...
Preparei um chá de camomila; além de manter a temperatura correta de seu corpo, mantê-lo calmo e bem. Confesso que eu não costumo fazer coisas do tipo nem para mim mesma, mas aquela era uma única exceção.
— Olha quem voltou… — ele disse, enquanto observava eu me aproximar com uma cambuquinha em mãos — O que me trouxe desta vez?
— Chá.
— Ah, eu odeio chá! — capitão fez careta.
— Eu sinto em lhe informar, mas esta será a sua vida até que fique completamente recuperado, não se esqueça que isso é culpa sua. — ele bufou, me fazendo rir — E não seja tão fresco, é chá de camomila, o sabor é agradável.
A contragosto, ele pegou a cambuquinha de minhas mãos e bebericou o chá; no início fez mais algumas caretas, mas depois pareceu se familiarizar com o gosto da camomila.
— Só você para me fazer tomar tantas coisas ruins em um só dia.
— O que? Você é um dos melhores agentes da atualidade. Aposto que já se alimentou de coisas bem piores, vejamos, onde mesmo foi seu último treinamento? Ah… No deserto do Camboja... — eu cruzei os braços, com as sobrancelhas erguidas — Não acredito que esteja mesmo reclamando de uma sopa e um chá!
— Não se trata do alimento, mas, sim, da forma que foi feito. Não estava bom. — ele me olhou, rindo — Estou brincando, não precisa ficar brava.
— Isso é algo que não se pede a alguém como eu, Capitão Fresco.
— Eu prefiro ser chamado de Capitão Frio.
— O que é isso? Uma referência a The Flash? — eu sorri largamente — Não imaginava que tinha tempo para seriados.
— Na verdade, eu estava apenas associando a minha posição ao seu coração gélido — seu olhar fixo em mim, aquele seu comentário me fez bater a mão em minha testa — Mas, é bom saber que você gosta de séries da DC Comics.
— Era para termos mesmo esta conversa? — eu suspirei alto — Estamos falando sobre coisas pessoais, não deveríamos…
— Você também deveria me chamar de "senhor" e, no entanto, resolveu não ser formal e me tratar por "você" mesmo. — ele me interrompeu — Mas, tudo bem, eu não estou te cobrando formalidade. Confesso que até gosto do rumo em que as coisas estão tomando. — Do que está falando? — o olhei séria.
— Vamos lá, , já passamos pela fase dos enigmas… — capitão me lançou um olhar significativo e eu pigarreei, desviando o olhar.
— Vou levar estas coisas para a cozinha. — peguei as cambuquinhas e levei para a pia.
Capitão é um homem que eu diria ser bastante ousado e provocativo; não é como se eu não gostasse, mas eu jamais admitiria que estava gostando daquilo tudo. Quero dizer, o seu jeito atrevido além de me intrigar, me atrai como um ímã e apesar de tentar não demonstrar, ele já sabe exatamente como me desconcertar com suas palavras e gestos, além de parecer ficar sempre muito satisfeito com isso.
Retornei ao quarto, fechando a janela que estava um pouco aberta devido ao calor que ele tanto sentia enquanto a febre baixava. Segui até o armário e retirei uma uma coberta de lá, mas esta seria para mim.
— O que está procurando?
— Um colchão ou algo que dê para eu dormir em cima. — olhei embaixo da cama a procura do objeto, logo me sentando na mesma.
— Por que não dorme aqui comigo na cama? — eu o encarei no mesmo instante — Eu juro que não é uma proposta maliciosa, desta vez, falo sério.
— Isso seria muito estranho! — comentei.
— Você parece desconcertada. — ele riu, enquanto eu cocei a cabeça, dando um suspiro bem alto — Não precisa ficar, acho que estamos em uma situação em que podemos confiar um no outro.
— É sério? E quanto a: "não confie em ninguém, principalmente em mim."?
— Ah, eu só disse isso porque fazia parte do treinamento inicial. — foi a vez dele se desconcertar — Mas…
— Acho que você está começando a cair em contradição. — ele me encarou, com os olhos meio arregalados — Não está?
— B-bem, eu só… — ele pigarreou — Você está tentando me deixar confuso?
— Talvez. — eu dei um sorriso ladino.
— Vingativa. — eu ergui as sobrancelhas — Mas se quer saber mesmo, eu disse aquilo pelo treinamento, sim, porém muito mais por saber sobre sua admiração por mim, não queria que isso atrapalhasse seu desempenho, apesar de…
— Apesar de que?
— Apesar de eu estar atraído por você...
Naquele momento, o cobertor caiu das minhas mãos e eu meio que dei uma paralisada, principalmente quando capitão se aproximou mais de mim, puxando o meu rosto com leveza em sua direção.
— Eu esperei ansioso por este acontecimento.
Senti os seus lábios macios se chocarem com os meus em uma velocidade consideravelmente rápida; talvez pela urgência em que nós buscamos por aquele beijo. Tanto da parte dele quanto da minha... Nós queríamos isso? Não sei ao certo, se sim ou não. Talvez pela situação em que ele se encontrava, que nos deixou um tanto vulnerável aos nossos sentimentos, mas naquele momento, só conseguia pensar em como seu beijo era doce e intenso.
— Acho melhor pararmos por aqui. — eu afastei um pouco o meu rosto.
— Se assim você prefere, tudo bem. — eu assenti e ele sorriu — Mas, durma aqui comigo.
— Capitão , não sou formada em Enfermagem e você não é nenhum incapaz, não precisa 24h dos meus cuidados. — ele riu fraco e, se aproximou tentando me roubar outro beijo — Yah!
— Duvido que não quer isso tanto quanto eu… — ele riu — A cama é aconchegante e cabe você aqui comigo. — eu respirei fundo — Sei que será difícil para você resistir a um homem como eu, mas, sou respeitador.
— Você é um convencido! — ele riu ainda mais alto — Mas, irei aceitar a oferta apenas porque não quero acordar no dia seguinte com dores pelo corpo inteiro.
— Olha, ela sabe dar uma bela desculpa. Parabéns pela cara-de-pau!
— Eu chamaria isso de ousadia, mas, obrigada. — eu me ajeitei na cama, apagando a luz — E, só uma observação, eu já entendi o que você gosta de fazer, me deixar envergonhada. Mas, anote em seu caderninho, capitão, não vai mais acontecer.
— Como eu disse: vingativa. — eu prendi a risada — Não tenho o direito a um beijinho de boa noite?
— Você tem o direito de permanecer calado até o dia seguinte.
— Boa noite, recruta nervosinha.
Mais uma vez, eu fiz o máximo de esforço para não rir e deixá-lo pensar que eu não ligava para os seus adjetivos relacionados a mim, mas o cansaço realmente me alcançou e eu me entreguei a ele, dormindo rapidamente.
No dia seguinte, me levantei mais cedo que de costume e tomei um banho quente para aliviar a tensão dos músculos, ao contrário do que pensei a cama havia me deixado com o corpo mais dolorido do que se eu tivesse dormido sobre o chão puro. Mas, a água quente relaxou mais a minha musculatura e eu já conseguia sentir menos fisgadas.
— Por que está andando como se tivesse sofrido um acidente? — capitão perguntou, num tom debochado e eu rolei os olhos — Yah, ainda é tão cedo para você já estar de mal-humor!
— Eu não estou de mal-humor, só sinto como se a cama tivesse o efeito de atrofiar os meus músculos.
— Se tivesse dormido agarradinha comigo, estaria bem plena agora. — eu o olhei, incrédula com o seu convencimento e ele ria, ainda enrolado na coberta.
— Cala a boca! — eu ri junto com ele, me aproximando da cama — Vou preparar o nosso café da manhã — assentiu — Se sente melhor?
— Eu estou com a melhor enfermeira que poderia estar, como não me sentiria? — eu dei um sorriso contido e ele segurou em meu queixo — Eu sabia que debaixo deste colete a prova de balas havia a garota que se inscreveu sete vezes para entrar na Recall por minha causa, a cada dia que te conheço, minha admiração por você só aumenta.
— O que pretende me elogiando assim? Tão diretamente?
— Nada, só me sinto grato por conhecer uma mulher tão forte e maravilhosa como você. — ele piscou de leve.
Meu sorriso que geralmente é contido, principalmente em sua presença, passou a ser largo e eu finalmente baixei a guarda quando senti sinceridade em suas palavras e em seu olhar.
— Eu preciso mesmo ir preparar o café, estou com muita fome e imagino que você também esteja. — disse ainda envergonhada por sua declaração — Como se sente, hoje?
— Meio sonolento, porém, bem melhor que ontem.
— Tome um banho e irá se sentir melhor ainda. — ele assentiu — Qualquer coisa, estarei na cozinha.
— Está bem. — ele segurou de leve em minha mão e me beijou de surpresa de forma intensa, me fazendo sentir todo o meu corpo se ouriçando.
— Capitão, você precisa parar de fazer isso. — disse me afastando dele.
— Só estava te dando bom dia. — ele sorriu com ousadia.
— Hum… — eu ri — Prefere café doce ou amargo?
— Amargo, preciso de algo bem forte para me controlar perto de você.
Eu soltei uma gargalhada ao ouvi-lo e me direcionei à cozinha, aquele definitivamente seria um longo dia.
No fim da tarde, conversamos sobre algumas das missões raras e desafiadoras que ele enfrentou na Recall, situações de improvisos que deram certo e outras que não deveriam ser utilizadas novamente.
— O próximo nível será o último. — ele disse, bebericando o chá de erva cidreira — Você acha que está preparada?
— Sim. — concordei, sorrindo — Após dias nesta cabana com você, tenho certeza que não existe nada mais desafiador.
— Por que esse sorriso largo, hein? Vejo que está muito confiante.
— Eu consegui passar de nível e você parece melhor. — eu o olhei — O seu semblante está mais leve e saudável.
— Tudo graças a você e sua determinação! — ele selou os nossos lábios e eu assenti — Agora o meu foco é ficar ainda mais forte para tudo o que há de vir.


- x -


Eu estava nervosa. Mesmo passadas duas semanas após os dias na cabana, ainda não havia me recuperado do susto que o capitão me deu.
Agora desembarcando em Xangai, a curiosidade só crescia dentro de mim, afinal, o capitão não mencionou como seria o final do meu treinamento e já havia alguns dias que eu não o via. Finnick, o motoqueiro mais alto, havia se tornado meu amigo, isso depois de ensiná-lo alguns macetes para vencer John nas suas partidas de xadrez. Ele me acompanhou até o hostel em que nos hospedamos.
Assim que entrei no quarto, me deparei com uma caixa em cima da cama como um bilhete me esperando. Fechei a porta e caminhei até lá, ao pegar o bilhete, era um recado do capitão para mim, dizendo para vestir o conteúdo da caixa e lhe encontrar no endereço no verso do papel.
— O que mais está armando agora? — sussurrei mordendo meu lábio inferior.
Meu coração acelerou um pouco, ao lembrar de relance daquele beijo. Aquilo sim, havia sido mais que uma surpresa de treinamento, sua declaração sobre estar interessado em mim a muito tempo. O que me fez pensar se, Jen me tratava com certo desprezo por causa disso, além dela sempre resmungava que nunca havia conseguido sair do celeiro como eu. Mais ainda, ficava me perguntando os motivos do capitão querer me treinar pessoalmente, já que Jen e os outros haviam sidos treinados pelo Jack.
Deixei as horas passarem e aproveitei para tirar um longo cochilo da tarde. Ao pôr-do-sol, tomei uma ducha relaxante para acordar meus músculos e coloquei o belo vestido longo azul marinho, que estava dentro da caixa; a modelagem era muito bonita combinado a um curto rachado que mostrada com nuances, parte da minha perna direita. Será que foi ele quem escolheu?
— Ok, estou aqui. — sussurrei ao entrar no lugar de origem do endereço.
Era um luxuoso restaurante-cassino Master’s Sun, o mais requisitado de Xangai que pertencia a uma tradicional família chinesa. Como eu sabia? Em um dos meus momentos livres, aproveitei a liberação do meu acesso aos arquivos do servidor da Recall, então comecei a fazer minha agenda pessoal de informações relevantes.
— Onde está você capitão? — sussurrei novamente enquanto o procurava discretamente com o olhar pelo lugar.
Dei alguns passos até o bar e me sentei em uma das banquetas. Mantive meu olhar para o palco, onde um grupo feminino de jazz se apresentava de forma impecável, fingindo estar prestando atenção nelas.
— Para a senhorita, com os cumprimentos do cavalheiro ali. — disse o barman ao me servir uma taça de champanhe.
Desviei meu olhar para a direção indicada por ele, e logo um homem loiro de terno cinza levantou sua taça de martini e sorriu de canto. Levantei a taça de champanhe e sorri de volta, porém não tomei uma só gota, não sabia o que estava fazendo ali, mas não iria desviar meu foco. Encontrar o capitão seria minha prioridade.
— Não vai tomar?! — perguntou o homem loiro, ao se aproximar de mim — Assim eu ficarei constrangido.
— Agradeço pela bebida, mas… — empurrei de leve a taça em sua direção.
— Você não bebe?! — perguntou ele — Posso te convidar para o café então?!
— Também não tomo café. — desviei meu olhar para o palco novamente.
— Que mulher mais difícil! — brincou ele — Última tentativa, gosta de chocolate?
— Hum…
— Não me diga que você faz parte daquele um por cento que não gosta ou é alérgica?! — ele deu um sorriso meio sem graça, seu olhar tinha traços esperançosos.
— Não. — respondi rindo de leve — Eu gosto de chocolate.
— Ufa! — ele respirou aliviado — Então, acho que posso te convidar para um cappuccino ou algo mais refrescante que tenha chocolate envolvido.
— Talvez, quem sabe. — eu sorri disfarçadamente, estava mais achando graça em tudo aquilo.
— Olá querida, espero não ter demorado. — disse aquela voz vinda de trás de mim, logo senti sua mão tocar em minha cintura, fazendo seus braços me envolver, senti um breve arrepio — Quem é seu amigo?
— Ah?! — eu o olhei meio desnorteada, mas então voltei a si e percebi que certamente era um disfarce — Bem, então, o meu amigo, é…
— Dimitri… — disse o homem olhando para o capitão e estendendo sua mão — Dimitri Sartori.
— Prazer. — o capitão aceitou o cumprimento, apertando a mão dele — Pode me chamar de Chang.
Claro que ele não daria seu nome real. Dimitri pareceu aceitar, então voltou seu olhar para mim, de forma ainda mais intensa, algo que me deixou um pouco tímida.
— E conversavam sobre? — insistiu o capitão.
— O meu amigo estava me convidando para o café. — respondi tranquilamente entrando no personagem, não era a primeira vez que tinha que atuar, me lembrava muito bem do meu disfarce como barista.
— Você não gosta de café. — respondeu ele com segurança.
Como o capitão sabia disso?
— Foi o que ela me disse. — comentou Dimitri ainda mantendo seu olhar em mim.
— Porém, aceitei tomar algo mais refrescante que contenha chocolate. — completei de forma sinuosa.
Se isso fazia parte do plano eu não sei, mas ao olhar para o capitão , consegui perceber lá no fundo uma ponta de raiva misturada a ciúmes. O que me deixou ainda mais intrigada. Será que era mesmo só encenação? Não. Havia sim um fundo de sinceridade naquele olhar.
— E eu também estou convidado?! — perguntou o capitão de imediato, não perdendo a oportunidade.
— Claro. — Dimitri retirou um cartão dourado do bolso interno do terno e me entregou — Estarei dando uma festa amanhã à noite em minha casa, vocês serão meus convidados de honra.
— Agradeço. — peguei o convite e sorri de forma gentil para ele.
— Preciso ir agora. — ele se levantou — Foi um prazer, senhor Chang… Milady…
Ele fez uma breve reverência com a face e se afastou de nós. Estava um pouco chocada e ao mesmo tempo estática com tudo aquilo.
— Parabéns, você conseguiu! — disse ele pegando o cartão da minha mão e colocando no bolso da calça.
— Não me diga que era isso que queria?! — o olhei um tanto quanto indignada — Deve ter se divertido ao me usar assim.
— Que isso, querida. — ele se moveu para ficar na minha frente e mantendo sua mão em minha cintura se aproximou um pouco mais de mim — Ainda estamos sendo observados, então, falaremos sobre isso mais tarde.
— E o que vamos fazer agora?! — perguntei não me importando.
— Isso…
Ele se aproximou ainda mais e me beijou de forma intensa, envolvendo seus braços em minha cintura, por um leve instante me esqueci de onde estávamos e de todo o propósito daquela ocasião. Sim, aquele beijo me fez esquecer de tudo e simplesmente me deixar levar pelo momento, retribui da mesma forma, deixando uma leve sutileza de minha parte se misturar a sua ousadia. Até que ele se afastou de mim com um sorriso de canto recheado de satisfação.
— O que está fazendo?! — perguntei.
— Te tornando ainda mais desejável. — ele piscou de leve e pegando a taça de champanhe que ainda estava no balcão, tomou um gole — Nosso italiano ainda está nos observando.
Movi meus olhos pelo grande salão, até que o avistei conversando com o gerente do Master’s Sun. Respirei fundo e voltei meu olhar para o capitão, então me levantei da cadeira e me virei para sair de lá.
— Aonde vai?! — perguntou ele.
— Fingir uma crise no casamento. — sussurrei — Não temos que atuar aqui?
— Não assim. — ele segurou em minha mão e se colocou em meu lado — Você não entendeu mesmo?
— O que eu devo entender?! — o olhei novamente.
— Ele só se aproximou de você por causa da aliança em seu dedo. — explicou ele envolvendo novamente seu braço em minha cintura — Digamos que o senhor Sartori tem um fraco por mulheres casadas.
— Não me diga?! — agora estava embasbacada.
Havia me esquecido dessa aliança, estava junto com o vestido e havia uma clara recomendação que eu deveria usar na mão esquerda.
— Quanto mais apaixonada por mim você estiver, mais atraído ele ficará por você. — concluiu sua filosofia com segurança — Acaso não disse seu nome para ele, não é?
— Não, não disse. — confirmei.
— Muito bem. — ele sorriu de canto — Que tal um passeio noturno pela cidade? Tenho certeza que alguém irá nos seguir.
— Você acha? — perguntei.
— Sim.
E como ele estava certo. Não somente uma, mas três pessoas estavam nos vigiando. Uma eu tinha certeza que era uma mulher, havia esbarrado naquela falta turista umas quatro vezes em lojas diferentes de roupa e acessórios. A parte mais engraçada, foi quando o capitão comprou um colar de bijuteria em uma barraca de um artesão local, então como um marido carinhoso, colocou em meu pescoço.
— Precisava mesmo? — disse sorrindo como se estivesse encantada com o presente. — Aposto dois beijos que ele vai te dar um de diamantes amanhã à noite. — ele piscou de leve e segurou em minha mão.
— Não vou entrar nessa aposta. — me virei e segui em sua frente.
Eu havia prometido a mim mesma que não cederia mais as investidas do capitão. Ainda não entendia bem como ele havia se atraído apenas por estudar quem eu era sem conviver diretamente comigo, além de me negar a lembrar de nossos momentos sozinhos naquela cabana. Capitão , um homem ousado e malicioso, que me fazia lutar para não me envolver emocionalmente, mesmo com aquele sorriso presunçoso que me deixava estática.
Ao adentrarmos o quarto do hotel que ele havia reservado para nós, deixei minha bolsa de mão em cima da mesa de canto ao lado da porta. Caminhei até a sacada e fui para fora, olhei para a agradável vista que o lugar me proporcionava, a cidade era linda e muito iluminada à noite. De encher os olhos, realmente.
— Você escolheu bem o quarto. — comentei olhando o horizonte.
— Você acha? — ele chegou me abraçando por trás, envolvendo seus braços em minha cintura e beijando meu pescoço.
— O que… — senti fortes arrepios em meu corpo — Ca…
— Relaxe, não estou te seduzindo… Não ainda. — ele deu uma risada sugestiva e encaixou seu queixo em meu ombro — Nada aqui é ocasional e tudo é proposital, principalmente aquela limousine parada na esquina da rua; está nos seguindo desde que passamos novamente pelo Master’s Sun, para pegar o carro.
— Acha que é ele?! — sussurrei mantendo meu olhar no horizonte.
— Tenho total certeza. — garantiu.
Eu me virei para e o olhei de forma séria.
— Como consegue ser assim? — perguntei tentando não ficar indignada.
— Assim como? — ele continuou com seu olhar sereno para mim.
— Silencioso… Quer minha ajuda, mas não me diz o que tenho que fazer. — o confrontei, já estava querendo fazer isso há tempos.
— Acha que seu treinamento já terminou? Por isso estamos aqui?! — questionou ele.
— E não terminou?!
— Terceiro nível, improviso. — explicou ele — Existem momentos que temos de improvisar, principalmente quando não sabemos o que pode acontecer.
"Estar sempre preparada para tudo." — eu repeti aquela frase de efeito que me dava raiva, me afastei dele para sair dali.
— Espera — ele segurou em meu braço — Não quero que pense que estou te usando para nada, somos um time e estamos juntos nessa.
Ele o olhei, relutante em aceitar suas palavras.
— Se ainda estamos num treinamento, não posso confiar em você, lição número um. — retruquei séria.
— Então, terei que te dar a lição final. — ele se aproximou mais de mim.
— E qual seria? — mantive minha atenção em seus leves movimentos de aproximação.
— Nunca nenhuma mulher conseguiu chegar neste nível, mas você não é qualquer mulher… — ele sorriu de canto.
— Pare de rodeios e diga logo qual é a lição final. — disse impaciente.
— Ação e reação. — ele me beijou novamente com intensidade.
E mais uma vez estava certo em suas lições, sua ação de me beijar levou a minha reação de retribuir o beijo. Senti ele abrindo de leve o fecho do meu vestido ao me guiar para dentro do quarto, enquanto ainda nos beijávamos.
— Você aprende rápido. — se afastou ao terminar o beijo, vendo que já estávamos longe da sacada.
— O que foi isso?! — perguntei tentando entender o que tinha acontecido — Você não pode ficar me beijando sempre que der vontade.
— Somos um casal apaixonado. — ele piscou de leve e sorriu.
— Estou falando sério. — cruzei os braços.
— Ainda estamos em uma missão-treino. — relembrou ele — Nosso amigo Dimitri estava nos observando, o que queria? Fazer uma cena de "DR" e estragar tudo?
— Você é inacreditável! — me virei meio furiosa.
— O que queria que eu fizesse? — ele disfarçava para observar a limousine.
— Além de tudo é um babaca! — sussurrei, capitão me olhou meio surpreso.
— Me desculpa. — ele se aproximou de mim — Confesso que não sei separar tudo isso e deixar meus sentimentos de lado, não quando o assunto é você…
— Pare com essas coisas…
— Só estou dizendo a verdade… O que devo dizer então? — ele cruzou os braços frustrado.
— Apenas me conte o que está acontecendo. — o olhei — Ao invés de me deixar no escuro e parecer se aproveitar da situação.
— Tudo bem, vamos começar do zero então. — ele estendeu a mão — Prazer, sou o capitão , seu oficial superior, o melhor agente da Recall e atualmente apaixonado pela sua recruta.
— Não foi isso que eu quis dizer. — não me contive em rir — Principalmente a parte do apaixonado.
Ele suspirou.
— Dimitri Sartori… — iniciou — Como percebeu, ele é o nosso alvo.
Finalmente consegui arrancar dele os detalhes cruciais daquela missão. Dimitri Sartori era um importante investidor italiano que mantinha negócios ilegais com a máfia chinesa. Não tínhamos provas nenhuma, mas, sim, algumas pistas de seus clientes e fornecedores de Xangai. Ou seja, não poderíamos pegá-lo de imediato, porém desfazendo sua sociedade, o deixaríamos mais fraco e vulnerável. Aquele era meu treinamento final, o nível do improviso e disfarce, onde os outros agentes só conseguiram chegar depois de seis meses de treinamento, eu já estava em apenas 30 dias.
— Acorda, bela adormecida. — disse ele assim que abriu as cortinas.
— Hum… — me espreguicei da cama ainda sonolenta.
Abri os olhos e ele estava saindo para a sacada.
— Alguma novidade? — perguntei erguendo meu corpo.
— O carro do nosso amigo continua ali.
— O que?! — me levantei da cama e vesti o hobbie, então sai para a sacada e o abracei por trás beijando de leve suas costas, já que ele estava sem camisa — Não pode ser possível.
— Achou que eu estivesse mentindo?! — ele deu uma risada baixa, de vitória.
— Não. — respondi me aninhando ainda mais nele — Esse cara é um sádico.
— Hum… Eu acho que você está gostando dessa situação. — ele virou para mim.
— Como assim gostando? — o olhei séria — O que está insinuando?
— Eu? Nada. — ele riu novamente — Seus olhos já dizem tudo.
— Pare de agir como se fosse a última bolacha do pacote. — acariciei a face dele dando um sorriso e pegando sua mão o puxei comigo para dentro do quarto.
— Uau, uma ação muito sugestiva. — ele sorriu de canto, como aprovação.
— E qual será sua reação? — cruzei os braços.
Ele sorriu maliciosamente e piscou com ousadia.
As horas se passaram, sobre a calorosa brisa do verão daquela noite, seguimos para o endereço da casa mais bem vigiada que eu já tinha visto. Não imaginava que aquele tal Dimitri Sartori era alguém tão importante assim.
— Então, vocês vieram. — disse Dimitri ao se aproximar de nós.
— Decidimos não recusar, quando o convite foi tão agradável, e como é nossa última noite na cidade, minha querida esposa não poderia partir sem se despedir de seu amigo. — explicou .
Mantive meu sorriso no rosto, estava me segurando para não rir daquilo, o tom enciumado de fazia todo o nosso teatro ser ainda mais real.
— Divirtam-se. — ele piscou de leve para mim e se afastou de nós, indo em direção a um grupo de senhores engravatados.
— Uau. — eu olhei para — Não sabia que seu ciúmes estava incluído no pacote.
— E quem disse que estou com ciúmes?
— Seus olhos já dizem tudo. — sorri de canto dessa vez — Eu não sou a única a esconder sentimentos aqui.
— Eu já me declarei para você, se lembra?! — ele sorriu de volta.
Logo, nossos dias na cabana voltaram a minha memória, assim como suas declaração que me arrancou risos da noite anterior.
— Me lembro também de ter dito que não haveria mais nada entre nós. — retruquei — O que aconteceu na cabana, fica na cabana. Somos profissionais, não vamos mais voltar nesse assunto.
— Eu não vou desistir de você. — ele segurou em minha mão, seu olhar sincero parecia me cortar ao meio — Pode não acreditar, mas estou realmente apaixonado por você.
— Ação e reação… Ainda estamos no meu treinamento. — disse me afastando dele.
Fui caminhando pelo jardim até chegar na lateral da casa, observei que era bem rodeada por seguranças.
— Está perdida? — perguntou uma voz vinda de trás de mim, reconhecia que era de Dimitri.
— Acho que sim. — assentiu dando um sorriso e me virando para ele.
— Está fugindo do seu marido? — perguntou num tom curioso.
— Não, ainda estamos em lua de mel. — eu ri — Nosso amor só está começando, a parte da fuga, creio que virá daqui dez anos.
Nós rimos do meu comentário final.
— A melhor parte é sempre o início… — ele me olhou de cima à baixo discretamente — Então…
— Estava procurando o banheiro. — dei a desculpa certa para aquilo, observando a movimentação de alguns seguranças.
— Bem, acho que posso lhe mostrar o caminho. — ele estendeu de leve sua mão direita para que seguisse com ele.
Entramos em sua mansão, uma arquitetura muito bem trabalhada no estilo neoclássico italiano em meio a um bairro de Xangai. Allgo de se impressionar. Pretensiosamente, ele me levou ao banheiro que ficava dentro do seu escritório, assim que entrei, fiquei alguns minutos enrolando para voltar. Ao sair, ele já estava com uma caixinha retangular de jóias nas mãos.
— O que…
— Um presente, já que é seu último dia e está em lua de mel. — disse ele abrindo a caixa e revelando um colar de diamantes — Aceite, como de um amigo.
Filho da…
Se eu tivesse aceitado aquela aposta, certamente teria perdido. Como pode ser tão bom em presumir as coisas?! Mais um ponto positivo do melhor agente da Recall, sempre estar um passo à frente do seu alvo.
— Não sei se seria o certo. — me fiz de difícil — Um café é algo aceitável, mas este colar… Sou uma mulher recém-casada.
— Eu sei, curioso que isso me deixa ainda mais fascinado por você. — ele intensificou o olhar — É só um presente.
Assenti e o deixei colocar em meu pescoço, então me lembrei das instruções de para quando eu entrasse no escritório dele. Eu pedi para Dimitri um pouco de água, me fazendo estar um pouco zonza pelo calor que estava fazendo naquela noite, enfim, tudo estava saindo de acordo com o plano. Assim que ele saiu eu caminhei discretamente até a mesa de trabalho dele, que ficava perto da janela, se havia alguma câmera ali dentro, teria que ser o mais discreta possível.
Assim que sentei na sua acolchoada cadeira, girei a quarenta e cinco graus, então eu retirei o pen-drive com o vírus do salto da sandália e encaixei no notebook. Assim que ele adentrou com o copo de água, me levantei de imediato e me coloquei à frente da mesa, sorri de forma disfarçada.
— Você foi rápido. — disse ao pegar o copo da mão dele, não o deixando se aproximar, precisava ganhar tempo.
— Está melhor?! — perguntou.
— Sim, acho que não estou muito acostumada com o calor deste país. — expliquei — Não é como o verão europeu.
— Estou curioso, sobre algo.
— Hum… O que seria?
— Ainda não me disse seu nome. — ele tentou desviar o olhar de mim para o notebook que estava atrás, mas então me sentei na mesa e puxei sua atenção de volta.
— Acho que não estou tão melhor assim. — elevei minha mão a testa, fingindo medir minha temperatura.
— Não seria melhor irmos para outro lugar?! — sugeriu ele meio sugestivo.
— Querida?! — disse ao aparecer na porta.
Aquele era o aviso que eu deveria estar pronta para partir, certamente o vírus já havia carregado todos os dados daquele notebook para o pen-drive.
— O que está acontecendo aqui. — ele adentrou indo em direção a Dimitri e lhe dando um soco, o derrubando no chão — Fique longe da minha esposa.
— Chang. — disse no impulso me lembrando do nome de disfarce dele.
Logo me pegou pela mão, em instante eu puxei o pen-drive do notebook e coloquei no bolso do terno dele, fingindo estar tentando acalmá-lo. Tudo de acordo com seu meticuloso plano.
— O que acha que está fazendo?! — me alterei um pouco entrando no personagem — O senhor Sartori nos convida a sua casa e você o soca assim?
— Não se preocupe. — Dimitri se levantou do chão, limpando o sangue que escorria em sua boca com uma flanela que retirara do bolso — Eu o entendo.
— O que você entende?! — retrucou .
— Com uma bela esposa ao lado, que homem não ficaria com ciúmes. — explicou Dimitri.
— Mais uma vez agradeço pelo convite e pelo presente. — fiz uma breve reverência com a face e sorri para ele — Vamos querido.
Segurei ainda mais forte e puxei como para fora, já estava sentindo que ele havia perdido o controle de vez da situação, e sim, estava deixando seus sentimentos por mim falarem mais alto. Assim que saímos da mansão, e entramos em seu carro, ele retirou o colar do meu pescoço, com cuidado e jogou para fora da janela.
— Precisava?! — perguntei um pouco chateada — O colar era bonito.
— Me desculpe, mas estava grampeado. — explicou ele dando a partida.
Passamos o caminho de volta em silêncio, até chegarmos ao hostel que eu havia me hospedado, na manhã do primeiro dia em Xangai.


- x -


— Senti sua ausência na festa de comemoração pela minha entrada na agência. — disse ao chegar no terraço do edifício da Recall e vê-lo debruçado no parapeito, olhando a cidade.
— Achei que minha presença não fosse necessária. — respondeu ele mantendo sua atenção ao horizonte — E você? O que faz aqui? Pelo que imagino, a festa não acabou.
— Hum… Não sou a única recruta inserida ao grupo. — dei alguns passos até ele — Então, minha ausência não acabará com a festa.
— Não respondeu minha pergunta. — ele me olhou — O que está fazendo aqui?
— Quero saber a verdade… O que disse sobre estar apaixonado por mim, é real?
Pare de mim queria acreditar e outra parte não, talvez por eu ter idealizado o capitão sendo uma pessoa intocável, por suas qualidades como um excepcional agente que acabei me esquecendo que ele também era alguém com sentimentos. No final, descobrir que ele quis me treinar para se aproximar de mim, era surreal demais para uma ex-policial que o admirava e sonhava em ser uma agente igual ou melhor que ele.
— Ficaria surpresa se eu dissesse que sim? — indagou ele.
— Talvez, você é o capitão , o melhor agente da Recall.
— Talvez eu não seja mais o melhor. — ele virou seu corpo em minha direção — Se tratando de você, parece que a aprendiz superou o mestre.
— Ainda não me acostumei com seus elogios sabia. — sorriu meio sem graça.
— Nunca falei tão sério em toda a minha vida. — ele sorriu de volta — O que me deixa ainda mais fascinado por você, agente .
Meu coração acelerou de uma forma inesperada.
— Me concede a honra de trabalhar em minha equipe? — perguntou ele.
— Só isso que tem para me perguntar? — o olhei um tanto decepcionada — Nada de comentários sugestivos e ousados? Nem mesmo uma tentativa maliciosa de roubar um beijo?
— Você quer isso? — ele arqueou a sobrancelha.
— Bem, não estou te reconhecendo.
— Ação e reação… — disse ele — Você estando em minha equipe, terei mais tempo para te conquistar.
Comecei a rir, ele realmente pensava em tudo.
— Seu capitão calculista! — dei mais um passo ficando bem próximo a ele — Vou me divertir muito enquanto você traça seus planos para me conquistar.
— Posso iniciá-los agora? — ele segurou em minha cintura — Ação…
— E rea…
Antes mesmo de terminar a palavra, seus lábios se encontraram aos meus… A sensação de realização tomou conta de mim, talvez por ser o início de uma nova fase profissional em minha vida. Ou por simplesmente, saber que viveria muito mais que simples aventuras de espionagem ao lado do capitão , viveríamos um amor a prova de balas.


"Segurando uma caneta a noite toda
Fecho meus olhos só quando o sol nasce na manhã seguinte
Morais tendenciosas e oposições em todo o canto
Os limites dentro de mim que derrubei."

- We Are Bulletproof (Part 2) / BangTan Boys (BTS)


The end.


N/A - Nicki:
Galerinha, não vou mentir, foi bem complicado escrever essa fic! Eu quase desisti... Mas, no fim, deu tudo certo e espero que vocês gostem do resultado.
Até a próxima, BJoo ♥





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N/A - Pâms:
Hello, espero que tenham gostado desta fic, mais uma fic em conjunto com a Nicki. *-* Mais uma vez foi trabalhoso e complicado por conta dos horários, mas conseguimos terminar de escrever felizmente! Como sempre, me diverti bastante!!!
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
Jesus bless you!!!




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