Capítulo Único
– Meninas, já está tarde e vocês precisam acordar cedo no dia seguinte. – minha mãe gritou do lado de fora. – Apaguem as luzes e vão dormir.
– Pode deixar, mãe!
– Claro, tia, vamos fazer isso. – respondeu logo depois de mim.
Minha mãe provavelmente não tinha acreditado que nós, de fato, iríamos dormir. E, se ela tivesse visto como o meu quarto se encontrava naquele momento – malas abertas, roupas em cima da cama, debaixo da cama, sapatos em cima do notebook, maquiagens espalhadas pelo banheiro –, ela definitivamente não teria acreditado que estávamos indo dormir.
Quer dizer, como poderíamos?
– Sei que provavelmente vou passar a noite em claro, mas preciso, pelo menos, terminar de arrumar essas malas. Eu ainda nem sei qual biquíni levar! – disse.
– Já falei pra você levar todos eles. A gente nunca sabe o que pode acontecer, e não é como se biquínis ocupassem muito espaço na mala.
– Você está certa. Por que escolher apenas um se posso levar todos? – ela disse, se jogando na minha cama para mexer no celular que carregava na tomada do lado. Os biquínis? Bem, nem um e nem todos estavam dentro da sua mala ainda.
Conhecia desde que me conhecia por gente. Coincidentemente, morava há duas quadras da minha casa, e sempre estudamos na mesma sala de aula. Além de passarmos as tardes estudando na casa uma da outra, nossas noites do pijama eram frequentes. Isso significava que , provavelmente, tinha mais intimidade na minha casa do que eu.
– Ainda não acredito que isso está mesmo acontecendo. Quer dizer, é claro que sempre falamos em viajarmos juntas, mas não é como se uma viagem como essa estivesse nos meus planos, principalmente quando minha conta bancária ainda é sustentada com um salário de estagiária. – provavelmente já havia dito aquilo um zilhão de vezes e já não aguentava mais ouvir meu tom surpreso, mas é que não estávamos falando de uma excursão com a escola, como as que costumávamos fazer no colegial. Também não se tratava de uma viagem educacional, como as que a faculdade proporcionava a cada semestre.
Não, eu estava falando da viagem que, provavelmente, seria a mais memorável da minha vida.
– Claro, eu também ainda me pergunto se isso está mesmo acontecendo. Na semana passada olhei minha passagem comprada todos os dias, antes de ir dormir. Sabe como é, apenas para ter certeza de que não estava sonhando acordada.
Ri do seu comentário. E, pra falar a verdade, eu a entendia muito bem.
– também está muito ansioso. Acredita que saíram espinhas no rosto dele? – disse rindo.
– Fala sério!
– Estou falando! Fui com ele na farmácia para comprarmos alguma coisa para as espinhas. Ele disse que não queria passar os dias mais memoráveis da vida dele parecendo um adolescente na puberdade.
Me joguei ao lado dela, rindo do que ela havia dito.
– pode ter ficado mais velho, mas ainda é o mesmo adolescente ansioso de dez anos atrás. Ele não mudou nada. – eu disse.
é meu primo. Por conta da nossa idade próxima e dos nossos gostos parecidos – gostos esses que envolviam Star Wars e horas na frente do computador jogando Minecraft –, crescemos muito próximos. , e eu formamos o nosso trio inseparável, e assim permanecemos por muitos anos, até que conhecemos o meu vizinho de frente, .
– se faz de durão, mas me contou que ele mal dormiu nos últimos dias. Nem mesmo os pais dele aguentam mais falar dessa viagem. Segundo , os pais de disseram que se não estivéssemos partindo amanhã, eles mesmos o colocariam em um voo, já que não aguentam mais o garoto falando só nisso.
Mais do que amigos, e eram namorados há uns cinco anos. Eles até tentaram esconder o relacionamento no começo, mas não é como se , com toda a sua ansiedade aparente, conseguisse esconder alguma coisa de mim, ou de qualquer outra pessoa. A verdade é que e eram o casal que me fazia acreditar que o amor poderia de fato existir e não era apenas uma criação da Disney para vender filmes de princesas para garotas românticas demais para suas próprias saúdes mentais.
– Apenas lamento não estarmos viajando apenas nós quatro. – suspirei.
– Eu também. – virou de barriga para cima, ficando deitada ao meu lado. – Mas ei, lembre-se que não podemos reclamar. Não é todo dia que conseguimos viajar e economizar na estadia.
estava certa. Não, eu não estaria tendo a viagem dos meus sonhos apenas com meus melhores amigos. Kai, Mark e Krystal também estariam indo conosco. Kai por ser uma das melhores pessoas que já conheci – um cafajeste, mas definitivamente era o mais engraçado do nosso grupo. Mark por ser um amor de pessoa e o responsável por estarmos conseguindo realizar esse sonho, afinal, vamos nos hospedar na pousada de sua avó – e a melhor parte, sem pagar nada! E, bem, Krystal por ser prima de Mark e, ainda que eu não goste da ideia, parte do nosso grupo.
Não, eu não era o tipo de garota que tinha rixa com outras garotas. Também não era do tipo que implicava com uma mulher simplesmente por ela ser mulher ou por qualquer outro motivo. Mulheres tinham que ficar unidas, esse era o meu lema. Mas esse não parecia ser o lema de Krystal, que sempre fazia questão de dar um jeitinho para me excluir dos nossos programas, ou quando fazia comentários maldosos sobre a minha escolha de roupa, ou sobre a minha decisão de passar por uma transição capilar três anos atrás e ter meus cachos de volta. Então, não, eu não gostava de Krystal, porque o ambiente sempre ficava mais pesado quando ela chegava.
– Que tal tentarmos ignorar o fato de que Krystal vai estar no quarto ao lado do nosso e simplesmente curtirmos a nossa viagem?
– Claro. Também podemos esquecê-la no quarto e ignorarmos a existência dela durante toda a viagem. – falei irônica, ainda que, no fundo, estivesse falando sério.
– , para com isso. Não vamos deixar que nada estrague a nossa viagem, ok?
– Estragar? Você está brincando? Meu bem, nada e nem ninguém vai estragar essa viagem!
– Assim é que se fala! Agora vamos terminar de arrumar essas malas porque não quero ser a atrasada do grupo.
– Claro, claro, as malas. – revirei os olhos. Odiava fazer as malas.
Pulei da cama e comecei a recolher as roupas que já tinha separado, tomando cuidado para não misturar com as coisas da .
E quando finalmente conseguia andar pelo quarto sem tropeçar em algum sapato, ou sem chutar alguma peça de roupa para baixo da cama, eu sabia que os melhores dias da minha vida estavam próximos de começar.
– Quero saber como vamos conseguir dormir agora. – disse.
Eu compartilhava do mesmo sentimento que ela, da mesma emoção. Não tinha como dormirmos, de fato. Não sabendo onde estaríamos a essa hora no dia seguinte.
– Vegas, baby. Estamos indo para Las Vegas.
Dizem que Las Vegas brilha tanto que suas luzes podem ser vistas do espaço. Bem, eu não sei se a cidade que nunca dorme pode ser vista do espaço, mas definitivamente podia ser vista do céu.
me acordou assim que foi anunciado que chegaríamos em breve. Mais do que isso, ela me acordou para que pudéssemos contemplar, juntas, as luzes de Las Vegas pela janela do avião. E, sim, eram muitas luzes.
– Pensei que não fosse conseguir pregar o olho durante o voo, mas acho que nem vi quando saímos de São Paulo. – falou bocejando assim que descemos do avião.
– Eu até consegui dormir, mas acordava a todo momento pensando que já tínhamos chegado. – comentou ao seu lado.
– Você está mesmo com cara de sono, . Espero que isso não atrapalhe o nosso primeiro dia de viagem. – Krystal, que estava ao lado de Mark, passou na frente de todo o grupo, esbarrando acidentalmente em mim, para se posicionar ao lado de .
Aquilo teria feito meu sangue ferver, minhas mãos se fecharem em um punho e minha respiração ficar mais pesada, se não tivéssemos acabado de adentrar no aeroporto de Las Vegas. Toda a raiva, todas as palavras que queria dizer naquele momento, sumiu no instante em que as luzes do aeroporto tomaram minha visão.
Além de ser a cidade que nunca dormia, Las Vegas também era a cidade dos jogos. Prova disso eram as dezenas de máquinas de caça níquel espalhadas pelo aeroporto, prontas para entreter turistas que tenham qualquer quantia de dinheiro nos bolsos.
O que, ao que aparentava, era o caso de .
– , nós mal acabamos de chegar! – precisei gritar, já que, em um piscar de olhos, ele já não estava mais ao meu lado.
– Amor, lembra o que dissemos sobre economizar? – tentou, mesmo sabendo que seria uma batalha perdida.
– Vai ser só uma vez, amor, eu prometo.
Bem, não foi apenas uma vez. Especialmente quando e Kai se juntaram a ele. Eu também não fui forte como gostaria e, no minuto seguinte, estava jogando minha mochila nas mãos de e correndo para onde os meninos estavam. Foi Mark, que já esteve em Las Vegas várias vezes – então já estava mais ou menos vacinado contra a doença das máquinas caça níqueis –, que conseguiu nos trazer de volta para a realidade. E a realidade nos dizia para pegarmos as nossas malas, chamarmos um táxi e irmos para a pousada da avó de Mark.
Precisamos chamar dois táxis, tendo que nos dividir. e eu sempre acabávamos indo juntas, e sempre estava junto à . , então, nos ajudou a colocar nossas malas no porta-malas, colocando a sua própria junto. Krystal não gostou de precisar dividir o táxi com o primo e Kai, mas não perdeu tempo insistindo para que fosse junto a eles, afinal, tempo era algo que não queríamos perder naquela cidade.
– , troca de lugar comigo, quero tirar umas fotos. – eu pedi. Estava sentada no meio, entre e , enquanto ia na frente conversando com o taxista com o inglês que aprendeu depois de assistir as dez temporadas de Friends.
– Nem pensar! O que você acha que eu estou fazendo?
– Você já tirou umas trinta fotos desde que saímos do aeroporto, agora é a minha vez. – reclamei.
– Troca de lugar comigo, .
Mal tive tempo de agradecer . Também não tive tempo de aproveitar a sensação que tive quando ele me segurou pela cintura, enquanto eu me apoiava no banco da frente para que ele sentasse no meio.
A janela já estava aberta e o vento bagunçava o meu cabelo, mas eu não poderia me importar menos com isso. As ruas cercadas por coqueiros me chamavam atenção, mas não mais do que as pessoas vestindo fantasias, em plena luz do dia, com plaquinhas com dizeres que não conseguia ler à distância em que estávamos.
– Estamos perto da Strip? – perguntei ao motorista.
– Estamos sim. A Strip é paralela à avenida que estamos passando.
– O que é a Strip? – perguntou. – É algum tipo de clube?
– Não, garoto. – o taxista se divertiu. – A Avenida Strip é a avenida principal de Las Vegas, onde você encontra de tudo, desde noivas, pessoas fantasiadas e anúncios ambulantes, até garotas de programa trabalhando em plena luz do dia.
– Também é onde ficam os maiores hotéis temáticos, não é? E os principais cassinos também. – comentei.
– Você está certa, garota. – o taxista comemorou. – Bem, parece que vocês estão com sorte.
– Por que diz isso? – perguntou.
– Porque a pousada em que vão ficar é logo ali em frente, o que significa que estarão hospedados a menos de dez minutos da avenida principal.
Não, nós não ficaríamos hospedados na Torre Eiffel do Paris de Las Vegas, um hotel cassino aberto na Las Vegas Boulevard; nem na Luxor Hotel; ou no Las Vegas Strip, cujo tema principal é o Egito. Nem mesmo imaginava quanto seria uma diária em um desses, ou em um dos tantos outros hotéis gigantescos, verdadeiras obras de arte da arquitetura de Las Vegas. Mas a pousada da avó de Mark não ficava muito atrás desses gigantescos hotéis.
Quer dizer, quando Mark nos convidou para passar alguns dias na pousada de sua avó, pensei que seria algo próximo às pousadas que ficava hospedada com meus pais quando resolvíamos passar o feriado fora. Algo próximo do ambiente familiar, aconchegante, um local que hospeda poucas pessoas por vez.
Ou talvez fosse um lugar como os que a escola costumava nos levar nas excursões escolares, nas quais todos tínhamos que andar em grupos, os quartos eram pequenos demais e os guias nunca nos deixavam mais que quinze segundos sozinhos.
Mas a pousada em que estávamos não era nada parecido com o que eu conhecia. A recepção em nada perdia para as recepções de grandes hotéis, com direito a uma fonte de água com luzes em neon na entrada e um luxuoso lustre no teto. Havia quadros espalhados pelas paredes e os espelhos subiam até o teto, que também era espelhado.
As pessoas ali dentro iam desde famílias completas, com as mães segurando firmemente nas mãos das crianças, até grupos de amigos – alguns mais bêbados do que outros.
– Bem vindos à Pousada Lótus. – a recepcionista nos cumprimentou. – Vocês já têm uma reserva?
– Sim, acredito que esteja em meu nome… – Mark foi para a frente do grupo conversar com a recepcionista, quando foi interrompido.
– Mark! Mark, meu garoto!
A pessoa que vinha até nós era uma mulher aparentemente jovem, ainda que tivesse todos os fios brancos, vestindo um vestido florido e não economizando no uso de pulseiras e colares coloridos.
– Oi, vovó!
Mark abraçou sua avó, a qual repetiu o gesto com cada um de nós logo em seguida.
– Estou tão feliz em vê-los. Estou muito feliz mesmo. – ela dizia, sempre com um sorriso no rosto. – Estou ainda mais feliz em ver tantos jovens na minha pousada. Não gosto quando esses velhos ocupam os meus quartos. – ela disse baixinho, se aproximando de nós para cochichar.
E foi quando percebi que a avó de Mark poderia ter a idade que fosse, mas ela nunca iria aparentar estar na terceira idade.
– Vocês acreditam que faz um ano que não vejo Mark? Esse ingrato não me visita mais e, se eu não usasse minhas economias para voltar para o Brasil, eu não veria esse cretino há muito mais tempo!
– Que coisa feia de se fazer, Mark. – brincou. – Não se preocupe, dona Anna, não vamos permitir que Mark fique tanto tempo longe da senhora novamente. Se for preciso, viremos pessoalmente trazê-lo para ver a senhora.
– Com certeza! Manter a família unida é o nosso lema. – entrei para a brincadeira.
Dona Anna riu conosco.
– Esse é o espírito jovem que tanto gosto! Agora venham, queridos, vou levá-los aos seus quartos. Joane, pode deixar que eu faço o check in deles mais tarde. – ela falou com a recepcionista. David, leve as malas dos garotos e peça para Pietro levar as das meninas. – falou com outro funcionário. – Agora vamos. Vocês precisam desfazer as malas logo para poderem dar início aos melhores dias das suas vidas, afinal, estamos em Las Vegas.
Seguimos para os quartos, passando pela área externa, na qual não havia uma piscina ou duas, mas três piscinas, uma de cada tamanho, com profundidades diferentes. Também passamos pelo bar da área externa, onde dona Anna parou por alguns minutos apenas para voltar até nós com uma bandeja e vários drinks coloridos.
– Agora estamos prontos para seguirmos para os quartos de vocês.
Com uma sorte que não achei que teríamos, e eu ficamos sozinhas em um quarto, enquanto Krystal dividiria o quarto dela com seu primo. Kai ficaria junto com e , e, como compensação, ficaram com o maior quarto, que também tinha a melhor vista.
– Ei, isso não é justo! Eu nunca fico com os quartos com vista para a Strip Avenue. – Mark reclamou quando sua avó deu a chave nas mãos de .
– Você ficou dois anos sem me visitar, deveria ficar agradecido de ainda ter um teto para dormir. – foi o que sua avó respondeu. E, ao passar por nós, deu uma piscadinha cúmplice, o que apenas fez com que eu me afeiçoasse ainda mais pela mulher.
e eu fomos as primeiras a desprender os olhos da vista do lado de fora. Como dona Anna havia dito, se quiséssemos aproveitar tudo ou, pelo menos, parte do que Vegas oferecia, não poderíamos perder tempo olhando para o lado de fora através de uma janela. Mas assim que chegamos perto da porta, percebi que tinha sido uma péssima ideia. Quer dizer, por que ter pressa em sair e curtir o dia? Não é como se fôssemos embora amanhã.
– , você pode, por favor, pegar um copo de água para mim?
Minha amiga me olhou coma a testa franzida.
– Podemos beber no nosso quarto. – ela ainda tentou passar, mas bloqueei sua passagem com o meu corpo.
– Eu estou com muita sede. – pisquei, exageradamente, meus cílios para ela.
E mesmo ainda achando estranho a minha atitude, foi até o frigobar.
Pensei em acompanha-la e voltar para dentro, mas minha curiosidade foi mais forte que eu, especialmente com as palavras que ouvi em seguida.
– Mas por que não podemos ficar no mesmo quarto?
– Krystal, você está se ouvindo? Estamos em uma viagem entre amigos, e eu não vou dividir um quarto com você na pousada da avó do seu primo.
Apesar da voz de estar baixa, eu ainda podia ouvi-la com clareza.
– Eu não entendo por quê temos que ficar nos escondendo. – Krystal bufou e aquilo fez meu estômago gelar. Pensei por um momento se deveria continuar ouvindo a conversa dos dois, mas não precisei tomar uma decisão. voltou com uma garrafa de água nas mãos, chamando pelo meu nome, e Krystal e imediatamente pararam de falar.
– Obrigada. – agradeci. E sem olhar para o lado onde eu sabia que estaria com Krystal, caminhei pela direção oposta do corredor, onde ficava o nosso quarto.
– O que aconteceu com você? – perguntou. – Parece que viu um fantasma.
– Por que diz isso? – me fiz de desentendida, enquanto jogava minha mochila em cima da cama, aproveitando para ficar descalça e buscar pela minha mala.
– Porque você ficou pálida. – e então correu para perto de mim. – Será que a sua pressão caiu? – perguntou preocupada.
– Talvez. – menti. – Provavelmente é a mudança de temperatura somada com as horas de voo.
– Você deve estar certa. Você deveria tomar um banho.
– Boa ideia. – concordei.
E já dentro do banheiro, debaixo da ducha fria, repeti para mim mesma que, não, eu não deixaria Krystal e , ou quaisquer outras pessoas estragarem a minha viagem dos sonhos. Aquele sentimento de decepção que estava me tomando no momento era pura falta de controle. Falta de controle dos meus hormônios e dos meus sentimentos. E eu não deixaria que isso me tomasse mais tempo do que deveria, afinal, eu não perderia meus dias me preocupando com algo que estava fora do meu alcance.
Ao sair do banho, me esperava sentada em sua cama, com o celular ligado no carregador.
– Os meninos passaram por aqui. Querem ir à praia.
– Ir à praia me parece ser uma excelente ideia. – eu concordei. – Se quiser tomar um banho antes de irmos, a água está uma delicia.
– Acho que vou fazer isso. E enquanto tomo banho me decido sobre qual biquíni usar. Eu nunca deveria ter deixado você me convencer a trazer tantos. – ela reclamou, já do lado de dentro do banheiro.
– Claro, claro. Uma dúvida enorme essa sua, desculpe por fazê-la passar por isso. – eu brinquei.
– Eu não imaginava que havia uma praia em Las Vegas. – comentou quando descemos do táxi. – Quer dizer, teoricamente, estamos no meio do deserto, não é?
– Não apenas teoricamente. Nós estamos, de fato, no meio do deserto. Acontece que estamos no meio do deserto que possui dezessete dos vinte maiores prédios dos Estados Unidos, e que investiu todo o seu dinheiro na construção de atrativos turísticos, transformando Vegas em um lugar onde se é possível encontrar de tudo um pouco. – eu disse. – Por ser deserto, a temperatura pode passar dos 40ºC no verão, e quando isso acontece, a opção que os turistas têm é de visitar a praia artificial do Mandalay Bay Resort, um grande parque aquático que conta com ondas artificiais, piscinas para natação e um gigantesco playground.
– Nossa, até parece que decorou um livro sobre Vegas antes de virmos pra cá.
Sim, meu discurso empolgado sobre as atrações que Vegas fornecia havia sido interrompido por um comentário desnecessário de Krystal. Se hoje fosse um dia como outro qualquer, eu simplesmente lhe daria uma resposta ácida, mas que definitivamente a faria se calar. Mas como não estávamos em um dia comum e tudo o que eu não precisava no momento era me estressar com ela, eu simplesmente ignorei seu comentário.
– Então não se trata de uma praia de verdade? – perguntou, provavelmente na tentativa de evitar uma discussão. Não que ela tivesse algo com o que se preocupar, afinal, se tivéssemos uma briga ali, não partiria de mim.
– Não teria como haver uma praia natural em Vegas. Além de estarmos longe da costa, estamos no meio do deserto. Tudo o que veremos daqui pra frente foi fruto de grandes investimentos. – eu respondi. E, sim, eu havia feito uma boa pesquisa antes de entramos no avião. Quer dizer, não era como se eu fosse fazer a viagem mais louca da minha vida sem saber pelo o que esperar, não é mesmo?
– Então, o que estamos esperando? – perguntou mais animado do que já o vira antes.
Infelizmente tivemos que gastar alguns bons dólares para entrar, assim como para comer e beber. Mas, como estava economizando com a estadia – e com as principais refeições, afinal, na pousada de dona Anna, além do café manhã, também nos serviam jantar –, não reclamei de ver minhas economias indo embora cada vez que meu cartão de visitante era usado no bar.
e logo sumiram de vista. Haviam dito que estavam ansiosos para nadar, mas eu sabia que eles só queriam ficar um pouco sozinhos. Kai, que não era de perder tempo, logo se colocou em modo de caça de partiu em busca de sua primeira vítima de Vegas. Mark ficou ao meu lado por um tempo, enquanto conversávamos sobre suas experiências em Las Vegas e sobre os lugares que ele ainda queria nos levar. ficou ao nosso lado o tempo todo, apenas fazendo comentários vez ou outra, e Krystal permaneceu junto a nós – ainda que, no fundo, eu soubesse que seu interesse estava longe de ser o teor de nossa conversa.
Em determinado momento do dia, quando e voltaram, ambos ofegantes e com as bochechas vermelhas demais para culparem o sol – apesar de ter sido exatamente a desculpa esfarrapada que usaram –, Mark juntou-se a Kai em sua jornada em busca de alguma garota que caísse na sua lábia. Krystal foi atrás do seu primo e de Kai, pois queria uma foto em grupo do nosso primeiro dia, ainda que nossas caras estivessem inchadas e nossos cabelos estivessem bagunçados – fruto, é claro, das horas de voo.
– Vou pegar mais uma bebida. – avisei meus amigos.
A verdade é que não sabia exatamente o que estava tomando, mas a cada bebida colorida eu sentia a tensão das horas de voo ir embora. Também sentia meu dinheiro ir embora, mas decidi me preocupar com a fatura do meu cartão de crédito quando voltasse para o Brasil, o que não aconteceria pelas próximas duas semanas.
– Quantas dessas você já tomou?
Não precisei me virar para saber que era atrás de mim.
Estava com os braços apoiados no balcão do bar, enquanto assistia ao barman preparar um novo drink colorido. veio para o meu lado, encostando as cotas no balcão, apoiando os cotovelos, mantendo os olhos para a vista que a praia nos proporcionava.
– Algumas. Uma de cada cor, pelo menor. – respondi.
riu baixo ao meu lado. E de forma sutil, se aproximou mais, ficando de frente para mim, me abraçando de lado. Ou, pelo menos, tentando. Assim que senti seus braços circundarem minha cintura, eu me afastei.
– O que foi?
– O que quer dizer? – perguntei, ainda sem olhá-lo.
– Por que está tão distante? – ele perguntou baixo. Apesar de ter entendido a mensagem e não tentar me abraçar novamente, ele ainda estava próximo, muito próximo.
Por um momento pensei em apenas ignorar sua pergunta, mas então decidi que não estragaria minha viagem sendo imatura com ele. Afinal, já éramos adultos e tínhamos idade suficiente para jogarmos limpo, certo? Certo.
– Não me sinto bem tendo esse tipo de intimidade com você. – fui sincera.
– O quê? Desde quando?
Tudo bem, então e talvez não fossem o único casal entre o nosso grupo de amigos. Quer dizer, e eu nunca tínhamos nos rotulado. E pra falar a verdade, nunca havíamos tido necessidade disso. Nosso relacionamento também não era tão antigo, apenas começamos a sair como amigos, mas sem o restante dos nossos amigos. E também sem que eles soubessem.
era livre para ficar com outras pessoas, assim como eu continuava usufruindo da minha liberdade. E, bem, aquilo estava funcionando para a gente. A escolha de não revelarmos nossos encontros para os nossos amigos tinha partido de nós dois – talvez mais de mim do que de nós dois, mas enfim. E o motivo da escolha era que não queríamos ter que dar explicações, nem mesmo aos nossos amigos.
Quando ficava com era bom, eu gostava disso. Eu gosto dele. Talvez até mais do que como amigo, ainda que nunca tivesse admitido isso para ele – ou para mim mesma. E as coisas estavam dando certo, estavam funcionando há exatos quatro meses, quando nos beijamos pela primeira vez na festa de aniversário da , após um jogo de verdade ou consequência – eu sei, muito maduro, não é?
E então ele me perguntou porque, repentinamente, estou distante, e eu respondi que não me sentia confortável com o nosso nível de intimidade. E, bem, ele queria saber desde quando?
– Desde quando eu descobri que você dorme com a Krystal ao mesmo tempo que dorme comigo.
Juro que tentei usar o tom de voz mais controlado que pude, afinal, não queria que o barman soubesse da nossa pequena briga íntima.
pareceu ficar sem palavras por um momento. Abria e fechava a boca várias vezes antes de conseguir me responder.
– Pensei que exclusividade não era um requisito para o nosso relacionamento.
E eu quis dar um tapa na sua cara naquele momento.
– E não é. Mas a partir do momento que você começa a sair com outra garota do mesmo circulo social que eu, uma pessoa que vemos todos os dias e, principalmente, que parece me odiar por algum motivo, eu não me sinto confortável em manter o nosso nível de intimidade.
Novamente ficou mudo. Dessa vez ele parecia mais sem graça do que sem palavras.
– Não estou dormindo com Krystal. – ele respondeu. – Não mais.
E aquilo foi como um baque para mim. Claro, eu estava acusando de dormir com Krystal, mas ouvir a confirmação deste fato da sua boca era muito mais doloroso.
– Eu não estou mais saindo com ela. – ele repetiu, talvez esperando por uma reação minha.
– E ela sabe disso?
E dessa vez não ficou apenas sem palavras, mas também constrangido. Se Krystal sabia que eles não tinham mais nada – segundo o próprio ? Talvez. Se ele ainda alimentava as esperanças dela? Bem, seu olhar baixo era confirmação suficiente.
– Ela sabe, mas…
– Mas ainda tem esperanças e você não está realmente preocupado em colocar fim nas expectativas dela, não é?
Talvez eu não tivesse lhe dado um tapa na cara como gostaria, mas, pela sua expressão, eu sabia que minhas palavras tinham doído tanto quanto se tivesse lhe acertado no rosto.
– Você quer saber porquê eu não me sinto confortável em manter o nosso nível de intimidade. – eu disse suspirando. – É porque eu sei que Krystal tem uma queda por você. Sempre teve, e acho que sempre esteve bem na cara. E eu aceitei começarmos esse relacionamento consciente disso, porque sabia que você não tinha intenções de se relacionar com ela. Mas agora… Agora eu não me sinto bem em ficar com o cara que a minha amiga gosta.
– Vocês nem mesmo são tão amigas. Você mesma disse que Krystal parece não gostar de você.
– Isso não muda o fato de que estamos no mesmo círculo de amizade e que, como mulher, eu devo respeitá-la. E se vocês estão juntos, é meu papel respeitá-la quanto a isso.
apertou os olhos com força, passando as mãos pelos cabelos, mostrando seu descontento com o rumo da conversa.
– Nós não estamos mais juntos. – repetiu. – Nunca estivemos, na verdade. Foi uma vez, uma noite. E nunca mais tivemos mais nada.
– Então seja homem e a deixe ciente disso antes de começar a sair com outras garotas.
E como se o barman estivesse ouvindo a nossa conversa e entendendo cada uma das nossas palavras em português, ele escolheu esse momento para entregar minha bebida colorida e me dar uma desculpa perfeita para fazer uma saída típica de filmes, não sem antes dar um sorriso sem dentes para e dar-lhe as costas.
Devo confessar que me senti poderosa ao falar aquelas palavras para . Quer dizer, eu fui clara, fui direta e fui correta. Mas isso não mudava o fato de que ainda tinha uma vozinha, no fundo da mente, dizendo o quão idiota eu tinha sido por proferir palavras tão duras. Em consequência da nossa conversa, meu curto relacionamento com poderia ter chego ao fim.
Pare com isso, .
Não podia dar ouvidos àquela voz que insistia em fazer com que eu me sentisse culpada. Eu não era culpada de nada. Krystal não era culpada de nada. Talvez fosse parcialmente culpado, e eu não deveria carregar sua culpa como se fosse minha. Eu agi certo, repeti.
E como forma de silenciar de vez qualquer dúvida que eu poderia ter, qualquer pensamento que se distanciasse do momento mágico que eu estava vivendo, comecei, de fato, a curtir a minha viagem.
estava tomando sol, quando decidi me juntar a ela. , e Mark tinham ido gastar suas economias em máquinas caça níqueis, e Kai provavelmente estava aumentando sua lista de conquistas femininas. Krystal logo deitou-se ao nosso lado, sem dizer uma palavra.
Abri minha mente para novas opções, o que significava que comecei a observar as pessoas passando por nós: famílias, grupos de amigos – grupos jovens e grupos idosos –, casais, e homens bonitos. Homens muito bonitos.
– É impressão minha ou todo mundo em Vegas é bonito? – minha amiga perguntou.
podia estar namorando e ser cem por cento fiel a , mas não era cega. A verdade é que sempre foi minha companheira de festas e sempre me ajudou a paquerar os caras mais bonitinhos – fruto da minha desorganização com relação às minhas coisas, como, por exemplo, comprar novos pares de lentes de contato antes que as lentes acabem. Não foram poucas as vezes em que saímos e precisou literalmente descrever como o cara era para que eu pudesse dizer se estava ou não interessada. Isso sim é amizade verdadeira.
– Não é impressão sua. – respondi.
– Graças à deusa você trouxe um estoque de pares de lentes para a viagem. Imagina só se eu tivesse que te seguir pra cima e pra baixo pra te impedir de ficar com um cara estranho?
– teria que fazer muito esforço para ficar com algum cara estranho por aqui. Todos são tão… Lindos. – Krystal resolveu fazer parte da nossa conversa.
Não demorou muito tempo até que minha bebida colorida acabasse e eu fosse até o bar buscar outra – dessa vez, de outra cor. E foi esse momento que conheci Mike, um nova-iorquino divertido e que, coincidentemente, tinha uma avó brasileira. Mike falava um pouco de português e foi por meio dessa informação que a nossa conversa se desenvolveu.
Ele tentava formular frases usando palavras cuja pronúncia ele não conseguia realizar e eu o ajudei. E então a nossa conversa mudou para as cidades brasileiras que ele já conhecia e as que ele ainda queria conhecer. Depois passamos a falar sobre mim – um tópico que o deixou muito interessado, devo acrescentar – e sobre a minha atual aventura junto aos meus amigos.
– Somos todos amigos, sabe? – eu disse. – Mas alguns são mais amigos que outros. Outros são mais do que amigos. E outros não são tão amigos.
Tive a impressão de que estava repetindo as palavras em frases diferentes, mas com o mesmo significado, mas não consegui raciocinar direito. Talvez eu tivesse bebido cores demais, quer dizer, bebidas demais. Todas com cores diferentes. Só repeti uma cor, porque era a mais gostosa, mas tirando isso… E foi pensando nisso que decidi pedir outra bebida, infelizmente com cor repetida, pois as cores daquele bar não eram tantas.
– Quem não é tão amigo? – ele perguntou, rindo. Acredito que estivéssemos falando sobre alguma coisa engraçada, já que eu também tinha vontade de rir.
– Krystal não gosta muito de mim, mas não é como se eu me importasse. Mas não é dela que quero falar. – disse, balançando a mão no ar.
– Sobre quem você quer falar?
– Sobre pessoas que são mais do que amigas. Como e . e se conhecem há muito tempo. – parei de falar para receber minha nova cor, quer dizer, colorida bebida, quer dizer, bebida com cores… Foda-se. – E namoram! Isso não é ótimo? Além de amigos, são namorados, e eu espero que logo se casem, pois não existe doce melhor dos que os servidos em casamentos.
Mike parecia se divertir com a nossa conversa, e eu estava me divertindo com Mike. Aquela viagem estava saindo melhor do que o planejado.
– E então tem . Ah, , … – balancei a cabeça para os lados em sinal negativo, mas não pareceu ser uma boa ideia. As coisas começaram a girar, mas foi só um pouquinho. Logo eu já estava bem. Quer dizer, eu estava ótima! – parecia querer ser mais do que meu amigo, mas é um idiota.
– E você queria ser mais do que amiga do ?
… Não queria pensar em , não queria nem mesmo falar sobre ele. Por que Mike estava perguntando sobre ?
– Eu? – apontei para mim mesma. – Claro! Quer dizer, não sei. Bem, na verdade, sim. – quem não me conhecesse poderia dizer que eu era libriana com ascendente em trouxa, mas eu jurava que nem mesmo tinha libra no meu mapa astral. Quem causava minhas dúvidas era , e não meu signo. – Mas eu já não sei mais se quer ser mais do que meu amigo, e eu não quero correr atrás de alguém que não me quer, então eu não vou correr atrás, porque acho que ele não me quer.
Aquilo fazia sentido? Deus, eu precisava falar mais devagar, estava até sem ar.
– Acho que você não deve correr atrás de quem não te merece.
– Eu também acho! Obrigada, Mike, você é demais! – lhe dei um soquinho no peito. Mike estava sendo mais legal comigo do que . Chega de !
E depois de mais algumas risadas – Deus, eu devia ser mesmo muito engraçada – e mais algumas conversas que eu provavelmente não me lembraria no dia seguinte, Mike avançou. Avançou de forma sutil, devagar, esperando ver minha reação, esperando receber minha concordância. E, bem, ele logo a recebeu, afinal, quem deu inicio ao beijo fui eu.
E, não, eu juro que não tinha intenção de fazer ciúmes em ninguém – eu nem mesmo tinha tempo para isso, estava em Vegas e tinha pouco tempo para aproveitar tudo o que a cidade que nunca dorme oferecia. Então quando nos separamos e eu vi me olhando à distância, não senti culpa. Também não senti orgulho do que tinha feito, como se tivesse atingido meu objetivo. Quer dizer, meu único objetivo ali era me divertir, e não provocar meu amigo de alguma forma. Porque era meu amigo, antes de tudo. E eu esperava que continuássemos assim.
Então quando fomos para casa e não quis dividir um táxi comigo, e , eu me senti mal. E me perguntei se tinha feito algo de errado. E a pior parte era que não podia conversar com , afinal, ela não tinha ideia do nosso curto romance secreto.
A menos que…
– Você e estavam se pegando esse tempo todo?! E você ainda tem a cara de pau de admitir na minha cara que fizeram tudo escondido?!
estava gritando um pouquinho. Estávamos no nosso quarto na pousada, decidindo quem tomaria banho primeiro – o critério para decidir isso era quem demorava mais no banho e eu tinha certeza de que iria perder essa briga. Quando dei por mim, já tinha contado tudo. Ou pelo menos o essencial.
– Você e ficaram escondidos por quase um ano sem contar pra ninguém. – a acusei.
– Ah, por favor. Até parece que você já não sabia de tudo.
Ela estava certa, eu sempre soube de tudo.
– De qualquer forma, o ponto é que não sei o que fazer em relação a . Me sinto meio culpada, mas sei que não deveria. Quer dizer, eu não devo absolutamente nada para ele.
veio se sentar ao meu lado na cama.
– Você não deve se sentir mal com nada. Quem errou foi ele, então se alguém deve se lamentar por algo, esse alguém é ele. Você deve apenas se preocupar consigo mesma e focar em trabalhar na sua felicidade. Além disso, se a sua consciência está limpa, não tem porquê ficar se martirizando por algo que foge do seu controle, e as atitudes de são algo que fogem do seu controle.
– Você está certa. Obrigada, amiga, estou me sentindo muito melhor agora. – a abracei. – Bem, vou tomar um banho, então, senão iremos nos atrasar.
E, antes que percebesse que ela seria a segunda a tomar banho – já que eu ocuparia o banheiro pela próxima meia hora –, corri para dentro do box.
Se Vegas já era iluminada durante o dia, à noite ela definitivamente poderia ser vista do espaço. As luzes vinham de todos os lados: carros, prédios, letreiros, cassinos, e até mesmo das pessoas. A Strip Avenue era a principal avenida de Las Vegas, exatamente por possuir maior número de hotéis cassinos. Também era onde tinha as famosas capelas, nas quais casais bêbados – e nem sempre apaixonados – decidiam se casar de uma hora para outra.
Pela avenida encontramos pessoas bem vestidas – do tipo bem vestidas mesmo, como se estivessem indo para uma festa de gala –; pessoas vestidas como se tivessem acabado de sair de um jantar de negócios, em cima de saltos finos, cabelos bem arrumados e ternos bem alinhados; pessoas comuns, apenas curtindo uma noite quente – esse era o grupo em que nos encaixávamos –; e pessoas fantasiadas. As pessoas fantasiadas eram as minhas favoritas, e, como boa turista, tirei foto com várias delas. Assim como também tirei foto embaixo do famoso “Welcome to Fabulous Las Vegas, Nevada”.
andava minimamente afastada do grupo, evitando encostar em qualquer um, devido à sua pele avermelhada por conta do sol – ela não devia ter dormido embaixo do sol. Krystal estava menos insuportável e até mesmo parecia se divertir quando eu fazia qualquer comentário sobre as roupas das pessoas. , Kai e discutiam sobre qual cassino deveríamos ir primeiro e as melhores técnicas para não gastarem todo o dinheiro que tinham levado em uma só noite.
– Que tal não perderem tempo em máquinas caça níqueis? Aposto que vão economizar boa parte do dinheiro de vocês. – comentou. Eu sabia que ela estava fazendo piada, já que falar para alguém em Vegas não perder seu dinheiro em máquinas de caça níquel era o mesmo que falar para uma pessoa não comer doces em uma casa de bolos.
– E você acha que vim para Vegas para quê? Para passar um tempo bacana com meus melhores amigos? – perguntou, irônico. – Até parece!
liderou o caminho, mas foi Kai quem escolheu o nosso primeiro cassino. Digo primeiro, porque depois desse ainda fomos a mais dois, um em que não pudemos entrar por não estarmos vestidos apropriadamente – agora eu entendia o objetivo das roupas de grife que algumas pessoas usavam – e outro em que e resolveram se arriscar a jogar Poker, mas quando viram os valores das apostas, desistiram na hora.
– Temos muitas opções para perdermos dinheiro, não vamos nos prender a um jogo de cartas, não é mesmo? – foi o que disse. Eu só não sabia se as lágrimas em seus olhos eram de tristeza ou foram causadas pelo álcool extremamente forte que ele acabara de beber ao aceitar o copo de uma das garçonetes do cassino. Provavelmente a segunda opção, nunca foi muito forte para bebidas alcóolicas, praticamente uma criança.
– Mark, vamos comprar mais fichas, vem!
Vi Krystal puxando seu primo pela mão até o caixa e foi neste momento que percebi que sua interação com naquela noite tinha sido próxima do zero. A verdade é que prometi a mim mesma que não me preocuparia com eles mais, nem ocuparia minha atenção em como interagiam um com outro, e também não permitiria que minha mente criasse teorias acerca disso. Mais do que isso, não me permiti estragar minha viagem e minha amizade com , por uma situação como a que nos encontrávamos.
E era por isso que sempre respondia aos seus comentários, não me importei em ficar ao seu lado para tirarmos uma foto em grupo, e, mesmo sentindo um arrepio quando ele me abraçou – o qual preferi ignorar –, convenci a mim mesma que aquela sensação era passageira e que logo tudo o que eu sentiria por seria o carinho que amigos sentem um pelo outro.
– Droga!
Sim, havia me rendido aos prazeres de Las Vegas, então, sim, eu tinha um copo em mãos cheio de fichas prontas para serem perdidas nas máquinas caça níqueis.
– Isso!
Olhei para o lado, onde uma senhora, que com certeza era mais velha que a minha avó, comemorava por ter ganhado dinheiro na máquina ao lado da minha. Ela colocou um copo como o meu por onde as moedas caíam e eu só conseguia pensar em como aquilo era injusto. Aquela senhora com certeza era aposentada e provavelmente não tinha grandes gastos. E eu? Eu era apenas uma universitária que gastava todo o dinheiro do estágio com alimentação e xerox da faculdade. Eu merecia aquelas moedas do caça níquel, não a senhora ao meu lado.
A senhorinha então olhou para mim com seus óculos enormes, tomando quase todo o seu rosto, e eu sorri para ela. Talvez ela merecesse aquelas moedas.
– É assim que se joga em Vegas, bitch! - a senhorinha, que não era tão senhorinha assim, eu acabei percebendo, disse olhando para mim, rindo do meu fracasso, enquanto procurava outra caça níquel para ser vítima da sua sorte.
– Que velha sortuda! – reclamei para mim mesma.
– Parece que você não está tendo muita sorte hoje.
Não, não era a velha sortuda que tinha voltado para me infernizar.
estava ao meu lado, encostado na máquina que apenas sugava minhas economias sem dar uma brecha para que eu pudesse me iludir com a esperança de ficar rica em Vegas.
– Você não é o único a perceber isso. – reclamei, puxando a manivela mais uma vez. – Aquela velha maldita acabou de rir da minha cara. Você acredita nisso?
riu da minha fala e eu precisei acompanhá-lo. A que ponto tinha chego? Falar mal de uma pobre senhorinha que, provavelmente, estava curtindo a sua aposentadoria em Las Vegas não era a melhor…
– Isso! Podem vir, bitches, podem vir! – ouvi a velha maldita gritar em uma nova máquina, após ter ganhado novamente.
– Fala sério! – reclamei, batendo na caça níquel. , ao meu lado, ainda encostado na máquina, continuava rindo de mim.
Quando subi meu olhar para ele, seu riso diminuiu e abaixou seus olhos. não estava sem graça por ter rido da minha falta de sorte, eu tinha certeza. estava com uma postura defensiva, retraída, como se não soubesse como agir ou como prosseguir. Como sabia que apenas estaria caminhando para minha falência caso continuasse jogando minhas fichas naquela máquina, virei meu corpo em sua direção, mostrando que minha atenção estava nele.
– Conversei com Krystal hoje. – ele disse.
Segurei o impulso de rolar os olhos e suspirar. Não queria falar sobre aquilo de novo.
– Você tinha comentado que Krystal parecia não gostar muito de você. – ele não esperou que eu respondesse àquilo. – Bem, é porque ela pensava que você era apaixonada por mim e por isso eu relutava em ficar com ela. Mas eu expliquei que, na verdade, eu é quem sempre fui apaixonado por você, e por isso não podia oferecer a Krystal o que ela precisava.
Dessa vez precisei reprimir o impulso de suspirar e agarrá-lo. Não foi muito difícil, realmente, já que eu me encontrava completamente sem palavras diante das suas.
– E como ela recebeu essa notícia? – perguntei.
– Ela entendeu. Talvez ela tenha ficado chateada no início, mas realmente entendeu que entre nós nunca haverá nada além de amizade.
Balancei a cabeça, concordando com sua fala – porque isso era a única reação que conseguia ter no momento. ainda tinha o corpo afastado do meu, esperando uma reação melhor. Pensei, então, que se ele havia se disposto a fazer aquela declaração, tendo como fundo as comemorações de uma velha aposentada com mais sorte que todas as outras pessoas naquele cassino, eu também poderia colocar meus sentimentos para jogo.
– Talvez eu também sempre tenha sido apaixonada por você. – eu disse. E isso fez com que seus olhos, que até então miravam o chão, se voltassem para mim. – Mas não se acostume. E não pense que vou fazer juras de amor a você como e . – o avisei, mesmo que, no fundo, eu só desejasse receber uma mensagem de bom dia de com um coraçãozinho no final.
– Eu nem sonharia com isso. – ele levou as mãos para cima, palmas viradas para frente, em sinal de rendição. – Podemos continuar no anonimato, se quiser. – ele sugeriu. – Mesmo que não seja tão anonimato assim, já que Krystal sabe de nós dois.
– também sabe. – disse. E diante do seu olhar questionador, expliquei. – Eu precisava falar mal de você para alguém. – dei de ombros.
– também sabe. – ele admitiu. – Eu também precisava falar mal de mim mesmo para alguém.
Ri da sua fala, sendo acompanhada por , que já não tinha mais uma postura hesitante. Na verdade, ele já estava bem mais próximo que antes, com o corpo inclinado em direção ao meu, mesmo que eu ainda estivesse sentada.
– Bem, se Krystal sabe, Mark também sabe. – eu disse.
– E se Mark sabe…
– Meu novo casal favorito!
não teve tempo de terminar seu raciocínio. Ouvimos a voz de Kai antes de vê-lo. Kai tinha um copo de bebida em uma mão e um copo, que deveria conter dezenas de fichas para máquinas de caça níquel, em outra. O copo de fichas, no caso, já estava vazio, e Kai já estava começando a ficar bêbado.
– Como foi que nunca consegui reparar na tensão sexual de vocês? – ele perguntou com a voz embolada, jogando seu braço no ombro de , o abraçando de lado.
– Acho que sabemos disfarçar bem. – eu respondi, rindo.
– Claro, claro. Deve ser isso.
Kai, então, quase quebrou o pescoço ao acompanhar o rebolado de duas garotas que acabaram de passar por ele. E então, em questão de segundos, voltou a atenção para nós.
– Mas o que vocês estão fazendo aqui?
– Apenas conversando. – respondeu.
– Que conversar o quê?! – Kai estava, com toda certeza do mundo, muito bêbado. Seus gestos exagerados e palavras arrastadas eram prova disso. – Estamos em um cassino, amigos, um cassino em Las Vegas. – ele disse pausadamente. – Aqui não é lugar para conversar. Aqui é um lugar para curtir.
me olhou com brilho nos olhos. Olhei para ele e então para todo o ambiente ao meu redor. Kai estava certo, estávamos ali para curtir, e foi exatamente o que fizemos.
Apesar da minha má sorte com as caça níqueis, teve uma grande sorte ao ganhar trinta dólares. Seus gritos podiam ser ouvidos por todo o salão e precisou fingir não o conhecer para não passar vergonha com um que jogava as mãos para cima e gritava “Vegas! Isso é Vegas!”, e insistia em querer receber seu prêmio em um cheque gigante, como acontecia nos filmes. Infelizmente, em menos de meia hora, não só perdeu seus trinta dólares, como também perdeu mais cinquenta, o que acabou lhe rendendo um grande prejuízo. Pelo menos ele teria várias fotos para se recordar do seu momento de vitória.
também teve sorte, mas foi na roleta. Ela escolheu os números certos, apenas alternando entre as cores vermelha e preta para, ao final, ganhar cem dólares, os quais precisaram ficar bem escondidos de .
– , você não entende. Eu posso fazer esse dinheiro triplicar, meu amor, e então faremos triplicar de novo. E então estaremos ricos! Ricos, , você pode imaginar isso?!
– Meu amor, acho que você deveria parar de beber por enquanto. – foi a resposta dela.
– Mas, meu amor, hoje é a nossa noite de sorte! Eu tenho certeza disso!
– Claro, claro, você está certo. – ela disse, passando a mão em um de seus braços e sorrindo de forma doce para ele. – Moça, você pode trazer uma água com gelo para ele, por favor? – pediu à garçonete que passou por nós.
Não foi apenas que teve sorte na roleta. Mark também ganhou cinquenta dólares, e Kai ganhou o que ele chamou de “prêmio da noite”.
– Eu vou te passar meu celular e você me manda uma mensagem quando o seu turno aqui acabar, tudo bem? – ele disse baixinho para a modelo que acompanhava o croupier (o profissional de cassino responsável por pagar todos os jogos no salão).
E foi quando teve a brilhante ideia de jogar Blackjack.
– Você é péssimo em jogos de carta. – eu disse.
– Mas Kai é ótimo em matemática e excelente em contar cartas. – ele disse mais baixo, apenas para que nosso grupo escutasse. – Como acham que ganhamos tanto dinheiro jogando Truco na faculdade?
Kai, em resposta à fala de , apenas levantou a mão e bateu a sua na de , em um cumprimento de parceria.
– Contar cartas é proibido. – eu disse com os dentes cerrados, me segurando para não gritar com a ideia maluca deles. – Vocês podem ser presos se forem descobertos.
– , não vamos ser descobertos. Vamos ficar ricos. – disse, com brilho nos olhos.
– Exatamente como em “Se beber não case”. – Kai disse, também animado com a ideia de cometer um crime dentro de um cassino de Las Vegas.
– Vamos arriscar. Digo, o que temos a perder? – perguntou.
– Só temos a ganhar! – Kai entrou na sua onda de animação.
– Cara, nós vamos ficar ricos! – gritava, sem se importar em tentar disfarçar o plano quase criminoso que nossos amigos combinavam.
Bem, eles não foram descobertos. Tampouco ficaram ricos, mas apenas conseguiram perder os cem dólares de , o que, sim, a deixou muito, muito brava.
E apenas depois de muita insistência e praticamente arrastarmos os garotos para fora do “paraíso dos jogos” – palavras de , não minhas –, fomos embora. Mas não fomos embora para a pousada, apenas fomos embora do cassino, uma verdadeira tentação para as fraquezas humanas.
Já do lado de fora, na Strip Avenue, a mais famosa avenida Las Vegas e onde podemos podemos realizar nossos maiores desejos – conforme dizia o letreiro no começo da avenida. Inclusive várias e várias capelas, as quais não se preocupavam realmente se o casal ali no altar se conhecia a vida inteira ou há trinta minutos. Como era o caso do casal que havia acabado de se casar, o mesmo casamento que nós assistimos do começo ao fim e não perdemos tempo em aplaudir o beijo que deram no final.
– Nos conhecemos há tão pouco tempo, mas sei que você é a mulher da minha vida. – o noivo disse, sorrindo.
– Me sinto exatamente da mesma forma, meu amor. – ela respondeu antes de beijá-lo novamente.
– Há quanto tempo estão juntos? – perguntou.
Estávamos ainda dentro da capela, o pastor – um homem próximo dos seus cinquenta anos, com o cabelo platinado, usando mais brincos do que eu podia contar e com delineador nos olhos, além das unhas pretas – conferia na lista de casamentos qual seria o próximo casal a ser chamado.
– Há dois dias. – a noiva respondeu com um sorriso maior do que caberia em seu rosto. – Eu sei, eu sei, é pouco tempo, mas nós estamos apaixonados…
– E decidimos que queríamos passar o resto das nossas vidas juntos. – seu marido completou.
– E o meu papel aqui é abençoar, com a graça de Deus, esta união tão especial.
O pastor falava com a voz calma e aveludada, com as palmas das mãos voltadas para cima. Por um momento pensei que ele poderia começar a cantar alguma música gospel a qualquer momento, mas a música não veio do pastor, e sim das caixas de som que estavam espalhadas pela capela mais colorida e brilhante que já havia visitado.
– Vejam só, a décima segunda cerimônia da noite está para começar. Vocês vão ficar para assistir? – o pastor perguntou, olhando para o nosso grupo. – Talvez buscando alguma inspiração para unirem seus corações em um só? – deu uma piscadinha.
– É impressão minha ou esse cara está perguntando se queremos nos casar? – ouvi Krystal perguntando baixinho para Mark.
O pastor não esperou por nossa resposta, no final das contas. Outro casal – feliz demais, bêbado demais – entrava na capela.
– Ei, , o que você acha de nos casarmos?
não foi a única a olhar para com os olhos arregalados.
– O quê? Não! Seria ridículo nos casarmos em Las Vegas. Eu quero um casamento grande e caro, .
– Caro? – foi a vez de de arregalar os olhos. – Mas, , eu sou só um estagiário.
– Então você não deveria ter gastado os meus cem dólares. – foi a sua resposta. Eu sabia que ela não o perdoaria tão cedo por perder tanto dinheiro em uma só noite.
Enquanto Kai e continuavam reafirmando o quão perto estiveram de ganhar no Balckjack e ficarem ricos para sempre, se aproximou de mim.
– E você, também pensa em ter um casamento caro ou não se importaria em casar-se comigo em Vegas?
Fiquei alguns segundos sem fala. Não sabia se ele falava sério ou não. Quer dizer, apesar de estarmos juntos há alguns meses, apenas havíamos oficializado – mais ou menos – o nosso relacionamento naquela noite, poucas horas mais cedo. E foi depois que começou a rir que percebi que, sim, ele estava apenas tirando uma com a minha cara, graças a Deus.
– Claro, e também podemos desenhar na cara um do outro com caneta permanente, como Rachel e Ross, o que acha? – entrei na brincadeira.
– Ah, não, obrigado.
E já do lado de fora, enquanto andávamos abraçados, segurando garrafas de bebida e copos de cerveja já quente, eu sabia que aquela noite não terminaria tão cedo, principalmente pelo fato de estarmos nos divertindo demais tirando fotos com as pessoas fantasiadas, muitas dessas pessoas bêbadas, mas eu tinha certeza que não mais bêbadas do que o nosso próprio grupo.
A primeira semana passou tão rápido, que nem vi o tempo passar. Entramos no consenso de aproveitarmos o máximo cada dia e usarmos apenas as noites para descansar – ou, pelo menos, o que sobrava das nossas noites badaladas.
Em um dia em que todo mundo estava meio acabado, de ressaca e sem condições de ir a lugar nenhum que demandasse qualquer tipo de atividade física – como, por exemplo, uma simples caminhada –, mesmo que tivéssemos o desejo de conhecer o deserto de Las Vegas, simplesmente decidimos fazer um dos passeios mais famosos de Vegas: o Sun Buggy Desert Racing.
– O que é isso? Nunca ouvi falar. – comentou enquanto esperávamos o táxi do lado de fora da pousada.
– O Sun Buggy Desert Racing é uma atração que fica fora da agitação da cidade de Las Vegas. Fica no coração do deserto de Mojave, aqui no estado de Nevada, e podemos andar de mini-buggys para conhecer o deserto. É um esporte radical, confesso, porque os buggys chegam a altas velocidades. Mas o melhor é que sempre saímos em grupos, então as chances de darem alguma coisa errada e nos perdermos no meio de montanhas e cânions são mínimas. – Mark explicou.
– Mas o que poderia dar errado? – foi a vez de Krystal perguntar.
– Bem, ao estarmos no meio do deserto, estamos sujeitos a enfrentar todos os perigos que ele oferece. Como nos perdermos, por exemplo, desidratação e até mesmo sermos atacados por algum animal peçonhento típico do deserto. – Mark continuou explicando na maior naturalidade possível.
– E nós estamos indo pro meio do deserto por quê mesmo? – perguntou com a voz esganiçada para, logo em seguida, tossir e voltar a perguntar, dessa vez com a voz um pouco mais firme. – Quero dizer, por que nos arriscar?
– Porque, querendo ou não, estamos falando do deserto de Mojave. Nevada, cara. É perigoso, mas ainda assim é um lugar que todo mundo que vem para Vegas deveria conhecer. Além disso, estaremos junto a um grupo de pessoas, estaremos com equipamentos de proteção, e vamos visitar o deserto durante o dia.
– Quem seria louco de ir durante a noite? – sussurrei para , mas ainda assim Mark escutou.
– Eu já fiz esse passeio de mini buggy durante a noite e a experiência foi incrível. Agora quero ir durante o dia, imagino que a visão deva ser totalmente diferente. – ele disse, animado.
E, bem, realmente, foi uma atração e tanto. Um dos passeios mais divertidos e radicais que já participei. Além do passeio não ser caro, a experiência de conhecer as montanhas e cânions em cima de um mini buggy foi incrível. Talvez não tenha sido tão incrível encontrarmos um ninho de cascavéis perto de uma caverna, mas o susto foi logo substituído quando decidimos apostar uma corrida.
Também não foi exatamente incrível as queimaduras que todos tivemos pelo corpo – menos Mark, já que ele foi com uma roupa que cobria os braços e as pernas, além de ter sido esperto o bastante para passar protetor solar no rosto. Sério, como ninguém pensou em passar protetor solar no corpo? Estávamos indo para o deserto, caramba!
Foi preciso apenas um dia para nos recuperarmos, porque, logo no dia seguinte, decidimos que, de todas as atrações imperdíveis de Vegas, o maior parque de diversões do mundo, situado no prédio do Hotel Cassino Stratosphere, era, de longe, um lugar que não poderíamos perder.
Além de ser a torre de observação mais alta dos Estados Unidos, o local é uma das atrações mais procuradas da cidade, localizado ao norte da Las Vegas Strip. Por ser o prédio mais alto de Las Vegas, era possível avistar a torre do Stratosphere de qualquer lugar da cidade, e foi essa visão, que tivemos no dia em que passamos no deserto, que nos animou a chamar novamente dois táxis para nos levar ao melhor parque de diversões do mundo.
O mais incrível é que lá de cima a cidade parecia infinita. A visão se cansa antes que seja possível enxergar tudo o que o Stratosphere oferece.
A primeira atração que aproveitamos foi o observatório, momento em que precisamos subir por um elevador por quase os todos 350 metros da torre. Apesar da visão ser maravilhosa, mágica, o guia nos informou que a vista durante a noite é mil vezes melhor, já que é possível ver a cidade toda iluminada.
Tínhamos poucas opções de brinquedos super-radicais. Como o preço de cada brinquedo era apenas cinco dólares, fiz questão de ir em cada um deles, juntamente com Mark e . Infelizmente, desmaiou no Insanity, o brinquedo mais temido por todos, o qual cada pessoa senta em uma cadeira que fica suspensa para fora da torre, girando bem rápido. ficou tão nervoso de ver o amigo desmaiado – segundo suas próprias palavras – que acabou passando mal no momento em que colocou os pés em terra firme. Claro que a “preocupação” foi a única justificativa para que vomitasse assim que saiu do brinquedo, claro.
Eu amei cada um dos brinquedos, especialmente o Big Shot, que consiste em um elevador que fica bem acima da torre e, depois de subir, despenca em queda livre.
não quis se arriscar a ir em nenhum deles, e Kai foi expulso da fila do X-Scream por flertar com uma menina acompanhada e arrumar confusão com a namorada dela. E Mark foi o nosso herói do dia, pois conseguiu fazer com que todos nós pulássemos a fila, já que ele conhecia o funcionário do último brinquedo
E apesar de ter me divertido a todo momento, não acreditava que seria capaz de voltar a viver fortes emoções como aquelas tão cedo. Quer dizer, é claro que me diverti com o desmaio de e que nunca serei capaz de deixar se esquecer do quão mal ele passou ao sair do primeiro brinquedo, mas eu sabia que um pouco mais de aventura e eu poderia ser a próxima a precisar sentar na sombra e beber alguns copos de água.
– Não acredito como passou tão rápido. – disse, suspirando, enquanto colocava as últimas peças de roupa na mala.
– Eu também não. Mal chegamos e já estamos indo embora. Sinto que, mesmo tendo aproveitado cada segundo de cada dia, não tivemos nem metade do que Vegas pode nos proporcionar.
– Sei exatamente o que quer dizer.
– Será que se eu desistir de voltar para o Brasil junto com vocês a minha mãe vai notar? – perguntei, brincando.
– Hm… Vamos ver. – parou o que estava fazendo, virou-se para mim, a mão em baixo do queixo, como se pensasse na resposta. – “Oi, tia, tudo bem? Sei que a senhora não está vendo a sua filha, mas não se preocupe, ela está dentro da minha mala”.
Comecei a rir da sua fala.
– É, acho que talvez ela note o pequeno fato de que, não, você não voltou para casa.
Joguei uma almofada nela, diante da sua ironia, e isso foi o bastante para iniciarmos uma pequena guerra de almofadas.
– Ora, ora, garotas. Se forem fazer uma guerra de travesseiros entre meninas, por favor, me chamem para assistir.
Kai estava encostado no batente da porta do nosso quarto.
– Claro, que tipo de amigas seríamos se não o incluíssemos na nossa pequena guerra de travesseiros, não é? – disse, irônica.
– Ainda mais se estivermos usando apenas pijamas. – entrei na brincadeira.
– Garota, garotas… Não brinquem comigo. As duas são minhas amigas e estão comprometidas, mas não posso garantir que a minha mente não irá se divertir com essas imagens.
Rolei os olhos para ele, mas não refutei. Kai nunca mudaria.
– O que está fazendo aqui, afinal de contas? – perguntei.
– Vim chamá-las para comermos. Mark está fazendo churrasco na área de lazer da pousada.
– Acho que comer é uma boa ideia. Podemos terminar de arrumar as malas mais tarde. – disse e eu não poderia concordar mais. Além da mala que havia trazido com minhas coisas, eu estaria levando mais uma pequena, essa só de coisas que comprei em Las Vegas, e nenhuma das duas estavam nem próximas de estarem prontas e fechadas.
Ao passarmos pelo quarto que Kai dividia com os meninos, vimos e jogando vídeo game com tanta concentração que tinha certeza que apenas uma frase poderia tirá-los da atmosfera em que se encontravam.
– Meninos, Mark está fazendo churrasco lá fora. – eu disse e foi instantâneo: largou o controle do vídeo game e desligou a televisão no segundo seguinte.
– E eu encomendei três pizzas que provavelmente já estão chegando. – Kai disse.
E isso foi mais do que o suficiente para que os meninos se levantassem em sincronia e praticamente disputassem para ver quem sairia do quarto primeiro.
Nosso último dia em Vegas foi marcado por uma manhã cheia de sessões de fotos, uma tarde de compras, e um jantar ao pôr do sol. A avó de Mark foi convidada para passar as últimas horas conosco e, se não fosse por ela, provavelmente nem saberíamos ligar o rádio super moderno da área de lazer. Também foi a avó de Mark que escolheu a música de fundo, enquanto conversávamos sobre nossas experiências nos últimos dias.
Muita coisa tinha acontecido. Muita coisa tinha mudado, mas algumas coisas nunca deixariam de ser as mesmas.
ainda estava queimado do dia em que fomos ao deserto de Mojave e estava duzentos dólares mais rica – obviamente que nunca poderia saber disso, pelo menos não até estarmos bem longe de Vegas e das máquinas de caça níquel.
Kai jurava estar apaixonado por uma garota que ele não se lembrava do nome, mas que tinha certeza de que era a mulher certa para a sua vida; Krystal não parava de falar de um colega de sala seu, com quem conversava todos os dias pelo celular; e Mark jurava que não ficaria mais tanto tempo sem ver sua avó.
– Não se preocupe, dona Anna. Caso Mark não venha visitar a senhora, eu mesma virei. – prometi.
– Pode ter certeza que eu também voltarei a visitar a senhora. – entrou na brincadeira. – Não seremos desnaturados como o seu neto.
– Ei! – Mark reclamou.
– E caso Mark venha ver a senhora com frequência, também iremos garantir de estarmos juntos a ele. – garanti, porque, de fato, se meu sonho de antes era conhecer Vegas, meu novo sonho era voltar para Vegas. Nem tinha subido no avião de volta para o Brasil e já estava sentindo saudades.
– Assim espero! – dona Anna disse. – Mesmo que o ingrato do meu neto não venha, as portas estarão sempre abertas para vocês todos.
– Ei, estou me sentindo meio deixado de lado no momento. – Mark falou.
– E você, meu amor, sabe que além das portas da pousada estarem sempre abertas, meu coração sempre estará esperando pela sua volta.
E isso foi o bastante para que frases como “ah, que fofo” e “fofinho da vovó” fossem ouvidas, o que fez com que todos dessem risadas.
Nós estaríamos voltando para o Brasil no dia seguinte, mas o sonho de viver e curtir ao máximo cada segundo ainda continuava vivo. Porque Las Vegas era isso, era curtição, eram experiências, era viver a vida como ela deve ser vivida: com o máximo de intensidade possível. Sim, aqueles últimos dias foram mágicos, e eu sabia que as memórias ficariam vivas dentro de mim para sempre. Pelo menos até voltarmos e eu substituí-las por memórias novas, o que, se dependesse de mim, não demoraria em acontecer.
Fim.
Nota da autora: Oi, oi, gente! Mais uma fanfic concluída! Confesso que essa fanfic tinha que ter entrado bem mais cedo, mas tive um bloqueio imenso com ela. E então foi apenas preciso assistir a um filme que se passava em Vegas pra inspiração voltar a mil e eu conseguir, finalmente, trabalhar nela. Essa fanfic é meu mais novo amorzinho e orgulho, então espero que vocês tenham gostado dela, de verdade. Não deixem de usar a caixinha de comentários aqui em baixo, além de ajudarem o FFOBS, estão fazendo uma autora muito mais do que feliz <3
Pra quem quiser, eu tenho um grupo no facebook pras meninas que acompanham as minhas fanfics, então vou deixar o link aqui pra quem quiser participar, ok?
E também pra quem quiser conhecer outras fanfics minhas, vou deixar os links aqui, ok?
Beijos de luz
Angel
Outras Fanfics:
Shortfics:
Babá Temporária
Change
Elemental
Run & Run
Welcome to a new world
Longfic:
Tempo Certo
Ficstapes:
06. Every Road
10. What If I
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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