Postada em: 04/04/2021

Capítulo Único

Regras devem ser obedecidas.
olhava para si mesma no espelho, vendo as gotas da água que acabara de jogar no rosto pingando em cima da pia. Estava sozinha no banheiro, ainda um pouco desnorteada, pouco se importando se a água estava borrando a base. Precisava daquele choque térmico para acordar seus sentidos e decidir o que faria.
Ele estava lá, com aquela cara de paspalho e cheiroso como sempre.
O que deveria falar?
Não, afirmou para si mesma. Simplesmente não devo falar, isso iria contra as regras.
Secou o rosto com o papel toalha e retornou para a frente do espelho. Encarou profundamente seus próprios olhos, tentando buscar uma resposta, qualquer coisa.
Tinha prometido a si mesma há anos: não havia espaço para mais uma tentativa com . Sua cota de tolice já estava cheia, e qualquer coisa que poderia dizer apenas iria magoá-la ainda mais.
Por que, então, ele insistia em continuar em sua vida?
O que queria que ela fizesse?
Tentou se lembrar de tudo o que havia ocorrido até aquele momento. Em como se conheceram, em como compartilharam risadas, conversas bestas e sussurros que só deveriam ser ditos no escuro. A sensação de estar em seus braços era confortável ao mesmo tempo que provocativa. Bastava ouvi-lo falar sobre como ela parecia se encaixar perfeitamente nele que sentia as partes mais profundas do seu corpo se acenderem.
Merda, ela estava ardendo naquele exato momento, só de pensar na possibilidade de sentir o seu corpo perto do dele de novo.
Era por isso que tinha regras. A linha que os separava era, ao que parecia, apenas temporária, guiada por outros romances, outros planos, momentos roubados. Nunca tinham estado na mesma sincronia. O encaixe era milimetricamente errado.
Mas por que as partes que pareciam se encaixar tinham que ser tão certas?
não queria mais isso. Tinha que dar o ponto final em vez do sempre “até daqui a pouco” deles.
— Volte pra lá. Diga que tem que ir embora. Não fale nada. — As frases foram abruptamente ditas, quase como uma oração. E, como as orações em sua vida, ela tinha que se forçar a acreditar.
O caminho até a área externa pareceu curto demais. sentia que precisava de mais tempo para se recompor antes de vê-lo com aquele sorriso maldito. Lembrava-se de quando ele usava aparelho e nunca gostava de abrir a boca para sorrir por insegurança. Com aparelho ou sem, o rosto dele era lindo, se iluminando quando sorria. Ela sabia que aquele sorriso poderia convencê-la de qualquer coisa.
Com aquele pensamento em mente, ela encarou a figura de de costas, segurando uma bebida, apoiado na mesa alta e esguia, que mais era um lugar onde se podia deixar copos usados do que uma mesa. Estava parado, olhando para frente, sem interagir com nenhuma das pessoas que passavam andando perto. Parecia esperar algo.
Esperar alguém.
Ela sabia que ele a tinha visto de relance antes que pudesse escapar para o banheiro. Mas não pensava que ele iria ficar em pé, parado, na mesa imediatamente mais perto dos banheiros. Só podia ser proposital.
respirou longa e profundamente. Não tinha mais para onde fugir, sabia disso. Tinha que lidar com aquela situação de uma vez por todas.
Porém, inferno, ele poderia ter facilitado para o lado dela e não estar usando aquela calça, que marcava brilhantemente sua bunda. Qual era a necessidade daquilo? Era um atentado à sua sanidade?
Xingou mentalmente uma última vez antes de passar ao lado dele e se colocar à sua frente na mesa. Ouviu-o prender a respiração quando percebeu que era ela. Em resposta a isso, sentiu sua pulsação se acelerar.
Estaria ele tão afetado quanto ela?
. — Escutou a si própria dizendo, mas o que estava acontecendo parecia muito distante da sua realidade. Era como se outra pessoa estivesse ali, naquele evento, vivendo aquele drama pessoal. Não conseguia olhá-lo direito sem deixar sua voz transparecer a maneira com que o coração quase pulava em sua boca. — É impressionante como você surge das formas mais aleatórias possíveis.
A risada que deu, parcialmente de nervoso, não a ajudou em nada.
— Acho que eu deveria dizer o mesmo, . — Ela não conseguia ver, talvez não quisesse, mas o olhar de sobre ela transparecia tudo o que ele ainda não conseguia pôr em palavras. O homem pigarreou de leve, tentando recapitular o diálogo que estava treinando em sua cabeça desde que a tinha avistado naquele evento, e continuou: — Como você tá?
Viu franzindo o cenho, claramente não esperando uma pergunta tão básica como aquela. Não tinha ideia do que ela esperava, se fosse sincero, então não sabia como exatamente carregar aquela conversa.
— Tô bem. — Abriu um sorriso leve, deixando as covinhas que ele tanto adorava à mostra. era tão fofa que doía. — E você?
— Também. — Então, por um impulso, sua boca o traiu. — Na verdade, desde que te vi aqui, fazia muito tempo que não me sentia tão bem.
Ele acompanhou os olhos dela se arregalando, como se tivesse acabado de ultrapassar sem permissão uma barreira que existia entre os dois. Não se arrependeu das palavras – afinal, eram a verdade –, mas não queria ver aquele distanciamento nela. tinha muito o que falar e precisava que estivesse aberta para ouvir.
Contudo, ela não parecia estar. Algo dentro dela tinha imediatamente vindo à tona para fazê-la mudar de postura, um certo resquício de angústia. Afinal, se se esforçasse o suficiente, conseguia ouvir aquilo que deixou implícito. E o que estava tentando iniciar com aquela singela afirmação era, definitivamente, contra as regras.
, eu…
— Não. — ela o cortou, levantando uma das mãos para sinalizar que não deveria continuar. — Por favor, não vamos fazer isso.
sabia do que ela estava falando. Sentia o aperto em seu peito lhe dizendo que não deveria ir logo ao ponto, que deveria discutir banalidades antes. Contudo, do que adiantava construir aquela cerca, que o impedia de ser sincero com ela?
Do que adiantava seguir as regras?
Ela tinha virado o rosto para o lado, abraçando seu próprio corpo, buscando mais uma vez uma forma de sair daquela situação. não queria vê-la naquela posição, então sabia que precisava mostrar a ela que queria realmente conversar.
, por favor. — ele suplicou, tentando chamar sua atenção. tinha descruzado os braços e, naquele momento, usava os dedos da mão esquerda para brincar com os anéis da direita. Se precisava de alguma confirmação visual de que estava nervosa, era aquilo. — Olha pra mim.
Uma bandeja com doses de vodca passou perto da mesa dos dois. Antes de virar para encará-lo, ela pegou dois dos copos, agradeceu ao garçom e os virou sem hesitação. piscou, um pouco atônito com a cena que tinha acabado de presenciar, e engoliu em seco. Se o homem pudesse ouvir os pensamentos dela, saberia que vodca era muito mais eficaz do que água para evocar o bom senso.
Depois de virar o segundo copo, o bateu com alguma firmeza na mesa entre os dois, mirando-o com as íris queimando. A expressão de nervosismo sumiu completamente, sendo substituída por uma determinação que fez perder o fôlego. O jeito que parecia prestes a esganá-lo com as próprias mãos fez seu corpo inteiro ser atravessado por uma corrente de adrenalina.
E outras sensações não tão puras.
— Não, , você vai olhar pra mim. — O corpo de queria chegar mais perto dele, empurrá-lo com o ressentimento que a atingia naquele instante, mas ela usou todo o seu lado racional para manter-se no lugar. — Isso aqui, o que quer que seja, não vai acontecer. Não quero falar sobre o que já aconteceu conosco, que eu consigo ouvir só pelo seu tom que você quer trazer à tona. Sabe por quê? Porque me dói. Pode ser estúpido, pode ser só coisa do passado a esse ponto, mas ainda machuca, . — Ela já estava falando mais do que deveria, tinha ciência disso, porém achava que ele precisava escutar aquilo para verdadeiramente entender a maneira com que ela se sentia. — Então, assim, se você terminou com a namorada, namorado ou namorade da vez e aí se lembrou da minha existência, sério, só para.
Enquanto processava o que tinha acabado de ouvir, roubou outra dose da bandeja do garçom, que ainda fazia seu caminho de vai e vem entre as mesas, e a virou com o mesmo afinco das outras. Depois de sentir seu rosto se aquecendo mais um pouco, encarou a maldita cara de paspalho de . A boca levemente aberta pela surpresa, o cabelo em sua eterna bagunça-arrumada, o pescoço exposto pelos botões abertos da camisa, os ombros sendo modelados pelo tecido do paletó – até as estúpidas lapelas, que insistiam em ser um convite aberto para que as puxasse e, enfim, saciasse o seu desejo de sentir o calor dele novamente.
Infeliz miserável, era o que era. Tinha acabado de falar que queria que nada acontecesse entre os dois, mas não conseguia esconder de si mesma a pulsação entre as pernas só por sentir o cheiro do seu perfume.
Como se não bastasse aquela situação nada ideal para rejeitar o homem à sua frente, ele resolveu finalmente respondê-la.
, eu não estou envolvido romanticamente com alguém há algum tempo. Simplesmente não dá certo. Fico algum tempo engajado no relacionamento, sinto afeto pela pessoa, mas não é a mesma coisa de quando… — Bagunçou os cabelos e coçou o pescoço, percebendo o desconforto surgindo, mas sabendo que precisava vencê-lo. Fitou com todo o peso agudo de sua declaração. — Porra, , de quando eu e você nos sentamos na varanda da minha casa de noite, falando sobre faculdade, nossas frustrações, os meus medos, e aí você virou pra mim e me disse que aquelas estrelas já tinham presenciado mais do que poderíamos saber e que sempre guardariam os nossos segredos.
deu uma risada fraca, quase triste. Tentou desviar da intensidade do olhar de .
— Isso foi há muito tempo. — murmurou, esforçando-se novamente para convencer a si própria. — Já joguei todas as minhas cartas, , e você também. Eu não tenho mais fôlego pra esse jogo.
— Não é um jogo. — afirmou, sem qualquer dúvida. Ele não estava ali como o adolescente imaturo de alguns anos atrás, quando não compreendia, pelo menos não completamente, a conexão que tinha com . Não queria mais escapar daquele sentimento que crescia e que o fazia pensar nela mesmo quando não se falavam com frequência. Tinha perdido a conta de quantas vezes sonhara com ela, sempre muito perto de alcançá-la, mas nunca conseguindo. Aquilo, realmente, não era um jogo. Não queria mais rodar os dados e ser movido pela aleatoriedade.
— Como não, ? — questionou, dura. Ela captava algo nas feições de que indicava que aquela conversa poderia seguir um caminho que não estava pronta. Contudo, como um bom desafio, ela testava seu próprio juízo. — O que você é, exatamente, senão um jogador? Um amigo, um... amante?
Não deveria ter dito aquilo.
Merda, de fato não deveria ter sequer aberto a boca.
Observou nos olhos dele aquilo que espelhava nos seus. As memórias do que estava entre os dois, em cima da mesa – os beijos, a ânsia, aquela chama que teimava em continuar acesa. O carinho que sentiam, as confidências que compartilhavam, todo o histórico de idas e vindas. Se fechasse os olhos e se inundasse com aquelas recordações, conseguiria ouvir a voz de no pé do seu ouvido, depois de ter beijado seu pescoço e provocado-lhe arrepios: “quero me enterrar em você”.
A pressão que se fez em seu interior foi avassaladora para . Todas as terminações nervosas de seu corpo estavam alertas, prontas para o que quer que viesse a seguir.
— Os dois, . — respondeu rouco, os olhos semicerrados, como se se recuperasse também de uma enchente de lembranças. — Um amigo e... — As palavras ficaram momentaneamente presas. sentiu como se, ao falá-las, estaria denunciando a sensação da pele de sob seus dedos, que retornava como se nunca tivesse deixado de estar lá. Via as clavículas expostas pelo vestido, as mãos macias com seus finos anéis, que esfriavam a região por onde passavam, e os cabelos cheios e fartos, que sempre reclamava quando bagunçava, mas nunca o impedia. Não queria o fantasma do que uma vez tinha sido; queria tocá-la ali, naquele exato momento. — … um amante.
Era o jeito que ele falava, despindo-a com olhares, sugerindo lascividades com palavras supostamente inocentes. Existia uma aura erótica ao seu redor que deslocava de sua zona de conforto e a fazia tomar decisões erradas. Não sabia se todes que se relacionavam com se abalavam daquele jeito, mas tinha pleno conhecimento do que ele era capaz de fazer com ela. Foi aquele mesmo sopro libidinoso, que brincava com seu âmago como nenhum outro, que mexeu seus pés até que não houvesse mais uma mesa entre eles.
Colocou-se rígida na frente dele, sem se deixar revelar o real motivo para aquela aproximação. Não tinha mais cartas para jogar, ou capacidade de manter por muito tempo sua faceta pouco consternada pela presença dele. Entretanto, ainda poderia dizer mais uma coisa, fazer apenas mais um ponderamento.
— Sempre fomos uma coisa pequena, em nenhum momento uma grande. Como isso poderia mudar? O que funcionou entre nós foi porque não nos levávamos a sério, não acha?
sabia que a resposta que daria para ela influenciava diretamente no que se seguiria entre eles. Não bastasse a maneira descompassada com a qual seu coração batera desde quando a tinha visto, aquela urgência em seu peito tinha aumentado com o grau de cuidado que precisava dar para as suas próximas palavras. Vê-la escapar pelos seus dedos mais uma vez não era uma alternativa. Não se ele pudesse evitar.
Molhou os lábios com a língua e tomou fôlego. A proximidade repentina dela o desconcertava, e ele não pôde deixar de fitá-la diretamente. Os olhos dele passaram por sua testa, as bochechas, o nariz, o queixo, a boca. Sua expressão era séria, nublada – ou apenas indecifrável. Mas, acima de tudo...
Inferno, praguejou em sua mente, sentindo seu olhar se suavizar. Ela é linda.
Então, compreendeu o que deveria ser sua resposta.
— Eu quero tudo, . — começou, um pouco abrupto, guiado pelo formigamento que sentia nos dedos. — Você nunca foi algo pequeno pra mim, mas eu demorei muito pra perceber o quanto precisava nos ter por completo. E pode ser tarde demais, e você tem todos os motivos do mundo pra não querer mais saber de mim, mas preciso que você saiba… — Fechou os olhos por um momento, não querendo enxergar a completa rejeição de se manifestando.
Teve que se repreender mais uma vez por aquela atitude, porque não podia se afugentar. Não importava o desconforto que era se expor, precisava fazer aquilo. Quando voltou a encará-la, se alarmou com o fato de ela ter dado mais um passo para frente. Apesar de estar firme em sua postura, a mulher estar se aproximando dele em vez de se afastar era um sinal positivo, certo?
— O que você precisa que eu saiba, ? — O tom da pergunta saiu mais sugestivo do que era a intenção de . Por sorte, ele não percebeu. Porém, ela sentia o calor de sua tentação se espalhar cada vez mais, percebendo que seu tempo de racionalidade estava chegando ao fim. Naquela distância, a influência dele era como um canto de sereia. Seu corpo parecia vibrar na mesma frequência que o dele, irracionalmente encaixando as mesmas peças erradas só por alguns milímetros.
Como um pedido, uma súplica, quem sabe um apelo aos deuses, ouviu ressoar em seus pensamentos:
“Por favor, que dessa vez estejam certas.”
Ah, … Você já está bem longe de se importar com as regras, assim como .
E os deuses já decidiram.
Resta a vocês se conformarem.
— Preciso que você saiba o quanto quero provar que podemos ser tudo o que não nos deixamos ser antes. — Estendeu a mão e colocou-a na lateral do rosto dela, fazendo um carinho sutil. Sua pele era exatamente como seus dedos se lembravam, mas ainda parecia ser como na primeira vez. O nervosismo era o mesmo; a vontade de gravar cada detalhe também. prendeu a respiração com o toque, inebriada com tão pouco, aflita com o que parecia se construir diante de si. E nada poderia prepará-la para aquilo. — Se alguma vez nós fomos um jogo e o perdedor era quem mais se entregava, não quero ganhar. Não me importo em parecer um completo idiota. Tô aqui pra me dar por inteiro pra você, . E você pode levar tudo.
Houve um momento de silêncio em que percebeu que estava atônita. O que dizia era carregado de tudo o que estava suspenso entre os dois, e ela não conseguia raciocinar direito para dizer a ele o que estava sentindo. Algo dentro dela a impelia a reagir da maneira mais instintiva que tinha.
— Puta que pariu. — O xingamento saiu junto com o ar que ela segurava. A intensidade que transparecia preencheu-a por completo, deixando-a se afogar em uma imensidão da qual não se conseguia ver a margem. E ela queria apenas afundar. — Você não tem o mínimo de respeito comigo, garoto.
Ele entendeu que ela não estava falando sério e soltou uma risada, vendo graça na reação dela.
— Como assim não tenho respeito contigo?
— Não tem! — exclamou, segurando-o pelo cinto da calça e puxando-o ainda mais para si. Aquilo pegou completamente de surpresa. — Olha só, estamos em ambiente público, cheio de gente que eu conheço e você tá me obrigando a te agarrar aqui mesmo.
O coração dele voltou a bater rapidamente ao perceber que, sem sombra de dúvida, ela estava dando mais uma chance para os dois. Não esperava que trocassem grandes declarações de amor, promessas melodramáticas, mas sempre o impressionava com sua habilidade de incendiá-lo com poucas ações. A mão de que segurava o rosto dela foi para sua cintura, prendendo-se ali para não sair tão cedo. Decidiu entrar na brincadeira nada inocente.
— Desculpa, , mas pode me explicar como exatamente eu estou te obrigando a me agarrar? Até onde eu sei, só te falei que sou todo seu. — provocou, abrindo um sorriso sacana.
Ele estava fazendo aquilo de propósito, ela sabia.
Infeliz miserável, demônio em formato de homem.
Tudo o que conseguia ver era , a cara de paspalho, o cheiro que a preenchia, a boca com aquele maldito sorriso. Como ele tinha a audácia de falar todas aquelas coisas? Por que a torturava daquela forma? A única explicação era que não tinha qualquer empatia por seu já abalado estado de espírito.
E pensar que tinha falado para si mesma que ia embora.
Ela estava tão, mas tão fodida.
E ele era tão, mas tão lindo, olhando para ela como se…
Como se não quisesse estar com mais ninguém no mundo.
Era demais para .
Ela precisava beijá-lo. Senti-lo embaixo de si, preferencialmente entre as suas pernas. Ouvi-lo de novo.
“Sou todo seu.”
Se ela pudesse gritar, estaria gritando naquele exato momento.
Mas parecia que ia… chorar?
Eram muitas emoções ao mesmo tempo, e as três doses de vodca já estavam dando as caras.
— Ou você me segue agora mesmo, ou eu vou perder qualquer espécie de decoro que tenho nesse recinto.
Aquilo não pareceu fazer se preocupar muito em sair de onde estava. Muito pelo contrário, ele abaixou a cabeça para perto do ouvido da mulher, dando um beijo rápido e úmido no lóbulo, que em nada ajudou na situação, e sussurrou:
— Eu te afeto tanto assim, ?
Ela sentia o calor dele espalhando-se para o seu corpo. Reconhecia o peito subindo e descendo em um movimento rápido demais, a mão dele na sua cintura queimando-a. Aquela dinâmica de provocação, o ar denso e urgente, a lascividade no olhar e na boca – nada daquilo era novidade, mas desestabilizava todas as vezes. Era inegável, praticamente inescapável.
No entanto, com a mesma intensidade que ela conhecia as cartas dele, também sabia das suas. Suas lembranças iam além das que ficavam engavetadas em sua mente – os ouvidos ardiam com os vestígios dos gemidos graves, das palavras entrecortadas; os dedos ainda conheciam os contornos do corpo, os pontos que mais o faziam tremer. Sabia que gostava quando o puxava daquele mesmo jeito que estava fazendo, pela barra da calça, encaixando os dois perfeitamente.
E ele adorava quando passava as unhas por aquela área, provocando arrepios, a expectativa de sua mão descer para dentro da peça de roupa e agarrar outra coisa.
já tinha acordado suado de madrugada depois de sonhar com o que as mãos de faziam com seu corpo.
E o mesmo também já tinha ocorrido com .
O problema era aquele, de fato: eles se conheciam bem até demais.
Era exatamente por essa razão que ela passava o dedo pela barra da calça dele, com alguma discrição, pressionando a unha do indicador em um movimento lento. Ouviu-o arfar, pego de surpresa mais uma vez, e abriu um sorriso igualmente sacana.
… — Seu nome foi dito como uma advertência, a voz dura de ressoando perto de seu ouvido. Ela quase derreteu bem ali, cogitando deixar de lado a postura incisiva que estava tentando manter.
— Você me afeta tanto quanto eu posso te afetar, . Então, se você tiver dois neurônios funcionando, vai perceber que é melhor me seguir.

***


sabia como tinha chegado naquela situação.
Sua mente havia traçado possibilidades muito nítidas: um canto escuro e discreto, uma porta que não deveria ser aberta, o banheiro que pouco tempo antes ela havia jogado água na cara e dito que não a teria novamente.
— Cacete, , você é tão linda.
Bem, nenhuma daquelas possibilidades tinha dado muito certo.
Vamos voltar um pouco na sequência dos fatos.
Eles tinham se esgueirado pelas pessoas, e rezou para que nenhuma das que a conheciam do trabalho a visse saindo mais cedo do evento na companhia dele. Aquilo lhe daria uma dor de cabeça desnecessária na segunda-feira de manhã.
Logo ela percebeu que a melhor alternativa era pegar um Uber e ir para a sua casa, que ficava mais perto do local. Em algum momento, tinha segurado sua mão, usando o polegar para fazer carinho no dorso. estava quase explodindo de felicidade, expectativa e excitação acumulada, mas não queria fazer impropriedades no caminho até a casa.
Em vez disso, sem tirar o sorriso do rosto por apenas estar com ela, contou sobre a editora em que trabalhava, de como cuidava da parte do projeto gráfico de diversos livros e como gostava de visitar as gráficas para ver o resultado de tantas horas de trabalho bem ali na sua mão. Tinha muitos projetos em mente, muitas ideias, e podia ouvi-lo falar daquele jeito entusiasmado sobre qualquer coisa.
Enquanto ela dividia com ele suas inseguranças sobre a divulgação científica da sua área e o estado catastrófico da ciência no país, sentia colocar a mão na sua coxa, roçando de leve a pele exposta. sabia que ele não fazia aquilo para atiçá-la, mas era impossível não perder a linha de pensamento.
Então, uma memória antiga a atingiu, quando os dois vivenciaram uma situação similar. Foi na primeira vez que estavam se vendo. Retornavam de uma festa, cada um teoricamente indo para sua casa, até que começou a passar a mão pela coxa dele, olhando-o de uma forma que tirava seu ar. rapidamente pegou o celular e tirou a parada que fariam na casa de , apenas se comunicando com ela pelo olhar, sabendo exatamente o que estava pensando.
Eles não chegaram a transar com penetração. Eram novos e, apesar de confiarem um no outro, não estavam prontos. Mas se beijaram, se tocaram e se descobriram naquela noite. Parecia que a manhã nunca chegaria. Não se preocuparam com ela, tampouco – sabiam que tinham ainda muito tempo pela frente.
O tempo nunca pareceu ser um vilão.
Em retrospectiva, deveria ter percebido que não havia como controlar absolutamente nada. Quando pararam de ficar, ela tinha dito para si mesma que ele tinha sido o primeiro de muitos, que não precisava ficar tão magoada como estava. Entretanto, algo começou a crescer nela, aquele fragmento de dúvida. Por que tinha sido tão bom? Por que deu errado?
Não se lembrava mais de muitos dos porquês de terem parado de se ver ao longo daqueles anos. Imaturidade, irresponsabilidade afetiva, ou só...
Timing ruim.
piscou algumas vezes, focando de novo no rosto dele.
— Quê? — indagou, completamente confusa. soltou uma risada tão genuína de divertimento com a óbvia desatenção dela que a fez pensar se deveria puxar a boca dele para si ou dar um soco na sua fuça.
— Eu quis dizer que nosso timing era ruim. — Depois daquela afirmação, agradeceu ao motorista pela corrida, abriu a porta e a segurou quando já estava do lado de fora do carro, esperando por .
Jesus, quando foi que tinham chegado na sua casa?
também deu um “boa noite” apressado ao motorista e saiu, ouvindo a porta se fechar atrás de si. Caminhou em direção à porta do prédio e começou a procurar sua chave, ainda um pouco tonta. parecia prender o riso ao seu lado, mas ela se permitiu ignorá-lo enquanto focava na sua missão.
Depois de encontrá-la, abriu a porta e fez a rota usual até o elevador. Por sorte, já estava no térreo.
— Não vai me perguntar por que nosso timing era ruim? — perguntou enquanto entravam no elevador, encostando-se na parede esquerda e cruzando os braços. tentou evitar olhar para como o tecido do paletó marcava seus músculos.
— Bem, já que você claramente tá insistindo no assunto, por favor, me explique. — ela respondeu, a chave ainda na sua mão, apoiando as costas na parede oposta à dele.
— Você foi pra outro lugar depois que eu fiz carinho na sua coxa. — Ele a encarou diretamente em seus olhos, tentando encontrar alguma resposta neles. — Acho que você normalmente pensa no que já passou e se fecha. E, até um bom tempo atrás, eu nunca consegui existir conscientemente nas minhas memórias. Sempre tive a ânsia do que ainda não vivi mais do que o que já aconteceu.
— E por isso nosso timing não era bom? — Não conseguindo suportar o olhar dele sobre si, brincou com as chaves, rodando-as nos dedos. — Eu me perco no passado e você só tinha olhos pro futuro?
— Você tem medo do que já fez. Eu tinha medo do que podia não conseguir fazer. — Sua voz era firme, como se tivesse repassado aquele diálogo na sua cabeça vezes demais para não estar convencido de que era verdade. Aproximou-se dela gentilmente, sabendo exatamente qual pergunta ela faria. Conseguia ver seu raciocínio apesar dos dedos nervosos.
— Por que nosso timing estaria certo agora, então, ? — Ela parou de rodar as chaves e segurou-as com convicção. O silêncio que se seguiu à interrupção do barulho do objeto estava preenchido por tensão.
Ambos já sabiam de suas posições. Sabiam o que aconteceria no momento em que a porta do apartamento dela fosse fechada. Não havia mais cartas surpresas. O que restava era aquele incômodo que não sumiria apenas com uma fala profunda de afirmando que era dela, demonstrando que percebera exatamente o que lhe faltava das últimas vezes que estiveram juntos.
— Porque nenhum de nós precisa ter medo de nada.
Era o que ele tentava transparecer para ela: segurança. Confiança. Não há jogo, não há esquemas. Há apenas os sentimentos que nunca foram embora e, naquele momento, têm todo o espaço para se desenvolverem.
Naquela curta distância, via nos olhos dele o quanto queria beijá-la. O elevador nunca pareceu tão lento.
— Você tirou a noite para falar frases profundas, ? — A provocação escapou sem que pudesse controlá-la.
O homem soltou um riso curto, apoiando a mão na parede atrás dela. Com a outra, segurou-a firmemente pela cintura.
— Devo estar inspirado. — Encarava os lábios de ao dizer isso, como em uma explicação não verbal do motivo de sua inspiração.
A atmosfera preenchida por expectativa e calor, que estava presente no evento, retornou para aquele pequeno espaço entre os dois.
Em uma voz sussurrada, quase sem fôlego, perguntou:
— Vai ficar só olhando ou vai me beijar, garoto?
abriu um sorriso com todas as intenções possíveis.
, você deveria saber a essa altura o quanto é delicioso para mim te torturar.
Ela não soube como não o esganou bem ali, tendo que engolir a tentação crescente dentro de si por mais alguns instantes até que os dois estivessem na sua casa. Mesmo depois do seu aviso no evento, ele ainda tinha a audácia de querer fazer aquilo com ela.
— Acho que tenho que te relembrar que você não tá no controle.
— Ah, sim, . — concordou, ainda sem tirar o sorriso. — Me mostre como não estou no controle.
Ela poderia inverter as suas posições e pressioná-lo contra a parede. Poderia agarrá-lo pela barra da calça mais uma vez e brincar com o que sabia que o faria ficar arrepiado. Poderia colocar ambas as mãos no seu rosto e puxá-lo para si, porque, cacete, queria devorá-lo.
Entretanto, escolheu outra alternativa.
Sem tirar o contato visual que tinha com , ela levou a mão à alça do vestido e delicadamente a fez cair por seu ombro, aumentando mais o decote e expondo parcialmente seu mamilo. Ouviu a respiração densa de ao acompanhar o movimento. Não estava com o corpo colado ao dele para saber, mas sentia que ele tinha acabado de ficar mais duro.
— Não tá com saudade de chupá-lo, queridinho? — perguntou em uma voz aveludada, sentindo a pulsação entre suas pernas clamando por atenção. O olhar de luxúria dele sobre si apenas piorava as coisas.
— Você é uma cínica do caralho.
Ela adorava quando ele xingava.
— É o que eu faço de melhor.
Cortando a tensão como uma lâmina, o elevador parou seu movimento, e logo em seguida suas portas se abriram. sorriu de forma sacana para , a língua passando por seus lábios enquanto ajeitava a alça do vestido. Depois de alguns segundos em suspenso, não querendo quebrar a aura lasciva entre os dois, ele se afastou minimamente dela para que pudesse fazer o caminho até o apartamento.
Ele já sabia o que ela faria antes mesmo da ideia surgir na cabeça dela.
Quando a viu caminhando lentamente na frente dele, não conseguiu resistir:
— Agora é a parte que você vai andar rebolando pra mim, ?
Ela parou de andar com sua pergunta. Vagarosamente, como a cobra que tentou Eva a pecar, esgueirou-se até ele, subindo na ponta dos pés. Com a mão, encaixou-se em seu membro duro e o apertou, fazendo-o arfar em surpresa. Com a boca, sussurrou ao seu ouvido:
— Controla seu pau por um segundo, por favor. — pediu como se pedisse para ele algo rotineiro. teve que se controlar para não perder o juízo. Aquela mulher era a própria tentação. Parecendo ouvir seus pensamentos, se afastou e continuou, com uma inocência falsa: — Estou tentando me lembrar onde fica a minha casa.
A desculpa esfarrapada não ia colar.
se recompôs, achando graça na atuação dela.
— Lindinha, você não bebeu o suficiente pra isso, e até eu sei por onde ir pra achar seu apartamento.
Ela deu as costas para ele de novo e seguiu seu caminho, rebolando sem qualquer pressa.
— Se você já sabe que é pra olhar pra minha bunda, então por que não cala a boca e segue o roteiro?
Caralho, como queria se enterrar naquela mulher.
A chave já estava em sua mão, então não demorou muito tempo até ela “encontrar” a porta certa e entrar, deixando-a aberta para ele.
tentou aquietar seu coração antes de fechar a porta atrás de si, reconhecendo os detalhes do apartamento de e sendo atravessado por aquelas mesmas memórias que por muito tempo ele tentou ignorar. O movimento que ela fazia para tirar os sapatos era o mesmo que ela fizera na última vez que tinham se visto.
Ele havia se abrigado na casa dela depois de uma chuva muito forte ter impossibilitado que ele retornasse para casa. Tinham voltado a conversar há pouco tempo, se atualizando na vida um do outro e compartilhando séries novas que achavam que o outro gostaria de assistir. Ela o buscara na estação de metrô, já que seu guarda-chuva tinha quebrado com a ventania, e o acolhera em sua casa como uma velha amiga.
Ignorou o calor que se espalhou no peito ao ver seu sorriso. Fingiu que não havia sentido uma súbita apreensão de perdê-la. Escondeu da melhor forma que pôde a sede de sua boca em senti-la novamente.
Jantaram macarrão com molho branco enquanto assistiam um filme que passava na TV. No meio dele, ela arfou, surpresa, e apontou para a tela enquanto dizia:
, a gente viu isso no cinema!
E, claro, ele se lembrou. Muitos e muitos anos atrás, um dos primeiros encontros que teve com ela. Estava tão nervoso, com medo de agir como um completo babaca. Não chegara a assistir muito do filme porque só conseguia ouvir os próprios pensamentos: “eu a beijo?”, “eu seguro sua mão?”, “será que ela tá pensando em ir embora?”, “ela gosta de mim?”.
O que ele respondera para ela foi:
— Caraca, é verdade! Que doidera.
Mas o que ele de fato queria dizer era:
— Eu acho que a gente deveria repetir então aquela sessão de cinema e nos pegar como dois adolescentes.
Ela teria rido e, ao mesmo tempo, ficado em choque. sempre gostava de dizer o quanto estava sendo ousado, constantemente o chamando de “garoto”, mesmo ele tendo deixado de ser um há muito tempo.
Ou não teria?
Você não contou para ela, não é, ? Não contou o que já sabia que era verdade. Escolheu ocultar, evitar relembrar. tinha terminado um relacionamento recentemente, de fato, mas o quanto você escolheu usar isto como uma armadura para não ser sincero com ela?
Em vez de ter uma conversa honesta, contou sobre aquela pessoa nova na sua vida, que você já sabia que não ia dar em nada. E viu o sorriso dela para você murchar um pouquinho.
O medo te paralisou.
Sabendo disso, você não deveria deixá-lo te paralisar agora.
O foco de retornou ao momento presente, à figura de parada no corredor, olhando com curiosidade e divertimento.
— O que é que você tá esperando, senhor-é-delicioso-te-torturar?
O vestido preto dela era um convite para que ele não tão delicadamente abaixasse suas alças. Ainda estava vívido em sua mente o relance de seu mamilo, e conseguiu perceber que sua excitação em nada havia sido afetada. Contudo, se lembrar daquela última vez o fez desacelerar para apreciar o que estava acontecendo, a abertura que lhe dera e a oportunidade que sabia que poderia não estar tendo.
Podia ter perdido o jogo de quem não se entregava mais, mas a ganhara. E era apenas aquilo que precisava.
Vendo-a sob a luz alaranjada do abajur que ela havia ligado, seu rosto era tomado por sombras e contornos. Os olhos o capturavam como armadilhas, e a boca estava entreaberta, apenas esperando ser preenchida pela dele. A beleza dela o atingiu mais uma vez.
— Cacete, , você é tão linda.
tinha pleno conhecimento de como tinha chegado naquela situação.
E, porra, a teria quantas vezes quisesse.

***


Ela não soube como responder àquilo. A franqueza de era arrebatadora demais, transparecendo por cada poro. Não importava qual opinião tinha de si mesma – se aquele homem a achava linda, então ela era.
Ficou parada onde estava, esperando para ver qual passo ele tomaria. Ardia pela aproximação, mas gostava de ser caçada por ele. Deixava as palavras mordazes para algum outro momento oportuno.
Subitamente, percebeu o que realmente queria naquele instante.
Ser seduzida por ele.
Acompanhou andando até ela, as mãos bagunçando os cabelos como se estivesse confuso sobre o que deveria fazer. Percebeu a própria respiração falhar quando ele a tocou na cintura e na nuca, não tão firme quanto antes.
Com a boca a poucos centímetros da sua, soprou:
— Por que parece que vou te beijar pela primeira vez?
entendia o que ele queria dizer. O elogio que fez a ela desacelerou o ritmo provocativo que estavam engajados, avisando-os de que não eram apenas dois corpos desejando um ao outro, mas também duas pessoas tentando compreender seus sentimentos.
— Acho que porque, de certa forma, vai. — A resposta dela saiu baixa, e não soou completamente com sentido em seus ouvidos. Porém, o sorriso sutil de a fez ignorar o que quer de bobo que tenha dito.
— O melhor seria dar tudo de mim, então. Não quero que você vá embora achando que nosso beijo não encaixou.
E fez exatamente aquilo.
Quando ele a beijou, o fez com toda a reverência que merecia. Testava aquele toque singelo, gentil o suficiente para fazer o coração dela pular. Contudo, a calmaria daquele gesto contrastava com as mãos apertando-a com mais determinação. Perguntou-se se conseguiria manter por muito tempo alguma castidade. Finalmente a tinha de novo em seus braços e iria agir como se fosse um “cavalheiro”?
Que antiquado.
Aprofundou o beijo quase sem perceber, fazendo-a se encaixar ao seu corpo e sentir todos os seus músculos retesados. A troca de calores aumentou ainda mais a intensidade dos dois, guiando-os para beijos mais molhados, mais aflitos. Ele a fez andar até a parede mais próxima em busca de apoio, atacando seu pescoço assim que as costas dela se debateram contra a superfície. Seus seios, ainda dentro do vestido, se balançaram com o choque, e ele voltou sua atenção para a pele exposta pelo decote, lambendo e chupando. Ouviu-a ofegar irregularmente, absorta no que seus lábios faziam, e depois soltou um gemido contido quando a mordiscou de leve, como gostava de fazer. Aquele breve segundo em que os lábios dele estavam afastados de si foi o suficiente para recobrar os sentidos e colocar os dedos pelos fios bagunçados dele, puxando-os com afinco e abrindo espaço para falar.
— Se decida se vai me tratar como uma santa ou como uma depravada, garoto.
Os olhos dele, nublados de tesão, que percorriam seus lábios avermelhados, o pescoço arfante e o colo brilhando de saliva e pequenos pontos vermelhos, parcialmente visíveis pela meia-luz do abajur, responderam a pergunta mais do que qualquer palavra que pudesse sair de sua boca.
— Vamos para o seu quarto e você vai descobrir.
Foram aos tropeços e risos, já que o caminho ainda estava escuro e estavam ocupados demais se beijando desajeitadamente para ligar mais alguma luz. Pelo caminho, jogou seu paletó e seus sapatos, recebendo uma repreensão de enquanto entravam no cômodo.
— Lá se vai minha fantasia de te agarrar pelas lapelas e te jogar na cama.
Ao ligar o interruptor do abajur na mesa de cabeceira, viu que estava encostado na batente da porta, de braços cruzados, com um sorriso irônico.
— Você pode fazer isso outro dia, lindinha.
sentou na cama sem cortar o contato visual com ele, apoiando-se com as mãos e inclinando o corpo na direção dele. Sabia como aquele ângulo fazia o tecido do vestido subir pelas suas coxas, mas não precisava dessa informação – já as olhava como se estivessem o chamando.
A insinuação pareceu ser o que bastava para os dois finalmente pararem de falar gracinhas. Apenas se comunicavam pelos olhos, algo que já era usual na interação entre eles. Ele se aproximou dela com uma das mãos passando pela pele macia das coxas, ajoelhando-se em cima da cama. Era como se estivesse em seu colo, mas ainda afastado. Aquele toque a acendeu por completo, inconscientemente se curvando mais para tentar se roçar nele.
deitou-a na cama com o peso de seu corpo e a precisão de suas mãos. Em cima dela, beijou-a com vontade ao mesmo tempo que acariciava suas coxas e cabelos. Conseguia senti-la tremer de excitação embaixo de si, respondendo o contato apertando sua bunda e arranhando as costas. Tinham momentos em que não conseguia discernir se o gemido que ocupava o quarto tinha vindo dele ou dela.
Tomava sua boca quando não conseguia ficar longe do vício que ela era; tomava o pescoço, as orelhas e seu colo quando queria sentir o gosto adocicado de sua pele. Aproveitava-se daqueles momentos para cochichar as coisas mais profanas e perigosas que conseguia pensar, completamente perdido, perdidamente apaixonado.
Nunca tinha dito as palavras em voz alta, sequer para si mesmo, mas aquela emoção não cabia mais em seu peito. Não tinha outra explicação para tudo o que sentia quando estava com ela, a não ser a mais óbvia: estava apaixonado.
Despiu-a desesperado, contemplando aquela palavra que não saía de sua mente. Ao ver seus seios com os mamilos duros, a barriga que estava destinada a ser mordida de brincadeira e a calcinha de renda que implorava para sair dali, percebeu que “apaixonado” não fazia jus ao feitiço dela.
não viu o que se passava por trás dos olhos de , mas seus pensamentos encontraram-se na mesma realização dos dele. Abria os botões da camisa dele com rapidez, desejando tocá-lo e sentir aquela mesma sensação de tempos atrás.
Havia construído uma cerca imaginária ao redor dos dois, uma casa, pensando que ficaria segura e forte lá dentro. Entretanto, como percebera depois, tinha sido uma tola. Deveria ter levantado uma cerca sobre si própria e protegido-a contra a decepção.
Não era aquilo que parecia que iria ocorrer naquele momento. Ele estava dizendo-a a cada beijo que lhe dava, a cada firmada de suas mãos: “eu sou seu, e você está segura aqui”.
Jogou a camisa dele em algum lugar não específico do chão do quarto e logo avançou em seu cinto, pressionando a ereção dele contra si e suspirando em resposta. Não quis desafivelar tão cedo, agarrando sua bunda novamente e, com a mão livre, arranhando sua virilha até chegar onde queria.
Escutou xingando em seu ouvido antes de segurar seu pau, molhado de excitação, e começar a masturbá-lo por dentro da cueca bem devagar. Ele parou de mordiscar o lóbulo dela para gemer baixo, reagindo ao toque. teve que se segurar para não abaixar as calças dele e enfiá-lo na boca. Queria saborear o momento, queria ir lentamente. Depois de algum tempo focada no que fazia, voltou a sentir os lábios de sobre os seus, os dedos dele vagando até o limiar da sua calcinha. Arfou quando percebeu o calor dele brincando com sua vulva por cima do tecido, instigando-a a suplicar:
— Me toca, .
Sem muitas dificuldades, ele a obedeceu. Puxou a calcinha um pouco para o lado e encostou a ponta dos dedos pela entrada dela, buscando a lubrificação que sabia que estaria ali.
Merda — ele soltou, enrouquecido —, você tá tão molhada.
Ela assentiu com a cabeça, mesmo sabendo que não precisava de qualquer confirmação. Gemeu quando percebeu que a estimulava inteira, passando sua lubrificação por toda a vulva. Massageava os grandes lábios, atiçava seu clitóris e depois voltava os dedos para a entrada, pressionando-a nos lugares certos.
já não conseguia mais masturbá-lo daquele ângulo e arrancou o cinto dele, fazendo-o se desfazer da calça logo em seguida. Fez um pequeno barulho frustrado quando parou o que fazia nela para dar atenção à calça, mas foi recompensada com um sorriso de lado quando ele reajustou a sua posição na cama e ficou entre as pernas dela, segurando seu quadril.
Dando uma olhada travessa para ela, ajudou-a a tirar sua calcinha e beijou toda a parte interna de sua coxa antes de direcionar sua língua até perto de sua vulva. não sabia se o xingava até o quinto dos infernos ou gemia sem pudor. Optou pelos dois ao sentir a boca dele envolvendo seu clitóris, com movimentos de vai e vem da língua, às vezes circulares.
Porque, claro, ele sabia exatamente qual era o jeito e a pressão que ela mais gostava.
E, claro, conhecendo essas informações, era a própria personificação do pecado.
Chupou-a devagar, saboreando ao máximo seu gosto. Quando percebia que estava no ângulo certo, com o movimento certo, manteve-se ali até seu maxilar doer, os gemidos de o entorpecendo como uma droga. Seu pau latejava dentro da cueca, implorando para também ter um pouco dela, mas não saiu de sua posição até perceber que estava quase se desmanchando embaixo de si. Ele sabia que as ondas do orgasmo se aproximavam de seu delicioso fim pela entonação que saía da garganta dela.
Então, subitamente, parou.
Quase recebeu uma joelhada na cara, mas parou.
— Puta que pariu, eu vou te matar. — vociferou, ciente de que aquilo era tortura.
Ele deu um beijo na sua barriga antes de subir para ficar na altura de seu rosto, abrindo outro sorriso de lado.
— Não vai não. — ele assegurou, deixando outro beijo na sua boca, com o gosto de sua boceta.
Aquilo soou como um desafio para .
foi pego de surpresa quando ela o prendeu com as coxas e rodou os dois na cama, o fazendo ficar embaixo dela. Enquanto passava as mãos pelo seu tórax, beijava-o com avidez e rebolava em cima de seu pau, sentindo-o pulsar em resposta. Ainda sensível do quase orgasmo, sua própria intimidade queria roçar nele sem qualquer pedaço de tecido. Se segurou de seu impulso instintivo mais uma vez.
Lentamente, .
Pegou as mãos dele, que estavam em seu quadril, e as colocou em cima de sua cabeça, prendendo-o no colchão. Os olhos de faiscaram em sua direção, aguardando o que iria fazer com aquela clara demonstração de dominância.
Houve uma pausa, em que apenas as respirações ofegantes dos dois podiam ser ouvidas. Então, a mão de apertou seus pulsos, como em um sinal de que aquilo era uma ordem:
— Se vira de costas.
o ouviu rir fraco enquanto desengonçadamente ficava de bruços, se questionando o que porra a mulher estava aprontando.
Até que a explicação surgiu em sua mente.
Oh.
Ela largou suas mãos e puxou a cueca dele para baixo, se sentando em suas pernas. Com a bunda de exposta, passou a mão pelo final de seus testículos até seu ânus, pressionando a entrada.
Oh.
A reação do corpo dele foi subir os quadris, ficando de quatro para ela. nem tinha feito muita coisa, mas já sentia a sua lubrificação escorrer pela cabeça do pênis.
Ela o queria matar, era isso.
Depois que a língua de começou a lambê-lo entre as nádegas e uma das mãos foi para seu membro, não tinha nenhuma dúvida de que era esse o plano dela. Alternava a pressão que fazia com a língua com a movimentação de sua mão, levando-o a xingar e gemer seu nome, sem qualquer inibição de que estava adorando ser comido por .
Sentia tudo dilatar de tesão, todo seu corpo reagir aos diferentes estímulos que fazia. Ela o penetrava com a língua cada vez mais, masturbava-o na velocidade que sabia que o agradava. Era mais do que conseguia lidar. não ia resistir por muito tempo. Hesitante, pediu:
— Para.
Ela parou na mesma hora.
— Que houve? — a pergunta foi séria, levemente preocupada. Não esperava pela resposta dele.
— Eu não quero gozar nos seus lençóis, . Quero gozar dentro de você.
Eita porra.
Ela arregalou os olhos, vendo-o voltar a ficar de frente para ela. O jeito com o qual ele falou aquilo, apesar de claramente sacana, tinha algo de carinhoso. fingiu achar aquela frase absurda.
— Garoto, nem vem, você vai usar uma camisinha.
apoiou-se pelos cotovelos e riu da cara de brava dela.
— É óbvio que vou, isso nem tá em questão. Só tô dizendo que… — Ele arranhou a garganta, com vergonha do que iria dizer. Passou os dedos pelos cabelos dela, fazendo carinho na sua bochecha. — Eu quero estar olhando pra você quando…
Ele não precisou completar, mas entendeu. Claro que entendeu.
Voltaram a se beijar, agora com mais calma. O clima do quarto voltou a esquentar depois de alguns minutos dos dois se tocando sem qualquer roupa, tremendo com o contato, querendo mais do que aquilo.
Então, pegou uma camisinha de uma gaveta da mesa de cabeceira e colocou-a nele, sentando logo em seguida. A sensação que preencheu a ambos fez com que gemessem de forma afetada, o ritmo que dava às estocadas fazendo se arrepiar. Era lento quando precisava ser, mais fundo no tempo ideal. Era uma dança que os dois já estavam acostumados, mas que os surpreendia todas as vezes.
Em algum momento, ergueu seu corpo e deu apoio a com uma mão nas suas costas, os dois ficando de joelhos na cama. Ela não se importou em não ter mais controle do ritmo de seus corpos, apenas se deixando levar pelo o que transparecia em seu olhar. Aquela sensação de que era a única pessoa no mundo que ele queria estar retornou com força.
Seus olhos tinham uma mistura complexa: desejo e carinho, vontade e suavidade, tesão e… amor?
Ele a amava?
O que estava acontecendo ali?
Surpreendentemente, gozaram juntos, em meio aos sentimentos confusos e as arfadas desconexas. Caíram para trás, um de cada lado, e levaram alguns instantes para conseguir raciocinar apropriadamente.
As palavras saíram atropeladas:
— E-Eu tô fodido, .
Ainda respirando de forma irregular, franziu o cenho e se apoiou na cama o suficiente para ver o rosto dele.
— Como assim?
Ele fez o mesmo. Quando voltou a olhar para ela, transmitiu todo o sentimento que estava guardado dentro de si. quase tomou um susto.
— Fodidamente apaixonado por você.
Ela sentiu seus olhos marejarem um pouco, como se fosse desatar em lágrimas, mas também queria gritar a plenos pulmões na cara dele.
— Que bom, seu imbecil, porque eu sou fodidamente apaixonada por você desde que a gente se conhece.
quase começou a chorar também.
Ele nunca quis tanto nunca ter começado jogo nenhum.


Fim



Nota da autora: Socorro eu morri escrevendo essa fic???????
Sério, acho que foi a história que eu mais me dediquei desde algum tempo. Espero sinceramente que quem esteja lendo essa singela nota tenha gostado.
E por mais pps assim nas nossas vidas, amém.
Beijos no core iluminado de vocês,
Caroline.





Outras fanfics minhas:
01. The Eve (Ficstape #111: EXO - The War/Finalizada)
03. Where Do Broken Hearts Go (Ficstape #003: One Direction - Four/Finalizada)
04. 7 Days (Ficstape #179: Alessia Cara - The Pains Of Growing/Finalizada)
10. 7 Rings (Ficstape #185: Ariana Grande - Thank U, Next/Finalizada)
11. El Tango de Roxanne (Ficstape #151: Trilha Sonora de Moulin Rouge/Finalizada)
12. Disenchanted (Ficstape #068: My Chemical Romance - The Black Parade/Finalizada)
12. Tomorrow (Ficstape #060: Olly Murs - Never Been Hurt/Finalizada)
Lisboa (Especial All Around The World/Finalizada)
Out Of Time (Especial One Direction/Finalizada)
Romantic Algorithms (Originais/Em Andamento)
His Phonecall (Originais/Shortfic)
The Moon (Originais/Finalizada)


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus