Capítulo Único
As luzes da cidade de Chicago eram, provavelmente, uma das minhas coisas favoritas de observar. Como todas as vezes que vinha para a cidade, eu as observava pelas enormes janelas do quarto de hotel onde estava hospedada com meu noivo. Noivo… A palavra parecia se encaixar perfeitamente ao homem que eu chamava de companheiro há mais de cinco anos, o famoso jogador de basquete Lawrence. Agora parecia estranha e confusa ao associá-la com ele.
O anel em meu dedo brilhava tanto quanto as luzes na rua. Queria arrancá-lo do dedo e jogá-lo pela janela se elas abrissem. Do vigésimo quinto andar, o último, provavelmente chegaria ao chão apenas farelos do diamante lapidado. Seria um desperdício, assim como todos os anos que perdi terminando e voltando com , anos esses que eu passei apoiando sua carreira no basquete, mudando de cidade em cidade, viajando o mundo com ele e acreditando que ele mudaria, que iria amadurecer, ser mais responsável. E ele realmente mudou, mas não sei se para melhor ou pior. Por um lado, eu tinha um belo anel de noivado no meu dedo anelar esquerdo, pois depois de anos, ele decidiu me pedir em casamento. Por outro lado, ele pareceu esquecer disso.
costumava ser a pessoa mais dedicada do mundo comigo, me levava para encontros, ia a jantares da minha família e me levava para os da família dele. Hoje em dia, ele nem se dá ao trabalho de me convidar, e eu ainda me esforço para convidá-lo, mesmo sabendo que a resposta será “eu tenho coisa mais importante para fazer, ”.
Outra coisa que ele tem falado sempre que o acuso de ter mudado é: “Eu continuo o mesmo, ! Você é quem mudou, está mais insuportável”. Isso sempre me quebra, sempre me faz desistir da briga e deixar quieto, por mais magoada que eu esteja. Eu simplesmente abri mão.
Nessa noite em específico, enquanto eu admirava a cidade de longe, ele estava em alguma festa, comemorando a vitória do seu querido time Cleveland Cavaliers com os demais jogadores. colocava tanto o time como prioridade que eu me perguntava se ele havia dado alianças para os seus colegas também, pois o casamento entre ele e os Cavaliers era o assunto mais comentado nos noticiários de esporte da semana. “ J. Lawrence renovou seu contrato por mais dois anos com o Cleveland Cavaliers após mais uma incrível temporada jogando pelo time.”; esse foi o assunto mais falado por quase uma semana inteira nas redes sociais e programas de televisão. , é claro, disse em uma entrevista que essa havia sido a maior alegria que aconteceu em sua vida nos últimos tempos, e ouvir aquilo foi como se eu jamais tivesse existido, me senti invisível.
O relógio do celular indicava que eram 4 da manhã quando senti se deitar ao meu lado na cama. Ele me abraçou por trás, seu hálito de álcool estava insuportável demais para eu aguentar. Retirei seu braço com o máximo de delicadeza pois aquele não era o momento para começar uma discussão e, sabendo como estávamos irritadiços demais um com o outro, o melhor era evitar.
— Gata… o que foi? — ele murmurou contra meu pescoço, voltando a me abraçar. Novamente eu tirei seu braço e decidi me levantar para beber um copo de água. — …
— Você precisa dormir — falei com rispidez, abrindo o frigobar. A luz clara do eletrodoméstico incomodou meus olhos cansados, mas me demorei ali, sem vontade de voltar para a cama.
Ouvi ele se mexer e em um segundo, seu corpo de mais de dois metros de altura parou ao lado da minúscula geladeira e ficou me encarando de cima. Suspirei antes de levantar e lhe entregar uma garrafa de água a qual ele pegou e olhou com estranheza, provavelmente pensando que eu lhe daria uma das minigarrafas de licor ou whiskey.
— Você está brava comigo por qual motivo dessa vez?
— Está brincando!? — exclamei, finalmente me virando para ele e o encarando nos olhos pela primeira vez naquela noite. — Temos a merda de um voo para pegar às sete da manhã para Ohio e você chega agora, queria que eu te recepcionasse com flores e fogos?
— Pelo menos que estivesse acordada — ele falou, deixando a garrafa no móvel ao lado da cama e vindo em minha direção, me puxando pela cintura. Cruzei os braços e virei a cara, ouvindo-o bufar sem paciência. — , você sabe como são os meninos…
— Os meninos. Porque só tinham os meninos lá, certo? — perguntei retoricamente e piscou, sem entender.
— Como sempre — ele respondeu, dando de ombros.
Me soltei dele e peguei meu celular, visivelmente enraivecida, e desbloqueei o aparelho para entrar no Instagram do meu noivo. Nos posts marcados, mais de 10 fotos dele com os amigos cercados de garotas seminuas e garrafas de champanhe. Quase esfreguei o celular em seu rosto curioso que logo se transformou em sobrancelhas erguidas de surpresa. estalou a língua e balançou a cabeça em negação, jogando meu celular na cama.
— , pelo amor de Deus… — ele passou as mãos pelo rosto enquanto eu engolia o nó que se formava em minha garganta. Novamente, ele iria negar até eu desistir por cansaço. — Estávamos em uma balada, o que queria que fizéssemos!? Não podíamos impedir que as mulheres entrassem, caramba!
— Mas poderiam ter ficado longe delas! — gritei, já perdendo a pouca paciência que me restara. — Poderia ter começado não indo para a balada e deixado sua noiva sozinha no quarto de hotel!
— Você não foi porque não quis, não me culpe por uma escolha sua.
— Inacreditável — falei, deixando meus ombros caírem em decepção. — Você sempre dá um jeito de inverter a situação e me culpar!
— Não estou te culpando de nada, ! — ele explodiu, igualmente irritado. — Porra, você está impossível ultimamente!
me deu as costas, caminhando irritado em volta da cama. Ele arrancou a camisa e a jogou do outro lado do quarto. Meus ombros caíram novamente, assim como minha cabeça, e eu não consegui controlar as lágrimas que começaram a cair. Eu estava esgotada, cansada demais para me fazer de durona naquele momento.
provavelmente viu meus ombros trêmulos, ele me conhecia bem demais para saber que eu estava chorando. Ele suspirou e andou até mim. Com todo o carinho e toda delicadeza, segurou meu rosto e o levantou para me fazer olhá-lo. Seus polegares gentis limparam minhas lágrimas antes de ele depositar um beijo em cada bochecha e na minha testa.
— Me desculpa — ele falou, se inclinando para me abraçar. Afundei meu rosto em seu pescoço, meu choro se acalmava aos poucos enquanto sentia o cheiro de seu perfume, ele usara o meu favorito naquela noite. — Eu não quis gritar, não queria te deixar sozinha, eu estou estressado demais…
— Está tudo bem — falei baixinho, a voz ainda embargada.
— Não, não está — ele falou, se afastando para olhar fundo nos meus olhos. — Você é a última pessoa que merece ser tratada assim, . Eu amo você e sou grato pela mulher incrível que você é.
Consegui esboçar um mínimo sorriso para ele, o que pareceu ser o suficiente para lhe acalmar. beijou meus lábios com delicadeza, impregnando no beijo uma paixão que há dias, talvez meses, eu não via. Relaxei em seus braços, permitindo que ele aprofundasse o beijo enquanto me deitava na cama. tinha o dom de me fazer esquecer tudo quando estava em seus braços e ele sabia disso. A trilha de beijos em meu pescoço, me arrepiando inteira, me tirava o raciocínio, me levava ao delírio. Eu nunca conseguia resistir, pois não importava o que ele fizesse, eu o amava para além do lógico.
Seu corpo grande se encaixava perfeitamente no meu pequeno, suas mãos passeavam pela lateral das minhas pernas até subir para a minha cintura, levantando minha camisola de seda. Eu nunca usava nada por baixo, ele sabia disso, então não foi surpresa para ele quanto retirou aquela única peça que cobria meu corpo e se deparou comigo completamente nua.
— Você é linda... — ele sussurrou em meu ouvido, fazendo eu me contorcer embaixo dele — gostosa… deliciosa…
Cada uma de suas palavras faziam meu corpo acender, minha intimidade formigava em prazer, clamando por e seu toque mágico. O puxei com minhas pernas, esfregando-me nele e deixando escapar um gemido. sorriu contra os meus lábios, o filho da puta sabia como me enlouquecer em poucos atos.
Minhas mãos apressadas abriram sua calça de alfaiataria, puxando-a para baixo e jogando-a o mais longe possível. Mas segurou minhas mãos antes que eu tirasse a última peça de roupa que nos separava. Me ajeitei melhor na cama, observando-o se ajoelhar entre minhas pernas. Suas mãos firmes puxaram meu quadril para junto dele, seus lábios foram direto para meus seios duros e ansiosos por aquele toque. Gemi alto demais para alguém que deveria estar dormindo àquela hora, mas não me importei com mais nada quando passou o dedo delicadamente em minha intimidade.
Sua boca ainda se dedicava ao meu busto, mas sua mão acariciava meu clítoris com habilidade e agilidade, tocando nos pontos certos e já molhados que me causavam espasmos bons, pequenos choques em meus nervos que me faziam ansiar por mais. foi descendo os beijos, demorando tempo demais para o meu gosto em minha barriga. Suspiros pesados escaparam de meus lábios quando ele beijou minha intimidade, agora sua língua se dedicava em me dar prazer junto aos seus dedos que já estavam dentro de mim. Saíam e entravam lentamente enquanto sua língua dançava deliciosamente em meus grandes lábios. me chupava sem tirar os olhos de mim, observando com atenção cada reação que ele causava em mim. Seus dedos aceleraram assim como sua boca, a voracidade com a qual ele me chupava era na mesma proporção da vontade que eu estava de retribuir. Minha mente estava a mil, eu já não lembrava mais porque estava com raiva dele. Naquele instante, a vontade de gritar era por outro motivo.
subiu os beijos pelo meu corpo, interrompendo o oral quando eu estava à beira do orgasmos. Suas mãos agora se ocupavam em tirar sua cueca, sem separar seus lábios dos meus. O sabor do álcool em sua boca já não me incomodava mais; se ele estava embriagado de whiskey, eu estava embriagada de prazer.
Meu noivo, o homem que eu mais amava no mundo, olhou fundo nos meus olhos quando posicionou seu membro em minha entrada e, de forma torturantemente lenta, se aprofundou em mim, tirando suspiros sofridos nos meus lábios.
Suas estocadas tornaram-se rápidas, ágeis, me preenchendo por completo e tirando de mim qualquer dúvida que eu havia tido há alguns minutos atrás. Mas quando todos os meus nervos entraram em erupção em um orgasmo perfeito, percebi que algo estava errado. apenas me beijou e se virou para o lado, mas ele não havia chegado ao ápice comigo.
Observei suas costas, sua respiração cada vez mais lenta o embalava em um sono profundo, alheio aos meus pensamentos frenéticos. nunca fora assim, ele era mais apaixonado no ato, se entregava completamente. Mas aquilo pareceu apenas uma maldita distração.
***
Por sorte, não nos atrasamos para o voo, apesar de termos parado a cada passo para tirarem fotos com o . No avião, a mesma coisa: homens o parabenizaram, alguns olhavam feio, mulheres davam descaradamente em cima dele (como as próprias aeromoças), como se eu fosse apenas uma porta de vidro entre eles – invisível e prestes a quebrar.
Chegar em casa foi a melhor sensação de todas depois daqueles dias longe. Tomei um bom e demorado banho para relaxar e me preparar para um dia de descanso, sem festas, sem jogos, sem entrevistas… Seríamos apenas eu e , recarregando nossas baterias física e emocional. Pelo menos essa era a ideia.
— Eu preciso de pelo menos cinco horas de sono antes de sair dessa casa de novo — falei a , me deitando na cama ao seu lado apenas de roupão. — Acho que sua mãe não se importa se chegássemos um pouco atrasados para jantar, né?
Ele não levantou os olhos do celular para me perguntar.
— É hoje?
O olhei incrédula, me sentando na cama.
— Está falando sério, ? Estou te falando há semanas sobre esse jantar!
— , a única coisa que tem passado pela minha cabeça há mais de um mês é o basquete! Eu estava focado nos jogos, não tive tempo de pensar em outras coisas…
— É, eu percebi — retruquei com mau humor.
— O que quis dizer com isso, hein? — me questionou, finalmente deixando o celular de lado.
Não respondi. Para ignorá-lo de vez e mostrar que eu não queria ter aquela conversa naquele momento, peguei meu celular e dessa vez era eu quem se distraia com o aparelho. O ouvi bufar do meu lado, voltando a mexer no dele.
— De qualquer jeito, tenho uma coisa com os caras hoje à noite…
— Que “coisa com os caras” é mais importante que o aniversário da sua mãe?
se sentou em um pulo, encarando-me assustado.
— Não é hoje, é? — ele perguntou, fuçando o calendário em seu celular. — Caramba… Eu esqueci de comprar um presente!
— Eu comprei, é claro — falei com tédio, observando o espanto dele. Seus ombros relaxaram e ele sorriu para mim. — É uma bolsa da Louis Vuitton que ela estava de olho há algum tempo.
— É por isso que preciso de você na minha vida, — disse , rolando na cama para me abraçar de lado. Meu coração acelerou quando seus lábios encontraram meu pescoço.
Admito que me derreti um pouco ao ouvir aquilo. Ouvi-lo dizer em voz alta que precisava de mim era algo que fazia um bom tempo que não acontecia. Mas ao mesmo tempo, aquilo me soou algo tão estranho, algo como se eu trabalhasse para ele e tivesse feito um bom trabalho.
— Só diga a ela que comprou na Polaris Fashion Place, você sabe que ela gosta de perguntar onde compramos as coisas. Assim ela vai acreditar que o filho dela comprou…
— Você mesma não pode dizer a ela? — me perguntou, desfazendo o abraço. O olhei com decepção e incredulidade novamente.
— Está querendo dizer que você não vai?
— … — ele falou com a voz manhosa que já não funcionava mais comigo há tempos. — Os caras vão ficar chateados se eu não aparecer…
— Ah, e a Adira vai amar não ver o filho no próprio aniversário — falei com ironia. — James, você não vê a sua mãe há meses!
— Então ela aguenta mais um dia — ele falou com desdém.
Aquela frase, tão simples e pronunciada com tanto desapreço, foi a gota d’água para mim. Respirei fundo para não gritar e tentar falar a frase no tom mais neutro e centrado possível.
— Eu não vou estar mais aqui quando você voltar.
— Vai dormir na minha mãe? — ele perguntou, olhando para a tela do celular.
— Não foi isso que eu quis dizer — retruquei, me levantando da cama. — , se você não for comigo, acabou.
— Acabou o que? — ele me questionou novamente, dessa vez deixando o celular de lado. — , você…
— Eu não aguento mais, — o interrompi chorosa, minha voz falhando por causa do nó que se formou em minha garganta. — E eu não vou ficar consertando as suas merdas para sempre, não vou aguentar ser deixada de lado e não estar em nenhuma posição nas suas prioridades!
— De onde veio isso, ? — perguntou, levantando-se confuso da cama e vindo na minha direção.
— De meses sendo ignorada, sendo deixada em casa enquanto você sai todas as noites, tendo que aguentar seus surtos e ver você quebrar a casa quando você perde a merda de um jogo…
— Isso só aconteceu uma vez — defendeu-se. Eu bufei ao me dirigir para o closet. — , você está sendo dramática…
— Claro, , me culpe de novo! — gritei, parando na porta do closet. — Me culpe mais uma vez, vá em frente! É culpa minha você estar saindo todo dia. Sou insuportável demais para você, é isso? É por isso que arranjou outra?
— Eu nunca te trai, ! — ele gritou de volta, tentando entrar no closet. Eu o impedi, empurrando-o para fora.
— Como eu vou acreditar nisso, ? Me diz, como raios quer que eu acredite nisso?
— Confiando em mim? Acreditando que eu te amo mais que tudo?
— Eu não consigo… — falei, já deixando as lágrimas caírem. A decepção em minha voz era tão evidente quanto a decepção nos olhos dele.
— Está bem, se isso vai te deixar feliz, eu vou na porcaria do aniversário…
— Não, , você não entendeu nada! — exclamei, impaciente. — Não é essa a questão!
— Então me diz, porra! — gritou novamente.
— Eu estou dizendo, mas você não está me escutando! — retruquei aos berros, fazendo-o me dar as costas. — Quer saber? Fique aqui ou vá para a sua festinha, mas não apareça na casa da sua mãe! Ela não merece um filho como você!
— Quem você pensa que é para falar isso, caralho? — ele berrou e avançou novamente para o closet.
Só tive tempo de fechar a porta e trancá-la, ouvindo-o bater nela com os punhos. Pulei para trás e olhei assustada para a porta de vidro temperado e fosco.
Nós já havíamos brigado feio antes, mas nunca dessa forma. nunca levantara a mão para mim, nunca me batera, nunca me agrediu. Mas naquele momento, ele estava prestes a fazer aquilo.
Ouvi sua respiração pesada pelo outro lado da porta, ele ainda estava escorado no vidro em que batera. Me aproximei com calma e pude reparar em uma pequena rachadura, algo que não deveria acontecer com tanta facilidade. Eu conseguia ver também sua silhueta, a cabeça baixa e os braços com punhos fechados encostados no vidro.
— … por favor, me desculpa…
Me sentei no carpete, abraçando meus joelhos e chorando baixinho. continuou pedindo desculpas do outro lado até se cansar e sair do quarto. Segundos depois, pude ouvir o motor do seu carro roncar alto, indicando que ele havia saído de casa também.
***
Horas depois, eu já estava na porta da casa de Adira, minha sogra que eu considerava como uma segunda mãe, já que eu morava um pouco longe da minha. Tentei dar meu melhor sorriso quando ela abriu a porta, recebendo como resposta o abraço maternal e reconfortante que apenas Adira Lawrence poderia proporcionar.
Sua decepção por não ver o filho foi ofuscada pela animação ao ver a bolsa de marca que lhe dei. Ela fez questão de desfilar com a bolsa para as amigas reunidas, recebendo elogios. Mesmo estando arrasada pelo que aconteceu horas atrás, vê-la feliz daquele jeito conseguiu me fazer sorrir com sinceridade.
Ao final da festa, eu já me encontrava com uma taça de vinho branco cheia nas mãos e minha bateria social totalmente esgotada. Meu sorriso àquela altura já estava forçado demais para disfarçar, e é claro que minha sogra foi a primeira a reparar e vir falar comigo na sala de estar. Suas amigas iam embora aos poucos, as que restavam, conversavam animadas na mesa de jantar.
— Consigo sentir de longe que tem algo errado, querida — disse Adira ao se sentar ao meu lado no sofá. Sua mão gentil afagou minhas costas e só esse ato já encheu meus olhos de lágrimas. — O que fez desta vez?
— Além de não vir na sua festa? — respondi com tristeza, o que a fez dar um sorriso triste. — Isso é motivo suficiente para me deixar chateada com ele, Adie.
— Mas não foi apenas isso, não é?
Eu assenti, concordando com ela. Limpei uma lágrima teimosa, irritada por estar chorando na frente de Adira. Aquela noite era dela, deveria ser especial até o final e não acabar com ela me consolando por causa do irresponsável do filho. Mas a mulher insistiu, e conhecendo-a como eu conhecia, sabia que ela não sairia dali até eu confessar tudo. Limpei a garganta embargada antes de responder.
— Nós brigamos feio hoje — confessei, olhando para a taça. — Mas já tem um tempo que as coisas não estão legais… Ele me machuca sem ao menos me tocar, me machuca com atos, sabe? Tem saído muito, quando está presente, é como se não estivesse realmente ali… — Olhei para a mulher que me encarava com tristeza, mas suas mãos mágicas acariciavam meu rosto com carinho e compreensão. — Eu falei para ele que se ele não viesse, não me encontraria quando voltasse para casa.
Ficamos algum tempo em silêncio, onde Adira continuou fazendo carinho em minhas mãos. Aquele não era um silêncio constrangedor, era um silêncio em que nós duas absorvemos aquela conversa com calma. Eu sabia, contudo, que a mulher teria algo a dizer, fosse para me consolar ou para me dar uma bronca.
— é meu filho e eu sei que ele tem seus defeitos e que são muitos — ela falou com sua voz calma e serena. — Mas eu não vou passar pano para ele, . Você é como uma filha para mim, você sabe disso, e eu não quero te ver do jeito que te vi hoje.
— Como?
— Apagada, desanimada, machucada...
— Não sabia que estava tão visível — falei, soltando uma risada sem graça e anasalada. — Desculpa.
— Não, não se desculpe! — Adie retrucou, secando minhas lágrimas. — O fato de você ter vindo, mesmo não estando bem, já é maravilhoso.
— Não poderia deixar de te ver, já fazem meses… — respondi, lembrando-me de quando falei exatamente isso para . — Olha, Adira, eu amo o seu filho, amo mesmo. Esse anel no meu dedo está aqui até agora, pois eu queria muito me casar com ele.
— Queria? — Adira perguntou, parecendo preocupada pela primeira vez naquela noite.
— Eu… eu não sei. Não sei se quero passar o resto da minha vida com o desse jeito, não dessa forma, entende?
— Entendo, de verdade — ela respondeu. — E eu não irei te julgar, nem te abandonar, se você decidir deixar o . Estarei aqui para apoiar você e ele, é claro.
Eu assenti, em lágrimas. Saber que tinha o apoio dela foi como tirar um peso dos meus ombros, um pesado e importante peso. Não importava o que eu iria decidir, sabia que Adira estaria comigo.
— Posso te pedir um favor? — pedi a ela, que assentiu na mesma hora. — Posso dormir aqui hoje?
— É claro, meu amor — ela respondeu ao me abraçar. — Estou com saudades de fofocar no café da manhã com você.
Ri em resposta, sentindo-me muito mais leve naquele momento do que quando entrei naquela casa.
***
Quando acordei na manhã seguinte, havia mais de 20 ligações perdidas e dezenas de mensagens de . Eu as ignorei e aproveitei meu café da manhã com Adira onde conversamos sobre tudo, menos o seu filho. Passar um tempo com minha sogra era uma das coisas que eu mais gostava de fazer e que, por eu ter ido viajar com durante o campeonato de basquete dos Estados Unidos, fazia um bom tempo que eu não vinha visitá-la. Antes de sair, Adira me lembrou uma última vez que não importava o que eu fizesse, ela estaria ao meu lado.
Durante o trajeto para casa, meu cérebro não parou de pensar no que fazer. Me separar de implicava tanta coisa: nossa relação era exposta para o mundo todo ver, estávamos noivos, já não era uma relação qualquer, era algo sério e concreto, com o futuro planejado. Mas ficar com ele era dar uma chance que não iria aproveitar, pois eu já havia dado essa chance muitas vezes, aliás, todos os dias em que eu aguentava as merdas dele. Contudo, eu amava mais que tudo nessa vida e mesmo com os altos e baixos que enfrentávamos, eu sabia, no fundo, que ele também me amava.
Eu já tinha a minha decisão tomada quando abri a porta de casa. Mal dei um passo para dentro quando apareceu com certo desespero e avançou em minha direção, me envolvendo em um abraço apertado.
— Graça a Deus você chegou! — ele falou sem me soltar. — Estava na minha mãe? Eu pensei em passar lá, mas queria esperar vocês voltar antes e eu não tinha certeza se estava lá mesmo e...
— , nós precisamos conversar — o interrompi, colocando minhas duas mãos em seu rosto. O homem murchou em minhas mãos, parecendo genuinamente preocupado.
— Precisamos — ele afirmou, pegando em minhas mãos e as beijando. — Me perdoe por tudo o que eu falei, , eu te juro que foi tudo da boca para fora, eu não...
— — o interrompi de novo, respirando fundo. Seus olhos pareciam perdidos, pareciam implorar pelo perdão que ele acabara de dizer.
Meu coração doeu ao ver aquele rosto, ali eu soube que precisava ser forte para seguir com o que havia decidido. Puxei meu noivo pelas mãos até a sala e o fiz sentar no sofá, seus olhos estavam fixos em mim, mas eu não tinha coragem de olhar para ele.
— , eu abri mão de tanta coisa para conseguir te acompanhar para todo canto, abri mão da minha faculdade de direito para ajudar você a se tornar o atleta que você é hoje.
— E eu sou muito grato por isso, … Acredite em mim.
— Às vezes é difícil acreditar, de fato… — falei baixinho, abaixando a cabeça com vergonha. Encará-lo me tirava toda a minha coragem.
— Eu sei que não tenho sido bom última, mas o estresse, a pressão…
— A fama — completei, sorrindo triste. — Isso te mudou… Você mudou, . Esse cara que parece arrependido e prestes a chorar é o sensível que eu conheci, o que fazia questão de me lembrar o quanto me amava, o que lembrava que eu existo…
— Ele está aqui, ! Eu estou aqui, te olhando, te sentindo — retrucou , segurando meu rosto. Retirei suas mãos com delicadeza, segurando minhas lágrimas.
— Eu quero seguir meu próprio caminho agora, — disse ao me levantar. me olhou de baixo, seus olhos já cheios de lágrimas estavam prestes a transbordar.
— , por favor…
— Eu te amo, , e te desejo o melhor, eu sempre estarei ao seu lado, mas eu realmente não aguento mais — falei, as lágrimas já caíam pelo meu rosto sem controle.
Quando ameacei me afastar, caiu de joelhos no chão e abraçou minha cintura, me implorando para não deixá-lo. Aquilo foi a coisa mais difícil que já fiz, meu choro apenas aumentou, mas eu tirei seus braços que me cercavam e me afastei, correndo escada acima para o nosso quarto. não me seguiu.
Arrumei minhas malas de qualquer jeito, apenas o suficiente para algumas noites em um hotel antes de enviar tudo para a casa dos meus pais na Pensilvânia. Quando desci, me esperava no hall de entrada, a cabeça baixa, os braços cruzados e os olhos vermelhos indicavam que ele não estava de acordo com aquilo, como eu imaginava.
— Eu posso ir para a minha mãe e você fica aqui — ele resmungou baixo. — Ou podemos continuar aqui e viver como amigos, não sei…
Sorri com tristeza, passando a mão carinhosamente no rosto de . Eu entendia o quão difícil era se desapegar, o esforço que eu estava fazendo para poder sair daquela casa já me deixava exausta. Mas ficar no mesmo teto que ele seria dar uma chance para voltar atrás e aquilo não seria o melhor para mim ou para ele.
Tirei minha aliança, a coloquei na palma da mão do meu agora ex-noivo e a fechei, dando um beijo na mesma em seguida.
— Fica — ele pediu uma última vez, secando as lágrimas. — , eu te amo.
— E eu amo você — respondi, já na porta da casa. — E é por isso que estou indo.
E dito isso, saí da casa e fechei a porta, deixando para trás não só , mas o meu passado.
O anel em meu dedo brilhava tanto quanto as luzes na rua. Queria arrancá-lo do dedo e jogá-lo pela janela se elas abrissem. Do vigésimo quinto andar, o último, provavelmente chegaria ao chão apenas farelos do diamante lapidado. Seria um desperdício, assim como todos os anos que perdi terminando e voltando com , anos esses que eu passei apoiando sua carreira no basquete, mudando de cidade em cidade, viajando o mundo com ele e acreditando que ele mudaria, que iria amadurecer, ser mais responsável. E ele realmente mudou, mas não sei se para melhor ou pior. Por um lado, eu tinha um belo anel de noivado no meu dedo anelar esquerdo, pois depois de anos, ele decidiu me pedir em casamento. Por outro lado, ele pareceu esquecer disso.
costumava ser a pessoa mais dedicada do mundo comigo, me levava para encontros, ia a jantares da minha família e me levava para os da família dele. Hoje em dia, ele nem se dá ao trabalho de me convidar, e eu ainda me esforço para convidá-lo, mesmo sabendo que a resposta será “eu tenho coisa mais importante para fazer, ”.
Outra coisa que ele tem falado sempre que o acuso de ter mudado é: “Eu continuo o mesmo, ! Você é quem mudou, está mais insuportável”. Isso sempre me quebra, sempre me faz desistir da briga e deixar quieto, por mais magoada que eu esteja. Eu simplesmente abri mão.
Nessa noite em específico, enquanto eu admirava a cidade de longe, ele estava em alguma festa, comemorando a vitória do seu querido time Cleveland Cavaliers com os demais jogadores. colocava tanto o time como prioridade que eu me perguntava se ele havia dado alianças para os seus colegas também, pois o casamento entre ele e os Cavaliers era o assunto mais comentado nos noticiários de esporte da semana. “ J. Lawrence renovou seu contrato por mais dois anos com o Cleveland Cavaliers após mais uma incrível temporada jogando pelo time.”; esse foi o assunto mais falado por quase uma semana inteira nas redes sociais e programas de televisão. , é claro, disse em uma entrevista que essa havia sido a maior alegria que aconteceu em sua vida nos últimos tempos, e ouvir aquilo foi como se eu jamais tivesse existido, me senti invisível.
O relógio do celular indicava que eram 4 da manhã quando senti se deitar ao meu lado na cama. Ele me abraçou por trás, seu hálito de álcool estava insuportável demais para eu aguentar. Retirei seu braço com o máximo de delicadeza pois aquele não era o momento para começar uma discussão e, sabendo como estávamos irritadiços demais um com o outro, o melhor era evitar.
— Gata… o que foi? — ele murmurou contra meu pescoço, voltando a me abraçar. Novamente eu tirei seu braço e decidi me levantar para beber um copo de água. — …
— Você precisa dormir — falei com rispidez, abrindo o frigobar. A luz clara do eletrodoméstico incomodou meus olhos cansados, mas me demorei ali, sem vontade de voltar para a cama.
Ouvi ele se mexer e em um segundo, seu corpo de mais de dois metros de altura parou ao lado da minúscula geladeira e ficou me encarando de cima. Suspirei antes de levantar e lhe entregar uma garrafa de água a qual ele pegou e olhou com estranheza, provavelmente pensando que eu lhe daria uma das minigarrafas de licor ou whiskey.
— Você está brava comigo por qual motivo dessa vez?
— Está brincando!? — exclamei, finalmente me virando para ele e o encarando nos olhos pela primeira vez naquela noite. — Temos a merda de um voo para pegar às sete da manhã para Ohio e você chega agora, queria que eu te recepcionasse com flores e fogos?
— Pelo menos que estivesse acordada — ele falou, deixando a garrafa no móvel ao lado da cama e vindo em minha direção, me puxando pela cintura. Cruzei os braços e virei a cara, ouvindo-o bufar sem paciência. — , você sabe como são os meninos…
— Os meninos. Porque só tinham os meninos lá, certo? — perguntei retoricamente e piscou, sem entender.
— Como sempre — ele respondeu, dando de ombros.
Me soltei dele e peguei meu celular, visivelmente enraivecida, e desbloqueei o aparelho para entrar no Instagram do meu noivo. Nos posts marcados, mais de 10 fotos dele com os amigos cercados de garotas seminuas e garrafas de champanhe. Quase esfreguei o celular em seu rosto curioso que logo se transformou em sobrancelhas erguidas de surpresa. estalou a língua e balançou a cabeça em negação, jogando meu celular na cama.
— , pelo amor de Deus… — ele passou as mãos pelo rosto enquanto eu engolia o nó que se formava em minha garganta. Novamente, ele iria negar até eu desistir por cansaço. — Estávamos em uma balada, o que queria que fizéssemos!? Não podíamos impedir que as mulheres entrassem, caramba!
— Mas poderiam ter ficado longe delas! — gritei, já perdendo a pouca paciência que me restara. — Poderia ter começado não indo para a balada e deixado sua noiva sozinha no quarto de hotel!
— Você não foi porque não quis, não me culpe por uma escolha sua.
— Inacreditável — falei, deixando meus ombros caírem em decepção. — Você sempre dá um jeito de inverter a situação e me culpar!
— Não estou te culpando de nada, ! — ele explodiu, igualmente irritado. — Porra, você está impossível ultimamente!
me deu as costas, caminhando irritado em volta da cama. Ele arrancou a camisa e a jogou do outro lado do quarto. Meus ombros caíram novamente, assim como minha cabeça, e eu não consegui controlar as lágrimas que começaram a cair. Eu estava esgotada, cansada demais para me fazer de durona naquele momento.
provavelmente viu meus ombros trêmulos, ele me conhecia bem demais para saber que eu estava chorando. Ele suspirou e andou até mim. Com todo o carinho e toda delicadeza, segurou meu rosto e o levantou para me fazer olhá-lo. Seus polegares gentis limparam minhas lágrimas antes de ele depositar um beijo em cada bochecha e na minha testa.
— Me desculpa — ele falou, se inclinando para me abraçar. Afundei meu rosto em seu pescoço, meu choro se acalmava aos poucos enquanto sentia o cheiro de seu perfume, ele usara o meu favorito naquela noite. — Eu não quis gritar, não queria te deixar sozinha, eu estou estressado demais…
— Está tudo bem — falei baixinho, a voz ainda embargada.
— Não, não está — ele falou, se afastando para olhar fundo nos meus olhos. — Você é a última pessoa que merece ser tratada assim, . Eu amo você e sou grato pela mulher incrível que você é.
Consegui esboçar um mínimo sorriso para ele, o que pareceu ser o suficiente para lhe acalmar. beijou meus lábios com delicadeza, impregnando no beijo uma paixão que há dias, talvez meses, eu não via. Relaxei em seus braços, permitindo que ele aprofundasse o beijo enquanto me deitava na cama. tinha o dom de me fazer esquecer tudo quando estava em seus braços e ele sabia disso. A trilha de beijos em meu pescoço, me arrepiando inteira, me tirava o raciocínio, me levava ao delírio. Eu nunca conseguia resistir, pois não importava o que ele fizesse, eu o amava para além do lógico.
Seu corpo grande se encaixava perfeitamente no meu pequeno, suas mãos passeavam pela lateral das minhas pernas até subir para a minha cintura, levantando minha camisola de seda. Eu nunca usava nada por baixo, ele sabia disso, então não foi surpresa para ele quanto retirou aquela única peça que cobria meu corpo e se deparou comigo completamente nua.
— Você é linda... — ele sussurrou em meu ouvido, fazendo eu me contorcer embaixo dele — gostosa… deliciosa…
Cada uma de suas palavras faziam meu corpo acender, minha intimidade formigava em prazer, clamando por e seu toque mágico. O puxei com minhas pernas, esfregando-me nele e deixando escapar um gemido. sorriu contra os meus lábios, o filho da puta sabia como me enlouquecer em poucos atos.
Minhas mãos apressadas abriram sua calça de alfaiataria, puxando-a para baixo e jogando-a o mais longe possível. Mas segurou minhas mãos antes que eu tirasse a última peça de roupa que nos separava. Me ajeitei melhor na cama, observando-o se ajoelhar entre minhas pernas. Suas mãos firmes puxaram meu quadril para junto dele, seus lábios foram direto para meus seios duros e ansiosos por aquele toque. Gemi alto demais para alguém que deveria estar dormindo àquela hora, mas não me importei com mais nada quando passou o dedo delicadamente em minha intimidade.
Sua boca ainda se dedicava ao meu busto, mas sua mão acariciava meu clítoris com habilidade e agilidade, tocando nos pontos certos e já molhados que me causavam espasmos bons, pequenos choques em meus nervos que me faziam ansiar por mais. foi descendo os beijos, demorando tempo demais para o meu gosto em minha barriga. Suspiros pesados escaparam de meus lábios quando ele beijou minha intimidade, agora sua língua se dedicava em me dar prazer junto aos seus dedos que já estavam dentro de mim. Saíam e entravam lentamente enquanto sua língua dançava deliciosamente em meus grandes lábios. me chupava sem tirar os olhos de mim, observando com atenção cada reação que ele causava em mim. Seus dedos aceleraram assim como sua boca, a voracidade com a qual ele me chupava era na mesma proporção da vontade que eu estava de retribuir. Minha mente estava a mil, eu já não lembrava mais porque estava com raiva dele. Naquele instante, a vontade de gritar era por outro motivo.
subiu os beijos pelo meu corpo, interrompendo o oral quando eu estava à beira do orgasmos. Suas mãos agora se ocupavam em tirar sua cueca, sem separar seus lábios dos meus. O sabor do álcool em sua boca já não me incomodava mais; se ele estava embriagado de whiskey, eu estava embriagada de prazer.
Meu noivo, o homem que eu mais amava no mundo, olhou fundo nos meus olhos quando posicionou seu membro em minha entrada e, de forma torturantemente lenta, se aprofundou em mim, tirando suspiros sofridos nos meus lábios.
Suas estocadas tornaram-se rápidas, ágeis, me preenchendo por completo e tirando de mim qualquer dúvida que eu havia tido há alguns minutos atrás. Mas quando todos os meus nervos entraram em erupção em um orgasmo perfeito, percebi que algo estava errado. apenas me beijou e se virou para o lado, mas ele não havia chegado ao ápice comigo.
Observei suas costas, sua respiração cada vez mais lenta o embalava em um sono profundo, alheio aos meus pensamentos frenéticos. nunca fora assim, ele era mais apaixonado no ato, se entregava completamente. Mas aquilo pareceu apenas uma maldita distração.
Por sorte, não nos atrasamos para o voo, apesar de termos parado a cada passo para tirarem fotos com o . No avião, a mesma coisa: homens o parabenizaram, alguns olhavam feio, mulheres davam descaradamente em cima dele (como as próprias aeromoças), como se eu fosse apenas uma porta de vidro entre eles – invisível e prestes a quebrar.
Chegar em casa foi a melhor sensação de todas depois daqueles dias longe. Tomei um bom e demorado banho para relaxar e me preparar para um dia de descanso, sem festas, sem jogos, sem entrevistas… Seríamos apenas eu e , recarregando nossas baterias física e emocional. Pelo menos essa era a ideia.
— Eu preciso de pelo menos cinco horas de sono antes de sair dessa casa de novo — falei a , me deitando na cama ao seu lado apenas de roupão. — Acho que sua mãe não se importa se chegássemos um pouco atrasados para jantar, né?
Ele não levantou os olhos do celular para me perguntar.
— É hoje?
O olhei incrédula, me sentando na cama.
— Está falando sério, ? Estou te falando há semanas sobre esse jantar!
— , a única coisa que tem passado pela minha cabeça há mais de um mês é o basquete! Eu estava focado nos jogos, não tive tempo de pensar em outras coisas…
— É, eu percebi — retruquei com mau humor.
— O que quis dizer com isso, hein? — me questionou, finalmente deixando o celular de lado.
Não respondi. Para ignorá-lo de vez e mostrar que eu não queria ter aquela conversa naquele momento, peguei meu celular e dessa vez era eu quem se distraia com o aparelho. O ouvi bufar do meu lado, voltando a mexer no dele.
— De qualquer jeito, tenho uma coisa com os caras hoje à noite…
— Que “coisa com os caras” é mais importante que o aniversário da sua mãe?
se sentou em um pulo, encarando-me assustado.
— Não é hoje, é? — ele perguntou, fuçando o calendário em seu celular. — Caramba… Eu esqueci de comprar um presente!
— Eu comprei, é claro — falei com tédio, observando o espanto dele. Seus ombros relaxaram e ele sorriu para mim. — É uma bolsa da Louis Vuitton que ela estava de olho há algum tempo.
— É por isso que preciso de você na minha vida, — disse , rolando na cama para me abraçar de lado. Meu coração acelerou quando seus lábios encontraram meu pescoço.
Admito que me derreti um pouco ao ouvir aquilo. Ouvi-lo dizer em voz alta que precisava de mim era algo que fazia um bom tempo que não acontecia. Mas ao mesmo tempo, aquilo me soou algo tão estranho, algo como se eu trabalhasse para ele e tivesse feito um bom trabalho.
— Só diga a ela que comprou na Polaris Fashion Place, você sabe que ela gosta de perguntar onde compramos as coisas. Assim ela vai acreditar que o filho dela comprou…
— Você mesma não pode dizer a ela? — me perguntou, desfazendo o abraço. O olhei com decepção e incredulidade novamente.
— Está querendo dizer que você não vai?
— … — ele falou com a voz manhosa que já não funcionava mais comigo há tempos. — Os caras vão ficar chateados se eu não aparecer…
— Ah, e a Adira vai amar não ver o filho no próprio aniversário — falei com ironia. — James, você não vê a sua mãe há meses!
— Então ela aguenta mais um dia — ele falou com desdém.
Aquela frase, tão simples e pronunciada com tanto desapreço, foi a gota d’água para mim. Respirei fundo para não gritar e tentar falar a frase no tom mais neutro e centrado possível.
— Eu não vou estar mais aqui quando você voltar.
— Vai dormir na minha mãe? — ele perguntou, olhando para a tela do celular.
— Não foi isso que eu quis dizer — retruquei, me levantando da cama. — , se você não for comigo, acabou.
— Acabou o que? — ele me questionou novamente, dessa vez deixando o celular de lado. — , você…
— Eu não aguento mais, — o interrompi chorosa, minha voz falhando por causa do nó que se formou em minha garganta. — E eu não vou ficar consertando as suas merdas para sempre, não vou aguentar ser deixada de lado e não estar em nenhuma posição nas suas prioridades!
— De onde veio isso, ? — perguntou, levantando-se confuso da cama e vindo na minha direção.
— De meses sendo ignorada, sendo deixada em casa enquanto você sai todas as noites, tendo que aguentar seus surtos e ver você quebrar a casa quando você perde a merda de um jogo…
— Isso só aconteceu uma vez — defendeu-se. Eu bufei ao me dirigir para o closet. — , você está sendo dramática…
— Claro, , me culpe de novo! — gritei, parando na porta do closet. — Me culpe mais uma vez, vá em frente! É culpa minha você estar saindo todo dia. Sou insuportável demais para você, é isso? É por isso que arranjou outra?
— Eu nunca te trai, ! — ele gritou de volta, tentando entrar no closet. Eu o impedi, empurrando-o para fora.
— Como eu vou acreditar nisso, ? Me diz, como raios quer que eu acredite nisso?
— Confiando em mim? Acreditando que eu te amo mais que tudo?
— Eu não consigo… — falei, já deixando as lágrimas caírem. A decepção em minha voz era tão evidente quanto a decepção nos olhos dele.
— Está bem, se isso vai te deixar feliz, eu vou na porcaria do aniversário…
— Não, , você não entendeu nada! — exclamei, impaciente. — Não é essa a questão!
— Então me diz, porra! — gritou novamente.
— Eu estou dizendo, mas você não está me escutando! — retruquei aos berros, fazendo-o me dar as costas. — Quer saber? Fique aqui ou vá para a sua festinha, mas não apareça na casa da sua mãe! Ela não merece um filho como você!
— Quem você pensa que é para falar isso, caralho? — ele berrou e avançou novamente para o closet.
Só tive tempo de fechar a porta e trancá-la, ouvindo-o bater nela com os punhos. Pulei para trás e olhei assustada para a porta de vidro temperado e fosco.
Nós já havíamos brigado feio antes, mas nunca dessa forma. nunca levantara a mão para mim, nunca me batera, nunca me agrediu. Mas naquele momento, ele estava prestes a fazer aquilo.
Ouvi sua respiração pesada pelo outro lado da porta, ele ainda estava escorado no vidro em que batera. Me aproximei com calma e pude reparar em uma pequena rachadura, algo que não deveria acontecer com tanta facilidade. Eu conseguia ver também sua silhueta, a cabeça baixa e os braços com punhos fechados encostados no vidro.
— … por favor, me desculpa…
Me sentei no carpete, abraçando meus joelhos e chorando baixinho. continuou pedindo desculpas do outro lado até se cansar e sair do quarto. Segundos depois, pude ouvir o motor do seu carro roncar alto, indicando que ele havia saído de casa também.
Horas depois, eu já estava na porta da casa de Adira, minha sogra que eu considerava como uma segunda mãe, já que eu morava um pouco longe da minha. Tentei dar meu melhor sorriso quando ela abriu a porta, recebendo como resposta o abraço maternal e reconfortante que apenas Adira Lawrence poderia proporcionar.
Sua decepção por não ver o filho foi ofuscada pela animação ao ver a bolsa de marca que lhe dei. Ela fez questão de desfilar com a bolsa para as amigas reunidas, recebendo elogios. Mesmo estando arrasada pelo que aconteceu horas atrás, vê-la feliz daquele jeito conseguiu me fazer sorrir com sinceridade.
Ao final da festa, eu já me encontrava com uma taça de vinho branco cheia nas mãos e minha bateria social totalmente esgotada. Meu sorriso àquela altura já estava forçado demais para disfarçar, e é claro que minha sogra foi a primeira a reparar e vir falar comigo na sala de estar. Suas amigas iam embora aos poucos, as que restavam, conversavam animadas na mesa de jantar.
— Consigo sentir de longe que tem algo errado, querida — disse Adira ao se sentar ao meu lado no sofá. Sua mão gentil afagou minhas costas e só esse ato já encheu meus olhos de lágrimas. — O que fez desta vez?
— Além de não vir na sua festa? — respondi com tristeza, o que a fez dar um sorriso triste. — Isso é motivo suficiente para me deixar chateada com ele, Adie.
— Mas não foi apenas isso, não é?
Eu assenti, concordando com ela. Limpei uma lágrima teimosa, irritada por estar chorando na frente de Adira. Aquela noite era dela, deveria ser especial até o final e não acabar com ela me consolando por causa do irresponsável do filho. Mas a mulher insistiu, e conhecendo-a como eu conhecia, sabia que ela não sairia dali até eu confessar tudo. Limpei a garganta embargada antes de responder.
— Nós brigamos feio hoje — confessei, olhando para a taça. — Mas já tem um tempo que as coisas não estão legais… Ele me machuca sem ao menos me tocar, me machuca com atos, sabe? Tem saído muito, quando está presente, é como se não estivesse realmente ali… — Olhei para a mulher que me encarava com tristeza, mas suas mãos mágicas acariciavam meu rosto com carinho e compreensão. — Eu falei para ele que se ele não viesse, não me encontraria quando voltasse para casa.
Ficamos algum tempo em silêncio, onde Adira continuou fazendo carinho em minhas mãos. Aquele não era um silêncio constrangedor, era um silêncio em que nós duas absorvemos aquela conversa com calma. Eu sabia, contudo, que a mulher teria algo a dizer, fosse para me consolar ou para me dar uma bronca.
— é meu filho e eu sei que ele tem seus defeitos e que são muitos — ela falou com sua voz calma e serena. — Mas eu não vou passar pano para ele, . Você é como uma filha para mim, você sabe disso, e eu não quero te ver do jeito que te vi hoje.
— Como?
— Apagada, desanimada, machucada...
— Não sabia que estava tão visível — falei, soltando uma risada sem graça e anasalada. — Desculpa.
— Não, não se desculpe! — Adie retrucou, secando minhas lágrimas. — O fato de você ter vindo, mesmo não estando bem, já é maravilhoso.
— Não poderia deixar de te ver, já fazem meses… — respondi, lembrando-me de quando falei exatamente isso para . — Olha, Adira, eu amo o seu filho, amo mesmo. Esse anel no meu dedo está aqui até agora, pois eu queria muito me casar com ele.
— Queria? — Adira perguntou, parecendo preocupada pela primeira vez naquela noite.
— Eu… eu não sei. Não sei se quero passar o resto da minha vida com o desse jeito, não dessa forma, entende?
— Entendo, de verdade — ela respondeu. — E eu não irei te julgar, nem te abandonar, se você decidir deixar o . Estarei aqui para apoiar você e ele, é claro.
Eu assenti, em lágrimas. Saber que tinha o apoio dela foi como tirar um peso dos meus ombros, um pesado e importante peso. Não importava o que eu iria decidir, sabia que Adira estaria comigo.
— Posso te pedir um favor? — pedi a ela, que assentiu na mesma hora. — Posso dormir aqui hoje?
— É claro, meu amor — ela respondeu ao me abraçar. — Estou com saudades de fofocar no café da manhã com você.
Ri em resposta, sentindo-me muito mais leve naquele momento do que quando entrei naquela casa.
Quando acordei na manhã seguinte, havia mais de 20 ligações perdidas e dezenas de mensagens de . Eu as ignorei e aproveitei meu café da manhã com Adira onde conversamos sobre tudo, menos o seu filho. Passar um tempo com minha sogra era uma das coisas que eu mais gostava de fazer e que, por eu ter ido viajar com durante o campeonato de basquete dos Estados Unidos, fazia um bom tempo que eu não vinha visitá-la. Antes de sair, Adira me lembrou uma última vez que não importava o que eu fizesse, ela estaria ao meu lado.
Durante o trajeto para casa, meu cérebro não parou de pensar no que fazer. Me separar de implicava tanta coisa: nossa relação era exposta para o mundo todo ver, estávamos noivos, já não era uma relação qualquer, era algo sério e concreto, com o futuro planejado. Mas ficar com ele era dar uma chance que não iria aproveitar, pois eu já havia dado essa chance muitas vezes, aliás, todos os dias em que eu aguentava as merdas dele. Contudo, eu amava mais que tudo nessa vida e mesmo com os altos e baixos que enfrentávamos, eu sabia, no fundo, que ele também me amava.
Eu já tinha a minha decisão tomada quando abri a porta de casa. Mal dei um passo para dentro quando apareceu com certo desespero e avançou em minha direção, me envolvendo em um abraço apertado.
— Graça a Deus você chegou! — ele falou sem me soltar. — Estava na minha mãe? Eu pensei em passar lá, mas queria esperar vocês voltar antes e eu não tinha certeza se estava lá mesmo e...
— , nós precisamos conversar — o interrompi, colocando minhas duas mãos em seu rosto. O homem murchou em minhas mãos, parecendo genuinamente preocupado.
— Precisamos — ele afirmou, pegando em minhas mãos e as beijando. — Me perdoe por tudo o que eu falei, , eu te juro que foi tudo da boca para fora, eu não...
— — o interrompi de novo, respirando fundo. Seus olhos pareciam perdidos, pareciam implorar pelo perdão que ele acabara de dizer.
Meu coração doeu ao ver aquele rosto, ali eu soube que precisava ser forte para seguir com o que havia decidido. Puxei meu noivo pelas mãos até a sala e o fiz sentar no sofá, seus olhos estavam fixos em mim, mas eu não tinha coragem de olhar para ele.
— , eu abri mão de tanta coisa para conseguir te acompanhar para todo canto, abri mão da minha faculdade de direito para ajudar você a se tornar o atleta que você é hoje.
— E eu sou muito grato por isso, … Acredite em mim.
— Às vezes é difícil acreditar, de fato… — falei baixinho, abaixando a cabeça com vergonha. Encará-lo me tirava toda a minha coragem.
— Eu sei que não tenho sido bom última, mas o estresse, a pressão…
— A fama — completei, sorrindo triste. — Isso te mudou… Você mudou, . Esse cara que parece arrependido e prestes a chorar é o sensível que eu conheci, o que fazia questão de me lembrar o quanto me amava, o que lembrava que eu existo…
— Ele está aqui, ! Eu estou aqui, te olhando, te sentindo — retrucou , segurando meu rosto. Retirei suas mãos com delicadeza, segurando minhas lágrimas.
— Eu quero seguir meu próprio caminho agora, — disse ao me levantar. me olhou de baixo, seus olhos já cheios de lágrimas estavam prestes a transbordar.
— , por favor…
— Eu te amo, , e te desejo o melhor, eu sempre estarei ao seu lado, mas eu realmente não aguento mais — falei, as lágrimas já caíam pelo meu rosto sem controle.
Quando ameacei me afastar, caiu de joelhos no chão e abraçou minha cintura, me implorando para não deixá-lo. Aquilo foi a coisa mais difícil que já fiz, meu choro apenas aumentou, mas eu tirei seus braços que me cercavam e me afastei, correndo escada acima para o nosso quarto. não me seguiu.
Arrumei minhas malas de qualquer jeito, apenas o suficiente para algumas noites em um hotel antes de enviar tudo para a casa dos meus pais na Pensilvânia. Quando desci, me esperava no hall de entrada, a cabeça baixa, os braços cruzados e os olhos vermelhos indicavam que ele não estava de acordo com aquilo, como eu imaginava.
— Eu posso ir para a minha mãe e você fica aqui — ele resmungou baixo. — Ou podemos continuar aqui e viver como amigos, não sei…
Sorri com tristeza, passando a mão carinhosamente no rosto de . Eu entendia o quão difícil era se desapegar, o esforço que eu estava fazendo para poder sair daquela casa já me deixava exausta. Mas ficar no mesmo teto que ele seria dar uma chance para voltar atrás e aquilo não seria o melhor para mim ou para ele.
Tirei minha aliança, a coloquei na palma da mão do meu agora ex-noivo e a fechei, dando um beijo na mesma em seguida.
— Fica — ele pediu uma última vez, secando as lágrimas. — , eu te amo.
— E eu amo você — respondi, já na porta da casa. — E é por isso que estou indo.
E dito isso, saí da casa e fechei a porta, deixando para trás não só , mas o meu passado.
Fim.
Nota da autora: Espero que tenham gostado dessa história, quero agradecer a Ju por ter me deixado participar dessa ficstape perfeita e à todas as meninas da Igrejinha pelo apoio ♥️ Obrigada por lerem e não esqueçam de comentar!
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➽ 10. Sorry (Shortfic - Finalizada)
➽ 16. Wolves (Shortfic - Finalizada)
➽ Playing In The Snow (Shortfic - Finalizada)
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➽ The Exchange Student (Longfic - Em andamento)
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➽ 15 Days Of Quarantine (Longfic - Finalizada)
➽ 08. Fireside (Spin-off de 15 Days Of Quarantine - Finalizada)
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➽ Meraki (Longfic - Em Andamento)
Originais:
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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