Finalizada em: 25/03/2021

Capítulo Único

7 dias para a entrega do álbum.

Parecia impossível controlar minha perna, ela balançava inquieta enquanto os donos da gravadora, meu empresário e mais alguns responsáveis pelo meu primeiro álbum ouviam a última música que completava as 15 canções para podermos lançar o álbum. Tem que ser 15, eles afirmaram e reafirmaram diversas vezes. E depois de três semanas sofridas, eu finalmente consegui escrever uma letra boa e gravar uma canção agradável. O ideal, é claro, seria ter escrito e gravado duas músicas (era bom ter uma reserva), mas nada saia da minha cabeça, nem uma rima sequer. E eu me recusava a colocar uma letra escrita por outra pessoa, afinal, qual o sentido de cantar algo que você não escreveu? Aquilo não soava verdadeiro. Então eles tinham que amar aquela música… Mas nem eu mesmo a amava.
A música finalmente parou e o silêncio no estúdio foi ensurdecedor. Olhei para Joseph Watters, meu empresário e melhor amigo, e ele tinha a mesma preocupação que eu sentia no meu íntimo estampada em seu rosto. Puta merda. Limpei a garganta antes de perguntar algo, visto que ninguém diria nada.
— E então?
Emilia Westover, uma das donas da Westover Records, suspirou alto antes de me responder, fazendo minhas mãos suarem mais em nervosismo. Essa mulher me causava arrepios de tão intimidadora, apesar de ser gostosa para caralho. Suas pernas compridas sempre expostas, seus cabelos falsamente ruivos e cacheados caiam perfeitamente até sua cintura, parando deliciosamente acima de sua bunda que, diga-se de passagem, tinha um tamanho perfeito. Era difícil não desejá-la, isso era um consenso entre todos do estúdio (inclusive algumas mulheres). Mas, acreditem, em quase um ano trabalhando com ela, nunca vi Emilia dar um sorriso. Todos acreditam que o marido dela, e sócio do estúdio, Sr. David Westover, não estava dando conta do mulherão que tinha em casa. Bom, não posso culpá-lo, acredito que nem eu daria.
, a letra é bonitinha, a melodia é… Legal. Mas só isso. Não senti vontade de ouvir de novo, não fiquei divagando sobre a letra… Não me cativou.
— Mas que porr…
— Tem toda a razão, Sra. Westover. — Joe me interrompeu, me repreendendo com o olhar. — Está uma porcaria e o aqui concorda, não é, ?
Eu não respondi nada, apenas esfreguei as mãos na calça jeans surrada. Não consegui deixar de reparar no olhar de Emi focado em minhas mãos enquanto passava a língua pelo lábio inferior marcado por um batom vermelho. O desejo em seu rosto e a cara de banana do marido, que estava parado bem ao lado dela, comprovou minhas suspeitas de que o coitado não estava dando conta.
— Ainda temos quanto tempo no prazo de entrega do álbum? — David perguntou, sem perceber que a mulher me devorava com os olhos. Joseph percebeu, e levantou as sobrancelhas para mim com um sorriso sacana nos lábios.
— Exatos 7 dias, Sr. — Uma jovem respondeu com os olhos fixos no iPad enquanto seus dedos ágeis digitavam algo na tela.
Eu nunca a vi antes e não percebi que a mesma estava ali dentro até ouvir sua doce voz, e eu não era o único com cara de interrogação que, mais uma vez, David não percebeu. Afinal, aquela era uma reunião privada, não era ideal que pessoas estranhas estivessem presente. Eu ia abrir a boca para questionar isso, mas Emilia foi mais rápida.
— Qual seu plano, David?
— Vocês dois. — ele indicou Joe e eu com a caneta. — Tem uma semana para nos entregar a última música. Sete dias. Essa é a última chance, ou o álbum não sairá deste estúdio. Acham que conseguem?
Troquei um olhar rápido com Joe e assentimos ao mesmo tempo, sem realmente ter muita opção.
— Ótimo, vejo vocês em uma semana. Emi, querida, você se importa em ficar de olho nisso? — ele indicou o estúdio com a caneta novamente. — Tenho uma viagem importante amanhã, só volto na sexta.
Eu odiava quando ele nos tratava com tanto desdém. Meu primeiro single lançado no ano passado fez tanto sucesso que salvou essa merda de gravadora. Se não fosse por mim, nem estaríamos aqui hoje. Talvez fosse por isso que ele estava me dando uma chance de fazer mais uma música, como uma espécie de agradecimento.
— Com todo prazer, meu amor. — ela respondeu, dando um selinho no marido, mas os olhos ainda estavam fixos em mim.
Com uma despedida rápida, ele saiu do estúdio enquanto passava instruções para a secretária nova dele. Eu tive apenas um rápido vislumbre de seus cabelos curtos antes de Joseph se meter na minha frente enquanto os outros responsáveis saiam do local. Emilia permaneceu ali, mexendo no celular, esperando alguma coisa que eu não fazia ideia do que era. Eu ficava extremamente tenso quando ela estava por perto.
— Uma semana. — murmurei, balançando a cabeça. — Tivemos o dobro do tempo e fizemos aquela merda! Como vamos fazer algo decente em sete dias? Caralho, parece até aquele filme de terror…
— Vamos lá, ! — Joe bateu o dedo em minha cabeça, me interrompendo de novo. — Para de chorar o leite derramado e bota essa coisa enorme pra funcionar!
— Vou te mostrar uma coisa enorme, Joseph. — respondi, distraído. Percebi o erro quando Emilia me olhou por cima da tela do celular e levantou as sobrancelhas. Como sempre, sem sorrisos.
— Joseph, você pode nos deixar a sós, por favor? — Emi pediu, deixando seu celular de lado. Lancei um olhar de súplica para Joe, mas o idiota apenas piscou para mim e saiu, fechando a porta atrás de si.
Engoli em seco. Emilia se aproximou perigosamente por trás, suas mãos rígidas apertaram os meus ombros tensos e, surpreendentemente, a massagem era boa. Ela continuou massageando, sua respiração próxima demais do meu ouvido me causou um novo tipo de arrepio. Merda, eu precisava sair dali ou precisava criar coragem de mandá-la parar. Mas a massagem estava tão gostosa... E agora ela descia suas mãos pelo meu abdômen e repetiu o gesto até eu deixar escapar um suspiro ridículo dos meus lábios. Fraco…
— Tenso desse jeito, , você nunca vai conseguir escrever nada. — ela sussurrou no meu ouvido, me fazendo fechar os olhos. Porra, isso era muito errado.
— É, você está totalmente certa. — Me levantei com pressa e fui para o outro lado da sala, me apoiando na mesa de som repleta de botões, tentando pensar em qualquer coisa que não fosse o decote dela encostando nas minhas costas. — Digo, a senhora está certa.
Senhora, ? — Emilia deu uma risada, se aproximando novamente de mim. Seu rosto estava próximo demais e tive que me segurar na mesa de som para não cair para trás. — Assim eu me sinto uma velha.
A realidade é que Emilia não aparentava a idade que tinha. Ela já tinha seus 44 e eu tinha 27 anos. Ela poderia facilmente ser minha mãe, mas, para minha felicidade — ou desgraça —, ela não era.
— Você não me acha velha, não é, ? — Ela passou o dedo perigosamente pelos botões da minha camisa, abaixando os olhos pelo mesmo caminho.
— De forma alguma. — murmurei sem muita força na voz.
— Eu percebi. — ela respondeu, o dedo pousou no volume ridiculamente grande dentro da minha calça. Corei de vergonha. — O que acha de me mostrar a coisa enorme que você queria mostrar pro Joe?
— E-eu… E-eu não…
Talvez eu tenha demorado um pouco para impedir as investidas. Gostaria de culpar o fato de ela me intimidar tanto, mas porra, eu estava inegavelmente excitado. Emilia conseguiu me levar do medo ao tesão com apenas sua voz e alguns toques. Eu queria ver do que ela era capaz. Quando dei por mim, ela já estava agachada na minha frente com as mãos na fivela do meu sinto e me olhando com tanta malícia que eu poderia ter um orgasmo só com o olhar. Me senti um pré-adolescente descobrindo as maravilhas da revista Playboy.
— N-não acho que s-seja uma boa ideia, Emi… — gaguejei quando ela já havia abaixado minha calça jeans.
— É para o bem do seu álbum, . — ela retrucou, lambendo os lábios ao tirar minha cueca preta. Meu membro duro pulou para fora do tecido como um maldito golfinho pulava animado para fora da água. — Quero que você relaxe para poder escrever…
Se me perguntassem de manhã se eu acreditava que acabaria o dia ofegante e me contorcendo de prazer com Emilia Westover, eu daria uma boa gargalhada. Mas ali estávamos, os dois colocando a roupa depois de um fazer o outro chegar ao orgasmo. E mesmo depois de tudo o que fizemos, eu corei envergonhado quando ela se despediu com um demorado beijo na minha bochecha. A ficha do que tinha acabado de acontecer estava caindo aos poucos. Se David descobrisse ou sonhasse com isso, eu poderia dizer adeus ao meu álbum e à minha carreira de cantor. Não respondi nada a ela quando a mesma prometeu que meu álbum seria “um sucesso”.
Suspirei alto enquanto apagava as luzes do estúdio e saí de lá o mais rápido possível. Não fazia sentido eu estar me sentindo mal pelo que aconteceu se há minutos atrás eu estava gritando de prazer com Emilia no meu colo. Mas eu me senti mal, talvez usado. E eu não queria, de forma alguma, que ela encarasse a situação como se eu quisesse algo em troca. Aquilo não podia acontecer de novo de jeito algum.
Do lado de fora do estúdio, uma tempestade caía sobre Londres. Me xinguei mentalmente por não ter trazido um guarda-chuva, mesmo percebendo que o céu estava terrivelmente nublado de manhã. Decidi esperar a chuva passar antes de andar até meu carro a algumas quadras de distância. Fiquei embaixo da proteção depois da porta para fumar um cigarro antes de entrar novamente no estúdio. Depois de algumas tentativas, o cigarro finalmente acendeu. Dei uma longa tragada, sentindo-o acalmar minha ansiedade. Olhei para os lados e me toquei que Joe havia ido embora pois seu carro não estava no lugar de sempre. Desgraçado. Ele sabia exatamente o que Emilia queria e me deixou cair nos encantos dela.
Um esbarrão em meu ombro me acordou de meus devaneios. Olhei irritado para a pessoa responsável e me deparei novamente com os cabelos escuros da secretaria de David. Seus olhos enormes e castanhos se arregalaram mais ainda ao repararem em mim, sua boca carnuda murmurando mil desculpas que eu não consegui prestar atenção, pois estava hipnotizado demais em seu sotaque britânico carregado.
— Senhor , está me ouvindo? — ela me questionou com a testa franzida em preocupação.
— Ah, sim, sim… Por favor, me chame de . — Joguei o cigarro longe e a cumprimentei com um aperto de mão. — E não precisa se desculpar, eu estava distraído, parado como um poste na frente da porta.
Ela riu, parecendo envergonhada por fazer isso. Por que alguém teria vergonha de uma risada tão adorável?
— E você é...? — perguntei, sem soltar a mão dela.
. — ela respondeu, ainda envergonhada. Ela soltou minha mão com delicadeza, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. Resisti a vontade de tocar suas bochechas coradas.
— Você é nova aqui?
— Comecei o estágio há duas semanas. — ela deu de ombros, sorrindo torto.
— Estágio? — Levantei as sobrancelhas, surpreso. Eu podia jurar que ela era secretária.
— Faço faculdade de música na Universidade de Londres. Sou meio obrigada a fazer alguns estágios no último ano e meus pais me deixaram estagiar aqui.
— Seus pais…
— David e Emilia. — ela respondeu, risonha. Eu consegui apenas arregalar os olhos, surpreso. — Pois é, sou uma Westover.
Caralho. Ela era filha da mulher que eu acabei de foder lá dentro. Passei as mãos no cabelo, encarando a chuva diminuir aos poucos. Se essa menina soubesse o que fiz com a mãe dela lá dentro...
— Eu sei, meu pai me tratou com um pouco de frieza lá dentro, mas temos que ser profissionais. Te juro que ele não me odeia! — Ela riu da própria fala, totalmente alheia aos meus pensamentos desesperados. — Eu vou indo. Agora está mais fácil pegar um táxi.
Voltei a encará-la, espantando os pensamentos. Agora eu conseguia reparar em seus traços e é claro que ela era filha deles. era uma mistura perfeita dos dois, a boca deliciosa da mãe e os olhos escuros do pai.
— Eu te levo! — Ofereci, apontando em direção ao meu carro. — Se não se importar em andar alguns quarteirões comigo.
— Não precisa, de verdade, não quero incomodar.
— Você não incomoda, sério. Está tarde e perigoso, eu me sentiria péssimo se algo acontecesse com uma garota linda como você.
Ela sorriu, animada, e finalmente aceitou o convite, me acompanhando pela garoa em direção ao meu Range Rover. As milhões de visualizações no meu vídeo me proporcionaram o sonho de comprar essa belezinha. Ok, não é nenhum Lamborghini, mas um passo de cada vez, certo?
foi tagarelando sobre o curso de música durante todo o percurso até a sua casa. É óbvio que seria arriscado deixá-la em casa, eu poderia ser visto por sua mãe ou até mesmo por seu pai. Eu não saberia onde enfiar a cara. Contudo, era uma delícia ouvir a garota falar empolgada sobre o tanto que estava aprendendo na faculdade e no estágio e como estava ansiosa para ouvir o meu álbum.
— Eu não achei a música ruim, sabe? — ela falou em certo momento em descontraído. — Só acho que ficaria melhor caso seu álbum focasse em um público pré-adolescentes e se você fosse de uma boyband. As garotas iriam pirar. Seria como a Bieber Fever, sabe?
Bieber o quê? — questionei, confuso, e ela gargalhou, mas não me respondeu. — De qualquer jeito, eu não serei nada se não entregar uma música em sete dias. —
Parei o carro em frente a casa dela e olhei o relógio no painel, já passava da meia noite. — Seis dias.
— Nossa… Meu pai parecia aquela menina do filme de terror, sabe?
— “Você só tem sete dias!” — falamos juntos, imitando uma voz sombria e dando uma gargalhada. Eu podia ouvir a risada dela para sempre…
— Pensei a mesma coisa. — falei, sorrindo largo, sem conseguir tirar os olhos dela.
assentiu, sustentando o olhar. Ela pigarreou e piscou algumas vezes, olhando para as janelas de sua casa. Eu queria tanto prendê-la no banco e fazê-la rir durante a noite inteira ou ouvi-la falar até o amanhecer. Não queria que ela fosse embora de jeito nenhum.
— Bom, preciso ir. — Ela saltou do carro e bateu a porta um pouco forte. — Foi mal, eu…
— Relaxa. — eu disse, levantando a mão para interrompê-la. — Até mais.
Ela acenou e correu até a porta, fugindo da chuva que começava a apertar novamente. Pela janela, eu vi sua silhueta abraçar a mãe e apontar para fora. Afundei no banco, fechei os olhos e respirei fundo. O maldito perfume dela me deixou tonto.

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6 dias para a entrega do álbum.

Se tem uma pessoa no mundo que consegue me fazer acordar às 5 da manhã em um sábado chuvoso, esse alguém é Joseph Watters. Mas naquele momento, sentado no estúdio com os pés apoiados na mesa de som e sem café puro no meu organismo, eu queria matá-lo a cada clic de sua caneta. Arranquei uma folha, a amassei e ataquei em sua cabeça, fazendo-o parar.
— Depois da foda de ontem, achei que você estaria de bom humor.
— Cala a boca, Joe, não me lembre disso, por favor.
— Cara. — ele se aproximou de mim, olhando em volta, mesmo sabendo que estávamos sozinhos. — Você transou com uma das mulheres mais gostosas de Londres e quer esquecer?
Dei de ombros, batucando no rascunho que tinha escrito sem prestar atenção nele.
— A única coisa que meu cérebro quer agora é paz e café, não lembranças de que transei com minha chefe que é casada.
De primeira eu achei que o aroma de café era coisa da minha cabeça, mas assim que entrou sorridente no estúdio com uma bandejinha de isopor com três copos de café, o céu nublado pareceu ficar mais ensolarado na mesma hora.
— Alguém disse café? — ela exclamou, animada, enquanto equilibrava o laptop embaixo do braço, a bolsa caindo do ombro e os cafés balançando perigosamente em suas mãos.
! — A cumprimentei, igualmente animado e surpreso. Me levantei em um pulo e corri até ela, pegando os cafés e o computador para ajudá-la. — O que está fazendo aqui? Sabe que hoje é sábado, não é? Estagiários não trabalham sábado.
— É, eu sei. — ela respondeu, pegando um copo de café e se sentando na mesa, encostada na parede, abrindo seu laptop. — Mas meu pai queria que minha mãe viesse aqui para ver vocês e, bom, ela não estava afim e eu precisava terminar meu relatório do estágio, então juntei o útil ao agradável e...
se interrompeu, seu rosto ficando vermelho enquanto ela olhava para Joe, que nos olhava sem entender nada. Ela conseguia ficar mais adorável? Que droga!
— Desculpa, me empolguei.
— Não, nunca peça desculpas por isso! — Retruquei, recebendo um olhar desconfiado de Joe. — , esse é Joseph, meu empresário e, infelizmente, melhor amigo.
— Oi, , quantos anos você tem? — ele segurou a mão dela e depositou um beijo em seu dorso, a deixando mais vermelha ainda.
— Joe! — O repreendi, lhe dando um soco no braço. — Não liga pra esse babaca.
— Ah, relaxa. — ela riu, ainda claramente envergonhada. — Tenho 22, faço 23 em abril.
— Bom, de 22 para 27 são só 5 anos, certo? — ele respondeu, fazendo as contas com a mão. Lhe dei mais um soco.
— Parabéns, Einstein! Agora foca na música. — eu disse, pegando o café com um pouco de raiva. Normalmente, eu não ligaria de Joe dar em cima de alguma mulher, mas vê-lo fazer isso com foi insuportável. — Fica à vontade, .
se encolheu, envergonhada, e foi para um canto da sala, se escondendo por trás da tela do laptop. Joe trocou um olhar comigo antes de sentar na mesa e voltar a focar na música. Fiquei relendo o que eu já tinha, mordendo a ponta da caneta em sinal de nervosismo. De canto de olho, vi inquieta, nos lançando olhares de tempos em tempos enquanto teclava algo em seu computador. Ela levantou, começou a andar pela sala, acompanhada pelos meus olhos e, para meu desagrado, os olhos de Joe. Voltei a encarar o papel, sem prestar nenhuma atenção, quando ela se aproximou por trás, perigosamente perto demais. Não pude deixar de lembrar de quando a mãe dela fez exatamente a mesma coisa.
Don't use me, take advantage of me, make me sorry I ever counted on you… — A ouvi falar e, mesmo sem melodia alguma, as palavras soaram como música em meus ouvidos. — Isso é bom.
— Mas é tudo o que eu tenho, além de não ter melodia.
— Bom, talvez dê para encaixar na melodia que tínhamos. — Joe falou, apontando sua caneta na nossa direção. , comprando sua ideia, cantou com a melodia da música descartada e ficou realmente bom. — Eu sou um gênio, não sou? Pode falar!
Eu olhei sorridente para e ignorei meu amigo. Malditas mulheres dessa família, me faziam sorrir fácil, não importam as formas. Mas se afastou e voltou para atrás de seu computador, sem tirar o sorriso do rosto. E, novamente, minha cabeça ficou em branco. Não vinha absolutamente nada. Cantarolei no ritmo que cantou, uma, duas, três vezes… Nada. E Joe não ajudava, seus olhos cravados na merda da tela do celular.
— Um, dois, três, quatro… Cinco… — ouvi murmurar baixinho enquanto passava o dedo pela tela. E ela repetiu, dessa vez parecia cantarolar. — Um, dois, três, quatro, cinco…
— O que está fazendo? — A perguntei, curioso.
— Contando quantas linhas eu ainda posso escrever do relatório, mas falta coisa demais… Não vai caber o que falta em cinco linhas.
— Cinco… — falei, batendo no meu caderninho com a caneta. Depois, cantarolei como na música. — One, two, three, four, five…
— To the five. —
falou, levantando as sobrancelhas. — One, two, three, four to the five…
— Counted on you. —
Li a primeira estrofe que fizemos e a letra foi aparecendo na minha cabeça. — Caralho…
— Acho que isso não pode pôr na música. — disse Joe, dando risada. — Enfia um baby, todo mundo ama um baby.
pediu licença e antes que eu pudesse responder algo, ela arrancou o caderninho da minha mão e começou a rabiscar algo. Abri a boca para protestar, odiava quando mexiam no meu fiel caderno de letras de música, mas ela logo me devolveu e começou a cantar; acompanhei com a canção escrita no papel.
Don't use me, take advantage of me, make me sorry I ever counted on you… One, two, three for, to the five… Baby, I’m counting on you.
— Caralho. — Joe reproduziu minha exclamação anterior. — Garota, você é um gênio.
— Não foi nada, fez quase tudo. — ela deu de ombros, mas sorriu com o elogio.
Passamos as horas seguintes tentando várias estrofes enquanto Joe fazia melodias que poderiam melhorar o que já tínhamos. Uma esperança cresceu dentro de mim de que, realmente, iríamos conseguir fazer a música até a próxima sexta-feira. Ao fim do dia, conseguimos ao menos mais duas estrofes boas. Deixei na casa dela e tive que reprimir um suspiro quando a vi saltitar feliz até a porta de sua casa. O caminho até o apartamento que eu dividia com Joseph foi silencioso, apenas o som da rádio preenchia o carro. Mas assim que chegamos em casa, ele despejou o que estava pensando e eu, conhecendo-o bem até demais, já sabia o que ele ia dizer.
… — ele começou com o acusatório enquanto tomávamos uma cerveja na cozinha.
— Eu sei o que você vai dizer. — retruquei, antes de dar um gole na bebida. — Relaxa, ela ajudou hoje, mas não vou mais deixar ela interferir na música.
— Bom, não é bem isso o que eu ia dizer... Na verdade eu ia até falar para você deixar de ser cabeça dura e pedir ajuda a ela. A garota tem bom ouvido e boas ideias, o pouco que fizemos hoje foi melhor que aquela música inteira.
— Mas…
— Mas eu vi como você ficou perto dela.
— Como exatamente eu fiquei perto dela? — retruquei, revirando os olhos.
— Sorrisinhos, troca de olhares, elogios... E você a conheceu quando, ontem? No mesmo dia que comeu a mãe dela, naquele mesmo estúdio?
— Onde você quer chegar com isso? — perguntei, começando a achar a cerveja um tanto amarga demais.
— Onde você, , quer chegar com isso? — ele retrucou, virando o resto de sua cerveja garganta abaixo. — Ok, ela é gostosa igual a mãe. Mas você pegar Emilia pelo menos te dá alguma vantagem! O que vai ajudar em sua carreira além de uma canção que vai fazer garotas como ela molharem as calcinhas?
Fiquei encarando Joseph pelo que pareceu uma eternidade, refletindo o quão babaca ele conseguia ser às vezes. Mas ele não estava totalmente errado. Minha intenção ao pegar Emilia era um pouco conseguir vantagem em relação ao álbum, além de saciar minhas necessidades sexuais. Juntei o útil ao agradável, apenas isso. Mas não era nada disso, ela realmente não faria diferença em minha carreira. Porém, era uma delícia ficar perto dela e nem digo pela aparência! Ela era divertida, animada, mesmo parecendo ter vergonha de ser assim. Eu adorei suas risadas e sorrisos, adorei vê-la tagarelar em meu carro, totalmente confortável com a minha presença. não era carne, como a mãe. Ela era o tempero que faltava.
— Está pensando nela, não é?
— Não. — respondi com raiva. — Estou pensando no quão babaca você é.
— Olha, não estou dizendo que você não pode pegar a menina, só não vale a pena se apaixonar agora. — Joe se aproximou de mim e apoiou uma mão em meu ombro e apontou para frente com a mão que segurava a nova garrafa de cerveja. — Imagina, cara, a quantidade de garotas caidinhas por você quando esse álbum sair e você se tornar o novo Justin Timberlake, só que com sotaque britânico. — Ele bateu em meu ombro e se afastou, sorridente.
Eu já imaginei sim, diversas vezes, não vou negar. Mas naquele momento, na minha mente, apenas uma garota se destacava no mar de fãs gritando meu nome. . Merda… Eu estava gostando dela.
— Pra que ter uma se você pode ter várias? — Ele continuou seu argumento. — As calcinhas vão cair sozinhas, !
— Você só pensa em sexo? — perguntei, já sabendo a resposta que ele ia dar. "Tem coisa melhor?"
— E tem coisa melhor, cara? — Ele riu, se divertindo com ele mesmo.
— Olha, talvez, e eu disse talvez mesmo, essa uma garota valha por todas. Já pensou nisso?
Joseph gargalhou alto, balançando a cabeça em negativa, e se retirou para o quarto, cantarolando as estrofes que fizemos da música. Me joguei no sofá e abri o meu caderninho, admirando a letra cursiva de Westover. Porra, eu queria poder passar meus dedos nela, em seus cabelos pretos na altura do ombro, em seu pescoço ou em seus lábios carnudos… Não na tinta seca de sua caneta vermelha.
Suspirei, derrotado, lendo o que escrevemos de tarde.
Don't hurt me
Desert me
Don't give up on me
What would I wanna do that for?

A garota era realmente boa, eu não podia negar.

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4 dias para a entrega do álbum.

Depois de passar o domingo inteiro ouvindo as outras músicas do álbum e não conseguindo acrescentar nada que prestasse na última música, eu me esforcei para chegar o mais cedo possível na gravadora na segunda-feira. Faltavam quatro dias e só tínhamos metade de uma canção em uma melodia reciclada, ainda teríamos que gravar aquela merda e mostrar para os produtores.
Depois de duas horas sozinho no estúdio, comecei a estranhar, pois ninguém chegava e já eram oito e meia da manhã. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Joe.
: Bro, onde você tá? Não tem ninguém no estúdio!
Joe: Hoje é feriado, idiota! Dia da independência ou alguma merda do tipo.

Bati com a mão na testa, me sentindo burro para caralho. A gravadora não abria de domingos e feriados, ou seja, dessa vez eu estava sozinho. Fiquei encarando a tela preta do meu celular, pensando nas opções que eu tinha. Eu poderia ir embora e tentar compôr no conforto do meu apartamento ou ficar aqui e aproveitar os equipamentos do estúdio. Mas sozinho? Não necessariamente.
Desbloqueei o celular e corri para a lista de contatos até encontrar o nome que não saia da minha cabeça. Bom, Joe falou para pedir ajuda a ela, não é? Era o que eu estava fazendo.
Alô? — Ouvi a voz sonolenta resmungar do outro lado da linha.
? Oi, é o .
O-oi Sr. ! Q-quer dizer, ! — ela disse e eu ri da confusão adorável. — Desculpa, eu acordei agora.
— Eu que peço desculpas por te ligar cedo no feriado, mas estou sozinho aqui no estúdio e estou precisando da minha compositora favorita. Você pode vir?
Um barulho estranho seguido de um gritinho fino me assustaram. Mas o silêncio durou longos segundos e desconfiei que a ligação havia caído.
? Alô?
Oi, estou aqui! — ela respondeu, afobada. — Desculpa, deixei o celular cair. Enfim, estou indo, te vejo em quinze minutos. Não, vinte! Vinte e cinco, talvez?
— Não tenha pressa. — respondi, rindo. — Vem com calma, e se puder trazer café…
Pode deixar! — E desligou, simples assim.
Fiquei rindo para a tela preta por um bom tempo, a voz adorável de ainda ecoando em minha cabeça. Ela era uma bela confusão, nada parecida com a elegância de sua mãe, sempre falando e fazendo as coisas de forma impecável. A parte do meu corpo no meio das minhas malditas pernas formigou com a lembrança do que fizemos. Porra, eu era sujo… Me deixei fazer aquilo acreditando que, independente do que acontecesse, ela faria um esforço a mais para o meu álbum ter sucesso. Isso não deveria ser motivo para transar com alguém.
O aroma do café entregou novamente a chegada de . Mesmo tendo acordado há meia hora atrás e usando um moletom simples da GAP, a garota estava linda. Seus cabelos curtos estavam presos em duas pequenas tranças e seu rosto estava bem menos maquiado que nos outros dias.
— Você realmente acordou agora? — perguntei depois de cumprimentá-la e pegar meu café. Ela respondeu com uma risadinha tímida.
— Me arrumar rápido é uma das minhas muitas habilidades.
— Compositora, musicista, se arruma rápido e sempre escolhe a melhor cafeteria de todas… — Fingi contar os itens na mão. — O que mais você sabe fazer?
— Ah, , se eu te falar, você corre o risco de se apaixonar por mim.
Quase engasguei com meu café. Ela estava flertando comigo? percebeu e me olhou, preocupada.
— É piada, .
— Claro, eu sei. O café estava quente.
O sorriso que ela deu entregou que eu não a convenci, mas ela não falou nada. Igual no sábado, ficamos sentados quebrando a cabeça para pensar em frases que fizessem sentido com o que já tínhamos escrito. Mas parecia tão travada quanto eu. Na hora do almoço, pediu comida japonesa e eu pedi um clássico sanduíche do Subway. Nos sentamos no chão do estúdio, um de frente para o outro em um piquenique improvisado.
— Acho que podíamos colocar essa parte aqui. — Ela se inclinou para frente e circulou uma das estrofes, puxando uma flechinha para cima. — Atrás dessa aqui. Depois repete a parte "one, two, three" quatro vezes.
Observei o que ela fez, depois olhei para ela que olhava para o caderno com concentração, mordendo o lábio. Fiquei paralisado, hipnotizado por cada movimento distraído que ela fazia.
— O que acha? — ela perguntou, olhando nos meus olhos.
— Perfeito.
Ela sorriu em resposta e continuou comendo seu sushi. Eu continuei observando-a, perdendo totalmente o interesse no meu lanche. Cara, eu estava ferrado. Essa garota era encantadora e irresistível. Perigosamente irresistível.
— Sério mesmo que você nunca comeu sushi na vida? — ela perguntou, me tirando do transe.
— Hum, é… Acho estranho.
me olhou com indignação. Em mais uma de suas habilidades, ela pegou um negócio de arroz com salmão em cima com dois palitos enormes de nome complicado. Ela se inclinou novamente, agora estendendo o peixe cru e aproximando ele do meu rosto.
— Não, valeu.
— Você não pode dizer que não gosta sem provar, . — Ela se aproximou mais, seu perfume doce me deixando deliciosamente hipnotizado. — Estou prestes a te dar a comida dos deuses japoneses, mas se lembre de uma coisa, você nunca provou antes, então vá com calma.
Fechei os olhos e deixei que ela colocasse a comida na minha boca. Até que não era ruim. Mas o peixe cru pareceu acender algo em minha mente. Me afastei dela e agarrei o caderninho enquanto eu ainda mastigava e ela me olhava com curiosidade.
— Tenho a estrofe do começo! — exclamei depois de escrever no caderno. Passei o caderno para ela, pois queria ouvir com a voz angelical dela.
Now I'm about to give you my heart, but remember this one thing, I've never been in love before so you better go easy on me… — ela cantou, sorrindo, e riu quando me olhou. — , você pegou meu argumento e transformou em música! Genial!
Sorri largo para ela e voltei a comer o sanduíche enquanto falávamos mais sobre o álbum, nossas vidas, a faculdade. Eu podia ouvi-la falar entusiasmada pelo resto do dia, ou talvez da vida.
Passamos o resto do dia ali, um complementava a frase do outro, formando estrofes tão boas que, de tempos em tempos, pulávamos animados com o resultado. A música estava ficando ótima e nem percebemos o tempo passar. Já eram quase onze da noite quando vi os olhos da garota pesarem.
— Acho melhor irmos embora. — falei, vendo-a esfregar os olhos como uma criança. Ela assentiu e se levantou, me ajudando a levantar em seguida.
estava mais quieta no caminho para casa. Ela virou a cabeça para a janela, mas me lançava olhares de tempos em tempos enquanto eu cantava nossa música. Nossa música. Isso soava muito bem. Quando estacionei em frente a casa dela, não parecia querer sair do carro e eu definitivamente não queria que ela saísse.
— Obrigado por hoje, você tem sido uma ajuda e tanto. — falei, sorrindo.
— Obrigada você por confiar em mim. — ela disse, soltando o cinto de segurança e se aproximando. — Você é uma boa companhia.
Engoli em seco quando ela passou a mão pela minha nuca e acariciou meus cabelos curtos. Ela se aproximou mais e depositou um beijo demorado em minha bochecha. Não sei dizer se foi seu perfume ou o toque quente em meu rosto, mas eu não resisti. Quando ela se afastou, segurei seu rosto e a puxei para perto de novo, beijando os lábios que estava me segurando há três dias para não beijar. Quase suspirei de prazer quando ela retribuiu. Mas , não satisfeita, aprofundou mais o beijo, puxando meus cabelos e me impedindo de nos afastar. Ela se segurou em meus ombros e subiu no meu colo sem separar nossos lábios, me fez arfar quando rebolou em mim, fazendo meu amigo de baixo acordar. Minhas mãos foram até sua bunda, incentivando-a a continuar com os movimentos gostosos. Depois levei meus dedos até sua barriga, sentindo-a se arrepiar inteira. Subi minha mão até seu sutiã rendado, recebendo um gemido de aprovação enquanto rebolava mais rápido. Céus, ela sabia o que fazer, igual a sua mãe.
Merda. Eu tinha que pensar na mãe dela justo agora?
Tirei minhas mãos dela e separei nossos lábios, recuperando o ar. Os dois estavam ofegantes e desajeitados, mas ela mantinha o sorriso lindo no rosto. Me odiei por ter que desfazê-lo.

— Pode me chamar de . — ela falou, passando os dedos no meu rosto. Fechei os olhos com seu toque. — Meus pais me chamam assim.
Tudo o que eu queria era que ela não tocasse no assunto "pais".
— Eu não quero te magoar, . — eu falei, pousando as mãos nas coxas grossas dela. — Eu não acho que seja um cara bom pra você.
— Eu sei me cuidar, . — ela respondeu, rebolando provocativamente em meu colo. Tive que reprimir um gemido. — Como diz nossa música, eu confio em você, só não me faça me arrepender disso.
Engoli em seco de novo antes de beijá-la uma última vez. Ela saiu do carro e correu animada para a porta da sua casa como sempre fazia. Me afundei no banco quando vi Emilia parada na porta, olhando diretamente para o carro. Ela com certeza me viu e caminhou rebolando em minha direção. Coloquei o cinto, pronto para dar a partida, mas ela se apoiou na janela aberta com seu rosto sério de sempre.
.
— Mais conhecido como . — brinquei, sem receber nenhum sorriso em resposta. — Como vai, Emi?
— O que você está fazendo com minha filha?
Arregalei os olhos em um gesto de falsa surpresa, que ela, obviamente, não acreditou.
— Escuta aqui, . — ela falou entredentes e enfiou a mão dentro do carro, agarrando meu pau por cima da calça e apertando-o com certa força, dessa vez não foi nada prazeroso. — Espero que você não esteja fazendo o que eu acho que está fazendo e que você não se esqueça de quem manda nisso aqui, ok? Ou pode dizer adeus aos seu álbum, ou melhor, à sua carreira.
Assenti, em silêncio, respirando aliviado quando ela tirou a mão de mim e desfilou novamente para sua casa. Sai de lá o mais rápido possível com minha cabeça a mil. Emilia havia me ameaçado? Se eu ficasse com , será que ela faria algo para prejudicar o lançamento do meu álbum? O mais estranho é que eu preferia continuar com a ceder à chantagem barata de Emilia Westover, eu já não conseguia mais vê-la com o desejo e tesão de antes. Mas valia a pena correr o risco de meu álbum fracassar por uma paixonite?

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2 dias para a entrega do álbum.

— Agora você coloca a primeira estrofe no final. — opinou, sentando no meu colo em frente a mesa de som onde eu apoiava meu caderninho. — E acho que temos a música.
Observei a canção inteira, minha caneta azul e letra mal feita se misturando com a cursiva bonita e vermelha de . Algumas anotações de Joe estavam em preto, mas eram poucas. Ontem passamos o dia inteiro na nossa casa com e, por incrível que pareça, eu não a levei para a cama. Bom, ela dormiu na minha cama e eu, na sala. Eu me recusava a tratá-la como tratei a mãe dela, pois não merecia. Com ela, eu queria fazer direito, por mais difícil que fosse manter minhas mãos longe dela.
E no geral, Joe estava muito satisfeito com o que eu e estávamos criando e nos deu toda liberdade com a canção. Porém, depois que eu contei o que Emilia me disse há duas noites atrás, ele estava reprovado nossa relação. Ele se aproximou de nós, me lançando um breve olhar de repreensão antes de olhar para o caderno e ler a canção. Ele levantou as sobrancelhas, impressionado.
— Muito bom — ele assentiu, sorridente. — E conseguimos antes de sete dias! — Ele bateu na minha mão e na mão de , comemorando.
se virou e me beijou com vontade. Ela fazia muito isso quando se empolgava e eu, é claro, adorava. Minhas mãos sempre iam para suas convidativas coxas para apertá-las, pois eu amava ouvir a risadinha envergonhada que ela dava. Naquele momento, ela estava de saia, e ousei deslizar minhas mãos um pouco mais para baixo do tecido, sentindo o delicioso calor entre suas pernas.
Joseph pigarreou alto e na mesma hora ouvimos um barulho no corredor. pulou do meu colo, ajeitando a saia antes de sua mãe entrar seguida pelo próprio secretário. Emilia nos olhou com desconfiança, sua feição dura como sempre. Ontem eu ignorei uma ligação dela, e quando ela me mandou mensagens me convidando para ir até a casa dela pois ela estava sozinha, respondi apenas com “estou ocupado com a música”. Ela nem imaginava que eu estava com em meus braços e, segundo Joseph, isso foi um grande erro.
, David pediu para escanear isso aqui e enviar para o e-mail dele. — ela falou com rigidez, entregando uma pasta azul para a filha. assentiu, ainda sorrindo, e saiu para o escritório de seu pai com a pasta em mãos. — Como está a música? David chega amanhã, ele vai querer ouvir.
— Está pronta, só precisamos gravar. — respondi, recebendo um olhar frio da mulher.
— Sra. Westover, eu gostaria de fazer uma sugestão, se me permite. — Joe falou, se levantando de onde estava, e Emi assentiu. — Acho que essa música seria perfeita para um dueto. E a voz da sua filha ficou ótima com o arranjo e, bom, ela nos ajudou com a letra… Pensei nela gravar o dueto com o .
Eu e Emilia olhamos surpresos para Joe, eram dois tipos de surpresas diferentes. É claro que eu já havia pensado nisso, mas nunca teria coragem de dizer em voz alta. Mas Emilia o olhava como se ele tivesse falado a maior merda de todos os tempos.
— E você está de acordo? Achei que não quisesse outros compositores no seu álbum. — ela me perguntou.
— Não posso ignorar o talento da , Sra. Westover.
— Não pode, né? — ela me questionou e eu assenti. — Está bem, gravem logo e veremos amanhã o que David acha.
Seu não parecia indicar que ela havia terminado a conversa ou que ela estava de acordo, muito pelo contrário. Emilia dispensou seu secretário e olhou com intensidade para Joe, que entendeu o recado e se retirou em seguida. Um flashback indesejado surgiu em minha mente e eu fiz menção de levantar, mas ela me empurrou novamente na cadeira e se apoiou nos braços da mesma, fazendo meu coração acelerar.
— Então era isso que estava fazendo com a minha filha? — ela perguntou perigosamente perto do meu ouvido. — Sabia que ela não estava te dando.
— Eu a respeito. — falei com a voz ridiculamente fraca.
— Isso significa que você não me respeita? — Ela riu e depositou um beijo em meu pescoço, me fazendo apertar os olhos. — Ah, , eu não quero ser respeitada por você, se for o caso.
Emilia me olhou com malícia e se aproximou do outro ouvido. Eu apertei minhas mãos em minhas coxas com força, tentando resistir ao máximo não tocá-la e eu estava conseguindo. Pensa em , cara! Mas pensar em só me deixava mais… Acordado. E isso não era o que eu queria agora, então tentei pensar em Joe pelado, pulando corda, tamanho era meu desespero.
— Eu quero que você me desrespeite, . Quero que me foda como você fez naquela noite.
— Emilia, não...
A mulher ameaçou se sentar no meu colo, mas eu segurei sua cintura para afastá-la. Mas, é claro, foi tarde demais. entrou bem na hora e sua feição partiu meu coração. Me levantei no mesmo instante, quase derrubando Emilia, e me afastei da mulher o máximo possível. Mas apenas saiu correndo da sala no exato momento que um trovão esbravejou do lado de fora.
— Que merda! — exclamei antes de correr atrás dela e deixar Emilia para trás. Foda-se o que ela poderia fazer com meu álbum, eu não podia perder a confiança de de jeito algum.
Mas já havia saído do prédio, no meio daquela chuva, e eu sabia que ela não tinha carro. Então saí atrás dela, entrei no meu carro e percorri as ruas com se estivesse indo em direção à casa dela. Respirei aliviado quando vi o casaco vermelho que ela estava usando. Desacelerei e abri a janela, vendo a chuva forte molhar o interior do meu carro.
, entra aqui! — gritei para que ela pudesse me ouvir por cima da chuva. Ela me olhou com raiva e acelerou o passo. Buzinei com vontade, assustando-a. — Para de ser teimosa, entra aqui!
olhou para o carro, depois para o céu, e suspirou derrotada antes de entrar no carro e bater a porta com força. Seus cabelos estavam encharcados e uma gota teimosa caia da ponta arrebitada do seu nariz, o que eu achei adorável, mas seu rosto estava retorcido em raiva.
— A minha mãe, ! — ela gritou, desferindo socos em meu braço. Ela deixaria roxos enormes em minha pele branquela, mas eu merecia muito mais. — Por quê? Por que a minha mãe?
falei com calma, segurando seus braços e olhando fundo nos olhos dela. — Você tem todo o direito de me odiar, mas deixe eu me explicar antes, está bem? Seja justa.
— Justa. — ela repetiu com desdém, dando uma risada irônica.
— Escute, sabe o dia que nos conhecemos? — perguntei e a vi assentir de mal gosto. — Eu fiquei com a Emilia naquele dia…
Fechei os olhos quando a vi levantar a mão para me dar um tapa e me encolhi no banco, esperando a dor atingir meu rosto. Mas a dor não veio, apenas a ouvi chorar baixinho. Vi seus ombros tremerem enquanto ela abaixava o braço. Droga… Era isso que eu não queria. Pude ouvir meu coração se despedaçar ao vê-la chorando. Maldita Emilia, maldito álbum, maldita música!
— Eu te juro, . Depois que eu te conheci, nunca mais toquei nela.
Vi que ela estava prestes a protestar, mas coloquei um dedo em seus lábios com delicadeza.
— Hoje eu estava tentando afastá-la, . Eu sei que eu errei feio, mas eu te juro, , você é a única que eu quero, é a única na minha mente. Eu preciso que você acredite e confie em mim.
A chuva agora estava quase parando e o carro era de um silêncio insuportável. me olhou com dor explícita nos olhos. Ela enfiou a mão no bolso do casaco e puxou um papel dobrado, o jogando no meu colo antes de sair do carro e correr para longe. Exclamei todos os palavrões possíveis e soquei com força o volante do carro até a lateral da minha mão ficar vermelha e dolorida. Tentei regular a respiração e me lembrei do papel dobrado em minha perna. Desdobrei e li a frase que faltava para a sétima estrofe escrita com tinta vermelha
'Cause you're the one I'm giving my heart to, but I gotta be the only one.
A merda da ironia, senhoras e senhores. Isso não veio da cabeça dela, isso veio do coração. Eu consegui, sem querer, fazer o que ela mais temia. E como raios eu faria acreditar que ela era sim a única na minha vida?

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1 dia para a entrega do álbum.

Não é preciso dizer que eu não dormi a noite inteira. Mandei diversas mensagens para , que foram ignoradas com sucesso, assim como minhas ligações. Fui cedo para a gravadora com Joe, o silêncio reinando entre a gente durante todo o caminho. Ontem, Joseph e mais uns caras da banda da gravadora terminaram o arranjo, faltava apenas algumas notas de piano que ele queria que eu fizesse. Assim que chegamos, entreguei para ele o pedaço de papel com a frase que faltava na música e insisti para que ele a incluísse. Afinal, a música era tão de quanto minha.
Mas então, chegou a hora de gravar o vocal. David e Emilia estavam lá para assistir junto com mais algumas pessoas da equipe. Fiz o aquecimento da voz olhando constantemente para a porta, esperando que entrasse pela porta. Mas hoje, justo hoje, ela não estava ali. Me aproximei do ajudante de Emilia enquanto ela estava longe e perguntei pela garota.
— Ei, cara. — murmurei baixo. Ele me olhou com tédio. — Você sabe da ?
— A filha dos Westovers? — ele perguntou, indicando o casal. Eu assenti com ansiedade. — Ela não faz mais estágio aqui, eles desligaram ela.
Fechei minha mão com força. É óbvio que Emilia faria isso, ela não aceitaria fácil o fato de eu querer a filha dela e não ela. Voltei para a cabine com o rosto tenso de tanta raiva. Joe me deu o sinal e a melodia começou a tocar, mas nada saiu da minha boca. Ele pausou e perguntou se estava tudo bem e eu respondi que sim, mas na segunda tentativa, eu gaguejei e desafinei, sem conseguir me concentrar.
— Não dá, a música não funciona sem a . — falei pelo microfone. Todos me olharam confusos, sem entender.
— Cara, podemos chamar outra cantora para o dueto se quiser... — Joe ofereceu e eu neguei.
— Se não for a Westover, não terá música ou álbum.
Eles se entreolharam com um misto de raiva e confusão. Joe pediu uma pausa e Emilia se retirou com seu fiel cachorrinho. Fiquei no cubículo do estúdio, sentado no banco, sem ter muita reação. Meu álbum seria lançado em 24 horas e eu não tinha as doze músicas. Porém, depois do que pareceram horas (mas foram uns 15 minutos), entrou como um meteoro dentro do estúdio e veio para a cabine sem dizer nada. Todos observaram em silêncio até Joe se pronunciar.
— Bom, acho que podemos continuar, não é?
Olhei sorridente para , que respondeu com o olhar mais frio do mundo.
— As condições foram meu nome aparecer como compositora e eu ficar 60% de todo o lucro da música.
— Eu te daria 100%, meu amor.
Ela tentou reprimir um sorriso, mas falhou. Agora sim a música iria sair.
Now I'm about to give you my heart, but remember this one thing, I've never been in love before so you gotta go easy on me…
— I heard love is dangerous, once you fall you never get enough, but the thought of you leaving ain't so easy for me… —
Na minha parte, tive que me concentrar para não me distrair com a perfeição da voz dela.
Don't hurt me, desert me… Don't give up on me…
— What would I wanna do that for?
— Don't use me, take advantage of me… Make me sorry I ever counted on you…
Nós cantamos essa parte com tanta emoção, como se estivéssemos cantando um para o outro, e nós realmente estávamos. Todos nos olhavam surpresos, mas parecia ser uma surpresa boa.
— One, two, three, four to the five…
— Baby, I'm counting on you.
parecia me dizer que estava confiando em mim enquanto repetimos essa frase quatro vezes. Talvez eu estivesse ficando louco, mas uma esperança pequena dentro de mim cresceu involuntariamente.
— Understand I've been here before, thought I found someone I thought I finally could adore.
— But you failed my test, got to know her better so I wasn't the only one! —
ela cantou essa parte com os olhos fixos em mim e eu não ousei desviar.
— But I'm willing to put my trust you, baby you could put your trust in me… Just like a count to three, you can count on me and your never gonna see…
— No numbers in my pocket, anything I'm doing, girl, I'll drop it for you… —
Desejei em silêncio que ela acreditasse nas minhas palavras.
— 'Cause you're the one I'm giving my heart to but I gotta be the only one…
Nossa vozes juntas ficavam perfeitas e a letra, sem querer, era realmente nossa. Nossa música. Isso nunca soou tão verdadeiro. Estávamos usando a letra para nos declarar um para o outro, gritar tudo o que sentimos nesses breves e intensos dias um para o outro para, quem sabe, finalmente nos entendermos.
— I really hope you understand that if you wanna take my hand… —
ela cantou com a voz carregada de dor, me olhando como se implorasse que eu entendesse.
— You should put yours over my heart, I promise to be careful from the start…
— I'm trustin' you with lovin' me…
— Very, very carefully…
— Never been so vulnerable…
— Baby I'll make you comfortable… —
Nossa gravação parecia mais uma conversa cantada do que uma canção, mas, pela reação de quem estava ouvindo, não estava ficando ruim.
— No I'm about to give you my heart, so remember this one thing… I've never been in love before, yeah, you gotta go easy on me…
Nós dois estávamos ofegantes. Não erramos uma palavra, nem uma nota sequer. Todos do outro lado da cabine aplaudiam e Joe estava tão eufórico que parecia quase pular em sua cadeira.
— Boa, ! Muito bem, ! Vamos editar algumas coisas, mas acredito que não vamos precisar regravar nada! A música fica pronta hoje mesmo! — Um dos produtores falou pelo microfone e fiz um sinal de positivo para ele.
Mas minha atenção estava em , que me olhava com certa tristeza nos olhos. Ela tirou os fones e saiu da cabine tão rápido quanto entrou.

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Uma semana depois do lançamento do álbum.

O barulho da champanhe sendo aberta me tirou dos meus devaneios. Todos no estúdio gritaram em comemoração quando a bebida foi servida nas diversas taças. Forcei um sorriso enquanto todos brindavam, mas meus olhos estavam mais ocupados varrendo o lugar em busca dela.
Quero propor um brinde. — gritou David, animado, fazendo todos se calarem. — Ao , por nos ajudar a reerguer a Westorver Records com o álbum “Counting” que está há uma semana em primeiro lugar nas paradas da Europa!
Todo mundo comemorou novamente, levantando as taças.
— Daqui duas semanas ele fará seu primeiro show na turnê dos Estados Unidos e estaremos comemorando o primeiro lugar nas paradas da América! — Joe exclamou, me lançando uma piscadela. Devolvi com um aceno, e ele pediu que eu fizesse o próximo brinde.
— Bom… Esse brinde vai ser uma espécie de agradecimento também. — falei um tanto envergonhado. — À toda a equipe da Westover Records pela paciência e dedicação; ao Joe, pelos mesmos motivos e por ser o melhor amigo de todos. — levantei a taça para ele, que piscou novamente.
Meus olhos varreram o salão de novo e finalmente encontraram próxima da mesa de bebidas com um vestido rodado azul e os cabelos curtos soltos, moldando seu belo rosto. Sorri de verdade pela primeira vez desde o dia do lançamento do álbum. era a nova queridinha da internet. Todos amavam nosso dueto e encontraram alguns covers dela no Youtube que antes não chegavam a mil visualizações e agora alcançavam centenas de milhares por dia. Obviamente seus pais já estavam providenciando tudo para gravar seu primeiro álbum. Ela era uma estrela agora, mas continuava com o mesmo rosto delicado e inocente de sempre.
— À , por ter sido a melhor compositora e cantora que eu poderia desejar. — Levantei a taça para ela, que retribuiu, um tanto envergonhada, quando todos a olharam. — Você é uma incrível, . E será uma honra se você aceitar abrir os shows da minha turnê.
Todos exclamaram em surpresa, mas pareciam adorar a ideia. Menos , que saiu correndo pela porta. Murmurei um palavrão enquanto todos voltavam a comemorar, as músicas do meu álbum tocando ao fundo distraiam a todos. Corri atrás dela, dessa vez não a deixaria ir embora. A alcancei do lado de fora, exatamente no mesmo lugar em que nos conhecemos. E ela não correu, mesmo com o céu nublado, sem chuva alguma lhe impedindo.
— Você… — ela começou a falar, mas se interrompeu. Ensaiou falar mais coisas, mas ela apenas fechava a boca novamente, desistindo.
— Sou um merda. — completei sua fala, mesmo não sabendo se era aquilo que ela queria dizer. Considerei seu silêncio como concordância. — Eu não te mereço, , nem um pouco.
Arrisquei me aproximar dela, e ela não se moveu. Arrisquei ficar na sua frente e secar suas lágrimas e ela se manteve no mesmo lugar.
— Mas eu adoro você, . Desde o segundo em que te vi, exatamente aqui, esperando a chuva passar. E eu sei que errei feio, muito feio, e entendo se você nunca me perdoar. — Segurei seu rosto com as duas mãos e a fiz olhar para mim. Seus olhos enormes e vermelhos brilhavam com as lágrimas. — Aceite meu convite para a turnê e me deixe te mostrar que desde aquele dia, você é a única na minha vida, .
Ela fungou, seus ombros ainda tremiam um pouco por causa do choro.
— Minha mãe falou o que aconteceu de verdade. — ela falou baixinho. — E ela me prometeu que não vai mais acontecer.
— Acredita na gente, por favor. — implorei, secando suas lágrimas.
, estou prestes a te dar meu coração. — ela falou, me olhando nos olhos. — Então é melhor você pegar leve.
Não aguentei segurar a risada com a menção da nossa música. A sensação de alívio que eu senti foi indescritível. Eu a beijei com toda a vontade e saudade que senti durante essa uma semana, desejando não a soltar nunca mais.



Fim!



Nota da autora: Sem nota.

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Nota da beta: Olha, eu tô MUITO apaixonada por essa fic! Sério, Pati! Você é maravilhosa, é a segunda fic sua que eu leio e eu só tenho elogios, você usa a música da melhor forma possível, você faz a gente entender a letra e sentir tudo nela! Eu tô realmente apaixonada por esses dois, você arrasou demais! 💙

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