Última atualização: 29/05/2015

Capítulo Único

O relógio ainda não havia despertado e aquela noite estava sendo bem mais complicada que havia planejado, depois de um longo show na noite passada e várias entrevistas durante o dia, o curto tempo que havia sobrado para que ele descansasse um pouco não era o que seu corpo estava precisando no momento. Em sua cabeça, ele ainda ouvia vozes de fãs gritando descontroladamente e vários jornalistas fazendo perguntas sem sentido e outros arrumando uma boa fofoca para estampar a capa das revistas no fim de semana. Claro que o trabalho de um jornalista era esse, descobrir alguma coisa que seja novidade sobre sua vida e publicar para que isso se torne um escândalo mundial. E tudo o que ele devia fazer era simplesmente arrumar uma boa confusão que o fizesse ficar no auge da fama por algumas semanas. Nada como sair com algumas fãs, ou então ser pego dirigindo alcoolizado. A segunda opção ele já estava cansado de fazer e a primeira também. Álcool era praticamente quase beber água natural em dias mais tranquilos, qual era a novidade nisso? Nenhuma. E sair com fãs não era tão emocionante como alguns artistas descreviam. No começo da carreira era um pouco mais emocionante, tudo era novidade e tudo era carne nova que estava disposta a ser usada por algumas horas, algumas valiam a pena e outras você conseguia se divertir por algum tempo. E a lei da vida de um cantor ou qualquer celebridade é não deixar rastros e quando alguma dessas garotas começavam com histórias em revistas era a hora de se comportar como o homem mais sério e discreto do mundo, o que era quase impossível em se tratando de . Isso tinha se tornado uma rotina em sua vida: shows, entrevistas, apresentações, fofocas, fãs, algumas fotos e várias outras gravações durante os meses. No auge dos seus 27 anos, nenhuma decisão era tomada por ele, e, sim, por agentes publicitários e várias outras pessoas que ele nunca imaginou que teria a sua volta, 24 horas do seu dia. Às vezes não conseguia nem guardar o nome de todos. Depois de quatro anos, ainda não sabia nem como lidar com o seu personal stylist. Até para escolher uma roupa em seu guarda-roupa havia uma pessoa exclusivamente para isso. Só o que estava faltando, de fato, era uma pessoa para levá-lo até o banheiro em horas pré-determinadas. Uma pessoa para dar banho e outra para lembrá-lo de toda sua agenda no dia seguinte. De fato ele tinha alguém que o lembrava não somente da sua agenda do próximo dia, e, sim, das próximas semanas e até meses, seu melhor amigo Adam. Claro, sem esquecer da sua namorada super modelo da Victoria’s Secret, ela também desempenhava bem o papel de melhor namorada diante de todas as revistas.
O sol em South Beach começou levemente a surgir, ficando quente a cada minuto que passava. Incrivelmente, faltando pouco para as 10 horas da manhã, a temperatura já beirava 28 graus. Nem com o ar-condicionado ligado estava conseguindo dormir. O calor estava sufocante e ele acordou diversas vezes, olhando para o relógio e tentando não perder a hora do seu próximo trabalho. Na realidade, a noite tinha sido bastante conturbada, vários sonhos estranhos e várias lembranças de uma única pessoa.
- , acorda. - Adam chamou, colocando um fim naquelas lembranças e pensamentos. despertou imediatamente, assustado, rolou os olhos em volta da sala e notou que estava deitado no sofá. Adam estava parado um pouco mais a frente com os braços cruzados e a testa franzida, esperando que ele dissesse alguma coisa, ou simplesmente começasse a explicar o que estava acontecendo. Adam chegou bem na hora em que estava conversando com alguém, ainda dormindo, e as únicas palavras que ele entendeu foram “...há uma renúncia!”.
- Não me pergunte nada. - despertou, colocando uma das almofadas do sofá no rosto. - Tive o mesmo sonho, não sei o que anda acontecendo comigo. - suspirou fundo, com a voz abafada e cansada. - Eu penso nela, eu sonho com ela e fico nesse ciclo. Não sei o que fazer, não sei porque ando sonhando tanto com ela nesses últimos dias. - Ele desabafou.
- G-A-Y. - Adam soletrou, apontando o dedo e caminhando para o outro lado da sala. - Você só pode estar obcecado por essa garota, não consigo enxergar outra possibilidade a não ser essa. - Ele passou uma das mãos no cabelo e em seguida deu alguns passos para perto do amigo novamente. - Qual é, cara? - Adam abriu os braços, exasperado. - Isso aconteceu há muito tempo e eu não entendo porque você ainda morre de amores por uma garota que você namorou não sei quantos anos atrás. - tirou a almofada do rosto e encarou o amigo que agora estava com os braços cruzados em forma de protesto. - Acorda pra vida! Você tem uma namorada nova e sua vida não é a mesma de alguns anos atrás, aceita que dói menos!
- Não precisa falar dessa maneira. - contestou, dando um pulo do sofá. - Eu sei que já faz mais de 10 anos, que minha vida é totalmente diferente de quando eu tinha 17 anos e que minha vida em Boston é passado e meu futuro é brilhante como . - Ele fez uma careta, ignorando qualquer outro comentário que Adam fosse fazer. A mesma história se repetia toda vez que tentava falar sobre com o amigo, sempre as mesmas palavras e a mesma frase: “Essa vida não é mais sua, você é .”
- Cara, eu apenas estou tentando ser realista. - Adam começou a caminhar de um lado para o outro da sala. Ele tentava arrumar uma maneira de encerrar aquele assunto da melhor forma possível, sem brigas e sem nenhum desentendimento entre eles. - Você fica pensando nessa garota e nem sabe se ela ainda está viva. Aliás, se você gostasse dela o tanto que você fala e fica pensando, já teria tido coragem e ido para Boston procurar por ela e não ficaria sofrendo dessa paixãozinha por tanto tempo. - Adam foi sincero e notou que isso causou um certo espanto em .
- E, claro, você acha que eu nunca fui para Boston tentar achar a ? - perguntou, já cansado de tanto falar a respeito disso. Adam não precisava saber de tudo o que ele fazia nas horas vagas, já estava cansado de ter que dar explicações a todo momento do que fazia ou deixava de fazer durante todos os minutos do seu dia. Já estava cansado de ter uma pessoa do seu lado para cada coisa que precisava, não existia mais liberdade. Ele nem ao menos podia ir na esquina sozinho ou dar uma volta na praia para relaxar um pouco. Ficar sozinho nessa sua nova vida era algo quase impossível. Ele precisava de um tempo, respirar, pensar ou passar nem que seja alguns minutos deitado na praia, escutando as ondas quebrando na areia. Nada de Adam, nada de agentes, jornalistas, fãs ou namorada. Solidão. Privacidade. buscava de alguma maneira entender o que estava acontecendo com os seus sentimentos, saber o que estava acontecendo dentro de sua cabeça. Estava confuso. Desesperado e perdido.
- Para cada escolha há uma renúncia. - Essa frase martelou em sua cabeça durante toda a noite, ele sabia qual tinha sido sua escolha e sabia que havia renunciado . Escolha que não tinha volta, nem jeito e nem solução. Foi feita sem pensar. Cantar era o seu sonho, tudo o que ele mais queria e não precisou muito tempo para entender que nesse sonho não havia espaço para outra pessoa. Não havia espaço para um amor. Não havia espaço para ela.
Ele conseguiu num curto espaço de tempo magoar a pessoa que mais se importava com ele e amava. Amava sem se importar com o que os outros falavam, amava de um jeito único, amava de todo coração. E ele a abandonou, sem explicações, sem palavras ou qualquer gesto de carinho.
E nunca mais a encontrou depois que a deixou naquele jardim, nem notícias, nem telefonema e nada mais que pudesse lembrar dela. Dez anos se passaram e em sua cabeça ele ainda vive aqueles momentos que o fez desistir dela e estar aqui hoje com essa vida. Com a sua carreira e seu estrelato. Esse foi o preço que pagou por seu sonho e não adiantava nada ficar remoendo essa história. Cada vez mais que pensava em , o seu coração apertava e trazia lembranças que ele tentava a todo custo esquecer.

Dez anos antes…

Outono em Boston e o parque Public Garden era pouco frequentado nas noites frias que estavam fazendo. Um parque perfeito para caminhar e observar a tranquilidade da natureza, era o preferido de e . Do outro lado do parque tinha uma enorme árvore com folhas vermelhas que estavam secas e caindo a todo momento. puxou a garota pelo braço e a levou para debaixo da árvore, ele encostou-se levemente nela e observou a maneira que olhava para cima. Ela parecia estar encantada com as cores das folhas, o clima estava em torno de 3 graus. Para uma noite fria e um parque aberto daquele jeito, o vento roçava os cabelos da garota contra o seu rosto e ele conseguia sentir o cheiro do shampoo de frutas vermelhas que ela sempre usava. seguia a regra que frutas da mesma cor do seu cabelo dava brilho e maciez, só ela acreditava nisso. Depois de alguns minutos olhando para todos os detalhes da árvore, notou que estava olhando fixamente para o rosto dela. Por mais o que o conhecesse durante anos, ela nunca tinha visto aquele olhar, intenso e determinado. O que estava acontecendo? Por que ele havia a chamado para o parque a essa hora? Algo estava errado com e o conhecendo tão bem como ela conhecia, sabia que ele tinha aprontando alguma coisa muito grave.
- Tudo bem. O que você aprontou? - Ela perguntou, preocupada, já querendo saber o motivo estranho daquele comportamento. Ele não estava normal nas últimas semanas, estranho, calado e um pouco mais carinhoso do que o normal. Esse não era o que ela conheceu e conviveu durante muitos anos. Um normal era desligado e não se preocupava com nada a sua volta, mas nunca se esquecia do fã-clube de garotas se arrastando aos seus pés todos os dias. Logo, alguma coisa estava errada.
- Namora comigo? - Ele perguntou imediatamente, sem dar espaço para qualquer outra pergunta que ela fosse fazer.
- , você ficou louco? - assustou-se com aquela pergunta repentina.
- Eu sempre fui e só notei agora que sempre fui louco por você, . - Ele sorriu, colocando uma mecha do cabelo dela para trás da orelha. - Amo o jeito que você sorri, o tom vermelho da sua pele quando fica sem graça, o jeito engraçado que você mexe com a boca quando fica nervosa. - Ela parecia meio desconcertada ao escutar todas aquelas informações que estava passando. Como ele conseguia falar tudo aquilo daquela maneira tão calma.
- Pára! - Ela pediu, tentando afastar o amigo. não queria escutar, não iria cair nessa brincadeira sem graça que ele estava fazendo. Como era possível ele brincar dessa maneira com ela? Em todos esses anos, essa brincadeira estava sendo a pior. E ela não iria aceitar qualquer pedido de desculpas, ele sabia muito bem que esse assunto era sério.
- Por que você nunca acredita no que eu falo? - puxou o corpo da garota contra o seu com uma das mãos. Ele estava falando sério. Seu olhar sustentou o dela e, da maneira como ele havia descrito minutos antes, o tom do rosto da garota começou a avermelhar. - Eu estou aqui com você em meus braços e com um pedido de namoro, e a única coisa que você pergunta é se eu estou louco? - Ele ficou sério, observando a maneira que ela ficava surpresa a cada instante. não tentou se mexer e nem mudou a posição do seu rosto, ainda estava muito perto dele e olhava sem entender o que estava acontecendo.
- Mas... - Ela tentou falar alguma coisa, mas não sabia o quê. Por onde começar ou o que dizer. sentiu um frio percorrer sua espinha e estava quase convencida que aquilo não estava sendo uma brincadeira dele. Ela tentou controlar as batidas frenéticas do seu coração e pareceu escutar a maneira desenfreada que ele batia. apenas sorriu e lentamente foi aproximando seu rosto do dela, buscando seus lábios.


*******


- , eu ainda estou falando com você. - Adam chamou a atenção do rapaz quando notou que ele entrou em um transe com alguma lembrança. estava em pé, perto da janela, olhando para a praia, e Adam sabia que aquele comportamento era uma maneira de ignorar tudo o que ele estava falando. Aquilo já estava passando dos limites, tinha que decidir o que ele iria fazer com relação a esse sentimento por essa garota. Adam desejou, no fundo, que ela nunca tivesse existido, ele estava receoso e temoroso com o comportamento do amigo durante essa semana. Desligado. Perdido e agressivo, não era mais a estrela que ele conheceu. Hoje ele estava parecendo com um simples rapaz de Boston, que está sofrendo por um amor que perdeu, e isso era ruim, muito ruim. Se aquela história continuasse e ele ficasse daquela maneira, iria prejudicar muito sua carreira e também seu namoro de fachada com a Amy.
- Preciso de um tempo sozinho, Adam! - virou-se bruscamente, lançando-lhe um olhar firme e determinado. Ele precisava ficar sozinho. Com Adam na sua cabeça, falando a todo momento, era quase impossível ele tomar decisões sensatas. Claro que não iria ser fácil convencer Adam a deixá-lo sozinho por algumas horas, ainda mais depois dessa conversa toda.
- Estamos em South Beach, sol, mulheres, praia e várias coisas para fazer. Como você, simplesmente nesse paraíso, quer ficar sozinho? - Adam perguntou, não entendo o motivo de querer ficar sozinho.
- Adam, por favor. - pediu, mantendo a calma.
- , escuta o que eu estou falando. Se você não se livrar desse fantasma que é essa garota, você vai colocar todos esses anos da sua carreira por rio abaixo. - Adam tentou alertar e notou que , como de costume, estava ignorando tudo o que ele estava falando. Comportamento ridículo de uma criança de 10 anos de idade, e esse comportamento ele tinha com muita frequência, ainda mais quando se comportava da maneira sofrida de ter perdido um amor. Ridículo. A imprensa não iria querer saber dessa história e nem de qualquer garota do passado, eles querem saber da lindíssima e modelo Amy Brenson. Loira, alta e com um cache extraordinário. Com uma namorada dessas no currículo, como alguém iria se preocupar com uma garota humilde e simples?
- Adam, eu só preciso de algumas horas, somente isso. - voltou a pedir, dessa vez com um tom mais alto, querendo acabar de uma vez com aquela conversa. Nunca adiantou conversar com Adam a respeito de e em toda conversa algum comentário desnecessário era feito e ele não estava com paciência para aguentar o desprezo do amigo toda vez pronunciava o nome dela.
- Tudo bem. Você tem duas horas para ficar sozinho em qualquer lugar dessa praia. - Adam pegou um pedaço de pizza que estava em cima da mesa e começou a comer. O que quisesse fazer, ele teria esse pequeno prazo, não mais do que isso. Cansado de tentar fazer ele entender sobre , Adam achou melhor concordar do que essa conversa se tornar uma discussão maior ainda. - Quero você de volta no hotel nesse período, você ainda tem uma sessão de fotos. Não quero saber o que você vai fazer, só quero você às 14 horas aqui.
- Ótimo! - comemorou, animado. Não sabia como era passar algumas horas sozinho, sem estar rodeado por pessoas. Ele estava bastante pensativo para onde iria, o que iria fazer ou por onde começar. Entrou em seu quarto, pegou qualquer peça de roupa que viu pela frente e correu para o banheiro, antes de começar o seu dia ele precisava de um banho. Aquele calor de Miami estava acabando com ele, o suor escorria por todo o seu corpo e depois de toda aquela conversa, um banho seria revigorante. Afinal, ele tinha algumas horas de privacidade. E com certeza ele iria aproveitar esse momento para fazer algumas coisas que estavam pendentes em sua mente. Como, por exemplo, deitar em uma praia e ficar escutando o barulho do mar e depois ligar para Boston e tentar achar de alguma maneira.


Já passava do meio dia quando entrou no D'vine Hookah Lounge, notando que o lugar estava bastante agitado mesmo sendo tão cedo.
Ajeitou os óculos e o casaco para não ser reconhecido e escolheu a mesa mais reservada para uma pessoa que não gostaria de ser incomodada por ninguém. Sabia que seu tempo naquele lugar não poderia passar de alguns minutos. Logo o lugar estaria repleto por fotógrafos e fãs enlouquecidas gritando por toda parte. E o único momento que teria sozinho iria pelo ralo. Vários olhares desconfiados estavam em sua direção e ele se virou, caminhando rapidamente para a última mesa da área VIP. Antes de qualquer decisão, ele precisava clarear um pouco a cabeça e nada mais necessário do que beber um pouco.
Dois, três, quatro copos de Vodka depois, ele estava decidido que iria ligar para .
- Vou ligar e falar o quê? - Ele se questionou quando pegou o celular nas mãos e discou o único número que tinha dela. Número que ele havia anotado em sua agenda quando foi embora de Boston definitivamente. Provavelmente, ela já havia trocado esse número, mas era a única esperança que ele tinha.
- ? - Ele perguntou, gaguejando, quando escutou, ao longe, uma voz feminina atendendo. A sensação foi como se tivessem dado um soco em seu estômago. E se ainda fosse ela? Ele não se lembrava mais de como era sua voz e isso o deixou bastante abatido.
- Quem está falando? - A voz perguntou, aumentando um pouco o tom. A pessoa do outro lado da linha respirou tão fundo que foi possível escutar claramente.
- Preciso falar com a . - Ele disse calmamente, mantendo a calma e não mostrando o desespero que estava tomando conta da sua voz.
- Quem é? - Novamente uma pergunta.
- Por favor, eu estou procurando o telefone de uma pessoa e não tenho noção por onde começar essa busca. - Ele disse, apreensivo, passando uma das mãos pelo cabelo. A garçonete se aproximou com um copo de whisky, não demorou nem um segundo e ele virou desesperadamente todo o líquido, que desceu queimando por sua garganta. Que idiota!
- Já perguntei duas vezes quem é você! - A pessoa aumentou o tom da voz, parecendo irritada.
Longos segundos passaram e não respondeu, com medo da pessoa desligar o telefone. Abriu a boca para falar alguma coisa, mas seu coração começou a palpitar descontroladamente e suas mãos suaram em volta do copo de whisky. Que ideia mais idiota era essa? Claro que, nessa altura, em todos esses anos, era impossível encontrar alguma em Boston. Desligou o telefone imediatamente e virou um segundo copo de whisky.

*******


- Que foi, filha? - A mãe de perguntou, assustada, reparando a maneira desconcertada que a filha segurava o celular. - Parece que viu algum fantasma ou recebeu alguma ligação do além.
- Nada, mamãe.
- Como nada? - Ela insistiu.
- Tive a sensação de conhecer essa voz, mas não consigo ligar a voz com a imagem de alguém. - continuou parada, com o celular na mão e tentando buscar em suas lembranças o dono daquela voz tão familiar.



*******


As semanas foram se arrastando de maneira conturbada, estava saindo da última sessão de fotos do dia, com o fotógrafo mais chato que o próprio Adam em dias normais. Depois dessa sessão, teria exatamente uma semana de folga para relaxar antes da turnê na Europa. A única coisa que tinha planejado todas essas semanas era pegar um avião e passar essa semana em Boston, procurando por . Detestava o fato de ser tão inseguro dessa maneira, mas já estava na hora de tomar o controle novamente da sua vida. E nada melhor do que começar isso tomando uma atitude de homem e indo atrás da garota que ele abandonou.
Mesmo que não fosse possível tê-la novamente na sua vida, ele precisava se explicar. Dizer para ela tudo o que estava guardando durante esses anos, expressar sua culpa e, por fim, pedir perdão por esse comportamento. Era só isso que ele precisava, que o perdoasse por tudo o que tinha feito.
E estava na hora de colocar um ponto final nessa culpa que ele carregava para todos os lados. Esse passado que atrapalhava seu futuro. Esse sentimento mal resolvido e esse amor perdido. Tudo precisava de um ponto final e ele estava indo atrás da única pessoa que conseguiria colocar o fim de uma vez por todas nessas lembranças. necessitava por , por esse fim. Por esse começo. Por esse perdão.

Boston, Black Bay

entrou no Tea & Coffe, um dos seus lugares favoritos naquele bairro e com o melhor café que ele já tinha provado, e ficou perplexo quando viu sentada em uma das mesas.
Suas pernas involuntariamente começaram a se mover em direção a mesa que ela estava sentada, sozinha, ele não sabia ao certo o que falar ou que reação ter quando chegasse tão próximo. O que ele queria era apenas abraçá-la e dizer o quanto sentiu saudades. Ele precisava ter novamente todas aquelas sensações que tinha quando seu corpo estava em contato com o dela. A maneira boba de se comportar quando ela estava sorrindo e o jeito carinhoso de falar. Era isso, sua era dessa maneira. Única. Verdadeira.
- ? - Ele a chamou com a voz abafada, controlando o entusiasmo e a euforia que estava sentindo. Se Adam o visse daquela maneira, iria falar que estava parecendo um adolescente idiota com 14 anos. Ou com certeza ele teria algum outro comentário cretino para estragar todo o clima do momento mágico.
- Sim? - Ela levantou a cabeça lentamente para ele. Como se o mundo parasse naquele instante, ele congelou no exato momento que seu olhar prendeu-se ao dela.
- Não me conhece? - perguntou, aproximando-se ainda mais da mesa. Parecia um pouco confusa, assustada com essa abordagem.
- Não me lembro de você. - levantou, afastando-se um pouco, incomodada com a aproximação rápida de . Claro que ela se lembrava muito bem quem ele era, mas não estava disposta a demonstrar. Como também não estava disposta a ficar tão próxima dele daquela maneira. Procurou por algum rosto conhecido e deu graças a Deus por ter encontrado Matt encostado no balcão.
- Sou eu, . - Ele sorriu, frustrado com aquelas palavras. Esperava por isso, por essa indiferença e por esse comportamento. Nada mais justo ela ter esquecido e apagado por completo qualquer lembrança que pudesse ter sobre ele. Foi complicado para ela aceitar que ele estava indo embora, e ele sabia que não seria capaz de voltar novamente para a vida da garota sem que ela o perdoasse.
- Sim, eu sei que é o , mas não acho que nos conhecemos. - Ela foi seca, desviando o olhar dele para o garoto que estava do outro lado. não conseguia acreditar que ele estava exatamente na sua frente. Não era possível que depois de dez anos ele estava nesse exato momento procurando por ela. Como era possível tudo isso? Ele. Dessa maneira. sentiu seu mundo girar, não sabendo qual reação esboçar. Alegria. Espanto. Indiferença. Felicidade.
- Nós fomos... amigos. - tentou novamente, buscando por qualquer esperança que ainda pudesse ter. Alguma esperança que ela ainda lembrasse dele, que ele ainda estivesse em alguma parte das suas memórias.
- Fomos? Desculpa, não me recordo exatamente de você. - Ela foi ríspida em sua resposta.
- Eu não consegui te esquecer. - Ele foi sincero, dando alguns passos, aproximando-se ainda mais da garota. Seu olhar estava preso em seu rosto e ele tentava manter o controle do seu corpo para não abraçá-la nesse momento. Estava linda. Nem o tempo foi capaz de apagar todos os seus traços marcantes, nem a maneira que seus lábios finos davam destaque em seu rosto.
- , certo? Eu acho que você deve estar me confundindo com alguma outra pessoa.
- Não estou, você é a .
Ele enfatizou.
- Sim, sou!
- Então....
- Desculpa, . Preciso ir. - disse, abaixando a cabeça e indo em direção onde Matt estava.
- Tudo bem, eu estou hospedado no Hilton.
Ela acenou com a cabeça, como se tivesse entendido o nome do hotel, e afastou-se imediatamente, caminhando em passos largos até o homem que estava encostado no balcão.
ficou parado no mesmo lugar, notando a proximidade que ela conversava com o garoto e logo em seguida ficou em choque quando ela saiu do lugar de mãos dadas com ele. Não era possível! Quem ele era? Por que ela estava de mãos dadas com ele? Lágrimas de tristeza começaram a rolar por seu rosto e ele correu para o lado oposto, deixando o lugar o mais rápido possível. Tinha sido um enorme erro ter voltado a Boston.

Andar pelos lugares da sua infância foi como se fosse possível voltar ao tempo e reviver algumas lembranças. Estava parado há algum tempo na rua onde morou com a sua mãe e observava como estava tão diferente. Todas as casas estavam com cores mais chamativas e o jardim quase nem existia, totalmente diferente de quando morou naquele lugar. Gostava de andar pela calçada, brincando com alguns cachorros dos vizinhos, enquanto corria de medo do outro lado da rua. O que ele estava fazendo naquele lugar? Com todas aquelas lembranças? Por que, exatamente, está revivendo tudo isso?
Lentamente foi caminhando em direção ao carro, decidido a ir para o hotel. Provavelmente ficaria naquele lugar só essa noite e na manhã seguinte iria embora novamente, só que, dessa vez, para sempre.
- ? - Uma senhora o chamou no momento que ele estava entrando no carro. Ele levantou um pouco a cabeça, analisando o rosto dela e aos poucos lembranças começaram a surgir. Claro, era ela!
- Margaret! - Ele deu meia volta, parando de frente para ela. Nem com o tempo ela deixou de ser atraente.
- Que surpresa encontrar você novamente.
Margaret abriu os braços na direção dele.
- Eu que fiquei surpreso ao encontrar você de novo.
a abraçou, sentindo-se feliz por saber que pelo menos uma pessoa ainda lembrava dele.
- Já falou com a ? Aposto que ela vai ficar feliz!
- Não encontrei a , ainda.
Ele mentiu.
- Não aceito você recusar um chá na minha casa.
Ela o convidou entrelaçando um dos braços no dele.
- Como posso recusar?
foi gentil mesmo sentindo medo de encontrar novamente.
Todos aqueles pensamentos ficaram perdidos quando começou a caminhar e reviver momentos que passou durante sua infância naquela rua. Margaret ainda morava na mesma casa e nenhuma mudança havia sido feita, a não ser o enorme jardim que agora parecia estar mais abandonado do que antigamente.
- não está em casa, mas sei que ela deve estar com o Matt. Logo ela chega.
Margaret disse, ansiosa, abrindo a porta da sala. O ambiente estava com pouca luminosidade e nem assim foi impossível imaginar que tudo também estaria do mesmo jeito.
- Senti saudades disso.
Ele suspirou fundo indo em direção ao sofá. Claro que depois de dez anos ela teria que, no mínimo, ter trocado de sofá.
Só que, para a sua felicidade, o sofá era novo, mas estava no mesmo lugar que o antigo ficava. Também como todos os outros móveis do lugar. Estar na casa de Margaret era possível voltar ao tempo e lembrar de como ele entrava correndo pela porta e subia as escadas para o quarto de , sem precisar pedir licença ou anunciar que estava chegando. Margaret sempre o tratou como filho e no fundo ele sabia que ela mais do que ninguém torcia para que ele e ficassem juntos.
- Então, ! O que você aprontou durante esses anos longe?
Margaret perguntou enquanto caminhava em passos lentos para a cozinha. Nem foi preciso pedir para que ele a acompanhasse, já estava quase sentado em uma das banquetas esperando por sua xícara de chá.
- Cantando, cantando e encantando.
Ele sorriu.
- Você sempre encantou todo mundo mesmo.
Ela virou-se, sorrindo.
- Encantadora é a senhora que não perdeu o brilho nem depois de dez anos.
- Sempre gostei de você como um filho, .
Margaret conversava animadamente enquanto preparava duas xícaras de chá. Não era segredo o sentimento que ela sentia por ele e agora ele conseguia sentir o peso da sua decisão, o quanto ele havia deixado para trás. Não somente , como também Margaret e outros amigos. Ele abandonou tudo.
- O sentimento é o mesmo.
foi carinhoso, olhando para ela com tanta ternura e saudades.
- Acho que a esqueceu que tem casa.
Ela disse, apreensiva, olhando para o relógio perto da porta.
- A senhora disse que ela estava com um tal de Matt, não?
Ele perguntou, não querendo saber da resposta.
- Sim, Matt e não desgrudam um segundo.
Margaret respondeu, fazendo com que ele tivesse a pior sensação do mundo.
- Ah, sim!
- Você vai gostar dele. não fica um dia sem ele. É no trabalho, shopping, cinema e tudo o que você imaginar.
- É, eu consigo imaginar mesmo.
tomou um gole do chá que estava tão quente que queimou a ponta da sua língua.
- E eu achando que depois de cinco anos eles não iam ficar ainda nesse grude todo.
Margaret disse, tomando em seguida, também, um gole do seu chá. A vontade de no momento era sair daquela casa e ir embora de uma vez por todas. Ou então, ao invés de estar bebendo chá, ele podia simplesmente pedir a garrafa de whisky que ele sabia que Margaret escondia dentro do armário.
- Pois é.
Ele não tentou acrescentar nada. Estava sem jeito. Talvez um pouco triste.
O papo foi se arrastando durante vários minutos e, por fim, já estava com a ficha completa de Matt. Incluindo a pequena informação que ele era dono de uma empresa e também tinha uma renda mensal altíssima.
O resumo de toda a conversa foi a felicidade de Margaret em ser a sogra do brilhante Matt: rico, charmoso e melhor partido para a filha.
- E olha quem chegou!
Margaret cortou o assunto enquanto via entrando pela porta da sala.
- ? - ficou assustado ao deparar com os olhos assustados de o encarando.
- ? - Ela gaguejou.
- Não se preocupem comigo, sei que vocês vão conversar bastante e matar a saudade. Por isso vou me retirar para o quarto.
Margaret deu um beijo na filha, seguindo de um abraço longo e carinhoso em .
- Senti sua falta!
Ele a abraçou como se estivesse dando um abraço em sua própria mãe.
- Eu também.
Antes de sair da cozinha, Margaret lançou um olhar para , fazendo com que a garota não entendesse o que ela estava pretendendo com aquela atitude em deixar os dois sozinhos. Para variar, a única explicação disso era a infinita esperança que eles ficassem juntos, felizes para sempre.
- Ok.
disse, nervoso, tomando outro gole do chá.
- Eu preciso pedir desculpas pela forma que eu agi, hoje, mais cedo - a garota falava, nervosa, remexendo as mãos. - Não sei porque fingi não te conhecer, é claro que sei quem você é. Não sou o tipo de pessoa que esquece... os amigos. - Ela falou e sentiu o toque de rancor no fim da frase, indicando que ele era o tipo que esquecia os amigos.
- ...
- Não! - A garota o cortou. - Eu só queria pedir desculpas mesmo, eu sei quem é você.
E virou as costas, indicando que o assunto estava acabado. voltou a virar de frente para ele, como se tivesse mudado de ideia.
- Fiquei curiosa... Por que você está em Boston novamente?
Qualquer que fosse o motivo, ela não poderia perder a chance de ter todas as suas respostas.
- Vim procurar por você.
Ele foi direto.
- Vamos dar uma volta? - o convidou.
- Claro.
- Tudo bem.
ficou sem graça, observando a maneira que ele a olhava.
- Quero que você se lembre de mim da maneira certa.
disse, esperançoso.
- Já disse que lembro, .
- Não do jeito que eu queria que você lembrasse.
- Então me diga as razões para que eu lembre de você da maneira certa.
, pela primeira vez, segurou no braço dele e foi incapaz de dizer uma palavra. Estava brevemente em choque por essa atitude tão inesperada dela.
- Minha vida não é a mesma. Hoje eu sou um cara totalmente diferente do que eu era há anos.
- Eu sei, todo mundo fica diferente quando cresce.
Ela ainda estava sendo tão fria e amarga nas palavras.
- Ainda mais quando cresce longe das pessoas que amamos.
Ele procurou por palavras certas, mas ela apenas ficou em silêncio.
- Hoje, sua vida, pelo o que me informaram, é totalmente diferente do que você viveu alguns anos atrás, independentemente do tempo e da distância, você deve ter se envolvido com muitas outras mulheres.
- Muitas. - Ele sorriu, sem graça, abaixando a cabeça e olhando para os próprios pés. Visivelmente, ele estava ficando abatido, de certa maneira aquilo ainda o machucava. Todas as lembranças e a história dessa garota em sua vida.
- Imaginei.
- Pelo menos você encontrou alguém pra dividir tudo.
- Encontrei? - Ela perguntou, confusa.
- Sim, o Matt.
estava infeliz por saber sobre Matt, mas em alguma parte dele, talvez a mais sensata, sabia que ela estava certa em ter seguido sua vida. Ter amado novamente. A tristeza era saber que ele não era essa pessoa e que demorou muito tempo para tomar a decisão de voltar para Boston, hoje não era preciso de mais ninguém para cuidar de , a não ser Matt.
- Sim, Matt é maravilhoso.
- Que bom. - Ele disse, colocando as mãos no bolso da sua jaqueta e encarando o chão enquanto andava. Se ela estava feliz com Matt, ele também ficaria em saber que existe alguém no mundo fazendo que a felicidade dela estivesse completa.
Caminharam sem rumo por mais alguns minutos e encontraram, logo a frente, uma starbucks. não tinha ideia do que fazer, na realidade, ele ainda estava bem assustado com essa repentina surpresa. Não esperava que fosse capaz de absorver todas essas informações em tão pouco tempo.
- Então você veio me procurar?
perguntou enquanto tomava um gole do seu frappuccino.
- Fiquei na esperança de te encontrar novamente.
Ele foi sincero, o que a deixou surpresa com aquela resposta.
- Pra quê?
- Não sei. Talvez eu precisasse conversar com você e explicar tudo o que andou acontecendo, tudo o que aconteceu naquele dia.
- Eu não me lembro, .
mentiu, agora segurando com mais força o copo.
- Por um lado eu fico feliz que você não se lembre. Naquele dia eu não sabia o que eu estava falando, falei de uma maneira como se você fosse a pessoa que estava atrapalhando minha vida.
- Hum.
- Eu só queria...
- Tenho que ir. - o cortou, ficando de pé de repente.
- Foi algo que eu falei?
- Não, eu só tenho realmente que ir. E sem esperar uma resposta de , se virou e saiu apressada pela porta. Aquela conversa precisava acabar. não sabia ao certo o que estava sentindo, só sabia que precisava ficar longe dele.
não entendeu o que havia acontecido, mas não tinha ido até ali para deixar que ela escapasse sem que pelo menos soubesse o que havia feito de errado dessa vez.
- Mas?
Ele não entendeu nada do que havia acabado de acontecer, então levantou e foi atrás da garota. Saindo do local, avistou caminhando apressadamente e segurou levemente seu braço para que ela o olhasse.
- Desculpa, não sei o que falei de errado. Talvez o erro foi ter vindo atrás de você, apenas me desculpe ok?
- , não precisa ser desse jeito.
Ele não conseguia entender como se aproximar dela, nem ao menos sabia o que estava acontecendo com a garota.
- Eu nem sei mais quem é você de verdade.
Qualquer sentimento que um dia tivesse existido por ele, não estava surgindo naquele encontro.
- Claro que você sabe quem sou eu. - Ele protestou. - Sou o mesmo que conviveu com você durante muitos anos da sua vida.
- É mesmo?
aproximou-se e lentamente acariciou o rosto dele. Nem com o toque ela pôde sentir seu estômago revirar ou suas pernas ficarem bambas. Simplesmente, tudo estava vazio. Nenhum sentimento.
- Preciso que você me escute, . Por favor, é tudo o que eu quero. Não vim para Boston fazer você me amar novamente.
Tudo estava ficando cada minuto mais complicado. Ela parecia ser outra pessoa, distante, fria e sem nenhum sentimento por ele. Como se ele fosse apenas uma pequena lembrança do seu passado, que não teve nenhuma importância em ser esquecida.
- Nunca amei você!
- Um dia você amou aquele .
Ele respondeu imediatamente. não estava entendendo o que ela queria dizer com tudo isso. Aceitar a amargura e o receio era parte do plano quando decidiu embarcar para Boston, mas a surpresa em encontrar uma totalmente fria... Não esperava por isso em nenhum momento.
- Eu amei apenas um na minha vida toda. Amei até o momento que ele me deixou e foi embora para sempre, e sinceramente? Não quero que ele volte pra minha vida!
falou, olhando diretamente para o rosto dele. Notou a diferença do olhar e por um instante ela conseguiu lembrar de como era olhar para ele daquela maneira.
- Não fala desse jeito, não dessa maneira fria. Você não sabe o quanto me sinto culpado por ter deixado você todos esses anos.
manteve o olhar triste e pesado de culpa, da mesma maneira quando tinha 17 anos. Era fácil saber como decifrar cada mudança de humor, ou imaginar qual seria o comportamento nos minutos seguintes. Depois da tristeza e da culpa, na sequência dos fatos e em se tratando de , ele buscava por uma desculpa.
- Não adianta sentir culpa, . Não adianta nada do que você está falando, não sei porque você voltou pra Boston. - não deu nenhum tipo de espaço para o repentino sentimento que estava começando a surgir. - Eu estou muito feliz com o Matt, vamos nos casar em breve e ele me completa em todos os sentidos. - Ela não queria sentir, não dessa maneira. Não queria sentir aquele sentimento que começou a surgir no exato momento que ele aproximou-se, segurando uma das suas mãos. Aquele toque simples fez com que seu coração parasse por alguns segundos.
- Por que você está me tratando dessa maneira?
Ele tentou entender o motivo daquela grosseria toda. Claro que não esperava ser recebido de braços abertos, beijos, abraços e saudades. Só que estava estranhando o comportamento dela, não era dessa maneira. Não queria ouvir como Matt era o "cara" perfeito. Ele apenas queria conversar, demonstrar o arrependimento e toda a saudade que estava sentindo por todos esses anos.
- E eu devia tratar você como?
Ela quis saber. Precisava ouvir da boca dele a maneira que ele queria que ela o tratasse, talvez com um pouco de amor, saudades ou que ficasse desesperada por ele ter voltado depois de dez anos.
- Não sei, , honestamente, não sei de nada.
abaixou a cabeça, virando-se para o outro lado. Estava cansado. Cansado de tentar conversar com ela e tudo o que ele tinha planejado estava dando errado.
- Já que você não sabe de nada, não sou eu que vou tentar saber o que está acontecendo.
- Não maltratei você em nenhum momento. Sei que você está chateada ou com ódio de mim, só que nada muda o fato que eu voltei e queria te pedir desculpas por tudo. Só que não adianta eu tentar conversar com uma pessoa que não está disposta a ouvir.
Uma mistura de frustração e abatimento em sua voz o fez se afastar ainda mais da garota, parecia estar querendo evitar qualquer tipo de desentendimento que estava começando a surgir.
- Eu estou disposta!
Ela relutou para que ele continuasse falando.
- Não. A única coisa que você está disposta é fazer com que eu fique péssimo e me sinta a pior pessoa do mundo por ter feito aquilo com você, muito bem, te digo que não precisa fazer isso, eu me faço há dez anos.
- Eu...
- Foi um erro eu ter voltado para Boston. Como você disse, o que você amou foi embora e eu não sou esse . Da mesma maneira que agora eu estou começando a acreditar que a que eu amei também se foi.
Ele disse de uma maneira única, fazendo com que a garota congelasse e que nenhuma outra palavra fosse dita. ficou paralisada, absorvendo tudo o que ele havia dito, e não conseguiu acreditar que ele estava ali novamente, diante dos seus olhos, dizendo que era culpado e que em um passado distante a amou.
Como se nada mais pudesse ser dito, ele olhou friamente dentro dos olhos dela e começou a caminhar de volta para o carro. Nada mais parecia ter sentido, o que faria sentido nesse momento era apenas ir para o hotel e procurar uma garrafa de whisky que certamente estava esperando por ele.

Três dias depois...

O parque Public Garden, na primavera, era um dos lugares mais lindos e procurados de toda a Boston, era aconchegante e deslumbrante todas as cores vivas das flores. O ponto marcante do parque era o enorme lago que tinha bem no meio, ao redor dele era repleto de árvores e bancos, onde era possível sentar-se e observar o nascer do sol. Public Garden era um lugar maravilhoso para se estar a qualquer momento, menos no inverno, onde o parque era deserto e totalmente assustador. lembrou do seu infeliz encontro com quando ele deu a notícia que iria embora de Boston. Um sentimento amargo percorreu por seu corpo quando aquelas memórias começaram a surgir novamente, ela se lembrava muito bem de quem era . Lembrava de toda a conversa daquela noite e a tristeza que sentiu quando ele comunicou que estava deixando sua vida para trás.
Hoje, tantos anos depois. Ele estava exatamente em Boston, novamente, para tirar um pedaço do seu chão, despedaçar toda a esperança que ainda restava de que ele nunca mais fosse voltar. Hoje! estava há poucos metros de distância e o que ela estava fazendo o tempo todo era contar mentiras. Mentiras para que ele pudesse de uma vez por todas ir embora novamente. Voltar para a vida que ele tinha escolhido, voltar para todas as suas mulheres, para todo o glamuor que era sua vida.
- Vejo que você ainda continua sentada no mesmo banco de sempre. - Ele sorriu, aproximando-se dela. Então era isso? Só restou esse enorme vazio entre eles? Toda essa indiferença. Todo esse sentimento amargo e doloroso que transbordava dos olhos dela.
- Vejo que você ainda não foi embora.
- Eu tinha alguns assuntos para tratar aqui. - deu de ombros, mentindo. Ela não precisava saber que, mesmo sabendo que estava tudo definitivamente acabado entre eles, ele não conseguiu se obrigar a subir em um avião e partir.
- Existem coisas que nem o tempo apaga. - disse, indicando o banco com as mãos. Ela se arrastou um pouco para a beirada do banco para que ele pudesse sentar. Por mais que estivesse se protegendo de , não conseguia mais mentir dessa maneira.
- Você me esqueceu. - a lembrou. olhava para um ponto fixo no lago, buscando coragem para dizer tudo o que estava passando dentro dela naquele momento. Não gostava da ideia de ser uma mentirosa, não gostava de estar mentindo para uma pessoa que já foi tão importante em sua vida.
- Não, . Eu menti pra você todo esse tempo. - Ela encarou os próprios pés quando algumas lágrimas começaram a rolar por todo o seu rosto. não aguentava mais toda aquela mentira e angústia que estava sentindo toda vez que mentia para ele. Tudo aquilo estava passando dos limites e hoje ela estava decidida a colocar um ponto final em todas as mentiras. Por mais que estivesse machucada com esse abandono, não estava fazendo certo mentir e esconder dele tudo o que estava sentindo. não merecia ser enganado dessa maneira.
- Do que você está falando, ? - Ele segurou o rosto da garota com as pontas do dedo para que pudesse olhar dentro dos olhos dela. Controlou sua respiração, não entendendo nada do que ela estava falando. Contra seus dedos, conseguiu sentir a pele fria e molhada das lágrimas que começaram a rolar com mais desespero.
- Eu lembro de você, sempre. Na sua primeira ligação, quando estava me procurando. Lembrava de você quando disse que estava confusa e confundindo qual você era. - respirou fundo, desviando do olhar surpreso dele. - Você não tem ideia de como foi difícil pra mim aceitar que você estava novamente diante dos meus olhos. Que eu podia te abraçar, sentir e beijar novamente. Fiquei confusa, fiquei perdida e comecei a mentir todos os dias. Menti pra não aceitar que eu ainda sentia a sua falta, que eu ainda sofria por você ter me deixado daquela maneira.
- ... - parecia perplexo e ao mesmo tempo compreensivo. Por mais que estivesse chateado em escutar tudo aquilo, imaginava a agonia que estava sendo para a garota assumir a verdade. Ele tentou abraçá-la, mas ela se afastou, tirando bruscamente o corpo.
- Você foi embora! - aumentou um pouco o tom da sua voz e agora era nítida a amargura que estava sentindo.
- Me desculpa.
- Não consigo, . - Ela balançou a cabeça.
- , por favor. - Ele pediu, entrelaçando suas mãos nas dela.
- Você não sabe quantas noites eu fiquei chorando esperando que você voltasse. Esperando que você tomasse uma decisão diferente e que voltasse pra ficar do meu lado, ficar comigo. Cuidar de mim, brincar com meu cabelo. Me beijar, me abraçar. Acariciar o meu rosto enquanto eu dormia ou simplesmente cantar minha música favorita. - disse, mordendo o lábio, nervosa. Não precisava mais buscar todas as palavras certas para esse momento. Durante vários dias, ela ficou ensaiando o que diria para ele quando voltasse. Os dias foram se tornando semanas, as semanas foram se tornando meses e os meses foram se tornando anos. Até o momento que ela havia desistido e aceitado que ele nunca mais iria voltar.
- Eu não deveria ter te deixado. - fechou uma das mãos, procurando algum lugar que fosse acessível para um possível soco. Ele sabia que estava errado, sabia que estava mais errado ainda aparecer dessa maneira novamente.
- Não importa, agora. Eu estava muito bem sem você na minha vida. Até você surgir no mesmo café que eu, esperando que o tempo voltasse e que eu estivesse da mesma maneira que você me deixou há anos. - limpou parte de suas lágrimas e sorriu fracamente. Por mais que isso estivesse doendo e que essas palavras fossem ditas da maneira mais dura, ela estava dando uma chance de ser sincera. Sem mentiras!
- Eu não estava esperando que você fosse me aceitar novamente. Apenas queria saber como você estava e pedir perdão por ter deixado você daquela maneira.
- Você viu que eu estou bem, muito bem. - tentava de todos os jeitos manter a calma, mas não estava conseguindo manter sua seriedade diante de tudo o que estava acontecendo. Mentalmente, pediu forças para conseguir terminar aquela conversa da maneira que estava ensaiando todos esses anos. Ela sabia o quanto ia ser difícil.
- Eu queria que você me perdoasse. - abaixou os olhos, triste.
- Não consigo te perdoar. Não consigo pensar que você demorou tanto tempo pra me procurar e ainda achou que eu fosse capaz de perdoar o que você fez comigo, ainda mais depois de tudo o que você tinha prometido e todas as declarações de amor.
- Todas foram verdadeiras.
- Qual a parte que foi verdadeira? A parte que você omitiu que me amava e que depois iria me deixar para ser um cantor? Que legal! - Agora ela estava irritada. Cruzou os braços, começando a andar de um lado para o outro. Não conseguia aceitar tudo o que ele estava falando e a maneira que ele falava piorava cada vez mais o rumo dessa conversa. - Cala a boca, ! Você não sabe o que está falando. Não sei porque você apareceu de novo, não sei o que você quer comigo. Não sei o que você espera que eu te fale ou se quer qualquer outra coisa. Não tem sentido nenhum pra mim, você foi embora há dez anos e não era para ter voltado.
- ...
- Chega! Eu tentei te superar todos esses anos e não é justo você fazer tudo isso comigo, não é justo você aparecer desse jeito, virando novamente todo o meu mundo de cabeça pra baixo, me fazendo sentir todos esses sentimentos e depois me deixar novamente.
De uma coisa ela estava certa, não era justo mesmo ele fazer tudo isso. Nem ele ao menos sabia o que estava fazendo aqui e nem o que faria depois que passasse essa semana inteira com ela. A única certeza que ele tinha era sobre o seu sentimento por ela, esse amor. Essa vontade louca de abraçar, beijar e passar todos os dias dessa maneira.
- Quero consertar tudo!
- Eu só quero que você faça uma única coisa. - disse, colocando uma das mãos no rosto. Esse era o seu único pedido. Um frio percorreu sua espinha e ela se sentiu incapaz de pedir para que ele fizesse isso, uma luta dentro do seu corpo começou a ser travada e toda a insegurança começou a surgir.
- O que você quiser.
- Quero que você vá embora novamente. Dessa vez, pra sempre.
manteve-se firme nas suas palavras e tirou uma das mãos do rosto para olhar a expressão perplexa que teve ao ouvir aquele pedido. Era isso que ela queria. Que ele fosse embora de uma vez por todas, que voltasse para a sua carreira e para a sua vida toda errada. Para todas as suas mulheres e para todo o dinheiro. Ela conseguiu viver muito bem sem ele durante todos esses anos e não faria nada diferente do que já fez se ele estivesse presente. Mas precisava se livrar desse sentimento. E com ao seu lado não seria capaz de viver dessa maneira novamente. estava segura. Estava segura sozinha! E com ele de volta em sua vida tudo estava ficando diferente. Ela estava diferente e isso era motivo suficiente para que esse pedido fosse feito. Ele ficou parado, ainda não encontrando palavras para dizer depois desse pedido. Talvez ele estivesse esperando qualquer outro pedido, e não esse.
- Eu vou embora, como você acabou de me pedir. - disse, levantando-se e olhando diretamente para os lábios da garota. Essa era uma decisão difícil, mas sabia que era o melhor a fazer. Ela estava muito machucada e era inútil tentar consertar todos os erros do passado, nada do que ele falasse nesse momento seria capaz de reverter toda essa mágoa. E ele não a culpava por se sentir dessa maneira.
- Obrigada.
- Só que antes disso eu preciso te falar uma coisa.
- Diga.
- Eu sei que eu fiz errado em ter feito isso com você, mas nunca pensei em voltar e me deparar com uma pessoa tão egoísta como você está sendo.
, de alguma maneira, precisava colocar aquele sentimento para fora. Agora era o seu momento de se soltar de todos esses sentimentos e toda angústia que surgiu durante toda aquela conversa. Ele estava errado, mas não era justo ser o único culpado de toda a história. E estava ali, disposto a pedir perdão por esse erro. Pedir um pouco de compreensão com essa parte da sua vida que está sendo tão importante e tão maravilhosa. Nada faria o tempo voltar, mas não tomaria uma decisão diferente do que tomou há dez anos. Talvez fizesse de uma maneira diferente, mas nunca iria desistir de tudo o que tinha conquistado até o momento.
- Egoísta? - Ela perguntou, incrédula.
- Você me acusa de ter abandonado você? Ótimo. E eu teria ficado com você sem pensar em nada e ninguém, porque tudo o que era mais importante pra mim naquele momento era ficar do seu lado. Olhar pra você todos os dias e dizer o quanto eu te amava, o quanto você era importante na minha vida e que eu queria passar todos os meus dias ao seu lado. - Ele engoliu o fôlego, mantendo a concentração e ainda olhando dentro dos olhos dela. - Só que eu tinha um sonho, eu precisava viver também por esse sonho. Tive uma oportunidade e agarrei com todas as forças e fui capaz de lutar sozinho contra todos. Acha que foi fácil ir embora? Acha que foi simples eu deixar minha família, deixar você e deixar toda uma vida em Boston? O que você acha que eu passei durante todos esses anos? Eu estava sozinho. Não tinha você, não tinha minha família e nenhum tipo de afeto ou palavra de carinho. Eu vivi todos esses anos pela música, pela minha carreira, que eu construí. Minha única felicidade era subir naquele palco e fazer de cada show o único, fazer valer a pena tudo o que eu deixei pra trás.
Ele parou no exato momento que viu que ela começou a chorar novamente, agora seu rosto parecia mais sereno e ele foi capaz de sentir o calor do corpo dela se aproximando.
”Deixar o amor da garota dos meus sonhos. Deixar seu sorriso, seu abraço e seu beijo. Eu não te abandonei sequer um dia de todos esses anos. Pensei em você em todos os momentos, amei você todos em eles e ainda amo nesse exato momento. Não seja tão egoísta de pensar que só você sofreu e que eu te esqueci. Eu estava vivendo o meu sonho, acordei quando soube que meu sonho estava incompleto. Que faltava você. Faltava você na minha vida.”
deu alguns passos para trás, deixando que várias lágrimas começassem a surgir de seus olhos. Estava guardando aquilo há muito tempo, todos aqueles sentimentos, toda essa tristeza e essa frustração. Todas as lembranças estavam ficando tão amargas e borradas por carregar essa culpa dentro de si 3 não era justo continuar vivendo dessa maneira, viver sentindo um peso enorme. Todo mundo já errou uma vez na vida e esse era o seu erro, mas não estava disposto a voltar para a sua vida atual ainda carregando o peso de ter abandonado .
”Novamente eu quero que você me perdoe por todo esse sofrimento e por não ter tomado uma atitude diferente, mas eu precisava passar por tudo isso. E por mais que tenha passado dez anos, eu nunca te esqueci. Só que eu não posso mais viver com esse seu fantasma na minha vida. Preciso me livrar desse peso que é viver na esperança que posso voltar no tempo e mudar tudo. Essa foi a minha escolha, eu escolhi viver dessa maneira. E eu não te julgo por sentir tanta mágoa e tanto ódio, mas não posso deixar você ser egoísta dessa maneira.” Ele foi falando e se afastando cada vez mais da garota que estava paralisada. não conseguia sorrir, suspirar, xingar, resmungar ou ter qualquer outra reação. Ela estava chorando muito. queria consolá-la e dizer que, por mais que tudo estivesse dessa maneira, ele ainda sentia que parte dela não era tão amargurada. Algo ainda em seus olhos mostrava que existia um sentimento reprimido, um amor escondido por trás de tanta dor.
”Eu não seria capaz de pedir para você desistir do seu sonho só pra ficar comigo. Não seria justo, por mais que eu te amasse e por mais que isso fosse me deixar quebrado. Uma parte do meu coração ficaria feliz em saber que você estava vivendo tudo aquilo que sempre quis.”
Não sabendo mais da onde tirar palavras ou forças para continuar aquela conversa, ele respirou fundo, limpando as lágrimas com as costas das mãos. Então era isso. Outro adeus.
”Minha vida está toda errada e eu sei disso. Sei que não tomo controle mais do que eu faço ou deixo de fazer, sei que pra ir ao banheiro eu preciso de um segurança ou pra andar na rua preciso me esconder. Quando vou ao cinema, escuto fãs gritando por todos os corredores. Não posso mais sair com nenhum colega ou ser visto com nenhuma mulher em público que viro alvo de capas de revistas.”
- ... - Ela tentou interromper, mas ele levantou o dedo indicador, colocando nos lábios dela.
- É isso que eu escolhi e é isso que eu vou viver durante o tempo que for necessário. Sinto sua falta, sempre vou sentir. Sempre vou lembrar de você e meu coração vai acelerar e vou rir sozinho como um bobo. Vou xingar todo mundo por não ter você ao meu lado, vou tentar te ligar ou vir novamente atrás de você. Porque acredito que a gente só ama uma única vez na vida e eu já escolhi quem eu vou amar, mesmo você não fazendo mais parte da minha vida. E mesmo isso me machucando todos os dias, vou continuar vivendo da mesma maneira, um dia vou encontrar minha alegria ao lado de uma outra pessoa. Vou gostar bastante dela e vou tratá-la com todo carinho e respeito, mas sei que não serei capaz de amar da mesma maneira que eu amo você. Minha vida vai seguir da mesma maneira que a sua vai. Vai continuar agora sabendo meus motivos e todas as respostas para as suas perguntas, não sei se você vai acreditar em tudo o que eu estou te contando. Não sei se um dia você vai me perdoar, mas agora eu estou respeitando o seu pedido e estou indo embora.
Sem nenhuma chance de reação ou nenhuma oportunidade para ser dito algo, ele beijou suavemente o topo da cabeça da garota e a puxou em um abraço apertado, fazendo com que sua cabeça se aconchegasse em seu peito. Parado naquela mesma posição por alguns segundos, ele contemplou a maneira que seu corpo se moldava ao dela. Lembranças começaram a surgir e um sorriso apareceu em seu rosto. Ele sabia que agora estava fazendo a coisa certa. Ela estava tendo a chance de ser feliz com outra pessoa, esquecendo todo esse passado e apagando de uma vez por todas toda essa dor que carregava no peito.
afastou lentamente a garota e olhou pela última vez em seus olhos, acariciou suas bochechas e lentamente caminhou em direção ao carro, deixando novamente a garota da sua vida.

9 meses depois...

- , você foi excelente! - Adam correu muito animado para abraçar o cantor. Hoje estava sendo o último show da turnê na Europa e foi um enorme sucesso. Todos os shows lotados e críticos aplaudindo de pé o comportamento exemplar que estava tendo nos últimos meses. Nenhuma fofoca, nenhuma briga e nenhuma mulher apareceu nesses últimos tempos. O que tivesse acontecido em Boston, Adam estava dando graças a Deus por ter acontecido. Nunca viu o amigo tão empenhado em trabalhar como estava agora.
- Foi muito bom. - comemorou, abraçando um por um da sua equipe. Ele estava tão satisfeito com tudo o que estava acontecendo e não conseguia nem acreditar que ele iria cantar ao vivo no Grammy Awards desse ano.
Tudo estava indo bem. Semana que vem ele entraria em estúdio pra gravar seu novo CD. Não deixou de pensar em uma música que tinha escrito quando estava dentro do avião, indo de Boston para Miami. Soltou um longo suspiro pelo canto da boca quando lembrou daquela noite e tentou focalizar em outra coisa para não pensar demais em , ela estava longe e feliz. Ele estava longe e também feliz, isso era tudo o que importava.
- Festa? Todo mundo lá em casa? - convidou, levantando um dos dedos para o alto. Claro que depois dessa enorme turnê era esperado uma grande festa em sua casa, como de costume.
- Eu pago dessa vez. - Adam disse, colocando uma das mãos no ombro do cantor.
- Sem mulheres. - balançou a cabeça, negando. Nada de mulheres por um bom tempo! Foi bastante complicado lidar com o enorme escândalo que Amy fez ao descobrir que ele estava terminando o pseudo-namoro-forjado deles. Imagina se ele tinha cabeça no momento para arranjar outra dor de cabeça que é ter uma mulher na sua vida, ainda mais com toda essa confusão de shows e gravação do cd. Sem chances!
- Porra! - Todos os homens do lugar fizeram um coro, não acreditando que ele estava cortando a única diversão da noite.
terminou de arrumar suas roupas no camarim enquanto Adam ligava para vários amigos, convidando para a festa mais tarde na casa do cantor. Sem dúvidas, seria uma festa com muitas celebridades! Ótimo. estava precisando distrair um pouco a cabeça e começar a se relacionar com pessoas mais influentes do que ele. Precisava de novas amizades e de novos contratos, nada mais certo que tentar isso em festas.
O que ele precisava agora era tomar um banho e ir para o aeroporto. Dentro de duas horas estaria em casa, finalmente.


A grande festava estava marcada para começar às 22 horas, mas, como costume de toda celebridade, o atraso era a marca importante de todos. A maioria dos convidados foram começando a chegar por volta das 22h45min, a sala de já estava toda preparada. Luzes para todos os lados, um DJ improvisado e um espaço reservado para dois barmen que estavam servindo a bebida para a galera. Nem se ele tivesse planejado com muitos dias de antecedência teria ficado tão bem organizado daquela maneira.
Nada como um bom produtor musical que pode conseguir tudo isso em menos de três horas. Ele sorriu ao ver a animação de Adam andando de um lado para o outro, apertando a mão de todos os convidados que passavam pela porta principal, como se ele conhecesse toda aquela gente que ele havia convidado. apostava com quem fosse que ele nem sabia o nome de todos, era mais do que certa essa aposta.
- Podem começar a festa. Só preciso de um minuto sozinho. - Ele cochichou no ouvido de Adam. Antes de começar a beber e a rir com os outros, ele precisava de um tempo sozinho. Apenas alguns minutos de silêncio. Totalmente sozinho!
- Tudo bem! - Adam gritou, levantando um copo de whisky para cima. Hoje era o dia que ele ficaria muito bêbado.
Antes de sair da sala, fez um gesto com a cabeça, cumprimentando os outros convidados, e em seguida caminhou para a área externa da casa, onde ficava um enorme jardim. Quando estava esgotado depois de uma longa turnê, ele adorava passar um tempo naquele lugar tranquilo e reservado. O sossego daquele lugar trazia uma certa segurança e tranquilidade. Apesar de estar muito cansado do show e da viagem, ali era o lugar perfeito para respirar e ter um contato maior com a natureza. Era seu lugar para refletir.
- É, , você está ficando cada dia mais famoso e muito rico. - Ele sorriu enquanto sentava em um banco e olhava ao seu redor, estava completamente sozinho. Como queria. - E você achando que não faria sucesso algum e que teria que voltar para Boston com uma mão na frente e outra atrás. Olhe para o lado bom, você voltou para Boston e saiu de lá com uma mão na frente e outra atrás, de presente levou um vazio dentro do peito e perdeu novamente o amor daquela garota.
Ele respirou fundo algumas vezes, olhando em direção ao céu e procurando um ponto para que ele se lembrasse dela. Por mais que tentasse se convencer que tudo estava ótimo, no fundo sabia que faltava algo e que sempre teria esse vazio.
”Idiota! O que adianta você ter tudo isso? Com quem você vai dividir? Vai continuar sozinho da mesma forma que viveu durante todos esses anos.”
se culpava bastante por ter deixado sua vida de lado, mas não adiantava nada ficar remoendo dessa maneira. Nada estava mais ao seu alcance, nada que ele pudesse fazer traria sua vida novamente. Só restava aceitar tudo aquilo! Todas as condições que sua nova vida estava impondo.
”Eu ainda queria que você estivesse aqui.”
O cantor levou as duas mãos ao rosto, abaixando a cabeça lentamente. Estava se sentindo confuso, perdido e sozinho. Queria conversar sobre essas coisas com alguém, mas a sua única opção era Adam. E ele sabia qual seria todos os comentários que o pseudo-amigo-produtor iria fazer.
- ! - Adam surgiu de maneira inesperada, o que fez levar um susto.
- O quê? O que diabos você está fazendo aqui? - levantou imediatamente, abrindo os braços, irritado.
- Credo! Não me trata assim.
- Aprende a respeitar o espaço dos outros.
estava nitidamente muito irritado. O que ele queria, apenas, era alguns minutos de sossego.
- Eu sei, já conversamos a respeito de espaço e tempo. - Adam fez vários gestos com as mãos, imitando , e nem assim foi capaz de perder a animação.
- Antes de você me chutar para bem longe, preciso que você preste bastante atenção.
- Atenção? - não entendeu da onde estava vindo toda aquela animação repentina. Adam estava planejando alguma coisa. Qualquer coisa que fosse, ele sabia que não era nada atrativo para ele naquele momento.
- Acabou de chegar uma pessoa que vai ser essencial para a sua carreira. Você não tem ideia de como é importante. Antes eu não conseguia entender o motivo, mas acompanhando bem a história, agora eu entendo a importância.
Adam começou a explicar de uma maneira tão crua que não foi capaz de entender nada do que ele estava falando. Não tinha nem ideia de quem era essa pessoa importante e naquele momento não estava com nenhuma vontade de conhecer alguém.
- . Acredita quando eu falo que você vai querer conhecer, sim! - Adam segurou firme os dois braços de e em seguida fechou a expressão do seu rosto.
- Tudo bem, Adam.
- ÓTIMO! - Ele comemorou, procurando onde havia deixado o seu copo de whisky.
- Vou em um minuto.
- Deixei a pessoa no seu quarto. - Adam disse, virando com tudo o restante do whisky, em um único gole.
- No meu quarto? - pareceu perplexo.
- Claro.
Adam bateu levemente no rosto do amigo, deixando ele novamente sozinho no jardim. mentalmente começou a se perguntar o que teria feito para conseguir um Adam assim na sua vida, talvez fosse pecado demais ou então burrice de aceitar tudo o que ele arrumava. Qualquer uma dessas opções era verdadeira e o único culpado era ele mesmo, por deixar que Adam tivesse toda essa liberdade. Mas esse era um assunto que ele teria em particular outro dia com ele. No momento ele precisava ir até seu quarto e ver quem era essa celebridade tão fenomenal que ajudaria em sua carreira.
Caminhou por entre a multidão que estava se aglomerando perto da escada e foi em direção ao seu quarto, que era o último do corredor. A porta estava entreaberta e ele não conseguiu ver o rosto da pessoa por completo. O lugar estava com pouca iluminação e a única coisa que conseguiu enxergar foi a mão da pessoa indo em sua direção. deu alguns passos para trás, não entendendo o que estava acontecendo. Quem era? Por que o quarto estava tão escuro?
- Sou eu. - A voz dela surgiu de repente, fazendo com que ele segurasse a respiração. Como assim? Como era possível? correu desesperadamente para o outro lado do quarto, procurando pelo interruptor, não acreditando no que estava ouvindo. Não aceitava que aquela voz fosse dela. Totalmente desesperado, ele apertava qualquer que fosse os lugares da parede, procurando por uma única iluminação. O coração começou a disparar em ritmo frenético e ele sentia que suas mãos estavam suando frio cada vez que ele escutava a voz dela.
- ...
- Não entendo. O que você está fazendo aqui? - Ele perguntou, assustado ao ver a garota parada do outro lado do quarto.
- Eu fui uma idiota com você, . - estava tremendo, completamente perdida com todas as coisas que estavam passando por sua cabeça. Lembranças. Beijos. Olhares. Tudo o que ela precisava era novamente o toque de contra a sua pele.
- Eu tentei todos esses anos esquecer que você existia. Não conseguia pensar em você sem que fosse um motivo de sofrimento e eu estou tendo a oportunidade de ter você novamente na minha vida e tô fazendo tudo errado.
- ...
gaguejou, tentando encontrar um pouco de ar. O quê? Como? Adam? Ele estava completamente perdido.
- Preciso de você. Não consigo mais viver mentindo que eu não te amo, que eu consigo viver sem você. Foi difícil aceitar que você foi embora, mas eu não posso aceitar que você me deixe novamente. - Ela disse, andando em direção a ele. Tudo o que mais precisava era um abraço bem forte. Em seus braços ela sabia que estaria segura novamente. - Espero que não seja tarde demais. Espero que eu não tenha estragado tudo de novo.
- , não. - procurou manter a concentração enquanto ela falava. Mas era quase impossível o auto controle quando a garota dos seus sonhos estava bem diante dos seus olhos, dizendo que o amava. Era loucura.
- Eu te amo, . Sempre te amei e em todos esses anos nunca encontrei nenhuma pessoa que eu pudesse amar da mesma maneira que eu amo você.
- Não consigo acreditar que você está aqui.
- Você me disse que deixou Boston para viver o seu sonho. - estava tão tranquila, que as palavras começaram a fluir da sua boca de uma maneira carinhosa. Ela sabia o quanto guardou isso com todas as suas forças, o quanto viveu na mentira sobre esses sentimentos escondidos, o quanto sentiu vontade de dizer que o amava na mesma intensidade de dez anos atrás. - Hoje eu entendo o que você fez. Nesse exato momento, eu larguei minha vida em Boston também pra viver o meu sonho. E meu sonho é estar aqui com você. É ter você ao meu lado todos os dias. É amar você da maneira que eu sempre sonhei.
- Você é a parte do meu sonho que estava faltando.
Ele a puxou para os seus braços, procurando diminuir a distância entre eles. Quando seu corpo encontrou com o dela novamente, ele sentiu seu mundo desabar. Nada mais era importante e nada mais estava fazendo algum sentido. Foi preciso manter o foco para que o desespero não tomasse conta dele. Emoções começaram a surgir de todos os lados com aquele simples contato físico e foi preciso um auto controle muito grande para não assustá-la.
- E você é o que estava faltando do meu.
- Caramba! Eu amo você! - se endireitou, enfiando uma das mãos no cabelo dela e puxando o seu rosto para um beijo. Ele sentiu seu rosto arder no momento que o beijo começou a esquentar seus lábios. Eles se moveram suavemente, mantendo um ritmo apaixonado e cheio de saudade. ficou atordoada com a maneira que ele conduzia os movimentos da sua boca contra a dela e precisou de apoio quando suas pernas foram ficando bambas.
tentou controlar seu coração para que ele não falhasse naquele momento tão importante. Precisava desses beijos, dessas carícias e desse desejo que surgia de seus olhos toda vez que ele a encarava. Memórias começaram a surgir por sua cabeça, fazendo que ela esquecesse completamente qualquer mágoa ou sofrimento que estava carregando durante todos esses anos. Nada mais importava, nada mais era necessário. Só isso, só ele.
- Eu também amo você! - Seus olhos procuraram os dele, como se quisesse ter certeza de que ele estava mesmo ali. puxou a garota para mais perto, seu braço estava totalmente em volta de e ele a segurava com força. Outro beijo se iniciou, dessa vez mais intenso, desesperado e cheio de emoção.
Impossível não conter a felicidade que era estar com ela novamente em seus braços, moveu uma das mãos vagarosamente acariciando-a antes de soltá-la com um sorriso.


Fim.



Nota da autora: Sem nota.




SHORTFICS:
01. Call Me Baby [Ficstape #062: EXO – Exodus]
03. Best Of Me [Ficstape #070: BTS – Love Yourself: Her]
03. This Is How I Disappear [Ficstape #068: My Chemical Romance – The Black Parade]
04. Permanent Vacation [Ficstape #067: 5SOS -Sounds Good Feels Good]
07. Let’s Dance [FICSTAPE #065: Super Junior – Mamacita]
Hug Me [Doramas – Shortfics]

EM ANDAMENTO:
Love Is Not Over [KPOP – Restritas – Em Andamento]
Let Me Know [KPOP – Restritas – Em Andamento]
I NEED U [KPOP – Restritas – Em Andamento]


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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