Última atualização: 19/02/2024

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Capítulo 23 - The Love Stone

Londres. 14 de fevereiro de 1666

- Eu não acredito que você conseguiu vir sozinho - disse, feliz quando passou pela porta, trancando e entrando nos aposentos dela.
- Assuntos de família que devem ser tratados com o meu cunhado. - exagerou no sotaque, fingindo ser um homem mais velho, e riu, pois ele falava como o próprio pai.
- Futuro cunhado! O casamento é somente amanhã - ela riu, indo até a janela para fechar as imensas cortinas.
- Sim, mas eu não poderia deixar o seu aniversário passar em branco, afinal, são dezessete primaveras. Além disso, é dia de São Valentim, e eu queria estar aqui.
- Você se arriscou muito vindo aqui hoje, . Lucinda não desconfia de nada? - Ela se aproximou dele novamente, estava preocupada.
- Não, está empolgada com o casamento, admirando o vestido que Diana usará, mas eu não vim falar sobre ela e nem sobre o casamento, eu vim apenas para ver você. Thomas está no cômodo ao lado e vai nos acobertar, isto é, se não estiver morrendo de ansiedade.
- Ele está um pouco ansioso sim, ele gostou da Diana, eu acho... isso é bom.
- Com toda a certeza! Mas como eu disse, não vim aqui falar sobre o casamento.

tinha um pequeno embrulho de cetim no bolso. Ele pegou e abriu, e então pôde ver uma pulseira reluzente com pedras, que ela tinha certeza que eram muito preciosas. Com certeza era a joia mais linda que já viu na vida, ela sequer contestou quando a colocou em seu pulso.

- Esta pedra é um Quartzo Rosa, é a pedra do amor. Repele as energias negativas e potencializa as vibrações do amor... E não, não peguei da coleção de joias de Luce, essa é especial, é sua, pelo seu aniversário, e além de ser a pedra do amor é a cor que eu mais gosto de te ver usando. Por favor, aceite, mesmo que você não possa usar, eu não me importo. Apenas olhe e se lembre de mim todas as vezes.
- É a pedra mais linda que eu já vi, a joia mais linda. - sorriu, apreciando a beleza da joia.
- Obrigada, eu estou sem palavras!
- Feliz aniversário, meu amor. - Ele se aproximou um pouco, deixando um beijo na testa dela. - Eu acho que... não, eu não acho, eu tenho certeza... eu amo você como nunca amei ninguém.

sorriu, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas. Quase seis meses depois e aquele desconhecido havia se tornado parte da sua vida e dono do seu coração e pensamentos. Inevitavelmente se apaixonou por , e ele por ela, algo que ela não estava planejando, mas que aconteceu mesmo assim. Viviam no limite do perigo, sabendo que a qualquer hora poderiam ser pegos, mas estava disposto a assumir toda a responsabilidade para a proteger da exposição que ele achava que ela não merecia. Achava a mulher mais amável, gentil, inteligente e bela que já viu, e ele estava disposto a encontrar uma forma para que pudessem ficar juntos, mesmo que ainda estivesse longe de arrumar uma solução.

- Eu também amo você - ela disse com sinceridade.

...

Londres. Dezembro de 2019.

O mês de dezembro passou num piscar de olhos, e, quando se deram conta, já era natal.

Para a celebração, William praticamente decretou que o local onde todos pudessem se reunir fosse sua nova casa, em um bairro no subúrbio de Londres. Estava havia meses se planejando para aquilo, não se considerava bem-sucedido o suficiente para ostentar, mas tudo estava correndo bem para que ele se organizasse e comprasse a própria casa, coisa que era sua prioridade absoluta; ter um lugar só eu. Tendo esse sonho realizado, queria compartilhar com pessoas próximas, então no dia vinte e quatro de dezembro, aniversário de sua mãe, organizou um jantar em homenagem a ela, para poder comemorar. Não era um simples jantar, para ele era um grande evento, e, por isso, achava que todos deveriam estar trajados adequadamente. Por isso, ele estava na frente do espelho do seu quarto ajeitando a gravata do seu terno, que havia comprado especialmente para a ocasião.

- Só você para me fazer aceitar usar uma gravata borboleta, Will - Carter disse aborrecido, enquanto tentava arrumar sua gravata também. Ele passaria as festas de fim de ano na Inglaterra.
- Carter, se você não tem estilo, não posso fazer nada. - William se olhou mais uma vez e chegou à conclusão de que estava muito elegante. - Está ótimo.
- Oh, obrigado.
- Não estou falando de você.
- Foi mal, esqueci que você é narcisista, eu deveria ter me arrumado com o Tom. Viu ele, a propósito?
- Não, Thomas está estranho, quase não falou com ninguém desde que chegou, acho que está cansado. Não vou implicar, é a primeira vez em anos que ele conseguiu folgar no natal, estava sempre de plantão no hospital. Só de ter ele aqui já é o suficiente pra mim.
- Vou ter que dizer isso pra ele.
- Se contar, eu te mato.

Carter terminou de se arrumar primeiro e saiu do quarto. Passou pelo corredor e desceu as escadas, depois virou em direção à sala onde já estava pronta. Era a única, e estava sentada sozinha no sofá, distraída no celular.

- Com todo o respeito, você está ainda mais bonita hoje do que o normal - ele disse ao notar o vestido pink de mangas compridas que ela estava vestindo. Se aproximou, se sentou ao lado dela e lhe deu um beijo na bochecha.
- Obrigada, acho que minha mãe merece. - sorriu e deixou o celular de lado. - Estou feliz que vamos poder passar o feriado todos juntos, é a primeira vez em muitos anos.
- Só assim pra gente poder conversar, Thompson, você está desaparecida há meses.
- Não fala assim, minha rotina é uma loucura! - Os dois riram juntos.
- Estou brincando, sei que as coisas estão fluindo pra você e fico muito feliz com isso, pra ser sincero.
Eles continuaram conversando durante mais algum tempo, até que todos estivessem prontos. Quem passou o dia inteiro cozinhando foi Thomas, que não deixou sua mãe sequer entrar na cozinha, alegando que o dia era inteiro dela e ela deveria aproveitar, deixou apenas que Carter e o ajudassem, e, mesmo assim, evitou conversar muito. Ele e Diana contariam a novidade para as famílias apenas no dia seguinte, e por isso ele parecia diferente e distante.

Mas como estaria dando cambalhotas de felicidade quando ele achava que mal sabia cuidar de si mesmo?

- Ah, meu Deus, isso parece estar ótimo, Tom - Lizzy disse enquanto todos se sentavam à mesa que já estava posta. - Não que eu já não saiba, mas apresente os pratos pra gente.
- Bom, tem o seu preferido, é claro: fatias de carne assada com chicória cozida e batata assada. Também quis fazer panqueca ao forno, porque era o meu prato preferido na infância, usei o molho da carne por cima para dar um pouco mais de sabor.
- Ninguém faz panquecas como você - disse, com água na boca, já se servindo.
- Isso é tão britânico, eu me sinto no interior - Lewis disse satisfeito, enquanto se servia também.
- Espero que a sobremesa seja torta de maçã - William falou de boca cheia, e recebeu um olhar de repreensão de sua mãe.
- Sim, Will, é torta de maçã.

O jantar foi bem agradável e com assuntos leves, já fazia muito tempo que não passavam a data todos juntos. Lizzy estava feliz por ter a família reunida naquela data tão especial, era difícil poder juntar todos os filhos em um feriado, já que Thomas raramente folgava nas celebrações. Família era a coisa mais importante na vida dela, e vê-los se esforçando tanto para agradá-la a faziam ter certeza de que sua maior vocação na vida era ser mãe.

- Agora vamos aos presentes - disse empolgada, após terminarem a refeição e limparem a bagunça. Ela pegou o seu presente no sofá, era uma sacola bem pequena. - Eu não resisti quando vi na loja, é a sua cara, mãe!
- Vocês vão me deixar muito mal acostumada - Lizzy disse rindo enquanto abria o pequeno embrulho. Quando viu o par de brincos de Lápis Lazuli, não se conteve de felicidade. - Meu Deus, meu Deus! , é tão lindo! - ela dizia, enquanto tirava os brincos que estava usando e trocava pelos novos.
- Estão ainda mais lindos agora. - sorriu ao notar que os brincos eram do mesmo tom de azul que o vestido dela. - Feliz aniversário, mãe.

Lizzy ainda ganhou um perfume de William, um bracelete de Lewis, um vestido vermelho de Carter e por fim uma pulseira de ouro com pedras de esmeralda que Thomas escolheu para presenteá-la.

- Na verdade, foi a Diana que escolheu, ela gosta muito de esmeraldas - ele se explicou. - E eu gostei porque combina com os seus olhos, mãe.
- Não vejo a hora de conhecê-la. - Lizzy ignorou completamente o elogio dele.
- Amanhã. - Thomas sorriu de canto, podia imaginar o quanto Lizzy ficaria feliz com a notícia que ele tinha para dar, mesmo que ele próprio não estivesse tão feliz assim.
- Se ela for tão adorável quanto Louise e , vou gostar muito dela.
- Ela é tipo o , mas com cabelo comprido - William disse, atraindo os olhares dos irmãos. - O quê? Falei alguma mentira? Eles parecem a mesma pessoa. É um de saia.
- Você tem um jeito muito estranho de elogiar as pessoas, sabia? - Thomas disse para o mais novo, que deu de ombros. - Você vai gostar dela, mãe, eu garanto.

Thomas estava tenso e muito preocupado, mas quando Diana virou o assunto ele se sentiu mais tranquilo, de certa forma. e William rasgavam elogios para a garota, destacando todas as qualidades que ela tinha e o quanto achavam Diana bonita e inteligente. Thomas não queria que seus pais tivessem uma impressão errada de Diana, afinal, a conheceriam no dia seguinte e já dariam uma notícia que ele achou que levaria muitos anos, mas por outro lado, sabia que Lizzy queria ser avó logo, imaginou que talvez ela reagisse bem.

- Você está tão quieto o dia inteiro - disse, quando toda a comemoração já tinha terminado e ela estava ajudando Thomas a guardar a louça. O restante da família assistia televisão na sala. - Aconteceu alguma coisa?
- Só estou cansado - Thomas respondeu sem muita emoção, tentando ao máximo mostrar um cansaço que não era de verdade. - Ontem eu acompanhei um parto de vinte horas, estou exausto...

Só de falar a palavra parto, ele já sentia todos os pelos do corpo se arrepiando.

- Tom, você sabe que pode falar comigo - disse após guardar uma pilha de pratos no armário. Olhou para Thomas, que estava apoiado no balcão de costas pra ela.
- Diana está grávida - ele não aguentava mais guardar aquilo, mas dizer em voz alta não aliviava em nada tudo o que estava sentindo. - Descobrimos há uns dez dias, ela está grávida de três semanas.
- Meu Deus. - não sabia o que dizer, imaginou que talvez não fosse uma coisa tão boa assim, afinal, Thomas não parecia feliz. - Por que não nos contou antes?
- Queríamos contar pessoalmente, mas eu não aguento mais guardar isso. - Ele se virou, e ela viu que as bochechas dele começavam a ganhar cor, tal como a ponta do nariz. - Está um inferno, . Estou fingindo pra Diana que está tudo bem, mas eu estou realmente apavorado com isso, estamos juntos há pouco tempo e já temos uma responsabilidade desse tamanho.
- Não posso imaginar o que você está sentindo, Tommy, e você está certo, é pouquíssimo tempo, mas espero que saibam que vocês não estão sozinhos.
- Eu sei, eu só estou... acho que preocupado, confuso...
- Vai dar tudo certo - sorriu, na tentativa de fazê-lo se sentir melhor. - Além disso, eu sempre quis ser tia. Amor não vai faltar, eu garanto. Vocês não estão sozinhos de jeito nenhum.
- Eu sei - ele riu. - Obrigado, , eu me sinto melhor.
- Que bom, porque eu mal posso esperar pra ver a reação da mamãe, acho que de amanhã ela não passa.
- Realmente espero que ela fique feliz e ignore a parte que ela ainda não conhece a Diana.
- Até parece que você não conhece a sua própria mãe, Thomas, é claro que ela vai ficar feliz! - disse como se fosse óbvio. - Não posso imaginar como vocês estão se sentindo, mas não tenho dúvidas de que vocês vão se sair bem.
Eles terminaram de guardar a louça e se juntaram ao restante da família na sala. Thomas não parava de imaginar como seria o dia seguinte, mas achou que tinha razão, seu filho receberia muito amor. Ele não poderia ter uma família melhor do que aquela, então de repente contar a novidade não parecia ser tão ruim assim.

...

- É uma casa realmente muito bonita - Eloise disse enquanto saiam do carro de Louise, acompanhada por Henry e Diana, admirando a casa que parecia grande o suficiente para confortar todo mundo e estava muito bem decorada para o Natal. - E espero que seja quente também, que frio!
- Will tem muito bom gosto, você vai gostar ainda mais por dentro - Louise disse enquanto trancava as portas no controle.
- Se não fui eu que decorei, não pode ser tão bonita assim - Damon, que vinha na frente de e Clara, disse se aproximando deles. - Odeio neve.
- E mesmo assim quis voltar para a Inglaterra? - questionou para ele, que apenas rolou os olhos em resposta.

Louise foi na frente e tocou a campainha. Levou menos de um minuto para que William os recebesse. Ele vestia um suéter verde escuro bem natalino e Louise achou adorável, embora não combinasse em nada com o vestido marrom que ela usava por debaixo do casaco de pêlo falso.

- Feliz natal, pessoal - disse, abrindo a porta rapidamente para que entrassem, estava realmente muito frio. - Obrigado por terem vindo, meus pais estão terminando de se arrumar, mas já estão descendo. Lou, você está... - William tirou um segundo para admirar a namorada, esbelta como sempre, mas não poderia se referir do jeito que gostaria na frente da família dela inteira.
- Obrigada, mas eu teria vestido meu suéter de rena se você tivesse me avisado - ela sorriu e deu um beijo rápido nos lábios dele.
- Will, onde está a ? - perguntou olhando para os lados.
- Na outra sala, é só atravessar a cozinha e virar o corredor à esquerda. Não quer deixar esse presente debaixo da árvore?
- Não, obrigado, eu já vou entregar pra ela.
seguiu as instruções de William e encontrou a outra sala que ele julgou ser a sala de televisão, pois tinha um sofá grande o suficiente para caber dez pessoas e um telão ao invés de uma televisão. estava lá, mas não estava sozinha, Carter lhe fazia companhia e estavam conversando.

Sempre o Carter. pensou, mas tentou não revirar os olhos. Algo nele o incomodava.

- Você chegou cedo - sorriu ao vê-lo e se levantou do sofá.
- Você me conhece o suficiente para saber que isso é um elogio pra mim - sorriu também.
- Eu vou deixar vocês sozinhos, com licença. Feliz natal, - Carter disse se levantando e saiu rapidamente, deixando o casal a sós.

notou que carregava um embrulho nas mãos enquanto ele reparava no vestido que ela usava. Era o mesmo do dia anterior e ela tinha feito uma maquiagem apropriada para a ocasião, com um batom bem escuro e saltos dourados.

- Você é linda sempre, mas hoje está ainda mais - disse admirado, e ela sorriu. - É uma pena que eu não possa te beijar como eu gostaria.
- Com jeitinho, é possível - se aproximou, e com cuidado para não borrar seu batom, deixou um selinho demorado nos lábios dele. - Feliz natal.
- Feliz natal. Eu não consegui me conter, quero entregar o seu presente agora. - Ele entregou o embrulho para ela. - Tô feliz que vai combinar com a sua roupa.
- Já estou ansiosa pra usar, sendo assim.

se sentou no sofá para poder abrir o seu presente. Tirou da sacola, rasgou o embrulho e se deparou com uma caixa de veludo preta, então viu a corrente de prata que repousava ali. Ela sorriu enquanto a pegava na mão para ver de perto, e observou a joia se enrolar nos seus dedos até a pedra de quartzo ficar visível aos seus olhos. Ela tinha certeza que jamais vira um colar tão bonito como aquele.

- É mesmo um quartzo rosa? - ela perguntou, e ele assentiu.
- Você sabe o significado dessa pedra?
- É a pedra do amor. Repele as energias negativas e potencializa as vibrações do amor. - sorriu, se lembrava perfeitamente que ele próprio havia dito aquilo pra ela. - Foi você quem me disse isso.
- Não, eu não disse. - franziu o cenho e tentou puxar na memória se alguma vez tinha dito aquilo. - Mas é exatamente o que eu ia dizer para explicar. Eu apenas deduzi que você gostava de quartzos.
- Eu adoro! Me ajuda a colocar?

concordou, pegou o colar na mão e se sentou ao lado dela. puxou seus cabelos soltos para o lado, para que fechasse a peça no seu pescoço.

- Na hora em que vi, soube que era feito pra você.
- É perfeito, obrigada - disse enquanto se levantavam juntos. - Seu presente está na árvore, vamos? Quero ver minha mãe conhecendo a Diana, ela está muito ansiosa.
- É sério? Pelo menos falaram bem da minha irmã pra ela? - perguntou enquanto deixavam o cômodo.
- É claro!

Quando chegaram na sala, foi exatamente com o que se depararam. Viram o momento em que Thomas apresentava sua namorada para sua mãe.

- É um prazer finalmente te conhecer, Diana - Lizzy disse sorridente, apertando a mão da outra.
- O prazer é todo meu, senhora Thompson. - Diana sorriu de volta, mas percebeu o quanto ela estava tensa. Reconhecia a quilômetros de distância quando Diana não estava à vontade.

Antes que fizesse algum comentário, a campainha tocou novamente, e ela correu pra atender. Eram Jake, Katie e seus pais, que também foram convidados, já que todos eram quase uma família só.

- Nossa, deveria ser crime ser tão bonita assim! - Jake disse ao ver a amiga, que gargalhou.
- Eu que eu diga, Jacob. Feliz natal. - Deu um abraço rápido nele, e deixou que todos entrassem para depois cumprimentar um por um apropriadamente.
- , querida, cadê sua mãe? Trouxemos um presente de aniversário pra ela.
- Está na sala, tia Sarah, em algum lugar da sala, podem ir lá.
- Até eu estou um pouco tonta com tanta gente em um lugar só - Katie disse enquanto ia ao lado de .
- Eu também, Will já desistiu de ser o anfitrião. - viu o irmão sentado na sua poltrona preferida, sem dar muita importância para a ocasião.
- Mas é bom, não é? Reunir as famílias, eu não passo um natal com os meus primos desde que eu era criança.

Katie foi cumprimentar um por um, e parou para pensar no que ela disse. Eram uma família, mas não eram próximos, apenas Henry e Sarah por serem irmãos. Ela própria tinha muito mais proximidade com os Jones do que os próprios parentes de sangue, era até um pouco estranho, já que sempre estava em contato com sua família espalhada pelo país, até tinham um grupo de primos no WhatsApp.

Com a casa tão cheia, era nítido notar que William não sabia como receber tantas pessoas de uma vez, por isso estava recebendo a ajuda de Carter, Lizzy e , que eram ótimos anfitriões. O jantar ocorreu ao anoitecer e foi uma loucura cozinhar para tantas pessoas, mas Thomas conseguiu fazer boa parte sozinho ainda no dia anterior para que tudo corresse perfeitamente. Após o jantar, decidiram trocar os presentes, e apenas quando todos já haviam presenteado e recebido seus presentes, Thomas e Diana decidiram que seria o momento ideal de dar a notícia.

- Você quer fazer isso mesmo? - ele perguntou para ela, que concordou com a cabeça.
- É o melhor, não é? Uma hora vão descobrir. - Ela sorriu de canto, mas não estava tão feliz assim, apenas ansiosa.
- É sério, Ana - Thomas segurou a mão dela para confortá-la. - Se não estiver se sentindo confortável, podemos só deixar para lá, enviar uma mensagem, qualquer coisa. Não precisa se expor se não quiser.
- Está tudo bem, não são quaisquer pessoas, são as nossas famílias - Diana sorriu de novo e ele assentiu.
- Pessoal, Diana e eu queremos dizer uma coisa para vocês. Achamos que estando todos juntos aqui, seria o momento perfeito - Thomas disse após os dois se levantarem do sofá, e então foram para o centro da sala. Ele estava tremendo quando apertou a mão dela.
- Foi rápido e inesperado, mas simplesmente aconteceu. - Diana fez uma pausa e respirou fundo. - Vamos ter um bebê, eu estou grávida.

Foram tantas reações ao mesmo tempo que eles não conseguiram acompanhar todas, foi a única que não esboçou reação, apenas se reclinou no sofá. A maioria arregalou os olhos, deixaram os queixos irem ao chão, mas provavelmente as maiores reações foram de Eloise e Lizzy, que não foram nem um pouco discretas.

- O meu bebê vai ter um bebê? - Eloise perguntou, se levantando, e Diana concordou, em seus olhos já se formavam lágrimas. - Ah, meu amor... - Ela foi abraçar Diana para que chorassem juntas.
- Tom... - Lizzy se aproximou também, não sabia o que dizer, mas estava muito feliz.
- A senhora vai ser avó, exatamente como queria. - Thomas sorriu, mas estava muito preocupado. - Eu acho que eu preciso de uns conselhos, mãe, não faço ideia de como fazer isso.
- Estou aqui pro que você precisar, meu querido. Sempre! - Ela sorriu e o abraçou. Só então se deu conta de que seu filho realmente era um homem adulto.

Tantas pessoas quiseram cumprimentar os dois que ambos se sentiram sufocados, mas retribuíram cada sorriso e abraço. Thomas acabou por se alegrar devido a tamanha felicidade que Jake demonstrou, já exigindo que fosse o padrinho do bebê, também teve que garantir para William que o bebê foi feito de forma tradicional. Diana, por outro lado, riu verdadeiramente com a reação de Damon que estava atordoado, completamente em choque, mas ao mesmo tempo muito feliz porque seria tio. , por outro lado, estava quase chorando, assim como Henry. Louise ainda não tinha demonstrado uma grande reação, estava custando acreditar.

- Você ainda não foi abraçar o seu irmão? - perguntou ao voltar para o seu lugar ao lado de , após abraçar Diana.
- Eu já sabia, ele me contou ontem. - Ela sorriu, mas ele arqueou as sobrancelhas em resposta. - Nem me olhe assim, eu não poderia contar um segredo que não era meu, ele me pediu para não contar. E para de chorar, você chora por tudo.
- Eu só estou um pouco emocionado, não seja má. - riu e secou as poucas lágrimas que escorreram dos seus olhos. - Mais uma criança na família é muita felicidade.
- Ainda é a primeira do nosso lado, nem sei dizer o quanto eu tô feliz, só não sei dizer se meu pai está. Acho que ele surtou. - Eles olharam para Lewis, que puxava seus fios de cabelo para procurar os brancos. Carter, Liam e Sarah riam dele. - Ele vai ficar bem.
- Vai, mas olha só a reação do meu pai. - apontou para Henry, que estava abraçado com Diana, se desmanchando de chorar, chegava a ser exagerada a encenação. Diana estava rindo dele. - Quando a Clara nasceu, foi exatamente assim.
- Ele não tem masculinidade frágil e felizmente ensinou isso pra você e seu irmão. Esse é, definitivamente, o melhor natal que eu já tive.
- Eu também - sorriu em resposta.

...
Aberdeen, Escócia. 1847.

Arkley e Blackwood se casaram no verão de 1847, em uma cerimônia que contou com toda a aristocracia local ocupando o salão do castelo. E é claro que o maior casamento da temporada demandava muito dos noivos, que mal tiveram tempo de trocarem simples olhares, eram requisitados a todo momento. Apenas quando viu conversando com Lucinda Smith que conseguiu se aproximar. E quando o tranquilizou, dizendo que a conversa fora muito amigável, ele aproveitou o momento a sós até que fossem interrompidos novamente.

- A propósito, venha comigo, preciso te entregar uma coisa. - ofereceu o braço para ela, a fim de caminharem para fora do salão.
- Aonde vamos? - olhou para os lados, procurando ter certeza de que ninguém os via.
- Não se preocupe, será rápido. - Ele a levou até o corredor, que levava à ala oeste do castelo, e trancou a porta.
- Eu não acho que agora seja um momento apropriado para isso, . - deu um passo para trás e ele gargalhou ao entender. - Primeiramente: és oficialmente minha esposa, e, se eu quisesse beijá-la aqui mesmo, eu beijaria, já que nossa vida não diz mais respeito a ninguém além de nós dois. E em segundo: quero apenas lhe entregar uma coisa. - Ele tateava o bolso interno do paletó. - Era para eu te entregar ontem para que você usasse hoje, mas como percebeste, não tivemos tempo. Aqui. - Entregou para ela um saquinho de veludo. - Espero que goste, é o meu presente de casamento.
- Vindo de você? É claro que eu vou gostar - ela sorriu enquanto puxava a amarração, então o chacoalhou na palma da mão, um colar caiu dali.

observou mais de perto a peça delicada. Era de ouro com um delicado e pequeno coração rosa. Entreabriu os lábios e procurou palavras para expressar o quanto era bonito, mas não encontrou nenhuma.

- Eu amei - ela sussurrou, e então olhou para ele. - Eu amei, . É perfeito.
- É um quartzo - explicou, enquanto tirava do pescoço dela o colar pesado que ela ostentava e colocava no próprio bolso. - Quartzo é a pedra do amor, sabia? Repele as energias negativas e potencializa as vibrações do amor. - Ele pegou o colar da mão dela e o fechou na nuca. - O nosso amor.
- Não poderia ser um presente mais perfeito, , obrigada. - Ela tocou o coração que repousava em sua pele e virou o pescoço para vê-lo. - Sempre o levarei comigo.
- Eu fico feliz em saber, pois realmente combinou com você. - colocou a mão por cima da dela. - Eu sabia que Jesse não ia me desapontar.
- Eu deveria ter reconhecido esses traços, são totalmente dele - ela riu da própria inocência. - E eu sabia que você não iria me desapontar - e sorriu. - Eu realmente não sei como agradecer, . É o presente mais lindo que eu já ganhei em toda a minha vida.
- Eu sei como podes agradecer. Permita-me, Lady Blackwood. - Ele colocou as duas mãos no rosto dela e a beijou.

...

Aberdeen, Escócia, 2019. De todos os lugares que Jesse já morou, provavelmente a Escócia era o que ele mais gostava, especialmente Aberdeen, que havia sido sua vida favorita. No século dezenove, ele já tinha fortuna o suficiente para viver bem, mas fez ainda mais dinheiro com o seu comércio de joias, que era o mais conhecido da região. As mulheres da alta sociedade, em sua maioria, encomendavam com ele, porque confiavam em seu trabalho, e foi assim que ele conheceu Diana, Louise, e Charlotte na terceira vida delas.

Jesse conhecia cada pedra e cada ferramenta necessária para criar a peça que bem entendesse, e por isso sempre surpreendia Diana, fosse na vida passada ou na atual, a presenteando com peças únicas que ele fazia especialmente para ela. Em 1846, ele havia presenteado Diana em seu vigésimo aniversário com um colar com uma pedra de jade, que virou seu acessório indispensável durante um tempo até sua morte. Em 2014, quando tiveram um relacionamento, Jesse recriou a peça, para presentear a garota em homenagem aos seus vinte anos de idade. Diana ainda usava o colar, especialmente na presença dele, o que deixava Jesse feliz, ele gostaria muito de poder contar os paralelos, mas ver a feição de dejavu de Diana já valia a pena, um dia ela iria se lembrar.

Por ter um apego àquele lugar em especial, Jesse manteve, durante 173 anos, a sua propriedade na cidade. Era um palacete do século dezoito com uma arquitetura neoclássica pertencente à época. Na área externa, fontes com esculturas em meio à flora riquíssima traziam o requinte da mansão. Na área interna, colunas coríntias, vitrais e cômodos inspirados em famosas construções europeias, como o Palácio de Versalhes, não representam apenas diferentes vertentes da arquitetura da época, mas também o estilo de vida que a alta sociedade dali possuía. De todos os bens que possuía, aquele era o seu favorito, e era onde se escondia quando queria fugir do mundo ou quando precisava estudar e descobrir onde reencarnariam em mais uma vida.

Apesar de ter recebido um convite de William para se juntar à família dele no Natal, Jesse recusou, alegando que estaria fora do país. Decidiu voltar para sua casa em Aberdeen por dois motivos:

O primeiro era que ele simplesmente detestava natais ou quaisquer feriados religiosos, visto que já tinha vivido e vivenciado tempos e situações o suficiente para saber que existia mais de uma crença no mundo, além de já estar de saco cheio de ser o ajudante do padre. Jesse definitivamente queria distância daquilo.

O segundo motivo era que estava na hora de agir. Tudo estava acontecendo rápido demais, Jesse mal conseguia acompanhar, mas tudo estava seguindo conforme deveria ser, todos os casais estiveram juntos em algum momento, todos viveram paralelos de suas outras vidas, ele já havia conhecido Luce e Carter e sabia as relações de cada um com todos os envolvidos, sabia que e eram os mais atormentados com sonhos e vislumbres. O fato de Diana engravidar de repente apenas agilizou as coisas, então ele achou que deveria interferir, mesmo sabendo que não poderia fazer isso.

Jesse caminhou até sua estante de livros velhos e mofados, ele realmente não queria fazer aquilo, mas precisava. Procurou pelo livro com uma capa mole de couro envelhecido que ele próprio havia costurado à mão muito tempo antes. Estava amarrado com palha velha, ele teve que cortar, depois emendaria com palha nova, mas antes precisava olhar o conteúdo mais uma vez. Ele abriu o livro e tossiu com a poeira, mas era de se esperar, na última vez que tinha aberto o exemplar Diana e Louise sequer haviam nascido ainda.

Começou a folhear e foi tomado por memórias daquela vida, ainda se lembrava de quando ia levar as joias encomendadas, a forma que sempre o recebia gentilmente e o acomodava, Charlotte corria para servir o chá, Louise sempre parecia cansada, porque estava sempre envolvida em um parto enquanto Diana mantinha a conversa viva. Já do lado dos rapazes, Damon e eram os mais amigáveis. William, por sua vez, também tinha uma personalidade muito parecida com sua versão atual, estava sempre batendo de frente com quem o confrontasse, era imponente demais para um jovem de vinte e poucos anos, enquanto Thomas sempre era muito educado, mas Jesse podia ver a desconfiança dele sempre que estava perto de Diana. Não tinha jeito, sempre seriam rivais, mas ele não levava isso como ofensa, até gostava, embora naquela vida tivesse tentado ser aliado e obtivera sucesso.

Quando Jesse se deu conta, já tinha lido o livro inteiro em uma única noite, reviveu todas as memórias da família Arkley-Blackwood que haviam escritas ali, se sentiu novamente em 1847, quando tudo era bom e quase dera certo. E mesmo depois de tantos anos, ainda não sabia o que tinha dado errado para que a maldição não tivesse sido quebrada.

Eram duas das famílias mais ricas e influentes de Aberdeen, isso até a família real adquirir a propriedade em 1852. Quatro casamentos por amor numa época onde amor não importava, não tinha como ser ainda melhor. , Damon, Thomas e William se diferiam dos homens locais por serem jovens e espirituosos, além dos títulos que possuíam, o que lhes dava ainda mais popularidade entre mães casamenteiras e filhas em idade de casar. e Damon eram viscondes enquanto Thomas herdaria o marquesado de Broxburn de seu pai um dia. William, por ser o filho do meio dos Arkley, não possuía um título de alto escalão, mas adorava se referir a si mesmo como Sir William por aí, era respeitado pelo nome da família. De qualquer maneira, os quatro alvos preferidos da cidade inteira souberam casar bem num período de um ano. Quatro casamentos por amor, quatro homens completamente devotados às suas esposas.

Thomas e Diana foram os primeiros a se casarem, o que fez Jesse pensar que sempre seria assim, jamais iriam se apaixonar à primeira vista, porém sempre tiravam um tempo para se conhecerem, e justamente esse tempo fez com que as famílias se aproximassem. Louise e William, definitivamente, fugiam do padrão, se apaixonaram à primeira vista no primeiro baile de 1846, porém William precisava voltar à capital para concluir os estudos. A alternativa encontrada por eles foi que os viscondes prometessem Louise para ele até seu regresso, o que aconteceu alguns meses depois. Também tinha o fato de Louise ser a única mulher na família que tinha uma profissão e não dependia totalmente do seu marido, quando William era questionado, ele dizia não se importar que a esposa trabalhasse e ria dos olhares de horror. e trocaram correspondências durante um ano inteiro, enquanto ele esteve em Cambridge estudando, e ela se preparava para ser apresentada à sociedade. Ele até cortejou Lucinda Smith algumas vezes, mas nada se comparava ao sentimento arrebatador que descobriu sentir por , e, quando ela estava prestes a ser enganada pelo duque de Gales que lhe desposaria, ele armou para que fossem vistos a sós pelo próprio duque. É claro que Carter Hywel não pensou duas vezes antes de obrigá-los a se casarem. Já Damon e Charlotte foram os últimos, porém o caso mais delicado e também o típico clichê enemies to lovers, ela o odiou na primeira dança, e ele estranhamente gostou de ser insultado por ela. Charlotte era uma Arkley também, sendo prima de , Thomas e William, e estava na cidade para arrumar um casamento após três temporadas desastrosas em Glasgow. Levou algum tempo para que Charlotte percebesse que Damon não era ruim como ela achava que fosse, e então já não conseguiam mais ficar longe um do outro. Em meio à tantas visitas frequentes da parte de Damon, Charlotte acabou engravidando, mas para que isso não viesse a público, a Lady Arkley, sua tia, os obrigou a adiantarem um eminente noivado e fez questão de espalhar pela cidade que o bebê havia nascido de oito meses.

Jesse riu ao se lembrar de todos eles, eram lembranças felizes, mesmo que tivesse terminado de maneira trágica quando não resistiu ao parto e tirou a própria vida. Justamente por ter se apegado tanto a eles, queria que naquela vida desse certo finalmente, achava que nenhum deles merecia passar a eternidade vivendo uma maldição.

O plano consistia em levar o livro para Londres, e o manteria consigo mesmo até que chegasse o momento em que ele teria que, "acidentalmente", deixar algum deles encontrar o livro em um lugar que ele ainda não tinha ideia, mas teria que forjar toda a situação para que todos eles pudessem se preparar para o que estava por vir. Foi a maneira que Jesse encontrou para poder ajudá-los, sem dizer com palavras específicas o que deveriam fazer; e padre John jamais desconfiara que o rapaz, de maneira secreta, havia escrito aquele livro mais de um século antes.

Os Arkleys & os Blackwoods, por Jean-Pierre Durand, 1850.



Capítulo 24 - Jealous

Boston, Massachussets. 2005.

- Damon! - chamou de outro cômodo, na casa de seu irmão. - Precisa de ajuda?
- Não! - Damon gritou de volta, enquanto mexia a sopa para que não grudasse no fundo da panela.

Não era comum uma criança de 12 anos cozinhar, mas Damon fazia aquilo havia tanto tempo que pouco se importava se alguém lhe daria um sermão por mexer com fogo, ele sabia que tinha que cozinhar no fogo baixo. Outro fator que o motivava a estar preparando o almoço sozinho era que aquele seria um dia especial, e ele queria preparar uma surpresa para os pais e para Diana.

- Terminei de limpar tudo. - apareceu na cozinha carregando um balde e um esfregão, estava exausto e ainda eram onze horas da manhã. - Acho que ficou bom, só falta a cozinha.
- Você pode mexer a sopa pra mim? Preciso ir ao banheiro - Damon pediu e o outro aceitou, então logo o gêmeo mais novo deixou a cozinha.

mexia a sopa quando viu Louise passar distraidamente ouvindo música no seu MP3.

- Louise! - ele chamou alto para que ela o escutasse, a mais nova tirou um dos fones para ouvir. - Ainda não se arrumou? Eles vão chegar daqui a pouco.
- Não vou me arrumar - Louise respondeu calmamente, e ia colocar os fones de novo, mas continuou a falar.
- Por que não?
- Porque eu não quero.
- Mas a gente combinou de receber a Diana quando ela chegasse.
- Tudo é a Diana! Não vou trocar de roupa, , para de encher o saco!

Mesmo com pouca idade, estava horrorizado com o comportamento de Louise nos últimos dias, ela estava totalmente apática quando o assunto era Diana e isso o deixava curioso, mas também chateado.

- Por que você não quer ajudar? Não está feliz por ela?

Louise não respondeu, apenas virou as costas para o irmão e saiu, achou melhor voltar para o seu quarto antes de levar uma bronca, mas no meio do caminho encontrou Damon, que voltava do banheiro.

- Ei, Lou, não vai se arrumar? - o menino perguntou, e ela já não podia mais se conter de tamanha irritação.
- Não, não vou! Vocês podem me deixar em paz? - ela ralhou irritada. - O que você tem?
- Me deixa, Damon!

Louise foi rapidamente para o seu quarto e bateu a porta, fazendo Damon se assustar. Ele voltou para a cozinha e ainda estava lá, também tinha ouvido a porta bater, podia imaginar que era a irmã.

- Por que a Louise está tão esquisita hoje? - ele perguntou, tomando de volta o lugar ao fogão.
- Não sei, ela gritou comigo e saiu. - deu de ombros e começou a arrumar a bagunça que estava em cima da mesa.
- Ela gritou comigo também... , será que a Lou está com ciúmes da Ana?
- Não, claro que não... Ou está? Ela não deveria - disse pensativo, não entendia muito bem como aquilo poderia ser possível.
- O que a gente vai fazer?
- Eu não sei. - E, de fato, não sabia, ainda era muito novo para entender. - A gente deveria contar pros nossos pais, né? Eles podem falar com ela.
- É, eu acho que é melhor. - Damon também não sabia como ajudar. - Terminei.

Damon desligou o fogo e tampou a panela, depois ajudou a arrumar a cozinha, então os dois foram trocar de roupa, combinaram que vestiriam suas melhores roupas para receber a irmã em casa. Os gêmeos continuaram a conversar sobre Louise e chegaram à conclusão de que contariam aos pais, mas acharam justo que Louise também merecesse um pouco de atenção. Damon tinha preparado uma sopa de ervilhas, porque sabia que Diana amava, então achou que seria uma boa ideia fazer algo para Louise também. Mais do que de pressa, ele e prepararam juntos um bolo de chocolate, que foi ao forno um pouco antes dos seus pais chegarem junto com Diana. A cozinha estava uma bagunça, mas eles limpariam depois, o que importava era que Diana estava voltando pra casa, e o mais importante: totalmente curada do câncer.

- Prepararam o almoço? - Eloise perguntou, surpresa ao ver as panelas no fogão e a jarra de suco em cima da pia.
- Eu fiz, o ajudou com a sobremesa e limpou a casa - Damon respondeu, os meninos estavam abraçando a irmã. - Fiz sopa de ervilhas porque a Ana gosta.
- É sério? - Diana perguntou feliz, e os meninos concordaram. - Obrigada!
- Está tudo com uma cara ótima, e... hum... bolo de chocolate! - Henry conferiu o forno. - Meus meninos são dois chefes! Estamos orgulhosos de vocês, bom trabalho.
- A gente só queria receber a Ana como ela merece - acrescentou.

Henry e Eloise arrumaram a bagunça na mesa e colocaram os pratos e talheres para que pudessem almoçar todos juntos.

- Cadê a Louise? Ela ajudou? - Eloise perguntou. Os gêmeos se entreolharam.
- A gente vai chamar ela, mãe - Damon disse e concordou, então os dois saíram da cozinha correndo.

Os gêmeos foram até o quarto de Louise e bateram na porta. Como era de se esperar, não receberam nenhuma resposta e, por isso, concordaram em entrar mesmo assim.

- Vão embora - Louise disse ao vê-los, e se virou para o outro lado da cama.
- Eles chegaram - Damon anunciou, se aproximando.
- Não ligo.
- Liga sim, a gente sabe que você liga. - se aproximou também, e os dois se sentaram na cama.
- Vão embora, eu quero ficar sozinha! - Louise praticamente implorou, afundando o rosto no travesseiro.
- Lou... você não é menos importante do que a Diana pra gente.
- O Dam tá certo, e não adianta você mandar a gente embora, a gente não vai sair daqui.
- Eu sou uma pessoa ruim? - Louise perguntou, virando-se devagar para os irmãos. Os dois negaram prontamente. - Eu tô muito feliz porque a Ana voltou pra casa, eu juro!
- A gente sabe - falou compreensivo. - Ela tá esperando por você, na verdade só falta você lá na cozinha.
- Tem sopa pra Ana e bolo de chocolate pra você - Damon disse, e viu Louise sorrir. - Você vai comer com a gente?
- Vou - ela sorriu, contente por se lembrarem da sobremesa preferida dela.

Louise se levantou e os três voltaram para a cozinha. Diana viu sua irmã e correu para abraçá-la, o que pegou Louise de surpresa, mas ela retribuiu. Diana estava em casa e curada, era tudo o que ela sempre quis, e estava feliz por isso e por terem mais um momento em família.

...
Se o natal foi na casa de William, o ano novo tinha que ser também, ele fez questão que fosse e obrigou todo mundo a comparecer à sua casa pontualmente na noite do dia 31. A única excessão era Thomas, que estava de plantão, mas ele quase sempre estava ausente, então a família já estava acostumada.

- Amor, o seu irmão vai obrigar a gente a ir pra casa dele em todos os feriados? - perguntou enquanto pegava sua camisa branca no armário para vestir.
- Por enquanto, sim. - riu, mas não achava aquilo ruim. Ela calçou suas botas e então continuou: - Ele conquistou uma coisa com o próprio trabalho, eu acho que eu faria o mesmo.
- Não tô reclamando, eu juro, eu acho ótimo que ele tenha as próprias coisas, já está bem diferente de quando o conheci.
- Bom, Will tem um coração enorme e é muito independente. - se levantou da cama e foi até ele para abotoar sua camisa. - Mas eu ainda sou a irmã mais velha dele e me preocupo, ele mora sozinho numa casa enorme, é só uma criança, e ainda não sabe se cuidar.
- Ele já é adulto, , não é mais uma criança.
- Pra mim ainda é. Will veio morar comigo logo quando eu voltei a morar em Londres depois de me formar, eu cuidei dele esse tempo todo. Na verdade, cuidei desde sempre, é estranho pra mim que ele tenha se mudado. Me sinto sozinha quando estou em casa. Tom está sempre ocupado com o trabalho e a faculdade, e agora Will foi embora também, é um pouco estranho.
- Eu entendo, foi muito estranho quando eu me formei na faculdade, e, de repente, estava morando sozinho. Morei com o Damon a vida toda até o último dia de aula, eu não sabia como fazer dar certo no começo tendo a minha própria casa, também me senti um pouco sozinho.
- Você não morava com a Lucinda? - perguntou com curiosidade.
- Sim, moramos juntos durante algum tempo depois da faculdade, mas ela decidiu ir embora um pouco antes de terminarmos. - não queria entrar em detalhes, simplesmente não sentia vontade. - De qualquer jeito, isso não é importante e eu não quero que você se sinta sozinha... Sabe? Eu estava pensando que talvez a gente poderia...
- Morar junto? - ela o interrompeu, podia prever que ele diria aquilo, mas não sabia muito bem o que achava da ideia. - Bem, eu passo muito mais tempo na sua casa do que na minha, é verdade.
- E eu sei que você odeia pagar aluguel, além de não gostar do prédio.
- Eu odeio aquele prédio. - acabou rindo, nunca iria se acostumar com o lance de escadas.
- Se você quiser, é claro, a gente pode ter o nosso próprio lugar. Aqui, ou em um lugar novo, não me importo... sei que seis meses é pouco tempo, mas eu me sinto pronto, , não sei explicar porque as coisas entre a gente fluem tão naturalmente pra mim.
- Pra mim também. - sorriu de canto quando ele tocou seu rosto com a mão, acariciando sua bochecha. - Eu nunca morei com nenhum namorado antes, não que eu tenha tido muitos ou qualquer um que tenha durado tempo o suficiente pra eu querer me mudar.
- Você mesma disse que passa mais tempo aqui do que na sua casa, já sabe que eu sou preguiçoso e esqueço a toalha em cima da cama - disse para descontrair, e ela riu.
- Você é a pessoa mais organizada que eu conheço.
- Então isso é um sim?
- É um vou trazendo minhas coisas pra cá aos poucos.
- Que bom, não tô com pressa. - se aproximou para deixar um selinho demorado nos lábios dela, depois se afastou para continuar se vestindo.

Quando e terminaram de se arrumar, foram para a casa de Willian, que já estava cheia, aparentemente eles eram os últimos, e isso rendeu algumas reclamações do anfitrião.

- , o que aconteceu com a sua pontualidade britânica? Já é quase meia-noite!
- Quanto drama, Willian McQueen. - rolou os olhos. - Estou aqui, certo? Podemos parar ou você quer levar uma bronca de ano novo?
- Will, ela tem razão, tá todo mundo aqui - Louise, que estava ao lado do namorado, falou enquanto o abraçava de lado. - A propósito, vocês dois estão lindos como sempre, me digam como é ser o casal mais estiloso do Reino Unido.
- Ei! - Willian protestou enquanto e riam. - É sério isso? E a gente?
- Se a Lou disse, quem sou eu pra contestar? Espero que não se importe com o segundo lugar, Will. - continuava rindo, em seguida, pediu licença para os três para ir cumprimentar seus pais.
- Não gosto dele.
- Você não gosta nem de você mesmo. - deu de ombros. - Licença, já achei o Carter isolado ali no cantinho.

se afastou do casal e foi até Carter, que estava sentado em um dos sofás da sala bebericando uma cerveja, estava claramente deslocado.
- Não vai achando que vai passar a noite toda aí sozinho - ela disse ao se aproximar dele.
- Estava esperando a minha companhia preferida chegar. - Ele se levantou e deu um abraço apertado em , que retribuiu. - Na verdade, Jake estava aqui até dois minutos atrás, mas ainda não voltou.
- Então vou ser a sua companhia. - se sentou no sofá, e logo eles entraram em uma conversa animada.

A ligação entre eles naquela vida era diferente, pois Carter era diferente também. Ele não tinha um desejo possessivo por alguém que não poderia ter, e, por mais que tivesse se interessado por quando tinha por volta dos seus 20 anos, reconheceu que aquilo jamais daria certo, pois ela ainda era menor de idade e o enxergava como um irmão mais velho. Não demorou muito para que Carter a enxergasse como uma irmã, e por isso tinham um relacionamento tão bom.

estava conversando brevemente com Damon e Diana quando olhou na direção do sofá e viu o momento em que ria com Carter. Seu estômago embrulhou quando ele a abraçou de lado, queria fazer uma careta. não entendia porque não se sentia bem sempre que Carter estava por perto, algo nele o incomodava, e ele se sentia mal por isso, não queria parecer ciumento sem motivo. De qualquer forma, ali estava aquela sensação novamente.

- Não sei porque não gosto dele - admitiu quando percebeu que Diana e Damon olharam na mesma direção.
- Porque ele é bonito, simpático e está abraçando a sua namorada - Damon pontuou.
- Por favor, não faz piada sobre eu estar com ciúmes.
- Eu não ia fazer. Eu também não gosto muito dele, acho ele tão...
- Forçado - Diana encontrou a palavra certa e foi apoiada pelos seus irmãos. - Não vou com a cara dele também, desde a primeira vez que o vi.
- Mesmo longe, ele sempre parece tão presente na vida da e isso me incomoda demais... não sei porque eu penso assim, é só um ciúme idiota.
- Pode até ser ciúme, mas se for assim todos nós temos. Louise, vem aqui - Damon chamou pela irmã, que passava por eles naquele momento. A ruiva se juntou à conversa. - O que você acha do Carter?
- Hum... bonito, muito bonito, parece ser simpático, é o herói do Will, mas... acho que tenho problemas com cunhados, sempre que eu olho pra ele, eu me lembro da Lucinda e isso me incomoda, mas por que a pergunta? tá com ciúmes do Carter conversando com a ?
- Sim, mas deve ser um ciúme mútuo, chegamos a conclusão de que ninguém gosta dele. Acho que o Thomas diria que eu enlouqueci se eu dissesse isso pra ele. - Diana rolou os olhos em desaprovação.
- terminaria comigo se eu falasse qualquer coisa ruim pra ele - bufou impaciente.
- E o Will terminaria comigo também, mas não sem antes me chamar de maluca e encrenqueira... - Louise riu enquanto balançava a cabeça negativamente. - Me sinto mal por não gostar de alguém sem motivo? Sim, mas achei ele meio estranho desde o primeiro dia em que eu o vi.
- Ah, que família unida, amo falar mal de alguém com vocês - Damon tentou descontrair, fazendo os irmãos rirem. - Acho que você deveria ir lá marcar presença, , já que está incomodado.
- Não, não quero que ela saiba disso, ficaria chateada... bom, me conforta saber que pensamos iguais.
- Vamos mudar de assunto, por favor, meu bebê também não gosta dele - Diana disse aborrecida, passando a mão pela barriga que mal dava para ser notada ainda.

E então os irmãos entraram em uma conversa animada sobre a gravidez da caçula.

...

Lizzy e Sarah juravam que seria uma ótima ideia trazer e mostrar fotos antigas da família para os filhos uns dos outros, as duas velhas caixas cheias de fotografias estavam no chão da sala, e todos estavam em volta observando fotografias de diferentes épocas enquanto uma música da banda de Jesse preenchia o ambiente.
- Ah, não pode ser! É você? - pegou uma fotografia de com os irmãos em algum Natal dos anos 90. chorava muito enquanto Thomas carregava o bebê William nos braços. - O que aconteceu aqui?
- Por favor, não ri - pediu, mas ela própria estava rindo. - Eu queria segurar o Will para a foto, mas minha mãe entregou ele para o Tom, meu pai aproveitou o meu escândalo e tirou essa foto no momento certo. Foi isso, sou zoada por essa foto até hoje.
- Achei linda, temos uma parecida com o Damon, deve estar por aí. - riu enquanto continuava a olhar as outras fotos que estavam em sua mão.

Diana estava muito, muito desconfortável com a situação, mas estava tentando disfarçar. Odiava ver fotos de quando era criança, se sentia infeliz quando lembrava que durante algum tempo de sua infância foi infeliz. Tirava fotos obrigada ou apenas porque não queria chatear os pais. Na maioria das fotos enquanto esteve em tratamento, Diana estava séria, e algumas dessas fotos estavam na caixa de Sarah. Diana, sentada entre os seus pais e com Louise logo atrás dela vendo também, estava dando o seu melhor para parecer simpática e desapegada, mas doía olhar fotografias de sua infância.

- Sarah, não acredito que você tinha essa fotografia esse tempo todo! Sabe o quanto eu procurei por ela? - Henry disse ao encontrar uma fotografia específica.

Era o aniversário de Katie e o tema era à fantasia. A aniversariante estava fantasiada de Bela Adormecida, enquanto Jake era o Woody de Toy Story. Damon e eram, respectivamente, Mário e Luigi, pois na época eram viciados nos jogos de videogame. Diana se lembrava que Louise queria combinar fantasias também, mas ela não quis, então Louise escolheu ser uma bailarina enquanto Diana não queria se fantasiar, mas seus pais lhe sugeriram algumas coisas que ela poderia gostar, então Diana escolheu ser uma médica, assim poderia contar para os médicos que cuidavam dela depois. Diana se lembrava do quanto Louise havia ficado chateada com ela, mesmo que fossem tão pequenas, e por isso se sentiu mal por lembrar daquilo.

- Que culpa eu tenho se você não cuida das suas coisas, Henry? - Sarah respondeu, e tomou a foto da mão do irmão para ver, se derretendo ao ver seus filhos. - Meu pequeno Woody e minha Bela! Que saudade dos dois pequeninos assim!
- Mãe, esquece isso aí. - Jake cobriu o rosto com as mãos, tal como Katie, que disfarçou sua vergonha. - Foi um surto esse aniversário, os gêmeos estavam de bigode!
- Foi um dos aniversários mais legais que eu já tive, mas a gente não precisa ficar lembrando, né? Não desse jeito, mãe, mas tenho que admitir, foi uma ótima ideia a fantasia dos meninos.
- Eles passaram semanas insistindo nisso - Diana comentou, sorrindo de canto, um sorriso forçado.
- É verdade, isso sem contar o quanto brigavam pra ver quem seria o Mário - Louise pontuou.
- Lembro que a Louise queria combinar fantasias com você, chorou rios porque você não quis. Por que vocês não são como os meninos? - Sarah comentou rindo, e logo outra foto, agora de William na banheira, virou assunto.

Diana sentiu como se tivesse levado um soco no estômago, a cada segundo se sentia pior e mais culpada. Olhou para Louise, que estava rindo da foto de William, e se perguntou se ela se sentia igual, mas aparentemente não, era só ela. Se sentia mal sempre que pensava no quanto tirou de seus irmãos quando eram crianças, mas talvez Louise fosse a mais prejudicada. Diana nunca teve coragem de conversar sobre aquilo com a irmã, se afastar parecia ser mais fácil conforme foram crescendo. Realmente, não eram como Damon e e talvez nunca fossem.

Quando Diana se deu conta de que poderia chorar a qualquer momento, se levantou rapidamente e foi em direção à cozinha, precisava fazer alguma coisa para se distrair. Na pia tinham algumas poucas peças de louça para lavar e, ao invés de colocar tudo na lavadora, ela começou a lavar na torneira para se distrair, assim evitaria chorar e estragar sua maquiagem ou a noite de alguém.

Diana só não sabia que estava sendo observada por Louise, que entrou na cozinha um pouco depois quando achou que tinha algo de errado.
Louise olhou para Diana, que permanecia calada, olhando para a louça como se fosse a coisa mais interessante do mundo. A verdade era que, mesmo que o clima tivesse pesado um pouco com as fotos de infância, o que veio à tona foi o pior. Por que vocês não são como os meninos? Por mais inocente que fosse essa pergunta de Sarah, deixou um ar pesado entre as irmãs. Na verdade, o afastamento delas foi tão natural como o ato de respirar, a mais nova teve que crescer rápido demais enquanto enfrentava uma doença, enquanto a mais velha queria apenas uma infância normal, e além de tudo queria isso com a irmã, mas não aconteceu. E o afastamento foi acontecendo, até apenas manterem uma boa relação entre irmãs, mas nada como os gêmeos tinham, uma irmandade e uma amizade inabalável. Damon e eram melhores amigos além de irmãos, enquanto Diana e Louise eram irmãs, mas não amigas.

— Já terminou? — questionou Louise, ao reparar que a irmã estava parada. — Sabe que não precisava...
— Eu sinto muito — Diana murmurou baixo, encostando as mãos na pia enquanto sentia seus olhos arderem. — Sinto muito por sua infância não ter sido o que você imaginou.
— Você não tem culpa. — Louise se aproximou da mais nova, mas parou ao vê-la fungar, ela estava chorando? — Ana.
— Se eu não tivesse ficado doente... você não teria crescido sem atenção ou não seria ligada a uma doença que não era sua. Talvez se só você tivesse nascido, a sua vida teria sido normal... eu sinto muito, Louise.

Aquelas palavras estavam presas em si havia anos, nunca teve coragem de colocar para fora, era um sentimento libertador, na verdade, mesmo parecendo patética por estar chorando, ela não ligava. Louise merecia escutar aquilo, mas grande foi a sua surpresa ao sentir os braços da mais velha a abraçando por trás.

— Não diga isso — murmurou a maior, falando contra os fios acobreados da menor. — Eu não existiria se você não existisse. Eu não ligo se a minha infância foi diferente, a única coisa que me incomodou era o fato da minha irmãzinha ser tão autossuficiente que não precisasse de uma irmã mais velha. Só queria uma amiga acima de tudo, alguém para contar meus segredos, ficar noites acordadas, alguém para contar o meu primeiro beijo e o primeiro coração partido. — Tanto Louise quanto Diana não escondiam mais as lágrimas. — Mas apesar de tudo, eu sou feliz por ser sua irmã, feliz pela mulher que você se tornou, pela mãe que você vai ser, e eu amo você mais do que tudo, Diana.

Diana se virou e a abraçou apertado. Por um desequilíbrio, ambas caíram no chão, as fazendo gargalhar em meio às lágrimas, Louise caiu primeiro e segurou Diana por cima de si para evitar algum acidente com o bebê. A mais nova se afastou um pouco, encarando a irmã que estava abaixo de si. Era a primeira vez na vida que Louise a via rir daquela maneira, e o brilho nos olhos da mais nova dizia que tudo ficaria bem agora. Diana tinha a abraçado com tanto carinho, que a mais velha entendeu, aquele era o jeito da menor dizer que também a amava.

— Que tal a gente beliscar aqueles docinhos que estão na geladeira? Ouvi dizer que os doces da Lizzy são os melhores — questionou, se sentando no chão da cozinha.
— O que seu namorado médico tem a dizer sobre essa recomendação? — retrucou Louise, rindo da irmã.
— Bom, ele não pode falar nada já que hoje é oficialmente o dia das irmãs Jones.

Louise sorriu, sabia que tinha mais de uma década de conversa para colocar em dia com a irmã, e guardou com carinho aquele dia, porque dali em diante, todos os meses naquela data seria o dia inteiramente dela e da irmã.

...

Quando já havia passado da meia noite e um novo ano havia começado, as fotografias ficaram para trás, e os grupos de pessoas se divertiam de sua maneira durante a madrugada que se seguiu. Os mais velhos conversavam entre si na cozinha, Diana estava em algum cômodo da casa fazendo uma chamada de vídeo com Thomas, Louise e William já haviam sumido havia algum tempo, Damon colocou Clara para dormir, e, depois, ele, Katie e Jake decidiram que seria uma boa jogarem algum jogo no baralho que ele havia levado, os três eram bem competitivos e poderia dar errado, por isso decidiu se juntar a eles. Carter e decidiram apenas assistir, pois já estava bêbada o suficiente para não conseguir jogar.

- Você não deveria ter bebido tanto - Carter disse preocupado, tentando tomar a latinha de cerveja da mão de , mas ela não deixou.
- Carter, você notou que o ficou estranho comigo a noite toda? - bebeu tudo o que faltava de uma vez.
- Impressão sua, vi quando deu meia-noite e ele te beijou.
- Não, ele tá estranho sim, eu sei que está - ela insistiu. Estava bêbada, mas não ao ponto de perder o juízo. - Me evitou, por isso eu bebi. Se a gente brigar, foi culpa da bebida, esteja avisado.
- Você não vai brigar com ele à toa, talvez o só quisesse dividir a atenção dele com todo mundo, para de arrumar confusão onde não tem.
- Mas eu só queria ficar um pouquinho com ele - choramingou feito criança, deitando sua cabeça no ombro de Carter, que riu.
- Tá bom, , fica tranquila aí, ele já vem te dar atenção.

se limitou a observar todas as partidas que jogaram, conversando com Carter assuntos que brevemente morriam. Estava bêbada e com sono, mas determinada a perguntar para sobre o que estava acontecendo.

- Eu já volto. - Ela se levantou do sofá, com um pouco de dificuldade, quando viu se levantar e ir em direção à cozinha.

queria resolver aquilo de uma vez por todas, e de preferência sem brigar, mas queria ter certeza de que não era coisa da sua cabeça e que estava sim estranho com ela durante toda a noite.

- Carter, você viu a ?
- Foi atrás do na cozinha - Carter respondeu para o gêmeo que lhe dirigiu a palavra.
- Eu sou o . - franziu o cenho, estranhando. - Ela não me confunde com o meu irmão.
- Então é melhor você ir atrás, caso contrário sua namorada vai arrumar briga com o seu irmão e não com você. - Carter bebeu um pouco do seu vinho na taça.

entrou na cozinha e viu o rapaz alto colocando algo na pia. Ela só não se lembrava de ter trocado de roupa, antes ele estava de branco, agora de preto. Tanto faz, ela pensou. Só queria resolver aquilo logo.

- Por que você está estranho comigo? Eu fiz alguma coisa? - ela perguntou, o abraçando por trás.
- ! - Damon se virou no mesmo instante, levando um susto e afastando ela.
- Vamos resolver isso agora.
- Você tá bêbada, né? Sou o Damon. - Ele a segurou pelos ombros, notando que parecia um tanto desnorteada.
- Para de fingir que é o seu irmão pra fugir do assunto, eu sei quem é quem. - Ela espremeu os olhos para avaliá-lo. Era , tinha certeza. Ou talvez fosse Damon?
- . - O verdadeiro entrou no cômodo. - Carter disse que você queria falar comigo.
- Minha cabeça tá doendo. - se afastou de Damon, levando as mãos à cabeça devido à confusão - Por que vocês têm que ser tão iguais?
- Assim você me ofende. - Damon riu dela, mas sentiu uma leve culpa por ela estar bêbada. - Tudo bem, sei que sou o seu sonho de consumo, mas não vai rolar, eu gosto de outra pessoa.
- Damon, por favor, cala a boca. Já sei que é você.
- Amor, não precisa destilar ódio nele. Vem, vamos conversar. Obrigado, Dam. - passou um braço ao redor dela, e então saíram da cozinha, indo para o corredor.

parou de caminhar quando parou também, ficaram um de frente pro outro. conteve a vontade de rir, não parecia em nada com a de horas antes, seu cabelo estava bagunçado e a maquiagem começando a derreter no rosto, além dos olhos vermelhos.

- Você queria falar comigo?
- Por que você está me evitando a noite toda? Eu fiz alguma coisa?
- Não, claro que não. - subitamente se sentiu ansioso, sorriu amarelo. - Por que você acha isso?
- Porque você passou o tempo com todos, menos comigo? - jogou a pergunta de volta como se fosse muito óbvio. - Por favor, não diz que é conversa de bêbado.
- Não, está tudo bem, eu não vou dizer isso. - Ele a trouxe para perto, afastando uma mecha de cabelo dela para trás. - Desculpa se fiz parecer isso, queria aproveitar com todo mundo, desculpa se fiz você se sentir sozinha.
- Se não fiz nada, então tudo bem.
- Eu garanto que não fez. - Deu um selinho demorado nela. - Quer ir pra casa? Você precisa descansar.
- Preciso mesmo, eu preciso muito dormir.

Depois que chegaram a um acordo, voltaram para a sala e se despediram dos que estavam ali ainda, então foram embora, por mais que o relógio já marcasse quatro horas da manhã do dia primeiro de janeiro e que a casa tivesse um quarto sobrando. Achavam melhor dormir na própria cama.

- Posso te perguntar uma coisa? - perguntou quando já estava dirigindo, estava lutando contra o sono, estava com a testa encostada na janela.
- Contanto que não seja difícil de responder - ela disse sonolenta.
- Você... você e o Carter... já tiveram alguma coisa no passado?
- O quê? Credo, é claro que não. - torceu o nariz em uma careta, e abriu os olhos para vê-lo. - Bom... nunca teve nada entre a gente, mas em algum momento da minha adolescência talvez eu tenha tido uma quedinha por ele, só que ele nunca nem soube disso. Por que a pergunta?
- Por nada, só lembrei de quando te conheci, achei que vocês eram um casal.
- Se eu não estivesse bêbada, diria que você está com ciúmes do Carter.
- Não estou com ciúmes. - apertou o volante nas mãos, ficando tenso. - Só fiz uma pergunta.
- Ah, meu Deus, você tá com ciúmes do Carter! - gargalhou, mas sua cabeça latejou. Ela parou em seguida e gemeu de dor. - Sabe que está sendo ridículo, não é?
- Bom, você reclamou que eu não te dei atenção durante a noite, mas você estava com ele, então seu ponto não faz muito sentido pra mim.
- Estamos realmente falando sobre isso?
- Sim, estamos.
- Você está sendo infantil, .
- Eu não deveria ter perguntado, esquece - murmurou, e respirou fundo.
- Quero ir pra casa.
- Estamos indo pra casa.
- Não, eu quero ir pra minha casa, não vou aguentar o seu ciúmes bobo. O Carter é meu irmão, ok? É a última pessoa do mundo que você deveria desconfiar.
- Tudo bem, , não vamos mais falar sobre isso. E não, você não vai pra casa sozinha e bêbada.

Quando chegaram no apartamento de , trocou de roupa rapidamente, e, sem falar com ele, foi dormir no sofá. Estava tão cansada que adormeceu logo em seguida, enquanto passou muito tempo virando de um lado para o outro na cama, pensando na discussão.

Nunca haviam brigado realmente, aquilo foi o mais perto até o momento e ele se sentia péssimo, estava arrependido de ter tocado naquele assunto, pois acreditava em quando ela dizia que enxergava Carter como um irmão. sentiu que havia passado dos limites e pediria desculpas no dia seguinte, não iria nunca mais tocar no assunto, mesmo que tivesse certeza que passaria o resto da vida duvidando de Carter.

Confiava nela de olhos fechados e com a sua vida, mas isso não queria dizer que confiava nele também.

...

acordou pela manhã com uma terrível dor de cabeça, e com um cheiro de ovos fritos invadindo suas narinas. Ela esfregou os olhos, se dando conta de que estava com maquiagem, e se xingou mentalmente. Olhou em direção à cozinha e viu preparando o café da manhã de costas para ela.

Por que ela havia dormido no sofá?

Ela optou por se levantar e ir ao banheiro para lavar o rosto antes de qualquer coisa, talvez assim se sentisse melhor. Prendeu os cabelos em um coque alto e tirou as marcas de rímel abaixo dos seus olhos, também passou sabonete em todo o rosto para tirar as cascas de base craquelada que a deixavam horrível. Apenas quando teve certeza de que estava um pouco mais apresentável, saiu do banheiro e foi até a cozinha, onde preparava o café da manhã.

- Bom dia, onde tem um remédio pra dor de cabeça? Acho que a minha vai explodir. - Ela se escorou na ilha para esconder os olhos da claridade.
- Já deixei separado pra você. - pegou rapidamente o comprimido e o copo cheio de água e entregou pra ela, em seguida voltou a atenção para os ovos na frigideira. - Estou preparando o nosso café da manhã.
- Obrigada - disse após tomar o remédio e beber toda a água do copo.

continuou a cozinhar em silêncio, mas logo estavam tomando café da manhã juntos. parecia calma, não parecia em nada estar preocupada com a discussão da noite anterior, mas mesmo assim ele achou melhor pelo menos se desculpar pelo seu comportamento.

- Me desculpa por ontem - falou após algum tempo em silêncio.
- Então foi por isso que eu dormi no sofá. - riu. - Não lembro de muita coisa, só uma vaga lembrança da gente discutindo no carro. Se você puder me lembrar do que aconteceu, vou agradecer muito.
- Hum... bom, primeiro você me confundiu com o Damon, abraçou ele ao invés de mim.
- Meu Deus, ele vai me zoar pra sempre por causa disso. - escondeu o rosto nas mãos, e ele concordou, rindo fraco.
- Tudo bem, você estava mal, talvez ele perdoe esse deslize... depois nós concordamos em voltar pra casa e acabamos discutindo no carro por uma besteira, nada importante.
- Eu costumo causar confusão quando eu bebo. Pode falar, o que eu fiz?
- Não foi você, fui eu, na verdade... - encarou seu prato remexido. - Desculpa, eu acabei me exaltando e transpareci que estava com ciúmes do Carter.
- Realmente, foi uma besteira - ela riu novamente, dando de ombros. - Tudo bem, um pouquinho de ciúmes é saudável, mas pode ficar tranquilo em relação ao Carter, ele é como um irmão pra mim.
- Eu sei, você disse isso ontem, me desculpa mesmo.
- Deixa isso pra lá, não vale a pena discutir por causa disso. Além do mais, preciso do seu apoio quando o Damon fizer questão de esfregar na minha cara que eu abracei ele. Que vergonha...
- Admito que eu não esperava por isso, achei que iríamos discutir de novo - disse, transparecendo alívio na voz, sentia como se tivesse tirado um peso das costas.
- Por que eu iria querer discutir se você já se desculpou? Além disso, também tive minha parcela de culpa, me desculpa se te dei motivo pra duvidar.
- Você não me deu motivos, eu que fui um idiota. Eu tô muito aliviado que resolvemos isso, quase não dormi à noite, estava atacando a minha ansiedade - admitiu, e sentiu uma pontada de pena dele. Esticou o braço para segurar sua mão.
- Não quero que você se sinta mal por minha causa, você é a última pessoa no mundo a quem eu faria mal. Fica tranquilo, não vamos mais brigar por causa disso, eu sei o meu lugar e o Carter sabe o dele.
- E onde é o seu lugar?
- Com você, é claro - ela sorriu quando viu ele sorrir também, um pouco sem jeito. - E sabe do que mais? Acho que esse é o momento perfeito para passar um tempo a sós, ainda tenho alguns dias livres antes de voltar ao trabalho, o que você acha?
- Quer viajar? Da última vez não deu muito certo, seria legal se fosse só a gente.
- Acho uma ótima ideia. - sorriu animada, queria passar algum tempo apenas com ele. - Para onde?
- Não sei, pensei em ficar por perto, no Reino Unido mesmo... não sei, talvez Irlanda ou Escócia.
- Não diga mais nenhuma palavra, vou agora mesmo procurar passagens para a Escócia. - Ela correu para pegar o computador no escritório.



Capítulo 25 - Welcome to Aberdeen

- Como assim você vai pra Escócia com o ? Desde quando estavam planejando isso? - William questionou enquanto se levantava do piano na sua sala de música.
- Ah, foi de repente! A gente queria passar um tempo juntos e tivemos essa ideia, mas infelizmente não consegui encontrar passagens tão em cima da hora com um preço bacana. - se apoiou no mesmo piano, William olhou desconfiado para ela.
- Eu sabia que você não veio aqui só pra me ver, sabia que queria alguma coisa. O que você quer?
- Empresta o seu carro? O meu não vai aguentar uma viagem tão longa e o do não tem espaço o suficiente para as coisas que vamos levar, o seu é grande e novo. Por favorzinho! - Ela juntou as mãos em súplica, e o mais novo riu.
- Parece que o jogo virou, não é mesmo? Tudo bem, eu empresto o carro, mas com uma condição.
- Tudo bem, faço qualquer coisa.
- Eu e a Lou vamos também.
- William, não! - protestou com veemência, aborrecida.
- Vai ser legal, cada um pode ir para o seu canto, acho que Lou e eu também precisamos de um tempo juntos.
- Você sempre estraga a minha diversão! - choramingou.
- Que pena que você não quer deixar eu ir também, pois eu conseguiria um jatinho só pra gente. - William piscou para ela, que se interessou.
- Do que você tá falando? William, você não está envolvido com coisa errada, não é? Porque se for...
- Não, maninha, ainda não, mas se eu pedir uma ajudinha ao Jesse, ele com certeza deixaria a gente usar o dele, talvez amanhã mesmo.
- Não é uma ideia ruim... - ponderou por um instante. - Mas você tem mesmo que ir junto?
- Sim, é a minha condição.
- Tá, tá bom... - Ela se deu por satisfeita. - Você me paga por isso.
- Relaxa! A gente vai se divertir demais! - William gargalhou e esticou o braço para bagunçar os cabelos da irmã, que grunhiu. - Vou ligar para o Jesse, só um minuto.

William pegou seu celular no bolso de trás da calça e se sentou novamente ao piano, enquanto procurava pelo contato do amigo. Chamou algumas vezes, até que Jesse atendeu com uma voz arrastada de sono. William colocou no viva-voz para que ouvisse também.

- Cara, eu espero que seja urgente, se não eu te mato por me acordar tão cedo.
- Boa tarde, Jess, já é meio-dia e você deveria estar acordado.
- Não quando você passa a noite em claro... mas enfim, pode falar, Will.
- Bom, a e eu queríamos fazer uma viagem com e Louise. - Nesse momento, ele riu quando revirou os olhos. - Vamos para a Escócia, e como você é o cara mais legal que eu conheço, eu pensei que poderíamos ir no seu avião. O que você acha? Não é legal?
- Will, você não sabe puxar o saco de ninguém, além de ser um grande interesseiro. - A voz de Jesse mudou e ele parecia mais disposto. - E que lugar da Escócia vocês vão?
- Ainda não sei, acho que Edimburgo. Você tem alguma sugestão?
- Aberdeen, é claro. É uma cidade bem legal, tem um castelo da família real... vocês iriam gostar, além de que tem a minha casa onde vocês podem ficar. Inclusive, estou nela nesse exato momento.
- Espera, você tem uma casa na Escócia? Desde quando?
- Não importa, estou tentando ser gentil, McQueen. Tudo bem, eu posso emprestar pra vocês virem, não precisam vir necessariamente pra minha casa, é só um convite.
- Aceita, aceita! - sussurrou em tom de bronca para William, que rolou os olhos pra ela.
- Obrigado, Jess, podemos sim ficar na sua casa, imagino que eles queiram economizar com hospedagem... obrigado, mesmo.
- É sempre um prazer. Me avisem quando forem sair, vou cuidar disso.
- Tudo bem, obrigado, vamos avisar. Até mais. - William desligou e olhou para . - Isso foi tão fácil que até eu estou surpreso.
- Realmente, foi muito fácil, por essa eu não esperava... bom, então vou pra casa fazer as malas, você deveria fazer o mesmo. Louise sabe que vocês vão viajar?
- Não, vai ser uma surpresa.
- Então é melhor avisar logo, Louise não tem cara de quem arruma uma mala em meia hora.

Foi um pouco corrido para todos arrumarem as malas em apenas um dia. tinha razão quando disse que Louise não era esse tipo de pessoa. A ruiva até conseguiu arrumar, mas não poupou William ao reclamar que era pouco tempo e que deveriam ter se organizado com antecedência para uma viagem como aquela.

Então, após se despedirem de seus pais, que ainda estavam na cidade, e também dos outros que ficaram, os quatro tomaram o voo para a primeira parada deles, Aberdeen. Dentro do jato particular de Jesse era confortável o suficiente para os quatro ficarem à vontade. Louise e William cochilaram nos primeiros vinte minutos de viagem, enquanto e conversavam baixo sobre o destino final e também liam algumas informações na internet sobre Aberdeen.

- Até parece que eu conheço esse lugar - comentou ao ver o castelo da família real na cidade.
- Eu também... deve ser porque é tudo muito igual, é o Reino Unido, não é? Tudo igual.
- Deve ser isso... - Ele sentiu um arrepio na espinha quando ampliou a foto do castelo para ver melhor. Era familiar, mas também lhe causava angústia. - Engraçado... já sonhei algumas vezes que estava em um castelo muito parecido com esse.
- Então você sonha com castelos também?
- Às vezes. - não queria contar a parte em que sempre via naqueles sonhos antes mesmo de conhecê-la, mas algo dentro dele estava insistindo que ele deveria colocar pra fora. - Se eu disser uma coisa, você não vai me achar maluco?
- Depende, você nunca me deu motivos pra isso.
- Você acredita em destino? Acredita em almas gêmeas?
- Acho que acredito em almas gêmeas, em destino eu já não sei.
- Eu... - guardou o celular no bolso do moletom, estava hesitante. - Eu sonhei com você antes de te conhecer.
- O quê? - franziu o cenho com curiosidade. - Impossível.
- Eu sei, mas... aconteceu, várias e várias vezes conforme eu fui crescendo. No dia em que te conheci, não podia acreditar que estava te vendo bem na minha frente, idêntica à pessoa que eu via nos meus sonhos. O mais curioso é que, naquele mesmo dia em que a gente se conheceu, eu tinha sonhado com você, foi bem estranho e um pouco assustador.
- Isso é realmente muito estranho, mas já ouvi outras histórias assim... - riu, pois, apesar de estranho, não deixava de ser romântico. - Que doideira! Você sonhou comigo!
- Sonhei tantas vezes que eu nem posso contar, por isso sabia que era você... mas ainda vai ficar mais estranho, porque, em algumas vezes, eu te encontrava nesse mesmo castelo, ou pelo menos em um lugar muito parecido.
- Ok, você está me assustando. - Ela riu, um pouco sem jeito, desviando o olhar do dele. - É estranho, curioso... não vejo outra explicação pra isso que não seja destino.
- Eu achei que nunca ia te contar isso, mas acho que você deveria saber... é isso, eu sou maluco.
- Talvez seja um pouquinho, mas eu gostei, estávamos destinados! - sorriu e entrelaçou seus dedos nos dele enquanto repousava sua cabeça no ombro de . - Você não tem ideia de como isso me deixa em paz por saber que você é a pessoa certa.

sentiu como se tivesse tirado um peso enorme de suas costas, estava leve como nunca. Jamais achou que diria aquilo em voz alta para alguém além de Diana, mas estava feliz com a reação de , não esperava que ela fosse gostar de descobrir aquilo. Talvez ela tivesse razão, talvez fosse o destino, não existia outra explicação coerente para o fato.

- Você tinha um ideal? - perguntou após alguns segundos em silêncio.
- Como assim?
- Você disse que eu era a pessoa certa - ele se explicou. - Você tinha um ideal de pessoa certa?
- Eu acho que não. - nunca havia parado para pensar naquilo, apenas sabia que um dia encontraria a "pessoa certa". - Quero dizer, eu sempre disse que, tendo olhos, nariz e boca já era o suficiente para mim. Ah! E gostar de mim também, isso é muito importante.
- Então que bom que eu atendo aos seus requisitos. - Os dois riram juntos. - E nem foi tão difícil assim.
- Ah, foi difícil sim, acredite em mim. - suspirou enquanto se aconchegava nele, e ergueu os olhos para vê-lo antes de continuar. - Não que eu tenha procurado muito, mas por Deus! Eu estava começando a achar que ia morrer sozinha, comecei a defender o ponto de que era melhor ficar sozinha do que ser só uma opção de alguém. Nunca fui muito fã de relacionamentos casuais e odiei cada minuto dos que eu tive.
- Já falei que não acredito nas suas histórias, é impossível que não tenha tido um único homem antes de mim que não tenha sido louco por você.
- Pois não teve. - estava começando a achar que ele realmente não acreditava. Era engraçado, ela não conseguia ver em si mesma o que ele via. - Só não teve, , acontece o tempo inteiro. Eu não acho que todas as pessoas legais do mundo estão destinadas a arrasar corações por aí, mas tô feliz com isso, sabe? Eu sei que eu não sou o seu primeiro amor, mas você é praticamente o meu. - Ela sorriu. - Eu gosto disso.

Aquelas palavras atingiram em cheio, e só então ele se lembrou que existiu uma vida antes dela. Como era mesmo? O que ele costumava fazer pra passar o tempo? Como assim não foi o seu primeiro amor? Ele tentou buscar brechas nas suas memórias para justificar que, na verdade, ela era sim a primeira pessoa que amou, mas não... foi Lucinda Brown, ou talvez tivesse sido Mandy Topher, a garota com quem ele deu o seu primeiro beijo na adolescência. Não, não foi Mandy também, ele se lembrava de ela gostar do sotaque britânico dele, mas não necessariamente dele... infelizmente, teve uma resposta quando não encontrou nenhuma brecha.

- Eu amei a Luce - ele disse a última coisa que ele achava que deveria ter dito, dado o olhar de obviedade de para ele.
- Eu sei.
- Eu amei a Luce por quase oito anos. - Ele baixou o olhar para ela. - A gente começou a namorar uns três meses depois que nos conhecemos na faculdade, eu tinha dezoito anos.
- Você não gosta de esperar, pelo visto, fez a mesma coisa comigo. - fez o que fazia de melhor em situações em que se sentia desconfortável: uma piada ruim, piada essa que o fez rir. - Oito anos é muito tempo.
- É, é muito tempo.
- Então você tinha um ideal de pessoa certa?
- Tive - ele assentiu. - Achei que era ela, esse ideal.
- Não posso imaginar o que te levou a pensar isso. - Ok, essa foi boa, ela disse em pensamento.
- Infelizmente, foi ela o meu primeiro amor.
- Não fala assim. Você acabou de dizer que amou ela.
- E amei, mas... - se ajeitou no seu acento para ficar de lado para ela. - Eu não falo muito sobre isso porque eu acho que ninguém pode me entender, mas nos últimos tempos, eu sinto como se esses sete anos tivessem virado um apagão na minha memória. Louise sempre me disse que eu fui outra pessoa durante esse tempo, mas eu achava que era implicância dela, já que ela odiava a Lucinda desde sempre, então a minha mãe começou a dizer a mesma coisa, Diana também... quando acabou, elas disseram que eu havia voltado. Desde então tenho pensado muito nisso, mas parece que a cada dia mais esses sete anos estão virando uma névoa na minha cabeça. Eu quase não lembro do meu relacionamento com a Luce e também não lembro muito bem de quem eu costumava ser. Bem, talvez o fato de eu beber muito, mas muito mesmo, naquela época justifique o porquê de eu não lembrar de muita coisa. - Ele sorriu sem humor.
- Você não é muito de beber agora - disse, pensativa, e ele concordou. De fato, bebiam socialmente ou dividiam uma cerveja entre os dois, mas ela não se lembrava de ter visto bêbado nos seis meses em que estavam juntos.
- Ah, Deus! Estamos mesmo tendo essa conversa? - Ele riu de si mesmo. - Quer saber o motivo de eu ter diminuído a bebida? - Ela assentiu. - Dormi com a Luce depois do término quando eu estava muito bêbado e achava que ela estava tentando reatar, mas então ela foi embora no outro dia e deixou só uma mensagem na caixa-postal. Foi quando eu decidi que voltaria para a Inglaterra.
- Que bom que você voltou - foi tudo o que ela conseguiu dizer. Se sentiu estúpida por sentir ciúmes de um casal que existiu no passado e tinham tido relações sexuais como qualquer outro casal.
- E sabe por que eu disse "infelizmente"? - continuou, pois conhecia aquele tom de voz dela. negou. - Porque eu passei sete anos na maior monotonia já vista num relacionamento. Não tínhamos planos como casal, nunca tivemos. Não pensávamos em morar juntos de verdade, só revezávamos de casa, também não pensávamos em casamento, filhos ou o que quer que fosse... era só um... um marasmo, eu acho. Só um marasmo confortável. Eu amei ela de verdade e fiquei arrasado quando ela terminou comigo, como eu disse, mas então eu te conheci e descobri que dá pra amar de jeitos diferentes, completamente diferentes.
- O que é diferente pra você, ? - perguntou enquanto brincava com a cordinha do moletom dele, não sabia se queria olhá-lo nos olhos.
- Você. - a segurou pelo queixo para que ela o olhasse. Ele sorriu. - Eu estou sempre fazendo planos pra gente, um dia eu quero me casar com você, quero ter filhos, ter uma casa grande, economizar para viajarmos para um lugar que a gente sempre quis... eu não gosto de ficar comparando as coisas ou pessoas, porque eu passei a vida toda sendo comparado ao meu irmão, mas às vezes eu me pego comparando os meus sentimentos. - Ele pegou a mão dela e a apertou no peito dele. - É tão intenso que às vezes dói, . Nunca senti isso antes.
- O amor não dói, . - olhou para as mãos sobrepostas, se sentindo desconfortável com o que ele disse. Ela sentia intensidade com ele, mas nunca sentiu dor.
- Eu sou ansioso, você sabe, tudo é vinte vezes mais intenso pra mim. Talvez eu tenha me expressado mal, não é uma dor física, não é uma coisa ruim, é só... - ele procurava as palavras certas. - É só que eu não consigo ficar no meio termo, ou eu estou vazio, ou eu transbordo. - Então finalmente chegou a uma conclusão que estava buscando havia meses. - Eu tinha um amor vazio, mas agora tenho um que transborda.
- Isso é muito bonito. - Ela sorriu. Por mais que fosse um pensamento muito imaturo de sua parte, ela ficou feliz por achar que ele a amava mais. De qualquer forma, ela percebeu que o amor deles tinha nuances diferentes para cada um. - E é engraçado que eu lide com essa intensidade de um jeito diferente.
- Como? - ele pareceu repentinamente curioso. Tinha outro jeito?

então se aconchegou nele de novo, queria sentir a pele quente do pescoço dele em seu rosto, queria inalar o perfume da roupa recém-lavada misturado com desodorante masculino. Nada a deixava mais relaxada do que aquela sensação.

- Você não faz ideia da calma que você me passa, . - Ela sorriu. - Eu sei que você se considera um turbilhão por dentro, mas por fora é a calmaria em pessoa, e era isso o que eu procurava e nunca achei. Acha que alguma vez eu tive um momento assim em algum relacionamento casual? Eu queria ter um lugar seguro e eu achei esse lugar em você. Quero que eu seja esse lugar pra você também, caso você não se sinta como eu.

ficou sem palavras quando a abraçou apertado. Por Deus, não poderia deixar aquela mulher ir embora nunca! Ele, que sempre se considerou uma bagunça emocional, era o lugar seguro de alguém, mas não de qualquer um, e sim da pessoa que mais amou na vida. Ele sempre temeu não ser o suficiente, achava que era demais para ele, que merecia alguém extrovertido e sociável como ela, mas não... ele era o seu lugar seguro, ela encontrava calma na pessoa mais ansiosa que o mundo já vira.

Só então se deu conta de que ela também era o seu lugar seguro, e foi como tirar um peso de suas costas. Quando foi a última vez em que ele teve a sensação de estar em casa estando no abraço de alguém?

Ah, sim, nunca.

Até conhecê-la.

- Você também é o meu - ele disse após suspirar aliviado.
- Acho que essa é uma informação nova para você. - ergueu o olhar e tocou o rosto dele, o conhecia o suficiente para saber quando ele tinha uma epifania. - Mas tudo bem, vou fazer de tudo pra que você sinta exatamente o que eu sinto, quero ser o motivo da sua calma também, . - E o beijou, encerrando ali aquela conversa.

...


- Sejam bem-vindos à minha humilde casinha! Meu lugar preferido no mundo - Jesse dizia enquanto os dois casais se aproximavam dele após descerem do avião. - Bom, ainda não chegamos na minha casa, mas é, literalmente, a dez minutos daqui andando. Então vamos?
- Jess, só você mesmo pra salvar a gente e apoiar uma ideia tão maluca - Louise disse, rindo, enquanto começavam a caminhar.
- Eu não agradeceria, Lou-Lou, ouvi dizer que você e o Will estragaram uma viagem de casal. Olha só como e estão felizes por ter vocês aqui - Jesse disse em tom de brincadeira, olhando para o casal que caminhava em silêncio.
- Eu realmente queria passar um tempo com o meu namorado, mas tudo bem, pode ser divertido mesmo assim... - deu de ombros. - Jesse, esse lugar é simplesmente lindo! Sinto como se já estivesse aqui antes, obrigada pela sugestão - comentou, um pouco distraída com a paisagem. Jesse olhou para ela pelo canto dos olhos.
- Ouvi dizer que você é muito fã de Harry Potter, talvez seja isso... ou sei lá, vai ver você realmente já esteve aqui.
- Não, eu com certeza ia me lembrar de um lugar tão bonito.
- Se você está dizendo... agora estou preocupado, ainda não ouvi a voz do William. O tudo bem, ele é quieto, mas estou preocupado com o Will.
- Que engraçado, Jess, ha-ha-ha. - William, que vinha logo atrás arrastando as malas de mão dele e de Louise, revirou os olhos. - Por que sempre sou o centro das atenções? Sei que vocês me amam, mas não é pra tanto!
- Estou arrependido, eu poderia ter calado a boca. - Jesse imitou o gesto dele, mas riu logo em seguida.
- Que bom que eu posso ficar quieto e ninguém vai perguntar o motivo - finalmente disse algo. - Mas agora, falando sério, vocês não têm essa sensação familiar que a gente está sentindo? Quero dizer, sei que leio muitos livros, mas esse lugar parece que saiu direto dos meus sonhos.
- É... eu também me sinto assim - William disse brevemente, não queria demonstrar que pensava exatamente a mesma coisa, que estava com uma sensação de déjà-vu que lhe causava angústia. - Sei lá, aqui parece legal.
- Parece um máximo! - Louise disse animada, tentando espantar a sensação estranha que pairou entre eles.

Durante a caminhada, alguns casarões surgiram à vista. Alguns mais ao fundo, nas colinas, outros mais de perto. Para a sorte deles, Jesse conhecia cada um, e começou a nomeá-los, se esquecendo por um instante de que estava no século vinte e um.

- MacFarlane, McKenzie, Fowley, Smith... - ele dizia enquanto apontava. - Essas famílias já foram hiper tradicionais por aqui, em todas essas casas ainda moram alguns dos descendentes. Gente poderosíssima, coisa de outra realidade. Sabiam que...
E enquanto Jesse dizia alguma curiosidade sobre a tal família Smith, espremeu os olhos para uma casa que lhe chamou a atenção, um pouco distante de onde estavam, o que fez ele acelerar o passo sem sequer se dar conta.

Era esplêndida e grandiosa. Se dissessem que filmes de época haviam sido gravados ali, acreditaria. Tinha três andares, colunas de sustentação luxuosas, gárgulas na entrada e grandes janelas brancas. percebeu que estava sorrindo, pois, apesar da grandiosidade daquela casa, ela ainda parecia muito convidativa, ele praticamente podia imaginar como era o interior, a sala de visitas era azul, enquanto o escritório era cheio de estantes carregadas de livros, e... tudo era muito claro para ele, até parou de caminhar para contemplar o lugar.

- É incrível - Louise parou ao lado dele, também estava sem fôlego diante de tamanha grandeza.
- Nunca vi nada igual - disse, sem tirar os olhos da casa. Louise assentiu.
- Eu também não. E é tão... não sei dizer, ela parece que me convida pra entrar.
- Você descreveu perfeitamente.
- O que deu em vocês dois, hein? - acelerou o passo quando percebeu que havia ficado para trás com Jesse e William.

Mas então ela olhou para a propriedade e engoliu em seco. Era magnífica, todavia a assustava. William também observou a casa com suspeita, franzindo o cenho com a curiosidade estampada no rosto. Ele já tinha visto aquela casa, tinha certeza que sim, foi em algum filme de época.

Jesse olhou para os quatro e conteve a vontade de sorrir. É claro que eles conheciam aquele lugar, especialmente Louise e . Até mesmo ele próprio conhecia, pois já havia entrado ali dezenas, talvez centenas de vezes quando ia entregar as jóias encomendadas por Lady Margareth Blackwood.

- Senhores e senhoritas, essa é a Casa Blackwood. - Ele apresentou o lugar como se fosse seu. - A casa de uma das famílias mais poderosas da cidade por mais de três séculos.
- É perfeita - disse, ainda em transe, incapaz de olhar para qualquer outro lugar.
- Por favor, me diga que a gente pode entrar lá só um pouquinho. - Louise segurou o braço de para se apoiar.
- Receio que não, Lou, desculpa. Eu não conheço os proprietários atuais - Jesse mentiu - Essa casa foi herdada por Sir Isaac Arkley na década de 1860, já que ele era o mais próximo de um herdeiro que os viscondes Blackwood tiveram... uma tristeza.
- Viscondes? - olhou para Jesse com repentino interesse. - Tipo dois viscondes?
- Gêmeos. - Jesse olhou de volta com a plena convicção de que sentia algo diferente. - Eles dividiam o título, mas nenhum dos dois tiveram herdeiros porque morreram muito jovens. Quero dizer, um deles teve uma filha, mas filhas não herdavam títulos e nem posses, já o outro... não vou ficar enchendo vocês com histórias tristes. Enfim, a casa acabou ficado com Sir Isaac Arkley, sobrinho deles. Sir Isaac voltou para a cidade como o marquês de Broxburn, já que o pai dele morreu antes de herdar o título. A casa estava meio descuidada, mas ele deu um jeito. Um tempo depois, o primo dele voltou pra cidade também, Sir Arkley. que nem você, . - Jesse esperava, com todas as forças, que aquilo o ajudasse a se lembrar. - Ouvi dizer que os filhos deles se casaram entre si e os descendentes moram nessa casa até hoje.
- A casa não deveria ter mudado de nome? - perguntou, porque, por alguma razão, ela sabia que deveria ter mudado.
- Você não tem ideia de quem foram os Blackwood, . - Jesse sorriu para ela.
- E você não deveria saber também - William disse de maneira acusativa. - Como você sabe tanto?
- Porque eu moro aqui - Jesse disse como se fosse óbvio, mas William não pareceu convencido com a resposta. - E porque eu sou fofoqueiro, tem todas essas histórias nos livros da biblioteca local.
- É uma casa muito bonita. - Louise deu uma última olhada na propriedade antes de voltarem a andar. - Eu moraria numa casa assim.

Caminharam durante mais alguns minutos até a casa onde Jesse morava, que na verdade era um palacete dividido em duas casas bem grandes. Louise, que o conhecia havia anos, não fazia ideia daquela propriedade, mas estava encantada e curiosa. O palacete do século XVIII parecia ser totalmente fora do orçamento, até para alguém bem-sucedido como o músico.

- Jess, eu preciso te perguntar, como...
- Herança de família, baby ruiva número dois - Jesse, que estava apenas esperando que alguém perguntasse, se adiantou. - Este palacete era do meu tataravô no século dezoito e foi passado de geração em geração até chegar em mim. Tenho descendência escocesa, sabia?
- Não, eu não sabia, mas isso aqui é muito legal, mal posso esperar para ver por dentro.
- Eu e a temos descendência escocesa também, será que tivemos algum tataravô rico por aí? - William perguntou, rindo.
- Hoje é o seu dia de sorte, cara, na biblioteca tenho um livro sobre as famílias que moravam nessa região há uns séculos atrás, se vocês quiserem dar uma olhada, é por isso que eu sabia aquele monte de coisas mais cedo - Jesse dizia enquanto subiam a escada da entrada.
- Biblioteca e livros são minha especialidade! - falou enquanto Jesse abria a porta para eles, ela ficou encantada. - Meu Deus! Até parece que estou em Bridgerton!

O hall de entrada era grande e tinha uma escada que levava para o andar de cima, como um grande teatro antigo. As paredes eram verdes, e o chão e as colunas de mármore eram em branco com cinza. O teto branco tinha elementos de arquitetura do século dezoito, quase como uma pintura na visão de quem olhasse para cima. A escada era branca, com corrimãos pretos e duas portas francesas paralelas, uma na esquerda e outra na direita. Levavam a dois ambientes de paredes brancas, com detalhes dourados e chão de madeira.

- Damon iria surtar, com certeza - disse após Jesse apresentar brevemente o lugar para eles. - Deve ser o sonho de qualquer arquiteto.
- Ele precisa vir também, iria gostar - Jesse disse brevemente, enquanto tomava o caminho para subir as escadas. - Venham, vou deixar vocês escolherem os quartos.
- Tenho medo de perguntar quantos quartos tem - William disse, com uma pitada de verdade por trás.
- Muitos, e ainda fiz uma reforma recente - Jesse explicou, e dessa vez estava falando a verdade, realmente havia reformado o sótão e transformado em alguns quartos pequenos. - Assim o pessoal que trabalha aqui não precisa voltar pra casa, se preferirem ficar.

Jesse apresentou todos os quartos e deixou que escolhessem qual fosse melhor para os casais. Ficaram em quartos um ao lado do outro na ponta do corredor, a diferença era que o quarto de e tinha uma copa grande com vista para o jardim, onde tinha um gazebo circular repleto de arbustos em volta, até parecia um pouco mal cuidado, mas mesmo assim era bonito. Já o de Louise e William não tinha uma copa, e sim uma varanda, com vista para a outra parte do palacete, que era dividido em dois.

- Será que o Jess vai ficar ofendido se a gente conhecer esse outro lado? - William perguntou enquanto observava da sacada.
- Não deve ser nada demais, aqui devem ficar as áreas principais e lá pode ser um salão de festas, ou algo assim, Jess não vai se importar se a gente for ver - Louise disse, tentando não dar importância, mas também estava curiosa. - Esse lugar é tão...
- Triste - William completou por ela, que assentiu. - Você sente isso também?
- Eu ia dizer bonito, mas acho que triste serve também... não sei, realmente deve ser triste morar nesse lugar sozinho.

William estava achando tudo um pouco estranho. Não entendia o motivo de Jesse estar sendo tão solicito, mesmo que fossem amigos. Por mais que a casa pudesse ser realmente uma herança de família, ainda assim parecia ser demais, Jesse não parecia ser do tipo que escondia as coisas, e William imaginou que ele com certeza contaria para todo mundo que tinha uma propriedade no interior da Escócia. Mesmo assim, decidiu não contar nada para Louise ainda, afinal, ela poderia interpretar mal, e essa não era sua intenção. Iria esperar e ver o rumo que as coisas tomariam.

No outro quarto, e desfaziam uma parte da mala em silêncio, tirando algumas roupas que usariam mais tarde. observava discretamente, ele parecia um pouco agoniado e inquieto, o que não era comum no comportamento dele. Ela viu quando ele terminou de deixar algumas roupas na cama e foi em direção à copa novamente. simplesmente ficou parado lá, de costas para , e ela supôs que ele estava olhando para algum ponto fixo, mas pelo tempo que ele ficou parado, ela achou que algo estava acontecendo.

- Você tá bem? - perguntou, preocupada ao se aproximar com cautela. olhou para ela, parecia sério.
- Esse é o lugar mais estranho que eu já pisei, chega a doer a barriga, não é possível que eu esteja tenso atoa. Você não sente isso também?
- É um pouquinho estranho mesmo, mas... bom, eu acho que ninguém esperava que o Jesse tivesse um palacete por aí e que ele soubesse tanto da historia local, só estamos surpresos. É lindo e familiar, na minha opinião.
- Acho que é um pouco tarde pra me arrepender de ter vindo... - gemeu de dor. Aquela tensão estava lhe dando gastrite.
- Dá pra ver que você não está bem, podemos sair e conhecer a cidade mais tarde, o que você acha? - Ela o abraçou de lado, na tentativa de fazê-lo se sentir melhor.
- Acho uma boa ideia - se escorou na mureta de apoio e esticou o pescoço, reparando um pouco melhor no outro lado da casa que dava para ver dali. - Por que será que são duas casas ao invés de um palacete só?
- Podem ter sido duas propriedades diferentes no passado. - olhou também, era um pouco curioso que fosse dividido. - Jesse não mostrou o outro lado pra gente, então suponho que não nos queira lá.
- O que deixa esse lugar mais tenebroso pra mim. Não custa nada pedir para ele, não é? O pior que podemos ouvir, é não.
- Ou ele nos manda de volta para Londres a pé - ela disse, a fim de descontrair, e os dois riram.

...


Logo no começo do anoitecer, Jesse convidou os amigos para jantar. Como tudo naquela casa era grande e exagerado, com a mesa não seria diferente. Era extensa, tinha capacidade para, no mínimo, vinte pessoas, parecia uma mesa de filmes da realeza, como tudo ali.

- Eu dispensei o pessoal por hoje pra vocês ficarem à vontade, então espero que não se incomodem do nosso jantar ser pizza - ele disse enquanto abria uma das caixas.
- Jess, não acredito que você trouxe a gente para essa casa super chique e vai servir pizza no jantar. Cadê o caviar? - Louise descontraiu, causando risadas em todo mundo.
- Do que adianta a casa ser chique se o dono sou eu? Tenho cara de quem come caviar, Lou-Lou? Vou ficar te devendo essa, desculpe. - E era verdade, Jesse nunca foi fã de pratos refinados.
- Tudo bem, você pode compensar dizendo pra gente o que tem do outro lado que ainda não fomos ver. - Ela começou a se servir.
- Nada demais, eu quase não vou lá - Jesse desconversou, mas percebeu olhares curiosos na direção dele, até desconfiados. - Gente, isso aqui tem uns trezentos anos de idade! Do outro lado tem um salão, meu avô era o mais festeiro da região, sabiam? Tem um salão bem grande de festas, a cozinha do salão, uns quartos a mais, a biblioteca, minha sala de instrumentos... o quê? Acham que eu tenho uma sala de tortura ou coisa do tipo? - Os quatro olhares de desculpas na direção dele soavam como um sim para sua pergunta.
- Devem ter acontecido várias festas da alta sociedade aqui, não é? - desconversou, a fim de mudar de assunto.
- Você não faz ideia, - Jesse disse com ar de nostalgia. - Tem várias histórias nessas paredes.

Mas, na verdade, aquela casa havia recebido apenas dois bailes no século dezenove. O joalheiro Jesse Birdwhistle gostava mais de frequentar do que de dar bailes, afinal, por que um "viúvo" daria bailes?

- Gosto dessa cidade porque as pessoas relataram as fofocas do passado em livros, e felizmente tenho vários livros sobre a cidade, são bem legais.
- A gente pode ler? - perguntou, interessado. A palavra livro era quase como um gatilho positivo para sua mente.
- Claro que podem, eu só não gosto que tirem da biblioteca, se não se importarem. A biblioteca não tem energia elétrica, então é melhor não irem lá à noite, é meio bizarro. Na verdade, quase tudo do outro lado ainda não tem energia elétrica, só o salão e a cozinha.
- Por que não tem energia? - William perguntou após engolir.
- Eu passo tanto tempo fora que nem me preocupei em colocar, sabe? Sei que meu pai e meu avô queriam ao máximo manter a originalidade daqui, então acabei respeitando a vontade deles.
- Jesse, não entendo, achei que você fosse da Califórnia - Louise disse, confusa, puxando na memória a certeza de que Jesse não era britânico.
- E eu sou, mas já faz um tempo que eu tenho dado mais prioridade pra esse lugar. Todas as vezes que sumi da vista das pessoas, estive aqui, é o meu templo, o meu refúgio. Nunca contei pra ninguém sobre esse lugar justamente por isso, mas não me importo de dividir com vocês contanto que não falem pra ninguém.
- Já ouvi falar sobre o nome Arkley, li na internet uma vez, acho que é a mesma família - William disse de repente, atraindo a atenção total do anfitrião.

Ele estava pensando na conversa sobre a Casa Blackwood e o fato de Jesse ter mencionado o nome Arkley durante a explicação. William tentava se lembrar esse tempo todo de onde ouvira aquele nome, e então se lembrou do artigo que leu alguns meses antes, mas que se perdeu para sempre quando a página se fechou.

- Sério? O que você viu? - Jesse perguntou com fingido desinteresse.
- Li que eles moravam no castelo da rainha... era a mesma família, Jess. Espera, eu já li sobre isso! - Ele pareceu se lembrar de repente, vindo à memória também o motivo de ter feito a pesquisa. - Na história que li, dizia que o castelo foi vendido depois que um dos maridos dos Arkley se matou, a esposa e o bebê morreram no parto e ele não aguentou a tristeza. Não sei se é verdade, mas tenho certeza que li algo sobre isso.

sentiu um arrepio subindo pela espinha, pois suicídio sempre foi um tema que lhe deixava extremamente sensível, não gostava de pensar sobre aquilo, mas estava muito curioso.

- Por essa eu não esperava, eu não sabia disso... - Jesse mentiu. - Bom, temos um plot-twist então, vou ver se tem algo nos livros sobre isso... ah, Will, lembrei de uma coisa! Olha que fato curioso: acho que vi em alguma parte do livro que um dos homens da família Arkley se chamava William. Que coincidência, não é?

Foi como se William tivesse congelado por um segundo. Ele, que já tinha uma pele clara naturalmente, empalideceu. Sentiu o mesmo arrepio que , uma sensação horrível que não sabia explicar. Se lembrou de um sonho que teve muitos meses antes, que resultou na pesquisa que fez sobre a família Arkley. Era muita coincidência.

- Coincidência adorável, mas eu sou único - ele desconversou ao recuperar o senso de realidade, causando risada nos outros.

Jesse reparou bem na reação dele, falou aquilo de propósito, queria criar estímulos para que eles fossem até a biblioteca antes do fim da viagem. Eles precisavam descobrir a verdade logo.

...


Mais tarde, depois de horas conversando na mesa, e decidiram se retirar, enquanto Louise e William continuaram conversando com Jesse. Os dois estavam cansados e a cama era grande e chamativa o suficiente para que optassem por se deitar. A ausência de televisão no quarto os levou a conversarem mais um pouco após um banho rápido.

- Era para estarmos assistindo Harry Potter uma hora dessas - comentou, rindo enquanto se cobria até a altura do pescoço.
- Esse lugar parece Hogwarts, não está bom pra você? - riu também, e ela concordou.
- Está ótimo, mas eu esperava que fosse só a gente, sabe? Aquela viagem para Canterbury foi legal, mas também não conseguimos aproveitar.
- Por que você não diz com todas as letras que a gente não transou? Não acho que as paredes tenham ouvidos aqui.
- ! - repreendeu, como se estivessem cercados por pessoas. - Têm ouvidos sim! O Jesse parece saber de tudo, ele não precisa saber disso também. - Ela deu uma risadinha e se arrumou na cama para ficar mais confortável, virando-se de frente para ele. - Aquela história que ele contou da tal Casa Blackwood era muito detalhista, estou impressionada.
- Eu também, quero dizer, era como se eu pudesse conhecê-los, não é? Nada mais justo em sabermos quem eles são, não quero nenhum espírito me assombrando depois, esse lugar me dá arrepios!
- Exagerado. - Ela rolou os olhos e riu quando ele se chacoalhou. - Bom, já que estamos visivelmente incomodados com essa casa, podíamos sair amanhã e conhecer a cidade, o que você acha?
- Eu queria ler os tais livros, mas... acho que a sua ideia é melhor, com certeza. Quer conhecer o castelo da Rainha?
- Que tal a gente criar um roteiro?
- Amanhã pensamos nisso. Vem aqui, vamos fazer conforme o plano do começo - ele disse, puxando-a para si.
- ! - riu, mas não o afastou quando ele começou a beijar o seu pescoço. - Não te reconheço mais. Isso não vai dar certo.
- Só se a gente fizer barulho... - ele murmurou contra a pele dela. - Vou pegar leve com você, prometo.
- Você é tão convencido, e... - Ela arfou quando sentiu ele chupar o seu pescoço.
- E...? - a instigou a continuar. - Estou te ouvindo, amor.

Mas não respondeu, não queria conversar, queria apenas beijá-lo, então foi isso que fez quando o puxou para cima. Era um beijo urgente, pois era isso o que ela estava sentindo, urgência dele. Não, não poderia esperar que voltassem para Londres, queriam uma viagem de casal e teriam a maldita viagem, não importava quem estava no quarto ao lado. O que importava era pertencer a ele naquela noite.

E que se dane o meu feminismo, ela pensou enquanto abaixava as alças do pijama por conta própria, ficando à mostra para ele, que fez uma trilha de beijos até os seus seios. Ela o agarrou pela nuca quando sentiu ele estimulando os seus mamilos, mordiscando, lambendo e chupando. Talvez fosse tudo de uma vez, ou um de cada, ela não sabia, perdia a noção de qualquer coisa básica toda vez que ele a tocava como se fosse o ser mais precioso do mundo.

- … - Ela gemeu o nome dele quando sentiu mais uma sucção, se arqueou para ele como podia.
- Você parece um pouco tensa. - ergueu o rosto para vê-la, seus lábios estavam rosados e seus olhos denunciavam a ardência que ele sentia. estalou a língua duas vezes em uma resposta negativa para ela. - Vou ter que te ajudar com isso. - E a ajudou a tirar a camiseta e a lançá-la para longe.

Ela estremeceu de ansiedade quando ele se curvou novamente. Beijou seu vale entre os seios e foi descendo devagar por toda a extensão da barriga, disposto a beijar cada centímetro possível de pele até se deparar com os shorts do pijama.

- Você usa roupas demais - ele murmurou propositalmente enquanto puxava os shorts dela devagar. - Interessante. - Ele ergueu o olhar para ela ao ver que não vestia mais nada, já estava completamente nua para ele.
- Muita roupa, não é? - esboçou um sorrisinho atrevido após ver os shorts serem lançados para o outro lado do quarto.

Ela se sentia incrivelmente feminina todas as vezes em que ele lhe lançava aquele olhar de cobiça e desejo misturados. nem sequer achava que era tão bonita assim, mas se sentia capaz de tudo quando tinha aquele homem na palma da mão.

- Se você quiser ficar parado aí, olhando, então eu faço por você. - Deslizou os próprios dedos na altura do ventre e desceu até tocar em si mesma, e ele acompanhou com o olhar, sem dizer uma única palavra. gemeu e se abriu propositalmente, seu próprio toque já era bom por si só, e mais ainda sendo assistida por ele. - Eu sei que você gosta quando eu faço assim, mas... - Ela gemeu de novo, exagerando para provocá-lo, e apertou seu seio com a mão livre. - Eu preferia que fosse você.

se afastou um segundo apenas para tirar a própria camiseta, mas no segundo seguinte já havia afastado a mão dela dali e a segurava pelas coxas enquanto sua língua explorava o ponto sensível dela, fazendo do jeito que ele sabia que ela gostava: lento e provocativo. Ergueu o olhar para avalia-la e a viu completamente entregue, com olhos fechados e respiração desregulada, abafando gemidos altos ao morder os próprios lábios. Temendo não conseguir conter a si mesmo, se concentrou, fazia questão de tortura-la até vê-la se contorcendo e implorando por mais, mas também se permitia saboreá-la.

- Ah, meu Deus. Ah, meu Deus, . - Ela agarrou os lençóis até os nós dos dedos ficarem brancos. Estava quase lá, seu corpo não obedecia mais aos seus próprios comandos. - Ah, meu... ei! - Ela protestou quando ele se afastou da cama. estava ofegante e sorria satisfeito para ela enquanto se livrava da calça de moletom.
- Você não é a única aqui que... - Ele gemeu de alívio quando ficou completamente livre de suas roupas, e sua ereção se tornou visível para ela.
- Preciso de você - disse enquanto ele voltava para a cama e puxava o cobertor para cobri-los. - Agora, .

se curvou para beijá-la enquanto se acomodava para recebê-lo. Se abriu até que ele estivesse posicionado e então ele penetrou, quando sentiu que poderia explodir se não o fizesse logo. Entrou e saiu algumas vezes para se acomodar, até que começou a se movimentar, e seus corpos se mexiam no mesmo ritmo; como uma dança improvisada e selvagem. O contato de pele com pele também contava, ambas quentes com a excitação, os dois se deliciando com cada toque como se fosse a primeira vez.

Foi quem pediu para que ele se intensificasse quando ela entrelaçou suas pernas ao redor do quadril dele, e então começou a ir com mais rapidez e força. A cama ritmava junto deles, rangendo e batendo as pontas da cabeceira na parede à medida em que iam se aproximando do ápice.

o agarrou pelos ombros e ergueu o quadril para ele, ao mesmo tempo em que jogava a cabeça para trás, gemendo o nome dele, completamente arrebatada. Esperou por ele, que também chegou ao limite logo depois, e então desabou em cima dela.

o abraçou e encostou sua testa na dele, podia sentir a respiração pesada e ofegante contra o seu rosto. retribuiu ao abraço e a beijou lentamente, até precisar se afastar para recuperar o fôlego. Ele caiu ao lado dela e a trouxe para perto, fazendo com que se aninhasse em seu peito enquanto ele acariciava os cabelos dela. Quando se deu conta, estava rindo.

- O que foi? - perguntou, erguendo o olhar para ele, achando graça antes mesmo de saber.
- Essa cama faz barulho demais - falou a primeira coisa que lhe veio em mente, pois nem ele sabia o motivo de rir, apenas estava feliz.
- Espero que não tenham ouvido, você não faz ideia de como o meu irmão pode ser inconveniente.
- Ah, eu sei sim. - Ele se lembrava das vezes em que William os viu trocando beijos no sofá da sala, e já foi o suficiente para o mais novo fazer um escarcéu. - Prefiro que ninguém saiba.
- Eu também. - sorriu, e então se ajeitou para ficar com o rosto próximo ao dele. - Que bom que conseguimos ter a viagem a dois que a gente queria.
- Você quis dizer transar fora de casa, porque foi isso que a gente fez até agora.
- Se você prefere chamar assim... - se debruçou sobre ele, mas mantinha contato visual. - Podíamos viajar de novo no final de semana do dia dos namorados, o que você acha? Mas sem falar para ninguém, só nós dois. Podíamos ir à Paris, ver a Torre brilhando à noite...
- Seria o seu melhor aniversário, não é?
- Eu odeio fazer aniversário no dia dos namorados - ela se lamentou, e ele gargalhou. - Não tem graça, é horrível! Meus pais sempre dizem que eu sou o melhor presente de dia dos namorados que eles poderiam ter, mas chega uma idade que isso fica estranho, não fica? Quero dizer, eles não podiam mais ir a um encontro a dois porque não queriam ficar longe de mim no meu aniversário. Agora eu estou planejando uma viagem romântica com o meu namorado, mas então ele me lembra de que também é o meu aniversário.
- Eu vou te dar três opções: a primeira é comemorarmos o seu aniversário, a segunda é termos apenas o dia dos namorados como qualquer casal e a terceira é comemorarmos os dois. Você escolhe.
- Eu não tô nesse relacionamento sozinha, - ela se defendeu. - O que você quer também?
- Bom, a gente se conheceu só uma semana depois do meu aniversário, lembra? Então nunca comemoramos nenhum aniversário juntos, mas por outro lado, também será o nosso primeiro dia dos namorados juntos. Sendo assim, eu voto nos dois, porque são dois eventos muito, muito importantes pra mim - respondeu de maneira didática.
- E por que o meu aniversário é tão importante assim? - Ela arqueou as sobrancelhas, esperando uma resposta muito boa da parte dele. sorriu.
- Todo mundo que você conhece, todos eles, já celebraram o seu aniversário com você em algum momento da vida, então por que eu, justo eu, tenho que me privar disso?
- Justo você?
- É, justo eu, a pessoa que mais tem motivos pra comemorar a sua existência. E além disso - ele a segurou pelo queixo -, eu prometo te dar dois presentes separados, um pra cada ocasião.
- Não preciso de presentes. - sorriu e acariciou a bochecha dele. - Só preciso de você e esse dia será perfeito.

...


No dia seguinte, conforme planejaram brevemente, e decidiram sair para conhecer a cidade, enquanto William e Louise optaram por ficar, pois William estava obcecado com a ideia de conhecer o outro lado do palacete; mal tinha dormido à noite de tamanha curiosidade. Jesse lhes deu toda a liberdade que precisavam, disse que sairia para resolver alguns assuntos, mas que o jovem casal poderia ficar à vontade para lerem todos os livros da biblioteca.

- Esse lugar está me dando arrepios - Louise disse, incomodada, quando passaram pela parte reformada e entraram em um corredor que ela não conhecia. Segurou a mão de William, que andava olhando ao redor com muita curiosidade.
- É a coisa mais estranha que eu já senti, mas ao mesmo tempo... parece que estou no passado - disse, um pouco distraído, reparando nas janelas antigas. - Esse lugar parece que nunca viu uma reforma.
- É porque não viu, onde era a biblioteca mesmo? Quarta porta à direita? Acho que é essa aqui.

A porta da biblioteca rangeu alto quando os dois a empurraram juntos, pois era pesada e estava um pouco emperrada. Uma leve poeira ergueu do chão e Louise cobriu o nariz, era alérgica à poeira. William correu para abrir uma janela, a fim de que ela pudesse respirar melhor, mas abriu só um pouco, estava emperrada.

- Estou começando a me arrepender de ter vindo aqui. Vou fechar essa porta, daqui a pouco aparece um fantasma também. - Louise tentou fechar a porta sozinha, mas recebeu ajuda do namorado quando percebeu que não conseguiria.

Com a porta fechada, olharam ao redor da biblioteca, que era relativamente grande. Tinha uma mesa grande entre duas janelas, poltronas e um sofá que com certeza era de séculos passados, além das estantes embutidas em três das quatro paredes, todas completamente preenchidas por livros velhos.

- Jess com certeza não lê livros deste século - Louise disse enquanto olhava uma das prateleiras. Apesar de não ser muito fã de livros, conhecia vários por conta de Diana, e até havia lido livros muito famosos, como Orgulho e Preconceito, que ela reconheceu rapidamente. - Meu Deus! Will, ele tem um exemplar da época da Jane Austen!
- Quem? - William perguntou distraído, estava olhando para outra prateleira.
- Não sei porque comentei isso. - Ela rolou os olhos e voltou a atenção para os livros, estava encantada com a beleza de todos aqueles livros antigos, tinha certeza que Diana também iria amar. - Eu preciso tirar umas fotos e mostrar para a Ana, ela vai pirar.

Enquanto Louise tirava algumas fotos do lugar, William se concentrou em sua busca frenética por qualquer coisa que evidenciasse as histórias que ele ouviu na noite anterior durante o jantar. Depois de procurar um pouco, encontrou um livro interessante sobre a cidade no século dezenove. Se sentou para ler enquanto Louise procurava algo também, mas ainda não havia encontrado nada que fosse chamativo o suficiente.

- Ah, tem gavetas aqui atrás! - ela exclamou, contente quando passou pela mesa que estava um pouco empoeirada. Se sentou na confortável cadeira vitoriana e procurou um jeito de abrir, supondo que estava trancada. - Não é possível que o Jess simplesmente... tá aberta!

O puxador era tão velho que saiu na mão de Louise, mas ela ignorou e começou a olhar o que tinha na gaveta. Papéis cheios de anotações e uma espécie de diário com uma capa vermelha costurada à mão. Morrendo de curiosidade, decidiu abrir.

- Quem é Jean-Pierre Durand? - perguntou, imaginando que fosse algum escritor antigo, mas estava escrito na primeira página que aquele diário pertencia àquele homem, e estava datado do século dezenove, as folhas amarelas e danificadas denunciavam. - Will, olha que incrível!

William se levantou com o livro na mão e foi até a sua namorada na mesa. Observou ela virar uma página e começou a ler em voz alta o que estava escrito em um inglês antigo, mas compreensível.

- Já não sei o que fazer, palavras não são o suficiente para expressar tamanha angústia que consome o meu coração. Dói-me vê-la passar todos os dias acompanhada por outro homem, mas não qualquer homem, e sim seu marido. Eu a amo, sempre a amei e sempre vou amá-la. Coitado! - disse com pesar, estava comovida com o desabafo. Louise folheou mais algumas folhas para saber o que vinha pela frente.
- Deixa eu ler - William pediu, e deixou seu livro sobre a mesa, pegando o diário com cuidado. - Meus dias por aqui já se tornaram tão longos que mal posso contar, me baseio apenas em quando irei vê-los de novo. Estou exausto de tanto que já vivi, de tanto que já presenciei, gostaria que tudo isto pudesse acabar em breve, mas sinto que ainda está muito longe. Sinto que minha exaustão seja tão velha quanto minha idade... será que esse é o tataravô do Jesse? - ele pensou em voz alta, mas continuou a ler. - É como se minha hora de partir já tivesse chegado, mas meu corpo e minha alma se recusassem a ir. Sei do meu propósito, mas não sei se quero continuar, não quero ter que esperar mais incontáveis anos para reencontrá-la... ok, isso não faz sentido nenhum.
- Deixa eu ver. - Louise queria puxar o diário das mãos dele, mas William não deixou. Um papel velho caiu de dentro do livro e ele se agachou para pegar. William estremeceu.
- Meu Deus...
- O que foi, Will? - Louise se levantou, ele ficou pálido. - Will?
- Não é possível, estou vendo errado, isso não pode ser real...
- Você tá me assustando. O que tem aí? - Louise tomou o papel da mão dele.

Era uma fotografia muito, muito antiga. Um retrato de uma bela mulher. Louise arregalou os olhos quando se deu conta de que aquela mulher se parecia muito, na verdade, era idêntica à Diana, e por consequência se parecia com ela também.

- Não tem como ser real... - ela disse, desacreditada. - Quero dizer, é só uma coincidência bizarra... não pode ser a minha irmã, não é? Não pode ser eu...

William pegou o diário na mesa e começou a folhear, se esquecendo de que era algo velho e delicado, mas ele não se importou, queria saber o motivo daquela foto estar ali. Se a foto estava no final do diário, pensou que poderia estar ali o que precisava.

- Hoje mais um ciclo se encerra, ou melhor, mais uma chance. Sei que é questão de tempo até que todos eles partam de uma vez desta vida, o ciclo é assim, mas não deixa de ser doloroso. Na data de hoje ela decidiu se aventurar na cinza e caótica Londres, mas entendo seu desespero em ir embora, não posso imaginar o quanto seja doloroso perder seu querido irmão, sua linda cunhada e seu inocente sobrinho que ela jamais saberia o nome. Apesar de compreender, minha dor só aumenta, não sei quando irei vê-la novamente, mesmo sabendo que ela nunca será minha de fato, está destinada a outro e sempre será assim. Mesmo que eu não possa alterar o rumo da vida, meu coração sempre pertencera à minha... - William engoliu em seco, sentiu suas pernas tremerem.
- Will, o que tá escrito aí?
- À minha doce e amada Diana Blackwood. Essa é a última folha - ele disse abalado, sem acreditar no que estava vendo. - Louise, isso não pode ser coincidência.

Louise leu para ter certeza de que William não estava inventando coisas, e, de fato, o nome que estava ali era o de Diana. Ela não sabia o que pensar, era irreal demais. Os fatos estavam bem ali na sua frente, mas ao mesmo tempo parecia coisa de livro. Seria sua irmã a musa retratada naquelas anotações melancólicas? Como seria possível? Quem era Jean-Pierre Durand?

- Não vou embora daqui enquanto não descobrir a verdade sobre esse lugar. - Louise deu a volta na mesa e começou a procurar por qualquer coisa que revelasse mais.

...


O passeio pelo centro da cidade estava sendo agradável, e estavam curtindo o tempo juntos turistando por aquela adorável cidadezinha, eram dois apaixonados por história e lugares antigos. Tudo era lindo e muito familiar para eles, a catedral de Saint Nicholas era um espetáculo à parte, os dois concordaram que seria legal entrar e conhecer a igreja por dentro.

A sensação de déjà-vu era forte, mas ao mesmo tempo era algo bom que despertou neles. Era de se esperar, se casaram naquele mesmo lugar uns duzentos anos antes, estranho seria se não sentissem nada.

- Eu adoro igrejas antigas, sabia? Acho tão lindas! - comentou baixo, em respeito ao lugar, embora não fosse religiosa.
- Eu também gosto, me sinto feliz aqui dentro - respondeu no mesmo tom, enquanto se sentavam em um banco para observar. - Estou em paz.
- Não sente mais aquela agonia de ontem?
- Não aqui dentro, não com você aqui comigo. - Ele sorriu de canto para ela. - Não sou religioso, meus pais nunca me obrigaram a seguir nenhuma religião, embora sejam cristãos, mas imagino quantas pessoas encontraram seu lugar aqui, quantos casamentos devem ter sido realizados aqui... gosto de pensar sobre isso.
- Você é mesmo um ótimo escritor. - sorriu, amava a criatividade dele.
- Mas são histórias reais, não ficção.
- Bom, talvez um dia a gente também tenha a nossa história real, e isso não me assusta nem um pouco.
- Também não me assusta. - sorriu de volta para ela.

Passaram mais um tempo conversando baixo naquele lugar, até que decidiram comer alguma coisa antes de voltarem para a casa de Jesse. Ao saírem, notaram que do outro lado da igreja havia um cemitério, e, por mais que a curiosidade de houvesse sido atiçada, se limitou a arrastá-la para longe dali. Sempre odiou cemitérios, não queria ir até lá.

- Não estou a fim de lavar toda a minha roupa depois, valeu - disse enquanto entrelaçava seus dedos nos dela e caminhava pela calçada do lado de fora.
- Para quem curte filmes de terror pesados, eu não esperava que você fosse fugir de um cemitério. - riu.
- Pra que mexer com quem está quieto, não é? Eles já morreram, e daí? Não, definitivamente eu não quero lavar minha roupa e muito menos ter pesadelos à noite.
- Adoro conhecer um pouco mais de você todos os dias! - ela disse, ainda rindo, fazendo rir também, então atravessaram a rua, tinham certeza de que tinham visto um McDonalds ali perto.

...


Louise e William continuavam sua busca incessante por toda informação que achavam que poderia ser útil. No meio de tantos livros em três prateleiras enormes, era difícil encontrar uma coisa muito específica.

- O que é isso? - Na parte de baixo da última prateleira, Willian encontrou um livro de capa de couro, com palha amarrada ao redor. - Essa palha é nova...
- Will, olha, é um álbum de fotos. - Louise encontrou algo também, erguendo um livro grande e pesado nas mãos. - Finalmente, vamos saber o que esse lugar esconde.

Louise abriu o álbum com dificuldade, por ser pesado, e a poeira que levantou a fez espirrar repetidas vezes, mas ela não se importou. Virou a primeira página, mas sua reação foi como se estivesse em um filme de terror: gritou, derrubando o álbum no chão e fazendo barulho.

- Ai, meu Deus. - Levou as mãos ao rosto, apavorada. - Will, eu quero ir embora daqui.

Preocupado, William pegou o álbum do chão com cuidado. Foi até a mesa, deixou o livro de couro e optou por dar atenção ao álbum. Entendeu o motivo do susto de Louise quando virou a primeira página também.

- Quem é você, Jesse? - perguntou baixo, para si mesmo, vendo o primeiro retrato que preenchia quase toda a folha.

Era Jesse sem seu clássico cabelo platinado e sem suas tatuagens marcantes. Ele tinha cabelos escuros naturalmente e também um rosto mais saudável, e por que não arriscar dizer que ele parecia mais jovem? Não tinha como negar que era Jesse quem estava sendo retratado ali.

- Jean-Pierre Durand, 1850... é o tataravô do Jesse, com certeza - falou, na tentativa de acreditar em si mesmo. - Quero dizer, parece com ele, só pode ser o seu tataravô, não é?
- E como você explica a foto da minha irmã aqui? Will, tem alguma coisa muito estranha nesse lugar, é sério. Por favor, vamos embora.
- Jesse não deixaria entrarmos aqui se isso fosse confidencial. - William tentava juntar os fatos como um investigador. - Na verdade, ele foi bem claro em dizer que podíamos mexer em absolutamente tudo.

Louise pegou seu celular e tirou uma foto daquela página, já que não poderia tirar os livros da biblioteca, iria registrar o máximo de informações que podia. William virou algumas páginas seguintes onde haviam mais retratos daquele homem e de outras pessoas que ele não conhecia. Bem, isso até ele ver a si mesmo naquele álbum. Olhou mais de perto para ter certeza de que estava vendo certo.

- Puta merda! Isso não é humanamente possível - riu, nervoso, enquanto Louise analisava também, apontando o celular para a foto. - Não, não pode ser, não sou eu, não tem como!
- William John Arkley, 1849... seu nome do meio não é John? Por causa do seu avô?
- Não tem como, Louise, não tem como! Sou o quê? Imortal? Eu me lembraria disso!
- É tão parecido... - Louise observou o retrato e depois as feições do namorado, ergueu a foto na altura do rosto dele para comparar. - Segura, fica parado.

Ela tirou mais uma foto, assim poderia ver depois com calma. William virou a página.

- Mas que porra é essa? Por que meus irmãos estão aqui? O que é isso? - Mostrou para Louise os retratos seguintes, Thomas e . - Mesmos nomes, as mesmas pessoas, Arkley também!
- São eles... - Louise disse impressionada enquanto apontava a câmera do celular. - Meu Deus...

E os sustos não pararam por ali. Nas folhas seguintes vinham Diana, , Louise e Damon, todos Blackwood. Louise sentia todo o seu corpo tremendo, não conseguia acreditar nas coisas que estavam vendo. Quem eram aquelas pessoas? Porque estavam registrados ali? Por que se pareciam com todos eles? Quem era Jesse e o que estava escondendo?

- Clara e Charlotte - William virou o álbum para Louise ver de perto. - Ele tem fotos até mesmo delas. Esse cara é um maníaco, a gente precisa... Puta que pariu! - ele exclamou horrorizado quando virou a página. - Carter?

Louise arregalou os olhos. Lorde Carter Hywel, o duque de Gales. 1849, dizia a descrição. Não apenas Carter tinha um retrato, pois a próxima fotografia era ninguém menos do que Lucinda, e seu sobrenome era Smith.

Seria a mesma família Smith que Jesse contara histórias sobre no outro dia?

- A gente já pode ir embora? Você está convencido agora?
- Não vou embora enquanto não saber o que o Jesse esconde. Eu sabia que estava tudo muito estranho, esse lugar, ele... ainda temos esse livro de couro, mas quer saber? Vamos mostrar à e ao , seremos quatro contra um, ele vai ter que contar.
- Talvez você tenha razão. - Louise procurou pelo contato do irmão, em seguida levou o celular ao ouvido quando começou a chamar. - E é melhor fazermos isso agora.

...


e folheavam o álbum de fotografias sem acreditar no que estavam vendo. Louise e William, em pé perto deles, observavam as expressões de surpresa no rosto do casal que havia acabado de chegar do passeio e já haviam recebido aquela notícia chocante. Olhavam com muita atenção cada foto e abafou um grito quando viu a si mesma em um retrato, suas mãos tremiam conforme folheava as páginas sensíveis ao tempo, não podia acreditar que aquilo fosse de verdade.

- Tem até a Lucinda! - Louise disse para , que passou mais tempo encarando a foto da ex namorada do que pretendia. - O Carter, até mesmo a Charlotte e a Clara! Isso não pode ser coincidência!
- Achamos isso também. - William pegou no bolso a foto solta e entregou para . - Parece a Diana.
- Parece muito a Diana - disse enquanto observava a foto em suas mãos. - Vocês não acham melhor a gente simplesmente... não sei, ir embora daqui?
- Não vou embora enquanto não souber quem é esse maluco por trás do Jesse - William disse com convicção, e mostrou o livro de couro. - Ainda não abrimos esse aqui, mas a palha é nova, queríamos ver junto com vocês. Tem as iniciais JPD gravadas na capa, então imagino quem seja o autor.
- Eu... - não conseguia parar de encarar seu próprio retrato, estava tendo um dejavu, seus olhos estavam marejados e sua voz embargada. - Gente, eu lembro disso... quero dizer, eu não sei direito... consigo ver na minha mente o exato momento em que essa foto foi tirada... parece real...
- Vocês acham que existe a menor possibilidade de talvez sermos nós? - perguntou receoso.
- Não, imagina! São só pessoas idênticas a nós, com os mesmos nomes, ironicamente. Claro que somos nós, não tem outra explicação! - William disse impaciente, queria muito saber mais. - Achei que eu nunca ia contar isso, mas... , você se lembra daquele pesadelo bizarro que eu tive um tempo atrás? - Lembro, foi horrível.
- Basicamente, tive um pesadelo onde morria em um parto, e... - William olhou para Louise e . - Foi a coisa mais forte que eu já vi. Fica pior quando eu preciso correr atrás do depois porque ele simplesmente não queria mais viver, você só... se jogou e eu não pude fazer nada - William explicou para eles, que ouviam atentos. - E piora, porque isso aconteceu quando vocês ainda não estavam juntos.

sentiu um arrepio subindo pela espinha, estranhamente conseguia visualizar com perfeição.

- E já que estou falando de coisas bizarras que aconteceram comigo ultimamente. Comecei a ver coisas desde a primeira vez em que nos vimos na casa da Katie. - Ele olhou para Louise, que arqueou as sobrancelhas. - Vi a gente, vi lápides, vi nós dois segurando crianças gêmeas... eu tô ficando maluco, mas é isso, já que estamos falando de maluquice.
- Eu vi lápides também - Louise confessou para William. - Quando nos conhecemos.
- Vi você olhando para mim muito preocupada enquanto eu arfava - se levantou do sofá e olhou para Louise, depois para . - E vi você também, como se eu já te conhecesse.
- Não sei se consigo contar tudo o que já vi ou que já sonhei desde que consigo me lembrar. já sabe, mas... tenho sonhado com ela desde sempre. Não num sentido romântico, eu literalmente sonhava quando dormia. - se levantou também. - Não consigo ver outra explicação para isso que não sejam vidas passadas. Vocês acreditam nessas coisas?
- Não - os outros três responderam prontamente, como se ele tivesse dito uma grande besteira.
- Então espero que tenham outra explicação para isso, uma explicação muito boa.
- Jesse nos deve uma explicação, e não nós mesmos. - Louise cruzou os braços, e então eles concordaram em deixar a biblioteca um pouco.

Quase como se Jesse pudesse adivinhar que estavam conversando, ele abriu a porta de entrada da casa, no mesmo instante, e logo estava na sala de estar principal. Olhou para as feições horrorizadas dos quatro, depois para o álbum de fotos no sofá, e por fim o livro de couro nas mãos de William.

Chegou a hora.

- Acho que vocês têm muitas perguntas, e eu tenho as respostas de que precisam - ele disse calmamente, notando que eles não pareciam nada felizes. - Prometo responder todas as dúvidas que vocês tiverem, mas com uma condição.
- Você não está na condição de negociar, Jesse, se é que esse é o seu nome de verdade.
- Meu nome não é Jesse e nunca foi, Lou, mas também vou explicar isso com a condição de que todos estejam aqui também. Chamem os outros, eu posso trazer eles para cá, apenas quero que venham.
- Certo, mas queremos saber: vidas passadas existem?
- Existem, . Seja lá o que estiver passando pela sua cabeça, está totalmente certo, mas eu só vou contar tudo quando todos estiverem aqui. Podem chamar a Katie e o Jake também, é da conta deles tanto quanto é da de vocês. Vou dar um jeito de trazer Luce e Charlotte também.
- Não quero ficar mais nenhum dia aqui. Chega, eu vou embora, não quero ver você nunca mais, seu maníaco psicopata! - Louise fez menção de se levantar, mas William segurou seu braço.
- Não sou maníaco e muito menos psicopata, no máximo coleciono coisas velhas, como você pode ver, Lou. - Ele sorriu gentilmente para ela. - Está tudo bem, é sério, não sou um monstro, não vou machucar ninguém. Vocês têm perguntas e eu tenho as respostas, só isso. Por favor, tragam os outros aqui e eu prometo que vou contar tudo o que vocês querem saber.


Capítulo 26 - The True

Levou dois dias para que o palacete estivesse cheio de pessoas curiosas e preocupadas. , , William e Louise passaram aqueles dois dias trancados em seus quartos, porque não queriam ver Jesse. Jake, Katie, Diana, Thomas, Damon e Clara chegaram logo em seguida, não entendiam o que estava acontecendo e por que seus irmãos pareciam tão aflitos no telefone. Em seguida veio Carter, o que foi o suficiente para Jesse ficar muito mais tenso e buscar pela ajuda da única pessoa que sabia mais do que ele, mesmo que isso tivesse lhe custado uma bronca enorme. Por fim, Luce e Charlotte chegaram com um intervalo de horas de diferença e ao final das 48 horas, todos estavam na casa de Jesse.

Luce parecia estranha, não falou com ninguém além de Charlotte. Jesse não deixou explícito, mas optou por colocar ela no quarto mais afastado possível, no último andar, pois sentia que algo estava diferente nela. Fez o mesmo com Carter, embora não estivesse tão preocupado com ele, pois Carter parecia normal, lhe cumprimentou com educação. Lucinda, por sua vez, estava séria e com roupas mais escuras do que costumava vestir. Não sorriu, não esboçou reação quando chegou, quase não fez perguntas. Jesse não era de sentir medo ou arrepios, mas o olhar impactante dela o fez gelar por um segundo.

Por conta disso, o clima na casa não era dos melhores. Jesse estava tenso, Louise, William, e nem sequer saíam de seus quartos, mas já haviam alertado aos outros que deveriam ficar atentos. Até mesmo Clara agia diferente, era sempre uma menina alegre e carinhosa, mas estava se limitando a fazer manha para seus pais e malcriação.

Jesse combinou com todos que naquela noite se encontrariam no salão do outro lado e somente quando todos estavam acomodados nas cadeiras que ele deixou estrategicamente preparadas, ele começou a falar.

- Boa noite, pessoal, eu trouxe todos aqui hoje porque acredito que esteja na hora de vocês saberem algumas coisas. Sei que devem estar se perguntando quais coisas estou falando, por isso acho justo que vejam com seus próprios olhos antes que eu conte. - Ele entregou o álbum de fotografias para a pessoa mais próxima dele, que era Damon.
- Até isso daí passar por todo mundo, vai levar uma década. Pode deixar que eu mesma cuido disso - Louise disse impaciente, pegando o seu celular e começando a enviar para todos as fotos que tirou.
- Você tirou fotos? - Jesse perguntou indignado para a ruiva, que deu de ombros.
- Querido! Teoricamente, foi você quem tirou fotos nossas, se for o que estou pensando - ela rebateu, e ele ficou em silêncio.

Em meio minuto, cada um olhava em seu celular o conteúdo que Louise havia mandado. Com exceção de Jake, todos se reconheceram naquelas fotos, o que foi um choque repentino. Um breve silêncio pairou no salão, expressões de surpresa estampavam aqueles jovens rostos.

- Diana, acho justo você ver isso aqui também. - William tirou do seu bolso a foto solta que supostamente era ela e a entregou. Jesse imediatamente reconheceu.
- Vocês mexeram no diário? - perguntou, quase como se tivesse os ameaçando. - Mexeram nas minhas coisas?
- Você não trancou a gaveta. - William deu de ombros, mas então ligou os pontos. Teve um estalo subitamente. - Meu Deus! Você é o...
- Jess. - Diana virou a foto para ele, assustada. - O que é isso?
- Ana, eu...
- Por que você tem fotos nossas? Fotos assim? Por que tem uma foto da minha filha? - Charlotte olhou para ele, se levantando do seu lugar.

Quase todos começaram a fazer perguntas ao mesmo tempo, o que fez Jesse se sentir tonto e com um certo medo. Puxou uma cadeira livre e se sentou de frente para eles, pedindo silêncio.

- Se me deixarem falar, tenho as respostas. Primeiramente, alguém talvez... está se sentindo mal? Está achando que está delirando? Consegue se lembrar do momento em que essas fotos foram tiradas como se fosse muito real?
- Por que consigo ver essa porra com clareza? - Damon perguntou, com a grosseria transbordando na voz. - Por que eu estou me lembrando de uma coisa que eu nunca vivi?
- Porque você viveu, porque todos vocês viveram. - Jesse respirou fundo para criar coragem e se levantou. - Vocês são reencarnações destas pessoas, que são reencarnações de outras e assim sucessivamente até o século 16.
- Essas coisas não existem - Thomas rebateu com ceticismo.
- Lamento te informar, mas o mundo não gira em torno do que você acha ou deixa de achar - Jesse respondeu rudemente. Já fazia décadas que ele gostaria de dar a Thomas a resposta que merecia; depois tirou o foco dele. - Vidas passadas existem e felizmente eu posso provar através dessas fotos e muitas outras coisas, caso não estejam acreditando em mim. É um assunto muito complexo, mas estou disposto a responder todas as dúvidas que vocês tiverem, só me deixem partir do início, está bem? Como eu não estava lá quando tudo começou, chamei alguém que estava, e que vai contar tudo para vocês. Só um instante.

Jesse caminhou até uma porta nos fundos, dali dava para ver que ele voltou acompanhado de um homem idoso. Por mais que ninguém soubesse quem ele era, os olhos arregalados e os rostinhos curiosos denunciavam que quase todo mundo ali estava se esforçando para se lembrar de onde o conheciam.

- Boa noite. Sei que vocês não me conhecem, mas vou me apresentar. Jesse, meu filho, se importa se eu sentar aqui? Minha coluna está me matando! - perguntou, já se sentando na cadeira que Jesse estava anteriormente. Ele negou. - Obrigado. Bom, imagino que estejam se perguntando quem eu sou. Meu nome é John Cooper e eu conheço vocês há muito, muito tempo, então vou contar tudo o que sei. Tudo começou em Londres por volta de setembro de 1665, no aniversário do Lorde Woodbead, que seria você. - Olhou para Damon.
- Eu sei - Damon respondeu baixo, estranhando o fato de ele saber daquilo.
- Quer compartilhar alguma coisa que você está se lembrando?
- Eu... eu sempre sonhei com uma festa muito grande onde eu era o centro das atenções - Damon disse um tanto atordoado, tudo era muito claro em sua mente, ao mesmo tempo em que ele não entendia nada.
- Você está certo, você era alguém muito importante da alta sociedade, mesmo sendo tão novo. Se não me engano, era o seu aniversário de 18 anos e você convidou muitas, muitas pessoas, famílias importantes com quem você tinha alianças. Duas dessas famílias eram os Somerhalder e os Bamborough, do qual você tinha amizade desde sua infância. Diana e tinham o sobrenome Somerhalder, Thomas e eram os Bamborough.
- Desculpe te interromper, mas como o senhor sabe os nossos nomes? - questionou, erguendo a mão educadamente.
- Você já desabafou muito comigo no passado, , estou surpreso que não lembre nada sobre mim. - Ele esboçou um sorriso bondoso para ela. - Sei o nome e a história de todos vocês, então não estranhem se eu parecer tão íntimo, mas continuando: foi nesta festa onde Thomas e Diana se conheceram pela primeira vez, além de e . Thomas e Diana estavam na idade de se casar, então naturalmente as famílias chegaram em um acordo muito rápido, mesmo que não fosse da vontade de nenhum dos dois. e ... - Ele olhou para o casal, e era quase como se pudesse ver suas versões do passado. - Foi amor à primeira vista, segundo o que vocês mesmos disseram. Foi tão intenso que quando vocês se deram conta estavam conversando como se fossem amigos de longa data. Só tinha um probleminha, e espero que não seja um problema agora... Bem, era casado com Lady Lucinda há algum tempo. - Ele olhou para a mulher, que pareceu subitamente interessada no assunto, corrigindo a postura na cadeira.
- Fui traída e trocada, não é? - Luce abriu a boca pela primeira vez. O homem concordou com a cabeça, lamentando, e ela se encolheu um pouco. - Valeu mesmo, ).
- Depois vocês lavam a roupa suja, tá bom? Deixem ele terminar - Jesse pediu impaciente, antes que falasse alguma coisa em resposta, pois pretendia.
- Obrigado, Jesse. É claro que o fato de ele ser casado não fez diferença nenhuma, eles se amavam e queriam ficar juntos, até que os pais de encontraram a pessoa que eles julgaram como perfeito para ela, que no caso seria você, Carter. - John olhou para ele. - O Lorde Rodwell.
- Minha família já teve esse sobrenome antes - Carter disse um pouco pensativo. - Há muito tempo, tenho descendência?
- Descendência? Carter, você reencarnou, é muito mais do que só descendência! Infelizmente, você não foi correspondido pela , e é claro que você começou a desconfiar dela. Não sei como, mas você descobriu sobre o romance, descobriu que eles queriam se casar e fugir do país, e, por isso, você decidiu agir... - John se ajeitou na cadeira. - Em 5 de setembro de 1666, você interrompeu o casamento. As testemunhas naquele instante eram Thomas, Diana e Damon. Carter descobriu a cerimônia secreta, e foi aí que vocês foram condenados. - Ele olhou para Carter, que estava abismado com o que ouvia. - Carter, você era um bruxo descendente dos sobreviventes da Inquisição, assim como eu. Infelizmente você nunca usou seus dons para o bem e... - Ele soltou um longo suspiro cansado, não aguentava mais reviver aquilo. - Você lançou uma maldição não apenas em e , mas em todos que estavam ali, e também aos que viriam depois, eles nunca poderiam ficar juntos nas vidas que se seguissem. Resumidamente, estão destinados, são almas gêmeas, mas nunca ficaram juntos, sempre morreram antes disso.

e sentiram como se tivessem levado socos no estômago. Ela fechou os olhos para assimilar o que ouviu, e apertou a mão dela, que estava entrelaçada na sua; podiam sentir aquilo com muita força e veracidade.

- Vamos morrer se continuarmos juntos? - ela perguntou ao abrir os olhos, estavam marejados com o que havia acabado de ouvir.
- Nas duas vidas que se seguiram depois disso, sim. Eu não podia anular a maldição dele, mas podia lhes dar uma chance de se defenderem. Consegui com que tivessem as três vidas seguintes para que pudessem reverter essa maldição, mas nas duas anteriores, vocês não conseguiram. Vocês só têm mais uma chance, acredito que isso não dependa de mais ninguém a não ser de vocês mesmos.
- Eu não poderia apenas... desfazer isso? - Carter perguntou. - Não sou essa pessoa ruim que o senhor está retratando, eu nunca faria isso. - Ele olhou para . - Nunca faria nada que te prejudicasse.
- Mas fez, não só prejudicando a ela, mas a todo mundo aqui - falou diretamente para ele.
- ! - repreendeu horrorizada. Carter não teve coragem de responder à altura.
- Será que vocês podem discutir depois? - Katie interviu, queria saber mais. - Senhor Cooper, apenas para que eu possa entender melhor: não estávamos todos no momento da maldição, certo?
- Certo, Katie. Nesta primeira vida, você ainda não existia. Estavam lá e , obviamente, Thomas e Diana, Carter e Luce, Damon e Charlotte. Aliás, Damon e , vocês não eram irmãos gêmeos, na verdade vocês nem eram irmãos, eram melhores amigos. Imagino que tinham uma ligação tão forte que voltaram como irmãos gêmeos.
- Então eu... eu era outra pessoa? Tinha outro rosto, outro destino? - Damon perguntou, um tanto chateado com o que havia acabado de ouvir.
- Sim, Damon, você era diferente do que é hoje, mas não tanto assim. Ainda era casado com a Charlotte, ainda tinham a Clara, que era apenas um bebê quando você morreu.
- Eu morri? - Ele franziu o cenho, agora estava mais do que chateado.
- Ainda não terminei de contar. Já ouviram falar do grande incêndio na Catedral de Saint Paul? Estávamos lá, Carter disse que poderia derrubar aquele lugar e assim fez. Estalou os dedos e tudo pegou fogo, foi quando consegui lhes dar uma chance. Morremos todos ali, intoxicados pela fumaça. Só recobrei a consciência em algum momento do século 18, na França, quando descobri quem eu era, quando conheci o Jesse.

Todos os olhares se voltaram para Jesse, que estava em absoluto silêncio, apenas ouvindo tudo. Ele engoliu a seco, chacoalhou os ombros e tomou a palavra para si.

- Eu era só um rapaz de coração partido. A mulher que eu amava estava prometida a outro homem com muito mais prestígio que eu. Eu não vi outra solução para mim a não ser o celibato e o clero. Foi quando eu descobri tudo sobre vocês, quando John me acolheu e me contou tudo, eu não queria que a mulher que eu amava perdesse a vida por uma maldição que ela não tinha culpa, então decidi viver pelo tempo que eu precisasse para salvar a vida dela, e estou aqui até hoje. Meu nome é Jean-Pierre Durand, nasci na França do século 18 e sou muito, muito mais velho do que qualquer um aqui. Eu nunca morri, graças à alquimia eu pude ver o mundo se tornar o que ele é hoje. Sou a pessoa mais velha do mundo e adoraria que vocês soubessem disso logo. Quanto à mulher que eu amava, sei que é estranho dizer isso em voz alta, mas eu espero que ela não me odeie, porque eu passei muito tempo sem ser retribuído, mas não aguentaria ficar um dia que fosse brigado com ela... Diana. - Jesse olhou para ela, que estava surpresa. - Vou te contar a nossa história quando você quiser ouvir.
- Conta pra mim também, eu quero ouvir. - Thomas cruzou os braços, contendo a repentina raiva que cresceu dentro de si. Era cético por natureza e estava até considerando a hipótese de tudo aquilo ser real, mas ouvir outro homem se declarando para sua namorada bem na sua frente era demais para ele. - Conta, Jesse.
- Simplesmente não é da sua conta, Thomas, você já conseguiu tudo o que queria em todas as suas vidas, não está bom? Você não faz ideia de como me senti todas as três vezes em que a perdi para você. Se não fosse essa maldição idiota, quem sabe as coisas tivessem sido diferentes.
- Essa conversa não acabou aqui. - Thomas abaixou o seu tom de voz quando sentiu a mão de Jake tocar seu ombro, pedindo para que ele se acalmasse.
- Eu entendo a sua raiva, você nunca gostou de mim e nem eu de você, mas esse não é o momento, isso não é sobre eu e você.
- Jesse tem razão, depois vocês podem conversar sobre isso, mas agora preciso contar o restante. - John pediu a palavra de novo. - A segunda vida foi muito breve, pois vivemos no momento mais tenso da Revolução Francesa. Nesta vida, Katie e eram irmãs, além do Thomas, é claro, mas tinha alguma coisa de diferente... um espírito guerreiro indomável, era realmente admirável vê-la lutar pelo país.
- Eu lutei pela França durante a Revolução? - perguntou, surpresa e um tanto admirada por saber daquilo.
- Você e o seu marido... vocês conseguiram se casar nesta vida, mas morreram em conflito, foi questão de tempo até que todos morressem também.
- Eu já sonhei com isso... eu... eu via uma guerra, vi sendo alvejado, foi horrível... - Ela fez um breve esforço para visualizar em sua mente as lembranças que tinha. - Consigo me lembrar disso com tanta clareza...
- É porque não era apenas um sonho, você estava vendo o passado, .
- Como nós morremos? - Katie perguntou com curiosidade.
- Katie... vocês sempre tiveram sorte de serem afortunados e por mais que sua família não fosse como a nobreza daquela época e eu só estava no clero para encontrar vocês... as pessoas não sabiam disso, não é? Pagamos caro pelos erros dos outros, não consigo ver uma guilhotina sem sentir medo - John explicou para ela, que assentiu.
- Eu tentei esconder vocês, mas não deu certo. Eu consegui fugir com a Clara, mas vocês foram pegos - Jesse explicou com pesar. - E então me instalei aqui em Aberdeen no século 19, você já não era mais irmã da e sim uma prima dos Arkley, assim como a Charlotte, na verdade eu quase não te vi por aqui, pois nessa vida as novidades eram Will e Louise.
- Por que não estivemos lá no começo de tudo? - William perguntou desconfiado.
- Não me pergunte como funciona o destino, eu não faço ideia. Você nem deveria perguntar isso, morrer queimado ou na guerra não deve ser nada legal.
- Pode deixar que eu conto sobre essa vida, Jess. - John olhou para ele, que assentiu enquanto puxava uma cadeira para se sentar. - Aqui, William nasceu um Arkley e Louise uma Blackwood, os sobrenomes de vocês naquela época. Katie e Charlotte eram primas dos Arkley, uma por parte de pai, outra por parte de mãe, mas resumindo: como sempre, os primeiros a se casar foram Thomas e Diana, já na temporada seguinte houveram três casamentos: Louise e William, e , Damon e Charlotte. No caso de e , estavam praticamente comprometidos com outras pessoas, Carter e Lucinda, mas não foi difícil se livrarem deles para ficarem juntos, já Carter e Luce... - John estava pronto para contar, mas achava aquilo demais, deixaria para depois, então olhou para Damon e Charlotte. - Não posso esquecer de vocês dois, digamos que vocês... bom, não estavam seguindo as coisas como elas deveriam ser, o que acabou resultando em uma gravidez inesperada. Por isso você, Damon, tomou a Charlotte como esposa para que ela não caísse em desgraça e então tiveram a Clara.
- O que aconteceu com a gente depois que... hum... fomos trocados? - Carter perguntou por ele, e Luce quem revirou os olhos.
- Eu não sei muito sobre vocês, eu sinto muito - John mentiu, contar aos dois que haviam se casado poderia ser catastrófico.
- Alguma vez eu tive um final feliz? - Lucinda questionou impaciente. - Traída, trocada, envergonhada... parece que o destino não gosta muito de mim.
- Não é o destino, Luce, é a maldição. A maldição não permite que você viva a vida que você merece. Você é uma boa pessoa, minha querida, você ainda vai ter toda a felicidade que não teve antes.
- Tá bom, continua - ela respondeu sem dar muita importância. John se ajeitou no seu lugar.
- Tudo parecia muito bem encaminhado, e eu pensei que por Carter ter "aceitado" o seu destino naquela vida, a maldição havia acabado e tudo estava muito calmo. Do casamento de e , veio o primeiro filho de vocês, e foi aí que eu percebi que não estava tudo bem. Foi uma gravidez de risco, teve que passar todo o tempo que podia em repouso, pois poderia perder o bebê a qualquer momento e morrer também. Tive a impressão de que se ela sobrevivesse ao parto, a maldição teria acabado ali, mas isso não aconteceu. Foi um parto muito difícil, e, infelizmente...
- Ela e o bebê não sobreviveram - William completou, para a surpresa de todos. - Eu sonhei com isso... Louise era uma espécie de parteira ou algo assim, era ela quem estava fazendo o parto. O bebê nasceu morto e a não resistiu. - Ele engoliu a seco, suas pernas começaram a chacoalhar sem parar. - Quando percebeu que tinha perdido os dois, saiu do quarto e correu, eu fui atrás dele e o encontrei na torre mais alta do castelo, pronto para pular. - William olhou para , que por mais que já soubesse, ainda conseguia ficar surpreso. - Você disse que não valia a pena viver sem ela, então você só... pulou, sem hesitar. Você preferiu se matar do que viver sem ela.
- Então a partir daí eu soube que vocês só tinham mais uma chance. - John retomou a palavra. - Vocês decidiram se mudar daqui depois do que aconteceu, seguiram suas vidas, tiveram filhos. Diana e Thomas tiveram um menino, William e Louise tiveram um casal de gêmeos que nomearam em homenagem aos seus irmãos que morreram. Acredito que ninguém viveu mais do que 30 anos, em algum momento todos vocês já tinham morrido, fosse por doenças ou acidentes. À esta altura, vocês já estavam todos em Londres, mas acredito que se visitarem o cemitério da cidade, poderão encontrar algum nome conhecido. Provavelmente e , pois eu os casei, mas também os enterrei. E agora estamos todos aqui, na quarta e última vida, vocês têm apenas mais uma chance de fazer dar certo.
- E como vamos fazer isso? - perguntou com um pouco de medo.
- Eu ainda não sei como - John respondeu com toda a sinceridade. - Sei que a maldição precisa ser desfeita, passei muito tempo tentando reverter, mas não consegui. Acredito que o amor de vocês possa interferir de alguma forma, talvez antes não fosse forte o suficiente para combater, mas agora vocês estão mais velhos e mais experientes, imagino que não tenham se apaixonado à primeira vista.
- Não, mas nos interessamos um pelo outro de primeira, foi muito rápido também - admitiu.
- Então resumidamente - Damon interrompeu irritado. - Estamos em um loop infinito: Charlotte e eu sempre teremos a Clara, Diana e Jesse sempre se encontrarão, mas por conta da maldição, ela acaba ficando com Thomas, ou seja, não são necessariamente almas gêmeas. e sempre deixarão o Carter e a Luce para ficarem juntos e morrem por causa disso, por consequência morremos também. É isso, não é? Só isso.
- Me desculpa se estou parecendo egoísta. - Jake tomou a palavra com educação. - Mas onde eu e minha irmã entramos nessa história? Principalmente eu que não fui mencionado em nenhum momento.
- Katie sofre indiretamente por ter sido irmã da no passado. É curioso, Katie nunca se casou, acredito que a maldição afetou ela desta forma, ela morre antes de se casar - John explicou.
- Isso explica muita coisa - Katie tentou soar bem-humorada, mas estava triste e preocupada.
- Mas e eu? Eu nunca tive sonhos, essas visões, eu não faço ideia do que vocês estão falando, não sinto nada disso...
- Jake, você é tão, mas tão jovem! - John sorriu bondosamente para ele. - Sinto juventude e luz apenas olhando para você daqui de onde estou, esta é sua primeira vida, você não tem culpa de nada do que aconteceu no passado, mas pode ajudar a mudar o futuro, protegendo as pessoas que você ama.
- E como eu posso fazer isso?
- Só continue perto deles, vamos encontrar uma solução.
- Não, não, vocês vão encontrar uma solução, eu não tenho nada a ver com isso. - Damon se levantou. - Eu vou voltar pra minha casa, não quero ouvir mais uma palavra sobre esse conto de fadas ridículo.

Ele virou as costas e saiu. Charlotte se levantou para ir atrás, e e foram juntos, seguindo o gêmeo mais novo para fora do salão, chamando por ele. Damon só parou de andar quando já estava do lado de fora, se virou para os três, mas direcionou sua palavra especificamente para .

- A culpa é sua, espero que saiba disso - ele disse com raiva, apontando o dedo na direção do irmão.
- Damon...
- Por sua culpa todo mundo morre, todo mundo ainda pode morrer, inclusive a minha filha, que é a menos culpada daqui. Eu não sei como você vai resolver isso, mas vai resolver.
- Eu vou resolver isso, Damon, eu prometo.
- Ótimo! Aproveita e devolve a minha vida como ela era, me devolve quem eu era! Eu nem sei quem eu sou, eu tenho a sua cara, a sua vida! , você basicamente fez quem eu sou agora e eu nem tenho o direito de mudar isso!
- Não seja injusto, Damon, você estava lá também, você testemunhou tudo. - saiu em defesa de quando percebeu que ele não sabia o que dizer.
- Aparentemente eu estava lá, mas não vou mais estar daqui pra frente. Não quero nunca mais ver vocês, lembrar que vocês existem! Vou fazer tudo o que eu puder para manter minha filha e eu vivos, mas não me importo com o que vai acontecer com vocês! - Damon disse de maneira exaltada para ela, que recuou um pouco.
- Damon, isso é horrível - Charlotte disse incrédula, a ponto de chorar com as coisas que ele estava dizendo.
- Você vai vir comigo? Vamos dar um jeito de nos mantermos vivos, a Clara precisa dos pais dela, eu vou cuidar da gente.
- Como você pode ser tão egoísta? - Ela continuava horrorizada, se afastou quando ele ofereceu a mão.
- Eu, egoísta? Quem foi que traiu a maluca da Lucinda em todas as vidas? Se eu estou assim, não quero nem imaginar como ela deve estar se sentindo. Vamos, Lotte, só venha e vamos pra minha casa pensar em como vamos resolver isso.
- Você pode ir e fazer o que quiser, mas vou ficar aqui e salvar a minha vida, a da minha filha e a de quem mais eu precisar ajudar. - Charlotte olhou brevemente para e antes de voltar sua atenção para Damon. - E você não vai levar a Clara para longe de mim, não vou deixar que ela fique mais um minuto com você enquanto você não recuperar o juízo.
- Lotte... - Damon a chamou, mas ela caminhou em direção ao palacete, pois Clara estava dormindo no quarto. Ela só o ignorou e sumiu de vista. Ele olhou para os outros dois com raiva. - Ótimo! Estão vendo só? Nem nessa vida eu tenho elas e olha que eu nem morri... ainda, não é? Espero que esteja feliz, ).
- Você não pode me culpar por tudo de ruim que aconteceu na sua vida, Damon, eu nem sequer disse alguma coisa agora e você se complicou sozinho - respondeu, com muita vontade de chorar, mas estava se contendo; doía ouvir tudo aquilo vindo do seu próprio irmão, a pessoa que ele mais admirava na vida. - Você perdeu a Lotte agora porque é egocêntrico e só pensa em você mesmo.
- Disse o cara que literalmente foi amaldiçoado porque só pensou nele mesmo quando traiu a esposa! Falei e repito: é tudo culpa somente sua e você vai resolver isso por conta própria! E se não resolver, o problema é todo seu, eu não me importo com nenhum de vocês dois.

Não levou mais do que meio segundo para que os dois estivessem atacando um ao outro. não tinha a menor condição de se colocar no meio deles, eram mais altos e mais fortes, provavelmente apanharia também. Ela berrou para que parassem, gritou pedindo ajuda, tentou puxar antes que eles caíssem no chão, o que aconteceu no segundo seguinte. Quando William e Thomas seguraram Damon enquanto Carter e Jesse seguraram , dava para notar hematomas nos rostos dos dois. Damon tentava se soltar, gritava o quanto odiava seu irmão, mas não podia contra dois homens fortes. não revidou, não se mexeu, estava arrasado por ouvir tudo aquilo.

- Para, Damon! - Louise se colocou na frente dele, chacoalhando o irmão pelos ombros, estava com lágrimas nos olhos. - Para! Olha o que você está dizendo pro nosso irmão, para com isso!
- Ele não é meu irmão. Eu quero ir embora, me soltem!
- A gente vai te soltar lá dentro quando você se acalmar - William disse, e eles levaram Damon para dentro à força. Apenas depois disso, Carter e Jesse soltaram , que não deu o menor sinal de que pretendia revidar indo atrás.

olhou para suas irmãs e, quase como se estivesse pedindo com o olhar, as meninas o abraçaram, e ele caiu no choro, fazendo com que elas chorassem também. chorou feito criança, soluçando e balançando os ombros, todo mundo que estava vendo a cena se compadeceu, até mesmo Lucinda, que estava distante o tempo todo, parecia um pouco sentida com o que viu. Jake abraçou de lado, que chorava em silêncio.

- Ei, vai ficar tudo bem, eles vão se entender. - Ele disse a primeira coisa que lhe passou pela cabeça para confortá-la.
- É tudo culpa minha, Jake - choramingou, e em seguida fungou.
- Isso não é verdade, ninguém pode te culpar por ter feito coisas por amor. Não sei o que Damon disse, mas não acredite nele.
- Por favor, volta pra sua casa, você e a Katie não precisam passar por isso - ela disse ao se afastar.
- Tá maluca? Não vamos abandonar você nunca. - Katie se aproximou deles. - Alguma vez eu já te deixei na mão, ?
- Vamos ajudar no que for preciso, além disso, tenho que ficar perto das pessoas que amo, não é? Trabalho e vida que se danem, eu vou ficar aqui - Jake disse, com certeza absoluta, e foi apoiado por Katie.
- Eu também.
- Obrigada - agradeceu com sinceridade, sabia que tinha os dois melhores amigos do mundo.
- Se vocês precisarem de alguma coisa, estamos lá dentro - Jesse disse chamando a atenção, então ele e John entraram.

Luce, sem dizer nenhuma palavra, entrou também. Carter não sabia nem o que dizer, estava se sentindo péssimo, mesmo que não fosse ele próprio que tivesse causado tudo aquilo, mas gostaria de consertar o que sua versão do passado fez.

- Espero que você possa me perdoar pelo que eu fiz - ele disse, se aproximando de . - Eu vou reparar isso, eu prometo.
- Carter, por quê? - perguntou para ele, mas não estava brigando, não estava com raiva dele.
- Eu não sei, eu não consigo sentir esse ódio todo que tive em outra vida... , eu jamais atentaria contra você ou contra qualquer pessoa, mas especialmente você, espero que você me perdoe por tudo o que eu causei. Eu vou estudar e dar um jeito nisso, vou desfazer essa maldição, vou aprender o mais rápido possível.

deu um abraço nele antes de voltar sua atenção para , que ainda estava abraçado com suas irmãs. Já não chorava como antes, Louise estava dizendo alguma coisa para ele que concordava com a cabeça. Ele olhou para e Carter, mas desviou o olhar rapidamente.

- Acho que ele nunca gostou de mim. - Carter se afastou dela para não gerar conflito. - E agora menos ainda.
- Não vamos pensar nisso, tá? Só vamos salvar as nossas vidas e o que vier depois... a gente aguenta.
Todos decidiram que seria melhor entrar. Louise e Diana soltaram apenas quando já estavam no quarto e disseram que iriam falar com Damon para ver se ele estava bem. Louise abriu a porta do quarto do irmão devagar, viu ele sentado na cama encarando a mão machucada, o que despertou sua curiosidade, pois não tinha notado antes.

- Dam, o que aconteceu? - Entrou preocupada, se aproximando do irmão. Diana veio atrás.
- O nervosinho aí socou a parede no corredor e machucou a mão. Thomas foi atrás de algum curativo para ele - William disse com mais irritação do que elas esperavam. - Bom, já que vocês estão aqui, eu já vou, antes que eu termine de machucar ele.
- Você quer levar uma na cara também, McQueen? - Damon disse em tom de ameaça.
- Ergue a voz pra minha irmã outra vez e você vai perder a sua outra mão! - William disse por fim, irritado, e saiu batendo a porta.
- Não sei o que você viu nesse moleque - Damon murmurou para Louise.
- Ele está defendendo a irmã dele, assim como você faria se alguém mexesse comigo ou com a Diana. - Louise se sentou ao lado dele, Diana permaneceu em pé. - Se eu ver você gritando com uma mulher outra vez, eu ajudo ele.
- Louise, não estou para brincadeiras.
- Não tô brincando, mas não é esse o ponto. Damon, você disse coisas horríveis para o , tem noção disso?
- E ele tem noção de tudo o que ele tirou de mim? Do que ele causou pra gente?
- Isso não é só sobre você, todo mundo perdeu alguma coisa, não seja egoísta - Diana aconselhou. - E você poderia ter descontado em qualquer outra pessoa, menos nele. não fez nada por maldade e nós participamos porque quisemos, ninguém nos obrigou.
- Eu não sabia o preço que eu pagaria... eu nem sei quem eu sou mais... ele tirou as coisas mais importantes de mim, nesta tal primeira vida, a Clara cresceu sem o pai dela! Vocês não são mães e não vão entender, mas eu sinto desespero só de pensar que ela sofreu, mesmo que em outra vida, eu não consigo parar de pensar nisso.

Antes que as meninas pudessem responder, Thomas voltou com um pote de água e um pano úmido. Pediu licença para elas e se ajoelhou na frente de Damon para estancar aquele sangramento.

- Damon, caso isso seja um comportamento frequente, eu sugiro que você busque ajuda, você não pode socar a parede sempre que estiver com raiva.
- Eu nunca tinha feito isso. - Damon grunhiu de dor quando ele apertou o pano contra a sua ferida aberta. - Pode culpar o ) também, põe tudo na conta dele.
- não precisa que mais ninguém diga nada para ele, você já foi cruel o suficiente.
- Cruel? Thomas, você não tá sentindo nem um pingo de arrependimento por ter participado disso? Porque se arrependimento matasse, eu teria morrido lá no salão.
- Não, não me arrependo. Eu faria qualquer coisa pela minha irmã, qualquer coisa mesmo, e vou fazer de tudo para salvar a vida dela agora. A propósito, se você gritar com ela ou ser grosseiro outra vez, eu não vou conversar numa boa como estou fazendo agora.
- Não precisa me ameaçar, Will já fez isso.
- Mas eu sei fazer parecer um acidente e só estou fazendo isso pela ética, mas você está totalmente errado.
- Que se dane a sua ética, não preciso de você! - Damon afastou a mão abruptamente. Thomas apenas respirou fundo enquanto se levantava.
- Damon! - Louise advertiu, dando um empurrãozinho nele. - Por que você está agindo assim? Para, ninguém está contra você!
- Você está ouvindo ele me ameaçar?
- Você não mataria qualquer um que mexesse com a gente? - Diana perguntou porque sabia a resposta dele.
- Ok, Damon, já que você não precisa de mim, peço apenas para que fique longe da minha família, ok? Você não é confiável e a gente não precisa de alguém assim num momento tão difícil.
- Só é difícil porque a sua irmã e o meu irmão não sabiam de uma coisa chamada adultério.
- Damon! - Agora foi a vez de Diana, que seguiu o namorado para fora do quarto quando Thomas virou as costas. - Tom, espera.
- Deve ser difícil para você conviver com alguém tão arrogante - Thomas disse enquanto caminhava em direção ao quarto em que estavam, mas parou no meio do corredor para ouvir o que ela tinha para dizer.
- Damon não é assim, ele só está com raiva, por favor, não leva a sério o que ele disse, não precisamos de mais nenhuma discussão. Não precisa ameaçar ele, eu sei que ele está errado, mas ele ainda é meu irmão e eu conheço ele melhor do que ninguém.
- É só ele não gritar com a minha irmã de novo, mas se formos entrar neste assunto de irmãos, todo mundo vai querer estar certo. Eu vou defender os meus e você vai defender os seus.
- Você tem razão, deixa isso para lá... - Diana hesitou antes de continuar. - Posso te pedir um favor?
- Qualquer coisa.
- A tensão entre você e o Jesse era tão nítida pra mim, a maneira como vocês trocaram farpas... por favor, deixa o passado no passado, está bem? Você não precisa esquentar com isso.
- Diana, o cara literalmente viveu esse tempo todo só por você, deixou bem claro que te amava, que ainda ama. Estou tentando relevar, mas é um pouco chato ele dizer isso em voz alta para todo mundo na minha frente - Thomas se explicou, pois agora que o problema maior não era seu desentendimento com Jesse, ele podia pensar com mais calma.
- Mas estou com você, não é? Tom, por mais que o Jesse tenha sido o meu primeiro amor... nessa vida, quero dizer... eu o amo como um amigo, não senti com ele as mesmas coisas que sinto com você. Jesse deve ser a pessoa mais especial da minha vida, mas uma coisa não tem relação com a outra, eu estou com você, vamos ter um filho... quero passar o resto da minha vida com você, se é que vamos ter essa chance.
- Não diz isso, é claro que vamos ter uma chance. - Thomas se aproximou e colocou suas mãos no rosto dela, Diana abraçou sua cintura. - Estou custando a acreditar em tudo isso, basicamente é ir contra tudo o que eu aprendi, mas se é real, então vamos encontrar uma solução. Acha que eu não faria o impossível por você e pelo nosso filho? Vou fazer tudo o que eu puder por vocês.
- Eu sei, vamos encontrar a solução. - Diana sorriu e esticou o pescoço para que sua testa tocasse a dele. Thomas lhe deu um beijo rápido, precisavam conversar e assimilar tudo aquilo sozinhos, talvez fosse mais fácil de entender, mas antes que pudessem ir para o quarto, Jesse surgiu no corredor, chamando por eles.

- Eu queria conversar em particular com vocês, acredito que entre nós três tenhamos muito mais coisas para contar.
Diana e Thomas se entreolharam e concordaram em conversar, então Jesse pediu para que fossem até a sala de estar no andar de baixo, nos fundos, onde tinha uma televisão grande e um sofá moderno e confortável.

- Deve ser um dos poucos cômodos da casa que eu deixei do meu jeito - ele riu enquanto o casal se sentava no sofá e ele na poltrona mais próxima. - Eu só... queria pedir desculpas ao Thomas pela forma como te tratei lá no salão, eu estava um pouco tenso, não é fácil ter que dar uma notícia dessas, não é? Ei, você reencarnou e está amaldiçoado. É um pouco grotesco, foi mal.
- Tudo bem, foi mal se eu pareci um babaca, eu sou agnóstico, não acredito nessas coisas, é um choque enorme - Thomas se explicou e Jesse assentiu.
- Deveria acreditar, você não precisa ter uma religião ou coisa do tipo, só um pouquinho mais de humildade para entender que algumas coisas são inexplicáveis... mas enfim, eu só queria contar a nossa história, de nós três, para vocês não me acharem um monstro.
- Eu não acho que seja. - Diana sorriu de canto, e ele se sentiu um pouco melhor.
- Te conheci em Montpellier no século 18 em uma França virada de cabeça para baixo. Nossas famílias eram rivais, mas você não ligou pra isso quando me conheceu, você sempre foi legal comigo. Thomas, tampe os ouvidos, por favor, mas Diana e eu nos apaixonamos muito rápido. Sua família foi totalmente contra a ideia por razões óbvias, eu era de uma família rival, então correram para te arrumar um casamento com algum aliado... Thomas, no caso. - Jesse riu por se lembrar. - Você odiou ele, Ana, com todas as suas forças, você o rejeitou até não poder mais.
- Por que mudei de ideia? - ela perguntou com curiosidade, não poderia se imaginar o odiando.
- Porque eu pedi pra você, porque John me contou a verdade. Eu sabia que nunca poderia me casar com você, que sempre seria ele, pedi para que você desse uma chance para ele, me afastei e me dediquei ao clero para que você esquecesse de mim. Deu certo, vocês se apaixonaram, quando te reencontrei algum tempo depois, você estava feliz com ele. Disse que me amava, mas...
- Não da mesma forma - Diana completou o que ele disse, estranhamente podia se lembrar das suas palavras.
- Exatamente, entendi que eu nunca teria a menor chance, mas não achava justo você sofrer por uma coisa que não foi você que fez, então desde aquela época eu tenho procurado maneiras de fazer não só você, mas todos, conseguirem romper essa maldição. Admito que não tive muito progresso, é uma magia muito antiga e complexa, eu não nasci com magia para poder simplesmente reverter. O único que pode fazer isso é o Carter, mas ele claramente nunca nem ouviu falar sobre isso. De qualquer forma, estou muito surpreso porque ele não parece ser nada perigoso.
- Porque ele não é. - Thomas saiu em defesa do seu amigo. - Conheço o Carter desde que eu tinha uns 8 anos de idade, ele é um dos caras mais legais que eu conheço, minha mãe praticamente adotou ele quando namorou com o pai dele. Carter é confiável, mas aquela Luce... nossa, até senti um arrepio ruim!
- A Lucinda sempre foi um mistério pra mim, eu não faço ideia do que ela esconde - Jesse admitiu.
- Louise nunca gostou dela e eu sempre achei ela meio... meio esquisita, mas quem sou eu pra falar que alguém é esquisita, não é? - Diana nunca foi fã de acusações sem fundamento.
- Você não é esquisita - Thomas e Jesse disseram juntos.
- Certo... bom, voltando ao assunto principal, eu queria saber um pouco mais sobre a vida aqui. Gostei desse lugar, é tudo tão calmo e bonito - Diana olhou pela janela o vasto campo verde que se perdia na noite.
- Você adorava viver no campo e a vida passada deve ter sido a que mais gostei... - Jesse sorriu com nostalgia. - Eu não precisava trabalhar, mas eu gostava, então eu era um joalheiro conhecido por aqui, você, sua irmã e todas as meninas eram minhas clientes preferidas, eu fazia minhas melhores jóias especialmente para vocês.
- Te conheci assim?
- Exatamente assim, eu fazia as jóias da sua mãe também, você tinha uns 13 anos, eu acho... mas calma, eu esperei você crescer um pouco - Jesse disse rindo, fazendo Diana rir também, aliviada. - Nos tornamos ótimos amigos, não aconteceu nada entre a gente porque eu já sabia o que ia acontecer. Te dei as joias que você usou no baile de debutante onde você conheceu o Thomas.
- Eu fui a um baile de debutante? - Diana perguntou surpresa, pois por mais que achasse a etiqueta da época muito rígida, achava interessante o conceito dos bailes.
- Sim, você foi. Digo com facilidade que você e Louise eram as damas mais bonitas do baile e todos os cavalheiros queriam dançar com vocês. Notei que alguém ficou muito, muito interessado, querendo te chamar para dançar, mas você estava sendo cobiçada demais... por mim, que lhe dei sua primeira dança, mas advinha quem era - Jesse olhou para Thomas que riu. - Cara, você e o seu irmão eram o sonho de qualquer mãe dessa cidade.
- Pelo menos eu consegui dançar com ela?
- Sim, na segunda e na última dança vocês dançaram juntos, e eu acho que se você pudesse, teria saído dali direto pra igreja com ela.
- E meus pais, Jesse, eram os mesmos? - Diana perguntou com interesse, até podia imaginar Eloise quebrando os padrões da época.
- Não, não, felizmente você deu sorte de ser filha da Elo e do Harry, a sua mãe era uma velha muito chata. - Jesse riu ao se lembrar da mulher que ele detestava na época, mas que agora até sentia saudades. - Mas ela casou bem os filhos, isso não tem como negar. A família do Thomas também amou a ideia do casamento, adoraram você... em alguns meses estavam casados e um tempo depois, Louise e William se casaram também, parecia até que todos vocês já estavam esperando uns pelos outros... vi todas as histórias de amor de vocês, se eu contar, pensarão que é coisa de livro.

Jesse contou muitos detalhes que ele sabia sobre o relacionamento de Diana e Thomas e os dois prestavam muita atenção, estavam adorando saber de tudo aquilo, saber que tinham uma história tão antiga quanto podiam imaginar. Pararam apenas quando perceberam que já estava tarde e Diana alegou que ainda gostaria de falar a sós com Damon antes de dormir, por isso, pediu licença aos rapazes e subiu para o andar de cima. Procurou pela porta de Damon e bateu sutilmente, avisando que estava ali. Entrou apenas quando ele lhe deu permissão.

- Achei que você estivesse dormindo.
- Eu... estou pensando sobre tudo isso - Damon, que estava deitado, se sentou na cama. - Tentando pensar com calma.
- Dam, eu nunca vi você agir assim. - Diana se aproximou da cama e se sentou na beira, olhando para ele. - Fiquei assustada.
- Eu não sei o que aconteceu comigo, eu só conseguia sentir raiva... ainda estou com muita raiva, mas não acredito que fiz aquilo.
- é a última pessoa do mundo com quem você deveria brigar. Por que você fez aquilo?
- Eu não sei... nós dois partimos para a agressão ao mesmo tempo, eu não comecei, mas também não parei. Eu só queria machucar ele, fiquei cego.
- Dam, eu não consigo parar de pensar no que vi, nunca tinha visto você e o brigando de verdade, não a esse ponto... por favor, vai falar com ele.
- Eu não quero nunca mais ver ele, Ana, ele... olha o que ele fez! - Damon disse com raiva, se abraçando aos seus joelhos. - Eu era alguém importante, tinha a Lotte, a Clara... eu era outra pessoa, literalmente. - Ele apontou para o próprio rosto. - Eu não sei nem quem eu sou, pois quando me vejo no espelho, agora vejo ele e não eu. Clara cresceu sem mim na primeira vida, eu estou condenado a nunca ver a minha filha crescer, isso se ela também tem essa chance... é muito egoísmo de alguém abrir mão de tudo só por amor. Amor não sustenta nada, se fosse assim, Charlotte e eu estaríamos juntos até hoje.
- Charlotte não quis continuar com você porque você foi infantil, imaturo e irresponsável, se me permite te lembrar - Diana disse em tom de bronca, fazendo Damon encolher os ombros. - Você não pode julgar uma coisa que aconteceu há mais de 300 anos, a gente não sabe como as coisas funcionavam naquela época. Dam... você precisa perdoar o .
- Não consigo e não quero, ele tirou tudo de mim.
- É verdade que nunca vivemos tanto, mas você ganhou três irmãos que te amam, Clara e Lotte ainda estão aqui, você vai ter um sobrinho como sempre quis... Damon, não seja tão rígido, jamais te trataria da forma que você o tratou.
- Isso é porque ele é bonzinho demais.
- Não, é porque ele ama você, não te considera só como irmão, mas como o melhor amigo dele, como sempre foram, pelo visto. Se ele te dissesse tudo aquilo, como você se sentiria?
- Diana, por favor...
- Eu nunca tinha visto chorar da maneira que ele chorou quando você entrou, chorou feito criança... você sabe que ele nunca chora na nossa frente, mas ele simplesmente desabou pra quem quisesse ver... ele não merece o seu ódio, Damon, e nem o de ninguém.
- Mesmo que quisesse perdoar, eu não consigo... - Damon disse entredentes, respirou fundo quando sentiu seus olhos se encherem de lágrimas e sua voz falhar. - Eu tô com tanta raiva dele e da , não consigo encontrar outros culpados que não sejam eles... eu não quero morrer, não quero que a minha filha cresça sem os pais dela, não quero que você, Louise e Charlotte também morram, não quero que os nossos pais sofram por perder todos nós, eu só quero resolver isso, mesmo que não seja culpa minha.
- Você pode começar tentando perdoar eles, eu realmente não diria uma palavra que fosse para a . William e Thomas matam e morrem por ela... aliás, os dois também tem todos os motivos do mundo para odiarem ela, mas não odeiam. Louise e eu poderíamos odiar o também, mas não odiamos.
- Diana, você não entende, você não é mãe.
- Como não? - Diana levou a mão à barriga e Damon percebeu que falou algo inapropriado. - Sou mãe desde o momento em que soube que estava grávida, não é porque ainda não vi meu filho, que não cuido dele. Dam, eu só consigo pensar que quero o meu bebê saudável, quero viver para conhecer ele também. Não quero que meu filho cresça em uma família dividida.
- Estou péssimo por saber que ele chorou, mas não consigo... por favor, não me pede pra perdoar ele, agora eu não consigo. - Lágrimas escorriam pelo rosto dele. Damon também não era de chorar, ele nunca chorava, mas estava falhando. - Entenda o meu lado também, por favor.
- É claro que eu entendo o seu lado, Dam, mas também entendo o do . Vocês são meus irmãos e eu amo vocês, nunca vou ficar contra nenhum dos dois. Vê se descansa, tá? Talvez amanhã todo mundo esteja melhor e a gente vai pra casa.
- Fomos trazidos aqui só pra dizer que nossa vida pode acabar, piores férias da minha vida, perdi dois dias de trabalho pra isso. - Damon riu sem humor. - Ainda é difícil de acreditar que essas coisas realmente existem... reencarnação, magia... queria saber um pouco mais sobre quem eu era.
- Jesse tem uma resposta pra tudo, deveria falar com ele, ele me contou como conheci o Thomas em outras vidas - Diana sorriu por se lembrar daquilo, despertando a curiosidade de Damon. - Dá pra acreditar que eu e Louise já estivemos em um baile de debutantes?
- Louise? Com certeza, ela é uma exibida e adora chamar a atenção por aí, mas sobre você é uma novidade pra mim.
- Jesse disse que todos os rapazes queriam dançar comigo... eu meio que consigo lembrar disso agora... ele disse que em alguns meses já estávamos juntos, casados.
- Eu adoraria estar lá para ficar olhando torto pra esse monte de homem te chamando pra dançar.
- Ainda bem que você não foi - Diana riu também. - Bom, vou dormir agora, tá? Vê se descansa também, amanhã começa a luta pelas nossas vidas.
- Tem razão, boa noite, obrigado por vir falar comigo. - Damon abriu os braços para abraçá-la, foi um abraço um tanto desengonçado pela posição que estavam. - Até amanhã.

...

No banheiro do quarto em que estavam hospedados, cuidava de nos limites do que sabia sobre primeiros socorros. Ele estava sentado no vaso enquanto ela limpava seu rosto e higienizava as feridas dele, o que gerava murmúrios da parte de , mas estas eram as únicas vezes que se ouvia alguma coisa naquele banheiro. tinha muito o que dizer, porém não parecia querer conversar, então ela respeitou e se limitou a limpar o rosto dele em silêncio.

já estava com os olhos fechados havia um tempo, isso porque simplesmente não tinha coragem de abri-los, sabia que estava chorando em silêncio. Ele odiava quando ela fazia aquilo, pois era péssima em disfarçar. Apesar de não querer vê-la chorar, ele sabia que precisava dizer qualquer coisa que fosse para que ela se sentisse melhor, então criou coragem para abrir os olhos e erguer o olhar para ela.

- Por que você tá chorando? - ele perguntou pacientemente.
- Tenho motivos para chorar. - secou as lágrimas no braço rapidamente e voltou a pressionar o pano molhado contra a ferida na bochecha dele.
- ...
- Você tem noção do quanto eu fiquei desesperada quando você e Damon começaram a brigar? Eu não podia fazer nada, , eu não podia te defender! Onde você estava com a cabeça em cair na provocação dele?
- Fiquei cego - disse amargurado. - Me desculpe.
- Não - ela se afastou para olhá-lo. - Você não tem que pedir desculpas para mim e nem pra ninguém.
- Tenho sim, fiz uma coisa horrível. Eu nos amaldiçoei.
- Para, eu não quero ouvir - o interrompeu. - Nunca mais repita isso.
- Mas é verdade.
- Não, não é. - Os olhos dela tornaram a marejar. - A gente vai voltar pra casa, tentar resolver essa merda toda e seguir a vida, está bem? Eu não quero que você se culpe e eu não quero que ninguém, absolutamente ninguém, te culpe também. Eu sei que você é uma pessoa boa e tem um coração enorme, mas nem pense em ir atrás do Damon, ele não merece qualquer resquício de bondade que você possa ter.
- Não pretendo ir atrás dele. - sentiu lágrimas se formarem em seus olhos também. Odiava chorar na frente de qualquer pessoa, preferia guardar para si, mas simplesmente não conseguiu se conter. - Tô com a cara estourada por causa dele. Sabe quando foi a última vez que brigamos fisicamente? Nunca, isso nunca tinha acontecido e olha que eu já quis socar a cara dele várias vezes. - Ele soltou um longo suspiro. - Só quero ir pra casa, preciso ficar sozinho agora.

Ele fechou os olhos ao respirar fundo, então se aproximou dele e se curvou até poder beijar o topo de sua cabeça. retribuiu ao trazê-la para perto e a abraçou pelo quadril, pressionando seu rosto onde não estava machucado contra a barriga dela. sempre foi do tipo cuidador, sempre sentiu que precisava tornar as coisas mais fáceis para os seus pais, sempre quis garantir que Louise não se sentisse excluída na infância e sempre livrava Damon de confusões na escola, era o irmão e filho mais velho perfeito, mas só daquela vez se permitiria ser cuidado. Estava cansado, dolorido e se sentindo muito culpado, não tinha forças para sair daquela situação sozinho como sempre fez.

- Você disse que queria ser o meu lugar seguro - ele disse após alguns segundos em silêncio, mas não se mexeu. - Preciso que seja agora.

o apertou ainda mais contra si, ao mesmo tempo que espremeu os olhos com força, pois sentiu mais lágrimas chegando. Ela sentia que poderia explodir de chorar ali mesmo, fosse por estar triste, com pena dele ou porque seu amor triplicou de tamanho nos últimos trinta minutos. Não entendia o motivo de aquilo estar acontecendo com eles, mas enfrentaria o que fosse preciso para que nunca mais precisasse ver daquela maneira.

- Por favor, não me solta agora - ele pediu quando sentiu ela afrouxar os braços ao redor do seu pescoço.
- Não, meu amor, é claro que não. - se curvou ainda mais, mesmo que estivesse desconfortável, só para que ele ficasse bem. - Não vou deixar você nunca.



Capítulo 27 - Death by a Thousand Cuts

Nunca tudo pareceu tão claro para Lucinda. Sempre se considerou louca por vez ou outra sonhar com magia, castelos e fogo, mas agora tudo fazia sentido. Se Carter era um descendente, ela também poderia ser, pensou assim. Era a única explicação possível para todos os acontecimentos de sua vida ultimamente, o motivo de ela ter pensamentos ruins de vez em quando.

Era ruim estar ali, pois com exceção de Charlotte, ela estava isolada, ninguém falava com ela e isso era deprimente. Luce tinha a impressão de que olhavam torto para ela, a evitavam e isso a deixava irritada. Estava ali unicamente porque Charlotte insistiu, disse que Damon havia pedido. Teve que deixar sua casa e perder alguns dias de trabalho e ir para outro país descobrir que seu destino já estava traçado e que ela sempre seria preterida por . Não que ela ainda tivesse algum sentimento a mais por ele, mas não deixava de sentir repulsa por saber que aquele era um ciclo quase inquebrável e ela sempre seria traída, trocada ou deixada de lado. Dia após dia, Luce sentia uma raiva incomum crescendo dentro de si, não achava justo que aquilo acontecesse sempre com ela, gostaria que fosse diferente. Se sentia tão desprezada quanto suas versões do passado, por isso estava terminando de guardar as coisas na mala, queria ir embora o mais rápido possível.

Estava saindo do quarto com sua mala, desceu dois lances de escada até o segundo andar e parou para respirar fundo antes de descer mais alguns degraus. Foi no mesmo momento em que Drew estava saindo de um quarto. Ele pareceu um tanto constrangido por ver Luce, desviou o olhar e Luce percebeu que ele estava com um olho roxo, uma bochecha inchada e o canto do lábio machucado.

- Oi, Luce, você já está indo embora? - ele perguntou ao reparar a mala, não queria parecer que estava evitando ela, embora estivesse.
- Já, eu... não sou bem-vinda aqui, vou até Edimburgo e de lá para Londres, preciso voltar pra casa e pro meu trabalho - ela se justificou e ele assentiu.
- Jesse disse que mandaria todo mundo de volta.
- Se eu tiver que ficar mais um dia aqui com todo mundo me evitando, vou surtar, só quero voltar logo e esquecer essa merda toda.
- Sinto muito, Luce - disse com sinceridade. - Sinto muito pelo que eu te causei.
- Parece que eu realmente nunca vou ter a menor chance contra ela - Lucinda riu sem humor.
- Não diz isso... eu não conhecia a quando você terminou comigo, as coisas foram diferentes dessa vez.
- , a quem queremos enganar? O ponto é que eu sempre fui e sempre serei passada para trás por vocês, acha que eu não estou magoada? Dói saber disso, odeio ver que a Clara gosta tanto dela quanto de mim, até minha própria afilhada!
- Mas você é a madrinha da Clara e não ela. Ninguém pode mudar isso, Clara nunca vai deixar de amar você. E quanto a mim, eu queria muito poder mudar o passado, sei que você não mereceu, eu não queria nada disso, espero que você saiba que eu vou fazer o que puder pra você ser livre e que, pelo menos nessa vida, eu realmente amei você.
- Eu também amei você - Luce esboçou um pequeno sorriso, se sentiu um pouco mais confortável por ouvir aquilo, mas também notou que atrás de , havia acabado de abrir a porta do quarto para sair. - Será que eu posso te dar um abraço?

queria dizer não, mas não sabia como, ele mal podia se lembrar de quando foi a última vez em que disse não para alguém. Era só um abraço, que mal tinha? Meio sem jeito, deu um abraço rápido nela e disse um breve adeus, então Luce virou as costas e foi embora. já tinha se esquecido o que pretendia fazer fora do quarto, por isso decidiu voltar, mas encontrou olhando para ele.

- Se atrapalhei alguma coisa, é só dizer - ela cruzou os braços e se encostou no batente da porta.
- Claro que não, Luce estava indo embora - tentou se justificar. - Acho que ela também merecia um pedido de desculpas.
- É, eu sei, deu pra ouvir de dentro do quarto.
- Estava ouvindo minha conversa com ela? - arqueou as sobrancelhas. - Quem está sendo infantil agora?
- Eu realmente não tenho nenhuma culpa de você sempre estar com ela antes de mim, na verdade me sinto mal por ela sempre ter que passar pela mesma coisa, mas não senti que ela estava sendo totalmente sincera com você.
- ...
- Não é implicância minha, eu sei o que eu vi, você pode ter tido boas intenções, mas ela não. Luce literalmente me viu saindo do quarto e te pediu um abraço. Por que você concordou?
- Eu não sabia como dizer não - ele disse envergonhado, não queria que ela tivesse visto aquilo. - Me desculpa por isso.
- Então é oficial: ela não gosta de mim e agora eu também não gosto dela. Espero que ela tenha ido embora mesmo e você aprenda a dizer não - pretendia passar por ele para sair, mas segurou seu braço sutilmente.
- Não quero brigar com você também, não quero brigar com mais ninguém. Você tem razão, eu poderia ter dito não, me desculpa.

Por mais que estivesse chateada, não conseguiu resistir. estava sendo sincero, além de estar emocionalmente frágil. Ela pensou que ele já estava com problemas demais e não precisava ser mais um.

- Eu prometi ser o seu lugar seguro também, acho que é a hora de ser - ela se aproximou um pouco, mas ele estava machucado o suficiente para ela não tocar o seu rosto. - Vamos pra casa tentar ter uma vida normal? Sei que vamos conseguir reverter essa situação.
- É tudo o que eu quero. Vou fazer as malas e procurar passagens - esboçou um sorriso entristecido, então concordaram em voltar para o quarto.

...

Por mais que Jesse tivesse insistido que levaria todos de volta para suas respectivas casas, ninguém de fato aceitou. No dia seguinte, já estavam todos indo embora e o clima era péssimo. Pela manhã, Louise e William, junto com Charlotte, Clara e também Carter, foram rumo a Edimburgo, pois voltar de trem era o melhor jeito. Damon, Diana e Thomas partiram por volta do meio-dia, embora o rapaz preferisse ficar sozinho em um assento afastado da irmã. Já , , Jake e Katie foram os últimos a pegar o trem, chegariam em Londres apenas durante a madrugada.

- Fomos irmãs em outra vida, da pra acreditar? - Katie comentou quando já estavam no segundo trem rumo a Londres, estava chovendo e ela observava pela janela.
- Você ainda é minha irmã, Katie - , deitada no ombro de , esboçou um sorriso de canto. - Só não é mais de sangue, agora você tem o Jake.
- Jesse disse que esta é minha primeira vida... então vou ter outras? - Jake perguntou um tanto curioso. - É como se eu tivesse apenas caído de paraquedas no meio disso tudo. Aquele cara, o John, eu não sei muito bem o que pensar dele.
- Senti confiança no momento em que ele entrou. Me vi chorando do lado de fora de uma igreja e ele vinha até mim me consolar, o reconheci na hora - se explicou, pois de fato sentiu uma enorme confiança nele.
- Também reconheci ele, foi como se... não sei, tudo tivesse ficado muito claro pra mim, como se minha mente tivesse sido aberta - Katie tentou se explicar e concordou. - Você também sentiu isso, ?

Ele respondeu com um aceno de cabeça, não queria conversar, estava ocupado com os próprios pensamentos, por isso fingiu que estava dormindo até que eles parassem de conversar e dormissem de verdade, só então abriu os olhos. Ainda chovia, não dava para ver nada do lado de fora, mas era um momento perfeito para pensar. estava consumido pela culpa, não conseguia olhar para ninguém sem se sentir um peso, observou os primos nos assentos da frente, virados para ele e se sentiu mal. Jake e Katie não mereciam aquilo, quase não tiveram participação em nada, mereciam uma vida normal. Olhou para e se sentiu pior ainda.

Ela sempre morreria por causa dele, simplesmente porque se apaixonava. só conseguia pensar que todo mundo estaria melhor se ele não existisse, pensou que pudesse ter uma chance se eles jamais tivessem se conhecido. Se sempre morriam quando estavam juntos, pensou que o melhor fosse desaparecer, assim e todos os outros estariam a salvo, mas só de pensar em deixá-la, sentia o peito doer. Amava aquela mulher como jamais amou alguém antes, queria que fosse diferente, mas não conseguia ver outra solução. Precisava deixar ir e ter uma vida longa e feliz, mesmo que não fosse com ele, outro homem poderia fazer aquela função, imaginou que Jake e Carter fossem ótimos candidatos, embora soubesse que Jake a enxergava apenas como uma irmã menor. Não importava, se não fosse ele, poderia ser outra pessoa, o importante era que aquela maldição acabasse e todos ficassem bem.

havia tomado uma decisão, e, por mais que fosse dolorosa, colocaria em prática o mais rápido possível.

...

Como previsto, chegaram em Londres por volta das duas horas da madrugada. Jake e Katie pegaram um táxi de volta para casa enquanto e esperaram pelo próximo. Estava muito frio e ela o abraçou para se esquentar, então retribuiu a abraçando apertado, talvez fosse a última vez que fizesse aquilo e se sentiu acolhida, pois amava estar ali. Ergueu o rosto para olhá-lo e esticou o pescoço para beijar o rosto dele onde não estava machucado, beijou-lhe no canto da boca. fechou os olhos e virou o rosto para que pudesse beijá-la também.

- Você está tão quieto desde que saímos de lá - ela comentou após o beijo, encostando seu rosto no dele enquanto olhava para a rua.
- Tô cansado e com muita dor - mentiu. Embora estivesse com sono, seus pensamentos não lhe deixavam dormir. - Só quero ir pra casa logo.
- Já estamos chegando - sorriu para fazê-lo se sentir melhor. Tocou seu rosto onde não tinha marca alguma. - Mesmo que a gente não consiga acabar com essa maldição...
- Não diz isso, vamos conseguir.
- Mesmo que não consiga... eu fico feliz de saber que eu sempre vou voltar pra você, mesmo que não seja por muito tempo.
- ... - observou as lágrimas se formando nos olhos dela, mas estava sorrindo.
- Eu tenho quase vinte e seis anos, mas nunca me senti tão viva quanto nos últimos sete meses! Se nas próximas vidas eu estiver condenada, não me importo mais, o tempo que eu estiver com você vai fazer valer a pena.
- Não posso permitir que isso aconteça, - engoliu a seco, não queria chorar de novo, especialmente na frente dela. - Não é uma vida feliz, se quer é saudável pensar assim.
- Eu vou fazer tudo o que eu puder, , eu garanto. Carter também está disposto a ajudar a desfazer essa maldição, não vai ser tão difícil assim. Vai dar tudo certo, eu sei que vai!
- Eu espero que sim - respirou fundo e a soltou quando o táxi chegou. Ao invés de irem para a casa dele, ele pediu para que fossem para a dela. não entendeu o motivo, mas aceitou, então assim o fizeram.

Foram o caminho todo em silêncio, ela morava a apenas 15 minutos de King's Cross, então logo já estavam subindo os três lances de escadas até o apartamento dela.

- Nada como o lar! - respirou fundo e rodopiou enquanto ele fechava a porta. - Quero dizer, só por enquanto. Tenho que ir até a imobiliária resolver a questão do contrato e então finalmente seremos só nós dois. Nunca me imaginei morando em Paddington, mas aqui vou eu!

simplesmente não conseguiu responder, não podia alimentar as esperanças dela se pretendia ir embora no dia seguinte. Duas semanas antes estava fazendo planos para o futuro com ela e agora tudo estava diferente, ele estava diferente. Ele tinha certeza de que passou a amá-la ainda mais nas últimas duas semanas e por isso doía tanto ter que ir.

, percebendo o silêncio dele e que parecia hesitante, se aproximou e envolveu seus braços ao redor do pescoço dele, que manteve os próprios braços rente ao corpo, não retribuindo o gesto.

- Eu tô odiando te ver tão mal assim - ela o tocou onde não estava machucado, acariciando a bochecha dele. O hematoma na bochecha esquerda estava ganhando um tom arroxeado horrível que ela não gostava nem um pouco. - E odeio te ver machucado, tá doendo muito?
- Um pouco - admitiu, pois latejava quando ele fazia um movimento brusco.
- Ainda não acredito que Damon fez isso com você - ela espremeu os olhos e encostou sua testa na dele, contendo a vontade de chorar.
- Deixa pra lá, , não imp... - ele foi interrompido quando ela beijou seus lábios suavemente.

E por tudo que havia de mais sagrado no mundo, queria retribuir. Queria envolvê-la em seus braços e lhe dar o melhor beijo da vida, pois ela claramente estava se esforçando para lhe oferecer algum conforto. Percebendo que estava fazendo aquilo sozinha, se afastou um pouco, e pôde ver nos olhos dela que aquilo a magoou, embora ela tivesse esboçado um sorriso.

Ele preferia morrer logo do que magoá-la daquela forma, agindo feito um babaca.

- Vamos dormir? - ela se afastou completamente e pegou no puxador da sua mala.
- Acho que vou pra casa agora - fez menção de se virar, mas ela segurou seu braço.
- , o que é isso? São quase três horas da manhã, pretende ir andando?
- , eu...
- Você vai ficar - ela disse em tom de ordem, quase como se fosse mãe dele. - Não estou aberta a discussão. Agora você vai para o quarto, vai trocar de roupa e nós vamos dormir, está bem?

Se fosse qualquer outra pessoa usando aquele tom de voz com , ele teria contrariado, mas sabia que estava apenas preocupada e disposta a aliviar as coisas para ele. Por mais que ficar mais uma noite dificultasse sua partida de manhã, ele sabia que era melhor do que andar na rua de madrugada com uma mala pesada.

Então ele assentiu, foram para o quarto dela em silêncio e assim permaneceram quando já estavam deitados e todas as luzes estavam apagadas. Ele sequer respondeu ao boa noite dela e ficou o mais afastado possível, mais um pouco e cairia da cama.

sentiu a distância como um balde de água fria sendo despejado bem em cima dela. Não entendia o que havia feito de errado para que ele agisse daquela forma com ela, pois ele nunca foi frio e distante. Aquela seria a hora em que ficariam abraçados até adormecer, mas ela se sentiu como uma estranha para ele, como se seus destinos não estivessem interligados para sempre, como se ... ela não conseguia nem cogitar a hipótese, parecia demais pensar que talvez ele estivesse cansado dela e por isso queria ir embora no meio da noite.

E aquilo doeu, doeu como nunca, doeu como se ele realmente tivesse se cansado dela.

Quando se deu conta, chorava baixo. Tentou ser o mais silenciosa possível para o caso de ele ainda estar acordado, porque não queria estar chorando e muito menos que ele ouvisse.

Mas ouviu, e aquilo o matou por dentro. Iria embora ao amanhecer, mas naquelas próximas horas ainda eram parceiros e ele se viu incapaz de deixá-la chorando por culpa dele. Ele se virou de repente e a trouxe para perto como sempre fazia na hora de dormir.

- Me desculpa - murmurou contra os cabelos dela. Ela soluçou alto.
- Tá tudo bem - engoliu a seco enquanto procurava se acalmar. Aquele abraço a fez sentir ainda mais vontade de chorar. - Você tá chateado, eu entendo. Tá tudo bem, é sério, eu só queria saber se fiz alguma coisa errada.
- Não, é claro que não! - a apertou contra si como se nunca mais fosse soltar. - Por Deus, , não! Você é a única coisa certa.
- Então por que você está agindo estranho? - se virou para ele, mesmo que não pudesse vê-lo no escuro. - Por favor, não me afasta assim, isso acaba comigo.
- Não vou - ele beijou sua testa. - Não vou mais.

...

Thomas e Diana chegaram em Oxford à noite e foram para o apartamento dele, pois no dia seguinte voltariam às suas vidas normais, ou pelo menos tentariam. Thomas estava cansado, mas Diana parecia estar em dobro, pois já estava quase dormindo enquanto ele ainda estava se preparando para se deitar.

- Você não falou muito o dia todo - Diana comentou enquanto Thomas se deitava ao lado dela.
- Eu não tenho muito o que falar, só pensar - Thomas acendeu a luz do abajur ao seu lado.
- Sei que está sendo um choque ainda maior pra você.
- É muito difícil ir contra tudo o que eu sempre acreditei. Misticismo, espiritualidade, religião... nada disso faz sentido pra mim. Como pode fazer pra você?
- Me peguei rezando algumas vezes no hospital quando eu era criança, porque quando eu estava perto de morrer, eu pensava que iria para um lugar bom, ou me agarrava na fé de que algo sobrenatural poderia fazer tudo mudar - Diana disse com naturalidade, virando o rosto para ele. - Eu não faço ideia do que está passando pela sua cabeça, mas se aceita um conselho, comece a prestar mais atenção no mundo para além do que você conhece, tem muitas coisas que podemos aprender ainda. E está tudo bem se for demais para você, mas pelo menos você tentou.
- Acho que nunca vou parar de aprender, não é? - Thomas sorriu de canto, um tanto sem humor. - Só quero que minha irmã fique bem, não posso imaginar como ela está se sentindo. E pensar que podemos simplesmente morrer cedo por causa de uma "maldição"... - ele fez aspas com os dedos, gesticulando. - Conheço Carter a vida toda, ele jamais faria mal pra alguém.
- Tom, a gente já entendeu que não é bem assim que funciona. Carter pode ser uma boa pessoa agora, mas foi ele quem causou isso no passado. Acha que não estou preocupada com o ? Não consigo parar de pensar nele por um minuto, ele não para de se culpar, além de ter acatado tudo o que Damon falou... não sei como lidar com isso, eles nunca haviam brigado dessa maneira.
- Eu nunca brigaria com o meu irmão assim, por mais irritante que Will seja às vezes, ainda é meu irmão... temos que ter força por eles, mais do que nunca. Alguém vai ter que aguentar isso sem desabar, prefiro que seja a gente.
- Jess jamais deixaria alguma coisa acontecer, ele está tentando reverter isso há muito tempo e eu acredito que ele pode conseguir. Quero ajudar como puder, mas confio nele com a minha vida.
- Você tem noção que namorou com um cara de uns 250 anos de idade? Isso é muito estranho - Thomas tentou descontrair e Diana gargalhou alto.
- E eu só tinha 18 - ela disse ainda rindo do comentário dele. - É, posso colocar na lista de coisas incríveis que eu já fiz, namorar com a pessoa mais antiga do mundo... eu sempre soube que Jesse era diferente, me entendia melhor do que ninguém, sempre soube exatamente o que dizer, mas agora tudo faz mais sentido... ele me protegeu esse tempo todo. Acho que nunca vou conseguir agradecer o suficiente.
- Acho que ele ficaria feliz em ser padrinho do nosso filho - Thomas sugeriu e viu os olhos de Diana brilharem.
- Você faria isso?
- Aparentemente nunca fui fã dele, mas... o cara literalmente está salvando a nossa vida, não é? É o mínimo que podemos fazer, acredito que ele também cuidaria muito bem do nosso filho na nossa ausência. Podemos falar com ele - Thomas sugeriu animado, sem ter a mínima ideia de que o que estava dizendo foi verdade no passado.

Diana adorou a ideia e passaram um bom tempo conversando sobre a possibilidade. Sempre sentiu uma leve tensão entre Thomas e Jesse que agora fazia todo o sentido, mas ela estava feliz por ver que nenhum dos dois estava realmente interessado em levar aquilo adiante. Ter Jesse como padrinho do seu filho era muito animador.

...

Damon acordou na manhã seguinte sentindo como se tivesse lutado em um ringue durante a noite toda, estava exausto fisicamente, fora o cansaço mental. A viagem foi longa e ele estava estressado, mal queria se levantar da cama, mas precisava o fazer para ver se Clara e Charlotte estavam bem. Charlotte não estava falando com ele, mas acabou por aceitar a estadia, pois não tinha para onde ir. Damon queria resolver aquela situação antes que ela fosse embora.

Se levantou da cama com dificuldade, vestiu uma camiseta e saiu do quarto um tanto sonolento. Conferiu se Clara ainda estava dormindo em seu quarto e só depois rumou em direção à sala onde encontrou a mala de Charlotte pronta, mas para sua surpresa também tinha uma mala de Clara junto com aquela.

- Lotte, o que é isso? - ele perguntou para ela, que estava colocando algumas louças na lavadora.
- Minha mala e a da Clara - Charlotte se virou para ele.
- Pra onde você vai levar a Clara?
- Clara vai comigo para a casa dos meus pais, eu consegui comprar as passagens.
- Você não vai simplesmente levar ela embora! - ele não podia acreditar no que estava ouvindo. - Você não tem a menor condição de cuidar de uma criança, Damon, não sei onde eu estava com a cabeça quando achei que seria melhor ela ficar aqui com você. Não posso estar do outro lado do mundo longe da minha filha, vamos pra casa dos meus pais e ficar longe disso tudo.
- Você não pode tirar a Clara de mim assim, não sou qualquer pessoa, sou o pai dela!
- Damon - ela respirou fundo antes de continuar. - Até aqui a gente conseguiu conciliar muito bem a educação dela, mas depois de tudo o que aconteceu, acredito que seja melhor a gente resolver isso de outra forma. Você é instável e imprevisível e eu não quero que a Clara fique com você.
- Está achando que eu não sei me controlar só pelo que aconteceu? Lotte, o fato de e eu termos brigado não interfere em nada sobre como eu crio a Clara por aqui! Não estou dizendo que estou orgulhoso do que fiz, mas...
- Se eu fosse o , jamais perdoaria o que você fez. Damon, você atacou o seu próprio irmão, isso não se faz! - ela disparou as palavras com irritação. - Ninguém está feliz, mas de todas as pessoas do mundo, você é a última que deveria ter dito alguma coisa pra ele. As vezes que errou, foi tentando acertar e você sabe disso. Gritar com as pessoas não resolve os problemas, mas você parece não conhecer outra linguagem e é por isso que eu estou levando a Clara embora comigo. Cometi um erro enorme e vou consertar.
- Vai desistir do que você sempre quis? Vai desistir do Japão? - Damon perguntou, transbordando decepção na voz, não podia acreditar que estava ouvindo aquilo.
- Não estou desistindo, estou dando prioridade para o que realmente importa: minha filha. Clara merece crescer e ter uma vida feliz, vou fazer tudo o que eu puder para que ela tenha essa chance.

Charlotte virou as costas e foi em direção ao corredor que levava aos quartos. Damon se sentiu perdido e um pouco desesperado. Esfregou as mãos no rosto, querendo acordar daquele pesadelo horrível, não queria perder seu bem mais precioso. Já era difícil o suficiente deixar Charlotte ir, mas se tornou cem vezes mais quando ela voltou para a sala carregando a menina em seu colo. Clara estava sonolenta, sem entender o que estava acontecendo.

- Se despede dela enquanto eu peço um táxi - Charlotte entregou a criança para ele.
- Eu levo vocês - Damon disse com a voz embargada, tomando a filha nos braços.

Charlotte apenas acenou com a cabeça e pegou as malas para levar para o lado de fora. Damon se segurou até onde podia, mas aquilo era demais até mesmo pra ele. Clara notou as lágrimas escorrendo pelo rosto dele e uma preocupação genuína surgiu nos olhinhos da menina. Ela nunca tinha visto seu pai chorar.

- Papai, por que você tá chorando? - perguntou enquanto passava suas mãos pelo rosto dele, secando as lágrimas.

Damon apertou os olhos, não queria ter deixado transparecer, mas simplesmente não conseguia evitar. Estava doendo como nunca e ele sentia que estava perdendo tudo o que ele amava, todas as pessoas que ele amava.

- Você vai passar uns dias com a sua mãe - ele disse após respirar fundo. - Mas são só alguns dias, eu vou te buscar, eu prometo, vai ser uma viagem bem rápida.
- Eu não quero viajar de novo, pai - Clara resmungou aborrecida. - Quero ficar aqui!
- Está tudo bem, vai ser bem rápido, eu vou te buscar - ele tentou sorrir. - Não vou deixar você ficar longe de mim, Clara, você sabe que não.

Damon colocou Clara no chão, pegou as chaves do carro e entregou para ela, pedindo para que ela levasse para sua mãe e Clara assim fez. Damon trocou de roupa rapidamente, pois estava muito frio. Pegou seus óculos de sol para que não ficasse tão explícito para Charlotte que ele estava chorando e então saiu. Estava torcendo para que fosse um pesadelo e que acordasse logo.

...

se levantou pela manhã se sentindo disposta. Apesar de ser um sábado frio e perfeito para ficar na cama, ela decidiu se levantar quando viu que estava sozinha no quarto, provavelmente já havia se levantado e estava preparando o café da manhã para eles como sempre fazia. Sua barriga roncou, o café da manhã dele era o seu preferido.

Ela prendeu seus cabelos bagunçados em um rabo de cavalo para poder sair do quarto. Passou pelo banheiro e lavou o rosto rapidamente, só então foi até a sala. Olhou para o fogão na cozinha e não tinha café da manhã, olhou para o sofá e lá estava . Ele já havia trocado de roupa e sua mala estava perto da porta.

- Você já vai embora? - ela perguntou, se aproximando dele. acenou com a cabeça, estava com uma aparência séria. - Aconteceu alguma coisa?
- Passei a noite acordado pensando nos últimos dias.
- ...
- Eu sou o causador disso tudo. Não importa o que o Carter fez antes, ele não teria lançado uma maldição se não fosse por mim.
- Mas nós vamos reverter - se sentou ao lado dele, notou que enrijeceu os ombros quando ela o tocou. - Eu não sei como, mas vamos fazer isso.
- , a sua vida e a de todas as outras pessoas que eu amo está em risco, não é tão fácil quanto parece. Tudo funciona muito bem até o momento em que ficamos juntos, a partir daí todos ao nosso redor sofrem as consequências. Eu não quero que mais ninguém sofra e é por isso que a única forma de reverter esta maldição seria eu sumindo de vista - disse de uma vez, incapaz de olhá-la nos olhos.
- Como assim? , isso não faz sentido, já cruzamos o caminho um do outro, não tem volta.
- Se não estivermos juntos, todos teremos uma chance de viver. É o único jeito - olhou para ela, percebeu que estava começando a entender o que ele queria dizer.
- Você não tem nenhuma base para afirmar isso - ela respondeu em negação, rindo por puro nervosismo.
- , as coisas mudam de rumo quando nos encontramos, mas também podem mudar quando nos separamos. Eu não queria ter que fazer isso, mas...
- Então você inventou uma solução na sua cabeça e está terminando comigo por causa disso? - ela se levantou do sofá e ficou de frente para ele. - Me prova que o seu ponto está certo e talvez eu aceite.
- Por favor, entenda, esse é o único jeito - se levantou também.
- Não, não é. Você está dizendo uma coisa sem cabimento e sem base nenhuma! , não faz sentido! Carter pode desfazer isso e ele vai, mas precisamos ter calma!
- Enquanto Carter não resolve, eu prefiro que você fique a salvo. Sou uma bomba, eu não quero machucar ninguém, não quero que você passe o resto da eternidade nesse ciclo por minha causa. Confia em mim, vai dar certo... se cuida, tá? Estou indo embora - ele foi em direção à sua mala, mas se adiantou e se colocou na frente da porta. Seus olhos estavam marejados. - ...
- Eu só vou aceitar esse término se o único motivo for porque você não me ama mais, então diz que é por isso e só depois você pode ir embora.
- Você sabe que isso não é verdade - a voz dele falhou tal como a dela, estava ficando cada vez mais difícil e ele queria terminar logo.
- Diz, . Diz que você não gosta mais de mim, que cansou do nosso relacionamento, que não me ama mais. Diga!
- Seria mentira - se conteve até onde pôde, mas não conseguiu mais segurar quando viu lágrimas começarem a escorrer pelos olhos de . - Eu nunca amei ninguém como eu amo você, , por isso não posso ser egoísta. Justamente por eu amar tanto você, quero que você fique bem, preciso te deixar ir. Fui egoísta nas outras vidas, mas não vou ser agora. Se eu tiver que esperar até a próxima vida pra te ver, então eu vou esperar. Não posso dizer que me arrependo do que fiz antes, pois talvez eu nunca tivesse te conhecido, mas eu teria feito diferente se eu pudesse mudar o passado.
- Tanto faz o passado, , tanto faz! - não era capaz de manter o controle, chorava compulsivamente enquanto o ouvia. - Você vai ficar aqui e nós vamos resolver isso juntos!

Gentilmente, a abraçou. Estava com o coração partido por estar fazendo aquilo, queria que fosse de uma maneira diferente. Não tinha sombra de dúvidas que tinha encontrado o verdadeiro amor nela, mas se a amava tanto assim, precisava deixar ir.

- Espero que você possa me perdoar um dia - ele disse após soltá-la, a afastando da porta. - Eu te amo muito.

- , você não vai fazer isso! - fez menção de segura-lo, mas pegou sua mala e fechou a porta antes disso. - !!!

foi embora o mais rápido que pôde e mal podia ver os degraus que estava descendo, as lágrimas embaçavam sua visão. Nunca mais tomaria uma decisão tão dolorosa em toda a sua vida, não fazia ideia do que faria dali em diante, era como se estivesse deixando um pedaço seu ali naquele apartamento no terceiro andar. Qualquer dor física que já sentiu na vida era tolerável perto do que ele estava sentindo naquele momento, queria voltar e dizer que estava arrependido, mas precisava ser firme e encarar a realidade, por mais dolorosa que fosse.

, por sua vez, reagiu como uma criança fazendo birra. Chorou e esperneou até se cansar. Afundou o rosto no travesseiro para abafar o grito que doeu a garganta. Não podia aceitar que estava fazendo aquilo, que estava a abandonando e indo embora no momento em que ela mais precisava dele. não conseguia ver a si mesma saindo daquela situação, não conseguia mais ver uma solução, tudo o que conseguia pensar era no quão azarada era, pois quando finalmente encontrou a pessoa com quem iria passar o resto da vida, a própria vida lhe passou para trás de uma maneira bem baixa. Ela já tinha um destino, um destino trágico e injusto que iria acontecer com estando ali ou não, então por que ele estava partindo?

Tinha que haver outra solução.

...

não foi capaz de levantar da cama por horas. Queria chorar até não aguentar mais, porém uma visita inesperada de William e Louise atrapalhou a sua programação do dia. Ele tinha a chave, então simplesmente entrou chamando pela irmã. Quando William entrou no quarto e viu naquela condição, levou um susto.

- , o que aconteceu? - foi até a cama rapidamente para conferir se ela estava bem fisicamente. Pensou até que alguém pudesse ter invadido a casa.
- Will! - ela se atirou nos braços dele feito criança, intensificando o choro.

Louise apareceu na porta do quarto e viu a cena sem saber o que fazer, trocou olhares com William que também não estava entendendo o que poderia ter acontecido de tão grave para ela chorar daquela maneira.

- Tem calmante no armário da cozinha - ele disse para ela que concordou e saiu do quarto, depois William se voltou para , a segurando pelo rosto. - , por favor, se acalma, pra me dizer o que aconteceu. Você se machucou? - ela negou com a cabeça, doía tanto que ela mal conseguia falar e estava se tornando dor física. - Cadê o Dr.?
- Foi embora - se afastou dele, escondendo o rosto nas mãos porque não conseguia parar de chorar. - Ele foi embora!

Louise voltou para o quarto com o calmante e um copo d'água. William agradeceu e pegou os dois.

- Toma, você precisa se acalmar.
- Não quero, Will.
- Eu preciso saber o que aconteceu e pelo visto você não vai conseguir me falar enquanto continuar chorando. Toma.

Mesmo contra sua vontade, ingeriu o calmante, concordava que precisava parar de chorar porque sua cabeça doía e a pele ao redor dos seus olhos ardia de tanto esfregar. O calmante não tinha efeito imediato, por isso William disse que esperaria o tempo que fosse preciso até que melhorasse. Ela continuou chorando durante bons minutos até que o choro começou a diminuir e ela se sentiu mais calma ao ponto de conseguir falar.

- terminou comigo e foi embora - disse quando se sentiu pronta. Deitou na cama e fechou os olhos porque estavam ardendo muito. - Ele disse que a única maneira de reverter a maldição é se ficarmos separados porque as coisas só acontecem quando estamos juntos. Isso não faz sentido nenhum! Ele simplesmente foi embora quando eu mais precisei dele! - ela os abriu de novo para vê-los. - Louise, você conhece o seu irmão melhor do que ninguém, me diz o que passa pela cabeça dele.
- quer proteger a todos nós - Louise disse com cautela e se sentou na cama com uma certa distância dos irmãos. - Ele te ama mais do que tudo, , imagino que esteja doendo nele também. Ainda não o vi, não fazia ideia do que estava acontecendo aqui, mas se conheço o meu irmão, ele só está fazendo isso pelo seu bem.
- Ele está convencido de que se ele sumir de vista, isso vai passar, não entende que é uma coisa complexa e muito maior do que a gente... - ela respirou fundo enquanto encarava o teto. - Eu... eu não sei o que fazer sem ele aqui...
- Você por acaso nasceu grudada no ? Você tá carente? - William falou, fazendo com que ela olhasse para ele, ofendida.
- William! - o repreendeu.
- Quem vai te dar uma bronca agora sou eu, então fica quieta e me escuta! Você passou 25 anos da sua vida sem ele, nunca morreu de amor por cara nenhum, ou melhor, morreu, mas enfim... não quero que você se torne emocionalmente dependente do . Ele está errado? Sim, muito errado! Lou e eu vamos tentar conversar com ele para entender melhor, eu prometo, mas não quero que você pense que sua vida acabou por causa dele, tá? A gente vai estudar e reverter essa maldição e tudo vai ficar bem. Enquanto isso, estou aqui.
- Obrigada - esboçou um sorriso entristecido. - Vocês podem ficar aqui comigo? Não quero ficar sozinha.
- Tenho uma ideia melhor: levanta essa bunda daí e vamos tomar café da manhã fora.
- Vou conversar com , mas prometo ir encontrar vocês depois - Louise sorriu gentilmente para , que concordou.

Conversaram mais um pouco até William convencer a sair para comer, então Louise pediu para que a deixassem no apartamento de . olhou para o prédio e, por mais que não conseguisse chorar por conta do efeito do calmante, sentiu vontade mesmo assim. Ele estava ali e ela não poderia fazer nada.

- Eu vejo vocês mais tarde - Louise disse se despedindo, então saiu do carro.

Ela entrou no prédio, tomou o elevador e subiu até o andar em que morava. Tinha uma chave reserva que quase nunca usava, preferia bater na porta sempre que visitava o irmão, mas daquela vez sentiu que deveria fazer diferente, sentia que não abriria a porta. Quando entrou, viu apenas sala e cozinha vazias.

- ? - chamou pelo irmão mais velho, olhando pelos cantos, mas ele não respondeu, então foi em direção ao corredor. Olhou no escritório e ele não estava, então só poderia estar no quarto dele.

E de fato estava, mas era uma cena triste de se ver. estava sentado no chão abraçado aos joelhos e parecia uma criança assustada, encolhida em um canto.

Patético, simplesmente patético. Louise contemplou a imagem do fracasso diante de si.

olhou para Louise e ela pôde ver os olhos vermelhos dele. Louise sentiu pena porque jamais tinha visto tão vulnerável. Em silêncio, se sentou ao lado dele, não disse nenhuma palavra, apenas caiu no choro novamente, abaixando a cabeça para esconder o rosto. Louise engoliu a própria vontade de chorar e deitou sua cabeça no ombro dele, o abraçando de lado e assim ficou durante algum tempo.

Pouquíssimas vezes na vida ela o viu chorar, podia até mesmo enumerá-las. Quando Luce terminou com ele, quando estava sobrecarregado com a faculdade e pensou em desistir, quando eles descobriram que Diana estava doente, quando ele quebrou o braço na infância e agora. Cada uma tinha o seu impacto, mas ver um homem adulto chorando feito criança por deixar o amor da sua vida ir estava no topo da lista de coisas mais tristes que Louise já presenciou, com certeza.

- Sabe que pode me contar tudo, não sabe? - disse após muito tempo em silêncio, quando percebeu que a intensidade do choro dele diminuiu.
- Eu terminei com ela - respirou fundo e tentou secar as lágrimas na manga do moletom.
- Eu sei, eu vi - Louise disse compreensiva, ele a olhou com curiosidade, como se pedisse para ela continuar falando. - Ela não está muito diferente de você, Will e eu encontramos exatamente assim. , você não precisa fazer isso.
- Eu preciso que todos vocês fiquem bem, Louise, eu preciso que ela fique bem, eu... eu não consigo pensar em outra maneira.
- Afastar todo mundo de você não vai adiantar nada.
- Eu preciso tentar...
- E se não der certo?
- Então eu não sei o que fazer - se encolheu ainda mais e espremeu os olhos para não voltar a chorar, mas não conseguiu. - Me desculpa.

Louise abraçou seu irmão com toda a força que podia, estava doendo tanto nela quanto nele. Ela odiava ver seus irmãos chorando, sempre fez de tudo para que eles rissem e se sentissem melhor, mas simplesmente não conseguiu fazer aquilo naquele momento e se limitou a chorar junto. Louise não queria morrer jovem, tinha muitos planos para si mesma, mas sacrificaria tudo o que fosse preciso para que aquilo acabasse, para que tirasse o peso do mundo das suas costas. Ela jamais o culparia por aquilo.

- Posso te pedir um favor? - perguntou após algum tempo, quando conseguiu se acalmar.
- Qualquer coisa.
- Será que você pode levar as coisas dela de volta? Eu não vou conseguir fazer isso.
- ...
- Por favor, Lou, eu não quero ver a , eu não posso, ela nunca vai me perdoar...
- Ela te perdoaria no instante em que você passasse pela porta.
- Eu nunca vou amar alguém como eu amo ela, Louise, nunca - esboçou o sorriso mais triste que Louise já viu. - Mas eu preciso deixar ela ir pra ela ter uma chance. Eu posso esperar até a próxima vida, não me importo, só quero que ela e todos vocês fiquem a salvo, longe de mim. Eu preciso ficar sozinho, eu preciso ir embora.
- Você é a última pessoa do mundo que merece estar sozinho - Louise disse com a voz embargada. Ele provavelmente era a sua pessoa favorita no mundo inteiro e ela nunca concordaria com aquilo. - Então eu vou com você.
- Não, você precisa cuidar da Diana, dos nossos pais, do Damon, das crianças... você tem o Will também... você sempre cuidou de todo mundo e precisa continuar cuidando.
- E quem vai cuidar de você?
- Eu acho que preciso ficar um tempo sozinho... vou ficar bem - ele respirou o mais fundo que podia. - Por favor, não conta para os nossos pais, é muita coisa pra eles assimilarem, vou contar na hora certa.

Louise engoliu o choro contra a sua vontade, pois quando colocava alguma coisa na cabeça, dificilmente alguém conseguia fazer ele mudar de ideia. Estava decidido a se afastar de tudo e de todos e Louise não poderia fazer nada para impedir.

- Também não conta para a , ela não precisa saber.
- Tá bom - ela assentiu contrariada. - Por favor, promete que vai me dar notícias todos os dias.
- Eu prometo.

Louise concordou novamente e se levantou junto com ele, então foi até o closet para começar a tirar as coisas de para que Louise pudesse levar de volta. Obviamente, ele não conseguiu, não tinha coragem de fazer aquilo, então Louise fez por ele enquanto apenas observava ela tirando as peças de roupa e colocando em uma mochila. Era como se estivesse tirando a própria dali, pois num dia estavam combinando de morarem juntos e no outro ele estava indo embora, o destino não queria que desse certo.

- Você notou que a Luce estava um pouco estranha? - perguntou após um tempo em silêncio.
- Lucinda sempre foi estranha, , só você não percebeu antes - Louise respondeu distraidamente, enquanto dobrava uma calça jeans.
- Não, ela estava diferente... olhei pra ela e me senti mal. Gosto de reparar no olhar das pessoas, sabe? Simplesmente, parecia que Luce não estava ali, não a reconheci.
- As pessoas mudam. Estar em um relacionamento saudável com uma pessoa legal e com a cabeça no lugar te fez bem, se você está diferente de uns anos atrás, então ela também está.
- Aconteceu uma coisa... uma coisa meio estranha... não entendi o motivo de ela ter feito aquilo, mas ela me pediu um abraço antes de ir.
- Por favor, não me diz que você aceitou.
- Eu não soube como dizer não, mas...
- ! - ela o repreendeu, apertou a alça da mochila na mão para não atirá-la contra ele.
- Foi a coisa mais constrangedora que eu já fiz, ok? Foi horrível. estava lá e eu não tinha notado, ela jurou que Luce só tinha feito aquilo porque a viu atrás de mim.
- E com isso eu provo o meu ponto de sempre: Lucinda é uma maluca e sempre foi. Acredito totalmente na , é claro que ela fez isso para causar uma intriga entre vocês.
- Só não entendo o motivo, Luce nunca foi assim...
- , esquece isso, já foi. Todo mundo estava meio estranho, era de se esperar... bom, terminei por aqui, não tinha tanta coisa, vou pedir para Will vir me buscar. Você tem certeza que é isso o que você quer?
- Tenho.
- Tudo bem, então não vou tentar te convencer do contrário - ela disse enquanto digitava uma mensagem para o namorado.

...

William e Louise levaram de volta pra casa, mas quando ela se deparou com sua mochila cheia de pertences que havia devolvido, achou melhor não ficar sozinha, então William sugeriu que fossem para sua casa onde Carter estava hospedado até que fosse embora. ainda estava sob efeito do calmante e unicamente por isso não desabou de chorar novamente, mas naquele instante estava com raiva com .

- Ainda não consigo acreditar que ele está fazendo isso comigo, é inacreditável! - ela dizia enquanto entrava na casa do irmão caçula, veio o caminho inteiro reclamando. - Ele se quer deixou eu ir buscar minhas coisas pessoalmente!
- Não está sendo fácil pra ele também, , ele não queria nada disso - Louise saiu em defesa do irmão, mas tentou não ser grosseira. - Eu nunca vi tão vulnerável.
- Se ele não queria, era só não ter feito - falou, sem se dar conta do quão rude soou.

William viu quando Louise fechou os olhos e respirou fundo discretamente, claramente se segurando para não dizer o que realmente gostaria. Ele entendia que ela só estava defendendo , mesmo que ele estivesse errado. William pensou que ele faria exatamente a mesma coisa por e por isso achou melhor apaziguar a situação.

- , Carter está lá em cima. Acho que ele também está precisando de um apoio moral, ele nem sai do quarto, talvez queira falar com você - ele disse a primeira coisa que lhe veio em mente apenas para que as duas se afastassem.
- Estou tão ocupada pensando em mim que esqueci dele, que egoísmo da minha parte... - suspirou aborrecida. - Eu já volto.

subiu as escadas para o andar de cima enquanto William voltou sua atenção para Louise. Ela estava de costas pra ele, encolhida e de cabeça baixa.

- Não esquenta com isso, não está com raiva de verdade, só está chateada - disse colocando a mão no ombro de Louise, então percebeu que a namorada estava escondendo o rosto para chorar. - Lou? O que foi?
- Ele vai embora!

O choro de Louise se intensificou e William a abraçou por trás, segurando-a com força. Estava sendo difícil ver todas as pessoas ao seu redor desabando e ele não poder também. Viu Carter, e agora Louise, todos chorando feito crianças. William sempre quis ser a pessoa que segurava as pontas, nunca foi de chorar na frente de ninguém, mas não estava sendo fácil se manter forte, especialmente porque sua própria vida corria perigo também.

- Ele quer sumir, Will, e eu não posso fazer nada! - Louise disse entre soluços. - Inferno de maldição!
- A gente vai encontrar uma solução - William apoiou o queixo no ombro dela. - Acho que faz sentido a linha de raciocínio do , mas não acho que seja o único jeito.
- Não, não faz sentido. Ele não tem que se isolar do mundo assim - ela se virou de frente para ele. - é a última pessoa do mundo que merecia passar por isso, não é justo!
- Você sempre cuidou dos seus irmãos, Lou, mas não vamos conseguir fazer ele mudar de ideia. Eu sei que você está muito preocupada, mas isso foge um pouco do seu alcance. De qualquer forma, nós vamos achar uma solução para que volte logo.
- Só o Carter pode resolver isso - Louise secou as lágrimas com a manga do cardigã. - Já que foi ele que começou. Eu vou falar com ele.
- Não, nem pensar. Uma versão passada do Carter fez isso, ele de agora não tem nada a ver. Ele está tão abalado quanto a gente, Lou, não precisa que mais ninguém diga alguma coisa pra ele.

Louise ignorou e virou as costas para ele, indo em direção às escadas. Subiu em passos rápidos e William foi atrás para impedir que ela cometesse um erro, mas Louise estava decidida a resolver aquilo naquele mesmo instante se fosse possível.

- Não é possível que você não saiba como desfazer essa maldição - Louise abriu a porta do quarto de repente, encontrando Carter e conversando em lados opostos da cama. Ambos levaram um susto. - Você precisa se lembrar!
- Louise... - Carter não sabia o que dizer.
- Meu irmão está tomando toda a culpa pra ele quando, na verdade, quem lançou essa maldição foi você! Tem noção do que é isso? está indo embora e eu não posso fazer nada!
- Embora? - se levantou, mas foi ignorada.
- Louise, para com isso - William entrou no quarto e a puxou pelo braço, mas ela não saiu do lugar.
- Se você começou tudo, então termine, mas faça isso muito rápido. Ninguém precisa pagar pelo seu erro!
- Eu sei - Carter disse um tanto cabisbaixo. - Quero consertar isso mais do que ninguém.
- Ah, por favor, Carter! Não vejo um pingo de esforço da sua parte e enquanto isso o mundo ao nosso redor desaba! Olha o tanto de gente que você afetou!
- Louise, chega - William a puxou com um pouco mais de força, fazendo com que ela desse alguns passos pra trás, mas Louise continuou falando.
- Tenho certeza que em todas as vidas meu irmão foi melhor do que você, não é atoa que você nunca teve a menor chance com ela e nunca vai ter!
- O quê?! - disse, muito ofendida, saindo em defesa do amigo. - Louise, eu mesma consigo decidir com quem eu posso ficar, não preciso que você escolha por mim.
- Discordo, nada disso estaria acontecendo se você tivesse só um pouquinho de bom senso no passado.
- Louise, você vai parar agora! - William a puxou para fora do quarto com força, batendo a porta. - Qual é o seu problema???
- Você viu a forma como ela falou comigo, Will?
- A única coisa que eu vi foi você surtando sem motivo! Você não pode atacar as pessoas assim, Louise, tá todo mundo com problemas, não é só você!
- Will, não posso acreditar que você está acobertando ninguém menos que a própria pessoa que lançou a maldição em mim, em você sem nem mesmo saber que a gente existiria! Carter é a reencarnação de um bruxo poderoso e ruim, muito ruim! E você está aceitando isso numa boa? - Louise estava indignada, todos eles nunca pareceram tão irritantes quanto agora.
- Ele é meu irmão, e mesmo que ele tenha feito coisas horríveis em vidas passadas, ele está diferente e quer nos ajudar. Você não pode falar essas coisas pra ele!
- Você já percebeu que quando ele está por perto, coisas ruins acontecem com a gente? Estamos todos brigando entre nós mesmos desde que ele chegou!
- Você está delirando, Louise...
- Acha que sou louca? - ela perguntou com uma expressão horrorizada no rosto.
- Não, mas não está falando coisa com coisa.
- Inacreditável, McQueen, inacreditável - ela riu, se afastando dele. - Quero que você, seu irmão psicopata e todo o resto da sua família fique bem longe da minha, estamos entendidos?

Sem dar direito de resposta para ele, Louise foi embora, e William não conseguiu sair do lugar, se sentiu enraizado. Ela simplesmente terminou e ele não estava conseguindo assimilar naquele instante. Deu meia volta e abriu a porta do quarto completamente perdido em seus pensamentos. Carter e , que ouviram tudo, olharam para ele preocupados.

- Ela... ela terminou comigo e foi embora - disse quase em um sussurro, então olhou para os irmãos. - Louise terminou comigo...
Os dois se levantaram da cama e foram até William, abraçando o caçula, que continuava estático na entrada do quarto. Ele envolveu os braços ao redor de seus irmãos e então começou a entender um pouco melhor.

Todo mundo já havia passado pelo momento de desabar, agora era a vez de William.



Capítulo 28 - The start of the end

Carter sempre se considerou uma pessoa comum. Era uma criança normal como qualquer outra, um aluno normal, um filho normal, um adulto normal... e por que não alguém com o coração bom?

Nunca tinha feito nada de ruim para ninguém, nunca foi de arrumar briga com outras pessoas, até preferia evitar a confusão no primeiro sinal que aparecesse, como por exemplo o incidente com Louise no qual ele evitou ao máximo dizer qualquer coisa para ela. Se considerava alguém calmo, pacífico e paciente.

Então por que alguém com um histórico tão normal poderia ser a reencarnação de alguém que destilou ódio e maldade? Carter podia ver uma versão sombria de si mesmo enquanto se olhava no espelho do banheiro. Era ele mesmo, mas não conseguia se reconhecer, tinha algo estranho que ele não conseguia colocar em palavras, mas que lhe chamava a atenção conforme fixava seu olhar em seu próprio reflexo. Seus olhos, que eram naturalmente escuros, pareciam ainda mais escuros ao mesmo tempo que carregavam um brilho diferente, mas não era uma coisa boa, era ruim ao ponto de lhe causar arrepios.

- Isto será interessante - disse dando um sorrisinho perverso, mas então se assustou com si mesmo, dando um passo pra trás.

Seu reflexo estava normal, agora se via exatamente como estava, de cabelos bagunçados, sem camisa e com cara de sono. Seu coração batia acelerado no peito e ele estava sem entender o que havia acabado de acontecer.

Tinha consciência de que ele próprio disse aquelas palavras, mas não sentia que havia sido ele de fato. Estava confuso e assustado, então decidiu deixar o banheiro e voltar para o quarto.

Carter fez o movimento natural de abrir a porta do banheiro, mas algo diferente aconteceu. Ao abrir a porta, notou as cortinas balançarem com o vento que veio do lado de fora, e então começou a sonhar acordado. Ou melhor, ver coisas sobre o seu passado com muita clareza. Em sua mente, sabia até mesmo em qual data aquilo aconteceu, pois era como se estivesse acontecendo naquele instante.

Carter teve vários vislumbres de seus momentos com na primeira vida, momentos estes em que ela o evitava e o esnobava, o deixava entristecido. Viu toda a investigação que fez até juntar os pontos e entender que sua noiva estava envolvida com outro homem, podia sentir o ódio que sua versão passada sentiu ao descobrir tudo aquilo. Viu todo o plano ser executado com cautela até o momento em que ateou fogo na igreja, lançando a maldição e morrendo queimado no meio do fogo, gargalhando como se tivesse acabado de contar uma piada.

Avançou no tempo e se viu na França em 1789, estando entre os líderes da Revolução Francesa, novamente teve o seu amor recusado por . Jurou-lhe de morte, mas ela morreu antes disso pela foice da guilhotina, e ele ficou feliz por isso. Riu quando soube da notícia.

Cardiff, País de Gales, 1847. Nesta vida, ele era o poderosíssimo duque de Gales e estava em busca de uma esposa. A beleza e graça de uma jovem Lady escocesa chegou aos seus ouvidos e ele soube que seria ela, por isso foi até Aberdeen e então constatou que os boatos eram verdadeiros, Lady Arkley era a debutante mais popular daquela temporada e vinha de uma família poderosa na região, tinha que ser ela. E quando ele pensou que tinha a garota na palma da mão, ele a flagrou num jardim a sós com o visconde Blackwood. Ameaçou expô-los caso não se casassem e apesar de ter perdido a sua pretendente, ele não voltou para Gales de mãos vazias, havia desposado ninguém menos do que Lucinda Smith, que cumpriu com maestria seu papel de esposa, duquesa e mãe, lhe dando o herdeiro que ele queria e muito mais, embora Lorde Carter Hywel tenha notado tarde demais.

Mas então, velho e à beira da morte, descobriu um sentimento até então desconhecido: amor. A vida inteira teve uma mulher ao seu lado, teve filhos perfeitos e apenas no leito de morte percebeu que os amava. Acreditava que reencarnaria mais uma vez e decidiu que queria fazer diferente. Não queria mais saber de maldição nenhuma, não queria causar mais nenhum mal. Queria partir logo e viver uma nova vida, uma onde fosse uma pessoa boa que praticasse o bem verdadeiro, talvez assim pudesse desfazer a maldição e dar uma chance aos outros para que pudessem viver. Desejou mais do que tudo que reencarnasse perto deles de alguma forma e que o único sentimento que dominasse seu coração fosse o amor. Pediu em voz alta que tivesse uma chance de fazer o certo, então avistou a luz, sua hora havia chegado.

Em sua vida atual, viu o dia em que seu pai, Steven, apresentou-lhe sua nova namorada, Liz Thompson, e seus dois filhos, Thomas e . O pequeno Carter se encantou por eles, se encantou pela sua nova irmã e jurou que iria protegê-la de tudo, se autodeclarou um irmão mais velho e assim seria para sempre.

Quando Carter voltou para a realidade e o vento cessou, ele percebeu que estava respirando ofegante. Estava assustado, lembrar de tudo de repente era muito assustador e brutal. Saber que tinha um lado sombrio dentro de si tentando sair era como estar dentro de um filme de terror, mas Carter não queria ser o vilão.

- Eu desfaço a maldição - disse em voz alta. - Eu desfaço! Eu estou desfazendo essa maldição!

Mas nada aconteceu, ele não sentiu absolutamente nada de diferente. Claro, não era apenas recitar, era magia e ele não tinha conhecimento nenhum. Era frustrante.

- Eu desfaço! - atirou no chão a primeira coisa que viu na frente, um item de decoração barato.

O barulho atiçou a curiosidade de e William, que conversavam em outro quarto. Os dois entraram no quarto de Carter e o encontraram transtornado. William, que estava exausto fisicamente e mentalmente, ainda teve um pouco de força ao puxar o irmão para a cama, o empurrando.

- Para, para, para, para! - disse, tentando contê-lo à força. - Por que está destruindo minha casa?
- Tem alguma coisa errada comigo, Will - Carter disse transtornado, segurando o irmão caçula pelos ombros. - Eu lembrei de tudo, eu vi o passado, eu vi e foi horrível. Eu sou um monstro, eu...
- Você não é um monstro, você não é como suas vidas passadas. Se acalma, tá? Todo mundo tá meio surtado e eu não tô mais dando conta, se acalma, por favor - William pediu, se sentando na cama e respirando fundo.
- , você consegue se lembrar também? - ele voltou a atenção para ela que ainda não havia dito uma palavra.
- Não exatamente, eu lembro de algumas coisas, mas...

não terminou de falar, as memórias voltaram de uma vez e ela viu o exato momento em que foi amaldiçoada. William deu um pulo para segurá-la quando percebeu que ela cairia no chão. reconheceu que sonhou com aquilo a vida toda, mas só agora estava completo e fazia sentido.

- Meu Deus - ela colocou as mãos no rosto, fechando os olhos. - Eu me lembro de tudo. Foi na catedral de Saint Paul... Carter, e se... eu não sei, e se formos até lá? Você pode tentar alguma coisa, não pode? - olhou para ele com certa esperança no olhar.
- Eu não sei nada de magia, feitiços ou sei lá o que seja isso... - Carter falou, mas então se deu conta de que sabia exatamente o que era. - Se sou um descendente de bruxos, então é um feitiço.
- Não é tudo a mesma coisa? - William questionou, confuso.
- Não, existe diferença entre bruxos, magos e feiticeiros. Feiticeiros e bruxos podem fazer feitiços, a diferença é que feiticeiros estudam e bruxos conseguem poder através de forças demoníacas, pactos... - ele se sentia péssimo em dizer aquilo, pois estava descobrindo mais sobre si mesmo.
- Não importa onde você conseguiu, o que importa é que isso ainda está em você - se sentou ao lado dele na cama.
- Na nossa vida anterior a esta... eu disse que deixaria para resolver as coisas nesta vida, deixei com que você se casasse com e vivesse sua vida e segui a minha, me casei, tive filhos... quando estava morrendo me dei conta de que os amava, descobri o que era amor e desejei voltar bom para poder quebrar a maldição, mas agora pouco enquanto eu estava no banheiro, vi o meu reflexo um pouco diferente. Era eu, mas era diferente, conseguem me entender? Meus olhos... não era o meu jeito de olhar, eu disse que isso seria interessante e ri, senti uma coisa ruim crescendo dentro de mim e me diverti com isso, mas foi muito rápido. Caí na real e quando saí do banheiro, lembrei de tudo... eu acho que mesmo que eu tenha escolhido ser diferente dessa vez, as minhas versões passadas estão tentando tomar o meu lugar - Carter engoliu a seco, preocupado. - Será que Jesse e John sabem disso? Eles pareciam ter medo de mim, eu não sei se sabem da minha escolha. Será que se eu falar com eles, eles conseguem me ajudar a conter essa coisa em mim? Eu não quero fazer mal pra ninguém, Louise tinha razão em dizer que coisas ruins estão acontecendo quando eu estou por perto... mas eu não quero nada disso.
- Vou pedir para o Jesse voltar para Londres e trazer aquele esquisito do John junto. Vocês não acham estranho um cara que a gente nunca viu na vida saber tudo sobre a gente? - William perguntou enquanto digitava uma mensagem para Jesse no celular.
- Ele não é um estranho, eu o reconheci na hora. É alguém do nosso... do meu passado - o defendeu. - Ele nos deu a chance de reverter a maldição, consigo lembrar... ele disse que não podia reverter, então imagino que ainda não possa, mas ele está mais experiente, não é? Deve ter aprendido mais. Será que ele é como o Jesse? Viveu esse tempo todo?
- É o que vamos descobrir quando Jesse voltar para Londres em... três dias, segundo ele mesmo acabou de me responder. Aparentemente, John esteve perto o tempo inteiro, ele é da Igreja Anglicana, não é mais padre. De qualquer forma, eles vão vir.
- E se acontecer alguma coisa até lá? E se eu machucar alguém? - Carter perguntou angustiado, e recebeu um abraço carinhoso de .
- Não vamos deixar acontecer nada com você - ela disse com convicção, faria tudo o que fosse possível. - Vai descansar, vamos tentar ter uns dias normais até que o Jesse volte.
- Se precisar de mim, estou no meu quarto me deprimindo ou alguma coisa assim, boa noite.
- Will, Louise não está com a cabeça no lugar, só isso, deixa ela assimilar as coisas - disse com calma para o irmão, que deu de ombros.
- Não aceito que ninguém diga um a para a minha família, nem mesmo ela. Eu amo a Louise, mas posso viver sem ela - William disse por fim, saindo do quarto.
- Estou surpresa com a maneira que Will está lidando com tudo. Ele aguentou até onde conseguiu, vai fingir que está bem ou talvez ainda não tenha caído totalmente a ficha de que ele e Louise terminaram. - ainda olhava para a porta fechada.
- Ele está sendo forte por você, .
- Eu sei, acho que ele vai precisar ser ainda mais agora que o vai embora... - riu sem humor, o efeito do calmante não deixava ela chorar. - Merda de calmante, eu só queria morrer de chorar agora! Quero dizer, ele realmente está indo embora, me abandonando quando eu mais preciso dele... mas tudo bem, eu vou superar ele, vou fazer uma terapia e viver até onde o destino permitir.
- Acho que não está errado em ir embora, acho que a teoria dele faz muito sentido...- Carter disse com cautela e atraiu a curiosidade dela.
- Por que você acha isso?
- Porque nesta vida vocês se encontraram mais tarde, antes vocês tinham 16, 17 anos, mas agora passou muito mais tempo. Se tivessem se encontrado com essa idade, já teriam morrido e a maldição não teria sido quebrada.
- Como você sabe a idade que tínhamos? Eu não... - mas então ela pensou que se ele lembrava de tudo, saberia a idade dela também. - Você tem razão, eu tinha 16 anos quando o conheci na primeira vida.
- Eu também me lembrei, também sei que eu era mais velho, mas enfim... acho que ele não está errado, enquanto vocês estiverem separados, viverão. Quando estiverem juntos, coisas ruins irão acontecer até que um dos dois morra, ou os dois juntos.
- Isso faz sentido, eu caí do cavalo durante uma viagem que fizemos juntos um tempo atrás... - estava começando a aceitar aquele absurdo, mesmo contrariada. - Só é difícil de aceitar que não posso ficar com a pessoa que eu amo.
- Acho que ele pode permanecer afastado enquanto eu procuro um jeito de reverter a maldição, assim tudo isso será temporário.
- Carter, você mesmo disse que não conhece nada sobre isso, pode levar anos... - ela hesitou antes de continuar. - E se você estiver errado?
- Realmente eu não conheço, mas... não sei muito bem como explicar, mas eu sinto uma... uma afinidade, talvez, eu acho que se eu estudar e me dedicar, posso conseguir reverter. Se John é como eu, talvez ele possa me ajudar. Sei o quanto é importante pra você, não quero te ver infeliz.
- Você realmente não é como nas suas vidas passadas, obrigada - sorriu, lhe deu um abraço rápido e então se levantou. - Boa noite.
- Boa noite, , até amanhã.

saiu do quarto e antes de ir para o seu, deu uma passada rápida no banheiro para lavar o rosto. Não estava se sentindo bem, se sentia indisposta e nauseada, mas era de se esperar. Teve um dia longo e difícil, talvez estivesse tendo o pior dia da sua vida, pensou que fosse normal seu corpo reagir mal. Após lavar o rosto e escovar os dentes, foi para o quarto em que estava hospedada. Pegou o celular para se distrair enquanto não dormia e olhou para o papel de parede, uma foto que havia tirado com no Natal algumas semanas antes.

soltou um longo suspiro entristecido, pois nem todos os calmantes do mundo faziam doer menos. Não estava conseguindo chorar, mas doía em dobro. Queria ao menos uma explicação, então tentou ligar para ele algumas vezes. Apenas chamou até cair na caixa postal todas as vezes, deixando ela frustrada. queria uma boa explicação e iria atrás imediatamente, mesmo que já fosse tarde e ela estivesse de pijama.

Procurou pelas chaves do carro de William, teve que entrar no quarto dele em silêncio sem acordar o caçula que já dormia, pegou as chaves dele na mesinha ao lado da cama e saiu. Passou em sua casa para pegar a chave que havia deixado com ela e então dirigiu em direção ao apartamento dele. Ele não tinha como escapar, tinha que estar lá pelo horário e pelas condições.

abriu a porta de entrada e acendeu as luzes, mas a casa estava silenciosa, então ela começou a procurar por ele e não teve trabalho em encontrar. estava no quarto... preparando uma mala grande. Ele se assustou ao vê-la ali.

- Como você conseguiu entrar? - perguntou surpreso e ela chacoalhou a chave no ar.
- Você realmente vai embora? É sério? - apontou para a mala. - Vai me deixar quando eu mais preciso de você?
- , eu não quero mais falar sobre isso. Eu não esperava que você fosse entender, mas quero que aceite.
- Não, eu não vou entender e muito menos aceitar! , isso não é só sobre você, é sobre a gente!
- Você acha que eu não sei disso? - fechou a mala com um movimento abrupto, causando um baque. - Acredite em mim quando eu digo que não estou fazendo porque quero, não é por mim.
- Ir embora não vai resolver nada, não vai desfazer a maldição.
- Teoricamente, sim. Só precisamos viver para que ela acabe. Separados, vivemos. Juntos, morremos. É simples.
- Não pode estar falando sério... - ela riu. - , Carter está no caminho para conseguir desfazer, você não precisa fazer isso... não precisa ficar sozinho, não precisa ficar longe de mim... além disso, eu realmente preciso que você esteja aqui comigo agora... - suspirou enquanto encarava a mala. - Por favor, não vai...
- Não torne as coisas ainda mais difíceis pra mim - suplicou e deu a volta na cama para ficar mais perto dela. - Eu não quero ir embora, eu não quero deixar você, mas não tenho escolha! ... - ele hesitou antes de continuar. - Eu passei 7 anos em um relacionamento e não senti metade do que senti com você em 6 meses, sei que sempre estivemos interligados e me conforta saber que sempre estaremos, eu acho que nunca vou conseguir deixar de amar você e, justamente por eu te amar tanto, estou indo para que você fique bem.
- Você não pode mudar o destino, ... - baixou o seu tom de voz, estava quase sussurrando. - Você sabe que não tem como pessoas destinadas dessa forma ficarem separadas, você sabe que você vai voltar.
- Quando o meu sentimento diminuir eu vou voltar, talvez assim eu consiga estar por perto sem ir atrás de você, porque se eu ficar, não vou conseguir lidar com isso.
- Nunca nada que alguém me disser vai conseguir me magoar tanto quanto você e o que acabou de dizer - soltou um longo suspiro e percebeu que os olhos dele começaram a ganhar brilho.
- Eu nunca quis magoar você, espero que você possa me perdoar um dia e entender que estou fazendo isso por nós.
- Não vou entender nunca - ela virou as costas para poder ir embora, não iria continuar tendo aquela conversa.
- - a chamou e ela se virou de novo, já estava saindo pela porta. - Pode me devolver a chave, por favor?

esticou o braço e voltou para o quarto, entregando as chaves para ele. Suas mãos se tocaram e nenhum dos dois fez questão de se afastar. encarou as mãos deles e espremeu os olhos, pois não queria soltar, assim como ele. Abriu os olhos novamente e olhou para ele, parecia que a ficha estava começando a cair de verdade, o amor da sua vida estava indo embora. , por sua vez, conhecia apenas pelo olhar e pôde ver que ela estava praticamente implorando para que ele não fizesse aquilo, uma última tentativa.

Quando seus lábios encontraram os dela, realmente mudou de ideia, mesmo que por pouco tempo. Queria ficar e lutar ao lado dela, sentiu que poderia enfrentar o mundo inteiro se fosse preciso, se sentiu invencível e muito maior do que a maldição. Não tinha dúvidas de que jamais poderia se apaixonar por outra pessoa outra vez, mas aquele beijo reforçou ainda mais o que já sabia: nunca teria outra além dela.

se permitiu desfrutar daquele momento, pois sabia que era a última vez, podia sentir que era um beijo de despedida, por isso fez questão que demorasse e mesmo assim ele ainda lhe deu um último abraço apertado.

- Posso te pedir uma coisa? - perguntou ao se afastarem e concordou com a cabeça. - Por favor, não duvide nunca do que eu sinto, fui sincero todas as vezes que falei sobre os meus sentimentos. Sei que talvez você não me perdoe, talvez até me odeie, mas espero que não tenha restado nenhuma dúvida sobre o quanto eu sempre vou amar você.
- Nunca vou conseguir te odiar, - ela suspirou e passou a mão pelo rosto e cabelos. - Se cuida, tá? Se puder dar sinais de vida de vez em quando, eu agradeço.

O silêncio de foi o suficiente para que decidisse ir embora, caso contrário poderia passar a noite inteira discutindo com ele, então apenas foi embora sem olhar para trás. Conferiu o celular que esqueceu no carro e tinham dezenas de mensagens de William, então foi embora para evitar uma confusão. continuou preparando a mala e hora ou outra tinha que parar para secar as lágrimas que insistiam em escorrer pelo seu rosto. A ligação de Diana mais tarde foi o suficiente para ele não se conter, ela sempre emprestava os ouvidos e o ombro para ele.

- Está sendo um dia difícil. Louise está aqui, chegou transtornada porque ela terminou com o Will, você está fazendo uma mala para ir embora e Damon está inconsolável porque a Charlotte levou a Clara embora, eu...
- O quê? - a interrompeu. - Por que Lotte fez isso? Pra onde elas foram? Por que Louise terminou com Will?
- Ela não quer que a Clara fique com o Damon por conta da briga de vocês, acha que Damon está instável, ela está levando Clara para a casa dos pais dela... Louise terminou com o Will porque ele estava defendendo o Carter, o que eu não acho nenhum absurdo, mas pra ela foi o fim do mundo...
- Estamos te sobrecarregando, não é? Está fazendo mal ao bebê, me desculpa! Eu não quero ficar te enchendo com isso.
- Eu só estou com um pouco de cólica desde ontem, mas não é nada sério, nem contei ao Thomas se não ele me faria ir ao hospital e eu não estou muito disposta. De qualquer forma, eu nunca vou recusar uma ligação de vocês três.
- Ana, se está com dor, precisa ver o que é - disse preocupado. - Mesmo que você não conte ao Thomas, deveria sim ir ao hospital.
- Você esqueceu que ele trabalha lá? - Diana riu do outro lado da linha. - Além disso, hoje ele é o neonatologista de plantão, não tenho como fugir dele nesse caso.
- Toma cuidado, tá? Não fica se estressando com os nossos problemas.
- Não estou estressada, estou preocupada com vocês três. Acho que nenhum de vocês está pensando direito, estão fazendo e dizendo coisas no calor do momento.
- Damon e Louise talvez, mas sei o que estou fazendo, quero que vocês fiquem bem, vai dar certo. Não vou sumir definitivamente, nossos pais precisam ter notícias também, não é? Só vamos evitar contar a parte da maldição e que Damon e eu brigamos por causa disso, acho que não acreditariam, além de me obrigarem a fazer as pazes com ele, coisa que eu não quero e ele muito menos. Não consigo esquecer as coisas que ele me disse, não quero ver Damon nos próximos 10 anos.
- Me dói ouvir você dizendo isso, vocês sempre foram inseparáveis.
- Sinto muito, mas ele perdeu a razão no momento em que apontou o dedo pra mim e disse aquelas coisas. Posso ter aceitado outras vezes, mas não agora. Vou ligar para a Lotte e ver se está tudo bem por lá, mas ele não vai contar comigo dessa vez.
- Entendo a sua mágoa...

Conversaram durante mais um tempo, e prometeu que iria visitá-la antes de ir embora, apenas depois disso eles desligaram e ele foi dormir, ou pelo menos tentou, pois era difícil sentir sono depois de uma onda de notícias ruins, além de ter deixado a mulher da sua vida ir embora. O olhar de súplica de lhe atormentaria naquela noite e em todas as outras pelo resto da sua vida. Seria uma noite longa para e ele ainda não fazia ideia de para onde iria, se mudaria em definitivo, se deveria vender aquele apartamento... até pensou que Aberdeen fosse uma boa escolha, assim poderia investigar mais sobre um passado recente e talvez Jesse poderia lhe contar mais coisas. Enviou uma mensagem ao ex cunhado e não esperou pela resposta, virou para o lado e tentou adormecer.

...

Diana acordou cedo no dia seguinte e decidiu preparar o café da manhã para Louise, que ainda estava dormindo no sofá. Recebeu uma mensagem de Thomas onde ele avisava que já havia chegado do plantão e iria descansar um pouco, pois pretendia se encontrar com ela à noite. Diana estava cogitando de fato ir ao hospital, pois continuava sentindo dores na região do abdômen e se sentia indisposta, ela fez um grande esforço para levantar da cama naquela manhã.

Quando Louise acordou, o café da manhã já estava quase pronto. Diana havia preparado ovos fritos com tomates e bacon para a irmã enquanto optou por uma salada de frutas para ela, pois estava sem fome.

- Vou ter que vir aqui mais vezes, parece estar ótimo - Louise disse enquanto se sentava após se servir.
- Considerando que eu moro aqui desde setembro e você nunca tinha vindo me visitar, então sim, Louise, você precisa vir mais vezes - Diana disse após engolir um pedaço de banana e as duas deram risadas.
- Claro que vou vir mais vezes. Thomas mal tem tempo pra ele mesmo, imagino que você vá precisar de muita ajuda com o bebê.
- Com certeza vou precisar, eu não faço ideia de como é ser mãe - Diana admitiu com um pouco de nervosismo.
- Você vai ser uma boa mãe, Ana.
- Eu não sei, foi tão de repente... Tom está feliz da vida, otimista, ele adora crianças, mas... eu não sei se estou pronta. Estamos juntos há uns dois meses e já vamos ter um filho, me sinto até irresponsável.
- Tenho que admitir, achei que você iria esperar o casamento - Louise disse na tentativa de descontrair e Diana gargalhou. - É brincadeira. Pelo menos é o Thomas, não é? Ele é um cara legal e responsável.
- Eu tenho certeza de que ele vai ser um pai maravilhoso - ela sorriu de canto. - Mas eu não sei se vou ser uma mãe à altura.
- Não fala assim. Você sempre cuidou da Clara muito bem, sempre sabe do que ela precisa. Talvez não seja a mesma coisa, é claro, mas já é um começo.
- Espero que dê certo, pois eu não sei o que fazer se não der - Diana suspirou. - Eu sempre fui a pessoa que fui cuidada, não é? Todos vocês cuidaram de mim, nunca ao contrário. Tenho medo de falhar na única coisa que eu não posso errar, Louise.
- E quem disse que você não pode errar? - Louise tomou as mãos da irmã. - Diana, você vai errar, todo mundo erra. Não posso te dizer como é ser mãe, mas você é a pessoa mais inteligente que eu conheço e não tem nada que você não consiga superar. Vai dar tudo certo, eu sei que vai. Além disso, você sempre vai ter o nosso apoio.
- Estou tão feliz por você estar aqui, obrigada pelo apoio - Diana admitiu, e viu um sorriso gigante aparecer nos lábios de Louise. - Tive medo de nunca criarmos um vínculo.
- Eu também tive - Louise confessou, voltando a olhar para as mãos delas juntas. - Mas o passado não importa mais, o que realmente importa é que agora temos.
- Você tem toda a razão.

Elas continuaram conversando enquanto tomavam café da manhã. Louise sugeriu um passeio pela cidade e Diana concordou, mesmo que não estivesse se sentindo bem. Vestiu um sobretudo pesado e enrolou seu cachecol verde ao redor do pescoço para que pudessem sair. Oxford era uma cidade adorável e o lugar onde Diana morava era movimentado, havia um parque bem perto dali onde elas optaram por caminhar enquanto conversavam.

- Você tem falado com Damon ultimamente? - Louise perguntou enquanto ajeitava seu cabelo bagunçado pelo gorro. - Ele não está atendendo minhas ligações desde ontem.
- Lou, acho que de todos nós, Damon é o que está na pior. Charlotte foi embora e levou a Clara junto, ele está arrasado.
- Ela levou a Clara embora e nem nos avisou? Por que ela fez isso?
- Damon disse que Charlotte não confia mais nele depois da discussão dele com , por isso decidiu voltar pra casa dos pais e levou a Clara junto. Eu não acho que fosse pra tanto, talvez ela não conheça o Damon tão bem assim, não sabe o pai que ele é e a forma como criou Clara nos últimos meses.
- Também acho errado, mas acho que ninguém está com a cabeça no lugar ultimamente... - Louise suspirou. - Talvez eu tenha me precipitado em relação ao Will, mas não consigo me desculpar sabendo que ele defende o Carter e ignora tudo o que ele fez.
- Lou, é o irmão dele, dessa vez as coisas são diferentes, tem uma ligação de sangue. tem uma pequena parcela de culpa e mesmo assim estamos defendendo o nosso irmão, não é? Will está fazendo o mesmo.
- não tem culpa de nada.
- Ele era casado com a Luce, não era? Estava se envolvendo com a mesmo sendo casado, então sim, ele também tem um pouco de culpa. Vou dizer isso para ele? É claro que não, mas não quer dizer que eu concorde com adultério.
- Se eu fosse casada com alguém como a Lucinda, eu também trairia - Louise fez cara de nojo. - Tá, tá bom, ele errou, mas não é nada perto do que o Carter fez. Até parece coisa de livro, jamais achei que tudo o que aconteceu na minha vida até hoje foi por influência de uma maldição da qual eu não tenho culpa nenhuma. Quero dizer, eu vim depois, não é? Não participei de nada.
- Eu estava lá quando aconteceu, consigo me lembrar um pouco, foi uma morte horrível. Não é atoa que ele me dá calafrios todas as vezes que o vejo.
- Will não sente nada disso como você e isso me irrita. Ele é tão imaturo! Não sei onde eu estava com a cabeça em namorar com um cara mais novo.
- Estão interligados, Louise, não se esqueça disso. Você mesma disse que tudo na sua vida é influenciado pela maldição.
- Você acha que... - Louise hesitou ao pensar naquilo. Amava William, não queria pensar que pudesse estar certa.
- Não sei, talvez... e se só estivemos com eles por causa da maldição? Se isso não existisse, será que eu teria conhecido o Will? Você estaria com o Thomas mesmo assim? Realmente gostamos deles ou só estamos sob efeito da maldição?
- Não sei, mas espero que não seja só isso, provavelmente eu não teria a sorte de ter alguém tão bom quanto o Thomas.
- Talvez você tivesse o Jesse, ele te amou esse tempo todo, não posso imaginar como seja frustrante pra ele.
- Eu amei o Jesse de verdade, ele foi meu primeiro amor e ainda o amo, mas de um jeito diferente. Eu não queria que ele se sentisse assim, mas estamos falando de centenas de anos atrás. Eu queria que ele fosse livre, mas parece que ele é tão amaldiçoado quanto a gente.

Diana e Louise passaram aquela fria manhã de sábado inteira no parque conversando, almoçaram em um restaurante próximo e depois voltaram para a casa da gêmea mais nova. Enquanto Louise caía no sofá para descansar suas pernas cansadas, Diana pediu um instante para ir ao banheiro. Quando ela viu o sangramento em sua roupa íntima, sentiu que algo estava errado.

- Calma, Diana, respira - dizia para si mesma enquanto trocava de roupa no quarto.

Diana jogou suas roupas sujas no cesto do banheiro e voltou para a sala. Louise notou a agitação da irmã e se levantou preocupada.

- O que foi, Ana?
- Eu preciso ir ao hospital, tem alguma coisa errada, estou sangrando - Diana disse, aflita. - Você pode ir comigo? Eu não quero contar para o Thomas.
- Tudo bem, eu vou, mas ele precisa saber, Diana.
- Não, não agora. Só vamos, depois eu me entendo com ele.

...

Quando Diana chegou ao hospital foi atendida rapidamente após Louise se exaltar na recepção e pedir urgência para sua irmã grávida. Diana normalmente daria um sermão em Louise, mas estava tão preocupada que agradeceu por poder passar na frente das outras pessoas. Diana foi encaminhada ao obstetra e após uma consulta detalhada, teria que se submeter a um ultrassom para ver se estava tudo bem com o seu bebê. Louise entrou na sala com sua irmã e segurou a mão dela quando Diana pediu, enquanto as duas aguardavam apreensivas por uma resposta do médico.

- Senhorita Jones, estou conseguindo ver o feto bem aqui - o obstetra apontou para a tela e Diana acompanhou. - Mas não há qualquer sinal de batimentos cardíacos ou de movimentação. Eu sinto muito mesmo, mas será necessário fazer uma curetagem porque a sua gestação foi interrompida.

... Thomas tirou a manhã inteira para descansar, havia acabado de sair de um plantão de 36 horas e estava exausto tanto fisicamente quanto emocionalmente, mas ainda precisava estudar na parte da tarde e à noite iria para a casa de Diana conforme combinaram antes.

Ele acordou por volta do meio dia e foi preparar seu café da manhã. Como de costume, mandou bom dia para seus irmãos enquanto comia, perguntando se estavam bem, mas tanto William quanto responderam que estavam passando por momentos ruins, cada um com sua justificativa. Thomas ainda não sabia que os relacionamentos deles haviam acabado e estava bastante surpreso, mas antes de responder qualquer um dos dois, seu celular começou a tocar e ele viu o nome de Diana na tela.

- Oi, amor. Bom dia, ou melhor, boa tarde, já passou do meio dia - deu uma risada boba. - Está tudo bem?
- Oi, Tom, é a Louise.
- Oi, Lou, aconteceu alguma coisa com a Diana? Você parece um pouco preocupada.
- Será que você pode vir ao hospital? - a voz de Louise era chorosa, o que deixou Thomas ainda mais preocupado.
- O que aconteceu? - ele perguntou já se levantando e indo em direção ao quarto para trocar de roupa.
- Tive que pegar o celular dela à força, Diana não queria que eu te ligasse... Tom, eu sinto muito mesmo! - ela fungou do outro lado da linha, estava se contendo para não chorar alto. - Diana perdeu o bebê.

Thomas parou o que estava fazendo e ficou estático. Estava ouvindo certo? Diana havia sofrido um aborto espontâneo? Por que ela não queria que ele soubesse?

- Tom? - Louise chamou por ele quando se deu conta de que ele ficou em silêncio.
- Oi... estou aqui, eu... ela está bem?
- Ela está reagindo da forma dela... ela vai precisar fazer uma curetagem, não sei o que é isso, mas ela vai ter que ficar por aqui.
- É uma raspagem do útero pra... - ele passou a mão pelo rosto, nervoso. Não era hora de bancar o sabichão. - Estou indo agora.

...

Thomas estava tentando se manter inabalável para quando visse Diana, mas estava sendo difícil. Ele já tinha presenciado aquele momento diversas vezes no hospital, mas jamais imaginou que aconteceria com com ele. Tom havia aprendido a esconder as suas emoções ao longo dos anos exercendo medicina e no geral ele costumava lidar muito bem com situações delicadas ou momentos de tensão, mas não sabia se iria conseguir daquela vez.

- Vim o mais rápido que eu pude - Thomas disse ao avistar Louise no corredor tomando um café. - Como ela está?
- Eu não sei, não me deixam entrar, ela demorou para reagir quando o médico deu a notícia pra gente e agora ela está fazendo o mesmo de sempre, afastando todo mundo - Louise disse chateada, espremendo os olhos para não chorar. - E como você está?
- Eu... eu estou tentando não desabar na frente dela - ele admitiu cabisbaixo. - Vai ser bem difícil... como que aconteceu?
- Passamos a manhã no parque conversando, quando voltamos pra casa dela, Diana foi ao banheiro e viu que estava com um sangramento, disse ao médico que estava sentindo cólica desde que voltou de viagem.
- Eu não sabia disso, por que ela não me contou?
- Porque a Diana é assim, Tom, ela não quer preocupar ninguém, ela sempre foi assim... bom, o sangramento era porque ela perdeu o bebê. O obstetra disse que ainda é um pouco difícil identificar o motivo, mas ele acredita que foi uma má formação que causou isso.
- Certo... obrigado, Lou, eu vou tentar falar com ela.
- Você pode entrar?
- Mesmo que eu não pudesse - Thomas prendeu seu crachá ao moletom que estava vestindo. - Eu já volto.
- Vou até a casa dela buscar algumas roupas pra ela, até mais tarde.

Thomas concordou e entrou no quarto. Diana estava na cama com o rosto virado em direção à janela, mas ergueu o pescoço para ver a porta abrindo. Ele se aproximou da cama sem saber o que dizer, o que era frustrante para ele, que sempre tinha uma palavra de consolo na ponta da língua para uma mãe que perdeu o seu bebê. Não sabia o que dizer para a mãe do seu próprio filho.

- Eu vim assim que Louise me ligou - ele se sentou na ponta da cama de frente para ela. - Ana, por que você não queria me contar?
- Eu não consigo nem mesmo gerar! - Diana se lamentou, tentando conter a vontade de chorar, mas em vão. Ela desviou o olhar. - Me desculpa, Tom.
- Ei, você não tem nada com o que se desculpar. Eu sinto muito mesmo, Diana, estou tentando me segurar, mas antes de qualquer coisa, eu quero que você fique bem. Sei que não vai ser fácil conseguirmos superar isso, mas eu estou aqui, você não tem que passar por isso sozinha.

Diana não respondeu, escondeu o rosto para chorar porque não queria de jeito nenhum que Thomas a visse daquele jeito. Se sentia inútil e incapaz, além de se sentir triste por saber que nunca saberia como seu filho poderia ter sido. Apesar de tudo, lá no fundo, estava feliz porque seria mãe e estava disposta a aprender com Thomas, mas agora se sentia impotente e achava que estava o desapontando.

Gentilmente, Thomas a abraçou como pôde, não estava em uma posição confortável. Diana chorou feito criança enquanto ele tentava se manter forte, mas estava tão quebrado quanto ela. Queria que aquilo fosse apenas um pesadelo, sabia que Diana odiava demonstrar vulnerabilidade para qualquer pessoa, mesmo que fosse para ele, então não podia nem imaginar o que ela estava sentindo ao ponto de chorar daquela maneira compulsiva.

- Vai ficar tudo bem, você vai ficar bem. Você é a mulher mais forte que eu já conheci, vamos conseguir superar isso juntos - ele disse após se afastar.
- Vai pra casa, Tom, você não precisa ficar aqui - Diana secou suas lágrimas em seu braço. - É seu dia de folga.
- Diana, você não vai ficar aqui sozinha, é óbvio que eu vou ficar com você! Só não vou entrar na sala de cirurgia com você porque não sou obstetra, mas vou ficar aqui o tempo que precisar, não vou te deixar sozinha nunca!

Diana achava que não merecia ouvir nada daquilo. Thomas era gentil e paciente sempre, mas ela estava se culpando ao ponto de achar que ele só estava dizendo aquelas coisas para esconder o que realmente estava sentindo. Nem todo o acolhimento que ele pudesse oferecer para ela parecia ser o suficiente para que Diana se sentisse melhor.

- Eu já volto, está bem? Vou procurar o seu médico para conversar com ele, provavelmente o conheço.

Diana concordou e Thomas saiu do quarto. Ela fechou os olhos e respirou fundo algumas vezes, não queria voltar a chorar. Na verdade, Diana queria sumir naquele momento, ou pelo menos ficar invisível, queria que todo mundo se esquecesse dela para que ela não fosse o centro das atenções por uma coisa ruim. Só de pensar que faria sua família e Thomas sofrerem, se sentia voltando no tempo quando esteve doente. Por mais que toda a sua família tivesse afirmado centenas de vezes que fariam tudo de novo por ela, Diana nunca conseguiu superar a sensação de estar causando um incômodo em alguém.

Todo o sentimento de culpa estava voltando de uma vez, e ela não sabia se iria conseguir passar por aquilo de novo.



Capítulo 29 - One more ending

A cirurgia de curetagem que Diana foi submetida não durou mais do que trinta minutos. Ela passou a noite em observação no hospital e foi liberada no dia seguinte pela manhã, sem complicações. Havia conversado com seus pais pelo telefone e eles claramente estavam preocupados, mas estavam focados em fazê-la se sentir melhor, garantindo que pegariam o próximo voo para a Inglaterra.

Louise disse que passaria a noite no hospital com a irmã, por isso obrigou Thomas a ir pra casa para descansar, pois ele havia passado quase o dia inteiro no hospital com ela e nem estava trabalhando. Contra sua vontade Thomas foi, mas não conseguiu pregar os olhos à noite. Ao invés disso, passou boa parte da noite em chamada de vídeo com seus irmãos e seu melhor amigo, contando tudo o que havia acontecido e como ele estava cansado, também ligou para os seus pais que disseram que pegariam a estrada pela manhã. , William, Carter, Jake e Katie chegaram em Oxford por volta das oito horas da manhã, se recusavam a deixar Thomas passar por aquilo sozinho e queriam lhe dar todo o apoio que pudessem.

Thomas garantiu que todos estivessem acomodados em sua casa e só depois disso voltou ao hospital para levar Diana de volta para casa. Ao entrar no quarto, encontrou também Louise, e Damon, os gêmeos claramente se evitando e ainda tinham pequenos hematomas da briga pelo rosto, o que gerava um desconforto ainda maior. Thomas se sentiu tenso por estar ali, mas ignorou para que pudesse ver Diana.

- Vim te levar pra casa - disse se sentando na ponta da cama, lugar cedido por Damon. - Eu já falei com o seu médico e ele vai vir aqui para te dar alta daqui a pouco.

- Eu... eu queria conversar com você um pouco... em particular - olhou para seus irmãos, que concordaram em deixá-los a sós. Apenas quando estavam sozinhos, Diana voltou a falar. - Tom, eu... eu não sei como dizer isso de uma forma que você entenda... passei a noite toda pensando nisso, mas... eu... hum... eu não posso fazer isso com você.

- Isso o quê, Ana? - ele perguntou sem entender.

- Isso! - e Diana não sabia como explicar sem se enrolar nas palavras, pois era a coisa mais difícil que faria em toda a sua vida. - Era pra ser tão simples, era para sermos três, mas nem isso eu consigo fazer! Não é justo com você...

- Já falamos sobre isso, não tem o menor cabimento você pedir desculpas pelo que aconteceu... - Thomas respirou fundo. Diana sabia como testar a sua paciência de maneira extrema quando fazia aquilo. - Diana, ninguém, absolutamente ninguém está te culpando por alguma coisa. Era um feto com má formação, você poderia ter tido uma gravidez de risco, poderia ter complicações no parto que te custariam a vida, ou se tivéssemos muita sorte de poder criar o nosso bebê, seria bem difícil porque seríamos pais atípicos... você realmente não tem motivo nenhum para se desculpar. Nem sei se Deus existe, mas se existir... sei lá... ele deve saber o motivo, ou o universo quis assim, talvez o destino... não sei o que mais preciso dizer para que você entenda isso.

- Eu... eu preciso... não, eu quero passar por isso sozinha e eu espero que você respeite a minha decisão - Diana disse com convicção e notou a confusão na expressão dele. - Não vou envolver mais ninguém nisto, sei que infelizmente não vou conseguir fazer a minha família ficar longe, mas não posso te envolver nisso também.

- Diana, eu também perdi o meu filho, nós perdemos - Thomas disse sem acreditar no que estava ouvindo. - Você acha que não está doendo em mim também? Por favor, seja coerente, eu não estou contra você, eu estou com você. Precisamos passar por isso juntos.

- Não, você não precisa - Diana espremeu os lábios em uma linha fina, estava sendo muito difícil fazer aquilo.

- Vai me afastar de você outra vez? - ele não podia acreditar no que estava ouvindo. - Está terminando comigo no momento em que mais devíamos estar juntos? Diana, você não pode simplesmente afastar as pessoas de você assim, especialmente eu!

- Tom, por favor, vai pra casa. Eu sei que você não vai entender, ninguém nunca entende.

- É claro que ninguém entende, simplesmente não faz sentido você me pedir isso... - Thomas estava indignado e pronto para erguer o tom de voz, mas dada a delicadeza da situação, ele apenas respirou fundo e se conteve para continuar. - Diana, eu sei que você acha que está causando um estrago enorme, mas não está. Eu amo você e nunca pensaria qualquer coisa ruim sobre você. Eu só vou embora se você me garantir que não sente o mesmo por mim e realmente quer terminar por causa disso.

Diana não tinha coragem de dizer aquilo, pois estaria mentindo. Ela o amava. No presente, no passado e no futuro, com todas as suas qualidades e defeitos. Achava que nunca mais amaria alguém depois de Jesse, a quem amou intensamente, mas mal sabia ela que ainda não havia encontrado o seu destino. Agora ele estava ali e ela se via na obrigação de deixá-lo livre para estar com alguém que fosse capaz de fazer o mínimo por ele, algo que ela não poderia.

Thomas, que não costumava ser insistente, se deu por vencido, eram muitas coisas ao mesmo tempo para que ele pudesse assimilar e ele não tinha força nenhuma para continuar rebatendo, embora tivesse muitos argumentos.

- É isso mesmo o que você quer? Você tem certeza?

- Tenho. Eu quero que você seja feliz e livre.

- Certo, então vou respeitar a sua decisão, embora eu não concorde, mas acho que você deve saber que nunca estive tão magoado quanto agora. Acho que você deveria parar de olhar para o passado, até porque você está muito viva para mim e eu sinto muito pelo que você passou quando criança, mas isso não deveria ser a razão pela qual você se priva de ser feliz mesmo depois de quinze anos. Eu acho que nunca estive de luto antes e não queria ter que lidar com isso sozinho, me magoa muito saber que não posso contar com você no pior momento da minha vida, mas como eu falei, vou respeitar a sua decisão, Diana. Se cuida.

Thomas não esperou uma resposta, se levantou e foi embora, deixando uma Diana completamente sem palavras e se sentindo um monstro para trás. Passou por Louise, e Damon no corredor sem se despedir, então eles entenderam que tinha algo errado, decidiram entrar para ver se estava tudo bem. Diana parecia calma, porém triste.

- Deixei ele ir - ela olhou para eles e os três estavam prontos para dizerem alguma coisa. - Sim, terminamos, eu terminei. Por favor, eu não quero levar nenhum sermão, sei o que fiz.

- Diana, você não pode afastar as pessoas de você! - Louise repetiu a frase de Thomas. Diana se sentiu ainda mais culpada.

- Ainda mais o Thomas... Ana, também é da conta dele, não é justo fazer isso - Damon procurou as palavras mais leves para dizer aquilo, pois podia ver que era uma decisão difícil para ela.

- Vocês dois perderam o bebê, a gente sabe que pra você é ainda mais difícil porque você estava gerando, mas não quer dizer que seja fácil para ele - completou e Diana concordou.

- Eu sei, mas eu não quero que Thomas tenha que lidar comigo enquanto eu estiver assim, ele não precisa de mais um problema.

Louise, e Damon se entreolharam. Estavam entrando em um looping, sabiam o que ela queria dizer e parecia que as palavras se tornaram automáticas, mas estavam prontos para fazer mais um discurso.

Thomas, por sua vez, voltou para o seu apartamento com o pensamento distante. Estava arrasado pelo que havia acabado de acontecer, não queria aceitar que Diana de fato estava terminando com ele em um momento tão delicado para os dois, além disso, ele ainda tinha que lidar com a perda do bebê aparentemente sozinho. Estava sendo difícil se conter e ele não sabia até quando poderia fazer isso.

Quando abriu a porta de casa e viu todos aqueles rostos preocupados olhando para ele, Thomas não conseguiu mais se segurar. Sempre foi muito bom em lidar com seus sentimentos e a última vez que havia perdido o controle deles foi quando pensou em abandonar o mestrado em pediatria, mas dessa vez estava sendo muito, muito pior em sua opinião.

Passaria 10 anos no mestrado se fosse preciso, mas a ideia de uma vida inteira sem Diana e o filho deles era dolorosa demais.

- Ela simplesmente terminou comigo - ele disse enquanto era consolado por . - Se considera um fardo, está se culpando por ter perdido o bebê.

- Não deve estar sendo nada fácil pra Diana também, Tommy, ela só não está pensando muito bem agora - foi com ele até o sofá, Jake deu espaço para eles e se levantou.

- Na verdade, ... Diana sempre foi assim, sempre afastou todo mundo que tenta se aproximar dela - Jake explicou com pesar.

- Nunca tivemos uma relação próxima com ela por causa disso - Katie completou e Jake concordou. - Ela se culpa por coisas que não consegue controlar, não estamos surpresos por ela estar se culpando por ter perdido o bebê, embora seja muito triste saber que ela está realmente fazendo isso.

- Tenho certeza que a Diana já está tendo o apoio que precisa, podemos focar no que estamos vendo aqui? - William interrompeu um pouco irritado pela repentina mudança de foco. - Tom, podemos fazer alguma coisa por você, cara? Qualquer coisa?

- Não, obrigado, eu vou ficar bem - Thomas jogou a cabeça para trás, se reclinando no sofá e cobrindo o rosto com as mãos.

Carter observou a cena sentado na poltrona ao lado. Queria demonstrar apoio, mas a culpa era muito maior. Não que ele tivesse causado aquilo literalmente, mas todas as coisas ruins que estavam acontecendo aos seus amigos eram fruto de algo ruim que ele fez, da maldição. Não precisou pensar muito para entender que todos aqueles términos, brigas e tragédias eram a maldição agindo sobre todos eles e por isso se sentia tão culpado.

Carter conhecia Thomas há mais de vinte anos e nunca o tinha visto chorar porque Thomas sempre foi o pilar da família, sabia lidar com pressão e sentimentos ruins por conta da sua profissão, mas se sentia culpado por vê-lo tão triste e saber que era o causador daquilo, mesmo que indiretamente. Tinha duas ideias de como acabar logo com aquilo, mas isso lhe custaria muito, ou talvez tudo, dependendo de qual das duas maneiras ele faria.

De qualquer forma, queria apenas que toda aquela dor passasse logo.

Apenas quando os nervos de Thomas se acalmaram e a situação parecia um pouco mais amena, Carter chamou William de canto, precisava contar o que tinha em mente para alguém e confiava em seu irmão caçula.

- Será que você poderia me passar o telefone do Jesse? Eu acho que tive uma ideia de como acabar logo com essa maldição.

- Só se for agora - William disse enquanto pegava o celular para enviar o contato para ele. - O que você tem em mente?

- Will, eu sei que isso parece coisa de filme, irreal, mas eu... eu acho que consigo desfazer a maldição da mesma forma que eu fiz.

- Com magia? - William franziu o cenho, ainda estava custando a acreditar que aquilo era real.

- Mais ou menos isso... estive pensando... somos descendentes dessas pessoas do passado, certo? Eles reencarnaram em nós e eu meio que me sinto... como posso dizer? Conectado... com essa coisa de bruxaria e também com essa versão passada de mim. Eu acho que se eu estudar sobre isso e acreditar, então eu posso desfazer.

- Isso parece um pouco difícil, Carter, levaria anos para você aprender, eu suponho.

- Preciso tentar... eu tenho medo de que essas versões passadas tentem tomar o controle. É muito difícil de controlar essa... - Carter não sabia muito bem o que era aquilo, só que era assustador.

- Possessão? - William tentou ajudar e o mais velho assentiu.

- É, possessão. Eu consigo voltar ao normal, mas eu tenho medo que aconteça alguma coisa, por isso quero tanto desfazer isso logo. Acredito que se eu falar com Jesse e com aquele cara, o John, eu tenha alguma chance.

- Até onde sei, Jesse não faz magia, mas acho que você pode tentar.

- Eu preciso tentar ou isso não vai acabar nunca! Olha tudo o que está acontecendo ao redor... é culpa minha!

- Não fala assim.

- Eu sei que você não quer me magoar, mas eu tô conformado, sei o que causei em vidas passadas. Me desculpa por te envolver nisso, simplesmente previ que você viria no futuro... na última vida eu desejei fazer diferente e ser bom, queria me aproximar de vocês e voltei como seu irmão. Agora tenho a chance de concertar o meu erro.

- Você vai conseguir, eu sei que vai, confio totalmente em você... bom, eu também sou um descendente, então se eu puder ajudar de alguma forma, vou ajudar. Pode falar com o Jesse, ele sempre tem um bom plano em mente.

- Eu vou falar. Obrigado, Will, agora vamos focar no Thomas por enquanto, ele vai precisar de apoio.


Thomas nunca tinha visto seu pequeno apartamento tão cheio assim, e, quando seus pais chegaram, ficou ainda mais apertado. Ninguém estava de fato reclamando e ele não tinha muito ânimo para reverter a situação, além de estar gostando de ver todas aquelas pessoas ali por ele para lhe dar apoio, sabia que jamais ficaria desamparado.

- Você sempre cozinha pra mim quando vai me visitar, então eu tomei a liberdade de fazer o mesmo por você - Lizzy disse enquanto servia o jantar na mesa mais tarde.

- Você sabe que não precisava, mãe - Thomas disse enquanto se servia, esboçou um sorriso fraco quando ela fez cara de brava.

- Não precisava, mas eu fiz mesmo assim. Infelizmente não posso tomar a sua dor pra mim, então vou fazer tudo o que eu puder, porque ainda sou sua mãe. Estive pensando: por que você não volta com a gente para Manchester durante uns dias?

- Me parece uma ideia muito boa - ele respondeu com um certo cansaço na voz, sempre era comprometido com o trabalho e os estudos, mas a ideia de ser cuidado pelos pais parecia ser muito acolhedora. Ele mal podia se lembrar quando foi a última vez que voltou para a casa dos pais apenas para ser mimado. - Vou pedir alguns dias de licença. Imagino que Diana vai ficar bem com a família dela, então vou me permitir tirar uns dias para descansar também.

- Tenho conversado bastante com o Henry ultimamente, Diana é a menina dos olhos dele, ele deve estar arrasado também - Lewis disse após bebericar o seu suco. - Além dos irmãos dela, é claro - olhou para e William que também já estavam comendo, porém no sofá. - Como estão e Louise?

- Ótimos! - respondeu quando percebeu que William daria uma resposta negativa. - Quero dizer, estamos todos tristes e eles estão dando apoio para a Diana, não é? Mas eles estão bem.

- Mandem um abraço para eles. Espero que esteja te tratando bem.

- Pai, até parece que você não conhece o , ele continua o mesmo, continua incrível - ela disse sorrindo com convicção. - Estamos bem. Lou e Will também, não é? - olhou para o irmão caçula, que concordou.

- Sim, estamos bem também - William respondeu com a mesma convicção, mas não tão empolgado quanto a irmã. Entendeu a mentira apenas pelo olhar de .

Jake, que estava observando enquanto jantava sentado no chão da sala, não precisou de muito esforço para entender a mentira também. Claramente não queria contar sobre a maldição para os seus pais, eles estranhariam um repentino término dos três casais. Por isso, pegou seu celular no bolso e começou a digitar uma mensagem para e Louise contando o que estava acontecendo e pedindo para que colaborassem, caso fosse necessário. Katie observou seu irmão pelo canto dos olhos e fez um aceno positivo de cabeça quando ele olhou para ela.

A princípio, a mentira passou despercebida por Lizzy e Lewis, que continuaram achando que seus filhos mais novos estavam felizes em seus relacionamentos, por isso estavam dando toda a atenção possível para Thomas que não achava justo que seus irmãos aguentassem as perguntas enquanto fingiam sorrisos e brincadeiras. Queria contar a verdade, mas sabia que era irreal demais para que seus pais acreditassem, já estava sendo difícil o suficiente convencer a si mesmo de que não era só um pesadelo.

E como Thomas havia deixado de ser o centro das atenções quando seus irmãos menores nasceram, ele não se importou em recuperar aquele posto só por algum tempo. Seus irmãos o abraçavam o tempo inteiro, sua mãe estava cozinhando para ele e seu pai se esforçava para fazê-lo se sentir melhor, sendo assim Thomas não poderia estar mais grato pela família que tinha, sabia o quanto era privilegiado.


Na casa de Diana o clima não era diferente. Eloise e Henry estavam no avião a caminho da Inglaterra e por isso Diana estava acompanhada de seus irmãos. Damon estava com ela no quarto enquanto Louise e preparavam o jantar. Louise viu a mensagem de Jake e mostrou para enquanto ele mexia o ensopado.

- Sinceramente, não sei se consigo fingir - disse com sinceridade.

- Precisamos. Acho melhor não contarmos para os nossos pais agora. Eu também não queria fingir, mas não temos outra opção no momento, . Eles vão chegar aqui preocupados com a Diana, não teremos tempo de contar todo o resto.

- Nossos pais são espertos o suficiente para perceber que Damon e eu temos machucados no rosto e não estamos nos falando.

- Não está tão ruim, da pra esconder com maquiagem - Louise tentou amenizar, embora tivesse razão.

- Não. Deixa pra lá, eu vou pra casa e invento uma desculpa. Quando eles forem embora, eu volto para ver como está a Diana. De qualquer forma, preciso terminar de preparar minha mala e ir embora logo antes que eu...

- Se arrependa e decida enfrentar isso junto com a como deveria ser?

- Louise...

- , ela está nesse exato momento mentindo para os próprios pais, fingindo que está tudo perfeito. Não posso imaginar como esteja doendo nela por fazer isso, mas por quanto tempo ela terá que continuar mentindo? Uma hora eles vão descobrir e ela vai se encrencar sozinha.

- Você está fazendo o mesmo com o Will e ele também está mentindo - olhou para Louise. que ficou sem palavras por um instante.

- É diferente, William está cego, não vê a verdade debaixo do nariz dele.

- Louise, o Carter é irmão dele.

- Não importa, não quero falar sobre ele. Eu consigo mentir também, tudo bem, posso fazer isso por você se você me garantir que não vai sumir.

- Eu prometo te dar notícias. Vou terminar o jantar, avisar a Diana e ir embora antes que nossos pais cheguem. Se puder pedir ao Damon que invente uma desculpa sobre os machucados e o motivo da Clara ter ido embora, agradeço, assim ele não vai estragar tudo.

- Você está falando exatamente como ele... com desprezo.

- Lou, ele gritou comigo, me humilhou e me bateu, não tenho nenhum motivo para amar o Damon ultimamente, então eu agradeceria se você não me julgasse por estar com raiva, pois tenho certeza que ele também está.

- Não vou te julgar, é só que... - Louise soltou um longo suspiro, seu coração estava partido por uns cem motivos, mas a briga dos seus irmãos estava no top 3. - Isso não combina com vocês. Eu sempre quis ter com a Diana o companheirismo e a amizade de vocês, estou arrasada por ver vocês assim. Não posso imaginar como você está se sentindo em relação a isso.

- Quer saber? Pela primeira vez em quase 27 anos eu me sinto mais leve, me sinto livre pra ser quem eu quiser sem a pressão ridícula de me compararem com ele, além do fato de que Damon sempre tentou mandar em mim, estar livre disso tem sido ótimo. Estou triste pela Diana e o bebê, pelo fim do seu relacionamento com Will, pela partida da Clara sem que eu pudesse me despedir, pela maldição que está me assombrando, e é claro, pelo fato de eu ter pedido a mulher da minha vida. De todas as minhas tristezas, essa é a menor. Se ele tivesse por mim a mesma consideração que tive por ele, não teria feito aquilo e não tem ataque de raiva que justifique.

- Está caçando motivos para ter raiva do Damon... sei que é delicado, , mas você não está sendo sincero com você mesmo...

- Tem razão, mas vou repetir até que seja. Não preciso do Damon para absolutamente nada na minha vida.

- Eu penso a mesma coisa sobre você - Damon surgiu na cozinha após ouvir tudo o que disse. Louise se assustou, apenas olhou para trás rapidamente e voltou a mexer o ensopado na panela.

- Ouvir a conversa dos outros é feio, caso não saiba - respondeu com desdém.

- Disse que eu não tenho consideração por você? , você fodeu com a minha vida! Você esperava o quê? Que eu fosse te agradecer por isso?

- Damon, chega - Louise pediu, vendo que respirou fundo.

- Eu não diria metade das coisas que você disse pra mim, na verdade eu não diria nada, estaria com você - disse com calma, evitando se virar.

- Eu não seria tão estúpido ao ponto de fazer uma merda desse tamanho. Não pense que estou arrependido do que eu falei, continuo achando que você e a são dois egoístas por tudo o que fizeram.

- Não fala dela - desligou o fogo e se virou de repente. - Posso ter sido estúpido e egoísta como você mesmo disse, mas você, Damon, está se mostrando ser isso também, além de ser totalmente incapaz de medir suas palavras ou de manter por perto as pessoas que se importam com você, não é atoa que Charlotte foi embora e levou a Clara junto, sua imaturidade te custa caro.

- Cala a porra dessa boca - Damon disse entre dentes, visivelmente sentido pelo que ouviu, ainda estava sensibilizado pela ida delas. - Eu não suporto mais olhar pra sua cara.

- Será que vocês podem parar? - Louise se intrometeu, estava com lágrimas nos olhos. - Vocês são irmãos! Irmãos brigam, isso é normal, mas o que vocês dois estão fazendo é um absurdo, as coisas não se resolvem assim! Estamos aqui porque a Diana precisa da gente e vocês estão se atacando feito dois trogloditas! Parem, ela não pode ficar estressada!

- Está tudo bem, Lou, eu não estou - Diana surgiu na cozinha bem atrás de Damon, estava bem abatida. - E eu sei que vocês três vão dizer que eu deveria estar de repouso, mas não posso só ouvir os meus dois irmãos brigando e não fazer nada. Damon, espero que saiba o quanto você está errado em dizer todas essas coisas pra o , ele de fato nunca estaria contra você. , inventar motivos para odiar o Damon não vai fazer você se sentir melhor, machucar ele com palavras assim como ele fez com você, também não... eu estou com fome, cansada e com dor, então se vocês puderem parar de se atacar dentro da minha casa, se puderem fazer isso por mim, eu agradeço muito.

- Me desculpa, Diana, me desculpa - foi até ela rapidamente, a abraçou com cuidado e deixou um beijo no topo de sua cabeça. - Não quero te estressar com isso. Vou pra casa, tá bom? Nossos pais já estão chegando e... bom... é melhor ocultarmos algumas coisas... não quero que me vejam com o rosto assim. Prometo te dar notícias, ok? Vou ligar para você todos os dias, vou vir te ver sempre que puder.

- Não vai embora, , fica aqui - Diana pediu, sentindo o coração apertar por ouvir aquilo.

- Eu preciso ir, mas é pelo nosso bem. Eu preciso lidar com isso do meu jeito. Por favor, fica bem, eu vou te ligar todos os dias para saber como você está, mas agora eu preciso ir. Eu já fiz o jantar pra você, só descansa, tá bom? Eu te amo.

se despediu de suas irmãs, ignorou Damon completamente, pegou a mochila no sofá e foi embora sem dar muito espaço para que Diana ou Louise pedissem para que ele ficasse. Diana estava sob efeito de medicação, mas Louise não evitou as lágrimas quando ele passou pela porta. Damon se mantinha impassível.

- Alguém precisa ceder - Louise disse para Damon enquanto secava as lágrimas na manga da sua blusa. - Você não tá sendo justo.

- Não ligo, ele também não foi justo - Damon disse com indiferença, dando de ombros.

- Damon, você perdeu a cabeça! Está atacando o por uma coisa do passado... de outra vida! Tem noção do quão absurdo é isso?

- Lou, olha... se quiser ficar do lado dele, vá em frente, está tudo bem, mas não sou obrigado a ter empatia por ele.

- Eu não estou do lado de ninguém! Eu não posso ficar do lado dele e contra você, ou ao contrário também. Eu só quero que vocês parem com isso, quero que você pare de culpar o por tudo!

- Desculpa, Lou, não posso fazer isso.

Louise desistiu de debater, estava arrasada com a situação. Apenas disse que iria dormir e foi para o quarto de Diana onde seu colchão inflável a aguardava. Diana e Damon ficaram em silêncio durante alguns minutos enquanto ela se servia e se sentava na mesa para jantar.

- Louise tem razão - Diana finalmente falou após algum tempo, mantinha um tom de voz baixo. Damon, sentado de frente para ela, não queria entrar no assunto.

- Ana...

- Você está se sentindo melhor depois de tudo o que disse e fez? Seja sincero comigo.

- Não é sobre isso, é que...

- Está se sentindo melhor por culpar o por uma coisa que aconteceu há... não sei, uns 350 anos atrás? Responde, Damon.

- Quero que ele saiba o que fez... quero que saiba muito bem - Damon riu sem qualquer humor.

- Ele sabe, você não precisa relembrar ele o tempo todo... Dam, não estamos contra você, nem eu e nem Louise tomamos um lado porque amamos vocês dois e queremos que vocês fiquem bem... Pense melhor sobre isso, ok? Com calma e de cabeça fria.

- Você acha que ele tem razão? - Damon perguntou, subitamente pensativo. - Que eu não sei manter as pessoas perto de mim? Que sou imaturo?

- Você não é imaturo... não mais - Diana concordava em partes com aquilo, mas de maneira alguma faria Damon se sentir mal. - É verdade que algumas atitudes suas no passado cansaram a Lotte ao ponto de vocês terminarem o namoro, mas isso já faz tempo e você mudou, é um bom pai para a Clara... estava apenas tentando te atingir, não quer dizer que ele esteja certo.

- Não sei, talvez ele esteja... eu sei que foi culpa minha ter acabado... mas eu ainda gosto dela - Damon disse cabisbaixo, encarando suas mãos unidas sob a mesa. - Eu nunca precisei conquistar mulher nenhuma até conhecer a Lotte... e ela me deu o maior presente que eu já tive na vida, que é a nossa filha. Ela era incrível demais para mim.

- Charlotte não é como as outras mulheres com quem você já esteve, foi paciente, mas não foi o suficiente pra dar certo. Era outra época, Dam, vocês eram mais jovens, você não precisa mais se culpar, e se você ainda gosta dela como está dizendo, então deveria dizer pra ela.

- Não, ela não gosta mais de mim, aquele beijo no casamento dos nossos pais foi pelo calor do momento, eu tomei a iniciativa... conversamos e decidimos não falar mais sobre isso... Tá tudo bem, sério, eu só não queria que elas estivessem longe de mim agora que eu mais preciso delas, tínhamos que nos mantermos unidos.

- Concordo, deveríamos todos estarmos unidos - Diana se levantou após terminar de comer. - Vou dormir, tá? Estou cansada.

- Desculpa te encher com os meus problemas, os seus são maiores.

- Tá todo mundo enfrentando uma luta pessoal, Dam, a minha não é mais importante do que a de ninguém. Vou ficar bem, só preciso de um tempo.

Diana colocou o prato na lavadora e se despediu de Damon, indo para o quarto. Ele arrumou a bagunça que ficou na cozinha e depois foi para a sala. Estava cedo e ele não tinha sono, decidiu assistir algum filme na televisão para passar o tempo.


Em meio a tantos problemas acontecendo ao mesmo tempo, se sentia culpada por ficar olhando fotos antigas em seu celular, mas não conseguia não o fazer. Seus irmãos estavam sofrendo, ela não seria mais tia, cada dia sem acabar com a maldição era um dia a menos de vida, mas ali estava ela revisitando seus momentos com tarde da noite.

Seus pais, junto com Carter, Katie e Jake, voltaram para Londres para passar a noite, William ofereceu sua casa para que pudessem dormir de maneira confortável e no outro dia, ele, junto com e Thomas, partiriam também.

Ela estava deitada no sofá da sala enquanto William dormia em um colchão no chão. Olhava as fotos na tela e se lembrava de quando foram tiradas, sentia falta de de todas as maneiras possíveis. Sentia falta do café da manhã que só ele sabia como preparar, das maratonas de Harry Potter enquanto dividiam uma pizza e repetiam as falas dos personagens e de quando ele dedicava alguma música para ela enquanto tocava violão... tinha certeza de que estava sendo egoísta por pensar nestas coisas enquanto uma maldição os ameaçava, mas não conseguia evitar se sentir assim.

Por isso, se levantou com cuidado para não acordar William e foi até o banheiro para lavar o rosto, estava com os olhos inchados por tanto chorar só na última hora. Jogou água no rosto e voltou para a sala. William estava acordado, sentado no colchão e esfregando os olhos.

- Will, me desculpa! Eu te acordei? - ela perguntou e ele negou com a cabeça.

- Eu também ando pensando em alguém antes de dormir. Quer conversar?

se sentou ao lado dele no colchão, se encostando no sofá. Respirou fundo e fez um coque para conter seu cabelo bagunçado.

- É egoísmo da minha parte não conseguir parar de pensar nele?

- Não, é claro que não. Vocês passaram seis meses juntos, estranho seria se você não pensasse - William respondeu de maneira compreensiva.

- Ah, Will! Eu não consigo entender o motivo de ele estar fazendo isso.. de estar indo embora quando deveríamos enfrentar esse problema juntos... nem consigo me lembrar de como era minha vida antes de conhecer ele.

- Também não consigo entender o , mas não acho que valha a pena você fazer tanto esforço para tentar entender... sabe... eles são assim, todos eles... com essa mania de colocar uma ideia ridícula na cabeça e acreditar naquilo... - ele riu, pois achava aquilo um grande absurdo. - Eu não terminei, nem você e nem o Tom, foram eles, e por motivos que não fazem sentido pra gente. Sei que está doendo, mas talvez seja melhor assim, talvez a gente tenha uma chance de viver...

- Sinto muito pela Louise.

- Sinto muito pelo .

se abraçou aos seus joelhos e tornou a chorar enquanto William se esforçava para não fazer o mesmo, se limitava a tentar consolar sua irmã que parecia precisar de mais atenção do que ele, só pedia para que ela chorasse baixo para não acordar Thomas, mas não demorou nada para que o irmão mais velho surgisse na sala. Pegou três garrafas de cerveja na geladeira e entregou uma pra cada um, depois se sentou ao lado de no colchão.

- Sou um irmão mais velho bem legal, outros não fariam isso - ele disse após dar um gole da sua cerveja. - Então me digam: por que estamos bebendo no chão da minha sala?

- Fomos os três chutados por motivos que não entendemos. Eu preferia quando vínhamos aqui para beber e jogar, e não beber e chorar - William bebeu um pouco também.

- Você tá bem? - olhou para Thomas. que negou enquanto dava uma risada sem humor.

- Eu estava curtindo a ideia de ser pai, mesmo que fosse assustador... eu já lidei tanto com esse momento de dar a notícia ruim aos pais, mas nunca achei que aconteceria comigo... acho que eu teria sido um pai legal e vocês ótimos tios.

- Você não deixou de ser pai, Tommy - olhou para ele com pena.

- Mas agora não tenho o meu filho e nem minha namorada. Se conheço a Diana, ela não vai mudar de ideia tão cedo.

- Ela tem a rede de apoio dela e nós somos a sua. Queremos saber o que você está sentindo, pois dela já sabemos.

- Não tem como falar de mim sem falar dela, Will... é complicado, sei que estávamos juntos há pouco tempo e mesmo que meus relacionamentos anteriores tenham sido bons, nada se compara à conexão que tive com a Diana desde a primeira vez em que vi ela. Ainda não consigo acreditar em destino, almas gêmeas, vidas passadas... mas isso explica muita coisa sobre os meus sentimentos por ela. Não me lembro de me sentir tão mal quando terminei com a Spencer ou quando Lacey terminou comigo, tenho quase certeza de que nem chorei, agora eu estou aqui, sentado no chão da minha sala, bebendo e chorando pela mulher com quem passei menos tempo. Daqui menos de uma semana eu completo 29 anos, mas 28 e meio foram sem ela. Como isso pode me afetar tanto?

- Não é o tempo, Tommy, é a pessoa. Vidas passadas existem, temos ligação com eles por causa disso, não é atoa que levaram apenas dois meses para que eu estivesse em um relacionamento com o , acho que Will e Louise levaram ainda menos tempo... Diana é especial, mas veio com bagagem dessa vez.

- Diana não é diferente do ou da Louise, os três não estão pensando direito... eu só não queria que nós três estivéssemos aqui por esse motivo. Um brinde? - Thomas sugeriu, erguendo sua garrafa.

e William também ergueram as suas garrafas e as três se tocaram. Thomas e William deram goles exagerados enquanto evitou, subitamente o cheiro da cerveja estava lhe incomodando, não queria beber desde o ano novo, mas brindou com seus irmãos.

- Estamos brindando o quê? - perguntou para eles.

- Nossos fracassos quando se trata de amor. Se eu soubesse que Thomas tinha cervejas na geladeira, teria feito isso antes - William riu e bebeu mais um pouco. - Estou triste pra caralho, preocupado com o futuro e de coração partido, mas está sendo bom passar um tempo com vocês.

- Nem começou a beber de verdade e já está se declarando - Thomas riu também enquanto observava a careta que William fez.

- Pode me zoar, mas nós estamos aqui nos apoiando e bebendo juntos, lá eles só estão fingindo uma paz momentânea pela Diana e isso é bem triste, pois se um de vocês brigassem comigo assim, eu ia ficar quieto para evitar uma tragédia maior, por incrível que pareça. Acho que a família pesa nessas horas.

- não é de revidar, ele odeia brigas, eu não sei porque ele fez isso... - suspirou, falar dele sempre lhe dava vontade de chorar. Seus irmãos perceberam.

- Não fala dele, olha só pra você, está no fundo do poço porque ele tomou uma decisão ruim. Você sempre teve um brilho incrível, não deixa que ele tire isso de você - Thomas aconselhou e ela sorriu de canto por ouvir aquilo.

- Ei, tenho uma ideia. E se a gente só seguir em frente? Quero dizer, isso é patético, a gente não precisa deles. Talvez tenha razão e o melhor seja a separação, isso quer dizer que todos nós teremos direito à uma vida normal. Vai doer pra caralho, eu sei, mas eles já tomaram a decisão deles, não é? Não vai fazer diferença ficarmos aqui chorando atoa. Vamos seguir a nossa vida a partir de agora, só nós três como sempre foi - William disse com repentino ânimo, não queria gastar todo o seu tempo pensando em Louise.

- O buraco é um pouco mais embaixo pra mim... - Thomas se lamentou, embora não achasse que William estava errado. - Mas você tem razão, teremos uma vida pra viver. ?

- Nunca mais vou me apaixonar, dá muito trabalho - ela disse dando uma risada discreta. - Combinado, vamos seguir em frente, será nós três como sempre foi. Amanhã, ok? Acho que merecemos aproveitar essa fossa um pouquinho.


No dia seguinte, Thomas passaria boa parte da manhã preparando uma mala para passar alguns dias fora, além de ir até o trabalho justificar sua ausência que foi acatada. Ele estava decidido a ir passar alguns dias com seus pais em Manchester, sem se preocupar com o trabalho, talvez estudasse um pouco, mas também não queria fazer nada que o deixasse cansado. O plano seria voltar para Londres com seus irmãos e de lá ir para Manchester com seus pais.

Quando Thomas entrou em casa, teve uma surpresa um tanto inusitada: Eloise estava sentada em seu sofá tomando chá na companhia de e William. Ele não era próximo da mãe de Diana, quase não tiveram oportunidades para conversarem, por isso estranhou a repentina visita dela.

- Thomas, oi! - ela se levantou sorrindo. - Espero que não se incomode, vim fazer uma visita.

- Oi, Elo. De forma alguma, é muito bom te ver, não sabia que você estava aqui em Oxford.

- Henry e eu chegamos de madrugada, viemos ficar uns dias com a Diana e eu achei que seria bom ver você também e conversar, se você tiver tempo. me disse que vocês vão para Londres.

- Vamos, mas não tem problema, ainda tenho tempo. Por favor, fica à vontade.

- Will e eu já vamos colocar as malas no carro. Foi muito bom ver você, Elo - lhe deu um abraço de despedida, literalmente, William fez o mesmo e então os dois pegaram todas as malas que podiam e saíram pela porta.

Thomas não fazia ideia de como começar aquela conversa, pois não tinha ideia do que Eloise pretendia dizer. Curioso, se sentou na poltrona enquanto ela dava mais um gole no chá antes de falar.

- Henry está em um daqueles momentos de pai e filha com a Diana, então achei melhor sair. Pedi seu endereço para a . Eu só queria saber como você está lidando com tudo isso.

- Não tão bem quanto eu esperava - Thomas admitiu, se ajeitando em seu lugar. - Por ser da pediatria neonatal, já lidei muito com esse tipo de situação, mas nunca achei que fosse acontecer comigo. Estou quebrado, Elo.

- Eu também perdi um bebê... - Eloise confessou, despertando a curiosidade dele. - Louise e Diana tinham por volta de um ano e meio quando eu descobri que estava grávida de novo, o que era preocupante, pois eu tinha 23 anos e teria o quinto filho... mas aconteceu exatamente a mesma coisa que aconteceu com a Diana, o bebê não desenvolveu e eu acabei sofrendo um aborto espontâneo na quinta semana de gestação.

- Eu sinto muito, não sabia disso.

- Tudo bem, não falamos muito sobre isso porque na época foi um choque enorme. Tive medo de ter o quinto filho, mas já amava mesmo assim. Acho que não tive muito tempo para lidar com isso porque as crianças ainda eram muito pequenas, mas doeu da mesma forma... é estranho ficar pensando em como ele ou ela poderia ter sido.

- Não consigo parar de pensar nisso, Elo. Apesar de não estar nos meus planos, eu estava gostando da ideia de ser pai e tentava passar isso pra Diana para que ela se sentisse mais segura também... eu espero que algum dia pare de doer.

- Sendo bem sincera, Tom, não vai parar de doer, mas você vai aprender a conviver com isso conforme o tempo for passando e só... seguir em frente, é a única coisa que dá pra fazer.

- Nunca tive problemas com seguir em frente, mas dessa vez eu não sei quanto tempo vou levar... é uma coisa tão delicada e triste, além do fato de que Diana prefere seguir em frente sozinha... isso me deixou arrasado, Elo, pra ser honesto. Diana me afastou mais uma vez e por mais que tenha explicado, não consigo entender.

— Eu realmente acho que a Diana puxou ao meu pai — Eloise riu sem graça, segurando a xícara de chá. — Desde que nasceu, ela era diferente da irmã, nunca chorava demais, sempre mais quieta... Louise era barulhenta, brincalhona e muito carinhosa, enquanto Diana não gostava de brincadeiras agitadas e nem de filmes de princesas. E quando a doença veio, parece que só fez uma barreira crescer ainda mais. Ela sempre foi madura demais pra idade dela, coisa que nunca desejei, queria que ela aproveitasse os primeiros anos de infância como os irmãos dela. Como ficávamos sempre no hospital, ela basicamente aprendeu a ler por conta própria, e quando ela terminou de ler os livros infantis, assaltava os livros do médico responsável por ela — mesmo que fosse uma lembrança dolorosa, era a única vez que podia ver sua filha fazendo algo por vontade própria. — Mesmo eu sendo sua mãe, ela mal falava comigo, fixava os olhos nos livros e lia e relia, não sabia se ela entendia, mas parecia imersa naquele mundo dela, fechando seu coração para todos, com medo de fazer alguém sofrer, ela só começou a se abrir mais comigo quando foi para a faculdade e conheceu o Jesse... Thomas, eu entendo que você possa estar chateado com a minha filha, e sei que ela está pensando que será mais um fardo para você. Só dê a ela um tempo, eu só consegui ver o brilho nos olhos dela poucas vezes na vida, e na maior parte foi com você recentemente.

- Eu amo a Diana como nunca amei garota nenhuma e olha que tive relacionamentos longos e saudáveis, garotas que minha mãe adorava e dizia que eu iria me casar - ele sorriu entristecido. - Mas quando conheci a Diana foi diferente, ela veio palestrar e eu não conseguia tirar os olhos dela, queria saber quem era... eu não acho que eu seja muito bom com mulheres, mas eu tinha que saber um pouco mais sobre ela... acho que estava apaixonado uns dois meses depois, foi muito rápido.

- Vocês têm muitas coisas em comum e eu fiquei muito feliz quando ela me contou sobre você - Eloise sorriu, pois ficava feliz sempre que Diana se abria com ela. - Eu realmente não sei se Diana teve algum namorinho de escola porque ela nunca me contou, mas se conheço minha filha, ela não estava interessada nisso. Ela demorou muito tempo para finalmente apresentar o Jesse porque fez com ele a mesma coisa que fez com você... ela é assim, não tem jeito, ela afasta as pessoas quando acha que está incomodando. Faz isso com os próprios pais e irmãos, não me surpreende fazer com vocês, mas acho que assim como o Jesse, você só precisa ter um pouco de paciência... não é pra sempre, sabe? Ela se fecha durante algum tempo, mas sempre está disposta a ouvir um conselho de alguém e acaba mudando de ideia. Diana não é de dizer com palavras, mas sei o quanto ela gosta de você, Thomas, eu acho que em algum momento ela pode voltar atrás, mas eu não ficaria esperando por isso se fosse você... você é jovem, promissor, um rapaz muito bonito... vai viver a sua vida enquanto isso, as coisas que nos pertecem sempre voltam pra gente.

- Eu não sou tão extrovertido quanto o Jesse, passei os últimos doze anos da minha vida com a cara enfiada nos livros - ele riu de si mesmo. - Estou indo passar uns dias em Manchester com os meus pais e quem sabe eu consiga me distrair um pouco.

- Faz isso, você precisa começar de algum lugar para poder seguir em frente... - Eloise se levantou ainda com a xícara na mão. - Eu preciso voltar, mas se você precisar de qualquer coisa, ou só quiser conversar, estou sempre à disposição.

- Obrigado por ter vindo, Elo.

- Apesar de eu não ter tido tanto contato com você e seus irmãos, falo sempre com os seus pais, principalmente sua mãe, nos tornamos ótimas amigas e ela sempre fala muito de vocês três, então sinto como se vocês fossem meus sobrinhos ou algo assim, como se estivéssemos todos interligados de alguma forma.

- Eu não ficaria surpreso se fôssemos parentes distantes - Thomas sorriu amarelo, não fazia ideia de como Eloise ainda não havia descoberto a maldição. - Muito obrigado pela sua visita, Elo, eu acho que eu precisava conversar com alguém que realmente conhecesse a Diana.

- Eu acho que só conheci a Diana de verdade nos últimos anos, Tom - Eloise sorriu de canto e Thomas sentiu uma pontada de pena. - Se ela me deu espaço, dará para você também.

Eloise ainda passou algum tempo aconselhando Thomas. Sabia que ele era um rapaz inteligente, mas não tinha ideia do quão sábio, educado e maduro ele era, estava sempre pensando nas possibilidades e no futuro, contou para ela seu sonho de passar 1 ano na África pelo Médicos Sem Fronteiras quando se formasse e que adoraria construir uma família. Tinha quase 30 anos e muita estabilidade, Eloise estava admirada com tanto conteúdo que ele tinha para oferecer e soube que Diana estava cometendo um erro. Não iria interferir, mas gostaria que eles pudessem se resolver.



Capítulo 30 - Genealogy and descent, all at once

levou mais tempo do que pretendia para fazer suas malas e achar um lugar para ficar, mas decidiu seguir seu coração e voltar para Aberdeen, sentia que precisava de respostas e lá podia ter algumas. Ao final de um mês, estava acomodado em um studio no centro da cidade e havia conseguido um emprego como professor de música em uma escola infantil local, pois seu dinheiro que ganhou como escritor não duraria para sempre e ele precisava fazer renda. A estagnação de sua carreira estava lhe custando caro ele sabia que precisava voltar a escrever o quanto antes, mas enquanto não conseguia superar aquele terrível bloqueio, ele se contentaria com o magistério. Mesmo sem experiência em sala de aula, seu talento natural para música e seu diploma de Harvard foram o suficiente para que ele fosse contratado.

Na medida do possível, estava tudo bem. Suas irmãs sabiam onde ele estava e ele acabou contando para seus pais também, mas mentiu dizendo que precisava ficar um tempo sozinho trabalhando em um novo livro, por isso ocultou a parte que estava em Aberdeen e disse que estava no interior da Irlanda. Estava se sentindo mal por mentir tanto, mas ainda não sabia como contar a verdade. Felizmente, seus irmãos o ajudavam, até mesmo Damon concordava em mentir, embora ambos não se falassem desde a briga, ele apenas sabia do seu irmão por meio das meninas.

estava tentando ao máximo ter uma vida normal. Trabalhava até as três da tarde, ia ao supermercado, malhava, escrevia rascunhos de uma possível nova história ou pesquisava sobre o seu passado naquele lugar. A biblioteca era rica de informações sobre a cidade e ele encontrou algumas coisas interessantes sobre seus antepassados, além do acervo pessoal de Jesse, que forneceu para tudo o que ele precisava para pesquisar, isso quando não viravam noites conversando e Jesse contava tudo o que sabia sobre ele.

Naquela noite fria do início de fevereiro, não foi diferente. pegou alguns livros de genealogia na biblioteca e levou para que ele e Jesse cruzassem informações.

- Me conforta saber que meus irmãos tiveram filhos e viveram por mais um tempo - Drew disse com sinceridade enquanto fazia algumas anotações em seu diário.

- Não viveram tanto tempo assim... sabe? Acho que ninguém viveu mais do que 30 anos, só a Clara, eu acho... seja pela época ou pela maldição. Clara soube de tudo quando adulta, sabia quem eu era e felizmente sempre acreditou em mim.

- Você viu ela adulta? - os olhos de Drew brilharam, às vezes se esquecia de que Clara cresceria um dia. - Como ela era?

- Inteligente, a frente do seu tempo e uma dama muito bonita, não muito diferente do que vai ser daqui 20 anos... ela se casou aos 19 com um cara chamado... - Jesse fez um esforço para se lembrar do nome, mas não foi capaz, folheou suas anotações porque tinha certeza que havia anotado em algum lugar. - Johnson! Miles Johnson, o Barão de Mallen.

- Minha avó paterna se chama Eve Johnson...

Drew e Jesse se entreolharam, estavam pensando a mesma coisa.

Jesse conseguia acompanhar Clara até certa fase na idade adulta, via os filhos dela e até suspeitava que a vida atual poderia ser uma descendência das três anteriores, pois a Clara francesa era ninguém menos do que mãe de Margareth Blackwood, a matriarca da família vitoriana de Drew. Tinha também o filho de Thomas e Diana, Isaac, que Jesse acompanhou e ajudou durante algum tempo em uma empreitada pessoal do jovem marquês, e sabia que eles tiveram muitos filhos, chegava a ser previsível que havia uma questão de descendência envolvida.

- Como eu suspeitei... vocês tem descendência direta. Você tem descendência escocesa, não tem?

- Eu não sei, ou melhor, devo ter... não sei tanta coisa assim sobre a minha família, só conheci até meus bisavós, mas eu era muito pequeno.

- Mas você lembra o nome deles, não lembra?

- Meu bisavô, pai dela, se chamava Edward e acho que é por isso que esse é o nome do meio do Damon e do meu pai, ele lutou na Segunda Guerra, é uma especie de herói na família, a maioria dos homens têm o nome dele.

- Interessante, eu não sabia disso - Jesse comentou enquanto fazia anotações também, estava criando uma nova árvore genealógica ali mesmo. -Você, seu pai, sua avó, seu bisavô... estamos perto de conseguirmos chegar no Miles. Conheci ele, era um cara meio quieto, mas enfim... Clara teve alguns filhos e isso é um problema, vamos ter que descobrir de qual deles o vovô Edward é descendente.

Felizmente, tinha escolhido os livros certos. Um dos livros em questão datava o ano de 1900 e contava muito sobre as famílias mais poderosas daquela região e é claro que a trágica história de amor dos Blackwood-Arkley era destaque.

- Você não faz ideia de como era importante ter todos esses registros naquela época, o valor disso aqui é incalculável - Jesse disse enquanto procurava informações sobre Clara. - Que eu me lembre de cabeça, Clara teve seis filhos. Quatro meninas, dois meninos, então acho que não vai ser tão difícil assim, você provavelmente vem de um desses dois.

- Você lembra os nomes deles, não é?

- Damon II e Charles. As meninas eram Mary, Victoria, Stella e Leonor, se não me engano, mas não tive contato com nenhum deles depois que cresceram, tive que ir embora, nunca mais falei com a Clara ou qualquer um da família.

- Por quê?

- Digamos que eu tenha essa carinha jovem e preservada há um bom tempo... - Jesse sorriu jovial. - Clara, Isaac e os gêmeos da Louise sabiam, mas o resto da cidade não, então tive que ir embora de novo. Eu poderia ser reconhecido.

- Deve ter sido difícil.

- Passei por coisa pior... - Jesse comentou vagamente enquanto continuava folheando um dos livros, seus olhos buscavam fotos ou palavras chaves, mas sua mente viajou para o dia em que viu Diana pela última vez naquela vida, quando ele disse que estaria de viagem, mas forjou a própria morte um tempo depois, algo que ainda o assombrava. Mesmo sem querer, encontrou o que estava procurando. - Ah, aqui está! A imagem é péssima, mas só pra você ter uma noção de como Clara será quando crescer.
pegou o livro na mão e o aproximou do rosto, pois mesmo com os óculos era uma imagem muito ruim. Jesse apontou para um retrato de família no qual havia uma Clara adulta que devia ter uns 30 anos, seu marido Miles e seus seis filhos, todos crianças, os mais novos eram crianças de colo.

- Esqueci de comentar! Mary e Victoria eram gêmeas, isso explica muita coisa sobre a genética de vocês. Essas duas da frente são a Stella e a Leonor, o Damon II no colo da Clara e o Charles, o mais velho, ao lado do Miles.

observou com calma, não teve dúvidas de que aquela era Clara. Se sentiu em De Volta Para o Futuro, um de seus filmes preferidos. Estava encantado com o que estava vendo, Clara continuava se parecendo fisicamente com ele e ainda tinha os cabelos cacheados que herdou de Charlotte. Era uma mulher bonita e tinha uma família bonita.

- Eu queria que o Damon pudesse ver isso... - comentou e até pensou em pegar o celular e registrar, mas se quer tinha o contato do seu irmão atualmente. - Mas enfim... eu acho que nosso cara é o Charles... quero dizer, dificilmente o sobrenome se manteria se fosse uma das meninas e o Damon II é um bebê nessa foto de... - ele conferiu a data no canto inferior. - 1881. É, definitivamente, precisamos saber mais sobre o Charles.

Após mais algum tempo de pesquisa nos livros, anotações e também puxando na memória de Jesse, descobriram que havia apenas um homem que ligava o bisavô de a Charles Johnson, era seu trisavô, Arthur Johnson, no qual os registros diziam que ele havia nascido em 1899. As datas batiam, eles não tinham dúvidas de que estavam indo pelo caminho certo.

- Incrível! - exclamou, admirado e feliz por saber daquilo.

- Bizarro. Charles é seu tetravô e a Clara é sua pentavó, mas também é sua sobrinha e afilhada... isso é tão confuso e estranho, você é descendente de você mesmo! - Jesse estava com dor de cabeça por pensar naquilo, suspeitar e saber eram coisas diferentes. - Cara, você é muito problemático.

- Você não faz ideia...

e Jesse levaram algumas horas para terminar uma parte da árvore genealógica, mas conseguiram traçar os descentes de Clara até que chegasse na família Jones, o que não levou tantas gerações assim.

Clara Blackwood-Johnson (1848) > Charles Johnson (1868) > Arthur Johnson (1899) > Edward Johnson (1919) > Eve Johnson-Jones (1947) > Henry Jones (1972) > Jones (1993).

Apenas cinco gerações separavam de seu passado, e ele e Jesse pensaram que poderiam ir ainda mais longe, pois com certeza conseguiriam chegar à primeira vida.

- Isso seria uma busca profissional, muito difícil de conseguir, acho que por enquanto podemos investigar a origem da , eu já vi o nome dela por aqui várias vezes.

- Claro... - imediatamente murchou como uma flor mudando de estação, e Jesse percebeu.

- Quer continuar? Sei que não é fácil para você.

- É só que... eu não consigo esquecer ela, Jesse, não importa o quanto eu tente. Eu nunca senti isso por ninguém. - olhou para ele, que concordou. - Eu sinto tanto a falta dela que dói fisicamente, não consigo passar uma noite inteira sem sonhar que estou com ela no presente ou no passado. É uma merda acordar e perceber que eu estou sozinho.

- Você sabe que você pode voltar pra ela a qualquer instante, não é? Eu até acho que sua linha de raciocínio faz sentido, , mas acho que não é só isso. Depende do Carter também, tem muita coisa envolvida... William me disse que não está muito diferente de você.

- Ela me odeia pelo que eu estou fazendo.

- Eu também te odiaria se fosse ela, mas não acho que seja isso, não pelas coisas que William diz sobre ela. Parece que ela está só tentando seguir a vida e fingir que está tudo bem, mas desabafa com o Will as vezes e fala muito sobre você, ele meio que não aguenta mais ouvir o seu nome - Jesse tentou descontrair quando percebeu que os olhos de estavam cheios de lágrimas acumuladas. Os dois riram.

- Jesse, eu só quero consertar isso o mais rápido possível e nunca mais deixar aquela mulher ficar longe de mim.

- Vou te ajudar com isso, meu amigo, pode contar comigo! - Jesse voltou a atenção para o livro. - Ah, olha só, aqui diz que vocês não tiveram descendentes, mas isso era óbvio... logo depois temos a Louise e o William, e essa é a minha parte preferida. Eu sempre soube disso, mas olhe com os seus próprios olhos.

enxugou suas lágrimas na manga do moletom e procurou por Louise e William no registro. Tiveram apenas dois filhos, um casal de gêmeos, e Arkley. Ele sorriu, entendeu que era uma homenagem e se sentiu bem com aquilo, também imaginou que Louise não deveria ser como as mulheres de seu tempo, pois não podia imaginá-la cheia de pompas, tomando chá da tarde e falando sobre os homens solteiros da região.

- E não era mesmo - Jesse disse após comentarem. - Louise foi a única mulher da família a ter uma profissão, como falei, ela era a melhor parteira da cidade. Por causa disso, não tiveram mais filhos, mas Will era um cara ocupado, ele aceitou e não se importou com os comentários das pessoas... - Ele voltou a atenção para o livro e mudou de assunto. - Estamos com um problema, , eu não sei qual é o nome do avô do Will, não sei nada a não ser o que temos anotado aqui. Vou mandar uma mensagem pra ele e continuamos depois, pode ser? É de madrugada, duvido que ele esteja acordado.

- Tudo bem, preciso mesmo ir dormir, mas continuamos mais tarde, isso está interessante... - disse enquanto se levantava, e Jesse digitava algo no celular. - Então boa noite, Jess, obrigado por tudo o que você está fazendo por nós. Agora vou para o meu quarto.

- Eu vou dormir também, e você não vai achar o caminho de volta no escuro, não é? - Jesse se levantou também.

- Ainda não sei porque esse lugar não tem iluminação, aparentemente aquela história era mentira, não é?

- Sim, era mentira, eu só fiquei com preguiça mesmo - Jesse riu enquanto apagava as lamparinas e eles acendiam as lanternas dos celulares. - Ah, , eu já ia esquecendo! Acho que depois de concluirmos essa pesquisa, pode ser interessante a gente dar uma passada no cemitério, não são todos, mas parte da família foi enterrada lá.

- E você me diz isso só depois de apagar a luz? - comentou enquanto saía pela porta com cuidado. O corredor imenso, iluminado apenas pela lanterna do seu celular, dava medo.

- Vidas passadas existem, , assombrações não. Pelo menos, não aqui em casa - Jesse disse rindo, e então os dois seguiram pelo corredor para irem para o outro lado do castelo.


não estava vivendo seus melhores dias, mas estava se esforçando para manter o nível das suas aulas. Ela sempre aparentava estar cansada, seus alunos e colegas de trabalho sempre perguntavam, mas ela já havia se acostumado, dizia que estava trabalhando muito. Os únicos comentários que a irritavam eram os que apontavam que ela havia engordado, ela sabia disso e não se importava, mas não gostava de ouvir aquilo das pessoas em tom pejorativo. Ela sabia por si só que havia engordado um pouquinho quando se olhava no espelho, seu rosto estava mais redondo, sua barriga marcava as roupas e seus seios estavam maiores e até mesmo doloridos. Já havia se pesado e descoberto que engordou cinco quilos, até havia falado para pessoas que foram indelicadas com ela, mostrando que ainda estava no controle de sua própria vida.

E era como se ela, que era considerada bonita por outras pessoas, passasse a ser feia aos olhos deles, apenas porque ganhou algum peso, o que para ela não fazia sentido algum, medir a beleza de alguém pelo peso corporal. nunca foi de achar que a beleza deveria ter um padrão e felizmente sua mãe a blindou de pensamentos maldosos na infância e adolescência, por isso aquilo não a afetava tanto quanto afetaria outras garotas. gostava de mostrar que ainda estava no comando de sua vida.

Depois de uma semana cansativa onde preparou aulas na maior parte do seu tempo livre, concluiu que não faria nada no fim de semana a não ser se deprimir e assistir filmes românticos na Netflix. Seu velho apartamento foi substituído pela casa de William quando ela concordou que não queria passar muito tempo sozinha, então estava morando definitivamente com seu irmão mais novo, mas só até que seu emocional estivesse melhor e ela voltaria a ter o próprio lugar. Por enquanto, aquele quarto bem decorado e com banheiro privativo era sua casa e ela estava satisfeita com aquilo.

abriu os olhos naquele sábado de manhã e já soube que não estava bem. Sua cabeça estava pesada e ela sentia como se tivesse bebido na noite anterior, pois sentia que iria vomitar a qualquer momento. Na verdade, não conseguia beber, o cheiro de vinho e cerveja lhe causavam náuseas fortes, exatamente como aquela que estava sentindo naquele momento.

Era comum que às vezes se sentisse assim quando estava em seu período pré-menstrual. Cólicas e alterações de humor eram mais frequentes, mas daquela vez ela estava sentindo tudo de uma vez e se odiando por isso. O atraso no seu ciclo a deixava ainda mais irritada, pois era mais tempo sofrendo apenas por ser mulher.

Ela ouviu algumas batidas na porta, William estava pedindo para entrar e ela deixou. Ele estava arrumado, sinal de que já estava de saída.

- Bom dia, . Estou indo na gravadora e depois tenho reunião com a minha assessoria, então provavelmente vou ficar o dia todo fora.

- Ainda sem um empresário? - questionou com a voz rouca e arrastada enquanto esfregava os olhos. Ele assentiu.

- Não é tão fácil achar um quanto aparenta, ainda mais alguém como a Louise. Não podemos negar que ela é muito boa no que faz - William suspirou, deixando transparecer, por um segundo, que Louise ainda era um assunto delicado para ele, mas logo ele se animou e mudou de assunto. - Ah, depois preciso te mostrar a música que eu compus, você vai gostar muito.

- Certo, à noite você toca ela pra mim.

- Não sei se vou estar em casa à noite, maninha... - William encolheu os ombros sutilmente, parecendo um pouco envergonhado. entendeu do que se tratava.

- Eu realmente queria estar beijando outras bocas por aí que nem você, queria ser rápida assim.

- Ok, vamos sair hoje. Esteja pronta às dez da noite.

- E o seu encontro?

- É só uma fã, eu não vou demorar tanto assim.

- Will, não me faz te dar uma bronca - aquele comportamento de William estava se tornando frequente e estava começando a se preocupar com a maneira que ele lidava com mulheres ultimamente.

- Relaxa, ! Sou grandinho já - ele riu enquanto ia até a porta para sair. - Vamos arrumar alguém pra você também, até mais tarde e não se esqueça que hoje o Thomas vai vir aqui. Te amo!

William fechou a porta e respirou fundo. Simplesmente não conseguia se imaginar com outra pessoa, beijando e tendo relações, pois passava o dia inteiro pensando em e lembrando de todas essas coisas que só faziam sentido se fossem com ele. Ainda lia as últimas conversas em seu celular nas quais combinavam de ver um filme juntos ou ela pedia para ele passar no supermercado e comprar as coisas para preparar o jantar, era estranho voltar para casa sozinha após o trabalho, pois ele a buscava sempre que podia, eram coisas banais do dia a dia, mas que ela sentia falta.

Também sentia falta dele durante a noite, ela se perguntava se seria capaz de ter relações sexuais com outra pessoa, pois parecia impossível, o que chegava a ser irônico, já que ela era a rainha dos relacionamentos casuais e, antes de , ela não se importava em sair com três caras ao mesmo tempo, afinal, era muito mais fácil quando não tinha amor envolvido, apenas sexo e muito de vez em quando algum carinho, mesmo que depois ela se sentisse vazia, jurando que odiava a casualidade e acreditando que os amores avassaladores eram coisas de livro. Até mesmo fazia apostas com Katie para ver quem conseguia beijar mais caras em uma noite, agora ela mal podia enxergar outros homens em sua frente, mesmo se eles se atirassem aos seus pés lhe jurando amor eterno. Eram coisas absurdas que jovens poderiam fazer com os hormônios a flor da pele, mas que agora não se identificava mais, nunca se submeteria a algo assim outra vez, pois ela descobriu que um relacionamento estável e saudável com era muito melhor do que algumas atrocidades que ela cometeu quando era mais nova, o conforto do namoro deles supria qualquer necessidade que ela pudesse ter e ela sentia falta do amor, do respeito e da rotina que eles costumavam ter.

queria pensar em outras coisas, mas não conseguia, se não estivesse trabalhando, estava pensando em , se ele estava bem ou onde ele estava, ela não tinha qualquer notícia dele e isso a matava por dentro. Estava evitando Eloise e Henry a todo custo, até mesmo seus próprios pais, pois não queria ter que continuar mentindo e fingindo que estava tudo bem, quando na verdade estava no fundo do poço.

Com muito custo, se levantou e foi até o banheiro. Se olhou no espelho e estava com uma aparência horrível. Descabelada, com olheiras profundas, cara de sono e roupas de moletom que ela não usava desde a faculdade, mas simplesmente não tinha ânimo para se arrumar a não ser para dar aulas. Estava enjoada, com sono e com um repentino calor, mesmo em um dia frio. Tirou o moletom e prendeu os cabelos em um coque, em seguida se abanou algumas vezes quando sentiu a garganta esquentando. Em meio minuto estava colocando a pizza da noite anterior para fora e mesmo depois continuou vomitando água.

Estava fraca e cansada, nem queria se levantar do chão, pois o piso era aquecido e estranhamente confortável, mas com esforço, conseguiu se levantar e escovar os dentes, então voltou para o quarto e digitou uma mensagem para Thomas, perguntando que horas ele iria chegar, pois ela estava sozinha e não se sentia bem. Tentou não soar exagerada, mas talvez seu irmão pudesse lhe ajudar. Thomas respondeu que estava saindo de casa e chegaria em uma hora. apenas deixou o celular de lado e rapidamente adormeceu, pois teu corpo pedia aquilo. Acordou apenas horas depois quando Thomas já havia chegado.

- Lembra quando a gente era criança e essa era a nossa brincadeira preferida? - Thomas perguntou enquanto pegava seu estetoscópio na mala.

- Lembro, foi assim que você descobriu que eu tive apendicite.

- Meu primeiro diagnóstico. - Os dois deram risadas. Não que Thomas soubesse o que era uma apendicite, mas foi brincando que ele apertou em um lugar que doeu ao ponto de chorar, então eles contaram para Lizzy, que soube tinha algo de errado com ela. Bons tempos. - Você está sentindo alguma dor?

- Tommy, acho que levei uma surra enquanto dormia, meu corpo todo dói, fora minha cabeça.

- Só acho que sua dor física seja por conta do seu emocional, , mas talvez você esteja ficando gripada também. Com licença, respira fundo - ele disse enquanto encostava o objeto acima do peito. - De novo - um breve silêncio pairou para que Thomas pudesse se concentrar. Em seguida ele fez o mesmo nas costas, costelas e a região do ventre dela. - Credo! Você precisa se cuidar melhor, seu intestino está um verdadeiro festival de bandas. Está comendo mal, não é?

- Isso quando eu como - admitiu e viu o olhar de repreensão de Thomas para ela. - Desculpe.

- Dor no corpo, dor de cabeça, náuseas... - Thomas dizia enquanto guardava o estetoscópio de volta na mala, não precisava pensar muito para desconfiar. - Você sentiu cólica por esses dias?

- Digamos que a TPM está sendo um pouco mais longa esse mês, deu uma atrasada e isso está me matando, mas acho que já deve estar acabando. - se enrolou de volta no cobertor enquanto Thomas se sentou do outro lado da cama.

- Você não vai menstruar, . Você está grávida - Thomas disse com convicção e muita naturalidade. arregalou os olhos e fez careta, se esqueceu de que estava falando não só com seu irmão, mas com um médico da área.

- É claro que não, Tom, vira essa boca pra lá! Não, eu não estou grávida, isso tudo é emocional, eu sei que não estou cuidando da minha saúde como eu deveria.

- É mesmo? Quer competir em conhecimento clínico comigo? Você tá grávida, sim.

- Não. Você pode ter 20 diplomas e 100 anos de carreira, mas você não é mulher. Sempre ouvi que mulheres sentem quando estão grávidas e eu não estou sentindo.

- Certo... então pensa mais um pouquinho nisso, está bem? É verdade que você pode sentir dores ou enjoos quando o intestino não vai bem, mas você não tem gastrite até onde eu sei.

- Talvez agora eu tenha e você não saiba.

- Ok, não vou insistir, a minha opinião não conta e eu não estou a fim de me estressar logo cedo depois de um plantão de trinta e seis horas e mais uma hora digirindo até aqui - Thomas disse com calma e se levantou para pegar sua mala. - Se você não estiver grávida, eu rasgo meus diplomas.

- Não seja exagerado.

- Sei que estou certo, mas não vou insistir nisso, cada mulher aceita de um jeito e o seu é o que menos gosto. Com licença, eu vou guardar minhas coisas e dormir, não durmo há quase dois dias - ele disse por fim, saindo do quarto.


estava empenhado em dar continuidade à sua pesquisa. Era fascinante conhecer sua descendência e saber que toda a linhagem estava interligada, sabia que dificilmente conseguiria chegar à primeira vida, mas só de conseguir avançar um pouco, já era suficiente para que ele se empolgasse um pouco em resolver tudo aquilo.

Como passou boa parte da madrugada acordado e pesquisando, acabou por levantar por volta do meio-dia e a primeira coisa que pensou foi em visitar o cemitério conforme Jesse sugeriu. não gostava de cemitérios, mas se lembrava de quando esteve na igreja local com e em como se sentiu atraído por aquele lugar, por consequência o cemitério do local despertava a sua curiosidade.

- É compreensível que você se sinta assim, você se casou com ela naquela igreja - Jesse dizia enquanto caminhavam pela calçada, quase chegando ao local.

- Eu queria poder lembrar de tudo, me sinto ansioso só de pensar nisso - admitiu, estava com frio na barriga como se realmente fosse se casar. - Jess, você acha que uma regressão me faria lembrar de tudo?

- Não sei, , não sei mesmo, talvez John possa nos ajudar, ele sabe mais do que eu.

- Por que ele quase não aparece?

- John é um homem religioso e recluso, sempre dedicou todas as suas vidas a salvar a de vocês, talvez ele só esteja dando um tempo para vocês fazerem as coisas sozinhos, mas no momento certo, irá aparecer de novo.

- Eu queria poder conversar com ele também, saber sobre a primeira vida... você acha que ele pode me receber?

- É claro, isso se ele mesmo não vier aqui pra te ver. Bom, chegamos, esse lugar tem uma carga emocional enorme, principalmente para você, é sua escolha querer continuar ou não.

- Eu quero... só me mostra onde tenho que ir, quero ir embora logo e continuarmos de onde paramos.

- Certo... não me lembro muito bem, nunca mais vim aqui, mas é mais ou menos por ali...

Estava frio e afundou as mãos no bolso da jaqueta, evitando olhar muito para os lados, não gostava de olhar para túmulos, sempre sentia arrepios indesejados na espinha quando tinha que ir em enterros.

- Jess, vi nas suas anotações que meus irmãos se mudaram depois do que aconteceu comigo, imagino que nenhum deles esteja por aqui, não é? - olhou para ele brevemente antes de voltar a atenção para o caminho que seguia.

- Não, todos morreram na Inglaterra porque se mudaram logo em seguida à sua morte, não me surpreende vocês terem nascido por lá de novo. Você e a nasceram aonde, mesmo?

- Eu nasci em Birmingham, ela nasceu em Londres.

- É, tudo faz muito sentido... estranho - Jesse olhou ao redor enquanto caminhavam. - Esse lugar era mais organizado no passado, cada família tinha seu próprio mausoléu, jazigo ou algo assim... não lembro muito bem onde estava sua família.

Demorou um pouco para que Jesse se situasse, tudo parecia igual, mas ele conseguiu encontrar o túmulo que estava procurando, conseguiu reconhecer apesar das péssimas condições da lápide de concreto coberta por limbo verde.

- Não estou surpreso, ninguém vem aqui há quase 200 anos - ele se sentou no banco de concreto bem ao lado do túmulo. - Leve o tempo que precisar.
respirava ofegante e sentia arrepios por debaixo das camadas de roupas térmicas. Se aproximou da lápide e se ajoelhou para ler melhor o que estava escrito, o limbo dificultava a leitura, mas ele identificou seu nome.

- Em memória do visconde Blackwood, sua esposa, a viscondessa Arkley-Blackwood e seu filho natimorto, que morreram em Aberdeen em 05 de setembro de 1848... - leu a gravura em um sussurro, quase como se pudesse reviver aquilo, mas a frase logo abaixo era uma que ele conhecia muito, muito bem, o que lhe causou um repentino espanto. - Ad perpetuam amoris memoriam…

- Pela perpétua memória do amor... - Jesse traduziu. - Eu sugeri essa frase para a sua família e eles gostaram. Seu amor transcende a vida.

- O meu primeiro livro... eu nunca estive aqui... como eu poderia... Jess, você sugeriu o nome do meu livro - olhou para ele, que concordou.

- , você estava escrevendo a sua própria história de maneira inconsciente e eu passei os últimos anos tentando fazer vocês lembrarem de alguma coisa, sempre deixei pequenas pistas no ar que um dia fariam sentido. Eu fiquei surpreso por ver que seu namoro com a Luce durou tantos anos, isso nunca tinha acontecido, até comecei a me questionar se talvez fosse ela e não a , mas quando Luce ouviu o nome do livro e odiou, eu soube que era apenas questão de tempo. Levou mais tempo do que eu esperava, é verdade, mas quando você disse que estava voltando para a Inglaterra, eu soube que já estava perto de conhecer a finalmente.

- Se eu não tivesse vindo, eu não teria conhecido ela e isso não estaria acontecendo...

- Eu não sei, , ela é melhor amiga da sua prima, ocasionalmente você ouviria falar sobre ela em algum momento da sua vida e até que demorou bastante, já que elas são amigas desde a infância.

- Não entendo porque fui amaldiçoado por amar alguém - voltou a atenção para a lápide e se sentou de pernas cruzadas. - Olha o que eu causei...

- , por mais que o contexto não tenha sido legal, não foi culpa sua, ok? Foi um encontro de almas gêmeas e ninguém poderia impedir. Foi muito azar você a conhecer depois de ter se casado, mas vocês sempre estiveram destinados e ficariam juntos de qualquer maneira, tendo o Carter e a Lucinda no caminho ou não.

- Mas a consequência disso são as pessoas que também foram afetadas, nossos irmãos, você...

- olhou para Jesse. - Não posso imaginar como você se sente vendo a mulher que ama se casando com outro repetidas vezes e não poder fazer nada.

- Nem sempre a sua alma gêmea é um interesse amoroso - Jesse sorriu e tinha brilho nos olhos. - Diana é a minha, eu sou a dela, mas não somos destinados, é o Thomas e sempre vai ser. Tá tudo bem, o meu amor não diminuiu, mas eu posso conviver com isso, não era o meu destino ter uma vida normal, é como se estar aqui agora fosse o meu objetivo de vida.

- E depois disso?

- Então eu vou ter o descanso que eu mereço.

- Sinto muito, Jess.

- Não sinta, eu já vivi muito tempo, vi o mundo se tornar o que é hoje, lutei em guerras, vi dinastias caindo... posso dizer que tenho um currículo muito bom. Aprendi alquimia quando ainda era muito jovem, é como se eu tivesse vivido até os 30 anos e congelado, então acho que agora eu mereço envelhecer. É uma pena que vou envelhecer mais rápido que a maioria das pessoas, mas pelo menos vou saber como é ser um velho caquético e rabugento.

- E a sua banda?

- Eles vão ficar bem, uma hora isso iria acontecer, eu teria que sumir porque perceberiam que eu não envelheço... bom, agora eu vou envelhecer de verdade.

- Eu nem sei o que dizer, Jess.

- Não diga, só leve o tempo que precisar. O túmulo não vai sair correndo, já morreram mesmo.

encarou a lápide mais uma vez. Ver seu nome ali lhe dava uma certa náusea, pois sabia que havia se matado naquela vida. Ele escolheu morrer, foi diferente, mas também pensou em e em como ela sofreu até que morresse. Além dos dois, também tinha um bebê inocente, seu filho. adoraria ser pai um dia, era ótimo com crianças, mas aqueles três nomes na lapide o assombravam, ele sempre morria antes disso, não queria que aquilo acontecesse de novo.
- Já temos os nomes que precisamos para continuarmos a pesquisa? - perguntou após algum tempo em silêncio, secou as lágrimas na manga da jaqueta.

- Sim, Will mandou nomes de três gerações e deixou bem claro que é descendente de escoceses, vai ser fácil. Você está bem pra continuar, ?

- Quero saber tudo o que eu puder - disse enquanto se levantava, ajeitando a touca na cabeça. - Vamos continuar.

- Espera - Jesse impediu que ele começasse a andar, fazendo com que olhasse para ele. - Já que está aqui, olhe isto - ele deu um passo para o lado e repousou sua mão sobre a lápide tão degradada quanto a anterior.

- O que é isto? - perguntou sem entender, assoando o nariz com a manga da jaqueta.

- Sua história. , conheça o visconde Ramsay Blackwood e a Lady Margareth, seus pais.

- Meus pais são Henry Jones e Eloise Harrison. Não sei quem são essas pessoas que você está falando.

- Sabe, ? Talvez você não tenha notado e eu não quero que isso seja um fardo para você, mas a maldição também afetou as pessoas com quem vocês conviveram no passado. Você pode não ter interesse em saber sobre seus pais na última vida, mas se soubesse o quanto sua mãe sofreu, pensaria melhor.

- O que aconteceu com eles? - ele perguntou, baixando o olhar para a lápide e lendo as escritas em um inglês antigo.

- Seu pai morreu muitos anos antes, vocês eram muito novos e ele caiu do cavalo, eu só o vi uma vez e ele era o tipo de cara que se destacava a quilômetros de distância, Diana e Louise eram muito parecidas fisicamente com ele, foi um choque para todos quando ele morreu, porque o visconde era muito querido por todos. Você e Damon eram muito jovens quando herdaram o título, que na verdade seria seu, por você ter nascido primeiro, mas era possível dividir o título em caso de gêmeos e você não pensou duas vezes ao convencer Damon, porque achava que eram muitas responsabilidades para uma pessoa só. Damon era um bom administrador e negociador, mas você era melhor lidando com as pessoas e suas diferenças, foi uma combinação perfeita, mas enfim... sua mãe era uma mulher muito tradicional e conservadora, suas irmãs sofreram uns bons anos sob a vigilância ardilosa dela, mas as coisas melhoraram um pouco quando Diana se casou com Thomas e, um ano depois, você, Louise e Damon se casaram com , William e Charlotte. Apesar de ela não gostar muito deles, estava feliz com a atenção das pessoas em cima da família, que era uma das mais tradicionais desta cidade, todos queriam ter qualquer tipo de relação com os Arkley, é claro.... Imagine uma família grande e feliz num dia, enquanto no outro sobrou apenas Margareth. Ela ficou arrasada com a sua morte, o suicídio era um tabu mil vezes pior do que atualmente, isso manchou o nome da família, então ela aceitou se mudar para a Inglaterra com Diana, Louise e os Arkley. Quando as mortes começaram a ocorrer, a saúde de Lady Blackwood se degradou e eu... - Jesse respirou fundo, aquela memória era assombrosa. - Eu a encontrei desfalecida em minha visita a ela, já que alguém precisava cuidar dela por estar velha e sozinha. É claro que os netos cuidavam dela, principalmente Isaac, que herdou todos os títulos, mas ela preferia a reclusão. Já fazia alguns dias, então você pode imaginar como estava a situação do corpo.

- Que coisa horrível - comentou enjoado, e Jesse concordou com a cabeça.

- Ela sempre dizia que quando morresse, gostaria de ser enterrada aqui, junto ao marido e ao filho dela, então eu a trouxe para cá. Resumidamente: a Lady Blackwood morreu de tristeza e sozinha.

- Eu não sei o que dizer - espremeu os olhos um instante antes de voltar a olhar para a lápide. Como poderia ter outra mãe além de Eloise, a melhor mãe do mundo? Ainda assim, sentiu compaixão por aquela desconhecida. - Eu sinto muito mesmo.

- Não se culpe, por favor, isso já foi. Margareth e Ramsay Blackwood estão felizes como um jovem casal por aí, eu sei disso porque eu sei de tudo - Jesse sorriu para confortá-lo.

- Fico aliviado por ouvir isso. E os pais da )?

- A história é menos complicada, a mesma coisa de sempre: marido libertino, esposa boazinha e recatada. Mas se apoiaram muito após a morte dos filhos, estão na Inglaterra também. Os corpos, claro, as almas estão igualmente livres em algum lugar legal.

- Isso me conforta de certa forma - suspirou. - Podemos ir embora? Estou exausto.

Jesse concordou e então eles voltaram pro castelo para continuarem a pesquisa de onde pararam, optando por levar tudo para um dos escritórios onde tinha iluminação e assim poderiam levar todo o tempo que precisassem para pesquisar.

- Então vamos lá: Will mandou informações tanto do pai dele, quanto da mãe e do padrasto, vamos ter que investigar tudo até encontrar.

Eles perderam algumas horas tentando ligar os antepassados de Lewis e Steven àquela genealogia, mas não encontraram nada concreto, ao menos não com aquela família. Por outro lado, Jesse achou que depois poderia pesquisar um pouco sobre a descendência de Carter e saber mais sobre ele. Por fim, começaram a investigar pela genealogia de Lizzy, partindo do seu pai e seu avô, David e George Fletcher, conforme William havia informado.

- Não pode ser o que estou pensando... - Jesse pegou um livro que estava fechado e começou a folhear desesperadamente, se esquecendo de que era um livro muito velho. até espirrou quando o mesmo começou a levantar poeira. - Eu já vi esse sobrenome por aqui, tenho certeza... vocês descendem da mesma família.

- Então também é uma Blackwood?

- A sua  não, mas a homônima é uma Blackwood-Arkley. Lembra que Will e Louise homenagearam vocês ao darem seus nomes aos filhos deles? Will era um Arkley, por consequência os filhos também seriam, a filha dele se casou com um cara que tinha o sobrenome Fletcher, tenho certeza disso.

- Então é basicamente o mesmo raciocínio que usamos para criar a árvore da Clara.

- Isso! - Jesse encostou o dedo onde encontrou a palavra que buscava. - A filha do Will se casou com Leonard Fletcher e eles tiveram um filho chamado Leonard Fletcher Jr que nasceu em 1870. Se for como a árvore da Clara, então só falta mais uma pessoa para completarmos.

Jesse começou a mapear tudo o que tinham descoberto enquanto buscava qualquer evidência desta pessoa que tentavam encontrar, mas sem sucesso. Quando Jesse terminou, já dava para ter uma noção de como ficaria a árvore se realmente fosse como eles estavam fazendo.

Arkley-Fletcher (1849) > Leonard Fletcher Jr (1870) > um homem de sobrenome Fletcher nascido aproximadamente em 1890 > George Fletcher (1928) > David Fletcher (1950) > Elizabeth Fletcher-Thompson (1971) > Thompson (1994).

- Isso é meio estranho, mas você e a são meio que primos de sétimo grau. Até que faz sentido, mas não deixa de ser estranho vocês terem parentesco de sangue - Jesse disse enquanto fazia anotações.

- Quem me dera se ela fosse só minha prima, Jess, quem me dera - se escorou até sua testa tocar a mesa de madeira. - Agora tenho esse monte de informação inútil para absolutamente nada.

- Não é inútil, conseguimos descobrir uma coisa importante que nem eu sabia. Provavelmente vocês são descendentes de suas versões da primeira vida.

- Descendentes de quem se todo mundo morreu no incêndio? - perguntou um tanto entediado, incapaz de desencostar a testa da mesa.

- Clara e Charlotte não estavam lá - Jesse respondeu com obviedade. - Além disso, a sua mãe aqui em Aberdeen era filha dela. A Clara francesa se casou com um duque espanhol e eles tiveram a Margareth.

- Ótimo, minha linhagem começou no Damon, o que explica tamanha burrice.

- Na verdade, até onde eu sei, o Lorde Woodbead era um homem influente, inteligente e muito rico na região de Londres, foi o que John me contou.

- E cadê todo esse dinheiro na minha conta bancária agora? Eu continuo pobre, agora não tenho dinheiro e nem namorada.

- Você ainda vai atrás dela, , não tenho dúvidas.

- Como você sabe? Já viu isso acontecer antes?

- Não, mas em 200 anos, nunca vi você conseguir ficar afastado dessa mulher - Jesse sorriu e soube que nunca, nunca conseguiria ficar longe dela totalmente.


passou o dia inteiro paralisada, incapaz de reagir. As horas passaram e ela nem se deu conta, não conseguia pensar em outra coisa a não ser nas que Thomas disse.

Estava grávida mesmo? Como contaria para sua família? O que diria a respeito do relacionamento com para seus pais? Como contaria para o próprio se não fazia ideia de onde ele poderia estar? Ela não sabia o que fazer, estava paralisada de medo e não conseguia reagir. Mandou uma mensagem para Thomas esperando que ele lhe comprasse um teste de farmácia, mas não levou dois minutos para Thomas abrir a porta do quarto.

- Levanta daí, vamos comprar o teste.

- Está frio, Tommy - ela choramingou.

- Thompson, eu te dou 30 minutos para levantar daí, tomar banho e sair. Anda, vamos logo - Thomas puxou as cobertas e quase a levou junto.

- Eu não quero ir a lugar nenhum, eu quero sumir, ok?

- Não pensa que eu vou deixar você continuar depressiva desse jeito. Levanta daí ou eu te arrasto até o banheiro.

- Por que está agindo assim comigo? - se levantou contra a sua vontade e foi até o closet pegar uma troca de roupa.

- Porque você está com cara de quem não toma banho há dois dias.

- Três, se você quer saber.

- Que nojo, ! - ele fez menção de vomitar. - Vou até esterilizar meu estetoscópio, que nojento!

- Você é o único europeu que eu conheço que gosta de tomar banho - disse em tom de brincadeira enquanto trancava a porta do banheiro.

- E eu vou ficar aqui pra ter certeza que você ligou o chuveiro! - Thomas disse, alto para que ela ouvisse.

Thomas esperou pacientemente por e até ajudou ela a escolher uma roupa quente, visto que o inverno estava longe de acabar. Apenas depois disso pegou a chave do carro para que fossem até a farmácia mais próxima, mas tentou não tocar no assunto gravidez para que não ficasse tensa, ao invés disso tentou mudar de assunto.
- E então? Quais os planos para o seu aniversário?

- Assistir Netflix, tomar sorvete e morrer de chorar, pois não é só o meu aniversário, como também dia dos namorados. Olha que legal!

- Será que eu posso acompanhar você? - Thomas riu um pouco sem jeito, ele também não queria passar o dia dos namorados sozinho.

- Você vai me ouvir o dia inteiro me lamentando porque disse que já sabia o que me daria de presente e eu nunca vou saber o que é, então eu posso ouvir você falando sobre a Diana. Tem visto ela ultimamente?

- Não, ela não frequenta o hospital e eu não vou muito ao campus, só ouvi dizer que ela está reclusa, na dela... é compreensível. Eu não tentei mais nada, é humilhante demais implorar por alguém dessa forma e eu acho que eu não preciso passar por isso.

- Eu queria ser assim, mas eu literalmente fui até o apartamento do e tentei dar um ultimato nele, a única coisa que consegui foi que ele pedisse a chave de volta...

- Você também não precisa se humilhar para alguém, .

- E você pode se permitir sentir falta da Diana um pouquinho, está tudo bem.

- Eu já sinto falta dela o tempo todo - Thomas apertou as mãos no volante, desconfortável por assumir aquilo para alguém. - Não consigo controlar, enquanto não sei se ela sente o mesmo.

- É claro que sente, Diana não é um robô.

- Eu prefiro não falar muito sobre isso... estou tentando seguir minha vida... vou ficar bem, só preciso me manter ocupado.

respeitou a decisão de Thomas e eles ficaram em silêncio até chegarem à farmácia. comprou o teste a contragosto e o caminho da volta foi mais silencioso ainda, pois ela estava tensa enquanto olhava para o embrulho em suas mãos. Sua vida poderia mudar para sempre e ela não estava preparada.

- Vou preparar o jantar para nós, você tem notícias do Will? - Thomas perguntou enquanto deixava a jaqueta pesada no cabideiro da entrada.

- Passou o dia em reuniões, eu acho, disse que sairia com uma garota depois... acho que ele não tem hora para voltar.

- Will está anos luz na nossa frente - ele riu enquanto abria a geladeira para ver o que já tinha ali. - Não tem um legume nessa geladeira. Estou começando a me preocupar com vocês.

- Relaxa, acabaram ontem com a sopa que eu fiz para almoçar porque, por incrível que pareça, eu consegui levantar da cama.

- Meus parabéns por isso, eu fico aliviado, agora não me sinto na obrigação de cozinhar.

- Por que a gente só não pede comida? Podemos chamar o Jake e a Katie, o que você acha?

- Acho que você não vai escapar de fazer esse teste.

- Vai ser no meu tempo, está sendo um pouco difícil de aceitar que talvez eu esteja... - se quer conseguia dizer a palavra. - Além disso, estou tensa o suficiente para não conseguir fazer xixi.

- Tudo bem, leva o tempo que você precisar, é realmente um momento bem delicado... vou ligar para o Jake enquanto isso.

concordou com um aceno de cabeça e pediu licença para voltar ao quarto, garantindo para Thomas que não iria vestir um moletom e se fingir de morta novamente. Pelo contrário, iria resolver aquilo de uma vez por todas, não pensou duas vezes em beber toda a água da garrafinha que deixava na mesinha ao lado da cama e foi para o banheiro com o teste na mão. Não estava com vontade de fazer xixi, mas ficaria ali até conseguir, pois ao mesmo tempo que estava apavorada, queria saber logo.

nunca teve uma opinião concreta sobre maternidade e seu maior exemplo era sua mãe, que parecia ter nascido para fazer aquilo. Até onde sabia, Lizzy sustentou o último ano da faculdade estando grávida de seu primeiro filho e eles até brincavam que Thomas já era um universitário antes mesmo de nascer. Lizzy ainda passou por um divórcio complicado no qual ficou com os dois filhos pequenos e ainda teve o terceiro, mas nunca deixou de ser uma mãe presente, carinhosa e rígida quando necessário, mesmo que não estivesse em um bom momento de sua vida. não sabia se seria como sua mãe um dia, pois não tinha muito convívio com crianças a não ser Clara nos últimos meses, sabia que era boa em entreter crianças, mas não sabia se de fato sabia como cuidar de uma.

Mas sabia.

Ela se odiou por se lembrar dele novamente, mas era inevitável, afinal, ele seria o pai. Como falaria para ele? parecia determinado a nunca mais falar com ela, não havia dado uma notícia se quer nas últimas quatro semanas, trocou de número e excluiu todas as suas redes sociais, era como se ele nunca tivesse existido na vida dela. não achava justo passar por aquilo sozinha e pensou que talvez pudesse tê-lo de volta, por mais humilhante que aquele sentimento fosse, mas ao mesmo tempo pensou que se tivesse que estar sozinha mesmo, então que fosse.

Tentou se concentrar e relaxar para que fosse mais fácil, sabia da possibilidade de o teste dar errado por conta de não ser a primeira urina do dia e por isso comprou dois apenas para não ter que sair de novo. esperou pelo tempo que fosse necessário até que a vontade de fazer xixi veio. Ela respirou fundo e tentou se concentrar para que fizesse conforme a instrução do rótulo. Quando terminou, colocou o teste na pia e aguardou o resultado.

Foram os minutos mas longos da vida de . Andava de um lado a outro no banheiro com mil coisas lhe passando pela cabeça, encarava o teste como se fosse uma pessoa, o tempo simplesmente não passava. Ela decidiu deixar o banheiro um instante e pegou o celular na cama, precisava tentar mais uma vez, era um momento em que ela não queria estar sozinha. Procurou o contato de , ou pelo menos o antigo contato e ligou, mas caiu direto na caixa postal, para sua frustração.

Naquele instante, desistiu definitivamente de procurá-lo. Tinha outras coisas para resolver naquele momento, então voltou para o banheiro, imaginou que já havia passado tempo o suficiente.

Ela respirou fundo e pegou o teste nas mãos, pois era a hora da verdade. Ainda tinha esperanças de que aquele pudesse ser apenas um falso positivo, mas ao que tudo indicava ela realmente estava grávida. Os dois traços no teste indicavam positivo.

cobriu a boca com as mãos. Queria gritar, chorar e espernear como uma criança, mas não podia, sabia o que estava fazendo e o risco que estava correndo. Se limitou a chorar, sentou no chão do banheiro e chorou ali mesmo para quem quisesse ouvir. Não queria ser mãe naquela fase horrível da vida, não queria lidar com todo o fardo sozinha, não achava justo passar por aquilo enquanto estava em algum lugar apenas colocando a cabeça no lugar, se afastando para que supostamente sobrevivessem à maldição.

Ainda tinha a maldição.

E se seu bebê fosse amaldiçoado também? Em alguma vida ela conseguiu concluir uma gestação? Até onde sabia, havia morrido no parto em sua última vida. E se o ciclo se repetisse? E se ela não tivesse muito tempo?

nunca se sentiu tão sozinha e com tanto medo como naquele instante.

Ela ouviu a porta do quarto se abrindo e tentou enxugar as lágrimas antes que alguém a visse ali, mas não demorou muito para que Jake abrisse a porta do banheiro. O rapaz levou um susto ao vê-la sentada no chão chorando.

- , você está bem? Aconteceu alguma coisa? - ele se ajoelhou ao lado dela.

- Eu não sei o que eu fazer, Jake - mostrou o teste para ele, viu Jake arregalar os olhos em surpresa. - Eu estou grávida.

- Puta merda! - Jake se sentou no chão bem ao lado dela. - , você tem certeza? Não é um falso positivo?

- Pode ser, mas eu acho que estou mesmo, estou inchada e enjoada há dias... talvez eu faça um exame de sangue, não sei, mas estou grávida, Jake...

- Eu gostaria que esse fosse um momento feliz da sua vida - Jake a abraçou de lado, repousou a cabeça no ombro dele.

- Sinto tudo, menos felicidade - admitiu ao fechar os olhos, e respirou fundo para tentar se acalmar.

- Você pretende contar ao ?

- Não. Ele foi embora porque quis, não consigo falar com ele, não sei onde ele está, tentei ligar, mas ele trocou de telefone.

- Se ele trocou, então imagino que os pais dele ou os irmãos tenham o novo contato.

- Nunca mais quero falar com o Damon, tive um desentendimento com a Louise quando ela surtou com o Carter, a Diana não fala com ninguém... estou evitando a Elo e o Harry porque eles não sabem que terminamos. Talvez um dia eu vá atrás do , mas eu tentei convencer ele a mudar de ideia, Jake, fui até a casa dele quando ainda estava aqui, ele me pediu as chaves de volta... não acho justo eu passar por isso sozinha, mas se ele foi tão frio ao ponto de ir embora e me deixar sem tentar lutar, sem deixar qualquer contato, então é porque ele não me quer por perto. Vou fazer isso sozinha.

- Você não está sozinha, , de forma alguma, todos estão aqui por você, eu estou, eu faço qualquer coisa por você, você sabe disso - Jake estava falando sério, se recusava a deixá-la sozinha. - Eu assumo, ok? Se você não quer contar ao , tudo bem, a gente inventa uma desculpa ridícula para nossas famílias. Você pode dizer que não resistiu a essa minha carinha linda e então aconteceu.

- Ah, Jake... - riu involuntariamente pela primeira vez em dias, o que estava ouvindo era um absurdo, mas ela se sentiu acolhida. Por mais que Jake fosse seu melhor amigo e sempre a socorria quando precisava, jamais imaginou que ele faria algo tão extremo. Assumir um filho que não era dele? Quem em sã consciência acreditaria que os dois tiveram uma noite de sexo quando supostamente estava com , enquanto era muito explícito que Jake a enxergava como uma irmã mais nova? Eles eram a prova viva de que existia amizade entre homem e mulher sem segundas intenções, pois nunca ocorreu de nenhum lado. Ninguém acreditaria naquilo. - Só você para me fazer rir agora...

- Prefiro que seja assim.

- Obrigada por estar aqui, sério - ela olhou para ele. - Não tem sido fácil e vai ser ainda pior, mas Jesse tinha razão quando disse que tinha algo de diferente em você.

- Faço qualquer coisa por você, . Se você mudar de ideia, nós podemos ir atrás do , eu vou.

- Obrigada, Jake, você é o melhor - sorriu. - Bom, uma hora ele vai saber, não é? Preciso contar aos meus pais, por consequência os pais dele vão saber também... só preciso me preparar para isso. Eu não sei se eu consigo ter o na minha vida apenas como pai do meu filho. Você consegue me entender?

- Você ainda gosta muito dele, não é?

- Gosto - os olhos de começaram a se encher de lágrimas instantaneamente e ela espremeu os lábios, tentando não chorar. - Jake...

- Não, eu não quero que você chore, que se coloque pra baixo desse jeito. Não mesmo - ele se levantou e estendeu a mão para ela. - Vamos jantar, o bebê está com fome.

- Como você pode saber disso? - segurou a mão dele e Jake a puxou pra cima.

- O bebê sou eu.

gargalhou alto, pegou o teste na pia e então os dois deixaram o banheiro e depois o quarto. Já que estava ali, optou por contar para Katie, que primeiro se demonstraria preocupada e depois acharia um máximo a ideia de ter um afilhado, pois desde adolescentes as duas diziam que seriam madrinhas uma dos filhos da outra.

- Oi, ! Nossa, você está com uma cara péssima - Katie disse após dar um abraço na amiga. - Tom estava falando sério quando disse que você precisava de um apoio moral.

- Katie, eu não saio de casa desde que me mudei pra cá e acho que ainda não conheço todos os cômodos - riu de si mesma, se sentando no sofá. - Já pedimos as pizzas?

- Sim, mandei mensagem para o Will e ele disse que já está chegando também - Thomas se sentou em uma das poltronas livres. Jake e Katie fizeram o mesmo. - Só precisamos aguardar.

- Ótimo, vou esperar o Will chegar, tenho uma coisa para contar para vocês - se encolheu um pouco no sofá. Katie olhou para ela com curiosidade, Thomas imaginou o que fosse e ela apenas acenou positivamente com a cabeça para ele. - Você não vai precisar rasgar os seus diplomas e nem desistir do doutorado.

- Contexto, por favor? - Katie se intrometeu, revezando o olhar entre os dois. - Por que Tom rasgaria os diplomas dele?

- Vou contar, Katie, mas prefiro esperar o Will porque tenho certeza que vocês dois juntos podem fazer eu me sentir melhor igual Jake fez.

- Então o Jake sabe? - ela olhou para o seu irmão mais velho que riu. - Jacob, se você não me contar o que é, vou contar para os nossos pais aquela vez que você disse que dormiria na casa do Tom, mas saiu com a Jules.

- A Jules? A Jules esquisita? Ela não era mais velha que a gente e mais alta? - Thomas gargalhou, e Jake, que tinha a pele clara, ficou vermelho em um instante.

- Obrigado, Katherine, eu ia levar isso comigo pro caixão... - Jake se afundou no seu lugar. - Eu prefiro não comentar sobre isso porque foi um momento de desespero, está bem? Pode contar aos nossos pais, tenho 30 anos, eles não podem me punir por algo que fiz aos 16.

- Nunca achei que o menino mais popular do colégio realmente sairia com a nerd alta e esquisita, achei que isso só acontecia nos livros que eu leio - comentou, vendo que Thomas parecia estar se divertindo e Jake queria se esconder. - Também nunca achei que veria Thomas praticando bullying.

- Não estou praticando bullying, ela era esquisita de verdade, mas acho que Jake pode confirmar isso para nós. Certo, Jacob?

- Eu queria esquecer que você existe, Thomas - Jake passou uma mão pelo rosto, sem dúvidas aquela era a lembrança mais vergonhosa da sua adolescência. - Eu precisava passar em história, ok? Tinha que ter notas impecáveis se eu quisesse entrar na Imperial College, então a gente fez um acordo, ela me ajudava com a matéria e eu sairia com ela em troca. Felizes?

- Isso é totalmente coisa de livro, Jake, ou prostituição adolescente na vida real - riu e Jake fez cara de nojo.

- Não teve sexo.

- Mas teve beijo - Thomas provocou.

- Eu vou vomitar - Jake levou uma das mãos à boca ao mesmo tempo em que a porta se abriu.

William havia acabado de chegar e percebeu que em sua casa haviam mais pessoas do que o habitual, mas ficou feliz em ver fora do quarto e dando risada, já fazia alguns dias que ele estava muito preocupado com ela.

- Chegou quem faltava pra essa festa morta - ele disse enquanto tirava o casaco, colocando-o no cabideiro. - E então? Cadê as pizzas que Tom falou que íamos comprar?

- Já estão chegando. Will, senta, preciso te contar uma coisa - se levantou do sofá com as mãos no bolso do moletom, e William olhou para ela com desconfiança.

- Da última vez que me disseram isso, descobri que estou amaldiçoado - William disse enquanto se sentava. - Por favor, me diz que é uma coisa boa.

- Depende do ponto de vista, para mim não está sendo bom, mas prefiro contar logo. Antes que me perguntem, não, não sabe e só vai saber quando eu quiser. Jake e Tom já sabem, mas enfim... - tirou o teste do bolso, para o espanto de Katie e William. - Estou grávida.

Katie saltou do sofá enquanto William demorou um pouco para processar a informação.

- Meu Deus, ! Não acredito! Quando descobriu? - Katie perguntou eufórica e riu. Foi exatamente como ela esperava.

- Hoje, há alguns minutos, na verdade... ainda não sei o que eu acho disso porque eu não pretendia ter filhos tão cedo, ainda mais solteira e... hum... amaldiçoada.

- Não posso imaginar como você está se sentindo agora, mas não vamos te deixar sozinha - Katie a abraçou e se sentiu melhor. - Vamos conseguir reverter essa maldição e vocês vão ficar bem, todos nós vamos. Talvez Will não fique, ele está chorando - todos olharam para o mais novo, que estava secando algumas lágrimas na manga do moletom.

Diferente de Katie, William não estava otimista, muito pelo contrário, estava com medo de perder sua irmã. Ele se lembrava da vida anterior, de como havia sofrido no parto antes de morrer e o fato de ter segurado o bebê sem vida. Poderiam ser coisas de outra vida, mas pareciam ter acontecido há apenas alguns dias. William não conseguia enxergar aquela gravidez com bons olhos e não soube disfarçar, pois perder em alguns meses estava totalmente fora de questão.

- Eu juro que se alguém rir de mim, vou por todo mundo pra fora - ele disse ao esfregar os olhos na blusa, depois se levantou. - , você tem certeza disso?

- Bom, minha menstruação está atrasada e tenho tido sintomas há semanas... talvez eu faça um exame de sangue para ter certeza, mas não tenho mais dúvidas disso, Will.

- Certo... eu só estou preocupado com você, , sei que você não queria isso.

- Continuo não querendo, mas não tenho o que fazer. Não tenho coragem de tirar, não consigo nem imaginar, pra ser sincera.

- Sabe que precisa contar para o , não sabe?

- Ele continua não me atendendo, eu desisti de falar com ele, tipo... para sempre! - ela riu por nervosismo, seus olhos começaram a brilhar como sempre faziam quando falava dele. - Uma hora ele vai saber, não posso esconder a gravidez dos nossos pais, e quando ele vier atrás, não quero saber dele.

- Ah, ... eu sinto muito que você tenha que passar por isso... mas pelo menos estamos com você nessa, você sabe...

- Eu sei - deu um abraço no caçula, não imaginava que Will fosse reagir daquela forma, ele realmente parecia preocupado. - Bom, é a primeira vez que consegui levantar da cama em dias, então podemos esquecer isso um pouco? Vamos só comer uma pizza e fingir que nada aconteceu, só nós cinco, como nos velhos tempos.



Capítulo 31 - February

abriu as portas da varanda do quarto e deixou o vento frio atravessar seu moletom fino. 3 horas da manhã e ele não conseguia dormir, se sentia sufocado e não sabia o motivo. Sempre que tentava fechar os olhos e dormir, lhe vinha em mente e ele não aguentava mais.

Sempre pensava nela, mas naquela madrugada estava sendo diferente, talvez estivesse sentindo o dobro de saudades, chegava a doer. sentia que deveria ligar, dar qualquer sinal de vida, perguntar se ela estava bem, mas não tinha coragem, sabia que ela estaria coberta de razão se o mandasse ir pastar... estava arrependido por deixá-la, mas não podia voltar atrás enquanto não desfizesse a maldição. Estava conseguindo avançar em suas pesquisas sobre o passado, estava quase conseguindo chegar na segunda vida, situada na França, em torno de 1788. buscava alguma espécie de padrão entre os acontecimentos para evitar que o mesmo se repetisse, mas ainda não sabia o que era. Estava cansado e queria dormir, mas simplesmente não conseguia.

fechou as portas quando se sentiu congelado pelo frio intenso e voltou para a cama para se aquecer. Pegou o celular para verificar as horas e percebeu que passou bons minutos na varanda, mas o seu papel de parede fez com que ele olhasse mais tempo para a tela. Era uma foto que ele havia tirado de na viagem para Canterbury, perguntou para ela se poderia fotografa-la e sorriu para a foto. Desde então aquela foto era o seu papel de parede e ele não pretendia mudar, embora Jesse tivesse o aconselhado gentilmente, dizendo que aquilo não era muito saudável, não queria que fosse outra. Sentia falta dela com todas as suas forças.

Assistir seu filme favorito já não era a mesma coisa, cantarolar uma música romântica também não, ir ao café da cidade muito menos. As vezes se esquecia de que agora era um homem solteiro, olhava o celular esperando uma ligação, recusou inúmeros convites de Jesse para que saíssem, não conseguia olhar com outros olhos para nenhuma outra mulher que não fosse . As mães dos seus alunos sempre lhe lançavam sorrisos e olhares, as garçonetes pareciam caprichar nos seus pedidos, as professoras sempre eram muito solicitas ao se oferecerem para lhe apresentar a escola, até mesmo suas alunas pequenas pareciam suspirar quando ele estava ensinando, talvez ele não tivesse ideia de que era um homem atraente e fazia as mulheres virarem o pescoço. Para , não existiam mais mulheres no mundo se não pudesse ter a única que amava.

Ele daria tudo para tê-la de volta, nem que fosse só por algumas horas para dizer tudo o que sentia e se desculpar pelo estrago que havia causado, pois era o mínimo que merecia. Havia apenas 7 meses que aquela mulher estava em sua vida, mas já não se lembrava de como a vida era antes de . Bem, na verdade ele se lembrava um pouco, desde que Luce havia voltado para a sua vida, mas isto servia apenas para que ele fizesse mais e mais comparações.

Por mais que tivesse retomado o contato com Luce no último mês, simplesmente não era a mesma coisa, seu tempo com Lucinda já havia acabado e ele se via incapaz de se interessar por outra mulher. De fato não tinha qualquer interesse em Luce, mas estava mantendo ela atualizada de suas descobertas nas quais Luce parecia muito interessada, afinal, era da conta dela também. Lucinda pensava na possibilidade de passar um tempo no Reino Unido com Charlotte para que tentassem ajudar de alguma forma e também saber um pouco mais sobre si mesmas, vontade esta que apoiava, mesmo que ela precisasse abdicar de todo o resto da sua vida, como família, casa e emprego. De certa forma, Luce queria aquilo, queria estar perto daquelas pessoas e saber porque não era bem-vinda, ou ao menos saber mais, já que ela sabia que sempre fora preterida.

se sentia mal por Luce, do fundo do coração, nunca foi sua intenção deixá-la de lado, em sua vida atual jamais faria algo tão egoísta com alguém que amou tanto. É verdade que não nutria mais qualquer sentimento por ela, mas gostaria de se retratar pelas coisas que fez em vidas passadas e pensou que apoiá-la seria uma boa maneira de fazer isto sem que Luce confundisse as coisas, algo que ele tinha certeza que seria possível, conhecendo a ex-namorada melhor do que ninguém.

Quando o dia amanheceu, se deu conta de que mal havia dormido, mas prometeu para Louise que a buscaria junto com Jesse. Louise estava ansiosa para saber tudo o que havia descoberto e disposta a ajudar como podia, então não pensou duas vezes antes de cancelar seus compromissos e ir para Aberdeen, pois não via há um mês e queria saber se ele estava bem.

- , espero que esteja escrevendo pilhas de livros para eu poder te gerir, caso contrário terei que tomar providências. Vamos trabalhar, por favor? - ela disse enquanto entrava no carro de Jesse, no banco de trás.

- Que tal arrumar um emprego normal? Deu certo para mim - respondeu rindo, enquanto sentava no banco do carona, e Louise fez careta. - Desistiu de agenciar o Will?

- Por favor, eu não quero ouvir o nome dele nunca mais! - Louise ergueu um dedo no ar e espremeu os olhos, atraindo a atenção de Jesse.

- Aconteceu algo, Lou-Lou? - perguntou, preocupado, enquanto dava partida.

- Aquele... aquele... - ela grunhiu de frustração. - Vocês acreditam que todo o meu trabalho está indo pelo ralo? Todo o meu esforço em fazer a música dele viralizar e mantê-lo longe de qualquer polêmica foi por água abaixo! De repente ele decidiu que seria legal aparecer em tabloides caindo de bêbado e cercado de mulheres! Ele é tão imaturo! Onde eu estava com a cabeça quando achei que seria uma boa ideia me envolver com alguém mais novo e tão sem noção? Enquanto eu estou aqui me fodendo para arrumar trabalho e ainda preocupada com a gestão da carreira dele, sem contar que ainda sinto o nosso término, ele está simplesmente vivendo como se nada tivesse acontecido! Isso não é justo comigo e nem com o que tivemos. - a essa altura, a voz dela estava falhando, então Louise decidiu parar de falar, não queria ser estupida e chorar na frente deles.

- Nunca achei que veria Louise Jones de coração partido por um homem, achei que nem o Will teria essa capacidade... - Jesse deu uma risada discreta. - Lou, não esquenta com isso, sinceramente, eu sabia que iria acontecer uma hora ou outra. Will é um garoto de 21 anos, não sabe de nada, acabou de entrar para essa vida de holofotes, é claro que ele ficaria deslumbrado com toda a atenção que recebe.

- Mas e eu, Jesse? Ele não pensou na forma como eu me sentiria?

- Você terminou com ele, é natural que ele esteja com raiva e querendo mostrar que está bem.

- Eu me odeio tanto por ter que passar por isso! - Louise grunhiu, cerrando os punhos. Se considerava ocupada demais para coisas que ela julgava como fúteis e coração partido era uma delas, definitivamente.

- Lou, não tem problema você se sentir assim, você precisa passar por isso antes de seguir em frente - disse de maneira compreensiva, ele próprio estava tentando seguir aquilo.

- Não, eu me recuso. Louise Madeleine Jones não se abala por homem nenhum! - ela secou as poucas lágrimas que insistiram que saltar dos seus olhos. - Assim que eu descansar, vou atrás da melhor loja dessa cidade, comprar o melhor vestido e fazer minha melhor maquiagem para reagir. Eu não vou me abalar por isso, nada e nem ninguém pode tirar o meu brilho.

- Louise, eu sempre tive medo de você, é sério, desde a sua vida passada toda a sua autossuficiência me deixa abismado - Jesse comentou, deixando ela satisfeita com o que ouviu.

- Que bom. Ainda não sei muito sobre o passado, mas é ótimo saber que nunca fui burra.
Quando chegaram ao palacete de Jesse, Louise deixou sua mala em um quarto e já foi até a biblioteca para ver o progresso que fizeram, estava admirada com tudo o que e Jesse haviam descoberto, pois nunca tinha visto sua própria árvore genealógica; não sabia quase nada sobre seus antepassados.

- Aquele tapado é meu primo? - ela perguntou ao ler a observação de , no canto da folha, apontando que atualmente todos possuíam parentesco de grau distante.

- É, vocês meio que são primos distantes, todos vocês, talvez de oitavo ou nono grau - Jesse tentou explicar, mas Louise fez cara de nojo.

- Impossível, não tem como uma família ter um gênio como a Diana e um energúmeno como o William.

- Achei que você nunca mais diria o nome dele.

- Jess, você não está facilitando - Louise olhou para ele, que tinha um sorriso travesso estampado no rosto. - Deixando aquela pessoa de lado, eu vim aqui porque tenho me lembrado de muitas coisas ultimamente. Anotei tudo e queria te mostrar para que você possa me explicar. Eu tenho sonhado com partos, gravidez... sei que fui parteira, mas por quê? Esses sonhos têm alguma coisa a ver com o passado?

- Às vezes você só está grávida e não sabe - Jesse deu de ombros enquanto se sentava no velho sofá, e Louise revirou os olhos.

- Seria legal se tivéssemos uma conversa de adultos - ela disse ao se sentar do lado dele. pegou a cadeira atrás da mesa. - Por que eu era parteira?

- Eu não sei, Lou, eu não fazia ideia de que você nasceria - Jesse disse com sinceridade, deixando Louise um tanto frustrada. - Você não esteve em Londres e nem na França, você foi uma incógnita pra mim durante um tempo, mas acho que, assim como eu, você também teve sua missão naquela vida. Você dizia, desde muito nova, que não queria depender de um marido, o que deixava sua mãe furiosa, mas aparentemente você não dava ouvidos a ela.

- Então eu não deveria ter me casado, não é? E dentre tantos homens, por que justo o Will?

- Aí é que está - Jesse riu da curiosidade dela. - Você escolheu William a dedo, Lou. No seu baile de debutante, foi você quem o escolheu, assim como ele te escolheu. Foi amor à primeira vista.

- Ótimo, meu dedo podre vem de vidas passadas... - ela revirou os olhos, insatisfeita com ela mesma. - Mas continue.

- Não diz isso, você e Will tinham uma pequena diferença de idade, sendo ele mais velho, e ele era um cara legal. Vocês se conheceram no seu baile de debutante da temporada, Will se aproximou e te convidou para dançar, vocês se apaixonaram muito rápido, mas a família do William não queria abrir mão da educação dele, então enquanto ele foi terminar os estudos dele em Edimburgo, você ficou por aqui e estudou também. Escondido, mas estudou, você se interessava por saúde e direitos das mulheres. Talvez um dos poucos empregos que mulheres podiam ter e que fossem bem vistos era o de parteira, então você não pensou duas vezes e decidiu que seria uma. Quando William voltou, ele ficou feliz por você e te apoiou para que você pudesse trabalhar, então se casaram. Você fez o parto da Charlotte, da Diana e o da e eu ainda consigo lembrar como foi difícil para você superar aquilo. Quando foi a vez da Diana, você achava que não seria capaz de salvar ela, mas você fez com maestria e tanto a Diana quanto o bebê ficaram bem.

- Eu me lembro do parto da , ela sangrava tanto... - Louise estremeceu, sentindo calafrios pelo corpo. se encolheu um pouco na cadeira, também sentia calafrios ao pensar naquilo. - Jess, isso tem me assombrado há dias, eu não consigo parar de pensar nisso, ela não sai dos meus pensamentos ultimamente, eu sinto como se a qualquer momento fosse acontecer de novo.

- Não vai acontecer de novo porque os fatos não se repetem. Quero dizer, existem paralelos, é claro, mas os fatos em si não costumam se repetir.

- Discordo. Acho que tem um padrão que ainda não sabemos, um padrão que você e John não conseguiram decifrar - pontuou, e Jesse olhou para ele como se estivesse ofendido.

- , não quero ser grosseiro, mas eu teria notado algo acontecendo quatro vezes seguidas.

- Também não quero ser grosseiro, mas talvez você tenha deixado passar algum detalhe, ou simplesmente não sabe. Minha intuição diz que estamos deixando passar algo.

- Estou há muito tempo acompanhando vocês, eu saberia.

- E eu estou amaldiçoado há muito mais tempo - insistiu em defender seu ponto. Jesse poderia saber de muita coisa e ter vivido centenas de anos, mas ele ainda era um homem comum e poderia falhar em algum momento.

- Talvez tenha razão. Se encontrarmos um padrão, talvez seja mais fácil acabar com a maldição - Louise interviu quando percebeu que Jesse não estava contente por ser contrariado.

- Então todo o meu trabalho terá sido atoa! Vocês não entendem, eu estou documentando absolutamente tudo desde 1790! - Jesse se levantou, foi em direção a uma prateleira e tirou um livro de lá. - Vocês, as pessoas que vieram antes, seus filhos... absolutamente tudo para encontrar um padrão! John não anotou um mísero nome da primeira vida de vocês, eu tive que depender da memória de um velho caduco para me contar coisas que aconteceram 100 anos antes de eu nascer - ele foi até a mesa onde estava e abriu o livro na frente dele. - Isso é tudo o que eu tenho da sua primeira vida. Pinturas muito antigas que John fez de vocês para que eu pudesse visualizar, umas anotações fúteis e nada mais. Escaneei tudo e fiz esse livro para ver se as coisas ficavam mais fáceis, mas não adiantou muito. Não tem padrão, vocês não tem data para nascerem, só pra morrer, cada vida tiveram pais diferentes, nasceram em lugares aleatórios, tiveram profissões diferentes... assim fica muito difícil encontrar esse padrão que vocês dizem que eu não consigo ver.

- Não estamos contra você, Jess, queremos complementar o que já tem - disse enquanto olhava aquelas pinturas e anotações. Parou em algo que chamou a sua atenção. - Canterbury...

- É, vocês meio que fugiram para lá durante uns dias, sei lá...

- Eu viajei com a e a Clara para essa cidade, nos hospedamos num hotel que era um castelo histórico - seus olhos percorriam a escrita feita à mão por Jesse, e se deu conta de que se tratava do mesmo lugar, e, no mesmo instante, muitas memórias começaram a surgir.

podia ver com clareza o que aconteceu naqueles dias em 1666, aquela pequena fuga para que pudessem tirar uns dias para serem livres. Encontros às escondidas eram cansativos demais e eles aproveitaram aqueles dias como mereciam, planejando uma nova fuga para a França afim de que se casassem e enfim vivessem em paz.

- Damon era o dono do castelo - disse após alguns instantes em silêncio. - E eu consigo me lembrar de como ele era antes de... - ele respirou fundo, as palavras de Damon ainda ecoavam. - antes de ser igual a mim.

A pintura daquilo que Damon havia sido um dia vinha algumas páginas depois. Vendo, podia se lembrar melhor. Damon tinha cabelos castanhos escuros e enrolados na altura dos ombros, pele clara, lábios finos, sobrancelhas arqueadas e olhos azuis, uma aparência comum de um homem inglês do século 17 sem nada que o destacasse, ao mesmo tempo em que não era tão diferente de quem ele era agora; o que era contraditório, pois Damon era do tipo que se destacava em um aglomerado por sua beleza e carisma em excesso. se sentiu mal, sentia que havia tirado algo importante dele.

- Você tá legal, ? - Jesse perguntou ao notar que ele encarou a pintura por um tempo.

- Jess... você acha que... se conseguirmos acabar com a maldição... Damon ainda seria meu irmão gêmeo se vivermos outras vidas depois dessa?

- Eu não sei, não sei mesmo... tudo o que sei sobre Damon não é muito diferente de quem ele é agora, aparentemente ele sempre vacilou com a Lotte em algum momento, sempre foi o pai da Clara, sempre foi sociável... ele era o seu melhor amigo e a conexão de vocês era tão forte que ele acabou voltando como seu irmão gêmeo e vocês mantiveram essa conexão ao longo das vidas... não dá para entender o destino, as coisas simplesmente acontecem quando devem acontecer. É só minha opinião e não uma certeza, mas acho que se todos vocês morressem hoje com a maldição desfeita, você e Damon não seriam irmãos e talvez nem amigos, provavelmente Louise e Diana também não.

- Eu tenho conexão com a minha irmã - Louise se defendeu. Ultimamente, elas eram inseparáveis.

- Mas não tiveram durante toda a vida. Damon está verdadeiramente irritado e afastado do e se tudo terminasse hoje, as próximas vidas seriam diferentes.

se sentiu péssimo ao ouvir aquilo. Em quase todos os momentos marcantes de sua vida, Damon esteve presente. Incontáveis vezes o salvou de se meter em encrencas na escola, estudaram juntos durante anos para que fossem aceitos na mesma universidade e redobraram os estudos quando Diana foi aceita em Harvard, Damon deixou de ser um aluno regular para bom no ensino fundamental e passou a ser o melhor de sua classe, e acompanhou todo o progresso dele, orgulhoso. Na faculdade, conheceram Luce e Charlotte ao mesmo tempo, viveram seus primeiros relacionamentos sérios ao mesmo tempo, foi a primeira pessoa para quem Damon contou que seria pai, pois não sabia para onde mais ir, se formaram juntos, consolaram um ao outro quando seus relacionamentos acabaram, Damon o recebeu em sua casa quando quis voltar ao seu país natal.

Por mais que não estivessem se falando há mais de um mês e ainda estivesse magoado com tudo o que aconteceu, não mudava o fato de que eram irmãos e sempre foram melhores amigos. não conhecia a vida sem seu irmão, não era atoa que estava achando estranho estar "sozinho" pela primeira vez em quase 27 anos. Damon não estava lá para fazer uma piada idiota, para se gabar da sua profissão ou de sua aparência, ele não abria a porta fazendo barulho e reclamando algo que só ele entendia, também não obrigava a trabalhar de graça dizendo que era algo para Clara.

considerava sua vida barulhenta, mas há um mês tudo estava muito silencioso.


Naquele fim de semana, Diana recebeu a visita de Damon para que passassem o fim de semana juntos, visto que ela era uma pessoa difícil de manter contato e quase não estava atendendo ligações, então Damon achou melhor ir até Oxford visitar a sua irmã. Para uma pessoa extrovertida e muito sociável, era deprimente passar tanto tempo sozinho no silêncio de sua casa. Damon precisava sair e socializar, não via problema em passar algumas poucas horas na estrada se sua companhia fosse Diana.

No sábado, levou ela para sair e foram a um bar ouvir música ao vivo, já no domingo preparavam um almoço juntos antes de ele ir embora. Diana aparentava estar bem e talvez estivesse mesmo, mas Damon precisava ter certeza e por isso evitou qualquer assunto que ela fosse fugir, mas como iria embora em algumas horas, ele achou que deveria perguntar. Se ela quisesse conversar, daria espaço para isso.

- Eu vim para ver se você estava bem e precisava se animar, mas acho que serviu para mim também - ele disse enquanto picava alguns legumes.

- Eu sei que meu jeito de ficar bem é estranho, mas sempre funciona - Diana admitiu enquanto preparava o suco natural que ela tanto gostava. - Eu estou melhor do que estive um mês atrás.

- Posso te perguntar uma coisa?

- Não fui atrás do Thomas para ter notícias, se é o que ia perguntar.

- Ana, eu... eu entendo, é sério, eu entendo que esse é o seu jeito e tudo bem, eu estou acostumado com isso, mas ele não. Tom parece ser um cara legal e não deve ter sido fácil para ele enfrentar tudo sozinho.

- Thomas vai ficar bem, ele é a pessoa mais autossuficiente que eu conheço depois de você e da Louise - Diana disse vagamente, tentando não entrar muito no assunto. - Ele vai encontrar alguém legal um dia, não acho que ele seja do tipo que tenha isso como meta de vida, mas sei que vai.

- Você sabe que estão destinados, não é? E por conta da maldição, vocês meio que não podem ficar com outras pessoas, estão presos um ao outro.

- Assim como você e a Charlotte - Diana se virou para ele, Damon continuou de costas, mas já não cortava legumes. - Vocês nunca mais tiveram outros relacionamentos.

- Lotte foi a minha única namorada, mas já faz muito tempo, não consigo nos imaginar como casal atualmente. Somos muito diferentes agora.

- Sempre esteve estampado na sua cara, Dam, em todas as vezes que você viu ela depois disso. Talvez você precise mentir para si mesmo, mas você sabe o que sente.

- Acho que é um defeito de família, então - Damon olhou para trás e percebeu que Diana ficou sem palavras. - Talvez eu não possa te aconselhar sobre o Thomas, mas você também não pode me aconselhar sobre a Lotte. Qualquer conselho que tivermos para dar, serve para nós mesmos.

- Você conseguiu descobrir alguma coisa sobre a maldição? Algum progresso? - Diana mudou de assunto, voltando sua atenção para o que fazia antes.

- Não estou muito interessado nisso, mas tenho sonhado todas as noites... eu vi a mim mesmo na primeira vida e tem sido difícil de processar que não sou mais aquele cara. É como se eu fosse o e isso é frustrante.

- Está falando da sua aparência?

- Eu não me reconheço quando me olho no espelho... eu me lembrei de como eu era e consegui me ver... eu era diferente, tinha minha própria identidade, minha autenticidade... por que eu perdi isso?

- A conexão de vocês era forte para serem apenas amigos, Jesse me disse que isso influenciou na hora de voltar.

- Eu perdi minha aparência física, meus bens, minha família, minha vida toda... Clara e Lotte ficaram sozinhas depois disso e ninguém sabe o que aconteceu com elas, isso me mata.

- Dam, você não está errado em pensar essas coisas, eu também ficaria chateada se eu acordasse amanhã com a cara da Louise, mas você não foi obrigado a estar lá, você foi por vontade própria porque queria ajudar o , assim como eu. Eu tinha acabado de me casar com Thomas e estava aprendendo a amá-lo, também perdi muitas coisas, mas eu quis estar lá e entendo que se eu não estivesse, talvez as coisas fossem sim diferentes, mas eu não tinha como saber, fiz o que achei acerto.

- Quem iria imaginar que um Harry Potter da deepweb iria amaldiçoar a gente, não é? - ele murmurou, e Diana deu uma risadinha, concordando. - Estamos aqui quebrando a cabeça enquanto Carter está vivendo a vida dele como se nada tivesse acontecido. Ok, ainda acho que o maior culpado de tudo é o e a burrice dele, mas eu espero nunca mais ver o Carter porque eu gostaria muito de dar um soco na cara dele. Nunca gostei dele e sempre estive certo.

- Também não gosto do Carter e não quero ver ele, mas espero que ele dê um jeito de mudar isso... não sei, ele sempre me pareceu bem sincero quando dizia que é sua irmã, além de ser irmão de verdade do Will.

- Todos eles se merecem, essa é a verdade.

- Dam, sentir ódio não vai te levar a lugar nenhum. Como você se sentiria se todos ao seu redor começassem a te martirizar igual você está fazendo?

- Como eu falei para o antes: eu não seria tão estúpido a ponto de fazer uma merda desse tamanho. Não consigo trabalhar com essa possibilidade.

- Está sendo egocêntrico.

- Espero que saiba que você é a única pessoa que pode falar assim comigo e eu não vou brigar, mas não quer dizer que eu concorde.

Diana desistiu de insistir no assunto, mudou o foco da conversa porque sabia que Damon não era diferente dela. Era teimoso e não voltava atrás apenas com conversas, assim como ela, então ela sabia que se continuasse insistindo, seria à toa.


teve um domingo difícil, parecia que agora que sabia que estava grávida, os sintomas ficaram dez vezes piores. Passou a manhã inteira abraçada ao vaso sanitário, vomitando até o que não tinha na barriga, estava enjoada e com os seios mais doloridos do que nunca, mas não queria demonstrar para preocupar seus irmãos, embora fosse difícil esconder qualquer coisa de Thomas, que logo de manhã já percebeu que ela não estava bem. Teve que voltar para Oxford, mas garantiu que a deixaria ainda mais irritada por telefone.

Quando se viu sozinha em seu quarto, ouvindo William cantando e tocando piano no andar de baixo, ela se permitiu reparar melhor em si mesma. Parou na frente do espelho e se virou de lado, erguendo a camiseta larga. Não tinha nada de diferente, nenhum sinal de gravidez, apenas gordura de quem havia ganhado uns quilos e estava com culotes, sua postura torta também não ajudava em nada.

não se sentia preparada para ser mãe, mas achava que muitas mulheres alcançavam o auge da beleza quando estavam grávidas, se perguntou se ela ficaria bonita quando estivesse barriguda e com os pés inchados. Esperava que sim, pois estar grávida contra sua vontade já era ruim o suficiente, não queria se sentir feia também.

Também se questionou se estava esperando um menino ou uma menina. Nunca se imaginou sendo mãe, mas se lembrou de, em algum momento da vida, ter dito que gostaria de ter uma filha chamada Hermione, algo que ela não sabia se ainda queria ou não. Também era inevitável pensar na aparência do bebê, a quem iria puxar, se seria mais parecido com ela ou com fisicamente, mas ao pensar nisso, se entristeceu de novo.

Aquilo deveria acontecer apenas em alguns anos, talvez quando estivessem casados e estabilizados. se preocuparia com cada enjoo e cada mal estar, estaria ansioso para o primeiro ultrassom, se emocionaria na revelação do sexo e entraria em pânico quando a bolsa estourasse. tinha certeza que ficaria feliz se ele estivesse presente, mas ele não estava. Não tinha ideia do que estava acontecendo. O que deveria ser um momento especial na vida de uma mulher estava sendo um momento de medo, apreensão e solidão para .

A música que William tocava no andar de baixo era All I Ask da Adele, o que era suficiente para que prestasse atenção. Ele era incrivelmente talentoso e estava melhorando cada dia mais, apesar de algumas polêmicas que se envolveu, ainda nada mudava o fato de que William McQueen teria um futuro brilhante na música, talvez fosse o próximo Justin Bieber, pois tinha talento e carisma de sobra. saiu do quarto e desceu as escadas até a sala de música onde ele estava cantando. Abriu a porta devagar enquanto ele cantava e viu que William não estava apenas cantando, estava sentindo a música. Estava concentrado, seus olhos estavam fechados enquanto suas mãos passeavam pelo piano tocando os acordes, ele se quer percebeu que estava ali e muito menos que ela estava emocionada enquanto ouvia.

If this is my last night with you
Hold me like I'm more than just a friend
Give me a memory I can use
Take me by the hand while we do what lovers do
It matters how this ends
'Cause what if I never love again?

colocou as mãos no rosto para abafar sua vontade de chorar. Ela, que adorava canções de amor e de término, nunca se viu em nenhuma delas, entretanto, após receber inúmeras dedicações de quando ele dedilhava músicas românticas no violão, agora ela infelizmente se via do outro lado da moeda, já tinha perdido as contas de quantas vezes já havia chorado Breath, da Taylor Swift, nos últimos meses, agora era a vez das palavras da Adele lhe acertarem em cheio.

No breve momento que William parou antes de cantar a ponte, ele percebeu que não estava sozinho. Olhou para trás e viu escondendo o rosto nas mãos, pelo movimento dos ombros dela teve certeza de que ela estava chorando. Ele, que estava com os olhos marejados, se sentiu mal assim como todas as vezes que viu sua irmã chorando no último mês, o que aconteceu quase todos os dias.

- - chamou por ela, mas ela não olhou para ele. - , está tudo bem.
William se levantou e foi até ela, não sabia o que dizer, então a abraçou. retribuiu ao abraço e se esforçou para não intensificar o choro, embora quisesse muito.

- Quero morrer toda vez que vejo você chorar assim por causa dele - William disse com a voz embargada. Ele nunca havia visto de coração partido, doía tanto nele quanto nela.

- Por que isso está acontecendo comigo, Will? Você não se sente assim por causa da Louise?

- Sinto, eu me sinto assim o tempo todo, estou me sentindo assim agora - ele espremeu os olhos, estava sendo levado pelo momento. - Mas vamos ficar bem, eu espero...

- Eu queria poder ter feito as coisas diferentes... não aguento mais acordar todos os dias pensando que pode ser o último... queria poder contar aos nossos pais, a mamãe ficaria tão feliz por mim...

- Podemos contar agora, inventamos alguma coisa, eu não sei... - William queria tomar toda aquela dor para si, mas nem ele sabia como poderiam dar a notícia aos pais. - Por que não contamos a verdade, ? Ou parte dela, pelo menos... não tem problema você dizer que não está mais com o .

- Não sei até onde Eloise e Henry sabem, acho que nem sabem que está por aí... - ela se afastou e fungou após secar as lágrimas no moletom. - Não tenho como contar aos nossos pais sem que essa notícia chegue nele.

- Mas , uma hora ele vai saber.

- Sim, mas não vai ser por mim. Eu passei um mês tentando falar com ele, Will, e antes disso eu até fui na casa dele implorar para que ele ficasse, mas ele me pediu a chave de volta. Tentei ligar ontem também, mas ele trocou de número. Ele não quer falar comigo e eu preciso respeitar isso.

- Se você mudar de ideia, vamos dar um jeito... mas precisamos pensar em uma maneira de contar aos nossos pais.

- Vou pensar nisso, mas por enquanto preciso me acalmar - ela respirou fundo. - Não sei nada sobre maternidade, sou péssima com crianças, só quero aprender a ser uma boa mãe para elas.

- Você vai ser ser a melhor mãe do mundo, - William sorriu para anima-la e decidiu mudar um pouco de assunto. Ele era curioso demais para não perguntar e, além disso, preferia ver berrando com ele do que chorando em seu ombro. - Me desculpa a inconveniência, não é o tipo de pergunta que se faz à irmã, ainda mais eu que gostaria de te proteger de todos os caras babacas do mundo, mas você desconfia de quanto tempo esteja?

- Acho que perdi a virgindade bem antes de você, Will - riu da cara de nojo que ele fez, sua primeira vez havia sido com seu primeiro namorado na adolescência, Will ainda era apenas um garoto. - Eu desconfio que tenha sido quando... céus, isso é constrangedor... mas acho que foi em Aberdeen.

- , vocês não estavam sozinhos! Eu estava no quarto ao lado. Que nojo! - ele fez careta e ela riu ainda mais alto.

- Era para ser uma viagem de casal, mas você e a Louise não colaboraram, não posso fazer nada. Claro que não sabíamos que logo em seguida descobriríamos que existe uma maldição, que iria sumir e eu ficaria grávida, pois se não eu com certeza teria evitado, juro - disse em tom de sarcasmo, mas tinha muita verdade por trás.

- Acho que vou vomitar - William levou uma mão à barriga, enojado, estava mais do que arrependido.

- Quanto drama! Por incrível que pareça, eu transava com o meu namorado, sabia? Falando assim, você até parece um santo.

- Não fizemos nada naquela viagem porque tivemos o bom senso de saber que não estávamos sozinhos, ok? Ah, não consigo parar de pensar nisso. Que nojento!

- Podíamos contar para o Carter, não é? - tentou mudar de assunto, não iria falar da sua vida sexual justamente com seu irmão caçula. - Quero dizer, acho que ele vai ficar feliz por mim, ele anda meio pra baixo ultimamente...

- Podíamos contar para o Carter em Paris! O que você acha?

- Não sei se aguento uma viagem de trem ou de avião sem morrer de vomitar - resmungou, estava enjoada só de pensar. Além disso, por mais que William lhe oferecesse suporte financeiro, ela odiava aceitar, então sem condições.

- Bom, pelo que entendi, houve uma vida na França na qual não sabemos muito sobre. Conseguimos nos lembrar de muita coisa de Aberdeen, talvez você consiga se lembrar da vida na França também.

- Foi uma vida bem bosta, se você quer saber. Eu tinha uma vida bem fútil com Thomas e Katie, mas as coisas mudaram quando conheci o , ele não gostava de nada aquilo e me abriu os olhos. Lutamos juntos na Revolução, mas acabamos sendo mortos lutando pelo nosso país, eu vi ele morrer com tiros nas costas e fui capturada e morta na guilhotina. É simples. Isso explica porque sempre odiei dar aulas sobre Revolução Francesa e porque sempre me vinham memórias na cabeça. Não sei o que aconteceu com os outros, mas acho que todos morreram também, apenas Jesse conseguiu escapar, já que ele está muito vivo até hoje.

- Sabe? Não estou culpando você, ou Carter, mas não consigo entender... como a maldição afetou nós que viemos depois? Louise, Katie, Jake, eu... - William voltou para o piano, se sentando no banco e encarando as teclas, pensativo em como aquilo podia ter o afetado se ele não tinha culpa.

- Carter previu que viriam outros depois e nos ajudariam, é tudo o que consigo lembrar, penso que talvez vocês possam ter nos ajudado de certa forma, assim como Diana e Tom, por isso vocês são afetados também, mas é apenas uma teoria minha.

- Você acha que ele vai conseguir reverter? Acha que temos alguma chance? E se... não gosto de pensar nisso, mas e se ele for como no passado?

- Ele não é mais assim, Will, ele mudou - se aproximou do piano e pediu licença para sentar também. - Confio no Carter de olhos fechados, sei que ele não faria nenhum mal para ninguém. Não acho que tenha sido coincidência ele voltar como seu irmão de sangue, meu irmão de criação... acho que o vínculo que ele criou conosco nessa vida interfere diretamente.

- Acho que você tem razão, faz sentido... imagina só se o meu pai descobre isso... quero dizer, meu pai é o Lewis, mas...

- Seu pai é o Stev, Will - disse de forma sútil, torcendo para que ele não se irritasse. Surpreendentemente, William apenas suspirou.

- Será que ele mudou?

- Stev nunca foi esse monstro que você criou na sua cabeça, se você me permite falar. Eu não acho que a nossa mãe se envolveria com um homem de índole duvidosa, ela não confiaria Thomas e eu ao Steven se ele não fosse de confiança. Durante um tempo eu também rejeitei ele quando eu era criança, mas ele foi tão compreensivo e carinhoso comigo e me acolheu como filha, mas nunca tentou tomar o lugar do meu pai, me ensinou coisas que nem meu pai tinha ensinado ainda. Eu era muito pequena, mas consigo me lembrar do quanto eu gostava de estar perto do Stev. Claro que fiquei feliz por ter meus pais juntos de novo, mas eu contava os dias para visita-lo e acho que meu pai não gostava muito disso, mesmo assim eu sempre tive uma ótima relação com o Steven e até hoje o considero como um segundo pai, ele ainda me manda mensagens de vez em quando me perguntando se eu estou bem, ou envia alguma foto perdida de quando eu era criança. Ele esteve na minha formatura do ensino médio e da faculdade, sempre se lembra do meu aniversário, se faz presente mesmo estando longe... Will, se eu que não sou filha dele sou tratada assim, imagina como ele te trataria se você deixasse.

- Ele sumiu, parou de tentar contato comigo... não sei, acho que ele não quer mais saber de mim...

- Já faz quase quatro anos, Will, e sua revolta continua não fazendo sentido. Você tinha dezoito anos, era só um adolescente, mas agora você é um homem adulto, precisa rever suas atitudes.

- Ele me perdoaria? - Will se odiou por dizer aquilo em voz alta, mas as vezes sentia falta da relação ótima que teve com seu pai quando era criança.

- Eu nunca vi um pai não perdoar um filho - sorriu. - Na verdade, eu acho que você nem precisa pedir... vamos fazer o seguinte: semana que vem é meu aniversário, eu estava pensando em convidar só algumas pessoas, me distrair um pouco... e se eu convidar ele? Você se sentiria confortável?

- Eu não sei, ... eu acho que ele não quer mais me ver, estaria com razão... eu não sei mesmo...

- Se eu chamar o Carter também, você se sentiria mais seguro?

- Acho que sim... tudo bem, pode chamar, eu vou me esforçar, prometo.


cumpriu o que havia dito. Sempre se considerou azarada por fazer aniversário no dia dos namorados, pois além de passar bons 20 anos da sua vida estando solteira, ainda sentia que atrapalhava seus pais como casal conforme ia crescendo e passou a entender que eles também eram um casal antes de serem seus pais, certamente tinham planos que nunca faziam por causa dela, o que a fazia se sentir culpada, mas aquele 14 de fevereiro com certeza foi o mais dolorido de todos, então só daquela vez ela aceitou ser uma enorme estraga prazeres para estar perto dos seus pais. Chamou sua família e seus dois melhores amigos apenas, mas estava frustrada por não estar lá, sendo que várias vezes ele havia dito que faria o dia dela ser especial. Agora, se aquele dia não estava sendo especial, a culpa era 100% dele.

A casa de Will era grande o suficiente para receber todo mundo, mas não eram tantas pessoas assim. Além dela e do irmão, estariam seus pais, Jake e Katie com seus pais, Steven e Carter. Thomas não poderia estar presente, pois estava trabalhando, mas havia enviado um lindo colar para a irmã como presente de aniversário.

e William planejaram uma mentira detalhada e minuciosa, diriam que e Louise não poderiam estar presentes por motivos de trabalho, mas a mentira caiu por terra quando recebeu um telefonema muito carinhoso de Eloise e Henry lhe desejando feliz aniversário e seu coração se partiu mais um pouco por pensar que ela provavelmente nunca mais os veria, o que era um pena, pois amava seus sogros, que sempre lhe trataram tão bem. Ela acabou sendo parcialmente sincera e explicou que ela não estava mais com e ele havia tirado um tempo para ele mesmo. Mentiu ao dizer que o relacionamento estava desgastado e foi pega de surpresa quando Eloise disse que seu filho estava na Irlanda em uma espécie de retiro, pois estava escrevendo um novo livro e não tinha previsão de volta, mas não havia mencionado o término deles. se sentia uma mentirosa compulsiva, disse que era porque ainda não tinham certeza se realmente havia acabado, mas ela sentia que sim e foi consolada pelos dois.

Ela não fazia ideia de como continuaria a mentira e ficou decepcionada por saber que ele estava em outro país, aparentemente estava falando sério quando disse que queria se afastar dela e chegou ao ponto de ir para longe. Apesar da informação valiosa, não criou nenhum plano mirabolante para contata-lo, deixaria as coisas como estavam e só contaria para seus pais sobre a gravidez quando não houvesse mais como esconder, ela já estava cansada de se humilhar na intenção de chamar a atenção de e ele simplesmente ignora-lá como se ela não fosse nada para ele.

Carter chegou na sexta-feira à noite reclamando que passava mais tempo na Inglaterra do que na França, mas ressaltou que se fosse por ele atravessaria o canal da mancha quantas vezes fossem necessárias. Quando ela contou sobre a gravidez, Carter se demonstrou excessivamente preocupado, pois ele disse que apesar dos pequenos progressos que teve, ainda não sabia como reverter a maldição. Ele tinha medo que o tempo estivesse acabando e ainda era um iniciante, estava surpreso com a profundidade da magia antiga, embora se sentisse estranhamente confortável conforme aprendia coisas novas.

Para seu aniversário, não sabia o que vestir, pois estava com a autoestima baixa, suas roupas não ficavam mais tão boas quanto antes e algumas não serviam mais, ela não conseguia se sentir bonita diante de tantas mudanças em seu corpo e sem alguém para exalta-la como uma deusa toda vez que ela passava um pouco de maquiagem. William, vendo que sua irmã não estava animada, decidiu intervir e lhe presenteou com a roupa que ela usaria naquele dia. Com a ajuda de Lizzy, eles escolheram um blazer vermelho oversized, um vestido preto e botas pretas de camurça com cano alto acima dos joelhos. adorou o presente ao abri-lo pela manhã e teve certeza que era aquilo o que vestiria, já foi o suficiente para que ela ficasse mais animada. Completou o visual com batom vermelho e arrumou o cabelo pela primeira vez em semanas. Mostrou a combinação para William e Carter, que tiraram várias fotos dela para postar, algo que ela mesma não pretendia fazer, mas eles pareciam dispostos a fazê-la se sentir bonita.

- Vou mandar essas fofos para a Eloise mostrar para o pra ver se ele se arrepende e aprende a lição - William disse enquanto digitava uma mensagem para Eloise, estava falando sério. - Vou dizer que você mandou enviar as fotos pra ver se a roupa ficou boa.

- Will, para quem tinha preguiça até de pensar, você está bem articulado - ela riu e encolheu os ombros.

- Mas ele está certo, você está lindíssima como sempre - Carter acrescentou.

- Obrigada, Carter, e obrigada por ter vindo também.

- Sempre que eu tiver a oportunidade de estar perto de você, eu vou, e se você me pedir para vir a qualquer hora, eu venho. Diferente de certas pessoas, que pulam pra fora do barco quando você mais precisa, quero sempre estar perto e te ver feliz porque você merece toda a felicidade do mundo.

- Você vai me fazer chorar - sorriu e apertou as pálpebras com cuidado para não borrar a maquiagem.

- Não, você não vai chorar por um homem feio, eu não vou mais deixar - William a abraçou de lado. - Vamos descer, daqui a pouco o resto do pessoal chega.

- Eu queria concordar, mas não é feio, infelizmente, na verdade é o cara mais gato com quem eu já me envolvi, estou falando sério - disse enquanto saiam do quarto, Carter foi logo atrás.

- Beleza é relativa e no momento acho todos eles feios.
Quando foram até a sala de estar, viram que Lizzy e Lewis já estavam lá e ficaram admirados por ver tão bonita, estavam aliviados por ela não aparentar estar mal com o término, não tinham ideia que na verdade ela estava, que ela queria que estivesse ali mais do que qualquer um e que ela não aguentava mais fingir, queria ir logo para o quarto e se perder em pensamentos até dormir. Pouco depois, Jake e Katie chegaram com os seus pais e se sentiu satisfeita por estar rodeada das pessoas que realmente importavam, faltava apenas Thomas, mas ele se fez presente por chamada de vídeo durante alguns minutos também.

decidiu deixar a tristeza e preocupação um pouco de lado e curtir o seu aniversário. Não teve tempo de fazer uma decoração e já não tinha um círculo grande de amigos para convidar, mas aproveitou mesmo assim com pessoas que realmente importavam. Tirou muitas fotos e cantou suas músicas preferidas, se emocionou com a música que William dedicou para ela, uma composição que ele não pretendia lançar e adorou todos os presentes que ganhou. Seus 26 anos não poderiam ter começado de uma maneira melhor.

Quando ela ouviu a campainha tocando, soube que Steven havia chegado, o que não era surpresa para ninguém, todos sabiam que ele viria. William se demonstrou tenso, mas deixou que fosse abrir a porta.

- Stev! - ela disse contente ao abrir a porta e se deparar com o seu ex padrasto que sorriu para ela.

- Meu Deus! A minha garotinha não é mais uma garotinha, é uma mulher lindíssima - Steven entrou e lhe deu um abraço muito apertado. - Feliz aniversário, minha princesa, me desculpa por chegar atrasado.

- Obrigada, o importante é você ter vindo - falou ao se afastar e recebeu o presente dele embrulhado em uma caixa.

- Sua mãe disse que você iria gostar, ela que escolheu e eu confio no bom gosto da Lizzy.

- Ah, não tenho dúvidas de que sim! Muito obrigada - ela disse enquanto abria o embrulho, era um par de sandálias douradas que fez os olhos dela brilharem por serem impecáveis. - Que lindas! Obrigada, Stev, eu amei! Já até sei com que roupa vou usar, muito obrigada mesmo! Entra, fica a vontade! Você quer comer alguma coisa? Tem mini quiches e sanduíches que minha mãe preparou.

- Vou me servir, querida, obrigado, antes eu só precisava falar com o Will - a postura dele mudou e Steven demonstrou insegurança, o que a fez sentir um pouco de pena.

- Eu estou com um pressentimento bom dessa vez, Stev, Will quer conversar de verdade - sorriu para conforta-lo. - Os últimos meses foram uma loucura e fizeram ele refletir muito... eu acho que isso vai terminar hoje.

- Eu espero que sim.

o acompanhou até onde todos estavam reunidos, na sala, e o anunciou. Steven foi bem recebido por todos, ficou surpreso por rever Jake e Katie, que havia visto apenas algumas vezes quando os mesmos ainda eram muito novos, simplesmente se esqueceu de que tinham a idade de Thomas e e já eram adultos. Após a breve recepção, William o convidou para irem até a sala de música para que pudessem conversar. Ele estava nervoso, mas queria ter uma conversa como um adulto. Quando fechou a porta e viu que seu pai aguardava ele dizer alguma coisa, William se esqueceu completamente de tudo o que passou dias ensaiando para dizer, as palavras simplesmente saíram de sua boca.

- Pai, me desculpa - disse pegando Steven de surpresa. Eles eram tão parecidos fisicamente que até a maneira de franzir o cenho era igual. - Eu não sei porque criei um sentimento tão ruim sobre você dentro de mim, me desculpa por ter me rebelado sem motivos, sei que nunca foi sua intenção parecer distante... já faz um tempo que venho refletindo sobre isso, ouvindo o que as pessoas tinham para dizer... por mais que eu tenha muita consideração pelo Lewis atualmente, eu sei que não é ele o meu pai, é você. Espero que você possa me perdoar um dia.

- Will, eu nunca tive raiva de você pelo que aconteceu, se é o que está pensando, eu jamais sentiria raiva do meu próprio filho que eu quis tanto... confesso que eu não esperava vir aqui e ouvir essas coisas, mas acho que também te devo desculpas por ter feito você se sentir deixado de lado... tenho acompanhado sua carreira, suas músicas, estou surpreso pelo artista que você se tornou, sempre achei que você tinha talento, estou feliz por poder te dizer isso pessoalmente.

- Obrigado... - William sorriu de canto. - Algumas coisas que aconteceram ultimamente me fizeram refletir e eu não sei o dia de amanhã, eu não gostaria de partir sem resolver as minhas pendências.

- O que você quer dizer com isso? Está tudo bem?

- Sim, sim, eu só estou pensativo mesmo... ensaiei todo um discurso, mas acho que não vale a pena, eu só queria me desculpar mesmo... sinto falta de ter um pai.

- Nunca deixou de ter um.

William sorriu de canto e deixou que ele lhe desse um abraço. Se sentiu idiota por ter perdido quase quatro anos de sua vida alimentando uma situação que só existia em sua cabeça. Seu pai não tinha tanto tempo livre, mas não queria dizer que não fosse presente, se fazia presente do jeito dele e William podia reconhecer agora que estava mais velho.

- Não pense que não sei nada sobre sua vida, e a Louise? Quando vou conhece-la? Vi algumas fotos no seu Instagram, sua mãe me contou que gosta muito dela - Steven disse após se separarem.

- Ah... eu não estou mais com a Louise, nós terminamos há um tempinho porque eu estou meio sem agenda e ela é muito ocupada também - William tentou desconversar, mas deixou transparecer que ainda estava chateado. - Ainda não contei para a minha mãe, se você puder não contar também, eu agradeço.

- Sinto muito, Will, você parecia feliz com ela, nunca tinha te visto assim com alguém.

- Louise é incrível, pai, nunca vou encontrar outra mulher como ela - ele sorriu entristecido, talvez sentisse mais falta dela do que imaginava. - Eu não quero ficar falando disso porque hoje é pra ser um dia feliz, quero ficar bem para que a fique bem também, ela precisa mais do que eu.

- Eu entendo... bom, não acho que você precise, tendo em vista essa casa enorme, mas se quiser passar lá em casa quando tiver um dia livre, vou adorar te receber.

- Não se iluda, foi financiada e eu mal comecei a pagar - William riu enquanto abria a porta da sala para que pudessem sair.

- Will organizando o próprio dinheiro? Realmente, eu perdi muita coisa.


sempre gostava de comemorar o seu aniversário de alguma maneira, embora na maioria dos anos saísse para algum lugar. Ia para bares, fazia uma viagem ou uma festa memorável, como havia sido no ano anterior quando organizou uma festa temática hollywoodiana, na qual ela estava impecável em um vestido de gala preto e brilhante. Seus 26 anos não saíram como o planejado anteriormente, mas estava sendo sua comemoração preferida até o momento. Todos estavam empenhados em fazê-la se sentir bem e o ambiente estava agradável. Ela se esqueceu de todos os seus problemas por algumas horas e até afastou o sofá para que pudessem dançar, conforme Katie sugeriu. Katie, é claro, era uma excelente dançarina, dançava como se fosse uma garota latina e já havia aceitado que nunca teria o mesmo gingado que a amiga, se contentava em dançar da sua maneira desengonçada de sempre, mas não podia negar o quanto estava se divertindo.

Foi sua mãe que preparou o bolo e o decorou. Lizzy colocou o bolo em cima da mesa de centro da sala e todos começaram a cantar parabéns para ela. Apesar de já ser adulta, ainda tinha o hábito de fazer um desejo ao assoprar as velas. Quando era criança, pedia coisas como uma bicicleta ou um cachorrinho, mas naquele ano foi diferente, pois se lembrou de como sua vida estava uma bagunça e como faltavam algumas pessoas que ela gostaria que estivesse ali comemorando com ela. Seu vigésimo sexto pedido de aniversário foi que aquilo acabasse bem o mais rápido possível e que a maldição fosse rompida. Pediu de todo o seu coração ao soprar as velas enquanto Katie tirava fotos do momento.

sorriu quando as velas se apagaram e as luzes se acenderam, era um novo ciclo e ela gostaria que fosse diferente.


Louise e estavam há horas fazendo pesquisas e anotações. Jesse deixou que os irmãos ficassem a vontade e disse que tinha algumas coisas da banda para resolver fora, mas voltaria dentro de dois ou três dias para continuar ajudando nas pesquisas.

havia ido até a cozinha pegar algo para comerem enquanto Louise se distraia com seu celular. Ela viu as fotos que Katie, Jake e a própria postaram e só então soube que era aniversário dela. Parou em uma das fotos que havia postado na qual ela estava com William em um corredor da casa dele e eles faziam pose. Louise achou impecável no blazer vermelho com longas botas de camurça, mas tirou um instante para reparar em William. Ele vestia uma camisa social branca, uma calça social vinho e sapatos pretos, estava tão bonito quanto ela podia se lembrar.

Era frustrante para Louise ver William tão bem, ele parecia ser sempre inabalável na frente de todos e seguro de si mesmo. Conheceu um menino imaturo, mas nos últimos oito meses William havia se tornado uma nova pessoa, um homem com responsabilidades e uma carreira promissora, levava o trabalho a sério e colocava sua família em primeiro lugar sempre. William tinha defeitos que irritavam Louise no profundo da alma, como sua teimosia infantil e sua capacidade de dizer a maior atrocidade já ouvida na história da humanidade no pior momento possível, mas ver aquelas fotos a fazia lembrar das coisas boas e como ele sempre foi um bom parceiro, sentia falta de tudo, mas principalmente dos momentos em que William não era um astro em acensão, era apenas o Will, um cara normal por quem ela havia se apaixonado intensamente e muito rápido.

- Não me diga que está vendo o Instagram do Will - surgiu na sala com dois sanduíches num prato e suco, a assustando.

- ! Esse lugar é sinistro demais para você chegar de fininho assim, sabia?

- Tenho que concordar com você. Desculpe.

- E não, não estava vendo o Instagram dele... estava vendo o da , na verdade. Você sabia que hoje é aniversário dela?

- Eu sei... - ele ficou um pouco incomodado e se ajeitou no sofá.

- E você não vai ligar? Não vai fazer nada?

- Eu queria, mas eu não posso, Lou... não dá... além disso, não posso simplesmente aparecer do nada, iria arruinar o dia dela e eu não quero causar mais nenhum estrago na vida dela...

- , você está cometendo um erro enorme... - Louise mostrou uma das fotos para ele, entregando o celular em sua mão. - Veja se você não está deixando ir a mulher mais linda do mundo, olha só para ela.

viu a foto que postou e sentiu o peito apertar. Ela estava tão linda quanto ele podia se lembrar, achava que vermelho combinava perfeitamente com ela. A pose para a foto mostrando o quanto ela parecia segura naquela roupa e segura de si mesma o fizeram pensar que ele realmente estava deixando ir a mulher mais bonita de todas, mas não só isso, estava deixando ir sua chance de viver um amor sincero. Sentia falta dela com cada célula do corpo e em dias como aquele se tornava uma dor insuportável.

- Não posso ligar, Lou, não hoje... - ele devolveu o celular para ela. - Eu já aceitei, é a minha decisão final. Não estou fazendo isso para ver sofrer, estou fazendo porque é o melhor para todos nós. Se ficarmos juntos, morremos, a lógica é simples. Somos jovens e cheios de vida, merecemos viver, ela merece viver... sei que se ficarmos juntos enquanto a maldição não for interrompida, morreremos. Eu seria muito egoísta se fizesse isso mais uma vez não só com ela, mas com todo mundo. Não quero cometer o mesmo erro mais uma vez.

Louise ouviu com lágrimas nos olhos, e seu coração se despedaçou com aquilo, pois podia ver o quanto estava sofrendo, mesmo que ele tentasse não demonstrar. Se os olhos eram a janela da alma, então ela podia ter uma noção do quão infeliz realmente estava, pois o olhar dele era quase sempre de tristeza, além do fato de ele raramente sorrir e ela ainda não o viu animado com qualquer coisa desde que havia chegado. Na verdade, parecia sempre estar de cabeça e ombros baixos, com os olhos perdidos nos livros de Jesse ou simplesmente olhando para o nada, mas provavelmente pensando em tudo.

- Não me olhe assim - disse sem tirar o olhar do livro que lia enquanto comia seu sanduíche. Sua visão periférica denunciava Louise e seu olhar de pena para ele, algo que odiava que sentissem dele.

- Você não tem que se martirizar como está fazendo agora - Louise tinha a voz embargada, ela não conseguia falar sobre aquilo sem chorar. - Você é a última pessoa do mundo que não merece amor.

- Louise, por favor...

- Eu odeio te ver tão infeliz e não poder fazer nada. Eu te obrigaria a voltar para ela se a sua felicidade depende disso - ela espremeu os olhos quando sentiu lágrimas escorrendo pelo seu rosto. - Você cuidou de mim a vida inteira, mas quando eu deveria fazer algo por você, não posso.

- Você faz por mim mais do que imagina, Lou - tentou anima-la, mas Louise balançou a cabeça negativamente.

- Quando eu me sentia deixada de lado pelos nossos pais, o que nunca aconteceu de fato, mas eu achava que sim... você fazia pipoca e me chamava para assistirmos um filme na televisão de madrugada enquanto eles estavam no hospital e o Damon já tinha ido dormir. Você nunca terá noção do quanto isso foi essencial enquanto eu crescia - Louise engoliu a seco choro e então viu tensionar os lábios e espremer os olhos antes de olhar para ela.

- Você era só uma criança - respondeu com a voz falhada. O fato de Louise ter sido uma criança solitária mexia muito com ele.

- E você também. Damon ia para o hospital visitar a Diana e você inventava desculpas para ficar em casa comigo quando eu não queria ir, talvez às vezes eu não fosse só porque eu sabia que você ia ficar e eu iria me sentir importante e menos sozinha.

- Você nunca esteve só, Louise.

- E você também não tem que estar, ! - ela praticamente esperneou, queria abrir a cabeça dele e colocar aquela frase manualmente em seu cérebro. - Ninguém consegue ser sozinho o tempo inteiro, o ser humano não foi feito para ficar só e você tem uma mulher de ouro na palma da mão e você sabe disso, eu sei que você sabe.

- Eu sei - respirou fundo, sempre sentiria dor quando qualquer um mencionasse para ele. - Eu sei.

- 200 anos atrás, bem aqui nessa cidade, eu achei que seria uma ideia brilhante juntar vocês dois porque eu pude ver que vocês eram perfeitos um para o outro - Louise sorriu com aquela lembrança repentina. - Porque mesmo naquela época você já cuidava de mim da mesma forma que cuida agora, eu quis retribuir tudo o que você fez por mim quando a nossa mãe daquela vida me proibiu de ver William. Soube que estive certa quando os vi tão felizes e apaixonados estando juntos. Você se lembra disso, , não lembra?

- Lembro - ele assentiu e fungou. - E eu agradeço o seu esforço, mas...

- Ela foi feita para você, . Você foi feito para ela. Você pode tentar fugir para onde quiser, mas você sabe que é a e sempre será. Você não pode ter outra pessoa por causa da maldição, mas mesmo que pudesse, você não iria querer porque é perceptível nos seus olhos o quanto você está sofrendo por estar longe dela. Se o que posso fazer por você é falar até fazer você se cansar da minha voz e voltar para ela, então é o que vou fazer. É o mínimo. Não é justo a pessoa mais amorosa do mundo não ter o direito de viver um amor também.

ficou em silêncio, pois não tinha o que dizer em sua defesa. Primeiramente, ele não gostou de saber que Louise dedicava a vida a "retribuir" o que ele havia feito para ela, o que achava que não tinha feito mais do que ser o irmão mais velho que ela precisou e teria sido muito mais se não fosse tão jovem. Segundo, Louise estava mais do que certa em dizer que eles foram feitos um para o outro, pois ele tinha a plena certeza de que era a pessoa com quem ele deveria passar o resto da vida. Quando a conheceu, se esqueceu de todas as outras mulheres do mundo e mesmo agora elas continuavam invisíveis para ele. preferia morrer sozinho de uma vez do que ousar se imaginar compartilhando a vida com outra mulher que não fosse Thompson.

- Certo, Louise, vamos por partes - ele respirou fundo e se recompôs para encerrar aquele assunto. - Sabemos que papai e mamãe nunca tiveram a intenção de fazer com que você se sentisse deixada de lado, eles nos amam demais para isso, mas eu podia ver que você se sentia assim, então aceitei meu papel nessa família: ser o filho mais velho. Irmãos mais velhos cuidam dos mais novos e eu faria muito mais se não fôssemos crianças lidando com responsabilidades de adulto e o medo constante de perder a Diana, você sabe que eu faria, mas eu nunca iria esperar algo em troca, Louise, nunca. Por favor, não fique tentando me compensar porque, na verdade, não tem o que compensar, eu cuidei de você  quando éramos crianças porque eu sou seu irmão mais velho, assim como cumpri com o meu papel de irmão e guardião legal na vida passada, você era minha responsabilidade e eu fiz o que tinha que fazer. Eu não quero que você fique tentando me compensar porque eu sei o que eu estou fazendo.

- Mas...

- Eu sinto tanta falta da que dói e eu mal consigo respirar quando isso acontece. Sim, eu nunca estive tão infeliz quanto agora e eu queria muito pegar a chave do carro e dirigir por 10 horas até ela e seguir o meu coração, mas eu não posso. Eu errei muito com ela, com todos vocês, e eu preciso concertar antes que seja tarde. Eu não quero que os nossos pais e os pais dela sofram como os nossos parentes das vidas anteriores, porque se eu não desfazer o que fiz, é isso o que vai acontecer.

- Mas você não fez nada - Louise praticamente choramingou, arrasada com o que ele estava dizendo.

- Fiz, você sabe que fiz. Eu era casado com a Luce e deveria ter se casado com o Carter. Fui eu que a beijei naquela torre no dia em que nos conhecemos pela primeira vez, eu que trai minha esposa e insisti em algo que era errado, fui eu que tomei a mulher de outro homem numa época em que as coisas eram diferentes... Lou, o que eu mais quero é desfazer essa maldição e voltar correndo para ela, torcendo para que me perdoe, mas enquanto isso não acontece, eu preciso me afastar. Não suporto a ideia de estar na mesma cidade que ela sem estar com ela, eu simplesmente não consigo.

- Tudo bem - Louise assentiu e secou as lágrimas na manga do seu moletom. Havia desistido oficialmente. - Apenas me prometa que quando isso acabar, a primeira coisa que você vai fazer será ir atrás dela, mesmo que você já esteja velho e ela tenha 10 filhos com outro homem. Eu não vou me importar de adotar 10 sobrinhos se isso te fizer feliz.

- É claro que eu vou - riu verdadeiramente, apenas a possibilidade de voltar para algum dia o deixava animado. - Ela é o amor da minha vida, Louise. Se eu tiver uma chance de me redimir, então não vou desperdiçar. Eu quero voltar para ela, só preciso concertar algumas coisas antes.

- E eu tenho certeza que você vai conseguir, você sempre consegue.

- Espero que você tenha razão...

Louise e continuaram a pesquisar por horas a fio, lendo e folheando todos aqueles livros e anotações de Jesse, mas a certa altura eles estavam muito mais interessados em saber das fofocas que o amigo relatava do que de fato buscar informações, visto que já era de madrugada e eles tinham uma riqueza considerável de detalhes para juntar. Quando achou uma velha caixa cheias de correspondências destinadas a Jesse Birdwhistle, ele não pensou duas vezes antes de abrir e ler o que ele achava que não era invasivo. Louise, como ótima fofoqueira que era, o apoiou totalmente.

- São cartas da Diana para ele - ela disse enquanto lia  o destinatário de vários envelopes de uma vez. - Que se dane! Eu vou ler.

E enquanto Louise abria as cartas com cuidado para que o papel antigo não se desmanchasse em suas mãos, continuou procurando, até encontrar algo que chamasse sua atenção, encontrando uma carta com um remetente de sobrenome Arkley que ele tinha certeza que já havia ouvido falar, mas não lembrava de cabeça no momento. Curioso, ele abriu a carta e começou a ler seu conteúdo.

"Balmedie, 03 de dezembro de 1883,

Meu caro Jesse,

Escrevo esta carta com a intenção de que a mesma seja entregue a você após a virada de ano, então adianto-me ao desejar-lhe um feliz ano novo.

Já faz algum tempo que não nos contatamos, mas entendo que estejas ocupado e que a vida boêmia da Irlanda esteja o fazendo bem, mas por aqui tudo também está muito bem e pensei que fosse o momento para lhe atualizar sobre os últimos acontecimentos de minha vida, que, devo dizer, anda agitada, afinal, a vida com minha querida Sophia não poderia ser nada a menos do que isso.

Cedric está muito bem e vive perguntando sobre você, ele é um rapazinho muito inteligente e tenho certeza de que o marquesado estará em excelentes mãos quando eu partir. Além disso, ele exige que seja chamado de Lorde Livingstone, pois ele sabe muito bem que este título pertenceu ao avô dele e um dia também foi meu, mas que agora é todo dele. Então não se esqueça de se referir a ele assim quando tiver a oportunidade de vê-lo, certamente ele ficará muito feliz, este novo Conde de Livingstone é muito exigente, fui muito abençoado por poder ser pai de um primogênito perfeito.

Thomas William é uma cópia de Sophia e eu não poderia estar mais contente, este pequeno grande homem, ao qual dei o nome de dois Arkleys mui honráveis, está no caminho de ser um grande Arkley também, mas tudo graças à Sophia, é claro, suas semelhanças com ela vão além de físicas, ele é tão resiliente e forte quanto a mãe, e eu não poderia estar mais orgulhoso. Não posso dar títulos para ele, é claro, mas farei tudo o que puder para que ele se sinta tão importante quanto seu irmão mais velho.

Se não me falha a memória, em minha última carta, mencionei que Sophia achava que sua barriga estava grande demais para apenas um bebê, e, aparentemente, não se deve contrariar uma mulher grávida, pois, de fato, Sophia deu à luz nossos dois novos amores e, para minha surpresa - e lágrimas! - ela decidiu nomear nossas duas pequenas em homenagem às mulheres que ela adoraria ter conhecido e que eu tenho a honra de descender: mal posso esperar para que você conheça pessoalmente Lady Diana Louise e Lady Deborah Margareth Featherstone-Arkley. Tenho que admitir que a paternidade para com meninas é diferente da que eu conhecia, mas que estou me esforçando para ser o pai que elas merecem ter. E, modéstia a parte, se meus dois meninos se parecem com a mãe, reconheço que desta vez tive meu momento de destaque: elas são minhas versões femininas e eu espero que elas considerem como um elogio, pelo menos Sophia diz que é.

E depois de 4 filhos, tanto Sophia quanto eu achávamos que já era o suficiente, mas trago-lhe boas novas: Sophia dará à luz novamente até fevereiro e estamos animados como se fosse a primeira vez. O motivo de eu estar lhe contando esta novidade é que decidimos os nomes e, se for mais uma menina, será Isabella , pois acho justo que a mãe de Sophia também seja homenageada, também não preciso dizer que minha prima está muito animada com a possibilidade de que seja uma menina, também me questiono se minha finada tia está feliz de onde quer que ela esteja, pois é por ela também... mas se for menino, fiz questão de escolher e é por isso que decidi escrever para contar-lhe: Jesse Andrew.

Te devo uma, meu amigo, na verdade, te devo várias, e acho justa esta homenagem. Acho que nunca o agradeci de verdade por tudo o que fizeste por mim e por minha família, mas saiba que sou muito grato. Graças a você, tive coragem de voltar para Aberdeen e restaurar a casa Blackwood em memória de minha mãe, minha tia e meus tios, agora Andy pode viver naquela casa com sua amada esposa e o pequeno William, talvez não tenhas ideia de que ajudaste não apenas a mim, mas a todos nós, ele também é muito feliz e grato a você. Também o agradeço por me incentivar a assumir o título que herdei de meu avô, afinal, quando herdei o marquesado fiquei muito assustado por ser jovem demais e por achar que quem deveria ser o Lorde Broxburn era o meu pai e não eu. Apesar de ele ter partido quando eu ainda era uma criança de colo, talvez só naquele momento tive ciência de que ele realmente não estava lá e tudo o que deveria ter sido dele, agora era meu, sem sua mentoria eu jamais teria conseguido ser quem eu estava destinado a ser. Obrigado, sempre direi para o pequeno Jesse que ele tem o nome de um grande homem.

E se não tivesses dito para mim que já era a hora de eu me casar, eu talvez nunca tivesse conhecido minha querida esposa, Sophia. Mesmo depois de 10 anos, continuo sentindo que fui agraciado com particularidade ao ter a honra de desposar uma mulher divina como Sophia, eu não poderia ter uma pessoa melhor ao meu lado. Sophia é uma marquesa excepcional, uma esposa honrada, que está ao meu lado em todos os momentos e a melhor mãe que nossos filhos poderiam ter, ela simplesmente nasceu para isso de um maneira que não posso por em palavras, terias que ver para crer. Eu a amo, Jesse, como a amo! Sempre me pergunto se meus pais gostariam dela tanto quanto eu gosto, mas acho que sim, afinal, não tem como não gostar dela e, como você os conheceu, acredito que possa me agraciar com suas memórias sobre eles. Certamente minha mãe, Lady Livingstone, estaria encantada em conhecer a nova Lady Broxburn e elas seriam uma dupla implacável. Meu saudoso pai teria muitos conselhos para me dar e com certeza teria tanto orgulho de Sophia quanto eu, não tenho qualquer dúvidas quanto a isso.

Sinto que já lhe tomei muito tempo com esta carta, então para finalizar, gostaria apenas de dizer que Clara, Andy e estão bem, eles lhe mandam honrosas lembranças. Clara e continuam com suas vidas em Londres, é claro, mas sempre que posso, vou visita-las e ao contrário também, adoramos nos reunir sempre que podemos, passaremos o natal e ano novo juntos na casa de Andy e reuniremos nossos filhos, que adoram estar juntos. Por morar perto de Andy, sinto que nossa irmandade nunca diminuiu ou mudou. Podemos ser primos, mas para mim, ele é o irmão mais novo que eu nunca tive e eu estou muito orgulhoso da pequena família que ele construiu, exatamente como ele queria. Sinto que estamos orgulhando nossos pais e mães, de onde quer que eles estejam.

Para finalizar, o agradeço mais uma vez por tudo o que tens feito pela minha família. Não posso imaginar o quão pesado seja o fardo que você carrega, meu amigo, mas saiba que jamais estará sozinho nesta empreitada e, enquanto eu estiver aqui, me ofereço para compartilhar o fardo com você. Infelizmente a maldição não foi rompida nesta vida, mas torço para que você encontre uma maneira e que na próxima vida meus pais e tios vivam a vida que jamais tiveram o privilégio, se possível diga a eles o quanto os amo e torço para ter a honra de voltar para esta mesma família um dia, uma família livre de uma maldição terrível, pois você sabe que me sinto amaldiçoado também, afinal, não tenho comigo meus pais porque 220 anos atrás um homem inescrupuloso não soube ouvir um não de uma mulher que não o amava... é realmente curioso como as coisas funcionam e é uma pena que todos nós tenhamos sido afetados, mas peço todos os dias em minhas orações para que todos eles estejam bem e que essa maldição seja quebrada. Eu os amo, espero que eles saibam de onde quer que estejam e espero conhecê-los algum dia se eu tiver uma chance.

Isto é tudo. Desejo-lhe saúde e sabedoria, meu amigo, além de um novo ano repleto de coisas boas e novidades, sei que mereces um descanso. Não hesites em nos contatar caso precise de algo ou se apenas quiser jogar conversa fora.

De seu amigo,

Isaac.”


Ao final daquela carta, estava de queixo caído, literalmente.

De tudo o que ele já havia encontrado, certamente aquela era a maior preciosidade de todas, uma carta de seu "sobrinho", mesmo que em uma vida passada, e o mais impressionante: ele sabia da maldição! Como aquilo era possível?

- Louise - entregou a carta para ela. - Veja isso, uma carta do filho da Diana.

- O quê? - Louise se esqueceu que o papel era frágil e tomou da mão dele.

- Ele era um amigo próximo do Jesse, ele sabia da maldição.

- Puta merda - ela lia atentamente. - Que coincidência, ele escreveu em 3 de dezembro, meu aniversário... - Louise continuava movimentando os olhos de um lado a outro, lendo como se fosse a coisa mais interessante do mundo, pois de fato era.
E como era! Aquela carta tocou Louise em seu íntimo, pois as palavras daquele homem eram tão amorosas que ela podia sentir todo o afeto que ele tinha pelos seus filhos, sua esposa, primos e também por Jesse.

E claro, depois de Diana perder o seu bebê, aquilo ganhava um significado ainda maior. Em outra vida, ela teve a chance de ter o seu filho e ele teve a chance de crescer e ter uma vida longa e feliz. Será que aquele homem da carta era o bebê que não vingou? Louise torcia para que não, pois um sentimento diferente tomou conta de seu peito enquanto ela lia, algo que ao mesmo tempo era cheio de ternura, também doía. Era seu sobrinho, em outra vida, mas ainda era seu sobrinho que ela não teve a chance de conviver, e mesmo assim ele a homenageou, colocando seu nome em sua filha, aquilo era de uma sensibilidade e delicadeza gigantes e Louise o amou, apenas torcia para que ele não fosse aquele bebê, não suportaria a ideia de não conhecer aquele homem um dia.

E além de falar de si mesmo, ele também mencionou os filhos que Louise teve com William. Ela não conseguia parar de sorrir ao ler que Isaac considerava seu primo Andy como um irmão. Então Louise, que nunca pensou em ser mãe, passou a sentir uma saudade incomum de seus filhos, ao ponto de doer. Como eram Andy e ? Se pareciam com ela? Ou com William? Como viveram? Com quem se casaram? Ela tinha tantas perguntas, mas elas ainda não se sobressaiam ao sentimento materno que tomou conta dela naquele instante, amando seus filhos e sobrinhos com todo o coração, mesmo que não os conhecesse, com exceção de Clara, que era apenas uma criança, mas ela adoraria que todos eles voltassem.

- Está tudo bem, Lou? - se sentou ao lado dela ao perceber que Louise tinha lágrimas nos olhos.

- O filho da Diana cresceu sem os pais e agora são eles que não terão o filho - ela espremeu os olhos. - E ele sabia da maldição, ele se sentia amaldiçoado também.

- A maldição afetou muito mais pessoas do que imaginamos - respondeu chateado, transbordando de culpa. Suas irmãs não puderam criar os filhos e a culpa era totalmente dele.

- Será que mostramos isso para ela?

- Eu mostraria, mas não agora. Sabe como Diana é uma caixinha de surpresas, eu não sei o que esperar dela e, sinceramente, se eu fosse uma mãe que tivesse acabado de perder meu filho, eu não sei se o conteúdo dessa carta me faria bem. Eu realmente não sei.

- Você tem razão, Jesse teria mostrado se ele quisesse que ela soubesse de algo... , você não acha que - Louise hesitou quando teve aquele pensamento repentinamente. - Você não acha que ele seja o bebê que ela perdeu, não acha?

- Prefiro pensar que não - ou a culpa o mataria de uma vez. - Quero pensar que era outro tempo e outra pessoa e essa é só uma correspondência entre amigos com cumprimentos de ano novo. Prefiro pensar que ele comemorou aquele Natal e ano novo com a esposa e os filhos e que o quinto bebê tenha nascido saudável. Gosto de pensar em coisas boas acontecendo na virada do ano.

E quando aquele ano virou, tinha certeza de que seria um bom ano, tinha um pressentimento bom sobre ele e , mas ainda era 14 de fevereiro e ele já estava no fundo do poço, ele mal podia imaginar como seria o resto do ano, só sabia que seria um ano longo e doloroso, para não dizer o pior de sua vida

- Gosto de pensar que nós tornamos o ano bom - Louise tentou sorrir, ainda tinha esperanças de que ele mudasse de ideia. - E ainda é fevereiro. Não é lindo saber que ainda temos um ano inteiro para uma reviravolta? Tudo pode acontecer.

- Tudo pode acontecer - repetiu e mentalizou aquilo, torcia para que tivesse a oportunidade de virar mais um ano e não apenas isso, desejou que tudo estivesse diferente. – Ainda é fevereiro – ele repetiu baixinho, para si mesmo, respirando fundo.

Estava um pouco atrasado para fazer seus votos de ano novo, mas era o que ele mais queria, que tudo fosse diferente e que fevereiro passasse num piscar de olhos.



Capítulo 32 - Fate

Os meses que se seguiram não foram os melhores da vida de Damon, mas nem tudo estava tão ruim assim. Tentou insistentemente contato com Charlotte, insistindo que não era justo ela afastá-lo daquela maneira quando ele sempre cumpriu suas obrigações de pai e exigia ver sua filha, caso contrário ele teria que tomar medidas legais, o que ele realmente não queria fazer, não contra a mulher que amava. Temerosa, Charlotte acabou cedendo, afinal, tinha que concordar que ele sempre fez a parte dele, mesmo que eles fossem separados e morassem em países diferentes.

A distância deixou de ser um problema quando Damon convenceu Charlotte que deveriam investigar o passado. Ela também queria saber mais sobre a maldição, pois não conseguia parar de pensar naquilo havia meses, mas também não sabia por onde começar, visto que não tinha o que fazer estando nos Estados Unidos após desistir do seu emprego. Damon se sentia tão mal por aquilo que se esforçou para ajudá-la de alguma forma, até que surgiu uma vaga no escritório em que ele trabalhava e, por ser influente no lugar, Charlotte se tornou a candidata mais forte; o currículo invejável dela também colaborou com isso. Ela estava cansada de se mudar tantas vezes, mas Damon estava oferecendo todo o suporte que ela iria precisar, ofereceu sua casa e qualquer coisa que ela precisasse para concluir a mudança, o que a convenceu depois de muita insistência. Clara sempre dizia o quanto estava feliz por voltar à Inglaterra e ver seus pais morando juntos, mas ambos sempre ressaltavam para ela que era temporário e eles não eram casados, coisas que Clara não dava muita importância, é claro.

A única coisa que Damon não contava era que Lucinda, de repente, perguntara se ela poderia passar alguns dias em sua casa até se estabilizar. Ela alegou que também gostaria de ajudar a reverter a maldição, já que também estava envolvida. Damon não fazia ideia de como Luce se manteria legalmente no país, pois não tinha emprego ou visto de longa duração, mas ela disse que buscaria um emprego ou ficaria todo o tempo que pudesse. Havia saído do seu atual emprego e juntado todas as suas economias para aquela mudança, mas não tinha onde ficar. Incapaz de dizer não, Damon aceitou, mesmo contra sua vontade, mas foi surpreendido quando Luce disse que não seria mais necessário, pois deixou que ela ficasse em seu apartamento.

Aquilo foi realmente uma novidade para Damon, pois não sabia que Luce e estavam mantendo contato e menos ainda que estavam próximos ao ponto de oferecer sua casa para ela. Não sabia onde estava ou o que estava fazendo, evitava pensar nele ou falar, apenas fingia aparência para os seus pais, mas imaginou que não estivesse em seu melhor juízo para aceitar uma coisa como aquela, pois se lembrou de como o término foi difícil para superar. Damon sequer conseguia imaginar eles conversando normalmente, tinha certeza de que não estava pensando direito.

Apesar disso, evitou Lucinda quando percebeu que ela parecia diferente. Ela, que sempre fora amigável e calma, parecia estar sempre tensa e de mau-humor, quase não os visitava mais e, quando o fazia, falava obsessivamente sobre a maldição ou simplesmente falava coisas sem nexo, se lembrava de suas vidas passadas e contava coisas horríveis que fez como se fossem coisas normais. Damon estava evitando Luce a todo custo, chegando ao ponto de Charlotte evitá-la também. Tinha algo de errado e ele não queria pagar para descobrir, muito menos expor sua filha ao perigo.

Naquele dia, voltando do trabalho, ele recebeu uma mensagem de Charlotte na qual ela pedia para ele passar no mercado e trazer algumas coisas para o jantar e ele concordou, respondendo que não iria demorar.

Damon riu sozinho enquanto dirigia. Basicamente, Charlotte e ele levavam uma vida de casados sem estarem juntos. Dividiam a casa e tinham uma filha, mas infelizmente não dividiam a cama no fim do dia, e era o que Damon mais queria. Estava surpreso com seu auto-controle, já estava tão acostumado a fingir para Charlotte que talvez ela realmente acreditasse que ele não a amava mais, mas estava enganada, ele a amava, e como amava! Incomodava, ardia e doía como se fossem as primeiras semanas, e, por mais que Damon tivesse tentado seguir em frente e ter outros relacionamentos, ele não conseguia, ninguém se comparava à Charlotte, e ele se questionou por muito tempo, chegou a pensar que o problema fosse ele, mas saber que estava preso a ela o deixava aliviado de certa forma. Sorte a dele estar interligado à mulher mais magnífica de todas.

Damon sentia falta dela, de verdade, não teve um dia desde que Clara nasceu que ele não sentiu falta de Charlotte, mas agora que sabia que ela era seu amor de outras vidas, a saudade parecia incomodar em dobro. Suas versões do passado tiveram o privilégio de a desposarem, e ele pensava que se tivesse só mais uma chance, mostraria para ela que ele ainda valia a pena tanto quanto valera antes. Embora Damon tivesse consciência de que a culpa da separação deles era inteiramente sua, agora ele se considerava um homem de verdade, ao invés do garoto que costumava ser, e ele torcia para que Charlotte o enxergasse da mesma maneira um dia.

Era o que ele pensava enquanto descia do carro e entrava no mercado para fazer compras para a mulher que mandava nele, mas que não era necessariamente sua esposa.

...

Por mais que já não morasse no mesmo apartamento, o mercado perto de sua antiga casa ainda era o seu preferido. O dono era simpático, tinha variedade, tudo era muito organizado, e, mesmo que ela precisasse pegar o carro e levar mais tempo para ir, ainda preferia assim. O armário já estava ficando vazio e ela precisava fazer as compras da semana, talvez fosse a única coisa normal em sua vida nos últimos meses desde que estava tentando fingir que nada acontecera.

O maior problema ao sair eram as roupas que não serviam mais. Apesar de estar apenas no quarto mês de gestação, a circunferência de sua barriga estava maior por serem dois bebês, algo que ela havia descoberto apenas duas semanas antes, e por consequência ela perdeu suas calças antes do tempo e ainda não tinha comprado roupas de gestante. Estava um pouco frio, então optou por uma legging preta esquecida no guarda-roupa, um moletom verde surrado e botas de galocha. Ela não se importava mais com o que vestia ou deixava de vestir, contanto que lhe servisse e fosse confortável, e apesar de galochas e moletom não serem a opção mais fashion, ela não dava a mínima, só queria comprar sua comida e voltar para casa logo.

Quando chegou ao mercado, procurou por um carrinho e foi direto para a sessão de enlatados, pois não sentia mais vontade nenhuma de cozinhar e o mais perto disso era quando cozinhava legumes por recomendação do nutricionista para se manter saudável, mas ela mesma não se importava mais. Ela parou perante a prateleira e procurou pelas marcas de sempre, sequer tinha notado a mão que deslizava pela barriga, pois já era um gesto involuntário.

- Ah, aí estão vocês, feijões - ela avistou as latas na prateleira mais baixa, o que significava que teria que abaixar para pegar, mas as instruções do obstetra eram bem claras. - Droga...

fez um pouco de esforço para se abaixar, mas nem assim conseguiu, o que a deixou bem frustrada. Ela sabia que conseguia descer mais, mas tinha medo, fosse por ela ou pelos bebês, desde que soube que precisava manter resguardo para o risco natural de sua gestação não evoluir, coisas que antes pareciam simples para ela agora eram uma grande dificuldade.

Mas a mão que a ajudou a pegar três latas era ágil e sutil, tão sutil que ela não percebeu que Damon estava ali e tinha chegado na miúda. Ela olhou surpresa para ele, mas Damon só conseguia olhar para a barriga dela, completamente em choque.

Ela nunca, jamais havia confundido os dois (exceto aquela vez em que esteve bêbada), mas era impossível olhar para ele e não se lembrar de , mesmo que estivessem diferentes um do outro desde que Damon deixou o cabelo crescer. estava cansada de estar estagnada no mesmo lugar desde que a deixou, odiava relacionar tudo a ele, mas como não o ver nas feições do cara que era idêntico a ele? Ela os achava diferentes, mas só agora ela reparou que os dois tinham olhares de preocupação muito, muito parecidos, e isso a fez querer chorar. Por Deus, a saudade sufocava e doía.

- Caramba... - foi tudo o que Damon conseguiu dizer, estático ao olhá-la.
- Obrigada - pegou as latas nas mãos dele, colocou no carrinho e fez menção de seguir seu rumo, mas ele não deixou, parando o carrinho. - O que você quer, Damon?
- Isso é sério mesmo?
- Não, não é sério, você está delirando! Nada disso é real! - ela ralhou, nem se lembrava da raiva que sentia dele, mas estava voltando.
- Ai, caramba... Meu Deus, ... Isso é...
- Eu não sei o que isso é.
- Uma benção, um milagre - Damon se animou, mesmo que não fosse religioso, considerava que filhos eram um presente divino, pois ele fora agraciado lindamente com sua filha. - Quantos meses?
- Não importa.
- É claro que importa... deve estar muito feliz, ele sempre teve vontade de ter um filho um dia.
- Ele não está - não queria ter aquela conversa, sabia que já estava condenada e era questão de tempo até todos saberem, o que a fez sentir ainda mais raiva de Damon. - Filhas - ela acrescentou, contrariada. - A porra da genética de vocês é muito forte, pelo visto.
- São duas? - Damon sorriu maravilhado. De repente, era como se os últimos meses não tivessem acontecido, e ele sentiu uma felicidade que não sentia havia algum tempo. Toda a sua mágoa, raiva e rancor tinham ido embora naquele momento, e ele estava emocionado.
- Damon, deixa eu ir embora, eu estou cansada de ficar em pé - praticamente suplicou, pois não era mentira, ela vivia cansada.
- Por que você disse que não está feliz? O que aconteceu?

riu, o sangue estava fervendo e ela só queria ir embora para evitar uma discussão feia e dizer tudo o que ela achava que ele merecia ouvir, ou ao menos retribuir tudo o que ele disse para ela antes. Ele não tinha o direito de se alegrar e nem ninguém, mas achava que nele ficava ainda mais irritante.

- Quer mesmo saber o que aconteceu, Damon? Está bem, eu vou te dizer - ela espremeu os olhos para conter a vontade de chorar que crescia dentro dela, queria estar com a razão uma vez na vida. - Sabe o que o fez depois de tudo o que você disse pra ele? Ele surtou! Ele enfiou na cabeça que você estava certo, e achou que só ficaríamos vivos se ele sumisse. Ele me deixou, ele deixou todo mundo e sumiu, mesmo depois de eu ir até a casa dele e praticamente me humilhar para que ele não fosse. Eu não sei onde ele está ou o que está fazendo, na verdade eu estou muito surpresa de você não saber, já que você ainda tem um mínimo de respeito pelos seus pais e suas irmãs, já que por você não teve. Eu descobri umas semanas depois que estava grávida e tentei contar, mas ele não me atendia, não queria falar comigo, me ignorou por completo. O que eu podia fazer?
- Ah, ... - Damon não podia acreditar no que estava ouvindo, eram muitas coisas de uma vez para assimilar. - Eu sinto muito...
- Jura que você sente? Bem, aparentemente a sua necessidade de querer mandar em tudo a vida inteira, inclusive nele, deu certo. Eu não julgo os seus motivos, mas a sua atitude sim. Metade disso teria sido evitado se você não fosse tão egocêntrico.
- , eu sinto muito pelo que fiz, pelas coisas que te disse, sei que peguei pesado com vocês, minha vida tem sido...
- Eu não quero saber! Eu não quero saber de nada, eu não queria nem estar aqui falando com você, ok? Você não foi o único que saiu perdendo, por incrível que pareça! Acho que seu egocentrismo não te deixa ver o mundo ao redor como ele realmente é, porque se você não fosse um grandíssimo egoísta, talvez as coisas pudessem ter sido diferentes, talvez não tivesse ido embora, ele só fez isso porque acatou tudo o que você disse para ele, então se for para culpar alguém, eu culpo você, apenas não se esqueça que você esteve conosco porque quis, não te obrigamos, centenas de anos atrás você participou porque quis!
- Eu sei e sinto muito mesmo, de verdade, tenho tido tempo para refletir sobre tudo e sei que fui injusto com você e com o - Damon se sentia péssimo, não tinha ideia do quão magoada ela ainda estava. - Deixa eu te ajudar a achar o .
- Eu não quero achar o ! Apesar de tudo, talvez ele esteja certo e só assim teremos uma vida longa e normal. Separados, como era pra ser desde sempre.
- Mas ele precisa saber.
- Não, nem ele e nem ninguém, quem tem que saber, já sabe. E se eu descobrir que você contou para alguém da sua família, principalmente para o , eu nem sei o que sou capaz de fazer.
- Eu não posso esconder isso dele, ...
- Então é melhor que eu me esconda - pegou o seu carrinho e foi embora a passos rápidos. As compras poderiam esperar um pouco.

Damon se sentia enraizado no chão, se quer conseguiu ir atrás de . Achou que em partes ela tinha razão, em alguns momentos seu ego falou mais alto, mas ele não conseguia mais sentir raiva por nada, não depois de saber que ela estava gerando duas vidas dentro dela, duas crianças que não tinham culpa de nada do que aconteceu. Damon prezava pela família, e não ter mais os cafés da manhã com os irmãos, não ter mais com quem conversar, não ter mais com quem implicar por pura birra, era devastador demais, ele se deu conta de que perdeu muito mais do que imaginava. Sempre se considerou uma pessoa extrovertida e sociável, naturalmente ele precisava falar com as pessoas e precisava de barulho, então era óbvio que o silêncio familiar estava o corroendo há um bom tempo.

Não podia mais mudar o passado, mas ainda podia mudar o futuro.

Na volta para casa, já em seu carro, Damon não conseguia parar de pensar no que viu. realmente estava grávida e não sabia, aparentemente ninguém da sua família sabia. Ela não parecia feliz por estar gerando e Damon sentiu pena, se lembrava da vida anterior e de como ela estava ansiosa pelo bebê que teria, podia se lembrar de como ele se sentiu quando ela e partiram, e aquele sentimento o assombrava atualmente; era a coisa mais terrível que já sentiu na vida.

As sessões de regressão que Damon fez o ajudaram a lembrar de muitas coisas sobre suas vidas anteriores. De repente, tudo passou a fazer sentido. Ele passou a entender sua fobia de fogo, seu desinteresse por fatos históricos e seu medo irracional de deixar Clara e Charlotte sozinhas. Todos estes eram traumas de suas vidas passadas que ele carregava na sua vida atual, mas nem tudo era sobre seus traumas. Damon regrediu tanto que conseguia se lembrar desde os fatos mais importantes até coisas banais, mas então ele teve um estalo enquanto estava dirigindo de volta pra casa.

possivelmente estava esperando um filho na primeira vida no momento em que a maldição foi lançada, assim como também possivelmente estava grávida quando foi condenada à guilhotina. Isso sem contar que morreu no parto em sua vida anterior.

Eram detalhes que Damon não deu importância, mas agora faziam todo o sentido. Nas duas primeiras vidas, ela ainda não sabia que estava grávida, mas ele podia se lembrar de conversas que teve com ela na qual ela se queixava de indisposição, enjôos e mal estar, coisas que na época ele não entendeu, mas que atualmente poderia dizer que eram sintomas de gravidez.

- Não é somente o fato de ficarem juntos, é a gravidez dela que... - pensou em voz alta ao parar no sinal vermelho.

Era apenas uma teoria que não tinha como ser comprovada, mas era a única explicação possível. Teria Damon encontrado um padrão na maldição? Ele achava que sim, mas não tinha certeza, precisava contar para alguém e Charlotte foi a primeira pessoa que viu e começou a despejar as informações quando chegou em casa.

- Meu Deus - Charlotte se sentou no sofá, pois estava chocada com o que tinha acabado de ouvir. - Faz sentido, mas não tem como ser comprovada... você não acha que Carter ou aquele senhor, o John, saberiam disso?
- Ela não sabia que estava grávida no dia em que morremos pela primeira vez - Damon também se sentou, mexia suas pernas nervosamente. - Lotte, eu acho que é um padrão. Não morremos quando eles ficam juntos, mas sim quando ela engravida porque, na teoria, uma gravidez é o fruto do amor de duas pessoas, certo? - ela concordou com a cabeça. - Ela precisa sobreviver ao final da gravidez para a maldição ser rompida.
- Mas então o Carter é irrelevante neste caso?
- Não, eu acho que ele previu isso também, mas não contou porque sabia que seria um padrão. Ele não só amaldiçoou nós ou eles, mas também a gravidez... Lotte, é isso!
- Dam, isso é muito sério, ela corre perigo de vida - Charlotte disse transbordando de preocupação. - E se ela morrer, então nós...
- Ei, calma, ninguém vai morrer - Damon se ajoelhou na frente dela, segurando suas mãos. - Eu não vou deixar que aconteça alguma coisa com você ou com a Clara, está bem? Conseguimos encontrar um padrão e temos tempo para reverter, só preciso contar isso ao Jesse, ele vai saber o que fazer, e também contar ao sobre a gravidez. Ele é o pai, ele precisa saber.
- Não posso acreditar que ela não contou para ninguém - Charlotte se sentiu arrasada. Mesmo que mal conhecesse naquela vida, tinha estima por ela, pois sabia que já foram primas e muito amigas mas vidas anteriores.
- Eu também não, mas não imagino como esteja se sentindo.
- Dam, você precisa ir atrás do o quanto antes. Você sabe onde ele está?
- Na Escócia, eu acho, Louise passou um tempo lá e eu só imagino que foi por ele... ele mudou de numero, não tenho mais contato, isso se ele quiser me receber, é claro, ele ainda deve me odiar pelo que aconteceu.
- Vamos perguntar para a Louise então, mas você precisa ir atrás dele o quanto antes.
- Vou no final de semana, quero resolver isso o mais rápido possível.

As mãos de Damon tremiam e Charlotte podia perceber, não se lembrava da última vez que o viu tão preocupado. Ajoelhado na sua frente, ele parecia até mesmo indefeso, e ela achou que deveria ajudá-lo de alguma forma. Ele tinha defeitos, é claro, mas talvez sua maior virtude fosse a devoção à sua família, então ela se dispôs a ajudá-lo nessa empreitada.

- Dam, olhe para mim - ela pediu quando percebeu que ele não pretendia se levantar, e apertou as mãos dele com força. - Vai ficar tudo bem.
- O que está acontecendo comigo? Por que não consigo parar de me preocupar com eles?
- Porque você se importa, você sempre se importou.
- Fui injusto, Lotte.
- Sim, mas agora você pode consertar o seu erro.
- Você iria comigo?
- É claro - ela sorriu. - Não vou te deixar sozinho nessa. Vamos juntos.

Damon nunca se arrependeu tanto dos seus erros quanto naquele momento, e para que não cometesse mais um erro, ele se afastou, pois Charlotte o deixava tonto toda vez que estava perto demais. Ele não a merecia, nunca mereceu, e mudou para que a próxima não passasse pelo que ela passou com ele, mas o problema era que não teve uma próxima, por mais que ele tivesse tentado, não tinha jeito, seu coração já era de Charlotte para sempre, e naquele momento se tornou um pouco mais.

- Vou preparar o jantar - ele disse ao se levantar.
- De jeito nenhum - ela se levantou também. - Você não está bem, por que não vai tomar um banho para relaxar e descansar? Já que vamos passar horas na estrada, é bom que você esteja descansado.
- Mas...
- Não, Damon, você não está sendo machista por me deixar preparar o jantar e ir descansar - Charlotte riu, pois era ele quem sempre cozinhava.
- Você é incrível - ele sorriu de canto e deu mais um passo para trás, estava com inveja do próprio auto-controle.

Mas por quanto tempo mais ele teria que fingir?

...

Quando voltou para casa, se deparou com a solidão de sempre. Já fazia dois meses que William estava nos Estados Unidos a trabalho, divulgando seu novo single, gravando seu primeiro álbum de estúdio e fazendo alguns shows em lugares estratégicos para divulgação. Ela se sentia péssima por não ter ido a um show dele desde que tudo começou, mas não tinha condições financeiras ou emocionais de viajar, mesmo que William insistisse que ele a levaria para onde ela quisesse ir, isso sem contar que ainda tinha um emprego no qual todo dia alguém vinha lhe dar os parabéns pela gravidez e ela tinha que fingir que a sua vida era um grande campo de morango. William entendia e jamais havia tocado no assunto, mas ela queria ter a oportunidade de ir mesmo assim e prestigiar o talento que ele estava revelando ao mundo.

Por estar sozinha naquela casa imensa, tudo parecia entediante. Ela passava seu tempo livre tocando instrumentos, vendo filmes, preparando aulas ou qualquer outra coisa que pudesse fazer sozinha. Sempre recebia a visita de Jake e Katie aos finais de semana, e também Thomas a visitava sempre que podia, mas, na maior parte do tempo, se via sozinha, e isso já estava ficando deprimente.

Ela havia decidido que contaria aos seus pais sobre a gravidez naquele final de semana, pois os convidou para irem até lá. Iria contar tudo o que podia, sabia que talvez eles ficassem chateados por ela não ter contado antes, mas para isso ela também já tinha uma desculpa. estava tão cansada de mentir que gostaria de aliviar de alguma forma, então chegou à conclusão que o melhor a se fazer era contar aos seus pais. Sabia que isso chegaria aos ouvidos de em breve, mas até lá ela poderia se considerar um pouco mais leve, estava carregando tantos fardos que já não sabia quantos podia aguentar e por quanto tempo.

Quando informou aos seus irmãos que iria contar aos seus pais, foi apoiada incondicionalmente por William e Thomas, que diziam que já estava mais do que na hora, visto que ela estava no quarto mês de gestação e já tinha barriga para mostrar. estava ansiosa, porém decidida.

Quando chegou o final de semana, ela acordou no sábado de manhã e procurou pelo maior moletom que William tinha no guarda-roupa. Se olhou no espelho e percebeu que era realmente grande, quase não mostrava a barriga, o que era satisfatório. Diriam, no máximo, que ela havia ganhado peso, mas não que estava grávida de dois bebês.

Ela levantou o moletom na frente do espelho e observou a barriga por um instante. Parecia que estava com mais de quatro meses, mas era compreensível, afinal, eram duas crianças. se esforçava para não descontar toda a sua frustração nos bebês, passava a mão pela barriga o tempo todo e conversava com elas, poderia até dizer que as amava, mas não amava estar grávida e nem a ideia de ser mãe solo. Nem todos os livros sobre o assunto eram capazes de fazê-la se sentir melhor ou preparada para aquele momento. Queria ser a mãe que aquelas crianças inocentes mereceriam, mas até lá seria um longo aprendizado e processo de aceitação.

Jamais imaginou que um dia seria mãe de duas, mas não ficou surpresa quando o obstetra identificou outro bebê no ultrassom, dado o histórico de , isso sem contar que havia histórico em sua própria família também, uma ou duas vezes antes, a probabilidade de acontecer era alta e sabia disso. Não estava surpresa, apenas preocupada se daria conta de tudo em dobro.

Quando a campainha tocou, respirou fundo, baixou o moletom e saiu do quarto. Desceu as escadas devagar e caminhou até a porta de entrada. Hesitou em abrir porque estava tremendo de tamanho nervosismo, mas precisava fazer aquilo o quanto antes, pois sabia que seus pais não iriam a deixar desamparada. Ao abrir a porta, viu os sorrisos dos dois ao vê-la e sorriu também porque não os via desde o seu aniversário, três meses antes, sentia falta deles e sabia que Lizzy e Lewis Thompson tinham os melhores conselhos do mundo.

- Entrem - deu espaço para eles passarem.
- Será que podemos dar um abraço na nossa filha primeiro? - Lizzy abriu os braços para , que desviou. - O que foi?
- Por favor, entrem, tenho certeza que vou receber muitos abraços daqui cinco minutos.

Lizzy e Lewis entraram desconfiados e ficou de costas pelo máximo de tempo que pôde, fingindo que a chave estava emperrada na porta. Eles levaram suas malas para o quarto que sempre ficavam hospedados enquanto os aguardava na sala, sentada no sofá. Ao descerem, foram até o outro sofá e se sentaram também, percebendo o quanto parecia ansiosa com algo, visto que a conheciam muito bem.

- Filha, aconteceu alguma coisa? Você parece tensa - Lewis perguntou preocupado.
- Aconteceu, pai - sorriu de canto, mas não era de felicidade, seu sorriso era entristecido. - Antes de tudo, eu quero pedir mil desculpas por só contar agora, mas saibam que não foi por maldade, é que eu realmente não sabia o que fazer ou como dizer, mas é que eu...
- Você tá grávida! - Lizzy apontou e arregalou os olhos.
- Como a senhora sabe? - perguntou incrédula, mas sua mão passeando pela barriga involuntariamente a entregou. - Certo... eu estou grávida de quatro meses. Will, Tom, Jake e Katie sabem desde que descobri, quando já estava com um mês completo, Carter soube uns dias depois. Por favor, não fiquem chateados com eles, eu pedi para não contarem porque eu queria que fosse eu a dar a notícia para vocês, pensei em muitas maneiras, mas não sabia como dizer. Por favor, me perdoem por contar só agora, me sinto muito culpada, mas eu realmente senti muito medo.
- Eu sabia - Lizzy tinha lágrimas nos olhos e não parecia estar brava, pelo contrário, estava emocionada. Ela se virou para o marido. - Lewis, eu sabia que não era coisa da minha cabeça!
- Como assim, mãe?
- , já faz um tempo que sua mãe tem levantado essa hipótese - Lewis começou a explicar. - Eu não sei quantas vezes ela falou sobre isso, mas ela sonhou tantas vezes que passamos a acreditar que poderia ser um sinal ou algo do tipo...
- Nunca estou errada quando sonho com gravidez... ah, minha filha, que notícia maravilhosa! - Lizzy sorriu. - Está tudo bem, não estamos bravos, imagino que você tenha sentido medo de contar, isso é normal, eu levei semanas para contar ao seu pai quando descobri que estava grávida do Tom.
- Vamos te apoiar incondicionalmente, filha - Lewis disse compreensivo com um sorriso no rosto.
- Vocês são incriáveis, não sei o que seria de mim sem vocês dois - ela sorriu, pois se sentia um pouco melhor. - Tenho mais uma coisa para dizer - disse emocionada, estava tremendo quando ergueu dois dedos no ar. - São duas meninas.

Lizzy caiu no choro enquanto abraçava , que também se emocionou. Lewis estava emocionado também, quase não podia se conter. Um bebê era uma benção, mas dois eram um milagre. se levantou do sofá e tirou o moletom, mostrando a barriga aos seus pais, que pareciam encantados.

- Você está linda, , como sempre.
- Obrigada, pai - sorriu enquanto secava as lágrimas no próprio braço.
- Eu esperei tanto por esse dia! - Lizzy se levantou. - Sabe? Foi tão difícil me manter forte para que Thomas ficasse bem, ele estava tão triste pela perda do bebê dele, pela primeira vez eu não sabia o que fazer como mãe. Tive que me manter forte por ele, mas como avó meu coração estava despedaçado. Agora me sinto a pessoa mais abençoada do mundo!
- A senhora vai ser avó de novo, pois nunca deixou de ser. O bebê do Tommy não está com a gente, mas sempre vai ser o primeiro neto da família - ela continuava a sorrir, segurando as mãos de sua mãe.
- Como ele reagiu, ? Tom está bem em relação a isso?
- Ele está bem, mãe, foi ele que me obrigou a fazer o teste, está acompanhando a gravidez por conta própria e disse que só não vai fazer o parto porque não tem licença de obstetra, mas que se fosse preciso, ele estaria preparado - os três riram, pois era uma coisa que Thomas faria. - Perguntei para ele se ele se sentia mal de alguma forma, mas ele disse que não, que ele estava aceitando que ainda não era o momento dele e que precisávamos focar em mim. Tentei não tocar no assunto com ele, mas vocês conhecem o Tommy, ele dá sinais, sejam bons ou ruins... podem ficar tranquilos, ele está bem quanto a isso, quanto ao término com a Diana... está seguindo a vida dele.
- Estamos aliviados por ouvir isso... mas e o ? Como ele está?

estremeceu, pois agora viria a parte mais difícil. Eles estavam reagindo tão bem que ela tinha medo que as coisas dessem errado a partir dali.

- não sabe ainda - se sentou de novo e viu o horror estampado no rosto dos dois, que estavam prontos para rebater, mas ela se adiantou e contou o que estava em seu coração. - Eu não sei como vou separar as coisas e entender que será apenas o pai delas, mas não será nada meu... não me sinto preparada para tê-lo por perto sem ter o que tínhamos antes... sei que estou sendo egoísta e vocês tem toda a razão em qualquer sermão que forem me dar, mas prefiro ser sincera. Não sei como eu vou fazer isso, estou me preparando para contar para ele, mas ainda não consigo. é um assunto difícil para mim, ainda dói muito, mas eu prometo que vou contar.
- , eu entendo que isso é um assunto muito delicado para você, mas precisa saber, entende? - Lizzy disse cautelosa, pois podia ver o quando ela estava chateada. - Ele com certeza vai ser o melhor pai que elas poderiam ter. Ele já perdeu quatro meses inteiros, não é justo ele perder todo o resto.

queria dizer a verdade, queria contar que o principal motivo de ainda não saber era porque ela estava apenas respeitando a decisão dele. só estava perdendo tudo por conta das próprias decisões. queria poder contar, mas apenas acatou o conselho de sua mãe, mesmo que não concordasse, assumiu a culpa de um erro que não foi dela.

- Filha, eu tive um sentimento parecido. Nunca contei isso para ninguém, mas acho que vocês devem saber - Lewis tomou a palavra, despertando a curiosidade das duas. - Quando a sua mãe e eu reatamos e decidimos nos casar de novo, já não era a mesma coisa, ela voltou com mais bagagem, tinha o William... aquilo me assustou demais. Não era mais a Liz que eu conhecia, eu só conseguia pensar que agora ela também tinha um vínculo com outra pessoa, um vínculo que antes só existia comigo... eu não estava preparado para receber o Steven em casa porque eu não gostava dele, odiava que ele fosse tão próximo de você e do seu irmão, sentia como se ele tivesse tomando os meus filhos de mim, mas com o tempo as coisas foram melhorando e eu aprendi a lidar melhor com esse sentimento. Will foi crescendo e eu também passei a tratá-lo como filho, assim como Steven fazia com vocês... entendo que você esteja com dificuldade em separar as coisas, mas você só vai conseguir fazer isso quando as coisas estiverem acontecendo, assim como foi comigo... não vamos te pressionar de forma alguma, nem vamos contar aos pais dele, só queremos que saiba que você tem onde se apoiar quando achar que não vai conseguir.
- Obrigada, pai, eu precisava ouvir isso - sorriu com sinceridade. Seu pai não era de desabafar sobre o tema, então podia imaginar que ele tinha a melhor das intenções.
- Lew, o Steven nunca tentou fazer isso... - Lizzy se virou para o marido e ele concordou com um aceno de cabeça.
- Eu sei, mas não sabia naquela época. Está tudo bem, Liz, pelo menos sei que ele cuidou dos meus filhos muito bem, então fiz o mesmo pelos filhos dele.

se reclinou no sofá e observou a breve conversa dos seus pais sobre aquele assunto. Eles eram sua maior meta de relacionamento, estavam juntos há 31 anos, continuavam apaixonados e se respeitando assim como no começo. Ela não fazia ideia se teria a oportunidade de envelhecer, mas se tivesse, queria ter uma vida como a deles. Com altos e baixos, mas também com muito amor e diálogo envolvidos.

Os baixos ela já tinha, agora só faltava os altos, diálogo e amor.

- Eu vou contar ao em alguns dias, eu só preciso me preparar, mas eu vou contar, eu prometo. Obrigada por terem vindo aqui e me apoiado, não está sendo fácil, mas me sinto melhor agora que tenho o apoio de vocês dois e dos meus irmãos, que é o que importa de verdade.
- Estamos felizes por você, , e se soubéssemos que seríamos avós de novo, não teríamos chegado aqui de mãos vazias - Lizzy disse enquanto se levantava. - Vamos fazer umas compras, vá se arrumar.
- Mãe, não precisa, é sério, já tem muita coisa. Jake e Katie sempre dão presentes, Will e Thomas deram os berços... está tudo bem.
- , você não vai me impedir de comprar presentes para as minhas netas! Se não quiser ir, tudo bem, mas não quer dizer que eu não vá comprar.
- É melhor ir se arrumar - Lewis aconselhou. - Ninguém pode impedir sua mãe quando ela está determinada a comprar um presente para um bebê. Vou também para garantir que ela não estoure o nosso cartão de crédito.

Enquanto Lizzy subia as escadas apressada, permaneceu na sala com o seu pai, ela não queria ir, mas não iria ser insensível com sua mãe, que claramente estava feliz por ela.

Ela percebeu que seu pai também não saiu do lugar, ele a observou por alguns segundos.

- O que foi, pai?
- Você cresceu, - Lewis sorriu de canto. - E eu sequer me lembro da última vez que eu te carreguei no colo.
- Você vai me fazer chorar - ela comprimiu os lábios e espremeu os olhos. Sua mente foi tomada por memórias da infância com ele.
- Você vai me fazer chorar por ver que o tempo passou. Poucas vezes eu te associei à uma mulher adulta: quando você saiu de casa e nunca mais voltou, quando você se formou, quando você nos apresentou o ... e agora. E não é por maldade que eu faço isso, , é só que os pais nunca estão preparados para ver os filhos se tornarem adultos. Você vai entender isso daqui um tempo, quando as suas meninas crescerem.
- Não me sinto nem um pouco adulta quando estou com vocês - sorriu e tinha lágrimas nos olhos. - E isso é ótimo, se você quer saber, me faz esquecer dos meus problemas e como ser adulto é uma merda. Eu não queria nada disso, pai. Não desconto a frustração nos bebês, mas todo o resto... é mais complicado do que aparece, nunca senti isso antes.
- Quer saber de uma outra coisa sobre ver os filhos crescendo? É não poder te proteger de sofrer, porque inevitavelmente acontece, mas faz com que eu me sinta muito, muito impotente como seu pai. Eu queria que você tivesse me contado, como sempre fez, mas não sei se faria diferença antes, talvez eu continuasse de mãos atadas como agora.
- Eu fiquei com medo - ela se justificou, praticamente choramingando.
- Me diga outra situação em que você teve medo e não me procurou. De qualquer forma, sinto muito pelo , estava torcendo por vocês, eu gostava dele, mas gosto mais de você e da sua felicidade.
- Obrigada, pai - ela sorriu e secou as lágrimas nas costas da mão. - Me lembrei de uma coisa. Lembro do dia em que entrei no seu quarto e te vi chorando porque a mamãe pediu o divórcio.
- Você se lembrou de um dia que eu tenho tentado esquecer há bons 23 anos - Lewis riu fraco, pois ele realmente queria esquecer um dos piores dias da sua vida.
- Naquele dia você disse que você nunca ia deixar ninguém me machucar. Você se lembra disso?
- Na verdade, estou surpreso de você se lembrar. Você só tinha 3 anos.
- Não lembro de tanta coisa assim, mas lembro disso. Não sei se é porque foi a única vez que te vi chorar, ou qualquer outra coisa, realmente não sei... mas eu estou muito mais do que machucada, pai - admitiu e identificou aquela familiar preocupação paterna nos olhos dele. Ela queria chorar. - Estou quebrada em tantos pedacinhos que não sei se dá pra juntar tudo de novo. Eu me encontrei estando com o de uma forma que parecia que tudo o que estava incompleto em mim havia finalmente se completado nele, mas agora que ele me deixou... - ela perdeu a fala por um instante, engolindo a seco o choro. - O que eu quero dizer é que se eu tivesse contado antes, realmente não faria diferença, porque você só sentiria culpa por algo que não pode controlar. Como você disse, você não pode impedir que eu sofra porque um dia iria acontecer. Não quero que você se culpe por alguma coisa, pai, eu só quero que vocês fiquem aqui comigo um pouco, porque mais do que nunca preciso de vocês, então se puder não me enxergar como adulta só mais uma vez...

Lewis se levantou de seu lugar e foi até ela, a abraçando de lado e deixando deitar a cabeça no ombro dele. Agora ela era grande demais para que ele a fizesse dormir e a carregasse escada acima até o quarto dela, então fez o que ela pediu e o que podia fazer: tratá-la como uma menina crescida que precisava dos pais.

não queria chorar, mas não pôde evitar. Não esperava que fosse abrir o coração, só queria contar sobre a gravidez e ir fazer compras, mas ele precisava muito, pois por mais que seus irmãos e seus amigos fossem ótimos, ainda não podiam oferecer a segurança que só seus pais podiam dar, algo até mesmo infantil, mas que era necessário. Ela só precisava de um abraço e um afago no cabelo como aquele, depois voltaria a segurar as pontas como estava fazendo nos últimos meses.
Lizzy desceu as escadas já arrumada e pronta para gastar todo o dinheiro da família com roupas e brinquedos de criança, mas então viu os dois abraçados no sofá e até pareceu um flashback de quando era criança. Lizzy costumava não se intrometer, sempre soube que tinha mais afinidade com o pai, tal qual Thomas tinha com ela; geralmente ela fingia não ver e saía de fininho, entretanto, agora tinha idade o suficiente para prestar atenção no ambiente ao seu redor.

- Ahn... eu não quero atrapalhar vocês, então eu vou... - ela fez menção de sair, mas a chamou.
- Vai ficar aqui com a gente também.
- Ela pediu pra não enxergarmos ela como adulta agora - Lewis explicou.

tinha a quem puxar por ser tão chorona, num instante Lizzy já estava com os olhos marejados e o rosto vermelho.

- Podemos fazer alguma coisa por você, querida? Qualquer coisa - Lizzy se sentou ao lado de , afastou uma mecha de cabelo dela e segurou a mão dela.
- Sim, podem. Fiquem aqui comigo.
- É claro, , estamos com você pra tudo, sempre - Lizzy sorriu e apertou a mão dela ainda mais. - Por favor, me diz que bolo de chocolate ainda te deixa feliz.
- Não precisa cozinhar, mãe.
- Você disse para não te enxergarmos como adulta e é o que estou fazendo. Você adorava quando eu fazia bolo de chocolate pra você, então eu vou fazer um bolo.
- Posso pelo menos te ajudar?
- Não, criança não pode mexer com fogo - ela riu e se levantou. - Eu já volto.

Lizzy se levantou e foi em direção à cozinha, deixando os dois a sós novamente.
- Posso te perguntar uma coisa, pai? - se afastou apenas o suficiente para olhá-lo.
- Qualquer coisa.
- Eu te vi chorar, mas não quer dizer que eu entenda totalmente, mas... - ela pensou um pouco na pergunta. - Como você se sentiu quando a mamãe te deixou?
- Nossa... - Lewis riu fraco e respirou fundo. - Essa é uma pergunta muito boa.
- Nunca parei pra pensar nisso. O quanto doeu?
- Senti que minha vida parou de fazer sentido, senti desespero - ele concluiu após refletir por breves segundos. - E doeu, filha, doeu muito. Perdi minha casa, a liberdade de ver meus filhos quando quisesse, o amor do Thomas quando ele tomou as dores da sua mãe e, claro, perdi a mulher mais incrível que já conheci, tudo porque eu era um babaca imaturo que sobrecarregava a sua mãe. Não sei se desespero e culpa são o suficiente pra descrever, mas são as palavras que eu conheço.
- Eu entendo - assentiu, fechou os olhos e respirou fundo. - Porque eu também me sinto desesperada - ela os abriu novamente e já estavam cheios de lágrimas.
Simplesmente não conseguia parar de chorar. - Eu sinto tanto a falta dele que dói. Eu não consigo seguir em frente, não consigo sair daqui porque essa dor me sufoca, pai. Já faz meses e eu ainda estou bem aqui. Da última vez que eu falei com ele, só me pediu a chave do apartamento de volta... o apartamento que iríamos morar juntos... não posso nem dizer que o que eu mais quero é que ele volte pra mim, eu só não queria que doesse tanto.
- Não posso te dizer pra não sentir isso, , e eu sinto muito que um momento que deveria ser mágico pra você esteja sendo tão difícil. Precisa doer, não importa por quanto tempo, mas uma hora você aprende a conviver com isso. Sua mãe e eu ficamos separados por dois anos, foi o tempo que doeu pra mim. Eu me afastei dela quando ela me disse que estava grávida do Will porque pareceu que todo o meu esforço em fazer parar de doer foi em vão, doeu em dobro. Eu tive um final feliz e eu acho que você pode ter um também, , com ou sem o , porque é claro que você merece ser amada, querida.

sempre foi grata por ele existir, mas naquele momento foi um pouco mais. Tudo bem que ele havia magoado a sua mãe no passado e os erros dele quase custaram aquela família, mas felizmente como pai dela ela nunca teve do que reclamar e é claro que nenhum garoto havia a impressionado antes de porque ela tinha o seu pai, que a fazia se sentir como uma princesa valiosa desde que podia se lembrar.

- Pai - ela se ajeitou no sofá e passou a manhã do moletom pelo seu rosto molhado. - Será que sou grande demais pra você cantar Isn't She Lovely? pra mim?
- Pensei que nunca mais ia me pedir isso - o sorriso que ele esboçou era largo e radiante. - Você nunca vai ser adulta demais pra mim, - ele se levantou. - Vou pegar o violão do Will. Já volto, tudo bem?

...

Damon cumpriu o que disse para Charlotte. Na sexta-feira à noite, após sair do trabalho, ele pegou seu próprio carro e partiu em uma viagem de quase 10 horas rumo a Aberdeen, na Escócia. Avisou Jesse que estava indo e pediu para que não contasse para , pois ele próprio iria contar para os dois o que havia descoberto, então deixaram Clara com Diana em Oxford e partiram. Damon dirigiu nas primeiras horas enquanto Charlotte dormia, mas na metade da viagem ela assumiu o volante e se guiou pelo GPS para que Damon pudesse dormir. Pararam apenas uma vez para que fossem ao banheiro em um posto de beira de estrada e chegaram em Aberdeen ao amanhecer do sábado, por volta das seis horas da manhã.

- É muito bom ver vocês - Jesse disse ao recebê-los, estava de roupão e com cara de quem havia acordado a menos de dez minutos.
- Desculpe por te acordar, Jess, queríamos ter chegado mais tarde, até passamos em Oxford para deixar a Clara com Diana, mas saímos cedo de Londres - Charlotte disse se explicando.
- Está tudo bem, Lotte. Entrem, podem descansar, o acorda tarde aos sábados. Vou levar vocês até um quarto.
- está morando aqui? Achei que você tinha dito que ele tinha um studio ou algo assim - Damon perguntou enquanto subia as escadas atrás de Jesse.
- Ele tinha, mas passava tanto tempo aqui pesquisando que acabou ficando. Eu não me importo, ele é organizado e silencioso e como eu passo muito tempo viajando, é bom ter alguém de confiança na casa. Além disso, ele diz que está economizando com aluguel, vive dizendo que compreende a quando ela reclama do salário de professor.
- está dando aulas? De quê? - Damon percebeu que não sabia mais nada sobre a vida do seu irmão, jamais imaginou que tivesse perfil de professor.
- Música e literatura em uma escola particular da cidade, aparentemente ele é um ótimo professor e tem um diploma de Harvard, então não precisou se esforçar muito para ser contratado - Jesse abriu uma porta que levava a um quarto vazio. - Podem ficar aqui, acho que será confortável.
- Jess, só tem uma cama de casal... - Charlotte disse sem jeito ao entrar no quarto, e só então Jesse se deu conta do que estava fazendo. Damon pensou que poderia explodir ali mesmo.
- Me desculpem! Eu esqueci completamente, me desculpem, foi no automático... vamos, Dam, tem o quarto ao lado. Bom descanso, Lotte, fica à vontade.
Jesse fechou aquela porta e abriu a que estava na frente, se deparando com outro quarto vago.
- Foi mal, Damon, eu realmente me esqueci. Vi vocês juntos... me desculpa.
- Está tudo bem, às vezes eu também esqueço - Damon sorriu de canto e Jesse percebeu que ainda existia alguma coisa.
- Por que você não diz pra ela o que sente, Dam?
- Porque já acabou, talvez não seja o nosso destino.
- Posso te garantir que você está errado, conheço os dois há muito tempo, esqueceu? - Jesse riu. - É ela, Damon, não precisa mais mentir pra você mesmo... bom, é só um conselho de quem já viu de tudo nessa vida.
- Obrigado, Jess... vou descansar um pouco e quando acordar, vou contar aos dois o que descobri.
- Imagino que seja grave para você ter vindo aqui pessoalmente. Você se lembrou de alguma coisa?
- Fiz regressão, me lembrei de várias coisas, na verdade... - Damon respirou fundo, achou melhor contar de uma vez. - Jess, a está grávida e eu acho que isso é um padrão, ela sempre esteve grávida quando morreu.
- Não é só a maldição, é a gravidez... - Jesse disse como se tivesse tendo uma visão, de repente tudo ficou muito claro em sua mente.
- Foi exatamente o que eu pensei. Acho que Carter previu isso, mas não contou para que não descobríssemos, eu só sei porque fiz algumas sessões de regressão. Algumas vezes tive conversas corriqueiras com e ela se dizia indisposta, nauseada, esses sintomas de gravidez... claro que eu não sabia antes, mas agora sei. Não tenho como comprovar essa teoria, mas é a única explicação possível.
- Damon, eu acho que você está certo, não sei como deixei passar isso - Jesse estava com uma feição assombrosa, como se estivesse assustado. - Não temos muito tempo...
- Você tem alguma ideia do que podemos fazer?
- Não, não faço ideia, nunca pensei nisso... vou falar com o John, vamos encontrar uma solução, mas não temos muito tempo, ela não tem... de quanto tempo ela está?
- Uns quatro ou cinco meses, eu acho, pelas coisas que ela me disse e pelas minhas contas. E não só isso, ela está esperando duas meninas.
- Meu Deus - parecia que Jesse estava em um filme de terror, estava nítido em seu rosto que ele estava com medo e muito preocupado. - Damon, se ela morrer, acabou de vez, é a última chance, eu preciso fazer alguma coisa... vou falar com o John, nunca chegamos tão perto... - Jesse respirou fundo duas vezes. - Ok, ok, tu dois te calmer, Pierre...

Jesse começou a murmurar palavras em francês que Damon não entendia, mas imaginou que talvez Jesse falasse em seu idioma nativo quando estava muito nervoso. Jesse deixou Damon plantado na porta do quarto e saiu avoado, falando sozinho, e Damon o seguiu com o olhar enquanto ele descia as escadas, até o perder de vista.

Damon observou a porta da frente e refletiu sobre as coisas que Jesse disse. Se eles não tinham muito tempo e se talvez não desse certo, então Damon não queria morrer sem dizer o que estava guardado no peito há anos e que nos últimos meses estava o sufocando.

Ele bateu na porta do quarto de Charlotte e em um instante ela abriu. Pela sua feição, Damon entendeu que ela tinha ouvido toda a conversa deles, incluindo a parte em que falaram sobre ela.

- Você é o meu destino - ele disse com muita seriedade.
- Eu sei.
- Por mais quanto tempo vou ter que fingir que não sinto mais nada?
- Não precisa mais fingir - Charlotte respondeu no mesmo tom.

Não levou mais do que um segundo para Damon fechar a porta do quarto atrás de si com o pé, pois ela já tinha se atirado aos braços dele e eles deram início a um beijo cheio de saudades. Estavam separados havia quatro anos e, nesse tempo, não conseguiram firmar relacionamentos sérios com mais ninguém, principalmente Damon, que sempre teve dificuldade em se manter em relacionamentos amorosos. Charlotte foi sua primeira e única namorada e surgiu num momento em que a última coisa que ele queria era se apaixonar, mas simplesmente aconteceu. Festas na fraternidade da faculdade, bebedeira com os amigos e as garotas mais lindas de Boston o querendo já não eram interessante para ele. Charlotte continuava sendo melhor do que tudo isso.

- Você é o meu destino - ele repetiu após afastar o rosto para tomar fôlego. - Por Deus, Lotte! Eu não aguento mais ficar sem você. Eu sei que eu já errei muito com você, sei que fui irresponsável e imaturo no passado, mas eu juro que sou diferente agora, deixa eu me apresentar pra você de novo.
- Eu sei quem você é, Damon - Charlotte acariciou o rosto dele com o polegar. Ele fechou os olhos para sentir, ficou extasiado com o toque dela. - Eu odiei ter que te deixar ir, mas eu precisava, você também precisava de um tempo.
- Mas eu não preciso mais - ele voltou a olhá-la. - Preciso da nossa família, vocês duas são a minha vida, sem vocês eu não sou nada. Eu sei que isso vai passar e a gente vai ficar bem - Damon riu pelo que estava prestes a dizer. Ele, o maior cretino de todos, era também um bobo apaixonado. - Eu quero um futuro com você quando essa merda toda acabar. Eu, você e a Clara, como deveria ter sido se eu não fosse um idiota. Me deixa te dar a família que você sempre quis, Lotte.
- Damon... - Charlotte sorriu com o que tinha acabado de ouvir, tinha certeza de que estava sonhando. - É claro que sim, é tudo o que eu mais quero. Eu, você e a Clara.
- Eu, você e a Clara - Damon repetiu e então a beijou novamente.

...

acordou um pouco mais tarde do que pretendia naquele sábado, mas estava cansado depois de uma semana intensa de trabalho e pesquisa. Era cansativo dar aulas para crianças e ainda chegar em casa e se afundar nos livros, isso quando não se arriscava na escrita, rabiscando rascunhos para algum projeto futuro. Tinha ideias, só não conseguia organizar, estava passando pelo pior bloqueio criativo que já tivera.

Por já ser o horário do almoço, ele se levantou e optou por almoçar ao invés de ir tomar café. Então, após lavar o rosto e trocar de roupa, ele pegou chaves e carteira para sair, pois gostava de comer fora aos finais de semana.

- Bom dia, Jess - disse ao descer as escadas e se deparar com Jesse vestindo um casaco para sair.
- Boa tarde, , já passou do meio-dia - Jesse se certificou de que seu isqueiro estava no bolso da calça. - Estou indo me encontrar com o John, não sei que horas vou voltar.
- Achei que John morasse em Londres.
- Eu não sei nada sobre a vida desse velho biruta, cada hora está em um lugar, e agora ele disse que estava aqui, preciso ir resolver umas coisas com ele... - Jesse estava pronto para sair, mas então se virou para de novo. - A propósito, tenho duas coisas para te dizer: a primeira é que eu acabei de receber uma mensagem da me perguntando se eu tinha o seu telefone de contato ou o seu endereço na... Irlanda. Devo responder?
- Não - disse imediatamente, mesmo que tivesse estremecido e morrendo de vontade de ouvir a voz dela. - Inventa uma desculpa, qualquer coisa, diz que eu virei monge, sei lá, eu não quero falar com ela.
- Certo... - Jesse passou as mãos pelos seus cabelos recém descoloridos, bagunçando-os, ele parecia um pouco insatisfeito com o que ouviu. - Você está sendo um babaca, espero que saiba disso. A segunda coisa é que você tem visita e isso está atrelado diretamente à .
- Quem está aqui? Por que ela está tentando falar comigo depois de tanto tempo?
- Eu sei o que é, mas não vou contar só pela sua babaquice, duas pessoas vieram aqui justamente pra te dizer.
- É grave? Aconteceu alguma coisa com ela? - perguntou preocupado.
- Aconteceu, mas não se preocupe, ela está viva. Se ela faz tanta questão de falar com você, acho que você deveria parar de agir feito um imbecil e ouvir... bom, eu estou indo agora, me diga quando eu puder responder ela. As visitas estão nos quartos do segundo andar. Até mais tarde.

Jesse saiu e imediatamente subiu ao segundo andar, queria saber quem estava lá e por que, queria saber o que havia acontecido de tão sério. Bateu de porta em porta até ter uma grata surpresa: Charlotte abriu a penúltima.

- Lotte? - perguntou surpreso.
- ! - ela sorriu contente e o abraçou apertado. - É muito bom ver você!
- Estou feliz por poder te ver também - ele disse após se separarem. - Jesse falou que tinha visitas, mas eu não fazia ideia de que fosse você e... a Clara? Ela veio junto?
- Não, a Clara está com a Diana em Oxford... na verdade vim com o Damon, ele precisa te falar algumas coisas - Charlotte viu a expressão de mudar, passou de surpreso para aborrecido.
- Não quero falar com o Damon, está sendo ótimo fingir que ele não existe.
- , eu entendo que você esteja magoado, eu também estava, mas é importante. Damon saiu do trabalho e pegou a estrada ontem só para vir te ver, passamos quase doze horas dirigindo, ele dormiu no carro, quase não comeu... dá uma chance, é muito importante e tem a ver com a .
- Jess disse que ela está tentando falar comigo... por que sinto que é grave? O que aconteceu com ela? Você não pode me dizer?
- O quanto você estaria disposto a voltar se ela precisasse muito de você? - ela não se conteve e sorriu ao perguntar.
- Eu largaria tudo - por tudo de mais sagrado, largaria.
Charlotte pediu licença e foi até a porta da frente, batendo uma vez, e em um instante Damon abriu a porta, se deparando com . Os irmãos se encararam por um instante e perceberam que pela primeira vez pareciam realmente diferentes um do outro fisicamente. não esperava que Damon deixasse o cabelo crescer algum dia, visto que ele sempre mantinha o corte impecável, enquanto Damon achava que parecia excessivamente cansado, é verdade que ele parecia ter malhado ultimamente e também tinha deixado a barba crescer, que mesmo que fosse falhada, combinava com ele. Estavam diferentes e isso era ótimo.

- Eu vou deixar vocês sozinhos, Jess disse que eu poderia ir até a biblioteca, então estou lá se precisarem de alguma coisa... com licença - Charlotte passou por eles e saiu rapidamente, deixando os dois a sós.
- Quem te contou onde eu estava? - perguntou após ela sumir de vista, indo direto ao ponto.
- Quem sabia que você estava aqui? - Damon jogou a pergunta de volta e bufou, estava começando a ficar nervoso. - Esse tempo todo?
- Damon, se eu não te contei é porque eu não queria que você soubesse.
- Foi a Diana, mas não fique com raiva dela, eu tive que implorar para que ela me contasse.
- Você é bom em irritar as pessoas - murmurou, mas se manteve rígido. - O que você quer?
- Eu precisava falar com você pessoalmente.
- Já está falando, não é?
- Quer parar de agir como se você fosse um pobre coitado? - Damon percebeu que estava começando a se exaltar. Respirou fundo e tornou a falar, agora em um tom mais baixo. - Não posso odiar você por ter lutado por quem você amava. Eu sei que eu não fui obrigado a nada e ajudei vocês porque eu quis. Quero dizer... Aquele cara do passado ajudou sem querer nada em troca... Levei um tempo para aceitar isso.
- Eu não queria nada disso... Eu não queria que você fosse tão afetado por tudo...
- , eu não sei quem eu sou, ou quem eu fui, mas eu sei de uma coisa... - Damon tomou fôlego para continuar a falar, havia se arrepiado inteiro pelo que estava dizendo. - Sei que você sempre foi meu irmão, mesmo quando eu tinha outra aparência, e mesmo depois de todas as vezes em que perdi você... Eu não posso mudar as coisas que eu disse, só posso pedir para que me perdoe, eu não deveria ter te culpado por tudo, eu tive a minha parcela de culpa quando decidi acobertar vocês, todos nós tivemos.
- Você não tem que se desculpar por estar certo - suspirou alto. Estava cansado de tanto pensar naquilo. - Eu sou o culpado por tudo e quero pagar por isso.
- Eu perdoo você, está bem? É isso o que você precisa ouvir para parar de se culpar? Eu perdi muita coisa, é verdade, provavelmente já vivi mais do que minhas versões anteriores, mas pelo menos eu ganhei um irmão. O meu melhor amigo virou meu irmão, não podia ser melhor.
- Damon....
- Para de se culpar, o passado já era... Eu não quero nem imaginar o que você está sentindo estando aqui esse tempo todo... Eu não acho certo você ficar se torturando sozinho enquanto tem muito mais gente envolvida. Por favor, volta pra casa.
- Esse é o problema, tem muita gente envolvida. Se eu ir, posso colocar todo mundo em perigo, se eu ficar aqui, vocês estarão bem.
- Isso é um fato da maldição ou você inventou essa parte? - Damon refutou imediatamente, sabia que era apenas um palpite do irmão.
- Você não entendeu, Damon, eu preciso ficar longe de vocês, ficar longe dela...
- Ah... - Damon se lembrou do motivo de estar ali. Coçou a nuca, desconfortável. - Falando nisso... Eu acho que você tem que saber de uma coisa.

Damon estava decidido a contar o que descobriu. Sabia que ficaria ainda mais furiosa com ele, mas achava que era um direito de saber, e, talvez assim, ter um incentivo a mais para voltar e lutar pelo que ele acreditava. Ele percebeu como a feição de seu irmão mudou quando a mulher foi mencionada na conversa, podia imaginar como estava sendo difícil ter que ficar longe dela. De qualquer forma, agora não era apenas pelos dois.

- Por favor, não tenta me convencer a voltar, eu não posso ficar com ela - praticamente suplicou, só de pensar naquilo o peito doía. - É pelo bem dela.
- , eu vi a há três dias no mercado, e dado o meu histórico mais experiente que o seu, eu diria que ela está grávida.
- Ela... - pensou ter ouvido errado. - O QUÊ?!
- Não é só isso, tem mais - Damon levantou dois dedos para ele. - Achei que pularia algumas gerações, mas a nossa genética é realmente forte.
- Meu Deus - passou as mãos pelo rosto e cabelos, bagunçando-os. - Não pode ser.
- São duas meninas, , ela me disse... Que tipo de pai seria você por abandonar as suas filhas? Por abandonar a ? Ela tentou te dizer, mas você não quis falar com ela.

Então de repente tudo começou a fazer sentido. Ele não atendeu as ligações e não respondeu às mensagens dela em seu antigo número, porque achava que ela estava tentando reatar o relacionamento, mas era muito mais do que isso... queria ter filhos um dia, e saber que isso estava para acontecer era uma dádiva. Ele não podia ignorar.

- Cara, você tinha que ver, ela está linda! Meio acabada, com olheiras e sem vontade de viver, mas linda do mesmo jeito. Eu lembrei da Charlotte e de como a chegada da Clara me salvou, me disse para não te contar, mas eu acho que você tem que saber. Talvez te salve também.... Eu esqueci que estava com raiva quando imaginei como essas meninas serão. Tomara que puxem a beleza da mãe, porque você é muito feio.

não se conteve e riu, talvez a primeira risada espontânea e verdadeira desde que tudo aconteceu. Ainda custava a acreditar que seria pai, que tinha duas meninas a caminho, e ele precisava estar com naquele momento. Ele voltaria para ela de um jeito ou de outro, se conhecia o suficiente para saber que ou voltaria quando conseguisse romper a maldição ou não iria mais se conter algum dia e agiria no impulso. A desculpa de ela estar grávida era mais um incentivo para adiantar seus planos.

- Você não vai mudar nunca, não é? Sou muito mais bonito do que você.
- Ah, claro, claro, eu finjo que acredito... só tem mais uma coisa que você precisa saber... - então Damon ficou subitamente sério - Eu já conversei com o Jesse sobre isso, é só uma teoria, mas nós achamos que pode ser a verdade absoluta... , a sua ideia de que se afastando dela vocês teriam uma chance não está errada, mas não é só isso... não é sobre se afastarem ou não, mas sim a gravidez... eu acho que todas as vezes em que morremos antes, era porque ela estava grávida.
- Isso faz sentido... - disse pensativo, e então um medo irracional tomou conta de si. - Ela não tem muito tempo...
- Jesse vai tentar encontrar uma solução com o John, mas ele ainda não sabe o que fazer. Tive que vir te contar pessoalmente porque estou preocupado... sabe, pode parecer egoísmo da minha parte, para variar um pouco, mas além de todos nós, eu não quero que minha vida pare por aqui, tenho só 26 anos e uma filha pequena para criar, não é assim que eu planejei morrer, .
- Ninguém vai morrer. Eu vou voltar, não posso deixar ela sozinha.
- Pode voltar com a gente amanhã, só viemos aqui para te contar o que eu descobri.
- Não, eu estou indo agora, eu vim para cá com o meu carro. É um pouco cansativo pegar a estrada, mas é o mais rápido. Avise ao Jesse que eu fui, mas volto durante a semana para resolver minha vida por aqui.

E simplesmente foi. Não queria perder nem mais um minuto que fosse.





Continua...



Nota da autora: AI AI AI AI TA CHEGANDO A HORAAA

Eu esperei TANTO pra ele finalmente descobrir e ir atrás da mulher dele que agora mal consigo me conter, EU PRECISO DELES JUNTINHOOOOSSSS

E faço um adendo que eu editei esse capítulo todinho, mas eu queria muito um momento da pp com os pais e me emocionei horrores escrevendo pq ela realmente precisava de um afago.

E tbm aproveitei pra encerrar o arco do Damon e da Charlotte, esses dois são endgame total a partir de agora. Não deu pra ir afundo na história deles, infelizmente, mas quem sabe não role um spin-off? Porque escrito eu já tenho hehehe mas to feliz que um casal que eu gosto muito teve um final feliz <3

E é issooo, agora as coisas ficam um pouco mais sérias já que estamos chegando no finalzinho, mas a espera finalmente vai valer a pena <3




Outras Fanfics:
» Ad Perpetuam Memoriam – Love Story (spin-off)
» Ad Perpetuam Memoriam – They Don’t Know About Us (spin-off)
» 06. Moving Along (spin-off)

» Onde nascem os grandes
» Fico Com Você - (spin-off de ONG)
» 18. Espero Minha Vez - (spin-off de ONG)
» 07. Essa eu fiz pra esquecer - (spin-off de ONG)

» Love and Blood (Harry Potter)
» 03. Holiday
» 04. Easier


Nota da beta: “Ela está linda, meio acabada, com olheiras e sem vontade de viver, mas linda do mesmo jeito” HAHAHAHAHA COITADA, GENTE! Tô só a Nat ultimamente, xoxa, manca e inconsistente

Ai, juro, QUE FOFO O DAMON! Ele tremendo de preocupação ao contar pra Lotte da teoria dele, todo nervoso e preocupado… deu dó! Mas de uma certa forma fico feliz pelas escolhas que ele está tomando, mostra que eles realmente podem ter uma chance de felicidade dessa vez.

O “Eu largaria tudo” que o Drew lançou ACABOU COMIGO. Esses dois precisam de um felizes para sempre dessa maldição, EU TENHO DITO! E o que foi esse reencontro dele com o Damon? Achei fofos demais, perdi tudo no “além de um amigo, ganhei um irmão” :’)

Preciso confessar, tenho um crush babadeiro no Jesse. Se a Rafa não quiser que ele tenha um endgame, pode deixar pra mim que eu aceito :P


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