Finalizada em: 24/12/2021

Capítulo Único

O ensino médio é um momento da vida em que todo jovem deseja viver, é a fase das descobertas, vivências, rebeldia, pensamento próprio, amigos, primeiros namorados, primeiras vezes..., mas, se você chega lá sem ser uma das pessoas legais, o sonho de paraíso se transforma em inferno.
Pelo menos, apesar de não ser lá das mais bonitas ou populares, eu me dava bem com a escola no geral. Ficava na minha junto com , minha melhor amiga, e passávamos os dias resolvendo deveres, os intervalos na biblioteca, as tardes no clube do livro e as noites de sexta feira maratonando as séries que passavam na TV com muita pipoca amanteigada. Uma garota não desejaria mais do que isso.
O problema é que era possível sim querer mais. Apesar de estarmos felizes, temos essa mania de ficarmos insatisfeitos e sentirmos que não estamos vivendo como os outros. Às vezes, alguns têm a oportunidade de fugir da sua vida normal e experimentar o novo. Como uma menina negra, eu sonhava muito com essa reviravolta, mas acreditava ser praticamente impossível de rolar, até que isso aconteceu comigo no dia em que eu esbarrei com , o garoto mais lindo e popular da escola, no corredor.
– Epa, gatinha, cuidado aí!
Todos os meus preciosos livros estavam espalhados pelo chão do corredor, assim como eu. Uma cena patética, mas, mesmo assim, o garoto se mostrou um cavalheiro e se pôs a me ajudar. Quando arrumamos todos os meus pertences, ele se virou para mim e deu um enorme sorriso branco e reluzente.
– Seu nome é , né? – Eu assenti, confirmando. – E gosta de ler, pelo visto.
Tentei falar alguma coisa, mas travei com o nervosismo. Apenas assenti e ele continuou:
– Já leu “As 7 Leis Imutáveis do Sucesso”? Não? – perguntou, diante da minha negativa. Ele então me olhou de cima a baixo e voltou a me olhar nos olhos. Um olhar quente e intenso. – Então por que a gente não faz assim: você lê o livro e a gente marca de se encontrar amanhã na cafeteria pra você me contar o que achou. Topa?
Com as minhas pernas moles e meu corpo sem acreditar no que estava ouvindo, decidi enfim falar algo:
– S... Sim! – Balbuciei. Ele apenas continuou sorrindo.
– Que bom. A gente se vê.

💄✨


riu quando eu contei tudo a ela, incrédula, como eu mesma ficara. Porém, um mês depois, era oficial. Eu estava namorando . Ele era incrível! Tão lindo, talentoso e inteligente... Mal podia acreditar na minha sorte. Quero dizer, ele já havia namorado praticamente todas as garotas mais bonitas do nosso ano, que ou eram líderes de torcidas, ou indicadas à rainha do baile. Em alguns casos, eram as duas coisas.
Por isso, precisei dar uma repaginada. Eu não era mais simplesmente a , eu era também a namorada do . Eu precisava ser boa o suficiente para ele. As mudanças foram começando aos poucos com os toques gentis que ele me dava ou com questões que eu observava sozinha. Todos os dias, eu me dedicava a ser a pessoa perfeita para ele.
Porém, isso não agradou a todos ao meu redor.
, quer parar de se namorar no espelho e me ouvir por um segundo?
Terminei de retocar meu lip tint e me virei para minha melhor amiga, , que me encarava irritada.
– Não pode esperar mais cinco minutos? Estou terminando aqui.
bufou e revirou os olhos.
– Desde que você começou a namorar o , você tem me deixado de lado e fica se vestindo diferente, se maquiando...
Expliquei para minha melhor amiga, pela terceira vez naquela semana, o motivo da mudança. Por que ela não podia entender que eu estava me tornando alguém melhor?
– Não sei nem porque você ainda tenta se arrumar, ele nunca te elogia. – Ela alfinetou. – Diferente de mim, eu te acho linda de qualquer jeito.
– Mas você é minha amiga, não conta. – Repliquei, embora me sentisse subitamente feliz. – E ele não é do tipo que elogia, não é culpa dele. – Eu o defendi. – Mas fala o que você ia dizer, daqui a pouco eu tenho que buscar o café do .
Minha amiga respirou fundo, provavelmente ignorando a última parte. Por Deus, ela andava tão ciumenta desde que eu começara a namorar...
– Eu só ia te perguntar se a gente pode comprar os sapatos para o baile nesse sábado. Eu vi uma loja no shopping que tem um sapato prata que vai combinar perfeitamente com seu vestido.
– Ah, eu não vou mais com o vestido prata. Vou de vermelho.
Guardei meu lip tint e saí satisfeita do banheiro, porém, tive que voltar quando percebi que minha amiga havia ficado lá, estática.
– Você o quê?
– Ai, , para de drama, é só um vestido. E o disse que vermelho é a cor mais sensual que existe.
– Só um vestido?! – me seguiu andando rápido para fora, o que foi engraçado, já que ela era baixinha. – Você ficou seis meses para escolher o vestido perfeito e agora você vai trocar porque um cara tem outra preferência?!
– Para de dramatizar tudo! Eu quero usar o vestido vermelho porque meu gosto mudou. Vai ficar mais bonito, ué.
– Pra você ou pra ele? – Ela replicou. – Poxa, eu sinto falta da que gostou do vestido prata porque ele lembra a visão das estrelas da Terra e não se importa se a cor é sexy ou não. Não tem problema você querer ficar mais bonita, mas pra quê?! Pra ganhar mais um dia do quase te traindo?!
Eu sabia do que estava falando, por mais que eu não quisesse saber. Na semana anterior, uma foto de viralizou nas redes sociais. Na imagem, ele estava muito próximo de Kelly, uma líder de torcida mais nova, e pareciam estar se beijando, sem contar que sua mão estava bem próxima de locais inapropriados para amigos.
– Ele já me explicou tudo. Foi um mal-entendido. Eles tavam só se abraçando, mas o ângulo não colaborou. – Expliquei, energética.
me encarou de cima a baixo, as sobrancelhas franzidas. Depois do que pareceu um longo segundo, ela apenas suspirou.
– Tá legal, se é o que você acredita... A gente pelo menos ainda vai assistir a reprise de Gilmore Girl hoje lá em casa?
Levei um susto e me virei para ela. Já era sexta feira? Aquele dia era sagrado para nós, era sempre quando rolava a noite das séries, porque minha mãe só me deixava dormir tarde na sexta feira.
– Ah... – Abri um sorriso amarelo, me sentindo mal. – Hoje tem jogo do . Eu prometi que ia assistir. Desculpa, foi meio de última hora.
Minha amiga me encarou e percebi que não parecia mais tão raivosa. Na verdade, parecia ter encolhido. Eu sabia que havia a magoado, mas o que eu podia fazer?
– Tanto faz. – falou, finalmente. – Pode ir lá curtir com o . Só não me liga quando der merda, ok?
E saiu, me deixando boquiaberta. Que grande amiga, sem saber me apoiar e aceitar meu namoro. Que dependente, fala sério! Ok que eu tinha quebrado nosso compromisso, mas ela praticamente tinha falado que eu ia levar um fora. Bufei e me afastei. Eu tinha coisas mais importantes para fazer.
Me dirigi para a lanchonete, vazia àquela hora da manhã, e falei para a atendente:
– Me vê um café com leite frio, uma colher de chá de canela e oito gotas de adoçante, por favor.
Enquanto esperava, peguei o livro “O Milagre da Manhã”, o último livro que estava lendo. Queria memorizar alguns trechos antes da gente se ver dali a pouco tempo.

💄✨


O baile de primavera estava chegando e eu não podia estar mais animada. Se antes eu já estava esperando o evento mais do que nunca, agora com a possibilidade de ir com um par e esse par ser meu namorado, o garoto mais popular da escola e ter recebido indicação a rainha do baile... Seria o melhor dia da minha vida. Mesmo que não estivesse mais falando comigo, o que me incomodava mais do que deveria. Por algum motivo, eu sentia falta dela me contando o que tinha acontecido no último episódio de Cosmos ou me dando spoiler do livro que ela estava lendo.
Já fazia um tempo que eu estava esperando que fizesse o convite, mas, o conhecendo, eu sabia que ele estava preparando algo incrível e especial, afinal, tínhamos grande chance de ser o casal coroado da escola. Por isso, eu já esperava que ele viesse falar comigo depois da aula na semana do baile. O que eu não esperava, na verdade, foram as palavras que saíram da boca dele:
, a gente se divertiu muito nesse tempo, mas acho melhor a gente parar de ser ver.
Eu, que esperava sorridente o convite do baile, apenas travei. Eu não tinha certeza se estava escutando direito. Aos poucos, conforme as palavras se repetiam na minha mente, senti minha garganta se fechar e o ar parecia não chegar aos meus pulmões. Mesmo assim, me forcei a dizer:
– O quê?
– Cara, você é uma garota legal, mas não tá dando certo. Parece que você nunca tá satisfeita com nada, não tá fluindo, beleza? Não era pra ser.
E ele foi embora, me deixando paralisada na saída da escola, vendo todo mundo passar. As lágrimas vieram antes que eu percebesse e as pessoas começaram a encarar. Eu queria sumir dali, mas eu simplesmente não conseguia me mexer. Não conseguia acreditar.
Até que eu senti uma mão no meu ombro.
– Vem, vamos embora.
Quando eu percebi, já estava dentro do seu carro e me levava pra casa. Fiquei cinco minutos apenas chorando antes que conseguisse falar qualquer coisa. Quando eu vi que estávamos parando no Drive Thru do McDonald’s e não na minha casa, abri a boca.
– Achei... – Um soluço me interrompeu. – Achei que você não queria mais falar comigo.
– Bom, parece que eu voltei atrás, né? – Ela disse, sem me encarar. – O de sempre?
– O de sempre. – Eu disse, choramingando.
Então, ela pediu um milkshake de morango para mim e um de chocolate para ela. Encostamos em uma rua ali perto e, depois de alguns goles que vinham com leve gosto de lágrima, disse:
– Mas você sabe que eu estava certa.
– A gente precisa falar disso agora?
– Não. Mas eu tava. – Ela abriu um sorriso mínimo. – Não importa. Como você tá?
– Como parece que eu tô? – Eu apontei para a minha cara que, pelo retrovisor, estava borrada de rímel preto.
– De coração partido. – Ela disse, afagando meu ombro. Eu só queria o consolo da minha melhor amiga.
– É muito mais... , eu amei tanto ele. Eu fiz de tudo. Por que eu não fui suficiente? – As lágrimas pateticamente voltaram a cair.
– Você não foi suficiente, você foi muito mais. – Minha amiga disse, energética. – A culpa é dele. Não lembra como a gente sempre comentava que ele trocava de namorada quando via qualquer bunda na frente dele? Por que achou que com você ia ser diferente?
– Porque... o jeito que ele me tratava...
– Medíocre. – Ela afirmou.
– Não! Eu me sentia especial.
, você fazia tudo por ele, não o contrário! Não percebe? Ele que nunca foi suficiente pra você.
Eu negava, sem conseguir aceitar aquilo. Eu evitava enxergar o como qualquer coisa abaixo da imagem que eu tinha dele, impecável. Naquele momento, no entanto, eu recebi uma notificação do instagram.
Os soluços foram imediatos e tive até que parar de tomar o milkshake. me encarava, preocupada.
– Ele acabou de convidar a Kelly pro baile. A Kelly! Será que eles realmente estavam se beijando naquela foto?
– Você quer a resposta sincera? – perguntou e aquilo já foi suficiente pra mim. Os soluços se intensificaram, até que me abraçou. – Ei, vai ficar tudo bem. Eu tô aqui.
– Ninguém nunca vai me amar! – Reclamei, enquanto me aconchegava em seus braços. Eu senti tanta falta de tê-la ali comigo, o toque dela era tão confortante quanto o milkshake.
– Para de drama, é claro que vão ter muitas outras pessoas. As pessoas certas vão te valorizar. – Ela disse, a voz triste.
– Não, ninguém nunca vai gostar de mim. Ninguém gosta agora mesmo!
– É claro que gosta.
– É claro que não. Você não consegue pensar em um único exemplo.
– Consigo. – Ela disse, se afastando do abraço, parecendo tensa.
– Ah, é? Quem?
respirou fundo e voltou os olhos para o volante. Em seguida, ligou o carro. Achei que ela ia me ignorar, até que ela disse.
– Eu. Eu gosto de você.
– Não conta. Eu também gosto de você. – Eu respondi.
– Não, não gosta. Não assim. – Sua voz ficou triste, suas mãos tensas no volante e ela me encarou rapidamente, antes de voltar os olhos para a rua. – Eu gosto de você assim como você gosta do .

💄✨


Desde aquele dia, desde aquela confissão, eu e não tínhamos mais nos falado. A volta para casa no carro tinha sido silenciosa e nos despedimos de forma estranha. Como ela queria que eu lidasse com aquela informação? Não era todo dia que sua melhor amiga te contava que ela estava apaixonada por você.
E, poxa, eu não gostava de meninas. Eu não tinha como correspondê-la. Eu nem sabia que gostava de meninas! Será que ela nunca me contou para as coisas não ficarem estranhas? Bom, agora tudo estava definitivamente esquisito.
O dia do baile chegou e eu estava mais confusa do que nunca. A confusão com tinha até sumido da minha cabeça depois disso tudo. Agora, sem as lentes de uma paixão burra, obsessiva e emocionada, eu conseguia vê-lo como ele realmente era: só um cara idiota. Mas onde entrava em toda a história?
Minhas unhas, que eu começara a pintar para gostar mais de mim, já estavam roídas de um jeito que apenas ocorrera uma outra vez, quando estava lendo o último livro de Harry Potter. Era o dia do baile e eu não tinha a mínima vontade de ir. Eu não tinha um par e com certeza acabaria esbarrando em , minha única amiga verdadeira, que agora nem falava mais comigo.
Todo o ciúme dela pelo se encaixou, por mais que na maioria das vezes ela tivesse apenas me alertado da verdade. Eu fui tão estúpida. Eu só queria poder voltar atrás, quando éramos só nós duas contra o mundo, com nossas discussões de livros, milkshakes compartilhados e principalmente nossas sextas juntas assistindo séries. Sherlock nunca seria a mesma coisa sem ela do meu lado falando que o John Watson era um molenga.
Enfiei a cabeça no travesseiro, chorando de frustração. Aquilo havia se tornado frequente naquela semana, despertando a preocupação da minha mãe até. Acabei contando para ela sobre o término com , mas escondi tudo sobre a , especialmente depois que ela disse “ainda vão existir vários garotos na sua vida”. Tipo, eu obviamente gostava de garotos, mas por que aquilo me incomodara?
Peguei o celular para me distrair, o que foi claramente um erro. O algoritmo me conhecia muito bem e, por isso, ao abrir o instagram, logo colocou os stories de na minha cara. Depois de uma briga interna se eu abria ou não, a curiosidade venceu, e uma foto dela com Luka, um garoto do nosso ano que era simpático, apareceu. Eles estavam lindos e felizes. Por que aquilo fez meu estômago se afundar?
Eu não podia gostar da . Eu não podia gostar de garotas. O ciúme era algo normal entre amigos. Eu só estava sendo influenciada pelo que ela disse.
Além disso, para gostar de alguém, dizem que você precisa gostar como amigo, mas também ter tesão na pessoa. Óbvio que eu gostava dela como amiga e, bom, ela era linda, a pele dela era macia, e ela ficava uma gracinha quando estava com raiva e franzia o lábio..., Mas eu claramente não conseguia me imaginar beijando a .
Fechei os olhos e tentei vislumbrar a cena na minha cabeça, só porque eu sabia que daria errado. Porém, rapidamente a cena veio na minha cabeça e meu estômago se remexeu de uma maneira muito esquisita e boa. Ah, não. Era ainda pior do que o que eu sentia pelo .
Aquilo era tão errado. Eu me sentia esquisita, fora de mim. Não podia ser verdade. Eu sempre amei estar com a , mas pela amizade. Tá, eu fiquei com ciúme quando ela disse que tinha beijado pela primeira vez, mas foi só inveja por eu não ter beijado antes, né? Tudo se confundia e se embolava na minha cabeça e eu começava a enxergar minha vida por outro ponto de vista: um ponto de vista, claramente hipotético, em que eu poderia gostar de garotas.
Me lembrei da vez que eu me senti esquisita quando Laisa, uma garota linda e mais velha do clube de livros, me deu um selinho por acidente quando foi me beijar na bochecha. Ou como eu achava extremamente confortável quando segurava a minha mão. Ou como eu sentia algo esquisito no meu corpo sempre que eu via a Serena de Gossip Girl. Era exatamente a mesma reação que eu tinha ao ver o Nate, eu só nunca tinha reparado.
Não podia ser, mas era. Aquilo fazia mais sentido do que matemática pra mim, por mais assustador que fosse. Talvez, só talvez... eu gostasse de meninas também.
E, droga, eu com certeza gostava da .
Afastei o travesseiro da cara e me sentei na cama, agitada. Aquilo era tão novo, mas eu tinha uma súbita vontade de contar tudo para ela o mais rápido possível. Meu Deus, eu precisava muito falar com ela.
Levantei-me meio tonta de ter chorado tanto e fui até o armário. Meu vestido prata ainda estava ali, intacto, pois por milagre eu acabara ficando sem tempo para trocar pelo vermelho. Olhei para o relógio no celular. Merda, não tinha muito tempo pra definir os cachos. Eu ia ter que pensar num penteado que disfarçasse. Ah, eu não queria me declarar para a garota estando feia, já bastava minha aparência de coala quando a declaração foi feita para mim.
Respirei fundo, sentindo minha determinação vacilar. Eu não podia me impedir. Não agora. Aquilo ia ser provavelmente a coisa mais difícil que eu faria na minha vida desde o dia em que eu aceitei que One Direction não ia mais voltar, então eu tinha que ficar firme.
Aquela noite ia ser tudo ou nada.

💄✨


Cheguei na festa, feliz e extremamente nervosa. Foi estranho entrar sem nenhum acompanhante e receber alguns olhares tortos, mas aquilo não podia ser o mais importante no momento. Quando entrei no local, depois de cumprimentar alguns colegas conhecidos, me senti atordoada, pois a festa estava em seu ápice. Uma multidão dançava e as luzes piscavam tanto que me deixavam tonta. Essa combinação deixava impossível conseguir encontrar alguém, mas eu tinha que ter foco. A foto que ela postara estava escura, mas dava para perceber que seu vestido era azul ou roxo.
Saí procurando no meio da confusão por . Pessoas que eu nunca tinha visto antes se metiam no meu caminho, mas eu não conseguia encontrar quem realmente importava.
– Boa noite a todos. – Ouvi subitamente a voz da diretora da escola no microfone, enquanto a música era interrompida. – Gostaria de anunciar os vencedores a rei e rainha do baile de primavera.
Imediatamente a confusão, que já estava enorme, piorou muito mais, e os alunos se aglomeraram perto do palco em uma confusão de corpos que impedia qualquer distinção legal.
– E o rei do baile de primavera é... !
Fui poupada da cena extremamente narcisista que meu ex devia estar fazendo no palco nesse momento porque avistei Luka. Imediatamente, senti meu estômago revirar ao lembrar da foto, mas respirei fundo e me aproximei dele, sabendo que era minha melhor chance de encontrar a .
– Oi, Luka! – Me anunciei.
– Ah, oi, ! – Ele disse, surpreso.
Sem mais delongas, indaguei:
– Você sabe onde a tá?
Sua boca chegou a se abrir, mas a voz da diretora o interrompeu.
– E a rainha do baile de primavera é... !
Paralisei por um segundo, processando aquela informação. Eu tinha acabado de vencer o título de rainha do baile?! Aquilo era, literalmente, o meu sonho impossível de infância. Ainda em choque, só me movimentei quando um holofote foi lançado na minha cara e, antes que eu percebesse, eu já estava no palco, com uma coroa na cabeça.
– Muito bem, agora vamos abrir espaço para a dança do rei e da rainha da primavera! – A diretora anunciou.
Pera aí, o quê? Eu ia ter que dançar com aquele idiota?
Antes que eu percebesse, sua mão já estava em minha cintura. Automaticamente, me resetei.
– Calma, , é só uma dança. Até parece que eu já não te toquei antes. – falou.
– Erros que eu gostaria de apagar da minha vida. – Repliquei, tentando dançar o mais afastada possível dele. , por sua vez, parecia determinado a me afastar.
– Sabe, eu fiz a maior besteira em não te chamar pro baile. Mas acho que agora nós dois podemos perceber que a gente era pra ser. Então, aceita ser minha namorada de novo?
Olhei para ele, boquiaberta. Meu Deus do céu, aquele cara me traiu, terminou comigo, veio para o baile com a amante, botou a culpa de tudo em mim e agora achava que eu ia aceitá-lo de volta feliz e de braços abertos?
– Eu não sei que impressão tão baixa você tem do meu intelecto, e sei que eu posso ter ajudado a construir essa imagem ao aceitar ler seus livros inúteis de alto ajuda e sempre ser uma trouxa caindo na sua lábia, mas eu com certeza não quero namorar com você.
Antes que qualquer um de nós dissesse mais qualquer coisa, meu olhar foi atraído para o canto direito, e eu vi saindo do banheiro da festa. Imediatamente, perdi o fôlego. Nenhuma foto poderia fazer jus a como ela estava linda no seu, agora eu podia ver, vestido azul escuro. Seus cabelos ondulados estavam de um lado só e a maquiagem ressaltava ainda mais sua beleza. Não pude evitar sorrir com a cena.
Imediatamente, tirei as mãos de de mim.
– Com licença, mas eu tenho mais a fazer.
As pessoas ao redor encaravam aquela cena, confusas com a interrupção da dança, mas eu não me importei. Só tinha um objetivo: chegar à . Quando estava na metade do caminho, ela percebeu a agitação ao seu redor e seus olhos se fixaram em mim. Sua boca se entreabriu com uma justa surpresa, deixando-a adorável. Meu estômago se rebatia numa confusão de sentimentos: felicidade, nervosismo, medo, paixão... Quando eu estava perto o suficiente, ela finalmente arranjou voz para falar comigo:
– O quê...?
Porém, ela mal teve chance de dizer nada, pois eu a interrompi sem pensar em um beijo. Ao longe, no que pareciam quilômetros de distância, eu escutei os arquejos coletivos, mas honestamente não me importei. Eu estava completamente imersa naquele momento. Os lábios de eram ainda mais macios do que eu poderia sequer sonhar e nossas bocas encontraram sintonia imediata após a surpresa vencida da minha amiga. Com a mão em sua cintura, a puxei para o mais perto que eu podia e nunca, nunca parecia o suficiente.
Depois do que pareceram anos, mas também insuficientes segundos, nos separamos quando o ar nos faltou e nos encaramos, ambas com muitos sentimentos difíceis de serem expressos refletidos em nossos olhos.
– Eu pensei... – começou, sem fôlego. – Eu pensei que você não gostasse de mim. Na verdade, achei que você não gostava de garotas.
– Honestamente, eu também não. – Eu ri, meio nervosa. – Eu meio que descobri hoje. Mas você nunca me contou também. – Questionei, tentando esconder que guardar segredo havia me incomodado.
– Eu tinha medo de perder sua amizade. Mas... O que tudo isso significa?
Eu ri, abraçando-a, sem aguentar mais um segundo longe dela. Droga, aquelas brigas e confusões nos deixaram separadas por tempo demais.
– O que mais poderia significar? – Eu disse, apertando-a contra o meu corpo. – Eu demorei a perceber, mas sempre foi muito claro. Eu estou apaixonada por você, . Eu estou apaixonada pela minha melhor amiga.
Ela riu, derramando algumas lágrimas. Ela sempre foi tão sensível, e isso nunca pareceu tão adorável quanto agora.
– Eu achei que, depois do que eu disse no carro, eu ia te perder pra sempre. – falou, soluçante.
– Você nunca me perdeu. E nunca vai me perder. Entendeu?
– Eu também estou apaixonada por você. – disse e, embora eu já soubesse, ouvir de novo fez meu coração acelerar. – Isso quer dizer que a gente pode sair num encontro? – Ela perguntou, rindo.
– Bom, o que você acha de sexta, minha casa, pizza e a nova temporada de Sex Education? – Eu falei, fingindo seriedade.
riu ainda mais alto e eu acabei acompanhando-a, simplesmente deslumbrada com tudo o que estava acontecendo. No entanto, aquilo também me despertou para a realidade.
– Tá todo mundo encarando a gente. – Eu disse, nervosa.
– Também, você fez uma cena digna de final de filme da Disney. Ou melhor, de um clipe da Zolita. A rainha do baile de primavera me beijando... – brincou.
Naquele momento, percebendo todos os cochichos, uma preocupação imediata se abateu em mim.
– Droga, o que nossas mães vão dizer? – Perguntei, retoricamente, preocupada.
– A minha já sabe. – disse, simplesmente, dando de ombros.
– O quê?! – Perguntei, chocada. A mãe da minha amiga e possível futura namorada nunca demonstrara um mínimo sinal de qualquer coisa do tipo. – Sério? E tá tudo bem por ela?
– Aham.
– Acho que a minha não vai entender tão fácil. – Eu disse, olhando para o chão, me sentindo constrangida e assustada. E se minha mãe não aceitasse quem eu acabara de descobrir que era?
– Não tem problema. – disse, apertando minha mão, enviando ondas de conforto por todo o meu corpo. – Eu vou estar com você nessa.
Ela sorriu e foi impossível não sorrir junto. Eu poderia estar perdida, apavorada, confusa e poderia enfrentar muitos problemas duros no futuro. Aquilo tudo era bem provável, na verdade. Era aterrorizante. Mas, quando eu olhava para , todos os problemas pareciam pequenos, porque eu sabia que tudo ficaria mais fácil com ela do meu lado.





Fim!



Nota da autora: Olá, galerinha! Mais uma fanfic original e clichezinha finalizada por aqui! E aí, o que acharam da história?
Quando eu escutei a música pela primeira vez, no dia em que o álbum foi lançado, o plot se formou tão forte na minha cabeça que foi incrível realmente colocá-lo no papel (ou melhor, no computador). Escrever uma fanfic LGBTQIA+ foi um desafio para mim, pois eu tinha medo de escrever alguma bobagem, mas acho que, tirando os preconceitos óbvios que nunca devem ser normalizados, percebi que no final escrever sobre amor é escrever sobre amor, não importa de que tipo. Eu gostei muito do resultado e me apeguei muito à Ella e à Liana, pra mim elas merecem o mundo todinho!
Mas agora eu quero saber de vocês. Primeiro, quero agradecer por vocês terem tirado tempo do dia de vocês para darem uma chance para a minha história. Coloquem aqui nos comentários o que acharam! Vai ser uma honra poder ler!
Para saber mais das minhas histórias, siga meu instagram @elena.n.stuff. De novo, espero que tenham gostado. Beijos!







Outras Fanfics:

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Harry Potter:
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Originais:
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