O ano era dois mil e vinte. O mês era janeiro. O dia era o primeiro. Pela primeira vez em anos de vida eu sentia que tudo iria bem para mim nesse ano novo que estava começando. A virada de ano foi com a família e sinceramente não queria que tivesse sido de outra forma, pois amo demais cada um deles. Porém internamente só eu sabia como vinha me sentido no ano de dois mil e dezenove. Estava tudo um caos e talvez eu quisesse muito que o ano novo fosse realmente um novo ano para mim. Por isso mesmo depositei todas as minhas forças em um ano que teria que me trazer muitas mudanças. Quer ele queira ou não.
Pouco tempo depois ainda em janeiro, eu comecei a trabalhar. Meu primeiro emprego e foi logo em uma multinacional estadunidense. Muito trabalho e muita gafe cometida por conta do uso constante do inglês. Muitas pessoas novas para entrarem em um círculo de amizade que eu não achei que fosse criar tão cedo, o temido termo “colega de trabalho” se tornou real e como boa pessoa com dificuldades de socialização que sou já tive que superar muitas barreiras para apenas dar oi e me apresentar a todos. Não me levem a mal, eu sou uma pessoa bem fácil de se conviver e depois do primeiro estágio de timidez, é como se eu fosse um livro para crianças de tão fácil que eu sou de entender. Sem contar que tive que mostrar de cara o quão boa em trabalho em grupo sou. É claro que já era uma piada pronta tudo isso né, eu, filha única sendo boa em dividir e conviver diariamente com muita gente é meio que não esperado. Então em poucos dias tive que literalmente me adaptar rotina do trabalho e me acomodar dentre tantas pessoas.
Claramente fevereiro teria que ser um mês melhor. Os noticiários já começam a falar de uma doença na China que vinha matando várias pessoas. Mal eu sabia que em pouco tempo os primeiros casos em pessoas de fora da China iriam surgir. Enquanto tudo era só lá, o que eu sentia era apenas preocupação pela vida daquelas pessoas. O que eu fazia era rezar para que tudo ficasse bem.
O segundo mês tinha também um feriado que eu amo, o carnaval. Não porque eu saio em comemoração, eu sou da turma que fica em casa curtindo os dias com uma série e filme na Netflix. Porém já que 2020 não era um ano típico, o carnaval desse ano também não seria. Eu passei o carnal todo arrumando toda a minha casa. E quando eu digo toda a casa eu realmente quero dizer isso. Janeiro todo eu passei dormindo com a minha vó, conveniente é minha vizinha, pois durante o mês todo a casa esteve em obras. Para que essa reforma acontecesse precisávamos que a casa estivesse completamente vazia. E assim ela esteve durante todo o quebra-quebra. Graças a isso tivemos a oportunidade de doar coisas, jogar itens fora e reorganizar tudo o que temos, mais um pouco a Marie Kondo ficaria orgulhosa de todos nós.
Em meados de março, os noticiários já diziam que COVID-19 era uma pandemia, e eu tive uma semana de aula na faculdade e no trabalho eu já era oficialmente a pessoa que dividia turno com mais uma menina no terceiro turno. Aparentemente uma fábrica realmente precisa funcionar 24 horas. O lado bom do meu trabalho, além do salário e benefícios/brindes, é que não chegava em casa fedida. Era comum minha mãe amar o perfume que tinha e realmente eu mesma amo também, a final eu sempre chegava em casa com um cheiro de shampoo ou condicionador diferente. Então eu amava mesmo, era muito trabalhoso fechar um turno perfeito, mas também era muito recompensador.
Enquanto o mundo parecia um caos, eu internamente tentava achar que o peso que começava a sentir tinha somente ligação com a rotina pesada eu estava me envolvendo. Na verdade, o pesar vinha desde o ano passado. Talvez a pandemia só tenha potencializado tudo.
Faz tempo que lido com sentimento de ser um impostor em minha vida. Sabe quando tudo que você faz parece ser falso ou nunca bom o suficiente ou até mesmo sem valor algum? Pois é, tudo isso faz um tempo que me incomodava muito.
Todos a minha volta percebiam isso. Eu mesma já vinha procurando mecanismos que pudessem me ajudar a viver melhor. Talvez todo esse tempo livre que a pandemia deu pudesse ser tudo o que eu estava esperando para ter a real mudança que eu tanto queria.
Em algum momento da minha vida eu queria estar onde as pessoas se alegrariam comigo e por mim, justamente por não sentir assim é que eu pensava muito sobre a minha vida.
Tudo se agravava mais ainda na minha mente porque eu tinha muito medo de seguir em frente na vida ao mesmo tempo que queria vive-la plenamente. Sempre sentia que estava correndo contra o tempo, especialmente porque considerava o meu aniversário desse ano algo muito crítico já que estava prestes a fazer 24 anos. Eu sei que essa é uma idade jovem ainda, mas para mim já estava velha demais para coisas que eu mesma inventei na cabeça.
O ponto é que em algum momento dessa quarentena toda, eu decidi que 2020 poderia não ser o meu ano, mas que 2021 seria. Os pontos principais eram que eu já estava disposta a enfrentar os meus medos. E tudo isso começa quando eu conheci Hyde. Mas isso fica para uma outra história.

Nota da autora: Olá! Espero que tenha gostado da fic! Weightless é uma música muito muito especial para mim porque faz parte da minha adolescência e sua letra conversa muito comigo. Grandemente inspirada pelo o que passei no ano de 2020, espero que de alguma forma a história tenha sido boa. Não tenho palavras para dizer o quão feliz estou por fazer parte desse Ficstape do All Time Low. Em breve deve sair uma continuação para essa história. <3



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