FFOBS - 14. Monster Among Men, por Mary Lira

Finalizada em: 18/09/2019

Capítulo Único

Demons hide behind my back
And I can see them, one, two, three, four
Leading me to do their dirty work
Won't let them knock down my door


- Será que você pode me dar um tempo pra pensar? – A voz dela era alta, reverberando pelo galpão que por meses fora minha morada.
- Não tem o que pensar , você precisa voltar pra Nova York. – Fiz uma pausa antes de soltar a frase que me machucaria mais do que a ela. – Pra sua vida, que não me inclui. – Os olhos castanho-escuros fixaram em mim com altivez, ela estava pronta para rebater.
- Quer saber Bucky, dá um tempo. – Ela ergueu o indicador direito e ergueu as sobrancelhas e fez um biquinho debochado, meu coração aqueceu com esse gesto. – Eu abandonei minha carreira militar, meus amigos e familiares há seis meses, se você tá achando que por que o Capitão está atrás de você mais uma vez eu vou te deixar... Faça-me o favor.
Ela tinha um argumento e um ponto, não era novidade dizer que havia ganhado aquela discussão...
...Ela ganharia qualquer uma.

Oh, the stupid truth is I'm so bad for you

✦ ✧


3 anos haviam se passado desde este fatídico dia, havíamos superado barreiras, vencido inimigos, reencontrado velhos amigos... E ela permanecera ali. Mesmo depois do outro congelamento, ainda que houvessem julgamentos, ela não se fora como eu cheguei a pensar que faria.
Agora, parado em frente ao espelho, vestindo um terno cinza escuro com uma flor branca presa à lapela, eu me sentia o idiota mais sortudo e apaixonado da Terra... Talvez, do universo.
- Se continuar se olhando vai acabar como Dorian Gray. – A voz de soou próxima, me assustando. A namorada de Steve estava parada atrás de mim trajando um vestido longo roxo, de alças finas e uma grande fenda na perna, os cabelos presos de lado e um sorriso meigo que ela destinava especialmente aos amigos. Me senti lisonjeado ao perceber que me tornara isso para ela, assim como sempre fui para Stev.
- Quem é Dorian Gray? – Perguntei ao me tocar que ela falava sobre alguém que eu desconhecia.
- Vai por mim, não vai querer saber. – Assegurou se aproximando. – Vim te buscar, estão todos esperando. – Assenti, ela me estendeu o braço e, mesmo sem compreender, eu aceitei.
Estávamos na cobertura Stark, a atual namorada de Tony, a desconhecida noiva de Clint, e é claro, ... As três haviam ficado encarregadas de toda cerimônia. Paramos em frente a escada que nos levaria à sala de estar onde todos estariam esperando por nós. Sorri ao ver meu melhor amigo se aproximar e me estender um braço, assim como havia feito. Não deveria me surpreender, já que isso era algo que eles fariam por mim, na ausência de meus pais e familiares eu os teria ali, lado a lado para me amparar enquanto caminhava rumo ao momento mais decisivo da minha vida.
Em cada degrau que pisávamos meu coração parecia acelerar um pouco mais, ouvi rir de algo e bater em meu ombro, ela estava feliz por mim... Por nós. Ao alcançarmos o chão nos encaminhamos pata frente da pequena mesa de vidro onde, para meu completo espanto, Nick Fury usando um terno preto nos olhava com aquele ar desconfiado.
- Mas...
- Ele tem autoridade legal pra isso, quem diria... – Steve brincou, dei risada dessa constatação. Rostos conhecidos que aprendi a chamar de equipe, e ouso dizer, de amigos, sorriam para mim, completamente diferentes em roupas sociais dignas de uma festa.
Cumprimentei o líder da SHIELD antes de tomar minha posição, olhando fixamente para o topo da mesma escada que desci, ela viria de lá, o último quarto no fim do corredor como ouvi uma das garotas dizer, com certeza estaria tão linda quando eu me lembrava...

✦ ✧


O sorriso dela era a coisa mais bonita que eu poderia pedir para ver, acabara de acordar de um sono perturbador, minha cabeça doía assim como o restante do corpo, tudo em mim parecia ter sido quebrado e reconstituído.
- Ei, você está bem? Sabe quem eu sou? – Ela parecia ansiosa o sorriso havia dado lugar a olhos arregalados e a boca entre aberta, a respiração curta... Tudo em seu corpo indicava a angústia daquele momento.
- Não sei... – Resolvi provocar um pouco, prendeu a respiração. – Será que... Ah meu Deus, você me raptou? – Vi o momento em que Steve se aproximou com o semblante confuso, um segundo depois seus olhos ganharam um brilho brincalhão, ele sabia que eu não havia esquecido dela. Como poderia?
- Não Bucky, eu não... Ai minha nossa, Shuri alguma coisa deu errado, você apagou a memória do meu namorado! – O grito dela me fez rir, entregando completamente a farsa. – Espera um pouco, você estava zombando de mim? – A expressão de choque passou rapidamente para indignação, no momento seguinte eu era puxado para fora da cabine, seu corpo se moldou ao meu em um abraço quente e, mais uma vez, ansioso. Todavia, rápido demais. – Você é um idiota Barnes, espero que saiba disso. – Disse ao se afastar, dessa vez com o sorriso que eu amava.
- Eu te amo. – Não percebi quando as palavras saíram, mas vi a luz que tomou seus olhos. pulou em meus braços mais uma vez, beijando-me enfim como deveria ter feito há instantes atrás.


✦ ✧


Os passos dela me trouxeram de volta a realidade, ao seu lado estava Stephen, o doutor Estranho a trouxera ao altar dado um pedido seu, que acabou por se tornar uma grande amiga do mago. Meu peito doeu quando o coração errou uma batida, ela estava incrível. Um vestido branco um pouco abaixo dos joelhos cheio de rendas, alças finas e um decote delicado, os cabelos num coque simples e os olhos... Ah, os castanhos que me tiravam do sério emoldurados em cores fortes e cílios imensos. Ela estava incrível, a personificação da beleza pra mim, a vi sorrir para todos e parar em minha frente, entregou o buquê para e estendeu a mão para mim, tomei-a entre as minhas e depositei um beijo no dorso.
- Bom... Vamos começar. – A seriedade de Fury nos trouxe de volta a realidade, onde infelizmente tive que desviar o olhar do dela. – Estamos aqui reunidos para formalizar a união entre James Buchanan Barnes e . Os dois tem uma longa história juntos, e essa cerimônia é a confirmação de uma história que já existe, sendo assim, vamos aos votos. – Ele pigarreou, eu só conseguia olhar pra ela. – James, você primeiro.
Respirei fundo antes de tirar o papel já surrado do paletó, a letra de estava torta do tanto que amassara, ela se dispusera a escrever o que eu dizia, já que minha inquietude não permitia que me sentasse para transcrever tudo o que sentia por aquela mulher em minha frente. Pigarreei e a vi entortar a cabeça para me olhar melhor, uma de suas muitas manias.
- , você é a criatura mais... Louca que eu conheço. – Os solhos dela arregalaram e eu olhei para , que sorria com a língua presa entre os dentes, balancei a cabeça em negativa e pude escutar a risada baixa de minha quase esposa. – Você é forte, independente, corajosa e o mais importante, apaixonada... Pelo seu trabalho, seus amigos e por novas descobertas, estou mais do que grato de poder compartilhar desse amor e receber mais do que sou capaz de retribuir. – Ela piscou lentamente, isso significava que estava prestes a chorar. – Eu te amo mais do que qualquer palavra poderia expressar, estar aqui, me casando... Nunca foi sequer uma ideia, mas com você é mais do que um sonho. Jamais poderei retribuir tudo o que sacrificou por mim, mas espero poder amá-la até o último dia de nossas vidas e demonstrar o quanto você é importante pra mim.
Ouvi algumas pessoas fungarem e não preciseis virar para saber que eram e , as duas se abraçavam de lado desde o começo da cerimônia, e admito, se não estivesse tão nervoso estaria rindo.
- Uou... Bucky Barnes é um romântico e eu nem sabia. – se pronunciou fazendo a todos rir, estreitei os olhos. – Talvez eu não tenha palavras tão bonitas quanto as suas, a propósito, obrigada por isso . – Ela saudou, ouvi um “de nada” vindo de algum lugar e as risadas novamente preencheram o lugar. – Mas retomando... Eu posso dizer que sou grata por fazer parte da sua vida, do seu ciclo fechado de pessoas importantes; sou feliz por todos os dias acordar e te ver ali, perto, protetor e atencioso mesmo inconsciente. – fez uma pausa e suspirou. – Bucky eu te amo, e só quero viver o resto da minha vida com você.
Dei um passo em sua direção, prendê-la num beijo era tudo o que eu queria, mas os gritos de Clint e Tony me fizeram parar, ela ria abertamente da minha pequena falha, não tive tempo para sentir vergonha, o corpo dela chamava o meu, era como a lua atraída pelo mar, irremediável.
- E sendo assim, por favor, troquem as alianças. – Olhei ao redor e encontrei Thor com um caixa de veludo azul, peguei o pequeno objeto e ao abri-lo encontrei as alianças douradas, simples e roliças que comprara semanas atrás. Retirei a menor do aparador e a coloquei no anelar esquerdo de quem agora era, definitivamente, minha esposa. Vi repetir o gesto, e depois de beijar o anel se afastar. – Eu vos declaro casados, pode beijar a... Deixa pra lá. – Meus lábios estavam presos ao da única mulher capaz de abalar completamente minhas poucas certezas.

I don't wanna be a monster among men
Oh-no-no-no, I can't take it
Oh-no-no-no, I won't break your heart again


✦ ✧


A festa estava animada, convidados riam e conversavam pelos cantos, alguns me cumprimentavam ao passar, eu estava sentado numa das cadeiras do bar de Stark, Sam ocupava um lugar ao meu lado, Tony estava trás do balcão fazendo drinks enquanto Steve ria de um comentário feito pelo Falcão, apoiado no último banco em minha frente.
- Ele está enlaçado meus amigos, é isto. – Balancei a cabeça, ele e Stark se uniram para me sacanear enquanto Steve se limitava a rir e beber sua cerveja.
- Enlaçado ou não ainda posso te dar uma surra, gaivota. – Disparei e a gargalhada de Tony estrondou pelo local, alguns olhares se direcionaram para nós, mas é claro que ele não se importava,
- Isso foi ótimo, eu tinha pensado em andorinha, mas gaivota é perfeito. – O bilionário disse em meio aos espasmos de riso.
- Eu não sei qual é a graça e tenho medo de saber – Uma figura animada anunciou. - ... É hora de dançar, meu amigo. – A pequena Stark se aproximou com um sorriso maldoso, com certeza sabia desse momento e planejara algo para mim, nada bom, isso é certo. Exclamei um “dançar?!” e fui totalmente ignorado, parando em meio a sala onde vi me estender a mão e arquear a sobrancelha. Um convite.
Engoli o nervosismo e estendi minha mão, ela aceitou e antes que eu me desse conta seu corpo estava preso ao meu em uma dança lenta e totalmente guiada por ela, um passo para cada lado enquanto uma música lenta inundava a sala.
- Não acredito que está me fazendo dançar. – Resmunguei baixinho apenas para irritá-la.
- Não creio que ainda não me fez girar. – Retrucou no mesmo tom, seu corpo se afastou do meu e com as pontas dos dedos a segurei enquanto seu corpo fazia um giro perfeito e voltava para os meus braços. Sentia sua respiração bater em meu pescoço quando sua cabeça pousou em meu ombro; terminamos a canção daquele jeito e só nos afastamos quando os aplausos foram altos demais para ignorar.
Me preparei para uma próxima valsa, porém o som que começou a sair das caixas era animado e sensual, arqueei a sobrancelha em sua direção e recebi um sorriso misterioso em troca, senti mãos me puxarem para longe dela e notei ser e , surgiu com quatro cadeiras de acrílico absolutamente do nada. Não tive a oportunidade de questionar, já que fui deixado no banco que ocupara antes ao lado de Sam.
- O que...
A pergunta morreu nos lábios de Steve quando uma voz alta e feminina disse algo sobre se sentir uma mulher perigosa, as quatro simplesmente sentaram na cadeira e com as pernas sobre o encosto deixaram seus corpos caírem, arregalei os olhos e me levantei, mas logo elas ergueram os troncos e se balançaram coordenadamente, os vestidos não deixavam nada aparecer, mas dava muita munição para o imaginário. levantou-se da cadeira, deu as costas para nós e apoiou as mãos sobre o encosto, abaixou-se e remexeu o quadril. Meus olhos arregalaram-se imediatamente, vi cruzar e descruzar as pernas lentamente, eu não tinha reação. jogou os cabelo e se ergueu, piscou para Clint e apoiou uma perna sobre o móvel. Quando foi a vez de ouvi Tony arfar, me recusando a olhar para Steve, dado o choque que me tomava. A garota Stark levantou e deslizou as mãos pelo corpo em direção a perna direta e sorriu maldosa em nossa direção.
- Já chega! – Foi o grito de Tony que me fez acordar. O que diabos elas achavam que estavam fazendo? – Minha pobre filhinha, isso é influência de e , com certeza. – As risadas quebraram o clima tenso que se instalara. Enquanto deixava os outros casais, e o pai, conversarem sobre o que fora aquilo tudo, me levantei e parei atrás de .
- Posso saber o que pretendia com isso? – Minha voz estava rouca e baixa, nada planejado, mas os pelos de seu pescoço eriçaram-se imediatamente.
- Nada... É comum, uma dança com as madrinhas. – Disse quase inocente ainda de costas para mim.
- Sabe que isso não vai ficar assim, certo? – Ouvi sua respiração falhar. – Espero que esteja preparada para uma longa punição. – Um soluço de surpresa deixou seus lábios, sorri involuntariamente.
- Quando quiser, sargento. – Disse ao se virar e enlaçar meu pescoço. De imediato meu corpo correspondeu ao dela, isso significava que era hora de dizer até logo aos nossos amigos e começar a parte mais divertida de tudo isso... A lua de mel.

✦ ✧


Cinco dias no Caribe, era tudo o que eu poderia querer. Acordar em uma cabana de madeira chique demais para poder pagar, com um clima quente e a mulher mais sexy do mundo usando um biquíni que deveria ser proibido de vender.
estava radiante, havíamos estreado a cama, o pequeno sofá, o banheiro, e o deque... Cada lugar daquela cabana testemunhara o amor que tínhamos; ainda com os olhos fechados conseguia ouvir o barulho do chuveiro e sua voz entoando uma das músicas que ouvíramos enquanto nos perdíamos um no outro noite dessas. Sorri involuntariamente com as lembranças de seu corpo, lábios e sons que ainda ecoavam por todo lugar, inclusive em mim.
- Eu sei que está acordado e é bom levantar. – Ouvi sua voz perto o bastante para me assustar, estava tão distraído que não percebi o cessar do chuveiro ou da cantoria. – Hoje é o último dia, quero visitar alguns lugares antes de irmos embora. – O biquinho que assumiu me fez balançar a cabeça negativamente, ela sempre conseguia o que queria assim. Bufei e levantei da cama, o lençol que abraçava meu corpo caiu no chão revelando minha nudez, não fora planejado, mas seus olhos me mediram antes de seus lábios serem presos entre os dentes. Sorri de lado e indiquei o banheiro, ela negou, dei de ombros.
- Você que sabe... Esposa. – Deixei a palavra escorrer como água, um mantra que poderia ser entoado por toda vida. Ela intensificou a mordida, eu continuei seguindo para o banheiro.
- Ok, talvez possamos visitar a vila mais tarde. – Foi tudo o que ouvi antes de senti-la me abraçar e pararmos sob a ducha que acabara de ligar.

I don't wanna be a monster among men
Oh, no, don't wanna be a monster among men
Oh, no, don't wanna be a monster among men


✦ ✧


A volta para casa não foi exatamente como esperado, o pequeno apartamento no Brooklyn, vizinho ao de Steve, estava uma verdadeira loucura, repleto de flores e presentes, o lugar parecia uma loja de quinquilharias.
- Quem passou na loja de antiguidade e despejou o caminhão aqui? – Perguntei, riu alto, com os braços ao redor de meu pescoço. Coloquei-a no chão e dei uma boa olhada ao redor, parece que alguém havia se empolgado com os presentes de casamento, especialmente os Stark.
- Alguém disse antiguidade? – surgiu na porta com um olhar esperto. – Steve, amor, corre aqui que estão te chamando. – A risada escandalosa de preencheu o andar enquanto as duas se fitavam como se trocassem uma piada interna. Rogers apareceu segundos depois com a sobrancelha arqueada.
- Eu ouvi isso, mocinha. – Acusou, ela fez careta.
- E esse “mocinha” só confirma que as antiguidades são vocês. – a apoiou. – Bucky acabou de dizer “quinquilharias”, quem pelo amor de Thor, diz isso hoje em dia?
- Vou te mostrar quem é antigo mais tarde, . – Devolvi a provocação e ouvi um engasgo.
- Mas gente, respeitem o bebê presente. – Exigiu a pequena Stark com as bochechas coradas, todos os olhares se dirigiram para ela, em seguida para roupa justa que usava, nada indicava uma gravidez. Me preparei para parabenizar meu melhor amigo e encomendar seu caixão quando Tony descobrisse, quando ele se adiantou.
- Que bebê?
- Eu. – A baixinha deu de ombros nos fazendo suspirar em um misto de alívio e descrença.
- Não vou te falar nada. – Avisou . – Agora, posso saber o que fazem aqui?
- Sua doçura me contagia. – Stark respondeu. – Temos algumas pesquisas de campo pra fazer. – A suavidade com que ela disse isso parecia forçada, havia algo que não estava sendo dito. protestou dizendo que ainda estava em Lua-de-mel, mas Steve disse que era importante, apenas uma pesquisa e logo estariam todos liberados.
Todos, exceto eu. Que para total desgosto e desapontamento, não estava envolvido na situação. Rogers disse que era algo simples, relacionado a área de atuação de e , que trabalhavam com ciência comportamental. Dado por vencido deixei que minha esposa fosse se arrumar enquanto Steve, e eu dávamos um jeito naquela bagunça. Algumas muitas piadas sobre a felicidade dos Stark em dar presentes, diversas ameaças por parte dela e vinte minutos transportando caixas e abrindo espaço, estava tudo finalmente organizado. Abriríamos os presentes quando chegasse. Decidi ir para o prédio de Tony, enquanto todos estivessem trabalhando eu poderia visitar a academia, seria bom. Talvez Sam estivesse desocupado e pudéssemos treinar um pouco.
Me encaminhei pelos corredores em direção a área de treinamento, todos haviam deixado o complexo sem que eu os visse, o que, no geral, era bastante esquisito. Ao menos Clint passaria por mim para fazer uma piada; ignorei este fato e me concentrei em treinar, acertar o saco de areia repetidas vezes seria bom para não me deixar pensar em coisas que eu, ainda que involuntariamente, me forçava a lembrar.
A verdade é que fragmentos do meu passado assombravam meus sonhos, de forma menos assíduas, mas ainda mortal. Durante os cinco dias que passamos no Caribe sonhei duas vezes com um carro capotado, um casal e morte. Em todas essas cenas eu assistia a tudo como um espectador, uma figura de roupa preta fazia o trabalho sujo enquanto eu era uma peça sem funcionalidade e completamente incapaz assistindo ao fundo. Não havia voz, sequer um movimento, meu corpo não obedecia, mas eu sentia toda a dor daquelas pessoas, que de forma estranha tinham traços familiares.

Fragile, always 'bout to fall just like sand
Castles, three, two, one, go
Stronghold, it's time for me to admit
That I'm an asshole, so here I go


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O rosto ferido, olhos pedindo por clemência e as chamas refletindo em olhos claros e frios demais para terem sentimentos. Um punho de aço atingiu o rosto do homem caído repetidas vezes até a vida em seu corpo se esvair. Uma mulher chamava ao fundo, o estranho arrumou o corpo do homem dentro do carro apoiado sobre o volante antes de, finalmente, se dirigir para mulher que ainda chamava pelo que poderia ser seu marido. A mão metálica pressionou a jugular e a glote, a pobre senhora tentou puxar o ar, mas aquilo parecia um arco sendo fechado e pressionado... Segundo depois, tudo o que havia eram dois corpos, uma cena forjada e fogo.
O ar parecia faltar em meus pulmões, eu havia assistido aquilo, não sabia como, mas estava presente naquela cena. A pergunta que não calava era por que não havia feito nada? Por que não ajudei aquelas pessoas? Ouvi passos se aproximando e alguns agentes pararam ao me ver ali, o suor escorria por meu corpo, o saco de areia estourado jazia sobre o colchonete no canto da sala, havia perdido o controle enquanto o devaneio assumia minha mente. Suspirei.
- Bom dia senhor Barnes. – Uma mulher loira e alta me cumprimentou, seu tom era firme e os olhos com peculiares tons de cinza me fitavam como se esperasse o pior. Acenei com a cabeça e me dirigi para saída, precisava de um banho frio, algo estava errado e eu não conseguia saber o que era. Enquanto andava pelos corredores absurdamente tecnológicos do prédio de Tony, pude ver alguns olhares receosos em minha direção, algo que já se tornara comum e eu não teria percebido se não fossem alguns cochichos. Bufei.
Alcancei o andar onde os laboratórios eram maioria e parei quando vi uma porta entreaberta, uma mulher parada de frente a diversas telas com imagens de lutas e explosões fazia anotações em um bloco de papel, a moça suspirou quando um dos monitores mostrou a mesma cena que vira minutos atrás enquanto trinava. Senti meus músculos retesarem quando ouvi o nome do homem ser dito pela mulher dentro do carro. “Howard”... Esse era o nome do pai de Tony, o avô de ...
Tudo parecia um filme de terror enquanto eu assistia uma figura conhecida, com ódio e frieza executar dois inocentes. No momento em que a câmera focalizou, segundos antes da arma ser disparada, eu pude ver meu rosto ali. Eu fui o assassino dos Stark, eu deixei Tony órfão, eu acabei com a família de , eu destruí o que eles poderiam ter. Com o coração acelerado vi a cidade de Socóvia sucumbir ao desastre, assim como diversas outras imagens de destruição, e para meu total desespero tudo isso estava ligado a mim, direta ou indiretamente.
- Bucky? – Uma voz feminina chamou por mim, era a mulher que analisava os vídeos, seus olhos tinham um misto de medo e preocupação. Todas as lembranças apagas de minha mente estavam expostas ali, como numa sala de cinema para quem quisesse ver. Na verdade não haviam me perdoado por que não havia perdão para o que eu fizera. Recuei um passo, depois outro e pude ver a noiva de Clint contornar a mesa e se aproximar com as mãos erguidas. – Bucky, calma, isso aqui não é você... É seu passado, alguém que você nunca foi. – A tranquilidade em sua voz era contida, mas meus instintos diziam que ela estava com medo.
E deveria,
Meu coração acelerara a ponto de um ataque cardíaco, minha mente se embaralhava em fragmentos desconexos enquanto eu lutava para lembrar de tudo aquilo que acabara de ver. Senti meu corpo se mexer involuntariamente.
- Bucky, o que está... Ah droga. – Não conseguia saber quem estava falando, era uma garota talvez, meus olhos não focalizavam nada, tudo era escuridão ali. – Ei James, está tudo bem... Esse negócio de o Sol já vai nascer não vai rolar. – A voz dizia. – Droga, cadê a ? – A pronuncia desse nome me trouxe um sentimento de dor e perda quase insuportável. Não sei o que houve, tudo o que senti foi minha mão se fechar ao redor de algo, um grito irrompeu o lugar, eu joguei o que havia em minhas mãos e parti para cima sem consciência alguma.
- Não faça isso Bucky, esse não é você! – gritava, tinha certeza que era ela, mas um código esquisito começava a soar em minha mente. – Você vai matá-la. – Desespero. Dor. Escuridão. Choques. Frieza. Tortura. HYDRA.
- Bucky! – Essa voz eu conhecia, longe, contida e cheia de histórias... – Solte ela agora mesmo. – Uma ordem, eu obedecia ordens, era um soldado. Larguei o que quer que estivesse em minhas mãos. O barulho que esse objeto que eles insistiam em chamar de ela fez ao tocar o chão me lembrava ossos, franzi a tez.
- O que está havendo... Ah meu Deus! – O desespero daquela voz fez meu peito apertar. – James, sou eu, . – A voz, o nome... Tudo me trouxe familiaridade e clareza. Fechei os olhos. – Preciso que respire fundo, conte comigo as respirações... Um, dois... Isso, mantenha assim. – Sua mão tomou as minhas, havia calor ali. – Abra os olhos, ainda respirando fundo. – Fiz exatamente o que ela pediu, e então percebi onde estava. E pior, o que havia feito.
- Minha nossa, o que aconteceu? O que eu fiz? – estava inconsciente nos braços de Steve, o rosto machucado, marcas de dedos em seu pescoço, a respiração falhando... – Eu não, Steve perdão, eu não faria isso. – Os olhos dele estavam direcionados a ela, meu corpo tampava a passagem pelo corredor. Afastei-me em silêncio enquanto o assistia correr rumo a enfermaria que ficava no andar debaixo. Natasha, Clint e tinham armas apontadas para mim, ao fundo parecia pálida e me olhava como se desconhecesse quem eu era, a verdade é que nem eu sabia. Havia tanto tempo que algo assim não acontecia, por que agora?
- Podem baixar as armas, é o Bucky de novo. – tomou o controle da situação, sua mão ainda prendendo as minhas. – Vem comigo. – Não havia medo ou insegurança em sua voz, pelo contrário, ela parecia perfeitamente bem e ciente do que estava fazendo.
Andamos pelo corredor, tomamos o elevador e paramos na cobertura, nada foi dito até chegarmos aos quartos. Para meu alívio Tony não estava ali, não fazia ideia de como poderia olhar para ele depois de tudo o que fizera a sua família. Por Deus, não havia perdão.
- Me diga o que houve. – sentou-se numa cadeira de escritório e indicou que eu ocupasse a cama, meus olhos estavam fixos no chão enquanto contava do que me lembrava. Nada fazia sentido, tudo era embaçado e doloroso. Ela permaneceu em silêncio por todo relato. – James, olhe pra mim, isso que aconteceu não tem nada a ver com quem você é. – Ergui a cabeça quando seu indicador tocou meu queixo. – Tudo o que assistiu é o que fizeram de você, nada daquilo era James Barnes, era o Soldado Invernal, então por favor, não jogue fora todo seu progresso. – Pediu com gentileza.
- Progresso? Eu matei a namorada do meu melhor amigo, que por acaso é minha amiga também, e filha do homem que eu já havia matado os pais. – Exasperei-me ficando d pé. – , eu sou um monstro, nada do que Shuri fizer vai mudar isso. – Andei até parar em frente a janela, a cidade lá embaixo permanecia movimentada, ninguém fazia ideia do que ocorria naquele lugar. Ou dentro de mim.
- Bucky, que parte de passado ainda não fez sentido pra ti? – Perguntou se aproximando. – O que aconteceu hoje foi um lapso, Shuri já havia nos alertado sobre isso, você ficou sobrecarregado de emoções vendo aqueles vídeos, pelo amor de Deus seja razoável. – Senti o calor de seu corpo emanando para mim com a proximidade, sabia que estava prestes a me abraçar, e ainda que isso doesse, me afastei. – Barnes, por favor... Pare de se martirizar, não está morta, Steve não lhe odeia, todos nós sabíamos que algo assim ainda poderia acontecer, apenas se acalme.
Ouvimos batidas na porta, a figura que surgiu foi a de Natasha, a agente séria e fria tinha os braços cruzados e os olhos direcionados a mim. Romanoff era o estereótipo de espiã russa, alguém temível e sensual, nada parecia abalá-la, mas um leve tremor em seu rosto mostrava a preocupação. E definitivamente, não era comigo.
- está viva. – Foi sua primeira declaração. – Vai ficar bem. – Foi como tirar um peso de minhas costas, talvez Steve não me odiasse para sempre. – Tony e Benner querem te ver, Shuri está na ligação, por favor se apresse. – E séria como veio, ela se foi.
Não abri a boca, também não disse nada. Apenas deixamos o quarto e caminhamos em direção a sala de reuniões onde Stark costumava ficar, vi minha esposa abrir a porta, mas meu corpo travou. Nada ali estava certo, nada fazia sentido...
- Eu preciso de um tempo, me desculpe. – Não esperei resposta ou reações, apenas corri em direção as escadas.

Oh, the stupid truth is I'm so bad for you


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Se passara dois dias desde o sumiço de Bucky, ele não ligava, também não atendia as ligações, não haviam mensagens ou qualquer sinal de vida. Havíamos procurado por todo lugar, mas sequer uma pista tivemos. Meu coração estava dilacerado, meu marido estava ferido, magoado como uma fera enjaulada e eu não podia fazer nada porque ele não deixava. Steve me auxiliara na busca, entrou em contato com T’Challa e Shuri, o rei havia chegado ontem pela tarde na companhia da irmã, todos estavam hospedados na Torre Stark, como eu costumava chamar. A pedido de , eu também ocupava um quarto ali, todavia, sentia falta de casa. Do corpo quente de Bucky contra o meu, de seus beijos e carícias que sempre vinham acompanhadas de alguma piadinha maldosa.
- Acho que sei onde ele pode estar. – disse, não havia percebido que ela estava acordada, seu rosto estava mais corado do que no dia anterior, mas marcas em seu pescoço e rosto eram muito visíveis. – Steve tinha o costume de se esconder em uma velha academia quase na saída do Brooklyn, tem um apartamento antigo no fundos, encontrei enquanto me abrigava de uma tempestade e lembro de ter mencionado sobre o lugar para eles. – Sorri me aproximando da lateral da cama.
- , eu sei que deve ser difícil pra você, mas eu...
- Hey, sem neura. – Ela ergueu uma das mãos cheia de fios e fez careta. – Sabíamos que ele poderia ter um surto, não imaginei que eu fosse o alvo ou que seria numa situação como essa, mas definitivamente não tenha raiva dele. – sorriu, eu senti meus olhos marejarem. – Bucky é como um irmão para Steve, e um amigo que eu gosto muito, sei que jamais me machucaria intencionalmente. Vá até lá, se reconcilie com seu marido, diga a verdade sobre o que estávamos trabalhando e, - a vi se esticar com dificuldade e pegar um papel na gaveta lateral de um mesinha. – entregue isso a ele. – Era um bilhete.
- Quando escreveu isso? – Perguntei chocada, a garota toda quebrada na enfermaria e ainda assim não parava quieta, a vi sorrir e dar de ombros. Beijei sua bochecha e me afastei, ao abrir a porta encontrei Tony com um sorriso ameno, diferente da filha, o Homem de Ferro surtou num primeiro momento e queria a cabeça de Bucky numa bandeja, mas depois de muita conversa com Steve, Shuri e a própria , ele pareceu mudar de ideia. Me despedi dos dois e deixei o lugar em direção ao estacionamento, iria encontrar James Bucky e trazê-lo de volta para casa, para mim. Que era deu lugar.

Oh-no-no-no, I can't take it
Oh-no-no-no, I won't break your heart again


✦ ✧


Bucky

Já havia feito todas as reflexões possíveis, ouvi os recados que e Steve me mandaram, todos diziam praticamente a mesma coisa. “Isso não é o fim do mundo, volte pra casa” e “Nós podemos ajudar, pare de ser cabeça dura”; estava feliz pela pequena Stark, ela estava bem e não sofrera nenhuma lesão realmente grave, o que de certa forma aliviava minha consciência.
Usei esses dias para pesquisar sobre quem fui, ou o que fizeram de mim, os métodos e atrocidades que cometi, os desastres que causei e comparei a tudo o que realizara nesses últimos anos ao lado dos Vingadores e de , nada supriria toda dor que provoquei, mas com certeza a situação poderia ser revertida. No fim do segundo dia soube que precisava pedir desculpas a , a Steve e principalmente a , ela não merecia passar por nada disso, e se para ficar ao seu lado eu precisasse passar por outro congelamento, que assim fosse.
Ouvi ruídos vindos do lado de fora, de pronto coloquei-me de pé, o barulho parecia com passos, havia alguém na academia. Preparei-me para atacar. A maçaneta girou e a primeira coisa que me atingiu, impedindo que eu atacasse o invasor foi sua voz.
- Saia de trás da porta, sou eu Bucky. – entrou no pequeno quarto com um sorriso esperto, ela me conhecia muito bem. Não tive tempo de dizer nada, pois seus braços envolveram meu pescoço e sua boca pressionou a minha exigindo atenção. Todo amor e saudade que continha em seu abraço correspondia a proporção do meu. – Senti sua falta. – Confessou, engoli em seco. – Antes de qualquer coisa, preciso te contar a verdade. – Nos afastamos e ela sentou-se na beirada da cama de solteiro. – Nós estávamos numa missão de reconhecimento, por isso estava mexendo naqueles arquivos, eu fui convocada para ir a campo, pois a suspeita de que um Soldado modificado como você controlado pela HYDRA havia sido visto uma semana atrás, nós investigamos e eu precisava estar perto para analisar. – Meu sangue gelou. – Não dissemos nada porque o Capitão preferiu ter certeza antes de lhe contar e pedir sua ajuda, havia retornado para passar um relatório e ajudar nas pesquisas. – Minha respiração estava falha, aquilo não podia ser verdade.
- Mas...
- Descobrimos que esse tal soldado havia fugido, então iniciamos as buscas, a equipe está em alerta e nós vamos precisar de você. Por favor, nos perdoe por esconder isso, mas precisávamos ter certeza.
Em choque seria uma boa forma de descrever minha situação.
- Vocês precisam da minha ajuda? – Foi a primeira coisa que consegui falar. Ela assentiu. – Eu estava pronto para ir até vocês, ainda preciso me desculpar com algumas pessoas, inclusive você. – tombou a cabeça de lado, fitando-me curiosa. – , você não merece passar por nada disso, eu repensei tudo e depois de algumas pesquisas sobre meu passado, percebi que evoluí muito ao seu lado, quero poder fazer mais. – Um sorriso doce começava a surgir em sua face. – Se estiver dispostas a me perdoar e me ajudar, eu prometo não quebrar o seu coração e fazer o melhor que puder, não quero ser um monstro entre os homens.
Essa declaração a fez se erguer e me abraçar mais uma vez, tudo finalmente fazia sentido e por mais que a situação não fosse boa, nós daríamos um jeito. Teríamos a vida toda para reparar erros e ajudar pessoas, isso bastaria por ora.
- Eu te amo. – As palavras voaram de seus lábios ao mesmo tempo em que saíam dos meus. Sorrimos cúmplices.
- Ah, depois leia o que a te mandou. – Um pequeno pedaço de papel surgiu entre seus dedos, tentei pegá-lo, todavia ela foi mais rápida e o colocou no bolso. – Primeiro, eu vou matar as saudades, depois você lê.
Foi impossível não rir de seu comentário, essa era a minha mulher. Forte, espirituosa e que jamais desiste de algo, ainda que seja seu marido quebrado e confuso, sempre estaria ali para me resgatar.

I don't wanna be a monster among men


Continua...



Nota da autora: Olá leitoras lindas, no fim do jogo eu consegui terminar essa short. Minha primeira escrita com o Soldado Invernal, peço desculpas se desapontei ou errei em algo, espero que gostem e comentem bastante. Nos vemos em breve!
Xx Mary.



Outras Fanfics:
03. I miss you (Tony Stark)
04. Take You (Capitão América)


Bucky Barnes, sério. Maior redenção dos Vingadores ♥ Primeira fanfic que eu li com ele e já vou indicar, Mary, parabéns!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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