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Finalizada em: 06/12/2021

Capítulo 1

P.O.V. SIRIUS

- Eu não acredito que você vai fazer isso comigo, Pontas! – Exclamei, furioso. – Depois de dois anos com você e sua família, você está me pedindo para não passar o feriado de natal no lugar onde eu moro?! - Praticamente rugi aquelas palavras indignado.
- Almofadinhas, eu não queria que fosse assim. – Tiago começou, parecendo realmente preocupado. – Mas... – Os seus olhos brilharam. – Lílian aceitou passar o natal lá em casa. Dá pra acreditar? Depois de todos esses anos, ela finalmen...
- O ASSUNTO NÃO É ESSE! – Berrei, assustando alguns alunos que passavam por nós no caminho. – Que foi, hein?! – Falei alto para um terceiranista que parou para nos encarar, mas logo saiu correndo.
- Olha, eu só queria ter um pouco de privacidade com minha namorada. – Ele falou, parecendo não acreditar nas próprias palavras. – Achei que você mesmo pudesse ficar meio desconfortável...
- Só não quer que eu esteja no seu quarto a noite caso ela faça alguma fuga noturna para lá, né? – Bufei, cruzando os braços.
- Exatamente! Que bom que você me entende! – Tiago sorriu abertamente.
- NÃO ENTENDO PORCARIA NENHUMA! Como você pode trocar seu melhor amigo por uma... Por uma... Por uma garota?
- Não é uma garota, é a Lílian! E achei que você gostasse dela, Almofadinhas.
- E eu gosto! Mas não gosto de passar o Natal em Hogwarts sozinho enquanto você fica pegando sua namorada!
- Quando você coloca assim, quase me comove. – Pontas então suspirou, desfazendo o sorriso travesso. – Olha, eu sei que não é como você esperava, mas entenda o meu lado também! Eu estou há set anos atrás dessa garota e ela finalmente está comigo! Caramba, Sirius, quantas vezes você não me viu irritado só porque eu não conseguia a atenção dela?
- Enquanto isso, você sempre teve a minha. – Bufei.
- Ora, Almofadinhas, não me diga que está com ciúmes! – Tiago começou a rir.
- Estou com ciúmes da ceia de natal que ela vai receber. E do tempo que vai passar com o meu melhor amigo.
- Que vai continuar sendo seu melhor amigo quando voltarmos para Hogwarts.
- Quando não estiver ocupado com ela. – Repliquei.
- Ora, Sirius, ninguém prega uma peça como você. Não daria pra fazer isso com Lílian, né?
- Certo... – Comecei a me acalmar um pouco.
- E, além disso, você não disse que recebeu uma carta de Andrômeda te convidando para o Natal? Não parece que vai ter um grande evento ou algo assim?
- Pontas, como você ousa, depois de me expulsar da sua casa, insinuar que eu passe o natal com as pessoas que eu mais odeio no mundo? – Indaguei, voltando a ficar nervoso, e dando um soco em seu ombro.
- Era só uma sugestão! Você não disse que ela implorou para que você fosse?
- Só porque eu sou o único parente incrível daquela família.
- Mas pense nisso como uma oportunidade de importuná-los!
- Ou de cometer suicídio. – Repliquei.
- Vamos combinar assim. Se estiver um inferno na casa...
- O que com certeza vai estar. – Repliquei.
- Você me escreve e nós dois voltamos para Hogwarts mais cedo, combinado?
- Escrever a qualquer momento? – Perguntei, sondando os termos daquele acordo.
- Dois dias. Tente ficar dois dias lá e, se for um inferno, despache Pulguento. – Ele falou, se referindo a minha coruja.
- E você volta imediatamente?
- Imediatamente.
- E se a sua resposta não chegar em dois dias, eu posso aparatar no meio do seu quarto para tirar de Lílian qualquer insanidade que bateu nela quando decidiu namorar você?
- Combinadíssimo. Mas acho que isso faria ela odiar muito mais você do que eu.
- Acho que ela já não gosta muito de mim por causa do Ranhoso. – Repliquei, dando de ombros.
- Não é verdade. Ela gosta de você. E você sabe que ela parou de falar com o Seboso desde aquela vez quando ele a ofendeu e começou a ficar amiguinho dos comensais. – Os punhos de Tiago se fecharam com força.
- Melhor decisão da vida.
- Mas, então? O que você acha? – Pontas falou, de repente nervoso.
Eu sabia que ele se preocupava comigo. Cacete, não se é melhor amigo de alguém há sete anos sem se importar com o outro. Na verdade, era melhor dizermos irmãos, depois que Fleamont e Euphemia Potter me adotaram como um filho. Eu sabia que ele não me pediria isso se não estivesse realmente querendo ficar com a Lílian. Eu sabia que ele faria o mesmo por mim, embora essa situação nunca fosse acontecer já que, diferente de Tiago, eu não conseguia ficar com alguém por mais de uma semana. A sorte é que a escola tinha tantas garotas quanto semanas.
Eu respirei fundo. Sabia o que era certo.
- Ta bem. Mas – acrescentei rapidamente quando o vi comemorando. – você está me devendo essa. E estou falando sério sobre aparatar no seu quarto. Espero que aproveite o seu natal de três dias porque não vai passar disso.
- Obrigada, Almofadinhas! – Ele disse, me abraçando.
- Calma aí, não precisa ficar tão emocionado!
- E eu sei que estou te devendo essa. Posso começar te ajudando em como estragar o Natal Black. Acho que sua presença já é um bom começo. – Ele riu, passando a mão e arrepiando os cabelos, sempre exibido.
Naquele momento, uma garota de cabelos passou perto de nós e foi em direção à Torre da Grifinória, deixando para trás um leve perfume floral.
De repente, tive um estalo.
- Eu tenho a ideia perfeita. – Falei para Tiago, que me acompanhou em um sorriso travesso.

P.O.V.

No meu primeiro ano em Hogwarts, depois de ser colocada na Grifinória, eu me senti bem deslocada, pois a única outra menina da casa do meu ano, Lílian Evans, já tinha um melhor amigo na Sonserina e só andava com ele. A salvação da minha vida foi quando conheci , uma grifinória um ano mais velha. E minha melhor amiga. Também acabei amiga das outras meninas mais velhas. Não é que eu não falava com Lílian, afinal, ela meio que falava com todo mundo, mas não éramos tão amigas. E, quando ela se afastou do melhor amigo e se formou em Hogwarts, uma suposta chance na nossa amizade, ela começou a namorar Tiago Potter, um dos garotos problemas da escola. E, assim, eu acabei meio isolada – de novo.
Eu continuava falando com por cartas e eu conhecia algumas pessoas do meu ano, mas não sei se poderia considerar ninguém ali meu amigo.
E para melhorar a situação, meu único parente vivo, meu pai, era um trouxa que se casara novamente e tinha uma nova família, então tudo que ele não queria era uma filha anormal por perto. Minha mãe, também trouxa, falecera quando eu tinha dois anos e meu pai se casou pela segunda vez quando eu tinha cinco. Mas, depois que eu, ele e minha madrasta descobrimos a verdade quando um professor de Hogwarts nos visitou e me disse que eu era bruxa, eles nunca mais falaram comigo. Pareciam me achar uma ameaça para seus filhos lindos e completamente normais. Eu voltava para casa apenas nas férias e eles sempre conseguiam me largar com algum vizinho.
Por isso, eu sempre passava as férias de natal na casa de . Mas, agora que ela estava viajando para os Estados Unidos, pesquisando sobre as profissões bruxas no país, não podia passar o natal lá. Então, estaria completamente sozinha em Hogwarts aquele ano.
Ou pelo menos eu pensava.
- EI! ! – Ouvi alguém gritar quando eu estava quase chegando na sala comunal e, ao me virar, encontrei a pessoa que menos esperava: Sirius Black.
Observei enquanto ele se aproximava, parecendo muito tranquilo.
- O que foi, Black? – Perguntei, desconfiada.
Quando estávamos no quarto ano, ele me chamou para ir a Hogsmeade com ele, mas, uma semana e meia depois, já estava ficando com Emily Bloom, uma lufana com uma risadinha irritante. E, logo depois, Pamela Abbott, do quinto ano. E assim por diante. Porque esse era Sirius Black.
- Eu queria saber: você vai passar o Natal em Hogwarts, certo? Vi você se inscrever com a McGonagall.
- Então é óbvio que eu vou. – Retruquei, irritada. O que ele queria?
- Calma, lindinha. Só estou confirmando. – E ele sorriu quando revirei os olhos diante do apelido. Se eu fosse chutar, só naquela semana, ele teria chamado três garotas diferentes assim.
- É isso? – Questionei, impaciente, como se ele fosse um lembrete de que ia passar o natal sozinha.
- Não, espera! É que... – Ele abriu um sorriso galanteador. – Eu gostaria de saber se você quer passar o natal comigo e com minha família. – E piscou para mim, como se, jogando um pouco de charme, ele pudesse ter tudo na mão.
Na verdade, era o que sempre acontecia. Mas eu não cedi aos seus encantos. Não completamente.
- Por quê? – Questionei, agora menos irritada e mais confusa.
- Porque... Porque... – O sorriso vacilou por um momento, mas ele compensou com um duas vezes maior quando pensou em uma resposta. – Porque você é a garota mais legal da escola.
- Tão legal que quase não tem amigos?
- Ora, eu tenho três e me acho o cara mais legal do mundo.
- Isso está bem óbvio. Mas não colou. Quais os seus verdadeiros motivos, Black?
- Eu... Eu... – Ele vacilou de novo, então suspirou e falou. – Olha, eu normalmente passo o natal com Potter, mas ele vai estar... Han... Ocupado esse ano e, bom, digamos que minha família não reconhece o filho maravilhoso que eles têm.
- Então por que vai passar o natal com eles e não aqui?
- Porque uma prima minha pediu para eu ir, a única outra familiar decente, entende? Eu quero ajudá-la, porque ela ainda é obrigada a ir. Mas eu não queria passar por isso sozinho e, bom, o tempo que passamos juntos foi realmente divertido...
Ele parecia tão sincero que meu coração acelerou um pouco. Não, , mantenha o foco!
- Por que eu tenho a impressão de que você está me chamando por ser a única idiota que vai passar o natal em Hogwarts?
- Não seja boba. Tiffany Bones também vai e não é ela que eu estou chamando.
Aquilo mexeu comigo. Tiffany era uma sextanista da Corvinal e era considerada a garota mais bonita da escola e eu sabia que ela já tinha saído com Black mais de uma vez. Ela era louquinha por ele. Sabia que, mesmo que ela não fosse passar o natal em Hogwarts, se ele pedisse, era bem capaz de largar todos os seus planos para acompanhá-lo.
E, mesmo assim, ele estava me chamando. O garoto mais popular da escola estava me preferindo.
Tive que conter o sorriso bobo que surgiu, pois o meu ego estava bem inflado no momento.
- Eu vou pensar no seu caso.
Ele pareceu aliviado.
- Me dá a resposta até amanhã? – Ele pediu, novamente jogando charme.
Revirei os olhos.
- Se ela for positiva, você vai recebê-la.
E saí, antes que ele pudesse me ver agindo como uma completa idiota.


Capítulo 2

P.O.V. SIRIUS

O meu plano estava quase certo. Eu vi que estava corada quando a deixei e sabia que não custaria muito para ela aceitar. E o melhor é que eu mal me esforçara.
No dia seguinte, me despedi de Aluado, Pontas e Rabicho cedo, já que todos foram para suas casas. Sem dúvidas, Tiago era o mais feliz, que ficava olhando para Lílian a cada três segundos, como se não pudesse imaginar a sua sorte.
Antes de partir, nos abraçamos e desejamos feliz natal. Cumprimentei Lílian também e, pouco antes de saírem da sala comunal, Pontas se virou e gritou para mim:
- Boa sorte com tudo, Almofadinhas!
- Espero que tenha mudado o endereço do meu presente, Potter! – Gritei de volta, zombando dele.
A manhã se arrastou, enquanto eu arrumava meu malão, fazendo hora e esperando . Tive que reorganizar três vezes, acrescentando algumas bombinhas de bosta extras que poderiam ser bem úteis. Minha confiança começou a vacilar. Depois do almoço, percebi que não podia mais adiar. não vinha. E quanto mais tarde eu saísse de Hogwarts, maior seria a chance de eu abandonar Drômeda e ir para a casa dos Potter.
Desci, então, com minhas coisas e já estava saindo do terreno da escola, quando escutei.
- Ei! Não vai me esperar?
Virei para trás completamente surpreso ao encontrar ali. Ela vinha caminhando lentamente com um malão e um gato preto. Usava roupas de trouxa e estava com os cabelos soltos. Perfeita para o plano.
- Achei que tinha levado um bolo. – Falei, sorrindo, quando ela se aproximou, tentando disfarçar o meu alívio.
- E você quase levou. – Ela disse sorrindo e dando de ombros.
- Então, vamos andando. – Falei, antes que ela mudasse de ideia.
Seguimos até Hogsmeade sem nos falar muito. As ruas estavam cheias e decoradas por ser véspera de natal.
- Ah! – Ela exclamou, parando de repente. – Meu Deus, acabei de lembrar de algo muito importante. Me dá só um segundo?
E antes que eu respondesse, saiu correndo rua acima.
- Garotas. – Resmunguei. Ela poderia ter sido mais inconveniente ou vago do que aquilo? Acho que não.
Aproveitando que estava por ali, entrei na Dedos de Mel e dei uma olhada geral. Aquilo estava me dando fome.
Peguei um sapo de chocolate e, quando estava quase pagando, passei por uma caixa de bombons. Refleti um pouco e acabei pegando para comprar. Se ia arrastar aquela menina pro meu plano, pareceria menos ruim acompanhado de um presente.
Comprei as coisas e guardei o bombom no malão bem rápido antes de sair. Pulguento não parava de piar, então soltei ele para voar durante o caminho.
Mal saí da loja, quando voltou correndo, carregando alguns pacotes extras.
- Desculpa. – Ela falou, ainda ofegando. – Lembrei que não tinha comprado nada de natal para , me enrolei toda estudando para os N.I.E.M.s. Espera... Você está comendo? Não acabou de almoçar?
- E daí? – Comentei, mordendo mais um pedaço do sapo de chocolate.
Ela encarou e depois deu de ombros.
- Podia pelo menos dividir.
Andamos até o final do vilarejo, onde já tinha pouca gente e parei, fazendo-a parar atrás.
- Acho que aqui é um bom lugar. – Falei.
- Bom lugar pra quê? – Mas, sem respondê-la, apenas ergui o braço com a varinha.
Imediatamente, um ônibus roxo de três andares se materializou e freou bruscamente na nossa frente. deu um pulo, mas eu já estava acostumado.
Um garoto de uns 20 anos pulou do transporte e começou a falar, entediado, olhando pro teto, a fala decorada:
- Bem vindos ao ônibus Nôitibus Andante, o transporte de emergência para bruxos e bruxos perdidas. Basta esticar a mão da varinha, subir a bordo e podemos levá-lo aonde quiser. Meu nome é Barnafred Dumpsin e serei seu condutor essa noite.
- Abre logo espaço, Barney. – Eu disse.
Ele parou de encarar o teto e me olhou surpreso.
- Quem diria! Sirius Black! Como vai?
- Bem, bem. E você?
- Na mesma de sempre. Então, para onde dessa vez?
- Largo Grimmauld, Londres. – Não pude evitar o desgosto ao falar isso. – Quanto fica?
- 17 sicles cada, mas pagando 20, vocês ganham um chocolate quente.
Paguei a viagem de nós dois sem chocolate quente, pois tinha experiência própria para saber como aquilo derramava fácil. ficou olhando tudo, encantada.
- Nunca andou de Nôitibus? – Barney indagou.
- Nunca... – Ela respondeu, meio aérea.
- Podem ficar com a cama mais da frente, enjoa menos. Temos uma parada na frente e depois deixamos vocês em Londres. PODE MANDAR VER, ERNESTO!
O motorista começou a andar e ainda não havia sentado, fazendo ela tombar para frente. Segurei-a antes que desse de cara no chão.
- Muito bem, vamos aproveitar a viagem para eu te esclarecer certas coisas. – Comecei. – Pra começar, os meus familiares. Mãe: Walburga. Pai: Orion. Irmão: você tem o desprazer de conhecer o Régulo. Tia: Druella. Tio: Cygnus. Primas: Belatriz, Andrômeda e Narcisa. A única que vale a pena é Drômeda. Talvez tio Alphard também esteja lá. Ele até que gosta de mim, mesmo mamãe provavelmente tendo me deserdado. Rodolpho Lestrange e Lúcio Malfoy podem estar lá também.
Olhei para para ver se ela estava me acompanhando, mas seu olhar estava muito fixo no fundo da cabine. Lá, uma bruxa vomitava em um balde.
- Você por acaso não enjoa fácil não, né?
O seu rosto pálido e a falta de resposta entregaram tudo.
- Ok, continuando. Alguma coisa está acontecendo para todos se reunirem na casa. Eu chutaria algo relacionado às primas. Temos um elfo doméstico, Monstro, que ama muito mamãe. Ah, provavelmente devem te xingar de vários nomes porque você está comigo e tem a enorme chance de sermos expulsos da casa antes de sequer entrarmos lá. Nada mau, certo?
O ônibus parou e a velha que estava vomitando foi praticamente arrastada por Barney para fora do veículo. Então, Ernesto novamente deu a partida, agora em direção a Londres.
- Também é bom você saber que mamãe é meio louca com isso de puro sangue. A família no geral. Mas tem uns que não se importam, como Drômeda, mesmo ela tendo sido da Sonserina, um grande erro. Se tudo der certo, poderemos ficar de fora dos momentos “família". Podemos até passear pelo parque se você topar.
O Nôitibus então parou em frente ao Largo Grimmauld e eu respirei fundo. Faziam dois anos que eu não pisava ali e era assim que eu preferia permanecer. Espero que seja a última vez definitiva.
foi meio arrastada por Barney para fora do transporte e, em terra firme, não se mostrou muito diferente do que estava antes.
- Nos vemos por aí, Barney. – Me despedi.
- Tchau, Sirius. Tchau... Qual o seu nome mesmo?
Mas não respondeu e logo o Nôitibus Andante seguiu seu rumo.
- Bem-vinda à mui antiga residência dos Black. – Apresentei, completamente sarcástico e rancoroso. – Vamos entrar?
Toquei a campainha e a porta se abriu, revelando Monstro.
- Traidor de sangue! O traidor de sangue está na casa de minha senhora! O traidor de sangue não pode pisar aqui! Monstro não vai deixar!
- Sempre ótimo ver você também, Monstro. – Falei, chutando a criatura no caminho. veio atrás, parecendo completamente aérea.
- Monstro, o que está havendo? – Ele ouviu a voz da mãe vindo da sala de jantar. O elfo doméstico passou correndo em direção a sala onde várias pessoas pareciam conversar.
- Minha senhora, o traidor de sangue está aqui. O traidor de sangue. Monstro tentou impedi-lo, mas Sirius Black entrou na casa!
À menção de meu nome, adentrei a sala de jantar, sorrindo falsamente para todos. Realmente, a família toda estava ali reunida. E todos os olhos estavam voltados para mim.
- Olá, irmãozinho. – Me dirigi a Régulo, carregando cada palavra de falso prazer. – Acabei decidindo te acompanhar no Natal. Não é incrível?
Aquilo foi a gota d'água para mamãe.
- COMO OUSA? SEU TRAIDOR DO PRÓPRIO SANGUE, TRAIDOR DA PRÓPRIA FAMÍLIA, COMO OUSA PISAR NESSA CASA SEM CONVITE?
- Ah, por maior surpresa que pareça, eu não vim por estar morrendo de saudades. Na verdade, eu fui convidado.
Um gritinho de Drômeda a entregou.
- Filha, o que você fez? – Tia Druella ralhou, beliscando seu braço.
- Eu... Eu só achei... Que todos deveriam estar presentes. É natal e... Ai... Temos boas notícias. – Ela choramingou. – Não seria bom ele ter um bom exemplo de como ele deveria estar se portando? – Ela tentou inventar uma desculpa, sem sucesso.
- Basta, tudo será resolvido. Ele irá se retirar agora. – Walburga falou.
- Ora, Burguie. – Tio Alphard, irmão de mamãe, que sempre gostou de mim, comentou. – Não é pra tanto. O garoto já veio aqui. E ainda trouxe visitas. Não vamos estragar as coisas para Ciça justo no natal.
- Não são visitas. – Régulo ralhou. – Ele trouxe uma sujeitinha sangue ruim!
E aí as coisas realmente desandaram.
- UMA SANGUE RUIM PISANDO NA CASA BLACK?! – Mamãe trovejou e meu pai teve que segurá-la para não avançar para cima de , que continuava imóvel. Agora, a maioria a encarava com nojo.
- Ora, creio que não fiz as apresentações. Família, essa é , uma amiga de Hogwarts que eu trouxe para o natal. – E lhe dei um tapinha nas costas, tentando apoiá-la a avançar.
Mas, naquele momento, ela vomitou tudo o que estava guardando desde o Nôitibus Andante.
Todos gritaram. Tia Druella desmaiou. Monstro saiu correndo para limpar o chão. Mamãe berrava insultos e palavrões. Eu apenas sorri.
Tudo estava correndo muito, mas muito melhor do que eu planejara.

P.O.V.

- Pronto, pronto, melhor? – Sirius perguntou.
Logo depois da minha cena, Sirius nos tirou do meio da confusão e me trouxe ao banheiro da casa para eu poder me limpar e me recuperar.
Eu estava completamente envergonhada. Tudo bem que todos ali tinham me tratado muito mal, mas certamente essa não era a impressão que eu queria causar. Especialmente na frente de Sirius. Mas ele não pareceu nem um pouco irritado ou decepcionado. Pelo contrário, ele parecia elétrico.
- Me desculpa. – Eu disse. – De novo...
- Ah, não se preocupe, eles mereceram. – Ele falou, afastando algo invisível com as mãos. – O enjoo passou? Quero te apresentar a casa e vamos passar pelo meu quarto eeu não quero vômitos, embora seja provável que tenham feito coisas muito piores. – Ele disse, pensativo.
- Eu já estou bem. – Fisicamente, era verdade. Mas eu realmente queria nunca mais encarar aquelas pessoas lá embaixo.
- Então, vamos!
Não tinha ideia de em que andar estávamos. Abstraí tudo depois da situação constrangedora.
- Bom, nesse andar, temos um banheiro e três quartos. O de Régulo. – Ele apontou para uma porta fechada com um aviso muito metido a besta escrito “Não entre sem a expressa permissão de Régulo Arturo Black" e nós dois reviramos os olhos. – Um quarto de visitas. – Ele apontou para outra porta fechada sem avisos. – Não entre caso não queira ter que levar insultos do quadro do meu tataravô. E – Ele apontou dramaticamente para a última porta com uma plaquinha escrita “Sirius". – esse é o meu quarto.
Ele abriu a porta devagar, como se esperasse algo terrível, mas logo depois suspirou aliviado e abriu um sorriso orgulhoso, me deixando entrar.
Eu não sei o que eu devia esperar. Certamente não era isso, mas depois de ver o quarto, não pude imaginar nada diferente. Era completamente decorado com as cores da Grifinória. Todas as paredes tinham fotos de motos trouxas e garotas de biquíni trouxas. Eu não sabia o que comentar.
- Então o Feitiço Adesivo Permanente funciona mesmo. – Ele sorriu, orgulhoso. – E aí? – Falou, se virando para mim. – O que achou?
- Eu realmente tenho que opinar? – Disse, sem saber exatamente como descrever aquilo.
- Ah, qual é, , falar o que pensa não vai te matar. – Ele pensou por um segundo. – Talvez se você se dirigir a minha mãe. Mas aqui é só pra mim.
- Bom, - Eu tentei começar. – é bem... Você.
- Muito obrigada. – Ele sorriu e piscou, como se eu estivesse elogiando-o.
- Eu não disse que isso era necessariamente bom.
Antes que ele pudesse falar algo, a porta se abriu e revelou uma mulher, trazendo nossos malões, meu gato Eclipse e a gaiola da coruja de Sirius. Parecia ter uns 20 e poucos anos, tinha cabelos castanhos claros e enrolados, pele pálida e olhos escuros. Tinha o orgulho dos Black em sua postura, mas seus olhos eram gentis. Reconheci-a lá de baixo. Era a prima favorita de Sirius, Andrômeda.
- Olá, tudo bem? Como está se sentindo? – Ela foi gentil, mas parecia receosa de falar comigo, como se eu pudesse vomitar nela.
- Estou ótima, muito obrigada. – Eu sorri e ela relaxou um pouco.
- Então, Drômeda, seremos expulsos que horas? – Sirius perguntou com muita casualidade.
- Por incrível que pareça, tia Walburga deixou vocês ficarem. Ah, claro, a menina não pode ficar se misturando com a gente e você só será bem-vindo no jantar de natal.
- Passo. – Ele disse, se jogando na cama empoeirada. – Monstro realmente não toca nesse quarto desde que eu saí, não é?
Com um gesto da varinha, ele retirou boa parte da poeira. Sirius podia ser um metido, orgulhoso, irritante e bobo, mas não podia negar que ele era muito inteligente e talentoso. Junto com Tiago, eram os melhores alunos da escola.
- Mamãe encarou muito melhor do que eu achei. – Ele comentou, como se estivesse discutindo o tempo. – Quanto tempo ela ficou gritando?
- Cinco minutos. – Andrômeda falou, no mesmo tom leviano. – Depois que minha mãe voltou a si do desmaio, tia Walburga parou de gritar para dar ordens a Monstro e, antes que voltasse a gritar, ela comentou subitamente que Narcisa não merecia uma grande cena em uma noite tão especial. Sabe, ela vai anunciar o noivado, todos já sabem, mas fingem muito mal que não. Enfim, aí ela decidiu que desde que vocês não se metessem no caminho, tudo estaria bem.
- Estou achando isso muito diferente do que achei que iria acontecer. – Sirius replicou, pensativo.
- Bom. – Sua prima continuou, agora quase sussurrando. – Eu tenho a teoria de que seu tio Alphard lançou a Maldição Imperius nela.
Meu queixo caiu.
- Ah, claro! – Ele comentou, como se seu tio não estivesse cometendo um ato que poderia levá-lo a Azkaban. – Ela nunca iria ceder. Ele deve ter feito a Maldição de modo imperceptível e colocando na cabeça dela de que isso era o melhor para a família Black. Só ele para me manter aqui dentro mesmo.
- Inclusive, nem te agradeci! – Drômeda disse, ainda de seu jeito elegante e superior, mas parecendo genuinamente feliz. – Obrigada por vir. A cada ano esses jantares estão sendo cada vez mais sufocantes. Só você poderia me salvar. O almoço estava com uma sentença de morte até vocês aparecerem
- Você está me devendo essa, prima. – Ele retrucou. – Bom, vou na cozinha perturbar Monstro e ver o que temos de sobra. Por sorte, consigo um pedaço de bolo junto com ele esperneando.
E saiu, se esquecendo de que tinha alguém completamente perdida naquela casa. Me senti extremamente desconfortável naquele quarto que não era meu, a casa que conhecia e onde eu não era nem um pouco bem-vinda.
- Então, você aceitou vir com Sirius para essa loucura. – Drômeda começou, educada.
- Sim, ainda não sei como ele me convenceu. Acho que quis tentar algo novo que não fosse passar o natal em Hogwarts solitária. – Soltei a verdade antes que pudesse me conter. Desde quando eu era uma tagarela sentimental?
- Faz sentido. , certo? Então, vocês estão juntos há quanto tempo?
Demorei alguns segundos para processar o que ela queria dizer e não pude conter o riso.
- Sirius e eu? Juntos? Ah, não. – Respondi, ainda rindo. – Quer dizer, saímos uma vez há três anos, mas nunca deu em nada. Na verdade, eu nem sei porque ele me convidou.
Porque ele preferia você, uma voz disse na minha cabeça, você quer que ele te queira e te prefira. Você nunca superou os encantos de Sirius Black.
Cala a boca,
respondi à voz insistente.
Andrômeda me encarava muito surpresa.
- Nossa, para ele te trazer aqui... Achei que... – Algo passou por sua mente e ela fechou a cara, mas eu não soube o porquê. – Bom, você deve querer arrumar suas coisas. Vou ver se consigo trazer um colchão extra para o quarto para você ficar mais à vontade. Bom, sinta-se em casa. – Ela já estava saindo quando retornou. – Mas não tão em casa. Eu não sei se a Maldição Imperius é tão forte a ponto de te salvar de alguns feitiços se te encontrarem perambulando pela casa.
E logo depois saiu, me deixando sozinha naquele quarto. Fiquei levemente desnorteada, andando até a janela e vendo a vista da rua e dos prédios trouxas. Não parecia ser um local muito comum para moradias bruxas. Depois, sentei um pouco na cama, ainda um pouco fraca depois de tudo que acontecera. Eclipse miava e eu o peguei no colo, fazendo carinho nele.
Naquele momento, Sirius voltou para o quarto.
- Bolo de nozes, o meu preferido, até que não está sendo um pesadelo completo isso aqui.
Ele parou e me olhou sentada na cama com Eclipse.
- E quem deixou você colocar um gato na minha cama?! – Ele ralhou, quase me jogando para fora.
- Eu. Eu deixei. Eu vou dormir aqui também. E depois de tudo que eu estou ouvindo, acho que eu mereço, certo?
- Você vomitou no tapete preferido do meu pai.
- Eles já estavam me maltratando antes. – Mudei de assunto rapidamente.
- Bom, não importa. – Ele disse se sentando do outro lado. – Já que quanto menos tempo passarmos aqui, melhor, pensei em darmos uma saída.
- Para onde? – Questionei.
Ele sorriu largamente.
- Vamos para o parque.


Capítulo 3

P.O.V. SIRIUS

- ...E aí quando o Filch finalmente percebeu, já estávamos fora da sala e ele estava lá preso com todos os diabretes. – Terminei a história.
Ela tentou inutilmente segurar a risada e eu sorri, vitorioso. Custou três histórias de pegadinhas para fazê-la deixar a moral de lado e apreciar os feitos dos marotos.
- Isso foi cruel. – Ela repreendeu, ainda rindo.
- É, mas o Filch é um pé no saco, ele mereceu.
- Certamente. – E ela riu mais.
Estávamos andando por um parque que ficava há uns 10 minutos da casa. Quando ainda morava ali, sempre que possível, eu vinha para o parque para ficar longe de todos os meus parentes insuportáveis. As árvores estavam agora cobertas de neve e o lago congelava.
ficava soltando fumaça pela boca, rindo estupidamente disso depois. Era extremamente irritante e adorável ao mesmo tempo. Não eram nem cinco horas e já estava escurecendo. Eclipse, seu gato, ficava passando entre as nossas pernas.
- Então, Black... – Ela começou a puxar um assunto.
- Sirius. – A interrompi. – Pode me chamar de Sirius.
Ela me encarou por um tempo, mas depois sorriu.
- Tudo bem. Então, pode me chamar de . Ou .
- Ok, . - Eu disse, percebendo que gostava de tratá-la com maior intimidade. Seria estranho tratá-la apenas como por todo o feriado.
- Então... Sirius. – Ela enfatizou o meu nome sorrindo. – O que o fez sair de casa?
Eu a encarei e levantei uma sobrancelha. Ela vira tudo aquilo e ainda não sabia?
- Ok, talvez seja um pouco óbvio. – Ela continuou, envergonhada. – Mas eu queria ouvir sua versão.
- Não há muito o que ouvir. – Comentei. – Meus parentes são insuportáveis e obcecados pela pureza de sangue, o que eu acho ridículo já que muitos bruxos brilhantes não tem necessariamente sangue bruxo.
- Como Lílian Evans. – Ela acrescentou, pensativa.
- Como você. – Antes que eu pudesse me segurar, soltei aquelas palavras. Ela se virou para mim impressionada e corou. – Mas, enfim, - Continuei rapidamente. - eles não apoiavam muito as minhas amizades e, caso não tenha reparado, são todos sonserinos. Imagina a vergonha de ter um grifinório na família.
- Acho que são motivos válidos. – Ela riu.
- E você? Por que não passa o natal com sua família?
Pela reação dela, achei que tinha feito a pergunta errada. Ela pareceu refletir se devia responder ou não. Chutou algumas folhas no chão enquanto caminhava e eu entendi que ela não responderia. O silêncio estava meio constrangedor.
- Meu pai e minha madrasta preferem não misturar os filhos normais com a filha aberração. – Ela comentou do nada.
Eu olhei para ela, entendendo o que ela sentia. Sorri e tentei animá-la.
- Então somos os dois esquisitos da família que os outros parentes tentam fingir não existem!
- Isso era para me fazer sentir melhor? – Ela indagou, com uma sobrancelha levantada.
- Pelo menos seu pai não deve precisar de uma maldição imperdoável só para te deixar dormir sob o mesmo teto.
- Se for por mais de uma noite, é bem capaz de ele precisar. – Ela sorriu meio amarelo.
Dei de ombros.
- Eles que estão perdendo a parente mais legal. – Percebi que era uma batalha meio perdida. – Então... O que você pretende fazer depois que acabar esse ano?
Seus olhos ganharam um pouco mais de brilho.
- Bom, eu já sou maior de idade no mundo bruxo, mas meu pai não entende e acha que pareceria descaso me largar por aí com 17 anos. Como se ele já não fizesse isso. – Ela suspirou e continuou. – Enfim, combinamos que, assim que eu fizesse 18 anos, ele iria me deixar a poupança que eu tenho no meu nome. Então, vou reverter esse dinheiro trouxa para o nosso dinheiro e, bom, seria interessante conseguir uma casa. – Ela riu. – E depois, quem sabe, entrar no Ministério no Departamento de Cooperação Internacional de Magia. Praticamente uma diplomata bruxa! Seria legal, não? E eu já sei falar francês e alemão também, mas ainda tenho um longo caminho de línguas para aprender. Quero muito aprender sereiano um dia! – No final, tive que me esforçar para acompanhar porque ela estava muito empolgada e falando rápido.
- Parece um ótimo plano. – Eu sorri pra ela e ela pareceu voltar a si.
- Ah... E você? – Ela parecia levemente constrangida por ter falado tanto de si.
- Pra ser bem sincero? Eu não tenho a menor ideia.
Ela franziu a sobrancelha, confusa.
- Como assim?
- Não sei o que vou fazer. – Dei de ombros, simplesmente.
- Você não quer trabalhar no Ministério? Ser um auror? Você é tão talentoso, achei que você... – Ela corou ao perceber o quanto estava falando. - Ia fazer alguma dessas carreiras que exigem isso. – Ela completou, baixinho.
- Bom, agradeço o elogio, realmente, eu sou demais, as pessoas esperam grandes feitos meus. – Falei e ela deixou de ficar constrangida, revirando os olhos. – Mas esse tipo de trabalho envolve muitas regras e disciplina e, bem: eu não gosto desse tipo de coisa. Ser um auror seria legal se eles não colocassem tantas provas no caminho e só pulassem pra parte de combater a arte das trevas! Por que eles têm que colocar uma parte chata em tudo?
- Porque, Sirius, não são todos que balançam a varinha e facilmente têm tudo na mão como você. É preciso realizar testes e ver talento e... – Ela me olhou demoradamente, sarcástica. - Disciplina.
- E aí eles me perderam. Mas eu ainda sou novo. Tenho tempo para decidir o que farei. Na pior das hipóteses, eu consigo alguns N.I.E.M.s esse ano que me garantem algo para mais tarde.
- Você é tão convencido!
- Ora, eu só não minto para mim mesmo. – Sorri para ela, piscando.
Ela bufou e continuamos andando pelo lago em um silêncio confortável.
- Desculpa te arrastar pra essa loucura. – Eu soltei, de repente.
Ela parou e olhou pra mim, sorrindo em seguida.
- Tudo bem. Eu ia estar sozinha agora. Os insultos me dão vontade de voltar, mas até que o parque valeu a pena. – E ela sorriu para mim.
- Queria poder dizer pra gente ficar mais, mas já está escuro, é melhor voltar. – Tive que resistir à vontade de voltar quando todos já estivessem dormindo. Afinal, a ideia era ser um pé no saco deles, certo?
- Tá bom. – Ela suspirou e respondeu. Se ela continuasse parecendo infeliz, ia arruinar o plano, porque eu não sei se conseguiria forçá-la a ficar mais.
Cerca de 15 minutos depois, estávamos de volta a porta com a maçaneta de serpente. Tentei usar o feitiço que sempre usávamos para destrancar a porta e fiquei surpreso ao ver que meu pai não o alterara desde que eu saí de casa.
Quando íamos subir as escadas, encontramos Belatriz descendo para o térreo.
- Vejam, se não é a ralé. – Ela disse. Era muito parecida com Drômeda, mas muito, muito mais cruel e repugnante.
- Achei que você não iria se dirigir à escória. Embora, eu preferisse não ser tão digno de ouvir sua voz. Sabe, ela pode ser bem irritante. – Eu disse e Bela sorriu maldosamente.
- Pobre garoto Sirius, se achando tão espertinho. Mas seus dias estão contados. – Seus olhos brilharam de um jeito maligno. – O mundo logo será livre de sujeitos traidores de sangue e sangues ruins. Os dias de glória estão chegando.
Belatriz sacou a varinha e, com um gesto, nos fez voar até a porta de entrada novamente, caindo bruscamente no chão, enquanto ela passava elegantemente até a sala de jantar, dando uma risadinha muito irritante.
- Você está bem, ? – Falei com ela.
- Estou... Ai. – Ela falou, tentando se levantar. – Acho que só devo ficar com um roxo nas costas. Vem, Eclipse, vamos subir.
Levantei e a ajudei a se levantar e depois seguimos para o meu quarto. Alguém havia deixado um pacote ali que, quando toquei, se transformou em um colchão de solteiro, provavelmente deixado por Drômeda.
Ouvi algumas batidinhas na janela e vi Pulguento ali fora.
- Estava me perguntando quando você ia chegar. – Disse, passando a mão em suas penas malhadas. – Estava caçando?
Ele piou alegremente e eu tomei aquilo como um sim. Deixei a janela e a gaiola abertas, para ele ficar à vontade. O gato de se acomodou em uma almofada que ela trouxe.
- Acho que vou escrever uma carta para . – Ela disse. – E mandar o seu presente também.
Peguei mais um dos sapos de chocolate que comprei para comer e fiquei jogado na cama, observando-a escrever e pensando no que mais eu poderia fazer durante aquele feriado. Alguns minutos depois, ouvi algumas batinhas na porta. Saquei a varinha, desconfiado e observou receosa, mas era apenas Drômeda.
- Sirius, eu queria ver se você vai descer para o jantar. Seu tio Alphard disse que sente sua falta.
- Não sei se me interessa.
- Você devia ir. – falou, ainda escrevendo. – Sabe, pelo seu tio e Andrômeda.
- Só se você quiser, claro. – Drômeda acrescentou, mas percebi que ela ansiava por isso.
Então, a minha próxima ideia surgiu.
- Então eu vou. – Falei, vendo Andrômeda sorrir. – Eu e .
A garota virou a cabeça bruscamente.
- Mas... Mas sua mãe não convidou ela. – Minha prima disse, um pouco apreensiva e nada discreta.
- Não convidou. Um ultraje, não? – Eu disse, fingindo irritação. – A minha própria convidada foi retirada do jantar. Mas eu quero que ela vá.
- Sirius, acho que pode dar problema... – começou a falar.
- Não importa. – “Porque é exatamente o que eu quero" completei mentalmente, me segurando para não dizer isso. – Você é minha convidada e eu quero você comigo.
Eu percebi que ela voltou a escrever para esconder o rosto corado. Andrômeda suspirou.
- Está bem. Então vocês precisam se arrumar. , você tem algum traje de festa?
Ela desviou os olhos da carta confusa.
- Não serve o que eu estou vestindo? – Ela apontou para o moletom e a calça jeans. Drômeda balançou a cabeça.
- Ai, ai... Venha comigo. E você – Ela apontou para mim. – se arrume logo. Quero falar com você mais tarde.
- Tá bom, senhora. – Eu disse, levantando os braços em gesto de rendição.
Depois que elas saíram, fui tomar um banho e colocar as roupas que mamãe mais odiava. Pouco depois, Drômeda entrou no quarto.
- Aproveitei que todos já estão lá embaixo e deixei tomar banho no banheiro de cima. – Ela falou, logo depois se sentando na cama. – Eu sei o que você está fazendo. – Ela me olhou séria.
- Descobriu das minhas bombas de bosta na cozinha? – Brinquei, tentando fugir do assunto.
- Eu sei o porquê você convidou . Eu sei que você é egoísta e orgulhoso, está no nosso sangue, mas isso foi muito baixo.
- Não sei o que está falando. – Desviei de seus olhos para os botões da minha blusa, fingindo ajeitá-la. – Eu convidei pela companhia.
- Não faça isso, Sirius. – Ela disse, suspirando. – Fale com ela. Deixe-a aqui essa noite. Poupe de tudo isso. E voltem para Hogwarts assim que possível.
- Que horror, priminha, você quer que ela tenha um feriado solitário?
- Se quer tanto ficar com ela, pode ficar com ela em Hogwarts.
- Mas eu saí de Hogwarts justamente por você. Vai me expulsar agora? – Fiz cara de triste e eu soube que ela não estava comprando nada.
- Eu vou embora amanhã. Se você se importa com essa menina como diz, deixe-a fora dessa bagunça.
Ficamos nos encarando, até que ela se retirou.
É claro que não queria magoar , pelo menos não muito, mas Andrômeda não podia entender que eu precisava fazer isso? Simplesmente... Precisava.
Fiquei resmungando comigo mesmo até Andrômeda aparecer na porta novamente, fingindo completamente que nada havia acontecido.
- Bom, não se esqueça de devolver depois. Ficou lindo em você! Mas... É meio especial. – E ela corou. Drômeda corando?
E, então, entrou. Ela usava um vestido trouxa preto de mangas compridas e justo que ia até os joelhos e combinava com seus cabelos . Ela estava deslumbrante. E completamente inapropriada para um jantar de apenas vestes bruxas. Eu sorri.
- Está perfeita! Vamos?
corou e sorriu, descendo as escadas.

P.O.V.

Drômeda me emprestou um vestido da moda trouxa que ela disse que a família nunca a vira usar e nem sabia que tinha.
- Foi um presente. – Ela falou, de maneira carinhosa. – Mas eu nunca usei, então eles não saberão que é meu. Eles iriam surtar se achassem que você está com algo meu. Iriam achar que eu.... Han... Estava sendo contaminada.
As crenças da família Black poderiam ser até cômicas se não fossem assustadoras.
Descemos para o segundo andar e Andrômeda bateu no quarto de Sirius, falando comigo logo depois, pedindo para devolver-lhe o vestido depois de usá-lo.
Então, entrei no quarto e vi Sirius com vestes vinho que não pareciam muito formais. Usava, por cima, uma jaqueta de couro que deixava tudo muito engraçado, mas não podia negar que ele estava lindo.
- Está perfeita! Vamos? – Ele disse, me fazendo corar. Ele estava começando a ganhar minha confiança, mas eu tinha medo que ele ganhasse além.
- Eu vou esperar um pouco. – Andrômeda disse. – Sabe... Acho que não seria muito bom... Entrar com vocês... – Ela ficou um pouco envergonhada, mas não desviou o olhar.
- Relaxa, Drômeda. A gente entende. Somos a ralé. - Sirius disse, sem parecer chateado com a prima.
Descemos dois lances de escada até chegarmos à sala de jantar. Um déjà vu do almoço daquele mesmo dia me passou a mente.
Quando entramos na sala barulhenta, todos os olhares se voltaram para a gente, com puro desgosto.
- O QUE A ESCÓRIA ESTÁ FAZENDO NA MINHA SALA DE JANTAR?! O COMBINADO NÃO FOI ESSE. TIREM ESSE ANIMAL DA MINHA FRENTE! – A Sra. Black exclamou e Sirius sorriu com puro desgosto, a mão instintivamente indo em direção à varinha. Eu analisava todos aqueles que anteriormente eu estava muito nauseada para reparar.
A prima de Sirius, Belatriz, que encontramos já escada, lembrava muito a irmã, mas era muito mais cruel. Estava sentada do lado de um homem com idade próxima a sua e supus que era seu marido, Lestrange. Narcisa e Lucio Malfoy não foram difíceis de reconhecer. Ainda lembrava deles em Hogwarts, mesmo que tenham saído poucos anos depois de nós entrarmos. Os tios de Sirius estavam opostos a eles, seu pai estava próximo da ponta e sua mãe sentava na cabeceira, como uma matrona poderosa.
Para todos ali, eu era um animal irracional e impuro.
Voltei a mim quando percebi Sirius mandando eu me sentar.
- O que houve? – Sussurrei para ele. – Fiquei um pouco aérea.
- Acho que tio Alphard está agindo novamente. – E ele indicou o único parente que sorria para nós.
- Monstro, o jantar! – A Sra. Black falou.
O elfo doméstico pequeno e esquisito entrou, trazendo um caldeirão e várias conchas enfeitiçadas, que iam elegantemente servindo o caldo que tinha um cheiro delicioso. Meu estômago roncou e eu esperei ansiosamente a minha vez. No entanto, justamente quando aquele caldo maravilhoso passou por mim, a concha me ignorou completamente. Na vez de Sirius, derramou uma porção mínima comparada aos outros.
Sirius emitiu um som que parecia um rosnado. A sua impulsividade era famosa em Hogwarts. Tentei segurar sua mão antes que ele pegasse a varinha, mas foi tarde demais.
- Accio Sopa! – Ele exclamou e o caldeirão voou de Monstro para o ar, erguendo-se e nos servindo, porém, derramando muitas gotas quentes em todos, até mesmo em nós.
- CHEGA! – A Sra. Black exclamou. – Você dorme sob o meu teto, come da minha comida e AINDA POR CIMA ESTRAGA O NATAL! VOCÊ E A ESCÓRIA NÃO DEVERIAM ESTAR AQUI! NÃO VOU TOLERAR MAIS ISSO. CRUCIO!
Ela apontou a varinha para Sirius, que caiu da cadeira e se contorceu, mas logo depois a abaixou, fazendo as convulsões pararem. Eu vi uma mudança sutil nos olhos da velha mulher.
- Você já fez o suficiente por uma noite. – Ela rosnou, observando-o voltar ao seu lugar com uma carranca. – Coma e me faça esquecer que você está aqui. Se não fosse por Narcisa...
- Walburga, você não pode deixar isso acontecer em nosso teto...
- Chega! – A mulher bradou, autoritária.
Todos continuaram a comer e eu recebi vários olhares feios, embora ninguém tenha me atacado provavelmente por serem visitas ou obedecerem a Sra. Black. Em algum momento, Drômeda se juntou ao jantar. Quando a sobremesa foi servida (menos para nós, mas dessa vez eu consegui conter Sirius), Walburga virou-se para a sobrinha, sorrindo.
– Então, Ciça, você estava nos dando boas notícias.
A mulher loira sorriu, como uma boneca com traços cruéis e belos.
- Acho que Lucio seria o melhor para contar a todos. – Ela sorriu timidamente para o namorado.
O homem se levantou, sorrindo da mesma maneira venenosa, que eu interpretei como o máximo de felicidade que eles podiam expressar.
- É uma honra poder formalizar na frente de todos que Narcisa e eu iremos nos casar.
Várias exclamações felizes se estenderam pela cozinha. Rodolpho dava tapinhas nas costas de Lucio e Belatriz abraçava a irmã. Walburga, que sorria largamente pela primeira vez, pegou sua taça e bateu de leve com uma colherzinha, enquanto abraçava de lado o marido.
- Gostaríamos de propor um brinde. A Narcisa e Lúcio. A um casamento próspero com muitos herdeiros com o que há de melhor no mundo: a pureza de sangue!
Todos brindaram e beberam, enquanto eu observava em choque e Sirius parecia quase rosnar baixo. Ninguém parecia lembrar de nós dois agora.
- Ao Lorde das Trevas! – Lucio Malfoy completou. – Que ele nos leve à grandeza a destrua tudo de impuro no caminho!
Todos esbravejaram contentes com aqueles dizerem e eu permaneci ali, fora do mundo. Não podia ser sério. Simplesmente não podia.
A família toda se levantou, começou a se abraçar e servir cada vez mais hidromel. E eu não conseguia me mexer. Senti alguém me cutucar delicadamente.
- Vamos. – Disse Sirius. – Acho que por hoje já foi suficiente.
Ele foi muito gentil ao me levar lá para cima, pois eu ainda não podia digerir aquilo. Meu estômago estava embrulhado. Não conseguia engolir direito minha própria saliva.
- Vamos, sente aqui. – Ele me sentou na cama.
- Eles brindaram... Eles brindaram Você-Sabe-Quem. Como se fosse um herói. Em um assunto de casamento.
– Eu sei que é meio chocante, embora não seja surpresa. Pense em Malfoy e Régulo na escola.
Aquilo me despertou um pouco.
- O comportamento deles na escola é idiota. Sempre fingiram essas conexões pra assustar os alunos e azaravam algum mestiço ou nascido trouxa que encontravam no caminho. Por mais que falassem essas coisas, eram adolescentes. Idiotas, irresponsáveis... Quer dizer, Belatriz também nos ameaçou na escada, mas sabe, na hora eu não entendi... – Eu tive que respirar fundo antes de continuar, meu coração muito acelerado ainda. – Aquilo... Eles estavam louvando o extermínio... O extermínio da minha família, o meu extermínio. E não foram adolescentes. Foi uma família inteira. Pais, mães, adultos. Isso... Isso...
Eu não consegui terminar, tomada pelo pânico. Tentei mais uma vez continuar.
- Eu não estou em uma casa com gente que me odeia e só não me querem aqui. Eu estou em uma casa de gente que acha que o mundo seria melhor sem mim. E faria de tudo para livrá-lo disso. Não estou cercada de gente que não me tolera. Estou cercada de gente que iria me... – Engoli em seco. – Me matar.
Um silêncio desesperador se instalou, em que eu imaginava cenas horríveis na minha cabeça. Então, inesperadamente, ele me abraçou e, sem eu perceber, me deixei chorar um pouco. Eu me senti levemente melhor, amparada e protegida, mas ainda assustada.
- Me desculpa. – Ele disse pra mim, enquanto afagava minhas costas. O bolo na minha garganta foi aos poucos se desfazendo com as lágrimas caindo.
- Não. – Eu disse, tocada por sua preocupação. – Não foi sua culpa. Você não me trouxe no intuito de me causar alguma confusão. A culpa... Me desculpa falar isso, mas a culpa é da sua família.
- Eu sei. – Ele disse, mas parecia se sentir cada vez pior. – Mas saiba que ninguém vai te ferir. Tia Druella e todos os outros irão embora amanhã. Só tio Alphard ficará até o dia 27. E, enquanto ele estiver aqui, estamos seguros. Podemos partir junto com ele. Voltar para Hogwarts se você preferir.
A lembrança do tio me trouxe um novo medo e respirar se tornou difícil de novo.
- Sirius... E se a maldição do seu tio não for forte o suficiente? E se... E se sua mãe se recuperar e mandar Monstro me matar? Ou até ela mesma?
- Acho que ela não te consideraria digna de ser morta por ela.
- Isso era pra me fazer melhor? – A pergunta saiu mais esganiçada do que eu queria.
- Não, não... Olha, , se você quiser, podemos ir logo. Desculpa te colocar nessa bagunça. Acho que estava tão furioso com Tiago que me tirou do Natal dele que não pensei direito...
- Não duvido, você é bem impulsivo. – Eu disse, entre um riso e um soluço.
Ele sorriu ao olhar para mim e limpou delicadamente uma lágrima do meu rosto.
Eu suspirei. Poderíamos voltar para Hogwarts. Onde talvez ele encontrasse mais uma menina e já esquecesse de mim. Ou encontrasse um dos velhos amigos. Aquilo poderia ser um adeus para Sirius Black.
Não que eu me importasse. Não é?
E ele ainda disse que eu estava segura. A casa era bonita. Tinha comida (mesmo que tivéssemos que roubá-la). Não precisaríamos mais descer e enfrentar ninguém.
E eu ficaria com ele.
- Acho que não é necessário. – Eu me vi dizendo. – Você tem certeza que eu estou segura aqui?
- Sim. Você está comigo. – Ele sorriu travesso e piscou. Em meio a tanto desespero, revirei os olhos. – Calma, calma. Ninguém vai te atacar. E só estava te mostrando que você tem proteção extra.
- Então tudo bem. – Eu disse, mas as imagens do jantar ainda estavam na minha cabeça. Eu tremi um pouco sem nem perceber. E foi quando percebi que Sirius ainda me abraçava. Aquilo, por algum motivo, me deixou constrangida, mas ao mesmo tempo não tive coragem de soltá-lo. Em meio a tanta insegurança, ele, por mais estranho que fosse, em apenas um dia, estava ganhando minha confiança e desafiado a própria família por mim.
Aos poucos, fui relaxando em seu abraço e as lágrimas foram diminuindo. Comecei a respirar um pouco melhor e senti um grande cansaço e muita dor de cabeça. Antes que desse por mim, já estava adormecendo.


Capítulo 4

P.O.V. SIRIUS

Quando acordei, levantei do colchão para observar e fiquei feliz ao ver que ela dormia. Ainda com o vestido preto da noite anterior, os cabelos embolados e a boca levemente aberta. Eu parei e observei o quanto ela estava bonita mesmo daquele jeito.
É claro que eu a achava bonita, afinal, a gente saiu no quarto ano e eu não teria chamado para sair se não a achasse atraente. Mas eu nunca reparava tanto nas meninas. Principalmente no detalhe de realmente conhecer a pessoa.
A culpa ainda pesava em mim. Eu arrastei aquela garota até o pior lugar para alguém como ela. E de propósito. Só pra irritar minha família. Claro que foi um excelente plano e valera a pena ver aquele tapete horrível manchado. Mas ver se sentir tão ameaçada, tão frágil...
Bom, aquilo me fez decidir que eu ia agir sozinho para irritar minha família... A não ser que uma oportunidade muito boa surgisse. Juro, só uma indispensável.
Ela começou a se mexer e eu me sentei na cama, olhando para a janela, para que ela pudesse ver que eu estava acordado, mas não achar que eu a observava.
- Sirius? - Eu a ouvi chamar e olhei em sua direção, fingindo surpresa.
- , que bom, você acordou!
- Bom dia. - Ela disse ainda sonolenta, se sentando lentamente na cama e se espreguiçando, soltando um grande bocejo.
- Bom dia, lindinha. Dormiu bem?
Ela abriu um sorriso irônico para o elogio.
- Dormi, obrigada e... - Ela corou um pouco. - Desculpa. Eu nem me lembro de dormir ou sequer chegar nessa cama.
- Sem problemas. Minhas habilidades mágicas vão além da varinha. - Pisquei para ela.
- Você sempre tem que ser tão exibido?
- É meu dom. E isso sempre faz você se descontrair. - Sorri para .
- Obrigada? - Ela disse rindo, então olhou para o chão. - Olhe, seus presentes! Você ainda não abriu?
Me inclinei um pouco e vi os pacotes que olhava, encantada. Percebi que ela devia adorar abrir presentes.
- Quer me ajudar? - Perguntei para ela.
Não precisei repetir, pois ela já havia transportado a pilha para minha cama e agora sentava nela. Ri um pouco de sua animação e peguei um dos pacotes.
Abri a primeira sacola e encontrei uma caixa com o símbolo da Zonko's. Dentro, pequenos chumbinhos fedorentos. Nem precisei ler o nome de Tiago para saber que era ele. Eu estava falando há séculos que precisava renovar meu estoque.
- Valeu, Pontas... - Sussurrei.
- Olha, você ganhou peças de xadrez bruxo de um tal de Aluado! - me mostrou. Não pareciam muito novas, mas eu não me importava. Sabia que Remo não tinha condição para comprar presentes e aquele gesto já significava muito.
- É o Remo Lupin. Nossa, estava mesmo precisando. Briguei com as minhas desde que eu decidi testar uma jogada nova que elas cismaram que ia dar errado. Deu mesmo e eu gritei com elas por me desencorajarem. Elas pararam de me obedecer e começaram a tentar me atacar.
- Nunca fui muito boa em xadrez bruxo, acho que fui acostumada com um jogo silencioso e acabo muito pressionada.
- Sim, muito mais divertido, né?
Nós dois rimos.
- Ah, tio Alphard me deu mais dinheiro, não precisava mesmo. Ah, olha, o Sr. e a Sra. Potter me mandaram um kit de manutenção de vassoura. A minha Shooting Star tá precisando de mais cuidados mesmo.
- Aquele Pedro Pettigrew te mandou uma camiseta. Que gracinha.
- Deve ser pela outra que ele roeu... Quer dizer, rasgou sem querer.
- Ei, alguém te mandou um pacote de biscoitos para cachorro.
Olhei o que ela segurava e deitei na cama para tomar ar depois de tanto rir. Era obviamente uma piadinha de Tiago. Queria ver qual seria a surpresa dele para o lustrador que eu comprara para sua galhada.
- Você tem um cachorro, Sirius? - perguntou, confusa.
- Ah, sim, . - Eu disse, tentando fingir seriedade. - E ele é sempre faminto.
- Que engraçado, nunca o vi. Ele fica na casa dos Potter?
- Ele mora lá. - Eu falei, sem mentir. Eu realmente morava lá.
- Olha, Lilian te mandou um presente também. Algumas penas novas com um recado. "Para te ajudar a focar nas provas e nos deveres, e não no tormento alheio”. Que simpática! - Ela riu da minha careta.
- Drômeda me deu um relógio. Maneiro. É mais moderno que o meu antigo. - Eu disse, já colocando o novo modelo e tirando o velho. - Acho que acabou. Não, espera, - Reparei em mais um embrulho. – faltou um.
Peguei um pequeno embrulho e tirei de lá um bisbilhoscópio.
- Que curioso. - E logo depois eu vi o nome no embrulho. “ ". - Uau, muito obrigado. - Eu disse, um tanto embasbacado.
- No dia que eu comprei o presente da , achei que seria bom comprar algo para você também. - Ela falou, corada. - Afinal, me trouxe até aqui.
- E deve ter se arrependido desde que pisou nessa casa. - Eu brinquei.
- Bom, acho que nos torna quites pelo tapete. Mas você ainda está me devendo.
- E eu vou pagar. - Eu disse, piscando.
- Bom, os presentes de e do Sr. e Sra. devem estar esperando em Hogwarts. E talvez meu pai tenha me mandado novamente alguma roupa de um tamanho que claramente não é o meu.
- Ei, mas você tem presentes. - Eu disse apontando para dois pequenos embrulhos perto de sua cama.
Ela olhou confusa, mas maravilhada e correu para lá.
- Olha, Drômeda me mandou um presente! Eu não dei nada para ela! - Ela soltou um gritinho quando abriu o presente. - Por Merlin, é uma joia! Uma joia de verdade. Isso deve ter sido caríssimo.
Eu sabia que devia ser algo antigo de Andrômeda que, para ela, já não tinha mais tanto valor, mas não comentei nada. Fiquei feliz de ver contente.
- E tem outro. AH! Sirius, seu malandro, você me deu um presente!
- É mais uma lembrança. Quando você me abandonou em Hogsmeade, também tive um certo tempo. - Dei de ombros.
- Ah, bombons! Eu amo chocolate! E eu nunca recebi uma caixa de bombons da Dedos de Mel, mas sempre pensei em comprar! Obrigada! - Ela correu e me abraçou. Eu ri um pouco da reação dela e retribuí o gesto. Seu corpo era quente, firme, mas também delicado contra o meu. Era uma sensação boa.
- Então, dívida quitada com você? - Perguntei, soltando-a.
Ela se afastou e me olhou, como se estivesse analisando algo muito importante.
- Diminuiu um pouco. E talvez possa diminuir ainda mais se você me conseguir café da manhã sem que eu tenha que descer. Acho que já deu da sua família por um tempo.
- Qualquer pessoa normal se sentiria ofendida, mas eu me sinto honrado de saber que odeia minha família... - Eu disse. - Já volto. - Saí pela porta em direção a cozinha.
Na cozinha, percebi que Monstro devia estar na sala de jantar servindo a todos. Uma sorte. Eu não precisava de mais encontros com aquele ser detestável. Mas vi que a comida estava fresquinha. Peguei vários pães recém-assados, biscoitos macios, um pote de manteiga e pedaços de bolo de nozes e coloquei dentro de uma bacia. Acrescentei dois copos e uma garrafa de suco de abóbora. Depois ia tentar providenciar um bom chocolate quente também. Achei melhor aparatar para o quarto antes que desse de cara com Black ou qualquer familiar indesejável. O mundo ficou preto e o ar não parecia entrar nos meus pulmões. Frações de segundos depois, tudo voltou ao normal e eu estava no meu quarto. Um grito abafado chamou a minha atenção e olhei para trás.
estava perto da porta, usando uma calça jeans, estendendo uma blusa na frente do corpo para tentar se esconder.
- Você não pode fazer isso! Eu preciso de privacidade! - Sua voz estava mais aguda que o normal.
- Desculpa se eu trouxe um café da manhã quentinho para você! - Eu exclamei irritado. E a culpa agora é minha que ela não fora ao banheiro?
- Você pode, por Merlin, se virar? - Ela me olhou, irritada e constrangida.
- Ok, ok, desculpa! - Eu virei, colocando a bacia com as comidas em cima da cama.
- Pronto. - Ela disse pouco tempo depois. - Hum, o cheiro está delicioso. Mas, por favor, da próxima vez, aparate do outro lado da porta.
- Tá bom, mal, estou acostumado a ter um quarto só meu em que não tenho risco de presenciar cenas... Bom.... Comprometedoras a qualquer momento. - Eu disse, rindo, vendo-a ficar constrangida.
- Você é impossível.
- Impossivelmente irresistível, eu sei.
Ela revirou os olhos e eu sorri. Parecia um passatempo irritá-la, pois ela ficava adorável daquele jeito.
Ela finalmente se sentou na cama e eu lhe ofereci um copo com suco de abóbora.
- Bom, um brinde. - Eu disse. - Um brinde a quem inventou os bolos de nozes e os presentes de natal. Aliás, feliz natal!
- Feliz natal!

P.O.V.

Quando finalmente acabamos o piquenique de Natal, nos deitamos um pouco na cama, atordoados com tanta comida no estômago.
Sirius pegou um último pão e devorou rapidamente.
- Não é possível que você ainda esteja com fome! - Exclamei, apavorada.
- Entenda, linda, eu estou sempre com fome. - Ele piscou e eu revirei os olhos. Black era tão irritante. E lindo. Mas eu preferia focar no irritante.
- Então, como é normalmente o seu natal? - Perguntei.
Ele me encarou por alguns segundos antes de responder, seus olhos cinzas maliciosos demonstrando também gentileza.
- Bom, normalmente Tiago e eu abrimos nossos presentes, tomamos café e vamos direto rodar Godric's Hollow. Tem um campo afastado da cidade em que nós, às vezes, voamos, mas ele é sempre um exibido e temos que parar. Gostamos de assustar alguns trouxas implicantes e, bom, sempre é bom olhar as meninas bonitinhas. Sempre passamos para tomar chá com a Sra. Batilda. Embora ela seja meio chata e vive falando de seus livros e sobrinhos e netos, nós ganhamos alguns presentes extras. É bom. - Ele concluiu rindo, parecendo meio melancólico.
- Você queria ter passado o natal lá, não é mesmo?
- Não! Quer dizer, sim, mas não leve para o lado pessoal, eu só... Me acostumei.
- E se sente traído por ser trocado?
- Não... Tá bom, sim, mas eu sei que isso é importante para ele. Mas da próxima vez eu farei questão de perturbá-lo e de mostrar o quanto fiquei chateado para a Sra. Potter. Ele vai levar é uma boa vassourada naquela bunda mole.
- Já entendi, Sirius. – Eu disse rápido, tentando controlar o riso.
- Ah, vamos, você quer rir, não mente, pode rir pra mim.
- Não vou rir de algo tão idiota!
- Vai sim!
- Não vou!
- Vai sim, nem que seja a última coisa que eu faça!
Sirius começou a me fazer cócegas e a risada que eu estava segurando virou uma enorme gargalhada boba.
- P... Para! Eu... Não... Cons... Consigo respirar! - Eu tentava dizer, completamente rendida.
- Tudo bem, eu vou parar, mas eu venci! - Ele exclamou.
- Venceu nada!
- Eu disse que você ia rir!
- Você disse que eu ia rir das suas besteiras, eu ri das suas cócegas!
- Concorde comigo ou eu vou te atacar de novo!
- Não se eu atacar primeiro!
Rapidamente, me desvencilhei dele e comecei a atacá-lo, mas logo tive um choque terrível: ele não sentia cócegas.
- Você já era, . - Ele disse, sorrindo vitorioso, e logo suas mãos já estavam vindo em minha direção.
Sem pensar, agarrei minha varinha e aparatei para a porta da frente. Recuperei o fôlego, ainda rindo, e percebi que ele logo estaria atrás de mim, então abri a porta da frente e saí.
Já do lado de fora, percebi que o mundo estava extremamente branco de neve e brilhante com as luzes de natal. A visão era linda, mas também muito fria, já que eu estava apenas com uma blusa de manga comprida que era até quente, mas não para a neve.
Não tive tempo de sentir frio, pois logo ouvi a porta se abrir e eu só tive tempo de correr, ouvindo a voz dele atrás de mim.
- Isso foi trapaça!
- Foi genialidade! - Eu respondi, correndo o mais rápido que a neve deixava, o que não era muito.
Antes que eu pudesse desviar, uma bola de neve fria me atingiu nas costas.
- Ei!
- Você mereceu!
- Mereci nada! - Respondi, jogando outra bola de neve, da qual ele facilmente desviou.
- Precisa se esforçar mais, linda.
- Você vai ver eu me esforçar! - Eu disse e, logo, uma guerra de bolas de neve começou.
Eu estava extremamente frustrada. Após 15 minutos, eu estava encharcada e ele com apenas uma pequena mancha úmida da única bola de neve que eu conseguira acertar. Ele gargalhava dos meus esforços.
- Você está perdendo feio, , é melhor se render.
- Nunca!
- Uma grifinória que não foge da batalha mesmo derrotada? Típico demais. - Ele me acertou mais uma bola, me deixando corada de fúria.
- Eu odeio perder.
- Quer que eu te deixe ganhar?
- Não! Isso seria pior. Seria pena.
- Que bom, eu não ia deixar mesmo. - Mais uma bola de neve. - Renda-se e você pode voltar e tomar um banho quente. Você tá congelando!
- Eu não me renderei! – Disse, jogando uma bola de neve para distraí-lo, enquanto finalmente o acertava do outro lado com uma segunda.
- Tudo bem! Mas vai enfrentar as consequências! – Devo admitir que o frio que eu senti no rosto por ter sido acertada quase fez eu me render. – Olha, se você se render, eu pago o almoço!
Hm, não podia negar que a proposta estava interessante. Pesei minha competitividade com minha vontade de economizar dinheiro.
- Paga meu almoço de hoje e dos próximos dois dias?
Agora ele que estava pensando.
- Fechado.
- Então me tira logo daqui que eu estou congelando!
Ele riu e correu até onde eu estava e me estendeu a mão.
- Vem logo antes que eu mude de ideia.
Peguei a mão dele para dar impulso.
- Cacete, , você está congelando!
- Eu acabei de dizer isso! Acontece quando se está na neve sem roupa pra isso. - Eu acrescentei, sentindo a adrenalina passar e o frio se instalar.
- Vamos logo.
Rapidamente entramos na casa e aparatamos para o quarto, com medo de encontros inconvenientes.
- É melhor você tomar logo um banho quente – Sirius disse, parecendo ligeiramente preocupado.
Peguei minhas roupas e fui logo para o banheiro daquele andar, deixando Sirius no quarto. Rapidamente, liguei a água da banheira enquanto tirava as roupas. Diferente dos chuveiros e banheiras trouxas, que tinham aquecedores, a água só assumia a temperatura que você, sem nem saber, queria que assumisse. Naquele momento, a água estava fervendo.
Entrei na banheira que, para a minha pessoa que não parava de tremer de frio, parecia o paraíso. Fiquei uns cinco minutos deitada na água quente, antes de começar a me mexer de verdade e lavar meu cabelo. Eu adorava aqueles fios , uma das poucas coisas em mim que eu achava bonita. Coloquei a cabeça para trás para tirar o shampoo e percebi que a banheira estava cheia de espuma.
De repente, eu ouvi um estalo que me acordou daquele transe delicioso. Quando olhei na direção do barulho, tomei um susto enorme e só consegui gritar involuntariamente.
- MONSTRO!
- Monstro não vai deixar a sangue ruim contaminar o banheiro com suas impurezas. A senhora de Monstro nunca gostaria disso. Monstro não vai deixar!
Ele começou a puxar meu braço para fora da banheira e, apesar de eu ser bem mais forte, estava começando a doer. Ele enfiou as unhas afiadas no meu braço e eu urrei de dor e de raiva.
- ME LARGA!
- Saia daqui!
Então, eu ouvi alguém tentar abrir a porta trancada.
- Alohomora!
A porta se abriu e logo Monstro se fincou ainda mais no meu braço, resistindo a quem o estava puxando. Eu gritei de novo e puxei meu braço também. Logo, o elfo doméstico estava voando em direção a porta.
- OLHA O QUE VOCÊ FEZ! – Sirius berrava para a criatura.
- A sangue ruim não pode estar aqui!
- A sua senhora a deixou estar aqui. Você está desobedecendo a sua senhora.
- É mentira! – O elfo dizia, mas já se atirava no chão, batendo sua cabeça.
- O que ele está fazendo?! – Falei pela primeira vez, horrorizada.
- Se punindo! – Sirius disse, mas sem remorso. Apenas o jogou para fora e trancou a porta, para depois se virar para mim, a fúria suavizando. – Como está?
- Molhada. – Eu disse, tentando fazer uma piada para me distrair do ferimento que ardia.
- É mesmo? – Ele disse, erguendo uma sobrancelha e sorrindo maliciosamente.
- Não desse jeito, seu idiota! De água! E não... Ai, tá doendo! – Me apressei a dizer.
A distração funcionou, porque ele logo foi analisar os cortes que Monstro fez, ficando visivelmente irritado.
- Eu vou matar aquele filho da p...
- Calma. – Eu me apressei em dizer. – Você pode só me ajudar? Tá ardendo bastante.
Ele respirou fundo e focou no ferimento.
- Vem, vamos botar isso na água.
Devagar, ele foi abaixando meu braço para dentro da banheira, até que o ferimento afundou. Pela quarta vez, eu gritei.
- Tira! TIRA!
- Fica quieta, .
Eu tentei tirar o braço, mas Sirius não deixou. A espuma começou a ficar vermelha de sangue.
Depois de alguns minutos, a ardência foi passando e eu me acalmei. Aos poucos, Sirius retirou me braço da água, mostrando quatro ferimentos pequenos, mas profundos.
- O que aquele elfo tem? Garras? – Indaguei, tentando esquecer a ardência.
- Espera aqui.
Sirius me largou na banheira vermelha com um machucado no braço ainda aberto e sangrando para revirar os armários e gavetas do banheiro.
- Tem que estar por aqui...
- O que você tá procurando?
- Achei!
Ele voltou apressado com um vidrinho.
- Vai doer.
- De novo, não. – Eu disse, quase em um gemido de lamentação. – O que é?
- Ditamno.
Eu conhecia a substância, mas não queria dizer que eu gostava. Ele pingou um pouco da substância e minha visão ficou turva de mais dor. Eu só percebi que estava gritando de novo quando outra pessoa reclamou no corredor:
- ALGUÉM QUER CALAR A BOCA DESSA GAROTA?
Eu engoli as reclamações e as lágrimas e silenciosamente senti toda aquela dor. Logo depois, as feridas estavam fechadas e a dor cessou e eu comecei a enxergar melhor, ainda nervosa.
- Devo admitir que não era assim que eu imaginava que era estar no banho com uma garota nua gritando e gemendo. – Ele provocou.
- Cala a boca! – Mas então me dei conta. Eu realmente estava nua numa banheira. Eu fiquei completamente corada.
- Devo dizer que não sei quais são suas intenções, , já tentou me atrair para duas situações de poucas roupas.
- Você invadiu as duas.
- Preferia que eu tivesse te deixado aqui? Posso chamar Monstro de novo.
- Você não faria isso.
Ele me olhou desafiador.
- Duvida?
Eu o encarei de volta e eu soube que ele realmente faria.
- Não. Pronto. Agora pode me deixar em paz?
- Não, percebi que você pode ser um alvo. Tenho que te proteger.
Eu respirei fundo, tentando manter a calma.
- Sirius, você pode, por favor, sair daqui?
Ele botou a mão no rosto pensativo.
- Não.
Eu tentei acertar um tapa nele, mas ele desviou. Eu continuei tentando e ele continuou desviando.
- Olha, linda, você não vai conseguir me bater, mas o que com certeza você vai conseguir é acabar com toda essa espuma. Não que eu vá reclamar. Mas, se eu fosse você, só terminava seu banho rápido.
Olhei para baixo e percebi que boa parte da espuma já tinha sumido e, se mais um pouco sumisse, eu estaria muito ferrada.
- Tá, pode ficar, mas, por Merlin, vire de costas!
- Não precisa se descontrolar, madame, já estava virando mesmo.
Terminei o banho correndo e rapidamente peguei uma toalha e me sequei. Enquanto colocava as roupas numa velocidade fora do normal, eu percebi que, com Sirius Black, eu sempre acabava em uma furada.


Capítulo 5

P.O.V. SIRIUS

Era o meu segundo dia com essa garota e ela estava conseguindo me tirar do sério. Primeiro, ela me fizera agir igual uma criança. Segundo, ela me fez ficar preocupado. Terceiro... Bom, aquela espuma se desfazendo deixava pouco para a imaginação e não saía da minha cabeça.
Passamos o resto da manhã no quarto, terminando a carta para a melhor amiga dela, , e eu lendo uma revista trouxa de motos. Eu realmente era fascinado com aqueles motores.
Mais tarde, quando chegou a fome, eu a levei em um restaurante que ficava do outro lado do parque. Um lugar pequeno, mas agradável, ainda decorado com as luzes de natal. Várias músicas trouxas comemorativas tocavam.
- Essas músicas trouxas de Natal são esquisitas. - Comentei.
- Eu acho bem bonitas. - Ela retrucou.
- Não gosto do jeito que eles pegaram um feriado tradicionalmente pagão e bruxo e transformaram... Nisso.
Ela riu.
- Não seja bobo, o feriado pode ser de todo mundo.
- Se você diz.
Depois de comer, saímos de lá e fomos caminhar no parque. Eu realmente gostava muito daquele lugar. Eu pensei em como seria legal estar ali com meus amigos e cada um na sua forma animaga – ou lupina. Eu já estava com saudades deles, mas logo iríamos nos ver.
- Sabe, - Eu comecei, tentando puxar um assunto. - você me perguntou o que eu faço no meu natal, mas não respondeu sobre o seu.
Ela sorriu para mim e aquilo fez um pequeno frio se instalar na minha barriga.
- Bom, eu e amamos abrir nossos presentes de natal. Depois, nós gostamos de assar biscoitos junto com a irmã mais nova de , Lola. Ela está no segundo ano de Hogwarts, é da Lufa-Lufa. É uma fofa, mas às vezes sabe ser uma peste. A casa de fica perto de um morro e lá sempre neva, então a gente anda de trenó por lá. é ótima, mas eu sou péssima. Nos dois primeiros natais lá, eu passei o resto do dia na cama. - Eu ri da cara de assombro que ela fez. - Mas quando eu consigo sobreviver, nós brincamos na neve e, de noite, jogamos algum jogo que ela tem.
- Hum.
- Hum o que? - indagou, me encarando.
- Agora eu quero biscoitos.
- Você é impossível! Deve ter algum feitiço no seu estômago.
- Se tem ou não, eu não sei, mas a fome é bem real.
Nós rimos e eu percebi que passar mais tempo com ela estava cada vez mais fácil. E ela já não estava mais constrangida com o incidente da banheira.
Droga, lá estava eu pensando nisso de novo. Respirei fundo e afastei aquelas imagens da minha cabeça.
Um gritinho me distraiu e, quando olhei, havia sumido. Um leve pânico se instalou em mim, mas tentei ignorar.
- ?
Um segundo de silêncio. Dois. Três.
- Aqui!
Um grande alívio se instalou quando eu a vi novamente. Ela estava perto de dois grandes bonecos de neve e um grande sorriso infantil no rosto.
- , da próxima vez que decidir sumir, seria bom me avisar. Se acontecer de novo, eu vou te largar no parque, mesmo que seja meia noite e você esteja sob um ataque de morcegos ou vampiros.
- Ora, os morcegos são frutíferos e não temos vampiros pela região. Para de ser tão dramático e idiota, olha isso! - Ela continuou apontando alegremente para os bonecos.
- Você tem alguma coisa com neve, né? - Perguntei, dividido entre a falta de paciência e um lado meu que achava tudo adorável.
- Ah, vai, é divertido. - Ela disse, mas eu vi que ela estava ficando cada vez mais envergonhada. - Ou não.
Eu balancei a cabeça, incrédulo com aquela garota que podia ser tão infantil, mas ao mesmo tempo séria, tão risonha e preocupada ao mesmo tempo. E aqueles contrastes eram bem cativantes. Respirei fundo e sorri para ela.
- Se quer realmente brincar disso, temos que fazer direito. - Eu falei, me agachando para começar a montar a base. Não deu um segundo e ela já estava ao meu lado, me ajudando, toda sorridente.
- Então, você sabe montar bonecos de neve?
- Ah, lindinha, e o que eu não sei fazer?
O sorriso infantil foi substituído por uma careta e um revirar de olhos, que fez nós dois rirmos.
Eu nunca iria admitir aquilo para ninguém, mas montar aquele boneco estúpido foi uma das coisas mais divertidas que eu já fiz. Todos os problemas sumiram para concentrar em quanta neve colocar e se estávamos moldando direito. E de vez em quando, competíamos para ver quem ia mais rápido (e eu, claro sempre ganhava). E, às vezes, até nas partes mais monótonas tudo acabava divertido quando ficava estabanada ou apenas sorria verdadeiramente.
- O que você tá fazendo? - Ela perguntou.
- Montando um boneco de neve melhor que o seu, e você?
- Ei, o meu tá bem melhor! Mas eu quis dizer... por que você tá me encarando?
Bosta de dragão. E lá estava eu a encarando sem nem perceber. De novo. Não fiquei envergonhado, apenas com raiva de mim mesmo, então tentei desconversar com outras coisas:
- Estava analisando seus movimentos para ver como os meus são melhores.
- Você não estava olhando para minhas mãos. - Ela constatou, levantando uma sobrancelha e cruzando os braços.
- Tá bom, eu estava vendo se você estava murmurando algum feitiço e trapaceando. Sei como pode ser frustrante perder para mim.
- Você sabe que eu sei fazer feitiços não-verbais tão bem quanto você. - Ela estava com uma cara cada vez mais convencida e curiosa.
- Bom, devo ter me distraído, mas uma coisa eu posso dizer.
- O que? - Ela perguntou, atenta.
- Essa sua pausa não fez nada bem pro seu boneco de neve, perdedora!
Comemorei no ar a minha vitória, enquanto ela reclamava.
- Injustiça! Eu quero revanche! Não valeu! Eu nem estava tentando muito mesmo! Você é um amador, eu deixei isso acontecer! Não estava valendo!
- , linda, aprenda uma coisa: Sirius Black sempre é o melhor. - Eu pisquei para ela e vi o seu rosto ficar vermelho, mas dessa vez de raiva.
- Quero revanche. - Ela repetiu.
- Você realmente quer revanche em bonecos de neve? - Eu perguntei para ela. - Não tem nada mais interessante ou maduro para querer jogar?
O seu rubor intensificou e eu vi que poderia estar ofendendo-a.
- Olha, , já, já vai escurecer, ficamos muito tempo aqui. Daqui a pouco a gente vai tá faminto! - Eu falei e ela riu. - Esqueceu que eu tenho que abastecer esse estômago a cada três horas?
- A cada três minutos, você quis dizer.
Fiz uma cara de pensativo.
- Eu diria cinco minutos.
Ela riu e concordou em voltar, conversando comigo durante todo o caminho de volta. Era muito fácil conversar com e havia algo especial em provocá-la. Eu sabia que, pelo menos para mim, ela estava se tornando uma amiga. No mínimo. E isso era muito ruim para o meu plano, já que ela basicamente me fazia querer desistir de tudo para não acabar magoando-a mais.
Quando chegamos a casa, entramos e aparatamos direto para o quarto. O melhor hábito que decidi adquirir, porque eu não confiava em nenhum outro espaço da casa. E muito menos nas pessoas que poderiam estar lá.
Aproveitei para tomar meu banho e, quando voltei para o quarto, encontrei não só lá.
- Drômeda!
Minha prima olhou para mim e sorriu.
- Olá, Sirius.
- Andrômeda estava se despedindo. - acrescentou, ao seu lado, como se tivessem acabado de se abraçar.
- Verdade, você disse que ia embora hoje!
- Sim, todos nós vamos. - Drômeda acrescentou. - Eu vou voltar para minha casa. Desde o ano passado me mudei daqui e consegui uma estadia própria. Papai e mamãe dizem não haver necessidade. Bela vai voltar para sua vida de casada e Ciça deve acompanhar Lucio para a casa da família dele para também anunciar as novidades. Mamãe e papai decidiram fazer uma viagem também, dizem que é como no início do casamento, sem filhos. - Ela revirou os olhos, rindo.
- Apesar de tudo, você não parece que odeia eles. - disse, logo depois se sobressaltando. - Não que você devesse odiá-los! Quer dizer, bom, eles devem ter suas qualidades, mas... Ér... Também....
- Não se preocupe. - Drômeda sorriu. - Eu não me sinto ofendida. E não, eu não os odeio. Eu os amo porque são minha família antes de serem lunáticos. Nem sempre foi assim. Eu, Bela e Ciça erámos bem amigas. Sempre nos adoramos e nos apoiamos. Bela sempre nos defendeu e se colocava a nossa frente e Ciça sempre foi nossa protegida. Tudo mudou quando Lestrange chegou, e depois Malfoy... Eu não sei o que houve com Bela...
- Ela sempre foi assim. - Não pude me conter e falei. - Sempre acreditou nesses ideias. Só não tinha a chance de as expor de forma tão ampla.
- Não é só isso. - Drômeda continuou. - Bela não só colocou os ideias à frente da família. Ela os colocou como único propósito de vida e apagou todo o resto. Bela se desprendeu de tudo e de todos e ligou todas essas partes agora soltas ao Lorde das Trevas. E eu temo... - Ela perdeu o ar momentaneamente. - Temo que Ciça seja a próxima. E eu não posso fazer nada.
- Você pode sim. - Eu disse. - Você pode só não ser igual a eles.
- Ah, Sirius, isso talvez apenas nos condene mais. - Ela sorriu, complacente.
- Sabe, suas irmãs ainda te amam. - falou, de repente. - Isso não some assim. É como você mesma disse: você ainda os ama mesmo assim. E eles amam você. Um dia verão que isso apenas separa a todos, ao invés de unir. Eles te escutarão pelo fato de que eles te amam. Pode demorar anos, mas um dia eles verão.
Andrômeda sorriu para nós e, se eu não a conhecesse por 18 anos, não seria capaz de dizer que estava emocionada. Uma Black completa.
- Obrigada aos dois. Por tudo. Obrigada por virem ao natal. Certamente foi o mais... Inusitado. - Todos nós rimos. - Sinto sua falta, Sirius. Você pode me visitar. Eu não tenho nenhuma tapeçaria queimada onde você estava.
- Não tem? Droga. Seria uma ótima decoração. - Eu comentei, complemente sarcástico. Se eu pudesse, faria com que a tapeçaria inteira ficasse como meu rosto: queimada. - Brincadeiras à parte, quem sabe um dia eu tento.
- E você, . Foi um prazer te conhecer. Entendo porque Sirius gosta de você. Você é uma pessoa ótima. Espero te encontrar mais vezes.
- Obrigada você, Drômeda, não sei como agradecer o presente, o vestido, a companhia... Simplesmente obrigada. - As duas se abraçaram, mas ainda assim eu consegui ver Drômeda falar sem emitir nenhum som “vá embora com ela o quanto antes". Suspirei e fingi não entender. Não ia discutir de novo. Quanto mais ela me repreendia, mais eu me tentava a ficar, por menor sentido que fizesse. Era apenas como minha natureza agia ao receber ordens. Tinha que desobedecê-las.
Andrômeda me abraçou rapidamente e pegou as suas coisas, saindo do quarto e garantindo que ninguém a visse ali. Eu sabia que minha missão estava cumprida. Sabia que eu já havia ajudado minha prima. Já havia incomodado minha família.
Mas então por que eu não me sentia a fim de ir embora?
- Ei, sabe uma coisa que eu lembrei? - Escutei falar, de repente.
- O quê? - Eu disse, interessado na sua ideia.
- Você comentou que tinha alguns jogos, certo?
- Bom, basicamente, se meu irmão não tiver roubado. Mas será divertido se eu tiver que roubar de volta. - Minha mente já arquitetava várias oportunidades de usar minhas últimas bombas de bosta. – Por quê?
Ela me olhou, sorridente e confiante.
- Por acaso você tem Gringoly?

P.O.V.

Por ser nascida no mundo trouxa, eu sempre me senti meio para trás nos costumes bruxos. Eu não conhecia coisas básicas como expressões, histórias, famosos e sempre levava susto com quadros e fotos, entre outros. Às vezes, sentia que não pertencia completamente a nenhum dos dois mundos.
Por isso, quando , no natal em que eu estava no segundo ano, já destruída da tentativa de andar de trenó (ainda mais um que era mágico e acelerava de maneira nada natural), me chamou para jogar Gringoly, eu já sentia que ia ser a deslocada de novo. Mas foi simplesmente maravilhoso quando eu descobri que era muito parecido com Monopoly, um jogo trouxa que eu era muito boa já que, antes de toda essa história de ser bruxa, eu jogava toda semana com meu pai e minha madrasta.
Peguei as táticas e diferenças do novo jogo, que só o tornava mais divertido, diferente do xadrez bruxo, que era só gritaria e briga, e logo fiz se irritar com o jogo, já que comecei a ganhar todas.
Justamente por esse motivo, escolhi esse jogo para abaixar um pouco a bola de Sirius Black. Para um jovem tão bonito e talentoso, não estava exatamente acostumado a não ser o melhor.
E, por isso, não posso negar que foi muito satisfatório ver sua cara de descrença ao perder a primeira partida.
E a segunda.
E a terceira.
- Não vale! Você amaldiçoou isso aí!
- Como eu amaldiçoei se o jogo é seu? - Perguntei, tentando conter todo o meu orgulho e exibição.
- Você deu algum jeito. Tá trapaceando, só pode! - Ele resmungou.
- Ah, pobre Sirius, ele não sabe perder. - Eu fiz uma falsa cara de triste, que logo se tornou plena satisfação.
- Foi roubado!
- Aceita, Black, eu acabei com você! Você perdeu! E sabe por quê? Porque eu sou melhor! - Eu exclamei, me levantando quase saltitando, sem conseguir conter minha satisfação.
- Meus parabéns, então, você é boa num jogo infantil idiota.
- E você é bom no quê? Bonecos de neve? - Provoquei, irritada com seu comentário.
- , é melhor você calar a boca.
- Isso é outra coisa que você não sabe fazer. - Retruquei.
- Eu sou ótimo em tudo!
- Pelo jeito não tudo.
- Ah, me expressei mal. - Ele disse, também se levantando. - Eu quis dizer tudo que importa.
Agora eu o encarei bem ofendida. Aquilo era meio infantil, mas, por ser uma das poucas coisas em que eu era boa, eu realmente valorizava aquela habilidade.
- Você está me chamando de inútil?
- Sim! - Ele exclamou. Depois, pareceu pensar melhor e fez uma cara de arrependido. - Quero dizer, não inútil.
- Boba? Infantil? Desprovida de talentos? - Agora eu estava furiosa. Era meu momento. Minha diversão. Minha vitória. - Não vamos lembrar que sou eu a pessoa que fala três línguas nessa sala.
- E quem se importa com línguas? Eu sou o mais poderoso.
- Ah, é? - Eu olhei bem nos seus olhos e falei as palavras mais poderosas de qualquer desafio. - Eu duvido.
Deu mais certo do que eu esperava. Ele sacou a varinha na hora.
- Não vai me chamar para um duelo, né, Sirius? Eu? Sua convidada? - Eu reforcei. Eu podia ser boa em feitiços, mas até eu devia admitir que não se brincava com um Black.
- Por quê? Está com medo?
- De quê? Ter que cuidar de você o resto da noite inconsciente? Talvez. - Minha maldita língua. Eu que ia acabar inconsciente naquele ritmo.
Eu vi seus olhos se apertarem e ganharem seriedade.
- Você não tem ideia de quem você está desafiando.
- Ah, mas eu tenho. O rei. O rei dos egos inflados.
- Devo dizer que você sofre do mesmo mal, mas pelo menos eu me vanglorio de coisas que valem a pena.
Estávamos circundando o espaço, o jogo esparramado no meio, algumas peças murmurando, varinhas apontadas um para o outro, olhos fixos, enquanto travávamos nosso duelo verbal. Se eu não fizesse nada, logo acabaria num duelo de verdade: e provavelmente perdendo feio.
- Olha, talvez em duelos você possa se sair melhor. - Eu admiti. - Mas isso não te prova como poderoso. Você se promove por toda a escola, mas só sabe implicar com alguns alunos mais fracos.
- Eu não implico com os mais fracos. Eu implico com os babacas. A culpa não é minha se, ainda por cima, são todos mais fracos que eu.
- E essa é sua grande conquista? Implicar com umas crianças? Esse é o grande currículo do famoso Sirius Black?
Eu o vi ficando vermelho, cada vez mais.
- Você acha que eu passo meu tempo só perseguindo moleques?
- Não disse isso, tem também o tempo que você dedica pra se vangloriar disso.
Eu estava passando dos limites. Eu sabia. Que que tinha dado em mim? Eu estava furiosa por ele me tomar como inferior, mas aonde eu estava me metendo?
E, então, de repente, Sirius não estava mais na minha frente. E sim um enorme cão preto. E eu quis gritar.
Mas antes que eu conseguisse, o cão pulou em cima de mim, me derrubando no chão. E logo era Sirius Black quem estava por cima de mim, tapando a minha boca com a mão.
- Você tá maluca?! - Ele sussurrava rapidamente.
Ficamos alguns segundos ali, ele com a mão na minha boca, por cima do meu corpo, tão próximos que sua respiração batia em minha bochecha, até eu me acalmar. Bom, pelo menos me acalmar sobre a parte do cão que surgira do nada.
Quando eu finalmente voltei a respirar normalmente, ele saiu de cima de mim e me ajudou a levantar.
- Agora tá provado pra você?
- Você... – Eu ainda estava em choque. - O que é você?
- Pense, você já viu isso antes.
Eu não estava entendendo o que ele queria dizer, mas então, uma imagem de um gato com marcas quadradas nos olhos se transformando em uma professora com óculos do mesmo formato me veio à cabeça.
- Você... Você é um animag...!
Antes que eu pudesse concluir, ele tapou minha boca.
- Quer ficar quieta? Eu sou um animago que pretende que a família não saiba disso! - Ele continuava sussurrando. Pouco depois, ele liberou minha boca novamente.
- Mas... Então, quer dizer... Você fez isso? Sozinho? - Podia não ter me dado conta de primeira que ele era um animago, porém eu conhecia essa magia. Era complicadíssima e poucos bruxos a executavam por isso. E aquele garoto de 18 anos na minha frente conseguira. Sirius Black não parava de me surpreender. Ainda bem que eu fugira do duelo.
- Pera... Como assim sua família não saber? Se bem que acho que ninguém de Hogwarts sabe. Isso quer dizer que você é ilegal? Não é registrado?
Seu rosto vermelho foi ficando cada vez mais pálido.
- Eu não acredito que te contei isso.
Quando eu me dei conta da situação, não pude deixar de rir.
- Então, quer dizer que você é tão influenciável que revelou um grande segredo só pra se provar? Por que isso não me surpreende?
Ele me olhou duro e eu percebi que a hora das brincadeiras acabara.
- Acho que o melhor é lançar um Obliviate. Você não pode saber disso. Colocaria muita gente em risco. - Ele estava pensativo, já alcançando a varinha.
- Tá maluco? Você não vai mexer na minha cabeça, muito menos nas minhas memórias!
- E como eu vou saber que você não vai contar para ninguém?
Eu parei para pensar. Por que eu não contaria? Nem para numa conversa de revelações ou descontraída? Ou num estudo de animagos, eu não escaparia que conhecia mais de um? Para encrencá-lo caso me irritasse?
Contudo, por algum motivo, saber algo sobre Sirius Black que ninguém sabia me fez sentir... Especial. Eu queria que aquilo fosse só entre nós dois. Mesmo que isso me fizesse sentir idiota.
Eu não iria contar. Agora, precisava de uma justificativa plausível para convencê-lo.
Mas eu não tinha nenhuma.
- Olha. - Eu comecei, olhando para ele. - Eu não tenho muitos motivos para guardar esse segredo. Não somos próximos. Não te devo nada e nem você a mim. Eu entendo sua desconfiança. Você nem sabe se eu sou fofoqueira. Mas... - respirei fundo e o olhei mais intensamente, tentando passar minha sinceridade. - Por um motivo que eu não sei explicar, eu não quero contar nada e, por isso, eu sei que eu não vou. Sei que te peço muito ao confiar isso pra mim, mas também não me culpe por um erro seu. Não me puna pelo seu deslize. E eu prometo que não contarei. Minha palavra pode não servir de nada para você, - Dei de ombros - mas ela é tudo o que eu tenho. Além disso, quem foi burro de me contar foi você e não sou obrigada a pagar por isso. Mas eu não vou contar.
Ficamos nos encarando por longos minutos. Meu coração batia acelerado, com medo de ter falado algo errado que me custasse aquilo. Com medo de não ter sua confiança. E na expectativa de ganhá-la. Parte da rapidez com que meu coração batia, eu tinha que admitir, também era pela intensidade daqueles olhares cinzas. Sirius era apaixonante. E estar por perto dele 24 horas por dia não estava ajudando muito minha resistência.
Mas, naquele momento, minha principal preocupação não eram minhas barreiras sentimentais, e sim minha pobre memória com um precioso segredo.
Ele soltou um longo suspiro e eu prendi minha respiração.
- Por enquanto, você tem minha confiança. Não me faça me arrepender disso.
Soltei minha respiração junto com uma risada baixinha de alívio.
- Obrigada.
Ele me olhou, me analisando por alguns segundos e, logo em seguida, sorriu.
- De nada.
Ficamos em silêncio e eu me abaixei para começar a guardar o jogo, as peças agora quietas interessadas na conversa. Tentei tomar coragem para perguntar o que realmente passava pela minha cabeça.
- Então... Como isso aconteceu?
Ele me encarou, se agachando logo em seguida para me ajudar a organizar as coisas.
- É uma longa história. E não só minha. É delicado.
Naquele momento, porém, meu estômago roncou bem alto, quebrando o clima de tensão e expectativa.
- Bom, e que tal você buscar uma boa janta pra gente e me contar o que for possível de estômago cheio?
Ele riu de leve.
- Certamente, não posso deixar minha convidada curiosa e faminta.


Capítulo 6

P.O.V. SIRIUS

- Então, aquela vez que vocês ficaram um mês quietos, não foi por estarem com a garganta ruim, e sim com a folha de mandrágora na boca? - me perguntou enquanto pegava um pedaço de queijo e dramaticamente colocava na boca.
- Exatamente, mas precisávamos de um motivo, ainda mais porque todos parecem sempre estar na expectativa de ouvir minha voz. - Eu sorri e ela, como sempre, revirou os olhos.
Mais uma vez, estávamos em minha cama fazendo um piquenique improvisado de jantar. Aquele era um hábito esquisito, mas estranhamente bom também.
- E você escolhe a forma de animago ou ela só reflete quem você é? - perguntou, curiosa, como se eu fosse um livro que ela queria ler e aprender tudo.
- Não escolhe.
- E você foi um cão. Uau. Realmente reflete sua alma. - Ela ironizou. Em menos de dois dias, já estávamos com uma grande intimidade
- Realmente. O animal mais simpático e amigo de todos, além do mais bonito. Vai dizer que não tem vontade de fazer carinho? – Provoquei com um sorriso inocente.
- Eu quis dizer no sentido de vagabundo e comer literalmente qualquer pedaço de carne que lhe é jogado.
- Eu nunca desperdiço comida. - Pisquei.
- Não é de comida que eu estou falando. - Ela replicou meio emburrada.
- Ah, eu sei. A resposta continua a mesma.
- Seu cafajeste! - Ela disse, com um sorriso, embora parecesse um pouco zangada...
Espera. estava com ciúmes?
Por algum motivo, aquele pensamento me fez sorrir.
- Tá rindo de quê, seu cachorro? - Ela falou como se estivesse fazendo o melhor trocadilho do mundo. Ai, ai, ela tinha tanto a aprender.
- Estava pensando nos meus pedaços de carne. - Eu respondi, tentando ver sua reação.
Como eu esperava, ela revirou os olhos e ficou quieta comendo, sem nem me olhar.
Tinha alguma coisa ali. Isso normalmente me fazia correr o mais rápido possível. Eu estava atrás de diversão. As garotas? Acho que queriam essas baboseiras que histórias bruxas infantis colocam na cabeça delas sobre “amor verdadeiro". Então, no primeiro sinal de que elas queriam alguma coisa além disso, eu metia o pé.
Podem me chamar de covarde, mas eu achava isso muito corajoso. Você já teve que dar fora em uma garota? Eu já. Vários. E saí vivo. Isso é um grande feito.
- Acabaram as perguntas? Já? - Eu indaguei.
- Acho que estou satisfeita por enquanto. - replicou, mas a cara era tudo, menos de satisfeita.
- Tem feijõezinhos de todos os sabores aí no meio da comida?
Isso fez ficar curiosa e me encarar, as sobrancelhas franzidas.
- Não. Por quê?
- Porque você tá com cara de quem comeu um sabor vômito. - Respondi, rindo.
Por algum motivo, não achou graça como eu.
- Ai! Tá maluca? Me bateu!
- A próxima vez que quiser falar que minha cara é feia, se prepare para um três vezes mais forte.
- Eu disse que você tá emburrada, não que sua cara é feia, lindinha. Talvez, se você sorrisse, poderia ficar um pouco mais atraente.
Ela ficou ainda mais furiosa e me mostrou o dedo do meio.
- Qual parte do sorriso você não entendeu?!
- Sirius, quero comer, não sorrir, ok?
- E por que tá assim? É ciúme de mim?
O rosto de se virou numa velocidade tão grande que eu fiquei surpreso que ela não quebrou o pescoço e virou uma amiga de Nick-Quase-Sem-Cabeça.
- Tá maluco?! Quando você vai parar de achar que o mundo gira ao seu redor?
- Então me conta o que houve.
- Não é da sua conta.
- Então como eu posso te deixar feliz?
- Me deixando em paz, talvez?
- Não quer nem jogar Gringoly e vencer de novo?
- Você é tão ruim que perdeu a graça.
- Eu vou fingir que não ouvi e você me diz como eu te ajudo.
- Eu não quero um garoto chato me perturbando! - Ela virou o rosto.
- Então você não quer nenhum garoto te enchendo o saco? - Eu perguntei, tendo uma ideia.
- Precisamente!
- Então tá bom, linda. - Eu disse, piscando pra ela e me transformando.
Depois de tanto tempo, me transformar não exigia esforço. Era algo natural como sair andando. Virou costume, sabe? E foi assim que rapidamente assumi minha forma peluda, de quatro patas e extremamente irresistível.
era muito curiosa. Ela não aguentou e se virou pra me encarar.
- Agora vou ter que especificar que eu não quero cães por perto também? - Ela disse, fingindo que ainda estava brava, mas um sorriso mínimo estava em seu rosto entregando o que sentia. Balancei o rabo em concordância.
Me aproximei e ela colocou a mão na minha pelagem. Não podia negar, eu amava um carinho atrás da orelha.
- Sabe, até da pra esquecer que você é um garoto irritante, você fica tão fofo! - riu.
Aos poucos, ela foi esquecendo quem eu era e começou a fazer vários carinhos em mim. Ah, cara, isso podia ser muito estranho, mas era tão gostoso! sabia os pontos certos pra acariciar.
Que foi? Um cara merece um afago na barriga quando ele se transforma em cão.
- Obrigada. - Ela disse, sorrindo de leve.
Em retribuição, eu pulei em cima dela e comecei a lamber o rosto dela. Sabia que ia irritá-la.
- Sirius! Para com isso! É sério, para! - ria sem parar. Era tão bonita rindo.
Obviamente, eu continuei. Entenda, eu queria dar uma animada dela e estava funcionando, né?
- Black, se você não parar agora, eu vou contar tudo pra sua família!
Congelei e me voltei a minha forma humana na hora.
- Você estava brincando, né? Você não pode brincar com isso. É um assunto sério. Porra, , promete que não vai contar!
- Calma, não vou! Eu só estava brincando! - Ela disse, arregalando os olhos como se estivesse em redenção.
- Acho bom. - Bufei.
Então, percebi o quão próximos estávamos.
Eu nem saberia dizer quantas vezes estivemos em situações assim apenas naquele único dia. Tão próximos por acidente. Minha cabeça já estava ficando louca. Ter uma menina como perto de mim 24 horas por dia estava se provando mais difícil do que eu imaginava. Com qualquer outra, eu não teria o menor problema em tomar atitude. Mas com ela, alguma coisa me detinha.
não era qualquer uma. De alguma forma, ela tinha se tornado minha amiga.
O problema é que ela era uma amiga que eu estava querendo muito beijar.
Nós dois nos encarávamos, os rostos próximos. olhava em meus olhos, mas eventualmente encarava minha boca, com um leve rubor.
Cacete, isso não ajudava em nada a tentativa de me conter.
E justamente por isso, eu a beijei, surpreendendo-a.
Os lábios de eram ainda mais macios do que eu imaginava. Ela estava imóvel embaixo de mim, mas, quando separei seus lábios com a língua, ela suspirou e retribuiu o beijo enquanto segurava meu rosto. Senti algo parecido com um ronronar sair da minha garganta e um sorriso leve aparecer em seus lábios.
Então ela estava achando aquilo engraçado? Ela ia ver só.
Intensifiquei o beijo e mordi seu lábio inferior. O sorriso saiu de seu rosto e ela arquejou de surpresa, aproximando ainda mais o corpo do meu. Sorri satisfeito comigo mesmo.
O problema é que o feitiço estava saindo pela culatra. O que eu fiz para afetá-la começou a me afetar muito mais. Sentir sua boca na minha, seu corpo pedindo para se aproximar do meu, suas mãos em meu corpo... E quando ela suspirava e gemia, ah, ali eu estava perdido.
E eu sabia que, se nós continuássemos nesse ritmo, eu não ia mais querer parar. Caceta, achei que beijá-la ia acabar com aquela vontade de vez e poderíamos seguir em frente, mas eu apenas fiquei com vontade de mais. Isso era preocupante. Indo contra todos os meus impulsos e desejos, eu me afastei dela e exclamei, sem saber direito o que pensar:
- Eu vou buscar uma sobremesa.
E saí, apressado, sem entender nada do que estava acontecendo comigo.

P.O.V.

Eu estava em completo choque. Sirius Black havia me beijado.
Tipo, realmente beijado.
O que tinha começado pequeno e inocente começou a tomar proporções muito maiores. Eu estava completamente imersa naquelas sensações.
E quando eu estava sentindo tudo evoluindo para algo mais... Ele saiu para pegar sobremesa. E sumiu. Já havia se passado meia hora desde que ele supostamente havia saído para pegar sobremesa. Mas, depois de 10 minutos, eu entendi que não era sobremesa nenhuma. Eu tinha era levado um bolo.
Eu estava me sentindo rejeitada. Como eu pude achar que ele ia se interessar por mim? Mas ao mesmo tempo, ele que havia me beijado. Teria sido um teste? Ele não gostou?
Bom, eram muitas perguntas e por isso acabei escrevendo uma nova carta para , contando tudo. Provavelmente, eu só a enviaria quando retornássemos para Hogwarts porque eu duvidava que tivesse um corujal ali perto.
Depois de escrever a carta, eu percebi o breu que fazia lá fora. Olhei o relógio e eu percebi que já fazia mais de uma hora que Sirius havia sumido. Bom, eu sabia que eu não tinha motivo para dar pitaco na vida dele, mas eu era sim sua convidada. E ele tinha me largado.
A mágoa a esse ponto estava se tornando raiva. Queria que Andrômeda estivesse ali, ela me ajudaria a pensar o que fazer. Mas ela havia ido embora. Por algum motivo, eu imaginava que ela daria uma grande bronca em Sirius e me faria seguir em frente.
Eu definitivamente precisava me distrair. Tive que arrumar sozinha os restos do nosso piquenique na cama, o que não ajudou em nada o meu mau humor. Depois, peguei um dos livros que eu trouxera para a viagem para ler. Tinha prometido a mim mesma que não ia estudar no feriado, mas eu não pensava em nada melhor para tirar aquele cafajeste da minha cabeça.
Depois de algumas leituras no livro de Transfiguração e alguns treinos, cansei de tentar fazer algo. Já faziam três horas que Sirius Black não aparecia. Ele não ia ficar tanto tempo andando por uma casa que odiava. Provavelmente tinha saído.
Talvez, já até estivesse com outra pessoa.
Eclipse, parecendo saber como eu me sentia, miou e se aproximou de mim, dando várias lambidas no meu braço.
- Obrigada. - Eu murmurei para ele.
Não pude deixar de sorrir, mas depois aquilo começou a me lembrar demais quando Sirius se transformou naquele lindo cão preto e deu várias lambidas carinhosas de cachorro. A tristeza e a raiva começaram a voltar e eu percebi que a melhor forma de esquecer seria dormindo. Se meu subconsciente colaborasse, eu podia ter bons sonhos e fugir daqueles acontecimentos.
Troquei de roupa e já ia me deitar no colchão do chão, quando dei uma olhadinha para a enorme cama de casal. O cachorro ainda ia, depois de tudo isso, poder dormir confortavelmente com todo o espaço para si.
Mas nem morta.
Chutei aquele colchão para fora do quarto e depois fechei a porta, conjurando todos os tipos de feitiços que impedissem a entrada daquele ser no quarto. Depois de uns cinco minutos murmurando todos os feitiços que lembrava, deitei satisfeita na cama de casal, aproveitando seu espaço. Chamei Eclipse para subir na cama, sabendo o quanto Black ficaria horrorizado com isso. E, depois de um tempo lutando contra a ansiedade e a insônia, eu apaguei.
Acordei e fiquei um pouco confusa de manhã. Tive que me lembrar de onde estava e, pior, de tudo o que havia acontecido. Não vi Sirius ali no quarto, o que me deixou dividida entre alívio e frustração.
Era dia 26 de dezembro. O último dia inteiro que eu passaria naquela casa abominável. E pensar que eu tinha simpatizado com Sirius por ele entender o sofrimento de uma família que o rejeita... Mas ele havia feito o mesmo comigo.
Passei minhas opções na cabeça. Poderia passar o dia no parque para evitá-lo. Apesar do frio, era a melhor hipótese. Podia montar bonecos de neve, depois almoçar em algum lugar por perto. E levar algum livro para me distrair em algum lugar com um bom aquecimento.
É, era um bom plano.
Decidi tomar banho antes de sair e tive que desfazer os vários feitiços complicados que eu lançara. Quando finalmente abri a porta, encontrei Sirius Black jogado no colchão do corredor, exatamente aonde eu o deixara.
- Patético. - Murmurei e ele roncou em resposta.
Fui para o banheiro e tive o cuidado de lançar todos os feitiços possíveis para não deixar ninguém entrar ali também. Ontem já fora muita emoção para um dia só. Depois de tomar meu banho quente, saí o mais rápido possível da casa, vendo de relance os Black tomando café da manhã.
O cheiro da comida veio até mim e meu estômago roncou. Primeira parada, com certeza algum lugar para comer.
O dia passou, mais demorado e mais rápido que todos os outros. Eu senti muita falta daquele babaca, mais do que esperava sentir, e fui tentando fazer as horas passarem o mais depressa possível. Fiz tudo o que tinha planejado e, tirando o momento que eu jurava ter visto um cão negro me seguindo, não tive o menor sinal de Sirius.
Quando começou a anoitecer, percebi que não tinha mais jeito. Era melhor voltar. Fechei o livro que estava lendo e saí do café aonde eu tinha me abrigado. Decidi dar uma última volta na cidade e enfrentar a mui antiga e nobre casa dos babacas.
Passei perto de uma rua com muitas luzes vibrantes e uma música alta tocando ali dentro. Um panfleto surgiu na minha frente na hora em que eu estava observando tudo.
- Boa noite, gostou daqui? - Um homem que parecia levemente mais velho que eu disse, estendendo o panfleto.
- Ah, boa noite! Fiquei só curiosa.
- Estamos abrindo hoje. Vai ser o melhor bar da região, pode ter certeza disso. Por que não passa aqui mais tarde? Tenho certeza que vai gostar.
- Quer saber? Acho que não seria nada mal. - Eu disse, aceitando o panfleto. Aquilo era exatamente o que eu precisava: bebidas, danças e músicas ruins.
- Que ótimo! Espero que volte. Com certeza vai deixar a noite bem melhor. - O garoto piscou para mim e não pude deixar de rir, sentindo o calor subir pelas minhas bochechas.
- Tyler, quantas vezes eu já te disse que eu te pago para nos divulgar e não para flertar?! - Uma mulher loira que parecia ser um pouco mais velha que eu apareceu. - Ah, boa noite! Sou Ellie Gomez. Espero que meu primo não tenha te perturbado muito!
- Não perturbou, fica tranquila. - Eu ri. - Então, o bar é seu?
- Sim!
- É do pai dela. – Tyler respondeu ao mesmo tempo, revirando os olhos.
- O que praticamente significa que é meu. - Ellie replicou, dando um tapa em Tyler.
- Ai! Enfim, espero te ver hoje a noite, é... Qual é seu nome?
- . - Eu disse, sorrindo.
- Gostei. Um nome bonito como você. - Ele sorriu.
- Não deixe ele te desanimar de vir, ! Espero que volte! - Ellie sorriu.
- Voltarei! - Eu ri, me despedindo, antes de voltar para a casa.
Fiquei tão animada com a ideia que até me esqueci do imbecil que morava naquela residência onde eu estava hospedada.
- ! Onde você estava? - Sirius me perguntou, assim que eu abri a porta.
Passei reto por ele e subi até o quarto, revirando minha mala atrás de algo para vestir.
- Qual é, , fala comigo. Você comeu? Precisa de algo? Fiquei preocupado.
Eu tinha tantas respostas possíveis para dar naquele momento, tantas perguntas para fazer, mas eu deixei o ódio calculista me conduzir. O ignorei e segui para o banheiro, onde coloquei o vestido que Andrômeda havia me dado, junto com o presente de natal da mesma: uma joia. Apliquei um pouco de maquiagem até me sentir muito bonita. Magoada e irritada por dentro, mas atraente e confiante por fora.
Quando saí do banheiro, Sirius estava de plantão na porta e arregalou os olhos quando me viu.
- Aonde você vai assim?
- Não te interessa. - Retruquei curta e grossa, indo para o quarto pegar minha bolsa com meu dinheiro.
- Claro que interessa! Acha que pode só sumir assim sem me falar nada?
Lancei um olhar torto para ele.
- Engraçado, igual você fez comigo ontem?
- Era diferente!
- Realmente, muito diferente. Vai continuar fingindo que você não fez nada?
- Eu não fiz mesmo.
- Ótimo. Obrigada por me lembrar que eu me enganei ao achar que você se importava comigo. Então, com licença, que eu tenho outro lugar para estar. – Eu falei, ácida, dando uma última olhada no panfleto para memorizar o endereço antes de largá-lo em cima da bancada.
Sirius imediatamente pegou o papel.
- Um bar trouxa? É isso que você vai fazer? Tá maluca?!
- Olha, Sirius, de uma vez por todas: quer calar a boca e não se meter na minha vida?
Ele se calou e arregalou os olhos, antes de sair e pegar uma jaqueta de couro.
- O que você tá fazendo? - Eu indaguei, a curiosidade vencendo a raiva.
- Eu vou junto.
- O quê? - Eu perguntei, incrédula.
- Eu vou junto. - Ele afirmou calmamente.
- Mas não vai mesmo! – Eu repliquei. A última coisa que eu queria era numa noite para esquecer Sirius Black era ter que encarar Sirius Black.
- Vou sim e nada do que você diga vai me impedir.
Ele passou por mim e desceu as escadas, parando no último degrau para me encarar.
- Você vem?
Eu bufei, completamente estressada. Aquela seria uma longa noite.


Capítulo 7

P.O.V. Sirius

Eu sabia que havia feito merda.
Tá legal, muita merda.
Não foi minha intenção deixar irritada, mas eu estava tão confuso. Eu nunca havia beijado alguém com quem eu também me preocupava e estava passando a confiar. Sempre foram garotas com sorrisos bonitos e curvas melhores ainda, boas para passar a noite, mas não o tipo de companhia que eu manteria para passar o dia. Honestamente, não conhecia ninguém com quem eu ficara além do básico.
Mas eu conhecia para além do seu nome. Mesmo que só tivessem se passado três dias, fazia tempo que eu não me abria e confiava em alguém assim: e eu sentia que ela confiava de volta.
Porém, ela estava começando a se apegar, eu vi aquilo, enquanto eu... Não tinha ideia do que sentia. E mesmo que sentisse algo, seria duradouro? Valeria a pena tentar investir se no final talvez só acabasse estragando nossa amizade e terminássemos separados?
Na hora, me afastar pareceu a melhor opção para salvar a nós dois.
Agora... Não tinha certeza. Apenas tinha em mente que eu não queria perder a amizade de e nem deixá-la em perigo. Por isso, mesmo com a distância que eu queria impor a nós dois, eu tive que segui-la até o maldito e suspeito bar trouxa.
Não foi uma caminhada muito amigável. Um silêncio desconfortável permeava o ar e eu não fiz questão de tentar mudar o clima. Um, porque, naquele momento, distância incluía não papear sobre tudo. Dois, porque estava com a mesma cara que minha mãe fazia quando eu falava da Grifinória em casa.
Seguimos pelas ruas escuras até encontrarmos o endereço do panfleto que ela trouxe para casa. Luzes vermelhas vinham lá de dentro com um som abafado e um cheiro engraçado. Entramos em uma fila, com ainda me ignorando, diferente de outras garotas no lugar. O problema é que isso parecia deixar a Grifinória cada vez mais irritada. Por fim, chegou a nossa vez.
- Identidades, por favor. – Um homem que parecia cuidar da segurança falou.
Que porcaria era aquela?
Olhei para confuso e ela tinha um sorrisinho mínimo no rosto. Ela sabia que eu não poderia entrar porque não tinha esse negócio trouxa que eles estavam pedindo.
- Aqui. – entregou um negócio retangular com uma foto sua que o homem de terno passou a analisar.
- Menor de idade não entra. – O segurança disse, devolvendo o documento para , que agora estava perplexa.
- O quê? Mas...
- Já disse. Precisa ter 18 ou não entra. Próximo.
- Não! – barrou a passagem das pessoas que iriam tomar nosso lugar. – Por favor, chame sua chefe, sei que ela...
- Sem exceções, mocinha.
- Mas...
- ? – Uma nova voz falou e eu me virei em sua direção. Era um garoto talvez um pouco mais velho que nós.
- Tyler! – acenou para ele.
Como eles sabiam o nome um do outro?
E por que estavam com sorrisos tão abertos?
Por algum motivo, senti uma vontade ainda maior de pegar e ir embora com ela.
- Sr. Gomez, eu... – O segurança falou, um pouco nervoso.
- Não se preocupe, Paolo. Você estava fazendo seu trabalho corretamente, mas essa aqui é uma convidada especial. – O garoto piscou para ela.
Minha mão se fechou ao mesmo tempo que deu uma risadinha.
O segurança abriu passagem e entrou enquanto Tyler passava a mão em volta de sua cintura, ameaçadoramente perto de sua bunda. Quando eu fui passar, o segurança me barrou.
- Ei! Eu estou com ela!
- É verdade? – Tyler perguntou, sem aparentar irritação, apenas curiosidade.
A resposta de foi um longo olhar mortal.
- Ah, qual é, , você tá dormindo na minha casa, estuda comigo, mas não vai me deixar entrar?
- Você está na casa dele? – O garoto agora parecia muito surpreso.
- Às vezes fazemos merdas assim tentando apenas evitar estar sozinhos. – praticamente bufou. – Mas sozinhos estamos muito, muito melhores.
- Acho que você só não teve a melhor experiência com companhias. – O tal Tyler disse.
- É claro que ela teve! Ah, qual é, ! – Eu bufei, irritado ao extremo.
- Deixe-o entrar. – O garoto comentou.
- Mas Tyler...!
- Ele não vai nos incomodar, . Não é mesmo?
Travamos uma guerra de olhares. Eu não queria que ficasse zanzando com um garoto qualquer sem que eu pudesse protegê-la.
Mas não fui eu que queria distância? Os olhos de me fizeram tomar minha decisão.
- Eu não vou incomodar. Tem minha palavra. – Murmurei.
O segurança liberou minha passagem e eu entrei, perdendo rapidamente e Tyler de vista. Ela não precisava da minha amizade e nem da minha proteção. Ela não precisava de nada de mim.
Fui direto para uma mesa que tinha muitas garrafas atrás.
- Vou querer um copo de... – Me dei conta que não conhecia nenhuma bebida trouxa. – do mais forte que você tiver.
O homem me olhou de cima a baixo.
- São sete libras.
Merda, na pressa de sair de casa e seguir , esqueci meu dinheiro trouxa.
- Deixa pra lá.
Saí dali e fui em direção ao local de onde a música alta parecia vir e cheguei em uma parte nos fundos onde muita gente dançava. Eu não conhecia as músicas, mas o som era contagiante. Mesmo emburrado, me vi batendo os pés no ritmo dos instrumentos, me perdendo naquela sensação.
- Não adianta só bater os pés, precisa dançar de verdade! – Eu ouvi uma voz dizer muito próxima de mim e me assustei, virando para trás.
E, caceta, que bela visão.
A loira usava um vestido curto e sorria com confiança, como se tivesse certeza que tinha qualquer um ali nas mãos.
E eu não duvidava que tivesse.
Abri um dos meus melhores sorrisos para ela.
- É o tipo de coisa que fica chato sem uma boa companhia.
Ela sorriu de volta, levantando uma das sobrancelhas.
- Então parece que vamos ter que procurar alguém nesse salão que dance com você.
Eu entendia o jogo dela e ela parecia entender o meu. Devia estar acostumada a esse tipo de interação. Eu com certeza estava.
- E quais seriam os critérios? – Perguntei, fingindo compenetração.
- Hum... Jovem, bonita e que saiba dançar.
- Você sabe dançar?
- É impossível não saber sendo dona de um bar. – Ela sorriu.
- Dona dele, é? Bom, de qualquer jeito, então acho que encontrei alguém que se encaixa em todos os critérios.
A menina riu com gosto.
- Gostei de você. Sou Ellie Gomez.
- Black. Sirius Black.
- Então, Sirius Black, eu talvez te dê a honra de dançar comigo. Vamos encontrar um bom lugar.
Fomos rindo até o que ela considerava um espaço adequado. Ela me ofereceu um gole de sua bebida, o qual eu aceitei, até que encontramos um lugar que ela gostou.
- Ah, perfeito! Espera, talvez não tão perfeito. – Ela revirou os olhos. – Darrow!
De longe, um garoto olhou na direção de Ellie e riu divertido. Não, não era um garoto qualquer. Era Tyler. Ele se aproximou, sem me notar.
- Da pra parar de me seguir e vazar? Eu quero esse canto. – Gomez reclamou.
- Pena, eu cheguei aqui primeiro.
- Mas eu mando aqui!
- Meu tio manda aqui, não você!
- Ou seja, meu pai!
Me perdi na briga dos dois quando vi um movimento de cabelos e me deparei com bem na nossa frente.
- Voltei! Trouxe as bebidas e... Sirius? Ellie?
- , querida! Você veio! E conhece meu acompanhante?
- Nós viemos juntos. – Ela proclamou, dando um sorriso torto.
- Ah, então você o trouxe? Muito obrigada, com certeza melhorou minha noite. – Ellie piscou e eu deixei sair um sorriso.
- Que ótimo. Vamos, Tyler. Vamos dançar.
arrastou o garoto de volta para onde eles estavam e eles engataram em uma conversa que parecia muito engraçadinha. Cerrei os punhos.
- Me perdoe pelo meu primo, ele é bem inconveniente. – Ellie falou, me fazendo lembrar da existência dela.
- O quê? Ah, relaxa. Vem, vamos dançar.
Gomez arregalou os olhos diante daquela atitude súbita, mas não comentou nada, começando a pular animada com a música, remexendo os quadris da maneira mais certa possível.
A droga do problema é que, de repente, ela já não parecia mais tão interessante ou bonita. Não como a menina de vestido preto que dançava com o primo de Ellie, nem sempre acertando os passos, mas compensando com um sorriso de tirar o fôlego.
Eu tentei várias vezes deixar de olhá-los, mas, mesmo dançado com Gomez, eles ainda estavam em meu campo de visão. E por isso eu vi perfeitamente bem quando Tyler a puxou subitamente pela cintura e se inclinou para falar tão perto de seu ouvido.
Não era apenas raiva que eu sentia naquele momento. Era inexplicável. Eu sentia algo irracional me dizendo que ele não devia tocá-la assim. Que ninguém, além de mim, devia tocá-la assim.
Só me lembrei de Ellie quando ela me cutucou.
- Tá vivo? Parou de dançar tão de repente.
Sem minha resposta, ela seguiu meu olhar, travando no casal que dançava. Tyler e quase pareciam um só, de tão próximos que estavam.
- Sabe, acho que erramos ao escolher sua parceira de dança. – Ellie disse, chamando minha atenção com um susto.
- Quê?
- Ora, é óbvio o jeito que você olha para ela. É tão bonitinho! Um pouco enjoativo, mas bonitinho.
- Eu não olho de jeito nenhum para ela.
- Sei, sei. Sabe, eu não estou chateada. Mas você devia agir logo.
- Eu não posso. – Falei, rendido. – Ela não me quer. E é melhor assim.
- Pelo olhar dela ao te ver comigo, ela claramente te quer. Mas você não quer tentar nada. Por quê?
- Porque não vai dar certo. Ela vai desistir de mim ou ao contrário. E vamos perder a amizade em troca de algo que só vai estragar tudo. Existem outras meninas e outros caras no mundo que vão ser melhores para nós.
- Se você acredita nisso, por que ainda continua atrás dela? – Gomez continuou questionando, sabendo aonde me atingir.
Se eu sabia que devia afastá-la e que havia alguém melhor, por que ela não saía da minha cabeça?
- Porque eu nunca senti por ninguém o que eu sinto por ela. E por isso que estar com ela parece tão assustador e desejável ao mesmo tempo.
Ellie sorriu e beijou minha bochecha, me surpreendendo.
- Não a perca. Ela parece que vale a pena. E justamente por ser única que você devia tentar. É mil vezes melhor a sensação quando é com alguém assim.
Eu sorri para ela, assentindo. Já ia sair na direção de quando ouvi Ellie.
- Ah, e se por acaso você tiver um irmão, por favor, me apresenta. Você não é de se jogar fora, Sirius Black.
Não pude deixar de rir.
- Você também parece incrível, Ellie. E, justamente por isso, eu não vou te apresentar ao meu irmão.
Ela riu e eu sorri de volta, antes de respirar fundo.
Valeria a pena ter , mesmo que fôssemos sofrer.
E talvez, nem tivesse sofrimento.

P.O.V.

Esquecer Sirius Black estava dando muito mais trabalho do que ele merecia que desse.
Dançar com Tyler tinha seus efeitos e eu admito que depois de tantas confusões com o grifinório, eu me senti normal, com tudo sob controle.
O problema é que a estabilidade parecia extremamente entediante depois de experimentar algo tão intenso como estar com Sirius. Mas isso não importava, eu voltaria a gostar do normal.
A noite estava indo ainda melhor do que eu esperava. Isto é, até ver como em tão pouco tempo, Black já havia se engraçado com Ellie. E por um mísero segundo eu cheguei a achar que ele estava enciumado. Eu me sentia patética por acreditar nisso. Mas não seria a primeira vez, já que ele me fez acreditar que estava a fim de mim.
Continuei dançado com Tyler depois de trombar com o infeliz, mas ele continuou dentro do meu campo de visão e não consegui deixar de observá-lo de canto de olho. Até o meu acompanhante percebeu.
- Acho que tem alguma coisa a mais nessa sua história com o seu amiguinho. – Ele falou bem perto do meu ouvido para eu escutá-lo, puxando-me pela cintura.
Eu não pude deixar de me assustar, mas tentei esconder o que eu sentia.
- O que quer dizer?
- , você não para de olhar para ele. O que ele te fez pra te deixar tão puta com ele?
Eu pensei em várias maneiras de falar isso. Mas eu não sabia.
- Ele só deixou bem claro que não me quer. – Admiti, por fim.
Tyler me analisou tentando detectar qualquer sinal de mentira. Por fim, suspirou.
- Olha, , você é uma garota incrível e eu realmente estava a fim de você. Então espero que ele valha a pena pro que eu vou fazer agora. Ele com certeza te quer de volta, viu?
Eu não pude conter o riso sarcástico.
- Sem querer ofender, Tyler, mas você não sabe do que rolou.
- Não sei mesmo. Mas eu tenho olhos e ele não para de olhar para cá. Não sei o que ele fez pra te deixar acreditar que ele não está a fim, mas o cara é tão ruim quanto você em esconder isso.
- Ei!
- Relaxa, isso não significa necessariamente algo ruim. Mas só acho que você não devia ficar a noite aqui comigo quando quer estar com ele.
- Mas ele não me quer, Tyler! – Eu falei quase gritando por cima da música alta que começara. – Não quero ficar fazendo papel de boba!
- Talvez ele só precise de um empurrãozinho.
- Como assim?
- , ele claramente quer alguma coisa, mas talvez esteja confuso. Vocês podem só conversar ou, bom, as coisas também não precisam ser resolvidas com palavras. – Tyler riu conforme eu sentia meu rosto ficar quente.
- Mas ele nem sequer quis me beijar!
- Então faça ele querer.
Eu olhei para Tyler perdida. Como eu sequer ia fazer isso?
- A propósito, caso ele seja idiota de não te querer, não esqueça que tem quem queira. – Tyler disse e eu não pude deixar de rir constrangida.
Respirei fundo e o abracei antes de sair à procura do que provavelmente seria um grande erro. Na pior das hipóteses, eu poderia culpar o álcool.
Mas quando eu me virei, só pude ver Ellie depositando um beijo extremamente próximo da boca de Sirius. E ele sorria e ria para ela. Que ódio, eu me sentia tão idiota! Tyler entendera tudo errado. Ele claramente não me queria.
Então faça ele querer.”
E como diabos eu poderia fazer isso?
Antes que, no entanto, eu pudesse ter alguma ideia, Ellie saiu de perto de Sirius e ele se virou.
Para mim.
Ficamos encarando um ao outro, ambos surpresos. O que eu iria fazer? Aquilo estava patético. Decidi que era melhor encontrar Tyler de novo do que me humilhar desse jeito.
Porém, assim que comecei a caminhar determinada, senti uma mão pousar suave no meu ombro.
- Não está tentando fugir de mim, está, ? – Ele disse, a voz ameaçadoramente perto do meu ouvido. Não pude conter o arrepio que me subiu.
- Eu já desisti de tentar, você não me deixa em paz. Achei que ia ter o mínimo de senso para fazer isso. – Eu repliquei me virando.
Sirius estava perto. Perto demais para permitir que minha mente funcionasse bem. Evitei ao máximo olhar em seus olhos, por medo do que fosse encontrar. Eu estava basicamente implorando para ser rejeitada novamente.
- O que houve? – Eu perguntei por fim, sem conseguir esconder uma pitada de irritação. – Ellie te largou e ficou sem opções?
Eu só não esperava que ele fosse rir tão abertamente na minha cara.
- Já te disse que você fica adorável quando está com ciúmes, ?
- E eu já te disse que você fica patético quando está com ciúmes, Black? – Eu rebati, o rosto quente por ter sido transparente naquela noite.
O grifinório logo fechou a expressão.
- Eu não estava com ciúmes.
- É claro que não. – Bufei, sem paciência.
Me desvencilhei de sua mão e saí ainda mais rápida do que antes, mas logo ele me alcançou, agora me segurando pela cintura de uma forma muito mais possessiva e firme.
- Aonde você vai? – Ele me questionou.
- Bom, já que aqui entre nós claramente não há nada, eu prefiro aproveitar o resto da noite e encontrar alguém que realmente se interesse. E se a Ellie te largou, ou você ela, não se preocupa, tem várias outras meninas bonitas aqui para você dar em cima.
Sirius ficou tão perplexo que sua mão se soltou da minha cintura. Até eu fiquei surpresa com minha sinceridade. Realmente fazia tempo que eu não bebia um pouco de vodca porque o efeito estava surgindo rapidamente.
Me dispersei entre as pessoas procurando Tyler, mas ele não estava em lugar nenhum. O que eu ia fazer agora?
Um ritmo conhecido começou e eu percebi que estava tocando a música do último filme do James Bond (e o melhor até agora, porque no quesito entretenimento, os trouxas eram incríveis). Todas as pessoas ao redor começaram a dançar e cantar aquele trecho tão famoso:

Nobody does it better
(Ninguém consegue fazê-lo melhor)
Makes me feel sad for the rest
(Me faz sentir pena dos demais)
Nobody does it half as good as you
(Ninguém consegue fazer nem metade do que você faz)
Baby, you're the best
(Baby, você é o melhor)


Aquela energia era simplesmente contagiante. O ritmo lento contrastando com as músicas anteriores, todos tão envolvidos. Meu corpo começou a se mexer por conta própria sem que eu percebesse.
- Finalmente te achei! Tá maluca? Você não pode sumir desse jeito, nem me deixa explicar! Eu... O que você tá fazendo? – Os olhos de Sirius subitamente se arregalaram.
- Dançando, ué. E se você não se importa, eu gosto dessa música, não estraga isso.
- Mas eu tenho que te contar e convers... Quer parar de dançar?!
- E por quê? – Eu repliquei irritada, dançando com ainda mais vontade.
- Eu estou tentando falar com você!
- E eu falei que gosto dessa música! Não pode esperar ela terminar?
- Não, não consigo. – Black parecia rosnar baixinho.
- Por que você é tão impaciente?! Para de ficar irritado!
- Eu não estou irritado. – Ele rebateu e eu o encarei.
E me surpreendi. Seus olhos faiscavam, mas não era de raiva. Era de... Desejo.
Então eu estava mexendo com ele? O conselho de Tyler me voltou a cabeça e eu só pude sorrir.
- Eu estou te escutando. Pode falar. – Eu disse, me aproximando discretamente e jogando o quadril para os lados com um pouco mais de confiança.
- , por favor, eu preciso me concentrar. – Ele disse, parecendo levemente transtornado.
Tomada por uma coragem absurda, eu me aproximei dele.
- E por que você não consegue se concentrar, Sirius? – Falei bem perto do seu ouvido.
Uma de suas mãos se prendeu em minha cintura. Eu podia facilmente me acostumar com ela ali.
- Porque eu só consigo pensar no quanto eu quero te beijar. – Ele falou com a voz rouca e naquele momento o ar fugiu de mim. Senti um calor começar a crescer no baixo ventre.
- Achei que você não quisesse me beijar. – Eu rebati, ainda sem conseguir perdoar o incidente do dia anterior.
- É claro que eu quero. É complicado.
- Para mim não é. Se você quer me beijar, é só me beijar. – Eu virei de costas para ele, ainda dançando, simplesmente porque eu me senti muito constrangida para encará-lo depois de ser tão direta.
- Mas primeiro a gente tem que conversar e... Caralho, , assim eu não vou conseguir falar nada!
Agora suas duas mãos estavam em minha cintura e Black me puxou na sua direção. Dei graças a Deus por estar de costas, porque eu não tenho ideia da expressão de surpresa que eu devo ter feito quando senti o quão animado ele estava. Ganhei uma confiança que nunca havia tido antes, mas ao mesmo tempo, uma vontade urgente crescia dentro de mim.
Eu sentia sua respiração quente bater no meu pescoço e meu quadril passou a se mexer involuntariamente de encontro ao dele. Eu queria entender sua explicação, queria de verdade. Mas agora eu precisava de outra coisa.
Não pude deixar de arquejar quando seus lábios começaram a explorar meu pescoço. Cada toque de Sirius me causava algo que eu nunca sentira antes. E não por falta de experiência, muito pelo contrário. Já havia me envolvido com tantas pessoas, mas ninguém fazia eu me sentir assim.
Eu sabia que isso poderia ser uma armadilha gigante para mim. Era perigoso o que eu estava sentindo, ainda mais quando se tratava do cara mais desapegado do planeta. Porém, meu desejo era tão intenso que naquele momento eu nem me importaria de ser mais uma das suas conquistas, desde que eu pudesse estar com ele.
- Vamos sair daqui. – Ele falou no meu ouvido e eu não pude deixar de me perguntar se eu me acostumaria com o quão sexy sua voz ficava quando estava rouca assim.
- Por quê?
- Porque temos um público muito grande. – Ele replicou, me fazendo olhar em volta.
Algumas poucas pessoas nos olhavam e eu não pude deixar de sentir meu rosto esquentar.
- Por que estão olhando tanto para nós? – Eu indaguei, me virando de frente para ele. – Tem gente fazendo muito pior.
- Quem me dera estivessem olhando para nós por causa disso. – Ele disse, as mãos se apertando ainda mais em minha cintura e sua expressão se fechando.
Demorei um pouco para entender o que ele dizia.
- Então você realmente tá com ciúmes!
Sirius bufou, sem concordar, nem discordar. Seria o máximo que eu tiraria dele. Não pude deixar de rir e ele voltou a me encarar, a expressão suavizando um pouco, embora ainda trouxesse muita intensidade.
- Vamos logo? – Indagou e, quando ele encarou minha boca, só havia uma resposta possível.
- Por favor.
Black soltou minha cintura para então segurar minha mão. Naquele momento, todas as pessoas passaram a ser insignificantes. Eu só via Sirius me conduzindo para fora do bar. Alcançamos a rua escura e aparatamos em algum canto. Anotei mentalmente para nunca mais aparatar bêbada, uma náusea rápida me atingindo, mas pouco depois se esvaindo.
Entramos na casa da família Black procurando ser o mais silenciosos possíveis. Nenhum desejo falaria mais alto que o medo e desgosto de encontrar qualquer membro daquela família ou seu nada adorável elfo doméstico.
Quando finalmente alcançamos o quarto, procurei minha varinha, nossas mãos ainda entrelaçadas, e apontei para a porta:
- Abbafiato.
Sirius ergueu uma sobrancelha e sorriu maroto de canto.
- Pare de me olhar assim. – Bufei.
- Assim como?
- Tão convencido.
- Estou apenas intrigado com a necessidade do feitiço. – Ele replicou, me fazendo corar.
- Ora, eu... Quero privacidade para me ajeitar. – Menti tão descaradamente que nem eu engoli minha própria mentira.
- Sei. – Ele murmurou sorrindo, se aproximando cada vez mais. Quando seus olhos desceram para a minha boca, eu afastei qualquer pensamento do dia anterior e selei nossos lábios.
Parecia impossível, mas aquele beijo era ainda melhor do que o anterior. O gosto de Sirius misturado com um leve sabor da bebida de antes era a representação de uma droga. Um vício que me levaria aos meus melhores momentos, mas poderia me destruir por completo.
Minhas mãos revezavam entre seus cabelos macios e os braços fortes, enquanto as suas acariciavam meu pescoço e a parte desnuda do meu colo. O calor entre minhas pernas crescia descontrolavelmente.
Isto é, até ele se afastar de novo.
- , eu...
Eu sentia o receio em sua voz e aquilo me irritou mais do que me magoou. Queria socar a mim mesma por acreditar que ele me queria. Mas por que ele agiria daquele jeito então?
- Eu já entendi. – Respondi seca, me desvencilhando dele.
- Não, não é isso. – Ele rapidamente pegou minha mão e eu contive o impulso de puxá-la de volta. – É só que... Eu quero ter certeza que você também quer, que não é a bebida.
Eu o encarei e percebi que seu rosto trazia algo além do desejo. Era carinho, preocupação. Não pude conter um arquejo de surpresa e senti meu coração acelerar.
- Eu bebi muito pouco, Sirius. Eu respondo pelas minhas atitudes. E... agora, eu quero isso. Mas – Tratei de completar. -, se você fugir agora, eu nunca mais te perdoo.
Seus olhos escureceram conforme ele avançava na minha direção, fazendo minha respiração acelerar.
- Eu não vou a lugar nenhum, .


Capítulo 8

P.O.V. Sirius

Não havia mais como mentir para mim mesmo. era uma garota incrível. Doce, gentil, mas sempre pronta para brigar comigo. Às vezes, era irritante ou infantil. E o problema... É que eu aprendera a gostar desse jeito dela. Ela entendia o que era ser excluída de uma família. Ela agora sabia do meu maior segredo: ser um animago. Ela havia se tornado minha amiga de verdade.
Mas não parava por ali. Porque um amigo não deveria sentir uma vontade desesperadora de estar a sós com sua “amiga" e tirar cada peça de roupa dela lentamente.
E não havia mais como negar que era exatamente isso que eu queria de .
Dizem que a melhor forma de se apaixonar é possuindo desejo e amizade. Bom, se aquilo era se apaixonar... Por mais que fosse difícil de pensar, sim, eu estaria me apaixonando. Em tão pouco tempo e de uma forma tão esquisita. Eu nunca me imaginei pensando em ninguém dessa forma. Mas acho que esse tipo de coisa a gente não pode ter controle. Uma ansiedade subia pelo meu peito sempre que eu pensava nisso.
Esses pensamentos rondaram minha cabeça durante toda a volta para casa, me deixando curioso para o que seria ficar com alguém de quem eu realmente gostava. Mas então, trancou a porta e lançou Abbafiato.
Se eu não estivesse perdido por ela antes, agora não teria mais como não adorá-la.
E qualquer outro pensamento que não fosse referente a agradá-la de várias maneiras diferentes sumiram da minha mente.
Meu olhar desceu por seu corpo delineado marcado por aquele maldito vestido preto. Cada parte dela parecia deliciosa e o conjunto... Era a própria perdição. O pescoço era emoldurado por seus fios , seu olhar intenso estava cheio de expectativa e sua boca... Puta merda, eu precisava beijá-la.
E fiquei ainda mais positivamente surpreso quando ela tomou a atitude primeiro. Meu corpo reagia com o cheiro e o toque dela, especialmente com o beijo intenso que nossas línguas travavam. Eu explorava seu pescoço e seu colo desnudo convidativo com as pontas dos dedos, sentindo-a suspirar, e ela respondia na mesma intensidade, segurando meus cabelos e apertando meu braço. gostava de ter tudo sob seu controle e tentava fazer o mesmo com aquele momento. Eu gostava de uma mulher com atitude, mas eu não cederia tão fácil.
Porque isso era parte da nossa relação. Uma briga constante em que um tentava superar, dominar, vencer. E aquilo tornava tudo mais intenso, pois tínhamos que dar tudo em nós para aquele momento para ser tão inebriante quanto o álcool doce que ainda residia em nossas bocas.
Subitamente, me afastei, percebendo o quão idiota eu estava sendo. Eu precisava fazer isso agora. Precisava ser decente. Antes que fosse tarde demais.
- , eu... – Mal pude começar a falar, quando a mesma me interrompeu, seca.
- Eu já entendi.
Eu fiquei confuso por alguns segundos, até sacar novamente: ela estava se sentindo rejeitada. E eu sabia que a culpa disso era toda minha porque eu a afastara uma vez. Na cabeça dela, parecia plausível que eu me afastasse de novo.
O problema é que aquilo era a última coisa que eu queria fazer.
- Não, não é isso. – Tratei de afirmar, segurando sua mão, querendo que ela olhasse em meus olhos e enxergasse a verdade que eu mesmo demorara a ver. – É só que... Eu quero ter certeza que você também quer, que não é a bebida.
Seus olhos se tornaram indecifráveis enquanto ela absorvia tudo o que eu lhe dissera. Ela soltou um arquejo e eu fiquei extremamente confuso em como alguém poderia ser tão adorável e desejável ao mesmo tempo.
A ansiedade consumia meu corpo, cada mínimo centímetro dele gritava o quanto eu precisava ter para mim. Era possessivo, inebriante, intenso, esquisito e torturante. Por fim, olhou para mim.
- Eu bebi muito pouco, Sirius. Eu respondo pelas minhas atitudes. E... Eu quero isso. Mas, se você fugir agora, eu nunca mais te perdoo.
Algo esquisito aconteceu no meu estômago. Eu me sentia um maldito pré-adolescente virgem. Não era hora para nervosismo. Era hora de poder apreciar tudo o que eu mais desejava até aquele momento.
Me aproximei lentamente de , vendo seu próprio corpo reagir a mim. Aquilo era uma tortura. Ela era uma tortura.
- Eu não vou a lugar nenhum, . – Foi tudo o que eu senti que precisava dizer, antes de segurar seu rosto com leveza e beijá-la com calma.
Cada célula do meu corpo implorava que aquilo se intensificasse, que eu pudesse me deliciar em , mas eu não podia fazer isso. Não agora. Eu precisava que ela confiasse em mim, confiasse em minhas palavras. Confiasse que, por mais estranho que aquilo fosse para mim, por mais que me apavorasse a ponto de me fazer desaparecer por uma noite em um bar trouxa qualquer a ponto de evitar ao máximo confrontar meus sentimentos, eu não tinha a menor vontade de abandoná-la. Porque eu tinha a impressão que aquilo poderia doer em mim como uma Maldição Cruciatus.
No entanto, talvez por sorte, talvez por ela ser exatamente a pessoa que eu precisava ter na minha vida no momento, agarrou a lapela da minha blusa e me trouxe ainda para mais perto, aprofundando o beijo e as carícias. Logo, sua mão que antes estava no meu cabelo começou a descer lentamente, passando por meu pescoço e descendo por todo o meu tronco, parando exatamente no limite entre a blusa e a calça.
Eu não saberia explicar exatamente qual foi o exato barulho que saiu involuntário da minha garganta, mas até eu podia escutar o meu próprio desespero em tê-la. soltou um pequeno riso com a boca ainda colada na minha. Com o orgulho levemente ferido, me afastei de leve.
- Algum problema, ? – Resmunguei, um pouco mais irritado e desesperado do que gostaria.
Seus risinhos se intensificaram.
- Ah, não é nada, Black. – Ela disse, sustentando um sorriso de canto.
Bufei, aquela garota conseguia ser extremamente irritante quando queria.
- Está zombando de mim? – Perguntei de novo.
- Ah, não fica chateado! Eu não estou zombando, de verdade. É só que... Ah, vai, essa situação toda parece já meio fora da realidade. Quer dizer, você ficando comigo. E aí eu ainda faço você parecer um cachorrinho desesperado com apenas algumas carícias com os dedos. – Ela disse, e jogou o cabelo para trás em um gesto inocente e sedutor.
Ergui uma sobrancelha. Garota atrevida. E honesta demais. Bom, se ela queria brincar, era o que ela teria.
Me afastei de leve dela e retirei meu casaco, colocando-o na cadeira da escrivaninha do quarto. Meus passos eram lentos, exigindo um grande auto controle, e sem desviar os olhos de por um segundo. Nossos olhares estavam presos um no outro. Ela parecia hipnotizada por cada movimento.
Voltei a me aproximar dela, abrindo alguns botões da blusa no caminho, calmamente. Eu percebi que ela engoliu em seco. Aproveitando sua distração, deitei-a na cama e subi por cima dela, aproximando a boca de seu ouvido.
- Aproveitando a vista, ? – Não pude deixar de caçoar.
- Você é muito convencido, Black. – Ela rebateu, mas sua respiração entregava o que ela sentia. Não pude deixar de sorrir.
- Sabe, você parecia extremamente satisfeita com o que podia fazer comigo apenas com uns beijos e a ponta dos dedos. Vou te mostrar o que é poder de verdade. Acho que você vai gostar se eu começar assim...
soltou um suspiro satisfeito quando meus lábios encontraram seu pescoço de leve. Com a ponta da língua, marquei um caminho da base da sua orelha até a clavícula, tornando seus suspiros em gemidos baixos e torturados. E, devo admitir, torturantes.
- Calma, linda, estamos apenas começando. – Eu sussurrei em seu ouvido e a escutei bufar com o apelido, como sempre. Não pude deixar de abrir um sorriso antes de beijar seu pescoço com vontade.
Seu corpo arqueou e ela soltou mais um gemido conforme os beijos se intensificavam na região. Beijei todo o seu colo e segui o contorno da parte superior de seus seios com o indicador, sentindo-a arrepiar e soltar um arquejo.
Levei um dedo aos seus lábios.
- Já está se sentindo assim, linda? Nem posso imaginar como vai ser quando começarmos de verdade.
No entanto, ela abriu a boca e seus lábios envolveram meu dedo, me deixando sem fala. Sua língua quente brincou com indicador, chupando-o em seguida. Seu olhar permaneceu colado ao meu e pude ler todas as suas intenções. O gemido rouco que deixei escapar foi inevitável e eu senti o volume em minhas calças latejar.
- Dois podem jogar esse jogo, Sirius. – Ela disse, com meu dedo sobre seu lábio inferior, antes de voltar a contornar a ponta deste com a língua.
Eu estava condenado. Mas me concentrei em alguma coisa idiota para manter o controle e voltei a olhar para ela, sorrindo de canto.
- Tem razão. Dois podem jogar esse jogo.
Com as duas mãos, comecei a subir por toda a extensão de sua perna, sentindo a pele macia se arrepiar. Seu quadril começou a se mexer de leve conforme eu subia por sua coxa, me dirigindo cada vez mais a parte interna.
A ponta do meu dedo encontrou seu ponto sensível. começou a gemer conforme eu me movimentava ali. Ela já estava tão molhada, tão pronta...
Afastei minha mão e voltei a acariciar seu pescoço. Ela olhou para mim, irritada.
- O que foi? – Perguntei, me fazendo de inocente.
- Por que você parou? – Ela perguntou, tão direta que me fez sorrir de leve.
- Ora, , porque o combinado era o que eu poderia fazer apenas com a ponta do dedo. Mas se você quiser o dedo inteiro...
- Na verdade, o combinado era o que você conseguiria fazer com a ponta dos dedos e com alguns beijos. – Ela levantou a sobrancelha, sugestiva.
Essa garota era o próprio inferno e o paraíso juntos.
O que aconteceu a seguir foi inevitável. Não pude deixar de me deliciar entre suas pernas até ouvi-la gritar e sentir seu corpo se contraindo involuntariamente. Peça por peça, nossas roupas foram sumindo e eu tive que contemplá-la entregue para mim. Cada parte do seu corpo era perfeita e extremamente provocante, muito além de qualquer coisa que eu poderia imaginar. E isso se devia pelo fato de ser ela na minha frente. era especial.
No ápice do desejo e da entrega, chegara o momento de unir nossos corpos. Novamente, senti o medo me invadir, e não pude deixar de erguer os olhos para .
- Você tem certeza que quer isso? – Perguntei, disposto a me afastar dela se a resposta fosse não, por mais que parecesse humanamente impossível.
Ela me encarou, os olhos refletindo desejo e carinho, fazendo novamente meu estômago se contrair com alguma ansiedade que somente ela causava.
- Eu quero você. – Ela afirmou e, de alguma forma, minha vontade pareceu triplicar.
- Eu vou tentar ir com calma e você me avisa se estiver desconfortável. – Falei para ela enquanto eu me posicionava.
Para minha surpresa, bufou.
- Pelo amor de Deus, Sirius, eu não sou mais virgem! Quer fazer o favor de andar logo e parar de me torturar?
Uma risadinha saiu da minha boca antes que eu pudesse conter.
- Com toda certeza.
E, ali, em uma casa que jurei nunca mais voltar, com um sentimento que acreditei que nunca iria sentir, pela primeira vez, eu fiz amor com , apenas uma das muitas formas de demonstrar o quanto eu gostava dela.

P.O.V.

Eu ainda sentia uma certa euforia formigando por todo o meu corpo. Aquela experiência fora diferente de todas as que eu já tivera (não que eu fosse contar para ele, o ego do cara já era gigante sem aquilo). Com certeza era de madrugada e, somado ao cansaço das últimas horas, estava difícil não dormir com Sirius afagando meu cabelo. Apenas a sensação estranha que eu sentia por estar deitada nua tendo o corpo de Sirius completamente em contato com o meu que me deixava alerta. Minha perna estava apoiada na dele e minha mão brincava distraída com seu tronco.
Era um momento íntimo, de um jeito que eu nunca tivera antes. Ocasionalmente, ele se virava e me deixava um beijo na testa. Eu me sentia bem e segura estando ali em sua companhia.
Tentando me manter acordada, resolvi conversar um pouco com ele.
- Você sentiu saudades do seu quarto? – Ele me olhou um pouco sonolento. – Você sabe, agora que você mora na casa dos Potter. Sentia falta daqui?
Sirius se espreguiçou de leve e se virou para me olhar melhor, ainda afagando minhas mechas ruivas.
- Não sei se posso dizer que tenho saudade do que eu vivia aqui nem do que eu escutava. O meu quarto... É só um quarto. Eu sou mais feliz lá.
Me aninhei mais em seu corpo.
- Não é só um quarto, é um espaço que era seu, te representou e te trouxe uma pequena liberdade ao estar aqui, não? – Indaguei novamente.
- Mas ao mesmo tempo é um lembrete de que eu tinha que me esconder. – Ele afirmou.
Sirius ficou quieto, mas continuou me acariciando.
Eu tinha parentes extremamente preconceituosos, mas ninguém me tratava mal do mesmo jeito que eu via a família dele se dirigir a ele. Foi preciso que o tio dele amaldiçoasse a mãe de Sirius para que ela lhe dirigisse uma palavra que não fosse um insulto completo. Meus irmãos, que não sabem a verdade sobre mim, me tratam minimamente bem. O próprio irmão dele o desprezava. Como seria passar sua vida com alguém e, de repente, se afastar?
Eu queria perguntar tanta coisa a ele, mas não queria arruinar o clima e nem chateá-lo. Apesar de tudo, ainda éramos amigos há menos de quatro dias. Claro que o tempo não dita o quanto conhecemos alguém de verdade, mas eu sabia que precisaríamos de uma maior convivência ainda.
Decidida a mudar o rumo da conversa, subi meu olhar até seu rosto e comentei:
- Então, como vai ser quando chegarmos em Hogwarts? – Eu perguntei, com medo de estragar o clima do momento, mas determinada a entender o quão sério era tudo aquilo que estava acontecendo.
A mão de Sirius congelou por um momento no meu cabelo e ele se virou para mim.
- O que quer dizer?
Ai, merda. Por que falar disso agora? Respirei fundo, envolvida naquela onda de acontecimentos inesperados, e tomei coragem:
- Você sabe, quando a gente voltar amanhã. O que vai ser da gente?
Ele voltou a fazer cafuné em mim, distraído. Um sorriso maroto brotou em seu rosto.
- Por que a pergunta, linda? Já está ansiosa para sair comigo?
A tensão que se formava em meu corpo se dissipou com aquele comentário. Como sempre, não pude deixar de revirar os olhos para aquele apelido tosco, mas um sorriso traidor surgiu no meu rosto para acompanhar o gesto.
- Eu não falei nada de sair, você que falou. Ansioso para sair comigo, Sirius Black? – Perguntei, tentando fazer o meu melhor sorriso sedutor. O que provavelmente deveria estar parecendo uma careta.
Ele desviou os olhos do meu rosto e olhou para frente.
- O que vai acontecer depois de Hogwarts não depende só de mim. – Sirius começou, nervoso. – Mas, se dependesse... Eu gostaria que você me desse a honra de sair comigo.
Meu coração errou uma batida ao escutar suas palavras. Eu estava completamente preparada para escutar um fora e ele havia dito que queria sair comigo?
Ah, me mataria por estar tão besta assim por um homem.
- Eu adoraria. – Eu respondi, sentindo as bochechas esquentarem de leve.
Ele levantou meu queixo de leve com a ponta dos dedos.
- Você é uma gracinha, sabia? Fica corada ao aceitar um encontro, mas não quando eu estou literalmente no meio das suas pernas. – Ele piscou para mim.
Engasguei constrangida com aquele comentário súbito. Ele não precisava ser tão direto.
- Cala a boca, Black!
- Hm, pode ser. Tenho uma ideia ótima de como fazer isso. – Sirius comentou, se inclinando para iniciar um beijo tão maravilhoso quanto os últimos.
Depois de um tempo imersos naquela sensação maravilhosa, ele depositou um selinho nos meus lábios e se afastou.
- Então podemos nos encontrar algumas tardes na escola para ficarmos juntos até outro passeio de Hogsmeade acontecer e a gente sair. – Ele comentou, tão sincero, que um sorriso brotou em meu rosto.
- Isso se você não me largar no meio do encontro e aparecer com outra na semana seguinte. – Comentei, tentando disfarçar minhas reações abobalhadas.
- O garoto que fez isso com você era muito burro. Como pode te deixar passar assim? Qual era o nome dele mesmo? Só para eu te exibir na frente dele.
- Ah, é um tal de Sirius Black. – Eu entrei na sua brincadeira, rindo irônica.
- Não se preocupe, , pois eu fico pessoalmente encarregado de mostrar para esse Sirius Black tudo o que ele perdeu há... Três anos atrás?
Concordei com a cabeça enquanto ria e ele logo se juntou a mim. Em algum momento, acabamos abraçados e deitados juntos de novo.
- Sabe, você é uma terrível tentação deitada do meu lado assim desse jeito. – Ele disse, enquanto sua mão começava a se aventurar acariciando minhas pernas. A reação do meu corpo foi imediata.
- Sirius... Nós temos que dormir. Amanhã nós vamos embora.
- Não se preocupe, isso vai te ajudar a dormir melhor. – Ele sorriu maroto, a mão deslizando para o meio das minhas pernas.
Depois de mais uma rodada, nós nos embolamos nos cobertores e dormimos, abraçados como se dependêssemos do contato com o outro.
Acordei no susto com um barulho insistente na janela. Demorei um tempo para meus sentidos se ajustarem e perceber a figura de uma coruja bicando a janela. Era Pulguento, a coruja de Sirius. O dono do bichinho nem se mexia, completamente apagado e com um sono muito profundo.
Reunindo toda a pouca energia que restava em mim, me afastei do abraço de Sirius, deixando-o ainda completamente apagado, e fui abrir a janela. Pulguento deixou uma carta em cima da bancada e veio bicar meu dedo.
- É bom te ver também. – Eu sussurrei para ele, ainda em um estado entorpecido e de felicidade pela noite anterior, e procurei um petisco para o animal, deixando-o contente.
Fechei a janela, sentindo um vento frio lá fora e decidi me vestir. Com uma leve vergonha, procurei minhas roupas íntimas e meu vestido, espalhados pelo quarto. Vesti uma calça e uma blusa quente e fui procurar meu prendedor de cabelos.
O encontrei bem próximo de onde Pulguento deixara a carta e parei para analisá-la. Parecia ter sido escrita às pressas, sem envelope e desdobrando sozinha. Uma curiosidade me invadiu e senti uma vontade de ler a mensagem.
Contudo, relanceei o corpo de Sirius deitado e não pude deixar de sentir que eu estaria traindo sua recém conquistada confiança invadindo sua privacidade enquanto ele estava vulnerável. Afastando aquela ideia da cabeça, peguei a carta para dobrá-la e ajustá-la na mesa para que ele lesse mais tarde. Porém, no meio do processo, uma palavra no meio da carta me chamou a atenção.
".
E agora? Como eu podia ignorar uma maldita carta que continha o meu nome? Era quase como um teste da minha curiosidade e do meu caráter.
E, poxa, eu tinha um bom caráter, no geral. Eu acho. E ler algo sobre mim... Não é errado, certo? Quer dizer, se fala sobre mim, eu tenho direito de saber.
Procurei em algum lugar o remetente e o destinatário. Depois de alguns segundos, encontrei alguns nomes. Era de Tiago Potter para Sirius. Eu não tinha o direito de ler aquilo. Não era para mim.
Mas era sobre mim.
Ah, que dúvida maldita! Tremendo com o medo de estar fazendo algo muito errado, não consegui ignorar meu nervosismo em saber o que estava ali e abri a carta.
“Caro Almofadinhas,
Pulguento apareceu na minha janela em um momento em que eu preferia não ter sido interrompido.
Foi você que o mandou? Ele veio sem carta nenhuma! Foi extraviada?
De qualquer jeito, eu já estava meio preocupado com esse seu sumiço desde o Natal. Imaginava que antes da meia noite você já estaria aqui de volta me aporrinhando. Você morreu? Nunca te vi tão quieto em contato com as pessoas que mais te fazem explodir. Como vai tia Walburga? Adorável como sempre ao nos chamar de traidores de sangue?
E Drômeda? Valeu a pena vê-la no Natal?
Ah, quem eu quero enganar, você tem que me contar quantas bombas de bosta você colocou na cozinha. Ou melhor! Quem sua mãe tentou acertar primeiro quando você chegou? A sua cara feia ou a ?
Ainda fico impressionado com a sacada que você teve de chamar a nascida trouxa para fazer sua família surtar. Não sei como a garota ainda aceitou, mas é só você chamar que todas topam, não é mesmo? Foi genial pensar em atormentar os Black como um presente de Natal para si mesmo.
Sabe, se eu fosse você, até daria uma chance pra a . Ela é bonitinha, pode ser uma boa diversão de Natal. Ainda mais tendo que sofrer com a sua família.
Caso você não responda, vou supor que você está morto e vou atrás do seu corpo, então, por Merlin, não esteja morto, ia dar muito trabalho.
Guarde os detalhes mais engraçados e humilhantes pra contar em Hogwarts dia primeiro quando eu voltar.
P.S.: Muito criativo o lustrador pra galhada como presente de Natal, hein? Lílian me zoou o dia inteiro. Gostou dos seus biscoitinhos, au au?”
Minhas mãos tremiam e eu demorei a conseguir soltar a carta, pois estava paralisada. Aquilo não podia ser real. Não podia.
Mas tudo fazia sentido. O jeito que Andrômeda olhava para Sirius como se ele estivesse fazendo algo de errado comigo. A culpa dele sempre que eu falava do que os Black me causavam. O quão ardentemente ele insistia para ficarmos mais um pouco.
Ele queria que eu ficasse para me usar. Para rir nas minhas costas e ver a própria família enlouquecer. Porque, afinal, eu sou uma sangue-ruim.
E fora por isso que ele me chamara e não chamara Tiffany Bones. Porque ela era puro-sangue. E ele precisava de uma nascida trouxa para atormentar sua família.
Tudo se encaixava na minha cabeça e meu corpo começava a tremer cada vez mais. Tentando afastar o pânico, comecei a guardar minhas coisas. Não aguentava ficar mais um segundo nessa casa. Não aguentava olhar para aquele cara deitado na cama e lembrar que eu me entregara por inteiro para ele, enquanto eu era apenas uma peça de uma brincadeira.
Atordoada, peguei minha mala e Eclipse, que miava confuso, e saí daquele quarto. Desci as escadas sentindo que poderia cair a qualquer minuto e que talvez isso nem fosse de todo ruim. Seria uma distração do que eu estava sentindo.
Afastei aqueles pensamentos ruins e me recompus. Ele não merecia me machucar e nem que eu me machucasse por ele. Sirius Black não merecia nada de mim.
Consegui alcançar o fim da escada, mas, porque tudo tinha que dar errado naquele dia, Walburga Black estava no pé da escada. Seus olhos saltaram de seu rosto pálido quando ela me viu.
- SANGUE RUIM! SUA SANGUE RUIM NOJENTA! SAIA DA MINHA FRENTE! SERES COMO VOCÊ SÃO A ABERRAÇÃO DA NOSSA SOCIEDADE!
O ódio em seus olhos era tão genuíno que teria me assustado, do mesmo jeito que me assustara antes. Mas não agora. Porque agora eu me sentia fodida, cansada, usada, magoada e irritada. Agora, Walburga Black era como uma mosca irritante no mesmo espaço que eu.
- Cala a boca! – Eu soltei, antes que eu pudesse voltar atrás. – Você não me conhece para falar assim de mim. Sai da minha frente.
O rosto de Walburga Black começou a ficar vermelho e instintivamente eu levei a mão a varinha. Porém, acabei baixando minha guarda e eu senti meu rosto ardendo antes de processar o que havia acontecido.
Aquela mulher havia me batido.
- COMO VOCÊ OUSA? SUA SUJEITINHA NOJENTA SANGUE RUIM, VOCÊ É A ESCÓRIA! VOCÊ É FRACA E NOJENTA! MONSTR...
- ESTUPEFAÇA! – Eu gritei, sem mais um segundo de paciência para aquela situação.
Walburga Black foi atingida pela luz vermelha que saía da minha varinha e voou pelo corredor até bater na porta. Eu fiquei alguns segundos olhando-a, atordoada, antes de me dar conta que eu precisava dar o fora dali antes que outra pessoa descobrisse o que eu fizera com ela.
Desviando de seu corpo inconsciente, abri a porta e pisei fora daquela casa. O chão ainda estava cheio de neve, me lembrando da minha guerra na neve com Sirius. Um aperto alucinante atingiu meu peito. Eu precisava ir embora. Eu não suportava mais um segundo sequer naquela casa.
Aparatei para o único lugar que me veio à cabeça: o Caldeirão Furado. Desestabilizada como eu estava, eu senti que por pouco não destrunchei, mostrando que eu precisava descansar a cabeça antes de aparatar para Hogsmeade. Não queria perder um braço no caminho.
Assim que eu entrei, o barman, um jovem um pouco mais velho que eu, se virou para mim e me cumprimentou.
- Bom dia, senhorita! O que posso fazer por você?
- Bom dia, Tom. Eu gostaria de um quarto. E um bom café da manhã também, por favor. – Eu teria que passar em Gringotes também. Precisava trocar o dinheiro trouxa pelo bruxo.
- É pra já, senhorita. Gostaria de ser servida no quarto?
- Claro. – Eu respondi, no automático.
Já instalada no pequeno quarto com vista para o Beco Diagonal, eu me alimentei, mesmo com o estômago completamente embrulhado, porque imaginei ao meu lado me forçando a fazer isso. Logo em seguida, fechei a cortina da janela e me enterrei na cama, embaixo de uma coberta. Apesar de ser meio dia, eu estava exausta. Além disso, dormir e esquecer de tudo parecia uma boa opção.
No momento em que minha mente parou de funcionar no automático e eu deitei, as lágrimas vieram imediatamente. Meu corpo inteiro tremia enquanto eu chorava como se não fosse ter fim. A ficha só estava caindo agora. De tudo o que eu fizera. De tudo o que eu passara. De tudo o que eu tinha ganhado e perdera em menos de dois minutos.
Se bem que eu nunca havia ganhado nada em primeiro lugar.


Capítulo 9

P.O.V Sirius
– Vira outra, seu fracote! – Tiago gritou do outro lado da festa, me fazendo revirar os olhos.
– Vira você então, corno! – Ri de volta, já enchendo o próximo copo. É claro que meu orgulho me faria beber mais para provar que eu conseguia.
– Ei, só porque eu tenho uma galhada, não significa que eu sou corno, fedorento. – Pontas rebateu, também com um novo copo de whisky de fogo em mãos. Aquilo era guerra declarada.
– Diz pra gente, Evans, ele é corno? – Remo se colocou na conversa, o mais sóbrio de nós, balançando a cabeça em negação.
– Pra sorte dele, não é não. – Lilian rebateu, abraçando Pontas de lado. – Mas com esse jeito convencido, até que merecia.
– Ei!
– Liga não, Potter, é só pra te ver com ciúmes que ela faz isso. Mas bem que vocês todos podiam baixar a bola de vez em quando. – Uma voz falou por trás e instintivamente me virei, sorrindo.
segurava um copo cheio de whisky de fogo que brilhava em contraste com a roupa preta que usava. O vestido preto, o mesmo da festa de Natal, o mesmo do bar. Ela usava os cabelos presos e eu me senti extremamente animado com sua simples presença. Deveria ser estranho tê-la ali no meio dos meus amigos, mas não foi. Pelo contrário, tudo parecia... Certo.
– Ainda bem que você chegou, . – Lilian falou. – Os dois estão querendo competir. De novo.
– Ah, fala sério, que bestas! Daqui a pouco vocês vão ficar igual o Peter! – apontou para trás, onde Rabicho estava jogado em uma mesa.
– Não somos fracos assim! – Rebati.
– É! Isso é inveja da nossa bela capacidade. – Pontas completou.
– Inveja? Ráh! Eu vou dar um motivo pra vocês terem inveja. – Ela disse, apoiando seu copo na bancada e sacando a varinha. –
Engorgio!
– E depois eles que são bestas... – Aluado murmurou para Evans, olhando o copo agora cinco vezes maior de .
– Observem e aprendam, meninos.
Então, sem mais delongas, pegou o copo e virou sem respirar. Tiago contava os segundos e eu ria, embora me preocupasse com ela. Por que eu estava tão preocupado? Ah é, porque eu gostava dela.
Então, 18 segundos depois, ergueu o copo vazio com um som que parecia um urro de comemoração.
– Viu, amor? Eu ganhei. Ganhei!
– E o que você ganhou? – Retruquei, por algum motivo sabendo que era para mim que ela falava aquilo. E, por Merlin, era tão bom de ouvir.
– Eu ganhei de vocês. Eu sou a melhor. – Ela respondeu, a voz alta e arrastada. Claramente estava bêbada. – E eu quero um prêmio.
Puxei-a pela cintura, grudando o corpo no meu. Meu coração parecia ser capaz de explodir no peito. Que sensação esquisita e maravilhosa.
– E o que você quer, minha vencedora? – Sussurrei no seu ouvido.
– Hum... Pode começar com uns beijos bem aí. – Ela respondeu.
– Seu desejo é uma ordem.
Ela suspirou feliz no momento em que minha boca encontrou sua pele.
– Ah, Sirius...
E ela continuou falando meu nome. Cada vez mais alto. Tive que me separar dela porque aquilo estava doendo minha cabeça.
– Sirius! Sirius!
Tapei meus ouvidos, mas sua voz continuava cada vez mais alta.
– SIRIUS!
Acordei em um pulo, desnorteado, procurando . Mas não era ela na minha frente. Não. Era tio Alphard.
– Tio? – Perguntei, confuso. Aquele sonho tinha sido tão real e eu desejava não ter acordado. Olhei em volta, pois, mesmo que antes tivesse sido um sonho, deveria estar ali em algum lugar, de acordo com minha última lembrança. Mas um sacode do meu tio jogou minha atenção de volta a ele.
– Escuta, Sirius, eu não tenho muito tempo. Aquela menina... Ah, ela causou tanto problema, eles com certeza vão subir aqui para falar com você.
– Eles? Eles quem?
– Seus pais. Régulus. Escuta, aquela menina estuporou sua mãe.
Olhei em choque para ele. Aquela menina... ? Estuporar minha mãe?
– Não, isso é um mal entendido. – Eu disse, rindo de leve.
– Quem me dera, Sirius. Mas eu vi a garota executar o feitiço.
– Quê?! Por quê?!
– E eu lá sei? Sua mãe não é exatamente flor que se cheire. É uma menina corajosa aquela sua namorada, porém meio inconsequente. Entendo por que vocês se dão tão bem. Ainda bem que ela foi embora, porque senão...
– Espera. – Eu falei, confuso. – Ela... Foi embora?
– Escute, eu não sei os motivos dela. Mas você também precisa ir. Eu tentei atrasá-los para te avisar sem que eles soubessem. Eles vão chegar a qualquer segundo. Se eu fosse você, esperaria armado. E tome. – Ele apoiou uma sacola de moedas na cama. – Para uma viagem segura.
– Tio...
– Vá, Sirius. Vá.
E, no segundo seguinte, ele havia sumido do quarto.
Levantei-me, completamente desnorteado. Tanto se passava na minha cabeça e, ao mesmo tempo, nada fazia sentido. Primeiro, aquele sonho... Apesar de ser uma criação do meu inconsciente, eu conseguia me ver perfeitamente naquela situação. Com Aluado sendo o sensato, Rabicho sendo o bobo, eu e Pontas implicando um com o outro, enquanto Lilian zoava a gente e... agia de forma impulsiva, assim como eu quando estava com ela. De repente, eu entendia a estranha vontade que Potter tinha de ficar com Evans porque eu nunca me senti tão completo quanto ao imaginar todas essas pessoas que eu gostava juntas.
Mas ... Tinha ido embora. Foi o que tio Alphard falou. Por quê? Tudo estava tão bem, aquilo não entrava na minha cabeça. No entanto, enquanto arrumava minha mala o mais rápido possível, agindo no automático, percebi que todas as coisas de haviam sumido do quarto, até mesmo o gato irritante dela. De repente, tudo o que eu mais torcia era para que aquela bola de pelos imunda estivesse ali. Porque significaria que a dona também estaria.
Tudo estava tão bem. Nós finalmente havíamos nos entendido, ficamos, marcamos um encontro. Por que ela iria embora do nada? Aquilo não fazia o menor sentido. Seria por conta da minha mãe? teria feito a algo feito por Walburga e então saiu às pressas? Mas como ela estaria com tudo pronto para ir embora?
Não tive tempo de pensar, no entanto, visto que a porta foi completamente escancarada e numa velocidade surpreendente recebi um soco no estômago. Meus joelhos cederam imediatamente, me fazendo cair no chão.
Só uma pessoa da família, além de mim, tinha um soco de direita tão bom.
Orion Black era calado e no geral deixava que sua esposa tomasse a frente das situações, com seu temperamento explosivo. Qualquer um o consideraria inofensivo perto dela. Porém, ele era pior. Porque, quando tirado do sério, ele continuava agindo com frieza e, sem nenhuma pressa, fazia seu alvo sofrer.
Não pude deixar de sentir um calafrio. Me senti novamente como o garoto de 11 anos voltando para casa no Natal e sendo punido por entrar na Grifinória.
Um soco na lateral da cabeça me acordou daquele transe. Meu ouvido direito ficou abafado e parecia escutar um som agudo de fundo. Eu conhecia bem aquela sensação, mas, diferente de antes, não era mais um garotinho que ficaria ali apanhando.
Levantei o rosto, encarando seus olhos inexpressivos e cerrei a mandíbula. Ainda bem que tio Alphard havia me avisado. Minha varinha estava em meu bolso, próxima ao meu alcance, sem que ele soubesse. Se não tivesse sido alertado, agora eu estaria entregue ao total desespero. Tudo o que eu precisava era distrai-lo.
– Bom dia pra você também, papai. – Falei, sorrindo irônico, desviando de seu previsível tapa que viria em seguida. – O que o traz aqui?
– Você sabe a resposta. Acha mesmo que eu não sei que quer me enrolar? Trazendo aquela sujeitinha sangue ruim para nos afetar como uma criança. Mas nem ela ficou aqui, não é mesmo? Até ela percebeu o merda que você é. E, já que a vadia foi embora, você pagará pela petulância dela. Nisso até que vocês dois se parecem.
As palavras dele machucavam mais do que os tapas. Achei que depois de tantos anos, eu seria imune a elas, mas elas perfuravam. Diminuíam. E o pior, eram reais.
Eu me sentia estúpido quando ele expunha tudo com tamanha obviedade. Será que era por isso que havia ido embora? Por que ela não me aguentou mais?
Eu não queria acreditar naquilo, especialmente depois de tudo o que compartilhamos, mas nenhuma outra explicação parecia plausível. Se fosse uma emergência, ela teria me avisado. Por qual outro motivo ela me largaria sem me avisar se não fosse desgosto?
Eu não merecia , isso era óbvio. E, mesmo assim, machucava. Tanto que me fez sentir falta da dor física. Esta não era tão profunda. Desisti até mesmo de tentar pegar a varinha e me defender. Qual seria o sentido nisso?
Aquele sonho de mais cedo... Aquilo havia sido como o paraíso. Porém, naquele momento, eu estava imerso no inferno.
– Agora acabaram as respostas afiadas? Tudo por causa de uma garota da escória que foi embora? Supere isso, garoto. Você é defeituoso. Me dá nojo pensar que você já foi meu herdeiro.
– Que bom que nossos sentimentos são os mesmos, reciprocidade é importante em uma relação. – Sorri, sentindo o rosto dolorido com o gesto e vendo-o contrair as sobrancelhas de leve. – Ah, vamos, você sabe que quer me bater e me torturar. Isso acalma o demônio na sua alma. Pode vir, velhote. Ou será que você está fora de forma?
O soco veio rápido e certeiro. Eu sabia que ele não pegaria a varinha. Diferente de Walburga que preferia métodos eficientes e limpos como uma Cruciatus, Orion parecia sentir prazer em causar agonia e sofrimento com as próprias mãos. Por isso, seus socos continuaram vindo de todas as direções.
– Nem tenta se proteger. Você é fraco. Você é patético. Você não é meu filho.
– Graças... Ao bom Merlin. – Cuspi as palavras, acompanhadas de um pouco de sangue que voou em sua direção.
Orion estendeu a mão até a altura do rosto. Não percebi que um pouco de saliva e sangue o havia atingido. Sua mão tremeu de leve e eu vi total desgosto refletido em seu rosto. Calmamente, ele pegou a varinha e, em um movimento, limpou qualquer resquício meu de sua pele. Então baixou os olhos para mim.
– Não me contamine mais com seu sangue, traidor imundo. – E ergueu a varinha mais alto. Fechei os olhos, já esperando a dor que viria a seguir. Agora, nem se quisesse, eu conseguiria pegar a varinha mais rapidamente que ele.
Estava tudo acabado.
– Meu senhor. – Uma vez se estendeu pelo quarto. Abri um olho de leve ao identificar o dono da voz. Não sabia dizer se era um bom ou um péssimo sinal.
– Régulo, espero que isso seja importante, pois estou ocupado nesse momento. – Orion falou e, embora a voz parecesse tranquila, era possível identificar um traço de irritação nela conhecendo-o bem. E eu infelizmente conhecia.
– É a mãe. – Régulo retrucou, também indiferente ao fato de eu estar no chão ensanguentado e machucado. – Ela mandou chamá-lo. Disse que demandava sua presença imediatamente.
Orion olhou para mim, dividido entre seu prazer individual e a devoção a sua esposa. Não que aquilo fosse amor. Apenas uma cega entrega a qualquer um de sangue puro e respeitável. Claro que eu fugia desta categoria por trair meu sangue de forma tão explícita para eles. Por fim, seguindo sua maior lealdade, vencendo ao chamado do sangue puro, lançou-me um olha severo, antes de sair sem uma única palavra.
Seria minha chance de fugir. Mas eu não tinha forças restantes dentro de mim.
E, além disso, tinha o patético do meu irmão me encarando com as sobrancelhas erguidas. Ele me chutou de leve na barriga e eu não pude evitar rosnar, embora um leve ganido de dor saísse junto. Depois de tantos anos, ele ainda me irritava como um fio solto de uma roupa, que sempre o fazia se lembrar que ainda estava ali, te pinicando, incomodando.
– Ah, que bom, está vivo. Daria muito trabalho pensar em um funeral. Embora isso fosse facilmente resolvido te jogando em algum canal de esgoto. Ninguém sentiria falta. – Ele anunciou com pura soberba na voz.
Infantil. Idiota. Escroto. Esse era meu irmão.
– Tenho certeza de que o desprazer seria se sujar com meu sangue, certo? – Ironizei na base da raiva.
– Ainda bem que sabe.
– Você é igualzinho a ele. – Rosnei.
Régulo virou de leve a cabeça, me analisando. Então, simplesmente cuspiu na minha cara.
– Tão fraco. Não consegue sequer se levantar para revidar. – Ele sorriu de canto. Um sorriso irritante que eu gostaria de fazer sumir na base do soco.
Não, ele não teria o prazer de me ver acabado no chão. Régulo Black não merecia me ver acabado como em todos os seus sonhos.
Então, juntando minhas últimas forças, me pus de pé, ainda cambaleante.
– Pareço fraco, Régulo? Deve ser fácil para você abaixando a cabeça para tudo o que o pai fala por medo de um arranhão sequer. Você é fraco por não se impor.
O garoto cerrou o maxilar. No entanto, diferente do golpe que eu esperava, ele apenas revirou os olhos.
– Você é tão infantil. Basta uma provocação para que você se recupere.
Olhei para seu rosto, confuso.
– O que você...?
– Vá embora. – Ele falou, irritado. – Rápido. Orion está no quarto dele agora com Walburga. Fique e vai continuar apanhando como um pateta.
– Mas...
– Olha, não é que você não mereça apanhar, tá? Mas o barulho incomoda. – Régulo resmungou, se afastando em seguida.
Incrédulo, o vi sair do quarto, ainda confuso com aquele ato. Régulo... Havia me ajudado? Porém, eu não tinha tempo para raciocinar. Peguei minha mala e encontrei Pulguento na gaiola. Ele havia voltado e eu nem o havia visto.
– Vamos, rapaz. – Falei, baixo, ainda sem muitas forças. – Temos que ir.
Percebi que ele estava perto de uma carta aberta. Segurei o pergaminho, curioso, mas achei melhor deixar para depois. Agarrei tudo o que me pertencia e concentrei todas as minhas forças para aparatar até a porta de entrada e sair daquela casa. Cruzei a porta de entrada sem um pingo de remorso, assim como na última vez. Eu odiava aquele lugar mais do que tudo e agora minha promessa era definitiva de que eu nunca mais retornaria àquele local.
Sem olhar para trás e com um pouco de dificuldade, estendi a mão com a varinha. Eu usara muita energia naquela última magia e comecei a me sentir fraco. Por sorte, logo em seguida, um ônibus roxo muito familiar estacionou na minha frente.
– Bem-vindo ao ônibus Nôitibus Andante, o transporte de emergência para bruxos e bruxos perdidas. Basta esticar a mão da varinha, subir a bordo e podemos levá-lo onde quiser. Meu nome é Barnafred Dumpsin e serei seu condutor essa manhã.
– Graças a Merlin você chegou rápido, Barney. – Eu disse, antes de desabar.
Recuperei a consciência alguns minutos depois, já acomodado em uma cama do transporte que corria em sua velocidade padrão. Os poucos viajantes que não estavam vomitando me encaravam com curiosidade. Me ajeitei dolorido na cama, antes de me virar para frente e ver Barney lendo o jornal, tranquilo. Percebendo meu olhar, ele deixou o jornal de lado e se aproximou.
– Cara, você estava destruído. Usei alguns feitiços padrões que eu conhecia pra dar uma melhorada, mas ainda tem muito o que fazer. Como é que ‘cê tá?
– Já vi dias melhores. – Eu respondi, sorrindo. Tudo ainda doía, porém menos do que antes, então não podia reclamar.
– O que aconteceu, Sirius? Brigou feio desse jeito? Nem imagino como deve estar o outro cara.
Forcei um sorriso, imaginando o outro cara provavelmente sentado confortável em uma poltrona, bebericando um chá e talvez levemente irritado se tiver descoberto que a diversão do seu dia escapou. E escapou... Com ajuda do seu filho perfeito. Não que ele fosse saber, é claro. Ainda me assustava que aquilo realmente havia acontecido.
– O cara foi um covarde. Atacou sem que eu visse, pelas costas. Provavelmente estava com medo de mim e apelou. Nada justo. – Inventei uma mentira.
– Nada justo. – Barney concordou. – Inclusive, você deixou isso cair junto com sua mala e sua coruja. Cara, ela tá num mau humor danado...
Olhei para a carta que ele estendia para mim, a mesma que eu percebi estar em cima da bancada antes de sair. Peguei o pergaminho curioso e analisei rapidamente a sua aparência geral. Então, eu percebi.
Marcas de lágrimas.
Sem esperar mais um segundo sequer, li a carta rapidamente e, quando terminei, precisei reler de novo, as peças se encaixando na minha cabeça. Me senti muito pior do que depois de qualquer golpe do meu pai. Muito pior do que depois de escutar tantas coisas desagradáveis do meu irmão.
Porque tudo fazia sentido agora. com certeza lera aquelas palavras e algo me dizia que aquelas lágrimas eram dela. Aquilo machucava, doía, embrulhava o estômago, me deixou mais enjoado do que qualquer curva realizada pelo Nôitibus.
O sonho daquela manhã voltou com clareza à minha mente, logo depois se desfazendo, tornando-se difícil de relembrar os detalhes, me relembrando o que era tão óbvio: tudo aquilo havia sido apenas um apelo do meu subconsciente. Nunca iria acontecer. Não depois de descobrir do plano. Ela devia estar se sentindo usada. Por Merlin, meninas são tão emocionais! Ela dormiu comigo e com certeza devia estar esperando mais. O problema é que acabou descobrindo o que não devia.
Mas ela não era uma peça de um plano. Não pra mim. Não mais, pelo menos. Porque se havia um idiota emocionado ali era eu. Puta merda, eu a tive apenas uma vez e já planejava levá-la em encontros, além de ter sonhos com ela. E, antes mesmo de sequer tentar algo, eu conseguira estragar tudo.
Meu pai tinha razão, afinal. Eu era um merda. E nem ela aguentou ficar comigo ao descobrir o quanto isso também dizia a respeito ao que eu fazia com ela.
– Ei. – Barney falou, me tirando dos meus pensamentos. – Você não me disse para onde vai.
Olhei para o garoto, depois relanceando minha mala e me relembrando do dinheiro do meu tio, até, por fim, encarar a carta. Só havia um destino possível.
– Godric Hollow. Me leve até Godric Hollow.


Capítulo 10

P.O.V. Sirius

Era a terceira vez que eu batia na porta do local que eu aprendera a chamar de lar e não havia sinal de resposta. Eu estava dolorido, com frio, cheio de malas e ninguém se dignava a abrir a porta para mim.
Ok, eu estava sendo dramático, talvez ninguém estivesse em casa, mas que merda de azar que isso ia ser.
As pessoas começavam a encarar de leve e eu não aguentava mais esperar. Com meu estômago doendo em cada movimento, revirei meus pertences até achar minhas chaves e, enfim, pude abrir a porta.
Ato do qual logo me arrependi:
– Ah! Meus olhos! – Eu exclamei, caindo de joelhos, tapando meus olhos com as mãos. Senti alguma coisa macia, talvez uma almofada, me acertando.
– Ah, cala a boca, a gente está vestido! – A voz de Tiago ressoou com a risadinha de Lílian e não pude deixar de sentir meu coração realmente em casa.
– Não é a falta de vergonha que me dói os olhos e sim a hipocrisia. Cacete, custava abrir a porta? – Eu disse, abrindo os olhos e devolvendo a almofada na cara dele.
A risada dos meus melhores amigos preencheu o ambiente. Potter revirou os olhos e disse:
– Eu obviamente estava ocupado.
– Deu sorte de ser eu e não seus pais. Aliás, cadê minhas pessoas favoritas no mundo? – Perguntei.
– Estamos aqui. – Evans replicou.
– Cara, você está passando muito tempo com a gente. – Pontas disse, orgulhoso. – Mas o pai e a mãe saíram para a casa de algum primo chato que decidiu aparecer nessa época de Natal.
– Melhor assim. – Eu disse, já arrependido da minha encenação inicial que me provocara mais dor. Não me aguentei e acabei mostrando a fragilidade que eu segurara por tanto tempo. Tiago e Lílian se entreolharam, preocupados.
– Ok, o que está rolando? – Meu amigo perguntou.
Desabei na poltrona mais próxima, fazendo ambos se levantarem do sofá onde estavam e se aproximaram. Lílian foi a primeira a arquejar.
– O que fizeram com você? – Seus olhos estavam fixos em um dos roxos que não haviam saído com os feitiços de Barney.
Dei de ombros.
– Mais um lindo dia na mui antiga e nobre família Black. – Eu disse, a voz cheia de orgulho, mas depois se perdendo enquanto eu lembrava tudo o que acontecera.
Meus amigos arregalaram os olhos, mas ficaram quietos, me dando espaço. Foi tudo o que precisou para que cada detalhe saísse da minha boca sobre os últimos dias em uma avalanche de sentimentos mal resolvidos, ansiosos e desesperados. Tentei focar mais na parte de e não falar muito da minha família, porque aquilo estava sensível em mim depois daquela manhã, mas eu sabia que meu amigo perceberia que eu estava omitindo algo. Potter e Evans escutaram tudo em silêncio, pois eu não dera espaço para nenhuma observação. Quando terminei de narrar tudo, senti como se tivesse tirado algo gigante do peito. Mas, ao mesmo tempo, contar tudo tirou um pouco da magia da situação e tornou aqueles acontecimentos mais concretos. Inclusive o final trágico.
Tiago, obviamente, foi o primeiro a abrir a boca:
– Se você lambe a boca dela como cachorro, a sensação é a de beijar?
– Tiago! – Lílian o repreendeu e ele simplesmente deu de ombros.
– Foi mal, tentei ajudar com o clima tenso. Porque puta merda.
– Puta merda. – Eu repeti, me sentindo exatamente daquele jeito.
– E... Você acha que está apaixonado por ela? Tipo, vocês se conhecem há, o que, quatro dias? – A ruiva perguntou, tentando ter certeza. Eu sabia que não parecia um sentimento confiável vindo de mim e da situação em si.
– Eu sei que foi pouco tempo – eu admiti. –, mas não sei explicar. Quando eu estava com a , eu me sentia intrigado. Queria ficar cada vez mais tempo na companhia dela, contar coisas que eu não costumo contar para as pessoas...
– Tipo, o nosso maior segredo. – Tiago debochou.
– Assim como eu também queria saber mais sobre ela e me sentia especial com tudo o que ela falava. – Continuei, ignorando-o. – Ela é imatura, irritante, competitiva...
– Uma versão feminina sua? – Potter implicou.
– Mas também é segura de si, inteligente, engraçada, bonita... – Eu relevei a interrupção, apenas mostrando meu dedo do meio para Pontas. – Eu nunca me senti assim antes. Nunca. Eu sempre tenho vontade de ir para o mais longe possível depois de conseguir o que eu quero. E com ela... Nunca parece suficiente. Pareço sempre querer mais.
– Ah, Sirius, então é oficial mesmo. – Lílian disse de forma triste e carinhosa.
– Quem diria que eu veria meu cachorrão apaixonado. – Tiago brincou, mas sorria de forma triste também. Eu sabia que, apesar das piadas, ele estava muito preocupado.
– Isso não importa. Eu estraguei tudo. – Coloquei o rosto entre as mãos, sentindo os machucados da face doendo em contato com a pele áspera. Não pude deixar de soltar um grunhido.
– Sirius, se ela gostar de você tanto quanto você gosta dela, vocês ainda têm chance. Mas de nada adianta pensar nisso se você estiver machucado. – Lílian falou.
– Vou buscar o livro de feitiços curativos. – Tiago disse, já de pé.
– Não precisa, eu sei os necessários de cabeça. – Evans replicou. – Só preciso que você me diga onde dói.
– Essa é minha namorada inteligente. – Potter deu um beijo na cabeça da ruiva, que se aproximou de mim.
– Onde está doendo?
Conforme eu fui apontando para cada um dos pontos em que eu fora atingido pelo meu pai, Lílian habilmente dizia os feitiços certos, aliviando cada machucado. Aos poucos, fui sentindo a dor gritante virar um leve incômodo. Não podia acreditar que tudo aquilo tinha acontecido em um mesmo dia. Mais uma fuga da casa que tinha meu sangue para a casa que tinha minha família. Eu nunca seria grata o suficiente por tudo isso, pelas pessoas que me acolhiam sempre que eu mais precisava.
Estranhei que Pontas ficara observando tudo quieto demais. Quando Evans terminou, me levantei, me espreguiçando.
– Ah, bem melhor.
– Sorte sua que ele não usou nenhum feitiço cruel ou nenhum veneno, isso estaria fora do meu alcance. – Lílian disse. – Quem diria que os feitiços que eu aprendi para o Remo seriam úteis para vocês também.
– Obrigada, Evans. De verdade. – Eu lhe agradeci e ela se afastou um pouco, também notando o silêncio do namorado. Me aproximei do meu melhor amigo. – O gato comeu sua língua? – Falei, tentando ser bem-humorado.
Pontas bagunçou os cabelos, como sempre fazia, estivesse feliz, entediado ou nervoso, como agora.
– Me desculpa, cara. Me desculpa mesmo. – Foi tudo o que saiu da sua boca.
– Ei, o que houve? Desculpas pelo que, mané? – Repliquei, confuso.
– A culpa foi minha. Se ela não tivesse lido a carta... – A voz do meu amigo parecia trazer um arrependimento que raríssimas vezes eu vi nele.
– Pontas... Quem teve a idiota da ideia fui eu. Tudo deu errado por minha culpa. Não ia dar para esconder por muito tempo, mais cedo ou mais tarde ela ia descobrir, porque isso ia escapulir ou eu ia tentar me explicar... Não ia dar certo porque a merda estava feita desde o começo. – Eu o consolei, sentindo meu coração se afundar com cada palavra. Isso estava muito claro para mim, a culpa era minha e a situação... Sempre fora irreversível.
– Mesmo assim, talvez se ela tivesse descoberto em outra situação...
– É, mas não dá para saber, né? Pô, cara, é meu momento de drama, não rouba a minha glória. – Eu impliquei, sabendo que o faria rir.
Quando me dei conta, Tiago havia me segurado pelos ombros.
– Não importa a situação que isso tudo virou, não importa que você ache que não tem mais jeito. A gente vai pensar numa forma de conseguir ela de volta para você, ok? Porque, se ela te aceitar, vai ser a garota mais sortuda do mundo. Bom, a segunda mais sortuda. A primeira é Lílian, obviamente. – Ele riu, me puxando para um abraço.
– Obviamente. – Eu retruquei, irônico. Talvez, com meu melhor amigo, aquilo não parecesse tão ruim.
– E me desculpa por ter apoiado que você voltasse para lá... Foi a maior idiotice já pensada. Eu só tinha esperança...
– Que eles tivessem alguma sanidade mental? – Completei.
– Bem por aí. – Ele riu, sem nenhuma alegria. – Sirius, e quanto ao seu pai...
– Se você não se importar – o cortei. –, eu prefiro não falar sobre isso.
Meu amigo acenou com a cabeça, compreendendo minha posição. Então, tentando aliviar a tensão, buscou sorrir e me perguntar:
– Você vai ficar para jantar, né? Meus pais me matariam se não ficasse.
– Se eu não for estragar a lua de mel do casal, eu estava pensando em ficar até a volta do feriado. Eu meio que... Não tenho para onde ir. – Admiti em um misto de raiva e vergonha.
– É claro. Afinal, eu e Lílian conseguimos um tempo sozinhos e eu pude apresentá-la para o pai e a mãe. Eles a amaram. – Tiago falou, empolgado. Ele realmente estava apaixonado. Será que aquele brilho nos olhos dele estavam presentes no meu quando eu falava de ? Como eu era patético.
– É claro que eles a amaram. A garota te atura, é uma santa encarnada. – Retruquei.
– Quer saber? Você vai dormir no sofá. Isso vai facilitar que Lílian venha para o meu quarto de noite.
– Seu filho da mãe! Vai trocar seu melhor amigo por uma garota?! Seu melhor amigo fragilizado, que merecia o quarto só para si e com refeições servidas na cama? – Reclamei e segui com ele para a cozinha, de onde Evans nos assistia, rindo.
– É pelo bem do meu amigo. A acomodação pode piorar a tristeza. – Tiago afirmou dramaticamente.
– Evans, seu namorado não se compadece com a minha triste situação. – Eu reclamei com a ruiva, que riu marota.
– Dessa vez eu vou estar do lado dele.
– Traidores! – Eu rebati, fingindo choque.
– Essa é minha garota! – Pontas disse, beijando Lílian. – Bom, já que Almofadinhas estragou parte da nossa diversão, vou mandar uma carta urgente para Aluado e Rabicho. Quanto mais gente pensando no plano, melhor. Temos que ver a melhor forma de reconquistar essa garota e só temos uma semana!
– Ainda bem que a opinião mais necessária já está aqui. – Evans brincou.
– Inclusive, sobrou chocolate quente. Quer? É bom para esquentar o coração. – Potter disse, já servindo uma xícara enorme do conteúdo marrom e com cheiro delicioso que estava em uma garrafa.
– Cliché demais para o meu gosto. – Eu reclamei, mas tomei um gole da bebida mais mágica do mundo. Senti meus pensamentos viajarem para uma lembrança feliz e dolorida da tarde em que eu levei para almoçar no restaurante trouxa e eu provara essa mesma bebida. Meu peito se apertou, mas me recusei a ficar triste. Ao invés disso, olhei para as duas pessoas que estavam na minha frente e me olhavam com preocupação, dedicação e carinho. Eu não pude deixar de expressar aquele sentimento que me preenchia o peito.
– Obrigado. – Eu sussurrei.
Eu não sabia se eles haviam me ouvido, mas eu sabia que isso também não era necessário. Com meus melhores amigos, palavras não eram importantes. E eu sabia que eles me entendiam, sem que eu nem precisasse abrir a boca.

P.O.V.

Acordar no dia 28 de dezembro foi uma das sensações mais estranhas que eu já vivenciei em meus 17 anos. Porque, no momento em que acordei, tudo o que senti foi sono. Porém, momentos depois, as verdades foram retornando e me atingindo aos poucos, como se estivesse descobrindo tudo de novo, pela primeira vez.
Eu era apenas parte de um plano. E eu estava envolvida demais quando descobri tudo. Minha garganta, já dolorida de tantos soluços chorosos do dia anterior, já voltava a se fechar e dificultar a passagem de ar. Desde os NOMs que eu não sentia uma crise de ansiedade nesse nível.
Quase ri do quão patética aquela situação era. Um garoto idiota estava conseguindo me fazer sentir as mesmas emoções ruins de exames que definiriam meu futuro? Aquilo era patético, porém irritantemente incontrolável.
Bom, só havia uma coisa a fazer de sensata nessa situação.

.


O terceiro sorvete foi entregue na minha mesa pelo senhor Florian, que já me olhava preocupado. Eu entendia. Ele mal devia vender uma casquinha nesse inverno. Eu praticamente o implorara para deixar a loja aberta. Coloquei na boca uma nova colherada de um delicioso sorvete de chocolate, como os que eu costumava comer no verão com meu pai antes de tudo dar errado. Aquela lembrança amarga foi a cereja do bolo de toda a situação e as lágrimas que eu havia controlado tão bem ao acordar já estavam novamente em meu rosto. Agradeci internamente por a sorveteria, assim como todo o beco, estar vazia. Não queria carregar essa vergonha comigo também.
Quando as lágrimas finalmente cessaram e eu pude fingir que era apenas o frio que estava deixando meu rosto vermelho e meus olhos irritados, paguei muito gratamente o senhor Florian e o deixei em paz na sorveteria. O próximo passo era um pouco mais complicado: estação de King’s Cross. Separei uma parcela do dinheiro trouxa o qual eu não havia trocado e peguei o metrô que me deixaria mais próxima do local. Era estranho o quão próximo de uma garota trouxa eu estava naquela situação e eu não podia deixar de pensar que tudo seria muito mais fácil se eu simplesmente tivesse nascido assim.
Desci na minha parada e fui até a estação. Muitas pessoas descrevem a emoção de entrar no local nos dias de volta às aulas, mas eu gostava mais do trem nas voltas do feriado. Tudo era tão mais tranquilo e as paisagens nevadas eram lindas demais. Não existia nada que exalasse maior conforto do que uma viagem de trem em um dia frio sozinha em uma cabine com um bom livro. É, eu facilmente poderia viver de dias assim.
No entanto, daquela vez, quando atravessei a parede e me vi na plataforma 93/4, não tive nenhuma empolgação ou animação para embarcar naquele trem novamente. Ele representava uma volta à realidade entediante que era minha vida com agora um toque extra de poder ser tido como motivo de piada por Black e seus amiguinhos. Deveriam estar rindo horrores sobre como ele facilmente me levou para a cama, fez a família me torturar e incomodou a família no caminho. Tudo o que ele mais queria.
Parte de mim não acreditava nisso e acreditava em um lado bom dele, mas, se essa parte não morresse logo, seria muito mais difícil esquecê-lo. Era mais fácil acreditar que ele era alguém péssimo e sentir raiva do que ter que lidar com a tristeza de não significar nada para ele. Sim, a partir de agora eu só poderia sentir raiva.
Com esse pensamento, me dirigi até a bilheteria, em dúvida se queria ser objetiva para voltar ao conforto do castelo ou se queria evitar ao máximo essa volta para a realidade. Bom, meu dormitório parecia melhor do que um quarto estranho e pago, nenhum desconforto valia todo o meu dinheiro.
– Bom dia. – Eu falei para o homem do balcão, que lia o Profeta Diário sem nenhuma emoção, compondo uma cena completamente monótona. – Quando o trem saíra para Hogsmeade?
O homem, sem levantar seus olhos para mim, indagou:
– Aluna de Hogwarts?
Fiquei levemente incomodada com aquela indiferença e falta de educação, mas imaginei que meu humor não ficaria muito diferente, passando o feriado trabalhando em uma estação vazia. Se bem que eu trocaria qualquer coisa pelo feriado que eu vivera.
– Hum, sim, senhor.
O homem bufou e passou sua página do jornal, ainda sem me olhar. Depois de um tempo de silêncio, pigarreei, a compaixão indo embora aos poucos.
– Senhor?
– Ainda está aqui? – Ele perguntou e, após minha confirmação, me ignorou por mais alguns segundos. Depois, olhou por cima do jornal e pareceu surpreso com a minha presença. – Escuta, garotinha, o próximo trem sai só na semana que vem. É feriado, vai, sei lá, lançar algum feitiço ilegal ou algo do tipo.
E, sem falar mais nada, voltou a ler seu jornal. Quando me recuperei da incredulidade que senti ao ouvir aquelas palavras, saí meio desnorteada da estação. Apenas quando já estava no metrô que consegui processar suas palavras.
Uma semana. Eu teria que continuar uma semana ali. Não era nem hora do almoço e eu já não tinha mais o que fazer pelo dia inteiro. Como eu sobreviveria a uma semana inteira de tédio se o tédio ajudaria a despertar lembranças infelizes?
A melhor solução, obviamente, foi uma parada na Floreios e Borrões. A única sensação que poderia superar a de um sorvete doce até enjoar era o cheiro maravilhoso de livros novos. O local estava vazio, silencioso e quente, parecendo o paraíso, ainda mais com a visão dos diversos livros de todos os temas se estendendo em pilhas que alcançavam o teto. Suspirei, um traço de sorriso surgindo no rosto pela primeira vez desde a madrugada do dia anterior. Comecei a passear sem rumo pelas estantes e pelos livros soltos, me apaixonando por cada capa com uma fotografia em movimento, cada título curioso, cada sinopse, cada palavra, cada doce cheiro de pergaminho que estava impregnado naqueles textos.
Estava tão distraída, que não ouvi que alguém havia se aproximado:
– Bom dia, jovem. Posso ajudar em algo?
Levei um susto ao olhar para o cara sarnento que parecia ter acabado de aparatar do meu lado.
– Hum... Bom dia. Não precisa, estou só dando uma olhadinha.
– Temos alguns lançamentos disponíveis. – O cara disse, me ignorando completamente. Hoje o dia estava cheio de pessoas transbordando educação. – Gostaria de algum romance? É isso que as garotas da sua idade gostam, não?
Estremeci diante do tema do livro.
– Não, obrigada.
– Temos também um lançamento, O Livro Invisível da Invisibilidade. Bom, deveríamos ter. Não conseguimos achar. Se você tropeçar em algo que não esteja vendo, me chame urgentemente. Eles foram caros.
Arregalei os olhos, sem nem saber como reagir. Ao perceber que ele ainda me encarava, intensamente, como se esperasse uma resposta, apenas disse:
– Hum... Tudo bem.
E assim, rápido como apareceu, o garoto sumiu pelas pilhas e pilhas de livros que se estendiam até o teto. Eu realmente só estava atraindo o melhor tipo de pessoa.
Depois de meia hora rodando o local, encontrei um livro grosso com uma capa escura e séria e com o título intrigante de Hogwarts: Uma História. Sem romance. Sem dramas. Apenas belos e lindos fatos.
Caminhei até o fundo da loja, onde o garoto sarnento parecia avaliar os próprios dentes em um espelho. Isso é, se o espelho não estivesse rindo dele próprio.
– Fique quieto, reflexo estúpido. – Eu o ouvi murmurar.
– Com licença. – Eu disse, hesitante, já sabendo que ia me arrepender.
O garoto distraído ergueu os olhos do espelho e sorriu fixado quando me viu.
– Ah, cliente ilustre! Encontrou um livro invisível?
Olhei para os dentes muito brancos do garoto, me sentindo ligeiramente tonta.
– Hum... Não.
Seu sorriso se fechou na hora e ele ficou mais parecido com um adolescente emburrado.
– Certo, então o que você quer?
Estendi o livro maravilhoso para ele.
– Quanto está esse livro?
O garoto preguiçosamente tirou o livro da minha mão, reclamando do peso, e olhou o título.
– Ah, você está atrás de um dos nossos melhores lançamentos da década. Essa belezinha custa 10 galeões.
Toda a felicidade que eu havia sentido fora arrancada de mim. 10 galeões? Com o gasto da passagem para Hogwarts, mais a estadia no Caldeirão Furado, os gastos com alimentação e o provável sorvete que eu comeria... Eu não estava podendo me dar o luxo de comprar um livro desse preço.
O choque de mais uma afirmação triste naquele dia me fez recuar instintivamente, mas para aumentar meu choque, quando dei por mim, havia acabado de cair no chão, derrubando uma pilha de livros atrás de mim.
Olhei tonta em volta, mal conseguindo focar nos olhos arregalados do funcionário. É, eu estava prestes a ser expulsa.
– Olha, me desculpa, eu...
– Você achou. – Ele me interrompeu.
– Eu sei que eu... ‘Pera, quê?
– Você achou um exemplar do Livro Invisível da Invisibilidade.
Então, o garoto ergueu em suas mãos... Absolutamente nada.
– Meu chefe vai ficar tão feliz! Meu Deus, eu vou ganhar uma promoção. Finalmente ele vai parar de ficar tão rabugento! E minha mãe vai ter que admitir que eu não sou um completo inútil. Meu nome vai ficar marcado na história desse lugar.
– Hum, que bom. – Eu acrescentei confusa. Aí ele pareceu se lembrar de mim.
– Moça, aqui, tome seu livro. ‘Brigadão, viu? Você é sempre bem-vinda para tropeçar em livros invisíveis por aqui.
– Hum...Valeu, mas eu não paguei o livro...
– Leva! Você fez minha carreira. Considere uma lembrancinha de agradecimento de um futuro rico.
Observei maravilhada enquanto o cara, sem largar seu pacote invisível, me entregou o lindíssimo livro e mal olhou na minha cara depois, beijando o ar ou o que ele dizia ser um livro de invisibilidade.

Depois de almoçar, voltei para meu quarto no Caldeirão Furado. Depois de passar a manhã distraída, o silêncio novamente me fez pensar nos assuntos desagradáveis. No entanto, ainda determinada a nutrir aquela raiva que ao menos afastava a tristeza, lembrei-me de todas as atitudes babacas dele que me fizeram estar ali naquela situação.
Infelizmente, eu sabia que parte da culpa era minha de ter aceitado aquela ideia maluca. No fundo, inconscientemente, eu parecia saber que eu nunca superara a queda que eu tivera por ele no nosso quarto ano. Por que eu fui aceitar entrar naquela cilada? Eu conseguia ouvir a voz de na minha cabeça, que certamente viria com um “isso é óbvio”, ou o clássico “eu te avisei” porque eu sabia que ela teria avisado.
Merda, até eu havia me avisado.
Senti uma saudade imensa da minha melhor amiga e acabei escrevendo mais uma carta para ela, mesmo já tendo contado todo o desastre no dia anterior. Ao invés de relatar meus dramas, decidi escrever sobre a falta que ela fazia. Por pior que aquela situação fosse, eu sabia que se ela estivesse do meu lado, poderia ser mais fácil de lidar.
De certa forma, naquele momento a ficha caiu de como eu estava realmente sozinha. Eu nunca me sentira tão só antes, pois até meus 11 anos, antes de descobrir tudo, eu tivera uma família. E depois, eu tivera . Quando ela se fora, eu me distraí o máximo possível estudando para os NIEMs e tive apoio dos professores.
Mas ali, naquele quarto do Caldeirão Furado, eu percebi mais do que nunca que eu não poderia me apoiar em ninguém. Mais uma vez, a imagem de mais cedo do meu pai e eu dividindo um sorvete de chocolate me atingiu o coração. Me lembrei dos horrores que eu vivi com a família Black e de todas as coisas maldosas que eu escutara. Por pior que eu pudesse me sentir com meu pai e minha madrasta, eu nunca alcançara um nível como aquele. Será que assim que seria meu futuro? Totalmente desprezada pela minha família e até deserdada?
Antes que eu me desse conta, estava escrevendo uma segunda carta e já pensava onde encontraria um selo.
Pois essa carta, diferente das outras, teria que ser enviada por correio trouxa.


Capítulo 11

P.O.V Sirius

A plataforma 9 ¾ parecia tão intimidante e importante quanto na primeira vez em que eu entrara no expresso. Apesar de estar mais vazia do que nessa época, já que era o primeiro dia do ano de 1978, não pude deixar de sentir um sentimento comum: ansiedade.
Porém, dessa vez, eu não estava sozinho ou acompanhado daqueles que sempre foram responsáveis pelos meus problemas. Dessa vez, eu tinha Evans, Potter, Pettigrew e Lupin comigo e isso me dava toda a força que eu precisava para lidar com qualquer coisa.
Especialmente com a força da natureza de cabelos que me esperava.
Os marotos me avisaram para que eu não a procurasse ainda, não me precipitasse (enfaticamente reforçado por Lílian), mas meu coração parecia se fazer de idiota. A cada passo que a gente dava, eu automaticamente a procurava.
— Assim não vai dar certo. — Remo comentou, calmo. Meu amigo era um grande observador.
— O que não vai dar certo? — Repliquei, sem realmente dar atenção para suas palavras. Meu olhar não se focava em ponto nenhum, apenas procurando por ela.
Um tapa no pescoço me despertou.
— Imbecil! — Reclamei com Potter, que já me abraçava como se nada tivesse acontecido.
— Você parece um cachorrinho na coleira, Almofadinhas. — Meu amigo me zoou. Eu o empurrei para longe.
— Um cão domesticado e feliz. — Rabicho continuou, arrancando uma risada de Pontas.
— Por Merlin, vocês têm todos 12 anos de idade. — Lílian debochou, entrelaçando a mão com a do namorado. Em contrapartida, Pontas a puxou para perto e deixou um beijo em sua testa.
— Você me ama desse jeito.
— Evans, para o seu próprio bem, termine com esse cara. Vocês são muito melosos. — Fingi uma cara de vômito.
Embora eu me sentisse feliz com meus amigos, com todos rindo e debochando, não pude deixar de sentir um aperto no peito. Fiquei chocado ao identificar que aquele sentimento era inveja. Inveja de Potter e Evans. Inveja de tudo o que eles tinham.
Virei o rosto, envergonhado com aquele sentimento mesquinho. É claro que eu me sentia feliz pelos dois, era meu melhor amigo e eu nunca o vira tão feliz. Mas, ao mesmo tempo, não podia deixar de desejar estar feliz daquela maneira também.
Me afastei alguns passos, alegando que ia deixar meu malão na cabine do expresso, mas não consegui entrar no trem sem ter visto ainda entrar. Respirei fundo e congelei de frente para a entrada do expresso.
— É difícil lidar com o casal feliz quando você não está bem.
Olhei para trás e vi Aluado se aproximando calmamente. Suspirei e voltei a olhar para o trem. Meu amigo era muito observador.
— É errado me sentir mal com a felicidade de uma das pessoas que eu mais amo no mundo? — Perguntei, baixinho, me sentindo culpado.
Remo suspirou, encarando o trem também.
— Você está magoado, Sirius, é normal se chatear ao ver as pessoas vivendo o que você queria ter.
— Eu não quero que eles se sintam tristes. — Completei impulsivamente. — Eu quero que eles se sintam felizes.
— Eu sei. — Lupin murmurou, mas eu apenas continuei:
— Droga, eu quero que eles sejam muito felizes, mas é demais me sentir feliz também?
Aluado continuou ali do meu lado, me deixando com aquelas perguntas na cabeça, até eu perceber que minha visão estava embaçada. Não queria de jeito nenhum chorar no meio da estação. Remo, com a voz suave, continuou:
— Não é errado querer ser feliz. E eu acho que, se ela gostar de você pelo menos um pouco do tanto que você parece gostar dela, ela vai te perdoar. Dê tempo a ela. E a você.
Suspirei e confirmei com a cabeça. Em seguida, Aluado deu um tapinha amigável em meu ombro e se retirou. Eu precisava ficar sozinho e fiquei grato pela saída dele.
Entrei no trem e decidi procurar uma cabine para todos. Ainda faltava meia hora para a saída do expresso, mas esperar por parecia inútil. Ali, pelo menos, eu poderia ficar sozinho e quieto.
Não pude deixar de rir com a ironia do destino. “Sozinho” e “quieto” não eram geralmente palavras as quais eu apreciava. O expresso inteiro estava vazio e, para me sentir um pouco mais eu, passei de cabine em cabine abrindo todas as portas, assobiando uma das irritantes músicas natalinas dos trouxas. Abri um sorriso triste ao lembrar de defendendo-as como “divertidas”.
E, como se invocada pelos meus pensamentos, ao abrir a cabine D9, eu me deparei com ela.
O choque foi imenso. Parei de assobiar imediatamente e congelei na porta, sem saber se ela era real ou apenas criada por meus pensamentos desesperados. Senti meu coração acelerar a ponto de escutar seus batimentos.
Ela não me viu de imediato. Estava embrulhada em diversos agasalhos, os cabelos presos em um coque, os olhos vidrados no livro enorme a sua frente. Meu coração se apertou diante de uma cena tão típica de . Eu daria de tudo para estar ao seu lado, tentando interromper sua leitura, para vê-la brigar comigo, mas sem conseguir esconder o sorriso.
Meu olhar fixo nela deve tê-la despertado para a companhia na cabine. Seus olhos se desviaram do livro e pousaram em mim. pulou no assento, se ajeitando em sua postura e piscando com força, como se não acreditasse que eu estivesse ali.
— Sirius... — Foi tudo o que ela sussurrou. Sua voz era uma prova de que eu não estava sonhando.
— Oi, linda. — Eu respondi, sorrindo, mas a dor provavelmente era óbvia em minha voz. Estar tão perto dela tornava impossível não sentir nada.
Novamente, eu estraguei tudo, porque o rosto de se fechou com o apelido. Geralmente, ela reviraria os olhos, mas, agora, ela me encarava séria. E magoada.
Por Merlin, como isso doía.
— Caso não esteja claro, essa cabine está cheia. — murmurou, irritada.
— Ahn, claro. — Eu respondi, engolindo em seco, mas sem conseguir sair do lugar.
suspirou e desviou o olhar.
— Você não acha que já fez o suficiente? Por que você, por favor, não me deixa em paz?
Ignorando as facadas que aquelas palavras eram para o meu coração, eu respirei fundo e falei:
, por favor, me desculpa, foi tudo culpa minha, eu sei. Olha, eu sei que eu fiz merda, mas...
— Se você sabe que fez merda — ela me interrompeu —, não precisa continuar.
Pisquei, em choque. Eu sabia que eu havia magoado muito , mas ela não estava nem me dando uma chance de eu me explicar. Como eu poderia consertar tudo dessa forma?
, por favor, eu estou apaixo...
— Não ouse terminar essa frase. — Ela ralhou, sua voz tão dura que me assustou, pisando um pouco para fora da cabine.
Me ajeitei e continuei a falar, torcendo que ela visse a verdade de minhas palavras:
— Mas é verdade, eu...
— Não ouse. — Seu olhar era tão mortal quanto sua voz. — Eu não aguento mais suas mentiras, Sirius Black, e não serei responsável por mim mesma se você continuar com essas ladainhas. Faça um favor a nós dois e saia daqui. Encontre mais uma garota para iludir que queira isso. Se divirta com outro alguém. Comigo, já deu. — Ela suspirou e sua voz se tornou embargada. — Olha, aqueles dias na sua casa foram maravilhosos, mas, honestamente, não passaram de um sonho. E agora estamos na vida real. Na vida real, garotos idiotas como você mentem e depois descartam garotas como eu. Tudo está certo assim. E é assim que vai continuar.
Antes que eu pudesse replicar, pegou a varinha do bolso e fechou a porta na minha cara, fechando as cortinas em seguida.
Ainda atordoado com suas palavras, continuei ali. E, por mais que não pudesse vê-la, eu pude escutá-la chorar.
E foi o pior som que eu escutei em toda a minha vida.
Meia hora depois, o expresso havia partido e os marotos estavam na cabine comigo, escutando sobre meu encontro com .
— Ela não te esmurrou, é um bom sinal. — Pedro tentou me animar.
— Não sei... — Lílian disse, recebendo um olhar feio de Pontas. — Ora, não posso mentir! Me desculpa, mas acho que se ela tivesse te esmurrado, suas chances seriam melhores.
— Isso não faz nenhum sentido. — Potter resmungou.
— Como apanhar é melhor do que não apanhar? — Perguntei.
— Garotas são tão complicadas. — Pettigrew murmurou.
— Lílian, pode nos explicar, por favor? — Lupin indagou, sem nem tirar os olhos de seu livro antigo.
Evans revirou os olhos e falou:
— Olha, se ela te socasse, estaria muito chateada com você, extravasaria e depois talvez vocês conversassem. Isso demonstraria muita emoção, inclusive talvez paixão. Mas se ela já encerrou tudo desse jeito, tão racional... Não sei, Sirius.
Me encolhi no banco e fiquei assim praticamente a viagem toda.
A noite de volta à Hogwarts não foi muito animadora. não correspondeu a nenhuma das minhas tentativas de aproximação e pediu à Evans para explicitamente me mandar parar caso não quisesse que ela falasse com o diretor e me acusasse de perseguição. Não me aproximei o resto da noite, triste que ela chegaria a esse ponto. Para minha surpresa, Lupin deu razão a ela.
— Você está literalmente a perseguindo. Imagina se uma das suas ficantes ficasse em cima de você desse jeito. Horrível, né?
Resmunguei, irritado, porque não consegui pensar em nenhuma resposta racional e meu amigo não merecia grosseria. Subi rapidamente para a comunal da Grifinória assim que terminei de comer e já fui direto para o quarto. Pedi aos meus amigos para ficar sozinho e eles me deixaram lá. Talvez não tenha sido uma boa escolha. Cada segundo com a mente vazia me lembrava de . Sua paixão por bonecos de neve. Sua competitividade e seu bizarro talento em Gringoly. Sua inteligência e determinação em alcançar seu futuro acadêmico. O jeito que sempre falava bem de sua melhor amiga. Sua infantilidade e responsabilidade. Sua maneira de beijar...
Grunhi, frustrado, e arremessei um travesseiro em direção à porta. Nessa hora, no entanto, a passagem se abriu.
Evans desviou do travesseiro no último segundo.
— O que o pobre travesseiro te fez?
Bufei, sem paciência para suas brincadeiras. Lílian suspirou.
— Almofadinhas, não percebe que está fazendo tudo errado? Lembra do que conversamos na casa do Tiago? Vocês dois precisam de tempo. E você não pode abordá-la de repente e despejar tudo em cima dela...
— Mas ela estava ali! — Reclamei, frustrado. — Quando eu parei de procurar por ela, eu a encontrei. Parecia a situação certa, parecia destino.
— Exceto que destino não existe, mas as consequências desastrosas de atitudes não pensadas, sim.
Bufei, sem querer dar o braço a torcer. Evans suspirou.
— Eu sinto muito. Muito mesmo. Você não sabe o quanto eu só quero vê-lo feliz.
Aquela frase quebrou toda a minha raiva, me deixando apenas... Triste. Nesse momento, como se não bastasse a vergonha, Pontas entrou no quarto.
— Eu sei que você pediu para ficar sozinho, mas... Trouxe isso aqui para você.
Em suas mãos, ele segurava um bolo de nozes. O meu preferido. O que eu comera pela última vez com , em nosso Natal. Minha garganta se fechou com a lembrança, mas a fome venceu.
— Obrigado, cara.
Ambos se sentaram lado a lado e me observaram comer o bolo.
— O que foi, porra? — Perguntei, incomodado com os olhares de pena.
— Almofadinhas, escuta a Lílian, o plano dela vai dar certo, você só precisa seguir.
— Eu nunca faria nada para te magoar, pensamos em tudo justamente para vocês poderem dar certo. — A garota replicou.
Engoli o bolo de nozes e desviei o olhar.
— Ela não quer que dê certo.
— Ela está magoada, cara. Isso não significa que ela não gosta de você. — Pontas replicou, tentando trazer esperança para a conversa.
— Você só precisa reconquistá-la e mostrar que ela pode confiar em você. Nesse momento, a confiança dela está quebrada.
— Mas foi o que eu tentei falar para ela no expresso! — Exclamei.
— Isso não é algo que se fala, Almofadinhas, é algo que se demonstra. Diariamente. — Evans falou.
Eu sabia que havia verdade em suas palavras, mas eram duras de aceitar. Eu, Sirius Black, o cara que nunca teve problema em conquistar uma garota e tinha que inclusive lidar com mais do que realmente queria, incapaz de querer outro alguém. Magoado. Correndo atrás de uma garota. Apaixonado.
Esse era o poder de . Ela era única. Ela era especial. Eu estaria disposto a fazer qualquer coisa para tê-la de volta. Porque sabia que, se continuasse convivendo com ela, não demoraria muito para amá-la. Que isso seria fácil.
E, para minha surpresa, eu desejava com ardor que isso acontecesse.
Olhei para meus amigos, grato por suas companhias. Em todos os momentos mais dolorosos de minha vida, sempre tive a oportunidade de tê-los do meu lado. Sorri de leve para eles.
— Começamos amanhã.

P.O.V.

Eu estava doida para voltar ao conforto do meu quarto em Hogwarts, talvez o único lugar que eu pudesse chamar de casa. Mas, agora, até meu lar estava desestabilizado.
Dividir o quarto com Lílian Evans não era mais tão tranquilo quando eu tinha certeza que ela sabia de tudo, pois não parava de me olhar com pena. Todos os lugares que eu frequentava agora eram assombrados por Sirius Black. E, nas poucas vezes em que ele fugia do meu olhar, continuava em meus pensamentos traidores.
Eu prometi a mim mesma que não deixaria ele me desestabilizar. Sirius tinha tudo em suas mãos. Eu não. Tinha que ir bem nos N.I.E.M.s e conquistar meus sonhos. Não podia me dar ao luxo de ficar sofrendo por ele, por mais dor que ele me fizesse sentir. Mesmo assim, encontrá-lo na cabine do expresso doeu mais do que eu gostaria de admitir. Mas estava feito: estávamos de volta ao mundo real, em que eu era a solitária e estudiosa e ele era o encantador e popular Sirius Black. Eu era apenas uma de suas conquistas e enganações. Eu servira ao meu propósito para ele. Ele podia ficar em paz. Eu, podia manter distância com meu coração partido.
Mas ele insistira, durante toda aquela noite, em me abordar. Eu não entendia por que ele não se satisfazia em já ter me magoado. Por que queria mentir ainda mais e inventar palavras bonitas para eu perdoá-lo? Para ter a consciência limpa na hora de ir para a próxima conquista. Que ele lidasse com as consequências de seus atos. Sempre se achando tão superior e intocável, sem ter ideia de como suas ações podem machucar os outros ao seu redor.
No dia seguinte, já estava pronta para ser novamente atormentada, mas me surpreendi ao perceber que ele não estava mais correndo atrás de mim. Na verdade, quando me viu no corredor, apenas abaixou a cabeça e seguiu em frente. Aquilo fez a parte racional do meu corpo ficar aliviada. Meu coração, no entanto, sofreu ao pensar que ele desistira.
Por uma semana, ele ficou assim. Muitas vezes, fixava os olhos em mim ou sorria triste em minha direção, mas não se aproximou. Aquilo ajudou com que a dor ficasse um pouco menos latente, como se eu estivesse a digerindo por um longo processo.
Na segunda semana, no entanto, eu me surpreendi. No meio da aula da professora McGonagall, durante a prática dos feitiços de Destransfiguração, um pedaço de pergaminho voou para minha mesa. Olhei em volta, desconfiada, mas minha curiosidade venceu. Abri o papel que era, na verdade, um bilhete:
Você é a aluna mais bonita e talentosa dessa sala.
— S.B.

Senti minhas bochechas arderem em um misto de vergonha e raiva, e, sem pensar direito, estraçalhei o bilhete e olhei feio para seu autor, que pareceu murchar na cadeira. No entanto, depois da aula, sem que ninguém visse, fiz o bilhete voltar a sua forma original e, constrangida, o guardei dentro do meu caderno.
Durante toda a segunda semana, os bilhetes se tornaram diários e frequentes cada vez que compartilhávamos um cômodo. Eu estava muito irritada com a forma que eles faziam com que eu me sentisse, mas, toda vez que meu coração parecia ceder, eu me lembrava de toda a dor que eu sentira por causa de Black e os motivos disso. Eu não conseguia entender por que ele insistia em se pagar de bom moço, mas eu não iria cair. Mesmo assim, todos os bilhetes estavam guardados na minha gaveta.
Na terceira semana, no entanto, meu coração estava mais mole do que eu gostaria de admitir. O motivo, no entanto, não era o dono dos olhos sedutores e cinzentos, e sim duas cartas que eu recebera na mesma manhã. Por causa das aulas, guardei-as para a noite, quando, sentada em minha cama, pude me dedicar a elas.
A primeira era da minha melhor amiga.
Cara ,
Por que as coisas só começam a ficar interessante quando eu estou distante? Toda vez que eu pensava em lhe escrever uma resposta, eu recebia uma nova carta e admito que eu me senti dentro de um romance bruxo. Como podem tantas coisas acontecerem em menos de uma semana?
Como eu tenho muito a falar com você, te darei um breve relato de como anda minha vida. Lembra como eu estava investigando um pouco do país e suas profissões para pensar no meu futuro? , a coisa mais incrível aconteceu: acho que me encontrei.
Foi em uma noite, em que eu estava cozinhando para meus colegas daqui alguns dos doces ingleses, que eu percebi. Sempre adorei assar biscoitos com você no Natal (mesmo que você frequentemente tentasse estragá-los) e, também, gostava de fazer doces de frutas no verão. Percebi que é isso que eu gosto: fazer doces. Não é o máximo? Esse tempo todo, no meio das minhas dúvidas, a resposta estava em um dos pequenos prazeres da vida.
Conversei com meus pais e devo voltar para casa no semestre que vem para começar um curso por aqui e, quem sabe, investir na minha própria loja. Não vai ser incrível que estaremos perto uma da outra de novo? Embora eu acredite que você logo vá me deixar. Você é gigante e vai conquistar o mundo com sua inteligência e seu coração.
Mas chega de falar de mim, né? A gente não está aqui para falar disso e sim de: QUE MERDA ESTAVA SE PASSANDO NA SUA CABEÇA QUANDO VOCÊ ACEITOU ESSA IDEIA MALUCA DO BLACK? Estava marcada para dar errado. Poxa, , você é mais inteligente que isso. Mas, enfim, não podemos voltar no tempo, né?
Sobre o Sirius, é claro que ele fez isso, ele é um babaca. Não se lembra de Ollie e Kylie, quando ele terminou com elas? Ele não tem sensibilidade e apenas fica com todas para seu próprio prazer. Embora, e não tome isso como esperança (já sei que está tomando), ele nunca tenha feito nada igual com nenhuma menina que eu conheça. De correr atrás e essas coisas. E olha que ele fez Ollie levar uma detenção sozinha e nunca se desculpou por isso!
Confio em você, mas não confio muito em seu coração parcial. Se você sentir que ele pode valer a pena, talvez vocês possam fazer acontecer. Ou talvez não. Mas acho que seria pelo menos interessante ouvir o ponto de vista dele, e não de uma carta, sobre o que aconteceu, né? Nem que seja para deixar para lá com mais leveza.
Minha mão está doendo. Te amo muito.
Sua melhor amiga de todas,

As lágrimas se formavam em meus olhos e a saudade da minha amiga aumentou dentro de mim. Por Merlin, eu só queria poder abraçá-la, tudo seria tão mais fácil de suportar com ela ao meu lado.
Reli a carta mais uma vez. Eu esperava todas as broncas, todos os erros apontados, mas não esperava que ela apoiasse que eu o escutasse e escutasse sua versão. Aquilo parecia pior, mais uma chance de ele mentir, e ficou marcando meus pensamentos.
Abri a próxima carta para tentar ignorar minhas dúvidas e as lágrimas começaram a cair assim que li o remetente.
Minha querida ,
Não sei se essa carta chegará para você. Eu realmente não sei como esse correio de pessoas como você funciona. O selo é bem mais simples.
Admito que fiquei surpreso com a sua última carta e refleti bastante durante as últimas semanas antes de escrever essa mensagem. Me dói pensar que, todos esses anos, você sentiu que nós não a amávamos e nos envergonhávamos de você. E percebo o quanto eu errei como pai.
Afastamos você quando tudo o que queríamos era te dar oportunidades. Não éramos especiais como você, nem como seus amigos e os pais destes. Achamos que a nossa convivência seria pouco para você. Você, , sempre foi obstinada e inteligente, pronta para conquistar o mundo. Mas não fazíamos parte do seu mundo. E nem sempre é fácil lidar com o que não conhecemos, mas prometo que me esforçarei mais.
Sinto muito se a magoei. Saiba que, se for capaz de nos perdoar e não se importar em conviver conosco, essa casa sempre será sua e você sempre será bem-vinda. Eu, Lauren e seus irmãos adoraríamos isso.
Com carinho,
Seu pai.

Demorei muito tempo para parar de chorar. Aquela carta era um lindo milagre. Minha família não me odiava. Esse tempo todo, minha família não me odiava.
Lágrimas de alívio e esperança desciam por todo o meu rosto. Quem sabe, durante o verão, eu pudesse vê-los. Quem sabe pudesse conhecê-los. Sim, aquilo seria maravilhoso, e não pude deixar de sorrir sozinha.
Aquilo, no entanto, fez a fala de se marcar ainda mais na minha cabeça. Esse tempo todo, eu compreendera tudo errado. E se eu estivesse fazendo isso de novo?
Dormi para tentar não pensar mais no assunto.
No dia seguinte, acordei com um pouco de dor de cabeça do choro. Estava me virando na cama, quando esbarrei em algo duro. Abri os olhos, ainda atordoada, e ergui o objeto que estava ao meu lado, me esforçando para entender o que era. Parecia muito um livro. Aproximei o objeto de mim para ler o título.
Sereiano para iniciantes”.
Exclamei, animada. Eu estava há muito tempo querendo aprender aquela língua, especialmente enquanto ainda estava em Hogwarts e podia praticar com os sereianos locais do lago.
Abri a capa para sentir o cheiro de livro novo e me surpreendi ao encontrar uma dedicatória.
Para você ir ainda mais longe. Você pode conquistar o mundo.
- S.B.

Afastei o livro com uma careta. Ele estava me comprando? No entanto, a frase me lembrou do que meu pai havia dito na carta e meu coração amoleceu. Bom, já que ele já havia comprado o livro, não custava nada ler. Isso não significava que eu o perdoava. Por isso, carreguei o exemplar comigo para as aulas como parte do material.
Quando entrei no Salão Principal, senti seu olhar sobre mim antes mesmo de vê-lo. Ele se aproximou ao perceber o objeto que eu carregava.
— Oi, . Espero que tenha gostado.
Ele parecia tão inseguro, diferente do cara arrogante e autoconfiante que eu conhecia, que algo dentro de mim se partiu. Mas me lembrei de suas mentiras e a pena rapidamente foi embora.
— Sim, obrigada. Mas, por favor, não me dê mais presentes.
Seu pequeno sorriso com a confirmação morreu logo em seguida. Eu senti que ele ia revidar. Ele sempre revidava, odiava não conseguir exatamente o que queria. Mas, para meu alívio e decepção, ele apenas assentiu com a cabeça, disse “tchau” e voltou para junto de seus amigos.
Comi rápido, o estômago subitamente embrulhado, e fui me esconder no único lugar em que ele não poderia me encontrar: o banheiro feminino. Não conseguia lidar com seus olhares que pareciam genuinamente magoados no momento.
Me escondi em uma cabine e me sentei na tampa do vaso sanitário, trazendo os joelhos para o peito e enfiando minha cabeça ali no meio, respirando fundo. Ele devia estar mentindo. Ele também parecia estar sendo verdadeiro no Natal, mas, no final, estava mentindo.
Segurei minhas lágrimas, mas, mesmo assim, um barulho de choro tomou o banheiro, seguido de vários murmurinhos.
— Tiff, o que houve? — Uma das vozes femininas indagou.
— O que ele te disse? — Outra menina perguntou.
Não era minha intenção escutá-las, mas eu não podia sair do banheiro sem constrangê-las e nem ficar sem escutar. Bom, se eu descobrisse algo, não teria ninguém para contar mesmo. Me mantive quieta e atenta.
— Eu ainda vou matar Sirius Black! — A voz chorosa de Tiffany Bones ressoou pelo banheiro.
Ok, agora era impossível eu não continuar escutando a conversa, por mais que não fosse da minha conta. Mas, por Deus, por que a garota mais bonita da escola estava chorando? E o que Sirius tinha a ver?
— Calma, Tiff. Você o convidou para Hogsmeade?
Ah, o passeio de Hogsmeade. Seria dali a três semanas, perto do Dia dos Namorados. É claro que Tiffany havia convidado Sirius. Isso se ele mesmo não houvesse a convidado.
— Claro que convidei! — A menina exclamou, fungando. — E sabe o que ele disse? “Não posso”. É óbvio que eu não entendi e — ela assoou o nariz — perguntei o que ele não podia. E ele disse que não podia fazer isso comigo. Não podia sair comigo quando estava... Apaixonado por outra garota! Mas ele não sai com ninguém desde o Natal, vocês sabem. Ele não pode estar apaixonado!
Os barulhos de choro só pioraram, enquanto as meninas tentavam consolá-la, sem acreditarem que ele podia estar realmente gostando de alguém. Eu, por outro lado, estava paralisada. Não podia acreditar que Sirius não estava saindo com ninguém e havia dispensado Tiffany Bones. E ainda havia admitido estar apaixonado por alguém.
Talvez, por mim.
Não, isso não era verdade. Ele estava apenas dando uma desculpa para a garota. E por não estar saindo com ninguém... Talvez só estivesse fazendo isso de forma mais escondida. Sirius era conhecido por seus esconderijos fantásticos.
Quando as meninas saíram do banheiro, me retirei de lá, lutando para tirar aquela conversa da cabeça, mas falhei completamente até o fim do dia. Já em minha cama, eu me revirava de um lado para o outro sem tirar as palavras da minha cadeira. Desistindo de dormir, me inclinei para ver as horas: meia noite e meia. Bufei, frustrada, e decidi ler um pouco do meu novo livro perto da lareira. Saí do quarto e mal fechei a porta, quando escutei uma voz dolorosamente familiar:
— Por que nada funciona? Por que ela ainda me odeia?
Prendi a respiração ao identificar Remo Lupin, Pedro Pettigrew, Tiago Potter e Lílian Evans perto da lareira olhando para Sirius Black, que falava. O tempo pareceu congelar e eu não ousei inspirar com medo de ser descoberta. Mais uma vez, no mesmo dia, estava me intrometendo na conversa alheia, mas não podia evitar. Algo me fazia sentir que aquilo era importante. Afinal, era sobre ele.
— Você a magoou muito, Almofadinhas. — Potter disse.
— Sim, você precisa dar tempo ao tempo. — Lupin complementou.
— Mas eu já dei muito tempo! — Ele explodiu e me surpreendi ao perceber que ele chorava. — Não aguento mais um segundo sem ver o sorriso dela para mim. Sem abraçá-la. Por Merlin, sinto falta até de como ela me chamava de convencido. Eu... só a quero de volta. Quer de volta para mim.
— Nós sabemos, Sirius... — Evans disse, em um tom triste e compreensivo.
Voltei para o dormitório completamente desnorteada e não me surpreendi ao perceber meu rosto molhado. Ele não estaria mentindo para os amigos. Ele não teria como saber que eu estava escutando. Então era tudo verdade? Por que isso tornava tudo tão mais doloroso?
Porque aquilo era o que eu, mesmo tentando evitar, queria que fosse verdade.
Não podia pensar sobre os sentimentos dele naquela noite, pois estava muito desestabilizada. Mas eu havia tomado uma decisão.
No dia seguinte, enviei-lhe um bilhete pedindo que me encontrasse depois da aula em uma sala vazia no corredor do segundo andar. Passei o dia inteiro ansiosa por esse momento, repensando minha decisão, perdendo e ganhando a coragem. Quando as aulas terminaram e ele chegou, meu coração se acelerou muito mais do que devia. Ele estava lindo, e muito surpreso também.
— Você realmente está aqui... — Ele disse, se mantendo distante.
Assenti com a cabeça, sem saber como encará-lo. Respirei fundo três vezes e lhe disse:
— Obrigada por vir. Te chamei aqui porque queria ouvir sua versão dos fatos sobre... Você sabe. O Natal. Nós.
Engoli em seco, sem encará-lo ainda. Escutei sua respiração e relanceei rapidamente seu rosto que parecia incrédulo. Passamos alguns segundos nos encarando e me perdi na intensidade de seu olhar. Pigarreei, constrangida, e desviei o olhar. Sirius se recompôs e começou a narrar toda a sua versão dos fatos. Cada vez mais rápido, mais confiante, com mais paixão.
Foi doloroso demais relembrar tudo e escutar nossa história por seu ponto de vista. Confirmar que ele realmente me convidara para importunar sua família, mas que se arrependeu no caminho. Que passou a gostar de mim como amigo. E depois como muito mais. Que era isso que ele tentou me contar na noite em que fizemos amor, mas que não conseguira. Então ele me contou coisas que eu não sabia: sobre seu pai, sobre sua ida para a casa do amigo, sobre sua descoberta da carta. Meu coração se apertou ao saber o quanto ele se machucara, mas eu não sabia se sentia pena completamente. Não foi surpresa perceber que ambos estávamos chorando quando ele terminou de contar o que parecia real, factível e coerente com quem ele era.
Mas, ainda sim, confirmava meus medos e minhas dores.
— Me desculpa, , me desculpa por magoá-la. Eu sou apaixonado por você...
— Como posso saber que é verdade? — Sussurrei. — Como saber que não é mais uma mentira?
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos negros e cacheados.
— Estou tentando te provar isso, não vê? Pelos bilhetes, pelo seu espaço, pelos presentes... Eu quero mostrar que ainda estou aqui, que nunca irei partir. Que você me tem por completo.
Suas palavras eram lindas, mas doíam, porque eu ainda não acreditava completamente. Sirius estava cada vez mais perto de mim e seu olhar se desviava para minha boca. Eu sabia o que aconteceria e, naquele momento, eu não estava pronta.
Coloquei uma mão em seu peito.
— Preciso de mais tempo. Preciso... Digerir tudo isso.
Seu olhar parecia magoado, mas ele assentiu e me deixou passar. Recentemente, ele estava concordando com tudo o que eu pedia, sem replicar de volta. Estava quase saindo da sala, quando me virei de volta.
— Sirius?
Seu olhar se ergueu cheio de esperança.
— O que foi?
Respirei fundo e tirei coragem do coração.
— Não sei se você está sendo sincero, mas eu estou. Estou apaixonada por você. Se para você isso for um jogo, então, por favor, só me deixe em paz. Se não for... Acho que só o tempo dirá.
Não lhe dei a oportunidade de me responder, a coragem dando lugar à covardia, com medo do meu coração me trair. De nada adiantaria beijá-lo sem confiar nele. Aquilo só nos magoaria mais. Por isso, fui embora.
Fevereiro chegou e minha mente não parava de repassar todos os acontecimentos na minha cabeça. Todas as dores que eu sentira. Todas as confissões de Sirius. O que seria verdade, o que não seria. Os fatos pareciam apontar que ele poderia estar falando sério, mas eu ainda estava desconfiada demais, com medo demais de sofrer para continuar.
Boatos se espalhavam por Hogwarts dizendo que Sirius Black estava apaixonado e ninguém sabia por quem. Diversas garotas se queixavam que ele nunca mais as convidara para sair. E todos esperavam ansiosamente para descobrir se a garota misteriosa seria revelada no Dia dos Namorados. Vários nomes eram levados como aposta. Nenhum era o meu e aquilo era mais um motivo do porquê não deveríamos ficar juntos.
Mas Sirius ou mantinha muito bem seu papel ou acreditava em nós, porque continuou a me mandar bilhetes todos os dias, elogiando meu sorriso, minha inteligência, meus olhos, minha determinação e tantas outras coisas. Meu coração sempre acelerava quando eu os lia e parei de fingir que os destruía. Black parecia estar ganhando mais confiança. Andava menos cabisbaixo, sorria para mim nos corredores, mais ainda me dava o espaço que eu solicitara.
Até uma tarde na biblioteca, em que uma primeiranista entrou no local e veio correndo para minha mesa.
— Senhorita ?
Franzi a testa ao escutar meu nome. Seria uma amiga da irmã de , que era uma segundanista?
— Sim? — Respondi, curiosa. Seus olhos estavam arregalados.
— Os professores pediram que eu te avisasse que você está sendo chamada no pátio da torre do relógio.
E, antes que eu pudesse lhe questionar mais alguma coisa, ela saiu correndo, me deixando confusa. Mesmo assim, juntei meu material e fui para o pátio. Será que eu havia feito algo de errado?
Caminhei rapidamente pelos corredores e fechei melhor meu casaco, devido a ventania. A neve logo iria embora, mas, por enquanto, ainda transformava o mundo em uma eternidade de branco. Era tão lindo.
Alcancei a torre do relógio, mas não havia ninguém ali, exceto um boneco de neve. Não consegui me segurar e me aproximei, sorrindo, para aquele amontoado branco. Usava um cachecol da Grifinória e tinha um nariz de cenoura um pouco torto. Era adorável.
— Imaginei que você iria gostar.
Me virei para trás e tudo fez sentido. Só mesmo Sirius Black para me chamar para ver um boneco de neve.
— O que você ofereceu para a pobre menina? — Perguntei. — Dinheiro? Um autógrafo?
Ele abriu um de seus sorrisos marotos.
— Sou tão famoso assim que poderia dar um autógrafo?
Revirei os olhos, sem conter o sorriso. Como eu estivera com saudade de interagir com aquele Sirius. Maroto, egocêntrico, sorridente. Surpreendente.
— É um lindo boneco de neve. — Apontei.
— Gostou? Fiz com minhas próprias mãos. E sem nenhum feitiço.
Assenti com a cabeça e me aproximei do boneco. De costas para ele, perguntei:
— Por que fez isso?
— Não é óbvio, ? Porque você gosta. É para você.
Senti meu estômago se revirar e reparei que seu corpo quente estava atrás de mim. Ele se encontrava bem próximo. Minha respiração se tornou trêmula.
— Sirius, isso não deveria parecer bobagem? A gente tentar acreditar em algo que aconteceu por três dias e que, mesmo assim, deu errado?
Senti sua mão tocar meu ombro.
— Não acho, . Realmente, três dias pode parecer muito pouco tempo para muita gente. — Ele respirou fundo e me virou de frente. Encarei seus olhos cheios de vida e paixão. Prendi o fôlego, envolvida pelo momento. — Mas, em três dias, eu ganhei uma amiga e, por mais estranho que isso fosse para mim, me apaixonei por ela. Mas, em alguns minutos, em menos tempo ainda, eu consegui arruinar tudo e afastar para sempre a única garota que conquistou meu coração. — Ele encostou a testa na minha e não pude evitar fechar os olhos. —Não sei se é justo pedir que você me perdoe quando eu fui um canalha, mas eu te imploro que ao menos considere isso. E, se você for capaz de me perdoar, que aceite sair comigo. Por Merlin, que aceite namorar comigo! E eu prometo que nunca, nunca mais eu vou te deixar triste. Eu juro por minha vida porque, se eu partir o seu coração, sei que também partirei o meu.
Sua declaração me tirou o ar, me deixou tonta, me fez flutuar e retornar ao chão. E, por mais que sentisse que não conseguiria nunca mais ficar longe dele, não pude deixar de falar:
— Não sei se um dia vou conseguir confiar completamente em você de novo.
— Me deixe ajudá-la com isso. Fique do meu lado e deixe que eu mostre que você pode confiar em mim todos os dias. — Sua declaração era fervorosa. Ele se afastou de leve, buscando alguma resposta em meus olhos.
Suspirei. Como eu poderia não me entregar a ele?
— Não sei se isso vai dar certo, Sirius. Às vezes, foi só uma paixão rápida que vai sumir com o tempo. Ou que a gente vai perceber que não faz sentido. Ou que pode nos machucar. — Ganhei fôlego novamente e olhei em seus olhos. — São muitas emoções, boas e ruins, entre a gente. — Suspirei. — Mas, no final, acho que as boas ganham. Como poderemos saber se dará certo sem tentar?
Sirius ficou paralisado por um segundo, como se não pudesse acreditar no que estava escutando. Então, para minha surpresa, me puxou para um beijo longo e apaixonado. Nossas bocas se encaixaram como se nunca tivessem se esquecido uma da outra. E foi muito difícil nos separar, quando estávamos há tanto tempo distantes desse prazer.
Eu separei o beijo, apenas para sorrir para ele. Meus medos não sumiriam de um dia para o outro, nem em uma semana, e talvez nem em anos. Mas eu acreditava em seus sentimentos, justamente porque não podia negar os meus. E não queria perdê-lo nunca mais. Suspeitei que Sirius se sentia da mesma forma, porque ele correu para juntar nossos lábios novamente. Sentia, dentro de mim, que nunca os beijaria o suficiente.
Seria fácil amar Sirius Black. Amar seu jeito convencido, imaturo, egocêntrico, impulsivo. Mas também amar sua lealdade, sua coragem, sua bondade, sua inteligência. Sirius Black era apaixonante e eu me permitiria, naquele momento, me apaixonar.
Dessa vez, foi Sirius quem partiu o beijo, para meu desagrado.
— Só para constar, você vai comigo no passeio de Hogsmeade do Dia dos Namorados.
Ergui uma sobrancelha.
— Isso não teve um tom de pergunta.
— Porque não é. Você agora está presa comigo, lindinha. — Sirius apertou meu nariz e deixei um tapa leve em seu ombro.
— Posso fugir a hora que eu quiser, lindinho.
Sirius riu e me puxou para seu abraço quente e confortável.
— Você nunca mais vai fugir de mim. E nem eu de você. Estamos juntos nessa.
Ele sorriu para mim e depositou um beijo em meus lábios. Suspirei e não pude deixar de sorrir de volta.
— Estamos juntos nessa.


Epílogo

P.O.V. Sirius

Às vezes, na vida, existe um momento específico em que tudo parece se transformar.
Minha vida era repleta desses momentos. O primeiro foi quando eu entrei na Grifinória, para desgosto dos meus pais. O segundo, quando conheci meus melhores amigos. O terceiro, quando eu saí de casa.
E o quarto foi quando eu conheci a mulher da minha vida.
Era Natal de 1998. Um ano exato de quando eu e nos reaproximamos, nos conhecemos melhor e nos apaixonamos. Depois dos altos e baixos que nosso relacionamento enfrentou, nunca estivemos tão bem.
, como a aluna brilhante que sempre fora, concluiu o colégio com sete N.I.E.M.s, sendo rapidamente aceita para um programa nos Estados Unidos, por recomendação de um conhecido de . Foi difícil para nós nos separarmos após o verão, mas minha garota não podia ficar presa a mim. Seu talento era enorme e merecia ser mostrado para o mundo inteiro.
Além disso, logo depois, veio a guerra, muito perigosa para uma nascida trouxa. A Ordem da Fênix foi criada em resistência aos comensais e o exército de Você-Sabe-Quem. Não tive a chance de, depois de ser incentivado por , ingressar no Ministério para o treinamento como auror, já que, obviamente, meus N.I.E.M.s foram mais do que suficientes.
Mas tudo bem, tínhamos que pensar pelo lado positivo. A guerra era a maior experiência que alguém no cargo poderia ter. E não envolviam gravatas.
Naquele feriado, no entanto, por uma noite, esquecemos o medo constante de morrer. Esquecemos as dores dos amigos perdidos. Esquecemos a vigilância constante de um ataque.
Por uma noite, celebramos a esperança.
estava focada montando a árvore de Natal no estilo trouxa. Lupin ajudava o senhor e a senhora Potter a arrumarem a mesa. e Lílian estavam fazendo os doces. Tiago e eu estávamos simulando uma luta, enquanto Peter assistia a tudo rindo.
Era uma noite feliz.
Depois de derrubar Pontas pela terceira vez, nos levantamos e fomos para perto de seus pais, que cederam a casa para nossa comemoração. Potter abraçou a mãe, quase fazendo-a derrubar os pratos que estava carregando.
— Tiago! Tenha juízo, eu não te criei assim! Por Merlin, seu cabelo está todo bagunçado! — Euphemia reclamou, com uma das mãos sobre o coração.
— Ah, mãe, meu cabelo é meu charme. E você sabe que tudo seria muito entediante se eu fosse comportado demais. — Ele sorriu maroto.
— Ele tem razão. — Fleamont respondeu, rindo.
— Saiam da frente que os doces estão a caminho! — anunciou.
— E estão melhores do que vocês merecem. — Evans debochou.
— Terminei! — Escutei uma voz empolgada exclamar.
Mal me virei e fui surpreendido por um abraço animado de .
— Olhe! Ficou tão linda, não acha?
Encarei sua criação. O pinheiro coberto de neve falsa estava enfeitado em uma grande mistura do mundo bruxo e do mundo trouxa. Fadinhas mordentes iluminavam a árvore, que também tinha bolas cintilantes por toda a sua extensão. No topo, uma linda estrela dourada piscava de tempo em tempo.
Honestamente, não era a mais bonita que eu já vira, mas, por ser criação de , se tornara a mais especial para mim.
— Papai que me enviou a neve falsa. Acho que veremos mais dela amanhã na casa dele. — estava contente por, após tantos anos, poder reencontrar a família no Natal.
— Você arrasou, lindinha.
Mesmo após um ano sendo chamada assim, revirou os olhos e me mostrou a língua.
— Acho bom você ter me comprado um presente incrível para compensar todo o tempo que eu tive que te aturar.
— É claro que comprei! — Respondi, indignado. — E espero que você tenha me comprado um presente espetacular. Sabe, você tem muita sorte de namorar o cara mais incrível desse mundo, é bom compensá-lo.
— Convencido. — debochou e me deu um tapa. No entanto, logo em seguida, me puxou para um beijo.
Eu esperava que ela gostasse do meu presente: um espelho que refletia para a pessoa que estava do outro lado o que estava de frente para seu par, pendurado nesse momento no meu quarto. Seria uma forma de podermos nos ver e conversar mesmo estando tão distantes. Sorri de forma sacana. Esperava que ela pendurasse no banheiro, bem perto da banheira.
Depositei um beijo em seu pescoço.
— Será que podemos subir? Queria te dar a primeira parte do meu presente. — Sussurrei em seu ouvido.
— No seu quarto? — Ela arqueou uma sobrancelha.
— Precisamente. Ou no banheiro. Não sou muito exigente.
— Sirius! — Ela bronqueou, embora tenha perdido o efeito por cair na gargalhada logo em seguida.
O barulho de um tilintar nos chamou a atenção.
— O jantar está servido. — A senhora Potter anunciou.
Fechei a cara imediatamente.
— Droga.
Minha namorada riu e depositou um beijo em minha bochecha.
— Relaxa, cachorrinho, teremos tempo para a outra ceia depois.
Ri de sua insinuação e me deixei ser carregado para a mesa. Eu estava feliz e completo. Cercado pelas pessoas a quem eu mais amava. Meus amigos. Minha namorada. Todos eles formavam minha verdadeira família.
Tudo se iniciou com uma confusão. A brilhante ideia de passar um Natal ao estilo da família Black. Uma mentira. Um plano. E, de tantas coisas ruins, o surgimento da melhor de todas.
Olhei para , sem conseguir conter um sorriso.
— Eu te amo. — Falei para ela, apertando sua mão com carinho, tentando fazê-la compreender a intensidade dos meus sentimentos que mal eram transmitidos por aquelas palavras.
sorriu para mim e percebi que eu era a pessoa mais sortuda de todo o mundo por simplesmente poder ver aquele sorriso.
— Eu também te amo.
Olhei para todos ali, grato por aquele momento. Grato por aquele feriado que eu antes nunca me importara muito. Gratos pelas pessoas ali presentes.
Grato por, através de , ter tido a chance de conhecer o amor.




Fim.



Nota da autora: A Very Black Christmas começou a ser escrita em junho de 2020 e foi postada em setembro de 2020, sendo finalizada agora. Foi a terceira história que me aventurei a criar e a primeira a ser finalizada das longs.
Não sei se escreveria tudo exatamente como foi escrito. Minha escrita evoluiu, eu evoluí, mas continuo apaixonada por Sirius e . Eles me permitiram contar a história deles e hoje estão aqui para se despedir.
Obrigada ao grupo do especial de HP que permitiu que essa fanfic existisse. Obrigada à Flávia que abraçou minha história e a betou com tanto carinho. Obrigada à Carol, que foi responsável pela primeira arte da fic, e à Ju, que fez essa nova lindíssima que me ajudou a escrever essa reta final, que eu tive tanto medo de não ficar à altura. Obrigada às fifis e à Igrejinha. Vocês foram meus presentes do site. Obrigada especial à Luísa e à Pati, que surtaram com wallpapers e maluquices, me inspirando a escrever, e me asseguraram várias vezes que o capítulo final não estava uma merda hahahah
E o mais especial obrigada a você. Sim, você! Que leu essa história tão especial para mim e chegou até aqui, dedicou seu tempo precioso para ela. Muito obrigada, não poderia ser mais grata pela leitora maravilhosa que você é!
Me sigam no Instagram para mais notícias das minhas outras histórias! Um feliz natal para todas vocês, que ele seja repleto de luz e felicidade! E, quem sabe, te traz um amor também rs.
Ainda nem acredito que terminei! Obrigada, obrigada e obrigada!
Beijos, espero que gostem do final ❤️

Ei, leitoras, vem cá! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso para você deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.




Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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