Defenceless

Finalizada em: 30/06/2020

Capítulo Único

CONSIDERAÇÕES INICIAIS:
• Essa fanfic retrata uma realidade pandêmica. Qualquer coincidência não necessariamente condiz com a realidade atual.
• Eu estou trabalhando com um vírus parecido com o covid-19 (que, tecnicamente, se chama SARS-COV-2), mas com sintomas mais exacerbados e um detalhe extra (condição de quase-zumbi): o nome é SARS-COV-3.
• PESQUISEM SOBRE O SARS-COV-1 E O SARS-COV-2! SE INFORMEM!
• Originalmente essa fanfic é Larry, mas você pode ler com seu nome tranquilamente pois eu não coloquei beijo, smut ou detalhes além dos cachos e dos olhos verdes.
NÃO É DEATHFIC, mas eu fiz no intuito de ser triste e dar vários sustos sim! Se preparem! rsrs

Estávamos vivendo uma época difícil.
Recentemente, para não se dizer apenas quatro meses atrás, a ONU começou a notar estranhos padrões de uma nova e desconhecida doença que rondava por alguns países.
Cansaço, falta de ar, muita dor e tosses eram os sintomas mais vistos na maioria das pessoas.
No começo foi bem complicado lidar com isso pois se falava em centenas de mortes por dia mas nenhum de nós queria acreditar que era verdade, ou que poderia chegar até nós.
Mas chegou. E mais rápido do que gostaríamos.
O problema não era a doença em si – algum tipo de vírus, obviamente, pois eles têm uma transmissibilidade muito mais alta – e sim a mortalidade que a doença trazia consigo.
3 em cada 5 pessoas que ficavam doentes, morriam.
Pensando em números pequenos pode-se parecer uma coisa pequena – mas acredite, não é.
Os sintomas, no começo, enganavam como um resfriado forte – algo que começou a tranquilizar as pessoas e fazer os governos começarem a levar a vida de volta à normalidade.
Apenas quando os números de mortes diárias começaram a triplicar foi que as autoridades começaram a realmente se preocupar – só então decretando estado de calamidade pública.
Não se sabia o número exato de mortos ou de doentes, pois algumas pessoas morriam em casa muito rápido e eram enterradas; algumas pessoas não iam ao hospital pois conseguiam se recuperar em casa mesmo, e ainda que fossem, não era garantido que teria testes para todos. Haviam também as pessoas que faziam o teste mas, quando o teste saía, a pessoa já tinha falecido e não se sabia se havia sido em decorrência da doença ou não.
Havia também um problema muito difícil de ser controlado – o fato de alguns doentes virarem quase canibais, quererem atacar outras pessoas e, quando era o caso de se recuperarem, diziam não se lembrar de absolutamente nada.
Como se sabia se as pessoas iriam chegar a esse estágio?
Não se sabia.
Essa era a grande questão.
E tinha também o fato de algumas pessoas poderem ser assintomáticas por meses antes de desenvolverem a doença – provavelmente por estresse ou mudanças climáticas que diminuiriam a imunidade da pessoa e propiciar o ataque do vírus no organismo.
E como se já não fosse desgraça o suficiente...
Ainda era possível se reinfectar. Várias vezes.

**


Todo esse lenga-lenga foi apenas para explicar por que estamos em uma situação tão complicada nesse momento.
Uso de máscaras, luvas e álcool; restrição de demonstração de afeto; caos.
Meu marido, , infelizmente fazia parte do serviço essencial que não poderia parar de jeito nenhum – ele era dono de uma mercearia bem conhecida pela cidade, que também fazia entregas.
Já vivemos só de delivery, como também já reabrimos a loja várias vezes, sempre respeitando as recomendações da ONU.
Mas os problemas começaram há alguns dias, quando mesmo no meio de uma fucking pandemia, chegou bêbado em casa.
Ok, ele estava estranho antes disso, mas eu estava apenas esperando que ele viesse desabafar comigo – tinha seu próprio tempo para assimilar as coisas que aconteciam consigo para só então vir chorar no meu colo.
Eu havia deixado o porre passar, para conversar com ele sóbrio – e tudo que eu recebi em troca de todo um monólogo, foi um “chega de neurose, só vamos viver”.
Não acreditei na hora.
A quarentena, afinal, deixou todo mundo meio maluco.
Eu, por exemplo, há cerca de duas semanas, havia tido uma crise de ansiedade tão forte que quase saí de casa no desespero – mas havia me abraçado e me acalmado, e eu agradecia todos os dias por tê-lo.
E por nossa filha, Diana.
Era por ela que eu estava tão preocupado – era por ela que eu zelava toda noite, antes de dormir, e sorria toda manhã ao acordar.
Mas aquela fase não passou – ele chegou bêbado nos três dias seguintes também, e sempre me evitando ao chegar e sair de casa.
Eu estava no meu limite.
No meu limite para ter a porra de uma nova crise que prometia ser mais forte do que qualquer outra, e não daria para adiar mais aquela conversa.
- Papai, papai! – ouvi a vozinha infantil de nossa filha de seis anos e meio me chamar e quando voltei à realidade, suas mãozinhas pequenas estavam se abanando na minha frente para chamar minha atenção. – Hora de pintar, vamos!
Sorri, lhe dando um beijo na bochecha e lhe acompanhando para a sala, tentando esquecer um pouco aquele assunto por hora.
11:18pm
já deveria ter chego há cerca de 2 horas, o que estava começando a me deixar nervoso, mas eu seguia sentado na poltrona da sala o esperando enquanto conversava com Liam e lhe explicava nossa situação.
Ouvi a chave rodar na fechadura, e já me preparei para a discussão que viria, me levantei e fui lhe esperar no batente que tinha antes da entrada da sala.
Quando entrou e deu de cara comigo, não teve a reação que eu esperava – na verdade, ele não teve reação nenhuma.
Ele parecia um zumbi, sem emoções nos olhos, a máscara que deveria estar em seu rosto quase caindo no chão mas até que para seu estado geral, ele não parecia tão bêbado.
- Isso tem que acabar – comecei de uma vez, antes que ele fosse dormir e eu perdesse a coragem.
- Isso o quê? – até sua voz estava robotizada, e meu coração doeu.
- Essa porra de bebedeira, ! Você não está se cuidando, não está preocupado com a gente e nem com seus clientes! Você está sendo um puta de um irresponsável, mas que inferno!
- , eu não quero discutir agora – sua voz estava cansada e ele me olhou... a forma como ele me olhou me fez me sentir mal. Como se eu estivesse apenas o importunando. – Amanhã a gente fala sobre como eu sou horrível, ok?
- Se você não parar com essa merda de sair para beber e passar a se cuidar, você não vai mais ver a Diana. Nem entrar nessa casa.
- Tá tá, amanhã – resmungou, indo direto para o nosso quarto.
Eu sabia que ele seguiria sem tomar banho, por isso optei por dormir na sala naquela noite.
Obviamente não dormi bem, e vi a hora em que ele saiu – ele se virou para mim e me observou por alguns segundos sem saber que eu estava acordado, mas não veio até mim e então se foi para trabalhar.
Ainda levei alguns minutos para me levantar e começar a agir minha vida, mas quando o fiz pude comprovar que foi o dia mais cansativo e menos produtivo da minha vida nos últimos meses.
E quando a noite chegou, eu só queria chorar – e foi o que eu fiz, uma vez que não parava de bater na porta e me ligar.
Eu avisei... eu avisei, amor, foi você quem não me ouviu.

**


5 dias.
5 dias que não atendia , não respondia suas mensagens apesar de ler todas.
Mas não desistia.
E também, 5 dias que Diana não parava de perguntar de seu “outro papa”, deixando os nervos de à flor da pele – ele entendia que não era culpa de sua filha e que ela não entendia por que iria passar um tempo fora e por que eles não poderiam se ver, mas ele só estava cansado e só queria algum tempo de silêncio para chorar em paz.
não estava bravo com por si próprio – e sim por ele não pensar na própria filha, uma criança completamente inocente que não merecia ter como destino final uma doença tão cruel.
- Liam pelo amor de Deus me ajuda, a Diana não para de chorar – chorava junto com a filha enquanto tentava acalentá-la um pouco, mas seu choro simplesmente não parava.
- Não é saudade do Lou, Haz? – Liam perguntou cuidadoso e suspirou fundo, ele já desconfiava daquela possibilidade. – Você vem falando disso há vários dias... Ele está aqui agora, implorando para falar com ela por vídeo, deixo?
pensou por apenas alguns segundos, mas então resmungou que sim e ambos desligaram a ligação. Apenas alguns segundos depois uma chamada de vídeo do celular de chegou ao seu, e sentiu seu coração disparar apenas com a foto do homem que tanto amava.
Tanta coisa podia ser diferente nesse momento...
Suspirando, ele atendeu e deixou que falasse primeiro para que Diana se acalmasse.
- Di? Pequena? – Diana soluçou e arregalou os olhos para o celular no mesmo minuto, abrindo um sorriso tão brilhante que se arrependeu de não ter tido essa ideia antes.
Pouparia muita dor de cabeça sua e muito sofrimento de sua filha.
Mas estava acontecendo naquele momento e aquilo era o que importava.
Ele olhou para o celular, esquecendo momentaneamente quem se encontrava ali e dando de cara com , o homem parecia realmente triste e virado há vários dias e seu coração quebrou com isso.
Não que ele estivesse necessariamente virado, não sabia, mas sua aparência estava péssima.
- Papaaaa! – Diana berrou, fazendo os dois sorrirem um pouco ainda se olhando.
- Hey babe – sabia que era consigo, mas não conseguiu responder. – Oi, piolhinha! Minha bebê está bem?
- Amor, eu vou no banheiro rapidinho, você pode ficar aí conversando com o papa um minutinho sem o papai? – perguntou desviando o olhar do marido e olhando para a filha.
Diana fez que sim com a cabeça, já tomando o celular da mão do pai e indo se sentar no sofá fazendo altas gracinhas. Alguns soluços ainda eram perceptíveis pelo choro recente, mas em questão de ânimo a criança nem parecia estar chorando menos de 5 minutos antes, o que aliviou .

Cerca de meia hora depois, encontrou a filha dormindo abraçada com o celular e ele sorriu tristemente. Ele odiava que as coisas tivessem que ser daquele modo, mas infelizmente em um momento tão delicado ele não ficaria correndo riscos com sua filha sendo tão pequena e, de certo modo, tão frágil.
Ele pegou o celular e viu que ainda estava na chamada, concentrado escrevendo algo no computador e o celular focalizando apenas seu rosto. O homem estava verdadeiramente tão concentrado que não notou de imediato pegando o celular, mas se assustou quando viu o mesmo ali. Ambos ficaram se encarando por alguns segundos, até sorrir tristemente para o outro, que sentiu seus olhos se encherem de lágrimas.
- Eu fodi tudo, não foi? – perguntou, mas não obteve uma resposta. – Me perdoa, eu só... eu estava sobrecarregado, a loja não ia bem e eu não queria descontar em vocês e- – ele se interrompeu, soluçando em um choro engasgado e baixinho. não acreditou quando viu as lágrimas escorrendo pelo rosto de e sentiu as suas quentes contra sua própria pele. Ele se distanciou de Diana dormindo e foi até o quarto, mas continuou sem conseguir falar nada. – Desculpa, amor, de verdade. Eu não quero que você me aceite de volta por pena, porque eu estou chorando ou coisa parecida, tudo bem? Eu só realmente precisava me explicar, e o choro- bom, ele é um efeito da saudade de vocês – ele sorriu parando de limpar o rosto e analisando bem a face do outro e suspirando. – Eu sei que eu fui irresponsável pra caralho e não tem desculpa para isso, eu sei, só- me perdoa.
- Amor, você precisava e poderia ter me contado – reclamou, fazendo abaixar a cabeça concordando. – Mas está tudo bem, sim? Vem.. volta pra casa – implorou, ele nunca foi muito bom em se manter distante, isso não mudaria agora. – Vem, amor, volta pra gente. Mas... a gente tem que pensar mais na Diana, e não deixar nada acontecer com ela, você sabe disso não é?
riu baixinho, e viu novas lágrimas começarem a correr por seu rosto, o deixando confuso.
- Não posso babe, eu- – respirou fundo, tomando coragem. – Eu preciso de mais alguns dias aqui, tudo bem? Prometo que volto para você em breve, mas por enquanto não posso.
estranhou aquilo.
negando sua casa?
E a tendo tão facilmente de volta?
Ele agora estava mais desconfiado do que nunca, mas simplesmente aceitou e se despediu do marido e lhe desejou boa noite.

Mas aquela noite não foi boa para .
Para foi uma noite um pouco diferente – ele estava um pouco aliviado, mas ainda assim preocupado.
Não entendia a recusa de , ele já deveria estar em casa ao invés de na casa de Liam, Zayn e Niall – amigos de ambos, que deviam estar enchendo o saco de para tomar os devidos cuidados, que era o que estava tranquilizando até certo ponto.
Mas ele entendeu tudo quando recebeu um telefonema de Zayn no dia seguinte, pela hora do almoço.
Ele havia tentado falar com a manhã inteira através de mensagens simples, apenas puxando conversa, mas não obteve resposta – então acabou por deixar quieto por um tempo para lhe dar um momento.
Talvez ele quisesse um tempo realmente, tanto de quanto da filha, o que não entrava na cabeça de , mas ele respeitaria afinal.
Mas ele entendeu tudo errado.
Ele havia acabado de dar almoço a Diana e estava lavando a louça quando atendeu o telefone e Zayn parecia andar de um lado para o outro, não necessariamente nervoso mas com certeza apressado e falando com Niall e Liam ao fundo que eles precisavam ir logo. Sua voz parecia abafada, então deduziu que eles tinham que ir na rua por estarem de máscara.
- Oi Zayn, tudo bem?
- Oi, Haz! – Zayn exclamou – Então, eu preciso falar rápido porque estamos saindo de casa agora, mas o está passando mal desde essa madrugada. Ele não nos deixou ligar para você nem o levar pro hospital pois nós ainda tínhamos esperanças de que todos os sintomas passariam, mas tudo indica que seja o SARSCOV-3. – não tinha reação, ele não sabia o que falar e muito menos o que pensar. Seus membros não o obedeciam naquele momento e ele ficou ali, parado. – Haz? Tudo bem?
- Oi – murmurou quase engasgado, desligando a água e pegando o celular rapidamente, indo para o seu quarto como um foguete. – O que ele está sentindo?
- Dor no corpo, não consegue comer direito desde ontem e ainda pouco começou a tremer de febre – Zayn pareceu fazer um esforço com algo. – Haz, eu preciso mesmo ir. Deixa a Di com o Li e me encontra no Memorial, sim? Eu vou com o Ni. Beijo.
ficou um minuto ou dois processando as informações, para só então realmente sair correndo enquanto arrumava Diana e tentava animar a filha de que ela iria para o tio Li, a fazendo pegar seu bichinho favorito e suas canetinhas, indo rapidamente para o carro com aquela máscara detestável – porém necessária – em seu rosto e no da pequena criança.
Diana era elétrica, e ao mesmo tempo muito boazinha. Ela odiava o pequeno pano, mas entendia (ou algo perto disso) que era necessário; até porque não precisava fazê-la passar por aquele estresse sempre, era só em casos de extrema necessidade.
Como naquele momento.
Ele deixou a filha com Liam tão rápido que não se lembra do trajeto direito, nem sabe como chegou vivo ao hospital pois tinha certeza que tinha ultrapassado inúmeros sinais.
Perguntou à recepcionista, e de tão nervoso estava quase entrando atrás do balcão para pesquisar por ela qual era a merda do quarto de seu marido – quando Niall apareceu no hall, o cumprimentando rapidamente e o levando para o final daquele mesmo corredor, onde se localizava a enfermaria da emergência.

I come running to you like a moth into a flame
(Eu corro para você como uma mariposa corre para o fogo)
You tell me: Take it easy, but it's easier to say
(Você me diz: Vá com calma, mas é mais fácil falar)
Wish I didn't need so much of you
(Queria não precisar tanto de você)
I hate to say, but I do
(Eu odeio admitir, mas eu preciso)


estava em uma maca, com soro na veia e uma espécie de capacete – ali dentro provavelmente tinha oxigênio, pensou consigo mesmo – e inspirava profundamente várias vezes seguidas enquanto tinha a outra mão no peito. Ele parecia aliviado de conseguir respirar.
Aquilo era uma merda.
Uma merda era pouco, inclusive.
não desejaria aquilo para o pior inimigo – era algo extremamente desesperador simplesmente não conseguir se fazer respirar o necessário.
nem notou que chorava até chegar ao marido, pegando em sua mão – ambos de luvas, protocolo do hospital – e fazendo carinho, o que fez abrir os olhos lentamente.
- Oi, babe – falou suavemente. – Como se sente?
- Eu disse para eles que não precisava te preocupar – murmurou, mas fechou os olhos novamente. Ele parecia sedado, provavelmente era o que usavam para broncodilatar seus alvéolos e fazê-lo se sentir melhor. – Eu estou ótimo, e você? Onde está a Princesinha?
- No Li – sorriu –, não podia trazê-la aqui. Mas prometo que quando você estiver em casa fazemos uma chamada de vídeo com ela, sim? Eu vou para onde você for, amor. Eu juro.
- Não, Haz – olhou tão sinceramente em seus olhos que travou. – Você não vai para onde eu for porque eu não vou deixar você largar a Diana para cuidar de mim. Eu poderia ser egoísta e deixar que você fizesse isso, mas eu ia me sentir um bosta maior do que estou me sentindo e- eu não quero contaminar você de forma nenhuma. Se isso não aconteceu antes por irresponsabilidade minha, então vai continuar sem acontecer, mas dessa vez eu vou ser responsável. Eu prometo.

We're sleeping on our problems and we'll solve them in our dreams
(Nós dormimos sobre nossos problemas e juramos solucioná-los em nossos sonhos)
We wake up early morning and they're still under the sheets
(Acordamos de manhã cedo e eles ainda estão debaixo dos lençóis)
I'm lost in my head, I'm spinning again
(Estou perdido em meus pensamentos, estou girando de novo)
Trying to find more to say to you
(Tentando encontrar mais para lhe dizer)


- Eu te odeio – chorou, apertando a mão do marido. o olhou confuso, pois não podia ver seu sorriso triste. – Te odeio por ser racional quando precisa, amor. Tudo bem, eu concordo com você, e sim foi muito irresponsável mas- a gente vai conseguir sair dessa. Eu prometo.

**


Os dias seguintes foram tensos.
ficava em casa com Diana e somente saía para visitar – deixando Diana sempre com Liam, Zayn ou Niall, cujos se revezavam para ajudar também com compras e outras coisas que ele pudesse precisar.
nunca seria grato o suficiente àquelas pessoas que caíram em sua vida de paraquedas, e estavam sendo seu porto seguro em um momento tão difícil.
Mas ...
só piorava.
não sabia o que fazer além de chorar e rezar por ele, e dormir mal.
E ainda tinha que lidar com Diana, que perguntava do papai todo dia, ao menos três vezes.
Era exaustivo além do limite – mas ele não tinha muitas opções no momento, de qualquer modo.
Um sentimento que sempre o consumia antes de dormir, era a possibilidade de que viesse a falecer.
É claro que a possibilidade existia, ele tinha essa noção, mas gostaria de acreditar que o universo não faria isso consigo. evitava pensar muito nessa parte em especifico, pois não conseguia mais parar de chorar e em duas semanas ele teve cerca de cinco crises – faziam anos que as crises não eram tão agressivas e frequentes.
Era naqueles momentos que ele via realmente o quanto aquilo o estava afetando.
havia sido irresponsável? Sim, e muito! estava doido para que ele melhorasse para lhe dar uns tapas na cara de advertência.
Mas isso significava que queria que ele morresse? Obviamente não, de maneira nenhuma!
Ele era o amor de sua vida, sua alma gêmea, não conseguia se ver vivendo sem seu marido.
- Oi, amor – sorriu quando chegou ao quarto, e o acompanhou andar pelo cômodo mesmo que não dissesse nada. – Está tudo bem? Você está sendo bem tratado né?
Mesmo que não conseguisse responder, ele se sentia extremamente amado exatamente em momentos como aquele, então ele fez o seu melhor para sorrir no exato momento que olhou para si. Os olhos do cacheado brilharam por lágrimas, e ele foi até e fez um carinho calmo em seu rosto, fazendo esfregar brevemente o rosto na mão do garoto com o carinho.
- Tudo vai melhorar, não vai, amor? – murmurou com a voz embargada, o que fez assentir fracamente, fazendo sorrir mesmo que tristemente. – Claro que vai, você é forte pra caralho, e eu te amo muito.
Era claro que tudo ficaria bem.
Mas como a vida é sacana, tudo pioraria primeiro.

**


- Haz – Liam murmurou cabisbaixo do outro lado da linha quando ouviu a voz suave o saudando. – O ... ele entrou naquele estágio.
Ah... aquele estágio.
Aquilo significava que estava extremamente agressivo e querendo atacar quem quer que cruzasse seu olhar, então ele estava algemado na cama de hospital provavelmente em alguma ala separada, sozinho.
não saberia descrever a sensação de saber aquilo, nem se quisesse muito.
Mas doía.
E o pior: não havia o que fazer.
Agora, era rezar ainda mais para que o corpo e o sistema imune de fossem fortes o suficiente para fazê-lo sair daquela situação.
E só restou a esperar.
Esperar por mais quase uma semana, onde ele falava com Liam dia e noite, esperando por boas noticias, mesmo que nunca as tivesse.
Ele já estava cansado de esperar.
Ainda assim, continuou esperando.
Até que o telefone tocasse para que alguém pudesse lhe dar uma fagulha de esperança.
Mas quando aconteceu... bom, quando aconteceu estava doente.
Já não ficava mais com Diana, inclusive.
O pavor de sua menininha pegar era ainda mais real agora, uma vez que ele havia passado tanto tempo se cuidando e ainda assim havia pego aquela maldita doença.
Então Diana estava na casa de seus amigos, vivendo com o pai uma vez que eles já tinham certeza que o mesmo não transmitia mais a doença.
havia sido internado há mais ou menos dois dias, e desde então não conseguia fazer muita coisa além de remoer em sua própria cabeça sobre o tempo que eles haviam perdido não vivendo em família.
Era extremamente difícil. Sua mente era sua maior inimiga e sabotadora naquele momento.
Se passou cerca de mais uma semana e meia, se arrastando para ambos, onde não deixou de visitar em nenhum momento, assim como não deixou de visitá-lo quando ele estava naquela situação.
Mas , ao contrário de , não conseguia ser tão alto astral quanto o outro e na maioria do tempo ficava em silêncio, apenas o contemplando.
Velando sua vida.
sorriu, olhando nos olhos azuis mais lindos que ele conhecia, ainda que seu sorriso fosse fraco.
- E a Di? Está bem?
- Sim, ela- – suspirou – Perguntou de você ontem. E anteontem. E todos os dias antes disso. – riu e logo em seguida tossiu, o ar faltando para si, mas apesar de sentir seu coração disparar apenas esperou que a falta de ar se dispersasse. – Haz, eu não vou poder continuar vindo ver você.
o olhou chocado por alguns instantes, seus olhos se enchendo de lágrimas, mas ele apenas assentiu, virando o rosto para o outro lado com dificuldade.
- Eu não vou poder aparecer nos próximos dias pois vou com Zayn em Atlanta buscar a vacina.

Never been so defenceless
(Nunca estive tão indefeso)
No, you don't have to keep on being strong for me and you
(Não, você não precisa continuar sendo forte por mim e você)
Acting like you feel no pain, you know I know you do
(Agindo como se não sentisse dor, você sabe que eu sei que você sente)


virou o rosto de volta na direção do marido, os olhos agora não só brilhando das lágrimas como também de pavor.
- Mas Lou, e se você- – se interrompeu para tossir forte, não deixando que isso o impedisse de continuar a falar, contudo – e se você adoecer de novo? E se Diana adoecer e não tiver ninguém por ela? Lou a gente não pode-
- Haz, eu não posso deixar que você pegue essa porra de novo. Não posso – foi muito rápido, os olhos de se encheram de lágrimas e podia o sentir a um passo de desabar. – Olha como você está amor, está fraco, não consegue fazer o que gosta nem cuidar da nossa filha. Em que mundo eu poderia apenas me sentar e confiar nas prevenções que nos mandam fazer? Eu simplesmente não posso conviver com o fato de existir uma vacina e de que ela vai demorar para chegar em você, não dá – as lagrimas já corriam livremente pelo rosto pálido e triste, ainda que a máscara tampasse a boca de , sabia que ele mastigava seus próprios lábios pelo nervosismo. – Eu simplesmente não posso confiar de que eu não vou vacilar de novo, e eu juro por Deus Haz, eu juro que nunca mais vou me descuidar, mas ainda assim há chances de pegarmos novamente e eu não- não posso arriscar tanto assim vocês dois. Você e Diana são tudo para mim, Niall, Zayn e Liam também é claro, mas é diferente, vocês são- – se interrompeu, respirando fundo, aquela merda de máscara o estava sufocando por conta de seu choro angustiante, então a retirou, aproveitando momentaneamente que estava com a viseira. – Vocês são a minha vida, o meu mundo Haz, e eu vou cuidar de vocês, tudo bem? Eu vou ser um bom marido e um bom pai de novo, eu juro.
estava chorando – é claro que estava, ele não via uma única chance de não chorar diante as circunstâncias, apesar da falta de ar que aquilo o causava.
- Me deixa ir com você – o cacheado murmurou, assustando . – Me deixa ir com você, Lou.
- Não, anjo – sorriu em um misto de tristeza e arrependimento. – Eu estou indo hoje. Agora. Espero que você me entenda e me aceite de volta, quando eu voltar – sorriu, fazendo um carinho na bochecha do garoto que agora chorava como se sua vida dependesse disso. E basicamente dependia. –, e eu vou voltar, pode acreditar. Eu te amo. Te amo tanto que dói. – deu um toque no nariz fofinho e se levantou, apertando a mão de e apenas... indo.
Sem olhar para trás.
não poderia olhar para trás – senão ele apenas ficaria ali consolando o amor de sua vida e não faria o que precisava ser feito.

**


E então, o tempo passou.
Ele continuou, como sempre, em seu próprio ritmo – e não havia nada que ninguém pudesse fazer.
, felizmente, não chegou ao último estágio da doença e do momento que foi comprovada sua cura, ele pôde voltar à sua vida e para sua filha.
E voltou a entrar em contato com .
Ele e Zayn diziam que tudo parecia tão deserto, que as pessoas estavam praticamente completamente trancadas em casa, deixando assim a natureza se recuperar – cuja estava crescendo para as estradas, e ambos tinham que dirigir com muito cuidado principalmente para não atropelar nenhum animal.
Todos se mantinham em contato constante, até mesmo por conta de Diana que chorava todos os dias pedindo o pai. E até então todos estavam confiantes – até que a comunicação foi cortada.
Para tudo estava normal – internet, telefones, celulares...
Mas nada de conseguir falar com .
E mais dias infinitos se passaram.
Mais inúmeros dias em que não tinha sequer uma notícia de , mas pelo que ele soube, a comunicação havia sido cortada em uma parte do planeta – ninguém sabe por que ou por quem.
Mas só queria de volta em casa.
Só isso.
Começaram a haver relatos de pessoas desaparecidas pelos arredores de onde havia ido, e começou a se afundar.
Ele não sabia mais o que fazer, no quê se apoiar para ter fé.
Ele só vivia dia após dia por sua filha, que havia testado resistente ao vírus, o que com certeza o tranquilizara muito e ele estava doido para contar para – mas não sabia onde o garoto estava, o que não ajudava em nada.
Até o dia em que Liam o berrou da sacada de casa, o assustando.
Era incrível o dom que Liam tinha de assustá-lo nos momentos mais inoportunos do mundo – como agora que ele estava tentando por Diana para dormir.
Mas ele foi. Desceu as escadas lentamente, lento de sono – o dia havia sido cansativo e seu corpo ainda estava se recuperando completamente da doença –, quando ele o viu.
estava parado ali na porta, empoeirado e um pouco machucado, enquanto via Zayn ser abraçado por Niall e Liam e os três choravam... mas ele simplesmente não conseguia reagir.
Ele estava feliz, claro, mas era simplesmente surreal.
Depois de meses?
Quais as probabilidades?
- Eu não ganho nem um oi?! – sorriu, fazendo chorar imediatamente.
O cacheado saiu correndo e pulou nos braços do mais velho, que o pegou sem pestanejar pelas coxas e o manteve ali, como um coala.
- Que saudades da sua voz – com a voz embargada e completamente destruído internamente por suas próprias emoções, apenas sussurrou baixinho no ouvido de e beijou a pele quente de seu pescoço. Ele realmente não pensou na doença naquele momento, mesmo que devesse, só estava feliz demais para se poupar.
- Eu estava morrendo de saudade da sua também – era possível ouvir a emoção na voz do homem enquanto ele esfregava seu nariz nos cachos macios. – E do seu cheiro, e da sua risada... E da nossa filha... Ela...?
- Ela é resistente – mordeu o próprio lábio tentando conter a empolgação, se afastando para olhar nos olhos mais azuis que o céu e ver o alívio crescer ali como ele sabia que havia acontecido consigo mesmo. – Quando eu melhorei eu precisava saber o porquê ela não havia adoecido, ou se havia possibilidade e... enfim – suspiraram juntos, se olhando profundamente. – Você voltou.
- É claro – deu um beijo de esquimó no marido, lhe dando um selinho em seguida e apertando sua cintura. – Eu sempre volto.
- Sempre – sorriu mais ainda – Por onde vocês estiveram, hein? Por que demoraram tanto?
- A versão resumida primeiro? – riu, assentindo. – Guerras, celular morreu, carro morreu e tivemos que pedir carona – arregalou os olhos, apenas reiterando o pensamento de de que deve ter sido difícil pra caralho porque era muito, extremamente orgulhoso. – Mas as vacinas estão aqui. Temos para todos nós – olhou para a maleta em cima do sofá, levando o olhar de até lá e aproveitando para deixar um beijo em seu pescoço pela posição, o fazendo rir como uma criança e apertar o pescoço pelas cócegas da barba recém-crescida. – Nunca mais bebê, nunca mais aquilo vai acontecer – murmurou, fazendo o olhar seriamente novamente. – Eu juro por Deus.
- Eu sei – sorri – Eu te mataria se acontecesse.
Ambos dão risada e se beijam, mas apenas até ouvirem um grito fininho e se virarem, vendo Diana parada ali.
E toda a família era completa novamente.
Como deveria ser.
Para sempre.

Never been so defenceless
(Nunca estive tão indefeso)



Fim



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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