Prólogo
Há séculos, as cordas da lira ecoaram pela noite, suas notas sombrias arranhando o véu do tempo. Ninguém mais ouviria aquela melodia fatal — ou, pelo menos, assim ele esperava. Sob o brilho fraco das tochas, o bruxo ajustou os dedos nas cordas negras uma última vez, antes de selá-la nas profundezas. Seu olhar, cansado e sombrio, carregava o peso da responsabilidade: o que ele escondia não era apenas uma relíquia, mas um poder que nenhum bruxo deveria controlar.
O lugar estava frio e úmido, as sombras dançavam nas paredes enquanto as tochas vacilavam. O bruxo avançou, seus passos ecoando suavemente no silêncio sombrio. No centro do altar de pedra, a Lira de Érebo repousava, inerte, mas emanando um poder invisível e pulsante.
Ele parou à sua frente, as mãos tremendo levemente. A responsabilidade que carregava era esmagadora; aquele artefato já havia causado desastres antes, e agora ele seria o último a vê-lo, a ouvi-lo… O Fiel do Segredo. Um sussurro do passado ecoava em sua mente — histórias de outros bruxos que sucumbiram à maldição.
— É agora ou nunca — sussurrou, fechando pesadamente os olhos.
Com a determinação renovada, o bruxo ergueu sua varinha, os olhos fixos na lira. A sensação da magia ancestral pulsando no ar era quase sufocante, como se a própria lira soubesse o que estava para acontecer. Ele respirou fundo, fechando os olhos e começou o encantamento do Feitiço Fidelius, um feitiço que selaria para sempre o segredo da localização da lira dentro dele.
— Fidelitas Immortalis…
Sua voz era firme, mas pesada, ressoando naquele lugar tão escondido e ao mesmo tempo tão próximo, como um eco distante. As palavras antigas fluíam de sua boca, impregnadas com a energia de proteção. As sombras ao redor começaram a se mover, como se fossem atraídas pelo poder da magia que ele invocava.
A varinha brilhou com uma luz intensa, um feixe dourado que se estendeu até a lira, envolvendo-a em uma teia brilhante, enquanto o feitiço começava a se formar. Os fios de luz entrelaçaram-se lentamente, como teias de aranha intricadas, envolvendo completamente o artefato e selando seu poder.
— Que o segredo deste artefato permaneça para sempre escondido dentro de mim — murmurou o bruxo, com uma reverência solene.
Agora, o fardo do segredo era dele; sua mente seria o único cofre capaz de conter a localização da lira.
De repente, uma dor aguda atravessou sua mente, como se algo estivesse sendo gravado em suas profundezas, um segredo tão poderoso que era quase tangível. Ele cambaleou por um momento, mas se manteve firme. Sabia que o feitiço estava funcionando.
As sombras do local pareceram crescer, comprimindo-se em torno dele, como se o espaço estivesse se fechando. O ar tornou-se pesado, carregado com a energia sombria da lira. Ele sentiu o peso do segredo que agora guardava, como uma âncora presa ao seu próprio coração.
O último fio de luz desapareceu na escuridão, e a lira se apagou, como se tivesse sido sugada para fora da realidade.
— Está feito.
Ele guardou a varinha, o coração batendo forte. Agora, só ele sabia o paradeiro da lira, e essa responsabilidade pesava em sua alma. A partir daquele momento, o poder da lira estava oculto no mundo, mas ele sabia que, algum dia, alguém de sua linhagem seria chamado para enfrentar esse segredo mais uma vez.
Atualmente:
As cordas soaram ao longe, como um sussurro perdido no vento, mas, ainda assim, as sombras pareceram se aproximar, encostando na pele de com um arrepio.
A escuridão envolvia tudo. se movia por entre os corredores de Hogwarts, mas algo estava errado — terrivelmente errado. As paredes, outrora majestosas, estavam agora em ruínas, rachaduras profundas serpenteando como cicatrizes ao longo das pedras antigas. O ar estava pesado, denso como uma sombra viva, e o silêncio absoluto era quebrado apenas por um som… um som que arrepiava sua alma.
A melodia.
Aquela melodia fatal, ecoando como um sussurro cortante, atingia cada canto do castelo. Era alta e penetrante, uma composição sombria e agonizante. Os gritos dos alunos ecoavam nas paredes destruídas; cada nota da melodia arrancava deles um lamento de dor, como se suas almas fossem despedaçadas.
Horrorizada, correu pelos corredores, vendo rostos conhecidos contorcidos em agonia, alunos caídos, retorcendo-se no chão, suas mãos segurando as cabeças como se tentassem bloquear o som, mas sem sucesso. Ela tentava gritar, tentava parar aquilo, mas não saía som algum de sua boca. Seu coração batia forte, o terror crescendo a cada passo.
O som que fazia os outros sofrerem não a afetava. Ela parou, ofegante, percebendo o que isso significava. O horror invadiu seus pensamentos. Por que ela? Por que só ela era poupada daquela dor infernal?
Ela seguiu pelos corredores destruídos, o castelo desmoronando ao redor, até que as grandes portas do salão principal se abriram com um som oco e retumbante. O Grande Salão agora era um cenário de caos. As longas mesas de banquete estavam tombadas, pratos e cálices espalhados como destroços de uma festa arruinada. E no centro de tudo, Gui Weasley.
Seus cabelos ruivos estavam bagunçados, e os olhos, habitualmente calorosos, agora estavam tomados por um medo profundo. Ele ficou parado, os punhos cerrados, o peito subindo e descendo rapidamente enquanto os gritos continuavam ao redor.
— O que foi que você fez, ? — A voz dele tremeu, um misto de choque e dor.
O som das palavras perfurou sua mente. O que ela tinha feito? Ela não conseguia entender, não conseguia… até que sua atenção foi desviada para um dos pratos prateados caído ao lado.
Com as mãos trêmulas, ela o levantou e olhou para seu reflexo.
O choque a atingiu como uma rajada de vento gélido. Seus cabelos escuros estavam presos firmemente, a pele pálida quase etérea, e seus olhos… seus olhos estavam tomados por uma sombra que não reconhecia. Sua aparência era fria, sombria, como se a própria escuridão estivesse enraizada nela. O terror se apossou de seu corpo, a verdade piscando na borda de sua consciência.
Ela era a causa daquilo. Era como se o poder da Lira de Érebo estivesse fluindo através dela, transformando-a no próprio instrumento de tormento.
— Não… — sussurrou para si mesma, horrorizada, os olhos arregalados.
Mas, antes que pudesse reagir, ouviu a voz. Uma voz familiar, que a perseguia desde que tinha entrado em Hogwarts. Aveludada, rouca, escorregadia como um veneno doce. A voz que vinha daquele garoto da Sonserina.
— Ele jamais vai nos entender — sussurrou em seu ouvido, próximo demais, fazendo sua pele arrepiar, o tom carregado de uma certeza fria. Ele estava lá, em algum lugar nas sombras, observando.
Ao abrir os olhos, o peso daquele sonho ainda estava com ela, pressionando seu peito como se as sombras tivessem atravessado a realidade.
O que aquele sonho poderia significar? Será que o seu quinto ano em Hogwarts estava realmente em perigo de ser o melhor como ela mesma havia prometido e desejado?
Elara não sabia as respostas daquelas perguntas, mas nada jamais a impediria de retornar a escola onde ela se sentia mais em casa do que em seu próprio lar.
Ela retornaria para o seu quinto ano. Elara enfrentaria aqueles pesadelos, que achava serem apenas sonhos. Enfrentaria também o amor platônico que sentia por seu melhor amigo: Gui Weasley. E, claro, enfrentaria aquele sujeitinho da Sonserina, o qual sempre fazia questão de estar presente em sua vida.
O quinto ano estava prestes a começar.