Última atualização: 01/09/2020

O garoto respirou fundo antes de entrar no refeitório, andando o mais rápido que pôde em direção a fila para pegar seu lanche. A cabeça baixa o tempo todo, volta e meia olhando por sobre o ombro na direção da última mesa do refeitório, na qual seu primo, Duda, e os amigos estavam sentados, comendo e gritando como sempre faziam.
Agradeceu a senhora quando ela lhe deu um pouco de mingau e uma maçã, não parecia muito apetitoso, mas com a fome que ele estava, não se importou com aquilo. Segurou a bandeja e andou rápido para fora do local, olhando para baixo na esperança de não ser visto por ninguém, estava quase na porta quando sentiu um empurrão em suas costas, tropeçando e derrubando a tigela de mingau e sua maçã, caindo de joelhos no chão. Os alunos que viram a cena riram, como sempre faziam.
O moreno mal se deu ao trabalho de olhar quem havia o empurrado, não se importando muito com aquilo, pelo menos até olhar pra frente e ver uma garota com a camisa toda suja. A loira olhou para Harry com raiva, mas suavizou a expressão ao notar que não havia sido culpa do colega, e sim do ruivo que tornava a andar para o lado dos amigos, ainda rindo da situação.
Potter assistiu quase em câmera lenta, ainda de joelhos ao chão, quando a garota se abaixou ao seu lado, pegando a tigela de mingau e jogando na direção de Stuart, acertando-lhe em cheio no meio das costas.
O ruivo virou-se enraivecido, querendo saber quem o atingiu;
— A próxima vez, vê se olha por onde anda.
O garoto andou apressado na direção dos dois, mas parou quando o coordenador entrou no refeitório, querendo saber que bagunça era aquela.
A loira explicou rápido o que tinha acontecido, não dando tempo do ruivo abrir a boca, acusando-o de tudo aquilo e garantindo que havia sido proposital, e apontando para Harry, que continuava ao chão, dizendo que ele poderia estar machucado.
Potter se levantou devagar, negando com um aceno sobre a última parte, o rosto vermelho.
O homem logo puxou Stuart pelo braço, carregando-o para a direção.
— Ele vai vir atrás de você agora — Harry disse baixo, ao lado da loira.
A garota deu de ombros, sem se importar;
— Gostaria de ver o Stuart Little ali tentar algo — riu da própria piada —, meu pai vai deixar ele de castigo a semana toda.
Harry abriu a boca, surpreso;
— Ele é seu irmão?
— Não, meu pai casou com a mãe dele no último verão, aquela coitada, deve chorar todo dia ao pensar que tem um filho desses. — Deu de ombros, antes de suspirar, olhando para a camisa estragada — Te vejo mais tarde, Harry.
— Como sabe…?
— Você é o primo do “Dudão”, não é? — Perguntou, fazendo aspas com as mãos e rindo — Stuart vive falando dele, e de você também.
— Eu ainda não sei seu nome! — Disse rápido, antes que ela se afastasse.
A garota sorriu;
— Pode me chamar de .


Com o passar das semanas, Harry pegou-se ansioso pelo horário de almoço, o que era até estranho, visto que anteriormente era o horário que ele mais detestava na escola; uma aula de matemática era melhor do que enfrentar o primo e os amigos em um refeitório lotado. Mas agora que ele tinha alguém com quem conversar, mesmo que por apenas alguns minutos, aquela era a hora que mais gostava.
Quando o sinal bateu, anunciando o intervalo, Harry guardou suas coisas apressado, e andou para fora da sala, mal tinha virado o corredor quando sentiu alguém puxá-lo pelo braço, virando-se assustado ao ver a colega o arrastar, olhando para os cantos antes de andar com ele entre os alunos, puxando-o para o lado contrário do refeitório.
então abriu o armário do zelador, embaixo das escadas, empurrando-o para dentro e entrando ela mesma instantes depois. O local era pequeno e apertado, e Harry sentiu quando a garota pisou em seus pés ao entrar, por causa da escuridão;
— Desculpe — Pediu baixo, tentando ajeitar-se entre as vassouras e baldes, olhando pela fresta a movimentação ao redor.
— O que aconteceu? — Potter tornou no mesmo tom, parecendo apreensivo.
— Seu primo quer me matar e, consequentemente, você também.
— O que foi que você fez? — Pediu nervoso, não sabendo ao certo se queria rir ou chorar.
deu uma risadinha, olhando para o garoto, embora não pudessem enxergar muita coisa.
— Fingi que estava indo pegar a bola e acertei um socão na cara dele durante a educação física. — Contou orgulhosa, tornando a soltar risadinhas. — Minha mão está doendo até agora, nunca me senti tão bem!
Harry colocou as mãos na boca, abafando a risada ao imaginar a cena. No minuto seguinte fez careta, embora ela não pudesse ver, passando a mão pelos cabelos bagunçados;
— Ah, ele vai me matar quando chegar em casa.
— Não vai, não — a garota garantiu, olhando para a sombra do amigo.
— Como você sabe?
— Porque eu falei pra ele que vou contar pra todo mundo que ele tem medo de escuro e faz xixi na cama!
— Mas ele não tem e…
— Eu sei, Harry, — interrompeu apressada — mas todo mundo na escola vai acreditar em mim e ele vai perder o respeito.
— Então por que estamos nos escondendo? — Tornou confuso, cruzando os braços.
— Porque eu ainda não tenho nada contra os amigos dele, só contra o Stu. É deles que estamos fugindo hoje!
Potter concordou com um aceno, abaixando-se e virando um balde, para sentar-se no mesmo, sentindo o estômago roncar pouco depois. Agradeceu por estarem no escuro, porque suas bochechas ficaram vermelhas no mesmo instante.
— Aqui — a garota disse, acertando-o sem querer no nariz com uma barra de chocolate —, pode ficar com a minha.
— Obrigado — agradeceu baixinho, sorrindo — mas e você?
— Eu já comi, roubei a do meu irmão antes de sairmos de casa! — Contou, logo sentando-se ao lado do moreno.
— Por que faz isso? — Harry perguntou minutos depois, curioso.
— Porque o Stuart pega a comida de todo mundo, estava na hora de dar o troco!
— Não, — negou, rindo baixo — não o chocolate. Por que você desafia o Duda e os outros?
A garota deu de ombros, respondendo instantes depois;
— É isso o que fazemos pelos amigos, Potter. Não podia deixar eles te maltratarem sempre sem fazer nada, agora o Duda vai pensar duas vezes antes de te bater, porque não vai querer apanhar de uma garota outra vez!
Harry concordou com um aceno, sorrindo largamente.
Talvez não concordasse muito com as atitudes dela, pois sabia que em algum momento acabaria apanhando do primo, mas não se importava, porque saber que o considerava seu amigo era mais do que o suficiente para ele.
— Obrigado.



FIM DA PARTE UM.





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