Capítulo 1 - It hurts me so much, it hurts me so much.
“!” Ouvi uma voz doce chamar meu nome. Não sabia de quem era, mas podia perceber que era de origem masculina. Olhei a minha volta e pude perceber que estava na praia. À beira do mar, eu sentia que minha saia começava a molhar nas pontas, pelas ondas rasas que alcançavam a areia.
“!” Eu ouvi novamente. Mas que coisa, quem é que insistia em me chamar e nem sequer aparecer! Eu começava a procurar pelo dono daquela voz, e quando me virei para trás para procurá-lo, ele estava ali. Parado, de frente pra mim, com um sorriso no rosto que me fazia involuntariamente vibrar.
“?” Perguntei confusa. “O que você faz aqui? Aliás... O que nós fazemos aqui?!”
Ele, nada disse. Simplesmente sorriu mais ainda, como se minha confusão fosse algo extraordinariamente lindo.
“Eu...” corou levemente, porém, deu seguimento à suas palavras. E, olhando nos meus olhos, ele segurou a minha mão e disse com convicção:
"Tenho algo a te contar."
“E o que é?" Perguntei, praticamente sussurando.
Apesar de minha pergunta, ele nada disse. Apenas se aproximou e tocou meu queixo de leve. O toque causou arrepios, e nossos olhos não desistiam um do outro. Até que seu olhar desceu para meus lábios. Ele umedeceu os seus, e segurou minha nuca com precisão. Senti seu hálito quente em meu rosto, e estava praticamente tocando sua boca com a minha, quando algo nos interrompeu drasticamente.
“Senhorita ! acorde já, e responda à questão número dois da página 5 da apostila!”
Me levantei levando um dos maiores sustos que já recebi na vida. Olhei para os lados e percebi que estava na sala de aula. Na aula da professora de Geometria, o que tornava totalmente compreensível o fato de eu ter adormecido.
Voltei a encarar a professora com a maior cara de não-sei-o-que-fazer e quando provavelmente a professora iria deslanchar um baita sermão em mim, fui salva pelo gongo.
“A resposta é -5, professora.” Disse uma voz, familiar demais pra mim. Me virei pra trás ao encarar um com um sorriso de canto. Aquele tal sorriso que me fazia vibrar. Ai não. Aquilo não estava certo...
“Muito bem, Sr. ...” A professora olhou de rabo de olho pra mim como se eu fosse uma perdida pela vida em geometrias. E eu era mesmo.
“Alguém teve uma resposta diferente?”
A turma permaneceu em silêncio, e a professora seguiu com a aula, com a cara emburrada. E apenas por não insistir que eu respondesse algo a mais, já estava de ótimo tamanho – pude respirar aliviada.
***
Eu andava com as mãos no bolso do meu casaco, meio distraída, e acabei levando um susto quando chegou quase pulando nas minhas costas.
“Hey, eu pedi pra que você me esperasse!” Ouvi meu amigo reclamar.
“Ah, foi mal... É que eu tô meio desligada hoje.” Terminei a frase sorrindo forçadamente.
“Dormiu tarde de novo pensando na vida?” Ele perguntou olhando pro meu rosto.
Às vezes ficava abismada como ele podia saber tanto de mim... E ao mesmo tempo tão pouco.
“Exatamente.” Respondi rindo dos meus próprios pensamentos noturnos antes de dormir. “A propósito! Obrigada por me salvar na aula de geometria!” Acrescentei, me lembrando da cara feia que a professora me deu anteriormente.
“Relaxa, gatinha. A gente tá aí pra isso!” Ele respondeu beijando minha testa.
Se ele não tivesse bagunçado meu cabelo e prestado atenção na feição que fiz, perceberia quão corada fiquei. Mas isso logo mudou, porque me toquei que ele fez o que eu mais odiava na vida.
“Porra, meu cabelo não!” Protestei, batendo no braço do garoto.
“Ai cruzes! Pra quê tanta violência, mulher?” Ele disse fingindo fechar a cara pra mim, massageando o local que bati.
“Meu cabelo precisa de exatos 50 minutos para ficar arrumado, seu bocó.” Respondi fingindo indignação.
Ele parou de andar ao meu lado e simplesmente soltou uma gargalhada gostosa. Não entendi a graça, mas fiquei fitando o garoto.
Olha... O jeito dele de gargalhar, o modo como eu não conseguia ficar chateada com ele mesmo que ele me zoasse com tudo... Se ele simplesmente gargalhasse daquela maneira, e. Era uma junção de magias eu já esquecia metade das minhas chateações.
parou de rir, colocando a mão na barriga e disse, me abraçando:
“Só você mesmo pra me chamar de bocó, cara. Gíria que nem minha avó usa mais!”
“O que posso fazer se sou uma pessoa apegada aos clássicos?” Dei de ombros e sorri marota, enquanto ele ria levemente.
“Só você, garota. Sempre me fazendo rir mesmo que meu dia tenha sido uma merda”. E deu um peteleco na minha testa – mania de anos que eu secretamente amava, mas fingia chateação apenas para não perder o costume.
“Tamo junto, bocó.” Falei, dando um leve empurrão com meu braço, no dele.
“Eu amo você, pequena.” Ele disse, enquanto me puxava pra um abraço de lado. E eu fiz uma força descomunal para esconder as borboletas no estômago.
Mas como diz o ditado, quanto maior o voo, maior a queda.
“Sabe que sempre pode contar comigo, né?! Melhores amigos são pra isso...” Ele virou pra mim sorrindo.
“Claro, . Melhores amigos... Sempre.” E sorri sem graça, guardando dentro de mim todas as facadas que levava ao ouvir aquela frase.
Por que, de certa forma, eu não me conformava com o fato de eu ter me apaixonado pelo meu melhor amigo? Por que eu era obrigada a passar por tal situação? Não ter controle do meu coração, tudo bem, mas isso parecia tão injusto, quando ele, ainda que de forma inocente, me lembrava de que nunca passaríamos disso. E ainda sim eu me perguntava o porquê de amar uma das únicas pessoas que eu não poderia viver sem. E eu sabia que se me declarasse, nossa amizade mudaria da água pro vinho, e tudo estaria perdido. Eu não teria nem como amigo, nem como par.
Só de ter aquele pensamento, já me causava dores físicas. Eu não suportaria se o perdesse, e não me perdoaria por estragar uma amizade como a nossa.
A vida, meus amigos... Ela é uma droga.
***
Depois de longos dois tempos de biologia e um de física, o sinal da escola anunciava o fim daquele dia escolar. Eu, que ainda não havia esquecido do sonho, das palavras de , e de todos os sentimentos que sentia por ele, acabei saindo sozinha da escola, andando calmamente, quase sem rumo, como se não quisesse falar com ninguém, o que de fato era verdade. Aquilo tudo me deixava cansada, exausta, indignada, pois exigia muita compreensão e, como resultado, nunca conseguira respostas e sim, mais perguntas. Até já cheguei a me culpar por estar gostando de .
“Aonde eu estava com a cabeça quando comecei a reparar nas simples coisas que ele faz?” Me pegava pensando sobre isso, indignada comigo mesma.
Do meu fone de ouvido, conectado ao ipod, saía os primeiros acordes de “Ironic”, de Alanis Morissette:
“An old man turned ninety eight
(Um velho fez noventa e oito anos)
He won the lottery and died the next day
(Ele ganhou na loteria e morreu no dia seguinte.)
It's a black fly in your Chardonnay
(É uma mosca preta no seu Chardonnay)
It's a death row pardon two minutes too late
(É um perdão para o corredor da morte, 2 minutos atrasado demais.)
And isn't it ironic? Don't you think?
(E não é irônico? Você não acha?)
“!” Ouvi alguém gritar meu nome. Mesmo com o fone no ouvido, mesmo estando de costas, e mesmo estando avoada pensando na vida, eu sabia muito bem quem chamara meu nome. Me virei de costas e deparei-me com um arfando, meio vermelho por ter corrido.
“Eita, respira!” Respondi, observando-o tomar fôlego, apoiando suas mãos em seus joelhos e logo em seguida, se erguer novamente para falar comigo.
“O que que há contigo? Saiu e nem falou nada...” Começávamos a caminhar lado a lado agora.
“Foi mal, .” Eu disse isso chutando algumas pedrinhas pelo caminho.
“Cara... Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Você está chateada comigo?” Ele perguntou olhando pra mim e parando de andar.
It's like rain on your wedding day
(É como chuva no dia do seu casamento)
It's a free ride when you've already paid
(É uma volta grátis quando você já tinha pagado)
It's the good advice that you just didn't take
(É o bom conselho que você simplesmente não aceitou)
And who would've thought...It figures
(E quem teria imaginado... Isso torna-se importante...)
“Quê?!” Pergunte, encarando-o.
“Você tá chateada comigo? Foi algo que eu disse, foi algo que eu fiz ou deixei de fazer? Sei lá, você tá tão..."
“Você não fez nada, .” Respondi uma certa seriedade ao falar o nome dele. "Sou eu que não estou legal comigo, mas... Só ignora esse meu humor estranho. Tá tudo bem entre a gente, ok?“ Terminei, tentando dar um sorriso que parecesse ser espontâneo, apesar de sentir que estava falhando miseravelmente.
Até porque, era difícil saber que meu melhor amigo era o meu maior problema – mesmo que ele não tivesse culpa de nada.
“Quer conversar?” Ele me perguntou preocupado. Eu tirei o fone de meu ouvido calmamente, pensando no que responder.
“Não...” Eu suspirei, e tentei fingir melhor. Abri um sorriso zombeteiro e continuei minha fala. “São coisas banais! Nada que dois litros de vodka e um Johnny Depp da vida não resolvam meu problema.” Falei rindo da minha própria solução para tal caso.
“Dois litros de vodka apoiados, mas Johnny Depp?” Ele perguntou rindo da minha cara confusa. “Não poderia ser alguém melhorzinho, não? Já falei pra você mudar esse seu gosto por homens tão estranhos...“ Ele concluiu seu ponto de vista fazendo uma cara de sábio. Eu ri com vontade.
“Ah, se você soubesse...” Falei baixo, olhando para as nuvens no céu.
“Soubesse o quê?” Ele perguntou rindo.
“Se você soubesse que eu curto uns estranhos mesmo!” Decidi mentir – não completamente. E comecei a bagunçar o cabelo dele. Ah, vingança!
“Ei!" Ele me encarou com uma falsa cara de indignação. "Para com isso, já!” Ele protestava como quem brigava com um cão de estimação.
“Ah, qual é? Não é bom bagunçar a cabeleira da sua amiguinha? Agora aguenta, bocó!” Respondi bagunçando mais ainda seu cabelo.
“Se você não parar, eu juro que vou encher você de cócegas. E eu sei que tu odeia!”
Eu dei uma de Simba e fiz o que? Ri na cara do perigo.
“Claro. Você é patético.” Eu disse fingindo reparar nas minhas unhas.
“Eu sou o quê?” Ele perguntou fazendo cara de indignado.
“Você é patético!” E voltei a bagunçar o cabelo, desafiando meu melhor amigo.
Eu não deveria ter feito isso.
Instantaneamente, me agarrou com um braço e com o outro fez cócegas em mim, me prendendo a seu corpo enquanto eu me debatia, soltando altas gargalhadas, implorando por clemência.
“P-ara , por favor!” E nada de clemência. “P-por favor, cara!”
“Então pede desculpas.” Ele disse, imperativo.
“Desculpas!” Eu respondi rapidamente.
“Fala que eu sou lindo.”
“Porra, !” E ele intensificou as cócegas. “T-tá bem! Você é lindo!”
“Fala que eu sou a pessoa que você mais ama nesse universo!”
“Você é a pessoa que eu mais amo nesse universo...” Eu falei, sentindo meu estômago revirar. “Agora me solta!”
Ele me olhou com seus olhos intensos, com alguns fios mascarando o olhar. Eu o encarei, ainda rindo levemente, mas de agonia.
“Por favor!” Eu já não pedia apenas pelas cócegas. E sim pela proximidade que nos encontrávamos – e na vontade absurda de pular em seu pescoço e tacar um beijo de tirar o fôlego.
“Agora sim!” Ele respondeu, me soltando de vez e me deixando respirar profundamente.
Depois de recuperar o ar, eu o encarei com uma careta de dor.
“Que que é? Cara feia pra mim é fome.” Ele retrucou, enquanto segurava a mochila em um braço, e a outra mão se escondia dentro do bolso da calça jeans.
“Você não sabe brincar.” Eu resmunguei, fechando a cara, enquanto chegávamos no portão do nosso condomínio.
Ele riu da minha cara e não levou desaforo pra casa.
“Porra, tu é muito drama queen mesmo!” E abriu a porta pra eu passar, enquanto eu deixava um sorriso escapar de canto.
Como era possível que ele me fizesse sentir toda aquela agonia, e de repente, me proporcionar um bem estar?
Ainda sorrindo pensando em suas brincadeiras, nosso momento “à dois” foi interrompido quando avistou Elise, uma amiga nossa em comum, mais dele do que minha. Ele levantou o braço e acenou animadamente, e ela por sua vez, veio correndo gritando seu nome.
O sorriso abandonou meu rosto.
“!” Elise gritou, pulando em cima dele.
“Elise!” Ele disse abraçando-a.
“Oi , e aí?” Ela me cumprimentou, sorridente, sem soltar meu melhor amigo.
“Tudo bem, Lis?” Respondi pra ela, com um sorriso sem graça.
“Tudo sim. E com vocês?” Elise perguntou.
“De... boa.” Eu disse friamente.
“Tudo suave, tampinha.” respondeu apertando a bochecha de Elise.
“Pára, !’’ Ela respondeu fingindo dor.
Ele só riu de Elise e continuou a apertar as bochechas da menina.
Eu fui meio que me perdendo ali, percebendo que o sorriso dele era diferente com Elise. Eu sentia que alguma coisa entre os dois existia, mas nada ainda rolara, e eu não sabia porquê. Decidi ir me afastando aos poucos, vendo que os dois engataram numa conversa entre eles, na qual eu não fazia parte.
Já estava pronta pra seguir meu caminho quando ele me chamou.
“Ei! Aonde vai?” perguntou, com o braço ao redor do pescoço de Elise, que o abraçava de lado.
“Pô, então... Te falei que estava muito cansada, né? Não tô conseguindo nem ficar em pé!” Respondi, sorrindo falsamente.
“Sério? Mas...” Ele foi cortado pelas palavras que saíam da minha boca de forma mecânica.
“Relaaaaaxa, !” E dei joinha, ainda sustentando aquele sorriso vazio. “Deixa eu tirar um cochilo, vai?” Eu disse, me distanciando e acenando para eles.
“Deixa ela, ! Tchau, ! Até mais tarde!” Despediu-se Elise, sorrindo educadamente. Argh.
“Tá bom então. Tchau, né.” deu de ombros, com um sorriso gentil. Eu acenei com a cabeça e segui meu caminho, sem olhar pra trás.
Chegando em casa, simplesmente joguei a mochila no chão do quarto, deitei-me na cama, e aproveitando que minha mãe estava no trabalho, me permiti deixar as lágrimas caírem soltas enquanto eu me questionava: Por que as coisas tinham que ser tão doídas?
“!” Eu ouvi novamente. Mas que coisa, quem é que insistia em me chamar e nem sequer aparecer! Eu começava a procurar pelo dono daquela voz, e quando me virei para trás para procurá-lo, ele estava ali. Parado, de frente pra mim, com um sorriso no rosto que me fazia involuntariamente vibrar.
“?” Perguntei confusa. “O que você faz aqui? Aliás... O que nós fazemos aqui?!”
Ele, nada disse. Simplesmente sorriu mais ainda, como se minha confusão fosse algo extraordinariamente lindo.
“Eu...” corou levemente, porém, deu seguimento à suas palavras. E, olhando nos meus olhos, ele segurou a minha mão e disse com convicção:
"Tenho algo a te contar."
“E o que é?" Perguntei, praticamente sussurando.
Apesar de minha pergunta, ele nada disse. Apenas se aproximou e tocou meu queixo de leve. O toque causou arrepios, e nossos olhos não desistiam um do outro. Até que seu olhar desceu para meus lábios. Ele umedeceu os seus, e segurou minha nuca com precisão. Senti seu hálito quente em meu rosto, e estava praticamente tocando sua boca com a minha, quando algo nos interrompeu drasticamente.
“Senhorita ! acorde já, e responda à questão número dois da página 5 da apostila!”
Me levantei levando um dos maiores sustos que já recebi na vida. Olhei para os lados e percebi que estava na sala de aula. Na aula da professora de Geometria, o que tornava totalmente compreensível o fato de eu ter adormecido.
Voltei a encarar a professora com a maior cara de não-sei-o-que-fazer e quando provavelmente a professora iria deslanchar um baita sermão em mim, fui salva pelo gongo.
“A resposta é -5, professora.” Disse uma voz, familiar demais pra mim. Me virei pra trás ao encarar um com um sorriso de canto. Aquele tal sorriso que me fazia vibrar. Ai não. Aquilo não estava certo...
“Muito bem, Sr. ...” A professora olhou de rabo de olho pra mim como se eu fosse uma perdida pela vida em geometrias. E eu era mesmo.
“Alguém teve uma resposta diferente?”
A turma permaneceu em silêncio, e a professora seguiu com a aula, com a cara emburrada. E apenas por não insistir que eu respondesse algo a mais, já estava de ótimo tamanho – pude respirar aliviada.
Eu andava com as mãos no bolso do meu casaco, meio distraída, e acabei levando um susto quando chegou quase pulando nas minhas costas.
“Hey, eu pedi pra que você me esperasse!” Ouvi meu amigo reclamar.
“Ah, foi mal... É que eu tô meio desligada hoje.” Terminei a frase sorrindo forçadamente.
“Dormiu tarde de novo pensando na vida?” Ele perguntou olhando pro meu rosto.
Às vezes ficava abismada como ele podia saber tanto de mim... E ao mesmo tempo tão pouco.
“Exatamente.” Respondi rindo dos meus próprios pensamentos noturnos antes de dormir. “A propósito! Obrigada por me salvar na aula de geometria!” Acrescentei, me lembrando da cara feia que a professora me deu anteriormente.
“Relaxa, gatinha. A gente tá aí pra isso!” Ele respondeu beijando minha testa.
Se ele não tivesse bagunçado meu cabelo e prestado atenção na feição que fiz, perceberia quão corada fiquei. Mas isso logo mudou, porque me toquei que ele fez o que eu mais odiava na vida.
“Porra, meu cabelo não!” Protestei, batendo no braço do garoto.
“Ai cruzes! Pra quê tanta violência, mulher?” Ele disse fingindo fechar a cara pra mim, massageando o local que bati.
“Meu cabelo precisa de exatos 50 minutos para ficar arrumado, seu bocó.” Respondi fingindo indignação.
Ele parou de andar ao meu lado e simplesmente soltou uma gargalhada gostosa. Não entendi a graça, mas fiquei fitando o garoto.
Olha... O jeito dele de gargalhar, o modo como eu não conseguia ficar chateada com ele mesmo que ele me zoasse com tudo... Se ele simplesmente gargalhasse daquela maneira, e. Era uma junção de magias eu já esquecia metade das minhas chateações.
parou de rir, colocando a mão na barriga e disse, me abraçando:
“Só você mesmo pra me chamar de bocó, cara. Gíria que nem minha avó usa mais!”
“O que posso fazer se sou uma pessoa apegada aos clássicos?” Dei de ombros e sorri marota, enquanto ele ria levemente.
“Só você, garota. Sempre me fazendo rir mesmo que meu dia tenha sido uma merda”. E deu um peteleco na minha testa – mania de anos que eu secretamente amava, mas fingia chateação apenas para não perder o costume.
“Tamo junto, bocó.” Falei, dando um leve empurrão com meu braço, no dele.
“Eu amo você, pequena.” Ele disse, enquanto me puxava pra um abraço de lado. E eu fiz uma força descomunal para esconder as borboletas no estômago.
Mas como diz o ditado, quanto maior o voo, maior a queda.
“Sabe que sempre pode contar comigo, né?! Melhores amigos são pra isso...” Ele virou pra mim sorrindo.
“Claro, . Melhores amigos... Sempre.” E sorri sem graça, guardando dentro de mim todas as facadas que levava ao ouvir aquela frase.
Por que, de certa forma, eu não me conformava com o fato de eu ter me apaixonado pelo meu melhor amigo? Por que eu era obrigada a passar por tal situação? Não ter controle do meu coração, tudo bem, mas isso parecia tão injusto, quando ele, ainda que de forma inocente, me lembrava de que nunca passaríamos disso. E ainda sim eu me perguntava o porquê de amar uma das únicas pessoas que eu não poderia viver sem. E eu sabia que se me declarasse, nossa amizade mudaria da água pro vinho, e tudo estaria perdido. Eu não teria nem como amigo, nem como par.
Só de ter aquele pensamento, já me causava dores físicas. Eu não suportaria se o perdesse, e não me perdoaria por estragar uma amizade como a nossa.
A vida, meus amigos... Ela é uma droga.
Depois de longos dois tempos de biologia e um de física, o sinal da escola anunciava o fim daquele dia escolar. Eu, que ainda não havia esquecido do sonho, das palavras de , e de todos os sentimentos que sentia por ele, acabei saindo sozinha da escola, andando calmamente, quase sem rumo, como se não quisesse falar com ninguém, o que de fato era verdade. Aquilo tudo me deixava cansada, exausta, indignada, pois exigia muita compreensão e, como resultado, nunca conseguira respostas e sim, mais perguntas. Até já cheguei a me culpar por estar gostando de .
“Aonde eu estava com a cabeça quando comecei a reparar nas simples coisas que ele faz?” Me pegava pensando sobre isso, indignada comigo mesma.
Do meu fone de ouvido, conectado ao ipod, saía os primeiros acordes de “Ironic”, de Alanis Morissette:
(Um velho fez noventa e oito anos)
He won the lottery and died the next day
(Ele ganhou na loteria e morreu no dia seguinte.)
It's a black fly in your Chardonnay
(É uma mosca preta no seu Chardonnay)
It's a death row pardon two minutes too late
(É um perdão para o corredor da morte, 2 minutos atrasado demais.)
And isn't it ironic? Don't you think?
(E não é irônico? Você não acha?)
“!” Ouvi alguém gritar meu nome. Mesmo com o fone no ouvido, mesmo estando de costas, e mesmo estando avoada pensando na vida, eu sabia muito bem quem chamara meu nome. Me virei de costas e deparei-me com um arfando, meio vermelho por ter corrido.
“Eita, respira!” Respondi, observando-o tomar fôlego, apoiando suas mãos em seus joelhos e logo em seguida, se erguer novamente para falar comigo.
“O que que há contigo? Saiu e nem falou nada...” Começávamos a caminhar lado a lado agora.
“Foi mal, .” Eu disse isso chutando algumas pedrinhas pelo caminho.
“Cara... Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Você está chateada comigo?” Ele perguntou olhando pra mim e parando de andar.
(É como chuva no dia do seu casamento)
It's a free ride when you've already paid
(É uma volta grátis quando você já tinha pagado)
It's the good advice that you just didn't take
(É o bom conselho que você simplesmente não aceitou)
And who would've thought...It figures
(E quem teria imaginado... Isso torna-se importante...)
“Quê?!” Pergunte, encarando-o.
“Você tá chateada comigo? Foi algo que eu disse, foi algo que eu fiz ou deixei de fazer? Sei lá, você tá tão..."
“Você não fez nada, .” Respondi uma certa seriedade ao falar o nome dele. "Sou eu que não estou legal comigo, mas... Só ignora esse meu humor estranho. Tá tudo bem entre a gente, ok?“ Terminei, tentando dar um sorriso que parecesse ser espontâneo, apesar de sentir que estava falhando miseravelmente.
Até porque, era difícil saber que meu melhor amigo era o meu maior problema – mesmo que ele não tivesse culpa de nada.
“Quer conversar?” Ele me perguntou preocupado. Eu tirei o fone de meu ouvido calmamente, pensando no que responder.
“Não...” Eu suspirei, e tentei fingir melhor. Abri um sorriso zombeteiro e continuei minha fala. “São coisas banais! Nada que dois litros de vodka e um Johnny Depp da vida não resolvam meu problema.” Falei rindo da minha própria solução para tal caso.
“Dois litros de vodka apoiados, mas Johnny Depp?” Ele perguntou rindo da minha cara confusa. “Não poderia ser alguém melhorzinho, não? Já falei pra você mudar esse seu gosto por homens tão estranhos...“ Ele concluiu seu ponto de vista fazendo uma cara de sábio. Eu ri com vontade.
“Ah, se você soubesse...” Falei baixo, olhando para as nuvens no céu.
“Soubesse o quê?” Ele perguntou rindo.
“Se você soubesse que eu curto uns estranhos mesmo!” Decidi mentir – não completamente. E comecei a bagunçar o cabelo dele. Ah, vingança!
“Ei!" Ele me encarou com uma falsa cara de indignação. "Para com isso, já!” Ele protestava como quem brigava com um cão de estimação.
“Ah, qual é? Não é bom bagunçar a cabeleira da sua amiguinha? Agora aguenta, bocó!” Respondi bagunçando mais ainda seu cabelo.
“Se você não parar, eu juro que vou encher você de cócegas. E eu sei que tu odeia!”
Eu dei uma de Simba e fiz o que? Ri na cara do perigo.
“Claro. Você é patético.” Eu disse fingindo reparar nas minhas unhas.
“Eu sou o quê?” Ele perguntou fazendo cara de indignado.
“Você é patético!” E voltei a bagunçar o cabelo, desafiando meu melhor amigo.
Eu não deveria ter feito isso.
Instantaneamente, me agarrou com um braço e com o outro fez cócegas em mim, me prendendo a seu corpo enquanto eu me debatia, soltando altas gargalhadas, implorando por clemência.
“P-ara , por favor!” E nada de clemência. “P-por favor, cara!”
“Então pede desculpas.” Ele disse, imperativo.
“Desculpas!” Eu respondi rapidamente.
“Fala que eu sou lindo.”
“Porra, !” E ele intensificou as cócegas. “T-tá bem! Você é lindo!”
“Fala que eu sou a pessoa que você mais ama nesse universo!”
“Você é a pessoa que eu mais amo nesse universo...” Eu falei, sentindo meu estômago revirar. “Agora me solta!”
Ele me olhou com seus olhos intensos, com alguns fios mascarando o olhar. Eu o encarei, ainda rindo levemente, mas de agonia.
“Por favor!” Eu já não pedia apenas pelas cócegas. E sim pela proximidade que nos encontrávamos – e na vontade absurda de pular em seu pescoço e tacar um beijo de tirar o fôlego.
“Agora sim!” Ele respondeu, me soltando de vez e me deixando respirar profundamente.
Depois de recuperar o ar, eu o encarei com uma careta de dor.
“Que que é? Cara feia pra mim é fome.” Ele retrucou, enquanto segurava a mochila em um braço, e a outra mão se escondia dentro do bolso da calça jeans.
“Você não sabe brincar.” Eu resmunguei, fechando a cara, enquanto chegávamos no portão do nosso condomínio.
Ele riu da minha cara e não levou desaforo pra casa.
“Porra, tu é muito drama queen mesmo!” E abriu a porta pra eu passar, enquanto eu deixava um sorriso escapar de canto.
Como era possível que ele me fizesse sentir toda aquela agonia, e de repente, me proporcionar um bem estar?
Ainda sorrindo pensando em suas brincadeiras, nosso momento “à dois” foi interrompido quando avistou Elise, uma amiga nossa em comum, mais dele do que minha. Ele levantou o braço e acenou animadamente, e ela por sua vez, veio correndo gritando seu nome.
O sorriso abandonou meu rosto.
“!” Elise gritou, pulando em cima dele.
“Elise!” Ele disse abraçando-a.
“Oi , e aí?” Ela me cumprimentou, sorridente, sem soltar meu melhor amigo.
“Tudo bem, Lis?” Respondi pra ela, com um sorriso sem graça.
“Tudo sim. E com vocês?” Elise perguntou.
“De... boa.” Eu disse friamente.
“Tudo suave, tampinha.” respondeu apertando a bochecha de Elise.
“Pára, !’’ Ela respondeu fingindo dor.
Ele só riu de Elise e continuou a apertar as bochechas da menina.
Eu fui meio que me perdendo ali, percebendo que o sorriso dele era diferente com Elise. Eu sentia que alguma coisa entre os dois existia, mas nada ainda rolara, e eu não sabia porquê. Decidi ir me afastando aos poucos, vendo que os dois engataram numa conversa entre eles, na qual eu não fazia parte.
Já estava pronta pra seguir meu caminho quando ele me chamou.
“Ei! Aonde vai?” perguntou, com o braço ao redor do pescoço de Elise, que o abraçava de lado.
“Pô, então... Te falei que estava muito cansada, né? Não tô conseguindo nem ficar em pé!” Respondi, sorrindo falsamente.
“Sério? Mas...” Ele foi cortado pelas palavras que saíam da minha boca de forma mecânica.
“Relaaaaaxa, !” E dei joinha, ainda sustentando aquele sorriso vazio. “Deixa eu tirar um cochilo, vai?” Eu disse, me distanciando e acenando para eles.
“Deixa ela, ! Tchau, ! Até mais tarde!” Despediu-se Elise, sorrindo educadamente. Argh.
“Tá bom então. Tchau, né.” deu de ombros, com um sorriso gentil. Eu acenei com a cabeça e segui meu caminho, sem olhar pra trás.
Chegando em casa, simplesmente joguei a mochila no chão do quarto, deitei-me na cama, e aproveitando que minha mãe estava no trabalho, me permiti deixar as lágrimas caírem soltas enquanto eu me questionava: Por que as coisas tinham que ser tão doídas?
Capítulo 2 - He was all I dream about, the guy i couldn't live without.
Então, era um fato. Eu estava perdida, louca, insanamente apaixonada pelo meu melhor amigo. E desde que tive essa incrível conclusão, venho evitando minha proximidade com ele e com Elise. Eu precisava de um tempo pra mim, precisava aprender a lidar com o sentimento, e com o fato de vê-lo com outra pessoa. Ele não estava exatamente com ela, não daquele jeito. Porém, era o que aparentemente queria. Seus olhos brilhavam diferentemente quando olhava pra ela. E isso não acontecia não comigo. E eu, a idiota aqui, só babando por um cara que me vê apenas como uma amizade de barriga. Então, evitar era preciso. Não que eu ficasse exatamente o tempo todo longe dele, mas eu falava menos, sorria menos. Eu tentava ser a razão em pessoa, não me permitia ficar à vontade totalmente, porque da mesma facilidade de estar bem, surgiria a facilidade de ficar triste toda vez que eu via com ela. Eu precisava de um ar.
Pois bem, e o que acontece quando você está apaixonada pelo seu melhor amigo e uma de suas colegas/amigas parece ser a pessoa que ele quer? E o que fazer quando você opta por fingir que está tudo bem, até sorri pros dois toda vez que os vê juntos, em prol de sua amizade e da felicidade dele?
Fingir isso grande parte do dia exigia muita energia, fato. E por isso, de alguma forma, eu começava a evita-lo, ficando mais tempo sozinha enquanto digeria todos aqueles sentimentos dentro de mim, pensando na melhor forma de lidar com isso sem que influenciasse negativamente na minha amizade com .
Isso era o que eu havia planejado naquele dia. Mas a vida não tá nem aí pro seu planejamento, não é mesmo?
"Alô quenga biscateira! Atende esse telefone! É o !"
Toque personalizado. No primeiro dia em que ganhei esse celular, o roubou de mim, gravou um toque só dele e colocou como toque personalizado, só quando ele me liga. Essa "incrível" gravação sempre me faz rir, e mesmo não sendo a ideal para um toque de celular, ele cortaria as minhas tripas se eu apagasse esse toque.
"Alô." Eu respondi sem muito esforço. Naquela tarde, eu havia dormido e não tive sonhos muito bons a meu favor. Só ao favor de . Nos tais sonhos, ele estava namorando Elise. E eu, bom, forçando um sorriso em meus lábios. Argh, por que, por que, por quê?!
"Faaaaala comigo, coisa rica!" Ele respondeu de uma maneira brincalhona. E eu amava aquilo, mas puta merda...
"Oi ." Eu respondi, tentando impedir que a tristeza maior alcançasse minha voz.
"O que houve?!" O ar brincalhão de antes foi rapidamente substituído por um de preocupação e aflição. Eu conhecia meu amigo, por mais que odiasse tanto que ele também me conhecesse tão bem. Eu, como boa atriz que sou (pelo menos em esconder sentimentos), tratei de mudar repentinamente a minha voz.
"O que houve com o quê, xuxu?! Tô bem." Como eu sou mentirosa.
"... Sério, cara, que que aconteceu? Sua voz parecia meio tris..." Eu o cortei rapidamente.
"Eu to bem, cara. Relaxa, você tá com essa neura de que eu to mal.” Fingi uma risadinha bem tosca. “Aliás, você está bem?” Psicologia reversa? Sim senhor.
“Tsc.” Ouvi sua voz do outro lado da linha soar, e ficar em silêncio.
“O que houve?” Perguntei, receosa.
“Odeio quando você tenta escapar das minhas perguntas me perguntando a mesma coisa que eu quero saber.” E respirou fundo, e eu nada respondi.
Ficamos um tempo em silêncio, até que ele retomou.
“Você tá estranha, . Eu te conheço desde..."
"Desde quando éramos pequenos; desde dezesseis anos atrás... É, , eu sei disso. E daí, você não pode entender que às vezes as pessoas gostam de manter certos assuntos para si mesmas, e só algumas vezes, nem gostariam de comentar com o melhor amigo? Você nunca esteve nesse tipo de situação?" Eu falei já meio sem paciência.
Eu suspirei. Talvez disfarçar/mentir sobre meus sentimentos não seria uma boa idéia. Pelo menos dizer que nada de errado estava acontecendo comigo era pior do que dizer qualquer outra coisa, porque ele me conhecia, e ficaria magoado comigo por mentir sobre mim desse jeito. E magoá-lo era simplesmente algo que eu não suportaria fazer.
De repente, houve um suspiro do outro lado da linha. Isso me surpreendeu. sempre foi muito intenso quando estava sobre pressões emocionais, e, se me perguntassem o que ele faria agora, eu diria que ele começaria a justificar, a falar um monte de coisas pra dizer que eu realmente estava estranha. Porém, não com esse repentino suspiro. E isso me acordou.
Por que eu estava tratando-o com raiva? É normal que eu me sinta com raiva, porém, nem ao menos para eu... disfarçar isso? Quer dizer, não ser tão grossa, só dizer que é algo pessoal e que vai logo passar. Disfarçar não parecia tão ruim, vendo desse ponto...
"Já estive nessa situação sim. E foi horrível não poder te contar. E eu compreendo que você não queira falar o que está lhe aborrecendo, mas... Eu só queria que isso não parecesse tanto que é minha culpa, ou que tem a ver comigo." Ele desabafou da maneira mais sincera que eu poderia ouvir. E acredite, isso doeu em mim.
"..." Eu gemi em meio a desespero. Eu não queria que ele pensasse que a culpa era dele, apesar de que fosse a mais pura verdade. Mas não era intencional, ele não faria nada que fosse pra me magoar. Se ele pelo menos me visse com outros olhos... Mas não, estamos falando dele, de : o cara que sempre é muito gentil com todos – e que tá sempre muito bem acompanhado por garotas legais, mas que nunca muda sua melhor amiga. Porque, pra ele, ela é simplesmente a melhor amiga, e nada mais. E o mais incrível é saber que a melhor amiga daria tudo pra ser um par de mãos grudados às mãos dele – ainda que temporário, como são as outras – e ser considerada mais do que sempre foi. É tudo tão complexo!
Quando eu estava prestes a “tentar” explicá-lo o que estava acontecendo (não sendo totalmente sincera, obviamente), a campainha tocou. Salva pelo gongo. ", eu tenho que ir. A campainha tocou, tem visita aqui. Depois a gente se fala." Eu disse antes do meu fôlego acabar, descendo as escadas em direção à porta.
"Ok, eu te ligo depois, então." Ele disse, com a voz inalterada.
"Ok, ligue sim."
"Ah, e só mais uma coisa..." Ele acrescentou.
"O quê?" Eu respondi abrindo a porta. A surpresa no meu rosto era visivelmente assustadora.
"Oi." Ele disse desligando o telefone.
"...?" Eu ainda balbuciei, segurando o celular.
"Sei que você não quer falar sobre, mas preciso te dizer algumas coisas...” Ele assegurou-me com um meio sorriso no rosto.
"Cla-Claro. Entre..." Eu disse, dando espaço pra que ele pudesse entrar.
Sentados na varanda, onde sempre sentávamos desde nossos longos 18 anos de amizade, um clima não muito agradável se formou na atmosfera, fazendo me sentir desconfortável. Então, Thomas começou:
", eu não vou dar voltas, nem sermões nem nada. Como eu disse, serei breve, e o assunto é você. Eu sei que, por mais que você me diga que está tudo bem, eu sei que não está. Algo dentro de você está mudando, ou te chateia, incomoda. Eu não sei o que é, mas você tem agido estranhamente não só hoje, mas sim há algum tempo. E eu juro que não quero complicar nem tornar nada mais difícil pra você com essa conversa... Eu só quero dizer que não tô aqui pra te pressionar nem nada... Tô aqui pra reforçar o que você já sabe: se precisar, é só me gritar. E mesmo que você esteja cansada de saber disso, sei lá... Eu...” E respirou fundo, coçando a nuca. “Estou preocupado com você. Não sei se é só comigo ou com todo mundo, mas eu venho percebendo que você tem se afastado. E eu quero respeitar isso, mas por outro lado me preocupo real! Isso é novo pra mim, você sabe que nós nunca ficamos muito afastados assim. E bem... Você é importante. A sua amizade, a nossa amizade. É importante demais pra mim."
Juro que se ele não tivesse mencionado o termo ''amizade" no final, se ele só tivesse parado no "você", eu teria ficado radiante.
"." Eu disse, segurando as mãos dele, e olhando em seus olhos profundamente, obtendo o tipo de atenção que eu queria. "Eu nunca, nunca irei permitir que algo fique entre nós, ok?! Você é uma das pessoas mais importantes pra mim também, eu nem consigo descrever como a nossa amizade é grande pra mim... Mas agora, eu tô passando por um certo tipo de... fase, que não me permite ser muito clara com ninguém. E eu acredito que guardando isso só pra mim, vai ser melhor. E eu sei que essas semanas eu estive meio... deslocada, afastada, mas essa sou só eu tentando me compreender melhor, pra poder superar essa tal fase que está sendo um porre. E eu agradeço muito por você se importar, de verdade. Mas como tudo na vida... Vai passar.”
“Tem que passar” Eu pensei, mentalmente. De alguma forma, aquela merda tinha que se resolver.
Eu terminei minha fala mal ensaiada fazendo uma careta, o que fez brotar um sorriso torto no rosto de .
"Eu só espero que essa tal fase não demore muito a passar, ." Ele disse, mantendo o contato visual, e eu me derretendo por dentro. "E por favor, me diz se há algo que eu possa fazer. Sei lá, vai que posso ajudar em alguma coisa.” Ele comentou dando de ombros, e eu ri com a ironia da vida. Se ele soubesse...
Ele ficou me encarando com um sorriso genuíno, puro. E eu fiquei olhando-o de volta, com o mesmo sorriso. Eu tinha certeza que meu olhar transmitia todo amor e admiração que eu tinha por aquela pessoa, e eu me perguntava internamente como poderia melhorar as coisas entre nós.
Até que fiz uma decisão arriscada, porém se desse certo, deixaria as coisas melhores.
“Adolescência.” Eu fiz uma careta, rolando os olhos e rindo. me olhou com a sobrancelha arqueada, e eu dei de ombros.
“Você não quer saber o que tá rolando comigo? Pois então... Adolescência. Você sabe... Coração batendo mais forte, mão suando... Essas coisas." Eu disse, fazendo uma carranca.
me olhou com os olhos arregalados e um sorriso no canto dos lábios.
"Você está falando sério? Tipo assim, minha melhor amiga está..."
"Não comente, ." Eu disse, sentindo minhas bochechas pegarem fogo com o comentário dele, escondendo o rosto em minhas mãos.
"Mas como assim não comentar?" Ele disse fazendo gestos exorbitantes com as mãos.
"Ah ! Já é difícil lidar com isso, eu não queria estar... você-sabe-o-que, mas simplesmente aconteceu." Eu disse, querendo terminar aquele assunto mais rápido do que tudo.
"Ah! A minha pequena tá apaixonada!" Legal, ele disse com todas as palavras, letras, pingos de 'i's e acentos gráficos que eu tanto prezei evitar mencionar.
"!" Eu choraminguei, colocando as mãos no meu rosto, já cansada de falar daquilo. Me deixava cansada.
"Ah!" Ele exclamou, me puxando pra um abraço, que mais pareceu um colo pra mim, pois eu fiquei posicionada com a cabeça embaixo de seu queixo, ainda com as mãos no rosto, mas ainda com sentada no chão – estava inclinada.
"Sabe, agora você está virando uma mocinha, ." Ele disse dando pequenos tapinhas no meu braço e fazendo voz de velho. Eu ri com aquela interpretação pobre. "Pra sua informação, Thomas... Eu já sou mocinha há 5 anos." Comentei rindo, tentando quebrar o gelo.
"Er... Parabéns?!" Ele disse, fingindo se tremer, como se aquilo lhe desse vertigem.
"Ora, como se você não soubesse disso." Eu respondi, envolvendo-o num abraço e secretamente aproveitando o momento em que estávamos próximos, no qual eu poderia desfrutar de seu calor, sem ninguém por perto para atrapalhar.
"Mas então... Mata a minha curiosidade aí! Quem é o sortudo?" Ele perguntou, me apertando em seu abraço.
Eu juro, juro que naquela hora eu nem sequer fazia ideia de como inspirar e expirar.
“É um cara aí..." Eu disse, fixando minha vista em um ponto qualquer, que não me pedisse muito esforço pra disfarçar a dor e a verdade para .
"Um cara aí. Beleza, um cara eu sei que é, né, bobona? Aliás, pelo que sei, você se entende como hétero há 18 anos.” E sorriu, fazendo cara de Sr. Óbvio. “Mas não pode ser qualquer cara! Pra minha melhor amiga, tem que ser O cara! Agora me fala quem é!” Ele disse, brincando com um fio do meu cabelo, achando aquilo super divertido.
"Ele não gosta de mim." Eu respondi fechando meus olhos, pra evitar que a dor aumentasse ao dizer tais palavras. E mesmo de olhos fechados, eu pude sentir os dele sobre mim, mas ainda sim permaneci como estava e prossegui com a minha resposta. "Ele não gosta de mim, ele nem imagina que eu gosto dele. Ele mal olha pra mim como eu gostaria que olhasse. Não vai dar certo, e é por isso que eu vou esquecê-lo em breve.” Eu terminei minha “sentença”, reabrindo meus olhos, agora tão sérios quanto minha fala anterior.
"... Sério?" Ele parecia incrédulo com aquilo. "Que tipo de idiota não gostaria de uma mina como você? Putz, ele não sabe o que tá perdendo." Ele disse, parecendo ofendido pelo fato do garoto que eu gosto não gostar de mim. Ah, se ele soubesse...
"Podemos não falar mais disso?” Eu me virei, olhando pra cima e encontrando os olhos intensos e infinitamente bonitos dele, olhando carinhosamente pra mim, e como uma afirmação, ele simplesmente balançou a cabeça, e disse pra mim:
"Claro, . Relaxa, tudo vai dar certo, ok? Você tem a mim pra te encher o saco, e quando menos perceber, vai estar bem melhor." Ele fez uma careta e beijou o topo da minha cabeça, num gesto respeitoso e protetor. Eu não consegui evitar meu sorriso, e logo acrescentei minha gratidão:
"Obrigada, . E você sempre poderá contar comigo também, ok?" Eu ofereci minha singela amizade como uma forma de troca justa. E ainda continuei o diálogo, mudando de assunto, para meu próprio bem.
“Mas chega de falar de mim! Me fala de você!” Comentei, saindo do colo dele e cruzando os braços abaixo dos meus seios, encostando na parede.
"Ah!" Ele exclamou, fazendo uma cara de surpresa/fascinada e logo se animou ao responder. “Você sabe que eu estava tentando montar uma banda há mil anos, né?" Ele disse, dando ênfase ao “né”, porque se eu esquecesse, eu levava uma moca, tinha certeza!
"Claro, lembro sim! Só que faltava..." Ele me interrompeu.
"Faltava o guitarrista!" Ele disse me dando um tremendo susto.
“Isso.” E ri de sua animação. "Daí, estávamos eu, e à procura de um guitarrista... Você acredita que um colega do terceiro ano indicou um cara? Conversa vai, conversa vem, o entrou em contato com ele, e..." Ele fez cara de mistério triunfante, parecendo dono de circo.
"Ele entrou pra banda? " Eu “deduzi” incrivelmente.
"Exatamente!" Ele disse fazendo alarde por qualquer coisa referente à banda estando em sua formação completa. Ai, Deus do céu.
''Iupi!" Eu me animei, tentando entrar na onda. Sabia que aquilo era realmente importante pra ele. Aliás, eu via com muita clareza que por trás de toda aquela educação e gentileza, mesmo querendo carregar o mundo nas costas, do universo queria pouca coisa ou nada em troca. A banda era uma delas.
"Anime-se, porque amanhã, a gente vai ter o nosso primeiro oficial!" Ele disse, limpando lágrimas falsas dos olhos. Dessa vez eu fui legal o suficiente pra sorrir verdadeiramente. Ele estava feliz, entusiasmado de que finalmente o assunto banda estava começando a fluir na vida. "E você vai estar lá, é claro." Ele terminou de falar.
Eu continuei na minha, já conhecia os meninos mesmo. E o tal do novo guitarrista deve ser do estilo dos meninos, tudo bem, então.
"Ok. Local, horário, comida?" Eu perguntei, sendo claro, a terceira opção, a mais importante.
Ele gargalhou alegremente e me disse que o ensaio aconteceria na casa de , depois da escola. E pizza era a sugestão de lanche, após todo o rolê.
Eu estava mais tranquila depois de te desabafado parcialmente com Tom sobre meus sentimentos. Estava mais leve e passei o resto da tarde conversando com ele. Só fui me dar conta de que tinha escurecido quando mamãe chegou em casa e acendeu a luz da varanda. Pra minha surpresa, já era de noite.
E conosco, é sempre assim: tempo passa rápido. Não sei se é pelo fato de falarmos absolutamente sobre tudo (ou quase tudo, no caso), se é pela sintonia, ou se é pelo maldito sentimento de amor/paixão que eu sinto por ele. Pode ser isso tudo, aliás.
Meus pensamentos filosoficamente românticos foram interrompidos por um alô da parte de minha mãe.
"Olá, pombinhos." Ela disse, beijando a testa de cada um.
Uma nota mental: minha mãe insistia na hipótese de e eu sermos namorados. Anota aí, já são três pessoas complicando minha vida: , Lis e minha mãe.
Rolei os olhos com a fala dela.
“Mãe!”
"O quê?!" Ela protestou incrédula. "Não é como se fosse segredo." Ela comentou saindo da varanda. "Qualquer coisa vocês me gritem, não façam nada que eu faria.” E desapareceu subindo as escadas. Eu fiquei meio “quê?”, e o idiota do começou a rir da minha situação. Eu mandei um olhar mortal pra ele e ele simplesmente indagou:
"O quê?! É engraçado ver isso."
"É, é super lindo ver minha mãe falando gírias antigas pra mim e pra você. E ainda por cima nos ver com outros olhos. É estranho demais. " Eu respondi, fazendo questão de me proteger e não dar na pinta.
"O que é estranho, ela agir assim ou nós dois namorarmos?" Ele perguntou, curiosamente.
"Minha mãe." Eu respondi mais rápido possível, olhando para minhas unhas, fingindo que não era nem comigo.
"Mas eu sou perdidamente apaixonado por você, Lady Marmalade." Ele fez uma cara de Romeu sem Julieta, fazendo gestos exacerbados com as mãos, pra dar mais ênfase no que ele disse. Era zoação; eu me fodo.
Ponto pra ele.
Eu simplesmente bufei, e dei um tapa no ombro dele, não comentando mais nada e deixando o assunto morrer, até engatar em outra coisa qualquer.
Acabou que eu fiquei assistindo um filme qualquer com ele, comendo pipoca. Quando eram umas onze ele foi embora da minha casa, porque no dia seguinte, era dia. E, também, teria o ensaio da banda. Aquele dia prometia... fim total aos meus ouvidos. Hehe.
Pois bem, e o que acontece quando você está apaixonada pelo seu melhor amigo e uma de suas colegas/amigas parece ser a pessoa que ele quer? E o que fazer quando você opta por fingir que está tudo bem, até sorri pros dois toda vez que os vê juntos, em prol de sua amizade e da felicidade dele?
Fingir isso grande parte do dia exigia muita energia, fato. E por isso, de alguma forma, eu começava a evita-lo, ficando mais tempo sozinha enquanto digeria todos aqueles sentimentos dentro de mim, pensando na melhor forma de lidar com isso sem que influenciasse negativamente na minha amizade com .
Isso era o que eu havia planejado naquele dia. Mas a vida não tá nem aí pro seu planejamento, não é mesmo?
"Alô quenga biscateira! Atende esse telefone! É o !"
Toque personalizado. No primeiro dia em que ganhei esse celular, o roubou de mim, gravou um toque só dele e colocou como toque personalizado, só quando ele me liga. Essa "incrível" gravação sempre me faz rir, e mesmo não sendo a ideal para um toque de celular, ele cortaria as minhas tripas se eu apagasse esse toque.
"Alô." Eu respondi sem muito esforço. Naquela tarde, eu havia dormido e não tive sonhos muito bons a meu favor. Só ao favor de . Nos tais sonhos, ele estava namorando Elise. E eu, bom, forçando um sorriso em meus lábios. Argh, por que, por que, por quê?!
"Faaaaala comigo, coisa rica!" Ele respondeu de uma maneira brincalhona. E eu amava aquilo, mas puta merda...
"Oi ." Eu respondi, tentando impedir que a tristeza maior alcançasse minha voz.
"O que houve?!" O ar brincalhão de antes foi rapidamente substituído por um de preocupação e aflição. Eu conhecia meu amigo, por mais que odiasse tanto que ele também me conhecesse tão bem. Eu, como boa atriz que sou (pelo menos em esconder sentimentos), tratei de mudar repentinamente a minha voz.
"O que houve com o quê, xuxu?! Tô bem." Como eu sou mentirosa.
"... Sério, cara, que que aconteceu? Sua voz parecia meio tris..." Eu o cortei rapidamente.
"Eu to bem, cara. Relaxa, você tá com essa neura de que eu to mal.” Fingi uma risadinha bem tosca. “Aliás, você está bem?” Psicologia reversa? Sim senhor.
“Tsc.” Ouvi sua voz do outro lado da linha soar, e ficar em silêncio.
“O que houve?” Perguntei, receosa.
“Odeio quando você tenta escapar das minhas perguntas me perguntando a mesma coisa que eu quero saber.” E respirou fundo, e eu nada respondi.
Ficamos um tempo em silêncio, até que ele retomou.
“Você tá estranha, . Eu te conheço desde..."
"Desde quando éramos pequenos; desde dezesseis anos atrás... É, , eu sei disso. E daí, você não pode entender que às vezes as pessoas gostam de manter certos assuntos para si mesmas, e só algumas vezes, nem gostariam de comentar com o melhor amigo? Você nunca esteve nesse tipo de situação?" Eu falei já meio sem paciência.
Eu suspirei. Talvez disfarçar/mentir sobre meus sentimentos não seria uma boa idéia. Pelo menos dizer que nada de errado estava acontecendo comigo era pior do que dizer qualquer outra coisa, porque ele me conhecia, e ficaria magoado comigo por mentir sobre mim desse jeito. E magoá-lo era simplesmente algo que eu não suportaria fazer.
De repente, houve um suspiro do outro lado da linha. Isso me surpreendeu. sempre foi muito intenso quando estava sobre pressões emocionais, e, se me perguntassem o que ele faria agora, eu diria que ele começaria a justificar, a falar um monte de coisas pra dizer que eu realmente estava estranha. Porém, não com esse repentino suspiro. E isso me acordou.
Por que eu estava tratando-o com raiva? É normal que eu me sinta com raiva, porém, nem ao menos para eu... disfarçar isso? Quer dizer, não ser tão grossa, só dizer que é algo pessoal e que vai logo passar. Disfarçar não parecia tão ruim, vendo desse ponto...
"Já estive nessa situação sim. E foi horrível não poder te contar. E eu compreendo que você não queira falar o que está lhe aborrecendo, mas... Eu só queria que isso não parecesse tanto que é minha culpa, ou que tem a ver comigo." Ele desabafou da maneira mais sincera que eu poderia ouvir. E acredite, isso doeu em mim.
"..." Eu gemi em meio a desespero. Eu não queria que ele pensasse que a culpa era dele, apesar de que fosse a mais pura verdade. Mas não era intencional, ele não faria nada que fosse pra me magoar. Se ele pelo menos me visse com outros olhos... Mas não, estamos falando dele, de : o cara que sempre é muito gentil com todos – e que tá sempre muito bem acompanhado por garotas legais, mas que nunca muda sua melhor amiga. Porque, pra ele, ela é simplesmente a melhor amiga, e nada mais. E o mais incrível é saber que a melhor amiga daria tudo pra ser um par de mãos grudados às mãos dele – ainda que temporário, como são as outras – e ser considerada mais do que sempre foi. É tudo tão complexo!
Quando eu estava prestes a “tentar” explicá-lo o que estava acontecendo (não sendo totalmente sincera, obviamente), a campainha tocou. Salva pelo gongo. ", eu tenho que ir. A campainha tocou, tem visita aqui. Depois a gente se fala." Eu disse antes do meu fôlego acabar, descendo as escadas em direção à porta.
"Ok, eu te ligo depois, então." Ele disse, com a voz inalterada.
"Ok, ligue sim."
"Ah, e só mais uma coisa..." Ele acrescentou.
"O quê?" Eu respondi abrindo a porta. A surpresa no meu rosto era visivelmente assustadora.
"Oi." Ele disse desligando o telefone.
"...?" Eu ainda balbuciei, segurando o celular.
"Sei que você não quer falar sobre, mas preciso te dizer algumas coisas...” Ele assegurou-me com um meio sorriso no rosto.
"Cla-Claro. Entre..." Eu disse, dando espaço pra que ele pudesse entrar.
Sentados na varanda, onde sempre sentávamos desde nossos longos 18 anos de amizade, um clima não muito agradável se formou na atmosfera, fazendo me sentir desconfortável. Então, Thomas começou:
", eu não vou dar voltas, nem sermões nem nada. Como eu disse, serei breve, e o assunto é você. Eu sei que, por mais que você me diga que está tudo bem, eu sei que não está. Algo dentro de você está mudando, ou te chateia, incomoda. Eu não sei o que é, mas você tem agido estranhamente não só hoje, mas sim há algum tempo. E eu juro que não quero complicar nem tornar nada mais difícil pra você com essa conversa... Eu só quero dizer que não tô aqui pra te pressionar nem nada... Tô aqui pra reforçar o que você já sabe: se precisar, é só me gritar. E mesmo que você esteja cansada de saber disso, sei lá... Eu...” E respirou fundo, coçando a nuca. “Estou preocupado com você. Não sei se é só comigo ou com todo mundo, mas eu venho percebendo que você tem se afastado. E eu quero respeitar isso, mas por outro lado me preocupo real! Isso é novo pra mim, você sabe que nós nunca ficamos muito afastados assim. E bem... Você é importante. A sua amizade, a nossa amizade. É importante demais pra mim."
Juro que se ele não tivesse mencionado o termo ''amizade" no final, se ele só tivesse parado no "você", eu teria ficado radiante.
"." Eu disse, segurando as mãos dele, e olhando em seus olhos profundamente, obtendo o tipo de atenção que eu queria. "Eu nunca, nunca irei permitir que algo fique entre nós, ok?! Você é uma das pessoas mais importantes pra mim também, eu nem consigo descrever como a nossa amizade é grande pra mim... Mas agora, eu tô passando por um certo tipo de... fase, que não me permite ser muito clara com ninguém. E eu acredito que guardando isso só pra mim, vai ser melhor. E eu sei que essas semanas eu estive meio... deslocada, afastada, mas essa sou só eu tentando me compreender melhor, pra poder superar essa tal fase que está sendo um porre. E eu agradeço muito por você se importar, de verdade. Mas como tudo na vida... Vai passar.”
“Tem que passar” Eu pensei, mentalmente. De alguma forma, aquela merda tinha que se resolver.
Eu terminei minha fala mal ensaiada fazendo uma careta, o que fez brotar um sorriso torto no rosto de .
"Eu só espero que essa tal fase não demore muito a passar, ." Ele disse, mantendo o contato visual, e eu me derretendo por dentro. "E por favor, me diz se há algo que eu possa fazer. Sei lá, vai que posso ajudar em alguma coisa.” Ele comentou dando de ombros, e eu ri com a ironia da vida. Se ele soubesse...
Ele ficou me encarando com um sorriso genuíno, puro. E eu fiquei olhando-o de volta, com o mesmo sorriso. Eu tinha certeza que meu olhar transmitia todo amor e admiração que eu tinha por aquela pessoa, e eu me perguntava internamente como poderia melhorar as coisas entre nós.
Até que fiz uma decisão arriscada, porém se desse certo, deixaria as coisas melhores.
“Adolescência.” Eu fiz uma careta, rolando os olhos e rindo. me olhou com a sobrancelha arqueada, e eu dei de ombros.
“Você não quer saber o que tá rolando comigo? Pois então... Adolescência. Você sabe... Coração batendo mais forte, mão suando... Essas coisas." Eu disse, fazendo uma carranca.
me olhou com os olhos arregalados e um sorriso no canto dos lábios.
"Você está falando sério? Tipo assim, minha melhor amiga está..."
"Não comente, ." Eu disse, sentindo minhas bochechas pegarem fogo com o comentário dele, escondendo o rosto em minhas mãos.
"Mas como assim não comentar?" Ele disse fazendo gestos exorbitantes com as mãos.
"Ah ! Já é difícil lidar com isso, eu não queria estar... você-sabe-o-que, mas simplesmente aconteceu." Eu disse, querendo terminar aquele assunto mais rápido do que tudo.
"Ah! A minha pequena tá apaixonada!" Legal, ele disse com todas as palavras, letras, pingos de 'i's e acentos gráficos que eu tanto prezei evitar mencionar.
"!" Eu choraminguei, colocando as mãos no meu rosto, já cansada de falar daquilo. Me deixava cansada.
"Ah!" Ele exclamou, me puxando pra um abraço, que mais pareceu um colo pra mim, pois eu fiquei posicionada com a cabeça embaixo de seu queixo, ainda com as mãos no rosto, mas ainda com sentada no chão – estava inclinada.
"Sabe, agora você está virando uma mocinha, ." Ele disse dando pequenos tapinhas no meu braço e fazendo voz de velho. Eu ri com aquela interpretação pobre. "Pra sua informação, Thomas... Eu já sou mocinha há 5 anos." Comentei rindo, tentando quebrar o gelo.
"Er... Parabéns?!" Ele disse, fingindo se tremer, como se aquilo lhe desse vertigem.
"Ora, como se você não soubesse disso." Eu respondi, envolvendo-o num abraço e secretamente aproveitando o momento em que estávamos próximos, no qual eu poderia desfrutar de seu calor, sem ninguém por perto para atrapalhar.
"Mas então... Mata a minha curiosidade aí! Quem é o sortudo?" Ele perguntou, me apertando em seu abraço.
Eu juro, juro que naquela hora eu nem sequer fazia ideia de como inspirar e expirar.
“É um cara aí..." Eu disse, fixando minha vista em um ponto qualquer, que não me pedisse muito esforço pra disfarçar a dor e a verdade para .
"Um cara aí. Beleza, um cara eu sei que é, né, bobona? Aliás, pelo que sei, você se entende como hétero há 18 anos.” E sorriu, fazendo cara de Sr. Óbvio. “Mas não pode ser qualquer cara! Pra minha melhor amiga, tem que ser O cara! Agora me fala quem é!” Ele disse, brincando com um fio do meu cabelo, achando aquilo super divertido.
"Ele não gosta de mim." Eu respondi fechando meus olhos, pra evitar que a dor aumentasse ao dizer tais palavras. E mesmo de olhos fechados, eu pude sentir os dele sobre mim, mas ainda sim permaneci como estava e prossegui com a minha resposta. "Ele não gosta de mim, ele nem imagina que eu gosto dele. Ele mal olha pra mim como eu gostaria que olhasse. Não vai dar certo, e é por isso que eu vou esquecê-lo em breve.” Eu terminei minha “sentença”, reabrindo meus olhos, agora tão sérios quanto minha fala anterior.
"... Sério?" Ele parecia incrédulo com aquilo. "Que tipo de idiota não gostaria de uma mina como você? Putz, ele não sabe o que tá perdendo." Ele disse, parecendo ofendido pelo fato do garoto que eu gosto não gostar de mim. Ah, se ele soubesse...
"Podemos não falar mais disso?” Eu me virei, olhando pra cima e encontrando os olhos intensos e infinitamente bonitos dele, olhando carinhosamente pra mim, e como uma afirmação, ele simplesmente balançou a cabeça, e disse pra mim:
"Claro, . Relaxa, tudo vai dar certo, ok? Você tem a mim pra te encher o saco, e quando menos perceber, vai estar bem melhor." Ele fez uma careta e beijou o topo da minha cabeça, num gesto respeitoso e protetor. Eu não consegui evitar meu sorriso, e logo acrescentei minha gratidão:
"Obrigada, . E você sempre poderá contar comigo também, ok?" Eu ofereci minha singela amizade como uma forma de troca justa. E ainda continuei o diálogo, mudando de assunto, para meu próprio bem.
“Mas chega de falar de mim! Me fala de você!” Comentei, saindo do colo dele e cruzando os braços abaixo dos meus seios, encostando na parede.
"Ah!" Ele exclamou, fazendo uma cara de surpresa/fascinada e logo se animou ao responder. “Você sabe que eu estava tentando montar uma banda há mil anos, né?" Ele disse, dando ênfase ao “né”, porque se eu esquecesse, eu levava uma moca, tinha certeza!
"Claro, lembro sim! Só que faltava..." Ele me interrompeu.
"Faltava o guitarrista!" Ele disse me dando um tremendo susto.
“Isso.” E ri de sua animação. "Daí, estávamos eu, e à procura de um guitarrista... Você acredita que um colega do terceiro ano indicou um cara? Conversa vai, conversa vem, o entrou em contato com ele, e..." Ele fez cara de mistério triunfante, parecendo dono de circo.
"Ele entrou pra banda? " Eu “deduzi” incrivelmente.
"Exatamente!" Ele disse fazendo alarde por qualquer coisa referente à banda estando em sua formação completa. Ai, Deus do céu.
''Iupi!" Eu me animei, tentando entrar na onda. Sabia que aquilo era realmente importante pra ele. Aliás, eu via com muita clareza que por trás de toda aquela educação e gentileza, mesmo querendo carregar o mundo nas costas, do universo queria pouca coisa ou nada em troca. A banda era uma delas.
"Anime-se, porque amanhã, a gente vai ter o nosso primeiro oficial!" Ele disse, limpando lágrimas falsas dos olhos. Dessa vez eu fui legal o suficiente pra sorrir verdadeiramente. Ele estava feliz, entusiasmado de que finalmente o assunto banda estava começando a fluir na vida. "E você vai estar lá, é claro." Ele terminou de falar.
Eu continuei na minha, já conhecia os meninos mesmo. E o tal do novo guitarrista deve ser do estilo dos meninos, tudo bem, então.
"Ok. Local, horário, comida?" Eu perguntei, sendo claro, a terceira opção, a mais importante.
Ele gargalhou alegremente e me disse que o ensaio aconteceria na casa de , depois da escola. E pizza era a sugestão de lanche, após todo o rolê.
Eu estava mais tranquila depois de te desabafado parcialmente com Tom sobre meus sentimentos. Estava mais leve e passei o resto da tarde conversando com ele. Só fui me dar conta de que tinha escurecido quando mamãe chegou em casa e acendeu a luz da varanda. Pra minha surpresa, já era de noite.
E conosco, é sempre assim: tempo passa rápido. Não sei se é pelo fato de falarmos absolutamente sobre tudo (ou quase tudo, no caso), se é pela sintonia, ou se é pelo maldito sentimento de amor/paixão que eu sinto por ele. Pode ser isso tudo, aliás.
Meus pensamentos filosoficamente românticos foram interrompidos por um alô da parte de minha mãe.
"Olá, pombinhos." Ela disse, beijando a testa de cada um.
Uma nota mental: minha mãe insistia na hipótese de e eu sermos namorados. Anota aí, já são três pessoas complicando minha vida: , Lis e minha mãe.
Rolei os olhos com a fala dela.
“Mãe!”
"O quê?!" Ela protestou incrédula. "Não é como se fosse segredo." Ela comentou saindo da varanda. "Qualquer coisa vocês me gritem, não façam nada que eu faria.” E desapareceu subindo as escadas. Eu fiquei meio “quê?”, e o idiota do começou a rir da minha situação. Eu mandei um olhar mortal pra ele e ele simplesmente indagou:
"O quê?! É engraçado ver isso."
"É, é super lindo ver minha mãe falando gírias antigas pra mim e pra você. E ainda por cima nos ver com outros olhos. É estranho demais. " Eu respondi, fazendo questão de me proteger e não dar na pinta.
"O que é estranho, ela agir assim ou nós dois namorarmos?" Ele perguntou, curiosamente.
"Minha mãe." Eu respondi mais rápido possível, olhando para minhas unhas, fingindo que não era nem comigo.
"Mas eu sou perdidamente apaixonado por você, Lady Marmalade." Ele fez uma cara de Romeu sem Julieta, fazendo gestos exacerbados com as mãos, pra dar mais ênfase no que ele disse. Era zoação; eu me fodo.
Ponto pra ele.
Eu simplesmente bufei, e dei um tapa no ombro dele, não comentando mais nada e deixando o assunto morrer, até engatar em outra coisa qualquer.
Acabou que eu fiquei assistindo um filme qualquer com ele, comendo pipoca. Quando eram umas onze ele foi embora da minha casa, porque no dia seguinte, era dia. E, também, teria o ensaio da banda. Aquele dia prometia... fim total aos meus ouvidos. Hehe.
Capítulo 3 - A little too ironic.
Eu defendia uma teoria com unhas e dentes sobre minha própria pessoa: eu definitivamente não fui feita para acordar cedo. E não me referia apenas pela minha ínfima disposição de estar de pé quando o sol levanta; a minha aparência, bem como energia, demorava muito para carregar e tornar-se algo humanamente suportável numa rotina como a minha.
Mas apesar de todos meus esforços para convencer à minha mãe de que eu não havia nascido para isso, ela me convenceu com argumentos inquestionáveis e altamente convencíveis, como por exemplo, ameaçando minhas saídas com meus amigos e restringindo o fluxo de caixa materno, mais conhecido como mesada.
Devido à toda incompatibilidade entre meu ser e a manhã, saí de casa sem tempo para tomar um café digno, então, eu simplesmente saí com uma maçã na boca, a mochila nas costas, o celular quase caindo das minhas mãos, mas consegui sair de casa.
Como eu estava super-duper-intergalaticamente atrasada, eu olhei para o ponto de ônibus na frente do meu condomínio... e olhei de volta para a minha bicicleta que eu morria de medo de andar na rua com ela. Mas eu estava atrasada, e o engarrafamento a essa hora não era nada agradável, a não ser que eu quisesse chegar na escola de noite. Então, estava decidido. Era a bicicleta.
Tudo bem que, pra alguém que não andava de bicicleta há mais de mil anos, eu estava indo bem em não atropelar ninguém. Consegui desviar das pessoas, dos obstáculos e me manter próxima calçada, mas me diga se Murphy não é um belo de um desgraçado, rindo da minha cara? Quando eu estava quase chegando no colégio, uma senhora surge do nada e eu sou obrigada a desviar no último segundo, parando direto no "estacionamento" de bicicletas da escola. Bati com tanta força, caí da bicicleta, e como em um jogo de dominós, todas caíram.
E em segundos toda escola observa a pessoa que havia feito isso.
As risadas eram a sinfonia do momento e, como se não bastasse toda a cena, eu me deparei com sangue ao me levantar. É, melhor do que isso não poderia ficar. E, me sentindo mais palhaça do que nunca, lá fui eu, sorrindo, cantando e acenando pra todos, com o joelho sangrando - maldita hora que escolhi ir de short -, agradecendo à todos como se aquilo fosse um espetáculo cobrado, e, como se fosse mesmo, todos começaram a me aplaudir.
Deus me ama e não é pouco.
Fui me encaminhando até à enfermaria, andando devagar e sentindo a ardência no joelho, xingando tudo e todos que passavam na minha mente.
"Bom dia, enfermeira. Eu meio que caí de bicicleta aqui na escola, e ralei meu joelho..." A senhora de meia idade me olhou nos olhos e sorriu gentilmente, me pedindo para sentar na maca.
Enquanto ela foi buscar os materiais, escutei um pigarrear vindo da porta do consultório.
“!” Choraminguei, erguendo os braços em sua direção, e ele só riu de mim. O filha da mãe estava de braços cruzados, com a mochila em um ombro só. Estava lindo, mas ainda assim não valia nada.
Fechei a cara e virei o rosto, enquanto ele gargalhava mais e vinha em minha direção.
“, para de graça!” Ele comentou, puxando meu rosto em sua direção.
“Você estava rindo de mim!” Eu comentei braba, e só aí percebi como eu estava próxima de seu rosto.
“Deixa de ser boba, você sabe que foi engraçado...” Ele comentou fazendo um carinho na cabeça, e parecia que apenas eu estava sob efeito entorpecente. Com sua proximidade, pude reparar em seus olhos, o jeito que eles se apertam quando ele sorri... E isso me deixava um pouco anestesiada.
“O que foi? Tá doendo?”
Oh, ele não sabia o quanto...
“Tá sim... A-ardendo bastante. Um saco isso.” Comentei, me afastando levemente e fingindo dar atenção para o joelho, quando na verdade só estava tentando me concentrar em não estragar a minha amizade com .
Murphy deve ter tido piedade de mim, pois naquele exato momento a enfermeira chegou no local, já munida do necessário para fazer o curativo. Enquanto ela cuidava de meu joelho atenciosamente, eu apertava meu lábio inferior, de vez em quando soltando uns "ai’s" e "ui’s", ora de dor, ora de nervoso, mesmo.
"Prontinho, . Agora cuide-se e tome cuidado com as bicicletas, ok?" Ela me disse, dando um pequeno sorriso. É, ela era legal, afinal.
"Obrigada." Eu respondi, descendo da maca com um meio sorriso no rosto.
"Como castigo por ter rido de mim, você vai me levar nas costas!" Eu disse, pulando em . Ele riu. "Cara, tu dormiu com o Bozo, é? Só consegue rir!" Eu disse, fazendo a enfermeira rir, enquanto preenchia uns formulários à mesa.
"É, eu to todo gozadinho hoje." Ele falou, um pouco alto demais, me fazendo rir e dar um tapa no braço dele.
"Garoto! A gente ainda tá na enfermaria!" Eu avisei-o, olhando pra enfermeira, que ria mais ainda do que ele havia dito.
"Não seja por isso!" E com um sorriso de galã, saiu da enfermaria, comigo nas costas, remexendo-se propositalmente, me dando a sensação de que a qualquer momento eu poderia cair.
Mas nós bem sabemos o quão caída eu estava...
O dia felizmente passou rápido, e quando dei por mim, estava lado a lado caminhando com para o ensaio da McFly.
", ainda falta muito?" Eu perguntei como uma criança mimada.
", pára de agir que nem pentelha, você sabe muito bem onde fica a casa do ." Ele disse, me fazendo fechar a cara.
"Sim, mas é que esse joelho tá reclamando...” Fiz biquinho e rolou os olhos rindo.
“Para de drama, garota. A gente tá virando a esquina da casa dele." Ele me alertou enquanto apontava pra casa de muro bege, com um pequeno jardim, adoravelmente florido com pequenas margaridas se formando.
Apertamos a campainha e esperamos o retorno, quando ouvimos um diálogo bem comum e amável entre os presentes na casa.
", atende a porta!" Ouviu-se a voz de gritar.
"Seu inútil, abre e veja quem é!" exclamou, ainda dentro de casa, ainda fazendo eu e o esperarmos. É, esses são grandes amigos. Ao abrir a porta, foi logo pulando no colo de , gritando:
"MOZÃO!"
", porra, sai de cima! Você já faz isso normalmente, precisa fazer quando temos visita?” reclamou, enquanto era abraçado ininterruptamente pelo amigo, e eu gargalhava alto.
"Ah , não é uma visita, é a , poxa. Se quisesse que eu fosse mais discreto sobre nós dois era só pedir, né?”
", você fumou maconha ou algo do tipo?" perguntou olhando com cara de assustado pro amigo.
"Que falta de espírito humorístico." Ele disse antes de me cumprimentar com um singelo abraço de tamanduá, bagunçando meu cabelo. Sério, eu ainda mato um. “!" exclamou. "Sentimentos não podem ser controlados, explica isso pro ?" terminou a frase fazendo cara de ator de novela mexicana.
"Relaxa querido... Seu segredo está a salvo comigo!”
"Tudo bem, meninas." deu um ênfase no 'meninas'. “Vamos entrando que o ensaio tem que rolar!” E dito isso, foi meio que me empurrando pra dentro da casa, e só me deixou livre pra eu mesma me movimentar quando eu estava sentada no sofá.
ligou a televisão, e não permitia que um canal ficasse no ar nem cinco segundos, ele passava compulsivamente, se apossando do controle remoto e não deixando ninguém escolher a não ser ele.
", quem é?" Ouvimos a voz de ecoar das escadas, e logo, o respondeu.
"É o e a !" gritou, fazendo um dos meus tímpanos pedirem arrego. É, ele estava ao meu lado.
"Mentira! A ?" suspirou, descendo as escadas com uma toalha na cabeça, sem camisa, e com uma samba-canção xadrez. Whoa, quando e como o cresceu?
"!" Eu disse, levantando do sofá pra dar um abraço no meu amigo. Fazia mil anos que eu não o via desde que ele mudara de colégio!
O cumprimentei com um abraço apertado, cheio de saudades. Depois de , é um dos caras que eu mais amava na vida, ele sempre ficava do meu lado quando eu brigava com e me apoiava quando meu melhor amigo brigava comigo. Isso é que é amizade, pô! Porém, como comentei, já fazia algum tempo que nossa rotina mudara, desde que se mudou de colégio. Mas o sentimento perdurou!
riu com a minha careta e bagunçou meu cabelo. Qual era o problema desses jovens, afinal? Preciso eu arranjar uma maneira de tortura pra que eles entendam não gosto de ter o cabelo bagunçado!
“Se continuar bagunçando meu cabelo eu lhe penduro pelo pênis no ventilador de teto, ligo-o e só desligo quando você começar a falar coreano!” Eu sentenciei a morte dele, conseguindo alguns olhares assustados de e .
"Eu também gosto muito de você, xuxua!" Ele respondeu, sorrindo falsamente, e encaminhando-nos para o sofá. "E estou muito feliz em te ver! Eu senti saudades!" exclamou rindo da careta que dei.
“Ela é uma lambisgoia que desde que começou a namorar secretamente o , abandonou os amigos...” comentou falsamente chateado, me fazendo olhar pra cara dele que nem uma vaca abestada. apenas levantou a sobrancelha direita, olhando pros dois bobocas com cara de "WTF", acompanhada de uma interessante fala de :
"Sabe, eu sempre soube que esses dois iam acabar juntos. O jeito que a batia no quando criança... não me enganava!" Ele terminou a frase, se sentindo a própria sensitiva do bagulho.
“Vocês tão comendo merda?” Eu perguntei com a minha voz levemente alterada, olhando para . “Você me vê todo dia, seu cara de fuinha! E você, Sr. ...” Falei apontando para , que prendia um riso. “Você é um belo de um traíra que desde que saiu da escola, nunca mais apareceu com frequência! Aí fica inventando esse monte de besteiras de mim e do só porque a gente mora no mesmo condomínio!”
“Epa epa epa, eu posso ser tudo menos mentiroso! Eu sei que vocês estão namorando, tem nada de coincidência de condomínio não!”
“O que?” Eu indaguei rindo (nervosa? sim, mas ninguém precisava saber). rolou os olhos e acabou com a alegria dos dois amigos da banda.
“Chega dessa palhaçada! Ninguém namora ninguém, agora vamos ensaiar que vocês já estão me irritando!”
“Que rapaz grosseiro!” falou com uma voz fina enquanto descia as escadas para o porão, onde aconteceria o ensaio. Eu ri da bobeira dele, ainda sentindo as borboletas no estômago com o que havia sido dito momentos atrás. "Enquanto o guitarrista não chega, vamos afinando os instrumentos, pra não perder tempo." disse, já descendo as escadas com em seu encalço e eu ficando para trás.
"Eu vou pegar um copo dágua!" Eu disse, indo em direção à cozinha, indo matar minha sede em dois goles.
Vi que tinha uma fruteira com maçãs vermelhas e chamativas, e decidi pegar uma delas antes de descer. Quando estava saindo da cozinha, ouvi a campainha tocar.
"Ótimo, deve ser o novo componente da banda, e ele é atrasildo!" Eu pensei, enquanto ouvia gritar do porão, pedindo para que abrisse para ele, e eu apenas berrei um "já vai", caminhando em direção a porta.
"Oláááá!" Eu disse abrindo-a, fazendo graça, até olhar e reparar quem era.
"Olá, eu sou..." Ele interrompeu a fala dele até perceber quem eu era. "?" Ele perguntou abismado.
"?!" Eu perguntei, minha voz entrecortada pela surpresa. Meu deus, era o , mesmo? O ?
Mas apesar de todos meus esforços para convencer à minha mãe de que eu não havia nascido para isso, ela me convenceu com argumentos inquestionáveis e altamente convencíveis, como por exemplo, ameaçando minhas saídas com meus amigos e restringindo o fluxo de caixa materno, mais conhecido como mesada.
Devido à toda incompatibilidade entre meu ser e a manhã, saí de casa sem tempo para tomar um café digno, então, eu simplesmente saí com uma maçã na boca, a mochila nas costas, o celular quase caindo das minhas mãos, mas consegui sair de casa.
Como eu estava super-duper-intergalaticamente atrasada, eu olhei para o ponto de ônibus na frente do meu condomínio... e olhei de volta para a minha bicicleta que eu morria de medo de andar na rua com ela. Mas eu estava atrasada, e o engarrafamento a essa hora não era nada agradável, a não ser que eu quisesse chegar na escola de noite. Então, estava decidido. Era a bicicleta.
Tudo bem que, pra alguém que não andava de bicicleta há mais de mil anos, eu estava indo bem em não atropelar ninguém. Consegui desviar das pessoas, dos obstáculos e me manter próxima calçada, mas me diga se Murphy não é um belo de um desgraçado, rindo da minha cara? Quando eu estava quase chegando no colégio, uma senhora surge do nada e eu sou obrigada a desviar no último segundo, parando direto no "estacionamento" de bicicletas da escola. Bati com tanta força, caí da bicicleta, e como em um jogo de dominós, todas caíram.
E em segundos toda escola observa a pessoa que havia feito isso.
As risadas eram a sinfonia do momento e, como se não bastasse toda a cena, eu me deparei com sangue ao me levantar. É, melhor do que isso não poderia ficar. E, me sentindo mais palhaça do que nunca, lá fui eu, sorrindo, cantando e acenando pra todos, com o joelho sangrando - maldita hora que escolhi ir de short -, agradecendo à todos como se aquilo fosse um espetáculo cobrado, e, como se fosse mesmo, todos começaram a me aplaudir.
Deus me ama e não é pouco.
Fui me encaminhando até à enfermaria, andando devagar e sentindo a ardência no joelho, xingando tudo e todos que passavam na minha mente.
"Bom dia, enfermeira. Eu meio que caí de bicicleta aqui na escola, e ralei meu joelho..." A senhora de meia idade me olhou nos olhos e sorriu gentilmente, me pedindo para sentar na maca.
Enquanto ela foi buscar os materiais, escutei um pigarrear vindo da porta do consultório.
“!” Choraminguei, erguendo os braços em sua direção, e ele só riu de mim. O filha da mãe estava de braços cruzados, com a mochila em um ombro só. Estava lindo, mas ainda assim não valia nada.
Fechei a cara e virei o rosto, enquanto ele gargalhava mais e vinha em minha direção.
“, para de graça!” Ele comentou, puxando meu rosto em sua direção.
“Você estava rindo de mim!” Eu comentei braba, e só aí percebi como eu estava próxima de seu rosto.
“Deixa de ser boba, você sabe que foi engraçado...” Ele comentou fazendo um carinho na cabeça, e parecia que apenas eu estava sob efeito entorpecente. Com sua proximidade, pude reparar em seus olhos, o jeito que eles se apertam quando ele sorri... E isso me deixava um pouco anestesiada.
“O que foi? Tá doendo?”
Oh, ele não sabia o quanto...
“Tá sim... A-ardendo bastante. Um saco isso.” Comentei, me afastando levemente e fingindo dar atenção para o joelho, quando na verdade só estava tentando me concentrar em não estragar a minha amizade com .
Murphy deve ter tido piedade de mim, pois naquele exato momento a enfermeira chegou no local, já munida do necessário para fazer o curativo. Enquanto ela cuidava de meu joelho atenciosamente, eu apertava meu lábio inferior, de vez em quando soltando uns "ai’s" e "ui’s", ora de dor, ora de nervoso, mesmo.
"Prontinho, . Agora cuide-se e tome cuidado com as bicicletas, ok?" Ela me disse, dando um pequeno sorriso. É, ela era legal, afinal.
"Obrigada." Eu respondi, descendo da maca com um meio sorriso no rosto.
"Como castigo por ter rido de mim, você vai me levar nas costas!" Eu disse, pulando em . Ele riu. "Cara, tu dormiu com o Bozo, é? Só consegue rir!" Eu disse, fazendo a enfermeira rir, enquanto preenchia uns formulários à mesa.
"É, eu to todo gozadinho hoje." Ele falou, um pouco alto demais, me fazendo rir e dar um tapa no braço dele.
"Garoto! A gente ainda tá na enfermaria!" Eu avisei-o, olhando pra enfermeira, que ria mais ainda do que ele havia dito.
"Não seja por isso!" E com um sorriso de galã, saiu da enfermaria, comigo nas costas, remexendo-se propositalmente, me dando a sensação de que a qualquer momento eu poderia cair.
Mas nós bem sabemos o quão caída eu estava...
O dia felizmente passou rápido, e quando dei por mim, estava lado a lado caminhando com para o ensaio da McFly.
", ainda falta muito?" Eu perguntei como uma criança mimada.
", pára de agir que nem pentelha, você sabe muito bem onde fica a casa do ." Ele disse, me fazendo fechar a cara.
"Sim, mas é que esse joelho tá reclamando...” Fiz biquinho e rolou os olhos rindo.
“Para de drama, garota. A gente tá virando a esquina da casa dele." Ele me alertou enquanto apontava pra casa de muro bege, com um pequeno jardim, adoravelmente florido com pequenas margaridas se formando.
Apertamos a campainha e esperamos o retorno, quando ouvimos um diálogo bem comum e amável entre os presentes na casa.
", atende a porta!" Ouviu-se a voz de gritar.
"Seu inútil, abre e veja quem é!" exclamou, ainda dentro de casa, ainda fazendo eu e o esperarmos. É, esses são grandes amigos. Ao abrir a porta, foi logo pulando no colo de , gritando:
"MOZÃO!"
", porra, sai de cima! Você já faz isso normalmente, precisa fazer quando temos visita?” reclamou, enquanto era abraçado ininterruptamente pelo amigo, e eu gargalhava alto.
"Ah , não é uma visita, é a , poxa. Se quisesse que eu fosse mais discreto sobre nós dois era só pedir, né?”
", você fumou maconha ou algo do tipo?" perguntou olhando com cara de assustado pro amigo.
"Que falta de espírito humorístico." Ele disse antes de me cumprimentar com um singelo abraço de tamanduá, bagunçando meu cabelo. Sério, eu ainda mato um. “!" exclamou. "Sentimentos não podem ser controlados, explica isso pro ?" terminou a frase fazendo cara de ator de novela mexicana.
"Relaxa querido... Seu segredo está a salvo comigo!”
"Tudo bem, meninas." deu um ênfase no 'meninas'. “Vamos entrando que o ensaio tem que rolar!” E dito isso, foi meio que me empurrando pra dentro da casa, e só me deixou livre pra eu mesma me movimentar quando eu estava sentada no sofá.
ligou a televisão, e não permitia que um canal ficasse no ar nem cinco segundos, ele passava compulsivamente, se apossando do controle remoto e não deixando ninguém escolher a não ser ele.
", quem é?" Ouvimos a voz de ecoar das escadas, e logo, o respondeu.
"É o e a !" gritou, fazendo um dos meus tímpanos pedirem arrego. É, ele estava ao meu lado.
"Mentira! A ?" suspirou, descendo as escadas com uma toalha na cabeça, sem camisa, e com uma samba-canção xadrez. Whoa, quando e como o cresceu?
"!" Eu disse, levantando do sofá pra dar um abraço no meu amigo. Fazia mil anos que eu não o via desde que ele mudara de colégio!
O cumprimentei com um abraço apertado, cheio de saudades. Depois de , é um dos caras que eu mais amava na vida, ele sempre ficava do meu lado quando eu brigava com e me apoiava quando meu melhor amigo brigava comigo. Isso é que é amizade, pô! Porém, como comentei, já fazia algum tempo que nossa rotina mudara, desde que se mudou de colégio. Mas o sentimento perdurou!
riu com a minha careta e bagunçou meu cabelo. Qual era o problema desses jovens, afinal? Preciso eu arranjar uma maneira de tortura pra que eles entendam não gosto de ter o cabelo bagunçado!
“Se continuar bagunçando meu cabelo eu lhe penduro pelo pênis no ventilador de teto, ligo-o e só desligo quando você começar a falar coreano!” Eu sentenciei a morte dele, conseguindo alguns olhares assustados de e .
"Eu também gosto muito de você, xuxua!" Ele respondeu, sorrindo falsamente, e encaminhando-nos para o sofá. "E estou muito feliz em te ver! Eu senti saudades!" exclamou rindo da careta que dei.
“Ela é uma lambisgoia que desde que começou a namorar secretamente o , abandonou os amigos...” comentou falsamente chateado, me fazendo olhar pra cara dele que nem uma vaca abestada. apenas levantou a sobrancelha direita, olhando pros dois bobocas com cara de "WTF", acompanhada de uma interessante fala de :
"Sabe, eu sempre soube que esses dois iam acabar juntos. O jeito que a batia no quando criança... não me enganava!" Ele terminou a frase, se sentindo a própria sensitiva do bagulho.
“Vocês tão comendo merda?” Eu perguntei com a minha voz levemente alterada, olhando para . “Você me vê todo dia, seu cara de fuinha! E você, Sr. ...” Falei apontando para , que prendia um riso. “Você é um belo de um traíra que desde que saiu da escola, nunca mais apareceu com frequência! Aí fica inventando esse monte de besteiras de mim e do só porque a gente mora no mesmo condomínio!”
“Epa epa epa, eu posso ser tudo menos mentiroso! Eu sei que vocês estão namorando, tem nada de coincidência de condomínio não!”
“O que?” Eu indaguei rindo (nervosa? sim, mas ninguém precisava saber). rolou os olhos e acabou com a alegria dos dois amigos da banda.
“Chega dessa palhaçada! Ninguém namora ninguém, agora vamos ensaiar que vocês já estão me irritando!”
“Que rapaz grosseiro!” falou com uma voz fina enquanto descia as escadas para o porão, onde aconteceria o ensaio. Eu ri da bobeira dele, ainda sentindo as borboletas no estômago com o que havia sido dito momentos atrás. "Enquanto o guitarrista não chega, vamos afinando os instrumentos, pra não perder tempo." disse, já descendo as escadas com em seu encalço e eu ficando para trás.
"Eu vou pegar um copo dágua!" Eu disse, indo em direção à cozinha, indo matar minha sede em dois goles.
Vi que tinha uma fruteira com maçãs vermelhas e chamativas, e decidi pegar uma delas antes de descer. Quando estava saindo da cozinha, ouvi a campainha tocar.
"Ótimo, deve ser o novo componente da banda, e ele é atrasildo!" Eu pensei, enquanto ouvia gritar do porão, pedindo para que abrisse para ele, e eu apenas berrei um "já vai", caminhando em direção a porta.
"Oláááá!" Eu disse abrindo-a, fazendo graça, até olhar e reparar quem era.
"Olá, eu sou..." Ele interrompeu a fala dele até perceber quem eu era. "?" Ele perguntou abismado.
"?!" Eu perguntei, minha voz entrecortada pela surpresa. Meu deus, era o , mesmo? O ?
Capítulo 4 - Because we all look in the same in the dark.
"... É você, mesmo?! ?!" Ele dizia, me encarando. Eu não podia acreditar que era o !
"S-sim! , !" Eu forcei um sorriso, ainda tentando lidar com a surpresa de tê-lo ali.
me tirou da inércia ao abrir um sorriso gigantesco nos lábios; largou tudo o que estava em suas mãos, e adentrou a casa me abraçando apertadamente, me surpreendendo:
"Que saudade, cara!" Ele aparentava estar sinceramente feliz por eu estar ali. Apesar do choque, eu retribuí o gesto.
"Sim! Muitas!" Eu falei, um pouco confusa. Eu não sabia o que eu sentia naquele momento... Estava tudo misturado: surpresa, confusão, saudades, e até um certo desconforto...
Enquanto eu pensava sobre isso, finalizava o abraço me levantando um pouco pra cima, antes de me deixar no chão. Ao me observar de cima em baixo, ele descansou seu olhar no meu rosto, e, com um grande sorriso, perguntou:
"Como é que você está? Faz tanto tempo que eu não te vejo!" Ele disse, demonstrando verdade em suas palavras, o que de certa forma, me assustou um pouco.
"E-eu to bem, ! E você? Muito tempo mesmo! Dois anos, não é?" Eu terminei, soltando uma risada gentil, o que o fez rir e dizer:
“Sim! Você parece estar bem, quero dizer... está incrível!” Eu corei violentamente e sorri sem graça.
“Obrigada, . Você também parece ótimo.” E aproveitei para observá-lo melhor. Em dois anos, ainda mais na idade que tínhamos, o corpo dava sinais de mudanças bruscas, e Deus, a vida foi generosa com . Ele estava muito atraente.
"Bom, quer dizer que você é o novo integrante da banda?" Eu perguntei sorrindo e rindo disfarçadamente pelo pequeno trocadilho.
“Sim! Não vai me dizer que você faz parte também?” Ele perguntou, com surpresa nos olhos. Eu ri alto com a suposição.
“Não, que isso! Eu sou apenas muito amiga dos meninos, e fã incondicional. Tenho até passe livre pros ensaios!”
E rimos abertamente. Quando as risadas cessaram, nossos olhos se encontraram e ficamos aproveitando o momento, dividindo a alegria e a surpresa do reencontro.
Este momento foi logo interrompido por uma voz atrás de mim:
", quem era na por... " ia aparecendo na sala, com uma cara de dúvida.
"Hey, ." disse educadamente, acenando para o meu melhor amigo.
“, você não me disse que o novo guitarrista era o !” Eu exclamei, fechando a porta enquanto pegava suas coisas e rumava para a sala.
“Como assim?” A confusão alcançou como um todo, e seu cenho ficou franzido. Eu ri daquela careta e sorriu, dando de ombros.
“É que já nos conhecíamos, e eu.” comentou, me dando um abraço de lado e eu concordei sorridente.
“Sim, do acampamento, você lembra?” Perguntei para que ainda mantinha a cara em dúvida, mas um feixe de compreensão atravessou seu rosto com a minha informação.
“Ah, sério? Nossa! Que mundo pequeno, né?” comentou, sorrindo forçadamente. Um sorriso que apenas eu reconheceria.
“Muito!” sorriu para mim e apertou meu ombro, antes de soltá-lo e pegar suas coisas “Bom, o papo tá ótimo, mas acredito que todos estejam me esperando, né? Atrasei alguns minutos...” comentou, esperando uma resposta de que apenas acenou positivamente, apontando o caminho.
“Já estamos lá embaixo, é só descer.” indicou educadamente.
“Vai descendo, , que e eu vamos pegar as garrafas d’água.” Comentei, enquanto encarava e indicava a direção da cozinha com a minha cabeça.
"Ok, desembucha." Eu disse, abrindo a geladeira de .
"Como você sabe que eu quero perguntar algo?!" me perguntou abismado. Eu simplesmente ri.
“Não é como se o seu sorriso forçado fosse algo incomum, né querido?” Caçoei, rindo e rolando os olhos. "Agora fala." Eu disse, pegando duas garrafas e fechando a porta com o pé.
“Como assim você conhece o ?" Ele perguntou, retornando sua cara ao estado dúvida-de-criança que o dominara há pouco. Eu o olhei com um olhar mortal.
", como assim 'você conhece o '? Você não se lembra?" Eu perguntei com uma cara de raiva. apenas me encarou com uma cara de perdido, dando de ombros.
"Eu deveria?" perguntou simplesmente, fazendo uma cara de dor enquanto eu bufava.
"Vamos lá" Eu disse. “Há dois anos, nas férias do mesmo ano em que meus pais se separaram, e eles acharam que eu não estava totalmente bem com a separação deles?" Eu perguntei, desejando que pelo menos isso ele se lembrasse e ele apenas acenou com a cabeça.
"Enfim, lembra também que naquele mesmo ano teve aquela febre de acampamento de verão? Que mais parecia colônia de férias?" Eu disse, me lembrando o quanto tinha odiado aquele lugar à primeira vista.
"Lembro." Ele disse, me indicando a continuar.
"Eu estava mal naquela época, porém o acampamento me surpreendeu, pois lá eu fiz amizades que me ajudaram a superar o lance de divórcio dos meus pais. E foi uma amizade, digamos assim, a mais especial...”
estava com o cenho franzido quando de repente seus olhos se arregalaram e ele me encarou seriamente.
“Não me diga que é...”
“Exatamente.” Suspirei, completando a explicação. “Tive uma queda por ele naquele verão...” Encarei o chão num breve sorriso, lembrando dos momentos. “Também, eu estava num momento tão frágil... foi o único naquele lugar que realmente me deu apoio. Ficou comigo durante o acampamento inteiro, e fazia questão de me ver bem. Perto dele, realmente, era difícil eu ficar triste, pois ele me fazia enxergar além do divórcio e a relativizar as coisas... Só que, nessa dele me dar apoio e tal... Eu acabei desenvolvendo uma paixonite por ele." Eu assumi, sorrindo sem graça para .
“Eu lembro do resto... ficou com uma amiga sua de lá, não é isso?” falou baixo, com os braços cruzados, me encarando.
"Sim. Foi meio foda de testemunhar todo o... processo.” Dei de ombros, pegando os copos da bancada da cozinha.
"...” me chamou de uma maneira melancólica, que me fez olhá-lo e perceber a ironia do destino: a história estava se repetindo, só que agora, o triângulo era eu, ... e Lis.
Apenas o encarei, esperando que continuasse a falar.
“É foda... Lembro como você voltou pra casa.” Ele encarou a janela, com os braços cruzados na altura do peito, e a cara fechada. “Não é fácil passar por isso... Mas de toda forma, ele não teve culpa. Pra ele, vocês só eram amigos. Ele não é adivinha, não tinha como saber que você gostava dele...” E eu me lembro que essas foram as exatas palavras que me disse há exatos dois anos. “E ainda que você dissesse alguma coisa... As pessoas são livres, né?” Encarei o rosto de , pensando em tanta coisa que não tinha a ver com , mas sim comigo e meu melhor amigo... E Elise.
“As pessoas são livres...” Esta frase ecoava em minha mente, e eu seguia encarando sem nenhuma expressão específica no rosto. Acredito que minha cara deu a entender outra coisa, pois quando moveu seu rosto buscando meu olhar, tratou de explicar-se.
“Desculpa. Sei que é difícil de ouvir ou acreditar, que parece injusto, mas...”
"Eu sei disso!” Exclamei mais alto do que imaginava, o que assustou um pouco , e seus olhos arregalaram levemente antes de voltar ao normal e me encarar.
Respirei fundo, mexendo nas têmporas e tentando me controlar.
Às vezes os sentimentos que nutria por queriam simplesmente expurgar de meu corpo e declarar aos quatro cantos do mundo o quanto eu o amava, o quanto eu o desejava silenciosa e secretamente.
Quando isso acontecia – essa vontade louca de arriscar – eu sempre tinha um pensamento que me freava; a amizade que tínhamos e o risco que ela corria.
E era exatamente nisso que eu pensava no momento.
Me recompus, e o encarei novamente. Ele estava olhando receoso para mim e eu rolei os olhos, me xingando mentalmente.
“Eu nunca culpei por não sentir o mesmo por mim, . Eu nunca faria isso. Mas não é como se eu pudesse controlar esses sentimentos... Não quer dizer que não tenha doído, sabe? É disso e apenas disso que falo. como qualquer outro é livre, e se há um mínimo de afeto que sinto por ele ou outra pessoa, isso significa que a felicidade vem em primeiro lugar – mesmo que não seja ao meu lado.” Eu disse, ponderando o quanto aquilo era real para mim, ainda que os envolvidos fossem outros. A sensação era a mesma...
Eu estava tão tensa ao dizer aquelas palavras, que só fui reparar no quanto meu maxilar estava trincado quando acariciou minha bochecha, enroscando seus dedos nos cabelos de minha nuca.
Foi impossível não levantar a cabeça e encará-lo, surpresa.
Ele nada disse. Apenas ficou me olhando com aqueles olhos que eu tanto amava. Depois do que pareceram anos, ele me puxou para um abraço e meu rosto foi diretamente em seu peitoral, e automaticamente fechei os olhos, inspirando todo o ar e seu cheiro específico, enquanto envolvia suas costas largas com meus braços levemente vibrantes.
“Sinto muito que tenha passado por isso, tampinha.” Ouvi sua voz ecoar acima de minha cabeça, e senti seu abraço me apertar levemente. Inconscientemente, fiz o mesmo, me aconchegando mais eu seu peito, apenas ouvindo seu coração bater e me deixando aproveitar aquele momento.
Tão perto, tão longe. Eu senti meus olhos lacrimejarem, mas não permiti que as lágrimas caíssem. Me concentrei na sensação boa do abraço, e senti a mão esquerda de acariciar minhas costas, num afago gentil e quente.
“A parte boa é que tudo isso parece ter passado, não é mesmo?” perguntou, e pela entonação da sua voz, eu poderia afirmar que ele estava sorrindo, tentando me animar. Sorri com este pensamento, e na ironia de sua pergunta; ele mal fazia ideia que a resposta era complexa, assim como meus sentimentos...
“Agora eu só gosto de outra pessoa que não gosta de mim.” Ri debochadamente, respirando fundo. “Se há uma amiga com quem ele esteja se relacionando, aí eu já não sei...” Eu dei de ombros, sentindo o gosto amargo na boca com as palavras que tanto doíam.
"Esquece isso.” exigiu mais do que perguntou, e eu simplesmente neguei com a cabeça.
“Não dá.” Eu comentei, com a voz baixa e triste. “Parece que eu nunca acerto nisso, que eu nunca vou ser retribuída nessa merda de vida...”
Meu coração apertou com aquela frase.
Senti o peito do meu melhor amigo subir e descer devagar, como quem estava respirando profundamente.
Suas mãos foram parar na minha nuca, e nosso abraço foi desfeito. Porém, eu encarava novamente os olhos de , perigosamente perto. Ele me olhava decidido.
“Você vai ser estupida e inegavelmente feliz, está me entendendo?” Seus olhos vibravam tanto que eu não conseguia fazer nada além de encará-los, encantada.
“Você vai ser muito amada, vai ter muitas histórias para contar, vai ser feliz e vai lembrar lá no futuro disso que estou dizendo agora. Está me entendendo?” Eu apenas concordei com a cabeça, sentindo uma lágrima solitária descer do meu olho direito. apenas sorriu levemente e enxugou a lágrima de meu rosto antes que ela molhasse minha bochecha.
“Pelo menos por hoje... Vamos não tentar pensar tanto nisso tudo, ok?” E quando eu afirmei com a cabeça, ele sorriu mais abertamente. “Esquece esse cara, esquece essa coisa de não ser retribuída... Só curte o momento, rodeada de gente que quer te ver bem. Ok?” Eu acenei novamente, murmurando um “uhum” bem baixo, enquanto ainda o olhava nos olhos; tamanha era a intensidade.
“Certo. Agora vamos, que o ensaio não vai começar conosco aqui.” E beijou minha testa, antes de pegar as garrafas e me indicar os copos na bancada.
Enquanto saía da cozinha como se nada tivesse acontecendo, eu apenas me dirigia mecanicamente na direção dos copos e os segurava com muita precisão, ainda sentindo o abraço acolhedor do cara que eu amava.
Do meu melhor amigo.
***
“, você compõe?!" perguntou.
"Cara...” Ele fez uma cara de dor. "Eu tenho mais facilidade em compor melodia do que fazer as letras, porque geralmente, quando escrevo alguma coisa, sai uma bosta.” Ele terminou de se depreciar e coçou a cabeça fazendo uma cara serelepe pro grupo. Eu ri com a fofura da cena.
"Por que vocês não tocam Beatles?!" , a intrusa perguntou.
"Já tem no repertório, só precisamos de mais algumas músicas pra fechar um set de cinco músicas, pelo menos." respondeu, finalizando sua fala com uma típica piscadela. Suspirei com a cena, fingindo indiferença.
"Tá, e quantas músicas tem até agora?" Perguntou .
"Bom, temos: 'She loves you', 'Help', 'I wanna hold your hand', e 'All my loving'.” terminou de ler o papel do repertório, enumerando no dedo quais as músicas que tinham, e se decepcionou ao ver nem sua mão direita cheia.
"Ok caras, então: a gente só tem Beatles nas mãos. Acho que seria mais fácil fecharmos um repertório de cinco, ensaiarmos, pra depois partir pra um repertório mais longo." disse, gesticulando com as mãos.
"Mas é muito pouco... Vocês não querem preencher mais esse espaço, não?" perguntou, fazendo uma cara de dor ao ouvir a possibilidade de fechar um repertório com cinco músicas, apenas.
"É importante levarmos um som compacto, porém bem ensaiado e gradualmente aumentar, do que tocarmos mil músicas mal.” retrucou, dando de ombros.
“E Beatles é a melhor opção. Todo mundo gosta, todos os públicos, jovens, crianças, pais, avós. É a boa, .” comentou, pensativo.
“É, e depois a gente faz as nossas próprias, isso não é problema. Eu já cansei de fazer letras com a .” Eu juro que vi um sorriso brotar no canto dos lábios do , o que me fez sorrir também.
“E como o disse, ele é bom em compor melodias, então já temos um caminho a trilhar. Concordam?" concluiu o pensamento, tendo aprovação de todos.
****
Com o fim do ensaio, cada um arrumava seu instrumento, e mesmo sentindo o ouvido reclamar um pouco, achei importante ressaltar meus pensamentos.
“Cara, a banda tá muito legal!" Eu disse animadamente.
"Você tá falando sério!?" perguntou com uma cara engraçada. Me derretendo por dentro em 3, 2...
“Seríssimo! Eu compraria o cd como verdadeira fã.” Eu assumi com um sorriso bobo pra todos, não me deixando focar só no , apesar de ser a minha única vontade no momento, risos.
"Cara, se a própria elogiou... acho que deveríamos levar a sério!" comentou pro resto da banda, o que fez com que a minha indagação surgisse.
"Como assim? Eu sempre elogiei vocês!" Eu falei, meio encucada com que ele tinha dito.
"Hmm, nem sempre, . Nas nossas últimas tentativas, você era assim, digamos, bem sincera." admitiu, dando um meio sorriso.
Encarei os meninos com cara de tacho, sem saber muito o que dizer.
"Tá, eu posso não ter sido a melhor das pessoas pra falar que a banda não estava tão legal antes... Mas o que importa é como está agora! E está foda!” Eu comentei sorrindo, fazendo pose e arrancando algumas risadas leves.
"Tá tudo bem, pequena. Agora que eu entrei na banda, você não precisa ser mais grossa. Não freqüentemente, né?!" riu de si mesmo, fazendo todos rirem, menos eu, que fiz careta e mandei o dedo do meio.
“Você sendo sempre o gozadinho, né ?” Comentei, fingindo cara de chateação e recebi uma careta de volta.
"Ué, espera aí! Vocês já se conheciam?” perguntou, arregalando tanto seus olhos que eu quase pude vê-los saindo do globo ocular.
"Já. Nos conhecemos num acampamento de verão, há uns dois anos." respondeu somente com seus lábios se movendo num pequeno sorriso, ainda sim, sem mostrar os dentes.
"Cara, que mundo ovo!" exclamou, achando o máximo o fato de eu já conhecer o novo carinha do McFly.
"Bom, gente, o papo tá bom, mas eu tenho que puxar meu bonde. " Eu disse, levantando do puff em que estava a um segundo atrás, e estalando minhas costas.
“Por que você já vai?" perguntou.
"Tô cansada, suja, com fome!" Fiz uma cara engraçada que fez rir e logo retrucar.
"Ôh traça!" Ele disse, rindo de olhos fechados, o que me fez dar o dedo do meio, sem deixar de sorrir admirando meu melhor amigo. A risada de interrompeu o momento:
"Ela tá sempre com fome, cara?" Ele perguntou zoando, me assustei quando um coro respondeu por mim.
"SEMPRE!" Os três meninos disseram em uníssono, e eu rolei os olhos com a cena.
“Precisavam ser tão enfáticos?” Eu questionei sem graça, obtendo como resposta apenas risadas e mais zoações. Foi quem mudou de assunto do nada, com a cara animada.
"Eu tive uma ideia!” Berrou, fingindo coçar uma barba estilo à la Gandalf, o Cinzento.
***
“Mas é claro que o Delonge é muito melhor que o Hoppus cantando no Blink, cara!" discutia sobre melhor vocalista para o Blink 182, junto com , que estava abismado pela opinião dele ser diferente da sua. Estávamos saindo da pizzaria – ideia do – quando soltou a piada do dia.
"Cara, que isso, a voz do Delonge é voz de pato rouco caipira que acaba de eliminar uma hemorróida na cara do presidente!"
Eu parei de andar e comecei a rir sem parar, da piada que tinha acabado de ouvir. Sério, eu não ria assim em tempos!
Não preciso entrar em detalhes sobre como devoramos as pizzas (é claro, no plural) que pedimos né? Elas estavam maravilhosas, mas nada substituiria um sorvetinho no Tio Sam, nosso local preferido para prosear e aproveitar um tempo juntos – local este no qual estávamos nos encaminhando no momento.
Ao chegarmos lá, sentamos numa mesa e rapidamente os meninos entrosaram nos assuntos da banda e afins. Fiquei reparando a interação dos rapazes e percebi que, apesar de ser a cara nova do pedaço, ele me pareceu bastante à vontade com o ambiente e as pessoas, e isso me incluía também. Não foi à toa que começou a conversar comigo logo em seguida.
"Mas então, pequena! Me fala como você tá, o que tem feito... Nós ainda não tivemos tempo pra colocar o papo em dia!" disse, parecendo estar realmente interessado no que na minha pacata vida poderia ter de novo.
"Ah, cara, eu tô bem... Nada de extraordinário. Só a simples e conturbada adolescência. Contando os dias para sair da escola.” Eu disse, brincando com meus dedos e dando um sorriso sem graça.
"Sério?!" Ele perguntou fazendo uma careta, que me fez rir levemente.
"Não, também sou fã número um da banda, o que me coloca num nível acima dos meros mortais. Meu currículo deu uma guinada depois dessa.” Eu falei, sorrindo abertamente, tomando meu sorvete com gosto.
“Você com certeza mudou em muitos aspectos, mas na arte de fazer piadas, está cada vez mais fluente.” comentou rindo, balançando a cabeça levemente.
“Mas e você? O que conta de novo?” Perguntei, após um momento de silêncio.
“Eu estou morando na cidade, toco guitarra há um tempo e estava atrás de uma banda mas nenhuma parecia tão encaixada como essa. Apesar da mudança repentina e recente, eu estou gostando cada vez mais do que o presente tem me mostrado. E isso, é claro, inclui você! Estou muito feliz de ter te reencontrado.” Ele comentou, fazendo um carinho leve na minha cabeça, o que me deixou alegre. Quando dei por mim, estava abraçando-o de lado, concordando silenciosamente com sua afirmação.
“Já era tempo da vida trazer boas notícias...” Ele comentou mais para si do que para mim, mas pude ouví-lo e arqueei a sobrancelha com aquela frase.
“Como assim?” Estaria passando por situações difíceis?
“Hã? Ah, nada! Nada demais, só pensando alto.” Ele comentou coçando a nuca e rindo sem graça. Naquele caroço tinha angu.
“Olha, se não quiser falar, não tem problema...” Comentei com a voz mais baixa, terminando meu sorvete. “Mas saiba que pode contar comigo caso precise, ok?” E sorri gentilmente.
“Obrigada, .” Ele sorriu genuinamente, e deu de ombros. “Mas é como você disse: a adolescência é foda. Estamos passando por poucas e boas, e às vezes parece que a vida está testando esse pobre rapaz!” E bateu em seu próprio peito, fazendo uma careta de dor que me fez gargalhar levemente.
“Fala sério, a treta é tão grande assim?” Questionei, com os olhos arregalados.
Ele suspirou, mexendo com a colher no seu sorvete, e me olhou por um tempo antes de falar.
“Você provavelmente já deve ter quebrado uns bons corações por aí, mas por acaso já levou um pé na bunda? É horrível!”
Eu estava engolindo meu sorvete quando engasguei com aquela pergunta. Mas logo me resolvi, e consegui empurrar conteúdo garganta abaixo.
O que eu poderia responder? Tanta coisa! Tanto sobre ele quanto sobre . Mas eu simplesmente não acreditava que o achava que eu era uma arrasadora de corações. Óh céus, óh vida.
“Como assim eu parti corações, ? Do que está falando?” Eu indaguei assim que recuperei meu fôlego.
Foi a vez dele me olhar confuso, e sua boca abriu e fechou inúmeras vezes antes de alguma frase sair de lá.
“Ah ! Sério? Você tá brincando comigo né?” E me olhava incrédulo, enquanto eu seguia com o olhar inquisidor.
“Por que eu partiria o coração de alguém, ?” Perguntei pausadamente, enquanto o encarava.
Os olhos arregalaram e ele logo se recompôs na cadeira, pigarreando enquanto olhava novamente para o seu sorvete. Seu rosto estava vermelho e ele parecia escolher as palavras certas.
“B-bem, não me leve à mal... É que eu...” E pigarreou novamente, puxando o ar e ficando mais vermelho. “Eu pensei que você fosse alguém disputada aqui, sabe? Que tenha tido alguns namorados, e sei lá. Não sei porque, mas me pareceu que você era a pessoa a terminar um namoro.”
Eu continuei olhando incrédula pra ele. Da onde ele tinha tirado tanta merda?
Aquela fala me fez gargalhar de passar mal, e eu coloquei as mãos na barriga e fiquei muito tempo rindo. Os outros três meninos na mesa pararam de conversar entre si e me encararam, com a cara estranha.
“O que foi?” perguntou, com a sobrancelha erguida.
“Ai ai, n-nada demais...” Comentei, limpando uma lágrima do canto dos olhos, enquanto parava de rir aos poucos. “Apenas sendo comediante.” E o encarei sorridente. “Garoto, tu vai longe!” E dei um tapinha nas costas dele, e o mesmo ainda me olhava sem graça, sem entender ao certo qual era a graça que ele tinha contado.
Decidi ajudá-lo.
“, ... Sou o completo oposto daquilo que você acha de mim. Não sou minimamente disputada. Meu coração é o que é quebrado aqui, e não eu quem quebro os dos outros...” Ainda sorria, porém amargamente com aquela frase.
se virou pra mim com o cenho franzido e rolou os olhos. Não entendi, até que ele respirou fundo e riu, negando com a cabeça.
"Aposto que você só fala isso porque nunca realmente reparou em algum cara que te interessasse o suficiente pra que você notasse o jeito como ele te olha, te enxerga..." Whoa, espera aí que essa me confundiu.
As palavras dele me atingiram como um tornado, bagunçando todos os meus pensamentos, mas eu sabia que uma coisa era certa: eu havia encontrado um garoto que me chamasse a atenção, por ser lindo, atraente, amigo, simpático, carinhoso. E eu notei sim, a maneira como ele me olha, e não aguentei notar essa maneira por muito tempo, pois eu sabia que pra ele, eu era apenas a pequena e doce , que vive com fome, e que não é uma mulher aos olhos dele. E isso, era como receber mil facadas nos meus pontos vitais, e ainda sim, permanecer viva, só pra sentir a dor.
Sorri sem graça para , enquanto mexia no sorvete com a colher. De repente, eu já não tinha tanta vontade de sorvete...
"Hmm... pode ser.” E senti o rosto queimar com as lágrimas se formando nos olhos. Me levantei rapidamente e logo murmurei: “Já volto."
Cheguei ao banheiro, corri pro primeiro compartimento que vi, fechei a porta, tranquei-a rapidamente, sentei em cima da tampa do vaso, e com meus pés em cima da mesma, apoiei meus braços em meus joelhos, deixando as lágrimas rolarem. Era estranha a maneira como o humor mudava, porque há exatos minutos atrás, eu estava sorrindo, e rindo das gracinhas que o fazia, e mesmo assim, ao dizer aquelas palavras, ele me lembrava do meu atual estado. E isso, me doía demais. Não pude conter mais as lágrimas, e, ali, eu chorei. Chorei por tudo. Chorei de raiva, por só me apaixonar por pessoas que não me veem como eu as vejo; chorei de raiva pela história que se repetia; chorei por eu me sentir tão sozinha mesmo estando perto dos melhores amigos que já pude ter; chorei por não me sentir completa e satisfeita, mesmo tendo tão mais do que o necessário pra viver, e finalmente: chorei de angústia, por pensar que ao sair do banheiro, a minha cara estaria vermelha, e eu não saberia como disfarçar, não na frente... dele.
Chorei por . Chorei por ele. Chorei, pela primeira vez, por me colocar no lugar dele. De ver a amiga dele assim, e não saber o que fazer pra acalmá-la. De fato, não ter a ideia certa dentro do campo de pensamento dele, pra poder me acalmar.
Quando éramos pequenos, aliás, quando éramos nós mesmos antes de eu me apaixonar por ele, quando eu chorava por outros motivos, só o abraço dele já me acalmava... Suas mãos, mesmo aparentando ser pesadas e grandes pra mim, se tornavam gentis e leves ao tocar o meu cabelo e sussurrar pra mim que tudo daria certo. E eu me sentia bem com isso, não importava qual fosse o problema, ele sempre me fazia me sentir bem. Como foi o que aconteceu naquele momento tão gostoso e precioso na cozinha de .
E foi pensando nisso que me dei conta da realidade, e senti medo do que estava por vir: dessa vez não será o toque macio das mãos de , ou nem seu abraço caloroso que vai me acalmar caso algo aconteça. Caso eu me despedace. Não nessas circunstâncias.
"Já era hora de sentir medo do seu próprio coração"
Um pensamento como este correu pela minha mente, me fazendo rir de forma zombeteira.
Que grande merda, não é mesmo?
Lavei meu rosto repetidas vezes, até que ficasse menos aparente a cara de choro. Respirei fundo e me encarei no espelho.
De rosto erguido e olhar determinado, era assim que eu precisava encarar a vida.
Alguma hora, aquilo tudo iria passar.
Tinha que passar.
"S-sim! , !" Eu forcei um sorriso, ainda tentando lidar com a surpresa de tê-lo ali.
me tirou da inércia ao abrir um sorriso gigantesco nos lábios; largou tudo o que estava em suas mãos, e adentrou a casa me abraçando apertadamente, me surpreendendo:
"Que saudade, cara!" Ele aparentava estar sinceramente feliz por eu estar ali. Apesar do choque, eu retribuí o gesto.
"Sim! Muitas!" Eu falei, um pouco confusa. Eu não sabia o que eu sentia naquele momento... Estava tudo misturado: surpresa, confusão, saudades, e até um certo desconforto...
Enquanto eu pensava sobre isso, finalizava o abraço me levantando um pouco pra cima, antes de me deixar no chão. Ao me observar de cima em baixo, ele descansou seu olhar no meu rosto, e, com um grande sorriso, perguntou:
"Como é que você está? Faz tanto tempo que eu não te vejo!" Ele disse, demonstrando verdade em suas palavras, o que de certa forma, me assustou um pouco.
"E-eu to bem, ! E você? Muito tempo mesmo! Dois anos, não é?" Eu terminei, soltando uma risada gentil, o que o fez rir e dizer:
“Sim! Você parece estar bem, quero dizer... está incrível!” Eu corei violentamente e sorri sem graça.
“Obrigada, . Você também parece ótimo.” E aproveitei para observá-lo melhor. Em dois anos, ainda mais na idade que tínhamos, o corpo dava sinais de mudanças bruscas, e Deus, a vida foi generosa com . Ele estava muito atraente.
"Bom, quer dizer que você é o novo integrante da banda?" Eu perguntei sorrindo e rindo disfarçadamente pelo pequeno trocadilho.
“Sim! Não vai me dizer que você faz parte também?” Ele perguntou, com surpresa nos olhos. Eu ri alto com a suposição.
“Não, que isso! Eu sou apenas muito amiga dos meninos, e fã incondicional. Tenho até passe livre pros ensaios!”
E rimos abertamente. Quando as risadas cessaram, nossos olhos se encontraram e ficamos aproveitando o momento, dividindo a alegria e a surpresa do reencontro.
Este momento foi logo interrompido por uma voz atrás de mim:
", quem era na por... " ia aparecendo na sala, com uma cara de dúvida.
"Hey, ." disse educadamente, acenando para o meu melhor amigo.
“, você não me disse que o novo guitarrista era o !” Eu exclamei, fechando a porta enquanto pegava suas coisas e rumava para a sala.
“Como assim?” A confusão alcançou como um todo, e seu cenho ficou franzido. Eu ri daquela careta e sorriu, dando de ombros.
“É que já nos conhecíamos, e eu.” comentou, me dando um abraço de lado e eu concordei sorridente.
“Sim, do acampamento, você lembra?” Perguntei para que ainda mantinha a cara em dúvida, mas um feixe de compreensão atravessou seu rosto com a minha informação.
“Ah, sério? Nossa! Que mundo pequeno, né?” comentou, sorrindo forçadamente. Um sorriso que apenas eu reconheceria.
“Muito!” sorriu para mim e apertou meu ombro, antes de soltá-lo e pegar suas coisas “Bom, o papo tá ótimo, mas acredito que todos estejam me esperando, né? Atrasei alguns minutos...” comentou, esperando uma resposta de que apenas acenou positivamente, apontando o caminho.
“Já estamos lá embaixo, é só descer.” indicou educadamente.
“Vai descendo, , que e eu vamos pegar as garrafas d’água.” Comentei, enquanto encarava e indicava a direção da cozinha com a minha cabeça.
"Ok, desembucha." Eu disse, abrindo a geladeira de .
"Como você sabe que eu quero perguntar algo?!" me perguntou abismado. Eu simplesmente ri.
“Não é como se o seu sorriso forçado fosse algo incomum, né querido?” Caçoei, rindo e rolando os olhos. "Agora fala." Eu disse, pegando duas garrafas e fechando a porta com o pé.
“Como assim você conhece o ?" Ele perguntou, retornando sua cara ao estado dúvida-de-criança que o dominara há pouco. Eu o olhei com um olhar mortal.
", como assim 'você conhece o '? Você não se lembra?" Eu perguntei com uma cara de raiva. apenas me encarou com uma cara de perdido, dando de ombros.
"Eu deveria?" perguntou simplesmente, fazendo uma cara de dor enquanto eu bufava.
"Vamos lá" Eu disse. “Há dois anos, nas férias do mesmo ano em que meus pais se separaram, e eles acharam que eu não estava totalmente bem com a separação deles?" Eu perguntei, desejando que pelo menos isso ele se lembrasse e ele apenas acenou com a cabeça.
"Enfim, lembra também que naquele mesmo ano teve aquela febre de acampamento de verão? Que mais parecia colônia de férias?" Eu disse, me lembrando o quanto tinha odiado aquele lugar à primeira vista.
"Lembro." Ele disse, me indicando a continuar.
"Eu estava mal naquela época, porém o acampamento me surpreendeu, pois lá eu fiz amizades que me ajudaram a superar o lance de divórcio dos meus pais. E foi uma amizade, digamos assim, a mais especial...”
estava com o cenho franzido quando de repente seus olhos se arregalaram e ele me encarou seriamente.
“Não me diga que é...”
“Exatamente.” Suspirei, completando a explicação. “Tive uma queda por ele naquele verão...” Encarei o chão num breve sorriso, lembrando dos momentos. “Também, eu estava num momento tão frágil... foi o único naquele lugar que realmente me deu apoio. Ficou comigo durante o acampamento inteiro, e fazia questão de me ver bem. Perto dele, realmente, era difícil eu ficar triste, pois ele me fazia enxergar além do divórcio e a relativizar as coisas... Só que, nessa dele me dar apoio e tal... Eu acabei desenvolvendo uma paixonite por ele." Eu assumi, sorrindo sem graça para .
“Eu lembro do resto... ficou com uma amiga sua de lá, não é isso?” falou baixo, com os braços cruzados, me encarando.
"Sim. Foi meio foda de testemunhar todo o... processo.” Dei de ombros, pegando os copos da bancada da cozinha.
"...” me chamou de uma maneira melancólica, que me fez olhá-lo e perceber a ironia do destino: a história estava se repetindo, só que agora, o triângulo era eu, ... e Lis.
Apenas o encarei, esperando que continuasse a falar.
“É foda... Lembro como você voltou pra casa.” Ele encarou a janela, com os braços cruzados na altura do peito, e a cara fechada. “Não é fácil passar por isso... Mas de toda forma, ele não teve culpa. Pra ele, vocês só eram amigos. Ele não é adivinha, não tinha como saber que você gostava dele...” E eu me lembro que essas foram as exatas palavras que me disse há exatos dois anos. “E ainda que você dissesse alguma coisa... As pessoas são livres, né?” Encarei o rosto de , pensando em tanta coisa que não tinha a ver com , mas sim comigo e meu melhor amigo... E Elise.
“As pessoas são livres...” Esta frase ecoava em minha mente, e eu seguia encarando sem nenhuma expressão específica no rosto. Acredito que minha cara deu a entender outra coisa, pois quando moveu seu rosto buscando meu olhar, tratou de explicar-se.
“Desculpa. Sei que é difícil de ouvir ou acreditar, que parece injusto, mas...”
"Eu sei disso!” Exclamei mais alto do que imaginava, o que assustou um pouco , e seus olhos arregalaram levemente antes de voltar ao normal e me encarar.
Respirei fundo, mexendo nas têmporas e tentando me controlar.
Às vezes os sentimentos que nutria por queriam simplesmente expurgar de meu corpo e declarar aos quatro cantos do mundo o quanto eu o amava, o quanto eu o desejava silenciosa e secretamente.
Quando isso acontecia – essa vontade louca de arriscar – eu sempre tinha um pensamento que me freava; a amizade que tínhamos e o risco que ela corria.
E era exatamente nisso que eu pensava no momento.
Me recompus, e o encarei novamente. Ele estava olhando receoso para mim e eu rolei os olhos, me xingando mentalmente.
“Eu nunca culpei por não sentir o mesmo por mim, . Eu nunca faria isso. Mas não é como se eu pudesse controlar esses sentimentos... Não quer dizer que não tenha doído, sabe? É disso e apenas disso que falo. como qualquer outro é livre, e se há um mínimo de afeto que sinto por ele ou outra pessoa, isso significa que a felicidade vem em primeiro lugar – mesmo que não seja ao meu lado.” Eu disse, ponderando o quanto aquilo era real para mim, ainda que os envolvidos fossem outros. A sensação era a mesma...
Eu estava tão tensa ao dizer aquelas palavras, que só fui reparar no quanto meu maxilar estava trincado quando acariciou minha bochecha, enroscando seus dedos nos cabelos de minha nuca.
Foi impossível não levantar a cabeça e encará-lo, surpresa.
Ele nada disse. Apenas ficou me olhando com aqueles olhos que eu tanto amava. Depois do que pareceram anos, ele me puxou para um abraço e meu rosto foi diretamente em seu peitoral, e automaticamente fechei os olhos, inspirando todo o ar e seu cheiro específico, enquanto envolvia suas costas largas com meus braços levemente vibrantes.
“Sinto muito que tenha passado por isso, tampinha.” Ouvi sua voz ecoar acima de minha cabeça, e senti seu abraço me apertar levemente. Inconscientemente, fiz o mesmo, me aconchegando mais eu seu peito, apenas ouvindo seu coração bater e me deixando aproveitar aquele momento.
Tão perto, tão longe. Eu senti meus olhos lacrimejarem, mas não permiti que as lágrimas caíssem. Me concentrei na sensação boa do abraço, e senti a mão esquerda de acariciar minhas costas, num afago gentil e quente.
“A parte boa é que tudo isso parece ter passado, não é mesmo?” perguntou, e pela entonação da sua voz, eu poderia afirmar que ele estava sorrindo, tentando me animar. Sorri com este pensamento, e na ironia de sua pergunta; ele mal fazia ideia que a resposta era complexa, assim como meus sentimentos...
“Agora eu só gosto de outra pessoa que não gosta de mim.” Ri debochadamente, respirando fundo. “Se há uma amiga com quem ele esteja se relacionando, aí eu já não sei...” Eu dei de ombros, sentindo o gosto amargo na boca com as palavras que tanto doíam.
"Esquece isso.” exigiu mais do que perguntou, e eu simplesmente neguei com a cabeça.
“Não dá.” Eu comentei, com a voz baixa e triste. “Parece que eu nunca acerto nisso, que eu nunca vou ser retribuída nessa merda de vida...”
Meu coração apertou com aquela frase.
Senti o peito do meu melhor amigo subir e descer devagar, como quem estava respirando profundamente.
Suas mãos foram parar na minha nuca, e nosso abraço foi desfeito. Porém, eu encarava novamente os olhos de , perigosamente perto. Ele me olhava decidido.
“Você vai ser estupida e inegavelmente feliz, está me entendendo?” Seus olhos vibravam tanto que eu não conseguia fazer nada além de encará-los, encantada.
“Você vai ser muito amada, vai ter muitas histórias para contar, vai ser feliz e vai lembrar lá no futuro disso que estou dizendo agora. Está me entendendo?” Eu apenas concordei com a cabeça, sentindo uma lágrima solitária descer do meu olho direito. apenas sorriu levemente e enxugou a lágrima de meu rosto antes que ela molhasse minha bochecha.
“Pelo menos por hoje... Vamos não tentar pensar tanto nisso tudo, ok?” E quando eu afirmei com a cabeça, ele sorriu mais abertamente. “Esquece esse cara, esquece essa coisa de não ser retribuída... Só curte o momento, rodeada de gente que quer te ver bem. Ok?” Eu acenei novamente, murmurando um “uhum” bem baixo, enquanto ainda o olhava nos olhos; tamanha era a intensidade.
“Certo. Agora vamos, que o ensaio não vai começar conosco aqui.” E beijou minha testa, antes de pegar as garrafas e me indicar os copos na bancada.
Enquanto saía da cozinha como se nada tivesse acontecendo, eu apenas me dirigia mecanicamente na direção dos copos e os segurava com muita precisão, ainda sentindo o abraço acolhedor do cara que eu amava.
Do meu melhor amigo.
“, você compõe?!" perguntou.
"Cara...” Ele fez uma cara de dor. "Eu tenho mais facilidade em compor melodia do que fazer as letras, porque geralmente, quando escrevo alguma coisa, sai uma bosta.” Ele terminou de se depreciar e coçou a cabeça fazendo uma cara serelepe pro grupo. Eu ri com a fofura da cena.
"Por que vocês não tocam Beatles?!" , a intrusa perguntou.
"Já tem no repertório, só precisamos de mais algumas músicas pra fechar um set de cinco músicas, pelo menos." respondeu, finalizando sua fala com uma típica piscadela. Suspirei com a cena, fingindo indiferença.
"Tá, e quantas músicas tem até agora?" Perguntou .
"Bom, temos: 'She loves you', 'Help', 'I wanna hold your hand', e 'All my loving'.” terminou de ler o papel do repertório, enumerando no dedo quais as músicas que tinham, e se decepcionou ao ver nem sua mão direita cheia.
"Ok caras, então: a gente só tem Beatles nas mãos. Acho que seria mais fácil fecharmos um repertório de cinco, ensaiarmos, pra depois partir pra um repertório mais longo." disse, gesticulando com as mãos.
"Mas é muito pouco... Vocês não querem preencher mais esse espaço, não?" perguntou, fazendo uma cara de dor ao ouvir a possibilidade de fechar um repertório com cinco músicas, apenas.
"É importante levarmos um som compacto, porém bem ensaiado e gradualmente aumentar, do que tocarmos mil músicas mal.” retrucou, dando de ombros.
“E Beatles é a melhor opção. Todo mundo gosta, todos os públicos, jovens, crianças, pais, avós. É a boa, .” comentou, pensativo.
“É, e depois a gente faz as nossas próprias, isso não é problema. Eu já cansei de fazer letras com a .” Eu juro que vi um sorriso brotar no canto dos lábios do , o que me fez sorrir também.
“E como o disse, ele é bom em compor melodias, então já temos um caminho a trilhar. Concordam?" concluiu o pensamento, tendo aprovação de todos.
Com o fim do ensaio, cada um arrumava seu instrumento, e mesmo sentindo o ouvido reclamar um pouco, achei importante ressaltar meus pensamentos.
“Cara, a banda tá muito legal!" Eu disse animadamente.
"Você tá falando sério!?" perguntou com uma cara engraçada. Me derretendo por dentro em 3, 2...
“Seríssimo! Eu compraria o cd como verdadeira fã.” Eu assumi com um sorriso bobo pra todos, não me deixando focar só no , apesar de ser a minha única vontade no momento, risos.
"Cara, se a própria elogiou... acho que deveríamos levar a sério!" comentou pro resto da banda, o que fez com que a minha indagação surgisse.
"Como assim? Eu sempre elogiei vocês!" Eu falei, meio encucada com que ele tinha dito.
"Hmm, nem sempre, . Nas nossas últimas tentativas, você era assim, digamos, bem sincera." admitiu, dando um meio sorriso.
Encarei os meninos com cara de tacho, sem saber muito o que dizer.
"Tá, eu posso não ter sido a melhor das pessoas pra falar que a banda não estava tão legal antes... Mas o que importa é como está agora! E está foda!” Eu comentei sorrindo, fazendo pose e arrancando algumas risadas leves.
"Tá tudo bem, pequena. Agora que eu entrei na banda, você não precisa ser mais grossa. Não freqüentemente, né?!" riu de si mesmo, fazendo todos rirem, menos eu, que fiz careta e mandei o dedo do meio.
“Você sendo sempre o gozadinho, né ?” Comentei, fingindo cara de chateação e recebi uma careta de volta.
"Ué, espera aí! Vocês já se conheciam?” perguntou, arregalando tanto seus olhos que eu quase pude vê-los saindo do globo ocular.
"Já. Nos conhecemos num acampamento de verão, há uns dois anos." respondeu somente com seus lábios se movendo num pequeno sorriso, ainda sim, sem mostrar os dentes.
"Cara, que mundo ovo!" exclamou, achando o máximo o fato de eu já conhecer o novo carinha do McFly.
"Bom, gente, o papo tá bom, mas eu tenho que puxar meu bonde. " Eu disse, levantando do puff em que estava a um segundo atrás, e estalando minhas costas.
“Por que você já vai?" perguntou.
"Tô cansada, suja, com fome!" Fiz uma cara engraçada que fez rir e logo retrucar.
"Ôh traça!" Ele disse, rindo de olhos fechados, o que me fez dar o dedo do meio, sem deixar de sorrir admirando meu melhor amigo. A risada de interrompeu o momento:
"Ela tá sempre com fome, cara?" Ele perguntou zoando, me assustei quando um coro respondeu por mim.
"SEMPRE!" Os três meninos disseram em uníssono, e eu rolei os olhos com a cena.
“Precisavam ser tão enfáticos?” Eu questionei sem graça, obtendo como resposta apenas risadas e mais zoações. Foi quem mudou de assunto do nada, com a cara animada.
"Eu tive uma ideia!” Berrou, fingindo coçar uma barba estilo à la Gandalf, o Cinzento.
“Mas é claro que o Delonge é muito melhor que o Hoppus cantando no Blink, cara!" discutia sobre melhor vocalista para o Blink 182, junto com , que estava abismado pela opinião dele ser diferente da sua. Estávamos saindo da pizzaria – ideia do – quando soltou a piada do dia.
"Cara, que isso, a voz do Delonge é voz de pato rouco caipira que acaba de eliminar uma hemorróida na cara do presidente!"
Eu parei de andar e comecei a rir sem parar, da piada que tinha acabado de ouvir. Sério, eu não ria assim em tempos!
Não preciso entrar em detalhes sobre como devoramos as pizzas (é claro, no plural) que pedimos né? Elas estavam maravilhosas, mas nada substituiria um sorvetinho no Tio Sam, nosso local preferido para prosear e aproveitar um tempo juntos – local este no qual estávamos nos encaminhando no momento.
Ao chegarmos lá, sentamos numa mesa e rapidamente os meninos entrosaram nos assuntos da banda e afins. Fiquei reparando a interação dos rapazes e percebi que, apesar de ser a cara nova do pedaço, ele me pareceu bastante à vontade com o ambiente e as pessoas, e isso me incluía também. Não foi à toa que começou a conversar comigo logo em seguida.
"Mas então, pequena! Me fala como você tá, o que tem feito... Nós ainda não tivemos tempo pra colocar o papo em dia!" disse, parecendo estar realmente interessado no que na minha pacata vida poderia ter de novo.
"Ah, cara, eu tô bem... Nada de extraordinário. Só a simples e conturbada adolescência. Contando os dias para sair da escola.” Eu disse, brincando com meus dedos e dando um sorriso sem graça.
"Sério?!" Ele perguntou fazendo uma careta, que me fez rir levemente.
"Não, também sou fã número um da banda, o que me coloca num nível acima dos meros mortais. Meu currículo deu uma guinada depois dessa.” Eu falei, sorrindo abertamente, tomando meu sorvete com gosto.
“Você com certeza mudou em muitos aspectos, mas na arte de fazer piadas, está cada vez mais fluente.” comentou rindo, balançando a cabeça levemente.
“Mas e você? O que conta de novo?” Perguntei, após um momento de silêncio.
“Eu estou morando na cidade, toco guitarra há um tempo e estava atrás de uma banda mas nenhuma parecia tão encaixada como essa. Apesar da mudança repentina e recente, eu estou gostando cada vez mais do que o presente tem me mostrado. E isso, é claro, inclui você! Estou muito feliz de ter te reencontrado.” Ele comentou, fazendo um carinho leve na minha cabeça, o que me deixou alegre. Quando dei por mim, estava abraçando-o de lado, concordando silenciosamente com sua afirmação.
“Já era tempo da vida trazer boas notícias...” Ele comentou mais para si do que para mim, mas pude ouví-lo e arqueei a sobrancelha com aquela frase.
“Como assim?” Estaria passando por situações difíceis?
“Hã? Ah, nada! Nada demais, só pensando alto.” Ele comentou coçando a nuca e rindo sem graça. Naquele caroço tinha angu.
“Olha, se não quiser falar, não tem problema...” Comentei com a voz mais baixa, terminando meu sorvete. “Mas saiba que pode contar comigo caso precise, ok?” E sorri gentilmente.
“Obrigada, .” Ele sorriu genuinamente, e deu de ombros. “Mas é como você disse: a adolescência é foda. Estamos passando por poucas e boas, e às vezes parece que a vida está testando esse pobre rapaz!” E bateu em seu próprio peito, fazendo uma careta de dor que me fez gargalhar levemente.
“Fala sério, a treta é tão grande assim?” Questionei, com os olhos arregalados.
Ele suspirou, mexendo com a colher no seu sorvete, e me olhou por um tempo antes de falar.
“Você provavelmente já deve ter quebrado uns bons corações por aí, mas por acaso já levou um pé na bunda? É horrível!”
Eu estava engolindo meu sorvete quando engasguei com aquela pergunta. Mas logo me resolvi, e consegui empurrar conteúdo garganta abaixo.
O que eu poderia responder? Tanta coisa! Tanto sobre ele quanto sobre . Mas eu simplesmente não acreditava que o achava que eu era uma arrasadora de corações. Óh céus, óh vida.
“Como assim eu parti corações, ? Do que está falando?” Eu indaguei assim que recuperei meu fôlego.
Foi a vez dele me olhar confuso, e sua boca abriu e fechou inúmeras vezes antes de alguma frase sair de lá.
“Ah ! Sério? Você tá brincando comigo né?” E me olhava incrédulo, enquanto eu seguia com o olhar inquisidor.
“Por que eu partiria o coração de alguém, ?” Perguntei pausadamente, enquanto o encarava.
Os olhos arregalaram e ele logo se recompôs na cadeira, pigarreando enquanto olhava novamente para o seu sorvete. Seu rosto estava vermelho e ele parecia escolher as palavras certas.
“B-bem, não me leve à mal... É que eu...” E pigarreou novamente, puxando o ar e ficando mais vermelho. “Eu pensei que você fosse alguém disputada aqui, sabe? Que tenha tido alguns namorados, e sei lá. Não sei porque, mas me pareceu que você era a pessoa a terminar um namoro.”
Eu continuei olhando incrédula pra ele. Da onde ele tinha tirado tanta merda?
Aquela fala me fez gargalhar de passar mal, e eu coloquei as mãos na barriga e fiquei muito tempo rindo. Os outros três meninos na mesa pararam de conversar entre si e me encararam, com a cara estranha.
“O que foi?” perguntou, com a sobrancelha erguida.
“Ai ai, n-nada demais...” Comentei, limpando uma lágrima do canto dos olhos, enquanto parava de rir aos poucos. “Apenas sendo comediante.” E o encarei sorridente. “Garoto, tu vai longe!” E dei um tapinha nas costas dele, e o mesmo ainda me olhava sem graça, sem entender ao certo qual era a graça que ele tinha contado.
Decidi ajudá-lo.
“, ... Sou o completo oposto daquilo que você acha de mim. Não sou minimamente disputada. Meu coração é o que é quebrado aqui, e não eu quem quebro os dos outros...” Ainda sorria, porém amargamente com aquela frase.
se virou pra mim com o cenho franzido e rolou os olhos. Não entendi, até que ele respirou fundo e riu, negando com a cabeça.
"Aposto que você só fala isso porque nunca realmente reparou em algum cara que te interessasse o suficiente pra que você notasse o jeito como ele te olha, te enxerga..." Whoa, espera aí que essa me confundiu.
As palavras dele me atingiram como um tornado, bagunçando todos os meus pensamentos, mas eu sabia que uma coisa era certa: eu havia encontrado um garoto que me chamasse a atenção, por ser lindo, atraente, amigo, simpático, carinhoso. E eu notei sim, a maneira como ele me olha, e não aguentei notar essa maneira por muito tempo, pois eu sabia que pra ele, eu era apenas a pequena e doce , que vive com fome, e que não é uma mulher aos olhos dele. E isso, era como receber mil facadas nos meus pontos vitais, e ainda sim, permanecer viva, só pra sentir a dor.
Sorri sem graça para , enquanto mexia no sorvete com a colher. De repente, eu já não tinha tanta vontade de sorvete...
"Hmm... pode ser.” E senti o rosto queimar com as lágrimas se formando nos olhos. Me levantei rapidamente e logo murmurei: “Já volto."
Cheguei ao banheiro, corri pro primeiro compartimento que vi, fechei a porta, tranquei-a rapidamente, sentei em cima da tampa do vaso, e com meus pés em cima da mesma, apoiei meus braços em meus joelhos, deixando as lágrimas rolarem. Era estranha a maneira como o humor mudava, porque há exatos minutos atrás, eu estava sorrindo, e rindo das gracinhas que o fazia, e mesmo assim, ao dizer aquelas palavras, ele me lembrava do meu atual estado. E isso, me doía demais. Não pude conter mais as lágrimas, e, ali, eu chorei. Chorei por tudo. Chorei de raiva, por só me apaixonar por pessoas que não me veem como eu as vejo; chorei de raiva pela história que se repetia; chorei por eu me sentir tão sozinha mesmo estando perto dos melhores amigos que já pude ter; chorei por não me sentir completa e satisfeita, mesmo tendo tão mais do que o necessário pra viver, e finalmente: chorei de angústia, por pensar que ao sair do banheiro, a minha cara estaria vermelha, e eu não saberia como disfarçar, não na frente... dele.
Chorei por . Chorei por ele. Chorei, pela primeira vez, por me colocar no lugar dele. De ver a amiga dele assim, e não saber o que fazer pra acalmá-la. De fato, não ter a ideia certa dentro do campo de pensamento dele, pra poder me acalmar.
Quando éramos pequenos, aliás, quando éramos nós mesmos antes de eu me apaixonar por ele, quando eu chorava por outros motivos, só o abraço dele já me acalmava... Suas mãos, mesmo aparentando ser pesadas e grandes pra mim, se tornavam gentis e leves ao tocar o meu cabelo e sussurrar pra mim que tudo daria certo. E eu me sentia bem com isso, não importava qual fosse o problema, ele sempre me fazia me sentir bem. Como foi o que aconteceu naquele momento tão gostoso e precioso na cozinha de .
E foi pensando nisso que me dei conta da realidade, e senti medo do que estava por vir: dessa vez não será o toque macio das mãos de , ou nem seu abraço caloroso que vai me acalmar caso algo aconteça. Caso eu me despedace. Não nessas circunstâncias.
"Já era hora de sentir medo do seu próprio coração"
Um pensamento como este correu pela minha mente, me fazendo rir de forma zombeteira.
Que grande merda, não é mesmo?
Lavei meu rosto repetidas vezes, até que ficasse menos aparente a cara de choro. Respirei fundo e me encarei no espelho.
De rosto erguido e olhar determinado, era assim que eu precisava encarar a vida.
Alguma hora, aquilo tudo iria passar.
Tinha que passar.
Capítulo 5 - They just don't care.
Acho que só podia ter uma coisa ruim em não estar acostumada a chorar tanto: esconder os olhos inchados e o rosto vermelho logo após o choro. Eu fiquei no banheiro durante uns dez minutos pra ter uma aparência levemente boa. Também, lavando o rosto mais de mil vezes, aquilo tinha que funcionar. Sendo a menina prevenida que sou, tirei o corretivo da minha mochila e passei rapidamente, sem exacerbar, deixando meu rosto em um melhor estado. Passei o lápis preto de leve, pra não deixar que meus olhos fizessem o par perfeito com meu nariz, ainda (um pouco) vermelho do choro, e por fim, dei leves batidas nas maçãs do meu rosto pra criar uma harmonia simples e confortável, parecendo até que eu era saudável.
"Ok, saia de cabeça erguida, sorria bastante, e não deixe o olhar dentro dos seus olhos, ele percebe de longe quando você chora." Sussurrei pra mim mesma, antes de puxar a porta do banheiro.
Ao me aproximar da mesa, eu percebi que todos estavam entretidos numa conversa, e pareciam não notar meu mal estar. Exceto por , que mantinha o olhar de preocupação.
Eu simplesmente esbocei um sorriso (o melhor que eu pude, no momento), já sentando à mesa.
"Tá tudo bem, ?!" perguntou, olhando pra mim curiosamente, chamando a atenção do grupo.
“É verdade, você saiu meio que apressada.” comentou, erguendo uma sobrancelha. Eu olhei para minhas próprias mãos e ri nervosa.
Vamos lá, você consegue!
"Claro, tá tudo bem, eu só... Tive problemas femininos. Vocês sabem... Aqueles problemas mensais.” Falei, dando de ombros, com o meu inconsciente me chutando horrores.
Um silêncio tomou conta da mesa, e durou por cinco segundos, até que pude ouvir os meninos fazendo caras compreensivas e o até soltou um “eita”, que foi acompanhado por leves risadas.
"Pelo menos você não está grávida." disse, erguendo suas sobrancelhas num movimento rápido, me fazendo rir abertamente e falar:
“Há sempre um motivo para comemorar, não é mesmo?” Dei de ombros, enquanto a galera ria da minha careta.
Pouco a pouco, todos voltavam para suas conversas, mas não passou despercebido o olhar que me deu antes de se virar para , que conversava intensamente sobre planos para a banda.
Eu fingi demência e ignorei o olhar, prestando atenção nas palavras de e comentando animadamente qualquer fato que ele dizia.
Tudo para esconder o caco que eu estava por dentro.
Tudo pra esconder tudo de .
deu carona à todos nós; , que não morava muito longe da sorveteria, ficou pouco tempo na frente. O que fez perguntar à nós três, no banco de trás, quem seria o próximo a sair: eu e . O mesmo foi para o banco da frente e eu e ficamos no de trás.
e começaram um assunto o qual não pude ouvir, pois interveio na hora com uma pergunta curiosa pra cima de mim.
"Vocês são vizinhos?"
"Sim, moramos no mesmo condomínio.” Eu respondi sorrindo levemente “Há dezesseis anos eu o aturo." Terminei minha resposta fazendo uma cara de tortura, e ouvi uma voz no banco da frente me atormentar.
"Eu ouvi isso." disse, fazendo todos no carro rirem.
"A propósito, onde você está morando?!" Eu perguntei, curiosa.
"Eu estou morando na Rua Werneck.” Ele respondeu fazendo uma cara de criança feliz.
"Espera aí.. É aquela que..." De novo fui interrompida pela pessoa sentada no banco passageiro da frente.
"Sim, , é a que fica duas ruas depois da rua do condomínio." respondeu antes que eu pudesse concluir minha resolução genial. Eu ergui a sobrancelha para ele, mas decidi continuar falando com .
"Ah, então quando eu não aguentar mais o mundo a minha volta nem as pessoas do condomínio, eu já sei pra onde correr." Eu brinquei, fazendo rir e responder à minha brincadeira.
"Claro, fique à vontade, lá você sempre será muito bem-vinda. Provavelmente minha mãe ficará bem feliz em saber que tenho velhos amigos por aqui.” E sorriu abertamente, e eu o segui no ato.
"Verdade! Como é que ela tá?"
"Ela está bem, e vai ficar histérica quando eu falar que finalmente tenho uma banda em tão pouco tempo de “casa nova”.” E riu, e eu concordei silenciosamente, sorrindo.
Uma semana havia se passado desde o ensaio do McFly. Consequentemente uma semana havia se passado desde que eu havia reencontrado . E quase todos os dias depois da aula, McFly e , a intrometida, reuniam-se na casa de , para um ensaio de três horas. Depois lanchávamos em qualquer lugar, e o ponto final era sempre na sorveteria do Tio Sam. Gulosos, não é?
e eu nos falávamos cada vez mais, estávamos nos aproximando e descobrindo um no outro uma amizade gigantesca, repleta de tapas, pedalas, piadas e uma confiança em crescimento.
E foi numa dessas famosas e alegres noites, quando eu conversava animadamente com sobre visitar sua casa, que eu mal sabia o que me esperava.
No banco de trás do carro do , estava eu e , no banco da frente, se encontrava (no banco de passageiro) e dirigindo o carro, estava . já havia sido "entregue" à sua casa, e naquele momento, levava e eu para casa.
Na frente, o dono do carro dirigia cantarolando a música antiga que soava do rádio do carro, e junto à , mais pareciam um casal apaixonado.
"Ah, mas eu lembro apenas de uns relances da época do acampamento, eu tenho uma memória meio fraca, admito." Dizia pra mim, o que me fez rir.
"Foi uma época legal..." Eu dizia lembrando das brincadeiras que nos eram dadas.
"Ah, claro! No final, foi aquela choradeira... Eu fiquei realmente triste porque não ia ter mais notícias de você.” Ele comentou, rindo de si mesmo. "Não é que não teríamos notícias de um do outro! Ainda mantemos contato, mas, não era a mesma coisa..." Ele continuou sua fala. "A gente manteve o contato até quando pode." Dei de ombros.
"É, mas poderíamos ter mantido mais. Não só eu e você, mas também todos os outros." Ele agora mantinha o olhar longe de tudo.
"Eu sei, mas sei lá, às vezes, não dá. Ou às vezes o destino nos prega uma surpresa, como essa!" Eu disse, apontando pro , que sorriu abertamente com o meu comentário.
"É, quem sabe, não é?! Talvez não tenha sido à toa entrar na banda, afinal...”
"Como assim?" Eu perguntei, mais por surpresa do que por dúvida.
"Porque de todas as pessoas do acampamento, a única que reencontrei foi você." Ele disse sorrindo.
"Ah, sim... É, você também foi a única pessoa..." Eu disse, pensando alto.
"Naquela época, ela achava que eu gostava de você." Ele disse, olhando pra janela. Eu fiz uma cara de incompreensão, e ele virou o rosto pra mim, rindo da minha cara e murmurou: "Minha mãe. Ela achava que eu gostava de você...Que doidera, né?” Ele disse, corando um pouco, enquanto eu estava um tomate vermelhinho de tanta vergonha.
"Ela estava um pouquinho enganada, não ?!" , perguntou na frente, chamando a atenção de mim e de , para ele, e consequentemente, intervindo/interrompendo a nossa conversa. Como assim, ele estava ouvindo nossa conversa? Fofoqueiro.
"Desculpa, eu não entendi." assumiu sua dúvida ao comentário de .
"Não era exatamente na que você estava interessado, não é mesmo?" Ele disse, sorrindo para , que tinha agora os olhos meio surpresos, seguidos de uma careta sem graça. E eu fui esclarecer melhor as coisas.
"Sim, ele sabe da história, que você ficou com a minha colega." Eu disse sorrindo forçadamente. Já te disse que minhas amigas me dão mais trabalho do que preciso? Pois é, digo novamente.
deu de ombros e comentou:
"Eu estava eufórico, tinha perdido o bv recentemente e ficava com meninas como trocava de cuecas."
"De três em três semanas." , comentou, fazendo com que todo mundo ali risse, quebrando um pouco o gelo.
"Cara, que vacilo, era segredo!" fingiu estar chateado com , o que nos fez rir novamente. "Mas enfim, sim, eu estava ficando com sua amiga, e a minha mãe pensando que eu gostava de você. Eu não era fácil." disse, rindo um pouco de si mesmo. Eu decidi esquecer um pouco daquela época e quebrar o gelo; dava pra sentir uma certa tensão no ar.
"Que coisa, né?! Mães são doidas. A minha pensa um monte de coisas nada a ver também...” Falei rindo, rolando os olhos.
“É mesmo? Tipo o que?” perguntou, curioso. Eu estava prestes a responder, tomando fôlego para falar, quando a pergunta foi respondida por outra pessoa.
“Que eu e a namoramos, por exemplo.” disse olhando pra , sorrindo de forma sarcástica.
Naquele momento fiquei encarando a cara do meu melhor amigo e tentando entender o sorriso. Sério mesmo. Logo isso? Eu nem ia comentar sobre a fissura da minha mãe achar que eu e o namorávamos, eu ia dizer que a minha mãe comia tomates porque dizem que faz bem pra próstata.
Pois é.
Percebeu como eu ansiava por uma mudança drástica de assunto, não é mesmo?
Mas, em resposta ao sorrisinho galanteador-sensual-total de , sorriu de volta pra o mesmo, respondendo.
"É, se a não tivesse me dito anteriormente que está solteira, eu provavelmente teria pensado a mesma coisa! Afinal, vocês são unha e carne." afirmou com a cabeça pra , que deu um sorrisinho, e logo virou a cabeça para frente.
"Mas ao contrário de mim, que é o namoradeiro.” Eu disse, sorrindo de forma triunfante por dentro, tentando, de qualquer maneira, saber o que havia entre ele e Lis.
"Eu sou?" Ele perguntou à mim com os olhos cerrados de dúvida e uma ponta de suspeita pela minha afirmação. Ai, que cínico!
"Ué, você não estava..." Quando eu provavelmente arrancaria alguma coisa, alguém muito esperto interrompe.
"Namorando comigo?" perguntou, fazendo gracinhas. E ali, eu não pude mais continuar com as perguntas incisivas por perder minha coragem...
"Não estava o que, ?" perguntou com a sobrancelha erguida, ignorando a piada de .
"Jurava que você estava de rolo com a Jessy ainda.” Respondi de supetão, lembrando de um dos pseudo-relacionamentos mais longos de , que durou oito meses. Eu sabia que estava falando merda, mas foi a única desculpa esfarrapada para não deixar escancarado que eu queria saber sobre ele e Elise.
“Jessy? De onde você tirou que eu estava de rolo com ela? Isso faz mais de seis meses!” Ele respondeu, fazendo uma cara de "What the fuck?!" pra mim. “E não, não namorávamos... Você sabe disso.” E voltou a olhar pra frente, enquanto só o encarava com cara de tacho.
“Oito meses?! Uau, santo rolo, Batman!” comentou risonho, enquanto me encarava. “E você como amiga, devia ficar mais atenta aos detalhes pra não pisar na bola!” me zoou, dando uma pequena cotovelada em mim, que apenas sorri fracamente.
“Eu devo estar com a cabeça longe mesmo.” E encarei a paisagem janela à fora encerrando o assunto.
Não demorou menos do que alguns minutos até nos deixar no condomínio, onde me despedi de e , acompanhados de um aceno da minha parte e da parte de . Esperamos o carro sair e adentrarmos no condomínio. Seguimos em silêncio a caminhada até a minha casa, como de costume.
Mas o ar entre nós estava desconfortável; a pouca luz do poste iluminava a silhueta de um cabisbaixo, que seguia com suas mãos no bolso da calça e o olhar fixados nas pequenas pedras que seus sapatos teimavam em chutar. Olhei pra mim mesma, e me vi com um pouco de frio demais, tentando me aquecer com os braços, me amaldiçoando por não carregar um casaco e estar usando um short jeans preto azulado, e uma blusa roxa de manga curta.
Meus pensamentos foram interrompidos por duas mãos, cada uma em um ombro meu, depositando um casaco, enorme pra mim, porém aconchegante e quentinho.
"Não precisava, já estamos chegando ao meu bloco.” Eu respondi, me sentindo ainda mais desconfortável falando num clima como aquele que tinha se estabelecido entre eu e . Vi o mesmo dar de ombros, e murmurar.
"Você tava com frio."
"Mesmo assim, obrigada." Eu respondi, sendo sucintamente agradecida por ele. Depois de alguns passos, eu ouvi a voz dele ecoar do meu lado, numa simples palavra.
"Desculpe."
Eu não compreendi, olhei pra ele com a dúvida nos meus olhos, e lhe perguntei:
"Desculpas? Pelo o quê?"
Ele me olhou com um meio sorriso, depois voltou seu olhar para os pés, que agora, se encontravam parados, como eu e ele estávamos agora. Parados.
"Por ter sido chato, por me intrometer na conversa entre você e ... Desculpa."
"Ah. Tudo bem...” Eu respondi, olhando pra frente. Meu coração estava a mil.
“Desculpa por mencionar Jessy.” Eu assumi, dando de ombros. Os oito meses que ficou com ela eram resultados de ficadas fixas, porém conturbadas, que acabaram assim que Jessy começou a namorar outra pessoa. O mesmo cara com quem ela ficou numa festa em que foi acompanhada de . Na época, lembro que meu melhor amigo andava meio incomodado, e como sempre foi muito reservado neste aspecto, eu não insisti muito em palavras, só em abraços e assuntos que os desviassem da pseudo-traição que ele vivenciou.
Mas eram apenas suposições de minha mente, que não tinham algum embasamento concreto em si.
“Tudo bem, eu acho... Você não é obrigada a lembrar de todos os detalhes da minha vida amorosa.” Ele fez uma careta, me despertando de meus pensamentos. Eu sorri forçadamente. Mal sabia ele que eu guardava qualquer informação sobre ele – mesmo que me doesse depois.
"... Por que fez aquilo?” Perguntei, após um momento de silêncio.
Ele me encarou com a cara confusa.
“Você sabe... Bancando o amigo ciumento protetor?” Encarei de volta, me sentindo um pouco envergonhada. Ele suspirou e deu de ombros.
“Não sei, desde que nós tivemos aquela conversa na cozinha do , eu tento ficar de boa, mas... Fico preocupado de você se magoar de novo. Me desculpa se de alguma forma atrapalhou você e ...” E mirou as pedrinhas novamente, enquanto eu arregalei os olhos e questionei.
", do que você tá falando?" Minha voz saiu um pouco esganiçada. me encarou com um sorriso engraçado e me respondeu:
“Sério?” E parou de andar, me olhando nos olhos. “Eu não sou tão idiota de não perceber que ele estava de chaveco contigo, ." E riu levemente.
"CHAVECANDO? Que termo é esse?" Eu ri descontroladamente com aquela expressão ridícula que ele tinha usado. Em que ano ele vivia? Anos 80? “Pior do que a minha expressão antiquada é você não perceber que o estava te dando mole. A semana inteira!” Ele disse, fazendo uma cara esnobe.
"Ele? Me dando mole? Conta outra, !" Eu respondi, dando um tapa de leve no braço dele.
“, ele te chamou pra casa dele. SÓ você. Disse coisas doces e meigas.” fazia caras e bocas ao se referir aos termos e eu ria daquela cena. “Só faltava falar que tinha um casamento à espera de vocês dois." Ele finalizou, rolando os olhos.
“, o só é educado. Ele não especificou que estava apenas me convidando para a casa dele... E outra! Ele é uma pessoa de alto-astral, depois de tanto tempo sem vê-lo, nós estávamos colocando o assunto em dia. Apenas." Eu disse, sendo sincera. Sei lá, não achei que estava me dando mole nem nada.
Foi aí que me toquei: e se ele estivesse? Mas, e daí se ele estivesse? Não justificava as atitudes de .
“, acredite, eu sou homem, reconheço a linguagem da minha própria espécie.” Ele disse, fazendo cara de galanteador, como se fosse um orgulho entender o que o dizia.
“Valeu aí, macho alfa!” E dei um tapa no ombro dele, que me olhou com um sorriso no canto dos lábios. “Tá, digamos que ele esteja me dando mole. E daí?" Eu perguntei, cruzando os braços, olhando pra ele com uma sobrancelha levantada, dando um toque especial na indagação.
“E daí o que?” Ele me encarou, confuso.
“Você vai continuar agindo protetoramente?” Eu indaguei com os olhos semi-cerrados, com um sorrisinho zombeteiro.
Ele ainda tinha as mãos no bolso, porém olhava pra cima, pro céu mergulhado num azul escuro quase preto, onde as estrelas brilhantes se destacavam na imensidão. Eu o ouvi respirar fundo, olhar pro chão novamente, com um sorriso forçado no rosto, me respondendo:
“Eu vou sempre te proteger. Entenda.” E saiu andando.
"Não foi isso que eu perguntei.” Eu falei do meu lugar, e parou estático, ainda de costas pra mim.
“, o cara te magoou há dois anos. Ele ficou com uma amiga sua enquanto você estava desamparada com o divórcio dos seus pais, e ainda por cima gostando dele. Ele não é obrigado a gostar de você ou algo do tipo, mas é importante lembrar que uma coisa não exclui a outra: você pode ser magoada novamente. Consegue me entender agora?”
“Isso é loucura.” Eu comentei, rindo sem humor. “Estamos mesmo considerando tudo isso? Você está mesmo montando guarda alta sem nem saber o que se passa na cabeça ou no coração de ? Quer dizer, a gente nem sabe se ele está me dando mole mesmo! Estamos falando de coisas que podem acontecer ou não, compreende?! Mas, se de fato, você esteja certo sobre ele estar interessado em mim, não quer dizer que vai ser como antes.” Eu respondi, deixando minha mochila no chão pra observar melhor o que estava querendo dizer com aquilo tudo, que não passava mais do que confusão pra mim!
“Nada te garante isso.” Ele disse, me encarando sério.
“A vida não é uma garantia, !” E gesticulei, irritada.
“Eu não estou contra você e sua felicidade, ! Eu só não quero ter que lidar contigo magoada, mais uma vez, pela mesma pessoa!” E retribuiu os gestos exagerados com as mãos, igualmente irritado com aquilo.
"Urgh, ! Eu não estou apaixonada por ele, você fala como se eu tivesse amando o ! Eu não sinto absolutamente nada por ele, ainda mais estando apaixonada por outro cara! E na pior das hipóteses, se eu estivesse gostando dele e ele brincasse comigo, é o seu dever como melhor amigo, aguentar meus choros, porque eu aguento os seus!" Terminei de dizer, apontando o dedo pra ele, o que o fez olhar com raiva pra mim. Aquele olhar me assustou de tal maneira que eu fiz forças pra esconder as minhas lágrimas, que agora, já tinham vontade de pular dos meus olhos.
“Você vai se deixar ser usada, mesmo tendo noção disso?” questionou, sua voz fria e cortante.
“Você sequer está se ouvindo, não é? Sequer está entendendo do que eu falo!” Falei mais alto, rolando os olhos e encarando qualquer coisa que não fosse seu melhor amigo.
“Eu só estou preocupado com você! Mas que merda, isso é tão difícil de entender? E se ele te usar? E se ele não valer porra nenhuma, ? Hein?” E deu passos largos até estar a poucos centímetros de mim, e eu o encarei raivosa.
“A Jessy, no fim das contas, também não valeu nada, e nem por isso eu fui idiota como você está sendo agora!” E falei mais alto, mantendo o olhar no dele.
Ficamos um momento assim, só nos observando, raiva era o sentimento que mais transpassava pelas nossas orbes.
Após baixar o olhar e não dizer nada, eu cruzei os braços e olhei pros lados, tentando controlar o marejado dos meus olhos.
“Você estava feliz com ela, e mesmo depois dela ter te traído na festa do Matt, eu não disse nada... Nenhuma palavra se ela prestava ou não. Porque meu papel acima de tudo era estar lá quando você precisasse!” Na altura do campeonato, algumas lágrimas haviam escapado de meus olhos, mas eu não tremulei a voz um minuto sequer.
Depois de ter dito as palavras que disse, eu peguei minha mochila e o encarei.
"Sempre haverá pessoas com a qual você não se dará bem, ou até mesmo não vá com a sua cara, mesmo que você a conheça por uma semana, como é no caso do . Mas essas mesmas pessoas podem ser importantes pra quem é importante pra você." Eu apontei com a cabeça para , o que o fez desviar do meu olhar por alguns segundos. Porém, logo voltou para o local de origem, quando eu terminei minha fala, apontando pra ele: "Lembre-se disso quando for julgar alguém novamente."
Sair de lá apressadamente era algo quase esperado, ou então, seria capaz de escutar meus soluços, o que pra mim já seria mais do que humilhante. Não olhei pra trás, não queria encarar o rosto dele, não naquele momento.
Se minha mãe não estivesse chocada pelas lágrimas no meu rosto, me daria um esporro real pela hora avançada. Me perguntou se estava tudo bem e eu apenas balbuciei o nome de , e ela fez uma cara de compreensão e me abraçou apertado.
Eu apenas retribuí e ela acariciou minha cabeça, como se soubesse de tudo pela simples resposta que dei.
“Vá tomar um banho e colocar uma roupa quente pra dormir. Amanhã conversamos, se quiser. Tudo bem?”
Eu apenas meneei a cabeça afirmativamente e me dirigi para o meu quarto.
Nunca briguei tão feio com ele, de gritar e trocar olhares ofensivos daquele jeito. É claro, sempre tiveram aquelas típicas briguinhas, mas nunca uma que eu tivesse que gritar na cara dele... Isso me deprimia.
Enquanto a água no chuveiro caía sobre minha cabeça, eu me questionava internamente.
Eu fui muito grossa? Deveria eu ter compreendido que por trás daquela briga, só se encontrava um preocupado comigo, querendo que eu não sofra mais? E o ? O que poderia dizer sobre ele? Ele realmente estava me dando mole? Era ele mau caráter ou um cara legal? Porque eu tô pensando tanto nisso tudo???
Todo esse interrogatório estava me deixando enjoada, então, decidi terminar meu banho. Vesti meu pijama, e logo estava debaixo dos cobertores da minha cama. Peguei o celular, coloquei os fones de ouvido e me encolhi no refrão da música que começou a tocar.
"Am I supposed to be happy?
(Eu deveria ser feliz?)
All I ever wanted it comes with a price
(Tudo que eu sempre quis vem com um preço)
Am I supposed to be happy?
(Eu deveria ser feliz?)
All I ever wanted it comes with a price
(Tudo que eu sempre quis vem com um preço)
You said, you said that you would die for me
(Você disse, você disse que morreria por mim)"
Ao olhar para as minhas roupas jogadas, eu pude perceber o casaco de jogado em cima da minha cadeira do computador. Eu não aguentei.
Levantei, a segurei na altura de meu rosto e inspirei o perfume de meu melhor amigo, o cara que eu gostava tanto.
O choro caiu, como eu caí na cama, agarrada ao casaco, e às esperanças de que aquele inferno não durasse tão mais quanto já estava.
E, ouvindo aquela música de novo, e de novo, eu adormeci, tendo a noção de que os próximos dias seguintes seriam duros. Muito duros.
"Ok, saia de cabeça erguida, sorria bastante, e não deixe o olhar dentro dos seus olhos, ele percebe de longe quando você chora." Sussurrei pra mim mesma, antes de puxar a porta do banheiro.
Ao me aproximar da mesa, eu percebi que todos estavam entretidos numa conversa, e pareciam não notar meu mal estar. Exceto por , que mantinha o olhar de preocupação.
Eu simplesmente esbocei um sorriso (o melhor que eu pude, no momento), já sentando à mesa.
"Tá tudo bem, ?!" perguntou, olhando pra mim curiosamente, chamando a atenção do grupo.
“É verdade, você saiu meio que apressada.” comentou, erguendo uma sobrancelha. Eu olhei para minhas próprias mãos e ri nervosa.
Vamos lá, você consegue!
"Claro, tá tudo bem, eu só... Tive problemas femininos. Vocês sabem... Aqueles problemas mensais.” Falei, dando de ombros, com o meu inconsciente me chutando horrores.
Um silêncio tomou conta da mesa, e durou por cinco segundos, até que pude ouvir os meninos fazendo caras compreensivas e o até soltou um “eita”, que foi acompanhado por leves risadas.
"Pelo menos você não está grávida." disse, erguendo suas sobrancelhas num movimento rápido, me fazendo rir abertamente e falar:
“Há sempre um motivo para comemorar, não é mesmo?” Dei de ombros, enquanto a galera ria da minha careta.
Pouco a pouco, todos voltavam para suas conversas, mas não passou despercebido o olhar que me deu antes de se virar para , que conversava intensamente sobre planos para a banda.
Eu fingi demência e ignorei o olhar, prestando atenção nas palavras de e comentando animadamente qualquer fato que ele dizia.
Tudo para esconder o caco que eu estava por dentro.
Tudo pra esconder tudo de .
deu carona à todos nós; , que não morava muito longe da sorveteria, ficou pouco tempo na frente. O que fez perguntar à nós três, no banco de trás, quem seria o próximo a sair: eu e . O mesmo foi para o banco da frente e eu e ficamos no de trás.
e começaram um assunto o qual não pude ouvir, pois interveio na hora com uma pergunta curiosa pra cima de mim.
"Vocês são vizinhos?"
"Sim, moramos no mesmo condomínio.” Eu respondi sorrindo levemente “Há dezesseis anos eu o aturo." Terminei minha resposta fazendo uma cara de tortura, e ouvi uma voz no banco da frente me atormentar.
"Eu ouvi isso." disse, fazendo todos no carro rirem.
"A propósito, onde você está morando?!" Eu perguntei, curiosa.
"Eu estou morando na Rua Werneck.” Ele respondeu fazendo uma cara de criança feliz.
"Espera aí.. É aquela que..." De novo fui interrompida pela pessoa sentada no banco passageiro da frente.
"Sim, , é a que fica duas ruas depois da rua do condomínio." respondeu antes que eu pudesse concluir minha resolução genial. Eu ergui a sobrancelha para ele, mas decidi continuar falando com .
"Ah, então quando eu não aguentar mais o mundo a minha volta nem as pessoas do condomínio, eu já sei pra onde correr." Eu brinquei, fazendo rir e responder à minha brincadeira.
"Claro, fique à vontade, lá você sempre será muito bem-vinda. Provavelmente minha mãe ficará bem feliz em saber que tenho velhos amigos por aqui.” E sorriu abertamente, e eu o segui no ato.
"Verdade! Como é que ela tá?"
"Ela está bem, e vai ficar histérica quando eu falar que finalmente tenho uma banda em tão pouco tempo de “casa nova”.” E riu, e eu concordei silenciosamente, sorrindo.
Uma semana havia se passado desde o ensaio do McFly. Consequentemente uma semana havia se passado desde que eu havia reencontrado . E quase todos os dias depois da aula, McFly e , a intrometida, reuniam-se na casa de , para um ensaio de três horas. Depois lanchávamos em qualquer lugar, e o ponto final era sempre na sorveteria do Tio Sam. Gulosos, não é?
e eu nos falávamos cada vez mais, estávamos nos aproximando e descobrindo um no outro uma amizade gigantesca, repleta de tapas, pedalas, piadas e uma confiança em crescimento.
E foi numa dessas famosas e alegres noites, quando eu conversava animadamente com sobre visitar sua casa, que eu mal sabia o que me esperava.
No banco de trás do carro do , estava eu e , no banco da frente, se encontrava (no banco de passageiro) e dirigindo o carro, estava . já havia sido "entregue" à sua casa, e naquele momento, levava e eu para casa.
Na frente, o dono do carro dirigia cantarolando a música antiga que soava do rádio do carro, e junto à , mais pareciam um casal apaixonado.
"Ah, mas eu lembro apenas de uns relances da época do acampamento, eu tenho uma memória meio fraca, admito." Dizia pra mim, o que me fez rir.
"Foi uma época legal..." Eu dizia lembrando das brincadeiras que nos eram dadas.
"Ah, claro! No final, foi aquela choradeira... Eu fiquei realmente triste porque não ia ter mais notícias de você.” Ele comentou, rindo de si mesmo. "Não é que não teríamos notícias de um do outro! Ainda mantemos contato, mas, não era a mesma coisa..." Ele continuou sua fala. "A gente manteve o contato até quando pode." Dei de ombros.
"É, mas poderíamos ter mantido mais. Não só eu e você, mas também todos os outros." Ele agora mantinha o olhar longe de tudo.
"Eu sei, mas sei lá, às vezes, não dá. Ou às vezes o destino nos prega uma surpresa, como essa!" Eu disse, apontando pro , que sorriu abertamente com o meu comentário.
"É, quem sabe, não é?! Talvez não tenha sido à toa entrar na banda, afinal...”
"Como assim?" Eu perguntei, mais por surpresa do que por dúvida.
"Porque de todas as pessoas do acampamento, a única que reencontrei foi você." Ele disse sorrindo.
"Ah, sim... É, você também foi a única pessoa..." Eu disse, pensando alto.
"Naquela época, ela achava que eu gostava de você." Ele disse, olhando pra janela. Eu fiz uma cara de incompreensão, e ele virou o rosto pra mim, rindo da minha cara e murmurou: "Minha mãe. Ela achava que eu gostava de você...Que doidera, né?” Ele disse, corando um pouco, enquanto eu estava um tomate vermelhinho de tanta vergonha.
"Ela estava um pouquinho enganada, não ?!" , perguntou na frente, chamando a atenção de mim e de , para ele, e consequentemente, intervindo/interrompendo a nossa conversa. Como assim, ele estava ouvindo nossa conversa? Fofoqueiro.
"Desculpa, eu não entendi." assumiu sua dúvida ao comentário de .
"Não era exatamente na que você estava interessado, não é mesmo?" Ele disse, sorrindo para , que tinha agora os olhos meio surpresos, seguidos de uma careta sem graça. E eu fui esclarecer melhor as coisas.
"Sim, ele sabe da história, que você ficou com a minha colega." Eu disse sorrindo forçadamente. Já te disse que minhas amigas me dão mais trabalho do que preciso? Pois é, digo novamente.
deu de ombros e comentou:
"Eu estava eufórico, tinha perdido o bv recentemente e ficava com meninas como trocava de cuecas."
"De três em três semanas." , comentou, fazendo com que todo mundo ali risse, quebrando um pouco o gelo.
"Cara, que vacilo, era segredo!" fingiu estar chateado com , o que nos fez rir novamente. "Mas enfim, sim, eu estava ficando com sua amiga, e a minha mãe pensando que eu gostava de você. Eu não era fácil." disse, rindo um pouco de si mesmo. Eu decidi esquecer um pouco daquela época e quebrar o gelo; dava pra sentir uma certa tensão no ar.
"Que coisa, né?! Mães são doidas. A minha pensa um monte de coisas nada a ver também...” Falei rindo, rolando os olhos.
“É mesmo? Tipo o que?” perguntou, curioso. Eu estava prestes a responder, tomando fôlego para falar, quando a pergunta foi respondida por outra pessoa.
“Que eu e a namoramos, por exemplo.” disse olhando pra , sorrindo de forma sarcástica.
Naquele momento fiquei encarando a cara do meu melhor amigo e tentando entender o sorriso. Sério mesmo. Logo isso? Eu nem ia comentar sobre a fissura da minha mãe achar que eu e o namorávamos, eu ia dizer que a minha mãe comia tomates porque dizem que faz bem pra próstata.
Pois é.
Percebeu como eu ansiava por uma mudança drástica de assunto, não é mesmo?
Mas, em resposta ao sorrisinho galanteador-sensual-total de , sorriu de volta pra o mesmo, respondendo.
"É, se a não tivesse me dito anteriormente que está solteira, eu provavelmente teria pensado a mesma coisa! Afinal, vocês são unha e carne." afirmou com a cabeça pra , que deu um sorrisinho, e logo virou a cabeça para frente.
"Mas ao contrário de mim, que é o namoradeiro.” Eu disse, sorrindo de forma triunfante por dentro, tentando, de qualquer maneira, saber o que havia entre ele e Lis.
"Eu sou?" Ele perguntou à mim com os olhos cerrados de dúvida e uma ponta de suspeita pela minha afirmação. Ai, que cínico!
"Ué, você não estava..." Quando eu provavelmente arrancaria alguma coisa, alguém muito esperto interrompe.
"Namorando comigo?" perguntou, fazendo gracinhas. E ali, eu não pude mais continuar com as perguntas incisivas por perder minha coragem...
"Não estava o que, ?" perguntou com a sobrancelha erguida, ignorando a piada de .
"Jurava que você estava de rolo com a Jessy ainda.” Respondi de supetão, lembrando de um dos pseudo-relacionamentos mais longos de , que durou oito meses. Eu sabia que estava falando merda, mas foi a única desculpa esfarrapada para não deixar escancarado que eu queria saber sobre ele e Elise.
“Jessy? De onde você tirou que eu estava de rolo com ela? Isso faz mais de seis meses!” Ele respondeu, fazendo uma cara de "What the fuck?!" pra mim. “E não, não namorávamos... Você sabe disso.” E voltou a olhar pra frente, enquanto só o encarava com cara de tacho.
“Oito meses?! Uau, santo rolo, Batman!” comentou risonho, enquanto me encarava. “E você como amiga, devia ficar mais atenta aos detalhes pra não pisar na bola!” me zoou, dando uma pequena cotovelada em mim, que apenas sorri fracamente.
“Eu devo estar com a cabeça longe mesmo.” E encarei a paisagem janela à fora encerrando o assunto.
Não demorou menos do que alguns minutos até nos deixar no condomínio, onde me despedi de e , acompanhados de um aceno da minha parte e da parte de . Esperamos o carro sair e adentrarmos no condomínio. Seguimos em silêncio a caminhada até a minha casa, como de costume.
Mas o ar entre nós estava desconfortável; a pouca luz do poste iluminava a silhueta de um cabisbaixo, que seguia com suas mãos no bolso da calça e o olhar fixados nas pequenas pedras que seus sapatos teimavam em chutar. Olhei pra mim mesma, e me vi com um pouco de frio demais, tentando me aquecer com os braços, me amaldiçoando por não carregar um casaco e estar usando um short jeans preto azulado, e uma blusa roxa de manga curta.
Meus pensamentos foram interrompidos por duas mãos, cada uma em um ombro meu, depositando um casaco, enorme pra mim, porém aconchegante e quentinho.
"Não precisava, já estamos chegando ao meu bloco.” Eu respondi, me sentindo ainda mais desconfortável falando num clima como aquele que tinha se estabelecido entre eu e . Vi o mesmo dar de ombros, e murmurar.
"Você tava com frio."
"Mesmo assim, obrigada." Eu respondi, sendo sucintamente agradecida por ele. Depois de alguns passos, eu ouvi a voz dele ecoar do meu lado, numa simples palavra.
"Desculpe."
Eu não compreendi, olhei pra ele com a dúvida nos meus olhos, e lhe perguntei:
"Desculpas? Pelo o quê?"
Ele me olhou com um meio sorriso, depois voltou seu olhar para os pés, que agora, se encontravam parados, como eu e ele estávamos agora. Parados.
"Por ter sido chato, por me intrometer na conversa entre você e ... Desculpa."
"Ah. Tudo bem...” Eu respondi, olhando pra frente. Meu coração estava a mil.
“Desculpa por mencionar Jessy.” Eu assumi, dando de ombros. Os oito meses que ficou com ela eram resultados de ficadas fixas, porém conturbadas, que acabaram assim que Jessy começou a namorar outra pessoa. O mesmo cara com quem ela ficou numa festa em que foi acompanhada de . Na época, lembro que meu melhor amigo andava meio incomodado, e como sempre foi muito reservado neste aspecto, eu não insisti muito em palavras, só em abraços e assuntos que os desviassem da pseudo-traição que ele vivenciou.
Mas eram apenas suposições de minha mente, que não tinham algum embasamento concreto em si.
“Tudo bem, eu acho... Você não é obrigada a lembrar de todos os detalhes da minha vida amorosa.” Ele fez uma careta, me despertando de meus pensamentos. Eu sorri forçadamente. Mal sabia ele que eu guardava qualquer informação sobre ele – mesmo que me doesse depois.
"... Por que fez aquilo?” Perguntei, após um momento de silêncio.
Ele me encarou com a cara confusa.
“Você sabe... Bancando o amigo ciumento protetor?” Encarei de volta, me sentindo um pouco envergonhada. Ele suspirou e deu de ombros.
“Não sei, desde que nós tivemos aquela conversa na cozinha do , eu tento ficar de boa, mas... Fico preocupado de você se magoar de novo. Me desculpa se de alguma forma atrapalhou você e ...” E mirou as pedrinhas novamente, enquanto eu arregalei os olhos e questionei.
", do que você tá falando?" Minha voz saiu um pouco esganiçada. me encarou com um sorriso engraçado e me respondeu:
“Sério?” E parou de andar, me olhando nos olhos. “Eu não sou tão idiota de não perceber que ele estava de chaveco contigo, ." E riu levemente.
"CHAVECANDO? Que termo é esse?" Eu ri descontroladamente com aquela expressão ridícula que ele tinha usado. Em que ano ele vivia? Anos 80? “Pior do que a minha expressão antiquada é você não perceber que o estava te dando mole. A semana inteira!” Ele disse, fazendo uma cara esnobe.
"Ele? Me dando mole? Conta outra, !" Eu respondi, dando um tapa de leve no braço dele.
“, ele te chamou pra casa dele. SÓ você. Disse coisas doces e meigas.” fazia caras e bocas ao se referir aos termos e eu ria daquela cena. “Só faltava falar que tinha um casamento à espera de vocês dois." Ele finalizou, rolando os olhos.
“, o só é educado. Ele não especificou que estava apenas me convidando para a casa dele... E outra! Ele é uma pessoa de alto-astral, depois de tanto tempo sem vê-lo, nós estávamos colocando o assunto em dia. Apenas." Eu disse, sendo sincera. Sei lá, não achei que estava me dando mole nem nada.
Foi aí que me toquei: e se ele estivesse? Mas, e daí se ele estivesse? Não justificava as atitudes de .
“, acredite, eu sou homem, reconheço a linguagem da minha própria espécie.” Ele disse, fazendo cara de galanteador, como se fosse um orgulho entender o que o dizia.
“Valeu aí, macho alfa!” E dei um tapa no ombro dele, que me olhou com um sorriso no canto dos lábios. “Tá, digamos que ele esteja me dando mole. E daí?" Eu perguntei, cruzando os braços, olhando pra ele com uma sobrancelha levantada, dando um toque especial na indagação.
“E daí o que?” Ele me encarou, confuso.
“Você vai continuar agindo protetoramente?” Eu indaguei com os olhos semi-cerrados, com um sorrisinho zombeteiro.
Ele ainda tinha as mãos no bolso, porém olhava pra cima, pro céu mergulhado num azul escuro quase preto, onde as estrelas brilhantes se destacavam na imensidão. Eu o ouvi respirar fundo, olhar pro chão novamente, com um sorriso forçado no rosto, me respondendo:
“Eu vou sempre te proteger. Entenda.” E saiu andando.
"Não foi isso que eu perguntei.” Eu falei do meu lugar, e parou estático, ainda de costas pra mim.
“, o cara te magoou há dois anos. Ele ficou com uma amiga sua enquanto você estava desamparada com o divórcio dos seus pais, e ainda por cima gostando dele. Ele não é obrigado a gostar de você ou algo do tipo, mas é importante lembrar que uma coisa não exclui a outra: você pode ser magoada novamente. Consegue me entender agora?”
“Isso é loucura.” Eu comentei, rindo sem humor. “Estamos mesmo considerando tudo isso? Você está mesmo montando guarda alta sem nem saber o que se passa na cabeça ou no coração de ? Quer dizer, a gente nem sabe se ele está me dando mole mesmo! Estamos falando de coisas que podem acontecer ou não, compreende?! Mas, se de fato, você esteja certo sobre ele estar interessado em mim, não quer dizer que vai ser como antes.” Eu respondi, deixando minha mochila no chão pra observar melhor o que estava querendo dizer com aquilo tudo, que não passava mais do que confusão pra mim!
“Nada te garante isso.” Ele disse, me encarando sério.
“A vida não é uma garantia, !” E gesticulei, irritada.
“Eu não estou contra você e sua felicidade, ! Eu só não quero ter que lidar contigo magoada, mais uma vez, pela mesma pessoa!” E retribuiu os gestos exagerados com as mãos, igualmente irritado com aquilo.
"Urgh, ! Eu não estou apaixonada por ele, você fala como se eu tivesse amando o ! Eu não sinto absolutamente nada por ele, ainda mais estando apaixonada por outro cara! E na pior das hipóteses, se eu estivesse gostando dele e ele brincasse comigo, é o seu dever como melhor amigo, aguentar meus choros, porque eu aguento os seus!" Terminei de dizer, apontando o dedo pra ele, o que o fez olhar com raiva pra mim. Aquele olhar me assustou de tal maneira que eu fiz forças pra esconder as minhas lágrimas, que agora, já tinham vontade de pular dos meus olhos.
“Você vai se deixar ser usada, mesmo tendo noção disso?” questionou, sua voz fria e cortante.
“Você sequer está se ouvindo, não é? Sequer está entendendo do que eu falo!” Falei mais alto, rolando os olhos e encarando qualquer coisa que não fosse seu melhor amigo.
“Eu só estou preocupado com você! Mas que merda, isso é tão difícil de entender? E se ele te usar? E se ele não valer porra nenhuma, ? Hein?” E deu passos largos até estar a poucos centímetros de mim, e eu o encarei raivosa.
“A Jessy, no fim das contas, também não valeu nada, e nem por isso eu fui idiota como você está sendo agora!” E falei mais alto, mantendo o olhar no dele.
Ficamos um momento assim, só nos observando, raiva era o sentimento que mais transpassava pelas nossas orbes.
Após baixar o olhar e não dizer nada, eu cruzei os braços e olhei pros lados, tentando controlar o marejado dos meus olhos.
“Você estava feliz com ela, e mesmo depois dela ter te traído na festa do Matt, eu não disse nada... Nenhuma palavra se ela prestava ou não. Porque meu papel acima de tudo era estar lá quando você precisasse!” Na altura do campeonato, algumas lágrimas haviam escapado de meus olhos, mas eu não tremulei a voz um minuto sequer.
Depois de ter dito as palavras que disse, eu peguei minha mochila e o encarei.
"Sempre haverá pessoas com a qual você não se dará bem, ou até mesmo não vá com a sua cara, mesmo que você a conheça por uma semana, como é no caso do . Mas essas mesmas pessoas podem ser importantes pra quem é importante pra você." Eu apontei com a cabeça para , o que o fez desviar do meu olhar por alguns segundos. Porém, logo voltou para o local de origem, quando eu terminei minha fala, apontando pra ele: "Lembre-se disso quando for julgar alguém novamente."
Sair de lá apressadamente era algo quase esperado, ou então, seria capaz de escutar meus soluços, o que pra mim já seria mais do que humilhante. Não olhei pra trás, não queria encarar o rosto dele, não naquele momento.
Se minha mãe não estivesse chocada pelas lágrimas no meu rosto, me daria um esporro real pela hora avançada. Me perguntou se estava tudo bem e eu apenas balbuciei o nome de , e ela fez uma cara de compreensão e me abraçou apertado.
Eu apenas retribuí e ela acariciou minha cabeça, como se soubesse de tudo pela simples resposta que dei.
“Vá tomar um banho e colocar uma roupa quente pra dormir. Amanhã conversamos, se quiser. Tudo bem?”
Eu apenas meneei a cabeça afirmativamente e me dirigi para o meu quarto.
Nunca briguei tão feio com ele, de gritar e trocar olhares ofensivos daquele jeito. É claro, sempre tiveram aquelas típicas briguinhas, mas nunca uma que eu tivesse que gritar na cara dele... Isso me deprimia.
Enquanto a água no chuveiro caía sobre minha cabeça, eu me questionava internamente.
Eu fui muito grossa? Deveria eu ter compreendido que por trás daquela briga, só se encontrava um preocupado comigo, querendo que eu não sofra mais? E o ? O que poderia dizer sobre ele? Ele realmente estava me dando mole? Era ele mau caráter ou um cara legal? Porque eu tô pensando tanto nisso tudo???
Todo esse interrogatório estava me deixando enjoada, então, decidi terminar meu banho. Vesti meu pijama, e logo estava debaixo dos cobertores da minha cama. Peguei o celular, coloquei os fones de ouvido e me encolhi no refrão da música que começou a tocar.
(Eu deveria ser feliz?)
All I ever wanted it comes with a price
(Tudo que eu sempre quis vem com um preço)
Am I supposed to be happy?
(Eu deveria ser feliz?)
All I ever wanted it comes with a price
(Tudo que eu sempre quis vem com um preço)
You said, you said that you would die for me
(Você disse, você disse que morreria por mim)"
Ao olhar para as minhas roupas jogadas, eu pude perceber o casaco de jogado em cima da minha cadeira do computador. Eu não aguentei.
Levantei, a segurei na altura de meu rosto e inspirei o perfume de meu melhor amigo, o cara que eu gostava tanto.
O choro caiu, como eu caí na cama, agarrada ao casaco, e às esperanças de que aquele inferno não durasse tão mais quanto já estava.
E, ouvindo aquela música de novo, e de novo, eu adormeci, tendo a noção de que os próximos dias seguintes seriam duros. Muito duros.
Capítulo 6 - We all look like we feel.
Acordei com uma dor de cabeça horrível – resultado de tanto chorar, até dormir.
Eu abri os olhos, encarando o teto, e ainda me acostumando com a claridade, fui levantando meu tronco até sentar na cama e encostar os pés no chão.
Olhei o relógio, eram oito da manhã. Meu celular estava descarregado e por sua vez, não despertou para ir à escola.
Que merda... Minha mãe ia me matar.
“Acordou cedo.” Não morre tão cedo a mulher. Me assustei um pouco com sua voz e coloquei a mão no peito, vendo-a se esgueirar no batente da minha porta.
“Desculpe, mãe. Perdi a hora, meu celular descarreg...” Tentei me explicar, sentindo a voz sair falha.
“Tudo bem, filha.” Oi? Como assim?
Minha mãe entrou no quarto, sentou na beira da cama e acariciou meu rosto.
“Algo me diz que você precisava de um descanso né?” E sorriu docemente, me fazendo acalmar.
Eu simplesmente afirmei com a cabeça, olhando para as minhas mãos, sem saber muito o que falar.
“Eu não preciso que você me diga o que aconteceu. Mas eu te conheço, e sei que foi algo muito intenso para você chegar daquele jeito em casa.” Sua mão me puxou para seu colo, e eu automaticamente deitei a cabeça, me aninhando como fazia quando era criança.
Por incrível que pareça, eu ainda tinha lágrimas para chorar, e elas estavam marejando meu olhar, enquanto as mãos de minha mãe acariciavam meus cabelos.
“Você me deixou preocupada...” E suspirou, dando uma risada nervosa. “Então isso é ter filhos na adolescência, hm?” E eu sorri com seu comentário, enxugando o canto de meus olhos.
“Nós brigamos.” Eu senti minha voz falar, sem pensar duas vezes. “Eu e brigamos, ele...” Nem eu sabia dizer.
“Ele?” Mamãe me encorajou a continuar, e eu não sabia contar ao certo o que aconteceu.
“Não sei nem como aconteceu, só sei que brigamos, falamos coisas que nos magoaram e eu... Estou muito chateada. E triste. Muito triste por tudo isso ter acontecido...” E me encolhi mais no colo dela. “Quer dizer, é o , mãe. Poxa, a gente nunca brigou desse jeito!”
“Há sempre uma primeira vez, filha...” Ela disse, com a voz calma. “Vocês brigaram por que?”
“Sei lá, mãe, é tudo tão confuso!” Exclamei, me sentando na cama e encarando minhas mãos. “Em um momento, tá tudo bem, e no outro, não está!” E bufei, respirando fundo. “Eu estava feliz pela banda, pelo , e por ter reencontrado . Ele é um bom amigo, sabe?” Olhei de volta para minha mãe, que afirmou com a cabeça. “Eu fiquei realmente feliz com isso! Mas, por questões do passado, cisma com algumas coisas que não dá pra entender!” E gesticulei rápido com as mãos, franzindo o cenho. “Ele pensa numas probabilidades, numas situações que não são tão óbvias como ele diz! E a forma como ele fala, beirando ao nojo! Argh!” E soquei o travesseiro, sentindo-me irritada.
Um momento de silêncio e no ambiente só se ouviam minhas respirações.
“Eu não compreendo.” Sussurrei, chorosa, envolvendo meus joelhos com meus braços e apoiando o queixo neles. “Eu não sei, é quase como se estivesse..." "Com ciúmes." Mamãe terminou a frase pra mim.
Eu a encarei de olhos arregalados, e ela sorria de canto.
“Sim! E isso é estranho, sabe? E Por que? Ele insiste em dizer que vai me magoar como fez no passado, mas tem tanta coisa que já não é a mesma! Mãe, eu nem gosto do , pra começo de conversa! E eu nem sei se ele está a fim de mim como diz! E outra, se estiver, ele é uma pessoa super legal, bonito, gente fina... Entende? Eu não vejo motivos pra ele estar com ciúmes." Eu disse, tomando fôlego.
"A não ser que o esteja apaixonado por você." Mamãe disse naturalmente. Eu a encarei de volta, rolando os olhos.
“De novo essa história? Mãe...” Eu bufei, e ela simplesmente deu uma risada rápida, tentando se explicar.
“Por que não?" Mamãe perguntou, parecendo ser a dona da verdade. "Me dê uma única boa razão pra que ele não esteja apaixonado por você?!" E aí foi que eu parei pra pensar. Elise é uma boa razão.
Não é pra mim que ele lança olhares de como se me quisesse, não é pra mim que ele sorri de um jeito especial. Enfim... Não é a mim que ele quer. Porque se quisesse, eu com certeza já teria percebido. E não é só pelo fato de conhecê-lo há dezesseis anos, e, sim, porque eu, acidentalmente, me apaixonei por ele, e toda pessoa em sã consciência apaixonada, repara em tudo o que a pessoa amada faz.
“Mãe...” Eu disse, olhando pra baixo, triste. “Eu não sou a garota por quem o está apaixonado. só está agindo como se fosse um irmão. Só isso. Sendo super protetor, eu acho.” E dei de ombros. Falar em voz alta era mais difícil do que eu pensava.
"Pode ser.” Minha mãe interrompeu o silêncio, cruzando os braços. “Ou pode ser que ele realmente goste de você, e você simplesmente não quer ver isso. Ou não consegue. Agora, os motivos pra não ver, isso eu não sei.”
"Mãe!” Eu disse, respirando fundo. Aquilo não estava fácil “Eu tenho quase certeza de que ele não gosta de mim nem nada disso. Não dessa forma. Ele gosta da Lis. Elise, sabe? Aquela menina que mora aqui no condomínio?" Eu perguntei, ansiando que aquele assunto terminasse e mamãe se desse por convencida. Ela simplesmente riu da minha cara.
“Você acredita mesmo nisso? Que , o nosso , aquele fedelho que ainda cheira a leite pra mim, gosta da Elise?” E me encarou, com a sobrancelha erguida. Eu não sei porque era tão difícil para ela aceitar isso.
“Ela é uma garota legal pro . Ele merece ser feliz, sabe? Se ele realmente gostar dela, e ela dele, eu espero que eles sejam felizes.” Eu disse, dando um pequeno sorriso.
O silêncio dominou de volta meu quarto. Até que minha mãe suspirou e eu a observei fechar os olhos, como quem pensa no que vai dizer e em como o fará.
“Eu fico muito feliz que você pense desse jeito, .” Ela apertou minhas mãos e me olhou seriamente. “Só não deixe de acreditar que você é merecedora de um amor gentil e saudável, ok? Porque você é. Todos somos. Não se ponha mais pra baixo do que o próprio mundo já faz, certo?” E me abraçou.
“Obrigada, mãe.”
“Todos nós somos merecedores de um bom amor. Repita comigo.”
“Todos nós somos merecedores de um bom amor.” Eu a abracei de volta.
“Amor, filha.” Ela segurou meu rosto e olhou nos meus olhos. “Um amor tão digno quanto o que você carrega por .”
Um arrepio de medo desceu pela minha espinha.
Eu a encarei e apenas uma lágrima solitária desceu pelo meu rosto. Antes que alcançasse meu queixo, minha mãe a secou e sorriu genuinamente pra mim.
“Você merece ser feliz. E será. Não se preocupe.” E beijou minha testa, logo depois me abraçando calorosamente.
Eu a apertei em meus braços e me deixei chorar mais ainda. Entre os soluços, pedi que ela não contasse a ninguém sobre aquilo que só eu e ela sabíamos – meus sentimentos por .
“Não sou ninguém para anunciar os sentimentos de outra pessoa. Se há alguém para fazer isso, este alguém é você. Quando, como, e se quiser.” E acariciou minhas costas, num afago bom. “Mas eu aconselharia a dizer. Sempre é bom expressar o que sente. O não você já tem.”
“Não... eu perderia muito mais que um ‘sim’, mãe.” E me encolhi até deitar novamente em seu colo.
“Complicado, não é? Esse negócio de amor...” Ela falou após um momento em silêncio.
“Nem fala, mãe...” E me aninhei mais ainda. “Nem fala.”
Após minha mãe ter ido trabalhar e me deixar ficar em casa, tirei o dia para organizar algumas coisas no quarto, coisas antigas que não mais me contemplavam. Aproveitei pra fazer uma pequena faxina e deixei o player do celular no aleatório, sem realmente querer algo específico para ouvir.
A fome foi maior que a preguiça e para minha alegria, tinha uma lasanha de quatro queijos pronta pra ser esquentada no micro-ondas. Prontamente coloquei dentro do aparelho e quando o mesmo acusou que a comida estava pronta, a campainha de casa tocou.
E foi nesse momento que meu coração disparou.
E se fosse ? E se ele quisesse conversar? E se ele ainda estivesse chateado pelas coisas que eu disse? E se ele quisesse se desculpar pela briga? E se ele quisesse me culpar pela briga? E se isso tudo fosse um engano, e ele só quisesse a porcaria do casaco dele? E se...
Meus pensamentos foram interrompidos pela campainha tocando pela segunda vez. Fall Out Boy ainda estava tocando alto, então eu baixei, mas ainda dava pra escutar os acordes de "Seven Minutes To Heaven" quando abri a porta, me surpreendo quem estava diante de mim.
Não era o atrás do seu casaco ou quaisquer assuntos que ele quisesse tratar comigo. Porque não era o na porta. E sim o .
"!” Ele exclamou parecendo feliz em me ver e logo me puxou para um abraço, no qual eu prontamente retribuí, surpresa. “Você está bem? Senti sua falta hoje e decidi vir te visitar.” Ele parecia bem sincero, e aquilo me fez lembrar da suspeita que tinha sobre estar a fim de mim. Aquilo fez meu interior se agitar, admito.
E não vou negar, gostei de pelo menos alguém se preocupar, sentir minha falta.
“Você... gostaria de entrar?” Perguntei, um pouco sem graça.
“Claro!” E sorrindo, entrou em minha casa.
“Você sabe cozinhar?” Ele perguntou, sentindo o cheiro da lasanha. Eu arregalei os olhos e ri.
“Não, mas o micro-ondas sabe!” E fui indo até a cozinha. “Sente-se, já vou aí.” “Quer se juntar a mim?" Eu perguntei, apontando pra lasanha em minhas mãos, enquanto seguia para a mesa. sorriu abertamente e disse:
“Prometo que não vou ser o monstro esfomeado que você costuma ver.”
Gargalhei alto com aquela afirmação e logo depois de pegar os pratos, talheres e o a limonada suíça que minha mãe adoravelmente deixou pronta pra mim, iniciamos nosso almoço.
Sentados à mesa, me falou como as aulas foram um saco, como de costume, e como ele estava entediado aguardando ansiosamente pelo ensaio do Mcfly. Falamos sobre alguns planos pra banda, conversamos sobre ideias de divulgação e novas composições. Até que me encarou sem dizer nada, enquanto eu tomava meu suco.
O olhei de volta com uma sobrancelha erguida, questionando silenciosamente sua encarada.
"Ok, agora me diga o verdadeiro motivo de você ter faltado à escola hoje." Ele disse, realmente interessado. Eu quase fui capaz de cuspir a limonada na cara do pobre coitado, mas fiz uma força sobrenatural pra engolir e pensar em uma boa resposta que não fosse a verdade.
"Já não disse, ? Meu celular descarregou, não rolou despertador e eu acabei dormindo demais." Eu disse, rindo nervosamente.
"E eu não acredito em você." Ele disse, sorrindo.
“C-Como é?” Eu não queria gaguejar, mas porra, precisava ser tão direto?
“Pelas marcas nos seus olhos, dá pra dizer que aconteceu algo...” Ele praticamente murmurou, mexendo com o garfo no prato já vazio, sem me olhar.
Quando ele mirou diretamente nos meus olhos, eu corei e suspirei, olhando pra baixo.
Demorei um longo período pra me lembrar apenas de respirar. Depois de respirar fundo o suficiente pra manter a calma, ainda olhando para o prato, eu perguntei a ele:
“Porque está aqui?” Perguntei quase sem pensar e ele me encarou confuso e depois riu.
“Eu me importo com você.” Como ele conseguia dizer essas coisas tão naturalmente? Um novo frio na barriga me tomou e eu senti minhas bochechas esquentarem.
“Além do mais...” Ele respirou fundo e coçou o canto da testa, e continuou observando o prato com um olhar pensativo. “Eu percebi como o estava quieto demais, silencioso demais, desligado demais. Eu não sabia por que, mas na hora do intervalo, quando perguntei sobre você à ele, automaticamente me olhou sério, respirou fundo e deu de ombros. E eu estranhei aquilo porque vocês estão sempre juntos, ele saberia do seu paradeiro. Mas não hoje.” E me olhou de volta, atentamente. Não percebi até aquele momento, mas estava prendendo a respiração sem exatamente saber o porquê.
“Enfim...” E deixou o olhar se perder no bordado da toalha de mesa. “Não consegui arrancar mais nada dele porque nessa hora o sinal bateu e ele saiu dando longas passadas de volta para a sala. E aí ao invés de ficar perguntando pelos outros, decidi vir aqui e saber de você por mim mesmo.” E empurrou o prato pra frente, para descansar as mãos unidas. “Mas alguma coisa me diz que sua ausência hoje, tem a ver com o .” E me olhou de volta.
Um silêncio ensurdecedor, e apenas minha mente trabalhando rápido, tentando entender tanta coisa.
Eu dei de ombros e suspirei, cansada.
“São só coisas de amizade. Normal, eu acho.” me devolveu um olhar desconfiado e uma sobrancelha arqueada. “O que?” Eu questionei, me fazendo de idiota.
"Vai entender vocês dois...” E riu levemente, dobrando o guardanapo em várias partes, distraidamente. “Desculpe por parecer intrujão. Eu só conheço o há uma semana. E você... Bem, eu venho conhecendo a madura há uma semana também. Pessoas mudam.”
"Algumas coisas nunca mudam, ." Eu disse, voando mentalmente, na briga que tive com o ontem.
"...” Ele disse, olhando pra mim sério. “Eu não quero saber porque você e ele brigaram. Não é do meu dever saber das brigas entre você e o , eu sei. Não tenho nada a ver com isso. Mas quero que saiba...” E segurou minhas mãos num aperto firme. “Que eu tenho um grande carinho por você e me importo. Então, se precisar, conte comigo.” Ele disse, com um sorriso no canto do rosto, o que me fez automaticamente sorrir também.
"Obrigada, .” Eu disse, realmente agradecida por ele se preocupar. “Você também pode contar comigo, você sabe...” E ele acenou positivamente com a cabeça, me observando.
“Sobre , vai passar.” Dei de ombros, olhando para as nossas mãos unidas. “É que nunca tínhamos brigado de uma forma como esta, sabe?" Eu disse, fazendo uma careta de dor, o qual respondeu com um aceno com a cabeça. "Isso meio que me deixou surpreendentemente triste, porque eu e ele sempre fomos muito unidos. E muito sinceros um com o outro, enfim... Nunca foi desta forma. Mas isso vai passar.” E o observei de volta. “Mas é sério, meu celular realmente arriou a bateria e não despertou. Acabei perdendo a aula.” E juntos, rimos brevemente do meu desfecho.
“E eu vim interromper seu momento de tranquilidade e reflexão com a minha curiosidade idiota.” bateu na própria testa. "Desculpa, ." Ele disse, se desculpando. Eu ri novamente.
"Não há problemas, você sabe.” Eu disse sorrindo pra ele, que me devolveu o sorriso.
Depois de termos almoçado, e lavado a louça, pegou sua mochila e se virou para mim, sorridente.
"É muito bom estar aqui com você, , e saber que você está bem, MAS... " Ele disse, já se encaminhando pra porta. “Eu tenho um ensaio a fazer. Tem certeza de que não vai?” Ele perguntou, esperançoso, acompanhando com o olhar, eu me apoiei na parede perto da porta e suspirei.
“Tenho, . Hoje eu quero ficar só.” Respondi, deixando um olhar triste pairar no chão, olhando para os meus pés descalços.
"Ok, . Eu te entendo. Prometo não te perturbar mais com isso. Mas, você vai amanhã a aula, e sem desculpas, mocinha! Nem que eu tenha que ligar pro seu celular seis e meia da manhã pra você acordar e ir pra aula, está entendido isso?" Ele disse, fazendo uma careta psycho. Eu ri daquilo.
"Entendido, Senhor ." Eu disse, batendo continência e rimos juntos.
As risadas foram cessando e nossos olhares se encontraram. ficou me observando por algum tempo e eu devolvi o olhar, curiosa sobre o que se passava em sua mente.
"Se cuida, pequena.” E sorriu, sem mostrar os dentes, me dando um abraço apertado. “E amanhã a gente se vê.”
“Isso.” E o envolvi em meus braços, e me peguei inspirando mais profundamente o ar em seu pescoço, sentindo seu cheiro.
Não era o mesmo de Tom, mas era bom... Era muito bom.
Ficamos um tempo abraçados, e aos poucos desfizemos o entrelace. segurou minhas mãos e as apertou brevemente, antes de soltá-la e fazer menção de abrir a porta.
“Oh não! Deixa que eu abro. Pra você voltar.” Respondi a primeira coisa que veio a mente, alcançando a maçaneta e abrindo a porta. riu de meu comentário.
“Espero voltar em breve.” E sorriu, com as bochechas levemente coradas.
“Sempre que quiser.” Retribuí o sorriso, e ele acenou com a cabeça, caminhando porta a fora.
Quando a fechei e tranquei, deixei meu corpo escorregar até parar sentada no chão, pensando em tudo que tinha acontecido.
Abracei meus joelhos e apoiei o queixo nos braços, pensando em como seria o beijo de .
Me surpreendi em pensar aquilo, mas não poderia evitar; e se as teorias de estivessem certas e estivesse a fim de mim? Mas e se ele estivesse só a fim de brincar comigo? Ele seria capaz de ser tão hipócrita ao ponto de vir aqui saber porque faltei à aula?
Sei lá né, vai entender a cabeça alheia!
Passei o dia refletindo sobre tudo isso e mais um pouco: as reações de , de , as falas, as situações.
Estava com a cabeça cheia quando de repente, voltando do mercadinho em frente ao meu condomínio, o destino bateu à minha porta. Ou melhor, no portão de entrada.
"!" Ela exclamou, parecendo feliz em me ver. Que pena que não era recíproco. "Como você tá, amor?" Ela perguntou, ainda segurando o portão pra mim.
"Lis!" Eu fingi o mesmo entusiasmo dela. "Eu to bem, e você?" Perguntei, não tendo lá muito interesse pela resposta.
"Ah, tô indo, né?! Cabeça erguida sempre." Ela disse, dando um pequeno sorriso. Isso pareceu uma fala de alguém que estava na vala e tentava ver o lado bom da vida. É, todos nós sangramos igualmente.
"Idem!” Eu fiquei curiosa com a resposta dela, mas tentei não transparecer. "Mas e aí, o que você conta?!"
"Nada, ... Escola, casa, amigos, família... Nada demais. E você, o que conta?" "Nada, também." Eu disse, honestamente desapontada por ela não abrir o bico sobre o e ela. Talvez porque não tivesse nada pra falar. Ou talvez porque ela fosse mais de guardar as coisas pra ela do que pensei.
“Acho que tá todo mundo meio quebrado hoje, né? Eu, você, ...” Opa, peraí! “?” Eu indaguei mais rápido do que meu cérebro foi capaz de processar.
“Sim.” Ela respondeu, sorridente. “Ele acabou de entrar no prédio dele. Se eu não tivesse acenado praticamente na sua cara, ele não teria me visto. Estava desligado que só!” Aquela notícia fez com que uma pontada surgisse no peito e eu franzi o cenho. “Tá tudo bem, ?” Lis percebeu pela minha feição e eu tratei de disfarçar.
“Ah sim! É que essa sacola tá pesada!” Respondi a primeira coisa que veio na mente.
“Ah, tudo bem então! Não vou ficar te prendendo aqui, desculpa... Eu falo muito” E riu sozinha. “Bem, então vou indo. Depois a gente se fala, sim?”
“Claro...” Respondi levemente, vendo-a ir embora.
Subi até minha casa travando uma briga interna, pensando se deveria ou não ir até .
Ele havia dito tanta coisa idiota!
Mas eu também disse coisas que provavelmente o magoaram.
Que raiva! Eu não sabia o que fazer.
Respirei fundo após sair do banho – pensei que o mesmo me ajudaria a pensar, mas na verdade a angústia de não falar com o foi a única coisa que ficou mais nítido que tudo.
Era isso. Eu ia engolir meu orgulho e ir lá falar com ele.
Mesmo que isso não desse certo, eu tentaria resolver as coisas entre nós.
Vesti um vestido simples de casa, florido, e calcei as sandálias. Peguei seu casaco e me encaminhei para a porta de casa.
E foi exatamente quando eu abri que me deparei com ele. Parado e pronto pra apertar a campainha quando eu já estava abrindo a porta.
Ele me olhou surpreso, ligeiramente assustado. E acho que nossos olhares foram recíprocos.
"." Eu sussurrei.
"." Ele sussurrou, com a voz realmente fraca.
Era a hora.
"Entra, ." Eu disse, corando e olhando pra baixo. Também estava com vergonha de encará-lo.
"Filha, quem é que... " Minha mãe entrava na sala com um livro nas mãos e o óculos nos olhos, quando viu . "Ah. Oi, ." Minha mãe cumprimentou-o com um sorriso, o que o fez retribuir o gesto.
"Oi, tia." Ele disse, dando o mesmo meio sorriso que havia me dado anteriormente.
"Hm... Ok, se precisarem de mim..." Mamãe disse, já voltando para o quarto. “Estarei lá em cima." E subiu as escadas com um sorriso no rosto.
"Hm, então, quer alguma coisa pra beber? Ou comer?" Eu perguntei, tentando quebrar o gelo.
"Não, valeu... Comi no ." Ele respondeu com um rápido sorriso nos lábios, sem mostrar os dentes.
Eu comecei a caminhar para a varanda, sentindo que seguia meus passos. Era bem óbvio que conversaríamos sobre o que havia acontecido no dia anterior, então, se fosse pra conversar, que fosse num lugar onde eu me sinta confortável.
“Desde quando tem comida na casa do ?" Eu perguntei, já sentando no chão.
“Eu disse que eu comi na casa dele..." Ele também se sentava, com as pernas cruzadas. “Não que na casa dele tivesse comida para comer.” E riu, ainda desconfortável.
Era bem óbvio que ele estava se esforçando ao máximo pra fazer com que tudo parecesse simples. Só que nada é tão simples quando se trata de alguma coisa que valha a pena.
"Ah, sim." Eu disse, olhando pros meus pés descalços.
Foi quando uma coisa estranha aconteceu...
"Olha , eu queria..."
"Eu vim aqui porque..."
E nós dois dissemos em uníssono, o que fez com que nos olhássemos nos olhos, pela primeira vez naquele dia, e, logo em seguida, soltássemos uma risada nervosa que estava sufocada pelo ar desconfortável que pairava sobre nós.
“Que situação...” Eu sussurrei.
“Embaraçosa.” Ele completou, coçando a nuca.
“Me desculpa, .” Falei de uma vez, olhando-o nos olhos e atraindo sua atenção. Ele me encarava surpreso. “Eu...” E minha fala foi cortada por sua voz, decidida.
"Não." Ele disse, e eu franzi o cenho, até que ele segui falando. “Eu é que tenho que pedir desculpas." Ele disse, com arrependimento na voz.
"Você?!" Eu perguntei, encarando-o surpresa.
"Sim. Eu preciso pedir desculpas. Você tem toda razão, ." Ele dizia, agora, pegando na minha mão e olhando intensamente pra mim, o que me fez ruborizar.
“Não é da minha conta com quem você fica ou deixa de ficar. Ou namorar, que seja. Não é da minha conta." Ele deu de ombros, brincando com os dedos da minha mão. "E se não é da minha conta, eu não deveria ter dito todas aquelas coisas que disse pra você ontem." Ele balbuciou, ainda envergonhado, voltando seu olhar para o all star. "É só que..." Ele levantou a cabeça rapidamente pra olhar a paisagem da varanda. “Eu não quero te ver magoada por causa de ninguém, entende?" Ele assumiu sua preocupação, franzindo a testa, por causa do reflexo do pôr-do-sol em seu rosto.
"..." Eu disse, sem reação.
“Não, .” Ele fez sinal de “pare” com a mão, e eu me calei. “Eu preciso me corrigir nisso aqui. Eu errei, não percebe? Além de ter me intrometido em um assunto que não tem nada a ver comigo... Eu falei mal do , sabe? E eu não deveria ter feito isso, porque por mais que eu queira te proteger de tudo, o não é uma pessoa ruim. E você tem toda a razão, eu julguei o , falei que ele não prestava e tudo mais... Mas não é verdade." disse, respirando rapidamente e gesticulando, com a testa franzida. Ele estava com raiva de si.
“Eu sei.” Respondi levemente, encarando-o com compaixão.
“E sabe o que é o pior? Eu tinha a intenção de proteger de qualquer dor e acabei causando uma maior. Isso não faz sentido, não sou eu, sabe?” E socou uma mão na outra, visivelmente chateado com a situação. “Eu não poderia ter feito nem dito isso tudo. Eu posso sim me preocupar com você, mas isso pode ser feito de outro jeito. Sem atacar as pessoas. Sem ferir você.” E me encarou com os olhos intensos. O meu olhar marejado o admirou e ali, naquele momento tão único, eu percebia porque amava aquele garoto.
Ele era tão ele, tão . O meu ! Aquele rapaz ali, quase um homem, que enfrentava a situação, por mais difícil que ela fosse, e era fiel aos seus princípios, e lutava pelas pessoas que amava.
E eu era grata por ser uma delas, mesmo não sendo do jeito que eu gostaria. O amor de por mim, ainda que fraternal, era belo e carinhoso. Me alegrava e protegia, mesmo que cometesse erros como a nossa briga.
Eu o abracei apertado, enlaçando seu pescoço com meus braços e deixando minhas lágrimas descerem, silenciosas.
Como eu amava esse cara!
“Obrigada, .” Eu falei, com a boca roçando acidentalmente no seu pescoço pelo movimento da fala. Seus braços estavam em volta de minha cintura, tão firmes como os meus em seu pescoço.
“Pelo que?” Ele respondeu após algum tempo de silêncio.
“Por ser você.” E afastei meu rosto para olhá-lo, sorrindo levemente. Balancei a cabeça negativamente, enquanto acariciava seu rosto. “Você é tão idiotamente você, e mesmo assim eu não me vejo sem você ao meu lado.”
me encarou com os olhos brilhando, arregalados, e um sorriso bobo nos lábios.
“Você não perde uma chance de me chamar de idiota, não é?” E rimos juntos, nos abraçando novamente apertado.
“Nunca.” Eu respondi, me sentindo aliviada.
Parti o abraço, me sentando em sua frente e segurando suas mãos.
“Eu também peço desculpas pelas grosserias desnecessárias. Você sabe, eu só tinha uma mensagem com aquilo tudo.”
“Eu sei.” apertou minha mão, com o olhar doído. “Não precisava ser desse jeito, não é?” E eu confirmei com a cabeça.
“Desculpa mesmo, . Não poderia julgá-lo, nem nada... Ainda mais porque ele não é nada do que eu disse. Ele é super legal, e vocês se conhecem há um tempo, ele se mostrou um bom amigo num momento delicado seu...” E deu de ombros. “Eu exagerei, desnecessariamente.” E me sorriu sem graça. “E isso tudo, sem contar que..." Ele disse, ruborizando, de repente, para a minha surpresa.
"Sem contar o quê?" Eu perguntei, realmente ansiosa pela resposta. Que foi o que mais me surpreendeu naquele final de tarde.
"Sem contar que você fica mais alegre na presença dele." Ele disse, finalmente depositando seus olhos sobre mim.
"Hã?!"
"Você fica mais alegre na presença de ." Ele afirmou, sorrindo com uma certa dificuldade. "Ele te faz bem, não percebe? Não que você não se sinta à vontade com os outros... Mas com o , especialmente com ele, é diferente." Ele disse, olhando pra mim como se quisesse decifrar um enigma.
"Diferente como?!" Eu ainda estava desnorteada pela constatação explicitada.
"Não consigo explicar direito." Ele assumiu, soltando minhas mãos e cruzando os braços, encarando o chão pensativo. "Vocês realmente se conhecem há muito tempo. Agem como se um período de dois anos fosse simplesmente quatro horas entre vocês. A amizade de vocês soa tão natural quanto a nossa. E isso, eu admito, me assusta." Ele disse, olhando pra mim com um pequeno sorriso no rosto. Meu Deus, o tava com medo do tomar o lugar dele de melhor amigo? É isso mesmo?
"Então, o que você está me dizendo é que a minha amizade com o é tão natural e intensa, que você tem medo dele roubar seu lugar?" Eu falei, olhando para cima, achando o pensamento dele estupidamente ridículo.
"Mais ou menos isso." Ele disse, assumindo sua opinião. "Tirando o fato de que ele quer colocar a língua dele na sua boca, é claro." Ele terminou de dizer, rolando os olhos.
"!" Eu disse, ainda muito surpresa com aquela confissão dele. "Isso é absolutamente ridículo da sua parte!" Eu exclamei, fazendo com que me olhasse surpreso. Acho que ridículo era a última palavra que ele esperava que eu dissesse. "Você é meu melhor amigo há 18 anos! Ninguém vai roubar seu lugar!" Eu disse, fazendo uma cara óbvia, o que fez rir um pouco, pelo menos.
"Eu sei, eu posso parecer meio idiota, pensando assim..." Ele assumiu sua idiotice, coçando sua nuca.
"MEIO?!" Eu exclamei. "Totalmente idiota, senhor !" Eu disse, colocando o dedo na cara dele e a mão na cintura. "Fique sabendo que não há nem possibilidades remotas de alguém nesta face da Terra substituir o lugar que o senhor ocupa na minha vida!” Eu terminei, indignada pelo seu pensamento.
"Você não sabe como fico tranquilo de ouvir isso!" Ele disse, sorrindo, verdadeiramente pela primeira vez desde que nos encontramos na minha porta. "E eu quero que você saiba que a recíproca é verdadeira!" Ele disse, risonho.
“Mas é sério...” Ele continuou, balançando as pernas de uma maneira ansiosa. “Eu não sei o que pode acontecer entre você e o , mas o fato é: seja lá o que for, que te faça feliz. E, por favor, perdoa a minha enorme e vazia cabeça de bagre. Por ser tão idiota ao ponto de brigar com você, que era a última coisa que eu pretendia fazer.” E suspirou, me olhando triste.
"Tudo bem, . Mas não julgue as pessoas novamente só porque você pretende me proteger, tá bem?” Perguntei e ele afirmou com a cabeça, envergonhado. “E eu também peço desculpas por ter mencionado a Jessy. Eu não deveria ter feito isso em primeiro lugar. Eu sei que sempre que se fala no nome dela, você se sente magoado e tal, e eu, como sua melhor amiga, não deveria..." Eu fui interrompida pela fala de .
"Mas eu mereci." Ele disse, olhando pra mim com uma pequena e singela cara de dor. "Quer dizer, é claro que ninguém merece ser lembrado de algo que doi, de que foi traído, mas... Eu realmente mereci, . Mereci que alguém me parasse, que me fizesse pensar que merda era aquela que eu estava fazendo. E você encontrou essa possibilidade ao mencionar Jessy.” Ele disse, fazendo uma cara de tédio. “Dói falar dela porque eu realmente gostei dela. Mas me enganei profundamente. E isso infelizmente faz parte. Conta como aprendizagem.”
"Que é...?" Eu perguntei.
"Saiba mais com quem você se relaciona. Aprenda a distinguir pessoas de pessoas. Eu aprendi que nem todo mundo é...” E se calou, ao olhar pra mim. Riu levemente, e olhou para o céu azul, após o pôr-do-sol. “Nem todo mundo é especial.”
"Você já encontrou alguém especial?" Eu perguntei quase inconscientemente.
“Eu não sei... Eu acho, talvez.” E assim, disse as palavras que tornariam minha vida um inferno dali pra frente. "Mas não acho que ela me veja desse jeito, entende?! Assim, do mesmo jeito que eu a vejo. E o mais engraçado, é que eu percebi isso há pouco tempo.” Ele terminou de dizer algumas 'curiosidades' sobre encontrar a garota certa pra ele. Mas eu não me importava nem ouvia o que ele dizia, pois eu senti o chão sumir abaixo dos meus pés depois que eu pensei na Lis.
Afinal, tudo se encaixava: há pouco tempo, ele começou a agir diferente com ela, como se quisesse alguma coisa a mais do que amizade (pelo menos a forma como ele a olha é diferente da forma como ele me olha); o fato dele estar muito mais apegado a ela do que nunca esteve antes... E outras coisas que passavam como um filme na minha cabeça. Um filme que só parou de passar no momento que eu ouvi ele dizer:
"? ? Você está me ouvindo?"
"Hã?" Eu perguntei, olhando pra ele. "Ah, oi, desculpa, eu viajei aqui." Eu disse, forçando um sorriso.
"Ah. Tá. Mas enfim, é isso, eu acho que ela não sente a mesma coisa que eu. Mas não tem problema, eu espero o tempo que for." Ele disse, querendo parecer herói por esperar por uma garota que aparentemente não queria nada com ele.
Então era fato: meu melhor amigo (e o cara por quem estou apaixonada) gosta de uma 'amiga' minha, que, por incrível que pareça, me considera uma grande amiga. Como se nada fosse melhor do que isso.
E isso é super legal. Não.
Tentando – eu disse tentando – parecer normal, eu simplesmente sorri forçadamente com a confissão de que o coração de já tinha dona.
"Bom, ." Eu disse, com a cara feliz mais falsa do mundo. "Eu espero que você realmente consiga ser feliz." E foi somente isso que consegui dizer, preferindo abraça-lo e enterrar minha cara em seu peito, escondendo as lágrimas.
"Obrigada, ." Ele respondeu, sorridente, me abraçando de volta e fazendo carinho em minha cabeça. "Também espero a mesma coisa pra você."
Ser feliz... Será que eu conseguiria?
Eu abri os olhos, encarando o teto, e ainda me acostumando com a claridade, fui levantando meu tronco até sentar na cama e encostar os pés no chão.
Olhei o relógio, eram oito da manhã. Meu celular estava descarregado e por sua vez, não despertou para ir à escola.
Que merda... Minha mãe ia me matar.
“Acordou cedo.” Não morre tão cedo a mulher. Me assustei um pouco com sua voz e coloquei a mão no peito, vendo-a se esgueirar no batente da minha porta.
“Desculpe, mãe. Perdi a hora, meu celular descarreg...” Tentei me explicar, sentindo a voz sair falha.
“Tudo bem, filha.” Oi? Como assim?
Minha mãe entrou no quarto, sentou na beira da cama e acariciou meu rosto.
“Algo me diz que você precisava de um descanso né?” E sorriu docemente, me fazendo acalmar.
Eu simplesmente afirmei com a cabeça, olhando para as minhas mãos, sem saber muito o que falar.
“Eu não preciso que você me diga o que aconteceu. Mas eu te conheço, e sei que foi algo muito intenso para você chegar daquele jeito em casa.” Sua mão me puxou para seu colo, e eu automaticamente deitei a cabeça, me aninhando como fazia quando era criança.
Por incrível que pareça, eu ainda tinha lágrimas para chorar, e elas estavam marejando meu olhar, enquanto as mãos de minha mãe acariciavam meus cabelos.
“Você me deixou preocupada...” E suspirou, dando uma risada nervosa. “Então isso é ter filhos na adolescência, hm?” E eu sorri com seu comentário, enxugando o canto de meus olhos.
“Nós brigamos.” Eu senti minha voz falar, sem pensar duas vezes. “Eu e brigamos, ele...” Nem eu sabia dizer.
“Ele?” Mamãe me encorajou a continuar, e eu não sabia contar ao certo o que aconteceu.
“Não sei nem como aconteceu, só sei que brigamos, falamos coisas que nos magoaram e eu... Estou muito chateada. E triste. Muito triste por tudo isso ter acontecido...” E me encolhi mais no colo dela. “Quer dizer, é o , mãe. Poxa, a gente nunca brigou desse jeito!”
“Há sempre uma primeira vez, filha...” Ela disse, com a voz calma. “Vocês brigaram por que?”
“Sei lá, mãe, é tudo tão confuso!” Exclamei, me sentando na cama e encarando minhas mãos. “Em um momento, tá tudo bem, e no outro, não está!” E bufei, respirando fundo. “Eu estava feliz pela banda, pelo , e por ter reencontrado . Ele é um bom amigo, sabe?” Olhei de volta para minha mãe, que afirmou com a cabeça. “Eu fiquei realmente feliz com isso! Mas, por questões do passado, cisma com algumas coisas que não dá pra entender!” E gesticulei rápido com as mãos, franzindo o cenho. “Ele pensa numas probabilidades, numas situações que não são tão óbvias como ele diz! E a forma como ele fala, beirando ao nojo! Argh!” E soquei o travesseiro, sentindo-me irritada.
Um momento de silêncio e no ambiente só se ouviam minhas respirações.
“Eu não compreendo.” Sussurrei, chorosa, envolvendo meus joelhos com meus braços e apoiando o queixo neles. “Eu não sei, é quase como se estivesse..." "Com ciúmes." Mamãe terminou a frase pra mim.
Eu a encarei de olhos arregalados, e ela sorria de canto.
“Sim! E isso é estranho, sabe? E Por que? Ele insiste em dizer que vai me magoar como fez no passado, mas tem tanta coisa que já não é a mesma! Mãe, eu nem gosto do , pra começo de conversa! E eu nem sei se ele está a fim de mim como diz! E outra, se estiver, ele é uma pessoa super legal, bonito, gente fina... Entende? Eu não vejo motivos pra ele estar com ciúmes." Eu disse, tomando fôlego.
"A não ser que o esteja apaixonado por você." Mamãe disse naturalmente. Eu a encarei de volta, rolando os olhos.
“De novo essa história? Mãe...” Eu bufei, e ela simplesmente deu uma risada rápida, tentando se explicar.
“Por que não?" Mamãe perguntou, parecendo ser a dona da verdade. "Me dê uma única boa razão pra que ele não esteja apaixonado por você?!" E aí foi que eu parei pra pensar. Elise é uma boa razão.
Não é pra mim que ele lança olhares de como se me quisesse, não é pra mim que ele sorri de um jeito especial. Enfim... Não é a mim que ele quer. Porque se quisesse, eu com certeza já teria percebido. E não é só pelo fato de conhecê-lo há dezesseis anos, e, sim, porque eu, acidentalmente, me apaixonei por ele, e toda pessoa em sã consciência apaixonada, repara em tudo o que a pessoa amada faz.
“Mãe...” Eu disse, olhando pra baixo, triste. “Eu não sou a garota por quem o está apaixonado. só está agindo como se fosse um irmão. Só isso. Sendo super protetor, eu acho.” E dei de ombros. Falar em voz alta era mais difícil do que eu pensava.
"Pode ser.” Minha mãe interrompeu o silêncio, cruzando os braços. “Ou pode ser que ele realmente goste de você, e você simplesmente não quer ver isso. Ou não consegue. Agora, os motivos pra não ver, isso eu não sei.”
"Mãe!” Eu disse, respirando fundo. Aquilo não estava fácil “Eu tenho quase certeza de que ele não gosta de mim nem nada disso. Não dessa forma. Ele gosta da Lis. Elise, sabe? Aquela menina que mora aqui no condomínio?" Eu perguntei, ansiando que aquele assunto terminasse e mamãe se desse por convencida. Ela simplesmente riu da minha cara.
“Você acredita mesmo nisso? Que , o nosso , aquele fedelho que ainda cheira a leite pra mim, gosta da Elise?” E me encarou, com a sobrancelha erguida. Eu não sei porque era tão difícil para ela aceitar isso.
“Ela é uma garota legal pro . Ele merece ser feliz, sabe? Se ele realmente gostar dela, e ela dele, eu espero que eles sejam felizes.” Eu disse, dando um pequeno sorriso.
O silêncio dominou de volta meu quarto. Até que minha mãe suspirou e eu a observei fechar os olhos, como quem pensa no que vai dizer e em como o fará.
“Eu fico muito feliz que você pense desse jeito, .” Ela apertou minhas mãos e me olhou seriamente. “Só não deixe de acreditar que você é merecedora de um amor gentil e saudável, ok? Porque você é. Todos somos. Não se ponha mais pra baixo do que o próprio mundo já faz, certo?” E me abraçou.
“Obrigada, mãe.”
“Todos nós somos merecedores de um bom amor. Repita comigo.”
“Todos nós somos merecedores de um bom amor.” Eu a abracei de volta.
“Amor, filha.” Ela segurou meu rosto e olhou nos meus olhos. “Um amor tão digno quanto o que você carrega por .”
Um arrepio de medo desceu pela minha espinha.
Eu a encarei e apenas uma lágrima solitária desceu pelo meu rosto. Antes que alcançasse meu queixo, minha mãe a secou e sorriu genuinamente pra mim.
“Você merece ser feliz. E será. Não se preocupe.” E beijou minha testa, logo depois me abraçando calorosamente.
Eu a apertei em meus braços e me deixei chorar mais ainda. Entre os soluços, pedi que ela não contasse a ninguém sobre aquilo que só eu e ela sabíamos – meus sentimentos por .
“Não sou ninguém para anunciar os sentimentos de outra pessoa. Se há alguém para fazer isso, este alguém é você. Quando, como, e se quiser.” E acariciou minhas costas, num afago bom. “Mas eu aconselharia a dizer. Sempre é bom expressar o que sente. O não você já tem.”
“Não... eu perderia muito mais que um ‘sim’, mãe.” E me encolhi até deitar novamente em seu colo.
“Complicado, não é? Esse negócio de amor...” Ela falou após um momento em silêncio.
“Nem fala, mãe...” E me aninhei mais ainda. “Nem fala.”
Após minha mãe ter ido trabalhar e me deixar ficar em casa, tirei o dia para organizar algumas coisas no quarto, coisas antigas que não mais me contemplavam. Aproveitei pra fazer uma pequena faxina e deixei o player do celular no aleatório, sem realmente querer algo específico para ouvir.
A fome foi maior que a preguiça e para minha alegria, tinha uma lasanha de quatro queijos pronta pra ser esquentada no micro-ondas. Prontamente coloquei dentro do aparelho e quando o mesmo acusou que a comida estava pronta, a campainha de casa tocou.
E foi nesse momento que meu coração disparou.
E se fosse ? E se ele quisesse conversar? E se ele ainda estivesse chateado pelas coisas que eu disse? E se ele quisesse se desculpar pela briga? E se ele quisesse me culpar pela briga? E se isso tudo fosse um engano, e ele só quisesse a porcaria do casaco dele? E se...
Meus pensamentos foram interrompidos pela campainha tocando pela segunda vez. Fall Out Boy ainda estava tocando alto, então eu baixei, mas ainda dava pra escutar os acordes de "Seven Minutes To Heaven" quando abri a porta, me surpreendo quem estava diante de mim.
Não era o atrás do seu casaco ou quaisquer assuntos que ele quisesse tratar comigo. Porque não era o na porta. E sim o .
"!” Ele exclamou parecendo feliz em me ver e logo me puxou para um abraço, no qual eu prontamente retribuí, surpresa. “Você está bem? Senti sua falta hoje e decidi vir te visitar.” Ele parecia bem sincero, e aquilo me fez lembrar da suspeita que tinha sobre estar a fim de mim. Aquilo fez meu interior se agitar, admito.
E não vou negar, gostei de pelo menos alguém se preocupar, sentir minha falta.
“Você... gostaria de entrar?” Perguntei, um pouco sem graça.
“Claro!” E sorrindo, entrou em minha casa.
“Você sabe cozinhar?” Ele perguntou, sentindo o cheiro da lasanha. Eu arregalei os olhos e ri.
“Não, mas o micro-ondas sabe!” E fui indo até a cozinha. “Sente-se, já vou aí.” “Quer se juntar a mim?" Eu perguntei, apontando pra lasanha em minhas mãos, enquanto seguia para a mesa. sorriu abertamente e disse:
“Prometo que não vou ser o monstro esfomeado que você costuma ver.”
Gargalhei alto com aquela afirmação e logo depois de pegar os pratos, talheres e o a limonada suíça que minha mãe adoravelmente deixou pronta pra mim, iniciamos nosso almoço.
Sentados à mesa, me falou como as aulas foram um saco, como de costume, e como ele estava entediado aguardando ansiosamente pelo ensaio do Mcfly. Falamos sobre alguns planos pra banda, conversamos sobre ideias de divulgação e novas composições. Até que me encarou sem dizer nada, enquanto eu tomava meu suco.
O olhei de volta com uma sobrancelha erguida, questionando silenciosamente sua encarada.
"Ok, agora me diga o verdadeiro motivo de você ter faltado à escola hoje." Ele disse, realmente interessado. Eu quase fui capaz de cuspir a limonada na cara do pobre coitado, mas fiz uma força sobrenatural pra engolir e pensar em uma boa resposta que não fosse a verdade.
"Já não disse, ? Meu celular descarregou, não rolou despertador e eu acabei dormindo demais." Eu disse, rindo nervosamente.
"E eu não acredito em você." Ele disse, sorrindo.
“C-Como é?” Eu não queria gaguejar, mas porra, precisava ser tão direto?
“Pelas marcas nos seus olhos, dá pra dizer que aconteceu algo...” Ele praticamente murmurou, mexendo com o garfo no prato já vazio, sem me olhar.
Quando ele mirou diretamente nos meus olhos, eu corei e suspirei, olhando pra baixo.
Demorei um longo período pra me lembrar apenas de respirar. Depois de respirar fundo o suficiente pra manter a calma, ainda olhando para o prato, eu perguntei a ele:
“Porque está aqui?” Perguntei quase sem pensar e ele me encarou confuso e depois riu.
“Eu me importo com você.” Como ele conseguia dizer essas coisas tão naturalmente? Um novo frio na barriga me tomou e eu senti minhas bochechas esquentarem.
“Além do mais...” Ele respirou fundo e coçou o canto da testa, e continuou observando o prato com um olhar pensativo. “Eu percebi como o estava quieto demais, silencioso demais, desligado demais. Eu não sabia por que, mas na hora do intervalo, quando perguntei sobre você à ele, automaticamente me olhou sério, respirou fundo e deu de ombros. E eu estranhei aquilo porque vocês estão sempre juntos, ele saberia do seu paradeiro. Mas não hoje.” E me olhou de volta, atentamente. Não percebi até aquele momento, mas estava prendendo a respiração sem exatamente saber o porquê.
“Enfim...” E deixou o olhar se perder no bordado da toalha de mesa. “Não consegui arrancar mais nada dele porque nessa hora o sinal bateu e ele saiu dando longas passadas de volta para a sala. E aí ao invés de ficar perguntando pelos outros, decidi vir aqui e saber de você por mim mesmo.” E empurrou o prato pra frente, para descansar as mãos unidas. “Mas alguma coisa me diz que sua ausência hoje, tem a ver com o .” E me olhou de volta.
Um silêncio ensurdecedor, e apenas minha mente trabalhando rápido, tentando entender tanta coisa.
Eu dei de ombros e suspirei, cansada.
“São só coisas de amizade. Normal, eu acho.” me devolveu um olhar desconfiado e uma sobrancelha arqueada. “O que?” Eu questionei, me fazendo de idiota.
"Vai entender vocês dois...” E riu levemente, dobrando o guardanapo em várias partes, distraidamente. “Desculpe por parecer intrujão. Eu só conheço o há uma semana. E você... Bem, eu venho conhecendo a madura há uma semana também. Pessoas mudam.”
"Algumas coisas nunca mudam, ." Eu disse, voando mentalmente, na briga que tive com o ontem.
"...” Ele disse, olhando pra mim sério. “Eu não quero saber porque você e ele brigaram. Não é do meu dever saber das brigas entre você e o , eu sei. Não tenho nada a ver com isso. Mas quero que saiba...” E segurou minhas mãos num aperto firme. “Que eu tenho um grande carinho por você e me importo. Então, se precisar, conte comigo.” Ele disse, com um sorriso no canto do rosto, o que me fez automaticamente sorrir também.
"Obrigada, .” Eu disse, realmente agradecida por ele se preocupar. “Você também pode contar comigo, você sabe...” E ele acenou positivamente com a cabeça, me observando.
“Sobre , vai passar.” Dei de ombros, olhando para as nossas mãos unidas. “É que nunca tínhamos brigado de uma forma como esta, sabe?" Eu disse, fazendo uma careta de dor, o qual respondeu com um aceno com a cabeça. "Isso meio que me deixou surpreendentemente triste, porque eu e ele sempre fomos muito unidos. E muito sinceros um com o outro, enfim... Nunca foi desta forma. Mas isso vai passar.” E o observei de volta. “Mas é sério, meu celular realmente arriou a bateria e não despertou. Acabei perdendo a aula.” E juntos, rimos brevemente do meu desfecho.
“E eu vim interromper seu momento de tranquilidade e reflexão com a minha curiosidade idiota.” bateu na própria testa. "Desculpa, ." Ele disse, se desculpando. Eu ri novamente.
"Não há problemas, você sabe.” Eu disse sorrindo pra ele, que me devolveu o sorriso.
Depois de termos almoçado, e lavado a louça, pegou sua mochila e se virou para mim, sorridente.
"É muito bom estar aqui com você, , e saber que você está bem, MAS... " Ele disse, já se encaminhando pra porta. “Eu tenho um ensaio a fazer. Tem certeza de que não vai?” Ele perguntou, esperançoso, acompanhando com o olhar, eu me apoiei na parede perto da porta e suspirei.
“Tenho, . Hoje eu quero ficar só.” Respondi, deixando um olhar triste pairar no chão, olhando para os meus pés descalços.
"Ok, . Eu te entendo. Prometo não te perturbar mais com isso. Mas, você vai amanhã a aula, e sem desculpas, mocinha! Nem que eu tenha que ligar pro seu celular seis e meia da manhã pra você acordar e ir pra aula, está entendido isso?" Ele disse, fazendo uma careta psycho. Eu ri daquilo.
"Entendido, Senhor ." Eu disse, batendo continência e rimos juntos.
As risadas foram cessando e nossos olhares se encontraram. ficou me observando por algum tempo e eu devolvi o olhar, curiosa sobre o que se passava em sua mente.
"Se cuida, pequena.” E sorriu, sem mostrar os dentes, me dando um abraço apertado. “E amanhã a gente se vê.”
“Isso.” E o envolvi em meus braços, e me peguei inspirando mais profundamente o ar em seu pescoço, sentindo seu cheiro.
Não era o mesmo de Tom, mas era bom... Era muito bom.
Ficamos um tempo abraçados, e aos poucos desfizemos o entrelace. segurou minhas mãos e as apertou brevemente, antes de soltá-la e fazer menção de abrir a porta.
“Oh não! Deixa que eu abro. Pra você voltar.” Respondi a primeira coisa que veio a mente, alcançando a maçaneta e abrindo a porta. riu de meu comentário.
“Espero voltar em breve.” E sorriu, com as bochechas levemente coradas.
“Sempre que quiser.” Retribuí o sorriso, e ele acenou com a cabeça, caminhando porta a fora.
Quando a fechei e tranquei, deixei meu corpo escorregar até parar sentada no chão, pensando em tudo que tinha acontecido.
Abracei meus joelhos e apoiei o queixo nos braços, pensando em como seria o beijo de .
Me surpreendi em pensar aquilo, mas não poderia evitar; e se as teorias de estivessem certas e estivesse a fim de mim? Mas e se ele estivesse só a fim de brincar comigo? Ele seria capaz de ser tão hipócrita ao ponto de vir aqui saber porque faltei à aula?
Sei lá né, vai entender a cabeça alheia!
Passei o dia refletindo sobre tudo isso e mais um pouco: as reações de , de , as falas, as situações.
Estava com a cabeça cheia quando de repente, voltando do mercadinho em frente ao meu condomínio, o destino bateu à minha porta. Ou melhor, no portão de entrada.
"!" Ela exclamou, parecendo feliz em me ver. Que pena que não era recíproco. "Como você tá, amor?" Ela perguntou, ainda segurando o portão pra mim.
"Lis!" Eu fingi o mesmo entusiasmo dela. "Eu to bem, e você?" Perguntei, não tendo lá muito interesse pela resposta.
"Ah, tô indo, né?! Cabeça erguida sempre." Ela disse, dando um pequeno sorriso. Isso pareceu uma fala de alguém que estava na vala e tentava ver o lado bom da vida. É, todos nós sangramos igualmente.
"Idem!” Eu fiquei curiosa com a resposta dela, mas tentei não transparecer. "Mas e aí, o que você conta?!"
"Nada, ... Escola, casa, amigos, família... Nada demais. E você, o que conta?" "Nada, também." Eu disse, honestamente desapontada por ela não abrir o bico sobre o e ela. Talvez porque não tivesse nada pra falar. Ou talvez porque ela fosse mais de guardar as coisas pra ela do que pensei.
“Acho que tá todo mundo meio quebrado hoje, né? Eu, você, ...” Opa, peraí! “?” Eu indaguei mais rápido do que meu cérebro foi capaz de processar.
“Sim.” Ela respondeu, sorridente. “Ele acabou de entrar no prédio dele. Se eu não tivesse acenado praticamente na sua cara, ele não teria me visto. Estava desligado que só!” Aquela notícia fez com que uma pontada surgisse no peito e eu franzi o cenho. “Tá tudo bem, ?” Lis percebeu pela minha feição e eu tratei de disfarçar.
“Ah sim! É que essa sacola tá pesada!” Respondi a primeira coisa que veio na mente.
“Ah, tudo bem então! Não vou ficar te prendendo aqui, desculpa... Eu falo muito” E riu sozinha. “Bem, então vou indo. Depois a gente se fala, sim?”
“Claro...” Respondi levemente, vendo-a ir embora.
Subi até minha casa travando uma briga interna, pensando se deveria ou não ir até .
Ele havia dito tanta coisa idiota!
Mas eu também disse coisas que provavelmente o magoaram.
Que raiva! Eu não sabia o que fazer.
Respirei fundo após sair do banho – pensei que o mesmo me ajudaria a pensar, mas na verdade a angústia de não falar com o foi a única coisa que ficou mais nítido que tudo.
Era isso. Eu ia engolir meu orgulho e ir lá falar com ele.
Mesmo que isso não desse certo, eu tentaria resolver as coisas entre nós.
Vesti um vestido simples de casa, florido, e calcei as sandálias. Peguei seu casaco e me encaminhei para a porta de casa.
E foi exatamente quando eu abri que me deparei com ele. Parado e pronto pra apertar a campainha quando eu já estava abrindo a porta.
Ele me olhou surpreso, ligeiramente assustado. E acho que nossos olhares foram recíprocos.
"." Eu sussurrei.
"." Ele sussurrou, com a voz realmente fraca.
Era a hora.
"Entra, ." Eu disse, corando e olhando pra baixo. Também estava com vergonha de encará-lo.
"Filha, quem é que... " Minha mãe entrava na sala com um livro nas mãos e o óculos nos olhos, quando viu . "Ah. Oi, ." Minha mãe cumprimentou-o com um sorriso, o que o fez retribuir o gesto.
"Oi, tia." Ele disse, dando o mesmo meio sorriso que havia me dado anteriormente.
"Hm... Ok, se precisarem de mim..." Mamãe disse, já voltando para o quarto. “Estarei lá em cima." E subiu as escadas com um sorriso no rosto.
"Hm, então, quer alguma coisa pra beber? Ou comer?" Eu perguntei, tentando quebrar o gelo.
"Não, valeu... Comi no ." Ele respondeu com um rápido sorriso nos lábios, sem mostrar os dentes.
Eu comecei a caminhar para a varanda, sentindo que seguia meus passos. Era bem óbvio que conversaríamos sobre o que havia acontecido no dia anterior, então, se fosse pra conversar, que fosse num lugar onde eu me sinta confortável.
“Desde quando tem comida na casa do ?" Eu perguntei, já sentando no chão.
“Eu disse que eu comi na casa dele..." Ele também se sentava, com as pernas cruzadas. “Não que na casa dele tivesse comida para comer.” E riu, ainda desconfortável.
Era bem óbvio que ele estava se esforçando ao máximo pra fazer com que tudo parecesse simples. Só que nada é tão simples quando se trata de alguma coisa que valha a pena.
"Ah, sim." Eu disse, olhando pros meus pés descalços.
Foi quando uma coisa estranha aconteceu...
"Olha , eu queria..."
"Eu vim aqui porque..."
E nós dois dissemos em uníssono, o que fez com que nos olhássemos nos olhos, pela primeira vez naquele dia, e, logo em seguida, soltássemos uma risada nervosa que estava sufocada pelo ar desconfortável que pairava sobre nós.
“Que situação...” Eu sussurrei.
“Embaraçosa.” Ele completou, coçando a nuca.
“Me desculpa, .” Falei de uma vez, olhando-o nos olhos e atraindo sua atenção. Ele me encarava surpreso. “Eu...” E minha fala foi cortada por sua voz, decidida.
"Não." Ele disse, e eu franzi o cenho, até que ele segui falando. “Eu é que tenho que pedir desculpas." Ele disse, com arrependimento na voz.
"Você?!" Eu perguntei, encarando-o surpresa.
"Sim. Eu preciso pedir desculpas. Você tem toda razão, ." Ele dizia, agora, pegando na minha mão e olhando intensamente pra mim, o que me fez ruborizar.
“Não é da minha conta com quem você fica ou deixa de ficar. Ou namorar, que seja. Não é da minha conta." Ele deu de ombros, brincando com os dedos da minha mão. "E se não é da minha conta, eu não deveria ter dito todas aquelas coisas que disse pra você ontem." Ele balbuciou, ainda envergonhado, voltando seu olhar para o all star. "É só que..." Ele levantou a cabeça rapidamente pra olhar a paisagem da varanda. “Eu não quero te ver magoada por causa de ninguém, entende?" Ele assumiu sua preocupação, franzindo a testa, por causa do reflexo do pôr-do-sol em seu rosto.
"..." Eu disse, sem reação.
“Não, .” Ele fez sinal de “pare” com a mão, e eu me calei. “Eu preciso me corrigir nisso aqui. Eu errei, não percebe? Além de ter me intrometido em um assunto que não tem nada a ver comigo... Eu falei mal do , sabe? E eu não deveria ter feito isso, porque por mais que eu queira te proteger de tudo, o não é uma pessoa ruim. E você tem toda a razão, eu julguei o , falei que ele não prestava e tudo mais... Mas não é verdade." disse, respirando rapidamente e gesticulando, com a testa franzida. Ele estava com raiva de si.
“Eu sei.” Respondi levemente, encarando-o com compaixão.
“E sabe o que é o pior? Eu tinha a intenção de proteger de qualquer dor e acabei causando uma maior. Isso não faz sentido, não sou eu, sabe?” E socou uma mão na outra, visivelmente chateado com a situação. “Eu não poderia ter feito nem dito isso tudo. Eu posso sim me preocupar com você, mas isso pode ser feito de outro jeito. Sem atacar as pessoas. Sem ferir você.” E me encarou com os olhos intensos. O meu olhar marejado o admirou e ali, naquele momento tão único, eu percebia porque amava aquele garoto.
Ele era tão ele, tão . O meu ! Aquele rapaz ali, quase um homem, que enfrentava a situação, por mais difícil que ela fosse, e era fiel aos seus princípios, e lutava pelas pessoas que amava.
E eu era grata por ser uma delas, mesmo não sendo do jeito que eu gostaria. O amor de por mim, ainda que fraternal, era belo e carinhoso. Me alegrava e protegia, mesmo que cometesse erros como a nossa briga.
Eu o abracei apertado, enlaçando seu pescoço com meus braços e deixando minhas lágrimas descerem, silenciosas.
Como eu amava esse cara!
“Obrigada, .” Eu falei, com a boca roçando acidentalmente no seu pescoço pelo movimento da fala. Seus braços estavam em volta de minha cintura, tão firmes como os meus em seu pescoço.
“Pelo que?” Ele respondeu após algum tempo de silêncio.
“Por ser você.” E afastei meu rosto para olhá-lo, sorrindo levemente. Balancei a cabeça negativamente, enquanto acariciava seu rosto. “Você é tão idiotamente você, e mesmo assim eu não me vejo sem você ao meu lado.”
me encarou com os olhos brilhando, arregalados, e um sorriso bobo nos lábios.
“Você não perde uma chance de me chamar de idiota, não é?” E rimos juntos, nos abraçando novamente apertado.
“Nunca.” Eu respondi, me sentindo aliviada.
Parti o abraço, me sentando em sua frente e segurando suas mãos.
“Eu também peço desculpas pelas grosserias desnecessárias. Você sabe, eu só tinha uma mensagem com aquilo tudo.”
“Eu sei.” apertou minha mão, com o olhar doído. “Não precisava ser desse jeito, não é?” E eu confirmei com a cabeça.
“Desculpa mesmo, . Não poderia julgá-lo, nem nada... Ainda mais porque ele não é nada do que eu disse. Ele é super legal, e vocês se conhecem há um tempo, ele se mostrou um bom amigo num momento delicado seu...” E deu de ombros. “Eu exagerei, desnecessariamente.” E me sorriu sem graça. “E isso tudo, sem contar que..." Ele disse, ruborizando, de repente, para a minha surpresa.
"Sem contar o quê?" Eu perguntei, realmente ansiosa pela resposta. Que foi o que mais me surpreendeu naquele final de tarde.
"Sem contar que você fica mais alegre na presença dele." Ele disse, finalmente depositando seus olhos sobre mim.
"Hã?!"
"Você fica mais alegre na presença de ." Ele afirmou, sorrindo com uma certa dificuldade. "Ele te faz bem, não percebe? Não que você não se sinta à vontade com os outros... Mas com o , especialmente com ele, é diferente." Ele disse, olhando pra mim como se quisesse decifrar um enigma.
"Diferente como?!" Eu ainda estava desnorteada pela constatação explicitada.
"Não consigo explicar direito." Ele assumiu, soltando minhas mãos e cruzando os braços, encarando o chão pensativo. "Vocês realmente se conhecem há muito tempo. Agem como se um período de dois anos fosse simplesmente quatro horas entre vocês. A amizade de vocês soa tão natural quanto a nossa. E isso, eu admito, me assusta." Ele disse, olhando pra mim com um pequeno sorriso no rosto. Meu Deus, o tava com medo do tomar o lugar dele de melhor amigo? É isso mesmo?
"Então, o que você está me dizendo é que a minha amizade com o é tão natural e intensa, que você tem medo dele roubar seu lugar?" Eu falei, olhando para cima, achando o pensamento dele estupidamente ridículo.
"Mais ou menos isso." Ele disse, assumindo sua opinião. "Tirando o fato de que ele quer colocar a língua dele na sua boca, é claro." Ele terminou de dizer, rolando os olhos.
"!" Eu disse, ainda muito surpresa com aquela confissão dele. "Isso é absolutamente ridículo da sua parte!" Eu exclamei, fazendo com que me olhasse surpreso. Acho que ridículo era a última palavra que ele esperava que eu dissesse. "Você é meu melhor amigo há 18 anos! Ninguém vai roubar seu lugar!" Eu disse, fazendo uma cara óbvia, o que fez rir um pouco, pelo menos.
"Eu sei, eu posso parecer meio idiota, pensando assim..." Ele assumiu sua idiotice, coçando sua nuca.
"MEIO?!" Eu exclamei. "Totalmente idiota, senhor !" Eu disse, colocando o dedo na cara dele e a mão na cintura. "Fique sabendo que não há nem possibilidades remotas de alguém nesta face da Terra substituir o lugar que o senhor ocupa na minha vida!” Eu terminei, indignada pelo seu pensamento.
"Você não sabe como fico tranquilo de ouvir isso!" Ele disse, sorrindo, verdadeiramente pela primeira vez desde que nos encontramos na minha porta. "E eu quero que você saiba que a recíproca é verdadeira!" Ele disse, risonho.
“Mas é sério...” Ele continuou, balançando as pernas de uma maneira ansiosa. “Eu não sei o que pode acontecer entre você e o , mas o fato é: seja lá o que for, que te faça feliz. E, por favor, perdoa a minha enorme e vazia cabeça de bagre. Por ser tão idiota ao ponto de brigar com você, que era a última coisa que eu pretendia fazer.” E suspirou, me olhando triste.
"Tudo bem, . Mas não julgue as pessoas novamente só porque você pretende me proteger, tá bem?” Perguntei e ele afirmou com a cabeça, envergonhado. “E eu também peço desculpas por ter mencionado a Jessy. Eu não deveria ter feito isso em primeiro lugar. Eu sei que sempre que se fala no nome dela, você se sente magoado e tal, e eu, como sua melhor amiga, não deveria..." Eu fui interrompida pela fala de .
"Mas eu mereci." Ele disse, olhando pra mim com uma pequena e singela cara de dor. "Quer dizer, é claro que ninguém merece ser lembrado de algo que doi, de que foi traído, mas... Eu realmente mereci, . Mereci que alguém me parasse, que me fizesse pensar que merda era aquela que eu estava fazendo. E você encontrou essa possibilidade ao mencionar Jessy.” Ele disse, fazendo uma cara de tédio. “Dói falar dela porque eu realmente gostei dela. Mas me enganei profundamente. E isso infelizmente faz parte. Conta como aprendizagem.”
"Que é...?" Eu perguntei.
"Saiba mais com quem você se relaciona. Aprenda a distinguir pessoas de pessoas. Eu aprendi que nem todo mundo é...” E se calou, ao olhar pra mim. Riu levemente, e olhou para o céu azul, após o pôr-do-sol. “Nem todo mundo é especial.”
"Você já encontrou alguém especial?" Eu perguntei quase inconscientemente.
“Eu não sei... Eu acho, talvez.” E assim, disse as palavras que tornariam minha vida um inferno dali pra frente. "Mas não acho que ela me veja desse jeito, entende?! Assim, do mesmo jeito que eu a vejo. E o mais engraçado, é que eu percebi isso há pouco tempo.” Ele terminou de dizer algumas 'curiosidades' sobre encontrar a garota certa pra ele. Mas eu não me importava nem ouvia o que ele dizia, pois eu senti o chão sumir abaixo dos meus pés depois que eu pensei na Lis.
Afinal, tudo se encaixava: há pouco tempo, ele começou a agir diferente com ela, como se quisesse alguma coisa a mais do que amizade (pelo menos a forma como ele a olha é diferente da forma como ele me olha); o fato dele estar muito mais apegado a ela do que nunca esteve antes... E outras coisas que passavam como um filme na minha cabeça. Um filme que só parou de passar no momento que eu ouvi ele dizer:
"? ? Você está me ouvindo?"
"Hã?" Eu perguntei, olhando pra ele. "Ah, oi, desculpa, eu viajei aqui." Eu disse, forçando um sorriso.
"Ah. Tá. Mas enfim, é isso, eu acho que ela não sente a mesma coisa que eu. Mas não tem problema, eu espero o tempo que for." Ele disse, querendo parecer herói por esperar por uma garota que aparentemente não queria nada com ele.
Então era fato: meu melhor amigo (e o cara por quem estou apaixonada) gosta de uma 'amiga' minha, que, por incrível que pareça, me considera uma grande amiga. Como se nada fosse melhor do que isso.
E isso é super legal. Não.
Tentando – eu disse tentando – parecer normal, eu simplesmente sorri forçadamente com a confissão de que o coração de já tinha dona.
"Bom, ." Eu disse, com a cara feliz mais falsa do mundo. "Eu espero que você realmente consiga ser feliz." E foi somente isso que consegui dizer, preferindo abraça-lo e enterrar minha cara em seu peito, escondendo as lágrimas.
"Obrigada, ." Ele respondeu, sorridente, me abraçando de volta e fazendo carinho em minha cabeça. "Também espero a mesma coisa pra você."
Ser feliz... Será que eu conseguiria?
Capítulo 7 - Your gravity is making me dizzy.
Naquela noite não consegui dormir nadinha. Nada mesmo. Motivo? Simplesmente pelo fato de ficar relembrando da conversa que tive com o .
Era muito estranho, porque uma parte de mim estava muito feliz de que eu e ele tivéssemos feito as pazes e tal – sim, isso é bom – porém, outra parte de mim não conseguia parar de pensar no que ele havia dito sobre ter encontrado a garota certa pra ele.
Eu não conseguia desviar meus pensamentos pra alguma outra coisa que não fosse isso. O que estava me irritando profundamente.
Estava com a cabeça tão avoada que quase me atrasei para a escola. Só deu tempo de passar correndo pelo portão, já ouvindo o sinal soar. Entrei na sala pedindo desculpas para a professora de Literatura, que me deu um sorriso agradável e perdoou o pequeno atraso.
Sentei num canto escondido, querendo me isolar do mundo e de todos. As palavras de fizeram mais efeito do que eu imaginava, e mesmo digerindo ao longo dos tempos a ideia de que gostava de outra pessoa, ouvir isso dele era totalmente diferente. E disso eu não sabia – aliás, estava descobrindo naquele momento o quão delicado era.
"No Modernismo, na primeira fase, temos como principais escritores, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira. Particularmente, meu gosto se torna maior quando se é mencionado às obras de Manuel Bandeira. 'Estrela da Manhã' me fascinou pela primeira vez que li, mas, pra vocês terem uma noção dos textos de Bandeira, leiam silenciosamente o poema 'Vou-me embora pra Pasárgada' e alguns trechos de outros poemas do mesmo autor. E respondam às questões da página 37, sem pestanejar, ouviram?”
Sem ter muito pra onde correr, segui as orientações da professora, começando a ler os poemas.
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames.
Quando a teus pés um homem terno e curvo
Jurar amor, chorar pranto de sangue.
Não creias, não mulher, ele engana!
As lágrimas são gal da mentira
E o juramento manto da perfídia."
(Joaquim M. de Macedo)
“Perfídia? O que é isso?” Indaguei mais alto do que imaginava, e para minha surpresa, uma voz que eu conhecia me respondeu.
“Infidelidade, traição. Tem que lembrar de trazer o dicionário, viu ?”
Meus olhos se arregalaram e eu olhei pra trás, com a boca aberta num “O” e uma sensação de felicidade me dominou.
“! É você mesmo?” Eu exclamei, obtendo um pedido de silêncio da professora. Fiz gestos de desculpa e tornei a me virar para minha amiga, a quem não via há anos! “Meu Deus, você está linda!” E sussurrei, dando um abraço desengonçado, ainda sentada. riu da minha euforia.
“Você nem me reconheceu quando chegou, hein? Que absurdo!” Ela sussurrou de volta, fingindo chateação e eu dei de ombros.
“Eu cheguei feito um foguete. E você está muito mudada! Os cabelos estão mais longos, você parece estar mais alta e agora se parece mais com a sua mãe.” E sorri, ternamente. Ela me retribuiu o sorriso, mas o mesmo morreu quando a professora chamou nossa atenção.
“Não é em dupla! Por favor, hein gente!” E eu a olhei com dó e me virei pra frente, prometendo silenciosamente que nos falaríamos melhor no intervalo.
Felizmente o tempo passou rápido e quando dei por mim, estávamos colocando o papo em dia num cantinho afastado do refeitório, num gramado ali perto.
Costumávamos fazer isso quando mais novas.
“Quando você chegou?” Perguntei animadamente.
“Ontem à noite.” Ela respondeu, e eu fiz cara de indignada. “Eu sei, eu sei! Eu quis fazer surpresa, não se chateie, estressadinha.” E rimos juntas.
“Você realmente me surpreendeu.” E dei um peteleco em seu braço, sorrindo de lado. “Dessa vez você veio para ficar?” Eu perguntei, esperançosa. já havia estudado anos atrás nesta escola, mas precisou se mudar devido ao emprego do pai. Éramos boas amigas naquela época e eu senti muito sua falta, faziam três anos desde que ela tinha ido embora. E agora, no meio de tanta coisa acontecendo na minha vida, era ótimo ter uma boa amiga de volta.
“Eu acho que sim, . Quer dizer, é quase certo que sim. E eu também não quero sair daqui, sabe? De todos os lugares que meu pai trabalhou, aqui foi o que mais consegui manter contato com as amizades. Estou realmente cansada de me adaptar as coisas novas. E dessa vez, minha mãe também bateu o pé, dizendo que quer ficar aqui. Fico com pena de meu pai, porque sei que é o emprego dele, mas... Enfim.” E deu de ombros. “Espero que não seja uma transferência temporária.”
“Vamos torcer, . Quem sabe, né?” E apertei sua mão num carinho acolhedor, e sorri levemente. Ela me sorriu de volta, suspirando.
Após um momento de silêncio, ela me perguntou:
“Mas e aí, me conta as novidades! Aliás, por onde anda o...”
"GATCHEEEEENHA!" Eu ouvi alguém gritar ao longe. Eu e olhamos na direção da voz e rimos com a cena. vinha correndo na direção de , que levantou rapidamente e abraçou o amigo, num aperto saudoso.
“Meu Deus, como você tá um homemzinho, !” Ela exclamou, segurando o rosto do amigo nas mãos, que ria sem graça do elogio.
“Assim você me deixa encabulado, mulher.” respondeu, coçando a nuca envergonhado e nós rimos.
“Pelo menos dá pra dizer que você cresceu uns cinco centímetros, né Amaral?” surgiu logo atrás com os braços cruzados e um sorriso zombeteiro. o encarou fazendo uma risada falsa e deu o dedo do meio, antes de puxá-lo para um abraço igualmente apertado.
“Senti sua falta também, !” E partiu o abraço, bagunçando os cabelos dele, que bufou em resposta.
“Eu também, pentelha.” E deu um peteleco na testa dela, que fez uma breve cara feia, antes de encarar .
“E imagino que você seja um novo amigo, né?” sorriu para , que retribuiu com um aceno de cabeça.
“Prazer, sou .” E ofereceu a mão para apertá-la.
“Prazer em te conhecer, . Me chamo .” E o cumprimentou, ainda sorridente.
“Você não poderia ter chegado num momento melhor, !” Eu exclamei, animadamente. “Você está apertando a mão do mais novo guitarrista da banda.” Anunciei, com uma cara de sabichona.
“Não! Mentira? Não acredito!” E ela comemorou, dando pequenas palminhas.
“Vocês conseguiram, meninos?” E todos concordaram, felizes.
Quando foi embora, a Mcfly ainda não era nem um trio, e ela não teve chance de ver o sonho de e de terem uma banda.
Mas isso não seria um problema mais.
“Só falta você conhecer o baterista, .” anunciou, tirando um chiclete do bolso e colocando na boca. “Aliás, hoje tem ensaio.” E fez cara de quem lembrou de algo importante.
“Você vai né? A gente se reúne logo após a escola, na casa do .” perguntou, com um sorriso de 32 dentes.
“Ah, agora de tarde?” Ela perguntou, fazendo uma careta. “Nossa, eu tinha prometido de encontrar uma amiga...” E fez uma careta frustrada.
“Leva ela também!” Falei, convidando a pessoa pra casa que nem era minha.
olhou em volta, pedindo uma aprovação silenciosa dos meninos, que simplesmente acenaram com a cabeça, com semblantes alegres.
“Certo! Eu vou falar com a e ver se ela topa. Mas eu vou precisar passar em casa primeiro, tem algum problema?”
“De boa.” respondeu, colocando as mãos no bolso.
“Dá até pra tomar um banho e ir direitinha.” Brinquei, levando um leve empurrão de .
“Só de sacanagem, você vem comigo!” E ela agarrou meu braço, sorrindo maléfica.
“Eu? Por que?” Choraminguei, fingindo cara de dor.
“Vai matar a saudade da minha mãe e convencê-la de que ninguém quer me matar, sequestrar ou algo do tipo.” E riu quando eu arregalei os olhos. “Nada contra, meninos. Ela conhece vocês, mas não lembra exatamente e bem, vocês sabem. Proteção materna.” E deu de ombros, fazendo o pessoal rir levemente.
“Certo, então nos encontramos lá. sabe o caminho.” respondeu, com um mini sorriso.
“Será minha guia!” brincou, balançando o braço que estava atrelado ao meu.
“Quando eu não fui, não é mesmo?” E fiz cara de exibida, fazendo graça.
***
Pra quem vai a pé pra escola, até que a mora bem perto da mesma.
Chegando à casa dela, a mãe de ficou uns cinco minutos olhando pra minha cara com uma expressão de espanto.
“Meu Deus, como você cresceu!” E me abraçou apertadamente.
“É bom te ver também, tia!” Eu falei, retribuindo o abraço e sentindo a voz sair abafada pelo aperto dos corpos.
“Então mãe... Queria te pedir uma coisa." disse, com uma cara pidona.
"Ah, eu sabia!" A mãe exclamava, rolando os olhos. Cara, que legal, ela rolava os olhos como uma adolescente! "Sempre que você faz essa cara, é pra pedir alguma coisa. Fale logo."
“Você não vai acreditar!” exclamou, como se a mãe estivesse por dentro de tudo. “ e tem uma banda agora, não é ótimo?” E sorriu pra mãe, que devolveu a alegria.
“Que bacana, filha! Eles ainda estão na escola?”
“Sim! E me chamaram pra ver o ensaio deles, junto com a . A também topou, então eu pensei em ir. Tudo bem?” E ali eu vi o gatinho do Shrek entrar em ação, com olhinhos preciosos e brilhosos pra cima da Sra. Amaral.
“Claro que pode!” A mãe sorriu um sorriso de miss, e se alegrou.
“Sério?”
“Sim. E seu irmão vai com você.” E a mãe saiu andando de volta pra cozinha, deixando uma frustrada na sala para eu acolher.
Eu não o conhecia pessoalmente, mas sabia que a relação dos dois era meio gato e rato/amor e ódio.
“Ele vai ficar irritado e vai ser um porre aturá-lo assim.” Ela comentou comigo, bufando.
“Calma, talvez não seja tão ruim assim. Talvez ele se anime!” Dei uns tapinhas no ombro, enquanto ela respirou fundo.
“É, quem sabe... Melhor ir com ele do que não ir. Estou realmente ansiosa pra ver essa banda!” E sorriu animadamente pra mim, que concordei com o mesmo sorriso.
***
"ADAM!" exclamava do pé da escada, bufando pelas ventas. "EU NÃO VOU FALAR DE NOVO!" Já era a terceira vez que ela gritava o nome do irmão em dez minutos. Dá um tempo pro cara colocar as cuecas, pô!
"Já tô indo, já tô indo!" Eu pude ouvir uma voz masculina e aveludada soar no alto a escada. Quando me virei pra vê-lo, fiquei uns cinco segundos fora do ar, te juro. O irmão da parecia ter saído de uma capa de revista ou de um comercial de perfume francês. Sério, ele tinha o cabelo preto molhado e um pouco bagunçado na altura dos olhos, que mais pareciam duas bilhas azuis, iluminando qualquer coisa que estivesse na direção daqueles faróis oculares. A blusa branca e lisa que ele vestia deixava a amostra os bíceps muito bem cuidados que ele tinha. Certamente, ele fazia algum esporte físico, ou algo do tipo. O cara era um sonho ambulante.
"." disse, com um pequeno sorriso no rosto. "Este é o meu irmão, Adam. Pode não parecer, mas é mais velho que eu, apesar da idade mental de 5 anos. Adam, esta é a ."
"Prazer." Eu respondi com um aceno e um sorriso tímido na direção dele, ignorando completamente a piada de com aquela visão do paraíso.
"Olá." Ele disse, mostrando sua perfeita arcada dentária. Mais dez pontos pra Grifinória. "Sou o Adam, e meu QI é um pouco mais elevado do que 20." Ele respondeu, fazendo uma cara de tédio, olhando em direção à irmã. Ótimo! Lindo, simpático e sarcástico! Onde eu me inscrevo pra me tornar cunhada de mesmo?
***
No caminho para a casa do , deu pra perceber que estava ansiosa e tagarela, e Adam ria das coisas engraçadas que sua irmã dizia sobre mim e nossos amigos.
“E ainda teve aquela vez que tentou colar na prova de matemática...” começou a rir antes mesmo de concluir a história. Eu já sorria só de lembrar.
“Ah para, foi uma tentativa justa, vai!” Eu reclamei, fazendo bico.
“, você jogava a borracha no chão perto de mim só pra se abaixar e pedir cola, cara.” Adam gargalhou alto, enquanto eu dava de ombros.
“Sério, a professora desistiu e deixou a fazer a prova em dupla. Toda turma riu da gente.” Eu comentei balançando a cabeça, pensando em como eu realmente acreditava que aquele plano daria certo.
"É de se notar que a não é a pessoa mais certinha da cabeça, só de saber que ela é a sua amiga, ." E riu da minha cara de choque.
"Ei!" Eu disse, fingindo mágoa. “Eu mal lhe conheço e já estou sendo alvejada. Bela forma de iniciar uma amizade!” E Adam e gargalharam.
“Desculpe, eu não posso perder uma única oportunidade de zoar minha irmã, acabou que sobrou para você. Mas farei meu melhor em ser mais polido.” E sorriu com todos os dentes.
Eu sorri de volta, sentindo um rubor nas bochechas, e não consegui responder nada. Adam tinha algo em sua atmosfera que ia além da beleza física. Ele tinha um atrativo muito interessante que era a forma como falava, um certo tipo de charme no seu jeito de olhar, falar, e bem, até então estava sendo educado e até brincalhão comigo. Isso me deixava sem graça porque, bem, existia uma imponência graciosa em si que eu não via em qualquer pessoa e obviamente não via em mim. Me sentia quase pequena em sua presença. Era engraçado, eu realmente estava agindo como a amiga da irmã caçula.
“Mas digam aí, a banda é boa?” Adam perguntou, me tirando me meu transe interno. me olhou dando de ombros, e eu entendi que eu era a única ali que poderia responder com precisão.
“É sim! Inacreditavelmente boa para meninos tão jovens. Eles tem talento, vocês vão ver.” E sorri sincera.
“Só espero que esteja certa! Minha cota de ouvir bandas de amigos que soam estupidamente ruim já tá quase batendo..." Adam disse, provavelmente se achando muito mais velho com a diferença de três anos entre a irmã e ele. Eu gargalhei e olhei para Adam, que estava com a sobrancelha arqueada e um meio sorriso no rosto.
"Você pode se arrepender de dizer isso, senhor-crítico-formado-em-Julliard!” Eu respondi, fazendo uma careta exagerada para o Adam, que revirou os olhos e riu do meu comentário, enquanto ria e dava um tapa de leve na testa do irmão, que a empurrou levemente. Eu ri daquela cena de irmãos que fingiam não se dar bem, mas que na verdade só faziam cena. Adam se recompôs e pigarrou, logo se redimindo.
"Não quis ofender, donzela." E fez uma reverência exagerada, e eu ri balançando a cabeça negativamente.
"Meu Deus. 'Donzela? Ainda se usa isso?”
“Claro! E é sucesso!” Ele disse, piscando galanteador.
“Sucesso com as meninas? Sei...” A risada ia aos poucos sumindo, deixando o rastro de um sorriso em meus lábios.
“Ué, duvida?” Ele perguntou, arqueando a sobrancelha. Eu rolei os olhos rindo. “Acho pouco provável que dê certo.” Comentei, dando de ombros.
“Você pode se arrepender de dizer isso, senhora-hitch-conselheira-amorosa” Ele retrucou, devolvendo a mesma resposta que lhe dei, e suas bilhas azuis observaram meu rosto como se esperassem uma resposta tão boa quanto a dele. Eu ri sem graça e Adam ergueu as sobrancelhas rapidamente, logo rindo levemente também.
“Não é a cantada que é sucesso...” Eu pensei em voz alta e logo senti minhas bochechas arderem. Eu tinha dito isso mesmo? Adam começou a rir com os olhos levemente arregalados e eu encarei , que rolou os olhos rindo da situação. "Ah Adam, pelo amor de Deus! Você sabe que faz sucesso porque é padrãozinho, e não por causa de suas cantadas infalíveis.” cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha, e eu suspirei aliviada, observando a reação do irmão. Este apenas deu de ombros e sorriu de canto, olhando pro horizonte.
“Fazer o que se papai e mamãe estavam inspirados, não é mesmo?” E abraçou a irmã de lado. “Pena que não podemos dizer o mesmo de você, né maninha?” bufou e deu um soco em seu ombro, e ele logo se afastou rindo abertamente, me fazendo prender a risada. Era uma implicância típica de irmãos.
“Vai à merda, garoto!” respondeu, tentando prender o riso e eu sorria vendo aquela brincadeira boba deles.
Paramos em frente à uma casa perto da de , e a mesma subiu o pequeno lance de escadas e tocou a campainha. Momentos depois, uma garota sorridente surge e a abraça apertadamente, e eu deduzi que fosse a tal da , com quem ela sairia se não tivéssemos chamado para o ensaio da Mcfly.
“Oi!” A novata disse se aproximando de nós, e eu sorri educadamente.
“Prazer, sou !” E ofereci a mão para apertar.
“Sou , o prazer é meu.” E ela apertou de volta. “Como está, Adam?” Eu vi um brilhinho no olhar, e acho que partilhava dos mesmos achismos que eu em relação ao irmão de .
“Oi ! Tudo bem, e aí? Já assistiu todos os episódios de Bob Esponja?” Ele brincou com ela, puxando-a para um pequeno abraço. A garota riu levemente, antes de fazer uma careta.
“Essa época já passou, Adam.” E sorriu travessa.
“Ah sim. Chegou a época do Bem 10, imagino?” E todos rimos em uníssono. Ele era implicantemente... fofo.
“Pelo visto você continua trabalhando firme pra infernizar a vida alheia, né?” Ela comentou, enquanto seguíamos o caminho.
“Apenas fazendo o meu melhor, meu bem.” E deu uma pequena cotovelada no braço de , que simplesmente sorriu de volta, risonha.
“Falta muito, ?” perguntou depois de um tempo, e eu neguei com a cabeça.
“Não, é o próximo quarteirão.” Respondi, apontando para frente.
“Amém, senhor.” Adam comentou, e a irmã deu um pescotapa nele, fazendo todos rirem – menos o mesmo, que fez cara de cão sem dono enquanto massageava a nuca.
***
"Finalmente vocês chegaram!" dizia, abrindo a porta da casa de .
"Oi pra você também, ." Eu disse com um sorriso de canto, e ele sorriu abertamente.
"Oi, pequena." Ele me cumprimentou, beijando o topo de minha cabeça. Aquilo me deixou surpresa, mas fingi normalidade e fui entrando na casa.
Quando todos estávamos na sala, eu sorri abertamente com expectativa, e um certo receio pela cara de incredulidade de . Fiquei tentando pensar no que poderia estar causando essa reação no , e fiquei sem graça de notar que convidei estranhos para sua casa sem exatamente comunicá-lo.
“!” Exclamei, com meu melhor sorriso. “Esta é , e seu irmão, Adam. São meus amigos e eu os convidei pro ensaio, espero que não se importe...” E me aproximei apertando seu ombro levemente. Os olhos ainda não tinham saído da nova plateia, e eu arqueei a sobrancelha. “?” Perguntei, estalando um dedo em sua cara, que automaticamente me encarou e piscou repetidas vezes antes de me responder.
“Ah, claro! N-não tem problema, você sabe!” Olhou na direção dos novatos, que o encaravam de forma gentil. “Mi casa, su casa! Sejam bem-vindos!” E sorriu um sorriso digno de colocar um cabide na boca, enquanto cumprimentava-os.
Não consegui esconder meu estranhamento com o pequeno espetáculo de e sua súbita encarnação de apresentador de televisão, até que o vi cumprimentando e entendi.
"Totalmente um frisson." Eu murmurei sorridente, vendo contar algo no ouvido de , fazendo-a rir.
"Um o quê?!" , que me deu um mini-infarto ao chegar do nada ao meu lado, perguntava-me sobre a estranha palavra que eu tinha dito.
"Um frisson. Um tremor de atração intensa." Eu respondi, gesticulando com as mãos. Ele me encarou rindo levemente.
"Onde você aprendeu isso?" parecia estar assustado com meu 'alto' nível de linguagem estrangeira.
“Li “A garota americana” dia desses.” Sussurrei contente, enquanto via que , e Adam engataram rapidamente num assunto animado sobre música.
***
Estávamos no porão, onde fica o estúdio de , e quando todos já estavam com seus respectivos instrumentos, pigarreou antes de falar:
"Senhoras, Senhores e... ." Ele disse, rindo da cara do amigo, que lhe mandara o dedo do meio em resposta. "Sejam bem-vindos ao nosso ensaio! Espero que gostem e comprem nossos hits quando lançarmos!” E piscou para todos.
"Começa com qual?" perguntou, animado pela pequena plateia que o assistia.
"Vai 'She loves you', né?" perguntou – mais pedindo do que perguntando, pra falar a verdade.
"Beleza, então. Um, dois. Um e dois três e..."
estava irrequieta ao meu lado. Particularmente falando, eu acho que ela se entusiasmou mais com a presença do único McGuy que ela ainda não tinha conhecido. Pelos olhares abobalhados que ela dava na direção de , ficou claro que valeu a pena esperar.
estava de boa curtindo também, e vez ou outra comentava algo próximo aos ouvidos de que assentia e comentava de volta.
Adam foi a pessoa que mais surpreendeu; ele estava não só gostando como cantava as músicas com gosto! Pra quem estava reclamando da possibilidade de ser ruim, ele estava mais animado do que o esperado.
E foi acompanhando o entusiasmo de Adam que percebi o aumento do repertório dos meninos. Antes, só tinha Beatles com "She loves you"; "I wanna hold your hand"; "Help" e "All my loving", agora tinha "And I love her"; "Don't stop me now" e "Crazy Little Thing Called Love", e pra finalizar "Pinball Wizard" – acrescentando dessa forma, Queen e The Who.
Realmente estava bom! Se eles continuassem assim, eu não tinha dúvidas que eles seriam bons o suficiente para, em pouco tempo, fazer parte da fama, e ser a futura sensação do verão.
Depois que eles finalizaram o ensaio, eu fiquei brincando com o instrumento do , enquanto tentava dar alguns palpites do que eu poderia tocar pra que ele tocasse junto. correu para o lado de , quando ela perguntou se ele poderia ensiná-la a tocar algo, e Adam, e se encarregaram de pedir as pizzas e preparar os filmes que assistiríamos. Obviamente, teria uma sessão pipoca na casa do , e pensando nisso, já tratei de mandar uma mensagem para minha mãe dizendo que chegaria um pouco tarde em casa.
Acabei tocando "That Thing You Do” do The Wonders, porque era a coisa mais fácil que eu tinha capacidade pra tocar. E no meio dessas tentativas, compartilhamos vários momentos engraçados de doer a barriga de tanto rir, porque olha: se eu tinha alguma veia musical, ela definitivamente estava entupida.
"A pizza chegou!" Foi só comentar, que o porão ficou vazio. Tá, não ficou totalmente vazio, eu estava saindo de lá. Mas me parou.
“Ei bocó!” Ele me chamou, guardando seu caderno de letras de músicas dentro da sua mochila.
“É a mãe!” Eu respondi, rindo e fazendo rir também.
“Obrigada por trazer gente nova pra nos apoiar.” Ele disse, se aproximando com as mãos no bolso. “Dá um friozinho na barriga, mas é bom já ir se acostumando pra quando a gente for fazer shows, né?” E coçou a nuca, dando um meio sorriso.
“Ah sim! E pelo que me parece, a banda ganhou novos fãs de cara. Todos curtiram, até o Adam, que estava com medo de ser uma daquelas bandas ruins de adolescentes sem talento.” Eu ri levemente e fez uma careta.
“O que foi?” Perguntei, franzindo o cenho.
"Qual é a desse Adam?" Ele perguntou, olhando pra mim com os olhos semi-cerrados.
Eu ponderei um minuto, pensando porque ele estava me perguntando aquilo.
"Como assim, ?" Eu realmente estava perdida.
"Sei lá, po... Ele é gente boa?" Ele indagou, me encarando desconfiado.
“Acho que sim.” Dei de ombros. “Ele me pareceu bem simpático, na verdade. Acho que só comentou esse lance de banda ruim em relação aos amigos dele, e não com vocês. Relaxa.” Sorri tentando desanuviar a cabeça de meu amigo, que ainda me encarava com a mesma expressão no rosto. “O que?” Eu insisti, cruzando os braços.
“Bem simpático?” Ele repetiu as minhas palavras, me olhando zombeteiro e eu o encarei de volta, risonha.
“Sim, ué.” E riu, com uma entonação de zueira. “Por que? Tá com ciúmes, ?" Eu perguntei, sentindo um sorriso desabrochar em meus lábios. “Ou você tá com medo que o Adam tome seu lugar?” Falei, fazendo uma voz assustadora, e me encarou com cara de tédio.
"Há-Há-Há." estava sendo irônico. “Eu nunca serei substituído. Você mesma me disse isso, lembra?" Ele retrucou, sorrindo um sorriso galanteador na minha direção.
"Hm, isso é verdade.” Rolei os olhos, sorrindo de leve. “Mas fica tranquilo, o Adam é legal.”
“Espero que sim.” Ele deu de ombros, suavizando sua expressão e encostando na parede.
“Ele gostou de vocês, eu acho. Se a gente conviver junto, ele vai ficar igualzinho a vocês. Tirando o fato de que ele é um Deus, é claro. Só espero que ele não se alimente desesperadamente como vocês." Eu comentei rindo, e me olhou com uma cara esquisita.
"Como é?!" Ele parecia estar perplexo com o que eu disse.
"Ué, é algum pecado eu querer que ele não aja como vocês quando estão com fome?!" Eu questionei pasma.
"Não, não me refiro a isso.” fazia gestos negativos com as mãos e rolou os olhos. “Porra, um Deus? É sacanagem!” E soltou uma risada incrédula.
“... Não que você seja obrigado a concordar ou reparar, mas... Ele é lindo!” Eu respondi, piscando levemente na direção dele.
"Ah, fala sério!" estava rindo, debochado. “Ele parece ser tão tipinho, !” "E daí? Ele é atraente, simpático... Não vejo problema algum!” Respondi, rindo da cara de .
“Tudo bem, tudo bem.” E se deu por vencido “Vou dar uma chance pro cara. Mas não é qualquer tipinho que passa na minha avaliação, hein?” E saiu do porão, rindo. Eu ri levemente, sentindo o coração dar uma apertada. sendo protetor e eu querendo ele mais do que mil Adams... Tá, talvez 999. De toda forma, o amor é uma droga.
Ao chegar à sala, estava uma bagunça só: e disputavam o pedaço de pizza que tinha mais calabresa, com tentando intervir na pequena disputa; estava com seus olhos brilhando – literalmente – toda vez que sorria, enquanto comentava sobre como gostaria de ir à um show do Green Day; e Adam estava sentado na cadeira da sala, com um pedaço de pizza na mão e uma cerveja aos seus pés, assistindo um jogo qualquer de futebol. Pelo que pude notar, ele comia educadamente, sem mastigar de boca aberta. Ponto para ele.
Depois de uma hora a pizza já tinha acabado, tinha gente jogada no tapete da sala, e um quase-casal mais entretido em disfarçar os olhares que se davam um a outro do que realmente assistindo Star Wars.
"Vou à cozinha pegar coca-cola, alguém quer alguma coisa?!" Eu perguntei, ingenuamente na minha educação, sendo mutilada verbalmente por um coro:
"Coca-cola." Foi o que pude ouvir. Fiz cara de cão sem dono e me encarou rindo.
“Eu te ajudo.” Ele disse, levantando do sofá.
“Eu também!” se pronunciou, e eu sorri, vendo-os se aproximarem.
Antes de entrarmos na cozinha, estava rindo balançando a cabeça negativamente. Eu encarei , que deu de ombros e voltei meu olhar para , perguntando-o:
“O que foi?” nos olhou balançando a cabeça, e suspirou.
“Só estava lembrando de uma piada que Lis me contou outro dia... Uma piada boba.” E se endireitou para contar. “Sabe o que o pato disse pro outro? Quack! E o outro disse “Caralho eu ia falar isso agora!” E desatou a rir, com rindo verdadeiramente.
Eu só consegui sorrir levemente, sentindo meu coração apertado, pois a mente não parou de pensar em e Lis juntos, rindo daquela simples piada e compartilhando risadas e bons momentos. Cheguei a franzir o cenho em desgosto.
“Ah, qual foi? Não é uma ótima piada, mas não precisa ficar com essa cara de enterro!” me tirou do meu pequeno devaneio, e eu respirei fundo, abrindo mais o sorriso e balançando negativamente a cabeça para ele e , sem conseguir dizer nada.
Enquanto catava os copos junto com , eu retirava a coca da geladeira e à todo momento pude sentir o olhar do sobre mim. Eu simplesmente ignorei e, com tudo pronto, nos encaminhamos para a sala.
Após algum tempo, o pessoal começou a reunir as coisas para ir embora. Eu estava desligada, tentando me manter atenta e ao mesmo tempo afastando os pensamentos que me faziam sofrer. Isso tudo se interrompeu com alguém chamando meu nome.
"?" me olhou sorridente, e eu o encarei de volta. “Pode me ajudar a colocar as coisas no carro?” E eu apenas acenei, sorrindo forçadamente.
“Claro.”
Ele riu enquanto carregávamos seu equipamento para fora da casa, e eu o encarei curiosa.
“A piada do pato.” Ele disse, e eu fiz uma expressão de entendimento, sorrindo sem mostrar os dentes. “Seu amigo é uma figura.”
“Ôh. Só Deus pra ajudar a aturá-lo.” Falei, abrindo a porta de casa de .
“Vocês são engraçados.” Ele comentou, passando pela porta e eu o segui, com o cenho franzido.
“Como assim?” Perguntei, sem entender ao certo o que ele quis dizer.
“Bom...” Ele deu de ombros, se aproximando do carro e deixando o equipamento encostado no chão, puxando a porta da mala e me olhando. “Vocês brigam, fazem as pazes, brincam de se aturar, mas um não vive sem o outro. Parece o Tico e o Teco.” disse, prendendo o riso.
Eu fiz uma careta e acabei sorrindo.
“É, bem. Acho que isso resume nossa amizade.” Comentei, ajudando-o a colocar as coisas no carro.
“Vocês se conhecem há quanto tempo?” Ele questionou, curioso.
"Dezesseis anos." Eu respondi, pegando a última bolsa de equipamentos e entregando para .
"E vocês sempre foram amigos?" Indagou.
“Sim, nossas famílias se conhecem há tempos... É tipo uma amizade de barriga mesmo.” Eu falei, encostando no carro.
fechou o porta-malas e colocou as mãos no bolso, se encostando ao meu lado.
“Hm...” Ele disse, olhando para o céu azul escuro, parecendo reparar nas nuvens. Eu o acompanhei e percebi que, apesar delas, dava pra ver algumas estrelas também.
“Vocês sempre foram só amigos?” lançou após um momento de silêncio e eu senti meu coração dar uma sobressaltada. O encarei com a sobrancelha erguida e devolvi a pergunta.
"Por que quer saber disso?" Cruzei os braços, confusa.
"Ah, nada, ué. Só curiosidade." Ele balbuciou, dando de ombros, sorrindo levemente. Sustentei seu olhar por um tempo, até olhar para o horizonte e respondê-lo.
“Sim.” Segurei um suspiro com esforço. “Sempre fomos só amigos.” E o encarei novamente, antes de voltar o olhar para as estrelas.
respirou fundo e eu o encarei, percebendo que sua face estava séria e seus lábios estavam comprimidos numa linha fina. Ele parecia lutar com seus pensamentos e de repente, me encarou com um sorriso ameno.
“E há quanto tempo você gosta dele, mais do que como um amigo?” Ele perguntou, e eu deixei meu queixo cair e senti meus olhos se arregalarem levemente.
permaneceu com a mesma feição de quem estava esperando por uma resposta. Mas... eu não...
Eu não podia.
Eu não conseguia...
Era muito estranho, porque uma parte de mim estava muito feliz de que eu e ele tivéssemos feito as pazes e tal – sim, isso é bom – porém, outra parte de mim não conseguia parar de pensar no que ele havia dito sobre ter encontrado a garota certa pra ele.
Eu não conseguia desviar meus pensamentos pra alguma outra coisa que não fosse isso. O que estava me irritando profundamente.
Estava com a cabeça tão avoada que quase me atrasei para a escola. Só deu tempo de passar correndo pelo portão, já ouvindo o sinal soar. Entrei na sala pedindo desculpas para a professora de Literatura, que me deu um sorriso agradável e perdoou o pequeno atraso.
Sentei num canto escondido, querendo me isolar do mundo e de todos. As palavras de fizeram mais efeito do que eu imaginava, e mesmo digerindo ao longo dos tempos a ideia de que gostava de outra pessoa, ouvir isso dele era totalmente diferente. E disso eu não sabia – aliás, estava descobrindo naquele momento o quão delicado era.
"No Modernismo, na primeira fase, temos como principais escritores, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira. Particularmente, meu gosto se torna maior quando se é mencionado às obras de Manuel Bandeira. 'Estrela da Manhã' me fascinou pela primeira vez que li, mas, pra vocês terem uma noção dos textos de Bandeira, leiam silenciosamente o poema 'Vou-me embora pra Pasárgada' e alguns trechos de outros poemas do mesmo autor. E respondam às questões da página 37, sem pestanejar, ouviram?”
Sem ter muito pra onde correr, segui as orientações da professora, começando a ler os poemas.
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames.
Quando a teus pés um homem terno e curvo
Jurar amor, chorar pranto de sangue.
Não creias, não mulher, ele engana!
As lágrimas são gal da mentira
E o juramento manto da perfídia."
(Joaquim M. de Macedo)
“Perfídia? O que é isso?” Indaguei mais alto do que imaginava, e para minha surpresa, uma voz que eu conhecia me respondeu.
“Infidelidade, traição. Tem que lembrar de trazer o dicionário, viu ?”
Meus olhos se arregalaram e eu olhei pra trás, com a boca aberta num “O” e uma sensação de felicidade me dominou.
“! É você mesmo?” Eu exclamei, obtendo um pedido de silêncio da professora. Fiz gestos de desculpa e tornei a me virar para minha amiga, a quem não via há anos! “Meu Deus, você está linda!” E sussurrei, dando um abraço desengonçado, ainda sentada. riu da minha euforia.
“Você nem me reconheceu quando chegou, hein? Que absurdo!” Ela sussurrou de volta, fingindo chateação e eu dei de ombros.
“Eu cheguei feito um foguete. E você está muito mudada! Os cabelos estão mais longos, você parece estar mais alta e agora se parece mais com a sua mãe.” E sorri, ternamente. Ela me retribuiu o sorriso, mas o mesmo morreu quando a professora chamou nossa atenção.
“Não é em dupla! Por favor, hein gente!” E eu a olhei com dó e me virei pra frente, prometendo silenciosamente que nos falaríamos melhor no intervalo.
Felizmente o tempo passou rápido e quando dei por mim, estávamos colocando o papo em dia num cantinho afastado do refeitório, num gramado ali perto.
Costumávamos fazer isso quando mais novas.
“Quando você chegou?” Perguntei animadamente.
“Ontem à noite.” Ela respondeu, e eu fiz cara de indignada. “Eu sei, eu sei! Eu quis fazer surpresa, não se chateie, estressadinha.” E rimos juntas.
“Você realmente me surpreendeu.” E dei um peteleco em seu braço, sorrindo de lado. “Dessa vez você veio para ficar?” Eu perguntei, esperançosa. já havia estudado anos atrás nesta escola, mas precisou se mudar devido ao emprego do pai. Éramos boas amigas naquela época e eu senti muito sua falta, faziam três anos desde que ela tinha ido embora. E agora, no meio de tanta coisa acontecendo na minha vida, era ótimo ter uma boa amiga de volta.
“Eu acho que sim, . Quer dizer, é quase certo que sim. E eu também não quero sair daqui, sabe? De todos os lugares que meu pai trabalhou, aqui foi o que mais consegui manter contato com as amizades. Estou realmente cansada de me adaptar as coisas novas. E dessa vez, minha mãe também bateu o pé, dizendo que quer ficar aqui. Fico com pena de meu pai, porque sei que é o emprego dele, mas... Enfim.” E deu de ombros. “Espero que não seja uma transferência temporária.”
“Vamos torcer, . Quem sabe, né?” E apertei sua mão num carinho acolhedor, e sorri levemente. Ela me sorriu de volta, suspirando.
Após um momento de silêncio, ela me perguntou:
“Mas e aí, me conta as novidades! Aliás, por onde anda o...”
"GATCHEEEEENHA!" Eu ouvi alguém gritar ao longe. Eu e olhamos na direção da voz e rimos com a cena. vinha correndo na direção de , que levantou rapidamente e abraçou o amigo, num aperto saudoso.
“Meu Deus, como você tá um homemzinho, !” Ela exclamou, segurando o rosto do amigo nas mãos, que ria sem graça do elogio.
“Assim você me deixa encabulado, mulher.” respondeu, coçando a nuca envergonhado e nós rimos.
“Pelo menos dá pra dizer que você cresceu uns cinco centímetros, né Amaral?” surgiu logo atrás com os braços cruzados e um sorriso zombeteiro. o encarou fazendo uma risada falsa e deu o dedo do meio, antes de puxá-lo para um abraço igualmente apertado.
“Senti sua falta também, !” E partiu o abraço, bagunçando os cabelos dele, que bufou em resposta.
“Eu também, pentelha.” E deu um peteleco na testa dela, que fez uma breve cara feia, antes de encarar .
“E imagino que você seja um novo amigo, né?” sorriu para , que retribuiu com um aceno de cabeça.
“Prazer, sou .” E ofereceu a mão para apertá-la.
“Prazer em te conhecer, . Me chamo .” E o cumprimentou, ainda sorridente.
“Você não poderia ter chegado num momento melhor, !” Eu exclamei, animadamente. “Você está apertando a mão do mais novo guitarrista da banda.” Anunciei, com uma cara de sabichona.
“Não! Mentira? Não acredito!” E ela comemorou, dando pequenas palminhas.
“Vocês conseguiram, meninos?” E todos concordaram, felizes.
Quando foi embora, a Mcfly ainda não era nem um trio, e ela não teve chance de ver o sonho de e de terem uma banda.
Mas isso não seria um problema mais.
“Só falta você conhecer o baterista, .” anunciou, tirando um chiclete do bolso e colocando na boca. “Aliás, hoje tem ensaio.” E fez cara de quem lembrou de algo importante.
“Você vai né? A gente se reúne logo após a escola, na casa do .” perguntou, com um sorriso de 32 dentes.
“Ah, agora de tarde?” Ela perguntou, fazendo uma careta. “Nossa, eu tinha prometido de encontrar uma amiga...” E fez uma careta frustrada.
“Leva ela também!” Falei, convidando a pessoa pra casa que nem era minha.
olhou em volta, pedindo uma aprovação silenciosa dos meninos, que simplesmente acenaram com a cabeça, com semblantes alegres.
“Certo! Eu vou falar com a e ver se ela topa. Mas eu vou precisar passar em casa primeiro, tem algum problema?”
“De boa.” respondeu, colocando as mãos no bolso.
“Dá até pra tomar um banho e ir direitinha.” Brinquei, levando um leve empurrão de .
“Só de sacanagem, você vem comigo!” E ela agarrou meu braço, sorrindo maléfica.
“Eu? Por que?” Choraminguei, fingindo cara de dor.
“Vai matar a saudade da minha mãe e convencê-la de que ninguém quer me matar, sequestrar ou algo do tipo.” E riu quando eu arregalei os olhos. “Nada contra, meninos. Ela conhece vocês, mas não lembra exatamente e bem, vocês sabem. Proteção materna.” E deu de ombros, fazendo o pessoal rir levemente.
“Certo, então nos encontramos lá. sabe o caminho.” respondeu, com um mini sorriso.
“Será minha guia!” brincou, balançando o braço que estava atrelado ao meu.
“Quando eu não fui, não é mesmo?” E fiz cara de exibida, fazendo graça.
Pra quem vai a pé pra escola, até que a mora bem perto da mesma.
Chegando à casa dela, a mãe de ficou uns cinco minutos olhando pra minha cara com uma expressão de espanto.
“Meu Deus, como você cresceu!” E me abraçou apertadamente.
“É bom te ver também, tia!” Eu falei, retribuindo o abraço e sentindo a voz sair abafada pelo aperto dos corpos.
“Então mãe... Queria te pedir uma coisa." disse, com uma cara pidona.
"Ah, eu sabia!" A mãe exclamava, rolando os olhos. Cara, que legal, ela rolava os olhos como uma adolescente! "Sempre que você faz essa cara, é pra pedir alguma coisa. Fale logo."
“Você não vai acreditar!” exclamou, como se a mãe estivesse por dentro de tudo. “ e tem uma banda agora, não é ótimo?” E sorriu pra mãe, que devolveu a alegria.
“Que bacana, filha! Eles ainda estão na escola?”
“Sim! E me chamaram pra ver o ensaio deles, junto com a . A também topou, então eu pensei em ir. Tudo bem?” E ali eu vi o gatinho do Shrek entrar em ação, com olhinhos preciosos e brilhosos pra cima da Sra. Amaral.
“Claro que pode!” A mãe sorriu um sorriso de miss, e se alegrou.
“Sério?”
“Sim. E seu irmão vai com você.” E a mãe saiu andando de volta pra cozinha, deixando uma frustrada na sala para eu acolher.
Eu não o conhecia pessoalmente, mas sabia que a relação dos dois era meio gato e rato/amor e ódio.
“Ele vai ficar irritado e vai ser um porre aturá-lo assim.” Ela comentou comigo, bufando.
“Calma, talvez não seja tão ruim assim. Talvez ele se anime!” Dei uns tapinhas no ombro, enquanto ela respirou fundo.
“É, quem sabe... Melhor ir com ele do que não ir. Estou realmente ansiosa pra ver essa banda!” E sorriu animadamente pra mim, que concordei com o mesmo sorriso.
"ADAM!" exclamava do pé da escada, bufando pelas ventas. "EU NÃO VOU FALAR DE NOVO!" Já era a terceira vez que ela gritava o nome do irmão em dez minutos. Dá um tempo pro cara colocar as cuecas, pô!
"Já tô indo, já tô indo!" Eu pude ouvir uma voz masculina e aveludada soar no alto a escada. Quando me virei pra vê-lo, fiquei uns cinco segundos fora do ar, te juro. O irmão da parecia ter saído de uma capa de revista ou de um comercial de perfume francês. Sério, ele tinha o cabelo preto molhado e um pouco bagunçado na altura dos olhos, que mais pareciam duas bilhas azuis, iluminando qualquer coisa que estivesse na direção daqueles faróis oculares. A blusa branca e lisa que ele vestia deixava a amostra os bíceps muito bem cuidados que ele tinha. Certamente, ele fazia algum esporte físico, ou algo do tipo. O cara era um sonho ambulante.
"." disse, com um pequeno sorriso no rosto. "Este é o meu irmão, Adam. Pode não parecer, mas é mais velho que eu, apesar da idade mental de 5 anos. Adam, esta é a ."
"Prazer." Eu respondi com um aceno e um sorriso tímido na direção dele, ignorando completamente a piada de com aquela visão do paraíso.
"Olá." Ele disse, mostrando sua perfeita arcada dentária. Mais dez pontos pra Grifinória. "Sou o Adam, e meu QI é um pouco mais elevado do que 20." Ele respondeu, fazendo uma cara de tédio, olhando em direção à irmã. Ótimo! Lindo, simpático e sarcástico! Onde eu me inscrevo pra me tornar cunhada de mesmo?
No caminho para a casa do , deu pra perceber que estava ansiosa e tagarela, e Adam ria das coisas engraçadas que sua irmã dizia sobre mim e nossos amigos.
“E ainda teve aquela vez que tentou colar na prova de matemática...” começou a rir antes mesmo de concluir a história. Eu já sorria só de lembrar.
“Ah para, foi uma tentativa justa, vai!” Eu reclamei, fazendo bico.
“, você jogava a borracha no chão perto de mim só pra se abaixar e pedir cola, cara.” Adam gargalhou alto, enquanto eu dava de ombros.
“Sério, a professora desistiu e deixou a fazer a prova em dupla. Toda turma riu da gente.” Eu comentei balançando a cabeça, pensando em como eu realmente acreditava que aquele plano daria certo.
"É de se notar que a não é a pessoa mais certinha da cabeça, só de saber que ela é a sua amiga, ." E riu da minha cara de choque.
"Ei!" Eu disse, fingindo mágoa. “Eu mal lhe conheço e já estou sendo alvejada. Bela forma de iniciar uma amizade!” E Adam e gargalharam.
“Desculpe, eu não posso perder uma única oportunidade de zoar minha irmã, acabou que sobrou para você. Mas farei meu melhor em ser mais polido.” E sorriu com todos os dentes.
Eu sorri de volta, sentindo um rubor nas bochechas, e não consegui responder nada. Adam tinha algo em sua atmosfera que ia além da beleza física. Ele tinha um atrativo muito interessante que era a forma como falava, um certo tipo de charme no seu jeito de olhar, falar, e bem, até então estava sendo educado e até brincalhão comigo. Isso me deixava sem graça porque, bem, existia uma imponência graciosa em si que eu não via em qualquer pessoa e obviamente não via em mim. Me sentia quase pequena em sua presença. Era engraçado, eu realmente estava agindo como a amiga da irmã caçula.
“Mas digam aí, a banda é boa?” Adam perguntou, me tirando me meu transe interno. me olhou dando de ombros, e eu entendi que eu era a única ali que poderia responder com precisão.
“É sim! Inacreditavelmente boa para meninos tão jovens. Eles tem talento, vocês vão ver.” E sorri sincera.
“Só espero que esteja certa! Minha cota de ouvir bandas de amigos que soam estupidamente ruim já tá quase batendo..." Adam disse, provavelmente se achando muito mais velho com a diferença de três anos entre a irmã e ele. Eu gargalhei e olhei para Adam, que estava com a sobrancelha arqueada e um meio sorriso no rosto.
"Você pode se arrepender de dizer isso, senhor-crítico-formado-em-Julliard!” Eu respondi, fazendo uma careta exagerada para o Adam, que revirou os olhos e riu do meu comentário, enquanto ria e dava um tapa de leve na testa do irmão, que a empurrou levemente. Eu ri daquela cena de irmãos que fingiam não se dar bem, mas que na verdade só faziam cena. Adam se recompôs e pigarrou, logo se redimindo.
"Não quis ofender, donzela." E fez uma reverência exagerada, e eu ri balançando a cabeça negativamente.
"Meu Deus. 'Donzela? Ainda se usa isso?”
“Claro! E é sucesso!” Ele disse, piscando galanteador.
“Sucesso com as meninas? Sei...” A risada ia aos poucos sumindo, deixando o rastro de um sorriso em meus lábios.
“Ué, duvida?” Ele perguntou, arqueando a sobrancelha. Eu rolei os olhos rindo. “Acho pouco provável que dê certo.” Comentei, dando de ombros.
“Você pode se arrepender de dizer isso, senhora-hitch-conselheira-amorosa” Ele retrucou, devolvendo a mesma resposta que lhe dei, e suas bilhas azuis observaram meu rosto como se esperassem uma resposta tão boa quanto a dele. Eu ri sem graça e Adam ergueu as sobrancelhas rapidamente, logo rindo levemente também.
“Não é a cantada que é sucesso...” Eu pensei em voz alta e logo senti minhas bochechas arderem. Eu tinha dito isso mesmo? Adam começou a rir com os olhos levemente arregalados e eu encarei , que rolou os olhos rindo da situação. "Ah Adam, pelo amor de Deus! Você sabe que faz sucesso porque é padrãozinho, e não por causa de suas cantadas infalíveis.” cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha, e eu suspirei aliviada, observando a reação do irmão. Este apenas deu de ombros e sorriu de canto, olhando pro horizonte.
“Fazer o que se papai e mamãe estavam inspirados, não é mesmo?” E abraçou a irmã de lado. “Pena que não podemos dizer o mesmo de você, né maninha?” bufou e deu um soco em seu ombro, e ele logo se afastou rindo abertamente, me fazendo prender a risada. Era uma implicância típica de irmãos.
“Vai à merda, garoto!” respondeu, tentando prender o riso e eu sorria vendo aquela brincadeira boba deles.
Paramos em frente à uma casa perto da de , e a mesma subiu o pequeno lance de escadas e tocou a campainha. Momentos depois, uma garota sorridente surge e a abraça apertadamente, e eu deduzi que fosse a tal da , com quem ela sairia se não tivéssemos chamado para o ensaio da Mcfly.
“Oi!” A novata disse se aproximando de nós, e eu sorri educadamente.
“Prazer, sou !” E ofereci a mão para apertar.
“Sou , o prazer é meu.” E ela apertou de volta. “Como está, Adam?” Eu vi um brilhinho no olhar, e acho que partilhava dos mesmos achismos que eu em relação ao irmão de .
“Oi ! Tudo bem, e aí? Já assistiu todos os episódios de Bob Esponja?” Ele brincou com ela, puxando-a para um pequeno abraço. A garota riu levemente, antes de fazer uma careta.
“Essa época já passou, Adam.” E sorriu travessa.
“Ah sim. Chegou a época do Bem 10, imagino?” E todos rimos em uníssono. Ele era implicantemente... fofo.
“Pelo visto você continua trabalhando firme pra infernizar a vida alheia, né?” Ela comentou, enquanto seguíamos o caminho.
“Apenas fazendo o meu melhor, meu bem.” E deu uma pequena cotovelada no braço de , que simplesmente sorriu de volta, risonha.
“Falta muito, ?” perguntou depois de um tempo, e eu neguei com a cabeça.
“Não, é o próximo quarteirão.” Respondi, apontando para frente.
“Amém, senhor.” Adam comentou, e a irmã deu um pescotapa nele, fazendo todos rirem – menos o mesmo, que fez cara de cão sem dono enquanto massageava a nuca.
"Finalmente vocês chegaram!" dizia, abrindo a porta da casa de .
"Oi pra você também, ." Eu disse com um sorriso de canto, e ele sorriu abertamente.
"Oi, pequena." Ele me cumprimentou, beijando o topo de minha cabeça. Aquilo me deixou surpresa, mas fingi normalidade e fui entrando na casa.
Quando todos estávamos na sala, eu sorri abertamente com expectativa, e um certo receio pela cara de incredulidade de . Fiquei tentando pensar no que poderia estar causando essa reação no , e fiquei sem graça de notar que convidei estranhos para sua casa sem exatamente comunicá-lo.
“!” Exclamei, com meu melhor sorriso. “Esta é , e seu irmão, Adam. São meus amigos e eu os convidei pro ensaio, espero que não se importe...” E me aproximei apertando seu ombro levemente. Os olhos ainda não tinham saído da nova plateia, e eu arqueei a sobrancelha. “?” Perguntei, estalando um dedo em sua cara, que automaticamente me encarou e piscou repetidas vezes antes de me responder.
“Ah, claro! N-não tem problema, você sabe!” Olhou na direção dos novatos, que o encaravam de forma gentil. “Mi casa, su casa! Sejam bem-vindos!” E sorriu um sorriso digno de colocar um cabide na boca, enquanto cumprimentava-os.
Não consegui esconder meu estranhamento com o pequeno espetáculo de e sua súbita encarnação de apresentador de televisão, até que o vi cumprimentando e entendi.
"Totalmente um frisson." Eu murmurei sorridente, vendo contar algo no ouvido de , fazendo-a rir.
"Um o quê?!" , que me deu um mini-infarto ao chegar do nada ao meu lado, perguntava-me sobre a estranha palavra que eu tinha dito.
"Um frisson. Um tremor de atração intensa." Eu respondi, gesticulando com as mãos. Ele me encarou rindo levemente.
"Onde você aprendeu isso?" parecia estar assustado com meu 'alto' nível de linguagem estrangeira.
“Li “A garota americana” dia desses.” Sussurrei contente, enquanto via que , e Adam engataram rapidamente num assunto animado sobre música.
Estávamos no porão, onde fica o estúdio de , e quando todos já estavam com seus respectivos instrumentos, pigarreou antes de falar:
"Senhoras, Senhores e... ." Ele disse, rindo da cara do amigo, que lhe mandara o dedo do meio em resposta. "Sejam bem-vindos ao nosso ensaio! Espero que gostem e comprem nossos hits quando lançarmos!” E piscou para todos.
"Começa com qual?" perguntou, animado pela pequena plateia que o assistia.
"Vai 'She loves you', né?" perguntou – mais pedindo do que perguntando, pra falar a verdade.
"Beleza, então. Um, dois. Um e dois três e..."
estava irrequieta ao meu lado. Particularmente falando, eu acho que ela se entusiasmou mais com a presença do único McGuy que ela ainda não tinha conhecido. Pelos olhares abobalhados que ela dava na direção de , ficou claro que valeu a pena esperar.
estava de boa curtindo também, e vez ou outra comentava algo próximo aos ouvidos de que assentia e comentava de volta.
Adam foi a pessoa que mais surpreendeu; ele estava não só gostando como cantava as músicas com gosto! Pra quem estava reclamando da possibilidade de ser ruim, ele estava mais animado do que o esperado.
E foi acompanhando o entusiasmo de Adam que percebi o aumento do repertório dos meninos. Antes, só tinha Beatles com "She loves you"; "I wanna hold your hand"; "Help" e "All my loving", agora tinha "And I love her"; "Don't stop me now" e "Crazy Little Thing Called Love", e pra finalizar "Pinball Wizard" – acrescentando dessa forma, Queen e The Who.
Realmente estava bom! Se eles continuassem assim, eu não tinha dúvidas que eles seriam bons o suficiente para, em pouco tempo, fazer parte da fama, e ser a futura sensação do verão.
Depois que eles finalizaram o ensaio, eu fiquei brincando com o instrumento do , enquanto tentava dar alguns palpites do que eu poderia tocar pra que ele tocasse junto. correu para o lado de , quando ela perguntou se ele poderia ensiná-la a tocar algo, e Adam, e se encarregaram de pedir as pizzas e preparar os filmes que assistiríamos. Obviamente, teria uma sessão pipoca na casa do , e pensando nisso, já tratei de mandar uma mensagem para minha mãe dizendo que chegaria um pouco tarde em casa.
Acabei tocando "That Thing You Do” do The Wonders, porque era a coisa mais fácil que eu tinha capacidade pra tocar. E no meio dessas tentativas, compartilhamos vários momentos engraçados de doer a barriga de tanto rir, porque olha: se eu tinha alguma veia musical, ela definitivamente estava entupida.
"A pizza chegou!" Foi só comentar, que o porão ficou vazio. Tá, não ficou totalmente vazio, eu estava saindo de lá. Mas me parou.
“Ei bocó!” Ele me chamou, guardando seu caderno de letras de músicas dentro da sua mochila.
“É a mãe!” Eu respondi, rindo e fazendo rir também.
“Obrigada por trazer gente nova pra nos apoiar.” Ele disse, se aproximando com as mãos no bolso. “Dá um friozinho na barriga, mas é bom já ir se acostumando pra quando a gente for fazer shows, né?” E coçou a nuca, dando um meio sorriso.
“Ah sim! E pelo que me parece, a banda ganhou novos fãs de cara. Todos curtiram, até o Adam, que estava com medo de ser uma daquelas bandas ruins de adolescentes sem talento.” Eu ri levemente e fez uma careta.
“O que foi?” Perguntei, franzindo o cenho.
"Qual é a desse Adam?" Ele perguntou, olhando pra mim com os olhos semi-cerrados.
Eu ponderei um minuto, pensando porque ele estava me perguntando aquilo.
"Como assim, ?" Eu realmente estava perdida.
"Sei lá, po... Ele é gente boa?" Ele indagou, me encarando desconfiado.
“Acho que sim.” Dei de ombros. “Ele me pareceu bem simpático, na verdade. Acho que só comentou esse lance de banda ruim em relação aos amigos dele, e não com vocês. Relaxa.” Sorri tentando desanuviar a cabeça de meu amigo, que ainda me encarava com a mesma expressão no rosto. “O que?” Eu insisti, cruzando os braços.
“Bem simpático?” Ele repetiu as minhas palavras, me olhando zombeteiro e eu o encarei de volta, risonha.
“Sim, ué.” E riu, com uma entonação de zueira. “Por que? Tá com ciúmes, ?" Eu perguntei, sentindo um sorriso desabrochar em meus lábios. “Ou você tá com medo que o Adam tome seu lugar?” Falei, fazendo uma voz assustadora, e me encarou com cara de tédio.
"Há-Há-Há." estava sendo irônico. “Eu nunca serei substituído. Você mesma me disse isso, lembra?" Ele retrucou, sorrindo um sorriso galanteador na minha direção.
"Hm, isso é verdade.” Rolei os olhos, sorrindo de leve. “Mas fica tranquilo, o Adam é legal.”
“Espero que sim.” Ele deu de ombros, suavizando sua expressão e encostando na parede.
“Ele gostou de vocês, eu acho. Se a gente conviver junto, ele vai ficar igualzinho a vocês. Tirando o fato de que ele é um Deus, é claro. Só espero que ele não se alimente desesperadamente como vocês." Eu comentei rindo, e me olhou com uma cara esquisita.
"Como é?!" Ele parecia estar perplexo com o que eu disse.
"Ué, é algum pecado eu querer que ele não aja como vocês quando estão com fome?!" Eu questionei pasma.
"Não, não me refiro a isso.” fazia gestos negativos com as mãos e rolou os olhos. “Porra, um Deus? É sacanagem!” E soltou uma risada incrédula.
“... Não que você seja obrigado a concordar ou reparar, mas... Ele é lindo!” Eu respondi, piscando levemente na direção dele.
"Ah, fala sério!" estava rindo, debochado. “Ele parece ser tão tipinho, !” "E daí? Ele é atraente, simpático... Não vejo problema algum!” Respondi, rindo da cara de .
“Tudo bem, tudo bem.” E se deu por vencido “Vou dar uma chance pro cara. Mas não é qualquer tipinho que passa na minha avaliação, hein?” E saiu do porão, rindo. Eu ri levemente, sentindo o coração dar uma apertada. sendo protetor e eu querendo ele mais do que mil Adams... Tá, talvez 999. De toda forma, o amor é uma droga.
Ao chegar à sala, estava uma bagunça só: e disputavam o pedaço de pizza que tinha mais calabresa, com tentando intervir na pequena disputa; estava com seus olhos brilhando – literalmente – toda vez que sorria, enquanto comentava sobre como gostaria de ir à um show do Green Day; e Adam estava sentado na cadeira da sala, com um pedaço de pizza na mão e uma cerveja aos seus pés, assistindo um jogo qualquer de futebol. Pelo que pude notar, ele comia educadamente, sem mastigar de boca aberta. Ponto para ele.
Depois de uma hora a pizza já tinha acabado, tinha gente jogada no tapete da sala, e um quase-casal mais entretido em disfarçar os olhares que se davam um a outro do que realmente assistindo Star Wars.
"Vou à cozinha pegar coca-cola, alguém quer alguma coisa?!" Eu perguntei, ingenuamente na minha educação, sendo mutilada verbalmente por um coro:
"Coca-cola." Foi o que pude ouvir. Fiz cara de cão sem dono e me encarou rindo.
“Eu te ajudo.” Ele disse, levantando do sofá.
“Eu também!” se pronunciou, e eu sorri, vendo-os se aproximarem.
Antes de entrarmos na cozinha, estava rindo balançando a cabeça negativamente. Eu encarei , que deu de ombros e voltei meu olhar para , perguntando-o:
“O que foi?” nos olhou balançando a cabeça, e suspirou.
“Só estava lembrando de uma piada que Lis me contou outro dia... Uma piada boba.” E se endireitou para contar. “Sabe o que o pato disse pro outro? Quack! E o outro disse “Caralho eu ia falar isso agora!” E desatou a rir, com rindo verdadeiramente.
Eu só consegui sorrir levemente, sentindo meu coração apertado, pois a mente não parou de pensar em e Lis juntos, rindo daquela simples piada e compartilhando risadas e bons momentos. Cheguei a franzir o cenho em desgosto.
“Ah, qual foi? Não é uma ótima piada, mas não precisa ficar com essa cara de enterro!” me tirou do meu pequeno devaneio, e eu respirei fundo, abrindo mais o sorriso e balançando negativamente a cabeça para ele e , sem conseguir dizer nada.
Enquanto catava os copos junto com , eu retirava a coca da geladeira e à todo momento pude sentir o olhar do sobre mim. Eu simplesmente ignorei e, com tudo pronto, nos encaminhamos para a sala.
Após algum tempo, o pessoal começou a reunir as coisas para ir embora. Eu estava desligada, tentando me manter atenta e ao mesmo tempo afastando os pensamentos que me faziam sofrer. Isso tudo se interrompeu com alguém chamando meu nome.
"?" me olhou sorridente, e eu o encarei de volta. “Pode me ajudar a colocar as coisas no carro?” E eu apenas acenei, sorrindo forçadamente.
“Claro.”
Ele riu enquanto carregávamos seu equipamento para fora da casa, e eu o encarei curiosa.
“A piada do pato.” Ele disse, e eu fiz uma expressão de entendimento, sorrindo sem mostrar os dentes. “Seu amigo é uma figura.”
“Ôh. Só Deus pra ajudar a aturá-lo.” Falei, abrindo a porta de casa de .
“Vocês são engraçados.” Ele comentou, passando pela porta e eu o segui, com o cenho franzido.
“Como assim?” Perguntei, sem entender ao certo o que ele quis dizer.
“Bom...” Ele deu de ombros, se aproximando do carro e deixando o equipamento encostado no chão, puxando a porta da mala e me olhando. “Vocês brigam, fazem as pazes, brincam de se aturar, mas um não vive sem o outro. Parece o Tico e o Teco.” disse, prendendo o riso.
Eu fiz uma careta e acabei sorrindo.
“É, bem. Acho que isso resume nossa amizade.” Comentei, ajudando-o a colocar as coisas no carro.
“Vocês se conhecem há quanto tempo?” Ele questionou, curioso.
"Dezesseis anos." Eu respondi, pegando a última bolsa de equipamentos e entregando para .
"E vocês sempre foram amigos?" Indagou.
“Sim, nossas famílias se conhecem há tempos... É tipo uma amizade de barriga mesmo.” Eu falei, encostando no carro.
fechou o porta-malas e colocou as mãos no bolso, se encostando ao meu lado.
“Hm...” Ele disse, olhando para o céu azul escuro, parecendo reparar nas nuvens. Eu o acompanhei e percebi que, apesar delas, dava pra ver algumas estrelas também.
“Vocês sempre foram só amigos?” lançou após um momento de silêncio e eu senti meu coração dar uma sobressaltada. O encarei com a sobrancelha erguida e devolvi a pergunta.
"Por que quer saber disso?" Cruzei os braços, confusa.
"Ah, nada, ué. Só curiosidade." Ele balbuciou, dando de ombros, sorrindo levemente. Sustentei seu olhar por um tempo, até olhar para o horizonte e respondê-lo.
“Sim.” Segurei um suspiro com esforço. “Sempre fomos só amigos.” E o encarei novamente, antes de voltar o olhar para as estrelas.
respirou fundo e eu o encarei, percebendo que sua face estava séria e seus lábios estavam comprimidos numa linha fina. Ele parecia lutar com seus pensamentos e de repente, me encarou com um sorriso ameno.
“E há quanto tempo você gosta dele, mais do que como um amigo?” Ele perguntou, e eu deixei meu queixo cair e senti meus olhos se arregalarem levemente.
permaneceu com a mesma feição de quem estava esperando por uma resposta. Mas... eu não...
Eu não podia.
Eu não conseguia...
Capítulo 8 - But you're never happy with what you've got.
"Então..." disse, cruzando os braços na altura do peito enquanto me olhava.
"Não entendi o que você quis dizer." Eu simplesmente disse, coçando s têmpora e olhando pro chão, sem saber o que responder.
"Isso é sério?" Ele indagou, com a voz mais grave. Eu dei de ombros e ouvi suspirar do meu lado.
“Olha, se não quiser falar sobre isso, tudo bem. Eu só achei que gostaria de conversar com alguém sobre isso, e... Além disso...” E sua frase morreu, sem ser finalizada. Isso me fez encará-lo confusa, e observando sua expressão, me deparei com uma face sincera e com certa dose de dor.
“Além disso?” Eu o instiguei a continuar. respirou fundo e me olhou atento. “Pensei em te ajudar.” E sorriu sem graça.
“Me ajudar?!” Eu praticamente cuspi as palavras, ficando mais confusa.
"Bem... Sim. Porque eu imagino que isso não é nada fácil. Gostar do seu melhor amigo e ficar em silêncio. Não gosto nem de imaginar por quanto tempo você ficou guardando isso só pra você. Doloroso é apenas a primeira de muitas palavras que passam por minha mente...” Ele falava rápido e gesticulava bastante, parecendo nervoso e eu apenas o encarava de volta, ainda confusa sobre tudo aquilo.
Uma parte de mim estava incomodada pelo fato de “descobrir” algo que lutei tanto pra manter em segredo. Em praticamente duas ou três semanas, simplesmente ''desvendou'' meu enigma, quando eu tentei arduamente escondê-lo. A outra parte de mim pensava na ironia do destino, pois estava a par do que acontecia comigo e, pasme! Há dois anos atrás, eu passava a mesma coisa com ele.
Mas que merda estava acontecendo?
“Me deixa ajudar. Por favor.” Ele falou após um tempo e só assim percebi que estava quieta durante todo o momento, encarando o chão, pensativa.
“Ajudar como?” Virei meu rosto aos poucos, olhando-o receosa. Minha voz saiu baixa e por um fio, devido ao misto de sentimentos no interior de mim que já começava a transparecer. respirou fundo, passando a mão pelos cabelos, de forma nervosa. Ergueu os ombros e levantou a mão em minha direção, quando me perguntou:
“Você não me parece ter se declarado ou algo do tipo... Mas por acaso sabe se é recíproco, de alguma forma?” Senti uma pontada em meu coração. Não consegui conter a dor que atingiu minha feição, e virei o rosto no sentido oposto de , franzindo o cenho. O suspiro dele confirmou sua compreensão de minha resposta silenciosa.
“Ele tem outra pessoa?” Novamente a voz de soou, baixa.
Respirei fundo, quase bufando. Envolvi meus braços ao meu redor e senti os ombros encolherem. Após um tempo, tomei coragem e respondi.
“Mais ou menos.” Falei, com a voz um pouco falha. “Ele gosta de uma garota do nosso condomínio... Ela também gosta dele. É questão de tempo, apenas.”
“Como você sabe?” Ele questionou e eu respirei fundo, encarando-o nos olhos.
“Eu só sei, . A gente sabe, a gente sente essas coisas... Quando gosta.” Murmurei, engolindo o bolo na garganta.
“Olha...” Ele começou a falar. “Não sei exatamente como ajudar... Mas eu sei que quero que você conte comigo quando não estiver bem por causa... dele.” Ele disse, baixando a cabeça, mantendo seu olhar no chão.
Eu respirei fundo e encarei o céu, sem reação. Fiquei assim por uns minutos até que o mar de sentimentos se acalmasse dentro de mim.
Encostei a cabeça no ombro de e encarei o horizonte, tomando coragem para falar.
"Eu percebi que gosto dele desde um pouco antes de você retornar.” Comecei a contar, e senti o corpo de ficar rígido sob mim. Não precisei olhar para cima; eu sabia que ele estava escutando atentamente. “Eu gostaria de falar pra ele, mas dói só de pensar em como isso é difícil, em receber um não de alguém com a importância que tem pra mim... E em como seria mais difícil ainda de manter a nossa amizade como ela é. Seria grande a possibilidade de acabar com tudo que temos.” E afastei o rosto para olhá-lo nos olhos. “E disso, eu não me perdoaria nunca.”
Ele me encarou de volta, fixamente. Acenou a cabeça de forma positiva, e abraçou meus ombros, num carinho sutil.
Voltei a olhar para frente, com a cabeça ainda apoiada em si.
"Entendo." Sua voz soou meio triste, e eu sorri sem humor, porém minimamente agradecida pela compreensão de .
Mais silêncio.
"Foi muito fácil?" Eu perguntei, me virando pra olhá-lo melhor.
"Hm?!" Ele ficou confuso.
"Perceber meus sentimentos." Eu murmurei, olhando-o com certa apreensão no meu interior.
"Não sei ao certo..." Ele deu de ombros enquanto um pequeno sorriso aparecia em seus lábios. "Acho que fica mais fácil perceber essas coisas...” E me olhou de volta, me encarando. “Quando estamos gostando de alguém.” E sorriu timidamente.
Afastei minha cabeça de seu ombro e dei um passo para trás, incerta do que havia acabado de ouvir. Ainda surpresa, o encarava sem dizer nada. suspirou, colocou as mãos no bolso da calça e encarou um ponto perdido à sua frente.
“Involuntariamente, tenho prestado atenção em você o tempo todo...” E me olhou de volta, sério. Nossos olhares se mantiveram um no outro, e eu sem saber o que dizer, estava apenas tentando digerir o que ele queria dizer com aquilo.
“É como você disse... A gente sabe dessas coisas quando gosta de alguém.”
Meu coração palpitou mais forte após constatar o que quis dizer. E a princípio, senti um frio enorme na barriga – eu não esperava ouvir aquilo, não esperava de jeito algum.
E Ele dizer tudo tão naturalmente, me fez admirar sua coragem e sentir até um pouco de inveja. As palavras que rasgavam na minha garganta toda vez que eu pensava em me declarar para o , conseguia dizer na maior paz, aparentemente.
“Eu não sei exatamente se estou apaixonado..." Ele disse, corando levemente. "Mas eu sei que gosto de você um pouco demais. Mais do que uma amiga. Eu gosto muito de você, ." Ele pontuou mais ainda, olhando calmamente pra mim, porém, sério o bastante pra que eu acreditasse no que ele falava.
“Cara...” Eu respirei fundo, e fechei os olhos. “Deixa eu tentar entender.” E encarei o chão, colocando o fatos no lugar. “Primeiro você chega aqui, mostra que sabe do meu segredo, diz que quer me ajudar, me apoiar e... E que gosta de mim?” E me virei para ele, olhando-o incerta. “C-Como, ? Como você pode me ajudar? Se você sabe que eu gosto de outra pessoa, alimentar esse teu sentimento só te magoa mais. Eu não entendo... Eu não... Nem sei o que dizer.” E senti minha vista arder, me sentindo um tanto confusa, a ponto de saber que em breve choraria.
"... E-Eu... Droga!” E me abraçou, apertado. Eu fiquei surpresa a princípio, mas senti o calor do corpo de e seu abraço me deu uma sensação diferente... Como se talvez, só temporariamente, eu pudesse espantar o mal-estar de gostar de alguém e não ser correspondido.
“...” Eu me afastei do abraço, limpando as lágrimas de meu rosto. “Eu sinto muito... Mas eu não tenho como retribuir, você sabe.” Falei, observando minhas mãos unidas na frente de meu corpo. Ao olhar em seus olhos, percebi uma expressão decidida, com o cenho levemente franzido. Antes que eu pudesse questioná-lo de algo, ele respirou fundo e me olhou nos olhos.
".” Ele falou e sua voz saiu mais alta que o normal, como se estivesse prestes a dizer algo realmente importante. Inconscientemente encolhi meus ombros ao ouví-lo tão diferente do comum.
pegou minhas mãos num aperto firme e caloroso, e eu olhei para elas com certa surpresa. Voltei a encará-lo com confusão nos olhos.
“Quero uma chance.” Ele falou, e eu arregalei os olhos. “Pra te provar que talvez eu possa te fazer... esquecê-lo." Ele dizia, visivelmente triste simplesmente por pensar em . "Você só tem sofrido. Eu sei como é." Ele terminou de dizer, olhando cautelosamente pra mim.
Ficou um silêncio assustador no jardim. Eu continuava olhando para , embasbacada com suas palavras.
“Por favor, diga alguma coisa.” Sua voz saiu quase como um sussurro e eu encontrei minhas cordas vocais.
“Você... Não pode estar falando sério.” Minha fala saiu mais como quem pensa alto do que qualquer coisa.
“Acredite, eu tô falando muito sério.” E se aproximou, ficando bem diante de mim. “Eu pensei muito sobre uma série de possibilidades do que poderia sair dessa conversa que estamos tendo. E eu decidi que não quero ficar pensando no “e se?”; eu quero tentar. Quero pelo menos te sugerir isso, porque não acho que seja de todo ruim... Quero te conhecer mais e melhor, estar contigo e de alguma forma te fazer sentir melhor do que está agora... Afinal, eu sei como se sente.” E me olhou com um sorriso amarelo.
"Você sabe como é?!" Eu perguntei, indignada.
"Sim, eu..." Mas eu não o deixei terminar. Era a minha vez.
"Você acha que sabe como é?! Você não tem noção, ! Você quer namorar ou qualquer coisa do tipo comigo..." Interrompida por ele.
"Te conhecer melhor..." Ele sussurrou, ainda olhando pra mim.
"Que seja!" Eu respondi, jogando as mãos pro alto. "Quer ter uma relação comigo sabendo que eu gosto de outra pessoa, que de fato, além de ser alguém da sua banda, é alguém que conheço há anos, alguém que sou amiga desde que me entendo por gente! E ainda me diz que sabe como eu me sinto?!" Eu estava irada. "Não sei se você se lembra, caro amigo, mas, há dois anos..." Sim, eu ia falar pra ele. "Eu estava no maior sufoco por causa da separação dos meus pais. Você me compreendia, porque você passou por isso também! E quando eu comecei a gostar de você naquela época, o que você fez?!" Eu o olhei, sorrindo sarcasticamente. "Ficou com a minha amiga sem nem se tocar naquilo que plantou e cultivou em mim! Você sabe o quanto eu pedi pra Deus pra que aquela tortura acabasse? Sabe o quanto eu pedi pra que o acampamento acabasse, pra que eu fosse embora e em paz pra casa, longe de você, longe do sofrimento, longe de tudo que me fizesse ficar triste?!" Eu já aumentava o volume da minha voz, tendo a certeza de que daqui há alguns momentos, alguém estaria na porta da casa de perguntando o que estava acontecendo. “E eu sei, não tem nenhum culpado! Não foi culpa minha me apaixonar, nem sua não retribuir! Eu entendo isso agora, e tá tudo bem.
zMas não venha dizer que entende o que acontece agora! São coisas bem mais complexas! Você definitivamente não sabe como é! Nada disso, absolutamente nada se compara ao que eu vivo hoje, . Estamos falando de ...” Eu apontei para dentro de casa, ao abaixar a voz. “Meu melhor amigo. O cara que eu amo, como homem. E que nunca vai me amar de volta.” E mais lágrimas surgiram do meu rosto, mas eu não me importava. “E eu não posso simplesmente abdicar de tudo e ir embora porque ele é meu melhor amigo!” Exclamei com a voz falhando, sentindo o bolo na garganta imergir cada vez mais. “E eu prefiro sofrer sozinha do que nunca mais tê-lo como amigo, .” Encarei bem dentro dos olhos dele, e enxugando as lágrimas no rosto, respondi. “Então não haja como se soubesse!”
Um silêncio habitou o lugar. Só se ouvia o fungar das minhas narinas e as minhas tentativas falhas de tentar conter as lágrimas. Eu olhava pro chão, me sentindo cansada, e o fato de ter dito tudo aquilo em voz alta, só tornava as coisas mais exaustivas.
"Você tem razão... Não sei como você ficou. Tenho uma ligeira idéia do que foi. Mas não sei completamente como foi. Eu sinto muito." Ele simplesmente disse, e eu levantei a cabeça para observá-lo. A dor em sua cara era óbvia. “E eu sinto muito pelo que aconteceu há dois anos...” Ele me olhou sério, porém sem demonstrar nenhuma surpresa. Aquilo me alarmou por dentro.
“Não vai me dizer que você... Que você sabia? Sabia que eu gostava de você?” Minha voz saiu mais baixa, e eu senti uma lágrima descer rápida e dolorosamente pela minha bochecha.
suspirou e se aproximou de mim, secando a lágrima. Eu apenas segui olhando-o, sem reações.
“Desconfiei há pouco tempo, com as alfinetadas de no carro, lembra? Sobre quem eu estaria interessado no acampamento...” Eu fechei os olhos e encarei meus pés. “Eu sinto muito por tudo, . De verdade... Se eu pudesse mudar as coisas no passado com o conhecimento que tenho agora, te garanto que não teria sido da forma que foi...” colocou suas mãos em cima de meus ombros e me olhou intensamente. “Entretanto, eu gostaria que não ignorasse o presente. Porque eu posso fazer algo agora.”
Eu fechei os olhos, sentindo as lágrimas descendo aos poucos, molhando meu rosto. Neguei com a cabeça e me afastei do toque de .
"Não adianta." Eu disse, me virando de costas para ele e encarando a rua, tentando conter o tremor involuntário que vinha de dentro do meu peito e tomava o corpo inteiro. “Não adianta...” Repeti mais pra mim do que pra ele.
“Como assim?” Ele perguntou, com a voz carregada de incompreensão.
“Não adianta!” Eu falei mais alto, abrindo os olhos em sua direção. “Isso é loucura! Essa proposta não deixará ninguém ileso! Isso... nunca vai dar certo!”
me encarou com o cenho franzido, e negando com a cabeça, se aproximou novamente de mim.
"Agora é diferente, ! Pelo amor de Deus, tente entender! Há dois anos eu era um moleque! Eu não sabia de nada com nada! Eu não sabia o que era gostar de alguém... Não como é agora! Somos livres, os sentimentos estão postos, o que há a perder que já não saibamos? Me diz!” E segurou com rosto com suas mãos quentes, enquanto seu olhar encontrava o meu. “Ninguém sai ganhando tudo, eu sei!” Ele disse, com a voz amarga. “Mas isso não impede de tentarmos algo... Entende?” Eu pude ver que os olhos dele brilhavam. "Por favor, me dê uma chance. Nos dê uma chance.”
Ele pediu, e eu estava um tanto confusa com tudo que foi dito. Não conseguia raciocinar direito.
“...”
“Gente?” Minha fala foi interrompida por um preocupado, nos chamando da porta, olhando pra nós com uma cara assustada.
"Tá tudo bem? Ouvimos algumas vozes exaltadas lá de dentro e..." A voz dele soou cautelosa. Olhei para trás de e vi com a cara fechada encarando e à mim.
"Tá tudo bem, . Tudo sob controle.” Eu tentei dizer de maneira convincente, mas sei que falhei. Limpando o rosto disfarçadamente, entrei na casa buscando minha mochila, passando direto por um que me observava sem piscar os olhos.
“Certeza?” insistiu, e eu afirmei com a cabeça, colocando a mochila nas costas.
"." chamou da porta, e quando vi, sua face estava retorcida entre dor e tristeza. ", me responde." Aquilo era muito mais do que suplicar. Mas eu não podia responder agora, eu não tinha estruturas – nem cabeça – para lidar com aquilo no momento.
"Não posso." Eu sussurrei, desviando o olhar dele pro chão, não queria encará-lo. "Não posso. Sinto muito.” Eu disse, passando pelos meninos e por ele, segurando minhas lágrimas, sem olhar para ninguém.
Eu já quase na calçada quando ouvi me chamar.
"!" Me virei e percebi que ela estava me seguindo, com Adam no seu encalço. "Nós vamos com você, espere!" E chegou ao meu encontro. Eu sorri agradecida, deixando uma lágrima escapar.
"Obrigada." Foi tudo o que consegui sussurrar, antes que me abraçasse como se soubesse do porquê que eu chorava.
"Eu vou com vo..." Ouvi a voz de e antes que pudesse terminar a frase, eu gritei.
"NÃO!" Faltava muito pouco pra que o nó saísse de seu lugar de origem. "Não, por favor! E-eu vou com e Adam.” Respondi, tentando manter a calma, sem olhar para o rosto de .
"Vamos, eu levo vocês." disse, tirando as chaves do carro do bolso e destravando o alarme. “, você assume!” Ele berrou e respondeu rapidamente.
“Deixa comigo!” acenou afirmativamente e fechou a porta de sua casa, enquanto destravava o carro com o controle.
Sentada no banco de trás, com a cabeça encostada no vidro, eu pude ver um perplexo do lado de fora da casa, olhando pra dentro do carro – que já estava em movimento – procurando meu olhar, questionando meus atos. Eu virei meu rosto e chorei mais, não acreditando como tudo aquilo estava acontecendo.
"Quer ir pra casa?" Adam sussurrou, do banco de passageiro da frente, enquanto dirigia em silêncio, de vez em quando, procurando o olhar de através do retrovisor, como se pedisse por respostas do meu estado.
"Não." Eu disse, fracamente, sem tirar meus olhos da janela.
"Ainda tá cedo. Oito e meia. Quer tomar sorvete?" perguntou, tentando um sorriso – o que eu não conseguia fazer naquele momento.
"Obrigada, , mas não. , se importa se formos pra sua casa?" Eu perguntei, ainda sentindo meu coração bater forte e magoado com tudo que havia acontecido. "Claro que não!" Ela respondeu, olhando pra mim. "Vamos lá pra casa. Quer dormir por lá?".
"Obrigada, amiga. Mas eu só quero ficar um tempinho em algum lugar que não seja a minha casa... " Porque tudo lá me faria chorar, lembrar e, conseqüentemente, . Completei a frase em minha mente.
"O que for melhor pra você.” Ela completou sorridente.
"." chamava o amigo. "!"
"Fala, ." respondeu, sem nenhum ânimo na voz.
"Cara, você vai ficar aqui na varanda, de pé, parado, por mais quanto tempo? Já se passou meia hora desde que ela foi pra casa! E ele não vai falar nada, desiste! Por que não vai pra casa e amanhã você resolve isso?” dizia preocupado com o amigo.
“Não vou sair daqui enquanto ele não disser porque ela estava assim! Tava tudo bem!” E suspirou, passando a mão nas têmporas. “Eu não sei por que ela não quis que eu fosse com ela...” encarava o nada, sem entender absolutamente... nada.
"Sei lá, cara, vai que ela precisa de um tempo só pra ela." deu de ombros.
"Ela não é assim. Ela sempre vem a mim quando alguma coisa acontece." Ele tentava entender.
"Teve alguma vez que ela não foi até você?" perguntou, analisando o caso com .
"Bem." tentava lembrar, até que o fez. “Há alguns dias: a vez em que eu e ela brigamos."
"Isso porque você estava envolvido nessa briga, logo, ela não vai correr pra você e contar." verificou, 'sabiamente'.
"Espere..." olhou pro amigo, surpreso. “Você tá certo! Ela não quer me ver por que a briga tem alguma coisa a ver comigo!”
“Ou talvez ela realmente só precise de um tempo pra ela...” comentou, olhando para o céu.
respirou fundo e entrou feito um furacão na casa de . revirou os olhos e gritou o nome do amigo, apressado.
“Eu não tô nem aí pra ética de vocês. Me diz! O que você tava conversando com ela? Eu sei que isso me envolve! O que tá pegando, ?" Ele perguntava, sem paciência.
Ao contrário de , estava calmo. Sem reação, pra falar a verdade, sentado no sofá olhando para o nada. Mas isso não quer dizer que ele não o respondeu como devia:
"Nada do que você deva saber."
fechou o punho, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, interveio, e, segurando a mão dele, disse:
", vai com calma. Todos nós estamos preocupados com ela, mas não é brigando que as coisas vão se resolver."
"Mas, !" exclamou, bufando. "Foi conversando com ele que ela começou a chorar! E eles estavam falando de mim, eu sei disso! Porque, se não estivessem, ela viria até a mim! Ele a magoou!"
Como se ligasse uma máquina, foi acionado pelas últimas palavras de , e ficando com muita raiva, começou a falar:
"Eu a magoei?! Vê se você se olha no espelho antes de falar de mim, ! Se liga! Você acha que toda vez que ela precisar de alguma coisa, ela vai estar sempre correndo atrás de você?” E o encarou, com raiva. o olhou com o cenho franzido, sem dizer nada. “Ela tem outros amigos. Ela já não precisa se sujeitar a correr sempre atrás de você, que só faz merda e acha que com uma simples conversa, tá tudo perdoado. Ela não é qualquer coisa!” exclamou, gesticulando, e inconscientemente, deu um passo para trás, o encarando surpreso. “Trate-a como ela merece. Nem que eu quisesse, eu poderia magoá-la como você faz. Se ela chora agora, fique sabendo que é tudo culpa sua!" pressionou rapidamente o dedo indicador no ombro de , fazendo-o olhar pro lugar onde havia encostado. “Lembra disso da próxima vez que você pensar que só você faz bem à ela.” E com tais palavras, se mandou da casa de , deixando um assustado e um muito, muito confuso.
"Não, tia, tô bem, sério." sorria desconfortável com tanta coisa sendo oferecida pra ele pela mãe de . Ou eu deveria dizer futura sogrinha? Porque e , obviamente, estava na cara que ia rolar. Só precisavam de uma desculpa qualquer pra se pegarem. Tipo, um convite como: "vamos marcar um dia pra gente tomar algo sem álcool, bem leve, tipo um banho.", que aí rolava.
"Então, , o que houve?" perguntou, depois que sua mãe se retirou do quarto.
E eu devia responder. Observei o ambiente, e estava , Adam e me olhando atentamente, prontos pra ouvir uma pequena história. Havia muita gente naquele quarto. Eu conseguiria?
"... Se você não se importa..." Eu fiz um sinal com a cabeça, olhando para Adam e timidamente, fazendo com que ela entendesse mais rápido do que pensei. "Ah!" Ela disse, levantando rápido até a porta. "Meninos, por favor, sejam cavalheiros, pois nós teremos uma conversa de mulher pra mulher agora."
Eu vi Adam segurar o riso quando a irmã disse 'de mulher pra mulher', mas em seguida, levou dois olhares mortais, vindo de nós duas, e logo se apressou em andar até a porta.
"Eu vou querer saber o resumo disso. Não gastei gasolina por nada." disse, brincando comigo, beijando o topo de minha cabeça.
"Pode deixar, zão!" Eu me aproximei pra sussurrar a próxima frase. "Pode deixar que eu não vou tomar muito o tempo da sua preciosa ." Eu respondi, rindo um pouco da cara dele, que estava mais vermelha do que pimentão. ", não seja teimoso, deixe a conversar comigo um pouco." disse, encostada no batente da porta de seu quarto.
deu uma última olhada pra mim como se pedisse pra que eu não contasse pra ninguém. Como se os olhares dele pra ela já não fossem óbvios o bastante. Tá certo.
"Então." disse sentando-se ao meu lado. "Manda ver."
Respirei fundo, pensando na grande história que teria que contar. E assim, comecei. Comentei sobre tudo: desde quando eu gostava do (daqueeele jeito), quando o chegou, quando me disse que gostava de uma menina – obviamente, a Lis – até o acontecimento do dia, quando – difícil de acreditar – se declarou pra mim, me fazendo aquela tal proposta, que me deixou no estado que eu me encontrava no momento.
"Cara..." disse, impactada, como se eu tivesse dito que Hogwarts existia. "Que foda!"
Ah, claro. Porque a situação que me faz sofrer mais do que criança quando vai arrancar o dente pela primeira vez, é simplesmente... foda. Não!
", uma paixonite/amor de criança que você teve há dois anos. No caso, a mesma história se repete com o agora. Correto?"
"Sim." Até agora, ela parecia sã.
"Só que tem uma diferença: o garotinho que você gostou no passado, agora já entrou em fase de se tornar um homem. E você, uma mulher. E o cara que você gosta, também. Se você acha que não tem chances nenhuma com o , por ele gostar de uma pessoa que segundo você, gosta dele também... O que há de errado em dizer 'sim' para o ?" perguntou, pensativa.
"Meu Deus, !" Eu a chamei pelo nome, não acreditando no que ela dizia. "Eu não vou nem responder essa pergunta!"
"É óbvio que você não vai responder essa pergunta. Porque você não tem argumentos contra a minha teoria. Não há motivos pra não ficar com o . Você tá com medo. Simples." Ela respondeu, cruzando os braços, parecendo triunfante.
"Tá bom. Quer motivos? Ok. Medo? Do quê? Não há. É que simplesmente, se eu ficar com o , eu vou estar usando-o, porque eu estarei pensando em outra pessoa, e não nele. E isso não é justo. Porque eu ainda amo o . E eu não sinto que esse amor vai embora tão cedo." Eu respondi me sentindo triste pelas palavras que saíam da minha boca.
", acorda.” dizia, olhando pra mim seriamente. “Muitos casais hoje em dia estão juntos, porque tentaram, ué! Se deram uma chance. E mais: não é como se o fosse a melhor pessoa do mundo, mas o cara é um bom partido! Tirando o fato de que eu o conheci hoje, mas pelo que você me fala, ele é uma pessoa legal. Como ele mesmo disse, agora ele está mais maduro, compreende? Todos estão. Você nunca vai saber o que poderia rolar se você não tentar, vai?"
"Eu sei que ele é uma ótima pessoa e tal... Mas eu vou me sentir mal. Eu vou me sentir como se estivesse sendo escrota." Respondi, sinceramente.
"Tá, ." Ela disse um pouco estressada. "Então me diz: o que você vai fazer não ficando com o ? Vendo o e a Lis ficarem juntos, construir uma história juntos, enquanto você chupa dedo, chorando milhões e milhões de lágrimas por não ter quem queria, enquanto o está lá, pronto pra um sinal seu, e você só na agonia e tristeza?"
"Bem..." dei de ombros. "Isto é uma opção." Disse, amargamente.
"AH NÃO!" Ela exclamou, furiosa com minhas palavras. "Não, senhora! Uma opção? Pelo amor da mãe do guarda, ! Você não é a bosta do cavalo do bandido, cara! Você não merece sofrer! Me pergunto quantas vezes você provavelmente já pediu ao universo que esse sofrimento acabasse. E quando ele decide lhe conceder esse pedido, você joga fora, porque sofrer é uma opção, e você opta por ela? Não é justo nem certo! E se for sua chance? Você merece ser feliz. Merece tentar. Se você não for ficar com o pra dar-lhe uma chance..." Ela disse, segurando minha mão enquanto me observava calmamente, porém séria. "Dê a chance a si mesma. E não a despreze. Você merece tentar."
"Você acabou comigo." Eu respondi, faltando muito pouco pra não pegar um caderninho e escrever o pequeno discurso da .
Ela riu em seguida, me dando um pedala.
"Mas é sério, cara. Reflita: o tá lá, correndo atrás da garota dele... E o tá aí, de braços abertos pra você, se declarou e tudo, e, detalhe: ele sabe do risco que ele está correndo e mesmo assim, quer tentar. Sinal de que você vale a pena, né? Seja feliz."
"Brigada." Eu disse, dando um meio sorriso, deixando as lágrimas rolarem soltas pelo meu rosto.
"Eu sei que isso não são lágrimas, é perfume de cebola que você teima em usar." disse, vindo me abraçar.
"Odeio esse perfume!" Eu disse, enquanto minhas lágrimas molhavam a manga da blusa dela.
"Tá ok, senhorita. Mas agora, levanta o astral, limpa esse rostinho bonito, porque, como diz a Fergie, meninas crescidas não choram!" E deu uma piscadela na minha direção, o que me fez rir.
“Fergie não sabe de porra nenhuma...” Reclamei, dando de ombros.
“Nem me fale!” Ela se levantou em direção à porta, mas segurei seu braço. Afinal, não podia deixar de perguntar:
"Você acha que vai sair imune dessa, ?" Eu perguntei, já zoando com o sobrenome dela.
"Quê?!" Ela perguntou, arregalando os olhos em surpresa.
"É, não pensa que vai sair assim sem responder as minhas perguntinhas, não, meu bem! Troca justa! Eu te contei dos meus casos, agora você me conta o que tá rolando entre você e o Senhor , posso saber?" Perguntei, com um sorriso galanteador, enquanto assistia virar um pimentão.
"Ah, cara, sei lá..." Ela disse, fingindo se importar com os detalhes da almofada pra não me encarar. "Quando eu fui falar com ele pela primeira vez, ele foi todo meigo, fez aquela reverência toda... E, durante o ensaio, depois de vários olhares na minha direção, ele mandou uma piscadela pra mim, sabe?" Ela gesticulava, enquanto ficava cada vez mais vermelha e sorridente. "Aquele estilo do tipo: vou olhar pra ver se ela tá olhando. Ah, ele é muito fofo! E quando o ensaio terminou, eu quis tocar no instrumento dele..."
"Você é rápida." Eu disse, fazendo uma cara sapeca, levando uma almofadada na cara de presente.
"Garota!" Ela disse, ficando muito, muito vermelha. "Bem... Ele me mostrou algumas coisas fáceis de tocar, mas eu não dei a mínima, eu só olhava pra ele, sabe? O jeitinho dele atencioso com a música, como ele se esforçava pra parecer que tocava bem... Ah, sei lá. Depois a gente conversou sobre bandas, e eu falei que queria muito ir à um show do Green Day... Conversamos muito sobre música, ele gosta de coisas muito boas! Cara, ele curte Pink Floyd, se não fosse pela aparência, eu me apaixonaria pela personalidade, mas ele é o pacote perfeito! Enfim..." Ela falava rápido demais, mas eu compreendia. Ou simplesmente tentava. "Daí, quando fomos assistir o filme, ele sentou do meu lado." Ela batia palminhas, de tão entusiasmada. "E quando as luzes apagaram, ele fez a típica manobra do bocejo, se espreguiçando e colocando o braço em cima do sofá, atrás de mim. Tá, foi bem clássico, não foi brega!" Ela avisou, com um olhar mortal pra qualquer comentário negativo que eu fizesse sobre a manobra de . Não que eu tivesse nenhum, pois estava mais ocupada tentando entender o que ela dizia em tempo real. "Enfim, daí, quando começou aquela mesma guerra estelar de todos os filmes de Star Wars, eu comecei a ficar com medo do Darth Vader, e comecei a me encolher. viu como eu estava, e segurou minha mão, sussurrando no meu ouvido: "Fica tranqüila, eu to aqui contigo." E COMO EU SABIA DISSO! Se me perguntassem qual era o meu nome, eu ia dizer " ", porque era a única coisa que estava na minha mente naquele momento. Estava mais embasbacada e hipnotizada pelo olhar do do que as ameaças malignas de Vader ao Obi Wan."
"Rolou uma troca de olhares intensa?" Eu perguntei, querendo que trouxessem uma pipoca pra mim, pois aquela história tava ficando boa!
"Aham!" Ela disse fazendo umas dancinhas de vitória. "A gente ficou se olhando no olho por uns oito segundos!"
"Uau!" Eu disse sendo irônica. "Tempão, hein?!"
"Conta no relógio olhando pros olhos do pra ver se não é uma eternidade?" Ela resmungou, cruzando os braços.
"Outch!" Eu levei a mão à barriga, como se tivesse levado um soco no estômago. E realmente tinha. "Essa doeu, mocinha!"
"Não mexe com quem tá quieto!"
"Tá, tá, mas continua! E aí, e aí?" Perguntei, feliz e entusiasmada com a nova aventura amorosa da .
"Depois do contato visual, ele olhou pra minha boca, pra minha boca!" apontava pros lábios, super sorridentes agora. "E eu pude sentir que estava fazendo o mesmo. Pude sentir também que o braço dele, que devia estar no sofá, tinha me envolvido um pouco. Daí, ele me posicionou um pouco contra ele, com a mão no meu ombro."
"E...?" Cu-ri-o-si-da-de. Eis o que eu tinha.
"E daí que quando alguma coisa aconteceria, você foi e perguntou em alto e bom tom, quem queria Coca-Cola, fazendo com que eu e ele saltássemos a um metro de distância um do outro.” fingiu chorar afundando a cara no travesseiro dela. "Ca-ra-lho!" Eu exclamei, um pouco alto demais. "DESCULPA, DESCULPA, DESCULPA!" Desespero de ter interrompido uma história de amor. "!" Eu a abracei, sentindo remorso. “Ai que merda!” Minha vez de afundar a cara no travesseiro.
"Tudo bem, !" Ela disse rindo. "Esses poucos momentos são legais de lembrar, sabe? Ir devagar também tem sua graça..."
Com cara de sonhadora, começou a pensar, e eu seria capaz de sair correndo pelada na rua cantando "Cara Caramba Cara Cara Ô", se ela não estivesse pensando no . Pois é.
Com os pensamentos em como eu agiria perante a situação toda, me perdi durante um tempo indeterminado. Fui acordada por , que me deu um pedala e disse:
", vamos logo, o deve estar morrendo de tédio no quarto do meu irmão."
"Impossível." Eu sussurrei pensando no Adam e, automaticamente, babando.
"O quê que você disse?" Perguntou , abrindo a porta do quarto.
"É possível." Eu respondi, seguindo-a, e prendendo o riso.
"Não entendi o que você quis dizer." Eu simplesmente disse, coçando s têmpora e olhando pro chão, sem saber o que responder.
"Isso é sério?" Ele indagou, com a voz mais grave. Eu dei de ombros e ouvi suspirar do meu lado.
“Olha, se não quiser falar sobre isso, tudo bem. Eu só achei que gostaria de conversar com alguém sobre isso, e... Além disso...” E sua frase morreu, sem ser finalizada. Isso me fez encará-lo confusa, e observando sua expressão, me deparei com uma face sincera e com certa dose de dor.
“Além disso?” Eu o instiguei a continuar. respirou fundo e me olhou atento. “Pensei em te ajudar.” E sorriu sem graça.
“Me ajudar?!” Eu praticamente cuspi as palavras, ficando mais confusa.
"Bem... Sim. Porque eu imagino que isso não é nada fácil. Gostar do seu melhor amigo e ficar em silêncio. Não gosto nem de imaginar por quanto tempo você ficou guardando isso só pra você. Doloroso é apenas a primeira de muitas palavras que passam por minha mente...” Ele falava rápido e gesticulava bastante, parecendo nervoso e eu apenas o encarava de volta, ainda confusa sobre tudo aquilo.
Uma parte de mim estava incomodada pelo fato de “descobrir” algo que lutei tanto pra manter em segredo. Em praticamente duas ou três semanas, simplesmente ''desvendou'' meu enigma, quando eu tentei arduamente escondê-lo. A outra parte de mim pensava na ironia do destino, pois estava a par do que acontecia comigo e, pasme! Há dois anos atrás, eu passava a mesma coisa com ele.
Mas que merda estava acontecendo?
“Me deixa ajudar. Por favor.” Ele falou após um tempo e só assim percebi que estava quieta durante todo o momento, encarando o chão, pensativa.
“Ajudar como?” Virei meu rosto aos poucos, olhando-o receosa. Minha voz saiu baixa e por um fio, devido ao misto de sentimentos no interior de mim que já começava a transparecer. respirou fundo, passando a mão pelos cabelos, de forma nervosa. Ergueu os ombros e levantou a mão em minha direção, quando me perguntou:
“Você não me parece ter se declarado ou algo do tipo... Mas por acaso sabe se é recíproco, de alguma forma?” Senti uma pontada em meu coração. Não consegui conter a dor que atingiu minha feição, e virei o rosto no sentido oposto de , franzindo o cenho. O suspiro dele confirmou sua compreensão de minha resposta silenciosa.
“Ele tem outra pessoa?” Novamente a voz de soou, baixa.
Respirei fundo, quase bufando. Envolvi meus braços ao meu redor e senti os ombros encolherem. Após um tempo, tomei coragem e respondi.
“Mais ou menos.” Falei, com a voz um pouco falha. “Ele gosta de uma garota do nosso condomínio... Ela também gosta dele. É questão de tempo, apenas.”
“Como você sabe?” Ele questionou e eu respirei fundo, encarando-o nos olhos.
“Eu só sei, . A gente sabe, a gente sente essas coisas... Quando gosta.” Murmurei, engolindo o bolo na garganta.
“Olha...” Ele começou a falar. “Não sei exatamente como ajudar... Mas eu sei que quero que você conte comigo quando não estiver bem por causa... dele.” Ele disse, baixando a cabeça, mantendo seu olhar no chão.
Eu respirei fundo e encarei o céu, sem reação. Fiquei assim por uns minutos até que o mar de sentimentos se acalmasse dentro de mim.
Encostei a cabeça no ombro de e encarei o horizonte, tomando coragem para falar.
"Eu percebi que gosto dele desde um pouco antes de você retornar.” Comecei a contar, e senti o corpo de ficar rígido sob mim. Não precisei olhar para cima; eu sabia que ele estava escutando atentamente. “Eu gostaria de falar pra ele, mas dói só de pensar em como isso é difícil, em receber um não de alguém com a importância que tem pra mim... E em como seria mais difícil ainda de manter a nossa amizade como ela é. Seria grande a possibilidade de acabar com tudo que temos.” E afastei o rosto para olhá-lo nos olhos. “E disso, eu não me perdoaria nunca.”
Ele me encarou de volta, fixamente. Acenou a cabeça de forma positiva, e abraçou meus ombros, num carinho sutil.
Voltei a olhar para frente, com a cabeça ainda apoiada em si.
"Entendo." Sua voz soou meio triste, e eu sorri sem humor, porém minimamente agradecida pela compreensão de .
Mais silêncio.
"Foi muito fácil?" Eu perguntei, me virando pra olhá-lo melhor.
"Hm?!" Ele ficou confuso.
"Perceber meus sentimentos." Eu murmurei, olhando-o com certa apreensão no meu interior.
"Não sei ao certo..." Ele deu de ombros enquanto um pequeno sorriso aparecia em seus lábios. "Acho que fica mais fácil perceber essas coisas...” E me olhou de volta, me encarando. “Quando estamos gostando de alguém.” E sorriu timidamente.
Afastei minha cabeça de seu ombro e dei um passo para trás, incerta do que havia acabado de ouvir. Ainda surpresa, o encarava sem dizer nada. suspirou, colocou as mãos no bolso da calça e encarou um ponto perdido à sua frente.
“Involuntariamente, tenho prestado atenção em você o tempo todo...” E me olhou de volta, sério. Nossos olhares se mantiveram um no outro, e eu sem saber o que dizer, estava apenas tentando digerir o que ele queria dizer com aquilo.
“É como você disse... A gente sabe dessas coisas quando gosta de alguém.”
Meu coração palpitou mais forte após constatar o que quis dizer. E a princípio, senti um frio enorme na barriga – eu não esperava ouvir aquilo, não esperava de jeito algum.
E Ele dizer tudo tão naturalmente, me fez admirar sua coragem e sentir até um pouco de inveja. As palavras que rasgavam na minha garganta toda vez que eu pensava em me declarar para o , conseguia dizer na maior paz, aparentemente.
“Eu não sei exatamente se estou apaixonado..." Ele disse, corando levemente. "Mas eu sei que gosto de você um pouco demais. Mais do que uma amiga. Eu gosto muito de você, ." Ele pontuou mais ainda, olhando calmamente pra mim, porém, sério o bastante pra que eu acreditasse no que ele falava.
“Cara...” Eu respirei fundo, e fechei os olhos. “Deixa eu tentar entender.” E encarei o chão, colocando o fatos no lugar. “Primeiro você chega aqui, mostra que sabe do meu segredo, diz que quer me ajudar, me apoiar e... E que gosta de mim?” E me virei para ele, olhando-o incerta. “C-Como, ? Como você pode me ajudar? Se você sabe que eu gosto de outra pessoa, alimentar esse teu sentimento só te magoa mais. Eu não entendo... Eu não... Nem sei o que dizer.” E senti minha vista arder, me sentindo um tanto confusa, a ponto de saber que em breve choraria.
"... E-Eu... Droga!” E me abraçou, apertado. Eu fiquei surpresa a princípio, mas senti o calor do corpo de e seu abraço me deu uma sensação diferente... Como se talvez, só temporariamente, eu pudesse espantar o mal-estar de gostar de alguém e não ser correspondido.
“...” Eu me afastei do abraço, limpando as lágrimas de meu rosto. “Eu sinto muito... Mas eu não tenho como retribuir, você sabe.” Falei, observando minhas mãos unidas na frente de meu corpo. Ao olhar em seus olhos, percebi uma expressão decidida, com o cenho levemente franzido. Antes que eu pudesse questioná-lo de algo, ele respirou fundo e me olhou nos olhos.
".” Ele falou e sua voz saiu mais alta que o normal, como se estivesse prestes a dizer algo realmente importante. Inconscientemente encolhi meus ombros ao ouví-lo tão diferente do comum.
pegou minhas mãos num aperto firme e caloroso, e eu olhei para elas com certa surpresa. Voltei a encará-lo com confusão nos olhos.
“Quero uma chance.” Ele falou, e eu arregalei os olhos. “Pra te provar que talvez eu possa te fazer... esquecê-lo." Ele dizia, visivelmente triste simplesmente por pensar em . "Você só tem sofrido. Eu sei como é." Ele terminou de dizer, olhando cautelosamente pra mim.
Ficou um silêncio assustador no jardim. Eu continuava olhando para , embasbacada com suas palavras.
“Por favor, diga alguma coisa.” Sua voz saiu quase como um sussurro e eu encontrei minhas cordas vocais.
“Você... Não pode estar falando sério.” Minha fala saiu mais como quem pensa alto do que qualquer coisa.
“Acredite, eu tô falando muito sério.” E se aproximou, ficando bem diante de mim. “Eu pensei muito sobre uma série de possibilidades do que poderia sair dessa conversa que estamos tendo. E eu decidi que não quero ficar pensando no “e se?”; eu quero tentar. Quero pelo menos te sugerir isso, porque não acho que seja de todo ruim... Quero te conhecer mais e melhor, estar contigo e de alguma forma te fazer sentir melhor do que está agora... Afinal, eu sei como se sente.” E me olhou com um sorriso amarelo.
"Você sabe como é?!" Eu perguntei, indignada.
"Sim, eu..." Mas eu não o deixei terminar. Era a minha vez.
"Você acha que sabe como é?! Você não tem noção, ! Você quer namorar ou qualquer coisa do tipo comigo..." Interrompida por ele.
"Te conhecer melhor..." Ele sussurrou, ainda olhando pra mim.
"Que seja!" Eu respondi, jogando as mãos pro alto. "Quer ter uma relação comigo sabendo que eu gosto de outra pessoa, que de fato, além de ser alguém da sua banda, é alguém que conheço há anos, alguém que sou amiga desde que me entendo por gente! E ainda me diz que sabe como eu me sinto?!" Eu estava irada. "Não sei se você se lembra, caro amigo, mas, há dois anos..." Sim, eu ia falar pra ele. "Eu estava no maior sufoco por causa da separação dos meus pais. Você me compreendia, porque você passou por isso também! E quando eu comecei a gostar de você naquela época, o que você fez?!" Eu o olhei, sorrindo sarcasticamente. "Ficou com a minha amiga sem nem se tocar naquilo que plantou e cultivou em mim! Você sabe o quanto eu pedi pra Deus pra que aquela tortura acabasse? Sabe o quanto eu pedi pra que o acampamento acabasse, pra que eu fosse embora e em paz pra casa, longe de você, longe do sofrimento, longe de tudo que me fizesse ficar triste?!" Eu já aumentava o volume da minha voz, tendo a certeza de que daqui há alguns momentos, alguém estaria na porta da casa de perguntando o que estava acontecendo. “E eu sei, não tem nenhum culpado! Não foi culpa minha me apaixonar, nem sua não retribuir! Eu entendo isso agora, e tá tudo bem.
zMas não venha dizer que entende o que acontece agora! São coisas bem mais complexas! Você definitivamente não sabe como é! Nada disso, absolutamente nada se compara ao que eu vivo hoje, . Estamos falando de ...” Eu apontei para dentro de casa, ao abaixar a voz. “Meu melhor amigo. O cara que eu amo, como homem. E que nunca vai me amar de volta.” E mais lágrimas surgiram do meu rosto, mas eu não me importava. “E eu não posso simplesmente abdicar de tudo e ir embora porque ele é meu melhor amigo!” Exclamei com a voz falhando, sentindo o bolo na garganta imergir cada vez mais. “E eu prefiro sofrer sozinha do que nunca mais tê-lo como amigo, .” Encarei bem dentro dos olhos dele, e enxugando as lágrimas no rosto, respondi. “Então não haja como se soubesse!”
Um silêncio habitou o lugar. Só se ouvia o fungar das minhas narinas e as minhas tentativas falhas de tentar conter as lágrimas. Eu olhava pro chão, me sentindo cansada, e o fato de ter dito tudo aquilo em voz alta, só tornava as coisas mais exaustivas.
"Você tem razão... Não sei como você ficou. Tenho uma ligeira idéia do que foi. Mas não sei completamente como foi. Eu sinto muito." Ele simplesmente disse, e eu levantei a cabeça para observá-lo. A dor em sua cara era óbvia. “E eu sinto muito pelo que aconteceu há dois anos...” Ele me olhou sério, porém sem demonstrar nenhuma surpresa. Aquilo me alarmou por dentro.
“Não vai me dizer que você... Que você sabia? Sabia que eu gostava de você?” Minha voz saiu mais baixa, e eu senti uma lágrima descer rápida e dolorosamente pela minha bochecha.
suspirou e se aproximou de mim, secando a lágrima. Eu apenas segui olhando-o, sem reações.
“Desconfiei há pouco tempo, com as alfinetadas de no carro, lembra? Sobre quem eu estaria interessado no acampamento...” Eu fechei os olhos e encarei meus pés. “Eu sinto muito por tudo, . De verdade... Se eu pudesse mudar as coisas no passado com o conhecimento que tenho agora, te garanto que não teria sido da forma que foi...” colocou suas mãos em cima de meus ombros e me olhou intensamente. “Entretanto, eu gostaria que não ignorasse o presente. Porque eu posso fazer algo agora.”
Eu fechei os olhos, sentindo as lágrimas descendo aos poucos, molhando meu rosto. Neguei com a cabeça e me afastei do toque de .
"Não adianta." Eu disse, me virando de costas para ele e encarando a rua, tentando conter o tremor involuntário que vinha de dentro do meu peito e tomava o corpo inteiro. “Não adianta...” Repeti mais pra mim do que pra ele.
“Como assim?” Ele perguntou, com a voz carregada de incompreensão.
“Não adianta!” Eu falei mais alto, abrindo os olhos em sua direção. “Isso é loucura! Essa proposta não deixará ninguém ileso! Isso... nunca vai dar certo!”
me encarou com o cenho franzido, e negando com a cabeça, se aproximou novamente de mim.
"Agora é diferente, ! Pelo amor de Deus, tente entender! Há dois anos eu era um moleque! Eu não sabia de nada com nada! Eu não sabia o que era gostar de alguém... Não como é agora! Somos livres, os sentimentos estão postos, o que há a perder que já não saibamos? Me diz!” E segurou com rosto com suas mãos quentes, enquanto seu olhar encontrava o meu. “Ninguém sai ganhando tudo, eu sei!” Ele disse, com a voz amarga. “Mas isso não impede de tentarmos algo... Entende?” Eu pude ver que os olhos dele brilhavam. "Por favor, me dê uma chance. Nos dê uma chance.”
Ele pediu, e eu estava um tanto confusa com tudo que foi dito. Não conseguia raciocinar direito.
“...”
“Gente?” Minha fala foi interrompida por um preocupado, nos chamando da porta, olhando pra nós com uma cara assustada.
"Tá tudo bem? Ouvimos algumas vozes exaltadas lá de dentro e..." A voz dele soou cautelosa. Olhei para trás de e vi com a cara fechada encarando e à mim.
"Tá tudo bem, . Tudo sob controle.” Eu tentei dizer de maneira convincente, mas sei que falhei. Limpando o rosto disfarçadamente, entrei na casa buscando minha mochila, passando direto por um que me observava sem piscar os olhos.
“Certeza?” insistiu, e eu afirmei com a cabeça, colocando a mochila nas costas.
"." chamou da porta, e quando vi, sua face estava retorcida entre dor e tristeza. ", me responde." Aquilo era muito mais do que suplicar. Mas eu não podia responder agora, eu não tinha estruturas – nem cabeça – para lidar com aquilo no momento.
"Não posso." Eu sussurrei, desviando o olhar dele pro chão, não queria encará-lo. "Não posso. Sinto muito.” Eu disse, passando pelos meninos e por ele, segurando minhas lágrimas, sem olhar para ninguém.
Eu já quase na calçada quando ouvi me chamar.
"!" Me virei e percebi que ela estava me seguindo, com Adam no seu encalço. "Nós vamos com você, espere!" E chegou ao meu encontro. Eu sorri agradecida, deixando uma lágrima escapar.
"Obrigada." Foi tudo o que consegui sussurrar, antes que me abraçasse como se soubesse do porquê que eu chorava.
"Eu vou com vo..." Ouvi a voz de e antes que pudesse terminar a frase, eu gritei.
"NÃO!" Faltava muito pouco pra que o nó saísse de seu lugar de origem. "Não, por favor! E-eu vou com e Adam.” Respondi, tentando manter a calma, sem olhar para o rosto de .
"Vamos, eu levo vocês." disse, tirando as chaves do carro do bolso e destravando o alarme. “, você assume!” Ele berrou e respondeu rapidamente.
“Deixa comigo!” acenou afirmativamente e fechou a porta de sua casa, enquanto destravava o carro com o controle.
Sentada no banco de trás, com a cabeça encostada no vidro, eu pude ver um perplexo do lado de fora da casa, olhando pra dentro do carro – que já estava em movimento – procurando meu olhar, questionando meus atos. Eu virei meu rosto e chorei mais, não acreditando como tudo aquilo estava acontecendo.
"Quer ir pra casa?" Adam sussurrou, do banco de passageiro da frente, enquanto dirigia em silêncio, de vez em quando, procurando o olhar de através do retrovisor, como se pedisse por respostas do meu estado.
"Não." Eu disse, fracamente, sem tirar meus olhos da janela.
"Ainda tá cedo. Oito e meia. Quer tomar sorvete?" perguntou, tentando um sorriso – o que eu não conseguia fazer naquele momento.
"Obrigada, , mas não. , se importa se formos pra sua casa?" Eu perguntei, ainda sentindo meu coração bater forte e magoado com tudo que havia acontecido. "Claro que não!" Ela respondeu, olhando pra mim. "Vamos lá pra casa. Quer dormir por lá?".
"Obrigada, amiga. Mas eu só quero ficar um tempinho em algum lugar que não seja a minha casa... " Porque tudo lá me faria chorar, lembrar e, conseqüentemente, . Completei a frase em minha mente.
"O que for melhor pra você.” Ela completou sorridente.
(Narrador em 3ª pessoa - On)
"." chamava o amigo. "!"
"Fala, ." respondeu, sem nenhum ânimo na voz.
"Cara, você vai ficar aqui na varanda, de pé, parado, por mais quanto tempo? Já se passou meia hora desde que ela foi pra casa! E ele não vai falar nada, desiste! Por que não vai pra casa e amanhã você resolve isso?” dizia preocupado com o amigo.
“Não vou sair daqui enquanto ele não disser porque ela estava assim! Tava tudo bem!” E suspirou, passando a mão nas têmporas. “Eu não sei por que ela não quis que eu fosse com ela...” encarava o nada, sem entender absolutamente... nada.
"Sei lá, cara, vai que ela precisa de um tempo só pra ela." deu de ombros.
"Ela não é assim. Ela sempre vem a mim quando alguma coisa acontece." Ele tentava entender.
"Teve alguma vez que ela não foi até você?" perguntou, analisando o caso com .
"Bem." tentava lembrar, até que o fez. “Há alguns dias: a vez em que eu e ela brigamos."
"Isso porque você estava envolvido nessa briga, logo, ela não vai correr pra você e contar." verificou, 'sabiamente'.
"Espere..." olhou pro amigo, surpreso. “Você tá certo! Ela não quer me ver por que a briga tem alguma coisa a ver comigo!”
“Ou talvez ela realmente só precise de um tempo pra ela...” comentou, olhando para o céu.
respirou fundo e entrou feito um furacão na casa de . revirou os olhos e gritou o nome do amigo, apressado.
“Eu não tô nem aí pra ética de vocês. Me diz! O que você tava conversando com ela? Eu sei que isso me envolve! O que tá pegando, ?" Ele perguntava, sem paciência.
Ao contrário de , estava calmo. Sem reação, pra falar a verdade, sentado no sofá olhando para o nada. Mas isso não quer dizer que ele não o respondeu como devia:
"Nada do que você deva saber."
fechou o punho, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, interveio, e, segurando a mão dele, disse:
", vai com calma. Todos nós estamos preocupados com ela, mas não é brigando que as coisas vão se resolver."
"Mas, !" exclamou, bufando. "Foi conversando com ele que ela começou a chorar! E eles estavam falando de mim, eu sei disso! Porque, se não estivessem, ela viria até a mim! Ele a magoou!"
Como se ligasse uma máquina, foi acionado pelas últimas palavras de , e ficando com muita raiva, começou a falar:
"Eu a magoei?! Vê se você se olha no espelho antes de falar de mim, ! Se liga! Você acha que toda vez que ela precisar de alguma coisa, ela vai estar sempre correndo atrás de você?” E o encarou, com raiva. o olhou com o cenho franzido, sem dizer nada. “Ela tem outros amigos. Ela já não precisa se sujeitar a correr sempre atrás de você, que só faz merda e acha que com uma simples conversa, tá tudo perdoado. Ela não é qualquer coisa!” exclamou, gesticulando, e inconscientemente, deu um passo para trás, o encarando surpreso. “Trate-a como ela merece. Nem que eu quisesse, eu poderia magoá-la como você faz. Se ela chora agora, fique sabendo que é tudo culpa sua!" pressionou rapidamente o dedo indicador no ombro de , fazendo-o olhar pro lugar onde havia encostado. “Lembra disso da próxima vez que você pensar que só você faz bem à ela.” E com tais palavras, se mandou da casa de , deixando um assustado e um muito, muito confuso.
(Narrador em 3ª pessoa – Off)
"Não, tia, tô bem, sério." sorria desconfortável com tanta coisa sendo oferecida pra ele pela mãe de . Ou eu deveria dizer futura sogrinha? Porque e , obviamente, estava na cara que ia rolar. Só precisavam de uma desculpa qualquer pra se pegarem. Tipo, um convite como: "vamos marcar um dia pra gente tomar algo sem álcool, bem leve, tipo um banho.", que aí rolava.
"Então, , o que houve?" perguntou, depois que sua mãe se retirou do quarto.
E eu devia responder. Observei o ambiente, e estava , Adam e me olhando atentamente, prontos pra ouvir uma pequena história. Havia muita gente naquele quarto. Eu conseguiria?
"... Se você não se importa..." Eu fiz um sinal com a cabeça, olhando para Adam e timidamente, fazendo com que ela entendesse mais rápido do que pensei. "Ah!" Ela disse, levantando rápido até a porta. "Meninos, por favor, sejam cavalheiros, pois nós teremos uma conversa de mulher pra mulher agora."
Eu vi Adam segurar o riso quando a irmã disse 'de mulher pra mulher', mas em seguida, levou dois olhares mortais, vindo de nós duas, e logo se apressou em andar até a porta.
"Eu vou querer saber o resumo disso. Não gastei gasolina por nada." disse, brincando comigo, beijando o topo de minha cabeça.
"Pode deixar, zão!" Eu me aproximei pra sussurrar a próxima frase. "Pode deixar que eu não vou tomar muito o tempo da sua preciosa ." Eu respondi, rindo um pouco da cara dele, que estava mais vermelha do que pimentão. ", não seja teimoso, deixe a conversar comigo um pouco." disse, encostada no batente da porta de seu quarto.
deu uma última olhada pra mim como se pedisse pra que eu não contasse pra ninguém. Como se os olhares dele pra ela já não fossem óbvios o bastante. Tá certo.
"Então." disse sentando-se ao meu lado. "Manda ver."
Respirei fundo, pensando na grande história que teria que contar. E assim, comecei. Comentei sobre tudo: desde quando eu gostava do (daqueeele jeito), quando o chegou, quando me disse que gostava de uma menina – obviamente, a Lis – até o acontecimento do dia, quando – difícil de acreditar – se declarou pra mim, me fazendo aquela tal proposta, que me deixou no estado que eu me encontrava no momento.
"Cara..." disse, impactada, como se eu tivesse dito que Hogwarts existia. "Que foda!"
Ah, claro. Porque a situação que me faz sofrer mais do que criança quando vai arrancar o dente pela primeira vez, é simplesmente... foda. Não!
", uma paixonite/amor de criança que você teve há dois anos. No caso, a mesma história se repete com o agora. Correto?"
"Sim." Até agora, ela parecia sã.
"Só que tem uma diferença: o garotinho que você gostou no passado, agora já entrou em fase de se tornar um homem. E você, uma mulher. E o cara que você gosta, também. Se você acha que não tem chances nenhuma com o , por ele gostar de uma pessoa que segundo você, gosta dele também... O que há de errado em dizer 'sim' para o ?" perguntou, pensativa.
"Meu Deus, !" Eu a chamei pelo nome, não acreditando no que ela dizia. "Eu não vou nem responder essa pergunta!"
"É óbvio que você não vai responder essa pergunta. Porque você não tem argumentos contra a minha teoria. Não há motivos pra não ficar com o . Você tá com medo. Simples." Ela respondeu, cruzando os braços, parecendo triunfante.
"Tá bom. Quer motivos? Ok. Medo? Do quê? Não há. É que simplesmente, se eu ficar com o , eu vou estar usando-o, porque eu estarei pensando em outra pessoa, e não nele. E isso não é justo. Porque eu ainda amo o . E eu não sinto que esse amor vai embora tão cedo." Eu respondi me sentindo triste pelas palavras que saíam da minha boca.
", acorda.” dizia, olhando pra mim seriamente. “Muitos casais hoje em dia estão juntos, porque tentaram, ué! Se deram uma chance. E mais: não é como se o fosse a melhor pessoa do mundo, mas o cara é um bom partido! Tirando o fato de que eu o conheci hoje, mas pelo que você me fala, ele é uma pessoa legal. Como ele mesmo disse, agora ele está mais maduro, compreende? Todos estão. Você nunca vai saber o que poderia rolar se você não tentar, vai?"
"Eu sei que ele é uma ótima pessoa e tal... Mas eu vou me sentir mal. Eu vou me sentir como se estivesse sendo escrota." Respondi, sinceramente.
"Tá, ." Ela disse um pouco estressada. "Então me diz: o que você vai fazer não ficando com o ? Vendo o e a Lis ficarem juntos, construir uma história juntos, enquanto você chupa dedo, chorando milhões e milhões de lágrimas por não ter quem queria, enquanto o está lá, pronto pra um sinal seu, e você só na agonia e tristeza?"
"Bem..." dei de ombros. "Isto é uma opção." Disse, amargamente.
"AH NÃO!" Ela exclamou, furiosa com minhas palavras. "Não, senhora! Uma opção? Pelo amor da mãe do guarda, ! Você não é a bosta do cavalo do bandido, cara! Você não merece sofrer! Me pergunto quantas vezes você provavelmente já pediu ao universo que esse sofrimento acabasse. E quando ele decide lhe conceder esse pedido, você joga fora, porque sofrer é uma opção, e você opta por ela? Não é justo nem certo! E se for sua chance? Você merece ser feliz. Merece tentar. Se você não for ficar com o pra dar-lhe uma chance..." Ela disse, segurando minha mão enquanto me observava calmamente, porém séria. "Dê a chance a si mesma. E não a despreze. Você merece tentar."
"Você acabou comigo." Eu respondi, faltando muito pouco pra não pegar um caderninho e escrever o pequeno discurso da .
Ela riu em seguida, me dando um pedala.
"Mas é sério, cara. Reflita: o tá lá, correndo atrás da garota dele... E o tá aí, de braços abertos pra você, se declarou e tudo, e, detalhe: ele sabe do risco que ele está correndo e mesmo assim, quer tentar. Sinal de que você vale a pena, né? Seja feliz."
"Brigada." Eu disse, dando um meio sorriso, deixando as lágrimas rolarem soltas pelo meu rosto.
"Eu sei que isso não são lágrimas, é perfume de cebola que você teima em usar." disse, vindo me abraçar.
"Odeio esse perfume!" Eu disse, enquanto minhas lágrimas molhavam a manga da blusa dela.
"Tá ok, senhorita. Mas agora, levanta o astral, limpa esse rostinho bonito, porque, como diz a Fergie, meninas crescidas não choram!" E deu uma piscadela na minha direção, o que me fez rir.
“Fergie não sabe de porra nenhuma...” Reclamei, dando de ombros.
“Nem me fale!” Ela se levantou em direção à porta, mas segurei seu braço. Afinal, não podia deixar de perguntar:
"Você acha que vai sair imune dessa, ?" Eu perguntei, já zoando com o sobrenome dela.
"Quê?!" Ela perguntou, arregalando os olhos em surpresa.
"É, não pensa que vai sair assim sem responder as minhas perguntinhas, não, meu bem! Troca justa! Eu te contei dos meus casos, agora você me conta o que tá rolando entre você e o Senhor , posso saber?" Perguntei, com um sorriso galanteador, enquanto assistia virar um pimentão.
"Ah, cara, sei lá..." Ela disse, fingindo se importar com os detalhes da almofada pra não me encarar. "Quando eu fui falar com ele pela primeira vez, ele foi todo meigo, fez aquela reverência toda... E, durante o ensaio, depois de vários olhares na minha direção, ele mandou uma piscadela pra mim, sabe?" Ela gesticulava, enquanto ficava cada vez mais vermelha e sorridente. "Aquele estilo do tipo: vou olhar pra ver se ela tá olhando. Ah, ele é muito fofo! E quando o ensaio terminou, eu quis tocar no instrumento dele..."
"Você é rápida." Eu disse, fazendo uma cara sapeca, levando uma almofadada na cara de presente.
"Garota!" Ela disse, ficando muito, muito vermelha. "Bem... Ele me mostrou algumas coisas fáceis de tocar, mas eu não dei a mínima, eu só olhava pra ele, sabe? O jeitinho dele atencioso com a música, como ele se esforçava pra parecer que tocava bem... Ah, sei lá. Depois a gente conversou sobre bandas, e eu falei que queria muito ir à um show do Green Day... Conversamos muito sobre música, ele gosta de coisas muito boas! Cara, ele curte Pink Floyd, se não fosse pela aparência, eu me apaixonaria pela personalidade, mas ele é o pacote perfeito! Enfim..." Ela falava rápido demais, mas eu compreendia. Ou simplesmente tentava. "Daí, quando fomos assistir o filme, ele sentou do meu lado." Ela batia palminhas, de tão entusiasmada. "E quando as luzes apagaram, ele fez a típica manobra do bocejo, se espreguiçando e colocando o braço em cima do sofá, atrás de mim. Tá, foi bem clássico, não foi brega!" Ela avisou, com um olhar mortal pra qualquer comentário negativo que eu fizesse sobre a manobra de . Não que eu tivesse nenhum, pois estava mais ocupada tentando entender o que ela dizia em tempo real. "Enfim, daí, quando começou aquela mesma guerra estelar de todos os filmes de Star Wars, eu comecei a ficar com medo do Darth Vader, e comecei a me encolher. viu como eu estava, e segurou minha mão, sussurrando no meu ouvido: "Fica tranqüila, eu to aqui contigo." E COMO EU SABIA DISSO! Se me perguntassem qual era o meu nome, eu ia dizer " ", porque era a única coisa que estava na minha mente naquele momento. Estava mais embasbacada e hipnotizada pelo olhar do do que as ameaças malignas de Vader ao Obi Wan."
"Rolou uma troca de olhares intensa?" Eu perguntei, querendo que trouxessem uma pipoca pra mim, pois aquela história tava ficando boa!
"Aham!" Ela disse fazendo umas dancinhas de vitória. "A gente ficou se olhando no olho por uns oito segundos!"
"Uau!" Eu disse sendo irônica. "Tempão, hein?!"
"Conta no relógio olhando pros olhos do pra ver se não é uma eternidade?" Ela resmungou, cruzando os braços.
"Outch!" Eu levei a mão à barriga, como se tivesse levado um soco no estômago. E realmente tinha. "Essa doeu, mocinha!"
"Não mexe com quem tá quieto!"
"Tá, tá, mas continua! E aí, e aí?" Perguntei, feliz e entusiasmada com a nova aventura amorosa da .
"Depois do contato visual, ele olhou pra minha boca, pra minha boca!" apontava pros lábios, super sorridentes agora. "E eu pude sentir que estava fazendo o mesmo. Pude sentir também que o braço dele, que devia estar no sofá, tinha me envolvido um pouco. Daí, ele me posicionou um pouco contra ele, com a mão no meu ombro."
"E...?" Cu-ri-o-si-da-de. Eis o que eu tinha.
"E daí que quando alguma coisa aconteceria, você foi e perguntou em alto e bom tom, quem queria Coca-Cola, fazendo com que eu e ele saltássemos a um metro de distância um do outro.” fingiu chorar afundando a cara no travesseiro dela. "Ca-ra-lho!" Eu exclamei, um pouco alto demais. "DESCULPA, DESCULPA, DESCULPA!" Desespero de ter interrompido uma história de amor. "!" Eu a abracei, sentindo remorso. “Ai que merda!” Minha vez de afundar a cara no travesseiro.
"Tudo bem, !" Ela disse rindo. "Esses poucos momentos são legais de lembrar, sabe? Ir devagar também tem sua graça..."
Com cara de sonhadora, começou a pensar, e eu seria capaz de sair correndo pelada na rua cantando "Cara Caramba Cara Cara Ô", se ela não estivesse pensando no . Pois é.
Com os pensamentos em como eu agiria perante a situação toda, me perdi durante um tempo indeterminado. Fui acordada por , que me deu um pedala e disse:
", vamos logo, o deve estar morrendo de tédio no quarto do meu irmão."
"Impossível." Eu sussurrei pensando no Adam e, automaticamente, babando.
"O quê que você disse?" Perguntou , abrindo a porta do quarto.
"É possível." Eu respondi, seguindo-a, e prendendo o riso.
Capítulo 09 - Take these chances, we'll make it somehow.
"Cara..." Adam parecia refletir, enquanto esperava se despedir de Leli. "O que eles tanto conversam? Só se conheceram hoje e já estão num papo assim? Alguma coisa tá rolando." Uau, que menino esperto você é, Adam!
“Hm.” Eu murmurei, olhando pro meu all star todo ferrado, mas pensando em como eu iria encarar e amanhã, na escola.
Na verdade bem verdadeira, eu estava muito confusa e não sabia o que dizer ou o que fazer.
Em relação ao .
E ao também.
Meus pensamentos foram interrompidos pela fala de Adam, que despertou minha curiosidade.
"Ainda não consigo acreditar direito no que você disse."
"Sobre...?" Eu perguntei, obviamente perdida.
"Sobre o caso de hoje." Ele respondeu, fazendo uma cara como se fosse óbvio o que ele dizia. " vem falar de um assunto particular e sensível seu, e querendo ajudar, atrapalha mais ainda. Isso é o que chamo de má sorte.” E deu de ombros.
Eu suspirei, pensando que era melhor aquela sucinta explicação do que expor mais os envolvidos. Sim, eu comentei de forma bem breve o que tinha acontecido. E lá estava eu, suspirando pesarosamente ao lado de um cara que eu tinha acabado de conhecer e já sabia da maior treta da minha vida nos últimos tempos.
Um novo suspiro de minha parte fez Adam me olhar de soslaio, e senti uma certa tensão no ar, de sua parte.
“Desculpe fazer esse comentário. Você deve estar um tanto confusa com tudo isso.” E riu sem graça.
“É.” Falei, encarando o chão. “Já estou acostumada com isso. Eu nunca dou sorte com essas coisas mesmo.” E dei de ombros, rindo sem humor.
“Hey.” Ele me chamou, e eu o olhei de volta. “Vai ficar tudo bem. Não esquente a cabeça mais do que o necessário.” E sorriu, sincero.
Fiquei um tempo olhando em seus olhos, e vi uma sinceridade natural neles. “Eu espero...” E olhei para frente, cruzando os braços irrequieta. “Obrigada.” Eu comentei, quase em um sussurro.
“Estamos aí.” Ele respondeu, batendo uma falsa continência, e eu ri levemente. “Você é legal, Adam.” Fiz o comentário, olhando-o de lado.
"É. Você também não é tão mal assim." Deu de ombros enquanto ria, fazendo-me rir também.
Estávamos num silêncio agradável, até Adam cortá-lo.
“Você sofre por alguém, não é?" Ele indagou, olhando para o céu.
Eu estava prestes a chutar uma pedrinha quando ouvi sua pergunta. Minha perna travou no movimento e, ao invés de lança-la para frente, eu simplesmente trouxe-a de volta, ficando em pé normalmente e dando uma profunda respirada antes de respondê-lo.
“Sim” Assumi, olhando pra lua que iluminava nossa conversa.
“Bom... Isso também passa. Relaxa.” E eu sorri, ainda mirando a lua.
Uma brisa gostosa atravessou nossa conversa, e eu me permiti fechar os olhos, absorvendo os bons ventos e as palavras esperançosas de Adam.
“Parece que nunca vou deixar de sentir isso... Amor não-correspondido é uma droga.” E olhei para ele de soslaio, que ria da minha constatação.
“Nem fala! Merda é pouco...” E após me encarar como quem faz uma breve análise, se virou em minha direção e aconselhou: “Só não vá se perder no sofrimento. Não ignore as outras possibilidades de tudo ser menos doloroso quando a oportunidade bater na sua porta.”
Vi meu reflexo em seus olhos, e pude perceber uma jovem amedrontada, com medo da vida e de seus próprios sentimentos. Desde quando havia me tornado aquela pessoa?
“Obrigada. De verdade...” Respondi, fechando meus olhos e estalando meu pescoço. Percebi que estava cansada.
"Me diga uma delas." As palavras saíram da minha boca antes que eu me desse conta do que realmente tinha dito.
“Delas?” Adam perguntou confuso.
"Das suas impressões sobre a vida... Que você aparentemente já viveu e sabe que de alguma forma, podem me ajudar." Respondi, olhando-o timidamente.
Adam me encarou de volta, com sua feição surpresa.
"Hm. Nossa...” Ele suspirou antes de continuar, e sorriu. “Acho que ninguém nunca me disse isso. Ou quis saber...” Seu olhar se perdeu no horizonte, como quem pensa sobre o assunto, e logo um sorriso maroto surgiu no canto de seus lábios. “Posso te responder com sinceridade?”
Eu acenei a cabeça positivamente, ansiosa.
“Que tal deixar as coisas se assentarem? Você me parece que está digerindo muita coisa no momento... Seria interessante entrar em contato com tudo que você está sentindo, e entender essas questões, do que simplesmente seguir conselhos de uma pessoa que não vive sua vida nem suas emoções.” E me sorriu gentilmente.
Eu dei uma breve risada. Ele estava muito certo.
“Você tem razão. Capaz de me confundir ainda mais.” E dei de ombros, pensando na loucura dos últimos acontecimentos. “Vamos fazer o seguinte: você me paga um café um dia desses e a gente troca essa ideia melhor, quando as coisas estiverem mais tranquilas. O que acha?” Ele sugeriu, e eu prendi levemente o ar antes de soltá-lo.
A simples ideia de estar tomando um café à sós com Adam me deixava agitada – aquela sugestão parecia um encontro, apesar da intenção aparentemente ser apenas uma oportunidade de falar sobre a vida, sem segundas intenções.
O problema era que Adam era extremamente lindo, charmoso e eu ficaria babando o tempo todo. Seria problemático, como diria . Definitivamente.
Mas no fundo, sabia que não tinha nada a ver. Porque fogo de palha era uma coisa, estar apaixonada por era muito real, mesmo que eu decidisse me envolver com alguém numa noite, eu dormiria, acordaria, e o sentimento estaria lá, com força total.
E agora, pra melhorar tudo, tinha e sua inusitada proposta de “me conhecer melhor.”
Eu pedi pra ser azarada no vale do eco, certeza.
“Ih, pela demora da resposta, acho que isso é um não...” Adam disse de repente, me fazendo acordar do devaneio interno. Eu sorri sem graça, dando de ombros.
“Não é isso. É claro que eu tomaria um café com você! Estou apenas pensando nos motivos disso. Essa situação toda...” E olhei o céu novamente, suspirando.
“Já te falei que tudo vai ficar bem, relaxa mulher!” E me deu um leve empurrão com seu ombro, enquanto me observava risonho. “Qualquer coisa a gente larga tudo e acha uma nova banda pra ser groupie. Eu só vou precisar que você me empreste sua meia arrastão, pra valorizar esse corpinho.” E fez uma pose que me fez gargalhar alto – e aquilo era tão bom, depois de tanta lágrima...
"Você é uma figura, cara." Brinquei, enquanto via se despedir com um beijo no rosto de Leli.
“Uma figura? Uh, eu te ajudo a completar o álbum e a coleção!”
Foi bom rir da piada de Adam, rir verdadeiramente com algo tão sem-graça, mas que tirava momentaneamente o peso no ar.
”Vou cobrar o café." Eu disse, indo me despedir do irmão de Leli com os famosos dois beijinhos no rosto e um singelo abraço. "Obrigada." Agradeci, antes de seguir , que já abria a porta do carro pra ele. O cavalheirismo morreu, e tenho dito.
"Não por isso.” E piscou, segurando meu ombro. “Espero que tudo se resolva." Adam respondeu com um sorriso no rosto.
Devolvi o sorriso, acenando positivamente e me sentindo um pouco mais tranquila. Me despedi de Arieli, que tinha um sorriso enorme no rosto – o que me fez rir levemente.
“Depois te conto.” Ela sussurrou enquanto me abraçava, e eu murmurei um sim antes de partir.
Entrei no carro, colocando meu cinto de segurança, e, antes do mesmo dar a partida, olhei pra fora da janela, acenando pros donos da casa. Adam devolveu o aceno com sua mão direita, enquanto a esquerda permanecia no bolso da sua calça jeans. Leli acenava, mas não era pra mim. Seus olhos estavam em , enquanto o mesmo acenava da mesma forma abobalhada que ela. Ora, novidade.
Quando o veículo começou a andar, me permiti levar pelos pensamentos e em como o dia tinha sido um misto de loucuras e surpresas. Fiquei pensando em quanta coisa tinha acontecido, e quando menos esperei, me surpreendeu.
"Prontinho, chuchua. Está entregue."
Assustei-me, percebendo que estava em frente ao meu condomínio.
"Valeu, ." Disse, soltando o cinto de segurança. "Valeu mesmo." Agradeci, me referindo à tudo que ele fez, sem pensar duas vezes em me ajudar. Nos abraçamos antes de sair e eu tive a certeza: eu tinha os melhores amigos.
“Você sabe que pode contar comigo sempre que precisar. Se precisar conversar...” “Eu sei... É que... É complicado.” Respondi num sussurro.
“Eu imagino. Sem pressão. Só fique bem, ok? Conta comigo, songa monga. Só não conte com dinheiro, porque eu não tenho onde cair morto." Ele respondeu, sorridente, o que me fez rir, depois de termos saído do abraço.
"Pode deixar, eu sei como retribuir o favor. Amanhã eu vou à escola." Falei, abrindo a porta, com um pequeno sorriso no rosto.
"E o quê que tem?" indagou, se abaixando na altura do volante pra que pudesse observar meu rosto.
"Leli estará lá." Respondi dando uma piscadela, e fechei a porta do carro, vendo a cara de felicidade que ele teria estampada no rosto.
Queria eu ter motivo pra tanta felicidade, pensei comigo mesma. Até que acabei pensando no que Adam havia me dito há alguns momentos. Sobre a felicidade bater à minha porta e eu... aproveitá-la.
Cheguei em casa sentindo um pouco de dor de cabeça, pelos esforços de tentar compreender o que acontecia na minha própria vida.
"Filha!" Minha mãe exclamou enquanto eu deixava minha chave em cima da mesa. "Você não vai acreditar! Aquele filme que eu queria ver vai passar daqui há dez minutos!” Ela disse contente.
“Que legal, mãe. Aproveita.” E comentei, forçando um sorriso.
"Tá tudo bem, filha?" Mamãe me perguntou, notando minhas falas monossilábicas.
"Aham, tudo bem. Bom, mãe, eu vou deixar as coisas aqui, tomar um banho rápido e descer, ok?" Perguntei, tirando minha mochila das costas, enquanto mamãe se preparava pra discutir.
"Mas, minha filha, essa hora?" Ela interrogou, olhando pra mim com cara assustada, preocupada. Ah, eu adoro minha mãe.
"Mãe, são nove e trinta e sete." Respondi, piscando devagar, mal acreditando no visor do meu celular.
"Você tem que acordar cedo..." Ela disse, reparando na novidade do horário. "Tem certeza de que tá tudo bem?"
Respirei fundo umas duas vezes.
"Sim, tudo bem." Tudo péssimo.
"Ok, então." Mamãe afirmou, ligando a televisão, se preparando pra assistir ao filme. "Tome seu banho e desça."
"Valeu, mãe." Agradeci, por ela não ter encrencado e por deixar as coisas fluírem num dia difícil.
"O estará lá embaixo?" Ela perguntou e eu ri sem graça. Mães...
"Ah..." Balbuciei, antes de me virar pra ela. “Não sei, eu voltei um pouco mais cedo do ensaio, não vim com ele. Enfim, vou tomar meu banho." Ela apenas acenou e me acompanhou com o olhar até eu sumir de sua vista.
Fui pro meu quarto. Lá, deixei minha mochila em um canto, coloquei meu celular em cima da escrivaninha e abri meu armário. Como eu ia descer, e estava uma noite meio fria (ainda mais pra alguém que vai descer logo depois de tomar um banho quentinho), eu escolhi minha bermuda jeans, uma blusa de mangas que modelava a parte do meu corpo, da cintura pra cima, e um moletom preto.
Ao entrar no chuveiro, eu deixei que toda a água caísse sobre minha cabeça, desejando que todos os meus pensamentos complicados descessem pelo ralo. Deixei que cada pingo que atingia minha cabeça, me relaxasse mais um pouco, porque do que eu mais precisava era estar relaxada pra encarar toda a situação que se chama 'minha vida'. E eu tinha certeza que, assim que eu saísse do chuveiro, os pensamentos sobre todos os acontecimentos marcantes e recentes na minha vida iriam me atingir com força total. E eu não podia amarelar, porque afinal, se tratava da minha felicidade. Não é de qualquer pessoa, se tratava simplesmente... de mim.
"Lembre-se que vão dar dez horas. Meia hora lá embaixo."
"Uma hora." Eu sussurrei pegando meu fone.
"Quarenta e cinco minutos." Ela disse quase fechando a porta.
“Yes, sir." Respondi, batendo continência.
A coisa mais agradável que poderia existir no meu condomínio é um balanço de brinquedo no qual eu me recolho para pensar. Ultimamente, sem ter muito tempo, eu vou sempre que não me sinto bem.
Estranho é saber por que eu fico por mais de uma hora me balançando ali, escutando minhas músicas, sem querer que ninguém me perturbe. Eu acho que isso me relaxa. Pelo menos é ali que eu penso em todos os sonhos que quero realizar. Acho que sonhar me deixa mais tranquila. Acho que sonhar me mantém um pouco mais calma com tanta dose de realidade.
Sentei-me no balanço, colocando o fone em meus ouvidos, esperando a música começar a soar neles. E foi assim que Five Times August começou a entrar em meus pensamentos.
I want to feel safe
(Eu quero sentir seguro)
I want to feel like I'm not hated too
(Quero sentir também como não sou odiado)
I want to get closer
(Quero chegar mais perto)
I want to feel the most I'd get from you
(Quero sentir o que melhor de você)
I'm too much on the rebound,
(Sou muito do rebote)
I'm too much on the ground,
(Sou muito do chão)
But you can't be
(Mas você não pode ser)
You're always getting higher,
(Você está sempre ficando mais alto)
You don't desire me
(Você não me deseja)
Confusão dominava minha mente. Eu já não sabia equilibrar, não sabia distinguir o que era certo e errado, não sabia o que era razão e emoção. A letra da música fazia tanto sentido. Percebi que, com tanta coisa acontecendo e tão pouco tempo pra processar, eu sequer tive tempo para pensar no que eu achava de tudo aquilo, no que eu pensava em qual medida tomar perante a tal situação. Pessoas me dizendo, me aconselhando, é muito bom. Mas não adianta de nada, se eu não souber o que eu quero.
Minha mente foi invadida com a imagem de procurando por meu olhar no jardim de . Ele também estava muito confuso, ainda mais por não saber por que eu não o queria por perto. Seria difícil explicar para ele sem mencionar tudo o que eu sentia por ele. E o medo de perder a amizade dele por causa de todos esses problemas era a coisa que mais me assustava e o que mais me preocupava no momento. Uma lágrima solitária escorreu sobre meu rosto, causada pelo medo de perder . O pouco do muito que eu desejava dele...
So what've I got to prove?
(Então o que eu tenho que provar?)
What've I got to lose
(O que eu tenho a perder?)
When you're not worth fighting for?
(Quando você não está pronto pra lutar?)
And why am I feeling down
(E por que estou sentindo para baixo)
While you're out messing around?
(Enquanto você continua a andar?)
You're not worth begging for
(Você não está pronto para começar.)
Fechei meus olhos, a fim de deixar com que o vento que bagunçava meu cabelo molhado, tirando toda aquela confusão da minha cabeça. Ou pelo menos, que me fizesse tomar a decisão que fosse o que eu queria, sem deixar que a amizade entre mim e acabasse.
De olhos fechados, eu pude sentir que no balancinho, um peso a mais se instalou. Eu estava cansada demais para abrir meus olhos, mas, provavelmente, deveria ser uma criança. Já estava acostumada a ser interrompida na minha terapia por crianças pedindo pra sentar no brinquedo e balançarem. Ignorando a presença alheia, senti que o balancinho começou a tomar movimentos, pra frente e pra trás, fazendo com que o vento bagunçasse mais o meu cabelo, mas também, que acariciasse o meu rosto, o que me fez sentir mais relaxada. O vento me relaxa.
O movimento começou a ficar mais rápido. O vento já não acariciava meu rosto, e sim, se forçava contra ele. Meu cabelo, já não dançava com o vento, e sim, simplesmente se debatia contra o mesmo. Pra aumentar tanto a velocidade do brinquedo, não era uma criança. Eu me toquei disso e do horário inapropriado para uma criança brincar àquela hora.
Foi quando eu abri meus olhos e enxerguei .
Just wanted to stop by
(Só queria passar por aqui)
Just wanted to see you one last time
(Só queria ver você uma última vez)
Just wanted to say bye
(Só queria dizer adeus)
Just wanted to get you off my mind
(Só quis tirar você da minha mente)
Just wanted to fit in
(Só queria me encaixar)
But then I saw you with him
(Mas então vi você com ele)
Eu tomei um susto tão grande que não consegui disfarçar a surpresa no rosto. Mas o que mais me chocou foi o olhar questionador e principalmente triste que ele me lançava.
It's up to me, It's up to me
(Cabe a mim, cabe a mim)
And I'm still falling
(Ainda estou caindo)
It's up to me, It's up to me
(Cabe a mim, cabe a mim)
And I'm still calling
(Ainda estou chamando)
Ele me olhava sem nenhuma menção de que fosse dizer alguma coisa. Da mesma maneira que eu o olhava. Era recíproco. No olhar dele não tinha nenhuma daquela confusão, nem tormento, nem nada que tinha da última vez que eu o tinha visto. Poderia apostar que daria o mundo para saber o que se passava em minha mente. Tudo isso através de seu olhar incisivo, que me fazia sentir-me nua.
It's up to me
(Cabe a mim)
And I'm still hoping
(E ainda estou esperando)
For you to hold me
(Você para me abraçar)
To let you go
(Para te deixar partir)
But for all you know
(Mas para você)
I'm already gone
(Eu já parti)
"It’s up to me, and I’m still hoping for you to hold me... To let you go…" Cantei, ainda olhando nos olhos de , tirando os fones de meus ouvidos, preparada pra notar qualquer mudança na maneira em que ele se encontrava no momento. "But for all you know, I’m already gone." finalizou, colocando suas mãos no bolso de seu casaco azul-marinho, ainda olhando pra mim.
O silêncio se instalou entre nós. Apenas nossos olhares se encontrando no meio de tantos pensamentos que se misturavam, porém, permaneciam os mesmos.
"Você é tão previsível." Sussurrei, me perdendo aos poucos nos olhos do cara que eu amava.
"Digo-lhe o mesmo." Ele respondeu, no mesmo volume, retribuindo o olhar. Respirei fundo, criando coragem, pois é claro que falaríamos do episódio decorrido anteriormente.
"Precisamos conversar.” quebrou o silêncio entre nós, apoiando os cotovelos no joelho e, olhando pra mim.
"Eu também acho." Respondi, olhando, pela primeira vez, para algo que não fosse : pro meu tênis.
“Jogo de perguntas?” perguntou, e eu sorri fracamente. Costumávamos fazer isso para passar o tempo, mas nunca numa situação dessas.
E apesar de sentir as emoções nebulosas de , eu poderia dizer que ele se esforçava em tentar abordar de uma maneira mais tranquila do que de costume.
Se fosse há um tempo atrás, ele já estaria questionando tudo sem nem dar tempo de resposta; apenas seria tomado pela raiva e falaria um monte...
Não que ele não tivesse direito de sentir esse sentimento ou algo do tipo, mas estava apenas grata por ele conseguir fazer o esforço de tornar a conversa minimamente saudável, sem explodir ou algo do tipo.
“E então?” Ele me perguntou, e eu o encarei. Pisquei algumas vezes antes de suspirar. Acenei positivamente.
“Cinco perguntas pra cada?” Sugeri, cruzando os braços.
Foi a vez de concordar com um aceno de cabeça e, apontando pra mim, concluiu.
“Pode começar.”
Respirei fundo.
Aquilo não ia ser fácil...
"Por que tem ranço do ?" Perguntei, olhando diretamente nos olhos dele, que refletiam a total surpresa, causada pela minha pergunta. Eu podia ter certeza, e não estaria errada: ele não esperava essa pergunta.
"É sério?” E riu descrente, enquanto eu o encarava sem reagir. Ele respirou fundo, fechou os olhos com força e os abriu, me observando. “Eu não chamaria isso de ranço. Mas sou desconfiado, não é óbvio? É só ver: ele te magoou no passado." sussurrou enquanto olhava para o chão. "E as coisas não parecem tampouco ter mudado no presente." E me olhou novamente nos meus olhos, parecendo estar decidido sobre o que falava.
Eu suspirei, passando a mão nos cabelos. Já tinha perdido a conta das vezes que tentei convencê-lo do contrário, mas parecia irredutível ao seu achismo de que era “mau-caráter”.
"Sua vez." Eu indiquei, sem retrucar a sua resposta.
"Por que não me queria por perto?" Ele perguntou na lata, e eu pude ver a dor em seus olhos. Eu o havia magoado, e isso não era nada legal. Prendi a respiração e senti meu cenho franzir, antes de desviar o olhar para as árvores ao nosso redor.
"Você me faria contar de tudo que eu e o tínhamos conversado e, consequentemente, me faria lembrar tudo e sofrer um pouco mais. E era a única coisa que eu não queria fazer no momento." Respondi calculadamente, e aquilo não era mentira. Só não era completamente verdade.
“Por que algo me diz que não é só isso?” Ele indagou, cheio de si.
"Você não precisa acreditar em mim, faça o que quiser." Sussurrei, olhando séria pra ele. "Fatos são fatos, crendo você neles ou não."
"Certo, , eu não vou discutir isso.” Ele gesticulou, jogando as mãos pra cima. “Você sempre tem que estar certa!”
“Ah claro, porque você está sempre disposto a acatar uma opinião diferente da sua!” E bufei, com raiva.
Silêncio se estabeleceu entre nós, e a insatisfação era palpável.
“Posso fazer minha próxima pergunta?” Perguntei.
"À vontade." Respondeu friamente.
“O que te faria confiar no ?” Questionei, cruzando as mãos e apoiando meus cotovelos nas coxas.
"Oh, não, eu confio nele. Eu só não confio nele em relação a você, é bem diferente."
“Você é inacreditável, cara.” Eu comentei, não evitando de rolar os olhos, fato ignorado por , que engatou na sua próxima pergunta.
"Falaram sobre mim?" indagou, obviamente sobre a conversa entre eu e .
"A conversa não era sobre você." Respondi secamente.
"Você não respondeu minha pergunta." Ele rebateu, na mesma frieza.
"Citado, porém, nada que mudasse alguma coisa." Retruquei, nervosa. "Como você quer que a sua banda dê certo se você não confia no ?"
"Contanto que ele não fique sempre entrando na sua vida e te fazendo chorar, acho que posso dar um voto de confiança.” Ele disse numa entonação óbvia, e aquilo me irritou demais.
"Você tá gostando do ?" perguntou na cara dura.
"Não, não é dele de quem eu gosto. Porque você tá agindo dessa forma toda?" Perguntei, sem esperar reações.
"Porque é isso que os amigos fazem quando querem zelar pelo bem do outro. Há possibilidades de você gostar dele, e esquecer o outro?"
O QUE ELE ESTAVA FAZENDO?
"Tudo é possível na vida." Dei de ombros. “Não posso afirmar nem negar nada. Tudo é possível.”
"Compreendo perfeitamente." Pude sentir o desdém na voz dele, e realmente, não entendi porque ele agia assim. Mas, como a minha próxima pergunta seria a última, eu perguntei com cautela.
"Você não está zelando pelo meu bem. Se amigos fizessem isso, então, minha mãe e os meninos o fariam. Leli faria também. Mas só você está nessa neura de não gostar nem confiar no , inclusive me tratando mal, causando várias discussões entre nós. Então, de uma vez por todas, me responde com sinceridade, : por que você está sendo tão imaturo em relação a isso? Você não é assim!”
“É imaturo eu me preocupar com você? É natural que como melhor amigo, eu me importe mais com você do que a maioria. Eu ainda não confio nele! Se antes te magoou, nada impede dele fazer novamente. Nada me garante que vai ser diferente agora.” E negou com a cabeça, me olhando sério. “Um grande exemplo foi a noite de hoje. E se ele não mudar?”
"Não se trata apenas dele, ." Eu o olhei com certa descrença. "Não só , mas tudo já mudou... Ele está mais amadurecido agora. E eu também. Seja o que tiver entre nós, não há motivos pra você não gostar dele. Já falei pra você não o julgá-lo dessa maneira. Você não o conhece o suficiente, portanto, pare com isso!” Respondi, rispidamente.
"E você o conhece, o quê? Um mês? Um pouco menos do que dois meses? Ah é, você o conhece muito bem!" , o rancoroso.
"Conheço mais do que você! O conheço o suficiente pra saber que ele não é nada do que você pensa. Pare já com isso e confie um pouco no fato de que as coisas possam dar certo, e que ninguém precisa sair machucado!”
"Como você quer que eu acredite que ele não te magoará se numa simples conversa você já saiu chorando, não me queria por perto e, tudo isso, por culpa dessa conversa que você teve com ele?! Como você quer que eu acredite que você não vai sair machucada?!"
"Esta já é a sua última pergunta?" Perguntei, fechando a cara e cruzando os braços, furiosa.
"Não... não é.” Ele cruzou os próprios braços e me encarou com a face igualmente fechada. “Eu quero saber sobre o que vocês conversaram." Ele respondeu, com um pouco de raiva em suas palavras.
"Isso não é da sua conta!" Rebati com a mesma raiva dele.
"É da minha conta quando falam de mim! Principalmente quando de alguma forma atinge você!” Ele respondeu sério, porém eu sabia que estava nervoso.
Respirei fundo, procurando manter a calma.
Não acreditava que ele estava questionando aquilo.
E tudo que eu queria saber, não poderia perguntar pois colocaria nossa amizade em risco...
Mas, do jeito que as coisas estavam... Já não estávamos involuntariamente correndo este risco?
Tomei fôlego e encarei o chão.
"Ele sabe que eu estou gostando de outra pessoa.” Falei de uma vez, e senti que prendeu a respiração – que há segundos atrás, estava praticamente abanando meu rosto.
Mas eu segui olhando o chão, sem mirá-lo nos olhos.
“E se abriu pra mim... Ele disse que está gostando de mim.'' Praticamente cuspi as palavras, com medo da reação de .
"Tá, e você acreditou nele?" Ele perguntou, com desdém nas suas palavras, o que me fez observá-lo, irritada.
"Por que eu não deveria acreditar nele?" Falei um pouco mais alto do que deveria pra alguém que supostamente estava fazendo e respondendo perguntas.
riu sarcástico, e aquilo aumentou minha irritação num nível...
"Perdão, eu esqueço que só eu me lembro do que ele te fez sofrer no passado." "Você nem se lembrava dessa história quando me perguntou de onde eu o conhecia!" Raiva, raiva e raiva.
"Eu sabia da história, só não sabia que ele era o que tinha te magoado!" apontou com raiva pra mim. Ah não!
"Por que é tão difícil acreditar que alguém simplesmente pode se interessar por mim, ? Hein? Vamos, olhe pra mim!” Eu exclamei, gesticulando com meus braços, e só olhava em meus olhos.
“OLHE. PRA. MIM!” Eu exclamei, e ele virou a cara para o outro lado. “Eu sou praticamente uma mulher, . Eu posso não ser como as garotas que você está acostumado a ficar, posso não fazer o tipo de mulher padrão, mas eu tenho um corpo, uma mente, uma personalidade que pode sim ser desejada!” As lágrimas começaram a descer. Era tão difícil precisar me afirmar aquilo todos os dias. Principalmente diante da notável rejeição de .
“E eu sei que posso ser alguém interessante o suficiente pra despertar o desejo em alguém. Alguém como .” E só aí, me encarou de volta, com raiva. “Sinceramente, se uma pessoa legal ainda não surgiu pra você, problema é seu! Se você sente que precisa esconder seus demônios e só mostrar suas qualidades para ficar com as meninas, isso aí é contigo! Eu sou o que sou e sou feliz desse jeito. Se assim não funciona pra você, e se você não vê as coisas como eu vejo... não venha jogar seu pessimismo pra cima de mim!" Me levantei do brinquedo, sentindo a raiva sair pelas minhas ventas. “Lembra disso quando achar que é o motivo das minhas mágoas.” E saí andando, apressada.
Ouvi passos atrás de mim e logo senti segurar meu pulso. A minha vontade era de socá-lo, mas me segurei quando ele chamou meu nome numa voz quase inaudível.
“Eu não quis dizer isso. Por favor, não me entenda mal.” Me virei em sua direção sem encará-lo, e cruzei meus braços, tirando sua mão de meu pulso.
Eu vi pelo canto dos olhos que ele abria e fechava a boca, tentando falar um monte de coisa, mas nada saía.
Cansada daquilo, bufei e o encarei, interrompendo seu questionamento interior.
"Olha, ." Eu disse, tentando prolongar à calma. "Você pode querer o meu bem... Você é meu melhor amigo, eu entendo isso. Mas você tá agindo de uma forma muito estranha. A gente tem brigado diversas vezes por causa desses achismos, desse cuidado excessivo seu. Isso está acabando com a gente!” Eu exclamei, olhando pra seus olhos surpresos enquanto sentia a voz embargar.
“Sinceramente, eu não aguento mais.” E dei de ombros, e pude ver que seus olhos arregalaram e sua respiração tornou-se mais acelerada. “Não dá mais pra mim dia sim dia não ter essas discussões com você. Então, até que você esteja de boa e saiba ser cuidadoso sem ser excessivo, cada um fica na sua, tá? Quando você resolver isso, a gente se fala. Até lá...” E saí andando, sentindo-me estranhamente triste, da maneira como minhas palavras pareciam despedida, e logo, descobri que eu não queria me despedir.
Mas, como eu poderia conviver com aquilo tudo, com o meu melhor amigo agindo daquela forma totalmente fora do comum, que só causava problemas? Meus pensamentos foram interrompidos pelo seu chamado.
"!" tinha em sua voz uma certa súplica. "Eu, eu só..." Ele gaguejava nervoso. "E-Eu só quero o seu bem. Por favor, não faz isso!” E eu encarei seus olhos, vendo-os marejar; e foi minha vez de me surpreender. Não lembrava a última vez que ele tinha chorado em minha presença.
“Eu... Eu sei que tenho agindo meio estranho, mas é que é muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e... E eu... Tenho medo que nesse tempo algo ocorra com você e... e eu não..."
"Nada vai acontecer a mim, ." O olhei cansada, com a voz trêmula, sentindo a calma esvair e, vendo daquele jeito, pude sentir aquela tristeza me atingir em cheio. "Meta isso na sua cabeça. E você não vai me perder, antes que diga isso. Não precisa agir assim, por favor! Deixa que eu resolvo a minha vida, entendeu? No mais... Eu só... eu só quero que a gente...” E o olhei sentindo o nó na garganta aumentar.
Mesmo ali, eu queria tanto .
Tanto...
Mas mais do que qualquer coisa, queria que aquele mau tempo parasse de nos atingir.
Então respirei fundo, guardei meus sentimentos dentro de mim, engoli o bolo na garganta e o encarei novamente.
“Eu só quero que a gente pare de brigar... Ok?" Ele deixou as lágrimas caírem, acenando positivamente. E aí, eu abri meu berreiro.
Fechei meus olhos com tanta força, que chegaram a arder. Meus soluços ecoaram tão altos, que quase não reconheci a mim mesma. Minhas mãos foram parar no meu rosto, porque, de alguma maneira, eu não queria que me visse chorar.
Senti os braços de apertar-se contra o meu gélido e trêmulo corpo e, sem pensar duas vezes, o abracei, deixando minhas lágrimas molharem seu casaco.
Minha voz embargada saiu como um uivo de choro quando tentei falar algo, mas, mesmo assim, creio que entendeu:
"Eu só quero o meu melhor amigo de volta. Eu tô tão cansada de brigar. Cansada! Eu só quero nossa amizade, sem brigas, de volta."
"Tudo vai ficar bem, ok?" Senti meu rosto ser segurado pelas mãos quentes e acolhedoras do meu melhor amigo. Com meus olhos cheios d'água, ainda pude ver o rosto de dizer pra mim. "Eu te prometo isso. Tudo vai ficar bem. Nossa amizade vai vencer qualquer coisa, ok?"
Confirmei com a cabeça, voltando para o abraço de , querendo acreditar plenamente nas palavras dele. Mas os fatos simplesmente me faziam cair na realidade: a partir do momento em que eu decidisse o que fazer sobre a escolha de , pelo menos alguma amizade ali estaria sujeita a sérios problemas. E eu não sabia se seria capaz de arcar com uma situação tão comprometedora como aquela.
“Hm.” Eu murmurei, olhando pro meu all star todo ferrado, mas pensando em como eu iria encarar e amanhã, na escola.
Na verdade bem verdadeira, eu estava muito confusa e não sabia o que dizer ou o que fazer.
Em relação ao .
E ao também.
Meus pensamentos foram interrompidos pela fala de Adam, que despertou minha curiosidade.
"Ainda não consigo acreditar direito no que você disse."
"Sobre...?" Eu perguntei, obviamente perdida.
"Sobre o caso de hoje." Ele respondeu, fazendo uma cara como se fosse óbvio o que ele dizia. " vem falar de um assunto particular e sensível seu, e querendo ajudar, atrapalha mais ainda. Isso é o que chamo de má sorte.” E deu de ombros.
Eu suspirei, pensando que era melhor aquela sucinta explicação do que expor mais os envolvidos. Sim, eu comentei de forma bem breve o que tinha acontecido. E lá estava eu, suspirando pesarosamente ao lado de um cara que eu tinha acabado de conhecer e já sabia da maior treta da minha vida nos últimos tempos.
Um novo suspiro de minha parte fez Adam me olhar de soslaio, e senti uma certa tensão no ar, de sua parte.
“Desculpe fazer esse comentário. Você deve estar um tanto confusa com tudo isso.” E riu sem graça.
“É.” Falei, encarando o chão. “Já estou acostumada com isso. Eu nunca dou sorte com essas coisas mesmo.” E dei de ombros, rindo sem humor.
“Hey.” Ele me chamou, e eu o olhei de volta. “Vai ficar tudo bem. Não esquente a cabeça mais do que o necessário.” E sorriu, sincero.
Fiquei um tempo olhando em seus olhos, e vi uma sinceridade natural neles. “Eu espero...” E olhei para frente, cruzando os braços irrequieta. “Obrigada.” Eu comentei, quase em um sussurro.
“Estamos aí.” Ele respondeu, batendo uma falsa continência, e eu ri levemente. “Você é legal, Adam.” Fiz o comentário, olhando-o de lado.
"É. Você também não é tão mal assim." Deu de ombros enquanto ria, fazendo-me rir também.
Estávamos num silêncio agradável, até Adam cortá-lo.
“Você sofre por alguém, não é?" Ele indagou, olhando para o céu.
Eu estava prestes a chutar uma pedrinha quando ouvi sua pergunta. Minha perna travou no movimento e, ao invés de lança-la para frente, eu simplesmente trouxe-a de volta, ficando em pé normalmente e dando uma profunda respirada antes de respondê-lo.
“Sim” Assumi, olhando pra lua que iluminava nossa conversa.
“Bom... Isso também passa. Relaxa.” E eu sorri, ainda mirando a lua.
Uma brisa gostosa atravessou nossa conversa, e eu me permiti fechar os olhos, absorvendo os bons ventos e as palavras esperançosas de Adam.
“Parece que nunca vou deixar de sentir isso... Amor não-correspondido é uma droga.” E olhei para ele de soslaio, que ria da minha constatação.
“Nem fala! Merda é pouco...” E após me encarar como quem faz uma breve análise, se virou em minha direção e aconselhou: “Só não vá se perder no sofrimento. Não ignore as outras possibilidades de tudo ser menos doloroso quando a oportunidade bater na sua porta.”
Vi meu reflexo em seus olhos, e pude perceber uma jovem amedrontada, com medo da vida e de seus próprios sentimentos. Desde quando havia me tornado aquela pessoa?
“Obrigada. De verdade...” Respondi, fechando meus olhos e estalando meu pescoço. Percebi que estava cansada.
"Me diga uma delas." As palavras saíram da minha boca antes que eu me desse conta do que realmente tinha dito.
“Delas?” Adam perguntou confuso.
"Das suas impressões sobre a vida... Que você aparentemente já viveu e sabe que de alguma forma, podem me ajudar." Respondi, olhando-o timidamente.
Adam me encarou de volta, com sua feição surpresa.
"Hm. Nossa...” Ele suspirou antes de continuar, e sorriu. “Acho que ninguém nunca me disse isso. Ou quis saber...” Seu olhar se perdeu no horizonte, como quem pensa sobre o assunto, e logo um sorriso maroto surgiu no canto de seus lábios. “Posso te responder com sinceridade?”
Eu acenei a cabeça positivamente, ansiosa.
“Que tal deixar as coisas se assentarem? Você me parece que está digerindo muita coisa no momento... Seria interessante entrar em contato com tudo que você está sentindo, e entender essas questões, do que simplesmente seguir conselhos de uma pessoa que não vive sua vida nem suas emoções.” E me sorriu gentilmente.
Eu dei uma breve risada. Ele estava muito certo.
“Você tem razão. Capaz de me confundir ainda mais.” E dei de ombros, pensando na loucura dos últimos acontecimentos. “Vamos fazer o seguinte: você me paga um café um dia desses e a gente troca essa ideia melhor, quando as coisas estiverem mais tranquilas. O que acha?” Ele sugeriu, e eu prendi levemente o ar antes de soltá-lo.
A simples ideia de estar tomando um café à sós com Adam me deixava agitada – aquela sugestão parecia um encontro, apesar da intenção aparentemente ser apenas uma oportunidade de falar sobre a vida, sem segundas intenções.
O problema era que Adam era extremamente lindo, charmoso e eu ficaria babando o tempo todo. Seria problemático, como diria . Definitivamente.
Mas no fundo, sabia que não tinha nada a ver. Porque fogo de palha era uma coisa, estar apaixonada por era muito real, mesmo que eu decidisse me envolver com alguém numa noite, eu dormiria, acordaria, e o sentimento estaria lá, com força total.
E agora, pra melhorar tudo, tinha e sua inusitada proposta de “me conhecer melhor.”
Eu pedi pra ser azarada no vale do eco, certeza.
“Ih, pela demora da resposta, acho que isso é um não...” Adam disse de repente, me fazendo acordar do devaneio interno. Eu sorri sem graça, dando de ombros.
“Não é isso. É claro que eu tomaria um café com você! Estou apenas pensando nos motivos disso. Essa situação toda...” E olhei o céu novamente, suspirando.
“Já te falei que tudo vai ficar bem, relaxa mulher!” E me deu um leve empurrão com seu ombro, enquanto me observava risonho. “Qualquer coisa a gente larga tudo e acha uma nova banda pra ser groupie. Eu só vou precisar que você me empreste sua meia arrastão, pra valorizar esse corpinho.” E fez uma pose que me fez gargalhar alto – e aquilo era tão bom, depois de tanta lágrima...
"Você é uma figura, cara." Brinquei, enquanto via se despedir com um beijo no rosto de Leli.
“Uma figura? Uh, eu te ajudo a completar o álbum e a coleção!”
Foi bom rir da piada de Adam, rir verdadeiramente com algo tão sem-graça, mas que tirava momentaneamente o peso no ar.
”Vou cobrar o café." Eu disse, indo me despedir do irmão de Leli com os famosos dois beijinhos no rosto e um singelo abraço. "Obrigada." Agradeci, antes de seguir , que já abria a porta do carro pra ele. O cavalheirismo morreu, e tenho dito.
"Não por isso.” E piscou, segurando meu ombro. “Espero que tudo se resolva." Adam respondeu com um sorriso no rosto.
Devolvi o sorriso, acenando positivamente e me sentindo um pouco mais tranquila. Me despedi de Arieli, que tinha um sorriso enorme no rosto – o que me fez rir levemente.
“Depois te conto.” Ela sussurrou enquanto me abraçava, e eu murmurei um sim antes de partir.
Entrei no carro, colocando meu cinto de segurança, e, antes do mesmo dar a partida, olhei pra fora da janela, acenando pros donos da casa. Adam devolveu o aceno com sua mão direita, enquanto a esquerda permanecia no bolso da sua calça jeans. Leli acenava, mas não era pra mim. Seus olhos estavam em , enquanto o mesmo acenava da mesma forma abobalhada que ela. Ora, novidade.
Quando o veículo começou a andar, me permiti levar pelos pensamentos e em como o dia tinha sido um misto de loucuras e surpresas. Fiquei pensando em quanta coisa tinha acontecido, e quando menos esperei, me surpreendeu.
"Prontinho, chuchua. Está entregue."
Assustei-me, percebendo que estava em frente ao meu condomínio.
"Valeu, ." Disse, soltando o cinto de segurança. "Valeu mesmo." Agradeci, me referindo à tudo que ele fez, sem pensar duas vezes em me ajudar. Nos abraçamos antes de sair e eu tive a certeza: eu tinha os melhores amigos.
“Você sabe que pode contar comigo sempre que precisar. Se precisar conversar...” “Eu sei... É que... É complicado.” Respondi num sussurro.
“Eu imagino. Sem pressão. Só fique bem, ok? Conta comigo, songa monga. Só não conte com dinheiro, porque eu não tenho onde cair morto." Ele respondeu, sorridente, o que me fez rir, depois de termos saído do abraço.
"Pode deixar, eu sei como retribuir o favor. Amanhã eu vou à escola." Falei, abrindo a porta, com um pequeno sorriso no rosto.
"E o quê que tem?" indagou, se abaixando na altura do volante pra que pudesse observar meu rosto.
"Leli estará lá." Respondi dando uma piscadela, e fechei a porta do carro, vendo a cara de felicidade que ele teria estampada no rosto.
Queria eu ter motivo pra tanta felicidade, pensei comigo mesma. Até que acabei pensando no que Adam havia me dito há alguns momentos. Sobre a felicidade bater à minha porta e eu... aproveitá-la.
Cheguei em casa sentindo um pouco de dor de cabeça, pelos esforços de tentar compreender o que acontecia na minha própria vida.
"Filha!" Minha mãe exclamou enquanto eu deixava minha chave em cima da mesa. "Você não vai acreditar! Aquele filme que eu queria ver vai passar daqui há dez minutos!” Ela disse contente.
“Que legal, mãe. Aproveita.” E comentei, forçando um sorriso.
"Tá tudo bem, filha?" Mamãe me perguntou, notando minhas falas monossilábicas.
"Aham, tudo bem. Bom, mãe, eu vou deixar as coisas aqui, tomar um banho rápido e descer, ok?" Perguntei, tirando minha mochila das costas, enquanto mamãe se preparava pra discutir.
"Mas, minha filha, essa hora?" Ela interrogou, olhando pra mim com cara assustada, preocupada. Ah, eu adoro minha mãe.
"Mãe, são nove e trinta e sete." Respondi, piscando devagar, mal acreditando no visor do meu celular.
"Você tem que acordar cedo..." Ela disse, reparando na novidade do horário. "Tem certeza de que tá tudo bem?"
Respirei fundo umas duas vezes.
"Sim, tudo bem." Tudo péssimo.
"Ok, então." Mamãe afirmou, ligando a televisão, se preparando pra assistir ao filme. "Tome seu banho e desça."
"Valeu, mãe." Agradeci, por ela não ter encrencado e por deixar as coisas fluírem num dia difícil.
"O estará lá embaixo?" Ela perguntou e eu ri sem graça. Mães...
"Ah..." Balbuciei, antes de me virar pra ela. “Não sei, eu voltei um pouco mais cedo do ensaio, não vim com ele. Enfim, vou tomar meu banho." Ela apenas acenou e me acompanhou com o olhar até eu sumir de sua vista.
Fui pro meu quarto. Lá, deixei minha mochila em um canto, coloquei meu celular em cima da escrivaninha e abri meu armário. Como eu ia descer, e estava uma noite meio fria (ainda mais pra alguém que vai descer logo depois de tomar um banho quentinho), eu escolhi minha bermuda jeans, uma blusa de mangas que modelava a parte do meu corpo, da cintura pra cima, e um moletom preto.
Ao entrar no chuveiro, eu deixei que toda a água caísse sobre minha cabeça, desejando que todos os meus pensamentos complicados descessem pelo ralo. Deixei que cada pingo que atingia minha cabeça, me relaxasse mais um pouco, porque do que eu mais precisava era estar relaxada pra encarar toda a situação que se chama 'minha vida'. E eu tinha certeza que, assim que eu saísse do chuveiro, os pensamentos sobre todos os acontecimentos marcantes e recentes na minha vida iriam me atingir com força total. E eu não podia amarelar, porque afinal, se tratava da minha felicidade. Não é de qualquer pessoa, se tratava simplesmente... de mim.
"Lembre-se que vão dar dez horas. Meia hora lá embaixo."
"Uma hora." Eu sussurrei pegando meu fone.
"Quarenta e cinco minutos." Ela disse quase fechando a porta.
“Yes, sir." Respondi, batendo continência.
A coisa mais agradável que poderia existir no meu condomínio é um balanço de brinquedo no qual eu me recolho para pensar. Ultimamente, sem ter muito tempo, eu vou sempre que não me sinto bem.
Estranho é saber por que eu fico por mais de uma hora me balançando ali, escutando minhas músicas, sem querer que ninguém me perturbe. Eu acho que isso me relaxa. Pelo menos é ali que eu penso em todos os sonhos que quero realizar. Acho que sonhar me deixa mais tranquila. Acho que sonhar me mantém um pouco mais calma com tanta dose de realidade.
Sentei-me no balanço, colocando o fone em meus ouvidos, esperando a música começar a soar neles. E foi assim que Five Times August começou a entrar em meus pensamentos.
(Eu quero sentir seguro)
I want to feel like I'm not hated too
(Quero sentir também como não sou odiado)
I want to get closer
(Quero chegar mais perto)
I want to feel the most I'd get from you
(Quero sentir o que melhor de você)
I'm too much on the rebound,
(Sou muito do rebote)
I'm too much on the ground,
(Sou muito do chão)
But you can't be
(Mas você não pode ser)
You're always getting higher,
(Você está sempre ficando mais alto)
You don't desire me
(Você não me deseja)
Confusão dominava minha mente. Eu já não sabia equilibrar, não sabia distinguir o que era certo e errado, não sabia o que era razão e emoção. A letra da música fazia tanto sentido. Percebi que, com tanta coisa acontecendo e tão pouco tempo pra processar, eu sequer tive tempo para pensar no que eu achava de tudo aquilo, no que eu pensava em qual medida tomar perante a tal situação. Pessoas me dizendo, me aconselhando, é muito bom. Mas não adianta de nada, se eu não souber o que eu quero.
Minha mente foi invadida com a imagem de procurando por meu olhar no jardim de . Ele também estava muito confuso, ainda mais por não saber por que eu não o queria por perto. Seria difícil explicar para ele sem mencionar tudo o que eu sentia por ele. E o medo de perder a amizade dele por causa de todos esses problemas era a coisa que mais me assustava e o que mais me preocupava no momento. Uma lágrima solitária escorreu sobre meu rosto, causada pelo medo de perder . O pouco do muito que eu desejava dele...
(Então o que eu tenho que provar?)
What've I got to lose
(O que eu tenho a perder?)
When you're not worth fighting for?
(Quando você não está pronto pra lutar?)
And why am I feeling down
(E por que estou sentindo para baixo)
While you're out messing around?
(Enquanto você continua a andar?)
You're not worth begging for
(Você não está pronto para começar.)
Fechei meus olhos, a fim de deixar com que o vento que bagunçava meu cabelo molhado, tirando toda aquela confusão da minha cabeça. Ou pelo menos, que me fizesse tomar a decisão que fosse o que eu queria, sem deixar que a amizade entre mim e acabasse.
De olhos fechados, eu pude sentir que no balancinho, um peso a mais se instalou. Eu estava cansada demais para abrir meus olhos, mas, provavelmente, deveria ser uma criança. Já estava acostumada a ser interrompida na minha terapia por crianças pedindo pra sentar no brinquedo e balançarem. Ignorando a presença alheia, senti que o balancinho começou a tomar movimentos, pra frente e pra trás, fazendo com que o vento bagunçasse mais o meu cabelo, mas também, que acariciasse o meu rosto, o que me fez sentir mais relaxada. O vento me relaxa.
O movimento começou a ficar mais rápido. O vento já não acariciava meu rosto, e sim, se forçava contra ele. Meu cabelo, já não dançava com o vento, e sim, simplesmente se debatia contra o mesmo. Pra aumentar tanto a velocidade do brinquedo, não era uma criança. Eu me toquei disso e do horário inapropriado para uma criança brincar àquela hora.
Foi quando eu abri meus olhos e enxerguei .
(Só queria passar por aqui)
Just wanted to see you one last time
(Só queria ver você uma última vez)
Just wanted to say bye
(Só queria dizer adeus)
Just wanted to get you off my mind
(Só quis tirar você da minha mente)
Just wanted to fit in
(Só queria me encaixar)
But then I saw you with him
(Mas então vi você com ele)
Eu tomei um susto tão grande que não consegui disfarçar a surpresa no rosto. Mas o que mais me chocou foi o olhar questionador e principalmente triste que ele me lançava.
(Cabe a mim, cabe a mim)
And I'm still falling
(Ainda estou caindo)
It's up to me, It's up to me
(Cabe a mim, cabe a mim)
And I'm still calling
(Ainda estou chamando)
Ele me olhava sem nenhuma menção de que fosse dizer alguma coisa. Da mesma maneira que eu o olhava. Era recíproco. No olhar dele não tinha nenhuma daquela confusão, nem tormento, nem nada que tinha da última vez que eu o tinha visto. Poderia apostar que daria o mundo para saber o que se passava em minha mente. Tudo isso através de seu olhar incisivo, que me fazia sentir-me nua.
(Cabe a mim)
And I'm still hoping
(E ainda estou esperando)
For you to hold me
(Você para me abraçar)
To let you go
(Para te deixar partir)
But for all you know
(Mas para você)
I'm already gone
(Eu já parti)
"It’s up to me, and I’m still hoping for you to hold me... To let you go…" Cantei, ainda olhando nos olhos de , tirando os fones de meus ouvidos, preparada pra notar qualquer mudança na maneira em que ele se encontrava no momento. "But for all you know, I’m already gone." finalizou, colocando suas mãos no bolso de seu casaco azul-marinho, ainda olhando pra mim.
O silêncio se instalou entre nós. Apenas nossos olhares se encontrando no meio de tantos pensamentos que se misturavam, porém, permaneciam os mesmos.
"Você é tão previsível." Sussurrei, me perdendo aos poucos nos olhos do cara que eu amava.
"Digo-lhe o mesmo." Ele respondeu, no mesmo volume, retribuindo o olhar. Respirei fundo, criando coragem, pois é claro que falaríamos do episódio decorrido anteriormente.
"Precisamos conversar.” quebrou o silêncio entre nós, apoiando os cotovelos no joelho e, olhando pra mim.
"Eu também acho." Respondi, olhando, pela primeira vez, para algo que não fosse : pro meu tênis.
“Jogo de perguntas?” perguntou, e eu sorri fracamente. Costumávamos fazer isso para passar o tempo, mas nunca numa situação dessas.
E apesar de sentir as emoções nebulosas de , eu poderia dizer que ele se esforçava em tentar abordar de uma maneira mais tranquila do que de costume.
Se fosse há um tempo atrás, ele já estaria questionando tudo sem nem dar tempo de resposta; apenas seria tomado pela raiva e falaria um monte...
Não que ele não tivesse direito de sentir esse sentimento ou algo do tipo, mas estava apenas grata por ele conseguir fazer o esforço de tornar a conversa minimamente saudável, sem explodir ou algo do tipo.
“E então?” Ele me perguntou, e eu o encarei. Pisquei algumas vezes antes de suspirar. Acenei positivamente.
“Cinco perguntas pra cada?” Sugeri, cruzando os braços.
Foi a vez de concordar com um aceno de cabeça e, apontando pra mim, concluiu.
“Pode começar.”
Respirei fundo.
Aquilo não ia ser fácil...
"Por que tem ranço do ?" Perguntei, olhando diretamente nos olhos dele, que refletiam a total surpresa, causada pela minha pergunta. Eu podia ter certeza, e não estaria errada: ele não esperava essa pergunta.
"É sério?” E riu descrente, enquanto eu o encarava sem reagir. Ele respirou fundo, fechou os olhos com força e os abriu, me observando. “Eu não chamaria isso de ranço. Mas sou desconfiado, não é óbvio? É só ver: ele te magoou no passado." sussurrou enquanto olhava para o chão. "E as coisas não parecem tampouco ter mudado no presente." E me olhou novamente nos meus olhos, parecendo estar decidido sobre o que falava.
Eu suspirei, passando a mão nos cabelos. Já tinha perdido a conta das vezes que tentei convencê-lo do contrário, mas parecia irredutível ao seu achismo de que era “mau-caráter”.
"Sua vez." Eu indiquei, sem retrucar a sua resposta.
"Por que não me queria por perto?" Ele perguntou na lata, e eu pude ver a dor em seus olhos. Eu o havia magoado, e isso não era nada legal. Prendi a respiração e senti meu cenho franzir, antes de desviar o olhar para as árvores ao nosso redor.
"Você me faria contar de tudo que eu e o tínhamos conversado e, consequentemente, me faria lembrar tudo e sofrer um pouco mais. E era a única coisa que eu não queria fazer no momento." Respondi calculadamente, e aquilo não era mentira. Só não era completamente verdade.
“Por que algo me diz que não é só isso?” Ele indagou, cheio de si.
"Você não precisa acreditar em mim, faça o que quiser." Sussurrei, olhando séria pra ele. "Fatos são fatos, crendo você neles ou não."
"Certo, , eu não vou discutir isso.” Ele gesticulou, jogando as mãos pra cima. “Você sempre tem que estar certa!”
“Ah claro, porque você está sempre disposto a acatar uma opinião diferente da sua!” E bufei, com raiva.
Silêncio se estabeleceu entre nós, e a insatisfação era palpável.
“Posso fazer minha próxima pergunta?” Perguntei.
"À vontade." Respondeu friamente.
“O que te faria confiar no ?” Questionei, cruzando as mãos e apoiando meus cotovelos nas coxas.
"Oh, não, eu confio nele. Eu só não confio nele em relação a você, é bem diferente."
“Você é inacreditável, cara.” Eu comentei, não evitando de rolar os olhos, fato ignorado por , que engatou na sua próxima pergunta.
"Falaram sobre mim?" indagou, obviamente sobre a conversa entre eu e .
"A conversa não era sobre você." Respondi secamente.
"Você não respondeu minha pergunta." Ele rebateu, na mesma frieza.
"Citado, porém, nada que mudasse alguma coisa." Retruquei, nervosa. "Como você quer que a sua banda dê certo se você não confia no ?"
"Contanto que ele não fique sempre entrando na sua vida e te fazendo chorar, acho que posso dar um voto de confiança.” Ele disse numa entonação óbvia, e aquilo me irritou demais.
"Você tá gostando do ?" perguntou na cara dura.
"Não, não é dele de quem eu gosto. Porque você tá agindo dessa forma toda?" Perguntei, sem esperar reações.
"Porque é isso que os amigos fazem quando querem zelar pelo bem do outro. Há possibilidades de você gostar dele, e esquecer o outro?"
O QUE ELE ESTAVA FAZENDO?
"Tudo é possível na vida." Dei de ombros. “Não posso afirmar nem negar nada. Tudo é possível.”
"Compreendo perfeitamente." Pude sentir o desdém na voz dele, e realmente, não entendi porque ele agia assim. Mas, como a minha próxima pergunta seria a última, eu perguntei com cautela.
"Você não está zelando pelo meu bem. Se amigos fizessem isso, então, minha mãe e os meninos o fariam. Leli faria também. Mas só você está nessa neura de não gostar nem confiar no , inclusive me tratando mal, causando várias discussões entre nós. Então, de uma vez por todas, me responde com sinceridade, : por que você está sendo tão imaturo em relação a isso? Você não é assim!”
“É imaturo eu me preocupar com você? É natural que como melhor amigo, eu me importe mais com você do que a maioria. Eu ainda não confio nele! Se antes te magoou, nada impede dele fazer novamente. Nada me garante que vai ser diferente agora.” E negou com a cabeça, me olhando sério. “Um grande exemplo foi a noite de hoje. E se ele não mudar?”
"Não se trata apenas dele, ." Eu o olhei com certa descrença. "Não só , mas tudo já mudou... Ele está mais amadurecido agora. E eu também. Seja o que tiver entre nós, não há motivos pra você não gostar dele. Já falei pra você não o julgá-lo dessa maneira. Você não o conhece o suficiente, portanto, pare com isso!” Respondi, rispidamente.
"E você o conhece, o quê? Um mês? Um pouco menos do que dois meses? Ah é, você o conhece muito bem!" , o rancoroso.
"Conheço mais do que você! O conheço o suficiente pra saber que ele não é nada do que você pensa. Pare já com isso e confie um pouco no fato de que as coisas possam dar certo, e que ninguém precisa sair machucado!”
"Como você quer que eu acredite que ele não te magoará se numa simples conversa você já saiu chorando, não me queria por perto e, tudo isso, por culpa dessa conversa que você teve com ele?! Como você quer que eu acredite que você não vai sair machucada?!"
"Esta já é a sua última pergunta?" Perguntei, fechando a cara e cruzando os braços, furiosa.
"Não... não é.” Ele cruzou os próprios braços e me encarou com a face igualmente fechada. “Eu quero saber sobre o que vocês conversaram." Ele respondeu, com um pouco de raiva em suas palavras.
"Isso não é da sua conta!" Rebati com a mesma raiva dele.
"É da minha conta quando falam de mim! Principalmente quando de alguma forma atinge você!” Ele respondeu sério, porém eu sabia que estava nervoso.
Respirei fundo, procurando manter a calma.
Não acreditava que ele estava questionando aquilo.
E tudo que eu queria saber, não poderia perguntar pois colocaria nossa amizade em risco...
Mas, do jeito que as coisas estavam... Já não estávamos involuntariamente correndo este risco?
Tomei fôlego e encarei o chão.
"Ele sabe que eu estou gostando de outra pessoa.” Falei de uma vez, e senti que prendeu a respiração – que há segundos atrás, estava praticamente abanando meu rosto.
Mas eu segui olhando o chão, sem mirá-lo nos olhos.
“E se abriu pra mim... Ele disse que está gostando de mim.'' Praticamente cuspi as palavras, com medo da reação de .
"Tá, e você acreditou nele?" Ele perguntou, com desdém nas suas palavras, o que me fez observá-lo, irritada.
"Por que eu não deveria acreditar nele?" Falei um pouco mais alto do que deveria pra alguém que supostamente estava fazendo e respondendo perguntas.
riu sarcástico, e aquilo aumentou minha irritação num nível...
"Perdão, eu esqueço que só eu me lembro do que ele te fez sofrer no passado." "Você nem se lembrava dessa história quando me perguntou de onde eu o conhecia!" Raiva, raiva e raiva.
"Eu sabia da história, só não sabia que ele era o que tinha te magoado!" apontou com raiva pra mim. Ah não!
"Por que é tão difícil acreditar que alguém simplesmente pode se interessar por mim, ? Hein? Vamos, olhe pra mim!” Eu exclamei, gesticulando com meus braços, e só olhava em meus olhos.
“OLHE. PRA. MIM!” Eu exclamei, e ele virou a cara para o outro lado. “Eu sou praticamente uma mulher, . Eu posso não ser como as garotas que você está acostumado a ficar, posso não fazer o tipo de mulher padrão, mas eu tenho um corpo, uma mente, uma personalidade que pode sim ser desejada!” As lágrimas começaram a descer. Era tão difícil precisar me afirmar aquilo todos os dias. Principalmente diante da notável rejeição de .
“E eu sei que posso ser alguém interessante o suficiente pra despertar o desejo em alguém. Alguém como .” E só aí, me encarou de volta, com raiva. “Sinceramente, se uma pessoa legal ainda não surgiu pra você, problema é seu! Se você sente que precisa esconder seus demônios e só mostrar suas qualidades para ficar com as meninas, isso aí é contigo! Eu sou o que sou e sou feliz desse jeito. Se assim não funciona pra você, e se você não vê as coisas como eu vejo... não venha jogar seu pessimismo pra cima de mim!" Me levantei do brinquedo, sentindo a raiva sair pelas minhas ventas. “Lembra disso quando achar que é o motivo das minhas mágoas.” E saí andando, apressada.
Ouvi passos atrás de mim e logo senti segurar meu pulso. A minha vontade era de socá-lo, mas me segurei quando ele chamou meu nome numa voz quase inaudível.
“Eu não quis dizer isso. Por favor, não me entenda mal.” Me virei em sua direção sem encará-lo, e cruzei meus braços, tirando sua mão de meu pulso.
Eu vi pelo canto dos olhos que ele abria e fechava a boca, tentando falar um monte de coisa, mas nada saía.
Cansada daquilo, bufei e o encarei, interrompendo seu questionamento interior.
"Olha, ." Eu disse, tentando prolongar à calma. "Você pode querer o meu bem... Você é meu melhor amigo, eu entendo isso. Mas você tá agindo de uma forma muito estranha. A gente tem brigado diversas vezes por causa desses achismos, desse cuidado excessivo seu. Isso está acabando com a gente!” Eu exclamei, olhando pra seus olhos surpresos enquanto sentia a voz embargar.
“Sinceramente, eu não aguento mais.” E dei de ombros, e pude ver que seus olhos arregalaram e sua respiração tornou-se mais acelerada. “Não dá mais pra mim dia sim dia não ter essas discussões com você. Então, até que você esteja de boa e saiba ser cuidadoso sem ser excessivo, cada um fica na sua, tá? Quando você resolver isso, a gente se fala. Até lá...” E saí andando, sentindo-me estranhamente triste, da maneira como minhas palavras pareciam despedida, e logo, descobri que eu não queria me despedir.
Mas, como eu poderia conviver com aquilo tudo, com o meu melhor amigo agindo daquela forma totalmente fora do comum, que só causava problemas? Meus pensamentos foram interrompidos pelo seu chamado.
"!" tinha em sua voz uma certa súplica. "Eu, eu só..." Ele gaguejava nervoso. "E-Eu só quero o seu bem. Por favor, não faz isso!” E eu encarei seus olhos, vendo-os marejar; e foi minha vez de me surpreender. Não lembrava a última vez que ele tinha chorado em minha presença.
“Eu... Eu sei que tenho agindo meio estranho, mas é que é muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e... E eu... Tenho medo que nesse tempo algo ocorra com você e... e eu não..."
"Nada vai acontecer a mim, ." O olhei cansada, com a voz trêmula, sentindo a calma esvair e, vendo daquele jeito, pude sentir aquela tristeza me atingir em cheio. "Meta isso na sua cabeça. E você não vai me perder, antes que diga isso. Não precisa agir assim, por favor! Deixa que eu resolvo a minha vida, entendeu? No mais... Eu só... eu só quero que a gente...” E o olhei sentindo o nó na garganta aumentar.
Mesmo ali, eu queria tanto .
Tanto...
Mas mais do que qualquer coisa, queria que aquele mau tempo parasse de nos atingir.
Então respirei fundo, guardei meus sentimentos dentro de mim, engoli o bolo na garganta e o encarei novamente.
“Eu só quero que a gente pare de brigar... Ok?" Ele deixou as lágrimas caírem, acenando positivamente. E aí, eu abri meu berreiro.
Fechei meus olhos com tanta força, que chegaram a arder. Meus soluços ecoaram tão altos, que quase não reconheci a mim mesma. Minhas mãos foram parar no meu rosto, porque, de alguma maneira, eu não queria que me visse chorar.
Senti os braços de apertar-se contra o meu gélido e trêmulo corpo e, sem pensar duas vezes, o abracei, deixando minhas lágrimas molharem seu casaco.
Minha voz embargada saiu como um uivo de choro quando tentei falar algo, mas, mesmo assim, creio que entendeu:
"Eu só quero o meu melhor amigo de volta. Eu tô tão cansada de brigar. Cansada! Eu só quero nossa amizade, sem brigas, de volta."
"Tudo vai ficar bem, ok?" Senti meu rosto ser segurado pelas mãos quentes e acolhedoras do meu melhor amigo. Com meus olhos cheios d'água, ainda pude ver o rosto de dizer pra mim. "Eu te prometo isso. Tudo vai ficar bem. Nossa amizade vai vencer qualquer coisa, ok?"
Confirmei com a cabeça, voltando para o abraço de , querendo acreditar plenamente nas palavras dele. Mas os fatos simplesmente me faziam cair na realidade: a partir do momento em que eu decidisse o que fazer sobre a escolha de , pelo menos alguma amizade ali estaria sujeita a sérios problemas. E eu não sabia se seria capaz de arcar com uma situação tão comprometedora como aquela.
Capítulo 10 - Stay with me, this is what I need, please?!
Acordei me sentindo estranha. Olhei em volta e percebi que estava na minha cama. Meu relógio ainda não tinha despertado, mas estava próximo das seis e meia. Desativei o despertador e sentei, me espreguiçando lentamente, sentindo minhas costas estalarem até o final da coluna.
Levantei em direção ao banheiro, pra tomar aquele banho, e desejando começar o dia um pouco melhor dos que eu estava tendo ultimamente.
Haviam se passado duas semanas desde que tivemos a grande conversa – e eu. E desde então, as coisas tem andado um pouco frágeis, esquisitas, como se os dois estivessem com medo de estar no mesmo lugar, ou iniciar uma conversa.
Estávamos pisando em ovos, e de alguma forma, estávamos sempre na presença de nossos amigos quando dividíamos o mesmo espaço.
E quando eu ia aos ensaios – reduzi drasticamente minhas idas – ao voltarmos juntos com a carona de , eu saía do veículo e me despedia rapidamente, indo pra casa com passos apressados, sem querer dar brecha para novas discussões.
De certa forma, eu estava fugindo. Estava com medo de dar mais problema do que já deu, e um tanto cansada de me sentir sempre em alerta perto de . Com medo de que qualquer coisa, qualquer fala ou ação desencadeasse numa nova briga.
E venhamos e convenhamos: isso não é vida para ninguém.
Afinal de contas, estamos falando de amizades. Amigos não deveriam se apoiar? Se sentir à vontade na presença um do outro?
Sentindo o sabão percorrer toda a extremidade do meu braço esquerdo, comecei a pensar na noite em que eu e conversamos depois de tanta confusão. Apesar de teoricamente termos resolvido as coisas, na prática estava tudo esquisito. Então o que tínhamos em mãos era uma falsa estabilidade das coisas.
Como se fosse a falsa calmaria antes da tempestade.
E eu previa ela vindo.
***
Estava aérea na aula de literatura. A professora explicava algo, mas apesar de estar olhando em sua direção, eu não prestava atenção em nada. Na verdade, estava parando pra pensar em como as coisas chegaram no ponto em que estavam.
Nessas duas semanas, eu fiquei reclusa, observando tudo e todos, tentando entender minhas emoções e o que se passava dentro de mim.
Eu pensei em e sua proposta.
Durante esse tempo, eu não só refleti sobre o que ele propôs.
Também reparei em si...
Em como ele sempre carregava um sorriso no rosto.
Na forma em que ele era atento às conversas, no jeito que soltava as piadinhas no meio da galera.
Ele era praticamente de casa, agia e era acolhido como se conhecesse todos por anos.
E não posso negar, também reparei na forma em que me olhava.
E toda vez que eu percebia ou sentia seu olhar em mim, desviava, ignorava ou fingia que não tinha percebido.
Mas eu percebia. E além de me sentir um pouco sem graça, foi uma surpresa ao constatar o dia que um simples sorriso surgiu em meus lábios, ao pensar que tudo que ele havia me dito era verdade.
Quer dizer, eu não gostava dele, mesmo. Eu era idiotamente apaixonada pelo , verdade.
Mas há algo em você ser desejada por outra pessoa – e por uma pessoa como – que não exatamente infla o seu ego, é outra coisa!
De alguma forma, se tratava de uma nova perspectiva, sobre como talvez eu pudesse ser ou viver coisas incrivelmente inéditas se aceitasse a proposta de .
Se me permitisse vivê-las.
E não vou negar; aquilo me dava um frio na barriga bom.
Mas logo o sorriso se esvaía de minha face toda vez que eu pensava em e nossa amizade.
Dava um aperto no peito, e um certo sentimento de tristeza.
Estávamos brigando sem antes mesmo de alguma coisa entre eu e rolar. Imagine como seria se rolasse...
Mas eu também não poderia deixar de viver a minha vida por causa do ciúmes ou medo excessivo de . Até porque eu não ajo da mesma maneira quando ele está próximo de Lis. Não é? É.
Pensar tanto naquilo estava realmente me matando!
E foi aí que me surgiu o seguinte pensamento: "Eu só posso estar com medo do que possa acontecer com essa amizade. Porque de fato eu considero a proposta de ."
O lápis que estava em minha mão caiu, como o meu queixo com aquela constatação.
Não me abaixei para pegar o objeto, pois ainda estava em choque em como aquele pensamento me atingiu.
O mais chocante... é que era verdade. A minha amizade com só poderia correr riscos... Se eu aceitasse a proposta de . O grande motivo que me impedia de tentar, era .
E desta forma eu percebi que uma boa parte de mim queria ficar com . Apenas para... Como é mesmo? Conhecê-lo melhor! Viver algo novo e bom, que não se resuma aos dias terríveis que estava vivendo...
Quem sabe enterrar aquele sentimento por e tentar viver bem, talvez até depois de um tempo, bem com minha amizade e meu possível rolo com ?
Eu sei, duas semanas poderiam me deixar bem reflexiva, não?
Quer dizer, no princípio estava convencida de que aquela ideia era terrível e nunca daria certo.
O que não quer dizer que agora eu discorde totalmente, mas apenas...
Bem, talvez uma parte de mim gostaria de ver no que dá.
Talvez uma boa parte de mim estivesse um tanto cansada disso tudo.
De sofrer, de brigar, de não ser desejada.
Sabe?
Até porque, não gostava de mim. Isso era fato.
Pelo menos não como mulher, e cada vez mais isso ficava claro – vide o cara lembrar de uma piada sem graça da Lis, quando ela nem estava presente, e rir sozinho disso.
Significa que: a partir do momento que você tá sozinho rindo, lembrando de alguém... Meu amigo... O laudo é certo!
E no resultado, não constava meu nome, e sim o de Elise.
E era bem claro que era recíproco.
Ou seja... Eu não seria retribuída, mesmo.
E dessa forma, surgia na cabeça.
Não, eu não ficaria com ele apenas por isso, como se fosse uma válvula de escape.
Na verdade, era sobre isso que refletia enquanto o observava nesse tempo de reclusão.
E descobri que... era interessante.
me atraía.
E aquilo, apesar de me deixar um pouco sem graça, também me fazia aquecer por dentro.
“?” A professora me tirou do devaneio, estalando o dedo na frente do meu rosto, e eu pareci acordar naquele momento. A classe inteira riu da minha cara e eu sorri sem graça.
“Desculpe.” Sussurrei, encarando-a. “O que disse?”
“Disse que seu lápis caiu no chão.” Ela sorriu rapidamente e logo voltou a explicar a matéria.
Eu suspirei e me abaixei para pegar o bendito.
Precisava resolver aquelas coisas logo, estavam tirando minha paz!
***
Eu brincava com o canudo do suco, encarando a folha de uma árvore cair no chão. Estava sentada em uma das mesas do refeitório, e a tranquilidade foi invadida por uma ansiosa e agitada.
“Você não vai acredita-aaar!” Ela falou e eu a encarei, com uma sobrancelha arqueada. “Ele finalmente me convidou!” Ela anunciou, dando um gritinho e batendo palminhas rápidas perto do rosto.
Apesar de estar com um humor de morrer, eu ri daquela cena.
“Convidou pra sair?” Eu perguntei, já sabendo que se tratava de .
“Não, maluca!” Ela respondeu, sentando-se à mesa e abrindo um pacote de biscoitos de polvilho. “Me convidou para ir com ele à festa.”
"Festa?" Perguntei, sem entender muito bem o que rolava ali.
“É, ué! Você não tá sabendo da festa que um amigo dele vai dar? Que a McFly foi chamada pra tocar!?”
“Não.” Eu simplesmente respondi, dando de ombros e me sentindo um pouco frustrada.
Excluída era a palavra, mas enfim.
“Como assim? Oh!” Ela colocou o indicador na frente dos lábios, parecendo se lembrar de algo. “Eu acho que essa notícia foi dada num desses ensaios que você não foi...” coçou a cabeça, pensando. “Mas não se preocupe, foi de última hora, a gente só confirmou mesmo anteontem! Enfim, vai ser nessa sexta e tá todo mundo animado. Os meninos estão muito nervosos... Não deve nem ter dado tempo de falar nada.” E deu de ombros, enquanto eu rolava os olhos.
“Eu também não dei chance nem de dizer um oi.” E bufei, irritada.
“Relaxa, eles vão te avisar. Você tá na lista, eu vi seu nome lá.” E me sorriu, esperançosa.
Eu apenas dei um breve sorriso, voltando minha visão para a árvore, num marasmo só.
“Não fica chateada não...” me falou e eu olhei para ela enquanto sugava o suco. “Além do mais, as coisas estavam meio estranhas nos ensaios...” Ela comentou em voz baixa, o que me chamou a atenção.
“Estranhos como?” Perguntei, confusa.
"Bom..." começou. “Acho que e estavam meio... desentendidos, não? Quer dizer, pelo que tinha contado para mim, e .”
"O que houve entre eles?!" Indaguei, duvidosa.
“Então...”
E assim me contou do desentendimento de e na fatídica noite de duas semanas atrás, e sobre o silencioso pacto de paz.
Mas aparentemente, todos sabiam que se tratava de mim, porque na minha frente, tudo parecia normal.
Até que, ao parar pra pensar, fui rememorando os ensaios que participei nos últimos tempos e realmente; e só se comunicavam quando era estritamente necessário, sem piadas, brincadeiras ou até mesmo sorrisos.
"Eu não acredito que o não me disse isso!" Respondi, batendo com força demais em minha mesa, me arrependendo imediatamente, chacoalhando a mão e assoprando-a, pra ver se a dor passava.
"Relaxa, ." disse, segurando minha mão. “Eu não acho que ele deixou de contar de propósito. Ou pelo menos pra te fazer mal... Acho que foi uma escolha pra não tornar as coisas mais conturbadas.” E deu de ombros.
Ela sabia de todos os acontecimentos e me olhava com certa pena.
Eu odiei aquilo e bufei, apoiando a testa na mesa e fechando os olhos.
“Desde que o chegou, o tem estado muito estranho, muito ciumento, e a gente tem brigado muito, cara. Não era assim.”
“Eu sei, mas garotos são complicados...” Ela suspirou, e me lembrou: “E você ainda tem que responder à proposta de ...” comentou com um sorriso contido. “Porra!” Exclamei, erguendo a cabeça e encarando-a. “Se antes de eu ter qualquer envolvimento com o , eu e o já brigamos assim, imagine como será quando eu tiver alguma coisa com o !" Depois de um tempo, sem obter nenhuma resposta, eu gemi pela ausência de soluções para o meu problema, deixando minha testa bater na mesa, novamente. Um pouco forte demais, se quer saber.
"Ai!" Exalei, massageando o local, fazendo minha amiga rir.
“Minha vida é um inferno, namoral...” Balbuciei, exausta.
“Calma, mimosa!” falou, e eu ergui uma sobrancelha em estranhamento. "Vamos supor que você diga não ao . A amizade de você e o fica legal e tal, até que surja outra pessoa pra você. Aí você vai dizer não pro cara também, porque você quer preservar a amizade do . Resumo da história: ele pode namorar e ter seus mil relacionamentos, mas você não pode?" perguntou, fazendo cara de deboche.
"Então... o que devo fazer?!" Perguntei, sem mais opções em minha cabeça. "Siga seu coração." disse, sorridente. "Ok, nem tanto, já que o coração pertence ao amigo trapalhão." Ela se referiu à , e eu ri levemente pelo adjetivo. "Eu acho que você poderia dar uma chance ao , e conversar seriamente com o . Afinal, você precisa viver, cara! Se ele ainda não percebeu que você tem a sua própria vida e seus direitos até mesmo de errar na vida amorosa..."
"Azar o dele." Completei a frase de .
"A questão é: se você compreende quando ele tem os rolos dele lá, então, ele também tem que compreender, sabe? O que vai volta. E você não pode pagar o pato por causa da imaturidade ou da falta de compreensão dele. É a sua vida, e não a dele."
"Difícil fazer isso, sabe? Porque eu me importo mais com ele do que como uma simples amiga. Meu lado apaixonado fala muito alto nessas horas..." Assumi minha fraqueza, respirando fundo, querendo agradar aos dois lados... Ou aos dois meninos da minha vida.
"Pois então trate de resolver isso, porque uma coisa é você ser fiel à um amor correspondido. Outra coisa é você não viver porque seu melhor amigo é ciumento demais."
"Sabe o que é o pior?" Eu disse, levantando minha cabeça, e apoiando-a entre minhas mãos. "É que eu sei que você tem razão. E poxa, eu mereço viver um pouco, né?! Se o propôs aquilo, sabendo que eu não gosto dele do jeito que gosto do ... É isso, né? Estão todos notificados e avisados das possíveis merdas? Sim! Mas putaquepariu, também não é um casamento, gente! É só... Sei lá! Adolescentes se conhecendo melhor!” Exclamei, bufando, enquanto segurava uma risada.
A encarei com um bico no rosto e admiti pra ela: “Tem uma parte de mim que se interessa, sabe?”
“Tem nem como não se interessar, né filha?” comentou rindo, e eu franzi o cenho. “Ele é mó gatinho, isso é sinal de que você tem bom senso, apenas.”
E rimos juntas da sua fala.
“Independente do que você decida, eu vou estar aqui.” respondeu, fazendo um carinho na cabeça
. Eu sorri, agradecida.
“Mas agora é hora de você pelo menos disfarçar, porque tem gente vindo na nossa direção.” Ela comentou e eu prendi minha respiração, sentindo olhares sob minhas costas.
Me virei lentamente e forcei um sorriso, avistando e... .
“E aí garotos!” exclamou, sorridente.
“E aí!” retribuiu o cumprimento, com a cara meio nervosa.
Realmente, esse negócio de show estava tirando a paz do pobre menino.
"Oi, ." Oh, meu Deus. .
"Olá!” Vire-me para olhá-lo melhor, e, nossa, que olhar é esse? pareceu até mais maduro! "T-tudo bem?" Quase me engasguei com o próprio ar.
"Tudo indo, muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, né? Que loucura!” Ele sorriu sem graça, mas o sorriso não alcançou os olhos de . E foi assim que percebi as olheiras.
“Você tem dormido direito?” Me peguei indagando ao , que me olhou com surpresa e depois timidez. Coçou a nuca e riu sem graça.
“Tenho tentado... Mas acredito que as coisas vão melhorar.” E deu de ombros, me olhando com um sorriso ameno e um pouco... dolorido.
Aquilo me pegou desprevenida.
Era apenas o show que deixava o rapaz assim, ou havia algo a mais?
Algo que envolvia a minha pessoa?
"E você, está melhor?" Percebi a preocupação em sua voz, o que me fez acordar da viajada mental que dei.
“E-eu...” Deixei a frase morrer, olhando ao redor e vendo e super conectados numa conversa sobre o repertório do show.
Balancei a cabeça negativamente, tentando focar na pergunta de , sem muito sucesso.
Respirei fundo, e o encarei, com um sorriso de canto.
“Tudo caminhando.” Respondi, sem acreditar muito nas minhas palavras.
“.” Ele me puxou mais pra si, e segurou minhas mãos, me olhando nos olhos com uma intensidade que não fui capaz de fugir.
Tremi levemente com a sua iniciativa decisiva, e inconscientemente, prendi a respiração. “Eu não sei como fazer as coisas ficarem mais fáceis pra você, mas se for isso o que te deixará melhor, eu o farei. Tratarei de saber das mínimas coisas e o farei. Eu gosto de você demais pra não te ver sorrindo." Senti que uma de suas mãos alcançaram meu cabelo e, pela primeira vez, um cara não estava bagunçando-o, nem remexendo. Estava fazendo um carinho. Um doce e gentil carinho em meus cabelos.
“...” Eu comentei, olhando para o chão, e ele tocou meu queixo e ergueu meu rosto.
Nossos narizes estavam quase se tocando, e eu senti o rosto esquentar.
“Não hesite em me chamar. Eu realmente quero que você fique bem e darei o meu melhor. Quero que saiba que respeito seu tempo, mas mais que tudo: estou aqui, te esperando.” Ele sorriu e acariciou minha bochecha, e eu senti o calor perpassar pelo local, ardentemente.
“Eu agradeço.” Respondi, abaixando a cabeça. “Estou digerindo as coisas e não quero que pense que eu esqueci de tudo. Da proposta e ... enfim.” Dei de ombros, suspirando. É só que...”
“Eu sei.” Ele disse, com um sorriso rápido. Eu o encarei surpresa. “Não é algo fácil. Eu sei.” Ele disse, se aproximando novamente de meu rosto. “Estarei te esperando.” E, num movimento rápido, seus lábios alcançaram minha bochecha, num beijo simples e carinhoso.
Tão rápido quanto veio, foi.
se afastou, me lançou um sorriso e foi se afastando, caminhando na direção oposta ao que estávamos.
Eu não o chamei, nem o impedi de ir.
Eu estava muito assustada com toda aquela demonstração.
E estava internamente... feliz também.
Eu estava até sorrindo levemente quando olhei pro lado e, distante, meu olhar encontrou . Encostado numa parede mais distante de nós, encarando o chão.
“Já volto, pessoal.” Falei para e , que nada disseram.
Com as mãos no bolso, eu me aproximei trêmula de , subitamente sentindo medo de como quebraríamos aquele gelo que havia se instaurado entre nós.
Mas já não aguentava aquela situação toda, então, com coragem, decidi tentar.
Parei ao seu lado e encostei na parede, fazendo com que tirasse os olhos do chão e me olhasse.
"Hey.” Comentei, com um meio sorriso.
"E aí.” Ele respondeu me analisando, sem muita animação.
Ele também estava com medo, como eu.
Eu suspirei e reparei no caderno debaixo do braço direito. Aquilo iluminou minha mente, e eu sorri surpresa.
“Isso é o que eu tô pensando que é?” Perguntei, reconhecendo o objeto.
“Hã?” Ele questionou e seguiu meu olhar, e percebendo do que se tratava, sorriu genuinamente. “Ah sim. É o caderno de músicas...” E sorriu rapidamente, um pouco sem graça.
“Legal!” Eu exclamei, com um sorriso sincero e os braços me envolvendo. Que tensão.
Pensando rápido, decidi arriscar numa possibilidade improvável.
"Vamos criar uma música então?" Perguntei, com um olhar gentil.
Ele me encarou de uma forma completamente intrigante.
Eu não soube definir, mas logo uma leve risada habitou o ambiente, e encarava o céu, suspirando.
“Pensei que você nunca fosse sugerir mais isso...” Ele respondeu, com um meio sorriso que não alcançou os olhos. Se colocou a caminhar para o gramado da escola, sendo seguido por mim.
“Pensou errado, otário!” E brinquei, dando um leve tapa na nuca dele, que devolveu com um empurrãozinho, escondendo um sorriso no canto do rosto.
Sentamos no gramado e ele me passou o caderno, me permitindo folheá-lo.
“Pelo visto tem coisa nova por aqui...” Eu comentei, comparando a caligrafia de um de anos atrás com a de agora.
“Tem também coisa bem velha...” Ele falou, apontando pra uma folha rasgada pela metade, nas quais as nossas letras se misturavam.
Eu sorri com aquilo, trazendo nostalgia.
“Bons tempos, né?” Comentei, olhando-o com um sorriso contido.
“Sim...” Ele comentou, e ficamos nos encarando por um bom tempo.
Até que ouvimos um barulho vindo de seu bolso, e, assustados, eu mirei o olhar pra outro canto enquanto verificava seu celular.
Voltando a olhar pra si, percebi que era uma mensagem que ele prontamente respondia, com um pequeno sorriso nos lábios.
Disfarçadamente olhei para o visor e não me surpreendi que ele estava falando com Elise.
Suspirei audivelmente e voltei minha atenção para o caderno, me sentindo bem merda.
“Desculpe.” Ele disse, guardando o celular. “Prometo não interromper mais nossa consultoria musical.” E comentou, brincando.
Eu não ri, continuei olhando o caderno.
Um silêncio constrangedor se instalou no ambiente.
Pela minha ausência de resposta, me perguntou.
“O que foi?”
Eu o encarei novamente, e foi completamente diferente de minutos atrás. Havia dor e medo, de novo.
“Estava apenas pensando.” Respondi, ainda o observando.
Ele me olhava de volta, com uma interrogação e certa aflição no rosto.
Respirei fundo e decidi tentar resolver aqueles problemas com ele de uma vez.
"Eu estava conversando com o ." Respondi, simplesmente, olhando pra frente.
"Eu vi." Ele respondeu e eu mirei em seus olhos de volta.
Ficamos assim por alguns segundos e apenas murmurei:
"Hm...” Comentei, me sentindo ansiosa.
“Não se preocupe.” anunciou, e eu o olhei com estranhamento. Ele brincava com o gramado, sem me observar. “Eu não vou perguntar sobre isso.”
“Não vai?” Eu indaguei, franzindo o cenho.
"Não, da última vez que eu fiz isso a gente brigou. E eu lhe prometi que tudo ia dar certo. Eu vou cumprir essa promessa." Ele explicou, com paciência e um pouco de desânimo. “Além do mais, não é da minha conta, não é mesmo?” E me encarou, sério.
"Ah, sim. É." Foi somente o que eu pude dizer.
Mais silêncio.
"Mas...” Ele sussurrou, e eu o olhei de soslaio. Ele continuava a interagir com a grama. “Se você sentir vontade de me contar, estarei a ouvidos...” E me encarou, com a testa franzida. “Ainda somos amigos, você sabe.” Ele falou, tentando deixar o clima menos tenso.
“Sim, é claro...” Eu respondi, sorrindo sem graça, e encarei as suas mãos, que reluziam com o sol. “Não teve nada demais, a gente só conversou... E tal...” E apoiei o queixo em meus joelhos, olhando o horizonte.
“E tal... ?” Ele perguntou, com curiosidade na voz.
Suspirei e o olhei.
Ele me olhava de volta.
Tensão total.
"A proposta..." Respondi, tímida. “Você sabe. Eu e ele. Juntos.” Balbuciei, sem acreditar que estava tendo aquela conversa estranhíssima com .
“Hm.” Ele apenas respondeu, dando atenção às folhas do caderno.
Silêncio nos atingiu, e era minha vez de achar a grama extremamente interessante de ser analisada.
"Você vai aceitar, não vai?" Ele questionou e eu prendi o ar, arregalando levemente o olhar. Ergui a cabeça, tentando mirar em seus olhos, mas os mesmos focavam no caderno que folheava, despretensiosamente.
"Eu não sei... talvez." Falei, honestamente.
“Isso tem alguma coisa a ver com as nossas brigas?" Ele olhava diretamente nos meus olhos.
"O quê? Não!” Respondi, incisiva. E era verdade. "O que acontece entre nós não tem nada a ver com o que rola entre mim e . São duas coisas completamente diferentes."
"Porém, são paralelas." Ele disse, olhando pra frente, para o nada.
Respirei fundo, levemente irritada.
"A única coisa que vejo de paralelo é o meu receio de me relacionar com o ao mesmo tempo que isso de alguma forma interfere na nossa amizade, . Foi o que conversamos, e repito: não precisa ser desse jeito. Sei que você quer o melhor pra mim, mas sou eu quem decido minha vida. Como amigo, você deve permanecer do meu lado, me ajudando e curtindo os momentos bons e os não tão bons... Ao menos é o que espero de você. E é o que tento fazer em relação à sua vida. Eu posso aconselhar, mas a decisão é sua, afinal, a estrada é sua. Eu sou só sua melhor amiga..." Falei tudo de uma maneira tão pontual que até não me reconheci.
Consegui expor os assuntos sem exatamente falar de meus verdadeiros sentimentos, mas nossa amizade poderia suportar àquilo.
suspirou, arrancou um pedaço de grama e ficou brincando com o mesmo nas mãos, enquanto me respondia.
"Você tem toda a razão, . Você precisa aprender a tomar suas decisões sozinha, e não sou eu que vou viver sua vida por você. Me perdoe.” E tocou minha mão direita, me fazendo olhá-lo nos olhos.
Ficamos assim por mais tempo que o comum, mas eu não conseguia sair daquele contato visual.
“Seja feliz. Ok?” Ele me disse, com um sorriso no rosto.
Eu suspirei, sentindo uma pontada no peito e os olhos marejarem levemente.
“Você também, .” E apertei sua mão, olhando para o entrelace dela com a minha. “É o que mais desejo pra você.” E o encarei de volta, deitando a cabeça em meu outro braço, que estava apoiado nos joelhos.
Ele se aproximou e beijou minha cabeça, e eu respirei fundo seu perfume.
Me abraçou de lado e devido à nossas alturas, minha testa encostou em seu pescoço e eu senti que poderia morar ali pra sempre.
Pra sempre...
Mas não era possível se aninhar num corpo como o dele, se seu coração não me correspondia.
Abri os olhos, encarei a realidade.
Ela doía, demais.
Suspirei e me afastei dele, sorrindo forçadamente e, dando batidinhas no caderno, falei:
“Agora vamos parar de graça e ver isso aqui, certo?”
"Certo, ...” Ele encarou o caderno, acenando com a cabeça. “Certo."
Passamos o resto do intervalo analisando algumas canções. me disse que estava quase fechando uma nova música autoral com os meninos mas tinha dificuldades em uma estrofe.
Eu ajudei com algumas possibilidades que seriam testadas nos próximos ensaios.
Ensaios estes que eu decidi não ir, pra assentar as emoções e escolhas dentro de mim.
E quando menos esperei, era sexta de manhã.
Dois tempos de química, um de português.
Só Deus na causa, eu sei.
O intervalo veio como salvador da pátria. Pelo menos com tempo limitado:
"É HOJE! É HOJE! É HOJE!" chegou exclamando na mesa, me assustando.
"YEEEEEEEEY" Respondi, rindo mais de mim do que de qualquer coisa.
Ele riu em resposta e se sentou ao meu lado, sorridente.
"Dormiu bem?" Ele perguntou, colocando as mãos nos bolsos de seu casaco.
"Sim. E você?" Educadamente, retribuí a pergunta.
"Otimamente bem." Ele respondeu, bem feliz.
"Uau!" Indaguei enquanto me virava pra ele. "Posso saber o por quê?"
“Não sei. Estou tendo um bom pressentimento sobre o dia de hoje, não só com a banda, mas com tudo.” Ele explicou-me, com uma cara de esperto no rosto. Me perguntei por quê.
"Que bom, então!" Falei, sorrindo.
"!" disse animada, sentando com .
“Não estou falando com você, para de graça.” Eu respondi, fingindo analisar minha unha, e vi de soslaio minha amiga rolar os olhos.
“Ai, para de drama, pelo amor de Deus!”
“Drama?” perguntou, com a sobrancelha arqueada.
“Drama nada!” Eu respondi, cruzando os braços. “Ela furou comigo e com a sobre irmos juntas na festa de hoje! Traíra!”
prendeu uma risada enquanto me dava língua. coçou a nuca, subitamente sem graça. Eu o encarei de olhos cerrados.
“O que houve, ?”
Ele suspirou, de olhos fechados.
“Isso vai ser problemático...” Ele sussurrou mais pra si do que pra mim, e eu arqueei a sobrancelha.
“Desembucha, garoto.”
“Eu convidei a para irmos juntos hoje, okay?” Ele disse de uma vez, e eu o encarei surpresa, tentando esconder o sorriso no canto dos lábios.
“Mentira!?” Perguntei com a voz levemente esganiçada. “Que safadinho!” Eu comentei risonha, dando um tapinha no ombro dele, que simplesmente rolou os olhos e bufou.
“Não fica sem graça, . Isso é muito bonitinho!” comentou e eu ri da cara vermelha de , que apenas respondeu com um “tsc”.
“E voltamos à estaca zero...” Comentei, fingindo sofrimento, recebendo a atenção de todos. “Primeiro, não sou informada da festa. E agora eu vou sozinha. Tudo bem, pessoal... É mais fácil dizer que o amor acabou, sabe?” Comentei, dando de ombros.
Os amigos fizeram um coro de ‘own’ e do nada, senti meu corpo ser envolvido por um abraço forte e caloroso.
“Quem disse que você vai sozinha?” perguntou, me surpreendendo. Todos olharam surpresos para ele, inclusive eu. Fiquei sem reação, sorrindo sem graça.
“Agora não dá pra dizer que tá sozinha, né?” comentou, apoiando o queixo nas mãos, fazendo uma cara de sabichona.
Eu ri sem graça.
“...” Eu falei baixo, perto de si, e ele me encarou atento. “Tem certeza?” Perguntei, arqueando a sobrancelha.
“Às 21:30 eu passo na sua casa, pode ser?” Ele perguntou, alegre.
"Pode sim!” Respondi com mais animação do que esperava.
***
"E aí, preparada pra ser conhecida como a groupie oficial do McFly?!" me perguntou, enquanto seguíamos para a saída.
Lancei um olhar ameaçador, que arrancou algumas risadas do meu amigo.
“Por favor né querido! Estou mais pra manager dessa banda!” E sorri, colocando as mãos no bolso.
“E como você está?” Ele perguntou mais baixo, colocando um chiclete na boca, enquanto encostávamos no muro da escola aguardando os outros.
Eu o encarei confusa e ele respirou fundo. “Você sabe... Todo esse rolê e .”
“Oh.” Falei, piscando algumas vezes, antes de dar de ombros. “Acho que está tudo caminhando. É questão de tempo até as coisas se acertarem.” E sorri, esperançosa.
Ele me encarou com um sorriso de lado e apoiou a nuca nas palmas da mão, com os braços postados atrás de seu corpo; entre o muro e a nuca.
“Você sabe, isso tudo parece ser problemático e cansativo...” Ele comentou, tedioso. “Mas eu também acho que é uma questão de tempo até tudo se resolver. Se há diálogo e sinceridade, não tem porque as coisas se complicarem. Dê tempo ao tempo, ok?” E comentou, piscando rapidamente.
“Obrigada por isso, meu amigo.”
“Estamos juntos, mocreia.” Ele comentou, sorrindo para , que vinha caminhando em nossas direções, muito sorridente.
"É hoje, caralho!" E me puxou para um abraço apertado. "É hoje, é hoje!" Ele dizia, e eu ria.
“É HOJE!” Eu repeti, abraçando-o de volta.
"E hoje tem surpresa no repertório até para a groupie oficial!” Ele estava muito, muito empolgado, enquanto me apertava de propósito.
“Me solta, seu bocó!” Dei leves cutucadas na costela, fazendo-o soltar-me – ponto fraco das cosquinhas.
"Essa noite promete!" Ele disse, sorridente demais pro meu gosto. O brilho no olhar fez um alarme interno soar.
Foi uma sensação estranha, mas logo passou e eu resolvi ignorar.
Porque de estranhos, já bastava eu e .
“Promete mesmo!” nos surpreendeu, aparecendo ao lado de . Olhei ao redor e todos estavam com os semblantes alegres, o que me tranquilizou um pouco – principalmente no tocante à relação de e – ou pelo menos a magia musical tornavam as coisas mais suportáveis.
Saímos da escola e os meninos foram direto para o agilizar a montagem de palco e últimos acertos do show.
seguiu para sua casa e eu para a minha, e quando me dei conta já estava diante do meu armário. Estava com uma séria dúvida entre um vestido divinamente justo no corpo (roxo no busto e degradê até o rosa claro, na bainha que ficava pouco acima da altura do joelho) e entre uma calça legging, all star preto e uma blusa branca que ficava de um ombro só, com um "rock n' roll" gigante na parte da frente, com letras pretas, em destaque.
Chamei a minha própria estilista:
"MÃE!" Gritei da porta do quarto.
"Diga, prole." Ela disse, chegando um tempo depois, comendo uma maçã, com uma revista na mão.
"Socorro, dicas de moda pra ontem." Avisei.
"Quanto tempo você tem?" Ela perguntou, ainda desinteressada.
"São 9 horas, o vem me buscar daqui a meia hora e tudo o que eu fiz até agora foi tomar banho." 24 horas é tão pouco pra um dia.
"Whoa!" Ela comentou, sentando-se à minha cama. "Ok, tem que ser rápida. Qual é a dúvida?"
"Isso e isso." Apontei pro vestido e pro outro conjunto blusa + calça pra ela. "O vestido com o salto e o conjunto com o all star."
"Com o que você vai se sentir mais confortável?" Mamãe sempre sabe das coisas. "Com o conjunto por causa do tênis." Disse, sem pensar.
"Então vá com ele." Ela respondeu, feliz.
"Mas e o vestido? Não tá mais bonito?" Perguntei, receosa.
"Você quer dizer 'Está mais normal e mais belo pra quem vê'?" Mamãe sempre sabia das coisas, dois votos.
“Hm...” Comentei pensando. “Já sei! Vou com o vestido e com o all star e dane-se quem não gostar." Falei, guardando o conjunto.
"Isso mesmo. Agora apresse-se, que daqui a pouco o príncipe chega. Eu tô tão doida pra conhecer meu genrinho!" Ela falou, ansiosa.
"Você já parou com a idéia maluca do seu genrinho ser o ?" Perguntei, colocando o vestido.
"Bom, vocês estavam brigando muito. Mas se algo ainda não rolou entre vocês, vai rolar. Eu não sei, é difícil de dizer, vocês são complicados. Bom, pensamentos positivos pra você, curta, porque a noite é uma criança, e faça o que eu digo, não o que eu faço." E assim, mamãe saiu do quarto.
Nove meia em ponto e eu estava terminando de passar o batom nos lábios, quando a campainha tocou. Pontual, ponto positivo. Como eu disse que ficaria mais confortável, eu estava com aquele vestido, e com uma maquiagem de leve no rosto. Lápis e delineador preto, um pouco de blush bronzeador, batons e pronto. Ah, e é claro, o perfume, fato.
Desci as escadas cantarolando uma melodia qualquer e abri a porta, e encontrei um muito charmoso! Com uma camisa dos Rolling Stones vermelha, um tipo de blazer preto, e uma calça jeans escura, com um tênis igualmente escuro.
"Hey, ." Cumprimentei-o, sorridente.
"Uau!" Ele disse, me olhando. "Você está absolutamente... linda!" Ok, por essa sinceridade, eu não esperava.
"Er, hm... " Difícil respirar com o elogio imprevisto. "Obrigada, você também."
"Obrigado." Ele retribuiu, feliz.
"Entre, entre, eu só vou pegar meu casaco." Eu falei, dando espaço pra ele entrar. Subi as escadas correndo rapidamente, enquanto podia ouvir minha mãe falar com ele.
"Então, você e minha filha estão namorando em segredo ou o quê?" Pude ouvir quando estava na metade da escada.
"Mãe!" Repreendi, descendo os últimos degraus.
"Eu só estava brincando, ok?" Ela se desculpou, cruzando os braços.
"Ok, mãe, tchau!" Respondi, jogando um beijo pra ela.
"Tchau, querida, cuide-se. E, ...” E fez um sinal com os dedos e os olhos semi-cerrados. “Eu estou de olho!” Mães...
"Chega, mãe." Falei fazendo sinal de um corte na garganta, e abrindo a porta. "Não espere por mim." Sempre quis falar isso.
"Ok, tchau, ." Ela ria.
"Até mais!" Ele despediu-se risonho, sendo arrastado por mim, antes que o interrogatório começasse.
Levantei em direção ao banheiro, pra tomar aquele banho, e desejando começar o dia um pouco melhor dos que eu estava tendo ultimamente.
Haviam se passado duas semanas desde que tivemos a grande conversa – e eu. E desde então, as coisas tem andado um pouco frágeis, esquisitas, como se os dois estivessem com medo de estar no mesmo lugar, ou iniciar uma conversa.
Estávamos pisando em ovos, e de alguma forma, estávamos sempre na presença de nossos amigos quando dividíamos o mesmo espaço.
E quando eu ia aos ensaios – reduzi drasticamente minhas idas – ao voltarmos juntos com a carona de , eu saía do veículo e me despedia rapidamente, indo pra casa com passos apressados, sem querer dar brecha para novas discussões.
De certa forma, eu estava fugindo. Estava com medo de dar mais problema do que já deu, e um tanto cansada de me sentir sempre em alerta perto de . Com medo de que qualquer coisa, qualquer fala ou ação desencadeasse numa nova briga.
E venhamos e convenhamos: isso não é vida para ninguém.
Afinal de contas, estamos falando de amizades. Amigos não deveriam se apoiar? Se sentir à vontade na presença um do outro?
Sentindo o sabão percorrer toda a extremidade do meu braço esquerdo, comecei a pensar na noite em que eu e conversamos depois de tanta confusão. Apesar de teoricamente termos resolvido as coisas, na prática estava tudo esquisito. Então o que tínhamos em mãos era uma falsa estabilidade das coisas.
Como se fosse a falsa calmaria antes da tempestade.
E eu previa ela vindo.
Estava aérea na aula de literatura. A professora explicava algo, mas apesar de estar olhando em sua direção, eu não prestava atenção em nada. Na verdade, estava parando pra pensar em como as coisas chegaram no ponto em que estavam.
Nessas duas semanas, eu fiquei reclusa, observando tudo e todos, tentando entender minhas emoções e o que se passava dentro de mim.
Eu pensei em e sua proposta.
Durante esse tempo, eu não só refleti sobre o que ele propôs.
Também reparei em si...
Em como ele sempre carregava um sorriso no rosto.
Na forma em que ele era atento às conversas, no jeito que soltava as piadinhas no meio da galera.
Ele era praticamente de casa, agia e era acolhido como se conhecesse todos por anos.
E não posso negar, também reparei na forma em que me olhava.
E toda vez que eu percebia ou sentia seu olhar em mim, desviava, ignorava ou fingia que não tinha percebido.
Mas eu percebia. E além de me sentir um pouco sem graça, foi uma surpresa ao constatar o dia que um simples sorriso surgiu em meus lábios, ao pensar que tudo que ele havia me dito era verdade.
Quer dizer, eu não gostava dele, mesmo. Eu era idiotamente apaixonada pelo , verdade.
Mas há algo em você ser desejada por outra pessoa – e por uma pessoa como – que não exatamente infla o seu ego, é outra coisa!
De alguma forma, se tratava de uma nova perspectiva, sobre como talvez eu pudesse ser ou viver coisas incrivelmente inéditas se aceitasse a proposta de .
Se me permitisse vivê-las.
E não vou negar; aquilo me dava um frio na barriga bom.
Mas logo o sorriso se esvaía de minha face toda vez que eu pensava em e nossa amizade.
Dava um aperto no peito, e um certo sentimento de tristeza.
Estávamos brigando sem antes mesmo de alguma coisa entre eu e rolar. Imagine como seria se rolasse...
Mas eu também não poderia deixar de viver a minha vida por causa do ciúmes ou medo excessivo de . Até porque eu não ajo da mesma maneira quando ele está próximo de Lis. Não é? É.
Pensar tanto naquilo estava realmente me matando!
E foi aí que me surgiu o seguinte pensamento: "Eu só posso estar com medo do que possa acontecer com essa amizade. Porque de fato eu considero a proposta de ."
O lápis que estava em minha mão caiu, como o meu queixo com aquela constatação.
Não me abaixei para pegar o objeto, pois ainda estava em choque em como aquele pensamento me atingiu.
O mais chocante... é que era verdade. A minha amizade com só poderia correr riscos... Se eu aceitasse a proposta de . O grande motivo que me impedia de tentar, era .
E desta forma eu percebi que uma boa parte de mim queria ficar com . Apenas para... Como é mesmo? Conhecê-lo melhor! Viver algo novo e bom, que não se resuma aos dias terríveis que estava vivendo...
Quem sabe enterrar aquele sentimento por e tentar viver bem, talvez até depois de um tempo, bem com minha amizade e meu possível rolo com ?
Eu sei, duas semanas poderiam me deixar bem reflexiva, não?
Quer dizer, no princípio estava convencida de que aquela ideia era terrível e nunca daria certo.
O que não quer dizer que agora eu discorde totalmente, mas apenas...
Bem, talvez uma parte de mim gostaria de ver no que dá.
Talvez uma boa parte de mim estivesse um tanto cansada disso tudo.
De sofrer, de brigar, de não ser desejada.
Sabe?
Até porque, não gostava de mim. Isso era fato.
Pelo menos não como mulher, e cada vez mais isso ficava claro – vide o cara lembrar de uma piada sem graça da Lis, quando ela nem estava presente, e rir sozinho disso.
Significa que: a partir do momento que você tá sozinho rindo, lembrando de alguém... Meu amigo... O laudo é certo!
E no resultado, não constava meu nome, e sim o de Elise.
E era bem claro que era recíproco.
Ou seja... Eu não seria retribuída, mesmo.
E dessa forma, surgia na cabeça.
Não, eu não ficaria com ele apenas por isso, como se fosse uma válvula de escape.
Na verdade, era sobre isso que refletia enquanto o observava nesse tempo de reclusão.
E descobri que... era interessante.
me atraía.
E aquilo, apesar de me deixar um pouco sem graça, também me fazia aquecer por dentro.
“?” A professora me tirou do devaneio, estalando o dedo na frente do meu rosto, e eu pareci acordar naquele momento. A classe inteira riu da minha cara e eu sorri sem graça.
“Desculpe.” Sussurrei, encarando-a. “O que disse?”
“Disse que seu lápis caiu no chão.” Ela sorriu rapidamente e logo voltou a explicar a matéria.
Eu suspirei e me abaixei para pegar o bendito.
Precisava resolver aquelas coisas logo, estavam tirando minha paz!
Eu brincava com o canudo do suco, encarando a folha de uma árvore cair no chão. Estava sentada em uma das mesas do refeitório, e a tranquilidade foi invadida por uma ansiosa e agitada.
“Você não vai acredita-aaar!” Ela falou e eu a encarei, com uma sobrancelha arqueada. “Ele finalmente me convidou!” Ela anunciou, dando um gritinho e batendo palminhas rápidas perto do rosto.
Apesar de estar com um humor de morrer, eu ri daquela cena.
“Convidou pra sair?” Eu perguntei, já sabendo que se tratava de .
“Não, maluca!” Ela respondeu, sentando-se à mesa e abrindo um pacote de biscoitos de polvilho. “Me convidou para ir com ele à festa.”
"Festa?" Perguntei, sem entender muito bem o que rolava ali.
“É, ué! Você não tá sabendo da festa que um amigo dele vai dar? Que a McFly foi chamada pra tocar!?”
“Não.” Eu simplesmente respondi, dando de ombros e me sentindo um pouco frustrada.
Excluída era a palavra, mas enfim.
“Como assim? Oh!” Ela colocou o indicador na frente dos lábios, parecendo se lembrar de algo. “Eu acho que essa notícia foi dada num desses ensaios que você não foi...” coçou a cabeça, pensando. “Mas não se preocupe, foi de última hora, a gente só confirmou mesmo anteontem! Enfim, vai ser nessa sexta e tá todo mundo animado. Os meninos estão muito nervosos... Não deve nem ter dado tempo de falar nada.” E deu de ombros, enquanto eu rolava os olhos.
“Eu também não dei chance nem de dizer um oi.” E bufei, irritada.
“Relaxa, eles vão te avisar. Você tá na lista, eu vi seu nome lá.” E me sorriu, esperançosa.
Eu apenas dei um breve sorriso, voltando minha visão para a árvore, num marasmo só.
“Não fica chateada não...” me falou e eu olhei para ela enquanto sugava o suco. “Além do mais, as coisas estavam meio estranhas nos ensaios...” Ela comentou em voz baixa, o que me chamou a atenção.
“Estranhos como?” Perguntei, confusa.
"Bom..." começou. “Acho que e estavam meio... desentendidos, não? Quer dizer, pelo que tinha contado para mim, e .”
"O que houve entre eles?!" Indaguei, duvidosa.
“Então...”
E assim me contou do desentendimento de e na fatídica noite de duas semanas atrás, e sobre o silencioso pacto de paz.
Mas aparentemente, todos sabiam que se tratava de mim, porque na minha frente, tudo parecia normal.
Até que, ao parar pra pensar, fui rememorando os ensaios que participei nos últimos tempos e realmente; e só se comunicavam quando era estritamente necessário, sem piadas, brincadeiras ou até mesmo sorrisos.
"Eu não acredito que o não me disse isso!" Respondi, batendo com força demais em minha mesa, me arrependendo imediatamente, chacoalhando a mão e assoprando-a, pra ver se a dor passava.
"Relaxa, ." disse, segurando minha mão. “Eu não acho que ele deixou de contar de propósito. Ou pelo menos pra te fazer mal... Acho que foi uma escolha pra não tornar as coisas mais conturbadas.” E deu de ombros.
Ela sabia de todos os acontecimentos e me olhava com certa pena.
Eu odiei aquilo e bufei, apoiando a testa na mesa e fechando os olhos.
“Desde que o chegou, o tem estado muito estranho, muito ciumento, e a gente tem brigado muito, cara. Não era assim.”
“Eu sei, mas garotos são complicados...” Ela suspirou, e me lembrou: “E você ainda tem que responder à proposta de ...” comentou com um sorriso contido. “Porra!” Exclamei, erguendo a cabeça e encarando-a. “Se antes de eu ter qualquer envolvimento com o , eu e o já brigamos assim, imagine como será quando eu tiver alguma coisa com o !" Depois de um tempo, sem obter nenhuma resposta, eu gemi pela ausência de soluções para o meu problema, deixando minha testa bater na mesa, novamente. Um pouco forte demais, se quer saber.
"Ai!" Exalei, massageando o local, fazendo minha amiga rir.
“Minha vida é um inferno, namoral...” Balbuciei, exausta.
“Calma, mimosa!” falou, e eu ergui uma sobrancelha em estranhamento. "Vamos supor que você diga não ao . A amizade de você e o fica legal e tal, até que surja outra pessoa pra você. Aí você vai dizer não pro cara também, porque você quer preservar a amizade do . Resumo da história: ele pode namorar e ter seus mil relacionamentos, mas você não pode?" perguntou, fazendo cara de deboche.
"Então... o que devo fazer?!" Perguntei, sem mais opções em minha cabeça. "Siga seu coração." disse, sorridente. "Ok, nem tanto, já que o coração pertence ao amigo trapalhão." Ela se referiu à , e eu ri levemente pelo adjetivo. "Eu acho que você poderia dar uma chance ao , e conversar seriamente com o . Afinal, você precisa viver, cara! Se ele ainda não percebeu que você tem a sua própria vida e seus direitos até mesmo de errar na vida amorosa..."
"Azar o dele." Completei a frase de .
"A questão é: se você compreende quando ele tem os rolos dele lá, então, ele também tem que compreender, sabe? O que vai volta. E você não pode pagar o pato por causa da imaturidade ou da falta de compreensão dele. É a sua vida, e não a dele."
"Difícil fazer isso, sabe? Porque eu me importo mais com ele do que como uma simples amiga. Meu lado apaixonado fala muito alto nessas horas..." Assumi minha fraqueza, respirando fundo, querendo agradar aos dois lados... Ou aos dois meninos da minha vida.
"Pois então trate de resolver isso, porque uma coisa é você ser fiel à um amor correspondido. Outra coisa é você não viver porque seu melhor amigo é ciumento demais."
"Sabe o que é o pior?" Eu disse, levantando minha cabeça, e apoiando-a entre minhas mãos. "É que eu sei que você tem razão. E poxa, eu mereço viver um pouco, né?! Se o propôs aquilo, sabendo que eu não gosto dele do jeito que gosto do ... É isso, né? Estão todos notificados e avisados das possíveis merdas? Sim! Mas putaquepariu, também não é um casamento, gente! É só... Sei lá! Adolescentes se conhecendo melhor!” Exclamei, bufando, enquanto segurava uma risada.
A encarei com um bico no rosto e admiti pra ela: “Tem uma parte de mim que se interessa, sabe?”
“Tem nem como não se interessar, né filha?” comentou rindo, e eu franzi o cenho. “Ele é mó gatinho, isso é sinal de que você tem bom senso, apenas.”
E rimos juntas da sua fala.
“Independente do que você decida, eu vou estar aqui.” respondeu, fazendo um carinho na cabeça
. Eu sorri, agradecida.
“Mas agora é hora de você pelo menos disfarçar, porque tem gente vindo na nossa direção.” Ela comentou e eu prendi minha respiração, sentindo olhares sob minhas costas.
Me virei lentamente e forcei um sorriso, avistando e... .
“E aí garotos!” exclamou, sorridente.
“E aí!” retribuiu o cumprimento, com a cara meio nervosa.
Realmente, esse negócio de show estava tirando a paz do pobre menino.
"Oi, ." Oh, meu Deus. .
"Olá!” Vire-me para olhá-lo melhor, e, nossa, que olhar é esse? pareceu até mais maduro! "T-tudo bem?" Quase me engasguei com o próprio ar.
"Tudo indo, muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, né? Que loucura!” Ele sorriu sem graça, mas o sorriso não alcançou os olhos de . E foi assim que percebi as olheiras.
“Você tem dormido direito?” Me peguei indagando ao , que me olhou com surpresa e depois timidez. Coçou a nuca e riu sem graça.
“Tenho tentado... Mas acredito que as coisas vão melhorar.” E deu de ombros, me olhando com um sorriso ameno e um pouco... dolorido.
Aquilo me pegou desprevenida.
Era apenas o show que deixava o rapaz assim, ou havia algo a mais?
Algo que envolvia a minha pessoa?
"E você, está melhor?" Percebi a preocupação em sua voz, o que me fez acordar da viajada mental que dei.
“E-eu...” Deixei a frase morrer, olhando ao redor e vendo e super conectados numa conversa sobre o repertório do show.
Balancei a cabeça negativamente, tentando focar na pergunta de , sem muito sucesso.
Respirei fundo, e o encarei, com um sorriso de canto.
“Tudo caminhando.” Respondi, sem acreditar muito nas minhas palavras.
“.” Ele me puxou mais pra si, e segurou minhas mãos, me olhando nos olhos com uma intensidade que não fui capaz de fugir.
Tremi levemente com a sua iniciativa decisiva, e inconscientemente, prendi a respiração. “Eu não sei como fazer as coisas ficarem mais fáceis pra você, mas se for isso o que te deixará melhor, eu o farei. Tratarei de saber das mínimas coisas e o farei. Eu gosto de você demais pra não te ver sorrindo." Senti que uma de suas mãos alcançaram meu cabelo e, pela primeira vez, um cara não estava bagunçando-o, nem remexendo. Estava fazendo um carinho. Um doce e gentil carinho em meus cabelos.
“...” Eu comentei, olhando para o chão, e ele tocou meu queixo e ergueu meu rosto.
Nossos narizes estavam quase se tocando, e eu senti o rosto esquentar.
“Não hesite em me chamar. Eu realmente quero que você fique bem e darei o meu melhor. Quero que saiba que respeito seu tempo, mas mais que tudo: estou aqui, te esperando.” Ele sorriu e acariciou minha bochecha, e eu senti o calor perpassar pelo local, ardentemente.
“Eu agradeço.” Respondi, abaixando a cabeça. “Estou digerindo as coisas e não quero que pense que eu esqueci de tudo. Da proposta e ... enfim.” Dei de ombros, suspirando. É só que...”
“Eu sei.” Ele disse, com um sorriso rápido. Eu o encarei surpresa. “Não é algo fácil. Eu sei.” Ele disse, se aproximando novamente de meu rosto. “Estarei te esperando.” E, num movimento rápido, seus lábios alcançaram minha bochecha, num beijo simples e carinhoso.
Tão rápido quanto veio, foi.
se afastou, me lançou um sorriso e foi se afastando, caminhando na direção oposta ao que estávamos.
Eu não o chamei, nem o impedi de ir.
Eu estava muito assustada com toda aquela demonstração.
E estava internamente... feliz também.
Eu estava até sorrindo levemente quando olhei pro lado e, distante, meu olhar encontrou . Encostado numa parede mais distante de nós, encarando o chão.
“Já volto, pessoal.” Falei para e , que nada disseram.
Com as mãos no bolso, eu me aproximei trêmula de , subitamente sentindo medo de como quebraríamos aquele gelo que havia se instaurado entre nós.
Mas já não aguentava aquela situação toda, então, com coragem, decidi tentar.
Parei ao seu lado e encostei na parede, fazendo com que tirasse os olhos do chão e me olhasse.
"Hey.” Comentei, com um meio sorriso.
"E aí.” Ele respondeu me analisando, sem muita animação.
Ele também estava com medo, como eu.
Eu suspirei e reparei no caderno debaixo do braço direito. Aquilo iluminou minha mente, e eu sorri surpresa.
“Isso é o que eu tô pensando que é?” Perguntei, reconhecendo o objeto.
“Hã?” Ele questionou e seguiu meu olhar, e percebendo do que se tratava, sorriu genuinamente. “Ah sim. É o caderno de músicas...” E sorriu rapidamente, um pouco sem graça.
“Legal!” Eu exclamei, com um sorriso sincero e os braços me envolvendo. Que tensão.
Pensando rápido, decidi arriscar numa possibilidade improvável.
"Vamos criar uma música então?" Perguntei, com um olhar gentil.
Ele me encarou de uma forma completamente intrigante.
Eu não soube definir, mas logo uma leve risada habitou o ambiente, e encarava o céu, suspirando.
“Pensei que você nunca fosse sugerir mais isso...” Ele respondeu, com um meio sorriso que não alcançou os olhos. Se colocou a caminhar para o gramado da escola, sendo seguido por mim.
“Pensou errado, otário!” E brinquei, dando um leve tapa na nuca dele, que devolveu com um empurrãozinho, escondendo um sorriso no canto do rosto.
Sentamos no gramado e ele me passou o caderno, me permitindo folheá-lo.
“Pelo visto tem coisa nova por aqui...” Eu comentei, comparando a caligrafia de um de anos atrás com a de agora.
“Tem também coisa bem velha...” Ele falou, apontando pra uma folha rasgada pela metade, nas quais as nossas letras se misturavam.
Eu sorri com aquilo, trazendo nostalgia.
“Bons tempos, né?” Comentei, olhando-o com um sorriso contido.
“Sim...” Ele comentou, e ficamos nos encarando por um bom tempo.
Até que ouvimos um barulho vindo de seu bolso, e, assustados, eu mirei o olhar pra outro canto enquanto verificava seu celular.
Voltando a olhar pra si, percebi que era uma mensagem que ele prontamente respondia, com um pequeno sorriso nos lábios.
Disfarçadamente olhei para o visor e não me surpreendi que ele estava falando com Elise.
Suspirei audivelmente e voltei minha atenção para o caderno, me sentindo bem merda.
“Desculpe.” Ele disse, guardando o celular. “Prometo não interromper mais nossa consultoria musical.” E comentou, brincando.
Eu não ri, continuei olhando o caderno.
Um silêncio constrangedor se instalou no ambiente.
Pela minha ausência de resposta, me perguntou.
“O que foi?”
Eu o encarei novamente, e foi completamente diferente de minutos atrás. Havia dor e medo, de novo.
“Estava apenas pensando.” Respondi, ainda o observando.
Ele me olhava de volta, com uma interrogação e certa aflição no rosto.
Respirei fundo e decidi tentar resolver aqueles problemas com ele de uma vez.
"Eu estava conversando com o ." Respondi, simplesmente, olhando pra frente.
"Eu vi." Ele respondeu e eu mirei em seus olhos de volta.
Ficamos assim por alguns segundos e apenas murmurei:
"Hm...” Comentei, me sentindo ansiosa.
“Não se preocupe.” anunciou, e eu o olhei com estranhamento. Ele brincava com o gramado, sem me observar. “Eu não vou perguntar sobre isso.”
“Não vai?” Eu indaguei, franzindo o cenho.
"Não, da última vez que eu fiz isso a gente brigou. E eu lhe prometi que tudo ia dar certo. Eu vou cumprir essa promessa." Ele explicou, com paciência e um pouco de desânimo. “Além do mais, não é da minha conta, não é mesmo?” E me encarou, sério.
"Ah, sim. É." Foi somente o que eu pude dizer.
Mais silêncio.
"Mas...” Ele sussurrou, e eu o olhei de soslaio. Ele continuava a interagir com a grama. “Se você sentir vontade de me contar, estarei a ouvidos...” E me encarou, com a testa franzida. “Ainda somos amigos, você sabe.” Ele falou, tentando deixar o clima menos tenso.
“Sim, é claro...” Eu respondi, sorrindo sem graça, e encarei as suas mãos, que reluziam com o sol. “Não teve nada demais, a gente só conversou... E tal...” E apoiei o queixo em meus joelhos, olhando o horizonte.
“E tal... ?” Ele perguntou, com curiosidade na voz.
Suspirei e o olhei.
Ele me olhava de volta.
Tensão total.
"A proposta..." Respondi, tímida. “Você sabe. Eu e ele. Juntos.” Balbuciei, sem acreditar que estava tendo aquela conversa estranhíssima com .
“Hm.” Ele apenas respondeu, dando atenção às folhas do caderno.
Silêncio nos atingiu, e era minha vez de achar a grama extremamente interessante de ser analisada.
"Você vai aceitar, não vai?" Ele questionou e eu prendi o ar, arregalando levemente o olhar. Ergui a cabeça, tentando mirar em seus olhos, mas os mesmos focavam no caderno que folheava, despretensiosamente.
"Eu não sei... talvez." Falei, honestamente.
“Isso tem alguma coisa a ver com as nossas brigas?" Ele olhava diretamente nos meus olhos.
"O quê? Não!” Respondi, incisiva. E era verdade. "O que acontece entre nós não tem nada a ver com o que rola entre mim e . São duas coisas completamente diferentes."
"Porém, são paralelas." Ele disse, olhando pra frente, para o nada.
Respirei fundo, levemente irritada.
"A única coisa que vejo de paralelo é o meu receio de me relacionar com o ao mesmo tempo que isso de alguma forma interfere na nossa amizade, . Foi o que conversamos, e repito: não precisa ser desse jeito. Sei que você quer o melhor pra mim, mas sou eu quem decido minha vida. Como amigo, você deve permanecer do meu lado, me ajudando e curtindo os momentos bons e os não tão bons... Ao menos é o que espero de você. E é o que tento fazer em relação à sua vida. Eu posso aconselhar, mas a decisão é sua, afinal, a estrada é sua. Eu sou só sua melhor amiga..." Falei tudo de uma maneira tão pontual que até não me reconheci.
Consegui expor os assuntos sem exatamente falar de meus verdadeiros sentimentos, mas nossa amizade poderia suportar àquilo.
suspirou, arrancou um pedaço de grama e ficou brincando com o mesmo nas mãos, enquanto me respondia.
"Você tem toda a razão, . Você precisa aprender a tomar suas decisões sozinha, e não sou eu que vou viver sua vida por você. Me perdoe.” E tocou minha mão direita, me fazendo olhá-lo nos olhos.
Ficamos assim por mais tempo que o comum, mas eu não conseguia sair daquele contato visual.
“Seja feliz. Ok?” Ele me disse, com um sorriso no rosto.
Eu suspirei, sentindo uma pontada no peito e os olhos marejarem levemente.
“Você também, .” E apertei sua mão, olhando para o entrelace dela com a minha. “É o que mais desejo pra você.” E o encarei de volta, deitando a cabeça em meu outro braço, que estava apoiado nos joelhos.
Ele se aproximou e beijou minha cabeça, e eu respirei fundo seu perfume.
Me abraçou de lado e devido à nossas alturas, minha testa encostou em seu pescoço e eu senti que poderia morar ali pra sempre.
Pra sempre...
Mas não era possível se aninhar num corpo como o dele, se seu coração não me correspondia.
Abri os olhos, encarei a realidade.
Ela doía, demais.
Suspirei e me afastei dele, sorrindo forçadamente e, dando batidinhas no caderno, falei:
“Agora vamos parar de graça e ver isso aqui, certo?”
"Certo, ...” Ele encarou o caderno, acenando com a cabeça. “Certo."
Passamos o resto do intervalo analisando algumas canções. me disse que estava quase fechando uma nova música autoral com os meninos mas tinha dificuldades em uma estrofe.
Eu ajudei com algumas possibilidades que seriam testadas nos próximos ensaios.
Ensaios estes que eu decidi não ir, pra assentar as emoções e escolhas dentro de mim.
E quando menos esperei, era sexta de manhã.
Dois tempos de química, um de português.
Só Deus na causa, eu sei.
O intervalo veio como salvador da pátria. Pelo menos com tempo limitado:
"É HOJE! É HOJE! É HOJE!" chegou exclamando na mesa, me assustando.
"YEEEEEEEEY" Respondi, rindo mais de mim do que de qualquer coisa.
Ele riu em resposta e se sentou ao meu lado, sorridente.
"Dormiu bem?" Ele perguntou, colocando as mãos nos bolsos de seu casaco.
"Sim. E você?" Educadamente, retribuí a pergunta.
"Otimamente bem." Ele respondeu, bem feliz.
"Uau!" Indaguei enquanto me virava pra ele. "Posso saber o por quê?"
“Não sei. Estou tendo um bom pressentimento sobre o dia de hoje, não só com a banda, mas com tudo.” Ele explicou-me, com uma cara de esperto no rosto. Me perguntei por quê.
"Que bom, então!" Falei, sorrindo.
"!" disse animada, sentando com .
“Não estou falando com você, para de graça.” Eu respondi, fingindo analisar minha unha, e vi de soslaio minha amiga rolar os olhos.
“Ai, para de drama, pelo amor de Deus!”
“Drama?” perguntou, com a sobrancelha arqueada.
“Drama nada!” Eu respondi, cruzando os braços. “Ela furou comigo e com a sobre irmos juntas na festa de hoje! Traíra!”
prendeu uma risada enquanto me dava língua. coçou a nuca, subitamente sem graça. Eu o encarei de olhos cerrados.
“O que houve, ?”
Ele suspirou, de olhos fechados.
“Isso vai ser problemático...” Ele sussurrou mais pra si do que pra mim, e eu arqueei a sobrancelha.
“Desembucha, garoto.”
“Eu convidei a para irmos juntos hoje, okay?” Ele disse de uma vez, e eu o encarei surpresa, tentando esconder o sorriso no canto dos lábios.
“Mentira!?” Perguntei com a voz levemente esganiçada. “Que safadinho!” Eu comentei risonha, dando um tapinha no ombro dele, que simplesmente rolou os olhos e bufou.
“Não fica sem graça, . Isso é muito bonitinho!” comentou e eu ri da cara vermelha de , que apenas respondeu com um “tsc”.
“E voltamos à estaca zero...” Comentei, fingindo sofrimento, recebendo a atenção de todos. “Primeiro, não sou informada da festa. E agora eu vou sozinha. Tudo bem, pessoal... É mais fácil dizer que o amor acabou, sabe?” Comentei, dando de ombros.
Os amigos fizeram um coro de ‘own’ e do nada, senti meu corpo ser envolvido por um abraço forte e caloroso.
“Quem disse que você vai sozinha?” perguntou, me surpreendendo. Todos olharam surpresos para ele, inclusive eu. Fiquei sem reação, sorrindo sem graça.
“Agora não dá pra dizer que tá sozinha, né?” comentou, apoiando o queixo nas mãos, fazendo uma cara de sabichona.
Eu ri sem graça.
“...” Eu falei baixo, perto de si, e ele me encarou atento. “Tem certeza?” Perguntei, arqueando a sobrancelha.
“Às 21:30 eu passo na sua casa, pode ser?” Ele perguntou, alegre.
"Pode sim!” Respondi com mais animação do que esperava.
"E aí, preparada pra ser conhecida como a groupie oficial do McFly?!" me perguntou, enquanto seguíamos para a saída.
Lancei um olhar ameaçador, que arrancou algumas risadas do meu amigo.
“Por favor né querido! Estou mais pra manager dessa banda!” E sorri, colocando as mãos no bolso.
“E como você está?” Ele perguntou mais baixo, colocando um chiclete na boca, enquanto encostávamos no muro da escola aguardando os outros.
Eu o encarei confusa e ele respirou fundo. “Você sabe... Todo esse rolê e .”
“Oh.” Falei, piscando algumas vezes, antes de dar de ombros. “Acho que está tudo caminhando. É questão de tempo até as coisas se acertarem.” E sorri, esperançosa.
Ele me encarou com um sorriso de lado e apoiou a nuca nas palmas da mão, com os braços postados atrás de seu corpo; entre o muro e a nuca.
“Você sabe, isso tudo parece ser problemático e cansativo...” Ele comentou, tedioso. “Mas eu também acho que é uma questão de tempo até tudo se resolver. Se há diálogo e sinceridade, não tem porque as coisas se complicarem. Dê tempo ao tempo, ok?” E comentou, piscando rapidamente.
“Obrigada por isso, meu amigo.”
“Estamos juntos, mocreia.” Ele comentou, sorrindo para , que vinha caminhando em nossas direções, muito sorridente.
"É hoje, caralho!" E me puxou para um abraço apertado. "É hoje, é hoje!" Ele dizia, e eu ria.
“É HOJE!” Eu repeti, abraçando-o de volta.
"E hoje tem surpresa no repertório até para a groupie oficial!” Ele estava muito, muito empolgado, enquanto me apertava de propósito.
“Me solta, seu bocó!” Dei leves cutucadas na costela, fazendo-o soltar-me – ponto fraco das cosquinhas.
"Essa noite promete!" Ele disse, sorridente demais pro meu gosto. O brilho no olhar fez um alarme interno soar.
Foi uma sensação estranha, mas logo passou e eu resolvi ignorar.
Porque de estranhos, já bastava eu e .
“Promete mesmo!” nos surpreendeu, aparecendo ao lado de . Olhei ao redor e todos estavam com os semblantes alegres, o que me tranquilizou um pouco – principalmente no tocante à relação de e – ou pelo menos a magia musical tornavam as coisas mais suportáveis.
Saímos da escola e os meninos foram direto para o agilizar a montagem de palco e últimos acertos do show.
seguiu para sua casa e eu para a minha, e quando me dei conta já estava diante do meu armário. Estava com uma séria dúvida entre um vestido divinamente justo no corpo (roxo no busto e degradê até o rosa claro, na bainha que ficava pouco acima da altura do joelho) e entre uma calça legging, all star preto e uma blusa branca que ficava de um ombro só, com um "rock n' roll" gigante na parte da frente, com letras pretas, em destaque.
Chamei a minha própria estilista:
"MÃE!" Gritei da porta do quarto.
"Diga, prole." Ela disse, chegando um tempo depois, comendo uma maçã, com uma revista na mão.
"Socorro, dicas de moda pra ontem." Avisei.
"Quanto tempo você tem?" Ela perguntou, ainda desinteressada.
"São 9 horas, o vem me buscar daqui a meia hora e tudo o que eu fiz até agora foi tomar banho." 24 horas é tão pouco pra um dia.
"Whoa!" Ela comentou, sentando-se à minha cama. "Ok, tem que ser rápida. Qual é a dúvida?"
"Isso e isso." Apontei pro vestido e pro outro conjunto blusa + calça pra ela. "O vestido com o salto e o conjunto com o all star."
"Com o que você vai se sentir mais confortável?" Mamãe sempre sabe das coisas. "Com o conjunto por causa do tênis." Disse, sem pensar.
"Então vá com ele." Ela respondeu, feliz.
"Mas e o vestido? Não tá mais bonito?" Perguntei, receosa.
"Você quer dizer 'Está mais normal e mais belo pra quem vê'?" Mamãe sempre sabia das coisas, dois votos.
“Hm...” Comentei pensando. “Já sei! Vou com o vestido e com o all star e dane-se quem não gostar." Falei, guardando o conjunto.
"Isso mesmo. Agora apresse-se, que daqui a pouco o príncipe chega. Eu tô tão doida pra conhecer meu genrinho!" Ela falou, ansiosa.
"Você já parou com a idéia maluca do seu genrinho ser o ?" Perguntei, colocando o vestido.
"Bom, vocês estavam brigando muito. Mas se algo ainda não rolou entre vocês, vai rolar. Eu não sei, é difícil de dizer, vocês são complicados. Bom, pensamentos positivos pra você, curta, porque a noite é uma criança, e faça o que eu digo, não o que eu faço." E assim, mamãe saiu do quarto.
Nove meia em ponto e eu estava terminando de passar o batom nos lábios, quando a campainha tocou. Pontual, ponto positivo. Como eu disse que ficaria mais confortável, eu estava com aquele vestido, e com uma maquiagem de leve no rosto. Lápis e delineador preto, um pouco de blush bronzeador, batons e pronto. Ah, e é claro, o perfume, fato.
Desci as escadas cantarolando uma melodia qualquer e abri a porta, e encontrei um muito charmoso! Com uma camisa dos Rolling Stones vermelha, um tipo de blazer preto, e uma calça jeans escura, com um tênis igualmente escuro.
"Hey, ." Cumprimentei-o, sorridente.
"Uau!" Ele disse, me olhando. "Você está absolutamente... linda!" Ok, por essa sinceridade, eu não esperava.
"Er, hm... " Difícil respirar com o elogio imprevisto. "Obrigada, você também."
"Obrigado." Ele retribuiu, feliz.
"Entre, entre, eu só vou pegar meu casaco." Eu falei, dando espaço pra ele entrar. Subi as escadas correndo rapidamente, enquanto podia ouvir minha mãe falar com ele.
"Então, você e minha filha estão namorando em segredo ou o quê?" Pude ouvir quando estava na metade da escada.
"Mãe!" Repreendi, descendo os últimos degraus.
"Eu só estava brincando, ok?" Ela se desculpou, cruzando os braços.
"Ok, mãe, tchau!" Respondi, jogando um beijo pra ela.
"Tchau, querida, cuide-se. E, ...” E fez um sinal com os dedos e os olhos semi-cerrados. “Eu estou de olho!” Mães...
"Chega, mãe." Falei fazendo sinal de um corte na garganta, e abrindo a porta. "Não espere por mim." Sempre quis falar isso.
"Ok, tchau, ." Ela ria.
"Até mais!" Ele despediu-se risonho, sendo arrastado por mim, antes que o interrogatório começasse.
Capítulo 11 - Is it my imagination, or do you feel good?
Entramos no carro da mãe de – que felizmente havia emprestado sem nos fazer companhia hehe – e demonstrou que o cavalheirismo não estava morto ao abrir a porta para mim, o que me fez agradecer com um sorrisinho no canto do rosto.
Apesar de comentarmos algumas coisas do show e outras mais superficiais, o ar entre nós estava levemente tenso. Ele fazia de tudo para que eu me sentisse à vontade, e eu não deixava de respondê-lo ou dar corda aos assuntos que surgiam.
Mas durante o trajeto, eu percebi que nossos olhares se cruzaram mais do que deveriam... e isso me fazia sentir o frio na barriga de outrora.
Eu sei que reparávamos na beleza de um do outro, mas a questão da proposta criava uma certa expectativa, e apesar de eu estar digerindo a ideia de talvez ficar com , ainda não tinha coragem para fazê-lo, ao tempo que visivelmente, ele respeitava meu tempo.
Isso não impedia que nos sentíssemos ansiosos. Tímidos, ou animados ao estar perto um do outro.
Era diferente diante de tudo que já havíamos vivenciado como amigos – mesmo eu já tendo outro tipo de olhar para ele, agora éramos mais velhos, e tínhamos outras experiências amorosas, e situações afins.
Enquanto eu pensava em toda essa trajetória, o carro de parou e ele nos indicou o local da festa com sua fala.
“Chegamos!” Ele exclamou, desligando o carro e saindo para abrir a porta novamente para mim, que ri em resposta.
“Sabe, se você for fazer isso toda hora, vai poder correr a meia maratona em breve.” Comentei risonha, e ele coçou a nuca.
“Não se pode culpar um cara motivado, não é mesmo?” Eu sorri sem graça e senti as bochechas esquentarem, ficando em silêncio.
“É melhor entrarmos.” Ele avisou, oferecendo o braço para que eu apoiasse a mão no mesmo. Lhe sorri novamente, mais tranquila, e seguimos em direção à casa.
“, meu caro!” gritou, já um pouco 'alto', indo na direção do guitarrista da banda, seguido por . "Quanto tempo, meu amigo!"
"Hey, ! Tudo bem, minha doçura?" dizia, dando um abraço nele e sendo esmagado pelo mesmo, causando surpresa em mim e no , que se virou para perguntando em voz baixa "O que aconteceu aqui?”
"A culpa é toda do Aadam!" se explicou e citou o irmão de , fazendo me sentir confusa.
“O que ele fez?” Questionei, olhando pra ele com a cara fechada. "Vocês vão tocar daqui a pouco, ele não pode se apresentar nesse estado!"
“!!!” exclamou, me abraçando apertado, e eu me sufoquei em seu aperto. “Quanto tempo, minha amiga!” E ficou me balançando para um lado e pro outro, enquanto eu encarava com um olhar de poucos amigos.
"Eu só fui buscar a e quando voltei, ele já tava assim." se explicou. Rolei os olhos, e em seguida levei para a cozinha:
“Tá feliz hoje né amigo?” Perguntei, colocando encostado na bancada da pia.
"Sim, muito! Me diz, como estou? Você acha que a gostou do meu convite? Você viu como ela tá linda? Caralho, eu fico nervosão perto dela, mas não fala isso pra ninguém! Quando eu a vi hoje, pronta pro show... Puta merda, fiquei igual um babaca secando a mina, sem reação!” Ele explicava, gesticulando muito enquanto eu arrumava uma água na geladeira. “Não é que ela não seja linda, e um pouco ácida, mas eu gosto disso nela sabe, só que não sei, é esquisito porque ela é tão foda-se e isso é tão natural que eu fico reparando nessas coisas e... Caralho, achei um chiclete!” Ele vibrou, pegando da mesa.
Rolei os olhos, pensando que toda aquela tentativa frustrada de disfarçar a paixonite dele por já estava indo por água abaixo.
“, o quanto que você bebeu?” Eu perguntei, paciente.
“Como você sabe que eu bebi?” Ele indagou, mascando de boca aberta e eu fiz cara de nojo. “Isso não importa, foi o suficiente pra não ficar mais nervoso. Eu já tava na merda por causa do show, depois da ter rido da minha cara de idiota por reparar nela descaradamente, pensei o óbvio: ela deve me achar patético! E isso é muito nítido, quase matemático se comparar as situações e as reações, são poucas possibilidades de não ser isso, sabe? E aí, diante desse quadro, eu queria me desfazer desse nervosismo todo, e BANG!” Ele espalmou uma mão na outra, eu quase deixei a garrafinha d’água cair da mão no susto. “Encontrei o mestre dos magos mais conhecido como Aadam, que me sugeriu uns destilados aí!” Ele disse, felicitado. “E aqui estou! Bem pra caralho, me disseram que tô até extrovertido! Você não acha?” E começou a dançar uma dancinha muito esquisita que não encaixava com a música ambiente.
Respirei fundo, batendo a mão na testa.
“Certo amigo, acho que você poderia tomar uma água, sabe? Pra hidratar antes do show!” Indiquei com o sorriso forçado, e brilhou os olhos, pegando a água da minha mão e bebendo instantaneamente.
“Nossa, você é muito sábia também. Água é bom!” Ele exclamou, depois de matar metade do conteúdo, e eu apenas bufei, antes de retornar ao diálogo.
“Mas então, o que você acha que comer algo doce, hein?” Sugeri, sorridente. “Vai ser ótimo!”
“Porra !” Ele comentou rindo, e deu um leve soluço, o que fez ele rir mais ainda. “A gente tá cansado de saber que doce corta álcool. Se cortar o efeito, eu vou ficar nervoso de novo! E nós não queremos isso, não é verdade?” Ele falou fazendo uma cara de sabichão sem deixar de dançar aquela coreografia horrorosa.
Eu rolei os olhos de novo.
E logo tive uma ideia, que poderia ser providencial.
“Sabe quem ama doces?” Indaguei, para um atento. “A ! A adora doces! E acho que se você quisesse demonstrar algum interesse hoje, começar adoçando a relação pode ser uma boa ideia! O que acha de encontrarmos um quitute que a faça sorrir? Você gosta de vê-la sorrir, não é?” “Eu gosto de olhar pra cara dela, mesmo ela estando puta da vida. Aliás, ela é uma graça quando fica esquentada.” Ele comentou rindo, e eu sorri com aquele comentário bobo, porém sincero de .
“E então?” Reforcei, e me encarou dando de ombros.
"Onde podemos achar um doce gostoso para ela?” era tão manipulável quando se tratava da paixonite dele...
“Deixa comigo, que eu sei a pessoa certa pra te ajudar!” Saí correndo, sem antes girar nos calcanhares, me virando novamente para e apontando em sua direção. “Mas tem que me esperar aqui, tá?”
“Relaaaaaxa!” Ele berrou, fechando os olhos. “Eu estou curtindo meu momento!” E respondeu, erguendo os braços pro alto, remexendo o quadril de um lado pro outro.
Aquele definitivamente não era , o que significava apenas uma coisa: eu precisava agir rápido.
Andei de volta à sala, com uma barulheira de música alta, procurando Aadam. Quando o encontrei, ele estava falando com uma menina bem bonita, de cropped e calça skinny.
E tive que me esforçar para dar uma dura nele, porque o semi-deus estava uma delícia cremosa...
Pra desespero da nação, o irmão de estava com uma camiseta verde com a gola levemente cavada, uma jaqueta de couro preta, uma calça jeans azul escura e um sapatênis marrom.
Aquilo realçava mais ainda a beleza do cara, e eu respirei fundo antes de me concentrar em chamá-lo.
Mas admito que ajeitei o vestido no corpo antes de tudo.
"Aadam!" Gritei seu nome, acabando com o xaveco, como dizia . “Posso falar com você um instante?"
"!" Ele disse, reparando em mim. “Uau! Você está...” E me olhou de cima em baixo. “Surpreendente!” Ele exclamou, e eu arqueei a sobrancelha, pensando em quem diabos fala um termo desses nos dias atuais para elogiar uma mulher.
“Obrigada.” Sorri sem graça e ele acenou, se virando para a garota com quem conversava.
“Por favor, deixe-me apresentar...” Ele disse, e seu cenho franziu. Ele estava fazendo esforço pra lembrar o nome da garota, tinha certeza. Após frustrantes minutos de silêncio, ela simplesmente rolou os olhos, e saiu andando, deixando um Aadam não muito agradável pro meu lado – seu sorriso largo deu lugar à uma cara emburrada em um segundo.
"Ok, que seja muito importante, porque eu perdi uma oportunidade daquelas e..."
"Se liga, Aadam!" O cortei, antes dele terminar de falar. "Você resolve isso depois, agora conseguir um outro componente pro McFly essa noite, não consegue não." , a revoltada.
"Como assim?!" Ele indagou, confuso.
" está bêbado graças ao seu conselho idiota e daqui a pouco eles vão tocar. Ele está na cozinha, agora trate de ir até lá e fique ao lado dele até que ele se sinta bem. E leve todos os doces que você encontrar!”
“Doce de droga ou...” Interrompi.
"Porra, Aadam!” O encarei e ele ergueu as mãos em sinal de paz. “Doce normal, cacete!”
Aadam me olhou com tédio, revirou os olhos e apoiou as mãos nas têmporas.
“Céus, essas crianças não sabem nem beber pra relaxar...” E eu bufei, ignorando sua fala. "Ok, ok... Eu vou lá ajudar o .” Ele me olhou com um falso sorriso. “Mas... é só porque você realmente está gata." E me olhou de cima embaixo rapidamente, piscando e seguindo pra cozinha.
“Mas que tipinho...” Resmunguei, indo ao jardim e encontrando alguns de meus amigos.
"!" gritou, me abraçando. "Você tá linda, amiga!"
"Obrigada!" Respondi, rindo de leve. "Você também está!" E estava mesmo, botas estilo coturno, uma saia que imitava couro que ia até o meio das coxas e uma blusa branca simples tomara-que-caia, com um blusão xadrez vermelho por cima. estava logo atrás, admirando a beldade da minha amiga. Eu ri de como ele estava arrumadinho para ela – o não precisava de esforços pra ficar bonito, mas de fato se empenhou nesta noite! Ele estava com uma blusa social preta dobrada até os cotovelos, com os dois botões do peitoral abertos, uma calça vermelha, e um all star branco.
Estavam ridículos de tão combinadinhos!
“, quer matar o hoje?” perguntou puxando graça, e eu rolei os olhos, risonha. Aproveitei e brinquei também.
"O também não tem do que reclamar." Ela estava com uma calça jeans clara, uma bota com saltinho básico e um body lilás, com um discreto decote na frente, de alças finas.
"Obrigada." Ela havia ficado tímida. "Ele ficou me encarando um bom tempo quando me viu assim, acredita? Eu ri horrores, ser indiscreto é tão não-ele!” Ela comentou apenas pra mim e riu mais ainda.
"É, você o deixa bem nervoso, mulher! Ele até foi beber pra ficar mais tranquilo...”. Comentei levemente, e ela me encarou com a sobrancelha arqueada.
“Sério?” Ela questionou, levemente risonha.
“Tá até dando trabalho!” Comentei rindo, e ela mudou sua feição na hora.
"Ele tá bêbado? Por minha causa?!"
Eu a encarei com um sorrisinho no rosto.
“Mais ou menos, ele está na cozinha com Aadam. Se quiser até lá dar uma ajudinha...” Ela me olhou e perdeu o olhar, mordendo o lábio inferior. “Sei que seria crucial na melhora do .”
“Vai à merda!” Ela comentou rindo, me dando um tapa no ombro. “Mas fala sério, acha que eu devo ir lá?”
Eu apenas meneei afirmativamente com a cabeça, e ela retribuiu, saindo do ambiente sem nem falar com ninguém.
me olhou confusa e eu só balancei a cabeça, indicando pra deixar pra lá.
“E então, animado?” Perguntei pro , que afirmou rapidamente com a cabeça, e os olhos levemente arregalados. Eu e rimos da sua expressividade.
“Uma pilha de nervos, pra ser mais sincero.” Ele admitiu, coçando a nuca e esfregando as mãos logo em seguida.
“Já te falei que vai dar tudo certo... Não se preocupe.” tentou acalmá-lo, segurando as mãos do , que instantaneamente prendeu seu olhar em minha amiga.
E assim, era como se ninguém estivesse mais ali.
"Bom, gente, e eu vou procurar pelo... Ah, foda-se.” Ri de mim, enquanto eles estavam envolvidos no momentinho deles.
Antes que eu me afastasse muito do quase casal, ouvi alguém gritar meu nome:
"!" Quando me virei pra ver quem era, não era . Nem . Era... Lis.
"Lis, oi!" Surpresa, surpresa!
Tentei disfarçar o choque no rosto, enquanto minha mente trabalhava de forma acelerada, pensando em como as coisas se desenrolaram até ela estar ali, na minha frente, falando comigo.
E como um filme, imagens de convidando-a pro show, sendo carinhoso, trazendo-a para a festa, invadiram meu campo mental.
Meu coração deu uma pontada, e eu me forcei sorrir.
“Nossa, você está linda demais!” Ela exclamou, segurando em meus ombros. “Eu adorei esse batom em você! Isso só ressalta sua beleza...” E ela ficou me olhando sorridente, me dando um rápido abraço.
Aquilo estava tão estranho que não consegui sequer reagir a tempo.
“Obrigada, Lis." Respondi, colocando um fio de cabelo meu pra trás da orelha. “Você também está muito bonita.” Retribuí com o sorriso forçado, e reparei em seu vestido branco completamente colado no corpo, que ia até à canela, e um tênis all-star igualmente branco.
A menina estava adiantada pro ano novo.
“E então!” Ela voltou a falar, colocando uma mexa do cabelo atrás da orelha, e eu pude notar o pequeno brinco de pérola que ali repousava, dando um charme final ao seu look. “Muito animada para o show?” E seu sorriso estampou a cara.
"C-claro!” Eu ajeitei o vestido no corpo, mas ela pareceu ignorar isso – felizmente. “Estou muito animada, é uma honra, né? E você?” Meu Deus, como era difícil manter um diálogo com alguém linda, educada, que gostava de você, e essa mesma pessoa estava com quem você gostaria de estar.
“Eu estou em polvorosa!” Ela exclamou, e eu ergui uma sobrancelha, achando graça do termo. “Nem acreditei quando me falou do show! Ele perguntou se eu queria ir e eu não tinha como negar, não é? Afinal, há quanto tempo esperamos por isso, né?” Ela estava realmente empolgada e eu apenas sorri educadamente.
“Pois é né!” E olhei ao redor. “Mas cadê ele?" Foi mais forte que eu, admito. "Presente." O próprio apareceu por trás de mim, me dando um susto.
"O-Oi!” Até gaguejei, com aquela proximidade toda.
“E aí?” Ele disse, sorrindo abertamente, me olhando rapidamente. "Você está linda."
Ai caralho, ai meu coração!
"Obrigada...” Corei levemente, reparando nele. “Você também."
Aquilo era tortura! Ele estava com uma blusa grafite colada no corpo que ia até depois dos cotovelos, com os botões na altura do peitoral abertos, ressaltando a gola v e o seu corpo, por conseguinte. Vestia uma calça jeans azul-escura, e um adidas branco com listras pretas. O cabelo dele estava cuidadosamente arrumado, com um aspecto de rebelde.
Ele estava maravilhoso.
Mas o que fez minha boca abrir em formato de “o” foi detectar a touca azul-violeta que eu havia feito pra ele há um tempo atrás, em seu aniversário.
Ele disse que usaria apenas em ocasiões especiais, pois era um presente especial.
E lá estava ele, o amor da minha vida, usando a touca que eu dei, no primeiro show da sua tão sonhada banda.
Aquilo era muita tortura pro meu coração.
"Bom, você e Lis já se conhecem, é claro." Ele quebrou o momento de reflexão interior, e eu o encarei novamente no olhar. Ele estava com uma mão na cintura dela, abraçando-a meio que de lado. Ela apoiou a cabeça no ombro dele e deu um breve sorriso.
Forcei o máximo que pude a sorrir, e mudei de assunto:
“Obviamente!” Respondi, sucinta. “Mas diga, quando vocês vão se apresentar?" Curta e grossa, com um sorrisinho forçado na cara.
"Daqui há alguns minutos, eu acho.” Ele respondeu, sorrindo.
“Ok! Estarei lá.” Falei, segurando minha raiva interna.
"Na primeira fila?" Ele perguntou, e eu percebi que ele aproximou o corpo de Lis mais do dele, ainda com a mão na cintura dela.
Calma, calma, respira, ele não é nada além do que seu amigo.
“Mas é claro! Isso é muito importante para você e...” Olhei rapidamente para a sua mão na cintura dela, e voltei o olhar para o seu rosto. “Para outras pessoas. Você sabe.” Sorri sem mostrar os dentes, tentando manter a classe.
"Dois coelhos numa cajadada só." Ele respondeu, dando um breve sorriso antes de me encarar com a feição um pouco tensa.
“Estarei lá por todos. E além do mais, você não terá só a mim lá na frente." Respondi, apontando pra Lis, sorridente. Mais sarcástica, impossível.
Elise me olhou com os olhos arregalados, olhou rapidamente para e movimentando as mãos rapidamente, ela tentou se justificar.
“I-imagina! Eu vou estar lá pela banda! Todos precisam do nosso apoio, não é?” Ela respondeu, carinhosa o bastante para que eu enfiasse o dedo na goela e vomitasse. Porra, à quem ela estava querendo enganar?
“É verdade.” Respondi, tentando ser a conciliadora, enquanto apenas me encarava, com um semblante levemente ansioso. "Bom, eu vou procurar saber do ." Falei, me direcionando para a casa.
"O que o tem?" Ele perguntou, preocupado, e sua feição mudou completamente.
"Bêbado. A essa hora já deve estar melhor. Aadam está com ele, mas não quero deixá-lo sozinho com essa responsa. E deve estar terminando de arrumar as coisas..." Dei de ombros, fingindo desinteresse. “Vou ver se algum deles precisa de mim.”
“Claro, alguém deve estar desesperadamente precisando de você.” deu ênfase na palavra e arqueou a sobrancelha, com um sorriso sarcástico no canto do rosto.
Apesar daquilo teoricamente soar uma piada, o ambiente estava pesado, e tornou-se mais confuso quando decidi aderir à brincadeira, deixando uma gargalhada escapar.
“Você não faz ideia.” E pisquei, saindo de lá, mas não antes de me virar de lado e apontar para a cabeça de . "Ah, a propósito... Gostei da toca. Ocasião especial, né?" E sorri levemente debochada.
deu de ombros, sorrindo sem mostrar os dentes.
“Além disso, pensei que daria sorte. Espero não estar enganado." E levantou as sobrancelhas rapidamente, mantendo o sorriso nos lábios.
“Parece que vamos descobrir muito em breve, não é mesmo?” E me virei, já saindo de lá. “Bom show. Divirtam-se!”
"Você também, !" Lis, a boazinha.
"O mesmo pra você." Os olhos deles me observavam, sem nenhuma expressão. Credo.
Que merda era aquela que estava acontecendo? Porque parecia uma troca de farpas? Por que eu não conseguia me controlar nos ciúmes? Argh, estava ficando insuportável vê-los juntos!
"Ele tá ficando com ela, é fato. Eu sou uma idiota, preocupada com amizade! E ele lá, agarrando a cintura dela como se fosse o ar que respira! Argh, que merda!” Exclamei pra mim mesma, enquanto fechava a porta do banheiro e me olhava no espelho.
Minha respiração estava descompassada e o penteado levemente fora do lugar.
Os olhos em chamas e a feição amargurada.
Eu não queria ser aquela mulher do reflexo.
“Ele me deixou ir, não deixou? Eu tenho mais é que aceitar e ficar com o mesmo, pra tornar minha vida menos miserável. Mas... argh!” Eu pensava nisso, enquanto voltava a respirar normalmente, e devido à insistência nas batidas da porta do banheiro, saí sem nem olhar pra trás.
Caminhando sem parar, acabei parando na beira da piscina, no jardim, olhando atentamente pra água, mergulhada em pensamentos confusos.
Eu já tinha pensado tanto no fato do gostar da Lis, mas puta merda! Era completamente diferente com aquela visão dos dois juntos! Só de pensar, sentia meus cabelos da nuca se arrepiarem de raiva.
Não me toquei quanto tempo fiquei ali tentando recuperar a calma, e só acordei para a realidade quando ouvi uma voz atrás de mim soar:
“Se você se jogar, eu vou ser obrigado à ir junto para salvar.” Automaticamente sorri com sua piada. Demorei um tempo pra responder, e suspirei antes de fazê-lo.
“Não será necessário... Pretendo continuar seca.” E me aproximei, olhando nos seus olhos.
Ficamos assim durante um tempo, me analisando com um olhar intrigado... Até que ele decidiu perguntar:
“Está tudo bem?”
Eu simplesmente afirmei com a cabeça, abraçando à mim mesma, e forçando um sorriso de lado.
“Por que eu acho que não?” arqueou uma sobrancelha, fazendo uma cara de dor.
Eu suspirei de novo, olhando para água. Após alguns momentos calada, resolvi ignorar as palavras presas na garganta e tentei disfarçar.
“Coisas na cabeça. Vai passar.” Sorri, levemente, enquanto continuava me olhando. Ele se aproximou de mim, pegou minhas mãos e ficou olhando para elas.
“Tem a ver com ele, não é?” Meus olhos se arregalaram, entregando minha surpresa, e sorriu sem muito humor na face.
Eu apenas acenei positivamente, encarando o chão.
“Então, ela é a Lis?” Ele perguntou, e eu o encarei novamente, sussurrando um sim, e me virei de costas para ele, encarando a água da piscina.
Deixei uma lágrima solitária cair, mas logo a enxuguei, me abraçando mais forte.
Estava foda lidar com aquilo tudo.
"Vai doer ainda um tempo... É normal, não se cobre." Ouvi a voz de soar atrás de mim, e quando me virei pra olhá-lo, ele me abraçou, de forma que minha cabeça ficou encostada em seu peito. Respirei fundo, porque ele respondeu exatamente o que eu não queria ouvir, mas que insistia em perguntar.
"Dói, . Bastante, sabe? Me desculpe, eu sei que você não quer ouvir isso, mas...”
"Shhh." Ele disse, balançando levemente seu corpo, numa forma de me acalmar. "Eu não pedi pra você parar de gostar dele do dia pro outro, pedi?"
"Não..." Respondi tristemente. "Mas é que..."
"Nada mais deve ser dito, então." Ele me interrompeu, acariciando meu braço com seu dedão. "Eu só pedi pra você me dar uma chance. Eu não tô exigindo nada de você, foi só uma proposta. Sem pressa pra isso. Eu disse que estaria aqui, de toda forma, e vou fazer o meu melhor pra que você se sinta bem...” Ele sussurrou em meu ouvido, e eu fechei os olhos, respirando fundo, tentando acalmar o coração. “Mas se você não quiser, eu entenderei e..."
"Não, ." Eu abri os olhos e o interrompi, segurando sua mão, pra que ele prestasse atenção. “Não é exatamente isso. É só que isso leva tempo... Às vezes nem eu consigo suportar. Mas leva tempo até... "
"Eu sei, não precisa se explicar... Eu acredito em você." Ele falou simplesmente, me deixando um pouco mais feliz.
"Obrigada..." Sussurrei, olhando pra ele, seriamente. "Por tudo."
"Bom..." Ele respondeu, acariciando meu rosto, olhando nos meus olhos, com um sorriso doce. "É um prazer."
Ficamos nos olhando por um curto espaço de tempo, porque fomos interrompidos por um arfando.
"Cara!" Ele disse, se apoiando com as mãos nos joelhos "Por onde você esteve? Já está quase na hora da gente se apresentar!"
"Nossa, calma." disse, olhando assustado pra ele. "Por que não me procuraram antes?”
“Eu pedi pro vir avisar, mas ele foi até a porta da cozinha, avistou vocês, deu meia volta e me disse pra chamá-los. Ele não queria interromper nada, mas achei nada a ver porque né? A gente tem hora para tocar, cacete!" bufou, impaciente. “E ele nem me ouviu quando comecei a argumentar isso, saiu andando. Grande babaca de TPM, namoral.” Argh, que patife.
"Bom, que seja." Eu disse, me levantando, com uma certa raiva do . "Tá quase na hora mesmo, então vamos logo, ." Eu disse, oferecendo minha mão. Ele sorriu, pegou na minha mão e nós três seguimos para o local.
"Boa sorte, ." Ouvi falar, com uma voz meiga (lê-se: apaixonada), enquanto eu descia do mini-palco pra ficar na primeira fila.
“Eu tenho você, ! Pra que sorte?” Pude ver piscar pra , enquanto ela morria de amores.
"Vamos, ..." chamou, rindo da cara dela, babando totalmente por ele, e ele por ela.
Depois de todos terem se desejado boa sorte ali, eu, , e... Lis – é difícil dizer o nome – estávamos na primeira fila, olhando pros meninos, ansiosos, nervosos... Tudo que se podia imaginar.
O dono da festa, já muito bêbado, chegou ao microfone e agradeceu ao McFly por estar ali – pelo menos ele não estava sendo grosseiro – agradeceu à um monte de gente, e de repente, saiu dali gritando McFly pra todo canto. Alguns olhares a mais, outros a menos, e de repente, ouvi a voz de no microfone:
"Bom, gente, é a primeira vez que nos apresentamos. Gostaríamos que vocês curtissem nosso som e, bom, essa música eu compus há um tempo, fruto de uma relação que me deu chifres!" Ouviu-se um monte de gente gritando, rindo, fazendo a zona. "Eu sei, eu sei, sou um corno, mas um corno que compõe músicas! E essa aqui se chama Nothing!"
Everything she says to me is nothing
(Tudo que ela diz pra mim significada nada)
Even words of sympathy mean Nothing
(Mesmo palavras de compaixão significam nada)
Im feeling down and i hate the sound of nothing
(Estou me sentindo abatido e eu odeio o som do nada)
What's the point in hanging around for Nothing?
(Qual o propósito de dar voltas por nada?)
And i can't remember falling in love with you
(E eu não consigo lembrar de ter me apaixonado por você)
This is agony
(Essa agonia)
and you know you're putting me through
(E você sabe pelo que está me fazendo passar)
this is misery
(Esse sofrimento)
Taking every memory
(Levando toda memória)
Just tell me why this misery won't go away
(Apenas me diga por que esse sofrimento não vai embora)
How can we carry on this way?
(Como podemos continuar dessa forma?)
"Deixaram marcas no pobre coração do , hein, ?" comentou rindo.
"Pelo menos a música fará sucesso e ela se sentirá arrependida, rá!" respondeu, ácida, e eu rolei os olhos rindo.
“Vocês não dão trégua, cara.” Comentei, balançando a cabeça.
I'm finding it hard to hold a conversation
(Eu acho difícil manter uma conversa)
I'm being with this just in agrovation
(E estar com ela é só uma irritação)
I can stay but i haven't got the patience
(Eu poderia ficar mas eu não tenho a paciência)
I'm sick of pathetic explanations
(Estou cheio de suas patéticas explicações)
That's why i forgot falling in love with you
(É por isso que eu esqueci de que havia me apaixonado por você)
This is agony
(Essa agonia)
and you know you're putting me through this misery
(E você sabe pelo que está me fazendo passar, esse sofrimento)
Taking every memory
(Levando toda memória)
Just tell me why this misery won't go away
(Apenas me diga por que esse sofrimento não vai embora)
How can we carry on this way?
(Como podemos continuar dessa forma?)
Apesar da letra ser um pouco revoltada (lê-se: muito), o ritmo da música era gostoso, e todos ali dentro estavam curtindo McFly. Acho que, de repente, eu havia incorporado a mãezona, aquela que viu aquilo crescer diante dos seus olhos, já fazendo um grande sucesso. Eu realmente esperava que a banda conseguisse ter uma carreira muito boa.
Olhei cuidadosamente pra todos os quatro. estava concentrado, mas, sempre que podia, procurava o olhar de na multidão. E, quando encontrava, um sorriso se abria nos lábios dele, e no dela também. um pouco nervoso tocava cuidadosamente, prestando atenção a cada movimento que fazia em seu instrumento, mas de vez em quando fazia caras e bocas se animando totalmente. Era os momentos que, quem o conhecia de verdade, via que ele se divertia genuinamente. Isso, e quando discretamente procurava no meio da multidão – quando a encontrava, um sorriso de canto surgia em seus lábios, e ele voltava sua atenção para o instrumento.
estava cantando alegremente a letra da música, e qualquer um que olhasse podia dizer que ele estava feliz, inegavelmente – mesmo tendo sido corno, como ele mesmo disse. Já estava tenso e pouco interagia. Estava concentrado na execução da música e, ao prestar mais atenção nele, percebi que ele só cantava a parte “This misery, taking every memory, Just Tell me why this misery won't go away, How can we carry on this way?”.
O resto da música, ele seguia concentradíssimo no que fazia. Ele nem cantava junto o resto. Acho que se ele fizesse qualquer outra coisa, ele erraria música.
Parecia que estava perturbado com algo, e eu não sabia dizer se aquela estranheza toda era somente por ansiedade do show. Ou seja: ele não estava em seu normal.
You'll never bring me down
(Você nunca vai me abater)
Cos I'm so far above you
(Porque eu estou muito acima de você)
You think you're Strong
(Você pensa que é forte)
But you're nothing to me now
(Mas você é nada pra mim agora)
And i hope you will be happy
(E eu espero que você seja feliz)
This time around
(Por agora)
And i can't remember falling in love with you
(E eu não consigo lembrar de ter me apaixonado por você)
This is agony
(Essa agonia)
and you know you're putting me through
(E você sabe pelo que está me fazendo passar)
this misery
(Esse sofrimento)<
Taking every memory
(Levando toda memória)
Just tell me why this misery won't go away
(Apenas me diga por que esse sofrimento não vai embora)
How can we carry on this way?
(Como podemos continuar dessa forma?)
No final, pude perceber que finalmente tirou os olhos do seu instrumento, pra cantar aquele pedaço que ele só cantava, e olhou para... mim. Forcei os músculos da minha testa em forma de desentendimento, afinal, eu não entendi nada: sua postura, seu olhar, a frase cantada... Ele estava muito estranho.
Todos aplaudiram ao final da música, as meninas gritando, mas, continuei com meu olhar sobre , da mesma maneira que ele continuava a olhar pra mim, sem expressão, até que me disse ao pé do ouvido:
", disfarça. Essa olhada tá ficando crítica."
Rapidamente, olhei pra ela, como se tivesse levado um susto.
"Ele cantou a última parte pra mim, você viu?" Eu questionei, com raiva. deu de ombros.
"Sinceramente, nem notei, cara. Vai ver ele só estava cantando porque né, é a música!" Respirei fundo, tentando não mudar o humor mais do que já estava naquela noite.
tinha razão. Ou pelo menos queria acreditar nisso.
“Hm.” Eu murmurei, voltando meu olhar pro palco, sem olhar para .
Outras músicas foram tocadas, algumas dos Beatles, como 'She loves you'; 'I wanna hold your hand' e 'Crazy Little thing called love', do Queen. Houve uma música autoral nova, intitulada ‘Met this girl’. Algo me dizia que tinha a ver com e , mas preferi ficar na minha, até ter certeza para fazer piadinhas com meus amigos.
Eu estava tomando um gole de alguma coisa que estava bebendo, quando vi suspirar devagar, chegando ao microfone, pedindo e chamando a atenção de todos:
"Galera, eu gostaria de agradecer pela animação e pela forma como vocês receberam a McFly. Sério mesmo, isso significa muito pra nós. Mas, agora, eu gostaria de dedicar essa música especialmente à minha... melhor amiga, ." Ele realmente tinha apontando pra mim, sorridente, enquanto eu ficava vermelha.
Que merda era aquela? Eu fiz uma força excruciante para não cuspir a bebida no chão.
"Obrigado por ter me dado o início da próxima música que a gente vai tocar. Mudei um pouquinho, mas, espero que goste." E piscou o olho esquerdo, enquanto ajeitava a touca na cabeça e fazia a contagem inicial.
Os primeiros acordes começaram a soar, e na letra e melodia da música, e eu fiquei parada feito uma múmia prestando atenção em tudo e todos.
It hasn't been the best of days,
(Não tem sido os melhores dias,)
Since she drove off and left me standing in a haze
(Desde que ela se foi e me deixou confuso)
Because I've been so out of order
(Porque eu tenho parado de funcionar,)
Yes I have babe
(Sim eu tenho babe,)
My new found love showed up and blew her out the water
(Meu novo amor apareceu e surpreendeu)
Olhando para , ele estava um pouco nervoso, mas parecia que cada palavra daquela canção, ele cantava com a alma. Virei-me pra olhar o , e tive o mesmo resultado. Parecia que os dois cantavam aquilo como se sentissem aquilo dentro de si... E eu estava... confusa, sem saber o que fazer. Aparentemente, viu meu desespero e me chamou:
"..." E com dificuldades, eu olhei pra ela.
"E-Essa música..." Eu falei, olhando pra ela, e pra , que percebeu a minha cara de assustada. "É a música que o fez comigo. Antes ela era só algumas frases sobre como eu me sentia quando gostava do , na época do acampamento."
Elas me olharam com caras de quem entendia a situação.
And its so not easy (I know she'll say),
(E não é tão fácil (Eu sei que ela dirá),)
I'm sleazy (I love the way),
(Eu sou desonesto (Eu amo o jeito),)
You please me.
(Que você me agrada)
I can't believe I found,
(Eu não acredito que eu encontrei,)
The girl who turned my life around.
(A garota que mudou minha vida.)
She suddenly came onto me,
(Ela de repente veio até mim,)
Pin me down on the ground.
(Me prendeu no chão)
I could have pushed away,
(Eu podia ter afastado,)
But I didn't know what she'd say,
(Mas eu não sabia o que ela diria,)
But I'm glad I'm not the guy who turned her down.
(Mas eu estou feliz que eu não sou o cara que a dispensou)
cantava essa parte de olhos bem fechados, enquanto tinha seus olhos bem abertos pra mim, com um sorriso no rosto.
Eu não sabia o que pensar.
Acho que percebeu isso e sussurrou meio incerta:
“Tá tudo bem?”
“Eu não faço a mínima ideia.” Respondi, olhando pra ela com os olhos levemente arregalados. “Eu sei que preciso de uma bebida. Forte." Eu disse, e logo me entregou o que ela bebia, o que eu não fazia ideia.
Um, dois, três goles grandes e rápidos pra dentro, e eu já estava tonta.
I cut my social life in two,
(Eu corto minha vida social em duas, )
I quit my city job so I can be here with you.
(Eu me demito do meu emprego para poder ficar aqui com você.)
My friends say I'm a fool in love,
(Meus amigos dizem que sou um bobo apaixonado,)
But I'm not babe,
(Mas eu não sou babe,)
It's worth my while because you're what my dreams are made of.
(Isso vale a pena porque meus sonhos são feitos de você)
Cos you look like (A beauty queen)
(Porque você se parece com (uma rainha da beleza))
Sucked in by (Your tractor beam)
(Atraído pela (sua máquina de atração))
You know I
(Você sabe que eu)
"Minha rainha da beleza." comentou, mandando beijinho, o que me fez rir em meio ao desespero. Pelo menos ser irônica comigo mesmo me ajuda a rir. E a bebida também.
"Eu fiz essa parte com o . Da rainha. Ah, cara... Eu sei lá, tô meio boba com isso tudo." Comentei, dando um longo gole naquilo que já descia com facilidade na minha garganta.
"E bêbada." falou, rindo. Eu não tava bêbada, só... alegre. Pô, cara, eu sou fraca pra bebida, mas nem tanto.
O refrão ia se repetir e com ele, eu comecei a cantar junto, pelo menos o que eu achava que conhecia, tentando convencer a mim mesma que as partes apaixonadas daquela música feitas praticamente por , não eram pra mim. Até porque, se eu acreditasse que eram pra mim, eu sabia que mais tarde, eu iria sofrer um bocado.
E como um sinal, Lis gritou pelo nome de logo atrás de mim, e eu senti o coração dar uma pontada brusca ao vê-lo sorrindo para ela.
Mas que merda.
Era claro que aquela porra não era pra mim.
Ele só dedicou a merda da música porque eu ajudei a compô-la.
Compô-la para Lis.
A garota que ele gostava.
Não eu, que era apenas... a melhor amiga.
I can't believe I found,
(Eu não acredito que eu encontrei,)
The girl who turned my life around.
(A garota que mudou minha vida.)
She suddenly came onto me,
(Ela de repente veio até mim,)
Pin me down on the ground.
(Me prendeu no chão)
I could have pushed away,
(Eu podia ter afastado,)
But I didn't know what she'd say,
(Mas eu não sabia o que ela diria,)
But I'm glad I'm not the guy who turned her down.
(Mas eu estou feliz que eu não sou o cara que a dispensou)
“Eu sou muito idiota mesmo.” Exclamei, rindo de mim mesma. Uma pessoa passou servindo bebidas e eu catei um copo da bandeja, bebendo tudo até à metade de uma vez só.
“Como assim?” perguntou, erguendo a sobrancelha.
“Esquece.” Eu falei, encarando a bebida. “Não quero ficar pensando mais nessa merda!” Respondi, dando uma boa golada.
"Relaxa, gatinha, relaxa." me avisou, apontando pro meu copo.
"Eu tô bem cara." Dei um outro gole e de repente, já não havia mais nada. Ah, que triste.
"Vou pegar mais." Avisei, andando numa direção que eu acreditava ser a cozinha, mas me puxou de volta:
", dá um tempinho, depois você pega, ok? Não bebe tão rápido assim."
"É, segura um pouquinho. Quando você menos espera, o efeito vem com tudo!" comentou, com um sorriso. “Aproveita que você tá desinibida e banca a groupie, porra!” Ela apontou pro palco e eu ri, reparando num concentrado e levemente nervoso.
"Vai, !" Gritei animada, e meu amigo tomou um susto com o meu repentino fanatismo, e sorriu sem graça, mas logo mudou quando encarou , sem expressão.
Com o cenho franzido e um sorriso debochado, ele apontou pra ela e cantou a parte da música a seguir:
Years go by (As the years go by)
(Anos passam (enquanto os anos passam))
I wonder why (I start to wonder why)
(Eu me pergunto por quê (Eu começo a me perguntar por quê))
She had come to me (Bah da bah bah)
(Ela tinha que vir até mim (Bah da bah bah))
So glad that she met me (Bah da bah bah)
(Tão feliz que ela me conheceu (Bah da bah bah))
And life without you baby, just don't know where I would be
(E vida sem você baby não sei aonde eu estaria)
“Uuuuuuh, olha ele!” Comentei zoando, e , pela primeira vez, tinha ficado realmente sem graça, com um sorrisinho no canto do rosto. Ela riu de mim e , que gargalhava apontando pra amiga.
“Vocês são fodas...” admitiu, rolando os olhos e encarando novamente o , que a olhava com o mesmo sorriso de sempre.
“Eu lembro dessa parte.” Comentei com as meninas, até porque eu lembrava mesmo. Outra coisa feita com o .
O observei tocar calmamente seu instrumento, e ao encarar o público, seu olhar alcançou o meu. Eu mandei um sorriso incerto, e ele me retribuiu com um outro sincero, e eu senti que ele sabia o que eu estava pensando, sobre termos escrito aquele verso juntos.
Ficamos nos olhando e eu me perguntava porque eu amava tanto aquele desgraçado.
Seria pelos olhos tão penetrantes, que me faziam sentir nua?
Pela forma como ele era talentoso?
Pelo seu jeito de conversar sobre assuntos sérios e banais com a mesma naturalidade?
Pelo jeito que seu cabelo se encaixava com a touca que eu havia dado?
Pela forma que ele cuidava de mim, e eu dele?
Ou por toda nossa história?
Meus pensamentos foram interrompidos pelo pior dos estraga-prazeres.
", que música linda! Parabéns!" Ouvi a voz de Lis soar atrás de mim.
“Obrigada, Lis. Mas não fiz sozinha...” Comentei rindo. "Foi o também."
“Ele é ótimo também, não é?” Ela riu ao falar disso.
“Ele é incrível mesmo.” Comentei, observando-o interagir com . “E merece pessoas igualmente incríveis ao lado dele.” Respondi, me voltando para Elise, dando uma piscadinha pra ela. “Então, vá com tudo.”
Eu não sei o que havia me dado pra dizer aquilo. Poderia ser a bebida ou a súbita noção de que eu não teria reciprocidade no amor, da parte de .
Mas desejava imensamente sua felicidade, e por pior que fosse admitir para uma boa parte do meu ego, Elise não era uma má pessoa, nem um “partido” ruim.
Ela só não era eu, ou melhor – eu não era ela, porque se fosse, já estaria com há muito tempo. Principalmente vendo o óbvio – que ele gostava dela, a ponto de escrever uma música em sua homenagem.
Com a ajuda da trouxa, vulgo eu, a melhor amiga.
“Acho que você está viajando, .” Lis me tirou do devaneio, e eu a encarei com a sobrancelha erguida. “Somos apenas amigos!”
"Hm, sei não, hein?" O que tinha naquela bebida que estava me fazendo falar tudo? "Porque não se permitem?” Perguntei desconfiada.
“Não sei mesmo, acho que... Bem, isso é bem confuso, na verdade.” Ela comentou risonha, e me encarou com os olhos receosos. “Eu não sei se daria certo.”
“Só vai saber se tentar.” Eu falei, dando de ombros, e finalizando aquele diálogo, me virando para e, internamente, digerindo a perda de .
Não, naquela hora eu não iria deixar que aquele sentimento por me atingisse de forma avassaladora. Não naquela noite. Não mesmo.
I can't believe I found,
(Eu não acredito que eu encontrei,)
The girl who turned my life around.
(A garota que mudou minha vida.)
She suddenly came onto me,
(Ela de repente veio até mim,)
Pin me down on the ground.
(Me prendeu no chão)
I could have pushed away,
(Eu podia ter afastado,)
But I didn't know what she'd say,
(Mas eu não sabia o que ela diria,)
But I'm glad I'm not the guy who turned her down.
(Mas eu estou feliz que eu não sou o cara que a dispensou)
Yeah I'm glad I'm not the guy who turned her down.
(Sim, eu estou feliz que eu não sou o cara que a dispensou)
Yeah I'm glad I'm not the guy who turned her down.
(Sim, eu estou feliz que eu não sou o cara que a dispensou)
Fim da música, mais e mais aplausos. De repente, tudo aconteceu bem devagar, era como se eu visse tudo de outro lugar. rapidamente guardou suas coisas, e, num piscar de olhos ele havia sumido. Eu tentei falar com os outros, mas eles estavam lotados de gente em volta. Decidi pegar a bebida que havia me dado anteriormente, então fui até a cozinha. Enchi meu copo, dei um longo gole, e estava ótimo!
E então, eu vi.
Saindo da cozinha, no canto da casa, do lado do relógio, eu vi o que meus olhos não conseguiam acreditar, por mais que fosse óbvio.
e Lis, se beijando.
As mãos dele subindo e descendo nas costas dela, enquanto as mãos dela puxavam levemente os cabelos dele, com os lábios tão unidos quantos seus corpos. No chão, próximo aos pés deles, a touca que eu havia feito para . Completamente esquecida, abandonada.
Como eu me sentia naquele momento.
E então, foi como se tivessem arrancado meu coração e ele ainda pulsasse. Aquilo doía, e como doía. Mas não tanto quanto pensei. Eu simplesmente parei, os olhei, sentindo a dor penetrar em mim, e suspirei fundo o bastante pra me lembrar de respirar.
Encarei meu copo de bebida, e de repente, algo estava pingando nele. Quando fui ver de onde vinha, me assustei.
Eu havia tocado meu rosto, e ele estava molhado com as minhas lágrimas que eu nem percebi que caíam.
Realmente, é irônico isso, chorar sem perceber. Falando em irônico, a música que começou a tocar das caixas de som era uma versão meio dançante de "Ironic", da Alanis Morissette. Estava bem no refrão, quando eu enxuguei meu rosto calmamente, virei todo o conteúdo que tinha dentro daquele copo.
O taquei num canto qualquer, e continuei olhando por mais um tempo aquela cena. Pra não ter dúvidas: não gostava de mim, não importa o que eu pensasse ou achasse estranho.
E assim, todas as brigas que tivemos passaram pela minha cabeça, e eu me questionei em que momento permiti que ele fosse tão longe na minha privacidade, a ponto de me sentir com medo de me envolver com outros rapazes, enquanto ele estava ali, sendo livre e feliz.
Já havíamos conversado duas vezes sobre como nos respeitaríamos, e manteríamos a promessa de continuar com a amizade e resolver os problemas.
Então porque aquilo doía tanto?
Respirei fundo, ajeitando o vestido no corpo, limpando as lágrimas do rosto e dando uma ajeitada no cabelo.
Eu também queria ser feliz, ou menos infeliz do que estava sendo.
E eu seria.
Segui meu caminho à procura de quem eu imaginava estar rodeado de garotas. E realmente estava. Mas eu não liguei.
Fui passando enquanto empurrava um monte de garotas à minha frente – ouvindo umas reclamarem e me mandarem ir a lugares não tão legais quanto Pasárgada – até chegar na pessoa que eu queria.
"!" parecia feliz em me ver. "E aí, gostou da apresentação?" Eu o olhei, tentando jogar uma sensualidade que eu nem sabia que tinha, e, com um sorriso, eu respondi:
“Você não faz ideia do quanto.”
E, de repente, só me vi jogando os braços em volta de seu pescoço, e meus lábios se unindo com os dele, como se eu tivesse sede daquilo.
Num momento, apenas eu estava beijando-o, mas logo em seguida ele correspondeu; suas mãos agarraram minha cintura com força, enquanto eu jogava meu corpo mais e mais contra o dele.
Nossas línguas começaram a traçar caminhos desconhecidos por nós mesmos, na frente de todo mundo.
Não que eu me importasse naquele momento, pelo contrário: estava bem feliz de estar fazendo aquilo.
E, da maneira que ele me tocava, como ele beijava, como ele me tratava, eu só conseguia ouvir, no fundo dos meus pensamentos, que ele estava certo ao cantar a melhor parte da música deles.
And I'm glad I'm not the guy who turned her down."
Apesar de comentarmos algumas coisas do show e outras mais superficiais, o ar entre nós estava levemente tenso. Ele fazia de tudo para que eu me sentisse à vontade, e eu não deixava de respondê-lo ou dar corda aos assuntos que surgiam.
Mas durante o trajeto, eu percebi que nossos olhares se cruzaram mais do que deveriam... e isso me fazia sentir o frio na barriga de outrora.
Eu sei que reparávamos na beleza de um do outro, mas a questão da proposta criava uma certa expectativa, e apesar de eu estar digerindo a ideia de talvez ficar com , ainda não tinha coragem para fazê-lo, ao tempo que visivelmente, ele respeitava meu tempo.
Isso não impedia que nos sentíssemos ansiosos. Tímidos, ou animados ao estar perto um do outro.
Era diferente diante de tudo que já havíamos vivenciado como amigos – mesmo eu já tendo outro tipo de olhar para ele, agora éramos mais velhos, e tínhamos outras experiências amorosas, e situações afins.
Enquanto eu pensava em toda essa trajetória, o carro de parou e ele nos indicou o local da festa com sua fala.
“Chegamos!” Ele exclamou, desligando o carro e saindo para abrir a porta novamente para mim, que ri em resposta.
“Sabe, se você for fazer isso toda hora, vai poder correr a meia maratona em breve.” Comentei risonha, e ele coçou a nuca.
“Não se pode culpar um cara motivado, não é mesmo?” Eu sorri sem graça e senti as bochechas esquentarem, ficando em silêncio.
“É melhor entrarmos.” Ele avisou, oferecendo o braço para que eu apoiasse a mão no mesmo. Lhe sorri novamente, mais tranquila, e seguimos em direção à casa.
“, meu caro!” gritou, já um pouco 'alto', indo na direção do guitarrista da banda, seguido por . "Quanto tempo, meu amigo!"
"Hey, ! Tudo bem, minha doçura?" dizia, dando um abraço nele e sendo esmagado pelo mesmo, causando surpresa em mim e no , que se virou para perguntando em voz baixa "O que aconteceu aqui?”
"A culpa é toda do Aadam!" se explicou e citou o irmão de , fazendo me sentir confusa.
“O que ele fez?” Questionei, olhando pra ele com a cara fechada. "Vocês vão tocar daqui a pouco, ele não pode se apresentar nesse estado!"
“!!!” exclamou, me abraçando apertado, e eu me sufoquei em seu aperto. “Quanto tempo, minha amiga!” E ficou me balançando para um lado e pro outro, enquanto eu encarava com um olhar de poucos amigos.
"Eu só fui buscar a e quando voltei, ele já tava assim." se explicou. Rolei os olhos, e em seguida levei para a cozinha:
“Tá feliz hoje né amigo?” Perguntei, colocando encostado na bancada da pia.
"Sim, muito! Me diz, como estou? Você acha que a gostou do meu convite? Você viu como ela tá linda? Caralho, eu fico nervosão perto dela, mas não fala isso pra ninguém! Quando eu a vi hoje, pronta pro show... Puta merda, fiquei igual um babaca secando a mina, sem reação!” Ele explicava, gesticulando muito enquanto eu arrumava uma água na geladeira. “Não é que ela não seja linda, e um pouco ácida, mas eu gosto disso nela sabe, só que não sei, é esquisito porque ela é tão foda-se e isso é tão natural que eu fico reparando nessas coisas e... Caralho, achei um chiclete!” Ele vibrou, pegando da mesa.
Rolei os olhos, pensando que toda aquela tentativa frustrada de disfarçar a paixonite dele por já estava indo por água abaixo.
“, o quanto que você bebeu?” Eu perguntei, paciente.
“Como você sabe que eu bebi?” Ele indagou, mascando de boca aberta e eu fiz cara de nojo. “Isso não importa, foi o suficiente pra não ficar mais nervoso. Eu já tava na merda por causa do show, depois da ter rido da minha cara de idiota por reparar nela descaradamente, pensei o óbvio: ela deve me achar patético! E isso é muito nítido, quase matemático se comparar as situações e as reações, são poucas possibilidades de não ser isso, sabe? E aí, diante desse quadro, eu queria me desfazer desse nervosismo todo, e BANG!” Ele espalmou uma mão na outra, eu quase deixei a garrafinha d’água cair da mão no susto. “Encontrei o mestre dos magos mais conhecido como Aadam, que me sugeriu uns destilados aí!” Ele disse, felicitado. “E aqui estou! Bem pra caralho, me disseram que tô até extrovertido! Você não acha?” E começou a dançar uma dancinha muito esquisita que não encaixava com a música ambiente.
Respirei fundo, batendo a mão na testa.
“Certo amigo, acho que você poderia tomar uma água, sabe? Pra hidratar antes do show!” Indiquei com o sorriso forçado, e brilhou os olhos, pegando a água da minha mão e bebendo instantaneamente.
“Nossa, você é muito sábia também. Água é bom!” Ele exclamou, depois de matar metade do conteúdo, e eu apenas bufei, antes de retornar ao diálogo.
“Mas então, o que você acha que comer algo doce, hein?” Sugeri, sorridente. “Vai ser ótimo!”
“Porra !” Ele comentou rindo, e deu um leve soluço, o que fez ele rir mais ainda. “A gente tá cansado de saber que doce corta álcool. Se cortar o efeito, eu vou ficar nervoso de novo! E nós não queremos isso, não é verdade?” Ele falou fazendo uma cara de sabichão sem deixar de dançar aquela coreografia horrorosa.
Eu rolei os olhos de novo.
E logo tive uma ideia, que poderia ser providencial.
“Sabe quem ama doces?” Indaguei, para um atento. “A ! A adora doces! E acho que se você quisesse demonstrar algum interesse hoje, começar adoçando a relação pode ser uma boa ideia! O que acha de encontrarmos um quitute que a faça sorrir? Você gosta de vê-la sorrir, não é?” “Eu gosto de olhar pra cara dela, mesmo ela estando puta da vida. Aliás, ela é uma graça quando fica esquentada.” Ele comentou rindo, e eu sorri com aquele comentário bobo, porém sincero de .
“E então?” Reforcei, e me encarou dando de ombros.
"Onde podemos achar um doce gostoso para ela?” era tão manipulável quando se tratava da paixonite dele...
“Deixa comigo, que eu sei a pessoa certa pra te ajudar!” Saí correndo, sem antes girar nos calcanhares, me virando novamente para e apontando em sua direção. “Mas tem que me esperar aqui, tá?”
“Relaaaaaxa!” Ele berrou, fechando os olhos. “Eu estou curtindo meu momento!” E respondeu, erguendo os braços pro alto, remexendo o quadril de um lado pro outro.
Aquele definitivamente não era , o que significava apenas uma coisa: eu precisava agir rápido.
Andei de volta à sala, com uma barulheira de música alta, procurando Aadam. Quando o encontrei, ele estava falando com uma menina bem bonita, de cropped e calça skinny.
E tive que me esforçar para dar uma dura nele, porque o semi-deus estava uma delícia cremosa...
Pra desespero da nação, o irmão de estava com uma camiseta verde com a gola levemente cavada, uma jaqueta de couro preta, uma calça jeans azul escura e um sapatênis marrom.
Aquilo realçava mais ainda a beleza do cara, e eu respirei fundo antes de me concentrar em chamá-lo.
Mas admito que ajeitei o vestido no corpo antes de tudo.
"Aadam!" Gritei seu nome, acabando com o xaveco, como dizia . “Posso falar com você um instante?"
"!" Ele disse, reparando em mim. “Uau! Você está...” E me olhou de cima em baixo. “Surpreendente!” Ele exclamou, e eu arqueei a sobrancelha, pensando em quem diabos fala um termo desses nos dias atuais para elogiar uma mulher.
“Obrigada.” Sorri sem graça e ele acenou, se virando para a garota com quem conversava.
“Por favor, deixe-me apresentar...” Ele disse, e seu cenho franziu. Ele estava fazendo esforço pra lembrar o nome da garota, tinha certeza. Após frustrantes minutos de silêncio, ela simplesmente rolou os olhos, e saiu andando, deixando um Aadam não muito agradável pro meu lado – seu sorriso largo deu lugar à uma cara emburrada em um segundo.
"Ok, que seja muito importante, porque eu perdi uma oportunidade daquelas e..."
"Se liga, Aadam!" O cortei, antes dele terminar de falar. "Você resolve isso depois, agora conseguir um outro componente pro McFly essa noite, não consegue não." , a revoltada.
"Como assim?!" Ele indagou, confuso.
" está bêbado graças ao seu conselho idiota e daqui a pouco eles vão tocar. Ele está na cozinha, agora trate de ir até lá e fique ao lado dele até que ele se sinta bem. E leve todos os doces que você encontrar!”
“Doce de droga ou...” Interrompi.
"Porra, Aadam!” O encarei e ele ergueu as mãos em sinal de paz. “Doce normal, cacete!”
Aadam me olhou com tédio, revirou os olhos e apoiou as mãos nas têmporas.
“Céus, essas crianças não sabem nem beber pra relaxar...” E eu bufei, ignorando sua fala. "Ok, ok... Eu vou lá ajudar o .” Ele me olhou com um falso sorriso. “Mas... é só porque você realmente está gata." E me olhou de cima embaixo rapidamente, piscando e seguindo pra cozinha.
“Mas que tipinho...” Resmunguei, indo ao jardim e encontrando alguns de meus amigos.
"!" gritou, me abraçando. "Você tá linda, amiga!"
"Obrigada!" Respondi, rindo de leve. "Você também está!" E estava mesmo, botas estilo coturno, uma saia que imitava couro que ia até o meio das coxas e uma blusa branca simples tomara-que-caia, com um blusão xadrez vermelho por cima. estava logo atrás, admirando a beldade da minha amiga. Eu ri de como ele estava arrumadinho para ela – o não precisava de esforços pra ficar bonito, mas de fato se empenhou nesta noite! Ele estava com uma blusa social preta dobrada até os cotovelos, com os dois botões do peitoral abertos, uma calça vermelha, e um all star branco.
Estavam ridículos de tão combinadinhos!
“, quer matar o hoje?” perguntou puxando graça, e eu rolei os olhos, risonha. Aproveitei e brinquei também.
"O também não tem do que reclamar." Ela estava com uma calça jeans clara, uma bota com saltinho básico e um body lilás, com um discreto decote na frente, de alças finas.
"Obrigada." Ela havia ficado tímida. "Ele ficou me encarando um bom tempo quando me viu assim, acredita? Eu ri horrores, ser indiscreto é tão não-ele!” Ela comentou apenas pra mim e riu mais ainda.
"É, você o deixa bem nervoso, mulher! Ele até foi beber pra ficar mais tranquilo...”. Comentei levemente, e ela me encarou com a sobrancelha arqueada.
“Sério?” Ela questionou, levemente risonha.
“Tá até dando trabalho!” Comentei rindo, e ela mudou sua feição na hora.
"Ele tá bêbado? Por minha causa?!"
Eu a encarei com um sorrisinho no rosto.
“Mais ou menos, ele está na cozinha com Aadam. Se quiser até lá dar uma ajudinha...” Ela me olhou e perdeu o olhar, mordendo o lábio inferior. “Sei que seria crucial na melhora do .”
“Vai à merda!” Ela comentou rindo, me dando um tapa no ombro. “Mas fala sério, acha que eu devo ir lá?”
Eu apenas meneei afirmativamente com a cabeça, e ela retribuiu, saindo do ambiente sem nem falar com ninguém.
me olhou confusa e eu só balancei a cabeça, indicando pra deixar pra lá.
“E então, animado?” Perguntei pro , que afirmou rapidamente com a cabeça, e os olhos levemente arregalados. Eu e rimos da sua expressividade.
“Uma pilha de nervos, pra ser mais sincero.” Ele admitiu, coçando a nuca e esfregando as mãos logo em seguida.
“Já te falei que vai dar tudo certo... Não se preocupe.” tentou acalmá-lo, segurando as mãos do , que instantaneamente prendeu seu olhar em minha amiga.
E assim, era como se ninguém estivesse mais ali.
"Bom, gente, e eu vou procurar pelo... Ah, foda-se.” Ri de mim, enquanto eles estavam envolvidos no momentinho deles.
Antes que eu me afastasse muito do quase casal, ouvi alguém gritar meu nome:
"!" Quando me virei pra ver quem era, não era . Nem . Era... Lis.
"Lis, oi!" Surpresa, surpresa!
Tentei disfarçar o choque no rosto, enquanto minha mente trabalhava de forma acelerada, pensando em como as coisas se desenrolaram até ela estar ali, na minha frente, falando comigo.
E como um filme, imagens de convidando-a pro show, sendo carinhoso, trazendo-a para a festa, invadiram meu campo mental.
Meu coração deu uma pontada, e eu me forcei sorrir.
“Nossa, você está linda demais!” Ela exclamou, segurando em meus ombros. “Eu adorei esse batom em você! Isso só ressalta sua beleza...” E ela ficou me olhando sorridente, me dando um rápido abraço.
Aquilo estava tão estranho que não consegui sequer reagir a tempo.
“Obrigada, Lis." Respondi, colocando um fio de cabelo meu pra trás da orelha. “Você também está muito bonita.” Retribuí com o sorriso forçado, e reparei em seu vestido branco completamente colado no corpo, que ia até à canela, e um tênis all-star igualmente branco.
A menina estava adiantada pro ano novo.
“E então!” Ela voltou a falar, colocando uma mexa do cabelo atrás da orelha, e eu pude notar o pequeno brinco de pérola que ali repousava, dando um charme final ao seu look. “Muito animada para o show?” E seu sorriso estampou a cara.
"C-claro!” Eu ajeitei o vestido no corpo, mas ela pareceu ignorar isso – felizmente. “Estou muito animada, é uma honra, né? E você?” Meu Deus, como era difícil manter um diálogo com alguém linda, educada, que gostava de você, e essa mesma pessoa estava com quem você gostaria de estar.
“Eu estou em polvorosa!” Ela exclamou, e eu ergui uma sobrancelha, achando graça do termo. “Nem acreditei quando me falou do show! Ele perguntou se eu queria ir e eu não tinha como negar, não é? Afinal, há quanto tempo esperamos por isso, né?” Ela estava realmente empolgada e eu apenas sorri educadamente.
“Pois é né!” E olhei ao redor. “Mas cadê ele?" Foi mais forte que eu, admito. "Presente." O próprio apareceu por trás de mim, me dando um susto.
"O-Oi!” Até gaguejei, com aquela proximidade toda.
“E aí?” Ele disse, sorrindo abertamente, me olhando rapidamente. "Você está linda."
Ai caralho, ai meu coração!
"Obrigada...” Corei levemente, reparando nele. “Você também."
Aquilo era tortura! Ele estava com uma blusa grafite colada no corpo que ia até depois dos cotovelos, com os botões na altura do peitoral abertos, ressaltando a gola v e o seu corpo, por conseguinte. Vestia uma calça jeans azul-escura, e um adidas branco com listras pretas. O cabelo dele estava cuidadosamente arrumado, com um aspecto de rebelde.
Ele estava maravilhoso.
Mas o que fez minha boca abrir em formato de “o” foi detectar a touca azul-violeta que eu havia feito pra ele há um tempo atrás, em seu aniversário.
Ele disse que usaria apenas em ocasiões especiais, pois era um presente especial.
E lá estava ele, o amor da minha vida, usando a touca que eu dei, no primeiro show da sua tão sonhada banda.
Aquilo era muita tortura pro meu coração.
"Bom, você e Lis já se conhecem, é claro." Ele quebrou o momento de reflexão interior, e eu o encarei novamente no olhar. Ele estava com uma mão na cintura dela, abraçando-a meio que de lado. Ela apoiou a cabeça no ombro dele e deu um breve sorriso.
Forcei o máximo que pude a sorrir, e mudei de assunto:
“Obviamente!” Respondi, sucinta. “Mas diga, quando vocês vão se apresentar?" Curta e grossa, com um sorrisinho forçado na cara.
"Daqui há alguns minutos, eu acho.” Ele respondeu, sorrindo.
“Ok! Estarei lá.” Falei, segurando minha raiva interna.
"Na primeira fila?" Ele perguntou, e eu percebi que ele aproximou o corpo de Lis mais do dele, ainda com a mão na cintura dela.
Calma, calma, respira, ele não é nada além do que seu amigo.
“Mas é claro! Isso é muito importante para você e...” Olhei rapidamente para a sua mão na cintura dela, e voltei o olhar para o seu rosto. “Para outras pessoas. Você sabe.” Sorri sem mostrar os dentes, tentando manter a classe.
"Dois coelhos numa cajadada só." Ele respondeu, dando um breve sorriso antes de me encarar com a feição um pouco tensa.
“Estarei lá por todos. E além do mais, você não terá só a mim lá na frente." Respondi, apontando pra Lis, sorridente. Mais sarcástica, impossível.
Elise me olhou com os olhos arregalados, olhou rapidamente para e movimentando as mãos rapidamente, ela tentou se justificar.
“I-imagina! Eu vou estar lá pela banda! Todos precisam do nosso apoio, não é?” Ela respondeu, carinhosa o bastante para que eu enfiasse o dedo na goela e vomitasse. Porra, à quem ela estava querendo enganar?
“É verdade.” Respondi, tentando ser a conciliadora, enquanto apenas me encarava, com um semblante levemente ansioso. "Bom, eu vou procurar saber do ." Falei, me direcionando para a casa.
"O que o tem?" Ele perguntou, preocupado, e sua feição mudou completamente.
"Bêbado. A essa hora já deve estar melhor. Aadam está com ele, mas não quero deixá-lo sozinho com essa responsa. E deve estar terminando de arrumar as coisas..." Dei de ombros, fingindo desinteresse. “Vou ver se algum deles precisa de mim.”
“Claro, alguém deve estar desesperadamente precisando de você.” deu ênfase na palavra e arqueou a sobrancelha, com um sorriso sarcástico no canto do rosto.
Apesar daquilo teoricamente soar uma piada, o ambiente estava pesado, e tornou-se mais confuso quando decidi aderir à brincadeira, deixando uma gargalhada escapar.
“Você não faz ideia.” E pisquei, saindo de lá, mas não antes de me virar de lado e apontar para a cabeça de . "Ah, a propósito... Gostei da toca. Ocasião especial, né?" E sorri levemente debochada.
deu de ombros, sorrindo sem mostrar os dentes.
“Além disso, pensei que daria sorte. Espero não estar enganado." E levantou as sobrancelhas rapidamente, mantendo o sorriso nos lábios.
“Parece que vamos descobrir muito em breve, não é mesmo?” E me virei, já saindo de lá. “Bom show. Divirtam-se!”
"Você também, !" Lis, a boazinha.
"O mesmo pra você." Os olhos deles me observavam, sem nenhuma expressão. Credo.
Que merda era aquela que estava acontecendo? Porque parecia uma troca de farpas? Por que eu não conseguia me controlar nos ciúmes? Argh, estava ficando insuportável vê-los juntos!
"Ele tá ficando com ela, é fato. Eu sou uma idiota, preocupada com amizade! E ele lá, agarrando a cintura dela como se fosse o ar que respira! Argh, que merda!” Exclamei pra mim mesma, enquanto fechava a porta do banheiro e me olhava no espelho.
Minha respiração estava descompassada e o penteado levemente fora do lugar.
Os olhos em chamas e a feição amargurada.
Eu não queria ser aquela mulher do reflexo.
“Ele me deixou ir, não deixou? Eu tenho mais é que aceitar e ficar com o mesmo, pra tornar minha vida menos miserável. Mas... argh!” Eu pensava nisso, enquanto voltava a respirar normalmente, e devido à insistência nas batidas da porta do banheiro, saí sem nem olhar pra trás.
Caminhando sem parar, acabei parando na beira da piscina, no jardim, olhando atentamente pra água, mergulhada em pensamentos confusos.
Eu já tinha pensado tanto no fato do gostar da Lis, mas puta merda! Era completamente diferente com aquela visão dos dois juntos! Só de pensar, sentia meus cabelos da nuca se arrepiarem de raiva.
Não me toquei quanto tempo fiquei ali tentando recuperar a calma, e só acordei para a realidade quando ouvi uma voz atrás de mim soar:
“Se você se jogar, eu vou ser obrigado à ir junto para salvar.” Automaticamente sorri com sua piada. Demorei um tempo pra responder, e suspirei antes de fazê-lo.
“Não será necessário... Pretendo continuar seca.” E me aproximei, olhando nos seus olhos.
Ficamos assim durante um tempo, me analisando com um olhar intrigado... Até que ele decidiu perguntar:
“Está tudo bem?”
Eu simplesmente afirmei com a cabeça, abraçando à mim mesma, e forçando um sorriso de lado.
“Por que eu acho que não?” arqueou uma sobrancelha, fazendo uma cara de dor.
Eu suspirei de novo, olhando para água. Após alguns momentos calada, resolvi ignorar as palavras presas na garganta e tentei disfarçar.
“Coisas na cabeça. Vai passar.” Sorri, levemente, enquanto continuava me olhando. Ele se aproximou de mim, pegou minhas mãos e ficou olhando para elas.
“Tem a ver com ele, não é?” Meus olhos se arregalaram, entregando minha surpresa, e sorriu sem muito humor na face.
Eu apenas acenei positivamente, encarando o chão.
“Então, ela é a Lis?” Ele perguntou, e eu o encarei novamente, sussurrando um sim, e me virei de costas para ele, encarando a água da piscina.
Deixei uma lágrima solitária cair, mas logo a enxuguei, me abraçando mais forte.
Estava foda lidar com aquilo tudo.
"Vai doer ainda um tempo... É normal, não se cobre." Ouvi a voz de soar atrás de mim, e quando me virei pra olhá-lo, ele me abraçou, de forma que minha cabeça ficou encostada em seu peito. Respirei fundo, porque ele respondeu exatamente o que eu não queria ouvir, mas que insistia em perguntar.
"Dói, . Bastante, sabe? Me desculpe, eu sei que você não quer ouvir isso, mas...”
"Shhh." Ele disse, balançando levemente seu corpo, numa forma de me acalmar. "Eu não pedi pra você parar de gostar dele do dia pro outro, pedi?"
"Não..." Respondi tristemente. "Mas é que..."
"Nada mais deve ser dito, então." Ele me interrompeu, acariciando meu braço com seu dedão. "Eu só pedi pra você me dar uma chance. Eu não tô exigindo nada de você, foi só uma proposta. Sem pressa pra isso. Eu disse que estaria aqui, de toda forma, e vou fazer o meu melhor pra que você se sinta bem...” Ele sussurrou em meu ouvido, e eu fechei os olhos, respirando fundo, tentando acalmar o coração. “Mas se você não quiser, eu entenderei e..."
"Não, ." Eu abri os olhos e o interrompi, segurando sua mão, pra que ele prestasse atenção. “Não é exatamente isso. É só que isso leva tempo... Às vezes nem eu consigo suportar. Mas leva tempo até... "
"Eu sei, não precisa se explicar... Eu acredito em você." Ele falou simplesmente, me deixando um pouco mais feliz.
"Obrigada..." Sussurrei, olhando pra ele, seriamente. "Por tudo."
"Bom..." Ele respondeu, acariciando meu rosto, olhando nos meus olhos, com um sorriso doce. "É um prazer."
Ficamos nos olhando por um curto espaço de tempo, porque fomos interrompidos por um arfando.
"Cara!" Ele disse, se apoiando com as mãos nos joelhos "Por onde você esteve? Já está quase na hora da gente se apresentar!"
"Nossa, calma." disse, olhando assustado pra ele. "Por que não me procuraram antes?”
“Eu pedi pro vir avisar, mas ele foi até a porta da cozinha, avistou vocês, deu meia volta e me disse pra chamá-los. Ele não queria interromper nada, mas achei nada a ver porque né? A gente tem hora para tocar, cacete!" bufou, impaciente. “E ele nem me ouviu quando comecei a argumentar isso, saiu andando. Grande babaca de TPM, namoral.” Argh, que patife.
"Bom, que seja." Eu disse, me levantando, com uma certa raiva do . "Tá quase na hora mesmo, então vamos logo, ." Eu disse, oferecendo minha mão. Ele sorriu, pegou na minha mão e nós três seguimos para o local.
"Boa sorte, ." Ouvi falar, com uma voz meiga (lê-se: apaixonada), enquanto eu descia do mini-palco pra ficar na primeira fila.
“Eu tenho você, ! Pra que sorte?” Pude ver piscar pra , enquanto ela morria de amores.
"Vamos, ..." chamou, rindo da cara dela, babando totalmente por ele, e ele por ela.
Depois de todos terem se desejado boa sorte ali, eu, , e... Lis – é difícil dizer o nome – estávamos na primeira fila, olhando pros meninos, ansiosos, nervosos... Tudo que se podia imaginar.
O dono da festa, já muito bêbado, chegou ao microfone e agradeceu ao McFly por estar ali – pelo menos ele não estava sendo grosseiro – agradeceu à um monte de gente, e de repente, saiu dali gritando McFly pra todo canto. Alguns olhares a mais, outros a menos, e de repente, ouvi a voz de no microfone:
"Bom, gente, é a primeira vez que nos apresentamos. Gostaríamos que vocês curtissem nosso som e, bom, essa música eu compus há um tempo, fruto de uma relação que me deu chifres!" Ouviu-se um monte de gente gritando, rindo, fazendo a zona. "Eu sei, eu sei, sou um corno, mas um corno que compõe músicas! E essa aqui se chama Nothing!"
(Tudo que ela diz pra mim significada nada)
Even words of sympathy mean Nothing
(Mesmo palavras de compaixão significam nada)
Im feeling down and i hate the sound of nothing
(Estou me sentindo abatido e eu odeio o som do nada)
What's the point in hanging around for Nothing?
(Qual o propósito de dar voltas por nada?)
And i can't remember falling in love with you
(E eu não consigo lembrar de ter me apaixonado por você)
This is agony
(Essa agonia)
and you know you're putting me through
(E você sabe pelo que está me fazendo passar)
this is misery
(Esse sofrimento)
Taking every memory
(Levando toda memória)
Just tell me why this misery won't go away
(Apenas me diga por que esse sofrimento não vai embora)
How can we carry on this way?
(Como podemos continuar dessa forma?)
"Deixaram marcas no pobre coração do , hein, ?" comentou rindo.
"Pelo menos a música fará sucesso e ela se sentirá arrependida, rá!" respondeu, ácida, e eu rolei os olhos rindo.
“Vocês não dão trégua, cara.” Comentei, balançando a cabeça.
(Eu acho difícil manter uma conversa)
I'm being with this just in agrovation
(E estar com ela é só uma irritação)
I can stay but i haven't got the patience
(Eu poderia ficar mas eu não tenho a paciência)
I'm sick of pathetic explanations
(Estou cheio de suas patéticas explicações)
That's why i forgot falling in love with you
(É por isso que eu esqueci de que havia me apaixonado por você)
This is agony
(Essa agonia)
and you know you're putting me through this misery
(E você sabe pelo que está me fazendo passar, esse sofrimento)
Taking every memory
(Levando toda memória)
Just tell me why this misery won't go away
(Apenas me diga por que esse sofrimento não vai embora)
How can we carry on this way?
(Como podemos continuar dessa forma?)
Apesar da letra ser um pouco revoltada (lê-se: muito), o ritmo da música era gostoso, e todos ali dentro estavam curtindo McFly. Acho que, de repente, eu havia incorporado a mãezona, aquela que viu aquilo crescer diante dos seus olhos, já fazendo um grande sucesso. Eu realmente esperava que a banda conseguisse ter uma carreira muito boa.
Olhei cuidadosamente pra todos os quatro. estava concentrado, mas, sempre que podia, procurava o olhar de na multidão. E, quando encontrava, um sorriso se abria nos lábios dele, e no dela também. um pouco nervoso tocava cuidadosamente, prestando atenção a cada movimento que fazia em seu instrumento, mas de vez em quando fazia caras e bocas se animando totalmente. Era os momentos que, quem o conhecia de verdade, via que ele se divertia genuinamente. Isso, e quando discretamente procurava no meio da multidão – quando a encontrava, um sorriso de canto surgia em seus lábios, e ele voltava sua atenção para o instrumento.
estava cantando alegremente a letra da música, e qualquer um que olhasse podia dizer que ele estava feliz, inegavelmente – mesmo tendo sido corno, como ele mesmo disse. Já estava tenso e pouco interagia. Estava concentrado na execução da música e, ao prestar mais atenção nele, percebi que ele só cantava a parte “This misery, taking every memory, Just Tell me why this misery won't go away, How can we carry on this way?”.
O resto da música, ele seguia concentradíssimo no que fazia. Ele nem cantava junto o resto. Acho que se ele fizesse qualquer outra coisa, ele erraria música.
Parecia que estava perturbado com algo, e eu não sabia dizer se aquela estranheza toda era somente por ansiedade do show. Ou seja: ele não estava em seu normal.
(Você nunca vai me abater)
Cos I'm so far above you
(Porque eu estou muito acima de você)
You think you're Strong
(Você pensa que é forte)
But you're nothing to me now
(Mas você é nada pra mim agora)
And i hope you will be happy
(E eu espero que você seja feliz)
This time around
(Por agora)
And i can't remember falling in love with you
(E eu não consigo lembrar de ter me apaixonado por você)
This is agony
(Essa agonia)
and you know you're putting me through
(E você sabe pelo que está me fazendo passar)
this misery
(Esse sofrimento)<
Taking every memory
(Levando toda memória)
Just tell me why this misery won't go away
(Apenas me diga por que esse sofrimento não vai embora)
How can we carry on this way?
(Como podemos continuar dessa forma?)
No final, pude perceber que finalmente tirou os olhos do seu instrumento, pra cantar aquele pedaço que ele só cantava, e olhou para... mim. Forcei os músculos da minha testa em forma de desentendimento, afinal, eu não entendi nada: sua postura, seu olhar, a frase cantada... Ele estava muito estranho.
Todos aplaudiram ao final da música, as meninas gritando, mas, continuei com meu olhar sobre , da mesma maneira que ele continuava a olhar pra mim, sem expressão, até que me disse ao pé do ouvido:
", disfarça. Essa olhada tá ficando crítica."
Rapidamente, olhei pra ela, como se tivesse levado um susto.
"Ele cantou a última parte pra mim, você viu?" Eu questionei, com raiva. deu de ombros.
"Sinceramente, nem notei, cara. Vai ver ele só estava cantando porque né, é a música!" Respirei fundo, tentando não mudar o humor mais do que já estava naquela noite.
tinha razão. Ou pelo menos queria acreditar nisso.
“Hm.” Eu murmurei, voltando meu olhar pro palco, sem olhar para .
Outras músicas foram tocadas, algumas dos Beatles, como 'She loves you'; 'I wanna hold your hand' e 'Crazy Little thing called love', do Queen. Houve uma música autoral nova, intitulada ‘Met this girl’. Algo me dizia que tinha a ver com e , mas preferi ficar na minha, até ter certeza para fazer piadinhas com meus amigos.
Eu estava tomando um gole de alguma coisa que estava bebendo, quando vi suspirar devagar, chegando ao microfone, pedindo e chamando a atenção de todos:
"Galera, eu gostaria de agradecer pela animação e pela forma como vocês receberam a McFly. Sério mesmo, isso significa muito pra nós. Mas, agora, eu gostaria de dedicar essa música especialmente à minha... melhor amiga, ." Ele realmente tinha apontando pra mim, sorridente, enquanto eu ficava vermelha.
Que merda era aquela? Eu fiz uma força excruciante para não cuspir a bebida no chão.
"Obrigado por ter me dado o início da próxima música que a gente vai tocar. Mudei um pouquinho, mas, espero que goste." E piscou o olho esquerdo, enquanto ajeitava a touca na cabeça e fazia a contagem inicial.
Os primeiros acordes começaram a soar, e na letra e melodia da música, e eu fiquei parada feito uma múmia prestando atenção em tudo e todos.
(Não tem sido os melhores dias,)
Since she drove off and left me standing in a haze
(Desde que ela se foi e me deixou confuso)
Because I've been so out of order
(Porque eu tenho parado de funcionar,)
Yes I have babe
(Sim eu tenho babe,)
My new found love showed up and blew her out the water
(Meu novo amor apareceu e surpreendeu)
Olhando para , ele estava um pouco nervoso, mas parecia que cada palavra daquela canção, ele cantava com a alma. Virei-me pra olhar o , e tive o mesmo resultado. Parecia que os dois cantavam aquilo como se sentissem aquilo dentro de si... E eu estava... confusa, sem saber o que fazer. Aparentemente, viu meu desespero e me chamou:
"..." E com dificuldades, eu olhei pra ela.
"E-Essa música..." Eu falei, olhando pra ela, e pra , que percebeu a minha cara de assustada. "É a música que o fez comigo. Antes ela era só algumas frases sobre como eu me sentia quando gostava do , na época do acampamento."
Elas me olharam com caras de quem entendia a situação.
(E não é tão fácil (Eu sei que ela dirá),)
I'm sleazy (I love the way),
(Eu sou desonesto (Eu amo o jeito),)
You please me.
(Que você me agrada)
I can't believe I found,
(Eu não acredito que eu encontrei,)
The girl who turned my life around.
(A garota que mudou minha vida.)
She suddenly came onto me,
(Ela de repente veio até mim,)
Pin me down on the ground.
(Me prendeu no chão)
I could have pushed away,
(Eu podia ter afastado,)
But I didn't know what she'd say,
(Mas eu não sabia o que ela diria,)
But I'm glad I'm not the guy who turned her down.
(Mas eu estou feliz que eu não sou o cara que a dispensou)
cantava essa parte de olhos bem fechados, enquanto tinha seus olhos bem abertos pra mim, com um sorriso no rosto.
Eu não sabia o que pensar.
Acho que percebeu isso e sussurrou meio incerta:
“Tá tudo bem?”
“Eu não faço a mínima ideia.” Respondi, olhando pra ela com os olhos levemente arregalados. “Eu sei que preciso de uma bebida. Forte." Eu disse, e logo me entregou o que ela bebia, o que eu não fazia ideia.
Um, dois, três goles grandes e rápidos pra dentro, e eu já estava tonta.
(Eu corto minha vida social em duas, )
I quit my city job so I can be here with you.
(Eu me demito do meu emprego para poder ficar aqui com você.)
My friends say I'm a fool in love,
(Meus amigos dizem que sou um bobo apaixonado,)
But I'm not babe,
(Mas eu não sou babe,)
It's worth my while because you're what my dreams are made of.
(Isso vale a pena porque meus sonhos são feitos de você)
Cos you look like (A beauty queen)
(Porque você se parece com (uma rainha da beleza))
Sucked in by (Your tractor beam)
(Atraído pela (sua máquina de atração))
You know I
(Você sabe que eu)
"Minha rainha da beleza." comentou, mandando beijinho, o que me fez rir em meio ao desespero. Pelo menos ser irônica comigo mesmo me ajuda a rir. E a bebida também.
"Eu fiz essa parte com o . Da rainha. Ah, cara... Eu sei lá, tô meio boba com isso tudo." Comentei, dando um longo gole naquilo que já descia com facilidade na minha garganta.
"E bêbada." falou, rindo. Eu não tava bêbada, só... alegre. Pô, cara, eu sou fraca pra bebida, mas nem tanto.
O refrão ia se repetir e com ele, eu comecei a cantar junto, pelo menos o que eu achava que conhecia, tentando convencer a mim mesma que as partes apaixonadas daquela música feitas praticamente por , não eram pra mim. Até porque, se eu acreditasse que eram pra mim, eu sabia que mais tarde, eu iria sofrer um bocado.
E como um sinal, Lis gritou pelo nome de logo atrás de mim, e eu senti o coração dar uma pontada brusca ao vê-lo sorrindo para ela.
Mas que merda.
Era claro que aquela porra não era pra mim.
Ele só dedicou a merda da música porque eu ajudei a compô-la.
Compô-la para Lis.
A garota que ele gostava.
Não eu, que era apenas... a melhor amiga.
(Eu não acredito que eu encontrei,)
The girl who turned my life around.
(A garota que mudou minha vida.)
She suddenly came onto me,
(Ela de repente veio até mim,)
Pin me down on the ground.
(Me prendeu no chão)
I could have pushed away,
(Eu podia ter afastado,)
But I didn't know what she'd say,
(Mas eu não sabia o que ela diria,)
But I'm glad I'm not the guy who turned her down.
(Mas eu estou feliz que eu não sou o cara que a dispensou)
“Eu sou muito idiota mesmo.” Exclamei, rindo de mim mesma. Uma pessoa passou servindo bebidas e eu catei um copo da bandeja, bebendo tudo até à metade de uma vez só.
“Como assim?” perguntou, erguendo a sobrancelha.
“Esquece.” Eu falei, encarando a bebida. “Não quero ficar pensando mais nessa merda!” Respondi, dando uma boa golada.
"Relaxa, gatinha, relaxa." me avisou, apontando pro meu copo.
"Eu tô bem cara." Dei um outro gole e de repente, já não havia mais nada. Ah, que triste.
"Vou pegar mais." Avisei, andando numa direção que eu acreditava ser a cozinha, mas me puxou de volta:
", dá um tempinho, depois você pega, ok? Não bebe tão rápido assim."
"É, segura um pouquinho. Quando você menos espera, o efeito vem com tudo!" comentou, com um sorriso. “Aproveita que você tá desinibida e banca a groupie, porra!” Ela apontou pro palco e eu ri, reparando num concentrado e levemente nervoso.
"Vai, !" Gritei animada, e meu amigo tomou um susto com o meu repentino fanatismo, e sorriu sem graça, mas logo mudou quando encarou , sem expressão.
Com o cenho franzido e um sorriso debochado, ele apontou pra ela e cantou a parte da música a seguir:
(Anos passam (enquanto os anos passam))
I wonder why (I start to wonder why)
(Eu me pergunto por quê (Eu começo a me perguntar por quê))
She had come to me (Bah da bah bah)
(Ela tinha que vir até mim (Bah da bah bah))
So glad that she met me (Bah da bah bah)
(Tão feliz que ela me conheceu (Bah da bah bah))
And life without you baby, just don't know where I would be
(E vida sem você baby não sei aonde eu estaria)
“Uuuuuuh, olha ele!” Comentei zoando, e , pela primeira vez, tinha ficado realmente sem graça, com um sorrisinho no canto do rosto. Ela riu de mim e , que gargalhava apontando pra amiga.
“Vocês são fodas...” admitiu, rolando os olhos e encarando novamente o , que a olhava com o mesmo sorriso de sempre.
“Eu lembro dessa parte.” Comentei com as meninas, até porque eu lembrava mesmo. Outra coisa feita com o .
O observei tocar calmamente seu instrumento, e ao encarar o público, seu olhar alcançou o meu. Eu mandei um sorriso incerto, e ele me retribuiu com um outro sincero, e eu senti que ele sabia o que eu estava pensando, sobre termos escrito aquele verso juntos.
Ficamos nos olhando e eu me perguntava porque eu amava tanto aquele desgraçado.
Seria pelos olhos tão penetrantes, que me faziam sentir nua?
Pela forma como ele era talentoso?
Pelo seu jeito de conversar sobre assuntos sérios e banais com a mesma naturalidade?
Pelo jeito que seu cabelo se encaixava com a touca que eu havia dado?
Pela forma que ele cuidava de mim, e eu dele?
Ou por toda nossa história?
Meus pensamentos foram interrompidos pelo pior dos estraga-prazeres.
", que música linda! Parabéns!" Ouvi a voz de Lis soar atrás de mim.
“Obrigada, Lis. Mas não fiz sozinha...” Comentei rindo. "Foi o também."
“Ele é ótimo também, não é?” Ela riu ao falar disso.
“Ele é incrível mesmo.” Comentei, observando-o interagir com . “E merece pessoas igualmente incríveis ao lado dele.” Respondi, me voltando para Elise, dando uma piscadinha pra ela. “Então, vá com tudo.”
Eu não sei o que havia me dado pra dizer aquilo. Poderia ser a bebida ou a súbita noção de que eu não teria reciprocidade no amor, da parte de .
Mas desejava imensamente sua felicidade, e por pior que fosse admitir para uma boa parte do meu ego, Elise não era uma má pessoa, nem um “partido” ruim.
Ela só não era eu, ou melhor – eu não era ela, porque se fosse, já estaria com há muito tempo. Principalmente vendo o óbvio – que ele gostava dela, a ponto de escrever uma música em sua homenagem.
Com a ajuda da trouxa, vulgo eu, a melhor amiga.
“Acho que você está viajando, .” Lis me tirou do devaneio, e eu a encarei com a sobrancelha erguida. “Somos apenas amigos!”
"Hm, sei não, hein?" O que tinha naquela bebida que estava me fazendo falar tudo? "Porque não se permitem?” Perguntei desconfiada.
“Não sei mesmo, acho que... Bem, isso é bem confuso, na verdade.” Ela comentou risonha, e me encarou com os olhos receosos. “Eu não sei se daria certo.”
“Só vai saber se tentar.” Eu falei, dando de ombros, e finalizando aquele diálogo, me virando para e, internamente, digerindo a perda de .
Não, naquela hora eu não iria deixar que aquele sentimento por me atingisse de forma avassaladora. Não naquela noite. Não mesmo.
The girl who turned my life around.
(A garota que mudou minha vida.)
She suddenly came onto me,
(Ela de repente veio até mim,)
Pin me down on the ground.
(Me prendeu no chão)
I could have pushed away,
(Eu podia ter afastado,)
But I didn't know what she'd say,
(Mas eu não sabia o que ela diria,)
But I'm glad I'm not the guy who turned her down.
(Mas eu estou feliz que eu não sou o cara que a dispensou)
Yeah I'm glad I'm not the guy who turned her down.
(Sim, eu estou feliz que eu não sou o cara que a dispensou)
Yeah I'm glad I'm not the guy who turned her down.
(Sim, eu estou feliz que eu não sou o cara que a dispensou)
Fim da música, mais e mais aplausos. De repente, tudo aconteceu bem devagar, era como se eu visse tudo de outro lugar. rapidamente guardou suas coisas, e, num piscar de olhos ele havia sumido. Eu tentei falar com os outros, mas eles estavam lotados de gente em volta. Decidi pegar a bebida que havia me dado anteriormente, então fui até a cozinha. Enchi meu copo, dei um longo gole, e estava ótimo!
E então, eu vi.
Saindo da cozinha, no canto da casa, do lado do relógio, eu vi o que meus olhos não conseguiam acreditar, por mais que fosse óbvio.
e Lis, se beijando.
As mãos dele subindo e descendo nas costas dela, enquanto as mãos dela puxavam levemente os cabelos dele, com os lábios tão unidos quantos seus corpos. No chão, próximo aos pés deles, a touca que eu havia feito para . Completamente esquecida, abandonada.
Como eu me sentia naquele momento.
E então, foi como se tivessem arrancado meu coração e ele ainda pulsasse. Aquilo doía, e como doía. Mas não tanto quanto pensei. Eu simplesmente parei, os olhei, sentindo a dor penetrar em mim, e suspirei fundo o bastante pra me lembrar de respirar.
Encarei meu copo de bebida, e de repente, algo estava pingando nele. Quando fui ver de onde vinha, me assustei.
Eu havia tocado meu rosto, e ele estava molhado com as minhas lágrimas que eu nem percebi que caíam.
Realmente, é irônico isso, chorar sem perceber. Falando em irônico, a música que começou a tocar das caixas de som era uma versão meio dançante de "Ironic", da Alanis Morissette. Estava bem no refrão, quando eu enxuguei meu rosto calmamente, virei todo o conteúdo que tinha dentro daquele copo.
O taquei num canto qualquer, e continuei olhando por mais um tempo aquela cena. Pra não ter dúvidas: não gostava de mim, não importa o que eu pensasse ou achasse estranho.
E assim, todas as brigas que tivemos passaram pela minha cabeça, e eu me questionei em que momento permiti que ele fosse tão longe na minha privacidade, a ponto de me sentir com medo de me envolver com outros rapazes, enquanto ele estava ali, sendo livre e feliz.
Já havíamos conversado duas vezes sobre como nos respeitaríamos, e manteríamos a promessa de continuar com a amizade e resolver os problemas.
Então porque aquilo doía tanto?
Respirei fundo, ajeitando o vestido no corpo, limpando as lágrimas do rosto e dando uma ajeitada no cabelo.
Eu também queria ser feliz, ou menos infeliz do que estava sendo.
E eu seria.
Segui meu caminho à procura de quem eu imaginava estar rodeado de garotas. E realmente estava. Mas eu não liguei.
Fui passando enquanto empurrava um monte de garotas à minha frente – ouvindo umas reclamarem e me mandarem ir a lugares não tão legais quanto Pasárgada – até chegar na pessoa que eu queria.
"!" parecia feliz em me ver. "E aí, gostou da apresentação?" Eu o olhei, tentando jogar uma sensualidade que eu nem sabia que tinha, e, com um sorriso, eu respondi:
“Você não faz ideia do quanto.”
E, de repente, só me vi jogando os braços em volta de seu pescoço, e meus lábios se unindo com os dele, como se eu tivesse sede daquilo.
Num momento, apenas eu estava beijando-o, mas logo em seguida ele correspondeu; suas mãos agarraram minha cintura com força, enquanto eu jogava meu corpo mais e mais contra o dele.
Nossas línguas começaram a traçar caminhos desconhecidos por nós mesmos, na frente de todo mundo.
Não que eu me importasse naquele momento, pelo contrário: estava bem feliz de estar fazendo aquilo.
E, da maneira que ele me tocava, como ele beijava, como ele me tratava, eu só conseguia ouvir, no fundo dos meus pensamentos, que ele estava certo ao cantar a melhor parte da música deles.
And I'm glad I'm not the guy who turned her down."
Capítulo 12 - It turned out so right, for strangers in the night.
"Boa tarde, flor da tarde." Escutei a voz da minha mãe ecoar, enquanto eu me espreguiçava na cama.
"Mãe?" Falei, olhando pro relógio da minha cabeceira, que apontava 12:15. "Uau. Meu Deus!" Exclamei quando vi o quão tarde era.
"É, querida, eu não sei o que você fez ontem para te deixar assim..." Ela respondeu, balançando meu celular. "Mas já é a terceira vez que seu celular toca. Tem gente atrás de você...” E sorriu com a sobrancelha erguida. Eu ri da cena.
Mamãe sentou na beira da cama, com o olhar preocupado.
“O que foi?” Perguntei franzindo o cenho.
“Você está bem?” Ela questionou com a voz grave.
“Sim.” Respondi, dando de ombros.
“Mesmo?” Ela insistiu, com o olhar receoso.
“Sim, ué.” Eu falei, com a sobrancelha arqueada.
“Se não estiver, você sabe que pode me contar, não sabe? Qual-quer coisa!” Ela insistiu e eu rolei os olhos rindo da cara dela de assustada.
“Tá legal, diz logo. O que tá te incomodando?” Eu a olhei com um meio sorriso, e ela suspirou, dando uma risada nervosa.
“Certo, vou direto ao ponto. Ontem você fez alguma coisa diferente de só curtir a festa? E se sim, você... Se protegeu?” E franziu a testa.
Minha cara de confusão em segundos deu lugar à uma de gargalhadas.
“Você tá me perguntando se eu transei, mãe?” E sorri genuinamente.
Ela riu sem graça e deu de ombros.
“Também.”
“Não, não. Sou virgem e ontem só beberiquei algumas coisas... Nada demais.” E segurei em sua mão, que estava apertada em cima de seu colo. Ela estava tensa, e suspirou aliviada após minha resposta.
“Você sabe que prefiro que me fale do que esconder, não é? Eu sei como é essa fase, tudo é novo e parecemos imortais. Mas lembre-se de que você deve estar sempre cuidando de si, não importa o quão maneira seja a ideia, ou o quão convincente o gatinho seja, entende?” Eu apenas afirmei com a cabeça e deixei que ela desabafasse. “Eu quero que você tenha suas experiências, quero que seja dona de si. Mas com cuidado e responsabilidade, minha filha. E eu sei que você é capaz de tudo isso e tenho muito orgulho de você. Portanto, sempre que possível, vamos mantendo este diálogo, certo? E é claro, me procure sempre que precisar. Também somos amigas.” E sorriu com os olhos marejados.
“Ah mãe. É claro que somos! Você às vezes inferniza minha cabeça, mas eu te amo e confio em você! Estarei sempre aqui também.” E ao enxugar uma lágrima solitária de seu rosto, sua risada ficou abafada após eu puxá-la para um abraço.
“Você herdou esse humor escroto do seu pai, fedelha.”
“É, tô vendo!” Respondi, rindo alto.
Ela sorriu, fez um carinho em minha cabeça e se levantou.
“Bom, estarei no meu quarto se precisar.” E deixou o quarto, me dando algum tempo sozinha. Respirei fundo, pensando nas coisas que eu conseguia me lembrar do dia anterior, mas só alguns flashes apareciam.
Peguei o celular e vi duas chamadas da e uma de . Liguei para a amiga, e após chamar três vezes o número, a voz responde:
"!" Ela exclamou do outro lado da linha. "Caramba, menina, como você dorme! Ou como você bebe..." Ela comentou, rindo. E olha que eu ainda não havia dito nenhuma palavra.
"Bom dia pra você também, ." Falei, coçando meu olho. "Eu estou perfeitamente bem, obrigada por perguntar."
"Há-há-há." Ela forçou uma risada, obviamente, irônica. "Eu já ia perguntar como você estava. Tá de ressaca?"
"Não, ainda... Eu acho. Enfim, eu preciso de uma ajuda sua." E era verdade.
"Fale aí."
"Eu não me lembro do que aconteceu ontem depois de eu ter ficando com o . Tá, que da parte principal eu já sei, mas eu fiz muita merda ou...” E fui interrompida por uma risada estrondosa de .
", respira cara! Você bebeu um pouco demais, ficou com o e ele cuidou de você, até que você estava quase dormindo no colo dele. Então decidimos lavar seu rosto e fizemos você comer um bombom de chocolate pra dar uma despertada e te levamos pra casa. Simples." Uau, que menina prendada.
"Hm..." Eu especulei, coçando a nuca, pensativa. “Vocês me trouxeram pra casa? Vocês quem?” riu com a pergunta.
"Bem... Já passava das duas da manhã quando saímos de lá. Foi o seguinte: disse que ia te levar pra casa, eu disse que ia junto, então, o veio comigo. disse que se eu quisesse, ela viria junto, mas a cara do de dor por ter ouvido isso foi tão grande que eu disse pra ela ficar, até porque era o que ela queria escutar, aquela safada. Enfim, então viemos eu, o , o e você no carro do . Só isso." Não, não era só isso. Tava faltando alguma coisa aí.
"Ah, sim. Ah, é, e o Aadam?" Perguntei, dando voltas no assunto.
"Sei lá! Aquele palerma chegou seis horas da manhã aqui, sem que meus pais ficassem sabendo! Ele deve ter afogado o ganso com alguma garota, tenho certeza disso. Bom, pelo menos ele não veio no carro com a gente. Seria um porre." Ela comentou, bufando depois, me fazendo rir.
"Entendo, chuchu. Mas o Aadam é uma pessoa legal... E é um rapaz íntegro e... " Eu pensava nos adjetivos internos, porque os externos, estavam na ponta da minha língua. "De boa índole."
E que índole! Ele sabia tirar o fôlego só nos pensamentos.
"Ah, que seja, ele é um palerma. Mas no fundo no fundo é legal. Não fale isso pra ele." Ela avisou-me, prendendo o riso.
"Certo, irmãzinha legal..." Respirei fundo, antes de dar continuidade ao assunto. "E o ?"
suspirou do outro lado da linha.
"Ele curtiu a noite, eu acho... Tava bebendo mais do que um opala, como diria minha mãe.”
“Como assim bebendo?” Comentei, ainda sem acreditar no que eu havia ouvido. “Ele não estava fazendo... outra coisa não?” Perguntei com a voz um pouco esganiçada.
"Como assim, ?" Ela questionou, parecendo estar perdida, tanto quanto eu em relação ao que ela disse.
"Ele ficou com a Lis.” Eu disse numa só tacada, e ouvi arfar.
“Sério?” Ela indagou, com a voz mais baixa que o normal.
“Sim. Eu vi com meus próprios olhos. Eles estavam ficando perto do relógio daquela casa. Eles estavam juntos. E, pelo que me conste, era isso que ele queria desde que eu..." As palavras sumiram da minha boca, e uma certa dorzinha no íntimo de mim começou a palpitar.
"Desde que você começou a gostar dele, não é?” Ela completou, e eu mordi o lábio, sem respondê-la.
Que merda.
"Calma, , calma..." comentou, após meu momento de silêncio. "Você deve se focar nas coisas agora. Você não disse que ele ficou com a Lis, e não disse que era isso que ele queria há um bom tempo? Então, se ele está com ela, o que significa a felicidade dele, agora é hora de você se importar mais com uma outra pessoinha envolvida."
"." Falei, entristecendo-me mais ainda.
"Na verdade, não.” Ela riu e eu franzi a testa. “Quer dizer, você pode se importar com ele, é claro. Mas o primeiro lugar é você! Afinal, qual foi a última vez que você se posicionou como prioridade da sua vida, né? Eu sei que somos jovens, mas dá pra dizer que algumas coisas já aconteceram na nossa estrada...” Ela divagou e eu suspirei.
tinha razão.
“E bem, de alguma forma faz parte disso também. De se amar, no caso. Porque você tem alguém disponível pra você que, aparentemente, se importa, gosta de você e tal... Então tente ao máximo ser feliz com ele. Se dê uma chance, sabe? Não é porque você não gosta agora que não vai gostar sempre...”. Mais suspiros de minha parte.
“E de uma forma ou de outra, tentar não pode ser tão ruim. Ainda mais com o . Não pode ser mesmo." Senti malícia quando ela mencionou o nome dele, e dei uma risada alta. realmente era uma boa pessoa.
"Obrigada, . Eu acho que sei o que devo fazer e o que não devo. É só que é tudo confuso... Ontem foi confuso! é confuso! Tipo, antes e durante o show foi um misto de sensações, como se uma hora eu pensasse “ok, vai tudo ficar bem, nossa amizade consegue lidar com esses perrengues” e num outro momento era “eu não acredito que ele está fazendo isso, eu não aguento mais vê-los juntos!!!”. Porra, isso é cruel, sabe? A gente se tratava bem, mas algumas farpas, algumas falas que dissemos, alguns gestos... Eu não sei.” Desabafei, suspirando. “Às vezes parece que ele nunca vai confiar no e isso prejudica nosso relacionamento. Parece que as conversas que tivemos só dão efeito por um tempo... E no meio disso tudo, eu me vejo correspondendo às grosserias, aos sarcasmos. Argh, é muito confuso!” “Amar é confuso, né amiga...” comentou, e eu joguei meu corpo de volta na cama, cansada de tanto pensar.
“Eu sinceramente não sei qual vai ser.” Murmurei, encarando o teto. “Quero dizer, porque ele bebeu tanto ontem?”
“Ele não poderia estar comemorando?” Ela perguntou, e eu dei de ombros. “Mas ele estava com todos, ou bebendo sozinho?”
“Mais ou menos...” Ela disse, sincera. “Era como se ele tentasse se conectar, mas visivelmente tinha algo na cabeça. Estava meio aéreo. Mas pode ser efeito do primeiro pós-show né? Vai saber...”
“Sei não...” Eu comentei, mordendo o lábio.
"Você acha que ele está bravo com você?"
"Sabe, talvez ele possa estar. Mas conversamos antes sobre isso, e ele me parecia ter entendido que eu tinha o direito de me envolver com outras pessoas, sem ele agir de uma forma estranha, possessiva, buscando me proteger seja lá do que ele entende como perigo pra mim.” Rolei os olhos, bufando ao pensar nisso. “Mas isso como melhor amigo, entende? Parecia que isto estava acertado."
"Então se vocês conversaram e estava tudo bem... Ele deveria estar com outra coisa na cabeça. Relaxa, que você tem mais coisas pra se preocupar do que a estranheza de .”
Suspirei de novo, parando pra pensar.
"É, você tem razão.” Dei de ombros. “Não sou adivinha, nem tenho bola de cristal... E tenho uma vida e pessoas importantes pra lidar agora.” Apoiei o braço na testa e fiquei pensando sobre isso. “Aliás, obrigada por tudo, amiga." Falei sincera, sorrindo levemente.
"Disponha da pamonha." Eu ri.
"Agora pára de me enrolar e me conta da sua noite com o , danada!" Falei, rindo, e fazendo-a rir também. Pelo menos aqueles dois TINHAM que ter dado certo na noite anterior.
"Ai, , foi tão lindo!" Ela falou, e eu ouvi através da linha, alguma coisa caindo, mas sendo abafada. "Outch!" Ela comentou, parecendo ter dor.
"O que foi?" Perguntei, levantando a sobrancelha.
"É que eu me joguei na cama forte demais, e acabei batendo com força na parede, e o bichinho da prateleira que fica em cima, acabou caindo na minha cabeça." Ela explicou, rindo.
"Enfim, ." Falei, depois de ter rido. "Prossiga com a história. Tim-tim por tim-tim."
"Bom..." Ela começou. "Primeiro, ele veio me pegar aqui em casa, super pontual e tal, mas eu o caminho era muito próximo, então quando a gente tinha conseguido quebrar o gelo, chegamos. E assim que o fizemos, eu fui ajudá-lo a arrumar as coisas na parte dele, pro show. Ele me agradeceu e tal, disse que não precisava, mas eu falei que insistia, era uma troca justa: ele me levava, eu o ajudava. E quando eu declarei isso, ele lançou-me um olhar do tipo 'não acredito que você disse isso', sabe?"
"Uhum, uhum. E o que ele disse?" Perguntei, ansiosa.
"Ele ficou um tempo olhando pro meu rosto, e falou bem próximo a mim, abre aspas." Ri nessa parte, admito. “Mulher, você não me deve nada. Mas se quiser me agradar, pode ficar na primeira fila que eu vou adorar.’” Assim mesmo, cara. Eu quase babei o chão todo e fiz um tsunami se eu não tivesse controle da minha boca! " Ri mais ainda das expressões de e falei:
"Continue, danada."
"Daí, um idiota qualquer chamou o , e eu acabei indo pegar alguma bebida e ficar perto do carro dele. Eu já estava ficando frustrada, todo mundo parecia gostar de nos interromper!" A pobre menina apaixonada comentou, e eu ri, lembrando que até eu interrompi, anteriormente.
"É, entendo bem essa gente..." Falei, lembrando do dia que singelamente, fui culpada por alguma coisa entre os dois não terem acontecido.
"Enfim, daí eu fiquei lá bebendo quieta no meu canto, nem a nem o haviam chegado, o muito menos, você e o deviam estar chegando e meu irmão deveria estar se atracando com alguma garota aí... Daí, uns quinze minutos depois o apareceu, fora da casa, arfando, procurando alguém com o olhar, mas eu não pude ver pra onde ele foi, porque no exato momento, um cara meio bêbado chegou em mim, me dando mó susto. Ele se aproximou demais e perguntou perto do meu ouvido o porquê de estar sozinha. Ele era bonitinho e tal, mas eu não senti nada por ele, então me afastei e disse, educadamente, que não estava sozinha... Ou pelo menos eu pensava assim, né? Daí esse cara se aproximou novamente e, já colocando a mão na minha cintura, falou assim mesmo: 'Se você não está sozinha, cadê seu macho?'. Assim mesmo, , meu macho!"
Ri alto quando ouvi a ênfase que ela deu no 'macho'.
"Que bacaca! E aí?"
"E aí que na exata hora, o chegou por trás de mim, e questionou numa entonação de voz meio sombria: ‘o que você pensa que está fazendo?’ Aí o cara logo retirou a mão da minha cintura, se afastando.”
“Eita.” Comentei brevemente.
“Aí o segurou minha mão e ainda olhando pro cara, me perguntou se o babaca estava me incomodando e eu disse que não mais. se colocou mais à frente, ficando cara a cara com o babaca e disse ‘não que ela precise de ninguém, mas só pra você saber: o macho dela tá aqui. Agora mete o pé!’. Assim, !”
Eu gargalhei alto, nunca tinha visto ficar bolado daquele jeito!
“E aí, cara???” Eu perguntei, ansiosa.
"Ah, aí o cara bufou e foi embora mesmo. Logo após, eu agradeci por ter me defendido, mesmo não gostando dessa ideia de macho para lá e macho para cá. Quer dizer, a gente ainda precisa narrar o óbvio?”
“É foda...” Eu comentei, rolando os olhos.
“Bem, daí eu perguntei o que ele foi fazer logo que chegamos, e ele disse que foi falar com o dono da festa pra saber que horas o show começaria. Só que o mesmo estava bêbado demais, então até eles acertarem a hora, durou aquilo tudo. Aí eu balancei a cabeça, entendendo o que ele dizia, e ele se desculpou por ter me deixado sozinha... Achei tão fofo, que acabei sorrindo pra ele, como se eu não ligasse mesmo. Daí ele segurou meu rosto e acariciou minha bochecha, e quando provavelmente um beijo ia acontecer, me aparece o bêbado, pulando em cima da gente. Resumo da ópera: não conseguimos mais ficar sozinhos, e parece que desistimos de ficar à sós na festa. Depois do show, que você bebeu e começou a ficar com o , e o com a Lis, aparentemente, eu fui dançar com o , mas nada demais aconteceu. Mas a gente dançou juntinho. Ai, ai, ai!" Ela me fazia rir, cara, era um fato!
"Ai, meu Deus! E aí?!"
"E aí que depois de ter deixado você em casa, o acabou voltando pra festa, porque o carro do ainda estava lá, com o instrumento e as coisas dele no carro."
"Então, vocês vieram me deixar em casa à toa?" Perguntei, meio perdida.
"À toa não, né, mocinha? Eu só não acho que sua mãe gostaria de ver que você voltou meio sonolenta nas mãos do , somente, né?" Ah, sim. Ela era esperta. "Entendi. Prossiga." Falei, a fim dela terminar a história.
"Então, Aadam ficou por lá porque estava muito ocupado dando em cima de uma garota, então colocou as coisas dentro do carro, e me levou pra casa. O caminho todo foi conversando sobre coisas banais e tal, sobre o show, como ele estava nervoso e etc..."
"Eeeeee?" Perguntei, já cansada de ser enrolada.
"Ele estacionou o carro em frente à minha casa. Foi engraçado, porque eu não queria ir embora, e aposto que ele não queria que eu abrisse a porta. Então foi mais ou menos assim: 'Chegamos.' Aí eu disse: 'É, tô entregue.' E sorri. Ele me olhou profundamente e se virou pra mim, sorridente, porém nervoso. Eu perguntei se estava tudo bem, e ele falou assim mesmo: 'Não é nada. É que eu descobri que desde o início, as coisas entre nós foram interrompidas, por um motivo maior. Eu não acho que poderia ser tão especial se ocorresse nas ocasiões que tivemos chances... Não como agora. Eu realmente gosto de você, e se fosse pra escolher quando ficar com você, em todas as oportunidades que tivemos, eu diria agora." "Ah! E aí?" Questionei, boba com as palavras do .
"E daí que eu sorri de orelha e..."
"E ... ?" Fiz menção dela continuar a história.
"Te conto depois dos comercias." Ela respondeu, se sentindo esperta com sua piadinha piegas.
"Você ficou com ele... Não ficou?!" Se ela não me dissesse que sim, eu faria caquinhos e a xingaria de...
"Minha querida... " Ela falou, extasiada. "Não lembro a última vez que um beijo fez tão sentido na vida.” Ela comentou e eu dei um mini berro, feliz pelo acontecimento.
“Ahhhh meu Deus! Não creio!!! Que lindeza!” E ri junto com . “E aí?” “Bom... A gente ficou lá, e tal..." Senti que ela prendeu o riso no 'e tal' e falei: "E TAL, NÉ, DANADA? E TAL!" Não seguramos a risada nem um segundo a mais, e desatamos a rir. Depois do acesso de riso, ela tinha me dito que seu mais novo date disse que queria a galera toda reunida na casa dele, pra comemorar o sucesso do McFly no seu primeiro show. Sei, sucesso, na minha época isso se chamava desculpa pra pegar o crush, mas enfim...
Logo após finalizar a ligação de , disquei o número da pessoa que faltava:
"Alô?" Ouvi sua voz soar do outro lado da linha.
"?!" Chamei-o, insegura.
"!" Ele exclamou, parecendo feliz em saber que era eu. "Cara, como você está? Você dormiu bem? Precisa de alguma coisa? Sua mãe brigou com você por algum motivo? Nunca mais me deixe preocupado desse jeito, eu achava que você tinha entrado em coma alcoólico!” O interrompi, rindo da preocupação dele.
", respira!" Tentei acalmá-lo, ao meio de risadas. "Calma, relaxa! Respondendo as suas perguntas, eu estou bem, sim; dormi bem; só preciso de um remédio pra dor de cabeça e um bom banho; não, minha mãe não brigou comigo e, desculpe, não o preocuparei mais dessa forma. Satisfeito?" Terminei de falar, sorridente.
"Muito, gatinha. Está de ressaca?" Droga, ele nunca mais me deixaria beber.
"Não, só com uma dorzinha leve de cabeça, nada demais. Nada que um remédio, comida e banho não resolvam."
"Hm, comida é? Ok, então, eu tenho uma proposta a lhe fazer." Ele declarou, parecendo sagaz.
"Você é o cara das propostas, né?” Comentei rindo. “Pois então diga, Mr. Bond." Falei, ainda risonha.
"Sou Bond. Bond cama." Ele respondeu.
"É o quê?" Eu desatei a rir com aquela piadinha, daí lembrei que realmente existe um filme do Mike Myers assim.
"Achei que você fosse rir mesmo." Ele comentou, rindo de leve. "Mas enfim, já que você acordou na hora do almoço, e o que precisa é de um banho e um remédio... Eu quero te levar pra almoçar ou comer algo."
Após um momento de silêncio, eu decidi arriscar.
"Tudo bem! Aonde a gente se encontra?" Questionei, me sentindo singela.
"Eu vou aí te buscar. Pode ser?" Ui, ui, ui. Gostei disso.
"Claro, que horas?"
"Quantas horas você precisa pra se arrumar e ter seu querido banho? Não necessariamente nessa ordem, claro." Ele comentou, e eu senti um sorriso se formar em meus lábios, involuntariamente.
"Vem me buscar daqui uma hora?" Perguntei, fazendo voz de criança, que o fez rir. "Ok, então, daqui a pouco a gente se vê."
"Ok, então." Um silêncio ficou entre nós, e, de repente, o ouvi se despedir, meio inseguro.
“Até breve, lindona.”
“Até logo, gato manhoso!” E rimos, finalizando a ligação.
"Mãe!" Gritei, subindo as escadas até o quarto dela.
"Diga, filhote." Ela respondeu, levantando os olhos do livro dela, quando apareci na porta de seu quarto.
"Vou sair com o , ok?!" Mandei a letra, sem preparar terreno nem nada. Ela me olhou com um sorriso no rosto e respondeu:
"Vão aonde?"
"Não sei." Respondi, sincera. "Eu só liguei pra ele e ele me chamou pra sair, pra comer alguma coisa, já que eu acordei tão tarde. Daí eu só iria tomar banho, e ele daqui a pouco estaria passando aqui pra me buscar. Tudo bem?"
Ela olhou pra mim, deu outro sorriso malicioso em minha direção, e perguntou:
"Qual é a de vocês, filha? Vocês são só amigos ou o quê?" Pronto. Ela também mandou a letra, sem preparar terreno nem nada.
"Olha, mãe..." Eu cocei a nuca, analisando as minhas palavras. “A gente... está... bem... nós...” Nem eu sabia dizer.
"Filha.” Mamãe me interrompeu, levantando a sobrancelha direita. “Pára de me enrolar." Droga. Mães são fogo.
"Bom... " Suspirei fundo, e me dei por vencida. "Começamos a ficar ontem. Acho que estamos nos conhecendo melhor, né?" Falei, sem mais rodeios.
"Hm, agora chegamos a resposta que eu queria!" Ela falou, fazendo uma cara de triunfante. "Mas me diga: e o ?"
"Mãe... " Eu respondi, encostando no batente da porta. "Não é porque eu gosto dele que eu sou obrigada a viver esperando-o sentir alguma coisa por mim. Eu decidi viver minha vida." Respondi, honestamente.
"Querida..." Ela disse, fechando o livro. "Não é problema nenhum você querer seguir sua vida. É problema quando você se envolve com alguém que você não gosta, e assumir compromisso com essa mesma pessoa, deixando-a vulnerável demais. E eu sei que mágoa é a última coisa que você deseja para o ." "Mãe, eu não estou assumindo compromisso com ninguém... E tem outra: sabe dos meus sentimentos. Ele sabe que eu gosto de . Ele me pediu uma chance de me conhecer melhor, sabendo disso.” Expliquei, observando a reação de minha mãe.
"Dar uma chance como? Ele quer saber se é capaz de fazer uma garota esquecer um amor, é isso?" Ela questionou, falando de uma forma meio banalizada. Eu bufei em contrapartida
"Não, não é assim. Ele gosta de mim, quer me conhecer melhor, e aí quem sabe as coisas não mudam e eu esqueço o , entende? Estamos só curtindo, sabe?" Minha mãe suspirou, preocupada. Ficou me olhando por um tempo, e deixou um sorriso de canto.
“Entenda bem: eu não tenho nada contra isso, querida. Só não quero que se machuque...”
"Eu sei mãe.” E sorri agradecida. “Mas eu simplesmente não ligo mais. Passei tanto tempo pensando no “e se?” e mesmo assim sofri pra caramba!” Desabafei, jogando os braços em frustração. “Eu tentei de toda forma manter a amizade intacta, mas é difícil. Por inúmeros motivos. Ele com a superproteção dele, eu com esse sentimento que me faz doer toda vez que eu vejo ou penso que ele está com ela. E não comigo...” Senti os olhos marejarem, mas suspirei, reunindo forças. Olhei pra minha mãe com um sorriso triste. “A verdade é que eu não sei no que nisso tudo vai dar, mas não vou saber se não tentar. E se eu esquecer e for feliz com ? Já pensou nisso?" Assumi meus pensamentos, com a sinceridade ligada no mais alto nível possível.
“Estou pensando agora.” Ela respondeu, me olhando com uma cara de derrotada. Mais um novo suspiro, e uma nova pergunta. "O quão bom ele pode ser pra você?" Ela questionou, atenta ao que eu dizia.
"Bem...” Eu divaguei, olhando pros meus pés. “Ele é carinhoso, ele me ouve, ele me entende, ele é atencioso, ele é brincalhão... Ele gosta de mim, e soube dos meus sentimentos apenas me observando nesse pouco tempo que ele “está de volta”. Isso me parece bom pra um começo, não? Quer dizer, o que mais eu poderia querer?" Indaguei, arqueando uma sobrancelha.
"O ." Ela respondeu, com um meio sorriso, me dando um chute na bunda. Mental, é claro. Mamãe:10. :0.
"Me refiro de coisas e pessoas que estejam ao meu alcance, mãe." Falei, rolando os olhos.
"E por que você não acha que o está ao seu alcance? Filha, não é tão difícil assim! Às vezes, nós complicamos mais a vida do que ela por si só. Você por acaso já cogitou alguma vez declarar-se para o ?" Ela me perguntou, e eu quase morri com os engasgos constantes de minha própria saliva.
"Claro que não, mãe. Isso porque eu sei que ele não gosta de mim. Evitar o mico e situações estranhas e embaraçosas. Já ouviu falar nisso?" Olhei pra ela com uma cara horrorizada. Ela riu da minha fala, rolando os olhos.
“Ai, só você minha filha. Bom, eu não vou insistir nisso. Só realmente não sei de onde você tira tanta certeza que ele não gosta de você." E colocou o queixo em sua mão, me olhando curiosa.
Aí eu tive que responder com todos os acentos e pingos nos 'i's.
"Mãe, quando você gosta de alguém, você repara em tudo que a pessoa faz, e eu já reparei no tratamento que o dá pra mim e no tratamento que dá pras outras pessoas. Simplesmente não passa de um tratamento fraternal, diferente com a Lis. Eles estão ficando, ficaram ontem na festa, e aposto que ele deve estar muito feliz com isso. Se eu gosto dele, eu só quero a felicidade dele, independente de eu estar ao seu lado ou não! Mas eu também quero viver, não vou ficar parada vendo a vida passar, vendo se relacionar com as pessoas, e eu me provar de viver novas oportunidades em nome da amizade. Isso não existe! E a oportunidade que me apareceu, foi o . Compreende agora?"
Silêncio reinou entre nós. Ela me olhou e fez uma cara de quem comeu e não gostou.
“Eu não estou tentando te convencer que você não deve dar uns pega no , ou até namorá-lo, se quiser.” Ela explicou, com as mãos unidas. “Você é jovem, deve vivenciar essa e todas as fases que a vida lhe proporcionar da melhor maneira possível, filha. E eu tenho certeza que vai.” Eu sorri de lado com sua fala.
“Mas eu só fico chocada com esta questão do , porque Meu Deus!” Ela exclamou, rindo brevemente. “Olha só para vocês dois, meu bem! Olha inclusive a história de vocês! E todas essas brigas... Será mesmo que é só você que gosta assim dele?”
Eu fiquei encarando minha mãe enquanto cruzava os braços.
Eu nunca levei aquilo a sério.
E mesmo parando pra pensar sobre, a imagem de Tom e Lis se beijando não me deixava ter dúvidas.
Só eu gostava dele, daquele jeito.
A minha cara no momento devia ser a mais deplorável possível, porque minha mãe arqueou a sobrancelha como quem faz merda.
"Aparentemente é isso...” Falei, meio triste com aquilo.
Minha mãe suspirou, ajeitou o cabelo e os óculos e respirou fundo, me encarando seriamente.
"Quer saber? Eu devo estar ficando maluca.” Ela bufou, rolando os olhos. “As pessoas são livres em suas escolhas e em coração a gente não manda. Uma pena que ele não goste de você. Eu super acho que você deveria falar, mas essa escolha cabe à você. E se você acha que o momento agora é de se envolver com e esquecer , eu te apoio independente de qualquer coisa. Mãe é pra isso né? Independente da merda que der, eu vou estar aqui.” E me sorriu abertamente, me fazendo imitá-la. “E outra coisa: não esquenta a cabeça. Ainda vai amar muita gente. Você é nova, linda, inteligente, uma pessoa admirável, da qual eu tenho muito orgulho e sei que vai ser inegavelmente amada também. Então por hora, vamos dar um tempo nesse ‘papo cabeça’ e vá tomar seu banho pra ficar cheirosa e glamorosa pra quem te dá valor!" E riu, me encorajando a viver.
“Obrigada mãe!” Dei um abraço rápido nela, enquanto ela fazia cafuné na minha cabeça.
“Você sabe que eu te amo, não sabe?” Ela perguntou, com a voz embargada. Eu ri brevemente.
“Eu também amo você, mãe.” A apertei mais forte entre os braços, e ela devolveu o gesto.
“Tá aí uma coisa que a gente gosta de ouvir!” Ela exclamou, se afastando e limpando o canto do olho, me fazendo rir novamente.
Ela segurou meu rosto em suas mãos e me encarou com os olhos brilhando.
“Seja feliz, filha. Descarada e demasiadamente feliz. Tá bom?” E sorriu, enquanto eu acenava com a cabeça.
Ela me deu um beijo na testa e indicou o banheiro com a cabeça, mexendo as sobrancelhas numa careta engraçada.
Eu saí do quarto sorridente, e quando eu estava fechando a porta do banheiro, pude ouví-la gritar:
"Pílulas, querida! Não queremos que interrompa sua adolescência e..."
"Chega, mulher!" Falei, tapando meus ouvidos. "Eu comecei a ficar ontem, cara. Relaxa, se eu sentir que isso vai acontecer, eu... falo com você antes. Agora me deixa tomar meu banho!"
“Tá, tá. Qualquer coisa, tem camisinha do posto de saúde na terceira gaveta do...”
E eu fechei a porta por completo.
***
Eu estava passando meu batom quando a campainha tocou. Eu sabia que era o , então, dei uma última checada no espelho, peguei minha bolsa e meu casaco, e comecei a descer as escadas. Ao ouvir meus passos, , logo depois de cumprimentar minha mãe, olhou para a minha direção, e deu um sorriso agradável para mim. Retribuí sua ação assim que terminei de descer as escadas. Mamãe estava com um sorriso bobo no rosto, e eu tinha a impressão de que se não saíssemos depressa, ela começaria a dar um show de como é fofinho sua filha estar com um crush.
Foi aí que eu parei pra pensar: eu deveria cumprimentar . Mas não como amigo – o que eu estava acostumada a fazer – e sim como meu... ficante, par, sei lá. Observei minha mãe, ela não parecia estar enciumada de nada, estava mais é feliz. Optei por dar um breve selinho nele.
"Boa tarde." Falei, colocando uma mão em seu ombro enquanto nossos lábios davam um rápido encontro. se surpreendeu com a minha ação. Pelo visto ele achava que eu não o cumprimentaria dessa forma, ainda mais na frente da minha progenitora, mas mesmo assim, ele não desviou nem nada, e retribuiu aos meus lábios. Foi algo bem suave, mas foi o suficiente pra sentir seu hálito quente e refrescante entrar em contanto com meu rosto.
"Boa tarde, Bela Adormecida." Ele brincou, sorridente.
"Bom, mãe..." Falei, já abrindo a porta e colocando meu corpo pra fora. "Você sabe com quem estou, não me espere acordada. Brincadeira!"
"Ei, volte aqui, mocinha!" Ela falou, me puxando de volta. "Me dê um beijo."
"Passei batom, não pode ser um abraço?"
"Só encoste sua bochecha na minha e faça barulho de beijo, sua monstrenga!" Mães.
Fiz o que ela pediu, me despedi, fazendo com que fizesse o mesmo, e fechei a porta de casa. Caminhamos silenciosamente até seu carro, ele abriu a porta pra mim num ato de cavalheirismo e eu sorri agradecida.
"Então, dormiu bem?" Ele indagou, sentando na poltrona dele.
"Como uma pedra. Ainda bem que existe remédio pra dor de cabeça." Comentei, agradecendo mentalmente ao tylenol, o herói do dia.
"Você quer dizer ressaca, ." Ele riu e eu dei uma risada irônica, me justificando em seguida.
"Eu não fiquei de ressaca, era uma simples dor de cabeça matinal. Totalmente curável, pronto."
"Ok, Dona Teimosia...” Ele me olhou de lado e ficou um tempo me encarando. “Você está linda.”
Eu corei na hora, e me senti sem graça a princípio.
Sorri timidamente e o agradeci.
“Obrigada, .” E o analisei, vendo que ele estava vestido casualmente, com uma bermuda cáqui, um all star preto e uma blusa marrom lisa.
E mesmo estando simples, ele me parecia tão bonito!
O que mais me chamava a atenção em era seu olhar. Principalmente quando estava me observando, prestando atenção na nossa conversa, quando ele parecia estar entregue e atento à tudo que acontecia entre nós.
Devo ter ficado um bom tempo observando-o e pensando nisso. Tanto que não percebi que fiquei encarando seus lábios.
De repente, tão chamativos.
Eu só notei que estava naquele transe quando senti nossos narizes quase se tocando.
Eu arrisquei olhar para cima e me deparei com o olhar de .
Nele, havia um misto de desejo e admiração.
E eu gostava daquilo.
Eu não sei o que o meu olhar dizia... Mas esperava que no mínimo soubesse o quanto me fazia bem.
E que de alguma forma, eu era grata por ele me transmitir essa sensação.
“Me responda uma coisa..." Sua voz saiu mais grave que o normal, e percebi que ele encarava meus lábios.
Engoli a seco.
"O quê?" Perguntei, quase sussurrando.
“Ontem foi só um momento ou... Você realmente está me dando uma chance?” E se possível, ele se aproximou mais ainda, me olhando com o cenho franzido.
Eu senti sua tensão sobre a espera de minha resposta, e o encarei sem expressão.
O silêncio foi quebrado após uma breve análise mental do que tinha acontecido: eu já pensava sobre dar uma chance pra , independente de qualquer coisa. Pelo menos uma vez na vida, sobre alguma coisa eu não tinha dúvidas.
Eu queria beijá-lo. Queria conhecê-lo melhor, sim. Queria trocar e experimentar essa novidade. Queria saber o que eu poderia ser com .
Eu o encarei de volta, nossos olhos vibrando um no outro.
Sem perder a coragem, levei a mão gentilmente até a sua nuca, e o respondi.
“É uma chance, .” E sorri, olhando pros seus lábios. “É uma chance.”
E então, ele me beijou, sem esperar mais. As mãos dele seguravam a minha cintura, me puxando contra ele, aproximando nossos corpos à proporção que eu apertava sua nuca com uma mão, enquanto a outra fazia pequenos caminhos com os dedos, em seu cabelo, bagunçando-o de leve.
Minha respiração já estava ficando falha quando mordi o lábio inferior de , que gemeu em resposta.
Voltei a beijá-lo, e sentindo seu gosto e gostando cada vez mais das sensações que aquilo trazia.
E era bom, porque eu não conseguia pensar em nada de errado da vida.
Eu só estava ali, beijando , sentindo me apertar contra seu corpo, e Deus! Era bom! Era muito bom.
me deu um selinho e se afastou brevemente, me encarando com um grande sorriso no rosto.
Sorri quando nossos olhos se encontraram, e ele sorriu mais ainda com a minha reação. Nos afastamos e ele segurou minha mão, dando um beijo casto nela.
“Obrigado.” Ele disse, sorridente.
“Pelo quê?” Eu perguntei, confusa.
“Por permitir que isso acontecesse.” E eu ri, me sentindo muito sem graça.
Acho que ele percebeu meu estado de timidez e deu a partida no carro.
“Vamos comer?”
“Por favor!” Respondi, segurando a barriga e fazendo uma careta. “Estou faminta!”
***
me levou ao shopping, pra ser mais precisa, ao restaurante dentro dele. Era um bom local, self-service, com algumas sobremesas gostosas. Então eu fiz meu prato, sem exageros, me assustando quando ele fez o mesmo. Me refiro, mesmo, mesmo! Sem exageros! Eu quase caí da cadeira quando vi que a quantidade de comida no prato ele era... normal.
"Que foi?" Ele perguntou, enquanto se sentava.
"Seu prato tá vazando ou o quê?" Indaguei, ainda incrédula. Ele riu alto, se ajeitou na cadeira e começou a cortar o filé.
"Deixa de ser boba, eu só sou esfomeado às vezes... Acho que como é a primeira vez que almoçamos ou comemos como algo além de amigos, então eu posso ser um pouquinho mais polido."
“Está tentando me convencer de que é um bom partido, ?” Perguntei com a sobrancelha arqueada.
Ele repousou os talheres no prato, me olhando com uma cara de falsa incredulidade.
“Você só pode estar brincando! Olha pra mim! Eu sou o guitarrista da melhor banda da cidade! Não tem nem como ser melhor que isto!” E fez uma cara de sabichão, me fazendo tacar uma bolinha de papel nele.
“Sai do palco que a Xuxa é loira, rapá!” E ele riu da minha piada sem graça.
Após as risadas cessarem, eu continuei comendo, mas senti o olhar de sobre mim. Quando o encarei de volta, ele não desviou; simplesmente estava me olhando e seu rosto tinha dois sorrisos: um nos lábios e outro nos olhos.
O mais belo era o último, é claro.
Eu sorri de volta, e perguntei.
“O que foi?”
Ele deu de ombros.
“Nada.” E voltou a comer.
Eu o encarei com a cara tediosa, e voltei a questioná-lo.
“Fala!”
Ele me olhou de volta, e mastigando lentamente, fez uma cara de debochado. O filha da mãe estava propositalmente demorando a me responder, e quando eu bufei novamente, ele deu uma risadinha, limpando a boca com um guardanapo.
“Quer mesmo saber?”
“Quero!” Respondi, fazendo uma leve careta de impaciência.
Ele me olhou de novo, e se aproximou muito rápido.
“Duas coisas.” Ele respondeu, olhando nos meus olhos.
Eu quase não consegui seguir seus movimentos, e quando dei por mim, estava limpando algo no canto da minha boca com o polegar.
O polegar quente de sobre minha boca.
“Você estava com um pouco de molho aqui.” E levou o polegar na frente de seus lábios, me encarando.
“E a outra?” Indaguei, com a voz falha.
Ele me encarou com um sorriso de canto.
“A outra é que você fica linda de qualquer jeito. Até com mancha de molho na boca.” E sugou o dedão que usou para me limpar.
Eu não vou negar: aquela cena me rendeu uns pensamentos bem interessantes. Coisas que me fizeram sentir um calor repentino, e interno.
Bem interno.
Eu cocei a nuca me sentindo muito sem graça.
Mas logo espantei isso e o olhei, com um sorriso no rosto.
“Eu vou acabar ficando mal acostumada com tantos elogios...”
“Eu faço questão.” Ele comentou, dando um gole no seu refrigerante, sem tirar os olhos de mim.
E eu ri daquilo, voltando a comer.
Saímos do restaurante e decidimos ficar num cantinho reservado de uma das saídas do shopping, aproveitando um momento mais à sós.
"Isso é meio estranho." Eu comentei, encostando minhas costas no peito de , vendo o sol se pôr.
"O que é estranho?" Ele perguntou, repousando seu queixo no meu ombro, causando-me um leve arrepio.
"Nós. Nós dois assim. Tipo, há alguns dias era uma coisa, e hoje..." Terminei de falar rindo, sentido a risada dele ecoar bem próxima ao meu pescoço.
"É um estranho bom? Ou por acaso você se arrepen...” O interrompi, virando-me pra ele.
"Eu não estou arrependida, ." Falei certa de minhas palavras. "Eu só estou comentando que não vai ser como antes. É estranho, mas sim, é um estranho bom. É uma boa mudança. Eu não me importo de ser e estar assim com você. Eu gosto, aliás.” Falei, sincera.
"Sério mesmo?" Ele perguntou, abrindo um sorriso de orelha a orelha.
"Mesmo, mesmo." Respondi, feliz, recebendo um beijo empolgado dele em seguida.
Nosso momento foi interrompido pelo celular dele vibrando no bolso.
"Ih... Olha só." Ele falou, dando uma olhada na mensagem que chegara.
" quer reunir geral na casa dele. O que acha?”
"Jura?” Eu falei, encarando o celular. “É uma boa! Comemorar o primeiro show de vocês... Vamos sim." Levantei-me rapidamente, dei a mão para e ri quando ele olhou para as nossas mãos dadas de uma forma bobinha e carinhosa.
***
", meu tchutchuco!" respondeu, abrindo a porta, feliz da vida. E foi só olhar pra dentro da casa pra perceber que essa alegria tinha nome e sobrenome: . Ri da cara do enquanto ele tentava se afastar dos ataques do , mas logo em seguida, fui puxada pra dentro da casa, pela mão de .
"Onde vocês estavam?" Ela perguntou, com cara de Jorge, o curioso. "Quero saber de tudo, tim-tim por tim-tim."
"Nada, afobada." Ri, enquanto me sentava ao lado dela no sofá. "Só fomos almoçar e passar um tempo juntos. Foi legal. Bem legal." Respondi, abanando a mão, como se estivesse quente. deu uma risada alta, quando apareceu da cozinha, com segurando sua cintura:
" chegou?" Ela comentou, sorridente. Ah, mas eu sabia! Eu sabia! Aqueles dois não me enganavam. Eu podia estar bêbada, mas não estava cega!
"Cara, eu sabia!" Falei rindo, apontando pros dois que riam sem graça. "Eu quero saber de tudo depois, detalhadamente, sua, sua, sua... sua !" Ela gargalhou, enquanto escondia seu rosto vermelho no pescoço dela, enquanto se sentavam no chão, coladinhos. Pombinhos!
"Só tá faltando a anta do ." comentou, rolando os olhos. E só foi ele comentar, que a campainha tocou.
Meu estômago deu uma leve revirada, mas eu fingi plenitude e apenas chequei o estado de minhas unhas.
Brevemente, se uniu a todos ali, e pra surpresa de um total de zero pessoas, ele não estava sozinho. Ele estava com a Lis. E... de mãos dadas!
Engoli a seco a cena e fingi demência, desistindo de verificar minhas unhas e olhando para qualquer canto que não fosse o deles.
"Oi, gente." Lis cumprimentou, com seu sorrisinho feliz.
"Olá." Todos falaram, educadamente.
"E aí galera?" falou, olhando pra todos rapidamente, e balançou a cabeça quando me viu.
"Oi, ." Todos responderam, menos eu, que só acenei com a cabeça.
"Eu vou pegar umas bebidas... , me ajuda?" olhou pro amigo, com cara de bunda, e o me olhou com um sorriso e eu acenei, positivamente. Ele se levantou, e eu fiquei lá, sentada do lado de , meio quieta. De repente, Lis deu um selinho em e se dirigiu ao banheiro.
Eu estava encarando o chão com a respiração presa, e só percebi isso quando senti que alguém sentou do meu lado.
Não contive minha cara de confusão e arqueei uma sobrancelha para , que estava visivelmente desconfortável também.
Que torta de climão!
"Então...?" Ele perguntou, olhando pra mim.
"Então...?" Eu repeti, olhando-o de volta.
“E aí?” Ele perguntou, sorrindo rápido.
“Tudo bem.” Dei de ombros, sem uma única expressão na cara. “E você?”
“Bem também.” Ele respondeu, afirmando com a cabeça e unindo os lábios numa linha fina.
Silêncio entre nós, e partilhamos um suspiro ao mesmo tempo.
Nos encaramos e eu sorri sem graça.
Ele ficou me olhando e, depois de um tempo, me perguntou.
"Você e o , né?"
"É...” Eu dei de ombros, ainda olhando esquisita pra ele. “Você e a Lis, né?" Repeti, rindo da cara óbvia dele.
Ele ficou me olhando com uma cara de bunda, e deu de ombros ao me responder.
"Só estamos nos conhecendo...” Eu acenei com a cabeça, olhando para frente.
“Sei bem como é.” Falei, abraçando meus joelhos.
“E vocês estão...?” Ele indagou, com as sobrancelhas erguidas.
"Bem, obrigada." Respondi, o encarando com a sobrancelha arqueada, o que o fez bufar.
"Vai ficar me respondendo assim?" Ele perguntou, com cara de tédio.
"O que você quer, ?” Perguntei sincera. "Não dá pra te entender. Uma hora você diz que não quer saber pra não afetar nossa amizade. Outra hora você vem todo prosa querendo detalhes... E ontem, ficou todo estranho durante quase todo o show... Sério, o que você quer?" Ele me encarou com o cenho franzido, e começou a falar.
"Eu não..."
No exato momento, chegou, com duas bebidas, uma coca e uma cerveja. Ele sorriu para e para mim, e apontou pra onde Tom estava sentado e disse:
"Se importa de abrir um espacinho pra mim aí?" o olhou com uma cara de tacho, e saiu do local, com um sorriso sem mostrar os dentes.
"Tudo bem?" me perguntou, depois que sentou-se no chão, chamando Lis com o olhar, enquanto a mesma saía do banheiro.
"Tudo tranquilo." Respondi, roubando um beijo dele.
sorriu, e disse:
"Ok, então. Coca?" Ele ofereceu, e eu afirmei com a cabeça, enquanto abria a latinha e dava um gole sutil.
Depois de algumas bebidas e falatórios da parte de todo mundo, bateu na latinha de cerveja dele com uma caneta, querendo obter um som parecido com o de um garfo batendo cuidadosamente em uma taça de vidro. É, quem não tem lata, bate com a mão, já dizia uma música de Axé.
"Eu quero propor um brinde, amigos! Um brinde ao primeiro show incrível do Mcfly!” Todos nos levantamos e erguemos nossas bebidas, unindo-as em riste. “Que venham muitos outros!” afirmou, sorridente.
“E que venha o sucesso!” gritou, obtendo um coro em retorno, e todos brindamos, dando um imenso abraço grupal.
Todos estavam comemorando, quando de repente meu olhar se conectou ao de . Ele estava tão feliz, que eu quase poderia perceber os motivos em seus olhos. A banda, os amigos, e nós... Não pude conter o impulso de beijá-lo quando o mesmo me abraçou e juntou as nossas testas. Foi um beijo calmo, cúmplice e feliz, perfeito pro momento que vivíamos, partilhando a felicidade do McFly.
Ouvimos algumas piadas e zoações em nossa direção, e partimos o beijo, rindo sem graça.
Mas tudo foi interrompido quando ouvimos um barulho de vidro se quebrando. Todos se viraram para a origem do barulho, e eu só pude ver um copo quebrado no chão, um pouco de cerveja molhando o local, e um assustado. Seu olhar estava desfocado, e eu pude ver que ele não reagiria além daquele olhar por eternos segundos.
Lis se aproximou dele, cochichando alguma coisa próxima ao ouvido, fazendo-o piscar rapidamente, parecendo perceber apenas naquele momento o que tinha acabado de acontecer.
Então, ele direcionou o olhar pro chão, pra Lis, e por último... pra mim.
E inesperadamente, sorriu.
“Que desastrado, hein !” anunciou, rindo levemente, contagiando a galera.
“É verdade.” E ele continuou sorrindo estranhamente, e olhando pra mim. Até que encarou novamente o chão e deu de ombros. “Te devo um copo, amigão.” E olhou para , quase mecanicamente.
“Para de palhaçada, brother. Cê tá em casa e sabe disso.” E deu alguns tapinhas no ombro de , que seguia com o sorriso esquisito.
“Bem, eu vou limpar isso aí. Já volto.” E olhou pra todos em volta com a mesma feição e se direcionou para cozinha. Ele passou por mim como se eu nem estivesse ali, e enquanto todos simplesmente se mostravam alheios, como se tudo estivesse normal, parecia que apenas eu percebia a estranheza nas ações e na face de .
Eu queria desesperadamente que seu sorriso fosse sincero, que alcançasse seu olhar. Mas não havia nada em seus olhos desde que o copo quebrou.
Só um grande e profundo... vazio.
"Mãe?" Falei, olhando pro relógio da minha cabeceira, que apontava 12:15. "Uau. Meu Deus!" Exclamei quando vi o quão tarde era.
"É, querida, eu não sei o que você fez ontem para te deixar assim..." Ela respondeu, balançando meu celular. "Mas já é a terceira vez que seu celular toca. Tem gente atrás de você...” E sorriu com a sobrancelha erguida. Eu ri da cena.
Mamãe sentou na beira da cama, com o olhar preocupado.
“O que foi?” Perguntei franzindo o cenho.
“Você está bem?” Ela questionou com a voz grave.
“Sim.” Respondi, dando de ombros.
“Mesmo?” Ela insistiu, com o olhar receoso.
“Sim, ué.” Eu falei, com a sobrancelha arqueada.
“Se não estiver, você sabe que pode me contar, não sabe? Qual-quer coisa!” Ela insistiu e eu rolei os olhos rindo da cara dela de assustada.
“Tá legal, diz logo. O que tá te incomodando?” Eu a olhei com um meio sorriso, e ela suspirou, dando uma risada nervosa.
“Certo, vou direto ao ponto. Ontem você fez alguma coisa diferente de só curtir a festa? E se sim, você... Se protegeu?” E franziu a testa.
Minha cara de confusão em segundos deu lugar à uma de gargalhadas.
“Você tá me perguntando se eu transei, mãe?” E sorri genuinamente.
Ela riu sem graça e deu de ombros.
“Também.”
“Não, não. Sou virgem e ontem só beberiquei algumas coisas... Nada demais.” E segurei em sua mão, que estava apertada em cima de seu colo. Ela estava tensa, e suspirou aliviada após minha resposta.
“Você sabe que prefiro que me fale do que esconder, não é? Eu sei como é essa fase, tudo é novo e parecemos imortais. Mas lembre-se de que você deve estar sempre cuidando de si, não importa o quão maneira seja a ideia, ou o quão convincente o gatinho seja, entende?” Eu apenas afirmei com a cabeça e deixei que ela desabafasse. “Eu quero que você tenha suas experiências, quero que seja dona de si. Mas com cuidado e responsabilidade, minha filha. E eu sei que você é capaz de tudo isso e tenho muito orgulho de você. Portanto, sempre que possível, vamos mantendo este diálogo, certo? E é claro, me procure sempre que precisar. Também somos amigas.” E sorriu com os olhos marejados.
“Ah mãe. É claro que somos! Você às vezes inferniza minha cabeça, mas eu te amo e confio em você! Estarei sempre aqui também.” E ao enxugar uma lágrima solitária de seu rosto, sua risada ficou abafada após eu puxá-la para um abraço.
“Você herdou esse humor escroto do seu pai, fedelha.”
“É, tô vendo!” Respondi, rindo alto.
Ela sorriu, fez um carinho em minha cabeça e se levantou.
“Bom, estarei no meu quarto se precisar.” E deixou o quarto, me dando algum tempo sozinha. Respirei fundo, pensando nas coisas que eu conseguia me lembrar do dia anterior, mas só alguns flashes apareciam.
Peguei o celular e vi duas chamadas da e uma de . Liguei para a amiga, e após chamar três vezes o número, a voz responde:
"!" Ela exclamou do outro lado da linha. "Caramba, menina, como você dorme! Ou como você bebe..." Ela comentou, rindo. E olha que eu ainda não havia dito nenhuma palavra.
"Bom dia pra você também, ." Falei, coçando meu olho. "Eu estou perfeitamente bem, obrigada por perguntar."
"Há-há-há." Ela forçou uma risada, obviamente, irônica. "Eu já ia perguntar como você estava. Tá de ressaca?"
"Não, ainda... Eu acho. Enfim, eu preciso de uma ajuda sua." E era verdade.
"Fale aí."
"Eu não me lembro do que aconteceu ontem depois de eu ter ficando com o . Tá, que da parte principal eu já sei, mas eu fiz muita merda ou...” E fui interrompida por uma risada estrondosa de .
", respira cara! Você bebeu um pouco demais, ficou com o e ele cuidou de você, até que você estava quase dormindo no colo dele. Então decidimos lavar seu rosto e fizemos você comer um bombom de chocolate pra dar uma despertada e te levamos pra casa. Simples." Uau, que menina prendada.
"Hm..." Eu especulei, coçando a nuca, pensativa. “Vocês me trouxeram pra casa? Vocês quem?” riu com a pergunta.
"Bem... Já passava das duas da manhã quando saímos de lá. Foi o seguinte: disse que ia te levar pra casa, eu disse que ia junto, então, o veio comigo. disse que se eu quisesse, ela viria junto, mas a cara do de dor por ter ouvido isso foi tão grande que eu disse pra ela ficar, até porque era o que ela queria escutar, aquela safada. Enfim, então viemos eu, o , o e você no carro do . Só isso." Não, não era só isso. Tava faltando alguma coisa aí.
"Ah, sim. Ah, é, e o Aadam?" Perguntei, dando voltas no assunto.
"Sei lá! Aquele palerma chegou seis horas da manhã aqui, sem que meus pais ficassem sabendo! Ele deve ter afogado o ganso com alguma garota, tenho certeza disso. Bom, pelo menos ele não veio no carro com a gente. Seria um porre." Ela comentou, bufando depois, me fazendo rir.
"Entendo, chuchu. Mas o Aadam é uma pessoa legal... E é um rapaz íntegro e... " Eu pensava nos adjetivos internos, porque os externos, estavam na ponta da minha língua. "De boa índole."
E que índole! Ele sabia tirar o fôlego só nos pensamentos.
"Ah, que seja, ele é um palerma. Mas no fundo no fundo é legal. Não fale isso pra ele." Ela avisou-me, prendendo o riso.
"Certo, irmãzinha legal..." Respirei fundo, antes de dar continuidade ao assunto. "E o ?"
suspirou do outro lado da linha.
"Ele curtiu a noite, eu acho... Tava bebendo mais do que um opala, como diria minha mãe.”
“Como assim bebendo?” Comentei, ainda sem acreditar no que eu havia ouvido. “Ele não estava fazendo... outra coisa não?” Perguntei com a voz um pouco esganiçada.
"Como assim, ?" Ela questionou, parecendo estar perdida, tanto quanto eu em relação ao que ela disse.
"Ele ficou com a Lis.” Eu disse numa só tacada, e ouvi arfar.
“Sério?” Ela indagou, com a voz mais baixa que o normal.
“Sim. Eu vi com meus próprios olhos. Eles estavam ficando perto do relógio daquela casa. Eles estavam juntos. E, pelo que me conste, era isso que ele queria desde que eu..." As palavras sumiram da minha boca, e uma certa dorzinha no íntimo de mim começou a palpitar.
"Desde que você começou a gostar dele, não é?” Ela completou, e eu mordi o lábio, sem respondê-la.
Que merda.
"Calma, , calma..." comentou, após meu momento de silêncio. "Você deve se focar nas coisas agora. Você não disse que ele ficou com a Lis, e não disse que era isso que ele queria há um bom tempo? Então, se ele está com ela, o que significa a felicidade dele, agora é hora de você se importar mais com uma outra pessoinha envolvida."
"." Falei, entristecendo-me mais ainda.
"Na verdade, não.” Ela riu e eu franzi a testa. “Quer dizer, você pode se importar com ele, é claro. Mas o primeiro lugar é você! Afinal, qual foi a última vez que você se posicionou como prioridade da sua vida, né? Eu sei que somos jovens, mas dá pra dizer que algumas coisas já aconteceram na nossa estrada...” Ela divagou e eu suspirei.
tinha razão.
“E bem, de alguma forma faz parte disso também. De se amar, no caso. Porque você tem alguém disponível pra você que, aparentemente, se importa, gosta de você e tal... Então tente ao máximo ser feliz com ele. Se dê uma chance, sabe? Não é porque você não gosta agora que não vai gostar sempre...”. Mais suspiros de minha parte.
“E de uma forma ou de outra, tentar não pode ser tão ruim. Ainda mais com o . Não pode ser mesmo." Senti malícia quando ela mencionou o nome dele, e dei uma risada alta. realmente era uma boa pessoa.
"Obrigada, . Eu acho que sei o que devo fazer e o que não devo. É só que é tudo confuso... Ontem foi confuso! é confuso! Tipo, antes e durante o show foi um misto de sensações, como se uma hora eu pensasse “ok, vai tudo ficar bem, nossa amizade consegue lidar com esses perrengues” e num outro momento era “eu não acredito que ele está fazendo isso, eu não aguento mais vê-los juntos!!!”. Porra, isso é cruel, sabe? A gente se tratava bem, mas algumas farpas, algumas falas que dissemos, alguns gestos... Eu não sei.” Desabafei, suspirando. “Às vezes parece que ele nunca vai confiar no e isso prejudica nosso relacionamento. Parece que as conversas que tivemos só dão efeito por um tempo... E no meio disso tudo, eu me vejo correspondendo às grosserias, aos sarcasmos. Argh, é muito confuso!” “Amar é confuso, né amiga...” comentou, e eu joguei meu corpo de volta na cama, cansada de tanto pensar.
“Eu sinceramente não sei qual vai ser.” Murmurei, encarando o teto. “Quero dizer, porque ele bebeu tanto ontem?”
“Ele não poderia estar comemorando?” Ela perguntou, e eu dei de ombros. “Mas ele estava com todos, ou bebendo sozinho?”
“Mais ou menos...” Ela disse, sincera. “Era como se ele tentasse se conectar, mas visivelmente tinha algo na cabeça. Estava meio aéreo. Mas pode ser efeito do primeiro pós-show né? Vai saber...”
“Sei não...” Eu comentei, mordendo o lábio.
"Você acha que ele está bravo com você?"
"Sabe, talvez ele possa estar. Mas conversamos antes sobre isso, e ele me parecia ter entendido que eu tinha o direito de me envolver com outras pessoas, sem ele agir de uma forma estranha, possessiva, buscando me proteger seja lá do que ele entende como perigo pra mim.” Rolei os olhos, bufando ao pensar nisso. “Mas isso como melhor amigo, entende? Parecia que isto estava acertado."
"Então se vocês conversaram e estava tudo bem... Ele deveria estar com outra coisa na cabeça. Relaxa, que você tem mais coisas pra se preocupar do que a estranheza de .”
Suspirei de novo, parando pra pensar.
"É, você tem razão.” Dei de ombros. “Não sou adivinha, nem tenho bola de cristal... E tenho uma vida e pessoas importantes pra lidar agora.” Apoiei o braço na testa e fiquei pensando sobre isso. “Aliás, obrigada por tudo, amiga." Falei sincera, sorrindo levemente.
"Disponha da pamonha." Eu ri.
"Agora pára de me enrolar e me conta da sua noite com o , danada!" Falei, rindo, e fazendo-a rir também. Pelo menos aqueles dois TINHAM que ter dado certo na noite anterior.
"Ai, , foi tão lindo!" Ela falou, e eu ouvi através da linha, alguma coisa caindo, mas sendo abafada. "Outch!" Ela comentou, parecendo ter dor.
"O que foi?" Perguntei, levantando a sobrancelha.
"É que eu me joguei na cama forte demais, e acabei batendo com força na parede, e o bichinho da prateleira que fica em cima, acabou caindo na minha cabeça." Ela explicou, rindo.
"Enfim, ." Falei, depois de ter rido. "Prossiga com a história. Tim-tim por tim-tim."
"Bom..." Ela começou. "Primeiro, ele veio me pegar aqui em casa, super pontual e tal, mas eu o caminho era muito próximo, então quando a gente tinha conseguido quebrar o gelo, chegamos. E assim que o fizemos, eu fui ajudá-lo a arrumar as coisas na parte dele, pro show. Ele me agradeceu e tal, disse que não precisava, mas eu falei que insistia, era uma troca justa: ele me levava, eu o ajudava. E quando eu declarei isso, ele lançou-me um olhar do tipo 'não acredito que você disse isso', sabe?"
"Uhum, uhum. E o que ele disse?" Perguntei, ansiosa.
"Ele ficou um tempo olhando pro meu rosto, e falou bem próximo a mim, abre aspas." Ri nessa parte, admito. “Mulher, você não me deve nada. Mas se quiser me agradar, pode ficar na primeira fila que eu vou adorar.’” Assim mesmo, cara. Eu quase babei o chão todo e fiz um tsunami se eu não tivesse controle da minha boca! " Ri mais ainda das expressões de e falei:
"Continue, danada."
"Daí, um idiota qualquer chamou o , e eu acabei indo pegar alguma bebida e ficar perto do carro dele. Eu já estava ficando frustrada, todo mundo parecia gostar de nos interromper!" A pobre menina apaixonada comentou, e eu ri, lembrando que até eu interrompi, anteriormente.
"É, entendo bem essa gente..." Falei, lembrando do dia que singelamente, fui culpada por alguma coisa entre os dois não terem acontecido.
"Enfim, daí eu fiquei lá bebendo quieta no meu canto, nem a nem o haviam chegado, o muito menos, você e o deviam estar chegando e meu irmão deveria estar se atracando com alguma garota aí... Daí, uns quinze minutos depois o apareceu, fora da casa, arfando, procurando alguém com o olhar, mas eu não pude ver pra onde ele foi, porque no exato momento, um cara meio bêbado chegou em mim, me dando mó susto. Ele se aproximou demais e perguntou perto do meu ouvido o porquê de estar sozinha. Ele era bonitinho e tal, mas eu não senti nada por ele, então me afastei e disse, educadamente, que não estava sozinha... Ou pelo menos eu pensava assim, né? Daí esse cara se aproximou novamente e, já colocando a mão na minha cintura, falou assim mesmo: 'Se você não está sozinha, cadê seu macho?'. Assim mesmo, , meu macho!"
Ri alto quando ouvi a ênfase que ela deu no 'macho'.
"Que bacaca! E aí?"
"E aí que na exata hora, o chegou por trás de mim, e questionou numa entonação de voz meio sombria: ‘o que você pensa que está fazendo?’ Aí o cara logo retirou a mão da minha cintura, se afastando.”
“Eita.” Comentei brevemente.
“Aí o segurou minha mão e ainda olhando pro cara, me perguntou se o babaca estava me incomodando e eu disse que não mais. se colocou mais à frente, ficando cara a cara com o babaca e disse ‘não que ela precise de ninguém, mas só pra você saber: o macho dela tá aqui. Agora mete o pé!’. Assim, !”
Eu gargalhei alto, nunca tinha visto ficar bolado daquele jeito!
“E aí, cara???” Eu perguntei, ansiosa.
"Ah, aí o cara bufou e foi embora mesmo. Logo após, eu agradeci por ter me defendido, mesmo não gostando dessa ideia de macho para lá e macho para cá. Quer dizer, a gente ainda precisa narrar o óbvio?”
“É foda...” Eu comentei, rolando os olhos.
“Bem, daí eu perguntei o que ele foi fazer logo que chegamos, e ele disse que foi falar com o dono da festa pra saber que horas o show começaria. Só que o mesmo estava bêbado demais, então até eles acertarem a hora, durou aquilo tudo. Aí eu balancei a cabeça, entendendo o que ele dizia, e ele se desculpou por ter me deixado sozinha... Achei tão fofo, que acabei sorrindo pra ele, como se eu não ligasse mesmo. Daí ele segurou meu rosto e acariciou minha bochecha, e quando provavelmente um beijo ia acontecer, me aparece o bêbado, pulando em cima da gente. Resumo da ópera: não conseguimos mais ficar sozinhos, e parece que desistimos de ficar à sós na festa. Depois do show, que você bebeu e começou a ficar com o , e o com a Lis, aparentemente, eu fui dançar com o , mas nada demais aconteceu. Mas a gente dançou juntinho. Ai, ai, ai!" Ela me fazia rir, cara, era um fato!
"Ai, meu Deus! E aí?!"
"E aí que depois de ter deixado você em casa, o acabou voltando pra festa, porque o carro do ainda estava lá, com o instrumento e as coisas dele no carro."
"Então, vocês vieram me deixar em casa à toa?" Perguntei, meio perdida.
"À toa não, né, mocinha? Eu só não acho que sua mãe gostaria de ver que você voltou meio sonolenta nas mãos do , somente, né?" Ah, sim. Ela era esperta. "Entendi. Prossiga." Falei, a fim dela terminar a história.
"Então, Aadam ficou por lá porque estava muito ocupado dando em cima de uma garota, então colocou as coisas dentro do carro, e me levou pra casa. O caminho todo foi conversando sobre coisas banais e tal, sobre o show, como ele estava nervoso e etc..."
"Eeeeee?" Perguntei, já cansada de ser enrolada.
"Ele estacionou o carro em frente à minha casa. Foi engraçado, porque eu não queria ir embora, e aposto que ele não queria que eu abrisse a porta. Então foi mais ou menos assim: 'Chegamos.' Aí eu disse: 'É, tô entregue.' E sorri. Ele me olhou profundamente e se virou pra mim, sorridente, porém nervoso. Eu perguntei se estava tudo bem, e ele falou assim mesmo: 'Não é nada. É que eu descobri que desde o início, as coisas entre nós foram interrompidas, por um motivo maior. Eu não acho que poderia ser tão especial se ocorresse nas ocasiões que tivemos chances... Não como agora. Eu realmente gosto de você, e se fosse pra escolher quando ficar com você, em todas as oportunidades que tivemos, eu diria agora." "Ah! E aí?" Questionei, boba com as palavras do .
"E daí que eu sorri de orelha e..."
"E ... ?" Fiz menção dela continuar a história.
"Te conto depois dos comercias." Ela respondeu, se sentindo esperta com sua piadinha piegas.
"Você ficou com ele... Não ficou?!" Se ela não me dissesse que sim, eu faria caquinhos e a xingaria de...
"Minha querida... " Ela falou, extasiada. "Não lembro a última vez que um beijo fez tão sentido na vida.” Ela comentou e eu dei um mini berro, feliz pelo acontecimento.
“Ahhhh meu Deus! Não creio!!! Que lindeza!” E ri junto com . “E aí?” “Bom... A gente ficou lá, e tal..." Senti que ela prendeu o riso no 'e tal' e falei: "E TAL, NÉ, DANADA? E TAL!" Não seguramos a risada nem um segundo a mais, e desatamos a rir. Depois do acesso de riso, ela tinha me dito que seu mais novo date disse que queria a galera toda reunida na casa dele, pra comemorar o sucesso do McFly no seu primeiro show. Sei, sucesso, na minha época isso se chamava desculpa pra pegar o crush, mas enfim...
Logo após finalizar a ligação de , disquei o número da pessoa que faltava:
"Alô?" Ouvi sua voz soar do outro lado da linha.
"?!" Chamei-o, insegura.
"!" Ele exclamou, parecendo feliz em saber que era eu. "Cara, como você está? Você dormiu bem? Precisa de alguma coisa? Sua mãe brigou com você por algum motivo? Nunca mais me deixe preocupado desse jeito, eu achava que você tinha entrado em coma alcoólico!” O interrompi, rindo da preocupação dele.
", respira!" Tentei acalmá-lo, ao meio de risadas. "Calma, relaxa! Respondendo as suas perguntas, eu estou bem, sim; dormi bem; só preciso de um remédio pra dor de cabeça e um bom banho; não, minha mãe não brigou comigo e, desculpe, não o preocuparei mais dessa forma. Satisfeito?" Terminei de falar, sorridente.
"Muito, gatinha. Está de ressaca?" Droga, ele nunca mais me deixaria beber.
"Não, só com uma dorzinha leve de cabeça, nada demais. Nada que um remédio, comida e banho não resolvam."
"Hm, comida é? Ok, então, eu tenho uma proposta a lhe fazer." Ele declarou, parecendo sagaz.
"Você é o cara das propostas, né?” Comentei rindo. “Pois então diga, Mr. Bond." Falei, ainda risonha.
"Sou Bond. Bond cama." Ele respondeu.
"É o quê?" Eu desatei a rir com aquela piadinha, daí lembrei que realmente existe um filme do Mike Myers assim.
"Achei que você fosse rir mesmo." Ele comentou, rindo de leve. "Mas enfim, já que você acordou na hora do almoço, e o que precisa é de um banho e um remédio... Eu quero te levar pra almoçar ou comer algo."
Após um momento de silêncio, eu decidi arriscar.
"Tudo bem! Aonde a gente se encontra?" Questionei, me sentindo singela.
"Eu vou aí te buscar. Pode ser?" Ui, ui, ui. Gostei disso.
"Claro, que horas?"
"Quantas horas você precisa pra se arrumar e ter seu querido banho? Não necessariamente nessa ordem, claro." Ele comentou, e eu senti um sorriso se formar em meus lábios, involuntariamente.
"Vem me buscar daqui uma hora?" Perguntei, fazendo voz de criança, que o fez rir. "Ok, então, daqui a pouco a gente se vê."
"Ok, então." Um silêncio ficou entre nós, e, de repente, o ouvi se despedir, meio inseguro.
“Até breve, lindona.”
“Até logo, gato manhoso!” E rimos, finalizando a ligação.
"Mãe!" Gritei, subindo as escadas até o quarto dela.
"Diga, filhote." Ela respondeu, levantando os olhos do livro dela, quando apareci na porta de seu quarto.
"Vou sair com o , ok?!" Mandei a letra, sem preparar terreno nem nada. Ela me olhou com um sorriso no rosto e respondeu:
"Vão aonde?"
"Não sei." Respondi, sincera. "Eu só liguei pra ele e ele me chamou pra sair, pra comer alguma coisa, já que eu acordei tão tarde. Daí eu só iria tomar banho, e ele daqui a pouco estaria passando aqui pra me buscar. Tudo bem?"
Ela olhou pra mim, deu outro sorriso malicioso em minha direção, e perguntou:
"Qual é a de vocês, filha? Vocês são só amigos ou o quê?" Pronto. Ela também mandou a letra, sem preparar terreno nem nada.
"Olha, mãe..." Eu cocei a nuca, analisando as minhas palavras. “A gente... está... bem... nós...” Nem eu sabia dizer.
"Filha.” Mamãe me interrompeu, levantando a sobrancelha direita. “Pára de me enrolar." Droga. Mães são fogo.
"Bom... " Suspirei fundo, e me dei por vencida. "Começamos a ficar ontem. Acho que estamos nos conhecendo melhor, né?" Falei, sem mais rodeios.
"Hm, agora chegamos a resposta que eu queria!" Ela falou, fazendo uma cara de triunfante. "Mas me diga: e o ?"
"Mãe... " Eu respondi, encostando no batente da porta. "Não é porque eu gosto dele que eu sou obrigada a viver esperando-o sentir alguma coisa por mim. Eu decidi viver minha vida." Respondi, honestamente.
"Querida..." Ela disse, fechando o livro. "Não é problema nenhum você querer seguir sua vida. É problema quando você se envolve com alguém que você não gosta, e assumir compromisso com essa mesma pessoa, deixando-a vulnerável demais. E eu sei que mágoa é a última coisa que você deseja para o ." "Mãe, eu não estou assumindo compromisso com ninguém... E tem outra: sabe dos meus sentimentos. Ele sabe que eu gosto de . Ele me pediu uma chance de me conhecer melhor, sabendo disso.” Expliquei, observando a reação de minha mãe.
"Dar uma chance como? Ele quer saber se é capaz de fazer uma garota esquecer um amor, é isso?" Ela questionou, falando de uma forma meio banalizada. Eu bufei em contrapartida
"Não, não é assim. Ele gosta de mim, quer me conhecer melhor, e aí quem sabe as coisas não mudam e eu esqueço o , entende? Estamos só curtindo, sabe?" Minha mãe suspirou, preocupada. Ficou me olhando por um tempo, e deixou um sorriso de canto.
“Entenda bem: eu não tenho nada contra isso, querida. Só não quero que se machuque...”
"Eu sei mãe.” E sorri agradecida. “Mas eu simplesmente não ligo mais. Passei tanto tempo pensando no “e se?” e mesmo assim sofri pra caramba!” Desabafei, jogando os braços em frustração. “Eu tentei de toda forma manter a amizade intacta, mas é difícil. Por inúmeros motivos. Ele com a superproteção dele, eu com esse sentimento que me faz doer toda vez que eu vejo ou penso que ele está com ela. E não comigo...” Senti os olhos marejarem, mas suspirei, reunindo forças. Olhei pra minha mãe com um sorriso triste. “A verdade é que eu não sei no que nisso tudo vai dar, mas não vou saber se não tentar. E se eu esquecer e for feliz com ? Já pensou nisso?" Assumi meus pensamentos, com a sinceridade ligada no mais alto nível possível.
“Estou pensando agora.” Ela respondeu, me olhando com uma cara de derrotada. Mais um novo suspiro, e uma nova pergunta. "O quão bom ele pode ser pra você?" Ela questionou, atenta ao que eu dizia.
"Bem...” Eu divaguei, olhando pros meus pés. “Ele é carinhoso, ele me ouve, ele me entende, ele é atencioso, ele é brincalhão... Ele gosta de mim, e soube dos meus sentimentos apenas me observando nesse pouco tempo que ele “está de volta”. Isso me parece bom pra um começo, não? Quer dizer, o que mais eu poderia querer?" Indaguei, arqueando uma sobrancelha.
"O ." Ela respondeu, com um meio sorriso, me dando um chute na bunda. Mental, é claro. Mamãe:10. :0.
"Me refiro de coisas e pessoas que estejam ao meu alcance, mãe." Falei, rolando os olhos.
"E por que você não acha que o está ao seu alcance? Filha, não é tão difícil assim! Às vezes, nós complicamos mais a vida do que ela por si só. Você por acaso já cogitou alguma vez declarar-se para o ?" Ela me perguntou, e eu quase morri com os engasgos constantes de minha própria saliva.
"Claro que não, mãe. Isso porque eu sei que ele não gosta de mim. Evitar o mico e situações estranhas e embaraçosas. Já ouviu falar nisso?" Olhei pra ela com uma cara horrorizada. Ela riu da minha fala, rolando os olhos.
“Ai, só você minha filha. Bom, eu não vou insistir nisso. Só realmente não sei de onde você tira tanta certeza que ele não gosta de você." E colocou o queixo em sua mão, me olhando curiosa.
Aí eu tive que responder com todos os acentos e pingos nos 'i's.
"Mãe, quando você gosta de alguém, você repara em tudo que a pessoa faz, e eu já reparei no tratamento que o dá pra mim e no tratamento que dá pras outras pessoas. Simplesmente não passa de um tratamento fraternal, diferente com a Lis. Eles estão ficando, ficaram ontem na festa, e aposto que ele deve estar muito feliz com isso. Se eu gosto dele, eu só quero a felicidade dele, independente de eu estar ao seu lado ou não! Mas eu também quero viver, não vou ficar parada vendo a vida passar, vendo se relacionar com as pessoas, e eu me provar de viver novas oportunidades em nome da amizade. Isso não existe! E a oportunidade que me apareceu, foi o . Compreende agora?"
Silêncio reinou entre nós. Ela me olhou e fez uma cara de quem comeu e não gostou.
“Eu não estou tentando te convencer que você não deve dar uns pega no , ou até namorá-lo, se quiser.” Ela explicou, com as mãos unidas. “Você é jovem, deve vivenciar essa e todas as fases que a vida lhe proporcionar da melhor maneira possível, filha. E eu tenho certeza que vai.” Eu sorri de lado com sua fala.
“Mas eu só fico chocada com esta questão do , porque Meu Deus!” Ela exclamou, rindo brevemente. “Olha só para vocês dois, meu bem! Olha inclusive a história de vocês! E todas essas brigas... Será mesmo que é só você que gosta assim dele?”
Eu fiquei encarando minha mãe enquanto cruzava os braços.
Eu nunca levei aquilo a sério.
E mesmo parando pra pensar sobre, a imagem de Tom e Lis se beijando não me deixava ter dúvidas.
Só eu gostava dele, daquele jeito.
A minha cara no momento devia ser a mais deplorável possível, porque minha mãe arqueou a sobrancelha como quem faz merda.
"Aparentemente é isso...” Falei, meio triste com aquilo.
Minha mãe suspirou, ajeitou o cabelo e os óculos e respirou fundo, me encarando seriamente.
"Quer saber? Eu devo estar ficando maluca.” Ela bufou, rolando os olhos. “As pessoas são livres em suas escolhas e em coração a gente não manda. Uma pena que ele não goste de você. Eu super acho que você deveria falar, mas essa escolha cabe à você. E se você acha que o momento agora é de se envolver com e esquecer , eu te apoio independente de qualquer coisa. Mãe é pra isso né? Independente da merda que der, eu vou estar aqui.” E me sorriu abertamente, me fazendo imitá-la. “E outra coisa: não esquenta a cabeça. Ainda vai amar muita gente. Você é nova, linda, inteligente, uma pessoa admirável, da qual eu tenho muito orgulho e sei que vai ser inegavelmente amada também. Então por hora, vamos dar um tempo nesse ‘papo cabeça’ e vá tomar seu banho pra ficar cheirosa e glamorosa pra quem te dá valor!" E riu, me encorajando a viver.
“Obrigada mãe!” Dei um abraço rápido nela, enquanto ela fazia cafuné na minha cabeça.
“Você sabe que eu te amo, não sabe?” Ela perguntou, com a voz embargada. Eu ri brevemente.
“Eu também amo você, mãe.” A apertei mais forte entre os braços, e ela devolveu o gesto.
“Tá aí uma coisa que a gente gosta de ouvir!” Ela exclamou, se afastando e limpando o canto do olho, me fazendo rir novamente.
Ela segurou meu rosto em suas mãos e me encarou com os olhos brilhando.
“Seja feliz, filha. Descarada e demasiadamente feliz. Tá bom?” E sorriu, enquanto eu acenava com a cabeça.
Ela me deu um beijo na testa e indicou o banheiro com a cabeça, mexendo as sobrancelhas numa careta engraçada.
Eu saí do quarto sorridente, e quando eu estava fechando a porta do banheiro, pude ouví-la gritar:
"Pílulas, querida! Não queremos que interrompa sua adolescência e..."
"Chega, mulher!" Falei, tapando meus ouvidos. "Eu comecei a ficar ontem, cara. Relaxa, se eu sentir que isso vai acontecer, eu... falo com você antes. Agora me deixa tomar meu banho!"
“Tá, tá. Qualquer coisa, tem camisinha do posto de saúde na terceira gaveta do...”
E eu fechei a porta por completo.
Eu estava passando meu batom quando a campainha tocou. Eu sabia que era o , então, dei uma última checada no espelho, peguei minha bolsa e meu casaco, e comecei a descer as escadas. Ao ouvir meus passos, , logo depois de cumprimentar minha mãe, olhou para a minha direção, e deu um sorriso agradável para mim. Retribuí sua ação assim que terminei de descer as escadas. Mamãe estava com um sorriso bobo no rosto, e eu tinha a impressão de que se não saíssemos depressa, ela começaria a dar um show de como é fofinho sua filha estar com um crush.
Foi aí que eu parei pra pensar: eu deveria cumprimentar . Mas não como amigo – o que eu estava acostumada a fazer – e sim como meu... ficante, par, sei lá. Observei minha mãe, ela não parecia estar enciumada de nada, estava mais é feliz. Optei por dar um breve selinho nele.
"Boa tarde." Falei, colocando uma mão em seu ombro enquanto nossos lábios davam um rápido encontro. se surpreendeu com a minha ação. Pelo visto ele achava que eu não o cumprimentaria dessa forma, ainda mais na frente da minha progenitora, mas mesmo assim, ele não desviou nem nada, e retribuiu aos meus lábios. Foi algo bem suave, mas foi o suficiente pra sentir seu hálito quente e refrescante entrar em contanto com meu rosto.
"Boa tarde, Bela Adormecida." Ele brincou, sorridente.
"Bom, mãe..." Falei, já abrindo a porta e colocando meu corpo pra fora. "Você sabe com quem estou, não me espere acordada. Brincadeira!"
"Ei, volte aqui, mocinha!" Ela falou, me puxando de volta. "Me dê um beijo."
"Passei batom, não pode ser um abraço?"
"Só encoste sua bochecha na minha e faça barulho de beijo, sua monstrenga!" Mães.
Fiz o que ela pediu, me despedi, fazendo com que fizesse o mesmo, e fechei a porta de casa. Caminhamos silenciosamente até seu carro, ele abriu a porta pra mim num ato de cavalheirismo e eu sorri agradecida.
"Então, dormiu bem?" Ele indagou, sentando na poltrona dele.
"Como uma pedra. Ainda bem que existe remédio pra dor de cabeça." Comentei, agradecendo mentalmente ao tylenol, o herói do dia.
"Você quer dizer ressaca, ." Ele riu e eu dei uma risada irônica, me justificando em seguida.
"Eu não fiquei de ressaca, era uma simples dor de cabeça matinal. Totalmente curável, pronto."
"Ok, Dona Teimosia...” Ele me olhou de lado e ficou um tempo me encarando. “Você está linda.”
Eu corei na hora, e me senti sem graça a princípio.
Sorri timidamente e o agradeci.
“Obrigada, .” E o analisei, vendo que ele estava vestido casualmente, com uma bermuda cáqui, um all star preto e uma blusa marrom lisa.
E mesmo estando simples, ele me parecia tão bonito!
O que mais me chamava a atenção em era seu olhar. Principalmente quando estava me observando, prestando atenção na nossa conversa, quando ele parecia estar entregue e atento à tudo que acontecia entre nós.
Devo ter ficado um bom tempo observando-o e pensando nisso. Tanto que não percebi que fiquei encarando seus lábios.
De repente, tão chamativos.
Eu só notei que estava naquele transe quando senti nossos narizes quase se tocando.
Eu arrisquei olhar para cima e me deparei com o olhar de .
Nele, havia um misto de desejo e admiração.
E eu gostava daquilo.
Eu não sei o que o meu olhar dizia... Mas esperava que no mínimo soubesse o quanto me fazia bem.
E que de alguma forma, eu era grata por ele me transmitir essa sensação.
“Me responda uma coisa..." Sua voz saiu mais grave que o normal, e percebi que ele encarava meus lábios.
Engoli a seco.
"O quê?" Perguntei, quase sussurrando.
“Ontem foi só um momento ou... Você realmente está me dando uma chance?” E se possível, ele se aproximou mais ainda, me olhando com o cenho franzido.
Eu senti sua tensão sobre a espera de minha resposta, e o encarei sem expressão.
O silêncio foi quebrado após uma breve análise mental do que tinha acontecido: eu já pensava sobre dar uma chance pra , independente de qualquer coisa. Pelo menos uma vez na vida, sobre alguma coisa eu não tinha dúvidas.
Eu queria beijá-lo. Queria conhecê-lo melhor, sim. Queria trocar e experimentar essa novidade. Queria saber o que eu poderia ser com .
Eu o encarei de volta, nossos olhos vibrando um no outro.
Sem perder a coragem, levei a mão gentilmente até a sua nuca, e o respondi.
“É uma chance, .” E sorri, olhando pros seus lábios. “É uma chance.”
E então, ele me beijou, sem esperar mais. As mãos dele seguravam a minha cintura, me puxando contra ele, aproximando nossos corpos à proporção que eu apertava sua nuca com uma mão, enquanto a outra fazia pequenos caminhos com os dedos, em seu cabelo, bagunçando-o de leve.
Minha respiração já estava ficando falha quando mordi o lábio inferior de , que gemeu em resposta.
Voltei a beijá-lo, e sentindo seu gosto e gostando cada vez mais das sensações que aquilo trazia.
E era bom, porque eu não conseguia pensar em nada de errado da vida.
Eu só estava ali, beijando , sentindo me apertar contra seu corpo, e Deus! Era bom! Era muito bom.
me deu um selinho e se afastou brevemente, me encarando com um grande sorriso no rosto.
Sorri quando nossos olhos se encontraram, e ele sorriu mais ainda com a minha reação. Nos afastamos e ele segurou minha mão, dando um beijo casto nela.
“Obrigado.” Ele disse, sorridente.
“Pelo quê?” Eu perguntei, confusa.
“Por permitir que isso acontecesse.” E eu ri, me sentindo muito sem graça.
Acho que ele percebeu meu estado de timidez e deu a partida no carro.
“Vamos comer?”
“Por favor!” Respondi, segurando a barriga e fazendo uma careta. “Estou faminta!”
me levou ao shopping, pra ser mais precisa, ao restaurante dentro dele. Era um bom local, self-service, com algumas sobremesas gostosas. Então eu fiz meu prato, sem exageros, me assustando quando ele fez o mesmo. Me refiro, mesmo, mesmo! Sem exageros! Eu quase caí da cadeira quando vi que a quantidade de comida no prato ele era... normal.
"Que foi?" Ele perguntou, enquanto se sentava.
"Seu prato tá vazando ou o quê?" Indaguei, ainda incrédula. Ele riu alto, se ajeitou na cadeira e começou a cortar o filé.
"Deixa de ser boba, eu só sou esfomeado às vezes... Acho que como é a primeira vez que almoçamos ou comemos como algo além de amigos, então eu posso ser um pouquinho mais polido."
“Está tentando me convencer de que é um bom partido, ?” Perguntei com a sobrancelha arqueada.
Ele repousou os talheres no prato, me olhando com uma cara de falsa incredulidade.
“Você só pode estar brincando! Olha pra mim! Eu sou o guitarrista da melhor banda da cidade! Não tem nem como ser melhor que isto!” E fez uma cara de sabichão, me fazendo tacar uma bolinha de papel nele.
“Sai do palco que a Xuxa é loira, rapá!” E ele riu da minha piada sem graça.
Após as risadas cessarem, eu continuei comendo, mas senti o olhar de sobre mim. Quando o encarei de volta, ele não desviou; simplesmente estava me olhando e seu rosto tinha dois sorrisos: um nos lábios e outro nos olhos.
O mais belo era o último, é claro.
Eu sorri de volta, e perguntei.
“O que foi?”
Ele deu de ombros.
“Nada.” E voltou a comer.
Eu o encarei com a cara tediosa, e voltei a questioná-lo.
“Fala!”
Ele me olhou de volta, e mastigando lentamente, fez uma cara de debochado. O filha da mãe estava propositalmente demorando a me responder, e quando eu bufei novamente, ele deu uma risadinha, limpando a boca com um guardanapo.
“Quer mesmo saber?”
“Quero!” Respondi, fazendo uma leve careta de impaciência.
Ele me olhou de novo, e se aproximou muito rápido.
“Duas coisas.” Ele respondeu, olhando nos meus olhos.
Eu quase não consegui seguir seus movimentos, e quando dei por mim, estava limpando algo no canto da minha boca com o polegar.
O polegar quente de sobre minha boca.
“Você estava com um pouco de molho aqui.” E levou o polegar na frente de seus lábios, me encarando.
“E a outra?” Indaguei, com a voz falha.
Ele me encarou com um sorriso de canto.
“A outra é que você fica linda de qualquer jeito. Até com mancha de molho na boca.” E sugou o dedão que usou para me limpar.
Eu não vou negar: aquela cena me rendeu uns pensamentos bem interessantes. Coisas que me fizeram sentir um calor repentino, e interno.
Bem interno.
Eu cocei a nuca me sentindo muito sem graça.
Mas logo espantei isso e o olhei, com um sorriso no rosto.
“Eu vou acabar ficando mal acostumada com tantos elogios...”
“Eu faço questão.” Ele comentou, dando um gole no seu refrigerante, sem tirar os olhos de mim.
E eu ri daquilo, voltando a comer.
Saímos do restaurante e decidimos ficar num cantinho reservado de uma das saídas do shopping, aproveitando um momento mais à sós.
"Isso é meio estranho." Eu comentei, encostando minhas costas no peito de , vendo o sol se pôr.
"O que é estranho?" Ele perguntou, repousando seu queixo no meu ombro, causando-me um leve arrepio.
"Nós. Nós dois assim. Tipo, há alguns dias era uma coisa, e hoje..." Terminei de falar rindo, sentido a risada dele ecoar bem próxima ao meu pescoço.
"É um estranho bom? Ou por acaso você se arrepen...” O interrompi, virando-me pra ele.
"Eu não estou arrependida, ." Falei certa de minhas palavras. "Eu só estou comentando que não vai ser como antes. É estranho, mas sim, é um estranho bom. É uma boa mudança. Eu não me importo de ser e estar assim com você. Eu gosto, aliás.” Falei, sincera.
"Sério mesmo?" Ele perguntou, abrindo um sorriso de orelha a orelha.
"Mesmo, mesmo." Respondi, feliz, recebendo um beijo empolgado dele em seguida.
Nosso momento foi interrompido pelo celular dele vibrando no bolso.
"Ih... Olha só." Ele falou, dando uma olhada na mensagem que chegara.
" quer reunir geral na casa dele. O que acha?”
"Jura?” Eu falei, encarando o celular. “É uma boa! Comemorar o primeiro show de vocês... Vamos sim." Levantei-me rapidamente, dei a mão para e ri quando ele olhou para as nossas mãos dadas de uma forma bobinha e carinhosa.
", meu tchutchuco!" respondeu, abrindo a porta, feliz da vida. E foi só olhar pra dentro da casa pra perceber que essa alegria tinha nome e sobrenome: . Ri da cara do enquanto ele tentava se afastar dos ataques do , mas logo em seguida, fui puxada pra dentro da casa, pela mão de .
"Onde vocês estavam?" Ela perguntou, com cara de Jorge, o curioso. "Quero saber de tudo, tim-tim por tim-tim."
"Nada, afobada." Ri, enquanto me sentava ao lado dela no sofá. "Só fomos almoçar e passar um tempo juntos. Foi legal. Bem legal." Respondi, abanando a mão, como se estivesse quente. deu uma risada alta, quando apareceu da cozinha, com segurando sua cintura:
" chegou?" Ela comentou, sorridente. Ah, mas eu sabia! Eu sabia! Aqueles dois não me enganavam. Eu podia estar bêbada, mas não estava cega!
"Cara, eu sabia!" Falei rindo, apontando pros dois que riam sem graça. "Eu quero saber de tudo depois, detalhadamente, sua, sua, sua... sua !" Ela gargalhou, enquanto escondia seu rosto vermelho no pescoço dela, enquanto se sentavam no chão, coladinhos. Pombinhos!
"Só tá faltando a anta do ." comentou, rolando os olhos. E só foi ele comentar, que a campainha tocou.
Meu estômago deu uma leve revirada, mas eu fingi plenitude e apenas chequei o estado de minhas unhas.
Brevemente, se uniu a todos ali, e pra surpresa de um total de zero pessoas, ele não estava sozinho. Ele estava com a Lis. E... de mãos dadas!
Engoli a seco a cena e fingi demência, desistindo de verificar minhas unhas e olhando para qualquer canto que não fosse o deles.
"Oi, gente." Lis cumprimentou, com seu sorrisinho feliz.
"Olá." Todos falaram, educadamente.
"E aí galera?" falou, olhando pra todos rapidamente, e balançou a cabeça quando me viu.
"Oi, ." Todos responderam, menos eu, que só acenei com a cabeça.
"Eu vou pegar umas bebidas... , me ajuda?" olhou pro amigo, com cara de bunda, e o me olhou com um sorriso e eu acenei, positivamente. Ele se levantou, e eu fiquei lá, sentada do lado de , meio quieta. De repente, Lis deu um selinho em e se dirigiu ao banheiro.
Eu estava encarando o chão com a respiração presa, e só percebi isso quando senti que alguém sentou do meu lado.
Não contive minha cara de confusão e arqueei uma sobrancelha para , que estava visivelmente desconfortável também.
Que torta de climão!
"Então...?" Ele perguntou, olhando pra mim.
"Então...?" Eu repeti, olhando-o de volta.
“E aí?” Ele perguntou, sorrindo rápido.
“Tudo bem.” Dei de ombros, sem uma única expressão na cara. “E você?”
“Bem também.” Ele respondeu, afirmando com a cabeça e unindo os lábios numa linha fina.
Silêncio entre nós, e partilhamos um suspiro ao mesmo tempo.
Nos encaramos e eu sorri sem graça.
Ele ficou me olhando e, depois de um tempo, me perguntou.
"Você e o , né?"
"É...” Eu dei de ombros, ainda olhando esquisita pra ele. “Você e a Lis, né?" Repeti, rindo da cara óbvia dele.
Ele ficou me olhando com uma cara de bunda, e deu de ombros ao me responder.
"Só estamos nos conhecendo...” Eu acenei com a cabeça, olhando para frente.
“Sei bem como é.” Falei, abraçando meus joelhos.
“E vocês estão...?” Ele indagou, com as sobrancelhas erguidas.
"Bem, obrigada." Respondi, o encarando com a sobrancelha arqueada, o que o fez bufar.
"Vai ficar me respondendo assim?" Ele perguntou, com cara de tédio.
"O que você quer, ?” Perguntei sincera. "Não dá pra te entender. Uma hora você diz que não quer saber pra não afetar nossa amizade. Outra hora você vem todo prosa querendo detalhes... E ontem, ficou todo estranho durante quase todo o show... Sério, o que você quer?" Ele me encarou com o cenho franzido, e começou a falar.
"Eu não..."
No exato momento, chegou, com duas bebidas, uma coca e uma cerveja. Ele sorriu para e para mim, e apontou pra onde Tom estava sentado e disse:
"Se importa de abrir um espacinho pra mim aí?" o olhou com uma cara de tacho, e saiu do local, com um sorriso sem mostrar os dentes.
"Tudo bem?" me perguntou, depois que sentou-se no chão, chamando Lis com o olhar, enquanto a mesma saía do banheiro.
"Tudo tranquilo." Respondi, roubando um beijo dele.
sorriu, e disse:
"Ok, então. Coca?" Ele ofereceu, e eu afirmei com a cabeça, enquanto abria a latinha e dava um gole sutil.
Depois de algumas bebidas e falatórios da parte de todo mundo, bateu na latinha de cerveja dele com uma caneta, querendo obter um som parecido com o de um garfo batendo cuidadosamente em uma taça de vidro. É, quem não tem lata, bate com a mão, já dizia uma música de Axé.
"Eu quero propor um brinde, amigos! Um brinde ao primeiro show incrível do Mcfly!” Todos nos levantamos e erguemos nossas bebidas, unindo-as em riste. “Que venham muitos outros!” afirmou, sorridente.
“E que venha o sucesso!” gritou, obtendo um coro em retorno, e todos brindamos, dando um imenso abraço grupal.
Todos estavam comemorando, quando de repente meu olhar se conectou ao de . Ele estava tão feliz, que eu quase poderia perceber os motivos em seus olhos. A banda, os amigos, e nós... Não pude conter o impulso de beijá-lo quando o mesmo me abraçou e juntou as nossas testas. Foi um beijo calmo, cúmplice e feliz, perfeito pro momento que vivíamos, partilhando a felicidade do McFly.
Ouvimos algumas piadas e zoações em nossa direção, e partimos o beijo, rindo sem graça.
Mas tudo foi interrompido quando ouvimos um barulho de vidro se quebrando. Todos se viraram para a origem do barulho, e eu só pude ver um copo quebrado no chão, um pouco de cerveja molhando o local, e um assustado. Seu olhar estava desfocado, e eu pude ver que ele não reagiria além daquele olhar por eternos segundos.
Lis se aproximou dele, cochichando alguma coisa próxima ao ouvido, fazendo-o piscar rapidamente, parecendo perceber apenas naquele momento o que tinha acabado de acontecer.
Então, ele direcionou o olhar pro chão, pra Lis, e por último... pra mim.
E inesperadamente, sorriu.
“Que desastrado, hein !” anunciou, rindo levemente, contagiando a galera.
“É verdade.” E ele continuou sorrindo estranhamente, e olhando pra mim. Até que encarou novamente o chão e deu de ombros. “Te devo um copo, amigão.” E olhou para , quase mecanicamente.
“Para de palhaçada, brother. Cê tá em casa e sabe disso.” E deu alguns tapinhas no ombro de , que seguia com o sorriso esquisito.
“Bem, eu vou limpar isso aí. Já volto.” E olhou pra todos em volta com a mesma feição e se direcionou para cozinha. Ele passou por mim como se eu nem estivesse ali, e enquanto todos simplesmente se mostravam alheios, como se tudo estivesse normal, parecia que apenas eu percebia a estranheza nas ações e na face de .
Eu queria desesperadamente que seu sorriso fosse sincero, que alcançasse seu olhar. Mas não havia nada em seus olhos desde que o copo quebrou.
Só um grande e profundo... vazio.
Capítulo 13 - And it hurts, it hurts so bad, to see you cry, to see you sad and blue...
Após o fatídico episódio do copo quebrado de , as coisas aparentemente estavam tranquilas. Quer dizer, ninguém parece ter notado a estranheza na postura do , ao tempo que todos estavam entretidos demais com conversas aleatórias e piadas.
Ainda estávamos reunidos na casa de e eu tentava ficar numa boa, desviando da vontade absurda de querer entender o que supostamente, apenas eu percebi em relação à .
Como não era de minha alçada, e, reparando no modo como Lis e se tratavam, eu decidi focar naquilo de fato me envolvia: os amigos e . Meus pensamentos foram interrompidos por uma voz estridente.
“‘Um encontro com seu ídolo!’. Nunca ouvi falar desta coisa. Quem foi que indicou esse filme?” perguntou enquanto via o título do filme subindo na tela da TV, e automaticamente todos olharam sugestivamente pra ; o controle estava em seu colo e ela fingia lixar as unhas enquanto soltava um assovio despreocupado, o que não durou muito.
“Ai, o que é hein? Esse filme é fofo e bonitinho, além de ter um sarcasmo inteligente nele, tá? Macaco Loco, me defenda.” Ela falou se virando pra , que começou a corar ao mesmo tempo que todos perguntavam num coro só:
“MACACO LOCO?!”
“Er... Longa história...” comentou rindo sem graça, enquanto piscava para , que sorria e dava de ombros.
“Apenas... apelidos fofos pra pessoas fofas.” Ele comentou e ela sorriu animada.
“Porra, se isso é fofo...” Eu comentei baixo, mas todo mundo ouviu e a galera caiu na gargalhada – e eu recebi um olhar pouco amigável de , junto com um dedo do meio protuberante.
Que bela dama, não?
Apesar da zoação inicial, todos cedemos ao filme escolhido por e silenciamos para acompanhá-lo. E realmente, era interessante e engraçado!
"You have five smiles, Pete. One when you think someone's an idiot. One when you think someone's really an idiot. One when you're getting all dressed up. One when you're singing Barry White. And one... when you're looking at me." (Você tem cinco sorrisos, Pete. Um quando você pensa que alguém é idiota. Outro quando você pensa que alguém é realmente idiota. Um quando você está se arrumando. Outro quando você está cantando Barry White. E um... quando você está olhando pra mim.)
O filme estava nas frases finais quando pude ouvir uma fungada do meu lado esquerdo. Olhei pro mesmo lado e enxerguei enxugando algumas lágrimas, e fiz uma cara de desentendida quando ela apontou pra TV, não segurando mais as lágrimas.
"Essa parte é-é-é..." gaguejou enquanto olhava pro casal que dançava na telinha da tevê. "Linda demais! Eles se amavam desde sempre e-e-e... ela conseguiu!" abriu o berreiro, dando um abraço apertado em , que olhou pra mim pedindo ajuda, e eu só fiz uma cara de quem não entendia nada.
"Não se preocupem, logo passa. É o sol em câncer.” dizia enquanto olhava pra gente sorrindo.
"Me deixa, porra." falou, enquanto pegava um lencinho em seu bolso e assoava o nariz, me fazendo prender o riso pelo barulho que se emitiu.
Quando os créditos começaram a subir, eu levantei os braços e me espreguicei, ouvindo um estalar nas costas.
"Ok, gente, eu acho que já tá na hora de eu puxar meu bonde...” Falei me levantando, dando a mão pra , que se levantou segurando-a.
"Ah, eu também vou indo. Amanhã a gente se vê?" perguntou, olhando pra todo mundo.
"Vai ficar meio difícil pra mim." falou, fazendo um bico. "Amanhã tem almoço na casa da minha vó, que dura até tarde... Não sei se de noite eu já estarei em casa."
"E se estiver, você já tem compromisso." falou, colocando uma mão no ombro de , que riu sem graça.
"Amanhã eu vou fazer faxina na casa, com a família..." disse, rolando os olhos. “E se sobrar um tempo, quero dar uma chegada na cremosa.” E olhou pra mim, sorrindo, arrancando algumas risadas do pessoal.
"Ok, então. Se quase todo mundo vai fazer alguma coisa..." comentou, dando de ombros. "A gente se vê segunda no ensaio, então. Beleza?”
Todos concordaram e começaram a arrumar as coisas na sala para ir embora, quando de repente, pude ver de soslaio levantando e logo sentando no sofá.
“Ai meu deus.” Ela sussurrou, com a mão tremendo.
“O que que foi?” perguntou de imediato, sentando ao lado dela e pegando em sua mão. “Cara, você tá gelada. Que que aconteceu, o que tá sentindo?” E começou a abanar o rosto dela, enquanto a mesma respirava profundamente.
“Ih, isso parece queda de pressão, pelo visto.” comentou, se aproximando da amiga. “Acontece com ela de vez em quando. Principalmente porque ela sabe que não pode levantar rápido assim, né Dona ?” E sentou ao lado de , verificando a pulsação.
“Isso já aconteceu antes?” perguntou, preocupado.
“Sim, algumas vezes na escola. Geralmente é quando ela tá naqueles dias...” E fez uma careta. “Os primeiros dias são difíceis, sabia?” E deu de ombros, enquanto suspirava preocupado.
“Tá, o que que a gente faz?” perguntou, colocando as mãos na cintura e observando com cautela.
“Onde é que tem álcool, ?" perguntou atento.
"O que você vai fazer?" Lis indagou, preocupada com a quase-desmaiada.
"Se ela inalar álcool, talvez ajude." Falei, enquanto olhava pro dono da casa, repetindo a pergunta de . ", cadê o álcool?"
"No armário da cozinha. , aproveita e pega um copo d'água e sal. , ajuda a enquanto o me ajuda a tirar os sapatos dela e colocar os pés pra cima." comandou, já agindo.
Sem nem pensar duas vezes, segui para a cozinha, procurando o álcool e o algodão. Ouvi alguns passos atrás de mim, e eu não precisava me virar pra saber que eram de , mas... Ignorei solenemente sua presença, olhando atenta ao meu redor e encontrei o algodão no armário à minha esquerda. Depois disso, procurei pelo álcool e o achei na estante à minha frente, porém estava muito no alto, onde eu teria dificuldades pra alcançar. Mesmo assim optando por não subir em cadeiras, fiquei apenas nas pontas dos meus pés, me esticando e esforçando ao máximo pra alcançar, mas o melhor que consegui foi chegar um pouco mais do que a segunda estante. Mesmo assim, eu continuava tentando. Teimosa como era, não iria pedir ajuda a , logo a quem eu não tinha a mínima vontade de falar no momento.
Evitá-lo parecia ser uma boa idéia, mas o que fazer quando mesmo que você não pedindo ajuda nem querendo nada, o destino age contra você?
Por trás de mim, pude ouvir uma risada baixinha, e, no momento em que eu me virei pra ver a figura que ria provavelmente de mim, uma mão se posicionou na bancada da pia, bem entre minha cintura e minha mão apoiada na mesma, enquanto um braço veio por cima de meu ombro, e com a maior facilidade do mundo, pegou o álcool e o deixou bem em frente a mim. Eu continuava nas pontas dos pés, mas fui deixando meu braço descer aos poucos, até minha mão se juntar a bancada. Fiquei olhando fixamente pro álcool, enquanto sentia a presença dele permanecer atrás de mim por alguns segundos. A sensação era esmagadora, mas eu não tinha forças nem vontade pra virar e encará-lo. Ouvi suspirar alto, ainda atrás de mim, fazendo com que fios da minha nuca se arrepiassem involuntariamente.
Os eternos segundos finalmente estavam se acabando à medida que senti meu melhor amigo se afastar lentamente, e sua mão sair do meu campo de vista; não sem antes sentí-la deslizar paralela e vagarosamente à minha cintura. Eu estava tentando absorver e reprimir as reações do meu corpo e despertei algum tempo depois, pegando o álcool, o algodão e o copo d’água que tratei de encher com rapidez. Saí da cozinha sem nem olhar para o , que ficou parado de costas para a geladeira, me encarando.
Após ouvir uma risadinha discreta, ouço-o perguntar:
“Não vai nem agradecer?” E apesar de eu ter parado na porta da cozinha, continuei de costas, respirei fundo e simplesmente mandei um joinha, equilibrando os itens na mão enquanto “agradecia”.
“Tá melhor?” Perguntei, sentando do lado de e molhando um pouco de álcool no algodão enquanto lhe entregava o copo com água.
“Sim, foi só uma queda rápida.” E bebeu devagar, sorrindo levemente. “ até pegou o amendoim que carrego na bolsa. Comi alguns e deu uma normalizada. Obrigada, viu?”
“Fala sério, a gente tá aqui pra isso.” Comentei sorrindo gentilmente.
“Não vai precisar do sal então?” perguntou, chegando mais perto com um sorriso no canto dos lábios.
“Não, obrigada mesmo!” tranquilizou, rindo levemente. “Te fiz ir lá à toa.”
rolou os olhos e respondeu.
“É, foi uma viagem intensa de três dias e três noites.” Ele dizia, enquanto pegava o pote de algodão e o álcool da minha mão.
Quando nossas mãos se tocaram, eu
pude sentir a temperatura quente colidir com a minha, um pouco mais gelada. Sem falar nada, ele se retirou com as coisas para devolvê-las ao lugar. E eu fiquei matutando porque ainda pensava tanto nas mãos de ao invés de realmente estar preocupada com .
Felizmente, após algum tempo, percebemos que o estado de nossa amiga se estabilizou, e todos começaram a se despedir.
“Bom, vamos indo?” me perguntou, e eu afirmei com a cabeça.
“Vocês estão indo pro condomínio, ?” Lis perguntou, e eu me assustei com a sua proximidade por detrás de mim.
“Ahn... sim.” Sorri sem jeito.
“Vocês estão de carro? Querem carona?” perguntou educadamente e eu comecei a chutá-lo mentalmente pelo convite. Às vezes era um problema sério ser educado...
“Ah, seria ótimo! Não é, ?” E ela sorriu para meu melhor amigo, que afirmou mecanicamente com a cabeça.
“Então, venham conosco! Até mais, pessoal!” se despediu do resto, pegando na minha mão e dando tchau com a outra livre.
***
"E aí, curtiram o filme?" perguntou, enquanto dava a partida no carro, olhando para e Lis através do reflexo do retrovisor. Pude ver que ambos sorriram, dando respostas relativamente parecidas:
"Achei muito engraçado e super fofo, um tanto romântico!" Lis exclamou, toda doce.
"Gostei da parte em que a loirinha e o galã estão no avião e ela descobre que ama o outro lá..." comentou, sem interesse em lembrar dos nomes dos personagens.
"Eu curti as partes sarcásticas do filme inteiro." falou, sorridente, enquanto olhava rapidamente pra mim. "E você, ? O que achou?"
"Bom... Eu gostei da parte dos sorrisos. Foi legal, sincero e não foi clichê. A questão dos sorrisos é um sinal singelo e verdadeiro de intimidade, dedicação, atenção e importância. Quer dizer, quem repara nos tipos de sorrisos que alguém tem, né? Só se repara porque é importante, porque tem uma história, uma intimidade, dedica-se a dar atenção para a pessoa, pra perceber tudo isso... Pra mim é a parte genuína e bela de gostar de alguém. E no caso do filme, estava nítido que esse gostar significava querer o bem do outro, sem querê-lo pra si. Acho que esse é o verdadeiro barato de ser fiel aos seus sentimentos. Por mais que doa, é real, verdadeiro, potente." Falei, e só me dei conta de que tinha dito tanta coisa ao notar o silêncio momentâneo dentro do carro. Ninguém disse nada por longos minutos, até que uma boa alma decidiu falar:
"Cara..." falou, parando no sinal vermelho, conseguindo olhar pra mim diretamente em meus olhos. "Eu não sabia que eu estava com uma filósofa... Que mulher!" Eu ri levemente, dando um tapinha em seu ombro.
“Deixa de ser bobo, garoto." E dei um selinho, sentindo seu sorriso entre o beijo breve.
“A é realmente uma pessoa encantadora!” Elise se manifestou com a voz baixa e suave, e eu me engasguei com a minha própria saliva com seu comentário, tossindo brevemente.
O que passou despercebido para todos.
“Eu não poderia concordar mais!” respondeu, arrancando algumas risadas leves. estava em silêncio e assim seguiu até chegarmos em casa.
***
"Obrigada, ." Lis disse, enquanto saía do carro. "E boa noite." Ela terminou de agradecer, educada.
"Valeu, ." respondeu com um sorriso breve e um aperto no ombro, saindo do carro e praticamente grudando suas mãos na cintura de Lis. Me virei para , para não ter que ver a cena atrás de mim, e, num sorriso, perguntei:
"Te vejo amanhã?"
"Sim, você verá." Ele falou, tirando o cinto. "Mas eu ainda vou te levar em casa."
"Nossa!" Exclamei surpresa. "Realmente não esperava tanto cavalheirismo." E era verdade.
"Se eu te busquei na porta de sua casa, é justo o bastante que eu te deixe sã e salva na mesma." Ele explicou, saindo do carro, enquanto piscava pra mim. Meus lábios formaram um sorriso involuntário, e, rapidamente saí do carro, indo ao encontro de .
"Já vai?" me perguntou, atrás de mim. Eu parei de andar e virei lentamente nos meus calcanhares. O observei olhar pra mim num pequeno sorriso, da mesma maneira que Lis fazia, só que com uma pequena diferença; o sorriso dela parecia ser mais natural do que o dele. Mas não me prendi nisso, afinal de contas, isso não era problema meu, não é?
" vai me levar em casa." Respondi, sorrindo sem mostrar meus dentes, apontando rapidamente para o .
"Ah sim..." disse, sem mais palavras. Apenas seguiu sustentando o olhar.
"A gente vê se amanhã, né?" Lis comentou, com cara de criança a fim de brincar de pique-pega. Senti passar os braços por cima dos meus ombros, fazendo um leve carinho nos meus. Minha feição relaxou, e eu dei um pequeno sorriso por isso. Olhei pra frente, vendo uma Lis esperando por resposta, e um que ainda me encarava, com a mesma estranheza que detectei mais cedo.
"?" Lis chamou meu nome, me tirando no pequeno transe que eu estava em apenas ficar observando meu melhor amigo... e provável futuro-namorado dela. Adoro a minha vida.
Ainda sim, eu continuei a olhar para , que me observava um pouco sério, como se quisesse entender o meu olhar...
Pigarrei, focando no rosto de Lis e sorri educadamente.
"Talvez, vamos ver. Tenho algumas coisas pra fazer em casa, e também..." Comentei olhando para o meu par, que sorriu em concordância. “Qualquer coisa a gente se vê durante a semana, né?”
“Claro!” Ela respondeu, genuinamente sorridente. Aquilo me irritava num grau... Mesmo sendo completamente irracional.
"Então, gente..." interrompeu minha interpretação mental, enquanto me puxava na direção do meu bloco. "A noite foi boa, o papo estava bom, mas tem princesa aqui que precisa chegar antes da meia-noite... Então, boa noite pra quem fica e até a próxima."
"Tchau, Lis... ." Falei, acenando e me virando logo em seguida, de costas pra eles.
"Até mais!" Lis respondeu, como sempre, na sua impecável educação.
"Até." Ouvi a voz do meu melhor amigo por trás de mim, mas simplesmente segui meu caminho, de mãos dadas com .
"Estou aqui, sã e salva." Falei, enquanto me despedia de , na porta de casa.
"Tem certeza de que tá tudo bem?" Ele perguntou pela milésima vez, ainda preocupado. Não sei se era um protocolo dele perguntar como eu estava ou se de fato ele captou alguns questionamentos internos meus, pelas minhas feições e coisas do tipo, mas decidi não abrir o jogo e simplesmente fingi cansaço.
“Ah sim! É que o dia foi cheio e ontem foi uma noite longa, eu ainda estou cansada, sob os efeitos do show do Mcfly!” E rimos brevemente, nos olhando carinhosamente após a risada cessar.
"Ok então... Nos falamos amanhã?" Ele mudou de assunto, sorrindo de leve.
"Sim! Quando você terminar sua faxina, a gente pode fazer algo... Tipo ver um filme aqui em casa. Que tal?" Falei, sentindo as mãos dele se enroscarem em minha cintura, enquanto meus braços envolviam seu pescoço.
"Com uma condição." Ele demandou, sorrindo com cara de quem aprontaria alguma.
"Que condição?" Questionei, levantando uma sobrancelha, desconfiada.
"Filme cedo pra termos um tempinho lá embaixo, naquele parquinho sagaz pra gente se dar uns pegas."
"!" Repreendi, batendo no braço dele, enquanto ele me beijava, rindo.
"Boa noite, princesa." Ele sussurrou, encostando a sua testa na minha, enquanto dava um breve e largo sorriso.
"Boa noite, príncipe." Falei, antes de sentir os lábios dele chocar-se contra os meus novamente.
Compartilhamos um beijo profundo, com desejo e maior intimidade. Aquilo fez um pequeno frio na barriga surgir.
"Agora eu vou." Ele comentou enquanto soltava minha cintura, mas ainda segurava minha mão, com os lábios roçando nos meus.
"Dorme bem, e tenha bons sonhos."
"Você também." Falei, meio boba com aquele carinho todo dele.
"Eu tenho certeza de que essa noite vai ser uma das mais bem dormidas pra mim." Ele comentou rindo e, largando minha mão, deu um último selinho e despediu-se de vez.
"Até amanhã, ."
"Até, ." Me despedi, logo vendo-o sumir pela porta do elevador. Fechei a porta rapidamente, e, num impulso, corri até a janela do meu quarto, e não tardou muito a ver em seu carro, saindo do meu condomínio. Sorri animadamente.
Sabem de uma coisa? não era o , mas isso não quer dizer que eu não estivesse parcialmente e relativamente feliz. Sério mesmo, aquilo estava me fazendo um bem maior do que eu havia imaginado. E eu esperava que ao longo do que quer que fosse que eu e tínhamos, continuasse assim... Leve, alegre e bom.
Fiquei mais um tempo pensando nisso, ainda na janela, quando um vento forte bateu em mim, me fazendo fechar os olhos e me encolher de frio, acordando pra realidade. Num impulso, e imagino que mais pelo costume do que por consciência, eu levei meus olhos ao quarto de que ficava de frente pra minha janela, um pouco acima do meu quarto.
E foi aí que tomei um susto.
Ele estava lá sem camisa, olhando pra cima e observando o céu, que estava particularmente estrelado naquela noite. Com a mesma expressão de antes, ele parecia profundamente pensativo, mas como aconteceu comigo, o vento o atingiu, bagunçando seus cabelos e no segundo seguinte, ele abaixou a cabeça e depositou seus olhos na minha janela. Neles, eu pude ver a surpresa por me ver ali, olhando direta e somente pra ele.
Não sei quanto tempo permanecemos naquele contato visual, mas só sei que despertei num susto, quando ouvi meu celular vibrar no meu bolso. Nem olhei o visor pra saber quem era, só peguei o celular e atendi, tirando os olhos de .
"Alô?" Falei, um pouco perdida.
"No que você está pensando?" A voz dele me fez ficar nervosa. Olhei pra sua janela e ele estava me olhando com o celular no ouvido, esperando minha resposta. Respirei fundo, e demorei algum tempo até decidir desabafar.
"O está acontecendo com a gente, ?" Questionei cansada.
"Por que mesmo depois da gente ter conversado sobre isso, parece que continuamos brigados?" Perguntei depois de ter o silêncio como resposta.
Ele respirou fundo, e, numa voz rouca, me respondeu numa entonação de irritação, o que me fez estranhar.
"Eu tô tentando, tá? Eu sei que vai parecer babaca, e talvez seja... Mas eu tô tentando! E mesmo a gente tendo aquela conversa, a verdade é que eu fico receoso, com medo de você quebrar a cara e sei lá... É tudo muito estranho! Fico me sentindo um inútil incapaz de proteger você. Mas isso não é no meu consciente, entende? É que na prática, as coisas parecem não fluir! Mesmo eu... tentando.” Ele suspirou, abaixando o volume da voz. “E assim, as coisas ficam estranhas e parece... Parece que voltamos...” Ele não terminou a frase, e eu suspirei, completando-a.
“Para o ponto de partida.”
“Isso.” Ele falou, me olhando de sua janela.
Mais silêncio.
"Por que você estava puto na festa de ontem?" Perguntei, insistindo no assunto.
"Como assim, puto?” Ele rebateu, surpreso.
“Sério, ? Vai perguntar isso pra mim, que te conheço como a palma da minha mão?” Ele bufou, mas logo respondeu:
"Eu não estava puto! Eu estava nervoso com o show, ao mesmo tempo tentando não ser um cuzão com vocês.”
“Você falhou miseravelmente.” Rolei os olhos, e ele deu uma risada sem humor.
Mais silêncio.
“Eu disse que tentaria... Cabe a você ter paciência.” Ele falou, com a voz controlada. Aquilo me irritou.
“Ou não.” Respondi, séria.
“É uma escolha.” Ele ficou sério também, e seguimos nos encarando, sem dizer nada.
Um bom tempo passou e eu segui questionando.
“E no final do show?”
“O que tem?” Perguntou, com confusão na sua voz.
Eu respirei fundo antes de continuar.
“Você não estava só nervoso pro show no final da noite. Você sumiu logo após a apresentação. Você estava estranho demais pros motivos que alega...” Respondi, apoiando meu cotovelo na janela.
“Como assim eu sumi? Você foi embora e nem falou comigo depois do meu primeiro show. Você foi quem sumiu, . Quando fui procurar pela minha melhor amiga, pelo apoio dela após o meu primeiro show, cadê? Ela já tinha ido embora. E adivinha com quem? Com quem ela disse que nunca roubaria meu lugar em sua vida. Irônico, né?” Ele retrucou, com indignação na voz.
Minha vez de gargalhar sem humor. apenas me encarou, sem dizer nada.
“Você deve estar brincando com a minha cara. Sério isso?” E ri sem acreditar no que tinha ouvido, lembrando exatamente de como fiquei perdida ao vê-lo sumir após o show.
“Acho que você está com problemas de memória, mas eu vou te ajudar a lembrar, . Você terminou o show e sumiu. Eu fui te procurar e você estava com a Elise. Com a língua ocupada demais para falar qualquer coisa. Você acha que eu deveria ter feito algo ali? Obviamente você estava ocupado! Deveria eu ter interrompido? Ou quem sabe ter feito algo além de perceber que a porra da toca de tricô que eu te dei estava debaixo do seu pé?” Rangi os dentes em raiva, sentindo aquela sensação transbordar na minha voz.
Silêncio novamente. me olhava sério, porém, seu olhar não parecia tão mais inquisidor.
Decidi prosseguir.
“Você estava curtindo seu momento da melhor forma que achou... Eu não iria esperar.” Meu coração apertou ao ver a imagem dele e Lis juntos em minha mente.
“Não enquanto eu poderia dar os parabéns à outra pessoa, que eu tinha toda a certeza do mundo que estaria me esperando de braços abertos pra me receber.” E fiquei séria, logo após perceber que o maxilar de estava trincado.
E era isso. Eu tinha vomitado – quase – tudo. Olhei com mais precisão o rosto de , e ele estava absolutamente... duro. Mesmo de longe, podia-se ver a expressão chateada e raivosa dele. Mas ele não me disse nada por longos dois minutos e cinqüenta e quatro segundos.
Sim, eu contei.
"Você também estava ocupada quando fui te procurar, ." Ele quebrou o silêncio, me chamando pelo meu nome – coisa que eu odiava durante uma briga. “Eu saí logo do palco precisando de uma bebida pra refrescar. Foi quando encontrei Lis. E mesmo acidentalmente, eu tinha plena certeza de que ela estaria esperando pra falar comigo. Eu achava que você falaria primeiro com o , o que acabou ocorrendo de uma forma ou de outra.”
"Mas não foi porque eu quis! E sim, porque você estava ocupado demais se pegando com ela!” Quase rugi através do celular. Mas não se intimidou, e rebateu.
"E o que tem de errado de eu estar fazendo isso?"
"Engraçado, porque é isso que eu me pergunto desde que você ficou sabendo que o queria ficar comigo!" Mandei sem dó nem piedade, sentindo prender a respiração pelo celular, como se coletasse paciência.
“Qual é a porra do problema de me ver com outro cara, ? Hein?” Eu insisti, aumentando a entonação da voz.
"Você não ouviu nada do que eu disse há cinco minutos atrás???” Ele indagou, com a voz alterada.
"Vai à merda, !” Falei, com muita raiva, e pude ver os olhos deles arregalarem. "Antes de tudo: nunca pedi para você cuidar de mim desse jeito. Nunca pedi nada além da sua amizade... E que tipo de relação é essa que eu me sinto como uma mercadoria toda vez que você abre a boca pra dizer que está cuidando de mim, mesmo me tratando desse jeito escroto? Pro inferno esse cuidado! Isso eu não quero, eu não mereço!” Uma lágrima solitária caiu de meu olho esquerdo, mas fiz questão de enxugá-la rapidamente.
“Amigo fica feliz pela felicidade do outro. Se Elise te faz bem, ou qualquer outra pessoa, eu vou estar feliz por você! Não vou ficar criando intriga pensando que serei substituída. Até porque se você se afastar, o problema e a imaturidade são todos seus! Foda-se isso! Então por que caralhos você não pode simplesmente enfiar esse receio idiota em qualquer outro lugar e pelo menos ser feliz por mim? me faz bem! E eu quero viver isso! Estou cansada de ficar pensando que não sou capaz de despertar o interesse e o desejo em alguém. Eu sou! E viu isso em mim, e quer saber? Eu to me sentindo melhor do que pensava...” Comecei a baixar o volume da minha voz, sorrindo tristemente, ainda olhando pro . Meus lábios foram molhados pelas lágrimas, que caíam deliberadamente.
“...” começou, com a voz estranha. “Eu vou te expl...”
“Não, .” Eu o interrompi. “Eu realmente... Definitivamente, não quero saber mais. Não quero mais saber.”
“O quê !?” Ele indagou com a voz atingindo tons acima do normal.
“É sua culpa que nossa amizade está acabando. E eu tentei, juro que tentei... Mas não posso continuar nisso sozinha.” Minha voz começou a ficar embargada e o pranto começou a se enrolar nas palavras.
“N-não, . Cara, não fala isso, pelo amor de...”
“De quem, ? De Deus? Ele não tem nada a ver com as merdas que a gente faz. Que você faz. Uma amizade que só me faz chorar, que me faz sentir mal por eu estar com um cara legal... Uma amizade que só causa brigas...” E pude ouvir a respiração de ficar mais pesada através da linha.
“...Isso não é amizade. Nem amor de amigo. Isso é qualquer coisa, menos amor, .” E olhei pra ele, vendo-o negar com a cabeça.
“Você tá falando merda, cara. Por favor, olha o que você tá dizendo pra mim, ! Sou eu!”
“Eu sei, não é absurdo?” Eu ri sem humor, fungando menos do que antes. “Mas não... não é mais o . O meu amigo, o meu . Você é agora.” E parei de chorar, olhando seriamente pra seu rosto. “E essa pessoa que se apresenta, eu... não gosto dela.”
“! Merda, que porra você tá falando, cara?” Pude ouvir a alteração na voz de indicando o choro. Mas aquilo incrivelmente não me atingiu como pensei. Na verdade, me deu raiva. Como se ele não tivesse direito de se sentir injustiçado, porque pudera! Quem estava sempre fazendo alguma coisa, era ele! E eu estava completa e totalmente cansada daquilo.
“Tchau, .” Sussurrei, retirando o celular do ouvido.
“Não, ! Caralho, para com isso! Vamos conversar, ! !” Pude ouvir mesmo com o celular se distanciando de meu ouvido.
Eu simplesmente desliguei a chamada e pude perceber a surpresa de no olhar, me encarando perplexo. Eu neguei com a cabeça, olhando com meus olhos ardendo de raiva, enquanto a cachoeira debaixo deles descia com uma liberdade indesejada por mim. ainda estava sem reação, chorando silenciosamente.
Mas não me deixei levar por isso e, permanecendo em pé olhando só mais um pouco pra ele, a fim de gravar suas feições que, eu tinha certeza de que me recusaria a ver por muito tempo, eu senti o soluço preso na minha garganta sair incontrolavelmente alto. Vendo que não aguentaria permanecer ali nem sequer mais um segundo, fechei meus olhos, apertando-os com força, enquanto eu fechava a minha janela.
"... ..." Eu dizia, enquanto deitava-me sobre a cama, me encolhendo em forma de feto, deixando as lágrimas encharcarem meu travesseiro.
"...!" Sussurrei, antes de chorar alto e sentir a dor vir mais rápido do que imaginei.
Ouvi a porta de meu quarto abrir, mas não levantei meu rosto, que se encontrava afundado no meu travesseiro. Senti um peso a mais na cama, mas ainda não tinha coragem de levantar minha cara. Mas foi quando senti a mão de minha mãe em minhas costas, fazendo um carinho que só mãe faz a fim de acalmar seu filho, que eu vi a imagem embaçada dela na minha frente. Apertando os olhos novamente pra enxergar melhor, vi que ela simplesmente sorriu com pena pra mim. Sem pensar duas vezes, falei como criança:
"Mãe!" E me joguei em seu colo, chorando muito. Ela me abraçou como um pequeno bebê, e passou a mão pela minha cabeça diversas vezes, em formas de carinho, enquanto eu soluçava em seu colo.
"Vai ficar tudo bem." Ela sussurrou, enquanto eu chorava demais pra responder a ela que não, não ia! Que eu tinha acabado de perder a única coisa que me impedia de contar a sobre todo o meu amor, a única coisa que eu tinha medo de perder quando ele soubesse dos meus sentimentos; nossa incrível, invejável, e insubstituível amizade. Foi ali que eu percebi que eu tinha muito mais coisa do que precisava pra viver. E que elas não valiam nada perto do que ele significava pra mim.
Ainda estávamos reunidos na casa de e eu tentava ficar numa boa, desviando da vontade absurda de querer entender o que supostamente, apenas eu percebi em relação à .
Como não era de minha alçada, e, reparando no modo como Lis e se tratavam, eu decidi focar naquilo de fato me envolvia: os amigos e . Meus pensamentos foram interrompidos por uma voz estridente.
“‘Um encontro com seu ídolo!’. Nunca ouvi falar desta coisa. Quem foi que indicou esse filme?” perguntou enquanto via o título do filme subindo na tela da TV, e automaticamente todos olharam sugestivamente pra ; o controle estava em seu colo e ela fingia lixar as unhas enquanto soltava um assovio despreocupado, o que não durou muito.
“Ai, o que é hein? Esse filme é fofo e bonitinho, além de ter um sarcasmo inteligente nele, tá? Macaco Loco, me defenda.” Ela falou se virando pra , que começou a corar ao mesmo tempo que todos perguntavam num coro só:
“MACACO LOCO?!”
“Er... Longa história...” comentou rindo sem graça, enquanto piscava para , que sorria e dava de ombros.
“Apenas... apelidos fofos pra pessoas fofas.” Ele comentou e ela sorriu animada.
“Porra, se isso é fofo...” Eu comentei baixo, mas todo mundo ouviu e a galera caiu na gargalhada – e eu recebi um olhar pouco amigável de , junto com um dedo do meio protuberante.
Que bela dama, não?
Apesar da zoação inicial, todos cedemos ao filme escolhido por e silenciamos para acompanhá-lo. E realmente, era interessante e engraçado!
"You have five smiles, Pete. One when you think someone's an idiot. One when you think someone's really an idiot. One when you're getting all dressed up. One when you're singing Barry White. And one... when you're looking at me." (Você tem cinco sorrisos, Pete. Um quando você pensa que alguém é idiota. Outro quando você pensa que alguém é realmente idiota. Um quando você está se arrumando. Outro quando você está cantando Barry White. E um... quando você está olhando pra mim.)
O filme estava nas frases finais quando pude ouvir uma fungada do meu lado esquerdo. Olhei pro mesmo lado e enxerguei enxugando algumas lágrimas, e fiz uma cara de desentendida quando ela apontou pra TV, não segurando mais as lágrimas.
"Essa parte é-é-é..." gaguejou enquanto olhava pro casal que dançava na telinha da tevê. "Linda demais! Eles se amavam desde sempre e-e-e... ela conseguiu!" abriu o berreiro, dando um abraço apertado em , que olhou pra mim pedindo ajuda, e eu só fiz uma cara de quem não entendia nada.
"Não se preocupem, logo passa. É o sol em câncer.” dizia enquanto olhava pra gente sorrindo.
"Me deixa, porra." falou, enquanto pegava um lencinho em seu bolso e assoava o nariz, me fazendo prender o riso pelo barulho que se emitiu.
Quando os créditos começaram a subir, eu levantei os braços e me espreguicei, ouvindo um estalar nas costas.
"Ok, gente, eu acho que já tá na hora de eu puxar meu bonde...” Falei me levantando, dando a mão pra , que se levantou segurando-a.
"Ah, eu também vou indo. Amanhã a gente se vê?" perguntou, olhando pra todo mundo.
"Vai ficar meio difícil pra mim." falou, fazendo um bico. "Amanhã tem almoço na casa da minha vó, que dura até tarde... Não sei se de noite eu já estarei em casa."
"E se estiver, você já tem compromisso." falou, colocando uma mão no ombro de , que riu sem graça.
"Amanhã eu vou fazer faxina na casa, com a família..." disse, rolando os olhos. “E se sobrar um tempo, quero dar uma chegada na cremosa.” E olhou pra mim, sorrindo, arrancando algumas risadas do pessoal.
"Ok, então. Se quase todo mundo vai fazer alguma coisa..." comentou, dando de ombros. "A gente se vê segunda no ensaio, então. Beleza?”
Todos concordaram e começaram a arrumar as coisas na sala para ir embora, quando de repente, pude ver de soslaio levantando e logo sentando no sofá.
“Ai meu deus.” Ela sussurrou, com a mão tremendo.
“O que que foi?” perguntou de imediato, sentando ao lado dela e pegando em sua mão. “Cara, você tá gelada. Que que aconteceu, o que tá sentindo?” E começou a abanar o rosto dela, enquanto a mesma respirava profundamente.
“Ih, isso parece queda de pressão, pelo visto.” comentou, se aproximando da amiga. “Acontece com ela de vez em quando. Principalmente porque ela sabe que não pode levantar rápido assim, né Dona ?” E sentou ao lado de , verificando a pulsação.
“Isso já aconteceu antes?” perguntou, preocupado.
“Sim, algumas vezes na escola. Geralmente é quando ela tá naqueles dias...” E fez uma careta. “Os primeiros dias são difíceis, sabia?” E deu de ombros, enquanto suspirava preocupado.
“Tá, o que que a gente faz?” perguntou, colocando as mãos na cintura e observando com cautela.
“Onde é que tem álcool, ?" perguntou atento.
"O que você vai fazer?" Lis indagou, preocupada com a quase-desmaiada.
"Se ela inalar álcool, talvez ajude." Falei, enquanto olhava pro dono da casa, repetindo a pergunta de . ", cadê o álcool?"
"No armário da cozinha. , aproveita e pega um copo d'água e sal. , ajuda a enquanto o me ajuda a tirar os sapatos dela e colocar os pés pra cima." comandou, já agindo.
Sem nem pensar duas vezes, segui para a cozinha, procurando o álcool e o algodão. Ouvi alguns passos atrás de mim, e eu não precisava me virar pra saber que eram de , mas... Ignorei solenemente sua presença, olhando atenta ao meu redor e encontrei o algodão no armário à minha esquerda. Depois disso, procurei pelo álcool e o achei na estante à minha frente, porém estava muito no alto, onde eu teria dificuldades pra alcançar. Mesmo assim optando por não subir em cadeiras, fiquei apenas nas pontas dos meus pés, me esticando e esforçando ao máximo pra alcançar, mas o melhor que consegui foi chegar um pouco mais do que a segunda estante. Mesmo assim, eu continuava tentando. Teimosa como era, não iria pedir ajuda a , logo a quem eu não tinha a mínima vontade de falar no momento.
Evitá-lo parecia ser uma boa idéia, mas o que fazer quando mesmo que você não pedindo ajuda nem querendo nada, o destino age contra você?
Por trás de mim, pude ouvir uma risada baixinha, e, no momento em que eu me virei pra ver a figura que ria provavelmente de mim, uma mão se posicionou na bancada da pia, bem entre minha cintura e minha mão apoiada na mesma, enquanto um braço veio por cima de meu ombro, e com a maior facilidade do mundo, pegou o álcool e o deixou bem em frente a mim. Eu continuava nas pontas dos pés, mas fui deixando meu braço descer aos poucos, até minha mão se juntar a bancada. Fiquei olhando fixamente pro álcool, enquanto sentia a presença dele permanecer atrás de mim por alguns segundos. A sensação era esmagadora, mas eu não tinha forças nem vontade pra virar e encará-lo. Ouvi suspirar alto, ainda atrás de mim, fazendo com que fios da minha nuca se arrepiassem involuntariamente.
Os eternos segundos finalmente estavam se acabando à medida que senti meu melhor amigo se afastar lentamente, e sua mão sair do meu campo de vista; não sem antes sentí-la deslizar paralela e vagarosamente à minha cintura. Eu estava tentando absorver e reprimir as reações do meu corpo e despertei algum tempo depois, pegando o álcool, o algodão e o copo d’água que tratei de encher com rapidez. Saí da cozinha sem nem olhar para o , que ficou parado de costas para a geladeira, me encarando.
Após ouvir uma risadinha discreta, ouço-o perguntar:
“Não vai nem agradecer?” E apesar de eu ter parado na porta da cozinha, continuei de costas, respirei fundo e simplesmente mandei um joinha, equilibrando os itens na mão enquanto “agradecia”.
“Tá melhor?” Perguntei, sentando do lado de e molhando um pouco de álcool no algodão enquanto lhe entregava o copo com água.
“Sim, foi só uma queda rápida.” E bebeu devagar, sorrindo levemente. “ até pegou o amendoim que carrego na bolsa. Comi alguns e deu uma normalizada. Obrigada, viu?”
“Fala sério, a gente tá aqui pra isso.” Comentei sorrindo gentilmente.
“Não vai precisar do sal então?” perguntou, chegando mais perto com um sorriso no canto dos lábios.
“Não, obrigada mesmo!” tranquilizou, rindo levemente. “Te fiz ir lá à toa.”
rolou os olhos e respondeu.
“É, foi uma viagem intensa de três dias e três noites.” Ele dizia, enquanto pegava o pote de algodão e o álcool da minha mão.
Quando nossas mãos se tocaram, eu
pude sentir a temperatura quente colidir com a minha, um pouco mais gelada. Sem falar nada, ele se retirou com as coisas para devolvê-las ao lugar. E eu fiquei matutando porque ainda pensava tanto nas mãos de ao invés de realmente estar preocupada com .
Felizmente, após algum tempo, percebemos que o estado de nossa amiga se estabilizou, e todos começaram a se despedir.
“Bom, vamos indo?” me perguntou, e eu afirmei com a cabeça.
“Vocês estão indo pro condomínio, ?” Lis perguntou, e eu me assustei com a sua proximidade por detrás de mim.
“Ahn... sim.” Sorri sem jeito.
“Vocês estão de carro? Querem carona?” perguntou educadamente e eu comecei a chutá-lo mentalmente pelo convite. Às vezes era um problema sério ser educado...
“Ah, seria ótimo! Não é, ?” E ela sorriu para meu melhor amigo, que afirmou mecanicamente com a cabeça.
“Então, venham conosco! Até mais, pessoal!” se despediu do resto, pegando na minha mão e dando tchau com a outra livre.
"E aí, curtiram o filme?" perguntou, enquanto dava a partida no carro, olhando para e Lis através do reflexo do retrovisor. Pude ver que ambos sorriram, dando respostas relativamente parecidas:
"Achei muito engraçado e super fofo, um tanto romântico!" Lis exclamou, toda doce.
"Gostei da parte em que a loirinha e o galã estão no avião e ela descobre que ama o outro lá..." comentou, sem interesse em lembrar dos nomes dos personagens.
"Eu curti as partes sarcásticas do filme inteiro." falou, sorridente, enquanto olhava rapidamente pra mim. "E você, ? O que achou?"
"Bom... Eu gostei da parte dos sorrisos. Foi legal, sincero e não foi clichê. A questão dos sorrisos é um sinal singelo e verdadeiro de intimidade, dedicação, atenção e importância. Quer dizer, quem repara nos tipos de sorrisos que alguém tem, né? Só se repara porque é importante, porque tem uma história, uma intimidade, dedica-se a dar atenção para a pessoa, pra perceber tudo isso... Pra mim é a parte genuína e bela de gostar de alguém. E no caso do filme, estava nítido que esse gostar significava querer o bem do outro, sem querê-lo pra si. Acho que esse é o verdadeiro barato de ser fiel aos seus sentimentos. Por mais que doa, é real, verdadeiro, potente." Falei, e só me dei conta de que tinha dito tanta coisa ao notar o silêncio momentâneo dentro do carro. Ninguém disse nada por longos minutos, até que uma boa alma decidiu falar:
"Cara..." falou, parando no sinal vermelho, conseguindo olhar pra mim diretamente em meus olhos. "Eu não sabia que eu estava com uma filósofa... Que mulher!" Eu ri levemente, dando um tapinha em seu ombro.
“Deixa de ser bobo, garoto." E dei um selinho, sentindo seu sorriso entre o beijo breve.
“A é realmente uma pessoa encantadora!” Elise se manifestou com a voz baixa e suave, e eu me engasguei com a minha própria saliva com seu comentário, tossindo brevemente.
O que passou despercebido para todos.
“Eu não poderia concordar mais!” respondeu, arrancando algumas risadas leves. estava em silêncio e assim seguiu até chegarmos em casa.
"Obrigada, ." Lis disse, enquanto saía do carro. "E boa noite." Ela terminou de agradecer, educada.
"Valeu, ." respondeu com um sorriso breve e um aperto no ombro, saindo do carro e praticamente grudando suas mãos na cintura de Lis. Me virei para , para não ter que ver a cena atrás de mim, e, num sorriso, perguntei:
"Te vejo amanhã?"
"Sim, você verá." Ele falou, tirando o cinto. "Mas eu ainda vou te levar em casa."
"Nossa!" Exclamei surpresa. "Realmente não esperava tanto cavalheirismo." E era verdade.
"Se eu te busquei na porta de sua casa, é justo o bastante que eu te deixe sã e salva na mesma." Ele explicou, saindo do carro, enquanto piscava pra mim. Meus lábios formaram um sorriso involuntário, e, rapidamente saí do carro, indo ao encontro de .
"Já vai?" me perguntou, atrás de mim. Eu parei de andar e virei lentamente nos meus calcanhares. O observei olhar pra mim num pequeno sorriso, da mesma maneira que Lis fazia, só que com uma pequena diferença; o sorriso dela parecia ser mais natural do que o dele. Mas não me prendi nisso, afinal de contas, isso não era problema meu, não é?
" vai me levar em casa." Respondi, sorrindo sem mostrar meus dentes, apontando rapidamente para o .
"Ah sim..." disse, sem mais palavras. Apenas seguiu sustentando o olhar.
"A gente vê se amanhã, né?" Lis comentou, com cara de criança a fim de brincar de pique-pega. Senti passar os braços por cima dos meus ombros, fazendo um leve carinho nos meus. Minha feição relaxou, e eu dei um pequeno sorriso por isso. Olhei pra frente, vendo uma Lis esperando por resposta, e um que ainda me encarava, com a mesma estranheza que detectei mais cedo.
"?" Lis chamou meu nome, me tirando no pequeno transe que eu estava em apenas ficar observando meu melhor amigo... e provável futuro-namorado dela. Adoro a minha vida.
Ainda sim, eu continuei a olhar para , que me observava um pouco sério, como se quisesse entender o meu olhar...
Pigarrei, focando no rosto de Lis e sorri educadamente.
"Talvez, vamos ver. Tenho algumas coisas pra fazer em casa, e também..." Comentei olhando para o meu par, que sorriu em concordância. “Qualquer coisa a gente se vê durante a semana, né?”
“Claro!” Ela respondeu, genuinamente sorridente. Aquilo me irritava num grau... Mesmo sendo completamente irracional.
"Então, gente..." interrompeu minha interpretação mental, enquanto me puxava na direção do meu bloco. "A noite foi boa, o papo estava bom, mas tem princesa aqui que precisa chegar antes da meia-noite... Então, boa noite pra quem fica e até a próxima."
"Tchau, Lis... ." Falei, acenando e me virando logo em seguida, de costas pra eles.
"Até mais!" Lis respondeu, como sempre, na sua impecável educação.
"Até." Ouvi a voz do meu melhor amigo por trás de mim, mas simplesmente segui meu caminho, de mãos dadas com .
"Estou aqui, sã e salva." Falei, enquanto me despedia de , na porta de casa.
"Tem certeza de que tá tudo bem?" Ele perguntou pela milésima vez, ainda preocupado. Não sei se era um protocolo dele perguntar como eu estava ou se de fato ele captou alguns questionamentos internos meus, pelas minhas feições e coisas do tipo, mas decidi não abrir o jogo e simplesmente fingi cansaço.
“Ah sim! É que o dia foi cheio e ontem foi uma noite longa, eu ainda estou cansada, sob os efeitos do show do Mcfly!” E rimos brevemente, nos olhando carinhosamente após a risada cessar.
"Ok então... Nos falamos amanhã?" Ele mudou de assunto, sorrindo de leve.
"Sim! Quando você terminar sua faxina, a gente pode fazer algo... Tipo ver um filme aqui em casa. Que tal?" Falei, sentindo as mãos dele se enroscarem em minha cintura, enquanto meus braços envolviam seu pescoço.
"Com uma condição." Ele demandou, sorrindo com cara de quem aprontaria alguma.
"Que condição?" Questionei, levantando uma sobrancelha, desconfiada.
"Filme cedo pra termos um tempinho lá embaixo, naquele parquinho sagaz pra gente se dar uns pegas."
"!" Repreendi, batendo no braço dele, enquanto ele me beijava, rindo.
"Boa noite, princesa." Ele sussurrou, encostando a sua testa na minha, enquanto dava um breve e largo sorriso.
"Boa noite, príncipe." Falei, antes de sentir os lábios dele chocar-se contra os meus novamente.
Compartilhamos um beijo profundo, com desejo e maior intimidade. Aquilo fez um pequeno frio na barriga surgir.
"Agora eu vou." Ele comentou enquanto soltava minha cintura, mas ainda segurava minha mão, com os lábios roçando nos meus.
"Dorme bem, e tenha bons sonhos."
"Você também." Falei, meio boba com aquele carinho todo dele.
"Eu tenho certeza de que essa noite vai ser uma das mais bem dormidas pra mim." Ele comentou rindo e, largando minha mão, deu um último selinho e despediu-se de vez.
"Até amanhã, ."
"Até, ." Me despedi, logo vendo-o sumir pela porta do elevador. Fechei a porta rapidamente, e, num impulso, corri até a janela do meu quarto, e não tardou muito a ver em seu carro, saindo do meu condomínio. Sorri animadamente.
Sabem de uma coisa? não era o , mas isso não quer dizer que eu não estivesse parcialmente e relativamente feliz. Sério mesmo, aquilo estava me fazendo um bem maior do que eu havia imaginado. E eu esperava que ao longo do que quer que fosse que eu e tínhamos, continuasse assim... Leve, alegre e bom.
Fiquei mais um tempo pensando nisso, ainda na janela, quando um vento forte bateu em mim, me fazendo fechar os olhos e me encolher de frio, acordando pra realidade. Num impulso, e imagino que mais pelo costume do que por consciência, eu levei meus olhos ao quarto de que ficava de frente pra minha janela, um pouco acima do meu quarto.
E foi aí que tomei um susto.
Ele estava lá sem camisa, olhando pra cima e observando o céu, que estava particularmente estrelado naquela noite. Com a mesma expressão de antes, ele parecia profundamente pensativo, mas como aconteceu comigo, o vento o atingiu, bagunçando seus cabelos e no segundo seguinte, ele abaixou a cabeça e depositou seus olhos na minha janela. Neles, eu pude ver a surpresa por me ver ali, olhando direta e somente pra ele.
Não sei quanto tempo permanecemos naquele contato visual, mas só sei que despertei num susto, quando ouvi meu celular vibrar no meu bolso. Nem olhei o visor pra saber quem era, só peguei o celular e atendi, tirando os olhos de .
"Alô?" Falei, um pouco perdida.
"No que você está pensando?" A voz dele me fez ficar nervosa. Olhei pra sua janela e ele estava me olhando com o celular no ouvido, esperando minha resposta. Respirei fundo, e demorei algum tempo até decidir desabafar.
"O está acontecendo com a gente, ?" Questionei cansada.
"Por que mesmo depois da gente ter conversado sobre isso, parece que continuamos brigados?" Perguntei depois de ter o silêncio como resposta.
Ele respirou fundo, e, numa voz rouca, me respondeu numa entonação de irritação, o que me fez estranhar.
"Eu tô tentando, tá? Eu sei que vai parecer babaca, e talvez seja... Mas eu tô tentando! E mesmo a gente tendo aquela conversa, a verdade é que eu fico receoso, com medo de você quebrar a cara e sei lá... É tudo muito estranho! Fico me sentindo um inútil incapaz de proteger você. Mas isso não é no meu consciente, entende? É que na prática, as coisas parecem não fluir! Mesmo eu... tentando.” Ele suspirou, abaixando o volume da voz. “E assim, as coisas ficam estranhas e parece... Parece que voltamos...” Ele não terminou a frase, e eu suspirei, completando-a.
“Para o ponto de partida.”
“Isso.” Ele falou, me olhando de sua janela.
Mais silêncio.
"Por que você estava puto na festa de ontem?" Perguntei, insistindo no assunto.
"Como assim, puto?” Ele rebateu, surpreso.
“Sério, ? Vai perguntar isso pra mim, que te conheço como a palma da minha mão?” Ele bufou, mas logo respondeu:
"Eu não estava puto! Eu estava nervoso com o show, ao mesmo tempo tentando não ser um cuzão com vocês.”
“Você falhou miseravelmente.” Rolei os olhos, e ele deu uma risada sem humor.
Mais silêncio.
“Eu disse que tentaria... Cabe a você ter paciência.” Ele falou, com a voz controlada. Aquilo me irritou.
“Ou não.” Respondi, séria.
“É uma escolha.” Ele ficou sério também, e seguimos nos encarando, sem dizer nada.
Um bom tempo passou e eu segui questionando.
“E no final do show?”
“O que tem?” Perguntou, com confusão na sua voz.
Eu respirei fundo antes de continuar.
“Você não estava só nervoso pro show no final da noite. Você sumiu logo após a apresentação. Você estava estranho demais pros motivos que alega...” Respondi, apoiando meu cotovelo na janela.
“Como assim eu sumi? Você foi embora e nem falou comigo depois do meu primeiro show. Você foi quem sumiu, . Quando fui procurar pela minha melhor amiga, pelo apoio dela após o meu primeiro show, cadê? Ela já tinha ido embora. E adivinha com quem? Com quem ela disse que nunca roubaria meu lugar em sua vida. Irônico, né?” Ele retrucou, com indignação na voz.
Minha vez de gargalhar sem humor. apenas me encarou, sem dizer nada.
“Você deve estar brincando com a minha cara. Sério isso?” E ri sem acreditar no que tinha ouvido, lembrando exatamente de como fiquei perdida ao vê-lo sumir após o show.
“Acho que você está com problemas de memória, mas eu vou te ajudar a lembrar, . Você terminou o show e sumiu. Eu fui te procurar e você estava com a Elise. Com a língua ocupada demais para falar qualquer coisa. Você acha que eu deveria ter feito algo ali? Obviamente você estava ocupado! Deveria eu ter interrompido? Ou quem sabe ter feito algo além de perceber que a porra da toca de tricô que eu te dei estava debaixo do seu pé?” Rangi os dentes em raiva, sentindo aquela sensação transbordar na minha voz.
Silêncio novamente. me olhava sério, porém, seu olhar não parecia tão mais inquisidor.
Decidi prosseguir.
“Você estava curtindo seu momento da melhor forma que achou... Eu não iria esperar.” Meu coração apertou ao ver a imagem dele e Lis juntos em minha mente.
“Não enquanto eu poderia dar os parabéns à outra pessoa, que eu tinha toda a certeza do mundo que estaria me esperando de braços abertos pra me receber.” E fiquei séria, logo após perceber que o maxilar de estava trincado.
E era isso. Eu tinha vomitado – quase – tudo. Olhei com mais precisão o rosto de , e ele estava absolutamente... duro. Mesmo de longe, podia-se ver a expressão chateada e raivosa dele. Mas ele não me disse nada por longos dois minutos e cinqüenta e quatro segundos.
Sim, eu contei.
"Você também estava ocupada quando fui te procurar, ." Ele quebrou o silêncio, me chamando pelo meu nome – coisa que eu odiava durante uma briga. “Eu saí logo do palco precisando de uma bebida pra refrescar. Foi quando encontrei Lis. E mesmo acidentalmente, eu tinha plena certeza de que ela estaria esperando pra falar comigo. Eu achava que você falaria primeiro com o , o que acabou ocorrendo de uma forma ou de outra.”
"Mas não foi porque eu quis! E sim, porque você estava ocupado demais se pegando com ela!” Quase rugi através do celular. Mas não se intimidou, e rebateu.
"E o que tem de errado de eu estar fazendo isso?"
"Engraçado, porque é isso que eu me pergunto desde que você ficou sabendo que o queria ficar comigo!" Mandei sem dó nem piedade, sentindo prender a respiração pelo celular, como se coletasse paciência.
“Qual é a porra do problema de me ver com outro cara, ? Hein?” Eu insisti, aumentando a entonação da voz.
"Você não ouviu nada do que eu disse há cinco minutos atrás???” Ele indagou, com a voz alterada.
"Vai à merda, !” Falei, com muita raiva, e pude ver os olhos deles arregalarem. "Antes de tudo: nunca pedi para você cuidar de mim desse jeito. Nunca pedi nada além da sua amizade... E que tipo de relação é essa que eu me sinto como uma mercadoria toda vez que você abre a boca pra dizer que está cuidando de mim, mesmo me tratando desse jeito escroto? Pro inferno esse cuidado! Isso eu não quero, eu não mereço!” Uma lágrima solitária caiu de meu olho esquerdo, mas fiz questão de enxugá-la rapidamente.
“Amigo fica feliz pela felicidade do outro. Se Elise te faz bem, ou qualquer outra pessoa, eu vou estar feliz por você! Não vou ficar criando intriga pensando que serei substituída. Até porque se você se afastar, o problema e a imaturidade são todos seus! Foda-se isso! Então por que caralhos você não pode simplesmente enfiar esse receio idiota em qualquer outro lugar e pelo menos ser feliz por mim? me faz bem! E eu quero viver isso! Estou cansada de ficar pensando que não sou capaz de despertar o interesse e o desejo em alguém. Eu sou! E viu isso em mim, e quer saber? Eu to me sentindo melhor do que pensava...” Comecei a baixar o volume da minha voz, sorrindo tristemente, ainda olhando pro . Meus lábios foram molhados pelas lágrimas, que caíam deliberadamente.
“...” começou, com a voz estranha. “Eu vou te expl...”
“Não, .” Eu o interrompi. “Eu realmente... Definitivamente, não quero saber mais. Não quero mais saber.”
“O quê !?” Ele indagou com a voz atingindo tons acima do normal.
“É sua culpa que nossa amizade está acabando. E eu tentei, juro que tentei... Mas não posso continuar nisso sozinha.” Minha voz começou a ficar embargada e o pranto começou a se enrolar nas palavras.
“N-não, . Cara, não fala isso, pelo amor de...”
“De quem, ? De Deus? Ele não tem nada a ver com as merdas que a gente faz. Que você faz. Uma amizade que só me faz chorar, que me faz sentir mal por eu estar com um cara legal... Uma amizade que só causa brigas...” E pude ouvir a respiração de ficar mais pesada através da linha.
“...Isso não é amizade. Nem amor de amigo. Isso é qualquer coisa, menos amor, .” E olhei pra ele, vendo-o negar com a cabeça.
“Você tá falando merda, cara. Por favor, olha o que você tá dizendo pra mim, ! Sou eu!”
“Eu sei, não é absurdo?” Eu ri sem humor, fungando menos do que antes. “Mas não... não é mais o . O meu amigo, o meu . Você é agora.” E parei de chorar, olhando seriamente pra seu rosto. “E essa pessoa que se apresenta, eu... não gosto dela.”
“! Merda, que porra você tá falando, cara?” Pude ouvir a alteração na voz de indicando o choro. Mas aquilo incrivelmente não me atingiu como pensei. Na verdade, me deu raiva. Como se ele não tivesse direito de se sentir injustiçado, porque pudera! Quem estava sempre fazendo alguma coisa, era ele! E eu estava completa e totalmente cansada daquilo.
“Tchau, .” Sussurrei, retirando o celular do ouvido.
“Não, ! Caralho, para com isso! Vamos conversar, ! !” Pude ouvir mesmo com o celular se distanciando de meu ouvido.
Eu simplesmente desliguei a chamada e pude perceber a surpresa de no olhar, me encarando perplexo. Eu neguei com a cabeça, olhando com meus olhos ardendo de raiva, enquanto a cachoeira debaixo deles descia com uma liberdade indesejada por mim. ainda estava sem reação, chorando silenciosamente.
Mas não me deixei levar por isso e, permanecendo em pé olhando só mais um pouco pra ele, a fim de gravar suas feições que, eu tinha certeza de que me recusaria a ver por muito tempo, eu senti o soluço preso na minha garganta sair incontrolavelmente alto. Vendo que não aguentaria permanecer ali nem sequer mais um segundo, fechei meus olhos, apertando-os com força, enquanto eu fechava a minha janela.
"... ..." Eu dizia, enquanto deitava-me sobre a cama, me encolhendo em forma de feto, deixando as lágrimas encharcarem meu travesseiro.
"...!" Sussurrei, antes de chorar alto e sentir a dor vir mais rápido do que imaginei.
Ouvi a porta de meu quarto abrir, mas não levantei meu rosto, que se encontrava afundado no meu travesseiro. Senti um peso a mais na cama, mas ainda não tinha coragem de levantar minha cara. Mas foi quando senti a mão de minha mãe em minhas costas, fazendo um carinho que só mãe faz a fim de acalmar seu filho, que eu vi a imagem embaçada dela na minha frente. Apertando os olhos novamente pra enxergar melhor, vi que ela simplesmente sorriu com pena pra mim. Sem pensar duas vezes, falei como criança:
"Mãe!" E me joguei em seu colo, chorando muito. Ela me abraçou como um pequeno bebê, e passou a mão pela minha cabeça diversas vezes, em formas de carinho, enquanto eu soluçava em seu colo.
"Vai ficar tudo bem." Ela sussurrou, enquanto eu chorava demais pra responder a ela que não, não ia! Que eu tinha acabado de perder a única coisa que me impedia de contar a sobre todo o meu amor, a única coisa que eu tinha medo de perder quando ele soubesse dos meus sentimentos; nossa incrível, invejável, e insubstituível amizade. Foi ali que eu percebi que eu tinha muito mais coisa do que precisava pra viver. E que elas não valiam nada perto do que ele significava pra mim.
Capítulo 14 - He'll come and take my place and show you things that I just couldn't face.
"Eu não consigo acreditar." dizia pela centésima vez enquanto me olhava estupefata pelas minhas ações.
"Eu tô falando sério, ..." Comentei, já cansada de vê-la ainda surpresa com aquilo.
"Cara, não é fácil compreender isso." Ela explicou, enquanto se sentava melhor na minha cama, de frente pra mim, me olhando séria. "Você por acaso tem noção do que você disse pra ele? Tem noção do que você decidiu? É chocante!” Bom, ela tinha direito de ficar impactada. Aliás, quem não estaria?
"Eu cansei, ! Cansei muito..." Respondi, deitando a cabeça no travesseiro e olhando para as estrelinhas no meu teto. "O sempre pôde contar comigo, sem exceções. E eu sempre estive lá, por mais que fosse pra ouvir falar que gosta de outra pessoa que não fosse eu... Eu estava lá, entende? Engolindo meu orgulho, afastando a dor e tentando ser a melhor amiga que sempre fui! Mas poxa, foi só se demonstrar interessado em mim e ele começa a agir desse jeito? É injusto e imaturo! Eu cansei de me ferrar psicologicamente, cansei de me sentir culpada pelo provável fim da nossa amizade, enquanto ele só piorava o estado dela. Ele me prometeu que nada ia acontecer com a nossa parceria, o nosso companheirismo de tantos anos... Mas como ele pode evitar isso, se é ele mesmo que provoca? Não, não tem essa dele ter ciúmes do e causar esse 'auê' todo só porque ele quer ser protetor por ser meu melhor amigo. Isso não existe!” Reclamei, bufando.
me olhou com uma expressão cuidadosa e eu arqueei a sobrancelha em sua direção.
"Bom... Eu sempre achei muito estranho ele agir assim de graça só por ciúmes de amigo, mas vai saber se ele é obsessivo e tudo mais? Quer dizer, você o conhece há muito mais tempo que eu, . Você deveria pelo menos tentar saber por que ele tá agindo assim, se ele apenas é possessivo ou se tem algo a mais nisso aí. E se tiver, porque ele insiste em não contar, né? Deve ser algo importante..." disse, me olhando incerta.
"Na boa, ? Não é possível que tenha algo a mais. Aliás, não é possível que seja aquilo o que minha mãe insiste em dizer...” Rolei os olhos, bufando. “Ela acha que a gente se gosta. Mas tenho todas as provas que na verdade só eu estou nesse barco... Ele gosta da Lis, evidentemente. É com ela que ele está, é com ela que ele fica todo animadinho trocando mensagens, carícias, e bem, foi com ela que ele comemorou o primeiro show da banda.” Dei de ombros, olhando pro nada.
“Mas olha que complicado? Eu nem estou mais tão preocupada com isso, sabe? Me refiro à nossa amizade, do fato dele agir dessa forma tão grotesca e idiota. E eu não vou ficar aturando nem correndo atrás pra reconhecer a raiz do problema que é dele!” Exclamei, encarando .
“Sempre fomos melhores amigos, ele sabe que sempre que quiser pode vir e me falar alguma coisa séria, que eu vou estar apta a ouvir e ajudar. Mas nesse caso, não sou eu que tenho que ir atrás dele! Ele é quem fica de cara fechada, ele é quem começa as brigas, ele é quem não pede desculpas pelos erros e pelos ataques de ciúmes. Se eu me controlei, ele também pode. E olha que eu gosto dele muito mais do que ele gosta de mim. Então, não é questão dele ser homem e eu mulher, ou ele se sentir 'sem exclusividade' na minha vida por causa de ou algo do tipo... É questão dele ser imaturo e não perceber o quanto isso destrói com a nossa relação e o quanto isso me magoa, porque eu pensava que ele fosse me apoiar e desejar a minha felicidade quando eu dissesse pra ele que estava não só com alguém que queria meu bem, como também o guitarrista da banda dele! Tem noção? Eu sempre fiz isso por ele, porque comigo tem que ser diferente?” E senti meus olhos lacrimejarem. O silêncio e a feição de só tornava tudo mais real, e eu respirei fundo antes de continuar.
“Eu queria um abraço e um boa sorte ontem, enquanto todos me zoavam com meu lance com , e o que eu recebi em troca? Um copo quebrado, um tapete molhado e um olhar vazio! Porra, será que ele é tão burro de não enxergar o quanto o voto positivo dele importa pra mim? Será que ele não enxerga que, por mais que eu goste muito dele, eu prefiro que ele esteja feliz com a Lis ou qualquer outra a estar descontente comigo? Será que ele não percebe todos os sacrifícios que eu faço pelo bem-estar e a felicidade dele e da nossa amizade? Será que é tão difícil dele retribuir um terço disso?"
"Será que ele não enxerga que você o ama mais do que pode expressar ou suportar?" falou baixinho, me olhando com um meio sorriso e pena nos seus olhos. Eu mordi meu lábio inferior forte enquanto tentava impedir minhas lágrimas, mas quando percebi que isso seria inútil, coloquei minhas mãos no meu rosto e comecei a chorar de raiva. Por que nada com dava certo?
me abraçou enquanto minhas lágrimas só desciam com vontade pelo meu rosto. Eu chorava de raiva, de muita raiva! Uma coisa era ele não gostar de mim, outra era ele agir daquele jeito, e com isso, destruir nossa amizade! Como é que ele não enxergava a tamanha importância que ele tinha pra mim?
"Cansei, ..." Falei, limpando o rosto com as costas das minhas mãos. "Simplesmente cansei. Já não tenho mais forças pra lutar por isso. Meu amor por ele é grande, mas não é platônico. Não posso amar por duas pessoas desse jeito... Me dói demais pensar que vou ter que evitar o daqui pra frente... Mas se continuasse daquele jeito..."
"Seria muito pior." Ela terminou a frase por mim, fazendo um pequeno carinho no meu braço. "Eu sei, . Quer dizer, não sei exatamente, mas imagino o quão difícil esteja sendo. Dói só por te ver assim. É injusto que uma pessoa tão legal como você sofra tanto desse jeito. Mas a vida pode te surpreender mais do que você possa imaginar... Sério mesmo. Você já tomou sua decisão: já sabe o que fazer, tem a escola, os amigos, e um gatinho pra se engraçar. Não querendo desvalorizar seu momento de dor, mas mesmo com esse acontecimento te magoando tanto, não esqueça que seu mundo não se resume à somente Thomas . Em breve, as coisas melhorarão para você, e um dia estaremos sorridentes lembrando de como meu conselho quase bom te convenceu a seguir de cabeça erguida."
Eu olhei para o rosto daquela pessoa bem à minha frente, e num meio sorriso a abracei ternamente, deixando algumas lágrimas caírem – sem saber se era por , ou pelo que eu tinha acabado de ouvir.
Apenas alguém como ela estaria me aturando nos mesmos problemas de sempre, num domingo, às dez da manhã.
"Obrigada, . Simplesmente... obrigada por tudo. Mesmo." Eu sussurrei, soluçando levemente.
"Simplesmente de nada por tudo. Mesmo." Ela disse, soltando uma risada sapeca, me fazendo rir levemente.
"Você já sabe como vai encará-lo amanhã?" Ela perguntou, com um olhar preocupado.
"Eu acho que não vou encará-lo, não é mesmo?" Falei, fazendo uma careta de dor, pensando realmente nisso.
"Mesmo você tendo dito aquelas coisas meio alterada? Quer dizer, talvez você não precise levar tão a sério..."
"Preciso." Falei, me sentando com pernas de chinês em minha cama, mantendo uma postura saudável para a minha coluna. "Precisa ser assim. Se não for desse jeito, nós vamos continuar brigando e brigando e brigando, até que um dia não haja nenhum rastro de amor ou zelo pela nossa amizade e puf! Acaba-se por inteiro meu laço com ele. Eu não quero isso, por mais longe que eu esteja dele... Pelo menos por enquanto... É o melhor."
"Bom... Então é você que sabe, ... No que decidir, te apoio.”
"Obrigada, amiga.” Falei, suspirando levemente.
"Bom, então, já que está tudo decidido, reconheça a dor, mas não prolongue o sofrimento. E na verdade, já está mais do que na hora de me contar o que eu tanto quero saber."
"O quê?" Perguntei, perdida.
"Como foi a volta pra cá ontem, no carro de , oras!" Soltei uma gargalhada alta quando a ouvi falar aquilo, como se fosse óbvio. Ela era tão ansiosa por coisas assim! Aquilo definitivamente, me divertia.
Contei as coisas, tim-tim por tim-tim, e ela me falou como foi a ficada da e do , sem muitos rodeios. Foi algo bem esperado e simples: enquanto todos estavam se pegando depois do show do McFly, dançando, bebendo e etc, eles simplesmente seguiram para o jardim de casa, sentaram-se ali, papearam (lê-se: chavecaram) um pouco e pronto! A sessão pegação no verão começou sendo regida por um banho de lua e estrelas do céu azul escuro, quase preto, naquela noite.
Eu e ficamos conversando até dar a hora do almoço. Mamãe convidou-a pra almoçar conosco, mas ela tinha que ir pra casa, pois a mãe dela era exigente no almoço de fim-de-semana com a família.
Ouvi uma batida no batente da porta enquanto distraía minha mente com algumas pendências da escola.
"Filha?!" Ela me chamou, colocando só a cabeça pra dentro do meu habitat.
"Entra aí, mãe." Falei, enquanto escrevia em meu caderno algumas palavras-chaves.
"Não é nada em especial, é só que eu estava arrumando o quartinho de bagunças e achei isto aqui." Ela entrou no quarto, e me mostrou uma coisa que eu não via há anos: meu violão. Ele estava sem duas cordas, e provavelmente as outras quatro que ainda restavam, já estavam oxidando, e quem ousasse tocar nelas pegaria tétano.
"Ai, meu Deus!" Foi o que eu consegui exclamar, antes de tirar o caderno do meu colo e correr de encontro ao meu violão. "Ai, meu Deus!" Eu repeti, quando o toquei. Ele estava empoeirado também.
"Bom, eu ia perguntar se você gostaria de dar ou vender seu querido instrumento, mas aparentemente, você não quer." Mamãe comentou, sorrindo largamente com a minha surpresa e encanto instantâneos.
"Ah, mãe..." Eu falei, olhando com carinho pra ela. “Esse violão tem tanta história pra contar... Papai que me deu." Terminei a frase, sorrindo de leve.
"É, querida, eu ainda lembro que você ficou toda eufórica quando ganhou dele no seu aniversário de 10 anos. Nós...” E a frase morreu, me fazendo encará-la.
Fiz uma cara de dor, porque sabia o que se passava na cabeça da minha mãe. Aliás, já havíamos conversado muito sobre isso, inclusive.
“Ainda éramos casados..." Ela concluiu, um pouco sem graça, focando em qualquer canto que não fosse meu rosto.
Ficamos um momento em silêncio, e eu a encarei com maior atenção. Ela abraçava o próprio corpo como se estivesse frio, e talvez, a sensação fosse essa mesma. O olhar estava perdido, refletindo os inúmeros pensamentos que aquele assunto trazia.
Eu sei que ela se culpava. Eu sei que foi ela quem tomou a iniciativa do divórcio. E eu sei que ela se culpava desde sempre sobre a ausência do meu pai – que se mudou para os EUA devido à uma boa oportunidade de trabalho, que na época era a única chance capaz de me dar uma boa estrutura em relação à pensão alimentícia.
O grande problema é que ser pai/mãe não se traduz em dinheiro, apenas. Requer dedicação, tempo, presença, escuta, diálogo.
E nisso, infelizmente, eu só tinha da minha mãe – uma excelente mãe, diga-se de passagem. E eu sei que ela fazia um esforço para tapar qualquer buraco que meu pai tenha deixado, mas a verdade é que por mais maravilhosa que ela fosse, ela não poderia e nem deveria dar conta de uma responsabilidade que não era de sua alçada. Nunca será a mesma coisa do que ter Roger – meu pai – por perto.
Mas esta foi uma escolha dele, e no sentido de pai e filha, eu me resolvo com ele. Só que dona Marie – a progenitora – insistia em achar que o problema era todo e completamente dela.
“Quer conversar?” Eu perguntei, sussurrando.
Mas parecia que eu havia gritado. Minha mãe me encarou com os olhos assustados, e logo sorriu sem graça, ajeitando sua postura no batente.
“Não, querida. Não há muito o que falar. Você sabe.” Ela me olhou com um sorriso triste.
“Não se culpe.” Eu respondi, com um olhar cuidadoso.
Ela me sorriu novamente, e olhou para o chão.
“Se um dia você quiser ser mãe, saberá que culpa é um sentimento tão presente quanto o amor.” E deu de ombros, prendendo os lábios.
“Eu não sei como deve ser pra você. Não sei muita coisa, aliás.” Comentei, colocando o violão na cama. “Mas sei que não é justo se responsabilizar por um papel que não cabe a você cumprir.” Respondi, enquanto ficava na frente de minha mãe, e erguendo seu queixo em minha direção, a fiz me encarar. “E por mais que eu e meu pai nos vejamos sei lá, duas vezes ao ano, nos falemos pelas redes sociais, chamadas de vídeo e etc, estou grandinha o suficiente pra entender que nada supera um abraço apertado, um olhar carinhoso e um amor que cuida. Ele fez a escolha dele. Já você...” “Fez a sua. Ele é ele, você é você. E nós, eu e você... Estamos bem.” E limpei uma lágrima do rosto de minha mãe.
Minha mãe me olhou com um brilho no olhar e me abraçou bem apertado.
“Você foi a minha melhor escolha. Sempre.” Ela me disse, e eu sorri, abraçando-a de volta.
“Bom. Eu vou continuar com a arrumação. E vou deixar que você curta seu xodó.” Ela apontou para o violão e riu levemente. “E bem. Obrigada por ser meu tudo.” Minha bochecha foi acariciada pela sua mão calorosa, e eu apenas acenei com a cabeça.
Quando minha mãe saiu do quarto, eu retornei à minha cama, e olhando aquele violão, refleti mais sobre meu pai.
Suspirei, cansada.
A história era que ele trabalhava num emprego pra lá de estressante com marketing. Trabalhava horas extras quase sempre, então ficava no esquema de quando eu acordava, ele já tinha ido trabalhar, quando eu chegava do colégio, ele ainda estava trabalhando e quando eu ia dormir, ele estava estacionando o carro na garagem, e provavelmente subiria até nosso humilde apartamento, jantaria, faria um agrado à mamãe, tomaria um banho e cairia como pedra na cama, pra outro dia de trabalho. Mas, com o tempo, essa rotina começou a ficar muito insuportável pra ele... A ponto de não conseguir sustentar isso sóbrio.
Começou quase imperceptível. Uma cerveja no jantar. A geladeira com mais cervejas do que o comum. O cheiro de álcool quando ele chegava em casa.
Até o dia que ele chegou trêbado, com chupões no pescoço dele, a blusa social toda bagunçada e marca de batom na roupa. Além de estar fedendo à cigarro e álcool.
Aquilo foi o basta pra minha mãe; foi um auê tão grande que cheguei a passar alguns dias na casa do por causa disso, e, quando voltei, meus pais já tinham decidido o divórcio, o que na época, eu não sabia direito o porquê de acontecer. Minha mãe fazia questão de contar o mínimo necessário, porque eu era muito nova para saber, segundo ela. Um tempinho depois fui pro acampamento, aonde conheci e daí, o resto já é história contada...
Depois de algum tempo, minha mãe decidiu contar a história na sua versão completa, haja vista que meu pai, distante, nunca o faria. Aliás, nem se estivesse perto, porque sentia que nos raros momentos em que estávamos juntos, ele ficava sem saber o que dizer ou fazer, provavelmente um tanto sem graça por tudo que aconteceu.
Bem, eu também ficaria sem saber o que dizer. O cara foi um babaca, afinal de contas.
E como pai, cumpre com as obrigações perante à lei, mas perante ao meu coração, ainda precisaria de muito feijão com arroz pra estabelecer uma relação de afeto e companheirismo como a qual eu tinha com minha mãe.
Talvez nunca tivéssemos isso. Mas, tudo bem, eu acho.
Não teria como ter algo tão maneiro e tão bom quanto o que tenho com minha mãe, mesmo.
Pensar naquilo me deixava cansada. Eu ficava inventando teorias, pensando o que se passava na cabeça de ambos, e porque minha mãe nunca voltou a ter um relacionamento sério depois de meu pai; apenas casos furtivos.
E meu pai, ao que tudo indica, seguia na mesma linha.
Podemos concluir assim que o amor fode todo mundo, independente de idades, não é mesmo?
Desisti de pensar sobre aquilo tudo, e fui dar uma geral no violão esquecido. Passei um paninho nele, tirei todas as cordas, limpei os trastes, as casas, tudo pra ficar com uma aparência mais novinha. Quando eram umas sete da noite, meu celular começou a tocar.
"Alô?" Eu falei, colocando o celular entre meu ouvido e o ombro.
“E aí, gatinha!” respondeu do outro lado, e eu sorri involuntariamente.
“E aí, meu bem! Como estamos?”
“Bem quebrado!” Ele comentou rindo, e eu ri de volta, imaginando que a faxina tenha sido pesada. “Mas não tanto pra desistir de te ver. Acho que o filme vai ter que ficar para outra hora...”
“Nossa, é verdade! Nem vi o tempo passar. Mas podemos nos ver sim, vem aqui em casa...” E sorri novamente, apoiando o violão na cama e segurando o celular normalmente.
“Beleza, vou tomar um banho e chegar aí já.” Ele respondeu, e eu acenei com a cabeça.
“Ah!” Eu exclamei, olhando pro violão. “Por acaso você tem cordas de aço de violão aí?” Perguntei eufórica, e respondeu curioso.
“Sim, tenho. Ainda não coloquei no meu por preguiça, hehe... Por que?”
“Ah, você vai ver quando chegar! Hehehehe.” Retruquei me sentindo engraçadinha.
Ele riu do outro lado da linha.
“Certo, logo mais estou aí para ver essa surpresa. Até mais, maravilhosa!”
“Até!” Eu ri, desligando o celular.
***
" já chegou?" Minha mãe perguntou quando o interfone tocou. Ela apareceu no corredor, de óculos, provavelmente lendo algum livro.
"Aham. Vou lá buscá-lo e já volto." Expliquei, num sorriso.
"Ok, prole." Ela respondeu, se dirigindo ao seu quarto.
Desci as escadas saltitante, e quando avistei na portaria, olhando pra mim, dei um sorriso largo pra ele.
"Boa tarde, madame." Ele fez uma reverência exagerada, e eu ri sem graça.
"Boa tarde, nobre cavalheiro. A que devo a tão estimada presença?" Brinquei, sentindo seus braços abraçarem minha cintura, enquanto seu rosto ficava cada vez mais perto do meu.
“Culpe a saudade, sagrada majestade." Ele respondeu, juntando sua testa na minha. "Culpe a saudade..." A última frase foi praticamente sussurrada, e, no outro instante, seus lábios colidiram com os meus, ferozmente. Eu senti uma vontade única e inesperada de aprofundar aquele beijo, e foi o que eu fiz, tendo total correspondência da parte de . Por mais que os lábios não fossem pertencentes ao , seria hipocrisia minha negar que alguma parte de mim desejava mais do que o meu consciente poderia notar. De alguma forma, as coisas estavam gradualmente dando certo.
***
“Ok! Então... Qual é a surpresa?” perguntou, depois de se sentar na minha cama e eu chegar da cozinha com um balde de pipocas para nós.
“Esta!” Eu sorri e apontei para o violão que estava atrás da porta. “Conheça meu pequeno xodó.”
encarou o instrumento com um mega sorriso, e me olhou curioso.
“Você toca?”
“Nah, alguma coisa...” Respondi, dando de ombros, enquanto pegava o violão e sentava a seu lado. “Preciso praticar mais, e acho que estou num bom momento de treinar. Mas para isso, preciso das cordas novas. Me ajuda a colocar?” Perguntei num sorriso largo e ele me encarou com um olhar sacana.
“O que tu não pede sorrindo que eu faço chorando, né garota?” E me roubou um selinho demorado antes de pegar as cordas na sacola. “Vamos, vamos trocar que eu quero ver o Slash que há em você!”
E nós rimos, igual duas crianças bobas.
Um tempinho depois, terminávamos de colocar a última corda, e Deus! Eu não lembrava que era um negócio tão chato!
Mas nada se compara à um violão de cordas novas com uma afinação impecável.
E lá estava eu, dedilhando algumas notas, beeem desacostumada, mas seguindo firme e forte no propósito.
"Eu não sabia que você tocava violão." falou, olhando meio abismado pra mim, sentado no tapete do meu quarto, com as costas apoiadas no armário. Eu sorri levemente.
"Tocar não toco... Eu arranho. Mas, enfim, já faz algum tempo que eu não pratico... E quase ninguém sabe disso. Mas não é proposital." Dei de ombros, enquanto sorria sem graça, olhando pro chão.
"O que você tocava?!" Ele me perguntou, curioso.
"Coisas simples e de preferência, sem pestana!" Respondi, lembrando da dor nos meus dedinhos que o violão causava. "Mas mesmo sendo simples, era ouvível."
"Tipo o quê?" Ele insistiu, mais curioso do que antes.
"Ah, tipo... 'Linger' do Crawberries, 'Smells like teen spirit' do Nirvana, 'Patience' do Guns n' Roses... 'Offer', da Alanis, e por aí vai..." Lhe expliquei, pensando se tinha esquecido de alguma música.
"Offer?" Ele exaltou-se, arregalando os olhos na minha direção. "Você toca 'Offer'? Cara, que maneiro! Toca essa música pra mim?" Ele pediu, fazendo cara de cão abandonado.
"E cantar também?" Eu fiz uma careta, porque cantar e tocar simultaneamente, não era muito fácil.
"Vamos, tente! Eu te ajudo, linda." Ele fez uma cara tão fofa, mais tão fofa, que eu simplesmente fiz um sinal positivo com a cabeça. Com as mãos trêmulas e o interior mais ainda, comecei a dedilhar o que eu lembrava da música.
Who, Who am I to be blue?
(Quem, quem sou eu para entristecer?)
Look at my family and fortune
(Diante de minha família e sorte)
Look at my friends and my house
(Diante de meus amigos e minha casa)
Who, Who am I to feel deadend?
(Quem, quem sou eu para me sentir sem vida?)
Who am I to feel spent
(Quem sou eu para me sentir esgotada?)
Look at my health and my Money
(Diante de minha saúde e meu dinheiro)
Até aquele momento, eu não tinha levantado a cabeça pra encarar o rosto de , porque eu estava, er... Com vergonha. Ah, qual é?! Fazia anos que eu não tocava, e como tinha dito, eu simplesmente 'arranhava' no violão. Mas aquela música era fácil, e pra quem não tocava direitinho há algum tempo, eu estava razoavelmente bem.
Já no contexto voz, eu estava me saindo melhor do que esperava. Além de lembrar a letra da música, eu não estava desafinando tanto quanto costumava desafinar na época que tocava violão. O que era um bom sinal, acreditem.
And where , Where do I go to feel good
(E onde, aonde eu vou para me sentir bem?)
Why do I still look outside me
(Por que eu ainda procuro externamente?)
When clearly Ive seen it wont work
(Quando está claro que isso não funcionará)
Resumindo? A música estava até agradável, tirando todos os contras. E ficou mais agradável ainda quando cantou comigo o refrão.
Is it my calling to keep on when Im unable
(É minha virtude continuar quando não sou capaz?)
And is it my job to be selfless extraordinary
(E é meu trabalho ser extraordinariamente preocupada com os outros?)
And my generosity has me disabled
(Minha generosidade me desabilitou)
By this my sense of duty to offer
(Por esse meu senso de tarefa a oferecer)
De primeira, eu quase me assustei, porque estava concentradíssima em não errar as notas no meu xodó instrumental, e, de repente, aquela voz mil vezes mais afinada que a minha, entrou cantando o refrão, deixando a música mais bonita, e quase me fazendo errar, mas tudo deu certo afinal.
And why, Why do I feel so ungrateful
(E por que, por que eu me sinto tão ingrata?)
Me who is far beyond survival
(Eu que estou muito além de apenas sobreviver)
Me who see life as an oyster
(Eu que vejo a vida como uma ostra)
Is it my calling to keep on when Im unable
(É minha virtude continuar quando não sou capaz?)
And is it my job to be selfless extraordinary
(E é meu trabalho ser extraordinariamente preocupada com os outros?)
And my generosity has me disabled
(Minha generosidade me desabilitou)
By this my sense of duty to offer
(Por esse meu senso de tarefa a oferecer)
A vergonha já estava se esvaindo a medida que eu conseguia me concentrar em três coisas: no violão, nas vozes e em . Em como seus olhos se direcionavam a mim, fazendo um belo par com seu meio sorriso enquanto cantava, tão distraidamente, e ainda sim, bem.
And how, how dare I rest on my laurels
(E como, como ouso descansar em minha glória)
How dare I ignore an outstretched hand
(Como ouso ignorar uma mão estendida?)
How dare I ignore a third world country
(Como ouso ignorar os países de terceiro mundo?)
Is it my calling to keep on when Im unable
(É minha virtude continuar quando não sou capaz?)
And is it my job to be selfless extraordinary
(E é meu trabalho ser extraordinariamente preocupada com os outros?)
And my generosity has me disabled
(Minha generosidade me desabilitou)
By this my sense of duty to offer
(Por esse meu senso de tarefa a oferecer)
Who, Who am I to be woo
(Quem, quem sou eu para entristecer?)
"Cara..." falou, me olhando com um sorriso de orelha a orelha. "Sem comentários, . Eu nunca imaginei que você levava jeito pra isso, e que o fazia tão bem!"
"Poxa, fico grata em saber que você achava minhas aptidões com a música eram quase nulas." Fiquei rindo enquanto deixava o violão na cama e sentando no chão. me olhou com uma cara falsa de chocado e, com os olhos cerrados, se jogou em cima de mim, me enchendo de cosquinhas. "Pára, !" Eu dizia em meio das risadas, enquanto ele só se fazia de sonso, dizendo que não estava ouvindo direito. "Pára, por favor, por favorzinho..." Falei a última parte, utilizando meu olhar de gatinho-do-Shrek, que o faz parar, mas não fez com que ele saísse de cima de mim.
Seus braços ficaram apoiados no chão, um de cada lado, acima dos meus ombros, pra que seu peso não fosse largado totalmente sobre mim. Eu pude perceber que meu batimento cardíaco começou a acelerar quando senti seu rosto se aproximar cada vez mais em minha direção, fazendo com que seu nariz encostasse no meu.
Ele ficou olhando bem dentro dos meus olhos, como se quisesse saber o que eu estava pensando através do meu olhar. Acho que a única coisa que ele poderia ter certeza, era da minha dificuldade de respirar. Ele estava entre as minhas pernas, e eu abraçava suas costas, subindo e descendo minhas mãos num carinho arrastado, o que fez o corpo de tremer levemente.
"O que você está pensando?" A voz de soou, me acordando parcialmente para a realidade.
"Em como isso pode ser surpreendentemente novo e bom ao mesmo tempo." Respondi, passando a minha mão esquerda para o rosto dele, acariciando-o com ternura. Os olhos dele se fecharam para sentir melhor o meu toque, e, com seus lábios sorrindo, beijou minha mão.
Sorri com aquela carícia, e, inesperadamente, ele abriu os olhos, me olhando por três segundos inteiros, e me beijou.
Por osmose – ou talvez por impulso físico – meus braços envolveram seu pescoço, aproximando-o mais de mim. Sentir os nossos corpos juntos, foi uma sensação, além de quente, boa.
Ele foi me levantando pela cintura à medida que se sentava e encostava na parede, sem que nada disso interrompesse nosso atrito. Quando dei por mim, eu estava sentada no colo dele com as pernas de cada lado, perdendo rapidamente o fôlego e a noção de muita coisa. Mas ele também não estava muito ciente pra qualquer coisa que não fosse nós ali, no momento. Enquanto seus lábios começavam a traçar caminhos no meu pescoço, suas mãos se ocupavam com meu corpo; enquanto uma adentrava a minha blusa, ora acariciando minha barriga, ora acariciando minhas costas, a outra alisava a minha coxa revezando entre alisadas e apertadas na mesma. Estávamos tão imersos no que fazíamos, que só paramos mesmo quando ouvimos a porta do quarto da minha mãe abrir. Num salto, eu me joguei pra cima da cama, pegando o violão e já fingindo um diálogo com .
"Mas essa aí eu não consigo tocar, né ?” Eu mandei um olhar desesperador, mas ao mesmo tempo significativo pra ele, tentando ajeitar loucamente a minha roupa e meu cabelo, enquanto minha respiração não dava sinais de normalizar. Ele sorriu marotamente enquanto se endireitava na parede, apoiando seu braço em uma das pernas flexionadas, e a outra, esticada distraidamente.
"Isso é desculpa sua, é claro que você é ca...”
"Crianças?" Mamãe chamou, aparecendo no batente, nos olhando curiosa.
"Sim?" Perguntei, forçando uma respiração compassada, tentando parecer normal.
"Queria saber se vocês não querem que eu peça uma pizza?" Ela olhou para um ponto fixo do meu pescoço, mas logo retirou os olhos de lá, esperando a resposta.
"Já são oito horas." comentou olhando para o relógio casualmente, como se há alguns instantes, a gente não estivesse no maior amasso.
"Sim, fico preocupada com o horário da escola de vocês, mas não vou deixar o senhor sair da minha casa faminto, querido.” Ela sorriu de forma carinhosa, e continuou. “E então, vão querer de que?"
"Calabresa." Respondi ao mesmo tempo com , e desatamos a rir, enquanto mamãe saía sorrindo do quarto, murmurando qualquer coisa como um 'ok'.
"Vamos acabar logo com essa pipoca, pra poder comer a pizza." Falei, me sentando melhor na cama, com a pipoca entre minhas pernas.
"Você pode passar a tigela pra cá?" perguntou, e eu o olhei com uma sobrancelha levantada, mas passei mesmo assim.
"Por que você não se senta mais perto, tchutchuco?" Perguntei, me sentando no chão, mais próxima dele.
"Não estou em condições de levantar." Ele falou, olhando pra pipoca, com suas bochechas pegando fogo. Mas eu só fui entender o que ele quis dizer quando ele me olhou com um meio sorriso.
E, nossa, foi necessário que ele olhasse significantemente para o volume em suas calças, que eu consegui entender tudo direito. Tirando o fato de que eu quase engasguei com a minha própria saliva, fiquei pelo menos um bom tempo encarando aquilo que a calça jeans escondia, e assumo: deu calor por dentro.
“Fala alguma coisa, você tá me deixando sem graça." Ele comentou com a voz baixa, numa entonação humorada.
"Ah." Falei, rindo. “Nossa, é que bem...” Eu apontava para sua genitália, ainda olhando um pouco surpresa. “É q-que isso é... Bem.” E gesticulei qualquer outra coisa, me sentindo idiota por não conseguir tirar os olhos de lá. “Bom, isso é... saudável.” Eu respondi, e me encarou com a sobrancelha arqueada.
Que diabos eu quis dizer com isso?
“Saudável?” Ele comentou, rindo levemente.
“É sinal de saúde, pelo menos.” Falei qualquer coisa, dando de ombros e sentindo meu rosto arder.
gargalhou com a cena.
“Cara...” Ele disse, segurando a barriga. “Você não existe. Namoral.” E eu ri, sem graça, dando de ombros. “Eu existo...” Falei, me aproxi
mando dele. “Sou real. Com vontades reais.” Comentei a última palavra com os olhos arregalados e um sorriso nos lábios, antes de beijar com afinco, que retribuiu à altura.
Após mais uma sessão amasso, a pizza chegou, comemos alegremente e se despediu, indo para casa.
Devido à noite alegre que tive, acordei no outro dia bem, e decidi fazer algo que não fazia há tempos.
"?" me chamou quando eu entrava na sala, já atrasada. "O que é isso?" Ela perguntou, olhando de forma duvidosa pro instrumento que eu trazia nas mãos. Dei um largo sorriso e respondi, sentando-me do lado dela:
"É meu violão. Consegui recuperá-lo ontem, depois de muito tempo sem vê-lo. foi lá em casa, me trouxe cordas novas e.. tcharam! Novinho em folha."
"Ah... sim." Ela ainda olhava duvidosa, mas agora era pra mim e pro violão, alternando suas olhadas estranhas, e eu poderia jurar que ela estava duvidando da minha capacidade musical. Mundo machista, francamente.
" ..." Falei com autoridade, abrindo o fichário, enquanto a professora escrevia no quadro algo sobre Shakespeare.
“Você toca?” Ela perguntou, rindo. “Eu lembro que na minha época, você mal arranhava!”
Eu rolei os olhos e dei o dedo do meio pra ela, que riu em resposta.
***
"E o , ?" perguntou, enquanto arrumávamos o material para sair para o intervalo.
"O que tem?" O nome que eu não queria ouvir, a pergunta que eu não queria escutar... Tentei fingir desinteresse, que não teve efeito nenhum em .
"Como assim 'o que tem'?" Ela disse, com a voz até meio esganiçada, e eu a olhei meio assustada por isso. "Vocês não se falaram ainda? Não se viram depois daquele episódio?"
"Não. E eu não sei se isso é uma coisa boa ou ruim, pra falar a verdade. Honestamente? Eu já disse que só falo com ele quando ele amadurecer. Antes disso, vai ser teste de paciência pra nós dois, eu sinto muito." Respondi, sincera.
"Entendi. Espero que tudo fique bem." Ela falou, sorrindo levemente e encerrando o assunto.
"Ora ora, se não é minha querida camarada vindo aí!" anunciou, enquanto abria os braços para me cumprimentar, sentado na nossa costumeira mesa do intervalo.
"Olá, ." Falei, rindo do estado em que ele se encontrava. "Por que está tão feliz, posso saber?"
"Feliz? Feliz, ?" Ele colocou as mãos na cintura em forma de indignação e começou a falar, com seu dedo indicador subindo e descendo. "Então agora eu não posso simplesmente estar feliz em te ver?” Ele gesticulava, fazendo movimentos exagerados, arrancando gargalhadas de mim e de .
“O que você quer, garoto? Vou avisando que não tenho dinheiro hein!” Respondi, rolando os olhos.
"Eu só estou feliz em ver você, garota chata do caralho.” Ele resmungou, me puxando pra um abraço apertado e bagunçando meu cabelo, enquanto eu brigava com ele e ria da cena.
“Inferno!” Reclamei rindo, enquanto saía do abraço, dando um tapa no ombro dele, que sorria zombeteiro.
“Está tudo bem?” Ele me perguntou com o olhar intenso, e eu entendi que ele estava preocupado comigo.
Rapidamente, olhei para , que parecia estar alheia ao olhar de , e eu deduzi que talvez tenha desabafado com seus amigos sobre nossa última briga.
Dei de ombros, sorrindo sem mostrar os dentes.
“Estou aqui, viva... E com um violão! O que mais poderia querer, hein?” E apontei para o instrumento, fazendo levantar as sobrancelhas, sorridente.
“Irado! Voltou a tocar?”
“Alguma hora a vergonha bateria na cara de volta.” nos surpreendeu, me abraçando por trás. Eu sorri e dei um pequeno beijo em seus lábios, enquanto e zoavam o plantão.
“Vocês estão tão pombinhos, céus.” comentou, rindo. “Isso tudo foi efeito daquele filme?”
"Que filme?" Eu perguntei, perdida.
"Aquele dos sorrisos... 'Um encontro com seu ídolo!', não é esse?!" Ela explicou, meio duvidosa em relação ao nome.
"Ah, sim. Eu gostei desse filme, achei super fofo." Comentei, me lembrando instantaneamente do desmaio alterado de , e ri só pra mim, enquanto suspirava.
“Qual foi o problema?” Perguntei, com a sobrancelha erguida. Ele suspirou de novo, apoiando a nuca nas mãos, de olhos fechados.
“Isso é problemático. Essa parte dos sorrisos meio que criou um atrito entre mim e . Você sabe, ela queria que eu listasse os sorrisos dela...” E bufou, abrindo os olhos. “Que situação complicada, meu Deus.”
“Bota complicado nisso.” Uma voz ecoou, e eu congelei na hora. Aquela entonação, aquele jeito de falar.
Ergui levemente meu rosto em sua direção, e vi um Thomas abrindo um pacote de biscoito salgado despretensiosamente, sem olhar pra ninguém.
Encarei , que me encarava de volta, pedindo calma pelo olhar.
Respirei fundo e mantive minha postura, apertando inconscientemente a mão de , que me olhou achando que eu estava chamando-o. Apenas sorri para ele, que me sorriu também.
“Tu dormiu comigo, por acaso?” perguntou, dando um tapa na nuca de , fazendo todo mundo rir, menos o “agredido”, que apenas o olhou com raiva.
“Cara feia pra mim é fome, . Bom dia pro senhor também!” respondeu, roubando um biscoito da mão de , que apenas bufou, acenando rapidamente pra todos na mesa.
“Então, você vai ter que descobrir os sorrisos dela, ?” perguntou, voltando ao assunto.
deu de ombros, suspirando novamente.
“Ter, eu não tenho... Depois a gente conversou e ficou tudo bem. Mas é isso, né? A gente vai se tornando íntimo da pessoa, e uma hora a gente percebe quantos sorrisos, choros, risadas e trejeitos ela tem. Eventualmente eu vou descobrir.” declarou, com um meio sorriso no rosto, fazendo e entoar um “oooownnn” enquanto eu ria e , apenas encarava seu biscoito.
"Ela tem quatro sorrisos." falou, me fazendo arregalar os olhos na hora e perder o fôlego.
"Uuuuuuuuuh!" Todos na mesa exclamaram em uníssono, antes de rir.
"É sério, gente." Ele falou, sorrindo pra mim. "Um é pra quando ela deve ser educada, com estranhos ou pessoas de respeito, que as vezes se reveza em sorriso tímido, mas é da mesma natureza. Outro é quando ela está vivendo um momento feliz e quer memorizá-lo."
Como assim ele sabia disso?
"To gostando de ver, . Prossiga!" falou, mais do que abismada com a observação de .
"O terceiro ela usa quando quer ser irônica ou sarcástica; independentemente de ser conhecido dela ou não. Mas geralmente acontece com amigos." Ele explicou, olhando pra todos à nossa volta, que o observavam atentos.
"E o quarto?" perguntou, olhando pra ele com uma cara de quem estava ansioso pra ouvir sobre o último sorriso. E eu estava com as minhas mãos suadas, geladas, em cima de minhas coxas, enquanto olhava sem nenhuma reação.
"O quarto é..." Ele virou seu rosto na minha direção, olhando pros meus olhos, docemente, enquanto falava. "Quando ela se sente realmente agradecida por alguma coisa ou algo que alguém especial pra ela fez. É quase um sorriso de admiração. O mesmo que eu dou toda vez que eu olho pra ela." terminou de falar, acariciando minha bochecha, enquanto eu o encarava, sem fazer nada além de sorrir honestamente.
"Pode ter certeza que você vai ter muito desse último sorriso de agora em diante, ." falou, apontando pra minha cara de tacho. Também, quem não ficaria assim?
“Hunf.” Conseguimos ouvir uma risada abafada da mesa, e todos viramos a cabeça em direção à , que apenas comia seu biscoito com um sorriso zombeteiro.
“Que foi?” perguntou, sorrindo inocentemente.
“Nada demais.” Thomas o encarou, com o mesmo sorriso. “Coisa minha que lembrei. Deixa quieto.”
fez uma cara de quem fingiu que entendia, e seu sorriso se tornou algo mais formal.
“Bem, acho que tá na hora da gente ver essa belezinha aqui, não?” Ele perguntou, apontando para o meu violão que estava a seu lado. Claro que não.
“Você finalmente comprou?” se antecipou e limpou as mãos rapidamente, pegando o violão e abrindo a capa.
“Na verdade...” comentou rindo levemente. “Esse aí é da .” parou o que fazia por um momento e olhando de soslaio, pude ver a surpresa contida neles.
Como eu estava olhando discretamente pra ele, pude ver pelo canto dos meus olhos, que ele olhou pra mim pela primeira vez naquele dia. E, acredite, naquele momento, eu realmente não gostaria de ver o que vi em seus olhos: dor. Ele me olhava como se ao fazer aquilo, doesse nele. Acho que se eu o fizesse, não seria tão diferente assim.
"Então..." pigarreou, antes de continuar. E eu, começando a enfiar meu rosto por debaixo dos meus cabelos, o que não adiantou de muita coisa, porque, mesmo assim, Thomas veio e falou comigo.
"Voltou a tocar, ?" Ele perguntou, se sentando rígido, olhando pra baixo. Eu acenei positivamente quando senti seus olhos sobre mim. "Legal..." Ele terminou a conversa, deixando o violão cair sobre seu colo. Rapidamente, a melodia de 'The Guy Who Turned Her Down' estava no ar, fazendo com que algumas pessoas além da mesa, cantassem junto. É, eu não menti quando disse que a festa tinha feito sucesso. Mas ao contrário das pessoas, só seguia dedilhando a música, cabisbaixo.
"Por que você não toca uma música pra gente, pentelha?" perguntou, depois que o dedilhado havia se transformado em silêncio.
"Não toco muito bem ainda." Respondi, com um sorriso educado/acanhado.
"Deixa de ser modesta e toca logo Alanis, mulher!" me encorajou, sorrindo alegre. Suspirei alto, e, num segundo, o violão estava estendido em minha direção, pelas mãos de . Não olhei pra ele de novo quando peguei o instrumento, e, quando me dei conta, estava cantarolando o refrão de 'Offer'.
Is it my calling to keep on when Im unable
(É minha virtude continuar quando não sou capaz?)
And is it my job to be selfless extraordinary
(E é meu trabalho ser extraordinariamente preocupada com os outros?)
And my generosity has me disabled
(Minha generosidade me desabilitou)
By this my sense of duty to offer
(Por esse meu senso de tarefa a oferecer)
"Muito bom. Parabéns." falou, quando eu terminei de tocar pela segunda vez o refrão. "Bom, preciso pegar uns exercícios de História com um colega ali. Vejo vocês mais tarde." E se levantou da mesa, sumindo entre a multidão.
E de fato, foi só mais tarde mesmo que nos vimos. Quer dizer, os tempos da escola passaram rápidos, ou eu estava refletindo demais sobre aquela situação insuportável com ? No ensaio dos meninos, não trocamos mais uma palavra sequer. Eu no meu canto com , e ele no canto dele, com a Lis. É, agora ela acompanhava os ensaios também...
Depois dos meninos tocarem suas músicas, todos decidiram ir na sorveteria do Tio Sam, como de praxe, logo após devorarem todo o estoque da casa de . E o que rolou lá? Nada além de piadas da parte dos outros, sorrisinhos educados na direção da Lis e eu contando as horas pra ir pra casa.
Como se Deus atendesse as minhas preces, a hora de ir pra casa finalmente tinha chegado. Me despedi dos meninos sorrindo abertamente pra eles, e das meninas, com uma cara de dor. Elas sabiam como eu estava, não precisava nem falar nada. Com umas olhadas do tipo "amanhã a gente conversa", eu terminei de me despedir delas, seguindo em direção ao carro de . Que, por obra do destino ou uma maravilhosa coincidência, seria povoado por ninguém mais ninguém menos que e Lis.
Legal. Super. Mais uns vinte minutos de silêncio constrangedor. Ótimo. Mas aquela tortura passou logo, então mais rápido do que pensei, me despedi do casal cordialmente, e lancei um bom e longo beijo nos lábios de , e admito: foi proposital mesmo! Queria mostrar, mesmo que numa forma boba e infantil, que eu tinha alguém que me queria, que eu estava bem.
Mesmo que eu não estivesse tão bem assim.
"Tchau, gente. Até amanhã." Me despedi com um sorriso simples, e, antes de me virar e ir andando, ouvi falar:
"Te ligo quando chegar em casa."
"Ok, te atendo quando você me ligar." Falei, brincalhona.
"Tchau, ! Até amanhã!" Lis respondeu acenando, com um sorriso iluminado.
Repeti seus movimentos, mal cumprimentei , que só me olhava, e segui para o meu bloco. Esperei o elevador chegar e, quando chegou, entrei rapidamente, me olhando no espelho que tinha nele.
Encostei a testa no espelho, respirando fundo, e quando a porta estava se fechando, uma mão o segurou. Me virei assustada, mas o choque foi maior quando pude ver o rosto dele, respirando com dificuldades, como se tivesse corrido. Antes que eu pudesse ter uma reação além daquela, suas palavras soaram no local, firmes:
"Vamos conversar. Agora."
"O-o quê?" Falei, sem entender nada, sentindo a minha mão ser puxada por uma maior que a minha, enquanto o dono dela andava na minha frente, dizendo calmamente.
"Conversar. Não sabe o que é?" Ele me perguntou, assim que chegamos ao banco. Ele se sentou, e fez sinal pra que eu fizesse o mesmo. Rolei os olhos, e perguntei:
"O que você quer, ?"
"Você está lenta hoje." Ele comentou, rolando seus olhos, assim como eu.
"Eu sei que você quer conversar, mas na boa, já não falei que eu não tenho nada pra falar com você." Palavras ditas, olhares trocados. Aquele mesmo olhar de dor dele me atingiu, sem nenhuma piedade. Eu desviei meus olhos dos seus, virando meu rosto pro chão.
"Olha pra mim." Ele demandou. Persisti olhando pro chão, e, do nada, senti sua presença diante de mim. "Olha... pra... mim." Ele disse, pausadamente, e eu levantei a cabeça em sua direção.
"Estou olhando." Falei, dando um passo para trás.
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos, sinal de nervosismo.
"Eu não vou insistir.” Ele disse, e aquilo me chamou a atenção. “Eu sei que você não quer falar comigo, e eu não vou insistir no assunto, ou nas justificativas pra agir como tenho agido.” Ele ponderou depois de um tempo de silêncio, com a voz trêmula. “Eu só preciso te dizer uma coisa.”
“Estou ouvindo.” Falei, com os braços cruzados, o encarando duramente. Ele me olhou de volta, e suspirou, ficando mais nervoso. Caminhou até a grade do pátio, e apoiou os cotovelos ali, olhando para a noite enluarada.
Mais silêncio. Eu estava irredutível, olhando para sua silhueta, me perguntando como tínhamos chegado aquele ponto.
E ao mesmo tempo, me questionava como ainda assim me fazia reprimir suspiros só de encará-lo de costas.
Seus cabelos voavam com a brisa leve, e eu admirava a cena mesmo diante de uma discussão.
"Ele estava errado." Thomas rompeu o silêncio, me trazendo para a realidade.
"O quê?" Olhei em sua direção, sem entender nada.
"Ele estava errado.” Ele se virou para me encarar, e colocou as mãos no bolso de sua calça, enquanto caminhava em minha direção e para bem na minha frente.
“Ele quem?” Eu falei com a voz baixa, olhando nos olhos de .
“ estava errado.” Sua voz soou mais grave, e cruzou os braços, como eu estava. “Você tem cinco sorrisos. Não quatro." Ele sussurrou, e eu o encarei incrédula, sentindo o peito apertar.
Que droga era aquilo? O que ele estava falando?
“C-Como assi...” Eu nem consegui completar a frase – Thomas me interrompeu com a lufada de ar que soltou. Ele estava bem nervoso.
“Cinco sorrisos.” Ele me encarou, pendendo a cabeça pro lado, e me encarando com atenção. "Um quando você deve ser educada.” Ele levantou o indicador, sem quebrar o contato visual. “Outro quando você está vivendo alguma coisa muito boa, e quer se lembrar dela.” O dedo médio se ergueu, e eu senti meus ombros se encolherem. “O terceiro é quando você é irônica ou sarcástica, com todos.” E Thomas sorriu ao erguer o anelar. “O quarto sorriso é aquele que você usa quando é realmente grata por alguma coisa ou alguém” Ergueu o mindinho, mordendo o lábio.
Silêncio.
Apenas olhos nos olhos. E eu sentia que uma manada habitava meu estômago.
“E o quinto sorriso...” Ele olhou para o dedão erguido, e em consequência, sua mão estava completamente aberta. “É quando estamos juntos."
Eu o olhei pasma, sem ter nada pra falar. Apenas... impactada, perplexa. Sem reação nenhuma além disso.
“Como prometido, eu não vou insistir nas discussões...” Ele falou, e percebi que sua voz estava pesada. Meus olhos lacrimejaram. “Se sou eu que causo as brigas, eu vou me afastar de bom grado. Eu sei que tenho sido o problema. E eu cansei de prometer e não cumprir... Então dessa vez, vai ser diferente. Eu só quero seu bem, mas se não sou capaz de proporcionar isso a você... Eu me retiro, sem problemas.” Ele me falou, e se virou para olhar nos meus olhos.
Marejados, como os meus.
“Só quero que se lembre disso.” E pegou em minhas mãos, engolidas por suas, muito maiores que as minhas. “Lembre que eu conheço você. Eu sei quem você é. E que sou muito grato por você ser tudo o que é pra mim. Eu sou grato por ter você comigo. Mesmo que agora, o cenário seja outro.” E uma lágrima escorreu do seu olho direito. “Eu vou sempre te levar comigo.”
E me abraçou de um jeito que nunca, jamais, tinha me abraçado antes. Eu encaixei perfeitamente em seu peito, e agarrei suas costas, seu corpo contra o meu.
Que desespero.
Eu não queria sair daquele aperto, não!
“Eu amo você.” Eu falei, com a voz trêmula e as lágrimas molhando sua blusa.
Seu abraço se apertou ao ouvir aquilo.
“Eu também te amo.” Ele disse, e meu soluço foi maior, porque eu sabia que o significado daquelas palavras era diferente do que eu havia dito.
E aquilo doía demais.
Não sei quanto tempo ficamos abraçados.
Não sei quanto tempo me permiti sentir seu corpo tão próximo do meu.
Mas mais cedo do que gostaria, se afastou, beijou minha testa, e olhou nos meus olhos, ainda com rastros de lágrimas.
“Seja feliz.”
Em um momento, minhas mãos estavam em suas costas, agarradas em sua blusa. No outro, o tecido se esvaía da minha mão, e só havia restado a sombra de , que aos poucos sumia, junto com seu corpo.
E lá estava eu, sozinha, com as mãos erguidas no ar, sentindo Thomas ir embora.
E deixando nada para trás.
"Eu tô falando sério, ..." Comentei, já cansada de vê-la ainda surpresa com aquilo.
"Cara, não é fácil compreender isso." Ela explicou, enquanto se sentava melhor na minha cama, de frente pra mim, me olhando séria. "Você por acaso tem noção do que você disse pra ele? Tem noção do que você decidiu? É chocante!” Bom, ela tinha direito de ficar impactada. Aliás, quem não estaria?
"Eu cansei, ! Cansei muito..." Respondi, deitando a cabeça no travesseiro e olhando para as estrelinhas no meu teto. "O sempre pôde contar comigo, sem exceções. E eu sempre estive lá, por mais que fosse pra ouvir falar que gosta de outra pessoa que não fosse eu... Eu estava lá, entende? Engolindo meu orgulho, afastando a dor e tentando ser a melhor amiga que sempre fui! Mas poxa, foi só se demonstrar interessado em mim e ele começa a agir desse jeito? É injusto e imaturo! Eu cansei de me ferrar psicologicamente, cansei de me sentir culpada pelo provável fim da nossa amizade, enquanto ele só piorava o estado dela. Ele me prometeu que nada ia acontecer com a nossa parceria, o nosso companheirismo de tantos anos... Mas como ele pode evitar isso, se é ele mesmo que provoca? Não, não tem essa dele ter ciúmes do e causar esse 'auê' todo só porque ele quer ser protetor por ser meu melhor amigo. Isso não existe!” Reclamei, bufando.
me olhou com uma expressão cuidadosa e eu arqueei a sobrancelha em sua direção.
"Bom... Eu sempre achei muito estranho ele agir assim de graça só por ciúmes de amigo, mas vai saber se ele é obsessivo e tudo mais? Quer dizer, você o conhece há muito mais tempo que eu, . Você deveria pelo menos tentar saber por que ele tá agindo assim, se ele apenas é possessivo ou se tem algo a mais nisso aí. E se tiver, porque ele insiste em não contar, né? Deve ser algo importante..." disse, me olhando incerta.
"Na boa, ? Não é possível que tenha algo a mais. Aliás, não é possível que seja aquilo o que minha mãe insiste em dizer...” Rolei os olhos, bufando. “Ela acha que a gente se gosta. Mas tenho todas as provas que na verdade só eu estou nesse barco... Ele gosta da Lis, evidentemente. É com ela que ele está, é com ela que ele fica todo animadinho trocando mensagens, carícias, e bem, foi com ela que ele comemorou o primeiro show da banda.” Dei de ombros, olhando pro nada.
“Mas olha que complicado? Eu nem estou mais tão preocupada com isso, sabe? Me refiro à nossa amizade, do fato dele agir dessa forma tão grotesca e idiota. E eu não vou ficar aturando nem correndo atrás pra reconhecer a raiz do problema que é dele!” Exclamei, encarando .
“Sempre fomos melhores amigos, ele sabe que sempre que quiser pode vir e me falar alguma coisa séria, que eu vou estar apta a ouvir e ajudar. Mas nesse caso, não sou eu que tenho que ir atrás dele! Ele é quem fica de cara fechada, ele é quem começa as brigas, ele é quem não pede desculpas pelos erros e pelos ataques de ciúmes. Se eu me controlei, ele também pode. E olha que eu gosto dele muito mais do que ele gosta de mim. Então, não é questão dele ser homem e eu mulher, ou ele se sentir 'sem exclusividade' na minha vida por causa de ou algo do tipo... É questão dele ser imaturo e não perceber o quanto isso destrói com a nossa relação e o quanto isso me magoa, porque eu pensava que ele fosse me apoiar e desejar a minha felicidade quando eu dissesse pra ele que estava não só com alguém que queria meu bem, como também o guitarrista da banda dele! Tem noção? Eu sempre fiz isso por ele, porque comigo tem que ser diferente?” E senti meus olhos lacrimejarem. O silêncio e a feição de só tornava tudo mais real, e eu respirei fundo antes de continuar.
“Eu queria um abraço e um boa sorte ontem, enquanto todos me zoavam com meu lance com , e o que eu recebi em troca? Um copo quebrado, um tapete molhado e um olhar vazio! Porra, será que ele é tão burro de não enxergar o quanto o voto positivo dele importa pra mim? Será que ele não enxerga que, por mais que eu goste muito dele, eu prefiro que ele esteja feliz com a Lis ou qualquer outra a estar descontente comigo? Será que ele não percebe todos os sacrifícios que eu faço pelo bem-estar e a felicidade dele e da nossa amizade? Será que é tão difícil dele retribuir um terço disso?"
"Será que ele não enxerga que você o ama mais do que pode expressar ou suportar?" falou baixinho, me olhando com um meio sorriso e pena nos seus olhos. Eu mordi meu lábio inferior forte enquanto tentava impedir minhas lágrimas, mas quando percebi que isso seria inútil, coloquei minhas mãos no meu rosto e comecei a chorar de raiva. Por que nada com dava certo?
me abraçou enquanto minhas lágrimas só desciam com vontade pelo meu rosto. Eu chorava de raiva, de muita raiva! Uma coisa era ele não gostar de mim, outra era ele agir daquele jeito, e com isso, destruir nossa amizade! Como é que ele não enxergava a tamanha importância que ele tinha pra mim?
"Cansei, ..." Falei, limpando o rosto com as costas das minhas mãos. "Simplesmente cansei. Já não tenho mais forças pra lutar por isso. Meu amor por ele é grande, mas não é platônico. Não posso amar por duas pessoas desse jeito... Me dói demais pensar que vou ter que evitar o daqui pra frente... Mas se continuasse daquele jeito..."
"Seria muito pior." Ela terminou a frase por mim, fazendo um pequeno carinho no meu braço. "Eu sei, . Quer dizer, não sei exatamente, mas imagino o quão difícil esteja sendo. Dói só por te ver assim. É injusto que uma pessoa tão legal como você sofra tanto desse jeito. Mas a vida pode te surpreender mais do que você possa imaginar... Sério mesmo. Você já tomou sua decisão: já sabe o que fazer, tem a escola, os amigos, e um gatinho pra se engraçar. Não querendo desvalorizar seu momento de dor, mas mesmo com esse acontecimento te magoando tanto, não esqueça que seu mundo não se resume à somente Thomas . Em breve, as coisas melhorarão para você, e um dia estaremos sorridentes lembrando de como meu conselho quase bom te convenceu a seguir de cabeça erguida."
Eu olhei para o rosto daquela pessoa bem à minha frente, e num meio sorriso a abracei ternamente, deixando algumas lágrimas caírem – sem saber se era por , ou pelo que eu tinha acabado de ouvir.
Apenas alguém como ela estaria me aturando nos mesmos problemas de sempre, num domingo, às dez da manhã.
"Obrigada, . Simplesmente... obrigada por tudo. Mesmo." Eu sussurrei, soluçando levemente.
"Simplesmente de nada por tudo. Mesmo." Ela disse, soltando uma risada sapeca, me fazendo rir levemente.
"Você já sabe como vai encará-lo amanhã?" Ela perguntou, com um olhar preocupado.
"Eu acho que não vou encará-lo, não é mesmo?" Falei, fazendo uma careta de dor, pensando realmente nisso.
"Mesmo você tendo dito aquelas coisas meio alterada? Quer dizer, talvez você não precise levar tão a sério..."
"Preciso." Falei, me sentando com pernas de chinês em minha cama, mantendo uma postura saudável para a minha coluna. "Precisa ser assim. Se não for desse jeito, nós vamos continuar brigando e brigando e brigando, até que um dia não haja nenhum rastro de amor ou zelo pela nossa amizade e puf! Acaba-se por inteiro meu laço com ele. Eu não quero isso, por mais longe que eu esteja dele... Pelo menos por enquanto... É o melhor."
"Bom... Então é você que sabe, ... No que decidir, te apoio.”
"Obrigada, amiga.” Falei, suspirando levemente.
"Bom, então, já que está tudo decidido, reconheça a dor, mas não prolongue o sofrimento. E na verdade, já está mais do que na hora de me contar o que eu tanto quero saber."
"O quê?" Perguntei, perdida.
"Como foi a volta pra cá ontem, no carro de , oras!" Soltei uma gargalhada alta quando a ouvi falar aquilo, como se fosse óbvio. Ela era tão ansiosa por coisas assim! Aquilo definitivamente, me divertia.
Contei as coisas, tim-tim por tim-tim, e ela me falou como foi a ficada da e do , sem muitos rodeios. Foi algo bem esperado e simples: enquanto todos estavam se pegando depois do show do McFly, dançando, bebendo e etc, eles simplesmente seguiram para o jardim de casa, sentaram-se ali, papearam (lê-se: chavecaram) um pouco e pronto! A sessão pegação no verão começou sendo regida por um banho de lua e estrelas do céu azul escuro, quase preto, naquela noite.
Eu e ficamos conversando até dar a hora do almoço. Mamãe convidou-a pra almoçar conosco, mas ela tinha que ir pra casa, pois a mãe dela era exigente no almoço de fim-de-semana com a família.
Ouvi uma batida no batente da porta enquanto distraía minha mente com algumas pendências da escola.
"Filha?!" Ela me chamou, colocando só a cabeça pra dentro do meu habitat.
"Entra aí, mãe." Falei, enquanto escrevia em meu caderno algumas palavras-chaves.
"Não é nada em especial, é só que eu estava arrumando o quartinho de bagunças e achei isto aqui." Ela entrou no quarto, e me mostrou uma coisa que eu não via há anos: meu violão. Ele estava sem duas cordas, e provavelmente as outras quatro que ainda restavam, já estavam oxidando, e quem ousasse tocar nelas pegaria tétano.
"Ai, meu Deus!" Foi o que eu consegui exclamar, antes de tirar o caderno do meu colo e correr de encontro ao meu violão. "Ai, meu Deus!" Eu repeti, quando o toquei. Ele estava empoeirado também.
"Bom, eu ia perguntar se você gostaria de dar ou vender seu querido instrumento, mas aparentemente, você não quer." Mamãe comentou, sorrindo largamente com a minha surpresa e encanto instantâneos.
"Ah, mãe..." Eu falei, olhando com carinho pra ela. “Esse violão tem tanta história pra contar... Papai que me deu." Terminei a frase, sorrindo de leve.
"É, querida, eu ainda lembro que você ficou toda eufórica quando ganhou dele no seu aniversário de 10 anos. Nós...” E a frase morreu, me fazendo encará-la.
Fiz uma cara de dor, porque sabia o que se passava na cabeça da minha mãe. Aliás, já havíamos conversado muito sobre isso, inclusive.
“Ainda éramos casados..." Ela concluiu, um pouco sem graça, focando em qualquer canto que não fosse meu rosto.
Ficamos um momento em silêncio, e eu a encarei com maior atenção. Ela abraçava o próprio corpo como se estivesse frio, e talvez, a sensação fosse essa mesma. O olhar estava perdido, refletindo os inúmeros pensamentos que aquele assunto trazia.
Eu sei que ela se culpava. Eu sei que foi ela quem tomou a iniciativa do divórcio. E eu sei que ela se culpava desde sempre sobre a ausência do meu pai – que se mudou para os EUA devido à uma boa oportunidade de trabalho, que na época era a única chance capaz de me dar uma boa estrutura em relação à pensão alimentícia.
O grande problema é que ser pai/mãe não se traduz em dinheiro, apenas. Requer dedicação, tempo, presença, escuta, diálogo.
E nisso, infelizmente, eu só tinha da minha mãe – uma excelente mãe, diga-se de passagem. E eu sei que ela fazia um esforço para tapar qualquer buraco que meu pai tenha deixado, mas a verdade é que por mais maravilhosa que ela fosse, ela não poderia e nem deveria dar conta de uma responsabilidade que não era de sua alçada. Nunca será a mesma coisa do que ter Roger – meu pai – por perto.
Mas esta foi uma escolha dele, e no sentido de pai e filha, eu me resolvo com ele. Só que dona Marie – a progenitora – insistia em achar que o problema era todo e completamente dela.
“Quer conversar?” Eu perguntei, sussurrando.
Mas parecia que eu havia gritado. Minha mãe me encarou com os olhos assustados, e logo sorriu sem graça, ajeitando sua postura no batente.
“Não, querida. Não há muito o que falar. Você sabe.” Ela me olhou com um sorriso triste.
“Não se culpe.” Eu respondi, com um olhar cuidadoso.
Ela me sorriu novamente, e olhou para o chão.
“Se um dia você quiser ser mãe, saberá que culpa é um sentimento tão presente quanto o amor.” E deu de ombros, prendendo os lábios.
“Eu não sei como deve ser pra você. Não sei muita coisa, aliás.” Comentei, colocando o violão na cama. “Mas sei que não é justo se responsabilizar por um papel que não cabe a você cumprir.” Respondi, enquanto ficava na frente de minha mãe, e erguendo seu queixo em minha direção, a fiz me encarar. “E por mais que eu e meu pai nos vejamos sei lá, duas vezes ao ano, nos falemos pelas redes sociais, chamadas de vídeo e etc, estou grandinha o suficiente pra entender que nada supera um abraço apertado, um olhar carinhoso e um amor que cuida. Ele fez a escolha dele. Já você...” “Fez a sua. Ele é ele, você é você. E nós, eu e você... Estamos bem.” E limpei uma lágrima do rosto de minha mãe.
Minha mãe me olhou com um brilho no olhar e me abraçou bem apertado.
“Você foi a minha melhor escolha. Sempre.” Ela me disse, e eu sorri, abraçando-a de volta.
“Bom. Eu vou continuar com a arrumação. E vou deixar que você curta seu xodó.” Ela apontou para o violão e riu levemente. “E bem. Obrigada por ser meu tudo.” Minha bochecha foi acariciada pela sua mão calorosa, e eu apenas acenei com a cabeça.
Quando minha mãe saiu do quarto, eu retornei à minha cama, e olhando aquele violão, refleti mais sobre meu pai.
Suspirei, cansada.
A história era que ele trabalhava num emprego pra lá de estressante com marketing. Trabalhava horas extras quase sempre, então ficava no esquema de quando eu acordava, ele já tinha ido trabalhar, quando eu chegava do colégio, ele ainda estava trabalhando e quando eu ia dormir, ele estava estacionando o carro na garagem, e provavelmente subiria até nosso humilde apartamento, jantaria, faria um agrado à mamãe, tomaria um banho e cairia como pedra na cama, pra outro dia de trabalho. Mas, com o tempo, essa rotina começou a ficar muito insuportável pra ele... A ponto de não conseguir sustentar isso sóbrio.
Começou quase imperceptível. Uma cerveja no jantar. A geladeira com mais cervejas do que o comum. O cheiro de álcool quando ele chegava em casa.
Até o dia que ele chegou trêbado, com chupões no pescoço dele, a blusa social toda bagunçada e marca de batom na roupa. Além de estar fedendo à cigarro e álcool.
Aquilo foi o basta pra minha mãe; foi um auê tão grande que cheguei a passar alguns dias na casa do por causa disso, e, quando voltei, meus pais já tinham decidido o divórcio, o que na época, eu não sabia direito o porquê de acontecer. Minha mãe fazia questão de contar o mínimo necessário, porque eu era muito nova para saber, segundo ela. Um tempinho depois fui pro acampamento, aonde conheci e daí, o resto já é história contada...
Depois de algum tempo, minha mãe decidiu contar a história na sua versão completa, haja vista que meu pai, distante, nunca o faria. Aliás, nem se estivesse perto, porque sentia que nos raros momentos em que estávamos juntos, ele ficava sem saber o que dizer ou fazer, provavelmente um tanto sem graça por tudo que aconteceu.
Bem, eu também ficaria sem saber o que dizer. O cara foi um babaca, afinal de contas.
E como pai, cumpre com as obrigações perante à lei, mas perante ao meu coração, ainda precisaria de muito feijão com arroz pra estabelecer uma relação de afeto e companheirismo como a qual eu tinha com minha mãe.
Talvez nunca tivéssemos isso. Mas, tudo bem, eu acho.
Não teria como ter algo tão maneiro e tão bom quanto o que tenho com minha mãe, mesmo.
Pensar naquilo me deixava cansada. Eu ficava inventando teorias, pensando o que se passava na cabeça de ambos, e porque minha mãe nunca voltou a ter um relacionamento sério depois de meu pai; apenas casos furtivos.
E meu pai, ao que tudo indica, seguia na mesma linha.
Podemos concluir assim que o amor fode todo mundo, independente de idades, não é mesmo?
Desisti de pensar sobre aquilo tudo, e fui dar uma geral no violão esquecido. Passei um paninho nele, tirei todas as cordas, limpei os trastes, as casas, tudo pra ficar com uma aparência mais novinha. Quando eram umas sete da noite, meu celular começou a tocar.
"Alô?" Eu falei, colocando o celular entre meu ouvido e o ombro.
“E aí, gatinha!” respondeu do outro lado, e eu sorri involuntariamente.
“E aí, meu bem! Como estamos?”
“Bem quebrado!” Ele comentou rindo, e eu ri de volta, imaginando que a faxina tenha sido pesada. “Mas não tanto pra desistir de te ver. Acho que o filme vai ter que ficar para outra hora...”
“Nossa, é verdade! Nem vi o tempo passar. Mas podemos nos ver sim, vem aqui em casa...” E sorri novamente, apoiando o violão na cama e segurando o celular normalmente.
“Beleza, vou tomar um banho e chegar aí já.” Ele respondeu, e eu acenei com a cabeça.
“Ah!” Eu exclamei, olhando pro violão. “Por acaso você tem cordas de aço de violão aí?” Perguntei eufórica, e respondeu curioso.
“Sim, tenho. Ainda não coloquei no meu por preguiça, hehe... Por que?”
“Ah, você vai ver quando chegar! Hehehehe.” Retruquei me sentindo engraçadinha.
Ele riu do outro lado da linha.
“Certo, logo mais estou aí para ver essa surpresa. Até mais, maravilhosa!”
“Até!” Eu ri, desligando o celular.
" já chegou?" Minha mãe perguntou quando o interfone tocou. Ela apareceu no corredor, de óculos, provavelmente lendo algum livro.
"Aham. Vou lá buscá-lo e já volto." Expliquei, num sorriso.
"Ok, prole." Ela respondeu, se dirigindo ao seu quarto.
Desci as escadas saltitante, e quando avistei na portaria, olhando pra mim, dei um sorriso largo pra ele.
"Boa tarde, madame." Ele fez uma reverência exagerada, e eu ri sem graça.
"Boa tarde, nobre cavalheiro. A que devo a tão estimada presença?" Brinquei, sentindo seus braços abraçarem minha cintura, enquanto seu rosto ficava cada vez mais perto do meu.
“Culpe a saudade, sagrada majestade." Ele respondeu, juntando sua testa na minha. "Culpe a saudade..." A última frase foi praticamente sussurrada, e, no outro instante, seus lábios colidiram com os meus, ferozmente. Eu senti uma vontade única e inesperada de aprofundar aquele beijo, e foi o que eu fiz, tendo total correspondência da parte de . Por mais que os lábios não fossem pertencentes ao , seria hipocrisia minha negar que alguma parte de mim desejava mais do que o meu consciente poderia notar. De alguma forma, as coisas estavam gradualmente dando certo.
“Ok! Então... Qual é a surpresa?” perguntou, depois de se sentar na minha cama e eu chegar da cozinha com um balde de pipocas para nós.
“Esta!” Eu sorri e apontei para o violão que estava atrás da porta. “Conheça meu pequeno xodó.”
encarou o instrumento com um mega sorriso, e me olhou curioso.
“Você toca?”
“Nah, alguma coisa...” Respondi, dando de ombros, enquanto pegava o violão e sentava a seu lado. “Preciso praticar mais, e acho que estou num bom momento de treinar. Mas para isso, preciso das cordas novas. Me ajuda a colocar?” Perguntei num sorriso largo e ele me encarou com um olhar sacana.
“O que tu não pede sorrindo que eu faço chorando, né garota?” E me roubou um selinho demorado antes de pegar as cordas na sacola. “Vamos, vamos trocar que eu quero ver o Slash que há em você!”
E nós rimos, igual duas crianças bobas.
Um tempinho depois, terminávamos de colocar a última corda, e Deus! Eu não lembrava que era um negócio tão chato!
Mas nada se compara à um violão de cordas novas com uma afinação impecável.
E lá estava eu, dedilhando algumas notas, beeem desacostumada, mas seguindo firme e forte no propósito.
"Eu não sabia que você tocava violão." falou, olhando meio abismado pra mim, sentado no tapete do meu quarto, com as costas apoiadas no armário. Eu sorri levemente.
"Tocar não toco... Eu arranho. Mas, enfim, já faz algum tempo que eu não pratico... E quase ninguém sabe disso. Mas não é proposital." Dei de ombros, enquanto sorria sem graça, olhando pro chão.
"O que você tocava?!" Ele me perguntou, curioso.
"Coisas simples e de preferência, sem pestana!" Respondi, lembrando da dor nos meus dedinhos que o violão causava. "Mas mesmo sendo simples, era ouvível."
"Tipo o quê?" Ele insistiu, mais curioso do que antes.
"Ah, tipo... 'Linger' do Crawberries, 'Smells like teen spirit' do Nirvana, 'Patience' do Guns n' Roses... 'Offer', da Alanis, e por aí vai..." Lhe expliquei, pensando se tinha esquecido de alguma música.
"Offer?" Ele exaltou-se, arregalando os olhos na minha direção. "Você toca 'Offer'? Cara, que maneiro! Toca essa música pra mim?" Ele pediu, fazendo cara de cão abandonado.
"E cantar também?" Eu fiz uma careta, porque cantar e tocar simultaneamente, não era muito fácil.
"Vamos, tente! Eu te ajudo, linda." Ele fez uma cara tão fofa, mais tão fofa, que eu simplesmente fiz um sinal positivo com a cabeça. Com as mãos trêmulas e o interior mais ainda, comecei a dedilhar o que eu lembrava da música.
(Quem, quem sou eu para entristecer?)
Look at my family and fortune
(Diante de minha família e sorte)
Look at my friends and my house
(Diante de meus amigos e minha casa)
Who, Who am I to feel deadend?
(Quem, quem sou eu para me sentir sem vida?)
Who am I to feel spent
(Quem sou eu para me sentir esgotada?)
Look at my health and my Money
(Diante de minha saúde e meu dinheiro)
Até aquele momento, eu não tinha levantado a cabeça pra encarar o rosto de , porque eu estava, er... Com vergonha. Ah, qual é?! Fazia anos que eu não tocava, e como tinha dito, eu simplesmente 'arranhava' no violão. Mas aquela música era fácil, e pra quem não tocava direitinho há algum tempo, eu estava razoavelmente bem.
Já no contexto voz, eu estava me saindo melhor do que esperava. Além de lembrar a letra da música, eu não estava desafinando tanto quanto costumava desafinar na época que tocava violão. O que era um bom sinal, acreditem.
(E onde, aonde eu vou para me sentir bem?)
Why do I still look outside me
(Por que eu ainda procuro externamente?)
When clearly Ive seen it wont work
(Quando está claro que isso não funcionará)
Resumindo? A música estava até agradável, tirando todos os contras. E ficou mais agradável ainda quando cantou comigo o refrão.
(É minha virtude continuar quando não sou capaz?)
And is it my job to be selfless extraordinary
(E é meu trabalho ser extraordinariamente preocupada com os outros?)
And my generosity has me disabled
(Minha generosidade me desabilitou)
By this my sense of duty to offer
(Por esse meu senso de tarefa a oferecer)
De primeira, eu quase me assustei, porque estava concentradíssima em não errar as notas no meu xodó instrumental, e, de repente, aquela voz mil vezes mais afinada que a minha, entrou cantando o refrão, deixando a música mais bonita, e quase me fazendo errar, mas tudo deu certo afinal.
(E por que, por que eu me sinto tão ingrata?)
Me who is far beyond survival
(Eu que estou muito além de apenas sobreviver)
Me who see life as an oyster
(Eu que vejo a vida como uma ostra)
Is it my calling to keep on when Im unable
(É minha virtude continuar quando não sou capaz?)
And is it my job to be selfless extraordinary
(E é meu trabalho ser extraordinariamente preocupada com os outros?)
And my generosity has me disabled
(Minha generosidade me desabilitou)
By this my sense of duty to offer
(Por esse meu senso de tarefa a oferecer)
A vergonha já estava se esvaindo a medida que eu conseguia me concentrar em três coisas: no violão, nas vozes e em . Em como seus olhos se direcionavam a mim, fazendo um belo par com seu meio sorriso enquanto cantava, tão distraidamente, e ainda sim, bem.
(E como, como ouso descansar em minha glória)
How dare I ignore an outstretched hand
(Como ouso ignorar uma mão estendida?)
How dare I ignore a third world country
(Como ouso ignorar os países de terceiro mundo?)
Is it my calling to keep on when Im unable
(É minha virtude continuar quando não sou capaz?)
And is it my job to be selfless extraordinary
(E é meu trabalho ser extraordinariamente preocupada com os outros?)
And my generosity has me disabled
(Minha generosidade me desabilitou)
By this my sense of duty to offer
(Por esse meu senso de tarefa a oferecer)
Who, Who am I to be woo
(Quem, quem sou eu para entristecer?)
"Cara..." falou, me olhando com um sorriso de orelha a orelha. "Sem comentários, . Eu nunca imaginei que você levava jeito pra isso, e que o fazia tão bem!"
"Poxa, fico grata em saber que você achava minhas aptidões com a música eram quase nulas." Fiquei rindo enquanto deixava o violão na cama e sentando no chão. me olhou com uma cara falsa de chocado e, com os olhos cerrados, se jogou em cima de mim, me enchendo de cosquinhas. "Pára, !" Eu dizia em meio das risadas, enquanto ele só se fazia de sonso, dizendo que não estava ouvindo direito. "Pára, por favor, por favorzinho..." Falei a última parte, utilizando meu olhar de gatinho-do-Shrek, que o faz parar, mas não fez com que ele saísse de cima de mim.
Seus braços ficaram apoiados no chão, um de cada lado, acima dos meus ombros, pra que seu peso não fosse largado totalmente sobre mim. Eu pude perceber que meu batimento cardíaco começou a acelerar quando senti seu rosto se aproximar cada vez mais em minha direção, fazendo com que seu nariz encostasse no meu.
Ele ficou olhando bem dentro dos meus olhos, como se quisesse saber o que eu estava pensando através do meu olhar. Acho que a única coisa que ele poderia ter certeza, era da minha dificuldade de respirar. Ele estava entre as minhas pernas, e eu abraçava suas costas, subindo e descendo minhas mãos num carinho arrastado, o que fez o corpo de tremer levemente.
"O que você está pensando?" A voz de soou, me acordando parcialmente para a realidade.
"Em como isso pode ser surpreendentemente novo e bom ao mesmo tempo." Respondi, passando a minha mão esquerda para o rosto dele, acariciando-o com ternura. Os olhos dele se fecharam para sentir melhor o meu toque, e, com seus lábios sorrindo, beijou minha mão.
Sorri com aquela carícia, e, inesperadamente, ele abriu os olhos, me olhando por três segundos inteiros, e me beijou.
Por osmose – ou talvez por impulso físico – meus braços envolveram seu pescoço, aproximando-o mais de mim. Sentir os nossos corpos juntos, foi uma sensação, além de quente, boa.
Ele foi me levantando pela cintura à medida que se sentava e encostava na parede, sem que nada disso interrompesse nosso atrito. Quando dei por mim, eu estava sentada no colo dele com as pernas de cada lado, perdendo rapidamente o fôlego e a noção de muita coisa. Mas ele também não estava muito ciente pra qualquer coisa que não fosse nós ali, no momento. Enquanto seus lábios começavam a traçar caminhos no meu pescoço, suas mãos se ocupavam com meu corpo; enquanto uma adentrava a minha blusa, ora acariciando minha barriga, ora acariciando minhas costas, a outra alisava a minha coxa revezando entre alisadas e apertadas na mesma. Estávamos tão imersos no que fazíamos, que só paramos mesmo quando ouvimos a porta do quarto da minha mãe abrir. Num salto, eu me joguei pra cima da cama, pegando o violão e já fingindo um diálogo com .
"Mas essa aí eu não consigo tocar, né ?” Eu mandei um olhar desesperador, mas ao mesmo tempo significativo pra ele, tentando ajeitar loucamente a minha roupa e meu cabelo, enquanto minha respiração não dava sinais de normalizar. Ele sorriu marotamente enquanto se endireitava na parede, apoiando seu braço em uma das pernas flexionadas, e a outra, esticada distraidamente.
"Isso é desculpa sua, é claro que você é ca...”
"Crianças?" Mamãe chamou, aparecendo no batente, nos olhando curiosa.
"Sim?" Perguntei, forçando uma respiração compassada, tentando parecer normal.
"Queria saber se vocês não querem que eu peça uma pizza?" Ela olhou para um ponto fixo do meu pescoço, mas logo retirou os olhos de lá, esperando a resposta.
"Já são oito horas." comentou olhando para o relógio casualmente, como se há alguns instantes, a gente não estivesse no maior amasso.
"Sim, fico preocupada com o horário da escola de vocês, mas não vou deixar o senhor sair da minha casa faminto, querido.” Ela sorriu de forma carinhosa, e continuou. “E então, vão querer de que?"
"Calabresa." Respondi ao mesmo tempo com , e desatamos a rir, enquanto mamãe saía sorrindo do quarto, murmurando qualquer coisa como um 'ok'.
"Vamos acabar logo com essa pipoca, pra poder comer a pizza." Falei, me sentando melhor na cama, com a pipoca entre minhas pernas.
"Você pode passar a tigela pra cá?" perguntou, e eu o olhei com uma sobrancelha levantada, mas passei mesmo assim.
"Por que você não se senta mais perto, tchutchuco?" Perguntei, me sentando no chão, mais próxima dele.
"Não estou em condições de levantar." Ele falou, olhando pra pipoca, com suas bochechas pegando fogo. Mas eu só fui entender o que ele quis dizer quando ele me olhou com um meio sorriso.
E, nossa, foi necessário que ele olhasse significantemente para o volume em suas calças, que eu consegui entender tudo direito. Tirando o fato de que eu quase engasguei com a minha própria saliva, fiquei pelo menos um bom tempo encarando aquilo que a calça jeans escondia, e assumo: deu calor por dentro.
“Fala alguma coisa, você tá me deixando sem graça." Ele comentou com a voz baixa, numa entonação humorada.
"Ah." Falei, rindo. “Nossa, é que bem...” Eu apontava para sua genitália, ainda olhando um pouco surpresa. “É q-que isso é... Bem.” E gesticulei qualquer outra coisa, me sentindo idiota por não conseguir tirar os olhos de lá. “Bom, isso é... saudável.” Eu respondi, e me encarou com a sobrancelha arqueada.
Que diabos eu quis dizer com isso?
“Saudável?” Ele comentou, rindo levemente.
“É sinal de saúde, pelo menos.” Falei qualquer coisa, dando de ombros e sentindo meu rosto arder.
gargalhou com a cena.
“Cara...” Ele disse, segurando a barriga. “Você não existe. Namoral.” E eu ri, sem graça, dando de ombros. “Eu existo...” Falei, me aproxi
mando dele. “Sou real. Com vontades reais.” Comentei a última palavra com os olhos arregalados e um sorriso nos lábios, antes de beijar com afinco, que retribuiu à altura.
Após mais uma sessão amasso, a pizza chegou, comemos alegremente e se despediu, indo para casa.
Devido à noite alegre que tive, acordei no outro dia bem, e decidi fazer algo que não fazia há tempos.
"?" me chamou quando eu entrava na sala, já atrasada. "O que é isso?" Ela perguntou, olhando de forma duvidosa pro instrumento que eu trazia nas mãos. Dei um largo sorriso e respondi, sentando-me do lado dela:
"É meu violão. Consegui recuperá-lo ontem, depois de muito tempo sem vê-lo. foi lá em casa, me trouxe cordas novas e.. tcharam! Novinho em folha."
"Ah... sim." Ela ainda olhava duvidosa, mas agora era pra mim e pro violão, alternando suas olhadas estranhas, e eu poderia jurar que ela estava duvidando da minha capacidade musical. Mundo machista, francamente.
" ..." Falei com autoridade, abrindo o fichário, enquanto a professora escrevia no quadro algo sobre Shakespeare.
“Você toca?” Ela perguntou, rindo. “Eu lembro que na minha época, você mal arranhava!”
Eu rolei os olhos e dei o dedo do meio pra ela, que riu em resposta.
"E o , ?" perguntou, enquanto arrumávamos o material para sair para o intervalo.
"O que tem?" O nome que eu não queria ouvir, a pergunta que eu não queria escutar... Tentei fingir desinteresse, que não teve efeito nenhum em .
"Como assim 'o que tem'?" Ela disse, com a voz até meio esganiçada, e eu a olhei meio assustada por isso. "Vocês não se falaram ainda? Não se viram depois daquele episódio?"
"Não. E eu não sei se isso é uma coisa boa ou ruim, pra falar a verdade. Honestamente? Eu já disse que só falo com ele quando ele amadurecer. Antes disso, vai ser teste de paciência pra nós dois, eu sinto muito." Respondi, sincera.
"Entendi. Espero que tudo fique bem." Ela falou, sorrindo levemente e encerrando o assunto.
"Ora ora, se não é minha querida camarada vindo aí!" anunciou, enquanto abria os braços para me cumprimentar, sentado na nossa costumeira mesa do intervalo.
"Olá, ." Falei, rindo do estado em que ele se encontrava. "Por que está tão feliz, posso saber?"
"Feliz? Feliz, ?" Ele colocou as mãos na cintura em forma de indignação e começou a falar, com seu dedo indicador subindo e descendo. "Então agora eu não posso simplesmente estar feliz em te ver?” Ele gesticulava, fazendo movimentos exagerados, arrancando gargalhadas de mim e de .
“O que você quer, garoto? Vou avisando que não tenho dinheiro hein!” Respondi, rolando os olhos.
"Eu só estou feliz em ver você, garota chata do caralho.” Ele resmungou, me puxando pra um abraço apertado e bagunçando meu cabelo, enquanto eu brigava com ele e ria da cena.
“Inferno!” Reclamei rindo, enquanto saía do abraço, dando um tapa no ombro dele, que sorria zombeteiro.
“Está tudo bem?” Ele me perguntou com o olhar intenso, e eu entendi que ele estava preocupado comigo.
Rapidamente, olhei para , que parecia estar alheia ao olhar de , e eu deduzi que talvez tenha desabafado com seus amigos sobre nossa última briga.
Dei de ombros, sorrindo sem mostrar os dentes.
“Estou aqui, viva... E com um violão! O que mais poderia querer, hein?” E apontei para o instrumento, fazendo levantar as sobrancelhas, sorridente.
“Irado! Voltou a tocar?”
“Alguma hora a vergonha bateria na cara de volta.” nos surpreendeu, me abraçando por trás. Eu sorri e dei um pequeno beijo em seus lábios, enquanto e zoavam o plantão.
“Vocês estão tão pombinhos, céus.” comentou, rindo. “Isso tudo foi efeito daquele filme?”
"Que filme?" Eu perguntei, perdida.
"Aquele dos sorrisos... 'Um encontro com seu ídolo!', não é esse?!" Ela explicou, meio duvidosa em relação ao nome.
"Ah, sim. Eu gostei desse filme, achei super fofo." Comentei, me lembrando instantaneamente do desmaio alterado de , e ri só pra mim, enquanto suspirava.
“Qual foi o problema?” Perguntei, com a sobrancelha erguida. Ele suspirou de novo, apoiando a nuca nas mãos, de olhos fechados.
“Isso é problemático. Essa parte dos sorrisos meio que criou um atrito entre mim e . Você sabe, ela queria que eu listasse os sorrisos dela...” E bufou, abrindo os olhos. “Que situação complicada, meu Deus.”
“Bota complicado nisso.” Uma voz ecoou, e eu congelei na hora. Aquela entonação, aquele jeito de falar.
Ergui levemente meu rosto em sua direção, e vi um Thomas abrindo um pacote de biscoito salgado despretensiosamente, sem olhar pra ninguém.
Encarei , que me encarava de volta, pedindo calma pelo olhar.
Respirei fundo e mantive minha postura, apertando inconscientemente a mão de , que me olhou achando que eu estava chamando-o. Apenas sorri para ele, que me sorriu também.
“Tu dormiu comigo, por acaso?” perguntou, dando um tapa na nuca de , fazendo todo mundo rir, menos o “agredido”, que apenas o olhou com raiva.
“Cara feia pra mim é fome, . Bom dia pro senhor também!” respondeu, roubando um biscoito da mão de , que apenas bufou, acenando rapidamente pra todos na mesa.
“Então, você vai ter que descobrir os sorrisos dela, ?” perguntou, voltando ao assunto.
deu de ombros, suspirando novamente.
“Ter, eu não tenho... Depois a gente conversou e ficou tudo bem. Mas é isso, né? A gente vai se tornando íntimo da pessoa, e uma hora a gente percebe quantos sorrisos, choros, risadas e trejeitos ela tem. Eventualmente eu vou descobrir.” declarou, com um meio sorriso no rosto, fazendo e entoar um “oooownnn” enquanto eu ria e , apenas encarava seu biscoito.
"Ela tem quatro sorrisos." falou, me fazendo arregalar os olhos na hora e perder o fôlego.
"Uuuuuuuuuh!" Todos na mesa exclamaram em uníssono, antes de rir.
"É sério, gente." Ele falou, sorrindo pra mim. "Um é pra quando ela deve ser educada, com estranhos ou pessoas de respeito, que as vezes se reveza em sorriso tímido, mas é da mesma natureza. Outro é quando ela está vivendo um momento feliz e quer memorizá-lo."
Como assim ele sabia disso?
"To gostando de ver, . Prossiga!" falou, mais do que abismada com a observação de .
"O terceiro ela usa quando quer ser irônica ou sarcástica; independentemente de ser conhecido dela ou não. Mas geralmente acontece com amigos." Ele explicou, olhando pra todos à nossa volta, que o observavam atentos.
"E o quarto?" perguntou, olhando pra ele com uma cara de quem estava ansioso pra ouvir sobre o último sorriso. E eu estava com as minhas mãos suadas, geladas, em cima de minhas coxas, enquanto olhava sem nenhuma reação.
"O quarto é..." Ele virou seu rosto na minha direção, olhando pros meus olhos, docemente, enquanto falava. "Quando ela se sente realmente agradecida por alguma coisa ou algo que alguém especial pra ela fez. É quase um sorriso de admiração. O mesmo que eu dou toda vez que eu olho pra ela." terminou de falar, acariciando minha bochecha, enquanto eu o encarava, sem fazer nada além de sorrir honestamente.
"Pode ter certeza que você vai ter muito desse último sorriso de agora em diante, ." falou, apontando pra minha cara de tacho. Também, quem não ficaria assim?
“Hunf.” Conseguimos ouvir uma risada abafada da mesa, e todos viramos a cabeça em direção à , que apenas comia seu biscoito com um sorriso zombeteiro.
“Que foi?” perguntou, sorrindo inocentemente.
“Nada demais.” Thomas o encarou, com o mesmo sorriso. “Coisa minha que lembrei. Deixa quieto.”
fez uma cara de quem fingiu que entendia, e seu sorriso se tornou algo mais formal.
“Bem, acho que tá na hora da gente ver essa belezinha aqui, não?” Ele perguntou, apontando para o meu violão que estava a seu lado. Claro que não.
“Você finalmente comprou?” se antecipou e limpou as mãos rapidamente, pegando o violão e abrindo a capa.
“Na verdade...” comentou rindo levemente. “Esse aí é da .” parou o que fazia por um momento e olhando de soslaio, pude ver a surpresa contida neles.
Como eu estava olhando discretamente pra ele, pude ver pelo canto dos meus olhos, que ele olhou pra mim pela primeira vez naquele dia. E, acredite, naquele momento, eu realmente não gostaria de ver o que vi em seus olhos: dor. Ele me olhava como se ao fazer aquilo, doesse nele. Acho que se eu o fizesse, não seria tão diferente assim.
"Então..." pigarreou, antes de continuar. E eu, começando a enfiar meu rosto por debaixo dos meus cabelos, o que não adiantou de muita coisa, porque, mesmo assim, Thomas veio e falou comigo.
"Voltou a tocar, ?" Ele perguntou, se sentando rígido, olhando pra baixo. Eu acenei positivamente quando senti seus olhos sobre mim. "Legal..." Ele terminou a conversa, deixando o violão cair sobre seu colo. Rapidamente, a melodia de 'The Guy Who Turned Her Down' estava no ar, fazendo com que algumas pessoas além da mesa, cantassem junto. É, eu não menti quando disse que a festa tinha feito sucesso. Mas ao contrário das pessoas, só seguia dedilhando a música, cabisbaixo.
"Por que você não toca uma música pra gente, pentelha?" perguntou, depois que o dedilhado havia se transformado em silêncio.
"Não toco muito bem ainda." Respondi, com um sorriso educado/acanhado.
"Deixa de ser modesta e toca logo Alanis, mulher!" me encorajou, sorrindo alegre. Suspirei alto, e, num segundo, o violão estava estendido em minha direção, pelas mãos de . Não olhei pra ele de novo quando peguei o instrumento, e, quando me dei conta, estava cantarolando o refrão de 'Offer'.
(É minha virtude continuar quando não sou capaz?)
And is it my job to be selfless extraordinary
(E é meu trabalho ser extraordinariamente preocupada com os outros?)
And my generosity has me disabled
(Minha generosidade me desabilitou)
By this my sense of duty to offer
(Por esse meu senso de tarefa a oferecer)
"Muito bom. Parabéns." falou, quando eu terminei de tocar pela segunda vez o refrão. "Bom, preciso pegar uns exercícios de História com um colega ali. Vejo vocês mais tarde." E se levantou da mesa, sumindo entre a multidão.
E de fato, foi só mais tarde mesmo que nos vimos. Quer dizer, os tempos da escola passaram rápidos, ou eu estava refletindo demais sobre aquela situação insuportável com ? No ensaio dos meninos, não trocamos mais uma palavra sequer. Eu no meu canto com , e ele no canto dele, com a Lis. É, agora ela acompanhava os ensaios também...
Depois dos meninos tocarem suas músicas, todos decidiram ir na sorveteria do Tio Sam, como de praxe, logo após devorarem todo o estoque da casa de . E o que rolou lá? Nada além de piadas da parte dos outros, sorrisinhos educados na direção da Lis e eu contando as horas pra ir pra casa.
Como se Deus atendesse as minhas preces, a hora de ir pra casa finalmente tinha chegado. Me despedi dos meninos sorrindo abertamente pra eles, e das meninas, com uma cara de dor. Elas sabiam como eu estava, não precisava nem falar nada. Com umas olhadas do tipo "amanhã a gente conversa", eu terminei de me despedir delas, seguindo em direção ao carro de . Que, por obra do destino ou uma maravilhosa coincidência, seria povoado por ninguém mais ninguém menos que e Lis.
Legal. Super. Mais uns vinte minutos de silêncio constrangedor. Ótimo. Mas aquela tortura passou logo, então mais rápido do que pensei, me despedi do casal cordialmente, e lancei um bom e longo beijo nos lábios de , e admito: foi proposital mesmo! Queria mostrar, mesmo que numa forma boba e infantil, que eu tinha alguém que me queria, que eu estava bem.
Mesmo que eu não estivesse tão bem assim.
"Tchau, gente. Até amanhã." Me despedi com um sorriso simples, e, antes de me virar e ir andando, ouvi falar:
"Te ligo quando chegar em casa."
"Ok, te atendo quando você me ligar." Falei, brincalhona.
"Tchau, ! Até amanhã!" Lis respondeu acenando, com um sorriso iluminado.
Repeti seus movimentos, mal cumprimentei , que só me olhava, e segui para o meu bloco. Esperei o elevador chegar e, quando chegou, entrei rapidamente, me olhando no espelho que tinha nele.
Encostei a testa no espelho, respirando fundo, e quando a porta estava se fechando, uma mão o segurou. Me virei assustada, mas o choque foi maior quando pude ver o rosto dele, respirando com dificuldades, como se tivesse corrido. Antes que eu pudesse ter uma reação além daquela, suas palavras soaram no local, firmes:
"Vamos conversar. Agora."
"O-o quê?" Falei, sem entender nada, sentindo a minha mão ser puxada por uma maior que a minha, enquanto o dono dela andava na minha frente, dizendo calmamente.
"Conversar. Não sabe o que é?" Ele me perguntou, assim que chegamos ao banco. Ele se sentou, e fez sinal pra que eu fizesse o mesmo. Rolei os olhos, e perguntei:
"O que você quer, ?"
"Você está lenta hoje." Ele comentou, rolando seus olhos, assim como eu.
"Eu sei que você quer conversar, mas na boa, já não falei que eu não tenho nada pra falar com você." Palavras ditas, olhares trocados. Aquele mesmo olhar de dor dele me atingiu, sem nenhuma piedade. Eu desviei meus olhos dos seus, virando meu rosto pro chão.
"Olha pra mim." Ele demandou. Persisti olhando pro chão, e, do nada, senti sua presença diante de mim. "Olha... pra... mim." Ele disse, pausadamente, e eu levantei a cabeça em sua direção.
"Estou olhando." Falei, dando um passo para trás.
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos, sinal de nervosismo.
"Eu não vou insistir.” Ele disse, e aquilo me chamou a atenção. “Eu sei que você não quer falar comigo, e eu não vou insistir no assunto, ou nas justificativas pra agir como tenho agido.” Ele ponderou depois de um tempo de silêncio, com a voz trêmula. “Eu só preciso te dizer uma coisa.”
“Estou ouvindo.” Falei, com os braços cruzados, o encarando duramente. Ele me olhou de volta, e suspirou, ficando mais nervoso. Caminhou até a grade do pátio, e apoiou os cotovelos ali, olhando para a noite enluarada.
Mais silêncio. Eu estava irredutível, olhando para sua silhueta, me perguntando como tínhamos chegado aquele ponto.
E ao mesmo tempo, me questionava como ainda assim me fazia reprimir suspiros só de encará-lo de costas.
Seus cabelos voavam com a brisa leve, e eu admirava a cena mesmo diante de uma discussão.
"Ele estava errado." Thomas rompeu o silêncio, me trazendo para a realidade.
"O quê?" Olhei em sua direção, sem entender nada.
"Ele estava errado.” Ele se virou para me encarar, e colocou as mãos no bolso de sua calça, enquanto caminhava em minha direção e para bem na minha frente.
“Ele quem?” Eu falei com a voz baixa, olhando nos olhos de .
“ estava errado.” Sua voz soou mais grave, e cruzou os braços, como eu estava. “Você tem cinco sorrisos. Não quatro." Ele sussurrou, e eu o encarei incrédula, sentindo o peito apertar.
Que droga era aquilo? O que ele estava falando?
“C-Como assi...” Eu nem consegui completar a frase – Thomas me interrompeu com a lufada de ar que soltou. Ele estava bem nervoso.
“Cinco sorrisos.” Ele me encarou, pendendo a cabeça pro lado, e me encarando com atenção. "Um quando você deve ser educada.” Ele levantou o indicador, sem quebrar o contato visual. “Outro quando você está vivendo alguma coisa muito boa, e quer se lembrar dela.” O dedo médio se ergueu, e eu senti meus ombros se encolherem. “O terceiro é quando você é irônica ou sarcástica, com todos.” E Thomas sorriu ao erguer o anelar. “O quarto sorriso é aquele que você usa quando é realmente grata por alguma coisa ou alguém” Ergueu o mindinho, mordendo o lábio.
Silêncio.
Apenas olhos nos olhos. E eu sentia que uma manada habitava meu estômago.
“E o quinto sorriso...” Ele olhou para o dedão erguido, e em consequência, sua mão estava completamente aberta. “É quando estamos juntos."
Eu o olhei pasma, sem ter nada pra falar. Apenas... impactada, perplexa. Sem reação nenhuma além disso.
“Como prometido, eu não vou insistir nas discussões...” Ele falou, e percebi que sua voz estava pesada. Meus olhos lacrimejaram. “Se sou eu que causo as brigas, eu vou me afastar de bom grado. Eu sei que tenho sido o problema. E eu cansei de prometer e não cumprir... Então dessa vez, vai ser diferente. Eu só quero seu bem, mas se não sou capaz de proporcionar isso a você... Eu me retiro, sem problemas.” Ele me falou, e se virou para olhar nos meus olhos.
Marejados, como os meus.
“Só quero que se lembre disso.” E pegou em minhas mãos, engolidas por suas, muito maiores que as minhas. “Lembre que eu conheço você. Eu sei quem você é. E que sou muito grato por você ser tudo o que é pra mim. Eu sou grato por ter você comigo. Mesmo que agora, o cenário seja outro.” E uma lágrima escorreu do seu olho direito. “Eu vou sempre te levar comigo.”
E me abraçou de um jeito que nunca, jamais, tinha me abraçado antes. Eu encaixei perfeitamente em seu peito, e agarrei suas costas, seu corpo contra o meu.
Que desespero.
Eu não queria sair daquele aperto, não!
“Eu amo você.” Eu falei, com a voz trêmula e as lágrimas molhando sua blusa.
Seu abraço se apertou ao ouvir aquilo.
“Eu também te amo.” Ele disse, e meu soluço foi maior, porque eu sabia que o significado daquelas palavras era diferente do que eu havia dito.
E aquilo doía demais.
Não sei quanto tempo ficamos abraçados.
Não sei quanto tempo me permiti sentir seu corpo tão próximo do meu.
Mas mais cedo do que gostaria, se afastou, beijou minha testa, e olhou nos meus olhos, ainda com rastros de lágrimas.
“Seja feliz.”
Em um momento, minhas mãos estavam em suas costas, agarradas em sua blusa. No outro, o tecido se esvaía da minha mão, e só havia restado a sombra de , que aos poucos sumia, junto com seu corpo.
E lá estava eu, sozinha, com as mãos erguidas no ar, sentindo Thomas ir embora.
E deixando nada para trás.
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Nota da autora: Olááááá! Mais uma dobradinha cheia de amor pra vcs, e finalmente chegamos na parte das TRETAS KKKKKKK adooooro!
E espero que vcs tb estejam gostando! Inclusive, quem tiver lendo dá um alô aí? Só pra eu não me sentir sozinha, namoral HAUHUEHUAHUEHA
De toda forma, agradeço pela atenção e em breve tem mais att! ♥
Qualquer coisa, grita lá no twinto hehe (@lullymaniac)
Outras Fanfics:
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Calmaria dos teus olhos Bring Me Home Bendição
Eu não escrevo nenhuma dessas fanfics, apenas scripto elas, qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
E espero que vcs tb estejam gostando! Inclusive, quem tiver lendo dá um alô aí? Só pra eu não me sentir sozinha, namoral HAUHUEHUAHUEHA
De toda forma, agradeço pela atenção e em breve tem mais att! ♥
Qualquer coisa, grita lá no twinto hehe (@lullymaniac)
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Calmaria dos teus olhos Bring Me Home Bendição