Capítulo 21 – Recovery
In my recovery I'm a soldier at war, I have broken down walls, I defined, I designed my recovery.
(Na minha recuperação sou um soldado em guerra, eu quebrei as paredes, eu defini, eu projetei minha recuperação)
(Na minha recuperação sou um soldado em guerra, eu quebrei as paredes, eu defini, eu projetei minha recuperação)
Earnhardt escrevia furiosamente no caderno de contas enquanto o iPad estava aberto no replay do último pit stop que a McLaren fez no carro de no Grande Prêmio de Miami. Cinco segundos.
Era uma verdadeira piada.
O que a deixava ainda mais enraivecida era por ser nítido o quanto eles estavam verdadeiramente dispostos a tratar como um segundo piloto enquanto viravam todas as suas estratégias e tempo de qualidade para Lando Norris. Mas nem a preferência fazia com que o inglês ficasse em uma posição maior que na corrida, terminando em décimo nono, enquanto o australiano finalizou em décimo terceiro. A McLaren não havia pontuado e a culpa era exclusivamente deles, que tiraram da zona de pontuação por conta de um pit stop demasiadamente lento.
E ainda ter uma Ferrari no pódio a deixava ainda mais irritada. tinha um grande carinho pelo espanhol Carlos Sainz, mas estava longe de ficar feliz ao ver a escuderia italiana no topo.
Finalizou a conta dos ajustes do assoalho com base na inspeção que fez no carro de depois da corrida, então finalmente sentiu que estava mais perto do que nunca de resolver de vez o problema dos quiques excessivos. A estadunidense escutou seu estômago reclamar e, ao ver as horas no celular, percebeu que estava há mais de seis horas sem comer. Soltou uma risada sem graça ao pensar em , que surtaria só de imaginar que não estava se alimentando como deveria. Desde que se conheceram, o australiano sempre a lembrava de fazer todas as refeições e os lanches entre elas, muitas vezes delegando essa missão para Michael Italiano, que basicamente havia virado seu nutricionista enquanto Lunna Martínez lhe obrigava a treinar diariamente, nem que fosse apenas correr nas pistas de corrida pela manhã.
encarou a tela de bloqueio e sorriu triste ao encarar os pais e o irmão em seu papel de parede, em uma foto após mais uma das corridas brilhantes de Dale. Além de todos os problemas que estava enfrentando na escuderia inglesa, ela sentia falta de casa. Preferiu não levar a família para Miami por não saber como a imprensa lidaria com eles depois da recente descoberta de que ela era a antiga engenheira de Giuseppe Fernandez. Mesmo com o trabalho incessante de Beatrice Portinari para o assunto desaparecer, não queria nem imaginar qualquer possibilidade de sua família ser puxada para o meio daquela confusão.
Ela aguentaria tudo, mas ter sua família exposta seria coisa demais para aguentar calada. E ela tinha um legado para proteger.
— Me proteja de longe, papa — murmurou ao fazer um carinho com o dedo por cima do pai.
saiu de sua sala e estranhou ao passar pela sala de reuniões dos engenheiros e ver todas as luzes acesas. Não foi preciso demorar mais tempo ali; eles estavam reunidos novamente sem ela. Eles já não tinham nem a decência de esconder que ela e não faziam mais parte de seus planos. Apenas o conhecimento de era necessário, e ela poderia fornecê-lo em reuniões separadas com Seidl.
— Burros desgraçados — praguejou ao ir em direção às lanchonetes do paddock. — Nunca vi tanta gente burra reunida em um só lugar.
— Tá planejando matar quem, Earnhardt? — a voz de Leclerc se fez presente, fazendo-a dar um salto pelo susto, que fez o piloto rir.
— Não me assuste desse jeito, garoto — ela o empurrou, mas o monegasco logo voltou para seu lado, passando o braço por seus ombros. — Você não tinha que estar na entrevista?
— Fui no primeiro grupo depois da reunião com todos os pilotos, e agora que está acontecendo o último, inclusive, eu queria assistir. Colocaram , Carlos e Max na mesma sala. Para completar, o George e o Pierre. Juro, daria tudo para ver isso.
— Mas e Carlos se resolveram, acho que não acontece nada de mais.
— , bella, hoje na reunião junto da FIA, sem querer deixou escapar que iria chamar Lunna para conversar com Max quando ele deu a opinião burra dele. Carlos se engasgou e riu do jeito que só ele sabe, e digamos que agora mais gente sabe sobre o que aconteceu em Imola.
— Que você apanhou? — provocou, e Leclerc bagunçou seus cabelos.
— Que Max apanhou de Lunna. Pierre me subornou para conseguir as filmagens das câmeras de Maranello, e estou muito tentado em fornecer todos os vídeos.
soltou uma gargalhada alta ao mesmo tempo em que se segurou no braço direito do amigo. Ela sentia-se feliz por Charles Leclerc ter aparecido naquele dia, mas não só nele, como em todos os outros desde que a vida da mais velha tornou-se um caos após descobrirem seu passado e quem ela era.
Charles tinha se mostrado um amigo incrível, e Earnhardt já não conseguia se ver sem a amizade do monegasco.
saiu da entrevista de pilotos ao lado de Carlos Sainz e George Russell, e as risadas dos três despertaram a curiosidade de Beatrice Portinari que o esperava na porta da sala. Mas logo a atenção da italiana foi direcionada para Max Verstappen, que saía acompanhado de sua agente de relações públicas e Pierre Gasly, que trocava olhares cúmplices com o trio que havia saído minutos antes.
Mesmo após a vitória em Miami, Max Verstappen não parecia feliz. O neerlandês ajeitou o boné da RedBull na cabeça, lançou um último olhar para Beatrice e seguiu andando sem virar para trás.
— Você falou com Max? — Portinari perguntou quase em um sussurro para o australiano quando se distanciaram dos dois pilotos.
— Não. Tem um bom tempo, aliás.
— Acho que ele está arrependido — deu de ombros. — Você não é assim.
— Ele passou com a porra de um carro por cima da minha cabeça. Eu sou assim agora.
— Tudo bem, você está na sua razão. Mas acho que deveria…
— Não irei. Se ele quiser falar comigo, sabe onde me achar. E outra — apertou os ombros da mais nova —, tenho coisas mais importantes para me preocupar, minha querida. Preciso voltar a pontuar bem.
Beatrice concordou com o australiano, mas a verdade era que achava que aquela briga dele com Max já tinha ido longe demais. Portinari conhecia Verstappen com a palma da sua mão e sabia que se o australiano desse abertura, Max teria uma explicação para as coisas que aconteceram.
Mesmo com tudo, ele não era uma pessoa ruim. Estava bem longe de ser.
— Uh, está com Leclerc para almoçar. Você quer ir? — perguntou.
— Não podemos — ela respondeu, e o australiano a encarou. — Temos o ensaio da GQ em meia hora. Já pedi para a cozinha da McLaren preparar nossa comida. Vamos direto para os boxes.
— Você está me impedindo de amar, Beatrice. Você é contra o amor.
A italiana fez uma careta e lhe bateu no peito com o dedo.
— Ninguém mandou você me arranjar problemas. Uma campanha de revista agora é tudo o que eu preciso para você voltar a ser um cara amável.
— Pensei que a campanha com o James Corden tivesse bastado. Andei de cropped por um dia inteiro.
Beatrice soltou uma risada ao se lembrar das cenas no paddock de Miami em que ele desfilou junto de Lando Norris com um cropped laranja e calça jeans de cintura baixa ao lado do apresentador estadunidense.
— Você me fez trabalhar igual um desgraçado — ele continuou —, nunca fiz tanta campanha. Não me diga que nada funcionou.
— Claro que funcionou. Quando algo que eu planejo não dá certo? Você voltou a virar assunto positivo quase imediatamente. Mas uma capa de revista agora fecha com chave de ouro. Seu rostinho bonito conquista. Sem contar que Matias Binotto finalmente falando algo que preste a favor de ajudou e muito.
— Ele a chamou de “brilhante” e disse que me entendia.
— Sim! Então mais do que nunca temos que deixar você em alta e tirar os holofotes de e esses boatos. Ela precisa de paz.
soltou um suspiro; seu dia iria ser longo. Mas sem reclamar, seguiu a negra e os dois entraram no motorhome da McLaren.
Quando a água gelada bateu em seu corpo, percebeu o quanto seu dia tinha sido exaustivo. Para além dos compromissos com entrevistas, o briefing com os outros pilotos e a federação de automobilismo, sua tarde foi ocupada com o ensaio fotográfico para a GQ Hype, que já tinha o acompanhado durante todo o grande prêmio de Miami.
Não podia reclamar de todo o trabalho que estava tendo, afinal, ele mesmo procurou por aquilo ao provocar a escuderia mais famosa do mundo. Mas o australiano tinha sorte de ser cercado de pessoas boas e ter uma equipe incrível por trás de si. Se achava que tinha trabalhado muito, sabia com toda a certeza que Beatrice havia se esforçado o triplo para amenizar qualquer dano que sua imagem poderia ter, o que ficou um pouco mais fácil depois da entrevista do chefe da escuderia e de Leclerc, junto do silêncio de Carlos Sainz. O fato do piloto espanhol, mesmo enraivecido, ter preferido o silêncio sobre o assunto foi de grande ajuda.
E ainda tinha , que estava ao seu lado mesmo tendo que trabalhar para fazer modificações para tirar o melhor do carro projetado para aquele ano. Ele não sabia como, mas a estadunidense sempre tinha um tempo em seu dia para ele.
No final das contas, era um homem de muita sorte.
terminou seu banho, vestiu o moletom rosa e saiu do quarto, indo em direção ao de , que ficava em frente ao seu. Para sinalizar que era ele, bateu três vezes na porta e abriu, encontrando a namorada com fones de ouvido, concentrada, fazendo anotações em um caderno com o MacBook à sua frente. Sorriu ao perceber o quão bonita ela ficava enquanto fazia fórmulas que ele não entendia. A engenheira deu um gole no energético que estava ao seu lado, foi quando a encarou com um sorriso sapeca no rosto.
— Dolce! — o cumprimentou quando enfim percebeu que ele estava no quarto. — Você estava tão quietinho aí que não te percebi entrar. Não é do seu feitio ficar quietinho assim, aconteceu algo?
— Estava assistindo você trabalhar.
sorriu e fechou o computador, saindo da cama para abraçá-lo.
— Tomando Red Bull, hein? — ele provocou. — Tá dando dinheiro pro Verstappen, é?
— Vá se foder, . Se vejo Maximilian, mando ele abrir a asa dianteira do cu dele para eu entrar de ré.
gargalhou alto e roubou um selinho da namorada.
— Você não superou a última corrida também, não é?
— Lógico que não. A próxima é sua, você sabe.
— Se ninguém atrapalhar — o australiano pontuou, e um bico apareceu nos lábios da mulher. — Passei o dia sem te ver — disse ao passar a mão pelo rosto da engenheira, apertando levemente a ponta de seu nariz.
— Beatrice fez você ter dia de modelo hoje? — perguntou e o australiano concordou, dando-lhe mais um beijo.
— Olhe só, estamos usando moletons iguais — notou e colocou as mãos na cintura, balançando os quadris de um lado para o outro.
— Já posso ser modelo da sua marca.
— Seria uma honra ter você na Ric3.
riu e foi em direção à cama, tirando todos os seus pertences de trabalho dali.
— Teve muito trabalho com o carro hoje?
— Sim, inclusive, nós precisamos conversar — ela respondeu, e coçou a cabeça ao ver a expressão da estadunidense, onde um semblante preocupado ocupava-lhe a face. — Você lembra que eu queria ter certeza de algumas coisas antes de conversar sobre a McLaren?
— Lembro, claro. Alguém fez algo para você?
— Não exatamente. Você confia em mim? — perguntou ao se colocar entre as pernas do piloto, que estava sentado na cama.
— A cada batida do meu coração, Principessa — respondeu de imediato.
— Ligue para Blake e marque uma reunião. Se ele conseguir chegar aqui amanhã, é melhor.
— Ligarei agora.
não sabia o que poderia estar acontecendo, mas confiava em . No mesmo instante, puxou o celular do bolso do moletom e ligou para o empresário. Ao escutar as palavras de confirmação da vinda de Blake para a Espanha, Earnhardt abraçou o piloto, enfim sentindo-se tranquila sobre o assunto.
A McLaren não ia acabar com . Não enquanto ela pudesse impedir.
22 de maio de 2022
Barcelona, Espanha
Circuito da Catalunha
não sabia se estava com ódio, raiva, desgosto ou decepcionado. Sua mente ainda não havia processado as recentes notícias que havia disparado no sábado à tarde na reunião com Blake, que também contou com a presença de Beatrice e Michael. Era importante que toda sua equipe privada estivesse ciente de tudo o que estava acontecendo ao seu redor.
sentiu-se burro por não ter percebido antes.
Ele estava tão centrado em fazer as coisas funcionarem naquela temporada que deixou passar, por baixo de seu nariz, os planos da equipe a seu respeito. O australiano sentia ainda mais raiva por também envolverem naquela confusão e estarem usando-a daquela forma. Sugando cada conhecimento que ela trazia, mas deixando-a de fora de reuniões importantes, e bastante longe das tomadas de decisões.
Seu pesadelo era real. A McLaren havia escolhido Lando Norris para primeiro piloto. Um garoto. não conseguia entender o porquê de tanto desrespeito.
Por sorte, estava ali. Vigiando e resguardando suas costas, quando ele nem sabia que precisava ser protegido. E Blake não tardou para começar a trabalhar; o empresário e amigo já tinha um plano. A McLaren não iria atrapalhá-lo.
— Foco, . Hoje você tem apenas uma missão. — Italiano o avisou ao massagear seus ombros. — Quero que você foque apenas nessa corrida. Deixe todo o resto do lado de fora.
— Esses merdas ainda me dão tapinhas nas costas como se me apoiassem de verdade — murmurou, cobrindo a boca com a mão para não ser flagrado.
— Apenas faça o que você sabe fazer de melhor. Todo mundo fará a sua parte aqui de fora, principalmente — respondeu e entregou o fone de ouvido para o australiano. — Você pode mostrar que eles estão errados.
— E eu vou — aumentou o volume da música e começou seu alongamento.
entrou em seu próprio mundo naquele momento. A única coisa que conseguia imaginar era seu carro passando pela bandeira quadriculada na zona de pontuação.
Ele iria provar que a McLaren estava errada a seu respeito. O lugar de segundo piloto não era para ele. Nunca havia sido. Não era naquela maldita temporada e lugar que iria ser.
Ainda com o clima na Espanha perfeito, a corrida daquele dia não estava como o esperado para as principais equipes do grid.
Lewis Hamilton estava na penúltima colocação após tocar ainda nas primeiras voltas em Magnussen; tanto Carlos Sainz quanto Max Verstappen derraparam na curva quatro, indo momentaneamente para as britas e perderem seus lugares entre os cinco primeiros do grid, ocupando a décima primeira e a quarta posições, respectivamente. E para completar, ainda na volta 25, Charles Leclerc, que largou da pole e liderou a corrida com tranquilidade, teve problemas no carro e seu motor perdeu potência, fazendo-o ser retirado da corrida antes mesmo que pudesse chegar a metade dela.
Ao chegar na volta 49, ocupava a sétima posição, mas precisou ter que parar nos boxes para fazer o pit stop duplo proposto pela escuderia. Parou após Lando Norris, que foi liberado após uma parada de três segundos.
— Não é possível! — gritou para os engenheiros ao ver que os mecânicos haviam esquecido de um de seus pneus macios. — Isso é uma palhaçada.
bateu as mãos no volante, irritado pela demora, e após seis segundos e meio, o liberaram para as pistas. Faltando dezessete voltas para o final da corrida, ocupava o décimo terceiro lugar.
— Que merda foi essa? — ele escutou gritar antes que o áudio dela fosse silenciado. — Vocês querem foder meu piloto? — esbravejou no pitwall.
— Que porra aconteceu? — gritou no microfone.
— Apenas acelere — ordenou e escutou um grunhido como resposta. — P13 agora, o ritmo está bom, precisa passar Stroll.
— Caralho, que pitstop de merda foi esse?
— DRS disponível.
— Porra! — gritou e acelerou ao máximo, conseguindo realizar a ultrapassagem sem maiores problemas.
— Isso, . P12. oO próximo carro é o de Alonso, 3,5 à frente. Você está quatro décimos mais rápido.
— Entendido.
— ultrapassagem disponível. Agora.
acelerou e, com maestria, pegou o lugar do espanhol. Continuou a ultrapassar, incluindo o próprio companheiro de equipe que não conseguiu se proteger da arriscada disputa com o australiano, e conseguiu alcançar o feito da sétima colocação.
A ira de , por conta de tudo o que estava pairando naquele final de semana, era o seu combustível. A corrida que o australiano estava fazendo era impressionante, ainda que arriscada. Mesmo com as reclamações do pitwall, escolheu ignorá-los e continuou a dar seus comandos de ultrapassagens para o carro número três.
— Seis voltas pro fim, três décimos mais rápido que Ocon. Ele tá a dois segundos de você.
— Essa porra é minha.
— Zona de DRS.
Graças à disponibilidade do DRS, conseguiu se aproximar ainda mais, mas Ocon fechou a ultrapassagem pela direita, deixando o australiano na sua traseira. Faltando três voltas, com a impulsividade percorrendo sua mente, forçou o francês para fora e o ultrapassou, distanciando-se do adversário que ficou para as britas.
— Caralho.
— P6, . Bottas está à sua frente. Ele tá relatando problemas nos pneus, você está três décimo mais rápido.
— Ocon?
— Lance de corrida, sem punição. Está em P9, perdeu meio décimo para Norris.
E, então, o australiano espremeu o carro até o seu máximo e ultrapassou Bottas. conseguiu respirar aliviada quando o carro número três passou feito uma bala pela bandeira quadriculada.
estava na zona de pontuação novamente. Acompanhado de Max e Perez nas primeiras colocações, George Russell em seu primeiro pódio na temporada e Carlos Sainz no quarto lugar.
— Porra! , porra!
— P5, ! Você voltou para o top 5!
— Conseguimos, , obrigado. Conseguimos. Contra tudo e contra todos. Nós conseguimos voltar a pontuar bem.
— Obrigada, . Parabéns! Belíssima corrida.
sorriu ao desligar o rádio. Alongou seus braços, pulou da cadeira do pitwall, atravessou a pitlane e correu para abraçar Michael Italiano e Beatrice Portinari. Os dois eram as únicas pessoas que a engenheira poderia confiar naquele lugar.
Dez pontos.
Estar no Top 5 era tudo o que eles precisavam para resgatar a confiança depois de tudo o que tinha acontecido pós-Austrália.
A confiança estava se restabelecendo, estava se esforçando e, mesmo que não estivesse completamente adaptado, se esforçava para alcançar os melhores resultados. Naquele cenário, os dez pontos suados tinham gosto de pódio, e pódio merecia champanhe. Por isso não pensou duas vezes antes de dizer “sim” para o convite do piloto australiano para irem a uma festa que Carlos tinha achado na capital espanhola.
Antes que pudesse voltar para o hotel, só precisava buscar suas últimas anotações em sua sala, mas no seu caminho deparou-se novamente com a sala de reuniões dos engenheiros com a luz acesa. Aquilo estava longe de ser respeitoso, muito menos justo. Não depois daquele dia. Não depois de ela ter conseguido diminuir, sozinha, os efeitos do porpoising para os dois carros da equipe inglesa.
Sem pensar duas vezes, Earnhardt invadiu a sala como um furacão, confirmando o que suspeitava. Todos os engenheiros principais estavam ali, menos ela.
— Que porra de pitstop foi aquele? — bradou, pegando todos de surpresa. — Seis segundos e meio? Vocês percebem a piada que é isso? Pelos menos disfarcem que vocês trabalham apenas para um piloto.
— … — Zak não conseguiu terminar seu raciocínio, porque a estadunidense não lhe deu tempo. Se ela não tinha direito de opinar nas reuniões de equipe, ele também não iria interrompê-la.
— Vocês deveriam ter o mínimo de respeito por e pelo meu trabalho aqui. Eu ajeitei os assoalhos, eu descobri o problema nos freios. Eu. E quer saber? Se querem tanto se livrar de , saibam que eu vou junto. Podem quebrar o contrato que vocês fizeram, não estamos nem aí.
Ao sair da sala batendo a porta forte, soube que os limites da cordialidade haviam sido rompidos. A guerra fria tinha se instalado na escuderia inglesa e ela sempre estaria ao lado de , sendo não sua escudeira, mas sim quem brigaria por ele na linha de frente.
Depois que Blake deixou claro todos os pontos do contrato, eles tinham a certeza que, naquele jogo, a McLaren era quem mais tinha a perder com a quebra de contrato de . E a possibilidade de eles jogarem o australiano em outra categoria era nula, já que o poder de decisão sobre a mudança era de , e ele nunca optaria sair da Fórmula 1 com a intenção de facilitar as coisas para a McLaren. Não depois de tudo que haviam feito.
Eram eles que deviam até a alma para o australiano. E Earnhardt, depois de todo o inferno que passou, tinha aprendido a jogar aquele jogo sujo do automobilismo como ninguém.
A estadunidense voltou para sua sala e por ali ficou até às sete da noite. Mergulhou completamente em suas anotações, tanto no iPad quanto no inseparável caderno de contas, e esqueceu-se do mundo ao seu redor.
Era sempre assim. Quando as coisas fugiam do controle, ela trabalhava e estudava. E perdia-se no tempo, sem nem mesmo se importar que precisava comer. E ainda que entrasse naquele estado para extravasar de acontecimentos que lhe aborreciam, ela gostava. Earnhardt era uma aficionada por engenharia e realmente não se via fazendo outra coisa em vida.
Até que, quando já estava na quinta página de cálculo, sorriu.
— Consegui — murmurou. — Meu Deus, eu consegui — riu sozinha, e lágrimas tomaram conta de seu rosto. — Ah, meu Deus, papai! Eu consegui. Papai, obrigada! Eu consegui.
Earnhardt tinha achado a solução para o problema do porpoising no carro que a McLaren que tinha produzido. Era simples, mas custou-lhe dias e dias de cálculo. E ali estava com a resposta em suas mãos. Todos os carros do grid estavam sofrendo com o problema, com exceção da Red Bull e Ferrari, e agora ela tinha achado a resposta que poderia dar até dois segundos limpos de diferença para .
fechou o caderno e o guardou na bolsa. Ajeitaria com as próprias mãos o carro de e guardaria aquele segredo consigo. Comunicaria uma mudança nas asas e no solado, passaria os cálculos na reunião e os deixariam à própria sorte para tentar entender o que ela havia descoberto. duvidava que existisse alguém na equipe de engenheiros superiores que entenderia de primeira para colocar em prática e se recusaria a fazer o trabalho no carro número quatro. Seu dever era apenas passar as informações corretas, e ela faria aquilo do jeito mais acadêmico e difícil que encontrasse. E eles não poderiam trocar o carro do australiano com o de Lando, não sem gastar milhões de dólares de multa.
Naquele dia, Earnhardt finalmente soube que seria campeão do mundo.
Capítulo 22 – Turning Page
When I saw you, well I knew we'd tell it well, with a whisper, we will tame the vicious seas like feather, bringing kingdoms to their knees.
(Quando eu vi você, bem, eu sabia que a contaríamos bem, com um sussurro, nós domaremos os mares violentos com uma pluma derrubando reinos)
(Quando eu vi você, bem, eu sabia que a contaríamos bem, com um sussurro, nós domaremos os mares violentos com uma pluma derrubando reinos)
22 de maio de 2022 Madrid, Espanha
“Principessa, você está bem? Olhe, Carlos mudou o endereço da festa. Acredito que você esteja no paddock ainda, então vou te mandar o endereço. Qualquer coisa me avisa, tá bem? Você realmente ainda não desistiu desse carro de merda que eles me deram, não é? Você é impossível, Earnhardt. E é por isso que te amo. Vou te mandar o endereço por escrito, porque não sei falar os nomes dessas ruas. Te amo.”
respondeu com um “ok” a mensagem de Lunna e, com uma frase, todos os quatro áudios que havia deixado em seu WhatsApp.
A estadunidense riu sozinha. Ela nunca entenderia, mas adorava quando o australiano mandava seus áudios cortados e com ruídos. Sempre tinha bastante ruído, e ela tinha a certeza que era porque ele ficava passando o dedo próximo ao microfone do celular.
Earnhardt saiu do quarto de hotel já arrumada e praguejou quando chegou à entrada e percebeu que estava completamente lotada – seria impossível pedir um táxi ou até mesmo um carro de aplicativo com aquele congestionamento. A engenheira resolveu dar a volta por dentro do hotel e saiu pela entrada dos fundos, praticamente vazia. Mas antes que pudesse fazer sinal para qualquer táxi, seu telefone tocou, tirando toda sua atenção.
— Mamãe! — atendeu feliz. — Ah, mamãe! Que horas são aí?
— Duas da tarde! Como você está, meu bem? Estou com tanta saudade!
— Ah, mamãe! Estou conseguindo. Eu realmente estou conseguindo — os olhos da estadunidense encheram-se de lágrimas. — E tem sido maravilhoso.
— Estou morrendo de saudade de vocês dois, e agora posso chamar ele de genro! — soltou uma risada ao perceber a alegria da mãe do outro lado da linha. — E querida, meu amor! Eu sempre soube que você conseguiria. Você… Você é a luz da minha vida. Do seu irmão, do seu pai — escutou a mãe fungar e soube que ela chorava. — Seu pai está tão orgulhoso de você, isso eu tenho certeza! Desde que você nasceu, ah, meu amor, você foi a melhor surpresa do mundo. Seu pai está orgulhoso.
— Eu amo você — limpou o canto dos olhos. — Eu realmente amo você, mamãe.
— Eu sei disso! — Blanca riu. — Vou desligar, aí já está de noite, não é?
— Sim, e eu estou na rua. Vou encontrar com ! Na rua de trás do hotel, a senhora não sabe o quão insuportável está na parte da frente. Parece que as pessoas ficam malucas em dias de corrida, não sei como descobriram que a McLaren estaria hospedada aqui.
— Cuidado, . Não ande sozinha em lugares que você não conhece, por favor. Me mande uma mensagem quando estiver com .
— Amo você!
encerrou a ligação e guardou o celular na bolsa, sentindo-se em paz. Ela era grata pela família que tinha, principalmente por eles nunca terem desistido dela quando ela mesma parecia não ter mais nenhuma saída. Aquilo era amor.
Earnhardt respirou fundo e deu mais alguns passos em direção contrária ao movimento, mas parou quando sentiu uma mão segurá-la pelo cotovelo.
— Jesus Cristo! — gritou com o susto, e o homem a soltou rapidamente.
— Max Verstappen, não Jesus Cristo.
revirou os olhos e torceu os lábios.
— Sim, você está bem longe de ser algo divino. — Max riu. — Você me assustou. Essa rua é deserta.
— A rua é completamente deserta e você não deveria andar nela sozinha. Aqui tem muitos batedores de carteira e caras estranhos, sabia? Não sabe sair pela frente do hotel como uma pessoa normal?
— Por que você não saiu pela frente do hotel como uma pessoa normal? — retrucou, e Max torceu os lábios.
— Sem paciência para fotógrafos, jornalistas e todo o resto que tem lá — ele explicou. — Olhe, você quer uma carona? Eu realmente vou me sentir culpado se algo acontecer porque eu te deixei aqui sozinha.
— Você não me deixou sozinha, eu vim porque eu quis — respondeu, e Max rolou os olhos. — E eu aceito sua carona, unicamente porque não vi passar nenhum táxi.
— E nem vai, hoje só estão passando na rua da frente. Todos estão tentando a sorte para ver algum piloto.
— Mas só tem a McLaren neste hotel.
— Red Bull e Alpha Tauri se hospedaram também. Por isso a loucura.
deixou escapar um murmúrio em concordância com o neerlandês e o seguiu até onde o carro dele estava estacionado. A estadunidense não sabia dizer em queê, mas Max estava diferente.
O neerlandês estava incrivelmente suportável.
As festas que Carlos Sainz proporcionava após o GP da Espanha já eram tradicionais para a maioria dos pilotos do grid, e era um deles. Todos os anos as festas pareciam ainda melhores.
Mas naquele domingo foi diferente.
O endereço da festa foi disparado no grupo de pilotos, mas Carlos Sainz mandou uma mensagem diferente para depois de duas horas, e ele desconfiava que nem todo mundo tinha recebido.
E lá estava ele, às nove da noite, em um bar chamado La Canela, do outro lado de Madrid. Ele só não mataria Carlos por fazê-lo atravessar a cidade porque veria a namorada, que não encontrava desde o final da comemoração no box. admirava o fato da namorada ser perfeccionista com seu trabalho. Era admirável o esforço e dedicação da estadunidense mesmo quando a própria equipe não ajudava.
— ! — Lunna correu em sua direção quando o viu atravessar o salão do bar, completamente decorado com luzes neon. — Você veio! Onde está minha amiga?
— ficou trabalhando, mas vem! Carlos que me mandou o endereço. Por que tão longe, hein?
Martínez o encarou com a sobrancelha arqueada.
— Aposto que Carlos chamou todos os pilotos. — riu. — Minha família gosta desse bar, sempre vimos quando queremos comemorar algo ou só estar juntos para cantar — ela apontou para o palco onde um casal se divertia cantando os versos de Breaking Free. — Tem bebida à vontade e comida também.
— Aquele é Villagers? — perguntou, reconhecendo o homem que parecia estar se dedicando muito enquanto cantava — Sério?
— Ele é meu melhor amigo.
— E a estrela do Real Madrid. Carlos deve ter surtado.
riu mais uma vez.
— Já tirou todas as fotos possíveis. Inclusive, vem, vamos cantar! — Lunna o puxou pela mão e o levou até onde as pessoas estavam.
Em segundos, já conhecia todos os convidados de Martínez, que nada mais eram que sua gigantesca família. Conheceu até mesmo as seis crianças que estavam em um espaço separado, como se fosse um playground construído somente para eles. Ao ver Júnior, Eron, Alejandro e Juan, sobrinhos de Lunna, junto de Kaia e Zuri, as filhas gêmeas do jogador inglês, perguntou a si mesmo como seria ter uma casa cheia de crianças e a ideia o agradou, principalmente ao lembrar-se de como era com Isaac e Isabella. Ela seria uma mãe incrível, porque já era uma pessoa incrível.
— está na casa! — escutou Charles gritar no microfone. — Vamos dedicar essa para você.
— Estou esperando! — gritou de volta e ficou ao lado de Beatrice, que já estava com o celular a postos para gravar o monegasco junto do espanhol.
— I heard that you’re settled down, that you found a girl and you`re married now…
— I heard that your dreams came true, guess she gave you things… — o espanhol continuou em um inglês totalmente desafinado.
— O quão bêbados eles já estão? — perguntou para a negra, pegando a garrafa de cerveja de sua mão.
— O suficiente para isso ser memorável. Chegamos às sete da noite aqui.
O piloto assentiu e gritou palavras de incentivo aos companheiros de grid, que estavam totalmente dedicados a passar a maior vergonha de suas vidas ali. O australiano, assim como todos os outros, cantou da plateia as três músicas que Charles e Carlos decidiram performar, Crazy in Love e We Found Love, mas logo se viu em cima do palco.
— Não faço ideia de como vim parar aqui, mas tudo bem! — escutou gritos de apoio. — Beatrice, não grave isso.
— Não prometo nada! — Portinari gritou.
— Vocês dois são os meus backing vocals — ele apontou para a dupla ferrarista.
— Você não ia achar melhor! — Villagers gritou, e pôde jurar que Carlos bateu palma igual criança ao escutar o elogio do jogador.
— Yeah, I'm gonna take my horse to the old town road…
— I'm gonna ride ‘til I can't no more — Charles e Carlos continuaram, e o desastre musical estava completo.
também cantou Feeling Good de Michael Bublé com sua dupla de backing vocals e só deixou o palco quando viu a namorada entrar no bar ao lado de Max Verstappen – uma dupla muito improvável estava bem ali, a poucos metros de distância, bem à sua frente.
— Dolce! — o cumprimentou com um selinho rápido. — Hm, Max me deu uma carona e eu o convidei para ficar aqui. Voltar para o centro de Madrid agora ia ser uma perda de tempo, é muito longe.
— Não acho que Max se importaria — foi rude e lhe lançou um olhar de reprovação.
— Eu acho que vocês parecem duas crianças birrentas. — cruzou os braços assim como Max. — Tomem uma cerveja e se resolvam. Max já pagou por ter passado com um carro sobre sua cabeça, não é por isso que vocês estão assim? — perguntou, e estreitou os olhos para o neerlandês.
Aquilo significava que ele não havia contado o verdadeiro motivo. ainda não sabia sobre seu passado sujo em Ibiza.
— Sim — responderam juntos.
— Você não é assim — ela bateu com o dedo no ombro do piloto australiano. — Já deu de drama — decretou e os deixou a sós.
Max coçou a garganta e bebeu o restante de sua cerveja antes de deixá-la no balcão e falar com o neerlandês:
— Você não contou.
— Era para contar? — perguntou, e revirou os olhos. — Sério, , por que você acha que eu contaria alguma coisa? Porque fui rude com você quando estava claramente com raiva? — bateu com o indicador na própria têmpora. — Eu fui enforcado por uma mulher que tá do outro lado do salão, quase todo mundo sabe disso. Tomei punição de cinco posições e sua namorada acabou comigo na reunião. E ainda assim, até me tratou bem. Céus, me perdoe por passar com o carro por cima de você, eu realmente não tive a intenção.
— Desculpe — sussurrou. — É só que o que você falou me fez ficar um pouco perturbado — ele deixou os braços caírem e encarou o neerlandês. — é importante demais para mim, e eu fiquei com medo de ela me deixar por conta daquilo. Eu não quero errar com , ela não merece nenhum erro, Max. A verdade é que fiquei com medo que ela me largasse se soubesse de tudo.
— — Max pegou o australiano pelo ombro e o virou em direção ao palco, ainda mantendo seu braço ao redor do amigo. — Eu acho que aquela mulher não te largaria por causa daquilo — apontou discretamente para , que cantava alegremente Fooled Around and Fell in Love enquanto o espectadores balançavam seus braços de um lado para o outro.
— Ah, but since I met you baby, love's got a hold on me… — desafinou ao fazer uma dancinha e apontar para onde estava, no fundo do salão. E ainda assim achou que a apresentação da estadunidense merecia todas as premiações possíveis.
Earnhardt terminou mais uma música, Careless Whisper, mas não deixou a mulher descer do palco. Pigarreou três vezes e bateu no microfone antes de continuar:
— Vou cantar mais uma! Essa é para a mulher mais linda do mundo.
— Obrigada, amigo! Todos sabemos que eu sou mesmo — Beatrice gritou da plateia, e lhe mostrou o dedo do meio.
— . Ela é minha namorada para quem não sabe. Mas não contem pra mais ninguém, ela não quer me assumir.
A estadunidense abriu a boca para protestar, mas piscou em sua direção e lhe estendeu um microfone.
— Ok, cante comigo. E o resto tem que balançar a mão de um lado pro outro — o piloto demonstrou e todos o imitaram alegremente. — Look at the stars, look how they shine for you and everything you do, yeah, they we’re all yellow.
— I came along, I wrote a song for you and all the things you do and it was called “Yellow”.
e cantaram Yellow do Coldplay para seus amigos como se fossem dois adolescentes apaixonados e, de fato, naquele momento, eram. Nada importava. Nenhum passado, problema ou qualquer coisa que poderia importar.
Eles estavam juntos. Eles brilhavam juntos. E somente aquilo importava. Mesmo não tendo certeza alguma sobre o depois.
A noite de cantaria e álcool liberado era tudo o que todos os presentes estavam precisando depois dos últimos acontecimentos.
Era aliviador não precisar esconder que estava apaixonado e que era sua namorada, porque todos os presentes ali sabiam e guardariam o segredo deles.
A família de Lunna saiu um pouco mais cedo e levou todas as crianças consigo – mesmo duas delas, que reconheceu uma como Junior, mas não soube distinguir quais das gêmeas a outra era, que haviam ficado incrivelmente apaixonadas por . A dupla não saía de perto da estadunidense, desde o momento em que ela foi conhecer o playground até mesmo quando as levaram para cantar How Far I'll Go do filme Moana, que, para a surpresa deles, tinha sido dublado por Nalani Waialiki, esposa de Dani Villagers e melhor amigo de Lunna Martínez.
— Você tem que cantar comigo! — disse para a namorada, que estava sentada em seu colo. jogou a cabeça para trás, soltou uma risada e se levantou, o puxando para que se levantasse também.
— A próxima rodada é nossa! — ela avisou para os amigos enquanto Carlos e Villagers cantavam You Belong With Me da Taylor Swift. — Quando Carlos aprendeu a cantar Taylor Swift?
— Ele sabe todas — Lunna riu. — Era o segredo dele.
— Stroll ia amar isso — disse. — Ele é um Taylor Swift fã.
— Swifter, . Kaia me contou isso depois que cantamos Love Story junto dela e de Junior — explicou. — Você precisa de uma imersão no mundo pop.
— Eu pensava que era tudo Moana. E ela não é muito pequena para escutar Taylor Swift?
— Ela não escuta, ela é fã. Do Justin Bieber também — Lunna fez uma pausa —, e ABBA. A irmã gosta de rock assim como Eron. Vocês deveriam passar um feriado conosco.
— Vou adorar dividir minha playlist com eles.
foi sincero. O piloto havia ficado encantado com todas as crianças e adorou saber que gostavam de música. Mesmo sendo Justin Bieber e Taylor Swift, ele iria mostrar para eles o que considerava ser música boa, assim como suas infinitas playlists no Spotify. E Taylor Swift seria mais um ponto a favor para perturbar o juízo de Lance e Carlos quando ousassem escolher música quando estivessem juntos.
e subiram no palco e, assim que a estadunidense escolheu a música que cantariam, o piloto sorriu. Ele mesmo não poderia ter feito escolha melhor.
— Friday night and the lights are low, looking out for a place to go…
Ela havia escolhido ABBA, o grupo que não saía da playlist de nenhum dos dois e que eles escutavam toda vez que estavam no mesmo carro. ABBA tinha tocado quando eles foram de carro de Londres até Woking pela primeira vez, assim como em Perth.
— You are the dancing queen, young and sweet, only seventeen… — cantaram juntos o refrão, sendo acompanhados pelos outros na plateia.
— Dancing queeeeeeeen — forçou o agudo, fazendo cair na gargalhada ao seu lado. — Feel the beat from the taaambouuurineeeeee!
— Oh yeaaaaaah — todos cantaram juntos, inclusive Max Verstappen, que já estava enturmado após cinco garrafas de cerveja.
Os dois também cantaram Angeleyes e foram acompanhados em cima do palco na hora de Gimme! Gimme! Gimme! pelo piloto da Red Bull, mas antes que os três pudessem estragar mais algum sucesso do grupo sueco, Lunna Martínez empurrou Nalani Waialiki para o palco, os fazendo descer.
— Se você quer um show da minha mulher, terá que pagar! — Villagers disse para a espanhola, que lhe mostrou o dedo do meio.
— Você já vai embora igual suas filhas — a preparadora física retrucou. — Vai, Nai, cante qualquer coisa! Preciso escutar alguém afinado hoje!
— Eu sou afinadíssimo!
— Sim, igual uma taquara — respondeu para Charles, que revirou os olhos, e Lunna lhe jogou um beijo no ar.
— Vamos lá! Sintam-se livres para dançar. Dani, dance com Rosie, ela deixou abrigarem nossas filhas na casa dela pra gente ficar aqui.
— Como se ela não fizesse isso todo mês — Villagers brincou e a advogada riu.
— Espero que meu marido não chore, mas vou cantar a música do nosso casamento.
— Estou bêbado! Vou chorar — o jogador inglês decretou e a esposa lhe mandou um beijo no palco. — Rosie, dance com esse aqui — apontou para Max. — Meu amigo não vai se importar. Vou chorar e filmar minha mulher.
— Não pise no meu pé — Rosalie avisou para Max quando passou seu braço pelo dele. — Sou Rosie, prima da Lunna.
— Não me bata igual ela — Max falou rápido e a mais velha o encarou com um sorriso divertido nos lábios.
— Quero saber a história.
Verstappen assentiu, mas seu olhar se encontrou com o de Lunna.
— Toda — Rosie continuou e o neerlandês desviou o olhar da espanhola, que o encarava enquanto colocava os braço ao redor do pescoço de Carlos e concentrava-se para não pisar nos pés de Martínez à sua frente. Apanhar de duas mulheres da mesma família deveria ser humilhação demais, e ele não queria descobrir se realmente era.
Os primeiros acordes da música começaram e, em poucos segundos, a voz suave de Nalani preencheu todo o lugar.
— I've waited a hundred years but I'd wait a million more for you…
encostou sua cabeça no ombro de enquanto ele repousava a mão em sua cintura. Os dois começaram a balançar no ritmo da música.
Or how you curl your lip when you concentrate enough
I would have known what I was living for all along
— Preciso confessar algo.
— Você atropelou alguém e a pessoa morreu? — perguntou e encarou o piloto, que tinha uma expressão confusa no rosto. — Você fez algo tão errado nesse nível?
— Não, céus, juro que não matei ninguém. — fingiu respirar aliviada e a girou. — Você me deixaria se eu disse que sim?
— Dolce amore mio — colocou a mão sobre o ombro do mais velho e repousou novamente a cabeça em seu ombro —, eu esconderia o corpo da pessoa com você e, enquanto estivéssemos fugindo, contrataria os melhores advogados do mundo para te defender.
apertou a cintura de e puxou-a para mais perto ainda.
— Eu não deixaria você por nada nesse mundo — ela continuou. — Você é meu e eu sou sua, simples assim.
— Ah, Principessa — o encarou novamente e a beijou —, é um privilégio amar você. Obrigado — sussurrou ao pé de seu ouvido e voltou a girá-la.
Your love is my turning page
Where only the sweetest words remain
Com em seus braços, soube que nunca mais precisaria ter medo. Ele tinha o coração de Earnhardt, assim como ela tinha o seu. Eles enfrentariam tudo. O australiano seria capaz até mesmo de iniciar uma guerra para que a mulher permanecesse para sempre ao seu lado.
E ele venceria.
A noite de karaokê ficou mais agitada quando um grupo de pilotos invadiu o local, gritando alguma música que não soube identificar. Eram muitos sotaques misturados e enrolados por causa do álcool.
Mesmo que adorasse estar na companhia dos colegas de grid, soube que já era hora de ir. Ainda que ninguém tivesse a intenção de prejudicá-lo, não iria arriscar expor seu relacionamento com Earnhardt enquanto ela não estivesse preparada para fazê-lo.
— Lunna disse que você já estava aqui — ele disse ao entrar no Audi Q7 que estava estacionado do lado de fora. — Boa noite! — cumprimentou o motorista, que o respondeu com um leve aceno.
— Eu repassei o endereço do hotel a ele. Disse a Lunna que poderíamos ir de táxi, mas ela insistiu.
Lunna havia disponibilizado os três motoristas da família Martínez para que eles ficassem à disposição dos convidados do karaokê, para que ninguém corresse o risco de ficar embriagado e perdido pela capital espanhola – ainda mais quando a grande maioria nem mesmo sabia falar espanhol.
segurou a mão da namorada e avisou ao motorista que ele já poderia partir.
deitou a cabeça em seu ombro e, ainda que o australiano usasse calça jeans, ela percorreu a linha de suas tatuagens na coxa. Aquela era uma mania que havia adquirido sem nem mesmo perceber, e ele amava aquilo.
— Acho que já conheço todas elas de cor — ela murmurou ao percorrer por mais uma linha invisível.
— Então tá na hora de fazer novas. Nessa região — sorriu sugestivo —, ou mais em cima — sussurrou no ouvido dela. — Vai ser incrível ver você tentar decorar.
sentiu seu rosto esquentar, mas sua risada preencheu o carro, fazendo com que o namorado a acompanhasse. a puxou para um beijo e sorriu por entre ele ao sentir a mão da engenheira na parte interna de sua coxa, perigosamente perto de sua virilha.
— Aqui, Dolce — sussurrou ao separar seus lábios do dele. — Faça uma bem aqui. Aí é visível só pra mim.
O piloto a encarou e a íris dos dois se encontraram, completamente escuras. Existia luxúria, desejo, paixão. Ali estavam, e , em sua mais pura e bruta forma de amor.
— No que você está pensando? — perguntou ao encarar o namorado, que ainda mantinha suas mãos em movimento de vai e vem sobre suas costas nuas.
— Que você tem sardas nessa parte aqui das costas que parecem uma constelação.
Ela sorriu ao senti-lo tocar com o dedo indicador próximo ao seu ombro esquerdo.
— E que eu sou muito sortudo por ter você — deu um suspiro. — De verdade mesmo, Principessa.
— Você está incomodado com algo. O que realmente está pensando? Eu fiz algo?
— Por Deus, não — ele passou a mão pela própria testa. — Você não fez nada de errado, não pense nisso. É só que algo não sai da minha cabeça e eu não sei como falar sobre, porque parece que é insignificante, mas ao mesmo tempo parece que é uma coisa gigantesca. E eu quero estar cem por cento aqui, pra gente, sabe? Eu nunca tive uma relação assim antes e não quero estragar tudo.
— … — murmurou ao sentar-se na cama e enrolou o corpo nu com o lençol branco do hotel. — Isso é novo pra mim também, sabe? Então eu acho que somos passíveis de erros e tá tudo bem. Vamos errar, mas também vamos acertar, entende? E vamos fazer isso juntos. Tudo vai valer a pena se estivermos juntos, entende? E eu não vou a lugar nenhum. Ainda que você me perturbe enquanto eu estiver trabalhando.
soltou uma risada e se sentou ao lado da namorada, apertando sua mão.
— Você lembra quando fui embora de Woking?
— Lembro. Você foi para não me deixar ir, e acho que isso foi uma das coisas mais bonitas que já fizeram por mim.
— Eu estava perturbado, muito, com muita coisa na cabeça, sabe? De lá eu fui para Ibiza. Estava com Max, o resto dos caras e enfim… Aconteceram coisas, hm, com mulheres… Você sabe.
— Você virou pai e eu só soube agora? — perguntou, e o piloto arregalou os olhos como se a engenheira estivesse louca. — Estou pensando nas possibilidades.
— Não, meu Deus, não. Não sou pai. — Earnhardt assentiu. — Estou tentando dizer que transei com algumas mulheres e não queria que isso fosse um problema futuro. E comecei a pensar nisso porque Max disse que eu não posso falar sobre relacionamentos, porque fiz tudo aquilo em Ibiza. Isso ficou na minha mente. Não quero ser menos para você, nunca, em hipótese alguma. Não quero sentir que estou te escondendo algo que possa te machucar. Não quero dar a chance pro azar de te perder.
— — disse seu nome e o fez parar de falar. — Primeiro, Max é um babaca. Segundo, Max é um babaca, mas você ligar pro que esse Neandertal fala é a coisa mais burra que você já me falou. E também a mais romântica, porque você se importou com uma coisa desse tamaninho — ela fez o sinal com o polegar e o indicador. — E é por isso que eu te amo.
— Você me ama?
— Amo.
— Mesmo eu tendo transado com outras mulheres?
— Sim, não é como se eu fosse virgem quando te conheci — deu de ombros e o piloto arqueou a sobrancelha, soltando uma risada em seguida.
— E o que é “Neandertal”?
— Isso eu vou te explicar depois que eu te mostrar o porquê de estar tudo bem você ter tido mulheres em seu passado — sorriu e rapidamente se sentou no colo do piloto, mordendo o lóbulo da sua orelha. — Porque, Dolce, eu vou te mostrar de verdade o motivo de você nunca mais querer ter outra além de mim.
— Earnhardt, você é a mulher da minha vida.
— Eu sei — ela depositou um beijo em seu pescoço assim que as mãos do australiano apertaram sua cintura. — E Deus que me perdoe por todas as coisas que eu vou fazer com você hoje, . Deus que me perdoe.
O piloto mordeu os lábios e jogou a cabeça para trás assim que sentiu a estadunidense puxar seu cabelo para trás e rebolar lentamente sobre seu colo. Naquele segundo, teve a certeza que os dois poderiam colocar fogo no mundo inteiro e tudo terminaria bem, porque eles estavam juntos.
Eles se pertenciam.
Capítulo 23 – House of Memories
When your fantasies become your legacy.
(Quando as suas fantasias se tornam o seu legado)
(Quando as suas fantasias se tornam o seu legado)
1º de maio de 2016
Sóchi, Rússia
adorava o clima ameno de Sóchi naquele período do ano. Nem muito frio e nem calor, era totalmente equilibrado – assim como a temporada que vinha fazendo ao lado de Giuseppe Fernandez, no seu segundo ano na Fórmula 1 e primeiro ano na Ferrari. Já estavam no quinto Grand Prix da temporada e o prodígio havia conquistado pódio em três deles, com dois primeiros lugares consecutivos.
Naquele dia não seria diferente. A escuderia italiana brilharia novamente no lugar mais alto do pódio.
— ! — Binotto a cumprimentou, animado. — Como estamos hoje?
— Acho que vai dar tudo certo.
— Se você diz, eu acredito sem sombra de dúvidas — sorriu gentil. — Seb já disse que quer experimentar você como engenheira em alguma corrida.
sentiu seu rosto corar ao mesmo tempo em que Mattia podia jurar que os olhos da engenheira brilhavam. E realmente estavam. Vettel era uma lenda, e saber que tinha interesse em seu trabalho foi muito significativo para a engenheira.
— Com toda a certeza!
— Já que estamos falando em Sebastian, você pode me mostrar as análises das estatísticas que fez com o resultado da telemetria? Quero fechar as estratégias.
— Claro! Fiz algumas anotações também — respondeu, mas parou de falar abruptamente e deu um tapinha na própria testa. — Esqueci na sala, vou buscar e levo esses documentos, ok?
— Estarei em minha sala! — avisou e concordou.
A engenheira adentrou o corredor da garagem para pagar o iPad que havia esquecido na sala de reuniões, mas antes que pudesse entrar, notou que a sala estava ocupada e uma voz raivosa era bastante audível.
— Ela não pode mais ficar aqui — escutou Marlo dizer. — É uma vergonha.
cerrou os punhos e quis invadir o cômodo para descontar toda a raiva que sentia, mas optou por ficar em silêncio e esperar seu superior defendê-la.
Mas nunca aconteceu. Giancarlo não disse uma só palavra e sentiu seu mundo começar a ruir.
27 de maio de 2022
Monte Carlo, Mônaco
acordou em um pulo e percebeu que suava frio. Apertou os olhos com força, mas seus pensamentos foram invadidos novamente por uma enxurrada de lembranças que ela não queria ter. Não naquele lugar, naquela cidade.
A estadunidense sentou na cama, segurou as duas pernas com os braços e colocou a cabeça sobre os joelhos, mas antes que uma lágrima escorresse, sentiu seu corpo ser protegido. Os braços esguios e quentes de a envolveram como se fosse um casulo; o piloto não disse nada, apenas permaneceu ali, com ela em seus braços e sua cabeça encostada nas costas da mulher. E então, sentiu-se segura o suficiente para chorar. Sentiu-se cuidada o suficiente para contar de uma vez o que guardava dentro de sua mente e coração.
— Não quero mais guardar isso de você — saiu em um sussurro, mas alto o suficiente para que o piloto escutasse. — Eu não era só engenheira de Giuseppe. Nós tínhamos começado a namorar, iria fazer um mês.
pensou que o australiano iria soltá-la, mas ele não o fez. apertou seus braços em volta da mulher ainda mais, e ela o segurou como se precisasse tocar em seu corpo. Era como se tê-lo ali significasse segurança. E, de fato, ela estava segura.
era capaz de travar uma guerra com um sorriso no rosto por causa de Earnhardt.
— Convivíamos muito. Eu era mais velha que ele e resolvi arriscar. Na época eu sabia e hoje também, mais ainda, que o amor que eu sentia por Giuseppe não chegava nem perto do que ele sentia por mim. E acho que isso me fez me sentir ainda pior quando tudo aconteceu. Ele se foi sem ter a chance de alguém ter amado ele direito — fungou. — Eu nunca contei nada disso para alguém durante todos esses anos, além da minha psicóloga e Charlie. Foi inevitável contar para Leclerc. Eles eram melhores amigos e ele sabia de tudo, só não ligava a imagem à pessoa. E me desculpe, Dolce, eu não queria ter escondido.
— Amore mio — falou pela primeira vez naquela madrugada —, olhe para mim, ok? — soltou seus braços; virou-se e ficou à sua frente, e o australiano fez um carinho em sua face. — Você não tem que pedir desculpas, não teve erro. Você me pediu um tempo e disse que contaria quando estivesse pronta, e esse é o seu momento. Estarei aqui, sempre, não importa o que aconteça.
— Você não está com raiva?
— Céus, amor, não! — pegou suas mãos e depositou um beijo em cada uma. — E não se culpe por não ter amado Giuseppe da mesma forma que ele te amou. , as pessoas têm diferentes formas de amar. Não se cobre e nem se martirize por isso. Tenho certeza que Fernandez foi muito feliz ao seu lado, assim como eu sou hoje, pelo simples fato de você ser você, Principessa. É um privilégio te amar, Earnhardt. E que bom que Giuseppe teve esse privilégio em vida.
— Eu te amo muito — se declarou, e limpou as lágrimas que ainda insistiam em molhar o rosto dela. — Lembra em Imola, quando saí cedo? Eu fui ao cemitério onde enterraram Giuseppe — confessou, e passou o braço por seus ombros, a trazendo para perto. — E, hm, eu nunca perguntei, mas… você o conhecia? A gente não costumava falar sobre nossas vidas pessoais, afinal, eu só vivia para trabalhar, e ele era muito reservado.
— Eu o conhecia, sim, mas não éramos amigos ou próximos — explicou. — Giuseppe era bem mais novo, mas você sabe, querendo ou não aqui a gente acaba se conhecendo. Ele tinha chegado há apenas um ano e meio ou dois. Não frequentamos os mesmos karts nem nada, mas quando ele morreu foi um baque forte. Ele era o futuro da Ferrari. E eu não faço ideia como você se sentiu — fez carinho nas mãos da namorada, que deixou a cabeça cair sobre seu ombro. — Eu sinto muito que tenha passado por isso sozinha.
— Não me deixaram ir ao velório — ela murmurou. — Isso me doía muito, ficou marcado, sabe? Por isso quando chegamos em Imola, preferi ir sozinha e enfrentar de vez tudo isso. Encontrei Leclerc, inclusive.
— Eles eram bem próximos. Cresceram juntos, só que Giuseppe seguiu a mesma linha que Verstappen, pulou etapas e veio direto pra Fórmula 1. Mas acho que isso você já sabe.
— Sei — respondeu, e os dois ficaram em silêncio. Mas estava longe de ser desconfortável, era apenas onde eles se entendiam mesmo sem precisar algo.
continuou com a cabeça repousada no ombro do piloto enquanto brincava com as tatuagens na coxa dele. lhe fazia carinho em suas mãos, dando diversos beijinhos nas dobras de seus dedos.
— Obrigada — disse após um tempo.
— Por que você está me agradecendo, querida?
— Por você ter me amado direito e por ter me deixado te amar direito — sorriu. — Eu não me sinto mais sozinha.
a beijou suavemente e a aninhou em seu corpo, fazendo carinho por toda a extensão de seus braços. O silêncio do quarto era reconfortante. Não existia mais nada entre eles, nenhum segredo, vergonha, nada. Eles eram finalmente um do outro. De corpo e alma.
A chuva fina caía em Mônaco quando e acordaram no apartamento do australiano. Uma das coisas que adorava de estar em Mônaco, para além de toda a importância da corrida, era que tinha sua própria casa e não precisava passar dias em hotéis ou alugar carros. Ele tinha tudo ali. Até mesmo um iate que sempre alugava quando queria festejar.
se remexeu na cama e a abraçou ainda mais forte, impedindo-a que levantasse de sua cama pois queria aproveitar cada minuto ali, naquela paz da manhã chuvosa. Mas Earnhardt era pontual demais para deixar o australiano atrasá-la para o primeiro dia de paddock em Monte Carlo. A estadunidense tinha muita coisa para resolver e não queria deixar nenhum detalhe do carro passar batido.
Não naquele fim de semana.
As memórias ainda pareciam muito vívidas na mente da engenheira, e quando ela deu uma última olhada em , que estava jogado na cama e enrolado no edredom enquanto assistia ao noticiário, desejou que ele ficasse ali. Protegido. Respirou fundo, sabendo que não era possível, e entrou no banheiro.
— ! — gritou antes de aumentar o volume da televisão. — Venha ver isso.
saiu enrolada na toalha e parou em frente à televisão. Era Mattia Binotto, e ele estava visivelmente estressado.
— Eu já disse que não iria mais falar sobre isso, mas vocês parecem me obrigar, e essa é a última vez. O pronunciamento da Ferrari foi feito na época do acidente e ele é mantido até hoje. O que aconteceu em 2016 foi uma fatalidade e infelizmente é algo passível de acontecer no mundo da Fórmula 1, por mais que a gente se aprimore com o passar dos anos. — O homem ajeitou os os óculos e continuou: — E, para finalizar esse assunto, gostaria de deixar claro que a doutora Earnhardt foi uma das engenheiras mais brilhantes que já passaram pela Ferrari. Fico imensamente feliz que ela esteja novamente na Fórmula 1. O esporte só tem a ganhar com ela.
E o homem deixou a área de imprensa, pegando todos de surpresa.
— Meu Deus — as duas palavras em italiano foram a única coisa que conseguiu dizer antes de se sentar na cama, ainda encarando a televisão, atônita. — Meu Deus.
— Ah, meu amor — a abraçou, e as lágrimas da estadunidense o molharam. — Você é incrível.
— Mattia falou de mim. Depois de todos esses anos, ele reconheceu meu trabalho.
— Ele seria ainda mais estúpido se não o fizesse — depositou um beijo no topo de sua cabeça, e ela o abraçou mais forte. — Meu Deus, eu namoro uma doutora. Quando a gente casar, vou roubar seu título e sobrenome pra mim.
— Nós vamos nos casar? — perguntou, e tinha um sorriso enorme nos lábios.
— É claro que vamos nos casar. Eu não sou tão burro a ponto de deixar uma mulher como você escapar, doutora. Fique sabendo que trocarei meu nome para Doutor Joseph Earnhardt.
soltou uma risada que fez o coração de pular de alegria. Ele adorava vê-la feliz daquele jeito, ainda mais em dias difíceis como aqueles estavam sendo por ela estar em Mônaco novamente.
— Foda-se o patriarcado, querida.
— Desse jeito eu deixo você usar meu título.
— Vou providenciar esse casamento agora.
continuou a rir e empurrou na cama, sentando-se sobre ele e selando seus lábios com um beijo. pressionou suas mãos no quadril da mulher, deixando um carinho rude e, ao mesmo tempo – se é que pudesse –, gentil ali. Earnhardt passou suas mãos pelo seu tórax, dedilhando com cuidado cada músculo aparente seu. Traçou as linhas de suas tatuagens e voltou-se para seu rosto, deixando beijos por toda a extensão de seu pescoço.
amava tocá-lo. Poderia fazer isso durante o dia todo e sempre descobriria alguma coisa nova no corpo do australiano. Como a reentrância acima do meio do seu lábio superior, que ela achava sensual demais, ou o pequeno sinal na sua costela que parecia uma lua. Ao observar as sobrancelhas dele se unirem e os dentes morderem o lábio inferior, o achou ainda mais lindo, com os primeiros vestígios de suor salpicarem por seus cabelos e os fazerem ficarem grudados em sua testa.
Então, não se importou mais com o horário. Aquele era um dos efeitos do australiano sobre ela. Bastava um toque e pronto, era completamente rendida por ele. Naquele momento, poderia ficar naquela cama para sempre.
a ajeitou sobre seu colo e, antes que a mulher passeasse suas mãos sobre seu corpo novamente, ele depositou um beijo em sua clavícula, passeando livremente por todo o seu colo, fazendo gemer a cada beijo e mordida que deixava. poderia fazer aquilo durante o dia todo: admirá-la e tocá-la em cada pequena parte de seu corpo. Ele era seu devoto. Tinha a ciência de que faria de tudo por aquela mulher que estava sentada sobre ele, com um sorriso nos lábios e a cabeça jogada para trás, murmurando coisas que nem ele mesmo entendia.
— Meravigliosa — disse com a voz rouca em seu ouvido antes de deixar mais um beijo molhado na dobra de seu pescoço, a tempo de ver onde a mão da mulher estava em si própria. — Perfetta.
poderia ficar ali somente a observando se tocar, mas não resistiria por muito mais tempo, então se colocou dentro da mulher enquanto ela deslizava sobre si própria. O gemido de tornou-se o som mais incrível que o piloto já tinha escutado em sua vida. E os gemidos e grunhidos dos dois, combinados, ao passo em que ela subia e descia nele, era como uma sintonia perfeita. Nem Beethoven seria capaz de compor algo assim.
Os dois chegaram ao limite juntos e explodiram um no outro. beijou , deitou a cabeça em seu peito e a mão em cima do seu coração, que batia acelerado, como se tivesse acabado de sair de mais uma corrida. Seu corpo também pingava igual. Mas a sensação era muito melhor.
— Você vai me fazer ter um ataque cardíaco, mulher — ele murmurou, passando sua mão por toda a extensão de suas costas. Para o piloto, até o suor daquela mulher era sexy. — Por Deus.
riu e sentiu-se em paz. Ficaram em silêncio por mais de vinte minutos, até que ela se levantou e foi em direção ao banheiro. Não queria, mas precisava trabalhar, tinha obrigações a cumprir. precisava de bons resultados para que tudo entrasse nos eixos novamente.
Porém, ainda que não viesse naquela etapa, estaria feliz. Estava, enfim, livre. E era amada, muito bem amada.
Ao escutar a mulher cantarolar no banheiro, jurou para si mesmo que faria o possível e o impossível para que ressignificasse suas memórias na cidade, porque ela merecia. Seu legado não era um passado ruim, mas sim de glórias e um futuro ainda melhor. E o australiano iria contribuir para aquilo.
Ele lhe traria um pódio. seria campeão em Monte Carlo.
29 de maio de 2022
GP de Mônaco, Monte Carlo
ajeitou o casaco grande da McLaren em seu corpo pela décima vez naquele dia. Ela gostava de dias frios, mas odiava quando as chuvas vinham em dias de Grand Prix. A engenheira sabia que tinha um desempenho excelente nas pistas molhadas, mas nem isso a tranquilizava – Monte Carlo não lhe trazia lembranças boas.
Ainda era perturbador estar ali. evitava fechar os olhos porque tinhas flashes do dia em que Giuseppe sofreu o acidente. Aquele era o legado de Monte Carlo para ela: morte e a certeza que ela havia fracassado como engenheira, desrespeitando a promessa que fez para o pai quando ele morreu.
— Você está bem? — a voz de tomou conta de sua cabeça, lhe tirando de seus pensamentos torturantes e ruins. — Você está pálida.
— Quero vomitar — revelou em um murmuro. — Está chovendo muito e a corrida atrasou. Isso não é um bom sinal — ela ajeitou novamente o casaco sobre o corpo. — Vou verificar seu carro.
— Você já viu ele dez vezes hoje, .
— Cuidado nunca é demais.
O australiano respirou fundo quando o deixou sozinho para ir em direção ao carro. não sabia o que fazer, mas estaria ali mesmo assim. Ele só queria ser capaz de tirar todas as coisas ruins que pudesse estar atormentando a mulher e lhe dar novas lembranças. Pensava que tinha conseguido quando passearam pela cidade e pelas horas que passaram em seu apartamento, dividindo cervejas ou fazendo amor com a vista para o mar, mas era só ela adentrar o paddock que tudo mudava. parecia se retrair de novo, fechada em seu próprio mundo com a cabeça repleta de pensamentos. Era doloroso vê-la sofrer em silêncio.
tinha a certeza que essa situação só mudaria quando acontecesse algo diferente no paddock, quando a tragédia ficasse permanentemente no passado. precisava enfrentar tudo aquilo para poder deixar as coisas dolorosas para trás.
E era por isso que ele tinha que ganhar naquela tarde.
A corrida retornou ainda sob a garoa e já contava com duas batidas ainda nos primeiros metros. Lance Stroll e Nicholas Latifi causaram o primeiro safety car, mas logo voltaram para a pista.
— Pista está secando rápido — avisou ao completar a oitava volta. — Ótimos pneus.
— Ok. Tudo certo por aqui — respondeu e respirou aliviada ao fechar o microfone.
teve dificuldade nas primeiras quatro voltas, mas foi questão de tempo até dar a melhor volta, surpreendendo a todos. Tinha sido uma jogada arriscada colocar pneus intermediários ainda com a pista molhada enquanto todos estavam com os de chuva pesada, inclusive o companheiro da própria equipe, Lando Norris. Foi quando saiu do sétimo lugar para o quinto, diminuindo cada vez mais a distância do quarto, que todos os engenheiros perceberam que os pneus intermediários eram a resposta e começaram a parar.
Leclerc abriu cinco segundos de distância do companheiro Sainz, que estava a dois segundos de ser ultrapassado por Verstappen, que berrava no microfone que era cedo demais para trocar os pneus.
— DRS disponível após a próxima curva — avisou quando diminuiu mais alguns milésimos de Russell. — Ultrapasse.
— Vamos lá, baby — ele respondeu, e soltou um pigarro.
— Pare de chamar seu carro de “baby”. Ele é um monstrinho — ela disfarçou rapidamente e rezou para que ninguém percebesse que, na verdade, era com ela que o australiano estava falando.
Ninguém do pitwall pareceu dar importância para o pequeno diálogo. conseguiu colocar o carro ao lado de George, o ultrapassando sem dificuldade. assumiu o quarto lugar e apertou o volante com mais força – ele arriscaria tudo para ficar no pódio.
E foi quando tudo pareceu entrar nos eixos para o piloto. A Ferrari sofreu com a tomada de decisões dos engenheiros, quando mandou Sainz entrar e, em seguida, falou para ele continuar na pista, recebendo então Leclerc. O monegasco voltou para a pista com pneus intermediários e percebeu que a estratégia era errada.
— Box, box, box.
— Entendido.
Se fosse com outro engenheiro, o australiano questionaria, mas com Earnhardt, não. não pensava quando escutava a voz de porque sabia que ela tinha o controle de tudo. Ele apenas confiava.
parou na volta 21 para colocar os pneus duros, e foi quando toda a janela de pit stop virou uma confusão. A Ferrari adotou uma estratégia diferente para Sainz e, após colocar o mesmo tipo de pneu de , chamou novamente Leclerc para o box, realizando um pit stop demasiadamente lento. A Red Bull reagiu imediatamente e logo todas as outras equipes também.
Ainda com as equipes de cabelo em pé para refazer as estratégias, Mick Schumacher perdeu o controle da traseira do carro na área da piscina, rodou e acabou batendo de forma tão violenta que dividiu o carro em dois. arregalou os olhos e a respiração pareceu lhe faltar. A engenheira esperava que o menino estivesse bem.
— Acidente na pista — avisou para o australiano. — Uma Haas.
— Mick? Ele está bem?
— Um momento — demorou dois segundos para mostrarem nas telas que o piloto alemão estava bem e os danos tinham sido apenas materiais. — Mick está bem, confirmo.
— Ok. Muitos estragos?
— Se prepare para uma bandeira vermelha. Atenção.
Não demorou muito para que o safety car fosse trocado para a bandeira vermelha, assim como Earnhardt havia previsto. A corrida estava oficialmente parada.
— Não vamos trocar os pneus — cochichou para quando ele saiu do cockpit. — Permanecemos com os duros, as outras equipes vão enlouquecer para trocar agora. Aparentemente vai chover.
— O que você acha?
— Eu tenho certeza que vai chover — ela colocou a mão sobre a boca, para caso estivessem sendo gravados. — Depois da corrida. Ele não vai até as setenta e sete voltas, minha expectativa é de mais vinte e nove.
— Mais trinta minutos, então?
— Sim — respondeu e o piloto assentiu.
— , eu vou…
— Dirija com cuidado — ela o cortou rapidamente. — A pista de Monte Carlo é traiçoeira. Cuidado e avance quando puder. Você larga em terceiro.
— Te vejo em meia hora.
— Cuidado — repetiu, e foram acompanhados por Michael Italiano e Beatrice Portinari.
A italiana apertou a mão de em um sinal de que estaria ali caso a engenheira precisasse e ela sorriu em resposta, ajeitando o casaco sobre o corpo em seguida. Aquela corrida só precisava acabar com de volta em segurança.
Os carros voltaram para a pista e, assim que colocou o fone de ouvido, respirou fundo e fez o sinal da cruz. Se alguma força superior existisse, teria que estar ao lado de .
Com dez minutos para o fim da corrida, , que já estava em segundo lugar, aproveitou o erro de Carlos com a chicane e diminuiu a distância entre ele por 1,5s. Ultrapassar em Mônaco era difícil e arriscado, mas o australiano já tinha ido longe demais para deixar a oportunidade passar.
— Vou atacar — ele avisou, e o coração de acelerou a medida em que tirava o máximo de seu acelerador.
— .
— Atacarei Sainz na próxima volta — repetiu. — Quanto tempo de corrida?
— Três minutos.
— Três.
— Três — repetiu e, pela imagem interna do carro do australiano, ela percebeu que ele balançava a cabeça afirmativamente enquanto apertava o volante com cada vez mais força.
apertou o freio na curva e sentiu que ele não respondeu em sua totalidade. Se avisasse no microfone, o mandaria desistir de atacar e ele iria obedecer, então preferiu o silêncio.
Tinha três minutos para conseguir ultrapassar o espanhol e o perseguiu como um louco pelas ruas de Monte Carlo, sem se importar com a briga de Charles e Max atrás de si. Ele queria o primeiro lugar. Ele teria o lugar mais alto do pódio naquela tarde.
O australiano colocou lado a lado da Ferrari e o bom senso do espanhol falou mais alto. Talvez fosse a lembrança do acidente recente que envolveu a McLaren e a RedBull. Talvez fosse por erro próprio, mas o carro vermelho perdeu milésimos de segundo, e aproveitou o pequeno espaço para ultrapassá-lo.
era primeiro lugar em Monte Carlo.
— P1, . Dois minutos.
— Ok — o australiano respondeu, tentando não deixar transparecer que tinha algo errado.
— O que tem de errado?
Ela sabia. Não sabia como tinha descoberto, mas ela sabia.
— ! — o chamou novamente, mas teve apenas os ruídos como resposta. — !
Ele preferiu o silêncio do que mentir. E Deus o perdoou por isso quando viu a bandeira quadriculada à sua frente. pareceu não acreditar quando o australiano a atravessou, e as lágrimas tomaram conta de seu corpo.
— Incrível! — disse entre as lágrimas. — Você conseguiu!
— Redenção — o piloto respondeu, tentando conter as próprias lágrimas. — É a sua redenção, porra. Você conseguiu. Você é foda, doutora Earnhardt. Esse é a porra do seu legado em Monte Carlo. O primeiro lugar.
— Obrigada por acreditar em mim. P1, porra!
— Yeaaaaaaaaaaaaaah, baby! — ele gritou, fazendo força nos freios para parar no local indicado, atropelando a placa do primeiro lugar. — Porra!
era o campeão do Grand Prix de Mônaco.
A imagem de com a bandeira da Austrália enrolada na cintura, em cima do carro da McLaren, batendo no próprio peito enquanto gritava e logo após se jogando nos braços de seus mecânicos com toda a certeza ficaria para sempre na mente de .
Todas as esferas daquela vitória tinham sido incríveis. realmente brilhava na chuva, e as decisões certeiras de completaram de forma magnífica aquele talento. Ainda mais depois que ela aprendeu a ignorar as outras vozes do pit wall. Parecia impossível, mas a realidade era que ela fazia parte da Scuderia . E ela tinha assinado aquela vitória em Monte Carlo.
— Você vai subir comigo — disse para a engenheira após sair do Parc Fermé. — No pódio.
— O chefe da equipe quem sobe, Dolce — explicou como se fosse óbvio, mas deu de ombros.
— Eu que ganhei. Nós ganhamos. O pódio é meu e nele sobe quem eu quero, basta ser um representante da equipe — disparou. — E eu quero você.
— ….
— Doutora Earnhardt, me dê a honra de dividir um pódio com você.
E sem conseguir negar, apenas assentiu e o abraçou forte.
não demorou muito para falar com Zak, foi direto e sem rodeios, o que não deu outra alternativa para o chefe da McLaren se não aceitar. As entrevistas foram rápidas, mas tão emocionantes que não conseguia parar de chorar.
— Não ganhei sozinho. Queria deixar público meu agradecimento para a minha engenheira, doutora Earnhardt! — deu um largo sorriso. — Essa etapa era muito difícil e desafiadora para ela, ainda mais depois do assédio recente da mídia, coisa que ela não merecia. Por isso faço questão de falar aqui e sempre: é foda e esse é o legado que ela voltou a construir. Vitórias. Sei que com ela muitas outras ainda vão vir. Obrigado!
O australiano despediu-se da imprensa e entrou na antessala do pódio, com ao seu lado e diversas câmeras no encalço dos dois. A coisa que o australiano mais desejava era pegar no colo e enchê-la de beijos, mas sabia que não poderia. Mesmo dividindo pódio com dois amigos que sabiam do namoro, todos estavam cercados por diversas câmeras, e estariam a todo momento até saírem do paddock, então o cuidado teria que ser ainda maior. compensaria quando chegassem em casa, e disso ele tinha certeza.
foi recebido com alegria na antessala por Carlos e Charles, assim como , e não demorou muito para que fossem chamados para subir no pódio. Leclerc entrou primeiro, Sainz depois e finalmente, com todos os gritos de apoio, entrou com .
Earnhardt chorou ao mesmo tempo que quando o hino da Austrália tomou conta do lugar. Era real. As lembranças ruins já não as importunavam mais, porque naquele dia memórias incríveis estavam sendo construídas. Nada apagaria aquilo.
Com uma batida forte no chão, fez chover champanhe no pódio em Mônaco, molhando especialmente , que mantinha a gargalhada alta ao também jogar a bebida no australiano e nos amigos. Era a primeira vez que ela subia em um pódio na Fórmula 1, e a sensação era única. As câmeras pareciam não existir, somente a brincadeira entre os quatro.
— Shoey, shoey, shoey! — gritou e Charles o encarou com os olhos arregalados, balançando a cabeça de forma negativa. — Vai fazer, sim!
— Estou fora! — avisou ao colocar a garrafa de champanhe no chão.
— Você é a primeira! — disse já com as duas sapatilhas em mãos.
O piloto encheu os calçados de champanhe e, diante da família real monegasca, sob os aplausos e gritos de todos os espectadores, Earnhardt e brindaram as sapatilhas e fizeram o famoso shoey ao mesmo tempo. A engenheira jamais imaginou que um dia fosse beber champanhe em uma sapatilha suada após uma corrida intensa de Fórmula 1, muito menos que fosse do seu namorado, em Monte Carlo, no pódio na frente de milhões de pessoas.
Definitivamente aquele dia seria inesquecível.
Sem conseguirem negar, Charles e Carlos também realizaram o famoso shoey. A cena ficou ainda melhor com as caras e bocas dos ferraristas que não conseguiam esconder o quão ruim era o gosto daquela brincadeira.
— Você me paga — Carlos disse, lhe devolvendo a sapatilha.
— Até que não é tão ruim! — Charles revelou, e o companheiro de equipe o encarou com um misto de nojo e indignação. Para o espanhol, aquilo tinha sido o pior gosto que já havia sentido em toda a sua vida.
— Doente — disse ao mesmo tempo que Carlos e todos voltaram a cair na gargalhada, terminando de beber o que tinha restado nas garrafas.
A comemoração no pódio se encerrou somente para continuar no paddock. As acomodações das equipes eram diferentes em Monte Carlo: ficavam alinhadas uma ao lado da outra, de frente para a marina, que contava com diversos iates ancorados. A vista era incrível.
O motorhome da McLaren estava inteiro em festa. Era um primeiro lugar inédito no ano de e uma zona de pontuação para Lando Norris, ainda que fosse o oitavo lugar. As risadas, assim como as músicas, eram altas. A bebida tinha sido liberada e, quando todos foram para o terraço, aproveitou para ter um momento a sós com sua namorada.
— Finalmente — ele disse ao fechar a porta da sala de na garagem. — Finalmente estou sozinho com você.
sorriu e pulou em seu colo, beijando-o com toda a paixão e vontade que tinha em seu corpo. Até que as lágrimas começaram a lhe molhar a face sem que ela mesma percebesse.
— O que foi, Principessa? Tem algo de errado?
— Não — respondeu rápido e o apertou em um abraço. — Não tem nada de errado — lhe lançou um sorriso suave ao enxugar as lágrimas. — Obrigada por hoje. Você é a salvação da minha vida, .
— Eu te amo — ele acariciou seu rosto ainda molhado. — Você me salvou também. Hoje, quando os meus freios falharam, só conseguia pensar em você.
arregalou os olhos e empurrou levemente o australiano. Ela sabia que tinha alguma coisa errada naqueles minutos finais.
— Seus freios falharam?
— Nada grave, consegui lidar com a situação. Estavam perfeitos durante a corrida inteira, falharam no final, não consegui contar na hora. Tive que escolher.
— Eles devem ter se desgastado por conta de todas essas chuvas, mas você fez certo em não me dizer — confessou. — Eu teria mandado você tirar o pé do acelerador para não correr nenhum risco. Mas não faça isso de novo caso não esteja a poucos segundos de ganhar — soltou uma risada baixa. — Nossa, você mereceu muito essa vitória de hoje.
— Eu acho que mereço mais uma coisa hoje.
A risada de preencheu a sala e a puxou para si. Naquele fim de tarde, ficou evidente o verdadeiro legado de Monte Carlo para Earnhardt: vitória e amor.
Capítulo 24 – Of Love and Life
Find a beautiful love, look straight into their eyes make sure they know they’re your morning light and that you’ll never let go till the day that you die.
(Encontre um lindo amor, olhe diretamente nos olhos deles, certifique-se de que eles saibam que são sua luz matinal e que você nunca vai deixar ir até o dia que morrer)
(Encontre um lindo amor, olhe diretamente nos olhos deles, certifique-se de que eles saibam que são sua luz matinal e que você nunca vai deixar ir até o dia que morrer)
30 de junho de 2022
Londres, Inglaterra
Por mais que o Reino Unido estivesse de luto pela morte da rainha, para Earnhardt, estar ali depois de tudo o que aconteceu era reconfortante.
Foi no país inglês que sua vida mudou, que reencontrou-se tanto de forma pessoal quanto profissional, que passou dias incríveis e também ruins. Foi naquele lugar que descobriu que amava . Estar ali significava que segundas chances eram possíveis.
Por aquele motivo, poderia colocar a Inglaterra como um de seus lugares preferidos no mundo.
— Eu realmente gosto desse hotel — disse ao estender uma xícara de café para , que fazia anotações em seu iPad cor-de-rosa na enorme sacada em frente ao Hyde Park. — As pessoas parecem tão tristes.
— A rainha deles morreu, Dolce. — deu de ombros e pegou o pé da mulher para lhe fazer massagem. — Exatamente aí.
— Eu estou feliz, é muito errado?
— Ela não era sua rainha. Meu país foi colonizado por eles, então não posso me importar menos — encarou o australiano e deu um sorriso. — O seu país também foi tomado por eles. Você pode se sentir feliz.
— Uh, então você é uma sabichona de causas históricas e sociais — respondeu, e riu. — Sou um leigo, mas você pode me ensinar. Sabia que Lewis me ensinou algumas coisas ano passado? Eu fui um tremendo babaca uma vez.
— O que você fez?
— Disse que não gostava de ouvir sobre coisas ruins, então não procurava saber. Foi errado.
o encarou ao tomar um longo gole de seu café.
— Sim, as pessoas morrem enquanto estamos imersos no fantástico mundo do automobilismo. Lewis é importante nesse meio, faz pessoas que nunca pararam para pensar em causas sociais pensarem um pouco. Eu o apoio em cada coisa que ele se manifesta, com exceção da monarquia. Mas eu o entendo, é a cultura dele.
— Você é uma comunista? — perguntou e soltou uma risada, deixando o iPad em cima da pequena mesa.
— Sou comunista e curto carros, gostou? — brincou, e riu. — Eu não sei bem, mas acho que não. Não tenho tanta leitura para me considerar alguma coisa, apenas defendo o que acho certo. Por exemplo, você acha certo alguém morrer por conta da cor de pele?
— Não, isso é errado.
— Isso é racismo e é completamente indefensável. Pessoas brancas também morrem, mas elas não morrem porque são brancas, enquanto pessoas negras morrem unicamente por nascerem com a cor de pele delas. Sabe Beatrice? Mesmo sendo bilionária, ela não está imune a isso, porque a cor de pele dela chega primeiro nos lugares — enquanto falava, a olhava atentamente. — Policiais perseguem pessoas negras e as punem quando nem mesmo são culpadas de algo.
— Tipo com George Floyd? Lewis usou uma blusa também sobre uma mulher.
— Breonna Taylor — completou, e concordou. — Eu acho que quanto mais pessoas falarem sobre o assunto, mais vão se tocar do quanto o nosso mundo é injusto e tem gente que sofre de verdade com isso.
— Isso é uma droga — ele murmurou. — Queria poder fazer algo, mas me sinto hipócrita.
— Hipócrita porque você já falou besteira? Baby, todos nós falamos. O que importa é o que você faz depois.
— Mas me parece errado falar sobre isso quando não entendo. Não sou muito inteligente, você sabe disso. Não quero dar motivos para falarem coisas ruins sobre mim.
— Baby, isso não é sobre você. Mas sobre o que você pode fazer com o engajamento e visibilidade que possui. — respirou fundo e lhe deu um beijo. — Gosto de café.
— Gosto do gosto de café em você — respondeu, e ela sorriu. — Quero fazer alguma coisa sobre isso que conversamos.
— Quer mesmo? De verdade e com seu coração?
— Sim, eu quero — ele passou a mão pelos cachos dela, que já estavam grandes. — Você disse que eu posso fazer a diferença, não é? E isso também afeta pessoas que eu amo. Não consigo imaginar se algo acontecer com Beatrice, por exemplo. Mas, sei lá, ficar falando sobre isso em entrevistas não me parece ser suficiente.
— E não é. Você não precisa fazer isso agora, sabe? Expor o que acha. As pessoas têm um péssimo hábito de ficar cobrando posicionamento dos outros quando nem mesmo elas fazem algo — deu de ombros e terminou seu café em um gole rápido. — Eu conheço algumas organizações que podemos ajudar. Financeiramente, entende? É importante, essas pessoas fazem um trabalho incrível e não recebem nem um por cento do nosso salário.
— Como isso pode ser possível? Se às vezes eu acho que ganho…
— Não termine essa frase — lhe deu um soco na coxa. — Mas, sim, é possível e a gente pode ajudar deixando um pouco mais fácil. O que acha?
— Eu acho perfeito — sorriu e puxou novamente o pé da namorada para seu colo. — Meu Deus, eu namoro uma comunista.
— Abaixo a monarquia.
— Vamos ser expulsos desse país.
soltou uma risada e a acompanhou. Ele aceitaria de bom grado ser expulso do Reino Unido se estivesse com ele.
— Não podemos ser expulsos! Amanhã é seu aniversário.
— Estou cada vez mais velho.
— Experiente, . Não esqueça que só sou dois anos mais nova que você. Não me chame de velha, seu safado.
soltou uma risada que preencheu o lugar. estava certa no final das contas – ele estava se tornando mais experiente em vários âmbitos da sua vida. Nunca foi de se importar com o mundo de fora da Fórmula 1, mas aprendeu que deveria. E sentiu-se grato por ter uma namorada tão incrível e inteligente que o fazia enxergar o mundo de outra forma.
O piloto também estava mais experiente no trabalho. Demorou para perceber, mas finalmente não era mais um completo cego perante as coisas que aconteciam na sua equipe. A namorada costumava brincar que iria para qualquer lugar com ele, exceto a Red Bull, mas ele sabia que lhe apoiaria em tudo, já que mais do que ninguém sabia como a McLaren não era um lugar bom para trabalhar. Com o apoio de Blake, sabia que não ficaria mais muito tempo na escuderia inglesa, e mesmo não tendo a mínima ideia de para onde iria, sabia que o empresário tinha um plano e que tudo seria melhor do que permanecer em um lugar que tentava te sabotar.
Mesmo com todos os problemas dentro da equipe, os seus resultados pessoais não deixavam aquilo perceptível para o mundo exterior. Em Baku havia ganhado em segundo lugar, enquanto no Canadá foi coroado novamente no lugar mais alto do pódio. E mesmo estando atrás das duas Ferraris e Red Bulls na classificação geral, o seu resultado já era muito melhor do que o do ano anterior, em que ficou fora do Top 10 pelo ano inteiro, mesmo com a vitória em Austin.
No fim das contas, sabia o motivo daquilo, e ele tinha estatura mediana, uma língua afiada, olhos castanhos escuros desafiadores e instigantes, cérebro que pensava fórmulas matemáticas a 380 km/h, cabelo preto até o meio das costas, quase sempre partido com perfeição ao meio, e pequenas sardas pelo rosto que parecia ter sido beijado pelo sol. Daylin Miller Earnhardt.
— Daylin, sabe o que estou pensando?
“ Daylin”. grunhiu no mesmo instante e sentiu que a mulher poderia matá-lo apenas com um olhar. Earnhardt detestava o nome do meio, por mais que fosse uma homenagem direta ao nome de seu falecido pai. Ninguém além de sua família sabia a existência dele até Dale Junior revelar para o piloto em uma chamada de vídeo. Naquele momento, soube que nunca mais teria paz.
— Eu vou matar Junior por ele ter te contado meu segundo nome — reclamou, arrancando uma risada do australiano, que foi atacado com uma almofada. — O que você está pensando?
— Primeiro, Daylin é um nome incrível! Facilmente colocaria o nome da nossa filha de Daylin.
— Vai pensando assim mesmo que você nunca vai ter uma filha minha — retrucou e lhe jogou a almofada de volta, indignado.
— Você está louca, teremos três filhos.
gargalhou e recebeu mais uma almofada em seu colo.
— Mas, sim, Daylin, você nunca me disse quando é o dia do seu aniversário. E como sou um homem bom, nunca roubei sua identidade para fuxicar.
— Dois de janeiro.
Ele assentiu e ficou em silêncio por um momento, como se estivesse guardando a informação. Mas bastou um longo minuto para que o australiano soltasse um grito de indignação e se levantasse da cadeira, apontando o dedo para Earnhardt.
— Estávamos juntos em Woking nesse dia e você não disse nada! — acusou. — Você não deu nenhuma pista!
— Dolce, eu não comemoro meus aniversários.
— Mesmo assim! Nossa minha mãe e Michelle deixaram as crianças com a gente e foram fazer compras! Você poderia ter ido fazer compras. Era seu dia.
estava frustrado e irritado consigo mesmo por não ter preparado nada no dia. Ele era um verdadeiro amante de aniversários e adorava fazer algo especial para as pessoas que amava, porque achava que a vida tinha que ser celebrada. Mas não fez nada para a mulher que amava.
— Amore mio, eu não comemoro meu aniversário desde os meus dez anos de idade — ela revelou, e a encarou como se fosse impossível. Para ele, todas as crianças deveriam ter uma grande festa e celebrar sua vida. — Meu pai morreu quando eu tinha dez anos e eu não tive mais festas. E não passei sozinha, você e as crianças estavam comigo. E mesmo que você não soubesse, foi o melhor aniversário da minha vida em muitos anos.
abraçou e lhe roubou um beijo, encostando-se no parapeito da sacada do Mandarin Hotel. Aquele realmente era um bom dia. Até mesmo o clima que sempre era irritantemente chuvoso em Londres estava colaborando. Tinha sol e ventava.
— Nesse dia ficamos deitados naquele sofá enorme da sala com as crianças assistindo aos filmes antigos das princesas da Disney que Isa pediu, vimos a trilogia de Carros, fizemos biscoitos amanteigados e ainda montamos o castelo da Barbie de Isa que Isaac destruiu cinco minutos depois e remontamos tudo — ela lembrou, e sorriu ao recordar de todos aqueles momentos. E da forma que desde antes deles sequer terem se beijado, já sabia que a amava e no quanto as coisas eram fáceis com por perto. — Quando seus pais chegaram com Michelle, eles fizeram o jantar. Depois que subiram, passamos a noite inteira sentados nas espreguiçadeiras na beira da piscina, bebendo cerveja e falando sobre corridas da Nascar — deu um sorriso de canto e encarou o namorado, que tinha os olhos atentos em seu rosto. — Foi um aniversário incrível.
— Foi nesse dia que te perturbei para saber dos rituais do seu pai antes das corridas. O homem era bom.
— Sim — ela concordou, rindo. — E também seu pai me deu uma miniatura de carro da Nascar que achou em Londres e Michelle me deu um vestido novo.
— Até a intrometida da Michelle te deu um presente e eu não — reclamou. — Vou resolver isso.
— Isso aí é verdade, você nunca pagou o vestido que estragou em Charlotte.
— Você não vai esquecer disso nunca?
— Contarei para meus filhos.
— A-há! — gritou e riu, dando-lhe um tapa no peito. Ele estava tão perto que quase a deixou surda. — Então teremos filhos.
não respondeu, mas o beijou de uma forma suave que fez soltar um suspiro.
Aquele definitivamente era um dia bom. era seu grande e lindo amor, e nada mudaria aquilo.
4 de julho de 2022
Londres, Inglaterra
A corrida em Silverstone tinha sido uma das preferidas de até aquele dia. Tudo pareceu se encaixar na pista. As estratégias de foram ainda mais precisas, os safety cars que entraram na corrida por duas vezes lhe ajudaram e, ainda que não tivesse conquistado o primeiro lugar, estar ao lado de Carlos Sainz, que pela primeira vez ocupava o lugar mais alto do pódio, pareceu certo. Lewis Hamilton completou o pódio naquele dia, e não deixou a oportunidade escapar de fazer o inglês beber champanhe pela segunda vez na sua sapatilha.
Era a primeira vitória de Carlos Sainz na Fórmula 1, o shoey foi ainda mais especial.
recebeu até mesmo uma festa surpresa em um pub inglês, organizada por sua melhor amiga e agente de relações públicas, Beatrice Portinari.
— Você merece, criatura — a italiana disse ao lhe dar o que deveria ser o décimo abraço do dia. — Não apronte muito essa noite.
— Nunca! — respondeu e ela riu, o fotografando mais uma vez.
Portinari não demorou muito no pub; Leclerc não tinha tido um final de semana bom e, ao mesmo tempo em que estava na festa, sua mente ainda parecia estar na pista. sabia bem como o monegasco se cobrava e não achou ruim quando os dois se despediram. Pelo contrário, o australiano achava que o recém-namoro dos dois faria muito bem para ambos. Era perceptível o quanto Leclerc e Portinari pareciam ter nascido um para o outro, por mais que aquilo deixasse Max Verstappen totalmente fora do jogo.
A festa no pub na noite anterior tinha sido divertida, mas a parte preferida foi quando o australiano voltou para o hotel e comemorou seu aniversário de trinta e três anos sozinho com a namorada. Deus, ele poderia fazer aquilo para sempre e nunca se cansaria. Nunca era igual.
rolou pela casa e abriu os olhos no mesmo instante que não sentiu a estadunidense ao seu lado. Não era daquele jeito que esperava começar o dia. Murmurou contrariado, levantou-se, vestiu a calça de moletom jogada no canto da cama e foi em direção à sacada. Sorriu assim que a viu – ela usava uma blusa azul sua, sentada na cadeira, as pernas dobradas e o iPad encostado sobre suas coxas. Estava tão entretida na leitura que tomava o café de forma automática.
Ela era linda.
— Bom dia — disse e levantou os olhos, sorrindo em seguida. — Acordou cedo.
— Joseph , por mim você só andaria assim agora — ela apontou para o seu abdômen nu que fazia um V perfeito no seu quadril. Com toda a certeza aquela era a entrada do paraíso. E Earnhardt achava uma das coisas mais sexy no corpo do australiano, ainda que as tatuagens, o cabelo cacheado e o nariz grande definitivamente fossem as suas partes preferidas.
— Posso sair assim na rua? — perguntou ao se sentar na cadeira ao lado da mulher, que estreitou os olhos em sua direção.
— Nem pensar. Não sou uma mulher ciumenta, mas é bom se preservar. Já basta as marias-paddocks atrás de você.
— Ei! — protestou. — Não tem nenhuma maria-paddock atrás de mim.
— Você se faz de sonso! — gargalhou. — Todas aquelas mulheres que ficam passeando por lá e não perdem uma oportunidade de jogar flertar barato para cima de você, não lembra não?
— Não percebo! A única mulher que eu quero não joga flertes baratos e nem me assume. Sério, baby, odeio não poder fazer várias coisas com você publicamente. Em Mônaco, Leclerc beijou Beatrice na frente de todo mundo antes de subir no pódio, Alex anda pra cima e pra baixo com a namorada e a gente não pode nem ficar de mãos dadas — desabafou. — É um saco fingir que não estou apaixonado por você. E eu acho que os caras que não sabem da gente já começaram a achar que eu sou gay. Não que seja um problema, mas ontem Pierre tentou me empurrar para um cara. Foi constrangedor.
soltou uma risada ao lembrar da cena e do pequeno desespero do australiano no pub inglês.
— A gente não pode nem passear!
— Desculpe, querido — Earnhardt esticou-se para lhe dar um beijo na bochecha.
— Não peça desculpas, não é sua culpa.
— Queria que as coisas fossem diferentes, mas você sabe que no momento em que assumirmos, tudo vira de cabeça para baixo, não sabe?
— Eu sei de tudo, só que é uma porcaria. Esse mundo é uma merda. Se eu digo que amo você e estamos juntos, logo todo seu trabalho vai ser resumido a mim. Você vai ser assediada por todos aqueles jornalistas insuportáveis e tudo vai virar uma confusão. Isso não é certo.
— Sim, não é.
bufou e levantou-se, lhe estendendo a mão para que pudesse levantar também.
— Mas podemos sair, se você quiser. Nunca fizemos nenhum tour por nenhuma cidade em que fomos, e acho isso um desperdício.
— É sério? — perguntou e podia jurar que seus olhos estavam brilhando.
— Sim. Seu presente de aniversário, o que acha? Um tour por Londres pago por Earnhardt.
— A minha namorada milionária.
gargalhou.
— Vamos — ele chamou.
— Avise para Beatrice depois que sairmos do banho, só para ela ficar atenta caso saia alguma notícia com duplo sentido. Beatrice sempre sabe o que fazer.
— Sairmos do banho, huh?
— Feliz aniversário — sussurrou antes de deixar o roupão cair pelo seu corpo e entrou no quarto.
definitivamente amava a semana de seu aniversário.
era um verdadeiro amante de música. Ele passava várias horas do dia montando playlists que ninguém além dele tinha acesso. Inclusive, havia feito duas para e a engenheira não fazia ideia, muito menos que a terceira já estava em andamento. Something dos Beatles era a primeira música da terceira playlist, e com certeza a foto que ele tirou da estadunidense em plena Abbey Road, a famosa rua dos Beatles, seria a capa dela.
Os dois passearam pelo bairro por quase uma hora, cantarolaram algumas das músicas da banda britânica e descobriu que Here Comes The Sun era uma das músicas preferidas da engenheira graças a seu pai. Sempre que a música preenchia os cômodos da casa em Charlotte, descia as escadas correndo porque sabia que o piloto estava em casa.
Trocaram o histórico museu National Gallery pela Galeria Tate Britain, na margem norte do Tâmisa, lugar onde antes havia uma penitenciária.
— Será que as pessoas morreram aqui? — o australiano perguntou baixinho quando adentraram mais uma sala repleta de obras.
— Era uma cadeia. Com certeza morreram várias pessoas.
— Espíritos por todo o lugar — ele apontou para uma obra de J.M.W. Turner e fez a mulher soltar uma risada.
rapidamente cobriu a boca com a mão por conta do barulho e puxou para fora dali. Eles realmente não poderiam ficar mais de quinze minutos em um lugar como aquele, eram mal comportados demais para aquilo.
e Earnhardt continuaram o passeio a pé. Passando pelo prédio do parlamento britânico e o famoso Big Ben, eles atravessaram a ponte de Westminster e em poucos minutos estavam na entrada do London Eye, a famosa roda gigante de 135 metros de altura. Não pensaram duas vezes antes de entrar na pequena fila e Earnhardt não pensou duas vezes antes de desembolsar setecentos euros para conseguir uma cápsula privativa com direito a champanhe e aperitivos.
— É só porque é a semana do seu aniversário — avisou quando entraram na cápsula, fazendo o piloto soltar uma gargalhada. — Você quem gasta dinheiro igual maluco.
— Você quem fechou o andar de um restaurante inteiro na Arábia.
— Culpada — ela levantou as mãos em forma de rendição e o piloto a beijou.
— Eu amo você — declarou-se, e o envolveu em um abraço apertado. — É a melhor semana de aniversário de todas, obrigado.
— Eu também amo você.
Os dois aproveitaram a bebida e comida a que tinham direito, sem falar no tempo em que puderam ficar abraçados, aproveitando a vista indescritível que puderam ter quando chegaram no topo da roda gigante. Londres parecia minúscula dali.
Tanto quanto queriam ficar ali para sempre. Somente os dois, sem nenhum problema para atrapalhar. Nunca pareceu tão certo estar com alguém, ainda que estivessem sob o território da porcaria de uma monarquia.
Se estivessem juntos, valeria a pena cada minuto.
20 de julho de 2022
Paris, França
A semana na Áustria tinha resultado em um quarto lugar para e uma ainda mais confiante com a mudança que tinha realizado no carro do australiano. A mulher passou os cálculos finais para os outros engenheiros da McLaren, mas nenhum parecia descobrir, o que de fato fez a mudança no carro número três, e não seria ela que sujaria suas mãos de graxa para fazer aquilo no outro veículo.
Que fizessem sozinhos.
— Vou sair com Charles, mas te encontro no restaurante lá embaixo para almoçar, tudo bem? — avisou assim que terminou de calçar seus Vans. — Beatrice e ele não estão, hm, muito bem.
— Você não deveria conversar com ela? Bea é sua melhor amiga.
— Preciso colocar juízo na cabeça de Charles.
concordou, soltando uma risada.
— Vou fingir que não escutei essa risada, Daylin.
— Vá se foder — resmungou, e a interrompeu com um beijo.
— Almoço no restaurante — ele repetiu e saiu do quarto. — Não vou atrasar.
Não demorou muito para o australiano entrar na BMW X6 e acelerar em direção ao hotel em que o monegasco estava hospedado. O Four Seasons Hotel George V Paris não ficava muito longe de onde a McLaren estava, e o caminho não era de difícil acesso. mal encostou na entrada do hotel e Charles pulou para dentro, carregando uma pasta marrom nas mãos.
— Por que você está dirigindo carro de pai? está grávida? — perguntou, analisando o interior do veículo.
— Quem me dera — respondeu e Charles torceu os lábios, soltando um grunhido de reprovação. — E isso não é carro de pai, é uma BMW. O aluguel foi caro, porra.
— É uma SUV, carro de quem tem criança para carregar. Carlos e eu não vamos alugar um carro desse tão cedo.
— Pois tomara que você faça um filho por acidente.
Leclerc soltou uma risada e deu de ombros.
— Beatrice mal comemorou quando ganhei semana passada, quem dirá ter um bebê. Acho que ela preferia morrer do que ter um filho meu.
— Aprendeu a fazer drama assim com quem? — balançou a cabeça negativamente. — O que tem acontecido com vocês? Mônaco foi lindo.
— Eu nem sei, ela se fechou completamente. Juro que acho que fumou uma carteira de cigarro inteira em um dia. Você sabia que ela fumava?
tirou os olhos da pista por um segundo, então Leclerc já tinha sua resposta. não fazia ideia alguma do que ele estava falando.
— Eu também não sabia. Aconteceu alguma coisa com ela, tenho certeza. E sabe com quem ela conversa? Com Verstappen.
— Com Max? Fala sério, isso é apenas ciúmes seu.
— Não é — o monegasco tamborilou os dedos na coxa. — Quer dizer, é. Mas ela conversa com ele porque eu escutei a voz dele no quarto na Áustria, e quando entrei, ela desligou o telefone. Beatrice não disse uma palavra e tá toda esquisita. Você sabia que ela está hospedada no mesmo hotel que o seu?
— Beatrice tá no Le Bristol? — perguntou, e o amigo confirmou. — Eu sinto muito, Charlie. Não fazia ideia de nada disso, estou tão surpreso quanto você. Acho que também não sabe, porque não disse nada.
— Imaginei. Se você perguntar a Max, ele sabe.
— Não vou perguntar nada a Maximillian. A namorada é sua, porra. Vá até o Bristol mais tarde e converse com ela.
Charles suspirou, jogou a cabeça para trás, bateu no banco e recebeu um tapinha de conforto na coxa do amigo australiano. o entendia porque passou por aquilo com ; demorou para que ela o deixasse entrar em seu mundo. Não era um processo fácil.
O australiano também se culpou como amigo, por não perceber o quanto Beatrice estava distante. A negra fazia seu trabalho com perfeição, mas quando acabava suas obrigações, começou a se despedir mais cedo e ficar completamente na sua. estava mais preocupado em resolver os próprios problemas dentro da McLaren e em seu relacionamento com para perceber. Não notou nem mesmo que a melhor amiga de anos era fumante.
estacionou em frente ao Ladurée, uma confeitaria bastante conhecida na capital francesa, localizada próximo ao Louvre, e rapidamente os dois já estavam acomodados, com o cardápio em mãos.
— Beatrice adora os macarons daqui — Leclerc disse ao fechar o cardápio. — Hm, eu quero todos esses para levar.
— Todos, senhor?
— Sim, do cardápio. Os minis também.
— Você vai se desculpar com doces? — perguntou tentando esconder uma risada.
— E flores — sorriu de canto e passou a mão pela testa, concordando.
O australiano fez seu pedido e aproveitou o embalo do amigo monegasco e também encomendou macarons para viagem, ainda que não fosse exatamente uma fã de doces.
— Por falar em problemas com mulheres…
— Seus problemas com uma mulher bastante específica — o interrompeu. — Eu estou ótimo com a minha mulher.
Leclerc rolou os olhos.
— Carlos está com Lunna?!
— Isso foi uma pergunta ou afirmação? — quis saber, e Charles deu de ombros. — Ninguém me disse nada, nem mesmo .
— Nem para mim! — ele soou indignado. — Acho que eles estão juntos e ninguém sabe.
— Por que você acha isso? Lunna com certeza contaria para .
— Não contaria por ser Carlos, todo mundo sabe que ele e problema são a mesma coisa. Lunna deve estar com vergonha — Charles justificou e riu. — Tudo se encaixa para eles estarem juntos. Carlos nunca faltou uma festa dele, aí ele foi para um karaokê na puta que pariu em Madrid. Quando estamos em Maranello e Fiorano, ele não fica mais muito tempo, hm, à toa — contava nos dedos. — E também começou a aparecer uns arranhões esquisitos nas costas dele.
— Não quero nem imaginar como você viu isso.
— Você tem uma mente podre.
deu de ombros. Charles continuou:
— Se eles estiverem juntos, vai ser um perigo.
— Por quê? Lunna é incrível.
— Justamente! Se acontecer alguma merda, vamos ter que escolher um lado, e agora somos todos amigos.
— Charlie, amigo, isso nao é a porra de um seriado americano de romance. Se Carlos fizer alguma merda, apenas tentamos não deixar e Beatrice o assassinarem. Somos a ONU nessa situação, nossa função é manter a paz.
Leclerc torceu os lábios.
— Como você sabe o que a ONU faz, porra?
— Tenho lido algumas coisas.
Charles o encarou com os olhos semicerrados. Então, admitiu:
— .
— Tá explicado. E por falar em — bateu na própria testa —, hm, descobri coisas sobre aquilo. Deixei no banco do carro o envelope. Entrei em contato com um antigo conhecido da Sauber, era ligado a Ferrari, e ele me disse que além da , um mecânico saiu um mês depois, pediu demissão. O que eu achei estranho, porque na maioria das vezes eles se transferem para outra equipe, mas isso não aconteceu. Consegui em Maranello a ficha inteira dele, e ainda estava no nosso sistema. Achei a da também, imprimi e deixei no envelope. Acho que esse homem pode saber coisas, porque ele sumiu do mundo da Fórmula 1.
escutava tudo atentamente. As informações de Charles eram soltas, mas poderiam fazer sentido no final das contas. Bastava achar outras peças.
— Acho que se você encontrá-lo, temos as respostas. Falei com Carlos e…
— Você contou que estamos investigando isso?
— Não, não contei nada. Falei com ele porque o pai dele é metido com política, sei lá, tem contatos. Pedi o nome de um investigador, falei que queria por causa de um assuntos de família mal resolvidos do meu pai e eu queria que ele tivesse paz onde quer que estivesse — passou a mão pelo rosto. — Enfim, o pai dele me passou o contato e disse que é de confiança. O homem descobre tudo, seja o que for. Mas também disse que é caro, do tipo, muito caro.
— Dinheiro não é problema.
— sabe disso?
— Não. E nem pense por um segundo contar, ela me mata e mata você.
— Eu sei. Definitivamente eu sei — Charles suspirou e agradeceu mentalmente quando o garçom trouxe os pedidos para a mesa.
Leclerc cada vez gostava menos daquele assunto e do rumo que tudo poderia tomar, ao passo em que estava ainda mais determinado a descobrir o que tinha acontecido de verdade naquele 29 de maio de 2017. Mas algo que os dois concordavam era que merecia ter paz.
Tudo já tinha ido longe demais.
A sensação esquisita no peito de voltou com tudo naquela manhã. Ela não entendia o porquê, já que tudo parecia estar na mais perfeita ordem. As vitórias estavam vindo, estava subindo no campeonato, seu relacionamento estava bem. Não tinha motivos aparentes para que ela se sentisse assim, mas a sensação estranha não saía de perto dela. Era a mesma que sentiu quando pisou em Mônaco semanas atrás.
Earnhardt preferiu ignorar e seguiu a rotina que já tinha planejado. Trabalhou pela manhã depois de ter tomado um bom café da manhã – como sempre insistia que ela deveria fazer –, tomou seu banho e quando o relógio marcou o horário combinado com o australiano, subiu para o restaurante do hotel.
mal terminou de dizer seu nome e foi imediatamente conduzida para a mesa no segundo andar do lugar, onde estava na companhia de poucos funcionários, que a serviram mesmo quando não fez pedido algum. A engenheira olhou o relógio do celular e estranhou a falta de notificações do piloto, principalmente por ele estar atrasado. não costumava se atrasar.
A engenheira tomou mais um gole de sua recém-bebida servida e bufou. Mais dez minutos tinham se passado sem nenhuma notícia do australiano, o que já a deixava preocupada. Atrasar quinze minutos era uma coisa, agora meia hora já era demais. Seu coração parecia acelerar sem que ela percebesse e suas mãos já estavam suadas. Ela olhou mais uma vez no celular, mas não tinha nada. Estalou os dedos um por um e respirou contando de dez até zero. Não poderia surtar. Não ali.
Até que uma gargalhada conhecida fez seu coração acalmar.
iria matá-lo.
— Principessa — ele abriu um sorriso quando a viu, mas o encarou séria. — Antes que me mate, teve algum protesto cinco ruas daqui. Eu fiquei preso no engarrafamento e minha bateria acabou. Scusami.
— Não suma assim de novo — respondeu em italiano. — Pensei que pudesse ter acontecido algo de ruim.
— Eu estou bem, prometo — ele a confortou na mesma língua. se levantou, o abraçando forte — Me desculpe, Principessa, não chore.
— Só estou com um sentimento ruim.
passou a mão por suas costas e a apertou mais forte.
— Você está mesmo bem? — ela perguntou.
— Sim, eu juro — a beijou, mas o sentimento de que algo ruim pudesse acontecer não saía de seu coração. — Trouxe algo para você. Seu presente de aniversário.
— ! — lhe deu um cutucão. — Eu disse que não precisava.
— Acho que você vai gostar.
Então, uma voz que a engenheira não sabia o quanto estava sentindo falta preencheu o lugar, fazendo com que sua mente e coração se acalmassem no mesmo instante.
— Filha!
— Mamãe — sussurrou para o australiano e virou para a porta. — Mamãe!
— Meu amor. Mamãe está aqui.
atravessou o restaurante às pressas e envolveu a mãe em seus braços.
— Você está linda, meu amor.
— Ah, mamãe — sua voz falhou por conta das lágrimas. — Eu… Meu Deus, você realmente está aqui.
— E eu também, Pinscher. Ou vai dizer que não sentiu minha falta?
— Junior! Porra — soltou a mae e pendurou-se no pescoço do irmão mais velho. — Senti sua falta
— Eu sei — Ralph soltou uma risada e lhe deu uma cotovelada quando a colocou no chão. — Eu também senti sua falta, Pinscher.
— Mas como? Meu Deus, pensei que veria vocês somente na corrida em Austin. Era o combinado.
— nos trouxe — Blanca explicou e o australiano se aproximou com as mãos no bolso, mas logo abriu os braços para que pudesse receber um abraço da mulher. — Acabamos nos atrasando por causa da bagagem de Ralph.
— O que foi, está traficando drogas agora? — a engenheira perguntou e recebeu um olhar de reprovação da mãe.
— Esses franceses idiotas barraram minha mala por conteúdo suspeito. Era a porra de uma ferramenta.
— Por que voce trouxe uma ferramenta para a França, burro?
— Para você. Era a favorita de papai, ele usava para ajeitar os próprios carros. Estava na fazenda no Texas, achei que você ia gostar.
— Por Deus, você é o melhor irmão do mundo — disse e o abraçou.
— Alguém gravou isso? — perguntou, e Earnhardt riu em resposta. — Não precisa, não vou deixá-la esquecer disso.
soltou o irmão e segurou as mãos de . Era graças a ele que sua família estava ali reunida. Ela não tinha se dado conta do quanto sentia falta de tê-los por perto. E ter ali fazia tudo ter ainda mais sentido.
Quando recebeu o beijo rápido do australiano, percebeu que o sentimento ruim que lhe rondava não estava mais ali. era sua luz, de fato. Era o sentimento bom que lhe fez morada. E ela queria tê-lo até seu último dia na Terra.
Capítulo 25 – Feels Like Home
Take my name when I'm dead and gone and throw my ashes in the river
Know that I lived my whole life long and gave all the love that I could’ve given
(Pegue meu nome quando eu morrer e partir e jogue minhas cinzas no rio
Saiba que vivi toda a minha vida e dei todo o amor que eu poderia ter dado)
Know that I lived my whole life long and gave all the love that I could’ve given
(Pegue meu nome quando eu morrer e partir e jogue minhas cinzas no rio
Saiba que vivi toda a minha vida e dei todo o amor que eu poderia ter dado)
29 de julho de 2022
Budapeste, Hungria
Deixar a França foi mais difícil do que imaginou.
A engenheira queria ter ficado na cidade o máximo de tempo possível, aproveitando cada segundo com sua família, levá-los por mais vezes nos pontos turísticos, conversar mais nos jantares… Queria ter mais tempo. Tê-los ao longo daquele final de semana foi um presente que jamais iria esquecer, principalmente ao vê-los tão felizes com a vitória de em Paul Richard após o australiano ter largado da décima posição. Os ventos realmente estavam a favor deles
Tudo parecia na mais perfeita ordem.
Mas ainda assim, precisou se despedir de Blanca e Junior e partir para o próximo país. O que a confortava era que a corrida na Hungria significava que a primeira parte da temporada estava chegando ao fim, e estar ocupando o quinto lugar do campeonato de pilotos era surpreendente. A única McLaren brigando contra as duas Ferraris e Red Bulls. Ninguém poderia imaginar.
Mas ela, sim. Era para isso que trabalhava tanto.
Era por isso que ainda estava sentada no restaurante do hotel, na última mesa onde era incrivelmente calmo e poderia comer a qualquer momento.
— Daylin! — o sotaque alegre monegasco tomou conta de seus ouvidos, ainda que seus fones estivessem quase no volume máximo. — Te achei.
— Não era para achar.
Charles riu e puxou uma cadeira ao lado da mulher.
— Estou trabalhando, ragazzo.
— Por que não está no paddock, hein?
deu de ombros. Nem ela sabia o verdadeiro motivo. Apenas sentiu-se ruim no momento que pisou no lugar. Por conta disso, cumpriu todas as suas obrigações na garagem e voltou ao hotel para que pudesse trabalhar em mais atualizações e aprimoramento do carro do australiano.
— Aqui me parece melhor — sorriu para o amigo. — O que te traz aqui?
— Uma proposta de emprego — respondeu, e o encarou. — Pelo amor de Deus, seja minha engenheira, eu não aguento mais aqueles homens. Eles são burros. Você viu o que aconteceu na minha última corrida…
— Três pit stops catastróficos.
— Você NUNCA faria isso, . Pelo amor de Deus, eu pago quanto você quiser. Dê seu preço.
A engenheira soltou uma risada e bateu nas coxas do piloto, em uma tentativa de consolá-lo.
— Não voltarei para a Ferrari, amore mio. Além do mais, já sou engenheira de .
— Vou dizer a ele que se aposente — Charles se jogou na cadeira e cruzou os braços, um bico se formando em seus lábios. Ele estava frustrado e não era para menos. Tudo parecia estar ruindo na vida dele, até mesmo seu relacionamento com Beatrice. — Quanto você ganha na McLaren? Eu dobro o valor.
— Não vou dizer.
— Mais de um milhão por ano?
— Um pouco mais.
— Em dólar ou euro?
— Dólar.
— Eu pago em euro — Leclerc deu sua cartada final e riu, o puxando para um abraço.
— Vamos tomar uma taça de vinho e eu te mostro algumas coisas que você pode começar a prestar mais atenção dentro da garagem e também na hora de pilotar. O que acha?
Charles sorriu. Vindo de , era uma proposta irrecusável.
— Vinho pode me fazer falar de Beatrice.
— Tudo bem, não me importo. Você sabe, podemos falar sobre tudo.
— Eu amo você, Daylin. De verdade.
— Eu também amo você, Charlie.
Então, o piloto encostou sua cabeça no ombro da engenheira enquanto ela abria seus arquivos no iPad. Charles não fazia ideia do que ela tinha para lhe mostrar, mas com certeza valia mais de um milhão de dólares.
Earnhardt sempre valeria mais.
A estadunidense entrou no quarto do australiano quando os ponteiros do relógio já passavam de uma da madrugada. desviou os olhos do celular no mesmo instante em que ouviu o barulho da porta e abriu os braços, fazendo com que a mulher pulasse na cama, caindo sobre ele.
— Cheiro de vinho! — disse após fungar o pescoço da namorada. — Quantas taças?
— Charlie — respondeu como se fosse autoexplicativo. — Seis. Ele vai ter trabalho amanhã para ficar sem dor de cabeça na classificação.
— Então você está embebedando meus concorrentes? — brincou e recebeu um beliscão na costela.
— Ele se embebedou sozinho. E me ofereceu um emprego, mas isso foi antes de ficar bêbado. Quer me pagar em euro.
— Humpf — bufou. — Vou ter uma conversinha com esse garoto, ninguém rouba minha engenheira assim.
soltou uma gargalhada e beijou o pescoço do australiano, fazendo com que soltasse um suspiro pesado. Ele tirou-a de cima de si rapidamente, o que resultou nela o encarando com um bico gigantesco nos lábios.
— O quão bêbada você está?
— Não estou bêbada. Charlie, sim.
— Três perguntas que você só me responderia se tivesse sóbria.
revirou os olhos, mas concordou com o namorado.
— Primeira. Qual a minha pior corrida na temporada?
— Fácil, Miami. Décima terceira posição.
— Ok. O que deu errado na Arábia?
estalou a língua e balançou a cabeça negativamente:
— Tudo. Mas o que piorou foram os freios que aquele idiota não quis mexer. E eu tinha avisado! — cruzou os braços. — Agora você me deixou com raiva.
— Falta uma pergunta, querida. Desde quando te devo um vestido?
— Vinte e cinco de outubro de 2021.
— Como você pode ser a mulher da minha vida?
— Eu só sou — respondeu dando de ombros e a puxou para si novamente, tirou o cabelo da mulher do lado direito do pescoço e depositou um beijo no lugar exposto, o que a fez se arrepiar completamente.
— Oh, baby — murmurou quando ela se ajeitou acima dele.
Para , os lábios de eram uma de suas partes preferidas do corpo da mulher. Ele amava beijá-la. Amava saborear todas as novas sensações cada vez que a beijava e achava incrível como nunca parecia igual. Estar com era sempre uma descoberta.
O piloto tateou suas costas quase clamando por um pedaço de pele, e, em menos de um minuto, a engenheira já estava completamente desnuda, ainda sobre ele. beijava cada parte exposta do busto da mulher enquanto ela o tocava com ânsia, desesperada para que ele a possuísse a qualquer momento. não tinha pressa alguma; apertou-lhe a pele macia e teve a certeza que poderia morrer a qualquer momento que estaria no paraíso e feliz.
Ali, perdido entre a pele, cheiro e sabor de Earnhardt, soube que se ela fosse embora algum dia, ele estaria perdido. Completamente.
— Nunca me deixe — as palavras saíram antes mesmo que pudesse processar. pegou seu rosto com as mãos, o forçando a encará-la.
— Você me tem — afirmou. — Para sempre, Dolce.
— Sou seu, querida. Até o final da minha vida, saiba disso.
— Que está muito longe.
concordou, deixando escapar uma risada.
— Você está proibido de morrer, sabia?
— Estou morrendo de amores nesse exato momento — ele brincou, e a risada de preencheu o quarto.
Aquele som, tão característico dela, seria capaz de gerar energia para iluminar uma cidade inteira. Ele amava escutá-la gargalhar. Assim como ela era apaixonada pela sua risada alta e contagiante.
— Amo você, .
— Amo você, .
Então, no que era uma promessa silenciosa de que estariam sempre ali, fizeram amor como nunca em suas vidas.
Estar na Hungria significava que as férias estavam mais próximas do que o esperado. mal podia esperar para entrar no próximo avião para os Estados Unidos, conhecer as fazendas da família Earnhardt junto dos carros antigos de Dale e, principalmente, aproveitar cada minuto ao lado de .
Apesar de rodarem o mundo trabalhando juntos, eles nunca tinham um momento longo para estarem confortavelmente a sós sem que fossem as noites em que dividiam, às escondidas, o quarto do hotel. era bastante dedicada ao trabalho e passava incontáveis horas planejando e realizando mudanças em seu carro no box do paddock, enquanto estava treinando com Michael, cumprindo sua agenda com Beatrice ou dentro do carro a mais de 300 km/h.
Ter um pouco de paz seria bom.
— Hey! — disse ao abrir a porta da sala de , mas percebeu-a diferente no mesmo instante quando ela não o recebeu com seu sorriso habitual. — O que aconteceu?
— Não sei — foi sincera.
realmente não sabia o que tinha. Havia acordado primeiro que o australiano, saiu do hotel direto para o paddock e, desde que havia pisado no lugar, seu corpo pareceu ficar adoentado. Uma sensação esquisita dentro dela parecia crescer a cada minuto, e seu coração acelerava cada vez mais.
— Não quero preocupar, tudo bem? Falta meia hora para a corrida e você precisa ir.
— Pode ser estafa, querida — ele foi gentil e a beijou na testa. — Vou pedir para que mandem o médico do paddock vir lhe dar uma olhada. Não vá pra pista hoje, posso ficar com o engenheiro reserva. É apenas uma corrida, não irá me matar.
— Mas estamos indo bem no campeonato! — ela protestou. — Preciso trabalhar para continuarmos assim.
— Se você for, não corro. Digo que passei mal. Não vou entrar naquele carro e deixar você trabalhar passando mal, isso não tem cabimento algum.
— Você é um teimoso.
— Olha quem fala — soltou uma risada e abraçou a namorada, que o segurou por mais alguns segundos.
— Vou ficar no box. O médico pode vir depois da corrida.
— Daylin…
— Prometo que não irei atravessar. Ficarei sentada com os fones só para ouvir você na corrida e ver se o engenheiro não vai fazer besteira, tudo bem?
— Negócio fechado — o australiano aceitou as condições da namorada e ela lhe deu um beijo. — Mal posso esperar para nossas férias.
— Dez horas para estarmos no avião — ela o lembrou e concordou, dando-lhe outro beijo. — Agora você precisa ir, tudo bem?
— Podíamos fugir dessa corrida e adiantar nosso voo — ele comentou, e riu. — Te vejo já.
— Estarei no box torcendo por você.
O australiano lhe roubou um último beijo, e, no momento em que deixou a sala, novamente sentiu o coração acelerar, e daquela vez parecia ainda pior.
— Respire, . É só um momento do dia ruim — disse para si mesma ao prender os cabelos em um rabo de cavalo. — Se acalme.
A estadunidense respirou fundo e saiu da sala, pronta para avisar aos seus superiores que não iria participar ao lado deles naquela corrida. Ela sabia que aquilo, para eles, seria uma bênção. Mas, para si mesma, era um pesadelo.
A classificação no dia anterior não tinha sido a mais ideal para as três principais escuderias que brigavam pelo campeonato.
largaria na sétima posição; Charles Leclerc também sairia do meio do grid, no décimo lugar, enquanto Verstappen largaria do nono. Seus respectivos companheiros estavam em situação um pouco melhor, e por pouco não ficaram fora do Q3.
— Microfone ok, ? — escutou a voz de Julien, engenheiro que estava substituindo , e algo estranho percorreu seu corpo.
Era diferente estar ali sem . Principalmente por ela não estar bem.
— Sim — respondeu e apertou as mãos no volante mais uma vez. Ele sabia o que precisava ser feito: largaria rápido e entraria pelas brechas que iriam aparecer, conseguindo escalar rapidamente ainda nas primeiras voltas.
— Earnhardt também está na escuta, você só não pode ouvi-la, ok? Mas confie em mim hoje.
— Ok — foi curto, e o som cessou.
A corrida iria começar.
As luzes se apagaram e todos aceleram, mas foi quando tentou ultrapassar Fernando Alonso que percebeu imediatamente que tinha algo de errado com o carro.
E tudo aconteceu rápido demais.
— Meus freios! — gritou no microfone. — , sabe resolver.
— , fique calmo, deixe Russell passar!
— Coloque no microfone, porra!
Nas duas primeiras palavras de , Earnhardt já estava de pé pronta para sair do box, atravessar a pequena pista e expulsar Julien de seu lugar. Mas antes mesmo que pudesse chegar à saída, Michael Italiano a segurou pela cintura no mesmo instante em que o carro de rodou.
não entendeu de qual lado veio o primeiro baque, mas soube que tinha sido forte – seu carro não só rodou na pista, mas capotou. Ele tinha certeza absoluta que estava de ponta cabeça.
— — disse e o carro girou mais uma vez. — Porra.
Mais um giro. E outro. , antes de fechar os olhos, teve o impulso de desligar o carro e proteger as mãos, mas sentiu lágrimas molharem seu rosto quando não parou de rodopiar.
Ele iria morrer. Ele sabia. Iria morrer na pista, fazendo o que amava. Igual seu ídolo. Mas para o australiano, era uma maneira bem merda de morrer. Iria morrer longe da mulher que amava, com ela assistindo tudo aquilo sem poder fazer nada.
— — murmurou mais para si mesmo, já que não sabia se alguém podia ouvi-lo. — Eu amo você. Me desculpe por morrer. Eu realmente amo você, Principessa.
Então, seu carro parou de rodopiar, mas começou a voar. E, finalmente, quando tudo parecia ter terminado naquele milésimo de segundo, sentiu o último e mais forte baque.
Ali, soube que tinha acabado. Ele tinha capotado, rodopiado de cabeça para baixo na pista, voado e, agora, provavelmente, esmagado.
Ele estava morto.
— — foi a última coisa que disse antes de tudo escurecer.
Earnhardt se debatia aos prantos nos braços de Michael Italiano enquanto a TV mostrava preso do outro lado da mureta de proteção, entre a tela de proteção do público na arquibancada.
— ! — gritou, mesmo sabendo que ele não podia escutar. Tudo estava se repetindo diante de seus olhos e ela não podia acreditar que era real. — Max — murmurou o nome do holandês quando o viu correr pelas britas em direção ao carro da McLaren.
O desespero de Verstappen ao chamar os comissários tornava o pesadelo de ainda mais verdadeiro. Ninguém dizia nada, apenas gritavam uns com os outros e examinavam cada detalhe da situação.
— , meu Deus — o corpo da estadunidense fraquejou, e, se não fosse por Michael, ela estaria no chão.
Italiano a ajudou a se sentar, e, ainda que soubesse que era Beatrice à sua frente, pegando em seus ombros e lhe falando algo, não entendia uma só palavra vinda dela ou de qualquer outra pessoa.
— , você consegue me escutar? — a negra perguntou pela quarta vez, balançando seus ombros.
— — repetiu como se fosse um mantra e fechou os olhos, fincando as próprias unhas em sua coxa. — .
Ela precisava despertar. Precisava entender o que aconteceu e fazer alguma coisa. O zumbido dos carros voltando para os boxes era enlouquecedor. Tudo ficava ainda mais barulhento e aglomerado, mas não tinha notícia nenhuma do australiano.
— , por favor, fale comigo. Estamos aqui com você.
Portinari queria chorar, mas sabia que não podia. Não poderia desabar já que tudo ao seu redor estava desmoronando. Ela precisava ser forte por seus amigos. Por , que estava em choque. Por , que não sabia nem se estava vivo. Por eles precisaria permanecer sendo uma força, ainda que tudo estivesse ruindo sob seus pés.
E como se finalmente Deus tivesse resolvido aparecer naquele lugar, conseguiram tirar de dentro do carro. Mas ele não esboçou nada. Nem um mísero movimento. O australiano foi colocado dentro do helicóptero e a televisão voltou a transmitir imagens dos boxes.
— Vivo! — Verstappen gritou ao entrar no box da McLaren, e levantou como se tivesse saído de um transe.
— — a engenheira disse ao agarrar o holandês pelos ombros, o sacudindo.
— Vivo. tá vivo, .
— Vivo? Você…
— Eu vi. Ele tá vivo, .
, pela primeira vez desde o toque de Pierre Gasly em , soltou um suspiro de alívio. E quando se deu conta, chorava nos braços de Max Verstappen.
— Obrigada, Max — sussurrou para o holandês, que lhe devolveu um abraço ainda mais apertado. — Obrigada.
Earnhardt conseguia passar pelo caos de uma maneira que todas as pessoas ao seu redor pensassem que ela enlouqueceu.
Depois que o helicóptero levou e Max deu a notícia que o australiano estava vivo, voltou a si novamente e seu cérebro pareceu estar oxigenado de novo, já que sua mente começou a trabalhar para tentar resolver aquela situação.
— … — Beatrice a chamou, mas a engenheira negou pela terceira vez.
— Eu preciso trabalhar, senão vou enlouquecer — foi sincera. — Não posso ficar esperando alguém me dar notícias de , porque eu sei que vou ficar destruída. Ele está vivo e isso me basta. Vá para o hospital com Michael, fique lá. Me ligue caso aconteça algo de muito ruim.
— Se cuide, amiga.
— Cuide de — pediu. — Eu não posso fazer isso.
A engenheira recebeu um abraço apertado da italiana e, quando Beatrice partiu, colocou seus fones e o mundo ao redor pareceu desaparecer. Seu coração pareceu ficar pequeno quando o carro de chegou na garagem.
Completamente destruído.
A engenheira colocou as luvas e passou a mão pelo halo, a peça que com toda certeza tinha sido a responsável por continuar respirando. A peça que só foi implementada na Fórmula 1 depois do acidente de Giuseppe Fernandez.
Ele tinha salvado de certa forma.
— Obrigada — sussurrou para ele, onde quer que estivesse. sabia que Giuseppe a escutaria.
— , hm, precisamos levar o carro… — a voz de Seidl se fez presente e a engenheira tirou seu fone, o encarando.
— Ninguém vai tirar esse carro daqui até eu fazer uma varredura completa — disse séria, e o mais velho não conseguiu contrariá-la. — Esse carro só sai daqui depois do meu relatório. Quero nas minhas mãos o relatório de funcionamento do carro dos treinos livres e da classificatória, com o nome de todos — frisou novamente —, todos os que colocaram a mão nele. Por menor contato, eu quero o registro. Entendido?
— Sim — Andreas respondeu. — Você precisa de mais alguma coisa?
— Trabalhar. E que Zak não me perturbe.
— Cuidarei disso.
assentiu e voltou sua atenção para o carro.
— Vamos lá, me mostre o que te fizeram — sussurrou, dando duas batidinhas no halo. — Vamos passar muito tempo aqui.
Depois de ter selecionado os melhores mecânicos do box para lhe ajudar naquela missão, tirou peça por peça e separou as que iriam precisar de inspeção mais detalhada na fábrica.
O céu já estava escuro quando ela enfim chegou aos cabos e freios. Balançou a cabeça negativamente quando os tocou e fez suas anotações.
— Os relatórios — Andreas avisou. — Todos aqui.
retirou as luvas e pegou os documentos com cuidado.
— Quem foi o último a mexer no carro de hoje?
— Eu não sei. Você sempre faz a inspeção final, mas hoje disse que estava proibida de mexer, então mandamos um mecânico analisar. Os nomes estão no relatório, e a equipe também fez a checagem das câmeras.
— Obrigada.
— Você já comeu alguma coisa hoje?
— Já — mentiu e o chefe assentiu, tocando-lhe o ombro.
— Vá para o hotel.
— Assim que terminar.
Andreas sabia que não adiantava discutir. Ela era , pronta para resolver qualquer missão que aparecesse. Não desistia nunca. Seidl saiu e a deixou sozinha com os mecânicos, mas antes que pudesse voltar para o carro, uma pessoa lhe chamou atenção ao entrar no box.
— Charlie — sussurrou o apelido do amigo e ele a encarou com os olhos vermelhos. — Não — disse em italiano sem que percebesse.
— , você precisa vir comigo. — respondeu na mesma língua.
— Charlie, não me diga. Ragazzo, por favor.
— Estou aqui, querida — puxou-a para um abraço e sentiu as lágrimas quentes da engenheira molharem sua blusa. — Estou aqui.
— Não pode ser.
Ao sentir os braços de Leclerc lhe darem forças para não cair ali mesmo, se perguntou o motivo de Deus tê-la abandonado mais uma vez.
Diziam que Deus era justo, mas a realidade era que não havia justiça alguma naquela vida.
Capítulo 26 – Beyond the Universe
I can still feel you when I'm dreaming, every night a sacred meeting in the stars where we can dance to our song
(Ainda posso te sentir enquanto estou sonhando, todas as noites em um encontro sagrado nas estrelas onde podemos dançar nossa música)
(Ainda posso te sentir enquanto estou sonhando, todas as noites em um encontro sagrado nas estrelas onde podemos dançar nossa música)
nunca se preocupou muito em como iria morrer.
Para ser sincero, o australiano imaginava que demoraria muitos anos. Estaria casado com , moraria em uma fazenda e seus cinco filhos estariam todos criados e fazendo algo que os deixasse feliz. E aí, morreria. De preferência junto de Earnhardt, para que nenhum sofresse com a ausência do outro.
Era essa a sua maior vontade. Estar com Earnhardt durante todo o restante da sua vida e, quando chegasse a sua hora, já teria vivido tudo o que tinha para viver e tudo seria apenas uma jornada incrível, sem nenhum arrependimento.
Mas não. A vida lhe tinha outros planos.
não conseguiu fazer seus pais o assistirem ser campeão do mundo, não estaria com Isaac quando ele dirigisse seu primeiro carro de kart, muito menos escutaria Isabella contar como se apaixonou pela primeira vez. não estava casado, não morava em uma fazenda e muito menos tinha cinco filhos. Não se despediu da mulher que amava, não viveu tudo o que queria viver com Earnhardt.
Era tudo uma grande merda. Estar morto era uma porcaria.
só queria ter mais uma chance de finalizar o seu legado, de deixar alguma marca positiva no mundo. Mais uma única chance.
Mas ele estava morto.
— Joseph .
Uma voz firme e ao mesmo tempo acolhedora o pegou de surpresa. Com certeza estava no céu e Deus estava falando com ele.
forçou a abrir os olhos e se deparou com uma pista de corrida. Riu sem graça e não soube dizer se estava no céu ou no inferno. Para ele, parecia as duas coisas juntas. Era seu maior sonho que virou o maior pesadelo. Era sua vida e tornou-se morte.
— — a voz tomou conta da sua mente novamente e, quando virou, teve a certeza que viu Deus.
Não o Deus bíblico. Mas era o seu Deus. O Deus das corridas da NASCAR, seu ídolo e razão por ter começado a correr. Dale Earnhardt estava ali, na sua frente, com os braços abertos e um sorriso amigável no rosto. Como sempre havia imaginado, com o óculos aviador no rosto, jaqueta de corrida, jeans surrados e blusa branca.
Se Dale estava ali, ele tinha a certeza que estava morto. Talvez nesse plano conseguisse realizar o sonho de correr ao lado do ídolo.
balançou a cabeça e abraçou o piloto estadunidense.
— Como a vida tem a tratado? — Dale perguntou assim que o soltou.
— A vida é um pouco maldosa com , o senhor sabia? Ela é a pessoa mais forte que eu já conheci. Queria poder confortá-la e dizer que estou bem. Que ela vai ficar bem — soltou a respiração. — Você criou uma mulher muito especial.
— Blanca é a responsável por tudo, . Eu só a acompanhei crescer de longe. — Dale colocou os óculos sob a cabeça. — Blanca e Júnior fizeram tudo por ela.
— é… — sentiu seus olhos marejarem. — Ela é o amor da minha vida. De verdade. Eu não consigo acreditar que não tivemos mais tempo.
Dale o abraçou forte.
— Morrer é assim? — perguntou quase em um sussurro em meio as lágrimas. — Você também veio para esse lugar?
— Você não está morto, — respondeu suave ao soltá-lo. — Ainda. Ainda não.
— Como eu saio daqui? Eu preciso voltar. Preciso voltar a viver. Preciso voltar para .
— Você precisa lutar. Você precisa correr para sobreviver — Dale estendeu-lhe um capacete e apontou para o carro que estava atrás de . E uma enxurrada de lembranças do acidente tomou conta da sua mente, o paralisando. — Você precisa enfrentar seus medos e lutar — Dale avisou. — É você por você agora, — entregou-lhe o capacete, e sentiu o objeto tremer em suas mãos. — Se conseguir, você pode dizer para que eu a amo e tenho muito orgulho dela? Nunca tive menos que isso.
assentiu, ainda parado.
Aquela era a corrida de sua vida. E ele não fazia ideia de como ultrapassaria a bandeira quadriculada.
Por mais que soubesse que Charles estivesse falando, não conseguia entender uma só palavra do monegasco. A mente da engenheira parou de funcionar no instante em que ela o viu na garagem, e, desde o momento que ele acelerou a Ferrari para fora do autódromo, seu cérebro pareceu desligar.
Somente passava pela sua mente.
Ela precisava vê-lo para ter certeza. Precisava estar com ele, não importando como estivesse. Vivo ou morto. apenas precisava de .
Leclerc mal parou em frente ao Medicover Hospital Hungary e Earnhardt pulou da Ferrari, ainda que o piloto gritasse em uma tentativa de impedi-la. Nada seria capaz, de fato, de pará-la até que pudesse ver . Atravessou os corredores que a levavam até a recepção e, assim que prestou atenção onde estava, seu cérebro pareceu voltar a funcionar.
Vários pilotos estavam ali. Sentados e espalhados pela grande sala de recepção, outros em pé pelos cantos. poderia jurar que mais da metade do grid estava ali. Suas pernas vacilaram pela surpresa e emoção da cena, mas Beatrice a abraçou antes mesmo que pudesse cair.
— Todos vieram por ele, — sussurrou, ainda com a engenheira em seus braços. — , hm, teve uma grande perda de sangue e o hospital não tinha banco de sangue suficiente. Max doou primeiro e os meninos vieram logo que a corrida acabou.
— Ele perdeu muito sangue?
— Sim — Beatrice afirmou, e sentiu seu coração quebrar ainda mais, se aquilo ainda fosse possível.
— Não faça mais isso — Charles murmurou ao tocar o ombro da mais velha. — Vamos conversar.
assentiu em silêncio e, após acenar rapidamente para alguns rostos mais conhecidos, como Hamilton e Vettel, deixou ser conduzida por Charles até o que parecia ser uma sala mais reservada. Ali também estavam Max, Carlos e Lunna Martínez.
— Como você está? — Leclerc perguntou e a estadunidense o encarou, balançando a cabeça negativamente.
— Preciso saber o que está acontecendo, de verdade.
— Antes preciso avisar que a família de já está ciente de tudo. Eles queriam vir para cá, mas não vai ser necessário.
— Por quê? está morto? O que vocês não estão me contando?
— … — Charles a pegou pela mão, mas puxou rapidamente e abraçou o próprio corpo. — está vivo, . Eu falei para você quatro vezes no carro. Você realmente está bem?
— Vivo? — perguntou novamente. — Vivo. tá vivo? Realmente vivo?
— Sim.
— Ai, meu Deus.
Uma montanha pareceu sair de suas costas e de seu coração. estava vivo. O amor da sua vida continuava a respirar. Ele não a tinha deixado.
— Eu acho melhor você se sentar, — o sotaque forte de Lunna a despertou de seus pensamentos, e sem reclamar, a estadunidense obedeceu a espanhola. — Carlos, pegue uma água para ela? — pediu e o homem concordou, fazendo imediatamente o que tinha sido pedido.
— Amiga, preciso que você me escute com atenção, ok?
assentiu para Beatrice, que continuou:
— está vivo, mas em observação. A cirurgia acabou faz duas horas e meia e ele ainda não acordou. Os médicos falaram que esse período pós-cirurgia vai definir o que de fato vai acontecer com . Ele passou por uma grande cirurgia porque teve uma hemorragia interna após o acidente. Descobriram quando ele chegou no hospital, uma artéria próximo ao baço se rompeu. A artéria foi reconstruída e aparentemente foi um sucesso, mas ele não acordou ainda.
bebeu a água que Carlos Sainz a entregou silenciosamente enquanto processava a explicação de Beatrice. estava vivo, mas ao mesmo tempo podia partir a qualquer instante. E ele poderia ir sem nem mesmo escutá-la pela última vez.
Maldição de microfone que não a deixou falar durante a corrida.
Ele disse que a amava, mas não a escutou dizer de volta. só teve o silêncio, baque e dor, quando tudo que precisava era escutar que era amado e que iria ficar bem.
As lágrimas escorreram pelo rosto de sem que ela se desse conta, até que percebeu Charles abaixado a sua frente, limpando seu rosto com o polegar.
— Quero vê-lo — disse para o amigo. — Eu preciso falar que eu o amo. Você pode dar um jeito?
— Vou falar com o médico — assentiu e Charles saiu da sala.
Earnhardt levantou-se em silêncio e foi até ao canto do cômodo, onde se sentou ao lado de Max Verstappen, que estava de cabeça baixa, balançando as pernas enquanto estalava os dedos, ainda que não conseguisse. deitou a cabeça em seu braço e ali chorou junto com o holandês.
— Eu não consegui tirá-lo antes — ele sussurrou como se fosse um pedido de desculpas.
— Você fez o que pôde, Max. Obrigada.
Os dois ficaram em silêncio por um longo período, até a porta se abrir e Charles entrar com o médico.
— Senhorita Earnhardt?
— Sim.
— Você pode vir comigo, por favor?
assentiu e o seguiu em silêncio para fora da sala.
Para que chegassem ao segundo andar, onde ficava a ala de internação do hospital, precisou passar novamente pela recepção, onde viu que alguns pilotos ainda estavam ali.
Um em especial lhe chamou mais atenção. E assim que a percebeu novamente, foi até ela de imediato.
Era Sebastian Vettel. Piloto principal da Ferrari na época em que ela havia trabalhado para a escuderia italiana.
— Miller — a chamou pelo sobrenome que estava acostumado por todos aqueles anos, mas quando ela o encarou com os olhos marejados, se consertou. — Earnhardt. .
— Oi, Seb! — esboçou um sorriso de canto com os lábios.
— Vai ficar tudo bem dessa vez — Vettel lhe deu um abraço, e, naqueles segundos, sentiu conforto e verdade que não teve anos atrás.
— Obrigada, Seb.
O homem apertou seu ombro com carinho e lhe deu as costas, seguindo o médico em direção ao elevador. Ao descer no andar dos quartos, a mente da estadunidense pareceu se aquietar. só precisava vê-lo com seus próprios olhos. Precisava senti-lo outra vez. E, que Deus não a escutasse, se fosse a última vez, queria poder dizer com todas as letras que o amava.
— Senhorita Earnhardt, você é a familiar mais próxima de , certo? — o médico perguntou assim que chegaram à porta do quarto, e ela assentiu. — Você pode conversar com ele, mas lhe antecipo que não sabemos quando ele irá acordar. Esperávamos que fosse duas horas atrás, quando o efeito da anestesia passou, mas já estamos na terceira hora e ele ainda não abriu os olhos. Estamos nos preparando para todas as opções e queríamos que a senhorita também se preparasse.
— Obrigada — respondeu ao passar as mãos pelo rosto. — Sei que vocês fizeram o possível. Ele precisa lutar agora.
O médico assentiu e adentrou a sala. A primeira coisa que sentiu ao entrar foi frio. A temperatura estava demasiadamente baixa, e odiava muito frio. Earnhardt aumentou a temperatura do ar-condicionado e, quando se voltou para o piloto, ajeitou a coberta que o cobria.
— Te deixaram no frio e você odeia isso — sorriu para ele e se sentou ao lado da maca que mais parecia uma cama. — Já ajeitei, amore mio.
Earnhardt passou a mão pelos cabelos enrolados do homem e se perdeu em quanto tempo ficou ali.
— Você poderia, por favor, acordar? — perguntou em italiano. — Você não pode morrer, está me escutando? Você me prometeu que ia demorar pra morrer, , você me prometeu. Você sempre cumpre suas promessas. Que merda — soluçou alto. — Eu morreria para escutar sua risada de novo.
segurou a mão direita do piloto com suas duas mãos, e ali fez sua prece enquanto as lágrimas tomavam conta do seu ser mais uma vez.
— Você é muito amado, sabia? Tem uns dez pilotos aí embaixo que na pista querem vencer de você a todo custo, mas agora eles estão aqui porque te querem ver bem. Organizaram uma campanha interna de doação de sangue, até Lewis veio, se juntou com os outros lá embaixo por horas. E você sabe que ele não gosta muito de sair do canto dele — sorriu. — Você poderia agradecer acordando, não é? Seria muito educado da sua parte fazer isso. Já se passaram três horas e você poderia acordar agora. Sério, , acorde.
deitou a cabeça na mão do piloto e lhe deu diversos beijos. Levantou e o encarou novamente. parecia tão em paz, mas ao mesmo tempo, se é que era possível, parecia estar enfrentando algo.
— Mio dolce amore, você é tudo que eu nem sabia que queria e precisava, . Eu não posso viver sem você, por favor, não me deixe. Se for egoísmo, que seja, mas eu preciso que você volte para mim — implorou. — Não sei o que está passando pela sua cabeça agora, mas seja o que for, espero que você esteja lutando com todas as suas forças. Com tudo o que você tem.
Earnhardt levantou-se do lado de , deu-lhe um beijo na testa e começou a andar pelo quarto. Era enorme e completamente sem graça; as paredes brancas, sem decoração alguma, faltavam luz e cor. Faltava vida. Faltava tudo o que representava.
— Não sei quanto tempo você ficará aqui, mas preciso mudar esse quarto horrível. Quando você acordar, verá algo bonito — disse, apontando para as paredes. — Música. Falta música também, você adora música.
andou até as janelas e percebeu que o quarto tinha uma vista agradável. com certeza iria gostar daquilo.
— Posso te confessar uma coisa? Só de imaginar que posso ficar sem você, eu fico assustada. Fiquei paralisada de medo hoje. Completamente. Então, por favor, acorde. Eu não quero mais ter medo de nada — voltou para o lado do homem e novamente segurou sua mão. — Do you know, for you, I'd bleed myself dry? — cantarolou como se fosse uma prece.
Ela contornou as tatuagens de desde as mãos até o braço, como sempre fazia, enquanto cantarolava sua música preferida. E não acreditou quando o dedo indicador do mais velho subiu e desceu, como se estivesse no ritmo da música.
— Pare de palhaçada comigo — sussurrou, o encarando, mas voltou sua atenção para a mão do piloto e a segurou novamente. — Aperte minha mão e me mostre que não estou maluca.
Mas o piloto não fez mais nenhum gesto. grunhiu em uma clara decepção e novamente deitou a cabeça na cama enquanto permanecia segurando a mão de .
— Já vai passar das três horas, sabia? — murmurou mais para si mesma do que pro piloto. — Acorde, Dolce. Por favor, acorde.
O barulho do ar-condicionado, que antes não incomodava , passou a incomodar. Era tudo tão silencioso. Quieto. Sossegado.
Tudo o que não era. Tudo o que ela não queria naquele momento.
— Principessa? — a voz arrastada, quase grogue, fez o coração da engenheira acelerar, e ela paralisou sem conseguir olhar para trás. — Eu pensei que nunca mais ia ver ou te escutar, Principessa.
sabia de quem era aquele choro que lhe invadia a mente. Ele conhecia cada decibel daqueles soluços. estava sentindo dor, parecia estar em pânico.
Ele não podia vê-la, mas poderia senti-la. E cada parte do seu corpo parecia quebrar a cada lágrima que a mulher derramava. Era por causa dele.
encarou o capacete em suas mãos e o colocou rapidamente, pulando no carro em seguida. Ele sabia o que fazer, fez aquilo praticamente durante toda a sua vida. Só precisava fazer de novo. Encarou Dale Earnhardt, que estava a metros de distância com os braços cruzados, como se fosse um verdadeiro chefe, e baixou a viseira, acelerando para fora dos boxes.
não sabia qual era a pista, mas era intuitivo. Correr estava em seu sangue. Só precisava ir rápido como nunca e cruzar a bandeira quadriculada. Conseguiria como sempre conseguiu.
— Não chore por mim, querida — murmurou para si mesmo quando passou pela curva 1 da pista.
E, então, dirigiu. Acelerou como se tudo dependesse daquilo. E de fato dependia.
A corrida solo continuou e uma chuva, como nunca vista antes pelo australiano, começou. Mas o tempo não iria pará-lo. Se fosse um teste de Deus, ele cumpriria com maestria.
sabia correr na chuva. Ele era ainda mais forte.
Uma curva lhe pegou desprevenido, mas a fez com cuidado e voltou a acelerar. Conseguiu ver a bandeira quadriculada ao final da reta, fechou os olhos e tirou o máximo que podia do carro.
Esperava vê-la do outro lado.
Se é que existia um.
— Principessa? — perguntou quando abriu os olhos e piscou algumas vezes para saber se aquilo era realmente uma realidade e não mais um sonho.
A mulher estava sentada de frente para seus pés, segurando suas mãos como se fosse algo valioso que não poderia soltar. Ele a reconheceria ainda que estivesse tudo escuro. Ela era a sua luz.
— Eu pensava que nunca mais ia ver ou te escutar, Principessa.
não se mexeu por nenhum centímetro. Parecia não acreditar no que seus ouvidos estavam escutando. Aquela voz. Aquele sotaque. O italiano quase perfeito.
A estadunidense apertou a mão do piloto mais uma vez e foi correspondida, ainda que acompanhada de uma reclamação.
— ! — disse ao virar para ele. — Você acordou. Vivo! Meu Deus.
— E você tem um aperto de mão muito forte — murmurou, e a mulher riu verdadeiramente pela primeira vez naquele dia, ainda que as lágrimas tomassem conta do seu rosto. — Não chore, querida.
— É de felicidade. E alívio — o beijou na testa. — Você está proibido de me assustar assim de novo.
— Eu disse que sempre voltaria para você, Principessa.
assentiu e deu um beijo na testa do homem enquanto suas mãos estavam unidas.
— Vou avisar ao médico que você acordou.
— Fique aqui só um pouquinho — pediu e bateu levemente na cama com a mão esquerda. — Senti medo — sussurrou.
— Eu também — sussurrou quando deitou com cuidado ao seu lado. — Agora não tenho mais medo.
sorriu e segurou novamente a mão da estadunidense.
Eles estavam juntos novamente, passando por todo o caos que a vida tinha colocado à sua frente. Juntos. Como seria para sempre.
Capítulo 27 – Home
Well, holy moly, me oh my, you're the apple of my eye, girl, I've never loved one like you (…) Home is wherever I'm with you.
(Bem, Santo Deus, minha nossa, você é a menina dos meus olhos, garota, eu nunca amei alguém como você (…) Lar é qualquer lugar que eu esteja com você)
(Bem, Santo Deus, minha nossa, você é a menina dos meus olhos, garota, eu nunca amei alguém como você (…) Lar é qualquer lugar que eu esteja com você)
dormia tranquilo na cama do hospital enquanto Earnhardt o encarava atentamente no seu lugar de acompanhante, com o edredom branco cobrindo seus pés. Cada bip do monitor não passava menos despercebido por ela – ainda estava em estado de alarme, por mais que o prognóstico do australiano estivesse além do esperado. havia acordado na madrugada anterior enquanto não sabia mais o que era dormir.
Mas mesmo com todo o cansaço, a mente um turbilhão de emoções e a vinda do seu trauma como uma avalanche, Earnhardt era grata por estar vivo. A vida do australiano era a única que importava naquele momento.
E ao vê-lo murmurar baixinho como sempre fazia quando estava dormindo, se permitiu chorar em silêncio, para que ele nem em sonho pudesse cogitar que ela estava derramando lágrimas.
estava ali. Vivo. Respirando. Saudável. Ele não a tinha abandonado.
Earnhardt não seria capaz de descrever o quanto aquilo significava para sua vida.
não percebeu, mas de tanto chorar, adormeceu. Tranquilamente. Como se o mundo inteiro tivesse saído de suas costas. acordou com um desconforto no lado esquerdo do corpo, mas ao olhar para o lado e ver dormindo, esqueceu-se do motivo que o tinha levado a acordar.
— Principessa — disse quase que inaudível. — Eu pensei que nunca mais fosse te ver. Nunca senti tanto medo. Morrer sem deixar você saber o quanto é amada teria sido a pior coisa que poderia acontecer.
remexeu-se delicadamente na cama ao lado da maca e quis ajeitar o lençol que escapou de seu corpo. Ele sabia o quanto ela sentia frio. Principalmente nos pés.
— Amo você, doutora Daylin Earnhardt. Amo você pra caralho — foi a última coisa que disse antes do remédio voltar a fazer efeito e ele apagar. Tranquilo, daquela vez. estava a apenas quatro metros de distância.
Tudo ficaria bem.
e começaram o dia com boas notícias. Acompanhados pela família por meio de uma chamada de vídeo, a equipe médica responsável pelo tratamento do australiano deram excelentes perspectivas de melhora rápida e eficaz, sem sequelas. precisaria apenas de repouso para curar totalmente a cirurgia na artéria e anualmente fazer exames de sangue por conta das transfusões que recebeu. Como não quebrou nada, por sorte ou intervenção divina, poderia voltar a pilotar em um mês se seguisse devidamente todos os cuidados necessários.
— Tá vendo, mulher? Não precisa sair da Austrália para cá. — A matriarca da família resmungou, arrancando uma risada do filho. — Estou bem, mamãe.
— Iremos para Perth assim que derem alta para — interveio. — Não se preocupe, Grace. Max deixou o jatinho à nossa disposição para que não tenhamos dor de cabeça com companhias aéreas e os aeroportos.
— Ah, , obrigada! Continue dando notícias, ok? — Grace se despediu, e um coro de “tchau, tio , tchau, tia ” pôde ser escutado ao fundo.
— Você sabe que vamos ter que alugar uma casa em Perth, não sabe? — perguntou e o encarou, confusa. — Minha mãe, Daylin, minha mãe vai me tratar como um incapacitado.
balançou a cabeça negativamente e soltou uma risada ao perceber o verdadeiro desespero na voz do namorado. Ambos conheciam Grace muito bem para saber que a mulher não ficaria mais um minuto longe do caçula no momento em que ele voltasse para casa. Para desespero de . Para a alegria de .
— Talvez esse quarto não seja tão ruim assim — reclamou e revirou os olhos, mostrando o dedo do meio para o namorado.
— Esse quarto é péssimo — reclamou. — Espero que sua mãe realmente pegue no seu pé, inclusive vou apoiá-la em cada coisa que ela inventar.
— Você não seria capaz de fazer isso com um homem incapacitado, Daylin.
— Espere e verás, amore mio — ela lançou uma piscadela para o australiano, que respondeu colocando a mão no peito, fingindo estar ofendido. — Vou lá embaixo pegar algo para comer.
— Você pode contrabandear algo para mim, que tal?
— Vou comer lá embaixo para não te deixar passando vontade.
respondeu com uma careta e lhe deu um beijo na testa, o deixando sozinho em seguida. teria que obedecer uma dieta restrita por duas semanas após a cirurgia, e o australiano sabia que ninguém o deixaria burlar uma linha da prescrição nutricional, muito menos a sua namorada.
— Traidora — resmungou sozinho e ligou a televisão do quarto.
CNN: , piloto de Fórmula 1, está internado no Medicover Hospital Hungary após grave batida de carro.
BBC News: Milagre sobre quatro rodas! Piloto de Fórmula 1 consegue sair vivo após acidente aterrorizante.
Fox News: Acidente ou imperícia? McLaren se pronunciou sobre o acidente de .
Até que desistiu de trocar os canais e parou na ABC News quando a filmagem do seu acidente estava em looping enquanto um engenheiro falava por cima. Ele explicava cada movimento do carro e o que deveria ter sentido enquanto estava dentro do cockpit, as reações de seu organismo e do carro, como se fosse ele quem tivesse sido jogado contra a mureta a mais de 300 km/h.
grunhiu e bateu o controle na cama. Aquele homem não fazia ideia do que eram os reais efeitos de um acidente no organismo, muito menos no carro. Não sabia o que era urinar de medo, sentir seu estômago bater na garganta, não conseguir colocar para fora porque estava apavorado, gritar e não ter ninguém para te escutar. Ele não sabia o que era ter que esconder as mãos quando o seu maior instinto era segurar o volante com toda a força e pisar no acelerador para que pudesse sair dali ou do carro, que era pra ser seu melhor amigo, pressionar cada pequena parte do seu corpo, até mesmo as que nem sabia que existiam.
Aquele maldito que falava com tanta propriedade do assunto não sabia o que era sentir o gosto da morte, muito menos o que era morrer. Porque morto foi o que sentiu estar naquele dia.
— Você não precisa assistir isso — a voz de invadiu o quarto e clareou seus pensamentos.
Mesmo que tivesse acesso a todas as palavras existentes no vocabulário, não saberia explicar com exatidão o que Earnhardt significava para ele. Não em sua totalidade. Não como ela merecia. Ela, de fato, era como se fosse uma brisa de ar fresco no deserto. respirou aliviado ao vê-la ali, terminando de beber uma Coca-Cola e jogando a latinha no lixo do quarto, completamente emburrada.
— Essas pessoas não sabem de nada — a estadunidense resmungou. — Querem falar sobre tudo e não sabem sobre porra nenhuma.
— Eles vão querer sugar mídia disso até saturar e não conseguirem mais um centavo. Não quero nem ver o que a Netflix vai fazer. Mas isso me lembrou algo — ele encarou a namorada e coçou a cabeça. — Preciso te contar uma coisa antes que eu me esqueça — disse no momento em que mais um replay da sua batida passou, e deu três tapinhas na cama em um sinal para sentar ao seu lado. — Você acredita que exista algo, hm, além desse plano aqui?
— Depois do seu acidente eu me peguei rezando para todos os santos que pudessem existir neste plano e no outro — segurou a mão direita do australiano e lhe fez carinho com os dedos, soltando um suspiro baixo. — Pedi até para o meu pai te proteger.
— Eu vi seu pai — revelou, e foi como se a mulher tivesse sido atingida por um turbilhão de emoções.
Naquela hora, não teve como controlar as lágrimas. O choro que tanto guardou para não soltar em frente ao piloto desceu como uma enxurrada. Seu pai tinha a escutado. Dale Earnhardt, o seu maior herói, nunca tinha a abandonado, nem mesmo quando ela pensou que estava sozinha. Seu pai esteve presente o tempo todo.
— Seu pai disse que tem muito orgulho de você, e que nunca, nem mesmo por um minuto pensou algo diferente. Dale está sempre de olho em você. — cobriu o rosto com as mãos e soltou um soluço alto quando fez carinho em seus braços. — Ele me salvou, . Não sei explicar. Eu jurava que estava morto, estava pronto para brigar com Deus ou quem quer que fosse, porque nada daquilo era justo, e aí ele apareceu. Me deu um capacete, disse para eu correr para sobreviver, então eu só acelerei e acordei com você na minha frente.
— Ele salvou você.
— Sim. Parece mentira, eu sei, nunca fui de acreditar nessas coisas, mas aconteceu. Parecia um sonho, mas era real demais para ser. Parecia que eu podia escutar você chorando e pedindo para que eu voltasse. Não sei se isso aconteceu, mas quando eu acordei, você estava aqui, da mesma forma que eu tinha escutado. Não sei o que aconteceu naquelas horas, mas… Principessa, parecia que você estava comigo durante todo o momento.
— Sempre estarei — encarou , colocou as duas mãos em seu rosto e, delicadamente, o beijou. — Eu sou tão grata por ter você.
— Eu também, querida. Eu também — murmurou e retribuiu o beijo.
Era bom estar vivo. Era muito bom.
3 de agosto de 2022
Budapeste, Hungria
O relógio marcava seis e meia da manhã quando acordou de supetão com seu telefone tocando.
— Quem diabos liga essa hora da manhã? — reclamou ao acordar também, esfregando os olhos.
— Volte a dormir. Vou atender lá fora — ela murmurou e saiu da sala, ainda tentando acordar. Era muito cedo para ligações, ainda mais no período de férias. Muito cedo.
Earnhardt coçou os olhos e finalmente percebeu quem estava tentando contato. Aquela já era a quarta ligação que recebia desde as seis da manhã. Alguma coisa muito séria havia acontecido para Andreas Seidl estar insistindo tanto para falar com ao invés de mandar apenas um e-mail.
A estadunidense respirou fundo e retornou; Seidl atendeu no primeiro toque.
— Earnhardt, finalmente.
— Oi, Andreas. Estou com no hospital, por isso a demora. Aconteceu algo?
— Sim! — o conhecia o bastante para saber que o homem coçava a cabeça naquele exato momento enquanto tentava encontrar as palavras certas. — Quando terá alta?
— Sexta-feira. Mas ele tá bem, só está esperando os últimos exames para irmos embora. Eu que decidi com os médicos para ele ficar um pouco mais de tempo.
— Pois converse novamente. Faça os exames hoje e vá para a Austrália imediatamente.
— Mas, Andreas, isso não faz sentido. O que está acontecendo? Você não sabe esconder as coisas e seu tom de voz me diz que algo ruim aconteceu.
— Estou responsável pela investigação do acidente de , , como você me pediu para ficar a frente disso… — Seidl fez uma grande pausa. — O carro de foi sabotado naquele domingo.
sentiu sua cabeça girar. Nada fazia sentido para a engenheira. Não existiam motivos para alguém da própria equipe sabotar o carro de , não quando o piloto estava disparando no campeonato e ajudando com todos os pontos que a McLaren não conseguia há anos. Parecia uma grande piada de mau gosto que Seidl havia inventado para pregar uma peça em Earnhardt.
— Eu não entendo. Como isso aconteceu, Andreas?
— É muito para explicar. Temos muito o que resolver internamente ainda, mas você precisa sair com de Budapeste. A imprensa não vai medir esforços para entrar em contato com vocês, o assédio vai ser enorme. Vocês precisam estar seguros e longe daí.
— Você consegue atrasar a reunião com a diretoria?
— Seria às nove. Consigo reagendar para meio-dia, e a reunião com a imprensa, às quinze.
— Vou fazer o possível aqui no hospital. Mas se der algo de incomum, qualquer coisa nos exames de , vocês vão ter que manter a mídia longe daqui, entende? Falem com a polícia local, não sei, mas não quero que seja perturbado de forma alguma.
— Aguardo sua resposta sobre os exames.
A ligação foi encerrada e quis gritar. Ódio, raiva, tristeza, agonia, medo, todos os sentimentos se misturavam na sua cabeça e ela não podia surtar, não naquele momento. Não sem antes dar a notícia para e os dois pensarem em como poderiam resolver as coisas sem que mais caos fosse gerado.
passou as mãos pelo rosto, respirou fundo e procurou um número que já estava entre as suas chamadas mais recentes.
— Max?
— O que aconteceu? — o sotaque do holandês pôde ser escutado logo após o segundo toque. — Não são nem sete da manhã. O que aconteceu?
— Consegue deixar o jatinho a postos para qualquer emergência?
— Óbvio. está bem?
— Sim. Mas acho que vamos precisar sair de Budapeste — ela respirou fundo. — Você está sozinho aí?
— Você pode falar logo? — o tom de Verstappen era completamente impaciente.
— O carro de foi sabotado, Max. Alguém planejou isso.
O silêncio na linha não demorou muito até Verstappen despejar diversos palavrões por segundo que não foi capaz de entender nem metade.
— Eu vou matar o filho da puta que foi responsável por isso.
— Eu também. Mas, por agora, ninguém vai matar ninguém. Preciso ajustar as coisas aqui com , mas te deixo avisado de tudo, tudo bem?
— Bando de fudido, meu Deus, eu odeio todos.
— Max?
— Ok, Earnhardt. Me avise. Vou ligar para a empresa do jatinho. Mando as informações por mensagem.
A ligação com Max Verstappen foi encerrada e contou até dez antes de entrar no quarto. Porém, no momento em que abriu a porta, a expressão de demonstrava que ele já sabia.
— Preciso falar com você — ambos disseram ao mesmo tempo.
— Diga primeiro — foi mais ágil e sentou-se de frente para ele na cama.
— Não tenho outra maneira de falar isso para você sem que pareça uma grande loucura — ela começou, e o piloto coçou a garganta. — Seu carro foi sabotado por alguém de dentro da equipe. Seidl me avisou agora.
— Não foi alguém de dentro da equipe.
encarou sem entender.
— Foram eles, querida.
— Eles?
— Italianos — respondeu e as engrenagens da mente de começaram a trabalhar. Marlo e Giancarlo. — Eles foram os responsáveis também pelo que aconteceu com você e Giuseppe.
piscou várias vezes e esfregou os olhos, sem conseguir pronunciar uma só palavra para o namorado. A estadunidense sempre desconfiou que havia sido vítima de uma armação, mas nunca teve certeza. E ter aquela certeza, apesar de esclarecer tudo o que por anos tinham sido apenas achismos, machucava.
— Binotto tem alguma relação com tudo isso? — conseguiu perguntar.
Aquilo seria demais para ela. Mesmo com toda a omissão do antigo chefe, ele tinha sido seu amigo e suporte na Ferrari. Se Matias estivesse entre os responsáveis por toda aquela sujeira, não saberia mais dizer o que havia sido verdadeiro naquele tempo.
— Matias não teve nada a ver, . — A mulher soltou um suspiro de alívio pela primeira vez naquele dia. — Você foi sabotada, querida, por algo muito maior que você pode imaginar — pegou a mão direita de e a acariciou gentilmente. — Você nunca matou ninguém, Principessa. Você sempre honrou seu pai.
Ao escutar as palavras do australiano, se permitiu chorar. Em silêncio, porque todo o resto gritava por eles. Demorou meia hora para que conseguisse explicar tudo para sem que ela o interrompesse a cada minuto, lhe pedindo ainda mais informações.
— Então quer dizer que você e Charles bancaram de detetives quando eu disse para não fazerem? — perguntou estreitando os olhos para o namorado.
— Não, Charles achou o detetive e eu paguei. Tecnicamente não fizemos nada.
revirou os olhos, mas deixou o homem continuar a falar. E pacientemente contou, e mostrou, tudo o que o detetive contratado por ele havia descoberto.
Marlo, Giancarlo e outros quatro engenheiros antigos da Ferrari faziam parte de uma cúpula, que discutiam seus próprios interesses, visando conseguir lucro da escuderia italiana sem que fosse público. Recebiam dinheiro por fora de alguns patrocinadores da equipe, além de trabalharem para colocar seus interesses em primeiro lugar, para depois, o que seria melhor para a equipe de Maranello.
A chegada de na equipe foi um baque forte, principalmente quando a estadunidense começou a conquistar a simpatia e a demonstrar um grande interesse em conquistar cargos cada vez mais altos na equipe. E com sua dedicação e trabalho duro, não seria muito difícil que conseguisse rapidamente novos cargos. era uma ameaça para eles e seus planos. A estadunidense nunca seria corrompida, não com tanto amor pela Ferrari e pelo seu trabalho. Earnhardt sempre havia colocado os interesses da escuderia acima de qualquer coisa e não mediria esforços para ver a equipe sempre no primeiro lugar.
Quando Matias Binoto a colocou como engenheira do principal prodígio da equipe e substituta do chefe de equipe, a Associação resolveu que ela precisava ser retirada dali de forma imediata, antes que pudesse trazer riscos para eles. Uma mulher comandando a equipe era inadmissível. Mas ainda mais inadmissível era uma mulher ser a responsável por derrubar todos eles, junto de seus planos e lucros. A Ferrari era uma máquina de dinheiro, e não poderia destruir aquilo.
— Então Marlo cortou dois cabos ao invés de um dos freios de Giuseppe. Eles nunca pensaram que ele morreria no acidente, pensavam que ia ter um estrago grande no carro e você seria mandada embora.
— Por dinheiro, ! Eles mataram Giuseppe por ganância! — elevou a voz. — Isso é muito mais sujo do que eu poderia imaginar. Eles estão sabotando a Ferrari por dentro para ficarem milionários.
— Sim. E quando viram você de novo por aqui, tiveram medo de você descobrir tudo o que aconteceu, por isso fizeram o mesmo com meu carro. Só que o Halo me salvou.
— O sistema de proteção que foi colocado por conta de Giuseppe — murmurou e massageou as têmporas. — Quem foi da McLaren?
— Um laranja. Joshua, o nome.
— Esse não é o engenheiro de montagem novo…
— Que veio da Ferrari — concordou. — Prometeram muita grana para ele em troca dos serviços. Ele se demitiu há dois dias.
— Eles planejaram tudo. Santo Deus, como podem ser tão sujos assim? — perguntou em italiano para o homem. — Eu quero que eles paguem por tudo. Por Giuseppe, por mim, por você. Por cada coisa que eles me tiraram e me fizeram passar.
concordou e sentou-se ao seu lado, pegando o celular da mão do australiano para ler o e-mail do detetive. Estava tudo ali, todas as provas, tudo.
tinha sido apenas uma vítima, e não a culpada como a fizeram pensar durante todos aqueles anos. A Fórmula 1 poderia ser um mundo completamente podre quando se conhecia de fato todos os pormenores. Vidas não significavam nada; o dinheiro, sim.
— Você vai fazer seus exames agora e eu vou falar com a advogada. Vamos para a Austrália antes que a mídia saiba que o seu carro foi sabotado. E isso aqui — apontou para o telefone nas mãos do piloto — vai direto para a corte da Itália.
— Eles vão pagar, querida.
— Eu tenho certeza que sim.
Earnhardt finalmente saberia o que era ter paz.
Capítulo 28 – 2 Much
Love the way you love your mom, take on all your friends problems, still somehow stop the world for us
(Amo o jeito como você ama sua mãe, cuida dos problemas de todos os seus amigos, ainda assim, de alguma forma, você para o mundo por nós)
(Amo o jeito como você ama sua mãe, cuida dos problemas de todos os seus amigos, ainda assim, de alguma forma, você para o mundo por nós)
12 de agosto de 2022
Perth, Austrália
havia sumido de Budapeste enquanto a mídia automobilística do mundo inteiro estava à sua procura. Queriam um pronunciamento, um tweet, um post no Instagram, qualquer coisa além do pronunciamento oficial da McLaren sobre o carro ter sido sabotado por alguém de dentro da equipe e que tudo estava sendo resolvido internamente, com total apoio do piloto e da sua equipe pessoal.
Era apenas isso que eles teriam. Não teriam mais nada vindo do piloto, que inclusive havia dado férias para Beatrice Portinari. A italiana não precisaria trabalhar até as corridas voltarem, porque não apareceria na mídia. Ficaria em casa, com sua família, namorada e iria se recuperar para voltar a correr.
Não deixaria sua imagem ser explorada por dinheiro. Muito menos para ajudar a McLaren a recuperar sua imagem após ser sabotada por baixo do próprio nariz e não ter percebido nada. A equipe inglesa estava tentando deixá-lo para trás desde o início do campeonato e não mereciam nenhum esforço pessoal do piloto. Eles mereciam.
— Zak ligou, de novo — revirou os olhos e o australiano deu de ombros. — É sério que eles querem te explorar até nessa situação?
— É o que eles fazem, querida — soltou um suspiro. — Mas e Rosie? Ela deu alguma outra notícia?
assentiu e sentou-se na cama, ao lado do australiano.
Quando estavam no jatinho de Max Verstappen, rumo a Perth, Earnhardt entrou em contato com Rosalie Martínez, prima de Lunna e considerada a advogada mais renomada no ramo dos esportes, para que pudessem entrar com uma ação contra a Ferrari. E Rosie não era considerada como La Diabla à toa pela mídia esportiva espanhola. Ela realmente era a melhor. Em menos de uma semana, o processo já estava no tribunal da Federação Automobilística e a mídia estava enlouquecida com a proporção do caso, principalmente com a chance da família de Giuseppe Fernandez entrar com um processo e investigação judicial os culpabilizando pela morte do piloto.
Earnhardt e haviam começado uma grande guerra no mundo da Fórmula 1. E nenhum dos dois desistiria até que todos os culpados fossem devidamente responsabilizados.
— Rosalie vai ter uma reunião com o jurídico da Ferrari agora. Eles foram pessoalmente a Madrid conversar com ela — deixou escapar um sorriso, e , uma gargalhada.
— Para engolirem o orgulho e saírem de Maranello, eles devem estar completamente desesperados.
— Eles estão. Rosie disse que a alta cúpula foi pega de surpresa, mas não explicou muito bem o porquê. Disse que daria mais informações depois da reunião.
Rosalie Martínez não explicou para Earnhardt as reais intenções da Ferrari porque nem mesmo a alta cúpula italiana sabia.
A Ferrari estava sendo destruída por dentro, e quem deveria estar a par da situação não tinha ideia alguma do que acontecia dentro da própria empresa. Maranello inteira fora pega de surpresa quando a notificação de investigação da Federação Internacional de Automobilismo chegou em terras italianas. Tudo estava prestes a ruir.
Mas para e , mesmo ainda estando em recuperação por conta da cirurgia, as coisas estavam bem longe de ruir.
já conseguia se exercitar por duas horas todo dia; diminuiu os pesos e o ritmo, mas ainda conseguia manter a rotina ainda com a família vigiando de perto. As crianças da casa ficaram ainda mais próximas do tio, não o largavam por um minuto sequer, apenas para irem à escola e na hora de dormir. Tinha sido necessário muita conversa com Isabella e Isaac para que pudessem entender que acidentes faziam parte do esporte, mas que iria sempre ter cuidados para voltar para casa e estar com eles.
Earnhardt adorava estar na Austrália. O lugar onde a família morava a lembrava bastante de Montana, onde sua família tinha uma fazenda e passavam as férias antes do pai falecer. tinha voltado a cavalgar e cuidava dos cavalos junto do pai de . A estadunidense também passava bastante tempo na oficina dividindo o lugar com o patriarca da família , enquanto deixava o trabalho em ordem e palpitava nos consertos dos carros que o sogro trazia.
Eles estavam em casa. E finalmente, sentiam-se em paz.
19 de agosto de 2022
Perth, Austrália
Muita coisa acontecia em uma semana e não seria diferente agora, mesmo que na pausa de verão.
Rosie Martínez entrou em uma ação conjunta com a Ferrari na Federação Internacional de Automobilismo para que pudessem investigar oficialmente o acidente de Giuseppe Fernandez, e também de . Assim como também fez um acordo com a escuderia italiana para que pudessem ressarcir financeiramente Earnhardt, pela injustiça que sofreu ao ser demitida do lugar que havia doado anos de trabalho e conhecimento. A cúpula superior de Maranello aceitou todas as propostas da espanhola sem pestanejar – inclusive, haviam combinado uma reunião para discutir os interesses de Earnhardt assim que as investigações com a Federação terminassem, além da investigação interna que haviam contratado para descobrir o que de fato acontecia na empresa por todo esse tempo. O processo corria em sigilo extremo pela Federação, mas sempre que tinha alguma atualização, e sabiam em primeira mão. Os dois sabiam que, com a intervenção de Rosalie Martínez, as coisas seriam resolvidas de maneira mais rápida e justa.
Em Perth, as coisas iam bem. O pai de montou um pequeno escritório para em sua própria garagem, então a estadunidense dividia seu tempo entre o trabalho e as atualizações da McLaren. Ela também ajudava Joe com o conserto de seus carros, seu hobby favorito que muito a lembrava do seu próprio pai. Além disso, dedicava seu tempo a , mesmo o australiano reclamando 80% do tempo que estavam tratando-o tal como um bebê.
O piloto estava se recuperando muito melhor que o esperado. Os exames eram pagos para serem feitos na casa da família em Perth. Mesmo para que ele não fosse ao hospital e os prognósticos eram os melhores possíveis, conseguiria voltar a correr na Holanda, a segunda corrida pós-férias. E ele não via a hora de voltar.
— Veio cedo hoje! — sorriu largo ao ver entrar no quarto. — Como foi?
— Brilhante. Seu pai e eu começamos com o Fusca Split Window 1952 hoje, . É a coisa mais linda do mundo.
Então, Earnhardt começou a contar, com todos os detalhes possíveis, tudo o que precisavam fazer no carro que acharam por apenas cento e vinte cinco mil dólares australianos. adorava escutar falar, poderia passar a noite inteira escutando-a descrever minuciosamente cada peça do novo fusca, como iriam trocar a pintura e os carburadores ou trocar os pneus. Ele nunca se cansaria dela.
— Vamos conseguir fazer tudo até semana que vem — ela terminou de falar e soltou o ar, com as mãos na cintura. — Já volto para você, vou só tomar um banho. Estou com as mãos sujas de graxa — sacudiu as mãos, mostrando para o piloto, que soltou uma risada com a cena.
Ele realmente nunca se cansaria dela.
— Você comeu todo o seu lanche? — perguntou assim que saiu do banho, ainda enrolada na toalha, fazendo com que revisasse os olhos e concordasse com a cabeça. — Não reaja assim, as crianças que quiseram preparar tudo.
— Agora tá explicado porque tem flores, mamão e kiwi juntos, e também todos os M&Ms coloridos — riu sozinho ao lembrar da bandeja de frutas que foi levada para ele no quarto. — Minha mãe não teria tanta imaginação.
encarou , que estava sem camisa, usando apenas seu short preto de moletom e um cobertor, enquanto mexia distraidamente no controle remoto da TV. Ela percebeu o quanto o piloto havia emagrecido desde o acidente, mas ele continuava incrivelmente bonito; sua barba estava maior, assim como seus cabelos, com cachos ainda mais evidentes.
Ela nunca se cansaria dele.
— Não me olhe assim — murmurou e estreitou os olhos, não entendendo o incômodo do homem. — Como se tivesse pena de mim.
— Você bateu com a cabeça de novo, foi? — perguntou, e o australiano coçou os olhos. — Por que você acha que tenho pena de você?
— Porque eu acho — respondeu, e a engenheira revirou os olhos. — Eu sei que você se preocupa comigo, todo mundo tá preocupado, até as crianças, mas você… É como se eu fosse pra você somente isso agora. Um doente. Um doente que precisa de cuidado. Indesejável.
— Por Deus, por qual motivo você está falando todas essas coisas? Você nunca será indesejável para mim quanto mais apenas um doente — coçou a cabeça, ainda em pé, mas de frente para ele. — O que está acontecendo?
— Eu estava lendo — sua voz era séria, mas ao mesmo tempo, entristecida. — Li que tem mulheres que não desejam mais o marido depois que eles ficam completamente incapacitados. E a gente não tem mais relação desde o dia do acidente. Nas primeiras noites, quando voltamos, você botou um sofá no quarto para não dormir na mesma cama que eu.
soltou uma gargalhada que fez com que cruzasse os braços, contrariado. Ele estava ali, abrindo seu coração, e ela estava rindo como se ele estivesse delirando.
— Você deveria parar de ficar na internet lendo merda e ir procurar algo melhor pra fazer. Primeiro, não te acho e nunca te achei um incapacitado — fez aspas com os dedos e imitou ridiculamente o jeito do australiano de falar. — Se você não se lembra, seu médico proibiu atividade que pudesse te levar à exaustão nos primeiros vinte dias. Segundo, dormi no sofá na primeira semana que voltamos porque você ainda sentia dor pela noite e era mais fácil pegar seus remédios do que incomodar ou esbarrar em você quando eu levantasse. Era prático dormir no sofá. Terceiro, você não é meu marido, não me pediu em casamento. Quarto, eu estava encarando porque pensei em como você, mesmo com tudo o que aconteceu, ainda é incrivelmente bonito. Talvez mais bonito do que quando nos reencontramos ano passado. E quinto — ela bufou —, se você queria transar, era só dizer. Mas o drama também combina com você.
— Não era isso…
o encarou e o homem enrubesceu.
— Posso entrar no banheiro para me vestir, então?
— Não — quase gritou e estendeu o braço para mulher, que por estar na frente da cama, teve a cintura facilmente capturada pelo braço longo e as mãos ágeis de . — Só fiquei com medo de não ser mais desejável para você.
— Nem se você voltasse a vestir um uniforme energético você seria menos desejável para mim, — disse e, em um movimento suave, a toalha azul clara que cobria seu corpo caiu aos seus pés.
segurou sua cintura mais forte e, ao mesmo tempo em que ele passou a língua pelos próprios lábios, Earnhardt soltou um gemido baixo por ter sido pega de surpresa pelo contato mais forte do australiano.
— A porta — murmurou, mas o homem, que já havia a colocado entre as suas pernas, não a soltou. — Alguém pode entrar…
levantou-se rapidamente da cama e, sem soltar a cintura de , a levou consigo até a porta, que ficava a poucos metros de distância da cama. Colocou a mão esquerda sobre seu pescoço e a beijou, forçando-a contra a porta enquanto a trancava. podia jurar que conseguia sentir o meio de suas pernas completamente molhado. Com apenas um beijo, conseguia ter aquele efeito sobre ela e seu corpo. Era inacreditável ele cogitar que não fosse desejável.
— … — não conseguiu concluir seu pensamento, pois o australiano abaixou-se à sua frente. E sem delicadeza alguma, suspendeu sua perna direita, colocou-a sobre seu ombro e percorreu sua intimidade inteira com sua língua.
Earnhardt não conseguia mais formular frase alguma. A única coisa que saía de sua boca eram seus gemidos entrecortados enquanto puxava o cabelo de , o guiando para cada vez mais dentro dela. “Por Deus, como ele conseguia ficar ainda melhor?”, pensou enquanto ele estimulava seu seio esquerdo sem tirar o rosto do meio de suas pernas.
sorriu quando a mulher cravou as unhas em seus ombros e tremeu sobre ele, soltando um grito sufocado. Só então levantou, passou o dedão pelo lábio, beijou mais uma vez e a puxou para cama, fazendo com que ela sentasse sobre ele.
— Eu já disse que adoro quando você é barulhenta? — perguntou e colocou o mesmo dedo em que havia limpado seu lábio, na boca da mulher. — Eu adoro, Principessa. Muito.
As gargalhadas de e invadiram o quintal, onde a mesa de jantar estava posta. A família finalmente estava completa.
— Tio , tia ! — Isa gritou e bateu palmas assim que os dois sentaram-se à frente deles. — Mamãe não deixou a gente bater na porta do quarto para avisar do jantar.
— Ela não deixou a gente subir! Mamãe queria comer o jantar sozinha — Isaac completou, indignado com a atitude da mãe.
— Seus tios estavam muito ocupados, meus amores. É feio atrapalhar — Michelle disse e deu o maior sorriso, fazendo com que e cruzassem o olhar. — Ninguém subiu. Só eu, e proibi todo mundo de atrapalhar.
— Obrigado, fuxiqueira.
— Atrapalhar o quê? O que meus tios estavam fazendo que a gente não podia ver? — Isaac perguntou, fazendo com que Earnhardt tossisse na mesma hora e desse um soco na coxa do australiano.
— É, , o que vocês estavam fazendo que a gente não podia ver? — Michelle perguntou com um sorriso maldoso nos lábios. Ela adorava perturbar o irmão mais novo, nunca perdia uma oportunidade.
— Michelle! — Grace ralhou, fazendo com que Joe e a mais velha soltassem uma gargalhada. — Deixe seu irmão em paz, e você não dê corda.
— Meia-noite eu te conto o que a gente tava fazendo, Michelle. Quem sabe você aprende.
— ! — Grace ralhou mais uma vez, em desespero. Ela conhecia os dois muito bem para saber que em pouco tempo alguma frase de baixo calão sairia na frente das crianças. Nenhum de seus filhos tinha filtro.
Mas, graças a Deus, tinha.
— Trabalhando, queridos — disse a estadunidense, acabando com a provocação dos irmãos. — Seu tio e eu estávamos trabalhando para atualizar o carro na próxima corrida.
— Tio vai voltar a correr? — Isa perguntou e imediatamente seus olhos se encheram d’água, fazendo com que a menina saísse da mesa e corresse para dentro da casa.
— Deixem — disse antes mesmo que Michelle se levantasse. — Falarei com ela.
Não demorou muito para que encontrasse Isabella, que estava na sala de estar, encolhida no espaço entre o sofá e a poltrona, com os joelhos junto ao peito. Ver sua pequena sobrinha daquele jeito, por sua causa, quebrou o coração do piloto.
— Meu amor? — a chamou, mas Isa não respondeu. — Venha aqui com seu tio, vamos, baby.
— Você vai morrer? — perguntou, direta, assim que o homem sentou-se à sua frente. — Não quero que você morra. É meu tio preferido.
— Querida, me dê um abraço — pediu, e Isabella finalmente o atendeu, jogando-se em seus braços, ainda chorando. — Eu posso prometer pra você que vou me esforçar muito, mais do que todo mundo para não morrer. E que vou sempre lutar para voltar pra casa bem. Quando eu estiver no carro, sabe quem cuida de mim?
— Tia ?
assentiu, limpando seu rosto com os polegares.
— Quando me machuquei, sua tia não estava. Mas ela vai estar agora, tudo bem? Ela vai cuidar de mim muito bem.
— Por que ela é a melhor, não é?
— Ela é a melhor. E eu também sou muito bom fazendo o que eu faço, vou me esforçar para ser o melhor de todos, tudo bem?
— E os melhores não morrem, não é? — perguntou, e sentiu seu coração doer mais uma vez.
Ele já tinha sido aquela criança. Seu ídolo era o melhor de todos e ele tinha morrido fazendo o que amava. Ter visto, ainda que pela televisão, seu ídolo morrer em um acidente tão brusco, foi muito impactante e também um divisor de águas para que soubesse o que queria fazer da vida. Ele queria ser igual a Dale Earnhardt.
Mas, agora, era angustiante saber que suas escolhas afetavam uma criança.
Isa? — a voz doce de tomou conta da sala, e a menina a encarou, ainda nos braços de . sentou-se ao lado do australiano e segurou a mão da sobrinha. — Posso te contar uma coisa? — A menor assentiu. — Meu pai se chamava Dale e ele era piloto assim como seu tio. Meu pai era o melhor piloto do mundo, não existia ninguém como ele. Ele não errava quando estava dentro do carro, e quando errava, sabia consertar. Mas teve um dia que meu pai não conseguiu.
— Seu pai morreu?
— Sim. Mas apesar disso, meu pai me amou muito. Ele me ensinou várias coisas sobre carros, inclusive, que ser piloto era a única coisa que ele se imaginava trabalhando. Era o trabalho da vida dele. E é assim com seu tio , sabia? Seu tio ama correr.
— Ele é feliz.
concordou com Isa e percebeu que lágrimas molhavam o rosto de .
— E sabe quem também é feliz vendo seu tio correr?
Isabella balançou a cabeça negativamente.
— Eu. Eu amo ver seu tio correr. E, minha querida, meu trabalho é fazer com que seu tio esteja sempre seguro, que ele ganhe todas as vezes possíveis, que ele sempre volte para casa.
— E você é a melhor.
— Sou — disse, com toda a sinceridade, pela primeira vez em todos aqueles anos. — Eu sou a melhor, querida. E sempre darei o meu melhor para que seu tio volte para casa.
nunca havia quebrado a promessa que havia feito ao pai, ainda criança. Ela nunca foi responsável por morte alguma. Daylin Miller Earnhardt era realmente a melhor.
— Você promete que vai sempre estar com meu tio?
— Com a minha vida. — beijou o próprio mindinho e estendeu para a menina, que o apertou imediatamente.
— Pode correr, tio — disse para , o abraçando pelo pescoço. — Quero que você seja o melhor do mundo inteiro.
apertou Isabella nos braços e sussurrou para , apertando sua mão direita:
— Eu amo você, Principessa. Obrigado.
— Eu amo você, Dolce.
E ali, com Isabella entre eles, os dois tiveram a certeza que durariam para sempre.
Continua...
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