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Última atualização: 25/11/2022

Capítulo 31

Naquele ano, o campeonato estadual iniciaria com as equipes masculinas, tendo o nado de costas como a primeira modalidade a ser disputada. Isso alterava o padrão – todos os anos, a modalidade primeiramente disputada, sendo um dos eventos de maior audiência, era justamente o nado borboleta. Eu imaginava que a causa dessa mudança fora o retorno dos gêmeos Nessbit; eles eram talentos inatos, levavam e Daniel ao limite e além. Kalil e Apollo não eram adversários que se poderia subestimar! Eles pareciam ter nascido para o esporte; seus portes naturalmente atléticos e braços compridos eram atributos que os favoreciam nas piscinas.
Antes de eleger como meu rival, os Nessbit foram meus primeiros adversários. Começamos a competir com a mesma idade, nos conhecemos em uma disputa popular que não nos renderia qualquer premiação. Em um medley misto, competi contra a dupla dinâmica e assim se iniciou uma disputa amigável, já que eles não conheciam muitas garotas que fossem tão apaixonadas por estar na água quanto eles. Daniel e se tornaram adversários para os gêmeos antes que eu os conhecesse; até então, ainda não frequentava as mesmas turmas e escolas que eu. Conheci assistindo o campeonato juvenil, exatamente quando havia me afastado das piscinas; naquela ocasião, Kalil e Apollo insistiram para que eu fosse vê-los.
Garotos, calouros e veteranos, familiares ou não com as raias daquelas piscinas, pularam para a água ao som do primeiro apito para se posicionarem corretamente. Braços segurando as barras metálicas, pés apoiados nos ladrilhos e olhos insondáveis, escondidos atrás de óculos de proteção. A seriedade dominou o ambiente. Todos os olhares estavam nos garotos… Os instantes que precederam a largada foram tão excitantes quanto torturantes; a adrenalina corria em cada nervo aguardando o sinal. Da minha posição, conseguia ver o sorriso contido de animação de Kalil. Ele não poderia ser completamente aberto por conta dos juízes – Kalil já tinha sofrido uma punição por sua arrogância pré-largada.
A corneta soou, e eu sentia a vibração em minhas próprias células, ansiando por estar naquelas águas. Meus olhos captaram cada movimento de Kalil. Seus braços cortavam a água suavemente enquanto batia as pernas, movendo-se absurdamente rápido. Ele estava competindo nos 200 metros, no entanto, sua empolgação era tanta que empregava mais energia aos seus movimentos do que o comum. Ele encerrou a prova em primeiro lugar. Seu tempo era de longe o melhor entre os que disputaram a prova. Apollo ocupou a raia ao lado da que Kalil disputara. Daniel se colocou a duas raias de distância dele, e eu realmente não entendia o motivo pelo qual Wright teimava em se candidatar às mesmas modalidades que os gêmeos. O estilo que Daniel dominava era o nado livre; , o borboleta. Kalil e Apollo eram camaleões – qualquer um dos quatro estilos eles poderiam competir sem nenhum problema. Mas era óbvio que, assim como toda pessoa, eles possuíam suas preferências. Apollo gostava da adrenalina sentida nos 100 metros de qualquer uma das modalidades; nos medleys, ele iniciava a disputa ou senão as encerrava. Kalil adorava demonstrar sua agilidade e resistência nas piscinas. Ele geralmente disputava as provas de 200 metros e era sempre o responsável pelo estilo borboleta nos medleys, embora preferisse disputar os individuais.
Kalil dificilmente encontrava Daniel ou nas modalidades do nado de costas ou o livre nos 200 metros. focava nos 200 e 100 metros do borboleta e nos dois estilos de medley: em equipe e individual. Foram poucas as vezes que vi disputar em outra modalidade além do borboleta. Ele era um excelente nadador, porém, buscava se aperfeiçoar em um estilo de cada vez. Não era sem motivos que havia se tornado um rival à altura para Daniel no nado livre; fosse uma provocação ou não, Wright se enfurecia todas as vezes que encontrava o nome de nas listagens que eram repassadas a todos os competidores.
— Sua aposta está em qual deles, ? — a voz de Trina me trouxe novamente ao mundo real.
Enquanto assistia as competições, eu me tornava uma pessoa incomunicável. Meus olhos sempre capturavam os movimentos de cada um dos nadadores, avaliando-os e anotando seus erros e acertos em minhas notas mentais.
— Naquele que irá vencer, eu sempre ganho uma aposta — sorri acidamente, a respondendo.
— Wright obviamente irá vencer o Nessbit! — Trina fingiu que eu não havia dito coisa alguma.
— Daniel pode até estar em sua melhor forma, mas essa disputa é completamente do Apollo — voltei meus olhos novamente para as piscinas, acompanhando-os completarem a volta juntos. Porém, Apollo tomou a dianteira, assumindo em seguida o posto de primeiro lugar.
— Como? Por que o Wright deixou aquele cabeça oca do Apollo vencer?! — Trina me encarou como se eu tivesse respostas para suas dúvidas.
— Você ainda não notou, Trina?! — sorri para ela, como se soubesse o maior segredo da vida. — Wright pode ser um excelente nadador. Porém, e os gêmeos estão a um patamar acima dele, a prova está no tempo dele.
Wright já havia disputado com os gêmeos de igual para igual; no entanto, ultimamente ele mal conseguia acompanhar . Daniel continuava sendo mais rápido do que a média de nadadores, mas ele parecia ter que ir muito além de seu limite para tentar acompanhar Apollo!
— O que você está querendo dizer?! — o tom defensivo era nítido na voz dela.
— Wright está ficando para trás. A diferença entre ele e qualquer um que ocupasse o principal lugar era de apenas três centésimos e mais nada — a respondi calmamente. — Wright poderia estar com alguma lesão, um problema privado, ou chegou ao seu limite. Todo nadador tem um limite intransponível. Mesmo que você treine com dedicação, chega um momento que você não consegue ir além do que já evoluiu.
— Por que me dou o trabalho de te fazer perguntas, mesmo?! — Trina me respondeu de mau-humor. Ela retornou para sua equipe sem qualquer hesitação.
Acabei rindo. Não importava o que eu lhe dissesse; Trina reagiria da mesma maneira! Deixei meu lugar para conferir minhas garotas. Então, confisquei alguns lanches antes de reunir as que disputariam no nado de costas.

Era o momento de se concentrar! Havíamos chegado tão longe, não seria o Colégio Boulevard que nos abalaria os ânimos!


Capítulo 32

Jane e Jass mexiam-se de modo impaciente; seus olhos não conseguiam focar em um só lugar. Jane estava apavorada por conta de seus medos. As lesões causadas pelas garotas do Boulevard ainda a assombravam. Quanto a Jass, era como uma rotina – ela estava sempre animada para encarar suas adversárias, uma competidora por natureza!
— Eu quero que vocês, todas, saibam que eu tenho muito orgulho de vocês — encarei minha equipe. Mantive minha postura ereta enquanto olhava para cada rosto. — Cada treino, rotina dentro e fora da água, derrotas e vitórias trouxeram-nos até aqui — meu tom de voz suavizou enquanto eu sorria calmamente. — Se divirtam dentro daquelas piscinas, entreguem o seu melhor e saiam de cabeça erguida independente do resultado, porque cada uma de vocês fizeram o seu melhor. Dedicação, disciplina e responsabilidade foram os principais durante todo o processo preparatório. Vocês estão em sua melhor forma! Orgulhem-se e encarem aquela piscina tranquilamente. Vencer ou perder não importa, minhas garotas!
— Você sempre faz a gente chorar, ! — Jass riu, secando seus olhos.
— Temos a melhor capitã! — Jane riu. Sua postura estava mais relaxada, enfim ela conseguiu se acalmar.
— Não vai me dizer, capitã, que fará um discurso antes de cada etapa?! — Verônica provocou, tornando o ambiente ainda mais descontraído.
— Se isso acontecer, serei capaz de encher toda essa piscina com minhas lágrimas! — Denise prosseguiu a brincadeira, fazendo todo o time rir.
— Vocês realmente gostam de mim?! — entrei na brincadeira, vendo-as acenar em concordância antes de rirem. — Estou ansiosa para vê-las dentro daquelas piscinas outra vez!
Minhas garotas se reuniram em um círculo. Juntas, bradamos enérgicas antes que Jane e Jass seguissem para suas posições. Eu podia sentir pares de olhos sobre minha figura, mas naquele instante, não me preocupei com isso. Tudo o que realmente importava era dar apoio a minha equipe. Eu vi aquelas garotas darem o seu máximo por meses, se dedicarem de corpo e alma, comprometidas a chegar aos Nacionais. Quando eu dizia ter orgulho delas, não eram palavras vazias! Eu valorizava cada uma delas. Vi como enfrentaram obstáculos, encararam adversários que as subestimavam… Eu amava ser parte daquele time. Não era pelo o nome do colégio que nossa equipe levava, mas era justamente por causa delas. Mais que colegas de time, eu encontrei amigas, apoiadoras, aprendizes.
Todas formamos uma espécie de corrente humana, com braços dados e mãos unidas. Torcemos por Jass e Jane. Jasmine foi a primeira a enfrentar nossas adversárias pessoais, as garotas do Boulevard. Comemoramos cada prova; as garotas se revezaram na nossa formação de torcida. Gritamos a plenos pulmões, torcemos pelos garotos de nosso próprio colégio. Não parecia que normalmente a equipe feminina e masculina não se davam bem. O clima agradável entre as equipes foi substituído pela tensão. Os apostadores haviam se silenciado; familiares e amigos nas arquibancadas e todos presentes estavam atentos aos garotos que disputariam a categoria da vez.
, Apollo, Daniel e Kalil estavam em raias distantes uns dos outros. Toda e qualquer animosidade entre eles havia sido substituída pela mais pura concentração. Eles eram as estrelas daquele campeonato – aquele que tomasse o primeiro lugar no pódio seria declarado o melhor entre eles. Ao contrário do que eu esperava, havia uma agitação crescente em meu peito. Era quase como se meu corpo desejasse estar lá também. Eu sabia que era impossível, mas não conseguia conter a animação. Meus olhos captaram o leve aceno entre os gêmeos; eles eram irritantemente bons em se comunicar apenas por olhares. Daniel firmou sua postura, exalando o ar devagar, e ... parecia um felino diante sua caça!
A largada foi dada. Meu coração estava acelerado enquanto apenas acompanhava a competição. Eu estava mais do que animada para entrar naquela piscina! Os gêmeos não davam qualquer abertura que facilitasse a desenvoltura de Daniel, mas parecia estar muito longe para ser alcançado. Ele era um monstro dentro da água; seus braços moviam-se com destreza, criando movimentos belos e precisos. Eu não conseguia tirar meus olhos dele!
Os gritos esmoreceram. Meus olhos pareciam enxergá-lo com clareza, admirando sua performance enquanto me sentia agitada. , ao invés dos gêmeos, estava me deixando ansiosa para entrar naquelas águas!
Os 200 metros de borboleta pareciam um campo de batalha. Nenhum deles desistia! Daniel tentava dar braçadas mais fortes, no entanto, isso apenas o atrasava. Os gêmeos não estavam brincando como de costume, eles se sentiam especialmente motivados a competir pela seriedade de . Uma braçada errada e eles perderiam para !
Embora eu estivesse analisando minuciosamente cada detalhe, a competição ocorria num ritmo acelerado. Apenas em meu ponto de vista tudo se desenrolava em câmera lenta, prolongando-a. Alinhados, os quatro se encontravam enquanto buscavam vencer. Eu mal conseguia respirar direito, estava excitada, ansiava pelo resultado ao mesmo tempo que não desejava o fim daquela etapa. Gritos caóticos, incentivos de todos os lados, uma agitação geral acontecia enquanto a adrenalina atingia até mesmo os que não estavam dentro daquelas raias.
Os segundos finais foram pura tortura, mas assim como todas as coisas, o fim chegou. O problema foi que não pudemos deduzir quem havia vencido; a diferença entre os quatro garotos havia sido por segundos... Olhares angustiantes para o painel que mostrava o tempo de cada competidor em busca do nome do vencedor. Segundos que pareceram horas, até que houve a revelação.
havia vencido por um centésimo; tanto Apollo, Kalil e Daniel haviam tido o mesmo tempo. era aquele que havia os superado. Gritos e gargalhadas explodiram em todos os cantos – fosse pela revolta ou comemoração, eu não estava prestando atenção nisso. Os olhos eram os responsáveis por tomar minha atenção. Um sorriso detestavelmente galante com uma piscadela de olho me fez rir.
Era como se ele estivesse me dizendo algo importante… Algo que eu estava muito perto de decifrar!
Apenas sorri e devolvi a piscada. De certa forma, eu estava aliviada por ele vencer, ao mesmo tempo sabendo que ele iria ganhar desde o início.

Eu apenas confiava demais no talento de , embora jamais admitiria isso um dia!


Capítulo 33

Meus olhos encararam a multidão. Fazia algumas horas que eu tinha localizado a minha família – os estavam em peso nas arquibancadas. Me lembrava o Natal, com a clara exceção do desastre que ocorreu naquela noite. As palavras de , de meus irmãos e dos meus pais tomavam minha mente no momento em que eu deveria estar concentrada… Eu não precisava de dúvidas! Questionamentos e suposições eram e deveriam ser minha última preocupação naquele instante!
Estava posicionada na plataforma de salto. Meus olhos retornaram ao meu redor, deixando as figuras de meus familiares e as dúvidas para trás. Observei com atenção minhas adversárias, depois a piscina com suas boias que delimitavam a área em raias, com suas cores chamativas e familiares… Estive vezes demais naquelas piscinas. Uma veterana em experiência, mas uma caloura no coração, sentindo sempre a adrenalina e excitação antes da largada. Respirei fundo e belisquei meus braços; esperava que a leve dor espantasse os pensamentos desnecessários, afinal, não era hora de me distrair!
A competição havia tido várias etapas até aquele instante. De todo o colégio D’Antelli, apenas dois dos novatos não haviam se classificado. havia tido seu momento de holofote, e eu jamais admitiria não ter conseguido tirar os olhos dele enquanto esteve dentro das piscinas. Preferia perder um braço a admitir tal coisa!
O primeiro dia das competições estaduais encerraria com as duas categorias em que estava competindo, e eu teria que dar o meu melhor. Geralmente colocava o meu máximo apenas nos nacionais, que era justamente quando o nado borboleta e o livre seriam um após o outro. Dadas as circunstâncias, eu teria que encarar Trina e Anelise em ambas categorias.
Trina estava afiada como nunca estivera antes. Assistindo sua performance no nado de peito, pude ver sua evolução e a seriedade com a qual ela estava encarando as competições. Anelise era uma exímia nadadora; seu estilo e personalidade eram os opostos de Trina. Ela era assustadoramente impassível; sua calma inabalável era seu traço marcante. Eu não poderia relaxar.
Me coloquei em marca, seguindo as etapas de pré-largada. O nado borboleta me custaria mais energia que o livre, mas dados meus esforços, eu não temia nada! Não subestimava minhas adversárias como Daniel erroneamente pensava. Eu as admirava, me mantinha a par de suas performances de modo a saber exatamente o que enfrentaria.
O som da corneta reverberou por todo o meu corpo. Saltar foi algo instintivo. Fôlego preso na garganta, permanecendo o máximo que eu poderia debaixo da água, buscando abrir vantagem. Flashes do que havia passado até ali passavam pela minha mente inquieta; ela se recusava a permanecer sem um único pensamento! Sem outra alternativa, abri uma fenda na água e me movi por ela enquanto dava braçadas – respirar era fácil e complicado ao mesmo tempo. Meus músculos haviam decorado o que deviam fazer, mas naquela etapa em específico, eu teria de forçá-los a ir além! Colocaria meu melhor no nado borboleta e me moveria como quisesse no nado livre. Meu calcanhar de Aquiles era justamente a categoria em que eu estava competindo naquele momento. Eu teimosamente competia, forjando-me de modo a alcançar a excelência! Não desistiria. Mesmo que vencesse sempre que competia, eu ainda não havia alcançado o que almejava.
Meus pés encontraram o ladrilho do outro lado da piscina, então me encolhi o máximo que pude antes de impulsionar-me com toda a força que eu possuía em minhas pernas. Pés chocando contra a superfície da água, braços sincronizados, respirações curtas, um objetivo, uma meta, um sonho… Gritos abafados pela água, batimentos como tambores em meus tímpanos.

Instinto.
Experiência.
Perigo!


Cabeça fora da água – por muito pouco não havia batido minha cabeça de encontro aos ladrilhos da piscina. A arquibancada estava em silêncio, mas a movimentação na piscina era o exato oposto! Na raia ao meu lado, Trina Abranvick estava desacordada! Paramédicos surgiram e a tiraram da água. Sinais vitais foram checados, primeiros socorros prestados… Eu me sentia como se estivesse assistindo tudo de longe, por menos que um segundo havia escapado de estar no mesmo estado que ela.
O resultado da prova havia ficado em segundo plano, todos ficaram preocupados com Trina. Saber parar era uma manobra imprescindível quando treinávamos para competições. No ápice da adrenalina, esquecemos dos limites da piscina, o que era um perigo sem igual!
Eu ainda encarava a raia ao meu lado quando fui tirada da piscina, anestesiada, em choque, processando o que havia acabado de acontecer e sentindo um frio em meus ossos… Eu não conseguia sair do estado em que me encontrava!
!
!
— Você está bem?
— Ela vai ficar bem?
— Eles vão prosseguir com as competições de hoje?
— Deixem ela respirar!
— Depois do que houve com Abranvick, vão encerrar as competições por hoje.
!
— Os pais dela estavam assistindo a tudo!
— Eles vão revelar os resultados?!
— Você não acha que deveria falar baixo?!
— Por quê? Não há nada que possamos fazer com relação a Trina.
— Fale baixo!
!
Vozes dispersas, distantes, difíceis de ser alcançadas… Parecia que eu estava debaixo d’água. Eu os ouvia, mas não conseguia retornar para o presente. Me sentia fria. Era como se estivesse em uma nevasca, mesmo que o sol brilhasse naquele momento.
, por favor, olhe para mim!
— Ela não está atendendo aos chamados.
— Alguém ajude a .
Saiam de perto dela!
— Ela está em choque ?!

Caos…
Eu mal conseguia respirar direito.
Sentindo-me como se estivesse debaixo d’água…
Distante….
Uma mera espectadora.


Capítulo 34

Batimentos…
Uma superfície quente.
A sensação de estar sendo abraçada.
Um perfume familiar…
!


Meus olhos abriram lentamente; a superfície abaixo de mim era estranhamente macia. Me sentei bruscamente. Meus olhos buscaram identificar onde eu estava, e, pela falta de claridade, tudo indicava que o dia já havia chegado ao fim. Eu me sentia inquieta, além de um frio que se recusava a passar… Tremi ao relembrar o que havia ocorrido mais cedo. Meus pelos estavam arrepiados e minha pele parecia fria demais, mesmo que estivesse debaixo dos cobertores.

Poderia ter sido eu!

O pensamento me golpeou com a realidade. Eu havia me envolvido demais, tão focada em executar os movimentos que esqueci os limites da piscina… Estive perto demais de um grave acidente. Éramos competidoras experientes, conhecíamos bem demais aquele lugar. A imprudência ficou a cargo da familiaridade!
Naquele momento eu estava no hotel reservado para as competições. Jass e Verônica estavam adormecidas em suas respectivas camas, e a inconsciência me manteve por um longo tempo em seu abraço. Procurei meu aparelho e o localizei sobre a mesinha ao lado da minha cama. Procurando quase de imediato contatar minha família, liguei no automático para minha mãe. Eu apenas poderia imaginar o que havia ocorrido. Enquanto a confusão se instaurava, acabei desmaiando.
Abracei meus joelhos e apoiei minha cabeça na parede, em silêncio, aguardando a matriarca dos atender. Nada me traria mais conforto do que ouvir a voz dela – talvez apenas o colo de minha mãe poderia aplacar a angústia que eu sentia e, com suas mãos a acariciar meus cabelos, poderia espantar o frio em meus ossos.
Minha garotinha.
Eu não imaginava que precisasse tanto do colo dela até ouvir a sua voz. Mesmo que eu tivesse crescido, desejava desesperadamente por ela.
— Mamãe… — as sílabas escaparam pelos meus lábios trêmulos enquanto eu sentia meus olhos marejarem. Estava chocada, impressionada com a imagem de Trina desacordada na piscina… Me sentia desconfortável somente de me lembrar!
— Minha garotinha, respire fundo — minha mãe falou calmamente. Era como se pudesse me ver. — Hoje foi um dia especialmente difícil. Eu imagino como sua pequena e teimosa cabecinha deve estar, querida.
Eu sabia que ela estava falando daquela maneira para me tranquilizar. Aquela versão frágil não fazia parte de quem eu era normalmente…
— Eu estive muito perto, mãe. Mal consegui me frear! — minhas palavras soaram baixas, mas eu tinha a plena certeza de que ela me ouvia. — Eu parei por instinto, nada menos que isso — lágrimas quentes escorreram por minha face.
— Minha pequena garotinha, me parte o coração que eu não possa estar ao seu lado agora…
Eu imaginava se meus irmãos e pai não estavam ao redor dela naquele instante. Ao mesmo tempo que a imagem me fazia querer rir, eu também tinha vontade de cobrir minha face diante da vergonha. Afinal, estava dando mais razões para eles serem superprotetores comigo.
— Devido aos protestos calorosos de seus irmãos, acabamos proibidos de entrar no hotel. Você conhece Kayron e Cecília!
O riso escapou naturalmente pelos meus lábios. Sequei minhas bochechas e olhos, me sentindo mais relaxada. O frio que eu sentia passou a conversar com minha mãe; fechei os olhos e sorri tranquilamente antes de respondê-la:
— Obrigada, mãe, eu te amo — as palavras fluíram tranquilamente para fora. Eu estava bem graças a ela.
— Eu também te amo, minha pequena criança. Estaremos todos aí para tomar o desjejum juntos. Por agora, descanse. Amanhã você precisará de todas as suas forças para encarar os obstáculos em seu caminho — ela falou suavemente. Eu me sentia mais calma e conseguia respirar tranquilamente outra vez.
— Obrigada, mãe. Diga a todos que estou bem — puxei os cobertores para o lado, colocando meus pés no chão. — Boa noite, nos vemos amanhã.
— Boa noite, querida.
Então, ela desligou. Naqueles instantes eu amava ser a caçula – tinha todo o suporte que precisasse, minha família era o meu porto seguro.
Ainda preocupada com Trina, mas o suficientemente mais calma, segui em direção ao banheiro. Havia resquícios do odor de cloro em minha pele; eu tomaria um banho para então adormecer. Deixaria minhas preocupações para o dia seguinte, já que ainda não tinha qualquer notícias sobre Trina, e o resultado…

Uma coisa de cada vez!

Abrir o registro foi um ato automático. Eu tentava deixar meus pensamentos de lado enquanto me lavava. A água quente me confortava e relaxava meus músculos, algo que eu realmente precisava naquele momento. Não imaginava que algo assim poderia me abalar tanto, as inúmeras variáveis possíveis de ocorrer… Tinha esperanças por Trina. Era um acidente infeliz que poderia afetar todo o seu futuro. Desliguei o chuveiro ainda pensativa. Calar meus pensamentos parecia uma tarefa impossível!

Respire, mantenha sua mente no que pode fazer, ! Você não pode ter controle sobre tudo!

O reflexo me recebeu com seriedade – olhos que chegaram naquele campeonato tão determinados, agora pareciam vazios. O inesperado havia acontecido, entre tantas possibilidades de acidentes que poderiam ocorrer… Ninguém havia imaginado o que havia ocorrido mais cedo. Às vezes a vida nos prega peças; em outras, ela nos mostra sua dura realidade.
— Eu não me importo se eu ganhar ou perder…
A frase dita num tom baixo, mas verdadeiro, pareceu ecoar por minutos sem fim naquele banheiro. Sem outra alternativa, apenas prossegui a me vestir. O frio havia sido espantado pela conversa com a minha mãe, mas a inquietação ainda estava presente.


Capítulo 35

Eu não conseguia pregar os olhos. Mesmo após o banho, meu cérebro permaneceu ativo demais para que eu enfim conseguisse descansar. Sem outra alternativa, segui para a área externa do hotel após me vestir adequadamente, então caminhei pelo gramado e me deitei para observar o céu noturno – aquela vista me deixava mais relaxada.
O clima naquela noite estava agradável. Ao longe eu ainda conseguia ouvir uma certa movimentação, mas não era tão intensa devido ao horário tardio. Como eu havia deixado meu celular no quarto, não tinha a exatidão das horas, mas pela escassez de funcionários circulando, poderia dizer que era tarde o suficiente para estar desperta. Afinal, o campeonato estadual não havia sido cancelado após a situação com Trina. E, como atletas, deveríamos seguir uma rotina restrita, mas como colegiais isso não era a prioridade… Bem, para aqueles que não buscavam a profissionalização no esporte, pelo menos.
— Maus hábitos são difíceis de serem quebrados, não é mesmo, ?
Uma voz conhecida soou acima de mim. Na sacada do segundo andar estava a figura de Daniel com seu corpo voltado na minha direção; seus cabelos se moviam com a brisa noturna enquanto um sorriso calmo emoldurava seus lábios.
— E então, não vai subir? — a figura de Apollo surgiu ao lado de Daniel. Ele se sentou na amurada irresponsavelmente.
Balancei a cabeça negativamente, duvidando que eles pudessem me ouvir claramente caso eu dissesse algo. No entanto, era fato que me fizeram sorrir naquele momento. Apesar de tudo, eles sempre me faziam rir durante o campeonato.
— Eu imaginei que recusaria — o tom convencido de Daniel me fez ficar de pé em instantes, em alerta. — Tarde demais — ele piscou para mim no momento em que Kalil surgiu de repente, me colocando em seus ombros.
— Seus… seus! — eu mal conseguia formular uma ofensa adequada para aqueles três cabeças ocas.
— Eu sei que você nos adora demais para ficar ofendida! — Kalil corria por todo o gramado comigo ainda em seus ombros.
Eu não poderia contradizê-lo, já que a risada escapou facilmente pela minha boca. Já era tarde e amanhã teríamos mais provas exaustivas naquelas piscinas, mas, naquele momento, isso não importou. Daniel e Apollo se mantiveram observando enquanto Kalil corria. Eu era agradecida por tê-los conhecido. Da sua própria maneira, eles estavam tentando aliviar o que ocorrera com Trina, e, antes de me colocar no chão, Kalil me ergueu em seus braços e girou até ficar tonto e nos jogar no gramado.
— É bom vê-la sorrindo, Sirena — ele falou calmamente, seu tom passava um certo alívio e sinceridade.
— Vocês três são irritantemente adoráveis! — comentei casualmente enquanto me levantava após verificar se conseguiria manter o equilíbrio.
— É um dom, o que podemos fazer?! — Kalil piscou, me dando um dos seus sorrisos matadores.
— Você não perde a oportunidade! — enquanto eu ria, seguíamos em direção ao lobby do hotel.
— Posso sonhar, não é mesmo? — ele riu da careta que se formou em minha face. — Nunca perde a graça — indicou a careta, e eu acabei rindo junto com ele.
— Cala a boca! — rolei os olhos, mordendo a bochecha para não sorrir, o que o fez apenas alargar o sorriso após rir.
— Uma hora você ainda vai admitir, Sirena — Kalil deu de ombros e adentrou o elevador enquanto assobiava tranquilamente.
— Claro, somente em seus sonhos! — rolei os olhos, o seguindo.


Capítulo 36

Assuntos amenos, algumas provocações e piadinhas nos envolveu enquanto o elevador subia para o segundo andar. Seguíamos em direção ao quarto em que estavam Apollo e Daniel entre risos e piadinhas infames.
“Eu não deveria estar seguindo Kalil, mas ainda deveria agradecer aos outros dois garotos”, pensei.
Assim que chegamos ao quarto dos gêmeos, a porta estava aberta como se estivesse nos esperando. A figura de Daniel estava deitada numa das duas camas; seu semblante havia uma certa arrogância irritantemente natural que, ao mesmo tempo que me irritava, despertava meu interesse em tirá-lo do sério e levá-lo para longe de sua zona de conforto. Talvez por isso éramos um quarteto um tanto inquietante das competições em geral. Éramos uma combinação desastrosa demais!
— Então você veio — o leve arquear de sua sobrancelha me despertou a vontade de responder Daniel em um tom grosseiro.
— Limites, Wright, limites — Kalil se jogou em sua cama, lembrando Daniel com um tom de provocação.
— Eu devo um agradecimento a vocês… — permaneci no umbral da porta, sem entrar no quarto, para não provocar rumores que me causariam problemas mais tarde, já que aquela era a área dos garotos. — Apollo, Daniel e Kalil… Embora a maior parte do tempo vocês sejam irritantes, sou grata pela existência de vocês — comentei casualmente, o que gerou sorrisos triunfantes e risos contidos. — Nem uma só palavra! — alertei em especial aos gêmeos, que já trocavam olhares entre si.
— Isso mal chega a ser um “obrigada”, Sirena. Vamos lá, sei que consegue enfeitar essa frase de meia-tigela — Apollo se jogou ao lado de seu gêmeo, ignorando meu aviso.
— Ah, vamos lá! Vocês não precisam ouvir de mim que são incríveis, okay?! — pisquei, os observando rirem em conjunto. — Nem ousem! Estou em maus lençóis por estar passando do toque de recolher!
O aceno em conjunto daquele trio indicava que eles armariam algo. Por segurança, dei um passo para trás.
— Onde está a minha querida quebradora de regras?! — Daniel comentou num tom felino. Seu olhar carregava artimanhas sedutoras, reforçando minha cautela com aqueles três.
— Apenas obrigada. Vocês são uns doces, apesar de irritantes! Torçam por mim — dei alguns passos em direção ao elevador antes de retornar. — Boa noite, tentem não sonhar comigo! — pisquei, mandando um beijo no ar, o que Apollo fingiu capturar. Então balancei a cabeça, rindo.
Ouvi algumas provocações dos gêmeos antes de detectar os passos de Wright atrás de mim. Assim como eu, ele estava no andar errado e havia quebrado o toque de recolher durante os campeonatos. Por alguns segundos ele permaneceu em silêncio, o que me fez ficar em alerta. O elevador que Kalil e eu havíamos utilizado ainda estava no andar, ao que eu agradeci mentalmente. Somente quando adentramos o elevador que Daniel se pronunciou.
— Como você realmente está? — ele me indagou seriamente, o que de certa forma me pegou de surpresa.
— Preocupada com Trina, mas bem — eu havia me encostado nos fundos do elevador após apertar o botão do meu andar. — Obrigada, você e os gêmeos apareceram no momento certo — fui sincera em cada palavra. De certa forma, eu me sentia confortável na presença dele.
— Seria estranho admitir que essa amizade é estranha e eu meio que goste disso por ser justamente assim?! — ele riu tranquilamente. Quando Daniel ria, sua máscara de frieza se desfazia. Eram raras as vezes em que seu verdadeiro eu surgia na superfície.
— Isso meio que é exatamente a sua cara! — arqueei minhas sobrancelhas, vendo-o concordar com um aceno. — Vocês tiveram alguma notícia da Trina desde o momento em que eu, você sabe… meio que saí do ar? — comentei cautelosamente.
— Nem uma só palavra, eles parecem estar retendo as notícias por conta dos pais dela — a tranquilidade foi substituída pela seriedade outra vez.
— Eu imaginei. Se tiver qualquer notícia dela…
Ele me interrompeu cuidadosamente:
— Eu te aviso, . Apesar do que você tenta transparecer, seu coração é puro e você realmente se preocupa com as pessoas à sua volta! — Daniel garantiu. Ele havia se aproximado de mim e segurava minhas mãos no instante em que as portas do elevador se abriram.
Ambos olhamos para as portas metálicas – ainda estávamos alguns andares abaixo do que desejávamos. A figura era familiar para ambos, o mal entendido era certeiro! Daniel e eu estávamos próximos demais um do outro; nossas mãos unidas passavam o ar de um casal que havia acabado de se encontrar de modo furtivo, longe de olhares curiosos.

O universo só poderia estar tirando onda com a minha cara!


Capítulo 37

— Querem um pouco de privacidade? — indagou ironicamente, segurando o elevador no andar.
— Eu não me importaria de passar o resto do trajeto a sós com ela, primo.
O Daniel provocador estava de volta. A rivalidade dos dois era sentida através da rápida troca de olhares entre eles.
— Como sempre, muito maduros! — revirei os olhos e puxei a figura de para dentro de uma vez, liberando enfim o elevador.
— Delicada como sempre, Love! — me respondeu rudemente, ajustando sua roupa.
— Ela é uma garota de atitude… as minhas preferidas — Daniel piscou para mim enquanto sorria galanteador.
— Quem mexe com fogo acaba se queimando, meu caro primo — o respondeu com um falso tom de alerta.
— Se está na chuva, é para se molhar! — Daniel o respondeu despreocupadamente, mantendo um sorriso convencido nos lábios.
— Te sobraram nada além de cinzas, meu caro — continuou com o seu teatrinho de familiar preocupado.
— Oh, por favor, calem a boca! — me pronunciei, não suportando aquela situação enervante. — Vocês são o quê, crianças de cinco anos?! — eu os encarava, nem um pouco amigável. Daniel e não conseguiam ser sociáveis um com o outro.
— Qualquer coisa pela minha bela dama — Daniel me respondeu com um sorriso travesso. Ele deixou um beijo próximo do canto da minha boca antes de sair do elevador, que havia aberto as portas em seu andar. — Te espero para o desjejum, minha cara Rainha das Águas.
Daniel piscou uma última vez antes de seguir pelo corredor tranquilamente; seus passos calmos e confiantes provocavam , que naquele instante cerrava os pulsos, contendo-se para não segui-lo. Não foi até o elevador fechar as portas metálicas que agiu! Ele apertou o botão para ficar parado no andar, e meus olhos voltaram-se irritados para sua figura nem um pouco amigável.
— Me diga que você não está sendo estúpida e dormindo com aquele imbecil?! — o tom ofensivo de foi o que me tirou do sério, e não sua acusação.
— Eu não sou você, ! — o respondi com escárnio. — Diferente do que fala tanto, você não tem ideia de quem eu realmente seja! — cerrei meus pulsos para não bater em sua face. Então, tomei uma respiração longa e tentei aplacar a irritação crescente.
— Não estou me referindo a você como o ser detestável, ! — também respirou fundo. Seus olhos verdes-esmeralda brilhavam, banhados em raiva; sua boca apertou em uma fina linha enquanto ele controlava as palavras imprudentes. — A ideia de Daniel… — ele não finalizou a frase. Ao invés disso, cobriu o rosto e passou as mãos pelos cabelos. A agitação dele me provocava ainda mais.
— Nós não vamos a lugar algum com essa discussão! — me pronunciei, me colocando à frente dele para apertar o botão, de modo que o elevador voltasse a se mover. Eu estava no limite do meu controle.
— Eu sei, não era sobre isso que eu gostaria de te dizer — ele segurou minha mão, me impedindo de apertar o botão. Seu toque foi cuidadoso, me segurando apenas para impedir minha ação, depois logo me soltou.
— Obrigada por me tirar da água mais cedo — mudei de assunto. Detestava passar qualquer segundo perto dele, mas odiava mais ainda ser ingrata; portanto, o agradeci. No entanto, o olhar intenso que me deu deixou-me, de certa forma, desconcertada.
— Eu vi você ao invés de Trina bater a cabeça contra os ladrilhos. Isso assustou até minha alma, ! — me olhava diretamente nos olhos, sem me deixar escapar de suas esmeraldas intensas. Nem que eu desejasse poderia escapar daquele olhar!
— Você notou… — o pensamento escapou dos meus lábios antes que eu pudesse refreá-lo.
— Eu tenho te visto nadar por tempo demais, Love — ele me ofereceu um sorriso triste; aquela era uma versão pouco vista de . Assim como Daniel, ele vestia uma máscara, era um mal de família.
— Eu… ficarei bem, se é isso que lhe preocupa — tentei mudar de assunto, quebrando fosse lá o clima daquele momento.
— Se você realmente soubesse… — ele riu antes de liberar o elevador. — De todo modo, parabéns pelo recorde. Devido ao acidente de Trina, a equipe técnica e o júri do campeonato não pôde anunciar seu recorde — havia um brilho sutil em suas lumes verde-esmeralda. — Você quebrou novamente o seu próprio recorde.
— Eu entendo, não é o melhor momento para divulgar uma notícia como essa — concordei com um aceno. — Você foi muito bem em seu combate contra o trio do caos — sorri ao citar os gêmeos e Daniel.
— Obrigado. Temos que manter a tradição, já que essa será nossa última vez competindo no ensino médio — ele sorriu orgulhosamente.
— Enfim chegamos ao último ano — comentei casualmente. E com o sono começando a dar sinais, acabei bocejando.
— Uma hora tudo chega ao fim — ele espelhou meu bocejo, espreguiçando-se. — Tenho certeza que sentirá falta das minhas provocações — piscou com um sorriso tranquilo e levemente provocador em seus lábios carmesins.
— Eu não terei esse privilégio, ou você se esqueceu que meu irmão se casará com sua mãe?! — o lembrei, incisiva e com um leve desgosto.
Você ficaria surpresa com o que sou capaz de esquecer quando estou com você, .
A voz de não passou de um sussurro; tão baixo que custei a entender o que ele havia dito. Sua frase me lembrou do que havia dito na desastrosa noite natalina. Os tombos, a lama dos porcos, o lago congelante… Eu havia me perdido novamente em meus pensamentos, e quando retornei a realidade, havia me dado boa noite e seguido para o seu quarto, me deixando sozinha no elevador! Sua fuga mal disfarçada quase me fez segui-lo. estava encurralado e eu não sabia exatamente o que fazer quanto a isso… O que aconteceria se eu o pressionasse?!

um dia iria me enlouquecer!


Capítulo 38

A manhã chegou com um longo interrogatório das minhas colegas de quarto, além do extenso e cansativo questionamento da treinadora Möretz. Passei por uma avaliação com a equipe médica do campeonato e o caos com a minha equipe foi a cereja do bolo para finalizar o que houve no dia anterior.
Após garantir e reforçar que estava bem, depois checado a planilha do campeonato, pude enfim seguir para o estacionamento e encontrar meus irmãos já me esperando. Garrett me alcançou primeiro, seus braços me envolveram em um abraço protetor; eu conseguia ouvir seus batimentos acelerados.
— Não me assuste dessa forma, minha monstrinha — a voz de meu irmão revelava o quão profundamente preocupado ele havia ficado. Seu olhar passava uma seriedade que eu nunca havia visto.
— Você será a causa dos meus cabelos brancos, ! — Hector se aproximou e me abraçou fortemente. Sua calma habitual havia sido substituída por um estado de humor que encobria sua preocupação.
— Me perdoem, eu não queria deixá-los preocupados — abri um sorriso tímido, me aproximando de Kayron assim que Hector me soltou. — Cecília está com nossos pais? — indaguei, tentando mudar de assunto.
— Sua pequena errante! — Kayron riu antes de bagunçar os fios de meus cabelos e me puxar para um abraço. — Eu nunca terei filhos. O sentimento que tive ao vê-la desmaiar… Eu definitivamente não terei filhos! — ele confessou apenas para mim. Havia uma fragilidade em suas palavras que me surpreendeu; Kayron não revelava muito esse seu lado.
— Eu estou bem. A equipe de médicos da competição analisou a minha condição, então vocês podem ficar tranquilos agora — pisquei para eles e segui em direção ao banco da frente ao lado do motorista.
— O que fazemos com essa fedelha?! — Kayron gargalhou, tomando o posto de motorista.
— Para o banco de trás, monstrinha! — Garrett segurou a maçaneta, me impedindo de tomar o assento ao lado de Kayron.
— Você sabe como eles são — Hector deu de ombros e calmamente se sentou no banco de trás. Havia um sorriso calmo em seus lábios.
— Eu espero que isso não tenha sido uma ofensa, irmãozinho — Garrett olhou para Hector cuidadosamente.
— Estou com fome. Vamos logo encontrar nossa família para que eu repita cada palavra umas cinco vezes, no mínimo! — revirei os olhos, deitando minha cabeça no ombro de Hector.
— Você é a caçula, está fadada a ser a mais paparicada e a mais vigiada — ele riu, não escondendo sua diversão.
Resmunguei algo enquanto via meus três irmãos rirem. Eu me sentia agradecida. O conforto que eles me passavam era incomparável!
Kayron ligou sua caminhonete e dirigiu até o local onde nossa família nos aguardava, enquanto Garrett e Hector não conseguiam manter a boca calada. Eu tentava não me irritar – sabia que a intenção deles era me distrair e aplacar a preocupação que sentiam. Eu não precisava de guarda-costas com quatro irmãos mais velhos.
Cecília deveria ter sido contida por nossa matriarca. Assim como Kayron, ela possuía uma proteção absurda sobre mim. Eu torcia para que seu marido estivesse ao lado dela – Cael era um homem de personalidade doce, tímido para os padrões irlandeses, o completo oposto de minha irmã e adorado por toda a família! Era inspirador observá-los. Cecília e Cael se completavam. Enquanto ela era tempestade, ele era a calmaria. Um equilibrava o outro. Eu conseguia enxergar meus pais refletidos na relação deles. Havia um respeito, equilíbrio e amor tão profundamente puro e verdadeiro. Não era sem motivos que Cecília havia se cansado com Cael – enquanto ela era a garota mais popular do colégio, ele foi o garoto mais inteligente e reservado que o Colégio D’Antelli já havia visto. Oposições completas, um clássico clichê entre o nerd e a popular, mas que no fim acabou bem.
O trajeto não levou mais que alguns minutos para ser percorrido. Já que eu ainda teria as eliminatórias, meu irmão mal estacionou a caminhonete e eu saí procurando pelos nossos pais. Cecília, claro, me barrou para verificar meu estado, enchendo-me de perguntas. Até que nosso pai veio ao nosso encontro e me livrou das perguntas intermináveis de minha irmã. Nossos avós estavam sentados numa larga mesa redonda do restaurante que ficava a poucos metros do local onde ocorria as competições estaduais. Abracei minha mãe e a agradeci novamente, me sentindo como criança outra vez ao estar em seus braços.
Antes de iniciar a refeição, meus dois melhores amigos, Becky e Roman, surgiram pela porta do restaurante. Ela estava afoita, somente se acalmou após eu repetir que estava bem algumas vezes. Em um clima agradável, pude enfim tomar meu café da manhã. Meus familiares me encheram de perguntas, e eu os respondia conforme me alimentava, priorizando a refeição já que precisaria de energia para as eliminatórias.


🏆💙🏆


Devido aos acontecimentos do dia anterior, a programação havia sido alterada, e era justamente por isso que os medleys masculinos individuais estavam ocorrendo na primeira metade do dia. A preocupação geral com o bem estar dos atletas fez com que todos passassem por um check-up antes que as eliminatórias iniciassem. Sem ter ideia disso, acabei chegando na metade dos exames. E como havia passado pela avaliação antes de deixar as instalações do hotel, não precisei passar pela triagem novamente.
Enquanto as eliminatórias masculinas ocorriam, reuni minha equipe para repassar as estratégias e lembrá-las sobre a importância de se divertirem. Afinal, éramos apenas colegiais. A pressão sobre o futuro, profissões, faculdades… Vencer não era tudo! Não se podia vencer todas, por conta disso, a etapa essencial era se divertir enquanto competia.
O grande problema do medley individual era o desgaste físico. O preparo e condicionamento físico da minha equipe foram umas das principais bases que busquei fortalecer ao longo dos meses. Foram treinos exaustivos: exercícios em solo e na água, horas de pesquisas e consultorias com outros treinadores… As derrotas do passado e vitórias no presente haviam nos levado a esse momento!
Eu estava exultante. Mesmo que a competição tivesse adquirido um tom mais sério devido ao acidente de Trina, que até aquele instante não havia sido citada pela bancada técnica do campeonato, seguiria em frente e daria o meu melhor em cada etapa! Minhas garotas estavam em seu melhor, meu colégio havia se tornado uma potência na natação… Eu estava em meu último ano escolar e aproveitaria cada instante disso!


Capítulo 39

As equipes femininas puderam se aquecer entre as pausas do medley masculino. Quando uma piscina era ocupada, a outra ficava livre para o aquecimento. Junto à treinadora, cuidei do aquecimento da minha equipe e corrigi o necessário, observando com seriedade antes de seguir para o meu próprio aquecimento. Após o medley individual masculino, teria as duas provas do nado livre feminino, que foram alteradas devido ao acidente do dia anterior. Me restaria apenas uma hora e meia de descanso após competir nos 100 e 200 metros do nado livre antes que eu tivesse que retornar às piscinas para competir na categoria feminina do medley individual. Terminaria o dia exausta!
— Isso é injusto! — Verônica foi a primeira a se pronunciar quando viu o anúncio. Seu olhar alternava entre o memorando e a piscina ao longe.
— Eles deveriam encaixar as provas no último dia, já que o terceiro tende a ser o mais curto! — Violet exclamou, irritada. Suas íris pareciam fervilhar ao encarar o nada.
, você conseguirá realizar todas as provas? — Jane indagou-me, preocupada.
— Não podemos fazer nada a respeito? — Felicia estava preparada para agir, mesmo que não soubesse exatamente o que fazer.
— Você está bem? — Sam perguntou, sinceramente preocupada. Parecia que o evento do dia anterior havia a abalado também.
— A compete desde muito nova, é claro que ela dá conta! — Betsy sorriu corajosamente, buscando mudar o clima que havia se instaurado na equipe.
— Vamos deixar a nossa capitã se pronunciar! — Jass silenciou toda a equipe; seu tom havia saído mais alto do que as vozes delas. Eu já tinha minha escolha para a nova capitã quando me formasse.
— Eu fiz uma promessa a vocês. Custe o custar, eu a cumprirei! — sorri de modo confiante. Seria cautelosa com os limites da piscina e ganharia cada categoria para me classificar para o Nacional.
— Essa é a nossa capitã! — as garotas disseram em uníssono.
Custe o que custar, eu não quebraria a promessa que havia feito a elas!


🏆💙🏆


O hotel ficava a alguns quarteirões do centro de disputa do campeonato estadual. O local das competições possuía duas grandes piscinas olímpicas, paralelas uma à outra. As arquibancadas eram circulares. O centro de competições lembrava um estádio, com uma cúpula de vidro e estrutura metálica que preservava as piscinas e os assentos das arquibancadas dos agentes naturais. Os vestiários ficavam um nível abaixo das arquibancadas, grandes o suficiente para caber todas as equipes divididas apenas pelo feminino e masculino, que claramente ficavam em pontos opostos.
Parte das arquibancadas eram reservadas aos colégios que disputavam as eliminatórias para o nacional. Desde o campeonato municipal até o nacional, eram etapas premiáveis, tendo a cerimônia de entrega de medalhas e troféus no último dia, com a exceção da etapa do amistoso obrigatório. Devido ao crescente número de calouros e pessoas inexperientes, esses amistosos serviam para dar a essas pessoas um gostinho de como era estar na etapa final, já que olheiros, treinadores profissionais e o público assistiam de modo a avaliar cada nadador. Escolas que haviam sido derrotadas retornavam ao amistoso, o que deixava o clima de competitividade ainda mais afiado – exatamente o que o público esperava!
Após me aquecer, me isolei. Eu conhecia aquele lugar como a minha própria casa. Foram tantas competições travadas ali que era impossível não me sentir familiarizada. Respirei fundo enquanto andava tranquilamente de um lado para o outro, procurando esvaziar minha mente e focar toda minha energia no presente. Eu estava tranquila. Não que subestimasse minhas adversárias – eu havia feito tudo o que estava ao meu alcance e aquele momento era para relaxar. A pressão acabava com os atletas, e eu descobri isso cedo demais!
Meu relógio soou, avisando que meu tempo havia acabado. Me afastei de todos minutos antes das etapas se iniciarem; havia se tornado um hábito, quase um ritual. Até que eu me classificasse, não falaria com ninguém. Era uma forma de me manter focada.
Diante da imensidão azul dividida pelo colorido das bóias, sorri ao me posicionar na plataforma de salto. Mesmo que tivesse horas exaustivas pela frente, eu estava exatamente onde queria estar…

Estou em casa!


Capítulo 40

Saí encarando as piscinas. Nada tiraria meu foco, nem mesmo as preocupações sobre os acontecimentos do dia anterior. Elas ficariam para trás…

Eu era uma nadadora!
Fechei meus olhos e respirei fundo, a calma inundou-me. Nada me abalaria! Ao abrir os olhos, encontrei os rostos familiares, a ansiedade e a expectativa tão comuns, mas assustadoras para os novatos. O público buscava entretenimento, algo que os marcasse. Eu não estava ali para dar um show! Eu lutaria pela minha vaga nos nacionais, mesmo que isso custasse até minha última gota de energia.
Óculos ajustados, pés sobre a estrutura de salto, mãos tocando-a, corpo inclinado, o horizonte azuláceo interrompido pelas cores das boias. A batalha na água iniciaria em instantes. Ouvidos atentos ao mísero ruído; o silêncio quase absoluto inundou o local. Era algo fora do comum. O dia havia se tornado especial pela etapa extra. Algumas das minhas adversárias eram famosas em suas próprias cidades; boa parte buscava a profissionalização no esporte. Eu não poderia me importar menos com isso, afinal, vivíamos um dia de cada vez. Eu me movia conforme enxergava – era assim que eu levava minha vida, mesmo que possuísse metas bem estabelecidas. Assim como todos ali presentes, eu era humana; cheia de falhas, mas determinada a viver o presente.
A corneta soou, os gritos foram dados, e nada daquilo me importava…

Eu era a minha maior adversária!


🏆💙🏆


Saí cansada da água, mas não exausta! Ainda havia energia em meu corpo após as duas etapas do nado livre; como ainda haveria o medley individual feminino, os resultados das competições femininas seriam divulgadas no final da tarde. As equipes naquele ano estavam muito bem treinadas, todas miravam as competições nacionais. Apenas uma pequena parcela se classificaria. O campeonato estadual era isso, uma peneira, filtrando os melhores para o grande show final. Garotas, novatas e veteranas, amantes ou não do esporte, grande numericamente mas pequenas em confiança; sonhadoras ou apenas realistas, adversárias mesmo que na mesma equipe, afinal, a vaga era única. Assim que deixei a piscina, segui rapidamente para os vestiários e retirei a touca e os óculos. Então segui para os chuveiros, de modo a tirar todo o cloro da piscina do meu corpo e relaxar meus músculos; vesti o uniforme da equipe sobre o maiô, de modo a manter meu corpo aquecido. O vestiário ficaria vazio até o horário um pouco antes do início do primeiro turno do medley individual. Devido ao grande número de garotas, o medley foi dividido em três turnos. O tempo era o que decidiria tudo, assim como em todas as provas naquela competição.
Deitei sobre minha toalha, estendida previamente sobre o banco de madeira, buscando recuperar minha energia. Mesmo que houvesse deixado a piscina, parecia que eu ainda estava dentro da água. A sensação parecia se recusar a passar.
— Eu preciso descansar — acabei pensando alto. Notando que ninguém mais havia surgido por ali, fechei os olhos.
Como possuía um sono leve, eu duvidava que pudesse adormecer, mas assim permaneci. Voltaria para a água no segundo turno do medley individual feminino. Apenas desejava mentalmente que naquele ano eu pudesse aproveitar minha última competição estadual antes do que realmente seria minha última vez competindo; deixaria aquele ambiente assim que me formasse.
Tentei calar o turbilhão de pensamentos que surgiram assim que deixei as piscinas, mas não consegui. Suspirando, me coloquei de pé, alonguei outra vez meu corpo e guardei minha toalha dentro da minha bolsa no armário. Retornei para o lado de fora para buscar um local mais vazio. Se meus pensamentos se recusavam a permanecer em silêncio, eu teria que utilizar algo ainda mais alto para silenciá-los.
As equipes masculinas já estavam devidamente vestidas; os uniformes das equipes se misturavam na interação entre os colégios. Eu tentava não interagir com ninguém se houvesse etapas a vencer, no entanto, não queria me perder em assuntos desconcertantes caso eu ainda permanecesse naquele banco do vestiário. Sem outra escolha, vasculhei o mar de cores e faces atrás de figuras não tão irritantes que eu pudesse ao menos conversar sem ter de me estressar ou explodir de raiva.
O público que assistia a competição deveria estar do lado externo da construção. Como estávamos no intervalo, não haveria muito para se assistir além de jovens conversando entre si, alguns treinadores trocando meias palavras, juízes e técnicos agindo amigavelmente… Não era uma grande atração!
— Como você realmente está, ? — Anelise me surpreendeu ao se pronunciar ao meu lado. Seu olhar estava firme e, de certa forma, inflexível.
— Estou bem. Não se preocupe, teremos uma competição equilibrada — pisquei para ela, tentando quebrar o clima de seriedade.
— Fico mais tranquila em saber. Você me assustou mais que Trina. Onde estava sua mente durante a etapa de ontem? — havia um certo tom de repreensão em sua voz. Seus olhos inflexíveis haviam se suavizado ao me observar com atenção.
— Anelise, sei que está tentando ser cordial, mas sua versão empática é um pouco controversa, já que se mantém em sua zona particular — sustentei o olhar dela enquanto dizia as palavras honestamente.
— Sei que não sou uma adversária de fácil convívio. Prefiro manter-me distante, porém, o acidente de Trina me despertou para um aspecto. Faz anos que nos conhecem devido às competições; em nenhum deles buscamos aprender mais uma sobre a outra — ela deu de ombros, relaxada, sua postura fria parecia ter desaparecido.
— Anelise… Eu realmente não sei o que dizer — comentei sinceramente. Ela riu, me surpreendendo.
— Somos velhas conhecidas, mas completas estranhas ao mesmo tempo — a garota comentou casualmente com um leve toque de provocação.
— Exatamente, faz quantos anos que dividimos as mesmas piscinas?! Não é mesmo? — sorri, me sentindo um pouco mais relaxada. Sua figura não era tão antipática quanto eu imaginava.
Por algum tempo permaneci ao lado dela tendo uma agradável conversa. Anelise era uma garota completamente diferente do que eu – um dia, imaginei que fosse! Conforme a conversa fluía, o tempo passou, as equipes tiveram de se organizar e a separação temporária foi necessária. Nos enfrentaríamos no segundo turno do medley… Eu mal podia esperar para estar outra vez na água!
Minha equipe estava posicionada nas arquibancadas – apenas três das minhas garotas disputariam o medley individual. Este ano minha equipe buscou se classificar em seus estilos favoritos. Mesmo que repetissem a modalidade, alteraram os metros para que não corressem o risco de competir entre si; eu as respeitava e valorizava tudo o que haviam passado para estarem exatamente ali. Elas eram a minha equipe, e ser a capitã era uma honra!


Capítulo 41

Observei cuidadosamente as garotas que disputariam o primeiro turno. Embora estivesse sentada ao lado da minha equipe, eu estava focada demais para poder conversar. Minha mente tomava notas, ordenando o caos que anteriormente buscava tomar conta! Meus cotovelos estavam apoiados em minhas coxas enquanto meu corpo se inclinava para frente; as portas dos meus dedos tocavam meus lábios enquanto eu os movia sem emitir som algum, transmitindo um pensamento ou falando comigo mesma.
A natação era bela demais!
Aquele esporte era a minha grande paixão, talvez esse fosse o motivo por nunca me apaixonar. Em meu coração não havia espaço para mais nada além do esporte! Alguns flertes, uma boca e outra, perfumes agradáveis e outros nem tanto… Eu havia me envolvido com alguns nadadores, mas nada realmente sério. Eles eram como a correnteza de um rio – passageira, mas necessária para mover as águas.
Uma das coisas que eu havia aprendido com meu irmão Hector: ser discreta quando me envolvia com o sexo oposto. Quando se tratava desse assunto, eu mantinha um número limitado informado, de preferência apenas o indivíduo com quem estava envolvida. Mas como eu não poderia controlar tudo, buscava ao menos evitar que chegasse aos ouvidos de quem importava. Nem só de natação uma adolescente vive. Eu não possuía aversão a festas, embora prezasse pelo meu futuro… Casos e alguns lances faziam parte dessa fase na qual eu me encontrava; afinal, eu era uma jovem de 17 anos!
Enquanto divagava enquanto analisava minhas adversárias, alguém colocou um de seus braços sobre a cadeira na qual eu estava. O perfume denunciou de quem se tratava – por milésimos de segundos, fechei meus olhos e expirei o ar calmamente. Um papel foi colocado no bolso de minha jaqueta e, tão rápido quanto se aproximou, a figura se foi.
Olhei para os lados atrás de olhares curiosos, e sem surpresa encontrei quatro pares de olhos sobre mim. Sorrindo tranquilamente, tentando não denunciar como me sentia, retornei meu olhar para as piscinas…
Por que ele teve que se aproximar agora?!


🏆💙🏆


Deixar as arquibancadas e seguir outra vez até o vestiário foi a parte fácil, a parte complicada estava no quarteto caótico que me aguardava na bifurcação que ligava o vestiário feminino ao corredor principal.
— É impressionante como vocês sempre parecem atentos demais a mim — caminhei tranquilamente, fingindo uma calma que eu não possuía.
— Você sempre parece guardar segredos interessantes, Sirena! — Apollo piscou com um sorriso largo. Ele estava se divertindo com a minha situação.
— Vocês não passam de fofoqueiros — acabei rindo. Eu evitava um certo par de olhos… A intensidade de seu olhar poderia fazer um buraco em minha face.
— Onde há fumaça, há fogo! — Kalil deu de ombros, rindo; sua postura relaxada chegava a irritar.
— Os dois patetas até entendo o motivo de estarem aqui, mas isso não é o normal de vocês dois — meus olhos alteraram entre Daniel e .
— Estou aqui por conta dele. Seu companheiro de equipe não é o mais racional, minha querida — Daniel me deu um olhar sério. Assim como os gêmeos, ele sabia o porquê da aproximação da figura que me levou à atual situação.
— O que você sabe sobre ela, Wright?! — irritado, encarou Daniel, seu olhar era tempestuoso.
, não vamos tornar isso em entretenimento! — indiquei as garotas atrás dele. Durante as competições seu fã-clube de outras escolas, elas o seguiam por todos os lados.
— Estou tão animado para essa conversa quanto você, — sua voz soou baixa, rouca e irritada.
— Eu não te devo respostas, — o respondi sem me abalar, saudando alguns dos treinadores que passavam por ali. — Tenho uma competição para vencer, se me dá licença.
se colocou à minha frente, fazendo com que tanto os gêmeos como Daniel tomassem uma posição defensiva. lhes deu um olhar desacreditado, mas que não teve qualquer efeito sobre eles.
— Como eu já havia dito, tenho uma competição para vencer! — reforcei meu aviso e dei a volta em , recebendo olhares desagradáveis do fã-clube de e olhares de diversão dos gêmeos.
— A etapa já está decidida, preste atenção às laterais! — Daniel reforçou o aviso cuidadosamente.
— Eu sei me cuidar! — pisquei um dos meus olhos para ele, mandando beijos no ar para os gêmeos em agradecimento. — Nos vemos mais tarde, .
Um aviso, um acordo, algo que mantivesse meu rival longe de confusão.
Sem olhar para trás, segui para a área externa e ajustei minha touca sobre os fios dos meus cabelos antes de colocar os óculos. Eu necessitava de mais foco do que a primeira vez!
Você definitivamente não sabe quando pressionar alguém, !


🏆💙🏆


Ouvindo os gritos abafados pela água, a cada volta eu sentia a ardência em meus músculos pelo esforço a mais sendo realizado… Sabia que naquele ano eu não precisava ter me candidato ao medley individual, mas como em tudo na minha vida, teimosamente insisti. Aquele era o meu último ano e gostaria de finalizar minha carreira como nadadora sem nenhum arrependimento.
Minhas pernas se chocavam contra a água, entrando em atrito de modo a produzir maior velocidade… Eu estava cansada, mas ainda não havia desistido. A cada nova mudança de estilo, eu me forçava a ir além; braços criando abertura na água para me mover através dela, e a cada nova respiração, uma dose de energia me dava forças para prosseguir.
Eu venceria mesmo que custasse todas as minhas energias!
Não sabia dizer se era o fato de desconhecer quem seria o primeiro colocado entre os medleys, ou não ter a plena certeza de que venceria que estava produzindo tanta adrenalina em meu sangue. Eu estava nadando sorrindo! Fazia tempo que eu não me sentia dessa maneira!
Um grito e uma voz teimosa, com um leve tom rabugento, mas que eu reconheceria em qualquer lugar! Sorrindo, ergui minha cabeça ao finalizar toda a prova. Cansada, quase sem fôlego, mas satisfeita… Meus olhos encontraram os dele mesmo que minha família e amigos estivessem nas arquibancadas.
Assim como o metal era atraído pelo ímã, eu era atraída cada vez mais para perto de !
— Estou enlouquecendo…


Capítulo 42

Tomar um banho pareceu uma tarefa hercúlea. Eu precisava descansar o máximo que podia, porém, antes teria que seguir para uma nova consulta: visitar Trina e, então, encarar minha família outra vez antes de encontrar alguém que estava evitando…
Eu só queria uma cama!
Antes que eu pudesse escapar da figura de que surgiu em meu campo de visão, sabendo que eu fugiria na primeira oportunidade, ele me aguardava na bifurcação. Os resultados ainda não haviam sido anunciados, e eu não estava exatamente preocupada com isso, embora tivesse dado o melhor de mim. Meus pés me aproximaram de sua figura rabugenta, e um pensamento irritantemente incomum quase me fez admitir que seu semblante irritado o deixava atraente.
Sim, eu preferia arrancar um braço a admitir tal coisa!
Seus olhos encontraram os meus. Aquelas orbes s ainda me fascinavam ao mesmo tempo que me intrigavam, devido à mensagem que eu ainda não havia decifrado. Ele pareceu refletir sobre o que eu diria. Éramos conhecedores sobre a natureza um do outro, mas ao mesmo tempo parecia que não fazíamos ideia do que se passava na mente um do outro.
— Vou checar Trina, estou preocupada — o informei, tomando a iniciativa. parecia estar em conflito. — Te encontrarei assim que puder — suspirei, olhando ao redor. Não desejava vê-lo mais que o necessário, mas não havia outra alternativa caso eu quisesse manter a frágil trégua entre nós durante os campeonatos.
— Eu posso acompanhá-la, estou preocupado com Trina também.
Havia uma verdade latente em sua voz que me causou uma sensação estranha em meu peito, e eu detestei sentir aquilo!
— Não há necessidade, vou com meus irmãos — tentei dissuadi-lo. Eu já estava tendo problemas demais por causa dele… problemas estes que ele não fazia a menor ideia!
— Tudo bem. Dessa maneira, posso checar minha mãe mais tarde — parecia determinado a não me deixar escapar.
— Estou cansada demais para convencê-lo a não me acompanhar. Apenas seja um bom companheiro de equipe e tente ser menos irritante, se possível — dei de ombros antes de passar por ele.
Uma risada agradável – baixa, porém verdadeira – soou às minhas costas. Tentei me convencer que o calor que se espalhou pelo meu peito foi apenas simpatia pelo meu companheiro de equipe, não que eu estava feliz por ver sorrir verdadeiramente! Somente o pensamento me arrepiou da cabeça aos pés. Ignorando seu olhar, segui para o local onde estava a treinadora.
foi abordado a cada corredor pelo qual passávamos, então prossegui em direção ao meu destino sem esperar por ele. Com interrupções uma atrás da outra, sua voz me pedia para esperá-lo. Olhares zangados, sussurros maldosos…
É, nada havia mudado desde o último ano!
Ao sair para a área externa, o telão nos saudou com os resultados do dia. Todas as categorias que haviam sido disputadas, desde as masculinas até as femininas, foram uma a uma exibindo os classificados para o campeonato nacional. Meus olhos não desgrudaram de lá. Um a um repassei os nomes para verificar os colégios, analisando os possíveis adversários.
Enquanto checava, outros braços já haviam me envolvido; minhas garotas gritavam e pulavam num frenesi. O que eu estava vendo já estava sendo exibido há algum tempo. Logo, elas já sabiam sobre quem havia ou não se classificado.
.
!
.
— Nós conseguimos graças a você!
— Estamos no nacional!
— Não ficou faltando ninguém!
— Conseguimos!
Meus olhos marejaram em emoção. Eu ria em contentamento, mesmo que fosse apenas o segundo dia. No dia seguinte haveria o medley de equipe, porém, todas ali haviam conseguido se classificar em suas categorias. Isso era um feito que a equipe feminina ainda não havia alcançado fazia algum tempo! Garotos e garotas se misturaram, e eu sorria em meio a lágrimas que se recusavam a cair. O local estava repleto de pessoas, de todas as idades…
É, eu levaria essa memória até o final da minha vida!


Capítulo 43


Durante todo o trajeto para o hospital meus irmãos não se calaram, a grande questão não estava no fato deles serem incapazes de se calarem…O que estava me deixando inquieta era a forma amigável que estavam tratando , que naquele instante era tratado apenas como . Eu não entendia como os quatro haviam se aproximado tanto!
Ainda confusa e levemente perturbada pela relação de com meus irmãos, sai da caminhonete de Kayron assim que ela estacionou em frente ao hospital. Eu precisava colocar certa distância para poder tentar entender o que estava acontecendo…


“Tudo parece estar ficando cada vez mais confuso!”


🏆💙🏆



A figura inerte de Trina trouxe novamente o frio sob a minha pele, encará-la me fazia relembrar o que havia ocorrido. Eu ainda não havia processado o que havia ocorrido, enquanto estava na piscina conseguia enterrar tudo bem fundo, mas agora, diante aquele vidro que me separava do ambiente em que ela estava, era impossível de se ignorar. Larsen chegou ao corredor logo após a mim, imóvel diante aquele vidro, incapaz de me mover e espantar aquele frio, ele calmamente me levou para dentro do quarto. Seu braço direito estava sobre a minha cintura, firme e estável, eu mal pude ouvir as palavras de conforto transmitidas a mãe da minha adversária por anos.


“Éramos adversárias de longa data, mas desconhecidas ao mesmo tempo.”



E sentia que poderia congelar ali, minha boca proferiu algo que não chegou aos meus ouvidos, a figura da mãe de Trina mal poderia ser absorvida pelos meus olhos. Não havia oxigênio suficiente naquele ambiente, o som dos aparelhos que monitoravam o estado de Trina eram como um zumbido aterrorizante.
— Desejamos melhoras a sua filha senhora Abranvick. — A voz de me fez desviar os olhos da figura indistinta da mãe de Trina, eu retornei a olhar para Trina fechando brevemente os olhos para realizar um pedido aos céus pela recuperação dela.
O frio abrasivo chegava aos meus ossos, eu tremia levemente, erroneamente pensei ter conseguido passar pelo ocorrido… nos levou para fora tentando encobrir o meu estado, meu estômago revirava, o cansaço havia dobrado, estava metade consciente e metade no automático.
— Eu estou congelando…— Minha voz mal passava de um sussurro fraco.
— Se apoie em mim, estamos quase no final do corredor. — Ele me trouxe para mais perto, seu corpo emanava, mesmo que fracamente, um pouco de calor.
As pessoas que passavam por nós eram como borrões, o som de nossos passos era abafado pelo bip incessante dos aparelhos de Trina, e o calor de estava perdendo a eficácia, eu estava colapsando…


🏆💙🏆



Sentindo-me quente outra vez despertei, minhas pálpebras abriram vagarosamente buscando identificar aonde estava, eu me lembrava vagamente de seguir ao lado de pelo corredor antes de desmaiar…uma brisa agradável tocava minha face, quase como se a acariciasse, ou ao menos eu ainda não havia identificado que a brisa na verdade era . Estávamos em um quarto vazio daquele andar, a cortina escondia-nos caso alguém entrasse naquele ambiente, minha face estava próxima ao peito dele enquanto o cobertor cobria nossos corpos.
— Obrigada. — O agradeci segurando sua mão que tocava minha face anteriormente, ele sorriu sem mostrar seus dentes apoiando sua cabeça em sua outra mão, ficando um pouco acima da minha face.
— Como você está? — Ele me indagou com seus olhos fixos em meu rosto, sua preocupação era evidente em seu tom de voz.
— Ficarei bem, mas por agora estou suficiente melhor para encarar meus irmãos. — Acabei rindo ao imaginar como meus irmãos iriam reagir caso tivessem presenciado tudo.
— Você me assustou, eu não sabia o que fazer e… — O silenciei colocando um dos meus dedos sobre os lábios dele.
— Está tudo bem agora, ficarei bem e entendo o porquê estamos dessa maneira um tanto comprometedora. — O provoquei tentando fazer com que ele relaxasse.
— Compartilhando calor . — Ele piscou para mim entrando na brincadeira, em seus lábios havia um sorriso relaxado que foram poucas às vezes que o havia visto exibir.
— Você sabe que a sua maneira de colocar nossa atual situação, só deixa tudo um pouco mais complicado. — Acabei rindo, entre tudo o que imaginei que pudesse um dia ocorrer comigo, nunca havia me passado pela cabeça que acabaria daquela maneira com .
— Era isso ou deixá-la aos cuidados de médicos, gerando uma comoção na sua família. — Ele arqueou suas sobrancelhas revirando levemente os olhos.
— Eu faria qualquer coisa a deixar eles preocupados. — O respondi agitada, riu da minha resposta.
— Qualquer coisa? — Ele me provocou aproximando sua face da minha, aqueles orbes esmeraldas pareciam ainda mais vibrantes naquele instante.
Antes que eu pudesse respondê-lo me beijou no mesmo instante em que a cortina fora puxada, pega de surpresa fechei os olhos embora não houvesse me rendido a ele. Sua mão me segurou perto dele, sua língua conseguiu adentrar a minha boca quando um ofego de surpresa escapou. Eu devia admitir, ele sabia como beijar uma garota! A maciez de seus lábios movia contra aos meus, enquanto sua língua envolvia a minha tornando impossível prestar atenção no que ocorria ao nosso redor. Meu coração estava acelerado e eu podia jurar que minha face estava corada. Ele foi desacelerando o beijo aos poucos, encerando-o com uma mordida em meu lábio inferior. Meus olhos encontraram a face satisfeita de que naquele momento olhava para a pessoa que havia nos descobertos.
— Eu sei que são jovens, mas não estão autorizados a utilizar o quarto do hospital para isso. — Uma voz feminina nos repreendeu, escondi minha face no peito de ainda absorvendo o que havia ocorrido.
— Nos desculpe por isso, é que faz muito tempo que eu não tinha um tempo a sós com a minha namorada enfermeira…você sabe como são as coisas nessa fase da vida. — tentou se justificar usando sua lábia, eu quase deixei um palavrão escapar ao ouvir ele me chamar de namorada.
— Por vocês ainda estarem vestidos, permitirei que escapem apenas desta vez. — A enfermeira parecia ter se rendido ao charme de .
— Obrigada, você é a melhor! — Ele sorriu de forma encantadora desconcertando-a, mais que rapidamente me levantei alinhando minha roupa evitando olhar para a enfermeira.
— Vão logo, antes que mais alguém apareça. — Ela riu sem jeito gesticulando para sairmos dali.
— Obrigada. — A agradeci envergonhada, ela sorriu e acenou em despedida.
O levei para fora do quarto seguindo em direção as escadas ao invés do elevador, não se incomodou por estarmos de mãos dadas, um sorriso presunçoso estampava seus lábios avermelhados pelo beijo. Acelerei meus passos até passarmos até enfim atingir as escadas, assim que notei que estávamos sozinhos comecei a bater nos braços de , ele ria tentando segurar minhas mãos, o que inevitavelmente aconteceu.
— O que se passa na sua cabeça? — Exclamei entre a indignação e confusão, o que levou a rir ainda mais.
, querida, você mesma disse que faria qualquer coisa para evitar deixar sua família agitada. — Ele falou calmamente enquanto sorria largamente.
— Argh! — Resmunguei tentando me soltar, eu não sabia nomear o que sentia exatamente. — Você ainda me paga por esse beijo .
— Calma , foi apenas um beijo. — Ele riu me soltando por fim. — Eu salvei a sua pele outra vez, ou você acha que ela ia acreditar em mim se eu não tivesse te beijado?
— Eu não sei?! Talvez sim…— O respondi desviando meu olhar do dele.
— Você sabe a resposta, agora vamos seus irmãos estão nos esperando. — riu da minha recusa em concordar com ele, passando por mim ele ainda piscou antes de voltar a descer os degraus.
O segui após um tempo, o ofendia em meus pensamentos enquanto me recusava a concordar com ele em alguma coisa, já bastava as sensações que aquele beijo havia desperto em mim.


“Era exatamente disso que eu precisava! Mais confusão para a bagunça que já causava em meus pensamentos!”



Capítulo 44


Meus irmãos me olharam da cabeça aos pés assim que chegamos ao estacionamento, tudo por culpa do maldito sorriso presunçoso de ! O maldito parecia estar nas nuvens, ele me tinha em suas mãos naquele instante, afinal ele sabia como aqueles três eram especialmente superprotetores quando se tratava de mim. Sem dizer uma palavra me sentei ao lado de Kayron, com a desculpa que estava cansada por conta das competições fingi adormecer; antes que eu pudesse fechar os olhos notei os 4 pares de olhos sobre mim, cada um me dando um olhar diferente.


“Eu precisava fazer com que mantivesse a boca calada sobre o que aconteceu no hospital!”


🏆💙🏆



No fim eu realmente acabei dormindo enquanto retornávamos ao hotel, despertei com Kayron estacionando sua caminhonete. se despediu sem qualquer problema, no instante em que eu saí do automóvel pronta para iniciar minhas despedidas o tom de voz de Garret me parou.
— Pestinha.
Quando eu pensei que havia conseguido convencê-los…me virei com um sorriso calmo para Garret me aproximei dele, seus olhos não me diziam nada, embora sua postura estivesse relaxada encostado na lataria da caminhonete de Kayron, Hector e Kayron deram a volta de aproximando também.
— O que aconteceu naquele hospital? — Hector me indagou enquanto Kayron apenas observava, algo me dizia que eu não iria dormir enquanto eles não tivessem suas respostas.
— Trina está em um estado grave, isso me deixou abalada. — Resolvi contar a verdade, não fora somente isso o que acontecera, porém eles não precisavam necessariamente sabe todos os detalhes.
— Você não precisa guardar tudo para si, somos os seus irmãos e estamos aqui para ouvi-la a qualquer momento. — Garret se aproximou me abraçando ao ponto de erguer-me do chão.
— Eu sei, só não quero preocupar vocês. — O respondi com sinceridade, eu sabia que eles se preocupavam e por conta disso poderiam causar confusão, como Kayron fizera no dia em que quase acabei como Trina.
— Somos seus irmãos mais velhos pentelha! Estamos fadados a ter cabelos brancos por sua causa. — Kayron brincou descontraindo um pouco, em momentos como aqueles eu agradecia aos céus por ter uma família incrível.
— Obrigada por sempre estarem ao meu lado todas as vezes que eu preciso, tenho muita sorte. — Abracei a Hector e em seguida Kayron.
— Somos uma família, sempre estaremos ao seu lado pentelha. — Hector sorriu se colocando ao lado de Garret.
— Vocês são os melhores! Agora eu realmente preciso ir, mandem lembranças a todos e boa noite. — Abracei a eles outra vez me sentindo feliz apesar do cansaço.
— Mandaremos sim, agora mocinha: vai direto para o seu quarto dormir! — Kayron bagunçou meu cabelo apenas para provocar.
— Nada de burlar as regras pentelha. — Hector prosseguiu a me provocar.
— Nos vemos amanhã. — Garret piscou antes de entrar na caminhonete ocupando o banco do passageiro.
— Boa noite, amo vocês. — Mandei um beijo no ar antes de seguir em direção a entrada do hotel.
Ouvi a buzina atrás de mim, acabei rindo acenando sem me virar e continuei a andar em direção a entrada. Eu estava sorrindo tranquilamente, pronta para pegar o elevador e seguir em direção ao quarto para enfim descansar; quando como um estalo minha mente me lembrou o que havia deixado passar…

“Tudo o que eu precisava era de descanso!”



— Sua figura se torna muito difícil de se encontrar em ambientes como esse. — Aquele que eu estava evitando surgiu atrás de mim, mesmo que eu quisesse ignorá-lo não seria uma tarefa tão fácil, ele era capaz de me causar problemas em uma escala que nem sonharia chegar.
— Já lhe disse para não me procurar enquanto durar as competições. — Me virei de frente de modo a encarar o velho conhecido que estava evitando desde…


Capítulo 45


Cabelos ruivos, encaracolados que tinham o seu próprio charme, olhos profundamente azuis com pontos verdes e um leve dourado, a pele levemente bronzeada devido às horas expostas ao sol por conta da sua rotina pesada de treinamento…Victor Roux era belo, ele sabia que seus atributos físicos atraia olhares, sua confiança era extremamente irritante porque ele se utilizava de sua excelência dentro da água para se gabar e não havia como negar, ele era um exímio nadador que eu estava evitando desde a última festa em que nos encontramos.
— É tão incomum vê-la sem palavras gatinha. — Ele abriu um sorriso travesso, seus olhos me examinaram da cabeça aos pés.
— Apenas estou cansada Victor. — O respondi antes de seguir para as poltronas a esquerda do hall de entrada do hotel, ele não deixaria essa conversa para o dia seguinte…não após o deixar esperar por tanto tempo.
— Hoje foi mesmo um longo dia. — Victor riu como se estivesse contando uma piada que apenas ele entendesse.
— Sem gracinhas Victor, eu sei que não me deixará em paz enquanto não tiver o que deseja. — O alertei, estava ficando irritada e aliada ao cansaço minha paciência estava no limite. — O que você quer? — O questionei procurando ser o mais direta possível.
— Você sabe a resposta para essa pergunta, minha cara nadadora. — Ele se aproximou parando a minha frente, ele se inclinou em minha direção mantendo cada um de seus braços ao lado da minha cabeça enquanto sua face ficava a poucos centímetros da minha. Seus lábios possuíam um sorriso felino, ele estava me testando.
— Eu já lhe disse uma vez, não sou uma mercadoria que você possa manter sob sua posse. — Revirei os olhos enquanto o respondia entediada. — Que eu me lembre, você mesmo dissera que odeia pessoas pegajosas. — O respondi acidamente, ele riu sem se mover um centímetro.
— Você cativou a minha atenção gatinha, está tão empenhada em manter distância que instiga meu lado possessivo. — Ele se elevou outra vez rindo em diversão, seus olhos afiados não me deixaram nem um segundo, ele parecia ter encontrado as respostas que desejava embora eu não soubesse o que ele desejava inicialmente.
— Seu único atributo é ser um bom nadador. — O respondi sem revidar suas últimas palavras, o dia havia sido exaustivo a sua própria maneira e ter aquela disputa verbal com ele…Victor sabia o quanto aquele dia havia exaurido minhas energias, e mesmo assim só me deixaria em paz caso obtivesse o que desejava.
— Você não me teme, não se dobra sobre as minhas vontades…garota entende o quanto sua obstinação em se manter o mais distante de mim, me fascina?! — Ele se sentou à minha frente por fim, Victor me olhou como um predador olha sua presa; analisando até que ponto suportaria aquilo.
— Você é apenas um excelente nadador, nada ao que eu deveria temer. — Ergui meu indicador iniciando minha pontuação em meus argumentos. — Segundo, não fui criada para ceder a caprichos e vontades de qualquer espécime masculina. — O olhei de cima a baixo me perguntando o que levou -me a cogitar que Victor parecia uma ótima opção para se divertir?! — E terceiro: o que tivemos fora um rápido e fugaz divertimento, como tantos outros que você assim o teve! Não há nada em mim particularmente especial para você se prender Victor, sou apenas uma colegial almejando a faculdade enquanto você já é um universitário com todo o seu futuro encaminhado. — O olhei como se ele tivesse perdido a cabeça, aquela obstinação por minha causa…Era algo absurdo! Ele não era tolo a esse ponto?!
— Nada do que disser me fará mudar de opinião. — Victor riu tranquilamente, como se não houvesse absorvido qualquer palavra que eu lhe dissera anteriormente.
— Vamos fingir que não nos conhecemos, eu não sei o que me levou a cogitá-lo como uma boa distração. — Estalei minha língua balançando minha cabeça em negação enquanto me levantava. — Não me procure mais, não há nada em você que particularmente me atraia. — O olhei com desprezo, a admiração por ele como nadador havia desaparecido, sua mentalidade havia destruído a beleza de seu talento dentro das piscinas!
— Então há alguém em que você está interessada. — Victor sorriu de uma maneira que me deu arrepios, ele parecia estar tendo dificuldades em aceitar que estava sendo rejeitado.
— Deve ser cansativo ser você Victor, nenhuma garota o rejeitou antes não é mesmo?! — O respondi como se ele não houvesse dito nada.
— Manter a reputação é algo que eu prezo gatinha. — Ele me respondeu tranquilamente, seus olhos brilhavam em ferocidade.
— Eu não ligo para tal coisa. — Dei de ombros suspirando cansada. — Agora se me dá licença, eu preciso descansar; foi realmente um longo dia. — Me despedi sem esperar por uma resposta, aquela breve conversa, ou algo próximo de uma já que era impossível de se manter um diálogo decente com Victor, fora a cereja do dia.
Segui em direção as escadas evitando ficar presa no elevador com a figura exaustiva de Victor Roux; mesmo que ele houvesse me dito algo antes que eu me afastasse completamente não cheguei a dar qualquer relevância. Me envolver com Victor, mesmo que houvesse sido por pouco tempo, havia sido uma péssima decisão! Deveria ter recusado o convite de Daniel e os gêmeos naquela noite, no entanto como fazia algum tempo desde a última vez que havíamos nos encontrado, recusar seria muito mais difícil do que apenas aproveitar a festa.
Perdida em meus pensamentos subi os lances de escadas, não fora até o instante em que eu estava atravessando o lounge do terceiro andar encontrei a figura de Daniel conversando com Apollo, ambos estavam no andar errado e isso me chamou atenção; resolvi me aproximar sem que eles notassem minha presença.
— Devemos dizer a ela. — Apollo foi firme ao se dirigir a Daniel.
— Não, já conversamos sobre isso! — Daniel se posicionou firmemente.
— De quem é que vocês estão escondendo coisas? — Pigarreei chamando a atenção de ambos, Daniel e Apollo pularam assustados.
. — Ambos disseram meu nome assustados e receosos.
— Deixe-me adivinhar, vocês são os responsáveis pela figura desagradável de Victor ter surgido no campeonato. — Alternei meu olhar entre os dois garotos à minha frente tendo a confirmação sem que eles dissessem uma só palavra, olhares cúmplices trocados rapidamente entre eles fora a resposta da minha indagação.
— Com base em que chegou a essa conclusão? — Daniel questionou dando uma cotovelada em Apollo como se o mandasse a ficar calado.
— Diga-me você Apollo. — Ignorei Daniel dirigindo minha atenção a Apollo, me aproximei apenas o suficiente para impedir ele de escapar caso tentasse fugir.
— Danny conte a ela. — Apollo se virou para Daniel sendo enfático, ele parecia nervoso por estar em tal situação.
— O que vocês estão me escondendo? — Cruzei meus braços sustentando o olhar de Daniel, aquele ambiente nunca me parecera tão frio quanto naquele momento.
— Você é irritantemente boa em chegar em momentos inoportunos. — Daniel passou sua mão pelos seus fios de cabelo denunciam seu nervosismo.
— É um dom, o que eu posso fazer?! — O respondi de maneira retórica, fosse a situação ou as palavras que ele não dissera, eu me sentia desconfortável naquele momento.
— Sirena, o que você está fazendo aqui? — Kalil surgiu atrás de Apollo, seu olhar alternou entre seu irmão e Daniel, Apollo parecia estar mais tranquilo com a chegada de seu gêmeo.
— Desenterrando os segredinhos sujos que vocês vêm mantendo sem que eu saiba. — Meu tom indiferente assustou a mim antes que os atingisse, Kalil era o meu gêmeo favorito, como ele raramente me dizia mentiras costumava ser mais tolerante com ele, por isso me assustei com o meu próprio tom de voz.
— Não acha que está sendo dura demais ? — Daniel tentou mediar, embora ele não houvesse respondido a pergunta que lhe fiz antes da chegada de Kalil.
— Você ainda não me respondeu Daniel. — Meu olhar endureceu, eu estava desconfiada que eles houvessem trazido a figura indesejável de Victor para aquele campeonato.
— Eu sei, você não nos deixará até que tenha respostas. — Ele me respondeu em seu tom cortante.
— Quer mesmo iniciar uma discussão aqui?! — O lembrei aonde estávamos.
— Enfim, vamos para o dormitório dos gêmeos…— O interrompi com um olhar de desagrado.
— Tsc Tsc Tsc…— Estalei minha língua balançando a cabeça negativamente, meu olhar de decepção atingiu cada um dos três. — Você não vai conseguir arranjar desculpas em um lance de escadas Daniel, estou decepcionada com vocês garotos…vocês sabem o quanto Roux vêm sendo uma dor de cabeça desde a última festa em que o vi, e mesmo assim, resolvem trazê-lo aqui após eu contar tudo a vocês! — Massageei meus olhos, estava tentando manter meu tom de voz baixo apesar da minha irritação. — Até que eu consiga olhar nos olhos de vocês três não se aproximem de mim, Victor é um idiota que deseja ter suas malditas vontades realizadas e vocês pensam em me usar como um meio para conseguir favores dele?
— Daniel sugeriu que o levássemos a última festa, assim poderíamos unir o útil ao agradável. — Apollo rapidamente tentou se explicar.
— Muito obrigada, Nessbit! — Daniel o respondeu entre dentes cerrando os punhos.
— Hey, cara, ela merecia saber a verdade. — Kalil rapidamente saiu em defesa de seu irmão.
— Eu estou sem palavras… — Fechei os olhos respirando fundo, algo em meu peito se apertou enquanto absorvia o que havia sido dito. — Eu me esqueci desse seu lado, Wrigth, eu realmente esqueci. — O olhei com decepção, minha voz saiu baixa, não fazia nem um dia desde que o pensamento de felicidade por tê-los em minha vida havia me atingido…eu já não confiava mais neles.
Victor Roux era um exímio nadador, seu talento era reconhecido ao ponto de seu nome ser cogitado como uma opção para os novos atletas para disputar as Olimpíadas; no entanto o que abafavam era o lado peculiar de Victor. Ele já havia chegado longe, sua fama atraiu muitas garotas e as que rejeitaram o astro da natação eram objetos massivos de seus desejos egoístas. Brincar com fogo sem me queimar era minha especialidade, eu sabia cair fora antes que a situação se complicasse, eu só não imaginava que poderia acabar envolvida nisso por conta de Wrigth. Ele queria ser reconhecido, sua sede pelo sucesso envolveria usar até mesmo aquela que ele chamava de amiga.
, espere… — Daniel começou a se mover assim que dei alguns passos para trás.
— Nem uma só palavra, Wrigth, você ultrapassou todos os limites! — O respondi friamente, ainda estava processando o que havia descoberto.
— Sirena, nós…— Apollo tentou remediar a situação, seu olhar revela o arrependimento que sentia.
— Eu preciso de tempo para processar tudo, até que eu esteja preparada se mantenham distantes. — Dei a eles um aviso para então seguir em direção ao elevador, meus passos apressados me fizeram esbarrar em alguns garotos que surgiram em suas portas dos quartos devido ao tom alto de voz da discussão.
Para o meu total alívio o elevador não demorou a abrir suas portas, assim que elas se fecharam escorreguei me sentando no chão após apertar o botão com o número do meu andar. A decepção, os sentimentos tumultuosos, o dia haviam sido extremamente exaustivos…A quem eu queria enganar?! Mal havia forças em meus membros, meu corpo e mente estavam cansados e tudo o que desejava era minha cama. Não havia energia para sequer socializar com as minhas meninas, ou ainda entrar em contato com Becky que naquele instante eu me perguntava se estava em algum hotel daquela região com Roman ou havia retornado a nossa cidade.
O universo não era o meu maior fã, as portas se abriram no sétimo andar e a figura exausta de Daniel surgiu a minha frente, porém às suas costas estava aquele com quem eu dividia o controle do clube de natação. Meus olhos encontraram aquele par de olhos em um misto de alívio e implorando por ajuda, eu só queria que o dia acabasse de uma vez!
.


Capítulo 46


Eu não sabia o porquê de ele estar ali, e naquele instante eu não poderia me importar menos com o motivo que o levara a estar naquele andar, tudo o que eu desejava era ficar o mais distante da figura de Wrigth. , se moveu em minutos se colocando a minha frente segurando minhas mãos de modo a me ajudar a se levantar; ele não me fez perguntas e antes que Daniel ousasse abrir a boca ele apertou o botão para fechar as portas dando ao seu primo um olhar mortal. Fechei meus olhos apoiando minha cabeça contra a parede do elevador, deixar o apelido dele escapar havia sido um deslize inconsciente.
— Você não precisa me dizer nada se não quiser, eu sei ser paciente. — quebrou o silêncio, seu tom havia um quê de provocação e cuidado que fez com que um riso escapasse de meus lábios.
— Paciente não seria um adjetivo que utilizaria para descrevê-lo. — Entrei em sua brincadeira, mesmo que eu ainda estivesse com os olhos fechados, poderia dizer que ele estava sorrindo.
— Você não seria gentil em sua descrição a meu respeito . — Ele me respondeu sem pestanejar, a provocação tácita era algo que eu estava familiarizada e isso me deixava tranquila apesar de tudo o que havia acontecido no dia.
— O conheço bem demais, embora odeie ter que admitir isso. — A careta fora algo involuntário, mas o riso que ouvi me fez abrir os olhos encantada.
— Você realmente nunca para de me surpreender. — sorria brilhantemente, sua postura relaxada e face límpida, sem qualquer máscara de fingimento me deixou sem palavras e aquele sentimento incômodo em meu peito fora substituído por algo que eu ainda não sabia nomear por não reconhecer a natureza do que se tratava.
O silêncio se estabeleceu naturalmente enquanto nossos olhos se mantinham fixos um no outro, eu sentia que aquele olhar era mais intenso do que o último dado após ele vencer a etapa de classificação…Eu não o entendia completamente, conhecia alguns de seus maiores segredos mas o mais importante deles estavam no enigma que era aquele olhar…Desde que ingressei no Colégio D'Antelli sua presença fora impossível de não notar, eu o conheci, ao menos uma parte, antes que pudéssemos estudar na mesma instituição, porém os anos que compartilhamos o mesmo clube, as mesmas piscinas e campeonatos…De alguma forma eu estava cada vez mais consciente de , supostamente eu deveria odiá-lo, ele me odiou primeiro porém o que de fato nos levou até o ódio em comum ?


"Perguntas e perguntas, o caos que eu não conseguia processar… A razão estava escorrendo entre os meus dedos!"



A porta do elevador abriu, era o meu andar e parecia conter uma piadinha já que seus lábios estavam comprimidos. Ele piscou para mim assim que notei as palavras não ditas dele, rindo passei por ele, meus pés me levaram para fora do elevador com algum esforço por conta do cansaço que tomava todo o meu corpo. Antes que de fato eu saísse me virei de frente para , as belas esmeraldas pareciam ainda mais intrigantes do que momentos atrás.
— Obrigada pelo o que fizera hoje, boa noite . — Pisquei para ele antes de lhe dar as costas e seguir em direção ao meu quarto.
— Tente me amar menos e boa noite. — Ele disse antes que as portas metálicas se fechassem.
Segui rindo balançando a cabeça negativamente, ele não mudaria seu jeito de agir, porém era exatamente isso o que me tranquilizava nele. O corredor estava silencioso, um feito devido ser o penúltimo dia já que faltava apenas os medleys de equipe no dia seguinte e as premiações finais.
Devido ao acidente de Trina, as últimas etapas classificatórias terminariam antes do horário do almoço e após a pausa para o almoço se iniciaria a cerimônia de medalhas. Deixando pensamentos desnecessários de lado segui para o meu quarto, era claro que eu estava certa em desconfiar perante o silêncio…minhas garotas estavam todas em meu quarto comemorando as classificações! Apenas quatros garotas participariam do medley de equipe, mas por se classificarem em suas categorias estavam em êxtase! Não tive outra alternativa a não ser me juntar àquela espécie de comemoração improvisada.


"Competições eram como uma montanha russa, repletas de altos e baixos, tudo o que nos restava era se aventurar!"



🏆💙🏆



O grupo de alunos do Colégio D'Antelli nunca pareceu tão unido quanto as duas últimas etapas dos medley de equipes. Garotos e garotas que diariamente implicavam uns com os outros, unidos, misturados e gritando em uníssono numa torcida mútua.


"Esse era de fato o melhor ano dentre as competições estudantis!"



parecia extremamente agradável embora houvesse aquela provocação tácita entre nós, esse era quem éramos! Em meus lábios estavam um sorriso, apesar do que havia ocorrido durante o campeonato eu tinha a minha equipe incrível, uma família maravilhosa e amigos que estavam ali para mim.
Eu ainda prosseguiria com minhas visitas a Trina, acompanharia seu estado porque de fato éramos conhecidas que se desconheciam, Annelise fora um acréscimo que aquele campeonato me trouxera…relações foram formadas assim como outras foram desfeitas. O tempo traria respostas, resultados e quem sabe auxiliaria a consertar o que fora perdido.



🏆💙🏆




Subindo no ônibus após todas as fotos e malas feitas, olhei uma última vez para o hotel. Entre tantos anos que eu o frequentei nunca havia tido um ano tão agitado como aquele! Mais cedo havia falado com meus familiares, tirado algumas fotos com eles e descoberto por Annelise que Trina havia apresentado alguma melhora em seu quadro.
A noite anterior havia sido agitada, minhas garotas me levaram a ficar acordada até tarde, a festa só não prosseguiu porque ainda havia algumas que disputariam a última etapa.
Assim que parei diante o corredor eu quis gargalhar diante a situação que novamente me encontrava, todos os bancos haviam sido ocupados e o único disponível era exatamente ao lado de . se levantou pegando a bolsa de minhas mãos e a guardou no compartimento acima dos bancos, me oferecendo desta vez o banco ao lado da janela. Eu podia sentir todos os pares de olhos nos observando, o silêncio era assustador.
— Vamos partir imediatamente, nossos astros parecem estar em bons termos então não há nada que seja necessário ser dito além dos parabéns. — A treinadora Möretz surgiu após e eu nos sentar em silêncio.
— Vocês fizeram um ótimo trabalho queridos, não se esforcem muito nos amistosos, o campeonato nacional está aí e dessa vez arrasamos com o nosso adversário de longa data! — O treinador Reinald se pronunciou surpreendendo a todos, comumente apenas a treinadora Möretz passava checando tudo.
Gritos e aplausos estouraram pelo ônibus, a animação não findaria tão cedo. Rindo ambos deixaram o ônibus, o motorista deu a partida. Estávamos indo para casa, chegaríamos apenas no dia seguinte pelo horário que estávamos deixando aquele lugar.
— Durma , seus olhos estão implorando por algum descanso. — me surpreendeu, eu ainda não havia notado que seus olhos estavam atentos a mim.
— Você conhece a nossa equipe, a tradição é manter todos acordados até o nosso retorno. — Ri desacreditada pela sugestão dada por ele.
— Eles não temem os nossos técnicos minha cara, nós somos aqueles que possuem autoridade por aqui. — A confiança em sua fala não era absurda, de fato éramos aqueles que realmente regiam as equipes, nossa palavra era o veredicto final quando se tratava daqueles garotos e garotas.
— Vá em frente papai, faça os nossos filhos dormirem. — O desafiei em um tom provocante, alargou o sorriso ao me ouvir chamá-lo daquela maneira.
— Como quiser querida, seu pedido é uma ordem minha cara esposa. — Ele entrou na brincadeira piscando para mim antes de se colocar de pé outra vez, ele seguiu até a metade do ônibus antes de se pronunciar.
Pares de olhos curiosos alternaram entre nós dois, me olhou uma última vez antes de gritar acima do volume das conversas e gritos de comemoração colocando alguma ordem naquele mar caótico de vozes. Ameças nem um pouco vazias escaparam pelos lábios provocantes do meu companheiro de equipe, minhas garotas me olharam em socorro, apenas ri dando de ombros dizendo assim que estava no comando.
se sentou sorrindo satisfeito ao meu lado me pedindo um lado do fone com apenas um gesto, indiquei sua jaqueta como uma troca. Ele deu de ombros retirando-a antes de me entregá-la; coloquei uma das minhas inúmeras playlist para tocar antes de me cobrir com a jaqueta dele.
— Obrigada querido, e boa noite. — O agradeci piscando para ele, ainda dentro da nossa provocação tácita.
— Eu não terei nem um beijinho de boa noite minha cara esposa? — Ele fingiu estar chateado me causando uma gargalhada diante a expressão em sua face.
— Apenas em seus sonhos . — O respondi ainda rindo antes de fechar meus olhos e virar minha face para o lado da janela.
— Eu ainda me lembro da textura dos seus lábios . — Ele me respondeu sussurrando em meu ouvido, seu hálito quente em meu pescoço me deixou arrepiada de uma maneira que eu meu odiava. — O gato comeu a sua língua? — Ele odiosamente me provocou rindo satisfeito pelo o meu silêncio.
Mordi o interior da minha bochecha contendo o impulso de despejar alguns palavrões em , eu não responderia a sua provocação embora o meu corpo tivesse reagido a sua investida.


"Se estivéssemos sozinhos ensinaria boas maneiras a ele!"



🏆💙🏆



Em algum momento da viagem acabei me rendendo ao cansaço, a competição estadual fora duplamente exaustiva, meus músculos desejavam o descanso e minha mente uma temporada de paz e tranquilidade. Melodias diferentes, porém, agradáveis me despertaram, e exatamente como da primeira vez havia despertado sob o peito de . Me sentei um pouco confusa como havia acabado daquela maneira, acima de mim ainda permanecia adormecido, um de seus braços estava em minha cintura…


"Ele era o responsável afinal!"



Revirando meus olhos retirei seu braço de mim me sentando corretamente no banco, ouvi ele bufar ao meu lado, estava fingindo dormir. O olhei entre a irritação e desconfiança, se espreguiçou languidamente antes de me dirigir um sorriso irritante.
— Você conseguiria qualquer coisa se sorrisse mais . — Para o meu total espanto apertou a ponta do meu nariz rindo após me ver quase pular no banco diante a ação inusitada dele. — Você não quer acordar o ônibus inteiro com um escândalo, não é mesmo?! — Ele piscou para mim desconectando o meu fone de seu aparelho celular.
— Você é inacreditável! — O respondi entre dentes contendo o volume da minha voz, tentando manter alguma compostura e não chamar atenção.
— Suas músicas são aceitáveis, mas eu ainda prefiro as minhas. — Ele piscou para mim me entregando o seu lado do fone.
— Limites , eu não sou conhecida pela prudência. — O respondi entregando a ele sua jaqueta.
— E é exatamente isso que torna esse nosso joguinho interessante . — Ele riu vestindo sua jaqueta, seus olhos esmeraldas exibiam um brilho intenso.
— Urgh! — Resmunguei me virando para a janela e encaixando o fone em meu telefone colocando novamente as minhas músicas.
Aumentei o volume no máximo ignorando e sua existência irritante, a viagem logo se findaria e eu poderia enfim descansar adequadamente em meu próprio quarto…eu precisava de uma dose de normalidade que minha casa oferecia.
Enquanto observava a paisagem o reflexo de atraía meu olhar, em alguns momentos ele notava meu olhar e piscava para mim arqueando sua sobrancelha como se me desafiasse. Nesses momentos voltava a fechar meus olhos como se nada houvesse acontecido, isso prosseguiu até o momento em que chegamos ao estacionamento do colégio D'Antelli.
— Você primeiro, querida. — me ofereceu minha bolsa me deixando passar primeiro.
Sem lhe dizer uma palavra deixei o ônibus, meus olhos varreram o estacionamento atrás da figura de um dos meus irmãos. No entanto assim que eu avistei o meu carro e não um veículo novinho a espera da minha dor de cabeça constante, eu soube que não teria descanso por um longo tempo. Não havia amanhecido, e aquele dia já estava me deixando exausta!
Minhas garotas me cercaram repletas de indagações sobre o que havia ocorrido no ônibus, as respondi com algumas meias verdades, acompanhei-as até duas respectivas caronas me despedindo e cumprimentando alguns de seus responsáveis. parecia ocupado com seu aparelho celular, ele andava em círculos após retirar suas malas do bagageiro do ônibus. Ao lado das dele estava a minha, eu não sabia se o agradecia ou lhe pedia para não ser tão óbvio!
Pouco a pouco aquele estacionamento esvaziou, a lua ainda brilhava intensamente embora faltasse menos de uma hora para o nascer do Sol. Quando o último membro da equipe masculina se foi restando apenas e eu, ele se permitiu praguejar chutando algumas pedras do concreto.


"O que havia acontecido com ele?"


Capítulo 47


, está tudo bem? — Indaguei realmente preocupada, ele parecia estar abalado por algo relacionado às suas últimas ligações recebidas.
Meus olhos sustentavam o olhar de , o brilho do luar lhe dava um ar mais austero, perdido e ao mesmo tempo transtornado. Seu peito subia e descia com rápidas respirações, ele parecia estar se controlando. era uma incógnita em alguns momentos, eu poderia desvendá-lo até certo ponto; quanto mais eu aprendia e o conhecia menos eu sabia. Ele não havia dito uma só palavra, mas eu conseguia enxergar a luta em seu olhar, havia inseguranças, receios e uma tristeza que me deixou sem fôlego.
— Sabe, todos dizem que eu tenho que mudar quem sou. — Sua voz saiu quase num sussurro, sua mão esquerda agarrou sua camisa sobre o peito enquanto me dava um dos seus mais sinceros olhares. — Estou tão malditamente cansado…eles falam que eu tenho que aperfeiçoar meu nado, corrigir meu comportamento... — A cada palavra sua voz aumentava gradativamente. — A cidade inteira me tem como seu troféu, uma mera marionete, um brinquedo brilhante que quando não for mais útil será esquecido. — Ele riu amargamente. — Toda essa comparação entre mim e o Daniel é um saco, minha família está dividida por conta da droga de orgulho. — Ele me lançou um olhar como se não me enxergasse naquele instante, perdido em seus próprios pensamentos. — Tudo isso piora com as constantes cobranças sobre meu tempo na piscina, meu desempenho escolar, o destaque dentro do clube de natação…E em como você se sobressai entre nós dois. — finalizou sua fala numa respiração só, o cansaço era evidente em seu tom de voz e ele não parecia estar ligado ao desgaste do campeonato estadual. Seus olhos esmeraldas pareciam ter perdido o brilho, era como se ele estivesse distante daquele estacionamento. — Tenho estado perdido nesse personagem que foi criado para suprir as expectativas de todos, você consegue acreditar nisso? — Ele voltou a rir completamente perdido, sua risada sem emoção revelava o quanto ele estava lutando para se manter firme ali, eu me sentia perdida sem saber o que fazer para tirá-lo de seu estado de profunda tristeza.
— Eu…, eu… — Ele me interrompeu, o que eu agradeci silenciosamente porque não sabia exatamente o que dizer a ele.
— Me deixe terminar, por favor. — me pediu se aproximando, naquela curta distância que agora nos encontrávamos pude notar seus olhos marejados, aquelas esmeraldas sem vida me deixaram sem fôlego. — Não há nada em mim digno de reconhecimento, eu sei disso melhor que qualquer um. — respirou fundo antes de prosseguir, ele parecia estar tomando coragem para expressar os seus mais profundos sentimentos. — O que é irônico porque você sempre deixou evidente o quanto eu sou detestável, intragável, irritante, mimado, a sua dor de cabeça constante e a pedra no sapato que não consegue se livrar… — Eu não conseguiria desviar meus olhos dos dele, nem mesmo se eu quisesse, estava diante a parte mais frágil de . — Mas cada momento que eu estive em sua presença, fosse apenas trocando farpas, armando travessuras que te tirariam do sério, competindo ao seu lado, cada um deles são o que eu tenho de mais precioso. — Ele me ofereceu um sorriso que eu ainda estava me acostumando a vê-lo direcionado a mim.
— O quê?! — Eu balbuciei confusa, ele se aproximou ainda mais segurando uma das mechas do meu cabelo em sua mão, enrolando-a em seus dedos, eu sentia sua respiração se misturar a minha devido a nossa proximidade.
— Eu vou te explicar. — Ele riu antes de prosseguir a falar, eu ainda estava processando o que ele dissera, mas ver aquele sorriso desfez o aperto em meu peito, eu pude respirar um pouco melhor. — Você certamente não se lembra como nos conhecemos, seus olhos nunca pareceram especialmente tentados a me dar alguma atenção. — piscou para mim com uma expressão de diversão, não consegui de deixar de sorrir com suas palavras. — Eu era apenas um garoto, que não era especialmente um apaixonado pela natação, ainda estava num processo de aprender a amar o esporte. — Ele distraiu-se com algum pensamento enquanto o sorriso perdia a firmeza, retirei sua mão do meu cabelo segurando-a, ele me olhou em agradecimento embora eu mesma não tenha entendido o porquê de ter agido sem pensar. — Eu estava na escuridão quando a vi brilhar nas piscinas, você era um nome popular nas competições. Eu não conseguia desviar meus olhos de você, era como se uma força invisível me impedisse de prestar atenção em qualquer outra coisa além de você dentro da água desejando que aquela competição não tivesse fim! — A voz dele parecia estar cheia de nostalgia. — você nem parecia estar se esforçando durante a competição, você simplesmente atravessou aquela piscina de forma tão natural que eu julguei impossível atingir tal nível! — A empolgação permeava seu tom de voz, ele parecia um garotinho diante o seu mais novo brinquedo, aquele que ele implorou para ganhar de aniversário. — Ver você nadar foi o que me motivou a amar a natação como você parecia amar. Eu não me importava que estava no início, desejava competir nos mesmos campeonatos e torneios para que enfim notasse minha existência! O que não esperava fosse você deixar as piscinas quando eu enfim obtive o reconhecimento que almejava. — comentou com certo sarcasmo em seu tom de voz, ele parecia decepcionado de alguma forma com sua versão mais jovem. — , minha provocante e encantadora , você me inspirou com sua paixão, graciosidade dentro da piscina, dedicação e seu gênio nem um pouco fácil de se lidar. — Ele riu após eu lhe dar um olhar de aviso. — Quando nos conhecemos você me ofereceu um sorriso sincero, me passou conselhos e procurou me incentivar ignorando o olhar desagradável de Daniel. Eu queria me tornar alguém que você seria incapaz de ignorar, quem imaginava que eu seria aquele que te tiraria do sério com maestria?! — arqueou sua sobrancelha enquanto me olhava convencido. — Eu estou perdidamente apaixonado por você faz muito tempo! Você foi o meu primeiro amor e talvez será o meu último, quem sabe? — Ele riu após eu lhe dar um tapa em seu braço, seus dedos entrelaçaram aos meus no mesmo instante em que seu olhar recaiu sobre os meus. — Eu duvido que amarei alguém como eu te ame, minha provocante e única ! — Ele então soltou suas mãos para então segurar minha face, seu toque era suave e gentil enquanto a intensidade de seus sentimentos era expressa naquelas orbes . — Seria muito mais fácil provar que a Terra é plana a me convencer que eu esteja enganado sobre o que eu sinto! — Ele pousou seu indicador sobre meus lábios silenciando minhas palavras, seu tom determinado tornava impossível duvidar de suas palavras. — eu te amei em silêncio por muito tempo, embora não tenha sido o mais discreto quanto imaginei ser; toda a sua família parecia saber exatamente como eu me sentia enquanto você não tinha a menor ideia. O quão óbvio eu tinha que ser?! — Ele terminou a frase num sussurro como se estivesse envergonhado de algo, sua face adquiriu um tom rosado. — Eu amo a forma que você nada, como seus olhos se mantêm fixos em seu caderno enquanto divaga em seus pensamentos durante as aulas; adoro como trata a sua equipe, procurando o bem estar das garotas acima dos resultados, como se importa com sua família, a forma que seus olhos se curvam quando está rindo, a pequena pinta próxima ao seu maxilar. — Ele mantinha seu olhar fixos nos meus enquanto dirigia suas palavras como se estivesse me confessando seus maiores segredos. — Amo como se dedica aos estudos, adoro sua teimosia, quando acha que ninguém está olhando e sorri em satisfação ao encarar suas notas; amo o fato de você saber exatamente o que fazer para me provocar porque isso significa que eu estive em seus pensamentos por um determinado período de tempo. Amo sua lealdade a equipe mesmo que passemos boa parte do tempo discutindo, você sempre é a primeira em defender toda a equipe de natação e não somente as suas garotas. Quando você me mostrou a praia secreta tentando me acalmar tive que me refrear para que assim você não descobrisse que eu a amava! eu amo cada mínima parte sua, agradável ou irritante, elas são o que fazem de você tão irritantemente única. — me disse cada palavra repletas de seus maiores e sinceros sentimentos, um sorriso cálido e tranquilo enfeitava aqueles lábios carmim.
Meus ouvidos absorviam cada uma de suas palavras em um misto de confirmação e confusão; meus pensamentos sobre ele ruíram enquanto o verdadeiro tomava forma diante meus olhos. Era quase como se estivesse vendo-o pela primeira vez, meus olhos absorviam as nuances e expressões de enquanto processava o que ele me dizia. Minhas mãos seguraram as dele retirando-as por um instante da minha face, recuei um passo enquanto olhava para qualquer lugar com exceção a , meu coração retumbava em meus ouvidos, minhas mãos estavam frias e havia um sentimento florescendo em meu peito. Eu jamais admiti tal opção embora todos dissessem o mesmo a respeito dele, era irritantemente teimosa que havia recusado enxergar a verdade que mais de uma vez havia sido exposta a mim.
— Eu estava completamente cega pela minha negação. — Minhas palavras saíram baixas embora fossem altas naquela madrugada, estávamos apenas ele e eu naquele estacionamento. — Me sinto como uma tola; todos me disseram o mesmo, mas me mantive presa ao pensamento de que como eu o odiava você assim também me odiava. — Cobri minha face com minhas mãos, em parte envergonhada e chocada com as palavras de .
— Eu lhe avisei que você não era tão esperta quanto imaginava ser! — tentou me deixar mais a vontade, pacientemente ele me fez olhá-lo novamente nos olhos segurando minhas mãos nas dele outra vez; havia um sorriso sincero em seus lábios, não aquele que usava como uma máscara no dia a dia.
— Eu entendi isso agora, entre tantas garotas você escolheu justamente a mim. — O respondi sentindo um misto de sentimentos em meu peito, senti minha face esquentar diante o olhar intenso de .
— Sim, eu escolhi você. — parecia estar relaxado, como se houvesse retirado todo um peso de seus ombros e enfim pudesse respirar tranquilamente outra vez.
— Eu não consigo acreditar! Eu sou teimosa, irritante, petulante e metida a sabe tudo. — Desviei os olhos me sentindo envergonhada pela intensidade do olhar dele, nunca ocorrera, mas após descobrir os reais sentimentos de fora quase impossível sustentar seu olhar.
— E ainda assim eu amo você. — Ele voltou a segurar minha face, seus olhos não me permitiram desviar os meus. — Agora cabe a você tomar uma decisão . — não me pressionou, seu tom de voz havia sido tranquilo, sem qualquer expectativa, ele não desejava mais esconder o que sentia.
me olhava pacientemente enquanto eu me decidia; eu poderia o rejeitar ou embarcar nessa aventura e descobrir o que de fato sentia por ele! Toda mulher nasce com um instinto: o de autopreservação, quando a situação iria acabar mal. Ignorar ele era o mesmo de dirigir um carro sem freios em uma descida. Burrice!
No entanto, ali estava eu, nos braços do capitão do time de natação do Colégio D'antelli, uma clássica homenagem ao Dante Alighieri. Embora todas as minhas células me dissessem para me afastar, eu me inclinava em direção aos lábios dele, não tinha a menor ideia como tudo acabaria, se eu sairia com o coração quebrado ou não, mas naquele momento tudo o que importava era que a decisão havia sido tomada.
Eu havia escolhido aceitar os sentimentos de , aceitado essa variável inesperada…eu não sabia se o amaria da mesma forma daqui alguns anos, mas quem se importava com o amanhã quando o hoje era um presente?!
Havia muito mais coisas que eu não tinha a menor ideia e diversos obstáculos; porém, naquele instante tudo o que fiz foi me perder na maciez dos lábios de sentindo seu coração bater acelerado exatamente como o meu assim estava.


"Ele poderia quebrar o meu coração, mas naquele instante tudo o que importava era e eu e mais nenhuma dúvida!"



🏆💙🏆



Permanecemos nos braços um do outro até que meu celular tocasse nos tirando da sensação de haver apenas nós dois no mundo, rindo nos afastamos um pouco para que eu pudesse atender meu aparelho que não parecia que se silenciaria até que a chamada fosse aceita. Tomando fôlego e ignorando o olhar de atendi a ligação, Garret despejou suas preocupações para cima de mim sendo retirado da linha por Hector que me encheu de perguntas sem que eu pudesse o responder. Cogitando encerrar a chamada minha mãe enfim surgiu na linha, agradeci aos céus por não ter finalizado a chamada; meus irmãos furiosos comigo não eram nada em comparação a matriarca !
— Minha filha, me diga que já chegou na cidade. — O cansaço era evidente no tom de voz de
minha mãe.
— Sim, mamãe, você sabe como as garotas da equipe adoram conversar. Desculpe por preocupá-la. — A respondi calmamente, estava apenas omitindo que um certo capitão havia se declarado e era a razão do meu atraso.
— O está com você querida? — Ela me indagou de uma forma que não consegui compreender suas reais intenções.
— Mãe, desde quando a senhora o chama desta maneira? — A respondi com outra pergunta surpresa e um pouco confusa pela forma inusitada que ela o estava tratando.
— Minha menina, você é a única que não admite que esse jovem rapaz possuí sentimentos por você; é natural que eu queira tratar gentilmente meu futuro genro. — Ela riu me deixando ainda mais surpresa.
— Mamãe! — O espanto fora impossível de se segurar, velhos hábitos eram difíceis de serem consertados.
— Você é teimosa feito seu pai, terá que ouvir o pobre rapaz admitir o que já estamos cansados de repetir a você querida. — Havia um pesar que me deixou sem saber como agir.
— Eu estou indo para casa e levarei junto já que me parece que a mãe dela não o buscará. — Tentei mudar de assunto antes que minha mãe ouvisse a risada de que naquele instante gargalhava sem qualquer pudor.
— Isso, querida! Era justamente o que iria te dizer, seus irmãos buscaram o seu carro na oficina assim que chegaram, eles disseram que estão cansados de bancarem seu choffer. — Ela riu como se lembrasse de algo.
— Te vejo mais tarde mamãe, te amo. — Me despedi dela ignorando a figura risonha de .
— Nos vemos mais tarde querida, também te amo. — Ela desligou a ligação assim que se despediu.
Respirei profundamente algumas vezes antes de encarar que ainda ria, ele secava o canto de seus olhos sorrindo bobamente. Aquele bastardo parecia estar nas nuvens! Ele se aproximou tentando conter o riso após notar o meu olhar, seus olhos esmeraldas brilhavam belamente, seus lábios avermelhados pelo beijo e o cabelo desalinhado…


"Malditamente atraente!"



Desviei o meu olhar dele contendo o impulso de beijá-lo outra vez, parecia determinado a me provocar, sem qualquer receio ele me abraçou depositando beijos suaves na base de meu pescoço enquanto subia vagarosamente até minha orelha.
— O que te deixou rabugenta, minha querida esposa? — Ele me provocou, voltando a sustentar o meu olhar.
— Você não vai me deixar esquecer, não é mesmo?! — O respondi mordendo o interior da minha bochecha para não sorrir.
— Não mesmo! — Ele riu beijando a minha testa, a ponta do meu nariz, ambos os lados das minhas bochechas antes de alcançar meus lábios outra vez. — Você não tem ideia de quantas vezes eu sonhei pelo momento em que a teria em meus braços.
— Quem diria que o tão popular é romântico. — O provoquei rindo enquanto nossas testas se encontravam.
— Há muito sobre mim que você desconhece . — sorriu levando minha mão aos seus lábios depositando um cálido beijo sobre as pontas de meus dedos.
— Eu sou uma aluna dedicada, me mostre tudo o que eu desconheço e gravarei em minha alma para que eu não esqueça. — O respondi seriamente, ele riu feliz e me beijou outra vez.
— Tudo o que assim desejar, minha adorável e teimosa . — Ele me respondeu após nossos lábios se separarem.


Capítulo 48


Sorrindo largamente cantarolava enquanto o carro seguia pelas ruas desertas, as cores aos poucos tingiam o céu com o alvorecer, para meu descontentamento possuía um bom gosto musical. Havíamos jogado pedra, papel e tesoura para decidir quem escolheria as músicas; algo preferível do que me submeter a mente peculiar de e seus desafios, os quais me trazem apenas memórias vergonhosas!
— Você odeia tanto perder um jogo de criança, querida? — me perguntou rindo, suas sobrancelhas estavam arqueadas zombando da minha careta.
— Tire os pés do painel do meu carro. — O respondi ignorando a sua pergunta, era irritante o quanto eu odiava perder para ele, mesmo que fosse numa brincadeira de criança.
— Vamos lá, , foi apenas um jogo de criança. — Ele se endireitou, mas contendo um riso, seus lábios compridos quase me fizeram rir apesar de olhá-lo apenas de canto de olho por estar dirigindo.
— Aproveite a música, estamos quase chegando a minha casa. — Era mentira, ele sabia disso tanto quanto eu, minha casa ficava no alto da colina. Estávamos mais próximos do nosso colégio do que a minha casa.
— Me sinto lisonjeado, você não está assim por causa da música, mas sim porque eu te venci. — A risada dele era irritantemente agradável, não ria muito, sua face sempre havia aquele sorriso treinado, que não expressava realmente o que ele sentia.
Suspirei mordendo o lado interno da minha bochecha enquanto segurava o volante com uma mão para dar um tapa na perna de ; eu odiava como não faziam vinte quatro horas que ele me contou tudo e como eu estava confortável em estar ao seu lado. Odiava tanto que meu coração parecia estar mais agitado por vê-lo sorrir facilmente, em como parecia ser ele mesmo ali, odiava tanto que havia esses sentimentos não nomeados em meu peito, os quais eu ainda estava tentando entender, mas que a fonte de seu surgimento havia sido o ser mais irritante que já cruzou o meu caminho, o qual estava rindo naquele instante.
— Você sabe que venceu por conta de uma pequena probabilidade. — O respondi olhando em seus olhos assim que o sinal à nossa frente ficou vermelho. — Mas não vamos mais falar sobre isso, você vai arruinar o meu descanso das próximas horas se continuar cuspindo essas bobagens sem sentido.
— Bobagens você diz. Está parecendo com uma criança que teve seu pedido negado, . — apertou a ponta do meu nariz, ele novamente riu ao ver minha expressão nublar devido suas últimas palavras.
— Calado filho único. — Retruquei trocando a marcha do carro antes de seguir em frente após o sinal abrir.
— Como quiser caçulinha. — me respondeu dando de ombros e começou a assoviar acompanhando a música, ele apoiou os braços atrás de sua cabeça enquanto observava o horizonte.
— Já foi mais criativo querido. — O respondi estacionando meu carro em frente a padaria que meus irmãos entregavam leite, antes que pudesse me responder o silenciei com um rápido encostar de lábios. — Eu volto logo, tente não sentir minha falta.
Pisquei para ele sorrindo antes de sair do carro, contendo um sorriso que seria suspeito para o dono daquela padaria, belisquei meu antebraço seguindo para os fundos da loja. As costas das minhas mãos bateram contra a madeira que cobria o espaço que meu irmão entregava o leite de nossa fazenda.
? Hoje será um dia chuvoso, você não costuma ser tão pontual desde que Vivian se mudou para a cidade vizinha. — A figura bem-humorada de Jonathan Base, o padeiro mais antigo naquela cidade, surgiu com um largo sorriso.
— Sinto em te decepcionar, Sr.Base, não sou a que está esperando. — O saudei rindo da expressão surpresa na face do dono daquele lugar.
— Pobre Hector. — Ele balançou a cabeça como se lamentasse, parecia que meu irmão revelava ao velhinho aos nossos joguinhos familiares. — O que faz tão cedo por aqui, minha querida? — Ele me perguntou curioso.
— Você sabe como são jovens atletas, sempre com fome após um campeonato. — O respondi com uma piscadela, Sr.Base concordou com um aceno desaparecendo por alguns minutos antes de retornar com algumas sacolas de papel quentes ao toque.
— São recompensas pelo ótimo trabalho que vem executando, você tem que ouvir seus irmãos se gabando…Ai ai ai, não seja tão má com o Hectorzinho, sim?! — Sr.Base me entregou as sacolas sorrindo, ele parecia tentar me convencer a não contar o que eu havia descoberto ao meu irmão.
— Quem sabe?! — Ri dando de ombros piscando para ele. — Obrigada por isso e pelas informações. — Balancei meu braço em despedida antes de retornar para o meu carro.
Pude ouvir o senhor Bale rir antes que eu me afastasse, olhei com curiosidade para os pacotes em minhas mãos sorrindo ao vê-los com pãezinhos doces recheados, alguns salgados em outros pacotes. Meus olhos alcançaram o carro e então notei os olhos fechados de , no pouco tempo em que estive distante ele havia pegado no sono. Deixei duas sacolas no banco de trás antes de me sentar no banco do motorista, abaixei o volume do rádio e antes de dar a partida no carro conferi se o cabeça de vento estava usando o cinto de segurança. O arrumei de forma que ele ficasse mais confortável, coloquei uma de minhas blusas entre a janela e a sua cabeça como um travesseiro; peguei o pacote com os pãezinhos doces colocando sobre o painel antes de passar o cinto pelos meus ombros, virei a chave na ignição e então tomei a direção de minha casa alcançando os pãezinhos com uma mão enquanto a outra permanecia no volante.
Ciências exatas eram mais compreensíveis do que os sentimentos não nomeados em meu peito, a confusão ainda era gigantesca em minha mente. A confissão de me surpreendeu ao mesmo tempo que me trouxe respostas para seus atos; as nuances que eu desconhecia foram esclarecidas após suas palavras…


"Escolher deixar ele se aproximar era um risco que estava assumindo, sabendo exatamente quais seriam suas consequências."



— O que eu farei a partir de agora?
Minha voz saiu baixa, abafada pelo som que saía do rádio, esperava que a figura adormecida no banco do passageiro não estivesse fingindo; seria complicado explicar a razão por trás da minha dúvida quando não poderia dizer o que eu sentia. Alcancei mais um dos pãezinhos tentando não pensar a respeito sobre o que teria de fazer a partir de agora; nada seria como antes.


🏆💙🏆



Estacionei o carro no galpão, enquanto dirigia pela colina pude avistar as nuvens sobre o oceano que ainda não haviam chegado à cidade; o céu daquela manhã repleto de tons pastéis da aurora cederiam ao cinza das nuvens de chuva. Desliguei o rádio e me virei para a figura de , sua expressão suave, seus músculos relaxados…eu não sabia se ele dormia com tanta facilidade, ou se ele estivesse confortável em minha presença.


"Ele era uma contradição ambulante."



Enquanto divagava sobre como o despertar ouvi os latidos de meus cachorros, Duque e Trex se aproximaram correndo em direção a minha porta, ao olhar sobre o meu ombro se sentou agitado, seus punhos cerrados e lábios comprimidos me diziam que algo estava errado com ele.
— Você está seguro, não há nada pelo o que temer. — Tomei ambas as mãos dele enquanto ajoelhava em meu banco me aproximando dele. — Respire devagar… — Eu não pude terminar minha frase, me puxou para o seu colo me abraçando forte. Eu quase conseguia sentir seus batimentos, ele fechou os olhos respirando fundo algumas vezes enquanto suas mãos tocavam minhas costas me mantendo parada; precisava de algo para o manter ali.
Duque e Trex ficaram sob suas patas traseiras olhando através das janelas, um em cada lateral do carro. Suspirei contendo um riso diante as ações deles, ergui meu olhar para que tentava não olhar para nenhum deles; seu par de esmeraldas recaíram sobre meus lábios, escurecendo dois tons em desejo. Me sentei rapidamente colocando meu indicador sobre os lábios dele, me deu um olhar de diversão.
— Não me olhe assim, você sabe a confusão que vamos causar com isso. — Indiquei nós dois, ele riu mais tranquilo enquanto ainda evitava olhar para os cães do lado de fora.
— Nós já causamos normalmente, que mal há em acrescentar um pouco mais? — Suas mãos ainda descansavam em minha cintura, lhe dei um olhar azedo que o fez rir ainda mais.
— Vamos entrar antes que meus irmãos venham investigar a nossa demora. — Tentei me mover de volta para o meu banco, mas me manteve em seu colo.
— Eu não tive o meu beijo de bom dia, minha doce esposa. — trouxe novamente a situação do ônibus para me provocar.
— Shhh! Não ouse dizer algo assim na frente dos …eu não consigo imaginar o que poderia acontecer. — Cobri sua boca com a minha mão, me olhou em provocação e indicou minha boca; o filho da mãe queria um beijo pelo seu silêncio. — Nem uma só palavra! — O alertei antes de retirar minha mão, sempre adorou me provocar contradizendo o que eu lhe dizia…sem surpresa ele segurou minhas mãos antes de tocar meus lábios com os seus, silenciando palavrões que escapariam deles.
Uma de suas mãos segurava as minhas enquanto a outra mantinha-me o mais próximo dele, eu queria recusar aquele formigamento em meu coração, aquele frio na barriga e a forma que eu parecia derreter sobre o seu toque…ignorar seria uma escolha sensata, mas eu não poderia mentir para ele, não quando seus olhos brilhavam tão intensamente, a honestidade de seus sentimentos me deixará de mãos atadas e eu não era hipócrita em mentir que havia algo que nos atraia cada vez mais. Linhas haviam sido cruzadas, limites se enroscaram em pontas soltas criando um gigantesco bolo de fios entremeados sem qualquer esperança de se desfazer os nós.
— Eu te odeio. — Sussurrei sem fôlego pousando minha cabeça sob um de seus ombros, ouvi gargalhar porque sabia que aquelas palavras não eram verdadeiras.
— Sim, agora vamos entrar antes que nos procure, certo?! — ergueu minha face beijando minha testa, ele piscou para mim como se ele não houvesse feito nada.
— Eu não farei nada, não agora por estar exausta para lidar com tudo isso agora, mas meu caro … — Ergui o queixo dele segurando-o levemente com as pontas de meus dedos. — Você realmente vai conhecer o que eu posso fazer, espero que tenha se deleitado com os meus lábios porque essa fora a última até que eu assim revogue essa punição. — Sorri maldosamente para ele enquanto deixava um leve recostar de minha boca no canto de seus lábios me sentando novamente sobre o banco do motorista para retirar a chave da ignição.
Sem esperar por uma resposta dele, alcancei os pacotes da padaria no banco traseiro antes de abrir a porta brincando com Trex que havia se pendurado na lateral do automóvel Assobiando para Duque me acompanhar e deixar em paz, me desloquei para o porta-malas segurando com uma mão os pacotes da padaria e com a outra alcançando linhas malas. Com passos determinados alcancei a entrada da minha casa, a pelagem macia de meus cachorros fazia cócegas em minhas panturrilhas enquanto eles andavam ao meu lado. Eu mal tive tempo de elevar minha mão sob a maçaneta e a porta fora aberta bruscamente.
— Por que a pestinha está se demorando? — Garrett indagou a si mesmo determinado a seguir em direção ao galpão.
— Bolsas são difíceis de se manejar quando nossos dois cachorros não me deixam andar corretamente. — Gargalhei ao notar Garrett pular assustado, seus olhos me analisaram silenciosamente buscando algo que eu não entendia.
— Você ainda não foi atrás da monstrinha, Garrett ? — A voz de Kayron fora ouvida antes que sua figura fosse avistada.
— Vocês são como cães de guarda, eu tenho apenas dois braços e bolsas que são terríveis de se carregar quando nossos animais não param de se colocar entre nossos pés. — Deixei minhas bolsas na entrada entregando a Garrett as sacolas de papel, as quais eu pegara na padaria.
— O que está acontecendo para vocês…Ah a pestinha enfim saiu do galpão! — A face de Hector esboça confusão até que seus olhos notaram a minha presença se iluminando com ardil brilho da perspicácia.
— O Sr. Base foi tão gentil nesta manhã irmãozinho, quem diria hein. — A subjetividade deixou Kayron e Garrett confusos mas Hector me olhou cuidadosamente, seu brilho alterou sutilmente para cuidado, sorri em resposta vendo-o alerta.
— Sobre o que você está falando monstrinha? — Garrett olhou de Hector para mim, buscando entender o que ele havia perdido.
— Nada demais, o Sr.Base me deu isso para o café da manhã, ele estava feliz pela vitória pelas equipes de natação conseguirem se classificar. — Ofereci o meu sorriso mais ingênuo procurando convencê-los.
— Algo não me parece certo…Aonde está sua outra metade odiada? — Kayron parecia desconfiado olhando sobre os meus ombros.
Neste momento surgiu atrás de meu irmão, já dentro da casa, como eu havia atraído os cachorros, aproveitou o momento para dar a volta na casa e escapar dos animais. Sua mãe, Zara, que estava logo atrás de seu filho, olhou para Kayron em recriminação desaprovando suas palavras. Desviei meu olhar para controlar o riso, ajustando a pegada em minhas bolsas passei por meus irmãos ainda evitando olhar para a mãe de , eu estava tentando não rir da situação.
— Se você não falar com a nossa mãe, ela vai ficar uma fera. — Garrett me avisou com certo humor em sua voz.
— Eu só vou deixar as malas em meu quarto já que nenhum de vocês se ofereceram para isso…que vergonha! E ainda se dizem os meus protetores. — Fingi estar desapontada ouvindo "tossir" para encobrir o seu riso.



"O filho da mãe estava prestando atenção na conversa!"



Meus irmãos olharam de modo hostil para ele, em aviso para ele permanecer calado; suas próximas palavras foram silenciadas pela chegada de meu pai e um dos meus avós que notaram a tensão e olharam para cada face em confusão.
— É minha filha, suas entradas são sempre triunfais. — Meu pai acabou sorrindo incapaz de controlar seu humor, o pai de minha mãe acabou rindo enquanto indicava para meus irmãos seguirem para a sala de jantar para tomar o desjejum. — Bem vinda de volta querida. — Ele cruzou a distância pegando as bolsas de mim e beijando o topo de meus cabelos. — Agora vá falar com sua mãe, ela mal conseguiu dormir porque você demoraria a chegar.
— Sim papai. — Fiquei na ponta dos pés para alcançar a bochecha dele, e ali deixar um beijo antes de correr para a cozinha.
Antes que eu me afastasse dele ouvi seu riso seguido de um sussurro, o qual eu não compreendi exatamente o seu significado. O cansaço era mínimo se comparado a animosidade de rever a minha família, minha mãe estava finalizando o preparo do café olhando nervosamente para o relógio na parede oposta a entrada da cozinha. Buscando fazer o menor ruído enquanto me aproximava dela, para assim surpreendê-la, no entanto, quando estava pronta para abraçá-la a matriarca se virou me assustando. Eu soltei um grito agudo e a gargalhada escapou em seguida, a abracei rindo, eu era muito agraciada.


"Era muito bom estar em casa!"


Capítulo 49


Antes de adormecer, passei algum tempo conversando com minha mãe na cozinha, a auxiliando com os últimos preparos para o desjejum. Eu sabia que possuía uma família como nenhuma outra, eu os amava tanto que apenas imaginar perder um só…mal conseguia respirar. Eles eram meu maior tesouro, abracei cada um dos meus irmãos, descobrindo que Cecília havia seguido para a sua própria casa após o final do campeonato, os saudei antes de enfim seguir para o meu quarto ignorando a figura de . Nós ainda não havíamos discutido todas as questões sobre como agiríamos a partir de agora; eu não estava exatamente em meu melhor estado para lidar com essa nossa não nomeada relação. Em meu quarto, me despi e tomei um banho antes de enfim deitar minha cabeça sobre o travesseiro. A agradável inconsciência me sugou em seu abraço fazendo com que preocupações fossem deixadas de lado.


🏆💙🏆



Algo úmido tocava minha face, me virei para o lado oposto para então ser recebida por lambidas e latidos que me fizeram cobrir minha face com o cobertor. Risadas sonoras e um puxão em meu cobertor me fez abrir os olhos irritada, Garrett assobiou e Duque e Trex subiram no colchão animados enfiando seus focinhos úmidos perto do meu rosto.
— Vamos acordar dorminhoca. — Garrett ria ainda parado em frente a minha cama com o meu cobertor em uma de suas mãos.
— Duque, Trex…por favor parem! — Tentei desviar das lambidas dos dois cachorros enquanto me sentava contendo a risada. — Você é um péssimo irmão!
— Sim, claro…agora levanta essa bunda preguiçosa da cama e vá tomar um banho; todos estão esperando a bela adormecida para o jantar. — Garrett deu de ombros e assobiou outra vez fazendo com que Duque e Trex saíssem da cama.
— Quanto tempo eu dormi? — Indaguei enquanto me espreguiçava, ainda sonolenta.
— Um dia e meio irmãzinha, você precisa comer algo para amanhã retornar às suas aulas! — Em seu tom de voz havia preocupação e repreensão pela minha falta de atenção.
— O que eu seria sem vocês?! — Falei suavemente sorrindo angelicalmente piscando meus olhos, o que fez Garrett balançar a cabeça contendo um sorriso…Sempre havia uma maneira de dobrar meus irmãos.
— Pro banho, agora, pestinha! — Ele indicou a porta antes de sair com um meio sorriso.
O riso escapou dos meus lábios enquanto seguia até a porta e a trancava, somente no caso de um dos meus irmãos tentar me pregar alguma pegadinha. Tirei minhas vestes e tomei um banho rápido, meu estômago roncava, denunciando minha fome; encontrei uma roupa confortável e segui para o andar de baixo com os cabelos úmidos…estava com preguiça demais para secá-lo. O segundo andar da casa estava silencioso, indicando que todos já estavam no andar de baixo, apenas de meias, desci as escadas por não encontrar os chinelos em canto nenhum do quarto.
Assim que adentrei a sala de jantar notei duas coisas: o primeiro fora o olhar de repreensão da minha mãe por me ver descalça, o segundo: ainda estava em minha casa! Seus olhos me saudaram com um brilho de diversão misturado a sonolência, ao que indicava ele também despertara não fazia muito tempo ou então ele estava indo para cama após o jantar…fosse qualquer uma das alternativas, eu não estava preparada para encontrá-lo logo após a sua confissão.
— Olha a nossa bela adormecida. — Hector zombou rindo da minha expressão de desagrado.
— Como está o Sr.Base, irmão ? — Retruquei, Hector se empertigou na cadeira.
— Por que eu tenho a impressão que a monstrinha sabe de alguma coisa? — Garrett se sentou na frente de Hector que lhe deu um olhar de aviso.
— Vocês são sempre ariscos uns com os outros? — surpreendeu a todos ao se pronunciar, Kayron segurou o riso ao ver os olhares desagradáveis de Hector e Garrett dirigido ao seu futuro enteado.
— Mas o que está havendo por aqui? — A matriarca surgiu com os acompanhamentos faltantes.
— Apenas mais uma implicância entre nossos filhos, nada fora do comum querida. — Papai interferiu procurando acalmar os ânimos.
— Essa casa não é a mesma sem você minha netinha. — Vovô riu antes de começar a se servir.
— Obrigada vovô. — Sorri antes de me sentar ao lado de Hector e Kayron, apenas percebi que estava cara a cara com quando voltei meu olhar para frente encontrando-o me observando sem disfarçar.
Chutei a canela dele articulando para ele deixar de ser tão óbvio; me servi procurando evitar o olhar de e tentando conversar com meus irmãos para não levantar suspeitas. Afinal, e eu não havíamos definido absolutamente nada e para explicar essa coisa não nomeada daria muita dor de cabeça…Mesmo que eu o tivesse avisado me contrariou, seu olhar era quente e intenso, ignorar fora a solução enquanto me alimentava e ouvia minha família. Era estranho como os mal haviam estado naquela casa e já pareciam fazer parte da família, esse pensamento permaneceu por tempo demais em minha mente.
Zara , progenitora de , a atual noiva do meu irmão mais velho e que abertamente desgostava de mim…Seu olhar não era nada sútil, havia um julgamento analítico em seus olhos como os de seu filho, o brilho frio daquelas esmeraldas não me causava medo ou receio. Ela provavelmente já havia se dado conta dos sentimentos de seu filho, o quanto aquela mulher protegia era impressionante!
Kayron notando o comportamento de sua noiva a questionou com um olhar, ele não precisava de palavras para se comunicar com Zara. Observei a dinâmica deles com certa curiosidade, havia facetas de meus irmãos que até mesmo eu desconhecia. Por ser a mais nova estava fadada a sempre estar atrasada no que eles sabiam sobre a vida e as pessoas, por conta de suas próprias experiências, de certa forma eles buscavam me proteger. Eu amava isso neles, mas às vezes era irritante o quanto eles me privaram de tentar algo novo ou como a superproteção passava dos limites…eram nesses momentos que eu tinha que usar o que sabia contra eles, éramos uma família funcional apesar de tudo.
O jantar prosseguiu com conversas amenas, meus irmãos tentaram deixar o clima mais leve após olhares incisivos de nossa mãe; me mantive observando toda a dinâmica entre 's e 's, meu avô participou algumas vezes antes de se recolher após finalizar sua refeição, vovó havia deitado mais cedo pelo o que parecia.
Assim que todos finalizaram a refeição, mamãe encarregou Garrett e Kayron para lavarem a louça enquanto Hector e eu tivemos que recolher toda a mesa. Quatro numa cozinha…O desastre veio tão certo quanto ao nascer do Sol! Risos e broncas marcaram o final da noite antes que todos se recolhessem para os seus devidos quartos.



🏆💙🏆




— Sim Becky, eu estarei aí o mais cedo possível. — Suspirei cansada de repetir a mesma frase nos últimos minutos.
— Não me venha com esse tom ! — Sua voz soou alta em meu quarto, o meu aparelho celular estava no alto falante enquanto revisava o horário deixando meu material preparado para o dia seguinte.
— Você me fez repetir a mesma história por minutos, só estou cansada. Não se preocupe, amanhã estarei no mesmo horário em nosso local de costume. — Revirei os olhos deixando minha bolsa de lado após finalizar os preparativos para o dia seguinte.
— Não revire os olhos para mim! — O tom estridente de Becky quase me fez rir, ela me conhecia muito bem!
— Tá, tanto faz! — A respondi tentando disfarçar meu tom de voz, ela bufou do outro lado da linha.
— Você não merece todas as atividades e trabalhos que faço sozinha e acrescento o seu nome Sra.Certinha! — Becky me respondeu meio rabugenta.
— O que Roman fez dessa vez? Você não está brava comigo por causa disso. — Retirei o aparelho do auto falante, começando a andar de um lado para o outro no quarto com o celular em meu ouvido.
— Droga , direta como sempre! — Ela respondeu num sussurro mais para si mesma do que para mim. — A mãe de Rommy ameaçou parar de sustentá-lo se ele não decidir o que fará no ano que vem. — Becky foi reticente.
— E ele descontou a frustração em você, eu vou castrar esse imbecil amanhã. — A respondi tentando disfarçar a minha irritação, Roman não tinha motivos para descontar tudo em sua namorada.
— Ele não contou a mãe que não irá para a faculdade, Roman está realmente tentando conseguir uma vaga nos campeonatos de surf. — Becky me revelou honestamente, a frustração de Roman provavelmente era esconder seus sonhos e esforços de sua própria mãe.
— E vocês acabaram discutindo porque o incentivou a contar a ela. — Tentei entender a razão da briga dos meus amigos.
— Também, eu meio que o pedi para não se preocupar com o futuro. — Ela me revelou cuidadosamente, uma sensação de que Becky não havia me dito tudo surgiu ao ouvir seu tom de voz.
— Você não me importunou por horas a fio para agora não me dizer todos os detalhes Rebekah! — A pressionei, ela apenas me diria a verdade caso fosse pressionada; minha amiga possuía o péssimo hábito de fugir de conflitos.
— Você sabe tanto quanto eu que embora Roman seja bom em surfar, ele ainda não está nem perto de alcançar o nível mais baixo para poder conseguir uma vaga…para tentar tranquilizá-lo apenas comentei que como eu me tornarei médica ele poderá… — A interrompi ficando irritada com a falta de tato da minha amiga avoada.
— Não termine essa frase por favor; não me diga que você jogou um balde de água fria nos sonhos de seu namorado. — Olhei para a tela do aparelho como se pudesse enxergar a expressão de Becky.
— O que eu faço agora, ? — Ela se lamentou exasperada, o arrependimento nítido em sua voz embargada.
— Deixe que eu conserte isso, Roman deve estar com a cabeça quente e vai te dizer coisas para te ferir sem realmente desejar isso. — Massageei minhas têmporas voltando a me sentar em meu colchão. — Eu falo com e quando você menos esperar vão estar grudados um no outro novamente.
— Alguém já te disse que você é a melhor amiga que se poderia ter? — Ela riu um pouco mais tranquila.
— Há, há, há, engraçadinha, agora vai dormir e deixe que eu me preocupo com isso. — Tentei tranquilizá-la.
— Você é a melhor, boa noite . — Ela riu antes de se despedir.
— Boa noite Becky. — Sorri finalizando a ligação, deixei meu celular de lado me jogando no colchão e cobrindo meus olhos com o antebraço.
— É difícil de acreditar que aqueles dois tenham discutido. — Me sentar fora um ato instintivo, havia entrado em meu quarto sem que eu tivesse notado; a porta estava fechada a suas costas enquanto ele me observava com um sorriso presunçoso.


"Meus irmãos iriam me matar!"



— Porquê você está aqui?! — Tentei dizer tudo calmamente, procurando não elevar meu tom de voz.
— Eu queria te ver, não tive muito tempo com você ultimamente. — Ele se aproximou lentamente, como um predador estudando a presa.
— Você realmente não teme a morte! — Murmurei exasperada me levantando, no entanto já havia se aproximado e me empurrou, me fazendo cair no colchão.
riu da minha expressão de surpresa antes de se ajoelhar sobre o colchão, suas mãos ficaram cada uma em um lado da minha cabeça, seus olhos me fisgaram com a mesma intensidade de sempre, havia um certo excesso de confiança em seu modo de agir que me deixava irritada. Antes que eu o xingasse sua boca cobriu a minha, fazendo com que todos os pensamentos se embaralhem, eu não entendia o que havia sobre ele, mas era somente me beijar para que tudo desaparecesse. Fechei os olhos enquanto aproveitava as sensações que me provocava, sua mão esquerda dedilhou minha face enquanto sua boca se movia sobre a minha aprofundando lentamente o beijo; parecia não se importar com a iminência de alguém atravessar aquela porta a qualquer momento ou com as consequências dessa estranha e inusitada relação que estava tomando formando.
— Só para constar, eu ainda te odeio! — Sussurrei contra os lábios dele.
— Como quiser, Love. — Ele piscou para mim antes de deixar uma mordida em meu lábio voltando a me beijar sem qualquer pressa.



"No que eu estava me metendo?"


Capítulo 50


A manhã surgiu mais rápido do que eu esperava, e eu ainda não havíamos definido como agiríamos em frente às outras pessoas, na noite anterior quase não houve palavras além das tradicionais provocações…tão certo quanto a Terra atraía a Lua em seu campo gravitacional, e eu não poderíamos conviver sem as provocações, era quase um idioma próprio de ofensas e gracejos que muitos ficariam perdidos.



"Malditos lábios, aquele filho da mãe soube me distrair da iminência de sermos flagrados!"




Com a boca ocupada demais, resolver isso fora meu último pensamento! Antes que alguém surgisse retornou ao quarto de hóspedes na noite anterior, e, eu pude tentar adormecer sem parecer uma idiota sorridente. A confusão ainda era uma constância em minha mente, processar os sentimentos de e os meus ao mesmo tempo era mais complicado do que esperava. Encarei meu reflexo, a figura refletida parecia muito animada em comparação com a versão diária…joguei água em minha face antes de começar a me preparar para o dia longo que me aguardava! Haveria a reunião pós campeonato e acertos sobre os amistosos que nos aguardavam, a dor de cabeça que imaginei me esperar nessa temporada havia superado sua relevância, tornando-se ainda pior ao descobrir verdades até então encobertas pelo trio de idiotas em que confiei.

— Não há nada que um não supere!

Com uma nova confiança estabelecida sorri animada, não importava o que estava por vir, possuía confiança em minha equipe mesmo que agora o relacionamento entre os capitães houvesse mudado de certa forma.



💙🏆💙




Encarei meu telefone, conhecendo a figura que era Roman, ele deveria estar dormindo ainda. Suspirei massagem minhas têmporas, ele era uma alternativa para levar para o colégio sem levantar perguntas ou rumores; já bastava os que circulavam ao meu respeito em relação a figura sentada preguiçosamente em meu automóvel…


"Você é uma , pode lidar com qualquer coisa!"



Olhei com desagrado para os meus pais, naquele instante eles eram os únicos dentro da casa por conta dos afazeres e responsabilidades que meus irmãos cumpriam com diligência, a mãe de estava tentando me punir por ter destruído seu último automóvel, me fazendo carregá-lo para todo lado. Dando apenas um aceno deixei o interior da minha casa e segui para o carro convenientemente estacionado em frente à residência.


"Meus irmãos poderiam deixar o carro em frente à casa, mas não levar ao colégio!"




Abri a porta do carro deixando a bolsa no banco de trás antes de seguir para o banco do motorista; não foi rápido o suficiente para esconder o sorriso de diversão em seus lábios. Geralmente não me importava com a opinião alheia, eram pequenas coisas inúteis sem relevância, no entanto era uma dor de cabeça constante, nosso status indefinido era apenas a ponta do iceberg…


"Logo hoje em que despertei otimista!"



Conectei meu aparelho ao som do carro após girar a chave na ignição, aumentei o volume do som de modo que eu pudesse conversar com sem ser incômodo. Após colocar o cinto e indicar para que ele fizesse o mesmo, segui em direção ao colégio ou assim meus pais pensariam, não havia desistido da ideia de fazer Roman levar meu rival/algo-não-nomeado a nossa instituição de ensino.
— Por que eu sinto que você não está seguindo para o colégio, Srta. Certinha? — A voz de havia uma curiosidade e algo como uma expectativa, eu quase me senti culpada em acabar com a animação dele.
— Nós somos famosos pela troca de farpas , as pessoas prestam atenção demais em nós, mas se chegássemos juntos no mesmo carro…você consegue entender a agitação que vai tomar aquela instituição? — Troquei a marcha antes de virar num cruzamento tomando a estrada para o lado oeste da cidade, na direção em que estava localizada a casa de meu amigo.
— Pensei que a opinião alheia não era importante para você. — Eu sentia o olhar intenso de sobre a minha face, seu tom de voz transparecia quase uma zombaria.
— E não ligo, você consegue imaginar a confusão que causaremos se eles ficarem sabendo sobre o nosso status atual?! — Acionei a seta antes de dobrar a esquina em um quarteirão repleto de casas de capa de revistas. — Irá tomar proporções que afetará a nossa vida negativamente, não devo satisfação aos abutres em que divido o mesmo ambiente escolar.
— Isso eu entendi , mas eu ainda não compreendi o seu ponto de vista. — parecia confuso e zangado ao mesmo tempo. — Aonde está me levando?
— Liberarei a equipe feminina mais cedo, com a desculpa que elas precisam de um descanso após o campeonato estadual; faça o mesmo e me encontre na área das piscinas para podermos conversar sem sermos interrompidos. — Estacionei o carro em frente a uma bela casa com muretas em tijolinhos brancos e um portão baixo, porém elegante em ferro fundido. — Está é a casa de Roman, pensei que soubesse onde ele morava. — Retirei as chaves da ignição olhando para confusa.
— Roman não é de falar muito sobre si mesmo. — deu de ombros deixando sua bolsa no banco antes de sair do carro.
Concordei com um aceno antes de liderar o caminho até a entrada da casa, subi os poucos degraus que antecedem a porta abrindo-a sem qualquer dificuldade. Balancei a cabeça negativamente enquanto procurava por algum funcionário, sem encontrar uma alma viva no primeiro andar segui em direção às escadas.
— Vocês são muito próximos? — tentou quebrar o silêncio que havia se instaurado desde que adentramos a casa.
— Eu o conheci antes de Becky, assim como ele ama surfar eu amo nadar a água meio que nos apresentou. — Ri com o que havia dito, parecia absurdo quanto tempo eu conhecia Roman.
— Ele surfa? — me perguntou impressionado, ele parecia estar surpreso com o pensamento de um Roman surfando.
— Não só surfa como é bom nisso! Você tem que assisti-lo para entender o porquê de ele esconder isso de sua própria família. — Comentei sinceramente enquanto caminhava ao lado dele pelo longo corredor até alcançar a última porta no final deste.
— Porque ele faria isso? — me questionou sem entender a razão por trás das ações de Roman.
— Roman e Becky são os meus melhores amigos, eu não posso te contar todos os segredos que conheço . — Pisquei para ele seguindo para as pesadas cortinas as puxando para o lado perto da cama de Roman para acordá-lo. — Vamos acordar princesinha, eu tenho uma tarefa para você! — Gritei rindo dos palavrões que Roman vociferou para mim, abri o outro lado da cortina iluminando de vez o ambiente.
— Malditamente imprevisível , porque você não age como uma pessoa normal?! — Roman se sentou na cama com o péssimo humor estampado em sua face e tom de voz.
— Você não atendeu o seu telefone. — Dei de ombros me sentando no sofá no canto do quarto.
— Por que você está aqui, , e junto com ela?! — Roman ainda estava zangado quando se dirigiu a .
— A mãe dele vai se casar com Kayron, eu sei, surpreendente. — Me levantei inquieta seguindo na direção das portas duplas ao lado do sofá aonde estava momentos antes.
— O quê… — Roman ficou sem saber como reagir olhando de para mim, vi deu de ombros antes de entrar no espaço que era reservado como closet de Roman.
Ouvi palavrões escaparem novamente de Roman antes dele gritar que iria tomar um banho; procurei por roupas que cobrisse os machucados dos antebraços e panturrilhas de Roman, ele deveria ter se machucado nos corais, sua roupa de Neoprene cobria até a metade de suas panturrilhas e braços. Peguei o mesmo para de calçados que ele usava e deixei tudo em cima da cama antes de arrastar para a cozinha no primeiro andar.
— Antes que me faça perguntas, Roman não é conhecido por sua pontualidade, aquele idiota prolongaria sua busca por roupas só para me irritar. — Me virei de frente para notando seus lábios numa linha fina, ele estava evitando meu olhar. — … — O chamei suavemente vendo-o me olhar contra vontade.
— Isso foi um golpe baixo, Love. — levou sua mão ao meu cabelo, brincando com uma mecha de cabelo do meu rabo de cavalo.
— Todo mundo te chama de . — O provoquei notando encurtar o espaço entre nós.
— Você sempre evitou me chamar assim, sempre foram "doces elogios" e meu nome e sobrenome que saíram dessa boquinha atrevida. — me olhou nos olhos passando seu indicador sobre meus lábios, seu tom de ironia ao se referir as ofensas como elogios me fez rir.
— Você realmente é ciumento. — Mordi a ponta de seu dedo antes de deixar um encostar de lábios nos dele seguindo em direção a máquina de café, precisava de uma xícara de café preto para colocar meus sentidos no lugar.
— Quem é ciumento? — Roman surgiu curioso na porta da cozinha, seu olhar analisou cuidadosamente e eu.
— Meus irmãos, você conhece a dor de cabeça que eu tenho de enfrentar toda vez que eu me meto em confusão. — Respondi calmamente Roman, como se não fosse grande coisa.
— E porquê se importaria com isso? — Roman ficou ainda mais confuso.
— Conte a ele o desastre que foi a noite de Natal. — Direcionei meu olhar a que engasgou com o ar de repente.
— O anúncio do casamento foi exatamente no feriado, ele armou uma mini confusão antes de eu o punir; você sabe que eu não consigo deixar passar uma ofensa a minha família Roman. — Coloquei as cápsulas de café preparando três xícaras.
— O que essa mente maldosa aprontou com você meu, caro ? — Roman se dirigiu a que parecia melhor do seu ataque repentino de tosse.
— Eu não quero falar sobre isso. — o respondeu firme cruzando seus braços sobre o abdômen.
— Você realmente gosta de atiçar minha curiosidade, . — Roman pegou as duas xícaras da minha mão antes de entregar a uma e dar a ele também alguns pacotinhos de açúcar.
— Eu te convidei para passar a noite de Natal em minha casa, você e Becky recusaram o convite. — O lembrei categoricamente, alcancei o açúcar antes de beber o líquido azeviche.
— Estava demorando para você citar o nome dela. — Roman bebeu seu café após resmungar com a irritação presente em seu tom de voz.
— Vocês dois juntos são insuportáveis, mas brigados conseguem me perturbar ainda mais. — O respondi olhando diretamente nos olhos dele. — Eu entendo o porquê você brigou com ela, mas assim como eu, você sabe que ela moveria o mundo por você Roman. — Tomei alguns goles do meu café quebrando o contato visual para dar algum espaço a Roman.
— Eu sei, que droga ! — Roman colocou a sua xícara sobre a bancada a sua frente antes de passar suas mãos nervosamente pelo seu cabelo. — Eu odeio que você nos conheça tão bem! — Havia uma pitada de humor e acidez em seu tom de voz ao me encarar.
— Fui eu que os apresentei, deveria ao menos me agradecer seu imbecil! — Estalei um tapa em sua cabeça vendo-o rir da minha atitude.
— Mas que droga, eu não consigo ficar irritado com ela…eu a amo demais. — Roman baixou seu olhar sorrindo tranquilamente, ele retirou seu aparelho celular antes de checar suas mensagens.
— Eu sei, é só por isso que eu não te dou uma surra. — Apoiei minha mão em seu ombro enquanto falava com ele. — Agora que eu fiz minha parte, você leva a madame para o colégio, eu já tenho problemas demais em minha vida, não estou interessada em acrescentar mais um a lista. — Pisquei para antes de olhar para Roman. — Nos vemos na casa da Becky e por favor, mantenham as roupas em seus próprios corpos. — Me afastei de Roman evitando assim que ele me batesse de volta.
— Você sabe que me ama, Love. — não perdeu a oportunidade em me provocar, principalmente porque Roman não fazia ideia do que estava rolando entre nós dois.
— Impossível, agora venha e pegue suas coisas para que eu me livre de você. — O respondi no mesmo tom vendo Roman rir com nossa troca de farpas.
— Quando ouço rumores de vocês dois juntos, logo me lembro da maneira como se tratam. A possibilidade de ficarem juntos é a mesma de que eu me apaixone por outra mulher que não seja Becky. — Roman riu nós seguindo até o meu carro.
Enquanto Roman ria, eu notei que a postura de havia enrijecido, seu semblante tranquilo fora substituído por algo amargo. Lhe dei um breve aceno para que normalizasse sua expressão, Roman não fazia ideia do que sentia, e eu não estava tentada a corrigir o meu amigo embora soubesse que ele estava errado. No entanto havia tantas questões que e eu tínhamos que esclarecer entre nós…somente ao pensar já me causava cansaço; eu não levaria o que havia iniciado entre nós de maneira leviana, mas até que tudo houvesse sido esclarecido levaria um tempo. Me sentei em frente ao volante colocando o cinto antes de fechar a porta, observei e Roman retornar para dentro da casa antes de dar partida; precisava ter a conversa com ele mais rápido possível!


Continua...



Nota da autora: Muito obrigada por todo o carinho e apoio, vocês são incríveis! Ainda há muito para ser descoberto e dito sobre os nossos protagonistas, e aí o que estão achando da história? Deixe nos comentários e faça uma autora feliz ✨🤭🥰
Nós vemos na próxima atualização 🥰🤍✨





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