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Fanfic finalizada.

Capítulo Único

História da Magia costumava ser uma das aulas que eu menos gostava. Provavelmente, isso não era uma grande novidade, já que minha opinião era compartilhada com pelo menos metade da nossa turma do quinto ano.
O problema, na verdade, não era nem a matéria em si, mas sim o professor, que aparentemente não fazia o menor esforço para mudar aquilo. A voz do senhor Binns era sempre monótona, embalando alguns para o mais perfeito dos cochilos e ele sequer os percebia. Dizem, inclusive, que ele morreu durante uma das aulas e nem se deu conta disso, continuou ministrando o conteúdo na forma de fantasma.
Não posso dizer que não havia tentado prestar a devida atenção, afinal, logo prestaríamos os N.O.M.s, mas era realmente difícil. Se durei cinco minutos, eu diria que até foi bastante tempo.
Minhas pálpebras pesaram e eu só não apaguei porque Lena me cutucou, convidando para uma partida de snap explosivo enquanto nos deliciávamos com alguns doces da Dedos-de-mel que ela havia trazido. Agradeci mentalmente por aquilo, já que se entreter com aquele jogo era o mesmo que garantir o passar mais rápido das horas.
Eu estava perdendo majestosamente quando o professor Binns anunciou o fim da aula e Lena estava tão empolgada com sua vitória que não escutou a voz do fantasma.
— Ei, aonde a senhorita pensa que vai? Ainda não acabei com você, ! — Estreitou os olhos para mim, chamando a atenção de alguns dos colegas que passavam por nós quase correndo.
Talvez pensassem que, se ficassem muito tempo por ali, corriam o risco de ganhar alguma aula extra.
— Para o salão comunal, Lena. Para onde mais eu iria? Estou faminta! — Ri do jeito dela.
Assimilando minhas palavras, ela olhou à nossa volta, se dando conta de que todos os outros alunos já haviam partido, exceto por Lily e Sally, que nos aguardavam na porta com a maior cara de interrogação.
— Oh! Por Merlim, eu nem vi essa aula terminar! — Lena exclamou surpresa e eu achei mais graça.
Abri minha boca para responder, mas então uma segunda voz me cortou.
— Não me digam que querem mais aulas do Binns, vocês duas! — Lily não se conteve, me fazendo rir um pouco com aquele absurdo.
— Ficou maluca, Evans? — soltei, de imediato, achando até um absurdo ela cogitar aquela ideia.
— Então querem fazer o favor de vir logo? Preciso passar no salão comunal antes de irmos para o jantar. Tenho quase certeza de que sujei minhas vestes — Sally fez uma careta e todas nós nos compadecemos dela no mesmo instante. Entendíamos perfeitamente ao que ela se referia. Toda vez que meus dias chegavam, eu passava metade do tempo em completa paranoia, achando que alguma coisa havia passado e sujado minhas roupas.
— Certo, passamos no salão comunal rapidamente e depois vamos comer. Falo sério, meu estômago está roncando! — reclamei, seguindo em direção às duas garotas assim que Lena terminou de juntar suas coisas.
Seguimos pelos corredores e eu senti de repente que recebia a atenção de todas elas, então parei de apreciar a vista à minha volta para lhes lançar um olhar curioso.
— O que foi? — questionei quando percebi que elas continuariam me encarando com aquelas caras sem pronunciar uma palavra sequer.
, um dia eu ainda quero descobrir se por um acaso você tem dois estômagos ou algo assim. É sério, você vive com fome! — Lily disse o que provavelmente era compartilhado pelas outras.
Gargalhei alto, não me importando em atrair alguns olhares por aí. Normalmente, nós já atraíamos mesmo. Nosso quarteto era bastante conhecido na escola. Só não era mais que os Marotos e se Lena ouvisse isso, provavelmente me daria um daqueles tapas ardidos. Ela odiava quando eu fazia qualquer comparação nossa a eles.
— Fala sério! Vocês não ficam com fome depois de uma aula como a do Binns? — indaguei, arqueando uma sobrancelha para elas assim que meu riso cessou.
— Não quando passo a aula toda em questão me empanturrando com doces da Dedos-de-mel — Lena retrucou enquanto as outras acenavam em concordância.
— Doce não é comida. — Dei de ombros, como se aquilo encerrasse a questão.
Aquela não era a primeira vez que elas implicavam com meu apetite e não seria a última com toda a certeza. E eu as amava porque sabia que faziam aquilo apenas para me atazanar.

Estávamos no salão comunal da Grifinória já fazia uns bons minutos. Sally provavelmente havia resolvido tomar banho ou algo do tipo e por mais que eu não a julgasse por isso, me sentia um tanto incomodada pela demora, então resolvi que o melhor a fazer seria me distrair observando alguns colegas que estavam por ali, já que Lena e Lily decidiram acompanhá-la até o dormitório.
Notei duas garotas cochichando entre si em um dos cantos da sala, mas não dei muita atenção àquilo, passando meu olhar por mais alguns alunos concentrados na resolução de tarefas ou apenas conversando.
Uma pequena balbúrdia anunciou a chegadas dos Marotos no ambiente e automaticamente eu olhei em suas direções, revirando meus olhos ao notar as expressões convencidas de Potter e Black. Tinha certeza de que minhas amigas teriam reações parecidas com a minha, principalmente Lily, que não suportava James.
Daqueles quatro garotos, o único aceitável era Remus Lupin e nós até tínhamos uma relação amigável quando os outros não estavam por perto. Minhas amigas não eram lá muito fãs da biblioteca, então eu e o garoto já passamos vários horários vagos juntos estudando.
Ou talvez um pouco mais do que isso. Para ser sincera, ele era um cara legal.
Gostava de Remus, ele era a voz da razão naquele grupinho e era bastante inteligente, então não era difícil que nós dois engatássemos alguma conversa.
Como se meus pensamentos o atraíssem, o garoto olhou em minha direção e um sorriso genuíno moldou seus lábios, o que me fez retribuí-lo imediatamente.
Nossa rápida interação, no entanto, não passou despercebida.
— Você e a , Aluado? — Sirius se fez ouvir, estreitando os olhos com malícia na direção de Lupin e seguindo para mim.
Eu não era de me constranger facilmente, mas o brilho no olhar de Black fez com que as maçãs de meu rosto esquentassem.
— Não diga besteira, Almofadinhas. Nós somos amigos e você sabe muito bem disso — Remus tentou nos defender.
— E por que você não chama a sua amiga para ficar aqui conosco? Ela me parece solitária demais lá — James sugeriu.
— É, Aluado. Vai deixar que ela fique ali sozinha mesmo? — Peter disse em concordância.
Lupin então me encarou como quem pedia desculpas e eu neguei com a cabeça, como quem diz que não era necessário.
Me levantei do sofá, onde eu estava sentada há tanto tempo que sentia minha bunda doer, e caminhei até uma das mesas do salão comunal, onde eles haviam se instalado.
— Agradeço a gentileza, rapazes. Mas eu só estou esperando por minhas amigas, que subiram até os dormitórios e até agora não voltaram. Vou até lá ver o motivo de estarem enrolando tanto — disse sentindo que, se qualquer uma delas me visse sendo tão educada justo com eles, eu seria seriamente punida.
— Se elas subiram faz tempo, com certeza já devem estar voltando. Vamos, sente-se aqui conosco. — Sirius tornou a insistir.
Olhei para Remus e ele automaticamente entendeu o que eu queria dizer. Não podia dizer se éramos melhores amigos, mas tínhamos uma certa conexão.
— Deixem ela em paz, todos vocês. É por isso que só conversamos quando vocês não estão por perto. — Tardiamente, ele percebeu o que havia acabado de dizer.
— Conversam, né? Sei — Potter soltou, desconfiado.
— De qualquer forma, a gente se fala depois, Remus — lhe lancei um sorriso de canto, vendo-o retribuir meio sem jeito e me afastei o mais rápido possível. Não aguentaria mais uma sessão deles insinuando que eu e Lupin tínhamos algo a mais.
Pude ouvi-los dizerem mais algo relacionado aos nossos “encontros”, mas desfoquei completamente disso quando as mesmas meninas, que antes eu havia visto cochichando entre si, se colocaram diante da escada onde eu teria acesso aos dormitórios.
— O quê? — soltei assustada, só percebendo segundos depois que aquilo com toda a certeza soou rude, mas antes mesmo que eu pudesse me retratar uma delas se pronunciou.
, o quão próxima você diria que é de Remus Lupin? — questionou e por alguns segundos eu me atentei às feições da garota. Seus olhos e cabelos escuros como a noite faziam um perfeito contraste com a pele branquinha. Busquei em minha memória qual era o nome da garota, já que elas não eram do mesmo ano que eu e, se eu não estava enganada, aquela era Clarisse Starling.
Passeei com meu olhar dela para sua amiga, de pele negra e cabelos com cachos tão perfeitos que, somados aos olhos cor de mel, me causavam uma certa inveja. Aquela era Annabel Sollace. As duas eram quartanistas.
? — Ouvi Clarisse tornar a me chamar e só então me dei conta de que havia passado tempo demais lhes encarando.
— Ah, desculpe. Remus Lupin — murmurei e aí meu olhar foi de encontro ao garoto, que ria de alguma coisa que Potter havia acabado de dizer.
O quão próxima eu era dele, afinal? Não éramos melhores amigos, mas sabíamos muitas coisas um sobre o outro. Eu sentia que conversar com Lupin era algo tão leve que eu nunca tinha receio de falar com ele sobre qualquer assunto que fosse.
— Ele é meu amigo — respondi, antes que elas acabassem se irritando com meus momentos de divagação. — Por quê? — Não consegui evitar a pergunta, porque eu era naturalmente curiosa.
— Só amigos? — Annabel se pronunciou, me encarando com atenção, como se tentasse ler minha alma.
Confesso que fiquei um tanto assustada.
— Isso. Só amigos. Não tanto quanto os outros Marotos, mas temos uma boa amizade — afirmei, reprimindo uma careta.
— Ótimo. Então você é a pessoa perfeita para me ajudar. — O sorriso de Clarisse se alargou em satisfação.
— Ela está caidinha pelo Lupin. E precisamos de sua ajuda para conquistá-lo — Annabel completou.
Encarei as duas sentindo meu estômago afundar por algum motivo, mas disfarcei da melhor forma que pude.
— Por que eu? — Quando dei por mim, as palavras haviam escapado de meus lábios. — Por que não pediram isso para algum dos Marotos? Tenho certeza de que eles o conhecem muito melhor do que eu — afirmei, porque aquilo realmente era verdade.
— E arriscar sermos zoadas pelo resto do ano? Você é maluca? — Annabel retrucou, erguendo uma sobrancelha como se fosse óbvio. — Esqueceu de quem estamos falando? São os Marotos! Eles nunca levam as coisas a sério.
— É, você tem razão. Só comentei porque eu não sou exatamente a melhor amiga do garoto, então talvez eu não seja de muita serventia com esse negócio de conquista — expliquei.
Eu sequer entendia como funcionava o lance de namoro. Nunca tinha sequer dado meu primeiro beijo, então aquilo soava muito louco para mim.
— Você sabe sobre algumas coisas que ele gosta. Isso já é um começo. — Clarisse parecia cada vez mais ansiosa para uma resposta positiva.
Olhei na direção de Remus mais uma vez e franzi o cenho, imaginando o que ele pensaria se soubesse daquela conversa. Provavelmente concordaria com o quão malucas aquelas duas soavam.
Ou talvez ele fosse gostar, afinal, uma garota estava pedindo ajuda para conquistá-lo e, bem, ele era um garoto no fim das contas.
Novamente, eu senti o peso no estômago e aquilo me deixou levemente irritada.
Senti Clarisse tocar em meus ombros e escutei um suspiro escapar de seus lábios quando ela olhou na mesma direção que eu.
— Por favor, . Eu juro que não vou magoar seu amigo e nem nada assim, se é o que está pensando. — Aquele comentário me fez encará-la e morder os lábios.
Que outra saída eu tinha?
— Tudo bem.
E depois de receber abraços e milhares de agradecimentos animados demais na minha opinião, finalmente aquelas duas me deixaram segui para o dormitório.

🧙‍♀‍


No dia seguinte, eu não conseguia tirar aquela conversa da cabeça e aquilo acabou transparecendo de alguma forma, por mais que eu tentasse parecer indiferente.
— Por que essa cara, ? — Ouvi a pergunta de Lena e ergui meus olhos para encará-la em confusão.
— Que cara, Lena?
— Essa de quem comeu pudim estragado. Anda, fala logo o que aconteceu — Sally se fez ouvir impaciente.
— Não aconteceu nada, suas malucas — desconversei, porque realmente não queria soltar aquilo em voz alta. Tinha impressão de que, se eu o fizesse, ouviria algo que não desejava ouvir.
— Para cima da gente com essa, ? Você ficou nos atormentando até virmos almoçar e agora mal tocou na comida! — Foi Lily quem se pronunciou dessa vez.
— Simples, vocês demoraram demais e me fizeram perder a fome — menti descaradamente.
— Lily ralhou, mas eu mal ouvi suas palavras seguintes porque meu olhar recaiu sobre Remus a alguns metros de nós.
Mais uma vez, ele estava entretido em alguma conversa com os amigos e sua expressão indicava que estava explicando alguma coisa. Aquilo era um tanto adorável e me fez lembrar das vezes em que discutíamos algumas coisas na biblioteca.
Então avistei Clarisse e Annabel não muito distante deles, cochichando entre si enquanto soltavam risadinhas e olhavam na direção de Lupin.
Não sei bem o porquê, mas me senti irritada com aquilo e um longo suspiro escapou dos meus lábios.
— Claramente, tem algo a ver com Remus Lupin. — Captei a voz de Sally dizer às outras e a olhei de imediato, negando com a cabeça por mais que todas as minhas ações anteriores me entregassem.
— Não tem nada. Eu estava com a cabeça longe — resmunguei e Sally soltou uma risadinha.
— Até acreditaria em você, doce , se você não estivesse olhando para Clarisse e Annabel como se pudesse azará-las apenas com os pensamentos — retrucou, me fazendo praguejar mentalmente.
Ter melhores amigas que me conheciam tão bem às vezes era um fardo pesado.
— Tá legal. Clarisse veio me pedir para ajudá-la a conquistar Remus — murmurei, me inclinando um pouco para que todas ouvissem, já que eu não podia dizer aquilo realmente em voz alta.
— Ela o quê? — Lena praticamente gritou e eu quis socá-la por isso, já que as atenções de várias pessoas se voltaram para nós, incluindo os olhares dos Marotos.
— Lena! — ralhei com ela, fazendo-a erguer as mãos em sinal de rendição.
— Tá, desculpa. — Então abaixou o tom de voz e também se inclinou porque estava do outro lado da mesa com Lily, enquanto Sally estava ao meu lado. — Ela o quê? — repetiu.
— Vocês me ouviram. Ela quer que eu a ajude a conquistar o Remus. — Dessa vez, não consegui conter a careta que se formou.
— E o que você disse? — Lily questionou, arqueando uma sobrancelha.
— O que mais eu diria? Nós somos amigos e Clarisse parece ser uma garota legal — menti na última parte. Algo dentro de mim estava me fazendo odiar Clarisse e seus cabelos perfeitamente lisos e negros.
— Clarisse Starling não é uma garota legal, . Ela está te pedindo para ajudá-la a conquistar o garoto que você gosta. Eu poderia lhe lançar uma azaração daqui mesmo, sabe? — Sally parecia indignada, mas as palavras dela tinham me feito congelar.
— Quem foi que disse que eu gosto dele? — E aquela havia sido a minha vez de soltar as palavras em um tom mais alto do que pretendia.
Senti que meu rosto pegava fogo quando Lupin olhou na minha direção, lhe lancei um sorriso sem graça e abaixei a cabeça, inconformada por ter passado aquele tipo de vergonha.
— Ninguém precisa dizer alguma coisa. Nós te conhecemos muito bem, garota — Lena disse e quando eu a olhei trazia um sorriso compreensivo nos lábios.
Como era possível que elas soubessem de algo sobre mim que nem eu mesma tinha conhecimento?
Eu gostava de Remus? Era por isso que sentia aquela sensação na boca do estômago toda as vezes que imaginava ele e Clarisse juntos?
A quem eu queria enganar? Claro que eu gostava dele. Todos haviam percebido, por isso Black me olhava daquela forma no salão comunal e por isso Clarisse questionara o quão próximos nós éramos.
Sally tinha razão. Starling não era uma garota legal. Ela era maldosa.
E isso me fez pensar se realmente as intenções dela com ele eram boas ou se a garota seria capaz de magoá-lo.
Mais uma vez, olhei na direção de Lupin e avaliei suas feições risonhas enquanto prestava atenção no que James e Sirius diziam.
Será que ele também havia percebido o que eu sentia em relação a ele?
Pior: e se ele soubesse, mas não sentisse o mesmo por mim?
Levei a unha do indicador até a boca e comecei a roer de nervoso.
— Talvez vocês tenham razão — confessei, sem olhar para minhas amigas. — Mas o que eu faço agora? Já aceitei ajudar Clarisse nessa porcaria de conquista. — De repente, eu sentia até vontade de chorar por aquilo.
— E daí que você aceitou? Por acaso elas te fizeram assinar um contrato ou alguma coisa do tipo? — Me permiti olhar para Lily e neguei com a cabeça. — Então ótimo. É bem nítido que o Aluado também gosta de você, amiga. Clarisse não tem a menor chance. — Piscou para mim, de um jeito todo dela e eu acabei sorrindo com isso.
— Você acha mesmo que ele também gosta de mim? — Me senti até meio boba naquele momento. Minutos atrás eu negava que sentia qualquer coisa por Remus Lupin e então sentia meu rosto se iluminar só com a ideia dele gostar de mim.
— É claro, meu bem. É só prestar atenção no jeito que ele olha pra você. Só não ganha do James, que é capaz de pendurar uma perna de trasgo no pescoço apenas para chamar a atenção de Lily — Sally retrucou, fazendo todas nós darmos risadas.
— Está aí algo que eu adoraria ver. Vou até anotar a ideia para passar para ele quando tiver a chance — Lily cochichou, nos arrancando mais risos.
— Mas, falando sério, você devia falar com ele, sabe? — Sally tornou a falar e de repente começou a dar pulinhos animados. — Já sei! Por que não o chama para sair? Vocês poderiam ir até Hogsmeade e...
— O que aconteceu com o ódio mortal pelos Marotos? — a cortei, surpresa por todas elas estarem apoiando tanto o fato de eu gostar de um deles.
— Continua intacto e se ele te magoar certamente será punido — Lena respondeu imediatamente.
— Mas nós queremos te ver feliz acima de qualquer coisa, — Lily completou, me fazendo sorrir emocionada.
— Já falei que amo vocês três? — acabei dizendo, desejando muito abraçar todas e nunca mais soltar.
— Já. — A voz de Lena ecoou e nós rimos mais um pouco.
Senti que era observada e não demorei a perceber que Annabel e Clarisse nos observavam. A primeira com uma expressão desconfiada, mas eu não tive certeza se era isso mesmo ou se era coisa da minha imaginação.
— Aquelas duas vão querer me matar — comentei exatamente o que eu estava pensando e Lena soltou um muxoxo.
— Elas que sonhem tocar em você. Eu estou mesmo precisando treinar meu feitiço do corpo preso. — Ela devolveu o olhar das garotas, que desviaram quase que de imediato.
Um dia eu ainda entenderia como Lena conseguia ser uma princesa ao mesmo tempo em que era realmente intimidadora.
— Então, . — Lily me olhava cheia de expectativa.
— Então o quê? — indaguei confusa.
— Está esperando o que para falar com ele? — Mais um pouco e ela me empurraria em cima do Lupin com toda certeza.
— Não vou falar com ele agora, no meio do salão principal. — Olhei para ela indignada e extremamente nervosa.
— Qual o problema nisso? Vocês se gostam e todo mundo sabe disso.
Sally abriu a boca, prestes a complementar a fala de Lily, mas foi interrompida com a presença das duas garotas que antes apenas me encaravam de longe.
. — Annabel me encarava com uma pose quase intimidadora. Do outro lado da mesa, Lena estreitou os olhos, prestes a agir caso fosse necessário.
— Ah, oi, meninas — cumprimentei com meu melhor sorriso.
— Já falou com ele hoje? — Clarisse questionou parecendo ansiosa.
— Ainda não. Tivemos algumas aulas juntos, mas...
— Sabe o que eu estava pensando? Você poderia comentar com ele algo sobre mim. Perguntar o que ele acha, coisinhas desse tipo — ela me cortou e eu senti uma vontade inexplicável de afogá-la na jarra de suco de abóbora.
Me vi uma tremenda idiota por deixar que aquelas duas me colocassem naquela situação. Eu nunca tinha agido de forma tão passiva e isso somado ao fato de que uma delas queria para si o garoto que eu gostava fez com que eu me sentisse bastante irritada.
— E por que você não vai lá e faz isso você mesma, Starling? Não sou mocinha de recados e você já está bem grandinha para agir por si mesma.
Alguns segundos de completo silêncio se passaram após a minha fala. Minhas amigas se entreolharam, trocando sorrisos cúmplices enquanto Clarisse e Annabel adquiriram expressões de raiva.
— Como é que é? — Starling soltou assim que se recuperou da reação de surpresa.
— É isso que você ouviu. Sei que concordei com essa coisa de te ajudar, mas, pensando melhor, você não precisa disso. Remus está bem ali. — Indiquei o garoto com um aceno de cabeça. — Se você quer conquistá-lo, você que lute.
Com certeza eu me sentiria maldosa demais quando parasse para refletir naquilo mais tarde, mas naquele momento eu me sentia maravilhosa, como se um peso acabasse de sair de meus ombros.
Notei as mãos de Clarisse se fecharem em punhos. A garota então bateu os pés no chão como uma criança birrenta e pude jurar que seus olhos se encheram de lágrimas.
— Sua... — grunhiu em vez de terminar sua frase e então irrompeu para fora do grande salão.
E aquilo foi tão rápido que eu precisei piscar meus olhos para acreditar que ela realmente havia saído correndo.
Annabel, no entanto, ainda permanecia ali, me encarando e definitivamente me lançando alguma maldição imperdoável em seus pensamentos.
— Isso não vai ficar assim, . Escreva minhas palavras. — Estreitou seus olhos em minha direção, dizendo aquilo em seu melhor tom de ameaça.
— Manda a ver, bonitinha — Lena soltou debochada e quando Sollace saiu atrás da amiga nós irrompemos em risadas.
— Queria uma forma de gravar isso, porque foi épico demais! — Lily comemorou, batendo palminhas.
— Tá achando que aqui é brincadeira? Ninguém mexe com o homem da . Deu até um pouquinho de pena da Clarisse chorona — Sally zombou, me fazendo olhá-la rapidamente com uma careta de repreensão.
— Sally! Não precisa anunciar para o salão inteiro! — Meu rosto tornou a esquentar absurdamente.
— Deixe que ele ouça, meu amor. A ousadia lhe cai tão bem. — Senti ela acariciar minha bochecha e pelo canto do olho eu notei algo que fez meu coração se agitar e quase sair pela boca.
Lupin olhava para nós contendo um sorriso, o que só poderia significar que alguma parte daquela conversa ele havia escutado.

🧙‍♀‍


Naquele dia, eu havia seguido para a biblioteca com uma animação ainda maior do que a de costume. Por mais que houvessem passado dois dias desde que Remus ouviu, quem sabe, parte da nossa conversa no salão principal e eu não tivesse trocado uma palavra sequer com o garoto desde então, alguma coisa me dizia que naquele lugar aquilo poderia mudar.
Talvez aquelas quarenta e oito horas fossem exatamente o que eu precisava para colocar meus pensamentos no lugar. Depois disso estava ainda mais claro para mim a forma como eu me sentia com relação a Lupin e eu não fazia ideia de como não havia percebido isso antes.
Remus era simplesmente o meu tipo perfeito. Nossa conexão era palpável e só de pensar em todas as horas e horas de conversas que já tivemos eu sentia meu estômago revirar e meu coração se aquecer. Eu precisava dizer a ele como me sentia.
Mais uma vez, uma onda bem pequenininha de receio me fez pensar na possibilidade de ele não se sentir da mesma forma. De me ver apenas como amiga.
Aquilo destruiria meu coração em mil pedacinhos e arruinaria nossa amizade.
Será que eu devia mesmo contar a verdade a ele?
Você tem certeza de que essa é a poção do amor mais potente de todas? Como vou saber se não está me vendendo suco de abóbora em vez disso?
Franzi o cenho quando reconheci aquela voz sussurrada em meio a uma das prateleiras.
É lógico que é. Não negocio artigos falsos, Starling. Agora me passe logo esses galeões antes que eu encontre compradores melhores — aquela decididamente era a voz de Garret, um sextanista conhecido exatamente por ser aquele a quem os alunos recorriam quando queriam comprar alguma coisa ilegal na escola.
O que eu não estava entendendo muito bem era o porquê de Clarisse querer comprar uma poção do amor dele e...
Não, ela não pretendia mesmo fazer aquilo.
Tá legal, mas fique você sabendo que só estou acreditando em você porque Annabel me garantiu que consegue coisas de qualidade. Se isso for fraude, eu acabo com você! — retrucou em tom de ameaça e tudo o que eu queria naquele momento era eu mesma acabar com a raça daquela garota.
Quem ela pensava que era para usar de um truque baixo como uma poção do amor?
E no meu Remus ainda?
Sem nem pensar direito nas consequências, eu saí da mesa onde estava para me esgueirar pelas prateleiras até encontrar a dita cuja.
Os peguei no exato momento em que Garret lhe entregava o frasco com a poção. Ele me encarou com uma sobrancelha arqueada, como se me desafiasse a lhe dizer qualquer coisa.
— O que você pensa que está fazendo, Starling? — O ignorei completamente e avancei na direção da garota.
As bochechas branquinhas dela imediatamente tomaram uma coloração vermelha, certamente com raiva por eu ter negado ajudá-la e ainda interromper sua negociação.
— Não é de sua conta, . Por que não dá o fora daqui? Já que não vai me ajudar, preciso dar meu jeito sozinha — retrucou com um certo tom de desdém que me fez desejar esganá-la ainda mais.
— Eu digo que não vou te ajudar e em vez de você tentar se aproximar de forma honesta, resolve usar um truque baixo como uma poção de amor no Lupin? Não percebe o quanto isso soa ridículo e desesperado? — cuspi as palavras.
— Como se uma aproximação honesta fosse mesmo a melhor opção. — Revirou os olhos e eu não consegui entender mesmo por que ela pensava daquela forma.
— E não é por quê?
— Não se faça de sonsa, . Até parece que você não sabe que o Lupin é caidinho por você.
Aquelas palavras me atingiram em cheio, fazendo com que eu sentisse uma vontade bem maluca de rir.
Lupin era caidinho por mim?
Eu sei, já haviam me dito aquilo antes, mas uma coisa é você ouvir isso de suas amigas e outra bem diferente era ouvir de alguém de fora.
— Foi por isso que você pediu minha ajuda — murmurei, mais para mim mesma do que para ela.
— É claro. Se você falasse de mim para ele, isso deixaria claro que você só quer mesmo a amizade dele, o que poderia fazê-lo desencanar e seguir em frente.
Eu tinha que admitir que aquilo fazia um pouco de sentido, mas ainda assim soava completamente absurdo aos meus ouvidos.
Não conseguia acreditar que quase entreguei de bandeja a pessoa que eu gostava.
— Aí como eu recusei te ajudar você pensa que a melhor maneira de o conquistar é trapaceando? Usando de meios mágicos?
— Coloco um pouco dessa belezinha aqui no suco matinal dele e o terei perdidamente apaixonado por mim. Me diga, por que eu não faria isso? — Abriu um sorriso de canto, como se aquele fosse um desafio.
— Você sabia que os efeitos das poções do amor são temporários? Por mais que elas se chamem assim, é impossível criar amor de verdade dessa maneira. Imagine como Remus reagiria se descobrisse que você deu essa poção para ele? Com certeza, a odiaria pelo resto da vida.
Percebi o sorriso de Clarisse mudar e uma expressão triste dominar suas feições.
— Eu... Eu não tinha pensado nisso — murmurou.
— Se você gosta dele, como parece que gosta, tenho certeza de que não quer que ele a odeie — afirmei, vendo a garota assentir em concordância. — Então por que não desiste dessa ideia, Clarisse? Não vale a pena prender ninguém a uma paixão contra o consentimento — continuei falando e estendi uma de minhas mãos para que ela me entregasse o frasco.
— Você tem razão, . No que eu estava pensando? Eu... Me desculpe. — Os lábios da garota tremeram, denunciando o choro. — É que eu tenho esse crush no Lupin já tem algum tempo e eu queria muito que me notasse, mas ele realmente só tem olhos para você e... Me desculpe mesmo. Eu fui ridícula.
— Não se preocupe com isso. Desde que não tenha mais ideias malucas como essa de sair dando poções às pessoas sem elas saberem, está tudo certo entre a gente. — Lhe lancei um sorriso amigável porque, no fim das contas, talvez ela só fosse imatura demais.
Retribuindo meu sorriso de forma fraca, Clarisse me entregou o frasquinho e eu me virei na direção de Garret. O garoto havia permanecido ali durante toda aquela conversa, o que seria bastante cômico se a situação não fosse séria.
— Parece que você vai ter mesmo que arrumar outro comprador. — Devolvi a poção a ele.
— Ótimo — respondeu com ironia. — Se me dão licença então.
Observei ele sumir na biblioteca e voltei a encarar Clarisse. Seu rosto já estava voltando à coloração normal e mesmo chateada ela parecia um tanto mais calma.
— Acho melhor eu voltar para o salão comunal. Annabel vai querer meu pescoço quando descobrir que amarelei. Não é exatamente fácil contatar o Garret. — Fez uma careta.
— Se ela for realmente sua amiga, vai entender — fui sincera e ela assentiu.
— Obrigada, .
Suspirei quando a garota se afastou de mim, então me apoiei em uma das prateleiras, fechando meus olhos e tentando acalmar as batidas de meu coração, que só aí percebi estarem aceleradas.
Então tive a sensação de que estava sendo observada e voltei a abri-los, dando de cara com Remus Lupin.
Se antes meu coração batia rápido, naquele momento eu sentia que poderia saltar do meu peito a qualquer momento.
Ele havia escutado alguma coisa? O quanto? Por que ele me encarava daquele jeito? Com o olhar brilhante, como se visse algo precioso e...
“É só prestar atenção no jeito que ele olha pra você”.
— Achei que te encontraria aqui na biblioteca, mesmo que o dia lá fora esteja realmente bonito — ele disse, quebrando o silêncio breve entre nós dois.
Assenti, momentaneamente tímida, colocando uma mecha de cabelo para trás da orelha ao me sentir nervosa de um jeito que não lembrava ter me sentido com ele antes.
— Eu precisava colocar minhas ideias em ordem e...
— Livros te ajudam a pensar, eu sei — completou minha fala, me fazendo sorrir.
— É — afirmei, o observando e notando que ele dava alguns passos em minha direção.
— Foi incrível o que você fez por mim ainda há pouco. Não consigo nem imaginar o que teria acontecido se Clarisse fosse em frente com essa história maluca de poção do amor.
Então ele realmente havia escutado tudo.
— Ah, de início, passaria um tempo com uma namorada bonita. Acho que essa parte não seria de todo ruim — brinquei com ele, vendo-o rir e então negar com a cabeça.
— Eu acho que nós dois sabemos que Clarisse Starling não é a namorada que eu gostaria de ter. — As palavras dele me fizeram engolir em seco e me perguntar por breves segundos se aquilo estava mesmo acontecendo.
— Não é? — murmurei, com a voz bem fraquinha ao sentir o corpo dele quase encostar no meu.
Eu não tinha para onde correr porque estava encostada na prateleira, mas vamos combinar que nem queria.
— Não — Lupin murmurou de volta, deixando um sorriso brincar em seus lábios perfeitos.
Me perdi por alguns segundos encarando sua boca, então subi meu olhar até seus olhos e percebi que ele acompanhava paciente cada um de meus movimentos.
— E quem é a namorada que você gostaria de ter, Remus? — perguntei apenas por perguntar. No fundo, eu queria ouvi-lo dizer as palavras.
— Você, . — Meus lábios se curvaram em um sorriso radiante por ele realmente tê-las dito e automaticamente Lupin me retribuiu.
— Você está mesmo me pedindo em namoro? Sem nem um beijinho antes? — brinquei, me sentindo tão feliz por aquele momento que não conseguia nem me conter.
— É que você é a garota que eu gosto. Não posso arriscar fazer tudo errado.
Achei aquilo tão fofo que a minha vontade era de mordê-lo.
— Então me beije de uma vez, Aluado. — Sorri enviesado ao mencionar seu apelido.
Lupin segurou meu rosto entre as mãos e sem mais delongas juntou seus lábios nos meus, dando início ao beijo que eu esperava euforicamente desde o momento em que havia me dado conta de meus sentimentos por ele.
Meu primeiro beijo.
Estava a ponto de explodir de felicidade e não ligava a mínima se nós dois poderíamos ir para a detenção se nos pegassem ali, nos beijando entre as prateleiras da biblioteca. Valeria muito a pena.
Ali, nos braços do garoto que eu gostava, entendi perfeitamente o quão verossímeis haviam sido minhas palavras a Clarisse Starling. Nenhuma poção do amor seria realmente capaz de criar todas aquelas sensações. E eu preferia mil vezes o amor verdadeiro a algo temporário e ilusório.


FIM



Nota da autora: Fazia um tempo que eu estava desejando escrever algo com o Lupin e achei nesse plot a oportunidade perfeita! Posso dizer que estou completamente apaixonada por ele e por esse casal. Espero que vocês gostem também.
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Beijos e até a próxima! <3
Ste.



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