Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

(you) you are my angel


Fechei meus olhos, sentindo o choque macio que tive ao cair com as costas contra o colchão. Definitivamente este era meu momento favorito do dia: deitar em minha cama, na qual eu fiz questão de gastar todo o dinheiro necessário para que tivesse um conforto a mais, afinal, depois de um longo dia de trabalho duro e cansativo, todo trabalhador ou ser mortal merece um bom e decente descanso em uma superfície confortável. Depois de uma lufada de ar, respirei o ar pela boca, sentindo o movimento do meu peito subir e descer. Poucos segundos seguintes e eu estava em perfeita sintonia com meu ambiente, partindo para o próximo passo do ritual.
Infelizmente, não tive uma boa experiência ao passar o braço para o lado direito da cama, notando o vazio que me lembrava mais uma vez da ausência dele. A respiração que estava ritmada, então, voltou a ser aleatória e pesada. O sentimento de saudade é realmente algo que pesa o corpo, a mente e, principalmente, o coração. E não existe uma regra religiosa de que ela é sobre quantia, não importa o quão distante em espaço e tempo você esteja, ela estará ali, sendo tão presente quanto o ar que respiramos. Maltratando, porque a saudade é algo sem filtro.
Entretanto, um drama à parte, abri meus olhos, soltando um longo suspiro e repensando o que havia definido ao sair de meu banho. Não queria ter que chamar ele ou fazer alguma manha sobre mais um dia que passava preso naquele cômodo, me obrigando a ir dormir sozinha.
Obviamente, estava no estúdio que tinha montado com todo seu empenho dentro de nosso apartamento, até porque era seu direito, assim como eu tinha meu escritório para trabalhos remotos, ele tinha o dele. O porém sempre cabia no limite excessivo do homem mais workaholic e ao mesmo tempo preguiçoso que eu conheci em toda a minha vida, já que não tem noção de tempo quando começa a trabalhar e muito menos dormir. E o conhecendo muito bem, soube que aquela sensação de saudade pesada que me abateu ao passar o braço pelo espaço vazio era nada mais que um sexto sentido sobre ele.
Poderia apostar com qualquer um que estaria debruçado em cima de sua mesa, com a testa encostada na madeira, totalmente frustrado com alguma falha ou falta de inspiração para ajustar algo que já estava perfeito. Havia dias que eu o ouvia reclamar sobre o trabalho sendo feito em cima de seu segundo álbum, a mixtape que ele tão grandiosamente preparava com carinho, então não seria incomum o ver neste estado. Mas eu não o queria em mais um sábado preso, travado e se martirizando por algo que logo passaria. Então me levantei da cama e, preguiçosa demais assim como ele, não me dei ao trabalho de colocar uma roupa ou pentear o cabelo que não lavei por não existir a necessidade disso, apenas caminhei usando a camiseta larga que peguei da parte dele do closet e a calcinha. Não tinha ninguém ali para que eu tivesse que usar algo a mais, éramos só nós e os outros dois preguiçosos: Holly e Legolas. Os dois cachorros eram como unha e carne e até na forma como dormiam demais combinavam entre si e comigo e , não negando os pais que tinham.
Não me esforcei para fazer o mínimo de silêncio possível, sabendo que nada tiraria os dois peludos de suas respectivas sonecas, apenas deixei um carinho neles quando passei pelo espaço na sala em que eles ficavam. Atravessei o ambiente e fui direto para o outro lado da cobertura, passando primeiro pelo meu escritório e depois parando na porta ao lado, sendo a Genius Lab caseira dele.
Essa, porém, não tinha senha na porta. Estávamos em nossa casa, qual era a necessidade disso?
Abri a porta devagar, apenas o espaço suficiente para checar o que ele estava fazendo e o sorriso em meus lábios não demorou a se formar, claramente afirmei que estava certa. Claro que, devido ao acerto do meu sexto sentido, senti meu corpo todo arrepiar. Poderia passar o tempo que fosse, eu nunca iria me acostumar a como eu e conseguíamos ser tão conectados, tão amantes um do outro e cúmplices, a ponto de sabermos como cada um estava no momento. Fosse um olhar, uma sílaba em tom diferente ou o simples pensamento vagando um pro outro.
Até, pouco menos de cinco meses antes, ele me dizer todo sem jeito e cheio de timidez que queria uma gaveta no meu enorme closet, ainda era cética sobre a famosa colocação da existência de almas gêmeas. Mas depois de todos os anos sendo ele o motivo da minha comoção e tendo o privilégio de sentir o mesmo por parte dele, aceitar que ele se mudasse para a minha casa, compartilhasse comigo da sua vida e me obrigasse a diminuir pelo menos metade do meu espaço do closet, foi a escolha mais certeira já tomada por mim.
era muito mais que uma alma gêmea para mim. Nós éramos muito mais do que qualquer termo pudesse colocar.
Fechei a porta novamente, com cuidado para não fazer barulho, não queria que ele notasse que eu estava o bisbilhotando, para ele era muito importante a privacidade e mesmo que nosso relacionamento já fosse real há muito tempo, eu ainda respeitava esse espaço dele. Afinal, assumir uma relação com alguém não te dá autonomia para tirar a liberdade de ir e vir dele ou dela, continuamos sendo seres individuais com vidas individuais. A diferença é ter alguém para compartilhar sua individualidade.
Respirei fundo uma última vez e olhei o caminho feito até ali, notando a sala sendo iluminada pela lua que estava enorme e mais brilhante que nunca. Sorri mais abertamente quando vi a cabeça de Holly erguida direto de sua caminha e fiz o caminho de volta, desta vez indo até a cozinha.
Meus dotes culinários não são tão incríveis como os de . Quando não temos quem faça nossa alimentação é ele quem o faz, tendo tempo para isso, claro — até porque sua agenda lotada e vida pública sendo um idol é bem movimentada, o que rende uma falta de tempo excessiva. Porém, mesmo que eu não saiba cozinhar bem e dentro do necessário, esquentar comida pronta ainda é algo que eu consigo. Então peguei o almoço que ele mesmo havia comprado mais cedo e esquentei, fiz meu melhor para não ficar algo ruim e separei tudo como ele gostava, salada e proteína, também separando um doce para depois. Juntei tudo na bandeja e, acompanhada de Holly, voltei para a porta da Genius Lab.
— Você pode me dizer quanto tempo seu pai ficou aqui hoje?
Falei para o cachorro, notando sua atenção ao meu movimento, enquanto colocava a bandeja em cima do aparador que ficava na parede oposta às duas portas — o que era extremamente adorável; quando se mudou para a cobertura e decidiu montar o estúdio em casa, pediu que fosse feito ao lado do meu escritório, então tínhamos porta ao lado de porta e as cores das paredes em divisão, sendo a parte dela branca e a minha de azul hortênsia bem escuro. Apesar do que falavam e julgavam, sempre fora um companheiro como todo outro que se preze. Sabia ser romântico, também com seus dias cafonas e bregas, a diferença sendo mesmo a personalidade formada e não influenciável. O que, diga-se de passagem, é uma das coisas mais sexy que já vi em uma pessoa.
— Com certeza você não vai dedurar ele, não é? — continuei falando com Holly, enquanto prendia meu cabelo em um coque, apertando-o nos próprios fios. — Vocês são cúmplices demais, às vezes é bom a mamãe saber também, viu?
Ri fraco com a resposta de Holly, me ouvindo falar ele apenas movia a cabeça de um lado para o outro. Logo, tão rápido como a luz, Legolas também apareceu. Ele, porém, era mais agitado e um pouco menos educado — infelizmente na educação do meu filho mais velho eu fui um tanto menos dura.
— Legolas, é do papai, para! — reclamei com ele indo cheirar a bandeja e a peguei, assim que terminei o que estava fazendo. O cachorro apenas se sentou ao lado do aparador, com a língua de fora e atento ao máximo.
Novamente ri fraco, o que dizem sobre labradores serem bobões é extremamente correto. Não havia nenhum momento em que Legolas falhasse em trazer alegria para minha vida e a casa; quando conheci , em meados de 2016, ele já estava chegando à fase adulta e era exatamente do mesmo jeito que atualmente, mesmo sendo mais velho agora. O que tornava tudo mais adorável era a convivência com Holly, os dois haviam se adotado e tornaram-se grandes amigos, irmãos no caso.
Para alegria minha e de , claro. Antes de Holly aparecer em nossas vidas, era somente Legolas com seus dois anos, pulando por aí e sendo o motivo de maior atenção nossa, e mesmo que eu e ele não tenhamos entrado em um relacionamento ainda naquela época, ele já era o favorito de Legolas — não só dele, claro. Então não demorou muito e adotou Holly, que havia sido abandonado, surpreendendo a todos porque sempre dizia que não era muito bom com cachorros. Sua justificativa foi como eu e Legolas havíamos mostrado a ele o verdadeiro modo parceiro que o animal e o humano têm.
— Você também vai encobrir o papai, Legolas? — Tive seu bocejo como resposta e ele saiu do lugar. Me movi para a porta, com a bandeja nos braços, tentando abri-la com uma certa dificuldade e quando consegui, os dois passaram correndo, abrindo a porta por inteiro. — Viemos alimentar o papai! — disse animada, me dando por vencida. — Na verdade, eu vim, esses dois são dois intrometidos.
se assustou, mas sorriu abertamente, com o sorriso gengival mais adorável e acalorado que tinha. Tirou o fone de ouvido e colocou na mesa, afastando sua cadeira de rodinhas para receber Holly em seu colo, sendo, claro, disputado por Legolas também, que se apoiou no braço direito da cadeira para subir e lamber sua bochecha.
— Ei! — reclamou, rindo. — Aish, Leg!
— Ei, seu folgado. Isso aí só eu posso fazer! — ralhei, terminando de entrar e colocando a bandeja em cima da mesa do lado oposto da que usava como principal. — Os dois estavam dormindo até agora e não fizeram nada para salvar o pai de vocês e agora, de repente, estão interessados? — Me virei, colocando as mãos na cintura.
Em sincronia, Holly e Legolas me encararam. O primeiro se aninhando no colo de e deitando a cabeça no apoio lateral da cadeira que não era mais ocupada pelas patas de Legolas, pois ele veio em minha direção, ficando em pé na minha frente e com as patas em meu peito.
— Não quero papo.
— Sua mãe é ciumenta demais, Legolas, você sabe. — riu e eu o acompanhei, já que o cachorro estava me olhando mesmo como uma cara de quem tinha caído da mudança.
Depois desse momento de atenção aos dois, decidi que queria ter meu momento e espaço com . Fiz um carinho no topo da cabeça de Legolas e deixei um beijo em seguida, o fazendo descer.
— Vamos, Holly, depois a gente brinca. — Não precisei incentivar o outro, pois o tirou de seu colo e depois de fazer o mesmo que eu quanto a carinho, fez sua parte em pedir que saísse.
E como dois bons entendedores, saíram, com esticando o pé e empurrando a porta para a fechar. Ela bateu, mas não tão forte.
— Meu ego acabou de inflar um pouco. — Ouvi a voz rouca dele e senti meus braços arrepiarem. Olhei para seu rosto, sorrindo automaticamente por seu sorriso que ainda se mantinha o mesmo.
— Cuidado para não explodir — o respondi por reflexo, brincando, mas evitei a careta, deixando o tom provocativo e de humor para outra hora. Naquele momento, estava com um plano mais delicado.
Ele não respondeu, se ajeitou mais folgadamente na cadeira e umedeceu os lábios, ainda me encarando. Ah, eu conheço bem essa sequência!
— Você só vai comer alimento por hora, ! — disse firme.
— O quê? — Ele me encarou confuso.
— Não se faça de sonso! Eu te conheço muito bem, começa com o corpo relaxado na cadeira e termina comigo em cima dessa mesa e depois uma sequência estranha na tela do computador porque minha bunda esbarrou — fiz aspas — no teclado.
A gargalhada dele demorou próximo de dez segundos depois de ficar me encarando. Eu ergui apenas uma sobrancelha e cruzei meus braços, sentindo a necessidade de me controlar. O ambiente de estúdio de , sendo a Genius Lab no prédio da empresa ou em casa, tinha algo totalmente surreal que me fazia assumir um fogo absoluto para o ter no meio das minhas pernas, sendo com a boca ou outra coisa.
Era só ele. Não importando como, desde que fosse ele.
— O que foi? — perguntei, quando ficamos em silêncio novamente, com ele me olhando fixamente. Os olhos de já eram naturalmente pequenos, mas quando ele lançava olhares incisivos, precisos, ficavam menores e extremamente sexy.
Sim, a palavra para definir ele todo, com certeza, seria essa.
— O que foi o quê?
— Não seja sonso, estou falando de você… me olhando desse jeito. — Mantive minhas duas sobrancelhas erguidas para ele.
— Ah… — Sua língua foi parar no céu da boca quando a abriu pela sílaba em reticências. Tremi na base, claro. Porém, mantendo o foco. — É que eu estava aqui pensando e pensando, remoendo, sem sair de um lugar. Aí você apareceu e parece que eu tenho a luz que preciso novamente.
— Hum… — Dessa vez a reticência foi minha. — Então quer dizer que você vai escrever uma música de amor para sua mixtape? — Sorri ladina.
— Sobre amor a gente coloca em outro tipo de tape, meu bem. — Novamente, ele umedeceu os lábios, dessa vez devagar.
Ri fraco, um tanto anasalado, movendo a cabeça de um lado para outro.
— Já disse, meu amor, a única coisa que você vai comer agora é comida.
Soltei os braços nas laterais do corpo e me virei, pegando o bowl de salada e esticando para ele. ria fraco quando pegou da minha mão e saiu da cadeira, a empurrando para o lado, sentando-se no chão. Relaxei meus ombros e fiz o mesmo, levando a bandeja junto e colocando-a no meio de nós.
— Então me conte mais sobre seus problemas — o incentivei, jogando um pouco meu corpo para trás, apoiada em meus braços estendidos e firmes no chão. — O que tem tirado seu foco? Se não for meu nome, não diga — brinquei, o vendo pegar o hashi e sorrir de lado.
— Você não me tira o foco, pelo contrário.
— O que tá pegando então, ? — insisti, observando cada movimento que ele fazia, não sairia satisfeita dali se não o visse comer.
Mas ele não precisou me responder e eu muito menos precisei cutucar mais para ter sua resposta, quando ele se movimentou para pular o molho da salada na bandeja, fez uma careta, muito provavelmente por alguma coisa que sentiu nos ombros.
Bingo, as dores estavam piorando e com certeza ele não conseguia focar em outra coisa que não fosse aquilo, afetando seu trabalho e sua produção.
— Há quanto tempo você vem tendo as dores fortes novamente? — Meu tom de voz era sério, claro.
— Não está doendo — respondeu, sem me olhar.
… Você foi ao médico na semana passada?
Evitei usar o tom mais sério que isso para não ficar o clima ruim e estranho de toda vez que ele é pressionado a dizer algo; como todo ser individual, também possui suas características e uma das suas é não ser uma pessoa tão aberta ao desabafo, não importando com quem seja. Mal consegue entrar em concordância com ele mesmo, quem dirá com os outros. E como eu trabalho diariamente, às vezes também até demais por conta de estar no primeiro ano como CEO da empresa que herdei, não consigo acompanhar 100% do que ele precisa fazer para estar a par de sua rotina fora de casa.
E isso acontecendo, eu não teria como saber as consultas que ele perdia por algum tipo de imprevisto ou por simplesmente trocar data para fazer outra coisa.
— Você sabe que é irresponsável de sua parte ficar deixando isso para depois!
… Por favor… — ele pediu, ainda concentrado em comer.
— Não, , eu é quem peço por favor — suspirei. — Você já adiou demais essa cirurgia por conta da agenda, já fez muito para não se ausentar dos palcos. Isso está começando a ser cobrado agora, amor, e pode ficar pior. — Endireitei meu corpo, deixando as mãos caírem no vão entre as minhas pernas dobradas.
Ele suspirou, deixando o bowl de lado para me encarar. Seu olhar caiu e parecia que eu havia tirado dele sua película, deixando-o exposto daquela forma, tocando em uma ferida.
— Eu estou...
— Não termine! Você não está bem — o cortei, mantendo o tom baixo e sem me exaltar. Não era a minha intenção causar uma discussão negativa. — Já são dias que você tem estado frustrado porque travou na produção da mixtape. São dias que não dormimos juntos porque infelizmente eu estou cansada demais para esperar a hora que você vai sair daqui ou chegar da BigHit.
— Você sabe que não é fácil para mim. Serão necessários dias de repouso, os incontáveis dias de recuperação e fisioterapia… E as coisas estão sendo feitas com total acompanhamento médico, . Não é como se eu estivesse sendo negligenciado.
— Ah, mesmo? Continuando todo o esforço que você faz, para não ser um desfalque, enquanto as dores aumentam? Você ao menos foi na consulta da semana passada? — Ele não me respondeu e eu respirei fundo, tirando a bandeja do nosso meio para me aproximar mais.
— Eu prometo que, assim que destravar e voltar a estar com o prazo em dia da mixtape, ligo diretamente para o doutor Jeong e agendo a consulta — me disse, olhando nos olhos, como se estivesse na verdade fazendo uma súplica.
, eu não quero promessas para mim. É pra você. Isso é sua saúde, meu bem… — Movi a cabeça para o lado, me sentando entre suas pernas abertas e esticadas. — Eu sei que é um assunto delicado, mas olha… — Umedeci os lábios, levando uma mão para seu queixo. — Infelizmente as coisas irão demorar a voltar ao normal e com a agenda de shows cancelada, você pode dar esse passo agora. Sua ausência não vai ser tão dolorida para os fãs, eles irão entender.

— É o momento de se cuidar, entende? Você mesmo me disse isso quase três meses atrás, quando eu estava enlouquecendo por assumir a Eulora logo agora, com esse turbilhão de coisa ruim acontecendo no mundo — continuei a dizer, levando minha mão para a lateral de seu rosto, usando o polegar para acariciar sua bochecha. — Não vai ser egoísmo tirar esse tempo para se cuidar.
Eu sabia que o maior medo dele era a ausência que a cirurgia o causaria. Mas não tinha mais como ele continuar a conviver com as dores no ombro que estava pedindo por socorro, só para que seu público não sentisse toda a falta que seria sentida. Infelizmente, ao meu ver, o momento certo parecia ser justamente esse, em 2020, com o mundo parado por conta de uma pandemia. O discurso sobre se cuidar nesse momento que acometeu o planeta de forma tão trágica e repentina também se encaixava para aqueles que tinham pendências consigo, não só sobre a prevenção da doença tão atual.
Minha tarefa árdua de convencer a se cuidar deveria ser retomada com mais afinco, nem que eu tivesse de me ausentar por um tempo da empresa. Há coisas que o trabalho e dinheiro não são capazes de substituir — não que o contrário tenha uma lista tão extensa.
— Fala alguma coisa. — Fiz uma caretinha com o silêncio dele.
— Não tenho o que falar, você está certa. — Ele levou a mão para cima da minha, levando-a até seus lábios e beijando castamente a palma. — E eu prometo trabalhar isso aqui dentro, ok? — Apenas assenti para sua sinceridade.
— Tudo bem… Eu quero essa mixtape logo para me vangloriar do puta produtor e compositor que é meu rapper favorito, não só de toda a Coreia do Sul, mas do mundo todo. — Claro que eu ia babar em cima do meu namorado, claro.
E a feição tímida dele, tão natural, pagava tudo. Não importa quanto tempo passe, quantas coisas obscenas façamos e nem tudo o que a gente divida, nunca vai deixar seu lado vergonhoso para trás. E isso, de fato, é extremamente adorável.
— Meu ego realmente vai dormir inflado hoje.
— Dormir? Quem falou sobre dormir? — Lancei uma piscadela e ele riu fraco.
— Mas eu não ia comer só comida hoje, senhorita Cafrey?
Se tem uma coisa a qual me faz fraca, dentre tantas feitas por , quando ele passa a língua pelos lábios entre uma fala ou palavras, é o gerador de uma fácil comoção em mim. Não consigo passar por isso sem sentir o formigamento gostoso entre as pernas e ficar imaginando coisas libertinas como uma boba.
O tempo poderia passar como fosse, eu nunca cansaria de dizer que ser explicitamente fodida por este homem de todos os modos possíveis era a minha maior comoção. Não existe forma tão carnal e ao mesmo tempo sentimental para expressar como eu sou completa e me sinto mulher, menina, eu mesma, com ele. E não seria nunca nenhum outro.
— O que foi?
Ergui meu olhar, que estava em seus lábios, após ouvir a voz rouca me chamando.
— O que foi quê? — repeti o que ele havia feito pouco antes.
riu, malicioso.
— Vem cá. — Estendeu os braços, levando as mãos para a minha cintura e me puxando mais para si, fazendo com que nossos quadris se encontrassem. — Eu não sei se em algum mundo paralelo isso existe e se existir, não quero conhecer, mas não há nada nessa vida comparado a todas as vezes que você me tira disso aqui — apontou para sua cabeça, que eu logo entendi ser a forma de mencionar o psicológico — e me traz para cá. — Levou o dedo para a altura do coração.
… — disse manhosa, sentindo meus olhos arderem.
— Dentre todos os acertos da minha vida, você é, sem sombra de dúvidas, o maior — finalizou, me cortando, trazendo seu rosto para a frente, colando a testa na minha.
— E eu nunca vou me arrepender dos olhares feios que recebi só por aceitar sua carona no primeiro dia que nos vimos — trouxe a memória, mordendo o lábio inferior.
riu com o sorriso gengival aberto e negou com a cabeça, levando sua mão para a minha nuca, sendo firme ao me trazer para seus lábios.
Existe uma coisa chamada dualidade e ela, quando bem explorada, pode ser causadora de uma satisfação inenarrável.
Desde o primeiro olhar que bati em , quando ainda éramos dois recém adultos — eu com meus dezoito anos e ele com seus vinte e dois anos —, eu soube que era ele. Passei, sim, por um bom caminho longo até aceitar que o sentimento em mim não era somente sobre o sexo estupidamente gostoso que fazíamos, nem a forma como ele conseguia ser realmente cafajeste e ainda assim me tratar com respeito e cordialidade.
Era sobre como eu me sentia em todas as vezes que reclamava comigo porque eu não o deixava dormir em casa e ele tinha que ir embora da cobertura na madrugada, sendo frio ou calor; a vez que ele me deu a senha da sua Genius Lab, tão protegida e querida, sendo isso uma prova de como confiava em mim. Também era sobre como passamos pelos momentos difíceis mesmo não sendo um casal propriamente formalizado, sempre um apoiando o outro e mesmo nas desavenças não esquecendo da nossa própria essência.
Se fazia também pela insistência por saber que não nos encontraríamos em outras pessoas, mesmo tentando. E o tentar não aconteceu porque decidimos que estávamos sendo insuficientes, foi coisa da vida, ela às vezes nos separa de quem amamos e tem que ser, para que possamos tomar um ar de sobriedade e voltar melhores uns para os outros. Ter tido esse privilégio, mesmo que quando tenha acontecido eu não tenha entendido muito bem, foi como uma escola de compreensão. Mesmo que tenha doído a distância, se a separação não tivesse acontecido em 2018, talvez eu e não teríamos tido a maturidade suficiente para nos manter.
Sem a compreensão dos sentimentos que temos, nunca passaria do homem com quem a minha foda fixa era feita e eu nunca passaria da mulher que ele poderia confiar para transar e ter um momento ou outro de carinho, sem que divulgasse ao mundo e prejudicasse sua carreira. Se tudo não tivesse acontecido como teve que acontecer, meu escritório em casa não teria diminuído para dividir espaço com a extensão da Genius Lab e eu não resgataria durante seus acessos como este.
Eu não estaria beijando meu namorado, meu companheiro, amigo e cúmplice, da forma como estava. Além do extenso fôlego que ele possui naturalmente — vide sua posição na música de rapper —, nossos beijos eram sempre em tom sobre tom; se era passional, por baixo tinha o toque carnal; se era carnal, por baixo tinha o toque passional. E qualquer um deles possuía o encaixe perfeito.
Perfeitamente poético.
— Foi a carona mais bem oferecida que eu fiz. — Ao ser necessário o intervalo no beijo, ele se afastou lentamente, puxando meu lábio consigo. A voz rouca sendo rouca por estar baixa, me causando um arrepio comum, junto ao frescor de seu hálito.
Ri fraco, voltando a beijá-lo. O ambiente, como sempre, trazendo para o momento o tom sexual, claro. Não importava o que eu fosse fazer ali, sempre acabávamos daquela forma, tomados por aquele fogo.
Mesmo lento e tranquilo, com a movimentação conjunta em tom de necessidade, o ritmo do beijo recebeu a intensidade perfeita para se aflorar. As mãos dele foram diretamente para dentro da camiseta, subindo pela minha pele carinhosamente, alcançando meus seios. E eu fui cuidadosa com o toque em seus ombros.
Os beijos começaram a ser feitos em meu pescoço e mandíbula, e eu tive o reflexo de descer as mãos para a cueca que ele usava, um modelo solto, mais parecido com um short. Puxei o cós para baixo, sentindo-o erguer o quadril para que a peça fosse retirada. Assim que o fiz, joguei meu corpo para frente, encaixando-me em seu colo de vez, com a ajuda de suas mãos em minha cintura. fechou um tanto das pernas para que eu ficasse na posição e encaixe perfeitos.
Novamente, ele tomou meus lábios, mas o beijo não durou muito, porque eu segurei em seu queixo enquanto movia meu quadril lentamente contra o seu, sentindo a fricção causar sua excitação conforme era feita. O que, não só pra mim, era muito prazeroso.
Ouvir ele arfar, respirando pesado, outra coisa que compõe o tão sexy . E isso sempre servindo como um plus de incentivo. Eu me senti incentivada a continuar enquanto o encarava, ainda segurando em seu queixo e sendo apertada por suas mãos em minha cintura. E isso, a forma como ele devolveu meu olhar, sem o menor desinteresse sobre o que eu estava fazendo, era o recado de que estava gostando e que na situação dividida, nenhum dos dois tinha o controle — uma coisa que eu amava quando ele tomava e, a depender do meu humor, eu também gostava de ter.
O olhar que estávamos trocando conversava muito e estava dizendo: baby, hoje vamos fazer amor enquanto o mundo está em completo caos lá fora, hoje seremos egoístas.
E espero que eu possa ser perdoada por querer viver um pouco de egoísmo.
— Eu. Amo. Você — sussurrou pausadamente, me pressionando mais contra si e quem arfou foi eu.
Desisti de continuar o segurando pelo queixo e o beijei novamente, totalmente influenciada e tomada por suas palavras. Transpassando mais do que eu tinha naquele momento de tesão, como se o amor fosse esse dual.
Enquanto o beijava, minha mão direita desceu pela lateral do corpo dele e eu ergui um pouco do meu quadril, amparada pelos pés, não o queria se esforçando e também não iria parar aquilo. O guiei para minha entrada e desci lentamente.
Mais uma vez, outra chance de me sentir, de me fazer e compartilhar tudo isso com ele. Mais uma noite em que a lua não veria um amor tão sublime porque estava lá fora, mas que ela saberia porque depois eu olharia para o céu e agradeceria ao universo, fosse lá o responsável por ter colocado meu caminho no de e o de no meu.
Porque mais uma vez eu estava nos braços daquele que sempre deixava sem explicações coerentes.
Enquanto cavalgava em seu colo, inspirando o ar e controlando o oxigênio necessário, voltei a olhar em seus olhos, sendo correspondida. Segurando em seu rosto, com as mãos entre sua mandíbula e pescoço, fazendo com que meus polegares erguidos apertassem suas bochechas, ele ergueu um pouco mais o rosto por eu estar um tanto mais alta, e disse:
— Mesmo quando você queima, continua sendo o meu anjo, Lee-Cafrey.
Não pude evitar a gargalhada e em questão de segundos selei nossos lábios novamente, porque a saudade bateu.


FIM



Nota da autora: Olá! Para quem já conhece esse casal, eu pergunto: sentiram saudade?
E para quem é novo e não sabe do babado antigo, eu iria ali em (You) Your sex is on fire só pra dar uma olhadinha rápida.

Primeiramente, muito obrigada por ler! Segundo e importante tanto quanto, não esquece o comentário? Ele é, de fato, importante. Assim eu sei se continuo ou não nessa louca vida de escrever fanfics.

Aqui embaixo tem os links onde tu poderás me encontrar se quiser bater papo ou acompanhar. Tem o instagram e o grupinho para as leitoras da May!



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