Finalizada em: 07/12/2020

Capítulo Único

Abri meus olhos sentindo minha cabeça doer e tudo girava com força. A iluminação estava uma bela bosta, o rádio ligado me permitia ver pouca coisa, mas não era muito útil também. Eu estava sozinho ali dentro, o que não era muito bom.
Meus lábios estavam levemente molhados, e isso me levar meus dedos até eles, os olhando em seguida. Sangue. Certamente desceu do meu nariz com a batida do carro. Ah, droga. Precisava sair dali. O vidro ao meu lado estava aberto, então me arrastei para fora por ali mesmo sentindo a terra deslizar pela minha roupa e braços conforme me puxava para fora.
Rolei para cima encarando o céu quando finalmente saí de dentro do carro que estava capotado no acostamento daquela estrada que mal parecia ser usada, porque não tinha nenhum sinal de veículos transitando. Estava quase amanhecendo, era aquele momento em que a noite estava mais escura, por volta das quatro. As estrelas brilhavam com força, o que indicava que estava longe da cidade. Ótimo, isso só melhorava as coisas. As pessoas sempre falavam que meu sarcasmo era um problema sério, e eu até me importaria com isso se não usasse ele para irritar os outros. Talvez seja por causa dele que eu estava ali naquele momento, mas bem provavelmente que sim. Eu não tinha muitos fãs. De qualquer forma isso não era relevante agora, porque precisava mesmo era arranjar um jeito de soltar meus pulsos que estavam unidos por um lacre.
Me virei e fui até o caco de vidro mais próximo que achei, já que o vidro da frente tinha estourado quando o corpo do motorista atravessou por ele na batida. Não sabia como não tinha me arrebentado mais, certamente alguém gostava muito de mim lá em cima. Apaguei o pedaço de vidro me sentando naquela terra laranja — pelo menos parecia que era essa a cor dela — e virando aquele objeto cortante em meus dedos com cuidado para não me cortar, o segurando com firmeza e o usando para cortar o lacre de plástico. Meus olhos sempre se intercalavam entre o que eu estava fazendo e o corpo do cara mais na frente. Esperava que não se levantasse e me desse um tiro no meio da cara, porque não seria nada legal. Levei algum tempo até conseguir me soltar, mas quando finalmente vi que dava para arrebentar o lacre apenas puxado meus pulsos um para cada lado, o fiz, arrebentando ele com facilidade.
Tirei a mordaça da minha boca, a desamarrando o nó atrás da minha cabeça, e isso me deu um certo alívio. Olhei para os lados procurando aquela desgraçada que estava com a gente, mas não vi nem sinal dela. Isso era realmente perfeito. Agora tinha um louca armada andando pelo mato pronta para atirar a qualquer movimentação — minha, claro. — rezando para acertar de primeira. De qualquer maneira não iria ficar ali esperando a minha morte.
Saí andando cambaleando por ainda estar tonto para o outro lado da estrada indo pelo campo aberto mesmo. Sabia que seria um alvo fácil assim, mas eu estava sem celular para iluminar o caminho com o flash, e eles só tinham aquele celular descartável que mal dava para mandar um SMS pelas teclas serem tão pequenas, pelo menos foi o que vi quando estávamos no carro. Seria ótimo se eu fosse mais observador assim, isso me evitaria problemas.
Fiz uma careta com a minha cabeça latejando, mas isso não me fez parar. Caminhei por algum tempo, o céu já estava claro e agora eu começava a dar pequenas corridas para ver se chegava mais rápido em qualquer lugar que tivesse algum tipo de civilização. O vento soprava forte, e isso me daria frio se meu corpo já não estivesse tão quente. Mas tive que parar quando avistei aquele par de olhos claros saindo de trás de uma moita grande com seu cabelo sendo soprado para o lado enquanto sua arma prateada estava apontada em minha direção. Sua jaqueta jeans — que na verdade era minha — estava suja de sangue, certamente era por conta do acidente. Prendi meus lábios em uma linha reta e comecei a dar uns passos para trás.
— As coisas não precisam terminar assim. — falei fazendo uns gestos com as mãos para que abaixasse a arma.
— Você escolheu assim, . — seus olhos tinha prazer em dizer aquilo, e eu até poderia dizer que aquele seria meu fim, porque sabia que não iria desistir de atirar. — Quais são suas últimas palavras? — perguntou de forma debochada.
Antes que eu falasse qualquer coisa, o som do tiro ecoou pelo vale inteiro. Bem, você deve estar se perguntando como cheguei até aqui, e o que fiz para esse momento se tornar real, — o da minha morte, sabe — mas posso explicar, eu acho. Nunca tive muita noção de tempo depois de um certo ponto da minha vida, porém acho que tudo aconteceu alguns meses atrás.
***

Meus olhos se abriram rapidamente enquanto eu tentava puxar o ar de forma desesperada, era como se estivesse sufocando simplesmente com nada. Minha mão foi até meu peito que queimava, agarrando a camisa, forçando meus dedos no tecido, o prendendo com força e puxando na esperança que aquilo parasse.
Em minha mente vinha um filme de algo que eu não vivi, não que me lembrasse pelo menos. Era uma garota, e ela gritava enquanto estava deitada em uma cama. A iluminação era fraca. Seu corpo suava. Ela não parecia estar machucada apesar de estar se debatendo querendo ser solta sendo que não tinha nada a prendendo. Tinha pessoas em volta, todos as olhavam e não faziam nada. Pareciam que esperavam por algo. Havia um padre no meio delas, e ele tinha uma bíblia na mão, mas tinha algo de diferente nela, a capa tinha outra inscrição a qual não consegui ver. Eu precisava de mais. Era como se meus olhos fossem os dela. Avistei duas meninas no canto, elas se abraçavam enquanto choravam.
Soltei um rosnado de raiva com aquilo. Era sempre a mesma coisa que me assombrava, e eu nunca conseguia descobrir quem era a pessoa, de onde ela, qualquer coisa. Até que ouvi um sussurro; . Peguei meu celular na mesma hora e o escrevi para não esquecer. Os olhos dela viraram. Um jornal no chão amassado, as letras pretas e grandes diziam The Times-Picayune. Anotei aquilo também. Tentei ver a data, mas estava longe demais para isso.
A garota gritou alto se agarrando no colchão macio enquanto a dor a fazia chorar com seus olhos se revirando. Ela segurou o próprio rosto e enfiou seus dedos em sua boca, a puxando para baixo como se tentasse arrancar seu maxilar fora, então as pessoas que estavam perto seguraram seus braços tentando pará-la. O padre apenas se ajoelhou na frente da cama, abriu o livro e começou a ler algo em latim o qual não consegui entender. Um corvo em cima da viga do telhado a encarava com seus olhos negros atentos como se esperasse por sua morte. Até que seu corpo foi para frente, com ela soltando o ar como se o tivesse prendido por uma vida toda, seu cabelo caído em seu rosto com todos seus membros tremendo.
Meu peito queimou ainda mais. Eu sabia o que era isso, sempre acontecia. Tinham enfiado a triquetra nela, e o seu corpo estava reagindo, expulsando ou tentando se adaptar. Geralmente dava certo, eles tinham conseguido a linhagem certa depois em alguns anos, mas no final o poder consumia totalmente o hospedeiro e o destruía. Eles achavam que tinha que ser assim, que esse era o propósito da pessoa, o destino dela, mas não era. Nunca foi. O artefato nem ao menos deveria existir. Precisava parar com isso, com essa matança o qual estavam fazendo, precisava tirar a triquetra deles para que isso tivesse um fim. Já estava anos caçando por eles, mas era quase impossível rastrear por sempre estarem em um lugar escondido e que nunca tinha rastro nenhum de onde era. Só que agora tinha sido diferente. Tinha o nome de um jornal e o rosto de cinco pessoas, incluindo um padre.
Assim que meu peito parou de arder e o filme sumiu da minha mente. Joguei no Google o nome do jornal, e era um que saía diariamente em Nova Orleans. Ótimo, era para lá que eu iria. Sabia que não seria fácil devido ao número de igrejas que tinha lá, mas isso era o mais perto que já tinha chegado. Levantei da cama e fui arrumar minhas coisas.
***

Empurrei a portinhola dupla para entrar no bar. Eu gostava de como aquela cidade era. As coisas pareciam ter parado no tempo, e você voltava direto para 1920 onde o jazz e o blues reinava por ali. Não era meu gênero de música favorito atualmente, mas um dia já tinha sido. Então achava agradável o som, e até me dava vontade de dançar um pouco, só que eu não estava ali para isso.
Me sentei ao balcão e um homem veio me atender. Pedi apenas um velho e bom bourbon, e seu olhar foi ótimo em mim. Eu até gostava de como as pessoas me olhavam, era divertido ver o ponto de interrogação estampado no meio de suas testas. Pensei até que me pediria a identidade, mas parecia que estava mais interessado no dinheiro que coloquei sobre o balcão para pagar a bebida logo em seguida. Ele colocou o copo na minha frente e quando foi colocar o gelo, apenas levantei a mão indicando que não queria. Então apenas virou o líquido âmbar até a medida certa de uma dose e saiu sem perguntar mais nada.
Fiquei ali por algumas horas bebendo e olhando as pessoas que circulavam o lugar, em sua maioria turistas. Eu estava esperando alguém o qual ainda não sabia quem era, e pelo visto não entraria ali aquela noite. Tanto que quando já estava tarde, decidi que era hora de ir. Mas quando levantei senti como se algo estivesse me puxando para baixo, e não era a quantidade de bebida que tomei. Uni as sobrancelhas de leve e encostei a mão no balcão. Olhei para baixo e não tinha nada ali. Então coloquei as mãos no bolso da minha jaqueta jeans, sentindo algo que não estava ali dentro antes. Segurei aquilo e puxei para fora, vendo que era um saquinho de bruxa. É sério?
Ótimo, já sabiam que eu estava ali e queriam que eu ficasse dentro daquele bar por algum motivo. Pior era que eu não tinha nem ao menos visto ninguém se sentando ao meu lado ou perto o suficiente para ter colocado aquilo em meu bolso. Certamente alguém que veio algo para beber e não achei que era alguém relevante. Precisava parar de subestimar as pessoas.
Acenei para o barman e ele veio até onde eu estava me olhando com seus olhos extremamente verdes.
— Você poderia me fazer um favor? — pedi e ele já me olhou com uma leve desconfiança. — Relaxa, não vou pedir seu número. — e com isso consegui tirar um sorriso dele. — Mas bem que podia. — ri fraco com a brincadeira.
— Desculpa, eu só dou meu número quando a gorjeta é boa. — disse sorrindo para mim me tirando uma pequena risada.
— Não seja por isso. — coloquei uma nota de cinquenta sobre o balcão e ele ergueu uma sobrancelha. — Mas não é isso que eu quero. — puxei a nota para trás o olhando com atenção. — Você acredita em bruxaria? — a pergunta o fez rir.
— Estamos em Nova Orlenas. — ele riu fraco como se fosse óbvio que todos ali acreditassem naquilo. — Precisa de uma bruxa? — aquilo estava quase parecendo que eu estava perguntando onde eu poderia comprar drogas.
— A melhor que tem por aqui. — disse olhando bem dentro dos seus olhos. — Você tem alguma que poderia vir aqui agora? — ele pegou meu dinheiro sobre o balcão e saiu andando.
Sorri e me sentei no banco novamente o vendo sair pela porta dos fundos com o celular na mão. Fiquei passando meu indicador na borda do copo esperando o barman voltar, e ele não demorou muito. Veio e parou na minha frente me servindo mais um pouco de bourbon. Sorri de lado para ele.
— Espera naquela mesa ali. — apontou para uma mesa redonda no canto.
Acenei com a cabeça e me levantei sentindo como se pesasse horrores. Que inferno. Eu poderia simplesmente destruir aquela bolsinha de bruxa, mas iria precisar dela para me levar até onde eu queria. Porque quem colocou aquilo ali provavelmente sabia quem eu era, e sendo assim deveria fazer parte daquela seita maluca. Peguei o copo e caminhei lentamente até a mesa, me jogando no banco almofadado.
Olhei para o balcão e o barman me olhava de longe enquanto secava uns copos. Seu olhar em mim agora tinha mudado, tinha uma curiosidade que parecia fazer o seu tom verde brilhar. Então apenas sustentei seu olhar para que visse o que quisesse, ele não conseguiria descobrir nada mesmo. Ninguém nunca conseguia descobrir. Então tentei me lembrar da última pessoa que soube algo real sobre mim, e isso me levou para um tempo distante o qual estava quase se apagando da minha mente já. Pensei em reviver aquilo, mas era melhor ficar intocado.
Não demorou muito e uma senhora negra com seus cabelos perfeitamente cacheados e brancos apareceu no bar. Ela olhou para o barman que indicou com a cabeça em minha direção. Na mão dela tinha uma bengala com a cabeça de prata, eu consegui ver de longe que a ponta dela era a cabeça de uma pessoa com uma máscara do tempo da peste. Aquela bizarra que parecia um corvo. Aquilo sempre me deu um certo arrepio.
A senhora veio andando em minha direção puxando da sua perna e se apoiando em sua bengala, me levantei para lhe ajudar a se sentar mesmo sentindo aquele peso absurdo me puxando para baixo. Ela deu um tapa no ar descartando minha ajuda, e se apoiou na mesa, se sentando lentamente. Então fiz o mesmo olhando para seus enormes olhos castanhos que eram tão escuros que pareciam a noite.
me disse que você precisa de ajuda. — uni as sobrancelhas com aquilo, e olhei para o barman, o qual certamente se chamava .
— Ele está certo. — disse voltando a olhar para ela. — Eu preciso saber de onde isso veio. — coloquei a bolsa de bruxa em cima da mesa.
— Você mesmo pode fazer isso. Não precisa da minha ajuda. — rebateu me olhando com atenção como se estivesse vendo a minha alma, e não duvidava muito disso.
— Não posso fazer isso aqui, e isso está me prendendo nesse bar. — informei e ela olhou para a bolsinha sobre a mesa. — Achei que a senhora pudesse me falar se isso foi um dos residentes que fez. — pedi vendo a senhora pegando a bolsinha e desfazendo o nó dela com facilidade, colocando as coisas que tinha dentro para fora então cheirando.
— Não. Isso é magia negra. — limpou a mão em sua roupa. Aquilo me fez pensar. — Não fazemos isso aqui. É proibido pelo coven. Alguém de fora não quer que você saia daqui, rapaz. — ela tentou segurar minha mão, mas a puxei a tempo para não me tocar. — Você quer minha ajuda, mas se esconde. O que quer, afinal?
Sabia que ela não fazia parte da seita pelo simples fato de ser contra a natureza dela o que eles faziam. Eu conhecia bem o tipo de bruxa como ela, eram regradas, e nunca saíam da linha. Acreditavam que quanto mais seguiam as regras, mas poder ganhavam, e não estavam totalmente erradas. Quando você está do lado da natureza, ela sempre fica ao seu favor. O que não era nada o meu caso. Eu estava fora da linha tinha muito tempo. Pensei rapidamente em contar o que queria. Era arriscado, sabia disso. Isso poderia até mesmo causar sua morte, e irritar outros bruxos não era alguma coisa legal de se fazer.
— Se não vai me contar, estou indo embora. Já está tarde e meu chá vai esfriar. — apoiou suas mãos na mesa para se levantar.
— Você conhece alguém que se chama ? — aquilo a fez parar no mesmo instante e voltar a se sentar. Sorri sutilmente por ter conseguido prender a sua atenção. — Você sabe onde ela está?
desapareceu tem mais de dez anos. — uni as sobrancelhas com aquela informação. — Você a conhece? — parecia ter esperança em seu olhar. — É minha neta. — aquilo me fez travar o maxilar no mesmo instante.
— Não a conheço, mas ela esteve aqui. Parece que iniciaram ela à força…
— Malditos filhos da puta. — resmungou batendo na mesa. — Os Sic Vivere a pegaram. Eu sabia que tinham sido deles. Ninguém acreditou quando disse que ela estava em risco. — pisquei meus olhos sabendo do que estava falando. — Como que você sabe que iniciaram ela? — retraí meus lábios com sua pergunta. — Você precisa confiar em mim, rapaz.
— Não me leva a mal, não é nada pessoal, mas eu não confio em ninguém. — contei vendo os olhos dela rolarem sem paciência. — O que você sabe do Sic Vivere?
— São um bando de fanáticos da igreja achando que sabem com o que estão mexendo… Eles estão atrás de você. — concluiu rapidamente, mas eu não concordava com aquilo. — Você é um deles!
— Não. Eles nem sabem da minha existência. Não tem como estar atrás de mim. — avisei logo, e ela só estendeu a mão em minha direção. — Eu não posso fazer isso, desculpa.
— O que tanto tem medo que eu descubra? — retrai meus lábios com aquela pergunta. — Se não quer que eu acredite que você é um deles, então me mostre.
Que inferno. Eu precisava começar a confiar nas pessoas para conseguir as coisas que preciso. E se a garota era mesmo sua neta, ela poderia me ajudar a encontrá-la mesmo que não fizesse ideia onde garota estava. Mas aquela senhora conhecia a cidade toda, e deveria ter muita influência ali, e comigo nós poderíamos ter chance de achar a e tentar acabar com aquela seita de surtados.
Então respirei fundo e deixei minha mão tocar a dela, que a segurou com força me fazendo olhar até feio para ela, mas parecia que não tinha se importado com isso. Senti minha mente sendo invadida, e aquilo era muito ruim. Os olhos da senhora ficaram brancos. Então fiz o mesmo, invadi sua mente, porque eu precisava saber se podia confiar nela. Afinal, era uma via de mão dupla ali. Vi grande parte da sua vida antes de me soltar me encarando um pouco assustada.
— Você… — balbuciou puxando a mão que agora tremia de leve. — Como pode ainda estar vivo?
— Todo ser humano vive o que tem para viver. Ainda não chegou minha hora de partir. — contei vendo sua cabeça balançando e negando quanto aquilo.
— Magia negra. — ponderei com a cabeça. — Isso que você tem…
— Não é magia negra ou eu não estaria aqui. Você sabe como funciona, já viu muitas vezes o que faz com as pessoas. Ela consome tudo até não restar nada. — a senhora, que descobri se chamar Delilah, me olhava assustada ainda. — Eu não sei como achar a , mas a gente pode tentar juntos. Ela ainda tem tempo antes que a triquetra a mate.
— Você não quer ajudar minha neta, você quer pegar eles. — respirei fundo quando disse aquilo.
— Quero os dois. Ok. Isso precisa acabar. Você quer a mesma coisa que eu. — ela apenas se levantou não querendo mais me ouvir. — Eu sou a única chance de achar a sua neta, você sabe disso.
— Eu não me misturo com gente que nem você. — rebateu me olhando com nojo e eu só me joguei para trás no banco. — Vai embora daqui. Você não é bem-vindo. — então saiu andando me deixando ali sozinho.
Passei a mão em meu cabelo o empurrando para trás. Eu precisava achar ele e a única coisa que eu tinha era . Sabia que fazer um feitiço de localização com sangue não daria certo, a magia da triquetra bloqueia isso. Mas eu tinha visto um lugar e pessoas. Eles ainda poderiam estar daqui. Se achasse o lugar, lá poderia ter algo para usar para fazer alguma coisa. Soltei o ar e vi se aproximando, e sentando-se na mesa. Uni as sobrancelhas com aquilo. Ele podia sentar ali em seu horário de trabalho?
— Conseguiu o que queria? — ele quis saber enquanto seus olhos verdes me olhavam atentos.
— Sim e não. — suspirei me sentindo cansado. — Ela não está disposta a me ajudar. — olhou para a mesa onde tinha o que antes era uma bolsinha de bruxa.
— Isso estava contigo? — concordei com a cabeça. — Era seu? — indiquei que não. — Hum. Uma mulher parou do seu lado não muito tempo depois que você chegou, e te olhou por alguns segundos antes que pedisse por uma cerveja. — uni as sobrancelhas com aquilo. — Você estava distraído olhando para o outro lado. E eu a vi mexendo em algo, pensei que era no bolso para pegar o dinheiro, mas não voltou com nada na mão. — explicou e eu tentei me lembrar que momento foi esse que não me dei conta dessa mulher. — Ela pegou a cerveja, pagou e foi embora, mas te olhou de novo pelo vidro depois que saiu.
— Como ela era? — perguntei rapidamente.
— Bonita. Olhos claros, mas com um olhar de psicopata sabe. Tinha o cabelo claro também com uns ondulados, e franja. Uma pele clara. Nariz fino e levemente arrebitado. Unhas grandes e pintadas de azul. Eu vi bem a cor quando me entregou o dinheiro. — aquela descrição fez um estalo vir em minha cabeça. Peguei meu celular rapidamente e procurei uma foto, o mostrando. — É ela. — disse me encarando um pouco surpreso. — A conhece?
— Queria não conhecer. — comentei soltando o celular sobre a mesa. — Rachel. Minha ex-namorada. — riu fraco por conta daquilo. — Ri mesmo. Você acertou o lance de ser psicopata. — gesticulei em sua direção.
— O que ela fez? — quis saber já se acomodando melhor no banco almofadado.
— Além de me usar? Ela estava comigo por interesse. — dei de ombros, aquilo não me afetava mais. — Eu era louco demais nela para perceber que estava sendo enganado, até pegar ela revirando minhas coisas e perceber que tinha algo errado. — contei brevemente. — Ela disse que estava procurando um anel que tinha deixado no meu loft, mentiu como sempre fazia sobre tudo. — fiz uma careta. Eu fui muito idiota em acreditar nela mesmo. — Até que acordei com ela do meu lado segurando uma faca, e tentou enfiar ela me meu peito. — sorri sem mostrar os dentes. — Chamei a polícia, e levaram-na. Não tinha nada que provasse que tentou realmente me matar, então a soltaram.
— E o que ela queria de você? — sua pergunta me fez virar o rosto e olhar para o lado de fora. — Você é um deles, não é? Bruxo. — ri fraco com sua conclusão. — Eu vi seus olhos quando Delilah estava segurando sua mão. — levantei uma sobrancelha apenas. — Relaxa, eu observo demais.
— De qualquer forma, Rachel conseguiu me achar e parece que ela descobriu o jeito de usar magia negra ou está metida com gente que usa. — meu indicador deu um peteleco no tecido do saquinho de bruxa. — Agora faz sentido o que Delilah falou. Ela tem razão, Rachel não é daqui.
— Você precisava dela para saber que o dono do saquinho morava na cidade. — concluiu e sorri de lado. Ele era esperto e pegava as coisas fácil. — O que isso estava fazendo? — apontou para as coisas na mesa.
— Me prendia ao bar. Provavelmente ela deve estar vasculhando minhas coisas nesse momento no quarto que estou hospedado. — disse pensando na bagunça que teria que arrumar depois. — Seu horário já acabou?
— Sim. Já estou de saída. Quer uma carona? — ofereceu dando um sorriso.
— Não me deu seu telefone, mas ofereceu uma carona. Gostei. — sorri de volta e levantei da mesa pegando as coisas que estavam ali em cima e enfiando no bolso da minha jaqueta. — Aceito a carona.
***

Não demorou muito para receber uma mensagem de avisando que Delilah queria se encontrar comigo e enviou um endereço logo depois. Peguei minha moto e dirigi até lá, parando na frente do cemitério da cidade. Ótimo lugar para se encontrar, não é mesmo? Achei até mesmo charmoso. Será que ela me ofereceria chá? A ideia me fez rir fraco.
Estacionei a moto e desci dela carregando meu capacete enquanto passava meus dedos pelo meu cabelo o jogando para trás. Já entrando no cemitério e olhando para os lados para ver se aquilo não era qualquer tipo de emboscada quando a própria bruxa tinha dito que eu não era bem-vindo. Parei quando uma garotinha apareceu na minha frente, parecia que não passava dos dez anos, apesar de seus olhos castanhos claros serem adoráveis, ela não parecia nada adorável já que tinha uma cara emburrada. Vestia calças jeans preta e coturnos que provavelmente pegou do armário da sua irmã mais velha. Seu cabelo tinha um rabo de cavalo alto e ela vestia uma camisa do Led Zeppelin. Tombei a cabeça de leve para o lado esperando que ela fosse chutar minha canela e sair correndo. Mas ela ergueu a mão e depois a fechou me fazendo sentir uma enorme dor de cabeça. Aquilo me fez travar os dentes e ir perdendo as forças. Ah, está de sacanagem! Eu não iria machucar uma garotinha, mas ela estava pedindo! Fechei os olhos com força e respirei fundo.
— Nicole, pare com isso. — ouvi a voz de Delilah e a dor parou. — Ele vai nos ajudar a achar a .
— Não vai, não. — e a dor voltou com mais força.
— Você está começando a me irritar! — soltei entre dentes e me abaixei batendo com a palma da minha mão no chão fazendo ele rachar em direção a garotinha, e isso fez ela parar. Ergui a cabeça vendo seu olhar assustado agora, então sorri. Sabia que isso iria funcionar. — Ótimo. Já podemos ser amigos agora? — perguntei me levantando e caminhando até elas.
— O... O… O que você é? — Nicole gaguejou dando uns passos para trás me encarando com seus olhos arregalados.
— Bruxa. — falei usando uma entonação mais forte em minha voz fazendo a garotinha pular.
— Não assuste a criança, . — Delilah pediu com sua voz tranquila.
— Ela quem começou. — dei de ombros não me importando com aquilo.
— Não importe. Não quero que use seu poder perto dela. — pediu a senhora e saiu andando.
Ignorei aquilo e a segui com Nicole logo atrás me olhando de forma desconfiada. Ah, qual foi? Ela tinha me atacado primeiro e eu quem era a ameaça? Por favor, né? Eu era inofensivo ali. Elas estavam em solo sagrado com a força dos seus ancestrais juntos, eu não era ninguém ali.
Parei quando vi outras pessoas sentadas pelos túmulos. Não eram poucas. Isso começou a me fazer repensar se deveria estar mesmo ali. Eles poderiam me prender dentro de um caixão enfeitiçado com facilidade e eu ficaria ali para sempre. Respirei fundo e Nicole me olhou com um sorrisinho como quem dizia que eu estava ferrado. Fiz uma careta para ela e voltei a andar se queria mesmo pegar os Sic Vivere e acabar com aquele ciclo infernal deles. Paramos quando Delilah fez o mesmo e me olhou assentindo com a cabeça. Umedeci meus lábios e me aproximei dela, passando e ficando no meio daquela gente toda que me olhava como se eu fosse o próprio mal encarnado.
— Sei que não sou bem0vindo, mas acho que posso ajudar a achar . — falei sem delongas e começou um murmurinho entre eles. — Eu tive uma visão com ela há algumas noites. — então expliquei o que vi e o tumulto logo começou.
— Como podemos acreditar que você está falando a verdade? — um homem perguntou se aproximando agora. — Como você teria tido a visão com minha filha se não conseguimos nem ao menos fazer nenhum tipo de feitiço de localização? — sua pergunta me fez prender os lábios em uma linha reta.
— Por causa disso. — abri alguns botões da minha camisa colorida e a puxei para o lado revelando a minha tatuagem enorme de triquetra no peito.
Houve o maior silêncio naquele instante. Os olhos do sujeito foram se arregalando aos poucos até sua mão levantar e tocar nas linhas em minha pele certamente sentindo como elas eram ressaltadas como se eu tivesse sido marcado com um atiçador. Até que recuou me encarando perplexo demais para falar qualquer coisa. Fechei minha camisa e passei a mão em meu cabelo, soltando o ar como se estivesse cansado.
— Existem três dessas. Vocês sabem que ela sempre significa três seja o que for. Acharam mesmo que só teria uma dessa por aí? — perguntei olhando para eles e me encostei em um túmulo. — A igreja acobertou isso e vocês nunca nem desconfiaram.
— Como você conseguiu isso? — foi o que o homem perguntou se afastando um pouco.
— Um presente que foi me dado quando começou a caça às bruxas. — contei dando um sorriso mínimo sem mostrar os dentes vendo a cara de espanto do sujeito agora. — Minha mãe fez três dessas, colocando uma em si mesma, outra em meu pai e a última em mim para que nos protegesse. — soltei um suspiro. — Mas a igreja os pegou, e eu consegui fugir. Tentaram matá-los de todas as formas possíveis, mas eles sempre voltavam a vida deixando ainda mais claro que eram realmente bruxos. — umedeci meus lábios bem para o cara a minha frente. — Decidiram, então, enterrar meu pai vivo em uma vala qualquer, porque eles não sabiam o que fazer mais. E eu ainda o sinto morrendo as vezes com falta de ar com aquele cheiro insuportável de terra toma meu nariz. Nunca consegui encontrá-lo. Não existe nenhum registro. Os malditos queimaram tudo. — soltei aquilo com certa raiva. — Já a minha mãe eles perceberam que toda a vez que ela estava prestes a voltar a vida, a triquetra por debaixo da sua pele brilhava, então a abriram e tiraram a peça dela. E isso levou a sua morte. Eu senti, e vi exatamente do mesmo jeito como aconteceu com . As triquetra são ligadas. Sempre que o hospedeiro a recebe, eu sinto como se tivesse acontecendo comigo, posso ver exatamente o momento que ocorre o rito, e quando morre também. A peça não me permite morrer porque foi criada com meu sangue, assim como dos meus pais, e quando colocada em outro corpo, a magia dela consome a pessoa, porque não foi feito o ritual de forma correta. Então, ela vai matar , pois eles não tem ideia do que estão fazendo, estão apenas usando o poder que ela proporciona achando que é assim que funciona. — expliquei para ver se assim conseguiam entender como eu tinha conseguido ter uma visão com e que ela morreria logo se não conseguíssemos achá-la. — Já tentei de tudo para me conectar aos hospedeiros, mas não consigo. Procurei por todos os livros que já consegui ter, e nada. — avisei para saberem que não adiantava usar a triquetra para achar a garota.
— Acho que tem um jeito. — Delilah falou se aproximando com um pequeno sorriso no rosto. — Você disse que quando a pessoa morre consegue sentir. Então se você morrer, a vai ver, não é? — uni as sobrancelhas com aquilo, mas concordei com a cabeça. E em seguida senti algo cortar minha garganta me fazendo ir com as mãos tentando conter o sangramento. A velha segurou meu rosto me fazendo encará-la toda suja com meu sangue. — , estamos aqui. Nos fale onde você está. Nos mande qualquer pista. Se você se matar, a triquetra irá te trazer de volta. O pode ver o que acontece no momento em que você estiver morrendo. — eu já não conseguia respirar e meus olhos encaravam aquela mulher querendo mandar que fosse se foder.
Caí de joelho já sem forças e sentindo minha visão embaçada, até que tudo se apagou enquanto meu corpo ia se encontro ao chão. Não sei quanto tempo que levou até que eu abrisse meus olhos e puxasse o ar com força colocando a mão em meu pescoço e tossindo ainda sentindo minha garganta doendo. Maldita desgraçada! Podia ter me avisado primeiro. Ergui a cabeça quando vi os sapatos sujos de Delilah aparecerem na minha frente e a olhei bem puto por ter me matado. Ela estendeu uma xícara em minha direção, a qual peguei e cheirei, sentindo o cheiro de camomila. Estreitei o olhar e me sentei, encostando minhas costas no túmulo, dando um pequeno gole sentindo que estava quente demais.
— Da próxima vez que me matar, avisa. — falei com meu humor péssimo por causa do que fez.
— Precisava saber se estava falando a verdade. — ela se sentou em uma cadeira que tinha ali entre dois túmulos e sua roupa ainda estava suja, podia pelo menos ter trocado.
— Você sabe que eu estava falando a verdade. — rebati nervoso olhando para os lados vendo que apenas Nicole estava ali nos olhando. — O que foi? Nunca viu ninguém voltando dos mortos? — perguntei e ela me deu língua, e fiz o mesmo.
— Eu só vi um pedaço da sua última vida. Você viveu muitas. — torci os lábios com aquilo. — Quantos anos você tem?
— É irrelevante a minha idade. — levantei meus ombros e assoprei o chá, dando um gole. — Espero que ninguém do seu coven saia fofocando por aí. A última vez que alguém ficou sabendo um pedaço da minha história, tive que matar um vilarejo inteiro. — contei olhando bem dentro dos olhos da mulher para saber que eu não estava mentindo e que eu poderia muito bem fazer a mesma coisa com eles.
— Não se preocupe. Seu segredo não irá sair daqui. — sua voz tinha extrema confiança. — O que acontece no coven, fica no coven. — apenas balancei minha cabeça passando a mão em minha garganta que ainda estava levemente dolorida. — Me desculpe por isso.
— Tanto faz. — respondi bebendo mais um pouco do chá. — O barman. O que ele é?
é apenas um morador da cidade que sabe demais. Não tem que se preocupar com ele. — predi meus lábios com aquilo esperando realmente que pudesse confiar em suas palavras. — Vamos. Precisamos de um banho.
***

Esfregava a toalha em meu cabelo enquanto saía do banheiro pensativo sobre o que tinha acontecido mais cedo. Como que em tantos anos nunca tinha pensando naquilo? Mas também era arriscado fazer isso e atrair o Sic Vivere direto para mim, eles saberia a existência de mais uma triquetra. Esperava que não tivesse sofrido uma lavagem cerebral e não nos entregasse, ou aquilo tudo iria por água abaixo. Eu seria caçado, sabia exatamente como aquilo iria terminar, e sinceramente não estava com a menor vontade de morrer ainda, queria viver no mínimo uns mil anos para frente.
— Ela já falou contigo? — Nicole perguntou sentada na escada me olhando como se fosse me matar a qualquer segundo só pelo prazer mesmo.
— Não. — respondi rapidamente vendo a garotinha me olhar de cara feia. — Você é irmã dela? — seu rabo de cavalo balançou de um lado para o outro enquanto concordava com a cabeça. — Essa camisa era dela? — perguntei achando engraçada porque um dos símbolos era exatamente uma triquetra.
— Não. — disse olhando para si mesma. — É do meu irmão. — me encarou em seguida. — Eu gosto dos vinis dele do Led Zeppelin, sempre fico ouvindo. detestava, sempre ficava berrando que iria quebrar todos. — aquilo me fez rir fraco enquanto a garotinha dava uma risadinha. — Vem, vamos ouvir.
Se levantou sem que eu pudesse falar que não estava afim de ouvir rock antigo em uma vitrola velha. Então fui atrás dela, não tinha muita coisa para fazer mesmo. A segui pelo corredor deixando a toalha em meu ombro e passando agora meus dedos em meu cabelo molhado, o jogando para trás, sabendo que iria ficar onde quisesse quando secasse.
Entramos em um quarto o qual tentei não ficar reparando muito, e só me sentei no chão encostado na cama vendo Nicole mexendo na estante que era lotada de discos antigos. Até que puxou um com a capa sépia com a foto de um prédio na frente. Então foi até a vitrola toda contente e colocou o disco nela, e com cuidado levou a agulha para cima dele fazendo a música começar a tocar baixinho. Ela só aumentou um pouco e veio se sentar ao meu lado enquanto a olhava. O que deu nela? Há poucas horas queria explodir minha cabeça, e agora estava sentado do meu lado ouvindo música. Crianças são estranhas. Eu tinha uma teoria de que crianças andavam acompanhadas, que elas podiam ver o outro lado sem precisar de usar magia. Principalmente quando ficavam falando sozinhas com seus amigos imaginários. Amigo imaginário coisa nenhuma. Era tudo espírito que estava vagando por aí. Mano, aquilo era louco. Será que Nicole estava acompanhada? Poderia ser. Vai que alguém que matei estava sussurrando para ela que eu poderia fazer a mesma coisa com o coven inteiro. Vai saber! Ela poderia tentar me matar antes mesmo que eu pensasse em fazer aquilo e agora estava me fazendo acreditar que essa não era sua intenção…
— Você sabe que… Oi. — apareceu na porta do quarto e sorriu quando me viu.
— Larga de ser chato. Eu não vou estragar os discos. — Nicole rebateu.
Eu não estava entendendo nada naquele momento. Como assim o era irmão mais velho da Nicole? Eu tinha perguntado quem era ele para aquela velha doida e ela havia dito que era só um morador da cidade que sabia demais! Ótimo, ela tinha mentido na minha cara, e eu idiota acreditei. Sobre o que mais ela estaria mentindo, então, se para uma simples pergunta havia me dado outra resposta?! Levantei do chão na mesma hora pronto para ir atrás de Delilah tirar aquilo a limpo.
— Espera. Vai aonde? — perguntou me olhando sem entender nada.
— Por que não me disse que Delilah é sua avó? — rebati em um leve tom de irritação. — Tem mais alguma coisa que eu deveria saber que vocês não estão me contando?
— Nicole, você pode nos dar licença? — seu irmão mais velho pediu, e a menina saiu fazendo cara feia. — Senta. — falou enquanto fechava a porta, então me sentei no mesmo lugar que antes, e se sentou na minha frente encostado na parede. — Eu não sou como eles.
— Como não? É linhagem. — falei sem entender. — Você é adotado?
— Não. Quando vieram pegar , eu transferi meu poder para que ela conseguisse se livrar deles porque conseguiram me ferir. Não tive forças para proteger minha irmã. — contou triste me fazendo entender como estava se sentindo. — E, aparentemente, não foi o suficiente. Eles têm armas de caça bruxa, a bala bloqueia os poderes. — pisquei meus olhos com aquela informação. Não sabia daquilo. — Não falei nada porque achei que não fosse necessário. Eu não faço mais parte do coven de qualquer forma. — deu de ombros enquanto encostava sua cabeça na parede.
— Eu sinto muito por isso. Deve ser horrível não ter mais poderes e ainda ver sua irmã ser levada. — disse realmente sentindo por aquilo, porque de certa forma o entendia. — Delilah te contou tudo? — afirmou me fazendo suspirar. Sabia que ele era da família, mas havia que aquilo não sairia do coven, só que de alguma forma não me incomodou tanto aquilo. Algo no garoto me fazia confiar nele. — Espero que dê certo. Você sabe por que levaram ?
— Ela é especial. É diferente do resto de nós. Nossa avó falava que seria a sua sucessora. tem um dom peculiar de ouvir a natureza. — tombei ligeiramente a cabeça de lado. Já tinha ouvido falar de bruxas do tipo, e durante todos esses anos só tinha conhecido uma que tinha um dom peculiar, e era a minha mãe, ela conseguia falar com os animais. — Você também é.
— Não. De onde tirou isso? — perguntei curioso, e ele sorriu me olhando.
— Nicole e Delilah me contaram como você abriu o chão do cemitério. Aquilo não é algo normal. Você tem algum dom peculiar ou é muito mais poderoso do que mostra ser. — sua observação me fez escorregar meu corpo um pouco por cima do carpete do quarto enquanto olhava para . — Estou errado?
— Por que chama sua avó pelo nome? — perguntei querendo mudar de assunto, e riu fraco com aquilo claramente entendendo o que eu tinha feito.
— Costume. Desde criança sempre ouvi todos chamando-a assim. — levantou os ombros minimamente não dando importância aquilo. — Sua ex esteve realmente no seu quarto aquele dia?
— Se esteve não quis deixar evidente que foi lá. Estava tudo no lugar. E sinceramente não tenho ideia do que ela procura. — contei dando uma bufada com aquilo.
— Ela sabe sobre o que você é? — neguei com a cabeça em resposta. — Você já perguntou o que ela queria de você?
— Não tive tempo para isso. A última vez que a vi foi quando tentou enfiar uma faca em meu peito. — aquilo me fez rir fraco como se fosse realmente engraçado.
— Qual lado? — sua pergunta me fez encará-lo com um semblante confuso.
— Esse. — indiquei colocando a mão sobre minha tatuagem.
— É onde fica a triquetra? — certamente tinham contado a ele que eu tinha colocada no peito.
— Sim. — respondi e se levantou se sentando ao meu lado.
— Posso ver? — seus olhos verdes me olhavam atentos esperando pela minha resposta.
Não respondi, apenas desabotoei a camisa que Delilah havia me emprestado que certamente deveria ser do próprio , e deixei o tecido escuro escorregar sobre a pele de meu ombro até cair em meu braço, deixando metade do meu peito a mostra com a minha tatuagem exposta. Os olhos do garoto desceram para ela lentamente como se estivesse olhando toda minha pele que estava no caminho. Seus tons verdes pareciam ter ficado mais intenso e isso me fez segurar o tecido da camisa com certa pressão pronto para puxá-la de volta, até que as pontas dos seus dedos tocaram o símbolo desenhado em minha pele, passando suavemente pelas linhas dela me tirando um pequeno arrepio por causa da forma como estava me tocando. Meu olhar desceu para sua mão que parecia estar decorando até mesmo as palavras que estavam escritas em latim por dentro das linhas duplas que formavam a triquetra. Puxei o ar sentindo ainda como seus dedos estavam me deixando arrepiado, e de certa forma aquela sensação até que era gostosa. Até que eles começaram a deslizar pela minha clavícula do lado contrário, subindo até meu pescoço. Meu olhar subiu olhando os olhos de vendo que ele estava fixos por onde seus dedos passavam, que agora já estava em meu maxilar e vinha para frente até meu queixo. Não me movi, apenas sentia o que ele estava fazendo enquanto minha respiração ia ficando um pouco pesada. Encarei seus lábios por um segundo e quando subi o olhar percebi que tinha me pegado no flagra. Nós estávamos perto, ele tinha se aproximado mais e acabei fazendo o mesmo. Agora não parávamos de nos encarar como se o ar tivesse congelado. Então, em um impulso, soltei a camisa e peguei a cintura dele, o puxando para cima de mim fazendo com que se sentasse em meu colo, o que ele não resistiu nenhum pouco em fazer. Agora estava mais alto do que eu, e meu olhar desceu pelo seu rosto. Ele era muito bonito e atraente, eu tinha notado isso desde que entrei no bar, mas não dei muita importância por estar focado demais em outras coisas. Só que agora aquilo estava chamando realmente minha atenção. Por isso deixei meu rosto chegar mais perto do dele e meus lábios se passaram nos seus enquanto meus olhos vagavam até os seus vendo a sua reação, e como eles se fecharam. Aquilo foi o suficiente para deixar a minha língua deslizar para fora da minha boca e passar pelos seus lábios que se abriram e a tocando com a sua em um beijo que começou de forma tímida.
Levei uma de minhas mãos até seu rosto o acariciando de leve deixando meus lábios passarem por cima dos seus enquanto nossas línguas se tocavam calmamente me fazendo sentir o gosto de sua boca que era bem gostoso. Então sorri de leve me deliciando com aquilo. Era bom, e não conseguia me lembrar a última vez que tinha deixado alguém me beijar daquela maneira.
***

Tinha se passado meses, e nada. Nenhum sinal de . Nós procuramos pela cidade os lugares onde ela poderia ter estado na noite da iniciação, mas nenhum era o local que tinha aparecido em minha visão. Aquilo era frustrante demais, e comecei a achar que tinha sido um erro, e que ela não deveria estar de fato em Nova Orleans, que o jornal que vi poderia ter sido levado para onde quer que tenha sido o lugar que estava, e não que de fato pertencia à cidade onde se encontrava.
A única parte boa aquilo era . Ele estava me fazendo bem, e não me deixava pirar com aquilo tudo, além de ter o poder de deixar tudo mais leve. Tinha muito tempo que não me sentia daquele jeito com alguém. E a melhor parte daquilo tudo era que ele sabia exatamente quem eu era, não precisava mentir ou esconder as coisas.
E agora nós estávamos no almoxarifado do bar onde trabalhava, era sua hora de intervalo, então estávamos aproveitando-a de um jeito delicioso. Minha respiração estava falha, enquanto minha cabeça estava jogada para trás com meus olhos fechados sentindo os lábios de me enlouquecendo lá embaixo. Minhas mãos seguraram as prateleiras atrás de mim, e tive que morder meu lábio inferior para não gemer alto quando pegou exatamente no ponto onde mais me deixava excitado.
Até que uma dor em meus braços fez com que me afastar um pouco, soltando um pequeno gemido de dor agora. Vi agora uma banheira cheia de água e sua água ia ficando vermelha rapidamente. Era . Onde você está? Olhei ao redor tentando ver qualquer coisa que pudesse me dar uma pista. Então a garota sussurrou um endereço o qual falei em voz alta, sentindo já se afastar mim rapidamente.
Minha mente estava tonta, tudo estava ficando turvo. Joguei minha cabeça para trás apoiando na prateleira sentindo agora às mãos de em meu rosto me sacudindo de leve, puxando minha cabeça para frente para o encara-lo. Estava falando qualquer coisa que não consegui entender direito. Meu peito começou a queimar e isso me fez ir para frente. A garota estava morrendo naquele momento, seu coração estava parando, e eu conseguia sentir. Puxei o ar com força levando minha mão até a camisa sobre minha tatuagem como se o toque fosse fazer aquilo parar.
. O que está acontecendo? — consegui ouvir a pergunta de agora sentindo a minha dor ficando menor, mas meu corpo tremia um pouco agora depois daquilo. — . — suas mãos alisavam meu rosto.
. Se matou. — sussurrei encostando a cabeça em seu ombro respirando fundo como se tivesse corrido uma maratona. — A gente precisa ir para esse endereço agora.
— Você mal consegue erguer a cabeça, não tem como irmos para lá agora. — suas mãos seguraram minha cintura com força, e nós descemos, sentando no chão. — Respira, está tudo bem. — disse passando a mão no cabelo de minha nuca em um afago gostoso me fazendo relaxar um pouco. — Vou ligar para Delilah. — então já vi pegando o celular.
Fiquei com a cabeça apoiada em seu corpo sentindo o meu corpo ainda tremer, mas a dor no braço tinha parado, e eu me sentia ligeiramente sem forças. A mão de em minha nuca me deixava mais calmo, mas não o suficiente. Eu tinha que ir até e pegar aqueles desgraçados.
Ouvi passando o endereço para sua avó, e ergui a cabeça. Então meu peito começou a doer de novo queimando daquele jeito infernal que sempre acontecia quando a triquetra trazia algum hospedeiro de volta à vida. Joguei a cabeça para trás soltando um grunhido de dor. O garoto na minha frente encerrou a ligação deixando o celular de lado e segurou meu rosto com as duas mãos alisando minhas bochechas e juntando nossas sobrancelhas. Agarrei seus braços com certa força.
— Já vai passar. — sussurrou para mim me fazendo fechar os olhos com força e concordar com a cabeça. — Estou aqui contigo.
— Me beija. — pedi com minha voz que saiu baixa e fraca.
Então ele juntou nossos lábios em um beijo lento e gostoso, tocando a sua língua na minha com suavidade fazendo até mesmo minha mente se apagar um pouco por mais que meu peito estivesse queimando. Segurei sua nuca deixando meus dedos se perderem nos fios, aprofundando mais o beijo.
— Parou de doer. — contei rompendo o beijo e olhando para ele que sorriu de leve. — Obrigado.
— Não precisa agradecer. — me deu um selinho, então olhou para baixo. — Uma pena que não vamos poder terminar. — umedeci meus lábios dando um riso fraco.
— Quem sabe na volta. — sugeri arrumando minha calça e a fechando.
— Gosto da ideia. — mordeu meu pescoço me tirando um arrepio gostoso. — Você está melhor? — se levantou me ajudando a fazer o mesmo.
— Sim, só me sentindo um pouco fraco, mas vai passar. — garanti dando um sorriso leve.
Ele segurou minha mão, então saímos dali. avisou ao dono do bar que precisava sair, pois tinha recebido notícia de que talvez tivessem achando sua irmã. O sujeito o dispensou logo, e pudemos sair. Entreguei a chave de minha moto para ele ir pilotando já que eu ainda não estava muito bem. O endereço era da cidade vizinha. Encontramos com o coven na saída de Nova Orleans e seguimos junto com os carros até o local. Chegamos por lá por volta de três da manhã. Era uma casa enorme cercada com muros de pedra altos demais, e tinha sistema de segurança por todos os lados. Desci da moto e olhei para cima, vendo o céu nublado tendo uma ideia.
— Vamos ter que ser rápidos, geralmente um sistema de segurança leva até cinco minutos para ser reativado, às vezes menos. — avisei e Delilah já me olhava tentando entender o que eu tinha em mente.
Respirei fundo e ergui uma mão sentindo a energia passando pelo meu braço, até que fechei meus dedos com força e abaixei fazendo um raio cair do céu e acertar o gerador da casa com tudo vendo as luzes da mesma piscar e se apagarem causando uma sobrecarga. Levantei já gesticulando com a mão fazendo o vento forte abrir o portão, então entramos. Fiz começar a chover bem forte para que achassem que tinha sido a tempestade, usando como distração.
Minhas roupas se colaram em meu corpo rapidamente conforme corria em direção a casa, já usando magia para abrir a porta lateral. Quando entramos tudo estava silencioso demais. Olhei para para ficar atento. Ele não deveria ter entrado também, mas já que estava ali, deveria tomar cuidado quando eles já tinham o pegado uma vez.
Parei de entrar quando vi um ponto de laser em meu peito, e depois vários outros pela casa dançando. Sorri de lado com aquilo e usei a pressão do ar para desviar a bala que tentaram me acertar. Fui correndo em direção a pessoa me esquivando dos tiros dela até está próximo o suficiente e empurrar a sua arma para cima, a tirando de sua mão e batendo com a mesa em seu rosto fazendo com que caísse. Antes de atirar olhei para ver se conhecia, quando concluí que não, puxei o gatilho. Segui por um corredor apressado bem próximo a parede. Senti um tiro acertando meu braço, e aquilo me fez rosnar irritado. Me virei atirando contra a pessoa direto na cabeça. Aquela merda começou a queimar de um jeito estranho.
— Bala mata bruxa. — falou já vindo em minha direção olhando a coloração azul brilhante que aquilo tinha. — Precisa tirar. — ele puxou um canivete do bolso e enviou em meu braço me fazendo gemer por causa daquilo.
— Está doendo, merda. — reclamei e ele me olhou com um sorriso como se aquilo tudo fosse divertido. — É engraçado para você, né? — rebati o vendo rir fraco.
— Só porque você não pode morrer não quer dizer que não deva ser cuidadoso. — disse me olhando de forma sugestiva.
— Também gosto de você. — contei dando um sorriso. Vi alguém entrando armado no corredor, então atirei, mas não acertei. — Acho que deveríamos sair dali. — apenas avisei como quem não queria nada.
— Nos dê cobertura, amor. — senti um deboche em sua voz o que me fez rir fraco.
— Não me provoque, . — rebati vendo ele sorrindo.
O puxei para entrar em um quarto quando atiraram contra nós. Eu não morri, mas ele sim. Fechei a porta e acabou de tirar a bala do meu braço. Fiz uma careta olhando o buraco que tinha ficado que ainda sangrava e queimava. Esses malditos inventam cada coisa. Minha atenção foi roubada quando começaram a atirar na porta inteira, a arrebentando toda. Ficamos parado do lado dela até a pessoa a chutar e entrar, e quando o fez apenas peguei seu pescoço e o quebrei para caso tivesse mais gente ali no corredor não achasse que tinha sobrevivente ali. Peguei a arma e joguei para que a pegou no ar. Fiz um final de que iria na frente e que era para ir depois.
Quando saí do quarto vi uma mulher parada no final do corredor. Ela estava desarmada, mas isso não queria dizer nada. Dei um passo à frente e pude ver uma bola de energia se formando em sua mão indo ganhando tamanho rapidamente. Coloquei a arma de lado no instante que jogou aquela merda em minha direção, então a segurei quando acertou contra o meu peito com tudo. Neguei com a cabeça dando um pequeno sorriso, e joguei aquilo de volta a vendo pular para o lado para não acertar. Fui andando rapidamente em sua direção e ela já me lançava outras bolas menores de energia as quais eu desviava e jogava de volta. Até que me irritei com aquilo e usei o vento para a jogar contra o teto, a prendendo nele.
— Para! — pediu rapidamente quando viu que estava prestes a matar a mulher. — É minha irmã. — declarou, então a soltei fazendo com que caísse de pé. — . — chamou chegando perto rapidamente.
. — sorriu e agora as luzes da casa começaram a piscar me fazendo olhar para cima.
— A força está voltando. — avisei.
— Merda. — falou e logo um barulho ensurdecedor a ser ouvido. — Precisamos sair daqui agora! — avisou já pegando a mão de seu irmão e o puxando, que segurou a minha por sua vez.
— O que está acontecendo? — perguntou por mim.
— O sistema de segurança está fazendo todas as portas e janelas se fecharem com bloqueios de aço para, então, explodir. Iremos morrer se ficarmos presos aqui. — explicou rapidamente.
Ótimo. Então corremos mais rápido vendo todos fugindo também. A porta lateral que usando estava quase sendo fechada totalmente, tentei usar o vento para segurá-la aberta mais um tempo, Delilah estava do outro lado com as mãos esticadas pronta para nos puxar para fora. Mas não foi o suficiente, quando chegamos ela se fechou. Merda. A soquei puto da vida. Olhei ao redor vendo que só tinha ficado a gente ali dentro. Então encarei os irmãos. Não, nós não iríamos morrer ali, apenas . A triquetra iria nos proteger. Engoli em seco encarando seus olhos verdes agora na luz que tinha voltado. Ele não podia morrer ali!
Então usei magia contra a porta, até mesmo lancei bolas de energia, mas aquilo não fez nem cócegas, e vi uns emblemas brilharem no aço. Elas eram contra magia. Merda! Soquei aquela bosta de novo. Senti a mão de em meu ombro me apertando de leve, e tudo o que fez foi me virar e abraçá-lo, escondendo meu rosto na curva de seu pescoço. Não queria que ele morresse quando estava sendo uma das melhores coisas que tinha acontecido comigo nos últimos tempos. Suas mãos me apertaram com força contra seu corpo.
“A casa irá se autodestruir em dez minutos.”
— Eu amei te conhecer, . — ele sussurrou em meu ouvido me fazendo negar com a cabeça.
— Não. Isso não é um adeus. — falei e me afastei olhando para seu rosto vendo as lágrimas descerem por ele. — Não chora, por favor. — pedi passando os polegares em suas bochechas sentindo meu peito ficar apertado.
— Você não vai morrer, . — falou e dei um passo para trás, então o abraçou também chorando. — Eu não quero te perder de novo.
— Está tudo bem. Eu estou com vocês e sempre vou estar. — nos apertou forte chorando.
— Ele não precisa morrer. — ouvi uma voz vindo de trás de nós, então olhei engolindo em seco.
— Pai. — falei sem conseguir acreditar no que meus olhos estavam vendo.
— Oi. — sorriu para mim. Soltei o indo para sua direção, lhe abraçando forte. — Não temos tempo. Você precisa tirar a triquetra de meu peito e colocar no dele. — me estendeu a faca a qual olhei tentando administrar tudo. — Eles me acharam, e me fizeram ensinar o ritual da forma correta, então o fizeram nela. A garota não vai morrer com a magia do artefato. — explicou rapidamente me fazendo olhar para . — Eu não aguento mais morrer, . Por favor, termina com isso, sinto que estou louco, eu não pertenço a esse lugar. Sem as triquetras eles não podem continuar, e elas com vocês iam estar seguras.
“A casa se autodestruirá em nove minutos.”
— Você tem certeza? — perguntei e ele concordou com a cabeça. — Eu te amo. — falei e ele me abraçou.
— Também te amo, filho. — disse pegando minha mão e enfiando em seu peito.
Engoli em seco olhando o sangue, então fiz o que tinha que ser feito para tirar a triqueta dele, o vendo morrer bem diante de meus olhos. A casa anunciou que só tínhamos oito minutos agora. Me virei para mordendo meu lábio inferior.
— É o único jeito. — falei com ele e . — Você quer? — olhou para sua irmã e depois em minha direção.
— Eu confio em você. — então se aproximou já abrindo os botões de sua camisa deixando seu peito exposto. — Coloca no meio. — pediu, e eu apenas concordei com a cabeça.
— Você sabe o que está fazendo? — perguntou parando no meu lado.
— Não. Só vi isso sendo feito uma única vez. — contei a ela que me arregalou os olhos. — Deita, . — pedi e ele o fez.
Então rapidamente preparei o ritual com seu sangue enquanto ouvia a casa avisando que o tempo estava se esgotando. Fiz a ligação dele com a triquetra, então enfiei a faca em seu peito o fazendo gritar de dor, precisava ser rápido ou ele iria sangrar até morrer. Levantei sua pele e coloquei o artefato por debaixo dela a afundando ali vendo a dor que estava sentindo por causa daquilo. Mas não podia parar agora. Passei a mão por cima do corte proferindo o encantamento vendo o corte se fechando lentamente e a peça começar a brilhar o queimando, fazendo a minha arder da mesma forma. soltou um grito de dor e pude ver seu peito brilhando também. Segurei a mão de olhando dentro de seus olhos.
— Já vai passar. Estou aqui contigo. — falei as mesmas palavras que tinha me dito mais cedo, vendo um sorriso pequeno vir em seu rosto, mas logo subiu se tornando uma cara de dor. — Vai ficar tudo bem. — contei me abaixando e selando seus lábios com os meus já ouvindo a casa começando a explodir.
***

Abri meus olhos sentindo meu corpo dolorido sentindo um chacoalhar fazendo minha cabeça bater em algo. Uni as sobrancelhas tentando entender onde eu estava. Vendo que era dentro de um carro e reconhecendo o cabelo que estava no banco da frente; Rachel. Me revirei sentindo que minhas mãos estavam amarradas e uma mordaça em minha boca. Tentei usar magia para me soltar, mas estava fraco demais para isso.
— Olha só, a donzela acordou. — disse se virando no banco do carona e me olhando com um sorriso. — Aparentemente você foi o único que sobrou. — sorriu como se tivesse feliz da vida, então se esticou e tirou a mordaça da minha boca.
— O que você quer, Rachel? — perguntei logo cansado daquilo tudo.
— Isso que você tem aí. — apontou com a arma para meu peito. — Me espanta você nunca ter desconfiado.
— Você sabe que isso vai te matar, não sabe? — soltei irritado, e ela pulou para o banco de trás.
— Baboseira. Seu pai lindo nos contou como faz. Ele sumiu tem um tempo, o que é uma pena, mas a gente vai encontrá-lo e pegar a outra peça. — deu de ombros rindo. — A garota sem sal evaporou junto com a outra triquetra, certamente não resistiu à explosão, então só sobrou essa sua e do seu queridinho pai. — aquilo me fez uni as sobrancelhas. Como que ela só tinha me achado? Onde estava o e a ?
— Onde me encontrou? — questionei tentando entender, porque a última coisa que me lembro era beijar antes da casa explodir.
— Seu corpinho lindo estava do lado de fora da casa destruída lá jogado junto com os outros bruxos. — deu de ombros não ligando para aquilo. — Ai, . Você me decepciona demais. Pensei que viria atrás de mim quando soube que estava em Nova Orleans.
— Estou me lixando para você, Rachel. — falei com desdém, e isso a fez pular para o banco de trás.
— Não seja tão amargurado, amor. Vamos deixar as coisas que aconteceram no passado. — pediu rindo enquanto passava o cano da arma em meu rosto, eu nem ao menos olhei para sua cara. — Vamos, me dê um beijo. — puxou meu rosto, mas o virei.
— Você me enganou, me fez um mal do caralho, entrou na minha cabeça e me fez acreditar que eu era o vilão. Então, não, Rachel. Nem vem, nem tente. Eu tenho nojo de você. — rebati com repulsa, mas isso só fez ela pegar meu rosto e o virar para o seu juntando nossos lábios. Fechei meus olhos com força por causa daquilo.
— Eu sei que você me ama ainda, . — disse passando os lábios pelo meu rosto indo até meu pescoço, o beijando. — Nós podemos ser perfeitos juntos de novo. Só eu e você. — apontou a arma para a cabeça do motorista que olhou pelo retrovisor assustado. — Nem se atreva, Lukas. Você achou mesmo que eu te amava? Tudo o que eu sempre quis foi o .
— Eu acreditei em suas promessas. — ele berrou com Rachel.
— É, ela faz isso. — contei então a olhei. — E só para saber, estou bem melhor agora sem você. — pronunciei as palavras olhando dentro de seus olhos. — Suas palavras não me dizem nada, Rachel. Seu olhar diz tudo, e ele me mostra exatamente quem você, é! Quando eu te olho só vejo falsidade. — aquilo foi o suficiente para chamar sua atenção.
O tal Lukas apenas soltou o volante se virando e pegando a arma da mão de Rachel que a disparou acertando bem na minha cabeça. Apenas morri na hora.
***

Eu podia ver que a bala que estava agora no tambor de sua arma eram azuis. A de mata bruxa. Sabia que se atirasse com aquilo na minha cabeça, talvez eu realmente ficasse morto para sempre. Rachel vinha andando em minha direção com aquele olhar psicopata enquanto eu tentava em vão argumentar. Até que houve o som de um tiro, e o seu corpo caiu para trás por causa do impacto.
— Estou cansado dessa gente maluca! — ouvi a voz de e me virei vendo-o com uma espingarda na mão junto com , Delilah e a Nicole. — Você está bem? — perguntou se aproximando com um sorriso me dando um selinho apertado me fazendo suspirar.
— Sim, estou. Mas como me achou? — questionei segurando seu rosto com um sorriso enorme feliz que ele estava vivo e bem.
— Você morreu. — respondeu passando a mão em meu peito sobre a minha triquetra. — Estamos ligados agora. — sussurrou passando seu nariz pelo meu.
— Quero saber que horas a gente vai começar a chutar a bunda daqueles cretinos dos Sic Vivere? — a voz Nicole ecoou pelo vale arrancando uma risada nossa. — O que foi? Eles viveram nos caçando, agora é hora de caçá-los.
— Errada ela não está. Eu sei de alguns esconderijos deles, e a parte boa é que não podem nos rastrear, então nunca saberam onde estamos e quando chegaremos. Vocês topam? — sugeriu.
— Eu topo. — falei e olhei para .
— Bem, acho que seremos o inimigo invisível deles. — comentou dando um sorriso.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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