Capítulo Único
The conversation was fadin'
The TV's off, got no coffee
I called you up to tell you I'm changin'...
Era nítido o quão a adrenalina da performance ainda pulsava nas veias de enquanto ele trancava a porta de seu quarto de hotel.
Podia sentir a energia elétrica do palco e os gritos ensurdecedores dos fãs ainda ecoando em sua mente, o enchendo de um sentimento de realização misturado com cansaço. Não tinha como negar que amava o que fazia.
Quando tirou a jaqueta suada, a jogando em qualquer que fosse o canto, suspirou pesadamente, notando a chuva que começava a cair do lado de fora nas janelas enormes que seu quarto continha.
Ele apoiou as mãos no vidro e olhou para a cidade abaixo, agora envolta na calma da noite chuvosa. Se tornava um contraste vívido em relação à agitação do show que havia acabado de acontecer.
Enquanto sua atenção se encontrava envolta aos pingos que caíam, se permitiu deixar que sua mente fosse para longe, para lembranças que ele quase sempre sentia falta.
Se encontrou novamente em uma tarde ensolarada, os cabelos bagunçados pelo vento enquanto ele ria ao lado de , sua expressão radiante. Os dois estavam sob um guarda-chuva compartilhado, rindo enquanto a chuva caía ao redor deles.
— Parece que a chuva sempre nos encontra, não é? — a garota disse, com os olhos brilhando ao observar próximo a si.
não estava diferente dela. Mesmo com o corpo molhado, os cabelos caindo em seus olhos pela chuva forte que caía, um sorriso bobo e intenso estampava seu rosto.
Os dois eram jovens, no início da graduação. O rapaz tinha sentimentos puros assim como também sentia o mesmo por ele.
E estar na presença um do outro, tão perto como estavam compartilhando um guarda-chuva, era melhor do que poderiam imaginar.
— A chuva nunca foi tão boa como quando estou com você.
Ele sorriu com carinho ao se lembrar dos olhos vívidos e sonhadores da garota. havia sido seu primeiro amor e todas as lembranças que invadiam sua mente traziam à tona sentimentos que ele havia lutado para esquecer.
A lembrança da partida, das palavras não ditas e das promessas quebradas o atingiu como um soco no estômago. Era impossível não sentir falta da garota.
Daquela pessoa que, de alguma forma, sempre ocupava um espaço especial em sua mente e coração.
desejava intensamente que as coisas tivessem sido diferentes. A amargura do arrependimento se entrelaçava com a melancolia, formando um nó apertado em seu peito e parecia ser demais para suportar.
Ele se perguntava como alguém poderia se sentir tão vazio mesmo com tantas pessoas ao redor, admirando-o e aplaudindo-o. Era como se a única aprovação que realmente importava estivesse irremediavelmente ausente.
Se sentiu magoado demais pela situação em que se encontrava. Das palavras ditas impulsivamente e das escolhas feitas precipitadamente martelando sua consciência.
Não tinha como negar que tinha se arrependido de ter deixado para trás.
the same pace, same minds,
to get a grip on what we find together…
Sua mente ainda estava mergulhada em seus pensamentos, fazendo se perder em uma introspecção intensa. Sua expressão estava distante, como se estivesse olhando para um horizonte que somente ele podia enxergar. Os olhos, normalmente repletos de confiança e brilho, agora refletiam uma mistura de nostalgia e anseio.
Enquanto se acomodava na poltrona ao lado da janela, seus dedos se encontraram entrelaçados sob o queixo, como se esse gesto pudesse auxiliar a trazer à tona os fragmentos do passado que tanto desejava reviver.
Ele imaginava quase sempre como ela estaria agora, anos após terem se separado. Se perguntava se ela havia conseguido conquistar seus sonhos, se aquelas paixões e ambições que compartilhavam continuavam sendo a força motriz de sua vida.
A imagem de , imersa em tintas e pincéis, trabalhando em suas criações artísticas invadia sua mente, trazendo um sorriso triste aos seus lábios.
Aquela imagem era uma fonte de admiração e respeito, misturada com uma pitada de arrependimento por não estar lá para aplaudi-la.
Seus olhos se voltaram para o telefone que descansava na mesa próxima. Era como se a presença do aparelho trouxesse à tona uma luta interna intensa, a qual ele conhecia.
sabia que tinha a capacidade de discar o número da garota, de ouvir novamente aquela voz que conhecia tão bem.
Seus dedos roçaram repetidamente o visor, como se hesitassem entre a tentação de reconectar e o medo do que poderia encontrar do outro lado da linha. Não conseguia imaginar quais seriam suas primeiras palavras ao até mesmo se o atenderia.
Seus dedos deslizaram sobre a tela, procurando o nome dela na lista de contatos. Parou sobre o nome "", olhando para ele com uma mistura de esperança e apreensão.
Um impulso alucinado o fez começar uma mensagem, mas parou antes de enviar. Não queria que essa fosse uma conversa impulsiva e passageira.
merecia mais do que aquilo.
— Como você ainda pode estar em minha mente depois de todo esse tempo, ? — sussurrou para si mesmo.
Não conseguia parar de pensar como costumavam compartilhar risadas, segredos e sonhos naquelas longas noites de estudo. Tudo aquilo o trazia uma mescla de emoções - saudade, arrependimento e vontade de vê-la novamente. sabia que sua vida como um astro famoso mudaria muitas coisas, mas não imaginava que a tiraria de seus dias.
Por tanto tempo.
E aquilo fez algo brilhar no fundo de sua mente.
A ideia tomou conta de sua mente como um raio de inspiração. Percebeu que suas palavras poderiam ser expressas de maneira ainda mais profunda e significativa através dos acordes do violão próximo de onde estava e algumas notas musicais.
Com um sorriso contido nos lábios e um brilho cintilante nos olhos, pegou o instrumento, acomodando-a em seu colo.
começou a se preparar para dedilhar cada corda e seu peito parecia querer explodir. Cada verso surgia em sua mente, como se tivessem estado lá o tempo todo, esperando por esse momento de serem libertadas.
Antes que iniciasse, levou os dedos no display do celular, sabendo que não teria volta se enviasse a mensagem que queria.
Espero que toque seu coração da mesma forma que você tocou o meu.
x .
Com o coração batendo um pouco mais rápido de emoção, segurou seu celular, pronto para enviar o áudio que gravou com a parte da música que insistia em ficar em sua cabeça.
Fechou os olhos por um momento e começou a dedilhar.
A voz do rapaz começava a inundar o cômodo suave e delicadamente, deixando claro o quão profunda suas palavras conseguiam ser.
— But I know it's not easy, to let go of the chapter we started…
Seu tom carregava sinceridade, cada nota transmitindo a história que ele queria compartilhar com , a garota que havia ocupado seus pensamentos parte da vida. O violão criava uma sonoridade melancólica, o que deixava ainda mais sentido pelo que dizia, lembrando-se das experiências que haviam compartilhado e dos sentimentos que nunca haviam desaparecido.
Quando a última nota ressoou, o rapaz parou de tocar e abriu os olhos, sentindo um nó de nervosismo afagar seu peito.
Olhou para o celular, onde o áudio estava pronto para ser enviado e com um toque rápido, apertou o botão de envio, desligando o display com as mãos trêmulas. Como se aquilo o fizesse ficar mais tranquilo.
Seu coração estava dividido entre a esperança e a incerteza. Entre o desejo de ter uma nova chance e o medo de que suas palavras, e música não fossem suficientes para reparar o que havia sido perdido com ela.
se viu desejando poder voltar no tempo e corrigir os erros que havia cometido. Imaginava cenários do qual poderia consertar toda a situação, que poderia se desculpar por ter deixado a melhor amiga e primeiro amor para trás, ansiando por uma segunda chance.
Cada minuto que se passava parecia lhe torturar veemente.
A única coisa que tinha certeza era que, independente de qual fosse a resposta, ela aceitaria.
E se ela não o respondesse, entenderia.
if you can't come back tomorrow…
Alguns dias haviam se passado e não teve qualquer sinal de que pudesse ter uma resposta de .
Aquilo dilacerou seu coração.
Não conseguia se concentrar em muitas coisas e, por mais que precisasse ter foco por conta da turnê, não conseguia parar de pensar se ela havia recebido a mensagem.
Se havia recebido e ignorado.
Se…
A incerteza do que aconteceria a seguir era quase palpável.
Ele sentia seu corpo suado, pesado e cansado. Sua banda estava em Los Angeles para mais uma apresentação e havia dado tudo de si naquela performance. Pelo menos daquela maneira conseguia esquecer um pouco suas frustrações.
Quando chegou nos bastidores, encontrou a agitação certeira; membros da equipe correndo de um lado para o outro, ajustando equipamentos e preparando-se para desmontar o palco.
Respirou fundo, buscando uma sensação de normalidade naquela atmosfera frenética.
Com isso, esperando até que pudesse se retirar do local, pegou o aparelho celular checando mais uma vez se havia alguma notificação.
Mas, assim como nos últimos dias, a tela do telefone permanecia vazia.
Seu coração pesou enquanto deslizava o dedo pelo display, sem encontrar nenhuma notificação nova. Não de quem ele mais desejava.
Pigarreou, mostrando certo desapontamento e fez menção de guardar telefone no bolso do jeans, não antes de sentir a vibração do mesmo ainda em suas mãos.
O pegou com rapidez e pôde sentir o coração dar um salto em surpresa assim que conseguiu ler o contato na tela.
Era um nome que ele reconheceria em qualquer lugar: .
Não deixou o próximo toque ressoar e o atendeu com pressa.
Se sentia um adolescente novamente.
— Alô?
— Oi, .
A voz de ecoou do outro lado da linha.
quase sentiu as pernas bambearem.
— . Oi. Que bom que você ligou. — suspirou.
— Eu ouvi seu áudio. Várias vezes, para ser sincera. — fez uma pausa. — Obrigada por ter enviado.
— Sempre quis que soubesse o quanto sinto muito. Não sei se fiz da maneira certa, mas…
— Eu entendo, e aprecio isso. Mas é complicado.
Do outro lado, em Sydney, sentia seu coração descompassar exatamente como o de , sentindo todas as emoções de anos atrás, que sentiu quando tinha o melhor amigo por perto todos os dias.
Sentiu tanta falta de que ao menos sabia explicar o misto de sentimentos dentro do peito.
— Sei que pode parecer tarde demais, depois de todo esse tempo, eu… — o rapaz passou as mãos pelos cabelos escuros desgrenhados àquele ponto. — Sei que não posso mudar o passado, mas quero fazer o que puder para tornar as coisas melhores entre nós.
Mais um momento de silêncio se tornou presente. podia sentir a tensão no ar mediante suas palavras, a espera se estendendo como um fio tênue entre eles.
tinha seus olhos fechados ao ouvir dizer. Cada sílaba carregava o peso das memórias compartilhadas, dos momentos que não podiam ser desfeitos.
Imaginava o rosto do rapaz. Se lembrou da inocência que o estampava há anos atrás e como ele havia mudado fisicamente, mas que por dentro, parecia continuar sendo , seu melhor amigo de adolescência.
O tempo havia passado, e suas vidas haviam seguido caminhos totalmente separados.
Ainda com seus olhos fechados, respirou fundo, sentindo-se emocionalmente sobrecarregada pelo que estava lhe acontecendo.
Queria acreditar nas intenções de , mas também precisava de tempo para processar tudo.
— Obrigada mais uma vez por dizer isso.
— Não precisa agradecer. É o mínimo que posso fazer. — soltou, ainda sentindo a palma das mãos suando.
— Entendo o que quer dizer. E também não posso negar que ainda sinto algo por você, apesar de tudo. — quase sussurrou a última frase. O rapaz sentiu o coração apertar. — Sempre amei você, .
— , eu…
— Não sei como me sinto sobre tudo isso ainda, mas… Talvez possamos conversar melhor em pessoa.
O coração de faltou sair pela boca.
Deixou um sorriso crescer em seus lábios com a notícia. Não acreditava que teria a chance de vê-la outra vez.
— Claro — respondeu, tentando conter a animação. — Quando e onde?
— Que tal na nossa antiga cafeteria favorita na próxima vez que você estiver em Sydney?
— É um encontro então?
sorria como ele do outro lado. Se sentia uma criança falando com seu primeiro amor de infância.
Ela riu, baixo.
Ele nunca havia deixado de ser o seu .
— Vamos chamar de reencontro. Digamos que eu esteja disposta a ouvir mais.
i lost myself, I feel awful,
know we all got our problems,
i'm sorry if I said you looked gorgeous…
