Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

I know it’s how the story ends


Atualmente

Encarei o bar e engoli a seco, mal percebendo que eu estava ali há muito tempo. O vento gélido não me incomodava, mas eu começava a sentir a necessidade de estar acompanhada de uma bebida alcoólica, então suspirei e empurrei a porta, adentrando o local.
Tudo ainda era… a mesma coisa. Nada tinha mudado, nem mesmo o mínimo detalhe na decoração. Cinco anos tinham se passado, mas parecia que eu ainda trabalhava ali, esperando a hora que eu deveria subir no palco e anunciar algum show que eu não gostava de fazer, mas era meu trabalho e eu gostava de receber a grana. Esfreguei as mãos contra as minhas coxas assim que eu sentei em um banco vazio perto do balcão de bebidas. Olhando ao redor, agradeci mentalmente pelo local não estar cheio. A maioria dos homens, como de costume, estavam na área que dava melhor visão para o palco.
— O que vai querer?
Virei meu rosto na direção da voz feminina e encarei a atendente, quase perdida por lembranças que me invadiram por alguns instantes. Eu me via ali, no lugar dela, perguntando o mesmo para todos os clientes. Às vezes, com um sorriso forçado demais no rosto.
Umedeci meus lábios e encontrei a minha voz, percebendo que eu não tinha respondido.
— Um whisky com gelo, por favor.
A atendente assentiu e eu assisti-a pegar a garrafa e um copo, despejando o líquido para mim. Agradeci com a voz baixa e segurei o copo com a mão direita, mas não bebi imediatamente.
— Você parece um pouco… perdida — ouvi a voz da atendente de novo e levantei os olhos, encarando-a mais uma vez.
Abri um sorriso sem graça e passei meus dedos pela borda do copo.
— Eu… — tentei responder, encolhendo os ombros, como se não tivesse certeza de nada. — Talvez esteja me sentindo assim.
A atendente me lançou um sorriso compreensivo.
— Sou toda ouvidos — disse.
— É, eu sei — cocei minha bochecha, entendendo o que ela queria dizer. — Eu estive aí há cinco anos.
— Você trabalhou aqui? — questionou.
Parei de brincar com o copo e bebi dois goles seguidos do whisky, acenando positivamente, respondendo a pergunta.
— Ah, cara, que merda — acrescentou, como se realmente lamentasse, o que me fez rir.
— É, talvez. Mas pagou as minhas contas.
A atendente levantou um ombro, como se concordasse comigo. Além do mais, por mais que eu detestasse um pouco aquele trabalho, eu tinha o Jimmy.
— O que te traz de volta aqui?
Pisquei meus olhos, surpresa com a pergunta. Havia algumas lembranças que me abraçavam ali. Se eu estava perto do fim, por que precisaria relembrar de tudo?
— Como é o seu nome? — indaguei.
— Sam — a atendente respondeu.
Olhei-a mais uma vez. Cabelos loiros amarrados em um rabo de cavalo, lábios pintados de vermelho e olhos azuis marcantes. Ela tinha cara de Sam.
— Sam, você já quis mudar algo do seu passado? — questionei.
Bebi mais um gole, sentindo o gosto familiar da bebida passar por minha garganta.
— Sim, mas... as coisas nos tornam quem somos, não é?
Não era a resposta que eu estava esperando, no entanto, pareceu estranhamente apropriada.
— Eu não sei — fui sincera. — Provavelmente você tem razão.
Conforme eu acabei de beber o restante do líquido alcoólico, senti meu celular vibrar incessamente no meu bolso. Eu sabia quem era e não estava nem um pouco afim de atender.
— Como é o seu nome? — Sam indagou inocente, despejando mais um pouco do whisky no meu copo.
.
Sam sorriu.
, por que voltou aqui?
A mesma pergunta. Uma resposta que eu ainda não tinha dado. Olhei ao redor mais uma vez. Quase podia visualizar a silhueta dele numa cadeira distante da minha, totalmente cansado e perdido. Não dava para imaginar que, cinco anos depois, seria eu quem estaria naquela situação. Bom, não exatamente a mesma situação, a julgar que naquela época, ele não estava prestes a se separar de ninguém.
— Foi aqui onde as coisas começaram — respondi, finalmente. — Onde eu conheci... ele.
Sam me assistiu limpar os olhos. Eu me sentia patética.
— Ele quem?
Ela não parecia estar sendo invasiva e nem nada. Tinha um dom para suas perguntas saírem em tom natural, o que me deixava mais à vontade para desabafar.
— eu disse. — Só... parece certo ou algo do tipo estar aqui para... enfim.
Bebi mais um pouco, o celular ainda vibrando. Revirei os olhos, no exato momento em que ela pediu licença e saiu rapidamente do meu campo de visão, e puxei o celular do bolso. Deslizei meu dedo pela tela e desbloqueei, recebendo diversas notificações de ligações perdidas e mensagens.

diz, às 09:02pm:
", nós precisamos conversar"
"Por favor, . Ao menos me atenda"
"Precisamos realmente conversar. Eu não quis…"

diz, às 09:27pm:
"Droga. Eu encontrei os papéis."


Esfreguei meu rosto, impedindo que eu chorasse em um lugar público. Ainda tinha mais mensagens, mas guardei o celular de volta, sem coragem de continuar lendo e menos ainda de responder alguma coisa. Tinha sido uma decisão difícil, mas… era o certo.
— Quem é ?
Sam voltou, parando na minha frente, do outro lado do balcão. Deixei meus ombros caírem em derrota e soltei um suspiro longo demais antes de responder.
— Meu futuro ex-marido.


[flashback on]
5 anos atrás


— O que vai querer?
Os olhos cinzas me encararam fixamente, enquanto eu estava atrás do balcão, com o bloco de notas na mão esquerda e uma caneta na direita. Apesar de ser um trabalho bastante odiável na maior parte da noite, sempre havia um sorriso nos meus lábios. Naquela noite em específico, era inverno, mas não fazia frio dentro do bar. Havia gente demais compartilhando calor para dar espaço ao vento gélido que continuava lá fora.
— Coca diet — o rapaz respondeu.
Dessa vez, eu o encarei, uma sobrancelha arqueada.
— Você está em um bar e está pedindo Coca diet?
A verdade era que aquilo era mais comum do que alguém imaginava. Mas eram quase duas da manhã. Ninguém pedia nada diet àquela hora.
Ele riu.
O som da sua risada se misturou com o som ambiente, mas como o bar ficava um pouco longe do palco, dava para ouvir a sua risada perfeitamente, sem nada interferindo. Ele parecia cansado, os ombros abaixados, uma enorme pasta no banco ao seu lado e ainda usava um terno caro.
Abaixei as minhas mãos, sem anotar o seu pedido.
— Dia difícil — ele respondeu, esfregando o rosto.
Ele apoiou as duas mãos contra o balcão. Olhei ao redor, apenas para me certificar que não havia nenhum outro cliente que eu tinha que atender, mas Jimmy estava ocupado com outro.
Além do mais, naquele horário eu não precisava me preocupar com o bar cheio. Era o horário das meninas no palco e a maior parte dos homens gostavam mais de ser servidos por lá.
— Dia difícil não pede coca diet — respondi, interferindo na sua decisão, como eu era proibida de fazer.
Eu gostava de me meter em tudo. Sempre tinha uma opinião na ponta da língua e se me pedissem para sugerir alguma coisa, lá estava eu. Não era diferente com os clientes. Os clientes legais, não os babacas.
Para os clientes babacas, eu fazia questão de enfiar algo ardente em suas bebidas, já que era um pouco antiético demais cuspir dentro.
Mas, bem… eles não se importavam com ética quando me assediavam ou tratavam mal, não era? Eu não precisava ter empatia por quem não tinha por mim.
— E o que pede, então? — indagou.
Lambi os meus lábios, prontamente pegando uma garrafa de whisky cara atrás de mim, mas aquilo era bom. Especialmente para dias difíceis.
— Não está me empurrando isso para eu pagar mais caro? — questionou novamente, me encarando com um pouco de diversão assim que empurrei a garrafa na sua direção.
Dei de ombros, como se não me importasse com aquele fato. Se ele tinha um terno de milhões de dólares, podia pagar uma garrafa de bebida.
— Seu dinheiro paga meu salário, então…
Ele sorriu para mim. Pela primeira vez desde que tinha chegado ao bar, parecia um pouco mais alegre.
Não que fosse minha função alegrar os homens daquela forma, era só que… eu tinha que me sentir útil de alguma forma. Se fosse melhorando o dia de merda de alguns, que fosse então.
Desde que eu ganhasse uma boa gorjeta no final da noite, eu não me importava em fazer muita coisa.
O desconhecido assentiu para mim, concordando em um gesto silencioso. Peguei um copo limpo e servi o conteúdo para ele, guardando o bloco de nota e a caneta no bolso do meu avental. O tempo todo que eu fazia isso, podia sentir o olhar dele sobre mim.
— Você é muito bonita — ele disse.
Quando levantei os olhos na sua direção e lambi os meus lábios pintados de vermelho, ele pareceu se dar conta do que tinha acabado de falar.
— Droga, desculpa — apressou—se em corrigir. — Isso soou muito ruim.
Trabalhar em um bar me fez aprender a diferença entre um homem que te elogia de verdade e um que te assedia. Aquele cara soltou o elogio sem pensar e sem nenhum jeito de me fazer sentir ofendida por suas palavras. Elas simplesmente foram… genuínas.
— Tudo bem — tranquilizei-o, gesticulando exageradamente com a mão, dispensando o seu pedido de desculpas. — Eu ouço muito isso, na verdade. E gosto dos seus olhos.
Eu não via muita gente de olhos cinzas. Não sabia dizer se era uma cor rara ou eu simplesmente não prestava muita atenção aos olhos das pessoas por aí.
Antes que ele pudesse responder qualquer coisa, Jimmy gritou por mim. Lancei um sorriso sem graça para ele, deixando a garrafa à sua disposição e andei até o meu colega de trabalho. Assim que adentrei a cozinha, ele digitava alguma coisa no celular.
— Você não cansa de flertar com caras podres de ricos e pobres de amor? — ele me questionou, sem tirar os olhos da tela do celular.
Abri um sorriso pequeno nos lábios e empurrei—o devagar contra os ombros.
— Eu não estava flertando — respondi. — Estava garantindo minha gorjeta.
Ele digitou mais alguma coisa e bloqueou a tela, guardando o celular no bolso da calça.
— Para mim, parece a mesma coisa — replicou.
Revirei os olhos e deixei-o sozinho, caminhando até a mesa de comidas, roubando os doces que estavam disponíveis ali. Eu também era proibida de fazer aquilo, mas…
— O que você quer? — indaguei.
Jimmy parou ao meu lado, analisando a suas opções diante da mesa. Nós fazíamos faculdades juntos e foi ele quem conseguiu aquele emprego para mim.
— Ah — ele disse, parecendo lembrar que tinha me chamado. — É só para te avisar que você é a próxima.
Suspirei baixinho e encarei o relógio, bem acima da porta de saída, verificando que faltavam apenas vinte minutos para às duas da manhã.
— Não gosto de ser o show principal.
Jimmy deu de ombros, optando por pegar um prato pequeno de bolo.
— O cachê é maior — lembrou.
Sim, o cachê era ótimo. Mas, ainda assim, não me fazia gostar de ser o show principal. Eu gostava de deixar aquela parte para Lisa, mas infelizmente para mim, ela estava de folga.
— Você gosta de dançar — ele apontou, como se isso fosse motivo suficiente.
Mordi meu lábio, dando de ombros, mostrando que aquele motivo era indiferente para mim. Não havia a menor importância.
— Sim — concordei — Mas não para homens bêbados.
Jimmy me olhou rapidamente, antes de abrir a boca e desistir do que ia dizer, como se isso confirmasse que meu argumento era bom demais para ser rebatido. Aquilo acontecia com frequência entre nós e ele nunca se dava ao trabalho de vencer alguma discussão. No fim das contas, simplesmente aceitava a derrota e deixava as coisas serem como elas são. É por isso que eu gostava da nossa amizade. Embora não fôssemos melhores amigos, como ele e Zach eram, eu só me importava que ele fosse uma companhia agradável para mim na maior parte do tempo.
— Entro no palco em dez minutos — avisei.
Ele assentiu e me deixou ir. Como eu já estava pronta, vestida com a roupa da noite por debaixo do avental, eu não precisava me enfiar dentro do camarim. Gostava de ser prática e estar arrumada antes do show era uma praticidade e tanto para mim.
Quando voltei para o balcão, o desconhecido ainda estava ali e a garrafa quase na metade. Abri um sorriso sugestivo, a qual ele me devolveu com um dar de ombros simples e tímido, querendo demonstrar que eu estava certa quanto à sugestão de uma bebida para um dia difícil.
De dias difíceis eu entendia bem.
— Tony, você vai ficar responsável pelo bar agora — avisei ao mais novo, quando ele passou por mim.
Tony concordou prontamente, acostumado. Ele era o tipo de cara que não se estressava com nada e concordava com tudo que lhe mandavam fazer. Até hoje, desde o dia que fui contratada há nove meses atrás, só ouvi cinco palavras vindo da sua boca, em voz alta. E eu já tinha me esquecido qual era o som da sua voz.
— Você vai embora? — ouvi a pergunta.
Levantei a cabeça em direção ao único cliente que eu atendi antes de me dirigir ao palco. Sem responder imediatamente, tirei o avental do meu corpo, revelando a roupa justa e curta, além de brilhante, que eu usava por baixo. Vermelho demais, combinando com meus lábios.
— Não — respondi.
Os olhos dele passearam por mim de forma discreta, quase educada. Eu sabia que os outros caras no bar estavam fazendo o mesmo, mas não me importei em dar atenção. Aqueles olhos cinzas eram a única coisa que me importava agora.
Me aproximei dele, soltando os fios de cabelo do coque apertado. Ele sequer piscou os olhos para mim, bebendo mais um gole do seu líquido no copo.
— Qual o seu nome?
Eu não costumava fazer isso. Preferia me manter longe de clientes — e de homens em geral, principalmente os que tinham potencial para esperar mais de mim do que eu podia dar. E aquele cara, de olhos cinzas e tristes e corpo cansado, parecia ser exatamente o tipo que eu evitava.
Era nessas horas que eu acreditava que realmente existia uma lei da atração. Bem… uma lei anti-atração, já que eu costumava atrair tudo o que eu não queria.
— o desconhecido respondeu.
Umedeci meus lábios e deixei um sorriso pequeno nascer, assentindo devagar para a sua resposta. Era um bom nome.
— testei o seu nome rapidamente. — Talvez queira prestar atenção no palco.
Assim que eu disse isso, a música parou de tocar. Um homem alto subiu no palco enquanto as meninas paravam de dançar e desapareciam e olhou para trás, curioso. Respirei fundo e dei meia volta no balcão, saindo do outro lado. me acompanhou com os olhos e eu me forcei a abrir um sorriso simpático, enquanto adentrava a parte de trás do palco, esperando o apresentador anunciar o show principal.
O show principal consistia somente em uma dança muito particular, com luzes néon piscando, nunca me deixando transparecer por completo, o que significava que eles não sabiam quem eu era de verdade. Eles tinham vislumbres do meu corpo e rosto, mas nunca eu inteira.
Aqueles homens eram só estranhos da noite para quem eu dançava, mas , não.
manteve os olhos em mim o tempo todo.
Quando uma música suave começou a tocar, respirei fundo e forcei um sorriso no meu rosto, finalmente subindo no palco, como se aquele lugar sempre tivesse sido meu.
Mas não era.
Todo show, cada passo da música, cada aplauso sujo vindo de um dos homens, cada nota de dinheiro jogada… tudo aquilo era uma farsa de alguém que eu não era, mas que, no fundo, eu sempre desejei ser: confiante e livre.

[flashback off]
5 anos atrás


Atualmente


— Caramba, isso foi muito… — Sam tentou dizer, mas não concluiu a sua própria frase.
Dei um sorriso meio sem graça e umedeci meus lábios, mordendo a parte interna da minha bochecha.
— Inesperado? — arrisquei completar.
Ela mordeu o lábio vermelho e fez uma careta.
— Sinto muito — lamentei, suspirando. — Eu não devia estar aqui despejando meus problemas para alguém que não me conhece.
Eu nem era esse tipo de pessoa, mas Sam simplesmente me fazia abrir a boca sem nenhum esforço. Talvez eu estivesse guardando as coisas demais dentro de mim e agora sentia a necessidade de colocar um pouco para fora.
— Não se preocupe — ela me tranquilizou. — É só que… ouço muito sobre separações por aqui, não é novidade. Você só não parece querer exatamente… isso.
Terminei a minha bebida e dispensei quando ela fez menção de encher o copo de novo. Não queria ficar bêbada, eu ainda precisava voltar para casa e enfrentar uma decisão sóbria.
— O que aconteceu? — Sam questionou, meio hesitante, quando não respondi nada.
— A vida, eu acho — dei de ombros, mexendo inconscientemente no anel do meu dedo. — Não sei se fomos rápidos demais ou se era para acontecer assim.
Sam ficou em silêncio, me ouvindo, então continuei sem culpa nenhuma.
— Eu amo o e sei que ele também me ama, mas queremos coisas diferentes agora. E já faz um tempo que nós somos mais amigos do que marido e mulher.
Era a primeira vez que eu confessava aquilo em voz alta. Não conseguia me lembrar em que momento a minha relação com mudou, mas foi devagar e inconsciente, quase como se tivesse que acontecer. Tínhamos começado a relação sincronizados e agora… parecíamos ir para o lado oposto.
— Como vocês se conheceram? — Sam indagou.
Notei que o movimento estava tranquilo, então ela não tinha tanto trabalho para fazer, o que significava que podia fazer hora extra ali comigo.
— Aqui — respondi. — Eu era você e ele era eu. Achei que seria só mais um cliente.
— Mas não foi?
Sam levantou a sobrancelha, sugestiva. Eu sabia que ela me compreendia, porque tinha certeza que, exatamente como o lugar, o trabalho não tinha mudado. O que significava que ela recebia bastante investidas.
— Não — admiti, ainda mexendo o anel. — Ele ficou para me ver dançar. No final do expediente, achei que ele tinha ido embora, mas encontrei ele na saída.


[flashback off]
5 anos atrás


Duas horas depois, meu expediente terminou.
Eram quase cinco horas da manhã e Jimmy fechava o bar às seis, por isso, ele nunca me acompanhava de volta para casa. Eu morava em um apartamento velho muito perto da universidade, mas um pouco longe demais do local de trabalho. Ainda era sábado e, como eu só trabalhava os fins de semanas e não tinha aula nesses dois dias específicos, não me preocupava em voltar correndo para a universidade. Eu simplesmente podia curtir a caminhada, desejando a minha cama pelo caminho todo e pensando em qual iria ser o meu jantar mais tarde, antes de voltar para o bar de novo.
— Não estenda seu expediente, cuzão — me despedi de Jimmy, que me devolveu o dedo do meio em riste.
Balancei a cabeça e apertei a jaqueta contra o meu corpo, assim que senti o vento gélido do lado de fora. Agora, eu usava uma calça jeans, um all star velho, o cabelo preso em um rabo de cavalo pequeno e uma jaqueta cobrindo o meu corpo por cima de uma camiseta. Nenhum lábio pintado mais.
E, melhor que isso: uma gorjeta de duzentos dólares.
— Você me surpreendeu.
Levantei os olhos na direção da voz, encontrando parado perto da entrada do lugar. Eu sempre saia pelos fundos, mas imaginava que ele já estivesse ido embora, uma vez que no fim do show ele não estava mais no bar, a garrafa quase vazia em cima do balcão.
Umedeci os meus lábios e amaldiçoei o frio cortante da manhã de Chicago, parando na frente dele, o céu ainda escuro.
Era perigoso pra caralho ir andando sozinha àquela hora, mas, ainda bem, eu não tinha história ruim para contar.
Fora do bar, era ainda mais bonito. Estava levemente bêbado, mas não como a maioria ficava. Seu cabelo estava despenteado e ele tinha afrouxado a gravata do terno, segurando a pasta na mão direita, enquanto me olhava com um sorriso vacilante no canto dos lábios.
— Não surpreendo muita gente — respondi, mordendo a parte interna da minha bochecha.
Ele não devia ser muito mais velho do que eu, mas com certeza era alto.
— Bem, desconhecida — começou a dizer, ajeitando a própria postura. — Eu não sou os outros.
Não sabia como eu poderia ter interpretado aquela afirmação, mas resolvi que era perda de tempo tentar entender o raciocínio de alguém que passou as últimas horas entupindo o sangue do cérebro de álcool.
— Pode me chamar de — finalmente me apresentei.
me deixou apreciar o vislumbre de outro sorriso.
Ele parecia gostar de me olhar e eu não estava acostumada com aquilo, então dei de ombros e virei as costas para ele, começando a andar. Ainda estava desejando muito a minha cama, mas aquele homem… aquele homem lindo, de olhos cinzas e gravata frouxa me seguiu.
— chamou, me acompanhando nos passos devagar, enquanto eu atravessava a rua tranquila. — Sei que é meio inconveniente, mas você não aceita tomar um café da manhã comigo?
— São quase cinco da manhã — avisei, como se fosse óbvio. — Não tem nada aberto.
Ele tossiu um pouco.
— Na minha casa — acrescentou.
Parei de andar e me virei para ele, encarando-o com as mãos no bolso da minha jaqueta.
— ele não tira os olhos de mim sequer uma vez. — Fico lisonjeada por esse convite, mas não saio com estranhos.
— Não sou estranho — defendeu. — Você sabe meu nome.
Soltei uma risada baixa, negando com a cabeça.
— Sim, e é só o que eu sei — argumentei.
— Droga — murmurou. — Você tem um bom ponto.
Não sair com clientes estranhos do trabalho era uma regra pessoal que eu tinha aplicado para mim mesma. Não conhecia nenhum deles e a maioria, eu percebi, tinha tendências violentas demais. Não que eu nunca me envolvesse com alguém, eu fazia isso, claro.
Mas não com frequência.
E, quando acontecia, eu sabia que só havia um jeito de tudo terminar. Era um ciclo infernal que eu não conseguia quebrar, por mais que eu tentasse a minha vida inteira.
— Olha — comecei a dizer, umedecendo os meus lábios mais uma vez, pensando em acabar com uma coisa que sequer tinha começado. Eu fazia muito isso. — Você não vai querer se envolver comigo. Eu tenho certeza que há milhares de outras garotas interessantes por aí e que terão mais responsabilidade afetiva com você.
não pareceu abalado. Ele apenas deixou os ombros caírem e soltou o ar pela boca.
— Nenhuma delas me empurra uma garrafa de whisky cara para superar um dia ruim — ele rebateu, um sorriso brincando nos lábios, o que me faz rir.
— Há um dia novo começando.
— Também há uma garota nova bem na minha frente — ele retrucou, balançando a cabeça na minha direção. — Que me surpreendeu em um show duvidoso e dança em condições estranhas.
Soltei o ar pela boca, encarando ele em silêncio, enquanto meus pensamentos estavam nublados. Eu não deveria, não deveria mesmo, mas… o que me custava tentar mais uma vez? Sempre havia a esperança de uma tentativa ser melhor do que a outra.
— Me entregue seu celular — pedi, estendendo a mão na sua direção.
sequer hesitou. Simplesmente tirou o aparelho do bolso e me entregou. Só precisei deslizar o dedo pela tela para perceber que não havia senha e seu plano de fundo era simplesmente as estrelas. Cliquei direto nos contatos e salvei o meu número com o meu nome. Devolvi o celular a ele e mordi o meu lábio devagar.
— Me ligue.
Não esperei uma resposta.
Voltei a andar, dessa vez um pouco mais depressa. Não porque não queria que ele me seguisse novamente, mas porque estava frio pra caralho e eu ainda continuava desejando a minha cama quente mais do que tudo naquele dia inteiro.


[flashback off]


Atualmente


— Você tem alguém, Sam?
Ela pareceu surpresa com a pergunta. Não queria que o centro da conversa fosse somente eu, então não achei ruim devolver algumas perguntas. Sam abriu a boca para responder, mas desistiu no caminho e mordeu a parte interna da bochecha, dando de ombros como se aquilo não tivesse muita importância.
— Eu tinha — respondeu.
Compreendi sua resposta e assenti devagar. Julgando pelas suas poucas palavras, o término tinha sido recente.
— O fim não é uma droga?
Sam riu. Ela guardou a garrafa de whisky e pegou o meu copo de volta.
— Depende muito do ponto de vista — confessou. — Meu fim foi fácil, mas eu não o amava tanto assim. Não se compara ao que você está passando. No seu caso, sim, o fim é uma droga.
Bufei baixinho, sentindo meu celular vibrar mais uma vez. Puxei o celular novamente e deslizei o dedo pela tela, desbloqueando. Mensagens e mais mensagens.
— É ele? — Sam indagou.
Bloqueei a tela novamente e assenti, dessa vez deixando o celular em cima do balcão, bem ao meu lado, vibrando.
— Deixei os papéis de divórcio em cima da mesa — falei. — Ele chegou há uma hora e encontrou, por isso não para de mandar mensagens.
Sam encostou as duas mãos sobre o balcão.
— Que merda — soltou. — Qual a mensagem que mais se repete?
— Ele está pedindo para conversar — respondi. — Você pode me servir um copo de água, por favor? Não sou muito boa com álcool.
Sam assentiu. Enquanto ela foi pegar meu pedido, encarei o anel na minha mão, sentindo meu coração pesar um pouco, as batidas ritmadas. Cinco anos com uma pessoa era muita coisa. E eu não queria que fosse tão difícil ser aquela que iria embora. Não queria estar certa quando eu disse a ele, no passado, que aquilo não daria certo.
Devia ter dado certo. Devia ter durado mais do que cinco anos, que droga.
— Aqui está — Sam me ofereceu um copo com água e gelo.
Agradeci e aceitei o copo, bebendo tudo de uma vez, mal percebendo que eu estava mesmo com sede.
— Você não conversou com ele sobre o divórcio?
Desviei os olhos do anel e encarei Sam mais uma vez. Engoli a seco e cocei a ponta do meu nariz, sentindo que eu precisava relaxar.
— Sim, conversei — respondi. — Mas é o tipo de cara que acredita que podemos nos dar mais uma chance.
Sam assentiu devagar.
— E você não acredita — completou.
— Essa era a única chance — dei de ombros, me sentindo insuficiente. — Não estamos indo a lugar nenhum juntos.
Sam me encarou por tempo demais, quase como se estivesse tentando decidir se deveria falar o que estava pensando ou não. Não a culpava por hesitar, nos conhecemos há menos de uma hora e ela sabia mais sobre mim do que eu sobre ela, mas isso não nos tornava amigas.
— O quê? — incentivei-a falar.
Sam suspirou e balançou a cabeça.
— Se está tão decidida, por que está tão aflita?
Lambi meus lábios, pensando na resposta.
— E se não for a decisão certa? — questionei, mais para mim do que para ela. — E se… e se eu realmente devo dar mais uma chance? Não consigo decidir se estou sendo determinada ou inconsequente.
Por incrível que pareça, Sam sorriu.
— Sabe de uma coisa, ? — ela começou a dizer. — Acho que você está mais do que decidida e é por isso que está sofrendo tanto. Você já tem uma resposta, só não sabe como enfrentar ela.
Fiz uma careta, mordendo o lábio.
— Estranhamente, isso meio que faz sentido — admiti, a voz baixa.
— Então… — Sam deu de ombros e apontou para meu celular vibrando mais uma vez. — Você sabe o que fazer agora.
Ela segurou minhas mãos por um momento e me deu um sorriso encorajador. Mordi meu lábio com mais força e assenti devagar para ela, meus olhos lacrimejando.
— Obrigada, Sam.
Ela soltou minhas mãos. Peguei o celular de volta, colocando-o no bolso e procurei o dinheiro, quando ela chamou a minha atenção.
— Por conta da casa — disse, se referindo ao que eu consumi.
— Tem certeza? — indaguei, incerta.
— Sim — reforçou. — Vá resolver sua vida.
Agradeci mais uma vez e me preparei para chamar um táxi.


[flashback on]
Alguns dias atrás


?
Fechei a porta atrás de mim, enquanto bocejava, sentindo meu corpo inteiro implorar por um banho e uma cama. Joguei a minha bolsa no sofá e subi as escadas, sem obter uma resposta de .
Ele deveria ter chegado primeiro que eu e preparado o jantar. Era uma combinação que tínhamos feito quando decidimos finalmente morar juntos. Adentrei o meu quarto, encontrando algumas roupas no chão e revirei os olhos. Julgando pelas roupas jogadas e o barulho do chuveiro ligado, ele estava tomando banho e tinha mesmo chegado primeiro do que eu, mas não senti nenhum cheiro de comida indicando que ele tinha feito o jantar.
Normalmente, se as coisas ainda estivessem normais entre nós, eu teria entrado no chuveiro para aproveitar o banho com ele, mas parecia que, em algum momento, nossa intimidade para aquilo se perdeu. O máximo que fazíamos era trocar um selinho amigável. Eu não transava com ele há meses e ele nunca me procurava. Era mais fácil admitir que éramos dois amigos dividindo o mesmo teto e a mesma cama do que marido e mulher.
Pensei na separação diversas vezes, mas… eu não conseguia pedir.
Respirei fundo, amarrando o meu cabelo em um coque, ao mesmo tempo que tirava os sapatos dos meus pés. Me apoiei na escrivaninha e senti uma vibração. Quando passei os olhos pelo cômodo, notei que era o celular de , indicando a notificação de uma mensagem.
Eu não era o tipo de mulher que fuçava o celular do parceiro. Não era mesmo. E nem queria me tornar. Mesmo que não estivéssemos mais agindo como marido e mulher, isso não me dava o direito de seguir adiante no que eu estava prestes a fazer, mas o conteúdo da mensagem me chamou atenção. Peguei o celular e li a notificação, engolindo a seco.

Briana diz, às 11:08pm:
"Você deveria pensar um pouco em si mesmo, ."
"Quando finalmente criar coragem para largar a , você sabe onde me encontrar."


Senti meu coração bater mais rápido e mais forte. Procurando por mais, digitei a senha dele e abri a conversa dos dois, procurando pelas mensagens antigas, entendendo o contexto da conversa. Eu não sabia quem era Briana, mas tinha certeza que não era só uma amiga, como normalmente eu acharia.

Briana diz, às 07:46pm:
"Quanto tempo mais preciso esperar?"

diz, às 07:58pm:
"Não vou fazer o que está me pedindo, Bri. Tenho um vínculo com a .


Larguei o celular dele e pisquei meus olhos, afastando as lágrimas. Eu não me sentia traída. Não sabia se aquela conversa poderia ser considerada traição, mas isso não me importava no momento. Ele tinha procurado alguém. Ele tinha alguém esperando por ele, alguém que podia dar uma relação de verdade, alguém…
Ele tinha alguém.
Uma espécie de choque de realidade tomou conta de mim. O que diabos eu realmente estava fazendo ali? Não sabia dizer o que nossa relação nos tornou, mas tinha chegado ao ponto que nós dois queríamos coisas diferentes. Por que eu ainda o mantinha comigo? Por que não deixávamos um ao outro livre e seguíamos nossa vida, sendo amigos, como éramos agora?
Era melhor terminar uma relação de maneira amigável do que com mágoas. E eu não seria capaz de odiar o na mesma proporção em que eu o amava.
?
Não percebi o momento em que ele saiu do banheiro e notou que eu estava no quarto. Minha cabeça latejava, enquanto eu ainda pensava sobre tudo, sobre o que eu deveria fazer, se eu deveria fazer alguma coisa. Percebendo que eu não estava respondendo, pegou o celular e entendeu o que tinha acontecido.
— ele chamou e eu esfreguei o meu rosto com força. — , podemos conversar.
— Você podia ter sido sincero comigo — falei, respirando fundo, tão calma quanto eu me sentia. — Se tinha alguém na sua vida e eu estava te impedindo de seguir em frente, era só conversar comigo.
Ele ajeitou a toalha sobre a cintura, os pingos d'água caindo dos fios escuros de seu cabelo.
, me escute — pediu. — Não quero me separar de você. Eu quero acreditar que temos outra chance.
Senti meus lábios tremerem, lágrimas solitárias molhando minhas bochechas.
— Nós tivemos essa chance, ! — rebati. — Você sempre me convence sobre as coisas, por que não pode se convencer que isso não tem dado certo?
Apontei para nós dois, observando—o balançar a cabeça negativamente de maneira frenética. Soltei o ar pela boca e saí do quarto.
!
veio atrás de mim, mas não respondi e nem parei de andar. Eu não sentia raiva e nem nada parecido. Eu só queria que ele tivesse criado a porra da coragem e conversado comigo sobre isso. Teria sido mais fácil do que viver atormentada, achando que tudo aquilo era minha culpa. Que eu deixei a relação esfriar.
Andei até a minha bolsa e peguei o meu celular, abrindo a agenda telefônica, com um único número em mente para ligar agora.
parou na minha frente, encarando meu celular. — Não faz isso. Não me diz… não me diz que acabou.
Comecei a chorar baixinho, perdendo o controle de mim mesma e do que eu estava sentindo. Ele me abraçou e eu retribui, descansando minha cabeça em seu ombro.
— Acabou há muito tempo, — sussurrei.

[flashback off]


Atualmente

me pediu em casamento um ano e meio depois de ter me pedido em namoro e eu achei que estávamos indo rápidos demais ou sendo precipitados, mas ele tinha um jeito incrível de me convencer que algumas coisas dariam certo e o nosso casamento seria um deles, então eu aceitei me casar.
Foi fácil me apaixonar por ele.
Agora, três anos e meio depois de casamento, eu encarava a porta da nossa casa, criando coragem para entrar de uma vez e ter uma conversa definitiva. Ele podia acreditar que tínhamos mais uma chance, mas eu achava que já era hora de entender que um dia, as coisas simplesmente acabam e isso não era necessariamente uma coisa ruim.
Cocei a minha bochecha e, para não me sentir mais patética do que eu já estava me sentindo, abri a porta de uma vez, adentrando a casa silenciosa. Vi imediatamente, sentado no sofá, de costas para mim. Eu sabia que ele sabia que era eu entrando, mas não virou o rosto para me encontrar com um sorriso, como costumava fazer. Tirei o meu casaco, pendurando-o ao lado da porta e andei até o sofá, me sentando ao lado dele silenciosamente. Surpresa, notei que ele estava folheando o nosso álbum de fotos.
— Foi um casamento incrível, não foi? — ele questionou.
E embora estivesse vendo as nossas fotos de casamento, eu sabia que ele não estava falando da festa, mas dos nossos anos de casados.
— Sim — concordei, com a voz baixa. — E é mais do que eu posso dizer de alguns casamentos.
Ele assentiu, passando o dedo por uma foto nossa. Eu ainda estava com o vestido de noiva e ele tinha acabado de me sujar com o recheio do bolo, arrancando risadas minhas, enquanto beijava a ponta do meu nariz e o fotógrafo registrou aquele momento.
… — chamei, mas ele não me deixou completar.
— Eu assinei o divórcio, se é isso que você quer saber — ele me interrompeu, fechando o álbum de fotos, colocando—a do outro lado do sofá.
Respirei fundo e balancei a cabeça.
— Eu estava esperando que pudéssemos conversar antes de tudo — ele continuou, finalmente me encarando. Sua expressão estava vazia, mas tranquila. — Mas eu vi que você já tinha assinado e percebi que você estava mesmo decidida. Não havia nada que eu pudesse fazer, não é?
Dei um sorriso triste e meus olhos lacrimejaram. Toquei a sua bochecha com uma mão e acariciei a sua pele, sentindo meu coração bater mais forte contra meu peito.
— Você foi o cara mais incrível com quem eu tive o prazer de compartilhar a minha vida — confessei, sincera.
sorriu para mim.
Ele segurou a minha mão livre.
— Eu sempre vou te amar, — disse. — Sabe disso, não sabe?
Pisquei meus olhos, querendo afastar as lágrimas. Não queria chorar ali.
— Eu sei.
Abracei-o rapidamente, meu coração doendo.
— Obrigada por tudo, — sussurrei.
Ele não me respondeu, ao invés disso, me abraçou com mais força antes de finalmente me soltar.
Encarei o anel no meu dedo e tirei a aliança. Peguei a mão de e devolvi a aliança para ele, beijando a sua bochecha devagar. Senti que precisava deixá-lo um pouco sozinho e foi isso que eu fiz.
Saí da sala e subi para o quarto, decidida a arrumar as minhas coisas, mas quando cheguei no quarto, as malas de estavam feitas e os papéis do divórcio estavam na cama, com sua assinatura.
Sam tinha razão.
O fim depende muito do ponto de vista de alguém, mas diante do meu, eu só tinha uma coisa a dizer: o fim era uma merda.


FIM



Nota da autora: Sem nota.


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