Finalizada em: 04/05/2021

Prólogo

ㅤ📍 Los Angeles, Califórnia/EUA às 19:07:

Quando levou o copo de café à boca, bebericando mais um gole, seu rosto expressou uma careta descontente ao se dar conta de que o líquido estava frio. A sala estava silenciosa e ela analisava alguns arquivos espalhados sobre a mesa, na tentativa de diminuir o fluxo de casos que estavam tendo recentemente. Não que ela reclamasse; muito pelo contrário. tinha se tornado viciada em trabalho. Seu supervisor achava aquilo um pouco preocupante, mas a julgar os últimos acontecimentos pelo qual ela tinha passado, era compreensível o seu comportamento.
A mulher soltou um suspiro, prendendo o cabelo em um coque mal amarrado, devido aos fios curtos. Ergueu os olhos até a porta, encontrando seu supervisor entrando com Matt, ambos com uma expressão séria.
— Notícia ruim? — Ela arriscou. — Não estou com humor para notícia ruim. Posso ser poupada?
Charles, seu supervisor, balançou a cabeça em negação. Ela esperou que ele se sentasse na cadeira à sua frente, Matt logo ao lado.
, nós não sabemos como te dar essa notícia... — Matt começou. — Mas também não é como se tivesse outro jeito, então…
revirou os olhos. A coisa mais irritante sobre Matt, é que ele nunca ia direto ao ponto. Sempre encontrava o caminho mais longo para dizer o que finalmente queria. Ela desviou os olhos dele e encarou Charles, jogando a responsabilidade para ele.
— Vou ser direto: — Charles avisou. — O assassino do seu filho está de volta. Ele sequestrou outra criança.
Se houvesse como explicar o que tinha acontecido, a agente não teria encontrado palavras para descrever. Sua respiração falhou, ela perdeu as palavras e seus olhos ficaram turvos, vendo escuridão por um momento. Tinha que ser alguma piada. Algum tipo de jogo doentio e cruel, mas quando ela olhou para os dois homens à sua frente de novo, somente uma mesa separando-a deles, ela soube que não havia brincadeira nenhuma. Eles estavam falando sério.
O pesadelo estava mesmo acontecendo.
Tinha passado pelo inferno quando seu filho foi sequestrado e, consequentemente, assassinado. A culpa lhe esmagava desde então e ela nunca estava completamente curada, mesmo depois de dois anos do ocorrido. Mesmo com todas consultas psicológicas e psiquiátricas. Mesmo se afundando no trabalho, dia após dia, noite após noite. Ela pensava em todos os dias. Também, como não poderia?
Era seu filho e ela o perdeu.
Não. Não o perdeu.
Aquele monstro tinha tirado seu menino dela.
, você está bem? — Seu supervisor questionou.
Matt chutou a perna do homem.
— Que pergunta mais idiota, Charles! — Reclamou, apontando para a mulher com a expressão óbvia. — É claro que ela não está bem!
Charles expressou uma careta nada contente, mas reconheceu que foi uma pergunta bastante estúpida.
, ainda um pouco desnorteada, forçou a respiração e engoliu a seco. Obrigou a si mesma a manter a calma e respirou fundo, piscando os olhos na direção dos dois colegas.
— Sim, eu… — tentou dizer, limpando a garganta para que a voz saísse mais limpa. — Estou bem.
Matt levantou uma sobrancelha, como se soubesse que ela estava mentindo, mas não abriu a boca para dizer nada. Ele nem sequer imaginava como ela devia estar se sentindo e a respeitava por ainda estar ali. Considerando tudo, era compreensível que ela fosse embora sem nem querer saber qualquer detalhe mais. Mas continuava ali. Ela sempre continuava ali.
— Ahn... Ok. — Charles retomou, buscando alguma resposta com Matt, mas o rapaz apenas deu de ombros. — Seu antigo supervisor repassou o caso. Mas o diretor quer a equipe antiga.
se esforçou para manter a concentração.
— A equipe antiga não existe mais. — Observou. — Além do mais, é meio contra as regras que eu participe, não é?
Matt acenou, meio desconfortável.
— Não é mais... — ele avisou, coçando a bochecha. — Porque você não tem nenhum vínculo emocional com a… vítima.
— E não faz diferença nenhuma que eu tenha vínculo emocional com o caso? — Uma risada seca escapou dos lábios dela.
, não foi isso que ele quis dizer. — Charles apressou em responder. — Você não é obrigada a aceitar o caso, mas… acho que você precisa desse desfecho. Se, ainda assim, não se sentir capaz de continuar, eu posso convencer o diretor.
A mulher respirou fundo, analisando tudo. Não existia mesmo a equipe antiga. Na época, ela fazia parte do departamento de homicídios, enquanto seu ex-marido era analista de perfil. As duas equipes se juntaram, com poucas pessoas, para que trabalhassem juntas na captura do sequestrador e pudessem salvar o seu filho. Ela não podia ter participado do caso, mas não houve quem conseguisse fazê-la se afastar de salvar o próprio filho.
Agora… havia outra criança por aí, assustada, passando pela mesma coisa que tinha passado dois anos antes. tinha muito mais informações agora do que tinham no passado, o que significava que podiam salvar aquela criança, podiam mantê-la viva.
Ela jamais aceitaria o caso, se fosse por ela, mas seu coração falava mais alto. Sua consciência pesaria demais se negasse, então, prometendo a si mesma fazer aquilo pelo seu filho, ela tomou uma decisão.
— Vocês já chamaram os outros? — Ela questionou.
Conhecendo seu supervisor, era óbvio que ele tinha entrado em contato com os outros antes de chegar até ela. seria a mais diretamente afetada e, embora Charles não gostasse da ideia de ela fazer parte daquela investigação, no fim, o homem só estava cumprindo ordens.
Matt sorriu.
— Eu adoro como você é esperta! — Ele comentou. — E, sim, nós chamamos os outros. Estão na sala de descanso, esperando por você.
O agente Half balançou a cabeça em negação.
— Só tem um problema.
encarou o supervisor. Ela deixou os ombros caírem.
— Deixa eu adivinhar... — disse, deixando escapar mais um suspiro. — Vocês não encontraram o .

Under the exit lights, as beautiful as ever;
I really wish that I dressed up a little better.

ㅤ📍 99 Hanover St., Califórnia/EUA às 22:02:

está aqui?
Bati a porta do carro com força o suficiente para que ela fosse fechada direito e respirei fundo, encarando o lugar. Tinha sido tolice da minha parte esperar que eu fosse encontrar o SUPERICO tão mudado em dois anos, mas ele continuava do mesmo jeito, a estética preta e amarela de decoração, parecendo um espaço tão pequeno por fora.
— Sim. — Respondi, colocando as mãos dentro do bolso do meu sobretudo cinza que eu usava.
Eu tinha arrastado Matt comigo, que insistiu em me fazer companhia depois que eu tinha declarado que sabia onde o meu ex-marido estava. É claro que eu sabia. ainda vivia o luto tão intensamente e eu o conhecia tão bem, que poderia encontrá-lo em qualquer lugar do mundo de olhos fechados. Ele nunca tinha sido um mistério para mim.
— É um bar... — Matt observou, deixando bem claro o que ele queria dizer.
— Sim, mas também é um restaurante. — Expliquei, lembrando das poucas vezes em que estive ali. — Ele costumava vir aqui com o sempre que tinha folga do trabalho. Era o ponto de encontro dos dois.
E era justamente por aquilo que eu sabia que, de todos os lugares do mundo, estaria ali. Revivendo e se torturando com lembranças e culpa.
— Você não participava? — Matt questionou, curioso.
Soltei um suspiro, balançando a cabeça.
— Não, eu tinha meu próprio ponto de encontro com o .
Nós dividíamos a nossa atenção separados para o e juntos. gostava de estar dentro daquele restaurante com o mais novo, experimentando todo tipo de prato, sempre fazendo nosso filho mudar seus favoritos. Meu ponto com era a nossa antiga casa de praia.
… — umedeci meus lábios, sentindo Matt hesitar ao meu lado. — Não precisa fazer isso, se não quiser. Eu posso conversar com ele.
Eu quase soltei uma risada, imaginando o desastre que seria se ele fosse no meu lugar.
— Ele não vai te ouvir, Matt. — Recusei o seu pedido, sabendo que era a mais pura verdade. Meu parceiro teria sorte se saísse ileso de um soco. — Eu estou bem, é só… faz um tempo que não o vejo. Não tenho ideia de como ele está, mas sei que ainda está sofrendo e se culpando. — Desabafei, mal percebendo que minha voz tinha embargado, indo contra o que eu tinha acabado de falar sobre estar bem. — Me preocupei com ele todos os dias, desde o divórcio, mas ele simplesmente… — funguei baixinho, passando a costa da mão pelo nariz, tentando manter a minha compostura profissional.
Eu não queria Matt relatando ao meu supervisor que eu estava um pouco instável para assumir o caso. Não quando eu estava tão decidida agora a pegar aquele desgraçado que tirou o meu filho de mim.
Eu ouvia a risada de por cada canto da casa. Ouvia-o gritando, chamando por mim, implorando que eu fizesse seu pai parar de molhar ele com a mangueira ou de jogá-lo na piscina. Eu sonhava com seu sorriso todas as noites e acordava todas as manhãs chorando, mesmo depois de dois anos.
— Estou bem. — Reforcei, antes que ele abrisse a boca para dizer algo. Engoli a seco e apontei com a cabeça para o bar/restaurante. — Vou entrar. Me espere aqui.
Matt assentiu, cruzando os braços, encostando-se no carro. Acenei com a cabeça em uma despedida temporária e dei as costas para ele, criando coragem para finalmente fazer meus pés andarem até a porta do local. Respirei fundo e empurrei a porta, entrando no lugar, sendo recebida com lufadas de ar gelado. Parei na entrada, olhando ao redor.
O SUPERICO era dividido em duas partes: à esquerda ficava o bar; à direita, mesas espalhadas para quem optasse por consumir mais do que bebidas alcoólicas. Eu não tinha dúvidas de onde estaria.
Dispensando a recepcionista, indiquei que eu iria para o bar. Estava um pouco vazio, mas não vazio o suficiente para eu encontrá-lo sozinho. Mais para o lado direito do bar, quase escondido da luz, estava acompanhado de uma mulher bonita, os fios ondulados do cabelo caindo em filas brilhantes para trás. Ele estava de costas para mim e ela de frente, o que me permitiu ver que ela estava sorrindo para ele, um sorriso tão sincero, que me perguntei o que ele estava falando.
Antes que eu percebesse, estava me reprimindo por sentir uma pontada de ciúme daquela cena. Eu não tinha o direito de sentir nada. estava livre e solteiro, e podia ficar com quem quisesse.
Mesmo assim, não significava que doía menos.
Sem esperar nem mais um segundo, recusando-me a ficar parada no meio do bar como uma coitada patética, tirei as mãos do bolso do sobretudo e caminhei até o casal. Quando parei próxima a eles, a mulher parou de sorrir e me encarou. sequer tinha se virado.
— Algum problema? — A loira perguntou, incomodada.
Eu teria respondido, mas meu ex-marido finalmente se virou para mim. O copo de bebida na sua mão ficou suspenso no ar e o sorriso falso morreu do seu rosto. ajeitou a sua postura na cadeira e precisei morder o lábio com força para impedir meus olhos de lacrimejarem.
Ele ainda era o mesmo.
Exceto que tinha deixado a sua barba crescer um pouco, como se não se importasse mais com a sua aparência. Isso também explicava as roupas deselegantes que ele estava usando, para um ambiente sofisticado como aquele.
— Oi, . — Murmurei. — Podemos conversar?
Ele deixou o copo sobre a bancada do bar. Seus olhos piscaram na minha direção e ele se levantou da cadeira, parecendo meio atordoado.
... — sussurrou, exalando surpresa em seu tom de voz.
Não o culpava. Não nos víamos há meses e agora eu aparecia ali, na frente dele, sem sequer um aviso. Não tinha sido por falta de tentativa, no entanto. Meu supervisor garantiu que tentou entrar em contato diversas vezes com ele, e mesmo sabendo que ele não ouviria, deixei uma caixa postal.
pareceu sair de uma bolha e olhou para si mesmo, avaliando as próprias roupas e levantou os olhos para a mulher que o acompanhava.
— Pode nos dar licença? — Ele pediu.
A loira o encarou, esperando que ele falasse que era algum tipo de brincadeira, mas ele mal se importou, voltando a olhar para mim. A mulher saiu em seguida, soltando o ar irritado pela boca e nos deixou, finalmente, sozinhos.
— Eu não estava te esperando... — ele murmurou, voltando a se sentar.
— Eu sei. — Respondi, sentando-me no lugar em que a loira estava segundos atrás. — Eu não viria, se não precisasse.
assentiu devagar, meio perdido. Ele pegou a bebida de volta e virou todo o restante em um gole só, afastando o copo de si. Então me encarou, mantendo seus olhos em mim como se precisasse daquilo.
— Você continua tão linda. — Murmurou, deixando escapar, mas ele não pareceu arrependido logo depois.
Arfei, surpresa, sem estar devidamente preparada para receber aquele comentário. Meu coração deu um salto dentro do peito e eu me obriguei a me manter calma, a respiração controlada, morrendo um pouco por dentro, ardendo de vontade de abraçá-lo, de tocar a sua pele.
Era horrível perceber que, apesar de tudo, eu ainda o amava.
— Você está bêbado... — observei.
Meu luto tinha me feito afundar no trabalho, dia após dia, noite após noite. Ele se afogou na bebida, na esperança de esquecer que sentia tudo. Não achava que funcionava, mas perdi o controle sobre há muito tempo.
— Estou sóbrio o suficiente para te ouvir. — Ele declarou.
Respirei fundo. Eu não tinha pensado, até agora, como iria iniciar aquela conversa.
Quando Matt e Charles me avisaram sobre o caso e o assassino, senti como se o ar fosse tirado de mim e eu esquecesse de como respirar. Parecia cruel estar em um caso onde eu seria constantemente lembrada que precisava salvar uma criança — coisa que eu não tinha feito pelo meu próprio filho.
— Ele voltou. — Soltei de uma vez.
Fiquei tensa, observando sua mandíbula travar e seu corpo inteiro ficar rígido. me encarou, procurando vestígios de que, talvez, eu pudesse não estar falando sério. Mas eu estava.
— Quer beber algo? — Ofereceu-me, escondendo a raiva que sentia.
Engoli a seco, balançando a cabeça. Eu não gostava nenhum pouco quando ele fingia que estava calmo, que algo não o abalava, mas a linguagem corporal do seu corpo me dizia outra coisa e seus olhos brilhavam, sempre mostrando o quanto ele estava furioso.
— Não.
Ele cutucou o balcão com os dedos. Em seguida, depois do que pareceu um minuto inteiro de silêncio, levantou.
— Venha comigo, . — Era para ter saído como um pedido, mas soou mais como uma ordem. Percebendo o mesmo que eu, virou-se para mim, respirando fundo. — Por favor.
Colocando o cabelo atrás da orelha, levantei e segui ele até o outro lado, para uma das mesas vazias. Ignorei os olhares que percebi sobre nós dois e me sentei na cadeira, ficando de frente para ele.
— Quer comer algo? — Ofereceu-me novamente e eu neguei com a cabeça, recusando. — Me conte, então: quem voltou?
Estreitei os olhos na direção dele, perguntando-me se ele não sabia mesmo de quem eu falava ou só queria ouvir em voz alta.
, só há uma pessoa que você esperaria voltar... — apontei, mostrando que era uma coisa bastante óbvia.
respirou forte, seu peito subindo e descendo com a camisa gastada. Ele continuava lindo, mesmo bêbado e perdido.
— O que aconteceu? — Sussurrou.
A parte mais difícil era aquela. Reviver algumas coisas nunca era fácil.
— Ele sequestrou uma nova criança. — Sem saber como dizer delicadamente, resolvi ser direta. — Meu supervisor recebeu ordens de reunir a antiga equipe para resolver o caso.
— É contra as regras... — lembrou, arqueando uma sobrancelha.
É, eu tinha dito a mesma coisa, mas do que tinha adiantado?
— Não é mais nosso filho, . — Murmurei, hesitando.
Os olhos dele ficaram escuros. Sua expressão estava infeliz e ele colocou as duas mãos sobre a mesa, o mais perto de mim que nunca esteve em muito tempo.
— Então você está aqui para me levar de volta. — Constatou, percebendo.
Não neguei, porque era verdade. Meu supervisor o queria no caso, mas mais do que isso, eu queria.
— Preciso de você, . — Sussurrei o pedido.
— Não, , não precisa. — Devolveu, azedo, parecendo decidido.
Eu não iria sair dali sem ele. Não podia. Eu simplesmente não aguentaria passar pelas mesmas coisas sem ele do meu lado.
Umedeci meus lábios e me ajeitei melhor sobre a cadeira, juntando as minhas duas mãos na mesa, como ele tinha feito antes. Coloquei as minhas mãos sobre a dele, suprindo a minha necessidade de sentir o seu toque, por mais leve que fosse.
abriu as próprias mãos e segurou as minhas com seus dedos.
... — implorei. — Preciso de você. Não posso fazer isso sozinha.

— Preciso de justiça. — Continuei, apertando meus dedos contra os deles.
— E eu preciso de vingança. — Retrucou, acelerando a minha respiração por tamanha sinceridade. — Sabe o que vai acontecer. Se eu voltar, não pode me impedir.
Eu sequer hesitei em tomar uma escolha. Estava desesperada para que ele aceitasse.
— Não vou! — Garanti. — Eu prometo.
Prendi a respiração quando ele me encarou com tanta intensidade e levou as palmas das minhas mãos até a sua boca, beijando a minha pele. Era algo que ele fazia sempre, mas não pude suportar. Não naquele momento. Não quando estávamos separados há meses. Não quando ele ainda mexia comigo.
Puxei minhas mãos de volta e ele murmurou um pedido de desculpas baixo, mas não me importei.
— Temos que ir... — anunciei, levantando-me da cadeira.
Tinha levado duas horas para chegar ali. Quando perdemos e nos separamos, nós vendemos a casa e dividimos os nossos bens. Eu continuei na cidade e no trabalho, mas se demitiu e se mudou para o outro lado da cidade, há duas horas de distância.
— Não tenho apartamento na cidade. — Ele lembrou, levantando também.
Eu esqueci daquele detalhe por um momento e tomei uma decisão que esperava que não fosse me arrepender.
— Fique no meu. — Ofereci, dando as costas para ele, saindo do lugar.
Não sabia como ele podia aguentar ficar ali, rodeado de lembranças. Parecia demais para uma pessoa suportar, mas sempre suportou mais do que eu. Mesmo agora.
Do lado de fora, parei na calçada, sem ir direto até Matthew. Aproveitei o vento gélido contra a minha pele, enquanto eu respirava o ar puro, tentando conter as minhas emoções. passou direto por mim e eu assisti ele entrar no carro, no banco de trás, sem sequer olhar para Matt.
Meu parceiro deu de ombros e eu suspirei, andando até ele.
— Como você o convenceu? — Curioso, Matt me indagou.
Encarei meu parceiro e deixei meus ombros caírem, cansada. Abri a porta do carro, pronta para entrar, mas não sem antes responder à sua pergunta.
— Eu prometi vingança.



Parte 1
No regrets, is what we said; we can't go back again.

Fechei a porta do meu apartamento, assim que entrou. Era um lugar espaçoso o bastante apenas para mim, mas, naquele momento, eu agradeci ter um quarto sobrando. Seria melhor ele dormir no conforto de uma cama, do que estar espalhado pelo sofá — que eu já testei não ser nenhum pouco confortável.
Acendi as luzes e joguei as chaves em um frasco vazio na escrivaninha pequena, que ficava bem do lado da porta. Sem jeito, observei colocar a sua bolsa em cima do sofá. Nós tínhamos passado em seu apartamento, apenas para que ele pudesse pegar algumas roupas, sem saber exatamente quanto tempo ele ficaria ali na cidade.
Eu esperava que fosse pouco.
— É um lugar bem… — ele tentou dizer, olhando ao redor.
O espaço da sala era ligado à cozinha, tornando as duas uma coisa só. Havia um pequeno corredor que levava à três portas: os dois quartos e um banheiro. Tinha sido o melhor apartamento que eu pude comprar com o dinheiro da divisão de bens do divórcio.
— Você não pode ir assim amanhã. — Interrompi-o, avisando.
olhou para mim, a expressão confusa.
— Assim como?
Apontei para ele inteiro, como se fosse óbvio.
Tirei os saltos dos meus pés, deixando os sapatos perto da escrivaninha e aproveitei para também tirar o meu sobretudo, revelando o vestido preto que eu usava por baixo.
— Parecendo que está bêbado o tempo todo. — Expliquei.
Por incrível que pareça, ele riu. Meu coração acelerou ao som da sua risada, uma coisa que eu jamais pensei que fosse ter o prazer de ouvir novamente.
— Tecnicamente, eu estou... — ele disse.
Revirei os olhos, caminhando até a cozinha, somente para beber um copo de água. Algum ser cósmico devia estar gostando muito de me castigar no momento.
— Você precisa fazer a barba e os fios do seu cabelo precisam ser aparados. — Comentei.
— O que você sugere? — Questionou-me.
Terminei de beber o copo de água e encarei ele por um momento, tomando uma decisão.
— Venha! — Chamei.
Não olhei para saber se ele estava me seguindo, mas andei pelo corredor até a primeira porta e a abri. O banheiro não era muito espaçoso, mas era grande o suficiente para caber duas pessoas dentro, então entrei e apareceu logo atrás de mim, parando na porta. Ele não disse nada, observando-me em total silêncio, enquanto eu pegava um barbeador e creme de barbear, além de uma tesoura pequena.
— Entre! — Pedi.
hesitou um pouco, mas acabou entrando.
De costas para a pia, tomei impulso com as mãos e me sentei na mesma, fazendo com que ele ficasse de frente para mim, quase no meio das minhas pernas. Era uma coisa muito íntima, pensei, o que eu estava prestes a fazer, mas engoli a seco e afastei os pensamentos.
Podíamos estar separados há pouco mais de dois anos, mas, antes disso, tivemos anos de intimidade. Uma coisa tão intensa daquela maneira não era jogada fora do dia para a noite.
— Você vai mesmo fazer isso? — Ele indagou.
— Talvez se você calar a boca... — respondi.
Ele umedeceu os lábios e me obedeceu, calando a boca.
Respirei fundo, tentando manter a concentração no que eu tinha que fazer e não no fato de ele estar tão próximo de mim daquela maneira. tentou manter os braços cruzados, mas acabou colocando as mãos uma de cada lado da pia, perto da minha perna.
Prendi a respiração e soltei segundos depois, sentindo os seus olhos em mim, quando comecei a passar o creme na área de sua barba malfeita.
— É estranho que você esteja preparada para barbear alguém... — ele murmurou.
Mordi a parte interna da minha bochecha.
— Era do Ethan. — Expliquei, dando de ombros, evitando encarar os seus olhos.
Resolvi que eu não tiraria a barba dele. Só ajeitaria o que ele tinha deixado malfeito e apararia as pontas do seu cabelo, apenas o suficiente para deixá-lo com um ar mais profissional e apresentável. Do jeito que estava agora, parecia alguém que sempre estava à beira do fundo do poço.
— E quem é Ethan? — Insistiu.
Não era algo que eu queria falar com o meu ex-marido, mas eu também sabia que ele não desistiria, enquanto não tivesse as respostas que estava procurando.
Comecei a trabalhar na sua barba, deixando-a mais apresentável, concentrando-me mais naquela tarefa do que em responder às suas perguntas. Eu tinha pedido que ele calasse a boca, era uma tarefa tão difícil?
— Ninguém. — Murmurei.
Ethan tinha sido um cara que eu me envolvi temporariamente, até perceber que não estava dando certo. Eu não me sentia preparada para apostar em um novo relacionamento, então terminei com ele antes que as coisas começassem a ficar sérias e ele achasse que nós tínhamos algum futuro. A única coisa séria que eu tinha para levar no momento, era o meu trabalho.
Entendendo o meu recado, não perguntou mais nada. Pelo restante do tempo, ele ficou totalmente em silêncio, deixando que eu completasse a tarefa em paz.
Quando terminei o seu cabelo, comecei a limpar o creme do seu rosto.
— Pronto! — Avisei, apontando para o espelho bem atrás dele, do outro lado.
Ele se virou o suficiente para olhar a própria aparência e assentiu, sem dizer sequer uma palavra. Eu queria descer da pia, mas ele estava dificultando o meu caminho, então esperei.
— Obrigado.
Acenei com a cabeça, aceitando o seu agradecimento, esperando que ele saísse, mas continuou ali, as duas mãos em cada lado do meu corpo, seus olhos fixados em mim.
? — Sussurrei, confusa.
Notei que ele tinha engolido a seco.
— Sinto sua falta, . — Confessou, a voz tão baixa, que quase falhou.
Devia ter custado um pouco ele me dizer aquilo. Senti vontade de chorar, mas controlei a minha expressão.
— Sem arrependimentos, . — Falei, umedecendo os meus lábios. — Foi o que dissemos, lembra? — Meus olhos lacrimejaram.
Levei a minha mão até o rosto dele e o ofereci um sorriso triste e exausto, beijando a pele da sua bochecha devagar. Meio atordoado, se afastou, dando-me espaço. Eu finalmente desci da pia.
— Seu quarto é o da porta esquerda. — Avisei.
Saí do banheiro, deixando-o sozinho e fui para o meu quarto, trancando a porta. E desabei em um choro silencioso, torcendo para que ele não percebesse nada, porque, mais do que tudo, eu também sentia a sua falta.


ㅤ📍 Às 07:11:

Seria uma mentira sem tamanho dizer que eu tinha tido uma boa noite de sono. Fiquei me revirando a noite toda na cama, depois de ter me acalmado da crise de choro, lembrando o tempo todo que estava a uma porta de distância, bem no quarto ao lado.
Tive poucos intervalos de sono e fiquei aliviada quando o despertador tocou para o trabalho.
Olhando pela última vez no espelho, vesti o casaco por cima da camisa, calçando os saltos pretos. Abri a porta do quarto, assustando-me ao encontrar parado ali, com a mão suspensa no ar, prestes a bater na porta.
Ele abaixou a mão quando percebeu que não precisaria bater mais e umedeceu os lábios.
— Fiz o café da manhã. — Apontou para a cozinha e eu senti o cheiro de queijo e manteiga.
Não respondi imediatamente, notando que ele estava muito bem vestido, ao contrário da noite anterior.
optou por usar um terno preto e o cabelo estava bem penteado — mas eu sabia que mais tarde seus fios estariam bagunçados —, e sua barba estava bem feita e comportada. Ele tinha um ar cansado e cheirava a alguma lavanda que eu não conhecia.
— Obrigada! — Agradeci pelo café da manhã e saí do quarto, passando por ele. — Mas eu não tomo mais café da manhã.
Com o vício que eu tinha adquirido de me afundar no trabalho, eu mal lembrava de comer alguma coisa. Antes, eu gostava de sentar à mesa, com e , e aproveitar a refeição do café da manhã antes de enfrentar o dia, mas agora eu simplesmente saía de casa e comprava um copo de café em qualquer lugar que eu encontrasse pelo caminho.
Procurei a minha bolsa, largada em um canto do sofá e a peguei, virando-me para o meu ex-marido.
— É torrada com queijo... — ele disse, encarando-me com olhos inexpressivos. — E suco de laranja com leite, como você gosta.
— Eu não tinha laranja e queijo. — Lembrei, estreitando os olhos para a bancada da cozinha, onde estavam as refeições.
— Levantei mais cedo e passei na padaria... — explicou, dando de ombros.
Algo dentro de mim se remexeu e eu me perguntei quanto tempo disso eu ainda iria aguentar. Era simplesmente cansativo sentir que eu estava pisando em ovos com , quando antes era fácil conversar com ele sobre qualquer coisa.
— Escute, … — suspirei, sentindo que eu definitivamente precisava de uma boa noite de sono sem lágrimas. — Você não precisa fazer isso, não precisa agir assim.
— Assim como? — Indagou.
— Como se ainda fôssemos… alguma coisa. — Expliquei, esperando que ele não se ofendesse.
— Eu prometi que cuidaria de você. — Sua voz soou firme, dando a entender que a promessa ainda era válida.
Balancei a cabeça, negando o seu fato.
— Sim! — Concordei. — Nos votos do casamento. E, então, você pediu divórcio.
Sua expressão se fechou. Ele não esperava que eu falasse aquilo, mas não era nenhuma mentira. Eu não esperava que ele cumprisse nenhuma promessa em relação a mim mais. Mas, mais do que isso, eu não podia culpá-lo por ter pedido o divórcio, quando nem eu mesma lutei para manter o casamento. Eu simplesmente… aceitei.
… — sussurrou, mas não esperei que ele falasse mais nada.
Eu não queria ouvir. Tinha muitas emoções em jogo e eu estava um pouco cansada de sentir tudo.
— Temos que ir! — Interrompi. — Não gosto de me atrasar. — Peguei a chave em cima da escrivaninha e abri a porta, escutando-o bufar atrás de mim.


ㅤ📍 Às 08:29:

Quando nós dois chegamos ao prédio principal, senti os olhares nos acompanhando a cada passo que eu dava em conjunto com . Todo mundo estava comentando sobre a presença do meu ex, claro, por que não estariam? Não havia ninguém naquele prédio que não soubesse a tragédia que nos tinha acometido e como o casamento tinha acabado, tornando a minha vida praticamente um livro aberto. Qualquer um ali, que fosse um funcionário antigo, conhecia . Ele tinha trabalhado aqui antes de tudo, afinal.
— Parece que nada mudou... — murmurou ao meu lado, mal-humorado.
Ele ignorava os olhares, exatamente como eu estava fazendo.
Entrei no elevador, agradecendo mentalmente que ele estava vazio e apertei para nos levar até o décimo primeiro andar.
Durante o caminho inteiro, não trocamos sequer uma palavra que fosse. Ele parecia estar com raiva de algo e eu não me importei, desde que não precisasse manter um assunto forçado com ele apenas para manter um pouco de civilização entre nós.
Quando o elevador abriu, fui a primeira a sair, sentindo-o me seguir em silêncio, seus passos pesados anunciando a sua presença. Eu não precisava olhar para trás, para saber que ele estava com as duas mãos nos bolsos da calça, a expressão completamente fechada e os olhos nublado de mal humor, ignorando os novos olhares curiosos caindo sobre nós dois.
— Oi, Jeff. — Parei em uma mesa adiante, cumprimentando um dos funcionários com quem eu mantinha uma relação profissional bastante boa. — Eles já estão aqui?
Jeff era muito mais jovem do que eu e era excelente em seu trabalho.
— Sim. — Ele respondeu, tentando não olhar muito para , parado ao meu lado como se fosse meu segurança. — Na sala de reunião.
— Obrigada! — Agradeci com um sorriso mínimo e gentil. — Pode deixar isso na minha sala?
Estendi a minha bolsa para ele, que assentiu, pegando. Agradeci mais uma vez e revirei os olhos para , andando até a sala de reunião, do outro lado do espaço.
Antes de abrir a porta, virei-me para o homem que me acompanhava.
— Por favor, seja educado! — Pedi.
— E quando é que eu não sou? — Reclamou, tirando as mãos de dentro dos bolsos.
— É que você está com aquele olhar... — defendi-me.
estreitou os olhos para mim, desconfiado.
— Que olhar?
Coloquei a mão na escrivaninha e sorri fechado. Sem responder, abri a porta e entrei, encontrando o resto da equipe reunida ali. Todos estavam em pé, conversando baixo entre si e a conversa morreu assim que todos os pares de olhos se viraram para nós dois.
pigarreou, parando bem ao meu lado esquerdo, reconhecendo cada um presente ali.
— Bom dia! — Murmurei, preenchendo o silêncio que se instalou.
Fechei a porta atrás de mim. Charles foi o primeiro a se movimentar, parando na nossa frente. Eu o observei estender a mão para , que aceitou sem cerimônia alguma, o corpo rígido, mas aparentemente só eu percebia a sua linguagem corporal.
— Obrigado por aceitar... — meu supervisor pronunciou. — Sei que não é fácil.
assentiu, soltando a mão de Charles.
— Não vim por vocês. — Ele respondeu. — Vim pela .
Matt olhou para mim e deu de ombros, como se achasse graça em alguma coisa e eu soltei um suspiro resignado, balançando a cabeça em negação bem devagar. Deixei os dois sozinhos e fui a primeira a me sentar, acolhendo-me em qualquer cadeira vazia e o restante da equipe seguiu o meu exemplo.
Fora eu e , ao todo, eram seis pessoas ali reunidas.
— Podemos começar? — Charles indagou, sentando-se no topo da mesa.
Ele começou a abrir a pasta que estava ao seu alcance e percebi que tinha um para cada pessoa ali. Peguei a minha pasta e abri na primeira página, encontrando a foto de uma criança que devia ter a mesma idade que tinha quando foi sequestrado. A lembrança pesou para mim.
— Todos vocês conhecem o caso, porque estiveram aqui antes... — Charles iniciou, evitando olhar para mim e . — Infelizmente, não conseguimos capturar o assassino. Mas temos uma chance agora.
estava sentado à minha direita, o que me fez perceber que ele estava sentado de uma maneira muito rígida. Quando olhei para ele, notei que ele estava encarando os três agentes bem à nossa frente.
... — sussurrei, cutucando-o pelo cotovelo. — O que você está fazendo?
— Você lembra das mesmas coisas que eu? — Questionou, sem sequer tirar os olhos dos três.
Charles continuou falando sobre alguma coisa, mas eu não estava prestando atenção. Os agentes Russel, Grishen e Hendricks não estavam prestando atenção em nós dois, alheios aos olhares de .
— O quê? — Repeti, confusa.
— Desculpem interromper... — ele aumentou o tom de voz, chamando a atenção de todo mundo, incluindo Charles. — Eu tenho uma observação e um pedido. — Meu ex-marido encarou o meu supervisor com uma expressão séria, as mãos cruzadas sobre o colo.
Charles olhou para mim, buscando alguma coisa, mas eu somente dei de ombros, mostrando que eu não sabia de nada. Eu nem sequer sabia com o que diabos o homem ao meu lado estava incomodado.
— Prossiga, agente . — Meu supervisor permitiu.
Esfreguei minhas mãos no rosto, tendo a certeza que eu iria ter um colapso de estresse.
— Você quer ter sucesso no caso dessa vez, certo? — questionou, recebendo um aceno positivo e bastante desconfiado de Charles. — Então não deveria manter a equipe original.
Engoli a seco, finalmente entendendo aonde ele queria chegar.
— Desculpe... — Charles interviu. — O que disse?
Owen e Matt permaneceram quietos do meu lado esquerdo. , no entanto, parecia bastante decidido sobre a sua opinião.
— Eu disse que você deveria diversificar a equipe. — Meu ex explicou. — Ter pessoas novas, com opiniões e visões novas sobre o caso, ao invés de alguém que já tenha cometido erros antes. Isso compromete o sucesso do caso.
— Nós não cometemos o erro de propósito! — Russel se exaltou, as veias saltadas.
A agente Hendricks parecia tranquila, porque a acusação não a envolvia, mas Grishen também parecia alterado.
— Não pode nos reduzir a um erro, . — Joe Grishen completou.
Furioso, bateu com as mãos na mesa.
— Um erro que custou a vida do meu filho! — Exclamou, a mágoa escapando pelas palavras. — Você só tinha um trabalho!
Os dois homens se calaram. Então era isso que ele queria dizer, quando me perguntou se eu não lembrava das mesmas coisas. Eu lembrava. Não esquecia nada daquele caso e nem de , mas, ao contrário de , eu parei de culpar qualquer pessoa. A única responsável pelo que tinha acontecido estava foragido. Mas tinha razão. Tinha sido um erro que custou muito a vida de .
Grishen e Russel deviam ter seguido a ordem de não perseguir o assassino quando o vissem, esperando que ele mantivesse a sua palavra e entregasse a localização de , mas os dois agentes não obedeceram. O assassino ficou furioso com nossa quebra de acordo e nós pagamos da pior forma.
— Agente , entendo a sua preocupação... — meu supervisor tentou amenizar a situação. — Mas tenho ordens de permanecer com todos os membros da equipe.
desviou os olhos dos dois agentes, encarando o meu supervisor com irritação.
— É uma pena, então. — Ele disse, olhando rapidamente para mim, um pedido de desculpas silencioso. — Acho que podem prosseguir sem mim.
Ele se levantou, pronto para ir embora.
— Não, … — tentei fazê-lo ficar, mas ouvi a porta bater com força, indicando que ele já tinha ido.
Senti um desespero genuíno tomar conta de mim. Eu não podia fazer aquilo sem ele.
— O que acabou de acontecer aqui? — Matt questionou, mas ninguém respondeu, um clima tenso presente.
… — meu supervisor chamou, mas balancei a cabeça em negação.
— Ele não vai voltar. — Declarei, suspirando. — não tem mais nada a perder, Charles, e eu não vou fazer isso sem ele.
— O que isso quer dizer?
— Ela quis dizer... — Matt se intrometeu. — Que vai sair da equipe também.
— Você não pode estar falando sério! — Russel exclamou, desacreditado.
Encarei-o com tamanha irritação, rangendo os dentes.
— Escute aqui, seu imbecil! — Comecei. — Posso ser mais profissional que o , mas isso não significa que eu esqueci. Eu não consigo trabalhar nesse caso sem ele e ele não consegue trabalhar com vocês. — Apontei o que era bastante óbvio.
Parei de encarar Russel e me virei para meu supervisor.
— Então, acho que você tem uma escolha a fazer.
— E acho melhor você decidir rápido, porque há uma criança por aí, em algum lugar, precisando de ajuda. — Matt ajudou, recebendo um olhar fuzilante de Charles.
Nosso supervisor suspirou e fechou a pasta em seguida, encarando todos nós.
— Reunião encerrada.


ㅤ📍 Às 10:00:

— Tem algum bar por aqui?
Matt arqueou a sobrancelha na minha direção, desconfiando da pergunta que eu tinha acabado de soltar.
Balancei a cabeça e descartei a ideia com a mão, indicando que ele tinha entendido errado.
— É o ... — expliquei.
Ah... — ele expressou entendimento e coçou a nuca em seguida. — Segunda rua à direita, depois que você sai do prédio.
Depois que Charles encerrou a reunião e se enfiou em seu escritório, procurei o meu ex por todo o andar, até perceber que ele não estava em lugar nenhum. Tinha ido embora, mas eu duvidava que tivesse voltado ao meu apartamento — uma vez que só eu tinha a chave — e também sabia que ele não iria voltar para a sua cidade, tão de repente. Não sem me avisar, pelo menos. Então, só havia um lugar onde ele estaria agora.
— Obrigada! — Murmurei para Matt, guardando o meu celular no bolso da calça. — Se houver alguma mudança, me avise. — Apontei para a porta do escritório de Charles e ele assentiu.
Meu supervisor não tinha dito mais nada depois do fracasso da reunião e eu estava falando bem sério quando comuniquei que não iria pegar o caso, se aqueles dois imbecis estiverem nele. Eu poderia ter lidado com isso, claro, mas se se recusava a trabalhar com eles, eu não podia fazer muita coisa. E eu tinha deixado bastante claro que só continuaria ali, se ele também estivesse junto.
Saí do prédio, seguindo a instrução que Matt tinha me dado, entrando na rua do bar. Eu ainda andei um pouquinho mais até finalmente encontrar o local. Era meio decadente, mas se era o único lugar perto, servia para .
Sem cerimônias, entrei no bar.
Não demorou muito para que eu o avistasse, sentado em um banco justamente perto da bancada, facilitando o seu acesso a um barman e às bebidas. Ele tinha um copo cheio na mão e quando me aproximei, o líquido diminuiu para a metade do copo.
— Acho que já basta... — murmurei, parando ao lado dele.
Tirei o copo da mão de , que me olhou feio por um momento, mas logo desfez a expressão, deixando os ombros caírem derrotados.
— Veio me buscar?
— Não. — Respondi. — Vim te levar para casa.
Seus olhos escureceram na minha direção. Era horrível ver o seu sofrimento refletir em mim.
— Não tenho uma casa... — declarou.
Como eu tinha afastado o copo dele, ele levantou a mão, chamando um barman para pedir mais. Neguei com a cabeça para o homem que se aproximava, indicando que não era para ele trazer mais nada.
— Não, , já chega.
— Vai embora, ! — Um suspiro sôfrego escapou dos seus lábios. — Por que está fazendo isso?
— Porque eu me importo! — Quase gritei, sentindo algo dentro de mim desabar. — Você não pode esperar que seus problemas sumam a cada vez que você bebe um copo. Precisa começar a encarar a sua realidade! — Eu estava furiosa e magoada, tudo ao mesmo tempo, cuspindo as palavras na frente dele, sem me importar como ele receberia. — O se foi, você me deixou. Eu luto todos os dias para permanecer inteira, mas ver você assim… me destrói. — Daquela vez, não consegui impedir a bola de choro que se formou em minha garganta.
Lágrimas quentes molharam as minhas bochechas e eu me encostei no banco, encarando qualquer coisa que não fosse ele, o silêncio se instalando entre nós.
Eu desejava todos os dias que as coisas fossem normais como antes, mas nunca mais seriam. Não sem o . Não sem o .
— Eu te deixei, porque você merecia mais. — Ele confidenciou em um sussurro, que eu só ouvi, porque estava bem próxima. — Não podia suportar a ideia de você estar presa ao meu luto, quando tinha o próprio para lidar.
Balancei a cabeça, limpando as minhas lágrimas.
— Tínhamos acabado de perder um filho, ! — Murmurei, exausta. — Era o pior momento para você querer ser generoso dessa forma. Eu precisava de você.
— Eu sei. — Ele disse, repetindo as palavras. — Eu sei. Sinto muito, . — No momento seguinte, seus braços estavam enrolados em mim, em um abraço.
Puxei-o pela gola da camisa para mim, abraçando-o como eu não fazia há muito tempo, como se eu precisasse daquilo para compensar um pouquinho o que eu sentia, precisando respirar o seu ar, seu cheiro. sempre tinha sido tudo para mim, até me deixar aprender a ser tudo sem ele.



Parte 2
Two burning hearts are dared to break, remember.

Não contei por quanto tempo o momento do abraço durou, mas um bipe de mensagem fez eu me afastar dele, pegando o celular do bolso. Era uma notificação de mensagem de Charles.
Quando abri o conteúdo, suspirei.
— Charles tirou Russel e Grishen do caso... — informei para , sem encará-lo. — Mas, em contrapartida, temos que arranjar substituto para os dois.
— Ele jogou isso para nós dois? — Questionou.
Levantei um ombro, guardando o celular de volta.
— Se você arranja problema para o Charles, arranja a solução também. — Expliquei. — E então? Alguma sugestão?
Ele pareceu pensar um pouco. Tirou a carteira do bolso e deixou uma nota em cima do balcão, pagando as bebidas que tinha consumido.
Mantive a minha postura ereta, desencostando do balcão, agradecendo mentalmente que o local não estava cheio. Ninguém tinha assistido o meu momento de fraqueza.
— Tenho alguém em mente. — Disse. — Vou fazer uma ligação.
Concordei com um aceno, deixando-o ir na minha frente, acompanhando seus passos lentos bem atrás.
Eu não tinha ideia de para quem ele ligaria, mas eu conhecia todos os amigos dele, que também costumavam ser os meus. Depois de tudo o que tinha acontecido, foi inevitável evitar um afastamento.
Do lado de fora, fiquei parada na calçada, enquanto esperava ele terminar a sua ligação. Havia pouco movimento daquele lado da rua, mas devia ser por causa do horário. Pela noite, estava sempre mais cheio.
— Para nossa sorte, ela está aqui em Los Angeles. — disse, guardando o celular. — Marquei um almoço.
— Você ligou para a Maddie? — Questionei.
olhou ao redor da rua, até parar os olhos em mim e acenar com a cabeça positivamente.
Madison Watkins era uma amiga em comum nossa. Tivemos alguns treinamentos juntas, mas ela estudou mais com e escolheu seguir carreira na Força-Tarefa de Fugitivos. Era óbvio que ele pensaria nela, principalmente com suas experiências.
— Ela te mandou um “oi”.
— Onde você marcou o almoço? — Perguntei, começando a andar de volta para o prédio com ele me acompanhado de lado.
— No nosso restaurante. — Respondeu, percebendo logo em seguida o que tinha acabado de soltar. — Desculpe, força do hábito.
Achei seguro não responder, mantendo meus pés firmes contra o chão, olhando qualquer ponto na minha frente que não fosse ele.
Nosso restaurante era um lugar em que costumávamos ir, mesmo sem ocasião especial, quando ainda éramos casados. adorava o lugar e eu nunca tinha encontrado ninguém que fizesse meu prato favorito tão bem quanto lá. Então, acabamos adotando como nosso restaurante. Um ponto em comum que tinha se perdido.
Chegamos ao prédio de volta, ainda em silêncio.
— Posso te esperar aqui? — Ele pediu.
Olhei para trás, notando que ele sequer tinha subido as escadas que davam entrada ao prédio. Não precisei perguntar por que ele preferia esperar ali, eu também não iria querer enfrentar os olhares de novo.
— Tudo bem! — Assenti.
Subi sozinha até o meu andar. Ignorei todo mundo pelo meu caminho, percebendo que eu estava só um pouquinho mal-humorada. Começava a achar que tinha sido uma péssima ideia ter no mesmo caso comigo, mas eu sabia que isso era uma opinião estritamente pessoal. Ele era meu ex-marido e eu ainda mantinha sentimentos por ele. É óbvio que eu iria me incomodar com alguns de seus comentários, principalmente quando tinha sido ele quem pediu a porra do divórcio.
?
— O quê?! — Exclamei, soando totalmente grossa. Quando me virei e percebi o meu tom de voz, respirei fundo. — Desculpa, Matt.
— Ninguém disse que seria fácil... — ele tentou amenizar o clima e levantou as mãos na altura dos ombros. — Sabe, não vai haver julgamentos se você resolver não seguir com o caso. Nós temos outros agentes.
Mordi a parte interna da minha bochecha, andando até a minha sala. Matt me seguiu, segurando a porta.
— Eu agradeço a sua preocupação, Matt, mas eu consigo lidar. — Peguei a minha bolsa, que estava em cima da mesa, onde Jeff deixou.
Verifiquei o relógio, decidindo que estava quase na hora do almoço e era melhor ir adiantada do que atrasada, mas quando me virei para sair da sala, meu parceiro ainda estava parado na porta.
— Eu sei que você consegue lidar. — Ele disse, sincero. — Mas você vai me dizer quando estiver no limite?
Não “se”. Quando. Como se ele estivesse esperando que isso acontecesse.
Encarei-o, deixando meus ombros caírem com um suspiro e esfreguei as minhas têmporas, esperando que eu relaxasse. Desde a morte de , eu tinha me afastado de todo mundo, principalmente depois que pediu a separação, mas Matt tinha sido um porto seguro para mim. Eu devia muito a ele.
— Eu prometo.
Satisfeito, ele assentiu e me abraçou rapidamente. Quando ele me soltou, passei por ele e pela porta.
— Avise ao Charles que eu tenho um almoço com a substituta. — Pedi.
— O que isso significa?
— Significa que eu só volto amanhã! — Avisei.
Ele apontou um dedo em riste para mim, mas fui embora antes de ouvir qualquer coisa.


ㅤ📍 Às 11:27:

— Quer pedir alguma coisa?
Aceitei o cardápio que me estendeu e olhei as opções, mas eu só fazia isso por puro tédio. Eu sabia, assim como ele, que, no fim, eu sempre acabaria pedindo as mesmas coisas.
Deixei o cardápio em cima da mesa e cocei a minha bochecha, olhando-o sentado bem de frente para mim. Madison ainda não havia chegado, mas ele já tinha mandado mensagem para ela, informando que já estávamos no restaurante.
— O de sempre. — Respondi.
Ele sorriu discretamente, assumindo que nem sempre algumas coisas mudavam.
Olhar para , às vezes, era doloroso. tinha seus olhos e seu sorriso.
— Podemos falar dele? — Perguntei, de repente.
Ele piscou os olhos para mim.
— Não.
… — sussurrei, sentindo meu coração quebrar em mais um pedacinho. — Nós podemos lembrar dele.
Travando a mandíbula, ele respirou baixo e contido.
— Ainda é difícil.
— E sempre vai ser. — Constatei o óbvio.
Tínhamos perdido um filho. Nada, jamais, ia apagar a dor que sentíamos e nunca se tornaria algo fácil de lidar.
— Ouvi você chorando ontem à noite... — confessou.
Todos meus esforços para que ele não percebesse tinham sido em vão, então.
— É, eu faço isso. — Murmurei, sem saber exatamente o que dizer. — Às vezes.
Ele se calou. Em seguida, estendeu a mão sobre a mesa para que eu aceitasse e assim o fiz, entrelaçando os meus dedos nos dele.
me lançou um sorriso contido, melancólico e balançou a cabeça minimamente na minha direção.
— O que você quer lembrar?
Nós falamos um pouco sobre . Visitamos algumas memórias juntos e eu senti vontade de chorar algumas vezes, mas estava aliviada por ele finalmente ter cedido um pouco. Lembrar do nosso menino ainda era mais doloroso para ele, visto que ainda se culpava intensamente por algo que ele sequer tinha algum controle. Eu não sabia como fazer para que ele se sentisse melhor quanto à culpa. Eu mal podia lidar com o meu próprio luto sozinha.
tinha sido tudo para nós.
Era difícil superar isso.

Engoli a seco, sentindo minha garganta arranhar, implorando por água. Quando abri os meus olhos, enxerguei o teto do quarto do hospital e os sons dos bips da máquina preencheram os meus ouvidos. Tentei me remexer na cama, mas soltei um gemido em protesto ao sentir um pouco de dor.
veio até mim imediatamente.
— Estou aqui. — Ele segurou a minha mão e eu sorri, meio sonolenta.
— Você pode me trazer um copo de água? — Pedi.
Ele assentiu, andando rapidamente até o outro lado do quarto, enchendo um copo de água. Com um pouco de esforço e a ajuda dele, consegui ficar sentada na cama e olhei ansiosa ao redor do quarto, procurando pelo mais novo integrante da família.
— Onde ele está? — Questionei, aceitando o copo de água.
Bebi um pouco, limpando a minha garganta e devolvi o copo.
abriu um sorriso gigante e orgulhoso para mim, e eu sentia que tinha acabado de correr mais de cinco maratonas, mas eu só tinha passado por um parto longo mesmo.
— A enfermeira deve trazê-lo logo... — respondeu-me, beijando a palma da minha mão. — Ele é a coisa mais linda, sabe?
Admirei o seu sorriso bobo e orgulhoso, e assenti devagar.
— Ele se parece com você, não é? — Reclamei um pouco, fazendo-o rir.
— Não precisa ficar tão chateada, querida! — Seu tom de voz era presunçoso. — Isso significa que ele vai ter o meu charme.
Revirei os olhos teatralmente, empurrando a mão dele com a minha, mas se aproximou, beijando os meus lábios devagar.
Eu amava tanto aquele homem, que passaria minha vida inteira ao seu lado fácil, fácil.
Ouvi a porta sendo aberta e ele se afastou de mim, ajudando a enfermeira a entrar com o carrinho.
— É hora de alimentá-lo! — A enfermeira informou, sorrindo simpática.
Quando ela me entregou aquele embrulho pequeno nos braços, senti meus olhos lacrimejarem. Ele era tão lindo, os olhinhos ainda fechados, mas constatei que realmente ele tinha traços do .
Talvez ele tivesse o meu sorriso. Eu torcia muito por isso.
— Precisamos decidir o nome dele... — disse.
Durante toda a gravidez, tentamos decidir por diversos nomes, mas nunca conseguíamos chegar a um consenso. Se eu gostava de um, ele não gostava; se ele gostava, eu odiava. E seguimos assim durante meses, mas agora o bebê tinha nascido e precisávamos decidir.
— Eu pensei em um novo... — ele continuou.
A enfermeira nos deixou sozinhos.
Meu bebê — ainda sem nome — resmungou contrariado nos meus braços e alisou a testa dele carinhosamente. Segurei ele com um braço e com o outro, desci a alça do pijama que eu usava, deixando o bico do meu peito exposto, começando a amamentá-lo pela primeira vez.
Sem deixar de olhar para o meu filho, questionei o pai dele:
— O que você pensou?
beijou a minha testa, uma mania que ele tinha adquirido durante os anos de relacionamento, sua melhor forma de demonstrar o seu carinho por mim.
Quando descobri a gravidez, achei que ele fosse odiar. Não por não querer ser pai, mas porque era o pior momento para dedicar a ser. Eu estava em um caso importante e ele estava prestes a conseguir a promoção que vinha tentando conquistar há anos. Mas quando contei, comemorou tanto, que dissipou todas as minhas inseguranças.
Ele podia ter aceitado a promoção, ainda assim, mas preferiu recusar, alegando que teria menos tempo para passar comigo e acompanhar a gravidez. Se eu estava desistindo de um caso importante da minha carreira, ele também podia abrir mão de algo.
— Eu pensei em . — Ele respondeu.
Olhei para ele, pensativa. Era um nome novo, uma sugestão nova, que não tínhamos cogitado antes. Também era um nome bonito e simples, exatamente como eu queria.
Abri um sorriso para o meu marido e assenti devagar, dando-me por vencida. Uma hora ou outra, teríamos que ceder um nome.
, então. — Concordei.
Beijei a testa de e sussurrei que o amava. se ajeitou ao meu lado, passando o braço pelo meu pescoço, deixando eu me apoiar nele. Ele segurou a mãozinha de .
— Bem vindo, ! — Sussurrou. — Nós te amamos.

Madison Watkins apareceu um tempo depois, desculpando-se o tempo todo pelo atraso, mas eu e não nos importamos com isso.
— Já fizeram o pedido? — Maddie perguntou.
— Ainda não... — meu ex-marido respondeu, entregando o cardápio a ela.
Esperamos ela escolher e fizemos nosso pedido para o garçom mais próximo.
— Então... — ela começou a dizer, alternando o olhar entre nós dois, sentada do lado oposto, de modo que pudesse dividir a sua atenção. — Algum problema? Você parecia urgente na ligação.
Esfreguei as minhas mãos e deixei um suspiro escapar. Madison estava linda, embora estivesse com uma expressão cansada. Sua franja caía perfeitamente, contornando o seu rosto, mas ela parecia diferente. De alguma forma, eu soube.
— Você está grávida? — Questionei, de repente.
me olhou como se eu fosse louca por fazer uma pergunta tão direta, sem que fosse o foco do assunto.
Maddie abriu a boca para responder, mas riu sem graça.
— Desculpa, eu não queria te constranger... — adiantei-me, balançando as mãos no ar.
— Não, é que… — ela umedeceu os lábios, balançando o rosto para afastar alguma mecha. — Eu não queria chegar anunciando, principalmente depois de…
— Está tudo bem, Maddie. — Cortei-a, abrindo um sorriso para reforçar o que eu tinha acabado de dizer.
O que ela achava? Que por eu ter perdido um filho, isso anulava a novidade dela? Eu sabia separar as coisas. E a gravidez dela não tinha nada a ver com a minha perda.
— Você está grávida mesmo? — questionou, incrédulo. Eu não via surpreso por tantas vezes assim. — Como deixou isso acontecer?
! — Repreendi.
Mas Madison começou a rir. Por um lado, eu entendi totalmente a curiosidade dele, uma vez que Maddie era a última pessoa que nós veríamos sendo mãe.
— Para ser sincera, eu também não sei... — respondeu, dando de ombros. — Estou surpresa que tenha percebido, minha barriga não está tão grande e a maioria das pessoas ainda não sabem. Eu prefiro assim, por enquanto. — Ela olhou para mim e eu assenti, entendendo.
Estar grávida em um ambiente de trabalho como o nosso não era exatamente um motivo para comemoração.
— Devo ter percebido por experiência própria! — Justifiquei.
— Mas não se preocupem com isso, eu estou perfeitamente bem para executar o meu trabalho. — Explicou.
— Nunca duvidamos disso! — disse. — O que está fazendo em Los Angeles?
— Burocracia... — ela respondeu, soltando um suspiro cansado. — Eu vou ficar sabendo do motivo do convite? Não podia ser saudades, você não atendeu nenhuma das minhas ligações.
Assisti um semblante culpado surgir no rosto de e contive qualquer comentário de sair pela minha boca, ansiosa para alfinetá-lo por aquilo.
— Desculpe, Maddie! — Ele murmurou, sincero. — Fase ruim, você sabe.
Ela mostrou um sorriso compreensivo.
— O assassino do está de volta. — Soltei, explicando de uma vez. — Ele sequestrou uma nova criança.
Madison arfou.
Todos nós fomos impedidos de falar pelo garçom chegando com os nossos pedidos. Dei um tempo para que a agente especial processasse a informação e esperei o garçom terminar de colocar os nossos pratos, indo embora em seguida.
Eu peguei a taça de vinho, bebendo um gole.
— Isso… — Madison tentou dizer, bebendo a garrafa de água que tinha pedido. — Caramba, eu não sei o que dizer!
— Compreensível. — disse.
— Nós estamos no caso, de novo. — Continuei explicando, começando a cortar um pedaço de carne. — Nós queremos pegá-lo dessa vez, Maddie. Mas não podemos fazer isso sozinhos.
— Precisamos de você. — completou, levando uma garfada de macarrão à boca. — Mas, vamos entender se negar.
Madison não disse nada por alguns instantes. Aproveitei o silêncio para saborear o meu prato favorito, enquanto tentava não pensar em muita coisa, senão aquele momento, buscando me manter em um só lugar e não perdida em memórias, como por muitas vezes eu ficava.
A agente manteve sua atenção no seu purê de batata. não gostava do silêncio em qualquer ambiente que fosse, então ele estava visivelmente um pouco incomodado.
— Eu tenho uma semana de folga... — Watkins finalmente respondeu. — Acho que não vai me fazer mal ficar e dar uma ajudinha.
— Você tem certeza? — Meu ex questionou.
Eu estava aliviada por ela ter aceitado. Ter um rosto conhecido por perto me faria bem.
— Vamos pegar aquele desgraçado! — Ela disse, selando a sua decisão de ficar. — Eu prometo.
E me agarrei naquela promessa, porque se havia alguém que cumpria elas, era Madison Watkins.


ㅤ📍 Às 09:47:

Joguei a bolsa em cima do sofá e tirei os meus sapatos, aliviada de sentir o chão sob os meus pés.
Nós passamos boa parte da tarde inteira com Madison, antes de decidir que era hora de ir para casa, descansar para o dia seguinte. Depois que ela tinha aceitado, mandei uma mensagem para o Charles avisando e escrevi o endereço do prédio para ela comparecer.
Andei até a cozinha, abrindo a geladeira para beber um pouco de água gelada, antes de ir direto para o banho. bateu à porta atrás de mim e eu girei a cabeça, tentando relaxar o pescoço.
— Quer pedir algo para comer? — Ele ofereceu, sentando no sofá pequeno.
Ponderei sobre a proposta, mas no fim de tudo, eu só queria deitar na cama e dormir. Mas eu sabia que iria chorar antes.
— Não estou com fome. — Guardei a garrafa de volta na geladeira e saí da cozinha, passando direto pela sala.
— Estou aqui há um dia e já percebi que sua rotina alimentar está péssima! — Ele disse.
Ele tinha razão, mas também não esperava que ele notasse que eu estava comendo bem menos do que antes. Às vezes, simplesmente esquecia, mas outras vezes não sentia vontade.
— Disse o cara que tem uma rotina saudável bebendo o dia inteiro... — respondi de volta.
Ouvi uma risada baixa, mas nenhuma resposta.
Fui direto para o banheiro, despindo-me inteira, demorando mais que o necessário no chuveiro, deixando a água quente lavar o meu corpo, como se isso também pudesse limpar a minha alma, toda minha angústia.
Todas as noites, eu desejava que as coisas mudassem, e todos os dias acordava vivendo o mesmo inferno.
Saí do banheiro enrolada em uma toalha e estava prestes a ir direto para o meu quarto vestir um pijama, mas chamou a minha atenção antes.
— Você ficou sem falar comigo por dois dias aqui.
Quando voltei para a sala, ele estava em pé, quase perto da televisão, com um porta-retrato na mão. Eu não precisava me aproximar para saber qual era a foto, eu simplesmente sabia, de tanto olhá-las.
No retrato, estava , completamente sujo de tintas coloridas pelo corpo inteiro. tinha deixado ele sozinho e permitiu que ele fizesse a travessura, o que me deixou furiosa no dia. Mas eu gostava da foto, porque apesar de ele estar sujo e somente de cueca, estava com um sorriso enorme no rosto e os olhinhos fechados, expressando a sua felicidade.
— Quando penso sobre isso agora, parece besteira. — Confessei.
Ele ainda não me olhava, mas observei sua cabeça balançar positivamente, os olhos perdidos na foto, como se estivesse visitando a lembrança que a originou.
Deixei-o sozinho e voltei a andar pelo corredor pequeno, entrando no meu quarto. Livrei-me da toalha e vesti um pijama confortável, amarrando o meu cabelo. Deitei na cama e tentei dormir, mas meus pensamentos não deixavam. Eu pensava o tempo todo em mil coisas diferentes, o que me impedia de relaxar, para que, finalmente, eu pudesse descansar um pouco.
Um tempo depois, rolando de um lado para o outro na cama, levantei-me, resolvendo que talvez um copo de leite morno me ajudasse a dormir, mas eu mal me aproximei da porta, quando ouvi uma batida baixa soar.
— Entre.
Eu sabia que era , claro, mas não esperava que ele viesse bater no meu quarto em qualquer que fosse o momento.
Ainda sentada na cama, observei ele abrir a porta e entrar um pouco.
— Insônia? — Arriscou.
Assenti em resposta, sem tirar os olhos dele.
— Eu só vim pedir uma coberta maior... — explicou, coçando a bochecha, passando os olhos discretamente pelo quarto. — Vou dormir no sofá.
— Por quê? — Questionei, confusa.
Tinha uma cama bem confortável no quarto ao lado, não tinha lógica alguém querer uma noite mal dormida na sala.
— Você deixou as caixas com as coisas do nosso filho lá... — respondeu, a voz baixa. — Estou cercado de lembranças e não consigo dormir.
Eu tinha me esquecido daquele detalhe. Com tanta coisa na cabeça, ficava difícil lembrar de tudo.
Antes de me mudar da antiga casa depois do divórcio, não consegui jogar algumas coisas de fora. Então juntei tudo em caixas pequenas e deixei guardadas no quarto de hóspede, sempre que eu quisesse pegar.
Eu não tinha pegado as caixas sequer uma vez, desde que as trouxe.
— O sofá é bem desconfortável... — avisei.
Ele deu de ombros. Não era algo absurdo com o qual não pudesse lidar e eu desconfiava que ele já estava acostumado a dormir mal nos últimos meses seguidos.
Sem pensar muito para não me arrepender da ideia, suspirei.
— Feche a porta. — Mandei. — E deite aqui.
Ele não moveu um músculo sequer.
, não…
— É uma cama bastante espaçosa para dois. — Cortei-o, indicando a cama.
— Não sei se é uma boa ideia... — replicou.
Respirei bem fundo e me joguei de volta na cama, deitando.
— Só vamos dormir, . — Expliquei, encarando o teto. — Anda logo. Precisamos estar descansados amanhã.
A resposta não veio. Até pensei que ele tinha voltado para a sala e se jogado no sofá, recusando a minha proposta, mas ouvi a porta sendo fechada e no segundo seguinte, o outro lado da cama sendo afundado.
Era estranho dividir a cama com ele agora. Tinha sido uma coisa tão normal por tanto tempo.
— Vou procurar um apartamento para alugar amanhã. — Ele disse, após um tempo. — Talvez não seja bom ficarmos tanto tempo juntos.
Aquilo me doeu mais do que eu esperava.
Eu não tinha esperanças de reatar o nosso casamento. Era bastante decidida e pé no chão para me iludir com uma coisa como aquela, mas esperava um pouco mais de alguém com quem eu tinha dividido parte da minha vida.
Virei-me para o lado oposto do que ele estava.
— Boa noite, . — Murmurei em resposta.



Parte 3
Darling, nobody said that it would last forever; that doesn’t mean we didn’t try to get here.

ㅤ📍 Às 06:37:

— Pessoal, essa é a Agente Especial Madison Watkins.
Maddie deu um aceno discreto com a cabeça, assim que a apresentei para o restante da equipe em questão, reunidos na sala de reunião anterior.
Observei, bebendo um gole de café, cada um cumprimentá-la com um aperto de mão, principalmente um Matt interessado. Quando meu parceiro olhou para mim, fiz que não com a cabeça e quase soltei uma risada da sua expressão murcha. Ele nunca aprendia.
— Feita as apresentações, podemos começar? — Charles usou o tom de voz urgente, recebendo acenos positivos como respostas. — Estamos atrasados nesse caso e precisamos correr contra o tempo.
— Eu só preciso de uma breve apresentação do caso... — Maddie se pronunciou. — Sabe, só para me inteirar.
Todos nós sentamos ao redor da mesa, cada um com sua própria pasta contendo as informações antigas e novas do caso.
— O nome do suspeito é… — comecei a dizer, mas paralisei ao abrir a pasta e me deparar primeiro com a foto de no topo da página.
O silêncio preencheu o ambiente e não percebi o quanto fiquei quieta, até , do meu lado, continuar falando, com a voz mais firme que a minha, mesmo também vendo a foto do nosso filho como a primeira vítima ali.
— Tim Hooks. — Ele pronunciou o nome do responsável pela morte do nosso menino com tamanha frieza, mas não soube dizer se alguém tinha percebido. — Ele sequestrou e assassinou o meu filho.
Olhei para rapidamente, resolvendo beber o restante do café.
— Nós tentamos de tudo... — Ella Hendricks continuou explicando. — Mas, no fim, sempre parecia que ele estava um passo à nossa frente.
— Ele pediu resgate? — Watkins questionou.
— Não. — Respondi. — Quem dera fosse esse o caso.
Ela assentiu devagar, compreendendo.
— Quando ocorreu o primeiro sequestro, ele demorou dois dias para entrar em contato com a família. — Charles retomou. — Sean Davis, a nova vítima do suspeito, está sequestrado há dois dias. Acreditamos que o sequestrador possa entrar em contato hoje.
— Os pais da criança já estão aqui? — Owen Morezzi indagou.
Charles assentiu.
— Maddie... — chamei, virando-me para ela, deixando o copo de café de lado. — Ele não queria dinheiro, vingança ou qualquer outra coisa que esses casos mostram. Ele alegava que estava sendo abusado fisicamente por algum familiar e que nós não estávamos o ajudando. — Controlei-me para que minha voz não saísse embargada e nem meus olhos lacrimejarem.
Culpei-me por muito tempo por aquilo. Por não ter percebido qualquer sinal de socorro do meu garotinho, por não ter visto o que estava acontecendo, sempre priorizando o trabalho antes de entender que ele estava passando por algo difícil. Céus, ele tinha só cinco anos! Dei-me o título de pior mãe do mundo o tempo todo, desde a sua morte.
— No começo, nós não acreditamos... — continuou por mim. — Mas investigamos mesmo assim. Nós descobrimos que ele estava certo e que o culpado pelo abuso físico contra o era o padrinho dele. Meu primo.
Se eu me culpei horrores, se afundou na própria culpa duas vezes mais. Eu estava em um processo melhor de recuperação, mas ele ainda estava no fundo do poço quanto àquilo.
— Fizemos a prisão. Quando o sequestrador entrou em contato conosco novamente, ele propôs uma troca. — Matt assumiu. — Ele libertaria , se nós o deixássemos fugir.
Maddie apertou a minha mão, tentando me confortar do melhor jeito possível, mas eu estava calma e tranquila, mesmo que um caos por dentro. Eu só precisava fazer o meu trabalho. Era a única coisa em que eu ainda era boa.
— Nós concordamos... — Owen continuou. — Deveríamos ter deixado uma bolsa com cem mil dólares no endereço escolhido por ele. O plano era ter vigiado o local, esperar que ele pegasse o dinheiro e segui-lo para que ele nos levasse até o menino.
— Infelizmente... — endureceu a voz. — Os Agentes Russel e Grishen tiveram dificuldade em seguir as ordens, então quando o assassino apareceu para pegar o dinheiro, eles tentaram efetuar a prisão.
— Tim Hooks conseguiu escapar. — Charles lamentou. — Ele se sentiu traído pela quebra de acordo, então…
— Isso custou a vida do meu menino. — Completei. — Mas não precisa custar a de Sean. Vamos fazer nosso trabalho.

Depois de termos deixado Maddie a par do caso, solicitei que, junto comigo e , ela também viesse conosco falar com a família. Particularmente, era sempre a parte mais difícil, mas era inevitável. E se havia alguém que poderia entender a dor dos pais, era eu e meu ex-marido.
Maddie entrou na sala primeiro. A senhora Davis estava abraçada ao marido, quando nos viu e levantou imediatamente, ansiosa por alguma resposta, por alguma esperança.
— Senhora e senhor Davis, eu sou a agente ... — comecei me apresentando, escutando a porta ser fechada atrás de mim. — Essa é a agente Maddison Watkins e o agente . — Apontei para cada um respectivamente e fiz um aceno para que eles voltassem a se sentar.
Sentei-me no sofá de frente para eles, e Maddie ocupando os lados opostos ao meu.
— Encontraram o nosso filho? — A senhora Davis questionou, a voz mostrando o quanto estava abalada.
Seja quem fosse, eu não queria estar na pele do responsável pela notícia do sequestro do seu filho.
— Ainda não. — Maddie respondeu.
— Ele só tem cinco anos, é um menininho... — continuou, sendo reconfortada pelo marido. — Quem seria tão cruel assim?
Para continuar levando meu trabalho adiante, tive que aprender a lidar com aquelas perguntas. Eu via coisas cruéis todos os dias e sabia que cada um de nós tinha um limite. Era difícil, às vezes, ir para casa e dormir tranquilamente.
— Nós estamos fazendo o possível... — tentou. — Eu prometo.
Olhei rapidamente para ele, apenas uma olhada rápida, buscando saber se aquilo era familiar para ele. mantinha a melhor postura profissional possível, sem deixar transparecer o próprio sofrimento, porque, naquele momento, não era sobre ele.
Engoli a seco, voltando a olhar para os pais da vítima e tomei coragem para iniciar a pior parte do dia.
— Nós precisamos fazer uma pergunta... — comecei a dizer, mantendo a voz calma e tranquila, a fim de não passar mais angústia para eles. — Entendo que é difícil e talvez vocês não compreendam imediatamente, mas nós estamos aqui para ajudar.
Os pais de Sean assentiram.
— Vocês notaram algum comportamento diferente em Sean? Ele andava fazendo algo ou agindo estranho? — Questionei.
— O quê? — O pai se exaltou. — Ele é um menino de cinco anos! Crianças fazem coisas diferentes o tempo todo.
A senhora Davis pediu que ele se acalmasse e olhou para mim novamente.
— Pode ser mais específica?
Eu não conseguia. Tentei fazer com que as palavras formuladas saíssem da minha boca, mas como eu podia perguntar a esses pais se eles sabiam quem estava abusando fisicamente do seu filho?
— Escutem, antes de mais nada, quero que saibam que nada disso é culpa de vocês... — Maddie tomou o meu lugar e eu consegui respirar aliviada. — Esse sequestrador já agiu antes. Por isso, estamos com informações novas para salvar o seu filho.
— Ele já sequestrou uma criança antes? — A mulher indagou, os olhos enrugados de preocupação.
— Sim.
— E onde está essa criança?
, ao meu lado, remexeu-se desconfortavelmente.
— Infelizmente, nós não conseguimos salvá-lo a tempo. — Ele respondeu.
— Ah, meu Deus! — Ela abraçou o marido, que tinha uma expressão infeliz.
Ao meu ver, ele estava tentando ser forte ali, para que ela pudesse desabar. Sinceramente, eu não sabia o que faria a eles perder o filho.
— Senhora Davis... — chamei, inclinando meu corpo um pouco para frente. — Essa criança que não conseguimos salvar, era o meu filho. Ninguém nessa sala entende a sua dor mais do que eu. Eu prometo fazer tudo o que estiver ao meu alcance para trazer o seu filho de volta.
Ela fungou baixinho, assentindo devagar longos segundos depois.
— Como você lidou com isso? — Perguntou-me em um fio de voz.
— Não lidei... — fui sincera, dando de ombros. — Eu ainda estou aqui.
— Para isso, precisamos que respondam a nossa pergunta e sejam sinceros. — Maddie continuou. — Havia algum parente que Sean não gostava de ficar perto?
— Ele aparecia com machucados frequentes ou algo do tipo?
A expressão do senhor Davis se desfez em confusão. Ele apertou as mãos da mulher.
— Sim, mas… — respondeu, meio hesitante, como se não tivesse prestado muita atenção a aqueles detalhes, até agora. — Ele faz judô. Nós achamos que era a origem dos machucados.
— O judô não é um esporte tão violento... — respondeu. — Principalmente para uma criança tão pequena.
— Nós não percebemos essas coisas. — A senhora Davis começou a dizer. — Passamos tempo com Sean, mas também trabalhamos muito. Às vezes, costumávamos deixá-lo com a minha irmã.
— Sean reclamava? — Questionei.
Os dois assentiram.
— Havia dias que ele batia o pé para não ir. — O pai explicou. — Mas não tínhamos como pagar uma babá.
— Não é sua culpa. — garantiu.
Como eu poderia julgá-los por qualquer coisa, quando também cometi os mesmos erros? tinha dado sinais de socorro, mas não percebemos.
— Não estamos entendendo o que está acontecendo... — senhora Davis comentou. — O que isso tem a ver com o sequestro de Sean?
— Tem tudo a ver, senhora Davis. — Maddie respondeu. — O sequestrador pegou o Sean para fazer justiça.
— Como assim?
Nenhum de nós teve tempo de responder, porque o celular do senhor Davis começou a tocar. Quando ele pegou o aparelho e nos mostrou o número desconhecido na tela, eu sabia que era Tim Hooks.
Levantei rapidamente, passando pela porta e chamei Owen Morezzi para rastrear a ligação. Quando ele fez um sinal, o senhor Davis atendeu a ligação no viva-voz.
— Alô?
Uma risada seca soou do outro lado.
Como se sente de volta ao caso, agente ? — Perturbou, a voz irritantemente calma. — Já desvendou o enigma que eu estava prestes a jogar?
Mordi a parte interna da minha bochecha, tentando conter a raiva. fechou as mãos em punho, mas balancei a cabeça, pedindo que ele mantivesse a postura.
— Isso não é um jogo. — Respondi. — E parece que você não quer deixar a história se repetir.
A resposta demorou um pouco.
Não... — concordou. — Eu gosto do Sean, mas a vida dele depende de vocês. Senhor e senhora Davis, eu espero que isso os torne pais melhores. Alguém abusa do seu filho e eu não gosto de abusadores. A polícia tem duas horas para descobrir quem é o responsável. — Ele exigiu. — Vou ligar novamente. Se descobrirem a tempo, terão seu filho de volta. Vivo, dessa vez. — Ele encerrou a ligação e quando olhei para Owen, soube que não era possível rastrear.
— Desgraçado! — xingou, baixinho.
— Abuso? — O pai de Sean repetiu. — Vocês não estão achando que… Ai, meu Deus, Alice. Não pode ser a Liara.
A senhora Davis soluçou, nervosa demais depois da ligação. Ela balançava a cabeça freneticamente, negando o que fosse para si mesma.
— Senhora Davis, eu sinto muito... — Maddie iniciou. — Mas vamos precisar de todas as informações sobre a sua irmã.

— Eu quero saber tudo sobre Liara Davis! — pediu.
Owen, ao lado de Ella, juntaram-se ao notebook, sempre postos para cumprirem o trabalho da maneira mais rápida possível.
Esfreguei minhas têmporas, sentindo a minha cabeça latejar, a conversa com os pais de Sean ainda presente na minha cabeça. Depois da ligação e do pedido de Maddie, os dois estavam abalados demais para darem qualquer informação verdadeira sobre a tia do menino, então saiu da sala, comigo e Watkins o seguindo até a sala principal de reunião.
— Vou tentar conseguir um mandado com Charles. — Matt me informou e eu assenti.
Observei-o sair pela porta e respirei fundo.
— Ela é enfermeira e trabalha no Hospital Central de Los Angeles. — Ella começou a falar, mantendo os olhos atentos na tela do notebook à sua frente. — Divorciada, tem dois filhos.
— Quantos anos as crianças têm? — Madison questionou, mexendo em algo no próprio celular.
— Quatro e sete. — Owen respondeu. — O ex-marido mantém a guarda compartilhada das crianças com ela, mas aqui mostra que faz duas semanas que ele não entra em contato.
— Onde estão as crianças agora? — Indaguei.
— Na escola, a cinco quadras do hospital. — Ella continuou.
Eu estava prestes a fazer minha próxima pergunta, mas Owen foi bem rápido em adivinhar.
— A mãe está de plantão e o pai trabalha em um restaurante. — Ele disse. — Enviei para vocês.
Três celulares apitaram ao mesmo tempo. Tirei o meu do bolso e abri a mensagem, verificando o endereço que Morezzi tinha acabado de enviar. A porta foi aberta e Matt e meu supervisor entraram juntos.
— O mandado de prisão de Liara Davis está sendo emitido. — Charles avisou. — Se vocês sabem onde a suspeita está, vão atrás dela.
Nós assentimos.
— Senhor, precisamos dividir a equipe... — informei a Charles. — Alguém tem que pegar as crianças e ir atrás do pai delas. Matt, eu e podemos ir atrás da Liara. Owen e Ella vão atrás do pai.
— Eu pego as crianças! — Maddie sugeriu.
Agradeci com um aceno, guardando o meu celular de volta, ignorando qualquer latejar de cabeça que estivesse me incomodando. Eu tinha coisas mais importantes para fazer no momento e estava muito ansiosa em pegar a desgraçada que abusava fisicamente de uma criança de cinco anos de idade.
— Então se preparem! — Charles permitiu. — Vocês saem em cinco minutos.
Eu estava prestes a sair da sala com os outros, mas me puxou pelo cotovelo, virando-me para si. Seus olhos estavam um pouco nublados de preocupação e percebi que ele estava ansioso para que aquele caso acabasse, de preferência com o menino bem e vivo.
— Não tive oportunidade de perguntar... — iniciou. — Você está bem? Aquela conversa foi… difícil.
Respirei fundo, assentindo devagar. Havia uma parte de mim que sempre o amaria, não importava quanto tempo passasse.
— Se estivesse vivo... — comecei. — Nós teríamos sobrevivido?
Tinha sido uma pergunta repentina. Sua expressão vacilou e ele coçou a bochecha esquerda com a mão, um pouco desconfortável. Eu o conhecia bem o suficiente para saber que ele tinha pensado naquela pergunta primeiro do que eu.
— Apesar de eu nunca dizer que era para sempre, não significa que não tentamos chegar lá, . — Foi uma resposta melhor do que eu esperava.
Umedeci os lábios, sorrindo fechado para ele, uma melancolia me envolvendo. Ele beijou a minha testa, um gesto de respeito e carinho que ele sempre gostava de deixar claro e se afastou em seguida, seguindo os outros. Esperei um pouco e segui o mesmo caminho.

— Matt, você pode vigiar os fundos?
Ele assentiu, preparado.
Antes de eu e entrarmos no hospital, esperei que meu parceiro estivesse perto dos fundos.
— Vocês nunca tiveram nada? — questionou.
Encarei-o, como se ele tivesse uma segunda cabeça nascendo perto do pescoço e fiz uma careta verdadeiramente confusa para sua pergunta repentina. Eu e o Matt? Urgh.
— Claro que não, ! — Murmurei em resposta, aumentando o tom de voz um pouco, apenas constatando para ele o quão absurdo era a sua questão. — Matt é só um amigo. Um bom amigo.
— Eu não me importaria se a resposta fosse sim. — Concluiu.
Bufei, balançando a cabeça em negação.
— Eu não ligo. — Retruquei. — Matt? — Pressionei a minha escuta, esperando receber uma resposta do meu parceiro.
Quando ele murmurou um “tudo certo”, comecei a andar na frente de , adentrando o hospital direto para a recepção.
— Olá! — Cumprimentei uma das recepcionistas. — Eu gostaria de falar com Liara Davis.
Ela me olhou por um momento, parando os olhos no meu ex-marido, que finalmente tinha me alcançado e estava do meu lado.
— Ela está de plantão. — A recepcionista respondeu.
— Sim, nós estamos sabendo... — respondi. — Mesmo assim, poderia chamá-la, por favor?
Ao mesmo tempo, e eu mostramos nossos distintivos. A recepcionista abriu e fechou a boca, desistindo de falar algo e assentiu, pegando o telefone. Sua ligação demorou um minuto inteiro e nesse meio tempo, ignorei totalmente.
— Ela está vindo. — Avisou. — Pode aguardar, por favor?
Concordei com um aceno e me afastei do banco da recepção. Olhei ao redor, encontrando uma área para visitantes e andei até lá, sentando-me em um dos bancos livres, esperando que a suspeita aparecesse. Com sorte, a recepcionista não tinha informado que era a polícia. Ou melhor, que era o FBI.
— Não precisa ficar emburrada, ... — implicou. — Foi só uma pergunta.
— Estou bem.
— Não está, não. — Retrucou, contrariando-me. — Quando você se irrita comigo, não consegue me olhar. Nunca entendi isso, sabia?
— Seu humor está bem melhor, não é? — Reclamei, mas ele tinha razão, eu não conseguia olhá-lo quando estava irritada.
— Estou tentando.
Passei a língua pelos meus lábios secos e puxei a respiração o mais forte que eu conseguisse. Então, soltei o ar pela boca e virei o meu rosto na direção dele, finalmente encarando-o.
— São seus olhos. — Acusei.
Ele adquiriu uma expressão confusa.
— O quê?
— Seus olhos! — Repeti. — Você é muito transparente, . Eu nunca olhava para você quando estava irritada, porque se eu olhasse, não encontraria motivos para continuar irritada. Seus olhos me amavam.
Pude perceber que minha resposta o abalou.
— O que vê em meus olhos agora?
— Culpa e tristeza. — Respondi, depois de um tempo.
assentiu devagar, como se já esperasse por aquilo. Provavelmente, diante do espelho, ele via a mesma coisa.
— Não vê amor? — Indagou. Não consegui identificar qual era a emoção na sua voz.
Neguei com um aceno.
— Não por mim. — Respondi.
Nossa, . — Matt chiou através da escuta, assustando-me um pouco. Eu sinceramente tinha esquecido que ele podia ouvir a nossa conversa. — Você não conhece o significado de “delicadeza”?
Revirei os olhos, desviando a atenção de .
— Por que você não cala a boca? — Retruquei.
Tentando desesperadamente fugir daquela conversa, olhei para qualquer coisa e avistei a suspeita chegando na recepção. Ela conversou com a mesma recepcionista que nós e olhou na nossa direção. Sua expressão não estava muito boa e sua linguagem disse que ela ia fugir.
... — chamei, apontando para a mulher.
Ele olhou na mesma direção que eu apontei no exato momento em que a enfermeira começou a correr. Murmurei um xingamento baixinho, assistindo começar a correr atrás dela.
Pressionei a escuta contra o meu ouvido.
— Matt, a suspeita está indo em sua direção. — Avisei, recebendo uma resposta positiva dele.
Corri, ouvindo meu ex pedindo que ela parasse de correr, anunciando que éramos o FBI, mas ela continuava correndo, derrubando coisas pelo caminho para dificultar a nossa perseguição. Ela entrou no elevador e não conseguiu alcançar a tempo, antes das portas se fecharem.
— Escadas! — Anunciei para ele.
subiu as escadas e eu fiquei ali, parada no mesmo andar, de frente para o elevador, verificando onde ele pararia.
! — Chamei, através da escuta. — Ela está no segundo andar.
Esperei uma resposta positiva vindo dele, mas não recebi nada. Matt murmurou algo e eu comecei a andar na direção da escada, prestes a subir correndo, mas parei no meio do caminho quando ouvi a confirmação.
— A suspeita está sob custódia.



Parte 4
Take those long summer days, when love was untamed.

Mais tarde...

— Precisamos divulgar sobre o perfil do assassino e a prisão de Liara Davis.
Bebi um longo gole de café morno de uma vez, remexendo o meu pescoço, como se isso fosse me ajudar a relaxar. Encarei Maddie, que parecia rejuvenescida e me questionei se eu tinha aquela energia toda no início da gravidez.
— O que vamos dizer sobre a prisão? — Owen questionou. — O caso não está na mídia.
Eu sabia que devia estar prestando atenção naquela discussão, mas Matt apareceu atrás de mim, começando a fazer massagem nos meus ombros. Ele parecia saber do que eu precisava, sem que eu dissesse sequer uma palavra sobre aquilo.
— Eu ouvi o que te perguntou... — Matt sussurrou perto de mim, também alheio à discussão. — Sobre nós dois. Ele sabe que eu sou gay, certo?
Pisquei meus olhos, bebendo mais um gole, relaxando com a massagem. , do outro lado, encarou-nos por um momento, como se duvidasse muito da minha resposta de mais cedo.
— Não. — Respondi ao Matt. — Não é como se você andasse por aí com uma bandeira colorida, anunciando. — Você sabe que eu sei sobre você e Charles, não é?
Ele começou a tossir baixinho, como se estivesse surpreso por eu saber uma coisa do tipo. Sempre esperei que ele me contasse sobre isso, mas respeitava a sua decisão, afinal, ele estava envolvido com o nosso chefe. Não era proibido, mas também não era exatamente legal…
— Odeio como você é observadora... — ele reclamou, parando de fazer a massagem. — Devíamos prestar atenção na reunião.
— Nós vamos conversar sobre isso depois? — Indaguei.
Eu tive o prazer de me virar e encontrar Matt corado, mas não impliquei. Apenas sorri e deixei que ele se afastasse de mim, agradecendo por aquela distração leve do momento.
— Onde está o pai das crianças? — Maddie indagou e eu voltei a prestar atenção no que estava acontecendo.
— Elle está com ele... — Matt respondeu. — E pelo pouco que eu soube, os filhos dela também são vítimas.
Soltei um suspiro resignado.
— Como você quer divulgar o caso? — Questionei à Watkins.
— Ele é um fugitivo... — declarou o óbvio. — Está cometendo o mesmo crime que cometeu antes e quer justiça. Quando ele descobrir que nós prendemos a suspeita, vai entrar em contato para devolver o menino.
— Não é garantia que ele vá devolver. — interviu.
Madison encarou-o por um momento, tentando encontrar uma resposta plausível para aquilo, mas, no fim, ela apenas deu de ombros.
— Vamos ter que confiar no trabalho, . — Ela disse.
— Talvez esse seja o problema.
— Owen... — chamei, interrompendo a conversa. — Pode pesquisar a vida inteira do suspeito? Puxe todos os arquivos que temos sobre ele e dê à Maddie tudo o que ela quiser. Matt, comunique à imprensa.
Ele assentiu, saindo da sala em seguida. Eu pude ver, através da janela de vidro, que ele esbarrou com Charles do outro lado.
Meu supervisor tinha ficado encarregado de interrogar Liara Davis, mas a julgar pela expressão dele, não tinha tido muito resultado.
— Eu quero que você procure pontos em comum entre e Sean... — Maddie instruiu ao Owen, sentando-se bem de frente para ele. — Esse cara descobriu que os dois eram vítimas de abusos e eu quero saber como.
Owen tinha uma linha fina de concentração no rosto, mantendo os olhos atentos na tela do notebook, enquanto os dedos corriam ágeis pela tela. Fiquei em silêncio, assim como , esperando por alguma resposta, tentando não pensar muito sobre nada.
— Tim nasceu no Texas, mas veio para Califórnia com a mãe aos quatros anos de idade. — Owen começou a informar tudo o que eu já sabia, mas era bom manter a agente convidada a par. — Ela morreu de câncer e ele passou a frequentar casas adotivas e abrigos, onde os abusos começaram.
Madison assentiu, mostrando que estava ouvindo.
— Não era muito sociável e não se mantinha muito tempo no mesmo emprego, mas ele costumava ser zelador nas escolas.
— Quais escolas? — A mulher questionou.
— School Palm, Children’s Valley e Hope School.
— O era da School Palm. — informou quando Maddie o olhou.
— Qual a escola de Sean? — Questionei.
Se ele mantinha um padrão, tinha que ser aquele.
Owen demorou apenas alguns segundos para responder.
— Olive St. School. — Respondeu. — Mas não há nenhum Tim listado como funcionário.
— Como eu disse... — Maddie começou. — Ele é um fugitivo, não vai usar o nome verdadeiro. Procure pelas fotos dos funcionários, principalmente os zeladores da escola.
Owen exalou um ar de surpresa. Não disse nada imediatamente, mas olhou para mim e , como se procurasse o melhor jeito de dizer algo.
— O que foi, Owen? — Questionei.
Ele coçou a bochecha, desconfortável.
— Ele está contratado como Wescor. — Avisou, girando a tela do notebook na nossa direção.
Havia uma foto do suspeito ali e o nome do meu filho logo abaixo. Eu não conseguia acreditar que aquele desgraçado tinha feito aquilo!
Despertada por copos de vidro caindo, olhei para , que tinha derrubado tudo que estava ao seu lado.
— Eu vou matá-lo! — Declarou, furioso.
— É assim que ele escolheu Sean. — Watkins continuou, fingindo que nada tinha acontecido. — Ele deve se aproximar das crianças e gerar confiança o suficiente nelas para que elas confessem algo ruim acontecendo.
Observei passar os dedos pelos fios do cabelo, nervoso e furioso, as mãos cerradas em punho. Deixei um suspiro escapar e desviei o olhar, mantendo a minha atenção em Maddie e Owen.
— Vocês podem preparar a imprensa? — Pedi.
Eles assentiram, compreendendo meu pedido e esperei que eles saíssem. Assim que a porta foi fechada, fui até a janela, puxando a cortina para ter o mínimo de privacidade possível.
... — chamei, a voz baixa.
Ele se virou para mim. Seus olhos estavam lacrimejados e era a primeira vez que eu o via tão vulnerável em tanto tempo. Devia estar sendo tão difícil para ele quanto era para mim estar naquele caso.
— Eu sinto tanta falta dele, . — Desabafou, a voz solta em um fio de sussurro.
Caminhei até ele devagar, sem dizer nada. Apenas parei na frente dele e o envolvi em um abraço.
E fiquei ali, abraçada a ele, por mais tempo do que eu podia contar.

ㅤ📍 Dia seguinte, às 07:48:

— Ele está ligando.
Levantei imediatamente, atravessando a porta do meu escritório e um corredor, entrando na sala de reunião, onde os pais de Sean estavam.
O celular tocava em uma música suave e a senhora Davis parecia nervosa. Ella, que estava ao lado dela, tentou acalmá-la com palavras baixas que eu não conseguia compreender. Owen estava a postos, pronto para tentar rastrear a ligação. Maddie estava em algum lugar lá fora, comandando uma entrevista, depois do caso ter repercutido na mídia.
Nós não divulgamos o nome de Sean e nem o que estava acontecendo de verdade, apenas demos uma história em partes, informando que Liara Davis tinha sido presa por cometer abusos físicos e psicológicos contra os próprios filhos. Era assim que o sequestrador e assassino iria descobrir que tínhamos feito o nosso trabalho.
— Pode atender! — Charles permitiu.
Matt também não estava ali, provavelmente estava fazendo companhia para Watkins.
O senhor Davis assentiu no exato momento em que adentrou a sala, parando bem ao meu lado. Ele segurou a minha mão por um momento, soltando-a segundos depois, uma promessa silenciosa que tudo ia acabar bem. Pelo menos, dessa vez.
Em uma hora, vocês devem buscar o Sean na Pacific Avenue, atrás do antigo Galpão. — Ele informou.
— E o que vai querer em troca? — Senhor Davis questionou, instruído por Ella.
Houve uma risada seca do outro lado da linha.
Na verdade, não quero nada, senhor Davis. — Respondeu. — Eu vou entregar um presente para o FBI. Agente , está na escuta?
Olhei para , assentindo.
— Sim.
Ótimo! — Murmurou. — Vou me entregar. Mas você deve vir sozinho.
Eu não esperava por aquilo. Na verdade, eu duvidava muito daquela informação, mas não disse nada.
— Preciso de uma prova de vida. — avisou.
Por um momento, achei que o suspeito tinha encerrado a ligação, mas, logo em seguida, uma voz infantil soou.
Papai? — Sean chamou.
— Sean! — Os pais exclamaram, aliviados.
Você vem me buscar, papai?
— Claro que vou, querido, eu… — ele tentou continuar, mas foi cortado.
Uma hora! — E então, a ligação foi encerrada.
Owen balançou a cabeça em negação.
— Ele está usando algum dispositivo para bloquear o acesso de rastreamento. — Avisou. — Tentei quebrar o bloqueio, mas não deu tempo.
Concordei com um aceno, mostrando que estava tudo bem.
Virei-me para .
— Você não vai sozinho.
— Eu não estava contando com isso... — forçou um sorriso, saindo da sala em seguida.
Pedi que Ella continuasse com os Davis e saí da sala com os outros.
— Owen... — Charles chamou. — Comunique a SWAT.
Morezzi assentiu e saiu do nosso campo de visão. Madison e Matt vieram até nós.
— O nos contou. — Maddie disse primeiro. — E eu preciso avisar: acho que é uma armadilha. Um fugitivo não se entregaria dessa maneira.
— O que você está sugerindo? — Meu supervisor questionou.
— Estou dizendo que ele pode se ressentir de vocês pela fuga não ter dado certo da primeira vez... — explicou. — Não sei por que ele escolheu o especificamente, mas devemos estar preparados.
— E cadê ele? — Perguntei, referindo-me ao meu ex.
— No estacionamento. — Matt me respondeu.
Deixei-os conversando entre si e caminhei diretamente até o estacionamento. O local estava praticamente vazio, mas encontrei encostando em um dos carros, bem em frente ao elevador social. Ele devia ter chegado por ali, enquanto optei pelas escadas.
— Eu não consigo me lembrar da última palavra que ele me disse. — Desabafou, assim que me viu chegando. — Revivo todos os dias, na minha memória, o último dia que eu o vi e não consigo me lembrar.
Azul.
— O quê?
— Foi a última coisa que ele disse. — Expliquei, encostando-me no carro ao lado dele. — Nós íamos comemorar que ele conseguiu nadar sozinho e você perguntou qual era a cor do bolo que ele queria. Ele respondeu “azul”. E depois correu direto para a escola.
— Como você lembra? — Perguntou.
me olhou com ternura e eu dei de ombros.
— Minha memória sempre foi melhor do que a sua... — lembrei.
Ele soltou uma risada, assentindo.
— Viu? — Falei. — Não é ruim lembrar dele.
Ele inclinou o rosto na minha direção. Prendi a respiração ao perceber o quão próximo nós estávamos, sentindo-me patética por estar nervosa, como se eu não estivesse junto dele há tanto tempo antes, mas era diferente agora.
acariciou a minha bochecha com os dedos e seus lábios roçaram nos meus por um breve momento. Estávamos prestes a nos beijar, mas a voz de Owen nos separou.
— A equipe está pronta. — Avisou.
Concordei com um aceno e se afastou de mim.
— Desculpa. — Apressou-se em dizer. — Eu não deveria ter feito isso.
Umedeci os meus lábios, compreendendo o seu arrependimento. Querendo não estender aquele momento, dei as costas para ele e comecei a andar na frente.

— Nossa equipe está inspecionando o local.
Encarei o rapaz que parecia jovem demais para estar na SWAT, atenta a todas informações que ele estava passando. A equipe estava pronta a alguns quarteirões do galpão, mas perto o suficiente para assistir tudo o que acontecia ao redor dele. devia ir sozinho com os Davis buscar Sean, mas tínhamos homens preparados para invadir o local, caso as coisas dessem errado.
— Obrigada! — Agradeci ao rapaz, que assentiu e voltou para a própria equipe.
Virei-me para Maddie, ao meu lado.
— Eu me sentiria mais segura se você tivesse ficado na Sede.
Ela riu, segurando na ponta do colete.
— Você está parecendo um pouquinho com o Luke.
— Não posso culpá-lo por estar preocupado... — dei de ombros. — Não estou dizendo para você ficar atrás de uma mesa a gravidez toda, mas talvez evitar alguns riscos.
— O era assim? — Questionou, apontando com a cabeça na direção do meu ex, que conversava com Charles e Matt.
— O tempo todo! — Respondi.
Ajeitei meu próprio colete, desviando os olhos dos três homens, observando Ella preparar os Davis. Owen não estava em lugar nenhum.
— Eu sei que não é o melhor momento, mas… — Maddie hesitou.
Encarei-a, incentivando-a a continuar o que estava dizendo.
— Eu queria te convidar para ser madrinha do bebê.
Eu não esperava o convite.
Madison me olhou com expectativas e eu tentei controlar a minha emoção, sorrindo verdadeiramente.
— É claro que eu aceito, Maddie! — Aceitei, feliz por uma notícia boa. — Eu nem sei o que dizer, só…
— Obrigada, ! — Pude jurar que vi lágrimas nos seus olhos, mas ela disfarçou tão rápido, abraçando-me, que eu não tive certeza.
— Agora venha, vamos fazer nosso trabalho.
Balancei a cabeça, afastando-me do abraço dela e andei até Ella e os Davis.
— Nós estamos prontos! — Avisei.
Os pais de Sean assentiram.
, Charles e Matt vieram até nós e repassamos o plano de novo, apenas para deixar os Davis seguros. garantiu a segurança deles e quando a SWAT liberou, os três começaram a andar em direção ao galpão. Charles chiou para Owen — que descobri estar em um dos telhados, sendo um dos olhos da operação — sobre ficar atento. Ele podia ser muito bom com tecnologia, mas era melhor ainda sendo atirador.
Eles chegaram na entrada do galpão. — Owen avisou através da escuta.
Nós entramos na van. Havia diversas telas mostrando a equipe da SWAT e a nossa em conjunto, além do campo de visão do galpão, onde eu conseguia ver e os Davis parado.
Atenção! — Owen chiou no meu ouvido. — Movimento, fiquem atentos.
O movimento em si era do suspeito saindo de uma das portas caídas do galpão. Sean vinha logo atrás dele, segurando a sua mão. Quando viu os pais, ele fez menção de correr, mas o sequestrador não deixou. Ele disse algo, mas não conseguimos ouvir.
Deveríamos conseguir.
— O que está acontecendo? — Charles questionou a um dos técnicos.
— O agente desligou o microfone, senhor. — Respondeu.
? — Chamei pela escuta, mas não obtive resposta. — , me responda!
Pela tela, pude ver Sean correndo até os pais. Senhor Davis pegou-o no braço e começou a voltar com o menino e a esposa direto até nós. Na porta da van, o mesmo rapaz jovem da SWAT apareceu com uma expressão infeliz no rosto.
— Tenho más notícias! — Disse, ofegante. — O local está cheio de explosivos.
Meu coração acelerou. Quando olhei pela tela mais uma vez, tinha acabado de entrar no galpão com o assassino.
Não temos mais campo de visão do agente . — Owen avisou.
— E você só comunica agora? — Gritei para o rapaz jovem sobre os dispositivos explosivos.
Saí da van, empurrando-o para o lado, desesperada.
, o que você está fazendo?
Surpreendente, a resposta veio dessa vez.
Estou garantindo que ele não fuja.
! — Minha voz saiu cortada. — O local está cheio de explosivos. Por favor, saia. Nós estamos com a criança.
Ouvi a respiração pesada dele do outro lado.
Ele matou nosso menino, ! — Respondeu. — Não posso fazer isso.
Percebi o momento em que ele se livrou da escuta, mas não sem antes ouvir o som de um tiro ecoando. Gritei o nome dele, tentando correr até o galpão, mas os braços fortes de Matt me impediram.
— Não posso deixá-lo lá dentro! — Falei. — Tire-o de lá! Agora!
Gritei para o rapaz da SWAT, que não se moveu um músculo sequer.
— Não posso. — Respondeu. — Não com ameaças de bomba. Nós temos um protocolo.
— Eu não me importo! — Berrei, furiosa. — Matthew, me solte!
Debati-me contra os braços dele, mas ele era muito mais forte.
O som da explosão ecoou e eu gritei por , implorando que ele saísse dali, que eu não o tivesse perdido também. Vi o galpão pegar fogo e lágrimas grossas descerem pelas minhas bochechas, Matt me segurando antes que eu caísse contra o chão. Ele me abraçou, enquanto eu enterrava o rosto em seu pescoço, chorando tudo o que eu podia.
Ouvi alguém pedir para solicitarem o bombeiro, a SWAT discutir protocolos, Maddie berrando alguma ordem.
... — Matt me chamou, mas não respondi. — , olhe.
A urgência na sua voz fez eu virar a cabeça. Do outro lado, perto do galpão, a parte que ainda não estava pegando fogo, andava mancando, até que caiu no chão. Afastei-me de Matt, levantando e correndo até o meu ex-marido.
! — Agachei sobre ele, notando um ferimento na sua perna e um sangramento na lateral de seu rosto.
Ele olhou para mim, exausto.
— Seu imbecil! — Estapeei-o como eu pude, xingando-o de tudo quanto era nome. — Você não pode me assustar assim! — Continuei reclamando, até ele reunir forças e me impedir de continuar estapeando seus braços, abdômen e peito.
... — sua voz saiu em um sussurro rouco. — Acabou.
Pisquei meus olhos, afastando as lágrimas. Havia alívio nas írises dele.
— Você é louco, .
Ele sorriu, acenando positivamente. Escutei alguém gritar por uma ambulância, mas caí sobre ele, em um abraço desajeitado e aliviado.



Epílogo
Hope you know I wish you all the love you’re looking for.

Abracei meu próprio corpo rapidamente, tentando afastar a brisa gélida que me consumiu, enquanto eu continuava caminhando pelo cemitério até encontrar a lápide certa. Não demorou muito, no entanto. estava lá, ajoelhado, com uma garrafa de vinho tônico do lado, murmurando palavras que, pela distância que eu ainda estava, não conseguia entender.
Lambi meu próprio lábio, tomando coragem para me aproximar dele. Quando ele percebeu minha presença, levantou os olhos na minha direção.
?
Abaixei-me, ficando na mesma altura que a dele.
— Oi, . — Murmurei. — Você me prometeu. — Apontei para a garrafa de vinho.
Ele deu de ombros, inocentemente, mas, daquela vez, resolvi que eu não iria levantar a discussão. Era o aniversário da morte de e acho que para enfrentar o dia, talvez ele precisasse beber um pouco mesmo.
Ele tinha prometido parar de beber e até cumpriu a promessa, voltando a trabalhar em uma unidade de polícia de Los Angeles, um ano depois do desfecho do nosso caso.
— Não sabia que você viria... — ele disse, passando a mão pelo rosto para enxugar as lágrimas. — Não no mesmo horário que eu.
— Você me ligou. — Lembrei a ele.
franziu o cenho na minha direção, como se explicasse que não se lembrava de ter pegado o celular e ligado para mim, mas quando pegou o aparelho do bolso e verificou as suas ligações, percebeu que eu estava certa.
— Acho que eu bebi um pouco demais... — admitiu, mais para si do que para mim.
Desviei o olhar dele, encarando a lápide na minha frente. Meu coração esmagou no peito de saudade, ao observar o nome do nosso filho ali.


★ 08.04.2014
✞ 23.10.2019

Hoje completava três anos sem ele. E a dor ainda era a mesma, dia após dia, noite após noite.
— Quer dizer alguma coisa? — questionou.
Fiquei em silêncio por algum tempo, tentando decidir se eu queria ou não. No fim, não havia palavras suficientes para expressar nada do que eu estava sentindo.
— Não.
Olhei para ele no exato momento em que ele virou mais um gole da garrafa. Ofereceu-me a mesma e eu dei de ombros aceitando, bebendo dois goles longos.
Não sei por quanto tempo ficamos ali, em silêncio, pensando nas memórias compartilhadas que tínhamos com o nosso filho e a antiga vida. Era tão difícil seguir em frente, mas não havia outra alternativa para mim e eu estava feliz e aliviada que , finalmente, estivesse refazendo a própria vida depois de tudo.
Levantei, limpando os meus joelhos da sujeira do chão e seguiu o mesmo movimento que o meu, parando ao meu lado. A garrafa de vinho pendia da sua mão, totalmente vazia. Sua barba estava do mesmo jeito que eu o encontrei, há um ano, e os fios do seu cabelo estavam bagunçados e longos.
Ele ainda era tão lindo quanto eu me lembrava.
Ele se aproximou de mim o suficiente para depositar um beijo carinhoso de despedida na minha testa, uma mania que nunca se livrava.
Gotas tímidas de chuva começaram a cair sobre nós e ele se afastou.
— Espero que você saiba, , que eu te desejo todo o amor que você procura. — Ele murmurou, sincero.
Limpei as lágrimas debaixo dos meus olhos e assenti devagar. Beijei a sua bochecha, despedindo-me, e dei as costas, pronta para ir embora. Eu sempre soube que nunca mais voltaríamos. Mas sempre seríamos um do outro, de alguma forma.
— Se cuide, .



FIM!



Nota da autora: Como foi difícil finalizar essa shortfic e eu nem coloquei tudo o que eu queria... Lewis Capaldi, eu te amo, mas suas músicas são tristes demais, meu Deus do céu! E eu chorei só um pouquinho escrevendo isso...
Eu quero agradecer a todas as autoras que embarcaram nessa comigo, para entregar esse ficstape lindo e completo para o site. Quero agradecer, principalmente, a minha beta maravilhosa: a Tay. Ela aguentou os meus surtos e estresses para fazer esse ficstape finalmente acontecer, sem ela, eu não seguraria essa barra HAHAHA Obrigada, Tay!! Agradeço também à Bea, pelas artes lindas que ela fez para todas as músicas, sou simplesmente apaixonada pelo talento dela!
No mais, muito obrigada pela sua leitura. Você pode comentar por aqui ou me encontrar nas redes sociais abaixo, caso queira um contato mais direto comigo.
Um beijo!



Outras Fanfics:
03. Hold Me While You Wait (Ficstape Uninspired to a Hellish Extent - Lewis Capaldi/Originais)
05. Break Free (Ficstapes Perdidos #2/Originais)
07. Since We're Alone (Ficstape Perdidos #3/Originais)
EXITUS (Criminal Minds/Em andamento)
In Dark (Criminal Minds/Em andamento)
Operação Bebê (Originais/Em Andamento)

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