Última atualização: Setembro de 2021

Capítulo Único

Levantei já sentindo o peso em meus ombros. O dia seria extremamente longo, e eu passaria-o inteiro debaixo de meu cobertor se não fosse por Jake, meu melhor amigo, que veio me acordar.
— Precisamos ir — disse simplista, sem nenhum sorriso como era de seu costume. Um curto e seco aviso, que não era de seu feitio. Mas eu bem sabia o motivo de sua pressa – e de suas imensas olheiras, mas eu não diria aquilo para ele.
O caminho até o boxe nunca pareceu tão longo. Meus passos eram arrastados, e eu sabia o quanto aquilo era preocupante. Jake logo estaria em meu quarto novamente, reclamando da minha demora.
Não quis estressa-lo ainda mais, portanto, me forcei a acelerar meus passos – e tentei silenciar todos os pensamentos obscuros de meu subconsciente.
A água quente bateu em minha nuca e ombros, escorrendo por toda a extensão do meu corpo, tentando me relaxar. Meus nódulos pareciam ainda mais rígidos naquela manhã, provavelmente pela mesma razão das olheiras marcadas de Jake.
Mesmo que meu corpo e mente implorassem para eu voltar para minha cama e tentar dormir pelo resto do dia, eu saí do banho e caminhei até o armário, pegando um moletom preto e calça jeans. Nos pés, calcei um tênis azulado de sola branca, que ela havia me dado no meu aniversário uns meses antes.
Espirrei o perfume em meu pescoço, sentindo o cheiro amadeirado que ela dizia amar tanto. Um sorriso involuntário se abriu assim que lembrei dos momentos em que ela parava na minha frente e me abraçava, apenas para inspirar o perfume e embriagar-se dele – palavras dela.
O corredor do meu quarto até as escadas estava vazio. Pude escutar a voz de Jake e dos outros no andar inferior. Assim que desci os degraus, me deparei com meus amigos. Todos de roupas escuras, mas a maioria parecia muito mais arrumado do que eu.
Camisa de botão, blazer e calça social.
E eu com um mero moletom velho que sempre usava.
— Você realmente vai assim? — um deles perguntou apontando para mim, fazendo que todos se virassem em minha direção.
Não consegui responder. Eu não gostava de roupa social, e odiava ter de usá-la em ocasiões especiais como a de hoje.
— Deixem ele — Jake disse baixo, logo pegando as chaves dos carros e jogando uma na direção de Hee. — Você dirige.
Ninguém contestou. Em dias comuns, quem dirigiria o carro além de Jake seria eu, mas não reclamei de ter sido poupado dessa responsabilidade naquele instante. Segui junto dos garotos até a garagem, sentando-me no lado do passageiro do carro de Jake.
Um silêncio se instaurou durante o caminho inteiro. Todos os quatro no carro olhavam para as janelas, sem conversar. Ninguém se encarava, muito menos chamava o outro para conversar, o que era… Entediante.
Se fosse em qualquer outro dia, eu provavelmente estaria enchendo a paciência de Jake fazendo piadas bestas sobre como ele dirigia mal – que era mentira, mas eu precisava manter o personagem para poder zoa-lo.
O céu estava cinzento e o vento não parecia calmo. Tudo indicava um clima desestimulante para aquele dia, mas não era como se alguém ali estivesse animado para algo.
Jake estacionou em frente aquele tão conhecido lugar, que eu particularmente sempre odiei. Tudo era extremamente monocromático. Sem cores, sem brilho, sem vida.
“Eu nunca moraria em um lugar assim.”
Sua voz soou em minha mente como se eu pudesse te ouvir falando exatamente isso. Sorri com a nova lembrança, mas não consegui manter o bom humor por muito tempo.
Meu coração doía a cada passo que eu dava, batendo forte como uma martelada no lugar errado. Como se meu peito pudesse rasgar enquanto eu travava o choro na garganta.
Eu ainda não podia acreditar que eu estava ali.
Hee segurou em meus ombros, impedindo-me de avançar. O carro deles havia chegado alguns minutos antes, por isso eles já estavam voltando enquanto eu me aproximava do local.
Seus olhos estavam vermelhos e seus lábios pareciam avermelhados, como se ele tivesse mordido-os com força. Engoli em seco, já sabendo o porquê dele estar daquela forma.
Jake continuava ao meu lado. Já os outros dois, que outrora estavam no carro conosco, seguiram o caminho.
— Fica com a chave, acho que você vai querer sair dirigindo por aí depois — falou com a voz baixa, quase num sussurro. Meus ombros se encolheram enquanto eu assentia com a cabeça, recebendo as chaves com as duas mãos também trêmulas.
Hee retirou as mãos dos meus ombros, indicando que continuaria seu caminho. Meus olhos viram de longe o motivo de seus olhos avermelhados.
— Como vocês vão para casa? — escutei Jake perguntando, mas eu já não prestava atenção em nada a minha volta.
— Táxi. Conhecemos o , ele…
Meus ouvidos pareceram se fechar para todos os sons que não fossem as batidas do meu próprio coração, que pulsava aceleradamente dentro do meu peito.


✞ 18.08.2020


As lágrimas escorreram automaticamente por todo meu rosto. A dor começou a ser insuportável, até minhas pernas cederem e eu cair de joelhos em frente a sua lápide.
Meus ombros encolheram para frente a medida que meu corpo se curvava, despedaçado. Havia se passado um ano e eu ainda não conseguia aceitar que era real.
Eu não a tinha mais.
Eu nunca mais a teria.
Senti mãos em meus ombros, afagando-me. Constatei que eram de Jake, mas não virei-me para conferir. Minhas mãos já haviam coberto meu rosto inteiramente molhado.
Tentei respirar mais fundo, mas não conseguia relaxar meus ombros. A tensão me consumia no momento.
— É tão difícil — desabafei com um fio de voz, sentindo as mãos de meu melhor amigo apertarem meus ombros um pouco mais forte. — Ela nem pôde dizer adeus.
Lembrei-me do momento em que recebia a notícia de que havia partido. Foi um mix de sentimentos horrendos que eu nunca mais gostaria de sentir.
Eu jurei que poderia matar aquele bêbado maldito que a atropelou.
— Eu tento viver minha vida, mas não consigo — continuei a falar, agora sentindo que as mãos de Jake não afagavam mais os meus ombros. Tirei as mãos do rosto, olhando fixamente para a lápide.
Não consegui sentir a presença de Jake ao meu lado. Embriaguei-me de toda a saudade que eu sentia de , como se nada mais importasse naquele instante.
Voltei a falar como se ela pudesse me ouvir:
— Eu falhei no meu plano. Eu falhei quando disse que te superaria e ficaria bem sem você, que conseguiria viver mesmo sentindo muito a sua falta.
Algumas lágrimas escorreram, mas não me importei de secá-las. Uma brisa fria arrepiou minha pele.
— Eu não posso ser o meu melhor sem você aqui comigo, . Eu… Preciso de você.
Meus ombros estavam curvados para a frente e eu permanecia de joelhos. Não conseguia sentir minhas pernas, porém, não mudei minha posição.
Minha postura deveria estar um lixo.
— Eu ainda vou até o terraço para assistir o pôr do sol, como a gente sempre fazia. Teve um dia que acampei lá… Fiquei observando as estrelas durante a noite toda, e não consegui dormir — inspirei profundamente, ainda sem tirar os olhos da lápide. — E é tudo tão diferente sem você.
Os raios do Sol batendo nas nuvens enquanto ele se despede não eram mais os mesmos. O céu que outrora se coloria entre tons rosados e alaranjados, agora pareciam uma bagunça desornada, sem harmonia alguma. Sem beleza, sem vida.
As estrelas antigamente me gamavam tanto que eu até mesmo me perdia na imensidão do céu noturno quando encarava-o pela janela.
Meu coração sentia um vazio imenso quando eu tentava fazer as coisas sem ela.
— Nenhuma estrela brilha como você, .
Mais lágrimas escorreram, me provocando uma leve risada. Eu odiava chorar, por Deus, como odiava.
— Nada faz sentido se eu não faço isso tudo com você. Ouvi passos se afastando e imaginei que Jake realmente me deixou ali, no meu momento. Abaixei a cabeça, fechando os olhos e tentando relaxar o máximo que conseguisse.
— As emoções não são as mesmas, . Se não for por você, eu não entendo por que ainda preciso fazer — respirei antes de continuar. — Tudo que eu quero é você, . Eu preciso que você volte pra mim.
Suspirei.
— Os anjos sentem a sua falta.
Sorri ao lembrar-me das vezes que apelidou os garotos de “meus anjos”.
— Eles estão solitários agora sem você.
As palavras saiam de minha boca assim como as lágrimas de meus olhos. O peito apertado pela saudade, mas minha mente navegava por todas as memórias que vivi com . Meu coração parecia sangrar, cansado de tamanho sofrimento e dor que vim carregando ao longo dos últimos doze meses.
Coloquei a mão no peito, segurando o moletom com força, sentindo os nós dos meus dedos se forçarem até ficarem amarelados. O choro havia cessado, finalmente. Inspirei fundo antes de erguer o rosto, forçando minhas pernas para ficar em pé. Meus joelhos fraquejaram junto de minha panturrilha, que implorava para a volta da circulação.
Olhei uma última vez em direção da lápide, pegando a chave do carro de meu bolso traseiro e prendendo-a entre os dedos.
— Eu sei que você não pode voltar para mim agora, e ‘tá tudo bem — declarei com um sorriso, sentindo o coração relaxar. — Preciso me acostumar com isso, mas por favor, me espere aí. Seja paciente, ok? Quando eu estiver pronto, irei correndo até você, .
Sorri com convicção, apertando a chave com ainda mais força em minha mão.
— Eu te amo, . Você sempre será minha eterna namorada.




Fim.



Nota da autora: OMG o que foi isso? Confesso que estou bem abalada, e vocês?
Espero que tenham gostado! Um cheirooo pra vocês!!!
~xoxo



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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