Capítulo Único
- Tá pensando tanto no quê? - perguntou com a voz suave depois de alguns segundos em silêncio. Ergui leve e lentamente minhas sobrancelhas e senti o pequeno sorriso se formar no canto dos meus lábios, brincando com a batata frita no pote de ketchup por um momento antes de erguer os olhos e encontrar os dele, curiosos e interessados. A luz acima da mesa tornava seu rosto ainda mais bonito em meio à luz baixa do restaurante e eu podia sentir o cheiro do Trident que ele mascava na ponta da minha língua.
- Em te beijar.
Ele engoliu em seco, mordendo o interior da boca antes de umedecer os lábios e disfarçar, sem sucesso, o sorriso. O ritual se repetiu: desvio de olhar para a direita, para baixo e o suspiro lento e profundo antes das írises, tímidas nesses momentos, reencontrarem as minhas, divertidas e esperançosas.
- Já é a quarta vez que você brinca assim... eu tô começando a acreditar.
Levei a batata à boca, puxando-a com a língua para mastigar devagar, meus olhos nos dele enquanto eu apreciava a mistura de sabores e a maneira como os fios bagunçados contornavam seu rosto no ar.
- Eu quero te beijar.
Pausa nos movimentos. passou cerca de quinze segundos apenas me encarando, os lábios semiabertos enquanto sua mente parecia procurar pela pegadinha no meu rosto, sem sucesso. Não podia culpá-lo e, quando a ficha pareceu finalmente cair para a situação, ele cruzou os braços sobre a mesa, se aproximando e diminuindo o tom de voz.
- De onde veio isso?
Copiei a postura dele.
- Da queda que eu tenho por você desde que te conheci.
ficou surpreso.
- Você tá falando sério?
- Estou.
Silêncio. Vi-o abrir e fechar a boca duas vezes antes de conseguir falar, um pouco trêmula e desordenadamente.
- Mas por quê... agora... o que você tá... como assim?
O jeito meio confuso, meio homem, meio menino me fez rir e mordi o lábio inferior, molhando outra batata no molho.
- Eu só estou dizendo que tenho uma queda por você e queria te beijar, só isso.
ergueu as sobrancelhas.
- Só isso?
- É, uai - dei de ombros. - O que tem demais nisso?
- Tirando o óbvio, o fato de que a gente se conhece há cinco anos.
Comi minha batata, meio divertida com a expressão perdida dele e meio apreensiva com o que estava fazendo. O ambiente estava fresco e muito agradável, mas minhas mãos suavam.
- Então quer dizer que eu tenho uma queda por você há cinco anos.
- E tá me dizendo isso só agora?
- Desculpa a demora, minha mãe fala demais - bufou, sentando-se ao lado dele. - Me atualizem no assunto.
a olhou com a testa franzida e a boca aberta, claramente sem saber o que falar ou fazer. Eu, por vez, tomei um gole do gim e obedeci.
- Eu estava contando ao sobre a queda que uma amiga do trabalho tem por um amigo dela - disse casualmente. me olhou com a mesma expressão perdida enquanto colocava três batatas na boca, esperando pelo ponto alto da história.
- Ela não sabe bem o que fazer porque eles se conhecem há alguns anos e ele tem namorada.
- Ai, tadinha - disse com a boca cheia. - Mas se eles se conhecem há anos e ele tem namorada então é porque o crush não é recíproco.
Peguei a taça de gim, continuando a história no caminho à boca.
- Acontece que ela descobriu por um amigo em comum que ele sente o mesmo.
ergueu as sobrancelhas e olhei para , pálido. Ele não se movia.
- Gente, mas então ele namora por quê? Ninguém nunca disse nada? Que doidera.
- Essa é uma boa pergunta... ainda mais porque, aparentemente, a namorada não tem nada a ver com ele.
- Nossa... e ela vai contar?
- Eu espero que sim.
- Boa noite, boa noite - a voz de soou atrás de mim e então ele sentou ao meu lado. - Desculpem o atraso, só consegui sair do escritório agora. Já comeram?
- Chegou na hora, enrolamos até agora - respondeu.
- Ah, que bom, to morto de fome.
sorriu para mim e passei a porção de batatas para o lado dele, que selou os lábios nos meus antes de atacá-las.
- O que acham da costelinha de porco ao barbecue?
- Você leu minha mente - assentiu. - Tem mandioca frita?
- Sabe, eu ainda to curioso sobre aquela história... - se manifestou, chamando a atenção de nós três ao mesmo tempo. Sua expressão agora estava suave e o sangue pinicou minhas veias, esquentando minha garganta. - Antes de você chegar, , a estava contando sobre uma amiga do trabalho que tem uma queda por um amigo próximo de anos, mas ele namora... - ele fez uma breve pausa, olhando para mim. - Aparentemente com a garota errada.
Meu coração errou uma batida, quase me fazendo tossir. Olhei para , que riu.
- Deixa eu adivinhar, ela é a garota certa?
Foi minha vez de engolir em seco, sentindo os dedos dos pés se contorcerem dentro do scarpin. Um sorriso pequeno se formou no rosto de , que apontou para antes de cravar os olhos em mim.
- O que você acha, ?
De repente, o jogo virara e agora eu tinha a atenção dos três em mim me deixando tão desconfortável quanto meu calcanhar naquele salto. Por que diabos eu tinha de começar tudo aquilo?
Sem pensar muito, respirei fundo e devolvi com toda a naturalidade que consegui, sustentando o olhar no dele.
- Eu não sei se ela é a garota certa, , mas sei que ela gostaria de tentar ser.
Um feixe, um brilho e meu coração batendo mais rápido a cada segundo que os olhos dele permaneciam nos meus.
- Ela parece é apaixonada por esse cara - soltou.
- Né? Quem sabe eles ainda ficam juntos - disse.
- Ela namora? - para minha surpresa, perguntou.
- Sim.
- Caramba, ela também? - ficou surpresa, a boca novamente cheia de batatas. - Que história mais desencontrada.
- Peraí, eu to perdido - balançou a cabeça. - Essa menina é apaixonada pelo amigo, mas os dois namoram outras pessoas?
- Eu acho que é por aí... - disse numa voz falha, meus olhos fixos no gim.
- E ele sabe?
- Ele também gosta dela - informou e franziu o cenho.
- Alguém nessa história vai rodar.
Olhei para ele, de repente me sentindo um pouco mal. Merda, o que eu tinha feito?
- Que babado - disse. - Imagina só gostar de alguém por tanto tempo e não falar nada? Nem eu sei o que faria no lugar dela.
- Mudando de assunto - falou. - Será que a gente pode fazer o pedido? Tô sonhando com essa costela já.
- Amor, vou pedir mais um chopp, quer? - se dirigiu a , que apenas negou com a cabeça, o semblante distante. Nossos olhares se cruzaram por um momento interrompido pelos dedos de se entrelaçando aos meus em cima da mesa. Eu perdi o ar.
Foi quem fez os pedidos e a meia hora seguinte foi um misto de sorrisos falsos e tortura para mim. Sentados à mesa, eu ouvia a conversa cotidiana entre meu namorado e a namorada do cara que eu gostava, porque tanto eu quanto ele falávamos pouco e fingíamos muito. e eu não éramos melhores amigos, mas eu sabia quais manias ele tinha quando escondia estar bravo - e que, em três anos, nem se atentara. E soube que deveria ter ficado quieta quando ele puxou, pela quarta vez, os fios próximos à orelha.
- Eu preciso ir ao banheiro - disse, saindo da mesa rapidamente. e continuaram entusiasmados a conversa sobre futebol, da qual me ausentei completamente, usando o pedaço da mandioca em minha mão para desenhar com o ketchup no prato. Segundos depois, meu celular acendeu na mesa.
Inventa uma desculpa e me encontra aqui fora.
Congelei. Narinas infladas, pupilas dilatadas e as batidas aceleradas do meu coração. O ar passou a entrar como gelo em meus pulmões e meus dedos tremeram, assim como o resto do corpo. O que eu diria? O que eu diria para os dois?
Gentilmente, segurei no braço de e aproximei o rosto do dele.
- Perdi duas chamadas da minha irmã, vou sair para retornar, ok?
- Claro, meu amor.
Atravessei o restaurante a passos lentos e trêmulos, tentando manter a calma através da respiração. Quase perdi o equilíbrio ao ter o salto preso ao tapete da porta e tirei um segundo para respirar fundo antes de cruzá-la e me perguntar para onde ir, já que o lugar ficava dentro do shopping.
No jardim suspenso.
Cruzei a porta de vidro, entrando na área verde e aberta. O jardim suspenso ficava bem ao lado do restaurante e tinha dois ambientes separados por uma grande fonte de água maravilhosamente iluminada. À noite, aquele lugar era ainda mais lindo. estava parado embaixo de uma espécie de marquise rodeada por flores e coqueiros, as mãos nos bolsos do jeans escuro e o olhar fixo no horizonte. Caminhei devagar até ele, que se virou para mim ao notar minha presença. Não consegui ler sua expressão, mas ele estava sério.
- O que foi aquilo? - foi direto, a voz seca me retraindo.
- Eu sei que fiz besteira, me desculpe.
- Besteira? Você acha mesmo que tinha o direito de fazer aquilo? - ele disse se aproximando, as sobrancelhas erguidas em repreensão. Encolhi os ombros, me sentindo péssima.
- Não, não tinha, eu...
- Você? - ele incentivou quando travei e desviei a atenção para os pontinhos brilhantes no céu atrás dele, minha mente ficando repentinamente vazia.
- Eu admito que não deveria ter feito aquilo. Me desculpe, . Os olhos dele ficaram nos meus por um momento, ambos sem expressão definida, e então ele quebrou o silêncio, a voz suave dessa vez.
- A podia ter... Deus, no que você estava pensando, ?
- Eu não pensei, , esse é o problema - confessei. - Já faz algum tempo que eu não penso direito quando você está perto.
O rosto dele adquiriu uma cor que eu nunca tinha visto e seus olhos passaram a me olhar com uma espécie de calor. se aproximou devagar, distante o suficiente para que sua imagem ainda fosse nítida no meu campo de visão e correu as írises pelo meu rosto como quem lê atentamente um livro. Me senti quente e fria ao mesmo tempo.
- Nós nunca estivemos solteiros na mesma época, não é? - sussurrou, o hálito mentolado acariciando minhas narinas. Neguei com a cabeça.
- É por isso que eu não sei quando é o momento certo de dizer que eu sempre fui apaixonada por você.
Não sei dizer por quanto tempo me encarou, mas tê-lo tão perto e tão atento já não foi mais desconfortável. Quando meus lábios soltaram as palavras, o peso nos meus ombros se dissolveu, deixando o ar entrar, puro e por completo, pela primeira vez. E, depois do baque da certeza, nós não precisávamos mais de palavras.
Os pensamentos que corriam os olhos dele eram os mesmos que corriam os meus e nenhum deles tinha solução naquele momento. Os medos e receios que lampejavam na face dele eram os mesmos que lampejavam na minha e nenhum deles tinha solução naquele momento. Naquele momento, éramos apenas e eu sob uma marquise pouco iluminada.
Eu achei que era aquilo, mas subiu uma das mãos até meu rosto, afastando minha franja do olho com a ponta do dedo médio. O toque suave e delicado fez cócegas na minha pele e arrepiou minha têmpora, e ele o estendeu pela lateral do meu rosto até a base da mandíbula, fazendo minha cabeça girar minimamente em direção à mão dele. permaneceu com o dedo colado em minha pele, observando-o até resolver subi-lo novamente, dessa vez passando-o por trás da minha orelha e entrelaçando gentilmente os quatro dedos nos meus cabelos. Ondas percorriam meu corpo com uma velocidade absurda e precisei me contrair para conter os mini espasmos que começavam a surgir. Automaticamente, fechei os olhos ao sentir seu polegar acariciar toda a minha orelha e não consegui não tombar o rosto quando os dedos dele deslizaram pela lateral do meu pescoço, descendo até a clavícula nua e subindo novamente, dessa vez até meus lábios. Eu não sentia nada além do meu coração, o rastro dos dedos dele e o calor se espalhando pelo corpo. Meus lábios se desgrudaram quando deslizou o polegar pelo inferior, meus olhos vendo os dele acompanhar os próprios movimentos, e ele apenas resolveu ficar ali por um tempo, contornando e brincando com cada milímetro da pele fina.
Aquilo já estava sendo tortura o suficiente, mas achou que seria melhor ainda descer a mão pelo meu braço para então segurar minha cintura com as duas, apertando-a de leve antes de chegar mais perto a ponto de nossos narizes quase se tocarem. Eu me senti tonta e levemente entorpecida e, por um momento, quis pedir para que ele parasse, mas quando senti suas mãos subirem pelas minhas costelas, mudei de ideia, porque os polegares dele se encaixaram no arco dos meus seios, livres do sutiã. Olhos fechados, arrepios e um leve gemido. O hálito dele agora entrava na minha boca. Achei que não ousaria, mas senti seus dedos girarem e tocarem rapidamente meus mamilos, há muito rígidos, por cima da seda, me deixando no auge do meu êxtase. Meu tronco arqueou e levei os dedos à barriga dele, pressionando-a. Logo suas mãos entrelaçaram meus cabelos com mais intensidade e, então, finalmente me beijou.
Eu sorri com o gosto da menta na ponta da minha língua, depois nela inteira. Tinha as mãos espalmadas na lateral do abdomem dele e subi uma até os fios que tiravam meu sono na primeira oportunidade que encontrei, puxando-o mais para mim.
Não foi um beijo demorado, mas precisei de um tempo para me recompor antes de conseguir abrir os olhos e encontrar os dele direto nos meus, um sorriso pendurado no rosto.
deu dois passos para trás, levou as mãos à cintura, trocou o peso do corpo de uma perna para a outra e olhou para cima por um segundo, deixando a cabeça cair pesada em seguida. Ele, assim como eu, não sabia o que pensar, o que dizer, o que sentir e, enquanto eu girava nos próprios calcanhares sem sair do lugar, respirava fundo, soltando o ar pela boca, as bochechas infladas, e levava os braços acima da cabeça, cruzando-os atrás dela como quem estivesse completamente perdido sobre algo - o que era bem o caso. Entre sorrisos nervosos, nós nos olhávamos.
- Então é assim que ele se sente quando te beija? - perguntou baixinho, mordendo o lábio. - É tudo isso o que ele tem quando te toca?
- Não - sussurrei. - Isso foi você.
soltou os braços e andou até mim novamente, sorrindo.
- Eu não sei se sou o cara certo, , mas sei que gostaria de tentar ser.
Sem que eu realmente quisesse, meus olhos se fecharam e a última coisa que senti sob aquela marquise antes de ficar sozinha foram os lábios dele beijando minha testa.
- Em te beijar.
Ele engoliu em seco, mordendo o interior da boca antes de umedecer os lábios e disfarçar, sem sucesso, o sorriso. O ritual se repetiu: desvio de olhar para a direita, para baixo e o suspiro lento e profundo antes das írises, tímidas nesses momentos, reencontrarem as minhas, divertidas e esperançosas.
- Já é a quarta vez que você brinca assim... eu tô começando a acreditar.
Levei a batata à boca, puxando-a com a língua para mastigar devagar, meus olhos nos dele enquanto eu apreciava a mistura de sabores e a maneira como os fios bagunçados contornavam seu rosto no ar.
- Eu quero te beijar.
Pausa nos movimentos. passou cerca de quinze segundos apenas me encarando, os lábios semiabertos enquanto sua mente parecia procurar pela pegadinha no meu rosto, sem sucesso. Não podia culpá-lo e, quando a ficha pareceu finalmente cair para a situação, ele cruzou os braços sobre a mesa, se aproximando e diminuindo o tom de voz.
- De onde veio isso?
Copiei a postura dele.
- Da queda que eu tenho por você desde que te conheci.
ficou surpreso.
- Você tá falando sério?
- Estou.
Silêncio. Vi-o abrir e fechar a boca duas vezes antes de conseguir falar, um pouco trêmula e desordenadamente.
- Mas por quê... agora... o que você tá... como assim?
O jeito meio confuso, meio homem, meio menino me fez rir e mordi o lábio inferior, molhando outra batata no molho.
- Eu só estou dizendo que tenho uma queda por você e queria te beijar, só isso.
ergueu as sobrancelhas.
- Só isso?
- É, uai - dei de ombros. - O que tem demais nisso?
- Tirando o óbvio, o fato de que a gente se conhece há cinco anos.
Comi minha batata, meio divertida com a expressão perdida dele e meio apreensiva com o que estava fazendo. O ambiente estava fresco e muito agradável, mas minhas mãos suavam.
- Então quer dizer que eu tenho uma queda por você há cinco anos.
- E tá me dizendo isso só agora?
- Desculpa a demora, minha mãe fala demais - bufou, sentando-se ao lado dele. - Me atualizem no assunto.
a olhou com a testa franzida e a boca aberta, claramente sem saber o que falar ou fazer. Eu, por vez, tomei um gole do gim e obedeci.
- Eu estava contando ao sobre a queda que uma amiga do trabalho tem por um amigo dela - disse casualmente. me olhou com a mesma expressão perdida enquanto colocava três batatas na boca, esperando pelo ponto alto da história.
- Ela não sabe bem o que fazer porque eles se conhecem há alguns anos e ele tem namorada.
- Ai, tadinha - disse com a boca cheia. - Mas se eles se conhecem há anos e ele tem namorada então é porque o crush não é recíproco.
Peguei a taça de gim, continuando a história no caminho à boca.
- Acontece que ela descobriu por um amigo em comum que ele sente o mesmo.
ergueu as sobrancelhas e olhei para , pálido. Ele não se movia.
- Gente, mas então ele namora por quê? Ninguém nunca disse nada? Que doidera.
- Essa é uma boa pergunta... ainda mais porque, aparentemente, a namorada não tem nada a ver com ele.
- Nossa... e ela vai contar?
- Eu espero que sim.
- Boa noite, boa noite - a voz de soou atrás de mim e então ele sentou ao meu lado. - Desculpem o atraso, só consegui sair do escritório agora. Já comeram?
- Chegou na hora, enrolamos até agora - respondeu.
- Ah, que bom, to morto de fome.
sorriu para mim e passei a porção de batatas para o lado dele, que selou os lábios nos meus antes de atacá-las.
- O que acham da costelinha de porco ao barbecue?
- Você leu minha mente - assentiu. - Tem mandioca frita?
- Sabe, eu ainda to curioso sobre aquela história... - se manifestou, chamando a atenção de nós três ao mesmo tempo. Sua expressão agora estava suave e o sangue pinicou minhas veias, esquentando minha garganta. - Antes de você chegar, , a estava contando sobre uma amiga do trabalho que tem uma queda por um amigo próximo de anos, mas ele namora... - ele fez uma breve pausa, olhando para mim. - Aparentemente com a garota errada.
Meu coração errou uma batida, quase me fazendo tossir. Olhei para , que riu.
- Deixa eu adivinhar, ela é a garota certa?
Foi minha vez de engolir em seco, sentindo os dedos dos pés se contorcerem dentro do scarpin. Um sorriso pequeno se formou no rosto de , que apontou para antes de cravar os olhos em mim.
- O que você acha, ?
De repente, o jogo virara e agora eu tinha a atenção dos três em mim me deixando tão desconfortável quanto meu calcanhar naquele salto. Por que diabos eu tinha de começar tudo aquilo?
Sem pensar muito, respirei fundo e devolvi com toda a naturalidade que consegui, sustentando o olhar no dele.
- Eu não sei se ela é a garota certa, , mas sei que ela gostaria de tentar ser.
Um feixe, um brilho e meu coração batendo mais rápido a cada segundo que os olhos dele permaneciam nos meus.
- Ela parece é apaixonada por esse cara - soltou.
- Né? Quem sabe eles ainda ficam juntos - disse.
- Ela namora? - para minha surpresa, perguntou.
- Sim.
- Caramba, ela também? - ficou surpresa, a boca novamente cheia de batatas. - Que história mais desencontrada.
- Peraí, eu to perdido - balançou a cabeça. - Essa menina é apaixonada pelo amigo, mas os dois namoram outras pessoas?
- Eu acho que é por aí... - disse numa voz falha, meus olhos fixos no gim.
- E ele sabe?
- Ele também gosta dela - informou e franziu o cenho.
- Alguém nessa história vai rodar.
Olhei para ele, de repente me sentindo um pouco mal. Merda, o que eu tinha feito?
- Que babado - disse. - Imagina só gostar de alguém por tanto tempo e não falar nada? Nem eu sei o que faria no lugar dela.
- Mudando de assunto - falou. - Será que a gente pode fazer o pedido? Tô sonhando com essa costela já.
- Amor, vou pedir mais um chopp, quer? - se dirigiu a , que apenas negou com a cabeça, o semblante distante. Nossos olhares se cruzaram por um momento interrompido pelos dedos de se entrelaçando aos meus em cima da mesa. Eu perdi o ar.
Foi quem fez os pedidos e a meia hora seguinte foi um misto de sorrisos falsos e tortura para mim. Sentados à mesa, eu ouvia a conversa cotidiana entre meu namorado e a namorada do cara que eu gostava, porque tanto eu quanto ele falávamos pouco e fingíamos muito. e eu não éramos melhores amigos, mas eu sabia quais manias ele tinha quando escondia estar bravo - e que, em três anos, nem se atentara. E soube que deveria ter ficado quieta quando ele puxou, pela quarta vez, os fios próximos à orelha.
- Eu preciso ir ao banheiro - disse, saindo da mesa rapidamente. e continuaram entusiasmados a conversa sobre futebol, da qual me ausentei completamente, usando o pedaço da mandioca em minha mão para desenhar com o ketchup no prato. Segundos depois, meu celular acendeu na mesa.
Inventa uma desculpa e me encontra aqui fora.
Congelei. Narinas infladas, pupilas dilatadas e as batidas aceleradas do meu coração. O ar passou a entrar como gelo em meus pulmões e meus dedos tremeram, assim como o resto do corpo. O que eu diria? O que eu diria para os dois?
Gentilmente, segurei no braço de e aproximei o rosto do dele.
- Perdi duas chamadas da minha irmã, vou sair para retornar, ok?
- Claro, meu amor.
Atravessei o restaurante a passos lentos e trêmulos, tentando manter a calma através da respiração. Quase perdi o equilíbrio ao ter o salto preso ao tapete da porta e tirei um segundo para respirar fundo antes de cruzá-la e me perguntar para onde ir, já que o lugar ficava dentro do shopping.
Onde você está?
No jardim suspenso.
Cruzei a porta de vidro, entrando na área verde e aberta. O jardim suspenso ficava bem ao lado do restaurante e tinha dois ambientes separados por uma grande fonte de água maravilhosamente iluminada. À noite, aquele lugar era ainda mais lindo. estava parado embaixo de uma espécie de marquise rodeada por flores e coqueiros, as mãos nos bolsos do jeans escuro e o olhar fixo no horizonte. Caminhei devagar até ele, que se virou para mim ao notar minha presença. Não consegui ler sua expressão, mas ele estava sério.
- O que foi aquilo? - foi direto, a voz seca me retraindo.
- Eu sei que fiz besteira, me desculpe.
- Besteira? Você acha mesmo que tinha o direito de fazer aquilo? - ele disse se aproximando, as sobrancelhas erguidas em repreensão. Encolhi os ombros, me sentindo péssima.
- Não, não tinha, eu...
- Você? - ele incentivou quando travei e desviei a atenção para os pontinhos brilhantes no céu atrás dele, minha mente ficando repentinamente vazia.
- Eu admito que não deveria ter feito aquilo. Me desculpe, . Os olhos dele ficaram nos meus por um momento, ambos sem expressão definida, e então ele quebrou o silêncio, a voz suave dessa vez.
- A podia ter... Deus, no que você estava pensando, ?
- Eu não pensei, , esse é o problema - confessei. - Já faz algum tempo que eu não penso direito quando você está perto.
O rosto dele adquiriu uma cor que eu nunca tinha visto e seus olhos passaram a me olhar com uma espécie de calor. se aproximou devagar, distante o suficiente para que sua imagem ainda fosse nítida no meu campo de visão e correu as írises pelo meu rosto como quem lê atentamente um livro. Me senti quente e fria ao mesmo tempo.
- Nós nunca estivemos solteiros na mesma época, não é? - sussurrou, o hálito mentolado acariciando minhas narinas. Neguei com a cabeça.
- É por isso que eu não sei quando é o momento certo de dizer que eu sempre fui apaixonada por você.
Não sei dizer por quanto tempo me encarou, mas tê-lo tão perto e tão atento já não foi mais desconfortável. Quando meus lábios soltaram as palavras, o peso nos meus ombros se dissolveu, deixando o ar entrar, puro e por completo, pela primeira vez. E, depois do baque da certeza, nós não precisávamos mais de palavras.
Os pensamentos que corriam os olhos dele eram os mesmos que corriam os meus e nenhum deles tinha solução naquele momento. Os medos e receios que lampejavam na face dele eram os mesmos que lampejavam na minha e nenhum deles tinha solução naquele momento. Naquele momento, éramos apenas e eu sob uma marquise pouco iluminada.
Eu achei que era aquilo, mas subiu uma das mãos até meu rosto, afastando minha franja do olho com a ponta do dedo médio. O toque suave e delicado fez cócegas na minha pele e arrepiou minha têmpora, e ele o estendeu pela lateral do meu rosto até a base da mandíbula, fazendo minha cabeça girar minimamente em direção à mão dele. permaneceu com o dedo colado em minha pele, observando-o até resolver subi-lo novamente, dessa vez passando-o por trás da minha orelha e entrelaçando gentilmente os quatro dedos nos meus cabelos. Ondas percorriam meu corpo com uma velocidade absurda e precisei me contrair para conter os mini espasmos que começavam a surgir. Automaticamente, fechei os olhos ao sentir seu polegar acariciar toda a minha orelha e não consegui não tombar o rosto quando os dedos dele deslizaram pela lateral do meu pescoço, descendo até a clavícula nua e subindo novamente, dessa vez até meus lábios. Eu não sentia nada além do meu coração, o rastro dos dedos dele e o calor se espalhando pelo corpo. Meus lábios se desgrudaram quando deslizou o polegar pelo inferior, meus olhos vendo os dele acompanhar os próprios movimentos, e ele apenas resolveu ficar ali por um tempo, contornando e brincando com cada milímetro da pele fina.
Aquilo já estava sendo tortura o suficiente, mas achou que seria melhor ainda descer a mão pelo meu braço para então segurar minha cintura com as duas, apertando-a de leve antes de chegar mais perto a ponto de nossos narizes quase se tocarem. Eu me senti tonta e levemente entorpecida e, por um momento, quis pedir para que ele parasse, mas quando senti suas mãos subirem pelas minhas costelas, mudei de ideia, porque os polegares dele se encaixaram no arco dos meus seios, livres do sutiã. Olhos fechados, arrepios e um leve gemido. O hálito dele agora entrava na minha boca. Achei que não ousaria, mas senti seus dedos girarem e tocarem rapidamente meus mamilos, há muito rígidos, por cima da seda, me deixando no auge do meu êxtase. Meu tronco arqueou e levei os dedos à barriga dele, pressionando-a. Logo suas mãos entrelaçaram meus cabelos com mais intensidade e, então, finalmente me beijou.
Eu sorri com o gosto da menta na ponta da minha língua, depois nela inteira. Tinha as mãos espalmadas na lateral do abdomem dele e subi uma até os fios que tiravam meu sono na primeira oportunidade que encontrei, puxando-o mais para mim.
Não foi um beijo demorado, mas precisei de um tempo para me recompor antes de conseguir abrir os olhos e encontrar os dele direto nos meus, um sorriso pendurado no rosto.
deu dois passos para trás, levou as mãos à cintura, trocou o peso do corpo de uma perna para a outra e olhou para cima por um segundo, deixando a cabeça cair pesada em seguida. Ele, assim como eu, não sabia o que pensar, o que dizer, o que sentir e, enquanto eu girava nos próprios calcanhares sem sair do lugar, respirava fundo, soltando o ar pela boca, as bochechas infladas, e levava os braços acima da cabeça, cruzando-os atrás dela como quem estivesse completamente perdido sobre algo - o que era bem o caso. Entre sorrisos nervosos, nós nos olhávamos.
- Então é assim que ele se sente quando te beija? - perguntou baixinho, mordendo o lábio. - É tudo isso o que ele tem quando te toca?
- Não - sussurrei. - Isso foi você.
soltou os braços e andou até mim novamente, sorrindo.
- Eu não sei se sou o cara certo, , mas sei que gostaria de tentar ser.
Sem que eu realmente quisesse, meus olhos se fecharam e a última coisa que senti sob aquela marquise antes de ficar sozinha foram os lábios dele beijando minha testa.
Fim
Nota da autora: Eu sou fã de contos e cenas curtas, então aqui tá mais um hahah
Espero que tenham gostado e obrigada por ler <3
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Espero que tenham gostado e obrigada por ler <3
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