Blue Neighborhood

Última atualização: 13/05/2024

Capítulo 1



Olá, meu nome é . Tenho 17 anos e não tenho família, apenas meu pai. Minha mãe nos abandonou quando eu era apenas uma criança, e eu não lembro muito dela. Apenas sei que depois que ela se foi, meu pai virou um alcoólatra. Quando nasci, já não tinha avós por parte de pai, apenas de mãe. Portanto, a única pessoa que eu tinha, era meu pai.
Por conta disso, me apeguei muito a uma amiga minha. Somos amigos desde quando eu era bem pequeno... nos conhecemos na vizinhança do bairro. E sempre nos demos bem.


***



Com nove anos de idade.

- , ! - Chamava desesperadamente, me cutucando.
- Fala . - Respondi segurando seu dedinho pequeno.
- Nós vamos andar juntos na escola amanhã, né? - Perguntou ela com os olhinhos brilhando.
- Claro que sim. - Falei colocando uma mão em sua cabeça.
Ela sorriu abertamente, feliz com minha resposta.



***



e eu nos vimos pela primeira vez em um dia chuvoso, quando eu brincava na rua sozinho com meus barquinhos de madeira que meu pai fez para mim. Ela ficou muito animada quando viu meus barquinhos flutuando nas pequenas poças d'água formadas nos buracos da rua, mas sua mãe não queria deixá-la ir brincar comigo, porque não sabia quem eu era. Até que tomei coragem de me levantar e ir até elas, fazendo com que a mãe dela sorrisse pra mim gentilmente quando, de mãos juntas, pedi para brincar com ela, baixinho. A mãe de , vendo que eu era apenas uma criança que queria um amigo para compartilhar os brinquedos, deixou a pequena brincar comigo.


***



Com sete anos de idade.

- , apenas não fique até muito tarde na rua! E tome cuidado com os carros. - Gritava a mãe dela com o objetivo de nos fazer ouvi-la, enquanto corríamos até onde os meus barcos estavam.
Ela estava completamente deslumbrada com o fato de os brinquedos flutuarem.
- Como que eles voam assim? - Perguntou ela, encostando um dedo num dos barquinhos.
- Ele está flutuando na água, está vendo? Meu pai os fez pra mim. - Falei.
- Sério? Que legal! - Falou a pequena menina, colocando as mãos nas bochechas gordinhas.
Eu ri de sua empolgação.
- E como é seu nome? - Perguntou, jogando a cabeça para o lado.
- Meu nome é . . - Falei sorrindo, fazendo meus dentes aparecerem.
- Meu nome é , - falou ela - podemos ser amigos?
Eu não sabia o significado dessa palavra ainda. Mas eu queria entender o que quer dizer “amigo”.
- Sim - Falei feliz.



***



Era tanta inocência naquela época… Como eu gostaria de ter tudo aquilo de volta. Se eu soubesse o tanto de coisas que aconteceriam em minha vida por ter conhecido naquele dia chuvoso, acredito que não teria dito que queria ser amigo dela.
Não me entenda mal. Apenas acho que se eu estivesse fora de sua vida, ela estaria bem hoje. E não destruída, por causa de toda a merda que causei.
E no dia de hoje, eu preferia que sua mãe não tivesse deixado ela falar comigo… E que eu não tivesse a convidado para brincar comigo.


***



Com treze anos de idade.

- Sobe também, . - Falou , já em cima da enorme árvore.
- Mas eu não consigo. - Falei resmungando.
- Claro que consegue, até eu consegui. - Falou ela, se movendo de galho em galho.
- Não vai cair, hein... - Falei cruzando os braços, emburrado porque não conseguia subir mais do que os primeiros galhos da árvore.
- O que… - Ela foi perguntar, antes de se escorar em um galho frágil, fazendo com que ele quebrasse.
caiu de, pelo menos, dois metros de altura no chão.
- ! - Gritei desesperado, me soltando dos galhos baixos que tentava subir, e corri em sua direção.
- Ah, isso dói. - Falou ela segurando seu braço, deitada na grama.
- Deixa eu ver. – Levei minha mão até o local que ela reclamava.
- Não! – Respondeu ela puxando o braço bruscamente, quando fiz menção de tocá-lo.
Em seguida começou a chorar de dor.
- Eu avisei para ter cuidado... - Falei revirando os olhos.
- Você podia ser um pouco mais sensível. – Respondeu ela tentando se sentar.
Eu suspirei, colocando a mão na cabeça dela.
- Desculpa...
Ela sorriu minimamente, ainda demonstrando a dor.


***



Estávamos bem, até começarmos a entender um pouco mais de nossas vidas... a sentir e experimentar coisas das quais desconhecíamos. Acontece que sou filho único de um casamento que se acabou sem eu nem saber o motivo.
Muitas vezes meu pai jogou na minha cara que a culpa era minha que a minha mãe decidido ir embora e nos largar. Todas as vezes ele estava completamente bêbado… E no outro dia, ele apenas me dava um abraço. Sem contar as vezes que ele me batia… E foi assim que começou a decadência de tudo. Quando ele começou a ficar violento comigo.
sempre foi extremamente cuidadosa comigo, e todas as vezes que eu aparecia com roxos na escola, ela me levava para casa dela, e cuidava de mim, como se fosse médica e soubesse o que estava fazendo. Me dava antibióticos e colocava bolsinhas de gelo nos hematomas… Eu amava tudo isso.
Eu amo tudo isso.
Eu amo tudo que seja relacionado a ela.


***



Com dezesseis anos

- , de novo isso… - Falou tocando no meu olho roxo, fazendo com que eu virasse meu rosto para o lado oposto.
- Não foi nada... – Evitei olhar para ela.
- Estou vendo que não foi nada! – Respondeu ela impaciente.
- Não fala alto, as pessoas vão começar a olhar pra gente...
- Vamos, eu vou colocar um gelo nisso. - Falou se levantando e pegando nossas mochilas.
- Mas e a aula? - Perguntei confuso.
- Já ficamos para fora em uma aula… não vai fazer diferença ficar pra fora nas outras - Respondeu ela sorrindo.
Sorrindo, linda como sempre, me fazendo sorrir levemente e me levantar.


***



- Não tem ninguém em casa... - Constatou quando me viu hesitar entrar.
Sorri tímido… Eu brincava muito em sua casa quando era pequeno, mas depois que entramos no ensino médio, vinha apenas quando ela insistia em cuidar de mim. Meu pai implicava um pouco de nos ver juntos, por isso eu evitava..., mas naquele momento não importava.
- Senta no sofá que eu vou pegar um pacotinho de gelo. – Disse ela em tom autoritário.
Fiz o que pediu. Logo ela voltou com um saquinho de gelo na mão. Antes que eu pudesse fazer menção de pegar, ela mesmo colocou no local machucado, se aproximando de mim e sentou ao meu lado.
- Não gosto de ver isso. – Falou , tirando a toca do moletom que cobria minha cabeça. - O que houve?
Eu hesitei. Não queria falar sobre isso pra ela. Não queria vê-la se preocupando comigo… E muito menos que soubesse que era por causa dela.
- Ele ficou bêbado novamente e se irritou que eu estava no meu quarto estudando. - Menti descaradamente.
- Ah, é? - Perguntou desconfiada. Eu sei que não consigo mentir para ela.
- Sim... não se preocupe.
Eu sorri levemente, fazendo com que ela sorrisse pra mim de volta.
Seu sorriso era desenhado, seus lábios eram perfeitos... e pareciam tão macios. No momento seguinte, quase como um ato involuntário, toquei seu lábio inferior com meu dedo indicador, causando um arrepio em mim mesmo. Causando sensações das quais eu nunca havia sentido antes. Os olhos pequenos de se dirigiram para minha mão. Eu não desgrudava o meu olhar do local onde eu estava tocando, e comecei a me perguntar como seria ter aqueles lábios nos meus.
Faziam tantos anos que nos conhecíamos. Era minha melhor amiga por tanto tempo, amiga essa de todas as horas, mas havia tanto tempo que éramos só isso…, que comecei a me perguntar se aquilo seria apenas uma amizade, se o amor que eu sentia por ela era um amor de irmão, ou algo a mais. Eu não entendia muito bem essas coisas, mas entendia que aquilo que eu sentia era forte demais.
- … O que foi? - Perguntou ela baixinho, com os olhos fechados.
- … Eu… Eu posso tentar algo? - Perguntei completamente entorpecido pelas sensações que passavam por meu corpo naquele instante.
Ela abriu os olhos e me olhou, abaixando lentamente o pacotinho com gelo, até que ele caísse no chão.



***



Eu não sabia o que estava para descobrir. Atualmente penso que preferia não ter descoberto, ou melhor, queria não ter feito ela descobrir. Não porque foi ruim, mas sim porque foi a melhor coisa que me aconteceu. Porém também foi o início da pior coisa que poderia acontecer.
Mas aquela sensação… Aquela sensação das mãos dela em mim, de seus lábios fartos nos meus… Eu não sabia que não conseguiria mais viver sem aquilo, e realmente não sei mais viver sem aquilo...


***



Com dezesseis anos

Segurei em sua nuca delicadamente, trazendo-o para mim e selando nossos lábios. Ficamos assim por alguns segundos, enquanto uma explosão de sensações passava por todo meu corpo por causa daquele toque diferente. Eu nunca havia me sentindo assim antes na minha vida, e não imaginei que sentiria esse toque pela primeira vez com a minha melhor amiga. E realmente, sua boca era muito macia…
Parti o beijo, mantendo ainda nossos rostos próximos, enquanto respirava descompassadamente. olhava para baixo envergonhada, respirando tão forte que seu peito subia e descia desejando ar imediatamente. Não sabíamos muito o que fazer depois disso. Então me afastei, olhando para a , a percebendo completamente desconfortável e sem saber o que fazer com as suas mãos. As minhas mãos também estavam inquietas. Eu poderia apenas beija-la de novo e cessar por mais algum tempo essa tensão que se formou, mas fomos interrompidos pela mãe dela, que abriu a porta da sala, fazendo com que desse um pulo ficando em pé.
- Ah, olá meninos… Meu Deus, querido, o que houve com seu olho? - Perguntou a Sra. , preocupada ao me ver.
- Ah isso... não é nada! - Ri nervoso.
- Como não? Seu rosto está bem roxo! - Falou ela se aproximando da gente.
- Um menino bateu em mim, mas nem foi nada - Falei tentando fazer com que aquilo não parecesse que eu era uma pessoa que sai brigando na rua.
- Aí, esses jovens. – Constatou ela. – Já colocou um gelo?
- Sim, me deu. – Respondi sorrindo.
- Ah ótimo, vai melhorar… quer almoçar conosco? - Perguntou ela.
- Eu… - olhei para de lado.
- Ele vai sim, eu já havia convidado - Disse rapidamente.
- Ok… espero que não se importe de ser comida esquentada. – Falou Sra. simpática.



Capítulo 2



Só sei que depois desse dia ficamos uma semana sem conversar. Apenas íamos para a escola e sentávamos perto um do outro, mas não trocávamos palavras, somente alguns olhares confusos.
Eu adorava vê-la dançar. sempre foi uma dançarina de deixar qualquer ser humano besta... e eu já sou bem besta por ela. Eu a via praticando todas as semanas, mas dessa vez eu não podia ir, me sentia constrangido demais, e aposto que ela também se sentia assim.
Mas eu queria, de qualquer forma, poder assisti-la fazendo uma das coisas que mais ama em sua vida. Por isso, em uma das tardes resolvi largar um pouco a minha vergonha e ir até a sala de dança.

***


Com dezesseis anos

Sei que provavelmente ela vai querer morrer por eu estar indo vê-la dançar. Mas não posso evitar, preciso vê-la…, preciso entender o que está havendo entre nós, o que são esses sentimentos que estão invadindo meu corpo e minha mente, entender o motivo de toda vez que eu a vejo, sou tomado por sensações em meu estômago das quais nunca havia sentido antes. Tudo isso aflorou em mim depois daquele dia em sua casa… O dia que senti brevemente seus lábios encostando nos meus. Mesmo que breve, foi a melhor coisa que já experimentei.
Andei pelo colégio devagar, demorando um pouco pelos corredores. Já findava a tarde e a escola se encontrava praticamente vazia. Cheguei e parei em frente à sala de dança, conseguia ouvir a música abafada através das portas fechadas. Cuidadosamente, abri a porta devagar para não chamar atenção de ninguém.
A única pessoa que estava naquela sala era , maravilhosa como sempre. Ela usava uma camisa branca e fina, que provavelmente era algum número maior que o seu, já que as mangas de sua camisa cobriam suas mãos, como de costume. Os botões de sua camisa não estavam abotoados simetricamente e formavam um decote. Sua calça usual escura e rasgada, o que realçava bem os músculos desenvolvidos de suas pernas.
E eu estava apenas feito um idiota a encarando, sem saber como reagir.
Ela estava tão concentrada na música, que seus olhos se encontravam fechados e seus lábios se moviam levemente conforme a letra. Ela estava de costas para mim e de frente para os enormes espelhos espalhados por toda a sala, fazendo com que eu conseguisse vê-la por inteiro. A sala não estava muito iluminada, tinha apenas algumas luzes acesas, lá fora já havia anoitecido e estava bastante escuro.
No momento em que ela abriu os olhos, meu coração se acelerou consideravelmente, seu olhar encontrou o meu através do reflexo do espelho. Ela me olhava intensamente, com os lábios um pouco entreabertos, seus cabelos amarrados em um coque bagunçado… E mais uma vez, percebi aquela sensação diferente em meu estômago.
não falou nada, apenas aumentou o volume da música, deixando o controle sobre o rádio posicionado a seu lado. Ela fechou novamente os olhos e começou a se movimentar graciosamente, deslizando por toda a sala, acompanhando perfeitamente o ritmo melancólico da canção. Encostei na parede e fui deixando meu corpo descer até que eu me sentasse, sem parar de olhá-la, nem por um instante.
Não entendo como alguém pode ter tamanha perfeição. Quando ela abriu os olhos, voltou a me encarar enquanto continuava dançando, o que fez um gelo subir por minha espinha. Quanto mais intenso o ritmo da música ficava, mais intenso era o olhar dela…, todas aquelas expressões que ela fazia…
Eu a quero tanto…
Até que a música parou, assim como . Ela me encarava, ofegante, com seus lábios fartos abertos, seus cabelos mais bagunçados que antes, e seu peitoral subindo e descendo, tentando acompanhar a quantidade de ar que ela gostaria que adentrasse seus pulmões.
Nesse instante, me levantei rápido, largando minha mochila no chão e caminhando em sua direção, sem desgrudar os olhos dos dela, enquanto ela franzia sua testa minimamente. Quando parei em sua frente, não pensei duas vezes antes de segurar seu rosto angelical com uma de minhas mãos. Beijei seus lábios, deixando todas aquelas sensações maravilhosas tomarem conta de mim novamente, suas mãos agarraram minha blusa, me puxando para mais perto. Aprofundei nosso beijo, deixando minha língua encontrar a sua. Nunca havia feito isso, mas de alguma forma, eu apenas sabia o que e como fazer. Sua boca era muito macia… tão macia, que não me limitei apenas a beijá-la, mordiscando seu lábio inferior, sem partir a carícia. soltou o ar pesadamente nesse instante, me arrepiando mais ainda. Abri meus olhos, analisando seu rosto e sentindo sua respiração descompassada batendo em meu pescoço.
abriu os olhos lentamente e direcionou o seu olhar para baixo. Por um rápido momento, me fitou, mas logo se afastou rapidamente. Pegou suas coisas que estavam no chão ao lado do rádio e foi embora correndo. Assim que ela fechou a porta, me encontrei sozinho naquela sala, encarando o local que ela havia acabado de sair.


***


Depois disso, ficou ainda mais constrangedor nossos encontros rápidos nos corredores e nossas trocas de olhares. Eu não tinha coragem de conversar com ela, mas gostaria muito de ter coragem de falar com ela. Porque se eu tivesse falado com ela, nada de tão ruim teria acontecido.
Teve o dia em que ela resolveu aparecer em minha casa..., e Deus, como eu queria que ela não tivesse feito isso.

***


Com dezesseis anos

- Eu não quero aquela menina aqui mais. - Falou meu pai alterado por causa daquela merda de bebida que ele segurava em suas mãos.
- Ela nunca mais veio aqui, pai. - Falei.
- Não use esse tom comigo. - Ele aumentou sua voz.
Não respondi, mas a cada palavra proferida por ele, eu me encolhia mais, ficava com medo de ele me bater novamente. E nesse instante, ouvimos alguém em frente de casa, batendo palmas.
- Vá logo ver quem está enchendo o saco essas horas. - Falou ele com a voz arrastada, dando mais um gole em sua bebida desprezível.
Fiz o que ele me pediu, fui até a porta da sala e abri. Logo em seguida, desejei que aquilo fosse mentira...
- ! - Falei surpreso.
- , podemos conversar? - Perguntou ela falando baixo.
- Eu…, olha... agora não é uma boa hora…, por favor, vamos conversar amanhã na escola. - Falei tentando não parecer grosseiro.
- Está tudo bem? - Perguntou ela.
- Sim… só… - no momento em que fui responder, pude sentir uma mão me puxando para trás.
- O que você está fazendo aqui, garota? - Falou meu pai para , que agora estava assustada parada em frente à minha casa.
- Eu… - falou baixo.
- Fala mais alto! - Gritou meu pai.
- Deixa ela! - Falei entrando no meio dos dois.
- Eu já avisei você , não quero ela aqui… não quero que você converse com ela! Não avisei? - Falou meu pai nervoso, mais do que o normal.
Ele segurou a gola de minha camiseta.
- Você não me ouviu? - Perguntou meu pai ameaçadoramente.
Eu olhei para o lado e vi estática, estava tomada pelo medo.
- Eu já avisei a ela...- Falei.
Nesse momento vi os olhinhos de marejarem, no instante seguinte, ela saiu rapidamente dali, mas pra mim foi como se o tempo tivesse apenas parado. Parado no momento em que ela virou as costas chorando. Meu coração parou junto com a sua partida, senti um aperto muito forte.
Sentia tanta dor por causa daquela cena, que o soco que meu pai me deu no rosto, me derrubando no chão, não doeu tanto. No momento seguinte, me encontrava no chão e meu corpo tentava decidir qual dor queria sentir.
E a dor de meu coração estava vencendo.


***


Ainda não compreendo porque meu pai a desprezava tanto daquele jeito. Sim, foi um dos piores dias da minha vida. Eu jamais iria querer ver sofrer… E sei o quanto ela sofreu. Depois daquilo, ela realmente sumiu, sumiu de tudo, da escola, dos lugares que gostávamos de ir, da praia no fim de semana ao pôr-do-sol, que era nosso hobbie, de sentar e ficar vendo-o ir embora aos poucos... Eu sempre levava meu violão para cantar para , pois ela dizia que jamais havia ouvido uma voz mais linda que a minha. Se ela ao menos soubesse o quanto isso me preenchia…, apenas essas simples palavras.
Mas eram palavras dela.
Se ela soubesse o quanto aquilo me matou. Não a ver mais em nenhum momento, não ver seu sorriso, não ouvir ela dizendo palavras para me animar quando eu ia para a escola cabisbaixo… senti falta de seu abraço, de seu cheiro..., me lembro de ter ficado um mês sem vê-la e eu não podia aparecer em sua casa sem um motivo bom. Principalmente após ter feito o que fiz. Mesmo que tenha sido por conta do momento o qual me encontrava, eu sabia o quanto ela era frágil… tão pequena.
Minha pequena.
Por fim, nesse meio tempo, meu pai resolveu por algum motivo arrumar uma namorada para mim. Sim, uma namorada. Bom, ela era filha de uma vizinha nossa que gostava do meu pai, provavelmente não sabia dos podres dele. Enfim, um dia, cheguei em casa com a vizinha cozinhando, e meu pai assando carne na pequena churrasqueira, super animado e a filha dela sentada na mesinha no quintal, esperando que o almoço ficasse pronto.

***


Com dezesseis anos

- Aí está ele! - Falou meu pai se aproximando de mim, contente.
- Oi. – Respondi tentando não parecer seco por causa das visitas.
- Quero te apresentar alguém... - falou ele me puxando até a mesa onde a menina de cabelos curtos ondulados se encontrava sentada. - , essa é Laurie, ela é filha da Sra. Jones e são nossas vizinhas… se lembra dela?
- Eu… sim. - Falei
- Olá. - Falou a menina sorrindo abertamente. Retribui o sorriso.


***


Em suma, o que aconteceu é que ela começou a frequentar minha casa e no fim, tive que fingir que gostava dela e pedi-la em namoro. Meu pai vibrou de felicidade, enquanto meu coração estava se corroendo por não saber o que estava havendo com minha pequena, mas o que eu poderia fazer? Se eu voltasse a vê-la, meu pai nos mataria. Eu não duvidava da capacidade de meu pai.
No tempo de, mais ou menos, um mês sem ver , comecei a “namorar” com Laurie. Não que ela fosse uma pessoa ruim, nem nada, mas ela jamais seria como . Ela não era .

Nesse namoro falso, ela ia na minha escola depois da aula às vezes para voltar comigo, já que morávamos perto.
Até que um dia, resolveu voltar para a escola.


Capítulo 3



***


Com dezesseis anos

- Oi amor. - Falou Laurie me dando um selinho.
- Oi. – Respondi sorrindo minimamente.
Ela segurou em minha mão, entrelaçando nossos dedos. Eu ainda não me sentia confortável com isso, mas eu precisava aprender a lidar. Porque era o melhor a se fazer.
Caminhávamos para casa e ela conversava sobre alguma coisa a qual eu não tinha interesse algum. Até que a avistei de longe.
.
Ela andava em nossa direção de cabeça baixa, com fones de ouvido brancos. Ela usava aquele moletom preto usual, com mangas que cobriam suas mãos, um jeans azulado e rasgado… E seu tênis que usava durante as aulas de dança. Meu coração palpitava, comecei a sentir minhas pernas amolecerem e minhas mãos suarem.
- Está bem, ? - Perguntou Laurie.
- Sim. - Menti, engolindo seco.
Continuei andando, tentando ignorar o turbilhão de coisas que estavam passando pela minha mente naquele instante. Até o momento que ela passou ao meu lado e me olhou.
Senti como se aquele olhar estivesse me atravessando… Como uma navalha. Seus olhos se encontraram com os meus e aquele momento passou como se estivesse em câmera lenta. Observei todos os detalhes de seu rosto, o qual estava mais magro e seus olhos aparentavam cansaço…, ao julgar principalmente pelas olheiras roxas e profundas que circundavam seus olhos… Seus maravilhosos olhos. Ela não tinha mais seu sorriso de sempre esboçado em seus lábios...
A beleza dela era incomparável. Eu não sei como alguém poderia ser tão linda daquela forma…
Aquele olhar, que durou um segundo, pareceu uma eternidade. E logo desviou o olhar para minha mão dada com Laurie. E depois voltou a encarar seus pés. Assim que ela passou, eu parei. Tentando respirar normalmente.
- ? - falou Laurie.
- Oi? - Perguntei, olhando-a.
- Tem certeza que está bem? - Perguntou ela se aproximando mais.
- Sim, fique tranquila, apenas me bateu um cansaço. - Falei sorrindo.
Ela sorriu de volta.
Definitivamente, ela não me conhecia nenhum pouco.



***



O tempo passou tão vagarosamente quando eu não estava com , que até mesmo meu rendimento na escola caiu. Muito. Eu a via, mas não podia conversar com ela. E ela apenas ficava a maior parte do tempo sozinha. Ia em suas aulas de dança, depois voltava para sua casa. Todos os dias. Mas no fim, ela parecia estar bem. Ela havia feito um amigo, por causa da dança. Não posso dizer que aquilo não me incomodou, porque me incomodou muito. Eu queria ser aquele menino que conversava com ela animadamente, queria ser o motivo de seus risos, queria abraçá-la quando sentisse suas frustrações.
Bom, acredito que se passaram uns três meses assim. Chegou o dia do aniversário dela.
Eu precisava, de qualquer maneira, falar com ela. E a minha desculpa, era seu aniversário, claramente. Acontece que em todos seus aniversários, desde quando éramos apenas crianças de oito anos, eu levava um pequeno cupcake ou bolo… Ou qualquer doce que continha chocolate, e uma vela pequena. Era a coisa mais idiota e simples do mundo, mas todas as vezes ela ria de mim e por fim me abraçava fortemente, dizendo “obrigada , é o melhor presente”. E não digo que isso aconteceu uma vez… Isso acontecia todos os anos.
Então eu apenas dei meu jeito… Porque eu não aguentava mais aquele inferno.


***



Com dezesseis anos

Fui até a padaria mais próxima que tinha da escola, matando as primeiras aulas. Eu não sabia se Laurie viria hoje para voltar comigo para casa… Por isso eu precisava fazer isso antes que as aulas acabassem. E sim, tinha que ser hoje.
Comprei um brigadeiro consideravelmente grande, gastando as poucas moedas que eu havia levado. Improvisei uma vela pequena, posicionando-a no meio do doce, deixando ele o mais bonito que consegui.
Eu nunca fiquei tão nervoso em toda minha vida. Não tinha nem ideia se ela iria gostar daquilo, se ela iria querer me ver ou falar comigo. Eu não sabia de nada, tudo que eu sabia era que precisava tentar.
Fiquei sentado debaixo da árvore que ela sempre ficava durante o intervalo. Até que ouvi o sinal tocando, anunciando que os alunos estavam liberados para lanchar. Senti meu coração acelerar e minhas mãos tremerem. Eu não sei porque isso acontecia toda vez que tinha a possibilidade de eu estar perto de .
E então eu a avistei.
Ela andava lentamente com um livro na mão, não prestava atenção por onde ia, com seus fones de ouvido mantendo-a em seu mundo interior. Sua blusa fina branca e sua calça preta a deixavam magnífica. Eu apenas precisava ter esse contato com ela mais uma vez. Quando ela estava a alguns passos de distância, percebeu a minha presença estranha em seu lugar favorito e ergueu a cabeça, fazendo com que nossos olhares se encontrassem.
Nesse instante meu mundo parou.
me olhava surpresa, enquanto eu estava completamente parado, como uma estátua inútil, segurando aquele brigadeiro maior do que um normalmente é, com uma pequena vela que parecia mais um pedaço de farpa.
No segundo seguinte, o medo foi substituído por alívio ao vê-la se aproximando de mim, com um mínimo sorriso esboçado em seus lábios desenhados. Quando ela estava em minha frente, simplesmente me envolveu em seus braços pequenos, fazendo meu coração disparar ainda mais. Retribui seu abraço, envolvendo-a com um de meus braços fortemente, enquanto o outro eu mantinha um pouco longe por causa do doce que eu segurava. As mãos de agarravam minha blusa, como se isso fosse mudar sua vida.
- Me desculpe. - Falei baixo.
Ela afundou seu rosto em meu peito, por ser consideravelmente mais baixa que eu e ficamos assim por um tempo, apenas abraçados. começou a chorar, eu queria muito pedir que ela não chorasse, mas eu não tinha direito… na verdade eu não tinha direito nem de tê-la comigo naquele momento. Não tinha direito de ter sua presença.
- , eu não aguento mais. - Falou ela baixo e sua voz saiu abafada por causa da minha blusa.
- O que? - Perguntei, afastando-o um pouco para poder olhar em seus olhos cheios de lágrimas.
- Não aguento ver você distante, não aguento ver você com ela. Ver você me ignorando, passando longe como se eu fosse ninguém, não aguento mais lembrar daquelas palavras que você me falou quando nos vimos da última vez, eu achei que você quisesse que eu saísse de sua vida, mas eu não consigo tirar você da minha. - Falava ela de uma vez, me deixando pior do que eu já estava.
- ... - Falei baixo.
- Por favor, não me abandone. - Ela voltou a encostar a cabeça em meu peito.
- Eu nunca te abandonei, pequena. - Respondi tentando esconder a voz de choro. - Eu apenas fiz algo que precisei, porque senão alguma coisa horrível poderia acontecer com você, entenda, eu jamais quis deixar você mal… Eu preciso de você , não me abandone.
Ao falar isso, senti seus lábios quentes nos meus. Coloquei minha mão livre em sua nuca, sustentando o beijo e aquela sensação incrível tomando conta de mim… Aquela mesma que senti daquela vez. Então aprofundei nosso beijo. Tirei seu fone de ouvido, colocando minhas mãos em seu pescoço, enquanto nossas línguas brincavam como se fizéssemos isso sempre.
Mas eu apenas sei… Que somos feitos um para o outro.



***



Bom, essa foi a melhor coisa que me aconteceu em meses. O problema, é que ficamos nisso. Ficou na lembrança daquele beijo embaixo da árvore favorita do amor da minha vida. Porque depois, apesar de não nos ignorarmos mais, eu ainda continuei “namorando” com Laurie.
Não conversávamos, não ficávamos juntos, ela ainda continuava falando com aquele novo amigo dela, e eu não podia reclamar, porque estava também com alguém. Mas apesar disso, todos os olhares que trocávamos eram calorosos e de muita compreensão.
Continuamos com isso por mais um mês.
Até que chegou o meu aniversário.
sempre foi muito desligada e na maioria das vezes ela esquecia o meu aniversário. No começo eu ficava bastante emburrado, mas depois de dois anos, eu entendi que ela não fazia por mal, mas ainda assim, eu fico meio estressado, porque mesmo que não seja intenção dela, eu me sinto deixado de lado ou esquecido.
Mas dessa vez ela não esqueceu. Na verdade, se esforçou para que pudéssemos ter algum tempo apenas nós dois. Tudo que sei é que aquele amigo dela morava sozinho e cedeu a casa dele para no dia do meu aniversário, para que ela pudesse fazer uma surpresa para mim. Entretanto, sabia que seria complicado sair de casa naquele dia, provavelmente Laurie iria querer ficar comigo o dia todo, assim como meu pai. E por esse motivo, recebi um pequeno bilhete dela, com um endereço e um horário. Um horário no início da madrugada, quando meu pai estivesse dormindo e com certeza Laurie não estaria comigo.
E esse é um dos motivos dos quais eu a amo tanto. Ela deu um jeito. Apenas porque queria passar um pouco do meu aniversário comigo.
Aquele foi o melhor aniversário de minha vida.


Capítulo 4


***


Um mês atrás, com dezessete anos

Se meu pai me visse saindo a uma da manhã de casa, com certeza eu morreria. Por isso que eu saí como se não existissem meios de se fazer barulho. E Deus me ajudou, porque foi um sucesso. E, como durante a manhã eu não encontrava meu pai em casa, fui direto para a escola…, desta forma, ele nem percebeu que eu havia saído.
De qualquer forma, andei pela noite fria e escura, seguindo rapidamente até o endereço que havia escrito no pequeno bilhete, com sua letra desenhada e perfeita.
Assim que cheguei ao destino, fui entrando no portão. Era uma casa pequena, mas bem localizada, um tamanho ideal para alguém que morava sozinho. Andei até a porta, que se encontrava fechada, bati algumas vezes, escutando um barulho vindo de dentro do local, e a porta sendo aberta em seguida, revelando sorridente, com seu cabelo mais arrumado que o normal, mas suas roupas de sempre, moletom e jeans.
Eu sorri ao vê-la, abri meus braços, esperando-a se aconchegar em meu peito, exalando seu cheiro sobre mim.
- , eu realmente achei que você não viria. - Falou ela.
- Coloquei minha vida em risco, mas não tinha como passar meu aniversário sem você. - Falei, colocando uma mão em seu rosto.
Ela sorriu abertamente com minha resposta. E logo após, segurou minha mão, me puxando para dentro da casa e fechando a porta.
- É apenas um bolo, ok? Eu só fiz esse mistério de bilhete e casa diferente, porque sabia que era o único jeito de podermos ficar juntos um pouco. - Falou ela um pouco envergonhada, andando pelo pequeno corredor da casa, me guiando até a cozinha.
Eu ri de seu jeito envergonhado. Entramos na cozinha, que estava arrumada, com uma mesa pequena com duas cadeiras apenas e um bolo localizado em cima da mesma. Não pude evitar o sorriso que se formou em meu rosto, fazendo com que sorrisse junto comigo.
- Não preciso de nada mais. - Falei sincero, fazendo ficar extremamente vermelha.

Nos sentamos no sofá da sala da pequena casa, ainda conversando sobre coisas aleatórias e idiotas. Apesar da hora, eu não me sentia cansado e muito menos com sono. Eu apenas queria continuar com ela.
- Olha isso. - Falou ela me mostrando o celular, com algumas fotos nossas antigas.
- Da onde saiu isso? - Perguntei rindo.
- Não sei, só encontrei. Provavelmente minha mãe que tirou essas fotos. - Falou ela passando a sua mão em seus cabelos.
- Eu senti tanto sua falta. - Falei, ainda olhando para o celular.
Ela não falou nada. Apenas conseguia ver suas mãos inquietas, fazendo com que o celular em uma delas se movesse para os lados, impaciente, sem saber o que fazer. E então, eu segurei sua mão delicadamente, tirando o aparelho dela e colocando-o na mesa de centro. Depois segurei sua outra mão, entrelaçando nossos dedos e puxando-o completamente para mim. Não demorei para beijá-la, precisava daquela sensação novamente. Precisava de . Eu a queria tanto… Queria de todas as formas possíveis.
Nosso beijo, que antes calmo, foi se intensificando. Coloquei uma mão minha em sua coxa, apertando-a minimamente, fazendo com que soltasse um pouco de ar pesadamente entre seus lábios. E tenho que confessar que aquilo foi bom. Eu gostava do efeito que conseguia causar nela… então apenas busquei mais reações assim. Enquanto uma mão estava em sua coxa, a outra eu coloquei na lateral de seu quadril, subindo-a vagarosamente por baixo de sua blusa.
- Hey, espera… - falou , se afastando um pouco.
Eu a olhei sem entender.
- Eu… não acho que isso seja certo… - ela falou baixo, envergonhada.
Fiquei olhando-a, tentando entender o que ela poderia estar pensando naquele momento… queria poder ler sua mente, mas me limitei a fazer silêncio, enquanto apenas encarava seu rosto delicado e perfeito, tão próximo ao meu.
- Só que quero que seja algo especial… - ela falou com a voz falha.
Eu sorri, fazendo-a erguer seus olhos para encarar os meus.
- Não há nada mais especial que estarmos juntos… nada mais especial que ter você aqui comigo, … E se isso acontecer, sendo com você, não há nada no universo que fará ser mais extraordinário… porque eu não sei nem descrever meus sentimentos por você. - Falei, com uma mão em seu rosto - E o que mais quero, é fazer você feliz, .
Ela esboçou um sorriso mínimo em seus lábios perfeitos e me beijou. Me beijou com mais intensidade que antes. Sorri entre nosso beijo, assim como ela, partindo nosso beijo para tirar sua blusa exageradamente grande para seu tamanho, me dando visão de seu corpo lindo. Me ajeitei, puxando-a de forma que eu conseguisse ficar por cima. Passei uma mão por seu rosto, acariciando sua bochecha e sorri… E senti que conseguia passar toda minha sinceridade através desse sorriso, fazendo com que sorrisse de volta, de forma apaixonante.
- O que foi? - Perguntou ela, com as bochechas um pouco rosadas.
- É que você está aqui… E é tudo real - falei, deslumbrado, vendo-a corar mais ainda.
Olhei em seus olhos e nosso olhar se sustentou… Ela me completa.
é minha metade.
Eu sei que o que sinto por ela é muito mais que isso, muito mais que algo simplesmente físico… é totalmente emocional. Eu a amo.
Eu a amo…
Beijei seus lábios novamente, enquanto suas mãos adentravam minha camiseta, me causando arrepios com seu toque. Me afastei, para ela poder tirar a peça de roupa, jogando-a para algum canto. Ela mordiscou meu queixo, trilhando um caminho até meu pescoço, enquanto eu descia minhas mãos por seus seios, chegando aos botões de sua calça e abrindo-os, me afastei brevemente de , para poder remover sua calça desajeitadamente, e assim que o fiz, tirei a minha também. Comecei a beijá-la novamente e suas mãos passeavam em minhas costas timidamente.
Cada sensação nova, a cada centímetro meu que ela tocava… Eu não consigo explicar. Apenas se amplia esses sentimentos, a cada momento, a cada segundo que estamos juntos. é meu vício… é meu mundo.
Ela se contorcia, mordendo seu lábio com força, soltando gemidos baixos e sofridos, assim como eu, a cada movimento, em uma sincronia.
Até que senti algo que nunca havia sentido antes na vida. Meus músculos se enrijeceram, e uma sensação de prazer enorme tomou conta de todo meu corpo, me fazendo gemer mais alto, assim como . Minha respiração acelerou mais ainda, e eu soltei todo meu corpo por cima do seu, exausto. A única coisa que sentia, era sua respiração em meu pescoço, e nossos corações acelerados.
Me afastei, olhando em seus olhos novamente, tirando as mechas de cabelo que caiam em seus olhos. Ela sorriu tímida e retribui o sorriso, beijando-a delicadamente.
Em um momento que eu jamais queria que acabasse.


***


Se foi a melhor coisa que já me aconteceu? Com certeza. E como eu disse, eu não a merecia. é como se fosse um anjo que foi enviado para minha vida, mas eu acabei com a vida dela.
O meu aniversário de dezessete anos foi o melhor, por causa dela.

***


Um mês atrás, com dezessete anos

Acordei com meu celular despertando. Já havia passado das sete da manhã, ou seja, perdi aula novamente. Suspirei deixando isso de lado, porque na verdade, não importava, eu estava ao lado dela. Ela que dormia serenamente ao meu lado, no chão da sala, abraçando uma almofada, com seus cabelos bagunçados, caídos sobre seu rosto. O lençol que cobria apenas até seu quadril, deixando suas costas bem definidas expostas… Sua pele macia… Que eu tinha só para mim nesse instante. Tão perto… Tão linda e frágil.
Me virei, ficando de frente para ela, levando minha mão em sua bochecha e acariciando-a com dois dedos levemente, para não a acordar.
Meu celular começou a despertar novamente, me irritando e eu desliguei antes que acordasse , que nem se mexeu, apesar do barulho. Me levantei lentamente, tentando não a atrapalhar. Peguei minhas roupas e fui até o banheiro. Nesse momento, meu celular começou a tocar novamente.
A tocar. Era toque de ligação. E não o despertador.
A hora que olhei para quem estava ligando, meu coração gelou um pouco. Era Laurie.
- Alô? - Falei, já dentro do banheiro.
- ? Aonde você está? - perguntou Laurie, num tom de preocupação.
- Eu? Na escola - Falei mentindo descaradamente.
- Escola? E como você saiu de casa tão cedo?
- Porque hoje eu quis ir mais cedo, apenas isso - falei, suspirando.
- Eu vim na sua casa para irmos juntos… Seu pai está nervoso - falou ela.
E nesse instante, senti minha mão começando a suar. Meu pai? Ele nunca acordava cedo assim… Ele sempre acordava mais tarde.
- Mas eu já estou na escola, não se preocupe - falei colocando minhas roupas rapidamente.
- Eu te encontro na hora de ir embora, então - falou ela.
- Ok - respondi, desligando o celular em seguida.
Merda. Merda, merda, merda. Por que será que meu pai acordou mais cedo justamente hoje?


***


Talvez se eu soubesse a resposta daquela pergunta, nada disso teria acontecido. Talvez eu não estaria aqui onde estou e talvez ele ainda estivesse vivo. E ainda, tudo poderia ser diferente.
Tudo que sei é que, naquele dia, eu saí da casa do amigo de , deixando-a dormir sossegada. Logicamente deixei um bilhete dizendo que estava indo para a aula e que ela não precisava se preocupar.
Mas, aquele dia só tinha tendência de piorar.
Enfim, eu fui para a escola por causa de Laurie, mas não entrei na aula, apenas fiquei sentado embaixo da árvore favorita de meu anjo.
No horário de saída, foi quando tudo começou a ficar um inferno. Laurie resolveu aparecer lá na escola, acompanhada de meu pai.

***


Um mês atrás, com dezessete anos

- - falou meu pai, já com a voz um tanto alterada.
- Oi - falei com a voz baixa.
- Você estava aonde, que não estava em casa essa manhã? - Perguntou ele, com as mãos fechadas em punhos.
Eu não queria brigar ali, estávamos em frente à escola e várias pessoas estavam saindo, dando risadas, conversando… Por que ele tinha que fazer isso aqui? Na frente de todo mundo assim? Na frente de Laurie, que não tem nada a ver com qualquer coisa que acontece…
- Eu já falei, apenas resolvi vir para escola um pouco mais cedo. - Falei olhando-o.
- Não minta pra mim. Eu sei onde você estava, moleque… Eu sei que estava com aquela peste daquela sua amiguinha - Falou ele, gesticulando com as mãos.
- E se for isso mesmo… O que tem a ver com isso? - Perguntei.
Ele me segurou pelo braço com força, me puxando.
- Vamos embora. Falou ele nervoso.
Laurie apenas ficou parada, olhando enquanto meu pai me arrastava para dentro do carro, nervoso. Abriu a porta e me jogou no banco do carona, fechando a porta com força. As pessoas estavam olhando e já comentavam sobre aquilo. Eu não sei o que sentia… se ódio daquele velho idiota ou estresse porque as pessoas não cuidavam de suas próprias vidas.
Segurei no local que ele apertou e latejava de dor, meu braço estava ficando vermelho.
- Só pode ser brincadeira. - Falou meu pai alto.
- O que? - Perguntei alto.
Ele olhava fixamente para algum ponto, e eu segui seu olhar. Ele encarava , que estava parado perto do portão da escola, nos olhando. Meu pai rosnou, fazendo menção de sair do carro.
E eu sei que se ele saísse daquele carro, ele faria mal a .
Segurei o braço do homem furioso e ele me olhou.
- Vamos embora. - Falei firme.
- Eu vou matar vocês dois ainda. - Falou ele segurando minha mão.
- E por que? Por que vai me matar? Por que você não pode descontar em ninguém mais a sua raiva? Vai matar o seu próprio filho? Por que tem raiva de mim? - Perguntei tentando não chorar.
Ele me olhou e sua raiva foi embora por um mísero segundo, mas logo voltou.
- Não tive um filho homem para ele ficar com qualquer puta que encontrasse na rua. - Falou ele cuspindo ódio em minha cara.
Eu não podia acreditar que ele havia dito aquilo. Não conseguia acreditar que aquela pessoa que brincava comigo quando eu era pequeno, que montava meus barquinhos de brinquedo… Que cuidou de mim quando minha mãe foi embora, que me ajudou nas tarefas difíceis da escola, havia dito aquilo.
- Então me mate… - falei.
Ele ficou me encarando por vários minutos.
- Você não é meu filho. - Falou ele baixo.
Aquelas palavras doeram mais do que qualquer soco que eu já havia levado dele. Ele me soltou, virando para frente.
- Pode ir embora. - falou por fim.
Eu apenas peguei minha mochila e saí do carro. Antes que eu pudesse fechar completamente a porta, meu pai saiu acelerando o carro, fazendo o maior barulho de pneu cantando.
Laurie me olhava assustada, com os olhos cheios de lágrimas. me olhava de longe, encolhida.
Agora ela entendia… Que todo o problema que acontecia comigo, era por causa dela. Laurie se aproximou de mim, me abraçando. Não retribui seu abraço, ainda olhando , que agora estava com a cabeça baixa. Logo ela se virou e começou a andar para mais longe.
E a cada passo, era uma dor diferente em meu coração.


***


Foi o melhor dia de minha vida por causa de .
Mas o pior dia pelo que aconteceu depois.
E, esse dia, foi o que me trouxe aqui hoje. Porque desde então, faz um mês que não vejo . Faz um mês que não vejo meu pai. Faz um mês que estou morando sozinho. Um mês que venho pensando o que merda estou fazendo no mundo ainda…

***


Um mês atrás, com dezessete anos

Meu celular começou a tocar e eu estava sem um pingo de coragem de atendê-lo. Estava apenas sentado no banco de uma praça qualquer, com a cabeça entre as pernas. Toda hora que ele parava de tocar, começava de novo e era um número desconhecido. Começou a tocar novamente e dessa vez resolvi atender.
- Alô. - falei, sem tirar minha cabeça da posição que se encontrava antes.
- Sr. ? - Perguntou uma voz pesarosa.
- Sim…
- Eu receio que tenho péssimas notícias… Seu pai sofreu um acidente de carro enquanto retornava para casa… E infelizmente ele não sobreviveu
Mas naquele momento, eu já não estava ouvindo mais o que ele dizia. E a única coisa que se passava pela minha cabeça era: meu pai está morto.
Morto.
Depois de tudo que ele me disse. Depois de tudo que eu disse.
- Sr. ? Está ouvindo?



Continua...



Nota da autora: Olá gente, prazer em conhecer todxs vocês! Me chamo Carol e vim trazer essa fiction que eu escrevi a muitos anos atrás! Eu espero que vocês curtam lê-la, assim como eu curti escrevê-la!
Até o próximo, beijinhos <3
Esse link é para um playlist do Spotify que criei baseada na fic! Sintam-se à vontade para ir ouvir!




Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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