Última atualização: 22/03/2024

Capítulo 1



Olá, meu nome é . Tenho 17 anos e não tenho família, apenas meu pai. Minha mãe nos abandonou quando eu era apenas uma criança, e eu não lembro muito dela. Apenas sei que depois que ela se foi, meu pai virou um alcoólatra. Quando nasci, já não tinha avós por parte de pai, apenas de mãe. Portanto, a única pessoa que eu tinha, era meu pai.
Por conta disso, me apeguei muito a uma amiga minha. Somos amigos desde quando eu era bem pequeno... nos conhecemos na vizinhança do bairro. E sempre nos demos bem.


***



Com nove anos de idade.

- , ! - Chamava desesperadamente, me cutucando.
- Fala . - Respondi segurando seu dedinho pequeno.
- Nós vamos andar juntos na escola amanhã, né? - Perguntou ela com os olhinhos brilhando.
- Claro que sim. - Falei colocando uma mão em sua cabeça.
Ela sorriu abertamente, feliz com minha resposta.



***



e eu nos vimos pela primeira vez em um dia chuvoso, quando eu brincava na rua sozinho com meus barquinhos de madeira que meu pai fez para mim. Ela ficou muito animada quando viu meus barquinhos flutuando nas pequenas poças d'água formadas nos buracos da rua, mas sua mãe não queria deixá-la ir brincar comigo, porque não sabia quem eu era. Até que tomei coragem de me levantar e ir até elas, fazendo com que a mãe dela sorrisse pra mim gentilmente quando, de mãos juntas, pedi para brincar com ela, baixinho. A mãe de , vendo que eu era apenas uma criança que queria um amigo para compartilhar os brinquedos, deixou a pequena brincar comigo.


***



Com sete anos de idade.

- , apenas não fique até muito tarde na rua! E tome cuidado com os carros. - Gritava a mãe dela com o objetivo de nos fazer ouvi-la, enquanto corríamos até onde os meus barcos estavam.
Ela estava completamente deslumbrada com o fato de os brinquedos flutuarem.
- Como que eles voam assim? - Perguntou ela, encostando um dedo num dos barquinhos.
- Ele está flutuando na água, está vendo? Meu pai os fez pra mim. - Falei.
- Sério? Que legal! - Falou a pequena menina, colocando as mãos nas bochechas gordinhas.
Eu ri de sua empolgação.
- E como é seu nome? - Perguntou, jogando a cabeça para o lado.
- Meu nome é . . - Falei sorrindo, fazendo meus dentes aparecerem.
- Meu nome é , - falou ela - podemos ser amigos?
Eu não sabia o significado dessa palavra ainda. Mas eu queria entender o que quer dizer “amigo”.
- Sim - Falei feliz.



***



Era tanta inocência naquela época… Como eu gostaria de ter tudo aquilo de volta. Se eu soubesse o tanto de coisas que aconteceriam em minha vida por ter conhecido naquele dia chuvoso, acredito que não teria dito que queria ser amigo dela.
Não me entenda mal. Apenas acho que se eu estivesse fora de sua vida, ela estaria bem hoje. E não destruída, por causa de toda a merda que causei.
E no dia de hoje, eu preferia que sua mãe não tivesse deixado ela falar comigo… E que eu não tivesse a convidado para brincar comigo.


***



Com treze anos de idade.

- Sobe também, . - Falou , já em cima da enorme árvore.
- Mas eu não consigo. - Falei resmungando.
- Claro que consegue, até eu consegui. - Falou ela, se movendo de galho em galho.
- Não vai cair, hein... - Falei cruzando os braços, emburrado porque não conseguia subir mais do que os primeiros galhos da árvore.
- O que… - Ela foi perguntar, antes de se escorar em um galho frágil, fazendo com que ele quebrasse.
caiu de, pelo menos, dois metros de altura no chão.
- ! - Gritei desesperado, me soltando dos galhos baixos que tentava subir, e corri em sua direção.
- Ah, isso dói. - Falou ela segurando seu braço, deitada na grama.
- Deixa eu ver. – Levei minha mão até o local que ela reclamava.
- Não! – Respondeu ela puxando o braço bruscamente, quando fiz menção de tocá-lo.
Em seguida começou a chorar de dor.
- Eu avisei para ter cuidado... - Falei revirando os olhos.
- Você podia ser um pouco mais sensível. – Respondeu ela tentando se sentar.
Eu suspirei, colocando a mão na cabeça dela.
- Desculpa...
Ela sorriu minimamente, ainda demonstrando a dor.


***



Estávamos bem, até começarmos a entender um pouco mais de nossas vidas... a sentir e experimentar coisas das quais desconhecíamos. Acontece que sou filho único de um casamento que se acabou sem eu nem saber o motivo.
Muitas vezes meu pai jogou na minha cara que a culpa era minha que a minha mãe decidido ir embora e nos largar. Todas as vezes ele estava completamente bêbado… E no outro dia, ele apenas me dava um abraço. Sem contar as vezes que ele me batia… E foi assim que começou a decadência de tudo. Quando ele começou a ficar violento comigo.
sempre foi extremamente cuidadosa comigo, e todas as vezes que eu aparecia com roxos na escola, ela me levava para casa dela, e cuidava de mim, como se fosse médica e soubesse o que estava fazendo. Me dava antibióticos e colocava bolsinhas de gelo nos hematomas… Eu amava tudo isso.
Eu amo tudo isso.
Eu amo tudo que seja relacionado a ela.


***



Com dezesseis anos

- , de novo isso… - Falou tocando no meu olho roxo, fazendo com que eu virasse meu rosto para o lado oposto.
- Não foi nada... – Evitei olhar para ela.
- Estou vendo que não foi nada! – Respondeu ela impaciente.
- Não fala alto, as pessoas vão começar a olhar pra gente...
- Vamos, eu vou colocar um gelo nisso. - Falou se levantando e pegando nossas mochilas.
- Mas e a aula? - Perguntei confuso.
- Já ficamos para fora em uma aula… não vai fazer diferença ficar pra fora nas outras - Respondeu ela sorrindo.
Sorrindo, linda como sempre, me fazendo sorrir levemente e me levantar.


***



- Não tem ninguém em casa... - Constatou quando me viu hesitar entrar.
Sorri tímido… Eu brincava muito em sua casa quando era pequeno, mas depois que entramos no ensino médio, vinha apenas quando ela insistia em cuidar de mim. Meu pai implicava um pouco de nos ver juntos, por isso eu evitava..., mas naquele momento não importava.
- Senta no sofá que eu vou pegar um pacotinho de gelo. – Disse ela em tom autoritário.
Fiz o que pediu. Logo ela voltou com um saquinho de gelo na mão. Antes que eu pudesse fazer menção de pegar, ela mesmo colocou no local machucado, se aproximando de mim e sentou ao meu lado.
- Não gosto de ver isso. – Falou , tirando a toca do moletom que cobria minha cabeça. - O que houve?
Eu hesitei. Não queria falar sobre isso pra ela. Não queria vê-la se preocupando comigo… E muito menos que soubesse que era por causa dela.
- Ele ficou bêbado novamente e se irritou que eu estava no meu quarto estudando. - Menti descaradamente.
- Ah, é? - Perguntou desconfiada. Eu sei que não consigo mentir para ela.
- Sim... não se preocupe.
Eu sorri levemente, fazendo com que ela sorrisse pra mim de volta.
Seu sorriso era desenhado, seus lábios eram perfeitos... e pareciam tão macios. No momento seguinte, quase como um ato involuntário, toquei seu lábio inferior com meu dedo indicador, causando um arrepio em mim mesmo. Causando sensações das quais eu nunca havia sentido antes. Os olhos pequenos de se dirigiram para minha mão. Eu não desgrudava o meu olhar do local onde eu estava tocando, e comecei a me perguntar como seria ter aqueles lábios nos meus.
Faziam tantos anos que nos conhecíamos. Era minha melhor amiga por tanto tempo, amiga essa de todas as horas, mas havia tanto tempo que éramos só isso…, que comecei a me perguntar se aquilo seria apenas uma amizade, se o amor que eu sentia por ela era um amor de irmão, ou algo a mais. Eu não entendia muito bem essas coisas, mas entendia que aquilo que eu sentia era forte demais.
- … O que foi? - Perguntou ela baixinho, com os olhos fechados.
- … Eu… Eu posso tentar algo? - Perguntei completamente entorpecido pelas sensações que passavam por meu corpo naquele instante.
Ela abriu os olhos e me olhou, abaixando lentamente o pacotinho com gelo, até que ele caísse no chão.



***



Eu não sabia o que estava para descobrir. Atualmente penso que preferia não ter descoberto, ou melhor, queria não ter feito ela descobrir. Não porque foi ruim, mas sim porque foi a melhor coisa que me aconteceu. Porém também foi o início da pior coisa que poderia acontecer.
Mas aquela sensação… Aquela sensação das mãos dela em mim, de seus lábios fartos nos meus… Eu não sabia que não conseguiria mais viver sem aquilo, e realmente não sei mais viver sem aquilo...


***



Com dezesseis anos

Segurei em sua nuca delicadamente, trazendo-o para mim e selando nossos lábios. Ficamos assim por alguns segundos, enquanto uma explosão de sensações passava por todo meu corpo por causa daquele toque diferente. Eu nunca havia me sentindo assim antes na minha vida, e não imaginei que sentiria esse toque pela primeira vez com a minha melhor amiga. E realmente, sua boca era muito macia…
Parti o beijo, mantendo ainda nossos rostos próximos, enquanto respirava descompassadamente. olhava para baixo envergonhada, respirando tão forte que seu peito subia e descia desejando ar imediatamente. Não sabíamos muito o que fazer depois disso. Então me afastei, olhando para a , a percebendo completamente desconfortável e sem saber o que fazer com as suas mãos. As minhas mãos também estavam inquietas. Eu poderia apenas beija-la de novo e cessar por mais algum tempo essa tensão que se formou, mas fomos interrompidos pela mãe dela, que abriu a porta da sala, fazendo com que desse um pulo ficando em pé.
- Ah, olá meninos… Meu Deus, querido, o que houve com seu olho? - Perguntou a Sra. , preocupada ao me ver.
- Ah isso... não é nada! - Ri nervoso.
- Como não? Seu rosto está bem roxo! - Falou ela se aproximando da gente.
- Um menino bateu em mim, mas nem foi nada - Falei tentando fazer com que aquilo não parecesse que eu era uma pessoa que sai brigando na rua.
- Aí, esses jovens. – Constatou ela. – Já colocou um gelo?
- Sim, me deu. – Respondi sorrindo.
- Ah ótimo, vai melhorar… quer almoçar conosco? - Perguntou ela.
- Eu… - olhei para de lado.
- Ele vai sim, eu já havia convidado - Disse rapidamente.
- Ok… espero que não se importe de ser comida esquentada. – Falou Sra. simpática.



Continua...



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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