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Última atualização: 23/03/2024

Capítulo 1 - A mulher Que Fala Com as Flores

Os dias estavam cada vez mais curtos, o sol brilhante do meio dia parecia uma esfera dourada tão opaca e distante, que era quase impossível sentir o seu calor. não queria nem pensar em como seria o inverno de fato, os últimos tinham sido extremamente rigorosos e difíceis para o seu povo.
Ela observou a sombra vinda do sudeste, cobrindo os campos antes verdejantes de seu lar, corroendo a terra feito uma peste. Mesmo a uma certa distância era possível enxergar as três grandes cadeias de montanhas de Mordor, território do feiticeiro mais temido de toda Terra Média, Sauron. costumava ouvir as histórias sobre o Senhor do Escuro quando era pequena e seus feitos costumavam assombrá-la, no entanto, o que era antes um mito começou a se reorganizar por trás daquelas montanhas imponentes e cuspia dela criaturas cada vez mais terríveis.
nunca se esqueceria da primeira vez que enfrentou um orc, não tinha altura o suficiente para empunhar uma espada, mas sempre foi muito ágil com o arco, lembrou-se do horror que acometera o seu corpo ao olhar nos olhos daquela criatura humanoide, seus braços compridos e irregulares, sua aparência vil, dentes pontudos manchados de sangue e da náusea que a atingiu ao sentir o cheiro de carne podre, em um movimento mais rápido do que pode prever, ela lhe acertou uma flecha por dentre os olhos, o sangue escuro respingando em seu pijama de algodão.
Seu pai apareceu segundos depois, seu rosto pálido denunciava certo choque, no entanto, ela não teve certeza se ele estava assustado ou orgulhoso demais, as emoções do pai, sempre tão complexas, eram difíceis de entender. voltou a focar no caminho a sua frente, o momento era delicado demais para se perder em devaneios do passado. O poder de Mordor se alastrava a cada minuto e ela tinha tudo, menos tempo.
Ouviu mais de que um rumor sobre o mago branco que vagava pela floresta densa de Fangorn, poucos aventureiros ousaram explorar essas matas por causa de sua má reputação, os leigos costumavam dizer que este era um local perigoso, mas na opinião de , eles apenas temiam o que não conheciam de verdade.
Ela cresceu naquela terra, tinha uma conexão inexplicável com a natureza, os habitantes de sua cidade natal, chamavam-na de – a mulher que fala com as flores – a mulher que ouve o chamado das árvores – no entanto, a jovem não creditava suas habilidades incomuns a magia que rodeava toda Terra Média e sim a sua aguçada intuição e treinamento. Ela não crescera domesticada dentro das paredes maciças de um castelo, seu espírito selvagem não era algo que se podia conter em inúmeras regras de etiqueta desnecessárias.
Sempre correu com os pés descalços, seus cabelos compridos da cor da terra, mesclados de fios prateados estavam na maioria das vezes despenteados, conferindo a uma aparência indomável. Ela tinha a convicção que havia coisas na vida que apenas a natureza poderia lhe ensinar.
Ela não fora escolhida para esta missão levianamente, os outros generais realizavam reuniões às escondidas para escapar dos olhos astutos do conselheiro do rei, a quem suspeitavam que estava envolvido com a magia que mantinha o rei prisioneiro dentro de seu corpo, assumindo outra personalidade, destituindo comandantes, tratando seus aliados como inimigos e os expulsando de suas terras. perdeu sua posição, simplesmente por ser uma mulher e ouvir estas palavras de um rei que tanto admirava, a feriram profundamente.
No entanto, isto lhe conferiu certo anonimato, dessa forma, foi possível fugir do palácio dourado de Rohan na calada da noite, sem que suspeitassem ou procurassem por ela.
Ela correu por algumas horas, seus pés tão leves mal tocavam a grama ressecada sua capa verde-musgo se misturava com as sombras na escuridão. Desacompanhada, ela também torceu para que não encontrasse o grupo de orcs que tinha sido visto na região, caso contrário, bem…ela não quis pensar nessa possibilidade.
Quando os primeiros raios de sol começaram a iluminar os céus, já estava à beira da floresta de Fangorn, as folhagens se movimentavam lentamente no topo das árvores e ela teve certeza que pela sua tranquilidade, não estava caminhando direto para uma armadilha. Ela tirou seu coturno e pisou na terra molhada pelo orvalho da manhã para que a terra pudesse lhe reconhecer, fez uma reverência ainda na orla da floresta, sem esquecer de realizar uma prece para os seus antepassados para que tivesse a coragem necessária e para que seus instintos enxergassem mais do que seus olhos humanos podiam.
Um vento bateu em sua direção e ela soube que aquilo era um sinal de que era bem-vinda. Recolocou as botas gastas, mantendo a mão direita ao alcance de seu arco. Ela aproveitou para passar lama em algumas partes específicas de seu corpo para que seu cheiro se confundisse com o da floresta.
Ela voltou sua atenção para sua jornada, buscando por rastros ou qualquer outra coisa que pudesse levá-la em direção ao Mago Branco. É claro que a natureza sempre se certificava de deixar suas pistas, as árvores conversavam entre si, sussurros que poderiam ser compreendidos por uma alma selvagem. chegou perto de uma das grandes árvores de carvalho e a tocou com extremo respeito, apurando os ouvidos e os encostando no tronco descascado.
Ouviu algo sobre uma esfera de luz ao sul da floresta onde os bosques eram mais desertos, fechados e sombrios. Ela soube então para onde ir. Fangorn estava em absoluto silêncio, não era possível se ouvir mais as canções élficas, os animais estavam mais quietos que o habitual e ela percebeu também que as aves que costumavam fazer ninhos nessa época do ano também não vieram.
Isso era um prelúdio de guerra.
Ela suspirou com pesar, para alguém tão jovem, já tinha lutado em várias guerras, acompanhou o crescer e morrer dos homens e mulheres de seu povo, entre eles, seu pai, general dos exércitos de Rohan que morrera há mais tempo do que ela gostaria de lembrar. A mulher assumiu seu cargo assim que completou a maioridade, por mais que todas as fêmeas fossem treinadas para a guerra, poucas chegavam a exercer algum cargo de autoridade, , todavia, tinha habilidades incomuns para uma guerreira e isso não passou despercebido pelos outros guerreiros mais experientes. Tinha certeza que seu pai estaria orgulhoso na casa dos seus ancestrais.
Ela levou suas mãos calejadas para uma joia escondida em seu pescoço, mirou o pingente branco e brilhante, seus detalhes esculpidos a mão eram tão perfeitos que algumas vezes ela chegou a se questionar se ele não era feito de magia. Esta era a única relíquia que restou de sua mãe, que morreu poucos dias depois de dar à luz. levou o pingente à boca e depositou um beijo delicado, cresceu sem saber muitas informações sobre a mãe, por isso carregava o colar para todos os lugares como se este fosse um tributo ou um lembrete de que estariam próximas não importasse o contexto. A mulher vagou pelas terras irregulares de Fangorn por horas, sem nada encontrar, exceto alguns esquilos corajosos, buscando os últimos frutos de avelã da estação.
Ela levantou a cabeça em alerta, seus pés conseguiam identificar uma leve trepidação na terra, um passo muito pesado e constante, outro mais cuidadoso e o último tão leve quanto o de um farfalhar de folhas secas. franziu a testa em confusão: o que um anão, um humano e um elfo estariam fazendo juntos?
Nunca encontrara um grupo tão inusitado quanto este, já encontrara alguns elfos em algumas de suas missões, mas um anão era a primeira vez e ouvira boatos de que eles não costumavam se misturar com outras raças. Ela franziu as sobrancelhas bem marcadas, seus dedos dedilhando o elástico de seu arco, seu pensamento funcionando com agilidade, no entanto, acontecera algo que não previra.
Ela não pode identificar de onde ele saltara, talvez o momento tenha levado apenas um milésimo de segundo e um homem esguio de cabelos prateados, emoldurado em tranças nas laterais, se postara em sua frente, apontando uma flecha diretamente em sua cabeça.


Capítulo 2 - O Homem de Cabelos Prateados

– Revele-se - disse ele em um tom autoritário.
– Mataria você antes de colocar os meus dedos no capuz, elfo - sussurrou entre dentes.
Legolas desviou seus olhos para o seu ventre, onde sentiu a ponta de uma faca a centímetros de suas entranhas, ele franziu a testa por um momento, sua oponente demonstrou uma agilidade sobre humana - algo característico da raça dos elfos.
– Abaixe sua arma – continuou enraivecido.
– Abaixe a sua e abaixarei a minha - respondeu ela, seu rosto encoberto, deixando a vista apenas seus olhos pretos feito o breu.
ergueu as sobrancelhas quando o humano interrompeu a interação dos dois, suas vestes eram de couro, seus olhos azuis cristalinos, e seus cabelos castanhos ondulados chegavam na altura dos seus ombros. Ele colocou a mão no ombro do elfo e sussurrou algo na linguagem élfica, sua voz aveludada. não era fluente no idioma, mas conseguiu entender algumas palavras, mas não baixou sua faca esperando que o outro o fizesse primeiro. O elfo lhe lançou um olhar cortante antes de guardar suas flechas, e assim fez o mesmo, cumprindo o acordo silencioso entre eles.
– Eu sou Aragorn, filho de Arathorn, este é Gimli filho de Gloin e este é Legolas – ele apontou para o elfo que ainda a encarava com desconfiança - Filho de Thranduil da Floresta das Trevas…
– Aragorn? - disse ela com os olhos surpresos - Meu pai me falou sobre você, sobre um herdeiro perdido que um dia reivindicaria o trono de Gondor… ele tinha esperanças de um dia você ocupar o seu lugar de direito, mas isso foi há muito… muito tempo…
Para um estranho sem rosto, você tem opiniões afiadas demais… - resmungou o anão atrás deles.
o fitou sem nenhuma emoção. Ela retirou o capuz e a espécie de máscara que cobria o seu rosto, seus cabelos terrosos caíram como cascatas em suas costas;
– Uma guerreira de Rohan - disse Aragorn reconhecendo o emblema que ela carregava no peito.
, filha do general Einar…
– Um bom homem - sussurrou o outro com humildade - Se você está em seu lugar presumo que ele esteja morto.
assentiu a cabeça relaxando apenas um pouco a sua postura.
– Que notícias trazem do norte? - perguntou ela.
– Como sabemos se podemos confiar em você? - destilou Legolas.
– Confesso que cortar suas entranhas me daria mais satisfação, mas se quisesse eu já o teria feito - respondeu em tom selvagem.
– Gostei dela – Gimli soltou uma risada nasalada.
Legolas lhe lançou um olhar cortante, mas o anão sustentou seu olhar em tom de desafio.
– Silêncio - para a surpresa de , ela e Legolas falaram no mesmo instante. Acabou por ouvir um leve trepidar sob a terra.
– O mago branco se aproxima… – Legolas continuou seus olhos cinzas pareciam enxergar além.
franziu a testa confusa, não entendeu o motivo do espanto, afinal este não era um mago que estava a serviço do Mestre do Escuro, as árvores estavam tranquilas em sua presença, seus passos ainda de longe, conversavam com a terra. Seja quem for, não era quem eles estavam esperando.
– Não olhem nos olhos dele! Precisamos atacá-lo antes que possa nos envenenar com suas palavras… - pensou em argumentar, mas no momento achou melhor seguir o curso dos acontecimentos. Ela armou o seu arco mirando na direção do som dos passos do mago. Legolas fez o mesmo a fitando com certa indiferença.
Ela conteve o ímpeto de rolar os olhos para dentro de seu crânio, ela já tinha conhecido outros elfos antes e todos possuíam esse ar superior, intransigente que ela odiava. voltou a se concentrar nos barulhos da floresta, e mesmo de longe, ela pode sentir a presença do mago, a magia era perceptível, deixava rastros, algo que ela não conseguia explicar com detalhes, talvez fosse o sangue metálico em sua boca ou suas mãos que ficavam instantaneamente geladas, era uma guerreira experiente, ela foi capaz de melhorar suas habilidades com o tempo e era capaz de discernir a magia do bem e do mal.
No entanto, ela manteve o arco firme assim como os três, esperando pela aparição no meio da clareira. Em questão de segundos, uma luz branca muito forte apareceu, cegando a todos, ela fechou os olhos confiando em seus instintos e disparou uma flecha certeira na cabeça do mago, da qual ele esquivou com facilidade, os outros também tentaram atacá-lo, mas sem sucesso.
Quando a luz se dissipou, ela conseguiu reconhecer o mago em sua frente. Gandalf tinha cabelos brancos e pálidos, compridos e lisos, suas vestes brancas e limpas, lhe conferiam um aspecto ainda mais espectral. Seus olhos azuis, no entanto, eram gentis. baixou o arco se dando conta que o grupo estava paralisado, suas emoções aparentes em seus rostos: choque, alívio, dor, perda e luto e de que eles estavam empreendendo uma tortuosa jornada.
– Mas você caiu… - disse Aragorn se aproximando do mago, ficou para trás observando a interação.
– Em água, fogo e gelo… - ela pode entender que o grupo estava participando de uma missão e foram separados nas minas de Moria, uma morada dos anões. Gandalf não deu muitos detalhes - ele parecia com pressa - Mas seus olhos suavizaram quando olhou para .
– Uma guerreira de Rohan veio em busca do mago branco para ajudar seu Rei Théoden do feitiço de Saruman. - lhe fez uma breve reverência.
de Einar, a última vez que eu a vi, você ainda era uma menina – Gandalf sorriu com bondade – Você aparenta ter mais idade do que tem realmente…
– Não há tempo de ser jovem em meio a tantas guerras, Gandalf.
– Me parece injusto você carregar um fardo tão pesado…
– Às vezes o caminho se abre adiante e você não tem outra opção a não ser segui-lo. Gandalf assentiu. se remexeu um pouco desconfortável ao notar que o elfo mantinha seus olhos cinzas sob ela, como se a estudasse, como se soubesse de seus segredos mais obscuros. Será que conseguia ver todos os homens que precisou matar para sobreviver? Quantos viu partir nos últimos anos, quantos teve que enterrar… não conseguiu evitar balançar a sua cabeça para afastar tais pensamentos. Ela precisava de foco, e o tempo estava se esgotando.
– Não venho em nome do rei de Rohan, porque este já não consegue discernir a diferença entre amigos e inimigos. Saruman envenenou sua mente. Seus orcs infestam nossas terras como pragas. Parte do nosso exército está fora de nossos domínios, exilados e nos deixando totalmente vulneráveis. Me pediram para vir procurá-lo.
– E como sabia onde encontrá-lo? – perguntou Legolas.
– Você não é o único que conhece essas florestas, Legolas da Floresta das Trevas. Se bem treinados, nós humanos conseguimos rastrear e perceber detalhes que passam despercebidos pela maioria. Posso ser apenas uma efemeridade frágil aos seus olhos milenares, mas não subjugue minhas habilidades. Tive menos tempo para aprender do que você.
O mago não conseguiu conter um sorriso divertido nos cantos dos lábios e falou antes que Legolas pudesse dizer qualquer coisa.
– Uma verdadeira comandante de Rohan – disse com respeito. Ela assentiu sustentando o olhar do elfo que ainda a mirava com desconfiança.
– Nós temos pouco tempo e precisamos partir para Rohan imediatamente,
– Precisamos encontrar dois hobbits primeiro. Não os deixaremos a própria sorte - Gimli interrompeu o rumo da conversa.
– E eu achava que este grupo não podia ser mais inusitado… O que hobbits estavam fazendo tão longe do Condado? Não é muito comum encontrá-los por aqui.
– Explicaremos melhor no caminho – Aragorn disse para todos. Gandalf, no entanto, os impediu de continuar.
– Os hobbits estão seguros com o Barbárvore, o líder da raça humanóide de árvores...
– Os ents estão despertando? - perguntou ela se referindo a espécie.
– Achei que conhecesse bem essas florestas – disse Legolas com acidez. o ignorou.
– Eles estarão mais seguros aqui do que em qualquer outro lugar da Terra Média. Precisamos ir para Rohan imediatamente, levaremos pelo menos um dia para chegarmos a cavalo.
– Nós vamos deixá-los nesta floresta horrenda?
– Eles podem ouvir você, sabe disso, não sabe? - disse para Gimli e o anão arranhou a garganta desconfortavelmente. Antes que Aragorn pudesse segui-los, Legolas o segurou pelo braço, seus olhos fixados nas costas de .
– Não podemos confiar nela.
– O que seus olhos veem Legolas?
– Não é o que eu vejo, é o que eu sinto. Posso sentir cheiro de magia. Os dois trocaram olhares desconfiados.
– Se ela realmente tem algo a esconder, descobriremos no caminho… - disse o homem deixando seu punhal à vista.
Legolas ficou alguns momentos para trás, seu cérebro lógico ainda tentando decifrá-la. Um ardor em seu peito continuava a lhe dizer que tudo era uma armadilha, seus sentidos nunca eram falhos e ele sabia que em breve descobriram mais do que suas meras suspeitas. Ajeitando seu arco em suas costas, ele seguiu o grupo para a saída da floresta de Fangorn.




Continua...



Nota da autora: Reescrevi algumas partes desse capítulo e o resultado me deixou mais satisfeita. Espero te ver por aqui e até a próxima atualização.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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